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A arquitetura escolar
e a prática pedagógica
UDESC/SOCIESC
2004
II
Joinville
2004
III
AGRADECIMENTOS
A DEUS, pela força e pela luz que muitas vezes parecia ser tão fraca.
A minha família, que com carinho tolerou minha ausência em momentos tão
importantes e, em silêncio, me apoiou.
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos meus pais, Pérsio e Cida, que sempre me
companheiro e esposo, Sílvio, que tanto me incentiva e que com sua paciência e
seu amor, junto de mim, revisa letra a letra e me ensina a cada instante ter cuidado
para escrever. E a minha princesa, Beatriz, que está prestes a chegar e que
não era nem um pouco cômoda para ela, e que foi um dos principais incentivos na
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO...........................................................................09
2. HISTÓRIA E TEORIA...............................................................19
3. INDO A CAMPO........................................................................49
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................60
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................73
VI
6. ANEXOS.........................................................................................76
RESUMO
por base a trajetória dessas duas áreas ao longo da história e estudos teóricos
ABSTRACT
This work proposes to discuss the influence of architecture on education, from three
starting points: first, the trajectory of these two areas in history; second, the
theoretical studies carried out, especially by Foucault, Neufert and Paulo Casé; and,
third, field research carried out between 2002 and 2004 in teaching institutions in
three Brazilian states (São Paulo, Santa Catarina and Rio Grande do Sul). The
survey of data resulted in the formulation of proposals for construction of the ideal
school space, and that at the end of the work, some of them were put into practice by
one of the institutions researched. The focus was particularly on how the architectural
environment affects the learning process of the pupil, considering the requirements
such as acoustics, lighting, physical and visual comfort (colors) and furnishing.
practice.
9
1. INTRODUÇÃO
do aluno e sua relação com o ambiente escolar. O papel do meio físico, da estrutura
onde se dá o ensino e onde o aluno passa grande parte do seu tempo, fez surgir o
verificando até que ponto ela pode interferir na prática pedagógica e desempenho do
aluno nas escolas e universidades. O foco será principalmente a sala de aula, que
hoje, na maioria das escolas, está sendo utilizada por alunos de diversas faixas
universidade, que muitas vezes usam o mesmo tipo de sala de aula. Verificando nas
estudiosos da área, como Richard Neutra, Paulo Mendes da Rocha, Paulo Casé,
Oscar Niemeyer, Frank Lloyd Wright, Antoine Predock, Ernest Neufert, além de
teóricos como Michel Foucault, Fustel de Coulanges, Pierre Bourdieu, Júlia Varella e
Mário Manacorda.
10
fundamentais que amparam a vida humana" (ROCHA, 2001:15). Assim, ele coloca os
plano do conhecimento. Tomando essa idéia inicial como parâmetro para analisar o
mundo de hoje, pergunta-se: onde está o foco do amparo à vida humana? Quais são
desamparo do homem? Antes disso, porém, surge uma questão que parece anterior
a todas as outras: onde deve nascer a maior preocupação com o ser humano senão
na escola? Todos concordam que é ali, naquele espaço público, que se forma a
base do cidadão. Porém, como toda disciplina recente, a Arquitetura Escolar ainda
está recheada de muitas suposições teóricas sem comprovação, embora não haja
humano.
para criar novos horizontes, usando a imaginação quanto à forma das coisas que
1
Paulo Archias Mendes da Rocha nasceu em Vitória, no Espírito Santo, formou-se na Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade Mackenzie, em São Paulo, em 1954, e lecionou na USP.
Tem como principais projetos o pavilhão do Brasil na Expo 70, em Osaka (Japão) e o Museu
Brasileiro de Esculturas em São Paulo, obra que lhe valeu a indicação do prêmio Mies van der Rohe
de Arquitetura Latino-americano de Barcelona (1999).
11
e das cores nas pessoas, o arquiteto poderá interagir com os demais profissionais
2
Richard Neutra (1892 – 1970), austríaco naturalizado americano, foi um dos mentores da chamada
arquitetura social. Sua visita ao Brasil, em 1945, inspirou a publicação, três anos mais tarde, do livro
Arquitetura social em países de clima quente (São Paulo: G. Todtmann, 1948), em que reuniu
projetos realizados para o programa de educação e saúde do governo de Porto Rico, além de
trabalhos para áreas habitacionais na Califórnia.a conciliava racionalização e adequação climática.
3
Citado por AMORIM, Luiz & LOUREIRO, Cláudia, em comunicação apresentada no IV Seminário
Docomomo Brasil, realizado em Viçosa (MG) de 30 de outubro a 3 de novembro de 2003.
12
em salas fechadas, mal ventiladas, algumas com janelas tão altas que mal permitem
mesmo tempo tão antiga — defendida por Neutra e outros — não prosperaram por
conceitual, serão propostos projetos que se encaixem nas soluções apontadas por
este estudo, de modo a contribuir para que a arquitetura passe a ser vista como um
construções melhores e mais seguras, fez com que se buscasse aplicar esse
modo geral, costumam chegar bastante tarde. A base de inspiração, mais uma vez,
bem-estar dos alunos. Antes de tudo, é preciso deixar clara a dimensão histórica da
Ao tratar da questão espaço escolar, temos que nos haver com dois
estados da história (ou do social): a história, no seu estado
objetivado, quer dizer, a história que se acumulou ao longo do tempo
nas coisas, máquinas, edifícios, monumentos, livros, teorias,
costumes, direito, etc. e a história no seu estado incorporado, que se
4
tornou habitus . (BOURDIEU, 1989:82)
simples e corriqueira: quando se leva uma criança pela primeira vez à escola, ela
que lhe causou o "espaço", a estrutura, as cores, enfim, o conjunto físico do colégio.
que depois de algum tempo ela não terá seu desenvolvimento educacional afetado
pelo fato de estar num lugar que lhe desagrada? Esse é o ponto sobre o qual muitos
4
Habitus é um dos conceitos-chave da teoria de campo em Bourdieu. Segundo ele, habitus é esta
espécie de sentido do jogo (...) que faz com que se faça o que é preciso fazer no momento próprio,
sem ter havido necessidade de tematizar o que se havia de fazer e, menos ainda, a regra que permite
gerar a conduta adequada. (Bourdieu, 1989, p. 23)
14
Brasil e depois no livro A cidade desvendada, o arquiteto Paulo Casé5 faz referência
Corbusier.
dos moradores provocou uma "reação conflituosa", gerando uma série de "atos de
Nesse mesmo texto, Casé ilustra sua crítica à arquitetura modernista6 com
outro exemplo curioso, que diz respeito mais diretamente à linha deste trabalho.
5
Paulo Casé (Rio de Janeiro, 1931) é arquiteto premiado nacional e internacionalmente, além de
professor universitário. Publicou durante dez anos uma coluna sobre arquitetura e urbanismo no
Jornal do Brasil. Representou o país na Bienal Internacional de Paris em 1967. Tem como principais
projetos o hotel Porto do Sino (Jurutuba, SP), o prédio da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo, o
edifício residencial Ipanema e a Igreja Union Church (Barra da Tijuca).
