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UNIVERSIDADE ABERTA ISCED

Coordenação do Curso de Direito

Cadeira: Justiça Constitucional

4º Ano-2023

TEMA:

OS EFEITOS DA DECLARAÇÃO DE INCOSTITUCIONALIDADE

O Tutor:

Discente:

VIRGÍNIA ARMANDO CUMBULA BENFICA

Maputo, Março de 2023


UNIVERSIDADE ABERTA ISCED

COORDENAÇÃO DO CURSO DE DIREITO

4º ANO

NOME DA ESTUDANTE:

VIRGÍNIA ARMANDO CUMBULA BENFICA

TRABALHO DE CAMPO

TITULO DO TRABALHO:

OS EFEITOS DA DECLARAÇÃO DE INCOSTITUCIONALIDADE

MAPUTO, MARÇO DE 2022


ÍNDICE

1.INTRODUÇÃO. .......................................................................................................................... 4

1.1.Objectivos ................................................................................................................................ 5

1.2. Metodologia ............................................................................................................................. 6

REFERÊNCIAL TEÓRICO ......................................................................................................... 7

1.3. CONSTITUIÇÃO .................................................................................................................. 7

1.3.1. Conselho Constitucional ....................................................................................................... 7

1.3.2. Composição........................................................................................................................... 8

1.3.3. Constitucionalidade e inconstitucionalidade ........................................................................ 8

1.3.4.Proteção da Constituição........................................................................................................ 9

1.4. FISCALIZAÇÃO DA CONSTITUCIONALIDADE ........................................................... 10

1.4.1. Efeitos da inconstitucionalidade (por caducidade ou por declaração expressa de


inconstitucionalidade) ................................................................................................................... 10

1.4.1.1. Fiscalização Preventiva.................................................................................................... 11

1.4.1.2.Fiscalização sucessiva....................................................................................................... 12

1.4.1.2.1. Fiscalização Abstrata Sucessiva .................................................................................. 12

1.4.1.2.2. Fiscalização Concreta Sucessiva.................................................................................. 13

1.4.1.2.2.1. O recurso obrigatório para o Juiz .............................................................................. 15

1.5.Conclusão................................................................................................................................ 17

1.6.Referências Bibliográficas ...................................................................................................... 18


1.INTRODUÇÃO

Nos países onde o controle de constitucionalidade das leis é exercido a posteriori, questões
concernentes à natureza e aos efeitos da decisão que declara a inconstitucionalidade são
incansavelmente debatidas na doutrina e na jurisprudência.

A constituição como norma suprema do ordenamento jurídico não tem valor enquanto não houver
entidades com poderes para fazer valer essa qualidade de norma suprema do ordenamento jurídico.
É justamente por esse facto que a própria constituição estabelece várias formas destinadas a
garantir que seja salvaguardada a sua supremacia, fixando bases que garantam o cumprimento das
suas normas, incluindo no processo de feitura das normas ordinárias que devem obediência à
Constituição. Juntamente com essas bases, também foram estabelecidas várias formas de
fiscalização da constitucionalidade para garantir que normas já aprovadas possam ser submetidas
ao crivo da constituição.

A doutrina distingue entre vícios formais e vícios materiais. São vícios formais aqueles que
incidem sobre o acto normativo em si, independentemente do seu conteúdo, mas atendendo apenas
ao processo seguido para a sua expressão externa. Está-se em presença destes quando os
procedimentos adoptados para a elaboração de um acto se chocam com a Constituição. São vícios
materiais aqueles que dizem respeito ao conteúdo do acto, quando este conteúdo é contrário à
chamada Lei-Mãe.

