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Pedra, CM

"Influenza" (A manha, Rio, 1944) datilografado

(fotografar cartão de feliz ano novo:


Tocai as musicas e colhei as flores,
Suaves espíritos do ar!
E fazei felizes todas as criaturas
No ano que vai chegar!)

"O mundo vira-se de cabeça para baixo. Os ângulos do quarto mudam de posição. Meus olhos
começam a jogar xadrez em paredes verticais, por onde cada peca tem o dom de se deslocar
sem cir. Crescem muralhas de pedra, de cem metros de altura, que os operários reunidos lá em
cima, baixam devagar, como enorme ponte levadiça. "Que fazeis?" pergunto. "Esta e a nova
maneira de pavimentar as cidades" - respondem. Construímos as calcadas de baixo para cima, e
depois as estendemos pelo chão". Depois, vem cavalos reduzidos a seu perfil - perfil de arame
elástico - e desatam a correr, vazios, por imensas coxilhas que a todo instante mudam de cor. E
aparece uma pedra, com a sua sombra. Mas em seguida já não e mais uma, apenas, como a do
Carlos Drummond: são muitas, todas a seguir, todas com sua sombra projetada
cuidadosamente, com a minúcia de um desenho técnico e a sugestão de um quadro genial. (Mas
por que não me aparecem palavras em lugar de figuras, se eu não sou pintor e não posso
aproveitar nada disto?) Ninguém me responde - porque nestas coxilhas a solidão e sobrenatural.
E quando se some a ultima pedra começam as caixas de fósforo."

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