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Confira os bastidores da

minissérie Treze Dias


Longe do Sol, um épico
televisivo realizado
pela TV Globo
e a O2 Filmes
ANO.18 - #203

Conheça o dia-a-dia da profissão e siga as nossas dicas para treinar


sua percepção visual, o primeiro passo para ter sucesso na carreira

20 ANOS DE SUCESSO TESTE: TASCAM FOTOGRAFIA para lá MOSTRA DE CINEMA


E DIVERSIDADE DR-701D de atualizada DE TIRADENTES
Apostando no ecletismo, Pro- Os recursos de um gravador Shutterstock revela as prin- Saiba o que rolou na mais
dutora Giros comemora duas de áudio feito sob medida para cipais tendências em design e recente edição do evento, que
décadas de atividades filmmakers independentes produção visual para 2018 exibiu mais de 100 filmes

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Editorial
Por Eduardo Torelli

PERCEPÇÃO VISUAL:
O SEGREDO DA BOA FOTOGRAFIA
direção de fotografia é um percepção visual, além de entender tem o selo de qualidade da O2 Filmes

A princípio essencial do cinema:


dependendo de como ilumi-
namos uma cena, consegui-
mos provocar diferentes emoções no
espectador. O mesmo vale para os
melhor o cotidiano, as atribuições e os
desafios dessa profissão.
O mais bacana é que você poderá
usar esses conhecimentos em produ-
ções de qualquer porte – desde um
e foi dirigida por Luciano Moura,
que nos contou como foi realizar um
trabalho tão desafiador em termos
artísticos e logísticos. Vale a pena ler
o artigo!
planos de câmeras, que ajudam a filme profissional a uma “live” feita Também rendemos nossa home-
comunicar a “atmosfera” de um filme na internet. Independentemente de nagem a uma produtora eclética que
de terror, de um drama intimista ou de qual for o seu objetivo (ou o seu pú- recentemente completou 20 anos de
uma comédia. blico), suas imagens ganharão mais atividades: a Giros, uma verdadeira
Mas a fotografia no cinema vai impacto e terão melhor visibilidade “usina de ideias” que nos deu obras
muito além da luz e dos enquadra- que outras captadas sem qualquer tão diferentes quanto o documentário
mentos: para realmente dominar a critério. Pode apostar! Menino 23 e a animação Billy e Cata-
técnica, é preciso ter uma boa “percep- Ainda nesta edição, confira um rina – ambos geniais em seus respec-
ção visual” – a capacidade de identifi- making of da superprodução Treze tivos nichos. A Giros inicia uma nova
car certos elementos em um ambiente Dias Longe do Sol, minissérie estre- etapa em sua trajetória reafirmando
e transformá-los em imagens que lada por Selton Mello e Carolina Die- seu compromisso com a diversidade
transmitam sensações ou ideias ao ckmann que monopolizou as atenções e a qualidade. Saiba mais na seção
público. Para esta edição, preparamos do público no início do ano, quando Entrevista desta edição.
um especial sobre direção de fotogra- foi exibida pela TV Globo. Repleta de É isso aí! No mês que vem, tem mais!
fia que ajudará o leitor a aguçar sua incríveis efeitos visuais, a produção Boa leitura.

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Por Angela Miranda

Crazy Turkey Editora


sumário FEVEREIRO DE 2018
Diretores
Vera Miranda Barros
Miguel Ricardo Puerta

Chefe de Redação
Ademir Pernias
Editora
Angela Miranda
zoom@cteditora.com.br
Editor Assistente
Eduardo Torelli
RProjeto Gráfico
Vinícius Andrade
EdiçÃo de arte
Vinícius Andrade
vinicius@cteditora.com.br
Scaner, tratamento de imagens e produção
Danilo A. da Costa e Vinícius Andrade
Edição de vídeos e motion graphic
Jéfferson John
Textos
Katia Kreutz, Luiz Carlos Lucena e Tristan Aronovich
Fotografia
Divulgaçao
Diretor Administrativo
Miguel Ricardo Puerta
Publicidade
Diretora Comercial Vera Miranda Barros
Gerente Comercial Geovania Alves
Executiva de Contas Rita Rovere

34 ESPECIAL DIREÇÃO
Nicolás Mateo Ta

Assinaturas e Atendimento ao Leitor


Ariadne Aquino
(11) 2068-7485/9287
Contabilidade
DE FOTOGRAFIA
RC Controladoria e Finanças Um ótimo diretor de
Ricardo Calheiros
(11) 5080-3628/9287 fotografia não é só um
Assessoria Jurídica
Juliana T. Ambrosano • Miguel Ricardo Puerta
“técnico”. Antes de tudo,
ele precisa ter uma
AssiNATURAS e nÚmeros atrasados
(11) 2068 7485 excelente percepção visual
De segunda à sexta das 9:00 Às 18:00
horas
assinatura@cteditora.com.br

12 NEWS

nesta edição
Video Zoom Magazine
A Video Zoom Magazine é uma publicação mensal
A Video Web inícia o ano com
da Crazy Turkey Editora e Comércio Ltda. • Redação, força total!
Administração e Publicidade: Rua Crisólita, 238, Jardim
da Glória, CEP 01547-090, São Paulo SP Fones/Fax: (11) 16 ACONTECE
2068-7485/9287 • A Video Zoom Magazine não admite pu- 06 ZOOM MAGAZINE NA WEB Pinnacle Broadcast participou
blicidade redacional • É proibida a reprodução das reporta- As últimas notícias do segmento de dois grandes eventos com a
gens publicadas nesta edição sem prévia autorizacão • As Seegma Broadcast
opiniões emitidas em artigos assinados são de responsa-
bilidade de seus autores, não são necessariamente as da 08 TAKES
revista e podem ser contrárias à mesma. Ninguém está Mais uma vez, Mostra de Cinema de
autorizado a receber qualquer valor em nome da Crazy Tiradentes fez sucesso enaltecendo o
Turkey Editora ou da Video Zoom Magazine. Registro no cinema brasileiro
INPI: NP 821496557

Internet 18 CINEMATECA BRASILEIRA


www.cteditora.com.br/zoom O diretor Pedro Amorim fez sua estreia
em longas com a comédia Mato
Jornalista Responsável Sem Cachorro
Ademir Pernias
MTb 25815
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72 ENTREVISTA
O portfólio da produtora Giros conta
com os mais variados gêneros, incluin-
do o documentário e a animação

78 PRODUÇÃO
Lumière – A Aventura Começa apre-
senta às novas gerações as obras
realizadas pelos “pais” da Sétima Arte

82 ARTE & ATITUDE


O filme Às Escuras retrata o impacto
da tecnologia nas relações humanas

86 FOTOGRAFIA
A Shutterstock aponta as principais
tendências em design e produção
visual para 2018

90 NA TELINHA
A campanha Pergunta Lá teve
uma logística de realização digna
das superproduções

22 FAZER CINEMA 62 ANIMAÇÃO


Lidar com imprevistos são atributos Os filmes de Sergei Eisenstein são
essenciais para quem quer seguir a importantes para a história e a teoria
profissão de diretor de fotografia do cinema

28 POR TRÁS DA CENA


A minissérie Treze Dias Longe do Sol,
exibida pela TV Globo, teve efeitos
especiais de ponta criados pela
O2 Filmes

68 BROADCAST
Testamos o gravador de áudio
Tascam DR-701D, uma boa pedida
para os filmmakers

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CONFIRA NOTÍCIAS
INÉDITAS EM NOSSAS MÍDIAS SOCIAIS!
Saiba tudo o que acontece no universo da videoprodução e nos bastidores do cinema em nossas páginas na Internet. O leitor
pode interagir com a revista e receber, em primeira mão, notícias do segmento por meio de nossas páginas no Facebook, Insta-
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PRODUTORA BRASILEIRA FECHA PARCERIA PARA


DIVULGAR PRODUÇÕES NOS EUA
Com pouco tempo de mercado, a empresa catarinense
“Island Bridge Productions” conseguiu fechar uma parceria
com a Amazon Prime, maior concorrente da Netflix no ser-
viço de streaming de filmes e séries em todo o mundo.

CRÍTICOS ELEGEM O MENINO E O MUNDO


www.instagram.com/zoom_magazine
A MELHOR ANIMAÇÃO DO BRASIL
Um levantamento feito para o lançamento de “Animação
Brasileira – 100 Filmes Essenciais” (pela Abraccine, em con-
ACESSE O NOSSO SITE E CONFIRA
junto com Associação Brasileira de Cinema e Animação/
NOTÍCIAS E MATÉRIAS INÉDITAS! ABCA, Canal Brasil e Grupo Editorial Letramento) definiu as
100 melhores obras do segmento
Matérias e notícias também podem ser
visualizadas em nosso site – além de
OFICINA PARA FORMAÇÃO DE ROTEIRISTAS DE
coberturas em primeira mão, preview de
SÉRIES DE TV ABRE INSCRIÇÕES EM SÃO PAULO
artigos, revista digital e muito mais. Se você tem vontade de ser um roteirista de produções
nacionais, veja essa dica: a “Roteiraria Escola” está com
inscrições abertas para os cursos de “Formação de Rotei-
ristas”, “Oficina de Séries” e “Roteiro para Entretenimento
de Marcas”.

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Takes
Por Redação Fotos Divulgação

O CINEMA
BRASILEIRO EM ALTA
Mostra de Cinema de Tiradentes repetiu o sucesso das edições anteriores ao apresentar
uma diversidade de filmes nacionais e motivar o debate sobre questões atuais
omemorando em grande estilo elaborou uma ótima programação que profissionais do audiovisual (entre críticos,

C sua 21ª edição, a Mostra de


Cinema de Tiradentes (realizada
entre os dias 19 e 27 de janeiro)
abrangeu 102 filmes (30 longas e 72
curtas-metragens) em 51 sessões, além
de 34 debates com as presenças de 89

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jornalistas, professores e pesquisadores)
e muitos convidados, várias atrações
artísticas e um público estimado de



na Café com Canela, dirigida por Ary
Rosa e Glenda Nicácio e estrelada pelo
grande homenageado desta edição, o
ator Babu Santana. A produção mostra
com bom humor o cotidiano de uma
pequena cidade no interior da Bahia.
“O público teve a oportunidade de
conhecer os caminhos originais e ousa-
dos da produção brasileira contempo-
rânea sob as mais variadas vertentes,
ampliar as perspectivas de compre-
ensão da vida cotidiana assistindo aos
filmes e participar de debates sobre os
filmes com seus realizadores e pensa-
dores”, ressalta Raquel Hallak, coordena-
dora geral da Mostra Tiradentes. 

35 mil pessoas. Em 2018, 30 longas contemporâneo exibindo títulos premia- OLHOS LIVRES
pré-estrearam no festival e foram apre- dos em festivais do Brasil e do exterior. Este ano, a seção Olhos Livres foi realiza-
ciados em seis seções temáticas: Aurora, da pela segunda vez, novamente com
Olhos Livres, Homenagem, Chamado ARTE E DEBATE o intuito de relacionar forma e conteúdo
Realista, Praça e Mostrinha. A programação foi gratuita e teve como e proporcionar ao espectador uma rica
A dupla de curadores Cleber Edu- palcos o Cine-Tenda (no Largo da Rodo- experiência cinematográfica. Seis filmes
ardo e Lila Foster assinou a seleção dos viária e no SESC Cine Lounge), Cine- foram exibidos, com as presenças de
filmes, que representavam nove estados Teatro SESI (no Centro Cultural SESIMINAS cineastas como Cristiano Burlan (Antes do
brasileiros: São Paulo (12), Rio de Janeiro Yves Alves) e Cine-Praça (no Largo das Fim) e Ramon Porto Mota, Gabriel Martins,
(6), Minas Gerais (5), Paraíba (2), Goiás Fôrras com o Cine BNDES), onde foi Ian Abé e Jhésus Tribuzi (O Nó do Diabo).
(1), Bahia (1), Pernambuco (1), Paraná especialmente montado um cinema ao Os filmes destacavam temas importantes,
(1) e Distrito Federal (1). Com todo esse ar-livre. A abertura da mostra aconteceu como a presença de imigrantes colom-
esquema, a plataforma da Mostra de Ci- no dia 19 de janeiro, às 21h, no Cine-Ten- bianos em São Paulo (em Platamam, de
nema de Tiradentes enfatizou o cinema da, com a exibição da produção baia- Alice Riff). Outras produções exibidas

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Takes

na Olhos Livres foram Navios de Terra zadores. Pelo segundo ano, o evento do Ades e Marcus Fernando).
(em que Simone Cortezão realiza uma também promoveu conversas nas
espécie de aventura íntima em alto mar) e sessões do Cine BNDES na Praça, antes AURORA
Inaudito (de Gregorio Ganianan, sobre o da exibição dos filmes. Exclusiva para cineastas que realizaram
guitarrista Lanny Gordim, referência artística Fãs de curtas-metragens puderam ao menos três longas e que apostam na
na transformação da música brasileira dos se deliciar com 72 títulos vindos de 15 experimentação, esta seção teve sete
anos 1960). Todos foram avaliados pelo Júri estados: Alagoas, Bahia, Ceará, Distrito pré-estreias avaliadas pelo Júri da Crítica:
Jovem, composto por cinco estudantes Federal, Espírito Santo, Goiás, Mato Madrigal para um Poeta Vivo (SP), de
universitários selecionados durante a oficina Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Adriana Barbosa e Bruno Mello Castanho;
de crítica de cinema realizada na 11ª Mos- Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Imo (MG), de Bruna Schelb Correa; Ara
tra CineBH (2017).  Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Pyau – A Primavera Guarani (SP), de
A curadora Lila Foster observou que Paulo. Com curadoria de Camila Vieira, Carlos Eduardo Magalhães; Dias Vazios
alguns ofereciam belas imagens, em con- Francis Vogner dos Reis e Pedro Maciel (GO), de Robney Bruno Almeida; Baixo
traste com outros de estética mais objetiva. Guimarães, as produções estavam dis- Centro (MG), de Ewerton Belico e Samuel
“Talvez, o tom geral seja brando na tribuídas nas mostras Foco (cujos filmes Marotta; Lembro Mais dos Corvos (SP),
dramaticidade, com maior investi- concorrem ao prêmio do Júri da Críti- de Gustavo Vinagre; e Rebento (PB), de
mento nas sutilezas. Do documentário ca), Foco Minas, Panorama, Chamado André Morais. Segundo o curador, Cléber
observacional aos hibridismos vida/fic- Realista, Praça, Regional, Formação, Eduardo, essa atividade procura exibir
ção, das estetizações subjetivadas ao Jovem e Mostrinha. o diferencial autoral de uma nova
cinema de terror social, a Olhos Livres geração de realizadores, algo que
2018 não apontou caminhos, sequer HOMENAGEM NOTÓRIA já aparecia entre os inscritos, de um
saídas, sequer sentidos únicos ou abso- O grande homenageado foi o ator modo geral.
lutos”, disse Lila.  carioca Babu Santana, que interpretou A família também teve um espaço
personagens marcantes em quatro especial durante a mostra. A criançada
CHAMADO REALISTA filmes. Os dois mais recentes, Café com pode assistir a dois filmes na “Mostrinha”:
Nesta seção, o objetivo é enfatizar temas Canela (de Glenda Nicácio e Ary Rosa) a animação Historietas Assombradas
de grande apelo público (normalmente, e Bandeira de Retalhos (de Sérgio (dirigida por Victor Hugo Borges) e a
ligados a acontecimentos atuais da so- Ricardo), tiveram suas pré-estreias na aventura infanto-juvenil D.P.A – Deteti-
ciedade brasileira) que se tornam referên- Mostra de Cinema de Tiradentes. Sem ves do Prédio Azul (de André Pellenz),
cias na escolha formal dos filmes. Cinco esquecer a cinebiografia Tim Maia derivada da série de TV homônima. No
debates conceituais discutiram tópicos (2012), de Mauro Lima, e o drama social dia 27 de janeiro, no Cine-Tenda, o
como: feminismo, violência, política, pro- Uma Onda no Ar (2002), de Helvécio encerramento da Mostra foi marcado
testos, segregação e manipulação midiá- Ratton, que foram marcantes na carreira pela exibição de A Moça do Calendário,
tica, que apareceram em A Moça do de Babu.  o mais novo trabalho de Helena Ignez,
Calendário, de Helena Ignez, Opera- Um dos destaques em Tiradentes foi homenageada na edição de 2017.
ções de Garantia da Lei e da Ordem, a “Mostra Praça”: depois da apresen- A programação artística (com
de Julia Murat e Miguel Antunes Ramos, tação dos documentários, aconteciam curadoria da equipe do Sesc em
Apto 402, de Dellani Lima, Era uma Vez sessões comentadas pelos realizadores. Minas), reuniu videoperformances,
Brasília, de Adirley Queirós, Arábia, de Dentro desse contexto, foram seleciona- apresentações musicais, shows infantis,
João Dumans e Affonso Uchôa, e Nóis dos: Escolas em Luta (Eduardo Conson- lançamentos de livros e DVDs, ex-
por Nóis, de Aly Muritiba.  ni, Rodrigo T. Marques e Tiago Tambelli), posições e oficinas de formação. O
Ainda, foram realizados 20 Encontros Camocim (Quentin Delaroche), Todos coletivo #eufaçoaMOSTRA esteve na
com os Filmes (com críticos convidados os Paulos do Mundo (de Gustavo produção de conteúdos audiovisuais
e equipes das produções), dois debates Ribeiro e Rodrigo de Oliveira), Por Parte interativos e instantâneos que integra-
internacionais e sete sessões de cinema de Pai (Guiomar Ramos) e Torquato vam a Campanha #eufaçoaMOSTRA.
seguidas de bate-papo com os reali- Neto – Todas as Horas do Fim (Eduar- Já o Cortejo da Arte foi criado para

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celebrar o aniversário de Tiradentes, que, CONFIRA OS PREMIADOS DA 21ª longa de até 20 minutos.
Em 2018, completou 300 anos. Em parceria MOSTRA DE CINEMA DE TIRADENTES
com o Sesc em Minas, reuniu 14 manifesta- ∙ Melhor longa-metragem pelo Júri
ções artísticas populares. ∙ Melhor longa-metragem Júri Popular: Jovem, da Mostra Olhos Livres: Prêmio
Escolas em Luta (MG), de Eduardo Carlos Reichenbach Inaudito (SP), de
FESTA RECEPTIVA  Consonni, Rodrigo T. Marques e Tiago Gregorio Gananian; Troféu Barroco;
O grande vencedor da Mostra de Cinema Tambelli - Troféu Barroco; Da Mistika: Da Ciario: R$ 10 mil em locação de
de Tiradentes foi o longa Baixo Centro, de R$ 20 mil em serviços de finalização. equipamentos de iluminação, acessó-
Ewerton Belico e Samuel Marotta. É uma rios e maquinaria da Moviecenter; Da
produção mineira, toda realizada nas ruas ∙ Melhor curta-metragem Júri Popular: O2 Pós: R$ 15 mil em pós-produção;
de Belo Horizonte, acompanhando um A Retirada Para um Coração Bruto Da Dotcine: máster DCP para longa
pequeno grupo de personagens que (MG), de Marco Antônio Pereira - de até 120 minutos.
se relacionam com o ambiente urbano Troféu Barroco; Da Ciario: R$ 5 mil
da capital. Baixo Centro levou o Troféu em locação de equipamentos de ∙ Melhor longa-metragem da Mostra
Barroco, concedido pelo Júri da Crítica, iluminação, acessórios e maquinaria Aurora, pelo Júri da Crítica: Baixo Cen-
além de prêmios de parceiros do evento. da Moviecenter; Do CTav: 20 horas de tro (MG), de Ewerton Belico e Samuel
A vitória de Baixo Centro marca o mixagem e empréstimo de câmera Marotta - Troféu Barroco; Da Ciario: R$
segundo ano consecutivo de um filme por duas semanas; Da Mistika: R$ 6 mil 10 mil em locação de equipamentos
mineiro premiado pelo Júri da Crítica em serviços de finalização. de iluminação, acessórios e maquina-
da Mostra Aurora. Em 2017, Baronesa, ria da Moviecenter; ETC Filmes: Serviço
de Juliana Antunes, arrebatou o Troféu ∙ Melhor curta-metragem pelo Júri da completo de acessibilidade – legenda
Barroco. Minas tem sido um estado Crítica, Mostra Foco: Calma (RJ), de descritiva, audiodescrição e Libras
constantemente reconhecido na Mos- Rafael Simões- Troféu Barroco; Da para um longa de até 100 minutos; Da
tra, com prêmios para Os Residentes Ciario: R$ 5 mil em locação de equi- O2 Pós: R$ 15 mil em pós-produção;
(2011) e A Vizinhança do Tigre (2014).  pamentos de iluminação, acessórios Da Dotcine: máster DCP para longa
O Prêmio Helena Ignez 2018, ofereci- e maquinaria da Moviecenter; de até 120 minutos”.
do pelo Júri da Crítica a um destaque Do CTav: 20 horas de mixagem e
feminino em qualquer função nos filmes empréstimo de câmera por duas ∙ Prêmio Helena Ignez para destaque
da Aurora e Foco, foi para a atriz Julia semanas; Da DOT Cine: duas diárias feminino: Julia Katharine, roteirista e
Katharine, roteirista e protagonista de de correção de cor e máster DCP atriz de Lembro Mais dos Corvos (SP).
Lembro Mais dos Corvos, de Gustavo para curta de até 20 minutos;
Vinagre. Emocionada, ela dedicou o ETC Filmes: Serviço completo de ∙ Prêmio Canal Brasil de Curtas: Esta-
troféu a todas as mulheres que lutam por acessibilidade – legenda descritiva, mos Todos Aqui (SP), de Chico Santos
seu espaço na vida e no trabalho. audiodescrição e Libras para um e Rafael Mellim.

