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EXTENSÃO – LICHINGA
Autora:
O Supervisor:
______________________
Dr. Alberto Langa
Autora:
Júlia Manuel Jairosse Abdala
Os elementos do júri:
Presidente: _____________________________
Oponente: ______________________________
Oponente: ______________________________
Júlia Manuel Jairosse Abdala, Filho de Manuel Jairosse Abdala e de Lúcia Gemusse Stambul,
estudante finalista do curso de direito, declaro que esta Monografia Científica é resultado da
minha investigação pessoal sob orientações do meu supervisor e a mesma nunca foi apresentada
em nenhuma outra instituição para obtenção de qualquer grau académico.
______________________________
/Júlia Manuel Jairosse Abdala/
(Estudante)
iii
DEDICATÓRIA
Dedico a presente monografia à memória dos meus País
nomeadamente, Lúcia Gemusse Stambul e Manuel Ofessi
Jairosse Abdala, que se encontram neste momento a ter o
descanso eterno. Que as suas almas descansem em paz;
iv
AGRADECIMENTOS
Sou grato em primeiro lugar ao Allah misericordioso Criador do
Universo, pois sem ele nada seria possível em mim, pela bênção
e protecção que me concedeu desde o primeiro ano até a este
momento.
Agradeço ainda:
Aos meus pais, que apesar de não estarem presentes neste
momento, muito fizeram para que eu atingisse este desafio;
v
"Violar um princípio é muito mais grave que
transgredir uma norma qualquer. A desatenção ao
princípio implica ofensa não apenas a um específico
mandamento obrigatório mas a todo o sistema de
comandos. É a mais grave forma de ilegalidade."
" Bandeira de Mello"
vi
RESUMO
vii
LISTA DE ABREVIATURAS:
viii
Índice
Declaração de Honra ................................................................................................................................ iii
DEDICATÓRIA ...................................................................................................................................... iv
AGRADECIMENTOS..............................................................................................................................v
RESUMO ................................................................................................................................................ vii
LISTA DE ABREVIATURAS: ............................................................................................................. viii
Introdução: ..............................................................................................................................................10
CAPÍTULO I: CONTEXTUALIZAÇÃO...............................................................................................13
1.DIREITO ADMINISTRATIVO .......................................................................................................13
1.2. ACTOS ADMINISTRATIVOS .......................................................................................................13
1.2.1. Noção .........................................................................................................................................13
1.3.ELEMENTOS E REQUISITOS DE VALIDADE DO ACTO ADMINISTRATIVO .....................15
1.3.1. Requisitos do Acto Administrativo ............................................................................................15
1.4. VALIDADE DO ACTO ADMINISTRATIVO ...............................................................................17
1.4.1. Noção .........................................................................................................................................17
1.4.2. INVALIDADE DO ACTO ADMINISTRATIVO........................................................................17
1.4.2.1Noção ........................................................................................................................................17
1.4.3. VÍCIOS DO ACTO ADMINISTRATIVOE SEUS TIPOS ..........................................................18
1.4.3.1. Noção de Vício do Acto Administrativo .................................................................................18
1.4.3.2. O Vício de Forma ....................................................................................................................18
1.4.3.2.1.Noção de Forma ....................................................................................................................18
1.4.3.2.2. O Vício de Forma.................................................................................................................19
1.4.4.Nulidade por Defeito de Forma...................................................................................................21
1.4.4.1. A Violação da Lei ...................................................................................................................21
1.5.O SILÊNCIO DA ADMINISTRAÇÃO ...........................................................................................23
1.5.1.Decisão Tácita do Procedimento.................................................................................................24
1.5.2. Fundamentos da Impugnação Contenciosa do Indeferimento Tácito ........................................26
1.5.3. Natureza Jurídica do Silêncio Administrativo............................................................................26
1.6.A Fundamentação do Acto Administrativo.......................................................................................28
CAPÍTULO – II ......................................................................................................................................30
2.DIREITO COMPARADO ................................................................................................................30
2.1. PROCEDIMENTO TÁCITO E VÍCIOS DA ADMINISTRAÇÃO EM DIVERSOS
ORDENAMENTOS JURÍDICOS .......................................................................................................30
2.1.1. Procedimento Tácito da Administração no Direito Administrativo Português ..........................30
2.1.1.2. Condições de Produção do Acto Tácito ..................................................................................30
2.1.2.Procedimento Tácito da Administração no Direito Administrativo Brasileiro ...........................34
2.1.3.Procedimento Tácito da Administração no Direito Administrativo Angolano e o Dever de
Decisão.................................................................................................................................................39
2.1.3.1. Pressupostos do Dever de Decisão..........................................................................................41
2.1.3.2. Consequências da Violação do Dever de Decisão no Direito Administrativo Angolano .......41
2.1.3.3. Os Meios Processuais de Reagir Contra o Silêncio da Administração Pública ......................43
2.1.4. Procedimento Tácito da Administração no Direito Administrativo Francês .............................44
2.1.4.1. Origem Histórica do Silêncio Administrativo.........................................................................44
CAPÍTULO - III......................................................................................................................................47
3. Vício do Indeferimento Tácito na Administração Pública como Causa de Violação do Princípio da
Fundamentação.....................................................................................................................................47
Conclusão................................................................................................................................................58
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:...................................................................................................61
Introdução:
10
actos administrativos, bem como objectivos específicos que consistiram em comparar o regime
jurídico do silêncio da Administração Pública, discutir o vício patente do indeferimento tácito e
analisar aplicação do dever de fundamentação, previsto na CRM, na lei do procedimento
administrativo e no Decreto nº30/2001, de 15 de Outubro.
Em relação ao contexto, referir que, ao nível da doutrina existem discussões relativas ao
tratamento do silêncio no sentido de se considerar de acto administrativo ou não, bem como o
valor jurídico atribuído para a produção de efeitos jurídicos que em alguns casos culmina com
deferimento ou indeferimento dependendo do que a norma definir no campo administrativo, no
qual a discussão gira em torno desses aspectos convista aferir posicionamentos ao nível da
doutrina sobre requisitos que patentea um acto administrativo de modo a produzir efeitos.
No que diz respeito ao direito comparado, foram trazidas experiências de Portugal, Brasil,
Angola e França com vista aferir o tratamento do acto tácito ou o valor jurídico atribuído ao
silêncio administrativo nesses Países. Neste contexto, os efeitos jurídicos do acto tácito para os
países acima citados são divergentes, na qual a experiência de Portugal, o acto tácito decorrido o
prazo legalmente definido por lei sem que o cidadão tenha resposta, é atribuído o valor jurídico
de deferimento tácito da pretensão do administrado.
Quanto a experiência do Brasil, esta revelou que, não existe uma legislação específica que
define regras a serem observadas atinentes ao silêncio da administração, mas apenas estão
previstas algumas normas na Constituição da República Federativa do Brasil a considerar o
acesso a informação para os administrados como direito fundamental que deve ser preservado
para os brasileiros e impõe inclusive regras de sanção para os violadores do direito de acesso a
informação.
Em relação a experiência da República de Angola, esta estabelece que decorrido o prazo
legalmente definido por lei sem que o administrado tenha resposta do seu pedido, considera-se
esse silêncio de indeferimento tácito da pretensão do administrado. Salientar que, é obrigação da
administração pública Angolana, responder as provocações dos particulares, uma vez que a
resposta aos administrados faz parte do dever de decisão, prevista na Constituição da República
de Angola, a qual impõe a administração o dever de resposta diante das solicitações dos
particulares, bem como na respectiva lei de procedimento administrativo.
De igual modo, no direito administrativo Francês também não foi encontrada uma
legislação específica que define regras para o tratamento do silêncio administrativo, apenas
algumas normas do direito administrativo contencioso que definiam que, as petições endereçadas
11
a ministros não respondidas pelo requerido num período correspondente a 4 meses seriam
consideradas negadas.
Do ponto de vista de metodologia, para este trabalho, foi usada a pesquisa exploratória
que envolveu o levantamento bibliográfico relativo aos vícios que enfermam o indeferimento
tácito, o dever da administração pública fundamentar os actos negativos, consulta de livros,
monografias, teses que envolveu teorias que já receberam um tratamento científico, consulta de
diversa legislação, convista a explorar e desenvolver a compreensão do trabalho, mas com
enfoque na pesquisa qualitativa.
Em termos de estrutura, o trabalho comporta três capítulos sendo:
Capítulo I: que versa sobre a contextualização geral do acto administrativo, seus
elementos e requisitos de validade, vícios do acto administrativo, o silêncio da administração e os
seus efeitos jurídicos, bem como a fundamentação do acto administrativo,
Capítulo II: que faz referência sobre o Direito comprado abarcando experiências de
Portugal, Brasil, Angola e França no sentido de se aferir o tratamento do silêncio da
administração nestes ordenamentos.
Capítulo III: que aborda aspectos relativos aos vícios do indeferimento tácito na
Administração Pública como causa de violação do princípio da fundamentação, a luz do
ordenamento jurídico moçambicano, fazendo uma abordagem geral sobre o acto tácito, efeitos
jurídicos do acto tácito, pressupostos do dever de fundamentação dos actos administrativos,
fundamentos de impugnação contenciosa do indeferimento tácito. Por fim, vem a conclusão e
referências bibliográficas.
Para a elaboração deste trabalho, socorremo-nos na doutrina, a Constituição da República
de Moçambique, a Lei nº 14/2011 de 10 de Agosto, Lei do Procedimento Administrativo
moçambicano, a Lei nº 7/2014 de 28 de Fevereiro, Lei do Contencioso Administrativo
Moçambicano, Decreto-Lei nº 4/2015, de 1 de Janeiro, denominado por Código de Procedimento
Administrativo de Portugal, a Constituição da República de Angola e a respectiva Lei de
Procedimento Administrativo, a Constituição da República Federativa do Brasil e a Biblioteca
Virtual.
12
CAPÍTULO I: CONTEXTUALIZAÇÃO
1.DIREITO ADMINISTRATIVO
1.1. Noção
O direito administrativo é o ramo do direito público que disciplina a função
administrativa, bem como pessoas e órgãos que a exercem.1
Por outra o Direito administrativo é um conjunto de normas e princípios que visam
sempre ao interesse público, sintetizando que o Direito Administrativo é o ramo do direito
público que estuda princípios e normas reguladores do exercício da função administrativa.2
Enfatizar ainda que o Direito Administrativo é o conjunto harmónico de princípios
jurídicos que regemos órgãos, os agentes e as actividades públicas tendentes a realizar concreta,
directa e imediatamente os fins desejados pelo Estado.3
Concordante aos conceitos acima apresentados, salientar que Administração Pública de
qualquer dos poderes do Estado edita actos jurídicos, ou exprime sua vontade e esta é capaz de
produzir efeitos jurídicos que tenha por finalidade adquirir, resguardar, modificar, transferir ou
extinguir direitos. Sendo uma manifestação de vontade e o efeito dele decorrente submisso ao
direito público tem-se o acto administrativo. Em outras palavras, a Administração Pública realiza
sua função executiva por meio de actos jurídicos que recebem a denominação especial de actos
administrativos.
1.2.1. Noção
O acto administrativo cumpre um importante papel de controlo sobre as actividades da
Administração Pública. Desse modo, a Administração Pública não pode iniciar qualquer actuação
material sem a prévia expedição do acto administrativo que lhe sirva de fundamento. Neste
contexto são conceitos do acto administrativo que asseguir se apresenta:
1
MANZZA, Alexandre, Manual de Direito Administrativo, 31, 2ª edição, editora Saraiva, São Paulo, 2012. APUD
BANDEIRA DE MELLO, Celso António, Conteúdo jurídico do princípio da igualdade. P, 37, 3. ed. 2. São
Paulo: Malheiros, 1993.
2
MANZZA, Alexandre, Manual de Direito Administrativo, P. 32, APUD CARVALHO FILHO, José dos Santos.
Manual de direito administrativo. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009.
3
MEIRELLES, Hely Lopes ,Direito administrativo brasileiro, P.38. 27. ed. São Paulo: Malheiros, 2002.
13
Acto administrativo é a manifestação unilateral de vontade da administração pública que
tem por objecto constituir, declarar, confirmar, alterar ou desconstituir uma relação jurídica, entre
ela e os administrados ou entre seus próprios entes, órgãos e agentes.4
De igual, modo, o acto administrativo é toda manifestação unilateral de vontade da
Administração Pública que agindo nessa qualidade tenha por fim imediato adquirir, resguardar,
transferir, modificar, extinguir e declarar direitos, ou impor obrigações aos administrados ou a si
própria.5
O acto administrativo é ainda declaração do Estado ou de quem o represente, que produz
efeitos jurídicos imediatos, com observância da lei, sob regime jurídico de direito público e
sujeita a controle pelo Poder Judiciário6.
