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A evolução social trazida pela Informática, fez com que o Direito necessitasse
de novos instrumentos para disciplinar as relações entre o homem e a tecnologia,
visando preservar o convívio, a harmonia e a paz social, como dito inicialmente. Disto,
surge o Direito Digital – mas não como um novo ramo do Direito, assim como são o
Direito Civil e o Direito Penal –, e sim como uma releitura do Direito tradicionalmente
conhecido, sob a ótica dos impactos e reflexos tecnológicos, conforme bem pontuado
pelos Professores Coriolano Camargo e Marcelo Crespo. Portanto, o Direito Digital vem
a propiciar uma nova forma de compreensão e interpretação dos problemas que agora
acontecem no meio ambiente virtual.
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digital. Como consequência desta interação e a comunicação ocorrida em meio virtual,
surge a necessidade de se garantir a validade jurídica das informações prestadas, bem
como das transações, através do uso de certificados digitais. A tecnologia também foi
capaz de outorgar aos profissionais do Direito, ferramentas computacionais que
simplificaram e aperfeiçoaram suas tarefas. Entretanto, essa mesma tecnologia inovou
e potencializou a ocorrência de crimes, como a violação de direito autoral. Buscando a
materialidade e autoria dos delitos praticados neste ambiente, estudiosos de ambas as
áreas se unem na análise forense computacional”.
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mundial de computadores, conforme os dados obtidos pela pesquisa TIC Domicílios
2014, realizada pelo Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da
Comunicação (Cetic. Br).
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legislativa, o julgador vem se valendo dos princípios gerais do Direito para tentar
equalizar estas questões.
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impróprios. Citem-se como exemplos os delitos contra a honra ou a ameaça (Código
Penal, art. 138 e ss. E art. 147) praticados via E-mail, redes sociais ou aplicativos de
comunicação instantânea. Estes crimes utilizam o computador/celular como um meio,
sendo que o seu resultado se dá no mundo real. Nestas situações, não foi necessário
legislar criando novas figuras penais, mas apenas reinterpretar os tipos criminais já
existentes, não havendo que se falar em analogia in malam partem.
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escritório, em 2004, já tinha decidido que sua área seria a Digital, mesmo sendo
questionada pelos colegas sobre o fato de fazer “só isso”.
Patricia Peck: Fui muito inspirada pelo contexto que vivi na infância, já que
sempre tive a casa cheia de novas tecnologias trazidas pelos meus pais, que eram
comissários de voo. Sempre fui muito curiosa, estudei Basic e Cobol, aos 12 anos de
idade, e comecei a desenvolver programas para computador. Ao entrar na Faculdade
de Direito do Largo São Francisco, criei um site chamado “Urbanóide” para troca de
referências de Direito e Tecnologia, Softwares Livres e Tecnologia da Informação.
Patricia Peck: O que mais influenciou nessa escolha foi uma conversa que tive
com a minha professora de História. Ela perguntou por que eu gostava tanto dos
computadores. Respondi que, “ao escrever uma regra para a máquina, ela identifica e
cumpre a regra”. Foi em meio a esse debate de ideias que ela mesma sugeriu que eu
fizesse a faculdade das regras.
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Mas desde o estágio eu tinha a fama no escritório de ser “a estagiária que
entende de tecnologia”, porque tinha um site e sabia programar. Então, para mim, era
natural pesquisar sobre a sinergia entre o Direito e a tecnologia.
Desde a formatura (em 1998), atuo com Direito Digital. Nessa época, escrevi
uma crônica para concorrer a um prêmio falando que no futuro a faculdade fecharia as
portas, porque todas as aulas seriam pela internet. Em 1999, enfrentamos o bug do
milênio – então, por causa da crônica e do rótulo de “advogada que entende de
tecnologia”, comecei a ser procurada para falar sobre quebras de contratos e outras
questões legais relativas ao bug.
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importante que o advogado se especialize com certificações técnicas e estude temas,
como ITO e COBIT. Por exemplo, na discussão de privacidade e cibersegurança, é
indispensável entender como funciona a criptografia e a coleta de biometria. Nisso
tudo, o que mais impacta é conhecer sobre provas eletrônicas e perícia digital. É como
perguntar para a máquina o que aconteceu. Isso deveria ser ensinado nas graduações
de Direito para que os estudantes tivessem a oportunidade de, no laboratório, usar
softwares que fazem a coleta de prova eletrônica, tendo uma compreensão maior
sobre esse tipo de procedimento. É um cenário novo: a prova é eletrônica e a
testemunha é a máquina. É o novo pensar jurídico que exige do profissional
conhecimento técnico, prático e especializado.
O Direito Digital mudou muito, desde quando você começou a atuar nessa
área? Por conta da velocidade com que a tecnologia avança, pode-se afirmar que o
advogado que trabalha com Direito Digital precisa buscar atualização de forma mais
constante do que um profissional que atua em outra área do Direito?
Patricia Peck: Sim, além de saber a matéria, ele precisa manter uma atualização
constante, já que estamos falando de uma área em contínua evolução. O que
presenciamos é a revisitação dos institutos fundamentais do Direito relacionados a
diferentes temas, como à identidade, já que as pessoas se relacionam por meio de
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interfaces e não presencialmente; à soberania, pois as fronteiras não são mais
geográficas; e às testemunhas, que passaram a ser máquinas.
O destaque é que o Direito Digital deixou de ser entendido como uma disciplina
vertical, aquele Direito de Informática, de Tecnologia ou Cibernético, para se tornar o
Direito como um todo, de uma Sociedade Digital. Por isso, ficou horizontal, transversal
e engloba todas as disciplinas do Direito: civil, criminal, contratual, tributário, de
propriedade intelectual, constitucional, trabalhista, entre outros.
Essas mudanças exigiram que tipo de atualização e/ou formação dos advogados
que lidam com Direito Digital?
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Ou seja, tudo isso gerou novas oportunidades de atuação de um especialista
em Direito Digital.
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