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Dto Das Sociedades - Vol I
Dto Das Sociedades - Vol I
INTRODUÇÃO
Pág.29 a 84
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PARTE I
DAS SOCIEDADES EM GERAL
● O sistema de fontes
A dogmática básica do Direito das sociedades lida com dois grandes substratos
interligados : o obrigacional e o organizacional.
Quando duas ou mais pessoas se encontram com um projecto societário, elas
actuam em duas vertentes:
- assumindo obrigações umas para com as outras ;
- fixando um quadro de organização que, depois, irá desenvolver novas
actuações produtivas.
O modo por que se conectem estes dois substratos é variável. Teoricamente, o
substrato obrigacional será máximo nas sociedades civis puras, vindo a diminuir,
sucessivamente nas sociedades em nome colectivo, por quotas e anónimas. Também
teoricamente, esse mesmo substracto varia na razão inversa do substracto
organizacional.
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Resulta daí, que o Direito das sociedades lida, primacialmente, com diplomas
“comerciais”.
O Direito das sociedades apela, ainda e continuamente, ao Direito civil. Desde
logo, fá-lo no plano regulativo:
- directo: o regime das sociedades civis, previsto nos artigos 980º e seguintes do
Código Civil;
- indirecto : sempre, que, nos termos do art. 2º, 2ª parte, haja que,
subsidiariamente, recorrer ao Direito civil.
● A autonomia privada
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No moderno Direito das sociedades, operam vectores de igualdade e de justiça
distributiva. É certo que, em princípio, vigora a regra do voto por capital, por oposição
ao voto por cabeça.
Vamos recordar alguns institutos :
- a proibição de pactos leoninos – art. 22º/ 3;
- a regra de participação nos lucros e perdas de acordo com a participação no
capital – art.22º/1
- a necessidade de convocação de todos os sócios para a assembleia poder
deliberar validamente – art. 56º/1, al.a) – ou de todos terem sido convidados para haver
voto escrito – al.b);
- as restrições quanto ao voto plural – cf. Art. 531º
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teremos sociedades ditas de responsabilidade ilimitada ; no segundo, de
responsabilidade limitada.
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● Segue ; as sociedades unipessoais
● O património
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No contrato de sociedade civil, as partes – os sócios- ficam obrigados a
contribuir com bens ou serviços para o exercício em comum de certa actividade que não
seja de mera fruição – art. 980º, do Código Civil. Há assim, uma entrada de bens para a
sociedade – art. 981º/1. As “coisas sociais” têm um determinado regime de uso – art.
989º - e pelas dívidas sociais respondem a própria sociedade e os sócios, pessoal e
solidariamente – art. 997º; todavia, o sócio demandado pode exigir a prévia execução do
património social – idem 2. Dissolvida a sociedade, procede-se à liquidação do seu
património – art. 1010º
Passemos, agora, às sociedades comerciais. Estas não são definidas : todavia,
não oferecerá dúvidas a aplicabilidade da ideia geral do art. 980º do Código Civil : a
contribuição com bens ou serviços para a actividade comum estará sempre presente. As
sociedades comerciais têm a capacidade necessária para prosseguir o seu fim – art. 6º/1.
A obrigação de entrada vem regulada com algum pormenor – art. 25º e seguintes
– ficando a sociedade a dispor de bens – cf. Artigos 31º e 32º. Havendo dissolução da
sociedade, passa-se à liquidação que irá dar destino aos seus bens – ao seu património –
art. 146º e seguintes.
Diversos preceitos permitem, em certas condições, o diferimento de entradas ou
de parte delas – art. 202º/2 e 277º/2, quanto a sociedades por quotas e anónimas,
respectivamente.
● O objecto
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● O elemento formal ; a tipicidade
● A posição adoptada
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presença de novas normas, agrupadas em torno da ideia de “ pessoa colectiva”. No caso
de uma pessoa de tipo corporacional, os direitos da corporação são direitos dos seus
membros. Simplesmente, trata-se de corporação são direitos dos seus membros.
Simplesmente, trata-se de direitos que elas detêm de modo diferente do dos seus direitos
individuiais.
Em Direito, pessoa é, pois sempre, um centro de imputação de normas jurídicas,
isto é: um polo de direitos subjectivos, que lhe cabem e de obrigações, que lhe
competem. A pessoa é singular, quando esse centro corresponda a um ser humano; é
colectiva em todos os outros casos. Na hipótese da pessoa colectiva, já se sabe que
entrarão, depois, novas normas em acção de modo a concretizar a “ imputação” final
dos direitos e dos deveres. Digamos que tudo se passa, então, em modo colectivo : as
regras, de resto inflectidas pela referência a uma “ pessoa”, ainda que colectiva, vão
seguir canais múltiplos e específicos, até atingirem o ser presente, necessariamente
humano, que as irá executar ou violar.
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- teoria do regime: as pessoas colectivas públicas subordinar- se- iam a um
regime específico que incluiria a sua sujeição geral do Direito público.
Poderiamos, então dar lugar a um critério jurídico- cultural : são privadas as
pessoas colectivas que se rejam pelo Direito civil ou comercial, assumindo a forma de
sociedades comerciais, de cooperativas, de associações, de fundações ou de sociedades
civis e ainda, de outras figuras, plenas ou rudimentares, que ocorram em sectores civis
ou comerciais extravagantes. As restantes, são públicas.
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- sociedade em nome colectivo: o sócio responde individualmente pela sua
entrada e, ainda, pelas obrigações sociais subsidiariamente em relação à sociedade e
solidariamente com os outros sócios – art. 175º/1; a sua firma, quando não individualize
todos os sócios, deve conter, pelo menos, o nome ou firma de um deles, com o
aditamento, abreviado ou por extenso, “e Companhia” ou qualquer um que indique a
existência de outros sócios – art. 177º/1
- sociedade por quotas: o capital está dividido em quotas e os sócios são
solidariamente responsáveis por todas as entradas convencionadas no contrato – art.
197º/1; a firma poderá ter uma composição variada mas, em qualquer caso, concluirá
pela palavra “limitada” ou pela abreviatura “Lda.” – art. 200º/1
- sociedade anónima : o capital é dividido em acções e cada sócio limita a sua
responsabilidade ao valor das acções que subscreveu – art. 271º ; a firma, de
composição variada, concluirá com a expressão “sociedade anónima” ou pela sigla
“S.A.” – art. 275º/1
- sociedade em comandita : tem dois tipos de sócios : os sócios comanditários,
que respondem apenas pela sua entrada e os sócios comanditados, que respondem nos
mesmos termos dos sócios em nome colectivo ; na comandita simples não há
representação do capital por acções ; na comandita por acções, só as participações dos
sócios comanditários são representados por acções – art. 465º
O Decreto-Lei nº 257/96 de 31 de Dezembro, introduziu, no Código das
Sociedades Comerciais, a figura das sociedades unipessoais por quotas – art. 270º- A a
270º-G. Trata-se de um tipo societário não coincidente com o das sociedades por quotas
“comuns”.
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colectivo imperfeito. E as entidades daí decorrentes constituirão figuras afins às pessoas
colectivas.
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substracto : um organização de pessoas que a sirvam, bens de afectação e um objectivo
geral. Esse substrato põe-se – ou pode pôr-se – em marcha antes do acto formal
atributivo da personalidade. Do mesmo modo, ele pode manter-se depois de um acto
formal de sentido contrário que, visando a extinção da pessoa colectiva venha suprimir
a personalidade (plena).
A matéria está expressamente regulada a propósito das sociedades comerciais.
O regime destas, expresso nos artigos 36º a 40º, contém algumas regras que traduzem o
afloramento de princípios gerais, com relevo para o art. 36º/2.
