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Unidade Curricular

Direito Digital 2021.2

Professores
Hercilio Emerich Lentz Pedra Branca
Pablo
Evolução do Direito
O Direito Digital ou Informático ou Eletrônico
consiste na evolução do próprio Direito, abrangendo
todos os princípios fundamentais e institutos que
estão vigentes e são aplicados até hoje, assim como
introduzindo novos institutos e elementos para o
pensamento jurídico, em todas as suas áreas
(Direito Civil, Direito Autoral, Direito Contratual,
Direito Econômico, Direito Financeiro, Direito
Tributário, Direito Penal, Direito Internacional etc).
Sua idade é estimada em duas décadas. Costuma-se
dizer que a Portaria Interministerial 147, de 31 de
maio de 1995, editada pelos ministros da
Comunicação e da Ciência e Tecnologia, que regulou
o uso de meios da rede pública de telecomunicações
para o provimento e a utilização de serviços de
conexão à Internet, foi o primeiro diploma legal
desse ramo.
O Direito Digital nasceu da necessidade de
se regularem as questões surgidas com a
evolução da tecnologia e a expansão da
internet, elementos responsáveis por
profundas mudanças comportamentais e sociais,
bem como para fazer frente aos novos dilemas
da denominada “Sociedade da Informação”.
O A doutrina tem assinalado um aspecto
interessante desse Direito: afirma que o Direito
Digital não tem objeto próprio.
Seria um Direito com um “modus operandi
diferente, sendo, na verdade, a extensão de
diversos ramos da ciência jurídica, que cria
novos instrumentos para atender a anseios e ao
aperfeiçoamento dos institutos jurídicos em
vigor”
De acordo com Patrícia Peck Pinheiro, o Direito
Digital é a evolução do próprio Direito e abrange
“todos os princípios fundamentais e institutos
que estão vigentes e são aplicados até hoje,
assim como introduzindo novos institutos e
elementos para o pensamento jurídico, em
todas as suas áreas” (2008, p. 29).
O Direito Digital é o resultado da relação entre a
ciência do Direito e a Ciência da Computação
sempre empregando novas tecnologias
Enfim, o Direito Digital abrange todas as áreas
do Direito, de maneira transversal, e congrega
novos elementos para dirimir os conflitos
surgidos com a tecnologia, especialmente a
Internet, e regular as relações da denominada
“sociedade da informação”.
Negócios e
Contratos
Jurídicos

Relações
Consumidor
Internacionais

Direito
Digital

Penal Tributário

Empresarial
Nesse consenso, o usuário da Rede Mundial
de Computadores, deve possuir
conhecimento sobre ética, para avaliar o
que é bem vindo ou não desse gigantesco
aglomerado de informações, para saber
extrair o que lhe é útil e descartar o fútil.
• Legislativo: criação de leis
para regulamentar condutas
online e estabelecer novos
tipos penais, ocorridos no
Características
ambiente virtual
do
direito digital • Interpretativo: aplicação das
leis atuais a situações já
conhecidas, considerando as
particularidades de
acontecerem no ambiente
online.
• Interpretativo: celeridade, o
Características
do dinamismo, a auto-
direito digital regulamentação
Objeto Jurídico
Todos os bens e interesses juridicamente protegidos
pelo Direito de forma ampla englobam os Objetos
Jurídicos, estes que podem ser qualquer elemento
passível de proteção nos mais determinados
campos, muitos destes já pré-estabelecidos pela
Constituição Federal vigente
Tecnologia e o Direito
Da criação do chip ao lançamento do primeiro
computador com interface gráfica para utilização
doméstica se passaram quase vinte anos. Depois, as
mudanças não pararam mais, culminando na
convergência — nada mais que a integração de
várias tecnologias criando uma rede única de
comunicação inteligente e interativa que utiliza
vários meios para transmitir uma mesma
mensagem, em voz, dados ou imagem.
As relações comerciais migram para a Internet. A
possibilidade de visibilidade do mundo atual traz
também os riscos inerentes à acessibilidade, tais
como segurança da informação, concorrência
desleal, plágio, sabotagem por hacker, entre
outros.
No Direito Digital prevalecem os princípios em
relação às regras, pois o ritmo de evolução
tecnológica será sempre mais veloz que o da
atividade legislativa. Nessa nova era do Direito
os princípios jurídicos são muito mais relevantes
do que as próprias leis, pois a tendência é que a
atividade legislativa sempre esteja atrasada em
relação às evoluções tecnológicas
Tecnologia e o futuro do direito
Zigmund Balman, sociólogo polonês (1925-1917),
estabeleceu o conceito da modernidade liquida, para
este, nos dias em que vivemos nada foi feito para
durar, isso não somente por conta das relações em
que nos colocamos, para o sociólogo tudo é muito
dinâmico, permeado de incertezas, imprevisibilidade
e insegurança.
As profissões não ficam isentas desta análise,
inclusive o direito
Com isso também muda o perfil do profissional
do direito, isso deve iniciar pelas instituições de
ensino, algumas delas continuam pensando e
ensinando o direito de uma forma “tradicional” e
antiquada.
Inteligência artificial, ODR (Online Dispute
Resolution), Blockchain, Legal Analytics,
Machine Learning e Internet das Coisas são
algumas das novidades em tecnologia que estão
sendo incorporadas à gestão jurídica com o
objetivo de melhorar a eficiência e,
consequentemente, a entrega dos serviços.
O trabalho do advogado do futuro será muito
mais colaborativo.
Os fundamentos da advocacia não devem sofrer
grandes alterações, mas o que muda
drasticamente daqui por diante, é como os
serviços jurídicos serão prestados.
Os profissionais do Direito estarão cada vez
mais conectados aos gerentes de projetos e
especialistas de tecnologia, por exemplo, para
co-criar soluções que alcancem as expectativas
dos clientes e criem valor para o negócio.
As tecnologias ajudarão os advogados a reduzir seus
custos internos, delegando a algoritmos
especialistas treinados as atividades elementares e
triviais, tais como elaboração de petições (?),
análise de jurisprudência etc.

