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Lady Susan PDF
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Lady Susan
Tradução de Bruna Tavares
http://descobrindojaneausten.blogspot.com
Lady Susan – Jane Austen
Carta 1
Caro irmão:
Não posso me privar do prazer de aceitar o amável convite que me
fez a última vez que nos despedimos, de passar algumas semanas
com você em Churchill e, portanto, se for conveniente para você e a
Sra. Vernon me receberem no momento, espero dentro de poucos
dias, ser apresentada a essa irmã que há tanto tempo desejo
conhecer.
Os bons amigos que tenho aqui imploram com muito carinho que eu
prolongue minha estadia com eles. Porém, seu caráter hospitaleiro
e festivo, os faz levar uma vida social demasiado animada para a
situação que atravesso no momento e meu atual estado mental.
Espero com impaciência o momento em que serei admitida em sua
agradável presença. Anseio ser apresentada aos seus queridos
filhos pequenos, em cujos corações eu estou muito ansiosa para
garantir um interesse.
Em breve precisarei de toda a minha força já que estou a ponto de
me separar de minha própria filha. A longa enfermidade de seu
amado pai impediu-me de dar-lhe a atenção e afeto que lhe eram
de direito, e eu tenho muitas razões para temer que a governanta a
quem confiei sua educação não será capaz de fazê-lo.
Então eu decidi enviá-la a uma das melhores escolas particulares
da cidade, onde terei a oportunidade de deixá-la quando estiver
indo ao seu encontro.
Estou decidida, como vês, a não permitir que me negues a entrada
em Churchill. Seria muito doloroso saber que estás impossibilitado
de me receber.
Sua agradecida e afetuosa irmã.
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S. Vernon
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Querida mãe:
de sua vinda para cá. Portanto, você pode imaginar minha cara
senhora, com que sentimentos estou aguardando sua chegada. Ela
terá a oportunidade de conquistar meu respeito com o poder de
atração que todos elogiam e eu, tentarei proteger-me de sua
influência caso não seja acompanhado de algo mais substancial.
Em sua carta, ela expressou um sincero desejo de se familiarizar
comigo e faz menção muito gentil de minhas crianças, mas não sou
ingênua a ponto de acreditar que alguém que se comportou de
modo tão desatento, senão até cruel, com sua própria filha, possa
se apegar aos meus. A Srta. Vernon está para ser colocada em
uma escola em Londres antes que sua mãe venha para cá. Estou
feliz por isso. A meu ver, é uma vantagem ser separada da mãe. E
uma jovem de dezesseis anos com uma educação tão miserável,
não poderia ser uma companhia desejável aqui. Sei que Reginald
há muito deseja ver a cativante lady Susan e dependemos de sua
adesão a nossa festa em breve.
Fico feliz em saber que meu pai continua muito bem. Com amor.
Catherine Vernon
Carta 4
Querida irmã:
Quero parabenizar a você e ao Sr. Vernon, por estarem prestes a
receber em sua família, a conquistadora mais realizada da
Inglaterra. Eu sempre fui ensinado a considerá-la uma
conquistadora distinta, mas ultimamente têm caído aos meus
ouvidos, alguns pormenores de sua conduta em Langford, que
provam que ela não se confinou a esse tipo de flerte honesto que
satisfaça a maioria das pessoas, mas aspira a mais deliciosa
gratificação, de fazer toda uma família miserável. Seu
comportamento com relação au Sr. Mainwaring, semeou inveja e
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Sou muito grata a você, minha querida amiga, por seus conselhos
em relação ao Sr. De Courcy. Sei que foi dado com a plena
convicção em sua conveniência, mesmo assim, não estou muito
determinada a segui-lo. Não posso tomar uma decisão tão séria
como o casamento. Atualmente, não estou precisando de dinheiro
e, certamente, até a morte de seu pai, obteria pouco benefício
dessa união. É verdade que sou vaidosa o suficiente para acreditar
que ele está ao meu alcance. Eu o fiz consciente do meu poder e
agora posso desfrutar do prazer de triunfar sobre uma mente
predisposta a não gostar de mim e cheia de preconceitos contra as
minhas ações passadas.