6
Refere-se a toda inovação nas artes e na arquitetura processada no século XX. Concreto, vidro e
armações de ferro são moldados pelos construtores de forma funcional.
15
a estudar, não é essa. Fora do seu castelo de papel, tudo é desproporcional. Nem
grande pé direito do ginásio de sua escola. Ele argumenta que é lícito indagar quais
espaciais permitirão que eles recriem seu microcosmo, tão necessário ao seu mundo
Paulo Casé não dá respostas, mas propõe questões para serem refletidas
pelos profissionais da área. Veja-se sua conclusão: “O arquiteto tem sob sua
pessoas.”
Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo. Ali, muitos foram os desafios para a
intervir dentro das escolas com uma visão de futuro, na tentativa de contribuir para
Para chegar a esses elementos, nada melhor do que partir da tradição. Por isso,
será feita uma viagem pelo tempo desde a pré-dinastia na Mesopotâmia até a sexta
dinastia no Egito. Nesse percurso histórico, será enfatizada a descrição dos templos
passará ainda por Roma, onde a análise da arquitetura será incorporada à história
desde a 5ª série até a universidade num mesmo prédio (um dos grandes desafios
educação a distância.
ao longo da história, será feito estudo entre elas para apontar as semelhanças nos
– Na primeira, a da história da antiga Idade Média, será feita uma leitura das
7
Ernst Neufert foi professor da Escola Politécnica de Darmstadt, Alemanha, é arquiteto e autor de um
dos livros mais usado até hoje por arquitetos, engenheiros e designers — A arte de projetar em
arquitetura, que traz mais de 4.700 figuras e que, quase meio século após a primeira edição, continua
sendo reeditado no mundo inteiro.
18
das obras de grandes mestres como Frank Lloyd Wright8 e Oscar Niemeyer, além de
outros menos conhecidos, como Paulo Mendes da Rocha, Paulo Casé e Antoine
Predock9;
das salas de aula. Como conclusão, tenta-se chegar próximo de um projeto ideal,
unindo teoria e prática, com propostas a serem utilizadas num espaço escolar
escolares.
8
Frank Lloyd Wright, arquiteto norte-americano que projetou mais de mil edifícios nos seus 92 anos
de vida e exerceu grande influência na arquitetura do século XX. Suas obras mais famosas são a
Casa das Cascatas (Fallingwater) e o Museu Guggenheim de Nova York.
9
Antoine Predock, arquiteto norte-americano, notabilizou-se por edifícios escolares como o da
Universidade do Arizona, da Universidade Politécnica da Califórnia e do Nelson Fine Arts Center.
19
2. HISTÓRIA E TEORIA
De início, propõe-se aqui uma breve viagem histórica para que se possa
Mas seria bem mais tarde, no Oriente Médio, nasceria o que se chama hoje de
que ali viviam foram muito criativos na arquitetura. A existência de dois grandes
vales, formados pelos rios Tigre e Eufrates, fez com que se preocupassem mais com
Egito sempre foi fiel a sua arte, arquitetura, sem interferências de outras regiões.
20
terra no meio das águas — sua principal característica, que beirava à monotonia, era
ser plana. Isso só era quebrado pelo Tigre, pelo Eufrates e pelos remanescentes
começa por volta de 2350 a.C. com a dinastia acadiana, sendo que após um breve
citação a seguir:
10
“O grande sistema de fortificação e a porta da Babilônia, a pequena cidade do palácio e do jardim
real (palácio de Nabucodonosor) e o templo central (templo de Marduk), foram de tal grandeza
arquitetônica que merecia figurar entre as sete maravilhas do mundo.”
21
pastoril e sua própria rede de irrigação. Mas, uma vez que essas
comunidades estavam alinhadas ao longo dos principais cursos de
água como uma coleção de pérolas num colar, elas tinham
necessariamente que chegar a formas de cooperação e tolerância
mútua. Os historiadores foram propensos a salientar o surgimento de
estados centralizados que exerceram controle sobre territórios
freqüentemente muito vastos, mas a unidade sociopolítica mais
duradoura e bem-sucedida a surgir na Mesopotâmia continuou a ser
cidade-estado. (LEICK, 2003:14)
A primeira cidade a ser criada foi Eridu. Leick dizia que ela era o Éden
adobe, surgiu o mais puro exemplar da arquitetura antiga. Nos templos, sempre
Merece registro, aqui, essa informação das câmaras centrais flanqueadas por
salas e com um pódio ao centro, pois se trata de um tipo de construção que será
colocados numa argamassa de barro. Como eram bastante ligados à religião, não
poderia ser diferente que as duas maiores obras desse período fossem dois
22
câmaras menores. Típico da época, várias entradas compridas são feitas nas
laterais, e, apesar de terem usado a pedra rara para sua construção ao invés do
barro não cozido, isso em grandes vãos e que depois foram copiados na arquitetura
graus. Nessas colunas havia elementos decorativos com cores vibrantes como a
11
E-anna tinha 62 metros de comprimento por 11,30 metros de largura.
23
por meio de degraus, chegando no chamado Templo Branco. Apesar de também ter
uma planta retangular, nada lembra o anterior. A sala central é apenas um retângulo
e reparações, o que provocou essa graduação do nível do solo. Outra razão é que
eles diziam que os deuses eram habitantes das montanhas, e estariam em um plano
mais elevado do que os homens. Isso fez com que a teoria de um plano alto fosse
adotada pelo povo semítico, seminômade, que entrou em relação com a cultura
contrastantes como o azul e o amarelo, e figuras geométricas. Leick afirma que são
Mesopotâmia, com início por volta de 2700 a.C., fazendo com que passasse a existir
pré-dinastia. Exemplo disso é o Templo Khafajah, que deixou de ser isolado sobre
uma plataforma, como em Eridu e Uruk. Foram construídas duas muralhas ovais
irregulares para proteger a área sagrada do santuário, que devia ficar separada da
cidade. Assim como o templo, tem uma planta diferenciada: sua base quase
quadrada, com grande sala central, uma cela central, duas salas de culto, câmaras e
capelas laterais (Garbini, 1979:33). Tudo isso leva a supor que havia interesse em
Outra grande obra desse milênio foi um palácio em Kish, formado por grupos
Mesopotâmia. Um grande pátio central com salas distribuídas nas laterais mostrava
seu diferencial, porém, trazendo também uma parede externa maciça, que formava
principal seria uma fileira de quatro pilares de tijolos. Acredita-se que essas
Suméria.
coisa pode ser citada desse período na área da arquitetura. Conforme o estudo
desenvolvido por Garbini, nota-se uma influência egípcia que deve ter chegado
através da Assíria.
ambiciosas, a pedra pela primeira vez se destacara em grande escala. Uma torre de
seis andares, com cerca de 65 metros de altura, tinha finalidade diversa: a capela
pirâmides baixas e truncadas com uma ou mais câmaras em seu interior. O pesado
mesopotâmica por parte dos egípcios. E Zoser representou essa fase crítica da
arquitetura.