Construção de modelo próprios e do software.


O primeiro “advogado” de inteligência artificial
do mundo, criado pela IBM. “O robô advogado”
Ross foi construído a partir do Watson, primeira
máquina cognitiva, também da IBM.
O Ross foi criado para declamar e interpretar o
vocabulário oriundo, fabricar pressupostos
quando interpelado, perquirir e construir
soluções, e se provou um útil ajudante para os
advogados de fato.
Mas o operador do direito não precisará ter mais os
conhecimentos do direito material e processual?

Acredito que não!


Normativo Nacional
A CRFB em seu artigo 5º., visto que todos são
iguais perante a lei e nos artigos “Art. 24. Compete
à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar
concorrentemente sobre: ... IX - educação, cultura,
ensino, desporto, ciência, tecnologia, pesquisa,
desenvolvimento e inovação”
e no Art. 218. “O Estado promoverá e incentivará o
desenvolvimento científico, a pesquisa, a
capacitação científica e tecnológica e a inovação”;

- Lei Nº 12.737/2012 (conhecida como Lei Carolina


Dieckmann).
Introduziu 03 tipos penais específicos envolvendo
crimes informático;
- Decreto Nº 7.962/2013 - Regulamentou o Código
de Defesa do Consumidor, para dispor sobre a
contratação no comércio eletrônico;
- Lei Nº 12.965/2014 (Marco Civil da Internet) -
Estabeleceu princípios, garantias, direitos e deveres
para o uso da internet no Brasil, tanto para
provedores de conexão, provedores de aplicação e
usuários da Internet. É um marco mundial, no que
concerne ao tratamento da Internet sob a ótica do
Direito Civil, sendo referenciado por alguns como a
"Constituição da Internet";
- Lei nº 13.709/18. Sucessora do Marco Civil da
Internet, de 2014, a chamada Lei Geral de Proteção
de Dados Pessoais (LGPD) visa regulamentar a
concessão e o uso de dados no ambiente virtual;
- Lei nº 14.132/2021, que criminaliza
o stalking e cyberstalking
- LXXIX - é assegurado, nos termos da lei, o direito
à proteção dos dados pessoais, inclusive nos meios
digitais.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 115, de 202
Introdução ao Letramento Digital
Assim, se há tão pouco tempo, iniciávamos os estudos
do letramento no Brasil, avançamos para uma outra
discussão que se insere na perspectiva do letramento
digital pelos caminhos de uma sociedade da informação
e da comunicação. A partir desse contexto, este
trabalho organiza-se por uma revisão bibliográfica,
intencionando apresentar alguns conceitos que se
relacionam à necessidade da aquisição de habilidades e
de competências que possam auxiliar no uso das
tecnologias em seus mais diversos aspectos.
ENTRE CONCEITOS
Iniciamos a definição de letramento digital considerando
que vários fatores interferem em qualquer contexto que
ele possa assumir, pois o processo de letramento digital
envolve o contexto sociocultural, político e histórico de
cada indivíduo. Além disso, é preciso reconhecer que,
em função da evolução tecnológica que se expande
velozmente, torna-se complexo determinar quem é
letrado digitalmente.
Por uma forma mais literal, Serim (SERIM,
2002 citado por SOUZA, 2007, p. 57) define
letramento digital como uso da "tecnologia
digital, ferramentas de comunicação e/ou redes
para acessar, gerenciar, integrar, avaliar e criar
informação para funcionar em uma sociedade
de conhecimento".
Para o autor “ser letrado digitalmente pressupõe assumir
mudanças nos modos de ler e escrever os códigos e sinais
verbais e não-verbais, como imagens, desenhos gráficos, até
porque o suporte sobre o qual estão os textos digitais é a tela
digital". (XAVIER, 2007, p. 2).
COMPETÊNCIAS E HABILIDADES
Hoje já não cabe mais a discussão sobre a importância de ser
letrado digitalmente ou não. Isso já é fato. O que precisa ser
discutido é como oportunizar o letramento digital de forma a
instrumentalizar as pessoas a lidar com as informações, dando
sentido aos textos, verbais ou não, com o intuito de torná-las
críticas e competentes para o uso das tecnologias.
Competências e habilidades para o letramento digital
Competência Computacional: relacionada aos conhecimentos
básicos para o uso do computador
 Conhecer os elementos básicos do computador, suas
funções, terminologias de sistemas operacionais, bem como
softwares, programas e ferramentas disponíveis.
 Salvar e recuperar a informação no computador e em
diferentes suportes (pen-drives, disco rígido, HD externo,
pastas, nuvem, etc.)
 Manusear os recursos do computador, operando o básico das
ferramentas do sistema operacional: explorar discos, copiar,
executar programas etc..
 Utilizar editor de textos para redigir documentos, armazená-
los e imprimi-los.
 Utilizar editores gráficos para fazer trabalhos.
 Competência Comunicacional: relacionada à expressão oral,
gestual e escrita
 Conhecer as diferentes Redes Sociais, utilizando-as para