Sua irmã também está convencida, espero eu, do quão mesquinho
são os comentários das pessoas em desvantagem de outros,
quando contrariam a influência imediata do intelecto e boas
maneiras.
Vejo claramente que está desconfortável com o meu progresso em
relação à boa opinião de seu irmão, e concluí que não poupará
esforços para me combater. Uma vez que tenho feito duvidá-la da
justiça de sua opinião sobre mim, acho que posso desafiá-la com
êxito. Tem sido um prazer ver o seu progresso em direção a uma
maior intimidade, especialmente observando suas reações afetadas
em consequência da minha dignidade reservada e minha conduta
ante sua abordagem insolente de familiaridade direta.
Meu comportamento tem sido, desde o começo, igualmente restrito,
e nunca havia me comportado de maneira tão pouco sedutora em
toda minha vida, embora talvez, meu desejo de domínio nunca
tenha sido tão forte. Eu o tenho conquistado totalmente, com
sensibilidade e conversa séria, e o fiz, ouso dizer, pelo menos meio
apaixonado por mim, sem parecer um simples flerte.
A consciência da Sra. Vernon merece todo tipo de vingança que
esteja ao meu alcance infligir por suas manobras perversas, isso
bastará para fazê-la perceber que atuo com um comportamento
suave e despretensioso. No entanto, deixe-a pensar o que quiser.
Nunca vi o conselho de uma irmã impedir um jovem de apaixonar-
se, se ele assim o quiser. Estamos avançando agora para algum
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faça Reginald voltar para casa sob qualquer pretexto plausível. Ele
não está em absoluto disposto a nos deixar e eu lhe tenho feito
tantas insinuações sobre o precário estado de saúde de nosso pai,
quanto a decência me permitem fazer estando em minha própria
casa.
Seu poder sobre ele agora deve ser ilimitado, uma vez que
conseguiu remover completamente a opinião anterior que ele tinha
e convenceu-o não apenas a esquecer, mas a justificar sua
conduta.
As informações do Sr. Smith a respeito da conduta de Lady Susan
em Langford, a qual a acusava de ter seduzido o Sr. Mainwaring e
um jovem comprometido com a Srta. Mainwaring, e que Reginald
acreditava firmemente quando chegou aqui, é agora, está
convencido, apenas uma escandalosa invenção.
Ele me disse isso com um ardor, que revelava seu arrependimento
por ter pensado o contrário um dia. Como lamento que ela tenha
vindo a minha casa! Eu sempre vi sua chegada com inquietação,
mas estava longe de sentir esta ansiedade por Reginald. Eu
esperava uma má companhia para mim, mas não imaginava que
meu irmão corresse o menor risco de ser cativado por uma mulher
por cujos princípios ele foi tão bem informado, e cujo caráter ele tão
sinceramente desprezava. Se você conseguir que ele saia daqui,
será uma boa coisa.
Atenciosamente
Catherine Vernon
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Atenciosamente
Reginald de Courcy
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Vernon, com quem sempre foi muito unida, seria destruída pelo
casamento. E nestas circunstâncias, enquanto se explica as
verdadeiras motivações de Lady Susan e remove-se toda a culpa
que tem sido lançada sobre ela, é que nos damos conta de quão
pouco o relatório geral de qualquer pessoa deve ser creditado. Já
que nenhum personagem, por mais reto que seja, pode escapar da
calúnia.
Se minha irmã, na segurança de seu retiro, com tão pouca
oportunidade para se inclinar para o mal, não conseguiu evitar a
censura, não devemos precipitadamente condenar aqueles que,
vivendo num mundo cercados por tentações, são acusados por
erros que se sabe, tem o poder para cometer. Eu me culpo
seriamente por ter acreditado tão facilmente, numa história
caluniadora inventada pelo Sr. Smith contra Lady Susan, como
estou convencido agora de que ele tão fortemente a caluniou.
Quanto ao ciúme da Sra. Mainwaring, foi totalmente invenção sua e
o que nos contou sobre a associação dela com o prometido da Srta.
Mainwaring, teve um fundamento pouco melhor. Sir James Martins
tinha sido induzido por aquela jovem a dar-lhe um pouco mais de
atenção, e sendo ele um homem rico, é fácil entender que seus
planos incluíam o casamento.