Sobre a quarta dinastia, Garbini diz: “As grandes obras de arte desse período
um marco até hoje. As três pirâmides colossais de Gizé foram construídas pelos
12
Primeiro arquiteto nomeado no mundo, foi ele quem construiu a primeira pirâmide no Egito. Doutor,
arquiteto, priest elevado, escrevente e vizir do rei Djoser.
26
pirâmides de três das suas rainhas. Essa beleza de estrutura exigiu um longo
Após esse período de afirmação da cultura egípcia, ocorre uma crise no final
Giza. No fim da sexta dinastia houve novamente uma guerra civil do Egito, e mesmo
assim o período viu surgir obras de mais sensibilidade, harmonia nas estruturas, na
monumentos são citados sem muita ênfase por parte dos estudiosos. Mas o que foi
alguns pontos em comum com a atualidade, muitos deles de suma importância para
pelos pais; e em outras, pelos escribas. Nos destroços de cidades babilônias foram
encontradas várias plaquetas nos pátios e jardins, como cita Leick, quando fala de
Nipur:
escolar: escolhiam pátios centrais para serem melhor vigiados, mas ali colocavam
jardins e bancos para tornar o ambiente mais leve. Na Grécia, a educação era
menos rígida, mas nos templos sempre existiam os famosos pátios e jardins para
presente, embora se deva ressaltar que tudo isso vinha de uma cultura grega.
29
[...] a arquitetura não é mais simplesmente para ser vista (fausto dos
palácios), ou para vigiar o espaço exterior (geometria das fortalezas),
mas para permitir um controle interior, articulado e detalhado — para
tornar mais visíveis os que nela se encontram; mais geralmente, a de
uma arquitetura que seria um operador para a transformação dos
indivíduos: agir sobre aquele que se abriga, dar domínio sobre seu
comportamento, reconduzir até eles os efeitos do poder, oferecê-los
a um conhecimento, modificá-los. As pedras podem tornar dócil e
conhecível. O velho esquema simples do encarceramento e do
fechamento — do muro espesso, da porta sólida que impedem de
entrar ou de sair — começa a ser substituído pelo cálculo das
aberturas, dos cheios e dos vazios, das passagens e das
transparências... (FOUCAULT, 1997:144)
Na baixa Idade Média a escola passa a ter seu espaço dentro dos mosteiros,
entrando então a visão mais rígida de segurança, vigia e regras. Manacorda cita
aos alunos. Manacorda chega a dizer que nos anos trezentos e quatrocentos as
prisões analisadas por Foucault, pois se trata de discutir o uso público do espaço,
das regras, dos castigos e das formas arquitetônicas. Em Vigiar e punir, Foucault faz
que ponto influencia na prática pedagógica? Foucault lança algumas idéias ao falar
da tortura nas prisões e nos semi-internatos do século XVIII e XIX, aplicada quando
os alunos erravam ou faziam alguma coisa que estivesse fora das regras da escola,
ou até das regras do aprender e do saber. Falando do que viria a ser o saber, ou até
que ponto esse saber deve ser tido como qualificado ou não, Varela e Úria formulam
escolar: um pátio central com um pódio13 para as manhãs cívicas, as salas ao redor
para serem vigiadas, e em uma das pontas havia a sala da diretoria ou chefia, com
vidros para que pudessem ter total controle dos alunos. Mais tarde, foram colocadas
persianas para não ficar tão nítido à vigilância, mas de forma que a chefia pudesse
ver. Recorda também dos castigos: quando alguém desobedecia às regras, ficaria
sozinho em uma sala fechada, sem contato algum, até a aula acabar, como nas
prisões citadas por Foucault, que tinham as celas solitárias. Recorda ainda dos
famosos vigias para verificar se as aulas estavam sendo dadas ou se os alunos não
13
Plataforma onde se posta o maestro
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marcadas. Cada um sabia qual era a sua e, assim, se ocorresse algo com as
escola não devesse funcionar como maquinaria escolar. Foucault faz uma
havidas no século XVIII por pressão não só do poder, mas da sociedade como um
construções escolares atuais, como será visto mais adiante. Mas o ser vigiado é um
uma relação fictícia”, pois já não é mais necessário recorrer à força para “obrigar o
Foucault,
meninos; de outro, meninas. Somente depois de 1900 é que surgem espaços para
seguintes características:
pátios centrais, fechados, com salas por todos os lados, ou em formato de U, mas
1920, com muita freqüência, todas tinham portões altos, salas de aula com carteiras
em filas, com pisos de madeira, cores pálidas, mas as fachadas eram bastante
elaboradas e tinham o maior valor, pois eram por elas que as pessoas começavam a
escolher suas escolas. Algumas foram restauradas várias vezes, pois possuíam
arabescos antigos de grande valor. Nota-se pouca mudança nas escolas de 1900 a
período pós-guerra.
35
pelas obras do pai da arquitetura moderna Frank Lloyd Wright. Ele projetou uma das
cascata e interiores de rocha bruta, tudo para fazer com que o homem ficasse mais
A casa da cascata nos mostra que a relação homem x espírito volta a ser
importante para o bem-estar. Um encontro com a natureza a cada dia. Ele dizia que
era a forma mais perfeita de casar a arquitetura e natureza. Uma ousadia e risco na
construção civil, somente apoiada nas rochas, numa queda d`água, onde se pode
desabar.
Outra obra sua, também marcante e que mostra a semelhança com a antiga
14
Conjunto de elementos que forma o esqueleto de uma obra e sustenta paredes, telhados ou forros.
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ocasionada pela luz natural. A leveza da forma geométrica volta na nova era. É a
faz com que o céu fique mais perto, pensamento que os egípcios já adotavam, mas,
como não tinham o material translúcido, criavam elementos altos para ficarem mais
perto do céu.
Novo México (EUA). Seu traço é bem despojado, sem janelas, e remete à
arquitetura do barro, que já existia naquela região e que Frank Lloyd Wright também
usara em alguns trabalhos. O ocre esbatido nas fachadas parece ser típico de
influência antiga. É possível citar o hotel Santa Fé, a Euro Disney e Marne-la-Vallée,
um prédio em forma de pirâmide, com poucas janelas, escadas laterais, e cores nos
cujas entradas eram nas laterais, assim como nesse hotel. Mais uma vez, o passado
Phoenix, Arizona. Feita no sopé de uma montanha, sua fachada, nua e com uma
planta em forma de L, parece ter sido esculpida no local. Um exterior sinistro, quase
como uma fortaleza nas suas linhas fortes, dá acesso a um interior luminoso que se
torna mais acolhedor pela presença de água corrente. Faz lembrar da Esfinge,
urbano por acaso. Sua planta mostra o retângulo como forma principal, e, vendo em
como algumas colunas simples e retas, tendo somente o uso das cores terracota e
colunas, rampas para ligação dos templos vizinhos. Predock tinha uma sensibilidade
arquitetônica digna de ser admirada, e era resumido por Jodidio da seguinte forma:
Come in gran parte dei suoi edifici, anche qui Antoine Predock sfrutta
a fondo il gioco di luci e ombre perforando le pareti com numerose
piccole aperture. Questa veduta fa pensare a um paesaggio urbano.
