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1. RESUMO
Por mais de 100 anos, carvão e aço foram responsáveis pela economia e
sobrevivência da região. A partir do momento em que a realidade industrial global
começou a alterar-se, a região do Ruhr também acompanhou este momento histórico,
desindustrializando-se.
Em 1989, a agência semipública de planejamento, IBA EMSCHER PARK GmbH foi
criada pelo governo do estado da Renânia do Norte-Vestfália como uma oficina para a
renovação de uma antiga região industrial, delimitada pela zona do rio Emscher,
compreendendo as cidades entre Duisburg e Bergkamen.no vale do Ruhr, por um período
de 10 anos. Esta agência operou com a estreita colaboração do Ministério do Meio-
Ambiente, Planejamento Espacial e Agricultura da Renânia do Norte Vestfália e com a
Companhia de Desenvolvimento do Estado- LEG (Landesentiwicklungsgesellschaft).
O cenário com o qual o IBA Emscher Park se deparou, era configurado por uma
complexa realidade regional composta de áreas industriais obsoletas, esvaziadas e em
ruínas; conseqüências do abandono das atividades mineradoras e das indústrias em geral.
Embora o panorama alertasse para a difícil tarefa a ser enfrentada, o sucesso desta
experiência pode ser constatado no vasto legado do desenvolvimento regional integrado,
nos inovativos projetos de redesenho e nas medidas ecológicas de reconversão do território
que mudaram a imagem de uma das maiores regiões industriais do mundo.
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Mestre em Estruturas Ambientais Urbanas pela FAUUSP e Aluna do programa de Doutorado –
Departamento de Projeto - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo:
polise@usp.br
2. INTRODUÇÃO
Desde a segunda metade do século 19, as Mostras de Construção tornaram-se
tradicionais, nas exposições internacionais e feiras mundiais. Elas tinham como função
prática apresentar as novas invenções e criações nos campos da arquitetura, engenharia e
tecnologia.
Em 1851, o Crystal Palace Great Exhibition, na cidade de Londres; e em 1889, a
Torre Eiffel, exposta na Exposition Universelle, em Paris; foram exemplos de inovações
nas áreas da engenharia e tecnologia, durante as primeiras décadas da segunda Revolução
Industrial.
Em 1901, com a exposição em Darmstadt-Mathildenhole, a tradição das Mostras de
Construção chegou a Alemanha.
Durante o período entre guerras, várias exposições fizeram parte do cenário da
sociedade industrial. Naquela época, o objetivo era o de encontrar soluções para o
problema da demanda habitacional, decorrente do aumento progressivo do número de
pessoas que viviam nas cidades.
Após a Segunda Guerra Mundial, a necessidade de reconstrução, uma vez mais, deu
impulso às Mostras de Construção. Em 1951, uma exposição internacional foi sediada em
Hanôver e, após 6 anos, foi a vez de Berlim com a INTERBAU'57.
O foco da INTERBAU'57 foi a reconstrução do distrito Hansa - na antiga Berlim
Ocidental -, que foi fortemente danificado pelos bombardeios durante a Segunda Guerra
Mundial.
O projeto de reconstrução, liderado pelo arquiteto Otto Barning, representava o
conceito modernista de desenvolvimento urbano de baixa densidade, popular durante o
pós-guerra. Barning pretendeu através do projeto, criar um modelo de cidade do amanhã2,
estabelecendo um contraponto ao modelo de arquitetura propagada pela DDR3.
Em 1987, após 30 anos da INTERBAU'57, uma nova exposição internacional foi
sediada em Berlim, apresentando como tema: O “centro da cidade como local de moradia,
reestrutura a cidade degradada”.
A Mostra Internacional IBA Berlin’ 87 foi o resultado de nove anos de trabalho da
Agência IBA Berlin Gmbh, criada em 1979, mediante aprovação do governo da Berlim
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Stadt von morgen
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Die Deutsche Demokratische Republik. República Democrata Alemã, pertencente ao bloco dos países
socialistas, cuja capital era a Berlim Oriental.