Por seu turno, salientar que o acto administrativo é a exteriorização da vontade dos
agentes da Administração Pública ou de seus delegatários, nessa condição, que sob regime de
direito público, vise à produção de efeitos jurídicos, com o fim de atender ao interesse público.7
Enfatizar ainda que, o acto administrativo é a fonte e o limite material da actuação da
Administração.8 Assim, o acto administrativo é o acto jurídico típico do Direito Administrativo,
no universo dos actos jurídicos, a identidade própria do acto administrativo decorre dos seus
atributos normativos específicos conferidos pela lei, tais como: presunção de legitimidade,
exigibilidade, imperatividade e auto executoriedade. No qual os efeitos jurídicos decorrentes do
acto administrativo consistem na criação, preservação, modificação ou extinção de direitos e
dever de espera a Administração Pública ou para ao administrado.
4
NETO, Diogo de Figueiredo Moreira, Curso de Direito Administrativo, P. 221, 16ª Edição, editora Forense,
Brasil, 2014.
5
MEIRELLES, Hely Lopes, Direito administrativo brasileiro, P.145.
6
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella, Direito administrativo, P.196, 13. ed. São Paulo: Atlas, 2001.
7
MANZZA, Alexandre, Manual de Direito Administrativo, P. 181, APUD CARVALHO FILHO, José dos Santos.
Manual de direito administrativo, Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009.
8
MANZZA, Alexandre, Manual de Direito Administrativo, P. 31, APUD STASSINOPOULOS, Michel D. Traité
des actes administratifs. Athènes, 1954. (Collection de Institui Français d’ Athénes, 82).
14
1.3.ELEMENTOS E REQUISITOS DE VALIDADE DO ACTO ADMINISTRATIVO
9
MEIRELLES, Hely Lopes, Direito administrativo brasileiro, P. 147.
10
MEIRELLES, Hely Lopes, Direito administrativo brasileiro, P. 147, 27 ed. São Paulo, Malheiros, 2002.
11
MANZZA, Alexandre, Manual de Direito Administrativo, P. 205, 2ª edição, editora Saraiva, São Paulo, 2012.
12
NETO, Diogo de Figueiredo Moreira, Curso de Direito Administrativo, P. 224, 16ª Edição, editora Forense,
Brasil, 2014.
15
requisito de validade do acto administrativo. A competência é requisito vinculado. Para
que o acto seja válido inicialmente é preciso verificar se foi praticado pelo agente
competente segundo a legislação para a prática da conduta. No Direito Administrativo é
sempre a lei que define as competências conferidas a cada agente, limitando sua actuação
a cada área específica de atribuições.
b) Forma – é a exteriorização material do acto administrativo, através da qual a vontade
manifestada se expressa, permanece e se comprova no mundo jurídico13. E somente a
prevista em lei, sendo em regra por escrito, admitindo-se de outra maneira quando a lei
assim autorizar. O acto administrativo está sujeito ao princípio da solenidade, exigindo-se
formalidades específicas, procedimento administrativo prévio e motivação é diferente de
motivo, é a correlação lógica entre os elementos do acto, em regra obrigatória e deve ser
realizada antes ou durante.
c) Objecto – é o conteúdo do acto, a ordem por ele determinada, ou o resultado prático
pretendido ao se expedir. Todo acto administrativo tem por objecto a criação,
modificação ou comprovação de situações jurídicas concernentes a pessoas, coisas ou
actividades sujeitas à acção da Administração.
a) Motivo – é o pressuposto de facto e de direito que determina ou possibilita a edição do
acto administrativo. Ou seja, é a situação de facto e o fundamento jurídico que autorizam
a prática do acto. Constitui requisito discricionário porque pode abrigar margem de
liberdade outorgada por lei ao agente público.
13
NETO, Diogo de Figueiredo Moreira, Curso de Direito Administrativo, P. 226, 16ª Edição, editora Forense,
Brasil, 2014
14
NETO, Diogo de Figueiredo Moreira, Curso de Direito Administrativo, P. 225, 16ª edição, editora Forense, Rio
de Janeiro, 2014.
16
1.4. VALIDADE DO ACTO ADMINISTRATIVO
1.4.1. Noção
1.4.2.1Noção
Invalidade do Acto Administrativo é o juízo de desvalor emitido sobre o acto administrativo
em resultado da sua desconformidade com a ordem jurídica. São designadamente anuláveis:
a) Os actos viciados de vício de forma, nas modalidades de carência relativa de forma legal e
salvo se a lei estabelecer para o caso da nulidade, de preterição de formalidades
essenciais;
b) Os actos viciados por desvio de poder; 17
15
MANZZA, Alexandre, Manual de Direito Administrativo, PP. 202-206, 2ª edição, editora Saraiva, São Paulo,
2012.
16
NETO, Diogo de Figueiredo Moreira, Curso de Direito Administrativo, P. 229, 16ª Edição, editora Forense,
Brasil, 2014.
17
MANZZA, Alexandre, Manual de Direito Administrativo, PP. 202-206, 2ª edição, editora Saraiva, São Paulo,
2012.
17
1.4.3. VÍCIOS DO ACTO ADMINISTRATIVOE SEUS TIPOS
Vícios do acto administrativo são toda violação das normas que regem a actividade
administrativa. Todavia, a estes não têm sempre as mesmas consequências jurídicas dependendo
do tipo de vício, pode gerar nulidade ou anulabilidade. Vício é normalmente grave resultante de
uma anormal má-fé ou intenção dolosa da Administração que é avaliado em uma das
características de cada tipo de acto praticado. No entanto, para o presente estudo nos importa
salientar muito mais o vício de forma e de violação de lei que afecta o indeferimento tácito da
pretensão dos cidadãos. Salientar que apresenta-se os outros tipos de vício como forma de
elucidar o tema, bem como facilitar compreensão e esclarecer como esse instituto opera na esfera
administrativa.
Com base na identificação dos requisitos do acto administrativo, é possível precisar quais
as patologias mais frequentes envolvendo a sua prática e indicar as consequências normativas
delas decorrentes. Porém, todo acto viciado é nulo, rejeita – se inclusive a possibilidade de
convalidação de defeitos leves do acto administrativo, considerando que o interesse privado não
poderia preponderar sobre actos ilegais. Daí a impossibilidade jurídica de convalidar-se o acto
considerado anulável, que não passa de um acto originariamente nulo.18
1.4.3.2.1.Noção de Forma
Forma é a maneira regrada e escrita em lei de como o acto deve ser praticado; é o
revestimento externo do acto e é vinculado ou seja, é o mecanismo pelo qual a vontade da
Administração Pública é exteriorizada. Pelo princípio da solenidade das formas, em regra a
actuação da administração dá-se pela forma escrita, uma vez que a documentação viabiliza o
controlo e a fiscalização pelo poder judiciário, pelo próprio administrador anos depois, e ainda
possibilita a informação ao cidadão. Excepção a forma escrita só é admitida se prevista em lei
desde que não haja contrariedade19.
18
MEIRELLES, Hely Lopes, Direito administrativo brasileiro, PP. 169, 27 ed. São Paulo, Malheiros, 2002.
19
NETO, Diogo de Figueiredo Moreira, Curso de Direito Administrativo, P. 337, 16ª Edição, editora Forense,
Brasil, 2014.
18
1.4.3.2.2. O Vício de Forma
20
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella, Direito Administrativo, P. 254, 27ª, São Paulo Editora Atlas, 2014.etro
21
AMARAL, Diogo Freitas, Curso de Direito Administrativo, P. 428, 2ª Edição, Almedina editora, Portugal, 2012.
19
Exemplo4: a lei estabelece que um certo acto administrativo que envolva a realização de
despesa tem de ser sujeito a visto do Tribunal de Contas depois de praticado. Se administração
não sujeita esse acto a visto é evidente que viola a lei, não cumpre uma formalidade essencial que
a lei exige.22
O vício de forma é ainda uma ilegalidade atípica do acto administrativo que resulta da
omissão ou irregularidade de uma formalidade essencial. A omissão ou irregularidade tanto se
podem verificar quando as formalidades que integram no decurso do procedimento
administrativo, precedem ou devem preceder o acto administrativo. A omissão da forma
legalmente exigida, é qualificada pelo legislador como carência absoluta de forma legal e
determina a nulidade do acto. Assim sucede por exemplo a lei pode exigir que a declaração de
vontade seja enunciada por escrito e a decisão apenas foi omissa oralmente assim se esta diante
de uma irregularidade a qual poderá provocar apenas anulabilidade.23
Concordante a isto, o vício de forma existe sempre na formação ou na declararão da
vontade traduzida no acto administrativo, foi preterida alguma formalidade essencial ou que o
acto reveste a forma legal. O acto definitivo pode aparecer inquinado de vícios resultantes da
omissão ou irregularidades de formalidades praticadas ao longo do processo gracioso que lhe haja
dado origem. Porém, diante destas irregularidades é facultado aos interessados reclamar ou
recorrer graciosamente no momento em que se verificarem, só depois de praticado o acto
definitivo são susceptíveis de discussão em recurso contencioso.24
Tais omissões ou irregularidades podem ser oportunamente supridas pela prática da
formalidade omitida ou mediante a revogação do acto e sua repetição, bem como pela ratificação
reforma ou conversão. Pelo que respeita a forma, é importante salientar que se a forma
legalmente exigida foi omissa, se terá a carência absoluta de forma legal. Todavia, também tem
sido equiparada a carência absoluta de forma legal a omissão de certa forma solene reputada
essencial a existência do acto, o que sucede quando a lei impõe a prática do acto por decreto.25
Se o acto não é fundamentado, nos casos em que a fundamentação é exigida por lei,
verifica-se também o vício de forma. E nesse caso a fundamentação é incongruente, deve sempre
entender-se que não foi cumprida a exigência legal e que houve preterição de formalidades.
22
AMARAL, Diogo Freitas, Curso de Direito Administrativo, P. 428, 2ª Edição, Almedina editora, Portugal, 2012.
23
CORREIA, J.M. Sérvulo, Direito Administrativo, PP. 428-429, Vol. I, Editora Danúbio LDA, Lisboa, 1982.
24
CAETANO, Marcelo, Manual de Direito Administrativo, P. 505, 10ª Edição, Almedina editora, Coimbra, 1980.
25
CAETANO, Marcelo, Manual de Direito Administrativo, PP. 506-507, 10ª Edição, Almedina editora, Coimbra,
1980.
20
1.4.4.Nulidade por Defeito de Forma
O vício de forma consiste na má observância do requisito essencial de exteriorização do acto
previsto em lei. Forma essencial é aquela exigida para a exteriorização dos elementos
constitutivos do acto. Em consequência, a forma essencial é a necessária ao atingimento do
objectivo do acto administrativo. Todavia, como uma aplicação prática do princípio da finalidade
em Direito Administrativo, tem-se que no caso de formalidade essencial, a sua preterição gera
nulidade material.26Salientar que só a forma que a lei considere essencial à validade do acto é
que, se descumprida, origina um acto nulo. Uma vez que a motivação ou declaração escrita dos
motivos que levaram a prática do acto integra a forma do acto administrativo. A ausência de
motivação, quando a mesma for obrigatória, acarreta a nulidade do acto por vício de forma,
nesses casos a lei considera a forma do acto com motivação expressa essencial como elemento
para à validade do acto.27 Pelo que, a Administração pode anular seus próprios actos quando
eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por
motivo de conveniência ou oportunidade, respeitando os direito adquiridos e ressalvada em todos
os casos a apreciação judicial.
Se um acto é anulado por vício de forma a administração pode praticar novo acto desde que
sejam observadas as formalidades devidas. Nos casos em que a fundamentação é exigida a sua
falta provoca vicio de forma, o mesmo sucede quando, por obscuridade, contradição ou
insuficiência os fundamentos apresentados
Exemplo1: o Decreto é a forma que deve revestir o acto do Chefe do Poder Executivo; o
edital é a única forma possível para convocar os interessados em participar de uma
concorrência.
26
NETO, Diogo de Figueiredo Moreira, Curso de Direito Administrativo, P. 337, 16ª Edição, editora Forense,
Brasil, 2014.
27
ALEXANDRE, Marcelo & PAULO, Vicente, Direito Administrativo Descomplicado, P. 463, 20ª edição, editora
Método, 2012.
21
formalidades ou na forma que o acto reveste, nem o fim tido em vista, mas no próprio conteúdo
ou no objecto do acto. Não há pois correspondência entre a situação abstractamente delineada na
norma e os pressupostos de facto e de direito que integram a situação concreta sobre a qual
administração age, ou coincidência entre a decisão tomada ou os efeitos de direitos determinados
pela administração e o que a norma ordena28.
O vício de violação de lei produz-se normalmente quando no exercício do poder
vinculado, a administração decida coisa diversa do que a lei estabelece ou nada decida, quando a
lei manda decidir algo.