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News
Por Redação Fotos Divulgação

TEORIA E PRÁTICA
Roteiraria Escola, um centro de atuarmos como um laboratório de novas e doutor em Literatura Comparada,

A formação de roteiristas em São


Paulo (SP), dedica-se a refor-
çar o audiovisual e o branded
content (conteúdos de entretenimento
que as marcas produzem para seus
ideias e projetos para as produtoras. Os
alunos ainda têm a oportunidade de
participar de grupos de desenvolvimento
de produtos originais da Roteiraria”, afir-
ma o sócio-diretor Eduardo Ribeiro.
entre outros títulos, Rodrigo Petrônio.
 
Oficina de Séries
Com duração de 40 aulas (120 horas),
foca o desenvolvimento das narrativas
consumidores). Estudantes e profissionais de séries de ficção. É ministrado pela
interessados podem se inscrever nos Formação de Roteiristas diretora de criação Patrícia Leme, que
novos cursos da escola: “Formação de O curso é voltado para os recém- atua no mercado criando e desenvol-
Roteiristas”, “Oficina de Séries” e “Roteiro formados e, também, para profissio- vendo projetos de entretenimento e
para Entretenimento de Marcas”. nais que já atuam em produtoras e branded entertainment para diversas
Composta por professores experien- desejam aprimorar seu repertório ou plataformas e em diferentes formatos
tes e que atuam no mercado, a Roteira- criar diferenciais em seus conteúdos. A (como webséries, documentários e séries
ria também oferece uma metodologia metodologia converge teoria e práti- infantis), e pelo roteirista e sócio-fun-
diferenciada, baseada na teoria dos ca em 40 aulas (120 horas). É ministra- dador da escola, José Carvalho (cujos
campos narrativos do norte-americano do pelo roteirista e professor Ricardo principais créditos incluem os filmes O
David Bordwell. Outro ponto diferencia- Tiezzi, que já escreveu as séries Julie e Primeiro Dia e Surfistinha, a séria infantil
do é a relação da escola com impor- os Fantasmas (Band / Nickelodeon), Castelo Rá-Tim-Bum, a telenovela Xica
tantes produtoras brasileiras, criando um vencedora do prêmio APCA e indica- da Silva, os programas de TV Sai de Baixo
canal entre o aluno e o mercado. da ao Emmy Internacional; Mothern e Carga Pesada, entre outros).
“A primeira leitura dos roteiros de- (GNT), os roteiros dos filmes Superpai e  
senvolvidos nos cursos que ministramos é Qualquer Gato Vira Lata, da anima- Roteiro para Entretenimento de Marcas
oferecida às produtoras parceiras. Assim, ção Sítio do Picapau Amarelo, além Realizado pela profissional da área
fazemos com que a exposição dos alu- de compor a equipe de roteiristas do Patrícia Leme, aborda as diversas formas
nos aos grandes players do audiovisual seriado Malhação (TV Globo), entre de uma marca fazer parte da narrativa
seja mais que uma promessa, além de outros; e pelo escritor, autor, filósofo e maneiras para aplicar os métodos da

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escrita de roteiros para dramaturgia formatos e gêneros. O curso tem 42 além dos filmes de 30 segundos de
nos projetos produzidos pelas marcas, horas e é voltado aos criativos de duração e que querem conhecer as
além de aproximar o profissional das agências de publicidade que buscam ferramentas para criar e escrever para
narrativas contemporâneas e de seus ampliar seus conhecimentos para outros formatos.

Todos os cursos estão com inscrições mês – R$ 11.000,00/período mês – R$ 13.200,00/período


abertas no site www.roteiraria.com.br.
OFICINA DE SÉRIES ROTEIRO PARA ENTRETENIMENTO
FORMAÇÃO DE ROTEIRISTAS Professores: Patricia Leme e DE MARCAS
Professores: Ricardo Tiezzi e José Carvalho Professora: Patricia Leme
Rodrigo Petrônio. Onde: Av. Paulista, 509, 12º andar, cj . Onde: Av. Paulista, 509, 12º andar, cj .
Onde: Av. Paulista, 509, 12º andar, cj . 1201 – Bela Vista – São Paulo/SP 1201 – Bela Vista – São Paulo/SP
1201 – Bela Vista – São Paulo/SP Quando: às terças-feiras, das 19h às Quando: às quartas-feiras, das 19h às
Quando: às segundas-feiras, das 19h às 22h, de 27 de fevereiro a dezembro 22h, de março a dezembro de 2018
22h, de 5 fevereiro a dezembro de 2018 de 2018 Carga horária: 42 horas (14 aulas)
Carga horária: 120 horas (40 aulas) Carga horária: 120 horas (40 aulas) Quanto: 4 parcelas (1+3) R$ 1.125,00/
Quanto: 11 parcelas (1+10) R$ 1.000,00/ Quanto: 11 parcelas (1+10) R$ 1.200,00/ mês – R$ 4.500,00/período

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News

ÁUDIO PURO E CRISTALINO

da Shure. “Seja
para um re-
pórter que
realiza entre-
vistas para
noticiários ou
vloggers que
capturam vídeos de
um show, a qualidade do som
é um elemento fundamental,
e o aplicativo de vídeo padrão
om o intuito de sempre inovar, Com isso, oferece medição de áudio do sistema iOS raramente permite

C a Shure passa a oferecer um


aplicativo móvel gratuito
desenvolvido para promover
o melhor desempenho em áudio da
linha de microfones MOTIV. Trata-se
na tela, aprimorado e sem compres-
são, além de controles integrados
para ajustar ganho e visualizar a
forma de onda da gravação. 
“Com o crescimento exponencial
a clareza de áudio desejada. Com o
áudio sem compressão oferecido pelo
ShurePlus MOTIV Video, podemos
representar com fidelidade a fonte de
áudio original e superar de longe as
do ShurePlus MOTIV Video. A fun- da gravação e do compartilhamento de gravações de vídeo convencionais no
cionalidade de câmera de vídeo de vídeo em diferentes plataformas digi- iOS.”
dispositivos iOS permite que criado- tais, móveis e de redes sociais, nunca O ShurePlus MOTIV Video já está dispo-
res de conteúdo captem visualmente foi tão importante capturar vídeos com nível para download gratuito na App Sto-
momentos importantes sem sacrificar um áudio de qualidade profissional”, re da Apple. Para mais informações,
a qualidade do áudio. comenta Paul Crognale, gerente de acesse https://br.shure.com/motiv/pt/
Idealizado para criadores de con- marketing global, áudio para músicos recording-musician/index.html.
teúdo que utilizam dispositivos iOS
(inclusive repórteres, músicos
que realizam gravações,
vloggers e
podcas-
ters), o
Shure-
Plus MO-
TIV Video
combina
áudio límpi-
do e captura de
vídeo com controle inte-
grado do microfone MOTIV.

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MUDANÇA RADICAL
documentário de Daniel Nolas- Os jovens se mudaram para a região Catalão, no interior de Goiás. Vi, ao longo

O co Paulistas, ressalta as trans-


formações que aconteceram
nas duas regiões rurais Paulistas
e Soledade, localizadas no sul de
Goiás. Com essa ênfase, o filme estreia
urbana de Catalão (GO) e voltaram à
casa da família somente nas férias. O
mês de julho demarca o momento em
que futuro e passado se encontram. 
Todos os moradores da região
dos anos, a mudança pela qual passou a
região e as pessoas que se mudaram para
áreas urbanas. Comecei a observar o fim
daquela cultura e daquele modo de vida“,
explica Daniel Nolasco. 
com destaque no projeto Sessão Vitrine de Paulistas eram de uma mesma família. O diretor intercala imagens do
Petrobras, no dia 22 de fevereiro. Até a década de 1970, a região era cotidiano das pessoas da região com
Segundo Nolasco, Paulistas constituída por um conjunto de pequenas as da hidrelétrica, buscando mostrar
procura registrar a cultura do local fazendas, com poucos hectares de terra o conflito que ali se estabeleceu: da
(que também pertence a ele, já que e agricultura de subsistência. Tudo come- floresta morta à beira do rio ou da
o realizador viveu na região), que çou a mudar no fim dos anos 1980, com plantação de soja que quase invade
está quase desaparecendo frente a chegada da monocultura da soja ao as poucas casas que ainda restam no
a grandes mudanças. Três irmãos – Estado e com a compra dessas fazendas local. “A ideia não é só registrar a visu-
Samuel, Vinícius e Rafael – observam por latifundiários. Assim, a população rural alidade da região, mas a sonoridade e
essas modificações. O filme apresenta se mudou para as cidades.  seu tempo, governado pela luz do dia,
as contradições entre o retorno e a “Morei até dois anos na região – mi- no qual as pessoas acordam com o
partida e a tradição e modernidade nha mãe foi uma das primeiras a deixar nascer do sol e vão se recolher no cair
por meio desses três personagens. os Paulistas e a se mudar para a cidade de da noite”, completa Nolasco. 

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Acontece
Por Redação Fotos Divulgação

PINNACLE BROADCAST:
A TODO VAPOR!
A empresa participou de dois grandes eventos com a revenda autorizada da Blackmagic no Brasil

ano de 2018 promete, e a Broadcast, com o “Seegma Day Expe- sign para América Latina. Mais de 500

O Pinnacle já trabalha a todo


vapor. Em janeiro, a Pinnacle
Broadcast participou de dois
grandes eventos com a revenda autori-
zada da Blackmagic no Brasil: a Seegma
rience”, que aconteceu em São Paulo
(23/01) e no Rio de Janeiro (26/01).
“O Seegma Day Experience foi um
sucesso”, comentou Rick Fernandez,
diretor comercial da Blackmaigc De-
pessoas passaram pelos eventos, que
contaram com as participações de
grandes nomes do mercado audiovi-
sual, como o especialista em câmeras
da Blackmagic Desgin, Tor Rolf Johan-

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novidades das marcas Blackmagic
Design e as novas e poderosas câ-
meras da Marshall Pro-AV linhas PTZ
(CV620HD e 4K) e mini câmeras
CV-505, CV-502 e CV-350. Dentre as
novidades Blackmagic Design, foram
apresentados os novos ATEMs Televi-
sion Studio HD e Pro HD, juntamente
com o novo gravador e reprodu-
tor Hyper Deck Studio Mini e o encoder
(e switcher) Web Presenter.
A Seegma ainda apresentou solu-
ções completas por meio do gerente
técnico e apresentador do canal
Seegma, Marcos Oliveira, com sistemas
preparados para quaisquer neces-
sidades de produção e ideais para
igrejas, web-rádios, TVs corporativas e
produções e transmissões de eventos,
utilizando switchers ATEM, gravadores
Hyper Decks, em estruturas e cases/ra-
cks da SKB Cases, e com câmeras PTZ
e Mini Marshall, entre outras opções.
Além das apresentações, os dois
eventos contaram com uma área ex-
clusiva para exposição de equipamen-
tos, na qual os participantes puderam
conhecer melhor os produtos, bem
sen, que também é diretor e produtor 400 e 1000). como testá-los e tirar dúvidas com
de cinema e seis vezes ganhador de Ainda, disseminando técnicas os técnicos e consultores da Seegma
prêmios Emmy. Tor falou sobre técnicas avançadas de correção de cores, o Broadcast. Tripés, monopés e bags
de cinematografia avançada com a cineasta e consultor da Rede Glo- da E-Image, intercoms (com e sem fio)
nova câmera Ursa Mini PRO 4.6K. bo (e também vencedor do Prêmio da Telikou, cases da SKB Cases, Micro-
Também participaram Moisés Mar- Emmy) Pedro Paiva realizou uma Mas- links Hollyland e uma linha completa
tini, diretor da fábrica Media5, apre- ter Class sobre Cinematografia Digital de acessórios e câmeras da Black-
sentando soluções para geração em RAW com o poderoso software magic Design, entre outros produtos
de caracteres, armazenamento e DaVinci Resolve Studio 14. disponíveis. Ainda houve uma rodada
gerenciamento de mídias (Smart Ser- de perguntas, do tipo “mesa redon-
ver), e o consagrado Ralph Messana, SOLUÇÕES PERFEITAS da”, na qual os participantes puderam
apresentado soluções de Microlinks A Pinnacle Broadcast, representada interagir com os especialistas. O ano
da nova marca que a Pinnacle tam- pelo engenheiro de vendas Fabio realmente começou agitado para a
bém distribui, a Hollyland (Cosmo300, Angelini, realizou um workshop sobre Pinnacle Broadcast!

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Cinemateca
Por Eduardo Torelli Fotos Divulgação

RIR É O
MELHOR REMÉDIO!
Uma das boas comédias produzidas no período da Retomada, Mato Sem Cachorro
foi o longa-metragem de estreia do diretor Pedro Amorim
o período da Retomada, ne- confirmação de que o espectador cotidianas que fizeram a cabeça das

N nhum gênero cinematográfico


atraiu tanto público quanto as
comédias, que foram cam-
peãs absolutas de bilheteria. Foi uma
nacional adora o humor (indiscutivel-
mente, uma boa válvula de escape
para as agruras da realidade brasi-
leira!). Da nova safra de comédias
platéias, Mato Sem Cachorro (2013)
foi uma feliz incursão do diretor Pedro
Amorim neste filão. O filme mostrava
as desventuras do músico Deco (Bruno

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Gagliasso), que tinha dois grandes
amores na vida: a radialista Zoé (Lean- PROCURANDO
dra Leal) e o cachorrinho “Guto”, que “GUTO” desafios curiosos à equipe. Por
sofria de narcolepsia e desmaiava Este foi o primeiro longa assinado por exemplo: foi preciso encontrar o ca-
sempre que ficava feliz! Pedro, que, no entanto, já tinha um chorrinho certo (ou “os cachorrinhos
Ao realizar o filme, Amorim se inspirou invejável currículo no cinema e na certos”!) para “interpretar” Guto, um
nas comédias clássicas dos diretores Billy TV (ele foi o editor de Olga e, antes personagem fundamental da trama.
Wilder e Jacques Tati. Até o visual do lon- de Mato Sem Cachorro, dirigiu séries Eventualmente, Guto foi vivido por dois
ga tinha um ar meio “vintage”. Como ex- como Mothern e Quase Anônimos). A cães famosos que vieram diretamente
plicou o cineasta à reportagem da Zoom comédia estrelada por Bruno Gaglias- de Hollywood: Dusty e Duffy, da série
Magazine, na época do lançamento: “A so e Leandra Leal – dois intérpretes ha- “cult” True Blood. Os dois foram treina-
Copacabana em que se passa a história bilíssimos no drama e no humor – era dos pelo adestrador norte-americano
parece saída de um cartão postal dos um projeto sob medida para ele, que Boone Narr, que também colaborou
anos 1950. Nós queríamos fazer um ótimo sempre gostou de dirigir atores. com sua expertise no trato com ani-
filme ao estilo ‘Sessão da Tarde’”. A produção apresentou alguns mais em superproduções como Piratas

19



Cinemateca

durante o processo.”
Ainda segundo Pedro, a opção por
captar em película de 35mm foi ditada
pelo conceito visual do projeto: “Que-
ríamos um filme com textura bacana –
antes das filmagens, fizemos uma série
de testes e adoramos o resultado que
essas câmeras proporcionavam. Além
disso, foi produtivo trabalhar com duas
câmeras, considerando que tínhamos,
no elenco, talentos como Danilo Gen-
tili e Rafinha Bastos. Eu queria que eles
improvisassem durante as filmagens e,
trabalhando com os dois equipamen-
tos, pudemos aproveitar totalmente a
espontaneidade dos intérpretes.”
Ao fotografar Copacabana, os
do Caribe e Sempre ao seu Lado. “AÇÃO!” realizadores também fugiram aos luga-
Além de lidar com os dois machos As filmagens foram realizadas em no- res comuns, já muito explorados pela
da raça English Shepherd, Boone e o vembro e dezembro de 2012, basica- TV e pelo cinema – particularmente,
adestrador cearense Vladinir Maciel mente, em Copacabana. Trabalhando as cenas de praia. Locações menos
providenciaram o treinamento de com duas câmeras Alexa, da Arri, o conhecidas do grande público (como
cinco filhotes de Border Collie (que diretor contou com a colaboração as ruas Anita Garibaldi e Siqueira Cam-
se parecem com filhotes de English She- dos próprios moradores do bairro pos) tiveram a preferência do diretor,
pherd). A cada um foi ensinada uma para extrair o melhor potencial dessas que ainda buscou ângulos alternativos
habilidade específica – desmaiar, sair sequências. “A ação se passa em dez para enquadrar essas paisagens.
de uma caixa de papelão etc. Combi- blocos de Copacabana, que é uma
nados, os esforços de todos esses cães espécie de Manhattan tupiniquim”, re- TRILHA ECLÉTICA
garantiram que “Guto” brilhasse no velou o cineasta. “A população local, Pedro e Malu Miranda (produtora e diretora
telão, roubando muitas das cenas em assim como a própria Prefeitura do Rio de segunda unidade do filme) também
que aparece. de Janeiro, colaborou muito conosco deram um toque pessoal à finalização

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do projeto, especialmente na definição
da trilha sonora, que é bem eclética. No
passado, ambos tiveram uma banda de
mashup (composições criadas a partir de
músicas já existentes), estilo que incorpora-
ram à partitura de Mato Sem Cachorro. Na
visão do diretor, o mashup traduzia bem o
personagem Deco – um típico “adulto ado-
lescente do século XXI”, bombardeado por
um excesso de informações audiovisuais
e que transformava essas referências em
algo novo utilizando ferramentas para este
fim. Os mashups de Mato Sem Cachorro
foram assinados pelo DJ Faroff, mas Pedro
e Malu palpitaram nas músicas escolhidas
como bases para as composições.
“Acredito que é possível reunir entre-
tenimento e arte em um mesmo projeto e
este filme foi uma oportunidade de fazê-lo”,
afirmou o diretor, pouco antes da estreia
do longa nos cinemas. A resposta positiva
do público à produção mostrou que Pedro
sabia o que estava dizendo.

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Fazer Cinema
Por Katia Kreutz e equipe da Academia Internacional de Cinema Fotos Shutterstock.com e AIC

QUERO SER
DIRETOR DE ARTE
Ser criativo e saber lidar com imprevistos são atributos essenciais para quem quer seguir a profissão

á pensou em trabalhar como As grandes produções norte-ame- os personagens, de fato, existem.