No decurso da formação de um acto colectivo e antes de alcançada a
personalidade, havendo logo uma actuação dos interessados, cai-se nesse tipo. A própria
sociedade civil pura é uma pessoa colectiva rudimentar : qualidade em que incorrem as
tais sociedades em formação.
Perante associações ou fundações em formação, o problema resolver-se-á com
recurso aos artigos 195º e seguintes do Código Civil : associações sem personalidade
jurídica e comissões especiais.
A pessoa colectiva em extinção sofre uma evolução, equivalendo ao que temos
vindo a designar “ pessoa rudimentar”. Assim, coma a extinção deveria desaparecer o
ente colectivo. Todavia, há que praticar os actos conservatórios e os necessários,
procedendo-se ainda às diversas operações de liquidação – artigos 166º/1, 184º/1 e 194º
do Código Civil e 146º e seguintes do Código das Sociedades Comerciais.
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22º O tipo geral das sociedades civis
● Noção e elementos
O Código Civil define contrato de sociedade no seu art. 980º. Esta noção deixa
transparecer um contrato oneroso, embora as prestações sejam recíprocas : todos devem
efectuá-las, suportando o inerente esforço ; todavia as partes não recebem,
propriamente, as prestações efectuadas pelos outros.
De acordo com a noção legal, é possível apurar a presença de três elementos:
- as contribuições das partes;
- um exercício em comum;
- o fim da repartição dos lucros.
Um quarto elemento, de certo modo prévio, seria a intenção de formar a
socieadade. Não teria, assim, um especial relevo como elemento
Quanto ás contribuições das partes, admite a lei que as mesmas consistem em
bens ou serviços. Podemos ir mais longe : contribuição poderá residir numa qualquer
vantagem de tipo patrimonial como, por exemplo, a concessão de uma garantia. As
contribuições podem ser imediatas. A própria lei refere “…se obrigam a contribuir…”,
poderão fazê-lo no futuro ou, até, apenas eventualmente, já que a lei admite obrigações
condicionadas.
Segue-se o “…exercício em comum de certa actividade económica, que não seja
de mera fruição…”. A expressão “ exercício comum” deve ser entendida como exercício
por conta de todos. Pode falar-se em “fim comum”, desde que, a “fim” se d~e um
alcance particularmente lato. Na verdade, pode o “exercício” nãos er levado a cabo por
todos os sócios, sem deixar de ser “em comum”. Por fim, o “exercício comum”não
poderia ser de mera fruição. O legislador pretendeu, com isso, delimitar a sociedade de
meras situações de compropriedade de coisas.
A concluir os elementos legais, surge-nos o objectivo da repartição dos lucros da
sociedade. Este elemento tem um alcance parcialmente injuntivo, na medida em que o
art.994º proíbe os pactos leoninos. De acordo com a actual tendência de permitir
sociedades non profit, propendemos para uma acepção muito lata de lucros :poderão
não consistir numa imediata percepção de vantagens, pelos sócios, antes procurando
beneficiar terceiros.
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à administração da coisa comum ou art. 36º/2, quanto ás sociedades comerciais não
registadas, no tocante ás relações com terceiros.
O art. 981º/1 do Código Civil, determina que o contrato de sociedade não esteja
sujeito a forma especial, à excepção da que for exigida pela natureza dos bens com que
os sócios entrem para a sociedade. Por exemplo: pelo art. 875º do Código Civil, exigir-
se-ia a escritura pública sempre que, das contribuições, fizessem parte bens imóveis.
O art. 981º/2 é gerido por um favor negotti muito vincado, estabelecendo
especiais hipóteses de conversão ou de redução, no caso de inobservância da prescrição
legal de forma.Assim:
- a inobservãncia de forma legal dá azo à nulidade – art. 220º do Código Civil –
e não à anulabilidade; logo, onde está “…só anula…” ler-se-á “…só provoca a
nulidade…”; aliás, a tratar-se de anulabilidade, nunca poderia ser a “inobservância da
forma” a anular fosse o que fosse: tratar-se-ia de uma iniciativa das partes;
- a conversão prevista no art. 293º tem requisitos que, aqui, se devem ter por
respeitados; já não se entende porque limitar o produto da conversão ao “…simples uso
e fruição dos bens pela sociedade”; outras soluções seriam possíveis : não vemos nada,
na lei, que as impeça;
- também a redução encarada no art. 292º terá lugar quando operem os eus
requisitos gerais; não há motivos para a aplicar, apenas ao universo das participações.
Deve assinalar-se que o contrato de sociedade comercial está sujeito a escritura
pública – art. 7º/1.
Uma vez celebrado, o contrato de sociedade pode alterar-se. Assim sucede com
qualquer contrato, desde que as partes estejam de acordo. No caso da sociedade, poderá
haver duas ou mais partes: pois mesmo então as alterações exigirão o acordo de todos os
sócios, salvo se o próprio contrato o dispensar – art. 982º/1 do Código Civil. A hipótese
normal será, então, a de se prever uma alteração por maioria, simples ou qualificada.
A figura dos direitos especiais dos sócios tem clara origem comercial, dispondo
hoje de consagração geral no art. 24º
● As entradas
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O Código Civil aplicou-se, depois quanto à execução das obrigações de entrada,
à garantia e ao regime do risco –art. 984º A ideia do legislador foi a seguinte:
- quando as entradas impliquem a transferência ou a constituição de um direito
real, regem as normas da compra e venda – art. 984º, al.a);
- quando traduzam apenas o uso e a fruição de uma coisa, regem as normas da
locação – art. 984º, al.b)
Finalmente, o Código Civil é omisso quanto a prestações de facere e de
suportação: apenas refere, no art. 992º/2 e 3, a figura do sócio da indústria. Haverá que
aplicar o regime que resulte das situações consideradas e dos contratos mais
vocacionados para intervir.
No Direito português, remeteriamos para a bitola de exigência própria do
cumprimento das obrigações em geral.
● A administração
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Na segunda, a designação pode ser revogada pela maioria dos sócios – art.
986º/3. Em tudo o mais – idem, nº 3, in fine – há que aplicar as regras do mandato.
Quanto aos direitos e obrigações dos administradores, o art. 987º, do Código
Civil, remete para o regime do mandato.
As administradores podem ser responsabilizados pelos seus actos ou omissões.
Trata-se de matéria complexa, no domínio das sociedades comerciais. No tocante às
civis, a lei atribui a cada sócio o direito de responsabilizar os administradores – art.
987º/2 do Código Civil
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992º/3, 1ª parte. O mesmo esquema será aplicãvel aquele que apenas se obrigou a
facultar, à sociedade, o uso e a fruição de uma coisa – idem, 2ª parte.
O art. 993º, do Código Civil põe a hipótese de a divisão dos ganhos e perdas ser
deferida a um terceiro. Nessa altura, deve o terceiro em causa proceder segundo juízos
de equidade.
Não tendo a divisão sido feita em tempo devido, fá-la-á o tribunal, de acordo
com os mesmos juizos de equidade - art. 993º/1, in fine.
● Cessão de quotas
Segundo o art. 995º/1 do código Civil nenhum sócio pode ceder a terceiro a sua
quota, sem consentimento de todos os outros.
Levanta-se um problema: a contrario sensu pareceria que o sócio é livre de
alienar a sua quota a outro sócio. Não é assim: isso equivaleria à saída de um sócio e à
concentração de posições na esfera de outro, o que poderá ser, de todo contrário à
vontade e às previsões dos outros sócios. Além disso verifica-se que nas sociedades em
nome colectivo a transmissão entre vivos de uma parte social exige o acordo dos
restantes sócios – art. 182º/1 – seja quem for o beneficiário.
