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Ameaçam
os Calvinistas
Solano Portela
INTRODUÇÃO ......................................................................................... 4
1. O PECADO DO ORGULHO ESPIRITUAL .......................................... 6
2. O PECADO DA INTOLERÂNCIA FRATERNAL ............................. 13
3. O PECADO DA ACOMODAÇÃO NO APRENDIZADO ................... 21
4. O PECADO DA FALTA DE AÇÃO ................................................... 25
5. O PECADO DO ISOLAMENTO ......................................................... 28
BIBLIOGRAFIA ..................................................................................... 32
INTRODUÇÃO
O Que é Calvinismo?
Alguns podem pensar que vamos lidar com ―Os Cinco Pecados do
Calvinismo‖. Apesar dessa ideia possivelmente trazer entusiástica reação
de aprovação da parte de certos setores da igreja, quero esclarecer que não
estaremos tratando dos ―Pecados do Calvinismo‖ nem iremos escrever
contra o calvinismo. Nossa preocupação é com os pecados que ameaçam os
calvinistas. Esses, vale esclarecer, não são pecados que caracterizam os
calvinistas. Eles podem ser encontrados em muitos campos de persuasão
cristã e, nesse sentido, o alerta é generalizado. Nossa preocupação é,
entretanto, a de que os calvinistas não se considerem imunes a esses
perigos pois os pecados que vamos mencionar também representam séria
ameaça ao seu testemunho como cristãos eficazes na Igreja de Deus.
O Intelectualismo Estéril
Vou citar o que me disse um grande amigo meu, e não gostaria que
entendesse que eu o estou acusando de orgulho espiritual. Faço a citação
apenas como exemplo de como devemos nos guardar, porque às vezes
imperceptivelmente, estamos nos colocando, como calvinistas, numa casta
especial de iluminados, cujo resultado será o desenvolvimento desse tão
perigoso orgulho espiritual do qual devemos fugir. Após haver lido
extensivamente vários trabalhos sobre justificação e de ter ouvido uma
brilhante exposição desta doutrina, dentro da perspectiva bíblica/reformada,
ele me disse: ―Estou impressionado e chegando à conclusão de que
ninguém sabe na realidade o que é a justificação…‖ Continuando, disse: ―o
nosso povo não tem a mínima ideia do que significa ser justificado.‖
Notem que essas palavras foram ditas não com orgulho, mas com
humildade e profunda admiração pelo trabalho de Cristo, mas quero
chamar atenção para o fato de que essa apreensão doutrinária, e até essa
apreciação das doutrinas da graça, traz em si a semente latente e
destruidora que pode germinar, sem muito esforço, em orgulho espiritual.
Minha resposta, na ocasião, foi: ―Sabem, meu irmão, elas sabem sim. Se
uma pessoa foi realmente resgatada pelo precioso sangue de Cristo ela sabe
experimentalmente o que é justificação‖.
Temos que nos mirar no exemplo do cego curado por Jesus, em João 9. Ele
não sabia muitas coisas. Havia discernido autoridade, nas palavras de Jesus,
por isso fez o que ele mandou e o classificou como ―profeta‖ (v. 17). Não
sabia, entretanto, a razão da sua cura. Não sabia a procedência ou o destino
do soberano que o curara (Vs. 12 e 25). Além do lodo com o qual havia
sido untado, não sabia, obviamente, explicar como fora curado (vs. 11 e
27). Uma coisa porém ele sabia e isso lhe era suficiente naquela ocasião:
―uma cousa sei, eu era cego e agora vejo‖.
Por que podemos ter comunhão genuína com aqueles que não são
calvinistas? Porque se verdadeiramente salvos, somos irmãos, filhos do
mesmo Deus soberano. Porque apesar das inconsistências verificadas nas
suas formulações teológicas, por mais que digam que a salvação foi fruto
do pretenso ―livre arbítrio‖ do homem; por mais que, em seus discursos,
venham a inferir uma subordinação das ações de Deus a este ―livre
arbítrio‖, quando se põem de joelhos e oram, oram a um Deus soberano que
tudo pode, a um Deus que é tudo e oram a ele reconhecendo que nada são.
Incoerências Humanas
Temos que reconhecer que nós mesmos, como seres humanos falíveis,
nunca somos totalmente coerentes com nossas premissas. Querem um
exemplo? Sabemos da importância do Dia do Senhor, do domingo. Temos
a convicção que neste dia devemos nos reunir e adorarmos o nosso Deus. A
maioria de nós, aqui, nunca pensaria esquecer o nosso culto dominical para
nos envolvermos em, vamos dizer, uma partida de futebol. Entretanto
muitos de nós torcemos bastante por este ou aquele clube de futebol.
Secretamente apoiamos tanto o divertimento quanto o ganha-pão naquele
dia, ou pelo menos fechamos os olhos e estabelecemos um duplo padrão de
comportamento: um para nós e para os nossos filhos e outro, desculpável,
para aqueles por quem nós torcemos. Chegamos até a inventar uma
categoria de cristãos, ―os atletas de Cristo‖, que sacramentaliza, cristianiza
e justifica a atividade no domingo. Isto é: peça a nossa opinião e
condenaremos o esporte dominical. Observe a nossa prática e
condescendência e verificará uma aceitação tácita dos esportes praticados
no Dia do Senhor. O que é isso? Incoerência humana, para sermos bem
gentis, e Deus nos aguenta!