(JODIDIO, 1994:146)
Pode-se citar ainda a obra de Ieoh Ming Pei, o Grande Louvre (1983–1993),
Paris, uma pirâmide de aço e vidro encravada no pátio do centenário museu francês,
junto a um espelho d´água. Ali, além da forma, onde o ponto forte é a aproximação
15
Arquiteto e urbanista, um dos criadores de Brasília.
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sua construção, com divisão de quadras e ruas regulares, liga-se ao passado. E hoje
há algumas obras com toques da antiga Idade Média, entre elas a igreja Dom Bosco
obeliscos antigos, local amplo, grandioso e fechado por grades como fortalezas
intocáveis. E ainda a escola dos irmãos Maristas, que também possui todas as salas
meditação.
parte dos monumentos em Brasília traz características estruturais como essas e não
mais de colunas usadas nos edifícios do início da sua construção. A cidade cresceu
para os lados, fazendo com que mais casas fossem construídas com traços livres,
condomínios esteja preservado um ponto que até hoje não mudou, que são as áreas
16
Mistura de cimento com areia, pedra e água, na massa se dispõe armadura de metal para
aumentar a resistência e poder ser usado em grandes vãos sem apoio.
39
teatros da capital, como as obras de Athos Bulcão, que traziam para a cidade a
tradição antiga do mosaico em materiais atuais como o azulejo. Tais obras estão
sua unidade seria um módulo articulado a outros museus da USP. Optou-se pela
deixando o prédio suspenso, abrindo uma ampla área de lazer e meditação na parte
colunas retas.
sua construção. Ela remete a construções milenares como as pirâmides, que foram
erguidas com pedras calcárias apenas assentadas. Hoje até teria o cimento para
assim como a leveza dos espaços e sua utilização correta. Entre elas, a
das flores. Recortai nas paredes, portas e janelas, para que o quarto
possa ser ultrapassado. Portanto, o cheio produz o útil, mas é o vazio
que o torna eficaz. (LAO-TSÉ, apud CASÉ, 2000:109)
desde a antiga Idade Média. No centro dos templos, grandes espaços com colunas,
espaço para reflexão, para o contato mais direto com a natureza e para os escribas
muita riqueza nem de muita comodidade, coisa que no início da modernidade não
aconteceu: as edificações tinham grandes salas, quartos com banheiro e muito luxo,
as varandas eram necessárias para o contato com o mundo do lado de fora, salas
separadas conforme sua especialidade, como sala de almoço, jantar, visita. Afinal, já
afirmava Jorge Luis Borges: "O espaço é ao mesmo tempo preciso e absolutamente
cidades. Apesar da evolução na parte de rede de esgoto, luz e água, por exemplo, a
pode notar uma sutil semelhança com os espaços físicos escolares de hoje. Em
Vigiar e punir, Michel Foucault descreve toda a vida nas penitenciárias. Ele analisa
De início, já era cercada por muros, para que os alunos não fugissem. Depois,
maioria das vezes, era projetado um pátio central para ter o controle de todas as
sair”, conforme observa Foucault. Tudo isso ainda era visto na construção das
escolas até os anos 80 do século passado. Nos pátios ficavam os “bedéis”, os vigias
dos alunos, rondando todo o movimento. As bandeiras, para serem hasteadas nas
manhãs cívicas ou para reunir os alunos nos dias festivos, também ficavam no pátio.
A sala de diretoria, toda envidraçada para dar uma visão do pátio, representa a
(ao ar livre).
43
Algumas escolas vêm mudando essa teoria de muros altos, para que os
eles podem se sentir ameaçados. Muitos chegam a se revoltar por estarem presos e
ser expulsos por isso. Mas será que o principal culpado é o aluno? Ou são os
negativo dos muros pode ser suavizado com a colocação de painéis, fazendo com
deparam com o vigia e a diretoria sempre em alerta. Seria algo semelhante à visão
Internamente, ainda hoje existem muitas salas de aula com um degrau para o
professor ficar mais alto do que os alunos (ANEXO 4, FOTO 1), uma forma ainda de
demonstrar o controle perante a platéia, como nas escolas militares. Aí, volta-se ao
panóptico:
44
Por isso as escolas mais modernas vêm construindo salas de aula sem esse
degrau (ANEXO 4, FOTO 2), para que o professor tenha um contato direto com o aluno,
pedagogos. O aluno deixa de pensar no professor como alguém muito além do seu
alcance e passa a ser mais próximo, podendo evoluir melhor no seu aprendizado. O
argumento de que o degrau facilita a visibilidade entre professor e aluno pode ser
rebatido com outra facilidade: sem o degrau, o professor pode passear mais entre as
carteiras em fila, uma atrás da outra, para que o professor possa controlar a classe
pelo alinhamento físico e, assim, não deixar o aluno sequer olhar para o lado ou
em anexo (ANEXO 3, FOTO 11). Também têm sido adotadas as normas estabelecidas
aula.
ficar frente a frente porque afeta a concentração dos alunos — na medida em que
facilmente. Por causa dessa crítica interna, as escolas visitadas que adotavam o
cruzado, (ANEXO 3, FOTO 2). Contudo, é preciso ressaltar que, do ponto de vista
45
melhor ventilação. Mas o ideal é que as salas de aula dessem para grandes pátios
inclusive uma de frente para a outra (ANEXO 3, FOTO 5), salas viradas para os pátios
(ANEXO 3, FOTO 6) e salas conjugadas, com vestíbulos as unindo (ANEXO 3, FOTO 10).
janelas. Nas escolas visitadas, pôde-se constatar desde a existência de janelas atrás
dos alunos (ANEXO 2, FOTO 1), o que favorece uma maior propagação de sombra, até
excessivamente altas (ANEXO 1, FOTO 1), onde o aluno perde a visão externa,
janelas eram amplas (ANEXO 1, FOTO 2), proporcionando uma visão melhor da área
de sons, a mistura de falas e ecos, algo que no final da aula se torna um eco
profundo nos ouvidos. Por quê? Muitos pisos dão reverberação, e as salas grandes
(ou com poucos alunos) ou mal dimensionadas (com menos de 1,5 metros
quadrados por aluno) causam sérios danos na voz nos professores — o que é
46
sendo usado ao mesmo tempo faz os alunos escutarem menos. A revista “Acústica e
nesses pormenores.
