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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA

COMARCA DE SÃO PAULO – SP

RITA LEE, registrada civilmente como Rita Lee Jones de Carvalho, brasileira,
solteira, artista e política, inscrita no CPF sob o nº 070.399.573-86, portadora da
CIRG nº 07.143.567-9 SSP/SP, residente e domiciliada na Rua Joaquim Távora, n.º
670, Vila Mariana, em São Paulo/SP, CEP 04015-011, com o seguinte endereço
eletrônico: ritalee@gmail.com, por intermédio de seus procuradores que ora
subscrevem, com o devido acato e respeito e com fundamento no Código Civil e no
Código de Processo Civil, vem perante Vossa Excelência propor:

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS C/C


PERDA DE UMA CHANCE

Em face de ROLLING STONE PUBLICIDADE, reconhecida pelo nome


fantasia RS Publicidade, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº
84.848.848/0001-48, com sede na Rua Oscar Freire, nº 84, em São Paulo/SP, o que
faz pelos fatos e fundamentos expedidos a seguir:
I. DOS FATOS

No dia 05 de janeiro de 2022, o Partido Guitarra Elétrica (PGE), em conjunto


com essa REQUERENTE, firmaram um contrato escrito de prestação de serviços de
assessoria de publicidade e imagem com o empreendimento REQUERIDO (mov.
1.3), cujo principal objetivo era o mapeamento de assuntos acerca da esfera de vida
íntima da REQUERENTE, desejando levantar os dados pessoais e sensíveis que
poderiam gerar polêmica acerca do seu modo de vida. Ou seja, através desse
instrumento escrito buscou-se realizar uma atividade de manutenção política
midiática, visando garantir bons resultados reputacionais durante o período eleitoral
da REQUERENTE, no ano de 2022, quando concorria com significativa relevância
ao cargo de deputada federal pelo Partido Guitarra Elétrica (PGE). Contou-se que,
antes de contratar os serviços da REQUERIDA, esta REQUERENTE seguia com
percentuais sugestivos sobre sua vitória nas pesquisas de voto, constituindo-se em
uma opção recorrentemente indicada pelos eleitores no país.
A REQUERENTE, em promessa de segurança e confiabilidade pela
REQUERIDA, aceitou ceder diversos de seus dados pessoais, como informações e
fotografias sigilosas, com o intuito de mapear informações sensíveis que pudessem
potencialmente resolver em resultados polêmicos para sua vida pessoal e pública,
bem como levantar dados que identificasse qual seria o melhor modo dela se portar
perante o mundo social, crendo que os seus dados seriam manuseados com
segurança e delicadeza, especialmente em relação ao seu armazenamento.
Acontece que, no dia 11 de setembro de 2022, durante o momento
fundamental da campanha política da REQUERENTE, indivíduos não identificados
conseguiram sem complicações acesso aos sistemas computacionais da
REQUERIDA, obtendo “em suas mãos” os dados pessoais compartilhados
anteriormente pela autora. Em seguida, os dados capturados foram utilizados em
campanha difamatória contra Rita Lee, REQUERENTE, com ampla divulgação em
redes sociais e outros meios de comunicação, quebrando fundamentalmente sua
segurança pessoal e emocional, bem como o sigilo dos seus dados.
Verifica-se que todos esses prejuízos causados em desfavor da imagem da
REQUERENTE, causaram abalos graves para sua saúde física, visto que ela foi
direcionada até mesmo para atendimento hospitalar, em razão da gravidade dos
sintomas de reação (conforme evidenciado em mov. 1.6). Por esse motivo, existiram
prejuízos também para os planejamentos financeiros da REQUERENTE em
publicidades, campanhas, investimentos, entre outros, gerando queda de sua
popularidade eleitoral, conforme se evidenciou através de pesquisa de intenções de
voto realizada pouco antes das eleições (mov. 1.5):