contatar pessoas.
 Digitar adequadamente.
 Conhecer as diferentes formas de escrita disponíveis, como
bate-papo, e-mail etc. Competência Multimídia: relacionada
à utilização de diferentes tipos de mídia
 Conhecer e manusear tipos de mídia.
 Ler e compreender textos digitais.
 Identificar design, páginas da web e outros recursos visuais.
 Competência Informacional: relacionada à busca, avaliação
e utilização de informações
 Conhecer diferentes sites de busca.
 Conhecer e aprender a utilizar sites de download para
programas, livros e filmes.
 Fazer juízos de valor informados por meio das tecnologias.
 Avaliar diferentes fontes da internet.
 Comparar e selecionar as informações relevantes.
 Desenvolver técnicas e instrumentos para a busca, exame e
seleção de informações.
Fonte: Saboia et al (2014)
CONSIDERAÇÕES
Saber empregar as tecnologias, utilizando-as com
eficiência para atender aos propósitos da vida diária,
tomando decisões e resolvendo problemas são pontos
importantes para ser letrado digitalmente. No entanto,
diante da complexidade dos meios digitais, em meio à
efemeridade das tecnologias, isso considerando a
velocidade que cada invenção se “reinventa”, isso não é
tarefa fácil.
Diante disso, como dominar as tecnologias se as
mudanças ocorrem tão rapidamente? Como bancos,
farmácias, supermercados e outros serviços
(profissionais), que se valem cada vez mais do meio
digital, poderão ser usufruídos de forma igualitária por
todos seus usuários? Reflexões como essas precisam
ser acompanhadas de discussões pela sociedade
pensando o que realmente pode ser realizado para a
inserção de todos ao mundo digital de forma justa.
3 Sociedade da informação e reflexos na produção do
conhecimento
A sociedade contemporânea, ou melhor, a chamada sociedade
da informação, está se caracterizando pela influência e
dependência das tecnologias. Sua dinâmica se funda no
acesso às tecnologias. A presença e domínio das relações
sociais via tecnologias muda a dinamicidade, concepções e
também aspectos como o tempo, a velocidade e o espaço.
As novas dinâmicas não são mais de poder físico, do mundo da
força física, mas de uma capacidade mental, uma era imaterial
e cerebral. De propriedade física, passou-se a valorizar a
propriedade intelectual de patentes e direitos autorais. Da
realidade pura e simples, passou-se a considerar a realidade
virtual, a do ciberespaço, do abstrato, simbólico e o imaterial.
A utilização intensiva de tecnologias de comunicação e
informação para o movimento do mercado para gerar
informação em menor intervalo de tempo, proporciona
uma maior flexibilização na produção e também
racionalidade nos processos produtivos.
Rouanet (1987) aponta que o consumismo, a
informação e o contato social mediado por
tecnologias/imagens são características
predominantes na nossa sociedade.
O algoritmo não é o único mecanismo ou “ator” no ambiente
numérico, se nos referirmos à teoria Ator-Rede, de Bruno Latour
(1998, 2012), mas certamente não podemos mais ignorar nas
nossas pesquisas no campo da comunicação digital, ou em
estudos que de alguma forma tratam do ambiente digital, que
este mecanismo de mediação na comunicação está ocupando
um lugar de inevitável relevância.
Ou seja, a ação dos influenciadores está sujeita ao
comportamento do algoritmo, inevitavelmente. Se
pensarmos no “eu como mercadoria” (Karhawi, 2016,
p. 38) ou nas marcas que usam os “eus” como
mercadorias e tentam, através deles, exercer
influência sobre o seu público alvo, é preciso
direcionar um ponto de vista institucional em relação
ao algoritmo (Just & Latzer, 2016).
É nas mídias sociais, como Facebook e Twitter, entre outras, que vemos a
ação do algoritmo em “tempo real” e, apesar de muitas empresas no
mundo todo terem um código de governança para essas mídias, como
podemos observar no site especializado Social Media Governance5 ,
muitas vezes é preciso lidar com o evento que não foi previsto depois de
uma campanha ou publicação. Avaliar o perfil do conteúdo, seu formato de
publicação e voz institucional empregada não é o suficiente para lidar com
a “caixa preta”.
A seguir, exploramos essas premissas iniciais, as
categorias de Gillispie e as relacionamos com o case
proposto para análise, apontando, para os que
querem influenciar digitalmente, a importância de
dimensionarem diretrizes para uma política, seja
pessoal ou institucional, de governança de algoritmos.
O algoritmo dá uma certa “direção” para a informação, com um
enquadramento de sentido, e se enquadra na categoria de dinâmica
de “ciclos de antecipação”, como veremos mais abaixo . O exemplo
do Google é muito claro neste quesito:
HOMENS MULHERES
Homans sign Mulheres
Homens bonitos Mulheres de areia
Homens de honra Mulheres ricas
Homens da luta Mulheres apaixonadas
Homens de coragem Mulheres que amam demais