J diretor de arte? Em caso


afirmativo, você terá que se
preparar para uma vida de
muita criatividade e imprevistos a todo
o momento. Afinal, é bem possível
ricanas dos anos 1920 e 1930 fizeram
com que a sofisticação fosse aumen-
tando no que diz respeito a cenários e
figurinos. Posteriormente, as propostas
estéticas e temáticas do cinema eu-
Na hierarquia do “desenho de pro-
dução”, em filmes de longa-metragem,
as funções mais comuns são: coordena-
dor de arte (uma espécie de produtor
executivo da arte, que lida mais com
que, em um dia, você esteja no papel ropeu dos anos 1950 e 1960 trouxeram a parte financeira e de execução),
de um pesquisador, descobrindo tudo ainda mais complexidade à direção production designer (que é o diretor
sobre os costumes de uma época, e no de arte – com a sutileza dos filmes da de arte propriamente dito, aquele
outro, tenha que fazer chover em uma nouvelle vague, por exemplo. que cria o conceito visual), cenógrafo
avenida movimentada. Hoje em dia, é inegável a diferença (que desenvolve o trabalho criativo no
O termo production designer (ou que um bom diretor de arte faz na cria- desenvolvimento dos cenários), produtor
“designer de produção”) basicamente ção da atmosfera de um filme, ajudando de arte (que também tem uma função
define o que costumamos chamar de di- a desenvolver visualmente a realidade mais executiva, trazendo soluções para
retor de arte – já que, nos EUA, art direc- da história. Seja em produções de épo- o conceito planejado), produtor de obje-
tor significa “cenógrafo”. Em produções ca, em que se exige reconstituição histó- tos (um profissional extremamente impor-
hollywoodianas, o marco da direção de rica, seja em obras de ficção científica, tante, responsável por todos os objetos
arte foi o filme E O Vento Levou (1939). em que é preciso criar universos nunca que estarão visíveis na cena) e assistente
No Brasil, o primeiro longa em que um antes vistos, ou mesmo em filmes que se de arte (cujas tarefas e responsabilida-
profissional assinou essa função foi O passam na atualidade e em ambientes des variam de acordo com o tamanho e
Beijo da Mulher-Aranha (1985). e situações corriqueiras, nos quais é as necessidades de cada produção). Em
necessário criar a atmosfera correta sem projetos menores, o acúmulo de funções
OS PRIMÓRDIOS DA DIREÇÃO DE ARTE que os elementos desviem o foco da é comum, o que pode prejudicar um
A história da direção de arte se narrativa, o profissional da direção de pouco a execução do conceito.
confunde com a própria história do arte se tornou simplesmente indispensá- O trabalho prático de um produc-
cinema. Tudo começou com os filmes vel em um set de filmagem. tion designer, especificamente, é criar
dos irmãos Lumière, que eram basica- o projeto completo de direção de arte,
mente documentários e não tinham O QUE FAZ UM DIRETOR DE ARTE? que envolve pesquisas e definições sobre
preocupações com o chamado O diretor de arte é o responsável por criar clima/atmosfera, defesa conceitual,
“desenho de produção”. Chegamos, o conceito visual do filme e orientar sua escolha de paleta de cores, além de
então, às narrativas mais elaboradas equipe para a execução desse projeto. É acompanhar a construção do cenário,
de Georges Méliès, um mágico que como se ajudasse a dar tridimensionalida- produção de objetos, figurino e maquia-
usava recursos cênicos e plásticos de ao roteiro, tirando as ideias do papel gem, estando presente na filmagem e,
para ambientar suas histórias – o ver- e transformando-as em coisas palpáveis: finalmente, na “desprodução” do set. A
dadeiro precursor da direção de arte cenários, objetos, figurinos. Basicamente, direção de arte abrange toda a parte
no cinema. o diretor de arte cria a realidade na qual estética do filme, desenvolvendo uma

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23



Fazer Cinema

unidade visual para a narrativa e atuan- concreto o que foi apenas imaginado. dia, dentro de um estúdio ou em uma
do em estreita parceria com a equipe Para isso, ele conta com ferramentas floresta cheia de insetos. Ou seja: o
de direção de fotografia. Afinal, tudo o como a cenografia, o figurino, o visa- dia-a-dia da profissão envolve um
que está no enquadramento é arte. gismo e os efeitos visuais. trabalho tanto intelectual e criativo
Isso quer dizer que a maior quanto braçal (prático; “mão na
RESPONSABILIDADES DO DIRETOR responsabilidade de um diretor de massa”, mesmo!). Isso quer dizer que
DE ARTE arte é pensar o roteiro em imagens, não existe monotonia na vida desse
O diretor de arte lida com um espectro entendendo a narrativa e realmente profissional, pois cada projeto traz de-
muito vasto em seu trabalho, já que alinhando suas ideias com o que o mandas artísticas diferentes, locações
precisa construir (conceitualmente e na diretor quer ou precisa. Por ser uma e horários variados, equipes desco-
prática) tudo o que depois será cap- função extremamente criativa, a nhecidas… É como se cada filme fosse
tado pelo fotógrafo. Isso significa que direção de arte tem uma relação uma nova aventura!
o profissional está envolvido nos mais muito próxima com as artes plásticas, O diretor de arte atua em todas
variados processos, desde levantar já que trabalha o tempo inteiro para as fases do processo de realização de
uma cidade fictícia até se preocupar criar um produto visual, de modo que um filme. Geralmente, é um dos pri-
com o detalhe de um cinzeiro que será o conceito atravesse o filme e chegue meiros a começar a trabalhar, ainda
importante em determinada cena. ao espectador de maneira orgânica, no período de preparação (em geral
É a atmosfera visual criada pela quase instintiva. uma semana antes da pré-produção).
direção de arte que transporta as pa- Depois da leitura do roteiro, ele con-
lavras e as intenções do roteiro para O DIA-A-DIA DE UM DIRETOR DE ARTE versa com a direção e a produção,
a tela. Assim, o profissional dessa área Não existe rotina nesse trabalho, esboçando o conceito visual dentro
atua como uma espécie de “tradu- embora também seja preciso enca- do orçamento previsto. Começa, en-
tor” que precisa transformar em algo rar jornadas de dez a doze horas por tão, a pesquisa de parâmetros para

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o projeto de arte, os estudos de refe- Também são realizadas reuniões com de arte participa um pouco menos,
rências e de personagens. Em alguns equipe, para troca e compartilhamen- geralmente, em filmes que reque-
casos, visitam-se as locações para le- to de informações sobre o projeto. É rem a inserção de efeitos ou quando
vantar os prós e contras. Principalmen- um trabalho intenso! o fotógrafo precisa de auxílio na
te em projetos com poucos recursos, a No set, o diretor de arte e sua equipe correção de cor. Muitos orçamentos
fase de preparação é indispensável, já continuam atuantes, cuidando para não incluem direção de arte na pós.
que permite avaliar (e, se necessário, que tudo esteja conforme o combina- No entanto, é interessante ter o olhar
descartar) possibilidades. do esteticamente durante a pesquisa desse profissional para acompanhar os
Na pré-produção, que normalmen- conceitual. Ele atua na preparação do acabamentos do filme.
te dura quatro semanas, o ideal é ter set e da mise-en-scène (expressão france- A intensidade da jornada de traba-
pelo menos as locações principais fe- sa que se relaciona à composição do lho varia muito de acordo com cada
chadas. Nesse momento, começam a quadro dentro de uma cena). Também é filme e com a fase em que o projeto
entrar os demais membros da equipe importante estar presente nessa fase para se encontra. Já que o diretor de arte
de arte: assistente, cenógrafo, produ- resolver questões de última hora, apro- é uma espécie de “maestro visual”,
tor de objetos etc. Esse é o período em veitando ao máximo o que o ambiente ele é responsável por uma quantidade
que o “grosso” da execução será rea- pode oferecer e não permitindo que a enorme de coisas, tanto criativamente
lizado, de modo que tudo fique pronto arte seja prejudicada por imprevistos de quanto na prática. São muitos aspectos
para a fase de filmagem. A pesquisa produção. Finalmente, a “desprodução” a lidar: montagem da equipe, orçamen-
por referências continua, tanto de é a tarefa de devolver a locação às suas to, questões técnicas, eventualidades…
forma virtual quanto física (visitando condições originais, retornando, também, Também é comum que um profissional
os locais de filmagem, conhecendo a os objetos aos seus respectivos donos (no atue em vários projetos ao mesmo
região e os costumes locais, acompa- caso de empréstimos). tempo, em diferentes processos de
nhando a construção dos cenários). Na fase de pós-produção, o diretor execução. No fundo, a arte tem um

25



Fazer Cinema

pouco de semelhança com a produ- à metade do que normalmente se traba- Esses valores também podem mudar
ção: quase nunca para. lha). Por isso, na prática, essa base pode dependendo do local onde o diretor de
aumentar para algo entre R$ 4 mil e R$ 8 arte trabalha. Até entre São Paulo e Rio
QUANTO GANHA UM DIRETOR mil por semana, de acordo com a verba de Janeiro existe uma diferença entre os
DE ARTE? do projeto. salários praticados. O fato é que jobs de
Os valores variam de um trabalho para Quando está formando sua equipe, publicidade costumam ser mais rápidos
o outro, dependendo, também, do nível o diretor de arte deve ter em mente e melhor remunerados, enquanto filmes
de experiência e do reconhecimento do quais serão suas dificuldades e que ou séries se estendem por períodos mais
profissional no mercado. profissionais precisarão ser contratados, longos (ainda que paguem menos).
Pela tabela do Sindcine, o piso conforme o roteiro e as demandas do O importante, segundo os diretores
para a função, em longas-metragens, filme. Quem fecha o valor é o produtor. de arte já estabelecidos, é ir se estrutu-
é de aproximadamente R$ 2.500,00 por Porém, o profissional de arte precisa ser rando aos poucos no mercado, para ga-
semana – para uma carga horária de realista em sua planilha e não subestimar nhar destaque e poder negociar melhor
seis horas diárias (o que corresponde os desafios da parte executiva. os cachês. Esse é um departamento cujo

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trabalho é visto de maneira um pouco estilos marcantes, como Wes Anderson,
mais subjetiva e menos técnica, mas a Michel Gondry, Jean-Pierre Jeunet, Tim
capacidade de avaliar os desafios é Burton e Pedro Almodóvar, também cos-
algo que o profissional precisa adquirir. tumam caprichar na direção de arte.
Outra dica é saber se organizar como Pensando em produções brasileiras
autônomo e ir atrás das oportunidades, dignas de nota, filmes como Casa de
pois elas aparecem a todo momento Alice (dirigido por Chico Teixeira), So-
. nhos de Peixe (uma coprodução Brasil-
REFERÊNCIAS E CONSELHOS -EUA, com direção de Kirill Mikhanovsky)
Há inúmeros filmes que podem ser cita- e Os Famosos e os Duendes da Morte
dos como boas referências para quem (de Esmir Filho) apresentam trabalhos de
gosta de direção de arte. Moça com direção de arte extremamente sofistica-
Brinco de Pérola, por exemplo, é um lon- dos e de sutileza admirável.
ga de época dirigido por Peter Webber O livro nacional “Arte em Cena: a
cuja arte foi totalmente inspirada nas Direção de Arte no Cinema Brasileiro”, de
obras do pintor Johannes Vermeer. Vera Hamburger, é uma verdadeira Bíblia
Diretores contemporâneos com para quem pretende abraçar essa profis-

são. Outra recomendação é “A Lingua- reira não se dão conta de que o diretor Os olhos são os melhores instrumentos de
gem Secreta do Cinema”, de Jean-Clau- de arte precisa ter uma relação com o trabalho de um diretor de arte. Busque
de Carrière, que não trata apenas da mundo, um contato direto com a realida- essa visão livre e ampla, verdadeiramente
arte, mas oferece uma visão abrangente de que terá que reproduzir (ou modificar). criativa. Afinal: você é um dos artistas
do vocabulário cinematográfico. Por isso, viajar e trocar ideias com pessoas nessa tal de Sétima Arte, não é?
A principal sugestão para quem curte de culturas e experiências diferentes
essa área e quer ingressar nela é estudar das suas é sempre uma boa maneira de LEU TUDO E SE IDENTIFICOU?
sempre, aprendendo novas técnicas e pro- estimular a criatividade. Conheça o FILMWORKS, o curso téc-
gramas que possam ser úteis. Crie repertório Sobretudo, observe! Seja curioso, não nico em direção cinematográfica da
vendo filmes (se possível, na tela grande do pare de se maravilhar com as coisas! O AIC, em São Paulo e no Rio de Janeiro.
cinema), peças de teatro, obras de arte “alimento” de um profissional do cinema Conheça também os outros cursos da
em museus. Ler muito e desenvolver um não está apenas nos filmes, mas na Academia Internacional de Cinema
filtro crítico também é importante. própria vida. Cada detalhe cotidiano para iniciar ou se aprofundar na área. 
Muitos profissionais em início de car- pode trazer novas surpresas e inspirações.

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Por Trás Da Cena
Por Eduardo Torelli Fotos Globo Ramón Vasconcelos

ANATOMIA DE
UMA CATÁSTROFE
Uma das maiores audiências da TV Globo em tempos recentes, minissérie
Treze Dias Longe do Sol teve uma produção trabalhosa e contou com
efeitos especiais de ponta criados pela O2 Filmes

ma superprodução com entre ousadia e irresponsabilidade,

U um viés dramático: esta


seria uma boa definição
para a excelente minissé-
rie exibida pela TV Globo no início
do ano (aliás, uma das maiores
provocando uma catástrofe de pro-
porções inimagináveis”.

UM PÉ NA REALIDADE
Como toda boa ficção, a trama de
audiências da emissora em tempos Treze Dias Longe do Sol tem um pe-
recentes), Treze Dias Longe do Sol. Na zinho na realidade, o que qualifica
trama, repleta de cenas audaciosas e a minissérie como um trabalho de
efeitos especiais de primeira catego- crítica social, além de bom en-
ria, o desabamento de um edifício é tretenimento. O diretor diz que
o ponto de partida para o desenvol- os eventos e personagens
vimento de uma série de histórias pes- são fictícios, mas lembra
soais que revelam as diversas facetas que casos parecidos,
do ser humano. Estrelada por Selton também motivados
Mello e Carolina Dieckmann, a atração por negligência e
é uma coprodução da Globo e da O2 ganância, ocor-
Filmes e foi dirigida com muito talento reram no mun-
por Luciano Moura, realizador que pos- do real – e em
sui mais de 500 comerciais no currículo, um passado
além de séries e longas-metragens. bastante
Segundo Moura, a história foi recente.
construída a partir da premissa de “Só para
explorar as reações humanas em uma citar alguns
situação limite. “Nesses momentos, o casos,
melhor e o pior das pessoas se mani- tivemos o
festa”, diz o cineasta em entrevista à Palace 2,
Zoom Magazine. “No roteiro, busca- na Barra
mos explorar suas escolhas, temores da Tijuca
e desafios e mostrar como alguns (Rio de
sucumbem e outros se superam. Sau- Janeiro),
lo, nosso personagem principal, deu a cratera
um passo maior que as pernas por do metrô
ambição e arrogância – arriscou o em São
que não podia e cruzou a linha tênue Paulo e

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29



Por Trás Da Cena

um prédio de três andares em Gua- se materializaria na tela sem muito


rulhos”, ilustra o diretor. “Esses trabalho, já que o escopo da história
eventos foram o caldo de era ousado: a equipe responsável
realidade que alimentou pelo projeto teve que elaborar um
a nossa exploração design de produção digno de um
pelas desventuras dos filme-catástrofe hollywoodiano, além
nossos personagens de lidar com recursos como: co-
e seus desafios após reografias de ação, dublês e efei-
a catástrofe”. tos práticos e de pós-produção. A
O drama logística da realização, portanto, foi
proposto no cuidadosamente pensada. Ao diretor,
roteiro, coube o desafio de gerenciar todas
porém, essas questões técnicas ao mesmo
não tempo em que trabalhava com os
atores, garantindo a densidade dra-
mática da minissérie.
As filmagens foram concluídas
ao longo de três meses e seguiram
uma programação rigorosa. Toda
a primeira parte da trama foi
captada nos estúdios da O2, em
São Paulo, onde também foram
recriados todos os cenários dos
escombros. Já a segunda etapa
foi realizada em uma locação
da Barra Funda (Zona Oeste
de São Paulo). “Foi lá que
construímos o que restou do
prédio demolido”, prossegue
Luciano Moura. “Com uma
equipe numerosa, trabalha-
mos o tempo todo com duas
câmeras. Em vários momen-
tos, tínhamos duas unidades
filmando paralelamente”.
O cineasta desta-
ca os trabalhos de Marcelo
Escanuela (diretor de arte) e
Ralph Strelow e Rodrigo Monte
(fotografia), que, neste projeto,
viram-se às voltas com situações
incomuns. Para a obtenção de um
resultado bem realista na tela, os
profissionais tiveram que se informar
sobre uma variedade de assuntos re-
levantes para a história – por exem-
plo, o tipo de luminosidade encontra-
da embaixo dos escombros de uma

30



edificação desabada. “Certamente, projeto tão carregado de demandas Na edição, as cenas ganharam o
foi a filmagem mais difícil e complexa de pós-produção. “Considero esta a “timing” e os climas necessários. Nesse
da qual eu e a maioria da equipe par- fase em que temos a oportunidade sentido, teve uma importância funda-
ticipamos”, afirma o diretor. “Lidamos de reescrever a trama, com a vanta- mental a trilha assinada por Beto Villa-
com água dentro do cenário, quedas gem de já termos passado por ela”, res, que providenciou temas específicos
de atores em dutos de ar e escaladas compara Moura. “Tive dois grandes para cada cena ou personagem. “A serie
por poços de elevadores. Tudo isso montadores ao meu lado: Lucas Gon- é carregada de climas pesados e an-
exigiu planejamento e testes”. zaga e Marcio Hashimoto, dois profis- gustiantes e a música conseguiu trazer
sionais que vêm do cinema e que me beleza, tensão, sutileza e até graciosida-
BELEZA E TENSÃO ajudaram a dar um novo significado de às sequências, quando necessário”.
O processo criativo continuou na a muitas cenas. Na montagem, coisas A edição de som contou com os
etapa de edição – um momento cru- que você não considerava impor- talentos de experts no assunto, como
cial em qualquer obra audiovisual, tantes se tornam fundamentais. O Beto Ferraz (criador e coordenador de
mas ainda mais significativo em um contrário também acontece”. sons) e Allan Zilli (que cuidou especifi-

31



Por Trás Da Cena

camente dos diálogos). Os


técnicos tiveram que repro-
duzir com perfeição os sons
do desabamento do edifício e
das toneladas de concreto se
acumulando, entre outros de-
talhes determinantes para o
realismo das cenas. “A edição
começa pelas imagens, mas
termina no som e nos efeitos
especiais de pós-produção”,
ressalta o diretor.

“MIX” DE EFEITOS
No que se refere aos efeitos propriamente
ditos, uma curiosidade sobre a minissérie
é que a equipe não utilizou “apenas”
recursos digitais para conceber as cenas vasta experiência
de catástrofe. Na verdade, foram usados em audiovisuais
muitos efeitos físicos. A equipe só recorreu visualmente rebuscados
à pós-produção quando realmente não (como Malasartes e o Duelo
era possível criar algum artifício no set. Com com a Morte), a O2 Digital acom-

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panhou o projeto desde o início, para que nunca existiu e fazê-lo desabar de forma ao 3D. Ainda segundo o supervisor de efei-
as filmagens atendessem às demandas da realista, convincente e integrada às cenas tos, os desabamentos ocorridos no subsolo
finalização e a inserção dos efeitos ocorres- filmadas”, afirma Colloci. “Em um prazo de após a queda do edifício foram comple-
se da forma mais eficaz possível. cinco meses, providenciamos 1.170 planos mentados ou inteiramente feitos durante
Segundo Omar Colloci, supervisor de efeitos”. a pós. “Também aumentamos o volume e
de efeitos especiais de Treze Dias Longe Os softwares mais utilizados na pós a escala dos escombros desabados vistos
do Sol, a pós durou cinco meses e ainda foram o Nuke (composição), o Houdini na superfície com a adição de elementos
requereu uma série de estudos iniciais na (modelagem procedural de escombros e produzidos pelo 3D e apagamos ferragens
etapa de pré-produção. “O maior desafio simulações de desabamento) e o Maya, estruturais da cenografia”, complementa
desse trabalho foi criar um prédio que empregado em diversas tarefas referentes Omar Colloci.