Em virtude da publicidade das informações disponibilizadas de modo


descuidado pela REQUERIDA, em um momento de alta exposição social e
midiática da REQUERENTE, esta sofreu diversas retaliações e perseguições.
Dentre os efeitos reflexos na vida e carreira da autora estavam ataques em seus
perfis em redes sociais, como o Twitter, e ofensas em momentos que realizava
visitas/campanhas de rua. A REQUERENTE, em ambos os casos, foi atacada por
sua orientação sexual e religião, através de termos pejorativos como “macumbeira”,
“praga”, “sapatão”, recebendo, até mesmo, ameaças de morte.
Sob esta via, foram reunidas algumas das publicações pejorativas presentes
nos canais midiáticos, nas redes sociais e nos jornais do país, os quais demonstram
e evidenciam o nível das perseguições sofridas pela autora (mov. 1.5):
A REQUERIDA, inclusive, comprometeu-se, no contrato (mov. 1.3), que
comunicaria essa REQUERENTE se eventualmente verificasse vazamento indevido
de dados no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, bem como de que disporia de
medidas de segurança aptas na proteção desses.
A REQUERIDA, contudo, quando do vazamento dos dados da
REQUERENTE no dia 11 de setembro de 2022, registrou o boletim de ocorrência
(mov. 1.4) apenas no dia 15 de setembro de 2022, isto é, aproximadamente 96
(noventa e seis) horas após o ocorrido, atitude que foi extremamente prejudicial para
essa REQUERENTE no aspecto temporal, visto que se poderia, com agilidade,
garantir que os dados pessoais da autora fossem recolhidos ou deletados no tempo
adequado, evitando, assim, que exercessem tamanha influência sobre as questões
já mencionadas nesse dispositivo.
Além disso, constata-se que essa REQUERIDA deveria dispor de sistema de
segurança contra invasões nos seus computadores, o que, mais uma vez, foi
descumprido pela mesma, já que, através de laudo pericial (mov. 1.7), comprovou-se
que os dados pessoais cedidos pela autora estavam disponíveis em três
computadores, em hardwares separados, sem quaisquer sistemas informáticos de
segurança que os protegessem. Logo, pode-se dizer que esse fato demonstra, com
clareza, o descaso da REQUERIDA com o controle das informações cedidas pela
autora.
Em última análise, evidencia-se que, o empreendimento que deveria ser
responsável profissionalmente por cuidar e mapear dados de uma candidata para
evitar prejuízo em torno da sua imagem e vida profissional, recomendou, de modo
inadequado, para essa REQUERENTE, que ela pronunciasse-se nesse período com
informações falaciosas, levando-a mentir sobre sua orientação sexual e religião,
atitude que contraria o disposto na cláusula primeira do contrato de mov. 1.3. Ora,
Excelência, nota-se mais um comportamento prejudicial tomado por parte da
REQUERIDA para com essa REQUERENTE.
Por tudo até aqui exposto, é inegável que as esferas da segurança e da
privacidade da autora encontraram-se lesadas, revendo-se que ela está sendo
privada de diversas possibilidades e direitos dos quais antes gozava tranquilamente.
Logo, conforme o exposto em síntese apertada, esses são os fatos que ensejam
esta lide.

II. DO DIREITO

O negócio jurídico pactuado no instrumento particular entre as partes trata-se


de contrato de prestação de serviços de assessoria de publicidade e imagem, no
qual essa REQUERIDA comprometeu-se proteger os dados pessoais e sensíveis da
REQUERENTE, visando preservar sua imagem, devendo dispor, também, de um
sistema de segurança nos seus computadores, intentando evitar vazamentos de
dados da REQUERENTE. Além disso, nota-se que o empreendimento pactuou que,
em caso de vazamento de dados da REQUERENTE, ou qualquer outro incidente
que pudesse acarretar risco ou dado relevante, iria comunicá-la no prazo máximo de
24 (vinte e quatro) horas.
Entretanto, analisando-se minuciosamente o contrato em questão, o qual está
presente no mov. 1.3, nota-se que houve o descumprimento de diversas cláusulas
pela ré, cláusulas estas que foram pactuadas por ambas as partes. Logo, cabe-se
mostrar algumas das cláusulas que foram descumpridas:

