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FACULDADE UNIARAGUAIA

Professor (a): Alexandre Nascimento Pinheiro


Alunos: Vanessa Silva Teixeira

Marco Civil da Internet

O Marco Civil da Internet é um projeto de lei apresentado em agosto


de 2011 pelo deputado Alessandro Molon (PT-RJ) que visa “estabelecer
princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil”. A
legislação tem que se moldar para as novas situações jurídicas advindas dessas
relações digitais. No Brasil, o Marco Civil da Internet - Lei 12.965 de 23 de abril
de 2014, foi sancionada pela Presidente da República. Essa lei regula o uso da
Internet no Brasil, no que prevê a responsabilidade de provedores e usuários e
as formas de atuação do Poder Público para o desenvolvimento da Internet. O
Marco Civil da Internet surgiu com a preocupação do legislador de disciplinar
essas novas relações surgidas com uso da Internet. Segundo a exposição de
motivos do anteprojeto: “Esse quadro de obstáculos faz oportuna a aprovação
de uma lei que, abordando de forma transversal a Internet, viabilize ao Brasil o
início imediato de um melhor diálogo entre o Direito e a Internet. Uma norma que
reconheça a pluralidade das experiências e que considere a riqueza e a
complexidade dessa nova realidade”.

A internet transformou as distinções entre esses espaços. Sendo


possível acessar a rede de qualquer lugar e a qualquer hora do dia, permite-se
a atuação na esfera social, ser visto e ouvido por todos, sem o necessário
contato presencial para o estabelecimento dessas relações.

O anteprojeto foi fruto da união do Poder Público com a iniciativa


privada, uma parceria da Secretaria de Assuntos Legislativos do Ministério da
Justiça - SAL/MJ, com o Centro de Tecnologia e Sociedade da Escola de Direito
da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro. A responsabilidade criminal de

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usuários que cometem crimes como calúnia, difamação, com uso da internet, a
mesma continuará regida pelo Código Penal, pois a lei é omissa nesse sentido.
Ou, aguardará os dois projetos de Lei que tramitam no congresso sobre crimes
cibernéticos. Há, na Lei do Marco Civil, apenas a previsão da responsabilização
dos usuários e provedores, porém sem sanções ou previsão de multas.

Em relação à responsabilidade civil, o Marco Civil, adota a


responsabilidade subjetiva dos provedores. Sendo necessária uma medida
judicial para retirada do conteúdo ofensivo da Internet. Além disso, o provedor
só será responsabilizado civilmente se, acionado, judicialmente, não fizer a
retirada do conteúdo.

A lei teve uma grande preocupação com a privacidade das informações


de usuários armazenadas junto aos provedores. Assim tem vários dispositivos
que protegem o sigilo dos registros de conexão, como os artigos 7º, V, artigo 10º,
caput e parágrafo 1º, 2º, e 3º e artigo 11º, caput. A liberdade de expressão,
também, foi uma preocupação do legislador, que entendeu que deveria haver
ampla liberdade de produção de conteúdo pelos usuários, sem a prévia
apreciação do conteúdo pelos intermediários, ou seja, os provedores. Nossa
sociedade vive um momento digital em que tudo é publicado nas redes sociais
como twitter, instagram e facebook. Todo mundo quer expressar sua opinião
com a facilidade de um clique. Não raro são compartilhadas notícias que não se
sabe sua origem ou sua veracidade. Poderíamos, facilmente, afirmar que a
nossa sociedade é a sociedade do espetáculo. Segundo Guy Debord, sobre a
Sociedade do Espetáculo: “Considerando sobre os seus próprios termos, o
espetáculo é a afirmação da aparência e de toda a vida humana, socialmente
falando, como simples aparência”.

A Lei se preocupou em garantir o sigilo de informação, assegurando a não


divulgação de informações pessoais de usuários pelos provedores. Evitando,
assim uma enxurrada de e mailsmarketing ou mau uso dessas informações
pelos servidores. Uma medida importante, já que empresas de internet formaram
grandes conglomerados, detendo muitas informações.

Porém, pecou pelo excesso de garantia de liberdade de expressão e


pouca preocupação com o conteúdo veiculado na rede, que possa atingir a

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privacidade, a intimidade e a moral de algum indivíduo. Ao lado do direito à
liberdade de expressão (artigo 5º, IV da Constituição Federal de 1988) está o
direito à privacidade ou a intimidade (artigo 5º, X da Constituição Federal de
1988). A Lei do Marco Civil da Internet desonera mais a responsabilidade dos
servidores, pois, como já mencionado, é preciso uma medida judicial para
retirada do conteúdo da internet.

A responsabilidade do conteúdo fica com os usuários, sem que a Lei traga


qualquer sanção aos mesmos. Cabendo assim, as penas do Código Penal, que
podem não ser as mais adequadas. Pois, com a evolução dos crimes que podem
ser cometidos pela internet, a repercussão do que podia ser uma difamação
restrita a um certo grupo de pessoas passa a ter uma repercussão mundial e
inclusive ilimitada quanto ao tempo. O que se questiona é se o procedimento da
ação judicial para retirada do conteúdo ofensivo não será um procedimento mais
moroso que o da antiga comunicação direta ao provedor, ou denúncia de abuso.
A necessidade de ação judicial é um retrocesso.

O Marco Civil da Internet, em seu caráter regulamentador e instrutivo,


coloca o fator humano como ponto chave da segurança da informação. Investir
somente em alta tecnologia e ignorar o fator humano pode expor, por exemplo,
informações importantes e confidenciais. A existência de um projeto de lei com
bases nos direitos fundamentais, na segurança da Internet e na educação facilita
o desenvolvimento de futuros projetos para formação de usuários mais
conscientes de seus direitos e deveres.

O foco nos direitos fundamentais, instrução e definição de obrigações


civis quanto à utilização da Internet em detrimento da direta abordagem criminal
das posturas adotadas no ciberespaço constitui um dos pontos altos do Marco
Civil da Internet. Não é coerente definir penalidades sem antes abordar
obrigações civis quanto a postura no ciberespaço, ou seja, sem antes educar os
usuários e estabelecer um regulamento. O Direito Penal, como última ratio,
somente pode ser invocado após todos os outros ramos do direito terem falhado
na tentativa de regular determinada conduta. A diferenciação das
responsabilidades e deveres dos provedores de conexão e os de aplicações de
Internet é apropriada, contudo o tema necessita ser aperfeiçoado. O Marco Civil

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da Internet ainda deixa lacunas por determinar um prazo de guarda de dados de
conexão muito curto em comparação com os períodos mínimos de prescrição
civil e criminal, por não obrigar a guarda de registros de acesso a aplicações de
Internet e por permitir a moderação de tráfego por “requisitos técnicos”.

Caso o Marco Civil da Internet seja aprovado com a redação atual, será
necessário um regulamento, por meio de decreto, que detalhe ações para a fiel
execução do mesmo, por parte dos usuários, profissionais de áreas relacionadas
às disposições dos artigos do referido Projeto de Lei, provedores de conexão e
aplicações de Internet e o Poder Público. O Marco Civil da Internet é o início do
árduo trabalho que será regulamentar o uso da Internet no Brasil. Caberá aos
profissionais e estudiosos de áreas relacionadas às particularidades abordadas
no Projeto de Lei analisar e contribuírem com estudos, correções e projetos para
aplicação.

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