33



Direção de Fotografia

Ca derno
e spec i al:
D i r eção
de
F o t ogr afia
Direção de Fotografia
Por Katia Kreutz e equipe da Academia Internacional de Cinema
Edição Mônica Wojciechowski Fotos Yuri Pinheiro

QUEM QUER SER


DIRETOR DE FOTOGRAFIA?
Um dos profissionais mais influentes no processo de produção, o bom diretor de fotografia não é
só um “técnico”. A imaginação também desempenha um papel importante nessa atividade


L
uz, câmera… ação!” Do ou pelo visor da câmera e ver um ator e a linguagem imaginadas na pré-pro-
famoso clichê, tão usado se movimentar sob a luz que ele criou, dução, por meio de ferramentas téc-
para ilustrar a produção através da lente que ele escolheu. nicas como: iluminação, filtros, lentes,
cinematográfica, dois desses É como se a história ganhasse vida movimentos de câmera, enquadra-
itens (luz e câmera) acabam caindo ali! Comercialmente, o filme nasce mento, cor e exposição.
nas mãos da direção de fotografia. quando é lançado, mas, para quem o Na verdade, essa é apenas uma
Construir e registrar a imagem que está fazendo, nasce a cada tomada, pequena parte do trabalho deste pro-
aparecerá na tela do cinema talvez a cada plano. fissional, embora a função geralmente
seja uma das tarefas mais importantes seja associada a algo mais técnico,
em um filme. Afinal, o que o público vê ATRIBUIÇÕES por conta do equipamento. Qualquer
projetado envolve muito do trabalho A direção de fotografia é a área que pessoa que olhe para um set de filma-
de direção de fotografia. controla o processo de construção e gem verá, basicamente, isto: câme-
Para um diretor de fotografia, é um o registro das imagens de um filme, ras, refletores e todo o maquinário de
momento mágico olhar pelo monitor levando para a tela toda a atmosfera fotografia. Mas o mais importante não

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é isso: é a ideia que importa! relacionamento com toda a equipe. O ponsabilidades do diretor de fotografia
Então, o trabalho de um diretor de aparato técnico deve ser usado para são a pesquisa e o estudo de referên-
fotografia no cinema começa por se se relacionar com os outros profissionais cias (filmes, fotos, pinturas etc.) para
conhecer o roteiro. A partir daí, em uma envolvidos na tarefa de contar uma conceitualizar o que funciona melhor
conversa com o diretor (ou diretora), determinada história e, também, para e chegar a um consenso visual para a
surge um conceito relativo às imagens. “falar” com o público. história, além da escolha de equipe, do
Pode-se dizer que é um processo herda- equipamento, testes, visitas às locações,
do das artes plásticas: existe um tema, RESPONSABILIDADES conversas com a direção de arte e
mas cada artista define “como” irá Em um filme de longa-metragem, o ideal análise da decupagem com o diretor.
representar aquilo conceitualmente. é que o diretor de fotografia esteja pre- Essa preparação é praticamente 50% do
A fotografia carrega uma mensa- sente em todas as etapas do processo, trabalho. Por mais que o espectador não
gem para o público. Isto se constrói desde a pré-produção até a finalização. veja esses aspectos técnicos (ao menos,
junto com a direção do filme, pois é Basicamente, o trabalho do fotógrafo não conscientemente), é o conceito que
papel do diretor transformar a ideia em começa ao ler o roteiro e termina quan- fará com que ele sinta algo.
matéria. E essa mensagem também é do a cópia de exibição está pronta. Quando a equipe chega ao set de
uma escolha: de enquadramento, movi- Uma das etapas mais importantes se dá filmagem para a gravação, é hora de re-
mento, cor, luz e exposição. justamente na pré-produção. Seu tra- alizar o que foi pensado. Existe uma ener-
A questão humana é a base de todo balho é como o de uma orquestra, que gia ali, por estarem todos concentrados,
o trabalho. Porque boa parte do que faz precisa passar meses ensaiando para, em silêncio, com as atenções voltadas
um diretor de fotografia envolve a con- depois, se apresentar. para os atores. É claro que existe espaço
vivência com o diretor do filme, o bom Na pré-produção, algumas das res- para improvisos, mas aquela é a hora

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de executar tudo o que foi planejado, naquele momento que as coisas estão filme? Tudo depende do diretor, mas
de transformar um conceito em algo todas alinhadas: atores, direção de é fundamental que o fotógrafo tam-
concreto – em matéria. Sim, porque até arte… Hoje em dia até é possível alterar bém participe dessa fase. Não por ego
chegar ao local de filmagem e montar a um pouco a imagem na pós-produção, profissional, apenas porque a responsa-
luz, ligar a câmera e colocar os perso- mas mesmo nesses casos tudo precisa bilidade pela imagem do filme é dele. A
nagens para falar e agir, tudo é apenas ser muito bem pensado na captação pós-produção ajuda a completar o pro-
uma ideia. Então, na etapa de filma- – como foi o caso do filme O Regres- cesso de captação, já que as imagens
gem, o trabalho relativo à iluminação, so, de Alejandro González Iñárritu. O “cruas” não são necessariamente boni-
ao controle de tempo, à movimentação contraste, a direção da luz e a atmos- tas, mas “saltam” durante o processo
de câmera, maquinário, enquadramen- fera são criadas no set. Logo, deixar de correção de cor (color grading). Ter
to, composição e mesmo à liderança da para fazer esse trabalho na pós, muitas consciência e saber utilizar essas ferra-
equipe de cinematografia são algumas vezes, gera um resultado diferente do mentas (e conhecer minimamente suas
das principais responsabilidades do dire- esperado, com imagens de aspecto possibilidades) também são atribuições
tor de fotografia. “falso” e que não combinam com as da direção de fotografia. Assim como
já captadas. Esse tipo de intervenção um eletricista dá ao fotógrafo soluções
DA PRODUÇÃO À FINALIZAÇÃO também demora muito tempo, além de para luz, o colorista dá soluções para a
Apesar de a tecnologia digital ter faci- encarecer o projeto. imagem na pós.
litado um pouco a questão de alterar Mas e quanto à participação do Quando o fotógrafo está com o
ou corrigir detalhes na pós-produção, diretor de fotografia na fase de finaliza- diretor até o filme ficar pronto, suas
o ideal é que a fotografia de um filme ção? Quer dizer que, uma vez desligada tarefas incluem participar do processo
já saia pronta do set de filmagem. É a câmera, ele não participa mais do de correção de cor, do ajuste fino das

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imagens e fazer os testes de projeção. Agora, respondendo à pergunta: muito pouco, assim como todo o resto
O trabalho desse profissional só acaba, quanto ganha um diretor de foto- da equipe, se acreditarem em uma
de fato, quando a cópia de exibição do grafia? Isso depende do projeto, do ideia, se aquela for uma história que
filme está pronta. Uma cópia consis- tamanho da produção. Podemos ter eles queiram contar. E dá para viver de
tente, que transmita todo o trabalho uma base observando a tabela do fotografia? A resposta é sim! Porém, é
que ele e sua equipe passaram meses Sindcine, que estabelece como valor necessário escolher bem os projetos e ter
conceituando e realizando. de cachê para um diretor de fotogra- uma boa organização financeira para
fia cerca de R$ 2.500,00 por semana. conseguir se manter entre um trabalho
REMUNERAÇÃO Ou seja: para um longa-metragem, com e outro. O sucesso nessa carreira, como
Esta é uma dúvida muito pertinente duração de um a dois meses, o salário em qualquer outra, depende de um
quando se está decidindo investir mensal seria em torno de R$ 10 mil. Em trabalho consistente, competência e de-
tempo e dinheiro em uma carreira. Mas, um curta, a média fica entre R$ 3 mil e dicação. Reconhecimento é algo que se
antes de responder à pergunta, vale R$ 5 mil para o projeto todo (que normal- conquista com muito trabalho e estudo.
lembrar que é um pouco arriscado dar mente dura entre uma e três semanas).
muito peso a esse fator. Em qualquer Já na publicidade, muitas vezes, o valor INÍCIO DE CARREIRA
carreira, há oportunidades de cresci- pago em apenas uma diária do profissio- Há diversas maneiras de se iniciar nessa
mento e de remuneração em diferentes nal é de R$ 3 mil. Sentiu a diferença? carreira. Em primeiro lugar, é preciso
níveis. O que determinará o crescimento No caso de uma produção total- ter responsabilidade e competência. O
profissional será a dedicação, a voca- mente independente, muitas vezes, é networking é muito importante, mas só
ção para a área e a experiência. Além difícil seguir tabelas de sindicatos. Alguns funciona no cinema – assim como em
de um pouquinho de sorte! fotógrafos começam trabalhando por qualquer outra área – se o profissional

“ Em um film
gem, o id e de longa-metra
eal
fotografia é que o diretor de
etapas do esteja em todas a
proc
produção esso, desde a pré
até a fina
lização.
s
-

-

39



for bom, pois ninguém deixará um filme de câmeras e lentes… Mas
com orçamento de R$ 4 milhões nas essa teoria acaba chegando
mãos de um profissional inexperiente só fragmentada – e muitos sites
porque ele é “amigo de alguém”. No publicam informações erradas
Brasil, o curso de carreira mais clássico ou simplificações. Na escola,
no mercado costumava seguir uma há um espaço de aprendizado.
hierarquia que começava no videoassist, Existe direcionamento, mas
passando para segundo assistente de liberdade criativa, sem a res-
câmera, primeiro assistente de câmera, ponsabilidade de uma produ-
até eventualmente chegar ao cargo de ção profissional.
diretor de fotografia. Além disso, não se faz um
Com o boom das câmeras digitais, filme sozinho. Então, o jeito
as coisas mudaram um pouco. Esse é ir atrás de outras pessoas
sistema de “escadinha”, em um mundo que estão fazendo cinema.
em que todos têm acesso a equipa- Afinal, um longa-metragem
mentos desde cedo, acabou sendo não cairá no seu colo. A van-
substituído pelo bom e velho “aprender tagem de estudar é que esse
fazendo”. Estudando, lendo, testando, ambiente oferece aos inician-
às vezes, observando o trabalho dos tes equipamento, convivência
outros… Uma dica para quem pretende com os futuros colegas de
ingressar na profissão é investir em trabalho e orientação de pes-
estudo. Um curso ou faculdade facilita soas mais experientes.
conhecer pessoas, praticar e se espe-
cializar. É muito saudável essa troca de REFERÊNCIAS E CONSELHOS
contatos e amizades em um curso de Para quem quer saber um
cinema, em que todas as pessoas estão pouco mais sobre o trabalho
ali com a mesma vontade e foco, en- de um diretor de fotografia no
trando no mercado de trabalho juntas Brasil, um excelente filme é o
e, muitas vezes, formando parcerias documentário de longa-me-
para uma vida toda. tragem Iluminados, de Cristina
Hoje, em escolas de qualidade, os Leal (disponível na íntegra no
alunos filmam projetos no decorrer de YouTube). O longa revela o
seus cursos e realizam aulas práticas, olhar sobre a fotografia de
exercícios e curtas-metragens. Por cinema pelas lentes de alguns
isso, ao avaliar uma escola ou faculda- dos maiores profissionais
de, sempre pergunte qual é o número da recente cinematografia
de projetos que serão realizados e a brasileira: Dib Lutfi, Edgar
quantidade de atividades práticas, bem Moura, Fernando Duarte,
como o grau de autonomia e responsa- Mario Carneiro, Pedro Farkas e
bilidade que o aluno tem nessas ativi- Walter Carvalho. Outra dica é
dades, buscando se informar, também, Luz & Sombra – Fotógrafos do
se os professores são profissionais Cinema Brasileiro, uma série
ativos no mercado audiovisual. documental que aponta suas
É claro que, atualmente, qualquer lentes para aqueles que estão
pessoa pode entrar na internet e pesquisar por trás das câmeras. Cada
tudo sobre o trabalho de um diretor de episódio mostra a trajetória de
fotografia, ver making of de filmes, ler um importante fotógrafo ci-
tudo sobre os mais variados tipos nematográfico, suas experiên-

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cias e filmes que marcaram acabam se frustrando com a realidade
sua carreira. difícil do set de filmagem.
No longa estadunidense É muito prazeroso e fascinante fazer
Visionsof Light – The Art of Ci- cinema. Mas também é extremamente
nematography, dirigido por Ar- exaustivo: trabalha-se diversas horas
nold Glassman, Todd McCarthy seguidas, tudo é muito intenso e a pressão
e Stuart Samuels, profissionais é enorme. No momento em que a câmera
de câmera, discutem a arte da começa a rodar, todos ficam em estado de
cinematografia e o trabalho do alerta. E essa tensão vai se acumulando
diretor de fotografia, ilustrando no corpo e no emocional. O fotógrafo, de
suas falas com clips de longas certa maneira, é uma das pessoas que
conhecidos. A obra Cinemato- mais se movimentam no set – ante-
grapher Style, de Jon Fauer, cipando, resolvendo e pensando no
também traz alguns dos maio- próximo take, “pilhado” o tempo in-
res cinematógrafos do mundo teiro. Dentro desse contexto, a parte
para falar sobre sua arte, mais complexa é a relação humana,
explicando como e por que pois não somos máquinas produzindo
usaram determinadas lingua- filmes. Não basta simplesmente ligar
gens visuais em seus projetos. a câmera e pronto. O cinema é uma
Com tantas referências sobre expressão de pessoas para outras
a profissão, resta apenas dizer pessoas. O processo criativo requer
que o maior conselho de quem empatia, conexão... Por isso, quanto
já tem experiência na área é: mais você filma, quanto mais convive
trabalhe com dedicação, pro- com outras pessoas, mais aprende.
fissionalismo e humildade. Ob- Quando a gravação de um filme aca-
servar outros profissionais mais ba, muitos profissionais dizem que parece
experientes, ou, se possível e que você está se separando de uma
ainda melhor, começar atuando família – por mais piegas que isso possa
como assistente de câmera. soar. Essas pessoas viajaram juntas para
Paralelamente, é essencial um “outro mundo”, uma história única. É
expandir os conhecimentos e essa relação de respeito e confiança que
se atualizar sempre, em um se espera de uma equipe de filmagem. É
mundo digital que muda cons- a convivência nas diversas partes do pro-
tantemente e que traz novas cesso, em especial no set de filmagem,
tecnologias todos os dias. E que forma um diretor de fotografia e sua
nunca parar de exercitar a visão de mundo. Mesmo em um filme de
imaginação, que é uma das entretenimento, sem pretensão de discu-
primeiras ferramentas de um tir algo mais profundo, ele pode contribuir
diretor de fotografia quando com uma linguagem, uma atmosfera ou
ele pega um roteiro nas mãos. uma estética interessante. Esse é o poder
Vale lembrar que a direção de da luz e da câmera para a ação.
fotografia não é um trabalho
puramente técnico, mas que
requer domínio da criatividade * Fontes consultadas para esse
conceitual e narrativa. Mui- artigo, professores da Academia
tas pessoas buscam o fazer Internacional de Cinema: André
cinematográfico por serem Moncaio, André
cinéfilas; e muitas, também,

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Por Ricardo Bruini Fotos Divulgação

PECEPÇÃO VISUAL: MUITO


ALÉM DOS REFLETORES_PARTE 1
Utilizados individualmente ou de forma combinada, contrastes podem
tornar uma imagem mais interessante

Q
uando se fala em de um diretor de fotografia. No entanto, permitem que refletores sejam instalados
fotografia para não só de refletores, filtros e maquinaria ou que encenações facilitem o processo
vídeo, ou mesmo se faz uma bela fotografia. Na verdade, de captação.
para cinema digital, a percepção visual é a principal arma
a primeira coisa que vem à ca- de um bom diretor de fotografia. Audio- O QUE É PERCEPÇÃO VISUAL?
beça dos profissionais da área visuais como documentários e vídeos Do ponto de vista da captação de
é iluminação. Afinal, iluminar de esportes, feitos à luz do dia e sem imagens, podemos definir “percepção
com maestria é o trabalho roteirização, na maioria das vezes não visual” como a capacidade do ser

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intensificar a dinâmicas visualmente.
atenção para
determinado elemen- CONTRASTE DE LUMINOSIDADE
to que queiramos ressaltar. Sem a A diferença entre áreas claras e es-
humano em identificar determinados utilização de pontos destoantes, uma curas de uma imagem é a base da
elementos visuais (ou o conjunto desses imagem tende a tornar-se demasiada- visão humana, sendo, sem dúvidas,
elementos) presentes em um ambien- mente monótona e sem graça. o contraste mais evidente.
te e transformá-los em imagens que Contrastes são ferramentas podero- Se tivermos uma imagem com
transmitam sensações ou mensagens ao sas quando necessitamos dramatizar uma predominância de áreas escuras e
espectador. A escolha do enquadra- situação ou, então, quando precisamos inserirmos uma pequena área cla-
mento, do tipo de lente, do ângulo, de enfatizar a diferença entre dois pontos. ra, nossa atenção irá para o ponto
eventuais movimentos de câmera e dos Se quisermos criar a ilusão de que claro. Da mesma forma, o raciocí-
ajustes do equipamento são os fatores um objeto é grande, não é necessá- nio inverso também vale.
responsáveis pela obtenção de imagens rio representá-lo maior na tela; basta Através das diferenças de luz
belas ou eficientes. associarmos a ele um outro elemento e sombra conseguimos o efeito
Perceber combinações de formas, que seja menor. A diferença entre de noção de volume.
contrastes, efeitos proporcionados pela o tamanho de ambos irá criar a
luz natural do ambiente, texturas, linhas, sensação de grandeza de um e de CONTRASTE DE COR
padrões etc. faz com que um diretor de diminuição do outro. Por exemplo: se As cores têm um enor-
fotografia ou cinegrafista execute a foto- colocarmos, em uma mesma imagem, me poder sensorial e
grafia em um audiovisual sem que fontes uma pessoa ao lado de uma enorme psicológico. Através das
artificiais de iluminação sejam utilizadas. árvore, tal sensação estará criada. cores podemos criar
Imagens absolutamente equilibradas atmosferas e sensações.
CONTRASTES e simétricas, embora harmoniosas, criam Dependendo da forma
Os contrastes nos ajudam a estabe- uma forte sensação de estagnação e como são organizadas,
lecer relações entre os elementos da monotonia. O contraste, por sua vez, podem causar a ilusão de
composição de uma imagem e a cria composições bem mais instigantes e aproximação ou de recuo

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de determinado objeto. tos pequenos, ao inserirmos um elemento encontra no sentido oposto.
Se associarmos cores seme- maior que os demais, chamamos a aten-
lhantes, criaremos uma atmosfera ção para este elemento destoante. CONTRASTE DE FORMA
de harmonia e equilíbrio. Ao utilizar- Pegue um punhado de arroz cru e insira
mos cores contrastantes, o efeito CONTRASTE DE POSIÇÃO um único grão de feijão branco em
conseguido realçará este Pense na seguinte imagem: uma tela meio aos de arroz. Agora, jogue o pu-
contraste. Mesmo a exis- repleta de elementos amontoados nhado sobre uma mesa. Será muito fácil
tência de um pequeno em um determinado lado e um único encontrar o grão de feijão. Afinal, ele é
ponto colorido já é elemento (idêntico aos demais) em o único que possui um formato diferen-
suficiente para caracte- uma área vazia da tela. Para onde ciado. A esta diferença damos o nome
rizarmos um contraste de seus olhos são atraídos? Certamente, de “contraste de forma”.
cores. O contraste de co- para o objeto que está isolado. A este
res mais evidente é aquele tipo de diferença, damos o nome de CONTRASTE DE FOCO
entre cores frias e quentes. “contraste de posição”. Todos que já tiveram a oportunidade de
manipular uma câmera devem ter notado
CONTRASTE DE TAMANHO CONTRASTE DE DIREÇÃO que áreas em foco se sobressaem às áreas
Ao colocarmos elementos de Imagine uma imagem cheia de setas desfocadas. Desta forma, podemos utilizar
tamanhos diferentes lado a lado, apontando para a direita. Agora, nesta o foco para chamar a atenção para deter-
estabelecemos um contraste. Se, composição, coloque uma seta (igual minado elemento dentro da composição.
por exemplo, uma imagem pos- às demais) apontando para a esquerda. Este é o contraste de foco, muito útil quan-
suir predominância de elemen- A atenção recairá sobre a seta que se do temos fundos visualmente poluídos.

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Para percebermos sua eficiência, contraste, assim como uma chapa metá- único coqueiro no canto.
imagine uma imagem na qual um soldado lica ao lado de uma tora de madeira, ou Citamos alguns exem-
aparece em meio a uma densa selva; fica um chumaço de algodão sobre a areia. plos de contraste. Porém,
difícil definir onde está localizado o solda- a lista pode ser bem mais
do. Agora, imagine a mesma imagem com CONTRASTE DE HORIZONTAL E VERTICAL extensa. Os contrastes podem
o fundo desfocado e o soldado nitida- Trace em um papel uma linha horizontal ser usados individualmente ou
mente em foco; os contornos tornam-se bem comprida. Agora, faça um peque- associados entre si, de forma a
facilmente perceptíveis. no traço vertical logo acima da linha tornarem uma imagem mais interes-
horizontal. Para onde seus olhos apon- sante. O único limite para a utilização
CONTRASTE DE TEXTURA tam? Certamente, para o traço vertical. dos contrastes é sua criatividade.
Este é, talvez, o contraste menos evidente Embora menor, o traço vertical se con-
e um dos menos utilizados em vídeo. No trapõe à monotonia da longa
entanto, o contraste de textura é extrema- linha horizontal. O mesmo
mente eficiente, principalmente quando raciocínio vale para uma
queremos demonstrar diferenças entre imagem na qual ve-
sensações de tato. Um pedaço de corda mos o horizonte de
colocado sobre uma superfície de cetim, uma praia e um
por exemplo, causará um nítido

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PECEPÇÃO VISUAL: MUITO


ALÉM DOS REFLETORES_PARTE 2
Uma boa fotografia depende de inúmeros fatores. A luz é apenas um deles...