DAS OBRIGAÇÕES DA CONTRATADA


CLÁUSULA SEGUNDA: São deveres da CONTRATADA:
I. Utilizar de técnicas eficazes, seguras e disponíveis para o cumprimento
das atividades relacionadas à assessoria, empregando seus melhores
esforços na consecução da mesma.
[...]
VIII. Dispor de sistema de segurança contra invasões nos computadores da
empresa.
IX. Assegurar efetiva segurança às informações e dados fornecidos pelas
CONTRATANTES, devendo ser responsabilizada em caso de vazamento
desses.
X. Informar por escrito às CONTRATANTES toda e qualquer anormalidade
na execução dos trabalhos.
[...]
DA PROTEÇÃO DE DADOS EM CONFORMIDADE À LEI 13.709/2018
CLÁUSULA DÉCIMA SEGUNDA: As partes entre si, por seus
representantes, colaboradores e por quaisquer terceiros que por sua
determinação participem da prestação de serviços objeto desta relação,
comprometem-se atuar visando proteger e garantir o tratamento adequado
dos dados pessoais que tiverem acesso durante essa relação contratual,
bem como objetivando cumprir as disposições da Lei nº 13.709/2018 (Lei
Geral de Proteção de Dados - LGPD).
[...]
PARÁGRAFO TERCEIRO: Cada uma das Partes deverá também adotar as
medidas de segurança, técnicas e administrativas, para proteger os dados
pessoais de acessos não autorizados e de situações acidentais ou ilícitas de
destruição, perda, alteração, comunicação ou qualquer forma de tratamento
inadequado ou ilícito, observando-se a natureza dos dados tratados.
PARÁGRAFO QUARTO: Cada uma das Partes obriga-se a comunicar à
outra, no prazo de até 24 (vinte e quatro) horas, qualquer descumprimento
das obrigações previstas neste instrumento, assim como qualquer incidente
de segurança que possa acarretar risco ou dano relevante à outra Parte,
aos dados pessoais e/ou aos seus titulares, [...].
[...]

DO TRATAMENTO DOS DADOS COLETADOS DA CONTRATADA


CLÁUSULA DÉCIMA TERCEIRA: [...].
[...]
PARÁGRAFO OITAVO: Em eventual vazamento indevido de dados, essa
CONTRATADA compromete-se comunicar às CONTRATANTES sobre o
ocorrido, bem como sobre qual o dado vertido, no prazo máximo de 24
(vinte e quatro) horas.
PARÁGRAFO NONO: A CONTRATADA informa que o gerenciamento de
dados ocorrera através de um sistema que colherá e tratará os dados na
forma da lei.
[...]

Logo, não há o que se discutir quanto ao descaso da Ré, uma vez que é fato
que essa REQUERENTE não teve o efetivo sigilo e proteção de dados, o qual
esperava ter ao fornecê-los para o empreendimento REQUERIDO. Ao acordar o
contrato acerca da prestação de serviços, evidencia-se que essa REQUERIDA
obrigava-se reservar um cuidado especial à manutenção das informações
pessoais da REQUERENTE.
Nessa toada, há de se observar o dispositivo legal do Código Civil acerca da
conduta ilícita da ré, que causou expresso dano moral à autora:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou


imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo,
excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou
social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.