É sabido que a Srta. Mainwaring está absolutamente a procura de
um marido, e nada pode portanto, fazê-la perder, pelos atrativos
superiores de outra mulher, a chance de fazer um homem digno
completamente miserável. Lady Susan estava longe de pretender
uma grande conquista e sabendo o quanto afetava a Srta.
Mainwaring a deserção de seu amante, decidiu, apesar das súplicas
do Sr. e da Sra. Mainwaring, por deixar a família. Tenho razões
para imaginar que ela tenha recebido propostas sérias de Sir
James, mas sua remoção para Langford imediatamente após a
descoberta de seu compromisso deve absolvê-la no mesmo
instante por qualquer espírito de imparcialidade.
Você vai, tenho certeza meu caro senhor, reconhecer esta verdade
e saberá fazer justiça a uma mulher ferida.
Tenho certeza que Lady Susan, ao decidir vir para Churchill, foi
tomada das melhores e mais amáveis intenções. Sua prudência e
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coração dói por ela. Lady Susan é certamente muito severa, já que
Frederica não parece ter o temperamento que torne a severidade
necessária.
Ela parece perfeitamente tímida, desanimada e arrependida. Ela é
muito bonita, embora não tão bonita como a mãe e não se pareça
com ela em nada. Sua aparência é delicada, porém não tão
radiante nem tão bonita quanto a de Lady Susan. Ela tem muito dos
traços do Sr. Vernon em seu rosto, o rosto oval e olhos levemente
escuros, e há uma doçura peculiar em seu olhar quando ela fala,
quer para seu tio quer para mim, pois, como nos comportamos
gentilmente com ela, temos naturalmente engajado sua gratidão.
Sua mãe tem insinuado que seu temperamento é intratável, mas eu
nunca vi uma expressão menos indicativa de qualquer má índole
que a dela. E desde que pude comparar o comportamento de uma
para a outra, a severidade invariável de Lady Susan e o desânimo
silencioso de Frederica, sou levada a acreditar como antes, que a
primeira não tem verdadeiro amor por sua filha, e nunca fez justiça
por tratá-la carinhosamente.
Eu não tenho sido capaz de ter qualquer conversa com a minha
sobrinha, ela é tímida, e posso ver que alguns esforços foram feitos
para impedi-la de passar muito tempo comigo. Nada de satisfatório
deixa a transparecer quanto ao seu motivo para fugir. Seu bondoso
tio, tenho certeza, teve medo de fazer muitas perguntas enquanto
viajavam. Eu gostaria que tivesse sido possível para mim ir buscá-la
no lugar dele. Eu acho que teria descoberto a verdade no decurso
de uma viagem de trinta quilômetros.
O pequeno pianoforte foi transferido para seu quarto a poucos dias,
a pedido de Lady Susan, e Frederica passa a maior parte do tempo
ali, praticando, pelo que dizem. Mas eu raramente ouvi qualquer
barulho quando passava por lá. O que ela faz lá não sei. Há uma
abundância de livros, mas não é qualquer garota, que tenha sido
uma selvagem nos primeiros quinze anos de sua vida, que pode ou
quer ler.
Pobre criatura! A vista de sua janela não é muito instrutiva, pois a
vista desse cômodo dá para o gramado com os arbustos, você
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sabe, para um lado, onde ela pode ver sua mãe caminhar por horas
conversando seriamente com Reginald.
Uma menina da idade de Frederica tem de ser muito infantil para
não ser afetada por essas coisas. Não é imperdoável dar tal
exemplo a uma filha? No entanto, Reginald ainda pensa que Lady
Susan é a melhor das mães, e ainda condena Frederica como uma
menina inútil.
Ele está convencido de que sua tentativa de fuga não teve causa
justa, e não teve nenhuma instigação. Tenho certeza de que não se
pode dizer que não teve. Como a Srta. Summers declarou que a
Srta. Vernon não mostrou sinais de teimosia ou perversidade
durante sua estadia em Wigmore Street, até que foi descoberto o
seu plano, não posso tão facilmente dar crédito ao que Lady Susan
o fez acreditar e quer que eu acredite; que era apenas uma
impaciência de contenção e um desejo de fugir da aula e de seus
mestres que a fez planejar a fuga.