Há autores que defendem que em matéria constitucional, se pode distinguir entre a inexistência
relativamente aos actos para os quais faltem os requisitos considerados essenciais pela
Constituição, e nulidade ipso jure no que respeita aos actos que contradigam formal ou
substancialmente a Constituição, quando essa contradição não resulte da falta de um requisito
próprio da existência do acto. Sem entrar na discussão doutrinária profunda sobre a matéria, pode
dizer-se que a consequência necessária da inconstitucionalidade das leis é a nulidade absoluta, pois
é princípio fundamental na maioria das legislações, incluindo a moçambicana, a prevalência das
normas hierarquicamente superiores sobre as inferiores.

Assim sendo, o presente trabalho de campo, visa analisar os efeitos da declaração da


incostitucionalidade, com enfoque, na fiscalização preventiva, sucessiva concreta e/ou
fiscalização sucessiva abstracta da constitucionalidade

OS EFEITOS DA DECLARAÇÃO DE INCOSTITUCIONALIDADE 4


1.1.Objectivos

Geral

Analisar os efeitos da declaração da Incostitucionalidade.

Específicos

Conhecer a Constituição da República e sua garantia;


Analisar o funcionamento do Conselho Constitucional;
Descrever os procedimentos da Fiscaização Preventiva, Abstrata Sucessiva e Concreta
Sucessiva.

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1.2. Metodologia

O presente trabalho é meramente de revisão bibliográfica de informação obtida a partir de fontes


escritas, obtidas de livros virtuais (Legislação), Manuais , seguida de uma minuciosa compilação,
usando os meios informáticos disponíveis.

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REFERÊNCIAL TEÓRICO

1.3. CONSTITUIÇÃO
1
Uma constituição é o conjunto de normas jurídicas que ocupa o topo da hierarquia do direito de
um Estado, e que pode ou não ser codificado como um documento escrito.

Tipicamente, a constituição enumera e limita os poderes e funções do Estado, e assim formam, ou


seja, constituem a entidade que é esse Estado. No caso dos países (denominação coloquial do
Estado nacional soberano) e das regiões autônomas dos países, o termo refere-se especificamente
a uma constituição que define a política fundamental, princípios políticos e estabelece a estrutura,
procedimentos, poderes e direitos de um governo. Ao limitar o alcance do próprio governo, a
maioria das constituições garante certos direitos para as pessoas. O termo constituição pode ser
aplicado a qualquer sistema global de leis que definem o funcionamento de um governo, incluindo
várias constituições históricas não codificadas que existiam antes do desenvolvimento de
modernas constituições.

1.3.1. Conselho Constitucional

De acordo com a Constituição da Republica de Moçambique (CRM), o Conselho Constitucional


tem como competências, entre outras, apreciar e declarar, com força obrigatória geral, a
inconstitucionalidade das leis e a ilegalidade dos actos normativos dos órgãos do Estado, em
qualquer momento da sua vigência.

O Nº 2 do artigo 244 da CRM estabelece quem pode solicitar a declaração de inconstitucionalidade


das leis e ilegalidade dos actos normativos dos órgãos do Estado.

2. Podem solicitar ao Conselho Constitucional a declaração de inconstitucionalidade das leis ou


de ilegalidade dos actos normativos dos órgãos do Estado:

a) o Presidente da República;

b) o Presidente da Assembleia da República;

c) um terço, pelo menos, dos deputados da Assembleia da República;

d) o Primeiro-Ministro;

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e) o Procurador-Geral da República;

f) o Provedor de Justiça;

g) dois mil cidadãos

1.3.2. Composição

De acordo com ( do artigo 241 da CRM) :

1. O Conselho Constitucional é composto por sete juízes conselheiros, designados nos seguintes
termos:

a) um juiz conselheiro nomeado pelo Presidente da República que é o Presidente do Conselho


Constitucional;

b) cinco juízes conselheiros designados pela Assembleia da República segundo o critério da


representação proporcional;

c) um juiz conselheiro designado pelo Conselho Superior da Magistratura Judicial.

2. Os juízes conselheiros do Conselho Constitucional são designados para um mandato de cinco


anos, renovável e gozam de garantia de independência, inamovibilidade, imparcialidade e
irresponsabilidade.

