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DELEGAÇÃO DE CHIMOIO
Realizado por:
Helton Baptista
Docente:
LICENCIATURA EM DIREITO
Chimoio, 2023
INSTITUTO SUPERIOR MUTASA
DELEGAÇÃO DE CHIMOIO
Realizado por:
Helton Baptista
Docente:
LICENCIATURA EM DIREITO
Chimoio, 2023
CAPÍTULO I. INTRODUÇÃO
Para cada crime deve haver a sua devida punição, pois é mister que o agente infrator possa
ser responsabilizado e obrigado a reparar o dano que causou, assim, proporcionando a ordem
e o cumprimento imparcial da lei.
Porém, existem circunstância em que não deve haver a responsabilização criminal, por
exemplo à crianças menor de 16 anos, sendo assim, o trabalho analisará os pressupostos
referente ao tema em causa a luz do Código Penal.
1. Objectivo geral
Analisar a imputabilidade e inimputabilidade absoluta e relativa no âmbito
penal.
2. Objectivos específicos
Conceituar a imputabilidade;
Expor a responsabilidade penal das pessoas colectivas e entidades
equiparadas;
Descrever as circunstâncias que dirime e atenua a responsabilidade criminal
Expor a inimputabilidade absoluta e relativa.
3. Metodologia de pesquisa
Para a elaboração deste presente trabalho recorreu-se a pesquisa bibliográfica, neste caso, a
documentos que tratam do assunto em questão e ao código penal moçambicano.
CAPÍTULO II. IMPUTABILIDADE E INIMPUTABILIDADE ABSOLUTA E
RELATIVA PENAL
I. IMPUTABILIDADE
1. Conceito de Responsabilidade penal
De acordo com o artigo 28° do CP, a responsabilidade penal consiste na obrigação de reparar
o dano causado na ordem jurídica da sociedade, cumprindo a pena ou a medida estabelecida
na lei.
Salvo o disposto no artigo 30° do CP e nos casos especialmente previstos na lei, só as pessoas
singulares são susceptíveis de responsabilidade penal1.
1
Exposto no art. 29° do código penal.
2
A expressão Pessoas Coletivas devemo-la a Guilherme Moreira. Cf. MOREIRA, Guilherme, Instituições de
Direito Civil Português I, Parte Geral, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1907 §14, pp. 153 a 163, disponível
em: http://www.fd.unl.pt/Anexos/Investigacao/1228.pdf.
3
DIAS, Jorge de Figueiredo, Direito Penal – Parte Geral, Tomo I, 2ª Edição, Coimbra, Coimbra Editora, 2007,
§24, p. 297
Desde cedo que se tem vindo a considerar insuficientes as respostas dadas pelo direito civil e
administrativo4, acima de tudo pela necessidade de tutela eficaz dos bens jurídico-penais, que
é conseguido por intermédio da eficácia preventiva e intimidativa que é atribuída à
responsabilização penal do ente coletivo e à própria sanção criminal 5. Eficácia essa que
cremos não se encontrar ao alcance do direito civil, nem mesmo do direito administrativo 6.
Questão pertinente será a de que se é necessário responsabilizar penalmente os entes
coletivos, não se bastando a punição dos indivíduos responsáveis pela prática de crimes no
âmbito da atuação em nome e representação daqueles (órgãos, representantes, gerentes)? A
atuação delituosa no seio da pessoa coletiva é uma atuação diversa da atuação
exclusivamente individual, pelo que é nosso entendimento que a resposta não pode deixar de
ser afirmativa. Concordamos, portanto, com a apreciação de Germano Marques da SILVA
quando afirma que aquela solução dada no plano do direito penal individual7, maxime,
solução por nós já plasmada no art. 12.º do Código Penal (adiante designado apenas por CP)
é uma resposta insatisfatória. Aquele entendimento começou desde logo por ser posto à
prova8, nomeadamente no pós-guerra, com o crescimento exponencial da criminalidade
desenvolvida no seio dos entes coletivos (em particular da empresa) 9. Seguindo este
raciocínio, Jorge dos Reis BRAVO refere que a “exclusiva punição das pessoas físicas que
actuem no nome e no interesse de entes colectivos, não surtiria um efeito preventivo”10
suficiente de forma de evitar a criminalidade desenvolvida no seio das pessoas coletivas pelo
que, se justifica inteiramente a responsabilidade cumulativa1. Como nos escreve o ilustre
4
Que, no entanto, na esteira de BRAVO, Jorge dos Reis, Direito Penal de Entes Colectivos…, pp. 132-133,
parece não constituir obstáculo, afirmando mesmo que “os propósitos de uma opção sancionatória das
actividades delituosas desenvolvidas por entes colectivos, podem ser prosseguidos – com resultados porventura
bem mais sucedidos do que por intermédio da intervenção penal – por outros meios ou instrumentos, como p.
ex., através do ordenamento sancionatório de mera ordenação social, ou tãosomente, administrativo”.