O art. 982º/2 do Código Civil exige para a transmissão de quotas a forma exigida
para a transmissão dos bens da sociedade. Temos de ter ainda em conta as regras sobre a
forma voluntária – art 222º, do Código Civil.
● A representação
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administradores não são oponíveis a terceiros de boa fé, ou seja: a terceiros que, sem
culpa, as ignoravam ao tempo em que contrataram com a sociedade – art.996º/2
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- quer entre o que um terceiro deva à sociedade e o crédito dele sobre alguns dos
sócios;
- quer entre o que a sociedade deva a um terceiro e o crédito que contra este,
tenha algum dos sócios.
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A exclusão depende do voto da maioria dos sócios, não contando o voto do sócio
a excluir, produzindo efeitos decorridos 30 dias sobre a data da sua comunicação ao
visado – art. 1005º/1. O direito de oposição do sócio excluído caduca no prazo de 30
dias após se ter tornado eficaz – art. 1005º/2.
Tendo a sociedade apenas dois sócios, a exclusão deve ser declarada pelo
tribunal – art. 1005º/3
Quer a exoneração , quer a exclusão não isentam o sócio da responsabilidade
pelas dívidas sociais contraídas até ao momento em que a saída produza os seus efeitos
– art. 1006º/1.
Não estando sujeitas a registo, as exonerações e exclusão não são oponíveis a
terceiros de boa fé, ou seja : a terceiros que, sem culpa, as ignorassem, ao tempo em que
contrataram com a sociedade – art. 1006º/2.
● Dissolução da sociedade
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dissolução – a sociedade e os outros sócios são responsáveis. È o que se infere do art.
1009º/2 que retoma o art. 184º/2 do Código Civil.
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resultando a dissolução de causa imperativa, terão, todavia, de ter cessado as
circunstâncias que a determinaram – idem, nº 2
De notar que a responsabilidade dos sócios se mantém quando, encerrada a
liquidação, se verifique a existência de débitos que não tenham sido saldados – art.
1020º, do Código Civil.
O art. 1021º do Código Civil, ocnclui a matéria legal atinente às sociedades civis
puras com as regras a observar no tocante á liquidação de quotas.
Recorda-se que tal liquidação ocorre nas hipóteses de morte, exoneração ou
exclusão de um sócio. A preocupação da lei é a de que o ex-sócio receba o valor justo
que lhe compete. Esse valor é fixado com base no estado da sociedade, à data em que
tenha ocorrido ou pruduzido efeitos o facto determinante da liquidação em causa – art.
1021º/1 , 1ª parte; havendo negócios em curso , os lucros ou perdas destes são
computados – idem, 2ª parte.
Na avaliação da quota são tidas em conta, na parte aplicável, as regras sobre
liquidação – art. 1018º/1 a 3, ex vi 1021º/2.
Finalmente e como foi referido: o pagamento do valor da liquidação deve ser
feito, salvo acordo em contrário, no prazo de seis meses a contar do dia em que o facto
determinante da liquidação se tornou eficaz.
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● As sociedades civis sob a forma comercial
As sociedades civis que temos vindo a estudar regem-se pelos artigos 980º do
Código Civil: trata-se das sociedades civis sob forma civil ou na terminologia adoptada,
as sociedades civis puras.
Contrapõem-se-lhes as sociedades civis sob a forma comercial, isto é, aquelas
que adoptem um dos tipos referidos do Código das Sociedades Comerciais e, não
obstante, tenham exclusivamente por objecto a prática de actos não comerciais – art.
1º/4.
As sociedades civis sob a forma comercial submetem-se ao regime das
sociedades comerciais. Decisiva é, pois, a forma que adoptem. Existem leis especiais
que prevêem tipos específicos de sociedades civis sob a forma comercial:
- sociedades desportivas
- sociedades de agricultura em grupo
- sociedades gestoras de empresas
● A posição adoptada
Parece claro que o Código Civil se exprime, neste contexto, em modo colectivo.
O RNPC contém elementos com interesse. O FCPC abrange informação relativa às
sociedades civis ( art. 4º/1, al.a) do RNPC ). O seu art. 42º dispõe expressamente sobre
as denominações das sociedades civis sob a forma civil.
Não fica, todavia, clara a obrigação de inscrição no RNPC : o art 6º do
correspondente diploma refere “ pessoas colectivas”, não sendo seguro que as
sociedades civis puras fiquem abrangidas. Contudo, o art.10º/1 sujeita a inscrição no
FCPC factos relativos às entidades referidas no art. 4º/1, al.d).
Quer isso dizer que as sociedades civis puras devem ser inscritas no RNPC, ou
mais precisamente – art. 10º/1 – devem sê-lo:
- a sua denominação
- a sua sede e endereço postal;
- o objecto social ou actividade exercida
- o início e a cessação da sua actividade.
Esta obrigação envolve a de adoptar um denominação ; ela torna-se efectiva, nos
termos do art. 54º/2 quando a sua constituição se concretize por escritura pública :
parece que este preceito terá de se aplicar à própria constituição das sociedades civis
puras, independentemente de serem, a priori, pessoas colectivas.
A sociedade civil pura, constituída por escritura pública, dotada de denominação,
devidamente inscrita no RNPC, dado o âmbito dos artigos 980º e seguintes do Código
Civil, é uma pessoa colectiva em tudo semelhante às demais sociedades.
As sociedades civis puras, desde que constituídas por escritura pública e com as
especificações prescritas, nos seus estatutos, são pessoas colectivas plenas.
Quanto às rstantes, todas as graduações são possíveis. Relativizada a ideia de
personalidade colectiva e admitindo o princípio das pessoas colectivas rudimentares,
nenhuma dificuldade haverá em considerá-las como “ pessoas rudimentares”
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Perante o art. 5º, a personalidade colectiva das sociedades comerciais parece não
oferecer dúvidas.
A doutrina actual distingue entre autonomia patrimonial e personalidade jurídica:
a primeira , a lei opera no âmbito objectivo da sociedade ; na segunda, fá-lo, também no
âmbito subjectivo. Apenas as sociedades de capitais – as anónimas e as de
responsabilidade limitada ou por quotas – teriam personalidade ; as de pessoas – as
simples e as em nome colectivo – não a teriam.
O Direito comercial português acabou por assentar quanto à atribuição da
personalidade colectiva às sociedades comerciais.
● A sua superação
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fundo, que todos os direitos e obrigações são, salvo excepções abaixo referidas,
acessíveis a pessoas colectivas.
Subproblema muito relevante é o da prestação de garantias a terceiros. Tal
prestação poderia surgir como um “favor” e, portanto, como um acto gratuito, que iria
depauperar o património do garante, à custa dos sócios e dos credores
O art. 6º/3 dispôs sobre as garantias. Fê-lo, porém, usando uma linguagem
desnecessariamente qualificativa : “ considera-se contrária ao fim da sociedade a
prestação de garantias…”
De acordo com as regras de interpretação o art. 6º/3 proibiu, pura e
simplesmente, as sociedades de prestar garantias, salvo nas condições que ela própria
prevê. São elas:
- justificado interesse próprio da sociedade garante;
- sociedade em relação de domínio ou de grupo
Estas “excepções” são de tal ordem que acabam por consumir a regra.
Resta concluir que a proibição do art. 6º/3 acaba por funcionar apenas, perante
situações escandalosas e, ainda aí, havendo má fé dos terceiros beneficiários.
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prática de determinados actos. As competentes disposições estatutárias limitam a
capacidade de gozo das pessoas colectivas? À partida não.
As limitações estatutárias são, assim, meras regras de conduta internas. Elas
adstringem os órgãos da pessoa colectiva a não praticar os actos vedados, se, contudo,
limitarem a capacidade da sociedade. É, de resto essa a solução do art. 6º/4 do Código
das Sociedades Comerciais.
