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MANUAL DO CURSO DE LICENCIATURA EM

DIREITO

3º Ano

Disciplina: REGISTOS E NOTARIADO

Código: ISCED32-CJURCFE027

Total Horas/2o Semestre: 125


Créditos (SNATCA): 5
Número de Temas: 6

INSTITUTO SUPER

INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - ISCED


ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

Direitos de autor (copyright)

Este manual é propriedade do Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED), e


contêm reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução parcial ou total
deste manual, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (electrónicos, mecânico,
gravação, fotocópia ou outros), sem permissão expressa de entidade editora (Instituto
Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED).

A não observância do acima estipulado o infractor é passível a aplicação de processos judiciais


em vigor no País.

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Beira - Moçambique
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ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

Fax: 23323501
E-mail: isced@isced.ac.mz
Website: www.isced.ac.mz

Agradecimentos

O Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED) e o autor do presente manual


agradecem a colaboração dos seguintes indivíduos e instituições na elaboração deste manual:

Pela Coordenação Direcção Académica do ISCED

Pelo design Direcção de Qualidade e Avaliação do ISCED

Financiamento e Logística Instituto Africano de Promoção da Educação


a Distancia (IAPED)

Pela Revisão

Elaborado Por: Ésio Cebola Alguineiro Magaio, Mestre em Ciências Jurídicas Público Forense.

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Índice

VISÃO GERAL .................................................................................................................................................... 1

BENVINDO À DISCIPLINA/MÓDULO DE REGISTOS E NOTARIADO ....................................................................................... 1


OBJECTIVOS DO MÓDULO ......................................................................................................................................... 1
QUEM DEVERIA ESTUDAR ESTE MÓDULO ...................................................................................................................... 1
COMO ESTÁ ESTRUTURADO ESTE MÓDULO .................................................................................................................... 2
ÍCONES DE ACTIVIDADE ............................................................................................................................................. 3
HABILIDADES DE ESTUDO ........................................................................................................................................... 3
PRECISA DE APOIO?.................................................................................................................................................. 5
TAREFAS (AVALIAÇÃO E AUTO-AVALIAÇÃO) ................................................................................................................... 6
AVALIAÇÃO ............................................................................................................................................................ 7

TEMA I – INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 9

UNIDADE TEMÁTICA: 1.1. NOÇÃO E FUNÇÃO DOS REGISTOS ......................................................................................... 9


UNIDADE TEMÁTICA: 1.2. ORIGEM E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL ....................................... 10
UNIDADE TEMÁTICA: 1.3. CARACTERÍSTICAS E PRINCÍPIOS ORIENTADORES DOS REGISTOS E DA SEGURANÇA JURÍDICA........... 12
UNIDADE TEMÁTICA: 1.4. VALOR PROBATÓRIO DOS INSTRUMENTOS NOTARIAIS ............................................................ 19
UNIDADE TEMÁTICA: 1.5. DOCUMENTOS ELECTRÓNICOS E ASSINATURA DIGITAL............................................................ 22
UNIDADE TEMÁTICA: 1.6. FÉ PÚBLICA .................................................................................................................... 23
UNIDADE TEMÁTICA: 1.7. EXERCÍCIOS INTEGRADOS .................................................................................................. 25

TEMA II – NOTARIADO ................................................................................................................................... 26

UNIDADE TEMÁTICA: 2.1. CONCEITO E FUNÇÃO NOTARIAL ......................................................................................... 26


UNIDADE TEMÁTICA: 2.2. LIVROS E MAÇOS DE DOCUMENTOS..................................................................................... 31
UNIDADE TEMÁTICA: 2.3. EXECUÇÃO DOS ACTOS NOTARIAIS ...................................................................................... 34
UNIDADE TEMÁTICA: 2.4. FORMALISMO DOS ACTOS NOTARIAIS.................................................................................. 36
UNIDADE TEMÁTICA: 2.5. INSTRUMENTOS AVULSOS ................................................................................................. 38
UNIDADE TEMÁTICA: 2.6. TERMOS DE AUTENTICAÇÃO E RECONHECIMENTOS ................................................................ 39
UNIDADE TEMÁTICA: 2.7. TESTAMENTOS, HABILITAÇÃO DE HERDEIROS E PARTILHA ........................................................ 41
UNIDADE TEMÁTICA: 2.8. DESFORMALIZAÇÃO DOS ACTOS NOTARIAIS .......................................................................... 45
UNIDADE TEMÁTICA: 2.9. CERTIFICADOS, CERTIDÕES E DOCUMENTOS ANÁLOGOS ......................................................... 46
UNIDADE TEMÁTICA: 2.10. RECUSAS E RECURSOS .................................................................................................... 48
UNIDADE TEMÁTICA: 2.11. EXERCÍCIOS INTEGRADOS ................................................................................................ 51

TEMA III – REGISTOS PREDIAL ....................................................................................................................... 52

UNIDADE TEMÁTICA: 3.1.1. OBJECTO DO REGISTO PREDIAL ....................................................................................... 52


UNIDADE TEMÁTICA: 3.1.2. PRINCÍPIOS ORIENTADORES ............................................................................................ 53
UNIDADE TEMÁTICA: 3.1.3. FACTOS E ACÇÕES SUJEITOS A REGISTO ............................................................................. 56
UNIDADE TEMÁTICA: 3.1.4. EFEITOS E VÍCIOS DO REGISTO......................................................................................... 58
UNIDADE TEMÁTICA: 3.1.5. ACTOS DE REGISTO ....................................................................................................... 60
UNIDADE TEMÁTICA: 3.1.6. ORGANIZAÇÃO E PROCESSO DE REGISTO ........................................................................... 62

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UNIDADE TEMÁTICA: 3.1.7. PUBLICIDADE E MEIOS DE PROVA .................................................................................... 65


UNIDADE TEMÁTICA: 3.1.8. SUPRIMENTO, RECTIFICAÇÃO E RECONSTITUIÇÃO DOS REGISTOS ........................................... 67
UNIDADE TEMÁTICA: 3.1.9. IMPUGNAÇÃO DAS DECISÕES .......................................................................................... 68
UNIDADE TEMÁTICA: 3.1.10. EMOLUMENTOS E PREPAROS ........................................................................................ 69
UNIDADE TEMÁTICA: 3.1.11. RESPONSABILIDADE CIVIL E CRIMINAL ............................................................................ 70
UNIDADE TEMÁTICA: 3.1.12. EXERCÍCIOS INTEGRADOS ............................................................................................. 71

TEMA 4 – REGISTO COMERCIAL ...................................................................................................................... 72

UNIDADE TEMÁTICA: 3.2.1. OBJECTO DO REGISTO COMERCIAL................................................................................... 72


UNIDADE TEMÁTICA: 3.2.2. PRINCÍPIOS ORIENTADORES ............................................................................................ 74
UNIDADE TEMÁTICA: 3.2.3. FACTOS E ACÇÕES SUJEITOS A REGISTO ............................................................................ 77
UNIDADE TEMÁTICA: 3.2.4. EFEITOS E VÍCIOS DE REGISTO ......................................................................................... 80
UNIDADE TEMÁTICA: 3.2.5 ACTOS DE REGISTO, PRAZOS E PUBLICAÇÕES OBRIGATÓRIAS .................................................. 82
UNIDADE TEMÁTICA: 3.2.6. ORGANIZAÇÃO DO REGISTO COMERCIAL ........................................................................... 83
UNIDADE TEMÁTICA: 3.2.7. PROCESSO DE REGISTO, PUBLICIDADE E PROVA .................................................................. 84
UNIDADE TEMÁTICA: 3.2.8. RECTIFICAÇÃO E RECONSTITUIÇÃO DOS REGISTOS ............................................................... 90
UNIDADE TEMÁTICA: 3.2.9. IMPUGNAÇÃO DAS DECISÕES DO CONSERVADOR................................................................. 91
UNIDADE TEMÁTICA: 3.2.10. EXERCÍCIOS INTEGRADOS ............................................................................................. 94

TEMA 5 – REGISTO DE BENS MÓVEIS ............................................................................................................. 95

UNIDADE TEMÁTICA: 3.3.1. REGISTO DE AUTOMÓVEIS.............................................................................................. 95


UNIDADE TEMÁTICA: 3.3.2. ENQUADRAMENTO LEGAL E OBJECTO ............................................................................... 95
UNIDADE TEMÁTICA: 3.3.3 FACTOS E ACÇÕES SUJEITOS A REGISTO .............................................................................. 96
UNIDADE TEMÁTICA: 3.3.4. ORGANIZAÇÃO E PROCESSO DE REGISTO ........................................................................... 97
UNIDADE TEMÁTICA: 3.3.5. PUBLICIDADE E MEIOS DE PROVA .................................................................................. 101
UNIDADE TEMÁTICA: 3.3.6. EXERCÍCIOS INTEGRADOS ............................................................................................. 101

TEMA 6 – REGISTOS CIVIL ............................................................................................................................. 102

UNIDADE TEMÁTICA: 3.4.1. OBJECTO E FACTOS SUJEITOS A REGISTO ......................................................................... 102


UNIDADE TEMÁTICA: 3.4.2. EFEITOS E VÍCIOS DO REGISTO ....................................................................................... 103
UNIDADE TEMÁTICA: 3.4.3. ACTOS DE REGISTO EM GERAL E EM ESPECIAL .................................................................. 105
UNIDADE TEMÁTICA: 3.4.4. ORGANIZAÇÃO DO REGISTO CIVIL, PUBLICIDADE E MEIOS DE PROVA .................................... 111
UNIDADE TEMÁTICA: 3.4.5. PROCESSOS PRIVATIVOS DO REGISTO CIVIL ...................................................................... 113
UNIDADE TEMÁTICA: 3.4.6. IMPUGNAÇÃO DAS DECISÕES DO CONSERVADOR .............................................................. 115
UNIDADE TEMÁTICA: 3.4.7. RESPONSABILIDADE CIVIL, PENAL E DISCIPLINAR ............................................................... 116
UNIDADE TEMÁTICA: 3.4.8. EXERCÍCIOS INTEGRADOS ............................................................................................. 117

BIBLIOGRAFIA DE REFERÊNCIA ..................................................................................................................... 118

LISTA DA LEGISLAÇÃO NOTARIAL RELEVANTE .............................................................................................. 119

GLOSSÁRIO................................................................................................................................................... 120

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Visão geral

Benvindo à Disciplina/Módulo de Registos e


Notariado

Objectivos do Módulo

Ao terminar o estudo deste módulo de Registo e Notariado deverá


ser capaz de:

a) Identificar o âmbito, objecto e factos sujeitos a registo;

b) Identificar a importância do registo de cada tipo de


registo;

Objectivos Específicos c) Identificar as finalidades do registo, a organização dos


serviços, a execução e o formalismo dos actos;

d) Entender os efeitos e vícios de registos;

e) Saber como impugnar as decisões dos conservadores e


demais entes públicos diante da recusa de registo; e

f) Saber as responsabilidades civis e criminais que


incorrem os agentes públicos diante ilícitos nos registos.

Quem deveria estudar este módulo

Este Módulo foi concebido para estudantes do 3º ano do curso de


licenciatura em Direito do ISCED e outras áreas afim. Poderá
ocorrer, contudo, que haja leitores que queiram se actualizar e
consolidar seus conhecimentos nessa disciplina, esses serão bem-
vindos, não sendo necessário para tal se inscrever. Mas poderá
adquirir o manual.

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ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

Como está estruturado este módulo

Este módulo de Registos e Notariado, para estudantes do 1º ano do


curso de licenciatura em Direito, à semelhança dos restantes do
ISCED, está estruturado como se segue:
Páginas introdutórias

 Um índice completo.
 Uma visão geral detalhada dos conteúdos do módulo,
resumindo os aspectos-chave que você precisa conhecer para
melhor estudar. Recomendamos vivamente que leia esta secção
com atenção antes de começar o seu estudo, como componente
de habilidades de estudos.
Conteúdo desta Disciplina / módulo

Este módulo está estruturado em Temas. Cada tema, por sua vez
comporta certo número de unidades temáticas ou simplesmente
unidades. Cada unidade temática se caracteriza por conter uma
introdução, objectivos, conteúdos.
No final de cada unidade temática ou do próprio tema, são
incorporados antes o sumário, exercícios de auto-avaliação, só
depois é que aparecem os exercícios de avaliação.
Os exercícios de avaliação têm as seguintes características: Puros
exercícios teóricos/práticos. Problemas não resolvidos e
actividades algumas práticas incluído estudo de caso.

Outros recursos

A equipa dos académico a e pedagogos do ISCED, pensando em si,


num cantinho, recôndito deste nosso vasto Moçambique e cheio de
dúvidas e limitações no seu processo de aprendizagem, apresenta
uma lista de recursos didácticos adicionais ao seu módulo para você
explorar. Para tal o ISCED disponibiliza na biblioteca do seu centro
de recursos mais material de estudos relacionado com o seu curso
como: Livros e/ou módulos, CD, CD-ROOM, DVD. Para elem deste
material físico ou electrónico disponível na biblioteca, pode ter
acesso a Plataforma digital moodle para alargar mais ainda as
possibilidades dos seus estudos.

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Auto-avaliação e Tarefas de avaliação

Tarefas de auto-avaliação para este módulo encontram-se no final


de cada unidade temática e de cada tema. As tarefas dos exercícios
de auto-avaliação apresentam duas características: primeiro
apresentam exercícios resolvidos com detalhes. Segundo,
exercícios que mostram apenas respostas.
Tarefas de avaliação devem ser semelhantes às de auto-avaliação
mas sem mostrar os passos e devem obedecer o grau crescente de
dificuldades do processo de aprendizagem, umas a seguir a outras.
Parte das tarefas de avaliação será objecto dos trabalhos de campo
a serem entregues aos tutores/docentes para efeitos de correcção
e subsequentemente nota. Também constará do exame do fim do
módulo. Pelo que, caro estudante, fazer todos os exercícios de
avaliação é uma grande vantagem.
Comentários e sugestões

Use este espaço para dar sugestões valiosas, sobre determinados


aspectos, quer de natureza científica, quer de natureza didáctico-
Pedagógica, etc., sobre como deveriam ser ou estar apresentadas.
Pode ser que graças as suas observações que, em gozo de
confiança, classificamo-las de úteis, o próximo módulo venha a ser
melhorado.

Ícones de actividade

Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas


margens das folhas. Estes ícones servem para identificar diferentes
partes do processo de aprendizagem. Podem indicar uma parcela
específica de texto, uma nova actividade ou tarefa, uma mudança
de actividade, etc.

Habilidades de estudo

O principal objectivo deste campo é o de ensinar aprender a


aprender. Aprender aprende-se.

Durante a formação e desenvolvimento de competências, para


facilitar a aprendizagem e alcançar melhores resultados, implicará
empenho, dedicação e disciplina no estudo. Isto é, os bons
resultados apenas se conseguem com estratégias eficientes e
eficazes. Por isso é importante saber como, onde e quando estudar.

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Apresentamos algumas sugestões com as quais esperamos que caro


estudante possa rentabilizar o tempo dedicado aos estudos,
procedendo como se segue:

1º Praticar a leitura. Aprender a Distância exige alto domínio de


leitura.

2º Fazer leitura diagonal aos conteúdos (leitura corrida).

3º Voltar a fazer leitura, desta vez para a compreensão e assimilação


crítica dos conteúdos (ESTUDAR).

4º Fazer seminário (debate em grupos), para comprovar se a sua


aprendizagem confere ou não com a dos colegas e com o padrão.

5º Fazer TC (Trabalho de Campo), algumas actividades práticas ou as


de estudo de caso se existir.

IMPORTANTE: Em observância ao triângulo modo-espaço-tempo,


respectivamente como, onde e quando...estudar, como foi referido
no início deste item, antes de organizar os seus momentos de estudo
reflicta sobre o ambiente de estudo que seria ideal para si: Estudo
melhor em casa/biblioteca/café/outro lugar? Estudo melhor à
noite/de manhã/de tarde/fins-de-semana/ao longo da semana?
Estudo melhor com música/num sítio sossegado/num sítio
barulhento!? Preciso de intervalo em cada 30 minutos, em cada
hora, etc.

É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido estudado
durante um determinado período de tempo; Deve estudar cada
ponto da matéria em profundidade e passar só ao seguinte quando
achar que já domina bem o anterior.

Privilegia-se saber bem (com profundidade) o pouco que puder ler e


estudar, que saber tudo superficialmente. Mas a melhor opção é
juntar o útil ao agradável: Saber com profundidade todos conteúdos
de cada tema, no módulo.

Dica importante: não recomendamos estudar seguidamente por


tempo superior a uma hora. Estudar por tempo de uma hora
intercalado por 10 (dez) a 15 (quinze) minutos de descanso (chama-
se descanso à mudança de actividades). Ou seja que durante o

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intervalo não se continuar a tratar dos mesmos assuntos das


actividades obrigatórias.

Uma longa exposição aos estudos ou ao trabalho intelectual


obrigatório, pode conduzir ao efeito contrário: baixar o rendimento
da aprendizagem. Porque o estudante acumula um elevado volume
de trabalho, em termos de estudos, em pouco tempo, criando
interferência entre os conhecimentos, perde sequência lógica, por
fim ao perceber que estuda tanto mas não aprende, cai em
insegurança, depressão e desespero, por se achar injustamente
incapaz!

Não estude na última da hora; quando se trate de fazer alguma


avaliação. Aprenda a ser estudante de facto (aquele que estuda
sistematicamente), não estudar apenas para responder a questões
de alguma avaliação, mas sim estude para a vida, sobre tudo, estude
pensando na sua utilidade como futuro profissional, na área em que
está a se formar.

Organize na sua agenda um horário onde define a que horas e que


matérias deve estudar durante a semana; Face ao tempo livre que
resta, deve decidir como o utilizar produtivamente, decidindo
quanto tempo será dedicado ao estudo e a outras actividades.

É importante identificar as ideias principais de um texto, pois será


uma necessidade para o estudo das diversas matérias que
compõem o curso: A colocação de notas nas margens pode ajudar
a estruturar a matéria de modo que seja mais fácil identificar as
partes que está a estudar e Pode escrever conclusões, exemplos,
vantagens, definições, datas, nomes, pode também utilizar a
margem para colocar comentários seus relacionados com o que
está a ler; a melhor altura para sublinhar é imediatamente a seguir
à compreensão do texto e não depois de uma primeira leitura;
Utilizar o dicionário sempre que surja um conceito cujo significado
não conhece ou não lhe é familiar;

Precisa de apoio?

Caro estudante, temos a certeza que por uma ou por outra razão, o
material de estudos impresso, lhe pode suscitar algumas dúvidas
como falta de clareza, alguns erros de concordância, prováveis erros
ortográficos, falta de clareza, fraca visibilidade, página trocada ou
invertidas, etc.). Nestes casos, contacte os serviços de atendimento
e apoio ao estudante do seu Centro de Recursos (CR), via telefone,

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sms, E-mail, se tiver tempo, escreva mesmo uma carta participando


a preocupação.
Uma das atribuições dos Gestores dos CR e seus assistentes
(Pedagógico e Administrativo), é a de monitorar e garantir a sua
aprendizagem com qualidade e sucesso. Dai a relevância da
comunicação no Ensino a Distância (EAD), onde o recurso as TIC se
torna incontornável: entre estudantes, estudante – Tutor, estudante
– CR, etc.
As sessões presenciais são um momento em que você caro
estudante, tem a oportunidade de interagir fisicamente com staff do
seu CR, com tutores ou com parte da equipa central do ISCED
indigitada para acompanhar as sua sessões presenciais. Neste
período pode apresentar dúvidas, tratar assuntos de natureza
pedagógica e/ou administrativa.
O estudo em grupo, que está estimado para ocupar cerca de 30%
do tempo de estudos a distância, é muita importância, na medida
em que permite-lhe situar, em termos do grau de aprendizagem
com relação aos outros colegas. Desta maneira ficará a saber se
precisa de apoio ou precisa de apoiar aos colegas. Desenvolver
hábito de debater assuntos relacionados com os conteúdos
programáticos, constantes nos diferentes temas e unidade
temática, no módulo.

Tarefas (avaliação e auto-avaliação)

O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e


autoavaliação), contudo nem todas deverão ser entregues, mas é
importante que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues
duas semanas antes das sessões presenciais seguintes.
Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não
cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do
estudante. Tenha sempre presente que a nota dos trabalhos de
campo conta e é decisiva para ser admitido ao exame final da
disciplina/módulo.
Os trabalhos devem ser entregues ao Centro de Recursos (CR) e os
mesmos devem ser dirigidos ao tutor/docente.
Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa,
contudo os mesmos devem ser devidamente referenciados,
respeitando os direitos do autor.

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O plágio1 é uma violação do direito intelectual do (s) autor (és). Uma


transcrição à letra de mais de 8 (oito) palavras do testo de um autor,
sem o citar é considerada plágio. A honestidade, humildade
científica e o respeito pelos direitos autorais devem caracterizar a
realização dos trabalhos e seu autor (estudante do ISCED).

Avaliação

Muitos perguntam: Com é possível avaliar estudantes à distância,


estando eles fisicamente separados e muito distantes do
docente/tutor!? Nós dissemos: Sim é muito possível, talvez seja uma
avaliação mais fiável e consistente.
Você será avaliado durante os estudos à distância que contam com
um mínimo de 90% do total de tempo que precisa de estudar os
conteúdos do seu módulo. Quando o tempo de contacto presencial
conta com um máximo de 10%) do total de tempo do módulo. A
avaliação do estudante consta detalhada do regulamentado de
avaliação.
Os trabalhos de campo por si realizados, durante estudos e
aprendizagem no campo, pesam 25% e servem para a nota de
frequência para ir aos exames.
Os exames são realizados no final da cadeira disciplina ou modulo e
decorrem durante as sessões presenciais. Os exames pesam no
mínimo 75%, o que adicionado aos 25% da média de frequência,
determinam a nota final com a qual o estudante conclui a cadeira.
A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da cadeira.
Nesta cadeira o estudante deverá realizar pelo menos 2 (dois)
trabalhos e 1 (um) (exame).
Algumas actividades práticas, relatórios e reflexões serão utilizados
como ferramentas de avaliação formativa.
Durante a realização das avaliações, os estudantes devem ter em
consideração a apresentação, a coerência textual, o grau de
cientificidade, a forma de conclusão dos assuntos, as
recomendações, a identificação das referências bibliográficas
utilizadas, o respeito pelos direitos do autor, entre outros.
Os objectivos e critérios de avaliação constam do Regulamento de
Avaliação.

1
Plágio - copiar ou assinar parcial ou totalmente uma obra literária,
propriedade intelectual de outras pessoas, sem prévia autorização.

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TEMA I – INTRODUÇÃO

Objectivos deste Tema:

 O objectivo central deste tema que contém 6 unidades temáticas é de dar


uma visão geral e ampla sobre a origem, noção, importância, características,
princípios e tipos de documentos que norteiam o registo.