5
SILVA, Germano Marques da, Responsabilidade penal das sociedades…, pp. 157 e ss.
6
Ibidem, pp. 117-118.
7
Ibidem, p. 118.
8
DIAS, Jorge de Figueiredo, Direito Penal - Parte Geral, Tomo I…, §23, p. 296.
9
Já em 1995 Klaus Tiedemann assinalava que “nuevas formas de criminalidad como los delitos de los negócios
(…) se instalan en sistemas y medios tradicionales del Derecho Penal ante dificultades tan grandes que una
nueva aproximación parece indeispensable. En la realidade de nuetros días, la mayor parte de los delitos de los
negocios, o socioeconómicos, son cometidos con ayuda de una empresa, y el crimen organizado se sirve de la
mayor parte de las Instituciones de la vida económica: establecimentos financeiros, sociedades de exportación
o de importación etc”. Cf. TIEDEMANN, Klaus, “Responsabilidad Penal de Personas Jurídicas y Empresas en
Derecho Comparado” in Revista Brasileira de Ciências Criminais, n.º 11, Jul./Set., 1995, p. 22 apud RIBEIRO,
José Luiz de Araújo, A Responsabilidade Penal da Pessoa Júridica ou Colectiva, Coimbra, 2000, p. 2.
10
BRAVO, Jorge dos Reis, Direito Penal de Entes Colectivos…, pp. 64-65; SOUSA, João Castro e, As Pessoas
Colectivas em Face do Direito Criminal…, p. 92.
professor Figueiredo DIAS, os seguidores de uma dogmática penal que assentava na
responsabilidade exclusivamente individual depararam-se com exigências de política
criminal11 que invocavam, por razões de eficácia penal, à responsabilização penal das pessoas
coletivas. O certo é que a persistência numa responsabilidade exclusivamente individual
conduziria, não raras vezes, a uma absoluta impunidade - essencialmente pelo facto de se
tornar “extremamente difícil determinar a real responsabilidade de cada um dos indivíduos
que opera no seio da colectividade (…) em virtude da extrema dispersão do poder
decisório”12. Ora, advogar por uma exclusiva responsabilidade individual das pessoas
coletivas – ou mesmo procurando amparar-nos numa resposta civil e/ou administrativa –
resultaria numa deficiente (e não desejável) tutela dos bens jurídico-penais, em virtude de
uma lacuna de punibilidade da própria pessoa coletiva.
a) Em seu nome e no interesse colectivo por pessoas que nelas ocupem uma posição de
direcção; ou
b) Por quem actue sob a autoridade das pessoas referidas na alínea anterior em virtude de
uma violação dos deveres de vigilância ou controlo que lhes incumbem.
11
DIAS, Jorge de Figueiredo, Direito Penal - Parte Geral, Tomo I…, §23, p. 297; MEIRELES, Mário Pedro
Seixas, Pessoas colectivas e sanções criminais…, p. 20.
12
DIAS, Jorge de Figueiredo, Direito Penal - Parte Geral, Tomo I…, §23, p. 296.
13
ExtraÍdo do n° 1 do art. 30° do CP.
14
n° 2 do art. 30° do CP.
Conforme previsto na lei penal, para efeitos de responsabilidade penal, consideram-se
entidades equiparadas a pessoas colectivas as associações de facto e as sociedades civis e
comerciais15.
Quanto a vicissitude das pessoas colectivas e entidades equiparas nos é descrito nos n°s 1 e 2
do artigo 31° do Código Penal e nos diz que:
O n° 1 do art. 32° dita que – é punível quem age voluntariamente como titular do órgão de
uma pessoa colectiva ou entidade equiparada, ou em representação legal ou voluntária de
outrem, mesmo quando o respectivo tipo de crime exigir:
15
n° 3 do art. 30° do CP.
16
n° 4 do art. 30° do CP.
17
n° 2 do art. 32° do CP.
3.6. Extensão da responsabilidade penal
Sem prejuízo do direito de regresso, as pessoas que ocupem uma posição de direcção são
subsidiariamente responsáveis pelo pagamento das multas e indemnizações em que a pessoa
colectiva ou entidade equiparada for condenada, relativamente aos crimes18:
De acordo com o artigo 34° do Código Penal, a isenção da responsabilidade penal não
envolve a da responsabilidade civil, quando tenha lugar.