O mesmo regime deve ser aplicado às limitações deliberativas, isto é: as
limitações que deliberações internas da própria pessoa colectiva ponham à prática , por
ela, de certos actos. O desrespeito por tais deliberações responsabiliza o seu autor : a
capacidade da pessoa colectiva mantém-se porém, intacta.
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29º As figuras afins às sociedades
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Na associação em participação, temos um vínculo entre uma pessoa ( o
associado) e um comerciante ( o associante), pelo qual a primeira confere ao segundo
determinados meios para que este exerça o comércio, a troco de uma participação nos
lucros ou nos lucros e perdas.
O Código Veiga Beirão marcou já um distanciamento em relação á sociedade :
chamaria mesmo à figura que nos ocupa, conta em participação, regulando-a nos artigos
224º e seguintes.
A distinção entre a associação em participação e a sociedade assenta em dois
pontos:
- a falta de personalidade jurídica
- a ausência do exercício “ em comum” de uma actividade
O consórcio é apresentado pelo art. 1º do Decreto –Lei nº 231/81 de 28 de
Julho.O consórcio pode ser tomado como uma figura autónoma que corresponde a um
contrato de sociedade especial.
● Cooperativas
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inspiração comercial, aplicando-se subsidiariamente – artigo 9.º do Ccoop – o direito
das sociedades anónimas.
● As teorias explicativas
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A chamada teoria subjectiva tem sido rejeitada.
As teorias objectivistas resultam à partida, da rejeição de elementos subjectivos
para fazer actuar o levantamento.
Numa primeira fase, tudo é feito depender das (más) intensões do agente.
Conquistado o instituto, este é objectivado, passando a depender da pura contrariedade
ao ordenamento.
Abandonada a intenção, o levantamento exigiria a ponderação dos institutos em
jogo. Quando, contra a intencionalidade normativa, eles fossem afastadas pela
invocação da personalidade, esta deveria ser levantada.
A teoria da aplicação das normas diz que o “levantamento” não traduziria
propriamente, um problema geral da personalidade colectiva : trtar-se-ia, antes, de uma
questão de aplicação das diversas normas jurídicas. Haveria levantamento sempre que,
por exigência duma norma concretamente prevalente, não tivesse aplicação uma norma
própria da personalidade colectiva.
As teorias negativistas negam, directa ou indirectamente, a autonomia ao
levantamento da perssonalidade, enquanto instituto.
● Posição adoptada
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Capítulo II – O contrato de sociedade
Secção I – Celebração, conteúdo e capital social
31º Celebração, forma e natureza
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A constituição de uma sociedade entre cônjuges pode ( ou não) atingir a
imutabilidade das convenções antenupciais. Assim, se ambos os cônjuges entrarem para
a uma sociedade com todos os seus bens, presentes ou futuros, poderemos estar perante
um esquema destinado a postergar os regimes da separação, ou da comunhão de
adquiridos. Porém, se subscreverem pequenas quotas ou umas quantas acções, o
problema nem se põe. Haverá, por isso, que compatibilizar o art. 8º do Código das
Sociedades Comerciais com o art. 1714º/1 do Código Civil, verificando, contrato a
contrato, se a imputabilidade das convenções é respeitada.
A constituição de sociedades entre os cônjuges, assumindo ambos
responsabilidade ilimitada, é proibida, nos termos do transcrito art. 8º
Mercê do regime de bens, pode acontecer que uma participação social seja
comum a ambos os cônjuges. Nessa altura, por força do artigo 8º/2 e nas relações com a
sociedade, será considerado sócio aquele que tenha celebrado o contrato de sociedade
ou, sendo a participação adquirida posteriormente, aquele por quem a participação tenha
vindo ao casal. O nº 3 do mesmo preceito ressalva a administração do cônjuge do sócio
que se encontrar impossibilitado e os direitos mortis causa.
Os menores podem ser partes em contratos de sociedade. E poderão fazê-lo
pessoal e livremente sempre que a sociedade em vista esteja ao seu alcance, perante o
art. 127º do Código Civil.
Fora isso, os menores poderão celebrar contratos de sociedade, através dos pais,
como representantes legais. Será, todavia, necessária a autorização do tribunal para
entrarem nas sociedades em nome colectivo ou em comandita simples ou por acções :
art. 1889º/1, al. d). O óbice reside, aí, nos riscos derivados da ilimitação da
responsabilidade. Tratando-se de menor sob tutela, a entrada em qualquer sociedade
deve ser autorizada, visto o disposto no art. 1938º/1, al. a), b) e d) do Código Civil
Trata-se de um regime aplicável, com as necessárias adaptações, ao interdito :
art. 139º e 144º, do Código Civil. Quanto ao inabilitado, tudo depende da competente
sentença – art. 153º/1 do mesmo Código.
● Forma
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- a dissolução de sociedade não carece de escritura pública quando tenha sido
deliberada em assembleia geral e a acta da deliberação tenha sido lavrada por notário ou
pelo secretário da sociedade – art. 145º/1;
- o contrato de subordinação exige escritua pública – art. 498º
No tocante aos diversos contratos de sociedade, não são retomados os requisitos
de forma, dado o alcance geral do art. 7º/1; apenas são referidos aspectos atinentes ao
conteúdo dos contratos : artigos 176º, 199º, 272º e 466º, relat
Ivos respectivamente, a sociedades em nome colectivo, por quotas, anónimas e em
comandita.
Já no tocante à transmissão de partes sociais, a lei exige escritura pública :
- para a transferência das partes de um sócio de sociedade em nome colectivo,
quando a sociedade tiver bens imóveis – art. 182º/2, na redacção dada pelo Decreto-Lei
nº 237/2001 de 30 de Agosto;
- para a transferência de quotas – art. 228º/1
As sociedades unipessoais têm regras não totalmente coincidentes. Em princípio,
a transformação de uma sociedade por quotas em sociedade unipessoal exige escritura
pública; basta, todavia, documento particular quando, da sociedade, não façam parte
bens cuja transmissão exija essa forma solene – art. 270º-A/3. Uma regra similar
funciona para a constituição originária de uma sociedade unipessoal – idem, nº4.
O contrato de suprimento não está sujeito a qualquer forma, o mesmo sucedendo
com outros negócios de adiantamento de fundos pelo sócio à sociedade ou com
convenções de diferimento de créditos de sócios – art. 243º/6. Tratando-se de negócio
entre o sócio único e a sociedade unipessoal, deve ser observada a forma escrita, quando
outra não esteja prescrita para um negócio em jogo – art. 270º-F/2.
● Natureza
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subscritores que entrem com bens diferentes do dinheiro – at. 283º/1 – precedendo uma
especial deliberação da assembleia constitutiva – art. 281º/7, al. a). Não há
propriamente, um contrato.
Temos, depois, os casos de constituição originária de sociedades unipessoais :
seja por quotas – art.270º-A/4 – seja anónimas – art. 488º/1. Em ambos os casos
deparamos com claros negócios unilaterais.
32º O Conteúdo
● Elementos gerais
A sociedade não pode ser considerada como um contrato comum. Ele não é
eficaz inter partes ou apenas inter partes : originando, pelo registo, um ente colectivo
personalizado, ele vem produzir efeitos erga omnes. Designadamente :
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- efeitos perante os novos sócios
- efeitos perante terceiros estranhos ;
- efeitos perante os credores da sociedade.
