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Como trabalhar com "raça" em sociologia1

Antonio Sérgio Alfredo Guimarães


Universidade de São Paulo

Resumo

Numa exposição didática, de caráter teórico-metodológico, o


autor explica o modo como utiliza em suas pesquisas a categoria
“raça”, em conexão com outras categorias como “cor”, “etnia”,
“região”, “classe”, “nação”, “povo”, “estado”, etc.
A partir do pressuposto de que os conceitos, teóricos ou não, só
podem ser aplicados e entendidos no seu contexto discursivo, o
autor estabelece a distinção entre conceitos “analíticos” e “nati-
vos”, ou seja, entre categorias retiradas de um corpus teórico e
categorias que compõem o próprio universo discursivo dos su-
jeitos que estão sendo analisados, mas que devem ser utilizados
pelo sociólogo.
Na parte central do texto, o autor esboça uma história dos signi-
ficados da categoria “raça” no Brasil e das diversas explicações
do caráter das relações entre brancos e negros avançadas pela
Sociologia: desde o trabalho pioneiro de Donald Pierson, nos
anos 1940, passando pelos estudos da Unesco, nos anos 1950,
os trabalhos da chamada “escola paulista”, nos anos 1960, e a
retomada da teoria da “democracia racial” nos anos mais recen-
tes, em estreito diálogo com os movimentos negros.
O autor termina por fazer uma pequena discussão sobre os di-
versos estímulos, ou perguntas, dados em pesquisas tipo survey,
Correspondência:
para definição e mensuração da variável cor ou raça.
Antonio Sérgio Alfredo Guimarães
Departamento de Sociologia - USP
Av. Luciano Gualberto, 315 - Cid.
Universitária Palavras-chave
05508-900 - São Paulo — SP
e-mail: asguima@usp.br
Raça — Etnia — Classe — Nação.
1. Este texto reproduz, de maneira li-
geiramente modificada, uma aula que
proferi, em abril de 2000, a pedido de
Nadya Araújo Guimarães, em seu se-
minário de orientação de bolsistas, na
USP. Mais tarde, esse texto foi modi-
ficado e apresentado no ciclo de semi-
nários do projeto "Gestão local,
empregabilidade e eqüidade de gêne-
ro e raça: uma experiência de política
pública na região do ABC paulista", em
desenvolvimento no CEBRAP, em
2001.

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How to work with “race” in sociology1

Antonio Sérgio Alfredo Guimarães


Universidade de São Paulo

Abstract

In a didactic account of a theoretical-methodological nature the


author explains how the category of “race” is used in his research,
in connection with other categories such as “color”, “ethnics”,
“class”, “nation”, “people”, “state”, etc.
Assuming that concepts, theoretical or otherwise, can only be
applied and understood within their discursive contexts, the
author establishes the distinction between “analytical” and
“native” concepts, that is, between categories extracted from a
theoretical corpus, and those that comprise the discursive
universe of the subjects being analyzed, but that must be employed
by the sociologist.
In the central part of the text, the author sketches a history of
the meanings of the category “race” in Brazil and of the various
explanations of the nature of the relations between white and
black people put forward by Sociology: starting with the 1940s
pioneering work of Donald Pierson, going through the UNESCO
studies of the 1950s and the work of the so-called “São Paulo
School” in the 1960s, up to the more recent revival of the theory
of “racial democracy” in close dialogue with Black movements.
The author concludes the article with a brief discussion about
the various questions or stimuli given in surveys for the definition
and measurement of the color or race variable.
Contact:
Antonio Sérgio Alfredo Guimarães
Departamento de Sociologia - USP Keywords
Av. Luciano Gualberto, 315 - Cid.
Universitária
05508-900 - São Paulo — SP Race – Ethnics – Class – Nation.
e-mail: asguima@usp.br

1. This text reproduces in a slightly


modified form, a lecture that I gave in
April 2000 by invitation of Nadya
Araújo Guimarães at her student
supervision seminar at USP. That text
was later altered and presented in
2001 at the series of seminars within
the project “Local management,
employability, and gender and race
equity: an experience of public policy
in the São Paulo ABC area” in course
at CEBRAP.

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Neste texto, pretendo fazer uma discus- também provocar alguns antropólogos em flor,
são conceitual sobre “raça” que seja também como diria meu velho professor Vivaldo da
metodológica. Gostaria de lembrar, antes de Costa Lima (1971), que chegam a ter arrepios
tudo, que se trata de uma exposição sobre o ao ouvir que “raça” pode ser um conceito so-
modo como eu trabalho conceitualmente. Pos- ciológico; o que consideram um absurdo. Ade-
so parecer categórico demais, às vezes, mas se mais desses usos analíticos, temos “raça” como
trata apenas de uma interpretação minha, pois conceito nativo. Vamos destrinchar isso um
nada do que eu falo forma um corpo dogmático pouco mais.
estabelecido ou cientifico; é apenas a explici- Vamos voltar, por um momento, ao fi-
tação crítica da maneira como eu trabalho. nal do século XIX para lembrar que quando a
Vamos começar pelos conceitos. Faze- sociologia se forma — lemos isso em Marx
mos sempre uma distinção, nas ciências sociais, (1974), em Durkheim (1970), em Boas (1940)
entre dois tipos de conceitos: os analíticos, de — ocorre um deslocamento em termos de
um lado, e os que podemos chamar de “nati- explananda: abandonamos as explicações sobre
vos”; ou seja, trabalhamos com categorias ana- o mundo social baseadas em raça ou clima, em
líticas ou categorias nativas. Um conceito ou favor de explicações baseadas no social e na
categoria analítica é o que permite a análise de cultura. O que funda as ciências sociais é essa
um determinado conjunto de fenômenos, e faz idéia de cultura. Que idéia é essa? É a idéia de
sentido apenas no corpo de uma teoria. Quan- que a vida humana, a sociedade política, etc.,
do falamos de conceito nativo, ao contrário, é não são determinadas, de uma maneira forte,
porque estamos trabalhando com uma catego- por nada além da própria vida social. Quem não
ria que tem sentido no mundo prático, efetivo. se lembra de Durkheim repetindo: “um fato
Ou seja, possui um sentido histórico, um sen- social só pode ser explicado por outro fato
tido específico para um determinado grupo social”? Essa mesma idéia vai ser desenvolvida
humano. A verdade é que qualquer conceito, por Boas e por outros. Podemos pensar em
seja analítico, seja nativo, só faz sentido no cultura material ou simbólica, e essa idéia de
contexto ou de uma teoria específica ou de um cultura simbólica é muito importante para nós
momento histórico específico. Acredito que que trabalhamos com “raça”. Construímos o
não existem conceitos que valham sempre em sentido de nossa vida social e individual, assim
todo lugar, fora do tempo, do espaço e das como construímos também os artefatos que nos
teorias. São pouquíssimos os conceitos que permitem sobreviver e reproduzir de maneira
atravessam o tempo ou as teorias com o mes- ampliada a nossa vida em sociedade. Aquilo
mo sentido. Se é assim, os termos de que que chamamos de natureza física pode ser
estamos falando são termos que devem ser considerado, de agora em diante, como simples
compreendidos dentro de certos contextos. condicionante da vida social. Lembremos Weber
Gostaria, portanto, de frisar esse aspecto. Ob- (1970) — cuja leitura é essencial: a ação social
servação que pode parecer bem simples, mas só existe como tal quando a ela se cola um
que trata de uma regra necessária para evitar sentido subjetivo. Assim se constituiu o cam-
confusões sobre o que vem a seguir. po das ciências sociais.
O que é raça? Depende. Realmente Mas sabemos também que o termo “raça”
depende de se estamos falando em termos não desapareceu totalmente do discurso científi-
científicos ou de se estamos falando de uma co. Não apenas do discurso da biologia, mas tam-
categoria do mundo real. Essa palavra “raça” bém de todos os discursos que insistem em
tem pelo menos dois sentidos analíticos: um explicar a vida social em concorrência com a
reivindicado pela biologia genética e outro pela sociologia. A biologia e a antropologia física
sociologia. Quando digo isso, estou querendo criaram a idéia de raças humanas, ou seja, a idéia