Como se infere dos artigos, violar-se um dever jurídico, causando dano para
outra pessoa, configura-se ato ilícito. Nessa toada, em conformidade com o art. 927,
do Código Civil, àquele que, por ato ilícito, causar dano para outrem, fica obrigado
repará-lo. A partir disso, nasce uma obrigação de reparar o dano por parte da
REQUERIDA, bem como um direito para essa REQUERENTE de ver reparado seus
prejuízos.
Sendo assim, considera-se que o direito já está estabelecido, em razão da
ação praticada pela ré quando registrou o boletim de ocorrência apenas 96 (noventa
e seis) horas depois da invasão hacker (mov. 1.4), bem como pela omissão quanto à
falta de um sistema de segurança em seus computadores (mov.1.7), demonstrando,
assim, o caráter culposo acerca da negligência e da imprudência do ato que
enseja essa lide.
Relativamente à segurança esperada pela REQUERENTE, observa-se que,
conforme o art. 44, da Lei Geral de Proteção de Dados, o tratamento de dados
pessoais será considerado irregular quando não se observar o que dispõe o
dispositivo da lei ou por ele não fornecer uma efetiva segurança para qual o titular
espera tratamento, devendo-se considerar, segundo uma leitura do seu inciso I, o
modo pelo qual ele é realizado. Portanto, verifica-se que essa REQUERENTE desde
o dia da pactuação do contrato, acreditava fielmente que suas informações estavam
sendo tratadas e protegidas da melhor maneira, tendo sido, sobretudo, surpreendida
com o vazamento dessas, o que configura exatamente o evento irregular presente
no artigo em comento e o direito de ação da REQUERENTE.
No mais, é de conhecimento notório que o empreendimento REQUERIDO
atende diversas pessoas públicas, cujos dados pessoais e sensíveis não devem e
não podem permanecer à disposição de terceiros alheios à empresa. Ora, pois já
deveria, como se acreditava pela REQUERENTE, estar acostumada com uma
conduta adequada, uma vez que sua prestação de serviço depende deste
cuidado.
Sendo assim, não se podem ignorar as faces da dimensão que o erro da Ré
custou à Autora. Se não fosse pelo desleixo com as informações da contratante,
esta jamais haveria de sofrer tanta discriminação.

III. DA COMPROVAÇÃO DOS DANOS MATERIAIS, DA TEORIA DA


PERDA DE UMA CHANCE E DOS DANOS MORAIS

Fica comprovado pelo boletim médico do Hospital Israelita Albert Einstein


(mov. 1.6) que essa REQUERIDA precisou de cuidados psiquiátricos, de várias
sessões de terapia e de doses de remédios antidepressivos e ansiolíticos após o
vazamento de seus dados sem sua permissão. Exposta ao grande nível de estresse,
não apenas por sua campanha política, já que sua candidatura perdia cada vez mais
espaço, mas também pela disseminação de ódio causada pela publicação dos
invasores nos sistemas frágeis da Ré, ela também começou perder propostas de
trabalho, além de muitos fios de cabelo.
A seguir, em razão disso, tem-se exposição da média de gastos de prejuízo
material da autora, sem contar os danos morais exigidos.

GASTOS MATERIAIS

Internação no Hospital Israelita Albert Einstein R$ 16.000,00

Sessões de terapia R$ 12.000,00

Remédios antidepressivos e ansiolíticos para


R$ 2.500,00
tratamento da REQUERENTE

R$ 200.000,00 ÷ 2 (gastos
Valores pagos mensalmente com o
divididos com o Partido
cumprimento do contrato até o dia do
Guitarra Elétrica) =
vazamento dos dados
R$ 100.000,00
Estimativa de ganhos se não tivesse perdido
R$ 150.000,00
inúmeros trabalhos

Salário mensal da REQUERENTE caso fosse R$ 33.763,00 x 48 meses =


eleita para o cargo de Deputada Federal R$ 1.620.624,00

A reparação desses danos materiais está regulamentada pelo art. 402, do


Código Civil, o qual dispõe que:

Art. 402. Salvo as exceções expressas previstas em lei, as perdas e danos


devidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que
razoavelmente deixou de lucrar.

O vazamento de dados proporcionado pela falta de um sistema de segurança


nos computadores da ré oportuniza para essa autora danos materiais consistentes
no reparo aos valores gastos para sua recuperação, bem como daqueles que
efetivamente deixou de lucrar com o fato depreciador à sua imagem.
Neste sentido, cabe também mostrar os índices da pesquisa eleitoral acerca
da campanha política pela qual essa autora estava concorrendo (mov. 1.5, fl. 16):