Ocidental. Desta agência fizeram parte membros do governo, arquitetos, urbanistas e
representantes de setores públicos e privados.
O objetivo da Agência IBA Berlim concentrou-se, não somente na construção de
novos projetos urbanos, mas principalmente, na requalificação e redesenvolvimento de
áreas centrais e edificadas. Aproximadamente 3000 residências foram construídas ou
reestruturadas até 1987, ano de encerramento da exposição internacional.
O IBA Berlim agregou, ao processo de renovação urbana, a participação popular e a
parceria público-privado, além de ter criado uma agência especial responsável pela
renovação e restauro4: STERN (Gesellschaft der behutsamen Stadterneuerung GmbH)5.
Esta agência tornou-se modelo para as futuras intervenções urbanas em cidades alemãs,
principalmente para os projetos de redesenvolvimento da Berlim Oriental, após a queda do
muro, em 1989.
Durante os anos do IBA Berlim'87, os critérios e conceitos de intervenção, entre
eles,: “a renovação urbana cuidadosa”, “a reconstrução crítica da cidade”, “promover a
habitação em antigas áreas centrais degradadas”, “integração entre construções existentes e
novas” e “a imagem da cidade", configuraram importantes parâmetros para a Mostra
seguinte, que teve por desafio a reconversão de um território industrial em escala regional:
a zona do rio Emscher, no vale do Ruhr.
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Definições apresentadas no Regional development studies: The EU compendium of spatial planning
systems and policies: Germany Luxemburg, 1999.
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STERN: agência responsável pela renovação urbana.
Desta forma, a ocupação territorial foi se deslocando gradativamente de sul para
norte, em três diferentes zonas orientadas no sentido leste-oeste:
- A zona Hellweg, situada entre os rios Ruhr e Emscher (em torno dos centros
das cidades de Duisburg, Essen, Bochum e Dortmund)
- As zonas do rio Emscher e do rio Lippe, segundo e terceiro estágios da
ocupação territorial.
As primeiras aglomerações apareceram sem qualquer planejamento especial. Elas se
formaram através de iniciativas isoladas motivadas por razões econômicas. Durante a
década de 1870, pessoas provindas do leste europeu iniciaram um processo migratório para
a região do Ruhr, dinamizando ainda mais a sua ocupação territorial.
O crescimento capitalista da região foi consolidado de forma policêntrica. As cidades
assentadas nas zonas leste-oeste, desenvolveram-se individualmente ao longo do eixo
norte-sul, gerando uma grande imobilidade entre as cidades. O Ruhr cresceu como uma
periferia e a falta de urbanidade tornou-se a marca de sua expansão.
Deste modo, em algumas décadas, áreas agrícolas e florestas foram transformadas
em extensas áreas industriais. “Bosques deram lugar para chaminés, campos tornaram-se
assentamentos, rios foram convertidos, e o céu encoberto por fumaça e fuligem” [VON
PETZ: 1997, p. 56].
A região do vale do Ruhr cresceu como uma larga conurbação periférica, isto é, sem
um processo legítimo de desenvolvimento urbano. As atividades industriais desenharam as
aglomerações, assim como ditaram as regras do viver neste território. A vida urbana foi
estruturada com base no tempo das máquinas e pelo espaço da produção.
A zona do Emscher foi a que mais sofreu com a exploração industrial, em termos de
degradação e apropriação espacial sem planejamento. O território formado pela junção da
indústria e dos assentamentos populacionais desenhou cidades periféricas sem urbanidade.
O controle desta zona industrial acontecia, como em um sistema feudal, através do
monopólio político exercido pelos dirigentes das minas de carvão e das atividades
relacionadas à produção do aço.
A infra-estrutura da zona do Emscher também não foi baseada em planos
urbanísticos. Ela foi configurada de acordo com os interesses da Montanindustrie6. As
primeiras alternativas de transporte surgiram para o escoamento e circulação da produção e
não para a mobilidade da população trabalhadora.