UNIDADE Temática: 1.1. Noção e Objecto dos Registos

UNIDADE Temática: 1.2. Origem e Evolução histórica do Direito


Notarial e Registral

UNIDADE Temática: 1.3. Características e Princípios Orientadores


dos Registos de Segurança Jurídica

UNIDADE Temática: 1.4. Valor Probatório dos Instrumentos


Notariais

UNIDADE Temática: 1.5. Documentos Electrónicos e Assinatura


Digital

UNIDADE Temática: 1.6. Fé Pública

UNIDADE Temática: 1.7. Exercícios Integrados

UNIDADE Temática: 1.1. Noção e Função dos Registos

Introdução
O Direito é o objecto da justiça. No entanto, a justiça na virtude de
atribuir a cada um o seu direito. E para que os direitos sejam
legitimados, foram criadas instituições várias e especificas
vocacionadas a prática de registos dos actos, em vista a salvaguarda
dos direitos inerentes aos cidadãos.
As Conservatórias dos Registos e do Notariado, bem como algumas
conservatórias distritais ou postos são instituições ou serviços
criados onde os cidadãos podem exercer seus direitos de registos,
quer de nascimento, de casamento, de óbito, de emancipação, de
patrimónios móveis ou imóveis, de suas actividades comerciais e
tantos outros actos sujeitos a registo.
Os serviços notariais e de registos são encarregados, por definição
normativa, a exercerem funções públicas consistente em receber,
interpretar e dar forma legal à vontade das partes, redigindo os
instrumentos adequados a esse fim, bem como dedicar-se ao
assentamento de títulos de interesse privado ou público, para

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garantir oponibilidade a todos os terceiros, com a publicidade que


lhes são inerentes.
É importante salientar quês estas instituições realizam suas
actividades á luz de instrumentos legalmente aprovados.
Exercícios
1) As Conservatórias dos Registos e do Notariado são instituições que tem por direito
proceder ao registo.
a) Certo b) Errado Resposta: Certo

2) Os Serviços Notariais exercem suas actividades de acordo com as vontades dos


requerentes (cidadãos) que procuram seus serviços.
a) Certo b) Errado Resposta: Errado

UNIDADE Temática: 1.2. Origem e Evolução histórica do Direito Notarial e Registral

Introdução

O Direito Notarial e Registral surgiram a partir da necessidade de


mediação nos relacionamentos sociais primitivos, a actividade
notarial é uma das mais remotas actividades jurídicas já
desempenhadas pelo ser humano. A crer em registos deixados pelas
civilizações longínquas, a referida actividade já era tradição na Roma
antiga, onde se dava de modo muito peculiar. Naquela época e lugar,
o notário (ou notarius, como era chamado) era responsável pela
realização de transcrições e registos de julgamentos e de
procedimentos judiciais.

Ao lado desses, havia o tabelione, profissional que, mais se


aproximava do notário dos dias de hoje, na medida em que era
responsável pela formalização da vontade das partes através de
minutas, as quais eram redigidas sobre tábuas, com assinatura das
partes, testemunhas e tabeliones.

Ambas as funções (de notário e de tabelião), resistiram ao efeito do


tempo, recebendo, contudo, diferentes contornos.

Cláudio Martins comenta que o notariado deve-se ao servi publici


romani. Fontes autorizadas, como a Enciclopédia Britânica, sugerem
essa conclusão. Com efeito, sob o verbete notary, ali se pode ler que

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a lei romana o notarius, termo de que provém a moderna


designação2.
Sem dúvida, as raízes do notariado estão mergulhadas em épocas
bem mais remotas. A origem histórica dos serviços de notas e de
registro vem de longas datas, estando relacionada à natureza
humana e sua necessidade de perpetuar actos e fatos relevantes. Há
registos históricos de realização desses serviços já pelos povos do
Egipto.
Os grupos sociais primitivos, ainda nos dizeres de Martins, a partir da
família, possuíam necessidades rudimentares, e por isso dispensava
intermediação no seu limitado atendimento.
Bem cedo, por força da lei das necessidades crescentes, o
relacionamento social se tornou mais exigente, sobretudo no que se
referia aos assuntos de trocas ou de mercado, esboço de economia
fechada. E foi preciso disciplinar esse relacionamento em ascensão
através de interpostas pessoas, na hipótese, pela confiança que
inspiravam, os sacerdotes, que já curavam da memorização dos
cânones do direito divino, como informaram Atanásio Thanopulos e
Dionísio Livathinos, de quem se pode colher tais informações.3
Como ainda não existia escrita, os negócios eram igualmente
memorizados pelo sacerdote memorista, cuja integridade se fazia,
assim, a única garantia de cumprimento das relações negociais. O
memorista foi, portanto, até o advento da escrita, o primeiro
indivíduo a exercitar, rudimentarmente, actividade assemelhada à
função notarial.
Coube a Justiniano I, imperador bizantino (527-565) e unificador do
Império romano cristão, a transformação da rudimentar actividade
tabelião em profissão regulamentada. As principais disposições da
legislação justiniana, no âmbito notarial, consistiram na instituição
do protocolo; na valorização do pacto pela intervenção no notário;
na obrigação quanto ao local em que o tabelião e seus auxiliares
deveriam permanecer à disposição dos clientes; na disciplina
rigorosa a que aquele e estes ficavam submetidos no exercício da
profissão. O protocolo (do grego protos – primeiro e kolla – pregar,
significa etimologicamente uma folha pregada a certos documentos,
contendo, em acréscimo, o resumo ou as indicações do conteúdo do
ato)4.
Por muito tempo não existiu qualquer regulamentação para a
actividade. Apenas no Século XIX surgiram as primeiras leis
estabelecendo a necessidade de requisitos para o exercício da

2
MARTINS, Cláudio. Direito notarial: teoria e técnica. Fortaleza: Imprensa UFCE,
1974. p. 18
3
CUNHA, Gonçalves. Tratado do direito civil. Coimbra: Coimbra Ed., 1939. p. 645.
4
COUTURE. Eduardo J. Vocabulário Jurídico. Buenos Aires: Depalma, 1976. p. 487

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profissão. No Brasil o ofício surgiu na época do Brasil Colónia, quando


o cargo era designado pela Coroa, em carácter vitalício, sem
qualquer necessidade de comprovação de capacidade para seu
exercício (Colégio Notarial do Rio Grande do Sul, 2009).
Assim surgiu a função notarial que, nas palavras de Brandelli, é
composta por “aquelas actividades que são o cerne do notariado e
que sempre estão presentes a fim de orientar os poderes e deveres
do agente notarial” (1998, p. 125). Desse modo, quando o notário
aconselha as partes actuando como intermediador nos negócios
jurídicos que serão formalizados, e direciona juridicamente a
vontade das partes com o objectivo de proporcionar-lhes segurança
jurídica, está exercendo a função notarial.

Exercícios

1) A origem do Direito Notarial e Registral está relacioando `a natureza humana e a


necessidade de perpectuar actos e factos relevante.
a) Certo b) Errado Resposta: Certo

2) Quando o notário aconselha as partes actuando como intermediador nos


negócios jurídicos e direcciona a vontade das partes, estamos diantes da:
a) Função Notarial; b) Função Registral Resposta: a)

UNIDADE Temática: 1.3. Características e Princípios Orientadores dos Registos e da


Segurança Jurídica

Introdução

Uma das principais características da actividade notarial, que reflecte


inclusive um dos seus alicerces, é a segurança jurídica proporcionada
pela participação do tabelião, profissional do Direito, isento e
detentor de fé pública.

A intervenção do notário, neste particular, pode evitar que


documentos falsos ou irregulares venham causar prejuízo directo às
partes, ou inclusive, até a terceiros que não estejam participando do
negócio. Nas palavras de Brandelli:

12
ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

“Um documento falso, inexacto ou imperfeito é um perigo ao


negócio jurídico pelo prejuízo que pode ocasionar às partes,
bem como a terceiros, uma vez que cria uma aparência que
não corresponde à realidade, sendo pois factor de risco à paz
social e à segurança jurídica” (1998, p. 127).

A participação do tabelião na formalização do negócio a ser realizado


pelos interessados diminui o risco de que a segurança jurídica seja
afectada. O perigo se minimiza por ter este profissional com
preparação jurídica especializada para a realização do acto.

No mesmo sentido se pronuncia Leonardo Brandelli, referindo que a


produção de documentos censuráveis:

“Se minimiza consideravelmente com a intervenção tanto na


configuração do negócio como em seu amoldamento
documental, de alguém com preparação jurídica
especializada, imparcialidade profissional e responsabilidade
por sua actuação: o Notário.”

Continua aludindo, citado autor, residir nisto a razão pela qual o


ordenamento prevê a intervenção do notário e:

“Ofertando um passo a mais para facilitar o negócio, impõe a


todos a confiança no documento criado, dotando-o com a
qualidade de ter credibilidade, forçosamente, contra todos,
isto é, tal documento é dotado de fé pública, predicado da
função notarial” (1998, p. 127).

Assim, a credibilidade inerente a função permite que a ingerência do


notário na documentação de actos, contratos e negócios jurídicos
lhe conceda a segurança jurídica necessária para a perpetuação dos
actos através dos tempos.

Conforme estabelece Brandelli (1998), a função notarial apresenta,


simultaneamente, várias características. Ela constitui uma função
jurídica, cautelar, técnica, rogatória, pública e imparcial.

É função jurídica na medida em que quem a realiza é um profissional


do Direito. O notário tem a missão de amoldar a vontade das partes
à lei. Significa que deve dar adequação jurídica a situações fáticas de
ordem patrimonial e moral que lhe foram trazidas pelas partes.
Fundamental para atingir tal objectivo é um amplo conhecimento
jurídico. Isto representa dizer que “a tarefa típica desempenhada
pelo notário é voltada para atingir fins jurídicos” e “sua actividade
principal refere-se ao âmbito jurídico da vida social” (BRANDELLI,
1998, p. 128)

13
ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

Já a função cautelar se manifesta na prevenção de futuros litígios


entre as partes, pois a participação do tabelião na formalização dos
negócios privados por consequência acaba por prevenir e evitar que
possíveis contendas se instaurem sobre o assunto. Comassetto
refere-se a esta qualidade da actividade notarial como um “ofício de
prudência” (2002, p. 64). Nas palavras de Brandelli:

 “O notário molda juridicamente os negócios privados, a fim


de que se adeqúem ao sistema jurídico vigente, prevenindo
por conseguinte, e evitando, ao máximo, que futuros vícios
sejam aventados, bem como que lides se instaurem sobre a
questão;

 O notário, no exercício regular de sua função, adianta-se a


prevenir e precaver os riscos que a incerteza jurídica possa
acarretar aos seus clientes.(...);

 Assim, por derradeiro, a função notarial atua na esfera da


realização voluntária do Direito, prevenindo litígios, evitando-
os, sendo por isso, importante instrumento de pacificação
social” (1998, p. 129 e 130).

A qualidade técnica observa-se na medida em que o notário precisa


respeitar e se ater aos institutos jurídicos que regulamentam a
matéria e a todas as normas notariais que permitem a realização do
Direito no caso apresentado. De acordo com Leonardo Brandelli, é
evidente que grande parte da actuação do tabelião depende da
perfeição do tecnicismo, ou seja, necessita de conhecimento por
parte do profissional que a realiza dos institutos jurídicos e dos
modos de realização do Direito, através de seus conceitos, fórmulas,
formas e categorias.

Daí se depreende que “a técnica que deve ter o tabelião não é uma
técnica qualquer, mas a técnica jurídica” (1998, p. 132).

A actividade notarial precisa ser provocada, pois o notário não age


de ofício. Esta é a razão de ser a actividade considerada rogatória.
Assim, o tabelião não pode actuar sem a iniciativa da parte
interessada. A função notarial é, pois, oferecida a todos que dela
necessitem, porém, o interessado é que deve procurá-la,
provocando a actividade notarial, que não pode ser iniciada de ofício
pelo próprio tabelião.

Conforme anteriormente referido, o Poder Público delega ao


tabelião o exercício de uma actividade pública. Trata-se, portanto,
de uma função que seria do Estado por dizer respeito a interesses de
toda uma colectividade – e isso a qualifica como função pública –,

14
ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

mas que acaba sendo repassada ao notário. Nas palavras de


Leonardo Brandelli, Função Pública é:

“Aquela actividade própria e característica do Estado, pela


razão de que a comunidade está interessada de maneira
directa em sua organização e em seu cumprimento regular e
contínuo. É aquela função que, devido a sua importância para
a colectividade, a todos interessa directamente tê-la prestada
de forma eficiente e contínua, sendo ela pois exercida sob o
manto estatal, que visa garanti-la” (1998, p. 132).

Por fim, a actividade notarial apresenta a característica da


imparcialidade que representa, inclusive, um de seus pilares. É
fundamental que a actividade notarial seja realizada com total e
absoluta imparcialidade. Por este motivo, o notário deve ficar
equidistante das partes, além de deferir a elas idêntico tratamento.
De acordo com Brandelli:

 “O notário deve conduzir sua actividade com absoluta


imparcialidade, atendendo com igualdade e equidistância
todas as partes envolvidas no negócio que reclama a sua
intervenção. (...)

 A imparcialidade do notário vai além mesmo das partes,


tendo ele tal dever para com terceiros não vinculados
directamente, dentre os quais, encontra-se em primeiro
relevo o Estado” (1998, p. 130).

Estes são os fundamentos da actividade notarial que permitem que


sua realização aconteça sempre em respeito à lei e dentro do
almejado pelas partes.

No que tange aos princípios da actuação da administração pública na


qual as conservatórias estão abrangidas, destacam-se as seguintes5:
a) Princípio da Legalidade:
 A obediência a este princípio implica necessariamente
a conformidade da acção administrativa com a lei e o
direito, pelo que os poderes dos órgãos da
Administração Pública não poderão ser usados para a
prossecução de fins diferentes dos atribuídos por lei.
b) Princípio da prossecução do interesse pública e protecção
dos direitos e interesses dos cidadãos:

5
Capitulo II do Decreto nº. 30/2001, de 15 de Outubro.

15
ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

 Segundo este princípio, os órgãos da administração


Pública, observando o princípio da boa-fé,
prosseguem o interesse público, sem prejuízo dos
direitos e interesses dos particulares protegidos por
lei;
c) Princípio da justiça e da imparcialidade:
 No exercício das suas funções e no seu
relacionamento com as pessoas singulares ou
colectivas, a Administração Publica deve actuar de
forma justa e imparcial;
 A imparcialidade impõe que os titulares se abstenham
de praticar ou participar na prática de actos ou
contratos administrativos, nomeadamente de tomar
decisões que visem interesses próprios, do seu
cônjuge, parente ou afim, bem como de outras
entidades com as quais possa ter conflitos de
interesse, nos termos da lei.
d) Princípio da transparência da Administração Pública:
 Este princípio implica a publicidade da actividade
administrativa.

e) Princípio da colaboração da Administração com os


particulares:
 Os órgãos e instituições da Administração Publica no
seu desempenho devem prestar as informações orais
ou escritas, bem como esclarecimento que os
particulares lhes solicitem;
 Apoiar e estimular as iniciativas dos particulares,
receber as suas informações e considerar as suas
sugestões.
f) Princípio da participação dos particulares:
 Os órgãos e instituições da Administração Pública
promovem a participação das pessoas singulares
e colectivas que tenham por objecto a defesa dos
seus interesses, na formação de decisões que lhes
disserem respeito.
g) Princípio da decisão:
 Os órgãos e instituições da Administração Pública
devem decidir sobre todos os assuntos que lhes
sejam apresentados pelos particulares;

16
ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

 Se um assunto for apresentado a um órgão não


competente em razão da matéria, este emitirá um
despacho a mandar remeter o expediente ao
órgão competente, com conhecimento do
interessado.
h) Princípio da celeridade do procedimento administrativo:
 O procedimento administrativo deve ser célere,
de modo a assegurar a economia e a eficácia das
decisões.
i) Princípio da fundamentação dos actos administrativos:
 A Administração Pública deve fundamentar os
seus actos administrativos que impliquem
designadamente o indeferimento do pedido ou a
revogação, alteração ou suspensão de outros
actos administrativos anteriores.
j) Princípio da responsabilidade da Administração Pública:
 Segundo o qual, a Administração Pública
responde pela conduta dos agentes dos seus
órgãos e instituições de que resultem danos a
terceiros, pelos mesmos termos da
responsabilidade civil do Estado, sem prejuízo do
seu direito de regresso, conforme as disposições
do Código Civil.
k) Princípio da igualdade e da proporcionalidade:
 É vedado aos órgãos e instituições da
Administração Publica privilegiar, prejudicar,
privar de qualquer direito ou isentar de qualquer
dever jurídico um cidadão por motivo da sua cor,
raça, sexo, origem técnica, lugar de nascimento,
estado civil dos pais, situação económica, posição
social, filiação partidária ou religiosa.
No entanto, constituem garantia dos direitos das pessoas singulares
ou colectivas as seguintes:
a) O requerimento;
b) A reclamação;
c) O recurso hierárquico;
d) O recurso tutelar;
e) O recurso da Revisão;
f) O recurso contencioso.

17
ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

Uma das garantias da administração pública é o da imparcialidade, o


qual determina que é vedado ao agente da administração pública,
praticar ou participar em procedimentos administrativos ou em acto
ou contrato de direito publico ou privado em que a Administração
Publica faz parte nos seguintes casos:
a) Quando nele nele tenha interesse, por si, como
representante ou gestor de negócios de outra pessoa;
b) Quando, por si ou como representante ou gestor de
negócios de outra pessoa, nele tenha interesse o seu
cônjuge, algum parente ou afim em linha recta ou até 2º
grau da linha colateral, bem como qualquer pessoa com
quem viva em economia comum;
c) Quando nele tenha interesse uma sociedade em cujo
capital tenha, por si ou conjuntamente com as pessoas
referidas na alínea anterior uma participação no seu
capital,
d) Quando tenha intervindo no procedimento como perito
ou mandatário ou haja dado parecer sobre a questão a
resolver;
e) Quando contra ele, seu cônjuge ou parente em linha recta
esteja intentada acção judicial proposta por interessado
ou pelo respectivo cônjuge;
f) Quando se trate de recursos de decisão proferidas por
qualquer das pessoas referidas na alínea b) ou com
intervenção delas.
O impedimento deve ser imediatamente comunicado, sob pena de
falta disciplinar grave, pelo agente da administração pública que se
considere impedido, ao respectivo superior hierárquico ou ao
presidente do órgão colegial de que seja titular, consoante os caso.
O impedimento pode também ser suscitado por qualquer
interessado, até ser proferida decisão definitiva ou praticado o acto,
em requerimento ode se especifique os factos que constituam a sua
causa.

18
ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

Exercícios
1) O tabelião (notário) deve ter uma preparação económica especializada para a
realização dos actos que lhe forem submetidos.
a) Certo b) Errado Resposta: Errado

2) A função notarial apresenta vairas caracterisiticas sendo:


a) Privada b) Imparcial c) Económica Resposta: Imparcial

3) Qual dos princípios de actuação da administração pública impõe que os titulares


se abstenham de practicar ou participar na practica de actos ou contractos
administrativos que entrem em conflito de interesses:
a) Princípio da Decisão;
b) Princípio da Responsabilidade;
c) Príncipio da Transparência e;
d) Princípio da Justiça e Imparcialidade
Resposta: d)

UNIDADE Temática: 1.4. Valor Probatório dos Instrumentos Notariais

Introdução
O registo elaborado de acordo com as disposições dos Códigos tem
valor pleno e constitui prova suficiente da existência dos factos, o
qual só pode ser contrariado por sentença transitada em julgado,
proferida em acções de estado ou de registo.
Os registos constituem ainda presunção da existência dos factos que
deles constam obrigatoriamente nos termos das disposições que
regulam os requisitos gerais e os privativos de cada espécie,
presunção que pode ser contrariada pelos meios probatórios gerais,
em qualquer processo judicial em que tais factos sejam relevantes.
A sentença que em relação a um facto dos referidos acima julgue em
contrario à menção que consta no registo só tem valor de decisão
definitiva para a situação a que respeita, devendo, porém, ser
enviada uma copia à repartição do registo civil competente,
acompanhado de certidão das provas tomadas em conta, a fim de o
conservador do registo civil tomar as providencias permitidas pelo
código para rectificação oficiosa do registo, se for caso disso.
Os factos registados não podem ser impugnados em juízo, sem que
seja pedido o cancelamento ou a rectificação dos registos
correspondentes.

19
ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

A prova resultante do registo civil quanto aos factos que a ele estão
obrigatoriamente sujeitos e ao estado civil correspondente não pode
ser ilidida por qualquer outra, a não ser nas acções de Estado e nas
acções de registo.

O instrumento público notarial é todo aquele elaborado pelo


notário, investido na função de acordo com a lei, preenchidos todos
os requisitos legais, cujo objecto seja lícito, os agentes capazes e a
forma esteja prescrita em lei.

O documento notarial actual tem características de autenticidade,


correição e exactidão, oferecendo inclusive valor constitutivo em
determinados actos e contratos, servindo como valor de moeda que
movimenta o tráfico jurídico e seu acesso aos registos públicos,
outorgando-lhe valor processual, seja por força executiva, seja por
seu valor probatório. O documento público possui todas essas
garantias, graças à participação do notário, titular de uma fé pública,
reconhecida e preservada de acordo com o ordenamento jurídico
existente.

Para a segurança de um documento público, faz-se necessária a


intervenção notarial, produzindo-lhe uma força probante, fundada
no cumprimento de determinadas formalidades documentais. Na
elaboração de um documento público, o notário age como órgão da
administração pública dos interesses privados, e esse é o critério
fundamental para classificarmos um documento, ou seja, o seu
autor, não a pessoa que materialmente o escreve, mas sim o sujeito
a quem poderemos imputar a responsabilidade pelo documento, ou
seja, o autor é que o caracteriza como instrumento público.

Os fins fundamentais e essenciais do instrumento público são criar e


dar forma aos negócios jurídicos (quando a forma é necessária para
a existência do ato); provar que ocorreu um fato ou que haja nascido
um negócio jurídico e, dar eficácia ao negócio jurídico ou ao fato que
reflecte o instrumento.

Desses fins principais do instrumento público, surgem outros, quais


sejam: tornar executiva a obrigação, substituir a tradição real e
garantir contra terceiros interessados. A intervenção notarial no
instrumento público forma prova pré-constituída, para prevenir e
estar em postura favorável em caso de discussão futura.

A força probante dos documentos é a eficácia que o direito material


ou processual atribui aos documentos para que sejam probatórios
de actos jurídicos, estrito senso, actos-fatos jurídicos e negócios
jurídicos, ou de actos processuais. Importante se faz ressaltar que

20
ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

documento público é conceito que abrange o de instrumento público


e o de documento público, stricto sensu.

O instrumento público é a composição redigida em linguagem


escrita, por oficial público, no exercício e de acordo com as
atribuições próprias é todo aquele elaborado pelo notário, investido
na função de acordo com a lei, preenchidos todos os requisitos
legais, cujo objecto seja lícito, os agentes capazes e a forma esteja
prescrita em lei, com o fito de preservar e provar fato, ato ou negócio
jurídico em virtude de cuja existência foi confeccionado e em virtude
de cuja validade é necessária sua confecção; já, documentos públicos
são escritos elaborados por oficial público sem o fito de servir de
prova, mas podendo, eventualmente, assim ser utilizados.

O instrumento público porta pôr fé tudo aquilo que nele se encontre


narrado, tanto as declarações dos notários como aquelas que
provêm das partes, posto que o instrumento é uma relação fiel e
exacta de um fato, ou melhor, de uma sucessão de fatos acontecidos
perante o notário, em um só ato.

O carácter da prova pré-constituída, que reveste o documento


público, tem sido destacado tradicionalmente e considerado pela
doutrina como fundamental para caracterizar a prova.

Se o que prova o instrumento público é um negócio jurídico, é


preciso admitir-se que sua eficácia probatória não se limita aos fatos
tangíveis, acontecidos perante o notário, mas sim que alcança um
fato jurídico abstracto ou intangível, qual seja, a constituição,
modificação ou extinção de uma relação jurídica e,
consequentemente, as declarações das partes enquanto elemento
essencial de tal negócio.

Exercicios

1) Em termos de valor probatório, uma vez registados os factos podem ser


impugnados em juízo, sem que seja pedido o cancelamento ou a rectificação dos
registos correspondentes.

a) Certo b) Errado Resposta: Errado

2) Na elaboração de um documento público, o notário age como Órgão de


Administrção Pública dos interesses privados.

a) Certo b) Errado Resposta: Certo

21
ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

3) A eficácia probatória de um negócio jurídico limita-se aos factos tangíveis


acontecidos perante o notário.

a) Certo b) Errado Resposta: Errado

UNIDADE Temática: 1.5. Documentos Electrónicos e Assinatura Digital

Introdução
Os documentos lavrados pelo notário, ou em que ele intervém,
podem ser autênticos ou autenticados, ou ter apenas o
reconhecimento notarial. E são autênticos os exarados pelo notário
nos respectivos livros, ou em instrumentos avulsos, e os certificados,
certidões e outros documentos análogos por ele expedidos, e
autenticados os documentos particulares confirmados pelas partes
perante o notário e só tem reconhecimento notarial quando a
assinatura se mostre reconhecida por notário.
No entanto, são válidos e fazem prova plena, os documentos
transmitidos por via electrónica, fax ou telex entre os serviços dos
registos e do notariado ou arquivos recebidos de qualquer repartição
ou representação consular moçambicana. Os mesmos têm valor de
certidões dos respectivos originais, desde que estes se encontrem
arquivados no serviço emitente e venham datados e assinados pela
entidade competente.
O documento recebido deve ser assinado e autenticado com selo
branco do funcionário competente do serviço receptor. E, pela
emissão destes documentos, além dos encargos próprios das
certidões, serão cobrados emolumentos complementares a serem
ficados por Diploma Ministerial do Ministério da Justiça.