Oh Reginald! Como seu julgamento é manipulado! Mal ousa nem
mesmo admitir que ela seja bonita, e quando falo de sua beleza,
responde apenas que seus olhos não têm brilho! Às vezes ele tem
certeza de que ela é deficiente em compreender, e em outros que
seu temperamento é totalmente deficiente. Em suma, quando uma
pessoa está sempre a enganar, é impossível que seja coerente.
Lady Susan considera necessário, para justificar a si mesmo, que
Frederica seja responsabilizada. E considera oportuno acusá-la de
ter uma natureza precária e às vezes a lamentar sua falta de juízo.
Reginald apenas repete o que ela diz.
Atenciosamente
Catherine Vernon
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com Lady Susan ter surtido algum efeito, ele ainda está magoado,
estou certa, por ela ter permitido as atenções de tal homem a sua
filha.
Sir. James convidou-se com grande compostura para permanecer
aqui por alguns dias. Esperava que não achássemos estranho,
estava ciente de sua impertinência, mas tomou a liberdade de uma
relação; e concluiu, desejando com uma risada, que possa ser
realmente muito em breve.
Mesmo Lady Susan parecia meio desconcertada em seu coração
com essa desenvoltura, estou convencida de que ela realmente
desejava que ele fosse embora. Mas, algo deve ser feito por essa
pobre moça, se seus sentimentos são realmente como tanto seu tio
como eu, achamos que são. Ela não deve ser sacrificada pela
diplomacia ou ambição. Não deve ser deixada sofrer de temor. Uma
menina cujo coração sabe distinguir Reginald de Courcy merece um
destino melhor do que ser a esposa de Sir. James Martin.
Tão logo consiga ficar sozinha com ela vou descobrir a verdade,
mas ela parece me evitar. Espero que isso não proceda de nada de
errado e que eu não descubra que tenha julgado ela com excessiva
bondade. Seu comportamento com Sir. James certamente
demonstra muita sensatez e constrangimento, mas não vejo nada
nele que sirva de encorajamento. Adeus, minha querida mãe.
Atenciosamente:
C. Vernon
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Senhora:
Espero que me perdoe pela liberdade que estou tomando. Sou
forçada a isso por uma grande angústia. Caso contrário, me
envergonharia de importuná-la.
Estou muito infeliz por causa de Sir James Martin, e não há outra
solução a não ser escrever para você, uma vez que fui proibida até
mesmo de falar com meu tio e minha tia sobre o assunto.
Sendo este o caso, temo que minha solicitação a você, não pareça
nada mais que um equívoco, como se eu só atendesse as cartas e
não ao espírito das ordens de mamãe.
Mas se você não tomar meu partido e convencê-la a romper com
ele, ficarei muito perturbada, pois não posso suportá-lo. Nenhum
ser humano a não ser você, poderia ter alguma chance de
prevalecer sobre ela.
Se a senhora, portanto, tiver a indescritível bondade de tomar meu
partido perante ela e convencê-la a mandar Sir James Martin para
longe, serei mais grata a você do que me é possível expressar.
Eu sempre desgostei dele, desde o início, não é uma ideia
repentina eu lhe garanto senhora. Eu sempre o achei tolo,
impertinente e desagradável e agora mais do que nunca. Prefiro ter
de trabalhar para ter o meu pão de cada dia a me casar com ele.
Não sei como me desculpar o suficiente por essa carta, e sei que
estou tomando uma liberdade muito grande. Estou consciente do
quão terrivelmente irritada ficará mamãe por causa desta carta, mas
assumo os riscos.
Eu sou, senhora, sua humilde serva.
Frederica S. Vernon.
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Ele não pode ter verdadeira estima para comigo, caso contrário,
não teria dado ouvidos a ela. E ela, com seu coração rebelde e
indelicados sentimentos, lançou-se sob a proteção de um jovem
com quem raramente havia trocado duas palavras antes disso!