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de que a espécie humana poderia ser dividida populações africanas, maiores do que as dife-
em subespécies, tal como o mundo animal, e renças externas, aquelas existentes entre popu-
de que tal divisão estaria associada ao desen- lações africanas e populações européias, por
volvimento diferencial de valores morais, de exemplo. Ou seja, é impossível definir genetica-
dotes psíquicos e intelectuais entre os seres mente raças humanas que correspondam às
humanos. Para ser sincero, isso foi ciência por fronteiras edificadas pela noção vulgar, nativa,
certo tempo e só depois virou pseudociência. de raça. Dito ainda de outra maneira: a cons-
Todos sabemos que o que chamamos de racis- trução baseada em traços fisionômicos, de
mo não existiria sem essa idéia que divide os fenótipo ou de genótipo, é algo que não tem
seres humanos em raças, em subespécies, cada o menor respaldo científico.2
qual com suas qualidades. Foi ela que hierar- Ou seja, as raças são, cientificamente,
quizou as sociedades e populações humanas e uma construção social e devem ser estudadas por
fundamentou um certo racismo doutrinário. um ramo próprio da sociologia ou das ciências
Essa doutrina sobreviveu à criação das ciências sociais, que trata das identidades sociais. Esta-
sociais, das ciências da cultura e dos significa- mos, assim, no campo da cultura, e da cultura
dos, respaldando posturas políticas insanas, de simbólica. Podemos dizer que as “raças” são
efeitos desastrosos, como genocídios e holo- efeitos de discursos; fazem parte desses discur-
caustos. Depois da tragédia da Segunda Guer- sos sobre origem (Wade 1997). As sociedades
ra, assistimos a um esforço de todos os cientis- humanas constroem discursos sobre suas ori-
tas — biólogos, sociólogos, antropólogos — gens e sobre a transmissão de essências entre
para sepultar a idéia de raça, desautorizando o gerações. Esse é o terreno próprio às identida-
seu uso como categoria científica. O desejo de des sociais e o seu estudo trata desses discursos
todos era apagar tal idéia da face da terra, sobre origem. Usando essa idéia, podemos dizer
como primeiro passo para acabar com o racis- o seguinte: certos discursos falam de essências
mo. Alguns cientistas naturais, biólogos, tenta- que são basicamente traços fisionômicos e qua-
ram impedir o uso do conceito na biologia, lidades morais e intelectuais; só nesse campo a
mesmo que tenha ficado claro que ele não idéia de raça faz sentido. O que são raças para
pretendia mais explicar a vida social e as dife- a sociologia, portanto? São discursos sobre as
renças entre os seres humanos; propuseram origens de um grupo, que usam termos que
que o seu nome fosse mudado, que se passasse remetem à transmissão de traços fisionômicos,
a falar de “população” para se referir a grupos qualidades morais, intelectuais, psicológicas, etc.,
razoavelmente isolados, endogâmicos, que con- pelo sangue (conceito fundamental para enten-
centrassem em si alguns traços genéticos. Essa der raças e certas essências). Existem vários
idéia de “população”, apesar de próxima de outros tipos de discursos que são também dis-
“raça”, seria extremamente útil em alguns estu- cursos sobre lugares: lugares geográficos de
dos biológicos e, ao mesmo tempo, evitaria as origem — “a minha Bahia, o meu Amazonas, a
implicações psicológicas, morais e intelectuais minha Itália” —, aquele lugar de onde se veio e
do antigo termo. Mesmo que se possa de- que permite a nossa identificação com um gru-
monstrar estatisticamente que a população po enorme de pessoas. Quando falamos de lu-
mundial, em termos genéticos, não pode ser gares, falamos de etnias. Outras vezes, os discur-
dividida em raças, seria necessário, para alguns sos sobre origens são discursos sobre o modo
biólogos, conservar a idéia da existência desses de fazer certas coisas (por exemplo: “nós faze-
grupamentos geneticamente mais uniformes. mos desse jeito, nós comemos um alimento
O que significa a não existência de cortando-o na diagonal e não na vertical, como
raças humanas para a biologia? Significa que as
diferenças internas, digamos aquelas relativas às 2. Uma boa discussão deste ponto pode ser encontrada em Appiah (1997).