São lavrados nos livros de notas os testamentos públicos e os actos


para os quais a lei exija escritura pública ou que os interessados
queiram celebrar por essa forma. Os registos que a lei manda
praticar pelo notário são exarados nos livros especiais a esse fim
destinados.
São exarados em instrumentos fora das notas os actos que devam
constar de documento autentico, mas para os quais a lei não exija,
ou as partes não pretendam, a redução e escritura pública.
Os termos de autenticação e os reconhecimentos são lavrados no
próprio documento a que respeitam ou em folha anexa.
Quando os actos notariais forem elaborados com recurso a suportes
informáticos, a legalização será feita a medida que forem sendo
extraídas as respectivas certidões.
22
ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

Exercícios

1) Os documentos autênticos ou autenticados são todos exarados pelo notário nos


respectivos livros, ou em instrumentos avulsos.
a) Certo b) Errado Resposta: Errado

2) Os documentos particulares confirmados pelas partes perante o notário são


considerados de:
a) Autenticos b) Autenticados Resposta: Autenticados

3) Os termos de autenticação e os reconhecimentos são lavrados no próprio


documento a que respeitam ou em folha anexa.
a) Certo b) Errado Resposta: Certo

UNIDADE Temática: 1.6. Fé Pública

Um dos princípios que rege a actividade notarial e registral é a fé


pública. A fé pública é atribuída constitucionalmente ao notário e
registador, que atuam como representantes do Estado na sua
actividade profissional. Atribuída por lei, a fé pública é uma forma de
declarar que um ato ou documento está conforme os padrões legais,
permitindo que as partes tenham segurança quanto a sua validade,
até prova em contrário.

A fé pública afirma a certeza e a verdade dos assentamentos que o


notário e oficial de registo pratiquem e das certidões que expeçam
nessa condição, (publicidade, autenticidade, segurança e eficácia dos
atos jurídicos). Ela constitui um dos princípios basilares do direito
notarial.

Para JOÃO TEODORO DA SILVA in Serventias Judiciais e Extrajudiciais,


Belo Horizonte, Serjus, 1999, p.17, a fé pública "afirma a certeza e a
verdade dos assentamentos que o notário e oficial de registo
pratiquem e das certidões que expeçam nessa condição, com as
qualidades referidas.

O princípio da fé pública não só garante a legalidade de uma relação


jurídica como também dá validade e segurança a esta relação
prevenindo o conflito e a litigiosidade.

23
ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

Todo documento produzido com ou sob a chancela do notário e ou


registador detém a presunção legal de veracidade e mesmo que não
tendo sido confeccionado para o fim de servir de prova processual,
na hipótese de ser assim utilizado ele servirá como importante
instrumento no processo judicial, tanto assim, a legislação civil e
processual brasileira não se furtou em mencionar sobre tal fato, já
que a força e a eficácia probante dos documentos probatórios de
actos jurídicos, estrito senso, actos-fatos jurídicos e negócios
jurídicos ou de actos processuais é matéria de competência do
direito material ou processual.

Segundo JOSÉ COSTA LOURES E TAIS MARIA LOURES DOLABELA


GUIMARÃES in Novo Código Civil Comentado, Del Rey, Belo
Horizonte, 2002, comentários ao art. 215 do CCB, p. 98, “porque
lavrada por oficial público, em razão da fé pública de que goza a sua
atestação, a escritura pública se tem por autêntica e de sua
autenticidade resulta ser ela prova plena não só do negócio jurídico
convencionado pelas partes, como igualmente de todas as
ocorrências ou circunstâncias descritas e certificadas pelo tabelião”.

Assim, a escritura pública lavradas em notas de tabelião é a prova


moderna por excelência.

Se a prova documental é tida por relevante, dado o seu grau de


convencimento e porque muitas vezes vai de encontro à realidade,
maior destaque ela terá se tiver sido produzida com o “plus” da fé
pública. Entretanto, importa ressaltar, a presunção atribuída aos
documentos confeccionados com ou sob a chancela do notário e ou
registador possui presunção júris tantum, admitindo-se prova em
contrário, fazendo, portanto, prova plena, bastante e suficiente
enquanto não reconhecidos falsos por decisão judicial transitada em
julgado.

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ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

Exercícios

1) A Fé Pública é uma forma de declarar que um acto ou documento está conforme


os padrões legais.

a) Certo b) Errado Resposta: Certo

2) Sem Fé pública não há garantia do Principio da Legalidade.

a) Certo b) Errado Resposta: Certo

UNIDADE Temática: 1.7. Exercícios Integrados

1) O direito é o objecto da justiça, no entanto, a justiça consiste na virtude de


atribuir a cada um o seu direito. No que aprendeste na área da conservatória,
diga quais são os direitos consagrados aos cidadãos.
2) Em que âmbito se enquadra a cadeira de registos e notariado? Argumente.
3) Um dos princípios da Administração Pública é o da Justiça e Imparcialidade.
Diga em que consiste.
4) A Segurança Jurídica é uma das características basilares ad actividade notarial.
Diga como ela se caracteriza.

25
ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

TEMA II – NOTARIADO

Objectivos deste Tema:

 O objectivo fundamental deste tema que contém 10 unidades temáticas é de dar


a conhecer os tipos de actos notariais, a forma e instrumentos de execução dos
mesmo, como interceder em casos de desconformidade, recusas e recursos junto
as entidades de direito.

UNIDADE Temática: 2.1. Conceito e Função Notarial

UNIDADE Temática: 2.2. Livros e maços de Documentos

UNIDADE Temática: 2.3. Execução dos actos Notariais

UNIDADE Temática: 2.4. Formalismos dos actos Notariais

UNIDADE Temática: 2.5. Instrumentos Avulsos

UNIDADE Temática: 2.6. Termos de autenticação e


Reconhecimentos

UNIDADE Temática: 2.7. Testamentos, Habilitação de herdeiros e


Partilha

UNIDADE Temática: 2.8. Desformalização dos actos Notariais

UNIDADE Temática: 2.9. Certificados, Certidões e Documentos


Análogos

UNIDADE Temática: 2.10. Recusas e Recursos

UNIDADE Temática: 2.11. Exercícios Integrados

UNIDADE Temática: 2.1. Conceito e Função Notarial

Introdução
2.1.1. Conceito de Direito Notarial
Como bem dispõe Larraud, o Direito Notarial é conceituado como “o
conjunto sistemático de normas que estabelecem o regime jurídico
do notariado”6.

6
LARRAUD, Rufino. Curso de derecho notarial. Buenos Aires: Depalma, 1996. p.
83.

26
ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

Análogos ensinamentos são ministrados por Argentino Néri, quando


salienta que “o direito notarial pode definir-se como o conjunto de
normas positivas e genéricas que governam e disciplinam as
declarações humanas formuladas sob o signo da autenticidade
pública”7.
Já Brandelli trás sua definição como o "aglomerado de normas
jurídicas destinadas a regular a função notarial e o notariado”8.
Por outro lado, o direito registral imobiliário é definido por Maria
Helena Diniz como “um complexo de normas jurídico-positivas e de
princípios atinentes ao registro de imóveis que regulam a
organização e o funcionamento das serventias imobiliárias”9.

Nesse diapasão, vale destacar a definição legal, hoje em vigor, de


serviço notarial e de registo público: “Os serviços notariais e de
registo são os de organização técnica e administrativa destinada a
garantir a publicidade, autenticidade, segurança e eficácia dos actos
jurídicos”10.

2.1.2. Função Notarial


São várias as posições acerca da natureza da função notarial. Vão
desde a orientação tradicional que vê o notário como notário como
funcionário público encarregue de autenticar determinados actos e
contratos, como que o apresenta como profissional do
Direito, profissional do Direito, cuja missão consiste em redigir e dar
forma legal a esses mesmos actos, e contratos, passando por várias
posições intermédias, introduzindo novos elementos ou
comungando alguns aspectos de uma daquelas posições.

A função notarial destina-se a dar forma legal e conferir fé pública


aos actos jurídicos extrajudiciais.

Compete ao Notário redigir o instrumento público conforme a


vontade das partes, a qual deve indagar, interpretar e adequar ao
ordenamento jurídico, esclarecendo-as do seu valor e alcance.

A intervenção do Notário abrange não só actos jurídicos mas


também numerosos factos e actos, que se reflectem numa variedade
de documentos, e só pode dar-se por vontade das partes, com o

7
NERI, Argentino I. Tratado teórico y prático de derecho notarial. Buenos Aires:
Depalma, 1980. v. 1, p.322.
8
BRANDELLI, Leonardo. Teoria geral do direito notarial. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 1998. p. 79.
9
DINIZ, Maria Helena. Sistemas de registros de imóveis. 4. ed. São Paulo: Saraiva,
2003. p. 13.
10
Art.1º da Lei 8.935/94 - LNR (Lei dos Notórios e dos Registradores).

27
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acordo de todos os interessados. Desde que o acordo exista, a função


do Notário abrange quer documentos particulares com
reconhecimento notarial quer documentos autênticos, aos quais o
Notário para além de dar forma legal, dá fé pública e confere
autenticidade.

A função notarial tem essencialmente por fim dar forma legal e


conferir aos actos jurídicos extrajudiciais. O notário pode prestar
assessoria às partes na expressão da sua vontade negocial.
A função notarial visa a segurança formal ou instrumental do
documento notarial e a segurança substancial, quedo documento
notarial e a segurança substancial, que requer um negócio válido
num documento redigido de requer um negócio válido num
documento redigido de maneira clara, sem contradições,
ambiguidades ou lacunas, apto para satisfazer as necessidades
práticas para satisfazer as partes perseguem.
O Notário é o profissional do Direito, encarregado de uma função
pública consistente em receber, interpretar e dar forma legal à
vontade das partes, redigindo os instrumentos adequados a esse fim,
conferindo-lhes autenticidade, conservando os originais e expedindo
cópias que dê fé de seu conteúdo. Na sua função está compreendida
a autenticação de fatos.
Walter Ceneviva, em elucidante exposição, afirma que a função
notarial é “a actividade de agente público, autorizado por lei, de
redigir, formalizar e autenticar, com fé pública, instrumentos que
consubstanciam actos jurídicos extrajudiciais do interesse dos
solicitantes”11.
Em outras palavras, Luciana Rodrigues Antunes destaca que “a
actividade notarial apresenta seu carácter jurídico, quando o
Tabelião orienta as partes e concretiza a sua vontade na formulação
do instrumento jurídico adequado à situação jurídica apresentada.
Através da orientação prévia, nota-se o carácter cautelar da
actividade”12.
A função registral é tida, também para Ceneviva, como a que
“dedica-se, como regra, ao assentamento de títulos de interesse
privado ou público, para garantir oponibilidade a todos os terceiros,
com a publicidade que lhes é inerente, garantido, por definição legal,

11
CENEVIVA, Walter. Lei dos notários e dos registradores comentada. 5. ed. São
Paulo: Saraiva, 2006. p. 22.
12
ANTUNES, Luciana Rodrigues. Introdução ao direito notarial e registral. Jus
Navigandi, Teresina, ano 9, n. 691, 27 maio 2005

28
ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

a segurança, a autenticidade e a eficiência dos actos da vida civil a


que se refiram.”13

A função notarial é de fundamental importância em uma sociedade


democrática de direito, uma vez que a preservação da sua memória
e da sua história estão directamente ligadas a um sistema notarial
eficiente que relate os actos jurídicos e convénios por ela celebrados.
Os actos notariais geram segurança jurídica para as partes, e um
notariado bem organizado e estruturado, conforme Liane, apresenta
reflexos em vários segmentos da sociedade, inclusive no que se
refere à prevenção de litígios, diminuindo o número de acções que
tramitam nos foros judiciais.

Os órgãos normais da função notarial são os notários e os técnicos


das repartições notariais. Os demais funcionários apenas poderão
exercer a função notarial na medida em que expressamente a lei o
permitir.

As funções notariais podem ser desempenhadas excepcionalmente


por:

a) Os agentes consulares moçambicanos;


b) Os notários privativos das instituições publicas, desde que
devidamente autorizados;
c) Os comandantes das unidades ou forças militares, dos navios
e aeronaves e das unidades de campanha, nos termos das
disposições legais aplicáveis;
d) Em caso de calamidades públicas, podem excepcionalmente
exercer a função notarial a médica, juízes e sacerdotes;
e) Os funcionários a quem seja atribuída, em relação a certos
actos, a competência própria de notários.

Na sua actuação, compete aos notários dentre varias atribuições o


seguinte:

a) Lavrar testamentos públicos, instrumentos de aprovação,


deposito e abertura de testamentos cerrados;

b) Exarar termos de autenticação em documentos particulares,


ou de reconhecimento de assinaturas neles apostas;

c) Passar certificados de vida e identidade, e bem assim do


desempenho de cargos públicos, de gerência ou de
administração de pessoas colectivas;

13
CENEVIVA, Walter. Lei dos notários e dos registradores comentada. 5. ed. São
Paulo: Saraiva, 2006. p. 23

29
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d) Expedir fotocópias de instrumentos e de outros documentos


ou conferir com os respectivos originais as fotocópias
extraídas pelos interessados;

e) Intervir nos actos jurídicos extrajudiciais, a que os


interessados pretendam dar garantias especiais de certeza
ou de autentidade.

A competência do notário verifica-se, quer em função da matéria,


quer do lugar da celebração do acto é delimitada pelos casos de
impedimento legal do notário. Compete em geral ao notário, redigir
o instrumento público conforme a vontade das partes, a qual deve
indagar, interpretar e adequar ao ordenamento jurídico,
esclarecendo-as do seu valor.

Salvo disposição em contrário, o notário pode praticar, dentro da


área de jurisdição da respectiva repartição, todos os actos da sua
competência, que lhe sejam requisitados, ainda que respeitem a
pessoas domiciliadas ou bens situados fora dessa área.

No entanto, o notário não pode realizar atos em que sejam partes ou


beneficiários, diretos ou indiretos, quer ele próprio, quer o seu
cônjuge ou qualquer parente ou afim, na linha recta ou em segundo
grau da linha colateral.
O impedimento acima é extensivo aos atos cujas partes ou
beneficiários tenham como procurador ou representante legal
alguma das pessoas atrás referidas. Importa referir que tais
impedimentos também são extensivos aos técnicos da repartição a
que pertença o notário impedido.
Exercícios

1) No desempenho das suas funções, o notário pode prestar acessoria às partes na


expressão da sua vontade negocial.

a) Certo b) Errado Resposta: Certo

2) Uma das funções notariais visa dar forma legal e conferir Fé Pública aos actos
jurídicos para além da esfera jurídica.

a) Certo b) Errado Resposta: Certo

30
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UNIDADE Temática: 2.2. Livros e maços de Documentos

Introdução
Especialmente destinados a actos notariais, haverá em cada cartório,
os livros seguintes:
a) Livro de notas para testamentos públicos e para escrituras de
revogação de testamentos;
b) Livro de notas para escrituras diversas;
c) Livro de protestos de títulos de créditos;
d) Livro de registo dos actos lavrados no livro de notas para
testamentos e dos instrumentos de aprovação ou depósito
de testamentos cerrados;
e) Livro de registo de escrituras diversas;
f) Livro de registo de outros instrumentos avulsos e de
documentos que os interessados pretendam arquivar;
g) Livro de registo de contas de emolumentos e selos.
De referir que, os livros acima descritos podem ser substituídos por
suportes informáticos com observância das normas quanto a
numeração de folhas. Para além desses livros, em cada cartório
haverá um livro de emolumentos pessoais.
Os serviços consulares e os demais órgãos especiais da função
notarial terão, de entre os livros acima descritos, os necessários à
prática dos actos notariais da sua competência.
Porém, o notário deve adoptar os modelos de livros que mais
convierem ao serviço a que se destinarem, se não houver modelos
apropriados, os mesmos podem ser desdobráveis em vários, de
harmonia com as conveniências de serviço.
Todos livros têm um número de ordem, sendo a numeração privativa
de cada espécie de livros, quando se trate de desdobrados, a cada
livro corresponderá uma letra por ordem alfabética, devendo a
numeração ser privativa dos livros identificados com a mesma letra.
Os livros de notas para escrituras diversas e bem assim o livro de
registo de outros instrumentos avulsos, podem ser formados por
fascículos ou folhas soltas ou com recurso a meios informáticos. E
quando assim forem, devem ser encadernados, depois de utilizados,
em volume com o máximo de cento e cinquenta folhas.
Para o caso de recurso a meios informáticos quando necessário
converter em suporte físico, deve ser adoptada na sua organização
em volumes, igualmente, com o máximo de cento e cinquenta folhas.

31
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No entanto, nenhum livro pode entrar ao serviço sem ser


previamente legalizado, sendo para tal da competência do notário o
fazer. A legalização consiste no preenchimento do termo de abertura
e encerramento, que serão lançados na primeira e na última folha,
na rubrica das folhas restantes e na numeração de todas elas.
Nos livros formados por folhas soltas ou constituídos por suportes
informáticos, o termo de encerramento pode ser exarado quando o
livro se concluir, sendo a numeração e a rubrica feitas à medida que
as folhas se forem tornando necessárias ao serviço, devendo a
numeração ser precedida da indicação, em todas as folhas, da letra
e do número de ordem do livro a que respeitem.
Quando os actos notariais forem elaborados com recurso a suportes
informáticos, a legalização será feita a medida que forem sendo
extraídas as respectivas certidões.
Além dos livros e dos instrumentos avulsos que não devam ser
entregues às partes, ficarão arquivados nas repartições notariais os
documentos apresentados para integrar ou instruir os actos lavrados
nos livros ou fora deles, salvo quando a lei determine o contrário ou
apenas exija a sua exibição.
Nos documentos apenas exibidos, com excepção dos que
destinarem à verificação da identidade do outorgante e das
cadernetas prediais, devem ser apostas a data de exibição, a rubrica
do notário e o selo branco do cartório.
Os documentos são arquivados, pela ordem cronológica dos actos a
que respeitam ou da sua apresentação, em maços distintos,
consoante a sua espécie, devendo ser organizados privativos de
forma a evitar a deterioração ou extravio dos documentos da
seguinte forma:
a) Com documentos respeitante aos actos em cada livro de
notas;
b) Com os instrumentos de depósito de testamentos cerrados
e as procurações para a sua restituição;
c) Com os instrumentos de abertura de testamentos
cerrados, os testamentos correspondentes as certidões de
óbito;
d) Com os recibos dos registos das notificações e os
documentos relativos ao serviço de protesto que devam
ficar arquivados;
e) Com os demais instrumentos avulsos registados,
documentos que lhes respeitem e os documentos
arquivados a pedido das partes;
f) Como os duplicados de participação de actas notariais; e

32
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g) Com duplicados de guias, folhas, mapas e notas de


emolumentos.
Os maços, com excepção dos correspondentes aos documentos
referidos na alínea a), são anuais. Os documentos complementares
de outros actos serão arquivados segundo a ordem por que são
mencionados no respectivo instrumento, podendo quando o
número de documentos arquivados o justifique, poderá o maço ser
desdobrado em tantos quantos o notário julgue convenientes à boa
organização do serviço.
Relativamente a guarda de livros, documentos e informação, o
notário não é obrigado a mostrar os livros, documentos e índices da
repartição notarial, senão nos casos previstos na lei, e deve guarda-
los enquanto eles não forem transferidos para outros arquivos; deve,
porém, prestar verbalmente as informações que lhe sejam
solicitadas pelos interessados, referentes à existência dos actos,
registos ou documentos arquivados, quando deles possa passar
certidão.
As informações referentes aos registos lavrados no livro de protestos
de títulos de crédito, quando solicitadas por estabelecimentos de
crédito ou seus agentes, podem ser fornecidas sob forma sumária,
por escrito em papel comum.
E os livros e documentos só podem sair das repartições notariais
mediante autorização do notário, não podendo ser transferidos para
outros arquivos antes de decorridos quinze anos, a contar da sua
conclusão ou inventariação.
Decorrido o prazo de quinze anos, os livros e documentos podem ser
transferidos para o Arquivo Nacional e para a biblioteca do Estado e
arquivos distritais, nos termos das disposições legais aplicáveis.
O tempo de permanência mínima dos livros e documentos nas
repartições notariais pode ser ampliado ou reduzido, em cada caso,
pela Direcção Nacional dos Registos e do Notariado, mas nunca será
inferior a dez anos.

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Exercícios

1) Devido a demanda verificada no início do ano, por questões relacionadas com o


registo de nascimento para o ingresso escolar, houve roptura de livros de notas
para escrituras diversas, ete porque o notário se encontrava ausente, os livros
solicitados foram aviados directamente para a Conservatória, como classifica este
procedimento?
a) Correcto b) Errado Resposta: Errado

2) Na Conservatória da Manga foram lavradas diversas escrituras totalizando 350


folhas, tendo o Notário ordenado a sua encadernação em volume único.
a) Correcto b) Errado Resposta: Errado

UNIDADE Temática: 2.3. Execução dos Actos Notariais

Introdução
Os documentos lavrados pelo notário, ou em que ele intervém,
podem ser autênticos ou autenticados, ou ter apenas o
reconhecimento notarial. São autênticos os documentos exarados
pelo notário nos respectivos livros, ou em instrumentos avulsos, e os
certificados, certidões e outros documentos análogos por ele
expedidos, enquanto que, são autenticados os documentos
particulares confirmados pelas partes perante notário.
No entanto, tem reconhecimentos notarial os documentos
particulares cuja assinatura se mostre reconhecida por notário.
Os actos notariais são escritos com os dizeres por extenso, salvo no
que respeita às palavras usadas como fórmulas de tratamento ou
cortesia nos instrumentos de protesto, nas certidões de teor, nas
públicas-formas e traduções, a transcrição dos títulos e dos originais
é feita com as abreviaturas e algarismos que neles existirem.
É permitido o uso de algarismos e abreviaturas, reconhecimentos,
averbamentos, extractos, registos e contas, na numeração das folhas
dos livros ou dos documentos, nas cotas de referencia nestes apostas
e, em quaisquer actos, para a referenciação dos documentos para
eles apresentados ou exigidos e da residência dos respectivos
intervenientes, e nas palavras usadas para designar títulos
académicos ou honoríficos.

