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Lei n. 13.

709/2018 - Lei
Geral de Proteção de
Dados e Lei n.
12.965/2014 - Lei do
Marco Civil da Internet
Docente: Letícia de Oliveira Eça Carvalho
Questões Gerais dos Direitos Da
Personalidade e a Era Digital
 De um lado, a liberdade de expressão (arts. 5º, IV, IX e XIV, CF) e a livre
iniciativa (arts. 1º, IV, 170, caput, CF) formam um bloco de direitos
fundamentais da Constituição Federal que assegura o direito de as pessoas
externarem, por qualquer meio, suas individualidades por meio de
palavras, de escritos e de condutas, haja ou não interesse econômico ou
profissional.
 De outro lado, a inviolabilidade da vida privada, da intimidade, da
honra e da imagem das pessoas (art. 5º, V e X, CF) é um direito
fundamental que representa uma linha de limite à liberdade de expressão
de outros. Ninguém pode exercer sua liberdade de expressão além desse
limite, sob pena de estar exposto às reprimendas do ordenamento (como
a indenização e o direito de resposta).
 Esse aparente conflito entre a liberdade de expressão e a
inviolabilidade da vida privada se insere no contexto de proteção da
dignidade da pessoa humana, um fundamento do Estado Democrático
de Direito (art. 1º, III, CF). Veja o referido dispositivo:
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel
dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado
Democrático de Direito e tem como fundamentos: (...)
III – a dignidade da pessoa humana;
Cabe ao legislador e à jurisprudência conciliar esses direitos
fundamentais da Constituição para especificar os limites da liberdade de
expressão, o que é tarefa que difícil por estarmos diante de conceitos
jurídicos abertos.
Ao conciliar a liberdade de expressão e a inviolabilidade
da vida privada, o legislador inclina-se favoravelmente à
primeira, ainda mais no ambiente da Internet, que é
marcado pela liberdade. Isso, porém, não significa que a
vida privada foi desprezada, pois há limites à liberdade de
expressão. Internet não é faroeste. Não é terra sem lei
Responsabilidade Civil à Luz do Marco Civil Da
Internet e da Lei Geral De Proteção de Dados

 O debate em torno da responsabilidade civil à luz do Marco Civil da


Internet (Lei n. 12.965/2014) e da Lei Geral de Proteção de Dados
(Lei n. 13.709/2018) centra-se fundamentalmente em dois
pressupostos da responsabilidade civil: a ilicitude da conduta e a
culpa.
 Quanto à culpa, é preciso definir quando a responsabilidade civil será
subjetiva (regra geral, conforme art. 927, caput, CC) e quando ela
será objetiva à luz das duas leis acima. No tocante à ilicitude da
conduta, a regra geral é que só há responsabilidade civil se houver a
prática de um ilícito civil (art. 927, CC). Exceção a essa regra só é
admitida quando houver lei expressa.
 Sob a ótica do Marco Civil da Internet, a discussão sobre a
ilicitude da conduta gira em torno de definir quando que a
liberdade de expressão ultrapassou os limites;
 Sob o prisma da Lei Geral de Proteção de Dados, o debate
sobre a ilicitude da conduta centra-se em saber quando
alguém viola ou não as regras de proteção dos dados
pessoais de outrem
Lei do Marco Civil da Internet (LMCI)
 A Lei do Marco Civil da Internet (LMCI) estabelece regras e princípios que
norteiam todos aqueles que operam na Internet: tanto os usuários quanto todos
os fornecedores dos serviços de internet (os provedores de conexão e os
provedores de aplicação)
 Há aspectos de direitos administrativo na LMCI, como as regras relativas às
políticas públicas e às aplicações de internet fornecidas pelo próprio Poder
Público (art. 24 ao 29, LMCI).
 Há também expressa garantia de proteção coletiva de interesses na forma do
art. 30 da LMCI.
 A Lei do Marco Civil da Internet não é a única fonte legislativa que disciplina o
comportamento dos indivíduos no mundo virtual. Outras normas também são
aplicadas, como a Constituição Federal, o CDC, o CC, a LGPD, os tratados
internacionais etc. A própria Lei do Marco Civil da Internet reconhece isso no
parágrafo único do seu art. 3º e no seu art. 6º, a saber:
 Art. 3º A disciplina do uso da internet no Brasil tem os seguintes princípios:
I – garantia da liberdade de expressão, comunicação e manifestação de pensamento, nos
termos da Constituição Federal;
II – proteção da privacidade;
III – proteção dos dados pessoais, na forma da lei;
IV – preservação e garantia da neutralidade de rede;
V – preservação da estabilidade, segurança e funcionalidade da rede, por meio de medidas
técnicas compatíveis com os padrões internacionais e pelo estímulo ao uso de boas práticas;
VI – responsabilização dos agentes de acordo com suas atividades, nos termos da lei; VII –
preservação da natureza participativa da rede;
VIII – liberdade dos modelos de negócios promovidos na internet, desde que não conflitem
com os demais princípios estabelecidos nesta Lei. Parágrafo único. Os princípios expressos
nesta Lei não excluem outros previstos no ordenamento jurídico pátrio relacionados à matéria
ou nos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.
Art. 6º Na interpretação desta Lei serão levados em conta, além dos fundamentos, princípios
e objetivos previstos, a natureza da internet, seus usos e costumes particulares e sua
importância para a promoção do desenvolvimento humano, econômico, social e cultural
Lei do Marco Civil da Internet (LMCI)