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fazem os bárbaros”); esses são discursos que que estão reivindicando, não somente uma
podem também formar uma comunidade. 3 É origem comum, mas um destino político co-
muito importante observarmos a distinção de mum enquanto povo.
Tönnies, retomada por Weber (1970), entre “as- Aliás, a noção de “povo” é também
sociação” e “comunidade”. São dois conceitos muito importante. O povo é justamente o sujei-
fundamentais. Lembrando sempre que estamos to dessa comunidade imaginária de origem ou
falando de discursos que criam comunidades, de destino, o conjunto das pessoas da comu-
não associações. O que é uma associação? As- nidade: o povo de santo, o povo brasileiro, o
sociação é simplesmente uma reunião de pessoas povo baiano, o povo paulista. Nenhum povo
ligadas por certos interesses, interesses que existe sem a comunidade que lhe oferece uma
podem ser submetidos à crítica. Um sindicato é origem ou um destino: o candomblé, o Brasil,
certamente uma associação, formado a partir de a Bahia, São Paulo.
uma mesma situação de classe, de uma posição A distinção clássica de Weber (1970) en-
comum num mercado de bens e serviços. Não tre Estado e Nação é bastante conhecida. Aliás,
estamos falando, portanto, de comunidades, um outro parêntese: este texto está parecendo
como acontece quando estamos nos referindo a uma aula de sociologia, não é? Mas eu trabalho
etnias ou raças. Estas últimas podem mesmo se assim mesmo, fazendo distinções analíticas que
transformar numa outra coisa, a qual devemos só fazem sentido quando empregadas para en-
designar por um outro nome, como quando tender um fato concreto. Em certos momentos
passam a reivindicar, não apenas uma origem do meu raciocínio é como se estivéssemos no
comum, mas um certo destino político, também mundo da lua, pois me refiro a uma distinção pu-
comum. Quando etnias ou raças passam a reivin- ramente analítica, em abstrato, quando tudo o
dicar um destino político comum, quando for- que existe é uma realidade concreta, singular. Os
mam uma comunidade de origem e de destino, conceitos só fazem sentido num mundo teórico
então estamos em presença de uma nação. É determinado, não faz sentido sair daqui para
perfeitamente plausível dizermos, por exemplo, aplicar ali este discurso teórico sem referências
que os negros americanos, que têm a raça como concretas, porque faltaria história, e esses con-
categoria nativa se transformaram, em algum ceitos se articulam numa determinada história e
momento, em uma nação, formando um movi- numa determinada teoria.
mento nacionalista. Então, o que é Estado? O Estado é a or-
Um parêntese: quando se fala em raça, ganização política que tem domínio sobre um
nos Estados Unidos, isso faz imediatamente território e monopoliza o uso legitimo da força,
sentido para as pessoas; não se pode viver nos essa é a definição weberiana. O Brasil certamente
Estados Unidos sem ter uma raça, mesmo que é um Estado. O século XIX assiste ao surgimento
se tenha que inventar uma denominação — dessas formações chamadas Estados-nação, enti-
como latino — que designa uma uniformidade dades que emitem passaporte, que erigem e con-
cultural e biológica de outro modo inexistente, trolam fronteiras, que garantem direitos a seus ci-
mas imprescindível para possibilitar o diálogo dadãos, mas às quais, ao mesmo tempo, esses ci-
com pessoas que se designam “negras”, “bran- dadãos devem se identificar como filhos, devendo-
cas”, “judias”, etc. Todos os grupos étnicos lhes amor e fidelidade; e que são, ao mesmo tem-
viram raça nos Estados Unidos, porque raça é po, comunidades políticas e de destino.
um conceito nativo classificatório, central para Mas ainda me falta falar de três outros
a sociedade americana. Por outro lado, quan- conceitos que sempre aparecem nos nossos
do nos referimos ao afrocentrismo americano,
ao panafricanismo, ao islamismo de Faraken, 3. Peter Wade (1997) tem uma explicação bastante didática sobre as
nitidamente estamos tratando de movimentos diferenças entre “raça” e “etnias” que sigo, em grande parte, aqui.

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discursos. O primeiro deles é “classe” e, para quais simpatizo muito, trabalham com a idéia
empregá-lo, peço ao meu leitor mais isenção, de formação de classe, justamente para dizer
mais abertura, menos dogmatismo. O que estou que a classe, enquanto comunidade, está sem-
pedindo? Estou pedindo o seguinte: que con- pre em processo de formação ou dissolução,
sidere essa palavra fora de um discurso teóri- ela nunca é permanente; porque, para criar
co especifico; que não diga, categoricamente: essa comunidade, precisa-se criar um discur-
“a classe de alguém depende fundamentalmen- so de origem ou um discurso de destino. Ou
te do lugar que ele ocupa num modo de pro- seja, construir uma comunidade de destino ou
dução”. Peço que faça de conta que está ou- a comunidade de origem exige tempo, histó-
vindo esta palavra pela primeira vez. “Classe” ria, política — não é algo que se faça automa-
pode ser um conceito analítico ou, como qual- ticamente.
quer outro conceito, pode ser um conceito O penúltimo conceito que me falta é o
nativo. Pense numa pessoa qualquer, em si mais difícil de todos — a cor. Os povos euro-
mesmo, em mim: essa pessoa diz que perten- peus se definem e foram definidos como bran-
ce a uma determinada classe, outros podem cos, no contato com os outros, considerados
achar que ela está errada em sua auto-classifi- negros, amarelos, vermelhos. Estamos diante de
cação; eu digo que sou de classe média, você um discurso classificatório baseado em cores.
diz: “classe média uma ova, o cara trabalha não Temos que dar tratos à bola para compreender
sei quantas horas, pega no pesado, e vem di- este que é o mais naturalizado de todos os
zer que é classe média”. Percebemos, nesse discursos. E quando falo naturalizado, estou
exemplo, que estamos manipulando um con- querendo dizer totalmente nativo, pois quanto
ceito nativo de classe. O cidadão é preto, tem mais nativo é um conceito mais ele é habitual,
seu carro, tem também uma loja num shopping, menos ele é exposto à critica, menos consegui-
aí vamos entrevistá-lo e ele diz que é trabalha- mos pensar nele como uma categoria artificial,
dor. Ficamos indignados: “esse cara é trabalha- construída, mais ele parece ser um dado da
dor uma ova, ele é classe média”. A classe dele, natureza. É isso que quer dizer “naturalizado”.
para ele, o modo nativo como ele se identifica Cor é um discurso desse tipo, uma categoria
é como trabalhador, é essa a idéia de classe que totalmente nativa; eu não posso falar muito
ele tem. O exemplo que estou usando é real. dela, pois tenho que estudá-la mais um pouco.
Amauri de Souza (1971) descobriu que, nos Eu poderia discorrer sobre raça; como surgiu a
anos 1960, no Rio de Janeiro, a maior parte da idéia de raça, os primeiros livros em que a
população negra, mesmo aquela que tinha ren- palavra raça apareceu, qual o significado que
dimento alto, votava no partido trabalhista e se tinha, etc.; existe uma enorme literatura sobre
identificava como trabalhador, diferentemente isso, mas sobre “cor” não existe. Na mais lon-
dos brancos do mesmo nível social, que se gínqua antiguidade, essa metáfora das cores já
identificavam como de classe média. se aplicava à classificação dos seres humanos.
Podemos pensar em classe em termos “Cor” nunca é um conceito analítico, a não ser
analíticos e em termos nativos. Analiticamente, talvez na pintura, na estética, na fotografia;
podemos pensar classe como uma associação ou certamente na arte ele é um conceito analítico,
como uma comunidade. Quando pensamos clas- mas nas ciências sociais ele é sempre nativo,
se como uma comunidade, geralmente é uma usado para classificar pessoas nas mais diver-
comunidade de destino, mas às vezes também sas sociedades.
pode ser uma comunidade de origem, pode ser Gostaria ainda de chamar a atenção,
um discurso igual a esses sobre raças, etnias, etc. nessa parte totalmente conceitual da minha
Alguns estudiosos (Thompson 1958; Pzreworski exposição, em que estou a estabelecer diferen-
1977; Burawoy 1979; Wright 1985), com os ça em cima de diferença, em que o discurso apa-