O apóstolo Pedro, escrevendo em sua primeira carta (1.22 e 23) nos fala do
amor cristão que aniquila o orgulho. Neste trecho lemos: Tendo purificado
as vossas almas, pela vossa obediência à verdade, tendo em vista o amor
fraternal não fingido, amai-vos de coração uns aos outros, ardentemente,
pois fostes regenerados, não de semente corruptível, mas de incorruptível,
mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente.
A base deste amor é a regeneração comum (v. 23) que todos os cristãos têm
em Cristo Jesus. Ele é também o nossos exemplo, pois no verso 17 lemos
que ele julga ―sem acepção de pessoas‖, isto é, com equidade de
tratamento. O amor comissionado no versículo 22 possui três
características:
Tendo sido regenerados pelo Deus vivo e pela Palavra viva, de nada
podemos nos orgulhar, nem mesmo da nossa compreensão de Deus e de
Sua majestade, pois só dele procede a iluminação para o entendimento das
verdades espirituais e ele deseja que sejamos caridosos e pacientes na
instrução da Sua Palavra. Que Ele nos livre do pecado do orgulho
espiritual.
2. O PECADO DA INTOLERÂNCIA FRATERNAL
O Pós-modernismo e a Tolerância
3. Graça a vós, e paz da parte de Deus nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo,
4. o qual se deu a si mesmo por nossos pecados, para nos livrar do presente
século mau, segundo a vontade de nosso Deus e Pai,
6. Estou admirado de que tão depressa estejais desertando daquele que vos
chamou na graça de Cristo, para outro evangelho,
7. o qual não é outro; senão que há alguns que vos perturbam e querem
perverter o evangelho de Cristo.
8. Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos pregasse outro
evangelho além do que já vos pregamos, seja anátema.
9. Como antes temos dito, assim agora novamente o digo: Se alguém vos
pregar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema.
Para que não pairasse qualquer dúvida sobre o seu zelo, sobre sua posição,
ele repete mais uma vez as mesmas palavras, no versículo 9. Não quer ser
mal-entendido, não quer deixar "passar em branco", não quer parecer
precipitado - é um pensamento depurado e destilado sob o fogo do zelo e
sob o direcionamento sobrenatural do Espírito Santo.
Poderíamos dizer que Owen teve esta coragem de ―remar contra a maré‖ da
sua época, defendendo um tratamento meramente eclesiástico das questões
religiosas, consciente de que o Senhor era o legítimo proprietário das
consciências, a quem os homens haveriam de prestar contas por suas
persuasões e convicções.
A Tolerância de Cristo
Depois de estarem por tanto tempo tão próximos a Jesus, ouvindo os Seus
ensinamentos, podemos até pensar, como é que eles erraram o alvo dessa
maneira? Como é possível que não se aperceberam da natureza espiritual
do reino e da postura de servos que deveriam ter? Mas a situação é mais
grave ainda, porque os outros dez, passaram a demonstrar igual atitude de
inveja e ira, com relação àquele pedido inoportuno. Se eles estivessem
imbuídos da atitude de servos, conscientes de que deveriam, cada um,
―considerar os outros maiores do que a si mesmo‖, certamente teriam dito a
Jesus – ―realmente, eles parecem ser bem qualificados para terem um lugar
de importância no reino! Não nos importamos se eles forem nomeados‖.
Mas não, eles estavam, com certeza, pensando: ―Por que eles, e não nós?‖
Repentinamente, depois de tantos ensinamentos, Jesus viu todos os Seus
auxiliares imediatos, os homens com os quais deixaria a Sua igreja,
envolvidos em uma disputa rasteira sobre cargos e influência pessoal…
Como Ele deve ter se entristecido. Qual foi sua reação?
Definindo a Acomodação
Os Alertas de Provérbios
Com certeza, não podemos nunca deixar que este pecado encontre guarida
em nossa vida e nem que venhamos a nos acomodar sem meditação e sem
estudo e conhecimento das verdades de Deus.
Em sua segunda carta (2 Pedro 1.3-11) Pedro traz uma palavra de grande
importância aos calvinistas. O trecho diz:
3. Visto como pelo seu divino poder nos têm sido doadas todas as coisas
que conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo daquele que
nos chamou para a sua própria glória e virtude,
4. pelas quais nos têm sido doadas as suas preciosas e mui grandes
promessas, para que por elas vos torneis co-participantes da natureza
divina, livrando-vos da corrupção, das paixões que há no mundo.
5. Por isso mesmo vós, reunindo toda vossa diligência, associai com a
vossa fé, a virtude; com a virtude, o conhecimento;
10. Por isso, irmãos, procurai, com diligência cada vez maior confirmar a
vossa vocação e eleição; porquanto, procedendo assim, não tropeçareis em
tempo algum.