A violação da lei é quando ainda são infringidos os princípios gerais que limitam ou
condicionam, de forma genérica, a discricionariedade administrativa, designadamente os
princípios constitucionais como o princípio da imparcialidade, o princípio da igualdade, o
princípio da justiça, princípio da boa fé, entre outros. A violação da lei, comporta várias
modalidades como:
a) A falta de base legal, isto é a prática de um acto administrativo quando nenhuma lei
autoriza a prática de um acto desse tipo.
b) O erro de direito cometido pela administração na interpretação, integração ou
aplicação das normas jurídicas;
c) Ilegalidade ou impossibilidade do conteúdo do acto administrativo;
d) Ilegalidade ou impossibilidade do objecto do acto administrativo;
e) Ilegalidade, dos pressupostos de facto ou de direito, relativos ao conteúdo ou ao
objecto do acto administrativo;
f) A ilegalidade de elementos acessórios incluídos pela administração no conteúdo do
acto.
g) Qualquer outra ilegalidade do acto administrativo insusceptível de ser conduzida a
outro vício.29
De tal forma que, a violação de lei pode ser ainda um vício que enferma o acto
administrativo, cujo objecto incluindo os próprios pressupostos contrariam as normas jurídicas
com as quais se devia conformar. Estas normas podem constar de lei formal, de regulamentos
pelo qual administração se haja vinculado. Salientar ainda que traduz-se de uma violação da lei
na medida em que esta confere os poderes discricionários o agente para serem exercidos dada
28
AMARAL, Diogo Freitas, Curso de Direito Administrativo, P. 430, 2ª Edição, Almedina editora, Portugal, 2012.
29
AMARAL, Diogo Freitas, Curso de Direito Administrativo, P. 428, 2ª Edição, Almedina editora, Portugal, 2012.
22
existência certas circunstancias cuja apreciação conduza o agente a optar entre varias decisões
possíveis, pela que considere mais adequada a realização do fim legal. Se estas não existiam nos
termos supostos, a lei foi violada no seu espírito. 30
30
CAETANO, Marcelo, Manual de Direito Administrativo, PP. 501-504, 10ª Edição, Almedina editora, Coimbra,
1980.
31
MEIRELLES, Hely Lopes, Direito administrativo brasileiro, P.110, 27ªed. São Paulo: Malheiros, 2002.
23
Que o órgão tenha, sobre a matéria em causa, o dever legal de decidir através de um acto
administrativo;
Que tenha decorrido o prazo legal, sem que haja sido tomada uma decisão expressa sobre
o pedido;
E a lei atribua o silêncio da administração, durante esse prazo, o significado jurídico de
indeferimento ou deferimento.32
32
AMARAL, Diogo Freitas, Direito Administrativo, PP. 266-267, V. III, Lisboa, 1989.
33
AMARAL, Diogo Freitas, Direito Administrativo, PP. 261-262, V. III, Lisboa, 1989.
24
considerar que o pedido estava satisfeito ou deferido. Aqui o silencio valia como
manifestação tácita da vontade da administração no sentido de produzir uma alteração na
ordem jurídica. Dai a designação do acto tácito positivo.
b) A segunda maneira de resolver o problema consiste em a lei atribuir ao silêncio da
administração o significado de acto tácito negativo. Decorrido o prazo legal, sem que o
pedido formulado pelo particular, ao órgão competente é obrigado a decidir sem que
tivesse resposta, tal pedido se considera como indeferido. Presume-se nesse caso que há
uma vontade tácita da administração no sentido de recusar introduzir alterações na ordem
jurídica, dai a designação de acto tácito negativo ou indeferimento tácito.34
Importa referir que, o acto tácito negativo ou indeferimento tácito, tem suas vantagens.
Como vantagem para o particular desta figura do tácito negativo ou indeferimento tácito. Como
se pode entender que valendo o silêncio da administração indeferimento da pretensão
apresentada, esta fosse uma solução favorável para o particular, uma vez que se fosse assim
dificilmente haveria uma decisão que o interessado pudesse impugnar em Tribunal. Quando
administração recusa-se os pedidos dos particulares, ou o faz por forma expressa, e os
interessados podem atacar contenciosamente tal decisão, ou limita-se a nada responder, e isso
impede os particulares de lançar mão na via contenciosa, em ver o seu caso discutido e julgado
num Tribunal.
Com a figura do tácito negativo ou indeferimento tácito o facto de a lei atribuir o silêncio
da administração como acto administrativo de indeferimento permite ao particular recorrer ao
Tribunal impugnando o indeferimento tácito da sua pretensão. Nesse caso o Tribunal terá de
considerar duas hipóteses como35:
De considerar o indeferimento tácito da pretensão apresentada pelo particular como legal,
caso em que o Tribunal daria razão a administração;
De considerar o indeferimento tácito da pretensão do particular como ilegal. E neste caso
o Tribunal daria razão ao particular anulando o acto tácito. E da anulação contenciosa do
indeferimento tácito, resulta no dever da administração satisfazer cabalmente a pretensão
apresentada pelo particular. Esta garantia dos particulares, o direito de recurso
contencioso do indeferimento tácito, o que resultara nesta segunda hipótese o dever de
administrarão satisfazer cabalmente a pretensão apresentada pelo particular.
34
AMARAL, Diogo Freitas, Curso de Direito Administrativo, P. 364, 2ª Edição, Almedina editora, Portugal, 2012.
35
AMARAL, Diogo Freitas, Direito Administrativo, PP. 262-263, V. III, Lisboa, 1989.
25
c) Esta garantia dos particulares foi considerada nos inícios do século XX como muito
importante no qual alguns países evoluíram para já aceitação em lugar do recurso do acto
de uma acção contra omissões indevidas da administração em que esta possa ser
condenada pelo Tribunal Administrativo a praticar actos devidamente devidos.36
A regra geral no direito do ordenamento jurídico moçambicano, é a de que o silêncio da
administração perante as pretensões dos particulares vale como indeferimento tácito logo que
tenha decorrido o prazo legalmente definido pela lei.
36
AMARAL, Diogo Freitas, Direito Administrativo, PP. 261-262, V. III, Lisboa, 1989.
37
AMARAL, Diogo Freitas, Direito Administrativo, PP. 264-267, V. III, Lisboa, 1989.
26
sentido de como lei manda interpretar aquele silêncio, dai que o acto tácito é um acto
voluntário.
b) A segunda corrente defende que não há acto voluntário no chamado acto tácito e que por
isso, tal acto não devia ser considerado de acto administrativo, mas um simples
pressuposto do recurso contencioso. Como se poderá presumir que se quis indeferir que
houve mesmo vontade da administração nestes casos.
Aquilo que se permite com a construção da figura do acto tácito, é que se passe para a fase
contenciosa, apesar de não existência de um acto. Mas sendo assim, então o acto tácito não é um
acto administrativo é um simples pressuposto da via contenciosa. Deste modo, segundo esta
corrente estaríamos perante um acto administrativo excepcional, em que a lei permite interpor um
recurso contencioso sem objecto um acto voluntário da administração, mas o simples decurso de
tempo sem resposta desta, ou seja uma pura omissão da administração. É daí que se entende que a
verdadeira natureza do acto tácito é de uma ficção legal de acto administrativo, ou seja, um acto
tácito não é um verdadeiro acto administrativo, mas para todos os efeitos jurídicos tudo se passa
como se fosse.38
c) A outra corrente defende que todo facto jurídico produtor de efeitos no campo do Direito
Administrativo é um facto jurídico-administrativo. E é exactamente o que se dá com o
silêncio da Administração. Não pode ele ser considerado acto administrativo, posto que
não constitui manifestação de vontade do ente estatal, não externa declaração jurídica e
não se reveste de quaisquer requisitos formalístico. Os eventuais efeitos conferidos pelo
Direito positivo, à omissão da Administração não a tornam acto administrativo. A ilação
resultante do silêncio não ostenta, a toda evidência, os elementos ou pressupostos de
validade dos actos administrativos em geral, tais como o conteúdo, a forma, a causa, o
motivo, a competência e outros apontados pelas mais diversas correntes doutrinárias.
O silêncio, pois, nada mais é que um facto gerador de efeitos jurídicos. E suscinta quando
esses efeitos repercutem no Direito Administrativo, estar-se-á diante de um facto jurídico-
administrativo. Entende-se, pois, que o silêncio não é acto, mas sim facto jurídico-
administrativo.39
38
AMARAL, Diogo Freitas, Curso de Direito Administrativo, P. 369, 2ª Edição, Almedina editora, Portugal, 2012.
39
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella, Direito Administrativo, P. 144, 3ª ed. São Paulo, Atlas, 1992.
27
1.6.A Fundamentação do Acto Administrativo
A fundamentação de um acto administrativo é a enunciação explícita das razões que
levaram o seu autor a praticar esse acto ou dotá-lo de certo conteúdo. A fundamentação tem de
preencher os seguintes requisitos:
Tem de ser expressa;
Tem de consistir na exposição, ainda que suscinta, dos fundamentos de facto e de
direito da decisão;
Tem de ser clara, coerente e completa, isto é, será ilegal se for obscura, contraditória
ou insuficiente.
Esta descrição prevê que o acto administrativo deve consistir numa declaração de
concordância com os fundamentos de anterior parecer, informação ou proposta. Se assim for, o
dever de fundamentar considera-se cumprido com essa mera declaração de concordância, não
sendo necessário anunciar expressamente os fundamentos da decisão tomada. Havendo
homologação, nem sequer é necessário fazer expressamente qualquer declaração de
concordância: a homologação absorve automaticamente os fundamentos e conclusões do acto
homologado;
Importa explicar que como todo cidadão, para ser acolhido na sociedade, há-de provar sua
identidade, o acto administrativo, para ser bem recebido pelos cidadãos, deve patentear sua
legalidade, vale dizer, sua identidade com a lei. Fundamentar é enunciar expressamente as razões
de facto e de direito que autorizam ou determinam a prática de um acto jurídico. Trata-se de um
mecanismo de controlo sobre a legalidade e legitimidade das decisões da Administração Pública.
O Estado, ao assim decidir, vincula-se tanto ao dispositivo legal invocado como aos factos sobre
os quais se baseou, explícita ou implicitamente, para formar sua convicção.
Caso a lei imponha como condição de validade do acto a fundamentação, esta passa a
integrar o modo obrigatório de exteriorização do acto, e a sua falta será um vício insanável, não
passível de convalidação, ou seja, o acto será nulo. Impportante referir queos actos
administrativos deverão ser motivados, com indicação dos factos e dos fundamentos jurídicos,
quando ainda:
a) Neguem, limitem ou afectem direitos ou interesses;
b) Imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções;
c) Decidam processos administrativos de concurso ou selecção pública;
d) Decidam recursos administrativos;
28
e) Decorram de reexame de ofício;
f) Importem anulação, revogação, suspensão ou convalidação de acto administrativo.
Não obstante, a boa prática administrativa recomenda a motivação de todos os actos
administrativos, uma vez que a declaração escrita dos motivos que levaram à edição do acto
possibilita um controle mais eficiente da actuação administrativa por toda a sociedade e pela
própria administração, concretizando o princípio da transparência e sendo consentânea à
cidadania. Vale referir que, nos casos em que a motivação é obrigatória a sua ausência implica
vício do acto relativamente ao elemento forma.40
Fundamentar é ainda indicar quais os motivos, as razões porque se pratica um acto em
deduzir das premissas indicadas a decisão tomada ou o juízo formulado.
Com base no que acima foi exposto, fica o dever de fundamentar todos os actos
administrativos susceptíveis do recurso contencioso por particulares, sobretudo aqueles cujo a
ilegalidade só podem levar-se através da fundamentação. Porém o objectivo que se pretende
atingir com a imposição do dever de fundamentar é certamente o interesse objectivo ou público
da legalidade dos actos administrativos, uma vez que estando obrigado a fundamentar o órgão
administrativo não se precipitará para a decisão sem conhecer integralmente a letra e o espírito,
da lei aplicável, sem assentar nos factos ocorridos, ou sem averiguar da justeza e mérito do acto
que se propõe praticar. O dever de fundamentação obriga-o a ponderar a legalidade e o mérito das
diversas condutas que são apresentadas como passíveis. O dever de fundamentação serve ainda
para facilitar o recurso aos Tribunais pelos particulares lesados pela actividade administrativa que
a lei instituiu, uma vez que serve para se convencer de que o acto é efectivamente legal, justo e
oportuno. Exige-se que a fundamentação seja congruente ou não seja contraditória, porque quer-
se precisamente avaliar aptidão lógica das premissas aduzidas para dela retirar a decisão tomada.
Pelo que, se formalmente as razões invocadas serem capazes de justificar a decisão tomada a
fundamentação diz-se congruente.41
40
ALEXANDRE, Marcelo &PAULO, Vicente, Direito Administrativo Descomplicado, PP. 473-474, 20ª edição,
editora Método, 2012.