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Os instrumentos, certificados, certidões e outros documentos


análogos, e bem assim os termos de autenticação, são lavrados sem
espaço em branco, se alguma linha do acto não for inteiramente
ocupada pelo texto, deve o espaço em branco ser inutilizado por
meio de um traço horizontal.
As palavras emendadas, escritas sobre rasuras ou entrelinhadas
devem ser expressamente ressalvadas. A eliminação de palavras
escritas deve ser feita por meio de traços que as cortem e de forma
que elas permaneçam legíveis.
De referir que, as ressalvas são feitas antes da assinatura dos actos
de cujo texto constem e, tratando-se de actos lavrados em livros de
notas, ou de instrumentos de procuração, devem ser manuscritos
pelo funcionários que os assina.
Nota importante é que as palavras traçadas, mas legíveis que não
forem ressalvadas consideram-se não eliminadas.
Os materiais utilizados na composição dos actos notariais devem ser
de boa qualidade e capazes de dar à escrita as necessárias garantias
de inalterabilidade e duração.
No que tange a validade, são validos e fazem prova plena, os
documentos transmitidos por via electrónica, fax ou telex entre os
serviços dos registos e do notariado ou arquivos recebidos de
qualquer repartição ou representação consular moçambicana.
Os documentos em referência têm valor de certidões dos respectivos
originais, desde que estes se encontrem arquivados no serviço
emitente e venham datados e assinados pela entidade competente,
devendo o documento recebido ser assinado e autenticado com selo
branco do funcionário competente ao serviço receptor.
Quanto a utilização, os documentos ou actos arquivados na
repartição notarial podem ser utilizados para integrar ou instruir os
actos que nela venham a ser lavrados, enquanto não houver
expirado o prazo da sua validade e não se tiverem modificado as
condições em que foram exarados.
Exercícios

1) Na execução dos actos notariais as palavras traçadas, mas legíveis que não
forem ressalvadas consideram-se:
a) Eliminadas b) Não eliminadas Resposta: Eliminadas

2) Os actos notariais só podem ser escritos com os dizeres por extenso.


a) Certo b) Errado Resposta: Errado

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UNIDADE Temática: 2.4. Formalismo dos Actos Notariais

Introdução
Os actos notariais são escritos em língua oficial, devendo ser
redigidos com a necessária correcção, em termos claros e precisos.
A sua terminologia será aquela que, em linguagem jurídica, melhor
traduza a vontade das partes, expressa nas suas instruções, devendo,
porém, evitar-se a inserção nos documentos de tudo o que seja
supérfluo.
O documento escrito em língua estrangeira deve ser acompanhado
da tradução correspondente, a qual pode ser feita por notário
moçambicano, pelo consulado moçambicano no país onde o
documento foi passado, pelo consulado desse país em Moçambique,
ou ainda por tradutor idóneo que, sob juramento ou compromisso
de honra, afirme, perante o notário, ser fiel a tradução.
Os documentos passados no estrangeiro, em conformidade com a lei
local, são admitidos para instruir actos notariais,
independentemente de prévia legalização. Se, porém, houver
fundadas dúvidas acerca da autencidade do documento
apresentado, pode ser exigida a sua legalização, nos termos da lei
processual.
Dentre várias formalidades comuns, o instrumento notarial deve
conter:
a) A designação do dia, mês, ano e lugar em que for lavrado ou
assinado;
b) O nome completo do funcionário que o lavrou, a menção da
respectiva qualidade e a designação da repartição a que
pertence;
c) O nome completo, estado, naturalidade e residência
habitual dos outorgantes, bem como das pessoas singulares
por estes representados, as denominações das pessoas
colectivas e as denominações ou firmas das sociedades que
os outorgantes representem, com a indicação das suas
sedes;
d) O nome completo, estado e residência habitual das pessoas
que devam intervir como abonadores, intérpretes, peritos-
médicos, testemunha e leitores.
No que tange aos requisitos gerais, se no acto intervier um substituto
legal, no impedimento ou falta do notário, indicar-se-á o motivo da
substituição. O outorgante que não saiba ou não possa assinar, deve
apor a sua impressão digital.

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Relativamente aos outorgantes que não saibam ou não possam


assinar, devem apor à margem do instrumento, segundo a ordem
por que nele foram mencionados, a impressão digital do indicador
da mão direita. E os que não puderem apor a impressão do indicador
da mão direita, por motivo de doença ou de defeito físico, aporão a
do dedo que o notário determinar; junto à impressão digital far-se-á
menção do dedo a que corresponde.
Quando algum outorgante não puder apor nenhuma impressão
digital, referir-se-á no instrumento à existência e à causa da
impossibilidade.
E, quando algum outorgante não compreenda a língua oficial,
intervirá com ele um intérprete da sua escolha, o qual transmitirá,
verbalmente, a tradução do instrumento ao outorgante e a
declaração de vontade deste ao notário.
Se houver mais de um outorgante, e não for possível encontrar uma
língua que todos compreendam, intervirão os intérpretes que forem
necessários. De frisar que a intervenção não é necessária, se o
notário dominar a língua dos outorgantes a ponto de lhes fazer a
tradução verbal do instrumento.
O outorgante que, por motivo de surdez, não poder ouvir a leitura
do instrumento deve lê-lo em voz alta; se não souber ou não puder
ler, tem a faculdade de designar uma pessoa que, na presença de
todos os intervenientes, proceda à segunda leitura e lhe explique o
seu conteúdo.
O mudo que souber e puder ler e escrever deve declarar por escrito,
no próprio instrumento, antes das assinaturas, que o leu e
reconhecer conforme a sua vontade; se não souber ou não puder
escrever, deve manifestar a sua vontade por sinais que o notário e
os demais intervenientes compreendam; se nem isso for possível,
intervirá no acto um intérprete. Para o mesmo, também é aplicável
no caso do outorgante ser surdo-mudo. Já pra o caso de outorgante
cego, pode designar uma pessoa que proceda à segunda leitura.
No entanto, não podem ser abonadores, interpretes, peritos,
tradutores, leitores ou testemunhas:
a) Os que não estiverem em seu perfeito juízo;
b) Os que não entenderem a língua oficial;
c) Os menores não plenamente emancipados, os surdos, os
mudos e os cegos;
d) Os funcionários e demais pessoal em serviço na
repartição notarial;

37
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e) O cônjuge, os parentes e afins, na linha recta ou em 2º


grau na linha colateral, tanto do notário que intervier no
instrumento como de qualquer dos outorgantes,
representantes ou representados;
f) O marido e a mulher, conjuntamente;
g) Os que por efeito do acto adquiram qualquer vantagem
patrimonial.
Porém, não é permitida a intervenção de qualquer interveniente
acidental em mais de uma qualidade, salvo o disposto no número 5
do artigo 54º. Compete ao notário verificar a idoneidade dos
intervenientes.
O notário pode recusar a intervenção do abonador, interprete,
períto, tradutor, leitor ou testemunha que não considere digno de
crédito, ainda que ele não esteja abrangido pelas proibições acima.
Exercícios

1) Os actos notariais podem ser escritos em língua diferente da nacioal dependendo


da originalidade das partes intervenientes podendo se nomear um tradutor.
a) Certo b) Errado Resposta: Errado

2) Devido a problemas de surdez da Sra. Emilia Moises, o notário pediu ao Sr. João
António, funcionário afecto a conservatória para que pudesse abonar em nome
da outorgante, como avalia esse procedimento.
a) Correcto b) Errado Resposta: Errado

UNIDADE Temática: 2.5. Instrumentos Avulsos

Introdução
Como foi descrito na unidade temática 2.2, existirá em cada
conservatória o livro de registo de instrumentos avulsos e de
documentos no qual são registados:
a) Os instrumentos de abertura de testamentos cerrados;
b) Os instrumentos de actas de reunião de órgãos sociais e de
procurações;
c) Os demais instrumentos avulsos lavrados em mais de um
exemplar e que não devam ser registados nos livros de actos
e de escrituras públicas;

38
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d) Os documentos que forem entregues na repartição para


ficarem arquivados.
Importa referir que tais instrumentos avulsos são lavrados em um só
exemplar, exceptuando-se os de depósito de testamentos cerrados,
que devem ser lavrados em duplicado, desfazendo-se no texto
menção desta circunstância.
Os instrumentos lavrados são entregues aos outorgantes ou
interessados, exceptuam-se os de abertura de testamentos cerrados
e dos de actas de reuniões de organismos sociais, que ficam sempre
arquivados. Enquanto que, os instrumentos de depósito de
testamentos cerrados, um dos exemplares, considerado o original
ficará arquivado, sendo o restante entregue ao depositante.

UNIDADE Temática: 2.6. Termos de Autenticação e Reconhecimentos

Introdução
Os documentos particulares adquirem a natureza de documentos
autênticos, desde que as partes confirmem o seu conteúdo perante
o notário. Apresentado o documento para fins de autenticação, o
notário deve reduzir esta a termo, que para todos efeitos substitui o
reconhecimento autêntico.
O termo de autenticação deve conter os seguintes elementos:
a) A declaração das partes de que já leram o documento ou
estão perfeitamente inteiradas do seu conteúdo e que este
exprime a sua vontade;
b) A ressalva das emendas, entrelinhas, rasura ou traços
contidos no documento e que neste não estejam
devidamente ressalvados.
Nesta, é aplicável à verificação da identidade das partes, bem como
à intervenção de abonadores, interpretes, peritos, leitores ou
testemunhas, o disposto para os instrumentos públicos.
Se o documento que se pretende autenticar estiver assinado a rogo,
devem constar do termo o nome completo, idade, estado e
residência do rogado a menção de que o rogante confirmou o rogo
no acto da autenticação e a impressão digital do rogante. E fará
expressa menção das circunstâncias que legitimam o
reconhecimento e da forma como foi verificada a identidade do
rogante.
Os reconhecimentos notariais podem ser simples ou com menções
especiais. O simples respeita à assinatura do signatário do
documento e são sempre presenciais.
O reconhecimento com menções especiais é o que inclui, por
exigência da lei ou a pedido dos
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interessados, a menção de qualquer circunstância especial que se


refira a estes, aos signatários ou aos rogantes e que seja conhecida
do notário ou por ele verificada em face de documentos exibidos e
referenciados no termo.
Designa-se presencial o reconhecimento da assinatura em
documentos escritos e assinados ou apenas assinados, na presença
do notário, ou o reconhecimento que é realizado estando o
signatário presente no acto. Enquanto que, o reconhecimento com
menção especial relativa à qualidade de representante do signatário
feito por simples confronto da assinatura deste com a assinatura
aposta no bilhete de identidade ou documento equivalente.
A assinatura feita a rogo só pode ser reconhecida como tal por via de
reconhecimento presencial e desde que o rogante não saiba ou não
possa assinar. O Rogo deve ser dado ou confirmado perante o
notário, no próprio acto do reconhecimento da assinatura e depois
de lido o documento ao rogante.
O reconhecimento deve obedecer a designação do dia, mês, ano e
lugar em que for lavrado ou assinado, devem ainda, mencionar o
nome completo do signatário e referir a foram por que se verificou a
sua identidade, com indicação de esta ser do conhecimento pessoal
do notário ou do número, data e serviço emitente do documento
que lhe serviu de base.
Os reconhecimentos com menções especiais devem conter, além
dos requisitos acima descritos, a menção dos documentos exibidos e
referenciados no termo.
O reconhecimento da assinatura a rogo fará expressa menção das
circunstâncias que legitimam o reconhecimento e da forma como foi
verificada a identidade do rogante, e conterá ainda a impressão
digital deste.
Exercícios
1) Aos conhecimentos notariais simples não é obrigatória a presença física da parte
visada no acto.
a) Certo b) Errado Resposta: Errado
2) Os documentos escritos em língua estrangeira que o notário não domine, ou
documentos escritos ou assinados a lápis, podem não ter assinatura reconhecida
pelo notário.
a) Certo b) Errado Resposta: Certo

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UNIDADE Temática: 2.7. Testamentos, Habilitação de Herdeiros e Partilha

Introdução
2.7.1. Testamentos
Apresentado pelo testador o seu testamento cerrado, para fins de
aprovação, o notário deve lavrar o respectivo instrumento, que
principiará logo em seguida à assinatura aposta no testamento. O
instrumento de aprovação deve conter, em especial, as seguintes
declarações, prestadas pelo testador:
a) Que o escrito apresentado contém as suas
disposições de última vontade;
b) Que está escrito e assinado por ele, ou escrito por
outrem, a seu rogo, e somente assinado por si, ou que
está escrito e assinado por outrem, a seu rogo, visto
ele não poder ou não saber assinar;
c) Que o testamento não contém palavras emendadas,
truncadas, escritas sobre rasuras ou entrelinhas,
borrões ou notas marginais, ou no caso de as ter que
estão devidamente ressalvadas;
d) Que todas as folhas, à excepção da assinada, estão
rubricadas por quem assinou o testamento.
O notário fará constar o número de páginas completas e de linhas de
alguma página incompleta, ocupadas pelo testamento e bem assim,
no caso de o testamento não ter sido escrito pelo testador, que este
provou, perante si, saber e poder ler.
As folhas serão rubricadas pelo notário; se o testador o solicitar, o
testamento será ainda, com o instrumento de aprovação, cosido e
lacrado pelo notário, que aporá sobre o lacre o seu sinete e na face
exterior da folha que servir de invólucro será lançada uma nota com
a indicação da pessoa a quem o testamento pertence.
O testamento cerrado deve ser manuscrito e pode, a pedido do
testador, ser escrito pelo notário que vier a lavrar o instrumento de
aprovação.
Qualquer repartição notarial em cuja área o documento se encontre
tem a competência para a abertura do testamento cerrado. E só
pode ser lido pelo notário que lavrar o instrumento de aprovação.
Se, porém, o testamento estiver depositado, a abertura deve ser
feita na repartição notarial onde o documento se encontra
depositado.

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No caso de sucessão e entrega judicial de bens em consequência de


justificação da ausência do testador, se o testamento não estiver
depositado, a abertura será feita em qualquer repartição notarial do
local onde estiver pendente a respectiva acção.
De referir que o instrumento de abertura do testamento cerrado
deve ser lavrado mediante a exibição de narrativa completa do
registo de óbito no caso do falecimento do testador, ou da certidão
da decisão judicial que tenha ordenado a abertura, no caso de esta
ser consequência de justificação de ausência do testador.
No entanto, o documento comprovativo do falecimento pode ser
dispensado, se o facto for do conhecimento pessoal do notário,
porém, mesmo neste caso, só depois de exibida a certidão de óbito
do testador podem ser extraídas certidões do testamento.
A formalidade de abertura do testamento compreende os seguintes
actos:
a) A abertura material do testamento, se estiver cosido e
lacrado ou encerrado em qualquer invólucro;
b) A verificação do estado em que o testamento se
encontra, nomeadamente da existência de alguma
viciação ou emenda, rasura, entrelinha, borrão ou nota
marginal não ressalvada;
c) A leitura do testamento pelo notário, em voz alta e na
presença simultânea do representante ou interessado e
das testemunhas.
Depois de aberto, o testamento será rubricado, em todas as folhas,
pelo apresentante ou interessado, pelas testemunhas e pelo notário,
sendo arquivado em seguida. De seguida é lavrado um instrumento,
no qual se consignarão, em especial, o cumprimento das
formalidades descritas nas alíneas acima, e a data do óbito do
testador ou a data da decisão judicial que mandou proceder a
abertura.
Quando tiver conhecimento do falecimento de alguma pessoa cujo
testamento cerrado esteja depositado no respectivo cartório
notarial, desde que nenhum interessado se apresente, dentro do
prazo legal, a solicitar a sua abertura, o notário deve requisitar à
conservatória do registo civil certidão de óbito do testador, a qual
será passada, com urgência, sem dependência do pagamento do
emolumento devido.
Recebida a certidão de óbito, o notário procederá à abertura do
testamento, lavrado o respectivo instrumento em papel comum, em
seguida, comunicará a existência do testamento, por carta registada,
aos herdeiros e aos testamenteiros nele mencionados e aos parentes
sucessíveis mais próximos, quando conhecidos.

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ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

Todavia, o notário não pode fornecer nenhuma informação ou


certidão do conteúdo do testamento cerrado enquanto não estiver
satisfeita a conta do instrumento, na qual serão incluídos o selo do
testamento, o emolumento e selo correspondente à certidão de
óbito requisitada e ainda as despesas de correio.

2.7.2. Habilitação de Herdeiros e Partilha


A habilitação de herdeiros pode ser obtida por via notarial e consiste
na declaração, feita em escritura pública por três pessoas que o
notário considere dignas de crédito, de que os habilitados são
herdeiros do falecido e não há quem lhes prefira na sucessão ou
quem concorra com eles.
Tal declaração pode ainda ser feita, em alternativa, por quem
desempenhar o cargo de cabeça-de-casal, devendo, nesse caso, ser-
lhe feita advertência de que incorrem nas penas aplicáveis ao crime
de falsidade, se, dolosamente e em prejuízo de outrem, tiverem
prestado ou confirmado declarações falsas, devendo a advertência
constar da própria escritura.
Não são admitidos como declarantes, aqueles que não podem ser
testemunhas instrumentaria, nem os parentes sucessíveis dos
habilitados, nem o cônjuge de qualquer deles.
A escritura de habilitação deve ser instruída com os seguintes
documentos:
a) Certidão de óbito, de narrativa completa, do autor
da herança;
b) Certidão de teor do testamento ou da escritura de
doação por morte, quando a sucessão, no todo ou
em parte, se funde em alguns destes actos;
c) Documentos justificativos da sucessão legitima,
quando nesta se fundamente a qualidade de
herdeiro de algum dos habilitados.
A habilitação notarial deve ser publicada, a expensas dos
interessados, por meio de extracto da respectiva escritura, no praxo
de quinze dias, a contar da sua celebração. Do extracto devem
constar a identidade do falecido e dos herdeiros a data de abertura
da herança e da escritura de habilitação e a indicação do cartório em
que esta foi lavrada.

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ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

A publicação é feita, mediante o preparo devido, por iniciativa do


notário, num dos jornais mais lido do município do último domicílio
do autor da herança ou, se ai não houver, num dos jornais mais lidos
na região, se o autor da herança tiver falecido no estrangeiro, e não
tiver domicílio em Moçambique, a publicação far-se-á num dos
jornais diários de Moçambique.
A habilitação notarial tem os mesmos efeitos de habilitação judicial
e é título bastante para que se possam fazer em comum, a
requerimento e a favor de todos os herdeiros e do cônjuge meeiro,
os seguintes actos:
a) Registo nas conservatórias do registo predial;
b) Registo nas conservatórias do registo comercial e
da propriedade automóvel;
c) Averbamentos de títulos de crédito;
d) Levantamento do dinheiro ou de outros valores; e
e) Averbamentos de transmissão de direitos de
propriedade literária, científica, artística ou
industrial.
De referir que, os actos referidos nas alíneas a) e d) podem ser
requeridos por qualquer herdeiros habilitados ou pelo cônjuge
meeiro.
O herdeiro preterido que pretenda impugnar a habilitação notarial,
além de propor a acção nos termos da lei do processo civil, deve
justificar ao notário a sua qualidade de herdeiro e comunicar-lhe a
pendência do processo, devendo o notário proceder à suspensão da
habilitação.
Só podem ser passadas certidões da escritura de habilitações sujeitas
a publicação depois de decorridos trinta dias sobre a data em que o
extracto for publicado, se dentro desse prazo não for recebida
comunicação da pendência da impugnação, havendo impugnação, as
certidões só podem ser passadas depois de averbada a decisão
definitiva da acção.

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Exercícios

1) Uma das formalidades da abertura de textamento cerrado é a presença


simultânea de:
a) Do representante;
b) Do interessado;
c) Testemunhas e;
d) Todos
Resposta: d)
2) As certidões da escritura de habilitações sujeitas a publicação, só podem ser
passadas decorridos:
a) 45 dias; b) 60 dias; c) 30 dias. Resposta: 30 dias

UNIDADE Temática: 2.8. Desformalização dos Actos Notariais

Introdução
É insusceptível de reconhecimento a assinatura aposta em
documento cuja leitura não seja facultada ao notário, ou em papel
sem nenhuns dizeres, em documento escrito em língua estrangeira
que o notário não domine, ou em documento escrito ou assinado a
lápis.
Tratando-se de documento escrito em língua estrangeira que o
notário não domine, o reconhecimento pode ser feito desde que o
documento seja traduzido, ainda que verbalmente, por perito da sua
escolha.
No entanto, o notário pode recusar o reconhecimento da assinatura
em cuja feitura tenham sido utilizados materiais que não ofereçam
garantias de fixidez, e bem assim da assinatura aposta em
documentos que contenham linhas ou espaços não utilizados.
As omissões e inexactidões verificadas em actos lavrados nos livros
de notas, devidas a erro comprovado documentalmente, podem ser
supridas ou rectificadas, a todo tempo, por meio de averbamentos,
desde que da rectificação não resultem duvidas sobre o objecto a
que se reporta ou sobre a identidade dos intervenientes. E tal só
pode ser lavrado quando as omissões ou inexactidões respeitem:
a) À menção de documentos anteriores;
b) À indicação dos números das descrições e inscrições prediais
e matrículas de entidades sujeitas a registo comercial, bem
como das conservatórias a que se refiram;

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ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

c) À menção do local, rua e número de polícia da situação dos


prédios;
d) À menção das inscrições matriciais e valores patrimoniais;
e) À identificação e regime matrimonial de bens dos
intervenientes nos actos;
f) Aos simples erros de cálculo ou de escritos revelados pelo
contexto do acto.
Os interessados devem comprovar que foi paga a diferença do
imposto do SISA, se este for devido e, tratando-se de rectificação que
envolva aumento de valor do acto, é feita nova conta, para
pagamento dos emolumentos e do selo correspondente ao
acréscimo verificado.
As omissões e inexactidões verificadas em actos lavrados nos livros
de notas, relativas ao cumprimento de normas fiscais cuja verificação
caiba ao notário, face ao conteúdo do acto, podem por este ser
corrigidas oficiosamente mediante averbamento.
A omissão do dia, mês ou ano ou do lugar em que o acto foi lavrado
ou a inexactidão da sua data, podem ser oficiosamente supridas ou
rectificadas por averbamento se, pelo texto do instrumento ou pelos
elementos existentes no cartório, for possível determinar a data ou
o lugar da celebração.
De referir que, os averbamentos devem ser rubricados pelo próprio
notário.
Exercício

1) O reconhecimento de assinatura em língua estrangeira só pode ocorrer se este for


traduzido, ainda que verbal por perito escolhido pelo notário.
a) Certo b) Errado Resposta: Certo

UNIDADE Temática: 2.9. Certificados, Certidões e Documentos Análogos

Introdução
A requisição, feita por autoridades ou repartições públicas, de
certificados, certidões ou documentos análogos que devam ser
passados pelos notários será endereçada à repartição notarial
competente, com referência expressa ao fim a que se destina o
documento requisitado.
Os documentos requisitados serão expedidos sem dependência do
pagamento de emolumentos e selo, neles será mencionado o fim a
que se destinam. Fora desses casos, por cada requisição de
certificado, certidões, telecópias ou documentos análogos deve ser

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preenchida, com o correspondente número de ordem, uma ficha do


modelo em uso, cujo original ficará arquivado, entregando-se o
duplicado aos requisitantes.
Dos requisitos comuns, os certificados, as certidões e os documentos
análogos devem conter a designação da repartição emitente, a
numeração das folhas, a menção da data e do lugar em que foram
passados e ainda a rubrica e assinatura do funcionário competente.
Nos documentos transmitidos por telecópias, além dos requisitos
atrás referidos, deve incluir-se uma nota de encerramento contendo
as menções exigidas para a emissão de certidões de teor.
Os documentos recebidos por telecópia nos cartórios devem ser
imediatamente arquivados no maço próprio após terem sido
numerados e rubricadas todas as folhas e lavrada a nota de
recebimento com indicação do número de folhas efectivamente
recebidas, local, data, categoria e assinatura do funcionário
competente do serviço receptor.
Os documentos serão expedidos sem dependência do pagamento de
emolumentos e selo, neles será mencionado o fim a que se destinam.
No entanto, os mesmos devem ser passados dentro do prazo de três
dias, a contar da data em que forem pedidos ou requisitados, com
excepção dos que forem requisitados com urgência que serão
passados no prazo máximo de vinte e quatro horas. No caso de
urgência, advertir-se á ao interessado de que o emolumento
correspondente é elevado ao dobro.
A qualquer pessoa é lícito requerer certidões dos registos,
instrumentos e documentos arquivados nas repartições notariais,
exceptuam-se testamentos públicos, as escrituras de revogação de
testamentos, os instrumentos de depósito de testamentos cerrados
e dos respectivos registos, dos quais só podem ser extraídas
certidões, sendo vivos os testadores, quando estes ou procuradores
com poderes especiais as requeiram, e, depois de falecidos os
testadores, quando esteja averbado o falecimento deles.
As certidões extraídas, devem ser entregues ao próprio requisitante
ou a quem se mostrar autorizado por este a recebê-las.
Pela celebração de qualquer testamento ou escritura é fornecida,
dentro do prazo legal, uma certidão gratuita ao testador ou, nos
restantes casos, ao interessado a quem o notário cobrar recibo da
conta do acto, nos termos do artigo 201.
Os documentos recebidos por telecópias, nos termos da aliena i) do
artigo 5 têm o valor probatório das certidões, desde que obedeçam
ao disposto no artigo 159.