3. os Juízes Conselheiros do Conselho Constitucional, à data da sua designação, devem ter idade
igual ou superior à trinta e cinco anos, ter pelomenos dez anos de experiência profissional na
magistatura ou em qualquer actividade forense ou de docência em Direito.

1.3.3. Constitucionalidade e inconstitucionalidade

Explica Jorge Miranda que constitucionalidade e inconstitucionalidade designam conceitos de


relação, isto é, “a relação que se estabelece entre uma coisa – a Constituição – e outra coisa – um
comportamento – que lhe está ou não conforme, que com ela é ou não compatível, que cabe ou
não no seu sentido”. (2001, p. 273-274.).

___________________________
1
https://pt.wikipedia.org/wiki/Constitui%C3%A7%C3%A3o

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No entanto, a idéia de conformidade ou inconformidade é incompleta. A constitucionalidade não
está ligada apenas a critérios materiais (entra ou não em conflito com artigos já positivados na
Constituição), mas também a critérios formais (determinada norma foi ou não editada por
autoridade competente e como a Constituição determina).

Ensina Celso Ribeiro Bastos que “o controle de constitucionalidade das leis consiste no exame da
adequação das mesmas à Constituição, tanto de um ponto de vista formal quanto material (…)”.
(1968, p. 51).

Alexandre de Moraes traça o mesmo entendimento sobre a questão, senão vejamos: “controlar a
constitucionalidade significa verificar a adequação (compatibilidade) de uma lei ou ato normativo
com a Constituição, verificando seus requisitos formais e materiais”. (2001, p. 559).

Não se configura suficiente uma sanção direta ao órgão ou agente que promulgou o ato
inconstitucional, porquanto tal providência não o retira do ordenamento jurídico, fazendo com que
o conceito de inconstitucionalidade converta-se em simples crítica.

1.3.3.4.Proteção da Constituição

Como a Constituição tem uma supremacia reconhecida de sua força vinculante frente ao Poder
Público, muito se discute sobre as formas e os modos de defesa do Texto Magno e sobre a
necessidade de controle de constitucionalidade das leis e atos normativos daquele.

O controle de constitucionalidade pode ser feito de várias maneiras, de modo que sua classificação
será determinada em relação ao modo ou à forma, quanto ao órgão de incidência e/ou quanto ao
momento do controle.

Quanto ao modo ou à forma de controle de constitucionalidade, pode ser ele incidental ou


principal. No controle incidental a inconstitucionalidade é argüida no contexto de um processo
principal, a questão da lide é decidida com base na constitucionalidade ou na inconstitucionalidade
de determinada aplicação legal. Já o controle principal permite que a questão seja suscitada
autonomamente, onde o objeto é a própria constitucionalidade da lei. (MENDES In: BRANCO;
COELHO; MENDES, 2010, p. 1159).

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Quanto ao órgão, o controle de constitucionalidade pode ser de três maneiras, quais sejam: político,
jurisdicional ou misto. O primeiro acontece quando o controle é feito por órgão político em
detrimento do segundo que é feito por órgão jurisdicional; e o terceiro acontece quando se tem a
possibilidade de ser feito tanto por órgão político quanto por órgão jurisdicional. (MENDES In:
BRANCO; COELHO; MENDES, 2010, p. 1159).

1.4. FISCALIZAÇÃO DA CONSTITUCIONALIDADE

Segundo Jorge Bacelar Gouveia, “a fiscalização da constitucionalidade é a adopção de


instrumentos funcionalmente aptos à verificação das situações de violação da Constituição,
levados a cabo no âmbito de competências específicas que apenas têm esse fito, é o sinal mais
forte da confirmação do objectivo de defesa da Ordem Constitucional, o que vem a acontecer com
a fiscalização da constitucionalidade”2.