41
OLIVEIRA, Mário Esteves de, Direito Administrativo, P.470- 475, V.I, Editora Almedina, Coimbra, Outubro,
1980.
29
CAPÍTULO – II
2.DIREITO COMPARADO
Conforme foi referido no primeiro capítulo desta monografia que muitas vezes, a
administração nada faz ou nada diz acerca dos assuntos do interesse público que tem entre mãos e
a lei atribui ao silêncio da administração um determinado significado que decorrem efeitos
jurídicos no qual como garantia dos cidadãos em Direito Administrativo se traduz, no direito de
recorrer contenciosamente dos actos praticados pela administração. Tendo em conta que tais
situações de silêncio da administração perante pretensões concretas apresentadas por interessados
aos órgãos competentes constituem uma das formas de desrespeito pelas regras estabelecidas e
pelo princípio da legalidade, constam que muitos Países evoluíram atribuindo ao silêncio da
administração um valor jurídico de deferimento valendo como aceitação em lugar do recurso do
acto tácito de uma acção contra omissões indevidas da administração em que esta possa ser
condenada pelo Tribunal Administrativo a praticar actos legalmente devidos e ainda outros países
tratam o silêncio de indeferimento valendo como negação.42Tal como veremos os exemplos que
abaixo se apresentam, destacando-se no concernente as experiências Portuguesa, Brasileiras,
Angolano e Francesa.
42
AMARAL, Diogo Freitas, Curso de Direito Administrativo, P. 366, 2ª Edição, Almedina editora, Portugal, 2012.
30
inovação relativo ao tratamento do acto tácito, tendo em conta que o anterior a regra geral do acto
tácito era de indeferimento tácito da pretensão do administrado. Assim, registou significativas
alterações no que tange a decisão do procedimento administrativo, por terem sido introduzidos
prazos para a decisão do acto, que cujo incumprimento além de permitir o recurso aos meios de
tutela administrativa e jurisdicional, determina a responsabilidade da Administração, nos termos
contidos no regime da responsabilidade civil do Estado. Dai que, nota-se que a figura do
indeferimento tácito é inexistente uma vez que desapareceu completamente, permitindo assim o
recurso aquela tutela administrativa e jurisdicional, a qual se corporiza no pedido da prática do
acto devido e não já através da impugnação do acto tácito. Neste contexto, a regra geral do acto
tácito decorrido o prazo legal para a decisão é de deferimento da pretensão do particular.
Acresce-se neste sentido que, os procedimentos oficiosos passíveis de conduzir a uma
decisão com efeitos desfavoráveis para os interessados caducam na ausência de uma decisão no
prazo de 180 dias. Por outro lado, desapareceu ainda o elenco de situações em que ocorria
deferimento tácito dos procedimentos, passando a prever-se, genericamente, que o deferimento
tácito só existe quando seja expressamente cominado na lei ou em regulamento tendo em conta
que o artigo 130º do Decreto-Lei nº 4/2015, de 1 de Janeiro, denominado por Código de
Procedimento Administrativo, define que só existe deferimento tácito quando a lei ou
regulamento determine que a ausência de notificação da decisão final sobre a pretensão dirigida
ao órgão competente dentro do prazo legal tem o valor de deferimento. Considerando nestes
casos que há deferimento tácito se a notificação do acto não for expedida até ao primeiro dia útil
seguinte ao termo do prazo da decisão. Salientar que em termos de prazo legal de produção de
deferimento tácito, define o artigo 128º do Decreto-Lei nº 4/2015, de 1 de Janeiro, do Código do
Procedimento Administrativo, como regra geral que os procedimentos de iniciativa particular
devem ser decididos num prazo de 90 dias.
Não obstante, o nº1 do artigo 13º do Decreto-Lei nº 4/2015, de 1 de Janeiro, do Código de
Procedimento Administrativo, consagra o princípio da decisão ou o dever de decidir da
Administração Pública, que enuncia uma obrigação da Administração decidir sobre todos os
assuntos que sejam apresentados aos seus órgãos e sobre petições, as preocupações, reclamações
ou queixas que tenham como base na realização do e interesse público. A Administração
encontra-se vinculada a cumprir este dever e seja qual for a decisão tem a obrigatoriedade de se
pronunciar nesse âmbito. Salientar que mesmo quando o órgão alvo do pedido pretendido pelo
administrado não seja competente na matéria este dever mantém-se, no cumprimento do dever de
31
decisão em conformidade com o disposto no n º 1 do artigo 41º do Decreto-Lei nº 4/2015, de 1 de
Janeiro, do Código do Procedimento Administrativo, e neste caso o documento tem de ser
enviado para o órgão competente, que por sua vez tratará de formular a decisão pretendida pelo
particular.
Face ao que acima foi exposto, para o direito administrativo Português a existência de um
dever de decisão e prazos a serem respeitados confere-se que, dá inércia da Administração
quando passe o prazo, e esta se mantenha em silêncio, passando a haver uma omissão legal. Este
incumprimento do dever de decisão encontra-se plasmado no artigo 129º, do Decreto-Lei nº
4/2015, de 1 de Janeiro, do Código do Procedimento Administrativo, onde estão enunciadas as
possíveis consequências para este incumprimento que podem se como:
Recurso aos meios de tutela jurisdicional por parte do interessado;
Recurso aos meios de tutela administrativa por parte do interessado em conformidade
com alínea b) do n° 1 do artigo 184º conjugado com os números2 do artigo 193º e 4 do
artigo 197º, ambos do Decreto-Lei nº 4/2015, de 1 de Janeiro, do Código do
Procedimento Administrativo.43
Em relação o recurso aos meios de tutela Administrativa ou Judicial em casos de haver
deferimento tácito há divergências doutrinárias em saber se faz sentido o interessado recorrer a
esses meios. Para o efeito, a primeira corrente defende que havendo deferimento tácito,
considera-se pois a existência do acto e os seus efeitos típicos encontram-se desde logo
constituídos na esfera do interessado. Uma acção de condenação à pratica de acto administrativo
com o mesmo conteúdo enfermaria de possibilidade do objecto. E que de qualquer das maneiras
o deferimento tácito fornece, tendencialmente, uma solução mais completa e rápida para o
problema do particular.44
A segunda corrente contesta que o deferimento tácito dê origem a um acto administrativo
pelo que o interessado pode na mesma pedir a condenação da Administração à emissão do
43
SILVEIRA JOÃO, Tiago, O Deferimento Tácito, tese de mestrado; Disponível em:
st16direitoadministrativo.blogs.sapo.pt/a-falta-de-decisao-administrativa-14699 acesso no dia 27 de Agosto de
2017.
44
CORREIA, J.M. Sérvulo, Noções de Direito Administrativo, tese de mestrado; Disponível em:
st16direitoadministrativo.blogs.sapo.pt/a-falta-de-decisao-administrativa-14699 acesso no dia 27 de Agosto de
2017.
32
acto administrativo ilegalmente omitido, de modo a obter uma tutela plena da sua situação
jurídica.45
Não obstante, tudo isto faz verificar que é sempre necessária previsão específica para dar o
valor positivo ao silêncio. Faz sentido que assim seja, porque evita que o silêncio da
administração ganhe valor positivo num aspecto maior e que a Administração corra o risco de
deferir tacitamente por inércia, negligência, entre diversos outros motivos, pedidos absurdos,
desproporcionais ou contra o interesse público.
Importa salientar que no ordenamento jurídico português em casos de negação da pretensão
do administrado, há também a obrigatoriedade de fundamentação dos actos administrativos que
decidam em contrário da pretensão ou oposição formulada pelo interessado, nos termos da
conjugação dos artigos 152 e 153 do Decreto-Lei nº 4/2015, de 1 de Janeiro, do Código do
Procedimento Administrativo, tendo em conta que a lei nos termos dos artigos acima citado
sexige que devem ser fundamentados os actos administrativos que, total ou parcialmente:
a) Neguem, extingam, restrinjam ou afectem por qualquer modo direitos ou interesses
legalmente protegidos, ou imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções;
b) Decidam reclamação ou recurso;
c) Decidam em contrário de pretensão ou oposição formulada por interessado, ou de parecer,
informação ou proposta oficial;
d) Decidam de modo diferente da prática habitualmente seguida na resolução de casos
semelhantes, ou na interpretação e aplicação dos mesmos princípios ou preceitos legais;
e) Impliquem revogação, modificação ou suspensão de acto administrativo anterior.
A razão de ser das figuras do acto tácito negativo e do acto tácito positivo é diferente na
medida em que o acto tácito negativo serve para facilitar a impugnação e o acto tácito positivo
representa uma técnica de intervenção de política administrativa ou de intervenção tutelar
destinada a facilitar a obtenção de autorizações ou aprovações. Frisar ainda que, todos estes actos
constituem instrumentos de defesa dos administrados contra a passividade da administração
através de atribuição de efeitos jurídicos ao comportamento omissivo, embora uma parte
significativa da doutrina portuguesa recusa a inclusão do chamado acto tácito negativo ou
45
SOUSA, Marcelo Rebelo de & MATOS, André Salgado de, Direito Administrativo Geral, tese de mestrado;
Disponível em: st16direitoadministrativo.blogs.sapo.pt/a-falta-de-decisao-administrativa-14699 acesso no dia 27 de
Agosto de 2017.
33
indeferimento tácito no conceito de acto administrativo, visto que o acto tácito surgiu por força
da restrição no âmbito do contencioso administrativo a simples anulação de actos. 46
34
da Administração Pública, é possível inferir-se, sem grande esforço de raciocínio, algumas
directrizes sobre o regramento constitucional do silêncio administrativo. Portanto, o silêncio ou a
ausência de manifestação de vontade da Administração Pública, quando reclamada pelo
administrado, é situação absolutamente inaceitável no direito administrativo brasileiro, porquanto
implica a violação de relevante dever estatal, seja o dever de resposta ou de manifestação em face
do administrado. Assim, no Direito Administrativo Brasileiro, este dever resulta da conjugação
de alguns dispositivos constitucionais consagradores de direitos fundamentais, como o direito ao
recebimento de informações dos órgãos públicos previsto no artigo 5°, inciso XXXIII, da
Constituição Federal de 1988; o direito de petição dos cidadãos previsto na alínea a) do artigo 5°,
inciso XXXIV; o direito de certidão previsto na alínea b), do artigo 5°, inciso XXXIV, da
Constituição Federal de 1988 e o direito à razoável duração dos processos previsto no artigo 5°,
inciso LXXVII, da Constituição Federal de 1988, bem como dos princípios do Direito
Administrativo.
Destacar ainda que a actual Constituição Federal repudia francamente o silêncio ou a
inércia da Administração Pública, inferindo-se tal posição a partir da variedade de dispositivos
que impõem o dever de manifestação estatal diante dos reclamos do administrado, como acima
foi esclarecido. A expressão desse dever de forma demonstrativa encontra o seu amparo legal tal
como acima foi referido no artigo 5°, inciso XXXIII, por definir que os administrados têm o
direito de receber informações dos órgãos públicos. Bem como nas alíneas a) do artigo 5°, inciso
XXXIV, e alínea b), do artigo 5º por ter previsto que todos são iguais perante a lei, sem distinção
de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito no sentido de que todos têm direito a receber dos órgãos públicos
informações de seu interesse particular, ou de interesse colectivo ou geral, que serão prestadas no
prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à
segurança da sociedade e do Estado;
Define ainda o inciso XXXIV que a todos, lhes é assegurado, independentemente do
pagamento de taxas o direito de petição aos poderes públicos em defesa de direitos ou contra
ilegalidade ou abuso de poder e a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de
direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal.48
48
Cfr. O artigo 5º, inciso XXXIV, da Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988, Senado Federal,
Secretaria de Editoração e Publicações, Coordenação de Edições Técnicas.
35
Neste contexto, os direitos em questão impõem ao poder público uma manifestação
expressa, cumprindo lhe analisar especificamente sobre o reclamo do administrado. Porém,
quando exercido o direito de petição, pesa sobre o poder público o dever de responder ao pedido
que lhe é dirigido, portanto seria absolutamente destituído de efeitos práticos o peticionamento
não houvesse a correspondente necessidade de resposta, uma vez que o direito de petição é
aquele que pertence a uma pessoa de invocar a atenção do poder público sobre uma questão ou
situação. A omissão da Administração em apreciar a postulação administrativa em prazo
razoável, configura o silêncio administrativo e motiva ao administrado, ao mandado de segurança
para determinar à autoridade pública a apreciação do pedido, subtraindo-se, portanto, a própria
realização do direito fundamental. Deveras, presente o direito de petição, de outro lado o
pressuposto, está o direito de resposta pelo que, tem a Administração Pública o dever de se
pronunciar49.