As regras de interpretação negocial vertidas nos artigos 236º do Código Civil,
pressupõem, fundamentalmente, um diálogo negocial a dois. Locuções como
“declaratário real”,”comportamento do declarante”, “vontade real” (236º) e “vontade
real das partes” (238º/2) compreende-se num mundo bidimensional : seriam
impraticáveis em contratos plurilaterais, em que, provavelmente, cada “declarante”
pensou em algo diverso. Além disso, regras como a do equilíbrio das prestações (237º)
têm a ver com contratos comulativos. Logo à partida, todas estas regras surgem
impraticáveis em contratos de organização, como sucede com o de sociedade.
A interpretação dos pactos sociais é fundamentalmente objectiva, devendo seguir
o prescrito para a interpretação da lei – art. 9º do Código Civil, com as inevitáveis
adaptações. Também a integração deverá seguir o prescrito no art. 10º desse Código, em
vez de apelar a uma vontade ipotéti ca das partes (quais?)
A doutrina alemã procurou distinguir , para efeitos de interpretação , entre
cláusulas obrigacionais e organizacionais e entre sociedades de pessoas e de capitais
:nos primeiros casos predominaria a interpretação negocial ; nos segundos, a “objectiva”
– leia-se : a legal.
Mantemos, pois, a natureza objectiva, de tipo legal, das interpretação e
integração do contrato de sociedade : que não haja receio em assumir as especificidades
próprias do Direito das sociedades.
Apenas cumpre fazer duas cedências aos princípios gerais de interpretação e de
integração, acima enunciados :
- o da presença de cláusulas extra-societárias;
- o da proibição de venire contra factum proprium
● A firma
O art. 10º contém diversas regras relativas à firma das sociedades comerciais. A
firma da sociedade pode ser constituída, consoante se alcança do art. 10º/2 e 3 :
- por nome ou firmas de algum ou alguns sócios (firmas pessoais ou sujjectivas);
- por denominação particular, quando seja composta por designações materiais,
atinentes à actividade social ( firmas materiais ou objectivas) ou por designações de
fantasia (firma de fantasia);
- por denominação particular e nome ou firma (ou nomes ou firmas),
simultaneamente ( firmas mistas).
De acordo com as regras gerais do Direito comercial, a firma obedece aos
seguintes princípios:
- autonomia privada : a escolha da firma compete ao interessado, ainda que com
limites do art. 32º/4, al. c),d) e e) do RNPC;
- obrigatoriedade e normalização : os comerciantes devem adoptar certa firma a
qual deve ter expressão verbal, susceptível de comunicação oral e escrita, em caracteres
latinos;
- verdade e exclusividade : quando tenha significado, deve retratar a realidade a
que se reporte;
- estabilidade : a firma não muda com a alteração dos titulares do
estabelecimento;
- novidade : a firma deve ser distinta de outras já registadas ou notoriamente
conhecidas.
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Estes prícipios, contantes dos artigos 32º e seguintes do RNPC, devem aplicar-se
às sociedades comerciais, cumulativamente com as regras do art. 10º do CSC.
A autonomia privada é limitada por lei, pela moral e pelos bons costumes : tal a
formulação do art. 10º/5, al.c), aquém da do art. 32º/4, al. c), d) e e) do RNPC.
A obrigatoriedade e a normalização estão, ainda, presentes: basta ver que o art.
9º/1, al.c) do CSC prevê a firma como elemento necessário de qualquer contrato de
sociedade.
O princípio da verdade vem largamento consignado no art. 10º/5, al.a) que veda
expressões que possam induzir em erro quanto à caracterização jurídica da sociedade e
no art. 10º/5, al.b), que proíbe as que surgiram, de forma enganadora, uma capacidade
técnica ou financeira ou um âmbito de actuação manifestamente desporporcionados.
O princípio da exclusividade, com o da novidade, ressalta do artigo 10º/2 e 3 já
examinados.
A firma pode exprimir o tipo de sociedade em causa. Nas sociedades em nome
colectivo, ela deve conter – art. 177º/1:
- ou os nomes de todos os sócios;
- ou o nome de um deles, com o aditamento, abreviado ou por extenso “e
Companhia”.
O papel da firma é tão importante que, alguém que não for sócio, incluir o seu
nome na firma, ficará responsável pelas dívidas, nos termos do art. 175º : 177º/2. como
se vê, nas sociedades em nome colectivo, apenas se admitem firmas pessoais ou subject
Ivas, o que vai ao encontro desse tipo social.
Nas sociedades por quotas, a firma deve ser formulada, com ou sem sigla:
- ou pelo nome ou firma de todos, algum ou alguns dos sócios;
- ou por uma denominação particular;
- ou por ambos, concluindo em qualquer dos casos, pela palavra “Limitada” ou
pela abreviatura “Lda.”. Admitem-se, pois, firmas pessoais, firmas objectivas, firmas de
fantasia ou firmas mistas. A propósito das firmas das sociedades po quotas, o legislador
reforça o príncipio da verdade – art. 200º/1 e 2.
Nas sociedade por quotas unipessoais, a firma deve ser formulada pela expressão
“sociedade unipessoal” ou pela palavra “unipessoal” antes da palavra “Limitada” ou da
abreviatura “Lda.” – art. 270º-B. Em tudo o mais terão aplicação as regras atinentes às
sociedades por quotas propriamente ditas – art. 270º-G.
As regras relativas à firma das sociedades anónimas – art. 275º - retranscrevem,
praticamente à letra, o disposto no art. 200º, para as sociedades por quotas. Apenas com
a diferença : em vez de “Limitada” ou “Lda” terá de surgir, agora, “sociedade anónima”
ou “S.A” .
Quanto às sociedades em comandita, devem as respectivas firmas ser
formuladas, pelo menos, pelo nome ou firma de um dos sócios comanditados, aditado
pela expressão “ em Comandita” ou “& Comandita” ou – sendo uma comandita por
acções, em “Comandita por Acções ou & Comandita por Acções” – art. 467º/1.
O nome dos sócios comanditários não pode surgir na firma ; se isso suceder ,
esse sócio passa a ser responsável, perante terceiros e pelos negócios em que figure a
firma em causa, nos termos impostos aos sócios comanditados. O mesmo, de resto
sucede a terceiros que facultem o seu nome para a firma – art. 467º/2 a 5.
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O objecto da sociedade deve constar de indicação correctamente redigido em
língua portuguesa.
Como objecto devem ser indicadas as actividades que os sócios se proponham
para a sociedade – art. 11º/2. A lei permite que o contrato indique uma série de
actividades não efectivas ; segundo o nº3, compete depois aos sócios, de entre as
actividades elencadas no objecto social, escolher aquela ou aquelas que a sociedade
efectivamente exercerá, bem como deliberar sobre a suspensão ou a cessação de uma
actividade que venha sendo exercida – nº3.
Questão controversa era a aquisição, pela sociedade, de participações sociais
noutras sociedades, a qual teria de ser facultada pelo pacto social.
O problema surgia particularmente candente no tocante a participações em
sociedades de responsabilidade ilimitada ; tais participações poderiam pôr em causa o
regime de responsabilidade próprio da sociedade participante.
Resolvendo dúvidas, o art. 11º/4 a 6, veio dispor:
- a aquisição de participações em sociedades de responsabilitdade limitada cujo
objecto seja igual àquele que a sociedade está exercendo – entenda-se : efectivamente –
não depende de autorização no contrato de sociedade nem de deliberação dos sócios,
salvo cláusula em contrário;
- a aquisição de participações em sociedade de responsabilidade ilimitada pode
ser autorizada livre ou condicionalmente, pelo trato social;
- de igual modo, tal autorização pode reportar-se à aquisição de participações em
sociedades com objecto diferente do efectivamente exercido, em sociedades reguladas
por leis especiais e em agrupamentos complementares de empresas.