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Indústria relacionada às atividades de extração mineral.
Por mais de 100 anos, carvão e aço foram responsáveis pela economia e
sobrevivência da região. A partir do momento em que a realidade industrial global
começou a alterar-se, a região do Ruhr também acompanhou este momento histórico,
desindustrializando-se.
O cenário com o qual o IBA Emscher Park se deparou, era configurado por uma
complexa realidade regional composta de áreas industriais obsoletas, esvaziadas e em
ruínas; conseqüências do abandono das atividades mineradoras e das indústrias em geral.
Estas áreas pertenciam aos monopólios do carvão e do aço, setores hostis às mudanças e
inovações.
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IBA Emscher Park: Werkstatt zur Erneuerung alter Industriegebiete.
O desemprego atingindo taxas médias de até 12%8, o previsto declínio populacional
de 15%, em um período de 20 a 30 anos e o meio ambiente contaminado através da
poluição de rios, do ar e de solos explorados, entre outros, apresentavam-se como enclaves
para o desenvolvimento, não somente da zona do Emscher, como também da região do
vale do Ruhr.
Embora o panorama alertasse, de um lado, para a difícil tarefa a ser enfrentada, por
outro, a zona do Emscher apresentava um grande potencial de desenvolvimento. Entre os
aspectos mais relevantes estavam: a condição geográfica central em relação à Europa; a
possibilidade de crescimento de um grande novo mercado com a abertura da Europa
Oriental; o fato da região do Emscher abrigar um grande contingente populacional,
proveniente de diferentes culturas; e, ainda, o elevado potencial para a ocupação e re-uso
de extensas áreas desocupadas, antes pertencentes a Montanindustrie.
O clima de desolação e falta de perspectiva tornaram-se pontos importantes a serem
combatidos. A mudança desta imagem: o desafio de projeto.
O capital inicial investido foi da ordem de 35 milhões de marcos alemães. A
administração do IBA contou com uma equipe de aproximadamente 30 profissionais -
liderados pelo geógrafo Karl Ganser -, combinando a tradicional “Mostra de Construção”,
no sentido arquitetônico, com o suporte político, econômico e administrativo de entidades
públicas.
A defesa dos espaços abertos foi retomada através do conceito de cinturões verdes,
desenvolvido anteriormente, em 1920, por Robert Schmidt. Estes elementos foram
novamente considerados ordenadores do espaço, mas desta vez, articulados por um
corredor verde leste-oeste de 70 quilômetros de comprimento e 15 quilômetros de largura,
ao longo da zona do Emscher. Este corredor verde, o Emscher Landschaftpark (Emscher
Parque da Paisagem) foi a linha estrutural para a regeneração do coração da região do
Ruhr.
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As taxas de desemprego na zona do Emscher atingiam números maiores que qualquer outra área
pertencente a Alemanha ocidental.
O memorial oficial dos trabalhos da agência IBA Emscher Park, assinado em 1989,
previa um prazo de 10 anos de atividades do escritório, embora os projetos apresentassem
diferentes agendas - de 10 a 30 anos - e determinou sete linhas mestras de intervenção:
1. Emscher Landschaftspark- a regeneração e redesenho da paisagem ao longo da zona do
Emscher;
2. Ökologischer Umbau des Emscher-Systems - a reabilitação do rio Emscher e seus
afluentes, partindo de Duisburg a Bergkamen;
3. Kanäle als Erlebnisräume - o canal Rêno-Herne como espaço de vivência;
4. Industriedenkmäler als Zeugen der Geschichte - a conservação de edifícios industriais
através do redesenho de seus espaços e funções, propiciando a manutenção da identidade
industrial através de uma nova imagem, baseada em seu patrimônio cultural;
5. Arbeiten im Park - a criação de um espaço de alta qualidade voltado para a instalação de
novas empresas e escritórios, materializando o conceito de trabalhar no parque;
6. Wohnungsneubau und modernisierung - novas formas de morar e a habitação como
elemento propulsor da requalificação urbana;
7. Neue Angebote für soziale und kulturelle Aktivitäten - novas ofertas para as atividades
sociais e culturais, tendo em vista a necessidade de qualificar os espaços de lazer, devido
ao aumento do tempo livre, decorrente da redução da jornada de trabalho e dos novos
modos de produção que introduzem novos estilos de vida.