Figura 1: Busca no Google para os termos “homens” e “mulheres”.


Fonte: Autora, 13/6/2017
Outro exemplo da dinâmica do algoritmo é a formação
de bolhas. Para Pariser (2012), o centro da formação
da bolha era a atividade do ser humano na interação
com a internet. Arruda propõe um olhar territorial
sobre a bolha, sendo que a construção desta é
fundamentalmente a ação do algoritmo a partir do
humano:
(...) podemos analisar as bolhas algorítmicas como a formação de um
território com códigos específicos que são compartilhados e ritualizados
por aqueles que compartilham desse espaço de sentido.
O território por onde a informação circula é determinado, em parte,
pelas dinâmicas do algoritmo como observamos, por exemplo, nas
categorias Gillispie como citamos anteriormente:
1. Padrões de inclusão: as opções anteriores de programação e
que tornam o algoritmo um produtor de index; o que está excluído
desse index e como os dados são preparados para o algoritmo;
2. Ciclos de antecipação: as implicações das tentativas dos provedores de
algoritmos de conhecerem e preverem a interação dos seus usuários, e
como as conclusões deles agem sobre o desenho dos algoritmos e como
desenho importa; 3. A avaliação da relevância: os critérios pelos quais os
algoritmos determinam o que é relevante, como esses critérios são
obscuros e como eles implementam escolhas políticas sobre
conhecimento apropriado e legítimo; 4. Promessa da objetividade do
algoritmo: a maneira como o caráter técnico do algoritmo está posicionado
como uma garantia de imparcialidade e como essa afirmação é mantida no
cerne de uma controvérsia; 5. Emaranhamento com a prática: como os
usuários remodelam suas práticas de acordo com os algoritmos dos quais
eles dependem, e como eles podem transformar algoritmos em terrenos
para competição política, às vezes até mesmo para interrogar a política do
próprio algoritmo;
6. A produção de públicos calculáveis: como a produção e apresentação do
público pelo algoritmo molda e é devolvida a estes mesmos públicos como
percepção coletiva de grupo, e quem está melhor posicionado para se beneficiar
deste conhecimento. (Gillispie, 2013, p.2-3) Parece-nos que a ligação de
#homensrisque com as dinâmicas do algoritmo tem uma ressonância importante
com a categoria 6, “A produção de públicos calculáveis”, pois a campanha teve o
papel de fazer a percepção do público feminista e feminino reagir, formando uma
imagem pública de si mesmo no uso da hashtag com o nome da campanha
através do Twitter. A partir desta experiência, quem pode se beneficiar deste
conhecimento? Pensamos que as marcas que trabalham com o público
feminino não podem ignorar essa experiência; há aqui um ensinamento prático a
respeito da tentativa de exercer influência nas mídias sociais sobre determinados
públicos. https://www.youtube.com/watch?v=Xo1V_JL1yAg
Lei da transparência
De acordo com a CRFB, alguns direitos que os
cidadãos possuem que têm uma natureza
autoaplicável. Um deles é o direito de receber
informações sobre os órgãos públicos.
Essas informações podem ser de natureza
pessoal, coletiva e de interesse geral, além de
atos e registros administrativos do próprio
governo
5.Lei da transparência
De acordo com a CRFB, alguns direitos que os
cidadãos possuem que têm uma natureza
autoaplicável. Um deles é o direito de receber
informações sobre os órgãos públicos.
Essas informações podem ser de natureza
pessoal, coletiva e de interesse geral, além de
atos e registros administrativos do próprio
governo
A Lei da Transparência é uma forma de
combinar esses 3 aspectos em um único