Parafraseando Gomes Canotilho, o aperfeiçoamento da aplicação concreta e exteriorização


material do Direito Constitucional está muitas vezes dependente de uma boa actividade de
interpretação da Lei pelas instituições jurídicas – desde o próprio parlamento, cuja actividade
legislativa encontra limites na Constituição, até aos tribunais, cuja actividade de aplicação da lei
aos casos concretos também não deve ofender a Constituição – o que exige, em toda a extensão da
actuação dessas instituições, a necessidade de sempre tomar como base, na sua orientação e limite,
a Constituição da República, enquanto lei suprema do ordenamento jurídico3.

1.4.1. Efeitos da inconstitucionalidade (por caducidade ou por declaração expressa de


inconstitucionalidade)

Ao abrigo do artigo 70º da Lei n.º 2/2022, de 21 de Janeiro, Lei Orgânica do Conselho
Constitucional, a declaração de inconstitucionalidade ou de ilegalidade com força obrigatória geral
produz efeitos desde a entrada em vigor da norma declarada inconstitucional ou ilegal e determina
a repristinação das normas revogadas.

Nos casos em que a inconstitucionalidade ou ilegalidade é declarada por infracção a uma norma
constitucional ou legal posterior, a declaração de inconstitucionalidade só produz efeitos desde a
entrada em vigor da norma posterior que ditou a alteração que dá lugar à inconstitucionalidade ou
ilegalidade. É o que estabelece o n.º 2 do artigo 70º da Lei Orgânica do Conselho Constitucional.

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Nada mais cristalino e justo. É que se o que dá lugar à inconstitucionalidade ou ilegalidade é uma
norma que surgiu posteriormente àquela que é objecto de escrutínio, implica que antes da entrada
em vigor da norma que justifica a inconstitucionalidade ou ilegalidade, a norma ilegal era
incólume, por isso, não há espaço para que os efeitos da declaração de inconstitucionalidade ou de
ilegalidade da norma se retrotraiam a um período em que a norma que justifica a
inconstitucionalidade ou ilegalidade não existia. Neste caso, a nova norma é que torna caduca a
anterior por inconstitucionalidade ou ilegalidade com a entrada da nova, razão de os efeitos da
inconstitucionalidade ou ilegalidade apenas se retrotraírem até à entrada em vigor dessa norma.

É claro que para as situações em que a nova norma torna caduca a anterior, sempre devem ser
ressalvadas situações de leis especiais e leis temporárias, em relação às quais, nos termos do artigo
7º do Código Civil, não dão lugar à caducidade ou derrogação das leis anteriores sobre a mesma
matéria regulada. Mas nos casos de declaração de inconstitucionalidade ou ilegalidade de leis
especiais ou temporárias, os efeitos já serão fixados nos termos gerais do nº 1 do artigo 70º da Lei
Orgânica do Conselho Constitucional o que, no nosso entender, dá lugar à aplicação do regime
geral que era regulado pela norma especial.

1.4.1.1. Fiscalização Preventiva

4
O Presidente da República tem solicitado com frequência ao Conselho Constitucional a
verificação preventiva das leis aprovadas pela Assembleia da República e submetidas à
promulgação e, em muitos casos, a sua iniciativa é motivada por inquietações que lhe são
transmitidas por organizações da sociedade civil ou por outros órgãos do Estado, como o
Procurador-Geral da República, ou, ainda, pela falta de consenso, entre a maioria e a minoria,
sobre a constitucionalidade da lei, revelada no momento da sua discussão e aprovação na
Assembleia da República. Entre estas solicitações de verificação de inconstitucionalidade
aparecem leis aprovadas pelo Parlamento por iniciativa do Governo, que é chefiado pelo próprio
Presidente da República.

Quando o Conselho Constitucional declara a inconstitucionalidade de uma lei em processo de


controlo preventivo, o efeito da decisão é o veto obrigatório e devolução da lei à Assembleia da
República para reapreciação (artigo 245, n.º 5 da CRM). Nestes termos, podemos afirmar que, no
quadro da separação dos poderes, o Conselho Constitucional contribui para o funcionamento do

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mecanismo de interdependência ou dos checks and balances na relação entre o Poder Legislativo
e o Poder Executivo.

