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OAB XX EXAME DE ORDEM

Direito Penal
Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça

REVISÃO CRIMINAL defesa, conforme previsão expressa do art. 631


CONCEITO do CPP.
É um instituto processual que tem a natureza HIPÓTESES DE CABIMENTO
jurídica de ação de impugnação e não de re- I. Quando a sentença condenatória for con-
curso. trária ao texto expresso da lei penal ou à
evidência dos autos; (art. 621, I, CPP)
CARACTERÍSTICAS Neste caso específico, a sentença condenató-
 Pode ser requerida a qualquer tempo ria deve ser arbitrária, uma vez que afronta
(art. 622 do Código de Processo Penal), o diretamente texto de lei, ou é contrária à evi-
que difere dos recursos em geral que sem- dência dos autos.
pre possuem prazo para serem interpostos
sob pena de preclusão. OBSERVAÇÃO
 Desencadeia o surgimento de um novo pro- Vale salientar que, apesar de o inciso prever
cesso, não sendo um meio de impugnação tão somente a possibilidade de afronta de lei
na mesma relação processual, como ocorre penal, a abrangência do termo lei penal deve
com os recursos em geral. ser entendido como a possibilidade de a sen-
 Só cabe de sentenças penais transitadas em tença penal condenatória vir a afrontar qual-
julgado. Antes, caberá recurso específico quer lei, devendo tal afronta ser relevante
para tal finalidade. para a condenação.
 Pode ser intentada durante a execução da
pena ou após a execução (art. 622 do CPP). II. Quando a sentença condenatória se fun-
dar em depoimentos, exames ou documen-
OBJETIVO tos comprovadamente falsos; (Art. 621, II,
O objetivo da revisão criminal é rescindir uma CPP)
sentença penal transitada em julgado, servindo Neste caso específico existe a prova da conde-
ela como uma ação rescisória do âmbito pro- nação, como depoimentos, exames ou docu-
cessual penal, com características próprias. mentos, entretanto tais provas são comprova-
damente falsas e foram decisivas para levar à
PEDIDOS condenação do réu, uma vez que o inciso II, do
Podem ser alegados os seguintes pedidos, art. 621 do CPP diz que a sentença condenató-
conforme preceitua o art. 626 do CPP: ria deve se fundar em tais provas falsas.

III. QUANDO, APÓS A SENTENÇA, SE DES-


COBRIREM NOVAS PROVAS DE INOCÊN-
CIA DO CONDENADO OU DE CIRCUNS-
TÂNCIA QUE DETERMINE OU AUTORIZE
Uma característica muito peculiar da revisão DIMINUIÇÃO ESPECIAL DA PENA. (Art. 621,
criminal é o dela ser um instituto exclusivo da III, CPP)
defesa, ou seja, o Ministério Público não é par- Este inciso contempla duas situações.
te legítima para requerer a revisão criminal. Na primeira, são descobertas novas provas de
Esta característica é uma dedução do próprio inocência do condenado, podendo ser qualquer
art. 623 do Código de Processo Penal que traz tipo de prova nova, sejam prova documentais,
os seguintes legitimados para pedir a revisão testemunhais, etc. e a segunda surgem novas
criminal: provas de circunstância que determinam ou
• O próprio réu. autorizam a diminuição da pena do condenado.
• Procurador legalmente habilitado.
• Cônjuge, ascendente, descendente ou ir- COMPETÊNCIA
mão – CADI (no caso de morte do réu) A competência para o julgamento da Revisão
Criminal é sempre de Tribunal podendo ser
Se no curso da revisão criminal falecer a pes- organizada da seguinte forma:
soa, cuja condenação tiver de ser revista, o • Decisão penal transitada em julgada de Juiz
presidente do Tribunal nomeará curador para a Estadual ou Juiz Federal à compete ao Tribunal