Estou igualmente confusa com seu descaramento e sua
credulidade. E como ele ousa acreditar no que ela disse em meu
desfavor? Não deveria ele, ter tido certeza de que eu tinha motivos
incontestáveis para fazer o que fiz? Onde estava a sua confiança no
meu bom senso e bondade, então? Onde está o ressentimento que
o amor verdadeiro teria ditado contra a pessoa que me difamou –
sendo essa pessoa uma pirralha, uma criança, sem talento ou
educação, a quem ele havia sido sempre ensinado o desprezar?
Permaneci calma por um tempo, mas até o mais alto grau de
paciência pode ser derrotado, e espero que depois tenha sido
suficientemente sagaz. Ele se esforçou, se esforçou muito, para
amolecer meu ressentimento, mas só uma mulher muito tola, após
ser insultada com uma acusação, se deixa influenciar com elogios.
Finalmente ele me deixou, mostrando-se tão profundamente irritado
como eu própria. Eu me mantive bastante calma, mas ele deu lugar
a uma indignação mais violenta, o que me faz pensar que vai
diminuir rápido ou até desaparecer para sempre, enquanto a minha
vai permanecer fresca e implacável.
Ele agora está trancado em seu quarto, para onde o ouvi ir quando
deixou o meu. “Quão desagradáveis devem ser suas reflexões!”
poderia pensar. Mas, os sentimentos de algumas pessoas são
incompreensíveis. Ainda não me acalmei o suficiente para ver
Frederica.
Ela não haverá de esquecer tão cedo os acontecimentos deste dia!
Ela irá perceber que despejou sua proposta de amor em vão, e que
se expôs para sempre ao desprezo de todos e ao ressentimento
severo de sua mãe ferida.
Sua afetuosa
Susan Vernon
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Deixe-me felicitá-la minha querida mãe! O caso que nos deu tanta
ansiedade está chegando a um desfecho feliz. Nossa perspectiva é
mais agradável agora, e uma vez que o assunto está tão favorável,
fico triste por já ter transmitido minhas apreensões a você, pois o
prazer de saber que o perigo passou, talvez tenha sido caramente
adquirido por tudo o que você já sofreu.
Estou tão agitada pela alegria, que mal posso segurar uma caneta,
mas estou determinada a enviar-lhe algumas linhas curtas por
James, para dar algumas explicações que vão surpreendê-la
grandemente, Reginald retornará a Parklands.
Eu estava sentada com sir James na sala cerca de meia hora atrás,
quando meu irmão me chamou para fora da sala. Imediatamente
percebi que algo estava acontecendo, sua aparência estava
alterada, e ele falou com grande emoção. Você conhece sua
maneira ansiosa, minha querida mãe, quando fala de algo que lhe
interessa.
“Catherine” disse ele “estou indo para casa hoje. Sinto ter de deixá-
la mas tenho de ir. Já faz muito tempo que não vejo meu pai e
minha mãe. Estou enviando James a minha frente com meus cães
de caça. Se tiver alguma carta, portanto, ele pode levar. Não vou
chegar em casa antes de quarta ou quinta-feira, já que vou passar
por Londres onde tenho negócios a tratar. Mas, antes de deixá-la”,
continuou ele num tom mais baixo, “devo advertir-te de uma coisa:
não deixe que Frederica seja infeliz por causa de sir James Martin.
Ele quer se casar com ela, a mãe promove a aliança, mas ela não
pode suportar a ideia.
“Tenha certeza que falo com a mais plena convicção da verdade do
que digo, sei que Frederica está muito infeliz por Sir James
continuar aqui. Ela é uma menina doce e merece um destino
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respondi, “não acho que seja necessário pedir desculpas a mim por
conta disso. Me sentirei em dívida com qualquer um que seja o
responsável pela ida de meu irmão para casa. Porque” lembrei-me
“meu pai quer muito vê-lo. Mas o que você fez para ocasionar
isso?”
Ela corou profundamente ao responder: “Eu estava tão infeliz por
causa de Sir James Martin que não pude evitar – eu fiz algo muito
errado, eu sei, mas você não faz ideia da miséria que eu estava.
Minha mãe me ordenou que eu nunca mais falasse sobre o assunto
com você ou meu tio.” “Você então falou com meu irmão para que
ele interferisse” disse eu para poupar sua explicação.