Além disso, considerando que o Presidente da República é, por um lado, o chefe do partido
maioritário no Parlamento, por outro, chefe do Governo, percebe-se que ele, ao solicitar a
verificação preventiva da constitucionalidade, assume-se como Chefe do Estado e garante da
Constituição, distanciando-se, deste modo, do seu partido e do Poder Executivo. O exercício
reiterado, pelo Presidente da República, da iniciativa de fiscalização preventiva da
constitucionalidade de leis, aprovadas pela maioria parlamentar com que se identifica
politicamente, é um sinal não só de confiança ao Conselho Constitucional como também de um
clima de bom relacionamento entre os dois órgãos .

1.4.1.2.Fiscalização sucessiva

A fiscalização sucessiva é aquela que ocorre posteriormente a entrada em vigor da norma. Para
Filho, M. (2012) este tipo de fiscalização pelo menos posteriormente a publicação oficial da norma
jurídica (…) este depois de perfeito o ato, de promulgada a lei, ou seja posteriori. Esta fiscalização
encontra corpo nas disposições constantes nos artigos 244, 213, todos da CRM. Ora, dentro a
fiscalização sucessiva podemos encontrar a fiscalização sucessiva concreta e a fiscalização
sucessiva abstrata.

1.4.1.2.1. Fiscalização Abstrata Sucessiva

decorre das disposições do artigo 244 da CRM vigente. Para Rodigues, F. (2013, p.188) “a
fiscalização abstracta de inconstitucionalidade ou de ilegalidade é aquela que é feita
independentemente da aplicação da norma ao caso concreto”. Esta legitimidade é atribuída as

__________________________

2 GOUVEIA, Jorge Bacelar (2005). Manual de Direito Constitucional, Apud António Chuva, et
al. (2012). Estudos de Direito Constitucional Moçambicano – Contributos para a reflexão. CFJJ-
FDUEM-ISCTEM, Maputo, pág. 467.

3 CANOTILHO, José Joaquim Gomes (2003). Direito Constitucional e Teoria da Constituição,


Almedina, 7ª Edição, págs. 890 – 891

4 https://www.venice.coe.int/WCCJ/Rio/Papers/MOZ_Conselho_Constitutional_por.pdf

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determinas figuras cuja sua enumeração é em nossa opinião taxativa porém não sucessiva, no
sentido de que não segue a ordem descrita no nº. 2, do artigo ora citado, mas que quaisquer órgãos
ali mencionados podem desde que reúnam os fundamentos para o efeito solicitar junto ao Conselho
Constitucional a declaração de inconstitucionalidade de determinada norma. Podem solicitar a
fiscalização sucessiva abstrata da constitucionalidade a seguinte sujeitada:

 O Presidente da República;
 O presidente da Assembleia da República;
 Um terço, pelo menos, dos deputados da Assembleia da Republica;
 O Procurador – Geral da República;
 O Provedor de Justiça e por fim;
 Dois mil cidadãos.

Pelo que, fora dos sujeitos processuais acima mencionados nenhuma outra pode solicitar
apreciação sucessiva abstraída da Constitucionalidade das normas judiciadas junto ao Conselho
Constitucional.

1.4.1.2.2. Fiscalização Concreta Sucessiva

Na fiscalização sucessiva concreta, o legislador constituinte determina no artigo 213 que “ Nos
feitos submetidos ao julgamento, os tribunais não podem aplicar leis ou princípios que ofendam a
Constituição”. Esta ocorre única e exclusivamente nos tribunais no âmbito da aplicação das normas
pode juiz. O legislador proíbe aos Juízes a aplicabilidade de normas que sejam contrárias a
Constituição, devendo ser remetidos ao Conselho Constitucional sempre que assim se manifestar.