 é aplicável a qualquer operação cibernética se qualquer


de suas etapas ocorrer no Brasil (art. 11, LMCI;
 em contratos de adesão, é nula cláusulas que estabeleçam
foro de eleição fora do Brasil (art. 8º, parágrafo único, II,
LMCI). Se o contrato não for de adesão, são admitidas
essas cláusulas.
Cláusulas Nulas
O parágrafo único do art. 8º da LMCI considera nulas duas cláusulas
contratuais. A primeira é a que viole a proteção das comunicações privadas
pela internet. A outra é aquela colocada em um contrato de adesão que afaste
o foro brasileiro para demandas judiciais. Veja o referido dispositivo:
Art. 8º A garantia do direito à privacidade e à liberdade de expressão nas
comunicações é condição para o pleno exercício do direito de acesso à
internet. Parágrafo único. São nulas de pleno direito as cláusulas contratuais
que violem o disposto no caput, tais como aquelas que:
I – impliquem ofensa à inviolabilidade e ao sigilo das comunicações privadas,
pela internet;
II – em contrato de adesão, não ofereçam como alternativa ao contratante a
adoção do foro brasileiro para solução de controvérsias decorrentes de serviços
prestados no Brasil
Deveres de Guarda dos Registros de
Conexão e dos Registros de Aplicações
 Tantos os registros de conexão quanto os registros de acesso a aplicações
merecem proteção por serem dados pessoais e, consequentemente, por
dizerem respeito à intimidade da pessoa.
 De um lado, ao se conectar à internet, o provedor de conexão sabe a
data e a hora. Em palavras mais populares, se, por exemplo, meu
provedor de conexão é a famosa empresa Claro, ela “sabe quando eu
acessei a internet”.
 De outro lado, uma vez conectado à Internet, o usuário, por meio de um
navegador de internet (como o Google Chrome, o Explorer, o Firefox
etc.) “navega” em vários sites. Ele também, mesmo sem um navegador
de internet, pode acessar aplicativos específicos (como Instagram,
Facebook e WhatsApp).
Responsabilidade por “Vazamento de Dados
Pessoais” ou outros Descumprimentos do Dever de
Guarda e Sigilo