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de Justiça e ao Tribunal Regional Federal julgar possibilidade indeferimento liminar da revisão


a revisão criminal, respectivamente. criminal, nos exatos termos do art. 625, § 3º, do
• Decisão penal transitada em julgada de Tri- Código de Processo Penal.
bunal de Justiça ou Tribunal Regional Federal à Se o requerimento não for indeferido in limine,
compete ao próprio Tribunal de Justiça e ao abrir-se-á vista dos autos ao procurador-geral,
Tribunal Regional Federal julgar a revisão cri- que dará parecer no prazo de dez dias.
minal. (Isto ocorre como decorrência da previ- Em seguida, examinados os autos, sucessiva-
são constitucional do art. 108, I, b da CF que mente, em igual prazo, pelo relator e revisor,
prevê que o Tribunal Regional Federal proces- julgar-se-á o pedido na sessão que o presiden-
sará a julgará originariamente as revisões cri- te designar. (art. 625, § 5º, Código de Processo
minais, e, pelo princípio da simetria, tal regra se Penal)
estende aos Tribunais de Justiça.) Julgando procedente a revisão, o tribunal pode-
• Decisão penal transitada em julgado proferida rá alterar a classificação da infração, absolver o
pelo Superior Tribunal de Justiça ou Supremo réu, modificar a pena ou anular o processo.
Tribunal Federal à compete ao próprio Superior De qualquer maneira, não poderá ser agravada
Tribunal de Justiça ou Supremo Tribunal Fede- a pena imposta pela decisão revista. (art. 626,
ral proceder a revisão criminal de seus próprios Código de Processo Penal e parágrafo único)
julgados, nos exatos termos do art. 105, I, “e” A absolvição implicará o restabelecimento de
e art. 102, I, “j” da Constituição Federal, respec- todos os direitos perdidos em virtude da con-
tivamente. denação, devendo o tribunal, se for caso, impor
• Decisão penal transitada em julgado proferida a medida de segurança cabível. (art. 627, Có-
por Juizado Especial Criminal a competência digo de Processo Penal)
será da Turma Recursal para julgar a Revisão O tribunal, se o interessado o requerer, poderá
Criminal. reconhecer o direito a uma justa indenização
No tocante a competência das Turmas Recur- pelos prejuízos sofridos. (art. 630, Código de
sais em proceder à revisão criminal das sen- Processo Penal). Por essa indenização, que
tenças penais proferidas em juizados especiais será liquidada no juízo cível, responderá a Uni-
criminais, vale destacar que tal competência é ão, se a condenação tiver sido proferida pela
uma construção da jurisprudência do STJ. justiça do Distrito Federal ou de Território, ou o
Estado, se o tiver sido pela respectiva justiça.
PROCEDIMENTO (art. 630, § 1º, Código de Processo Penal).
Deve-se obedecer a seguinte sequência: A indenização não será devida: a) se o erro ou
Petição Inicial – será instruída com a certidão a injustiça da condenação proceder de ato ou
de haver passado em julgado a sentença con- falta imputável ao próprio impetrante, como a
denatória e com as peças necessárias a com- confissão ou a ocultação de prova em seu po-
provação dos fatos arguidos, nos termos do der; b) se a acusação houver sido meramente
art. 625, § 1º, do Código de Processo Penal, privada. (art. 630, § 2º, Código de Processo
sendo endereçada ao presidente do Tribunal Penal).
competente. Existe controvérsia doutrinária sobre a possibi-
O requerimento será distribuído a um relator e lidade de revisão em sede de decisão proferida
a um revisor, devendo funcionar como relator pelo tribunal do júri, tendo em vista que a revi-
um desembargador que não tenha pronunciado são criminal ofenderia a soberania dos veredic-
decisão em qualquer fase do processo. tos. O STJ, mais precisamente a 5ª Turma,
(art. 625, Código de Processo Penal) decidiu que é cabível a revisão criminal em
O relator poderá determinar que se apensem decisões do Tribunal do Júri, entretanto, deve-
aos autos originais, se daí não advir dificuldade se proceder a novo julgamento para se respei-
à execução normal da sentença. (art. 625, § 2º, tar a soberania dos veredictos
Código de Processo Penal). A Corte, tem julgado no sentido de que a seria
Se o relator julgar insuficientemente instruído o possível a absolvição do agente, ainda que em
pedido e inconveniente ao interesse da justiça sede de Revisão Criminal no rito do júri, desde
que se apensem os autos originais, indeferi-lo- que haja afronta ao direito de liberdade.
á in limine, dando recurso para as câmaras
reunidas ou para o tribunal, conforme o caso
(art. 624, parágrafo único) – Logo, existe a

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ESTRUTURA DA REVISÃO CRIMINAL


Endereçamento:
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE
JUSTIÇA DO ESTADO DE __________ (regra geral)
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO TRIBUNAL REGI-
ONAL FEDERAL DA ____ REGIÃO (Crimes da Competência da Justiça Federal)
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR MINISTRO PRESIDENTE DO EGRÉGIO SUPERIOR TRI-
BUNAL DE JUSTIÇA. EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR MINISTRO PRESIDENTE DO
EGRÉGIO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.