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rece destroncado – um braço pra cá, um dedo ses”. Usando Weber, que distingue os grupos
pra lá – sem corpo, sem história, sem matéria, abertos — como as classes — dos fechados —
para um último termo: cultura. Usamos esse como as castas — uma boa parte da literatura
termo “cultura” num sentido muito abstrato, mas sociológica brasileira afirma que a colônia bra-
também o usamos num sentido reificado, espe- sileira era uma sociedade de castas. Isso por-
cífico. Falamos assim numa determinada cultu- que, no nosso caso, a relação social era fecha-
ra étnica — a cultura italiana, a cultura negra, a da pela cor — negro —, que sinalizava seja a
cultura baiana —, falamos em culturas nacionais, idéia de raça, seja a idéia de cultura e civiliza-
em cultura brasileira e em culturas raciais. ção, seja a idéia religiosa de uma descendência
Que significa, afinal de contas, o termo divina. As pessoas comuns, entretanto, sempre
“cultura”? Isso, numa discussão como esta, é se referiram a essa divisão entre “senhores” e
fundamental. Vamos examinar os discursos efe- “escravos” como uma divisão de classes.
tivos, reais, em que o termo “cultura” aparece As raças e as classes, portanto, se arti-
com referência ao Brasil, à nação brasileira. culavam intimamente, em seu sentido nativo.
Se examinarmos o caso brasileiro, vere- No entanto, ainda não conhecíamos o racismo
mos de uma maneira especifica a mudança no moderno. Ao dizer isso, estou supondo que o
significado do termo. A primeira coisa a lembrar meu leitor saiba o que seja o racismo chama-
é a seguinte: as raças foram, de fato, um con- do “cientifico”, isto é, aquele que se justifica
ceito nativo no Brasil, e foram durante muito pela ciência. Pois bem. Muitos autores, entre
tempo uma categoria de posição social. Pelo eles Colette Guillaumin (1992), afirmam que o
menos até o começo do século XX, essa era racismo e a “raça” são produtos da moder-
uma categoria totalmente antinatural; somos nidade, ou seja, que a idéia de raça não exis-
uma nação que se formou com a escravidão, e tiria fora da modernidade. O que eles querem
essa escravidão não era uma escravidão gene- dizer com isso? Eles querem dizer que a idéia
ralizada de todos os povos, mas somente da- de raça, tal como a temos hoje, pressupõe uma
queles localizados numa determinada parte do noção chave para a ciência moderna, a de
continente africano. Os povos que escravizamos natureza imanente, da qual emana um determi-
vieram da África ocidental e da África meridio- nado caráter, uma determinada psicologia, uma
nal, hoje Congo, Angola, Moçambique, Zaire e, determinada capacidade intelectual. A idéia
subindo a costa ocidental, a Nigéria, o Níger e científica de que a natureza se desenvolve
Golfo do Benin. Foram dessas regiões que propulsionada por seus próprios mecanismos
vieram os povos escravizados em toda a Amé- internos é imprescindível para essa idéia moder-
rica. Um sistema muito próprio de comercia- na de raça. Feita essa distinção, não se pode
lização que envolvia negreiros da Holanda, de negar que a palavra “raça” é anterior a essa
Portugal, do Brasil, da Inglaterra, da França, etc., idéia moderna. Mas trata-se então de uma idéia
alguns reinos africanos e as colônias americanas. não científica, inteiramente teológica, que no
Essas pessoas escravizadas foram chamadas de Brasil, nos Estados Unidos e em outros lugares
“africanas” e “negros”; essas foram, digamos, as justificou a escravidão.
duas identidades criadas originalmente na so- Construiu-se para a escravidão, primei-
ciedade escravocrata brasileira, em que o negro ro, uma justificativa em termos teológicos e não
tinha um lugar e esse lugar era a escravidão. em termos científicos. Todos conhecem, por
Então, nessa sociedade muito racialista exemplo, o mito de que os negros são descen-
a raça era importante, nativamente importante, dentes de Cã, da tribo amaldiçoada de Canaã.
para dar sentido à vida social porque alocava as Realmente, muitos escravocratas e fazendeiros
pessoas em posições sociais. Essas posições achavam que tinham uma missão civilizadora,
sociais foram chamadas originalmente de “clas- que estavam redimindo os filhos de Cã, descen-

