Você está na página 1de 3

Curso “Repensar a mímesis”

Costa Lima – PUC-RJ – 2007-2

26 de agosto
Luiz fala sobre a relação entre mímesis e ficção. Para ele, uma não é igual a outra, pois a mímesis
não é exclusiva da arte. Existe uma mímesis do cotidiano - experiência passional, criação de ilusão.

Ficção se caracteriza por uma dialética específica (Iser). Supõe a exploração do imaginário (o que o
caracteriza é ser ele irrealizante).
Fantasia- irrealização, atualiza algo que está ausente. Não posso imaginar o presente.
Imaginação = irrealizável
Q que a ficção faz senão “negar a negação” da imaginação, configurá-la?
Relação entre ficção e imaginação supõe uma relação dialética dela ficção, com ela mesma.
“negar a negação” – constitui um mundo que não é idêntico ao real, mas que não é um outro mundo
(suspensão da descrença).
Ato da imaginação = tornar real o que é irreal
Para que essa irrealização tenha substância ficcional rica, tenha espessura, é preciso atenção ao
limite da abstração. (ver teorização sobre ficção – Iser)

Ficção supõe um compromisso entre o real e o irreal, senão houver base de realidade, o leitor não a
aceitará, senão como uma paranóia. Mas quando não tem base de realidade?
O irreal não significa dizer o irrealizável, mas aquilo que se concilia com o verossímil e com o
necessário.
Limite do real seria construção gramatical? (para Luiz, sim)

Análise espectral da realidade = definição de ficção de um autor italiano (Francesco Orlando) que
escreveu ensaio sobre Cervantes.
Germe primeiro da ficção é o “como se”.
Metáfora é a base da imaginação.
Experiência passional não é ficcional porque ela é pura ilusão. Dialética da ficção (negação da
negação).
Ficção supõe a razão. A experiência passional é anti-ficcional por excelência.

27 de agosto
Blummenberg- Luiz considera o maior pensador alemão depois de Heidegger.
A legitimidade da era moderna- Blummenberg

Concepção platônica – “o que existe provém do existente”.


Em que se distingue a mímesis aristotélica? (Arte é a meta em processo, algo em devir).
Arte aristotélica = ars = termo geral para tekné. Não é a arte como entendemos hoje.
É necessária para que o homem compreenda o que a determina em sua obra.

Tekné – aquilo que não apenas reproduz o existente, mas também não pode conceber algo novo.
Nem é o mundo fechado de Platão, nem o da autonomia da arte, como o conhecemos.
Dilema aristotélico na concepção de mímesis, não há na poética uma definição de mímesis.
Apesar de o Cosmo ser fechado, há a possibilidade da idealidade que seria alcançada pela “arte”
(tekné) como “meta em processo”.

Conto de Borges – “La busca de Averroes” . El Aleph

Finalidade da arte – werdizul (meta em processo)


Idealidade não é cosmológica, e sim ontológica.
Se a idealidade da arte é uma meta em processo, atualiza-se a idealidade se ela é ontológica. Eis o
dilema: ontologicamente o Cosmo está fechado – um processo que põe em discussão aquilo que
Aristóteles, segundo seu mestre, aceitaria que está fechado.
Não é por acaso que Aristóteles não vai formular o conceito de mímesis. O objeto de que trata é
uma abertura no que é fechado. Abertura se dá na natura naturante – o que acentua a diferença entre
mímesis e imitação.
Conceito entre pressuposto ideativo aristotélico, intuição de levar adiante (e no que isso implica) a
teorização da arte.
natura naturata - Idéia de imitatio
natura naturante – “um cavalo pode ter cinco patas”

Gênio- elogio da irracionalidade sob a égide da racionalidade

Condenação da mímesis é um problema mais complexo do que a teoria platônica da arte,


condenação da pintura.
Problemática de Aristóteles – complexidade.
Séc XVIII --> sujeito autodirigido
--> Gênio (condenação da mímesis como imitatio)

Luiz acha que isso leva ao suicídio da arte – situação das artes plásticas hoje.

De Cézanne para cá, como se justifica a manutenção deste desdém pelo conceito de mímesis?

Idealidade tem a ver com uma exploração da physis (natureza), com a exploração do que
entendemos por real. Mas o que entendemos por realidade?

Termo Ficção, Luiz introduz pela citação de Francesco Orlando “Qualquer literatura requer a co-
presença de instâncias opostas, é em si uma formação de compromisso: entre real e irreal.”
Ver no História. Ficção. Literatura – Ficção – função abstrata
Mímesis- ficção que já leva em conta as coordenadas da onde aquilo se passa. Por isso a arte não
pode ter regras gerais.
É a mímesis que possibilita se pensar, concretiza a possibilidade de um exercício ficcional.
Ficção – supõe uma relação entre real e irreal.

Real – “Tudo aquilo que supõe uma formulação gramatical consistente.” Isso Luiz formulou a partir
de uma frase de Chomsky: “coroless green ideas sleep furiously” (Não tem lastro factual).
Mímesis – dá a “pegada real”.
É preciso que a ficção se concretize levando em conta parâmetros sócio-culturais determinados que
se dão via mímesis.
Mímesis talvez não tenha sido definida por Aristóteles (apesar de a Poética ser anotações de auls
etc) Mas é extremamente difícil para Aristóteles criar algo que serve e se insurge contra seu mestre.
Diferentes pontos de vista: Platão – mundo das idéias/ Aristóteles = natureza physis, em dois níveis
– idealidade= veios, pequenos canias dentro da trama cerrada (Cosmo aristotélico) não previstos,
mas possíveis de se incorporar a tal Cosmo. Afirma e ao mesmo tempo corrói o Cosmo fechado.
Memória – real vivido – é necessário que ele faça uma formulação gramatical consistente.
Mímesis – trabalha simultaneamente semelhança e diferença . Semelhança supõe uma formulação
gramatical consistente.
Necessidade de uma teoria da ficção para validar a arte hoje. Segundo Luiz, “o rei está nú”, mas
ninguém diz que “o rei está nú”.
Real – supõe formulação gramatical consistente
Irreal – supõe formulação gramatical que basta ser suficiente.

Você também pode gostar