 A LMCI fixa deveres de guarda e sigilo de dados pessoais digitais, ou seja, de


dados relativos:
a) ao rastro do usuário na internet, ou seja, aos registros de conexão e de acesso
às aplicações (arts. 10 ao 17, LMCI);
b) a outros dados de identificação do usuário ou de suas preferências (ex.: art.
7º, VII e X, LMCI);
c) aos conteúdos gerados pelo usuário ou recebidos por ele, como as conversas
digitais que ele realizou em redes sociais (WhatsApp, direct do Instagram,
Facebook messenger, e-mails etc.).
Carolina Dieckmann
 Em maio de 2011, um hacker (criminoso virtual) invadiu o
computador pessoal da atriz, possibilitando que ele tivesse acesso a
36 fotos pessoais de cunho íntimo. De acordo com a denúncia, o
invasor exigiu R$ 10 mil para não publicar as fotos. Como a atriz
recusou a exigência, acabou tendo suas fotos divulgadas na internet.
Isso criou uma grande discussão popular sobre a criminalização desse
tipo de prática, que ainda foi excessivamente fomentada pela mídia.
A atriz abraçou a causa e cedeu seu nome à Lei nº 12.737/2012, o
primeiro texto que tipifcou os crimes cibernéticos, tendo foco nas
invasões a dispositivos que acontecem sem a permissão do
proprietário.
McDonald’s

 Em outubro de 2019, mais de 2 milhões de registros sensíveis


da rede McDonald’s Brasil vazaram e foi possível acessar
dados pessoais como nome completo, faixa etária, tempo de
experiência, cargo, seção, etnia, necessidades especiais,
salário e até mesmo unidade de trabalho dos funcionários. O
vazamento permitiu ainda acessar 76 mil registros de novas
contratações, 12 mil fchas de demissão e uma lista com 245
fornecedores e parceiros, com dados como nome da empresa,
e-mail de contato e CNPJ.
Da vedação da Utilização Comercial dos Dados Pessoais
dos Internautas, Salvo Consentimento Expresso (art.
7º, VII E X)

 É comum que os internautas recebam propagandas


personalizadas, com ofertas de produtos e serviços
selecionados pelos provedores de aplicação de acordo com
o seu histórico de navegação.
 De acordo com o art. 7º, incisos VII e X, da LMCI, a
utilização desses dados pessoais só poderá ocorrer se os
internautas manifestarem consentimento livre, expresso e
informado, o qual poderá ser revogado a qualquer momento
pelo próprio usuário, que tem direito à exclusão definitiva
de todos os dados pessoais que tiver fornecido ao site
Responsabilidade Civil com Base na LMCI

 A responsabilidade civil decorre, em regra, de um ato ilícito. No ambiente da


LCMI, dois atos ilícitos principais são destacados: o “vazamento de dados
pessoais” e os conteúdos ofensivos gerados por terceiros.
 A LMCI fixa deveres de dever de guarda e sigilo de dados pessoais digitais, ou
seja, de dados relativos:
a) ao rastro do usuário na internet, ou seja, aos registros de conexão e de acesso
às aplicações (arts. 10 ao 17, LMCI);
b) a outros dados de identificação do usuário ou de suas preferências (ex.: art.
7º, VII e X, LMCI);
c) aos conteúdos gerados pelo usuário ou recebidos por ele, como as conversas
digitais que ele realizou em redes sociais (WhatsApp, direct do Instagram,
Facebook messenger, e-mails etc.).
Competência dos Juizados Especiais
para Causas Cibernéticas (art. 19, § 3º)
Avançou o art. 19, § 3º, do Marco Civil da Internet para estabelecer que é dos Juizados
Especiais a competência para os feitos judiciais que verem sobre:
• ressarcimento por danos decorrentes de conteúdos disponibilizados na internet
relacionados à honra, à reputação ou a direitos da personalidade (primeira parte do
dispositivo);
• a indisponbilização desses conteúdos por provedores de aplicações de internet (segunda
parte do dispositivo).
Dessa forma, deve-se admitir que, no âmbito dos Juizados Especiais, seja processado
qualquer feito em que haja pedido de retirada de conteúdo ofensivo, sem quaisquer
outras condicionantes. Todavia, em se tratando de causa envolvendo o pedido de
indenização por danos materiais e morais sofridos por conteúdo ofensivo postado na
internet, a competência dos Juizados Especiais dependerá do respeito ao limite de
alçada

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