Finalmente, o art. 11º/6 permite que a gestão de uma carteira de títulos
pertencentes à sociedade possa constituir o objecto dela.
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- a sucursal traduz um centro autónomo de negócios, podendo mesmo se
personalizada; quando o não seja, ela estará, não obstante, apetrechada para a
celebração de todos e quiasquer negócios, traduzindo como que uma sede secundária;
- a agência exprimiria, apenas, um local de angariação de clientela; os negócios
assim obtidos seriam encaminhados para a sede propriamente dita, aí sendo concluídos;
- a delegação envolveria “poderes delegados”, o que incluiria a representação;
ficaria , porém, aquém da sucursal, uma vez que a delegação se limitaria a receber
instruções da sede;
- “outras formas de representação” poderiam incluir : secções, impostos, postos
de venda, postos de distribuição e lojas móveis, como meros exemplos.
● O capital social
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- o capital real ou financeiro : expressão dos denominados capitais próprios ou
valores de que a sociedade disponha, como seus;
- o capital económico : imagem da capacidade produtiva da sociedade, enquanto
empresa ou conjunto de empresas.
● A duração
A sociedade dura por tempo indeterminado : tal solução supletiva que resulta do
art.15º/1. Às partes cabe, no pacto social, fixar uma duração determinada para a
sociedadem,altura em que ela só pode ser aumentada por deliberação tomada antes de
um prazo ter terminado – art. 15º/2. De outra forma , esse preceito manda aplicar as
regras referentes ao regresso à actividade, previstas no art. 161º.
A fixação da duração de uma sociedade poderá, ainda, ser feita por remissão
para termo certo.
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Na hipótese de registo prévio parece claro que, antes de requerer o registo
público, as partes terão de celebrar previamente ( e pelo menos) um duplo acordo:
- o relativo aos estatutos, uma vez que o requerimento do registo prévio deve ser
instituído com “… um projecto completo do contrato de sociedade”;
- o referente à própria decisão de requerer o registo prévio em causa.
Para além das fases necessárias enunciadas, poderão ocorrer determinados
negócios eventuais. Distinguimos, em termos não exaustivos:
- acordos de princípios;
- promessa de sociedade;
- negócios instrumentais preparatórios;
- acordo de subscrição pública;
- acordo destinado a fazer a sociedade antes do registo definitivo.
Os acordos de princípios inserem-se na categoria da contratação mitigada. Eles
correspondem à formalização de negociações, em regra complexas, visando estabilizar
os patamares de consenso alcançados.
Quando a sociedade definitiva esteja suficientemente prefigurada e as partes se
obriguem, mutuamente, a celebrar o competente contrato, teremos uma promessa de
sociedade.
Para além da promessa de sociedade, poderão ainda surgir diversos negócios
instrumentais preparatórios : promessas de subscição de certa percentagem de capital ou
de todo o remanescente , promessas de entrada com bens específicos, de cedência de
instalações, de apoio logístico e outras.
Podia ainda ocorrer um negócio preliminar espacífico, pressuposto pela lei : o
acordo destinado à subscrição pública – art. 279º.
● A boa fé in contrahendo
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jurídica plena, na opinião dominante – eram ditas, por todos, sociedades irregulares. As
sociedades irregulares abrangiam ocorrências diversas:
- sociedades com vício de forma;
- sociedades cujo processo constitutivo ainda não estivesse concluído,
designadamente por falta de matrícula ou de inscrição no registo;
- sociedades de facto;
- sociedades com vícios constitutivos.
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haveria uma situação puramente material. Fica, pois, o sentido estrito, em que a
sociedade material equivale á sociedade aparente.
A sociedade aparente caracteriza-se por não ter, na origem, qualquer contrato ou
acordo societário. Assistir-se-ia à presença de uma mera organização societária a qual,
por ser perceptiva por terceiros, surgiria como uma aparência.
O legislador parece ter feito uma distinção radical:
- uma aparência total de sociedade, em que os responsáveis nem intenção têm
de celebrar um contrato;
- uma situação em que tal intenção já existiria.
Na primeira hipótese, haveria uma responsabilidade solidária e ilimitada entre os
participantes ; no segundo, aplicar-se-iam as regras das sociedades civis.
Uma segunda hipótese de sociedade irregular surge no art. 36º/2. Que tipo de
acordo exige a primeira parte do art. 36º/2? Dados os valores em presença bastará um
acordo muito simples e incipiente. Designadamente, a lei não exige uma promessa de
celebração do contrato de sociedade definitivo.
Pergunta-se se esse acordo não deveria, pelo menos, incluir os elementos
requeridos pelo contrato civil da sociedade que se irá aplicar.De facto, terá de haver um
minimum de elementos, para se poder identificar a própria situação. Mas isso implicará,
simplesmente, a indicação das partes e a determinação da actividade comum em causa.
Quanto ao resto:resulta da lei.
Finalmente : a sociedade resultante da aplicação do final do art. 36º/2 é civil ou
comercial? Comercial não pode ser.A haver elementos suficientes para se poder falar em
sociedade, ela será civil.
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Nesse domínio, ele procede a um tratamento diferenciado, em consonância com
o tipo de sociedade que esteja em causa. Distingue:
- sociedades em nome colectivo;
- sociedades em comandita simples;
- sociedades por quotas, anónimas e em comandita por acções.
Podemos agrupar as duas primeiras numa rubrica sobre sociedades de pessoas e,
as três últimas, noutra sobre as sociedades de capitais.
Quanto às sociedades en nome colectivo : pelos negócios realizados em seu
nome, depois da escritura e antes do registo, com o acordo expresso ou tácito dos
diversos sócios – acordo esse que se presume – respondem, solidária e ilimitadamente,
todos eles – art. 38º/1. Caso não tenham sido autorizados por todos os sócios,
respondem apenas aqueles que os tenham realizado ou autorizado – nº2.
O que entender por “responder”? “responder”, é aqui usado no sentido de
alguém ser convocado em termos de responsabilidade patrimonial. Os própriosnegócios
celebrados em nome das pré-sociedades visadas devem ser cumpridos por estas – ou
nem haveria negócios! E se o não forem , a pré-sociedade incorre nas consequências do
incumprimento. Havendo que passar à fase de execução patrimonial : responderá a
própria pré-sociedade, com os bens que porventura já tenhe e respondem os sócios que
tenham celebrado ou autorizado os negócios em causa : salvo ilisão:todos.
Vamos, pois, sustentar que a “responsabilidade solidária e ilimitada” referida no
art. 38º/1, segue o regime do art. 997º/1 e 2 do Código Civil incluindo, designadamente,
o benefício da prévia excussão do património social.
As cláusulas que limitem objectiva ou subjectivamente os poderes de
representação só são oponíveis aos terceiros que se prove conhecerem-nas, aquando da
celebração dos contratos respectivos – art. 38º/3. Trata-se da solução que corresponde às
regras gerais.
As relações, com, terceiros, das sociedades em comandita simples, cujos
contratos tenham sido notoriamente outorgados mas que não se encontrem, ainda,
registadas, mereceram ao legislador um longo preceito : o art. 39º. Diz em súmula:
- pelos negócios celebrados em nome da sociedade, com o acordo de todos os
sócios comanditados ( o qual se presume) respondem todos pessoal e solidariamente –
nº 1;
- nos mesmos termos responde o sócio comanditário que tenha consentido no
início da actividade social, salvo se provar que o credor conhecia a sua qualidade – nº2;
- se os negócios celebrados não tiverem sido autorizados por todos os sócios
comanditados (ilidindo-se, pois, a presunção), respondem apenas os que os realizarem
ou aprovarem – nº 3;
- as cláusulas que limitem objectiva ou subjectivamente os poderes de
representação só são oponíveis aos terceiros que se prove conhecerem-nas, aquando da
contratação.
