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— - va COMTMARmANHS © O10 NAS mate Nowe Pn Pome ® Resumo: a@ tdentidade goiana esté intimamente ligade aos caminhos do processo histérice de Gowds, passando pelos veros auriferos da Capttania e pela ‘decadéncia’ cometraida pelos viajantes europeus. Quando Gotis separou-se de Sdn Paulo, encontrava-se pleno de homens pardos, caracteristeos da formagao soctal local, homens que ndo economizavam reclames ao Se depararem com a administragdo lusitana. A jorma de manifestar a resisténcia, de afirmar os direitos vonudos, de atestar a cidadania foi efetivada mediante canais psabelecidos fora da administragdo lusitana, por meio de desobediéncias civis, de contrabando, da manuten¢ao dos concubinatos, da reafirmagdao do écio. Essas sdo algumas jus maneiras possiveis de entendimento de uma busca e procura de desconstrugdes capazes de nos levar a compreender 0 outro lado daquilo que os viajantes europeus construtram para a memé6ria de Goids, tdo distante da realidade local quanto esta estava para a Europa. Palavras-chave: contrabando, concubinato, 6cio. 0 que € ser goiano? Que ‘bicho’ é esse com o qual agora comegam «* preocupar os estudos brasileiros em geral? Como se denominaria “'alulo macunafmico que vive entre 0 Grande sertdo de Hyarunenty de Historia da Universidade Federal de Goias. Doutor pela tes * See Paulo Courdenador Geral de P6s-Graduayao da Universidade Federal wb “de Conselho Honontica do lnstituta de Pesquisas ¢ Estudos Histoncos “8 1.4. p. 1031-1047. jul Jago, 1998 1031 Guimaries Rosa e as Veredas de Carmo Bernardes? Como designar e denominar historicamente esse ET transformista, misto de agrario e urbano, roga e cidade, curral e concreto? Nés de Goids, que por tanto tempo vivemos a sombra da Histéria definida pelo Centro-Sul do pafs, quem somos, ou melhor, 0 que nos tornamos? E possfvel se pensar a mineiridade por meio de uma construgao ideologicamente tragada, como bem demonstram alguns estudos sobre 0 tema, assim como por uma cultura politica marcada e referendada pelo aval nacional. E possive} detectar a nordestinidade pela redoma do cerco e da cerca em tomo da miséria local e de muitas, muitas lutas no campo. E mais que possivel entender a hegemonia do Centro-Sul por sua preponderincia econémica e polftica no cendrio nacional, determinando um poder aceito e absorvido pelo pais afora. E a goianidade? Pensar um pouco sobre 0 cidadao em Goids € tentar desvendar sua formagao sociocultural, manifestada pela desobediéncia para com a administragao lusitana e sua luta para consolidar lagos culturais locais. Goids se parece, geografica e culturalmente, muito com Minas, ‘Temos a mesma auséncia do mar, 0 mesmo luar do sertiio, montanhas e minérios e achamos as coisas um “trem-bao”e cada coisa “boa demais da conta”. Mas 0 ouro nos legou herangas provinciais distintas. A heranga minerat6ria de Minas nao foi a mesma que herdamos. E bobagem se pensar que temes ou tivemos uma cultura genuinamente goiana. Mas para falar sobre Goids, é fundamental notar que temos particularidades histéricas que nao nos deixa ser um mero reflexo das transformagées ocorridas em nfvel nacional. Para se compreender esse processo de construgao da identidade goiana, é necess4rio retroceder pelos caminhos dos viajantes europeus que passaram por Goids no século XIX e deixaram uma imagem que nao explica a goianidade que aqui se pretende enfocar, mas consegue deixar clara a idéia de *goianice’, termo pejorativo como qual se vislumbrou Goids e sua gente por longas décadas. Ao olharmos para Goids em seus primérdios, vem-nos a Preocupacao imediata de perguntar por onde andamos. Em que espelho do ‘empo deixamos de ver a parte critica de nossa identidade, de nossa a Sima. Que ouro nos levou os marcos tao caros as ae conocer oe acne earner in Ca escravacoultos eae ce seu brilho facil 0 nosso passado, A st sem povo ¢ deinmreg economia determinou 0 nascimento da ae Historicaments ieee de Goids sob as rugas da ‘decad! "tudo indica que nds nascemos em 1722 ficam®s 1032 a Mi 8 Fregm. Cult. Goidnia, v. 8. , 4, p. 1031-1047.ul/ago-™ ~~ ew Hero é ec huraco negro do nosso passiado pee au Fs oclug de académica, rele} em mic ar neato, canngencn = Tide comes con ponte, Pros, tudo a nos uma épocade fausto € espl wo fosse atividade pred sorte grande. Qu terra frutuos: nos Jo eng ndor auriferes, - entaran jorag ao das MINAS T wis calepaudas, s adéneia"? A idéia de um. foi satisfatoriamente comprovad Goris «sem Tenturas de ma vic fegou, ale da “dec fy de toda onder nun Ss na heranga de qualquer leg je qualquer produto social e/ou econ » proficua quanto a riqueza extratda das as Iendas, como a decadéncia. rpreendem quando novos estudos, Ito Central, procuram redescobrir 0 & Th que os bartolomeus de todas as épocas no conheciam, oepstrando que a pecusria precedeu a mincrayao. Por que tanta sorprew” Porgue fomos sempre identificado ob o prisma do ouro € 0 ma da decadéncia, somos uma imagem refletida por relatérios de rovinciais € por Viajantes europeus que, no século XIX, em a visio real do século XVIII, quando © ouro na terra percorrida pelos olhare: nico. Oesplendor d sume nto 9 miiose di youre for ED enwade Eldorado. como Multos se Sul js Terra ¢ do Homem no Pl como o da Hist governos PI ificaram-nos: ficava 0 antagonismo do existente ¢ além-mar. Por isso identidade goiana est intimamente ligada aos caminhos Gs proceso hist6rico de Goids, passando pelos veios auriferos da Cepitania e pela ‘decadéncia’ construfda pelos viajantes europeus, ao vi umbrarem a sociedade goiana da pés-mineragiio. Apés termos tratado em outtos trabalhos! a desconstrugdo da idéia de decadéncia, criada a dos relatos de viajantes europeus, procuraremos vislumbrar como. icio da cidadania na Provincia de Goids, desde a transigio da economia, com base na mineragio para a agropecudria, que foi, sob sén0s aspectos, realizada fora da esfera estatal, numa insistente pritica somo forma encontrada pelos goianos para manter o exer % desobediéncia civil, sua cultura on Desde eu primal a administragao da Capitania de Goiis, eal, Sem comtar ob re OE ee Es ont ation banc Icirante Bartolomeu Bueno, capitio-mor, tule remade ae Hliateliv em 1749 tomou posse o primeira wo s, dom Marcos Noronha, 0 futuro Conde dos Arcos, Cult. Gora Goran. ¥.B.n. 4. p, 1031-1047, jul /ago. 1998 1033 —

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