E por último o n° 3 do art. 35° dita que o erro sobre a pessoa, a que se dirigir o facto punível,
agrava ou atenua a responsabilidade penal, segundo as circunstâncias.
4. Premeditação
5. Reincidência25
1. A reincidência ocorre quando o agente, tendo sido condenado por sentença transitada em
julgado por algum crime, comete outro da mesma natureza antes de terem passado oito anos
desde a condenação, ainda que a pena do primeiro crime tenha sido prescrita, perdoada ou
indultada.
4. Não exclui a reincidência a circunstância de ter sido o agente autor de um dos crimes e
cúmplice do outro.
5. Os crimes podem ser da mesma natureza, ainda que não tenham sido consumados ambos
ou alguns deles.
22
n° 2 do art. 35° do CP.
23
n° 4 do art. 35° do CP.
24
Art. 41° do CP.
25
Descrito nos números 1 a 7 do artigo 42° do CP.
6. As condenações proferidas por tribunais estrangeiros contam para a reincidência nos
termos dos números anteriores, desde que o facto constitua crime segundo a lei
moçambicana.
6. Concurso de crimes
Quando o mesmo facto é previsto e punido em duas ou mais disposições legais, como
constituindo crimes diversos, não se dá concurso de crimes27.
7. Crime continuado
Conforme o n° 1 do art. 44° do CP, constitui crime continuado as várias condutas do mesmo
agente que violem a mesma norma ou normas diferentes que tutelem o mesmo bem jurídico
ou bens jurídicos de idêntica natureza que, pelas condições de tempo, lugar e maneira de
execução, as subsequentes se possam considerar como mera continuação das anteriores,
porém, a continuação criminosa não se verifica quando são violados os bens jurídicos
inerentes à pessoa28.
8. Circunstâncias atenuantes29
26
n° 1 do art. 43° do CP.
27
n° 2 do art. 43° do CP.
28
n° 2 do art. 44° do CP.
29
Artigo 45° do CP.
4.ª Ter sido a conduta do agente determinada por motivo honroso, por forte tentação ou
solicitação da própria vítima ou por provocação injusta ou ofensa imerecida;
11.ª A ordem ou o conselho do seu ascendente, adoptante, tutor ou educador, sendo o agente
menor e não emancipado;
12.ª O cumprimento de ordem do superior hierárquico do agente, quando não baste para
justificação deste;
13.ª Ter o agente cometido o crime para se desafrontar a si, ao seu cônjuge, ascendente,
descendente, irmãos, tios, sobrinhos ou afins nos mesmos graus, adoptante ou adoptado de
alguma injúria, desonra ou ofensa, imediatamente depois da afronta;
14.ª Súbito arrebatamento despertado por alguma causa que excite a justa indignação pública;
16.ª A resistência às ordens do seu superior hierárquico, se a obediência não for devida e se o
cumprimento da ordem constituísse crime mais grave;
20.ª O descobrimento dos outros agentes, dos instrumentos do crime ou do corpo de delito,
sendo a revelação verdadeira e profícua à acção da justiça;
21.ª Ter o agente agido sob temor reverencial;
22.ª As que forem expressamente qualificadas como tais, nos casos especiais previstos na lei;
9. Circunstâncias dirimentes30
a) A falta de imputabilidade; e
b) A justificação do facto e a exclusão da culpa.
2. Inimputabilidade relativa
a) Os menores que, tendo mais de 16 anos e menos de 21, tiverem procedido sem
discernimento;
b) Os que sofrem de anomalia psíquica que, embora tenham intervalos lúcidos,
praticarem o facto naquele estado; e
c) Os que, por qualquer outro motivo independentemente da sua vontade, estiverem
acidentalmente privados do exercício das suas faculdades intelectuais no momento de
cometerem o facto punível.
30
Art. 47° do CP.
31
Art. 49° do CP.
32
As al. a), b) e c) do n° 1 do art. 49° do CP descrevem os relativamente iniputávei.
A negligência ou culpa consideram-se sempre como acto ou omissão dependente da
vontade33.
33
n° 2 do art. 49° do CP.
III. Conclusão
Viu-se também que as pessoas coletivas tanto as entidades equiparadas são responsabilizadas
penalmente nos termos previstos na lei já descrita no decorrer do trabalho.
Percebeu-se també que não são susceptíveis de imputação os menores que não tiverem
completado 16 anos e os que sofrem de anomalia psíquica sem intervalos lúcidos.
IV. Bibliografia
DIAS, Jorge de Figueiredo, Direito Penal – Parte Geral, Tomo I, 2ª Edição, Coimbra,
Coimbra Editora, 2007.