documento, que garantirá a sua aplicação por
meio, por exemplo, do uso de tecnologias.
Isto faz com que seja possível e fácil para os
diversos órgãos manter e permitir acesso a
essas informações
Essa é a Lei da Transparência (Lei
Complementar 131/2009), uma forma de
regulamentar e explicar para o envolvido o
que deve ser feito e em determinados casos.
São mencionados a União, os Municípios e
Estados, o Distrito Federal, mas até mesmo os
poderes republicanos, todos os entes
controlados e até empresas públicas ou de
controle misto, em que haja associação com o
Estado
LC 101/2000

LC 131/2009

Lei 12.527/2011
As 3 Leis que lidam com Transparência
Pública

Uma delas é a Lei 12.527/2011, que é a


conhecida LAI, ou a Lei de Acesso à Informação.
Essa Lei também regulamenta o direito de
acesso às informações públicas.
Seu objetivo é que qualquer pessoa, seja física
ou jurídica, possa solicitar e receber as
informações públicas sem precisar nem mesmo
esclarecer um motivo para isso.
Esta lei é um marco no âmbito da
Administração Pública brasileira. Ela se aplica
a todos os órgãos que compõem o Estado. Ela
se aplica aos três poderes da República,
também; e mesmo para empresas estatais e
até para entidades privadas que não possuem
fins lucrativos e recebem dotações
orçamentárias para desenvolver suas
atividades.
A principal diferença entre essas Leis é em
relação à passividade e atividade.
A Lei da Transparência exige que os órgãos
sejam proativos na divulgação das
informações.
Por outro lado, a Lei de Acesso à Informação,
garante que quem solicitar a informação irá
recebê-la
Exemplos de sites sobre Transparência
https://www.cnj.jus.br/transparencia-cnj/ranking-
da-transparencia/ranking-da-transparencia-2021/
https://www.cnmp.mp.br/portal/institucional/
comissoes/comissao-de-controle-administrativo-e-
financeiro/atuacao/ranking-da-transparencia
https://transparenciainternacional.org.br/ranking/
Quando o assunto é acesso à informação, manter
esses princípios em mente. Eles são:
 Acesso é regra, sigilo é exceção.
 As hipóteses de sigilo são claras e estabelecidas na
Lei.
 O requerente não precisa dizer para qual objetivo
ele quer a informação.
 A divulgação de informações de interesses gerais
deve ser proativa.
A Lei de Responsabilidade Fiscal ( Lei 101/2000)
também tem como objetivo a transparência pública.
Nesse caso, o documento está mais voltado para
orçamento e finanças públicas, através da gestão
fiscal.
O objetivo dessa Lei é garantir um maior controle
das contas públicas, evitando que o governo
contraia dívidas ou assuma empréstimos fora do
cabível. Portanto, é uma forma de promover tanto a
transparência, quanto a fiscalização.
O conjunto desses três pontos – valores, leis e
informatização – se transmuda na produção de
direitos para a sociedade. É importante não
perder isto de vista: a informação pública, a
transparência na gestão e a democratização ao
acesso só existem porque a sociedade isto
anseia e requer.
6.Provedores de acesso e de conteúdo
6.1. Internet
Com a publicação da Lei 12.965/2014, que
institui o Marco Civil da Internet, muitos dos
elementos que compõem a rede mundial de
computadores foram definidos
normativamente.
A Internet foi definida como “o sistema
constituído do conjunto de protocolos lógicos,
estruturado em escala mundial para uso público
e irrestrito, com a finalidade de possibilitar a
comunicação de dados entre terminais por meio
de diferentes redes” (art. 5º, I).
Classificação conforme a doutrina
A natureza jurídica de cada espécie de provedor
de internet é apresentada a seguir:

