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A CONSTRUGAO SOCIAL DA REALIDADE Tratado de Sociologia do Conhecimento PETER L. BERGER Floriano de Souza Fernandes 22" Edigio y EDITORA VOZES Petropolis 2002 inguir entre provaveis conhecidos competidores comerciais to que caracteriza a experitncia dos ina depende ido de oytro fator .\Vejo 0 jornaleiro da esquina t4o regularmente quanto ve}g minha mulher. Mas ele € menos’ importante jodo. algum aquele/ “grupo da_quadr: ca-se/ como individuo tinico. E tornar-se quase total com tendem jamais tornarem-se quanto 0 primeiro dest finalmente 0 anonimato certas tipificagies que nai tipificagbes, tais como 0 res”, Finalmente, e com isso seu an A pode ser mentado falando-se dA “opiniag piblica \ A realidade social dida num continu a ‘outros com os quais to aqui samente entro em ago ‘reciproca em a face, mew dizer, No Autro polo estio abstragdes inteiramente and- por sua propria natureza no podem nunca (das em uma interagdo face a face. A estrutura ficagBes e dos padres re- belecidos por meio delas. Assit € um elemento essencial da realidade da vida cotidiana. 82 Um ponto ainda deve ser indicado aqui, embora nko possamos desenvolve-lo. Minhas relagBes com os ltros reo se limitam aos conhecidos e contemporaneos. Rela- Rono-me também com os predecessores aqueles oot me precederam e se segifirao a mim na historia de minha sociedade. Exceto aqueles que so comp: i Henry), rel ages de grantes” ¢ ainda eessores, por motivos co a ainda mais _andni nimato de aml impede, porém,/Ae entrarem como elementOs, na re: ida cotidiana, as vezes de maneira muito d sacrificar minha vida por lealdade, aos ‘ou, no mesmo sentido, em favor das geragbes futuras. 3. A LINGUAGEM E 0 CONHECIMENTO 'NA VIDA COTIDIANA A expressividade humana & capaz de objetivagdes, isto 6 manifesta-se em produtos da atividade humana que esto ao dispor tanto dos produtores quanto dos outros homens, como elementos que sio de um mundo comum. Estas objetivagées servem de indices mais ou menos du- de seus produtores, rm da situagdo face a ymente apreendidas. Por exemplo, uma atitude subjetiva de célera € diretamente fexpressa na situaglo face a face por um certo niimero de indices corpéreos, fisionomia, postura geral do cor- po, movimentos especificos dos bragos ¢ dos pés, ete: 53 Estes indices estéo continuamente ao alcance da vista nna situagaio face a face, e esta € precisamente a razio pela qual me oferecem a situagao 6tima para ter acesso a subj et idade do outro, Os mesmos indices sio in- capazes de sobreviver a0 presente nitido da situagio face a face. A célera, porém, pode ser ot meio de uma arma. Suponhamos que tenha alteragio com outro homem, que me deu_amplas provas expressivas de raiva contra mim. Esta noite acordo com uuma faca enterrada na parede em cima de minha cama. A faca enquanto objeto exprime a ira do meu adversario. Permite-me ter acesso a subjetividade dele, embora eu estivesse dormindo quando ele langou a faca e nunca o tenha visto porque fugit de quase ter-me atingi- do. Com efeito, se deixar 0 objeto onde esta posso vé-lo de novo na manha seguinte e novamente exprime para mim a célera do homem que a langou. Mais ainda, outras pessoas podem vir e olhar a faca, chegando a mesma conclusao, Noutras palavras, a faca em minha parede tornou-se um constituinte objetivamente acessivel da rea- lidade que partitho com meu adversario e com outros jomens. Presumivelmente esta faca no foi produzida de ser langada em mim. Mas a de violencia, quer moti- vada pela cilera quer por considerapiea 8, como matar um animal para comé-to. A faca, enquanto objeto 0 mundo real, continua a exprimir uma intengio geral possivel por causa delas. ido por objetos que “procla- de meus semelhantes, em- i de saber ao ‘certo lar esté “proclamando”, espe- cialmente se foi produzido por homens que nfo conheci bem, ou mesmo no conheci de todo, em situagio face 54 .ce. Qualquer etndlogo ou arqueblogo pode facilmente femunho destas dificuldades, mas o proprio fato $e poder superd-las ¢ reconstruir, partindo de um arte- ‘as intengdes subjetivas de homens cuja sociedade , € uma elogilente prova fagbes. humanas. ivamente importante de (0 € a produgéo humana iguir-se de outras objeti- vag6es por sua intencdo ex; significados subjetivos, Sem diivida, todas as objetiva- ‘gbes so susceptiveis de utiliza¢do como sinais, mesmo quando nao foram primitivamente produzidas com esta intengio. Por exemplo, uma arma pode ter sido origina- jamente produzida para o fim de cacar animais, mas pode em seguida (por exemplo, mum uso cerimonial) tornar-se sinal de agressividade e violencia em geral. Mas ha certas objetivagoes origindrias © expressamente des- tinadas a servir como sinais. Por exemplo, em vez de langar a faca contra mim (ato que presumivelmente ti- nha por intengo matar-me, mas que concebivelmente pode ter tido por lade), meu adversai inha porta, sinal jalmente em estado de inimizade. Este lidade no vai além de indicar a intengao sul de quem o fez, & também objetivamente_ exe realidade comum de que tal pessoa e eu partilhamos jun- tamente com outros homens. Reconhego a intengéo que indica, e © mesmo acontece com os outros homens, € com efeito 6 acessivel a0 seu produtor como “lembrete” jen¢io original ao fazé-lo. Pelo que acabamos de dizer fica claro que ha grande imprecisio tivo de certas em que hd uma fusio muito interessante desses dois usos, néo precisa ser objeto de nosso interesse neste momento. certo miimero de siste- mas. Assim, hé sistemas de sinais gesticulat6rios, de mo- 55

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