Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
AULA 4
2
negócio, possibilitando que o empreendedor desenvolva as melhores
estratégias.
Uma vez tendo identificado seu público-alvo, seu segmento de mercado,
é preciso perguntar: Qual é o tamanho dele? Qual receita ele pode proporcionar?
Essa receita vai depender da quantidade de clientes potenciais no mercado
dispostos a comprar seu produto ou serviço, a um determinado preço, e do
volume e da frequência dessa compra.
Por exemplo, o volume de cafés vendidos por uma cafeteria varia
conforme a quantidade de clientes que frequentam o negócio, quantos cafés
cada cliente consume regularmente no decorrer do dia, e qual o volume
consumido de cada vez (xícaras pequenas, médias ou grandes).
Quanto menos o cliente consumir (volume x frequência) mais clientes
desse tipo a cafeteria vai precisar. Por outro lado, quanto mais o cliente
consumir, menos clientes serão necessários para chegar ao mesmo valor de
receita (Figura 1).
3
preços relativamente baixos. No outro extremo, temos o mercado de nichos, com
poucos clientes e preços relativamente altos.
Seguindo o mesmo exemplo do café: o café em pó embalado em pacotes
de 250 gramas, encontrado em qualquer supermercado no Brasil, tem um preço
baixo, sendo um exemplo de produto massificado. Mas hoje há um mercado para
cafés gourmets em ascensão no país, com produtos que chegam a custar até
dez vezes o valor do café comum. Concluímos que, quanto mais valor agregado
tem o produto, maior o seu preço deste, e menor o volume vendido para atingir
a mesma receita de um produto de menor valor agregado.
Há um método simples, mas muito oportuno, para dimensionar uma
demanda potencial para o negócio, chamado de indexação multifatorial.
Segundo Cecconello e Ajzental (2008, p. 85), “a indexação multifatorial atribui
pesos específicos a cada fator, podendo ser utilizados mais de um fator. Os
pesos utilizados para o índice de poder de compra são arbitrários, empregando-
se outros, caso seja apropriado”.
O Quadro 1 traz um exemplo do método de indexação fatorial.
4
Quadro 2 – Determinação do consumo de café na cidade de Franca pelo método
de indexação fatorial
5
O método da indexação fatorial é bastante prático para auxiliar nas
análises de receitas potenciais, uma vez que é muito difícil fazer previsões
precisas. Mais do que um número, esse método ajuda a pensar em variáveis que
podem afetar a demanda, e com isso o empreendedor ganha mais elementos
para considerar em suas análises e planejamentos.
Tipo Recurso
Instalações Imóvel
Equipamentos Espumador de leite
Kit reposição louças e talheres
Máquinas Máquina de café expresso
6
Refrigerador expositor vertical
Estufa para salgados
Vitrine refrigerada confeitaria
Forno elétrico
Forno micro-ondas
Moedor de café
Computador
Impressora fiscal
Geladeira
Móveis Balcão cafeteria/clientes
Conjunto mesa com 2 cadeiras
Banquetas
Sistemas Frente de caixa - PDV
Pessoas Atendente
Instalações Imóvel 50 m2 1
Equipamentos Espumador de leite 2
Kit reposição louças e talheres 1
Máquinas Máquina de café expresso 1
Refrigerador expositor vertical 1
Estufa para salgados 1
7
Vitrine refrigerada confeitaria 1
Forno elétrico 1
Forno micro-ondas 1
Moedor de café 1
Computador 1
Impressora fiscal 1
Geladeira 1
Móveis Balcão cafeteria/clientes 1
Conjunto mesa com 2 cadeiras 8
Banquetas 4
Sistemas Frente de caixa - PDV 1
Pessoas Atendente 3
8
estar atento a esse fator, pois ele pode provocar atrasos e/ou aumento do
investimento necessário para a abertura do negócio.