Identificação
(Fazer parágrafo – regra dos dois dedos) Nome, nacionalidade, estado civil, profissão, portador da
Cédula de Identidade número _____________, expedida pela ________________ inscrito no Cadas-
tro de Pessoa Física do Ministério da Fazenda sob o número ____________________, residência e
domicílio, por seu advogado abaixo assinado, conforme procuração anexa a este instrumento, vem
oferecer
REVISÃO CRIMINAL
com fundamento no art. 621 (indicar inciso correspondente), do Código de Processo Penal, não se
conformando com a sentença ________________ (indicar o tipo da sentença), já transitada em julga-
do, conforme certidão em anexo, pelas razões de fato e direito a seguir expostas.

1. Dos Fatos
Falar os pontos principais dos fatos que ensejam a interposição da revisão criminal.
No final dos fatos, é para, sem pular linhas, fazer um parágrafo com o seguinte teor:
“A respeitável decisão proferida merece ser rescindida pelos motivos de fato e direito a seguir
aduzidos.”

2. Do Direito
Fale inicialmente qual foi o equívoco cometido pelo juiz para depois mencionar o direito aplicado ao
caso concreto que será o fundamento da Revisão Criminal.

3. Do Pedido
Deve-se fazer o pedido pleiteando o deferimento do pedido revisional e a reforma da decisão (indi-
cando qual é o tipo de reforma que se quer nos termos do art. 626 do CPP – absolvição; desclassifi-
cação; diminuição da pena; anulação da sentença). Possibilidade ainda de pedido de justa indeniza-
ção com fundamento no art. 630 do mesmo diploma legal.

Termos em que,
Pede deferimento.
Comarca, data
Advogado, OAB

CASOS PRÁTICOS
CASO PRÁTICO RESOLVIDO
Caio foi condenado definitivamente, em sentença transitado em julgado, a uma pena de 9 anos de re-
clusão em regime prisional inicialmente fechado, tendo em vista que, segundo prova dos autos, come-

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teu o crime de estupro, art. 213, caput, do Código Penal, pois teria constrangido Carla a praticar atos
diversos da conjunção carnal, utilizando-se de violência. Após 2 anos do trânsito em julgado da senten-
ça condenatória, estando Caio cumprindo a pena privativa de liberdade imposta, Carla confidenciou a
sua amiga íntima Tatiana que, na verdade, Caio não praticou atos diversos da conjunção carnal com
violência, tendo em vista que Caio era seu namorado, só que ninguém poderia saber disso. Carla disse,
ainda, que consentiu na prática dos atos diversos da conjunção carnal, e como Caio não queria manter
o relacionamento às escondidas, como era a intenção de Carla, ele acabou terminando o relacionamen-
to, o que causou uma grande raiva em Carla e a fez procurar a delegacia e inventar que tinha sido víti-
ma de estupro. Tatiana ficou horrorizada com a confidência de sua amiga e foi, de imediato, procurar o
pai e a mãe de Caio, tendo ela informado todos os fatos para estes dois. Caio também ficou sabendo da
confidência por intermédio de seus pais e resolveu contratar um advogado. Na qualidade de advogado
contratado por Caio apresente a medida processual cabível para impugnar a decisão.

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE


JUSTIÇA DO ESTADO DE ____

Caio, nacionalidade, estado civil, profissão, portador da Cédula de Identidade número ___, ex-
pedida pela ____ inscrito no Cadastro de Pessoa Física do Ministério da Fazenda sob o número
______, residência e domicílio, por seu advogado abaixo assinado, conforme procuração anexa a
este instrumento, vem oferecer
REVISÃO CRIMINAL
com fundamento no art. 621, III, do Código de Processo Penal, não se conformando com a sentença
condenatória já transitada em julgado, conforme certidão em anexo, pelas razões de fato e direito a
seguir expostas.