(ANEXO 5, FOTO 4), deixando mais sombra para os alunos; iluminação mista, nos dois
inexistência de sombra (ANEXO 5, FOTO 3); iluminação que acompanha o sentido das
carteiras, fazendo com que o aluno tenha uma visão melhor tanto do quadro quanto
(altura das mesas e carteiras). Janelas rasgadas até o teto, isto é, sem
5, FOTO 5).
edificações (salas de aula, laboratórios etc.) cresçam cada vez mais, restando pouco
espaço para áreas de lazer, jogos, fontes, bosques, onde poderia haver aulas ao ar
livre por ocasião daquelas disciplinas que lidam com elementos da natureza, como
metragem quadrada por aluno em termos de sala de aula e biblioteca, mas as áreas
das escolas em muitas ocasiões. Mas qual seria a escola ideal na visão dos alunos?
Ainda é difícil dizer, mas ao observarmos tanta semelhança com as prisões torna-se
escolar. São temas como esse que hoje deveriam ser mais discutidos em
3. INDO A CAMPO
aqui descritas foram escolhidas conforme o apoio institucional dado à pesquisa. Foi
3.1 – Instituição 1
primário até o ensino superior. Possui uma área total de 45.000m2 , com 17.000 m2
uma demanda de 1500 alunos por turno de ensino fundamental até especialização.
havia muita cor, tudo limpo, bem cuidado, lugar adequado para todas as atividades,
50
mas conforme vai crescendo a idade e o número de alunos parece que os locais vão
ficando mais frios e até com menos valor. Na biblioteca dos adultos o caso é mais
substitui o vento saudável. Não que o ar condicionado seja totalmente ruim, mas o
principais dessa instituição e que muitos ainda estão sendo construídos. Eles
acreditam que tendo bons laboratórios, terão um melhor empenho e participação dos
de carteiras e mesas, “pois ocupam menos espaço e cabem mais alunos” (ANEXO 6,
FOTO 2). De fato, essa escolha aumenta em cerca de 10% o índice de ocupação, e
dos pontos positivos na opinião dos pais. Afinal, eles se preocupam com a
ressaltar ainda que nessa escola há um grande incentivo para a prática de esportes
(natação, atletismo etc.) e atividades ligadas à cultura, como dança, teatro e música.
Isso faz com que o aluno queira ficar na escola durante todo o dia, sem pressão dos
pais. O aluno está sempre disposto a retornar, pois é o tipo de ambiente que
devido a área total, no momento não podem fazer nada é a não existência de
estacionamento.
51
3.2 – Instituição 2
possível ver prédios de 1972 ao lado de construções recentes (ANEXO 6, FOTO 4).
impacto foi maior, pois a pesquisadora se deparou com uma antiga escola primária
instalada num prédio semelhante ao descrito por Foucault em Vigiar e punir, só que
meio. A distribuição das salas é muito bem feita, porém mal conservada. Hoje o
sentido transversal ou longitudinal, mas sempre com salas e um corredor dando para
áreas verdes. Muita área verde para ser usada, mas muito vazia, alunos nas salas
podendo ter aula ao ar livre, mas mais uma vez foi possível notar a força de um ar
condicionado. Uma biblioteca ampla, climatizada, mas quase vazia (ANEXO 6, FOTO
5). Livros? Todos possíveis e exigidos pelo MEC. Os maiores usuários? Os alunos.
Mas esses, muitas vezes “despachados” pelos professores, vão à biblioteca apenas
para cumprir tarefa. Sem o acompanhamento dos professores, eles acabam fazendo
município não adota um padrão, então cada um coloca quanto quer de ventilação,
com um certo consenso mas ainda não o ideal. No primeiro pavimento, as portas
das salas estão frente a frente, mas nos outros pavimentos, foram colocadas no
Grandes janelas frontais que constavam inicialmente no projeto foram trocadas por
salas maiores. No projeto futuro ainda consta uma grande área coberta para abrigar
idêntico ao existente.
iluminação variada (ANEXO 5, FOTO 3). Nos prédios novos, as salas ficaram mais
sombra, mas as janelas diminuíram e foram para o final da sala ao invés de ficarem
não possuem locais apropriados. Porém, é importante ressaltar que nessa escola
existe uma constante preocupação com o futuro, que se manifesta através do estudo
3.3 – Instituição 3
internacionais, localizada em Porto Alegre (RS), com área total de 55 hectares, área
53
construída de 328 mil m², 30 mil alunos, 1,8 mil professores e 1,5 funcionários e uma
área verde considerada parque ecológico de 5,4 hectares (ANEXO 6, FOTOS 7 E 10).
Seu bloco principal foi planejado para grandes convenções, com lojas, bancos,
Nessa universidade existem largos pátios entre um prédio e outro. São muito
arborizados, com bastante grama e flores (ANEXO 6, FOTO 8). É preciso ressaltar que
em todas essas visitas não foi encontrado um único canteiro ou caminho forrado de
carteiras duplas, piso de cimento queimado, quadro verde e janelas nas laterais. É
nítida a falta de investimento nesse caso, mas as janelas são sempre amplas, com
acesso a uma bela vista para que o aluno não se sinta preso, pois ali passa todo o
seu dia (ANEXO 6, FOTO 9). Os blocos são separados pelos cursos com sua biblioteca
muito bem estruturados, com as vagas todas cobertas. Alunos e professores pagam
54
por mês, os visitantes também pagam, e todos têm direito a seguro. Isso, para uma
cidade grande como Porto Alegre, é muito importante. Como todas as instituições de
grande porte visitadas, esta possui um plano diretor estruturado e voltado para o
3.4 – Instituição 4
com uma área de campus com 28.389 m², sendo 19.000 m² de área construída, tudo
exposições (ANEXO 6, FOTO 12). São 47 salas de aula com grandes janelas para o rio
evitar a reverberação, portas amplas para deficientes físicos, tudo isso dando para
colorido e muito criativo, digno de uma faculdade de arquitetura. Além das 47 salas
de aula, há quatro auditórios pequenos para 100 pessoas, com quadros brancos e
avançado na área. O pátio interno, para onde dão todas as salas de aula, é
aproveitado para exposições dos trabalhos dos alunos e para avisos gerais,
concreto armado, aberto nas laterais, como uma arena multiuso (ANEXO 6, FOTO 14).
3.5 – Instituição 5
A última etapa no Rio Grande do Sul coube a uma instituição com 90,55
de Arquitetura Escolar (ANEXO 6, FOTO 15). Trata-se de uma grande universidade nas
atendimento para recolher a taxa de estacionamento, pois este também é pago, com
direito a seguro contra incêndio e serviço de mecânicos (ANEXO 7 FOTO 3). A área é
asfaltada e tem muitas árvores para sombrear os carros. Uma estação de tratamento
de água foi projetada em linhas tão discretas que, ao passear pelo campus, tem-se a
administração. São dois pavimentos de serviços aos estudantes (ANEXO 6, FOTO 16).
