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Ministério do Desenvolvimento Agririo Niicleo de Estudos Agrarios e Desenvolvimento Rural - NEAD Projeto Politicas Pablicas e Desenvolvimento Rural Balango da Acio Governamental no Brasil PCT IICA/NEAD Diversificagao das economias rurais no Nordeste Ricardo Abramovay — Departamento de Economia da FEA e Programa de Cigncia Ambiental da USP — abramov@usp.br Relatério final Sio Paulo, Brasilia, lho de 2002 Sumario 1. Apresentago: da negociagio ao contrato 2. Caminhos da diversificagio 2.1, O Oeste baiano: um sistema produtivo localizado 2.2. Baraiina: um enclave de modemizagiio_ 2.3. A estrutura de senhorio das regides canaviciras 3. Conclusées Boxes Box I~ A forga das economias residenciais Box II — Arapiraca ¢ Vale do Paraiba (AL): uma comparagao Tabelas Tabela 1 - Diferentes resultados do crescimento agropecuirio: uma comparagio entre Barreiras e Baraiina Tabela 2 - Area média de assentamentos ¢ lotes em manchas de concentragiio de assentamentos ~ estados selecionados ‘Tabela 3 - Contratos do PRONAF no Nordeste e no Brasil, por grupo, em 2000 e 2001 1. Apresentacio: da negocia¢ao ao contrato ois caminhos so propostos hoje 4 sociedade brasileira para @ luta contra a pobreza, nas regides rurais do Nordeste'. © primeiro consiste em expandir os setores produtivos capazes de ripida incorporagio de mudangas téenicas. Agricultura irrigada, indiistrias téxteis e de calgados e, em menor proporgio, pélos de inovagio (como o de Campina Grande, por exemplo) formam as bases de um erescimento capaz de aumentar a demanda por mio-de- obra e, por ai, 0 nivel de salérios e os padres de vida das regides onde se implantam. De certa forma, estas iniciativas econémicas sintetizam a visio que dominow quase exclusivamente a formulagio explicita das estratégias de desenvolvimento das agéncias governamentais do Nordeste até muito secentemente: garantir infia-estruturas € recursos para empresirios inovadores, eis uma rota aparentemente incontestivel pata o crescimento econdmico e, conseqitentemente, para o prdprio bemestar social. Por esta concepeao, existe um setor econdmico tradicional e 0 processo de desenvolvimento consiste exatamente em sua substtuigao por tn outro, de carater modemno. Ein que pese, entretanto, 1 importineia das inovagdes técnicas em diferentes segmentos produtives do Nordeste contemporaneo, seu raio de ago € seus efeitos sobre os ambientes sociais da regiao sao, com muita freqtiéncia, timidos, localizados e, por vezes, destrutivos. Além disso, o grande trunfo da pujante expansio agricola nos cerrados nordestinos ¢, até hoje, a terra barata, ou seja, a ignorancia, por parte do sistema de pregos, dos custos associados ao exterminio da biodiversidade, como bem mostra o capitulo sobre agricultura sustentavel da Agenda 21 C) brasileira, Dai resulta a contradigio bisica de um padrao de erescimento capaz. de propiciar aumento de ocupagao ¢ renda, mas apoiado fandamentalmente — niio apenas, é claro - na discutivel vantagem comparativa que representam terras e méio-de-obra sub-valorizadas. segundo caminho postula, por isso mesmo, que esta modemizagio sera excessivamente lenta para promover erescimento de renda ¢ ganho de iniciativa por parte dos individuos Sua premissa bésica pode ser assim formulada: é na mutagio das préprias atividades fradicionais que se decide o destino do processo de desenvolvimento. Existem possibilidades de crescimento econémico, baseadas em mudancas técnicas ao alcance de familias hoje vivendo em situagao de mmita pobreza, mas que podem aumentar, proporcionalmente, sua renda de forma significativa com base em investimentos relativamente modestos. O programa de construgio de um milhio de cisternas (PATAC, 2001) exprime este caminho em que recursos piiblicos, voltados & satistagao de necessidades basicas, tornam-se fatores de getagao de ocupagao e renda e néo apenas de sobrevivéncia, As melhorias técnicas voltadas, no semi-érido, @ convivéncia com a seca ~ como os sistemas que integram sisal e caprinocultura, sob orientagio da Associagio dos Pequenos Agricultores da Bahia (APAEB) - indicam também um caminho de crescimento econémiico que associa combate & pobreza, aumento do produto e valorizagéo dos recursos naturais (°). Aqui, a5 inovagdes sociais e otganizacionais € que sao as premissas para wm ' Agradeyo as observapbescritcas de Cédina Araijo (extesionisa de Barina), Ghislaine Duque, professora 44a Universidade Federal da Paraiba (Campina Grande). Evidentemente, oto tnico responsavel pelas pinides emitidas no trabalho e os eros nele exstetes. ‘Bezerra e Veiga, 2000 0 Centro de Pesquisa Agropecuaria do Trépico Semi-Arido (CPATSA) da EMBRAPA desenvolve importantes traballos nesta diego.

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