O Parque da Paisagem do Emscher e as 7 linhas mestres defendidas pelo IBA Emscher Park
Küppersmühle em Duisburg, 2001. slag ingot for the Ruhrgebiet em essen, 2001.
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As in the case of acunpucture, it contents itself with stimulating significant points in the hope that the
healing powers thus activated will spread out to include the closer vivinity and more distant environs. (Peht:
1999)
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Herzorg & Meuron são os autores do projeto Tates Gallery, em Londres.
Desta forma, a nova imagem do coração da região do Ruhr foi se delineando. Novos
usos e significados foram incorporados ao tecido urbano, sem que para tal fim, fossem
anuladas a memória e a identidade da paisagem construída. A zona do Emscher não foi
transformada em um museu, pelo contrário, ela foi considerada não somente um espaço de
visibilidade e contemplação, mas um lugar a ser usado e experimentado (Erlebnissräume).
Karl Ganser, mentor e coordenador-chefe da agência IBA, afirmou - quando
questionado quanto às intenções de projeto -, que o Ruhr deveria encontrar, em sua
paisagem industrial, os valores para o desenvolvimento de sua identidade.
A mudança de mentalidade reforçada pela auto-estima dos habitantes, acostumados
ao conformismo de uma região degenerada pelos anos de industrialização selvagem, foi
um dos pontos fortes defendido nas intervenções e nas atividades criadas.
Ao invés de serem desenvolvidas áreas periféricas, Ganser defendeu o redesenho e o
adensamento das áreas centrais mais atingidas pela industrialização. Paralelamente, foi
criado um conceito cultural de inovação que orientou os princípios das intervenções,
baseados em duas linhas de ação: “uma nova região fundamentada em uma nova cultura” e
“sustentabilidade urbana sem danos ecológicos”.
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Wasteland termo utilizado para designar áreas desoladas, abandonadas. Geralmente relacionadas a
exploração industrial ou urbana.
principalmente em se tratando da competição com outras metrópoles européias pela busca
de novas economias.
Para a nova paisagem do coração do Ruhr não houve limites urbanos. As cidades do
Emscher, pouco conhecidas fora da região, conformaram uma federação de novos espaços
onde a indústria, a cultura e a paisagem misturavam-se.
O parque da paisagem do Emscher abrangeu diferentes escalas de espaços livres,
desde corredores verdes aos parques locais. Algumas áreas foram eleitas pedras
fundamentais (Trittsteine) para o sucesso do projeto de grande parque urbano. Entre eles, o
Landschaftspark Duisburg-Nord - um dos principais parques locais que compõe a estrutura
de espaços verdes do Emscher Landschaftspark -, que agregou apreciação estética à
decadência da ruína industrial.
A vegetação que gradativamente ocupava as adjacências dos trilhos ferroviários e das
instalações em geral, foi administrada através do mesmo conceito de degradação
controlada, aplicado às construções industriais. Algumas partes do complexo foram
mantidas fechadas ao público. Entretanto, elas aguardam o desenrolar das futuras ações,
baseadas na cultura industrial e no turismo urbano.
Através da “degradação controlada”,
o desgaste das estruturas foi percebido
como fluxo natural de uma imagem de
paisagem mutante, que preserva as suas
características na medida em que legitima
seus índices em deterioração.