Q
uando se fala em fotogra- ais como documentários, vídeos de Portanto, embora uma imagem
fia para vídeo, ou mesmo esportes e afins (feitos à luz do dia e eficiente dependa, de fato, da luz
para cinema digital, a sem roteirização) não permitem que que ilumina o objeto ou o ambiente,
primeira coisa que vem à refletores sejam instalados ou que é a percepção do diretor de foto-
cabeça dos profissionais da área é o encenações facilitem o processo grafia (ou do operador de câmera)
posicionamento dos refletores. Afinal, de captação das imagens. Mesmo que realmente fará a diferença no
iluminar com maestria é trabalho de grandes produções, como seriados ou resultado final.
um diretor de fotografia. No entanto, filmes de época, não podem de-
nem só de refletores, filtros e maquina- pender de uma iluminação artificial O QUE TORNA UMA
ria se faz a bela fotografia! Na verda- perceptível. Evidentemente, muitos IMAGEM EFICIENTE?
de, a percepção visual é a principal refletores são utilizados nesses audiovi- Para ser eficiente, ou seja, servir a
arma de um profissional do gênero (ou suais. Mas normalmente tentam simular um fim específico, uma imagem não
de um operador de câmera). ou evidenciar aspectos da luz natural precisa necessariamente ser “bonita”.
Na maioria das vezes, audiovisu- do ambiente. Muitas vezes, uma imagem “feia”, “de-

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sequilibrada” ou mesmo “angustiante” 1. Público alvo (pessoas que irão assis- teresse máximo da composição auxilia
pode ser mais eficaz que outra pura- tir a este material: etnia, nacionalida- no propósito da imagem);
mente bela. Tudo depende do que se de, cultura, crença religiosa, nível de
quer transmitir ao espectador. escolaridade, faixa etária); 6. Elementos complementares (aqueles
Para tanto, devemos analisar quais que ajudarão a chamar a atenção para
são os pontos que fazem a maioria dos 2. Propósito (que tipo de sentimento o elemento principal, assim como seu
seres humanos julgarem uma imagem queremos que o espectador tenha ao nível de interesse);
como “agradável”. A partir daí pode- visualizar uma imagem em particular,
mos utilizar esses fatores a nosso favor, ou que informação queremos passar 7. Contexto audiovisual (de qual conjun-
seja para o fim mais óbvio (agradar) a ele); to de imagens este enquadramento fará
ou para fazer com que o espectador parte; que imagens há antes e depois,
sinta inúmeras sensações, inclusive, as 3. Clareza de propósito (se todos os ou seja, em que contexto a imagem será
não agradáveis. espectadores compreenderão esta posteriormente inserida?);
Essas percepções são compartilha- imagem da mesma forma; afinal, uma
das pela maioria das pessoas, muito imagem não poderá ter “legendas” 8. Compatibilidade de estilo (se a ima-
embora mudanças drásticas possam para auxiliar em sua compreensão); gem está compatível com a lingua-
ocorrer de acordo com as característi- gem adotada no audiovisual do qual
cas de cada indivíduo, sejam culturais, 4. Elemento de interesse (em qual fará parte);
sociais, intelectuais ou religiosas (estas elemento dentro desta composição
questões também devem ser levadas queremos que o espectador concen- 9. Tempo de atração da imagem (por
em consideração). tre mais atenção?); quanto tempo quero que o especta-
Mas, antes de escolhermos um dor fique olhando para esta imagem);
enquadramento, devemos levar em 5. Elemento de interesse em acordo
conta uma série de outros aspectos: com o propósito (se o elemento de in- 10. Limitações técnicas (se o tipo de

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câmera, lentes, definição e compres- FUGINDO DE MODISMOS temática criminal (ou policial), com câmera
são são adequados para se obter o De tempos em tempos, determinadas nervosa apoiada nos ombros do operador,
resultado almejado); características visuais emergem como movimentos frenéticos, cores com pouca
tendências e determinados estilos narrativos saturação, luzes ligeiramente esverdea-
11. Processos de pós-produção (a que são adotados por muitos produtores como das, altos contrastes e visual “sujo”. Outro
processos de edição, manipulação, “a última moda”, que deve ser seguida exemplo é a utilização de shutter alto,
animação e correção esta imagem a qualquer custo. Quem já não assistiu a pedestal “enterrado”, chicotes de zoom e
será submetida após a captação?); diversos vídeos ou filmes que apresentam lente grande angular em vídeos de esportes
características muito semelhantes, por vezes, radicais. Nos anos 1990, era comum, em
12. Exibição (a exibição propriamente tornando-se quase cópias uns dos outros? documentários e vídeos institucionais, a
dita do material finalizado: cinema, TV Um bom exemplo desses modismos captação de depoimentos com a câmera
standard, HDTV, Internet etc.); é a atual explosão de audiovisuais com inclinada lateralmente. Na mesma época,

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grande parte dos esquemas de iluminação riam ser um valioso recurso visual em simples tornando-se obsoleto (em termos estéti-
fazia uso, propositalmente, de contra-luzes clichês. Cabe a um diretor de fotografia ou cos e de linguagem) antes mesmo que
“estourados”. Filtro cross foi um recurso lar- operador de câmera consciente evitar os sua função seja cumprida por completo.
gamente empregado em atrações de TV e exageros na utilização de enquadramentos, A verdade é que, quanto mais atem-
também tiveram seu tempo de glória. Hoje, estilos narrativos, texturas, composição e até poral for uma imagem, mais indicativos
composições com profundidade de campo equipamentos “da moda”. temos de que, de fato, é uma imagem
mínima e grandes áreas desfocadas na Evidentemente, tudo pode ser bem composta.
imagem (e a utilização de câmeras e lentes utilizado – e todas as manifestações Para finalizar: não confunda modismos
fotográficas) parecem estar em alta. artísticas e/ou tecnológicas são bem-vin- com estilo pessoal. É perfeitamente normal
Este é um fenômeno perfeitamente das. Mas fazê-lo simplesmente porque que um profissional imprima à imagem
compreensível. Afinal, se os estilos dos au- “todos estão fazendo” parece coisa de determinadas características que funcio-
diovisuais não evoluíssem, ainda estaríamos adolescente inseguro. Assim, antes de nam como uma espécie de “assinatura” do
produzindo filmes, comerciais e documentá- escolher determinado enquadramento, autor. Isto faz com que consigamos identifi-
rios nos moldes dos anos 1930. O problema composição, estilo ou equipamento, car seu trabalho pela “cara” e o estilo. Dife-
reside no exagero da utilização dessas certifique-se de que suas decisões rentemente dos modismos, o estilo pessoal
tendências. Eventualmente, a utilização de estão baseadas em aspectos técnicos deve ser cultivado e ajuda os profissionais
algo que está “na moda” parece ter mais e estéticos. E que estes contemplam o a se distinguirem no mercado de trabalho,
importância que o próprio conteúdo. O propósito da produção. Caso contrário, tornando possível a contratação de artistas
excesso e a repetição de fórmulas prontas seu produto audiovisual correrá o risco com as características adequadas para
acabam tornando as propostas que pode- de ter pouquíssimo tempo de “vida útil”, cada projeto.

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PECEPÇÃO VISUAL: MUITO


ALÉM DOS REFLETORES_PARTE 3
A forma como cada um de nós percebe as imagens, tanto quanto nossos valores culturais, pode
ser determinante para o êxito ou fracasso de um filme

A
forma como cada um de nós gens que “agradam” em qualquer cir- poluído poderá não ser interpretado
percebe as imagens, tanto cunstância, mas é preciso ter em mente da maneira como o criador da ima-
quanto nossos valores culturais, que para cada público-alvo existe uma gem havia previsto.
pode ser determinante para o abordagem adequada. Sabe aquela velha experiência de
êxito ou fracasso de um filme tentar encontrar formas nas nuvens?
Quando se trata de “percepção visual” SIMPLIFICAÇÃO VISUAL Pois é: esta é uma característica do
sabemos que há diversos fatores que tornam O cérebro humano, ao receber as cérebro humano. O padrão intrincado
uma imagem eficiente e que a bela foto- informações vindas dos olhos, tende com diversas texturas, volu mes, cores
grafia de um vídeo ou filme não depende a simplificar tais imagens e a torná-las e contrastes é melhor assimilado quan-
somente da luz (refletores e filtros), mas da elementos gráficos simples e de fácil do subdividido em elementos gráficos
perspicácia dos profissionais responsáveis compreensão. Sendo assim, um padrão simples e de fácil percepção. Desta
pelo projeto. É certo que existem ima- gráfico muito elaborado e visualmente forma, uma nuvem repleta de nuances

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de luminosidade, volumes, texturas e podem (e devem) ser utilizados na hora quadrado sobre um fundo branco e ele
formas abstratas será melhor compreen- de se compor uma imagem, seja para parecerá praticamente preto.
dida e admirada se nosso cérebro a trans- vídeo, cinema ou fotografia. Isto se deve ao fato de percebermos
formar em uma forma não abstrata e mais as coisas, não de forma isolada, mas em
comum, como, por exemplo, um carneiro RELATIVIDADE PERCEPTIVA conjunto com as que estão ao seu redor.
ou um coelho. O leitor já passou pela experiência de Portanto, é preciso harmonizar os elemen-
O mesmo raciocínio se aplica em pintar uma parede da sala ou do quarto tos que constituem a composição de
padrões visuais que sequer existem, e notar que a cor ficou muito escura, e uma imagem para que estes não sejam
como naqueles experimentos de que parecia ser mais clara no mostruário? percebidos de maneira equivocada pelo
ilusão óptica com sentido ambíguo, É bem verdade que os pigmentos podem espectador. Esta relatividade é válida não
nos quais a silhueta de um vaso pode se alterar por inúmeros motivos. Mas vamos somente para tonalidades, como para
ser interpretada, também, como dois imaginar a cor do catálogo exatamente cores, texturas, tamanhos, movimentos etc.
rostos, frente a frente. Ou ainda no igual à que você aplicou na parede. Bem,
imaginário desenho de um cubo, cujos muito provavelmente, no exemplo acima, IMAGENS DIFERENTES /
vértices são, na verdade, apenas as paredes em volta deveriam ser bastante DIFERENTES PÚBLICOS
bolas pretas com padrões de linhas claras, pois se você colocar uma tonali- O ser humano tende a não gostar de ima-
brancas, que não se tocam, mas nos dade clara ao lado de outra mais clara, gens que não compreende. Sendo assim,
causam a nítida sensação de continui- a primeira parecerá bastante escura. O quando uma determinada imagem é
dade visual. mesmo ocorre se pintarmos um quadrado mostrada para pessoas com vivências,
Na verdade, a percepção visual uti- cor de grafite sobre um fundo preto, pois crenças, hábitos, escolaridade e culturas
liza, basicamente, os mesmos princípios o quadrado parecerá ter uma tonalidade diferentes, esta passa a assumir significa-
da psicologia. E todos esses elementos mais clara que a real. Ponha este mesmo dos completamente diferenciados.

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52



Uma tomada
feita em uma
churrascaria
pode ser apetito-
sa para ocidentais
comuns, mas será um
insulto aos povos hindus
(ou aos vegetarianos). Da mesma for-
ma, culturas africanas tendem a gostar
de imagens com cores saturadas, en-
serão amaldiçoadas, se exibidas no Irã.
quanto os japoneses são muito preocu-
E imaginem se pudéssemos levar um Diferentes povos, de diferentes partes
pados com pequenos e sutis detalhes
grego do século II a uma exibição de do mundo e com diferentes formas de
visuais. Mostrar um trecho de Star Wars
Fúria de Titãs em 3D?! Certamente, ele pensar, compreenderão a imagem
para tribos amazônicas que nunca
acharia aquilo uma “obra dos deuses”! da mesma forma se esta estiver de
tiveram contato com o homem branco
Ou seja: para cada público-alvo acordo com este “visual universal”. O
poderá causar tamanha estranheza
existe uma abordagem adequada. julgamento pode mudar, podendo ser
que estes não compreenderão seu sig-
Evidentemente, as imagens que mais mais positivos em determinados locais
nificado. Imagens de um documentário
“fazem sucesso” são as que possuem e mais negativos em outros – mas a
sobre topless na praia de Copacabana
o que chamamos de “visual universal”. compreensão será a mesma.

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Por Ricardo Bruini Fotos Divulgação

PECEPÇÃO VISUAL: MUITO


ALÉM DOS REFLETORES_PARTE 4
Utilizadas corretamente, linhas e formas geométricas podem enfatizar a dramaticidade de uma cena

U
ma forma de conduzir o nossos olhos podem percorrer em calçadas, trilhos de trem ou qualquer
olhar do espectador para uma imagem, as linhas convergentes outro conjunto de linhas que formem
o elemento primordial da servem para valorizar a noção de pontos de fuga, de forma a realçar a
imagem é através da utiliza- profundidade, imprimindo perspectiva profundidade e a evidenciar a distân-
ção de linhas de perspectiva linear, as ao plano e, consequentemente, pro- cia entre os objetos.
quais podem ser retas ou curvilíneas. vocando a ilusão de terceira dimen- Mas é necessário cautela. Quando
Tais linhas podem ser explícitas ou são. Ou seja: se quisermos aumentar mal utilizadas, linhas de fuga aca-
assumir feições mais sutis. a ideia de amplidão do local, pode- bam tornando-se mais um problema
Além de induzirem o caminho que mos adicionar caminhos, paredes, do que uma solução, pois podem

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desviar nosso olhar para pontos da angulado, para que o espectador pos- sombras, textura mais acentuada e
imagem que talvez não sejam os que sa visualizar, ao mesmo tempo, de dois maior nitidez de detalhes. Inversa-
gostaríamos de enfatizar. Algumas ângulos ligeiramente distintos. mente, elementos distantes possuem
vezes, tais linhas podem, até mes- Da mesma forma, incluir objetos contraste menos evidente, textura ate-
mo, guiar nossos olhos para fora dos complementares a distâncias dife- nuada e pouca nitidez de detalhes.
limites de enquadramento. rentes auxilia na tarefa de enfatizar Este fenômeno é melhor obser-
o volume de uma imagem. Fundos vado em locais à beira-mar ou em
PERSPECTIVA distantes e objetos posicionados pró- grandes cidades poluídas, pois a
Além das linhas convergentes e dos ximos à objetiva aumentam a noção maior quantidade de partículas em
pontos de fuga, a simples angulação de profundidade. suspensão na atmosfera enfatiza
do objeto retratado pode fazer grande as diferenças entre objetos posi-
diferença na noção tridimencional da PERSPECTIVA TONAL cionados a distâncias diferentes.
imagem. Qualquer objeto (ou pessoa), A ilusão de profundidade pode ser Dias nublados e chuvosos também
quando retratado de maneira abso- conseguida não só pela perspectiva facilitam esta observação. Também
lutamente frontal ou lateral, tenderá linear, mas pela perspectiva tonal. Se as cores sofrem modificações, sendo
a ter um aspecto “chapado” na tela. observarmos atentamente, veremos mais nítidas quando os objetos estão
Para ressaltar o volume desse objeto é que elementos próximos tendem a próximos, e mais pálidas e cinzentas
importante posicioná-lo ligeiramente possuir maior contraste entre luzes e ao longe.

55



DISPOSIÇÃO ESTRUTURAL E olhar “passeando” por eles de forma de autoridade.
FORMAS GEOMÉTRICAS homogênea e contínua. São muitas as
A estrutura de uma imagem é consegui- possibilidades. Eis alguns exemplos: · Se distribuirmos os elementos da
da através da disposição, consciente e composição em forma do símbolo
previamente concebida, dos elementos · Se distribuirmos os elementos em forma infinito, a estrutura passa a ser sensual e
em formas geométricas. Essas estruturas circular, transmitimos a ideia de algo atrativa, caso possua ângulos suaves,
geométricas auxiliam na climatização, cíclico, que volta a ocorrer de tempos ou perturbadora, se suas curvas forem
na atmosfera e na intenção artística de em tempos. extremamente fechadas.
seu idealizador.
Os elementos principais da ima- · A estrutura quadrada ou retangular · Curvas ondulares em “S” provocam
gem podem ser distribuídos pelo passa a ideia de solidez e sobriedade, a sensação de calma, tranquilidade e
enquadramento de modo a formarem bastante sisuda e imóvel, porém for- conforto. São particularmente fáceis
um círculo, uma elipse, um triângulo, te, como se tivesse alicerces sólidos. de serem conseguidas em tomadas de
linhas sinuosas ou mantendo nosso Normalmente é associada a figuras paisagens naturais.

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· Também existe a possibilidade de extremamente instável, como se algo pontos de fuga, garante ao diretor de
utilizar formas triangulares, colocando- fosse acontecer a qualquer momento, fotografia ou operador de câmera um
se elementos chave em cada um dos passando uma ideia de perigo. amplo leque de possibilidades para
três vértices. Esta disposição transmite que sua mensagem seja compreendi-
estabilidade e dinamismo quando COMBINAÇÕES da da maneira adequada pelo espec-
estiver com sua base apoiada na Todas essas estruturas geométricas tador, mesmo que esta compreensão
base da imagem, dando sensação para distribuição dos elementos da seja inconsciente.
de ascendência ou espiritualidade. composição podem ser usadas isola- Afinal, os grandes mestres da pintura
Porém, quando a ponta superior é damente, ou em conjunto. Cada uma já sabiam e utilizavam de forma perfeita
apoiada na parte inferior da imagem, destas combinações transmitirá uma todos esses fundamentos. E muito daquilo
parece ser negativo, descendente, sensação diferente ao espectador. que foi utilizado pelos mestres da pintura
diabólico. Ao apoiarmos em uma Isto, aliado à utilização das perspec- pode ser aproveitado quando o assunto é
de suas pontas laterais, torna-se tivas linear e tonal, bem como aos composição de imagem para vídeo.

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Por Eduardo Torelli Fotos Ique Esteves e Divulgação

“SER FOTÓGRAFO É
UM SACERDÓCIO”
Veterano da direção de fotografia no Brasil, Nonato Estrela (de Chico Xavier,
Se Eu Fosse Você 2 e Divã) também é um eterno apaixonado pelo que faz
nos sets de filmagem e à versatilidade

E
ntender o cinema bra- marca em filmes da retomada e no
dos projetos que abraçou no passado.
sileiro em sua íntegra é cinema brasileiro dos anos 80; e que,
Nesta entrevista a Zoom Magazine,
para poucos. Afinal, nossa antes disso, dividiu o set com monstros
Nonato falou sobre sua carreira vito-
cinematografia é composta sagrados da realização, como o mítico
riosa e sobre a realidade, no Brasil, de
de “períodos” que praticamente não Nelson Pereira dos Santos.
uma das mais importantes profissões
conversam entre si. A única forma de Um dos grandes trabalhos de Nona-
do segmento audiovisual.
captar integralmente sua essência é to foi Chico Xavier, que ele fotografou
ter passado por todos esses períodos – com esmero para o diretor Daniel Filho. VOCÊ COMEÇOU A ATUAR COMO DIRE-
ou, então, ter trabalhado com cineas- Não resta dúvida que a “verve” cinema- TOR DE FOTOGRAFIA EM 1985. MAS ANTES
tas que os representassem muito bem. tográfica daquela produção derivava, DISSO JÁ HAVIA TRABALHADO COM ÍCO-
Assim é Nonato Estrela – um diretor de principalmente, de seu olhar clínico, NES COMO NELSON PEREIRA DOS SANTOS.
fotografia talentoso que deixou sua assim como de sua ampla experiência ISTO LHE DÁ UMA VISÃO “PANORÂMICA”

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DOS VÁRIOS CICLOS QUE FORMAM O eles estão trabalhando sempre – sem eles, os que não são novos, eu gostaria
NOSSO CINEMA – DA ABORDAGEM MAIS as câmeras não rodam... Faço televisão e de trabalhar. Aqueles com quem já
AUTORAL DOS ANOS 60 À PRODUÇÃO publicidade – e adoro fazer! Vou mistu- trabalhei, gostaria de manter – pois
EMPRESARIAL DA ATUALIDADE. A RETO- rando experiências. Isso faz com que nos cinema é uma arte coletiva e, se você
MADA É MESMO O PERÍODO MAIS FÉRTIL tornemos profissionais melhores... Quanto já estabeleceu parcerias, deve aprofun-
DE NOSSA CINEMATOGRAFIA? às políticas, sei que são importantes, estou dar sonhos e conquistas. Não gostaria
de olho, é claro. Afinal, estou no meio do de citar nomes, vai que eu esqueço
Não posso reclamar nem de uma fase, furacão. A própria política de realização alguém... Fica muito chato. Cinema é
nem de outra. Tenho trabalhado bem. exige que eu fique pronto para rodar. Ser ideia – e as ideias não envelhecem jamais.
Acho que sou um fotógrafo que sabe se fotógrafo é um sacerdócio. Deve-se ter
estabelecer dentro do projeto em que está dedicação, estudar sempre, estar sempre POR CONTA DA RETOMADA (E DE ÊXITOS
envolvido. Sei perceber onde estou, se é pronto, demandar o seu tempo a isto... COMO TROPA DE ELITE E MEU NOME
um projeto comercial ou autoral. Deve-se NÃO É JOHNNY) HÁ MAIS PROCURA POR
ter um filtro ajustado para perceber onde COM QUE DIRETORES DA “NOVA SAFRA” CURSOS E ESCOLAS DE CINEMA, HOJE,
você está. Vou navegando. A Retomada, VOCÊ GOSTARIA DE TRABALHAR? HÁ, EN- DO QUE HÁ 20 ANOS. NA QUALIDADE
sem dúvida, é um período fértil do cinema TRE ELES, NOMES QUE MEREÇAM FIGURAR DE ALGUÉM COM BASTANTE CONHECI-
brasileiro. Fiz filmes de grandes bilheterias, ENTRE OS DOS GRANDES REALIZADORES MENTO PRÁTICO: O BRASIL JÁ DISPÕE DE
como Se Eu Fosse Você 2 e Divã, e me COM QUEM VOCÊ COLABOROU NO CURSOS CAPACITADOS A FORMAR BONS
orgulho muito de tê-los feito. Depois, não PASSADO? DIRETORES DE FOTOGRAFIA? OU ISSO SE
tenho essa idade toda para medir e di- APRENDE “NA MARRA”, NO SET?
mensionar isso com clareza – falo das fases, Grandes diretores apareceram. Gostaria
claro! Os fotógrafos sentem os ciclos, mas de trabalhar com vários, mesmo com Acho as escolas superimportante para

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darem uma base e, principalmente, GRAFIA DEVE TER PARA PROSPERAR NA O DIRETOR DE FOTOGRAFIA, EM MUITOS
cultura cinematográfica ao aluno. O PROFISSÃO? ASPECTOS, É TÃO RESPONSÁVEL QUANTO
cara já chega ao set com paixão. O DIRETOR PELO RESULTADO ESTÉTICO DE
Agora, prática é tudo. É errando que Qualidade própria é importante, além UMA PRODUÇÃO. E, POR ISSO, PODEM
se vai corrigindo e consertando (e de análise, técnica de iluminação, SURGIR “CHOQUES” DE IDEIAS ENTRE OS
tirando conclusões a partir disso). A muita noção de câmera, lentes, movi- DOIS PROFISSIONAIS. VOCÊ JÁ ENFREN-
velocidade é importante hoje em dia mentos... A escola ensina a diferença TOU ESSE TIPO DE SITUAÇÃO? COMO
– só a experiência deixará você veloz. entre o Expressionismo no cinema LIDAR COM O EGO INFLADO DE UM DIRE-
Acho muito importante as escolas, alemão e a comédia rasgada ame- TOR INSEGURO?
mas não só as escolas. O buraco é ricana, por exemplo. Agora, técnica
mais embaixo. de iluminação só se aprende no set, Tive pouco esse problema. No início,
apanhando... Vá com calma que quando era muito inexperiente, ficava
QUE ATRIBUTOS UM DIRETOR DE FOTO- você chega lá. zangado com isso. Hoje, tiro de letra.