Esse bloco foi interligado recentemente ao prédio mais novo do campus, a nova
biblioteca, de cinco andares com um total de 37 mil metros quadrados, que abriga
634 mil títulos, espaço para videoconferência e ambientes específicos para didática
de novas tecnologias (ANEXO 6, FOTO 17). São 4.100 computadores, espaço cultural e
auditório, sendo 3.800 conectados à rede com acesso à internet e 1.506 em 75 salas
à disposição de alunos.
seminário, 144 laboratórios, dois auditórios de 200 a 400 pessoas para cada
mas são jardins de fato, com gramados amplos, servidos de bancos e muitas
visual foi concebida para ser vista de longe, feita com grandes painéis pintados nas
57
núcleos possuem uma secretaria setorial, xerox e outros serviços acadêmicos. Uma
das deficiências anotadas durante a visita são os sanitários, que ainda não foram
3.6 – Instituição 6
alunos em suas 100 unidades espalhadas pelo país, mas todas com o mesmo perfil
em Ribeirão Preto. Nessa instituição, que vai desde o ensino fundamental até
faculdade, existem muitas sala de aula com corredores centrais e pisos escuros que
côncavos, cores claras nas paredes, portas amplas, boa iluminação e com pátio
central usado para eventos e lazer, já que existe pátio externo. Havia mais
preocupação com estacionamento do que com área verde, não por falta de vontade
espaço, o que resultava em excesso de concreto, tornando o local mais frio e menos
do campus, feita com sistema automatizado. No entanto, há pouca área verde e não
concreto armado sem pintura (só as paredes são pintadas) deixa o ambiente
58
“carregado” e muito sério para um local onde as pessoas passam quase 70% de seu
dia estudando. O campus principal possui 60 salas de aula com 100 m² cada uma
(isso para 50 e até 60 alunos), onde estão instalados sistema de TV (em circuito
6, FOTOS 24 e 25). Possui uma biblioteca com mais de 20 mil exemplares, laboratório
Outra atração dessa instituição é a sala de 3D, onde o aluno pode fazer os
caso de matérias como física, biologia e outras vinculadas à área tecnológica. Além
20 a 23).
gráfica e editora. É a única em que o material didático é feito pela própria instituição.
realmente vai à procura de estrutura física, bem-estar de seu filho, boa cantina, e
uma boa proposta pedagógica. Mas é nítida a dificuldade de encontrar uma escola
quando se invertem os papéis, isto é, pergunta-se aos próprios alunos o que os atrai
taxativa: sempre colocam em primeiro plano o espaço físico que utilizam, sendo,
então lembram do ensino. Aqui, mais uma vez, reafirma-se a preocupação com
são antigas e muitas vezes crescem em números e não em espaço. Outro problema:
o incentivo do próprio governo para fazer suas escolas servir de modelo, e o fato das
escolas estaduais ou municipais serem a primeira opção dos pais, e não a última.
atentam para essa questão. Mas também foi possível ver o avanço tecnológico em
algumas instituições, nas quais isso faz o diferencial em sala de aula e dá resultado
salas de aula a uma visão pedagógica mais ampla, que inclua a noção de espaço e
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
construtivas, como a utilização da pedra nas muralhas, que hoje são nossos muros
homem tinham função menos egoísta: serviam para impedir que a água chegasse
construindo, pedra sobre pedra, muros altos de maneira que quem estivesse do lado
de fora não avistasse o interior das moradas. Os muros de hoje servem para nos
Até mesmo o tijolo atual, feito de barro e queimado em forno também de barro
5 mil anos atrás, que era seco ao sol. O sol quente da região criava a resistência
necessária. Com relação a isso, a maior diferença, hoje, é o tipo de argila, que
muitas vezes não é pura, ou então sua resistência, que varia conforme o tipo de solo
interferido na qualidade do material, pois a argila pura é cada vez mais rara.
espíritos, céu e Terra. No templo de E-anna isso ficou claro: quanto mais alto,
61
melhor, para ficar mais próximos do céu. Não pensavam que poderiam estar
audaciosos. Hoje a forma de pirâmide ainda é um marco dos novos templos, como
se viu em Brasília.
O céu sempre foi tido como fonte de energia, e é daí que se chega às telhas
de uma lógica cuja origem é ancestral. E o homem moderno ainda ousa ao criar
estruturas para não deixar que o passado morra com a cultura, morra com o tempo.
continua sendo um pouco egípcia. Brasília foi e sempre será um exemplo desse tipo.
Foi erguida em um ponto estratégico do país — no centro geográfico. Foi feita para
hoteleiro).
antigo. Hoje existem os grafiteiros, por exemplo. Pois o homem que habitava o Egito
Muitos artistas plásticos fizeram isso, e hoje se pode ver grafiteiros com linguagem
própria, desconhecida aos de fora da “tribo”, que seguem usando a superfície dos
prédios para fazer reivindicações e expor suas crenças. É algo que está tão perto e
vem de tão distante, assim como os mosaicos, que atingiam alta precisão com tão
pouca tecnologia.
62
As cores antigas, que pelo tom do barro dava a terracota, o branco e o preto,
continuam presentes. A gama de tons aumentou, mas as cores básicas são mais
constantes. Por exemplo: a terracota trouxe os tons desde o bege, passando pelo
As formas construtivas que continuam existindo são aquelas que deram certo.
Beleza e leveza sempre serão algo surpreendente aos olhos humanos, mas isso
basta? Pelo menos quando se estiver lidando com a Arquitetura Escolar, a resposta
será sempre negativa. Porque aqui entram outras implicações além da estética.
escola ideal, ou ao menos mais bem elaborada para o estágio atual do ensino. No
ponto da escola, que a bem da verdade é o ponto principal: a sala de aula, onde
influenciam na aprendizagem do aluno, mas também é preciso dizer que este tem
tempo.
como Foucault à de técnicos como Neufert. Enquanto o primeiro faz uma análise
pelos pátios centrais, o segundo recomenda o uso de estruturas com pátios centrais,
visitas não estavam finalizadas, outras teorias haviam sido adotadas assim como,
autora como por exemplo a questão das janelas: defendia-se a adoção de janelas
altas por uma questão de segurança, mas depois, com as pesquisas, constatou-se
que isso poderia ser um erro arquitetônico, não só por causa da ventilação, mas
alunos que sentam nas laterais, mas ainda seria melhor se todas as paredes
tendo ou não pátios centrais (não fechados), como vimos nas imagens de Neufert,
ou pelas teorias e exemplos do panóptico de Foucault. Isso faz com que se tenha
uma ligação maior com a natureza, mesmo no caso de dois ou mais andares, sem a
sensação ruim de falta de ar. Por maiores que sejam as janelas de uma sala, é muito
melhor sair da aula e se deparar com árvores, flores, bancos etc., mesmo no modelo
de pátio interno, do que se ver ainda cercado de paredes. Claro que não no modelo
das prisões, para os alunos serem vigiados, e sim apenas para que esse espaço
possa ser utilizado como lazer e convívio, até mesmo porque a proposta realmente
seria criar elementos arquitetônicos para que eles não se sintam vigiados.
