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Oco do mundo – reflexões de Ceiça Almeida – 03 de dezembro

de 2018

O oco do mundo é popularmente conhecido como o lugar que


não existe. Para mim não! Eu sou muito afeito as palavras de
Estamira, aquela catadora de lixo que diz “tudo o que é imaginário, é
real e existe!”. E para mim, o oco do mundo é uma expressão muito
forte, porque é uma expressão que os antigos sempre usaram,
quando queriam se referir a um lugar muito longe e inacessível. É
também uma expressão que é usada pelo Robson Marques, meu
grande mestre que se refere ao oco do mundo. É também uma
expressão que diz do não lugar, que é o lugar ao mesmo tempo, de
sonhos, mistérios, medos, utopias, o lugar do além, do sem fim, das
lendas, dos personagens fantásticos, dos segredos, e assim por
diante.

Queridos habitantes do oco do mundo, aqui pode ser pensado


que vocês não operam, mas vocês, personagens que habitam o oco
do mundo são como aquela parte demens de que fala Edgar Morin
quando conceitua o homem, o homem é sapiens demens. Vocês são a
parte demens, são a parte de insuflar a superação do impossível e de
sonhar.

O oco do mundo é difuso, volátil, inacessível, arcaico, invisível.


Claude Lévi-Strauss tem uma frase que diz, “sempre haverá o
inacessível!” O oco do mundo talvez seja essa coisa inacessível, por
isso que ele retrata uma sabedoria mais seminal, pois não se prende
a uma definição, e portanto, o oco do mundo é indefinível. Ele está no
cancioneiro popular, nas pessoas antigas, na fala de Robson, ele é o
indizível, o inacessível, como se fosse o grande magma, é fugaz, algo
da ordem da condição humana. É o lugar onde o vento fez a curva, e
isso me leva a pensar que somente um pensamento de ousadia é
capaz de ser um habitante do oco do mundo, porque é capaz de se
contaminar pela audácia, pela liberdade, pelo pensamento que
vagabundeia. O oco do mundo é lugar que abriga a parte poética da
vida. As narrativas sobre o mundo que se expressam pela arte da
poesia, do cordel e assim por diante. Lembro bem, a esse respeito por
exemplo, com o ingresso no doutorado em Educação da UFRN, eu
escrevi um pequeno manifesto que intitulei

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