1. Dos Fatos
O revisionando foi condenado definitivamente, em sede de primeiro grau, em sentença transi-
tado em julgado, a uma pena de 9 anos de reclusão em regime prisional inicialmente fechado, tendo
em vista que, segundo prova dos autos, teria supostamente cometido o crime de estupro, art. 213,
caput, do Código Penal, pois teria constrangido a vítima Carla a praticar atos diversos da conjunção
carnal, utilizando-se de violência.
Ocorreu que surgiu nova prova de inocência do revisionando, tendo em vista que, após 2 anos
do trânsito em julgado da sentença condenatória, estando o revisionando cumprindo a pena privativa
de liberdade imposta, a vítima confidenciou à sua amiga íntima Tatiana que, na verdade, o revisio-
nando não praticou atos diversos da conjunção carnal com violência, tendo em vista que o revisio-
nando era seu namorado, só que ninguém poderia saber disso.
A vítima disse, ainda, que consentiu na prática dos atos diversos da conjunção carnal, e como
o revisionando não queria manter o relacionamento às escondidas, como era a intenção da vítima,
ele acabou terminando o relacionamento, o que causou uma grande raiva na vítima e a fez procurar a
delegacia e inventar que tinha sido vítima de estupro.
A respeitável decisão proferida merece ser rescindida pelos motivos de fato e direito a seguir
aduzidos.

2. Do Direito
No caso concreto, após a sentença, surgiram novas provas de inocência do réu, nos termos do
art. 621, III, do Código de Processo Penal, o que irá acarretar a absolvição do revisionando, nos ter-
mos do art. 626 do Código de Processo Penal.
A vítima confidenciou a sua amiga Tatiana, que, na verdade, o revisionando não praticou atos
diversos da conjunção carnal com violência contra a vítima, tendo esta consentido na prática dos
atos.
Ora, para que se possa falar no crime de estupro, deve-se haver a prática de conjunção carnal
ou de atos diversos da conjunção carnal com violência ou grave ameaça contra a vítima. No caso
concreto, como o revisionando não praticou atos diversos da conjunção carnal com violência contra a
vítima, o revisionado cometeu um fato atípico, não estando configurado o crime de estupro.
Desta forma, surgiram novas provas de inocência do revisionado que ensejam a sua absolvi-
ção, pois o fato atribuído ao réu não constitui infração penal. 3. Do Pedido Diante do exposto, requer-
se o deferimento do pedido revisional e a reforma da decisão para absolver o revisionando, pois o
fato atribuído a este não constitui infração penal, nos termos dos artigos 386, III, 621, III e 626 do Có-
digo de Processo Penal.

Termos em que,
Pede deferimento.
Comarca, data
Advogado, OAB
CASO PRÁTICO PROPOSTO

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Tiago foi acusado pela prática de lesão corporal seguida de morte (art. 129, § 3º do CP) contra Mévio,
no mês de fevereiro quando este voltava para casa. Narram os autos que no dia e hora do fato, o acu-
sado estava bebendo em um bar quando viu a vítima e saiu para tirar satisfações com ela, ocasião em
que entraram em luta corporal e Tiago, com a intenção de lesionar, empurrou Mévio que veio a cair,
bater a cabeça na calçada e morrer ainda no local. Na fase de instrução criminal, os depoimentos tes-
temunhais apontaram como autor do delito Caio, que também se encontrava no local, mas que não foi
indiciado pela autoridade policial nem denunciado pelo representante do Ministério Público. Além disso,
restou comprovado que o acusado, no dia e hora do crime não se encontrava na localidade. Mesmo
assim, o juiz sentenciante condenou Tiago a uma pena de 10 anos de reclusão, sentença transitada em
julgado em junho de 2014. Marta, mulher de Tiago, não se conformou com a condenação do seu marido
e resolveu procurar um advogado.

RESPOSTA:

• Peça: REVISÃO CRIMINAL, com fundamento no art. 621, I, parte final, do Código de Processo Penal.

• Competência: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO TRI-


BUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO _________

• Tese: Alegar que o juiz sentenciou contrariamente à prova constante nos autos.

• Pedido: Deve-se fazer o pedido pleiteando seja julgado procedente o pedido revisional, para, com fun-
damento no art. 626 do Código de Processo Penal, que seja desde logo reformada a decisão para de-
cretar a absolvição do agente, com base no art. 386, IV, do mesmo código.

OBS.: Perfeitamente possível requerer o pedido constante no art. 630 do Código de Processo Penal.

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