em ambos os lados (ANEXO 8, FOTO 1). São ideais as salas com sistema de
onde poderá haver um sistema de circulação cruzado (ANEXO 8, FOTO 2), como vimos
mesmo sentido das carteiras, pois assim os alunos podem escrever sem a sombra
do colega que está a sua frente. Também foram feitas a colocação de telas centrais
para imagens (ANEXO 8, FOTO 4) e a ligação do pátio amplo com as salas de aula
(ANEXO 8, FOTO 5), conforme sugerido. Por outro lado, sugestões referentes a
sistema acústico não foram executadas devido aos custos. É de grande valor,
foi o caso de aderir ao sistema de salas de aula com portas frente a frente para
pátios, áreas de lazer, e é assim que seguram os alunos nas escolas. Ou, quando
forma de telas, para que os estudantes possam ter uma visão externa, ou a forma de
Trocar as salas de aula fechadas por salas com janelas amplas, possibilitando
um contato maior com a natureza, faz com que o aluno se acalme e até trabalhe
de ensino visitadas.
66
administradores, não atrai alunos. Mas mesmo quando querem mudar, eles se
matérias como história, geografia, biologia, física e outras mais específicas ou outras
atividades extra-curriculares. Não por acaso, Frank Lloyd Wright, um dos maiores
passam a ser pintadas em cores pastéis, deixando o branco somente para o teto.
Isso faz com que o aluno se sinta num lugar mais aconchegante, até menos frio.
Mas ainda é necessário que todos esses paradigmas sejam quebrados em conjunto
esquecendo que muitos dos elementos arquitetônicos podem ajudar ou não o aluno
67
em sala de aula, pois a sala de aula ainda é o espaço por excelência da educação.
a falta de padronização. Como cada município tem o seu código de posturas (norma
deles contraditórios entre si. Uns determinam, por exemplo, que 1⁄4 do total da sala
deve ter ventilação e iluminação diretas, enquanto outros estabelecem 1⁄6 e alguns
não definem qualquer medida. Esta pesquisa conclui que 1⁄6 é a medida mais
custo. O ambiente fica mais acolhedor para o aluno: a sala se torna mais clara e
A escolha adotada na questão acima vai determinar uma outra: quadro negro,
verde ou branco? Depende, pois com janelas grandes é preciso tomar cuidado para
não ocorrer reflexo de luz nos quadros, assim como o tipo de iluminação da sala
direito, na parte da frente e ao lado do quadro, segundo Neufert (ANEXO 2, FOTO 3).
Isso seria o ideal, mas a janela no lado esquerdo já ameniza as sombras, o que
Também não se deve deixar de lado o conforto acústico dentro das salas de
aula, principalmente na visão do professor, pois 99% das falas são dele e, como se
viu anteriormente, a maioria dos alunos sofre por não entender o que os professores
ser arredondados, e que a parede oposta ao professor tenha uma inclinação de oito
graus, ou seja revestida com algum tecido ou fibra de vidro, o que ajuda a retirar o
efeito de eco. Outro problema que ocorre com a voz do professor é que muitas
vezes ela retorna ao invés de chegar no fundo da sala. Nesse caso, uma placa de
gesso na parede frontal resolve. No caso de sons vindo de fora, pode-se colocar
uma camada dupla de vidro nas janelas e portas, que tem a vantagem de também
proteger contra a insolação. Por último, não utilizar pé-direito muito alto (mais de 3m
envolva movimento, como a educação física. Deve-se usar cores pastéis e não
saturadas, como verde claro ou azul claro. No caso de lugares com altas
temperaturas, seria mais aconselhável o azul claro. Esse tipo de cor nas paredes faz
com que os alunos fiquem menos agitados. É importante lembrar que o azul faz com
raciocínio.
O teto deve sempre ser branco para que se tenha uma leitura melhor e mais
clara. Um teto escuro, além de escurecer a sala, pode transmitir ao aluno sensações
desagradáveis depois de certo tempo, como a de estar sendo esmagado, pois a cor
escura tem o efeito de “baixar” o pé-direito. Quanto ao piso, depende das cores que
estão sendo usadas no conjunto, mas não pode ser brilhante para que não reflita
luz, o que provocaria um rápido cansaço. Deve ser antiderrapante, para evitar
acidentes, e sem os degraus do patamar do professor, pois ficou claro que quando
todos estão no mesmo nível há mais interação. Ainda com relação às cores, é
69
importante lembrar que para prevenir acidentes seria melhor utilizar cores diferentes
Também é preciso dar atenção aos móveis das salas de aula. Estes devem
confortáveis, pois os alunos passam no mínimo 50% de seu dia sentados nessas
maior integração do aluno com a sala de aula, criando vários formatos como
Saindo para fora da sala de aula, é preciso falar, embora brevemente, sobre
vistos pelos pais. Devem ser projetados em grande estilo, amplos, bem pensados,
escola pela primeira impressão que têm dela, começa-se pela fachada17. No caso de
17
Cada uma das faces externas de qualquer construção.
70
escola para crianças, evitar fachadas grandiosas, pois podem relacioná-las com
histórias de gigantes e terem medo de entrar. Algum detalhe ligado à faixa etária
deve ser usado, como bonecos e personagens de histórias infantis. Cores vibrantes
em detalhes também são importantes, pois são essas que as crianças vêem nos
chamem menos atenção, como por exemplo um muro com painéis históricos da
instituição, histórias ou até com imagens dos cursos oferecidos na instituição. Uma
fachada com linhas exageradas pode causar a fobia das prisões. O ideal é colocar
portões discretos, harmônicos, nada muito alto, pois vale mais a pena contratar
pessoas para segurança do que erguer muros altos. Ou então usar telas decorativas
pois na realidade eles “fogem” de tudo que lembra a infância. Por isso, cores pastéis
lsão a melhor opção, desde que seja uma cor forte, para chamar a atenção e
harmonizar a fachada.
recomendável haver um espaço arborizado de até 200 metros (por lei, a escola é
esperar por caronas ou até mesmo para chegar mais cedo e ficar conversando com
os amigos num ambiente ligado à natureza. Nesse espaço poderia haver bancos,
aproveitar as idéias dos próprios alunos para compor esses ambientes (ANEXO 8,
ali o sonho de estudar naquele local. Assim, é importante haver uma pessoa
treinada para atender e mostrar o espaço físico e a parte pedagógica. Melhor ainda
que os formou. Da mesma maneira, alunos bolsistas poderiam dedicar parte de seu
escola.