Nessa perspectiva, uma vez que o quantum indenização mede-se pelo dano,
constata-se na presente lide o disposto na Teoria da Perda de uma Chance, uma
vez que o dano sofrido pela conduta da ré é irreversível, não possuindo essa autora
condições de restabelecer o desfecho das eleições.
A doutrina, por conseqüência, reconhece o cenário de indenização por perda
de uma chance, quando uma pessoa tem frustrada legítima expectativa ou
oportunidade futura em razão de conduta ilícita de outra pessoa, que, dentro da
lógica razoável, ocorreria se as coisas tivessem seguido normalmente. Então, para
que o dano seja configurado, é necessário:

a) que exista uma chance real e concreta de obtenção do resultado


desejado: conforme gráficos acima, há explícito o caminho que as eleições
seguiram.
b) que esta tenha sido perdida por culpa do agente que causou o dano:
essa efetiva chance da Autora em exercer o cargo público pretendido e realizar
diversos feitos pela classe que representa somente foi descartada por causa da falta
de cuidado ilícita da Ré, que causou-a tanta difamação.
c) valor econômico mensurável: além das propostas enviadas à autora,
as quais foram retiradas depois das notícias danosas, o próprio cargo representaria
salário efetivo.
d) nexo de causalidade entre o fato praticado pelo agente e essa perda
da chance: comprovado em toda lide.

A teoria da perda chance afigura-se de ampla aplicação na solução justa da


demanda à luz do princípio democrático de direito e de respeito à dignidade da
pessoa humana, sendo uma ferramenta eficaz para valorar o dano morar a ser
fixado. Restou demonstrado que, em verdade, diante da conduta da REQUERIDA,
essa REQUERENTE tinha uma proposta séria e real, que foi iniquilada pela falha na
prestação do serviço, gerando o direito à indenização tanto pelos danos materiais
quanto pelos morais sofridos.
Além exposto, ressalta-se também que o empreendimento REQUERIDO
contrariou uma garantia legal da autora, isto é, o respeito à privacidade, conforme-se
pode ver no art. 2º, inciso I, da Lei Geral de Proteção de Dados. A LGPD, além
disso, estabelece que toda empresa que coleta, armazena, processa ou compartilha
dados pessoais de terceiros deve adotar medidas de segurança adequadas para
proteger esses dados e garantir efetiva privacidade aos titulares desses. Caso
ocorra uma violação de dados, o empreendimento deve notificar os titulares e
as autoridades competentes imediatamente, o que não ocorreu.
A ré, prestadora de serviços, faltou com o dever de cooperação com sua
contratante, conduta que merece ser reprimida pelo Poder Judiciário, considerado o
caráter punitivo-pedagógico do dano moral. Portanto, não há que se falar em simples
inadimplemento contratual. Logo, certo é que essa autora sofreu intenso desgaste
emocional, além de frustrações e depreciação quanto sua imagem, elementos que
afetaram sua dignidade humana.
Por conseqüência, consultando os acórdãos do Tribunal de Justiça de São
Paulo, nota-se o entendimento de que, ainda que ocorra vazamento de dados
pessoais, o titular desses deve comprovar existir um efetivo dano – como feito no
presente instrumento – e não demonstrar uma mera exposição abstrata sobre o
que o vazamento dos danos acarretaria ao indivíduo, conforme se extrai do julgado:

Responsabilidade civil. Prestação de serviços. Ação de obrigação de fazer


cumulada com indenização por danos morais. Sentença de improcedência.
Vazamento de dados pessoais do outro decorrente de invasão do
sistema da concessionária. Falha na prestação de serviços
evidenciada. Art. 14 do CDC. Responsabilidade objetiva da empresa de
tratamento de dados (art. 42 da LGPD). Dados vazados que não estão
abrangidos no conceito de dado pessoal sensível (art. 5º, II, da LGPD).
Ausente prova segura acerca da utilização dos dados vazados e efetivo
dano. Dano hipotético não enseja indenização. Recurso desprovido, com
observação. A prestadora de serviços tem o dever de zelar pela total
segurança do seu sistema, evitando acesso e fraude por terceiros, na
medida em que deve assumir os riscos de sua atividade empresarial. A
responsabilidade, no caso, é objetiva relativamente à prestadora de
serviços pelos danos causados aos consumidores em caso de acesso
indevido de dados. [...]. (BRASIL, Tribunal de Justiça de São Paulo;
Apelação Cível nº 1024016-52.2020.8.26.0405; Rel. Ministro Kioitsi Chicuta;
Órgão Julgador: 32ª Câmara de Direito Privado; Foro de Osasco; Data do
Julgamento: 21/10/2021; [grifos próprios]).