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dentes daquela tribo perdida, trazendo-os para Quando esse discurso se cristaliza? Ele
a civilização cristã, agora, para aprender o va- se cristaliza basicamente nos anos 1920, 1930,
lor do trabalho. e encontra em Gilberto Freyre o seu principal
O fato é que esse racialismo que mar- intelectual. O marco pode ser 1933, ano de
cou a sociedade e a nação brasileiras desde o publicação de Casa-Grande e Senzala, mas pode
seu início, foi cedendo lugar aos poucos a fór- ser também a Semana de Arte Moderna em
mulas muito mais brandas. Esse processo é ra- 1922, pois todos os modernismos vão perseguir
zoavelmente bem estudado pela historiografia, exatamente uma idéia nova de Brasil e de povo
mas não completamente desvendado. Sabe-se, brasileiro.
por exemplo, que, no Brasil, a ordem escravocrata É verdade que temos antecedentes
convivia com um número de alforrias muito desde o Império. O primeiro foi, sem dúvida, o
grande e um tráfico muito intenso de escravos, movimento romântico brasileiro, o indianismo.
de sorte que o que alimentou a escravidão no O primeiro momento de uma nação indepen-
Brasil foi o tráfico e não a reprodução de es- dente, da nação brasileira. Fomos buscar no
cravos. Assim, com o tempo, se formou, no índio o símbolo da nação. Essa foi uma maneira
Brasil, uma classe de homens livres pretos, de deixar de ser europeu e passar a ser brasi-
mulatos e pardos, que foi forçando e conquis- leiro. Essa primeira construção nacional foi tão
tando o seu lugar na sociedade, o que fez com marcante que, na minha terra, Bahia, até hoje,
que essa racionalização teológica fosse abran- os negros, e o povo em geral, se identificam
dada. Onde eu quero chegar é: em algum com o caboclo do Dois de Julho.
momento da história, possivelmente pressiona- Vale aqui mais um parêntese. Quando
da pelo avanço social dos ex-libertos e de seus foi proclamada a Independência brasileira as
descendentes, a categoria predominante em tropas portuguesas de Salvador não se rende-
termos de classificação social passou a ser “cor” ram. Ao contrário, alimentaram o projeto de
e não “raça”. Ganhou esse estatuto de catego- manter Salvador como um porto português, um
ria nativa mais importante. Essa idéia de cor enclave; dando ensejo a uma luta pela Inde-
está hoje na base do que se chama de nação pendência que durou mais ou menos um ano,
brasileira, desse Estado-nação. Desde a Inde- até que, finalmente, em 2 de julho de 1823, as
pendência, temos um projeto de nação que tropas brasileiras entraram em Salvador, pela
está ligado à construção de um Estado nacio- estrada da Liberdade. Ali, na Lapinha, se cons-
nal; deixamos de ser parte do Estado portu- truiu uma Casa dos Caboclos, porque os cabo-
guês, passamos a formar um Estado brasileiro clos foram lutar na guerra da Independência.
mantendo a escravidão, mas tínhamos já inte- Toda essa construção simbólica é feita no Im-
grado um número grande de pretos libertos, de pério e perdura até hoje. Vejam-se os candom-
homens livres de cor, e a importância da cor blés de caboclos, eles espelham essa idéia de
não cessou de crescer desde então. nacionalidade que vem desse movimento de
Dito isso, permita-me um salto históri- indianismo (Santos, 1995). Ultimamente, quem
co. Vamos pensar agora o nosso tempo moder- melhor tem estudado esse período, esta constru-
no, dos anos 1930 pra cá. Podemos, então, ção simbólica, tem sido Lilia Schwarcz (1999) e
distinguir três grandes períodos. José Murilo de Carvalho (1991), cuja leitura
Temos uma primeira fase, de constitui- recomendo.
ção da nação brasileira, e aqui eu falo de na- Silvio Romero e a chamada “geração
ção como comunidade de destino, na qual realista” vêm logo depois. Essa geração vai
prevalece a idéia de cor sobre a idéia de raça. enfrentar o problema nacional fundamental,
O anti-racialismo é uma das ideologias funda- qual seja: não temos mais escravos e agora não
doras dessa nação. podemos mais fazer de conta que o negro li-

100 Antonio S. A. GUIMARÃES. Como trabalhar com "raça" em sociologia


vre é caboclo, que o negro livre é índio. Vai ser eram fechados, que certos lugares das praças
preciso incorporar agora esse povo, essa raça, públicas das cidades eram vedados aos negros,
nessa nação nova, criar símbolos nacionais. Foi etc. Mas, o mais importante para nós é que
isso que a geração de 1920 fez, num período Pierson inaugura uma outra retórica de raça, em
muito fértil da nacionalidade, da qual participa- que a palavra “classes”, já de domínio popular,
ram todos, inclusive os movimentos negros da ganha um sentido acadêmico, weberiano, sendo
época. Até hoje é impossível pensar o movi- depois popularizada com esse novo sentido.
mento negro sem pensar que ele continua lu- Como é possível notar, a primeira ma-
tando para ser integrado a essa nação, ainda neira das ciências sociais pensarem essa reali-
que, agora, de uma forma que não seja simples- dade continuou colada à ideologia nacional. É
mente simbólica. Pois, simbolicamente, os ne- difícil perceber onde acaba a ciência e onde
gros foram incorporados sim, por Freyre (1933), começa a vontade de nação. É como se a ideo-
por Mário de Andrade (1944), pelos folcloristas, logia nacional, que move as relações sociais,
pelos modernistas. Nos anos 1950, a palavra de passasse a ser o discurso da ciência, apresen-
ordem que encontramos ainda era a seguinte: tando-se como análise. Trata-se de um discur-
a cor é apenas um acidente. Somos todos bra- so nativo ou de um discurso analítico?
sileiros e por um acidente temos diferentes Um segundo período é marcado pelos
cores; cor não é uma coisa importante; “raça”, estudos patrocinados pela Unesco, principalmen-
então, nem se fala, esta não existe, quem fala te os realizados no Rio e em São Paulo (Maio,
em raça é racista. 1997). Esses estudos documentam pela primei-
Na sociologia acadêmica, o movimento ra vez, de maneira racional e científica (ou seja,
interpretativo da realidade racial que se cons- utilizando-se das técnicas de observação desen-
titui no pós-1930 começou com o trabalho de volvidas pela sociologia e pela antropologia so-
campo de Donald Pierson, na Bahia, em 1939, cial), a situação do negro no Sudeste do Brasil.
e segue até o final dos estudos da Unesco Seria a “raça” uma forma de classificação social
sobre relações raciais. Nesse período, se formam no Brasil? Pensava-se comumente que “a cor era
duas interpretações. A primeira, que foi capita- apenas um acidente”, éramos todos brasileiros.
neada pelo mesmo Donald Pierson (1971), diz Esse pensamento era atribuído ao povo, ou seja,
o seguinte: a sociedade brasileira é uma socie- não apenas os ideólogos, mas as pessoas co-
dade multirracial de classes. O que ele quer muns, do povo, brancos e negros, pensariam
dizer com isso é que se trata de uma socieda- assim. Os estudos de Bastide e Florestan (1955)
de na qual as “raças” não eram propriamente e Costa Pinto (1953) rompem radicalmente com
“raças”, mas grupos abertos. Ou seja, a raça não essa forma de pensar. A grande discussão que
seria um principio classificatório nativo (nin- eles estabelecem é uma discussão já colocada
guém teria raça nativamente, mas sim cor); pelo movimento negro nos anos 1930: a exis-
nem seria também um grupo de descendência. tência do preconceito racial no Brasil, apesar do
O modo de classificação por cor não fecha as ideal de democracia racial. O que é preconcei-
portas para ninguém, não pesa quase nada nas to? Definia-se preconceito, geralmente, a partir
oportunidades sociais, a sociedade seria uma da experiência americana de preconceito — pon-
sociedade de classes, uma sociedade aberta, em to de vista que pode ser aprofundado pela con-
que negros, brancos, índios, mestiços, pessoas de sulta a Blumer (1939, 1958). A idéia básica de
qualquer cor, podem transitar pelos diferentes Blumer é que o preconceito existe como uma
grupos sociais. Ficamos pensando se isso era reação emocional de um grupo racial (o branco)
uma construção ideal, ou se pretendia ser uma que se sente ameaçado por outro (o negro) na
representação do real, porque sabemos por competição por recursos em uma ordem iguali-
monografias, por etnografias, que certos clubes tária (democrática).