Também em face do primado não é facultado à Administração Pública permanecer silente
diante da provocação do particular, sob pena de inviabilizar o direito ao contraditório e à ampla
defesa. Desse modo, é necessário que a vontade estatal seja manifestada e materializada para o
fim de motivar ao administrado, na via administrativa ou na via judicial, a tutela do seu direito ou
interesse. E tal pronunciamento consigna as razões da actuação estatal, enunciando os
fundamentos de facto e de direito do acto, vale dizer, realizando sua motivação. O direito de
acesso à informação, plasmado no inciso XXXIII do artigo 5°, da Constituição Federal, encontra
regulação na Lei nº 12.527/2011, consignando este diploma legal, em seu artigo 5º, que, é dever
do Estado garantir o direito de acesso à informação, que será franqueada, mediante
procedimentos objectivos e ágeis, de forma transparente, clara e em linguagem de fácil
compreensão.
Estabelece, ainda o artigo 21 desta lei supracitada que não poderá ser negado acesso à
informação necessária à tutela judicial ou administrativa de direitos fundamentais.
Esta lei também prevê procedimento próprio para o atendimento do pedido de acesso às
informações, estipula os devidos prazos. Da conjugação dos dispositivos legais em questão,
resulta um autêntico dever de manifestação do poder público em face do particular, dando
conformação ao direito fundamental ao recebimento de informações.
49
MELLO, Celso António Bandeira de, Curso de Direito Administrativo, 26ª ed.,São Paulo, SP, Malheiros
Editores, 2009, disponível em: www.conteudojuridico.com.br/artigo,o-silencio-da-administracao,51046.htmlacesso
no dia 30 de Maio de 2017, pelas10h57minutos.
36
Em outro plano, sob o influxo da Constituição Federal, como forma de protecção dos
direitos dos administrados e ao melhor cumprimento dos fins da Administração, editou-se a Lei
nº 9.784/1999, de 29 de Janeiro, reguladora do processo administrativo no âmbito federal, a qual
concretizou o dever de responder, positivando a necessidade da Administração Pública proferir
decisão nos processos administrativos e sobre solicitações ou reclamações perante ela
apresentados, estipulando ainda, prazo para emitir a decisão, inferindo-se disso a franca rejeição à
impronúncia. E premidos pela mesma exigência, alguns Estados da Federação passaram a editar
leis disciplinadoras do processo administrativo, como a Lei nº 10.117/1998, de 30 de Dezembro,
do Estado de São Paulo; a Lei nº 2.794/2003, de 06 de Maio, do Estado do Amazonas; a Lei nº
13.800/2001, de 18 de Janeiro, do Estado de Goiás; a Lei nº 14.184/2002, de 31 de Janeiro, do
Estado de Minas Gerais; a Lei nº 7.692/2002, de 1 de Julho, do Estado de Mato Grosso e a Lei nº
5.427/2009, de 1 de Abril, do Estado do Rio de Janeiro, as quais representam significativo avanço
no propósito de tutelar o direito dos particulares e de promover a boa gestão da coisa pública.
Apesar da Constituição Federal repelir a inércia da Administração Pública, impondo-lhe o
dever de manifestação, bem como as leis reguladoras do processo administrativo positivarem a
obrigação do Poder Público proferir decisão expressa, a questão envolvendo o silêncio
administrativo ainda apresenta problemas. Deveras, inexiste regra geral, pelo menos no plano
federal, atribuindo valor ao silêncio. A rigor, consagra o Direito Brasileiro algumas poucas
hipóteses em que são atribuídos efeitos positivos ou negativos à falta de pronunciamento estatal,
evitando ou atenuando a situação de vulnerabilidade do administrado frente a tais situações.
A insuficiência de trato legislativo parece também haver repercutido na doutrina
brasileira, sendo escassas as obras dedicadas ao estudo do silêncio administrativo. Já em 1939, no
artigo denominado a teoria do silêncio no direito administrativo, assinalou a ausência de obras,
no Brasil, tratando do estudo do silêncio administrativo. Mas, apesar do pouco interesse da
doutrina alguns autores se debruçaram sobre o tema, analisando os caracteres do silêncio
administrativo e apresentando sugestões para resolver imperativos de ordem prática, muito
contribuindo para o esclarecimento de questões descuidadas pela própria legislação.
Conforme assinalado antes, apesar das normas constitucionais repelirem a inércia da
Administração Pública e as leis reguladoras do processo administrativo positivarem a obrigação
de a Administração Pública proferir decisão expressa, não raro permanece o administrado sem
obter qualquer pronunciamento, advindo daí grave insegurança jurídica resultante do
desconhecimento dos efeitos que emanam do silêncio. Diante disso, persiste o problema,
37
carecendo no Direito Brasileiro de uma solução, para o fim de imputar ao silêncio administrativo
determinado efeito, seja positivo ou negativo.
Cabe destacar que, para ser atribuído efeito positivo ou negativo ao silêncio da
Administração Pública é necessário existir lei específica, de maneira que toda a
consequencialidade da ausência de manifestação deve, assim, estar esculpida na lei, para que do
silêncio se extraiam efeitos substantivos. Isto em razão dos princípios que norteiam a
Administração Pública, especialmente o princípio da legalidade, os quais estabelecem os
parâmetros de actuação do agente estatal e reclamam sua rigorosa observância, sob pena de
desvirtuamento da gestão da coisa pública.
Embora escassas é possível identificar no ordenamento jurídico brasileiro situações
específicas nas quais estão previstas consequências substanciais para a ausência de pronúncia.
São, portanto, consequências substanciais do silêncio, previstas expressamente no ordenamento
jurídico, quando a lei suprirá o vazio, substituindo a impronúncia da Administração Pública pelo
efeito jurídico por ela atribuído a esse silêncio.
O impasse surge quando ausente tratamento legislativo sobre a questão, vale dizer,
quando não é conferido ao silêncio um significado equivalente ao assentimento ou à recusa.
Diante disso, procurou sistematizar a doutrina, sem divergências de maior amplitude, possíveis
soluções. De outro lado, quando a lei nada dispõe a respeito, cumpre discernir para a solução do
impasse, as situações em que o acto administrativo é praticado no exercício da competência
discricionária ou vinculada.50
Assim, quando se tratar de acto vinculado, caso decorrido o prazo legal previsto para a
manifestação administrativa, ou não havendo prazo estipulado e já transcorrido tempo razoável o
administrado poderá demandar judicialmente para que seja suprida a ausência de manifestação
administrativa e determinada a concessão do postulado, caso o administrado efectivamente tenha
direito ao que pediu. É assim que a lei reguladora do processo administrativo no âmbito Federal,
Lei nº 9.784/1999, de 29 de Janeiro, não estipulou qualquer consequência substancial para o
silêncio, limitando-se a dispor em seus artigos 48 e 49 que a Administração Pública tem o dever
nesse diapasão.
50
MELLO, Celso António Bandeira de, Curso de direito administrativo, 17ª ed. São Paulo, Malheiros, 2011,
disponível em: www.tre-rs.gov.br/arquivos/SANTOS_Felipe_Estrela_rpge69.pdf acesso as17H05minutos do dia 19
de Maio de 2017.
38
É imperativo concluir que, apesar da escassa regulamentação, o Direito positivo brasileiro
rejeita o silêncio administrativo, conforme deduzem os dispositivos constitucionais relacionados
ao tema, porquanto representa prática abusiva que apesar dos esforços, o problema persiste diante
da ausência de lei que discipline a generalidade dos casos, imputando ao silêncio administrativo
determinado efeito, positivo ou negativo.
Administração Pública, especialmente sob o pretexto do exercício da competência
discricionária, permaneça silente quando incitada para que se manifeste, colocando em situação
de vulnerabilidade o direito do administrado e, por conseguinte, gerando insegurança jurídica.
Conforme já consignado, os efeitos eventualmente emanados da ausência de manifestação
devem resultar da lei, para que do silêncio se extraiam efeitos. No entanto, ausente texto legal
atribuindo ao silêncio da Administração Pública certo efeito jurídico, inaceitável fique o
particular à mercê da omissão legislativa e principalmente à espera da iniciativa estatal, por
tempo indeterminado, para obter manifestação sobre aquilo que postulou. Em tais casos, não resta
alternativa senão recorrer ao poder judiciário para que apreciado o caso concreto, reste superado
o impasse provocado pela impronúncia.
Para o efeito, sugere-se uma desejável regulamentação do assunto pelo direito positivo,
codificando-se o processo administrativo, a fim de que a demora ou excesso de prazo nas
decisões administrativas possam receber tratamento uniforme.51
51
MENDES, Gilmar Ferreira, Os Direitos Fundamentais e Seus Múltiplos Significados na Ordem
Constitucional, Salvador Revista Diálogo Jurídico, nº 10, Porto Alegre, 2002, Disponível em:
<http://www.direitopublico.com.br>. Acesso no dia12 de Abril de 2017.
39
a defesa dos seus direitos, da constituição, das leis ou do interesse geral e de serem informados
em prazo razoável sobre o resultado da respectiva apreciação. A Constituição faz menção àqueles
aspectos que implicam a defesa dos direitos de particulares e de conhecerem os resultados das
apreciações definitivas.
Portanto, o silêncio para o Direito Administrativo Angolano, consiste na violação ao
dever de decidir que se impõe à Administração Pública como princípio, conforme estabelece o
nº 1 do artigo 9º do Decreto-Lei nº 16-A/95, de 15 de Dezembro. Todavia, o conteúdo do dever
de decidir é fundamentalmente, o de obrigar a Administração a pronunciar-se sobre todos os
assuntos que lhes sejam apresentados pelos particulares, retirando-lhe portando nesse caso a
discricionariedade de optar entre decidir e não decidir. Significa que, havendo dever de decisão,
a eventual discricionariedade administrativa de acção não abrange a possibilidade de omitir a
decisão. Neste sentido, a Administração Pública Angolana é obrigada a decidir, a eventual
discricionariedade de acção reduz-se ao conteúdo da decisão, que poderá ser favorável ou não à
pretensão apresentada pelo particular ou seja, é uma liberdade de agir no sentido pretendido pelo
particular ou o sentido contrário pretendido pelo particular.52 A discricionariedade da
Administração não pode assegurar ao poder público a prerrogativa de não se manifestar, ficando
inerte ou silenciado sobre qualquer petição, solicitação ou requerimento. Tendo em conta que a
norma estabelece o dever de decidir, a Administração Pública Angolana não pode porém,
invocar a discricionariedade para não decidir, deixando de manifestar-se, seja para realizar
direitos, obrigações e deveres ou para apreciar petição, solicitação ou reclamação. Essa
inobservância caracterizará má administração, conceito vinculado às acções e omissões do
Estado, no desempenho da função administrativa, que não atendam aos princípios
constitucionais e legais aplicados para a Administração Pública.
Na ordem jurídica Angolana em regra, o silêncio da Administração pública, lhe é
atribuído o valor jurídico de indeferimento tácito, estando todavia, em contradição com o
princípio de decisão que esta consagrado no artigo 9º do Decreto-Lei nº 16-A/95, de 15 de
Dezembro, que estabelece as normas do procedimento e da actividade administrativa. 53 A isto
pode-se entender que o legislador previu uma situação hipotética de anormalidade no
52
SOUSA, Marcelo Rebelo de & MATOS, André Salgado de, Direito Administrativo Geral, P. 115, Tomo III, 2ª
Edição, Publicações Dom Quixote, 2009. Dissertação Disponível emhttps://repositorio-
aberto.up.pt/bitstream/10216/102438/2/178741.pdfacesso no dia 27 de Maio de 2017,pelas 14 horas e 26min.
53
Cfr. O artigo 9º do Decreto-Lei nº 16-A/95, de 15 de Dezembro, REPÚBLICA DE ANGOLA.
40
funcionamento da Administração Pública por omissão do dever de decidir sobre todos os
assuntos que lhe sejam apresentados pelos particulares e que por sua vez entendeu atribuir uma
consequência legal de actos tácitos de sentido positivo ou de sentido negativo, conforme
determinação legal. Porém, não se trata de um direito, nem uma faculdade deferido à
Administração Pública de praticar ou não actos administrativos de forma expressa, que constitui
a regra da actuação da Administração Pública, tal como está consagrado no artigo 65º do
Decreto-Lei nº 16-A/95, de 15 de Dezembro, sem prejuízo do exercício do poder discricionário
quanto ao conteúdo do acto decisório a ser praticado pelo órgão administrativo competente.
54
SOUSA, Marcelo Rebelo de & MATOS, André Salgado de, Direito Administrativo Geral, P. 115, Tomo III, 2ª
Edição, publicações Dom Quixote, 2009. Dissertação Disponível emhttps://repositorio-
aberto.up.pt/bitstream/10216/102438/2/178741.pdfacesso no dia 27 de Maio de 2017,pelas 14 horas e 26min.