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No fundo você tem que entender que, Tanko – depois trabalhei nos filmes FEZ EM TERMOS ESTÉTICOS E CRIATIVOS?
no Brasil, o diretor é o idealizador do produzido por Cacá Diniz, que seguiram E O QUE MENOS O AGRADOU (SE, CLA-
projeto. Geralmente também é o pro- a mesma linha de produção do Tanko RO, VOCÊ QUISER DIVIDIR ESTA INFOR-
dutor. O cara foi à luta para arranjar e foram realizados por José Alvarenga. MAÇÃO CONOSCO)?
dinheiro, sofreu para botar a mão na Considero o Alvarenga um eterno dire-
grana. Ao contrário, nós, fotógrafos, tor “novo”, com idéias novas sempre. Gosto de todos os meus projetos, uns mais,
estamos sempre no set. Filmamos qua- Um cara que ama o que faz e que outros menos. Alguns eu faria diferente
se todo dia. O diretor de cinema, às desenvolve um trabalho maravilhoso na – mas é assim mesmo: a estética cinema-
vezes, fica sem filmar por muito tempo. TV Globo. Fizemos Divã recentemente. tográfica vai mudando e você tem que
O que precisamos ter é um pouco de Desde aquela época mantivemos essa acompanhar. Não posso esquecer de dizer
“paciência com a falta de experiên- parceria – é disso que falo quando me que aprendi muito quando fui assistente de
cia” – muita calma! Você está ali para refiro a parceria... Ter participado desse fotógrafos sensacionais, como Edgar Moura,
ajudar e contribuir. longas foi muito bom, principalmente, Dib Luft e o grande e inesquecível Hélio
naquele momento de formação em Silva. Hélio fazia dupla com Nelson Pereira
VOCÊ TRABALHOU EM ALGUNS FILMES que eu me encontrava... Câmera e ne- dos Santos, onde tudo começou em minha
DOS TRAPALHÕES NA FASE EM QUE ERAM gativo estavam ali, para experimentar. vida. A fotografia do cinema brasileiro
PRODUZIDOS POR J. B. TANKO. TEM SAU- Eu e José Alvarenga botamos a mão na sempre foi muito bem feita por esses caras
DADE DAQUELE PERÍODO? massa e nos divertimos. e por outros fotógrafos com grande apuro.
Fico honrado por estar, agora, contribuindo
Fiz apenas um filme dirigido por J.B. QUAL FOI O PROJETO QUE MAIS O SATIS- modestamente com minha fotografia.

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Animação
Por Diego Melem Gozze Fotos Divulgação

O CINEMA
SEGUIDO EISENSTEIN
Os ensaios de Sergei Eisenstein são tão importantes quanto seus filmes para
a história e a teoria do cinema
ara Sergei Eisenstein, um dos linguagem cinematográfica já existiam 16). Este artigo apresentará, portanto,

P mais importantes cineastas da


primeira metade do século XX
e um dos principais teóricos
da história do cinema mundial, todos
os processos e procedimentos da
antes, nas demais formas de arte.
Segundo o realizador, o específico do
cinema “reside não no processo em si, mas
no grau em que estes aspectos (das outras
artes) são intensificados” (“Eisenstein”, 2002:
a partir da concepção de específico
cinematográfico de Eisenstein, um
panorama geral de sua reflexão sobre
o lugar das outras artes na linguagem
propriamente cinematográfica.

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INTRODUÇÃO direção no Teatro Operário do Proletkult Muito além dos diversos filmes de
Antes de iniciar o assunto propriamente e passou a questionar os paradigmas vanguarda realizados por ele entre as
dito – e para um mínimo de contexto vigentes e a experimentar suas próprias décadas de 1920 e 1940, através dos
necessário sobre o protagonista do ideias e concepções. quais se tornou um dos maiores expo-
tema aqui abordado –, segue uma Em 1923 publicou seu primeiro artigo: entes da história do cinema em função
breve biografia de Sergei Mikhailovitch “A Montagem de Atrações”, na LEF, de sua significativa contribuição para
Eisenstein. Ele nasceu a 23 de janeiro revista de arte de vanguarda russa, com o desenvolvimento e a expansão das
de 1898, em Riga, capital da Letônia; tendência construtivista, fundada por possibilidades da linguagem cine-
a partir de 1905, passou a viver em São Osip Brik e Vladimir Maiakovski; em 1924, matográfica, Eisenstein produziu, em
Petersburgo, onde estudou arquitetura vislumbrando uma maior potencialida- paralelo, uma vigorosa obra teórica e
e engenharia; mudou-se para Moscou de expressiva na arte cinematográfica, reflexiva sobre os processos e procedi-
em 1920 e, lá, começou a carreira no migrou definitivamente para o cinema, mentos dessa forma de arte.
teatro; após ser aluno e assistente de realizando o seu primeiro filme, A Greve, Apesar de ser mais conhecido como
Vsevolod Meyerhold, um dos principais estopim de uma carreira vigorosa e pro- o grande teórico da montagem cinema-
diretores e teóricos do teatro da pri- missora que terminaria apenas com sua tográfica, assunto sobre o qual discor-
meira metade do século XX, assumiu a morte, em 1948. reu exaustivamente, foi, também, um

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Animação

“ Alexander
Eisenstein,é Nevsky, dirigido por
história de
liderou o e
um filme q
sse princip
xerc
ue retrata
e que, em
vasão dos ito russo contra a in-
Cavaleiros
teutônicos
a
1242,

grande entusiasta, pesquisador e teórico uma arte de síntese orgânica em sua simplesmente no resultado da soma,
das relações de proximidade entre os própria essência, não um ‘concerto’ de mas na nova qualidade adquirida com
processos e os procedimentos artísticos artes coexistentes” (Eisenstein, 2002:174). tal combinação. E aí está exatamente o
do cinema com os das artes em geral. Para Eisenstein, portanto, o cinema, conceito de um dos assuntos mais explo-
Agora, no que diz respeito ao assunto apesar de toda a influência e participa- rados por ele, o da montagem intelec-
principal deste artigo, Eisenstein escreveu ção das ferramentas e características tual. Para Eisenstein, “a cinematografia
que “o cinema como um todo compre- das outras artes, não é simplesmente (escrita do cinema) é, em primeiro lugar
ende uma síntese de todas as formas a soma de seus elementos, mas uma e antes de tudo, montagem” (“Eisens-
artísticas” (“Eisenstein”, 2002: 174). Como, combinação, “uma cópula” entre eles, tein”, 2002: 35). Mas ele não se refere à
então, se consolida a especificidade do que cria “um valor de outra dimensão, montagem como a simples junção ou
cinema diante de sua relação intrínseca outro grau”; ou seja, uma combinação ligação de fragmentos, e sim, como uma
com os processos e os procedimentos potencializadora que produz um novo colisão entre eles, já que, segundo sua
das artes em geral? Em primeiro lugar, conceito específico. teoria, “da colisão de dois fatores deter-
para que se possa compreender melhor minados, nasce um conceito” (“Eisens-
o raciocínio de Eisenstein sobre este A MONTAGEM INTELECTUAL COMO tein”, 2002:42).
tema, é importante nos aprofundarmos ESPECÍFICO CINEMATOGRÁFICO Eis o motivo do termo composto
em sua noção de específico cinemato- Como antecipamos acima, o específi- “montagem intelectual”: “a simples
gráfico, assunto que será tratado no tópi- co cinematográfico, para Eisenstein, se combinação de dois ou três detalhes de
co seguinte. Antes, um dado preliminar: encontra justamente na síntese pro- um tipo de material cria uma representa-
“(No cinema) pela primeira vez alcança- duzida pela fusão entre os diferentes ção perfeitamente terminada de outro
mos uma arte genuinamente sintética, aspectos das demais artes, ou seja: não tipo – psicológico” (“Eisenstein”, 2002:

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38). Ou seja: para Eisenstein, a monta- boca e um pássaro, “cantar”; uma segundo ele próprio, um conflito. E,
gem intelectual consiste em, por meio faca e um coração, “tristeza”; e assim como qualquer conflito é um elemen-
do choque ou do conflito entre duas por diante. Mas isto é... montagem! to essencialmente potencializador. A
imagens, criar uma terceira imagem Sim. É exatamente o que fazemos no montagem também é uma grande
não na tela, mas na cabeça – ou no cinema, combinando planos que são ferramenta potencializadora.
plano intelectual do espectador. Em seu “descritivos”, isolados em significado, Aqui, é possível amarrar os fios deste
artigo “O Princípio Cinematográfico e o neutros em conteúdo, em contextos e tópico e voltar à questão da montagem
Ideograma”, publicado pela primeira vez séries “intelectuais”. intelectual como o específico cinemato-
em 1930, Eisenstein extrai do que chama Este é um meio e um método gráfico de Eisenstein: sua concepção de
de “escrita figurativa do ideograma” inevitável em qualquer exposição cinema como síntese potencializadora
a explicação para o seu conceito de cinematográfica. E, em uma forma das demais artes está justamente ligada
montagem intelectual. Diz ele que, no condensada e purificada, o ponto de ao seu conceito de montagem intelectu-
ideograma, pela combinação de duas partida do “cinema intelectual”. De um al, inclusive do ponto de vista do conflito
“descrições” é obtida a representação cinema que procura um laconismo má- potencializador: o plano é muito menos
de algo graficamente indescritível. ximo para a representação visual de elaborável de modo independente do
Por exemplo: a imagem para água conceitos abstratos (“Eisenstein”, 2002: que a palavra ou o som. Assim, o traba-
e a imagem para um olho significa 36). Ainda com relação ao conceito de lho mútuo do plano e da montagem é,
“chorar”; a figura de uma orelha perto montagem intelectual de Eisenstein, há na realidade, uma ampliação de um
do desenho de uma porta, “ouvir”; um outro termo utilizado por ele que não processo microscopicamente inerente
cachorro e uma boca, “latir”; uma pode passar despercebido: “colisão”. a todas as artes. Porém, no cinema,
boca e uma criança, “gritar”; uma A colisão cria um choque e, portanto, este processo é elevado a tal grau que

65



Animação

parece adquirir uma nova qualidade que fazem com que ele adquira uma aos processos e procedimentos artísticos,
(“Eisenstein”, 2002: 16). Estabelecido, nova qualidade e, portanto, uma espe- segundo Eisenstein, suas ferramentas con-
portanto, o critério de individuação do cificidade, ainda assim não descarta ceituais já existiam, antes, nas demais artes.
cinema para Eisenstein, sigamos para o a importância e a presença essencial
aprofundamento, ainda com base em delas em sua criação: “(...) o cinema é CONCLUSÃO
sua teoria, das especificidades de sua um passo à frente de todos os campos Diante do assunto abordado neste artigo,
relação com as artes em geral. relacionados, enquanto permanece um ou seja, a relação que o cineasta e
contemporâneo do teatro, pintura, es- teórico russo Sergei Eisenstein estabeleceu
AS ARTES EM GERAL NO ESPECÍFICO cultura e música” (Eisenstein, 1939:172). entre as artes em geral e o cinema, é
CINEMATOGRÁFICO DE EISENSTEIN Ou seja: enquanto as demais artes lhe possível concluir que, para ele, a cinema-
Pois bem: qual é, então, o lugar das artes servem como ferramentas construtivas, tografia (escrita do cinema) descende,
em geral no específico cinematográfico de o cinema as serve como ferramenta de fato, menos das propriedades das
Eisenstein? Agora, é possível propor, portan- agregadora e suplementar. invenções tecnológicas do final do século
to, que, segundo a sua teoria, os processos Portanto, para Eisenstein, a especifici- XIX que dos aspectos das demais artes
e os procedimentos das artes em geral, dade do cinema está justamente no fato que o antecederam.
assim como suas ferramentas técnicas, pos- de ser um grande conjugador de todos Deixemos Dickens e toda a plêiade de
suem uma posição estritamente instrumen- os aspectos das outras artes, enquan- antepassados, que remontam, inclusive,
tal na criação cinematográfica. Por isso, a to as outras artes compreendem o seu aos gregos e a Shakespeare, lembrarem-no
relação intrínseca estabelecida entre eles. instrumental. Ao mesmo tempo em que a uma vez mais que ambos, Griffith e nosso ci-
O cinema potencializa os procedimentos concretização e a realização cinemato- nema, provam que nossas origens não são
das outras artes na medida em que depen- gráficas propriamente ditas só se tornaram apenas as de Edison e seus companheiros
de deles para se constituir. possíveis a partir dos experimentos cientí- inventores, mas se baseiam em um enorme
Este é o lugar das outras artes no ficos e dos desenvolvimentos tecnológi- passado cultural; cada parte deste passa-
cinema, o de instrumento fundamen- cos que culminaram no surgimento dos do em seu momento na história mundial
tal para a sua execução. Apesar de dispositivos específicos de captação e impulsionou a grande arte da cinematogra-
considerar que, no cinema, os processos reprodução das imagens em movimento, fia (“Eisenstein”, 2002: 203).
das outras artes são elevados a um grau como a câmera e o projetor, com relação No desenvolvimento de sua teoria,

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Eisenstein também sustenta que, ainda que cinema em detrimento das demais formas fenômeno literário sem precedentes –
se alimente exclusivamente das demais de arte: Eisenstein, em momento algum, a composição cinematográfica, que
artes, o cinema tem sua especificidade na subestima os processos e os procedimentos inclui, em si, uma tal síntese de formas
maneira de conjugá-las e operá-las em delas e, ao contrário, são abundantes em literárias, assim como o cinema como
direção a um novo patamar, a um grau sua teoria as referências e os elogios aos um todo compreende uma síntese de
maior de potencialidade. Vamos analisar, diversos aspectos processuais da poesia, todas as formas artísticas (“Eisenstein”,
desta vez, o elemento mais teatral da da pintura, da música etc. 2002:173/174).
dramaturgia: o ator. O cinema não fez Citando, inclusive, artistas e trabalhos Também é importante ressaltar
exigências que superam em refinamento de diversas outras áreas que não o cinema, que, como artista e cineasta de van-
tudo o que o ator precisa para sobreviver como El Greco, James Joyce, Alexander guarda, Eisenstein tinha plena consci-
no palco? Vejamos o trabalho no cinema, Scriabin e vários outros, dedica-se exausti- ência da importância do estudo minu-
mesmo dos melhores atores, especialmente vamente a tratar os aspectos conceituais cioso das estruturas das artes em geral
em seus primeiros passos nessa mídia. Não das outras artes como ferramentas indis- para o desenvolvimento do cinema,
é fato que o que parecia o auge da ver- pensáveis para a produção da obra cine- assim como o estudo do cinema para
dade e da fidelidade emocionais no palco matográfica. Um ator que não dominou a compreensão dos métodos das artes
aparece gritante na tela, como caretas todo o arsenal da arte teatral nunca será em geral. Tendo à nossa disposição
epilépticas, ou o tipo mais inacreditável de capaz de desenvolver plenamente suas um palco tão perfeito de desenvolvi-
atuação exagerada? potencialidades cinematográficas. mento de todas as artes, fundidas em
Como podemos ver, os índices são Apenas depois de dominar toda uma – na cinematografia –, já pode-
os mesmos, mas as exigências cresceram a cultura das artes gráficas pode mos fazer infinitas deduções sobre
enormemente; e um enriquecimento retros- um camera-man realizar a base da a mesma, assim como sobre todo o
pectivo de estágios anteriores de desenvol- composição do plano. E apenas tendo sistema e método artístico, exaustivo
vimento, verificando-se ao mesmo tempo, como base toda a experiência da dra- para todas as artes, porém, peculiar e
é óbvio e inegável (“Eisenstein”, 2002: 173). maturgia, epopeia e lirismo, pode um individual para cada uma.
Entretanto, não se trata de superestimar o escritor criar uma obra acabada nesse Finalmente, temos em nossas mãos um
meio de aprender as leis fundamentais da
arte – leis que, até agora, eram como uma
colcha de retalhos: um pouco da expe-
riência da pintura, um pouco da prática
do teatro, algo da teoria musical. Assim, o
método do cinema, quando totalmente
compreendido, nos capacitará a revelar
uma compreensão do método da arte
em geral (Eisenstein, 1939:174). Concluin-
do: vale dizer que o trabalho de Eisenstein
como cineasta é tão importante quanto o
seu trabalho como teórico, para o cinema
e para as artes em geral.

Diego Melem Gozze mestrando em


Artes Visuais do IA-UNESP, especia-
lista em Artes Visuais pelo SENAC/RJ
(2012) e Bacharel em Cinema pela
FAAP (2003). Atualmente é professor
de Direção e Roteiro de Cinema na
Faculdade Melies de Tecnologia.

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Broadcast
Por Fernando Vitolo Fotos Divulgação

FORÇA AUXILIAR
Testamos o gravador de áudio Tascam DR-701D, uma boa pedida para
filmmakers que trabalham com equipes reduzidas

DR-701D, da Tascam, é um microfones. E, se as seis pistas não fo-

O
seu tripé de vídeo e a câmera DSLR
gravador de áudio perfeito em cima do gravador (conforme ilus- rem suficientes para o job, você pode
para o produtor de vídeo que tra a i magem). utilizar o HDMI para conectar outro
trabalha com equipes reduzi- O DR-701D foi projetado para as DR-701D e fazer toda monitoração por
das. O equipamento possui um Time- necessidades de cineastas profissio- um único fone de ouvido.
code inteligente e a entrada e saída nais, produtores de TV, publicitários
HDMI permitem que uma câmera DSLR e documentáristas. É um gravador PHANTOM
comece a gravar em ambos os dis- multipista de alta qualidade, em um POWER
positivos. Ou seja: clicando no botão pacote compacto o suficiente para Também é
REC da câmera, a gravação de áudio ser utilizado com qualquer câmera. possível ativar
é iniciada (diferentemente dos demais o Phantom
gravadores disponíveis, nos quais GRAVAÇÃO DE SEIS TRACKS (PISTAS) Power (24/48v)
você precisar soltar o REC da câmera Utilizando um mixer interno, é possí- para alimen-
e do gravador). Isso facilita muito o vel gravar em um total de seis pistas tação de
trabalho do operador. – quatro microfones que podem ser microfones
O gravador possui quatro entradas ligados por P-10 ou XLR e mais o micro- condensa-
XLR, nas quais você pode conectar fone interno (L+R) simultaneamente. dores, como
quatro microfones simultaneamente e Fora os ajustes de pan e levels, o mixer os direcio-
mixar em uma faixa estéreo. É possível inclui uma funcionalidade de delay nais shotgun
colocar o gravador diretamente em que compensa as distâncias ente os (boom).

68



TELA LCD
A luminosidade da tela é
excelente para ambientes
externos, garantindo a
visibilidade requerida
pela operação. Apenas
o menu deixa um pouco
a desejar, no caso de
uma operação veloz:
há 18 páginas de menu
para configuração.