Os processos de fiscalização concreta da constitucionalidade são raros, contando-se apenas quatro


processos desde 2003, dos quais três iniciados pelo Tribunal Administrativo e o outro por um
Tribunal Aduaneiro. Em nenhum dos casos foi declarada a inconstitucionalidade ou a ilegalidade,
mas as decisões do Conselho Constitucional neste âmbito têm contribuído para clarificar a
delimitação da competência em razão da matéria entre os tribunais especializados e os tribunais
comuns.

A Constituição consagra a supremacia das suas normas no artigo 2, nº 4, ao dispor que “[a]s normas
constitucionais prevalecem sobre todas as restantes normas do ordenamento

OS EFEITOS DA DECLARAÇÃO DE INCOSTITUCIONALIDADE 13


jurídico”. Esta disposição exprime de forma inequívoca o princípio da constitucionalidade que
vincula todos os órgãos de soberania (artigo 134, in fine, da CRM), mas cuja garantia constitui
tarefa primordial e especial do Conselho Constitucional (artigo 244, n.º 1, alínea a) da CRM).

O processo constitucional em Moçambique rege-se pelo princípio do pedido (artigos 245, n.º 2,
246, n.º 1 e 247 da CRM e artigo 48, n.º 1, da LOCC). Recai sobre o autor do pedido o ónus de
“...especificar, além das normas cuja apreciação [...] requer, as normas ou princípios
constitucionais violados” (artigo 48, n.º 1, da LOCC). Estas especificações são de tal forma
indispensáveis que a sua “falta, insuficiência ou obscuridade” determina a notificação do autor
para suprir a deficiência” (artigo 48, n.º 2, da LOCC), não devendo o pedido ser admitido
“...quando as deficiências que apresentar não tiverem sido supridas” (artigo 49, n.º 1, da LOCC).

A garantia da Constituição ocorre não só em sede de fiscalização sucessiva, da iniciativa do


Presidente da República, Presidente da Assembleia da República, um terço, pelo menos, dos
deputados da Assembleia da República, o Primeiro-ministro, o Procurador-Geral da República, o
Provedor de Justiça, e dois mil cidadãos, art.º 244.º n.º2, mas também em sede de fiscalização
concreta.

A expressão “concreta” é elucidativa da natureza do controlo, que é feita nos feitos submetidos a
julgamento, em qualquer tribunal, e é oficiosa (portanto sem necessidade do pedido), materializa
o brocardo latino iuri novit cúria. Ao juiz deixa-se uma ampla margem, de interpretação e recusa
de aplicação de uma norma, longe portanto da teorização de MONTESQUIEU, que defendia que
os juízes da nação não eram mais do que “a boca que pronuncia as palavras da lei, seres inanimados
que não podem moderar nem a sua força nem o seu rigor”, “um poder invisível e nulo”4 .A
fiscalização concreta encontra consagração constitucional no art.º. 246.º que distingue duas
situações: uma em que é o próprio juiz que recusa a aplicação de uma normacom fundamento na
sua inconstitucionalidade, recaindo sobre si a obrigação constitucional de remessa para o Conselho
Constitucional178, na outra situação, fala-se do caso de o Procurador-Geral da República ou o
Ministério Público solicite a apreciação abstracta da constitucionalidade ou da legalidade de
qualquer norma, cuja aplicação tenha sido recusada, com a justificação de inconstitucionalidade
ou ilegalidade, por decisão judicial insusceptível de recurso.

OS EFEITOS DA DECLARAÇÃO DE INCOSTITUCIONALIDADE 14


O legislador constituinte, poderia de iure condendo, ter ido mais longe, no sentido de alargar a
possibilidade de recurso, às partes em litígio.

