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Caracterização da organização judiciária do país do membro associado

Governação do sistema judicial

Em Moçambique existem os tribunais judiciais e os tribunais administrativos.

A função judicial é exercida pelos seguintes tribunais:

 Tribunal Supremo
 Tribunais Superiores de Recurso
 Tribunais Judiciais de Província
 Tribunais Judiciais de Distrito (de 1ª e 2ª classes)

Foram criados dois tribunais de competência especializada, o tribunal de menores e o tribunal de polícia
(estes existem apenas um de cada e funcionam na capital do país). O maior tribunal judicial é o Tribunal
Judicial da Cidade de Maputo e localiza-se na Capital, Maputo.

Na Cidade de Maputo todos os tribunais distritais são de 1ª Classe, com competência para, em matéria
criminal, julgar as infrações criminais que correspondam a pena não superior a 12 anos de prisão maior,
e, em matéria cível, julgar ações cujo valor não exceda cem vezes o salário mínimo nacional.

A função Administrativa é exercida pelos tribunais administrativos. Existia apenas um a funcionar na


capital do país, e, actualmente, foram instalados 3 tribunais nas Províncias da Zambézia, Nampula e
Sofala.

Existem duas espécies e tribunais administrativos de competência especializada, os tribunais fiscais e os


tribunais aduaneiros, nas províncias da Zambézia, Sofala, Nampula e Maputo.

O Tribunal administrativo é o órgão superior dos tribunais administrativos, fiscais e aduaneiros.

O Tribunal Administrativo tem uma secção de contas. Assim, não existe em Moçambique um tribunal
de contas.

Nos termos do artigo 224º da Constituição República de Moçambique, os tribunais militares só poderão
ser criados durante a vigência do estado de guerra, com competência para o julgamento de crimes de
natureza estritamente militar.

O Conselho Constitucional é o órgão de soberania ao qual compete especialmente administrar a justiça


em matérias de natureza jurídico-constitucionais, no lugar de um Tribunal Constitucional.
Nos termos da nova Lei de Organização Judiciária (aprovada pela Lei nº 24/2007, de 20 de Agosto),
existem três instâncias de recurso Tribunais Judiciais de Província, Tribunais Superiores de Recurso e
Tribunal Supremo. Só que neste momento só existem duas, pois os tribunais superiores ainda não
entraram em funcionamento, porque os juízes desembargadores ainda não foram nomeados, embora já
tenham sido selecionados por meio de concurso público, no início do presente ano.

Em relação aos tribunais administrativos existe apenas uma única instância de recurso que é tribunal
administrativo em funcionamento na capital do país, e tem as seguintes competências:

Existe um Conselho Superior da Magistratura Judicial e um Conselho Superior da Magistratura


Administrativa.

O Conselho superior da magistratura judicial é competente para:

a) Propor ao Presidente da República a nomeação dos juízes conselheiros do

Tribunal Supremo;

b) Nomear, colocar, transferir, promover, aposentar, exonerar, apreciar o mérito profissional,


exercer ação disciplinar e, em geral, praticar todos os atos de idêntica natureza respeitantes aos
magistrados judiciais;
c) Apreciar o mérito profissional e exercer a ação disciplinar sobre os oficiais de justiça, sem
prejuízo da competência disciplinar atribuída aos juízes;
d) Processar e julgar as suspeições levantadas contra qualquer dos seus membros e processos da sua
competência;
e) Ordenar a realização de inspeções ordinárias e extraordinárias, bem como de inquéritos e
sindicâncias aos tribunais;
f) Aprovar o regulamento interno do Conselho Superior da Magistratura Judicial;
g) Analisar o projeto de orçamento anual do Conselho Superior da Magistratura Judicial;
h) Dar pareceres e fazer recomendações sobre a política judiciária, por iniciativa ou a pedido do
Presidente da República, da Assembleia da República ou do Governo;
i) Exercer as demais competências conferidas por lei.