“Não, mas eu escrevi a ele. Eu, de fato, levantei esta manhã antes
que houvesse luz, quando faltavam umas duas horas para
amanhecer. E quando minha carta estava pronta, pensei que nunca
teria coragem para entregá-la. Após o café da manhã, no entanto,
quando estava indo para meu quarto, eu o encontrei no corredor, e
em seguida, como eu sabia que tudo dependeria desse momento,
eu me forcei a entregá-la.
“Ele é tão bom que pegou-a imediatamente. Não ousei olhar para
ele, e corri imediatamente. Eu estava tão assustada que mal podia
respirar. Minha tia querida, você não sabe quão miserável eu sou.”
“Frederica”, eu disse, “você deveria ter me contado todas as suas
angustias. Você teria encontrado em mim uma amiga sempre
pronta para ajudá-la. Você acha que seu tio ou eu não teríamos
defendido sua causa tão bem quanto meu irmão?” “na verdade, eu
não tinha dúvidas de sua bondade”, disse ela corando de novo,
“mas, eu pensei que o Sr. de Courcy pudesse influenciar minha
mãe, porém eu estava enganada, eles tiveram uma briga terrível
sobre o assunto e agora ele está indo embora. Minha mãe nunca
vai me perdoar e eu ficarei pior do que nunca.”
“Não, você não vai”, respondi, “ nesta situação a proibição de sua
mãe não deveria ter impedido você de falar comigo sobre o
assunto. Ela não tem o direito de fazê-la infeliz e não vai fazer. Sua
solicitação a Reginald, no entanto, pode ser de benefício para todas
as partes. Acredito que seja melhor assim. No que depender dele
você não ficará infeliz por muito tempo.” Naquele momento, qual foi
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“Eu tenho uma estima real por ele, e me mortificou muito perceber,
como pensava, que essa estima tinha sido tão mal aplicada. Nós
dois estávamos alterados, e claro, os dois eram culpados. Sua
resolução de deixar Churchill é compatível com sua impaciência
habitual.
“Quando entendi sua intenção, no entanto, e quando comecei a
pensar que talvez tivesse sido igualmente equivocado em seu
entendimento, resolvi buscar um esclarecimento antes que fosse
tarde demais. Sempre sentirei certa afeição por qualquer membro
de sua família, e eu teria me sentido sensivelmente machucada se
minha familiaridade com o Sr. de Courcy tivesse acabado tão
melancolicamente.
“Tudo que tenho para dizer ainda é que, já que estou convencida de
que Frederica tem uma aversão razoável por Sir James, eu
instantaneamente devo informá-lo que ele deve abandonar qualquer
esperança por ela. Eu me censuro por ter, mesmo que
inocentemente, feito-a infeliz por causa desse assunto. Ela terá
todas as retribuições que estiverem ao meu alcance fazer. Se ela
valoriza sua própria felicidade tanto quanto eu, se julgar com
sabedoria e se dominar a si própria como deveria, ela pode agora
ser mais fácil de lidar.
“Desculpe minha querida irmã, por tomar assim o seu tempo, devo
isso ao meu próprio caráter, e após essa explicação, espero não
estar em perigo de afundar em sua opinião.” Eu poderia ter dito:
"Não muito, certamente!" Mas deixei-a quase em silêncio. Foi o
maior trecho de paciência que eu poderia praticar. Eu não teria
conseguido parar se tivesse começado. Sua confiança! Sua fraude!
Mas não vou me permitir alongar-me sobre eles, pois lhe parecem
suficientes. Meu coração adoece dentro de mim.
Assim que fiquei razoavelmente composta, voltei à sala. A
carruagem de Sir James estava na porta, e ele, alegre como de
costume, logo em seguida se despediu. Com que facilidade sua
senhoria promove ou demite um amante!
Apesar desse livramento, Frederica ainda parece infeliz. Ainda com
medo, talvez, da ira de sua mãe, e, embora temendo a partida de
meu irmão, ciumenta de sua permanência. Eu vejo como ela
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Esta carta, minha querida mãe, será levada até você por Reginald.
Sua prolongada visita está prestes a ser finalmente concluída,
mas temo que esta separação aconteça tarde demais para nos
trazer algum bem.