1.4.1.2.2.1. O recurso obrigatório para o Juiz

Cabe recurso conforme o n.º 1 do art.º 247.º da CRM dos acórdãos e outras decisões Com
fundamento na inconstitucionalidade, desde que recusem a aplicação de qualquer normacom
fundamento na sua inconstitucionalidade. A recusa, de acordo com o Prof. JORGEMIRANDA,
5
não tem de ser expressa; pode ser uma recusa implícita, como ocorre quando a decisão do tribunal
extrai consequências correspondentes ao julgamento da norma como inconstitucional.

De acordo com o art.º 72.º da LOCC, «para os efeitos previstos no artigo anterior, proferida a
decisão judicial, o juiz da causa remete oficiosamente os autos, de imediato, ao Conselho
Constitucional, com efeitos suspensivos». Nas palavras de JORGE MIRANDA , o objecto do
recurso é sempre a constitucionalidade (…) de uma norma, e não a constitucionalidade (…) de
uma decisão judicial. Do que se cura é simplesmente, a análise pelo Conselho Constitucional da
norma cuja aplicação, tenha sido recusada.

A norma referida no art.º 246.º deve ser entendida tanto do ponto de vista material, ou seja, do seu
conteúdo, impondo uma regra ou padrão de conduta, como do ponto de vista orgânico, decorrente
de poder normativo público, e para o qual não concorre a vontade do particular, independentemente
de haver abstracção, por causa das leis-medida.

Como dissemos supra, o legislador constituinte podia ter ido muito mais longe, no sentido de
conceder às próprias partes em litígio a possibilidade de recorrer ao Conselho Constitucional, pois
a questão que se coloca, é do incumprimento por parte do Juiz da obrigação de remessa, do art.º
72 da LOCC.

De acordo com o artigo nr. 71 da LOCC:

1. O Juiz da causa que se recusar a aplicar uma norma ou princípio com fundamento na sua
inconstitucionalidade ou ilegalidade deve, de imediato, suspender o processo e remetê-lo
obrigatoriamente ao Conselho Constitucional para efeitos da apreciação da alegada questão de
inconstitucionalidade ou ilegalidade.

OS EFEITOS DA DECLARAÇÃO DE INCOSTITUCIONALIDADE 15


2. O Ministério Público ou as partes processuais podem suscitar a questão de inconstitucionalidade
ou ilegalidade junto do tribunal da causa.

3. Caso o Juiz da causa, se convença da suscitada inconstitucionalidade, deve proceder nos termos
do número 1 do presente artigo.

Contudo a expressão não é isenta de dúvidas, pois como refere VITALINO CANAS “o que já é
mais grave é não se delimitar claramente o alcance máximo desses efeitos: isto é, a decisão irá
repercutir-se no caso concreto a propósito do qual a questão da constitucionalidade foi suscitada,
mas poderá repercutir-se em qualquer outro caso? Poderá ter, por exemplo, força de precedente,
estando todos os juízes a quem posteriormente se coloque a questão da sua aplicação, obrigados a
desaplica-la? (…) Por estas breves linhas pode-se denotar que no nosso regime de fiscalização
concreta falta uma comunicação mais eficaz entre esta e a fiscalização abstracta, estabelecendo-se
primeiro a obrigatoriedade de recurso para o Conselho Constitucional quando se apliquem normas
anteriormente declaradas inconstitucionais em processo de fiscalização concreta. Impedindo assim
que outro juiz aplique norma anteriormente julgada inconstitucional e de seguida obrigar a um
recurso de inconstitucionalidade já em sede de fiscalização abstracta.

________________________

4 Citado por, AFONSO, Orlando, Poder Judicial: Independência in dependência, 1ªedição,


Livraria Almedina, Coimbra, 2004, pág. 17.

5
MIRANDA, Jorge, Manual de Direito Constitucional, Tomo VI, 1ª Edição, Coimbra Editora,
Coimbra, 2001, pág. 19

OS EFEITOS DA DECLARAÇÃO DE INCOSTITUCIONALIDADE 16


1.5.Considerações finais

As normas constitucionais ocu- pam uma posição de primariedade e supremacia em relação a todas
outras normas legais. Assim, sempre que estas não se conformam com aquelas, está-se em presença
do vício da inconstitucionalidade.

