JORGE ALBERTO ROMEIRO
Ministro aposentado do Superior Tribunal Militar,
Professor aposentado da Faculdade de Direito da UFRJ e
Membro Titular da Academia Brasileira de Letras
Juridieas.
Curso de
Direito Penal
Militar
(Parte geral) ~
1994
editora
SARAIVACAPITULO VII
‘Sumério: 48. Crime militar. Crimes pura ou propriamente
militares e acidentalmente ou impropriamente militares. Crime
ppréprio militar. 49. Crimes militares em tempo de paz e de guer-
ra, Os arts, 9 ¢ 10 do CPM. 60. Pena para os erimes praticados
em tempo de guerra. 61. Crimes praticados em prejuizo de pais
aliado,
48. Crime militar. Crimes pura ou propriamente
militares e acidentalmente ou impropriamente
militares. Crime prdprio militar
Determinando a atual Constituigao Federal que “a justiga militar
compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei” (art.
124), manteve 0 tnied eritério existente em nosso direito, desde a Cons-
tituigdo de 1946 (art, 108), para a conceituagéo dos erimes militares: 0
denominado critério ratione legis.
Crime militar é 0 que a lei define como tal.
0 ceritério ratione legis 6 também o adotado na Alemanha ¢ na
Italia
Dispie o § 2, 1, do CPM de 1957, alterado em 1974, da ex-Repi-
blica Federal da Alemanha (WS1G): “Crime militar é toda ago que a
segunda Parte desta lei sanciona com uma pena” (ist eine militarisehe
Straftat eine Handlung, die der Zweite Teil dieses Gesetzes mit Strafe
bedraht);¢ 0 art. 37 do Codice Penale Militare di Pace italiano de 1941:
“Qualquer violagdo da Iei penal militar 6 erime militar” (Qualungue
violazione della legge penale militare & reato militar).
Nossa legislagao antiga e ja revogada, sem dizer em que consis-
tiam, aludia a erimes puramente militares! e propriamente militares”
1, Cédigo Criminal de 1890, art. 808, § 2°; Cédigo do Procesco Criminal do
1892, art. 8% Cédigos Penais de 1890, art. 6%, b; e de 1969, que sé foi publi
ado e ndo entrou em vigor, art. 67, § 2% Lei n. 2.416, de 1911, art. 2, V, @;
Decreto-Lei n, 394, de 1938, art. 2%, VIL, a; os dois wltimos diplomas legais
sao relativos a extradigio,
2. Decreto Legislative n. 3.351, de 3-10-1917: “Art.
Os delitos propriamente
66[A vigente se refere a crime propriamente militar e crimes milita-
res préprios, respectivamente, nos arts. 5, LXI, da Constituigao Fede-
ral 0 64, II, do CP comum, também sem esclarecer o que sejam’.
Obvia 6, assim, a existoncia, em nosso direito penal militar, como
no de outros paises cultost, de duas eategorias de crimes: a dos que noseo
‘Vigente direito positivo denomina crimes propriamente militares ou cri-
mes militares préprios e, conseqtientemente, em contraposigéo, a dos
crimes impropriamente militares ou acidentalmente militares.
Embora sem os definir, nossos vigentes diplomas legais citados
atribuem aos crimes propriamente militares relevantes efeitos juridicos.
Determina a Constituigo Federal que “ninguém sera preso senso
‘em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autorida-
de judiciéria competente, salvo nos casos de transgressio militar ou crime
‘propriamente militar, definidos om lei” (att. 5%, LXD). B dispée o CP c0-
mum que “para efeito de reincidéncia... n&o se cnsideram os crimes
militares préprios e polticos” (art. 64, 1D.
‘Que vem a ser, afinal, crimes propriamente militares, no diver de
Bsmeraldino Bandeira’, “panto nao s6 muito discutido sendo muito con-
fundido por logisladores e juristas”?
‘Vamos busear seu coneeito no terreno da doutrina, onde até ago-
ra s6 tem sido construfdo em nosso direito. Nessa matéria, reverencia-
ram os legisladores pétrios ao prinefpio lex imperat, non dacet.
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‘militares, quando praticados par oficiais ou prapas das polfcias militarizadas
Ga Unido e dos Estados, serao punidos com as penas cominadas na lei
militar”
3. 0 ineiso IIT do art. 614 do CPPM, com a redacio da Lei n. 6.544, de
0-6-1978, se refere a militar ‘punido por erime préprio". Vejam-se on. 119,
sobre a revogagao da suspenséo condicional da pena, e # nota 7 do Capitu-
lo XV.
4, Vejam-se, na Franca, Paul-Julien Doll, Analyse et Commentaire de Code
ide Justice Militaire, Paris, 1968, p. 299; Pierre Bouzat e Jean Pinatel, Traité,
cit, t 1, n. 169, p. 244; na Italia, Ciardi, Istituziont, cit. v. 1, p. 156-9; em
Portugal, Manuel Cavaleiro de Ferreira, Direito penal portugués, 2. ed. Lis:
‘bos-Sio Paulo, 1982, v. 1, n. 88, p. 228; na Argentina, Eugenio Ravi Zaffaroni
‘e Ricardo Juan Cavallero, Derecho penal militar, Buenos Aires, 1980, p. 206;
ho Chile, Astrosa Herrera, Derecho penal, cit., p. 86-7; no Uruguai, Bayardo
Bengoa, Derecho penal, et., p. 63-5; e na Repiiblica Democratica do Zaire,
Le Général Likulia Bolongo, La compétence diattribution des jurisdictions
miliaires en femps de paix en droit comparé zatrois, belge et frangais, Paris,
1975, p. 87 ¢ 178.
5. Tratado, ct... 129, initio, p. 128, in fine
or
es