Nesse nexo, vale salientar outro entendimento adotado pelo Egrégio Tribunal
de Justiça do Estado de São Paulo, pelo qual se pode entender que o instituto da
responsabilidade pelo vazamento de dados em virtude da falta de segurança da
empresa é objetiva, salvo se não provado efetivo dano. Ademais, nota-se que o
prestador de serviços deve zelar pela total segurança do seu sistema, evitando
acesso e fraude por terceiros, além de assumir os riscos de sua atividade
empresarial.
Da mesma forma, tais constatações são somadas ao fato de que as empresas
somente se eximem dessa responsabilidade objetiva quando não houver violação à
legislação de proteção de dados ou quando o dano decorrer de culpa exclusiva de
terceiro, o que não é o caso da presente lide, visto que fica provado que o
empreendimento REQUERIDO deixou de adotar medida de segurança presente na
estipulação inter partes, dando, assim, causa para que terceiros tivessem acesso
àqueles dados. Vejamos:

Ação de indenização por dano moral. Apropriação por terceiros de dados


pessoais do consumidor, extraídos dos cadastros de concessionária de
energia elétrica. Ocorrência versada nas Leis nº 12.414/2011, 12.965/2014
e 13.709/2018. Responsabilidade dos controladores e operadores que é
objetiva, mas dela se eximem se não houve violação à legislação de
proteção de dados ou o dano decorreu de culpa exclusiva de terceiro.
Artigo 43 da LGPD. Caso em que inexistia base para se reconhecer que a
empresa deixou de adotar medida de segurança recomendada pela Ciência
ou determinada pela ANPD de modo a com isso ter dado causa a que
terceiros tivessem acesso àqueles dados. Ação improcedente. Recurso não
provido. (BRASIL, Tribunal de Justiça de São Paulo; Apelação Cível nº
1025180-52.2020.8.26.0405; Rel. Ministro Arantes Theodoro; Órgão
Julgador: 36ª Câmara de Direito Privado; Foro de Osasco; Data do
Julgamento: 26/08/2021 [grifos próprios]).

Então, não restam dúvidas que o fato em tela gerou transtornos à autora, os
quais ultrapassam o mero aborrecimento, quando não houve boa-fé por parte da ré
em avisar, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, essa autora acerca do vazamento
dos dados, o que poderia evitar, em boa parte, tanta depreciação moral. Haja vista
tamanha desconsideração da ré verifica-se no presente caso que essa autora teve
violação de um de seus direitos fundamentais. Sendo assim, pede-se aplicação na
presente lide do disposto no art. 5º, inciso X, da Carta Magna brasileira de 1988,
como forma de tentar ressarcir-se pelos danos materiais e morais, bem como pela
perda da chance da autora, ensejados em questão, vejamos o que dispõe:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:

X - São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das


pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou
moral decorrente de sua violação;

IV. DOS PEDIDOS

Diante do exposto, requer-se que Vossa Excelência digne-se para acolher os


argumentos aqui apresentados, determinando que os seguintes pedidos sejam
realizados:
a) A citação da Ré, por Oficial de Justiça, para que, querendo, apresentar
contestação no prazo legal;
b) A produção de provas de juntada de documentos, depoimento pessoal
do réu, oitiva de testemunhas;
c) A designação de audiência mediação e conciliação.
d) A total procedência da presente ação, no sentido de condenar a
requerida ao pagamento de R$ 750.000,00 (setecentos e cinqüenta mil reais) pelos
danos materiais, danos morais e pela perda da chance sofridos pela autora, bem
como impor uma condenação da ré ao pagamento das despesas processuais e
honorários advocatícios a serem arbitrados pelo elevado critério deste douto juízo.
e) A condenação da requerida ao pagamento do inadimplemento
contratual, previsto na cláusula nona do dispositivo privado.

Dá-se à causa o valor de R$ 750.000,00 (setecentos e cinqüenta mil reais).

Nestes termos, pede deferimento,

Datado e assinado digitalmente,


Dr. Humberto Gessinger (OAB/SP nº 11.565),
Dr. Branco Mello (OAB/SP nº 16.730),
Dra. Paula Toller (OAB/SP nº 19.875).

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