O Conselho Superior da Magistratura Judicial é composto por 20 membros (art. 129º, da Lei nº 7/2009,
de 11 de março):
 Presidente do Tribunal Supremo;
 Vice-Presidente do Tribunal Supremo;
 Duas personalidades designadas pelo Presidente da República;
 Cinco personalidades eleitas pela Assembleia da República, segundo o critério de representação
proporcional;
 Sete magistrados judiciais das diversas categorias, todos eleitos pelos seus pares, sendo um juiz
conselheiro, dois juízes desembargadores, três juízes de direito A ou B e dois juízes de direito C
ou D;
 Quatro oficiais de justiça, com intervenção restrita à discussão e votação das matérias relativas à
apreciação do mérito profissional e ao exercício da função disciplinar sobre os oficiais de justiça.

Dos membros do Conselho Superior da Magistratura Judicial, dois são por inerência de funções
(Presidente e Vice-Presidente do Tribunal Supremo), 11, sete juízes (conselheiros, juízes
desembargadores, juízes de direito A, B, C e D) e 4 oficiais de justiça, são eleitos pelos seus pares e dois
são designados pelo Presidente da República, cinco são eleitos pela Assembleia da República, segundo o
critério de representação proporcional.

É o Conselho Superior da Magistratura Judicial que tem competência para tratar das questões do estatuto
profissional dos juízes (carreira, disciplina/deontologia e demais questões estatutárias)

a) Existem estatísticas da justiça

Existem estatísticas da justiça, mas não tenho acesso, pois embora sejam referidos nos discursos de
abertura o ano judicial, não são colocados à disposição dos juízes. São dados elaborados pelo Tribunal
Supremo e cabe a este órgão cudar da sua publicação.

As profissões da justiça

O recrutamento de juízes é feito por concurso público, seguido de um curso específico de ingresso (o
candidato deverá ter aproveitamento). Cabe ao Centro de Formação Jurídica e Judiciária, tutelado pelo
Ministério da Justiça, abrir o concurso público, que no momento são duas vezes por ano, uma a meio do
ano e a outra no fim.

O ingresso na magistratura judicial é por concurso público, precedido de formação inicial numa escola
de Formação, reconhecida pelo Conselho Superior da Magistratura Judicial.
A maior parte dos juízes em Moçambique foram formados pelo Centro de Formação Jurídica e
Judiciária (CFJJ).

A escola existente designa-se por Centro de Formação Jurídica e Judiciária e é tutelado pelo Ministério
da Justiça.

A formação de magistrados em país estrangeiro existe apenas em relação a formação inicial no Centro
de Estudos Judiciários, em Portugal.

Para além das magistraturas e do Ministério Público existe a magistratura administrativa.

O sistema de recrutamento dos magistrados do Ministério Público é o mesmo para a magistratura


judicial e administrativa.

As carreiras profissionais é que estão autonomizadas. A formação de magistrados do Ministério Público


e judicial também têm o mesmo sistema.

Não existe possibilidade de permutas entre as carreiras de juiz e de magistrado do Ministério Público.

As garantias constitucionais dos juízes são:

 Independência e inamovibilidade

Os deveres estatutários dos juízes vêm previstos no art. 39º, nº 2 do Estatuto dos Magistrados Judiciais e
estes são:

a) Desempenhar a sua função com honestidade, seriedade, imparcialidade e dignidade;


b) Guardar segredo profissional nos termos da lei;
c) Comporta-se na vida pública e privada de acordo com a dignidade e o prestígio do cargo que
desempenha;
d) Tratar com urbanidade e respeito os intervenientes nos processos, nomeadamente, os
representantes do Ministério Público, os profissionais do fórum e os funcionários;
e) Comparecer pontualmente às diligências marcadas;
f) Abster-se de manifestar por qualquer meio, opinião sobre o processo pendente de julgamento ou
de decisão, ou juízo sobre despachos, pareceres, votos ou sentenças de órgãos judiciais ou do
Ministério Público, ressalvada a crítica nos autos no exercício da judicatura ou em obras
técnicas;
g) Abster-se de aconselhar ou instruir as partes, em qualquer litígio e sob qualquer pretexto, salvo
nos casos permitidos pela lei processual.