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A responsabilidade em causa já não opera se os negócios forem expressamente
condicionados ao registo da sociedade e à assunção por esta, dos respectivos efeitos –
idem, nº2.
Pergunta-se, também aqui, se não seria justo e sistematicamente adequado fazer
intervir, em primeiro lugar, o fundo comum da sociedade : o próprio art. 36º/2 a tanto
conduziria. E independentemente disso: não deveria a própria (pré-)sociedade responder
também pelas dívidas em seu nome contraídas?
Nos negócios celebrados pelos seus representantes: os que agiram nessa
representação e os que autorizem tais negócios respondem por eles, solidária e
ilimitadamente. O art. 40º/1 acresecenta ainda, no fim, que os restantes sócios
respondem até à importância das entradas a que se obrigaram, acrescidas das
importâncias que tenham recebido a título de lucros ou de distribuição de reservas.
A responsabilidade dos representantes e dos sócios que tenham autorizado os
negócios não isenta o património social da responsabilidade principal. Além disso,
mercê do art. 997º/1 e 2 do Código Civil, os representantes e sócios demandados
dispõem do beneficium excussionis.
Resta acrescentar que tudo isto é supletivo : cessa se os negócios forem
expressamente condicionados ao registo da sociedade e á assunção por esta dos
respectivos efeitos – art. 40º/2. Pode-se ainda admitir que seja pactuado deste regime :
se necessário, sob invocação do art. 602º do Código Civil.
● A capacidade
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Segundo a teoria da sociedade de facto, a sociedade poderia ter, na sua origem,
não apenas um contrato concluído entre as partes interessadas, mas, também, a simples
evidência dos seus surgimento e funcionamento, no campo dos factos.
A teoria da sociedade de facto pouco ganharia em ser reconduzida a uma
construção mais vasta de “relações contratuais de facto”, dada a total heterogeneidade
desta última. Isoladamente tomada, a “sociedade de facto” deixa por explicar a sua
positividade jurídica, não determinando quaisquer regras. É evidente que, embora “de
facto”, a sociedade aqui em jogo obedece a regras. Aliás, pela natureza da situação tais
regras deverão mesmo ser mais precisas do que as das sociedades comuns.
A teoria dos limites da nulidade foi inicialmente apontada para explicar a
essência das sociedades em contratos inválidos. A teoria diz-nos o seguinte: pela
natureza das coisas, as regras que determinam a invalidade e uma sociedade não são
radicais, pretendendo afastar o ente visado, como se não existisse; pelo contrário: têm
alguns limites, através dos quais a sociedade irregular ainda pode exercer certa
actividade.
Os limites às invalidades societárias, bem como às suas incompleitudes
constituem uma base para qualquer eficácia jurídica. Têm uma importância evidente
para sistemas que, como o português, disponham de um elevado nível regulativo. O
facto de se descobrirem regras explícitas que, à nulidade das sociedades, ainda atribuam
certas consequências não dispensa procurar o porquê de tais normas. Daí, todavia , uma
inquestionável base juridico-positiva para qualquer solução efectiva. É ainda seguro que
o resultado passa por um desvio em relação às regras de nulidade e aos efeitos. Pelo
menos: um desvio aparente.
A teoria da organização parte, em geral, de uma apregoada dupla natureza do
contrato de sociedade; uma relação interna, puramente obrigacional e uma exterior, de
tipo organizatório. Esta última tenderia a transcender a obrigacional: representaria um
centro de interesses próprios, dando azo a um evidente elemento de confiança. O direito
não poderia deixar de o reconhecer.
46
As sociedades irregulares são verdadeiras e próprias sociedades, ainda que
diferentes do figurino elencado do art. 1º/2.
47
- na limitação dos fundamentos de nulidade;
- na introdução de prazos para a invocação dessa nulidade;
- na presença de esquemas destinados a sanar as invalidades;
- na delimitação da legitimidade para invocar a nulidade;
- na limitação dos efeitos da anulabilidade, perante as partes;
- numa certa inoponibilidade das invalidades a terceiros;
- na presença de um regime especial, no tocante à execução das consequências
da nulidade.
A sociedade tem uma especial consistência juridico-social. As razões da sua
nulidade são limitadas – art. 42º/1.
Em princípio, a nulidade pode ser invocada a todo o tempo, e por qualquer
interessado. Mas perante o contrato de sociedade, já não é assim:
- desde logo, antes de intentar a acção, há que interpelar a sociedade para
sanar o vício, quando este seja sanável ; só nos 90 dias após a interpelação se
pode interpor a acção;
- a acção deve ser intentada no prazo de três anos a contar do registo, salvo
tratando-se do Ministério Público – art. 44º/1 e 2; quer isso dizer que,
passado esse prazo, o direito de propor caduca;
- ela pode ser iniciativa por qualquer membro da administração, do conselho
fiscal ou do conselho geral da sociedade ou por qualquer terceiro “...que
tenha interesse relevante e sério na procedência da acção...”
De notar, ainda, a presença de deveres acessórios, destinados a conter danos. Já
referimos a necessidade de, ante de intentar a acção, se interpelar a sociedade para que
se sane – se sanável- o vício : uma exigência que opera como pressuposto processual
uma vez que, sem ela, a acção não será considerada quanto ao fundo. Opera, assim,
como ónus. Mas há, ainda, verdadeiros deveres legais de informar, segundo o art. 44º/3.
Os membros da administração devem comunicar, no mais breve prazo, aos sócios de
responsabilidade ilimitada e aos sócios de sociedades por quotas, a proposição da acção
de declaração de nulidade.
Este dever visa facultar o conhecimento da acção dentro da sociedade,
permitindo, aos interessados, tomar as medidas que entenderem e, no limite : iniciar o
processo de sanação do vício. A sua omissão presume-se culposa – art. 799º/1 do
Código Civil – e obriga o prevaricador a indemenizar o lesado por todos os danos
causados.
Dado o teor do art. 44º, ele aplica-se, claramente, a todos os tipos de sociedades
comerciais.
A anulabilidade tem, como se sabe e nos termos do art. 287º/1, do Código Civil
requisitos especiais de funcionamento, e uma vez actuada , ela tem efeitos similares aos
da declaração de nulidade. Aqui intervém o favor societatis:
- nas sociedades de capitais, certos fundamentos de anulabilidade operam
(apenas) como justas causas de exoneração dos sócios atingidos ; quanto à incapacidade
: ela gera uma anulabilidade limitada ao incapaz – art. 45º/1 e 2;
- nas sociedades de pessoas , a invalidade por determinados fundamentos
provoca anulabilidade apenas perante o atingido, salvo na impossibilidade de redução
prevista no art. 292º do Código Civil – art. 46º;
- em qualquer dos casos, o sócio que obtenha a anulação do contrato, nos termos
do art. 45º/2 ou 46º, tem o direito de rever o que prestou e não pode ser obrigado a
completar a sua entrada mas, “…se a anulação se fundar em vício da vontade ou usura,
não ficará liberto, em face de terceiros, da responsabilidade que por lei lhe competir
quanto às obrigações da sociedade anteriores ao registo da acção ou da sentença – art.
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47º; o disposto nos artigos 45º a 47º vale, com as adaptações necessárias, se o “…sócio
incapaz ou aquele cujo consentimento foi viciado…” ingressar posteriormente na
sociedade – art. 48º
- a anulabilidade pode ver o seu prazo encurtado, através do dispositivo do art.