Provedores de Backbone
O backbone, ou “espinha dorsal”, representa o
nível máximo de hierarquia de uma rede de
computadores. Consiste nas estruturas físicas
pelas quais trafega a quase totalidade de dados
transmitidos através da internet, e é composto de
múltiplos cabos de fibra ótica de alta velocidade
Provedores de acesso
É a pessoa jurídica fornecedora de serviços
que possibilitem o acesso de seus
consumidores à internet. Normalmente, essas
empresas dispõem de uma conexão a um
backbone ou operam a sua própria
infraestrutura para a conexão direta
Provedores de correio eletrônico
São aqueles que dependem do acesso prévio
à internet. Seu funcionamento é
relativamente simples: o provedor de correio
eletrônico fornece ao usuário um nome e
uma senha para o uso exclusivo em um
sistema informático que possibilita o envio e
o recebimento de mensagens
Provedores de hospedagem
É a pessoa jurídica que oferece o
armazenamento de dados em servidores
próprios de acesso remoto, possibilitando o
acesso de terceiros a esses dados, de acordo
com as condições estabelecidas com o
contratante do serviço. Podem oferecer
serviços adicionais como registro de nomes
de domínio, cópias periódicas de segurança
do conteúdo do web site armazenado entre
Provedor de conteúdo, é toda pessoa natural
ou jurídica que disponibiliza na internet as
informações criadas ou desenvolvidas pelos
provedores de informação, utilizando para
armazená-las servidores próprios ou os serviços
de um provedor de hospedagem
É frequente que provedores ofereçam mais de
uma modalidade de serviço de Internet; daí a
confusão entre essas diversas modalidades.
Entretanto, a diferença conceitual subsiste e é
indispensável à correta imputação da
responsabilidade inerente a cada serviço
prestado
Classificação conforme o Superior Tribunal
de Justiça (STJ)
A partir do Marco Civil da Internet, em razão
de suas diferentes responsabilidades e
atribuições, a jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça é possível distinguir
simplesmente duas categorias de provedores:
(i) os provedores de conexão; e (ii) os
provedores de aplicação
Provedores de conexão
Os provedores de conexão são aqueles que
oferecem “a habilitação de um terminal para
envio e recebimento de pacotes de dados pela
internet, mediante a atribuição ou autenticação
de um endereço IP” (art. 5º, V, MCI)
No Brasil, os provedores de conexão acabam,
em sua maioria, confundindo-se com os
próprios prestadores de serviços de
telecomunicações, que em conjunto detêm a
esmagadora maioria de participação neste
mercado.
Provedores de aplicação
Por sua vez, utilizando as definições
estabelecidas pelo art. 5º, VII, do Marco Civil
da Internet, uma “aplicação de internet” é o
conjunto de funcionalidades que podem ser
acessadas por meio de um terminal conectado
à internet.
Essas funcionalidades podem ser as mais
diversas possíveis, tais como serviços de e-mail,
redes social, hospedagem de dados,
compartilhamento de vídeos, e muitas outras
ainda a serem inventadas.
Por consequência, os provedores de aplicação
são aqueles que, sejam com ou sem fins
lucrativos, organizam-se para o fornecimento
dessas funcionalidades na internet.
Decisão do STJ sobre os provedores de
Internet