A inconstitucionalidade é um estado - estado de conflito entre a lei e a Constituição - e a revogação


é o efeito desse estado. O tribunal declara a inconstitucionalidade e, em conseqüência desta,
reconhece a revogação.

O efeito da declaração de inconstitucionalidade tem uma lógica sui generis e o desenvolvimento


prático da sua implementação depende muito da orientação que é fixada e aprofundada pela
jurisprudência. Neste caso, conforme amplamente se demonstrou, a possibilidade de apreciação
de inconstitucionalidade de normas revogadas é permitida em Portugal considerando a lógica do
efeito da declaração de inconstitucionalidade e o efeito da revogação que pode não eliminar todos
os vícios que a norma criou quando vigorou, desde que preenchidos os pressupostos lógicos
referidos.

Contudo, orientação diversa tem o Conselho Constitucional da República de Moçambique, pois


sempre que a norma tiver sido derrogada ou tiver sido já revogada, ab initio, declara não haver
importância para uma decisão de mérito sem discorrer sobre a importância ou não da eliminação
dos efeitos da inconstitucionalidade ou ilegalidade da norma, considerando ao facto de que a
declaração de inconstitucionalidade ou ilegalidade tem efeito prospectivo – ex tunc e pode ser
preponderante na eliminação do mal que foi criado pela inconstitucionalidade ou ilegalidade, o
que no nosso entender, constitui um desamparo constitucional.

Por conseguinte, urge uma nova orientação na fiscalização da constitucionalidade para garantir
que uma norma que seja inconstitucional ou ilegal e que tenha produzido efeitos e a sua revogação
não tenha eliminado os efeitos que ainda podem ser eliminados, o que pressupõe, como já referido,
a existência de um interesse relevante na eliminação dos efeitos da inconstitucionalidade ou
ilegalidade.

OS EFEITOS DA DECLARAÇÃO DE INCOSTITUCIONALIDADE 17


1.6. Referências Bibliográficas

AFONSO, Orlando, Poder Judicial: Independência in dependência, 1ªedição, Livraria Almedina,


Coimbra, 2004, pág. 17.
BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de direito constitucional. 8. ed., São Paulo: Saraiva, 1986.

CANOTILHO, Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 7ª Edição. Coimbra:


Almedina, 2003.

GOUVEIA, Jorge Bacelar (2005). Manual de Direito Constitucional, Apud António Chuva, et al.
(2012). Estudos de Direito Constitucional Moçambicano – Contributos para a reflexão. CFJJ-
FDUEM-ISCTEM, Maputo, pág. 467

https://pt.wikipedia.org/wiki/Constitui%C3%A7%C3%A3o

MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 9 ed. São Paulo: Atlas, 2001.

MENDES, Gilmar Ferreira. Controle de constitucionalidade. In: BRANCO, P. G. G.; COELHO,


I. M.; MENDES, G. M. Curso de direito constitucional. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.

MIRANDA, Jorge. Manual de Direito Constitucional. Tomo V: Atividade Constitucional do


Estado. 3.ª Edição, Coimbra Editora, 2004.

MIRANDA, Jorge. Manual de direito constitucional. Coimbra: Coimbra Ed., 2001.

MONTESQUIEU. O Espírito das Leis. Trad. CRISTINA MURACHO. São Paulo: Martins Fontes,
2005,

Legislação

Lei n. 1/2018, de 12 de Julho, (Lei de Revisão Pontual da Constituição da República de


Moçambique), Imprensa Nacional de Moçambique, Maputo.

Lei n.º 2/2022 de 21 de Janeiro, (Lei Orgânica o Conselho Constitucional), Imprensa Nacional de
Moçambique, Maputo.

OS EFEITOS DA DECLARAÇÃO DE INCOSTITUCIONALIDADE 18

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