“Seria perigoso, se os monumentos
industriais fossem demolidos pela falta de
dinheiro para a sua manutenção. Ao menos,
eles restam visíveis. Esta é a estratégia da
degradação controlada” [GANSER: 2000,
p.22, trad. nossa].
Landschaftspark Duisburg-Nord
A aceitação da herança industrial
manifestou-se através do “patrimônio histórico” e da “paisagem em movimento”, como
defende Bernard Reichen [2000, p.24]. Por processos de conservação e transformação, as
antigas estruturas deram origem a novos projetos arquitetônicos, referências da nova
cultura na paisagem.
“Nós paisagistas, não mudamos os sítios industriais abandonados. São eles que
provocam uma mudança fundamental na nossa maneira de pensar e na filosofia de nossa
profissão” [LATZ: 2000, p.23].
Seguindo os mesmos passos do Landschaftspark Duisburg-Nord, embora
respondendo a diferentes escalas, outros parques agiram também como pedras
fundamentais para o redesenho da paisagem do Emscher, entre eles: o Nordstern Park, em
Gelsenkirchen; a Kokerei Zollverein, em Essen e o Westpark, em Bochum.
A restruturação do ecossistema da zona do Emscher foi o amálgama entre os
aproximadamente 100 projetos desenvolvidos durante o IBA Emscher Park.
A conexão entre estas diferentes escalas de espaços livres foi obtida através da
criação de trilhas peatonais, ciclovias regionais, do rio Emscher e do Canal Rhein-Herne,
do eixo ferroviário Köln-Mindener12, além das convencionais ruas e estradas, que
cruzavam os setes cinturões verdes, permitindo o uso e a experimentação deste novo
cenário.
5.2 Habitação como forma de reestruturação urbana.
Uma das metas mais importantes do IBA Emscher Park foi concentrar e ocupar as
lacunas urbanas, estimulando ações como: morar, trabalhar e lazer. Além do usufruto
social e cultural, buscou-se um verdadeiro ambiente urbano, ausente até aquele momento.
A construção de novas habitações, assim como a regeneração de antigas áreas
residenciais, foram entendidas como ponto central do processo de reestruturação urbana
[SCHITZMEIER: 1991, p. 31]. A Nova Comunidade Prosper III, em Bottrop, pode ser
considerada um exemplo.
No final da década de 1970,
acompanhando o reflexo das crises
do carvão e do aço, a mina de carvão
Prosper III, em funcionamento desde
1906, foi fechada.
Em 1987, os antigos edifícios
foram demolidos, deixando uma área
vazia de 26 hectares. Apenas o muro
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Residências, novas formas de economia, instituições sociais e lazer.
sistema fluvial, buscou devolver à natureza uma água limpa, fluindo em um curso mais
natural, além da requalificação paisagística das margens do rio e de seus córregos.
Para a reestruturação ecológica do sistema do rio Emscher, o IBA associou-se a
EmscherGenossenschaft (agência criada em 1904 com o objetivo de tratar dos assuntos
relativos ao consumo de água) e, em conjunto, desenvolveram três linhas básicas de
atuação:
- Descentralização das estações de tratamento do esgoto, ao longo dos 70
quilômetros do rio Emscher, além de uma estação de tratamento biológica na confluência
dos rios Ruhr e Emscher, tendo em vista a melhoria da qualidade da água.
- Separação entre a água suja e a limpa, transferindo a água contaminada para
tubulações de esgoto subterrâneas, permitindo, através do redesenho do curso da água, um
leito mais natural para os rios e córregos. Como conseqüência também, a paisagem
adjacente seria redesenhada, criando um ambiente urbano mais atraente.
- Possibilidade de captação da água da chuva nas áreas próximas ao rio Emscher
e de seus afluentes, facilitando a infiltração natural.