Por exemplo, o empreendedor decide pela compra de uma máquina de
café expresso importada. Porém, no momento do desembaraço aduaneiro,
surgem complicações que atrasam a liberação em 3 meses. Como a cafeteria
vai operar sem a máquina de café expresso? Não é possível.
Além dos recursos tangíveis, há dois recursos intangíveis imprescindíveis
para o empreendedor: tempo e conhecimento. Eles também devem ser bem
dimensionados, sendo fornecidos pelo próprio empreendedor ou por terceiros.
Assim, se o empreendedor não tem tempo para cuidar da abertura do negócio e
da operação diária, outra pessoa deve se incumbir dessas atribuições. Da
mesma forma, se o empreendedor não tem os conhecimentos necessários para
operar o negócio, ele deve assegurar-se de que alguém na empresa tenha esses
conhecimentos.
Produto Total R$
Café 400
Leite 320
Açucar/adoçante 150
Salgados 8000
Doces 10000
Canela 30
Chocolate em pó 400
Licores 200
Total 19500
10
e quantificar as despesas para a operação do negócio, o que pode ser observado
na Tabela 4.
Item Valor R$
Aluguel imóvel 2000
IPTU e taxas 500
Energia elétrica 1000
Água 600
Telefone fixo 100
Telefone celular 60
Internet banda larga 150
Contador 400
Tarifas bancárias 100
Mensalidade sistema PDV 250
Produtos de limpeza 600
Material de escritório 100
Folha de pagamento 6000
Total 11860
11
Reforçamos também que esses valores são ilustrativos e não devem ser
tomados literalmente como referência para se abrir uma cafeteria. O próprio
empreendedor é quem vai definir as especificidades de seu negócio,
determinando os recursos, os produtos e os insumos necessários, em
quantidades adequadas.
12
Esse tipo de demonstração financeira é muito utilizado por médias e
grandes empresas nas análises de resultados. Como destaca Mendes (2017, p.
141): “apesar de não existir uma periodicidade definida por lei, a DRE é
elaborada uma vez por ano, com o objetivo de divulgar os resultados no período
que se encerrou. No entanto, ela pode ser elaborada para outras finalidades, em
períodos variados, dependendo da necessidade da empresa”.
Entre essas finalidades, a DRE pode ser utilizada pelo empreendedor
como uma das ferramentas da análise de viabilidade econômica do
empreendimento. Essa demonstração é muito útil, porque reúne os elementos
que impactam a sustentabilidade financeira da empresa: entradas e saídas de
caixa.
Vamos ver a aplicação da DRE para verificar a viabilidade econômica da
cafeteria na Tabela 7.
Itens Valor
Receita bruta R$ 80.740,00
Deduções imposto Simples (8%) R$ 6.459,20
Receita líquida R$ 74.280,80
CMV R$ 40.370,00
Lucro bruto R$ 33.910,80
Despesas Operacionais
Diversas R$ 11.860,00
Taxa máquinas cartão (4%) R$ 3.229,60
Subtotal R$ 8.630,40
Lucro líquido R$ 25.280,40
Itens Valor
Receita bruta R$ 48.444,00
Deduções imposto Simples (8%) R$ 3.875,52
Receita líquida R$ 44.568,48
CMV R$ 24.222,00
Lucro bruto R$ 20.346,48
Despesas Operacionais
Diversas R$ 11.860,00
Taxa máquinas cartão (4%) R$ 1.937,76
Subtotal R$ 9.922,24
Lucro líquido R$ 10.424,24
14
Tabela 9 – DRE com lucratividade tendendo a zero
ITENS Valor
Receita bruta R$ 25.836,80
Deduções imposto Simples (8%) R$ 2.066,94
Receita líquida R$ 23.769,86
CMV R$ 12.918,40
Lucro bruto R$ 10.851,46
Despesas Operacionais
Diversas R$ 11.860,00
Taxa máquinas cartão (4%) R$ 1.033,47
Subtotal R$ 10.826,53
Lucro líquido R$ 24,93
15
Quadro 5 – Faixas de faturamento por regime tributário
16
Quadro 7 – Opções de formatos jurídicos para constituição de empresa
17
capital da empresa, que hoje são a Eireli, a sociedade limitada e a sociedade
anônima.