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ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

Exercício

1) Os certificados, certidões e documentos análogos com caracter de urgência que


forem requisitados serão passados no prazo máximo de 24h sem pagamento de
emolumentos.
a) Certo b) Errado Resposta: Errado

UNIDADE Temática: 2.10. Recusas e Recursos

Introdução
O notário deve recusar a prática do acto que lhe seja requisitado nos
casos seguintes:
a) Se o acto for nulo;
b) Se o acto não couber na sua competência ou ele estiver
pessoalmente impedido de o praticar;
c) Se tiver dúvidas sobre a integridade das faculdades
mentais dos outorgantes;
d) Se as partes não fizerem os preparos devidos.
No entanto, as dúvidas sobre a integridade das faculdades mentais
dos outorgantes deixam de constituir fundamento de recusa, se no
acto intervierem dois peritos médicos que garantam a sanidade
mental daqueles. E quando se trate de testamento público ou de
instrumento de aprovação de testamento cerrado, a falta de preparo
não constitui fundamento de recusa.
A intervenção dos notários não pode ser recusa com o simples
fundamento de o acto ser anulável ou ineficaz. Verificado o facto, o
notário deve advertir as partes da existência da causa e dos efeitos
da anulabilidade e consignar no instrumento a advertência que haja
feito.
O acto notarial é nulo, por vício de forma, apenas quando falte algum
dos seguintes requisitos:
a) A menção do dia, mês e o ano ou do lugar em que foi lavrado;
b) A declaração do cumprimento das formalidades previstas nos
artigos 70º e 71º;
c) A observância do disposto na primeira parte do número 2 do
artigo 47º;
d) A assinatura de qualquer intérprete, abonar, perito ou
testemunha;

48
ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

e) A assinatura de qualquer dos outorgantes que saiba e possa


assinar;
f) A assinatura do notário.
A nulidade prevista na alínea a) considera-se sanada, se pelo texto
do instrumento ou pelos elementos existentes na repartição, for
possível determinar a data ou lugar do acto e proceder ao respectivo
averbamento.
Também é nulo o acto lavrado por funcionário incompetente, em
razão da matéria ou do lugar, ou por funcionário legalmente
impedido, sem prejuízo do disposto no número 2 do artigo 369º do
Código Civil.
Para efeitos de revalidação, o acto nulo por violação das regras de
competência territorial ou por falta de qualquer dos requisitos
previstos nas alíneas b) e e) do número 1 do artigo 75 pode ser
judicialmente revalidado nos casos seguintes:
a) Quando se prove a ausência do notário competente e a
natureza urgente do caso;
b) Quando se mostre que foram cumpridas as formalidades
devidas;
c) Quando se mostre que as palavras eliminadas, quaisquer que
elas fossem, não podiam alterar os elementos essenciais ou
o conteúdo substancial do acto;
d) Quando os intérpretes, abonadores, peritos ou testemunhas
cujas assinaturas faltem se encontrem devidamente
identificados no acto, tenham assistido à sua leitura,
explicação e outorga e não se recusem a assiná-lo;
e) Quando os outorgantes cujas assinaturas estejam em falta
tenham assistido à leitura e explicação do acto, concordem
com ele e não se recusem a assiná-lo;
f) Se prove que o acto não assinado pelo notário é conforme a
lei, representa fielmente a vontade das partes e foi presidido
pelo notário, que não se recusou a assiná-lo.
No entanto, a nulidade fundada na incapacidade ou na inabilidade
de algum dos intervenientes pode ser sanada, quando o vício se
referir apenas a um dos abonadores ou a uma das testemunhas e o
tribunal o considere suprido pela idoneidade do outro interveniente.
É competente para a acção de revalidação o Tribunal Provincial, ou
equiparado, do local a que pertença a repartição notarial onde o acto
foi lavrado. A acção será proposta por qualquer dos interessados
contra todos os demais e contra o respectivo notário.

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ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

Quando o notário se recusar a praticar o acto, pode o interessado


interpor recurso para o tribunal distrital a que pertença a sede da
repartição notarial, sem prejuízo da reclamação hierárquica prevista
na lei. Para tal, se o interessado declarar, verbalmente ou por escrito,
que pretende recorrer, ser-lhe-á entregue pelo notário, dentro de
quarenta e oito horas, uma exposição datada na qual se
especifiquem os motivos da recusa.
Dentro de quinze dias subsequentes à entrega da exposição deve o
recorrente apresentar na repartição notarial a petição de recurso,
dirigida ao juiz de direito e acompanhada da exposição do notário e
dos documentos que o interessado pretende oferecer. Nela, o
recorrente procurará demonstrar a improcedência dos motivos da
recusa, concluindo por pedir que seja determinada a realização do
acto.
Independentemente de despacho, o processo irá, logo que seja
recebido em juízo, com vista ao Ministério Publico, a fim de este
emitir parecer, em seguida, será julgado por sentença, no prazo de
oito dias, a contar da conclusão.
Das sentenças cabe recurso, com efeito suspensivo e nos termos
gerais das leis de processo para o Tribunal Supremo, e tem
legitimidade para interpor recurso as partes, o notário e o Ministério
Público. O recurso é processado e julgado como o de agravo em
matéria cível.
A revalidação judicial dos actos notariais não eximem ou
funcionários notariais da responsabilidade pelos danos que hajam
causado.

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ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

Exercícios

1) O Notário deve recusar a practica do acto com o simples fundamento de ser


anulável ou ineficaz.
a) Certo b) Errado Resposta: Errado

2) A assinatura do notário é imprescidinvel apara que o acto notarial não se torne


nulo por vício de forma.
a) Certo b) Errado Resposta: Certo

UNIDADE Temática: 2.11. Exercícios Integrados

1) “A função notarial é de fundamental importância em uma sociedade


democrática de direito”. Fundamente a afirmação.
2) Há que visam garantir os impedimentos impostos aos notários, e aos
técnicos da repartição na sua actuação como entes públicos?
3) O Sr. Gabriel Francisco trabalha no Zimbabwe e a sua esposas na cidade
da Beira, fizeram um filho de nome Efizaldo e pretende estudar, o
professor mandou fazer um requerimento de transferência para outra
escola, ela fez mas em nome do marido, como encarregado e como não
pudesse assinar ela achou melhor assinar e dirigiu-se ao Cartório para
reconhecer. Em suas palavras diga, se o Notário deve ou não reconhecer.
Sustente sua posição.

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ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

TEMA III – REGISTOS PREDIAL

Objectivos deste Tema:

 O Registo Predial visa essencialmente dar publicidade aos direitos inerentes às


coisas imóveis, no que tange ao seu registo (factos e actos sujeitos), publicidade,
meios de prova, a correcção dos vícios inerentes ao registo, a impugnação e
responsabilidade civil e criminal dos requerentes bem como dos agentes do
Estado, pelos actos negligentes decorrentes dos actos de registos.

UNIDADE Temática: 3.1.1. Objecto do Registo Predial

UNIDADE Temática: 3.1.2. Princípios Orientadores

UNIDADE Temática: 3.1.3. Factos e acções sujeitos a Registo

UNIDADE Temática: 3.1.4. Efeitos e Vícios do Registo

UNIDADE Temática: 3.1.5. Actos de Registo

UNIDADE Temática: 3.1.6. Organização e Processo de Registo

UNIDADE Temática: 3.1.7. Publicidade e Meios de Prova

UNIDADE Tematica: 3.1.8. Suprimento, rectificação e reconstituição


dos Registos

UNIDADE Temática: 3.1.9. Impugnação das Decisões

UNIDADE Temática: 3.1.10. Emolumentos e Preparos

UNIDADE Temática: 3.1.11. Responsabilidade Civil e Criminal

UNIDADE Temática: 3.1.12. Exercícios Integrados

UNIDADE Temática: 3.1.1. Objecto do Registo Predial

Introdução

O Decreto-lei nº. 47611, de 28 de Março de 1967 é o instrumento


que regula o funcionamento dos Serviços do Registo Predial. Nesta
perspectiva, o registo predial tem fundamentalmente por fim dar
publicidade aos direitos inerentes às coisas imóveis.

O registo predial destina-se essencialmente a dar publicidade à


situação jurídica dos prédios, tendo em vista a segurança do

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ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

comércio jurídico para que terceiros possam ter conhecimento da


mesma e respeitem os direitos dos respectivos titulares inscritos.

Trata-se de um direito especial, que visa proteger o comércio


jurídico, legitimar situações e publicitar direitos.

O registo público de coisas imóveis deve garantir, de forma efectiva,


os direitos de propriedade e hipotecas constituídas a favor de
credores, permitir a tributação da riqueza imobiliária, assegurar a
eficácia prática das decisões judiciais relativas a imóveis, reduzir
litígios relativos a imóveis, promover o planeamento urbanístico e
das infra-estruturas, facilitar reformas fundiárias e, de forma geral,
permitir o desenvolvimento do mercado imobiliário.

De acordo com o art. 204 do Código Civil, são consideradas coisas


imóveis:

a) Os prédios rústicos, isto é, parte delimitadas do solo e as


construções neles existentes que não tenham autonomia
económica;

b) Os prédios urbanos, que são quaisquer edifícios


incorporados no solo, com os terrenos que lhes sirvam de
logradouro (serventia), incluindo as partes integrantes; e

c) As árvores, os arbustos e os frutos naturais enquanto


estiverem ligados ao solo.

Exercício

1) Os frutos naturais, as arvores, os arbustros enquanto estiverem ligados no solo,


constituem objectos do registo Predial.

a) Certo b) Errado Resposta: Certo

UNIDADE Temática: 3.1.2. Princípios Orientadores

Introdução

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ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

São princípios orientadores do registo predial, aqueles que


enformam o respectivo ordenamento jurídico, inspirando as normas
regulamentares e auxiliando a compreensão e correcta
interpretação dessas normas. E no conjunto desses princípios, são
enumerados os seguintes:

a) Princípio da Instância

 Este princípio traduz-se no facto de o registos se


efectuar a pedido dos interessados, salvo as situações
de oficiosidade, previstas na Lei.
b) Princípio da Legalidade

 Além da regularidade formal dos actos requeridos e


da legitimidade dos requerentes, incumbe ao
conservador apreciar a legalidade dos títulos
apresentados e a validade dos actos dispositivos neles
contidos, e bem assim a capacidade dos outorgantes,
em face dos títulos e dos registos anteriores.

c) Princípio da Tipicidade

 Estão sujeitos a registo não todos os factos e


situações atinentes aos prédios, mas apenas os factos
e situações tipificados na lei. Para essa tipificação, a
lei serve-se principalmente dos efeitos jurídicos
produzidos pelos factos. Há, pois, uma tipificação de
factos realizada por recurso aos seus efeitos jurídicos.

d) Princípio da Presunção

 O registo definitivo constitui presunção não só de que


o direito registado existe, mas que pertence à pessoa
em cujo nome esteja inscrito, nos precisos termos em
que o regime o define.

e) Princípio da Prioridade

 O direito em primeiro ligar inscrito prevalece sobre os


que, por ordem da data do registo, se lhe seguirem
relativamente aos mesmos bens, concorrendo
diversas inscrições da mesma data. A prioridade dos
direitos inscritos é determinada pelo número de
ordem das apresentações correspondentes.
Exceptuam-se as inscrições hipotecárias que, sendo
registadas na mesma data, concorrem entre si na
proporção dos respectivos créditos;

54
ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

 O registo provisório, quando convertido em


definitivo, conserva a prioridade que tinha como
provisório.

f) Princípio de Trato Sucessivo

 O negócio pelo qual se transmitam direitos ou


contraiam encargos sobre bens imóveis não pode ser
admitido a registo definitivo sem que os direitos
transmitidos ou bens onerados se encontrem
definitivamente inscritos a favor do transmitente ou
de quem os onera;

 Quando sobre determinado prédio persista alguma


inscrição que envolva registo de transmissão, domínio
ou mera posse, não se admitirá inscrição, definitiva
referente ao mesmo prédio sem a intervenção do
respectivo titular, salvo se o facto que se pretende
inscrever for consequência de outro já anteriormente
inscrito, a falta de intervenção do titular pode, porém,
ser suprida nos termos previstos nos artigos 218º e
seguintes.

Exercícios

1) Um dos princípios orientadores do Registo Predial é o da Igualidade e da


Proporcionalidade.

a) Certo b) Errado Resposta: Errado

2) Quando convertido em definitivo, o registo provisório, conserva a prioridade que


tinha como provisório, tal enquadra-se no princípio de:

a) Tipicidade; b) Presunção; c) Trato Sucessivo, d) Nenhum. Resposta: d)

3) O Princípio da Prioridade acautela conflitos futuros entre as partes do registo predial.

a) Certo b) Errado Resposta: Certo

55
ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

UNIDADE Temática: 3.1.3. Factos e Acções sujeitos a Registo

Introdução
Estão sujeitos a registo14:
a) Os factos jurídicos que importem reconhecimento,
aquisição ou divisão do direito de propriedade;
b) Os factos jurídicos que envolvam reconhecimento,
constituição, aquisição ou modificação dos direitos de
usufruto, uso e habitação, enfiteuse, superfície ou servidão;
c) Os factos jurídicos confirmativos de convenções anuláveis
ou resolúveis, que tenham por objecto os direitos
mencionados nas alíneas anteriores;
d) A constituição da propriedade horizontal e as alterações do
seu título constitutivo;
e) A mera posse;
f) O penhor, a penhora, o arresto e o arrolamento de créditos
hipotecários, ou de créditos garantidos por consignação de
rendimentos de coisas imóveis, e quaisquer outros actos ou
providências que incidam sobre os mesmos créditos;
g) A penhora, o arresto, o arrolamento de imóveis ou de
direitos sobre eles, bem como quaisquer actos ou
providências que afectem a sua livre disposição;
h) A promessa de alienação ou oneração de bens e os pactos
de preferências, se as partes tiverem convencionado
atribui-lhes eficácia real, bem como a obrigação de
preferência, a que o testador tenha atribuído igual eficácia,
quando, em qualquer dos casos, respeitem a coisas
imóveis;
i) As cláusulas fideicomissórias, de pessoas a nomear, de
reserva de direito de dispor de bens doados, ou de reversão
deles e, em geral, outras cláusulas suspensivas ou
resolutivas que condicionem os efeitos de actos de
disposição ou alienação de bens, quando respeitem a coisas
imóveis;
j) O arrendamento por mais de seis anos, e bem assim as
respectivas transmissões e sublocações;
k) A hipoteca de imóveis, a sua modificação e a cessão dela ou
do grau de propriedade do respectivo registo, bem como a
consignação de rendimento de coisas imóveis;

14
Dentre outros constantes do art. 2 do CRP

56
ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

l) A afectação de imóveis e de créditos hipotecários a reserva


ou fundo de reserva das sociedades de seguros, bem como
a afectação dos imóveis ao condicionamento da
responsabilidade de entidades patronais;
m) O ónus emergente dos registos de casas de renda limitada
e de renda económica, imposto sobre os prédios como tais
classificados;
n) A renúncia a indeminização pelo aumento de valor
resultante de obras realizadas em imóveis situados nas
zonas marginais das estradas nacionais, ou em imóveis
abrangidos por planos de melhoramentos municipais, em
casos de futuras expropriação desses imóveis;
o) Quaisquer outras restrições ao direito de propriedade, ou
outros encargos que a lei especial declare sujeitos ao
registo predial e, em geral, os factos jurídicos que importem
a extinção de algum direito, ónus ou encargo
anteriormente registado.
No entanto, o disposto nas alíneas a) e b) não abrange a
comunicabilidade de bens entre cônjuge em consequência do
regime matrimonial.
Na hipoteca de fábricas consideram-se abrangidos pela garantia,
além dos edifícios e logradouros, os maquinismos e demais móveis
inventariados no título constitutivo, mesmo que não constituam
parte integrante dos respectivos imóveis.
Relativamente as acções, estão sujeitas a registo as que tenham por
fim, principal ou acessório, o reconhecimento, a constituição, a
modificação ou extinção de algum dos direitos inclusos nos factos
atrás referidos.
Também estão sujeitas a registos as acções que tenham por fim,
principal ou acessório, e reforma, a declaração de nulidade ou a
anulação de um registo ou do seu cancelamento e das acções acima
referidas logo que transitem em julgado.

É obrigatório submeter a registo todos os factos a ele sujeitos e


requerer os respectivos cancelamentos, quando incidam sobre
prédios, rústicos, urbanos ou isto, situados nos conselhos onde
esteja em vigor o cadastro geométrico da propriedade rústica.

A obrigatoriedade da data que for fixada por despacho do Ministro


da Justiça, publicado no Diário do Governo.

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Exercício

1) O arrendamento por menos de um ano, não constitui facto sujeito a registo de


acordo com o Código de Registo Predial.

a) Certo b) Errado Resposta: Certo

UNIDADE Temática: 3.1.4. Efeitos e Vícios do Registo

Introdução

Importa agora analisar os principais tipos de efeitos do registo


predial, em geral, bem como as suas manifestações no Direito
registral de Moçambique. Um primeiro efeito do registo prende-se
com a publicidade, dando os registos conhecimento à comunidade
dos factos que deles são objecto.

A este propósito, importa abordar, quanto aos efeitos do registo, os


sistemas de registo em que a inscrição assume carácter constitutivo
e os de inscrição meramente declarativa.

Nos primeiros, o direito real só existe depois de efetuado o registo,


pelo que o título ou o contrato apenas geram efeitos obrigacionais.
O contrato de compra e venda definitivo, neste sistema, funciona
como um contrato promessa, pelo que a transferência só se opera
por efeitos do registo.

Nos sistemas declarativos, pelo contrário, a transferência da


propriedade dá-se por mero efeito do contrato.

No sistema de registo predial da República de Moçambique a regra


é de que o registo predial tem efeitos meramente declarativos (cf.
n.º 1 do artigo 6.º do CRP), não tem efeitos constitutivos ou
transmissivos.

O principal efeito do registo é o da oponibilidade contra terceiros dos


factos registados, tal como previsto no n.º 1 do artigo 7.º do CRP.

Assim, o adquirente de um direito real sujeito a registo só fica


protegido contra a possibilidade de outra pessoa adquirir do mesmo
alienante um direito incompatível através do registo.

Outro tipo de efeito é o da presunção da existência do direito


registado e da presunção de que tal direito pertence a quem figura
como titular inscrito no registo (cf. Artigo 8.º do CRP).

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Assim, o registo definitivo constitui presunção de que o direito existe


e pertence ao titular inscrito, nos precisos termos em que o registo
o define. No entanto, tal presunção é ilidível, podendo qualquer
interessado impugnar a veracidade do facto registado e
simultaneamente pedir o cancelamento do registo (cf. Artigo 8.º e
12.º do CRP).

A presunção resultante do registo pode ser destruída, desde que o


respectivo interessado demonstre que o registo contém omissões ou
inexactidões no extracto do registo lavrado em conformidade com
os respectivos títulos, está errado por desconformidade com os
títulos ou é nulo.
Os factos sujeitos o registo podem ser invocados entre as próprias
partes ou seus herdeiros, ainda que não sejam registados,
exceptuam-se os factos constitutivos de hipoteca, cuja eficácia,
entre as próprias partes, depende da realização do registo.
Os factos sujeitos a registo só produzem efeitos contra terceiros
depois da data do respectivo registo. A falta de registo não pode ser
oposta aos interessados pelos seus representantes legais a quem
incumba a obrigação de o promover, nem pelos herdeiros destes.
Os efeitos do registo transferem-se mediante novo registo para o
adquirente dos direitos inscritos e extinguem-se por caducidade ou
cancelamento.
O registo só se considera errado quando se mostre efectuado em
desconformidade com os títulos que lhe serviram de base e podem
ser rectificados oficiosamente ou a requerimento de qualquer
interessado.
No entanto, as omissões ou inexactidões, verificadas no extracto do
registo lavrado em conformidade com os respectivos títulos não
determinam a nulidade do acto, excepto se delas resultar incerteza
sobre os sujeitos ou o objecto da relação jurídica a que o facto
registado se refere, ou a impossibilidade de conhecer outros
elementos fundamentais do facto inscrito ou averbado.
Importa referir que, a nulidade do registo não pode ser invocada
para efeito nenhum enquanto não for reconhecida por decisão
judicial passada em julgado. Todavia, constituem causas de nulidade
as seguintes:
a) Quando for falso ou tiver sido lavrado com base em
títulos falsos;
b) Quando tiver sido lavrado com base em títulos
insuficientes para prova legal do facto registado;
c) Quando enfermar de omissões ou inexactidões
verificadas no extracto de registo;

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d) Quando tiver sido assinado por pessoas sem competência


funcional, salvo o disposto no nº.2 do art. 369 do Código
Civil;
e) Quando tiver sido lavrado em conservatória
incompetente;
f) Quando sobre determinado prédio persista alguma
inscrição que envolva registo de transmissão, domínio ou
mera posse ou quando tiver sido lavrado sem a
apresentação no Diário.
Exercício

1) A falta de registo não pode ser oposta aos interessados pêlos seus
representantes legais a que incumba a obrigação de o promover, nem pêlos
herdeiros destes.
a) Certo b) Errado Resposta: Certo.

UNIDADE Temática: 3.1.5. Actos de Registo

Introdução
Nenhum acto de registo pode ser lavrado, salvo se for oficioso, sem
que se mostre efectuada a respectiva apresentação no Diário. O
registo compõe-se da descrição do prédio a que respeita, da
descrição dos direitos ou encargos que recaem sobre esse prédio e
dos respectivos averbamentos.
No livro-diário lavrar-se á nota de apresentação de todos os
requerimentos ou títulos para registo logo que sejam entregues e
segundo a ordem por que forem recebidos. A entrega pode ser feita
por terceiros, desde que a assinatura do requerente se mostre
reconhecida por notário, ou autenticada com o selo branco, se o
requerente for uma entidade oficial.
A data do registo é, para todos os efeitos, a da respectiva
apresentação, determinando-se por ela a prioridade do facto
registado. No entanto, para efeitos fiscais, quando os registos não
sejam exarados no próprio dia da apresentação em consequência da
qual são lavrados, devem conter a data do lançamento no respectivo
livro, sob pena de se considerarem como efectuados na data de
apresentação correspondente no Diário.
Relativamente ao registo oficioso, dependente de outro acto
requerido, é efectuado com a data da apresentação correspondente
ao acto que haja determinado e,
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independentemente da apresentação é aquela em que for lavrado e


que nele deve ser mencionada.
De referir que, na falta de prazo especial, o registo deve ser lavrado
dentro dos trinta dias seguintes à data da apresentação dos
respectivos títulos.
O registo provisório que não for convertido em definitivo ou
renovado no prazo de seis meses, a contar da sua data, caduca de
direito e só pode ser renovado nos casos previsto no CRP. Enquanto
que, o registo de facto cuja duração conste da respectiva inscrição
ou averbamento caduca no termo do prazo fixado, salvo se o próprio
contrato ou a lei previr a sua renovação ou prorrogação.
Nenhum instrumento relativo a prédios pode ser lavrado sem que no
texto se mencionem os números das descrições deles na
conservatória a que pertençam ou hajam pertencido.
Nos actos pelos quais se partilham ou transmitam direitos ou se
contraiam encargos deve mencionar-se também o número da
inscrição desses direitos em nome do autor da herança ou de quem
os aliena, ou da inscrição da propriedade de propriedade do prédio
em nome de quem o onera.
A prova dos números das descrições e inscrições na conservatória é
feita pela exibição da respectiva caderneta predial actualizada, ou de
certidão ou certificado do registo, passado com antecedência não
superior a três meses.
Nos instrumentos em que se descrevem prédios rústicos, urbanos ou
mistos deve indicar-se o número da respectiva inscrição na matriz ou
no caso de nela estarem omissos, consignar-se a declaração de haver
sido apresentada na repartição de finanças a participação para a
inscrição, quando devida nos termos do Código da Contribuição
Predial.
Os prédios não podem ser identificados em termos contraditórios
com os elementos constantes da matriz, salvo se for exibido
documento que mostre ter sido requerida a alteração matricial
conveniente.
Segundo art. 333 do Código Civil, a caducidade deve ser
oficiosamente verificada e quando tal acontece terá de ser trancada
ao registo. O prazo conta-se conforme o art. 279 do CC.