População do país e o número de juízes?

Segundo o último censo populacional realizado em 2007, Moçambique tem 20,2 milhões de habitantes.

Moçambique tem 271 magistrados judiciais, dos quais 187 são homens e 84 mulheres; 202 são
licenciados em direito (128 homens e 73 mulheres) e 2 mestres (1 homem e 1 mulher).

Nos tribunais distritais existem 87 juízes (48 homens e 39 mulheres), dos quais 66 são licenciados (57
homens e 9 mulheres).

Existe um sistema de formação contínua dos juízes, mas a seleção não obedece a critérios claros, pois
nem sempre é de acordo com a área de atuação e há uns que frequentam mais cursos do que outros. Essa
formação tem carácter obrigatório

A advocacia encontra-se estabelecida numa ordem, designada por Ordem de Advogados de


Moçambique.

Designa-se por Ordem dos Advogados de Moçambique, usando a sigla OAM.

Os órgãos:

 Assembleia-geral
 Bastonário
 Conselho jurisdicional
 Conselho nacional
 Assembleias provinciais
 Conselhos provinciais
 Delegados

O início do exercício da advocacia é sempre precedido de um período de estágio sob orientação da


Ordem dos Advogados e direção de um advogado patrono, destinado a habilitar e certificar que o
candidato, licenciado em Direito, obteve formação técnico-profissional e deontológica adequada ao

início da atividade e para a aquisição do título de advogado.

No ato da inscrição o candidato preenche um impresso e paga uma taxa.


O estágio é composto por três fases: a primeira tem a duração de três meses e aqui o candidato tem de
responder questões de direito, à semelhança da avaliação num curso de direito; a segunda tem a duração
de nove meses, na qual o candidato é submetido a exercícios práticos no escritório; a terceira e última
fase é de peças processuais das quais deve constar alegações de recurso.

Em cada fase apresenta-se um relatório com o parecer do patrono que é entregue à Ordem.

Por fim o Conselho Consultivo faz a avaliação do candidato.

Caracterização do sistema jurídico do país do membro associado

Lei fundamental/Constituição e a data do respetivo texto

A lei fundamental de Moçambique é a Constituição da República de Moçambique, aprovado pela


Assembleia da República em 16 de Novembro de 2004

O poder ou a autoridade dos tribunais na Constituição Artigo 212 da CRM

1. “os tribunais têm como objetivo garantir e reforçar a legalidade como fator da estabilidade jurídica,
garantir o respeito pelas leis, assegurar os direitos e liberdades dos cidadãos, assim como os interesses
jurídicos dos diferentes órgãos e entidades com existência legal.

2. Os tribunais penalizam as violações da legalidade e decidem pleitos e acordo com o estabelecido na


lei.” Art. 215º da CRM “As decisões dos tribunais são de cumprimento obrigatório para todos os
cidadãos

e demais pessoas jurídicas e prevalecem sobre as de outras autoridades.”

Garantia da independência dos tribunais e dos juízes

Art. 217º da CRM

1. “No exercício das suas funções, os juízes são independentes e apenas devem

obediência à lei.

2. Os juízes têm igualmente as garantias de imparcialidade e irresponsabilidade.

3. Os juízes são inamovíveis, não podendo ser transferidos, suspensos, aposentados

ou demitidos, senão nos casos previstos na lei.”