RECURSO ESPECIAL Nº 1.193.764 - SP


(2010/0084512-0)
O PAPEL DA GOVERNANÇA DA INTERNET NA DEFESA DOS
DIREITOS HUMANOS
Lançada em 2006, o WikiLeaks é uma organização que obtém
e divulga na Internet documentos confidenciais de empresas e
de governos do mundo todo. Julian Assange é o líder e
fundador do site.
Em dezembro de 2010, o jovem Mohamed Boauzizi, tunisiano, ateou fogo ao
próprio corpo em um ato desesperado, devido à ausência de oportunidades
em seu país para jovens como ele. Iniciou-se aí a chamada Primavera Árabe.
Segundo Castells (2015), os movimentos sociais na
contemporaneidade apresentam a estrutura social da era da
informação, com características da sociedade em rede.
O artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos afirma que
"todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; este
direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar,
receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e
independentemente de fronteiras.”.
O princípio fundamental da liberdade da Internet é que o
gozo dos direitos humanos, para todos os indivíduos,
também se aplica à Internet (BILDT, 2012).
Os governos não atuam sozinhos no ambiente online, onde as companhias
detêm e desenvolvem a maioria dos serviços e tecnologias. Contudo, o principal
responsável em assegurar a proteção dos direitos humanos é o Estado, que
deve, ao invés de aumentar a regulamentação da Internet ou criar mais leis,
garantir que a competição entre as empresas, os direitos humanos e as licenças
para comercialização sejam adequadamente aplicadas. (SCHAAKE, 2012).
À medida que se promove a liberdade na Internet, deve-se também
enfrentar a questão da segurança da Internet. Proteger os fluxos e
sistemas digitais é a chave para seguir em direção ao sucesso da
globalização. (BILDT, 2012)
Bildt (2012) afirma que é de suma importância não permitir que
questões legítimas de segurança crie pretextos para que regimes
autoritários restrinja as liberdades individuais e os direitos humanos.
Quanto mais importante se torna a utilização das TICs
nos países em desenvolvimento, mais importante é
proteger as liberdades digitais em sentido estrutural.
Por exemplo, a disponibilização online do orçamento
e dos gastos do Estado podem reduzir as
oportunidades para corrupção. (SCHAAKE, 2012).
Por outro lado, segundo Bildt (2012), o fato da governança de a
Internet ter deixado de lado o controle exclusivo dos governos tem sido
essencial para seu sucesso. Deve-se questionar o modelo atual da
governança da Internet e refletir sobre como ele pode ser melhorado.
Encontrar soluções de como, no mundo em desenvolvimento,
efetivamente incluir mais usuários da Internet.
BIBLIOGRAFIA
BARTKOWIAK, Jaqueline Zandona; FONSECA, Thatiane de Almeida;
MATTOS, Gabriel Motta; SOUZA, Vitor Henrique do Carmo. A Primavera
Árabe e as Redes Sociais: o uso das redes sociais nas manifestações da
Primavera Árabe nos países da Tunísia, Egito e Líbia. Cadernos de Relações
Internacionais, v. 10, n. 1, p. 65- 95, 2017. Disponível em:
https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/30432/30432.PDF. Acesso em: 20 jul.
2019
BEDIN, Gilmar Antonio; CITTADINO, Gisele Guimarães; ARAÚJO, Florivaldo
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CONPEDI, 2015. 374 p. Disponível em:
http://conpedi.danilolr.info/publicacoes/66fsl345/w8299187/qhtRfRHK92qr4WJ
BILDT, Carl. Internet is the new frontline in the work for
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http://en.collaboratory.de/w/Internet_is_the_New_Frontline_in
_the_Work_for_Freedo m_in_the_World. Acesso em: 20 jul.
2019. CAETANO, Ivone Ferreira. O Feminismo Brasileiro:
uma análise a partir das três ondas do movimento feminista
e a perspectiva da interseccionalidade. In: Revista do Curso
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https://www.marietjeschaake.eu/wp-content/uploads/2012/11/mind_04b
erlin.pdf. Acesso em: 3 nov. 2019
DESINFORMAÇÃO COMO TERRENO FÉRTIL
Não é possível pensar o fenômeno de circulação de informações falsas sem
pensar também o ambiente informativo em que este fenômeno se proliferou.