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Exercícios
1) Nenhum acto de registo pode ser lavrado, salvo se for oficioso, sem que se
mostre efectuada a respectiva apresentação no livro de Inventário.
a) Certo b) Errado Resposta: Errado

2) Todos actos de registo devem ser lavrados dentro dos trinta dias seguintes a data
da apresentação dos respectivos títulos.
a) Certo b) Errado Resposta: Certo
3) O registo provisório que não for convertido em definitivo ou renovado no prazo
de Um ano, a conta da sua data.
a) Certo b) Errado Resposta: Errado

UNIDADE Temática: 3.1.6. Organização e Processo de Registo

Introdução
As repartições encarregadas dos serviços de registo denominam-se
conservatórias de registo predial, a sua organização e
funcionamento é regulado pela lei orgânica dos serviços do registo e
do notariado.
Os registos devem ser efectuados na conservatória em cuja área
estiver situado o prédio a que respeitam, mas se o prédio abranger
uma área que pertença a mais de uma conservatória, o registo deve
ser efectuado em todas elas. E se o facto submetido afectar dois ou
mais prédios situados na área de diversas conservatórias, o registo
efectuar-se á em cada uma delas, na parte respectiva.
Os registos podem ser escritos pelo conservador, ou por outrem sob
a sua responsabilidade, mas serão assinados, com a menção da
respectiva qualidade, pelo conservador, ou pelo ajudante, na falta
ou no impedimento daquele, o qual deve acontecer imediatamente
após a sua feitura, depois de conferido à vista dos títulos que lhe
serviram de base, nos averbamentos é permitido o uso da assinatura
abreviada.
O registo cuja falta de assinatura não possa ser suprida considera-se
juridicamente inexistente.
Os registos são lavrados segundo a ordem da nota de apresentação
correspondente, exceptuam-se os averbamentos, os quais podem
ser efectuados sem observância do número de ordem, desde que
não esteja requerido outro acto de registo que obste à sua
realização.
Haverá em cada conservatória, especialmente destinados aos
serviços de registo, os livros seguintes:

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a) Livro-diário (livro A);


b) Livro de descrições (livro B);
c) Livro de inscrições de propriedade (livro G);
d) Livro de inscrições hipotecárias (livro C);
e) Livro de inscrições de diversas (livro F);
f) Livro de índice pessoal (livro E);
g) Livro de registo de dúvidas e recusas;
h) Livro de registo de emolumentos.
Nas conservatórias divididas em secções haverá livros de registo
privativos de cada secção. No entanto, além dos livros acima
descritos, haverá em cada conservatória os livros de inventário, de
posses e de ponto.
O livro A é destinado à anotação especificada e cronológica dos
requerimentos e documentos apresentados e à menção dos actos
requeridos, dos respectivos preparos e total da conta cobrada, do
livro e folhas em que os registos foram lavrados ou dos
correspondentes despachos. As apresentações no Diário só podem
ser efectuadas até uma hora antes de termos do último período
regulamentar do funcionamento dos serviços.
O Diário é encerrado uma hora antes do termo do último período
regulamentar dos serviços de cada dia, mediante a inutilização, feita
com um traço horizontal a tinta, da linha subsequente à última das
ocupadas pela anotação anterior.
Se os títulos tiverem sido entregues dentro da hora legal, mas esta
terminar antes de efectuada a apresentação, será lavrada a
respectiva nota, cumprindo-se em seguida a formalidade do
encerramento. E quando em algum dia útil não haja nenhuma
apresentação, o conservador fará constar o facto do Diário,
rubricando a declaração nele exarada.
Os livros são ordenados por meio de numeração seguida e privativa
de cada modelo ou espécie, contendo termos de abertura e de
encerramento, assinados pelo juiz da comarca ao qual compete
ainda numerar e rubricar cada uma das folhas, podendo ser feita por
processo mecânico, e a rubrica por meio de chancela.
Na sua escrituração, o registo será escrito sem espaços em branco,
devendo as rasuras, emendas ou entrelinhas feitas no texto ser
expressamente ressalvadas antes da assinatura. Porém, se as
omissões ou erros cometidos não puderem ser sanados, por já estar
encerrado o acto, mas ainda não tiver sido lavrado o registo
imediato, o conservador deve trancar o registo deficiente, lançado
sobre o contexto a nota de “Inutilizado”, que rubricará, e efectuá-lo
de novo.
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Se a última linha do registo não for inteiramente ocupada pelo texto


deve o espaço em branco ser inutilizado por meio de um traço
horizontal com a mesma tinta usada para lavrar o registo.
Se o documento apresentado estiver com letra ilegível, o
conservador deve exigir a apresentação de uma cópia autêntica. De
fácil leitura.
Só são admitidos a registo definitivo os documentos que, segundo a
lei, constituam prova bastante do facto que se pretende registar.
No caso de se inutilizar ou extraviar total ou parcialmente algum livro
de registo, proceder-se á à sua reforma mediante a reconstituição
dos registos neles contidos. Nisto, o conservador lavrará um auto da
ocorrência, em papel comum de formato legal, relatando
sucintamente as circunstâncias que originaram a inutilização ou
extravio, e especificará os livros total ou parcialmente inutilizados ou
extraviados, bem como o período a que correspondem os registos
nele lavrados.
O auto será enviado pelo conservador ao agente do Ministério
Público da comarca, a fim de que este requeira ao juiz a citação edital
dos interessados para, dentro do prazo de dois meses, apresentarem
na Conservatória as cadernetas prediais, certidões, certificados e
notas de registo de que disponham, bem como os títulos e
declarações relativos aos registos feitos nos livros inutilizados ou
extraviados.
Os documentos passados no estrangeiro, em conformidade com as
leis, são admitidos a registo independentemente de prévia
legalização, no entanto, devem ser sempre acompanhados de
tradução realizada nos termos prescritos pela lei notarial.
É obrigatório submeter a registo todos os factos a ele sujeitos e
requerer os respectivos cancelamentos, quando incidam sobre
prédios, rústicos, urbanos ou mistos, situados nos concelhos onde
esteja em vigor o cadastro geométrico da propriedade rústica.
No entanto, a obrigatoriedade do registo só se torna efectiva em
cada concelho a partir da data que for fixada por despacho do
Ministro da Justiça, publicado no Diário do Governo.

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Exercícios
1) As Conservatorias do Registo Predial são reguladas pela lei orgânica dos serviços do
registo e do notariado.
a) Certo b) Errado Resposta: Certo

2) A inexistência de assinatura não invalida o acto de registo ora efectuado.


a) Certo b) Errado Resposta: Errado

3) Qual dos livros abaixo descrito cuja escrituração deve ser até uma hora antes do
termo do período regulamentar da Administração Pública.
a) Livro E; b) Livro F; c) Livro B; d) Nenhum Resposta: d)

UNIDADE Temática: 3.1.7. Publicidade e Meios de Prova

Introdução

A matéria da publicidade e dos meios de prova do registo, encontra-


se regulada nos artigos 261.º e seguintes do CRP, onde para além do
carácter público do registo, se indicam os meios de prova do registo,
podendo qualquer pessoa obter certidões dos actos de registo e
informações, verbais ou escritas, sobre o seu conteúdo, como
consultar, na conservatória, os livros de registo.

O registo predial é público e qualquer pessoa pode não só obter


certidões dos actos de registo e informações, verbais ou escritas,
sobre o seu conteúdo, como consultar, na conservatória, os livros de
registo. A consulta não só é obrigatoriamente facultada pelos
conservadores durante a última hora do segundo período
regulamentar do funcionamento do serviço, e sem prejuízo deste.
A prova do registo é feita por meio de certidões, fotocópias,
certificados, notas de registo, incluindo as lançadas pelos
conservadores na caderneta predial, desde que esta se mostre
devidamente actualizada.
Os documentos acima referidos podem ser passados em papel
comum, contanto que levem aposta e inutilizada a estampilha fiscal
devida, e ainda ser principiados ou passados no mesmo papel em
que hajam sido requeridos, desde que sejam devidamente selados.
No entanto, as certidões requeridas pelo Ministério Público, ou por
outras entidades que gozem de isenção, são passadas gratuitamente
em papel comum, isento de selo, mas as quantias devidas entrarão

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ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

em regra de custas, havendo-as, para serem pagas a final, quando se


destinem a instruir algum processo.
Relativamente às certidões, o CRP prevê a passagem de certidões de
teor, que transcreve literalmente o original, ou narrativas, que
certificam, por extracto, determinado registo ou algum dos seus
elementos. As certidões podem ainda ser integrais ou parciais,
consoante se transcreva ou certifique tudo quanto se encontre
registado ou somente determinadas descrições e inscrições, ou
averbamentos, ou algum dos seus elementos.

O artigo 270 do CRP prevê que os conservadores passarão as


certidões e fotocópias com a maior brevidade e com prioridade
sobre qualquer outro serviço, não fixando contudo qualquer prazo
para a sua emissão. Pelo contrário, no artigo 77.º do CRP, estabelece-
se que, salvo prazo especial, o registo deverá ser realizado no prazo
máximo de 30 dias a contar da data da sua apresentação, sem que
exista, contudo, a previsão de qualquer cominação em caso de
incumprimento de tal prazo.

A prova dos artigos matriciais é feita pela exibição da caderneta


predial actualizada ou da certidão de teor da inscrição matricial,
passada com antecedência não superior a um ano, ou de outro
documento emanado da repartição das finanças.
A participação para a inscrição na matriz, quando se trate de prédio
omisso que, nos termos da lei fiscal, nela deva ser inscrito, prova-se
pela exibição de duplicado que tenha aposto o recibo da repartição
de finanças competente ou pela exibição de outro documento
emanado desta, que esteja autenticado com o respectivo selo
branco.
Exercícios

1) As certidões podem ser parciais quando nele se transcreve ou certifique


determinadas descrições e inscrições, ou averbamento.
a) Certo b) Errado Resposta: Certo
2) O Registo Predial é público, e a disponibilização dos actos para consulta é de
caracter obrigatório pelos conservadores aos interessados a qualquer hora do
per’iodo laboral.
a) Certo b) Errado Resposta: Errado

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UNIDADE Temática: 3.1.8. Suprimento, Rectificação e Reconstituição dos Registos

Introdução
A concordância do registo com a realidade torna-se efectiva,
conforme os casos, pela primeira inscrição do direito ainda não
inscrito a favor de ninguém, pelo estabelecimento do trato
sucessivo, ou pelo seu reatamento, quando interrompido, e ainda
pela expurgação do ónus e encargos extintos e não cancelados.
Os erros cometidos na redacção do extracto do registo, que não
possam ser sanados, nem sequer mediante novo registo, nos termos
previstos no art. 78º, podem ser rectificados oficiosamente ou a
requerimento de qualquer interessado.
As omissões ou inexactidões, verificadas no extracto do registo
lavrado em conformidade com os respectivos títulos não
determinam a nulidade do acto, excepto se delas resultar incerteza
sobre os sujeitos ou o objecto da relação jurídica a que o facto
registado se refere, ou a impossibilidade de conhecer outros
elementos fundamentais do facto inscrito ou averbado.
Se forem vários os interessados e não houver acordo entre eles, o
que pretenda obter a rectificação do registo errado requererá que o
conservador promova a convocação dos demais interessados para,
em conferência, deliberarem sobre a rectificação, juntando desde
logo os documentos de que dispuser.

Apresentados no Diário o requerimento e os documentos, o


conservador oficiará ao juiz da comarca da sede da conservatória,
depois de averbar oficiosamente ao registo a pendência da
rectificação, solicitando que todos os interessados sejam notificados
para comparecerem, sob pena de revelia, na conservatória, em dia e
hora certa, a fim de deliberarem sobre a pretensão do requerente.
Recebido em juízo o ofício do conservador, o juiz deve ordenar a
notificação pessoal dos interessados, nos termos solicitados. No caso
de impossibilidade da notificação pessoal resultar de anomalia
psíquica notória do notificado, o Ministério Publico deve, na falta de
representante legal, promover a nomeação de um curador especial
ao interessado.
Se o conservador e os interessados, reunidos nos termos da
convocação, acordarem na rectificação, será o acordo reduzido a
auto. Lavrado o auto, assinado pelo conservador e por todos
interessados presentes que o saibam e possam fazer, efectuar-se-á
oficiosamente a rectificação, com base nesse auto e depois de feita
a sua apresentação no Diário.

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UNIDADE Temática: 3.1.9. Impugnação das Decisões

Introdução
Quando o conservador se recusar a praticar o acto que lhe tenha sido
requerido, ou o efectuar como provisório por dúvidas, os
requerentes podem interpor recurso para o juiz da comarca a que
pertencer a sede da conservatória. A recusa de rectificação de erros
de registo substanciais só pode, porém, ser apreciada em processo
de rectificação judicial. O recurso considera-se interposto na data da
apresentação da petição.
Importa referir que, o prazo para a interposição do recurso é de dois
meses, a contar da data da apresentação do acto recusado ou do
registo provisório, sem prejuízo da reclamação hierárquica prevista
na lei orgânica dos serviços. Para tal, os interessados que pretendam
recorrer da decisão dos conservadores devem requerer previamente
que para esse fim seja passada nota especificada dos motivos da
recusa ou das dúvidas.
Antes de interporem recurso contencioso, os interessados podem
reclamar hierarquicamente, dentro do prazo de dois meses para o
director-geral dos Registos e Notariados contra a recusa do
conservador ou contra a realização como provisório, por dúvidas, do
acto requerido como definitivo ou como provisório por natureza, nos
termos previstos na lei orgânica dos serviços de registo e do
notariado.

No caso de a reclamação ter objecto a recusa de conversão de um


registo provisório em definitivo ou as duvidas suscitadas pelo
conservador, a sua interposição deve ser averbada, oficiosa e
gratuitamente, ao respectivo registo, antes de remeter o processo à
Direcção Geral.
Os factos comprovados pelo registo não podem ser impugnados em
juízo, sem que simultaneamente seja pedido o cancelamento de
registo.
Exercícios

1) O prazo para interposição de recurso em caso de recusa é de:


a) 60 dias; b) 90 dias; c) 120 dias. Resposta: 60 dias

2) Os factos comprovados para registo podem ser impugnados em juízo, sem que
simultaneamente seja pedido o cancelamento do registo.
a) Certo b) Errado Resposta: Errado

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UNIDADE Temática: 3.1.10. Emolumentos e Preparos

Introdução
Pelos actos praticados nos serviços de registo predial são cobrados
os emolumentos e taxas constantes da respectiva tabela, salvo os
casos de gratuidade ou isenção previstos na lei. Os emolumentos
correspondentes a registos de transmissão de prédios sujeitos ao
regime obrigatório, quando requeridos dentro do prazo de três
meses, a contar da data em que o respectivo facto tiver sido titulado,
beneficiam de uma redução de metade da sua importância normal
sempre que se trate de prédios cujo valor não exceda cinco mil
escudos.
Os conservadores podem exigir, a titulo de preparo, a quantia
provável da conta correspondente aos actos requeridos, incluindo as
despesas de correio, a falta deste, determina a realização como
provisório do acto requerido, ou a sua recusa quando não possa ser
efectuado provisoriamente, podem ser devolvidos, não se lançando
no Diário a apresentação.
Logo que sejam pagos os encargos em dúvida, acrescidos do
emolumento correspondente ao averbamento de conversão, aos
registos realizados como provisórios são convertidos oficiosamente
em definitivos.
Importa referir que o Ministério Público, bem como os demais
representantes do Estado, não são obrigados ao pagamento de
preparo ou de emolumentos pelos actos de registo requeridos a
favor da Fazenda Nacional, mas as quantias devidas entrarão em
regra de custas, havendo-as para serem pagas a final. No entanto,
são isentos de preparos e de emolumentos os registos requeridos a
favor dos corpos administrativos pelos seus representantes legais ou
pelo Ministério Publico, se o acto respeitar a processos executivos.
Relativamente a observância dos preceitos fiscais, o Código de
Registo Predial, prevê que:
a) Nenhum acto sujeito a encargos de natureza fiscal pode
ser definitivamente registado sem que se mostrem pagos
ou assegurados os direitos do fisco;
b) Não é permitido ao conservador apreciar a boa ou má
liquidação dos encargos fiscais que tenha sido feita nas
repartições de finanças;
c) O imposto sobre as sucessões e doações consideram-se
assegurados, desde que esteja instaurado o respectivo
processo de liquidação e dele conste o prédio a que o
registo se refere;

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ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

d) Tendo havido inventário judicial, presume-se assegurado


o pagamento dos direitos correspondentes às
transmissões nelas operadas;
e) Se algum documento tiver de ser aprendido por estar
insuficientemente selado, nem por isso deixará de fazer o
registo provisório do acto.

UNIDADE Temática: 3.1.11. Responsabilidade Civil e Criminal

Introdução
Quem fizer um acto falso ou juridicamente inexistente responde
pelos danos a que der causa e incorre, além disso, se agir com dolo,
nas penas aplicáveis ao crime de falsidade. E na mesma
responsabilidade civil e criminal incorre quem prestar ou confirmar
declarações falsas ou inexactas na conservatória ou fora dela, para
que se efectuem os registos ou se lavrem os documentos
necessários.
Os donos e possuidores de maquinismos, móveis e utensílios
destinados à exploração das fábricas, abrangidos no registo de
hipoteca dos respectivos edifícios, não os podem alienar, onerar ou
retirar sem consentimento escrito do credor, sob as penas e a
responsabilidade próprias dos infiéis depositários.
Os interessados que não requererem dentro do prazo legal o registo
obrigatório dos factos a ele sujeitos incorrem na pena de multa de
cem até cinco mil escudos, sendo instaurado procedimento criminal,
o quantitativo da multa é fixado pelo juiz em atenção ao valor do
prédio a que respeita o dever de registar.
Importa referir que, as importâncias das multas aplicadas
constituem receitas do Cofre dos Conservadores, Notários e
Funcionários de Justiça.

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UNIDADE Temática: 3.1.12. Exercícios Integrados

1) O Princípio da Prioridade, acautela conflitos futuros entre as partes


integrantes no registo predial, diga quais.

2) O Sr. João Alfredo vendeu seu imóvel sito na rua 6 no Bairro da Manga à Srª.
Leopoldina Uane, o acto de registo de transmissão do imóvel, aconteceu na
Conservatória de registo predial da Baixa da cidade. Comente este acto.

3) O Sr. Etelvino Carriço, duvidando do registo do negócio que efectuara na


compra de bens imóveis da empresa Eurenia & Filhos, domiciliada na Vila de
Palma em Cabo Delgado, este deslocou-se pelas 9:45h a conservatória onde
o acto foi registado afim de certificar do registo. No entanto, o conservador
recusou-se a dar informação naquele momento, alegando estar ocupado na
altura, tendo recomendado que este regressasse no período da tarde por
volta das 14:30h. Quid Juris!

4) Por duvidar dos factos apresentados, no dia 30/09/16, o conservador


efectuou um registo provisório do imóvel do Sr. Zacarias Alfane. No entanto,
volvidos 95 dias e porque o registo era provisório, o Sr. Zacarias decidiu
interpor recurso junto a conservatória.

a) Atendendo ao princípio da caducidade dos actos processuais de


registo, acha procedente a decisão do Sr. Zacarias? Fundamente.

5) O registo tem como finalidade dar publicidade do bem ou da coisa em termos


de publicidade. Como é feita a publicidade de um bem móvel e de um bem
imóvel?

71
ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

TEMA IV – REGISTO COMERCIAL

Objectivos deste Tema:

 O Registo Cormecial destina-se a dar publicidade a situação jurídica das


empresas comerciais e outros entes previstos, bem como os factos
jurídicos especificados na Lei. Neste tema, são descritos os factos e acções
sujeitas ao registo, bem como a forma de impugnação dos actos em caso
de recusa de registo por parte dos Agentes do Estado.

UNIDADE Temática: 4.2.1. Objecto do Registo Comercial

UNIDADE Temática: 4.2.2. Princípios Orientadores

UNIDADE Temática: 4.2.3. Factos e acções sujeitos a registo

UNIDADE Temática: 4.2.4. Efeitos e Vícios de Registo

UNIDADE Temática: 4.2.5. Actos de registo, prazos e publicações


obrigatórias

UNIDADE Temática: 4.2.6 Organização do Registo Comercial

UNIDADE Temática: 4.2.7. Processo de registo, publicidade e prova

UNIDADE Temática:4.2.8. Rectificação e Reconstituição dos Registos

UNIDADE Temática:4.2.9. Impugnação das Decisões do Conservador

UNIDADE Temática: 4.2.10. Exercícios Integrados

UNIDADE Temática: 4.2.1. Objecto do Registo Comercial

Introdução
O registo comercial se enquadra no Regulamento de Registo de
Entidades legais aprovado pelo Decreto – Lei n. 1/2006, de 3 de
Maio, e destina-se a dar publicidade a situação jurídica das empresas
comerciais e outros entes previstos, bem como os factos jurídicos,
especificados na Lei.
Também tem por finalidade de verificar a admissibilidade das firmas
e denominações. Bem como garantir a sua protecção a nível
Nacional.

72
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Tem por objectivo geral a materialização pratica e efectiva do


processo de desburocratização e simplificação de procedimentos,
visando:
a) Introduzir procedimentos de registo simples e uniformes;
b) A introdução do sistema informatizado de registo;
c) Implementação do conceito de balcão único para o registo;
d) Acesso mais rápido e fácil a informação segura e
actualizada; e
e) Uma organização de registo mais eficiente.

O registo de entidades legais compreende:


a) As empresas comerciais;
b) As sociedades civis sob a forma comercial;
c) As associações, fundações, consórcios e cooperativas;
d) As representações de entidades estrangeiras e nacionais;
e) Outras entidades a elas sujeitas por lei;
f) Os factos a ele sujeitos, referentes a entidades
mencionadas nas alíneas anteriores.
O registo é obrigatório para todas as sociedades comerciais,
formalidade que é cumprida junto da Conservatória do Registo
Comercial da área onde a empresa vai exercer a sua actividade. De
referir que, as Conservatórias podem funcionar como repartições
autónomas/Conservatórias privativas ou em regime de anexação
com outras Conservatórias.
No entanto, as autónomas designam-se de conservatórias do registo
de entidades legais e em regime de anexação são conservatórias dos
registos. Já as privativas quando efectuam apenas o registo de
entidades legais, e em regime de anexação quando estão integradas
nas conservatórias do registo predial ou registo de propriedade
automóvel.
No País, temos uma conservatória privativa na cidade de Maputo e
nas restantes capitais provinciais incluindo alguns distritos temos
conservatórias dos registos.
O objectivo fundamental é garantir a segurança do comércio jurídico
e exige que não haja dúvidas sobre a conservatória em que possam
ser consultados os registos relativos a qualquer das entidades a eles
obrigatoriamente sujeitas.

73
ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

É assim que o artigo 10 do Regulamento estabelece que para o


registo é competente qualquer conservatória dos registos de
entidades legais contrariamente ao que estava estabelecido na lei
anterior que era em função da sede da entidade legal.
Exercício
1) Um dos objectivos do Registo Comercial visa permitir o acesso mais rápido e fácil a
informação segura e actualizada.
a) Certo b) Errado Resposta: Certo

UNIDADE Temática: 4.2.2. Princípios Orientadores

Introdução
São princípios orientadores do registo comercial aqueles princípios
que enformam o respectivo ordenamento jurídico, inspirando as
normas regulamentares e auxiliando a compreensão e correcta
interpretação dessas normas. E no conjunto desses princípios, são
enumerados os seguintes:
4.2.2.1. Princípio da Legalidade
 Pela obrigatoriedade legal15, o notário como ente público,
deve obedecer o princípio da legalidade administrativa, o que
implica, necessariamente, a conformidade da acção
administrativa com a lei e o direito, sendo que, os poderes
não poderão ser usados para a prossecução de fins diferentes
dos atribuídos por lei.
 O conservador aprecia a viabilidade do pedido de registo a
efectuar por transcrição, em face das disposições legais
aplicáveis, dos documentos apresentados e dos registos
anteriores, verificando especialmente a legalidade dos
interessados, a regularidade formal dos títulos e a validade
dos actos nele contidos, e bem assim a capacidade dos
outorgantes, em face dos títulos e dos registos anteriores, o
acto só pode ser registado se for válido.
4.2.2.2. Princípio da Instancia
 Este princípio traduz-se no facto de o registo se efectuar a
pedido dos interessados, salvo as situações de oficiosidade,
previstas na Lei.