41
particular, conforme o que vem plasmado no artigo 34º, do Decreto-Lei nº 16-A/95, de 15 de
Dezembro, nos termos em que aos particulares é assistido o direito de ser informado pela
Administração, sobre o andamento dos procedimentos em que sejam directamente interessados,
bem como o direito de conhecer as resoluções definitivas que sobre eles forem tomadas. E as
informações a prestar podem incidir sobre a indicação do serviço onde o procedimento se
encontra, os actos e diligências praticadas, as eventuais deficiências a suprir pelos interessados,
as decisões adoptadas e quaisquer outros elementos solicitados a ser fornecidas no prazo de 10
dias.
A Constituição da República Angolana não consagra a possibilidade de condenação da
Administração Pública à prática do acto legalmente, como consequência da violação do dever de
decisão por parte do órgão competente da Administração, isto é, tendo sido apresentado
requerimento que constitua o órgão competente no dever de decidir, não tenha sido proferida
decisão dentro do prazo legalmente estabelecido, o que torna inconsistente as garantias jurídico-
administrativas e jurisdicionais do particular perante o silêncio da Administração, estabelecidas
nos artigo 6º, 7º e 8º, ambos da Lei nº 2/94, de 14 de Janeiro, Lei da Impugnação dos Actos
Administrativos, por se entender que, a violação do dever de decisão, constitui fundamento de
impugnação do acto administrativo que a ela emana acto tácito, por violação da lei, podendo ser
invalidado ou nulo, por um lado. Por outro, fazendo jus55 a tutela jurisdicional efectiva prevista
no artigo 29º da Constituição da República de Angola, o particular lesado pela violação do dever
de decisão por parte da Administração pode recorrer contenciosamente, por se tratar de defender
os seus direitos legalmente consagrados, direito de obter a decisão no prazo legal, sobre todos os
assuntos que apresenta aos órgãos administrativos competentes e o direito de ser informado no
prazo legalmente estabelecido, sobre as resoluções definitivas tomadas, as suas pretensões nos
termos da conjugação dos artigos 9º, 34º, 35º, 36º, 37º e 38º, ambos do Decreto-Lei nº 16-A/95,
de 15 de Dezembro.
O dever de comunicação dos actos administrativos é também uma expressão relevante dos
princípios constitucionais da imparcialidade, da boa fé e do direito fundamental de tutela
jurisdicional efectiva do particular conforme estabelece o artigo 29º da Constituição da República
Angolana. Só a ideia de que a comunicação do acto administrativo é um instrumento de defesa do
55
Jus significa merecimento, e vem do latim jus, que significa direito. O termo geralmente é usado acompanhado de
“fazer”, que significa que a pessoa deve fazer jus a algo ou alguma coisa. Por outra Fazer jus a algo é merecer, ter o
direito de usufruir de algo é muito usado nas ciências jurídicas para dizer que seja feita justiça
42
particular justifica por si só a existência do dever de comunicação do acto administrativo,
independentemente da existência de uma disposição expressa em tal sentido.
Diga-se que, os princípios constitucionais devem ser considerados como máxima
expressão do direito positivo, não impondo a necessária transposição em normas administrativas.
Por outro lado, não se vislumbra um princípio que legitime suficientemente a omissão da
Administração Pública de comunicar qualquer acto administrativo. Ou seja não se pode aduzir
qualquer razão para o incumprimento da operação de comunicar o acto administrativo. Não
subsistindo razões juridicamente válidas para sustentar a legitimidade da omissão da referida
operação pela Administração Pública de comunicar um acto praticado, poderá levantar-se a
suspeita da existência de uma vontade dolosa da Administração, no sentido de impedir ou
dificultar o acesso do particular ao acto e à respectiva tutela.56 Não obstante, na ordem jurídica
angolana o direito à informação é explicitamente enquadrado em sede do tratamento
constitucional da Administração Pública como um direito fundamental consagrado no artigo 200
da Constituição da República Angolana, referente aos Direitos e garantias dos administrados.
Conforme a posição de alguns autores que acima foram mencionados, os quais defendem
que o silêncio da Administração Pública configura um facto jurídico-administrativo e não um
acto propriamente dito, por não ser possível vislumbrar a manifestação volitiva do órgão
administrativo competente, sendo nesta somente descortinável a vontade normativa que atribui ao
silêncio da Administração o efeito de deferimento ou indeferimento tácito, importa aqui saber
quais serão as consequências em relação ao órgão administrativo competente que se omitiu do
cumprimento de dever jurídico de decidir, em relação ao particular que peticionou e não obteve
resposta de que tem o direito e os meios de reacção contra o silêncio da Administração.
A Constituição da República Angolana, consagra o direito de petição nos termos do artigo
73º a qual, pressupõe que o particular ou administrado tem o direito de o órgão administrativo
competente se pronuncie em relação as suas pretensões impregnadas na petição, a Administração
tem o dever de responder. Se for omissa, viola o direito e dever de decidir conforme o plasmado
nos artigos 73 º e 200 º, ambos da Constituição da República Angolana, bem como nos termos da
ANTUNES, Luís Filipe Colaço, A Ciência Jurídica Administrativa – Noções Fundamentais, PP. 413- 414,
56
57
REPÚBLICA DE ANGOLA, Constituição da República de Angola, (2010), Assembleia Constituinte, Angola.
58
CORREIA, J.M. Sérvulo, Noções de Direito Administrativo, PP. 417-418,Vol. I, Editora Danúbio, LDA, Lisboa,
1982.
44
sistema inglês, os quais possuem características que os diferenciam intrinsecamente e cuja análise
ajuda a entender a natureza e a evolução da doutrina do silêncio administrativo para este
ordenamento. O contencioso administrativo tal como refere a história, nasceu na França, em
Agosto de 1790, ainda durante o movimento revolucionário iniciado em 14 de Julho do ano
anterior, por intermédio de algumas leis como a Lei nº 16/1790, de 14 de Julho e a Lei nº
24/1790, de 14 de Julho, as quais estabeleciam a separação das funções administrativas e
judiciárias sendo certo que:
As funções judiciárias seriam distintas e permaneceriam sempre separadas das funções
administrativas;
Os juízes não poderiam, sob pena de crime funcional, perturbar seja de que maneira fosse
as operações dos corpos administrativos, nem citar perante a si os administradores em
razão de suas funções.
Os Tribunais comuns não podiam invadir as funções ou mandar citar para perante eles
comparecerem os administradores por actos funcionais.
Em razão disso, este sistema caracteriza-se essencialmente, pela:
a) Separação de poderes, o que quer dizer que a justiça e administração pública não são
exercidas pela mesma entidade;
b) Promoção do estado de direito;
c) Subordinação da administração pública ao direito administrativo e aos Tribunais
Administrativo;
d) Garantias jurídicas dos particulares ou seja concessão de um conjunto de garantias aos
particulares contra abusos da administração pública. Referir ainda que é possível no
sistema executivo, o particular dirigir-se aos Tribunais para solicitar a suspensão de
eficácia de uma decisão da administração publica desde que sejam verificados alguns
pressupostos de que a execução da decisão seja susceptível de causar prejuízo irreparável
ou de difícil reparação para o requerente ou para o interesse que com o recurso pretenda
cautelar.59
Essa separação é resultado de uma concepção de tripartição de poderes peculiar ao
momento revolucionário francês, durante o qual a preocupação em se conservar os valores da
nova classe dominante ocupava os que pensavam novos modelos institucionais. Por essa lógica,
59
MACIE, Albano, Lições de Direito Administrativo Moçambicano, P. 120 á 124, Vol. I, Escolar Editora, Maputo
Julho, 2012.
45
ao judiciário sempre associado ao conservadorismo da nobreza e frequentemente o contrário aos
princípios, não deveria ser dado avaliar a conduta dos administradores.
Essa mudança é parte do processo de amadurecimento institucional do Estado Francês e
das transformações do próprio direito administrativo, sendo responsável pela separação entre a
função administrativa propriamente dita e a função jurisdicional da Administração.
Nesse cenário institucional o querelante que buscava a justiça administrativa deveria levar
ao julgador, em termos gerais, o acto da autoridade subalterna que lhe teria ferido direito. Facto é
que, assim sendo, bastava que a Administração não respondesse ao requerente para que o
administrado se visse diante de uma situação de prejuízo inadmissível e sem possibilidades reais
de discussão da querela levada a autoridade pública. Daí a clarividente importância de se estudar
o silêncio da administração na França. Neste contexto, em 1864, a legislação francesa iniciou, o
tratamento do silêncio, com que a jurisdição administrativa já se defrontava há algum tempo,
através do Decreto nº 2/1864, do mês de Novembro, que determinou, que petições endereçadas a
ministros não respondidas pelo requerido em 4 meses seriam consideradas negadas. De igual
modo, algumas outras normas infralegais se sucederam, mas somente em 1900, com a edição da
Lei nº 17/1900 do mês de Julho, é que se passou a entender que qualquer pretensão deduzida em
face da Administração Pública francesa que não obtivesse resposta em 120 dias estariam
implicitamente rejeitadas60.
60
MELLO, Celso António Bandeira de, Curso de direito administrativo, São Paulo, Malheiros: 2011, disponível
em: www.tre-rs.gov.br/arquivos/SANTOS_Felipe/Estrela_rpge69.pdf acesso as17H05minutos do dia 19 de Maio de
2017.
46
CAPÍTULO - III
47
destinam de acordo com o disposto no artigo 121 da Leinº14/2011, de 10 de Agosto. Tendo em
conta que, todos os cidadãos têm direito de receber dos Órgãos Públicos informações de seu
interesse particular, colectivo e geral prestadas no prazo da lei, nos termos do nº1 do artigo 253
da Constituição da República de Moçambique. De igual modo, este dever resulta do princípio
constitucional consagrador de direitos fundamentais, como o direito do recebimento de
informações dos órgãos públicos. É ainda dever do Estado garantir o direito de acesso à
informação, que deve ser franqueada, mediante procedimentos objectivos e ágeis, de forma
transparente, clara e em linguagem de fácil compreensão que não podem ser limitados, conforme
o nº 2 do artigo 48 da Constituição da República de Moçambique.
Por outro lado, o princípio da decisão presente no artigo 10 do Decreto 30/2001, de 15 de
Outubro, impõe aos órgãos da Administração Pública Moçambicana a decidirem sobre todos os
assuntos que lhe sejam apresentados pelos particulares, bem como decidirem sobre todos os
assuntos da sua competência que lhe sejam apresentados pelos administrados e ainda os relativos
a quaisquer petições representações, queixas, reclamações ou recursos apresentados em defesa da
legalidade ou do interesse geral. Esta consagração do dever de agir, por parte da Administração
Pública moçambicana, conflitua com a regra geral de se considerar que a falta de decisão
constitui o indeferimento tácito porque na verdade, havendo o dever de decidir lógica e
sistematicamente o legislador só teria que estabelecer o deferimento tácito como regra geral, e a
excepção seria o indeferimento tácito porque ao lado de agir esta o dever de fundamentar os actos
da administração.61
Pode se ver ainda que, do ponto de vista de procedimento administrativo, o artigo 67 da
Lei nº 14/2011, de 10 de Agosto, Lei de Procedimento Administrativo, existe também uma
tipificação relativa ao direito dos interessados terem o acesso a informação, uma vez que
consagra que,os administrados lhes assistem o direito de serem informados pela Administração
Pública, sempre que o requeiram, sobre o andamento dos procedimentos em que sejam
directamente interessados, bem como o direito de conhecer as resoluções definitivas que forem
tomadas. Não obstante, estas informações abrangem igualmente, a devida indicação do serviço
onde o processo se encontra, os actos e diligências praticados, as deficiências a suprir pelos
interessados, as decisões adoptadas e quaisquer outros elementos solicitados para uma devida
providência.
61
MACIE, Albano, Lições de Direito Administrativo Moçambicano, P. 169, Vol. I, Escolar Editora, Maputo
Julho, 2012.
48
Face a importância do direito de acesso a informação, não é ético que a Administração
Pública moçambicana permaneça silente diante da provocação do particular. Desse modo, é
necessário que a vontade estatal seja manifestada e concretizada para permitir ao administrado a
tutela do seu direito ou interesse na via administrativa. Nessas condições, a administração é
chamada a se manifestar e deixa de decidir, negando ao administrado o direito de resposta,
omitindo-se de praticar o acto que dela se espera violando.
Salientar que o silêncio da administração é naquelas situações em que, diante de uma
preocupação do administrado que gera o dever de se manifestar e decidir, a Administração se
silencia o que não devia, uma vez que o legislador já previu através de normas que impõem a
administração a obrigatoriedade de se manifestar diante de situações dos administrados.