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O que Pierson dizia é que o preconceito, diferente de colonizar que significou miscige-
assim definido, não existia no Brasil. Haveria, sim, nar-se, igualar-se, integrar os culturalmente in-
casos individuais de preconceito, casos isolados, feriores, absorver sua cultura, dar-lhes chances
mas não como fenômeno social; ou seja, os bran- reais de mobilidade social no mundo branco.
cos, enquanto grupo, no Brasil, não cultivariam o Freyre fala depois em “democracia étnica” para
medo de serem deslocados pelos negros. Em dizer que, no Brasil, apesar de uma estrutura
Marvin Harris (1956), que segue a orientação de política muito aristocrática, desenvolve-se, no
Blumer, o argumento se estende ao limite, pois ele plano das relações raciais, relações democráti-
diz que, no Brasil, a classe dominante, a branca, cas. São essas idéias que foram traduzidas
nunca precisou sacar a carta racial do colete, ou como “democracia racial” e ganharam, por um
seja, os negros nunca ameaçaram, e os brancos bom tempo, pelo menos dos anos 1940 até os
nunca precisaram sentir medo, e portanto nunca 1960, a conotação de um ideal político de con-
desenvolveram preconceito. O fato é que, nesses vivência igualitária entre brancos e negros (Gui-
anos, a grande discussão era: existe ou não exis- marães, 2002).
te preconceito racial no Brasil? Quando o Florestan Fernandes (1965)
A chamada “escola paulista de sociologia” fala em mito da democracia racial, ele estava
começou a desenvolver um tipo de argumentação querendo dizer o seguinte: essa democracia
diferente, mais ou menos assim: existem áreas tra- racial seria apenas um discurso de dominação
dicionais, como a Bahia, Pernambuco, onde isso política, não expressava mais nem um ideal,
pode ser verdade, onde não existiria preconceito nem algo que existisse efetivamente, seria usa-
porque não haveria ordem competitiva, igualitária. do apenas para desmobilizar a comunidade
Mas, nas áreas de desenvolvimento capitalista, em negra; como um discurso de dominação, seria
São Paulo, onde se organiza uma sociedade de puramente simbólico, sua outra face seria jus-
classes, à medida que aumenta a competição so- tamente o preconceito racial e a discriminação
cial, aparece o preconceito, ou seja, a ameaça do sistemática dos negros.
negro tomar o lugar do branco torna-se real. Em O termo “democracia racial” passa, por-
contraposição, os críticos da escola paulista inter- tanto, a carregar e sintetizar uma certa conste-
pretavam tal preconceito como cultura de impor- lação de significados. Nela, raças não existem
tação, nutrida principalmente por certos grupos e a cor é um acidente, algo totalmente natural,
imigrantes pouco adaptados ainda à vida nacional. mas não importante, pois o que prevalece é o
A escola paulista, ao contrário, buscava explicações Brasil como Estado e como nação; um Brasil
estruturais, ou seja, remetia-se à estrutura social em que praticamente não existem etnias, salvo
em mutação — o capitalismo industrial, em gesta- alguns quistos de imigrantes estrangeiros. In-
ção no país, estaria também deslanchando o fenô- venta-se, portanto, um povo para o Brasil, que
meno do preconceito racial. passa a ter samba, passa a ter um pouco da
O fato é que essa escola cunhou a idéia cultura negra, que até aqui não existia pois se, no
do mito da democracia racial. Aquela socieda- Império, predominou a mística do índio, e na
de multirracial de classes, de que falava Pierson República a mística do imigrante europeu, so-
em 1940, se transformou, com o tempo, numa mente na Segunda Republica o negro vai dar co-
coisa chamada democracia racial, cujas origens loração à nação, à idéia de uma nação mestiça.
estão na idéia de Freyre de que a cultura luso- Apenas a partir de 1978, surgirá um ator
brasileira, o “mundo que o português criou”, político, o Movimento Negro Unificado, a golpear
teria desenvolvido uma “democracia social” esse discurso nacional de maneira mais contun-
mais profunda e pujante que a “democracia dente. Ainda que a crítica da “democracia racial”,
política” dos anglo-saxões e franceses. Essa o denunciá-la como mito, date de 1964, a repres-
democracia social seria basicamente um modo são política impediu qualquer reação organizada.