15
Art.4 do Decreto n. 30/2001, de 15 de Outubro

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ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

4.2.2.3. Princípio da Tipicidade


 Só podem ser levados ao registo os factos que a lei indica
como a ele sujeitos e, por consequência, nenhuns outros.
Esta consagração encontra se estabelecida nos art. 2 e 5 do
regulamento aprovado pelo, Decreto-Lei nº. 1/2006, de 3 de
Maio, na qual são enumerados os factos jurídicos que,
relativamente a cada entidade abrangida pelo registo
comercial, podem dele constar.

4.2.2.4. Princípio da Prioridade


 De acordo com este princípio o direito inscrito em primeiro
lugar prevalece sobre os que se lhe seguirem, relativamente
às mesmas quotas ou partes sociais, segundo a ordem de
apresentação.
 Assim o que interessa para conferir prevalência a um direito
sobre o outro é a data de apresentação do respectivo pedido
do registo e não a do documento que titula o acto cujo registo
é solicitado. Este princípio é válido para todos os casos de
conversão de registos provisórios.
 O registo provisório quando for convertido em definitivo
conserva a prioridade que tinha como provisório. Também no
caso de recusa do registo, se vier a ser dado provimento a
reclamação ou recurso, o registo conserva a prioridade do
acto recusado.
No tocante à questão do valor e eficácia do registo, dever-se-á
lembrar ainda o tema da prioridade. O princípio segundo o qual o
direito primeiramente inscrito prevalece, ou terá de ser
prioritariamente graduado, relativamente ao posterior, ao que
temporalmente lhe suceda – e que a conhecida máxima latina “prior
in tempore, potior in jure” sintetiza – constitui, uma finalidade básica
da publicidade registral.
É que, destinando-se esta a dar a conhecer a situação jurídica dos
bens e a garanti-la para o comércio jurídico em geral, é indispensável
que se saiba, face à diversidade dos actos e contratos, quais serão
aqueles que vão prevalecer. Consabidamente, à luz do direito
substantivo, deverá triunfar o direito que nasce primeiro.
Ora, o princípio da prioridade, sendo instrumental desta ideia, é
igualmente dela complementar, exactamente porque lhe junta a
outra indispensável característica do direito real: a sua oponibilidade
erga omnes.
E assim, porque não importa apenas o momento em que o direito
nasce, mas importa igualmente que isso se torne conhecido de todos
e que tal génese seja pública, vem a ser

75
ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

através deste princípio registral da prioridade que pode ser indicado


qual é, afinal, o direito que deve prevalecer.
Num duplo sentido: sendo os sucessivos direitos conciliáveis – como
acontece com os direitos reais de garantia – hierarquizando-os,
permitindo que sejam graduados. Sendo incompatíveis ou
contraditórios – como normalmente acontece com as aquisições de
propriedade – mostrando qual é o que deverá ser atendido.

4.2.2.5. Princípio da Presunção da Verdade Registral


 Afirma a presunção de que a situação jurídica resultante do
registo existe, e existe nos preciosos termos ai definida,
segundo o art. 1 do Código Civil. Aplicação apenas aos
registos por transcrição (definitivos), consequência: inversão
do ónus da prova é assim invertida.
4.2.2.6. Princípio do Trato Sucessivo
 Sugere que os titulares dos direitos devem constar do registo
de forma continuada e não de forma descontínua, isto é, o
titular do direito adquiriu-o do anterior, tal como o seguinte
só do titular actual poderá adquirir o mesmo direito16.
4.2.2.7. Princípio da Publicidade
 O registo comercial ou seja, de entidades legais destina-se a
dar publicidade à situação jurídica das pessoas singulares e
colectivas.
 Qualquer pessoa pode pedir certidão dos actos de registo e
dos documentos arquivados. Certos actos de registo são de
publicação obrigatória no Boletim da República, tal princípio
tem sua base legal nos art. 90 e 111 do Regulamento.
Exercícios
1) Segundo o Princípio da Legalidade, os poderes do notário, não poderão ser usados
para a prossecução de fins diferentes dos atribuídos por lei.
a) Certo b) Errado Resposta: Certo

2) O Princípio de Presunção da Verdade Registral estabelece que o registo provisório


quando for convertido em definitivo conserva a prioridade que tinha como provisório.
a) Certo b) Errado Resposta: Errado

16
Tal é o caso de transmissão de quotas, vide art. 20 do regulamento.

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3) Só podem ser admitidos a registo os factos expressamente previstos na Lei, tal advém
do princípio de:
a) Prioridade; b) Trato Sucessivo; c) Instância; d) Nenhum; Resposta: d)

UNIDADE Temática: 4.2.3. Factos e Acções Sujeitos a Registo

Introdução
Só podem ser admitidos a registo os factos expressamente previstos
na lei, como decorre do princípio da tipicidade ou do númerus
clausus, devendo ser recusado o registo de quaisquer outros. Mas
nem todos os factos que podem ser admitidos ou sujeitos a registo
são de registo obrigatório, como se pode notar dos art. 2, 3, 4 e 5 do
regulamento.
4.2.3.1. Quantos aos factos sujeitos a registos:
a) O acto constitutivo, incluindo os estatutos, e respectivas
alterações;
b) A firma e a sede social;
c) A deliberação de aquisição e alienação de bens a sócios
ou associados e o relatório de avaliação que lhe serviu de
base;
d) A promessa de alienação ou de oneração de partes de
capital de sociedades de capital e trabalho e de quotas de
sociedades por quotas, bem como os pactos de
preferência, se se tiver convencionado atribuir-lhes
eficácia real, e a obrigação de preferência a que, em
disposição de última vontade, o testador tenha atribuído
igual eficácia;

e) A transmissão de partes sociais de sócios de indústria das


sociedades de capital e trabalho, a constituição de
direitos reais de gozo ou de garantia sobre elas e a sua
transmissão, modificação e extinção; bem como a
penhora do direito aos lucros e à quota de liquidação;

f) A exoneração e exclusão de sócios de sociedades de


capital e trabalho, bem como a extinção de parte social
por falecimento do sócio e a admissão de novos sócios;

g) A entrada, exclusão e exoneração de membros do


consórcio;

h) A amortização de quotas e a exclusão e exoneração de


sócios de sociedades por quotas;

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i) A deliberação de remição de acções;

j) A emissão de obrigações, cédulas ou escritos de


obrigação geral das sociedades ou de particulares, bem
como a sua amortização ordinária e extraordinária;

k) As limitações aos poderes dos administradores e


liquidatários;

l) A mudança de sede, bem como a abertura e


encerramento de sucursais e outras formas de
representação;

m) A transformação, prorrogação, fusão, cisão,


transformação e dissolução, bem como o aumento e
redução ou reintegração do capital social;

n) A designação e cessação de funções, anterior ao


encerramento da liquidação, dos liquidatários, bem como
os actos de modificação dos poderes legais ou contratuais
dos liquidatários;

o) A extinção pelo encerramento da liquidação;

p) O projecto e oferta pública de venda de acções, bem


como o seu cancelamento;

q) A unificação, divisão e transmissão de quotas de


sociedades de capital por quotas, bem como de partes
sociais de sócios capitalistas de sociedades de capital de
trabalho;

r) A constituição e a transmissão de usufruto, penhor,


arresto, arrolamento e penhora de quotas ou de direitos
sobre elas ainda quaisquer actos ou providencias que
afectem a sua livre disposição;

s) A emissão de obrigações, cédulas ou escritos de


obrigação geral das sociedades ou de particulares, bem
como a sua amortização ordinária e extraordinária;

t) A designação, a cessação de funções, por qualquer causa


que não seja o decurso do tempo, bem como a alteração

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ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

do mandato dos membros dos órgãos de administração e


de fiscalização e procuradores;

u) A cessação ou suspensão e o reinício das suas actividades;

v) Quaisquer outros factos a elas referente que a lei declare


sujeitos a registo.
4.2.3.2. Quantas as acções e decisões sujeitas a registo:
a) As acções que tenham como fim, principal ou acessório,
declarar, fazer reconhecer, constituir, modificar ou
extinguir qualquer dos direitos referidos nos factos
acima;
b) As acções de declaração de nulidade ou anulação do acto
constitutivo das entidades legais;
c) As decisões judiciais, com transito em julgado, de
homologação ou rejeição das deliberações das
assembleias de credores que tenham aprovado, no
respectivo processo judicial, a concordata ou o acordo de
credores;
d) As acções de declaração de nulidade ou anulação de
deliberações sociais e as providências cautelares de
suspensão destas;

e) As providências cautelares não especificadas requeridas


com referência às acções mencionadas nas alíneas
anteriores;

f) Os despachos, com trânsito em julgado, do levantamento


da inibição e reabilitação do falido;
g) As sentenças declaratórias de falência, com transito em
julgado;
h) As decisões judiciais com transito em julgado relativo à
autorização para a prática de actos de comércio por
incapazes.

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Exercícios

1) Segundo o princípio da legalidade, só podem ser admitidos a registo os factos


expressamente previstos na lei.
a) Certo b) Errado Resposta: Errado

2) A entrada, exclusão e exoneração de membros do consórcio são factos sujeitos


a registo.
a) Certo b) Errado Resposta: Certo

UNIDADE Temática: 4.2.4. Efeitos e Vícios de Registo

Introdução
Relativamente a esta temática, há que primeiramente debruçar-se
sobre os efeitos de registo para em seguida abordar-se a questão dos
vícios que podem enfermar um registo.
3.2.4.1. Efeitos de Registo
Os factos sujeitos a registo, ainda que não registados, podem ser
invocados entre as próprias partes ou seus herdeiros, mas só
produzem efeitos contra terceiros depois da data do respectivo
registo. No entanto, exceptuam-se os seguintes:
 Os factos constitutivos de ónus ou encargos cuja
eficácia entre as próprias partes, depende da
realização dos registos;
 Outros factos para os quais a lei declare ser o registo
necessário para a produção de efeitos.
Os efeitos de registo transferem-se mediante novo registo para o
adquirente dos direitos inscritos e extinguem-se por caducidade ou
cancelamento. Eles caducam por força da lei pelo decurso do prazo
do direito inscrito. Já os registos provisórios caducam se não forem
convertidos em definitivos ou renovados dentro do prazo de três
meses contados da data da sua inscrição.
Os registos são cancelados com base na extinção dos direitos, ónus
ou encargos conforme resulte dos documentos depositados, nos
casos previstos na lei, ou em execução de decisão transitada em
julgado e tal deve ser anotado no documento que o consubstancia.
De referir que o cancelamento é feito por averbamento ao
respectivo registo.

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4.2.4.2. Vícios de Registo


O registo só se considera errado quando se mostre efectuado em
desconformidade com os títulos que lhe serviram de base, e este
pode ser rectificado oficiosamente ou a requerimento de qualquer
interessado em face dos documentos que lhe serviram de base.
No entanto, o simples erro de cópia dos documentos, que não afecte
o sentido e alcance do facto registado, pode ser rectificado por
iniciativa do conservador, sem intervenção dos interessados.
O erro capaz de influir no juízo de apreciação sobre o conteúdo dos
títulos que serviram de base ao registo, bem como o erro cuja
emenda envolva a alteração do sentido e alcance dos factos
registados, só podem ser rectificados a requerimento de todos os
interessados e com a concordância do conservador, ou mediante
decisão judicial transitada em julgado.
As omissões ou inexactidão verificadas no extracto do registo
lavrado em conformidade com os respectivos títulos não
determinam a nulidade do acto, excepto se delas resultar incerteza
sobre os sujeitos ou o objecto da relação jurídica a que o facto
registado se refere, ou a impossibilidade de conhecer outros
elementos fundamentais do facto inscrito ou averbado.
A nulidade do registo só pode ser invocada depois de declarada por
decisão judicial transitada em julgado, quando:
a) For falso ou tiver sido lavrado com base em títulos falsos;
b) Os documentos depositados forem insuficientes para a prova
legal do facto registado;
c) Os documentos depositados enfermam de omissões ou
inexactidões de que resulte incerteza acerca dos sujeitos ou
do objecto da relação jurídica a que o facto se refere;
d) Tiver sido assinado por pessoa sem competência funcional,
salvo nos casos previstos na lei;
e) Tiver sido feito sem apresentação prévia, salvo nos casos
previstos na lei;
f) Tiver sido feito com violação nas regras de trato sucessivo.
A declaração de nulidade do registo não prejudica os direitos
adquiridos por terceiros de boa-fé, se o registo dos correspondentes
factos for anterior ao registo da acção de nulidade.
A nulidade do registo só pode ser invocada depois de declarada por
decisão judicial transitada em julgado.

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Exercícios
1) O prazo para a renovação ou conversão dos registos provisórios em definitivos
é de:
a) 60 dias; b) 90 dias; c) 120 dias; Resposta: 90 dias

2) O erro de registo só pode ser rectificado oficiosamente ou a requerimento de


qualquer interessado em face dos documentos que lhe serviram de base.
a) Certo b) Errado Resposta: Certo

UNIDADE Temática: 4.2.5 Actos de registo, Prazos e Publicações Obrigatórias

Introdução
Nesta temática, importa em primeiro plano referir-se aos actos de
registo da actividade comercial em si, para depois abordar-se a
questão de prazos e publicações obrigatórias.
3.2.5.1. Actos de registo
O registo efectua-se a pedido dos interessados, salvo nos casos de
oficiosidade previstos na lei.
E, tem legitimidade para requerer o acto de registo os sujeitos,
activos e passivo, da respectiva relação jurídica e, de um modo geral,
todas as pessoas que nele tenham interesse, salvo o disposto em
disposições especiais.
Nenhum acto de registo pode ser lavrado, salvo se for oficioso, sem
que se mostre efectuada a respectiva apresentação no Diário
segundo a ordem da nota de apresentação correspondente,
expectuam-se os averbamentos, que podem ser efectuados sem
observância do número de ordem, desde que não esteja requerido
outro acto de registo que obste à sua realização.
A data do registo é, para todos efeitos, a da respectiva apresentação,
determinando-se por ela a prioridade do facto registado. O registo
oficioso, dependendo de outro acto requerido, é efectuado com a
data da apresentação correspondente ao acto que o haja
determinado e independentemente da apresentação, a data é
aquela em que for lavrado e que nele deve ser mencionada.
O registo de Entidades Legais compõem-se da matrícula, da inscrição
e dos correspondentes averbamentos, do depósito dos documentos
que titulam o facto sujeito a registo ou copia autenticada dos
mesmos e da menção das publicações obrigatórias.

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ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

A matrícula é especialmente destinada a identificação das entidades


legais sujeitas a registo e a cada entidade corresponderá uma só
matrícula.
Todos os documentos que sirvam de base a qualquer registo ficam
arquivados na Conservatória do lugar da sede da entidade legal a que
disserem respeito, exceptuando-se os documentos que tenham tido
apenas função acessória na realização do registo, os quais devem ser
restituídos as partes.
3.2.5.2. Prazos e Publicações Obrigatórias
O registo obrigatório deve ser requerido no prazo de três meses, a
contar da data em que o respectivo facto tiver sido titulado, os que
não requererem dentro do prazo legal, o registo obrigatório dos
factos a ele sujeitos incorrem na pena de multa a fixar em diploma
próprio.
Porém, o conservador que verificar, por qualquer meio que o registo
não foi requerido no prazo legal levantará o auto de transgressão e
notificará o responsável de que pode pagar a multa devida, pelo
mínimo, no prazo de trinta dias, se ao mesmo tempo se apresentar
a requerer o registo com a documentação necessária.

UNIDADE Temática: 4.2.6. Organização do Registo Comercial

Introdução
Em termos de organização, os serviços de registo de entidades legais
serão exercidos, em todo o território nacional, de maneira uniforme,
através do sistema informatizado em rede, com uma única base de
dados centralmente gerida. Esses serviços integram-se na Direcção
Nacional dos Registos e do Notariado e contam com as seguintes
unidades de implementação:
a) Unidade Central de Coordenação e Gestão do Sistema,
órgão da Direcção Nacional dos Registos e Notariado, com
funções de supervisão, orientação e coordenação, no plano
técnico;
b) As Conservatórias do Registo de entidades legais, com
funções executoras e administradoras das operações de
registo e manutenção das operações registrais.
A repartição especialmente encarregada dos serviços do registo de
entidades legais denomina-se Conservatórias de Registo de
Entidades Legais, Todavia, nos locais onde não existam
conservatórias privativas estes serviços permanecem a cargo das
repartições previstas na lei orgânica dos registos e do notariado.
Quanto às entidades estrangeiras com sede no território nacional a
matricula e registo dos factos é

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ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

competente qualquer Conservatória de Entidades Legais mesmo


constituídas em país estrangeiro.
E para a matrícula das entidades legais constituídas no estrangeiro
que apenas estabeleçam sucursal ou outra espécie de representação
social, bem como para o registo dos factos jurídicos que lhe
respeitem é também competente qualquer Conservatória do registo
de entidades legais.
A matrícula visa essencialmente á identificação das entidades legais,
por conseguinte a cada unidade legal corresponderá uma só
matrícula e ela é um acto de registo dependente de uma ou mais
inscrições.
Quando voluntariamente uma entidade legal mudar a sede, deve
requerer, em qualquer Conservatória, que seja averbada a matricula,
da declaração da mudança da sede. Efectuado o averbamento, o
conservador deve remeter oficialmente o respectivo processo á
Conservatória do lugar da nova sede.

UNIDADE Temática: 4.2.7. Processo de Registo, Publicidade e Prova

Introdução
O sistema informático aplica-se a todos actos de registo de Entidades
Legais, com excepção dos averbamentos de cancelamento de
inscrições ainda não inseridas em computador que podem continuar
a ser feitos nos livros, enquanto não for determinado o contrário.
Os registos são lavrados segundo a ordem da nota de apresentação
correspondente, exceptuam-se os averbamentos, que podem ser
efectuados sem a observância do número de ordem, desde que não
esteja requerido outro acto de registo que obste à sua realização.
A data do registo é, para todos os efeitos, a da respectiva
apresentação, determinando-se por ela a prioridade do facto
registado. O registo oficioso, depende de outro acto requerido, é
efectuado com a data da apresentação correspondente ao acto que
o haja determinado e é aquela em que for lavrado e que deve ser
mencionada.
Quando a entidade legal mudar a sede, deve requerer, em qualquer
conservatória, que seja averbada à matrícula a declaração da
mudança da sede.

A estrutura do registo de entidades legais é organizada através do


recurso a meios informáticos. Haverá em todas as conservatórias,
especialmente destinadas ao serviço de registo, suportes
informáticos previstos na Lei.

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ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

Sempre que a dinâmica dos serviços o aconselhem, a Unidade


Central poderá autorizar a adopção de ficha e outros procedimentos
auxiliares que se julguem convenientes para uma adequada gestão
do registo.

Haverá em cada conservatória um terminal de acesso informático à


base de dados central.

O diário, em suporte informático, é destinado à anotação


especificada e cronológica dos requerimentos e documentos
apresentados e a menção dos actos requeridos, dos respectivos
preparos e total da conta cobrada.

O destino dos livros que forem sendo substituídos pelo formato


electrónico de registo será fixado por Despacho do Ministro da
Justiça.

As entidades cujo registo passa a ser obrigatório, nos termos da


presente Lei, que à data da sua entrada em vigor não estejam
registadas, dispõem de um prazo de 30 dias para requerer a sua
inscrição no Registo de Entidades Legais.

Transcorrido o prazo referido no número anterior sem que o registo


haja sido requerido, ficam aquelas entidades sujeitas ao disposto no
artigo 35 do Regulamento do Registo de Entidades Legais.

A cada entidade legal registada será atribuído, pelo Registo de


Entidades Legais, um número de identificação próprio.
O registo compõe-se da matrícula, da inscrição e dos
correspondentes averbamentos do depósito dos documentos que
titulam o facto sujeito a registo ou cópia autenticada dos mesmos e
da menção das publicações obrigatórias.
A cada entidade legal é destinada uma pasta onde são depositados
todos documentos a ela respeitantes, na qual deve constar um índice
de todos os documentos nela contida, com expressa indicação dos
factos, das datas da sua ocorrência e do respectivo depósito.
Os registos são lavrados, em face dos documentos, por simples e
resumido extracto, e as publicações são anotadas oficiosamente ao
respectivo registo logo que se verifiquem. O registo é actualizado por
averbamento sempre que sejam depositados documentos que
modifiquem as menções que dele devam constar.
Para fins de apresentação, a matrícula constitui com a inscrição que
a origina, um só acto de registo.

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ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

As matrículas e as inscrições devem ser assinadas e os averbamentos


rubricados, imediatamente após a sua feitura, pelo conservador ou
pelo técnico competente, na falta ou impedimento daquele, depois
de conferidas à vista dos títulos que lhe serviram de base.
A matrícula é especialmente destinada à identificação das entidades
legais sujeitas a registo e a cada entidade legal corresponderá uma
só matrícula, acto este dependente de uma ou mais inscrições, as
quais podem ser definitivas ou provisórias.
Antes de efectuar qualquer matrícula, deve a conservatória verificar,
em face das matrículas abertas, se a firma adoptada é susceptível de
se confundir com outra já registada e só no caso negativo abrirá
matrícula definitiva.
Os requerimentos para actos do registo devem conter:
a) Os elementos necessários para efectuar a sua apresentação
no Diário;
b) A declaração da exigência do certificado, quando haja lugar à
sua passagem e dele não se queira prescindir;
c) A assinatura do requerente.
No final do contexto dos requerimentos devem ser enumerados os
documentos que os acompanhem.
Na falta da declaração prevista na alínea b), o certificado será
substituído pela passagem da simples nota de registo.
Para efeitos de registos, a nota de apresentação no Diário deve
conter os seguintes elementos:

b) Número de ordem, dia mês e ano da apresentação;


c) Nome completo do requerente;
d) Número dos títulos apresentados e sua natureza externa;
e) Menção da espécie do acto requerido;
f) Nome ou firma da entidade legal a que o acto requerido se
refere e o número da respectiva matrícula, quando
efectuada.

As indicações exigidas para as notas de apresentação serão extraídas


dos requerimentos, podendo, porém, ser completadas com
elementos colhidos nos respectivos documentos.
A matrícula das entidades legais abre-se em face dos títulos
apresentados para a inscrição da sua constituição e para as
sociedades constituídas no estrangeiro que pretendem estabelecer
sucursal ou qualquer espécie de representação social em
Moçambique, não se efectuará sem que, além dos documentos
exigidos às sociedades nacionais, seja

86
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apresentado um certificado, passado pelo competente agente


consular moçambicano, comprovativo de que se acham constituídas
e funcionam de harmonia com a lei do país em que se constituírem.
De referir que, são provisórias por natureza, as matrículas cuja
abertura seja determinada por inscrições provisórias, porém,
convertidas oficiosamente em definitivas, se na vigência da inscrição
provisória que lhe deu causa, for definitivamente registado qualquer
facto que lhes respeite.

A matrícula das entidades legais, se antes não houver sido efectuada,


será aberta oficiosamente para o efeito de ser lavrada, a
requerimento de terceiro, com referência à matriculada, a inscrição
da falência, acordo de credores, moratória ou concordata.

O extracto da matrícula deve conter os seguintes requisitos gerais:

a) O número de ordem e data de apresentação no Diário;


b) O número de ordem privativo;
c) Sendo a matrícula provisória, a declaração de que o é e,
quando o seja simultaneamente, por natureza e por dúvidas,
a expressa indicação desta circunstância;
d) A indicação dos títulos que lhe serviram de base.

Quando a matrícula for dependente de qualquer outro acto de


registo são dispensáveis as menções previstas acima e, bem assim, a
menção dos títulos que hajam sido referidos na inscrição que lhe deu
origem.

O extracto da matrícula das empresas ou de outras entidades legais


deve conter, em especial, as seguintes menções:

a) O nome completo, idade, estado, domicílio e nacionalidade


do matriculado;
b) A firma ou denominação;
c) O objecto social;
d) A sede social e a indicação da localização;
e) O principal estabelecimento e as sucursais ou outras
representações que haja estabelecido, com indicação da sua
localização, nos termos previstos na alínea anterior.