Referir ainda que, o administrado lhe assiste o direito de petição, que é um direito que
representa um acto de manifestar contra alguma situação ou condição necessária, porque esta
dispõe que todos os cidadãos têm o direito de apresentar petições, queixas e reclamações perante
a autoridade competente para exigir o restabelecimento dos seus direitos violados ou em defesa
do interesse geral que considerar violado, a ser feita nos termos do artigo 79 da Constituição da
República de Moçambique. Neste contexto, entende-se que o direito de petição faz parte do
direito de acesso à justiça como um direito geral para a protecção jurídica, compreendido como
um conjunto de direitos relacionados aos instrumentos, às formas de defesa e concretização de
todos os outros direitos.62
O direito de petição tem como objecto e a finalidade de defesa de direitos e o combate à
ilegalidade e os abusos de poder, porque o indivíduo provoca a autoridade e inclui em sua agenda
o tema da petição, exigindo resposta positiva ou negativa, a qual pode ser exercida de forma
individual ou colectiva, para proteger o direito próprio ou de terceiro inclusive direitos colectivos.
O dever da Administração se manifestar quando provocada por um administrado, pode ser
extraído preliminarmente do direito fundamental de petição que se encontra consagrado na
Constituição da República. Considerando que os direitos fundamentais especialmente aqueles que
dão forma ao direito de acesso à justiça constituem elementos estruturantes do Estado de direito e
democrático, o dever de manifestação ou de resposta, diante da provocação do administrado, é
uma obrigação imposta à Administração pela própria estrutura do Estado de Direito e
Democrático. Em termos de prazos a administração tem para decidir dos assuntos que são
62
CANOTILHO, J. J. Gomes &MOREIRA Vital, Constitucional, República Portuguesa anotada, P. 409.Vol. I. 4ª
ed. Coimbra Editora, 2007.
49
remetidos, um prazo de 25 dias conforme o nº 1 e 5 ambos do artigo 58 do Decreto nº 30/2001,
de 15 de Outubro, salvo nos casos de realização de diligências de natureza externa para a pratica
do acto devendo neste caso informar o particular interessado nos termos dos números 1 e 3do
Decreto 30/2001, de 15 de Outubro,
Ainda no mesmo âmbito resume-se que, com o princípio da legalidade, a Administração
Pública só pode fazer o que a lei permite visto que num estado de direito a administração pública
esta adstrita ao princípio da legalidade que não se limita apenas a obediência as leis em sentido
formal mas também ao que inclui, como os princípios do direito em geral. Este princípio é
tomado como princípio da juridicidade da actividade administrativa63 Para o efeito, o Estado
através do administrador, deve agir em conformidade com todo o conjunto posto no ordenamento
jurídico ao qual ele se submete pelo que, a conduta do poder público, tem que ser precedida de
uma regra legal que minuciosamente tenha descrito os aspectos do comportamento
administrativo. E esta submissão à lei confere moldes específicos à actuação do Estado, inclusive
em relação à forma como ela deve se dar. Todavia, Administração age e se manifesta, de forma
principal por meio de actos administrativos, espécie de acto jurídico, que produz efeitos jurídicos
nas relações administrativas com observância da legalidade64.
Diante do que acima foi exposto, considerando que a observância da legalidade é um dos
alicerces do Estado de Direito e Democrático, que a actividade administrativa deve se dar de
forma principal por meio de um acto administrativo respondendo as provocações do
administrado, que a inércia da Administração quando demandada não pode ser justificada em
razão do princípio da legalidade e não pode ser ainda admitida em um Estado qualificado como
de Direito Democrático. A partir do momento em que Administração é provocada pelo
administrado, cria-se para a Administração um dever de responder à demanda e para o indivíduo
provocador o direito de obter a resposta, esta resposta que deve vir de forma principal por um
acto administrativo devidamente justificado, que permita inclusive o controle da actuação do
Estado.65 E esta visão encontra o seu amparo legal no nº 1 do artigo 253, da Constituição da
República de Moçambique por ter estatuído que, os cidadãos têm o direito de serem informados
63
MACIE, Albano, Lições de Direito Administrativo Moçambicano, P. 143, Vol. I, Escolar Editora, Maputo,
Julho, 2012.
64
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella, Direito administrativo, P.65, 25ª ed. São Paulo, Atlas, 2012.DI PIETRO,
Maria Sylvia Zanella, Direito administrativo, P.65, 25ª ed. São Paulo, Atlas, 2012.
65
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella Direito administrativo, P. 209, 25ª ed. São Paulo, Atlas, 2012.
50
pelos serviços competentes da Administração Pública sempre que requeiram sobre o andamento
dos processos em que estejam directamente interessados nos termos da Lei.66
No que se refere a questão da fundamentação dos actos administrativos esta faz parte da
enunciação explícita das razões que levaram o seu autor a praticar o acto ou dotá-lo de certo
conteúdo, no qual a mesma deverá preencher certos requisitos como:
Tem de ser expressa;
Tem de consistir na exposição, ainda que suscinta, dos fundamentos de facto e de
direito da decisão;
Tem de ser clara, coerente e completa, isto é, será ilegal se for obscura, contraditória
ou insuficiente. Nestes termos, não basta mencionar os factos relevantes há que referir
também o quadro jurídico que habilita a Administração Pública a decidir e a isto,
trata-se de um princípio da legalidade como fundamento da acção administrativa. E o
nível do Direito Administrativo moçambicano dispõe no nº 2 do artigo 253 da
Constituição da República de Moçambique que todos e quaisquer actos
administrativos, devem ser notificados aos interessados nos termos e nos prazos da lei
e são fundamentados quando afectam direitos ou interesses dos cidadãos legalmente
tutelados. Para evitar que sejam violados direitos fundamentais do administrado por
parte da administração.
A fundamentação dos actos administrativos é ainda imposta a Administração Pública pela
Constituição da República no sentido de que os actos administrativos, devem ser fundamentados
quando afectem direitos ou interesses dos cidadãos legalmente tutelados. Esta consagração é
também acolhida ao nível da regulamentação pelo Decreto 30/2001, de 15 de Outubro, através do
artigo 12, que segundo a qual, prevê que administração pública deve fundamentar os seus actos
administrativos que implique designadamente o indeferimento do pedido, revogação, alteração ou
suspensão de outros actos administrativos anteriores. A lei impõe administração a necessidade de
motivar as suas decisões particularmente as que possam prejudicar os direitos subjectivos e
interesses legítimos dos particulares. Isto é, Administração Pública deve informar, o que impõe a
notificação das decisões ou publicação, dependendo da forma aplicável ao acto, explicando as
razões de facto que lavou a administração a rejeitar o pedido do administrado, sobretudo quando
prejudicam situações anteriores ou agravam. Ainda no mesmo âmbito a fundamentação em cada
66
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Constituição da República de Moçambique (2004), in Boletim da República I
Serie, nº 51, de 22 de Dezembro.
51
actuação concreta, em particular que possa lesar ou prejudicar direitos ou interesses alheios, a
indicação das razões de facto e de direito que terão levado a administração a decidir desta e
daquela maneira. Assim, o dever de fundamentar constitui uma formalidade essencial em
obediência ao princípio geral do direito que assim considera todas as formalidades prescritas por
lei que a sua não observância gera ilegalidade do acto administrativo por vício de forma.67 Em
suma, a fundamentação acto administrativo, não deve ser deixada ao particular a descoberta das
razões da decisão administrativa, os motivos não podem ser obscuros ou de difícil compreensão,
nem padecer de vícios e deve ser adequada a importância de circunstâncias da decisão.
Neste contexto, o cumprimento do disposto na Constituição da República de
Moçambique, considero ser de carácter obrigatório, dada a supremacia das normas
constitucionais. Tendo em conta que, o acto administrativo para ser bem recebido pelos cidadãos,
deve patentear sua legalidade, sua identidade com a lei e fundamentar é enunciar expressamente
as razões de facto e de direito que autorizam ou determinam a prática de um acto jurídico. Trata-
se de um mecanismo de controlo sobre a legalidade e legitimidade das decisões da Administração
Pública e o indeferimento tácito da pretensão dos administrados como regra geral, não se reveste
dessa identidade.
Para além do Decreto 30/2001, de 15 de Outubro, em concretização do imperativo
constitucional que acima foi exposto, o dever de fundamentação faz parte do princípio da
fundamentação dos actos administrativo, como princípio basilar do direito administrativo
moçambicano, presente no artigo 14 da Lei nº 14/2011, de 10 de Agosto, Lei de Procedimento
Administrativo, a qual consagra igualmente que a administração Pública tem o dever de
fundamentar os seus actos administrativos que impliquem, o indeferimento do pedido, revogação,
alteração, ou a suspensão de actos administrativos anteriores. E este dever vem plasmado no nº 1
do artigo 121da Lei nº 14/2011, de 10 de Agosto, a qual impõem a administração a
obrigatoriedade de fundamentar todos os actos negativos, por ter disposto claramente que
independentemente dos casos em que a lei particularmente determine, devem ser fundamentados
todos os actos administrativos que total ou particularmente:
a) Neguem, extingam, restrinjam, ou afectem por qualquer modo, direitos ou interesses
legalmente protegidos, ou imponham ou agravem, deveres, encargos ou sanções;
b) Decidam reclamação ou recurso;
67
MACIE, Albano, Lições de Direito Administrativo Moçambicano, P. 156 á 158, Vol. I, Escolar Editora, Maputo,
Julho, 2012.
52
c) Decidam em contrário da pretensão ou oposição formulada por interessado;
d) Decidam em sentido inverso do parecer, informação ou proposta oficial;
e) Decidam diferentemente da prática habitual seguida na resolução de casos semelhantes,
ou na interpretação e aplicação dos mesmos princípios ou preceitos legais;
f) Implique a revogação, a modificação ou a suspensão de um acto administrativo anterior.
Quanto ao pressuposto da fundamentação dos actos, não é suficiente que Administração
Pública indefira tacitamente as pretensões dos administrados, mas a mesma deve ser expressa,
através de sucinta exposição dos fundamentos de facto e de direito da decisão ou seja deve ser
esclarecido ao administrado as razões que levaram a administração a rejeitar o pedido, podendo
consistir em mera declaração de concordância com a lei conforme o disposto no nº 1 do artigo
122 da Lei nº 14/2011, de 10 de Agosto, Lei de Procedimento Administrativo. Não havendo o
esclarecimento, será equiparada a falta de fundamentação, o que de algum modo poderá gerar
nulidade do acto nos termos do nº 1 do artigo 122, conjugado com a alínea b) do artigo 121 e o nº
1 do artigo 129, ambos da Lei nº 14/2011, de 10 de Agosto, Lei de Procedimento Administrativo.
Tendo em conta que, a boa prática administrativa recomenda a motivação de todos os actos
administrativos, uma vez que a declaração escrita dos motivos que levaram à edição do acto
possibilita um controle mais eficiente da actuação administrativa por toda a sociedade e pela
própria administração, concretizando o princípio da transparência e sendo consentânea à
cidadania. Vale referir que, nos casos em que a motivação é obrigatória a sua ausência implica
vício do acto relativamente ao elemento forma.68A isto, faz com que este acto nasce afectado de
vício insanável por ausência ou defeito substancial em seus elementos constitutivos ou no
procedimento formativo. O acto não produz qualquer efeito válido entre as partes pela evidente
razão de que não se pode adquirir direitos contra a lei.69
Neste contexto, nos termos do artigo 129 da Lei nº 14/2011, de 10 de Agosto, Lei de
Procedimento Administrativo poderão ser nulos os actos administrativos que não cumprem os
ditames definidos pelas normas administrativas ao prever de forma evidente que, são nulos os
actos a que falte qualquer dos elementos essenciais ou para os quais a lei imponha essa forma de
invalidade, referindo-se nesse caso que podem se constituir, fundamentalmente como actos nulos
os que careçam de fundamentação nos termos do nº 1 do artigo 121 da Lei nº 14/2011, de 10 de
68
ALEXANDRE, Marcelo &PAULO, Vicente, Direito Administrativo Descomplicado, PP. 473-474, 20ª edição,
editora Método, 2012.
69
MEIRELLES, Hely Lopes, Direito administrativo brasileiro, P. 154, 23ª ed. São Paulo, Malheiros, 1990.
53
Agosto, Lei de Procedimento Administrativo, por dispor que, independentemente dos casos em
que a lei particularmente determine, devem ser fundamentados os actos administrativos que total
ou particularmente:
a) Neguem, extingam, restrinjam, ou afectem por qualquer modo, direitos ou interesses
legalmente protegidos, imponham ou agravem, deveres, encargos ou sanções;
b) Decidam declaração ou recurso;
c) Decidam em contrário da pretensão ou oposição formulada por interessado;
d) Decidam em sentido inverso do parecer, informação ou proposta oficial;
e) Decidam diferentemente da prática habitual seguida na resolução de casos
semelhantes, ou na interpretação e aplicação dos mesmos princípios ou preceitos
legais;
f) Implique a revogação, a modificação ou a suspensão de um acto administrativo
anterior.