Lady Susan está indo a Londres para ver sua amiga particular, a
Sra. Johnson. Sua primeira intenção foi levar Frederica com ela,
para receber auxílio dos mestres, mas nós anulamos esta ideia.
Frederica estava infeliz com a ideia de ir, e eu não podia suportar
vê-la a mercê de sua mãe. Nem todos os mestres de Londres
poderiam compensar a destruição de seu bem-estar. Eu deveria
temer, também, por sua saúde e por tudo, exceto seus princípios.
Não posso acreditar que ela não seria prejudicada por sua mãe, ou
pelos amigos de sua mãe. Com esses amigos (um péssimo
conjunto, sem dúvida), ela teria de se misturar, ou seria deixada na
solidão total. Eu mal posso dizer o que teria sido pior para ela. Além
disso, se ela estivesse com sua mãe, estaria (ai de mim!),
possivelmente com Reginald, e isso seria o pior de tudo.
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Cheguei à última noite a cerca das cinco horas, mal tinha engolido o
meu jantar, quando Mainwaring fez a sua aparição. Não vou
disfarçar o verdadeiro prazer que seus olhos me proporcionaram,
nem como senti o forte contraste entre a sua pessoa e seus
costumes e os de Reginald, em desvantagem infinita deste último.
Por uma ou duas horas, fiquei ainda cambaleando em minha
resolução de me casar com ele, e embora essa ideia fosse muito
ociosa e absurda para permanecer em minha cabeça por muito
tempo, não me sinto muito ansiosa para a celebração de meu
casamento, nem olho com impaciência o momento em que
Reginald, de acordo com o nosso combinado, virá para a cidade. Eu
provavelmente adiarei sua chegada sob algum pretexto ou outro.
Ele não pode vir até que Mainwaring tenha desaparecido. Eu ainda
fico duvidosa, às vezes, quanto ao casamento. Se seu velho pai
morresse eu não hesitaria, mas o estado de dependência e de
capricho de Sir Reginald não irão ajustar-se a liberdade do meu
espirito; e se eu resolver esperar por esse evento, será desculpa
suficiente no momento, eu ter ficado viúva a apenas dez meses.
Eu não dei a Mainwaring nenhum indicio de minhas intenções, ou
lhe permiti considerar meu flerte com Reginald nada mais do que
um flerte comum, e ele pareceu razoavelmente satisfeito.
Adeus, até nos encontrarmos. Estou encantada com meus
aposentos.
Sempre sua:
S. Vernon
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Sr. De Courcy à Lady Susan
Hotel
Escrevo apenas para dar o adeus. O feitiço foi removido; vejo você
como você realmente é.
Desde que nos separamos ontem, tenho recebido de uma
autoridade incontestável tal história a seu respeito, que deve levar a
mais mortificante convicção do engano a qual fui submetido, e da
necessidade absoluta de uma separação imediata e eterna de você.
Você não deve ter dúvida do que me refiro.
“Langford! Langford!” Essa palavra será suficiente. Recebi as
minhas informações na casa do Sr. Johnson, da própria
Sra. Mainwaring.
Você sabe como eu amei você, e pode intimamente julgar meus
atuais sentimentos. Mas eu não sou tão débil de
encontrar prazer em descrevê-los a uma mulher que se sente
gloriosa em aguçar minhas angustias, mas cujo afeto nunca fui
capaz de ganhar.
R. de Courcy
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Não vou tentar descrever o meu espanto ao ler a nota que recebi de
você neste momento. Estou confusa em meus esforços para
formar uma conjectura racional do que a Sra.Mainwaring pode ter-
lhe dito que venha a causar uma mudança tão extraordinária em
seus sentimentos. Já não tenho explicado a você tudo com respeito
a mim mesma que poderia ter um significado duvidoso, e que a
natureza maldosa do mundo havia interpretado a meu descrédito?
O que você poderia ter ouvido agora que fizesse cambalear sua
estima por mim? Tenho eu algum segredo para você?
Reginald, você me agita além do que posso expressar, não posso
crer que a velha história de ciúmes da Sra. Mainwaring esteja se
repetindo novamente, e nem que esteja sendo ouvida novamente.
Venha a mim imediatamente e explique o que, até o presente, é
incompreensível.