102 Antonio S. A. GUIMARÃES. Como trabalhar com "raça" em sociologia


Por que o MNU irá golpear de forma tão tos nunca passou contemporaneamente de 5%.
contundente a “democracia racial”? Porque ele vai Ora, isso representava uma grande dificuldade
reintroduzir a idéia de raça, vai reivindicar a ori- para a análise desagregada dos dados, pois não
gem africana para identificar os negros. Começa- permitia que se fizessem testes estatísticos ro-
se a falar de antepassados, de ancestrais, e os bustos. Por outro lado, no total, a categoria
negros que não cultivam essa origem africana parda, mais numerosa, não apresentava grandes
seriam alienados, pessoas que desconheceriam diferenças em relação à preta em termos de
suas origens, que não saberiam seu valor, que situação, medida por uma série de indicadores.
viveriam o mito da democracia racial. Para o Como seria estatisticamente recomendável agre-
MNU, um negro, para ser cidadão, precisa, antes gar os dados, Nelson e Carlos juntaram os pre-
de tudo, reinventar sua raça. A idéia de raça passa tos aos pardos, ou seja, fizeram, analiticamen-
a ser parte do discurso corrente, aceito e absor- te, o que o movimento negro fazia na política,
vido de certo modo pela sociedade brasileira, o chamando o agregado resultante de “negros”.
que não se explica senão pelas mudanças que Assim o termo “negro” para significar afro-des-
ocorreram também na cena internacional, que tor- cendente ganhou credibilidade nas ciências
naram esse discurso bastante poderoso interna- sociais, assim como o discurso da desigualda-
mente. Mas o fato é que se introduz de novo a de racial, também a partir das ciências sociais,
idéia de raça no discurso sobre a nacionalidade contagiou o discurso político.
brasileira. Bom, aí a confusão está formada; e por
Na sociologia acontece, paralela e inde- quê? Porque agora tem-se um conceito que
pendentemente, algo parecido. Carlos Hasenbalg não era nem analítico nem nativo. Não era
(1979) e Nelson do Valle e Silva (1980) simples- analítico porque a sociologia não o sustentava,
mente analisam os dados agregados, produzidos tampouco a biologia, e não era nativo senão
pelo IBGE, e demonstram por a mais b que as para uma parte mínima da população brasilei-
desigualdades econômicas e sociais entre bran- ra, ou seja, para os ativistas e simpatizantes do
cos e negros, ou seja, entre aqueles que se MNU. O que eu escrevi em “Racismo e Anti-
definem como brancos e como pretos e pardos racismo no Brasil” tenta desenrolar esse nó, do
(negros, na definição do ativismo negro), não ponto de vista teórico, propondo um conceito
podem ser explicadas nem pela herança do pas- sociológico de raça (Guimarães, 1999).
sado escravagista, nem podem ser explicadas Que conceito é esse? Parto da crítica à
pela pertença de negros e brancos a classes categoria “cor”, pois a análise dessa categoria,
sociais distintas, mas que tais desigualdades no Brasil, nos leva à conclusão, sem grande
resultam inequivocamente de diferenças de dificuldade, de que a classificação por cor é
oportunidades de vida e de formas de tratamento orientada pela idéia de raça, ou seja, que a
peculiares a esses grupos raciais. classificação das pessoas por cor é orientada
Uma enorme coincidência estatística fez por um discurso sobre qualidades, atitudes e
com que Carlos e Nelson reforçassem ainda essências transmitidas por sangue, que remon-
mais o discurso do Movimento Negro, que tam a uma origem ancestral comum numa das
naquele momento procurava dividir a popula- “subespécies humanas”. Isso não foi muito di-
ção brasileira em brancos e negros, recusando fícil pois pude me restringir a resenhar critica-
os termos, oficiais ou não, que classificavam os mente os antropólogos dos anos 1940, 1950 e
mestiços em morenos, pardos, escuros, etc. 1960, que documentaram ricamente tal fato. O
Sabemos que os dados do IBGE trazem cinco meu argumento é o seguinte: “cor” não é uma
categorias – brancos, pretos, pardos, amarelos categoria objetiva, cor é uma categoria racial,
e indígenas. A categoria “preto” é diminuta; a pois quando se classificam as pessoas como
proporção, no Brasil, dos que se declaram pre- negros, mulatos ou pardos é a idéia de raça que

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orienta essa forma de classificação. Se pensar- Recentemente eu comecei a reagir a
mos em “raça” como uma categoria que expres- esse discurso (Guimarães, 2002), pensando o
sa um modo de classificação baseado na idéia seguinte: esse argumento é muito bom porque
de raça, podemos afirmar que estamos tratan- nos ensina a pensar as relações sociais, tais
do de um conceito sociológico, certamente não como elas se dão no cotidiano; nesse sentido,
realista, no sentido ontológico, pois não refle- ele põe fim à politização excessiva do tema.
te algo existente no mundo real, mas um con- Mas ele tem um defeito — ele acaba se apegan-
ceito analítico nominalista, no sentido de que do muito à idéia de estrutura, de longa dura-
se refere a algo que orienta e ordena o discurso ção, torna-se quase que um discurso a-históri-
sobre a vida social. co, como se estivéssemos tratando com uma
Temos outros dois complicadores adi- matriz que não teve inicio e não terá fim. Se os
cionais. que usam tal argumento são pouco críticos a
Primeiro, houve um movimento de rea- respeito da historicidade dessa matriz, então eu
ção à vontade do MNU de desmistificar a de- os fustigo, perguntando: como nasceu a demo-
mocracia racial, à sua ânsia de culpar o precon- cracia racial? Quando se transformou num com-
ceito e a discriminação raciais como responsá- promisso político? Será que esse discurso não
veis, pelo menos em parte, pela desigualdade pode acabar? Será que não está acabando? E,
racial no Brasil; junto com isso houve também, inspirado nas idéias de alguns cientistas políti-
nos anos 1980 e 1990, um grande abalo no cos, como Amaury de Souza (1971), por exem-
nosso sentimento de nacionalidade, resultado plo, penso a democracia racial como um com-
de sucessivas crises econômicas e políticas – promisso político, que teve um começo, conhe-
houve crises de governabilidade e ameaças de ceu o apogeu, passou por crises e, talvez, te-
desintegração nacional, com o surgimento de nha se esgotado.
movimentos separatistas. Uma observação final de cunho metodo-
Segundo, houve, no plano da academia, lógico. Tratei até aqui de termos analíticos, de
uma certa reação à tentativa de demonização de termos nativos, agora gostaria de tratar de ter-
Gilberto Freyre. Surgiu na academia um movimento mos de pesquisa. Como é que se observam “ra-
de reinterpretação da democracia racial como um ças” ou como se observa a “cor” de uma pes-
mito. Formou-se uma certa matriz interpretativa, soa? Temos esses dois momentos na pesquisa:
que diz assim: “Tudo bem, a democracia racial é num primeiro, temos nossas hipóteses, nossas
um mito, mas vocês, sociólogos, não entendem categorias analíticas, nossas categorias nativas;
muito de mito, não. Mito não é só falsa ideologia, num segundo momento, precisamos transformar
mito é uma coisa mais importante do que o que “cor” ou “raça” em algo que possa ser observa-
vocês acham; mito, na verdade, é um discurso do, quantificado, analisado. A primeira regra,
sobre a origem das coisas, um discurso sobre o para quem faz pesquisa, é que é necessário se
dia-a-dia, que não precisa ser real, ao contrário, é ter domínio da linguagem nativa, pois se as
efetivo apenas na medida em que orienta a ação questões teóricas do pesquisador não puderem
das pessoas, em que dá sentido às relações ser traduzidas em questões que utilizem a lin-
sociais do dia-a-dia. Nesse sentido, o mito da guagem nativa, tais perguntas não serão enten-
democracia racial é e continuará sendo muito didas. Precisamos, pois, trabalhar com o senso
importante para a idéia de nação brasileira”. comum, traduzir conceitos analíticos em catego-
Esse é um argumento muito forte, pois rias nativas; temos que frasear a pergunta de
significa dizer o seguinte: “Apesar da militância modo a obter uma resposta sobre o que quere-
do MNU, qualquer um que saia à rua e conver- mos. No nosso caso, estamos querendo saber
se com as pessoas vê que a democracia racial como uma pessoa se classifica em termos raciais
está viva, enquanto mito”. no Brasil. Como perguntar?