Outro aspecto é a questão da propriedade da empresa, se será individual
ou coletiva, com um dois ou mais sócios. O empreendedor vai ter sócios? Em
que momento a sociedade será estabelecida? Desde a identificação da
oportunidade, resultado de um esforço conjunto de dois ou mais
empreendedores? Ou nas próximas etapas do processo empreendedor, em que
a eventualidade de uma sociedade preencherá uma lacuna nesse processo?
Um dos motivos mais comuns para se ter um sócio é a busca por capital
para abrir o negócio – o famoso sócio investidor. A maior parte dos
empreendedores tem ideias de negócio, mas não tem capital para transformar
essa ideia em uma empresa. Seguindo essa linha de motivação, não
necessariamente o sócio entrará com o recurso financeiro. Pode ser que esse
sócio investidor “invista” com outros recursos, como um imóvel ou máquinas e
equipamentos.
Outro motivo para se buscar um sócio é trazer para o negócio
conhecimentos e habilidades que o empreendedor não tem, que podem ser
gerenciais ou técnicas.
Sociedades malsucedidas são famosas por conflitos e por
desentendimento entre os sócios, pois no momento de se constituir a sociedade
os futuros sócios estão atentos somente às boas perspectivas do negócio. Tudo
vai bem, até que surgem conflitos, muitas vezes desavenças motivadas por
determinadas situações, ou quando a empresa começa a dar prejuízos.
Para evitar ou minimizar esses conflitos, que podem resultar no fim da
sociedade, muitas vezes em separações não amigáveis, uma opção é elaborar
um documento que se chama “Acordo de Sócios” (Carvalho.; Camara; Valentim,
2019):
Esse acordo está previsto na Lei das Sociedades Anônimas, mas pode
ser elaborado para uma sociedade limitada. Mesmo que seja cogitado e não
18
venha a ser assinado, a discussão de temas que fazem parte do acordo já pode
sinalizar se haverá desacordos potenciais entre os futuros sócios (Figura 3).
Fonte Descrição
Recursos próprios Essa fonte consiste na reserva pessoal do próprio empreendedor, que
pode ser um montante poupado com o objetivo de abrir um negócio ou
não. Essa reserva pode estar disponível, ou pode ser formada, dentro
de um processo de planejamento de médio/longo prazo.
Bens pessoais Às vezes os recursos disponíveis não são o dinheiro em espécie, mas
podem ser convertidos a partir de venda, como de um automóvel ou
imóvel.
Recursos familiares Membros da família podem dispor do recurso necessário para o
empreendedor.
Amigos abastados Amigos do empreendedor também podem dispor dos recursos
necessários.
Bancos comerciais Normalmente, oferecem três modalidades de financiamento:
empréstimos pré-aprovados, nos quais o banco disponibiliza um
montante que pode ser resgatado pelo cliente sem exigência alguma;
empréstimos com garantias, que dependem das garantias para que o
recurso fique disponível para o cliente; e empréstimos sem garantias,
que são os mais difíceis e os mais caros.
Fintechs São startups que fornecem serviços financeiros com uso intenso de
tecnologia, normalmente fazendo tudo pela Internet. Entre os diversos
serviços oferecidos, há crédito, com empréstimos, em diversos casos
com taxas menores que as de bancos comerciais.
Fonte: Elaborado com base em Mendes, 2017.
20
Algumas fontes de recursos trabalham especificamente para incentivar o
empreendedorismo, com linhas de crédito direcionadas para esse fim,
normalmente com taxas menores, como podemos ver no quadro a seguir.