FORMATOS
16/24-bit, 44.1/48/96/192kHz (WAV/ O peso aproximado é de 654g (já pack de bateria específico para isso
BWF) (192kHz disponível apenas para considerando as pilhas). (BP-6AA). Mas, se preferir, você pode
gravação de duas pistas) utilizar aqueles power packs para
CARTÕES celulares e tablets: eles também fun-
PROTEÇÃO SD/SDHC/SDXC cionam muito bem.
A carcaça do Tascam DR-701D, toda
em liga de magnésio, dá um ar luxuoso CONECTORES NEUTRIK CÂMERAS TESTADAS COM O
ao equipamento, aproximando-o ainda Os conectores utilizados no gravador TASCAM DR-701D
mais dos produtos profissionais de alta são da Neutrik, muito respeitados na A própria Tascam realizou diversos testes
-performance (além de torná-lo muito indústria profissional de áudio. com câmeras para checar o desempe-
resistente aos desgastes do dia-a-dia). nho do gravador. No site da empresa,
ALIMENTAÇÃO DE ENERGIA você pode conferir as avaliações dos
DIMENSÕES E PESO Além de funcionar com quatro pilhas testes. Da Nikon, fizeram testes com os
O aparelho é compacto e leve. Suas AA, o dispositivo possui uma entra- modelos D5, D500, D4S, D810 e D750; da
medidas são: 17cm de largura, 6cm da USB que pode ser utilizada para Canon, com a 5D Mark III, 5D Mark II e
de altura e 11,5cm de profundidade. alimentação de energia. Inclusive, a EOS C100. Da Sony, com a PXW-FS5,
a Tascam possui um NEX-FS700, NEX-FS100, A7S II, A7R II, A7S,
A7 II, A9 e DSC-RX10M2. Da Panasonic,

69



Broadcast

com a DMC-GH4 e HC-X100. E da JVC, qualidade de áudio, o equipamen- te na imagem e no áudio, por meio
com a GY-LS300. to ainda oferece uma boa relação do cabo HDMI.
custo-benefício. O fato de possuir É isso! Em breve, retornaremos com
PRÉ-AMPLIFICADOR SILENCIOSO quatro entradas XLR torna o produto mais reviews de equipamentos de áudio
Fizemos um teste do nível de ruído do mais eclético do que outros grava- aqui na Zoom Magazine. Até lá!
equipamento. Na linha de gravadores de dores e a conveniência de colocá-lo
áudio voltados aos profissionais de vídeo, o no tripé, junto com a câmera, facilita
DR-701D se mostrou um dos modelos mais o trabalho do operador, que obtém Tascam DR-701D
silenciosos até o momento. um monitoramento de áudio e Fornecido pela loja New Service
imagem no mesmo campo de visão. www.newservicevc.com.br
CONCLUSÃO Outro destaque é a comodidade de Preço sugerido:
Resistente, versátil e com excelente poder acionar o REC simultaneamen- R$ 2.206,60 (New Service)

70



Entrevista
Por Eduardo Torelli Fotos Divulgação

DIVERSIDADE E QUALIDADE
Com 20 anos de atuação, produtora Giros coleciona acertos nos mais variados
gêneros, incluindo o documentário e a animação

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om nove filmes, 37 séries e de- etapa renovando o seu compromisso de DE ATIVIDADES. SOB A ÓPTICA DE VOCÊS,

C zenas de prêmios no currículo,


a produtora Giros completou
20 anos em 2017. É uma traje-
tória marcada pelo sucesso, a experimen-
tação e o ecletismo, já que a empresa
apostar em projetos tão diversificados
quanto relevantes. Saiba mais nessa entre-
vista com Belisario Franca (sócio-fundador
e diretor geral), Maria Carneiro da Cunha
(diretora executiva) e Bianca Lenti (diretora
O SETOR DE PRODUÇÃO NACIONAL EVO-
LUIU AO LONGO DESSE PERÍODO? COMO
VOCÊS COMPARAM O MOMENTO ATUAL
COM A ÉPOCA EM QUE COMEÇARAM?

deixou sua marca em nichos tão diferentes de criação). MARIA CARNEIRO: Em 1997, quando a
quanto o cinema e a TV, ou a ficção e o empresa foi criada, os canais a cabo
documentário. A empresa inicia essa nova VOCÊS ESTÃO COMEMORANDO 20 ANOS ainda estavam começando a surgir.

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Entrevista

Durante muitos anos, a Giros tinha ACHAM QUE A INTERNET, A TV A CABO E COMO SURGEM AS IDEIAS PARA NO-
apenas dois ou três clientes ao ano, O STREAMING AJUDARAM A POPULARIZAR VOS PROJETOS NA GIROS? SEMPRE SÃO
ainda que tivesse vários projetos com MAIS O GÊNERO EM TEMPOS RECENTES? PROPOSTAS AUTORAIS? OU, ÀS VEZES,
cada um. A criação da Ancine e da VOCÊS DECIDEM PRODUZIR ALGO COM
BRAVI (ou ABPITV, como era chamada BELISARIO FRANCA: Sem dúvida, o do- BASE EM ALGUMA DEMANDA ATUAL
na época) foram marcos importantes cumentário acha um terreno árido nas DITADA PELO PÚBLICO OU PELOS PRÓ-
para o crescimento do setor. Nos anos salas de cinema, ainda hoje. Mas até PRIOS CANAIS DE TV?
subsequentes, ainda tivemos a criação isso tem mudado quando o projeto é
dos artigos 1A e 3A, que também pensado também para outras plata- BIANCA LENTI: Acontece de tudo um
deram mais uma força ao nosso mer- formas. No documentário Menino 23, pouco! Muitas de nossas ideias vêm
cado. Mas, com certeza, a lei 12.485 nós tivemos um ótimo retorno nas salas das vivências e interesses da nossa
foi o momento em que, de fato, a de cinema. Mas isso só foi possível por equipe de criação ou sócios. Mas toda
demanda por produção independen- termos feito um extenso trabalho de semana nós debatemos as editorias dos
te cresceu e em que pudemos ter um engajamento, antes, na internet e no canais e tentamos pensar em projetos que
portfólio mais variado, já que os canais streaming. A audiência brasileira se façam sentido para os nossos clientes
começaram a comprar ficção. interessa cada vez mais pelo gênero e atuais e futuros. Também acontece de
consome cada vez mais documentá- algumas ideias surgirem quando nos
HOUVE UM TEMPO EM QUE O DOCUMEN- rios estrangeiros graças aos serviços de encontramos com nossos parceiros
TÁRIO TINHA UM PÚBLICO MUITO RESTRITO streaming e às divulgações via redes de canais. Daí, voltamos à produ-
NO BRASIL, ATÉ PELAS POUCAS JANELAS sociais. Este é um público em formação, tora e transformamos o conceito
DE EXIBIÇÃO DISPONÍVEIS PARA PRO- mas cada vez mais exigente, e precisa- em uma proposta. Outra situação
DUÇÕES COM ESSE FORMATO. VOCÊS mos acompanhar essas expectativas. comum é sermos procurados por

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talents (atores ou apresentadores) ou torno de três kits de externa completos B.L.: Sim, nosso núcleo começou a fun-
autores (de livros ou de roteiros) e, com câmera, assessórios de câmera, cionar em 2009, quando optamos por
a partir de uma conversa, criarmos equipamento de áudio e luz. Também manter criadores fixos na produtora.
juntos projetos para o mercado. As contamos com três ilhas de edição que A demanda por conteúdo aumenta
ideias nascem de todas as formas, funcionam quase sempre em sua lotação exponencialmente neste momento e
mas sempre encontram, dentro da máxima e uma ilha que faz a finalização entendemos que as produtoras que
produtora, uma equipe pronta para de nossos produtos. Já que nossos tivessem portfólios mais consistentes
debater, elaborar, legitimar ou sim- projetos são muito variados, preferimos e variados se destacariam no merca-
plesmente descartar, se entender que locar o material mais específico de acordo do. Começamos pequenos, com três
aquilo não faz sentido. Só as histó- com a necessidade do projeto. De acordo pessoas, e então evoluímos para um
rias mais fortes sobrevivem. com o tamanho dos projetos, contratamos quadro de nove. Em geral, os roteiris-
nossas equipes e locamos espaços tas entram aqui na área de pesquisa
ONDE FICA A SEDE DA PRODUTORA? E proporcionais ao tamanho das produções. e desenvolvimento, entendem nosso
QUAL É A ATUAL INFRAESTRUTURA TÉC- Acabamos de produzir um drama político modo de operação e, na sequência,
NICA DE VOCÊS? para a TV, por exemplo, e 50 pessoas dependendo das demandas da pro-
participaram da equipe ao longo de dutora e de suas aspirações profissio-
M.C.: Ficamos no Largo do Macha- três meses de trabalho. nais, são alocados em salas de roteiro
do, mas não somos uma produtora dos projetos de dramaturgia, assinam
essencialmente de infraestrutura VOCÊS MANTÉM UM NÚCLEO CRIATIVO os argumentos dos projetos factuais /
técnica. Nosso maior investimento, hoje, NA PRODUTORA, QUE FOI IMPLEMEN- documentais em produção ou ainda
é em material humano, principalmente TADO EM 2009. NA PRÁTICA, COMO assumem a coordenação de um gru-
na área de criação. Mas temos em FUNCIONA ESSE NÚCLEO? po de projetos. Tudo é possível. Nosso

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Entrevista

cabeça e acaba pirando mente. Juntos, eles conseguem resol-


em várias coisas que acha ver os problemas das plantas e dos
que deveriam ser produ- bichos de uma floresta encantada e,
zidas para os pequenos. assim, mantê-la em equilíbrio. É uma
Daí nasceu o Queimamufa fábula sobre respeito à diversidade
e tantos outros projetos e à natureza feita para crianças em
infantis que já desenvol- idade pré-escolar, ou seja, de 2 a 5
vemos aqui. Só que esse anos. Acreditamos muito na máxima
universo é muito lúdico, de que o audiovisual educa, forma e
muito aventureiro, e há transforma. Logo, não conseguimos
coisas que só convencem separar uma coisa da outra. Tem um
na animação, que nos dá monte de lacuna de valores por aí:
interesse é incentivá-los como autores liberdade absoluta para pirar. Isso na família, na escola e na sociedade
e vê-los evoluindo profissionalmente e nos levou a investir em narrativas em geral. E as crianças são “espon-
entendendo cada vez mais o merca- para animação. É claro que o desejo jas” de tudo isso. Nossa meta é usar
do, enquanto pensamos em projetos de criar personagens ricos, capazes a animação e o live-action infantil
factíveis, relevantes e adequados para de segurar várias temporadas, que para difundir o respeito à diferença e
os canais a plataformas parceiros. não viram adolescentes no meio ao outro. Essa produção é uma par-
do caminho e que ainda podem ser ceria com a Origem, uma produtora
BILLY E CATARINA MARCA A ESTREIA DA dublados pelo mundo também con- de animação baiana.
PRODUTORA NO RAMO DE ANIMAÇÃO. tribuiu para a decisão. E, para isso,  
EM LINHAS GERAIS, QUAL É A PROPOSTA estabelecemos várias parcerias no DUAS DÉCADAS DE RETOMADA, ALÉM DO
DO PROJETO? mercado. Mas confesso que ver sua SURGIMENTO DE NOVAS PLATAFORMAS
filha vendo algo que você fez para DE EXIBIÇÃO, SUGEREM UM CENÁRIO
B.L.: É uma situação normal, na vida ela também é muito gratificante. Billy MUITO MAIS PROPÍCIO PARA A PRODU-
do criador, se apaixonar pelo universo e Catarina acompanha as aventu- ÇÃO AUDIOVISUAL NO BRASIL. ISTO É UM
infantil depois que tem filhos. Você ras de dois amigos improváveis: um MITO OU UMA REALIDADE?
se torna consumidor daquele univer- morcego supermedroso e uma traça
so, passa a ter várias referências na que devora livros, mas não literal- M.C.: O mercado vem avançado

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nos últimos 15 anos e, com certeza, vas possíveis. Desde o começo do ano customizados para marcas, transfor-
estamos em uma fase muito próspera, estamos experimentando o universo do mando os valores que elas desejam
com cada vez mais canais entrando VR. É desafiador, mas é uma realidade. transmitir em dramaturgia, entreteni-
no Brasil, e com a ampliação das É o futuro do nosso mercado. Para o mento e conteúdo que conquiste por
plataformas de exibição. Por outro produtor que acumula experiência na meio dos personagens, da qualidade
lado, sempre existe espaço para linguagem flat, mil possibilidades se das histórias. Assim, todo mundo gan
aprimorar processos e as relações do descortinam com a realidade virtual, ha: a marca se associa a uma histó-
setor. O trabalho da BRAVI e de outras especialmente nos ramos de saúde e ria bacana e consegue se comunicar
instituições em parceria com a Ancine educação. E é por esses terrenos que com o público fora do lugar comum.
é importantíssimo para continuarmos estamos nos aventurando. E nós ficamos cada vez mais experientes
avançando, pois é apenas produzindo   em roteirizar narrativas mais curtas, feitas
e mantendo um debate constante O FORMATO “WEBSÉRIE” TEM CONQUIS- sob encomenda, mas, ao mesmo tem-
que conseguiremos compreender TADO UM PÚBLICO EXPRESSIVO NO PAÍS, po, divertidas de fazer. 
onde podemos avançar. ALÉM DE SER UM ESPAÇO
  MUITO DEMOCRÁTICO, JÁ
HOJE, FALA-SE EM INOVAÇÕES COMO QUE PERMITE AO REALIZADOR
A REALIDADE VIRTUAL E A REALIDADE INDEPENDENTE EXPOR OS SEUS
AUMENTADA. VOCÊS ACHAM QUE É TRABALHOS PUBLICAMENTE.
VÁLIDO EXPLORAR ESSAS POSSIBILIDA- ESTE É UM NICHO QUE A GI-
DES TECNOLÓGICAS? ROS PRETENDE EXPLORAR?

B.F.: Nossa busca permanente é por B.L.: Com toda a certeza.


relevância, tanto de conteúdo quanto Mas, como a oferta é muito
de mercado, e isso só acontece quan- grande e diversa, nossa
do encaramos com muita seriedade a energia tem se concentra-
exploração de todos os tipos de narrati- do em propor conteúdos

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Produção
Por Luiz Carlos Lucena Fotos Divulgação

O CINEMA...
PELO CINEMA
Lumière – A Aventura Começa apresenta às novas gerações as
obras realizadas pelos “pais” da Sétima Arte

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lguns diretores entram para especiais do pré-cinema do início do

A a história não apenas pelas


obras que realizam, mas,
também, pelo que fazem em
nome da preservação e valorização
do cinema. Martin Scorsese e Francis
século XVIII, George Meliès. O filme
é metacinema puro – a história do
personagem mistura-se à de Meliès.
Scorsese mostrou às novas gerações
os truques e trechos das obras do
Ford Copolla já haviam realizado um cineasta, que ele mesmo coloria ma-
trabalho fantástico para a preserva- nualmente, pintando o celuloide cena
ção da memória cinematográfica por cena. O filme pode ser facilmente
quando se engajaram na recupera- encontrado nessa imensa “filmoteca
ção do clássico Soy Cuba, a primeira virtual” que é a internet.
coprodução cinematográfica entre
Cuba e Moscou (dirigida pelo russo O COMEÇO DA INVENÇÃO
Mickail Kalatozov, em 1964). Recentemente, coube a outro apaixo-
O filme sobre a ilha cubana trouxe nado por cinema, o diretor do Festival
para o presente um dos trabalhos de de Cannes, Thierry Frenaux, trazer para
fotografia mais impressionantes já rea- os dias de hoje os trabalhos dos irmãos
lizados, apresentando à contempora- Lumière, responsáveis pela criação do
neidade os truques do lendário diretor cinematógrafo e da primeira projeção
de fotografia Sergei Urusevskiy. Soy comercial, em 1895, em Paris. Thierry
Cuba nasceu como uma encomenda acaba de lançar Lumière – A Aventura
do premier russo Nikita Krushov. Fazia Começa, no qual monta, em sequência,
parte de um projeto de propaganda 108 das 1428 obras de 50 segundos pro-
da revolução cubana. Cerca de 200 duzidas pelos Lumière. Cada pequeno
pessoas trabalharam no projeto. Fidel filme é comentado e há informações
Castro colaborou e movimentou uma preciosas sobre os métodos de produ-
brigada de 5 mil soldados do exército ção e a estética dos pioneiros franceses.
para participarem de uma sequência do
filme. Naquele momento, a produção
tinha tudo para ser um ato revolucio-
nário, como já haviam feito os russos
DzigaVertov, em O Homem e a Câmera,
e Sergei Eisenstein, com Encouraçado
Potenkin. Mas foi um fracasso total de
público e de crítica.
O mesmo Martin Scorsese, em
2012, produziu A Invenção de Hugo
Cabret e trouxe para o século XXI
a genialidade do mestre dos efeitos

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Produção

E as obras foram todas restauradas em mostram a cidade em um longo plano campo impressionante, trazendo em
4K, mantendo as proporções originais sequência. Recursos da fotografia que, foco primeiro plano e fundo. E um de-
(4x3 com bordas arredondadas) e o hoje, são tão explorados pelos profissio- talhe importantíssimo para a história
frescor das breves historietas. nais já eram utilizados pelos operado- do cinema: o celuloide, como mate-
Para os estudiosos e amantes do res de câmeras que trabalhavam para rial possível de manipulação, permite
cinema, é um prato cheio. Além das os irmãos (os Lumière empregaram um recuperar tudo o que já foi produzido.
famosas e conhecidas tomadas que grupo de profissionais que saíram pelo Inclusive, esse belo legado da obra
deram fama aos Lumière – A Saída da mundo gravando registros documen- dos Lumière.
Fábrica (o primeiro filme projetado), A tais, jornalísticos e ficcionais). A regra O trailer de Lumière – A Aventu-
Chegada do Trem à Estação (o espe- dos terços também estava presente em ra Começa está no YouTube. E quem
táculo apavorou os espectadores, que lindas tomadas, como a dos atletas que quiser saber mais sobre Soy Cuba
achavam que o trem ia sair da tela!) e sobem o morro. E o contraplongé apa- também pode assistir ao filme na
O Lanche do Bebê (que tanto impres- rece de forma fantástica na cena que internet. O brasileiro Vicente Ferraz
sionou Meliès) –, aprendemos que os mostra os soldados andando na neve. produziu o documentário Soy Cuba
Lumière não apenas eram inventores, mas Os comentários de Thierry são – O Mamute Siberiano, de 2005, dedi-
tinham um projeto de produção e, também, preciosos, pois chamam a atenção cado a esta obra-prima. Ferraz incluiu,
uma estética já revolucionária naqueles para detalhes que não percebemos em seu trabalho, diversos trechos de
primórdios da Sétima Arte. quando vemos os filmes pela primeira Soy Cuba, como o plano-sequência de
A maioria dos filmes são registros vez. Destacam-se, por exemplo, os um enterro que abre o documentário.
documentais. Mas os Lumière já trazem, no enquadramentos, sempre elaborados A cena foi uma das que mais impres-
bojo dessa imensa produção, tomadas (alguns deles, mostrando até três sionaram Scorsese, que chegou a
que antecipam o travelling no cinema ações ocorrendo ao mesmo tempo). telefonar ao câmera do filme original,
– filmando um bonde em movimento, Os filmes, feitos com o nitrato de Aleksandr Kaltsastyj, dizendo-lhe que
por exemplo; ou com a câmera em prata, também permitiam, já naquela “não podia morrer sem saber como a
cima de uma barcaça, por meio da qual época, obter uma profundidade de sequência fora realizada”.

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Arte & Atitude
Por Tristan Aronovich Fotos Márcio Búrigo e Vitória Mantovani

CINEMA COM
GARRA, AMOR E DEDICAÇÃO
Realizado com menos de R$ 35 mil, longa Às Escuras mostra o quanto nos
tornamos dependentes da tecnologia

magine gravar um longa-me- O enredo, de caráter multiplot, conta para continuar no mercado; uma vlogger

I tragem com menos de R$ 35


mil, contando apenas com
dinheiro arrecadado da pró-
pria equipe e financiamento coletivo.
Parece impossível... Mas não é!
com cinco núcleos de personagens com
problemáticas distintas que se conectam
durante o desenrolar do filme, a partir de
um apagão geral na capital paulista: uma
banda de música eletrônica que precisa
viciada em tecnologia e um paciente que
precisa de aparelhos para sobreviver.
“A ideia de contar estas histórias
surgiu da observação da vida real. As
pessoas se tornaram dependentes da
Esta façanha foi realizada pela equipe criar um hit para uma chance inédita de tecnologia, do ambiente virtual”, afirma
de Às Escuras, filme que aborda o impacto sucesso; um casal em crise; uma startup João Gabriel Gragnani, roteirista, diretor
da tecnologia nas relações humanas. tentando desenvolver um novo projeto e criador da história.