Neste sentido, o indeferimento tácito da pretensão do administrado previsto no artigo 108
da Lei nº 14/2011, de 10 de Agosto, Lei de Procedimento Administrativo, não produz os efeitos
jurídicos almejados porque falta o elemento fundamentação, bem como o torna divergente das
outras normas impostas para o funcionamento da Administração, nos termos da conjugação dos
artigos 253 da Constituição da República de Moçambique, artigos 14, 121 e 129 da
Leinº14/2011, de 10 de Agosto, Lei de Procedimento Administrativo. Pelo que, poderá ser tido
como ilegal porque viola a lei e está inquinado de vício, tendo em conta que vícios do acto
administrativo são toda a violação das normas que regem a actividade administrativa e é
normalmente grave resultante de uma anormal má-fé ou intenção dolosa da Administração. No
entanto, o indeferimento tácito da pretensão do administrado previsto neste artigo 108 da Lei nº
14/2011, de 10 de Agosto, Lei de Procedimento Administrativo esta inquinado de um vício de
forma e de violação de lei, tendo em conta que o legislador já definiu as formalidades essenciais
que deve patentear um acto administrativo quando neguem, extingam, restrinjam, ou afectem por
qualquer modo, direitos e interesses legalmente protegidos, imponham ou agravem, dever,
encargos ou sanções para o administrado ou ainda quando decidam em contrário da pretensão ou
oposição formulada pelo interessado, conforme o disposto nas alíneas c) e d) do artigo 34,
conjugado com o artigo 35 ambos da Lei nº 7/2014, de 28 de Fevereiro, Lei do Processo
Administrativo Contencioso.
54
Deste modo, se acontecer que o particular tem direito uma dada conduta da administração
e esta através do silêncio recusa reconhecer-lhe esse direito ou cumprir os deveres
correspondentes, o particular poderá impugnar contenciosamente o indeferimento tácito com
fundamento em violação de lei, nos termos do disposto na alínea d) do artigo 34 da Lei nº 7/2014,
de 28 de Fevereiro, Lei do Processo Administrativo Contencioso, invocando que Administração
Pública devia fundamentar os actos negativos como forma desta cumprir o dever de
fundamentação presente no artigo 121 da Lei nº 14/2011, de 10 de Agosto, Lei de Procedimento
Administrativo, bem como do nº 2 da Constituição da República de Moçambique. E esta não
cumprindo, o acto de indeferimento tácito da Administração Pública, viola a lei com base nos
preceitos acima apresentados. Pois que, o princípio geral do Direito administrativo é de que todas
as formalidades prescritas por lei são essenciais e devem ser seguidas pela administração. A sua
não observância, quer por omissão quer por preterição 70, no todo ou em parte, gera a ilegalidade
do acto administrativo. Assim sendo, o administrado pode ter como fundamento da impugnação
contenciosa do indeferimento tácito o disposto na alínea c) do artigo 34 da Lei nº 7/2014, de 28
de Fevereiro, Lei do Processo Administrativo Contencioso, uma vez que o indeferimento tácito
da pretensão do administrado feito pela administração não cumpre todas as formalidades
prescritas por esta lei que são muito essenciais.
Por conseguinte, o acto ficará ainda inquinado do vício de forma por faltar o elemento
fundamentação, nos termos da alínea c) do artigo 34 da Lei nº 7/2014, de 28 de Fevereiro porque
esta norma define que, constitui como fundamento do recurso contencioso a ofensa, pelo acto
recorrido dos princípios ou normas jurídicas aplicáveis como:
O vício de forma, que engloba a falta de fundamentação, de facto ou de direito do acto
administrativo e falta de quaisquer elementos essenciais deste;
A violação de lei incluindo a falta de respeito pelos princípios da igualdade, da
proporcionalidade, da justiça e da imparcialidade, e ainda, o erro manifesto ou total falta
de razoabilidade no exercício dos poderes discricionário.
Exemplo: Pode acontecer o caso em que o particular não é titular de um direito subjectivo
face administração e admitindo que administração se refugia no silêncio e não responde ao
pedido do interessado no prazo legal. Nessas condições o interessado pode recorrer ao Tribunal
alegando sempre o vício de forma por falta de fundamentação com fundamentos que acima foram
70
Preterição significa omitir, deixar de lado sem motivo legal, ou ainda ignorar, é acção ou resultado de desprezar,
esquecimento ou omissão.
55
apresentados, tendo em conta que os actos que decidam em contrário de pretensão ou oposição
formulada por interessado têm de ser obrigatoriamente fundamentados. Assim, o indeferimento
tácito seria sempre por natureza um acto viciado de falta de fundamentação. Concordantes a isto,
os vícios que afectam o indeferimento tácito são o da violação de lei, por contradição com a lei
expressa ou por ofensa de um princípio geral de direito administrativo, o vício de forma por
inobservância de uma formalidade essencial.71
Neste sentido, o interessado poderá recorrer contenciosamente para o Tribunal declarar a
nulidade desta falta de manifestação da administração diante da pretensão do administrado nos
ternos do artigo 32 da Lei nº 7/2014, de 28 de Fevereiro, Lei do Processo Administrativo
Contencioso tendo em conta que os recursos contenciosos são de mera legalidade, e tem por
objecto a declaração de anulabilidade, nulidade e inexistência jurídica dos actos recorridos,
exceptuando qualquer disposição em contrário.
Salientar ainda que o silêncio por si só, por não representar qualquer manifestação,
pronunciamento ou declaração, não tem qualquer significado no âmbito do direito administrativo.
No entanto, pode a lei determinar que essa inércia da administração tenha efeitos positivos ou
negativos. Isso significa que, se a norma estipular que, decorrido um prazo determinado, o
silêncio implica denegação do pedido apresentado pelo postulante, essa será a solução da
demanda que fica dependente da hipótese apontada pela lei.
A doutrina refere que, se tratando de acto com conteúdo discricionário, o administrado faz
jus a uma decisão motivada, razão pela qual o juiz deverá determinar à Administração que se
pronuncie, caso o objecto do pedido referir a acto com conteúdo vinculado, poderá o juiz suprir a
omissão administrativa72.
Por outro lado, o órgão jurisdicional não pode se substituir ao órgão administrativo em
qualquer hipótese, mas apenas obrigar administração a emitir a decisão, assumindo o
administrador com as consequências de eventual descumprimento.
Este entendimento, ao permitir que o Poder Judiciário se substitua na prática da actividade
administrativa é infringir o princípio da separação de poderes, em sua moderna concepção de
princípio, garantia das competências expressamente previstas na Constituição da República.
71
AMARAL, Diogo Freitas, Curso de Direito Administrativo, PP. 368-369, 2ª Edição, Almedina editora, Portugal,
2012.
72
MELLO, Celso António Bandeira de, Curso de direito administrativo, São Paulo, Malheiros: 2011, disponível
em: www.tre-rs.gov.br/arquivos/SANTOS_Felipe/Estrela_rpge69.pdf acesso as 17H05 minutos do dia 19 de Maio de
2017..
56
Assim, atribuir ao Poder Judiciário a decisão sobre um pleito administrativo sobre o qual a
Administração não se pronunciou equivale a esvaziar a função administrativa em uma confusão
não salutar de actividades típicas. Entende-se que melhor seja seguido o princípio da separação
dos poderes a decisão judicial que condena o administrador omisso ao cumprimento da obrigação
de fazer decidir, ou seja praticar o acto administrativo usando, claro, os meios coercitivos
cabíveis para garantia do cumprimento. Este entendimento é que se encontra presente no artigo
32 da Lei nº 7/2014, de 28 de Fevereiro, Lei do Processo Administrativo Contencioso que apenas
o Tribunal deve obrigar a administração a se manifestar diante da provocação dos administrados.
57
Conclusão
O tema em análise teve como objectivo principal de avaliar os vícios que afectam o
indeferimento tácito da pretensão dos administrados. Salientar que a pesquisa permitiu
compreender que um dos problemas do silêncio administrativo é a falta de comunicação entre o
administrador e o administrado. Assim, o estudo dos vícios que derivam do indeferimento tácito
revelou ser de grande importância na medida em que é uma das formas de não se deixar o
administrado sujeito a inércia do Estado em decidir sobre a sua situação como acima se verificou.
Porém, o silêncio da Administração não constitui um acto administrativo mas sim um simples
facto por não ser constituído com os elementos ou requisitos necessários para a produção de
efeitos jurídicos válidos de qualquer acto administrativo. Especialmente a forma, tendo em conta
que o silêncio não possui forma nenhuma e a consequente impossibilidade de identificação de sua
motivação, o que de alguma forma poderá impedir a fiscalização da legalidade e da legitimidade
da decisão que produz efeitos na esfera jurídica do administrado. De referir que, quando a
administração se mantém em silêncio que culmina com a negação da pretensão do administrado,
falha como instituição executiva, já que não promove os serviços de acordo como ordena as
demais normas que garantem o exercício da função administrativa.
Diante destas situações, o administrado pode se socorrer da tutela jurisdicional para
minimizar os danos do silêncio, bem como da ausência de resposta no prazo legal no sentido de
se condenar a administração à prática do acto devido, utilizando os meios coercitivos. É
importante ressaltar que, tanto a atribuição legal de efeitos ao silêncio quanto o reconhecimento
do interesse de agir do administrado em buscar a tutela jurisdicional em casos de omissão, visam
diminuir os efeitos danosos causados ao particular pela inércia administrativa, tendo em conta
que a administração actua para atingir o interesse público.
Concordante a isto, o indeferimento tácito da pretensão dos administrados constitui uma
inércia diante de solicitações dos administrados, o qual fere completamente o direito do
administrado ter uma resposta ou manifestação da administração, bem como aos princípios da
decisão dos actos administrativos, com os prazos devidamente respeitados, no cumprimento das
regras impostas a administração pelo Decreto 30/2001, de 15 de Outubro e o princípio da
fundamentação. O que de algum modo, não deve ser admitido no ordenamento jurídico
moçambicano como Estado de Direito e Democrático porque se considera uma autêntica violação
e grave de princípios e normas de convivência deste estado.
58
No que diz respeito a abordagem do tema, no primeiro capítulo, verificou – se que são
poucos autores que se dedicam ao estudo do silêncio da administração e a consequente
insuficiência de obras que versam sobre esta matéria, no sentido de trazer soluções ao nível da
doutrina, o que de algum modo, contribui para que não hajam normas rígidas que impõem a
administração a cumprir o dever de resposta face ao administrado, porque ainda não existem
muitos estudos a respeito dessa matéria.
No direito comprado, a análise que se faz é de que não há uma evolução profunda no
tratamento do silêncio da administração ao nível dos ordenamentos jurídicos citados, tendo em
conta a ausência de estudos sobre este assunto, no qual se pode ver que, para o Brasil o direito de
resposta está previsto apenas na Constituição Federativa como direito fundamental que não deve
ser violado. A Constituição da República de Angola consagra igualmente, o dever de decisão da
administração como garantia do administrado ter o acesso a resposta da sua pretensão. Nesta
ordem de ideia, se vem que apenas o direito Administrativo de Portugal traz uma experiência que
da para ser seguida porque atribui o silêncio o valor jurídico de deferimento da pretensão do
particular o que pelomenos favorece o interesse do administrado.
E em relação ao ordenamento jurídico moçambicano, existe legislação específica que
impõe a Administração Pública a cumprir o dever de decisão, bem como o de resposta face ao
administrado, e o que se verifica é apenas a divergência ou falta de harmonia dessas normas que
versam sobre esta matéria. Tendo em conta que, Constituição da República e a Lei do processo
Administrativo, prevê que o administrado tem o direito de resposta da sua pretensão a ser
prestada no prazo da lei, que na falta do cumprimento o administrado pode recorrer
contenciosamente ao tribunal para este obrigar administração a praticar o acto omitido ou a
cumprir o dever de resposta perante o administrado e a regulamentação feita pelo Decreto
30/2001, de 15 de Outubro, impõe igualmente a administração a obrigação de decidir sobre os
assuntos dos administrados que lhe são remetidos, estando em contradição com a regra geral do
acto tácito. Assim, constata-se que o problema ainda mantém, as normas que regulam a actuação
do processo administrativo relativos as solicitações dos administrados se divergem entre si. Uma
divergência que não tem razão de ser. Tendo em conta que Constituição da República é clara
quanto aos actos negativos e o administrado continua ser sujeito aos abusos do poder executivo,
porque ainda se assiste na Administração Pública a falta de cumprimento das normas inseridas
dentro de uma unidade do sistema do direito.
59
Recomendações:
60
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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Legislação Consultada
63
REPÚBLICA DE ANGOLA, Decreto-Lei nº 16-A/95, de 15 de Dezembro, define normas sobre
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64