O Parlamento Moçambicano

Moçambique tem uma Assembleia da República, atualmente com bancadas parlamentares

(Frelimo – Frente de Libertação de Moçambique -, Renamo – Movimento de Resistência de

Moçambique - e MDM – Movimento Democrático de Moçambique)

Assembleia da República é o órgão legislativo do país

Processo legislativo

Os atos legislativos da Assembleia da República assumem a forma de lei e as demais

deliberações revestem a forma de resolução e são publicadas no Boletim da República.

A iniciativa de lei pertence:

 Aos deputados
 Às bancadas parlamentares
 Às comissões da Assembleia da República
 Ao Presidente da República
 Ao Governo

A discussão das propostas e projectos de lei e de referendo compreende um debate na generalidade e


outro na especialidade. A votação compreende uma votação na generalidade, uma votação na
especialidade e uma votação final global. Se a Assembleia assim o deliberar, os textos aprovados na
generalidade serão votados na especialidade pelas comissões, sem prejuízo o poder de avocação pelo
Plenário e do voto final deste para a provação global.

O sistema governativo de Moçambique

Moçambique é um país democrático baseado num sistema político multipartidário. A Constituição da


República consagra, entre outros, o princípio da liberdade de associação e organização política dos
cidadãos, o princípio da separação dos poderes legislativo, executivo e judiciário, e a realização de
eleições livres.

O país possui dezenas de formações políticas sendo, contudo, as principais a FRELIMO (Frente de
Libertação de Moçambique - no poder), a RENAMO (Resistência Nacional de Moçambique) e, o
recente, o MDM (Movimento Democrático de Moçambique), surgido no fim do 1◦ semestre de 2009. O
sistema de governação é presidencialista tendo o Presidente da República como Chefe do Estado, do
Governo e Comandante em Chefe das Forças Armadas.

O Presidente de Moçambique, de acordo com a constituição, é eleito por sufrágio direto e universal.

O Governo é formado e dirigido pelo Presidente da República, com a ajuda de um Primeiro ministro,
também por ele nomeado.

O poder legislativo é exercido pela Assembleia da República composto por 250 deputados, eleitos por
sufrágio directo e universal. A duração dos mandatos, tanto do Presidente da República como da
Assembleia da República é de cinco (5) anos.

Papel da Presidência da República

O Presidente da República é o chefe de Estado, simboliza a unidade nacional, representa a Nação no


plano interno e internacional e zela pelo funcionamento correto dos órgãos do Estado.

Papel do Governo

O Governo da República de Moçambique é o Conselho de Ministros, que assegura a administração do


país, garante a integridade territorial, vela pela ordem pública e pela segurança e estabilidade dos
cidadãos, promove o desenvolvimento económico, implementa a acção social do Estado, desenvolve e
consolida a legalidade e realiza a política do país.

Códigos existentes em Moçambique

Existem códigos para regulamentar os aspetos fundamentais dos negócios jurídicos e da matéria
criminal/penal, só não existem códigos para regulamentarem matéria administrativa.

Os códigos fundamentais são:

 Código de Processo Penal


 Código de Processo Civil
 Código de Processo de Trabalho
 Código Civil
 Código penal
 Código Comercial
 Código das Custas
 Código da Estrada

Papel desempenhado pela lei e pela jurisprudência na atividade jurídica

Temos uma jurisprudência escassa e guiamo-nos mais pela jurisprudência portuguesa (do período
colonial).

A principal fonte é a lei.

A legislação e o direito estrangeiro que mais influenciam a ordem jurídica

moçambicana é a portuguesa um Dos país dos membros da UIJLP, Moçambique tem mais relações de
cooperação internacional com Angola, Brasil, Portugal e Timor Leste.

Em Moçambique existem faculdades de direito e as que se consideram de maior prestígio são:

 Faculdade de Direito da Universidade Eduardo Mondlane (Universidade Pública)


 Faculdade de Direito da Universidade Católica de Moçambique
 Faculdade de Direito da A Politécnica
 Faculdade de Direito do Instituto Superior de Ciências e Tecnologias de Moçambique
 Faculdade de Direito da UDM

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