Outra proposta é destinar uma sala para receber esses visitantes. A sala seria
modernos etc.) e quadros com a descrição dos cursos. O local poderia evoluir para
uma espécie de mini-museu e ser ampliado para um espaço que pudesse vir a ser
arquitetônicas que atraiam os alunos. Uma das mais eficientes é o campo de visão:
quem não pensa melhor e até se inspira diante de uma vista panorâmica? Outra é
72
ambiente de estudo mais caseiro, para que os alunos saiam de suas casas e
venham visitá-la, ou nem tenham a vontade de ir para casa. Os livros que chamam
Por fim, as áreas administrativas não devem ser fechadas e lacradas a sete
chaves para que os alunos não tenham acesso, pois quanto mais fechadas mais
devem ser abertas, com o mínimo de balcões. Tudo deve ser claro e transparente.
Como o ensino.
seguindo com o passar dos anos, pois novos materiais irão surgir, novas
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, Nilda. O espaço escolar e suas marcas. Rio de Janeiro: DP&A, 1998.
ARTIGAS, Rosa (Org.). Paulo Mendes da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Cosac & Naify,
2000.
BOURDIEU, Pierre, e GROS, François (coord.). Principes pour une réflexion sur les
contenus de l´enseignement. Paris: Ministère de l`Education Nationale, 1989.
BRANCO, Mariana. Design & tecnologia – projeto 15. Curitiba: Alternativa Editorial
Ltda, 2002.
COULANGES, Fustel de. A cidade antiga. São Paulo: Editora Hemus, 1975.
KANITZ, Stephen. “Revolucione a sala de aula”. Revista Veja, São Paulo, nº 1671, p.
23, outubro, 2000.
LACY, Marie Louise. Conhece-te através da cores. São Paulo: Pensamento, 1989.
NEUFERT, Ernest. A arte de projetar em arquitetura. 5ª ed. São Paulo: Gustavo Gili
do Brasil, 1976.
PEDROSA, Israel. Da cor à cor inexistente. 2ª ed. Rio de Janeiro: Léo Christiano
Editorial Ltda, 1980.
SANTOS, Marli Alves et alii. Do alicerce ao teto. 2ª ed. São Paulo: Texto Novo,
1998.
STUNGO, Naomi. Frank LLoyd Wright. São Paulo: Cosac & Naify, 2000.
ANEXOS
77
ANEXO 1
Altura das janelas
1,10m
1,40m
Foto 1: Sala de aula com a altura das janelas maior do que a própria janela, onde
alguns alunos perdem a visibilidade externa, e a sala perde na ventilação.
78
1,60m
0,50m
ANEXO 2
Janelas nas costas dos alunos
Foto 1: Propagação de sombra nas costas dos alunos impedindo luz direta para leitura.
80
ANEXO 3
Portas de salas de aula
Foto 1: Salas de aula com portas frente a frente, proporcionando melhor ventilação
interna das salas e nos corredores.
83
Foto 2 : Salas de aula com portas cruzadas, dificultando o sistema de ventilação das salas de aula.
84
Foto 4: Sistema de salas de aula com portas para pátio central fechado
porém harmonioso e aconchegante.
86
Foto 5: Salas de aula com portas para as árvores e gramado, mais ar puro e menos ruídos internamente nas salas.
87
Foto 5 : Disposição das salas de aula. Foto 6: Disposição das salas de aula com pátio central.
Segundo Neufert. Segundo Neufert.
88
Foto 7: Sistema de pátio central de uma das escolas de Arquitetura escolar paulista de 1890 – 1920.
89
Foto 8 e 9: Sistema de pátio central e salas de aula ao redor. Arquitetura escolar paulista de 1890 – 1920.
90
Foto 10: Disposição de salas de aula. Segundo Neufert. Foto 11: Sistema diferenciado na disposição das
carteiras. Segundo Neufert.
91
ANEXO 4
Degraus em sala de aula
Foto 2: Novas salas de aula sem degrau, deixando o aluno no mesmo nível do que o educador.
93
ANEXO 5
Acústica, iluminação direta
Foto 1: Salas de aula com sistema acústico nas paredes, carteiras ergonômicas e iluminação
indireta com suportes para ficar mais próximo ao usuário, colocada conforme as carteiras.
94
Foto 2: Quadro ocupando toda a parede, fazendo com que o quadro não crie diferença com a parede não
cansando o aluno e ele passa a ter uma melhor visibilidade devido à iluminação estar no mesmo sentido.
95
Foto 4: Iluminação no sentido transversal das cadeiras causando sombra nas costas,
sendo assim na mesa do aluno sentado à trás.
97
ANEXO 6
Área verde e escolas visitadas
Foto 4: Área verde criando uma barreira de barulho para salas de aula e sombras para os
alunos descasarem nos intervalos. Instituição 2.
101
Foto 7: Prédios com árvores ao redor para diminuir ruídos, embelezar e diminuir a poluição. Instituição 3.
103
Foto 8: Área florida e bem cuidada. Instituição 3. Foto 9: Árvores entre prédios.
Instituição 3.
104
Foto 12: Árvores próximas às janelas favorecendo a diminuição dos ruídos. Instituição 4.
106
Foto 13: Pátio central da instituição 4. Foto 14: Entrada principal da instituição 4
107
Foto 15: Árvores mais distantes das janelas das salas não ajudando muito quanto a diminuição dos ruídos.
Instituição 5.
108
Foto 16: Pátio interno do prédio central. Instituição 5. Foto 17: Prédio da biblioteca. Instituição 5.
109
Foto 20: Vista da biblioteca . Instituição 6. Foto 21: Vista do laboratório de informática. Instituição 6.
111
Foto 22: Vista da sala de estudos informatizada. Instituição 6. Foto 23: Vista da sala do futuro. Instituição 6.
112
Foto 24: Móvel em salas de aula. Foto 25: Vista da sala de aula com quadro côncavo e tv. Instituição 6
Instituição 6
113
ANEXO 7
Distribuição dos prédios de sala de aula e Campus
Foto 1: Campus instituição 2 com área verde entre os prédios mas muito poucas árvores.
114
Foto 3: Campus universitário instituição 5 com uma grande área verde para deixar o ambiente mais leve e harmonioso.
116
ANEXO 8
Propostas discutidas e aceitas, até o momento, pela instituição 3
Foto 1: Portas colocadas uma frente as outras para melhor circulação de ar. Saída pelos
corredores para facilitar o cruzamento de circulação.
117
Foto 2: Janelas basculantes na parte superior das salas para um cruzamento de ar,
caso as portas estejam fechadas.
118
Foto 4: iluminação no mesmo sentido das carteiras para não causar sombras entre os alunos e tela
central para projeção onde todos os alunos possam ter uma melhor visão.
120
Foto 5: Pátio central coberto para que os alunos tenham um local para descontrair nos horários de
intervalos, tendo uma visam direta com a natureza.