Fonte Descrição
Bancos de fomento Possuem linhas de crédito para incentivar o desenvolvimento
econômico, mas direcionadas para setores específicos e empresas já
em operação.
Investidores anjos Pessoas ou empresas que investem em empresas iniciantes,
normalmente startups, buscando retorno do investimento depois que a
empresa estiver consolidada.
Programas de Programas que dão o suporte necessário para acelerar o crescimento
aceleração da empresa, por meio de mentorias, know how, netoworking e acesso
a capital.
Crowdfunding Trata-se de financiamento coletivo do negócio, normalmente utilizando
uma plataforma dedicada, por meio da qual apoiadores ou potenciais
clientes colaboram com contribuições financeiras individuais (Figura
5).
Fonte: Elaborado com base em Mendes, 2017.
21
Seja qual for a fonte de capital, o empreendedor precisa prestar atenção
ao custo de obtenção do empréstimo. Se a ideia é pegar um empréstimo
tradicional, deve atentar às taxas de juros e ao seu impacto na sustentabilidade
econômica do negócio. Se for participação societária, o empreendedor precisa
atentar para os termos de remuneração da participação e para os termos de
saída dos sócios. No caso de fontes como familiares e amigos, deve pensar nos
custos emocionais desse empréstimo.
O empreendedor também pode fazer uso de mais de uma fonte de
captação de recursos para constituir o montante de investimento inicial
necessário, inclusive algumas fontes não citadas, mas que para pequenos
montantes podem ser utilizadas, como por exemplo financiamento via
fornecedores.
Seja qual for a fonte, o empreendedor precisa assumir riscos calculados.
Por exemplo, se for utilizar capital próprio, deve ter uma reserva de segurança.
Ou, ao calcular o montante do investimento inicial, deve adicionar uma margem
de segurança ao valor, pois sempre surgem gastos que não foram previstos. Ou
então, ao tomar um empréstimo em um banco com uma taxa elevada, deve ter
certeza de que o retorno esperado compensará a taxa.
Caso o empreendedor esteja enfrentando dificuldades para captar
recursos para o seu empreendimento, ele pode utilizar o conceito de MVP –
Minimum Viable Product para reduzir o montante de investimento inicial
necessário. O conceito de Minimum Viable Product, ou Produto Mínimo Viável,
propõe que, para aumentar as chances de sucesso de um produto ou serviço, o
empreendedor pode lançar uma versão reduzida, com as funcionalidades
mínimas que caracterizem o produto completo, como um protótipo funcional. Isso
permite que um grupo inicial de clientes teste o produto. Assim, o empreendedor
pode verificar o quanto o produto resolve “as dores” do cliente, para na sequência
fazer os ajustes necessários para o lançamento da versão definitiva.
Utilizando o conceito do MVP, com versões mais simples do produto, o
um investimento inicial será menor. Com isso, fica mais fácil para o
empreendedor iniciar o seu negócio e depois incrementá-lo e ampliá-lo (Figura
6).
22
Figura 6 – O conceito do MVP permite o lançamento rápido do produto com um
custo inicial menor
FINALIZANDO
23
se a DRE, é possível fazer estimativas de receitas e verificar qual o impacto na
lucratividade da empresa.
Outro fator crítico de sucesso é a configuração jurídica da empresa, pois
uma configuração inadequada pode resultar em uma carga tributária maior.
Também cabe nessa ocasião a decisão por uma empresa individual ou uma
sociedade.
Por fim, o empreendedor precisa definir a fonte (ou fontes) de captação
de recursos para a criação do negócio. As fontes incluem recursos próprios,
capital de terceiros ou empréstimos de instituições financeiras.
Uma tomada de decisão, com base em planejamento cuidadoso,
envolvendo todos esses fatores, aumenta as chances de sucesso do
empreendedor em seu futuro empreendimento.
24
REFERÊNCIAS
25