104 Antonio S. A. GUIMARÃES. Como trabalhar com "raça" em sociologia


Segundo a etnografia que se faz no por exemplo, uma categoria inexistente no
Brasil, o conceito de raça continua a não ser censo, “moreno”, que é o “branco” escuro,
conceito nativo, ainda que comece a ser ado- muito usado no Nordeste e no litoral, onde o
tado por vários grupos sociais, não é um termo queimado de sol é muito valorizado, junto
usual e de sentido inequívoco. A melhor manei- como a categoria “mulato”, tipo mais negróide,
ra de se perguntar quando se quer classificar em ainda que mais claro que o “preto”. Essas ca-
termos raciais, portanto, continua a ser: “qual tegorias se revelaram facilmente traduzíveis em
é a sua cor?” ou “como o sr(a). se classificaria termos das categorias censitárias, posto que
em termos de cor?” ou variações em torno da grande parte dos “morenos” são brancos sociais.
pergunta sobre cor. O grande problema é que Por outro lado, o DataFolha (Folha de
cada vez mais essa pergunta acaba dando re- S. Paulo , 1995), assim como outros pesquisa-
sultados inesperados. No passado, a boa per- dores, já utilizaram simultaneamente três dife-
gunta para se observar a identidade racial era rentes formas de classificação. Primeira forma:
perguntar sobre a cor, mas com toda essa luta as categorias do IBGE são usadas para que o
ideológica em torno da racialização, cada vez entrevistador classifique sem perguntar; segun-
mais, começa a aparecer ruído nas respostas a da forma: faz-se uma pergunta aberta “Qual é
essa pergunta. O que fazer? Substituir a pala- a sua cor?”; terceira forma: repete-se a pergun-
vra “cor” por “raça”? Mas, será que a maioria ta censitária, uma pergunta fechada com cinco
das pessoas aceita e entende a pergunta? Ou alternativas — branco, preto, pardo, amarelo e
será que vai reagir à idéia de raça como reagia indígena. Por que fazer uma pergunta aberta?
antigamente? Tem-se aqui um problema. No Marvin Harris (1993), um dos antropólogos que
estágio em que estamos atualmente, o tema se melhor conhece o sistema de classificação ra-
tornou tão pouco confiável em termos de cial no Brasil, pois tem estudado o assunto
operacionalização que os pesquisadores preci- desde os anos 1960, quando era estudante de
sam fazer duas ou três perguntas. Uma maneira pós-graduação em Columbia, escreveu recente-
clara de classificar, embora seja conceitualmente mente uma série de artigos irados contra as
pouco sociológica, é aquela feita pelo entrevis- categorias do IBGE, dizendo que o IBGE esta-
tador. Simplesmente, pede-se que a pessoa que va perpetuando uma violência com a identidade
está entrevistando classifique o entrevistado em das pessoas no Brasil, pois estas se considera-
termo de cor. Essa é uma possibilidade. O pro- vam morenas e não pardas; argumentou, ade-
blema dessa forma de classificação é que des- mais, que essa categoria, “parda”, não existia na
se modo se obtém uma identidade atribuída vida cotidiana brasileira. Harris forçou, assim,
por outrem. Do ponto de vista da teoria soci- que se retomassem os estudos de classificação
ológica, não parece ser uma boa solução, por- racial no Brasil. Deve-se tomar o cuidado, por-
que se trata de medir uma variável que, na tanto, sempre que possível, de se fazer uma
verdade, é uma forma de identidade subjetiva pergunta aberta, deixar a pessoa falar o que
do individuo; então, atribuir identidade é com- quiser e anotar, posto que não há hoje em dia
plicado, mas, às vezes, é a única maneira dis- consenso sobre que categorias são usadas
ponível. Eu já fiz isso, não quando me deparei nativamente. Finalmente manter a forma de
com pessoas que eu entrevistava, mas com fi- classificar do IBGE, sempre fraseada com a
chas de registro funcional de pessoas. Nesse palavra “cor”, faz-se necessário para manter-se
caso, eu tive que classificar racialmente a par- a comparabilidade entre diversas fontes de
tir da percepção gerada por uma fotografia. dados. Quando, ao contrário, se está lidando
Procurei usar muitas categorias para que depois com um grupo específico, cujas categorias de
fosse possível agregá-las de acordo com os classificação racial são conhecidas, deve-se
resultados estatísticos que eu obtivesse. Usei, empregar essas categorias. Foi o que aconteceu

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com João Batista Felix (2002), quando entre- pergunta à qual, se feita algum tempo atrás,
vistou militantes e perguntou: “qual é a sua na minha terra, todo mundo responderia “não”.
raça?”. Esses militantes tinham uma teoria ra- Aqui, em São Paulo, agora, em 2000, eu não
cial muito consistente sobre o mundo e sobre sei qual será o resultado, pois estamos viven-
si mesmos, em que a idéia de raça em termos do um tempo em que as pessoas começam a
políticos era central e na qual a idéia de cor, cultivar diferenças, identidades, origens. É
que é a idéia normal dos brasileiros, continua- provável que apareçam muitos descendentes
va vigendo. Ou seja, essas pessoas fundiram de portugueses, muito mais do que seria lógi-
uma classificação brasileira com uma classifi- co esperar em São Paulo, simplesmente por-
cação militante, na qual a “raça” referia-se a que os brasileiros brancos, sem nenhum ances-
uma ascendência biológica e posição política, tral português conhecido, tenham passado a
enquanto a cor a uma tonalidade de pele con- reivindicar essa ascendência esquecida. O que
siderada objetiva. Até que ponto esse discur- eu estou tentando defender é que qualquer ca-
so racial vai se espraiar, vai ganhar adeptos tegoria só faz sentido no interior de um discur-
fora do movimento? Outro exemplo, no nos- so, no nosso caso, racial; quando nos depara-
so Censo Étnico-Racial da USP (Guimarães; mos com uma resposta sobre identidade, temos
Prandi, 2002), perguntamos: “Você é descen- que investigar qual o discurso que está orien-
dente de imigrantes estrangeiros?”. É uma tando as respostas.

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Recebido em 22.05.03
Aprovado em 13.06.03

Antonio Sérgio Alfredo Guimarães é professor do Departamento de Sociologia da USP. É doutor pela University of
Wisconsin-Madison e livre-docente em sociologia política. Publicou sobre o tema deste artigo: Preconceito e discriminação
(Salvador: Novos Toques, 1998); Racismo e anti-racismo no Brasil (São Paulo: Ed. 34, 1999) e Classes, raças e democracia
(São Paulo: Ed. 34, 2001), além de artigos e coletâneas.

Educação e Pesquisa, São Paulo, v.29, n.1, p. 93-107, jan./jun. 2003 107

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