O projeto de reconversão dos 350 quilômetros
de curso de água poluída foi previsto para um
período de 20 a 30 anos, com investimentos
estimados da ordem de 8.7 bilhões de marcos
alemães. Exemplos de aplicação destas três linhas
básicas podem ser verificados, respectivamente,
através da criação da moderna estação de tratamento
de esgoto, na cidade de Bottrop (Kläranlage Bottrop),
da reconversão do córrego e da paisagem adjacente
ao Deininghauser Bach e do projeto de captação e
infiltração natural da água da chuva, no antigo e novo
conjunto habitacional Schüngelberg.
Através do tratamento do sistema hidrológico
do Emscher, O IBA Emscher Park ganhou, da opinião
Deininghauser Bach em Bottrop,
2001. pública, de investidores e dos poderes públicos locais,
a credibilidade na reconversão da paisagem industrial.
5.5 Montanhas de detritos minerais alterando o relevo do vale do Ruhr.
A topografia plana, característica natural da paisagem do Ruhr, com o passar dos
anos, foi alterada pelos montes de detritos (slag heaps), construídos a partir do material
extraído na exploração das minas.
As referências da paisagem do Ruhr eram sempre aquelas relacionadas ao cenário
industrial: chaminés, gasômetros, torres de extração e outros elementos marcantes que,
principalmente nas cidades da zona do Emscher, misturavam-se e confundiam-se
reforçando ainda mais a imagem de uma grande e única conurbação industrial.
As montanhas de detritos, algumas atingindo 65 metros de altura e áreas equivalentes
a 3 hectares., foram entendidas não somente como novas formas artificiais de relevo,
produtos da natureza industrial, mas potenciais land-arts, servindo de inspiração e suporte
para projetos artísticos [GANSER: 2000, p. 20].
Desta forma, os land-arts, a paisagem transformada em obra de arte e os landmarks,
a arte criando pontos de referência na paisagem, integraram o repertório das novas
visibilidades para o Ruhr.
A partir do tratamento artístico e paisagístico recebido, as montanhas artificiais se
tornaram também estratégicas plataformas de observação da paisagem industrial em
mutação: a visibilidade que observa.
A experiência IBA Emscher Park, como defendeu Ganser, não deve servir de modelo
a ser aplicado em outras realidades industriais, mas o seu conceito de intervenção sim.
Cada localidade é construída em bases históricas e culturais próprias. A industrialização,
embora tenha sido um processo de desenvolvimento econômico mundial, e a sua
estruturação tenha ocorrido em bases similares em todo o mundo, apresentou reflexos
diversos em várias localidades do planeta.
Desta forma, não se faz cabível uma comparação entre a realidade do Ruhr e a de
qualquer região ou cidade industrial brasileira, pois se assim fizéssemos correríamos o
risco de esvaziar a riqueza das diferenças em analogias estruturais que acabariam por se
sobrepor às características culturais de ambas realidades. O que nos cabe ressaltar desta
experiência, entretanto, é a metodologia empregada em se tratando da intervenção em
territórios industriais, principalmente tendo em vista a recuperação urbana e a aproximação
com as noções de crescimento e desenvolvimento sustentável.
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS:
- BOSMA K. & HELLINGA H. (Hrsg) "Mastering the City I /II" Rotterdam 1997
NAI.
- CASTELLS, Manuel & HALL, Peter. Technopoles of the world: the making of 21st
century industrial complexes. London: Routledge, 1994.
- Das Neue Berlin. "Berlin: open city" Berlin: Nicolai,. 2000.
- FEHN; K. & WEHLING; H.W. " Bergbau- und Industrielandschaften" Bonn:
Mignon Verlag, 1999.
- IBA Emscher Patk & Stadt Bottrop. Städtebaulicher Realisierungswettbewerb zur
Reaktivierung der Zechenbrache Prosper III in Bottrop, 1990.
- IBA Emscher Park (Hrsg). "Ergebnisse der Studie zur Machbarkeit des Emscher
Landschftspark in: Emscher Park Informationen 4,5/1990",Gelsenkirchen IBA,1990
- Projeturbain 21/ Sep 2000 " L'IBA Emscher Park: Un anti modele"