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NÚCLEOS com as demais”, explica Alexandre Moiti- grande parte dos nossos personagens”.
Embora pareça complexo, o roteiro de Às nho, roteirista e produtor do longa. Inspirado principalmente no filme Crash
Escuras é de fácil assimilação, com uma Às Escuras também aborda, sutilmente, – No Limite (2004), de Paul Haggis, a propo-
história que envolve o espectador em a diversidade sexual. Segundo Gragnani: sta de Às Escuras é estabelecer um elo com
uma mescla de tensão, suspense e até “Vivemos um momento em que temos a o público em situações cotidianas e valores
comédia. “Criamos um método que an- responsabilidade de dar voz aos que não universais, como: amor, vida, morte, sonhos,
tecipava a maneira como íamos dar vida costumam tê-la, de variar quem são os pro- solidão e dinheiro, ao mesmo tempo que
às personagens e nos preocupávamos se tagonistas de nossas histórias. E foi justamen- incita a reflexão sobre a crise energética e
as histórias dos núcleos estavam coerentes te com isso em mente que desenvolvemos o vício em tecnologia, baseado na teoria

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Arte & Atitude

da Modernidade Líquida de Zygmunt Bau- ANTES DO SET total confiança para superar este desafio”,
man. “Gosto muito de abordar reflexões so- Para trabalhar com o elenco, os diretores afirma Paula.
ciais nos meus filmes. Agregar isso a temas utilizaram o método Stanislávski, graças Segundo o ator Guilherme Gomes, que
filosóficos para trazer depois para a parte ao aprendizado adquirido na mesma interpreta o personagem William, “uma das
prática foi bastante enriquecedor”, conta instituição de ensino, que também integra partes mais bacanas do processo foi a liber-
Paula Witchert Araujo, diretora do longa. o Instituto Stanislávski. “Isso foi fundamental dade que a direção proporcionou para
O filme foi desenvolvido durante o MBA durante todo o filme, pois falar a mesma criarmos essas personagens. A cada ensaio,
em Cinema do Latin American Film Institute, língua que os 23 atores foi um grande víamos personagens diferentes criando
o primeiro que exige um longa-metragem facilitador para atingir os resultados que conexões e desconexões, de acordo com
como trabalho de conclusão. Durante o esperávamos”, explica Gragnani. o que eles esperavam para a história”.
curso, os integrantes da equipe tiveram O processo de preparação do elenco
contato com todas as áreas do cinema e durou três meses e foi comandado pela NA PRÁTICA
produziram mais de 30 curtas-metragens a direção e seus assistentes. Os atores foram Às Escuras contou com 35 locações,
fim de se preparar para o primeiro longa. divididos de acordo com os núcleos da 23 atores e uma equipe composta por
“Além do aprendizado intenso, pude- história e cada grupo se reunia duas vezes aproximadamente 30 pessoas. “Um dos
mos contar com o espaço da escola para por semana. “Saber que meu primeiro maiores desafios de fazer um filme deste
ensaios e boa parte dos equipamentos uti- longa teria 23 atores deu um frio na barriga, porte é organizar e controlar os custos ao
lizados no filme. Luciana Stipp, professora e pois uma preparação adequada deman- máximo”, explica o produtor e roteirista
diretora do LAFilm, nos deu todo o suporte dava uma série de atividades e o tempo Anthonio Alvez.
e orientação necessários na pré-produção, não estava a nosso favor. Mas, lembrar de Com esta necessidade, a equipe arre-
o que nos deixou mais confiantes para tudo o que aprendi com o Tristan Aronovi- gaçou as mangas e conquistou apoiadores
realizar este trabalho”, conta Paula. ch, seja nas aulas ou em seus livros, trouxe para locações e espaços para ensaios e

Tristan Aronovich é ator, músico e


cineasta. Mestre em Cinema e
TV pelo Savannah College of Art
and Design, possui formação
acadêmica pela Harvard Uni-
versity e CalArts. É professor no
Latin American Film Institute.

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alimentação. É o caso da Fly Jabuti, Nação custos de armazenamento, a equipe de Às minação. “Estar no set com um olhar
Verde, São Paulo Antigo Restaurante, Escuras optou pela filmagem em HD. de colorista foi fundamental para
Agência Sagarana, Encruzilhada Filmes, A grande quantidade de atores e a conseguir imaginar o que deveria ser
SPCine e LAFilm. O grupo também contou necessidade de captar o maior número de feito na pós e garantir a qualidade fi-
com auxílio pela campanha de financia- reações exigiu bastante movimentação de nal e o naturalismo estético do filme”,
mento coletivo pelo Catarse, que atingiu câmera. Para manter estabilidade, foram explica Gragnani.
94% da meta em menos de dois meses, usados: slider, DJI Ronin Steady Cam System Por fim, para gravar o áudio, fo-
atingindo pouco mais de R$ 16 mil. e Gimbal Feiyutetch Mg Lite 3 Axis Dslr 360. ram utilizados o gravador Zoom H4N
A fim de obter a variação de luz almejada com microfone e vara de boom. De-
EQUIPAMENTOS pelos diretores, que consistia em acompa- vido à interferência durante os testes
Para garantir a qualidade das imagens nhar o processo de evolução das persona- na pré-produção, a equipe optou por
durante as cenas de apagão, foi utilizada gens e da própria história, foram utilizados não usar microfones lapela. Ao todo,
a Sony Alpha 7s, devido à sua grande fresnéis de 2000W, set lights de 500W e foram 28 dias de gravação e três me-
sensibilidade, permitindo ISO acima de 1000W e Led de 1000W. ses de pré-produção, sem considerar
400.000. Entretanto, boa parte das cenas foi Os equipamentos foram combina- a fase de criação do roteiro, que
gravada durante o dia e, no geral, na seta- dos de acordo com a intensidade e também durou cerca de três meses.
gem de câmera, foram utilizados ISO 1.600 recortes de luz pretendidos em cada Todo o trabalho, incluindo captação
e obturador 1/60. A variação ficou por cena em contraponto à quantidade de recursos e comunicação, foi rea-
conta da íris 1.4 ou 1.8 nas cenas internas e de luz presente nas locações, para lizado pela equipe de Às Escuras. O
3.4 nas externas. A Sony Alpha 7s também oferecer flexibilidade ao time de pós longa está em fase de pós-produção
permite a gravação em 4K. Porém, devido -produção, responsável, entre outras e deve integrar festivais de cinema
ao grande impacto logístico que envolve atividades, pelos ajustes finais na ilu- ainda este ano.

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Fotografia
Por Redação Fotos

TENDÊNCIAS EM DESTAQUE
Bilhões de procuras ajudaram a Shutterstock a determinar as principais
tendências em design e produção visual do ano
om uma plataforma criativa re- veram as ideias e conceitos que influencia- cientistas de dados, profissionais criativos

C pleta de ferramentas e serviços


de alta qualidade, a Shutters-
tock divulgou o Relatório de
Tendências Criativas de 2018 (Creative
Trends Report). As principais tendências
rão a direção criativa e estética em 2018.
As constatações da Shutterstock estão
voltadas às principais tendências relaciona-
das à cultura popular e às emergentes que
irão surgir no cenário do design de 2018,
e revisores de conteúdo interpretaram as
oscilações anuais em 2017 para codificar
uma lista lógica de 11 estilos que promo-
vem o design em 2018. Eis algumas das
principais tendências:
ressaltadas vão da Fantasia ao Novo Mini- entre elas: “holográfico” e “luxo natural”. O
malismo e são determinadas pela análise Relatório apresenta uma nova forma este ● Fantasia: de animais míticos a paisa-
de bilhões de buscas na coleção de 170 ano, com dados predominantes apontan- gens, símbolos e estilos místicos e fan-
milhões de imagens da marca, realizadas do para algumas tendências distintas e tásticos nos ajudam a entrar em outro
por clientes das indústrias de publicidade, identificando grandes aumentos em temas mundo. As pesquisas estão aumentando
cinema e mídia. Os dados recolhidos de específicos, além de destacar 20 tendên- para personagens de fantasia já reco-
2017 em imagens, vídeos e música promo- cias específicas por país. Uma equipe de nhecidos. O termo “unicórnio” cresceu

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MARCO HISTÓRICO
“Em seu sétimo ano, nosso Relatório de
Tendências Criativas inspira profissionais
criativos em todo o mundo, pois apontam
tendências para o planejamento criativo
do próximo ano”, diz Robyn Lange, cura-
dor da Shutterstock. “Nosso relatório de
2017 foi particularmente preciso em suas
previsões, identificando tendências como
‘estática’ no começo. Ao longo do ano,
observamos como o estilo cresceu, se de-
senvolveu e prosperou em grandes cam-
panhas para marcas em todo o mundo.
Estamos ansiosos para ver as tendências
de 2018 florescerem da mesma maneira”.
A Shutterstock ainda destaca que licen-
ciou mais de 1 bilhão de imagens, vídeos e
músicas livres de royalties em todas as suas
plataformas e foram concedidas nos últimos
14 anos, desde a sua fundação em 2003. A
biblioteca da Shutterstock conta com mais
de 170 milhões de imagens comerciais, 40
milhões de editoriais e 9 milhões de clipes
de vídeo. Na realidade, ela licencia mais de
5,5 imagens a cada segundo diretamente
de seu site e através de integrações via API
inovadoras com empresas como Facebook,
Google e Microsoft.
297% e “sereia”, “O compromisso contínuo da Shutters-
145% em relação tock com o desenvolvimento de tecnolo-
ao ano anterior. gia inovadora, oferecendo ao cliente uma
A música épica e experiência incomparável e fornecendo
orquestral também está crescendo em globalmente conteúdo de alta qualidade,
popularidade, enquanto os profissio- em relação ao ano anterior, um novo levou a parcerias exclusivas que fornecem
nais de marketing e criativos procuram componente no minimalismo, “círculo aos clientes acesso direto às ferramentas
adicionar um pouco do sobrenatural ao de néon”, foi pesquisado 387% a mais que eles usam com mais frequência”,
nosso cotidiano. do que no ano anterior. afirma Jon Oringer, fundador e CEO da
Shutterstock. “Alcançar 1 bilhão de licenças
● Novo Minimalismo: o minimalismo ● Espaço: a ficção científica continua mostra o papel proeminente que a comu-
evolui de suas raízes modestas para um a triunfar nas bilheterias e o mundo nicação visual desempenha na mídia, na
visual adequado aos tempos modernos. criativo está tomando nota, com ênfase publicidade e no cinema todos os dias.
O novo minimalismo vai além de linhas no espaço. As pesquisas por “energia Estamos ansiosos para a próxima década
nítidas e limpas, com cores arrojadas solar” aumentaram 991% e o interesse de avanços tecnológicos incorporando a
e vibrantes e estilos fluidos que reima- em astros aumentou 671%, enquanto a Shutterstock em todos os lugares, enquanto
ginam esta forma de arte consisten- popularidade do som inconfundível de continuamos a aprimorar nossa plataforma
temente popular. Enquanto as buscas sintetizador de ficção científica aumen- criativa para ajudar os clientes a criar e
por “linha contínua” aumentaram 432% tou 494% em relação ao ano anterior. comunicar melhor suas histórias.”

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Fotografia

PANORAMA COMPLETO
Mostra inédita destaca as fotos de José Alberto Figueroa exibindo
um panorama dos 50 anos de sua carreira

quiátrico de Havana e nos retratos de seus


compatriotas. Figueroa também foi teste-
munha das transformações ocorridas após
a queda do muro de Berlim. Suas obras da
década de 90 têm uma semelhança com
obra do fotógrafo cubano José nos para os Estados Unidos. a vida dos habitantes de seu país, em um

A Alberto Figueroa chega pela


primeira vez no país e ganha
uma exposição histórica na Cai-
xa Cultural São Paulo, que vai até 04 de
março. A mostra Um Autorretrato Cubano,
No dia 09 de janeiro, Figueroa (com
71 anos) chegou ao Brasil para a abertura
do evento com uma visita guiada pela
exposição. No dia 12, participou de um
bate-papo com o público. Na ocasião,
exercício constante de introspecção.
Em mais um dos momentos marcantes
de sua carreira, “Imagens Atemporais”
destaca imagens que refletem a manipula-
ção de ícones nacionais, como a bandeira
que reúne 69 fotografias do autor, é uma aconteceu o lançamento do catálogo da cubana, o herói nacional José Martí, criador
ótima oportunidade de conhecer o belo exposição Um Autorretrato Cubano. do Partido Revolucionário Cubano, e Ernesto
trabalho de Figueroa. Che Guevara. Por fim, a exposição destaca
Os registros do fotógrafo ilustram ques- EXPOSIÇÃO NOBRE um período mais contemporâneo de Figue-
tões sociais e políticas de Cuba. Considerado A curadoria da mostra é de sua filha, Cristina roa, com a seção “Figueroa no Século 21”,
um dos precursores da fotografia conceitual, Figueroa. A exposição está dividida em qua- exibindo projetos que revelam a necessi-
tanto em Cuba como em toda a América tro seções que marcam diferentes momentos dade de olhar para trás, para a sociedade
Latina, a obra de Figueroa mostra seu olhar da carreira do fotógrafo. A primeira, deno- e a história de Cuba, a fim de encontrar
sobre fases históricas do país, desde os primór- minada “Uma História Pessoal”, é composta respostas para o futuro incerto do novo
dios da Revolução Cubana, quando pôde por fotografias do início de sua carreira nos século. Séries como “Nova York”, “11 de
acompanhar mudanças sociais significativas Studios Korda. As outras duas séries, “A Outra Setembro de 2001”, “Figueroa em Figueroa”
e controversas, até os tempos atuais. Face da Revolução” e “Exílio”, revelam como fazem parte de sua obra no período. Este é,
ele registrou o êxodo familiar de Cuba para também, o momento em que começa a
CARREIRA VERSÁTIL os EUA, no começo da Revolução Cubana. usar cores e o digital em seu trabalho.
Nascido em 1946, Figueroa se formou em Mais tarde, na década de 70, Figueroa co-
fotografia na década de 60. Quando já meçou a trabalhar como repórter fotográfico
trabalhava como assistente no estúdio de da revista Cuba Internacional e viajou pelo Exposição Um Autorretrato Cubano -
Alberto Korda, especializando-se em publi- país registrando a inserção da sociedade José Alberto Figueroa
cidade e moda. Com o tempo, passou a cubana no modelo socialista. Local: Caica Cultural São Paulo (Praça
incrementar seu trabalho, atuando como Nas seções “Havana, Angola, Berlim” da Sé, 111 - Centro - São Paulo)
correspondente de guerra em Angola. Dis- e “The Fallen Dreams”, das décadas de Visitação: de 10 de janeiro a 04 de
cípulo e amigo de Korda, Figueroa passou 80 e 90, estão relatadas em viagens de março (terça-feira a domingo)
a fotografar elementos que representa- Figueroa. Para Angola, ele foi como cor- Horário: 09h às 19h
vam as reivindicações de sua geração. O respondente de guerra (entre 1982 e 1983). Classificação indicativa: livre para
ensaio Exílio, realizado em 1967, é bastante A outra mostra exibe o conflito revelado todos os públicos
representativo deste período, por retratar o pelos rostos dos cubanos. Este olhar pode Entrada franca
processo exaustivo de migração de cuba- ser notado em seu trabalho no Hospital Psi-

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Na Telinha
Por Eduardo Torelli Fotos Divulgação

A PERGUNTA
QUE NÃO QUER CALAR
Comerciais da premiada campanha Pergunta Lá tiveram uma logística de
realização digna das superproduções

campanha Pergunta Lá, criada panha para o ano todo, recebemos tes para cada papel”, revela Quico

A pela Talent Marcel para a


rede de postos Ipiranga, foi
a vencedora do 39º Prêmio
Profissionais do Ano da TV Globo.
Produzida pela O2 Filmes, a campa-
os roteiros elaborados pela Talent em
novembro de 2016”, diz Caruso. “As fil-
magens foram realizadas em janeiro do
ano passado. O conceito para 2017 era
o de que o Batata era ‘o cara’, superan-
Meirelles. “Após essa etapa, cada um
era definido junto com a agência e o
pessoal da própria Ipiranga”.
Além da “esquina que liga o nada
ao lugar nenhum”, onde Batata costu-
nha também se tornou um case da do até as mais sofisticadas tecnologias, ma vender os seus cestos (na verdade,
televisão: não há quem não conheça como o Google e o GPS, e as mentes um trecho de uma estrada vicinal
os filmes e seu simpático protagonista, dos universitários do Show do Milhão”. perto de Mombuca, no interior de São
o “Batata”. Em entrevista à Zoom Uma bateria de testes foi feita para Paulo), as filmagens foram realizadas
Magazine, os diretores Paulo Caruso encontrar os atores que contracena- em cenários especialmente constru-
e Quico Meirelles, além do diretor de riam com o garoto-propaganda da ídos para os filmes. “Elaboramos o
fotografia Pedro Cardillo, revelaram campanha nos cinco filmes realizados set do Show do Milhão, o casebre da
um pouco da complexa logística de em 2017. “Junto com a agência, defi- velha que faz a voz do Google e o
filmagem dos comerciais. nimos um perfil para cada personagem cenário da Marília Gabriela”, enumera
“Por se tratar de uma cam- e, então, testamos diversos intérpre- Caruso. “Essas locações foram criadas

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por nossa diretora de arte, Guta Car- remos à zoom francesa Angenieux têm timings diferentes.
valho, que fez um trabalho incrível”. Optimo 24-290mm”. Embora poucos efeitos tenham
Ao invés de padronizarem a foto- sido acrescentados às cenas na
DIVERSIDADE grafia dos filmes, Caruso e Meirelles pós-produção, atenção especial foi
As imagens foram captadas com preferiram conferir um “look” diferente dada às trilhas sonoras dos filmes,
duas Arri Alexa Mini, que o dire- a cada produção. “Fizemos o filme da que tiveram um papel decisivo para
tor de fotografia dos filmes, Pedro Marília Gabriela no dolly, o do cami- suas ambientações. “Não queríamos
Cardillo, define como a câmera de nhão, na grua, o da velha do Google, que o espectador soubesse de cara
cinema digital mais moderna dispo- no easy rig, o do GPS, no drone e que estava assistindo a um filme
nível no Brasil. “Utilizamos um jogo no tripé, e o do Show do Milhão, da da campanha, para que pudésse-
completo de lentes esféricas Zeiss forma mais televisiva possível”, explica mos surpreendê-lo”, conclui Caruso.
Master Primes, de origem austríaca, Caruso. “Quanto à luz, pensamos em “A música ajudou a sugerir que eles
e as mais luminosas da atualidade, horários e temperaturas diversos para estavam assistindo, de fato, a um
com diafragma f. 1.3”, acrescenta cada um dos filmes”. O mesmo princí- programa do Show do Milhão ou da
Cardillo. “Em algumas diárias, recor- pio norteou a edição dos filmes, que Marília Gabriela”.

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Na Telinha

TIME
REFORÇADO
Plataforma Twitch passa a transmitir conteúdos exclusivos de
quatro dos maiores criadores da Disney Digital Network

Twitch, plataforma líder em Digital Network e seus populares criadores

A vídeos sociais e comunidade


para gamers, fechou uma
parceria com a Disney para a
produção de conteúdo. “Sempre bus-
camos criar oportunidades para que
de conteúdo para conectá-los à nossa
comunidade apaixonada e solidária”,
afirma Aragon.
Por meio da parceria, a Twitch transmiti-
rá conteúdo exclusivo de quatro dos maio-
os talentos da Disney Digital Network res criadores da Disney Digital Network:
possam levar suas histórias e conteúdos Jacksepticeye, LuzuGames, Markiplier e
a mais fãs, de novas maneiras”, ressalta Strawburry17. Cada um gerenciará seus
Andrew Sugerman, vice-presidente de próprios canais na Twitch.
publicações e mídias digitais dos pro-
dutos de consumo e de mídia interativa ASTROS E ESTRELAS
da Disney. “Esta parceria dá aos nossos Com mais de oito bilhões de visualizações e
criadores o acesso às ferramentas, co- 17 milhões de inscritos em seu canal, Sean
nhecimentos e à comunidade da pla- McLoughlin – ou “Jacksepticeye” – é um
taforma, aumentando o seu público.” dos nomes mais reconhecidos do meio.
Segundo Michael Aragon, vice- Inicialmente popular por seus vídeos de ga- ajudam instituições de caridade.
-presidente sênior de conteúdo da Twitch, meplay, seus formatos também passaram a Já Mark Fischbach (ou “Markiplier”) é
o crescimento da plataforma se baseia incluir vlogs, esquetes, músicas e animações uma personalidade da internet americana
em escutar os streamers e disponibilizar os curtas. Ele foi o anfitrião da premiação de com mais de 19 milhões de inscritos em
recursos de que eles necessitam para que jogos no South by Southwest, bem como seu canal. O criador faz vídeos de game-
possam investir em suas carreiras. “Esta- da Disney Showcase na D23, em julho de plays e comenta sobre jogos com seus
mos ansiosos para trabalhar com a Disney 2017, e promove projetos filantrópicos que amigos. É especialista em jogos “indie” e,

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recentemente, começou a se aventurar na vlogs, jogos, culinária, cosplay, DIY que está à frente de um dos canais de
produção de sátiras. e música. Meghan também participou língua espanhola com maior número de
Meghan Camarena estreou em da 22ª temporada do programa The espectadores, o LuzuGames. O criador
2007, com vídeos sobre música e as- Amazing Race. Recentemente, foi uma é espanhol e possui uma audiência
suntos diversificados, ao lado do irmão das apresentadoras do show Polaris composta por adolescentes e jovens
mais novo, David. Hoje, ela publica Primetime, da Disney XD. adultos. Ele se destaca pela personali-
conteúdo de diversos temas, incluindo O time se completa com Luzu, dade honesta e irreverente.

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