Moisés de Lemos Martins, Presidente do V Congresso da Associação
Portuguesa de Ciências da Comunicação (SOPCOM), refere-se a uma crise
da cultura, de contornos nietzscheanos, advinda do descolamento da ética,
da verdade e dos fatos.
A desinformação é um conceito antigo que nasce ligado a projetos militares de
contrainformação e espionagem, mas extrapola para os meios de comunicação e
para aparelhos privados e estatais. A desinformação pode estar presente em livros
de história ou em discursos políticos, em histórias em quadrinhos ou em jornais de
ampla circulação. O conceito de desinformação de Pascual Serrano que destrincha
os vários artifícios utilizados em veículos de comunicação é a base para uma
primeira problematização. Serrano sublinha que “os mecanismos de
desinformação e manipulação são mais complexos que a mentira grosseira”
(SERRANO, 2010, p.31).
A informação que circula hoje nos meios de comunicação tradicionais
e nas redes digitais parece não ser mais o produto a ser comprado, e
sim um meio de atração de leitores.
Alguns dos mecanismos de desinformação são:
a) O alinhamento aos interesses do poder econômico e do poder
político nos meios de informação e comunicação;
b) A dificuldade do usuário/leitor de interpretar as origens, fundamentos,
contextos, funcionamentos e motivações das informações e fatos;
c) O apartamento da ética de maneira geral;
d) A elaboração da maioria das notícias que circulam nos meios de
comunicação hegemônicos e nas redes sociais de forma resumida, sem
crítica, sem contraste;
e) A manipulação do silenciamento, frivolização, desvio de atenção, etc.;
f) O excesso de informação;
g) O excesso de comoção;
h) A interpretação e visão de mundo que já vêm prontas;
i) O tratamento desigual das garantias democráticas,;
j) A produção e disseminação de informações sem contexto nem antecedentes;
k) A definição de hierarquias pré-estabelecidas;
l) A fetichização do imagético.
Concordando com Serrano (2010), entendemos que aos indivíduos é
ofertada uma concepção de mundo maniqueísta de bem/mal, branco/preto,
certo/errado, de informações sem matizes.
FAKE NEWS
A definição de fake news que utilizaremos aqui, baseada em artigo de Allcott
e Gentzkow (2017, p.213), é a de sinais distorcidos e desconectados da
verdade, que dificultam a visão da verdade ou do estado verdadeiro do
mundo.
No entanto, o termo fake news tem sido utilizado de maneira abrangente, de
forma a esbarrar no significado de desinformação. A significância fixada na
descrição acima permite categorizar melhor as fake news bem como pensar
criticamente os outros tipos de informação que são compartilhados.
As polarizações em torno das ideologias também proporcionam um terreno fértil
para as fake news, uma vez que cada lado, revestido de sentimentos negativos em
relação ao “oponente”, tende a acreditar mais facilmente em informações falsas
sobre o outro. Os algoritmos ajudam nesse sentido, bem como os bots,
aproveitando-se da bolha informacional em que o usuário se encontra.
Existem, pelo menos, duas motivações para a fabricação e circulação
de fake news. Em primeiro lugar, fake news são um negócio lucrativo.
A segunda motivação é ideológica. Pessoas que acreditam em uma
determinada ideologia e querem atrapalhar, humilhar, desacreditar etc. o
“outro lado”, “ajudando” assim o “seu lado”.
REFERÊNCIAS
ALLCOTT, H.; GENTZKOW, M. Social media and fake news in the 2016
election. Journal of Economic Perspectives, 31(2), 211-36. 2017.
BAUDRILLARD, Jean. Televisão/Revolução: O Caso Romênia. In:
PARENTE, A. (Org.). Imagemmáquina: a era das tecnologias do virtual. Rio
de Janeiro, 1993.
BELLUZZO, R. C. B. Competências na era digital: desafios tangíveis para
bibliotecários e educadores. Educação Temática Digital, 6 (2), 30. 2005.
BEZERRA, Arthur Coelho; SCHNEIDER, Marco; BRISOLA, Anna Cristina.
Pensamento reflexivo e gosto informacional: disposições para competência
crítica em informação. Informação & sociedade: estudos, João Pessoa, v.27,
n.1, p. 7-16, jan./abr. 2017.
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