49º; qualquer interessado pode notificar o impugnante para que anule ou confirme o
negócio ; perante a notificação, tem o notificado 180 dias para intentar a acção, sob
pena de o vício se considerar sanado;
- quanto aos efeitos : eles podem ser substituídos pela homologação judicial de
medidas, requeridas pela sociedade ou por um dos sócios, e que se mostrem adequadas,
para satisfazer o interesse do autor, “…em ordem de evitar a consequência jurídica a
que a acção se destine” – art. 50º/1.
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- é necessário que o próprio negócio anteriomente concluído com a sociedade
não incorra em nenhum fundamento de invalidade;
- exigindo-se, ainda, que o terceiro protegido esteja de boa fé, no sentido geral :
desconhecer, sem culpa, o vício que afecta a sociedade.
Este entendimento pode ser perturbado pelo art. 52º/3. A contrario, pareceria
que, provindo a nulidade de quaisquer outros vícios, a tutela referida no art. 52º/2
aproveitaria mesmo a terceiros de má fé. Pense-se na hipótese do terceiro que, com
dolo, tivesse provocado a invalidade da sociedade, por erro de um (ou mais) sócio,
integrando o dolo de terceiro previsto no art. 254º/2 do Código Civil: poderia bloquear a
invalidade da sociedade? A resposta deve ser claramente negativa.
Quanto à lógica da tutela de terceiros, explica o art. 52º/4: a invalidade não
exonera os sócios da realização das suas entradas nem da responsabilidade pessoal e
solidária que, por lei e perante terceiros, eventualmente lhes incumba.
Naturalmente: cessará a responsabilidade quando perante um “sócio” cuja
incapacidade tenha sido causa de anulação do contrato ou quando ela venha a ser
oposta, por via de excepção, às sociedades, aos outros sócios ou a terceiros – art. 52º/5.
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Em segundo : quid iuris quanto aos vícios gerais não referidos no art. 46º? Uma
vez que a especificidade do art. 46º se espaira, afinal, no regime comum, bastará fazer
apelo a este. Nas sociedades de pessoas, os diversos vícios que possam atingir o
contrato constitutivo respectivo dão azo às competentes invalidades ; porém, quando
toquem, apenas, num dos sócios (ou mais), os contratos atingidos são recuperáveis pela
redução, quando possível art. 292º do Código Civil.
51
Seguiu-se finalmente, o Código do Registo Comercial de 1986, aprovado pelo
Decreto-lei nº 403/86 de 3 de Dezembro.
O registo comercial tem determinadas técnicas de funcionamento e obedece a
princípios. Recordemo-los:
- princípio da instância: o registo comercial efectua-se a pedido dos
interessados; apenas haverá registos oficiosos nos casos previstos na lei – art.
28º do CRCom;
- princípio da obrigatoriedade :
1) directa : a inscrição de certos factos, referidos no art. 15º/1 e 2, do
CRCom é imperativa, sob pena de coimas ;
2) indirecta: os diversos factos sujeitos a registo só produzem efeitos
perante terceiros, depois da inscrição – art. 14º/1 – ou da publicação –
art. 14º/2 do CRCom;
- princípio da competência : o registo deve efectivar-se na conservatória com
cuja circunscrição territorial o facto a inscrever tenha conexão relevante, de
acordo com certas regras fixadas nos artigos 24º e seguintes, do CRCom;
- princípio da legalidade: segundo o art. 47º, desse Código, compete ao
conservador : “ apreciar a viabilidade do pedido de registo (...)”.
Contraponto deste princípio é a recusa do registo, a qual deve operar nos casos
seriados no art. 48º/1 do CRCom.
● Os efeitos do registo
52
- o contrato de sociedade e, em geral, as suas modificações;
- as transformação, cisão, fusão, dissolução e liquidação das sociedades;
- as transmissões de partes sociais ou de quotas e as operações a elas relativas;
- a deliberação de amortização , conversão ou remisão de acções e a emissão de
obrigações;
- a designação e a cessação de funções dos administradores, dos fiscalizadores e
do secretário , salvo determinadas excepções;
- determinadas relações de grupos entre sociedades
- a prestação de contas.
Deve assinalar-se que estão sujeitos a registo comercial a generalidade dos actos
relevantes e relativos a cooperativas (art. 4º), a agrupamentos europeus de interesse
económico ( art. 7º) e a estabelecimentos individuais de responsabilidade limitada ( art.
8º).
Estão ainda sujeitas a registo as acções que tenham como fim, principal ou
acessório, declarar, fazer reconhecer, constituir, modificar ou extinguir qualquer dos
direitos referidos nos artigos 3º a 8º - art. 9º, al.b) – e ainda:
- as acções de declaração de nulidade ou de anulação dos contratos de
sociedades – al.c);
- as acções de declaração de nulidade ou anulação de deliberações sociais , bem
como dos procedimentos cautelares de suspenção destas – al.e);
- as decisões finais obtidos nesses processos – al.h);
- diversas acções do domínio da insolvência – al. i) a n), todas do art. 9º.
Acrescenta o art. 10º, entre “outros factos sujeitos a registo”:
- a designação de gestor judicial – al.b);
- a criação, a alteração e o encerramento de representações permanentes de
sociedades – al. c);
- a prestação de contas de sociedades com sede no estrangeiro e representação
permanente em Portugal – al. d).
Deve frisar-se que todo este esquema é reforçado pelo art.15º/1 do CRCom.
Quanto ao Código das Sociedades Comerciais, cumpre relevar:
- art. 5º : as sociedades gozam de personalidade jurídica e existem como tais a
partir da data de registo definitivo do contrato ;
- art. 112º : os efeitos da fusão dão-se com a sua inscrição no registo comercial ;
- art. 120º : idem, quanto à cisão
- art. 160º : idem, quanto à extinção.
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fusão – art. 98º - e que se desnvolvem numa série de procedimentos subsequentes – art.
99º e seguintes; tudo isto é aplicável à cisão – art. 120º;
- também o registo da extinção – art. 160º - visa fixar uma data segura para a
ocorrência ou para o seu encerramento ; o processo a ela conducente.
● A eficácia do registo
● A natureza do registo
● Publicações obrigatórias
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A publicação é oficiosa : segundo o art. 71º/1 do CRCom, deve o conservador
promover as publicações obrigatórias no przo de 30 dias e a expensas do interessado. As
modalidades de publicações e o seu teor resultam do art. 72º, do mesmo diploma.
A matéria vem retomada no Código das Sociedades Comerciais que lhe
consagrou todo um capítulo da parte geral : o XIV, precisamente intitulado publicidade
dos actos sociais. Aí, o art. 166º anuncia o princípio geral , enquanto o art. 167º se
reporta a publicações obrigatórias, retomando o Código do Registo Comercial.
Verifica-se que as publicações assumem um papel autónomo. Segundo o art.
168º/2 : “ a sociedade não pode opor a terceiros actos cuja publicação seja obrigatória
sem que esta seja efectuada, salvo se a sociedade provar que o acto está registado e
que o terceiro tem conhecimento dele”.
O art. 14º/2, do CRCom, depõe na mesma direcção. Por seu turno, o art. 168º/3
vai mais longe.
As regras apontadas podem ser alijadas através da notificação directa dos actos,
feita pela sociedade aos terceiros potencialmente interessados ou perante os quais tenha
interesse em fazer valer os actos sujeitos a registo. Nessa altura, os terceiros notificados
não poderão invocar a falta de publicações – art. 168º/2 – e, a fortiori, o não terem
podido tomar conhecimento – art. 168º/3. A própria falta do registo poderá ser suprida,
desde que, pela notificação fique provado o conhecimento do terceiro e, daí, a sua “má
fé”. Basta, para tanto, uma interpretação conjunta e capaz dos artigos 14º/1 e 22º/4 do
CRCom.
● Outras formalidades
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● Enumeração legal de direitos e deveres
● Direitos especiais
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