11. Pois, desta maneira, é que vos será amplamente suprida a entrada no
reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
Essa questão é tão importante para Pedro que ele, sob a divina inspiração
do Espírito Santo, repete a admoestação, no verso 10, quando indica que
devemos procurar, ―com diligência cada vez maior‖ a confirmação da
nossa vocação e eleição através da prática do conhecimento de Deus, que
vem pela dedicação ao continuado aprendizado e pela consequente vida
santa, que Ele requer de cada um de nós. Que Deus nos livre do pecado da
acomodação no aprendizado de Suas verdades.
4. O PECADO DA FALTA DE AÇÃO
Podemos rir com a história, mas muitas vezes estamos, em nossas vidas,
retratando aquela atitude da mulher daquele puritano. Com frequência,
passamos a descansar indevidamente na soberania de Deus, quando Ele
está colocando as coisas na nossa frente, requerendo, de nós, alguma ação.
Temos que nos conscientizar que vivemos sob a égide da vontade decretiva
de Deus, mas no conhecimento e sob a diretriz clara de sua vontade
prescritiva. Nela, conforme expressa nas Escrituras, temos tudo o que
precisamos saber para agirmos responsavelmente, da forma como Ele quer
que venhamos a agir.
A Abordagem do Antiquário
Jesus diz que aquelas pessoas pagavam tributo à memória dos profetas e
líderes religiosos do passado. Eles prezavam tanto a história, que cuidavam
e enfeitavam os sepulcros. Proclamavam a todos que os profetas eram
homens bons e nobres e atacavam quem havia rejeitado os profetas. Diziam
eles: ―se estivéssemos lá, se vivêssemos naquela época, não teríamos feito
isso!‖ Mas Jesus não se impressiona e os chama de hipócritas! A
argumentação de Jesus é a seguinte: Se vocês se dizem admiradores dos
profetas, como é que estão contra aqueles que representam os profetas e
proclamam a mesma mensagem que eles proclamaram? Ele testa a
sinceridade deles pondo a descoberto a atitude no presente para com
aqueles que hoje pregam a mensagem de Deus e mostra que eles próprios
seriam perseguidores e assassinos dos proclamadores da mensagem dos
profetas.
O Nosso Teste
Esse é também o nosso teste: uma coisa é olhar para trás e louvar homens
famosos, mas isso pode ser pura hipocrisia se não aceitamos, no presente,
aqueles que pregam a mensagem de Lutero e de Calvino. Somos mesmo
admiradores da Reforma, daqueles grandes profetas de Deus? Se não
aplicamos na vida prática as doutrinas reformadas o nosso interesse é
apenas o de antiquários. Estamos promovendo e encorajando o pecado do
isolamento, com esse tipo de visão da história?
Mas existe uma forma correta de relembrar o passado. Deduzimos esta não
apenas por exclusão e inferência do texto anterior mas por que temos um
trecho na Palavra de Deus—Hebreus 13.7-8, que diz: ―Lembrai-vos dos
vossos guias, os quais vos pregaram a palavra de Deus, e, considerando
atentamente o fim da sua vida, imitai a fé que tiveram. Jesus Cristo é o
mesmo, ontem, e hoje, e eternamente.‖
As doutrinas são de Cristo. Ele e os seus ensinamentos, são os mesmos
ontem, hoje, e eternamente. A maneira correta de relembrar a Reforma é,
portanto, verificando a mensagem, a palavra de Deus, como foi falada, e
isso não apenas por um interesse histórico de ―antiquário‖ mas para que
possamos imitar aquela fé demonstrada. Devemos observar aqueles eventos
e aqueles homens, para que possamos aprender deles. Vamos verificar
como eles aplicaram as doutrinas eternas aos seus dias e vamos seguir os
seus exemplos discernindo a essência da sua mensagem e aplicando-a aos
nossos dias.
Hebreus 1.1-4 mostra que Deus fala de forma diferente a tempos diferentes.
O cerne da mensagem não muda. Nos nossos dias, a revelação escriturada
está completa e não estamos defendendo a existência de novas revelações.
Entretanto, reconhecemos que Deus sempre demonstrou querer falar com o
homem nos seus termos. Na Palavra de Deus temos os muitos
antropomorfismos – descrições figurativas da pessoa de Deus, em
características de homem. Isso é um exemplo de como Deus condescende
em chegar até o homem.
Minha oração é que nós, calvinistas, possamos ser conhecidos tanto por
nossa doutrina firme, sadia, segura, intransigente, quanto por nosso amor
fraternal, por nossa gentileza, por nossa dedicação no estudo e por nossa
aplicação veraz e eficaz das sãs doutrinas, ao nosso tempo. Que não
apliquemos esses alertas aos nossos conhecidos ou vizinhos, mas que
possamos realmente, com sinceridade, buscar a presença de Deus e
verificar se não estamos sendo alvo das ciladas de Satanás, caindo nesses
cinco, ou mais pecados.
BIBLIOGRAFIA
(4) Kenneth Scott Latourette, A History of Christianity (N. York: Harper &
Row, 1953, 1975) pp. 26, 114, 123, 124.