Acredite-me, a simples palavra “Langford”, não é de tão forte
compreensão que suplante a necessidade de mais explicações. Se
vamos romper, será educado da sua parte, ao menos, que se
despeça pessoalmente. Mas eu tenho pouco ânimo para
brincadeiras, na verdade, eu sou séria o bastante. Afundar, mesmo
que por uma hora, em sua estima é uma humilhação para qual não
sei como sujeitar-me. Contarei cada minuto até sua chegada.
Susan Vernon
Carta 36
Por que você me escreve? Por que me pede detalhes? Mas, já que
é assim, sou obrigado a declarar que todos os relatos de sua má
conduta durante a vida e após a morte do Sr. Vernon, que haviam
chegado até mim, e que eu acreditei completamente antes de
conhecê-la, mas que você com o exercício de suas habilidades
perversas fizeram-me decidido a não aceitar, provaram-se
incontestáveis para mim.
Não obstante, estou certo de que um relacionamento do qual eu
nem sequer havia cogitado pensar, já há algum tempo existiu, e
continua a existir, entre você e o homem cuja família é roubada de
sua paz em troca da hospitalidade com que você estava nela
recebida; que você tem se correspondido com ele desde que deixou
Langford, não com sua esposa, mas com ele, e que ele agora a
visita todos os dias.
Você pode, você se atreve a negar isso? E tudo isso enquanto eu
era encorajado, um amante aceito! Do que escapei! Eu só tenho a
agradecer! Longe de mim ficar me queixando ou suspirando de
arrependimento. Minha própria loucura tinha me ameaçado, meu
atual estado de conservação deve-se à bondade, a honestidade de
outros; mas a infeliz Sra. Mainwaring, cujas agonias de quando
relatava o passado parecia ameaçar sua razão, como poderá ser
consolada?
Após uma descoberta como esta, você dificilmente ficará admirada
com o significado de minha despedida. O meu entendimento está
completamente restaurado, e ensinado a abominar os artifícios que
haviam me subjugado, assim como a desprezar-me pela fraqueza
em que sua força foi fundada.
R. de Courcy
Carta 37
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Lady Susan – Jane Austen
Carta 38
Estou triste, mas não posso dizer que fui surpreendida por sua
ruptura com o Sr. De Courcy, ele acaba de informar o Sr. Johnson
disso por carta. Ele deixa Londres, segundo disse, hoje.
Esteja certa de que eu partilho todos os seus sentimentos, e não
fique zangada se eu disser que nossa relação, mesmo por carta,
em breve terá de ser interrompida.
Isso me faz infeliz, mas o Sr.Johnson jura que se eu persistir nessa
amizade, ele irá se estabelecer no campo pelo resto de sua vida, e
você sabe que é impossível se submeter a tal extremidade, ao
passo que não me resta alternativa.
Você deve ter ouvido, sem dúvida, que os Mainwarings estão de
partida, e eu tenho medo que a Sra. M volte aqui novamente. Mas
ela ainda está tão apaixonada por seu marido, e se aflige tanto por
ele, que possivelmente não poderá viver muito tempo.
65
Lady Susan – Jane Austen
A Srta. Mainwaring está para chegar à cidade para ficar com sua
tia, e dizem que ela declara que terá Sir James Martin antes de sair
de Londres novamente. Se eu fosse você, eu certamente o pegaria
para mim.
Eu quase me esqueci de dar minha opinião sobre o Sr. De Courcy;
eu fiquei realmente encantada por ele. Ele é tão elegante, em minha
opinião, quanto o Sr.Mainwaring, e é tão aberto e tem um
semblante tão bem-humorado que não se pode deixar de amá-lo a
primeira vista. O Sr. Johnson e ele se tornaram os melhores amigos
do mundo.
Adeus minha querida Susan. Desejava que a situação não tivesse
ficado tão ruim. Que desafortunada visita a Langford! Mas ouso
dizer que você fez tudo para o bem e que o destino não foi
desafiado.
Sua sinceramente afeiçoada;
Alícia
Carta 39
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Lady Susan – Jane Austen
Carta 40
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Carta 41
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C. Vernon
Conclusão:
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Fim
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