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ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

A matrícula das entidades legais abre-se em face dos títulos


apresentados para a inscrição da sua constituição. No caso a que se
refere o artigo 164º do Código Comercial, deve o requerente juntar
ainda uma declaração assinada pelos sócios fundadores, com as
assinaturas reconhecidas, que contenha os elementos da matrícula;

A matrícula das sociedades constituídas no estrangeiro que


pretendem estabelecer sucursal ou qualquer espécie de
representação social em Moçambique, não se efectuará sem que,
além dos documentos exigidos às sociedades nacionais, seja
apresentado um certificado, passado pelo competente agente
consular moçambicano, comprovativo de que se acham constituídas
e funcionam de harmonia com a lei do país em que se constituírem;

As matrículas oficiosas são abertas em face dos documentos


apresentados para as inscrições que as determinarem. Importa
referir que o extracto das matrículas pode ser rectificado,
completado, restringido, ampliado ou por qualquer outra forma
alterado em virtude de circunstâncias supervenientes, por meio de
averbamento.

Os averbamentos de alteração são efectuados em face de declaração


da empresa ou de outra entidade legal a que a matrícula respeitar,
salvo o disposto no artigo seguinte. No entanto, nenhuma alteração
pode ser averbada à matrícula quando resultante de facto sujeito a
registo, sem que haja sido requerido e efectuado o registo desse
facto.

Exceptua-se o averbamento de mudança da sede da entidade legal,


que será efectuado nas condições previstas no artigo 13 do
Regulamento de Registo de Entidades Legais.

Se o registo do facto de que depende o averbamento tiver sido


efectuado apenas provisoriamente, será o averbamento igualmente
provisório.

Os averbamentos dependentes são efectuados em face dos


documentos que serviram de base ao registo de que dependem. Os
averbamentos às matrículas são efectuados a requerimento ou com
a intervenção da entidade legal a que a matrícula se referir.

São, porém, averbadas oficiosamente todas as alterações de


matrícula, que resultem do registo de factos a ele sujeitos.
Efectuado o registo, deve o conservador promover as publicações
obrigatórias no prazo de trinta dias e as expensas do interessado, as

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ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

publicações efectuam-se com base em certidões ou extractos


passados na conservatória competente.
Os documentos que serviram de base a qualquer registo ficam
arquivados na Conservatória do lugar da sede da entidade legal a que
disserem respeito.

Exceptuam-se os documentos que tenham tido apenas função


acessória na realização do registo, os quais devem ser restituídos às
partes.

Das publicações devem constar as menções obrigatórias do registo,


o registo de entidades legais é público, qualquer pessoa pode não só
obter certidões dos actos de registo e informações, verbais ou
escritas, sobre o seu conteúdo, como consultar, na conservatória, os
registos. A consulta dos registos é obrigatoriamente facultada pelos
conservadores durante o período regulamentar do funcionamento
do serviço e sem prejuízo deste.
É obrigatória a publicação no Boletim da República dos seguintes
actos:
a) O acto constitutivo, incluindo os estatutos, e respectivas
alterações;
b) A mudança de sede, bem como a abertura e encerramento
de sucursais e outras formas de representação;
c) A transformação, prorrogação, fusão, cisão, transformação
e dissolução, bem como o aumento e redução ou
reintegração do capital social;
d) A alteração de qualquer dos elementos constantes do nº. 4
do art. 4 do CREL.
As entidades legais não matriculadas não poderão prevalecer-se da
sua qualidade em relação a terceiros, mas não poderão invocar a
falta de matrícula para se subtraírem às responsabilidades e
obrigações inerentes a essa qualidade.

Até ao último dia de cada mês, devem os Notários remeter às


Conservatórias do lugar da sede a relação dos documentos
referentes às entidades legais lavrados no mês anterior, para a prova
dos factos sujeitos a registo obrigatório.

Pelos actos praticados nas conservatórias do Registo de Entidades


Legais são cobrados os emolumentos e taxas constantes da
respectiva tabela, aprovada por Decreto, salvos os casos de
gratuitidade ou de isenção previstos na lei.

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ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

Aos encargos previstos no número anterior acrescem as despesas de


publicação no Boletim da República e as despesas de correio. Os
valores das multas cobradas ao abrigo da presente Lei serão fixados
por Decreto.

Exercício

1) A competência para determinar o destino a dar aos livros que forem


substituídos pelo formato informático caberá ao conservador.

a) Certo b) Errado Resposta: Errado

UNIDADE Temática: 4.2.8. Rectificação e Reconstituição dos Registos

Introdução
O registo errado pode ser rectificado oficiosamente ou a
requerimento de qualquer interessado e só pode ser efectuado em
face dos documentos que lhe serviram de base.
O simples erro de cópia dos documentos, que não afecte o sentido e
alcance do facto registado, pode ser rectificado por iniciativa do
conservador, sem intervenção dos interessados.
O erro capaz de influir no juízo de apreciação sobre o conteúdo dos
títulos que serviram de base ao registo, bem como o erro cuja
emenda envolva alteração do sentido e alcance dos factos
registados, só podem ser rectificados a requerimento de todos
interessados e com a concordância do conservador, ou mediante
decisão judicial transitada em julgado.
As omissões ou inexactidões verificadas no extracto do registo
lavrado em conformidade com os respectivos títulos não
determinam a nulidade do acto, excepto se delas resultar incerteza
sobre os sujeitos ou o objecto da relação jurídica a que o facto
registado se refere, ou a impossibilidade de conhecer outros
elementos fundamentais do facto inscrito ou averbado.
O registo é nulo quando:

a) For falso ou tiver sido lavrado com base em títulos falsos;


b) Os documentos depositados forem insuficientes para a prova
legal do facto registado;
c) Os documentos depositados enfermarem de omissões ou
inexactidões de que resulte incerteza acerca dos sujeitos ou
do objecto da relação jurídica a que o facto se refere;

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ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

d) Tiver sido assinado por pessoa sem competência funcional,


salvo nos casos previstos na lei;
e) Tiver sido feito sem apresentação prévia, salvo nos casos
previstos na lei;
f) Tiver sido feito com violação nas regras de trato sucessivo.

No entanto, a declaração de nulidade do registo não prejudica os


direitos adquiridos por terceiro de boa-fé, se o registo dos
correspondentes factos for anterior ao registo da acção de nulidade.

E, a nulidade do registo só pode ser invocada depois de declarada


por decisão judicial transitada em julgado.

UNIDADE Temática: 4.2.9. Impugnação das decisões do Conservador

Introdução
Quando o conservador se recusar a praticar o acto que lhe tenha sido
requerido, ou o efectuar como provisório por dúvidas, os
requerentes podem interpor recurso para o tribunal da jurisdição a
que pertencer a conservatória que tiver recusado o acto. No entanto,
o prazo para a interposição do recurso é de três meses, a contar da
apresentação do acto recusado ou do registo provisório, sem
prejuízo da reclamação hierárquica prevista na lei orgânica dos
serviços.
A interposição do recurso contra a recusa de conversão em definitivo
de um registo provisório ou contra a realização do registo como
provisório por dúvidas interrompe o prazo de caducidade do registo,
até lhe ser averbada a improcedência, a desistência ou a deserção
do recurso. Os efeitos da interposição do recurso, no caso de recusa
de conversão, retrotraem-se à data da apresentação correspondente
ao acto recusado.

Importa frisar que, a interrupção do prazo de caducidade cessa,


porém, se o recurso estiver parado por mais de trinta dias por inércia
do recorrente.

No entanto, os interessados que pretendam recorrer da decisão dos


conservadores devem requerer previamente que para esse fim lhe
seja passada nota especificada dos motivos da recusa ou das dúvidas.
Os factos comprovados pelo registo não podem ser impugnados em
tribunal sem que simultaneamente seja pedido, o seu cancelamento.
No entanto, não terão seguimento, após os articulados, as acções em
que não seja formulado o pedido de cancelamento dos factos
comprovados.

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ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

Na petição do recurso, que deve ser entregue na conservatória,


procurará o recorrente fundamentar a improcedência dos motivos
invocados pelo conservador, pedindo que seja determinada a
realização do acto a sua conversão em definitivo. A petição que é
endereçada ao juiz, devera ser acompanhada da nota dos motivos
fornecidos pelo conservador e ainda dos documentos oferecidos.
A petição é endereçada ao juiz e acompanhada da nota dos motivos
fornecidos pelo conservador e ainda dos documentos oferecidos.
Independentemente de despacho, o processo irá, logo que recebido
em juízo, com vista ao Ministério Público, a fim de este emitir
parecer, e em seguida, será julgado por sentença, no prazo de oito
dias, a contar da conclusão.

Se o recurso tiver sido interposto fora do prazo, o juiz deve indeferir,


por despacho, o respectivo requerimento.
Se o conservador concluir pela insubsistência da recusa ou dos
motivos da dúvida, procederá imediatamente à feitura do acto
requerido, com base na apresentação correspondente ao recurso
interposto e nos respectivos documentos.

Da sentença podem sempre interpor recurso para o tribunal


competente, com efeito suspensivo, o recorrente, o funcionário
recorrido ou o Ministério Público, sendo o recurso processado e
julgado como agravo em matéria cível. Da decisão do tribunal
competente para o recurso, cabe agravo, nos termos gerais da lei de
processo, para o Tribunal Supremo.

Decidido definitivamente o recurso, serão restituídos gratuitamente


à parte, logo que sejam solicitados, os documentos que tenham
junto ao processo, nela se lavrando a nota da entrega. Da decisão
proferida é enviada cópia à Direcção Nacional dos Registos e do
Notariado, sempre que o tribunal o entenda conveniente.

A secretaria judicial remeterá oficiosamente ao conservador


certidão da decisão proferida, logo que ela transite em julgado. Se o
recurso, no caso previsto no n.º 2 do artigo 98º, não tiver obtido
provimento, o conservador deve, logo após o recebimento da
certidão, averbar ao registo, oficiosa e gratuitamente, nota da
improcedência do recurso.

Se o recurso houver versado sobre dúvidas levantadas pelo


conservador e tiver obtido provimento, o conservador averbará
oficiosa e gratuitamente ao registo a sua conversão.

Porém, se o recurso respeitar a recusa e for julgado procedente, o


acto recusado efectuar-se-á a
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ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

requerimento do interessado, em face da certidão prevista no n.º 1,


que ficará arquivada, e mediante a apresentação dos demais
documentos.

O registo recusado que, por efeito do recurso haja de efectuar-se,


em nenhum caso pode ter a data da primeira apresentação.

Antes de interporem recurso contencioso, os interessados podem


reclamar hierarquicamente, dentro do prazo fixado no artigo 99,
para o Director Nacional dos Registos e do Notariado contra a recusa
do conservador ou contra a realização como provisório por dúvidas
do acto requerido como definitivo ou como provisório por natureza,
nos termos previstos na lei orgânica dos serviços de registo e do
notariado.

No caso de a reclamação ter por objecto a recusa de conversão de


um registo provisório em definitivo ou as dúvidas suscitadas pelo
conservador, este deve cumprir o disposto no n.º 2 do artigo 103
antes de remeter o processo à Direcção Nacional dos Registos e do
Notariado.

A lei estabelece no seu artigo 125, que quem fizer registar um acto
falso ou juridicamente inexistente responde pelos danos a que der
causa e incorre, além disso, se agir com dolo, nas penas aplicáveis ao
crime de falsidade.

Na mesma responsabilidade civil e criminal incorre quem prestar ou


confirmar declarações falsas ou inexactas na conservatória ou fora
dela, para que se efectuem os registos ou se lavrem os documentos
necessários.

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ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

Exercícios

1) Se o recurso estiver parado por mais de 30 dias por inércia do recorrente, a


interrupção do prazo de caducidade não cessa.

a) Certo b) Errado Resposta: Errado

2) Para que os factos comprovados em tribunal só pode ser impugnados quando


acompanhados pelo pedido do respectivo cancelamento.

a) Certo b) Errado Resposta: Certo


3) O Recurso contencioso só pode ser interposto hierarquicamente, dentro do
prazo de:

a) 30 dias; b) 60 dias; c) 90 dias; Resposta: c)

UNIDADE Temática: 4.2.10. Exercícios Integrados

1) “Nenhum acto de registo pode ser lavrado, salvo se for oficioso, sem que se
mostre efectuada a respectiva apresentação no livro-diário. Diga para que é
que serve o livro-diário.
2) O Sr. Hélder de Jesus Alfredo é Conservador da 2ª Conservatória de Mogovola,
onde se apresentou para efeitos de registo a Empresa de construção civil com
a designação Construtora Filomena, onde é gerente, a Sra. Filomena que por
sinal é sócia da companhia e esposa do conservador. O mesmo se declinou a
fazer o registo. Terá ele agido de boa-fé? Fundamente sua resposta.

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ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

TEMA V – REGISTO DE BENS MÓVEIS

Objectivos deste Tema:

 O Registo de Bens Móveis tem fundamentalmente por fim individualizar os


respectivos proprietários e, em geral, dar publicidade aos direitos inerentes aos
veículos automóveis, no concernente aos factos e acções sujeitos ao registo.

UNIDADE Temática: 5.3.1. Registo de Automóveis

UNIDADE Temática: 5.3.2. Enquadramento Legal e Objecto

UNIDADE Temática: 5.3.3. Factos e acções sujeitos a Registo

UNIDADE Temática: 5.3.4. Organização e processo de Registo

UNIDADE Temática: 5.3.5. Publicidade e Meios de Prova

UNIDADE Temática: 5.3.6. Exercícios Integrados

UNIDADE Temática: 5.3.1. Registo de Automóveis

O registo de automóveis tem essencialmente por fim individualizar


os respectivos proprietários e, em geral, dar publicidade aos direitos
inerentes aos veículos automóveis.

UNIDADE Temática: 5.3.2. Enquadramento Legal e Objecto

Segundo os Decretos - Lei nºs. 47 952 e 47 953, ambos de 22 de


Setembro de 1967, os negócios jurídicos que tenham por objecto
veículos automóveis abrangem, salva declaração em contrário, os
aparelhos sobressalentes e as instalações ou objectos acessórios
existentes no veículo, sejam ou não indispensáveis ao seu
funcionamento.

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ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

UNIDADE Temática: 5.3.3 Factos e Acções sujeitos a Registo

Introdução
Para efeitos de registo, são considerados veículos automóveis
apenas os veículos como tais definidos pelo Código de Estrada, que
tenham matricula atribuída pelas direcções de viação, exceptuando
os ciclomotores. Os veículos com matrícula provisória só podem ser
objecto de registo de propriedade.
Estão sujeitos a registo:
a) O direito de propriedade e de usufruto;
b) A reserva de propriedade estipulada em contratos de
alienação de veículos automóveis;
c) A cláusula de indivisão da compropriedade;
d) A hipoteca, a modificação e a cessão dela, bem como a cessão
do grau de prioridade do respectivo registo;
e) A transmissão de direito ou créditos inscritos;
f) O penhor, o arresto e a penhora em créditos inscritos;
g) O arresto e a penhora de veículos automóveis;
h) A extinção de direitos ou encargos anteriormente registados;
i) Quaisquer outros factos jurídicos que o Código Civil
especialmente declare sujeitos a registo.
É obrigatório o registo da propriedade, do usufruto e das suas
transmissões, bem como da reserva e tais não podem ser objecto de
registo provisório.
Na falta de registo, quando obrigatório, as autoridades a quem
compete a fiscalização das leis de transito devem aprender o veiculo,
e os respectivos documentos que serrão remetidos à conservatória,
onde ficarão até que o registo seja requerido.
Estão igualmente sujeitas a registo:
a) As acções que tenham por fim principal ou acessório o
reconhecimento, modificação ou extinção de algum dos
direitos acima descritos;
b) As acções que tenham por fim principal ou acessório a
reforma, a declaração de nulidade ou a anulação de um
registo ou do seu cancelamento;
c) As decisões finais das acções abrangidas nas alíneas
anteriores, logo que transitem em julgado.

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ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

Exercícios
1) A falta de registo pode resultar na aprrensao do veículo quando este transite na via
pública.
a) Certo b) Errado Resposta: Certo
2) O registo de propriedade, do usufruto e das suas transmissões, bem como da reserva
é facultativo e depende da vontade dos requerentes, podendo o fazer
provisoriamente.
a) Certo b) Errado Resposta: Errado

UNIDADE Temática: 5.3.4. Organização e Processo de Registo

Introdução
Fora da localidade onde funcione a conservatória competente, os
requerimentos para actos de registo podem ser apresentados em
qualquer conservatória do registo de automóveis ou, na sua falta, em
qualquer conservatória do registo predial, a fim de serem remetidos
oficiosamente àquela.
A inscrição inicial da propriedade de veículos importados, montados,
construídos ou reconstruídos será efectuada em face do
requerimento do modelo apropriado, acompanhada do livrete de
circulação e da guia passada, para fins de registo, pelas direcções de
viação. E só pode ser requerida a favor da pessoa ou sociedade
indicada na guia.
A cada veículo automóvel corresponde um título de registo de
propriedade, no qual serão anotados os registos de propriedade, de
reserva, de usufruto e de hipoteca, bem como inscrição dos factos
jurídicos que o Código Civil especialmente declare sujeitos a registo.
No título de registo será também anotada a mudança de residência
habitual ou sede do proprietário e do usufrutuário inscrito. E quando
o conservador tenha conhecimento de que as anotações do título
estão desactualizados, pode notificar o seu portador para o
apresentar na conservatória dentro do prazo que lhe for designado,
sob pena de se sujeitar às sanções aplicáveis ao crime de
desobediência.
Os títulos de registo de propriedade automóvel serão emitidos nos
casos seguintes:
a) Quando se efectuar a primeira inscrição da propriedade
de veiculo importado, montado, construído ou
reconstruído em Portugal;

97
ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

b) Quando as direcções de viação procedam à substituição


do antigo livrete de circulação por livrete de novo modelo
referente a veiculo ainda não titulado;
c) Quando der entrada na conservatória livrete antigo
referente a veiculo descrito nas alíneas anteriores.
Nenhum acto sujeito a anotação no título de registo pode ser
realizado sem que seja apresentado o título já emitido.

A inscrição de propriedade deve ser requerida no prazo de 30 dias, a


contar, conforme os casos, da data da guia ou da data do documento
comprovativo da aquisição do veículo.
Exceptuam-se do disposto no parágrafo anterior a propriedade
adquirida por sucessão, cujo registo deve ser requerido no prazo de
seis meses, a contar da data da abertura da herança, ou, estando o
deferimento da sucessão dependente de inventário judicial, no
prazo de 30 dias, a contar da data do trânsito em julgado da
sentença.
No entanto, se, para a realização do registo, for indispensável algum
documento autêntico, o decurso do prazo previsto no parágrafo
anterior, considerar-se-á interrompido desde a data em que o
documento necessário tenha sido requisitado até à data da sua
passagem.
Haverá em cada conservatória, especialmente destinados ao serviço
de registo, os seguintes livros:
a) Livro-diário;
b) Livro de inscrição de propriedade, ou livro IP;
c) Livro de inscrições diversas, ou livro ID;
d) Livro-índice de matrículas;
e) Livro de registo de recusas e dúvidas;
f) Livro de registo de emolumentos.
Nas conservatórias divididas em secções haverá livros de registo
privativos de cada secção.
Em termos de aplicabilidade, o livro-diário é destinado à anotação
especificada dos títulos e dos requerimentos apresentados para
serviços de registo, à menção do livro e das folhas em que foram
lavrados os actos requeridos ou do despacho proferidos sobre os
requerimentos.
Já, o livro IP é destinado apenas às inscrições do direito de
propriedade e à sua transmissão. Se o registo respeitar a veiculo
sobre o qual exista ou deva lavrar-se simultaneamente inscrição de
usufruto ou de reserva de propriedade,
98
ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

será inscrito a favor do adquirente, nos mesmos termos em que o


seria se o veiculo houvesse sido adquirido em propriedade plena ou
livre de reserva.
Efectuado algum acto de registo, para o qual seja dispensável a
apresentação do título de registo, será extraída a respectiva nota, a
qual é passada em papel selado, ou em impresso do modelo anexo
ao CRA17, selado por estampilha, e deve conter os seguintes
elementos:
a) A designação da conservatória e secção que a emite;
b) A data de apresentação do acto a que respeita e o seu
número de ordem;
c) A designação e número de ordem do livro em que o acto
foi lavrado e o número de ordem de registo;
d) O facto registado; e
e) A assinatura do conservador ou ajudante.
As Direcções de viação sempre que procedam à substituição ou à
passagem de duplicados de antigos livretes de circulação, enviarão o
novo exemplar à conservatória competente, para fins de passagem
do respectivo título de registo, o qual deve acompanhar sempre o
veículo, sob pena de o transgressor incorrer nas sanções aplicáveis
às faltas correspondentes, quanto ao livrete.
As Direcções de viação comunicarão à conservatória competente
todos os cancelamentos de matrícula que efectuarem, bem como a
sua reposição. No entanto, os registos efectuados posteriormente ao
cancelamento da matrícula do veículo são nulos.
O cancelamento ou a caducidade dos registos anotados no titulo,
bem como a efectivação de nova inscrição de propriedade ou
usufruto, ou de averbamento que altere as anotações nele feitas,
darão lugar a que seja passado novo titulo, inutilizando-se o anterior.
Os títulos de registo deteriorados, ou cujas anotações se mostrem
desactualizadas, devem ser aprendidos pelas autoridades a quem
compete a fiscalização das leis do trânsito e remetidos à
conservatória que os haja emitido, e a serão substituídos por novo
exemplar, oficiosamente ou a requerimento verbal dos interessados.
Em caso de extravio ou destruição do título de registo, a emissão do
novo exemplar só pode efectuar-se em face de declaração escrita do
proprietário ou usufrutuário do veiculo, com reconhecimento
presencial da respectiva assinatura, na qual o declarante descreva os
factos que originaram o extravio ou a destruição e se comprometa a

17
Código de Registo Automóvel

99
ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

entregar na conservatória o titulo original, no caso de este voltar a


aparecer.

Importa referir que, os títulos de veículos de propriedade do Estado,


ou de outras pessoas colectivas públicas, dos organismos
corporativos ou de coordenação económica ou de qualquer
organismo oficial, quando extraviados ou destruídos, são
substituídos em face de simples requerimentos, ou de oficio
autenticado com selo branco.
Quem prestar declarações falsas ou inexactas para obter a emissão
de duplicado do título de registo extraviado ou destruído responde
pelos danos a que der causa, incorrendo, além disso, se agir com
dono, nas sanções aplicáveis ao crime de falsas declarações.
Serão recusados ou registados provisoriamente, conforme os casos,
os actos cujos requerimentos, declarações ou documentos não se
mostrem redigidos claramente ou contenham emendas, rasuras ou
entrelinhas não ressalvadas. Não se consideram devidamente feitas
as ressalvas que denotem ter sido exaradas por pessoa diversa do
signatário do documento.
Também será recusado de registo do acto a encargos de natureza
fiscal sempre que não se mostrem pagos ou assegurados os direitos
do fisco.
Os motivos de recusa do registo de propriedade, usufruto ou reserva
de propriedade serão apenas anotados nos documentos
apresentados a registo, ou em papel avulso isento de selo. E se o
interessado pretender recorrer ou reclamar hierarquicamente da
decisão, apresentará ao conservador os documentos recusados, a
fim de ser elaborada a exposição especificada dos motivos da recusa
e de estes serem levados ao livro de recusas e duvidas.
Exercícios

1) Dependendo da vontade do proprietário, sendo ele dono de 2 ou mais veículos,


pode requer ao conservador a emissão de único título de registo de
propriedade.
a) Certo b) Errado Resposta: Errado
2) As autoridades de fiscalização de trânsito devem apreender os títulos de registo
deteriorados, ou cujas anotações se mostrem desactualizadas.
a) Certo b) Errado Resposta: Certo

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UNIDADE Temática: 5.3.5. Publicidade e Meios de Prova

Introdução
Os conservadores darão gratuitamente às autoridades e aos serviços
públicos as informações que lhe forem solicitadas, quando possam
ser prestadas em face dos livros e documentos arquivados.
As informações solicitadas por particulares, verbalmente ou por
correspondência, só podem ser prestadas por escrito. Os pedidos de
informação feitos por correspondência, que não venham
acompanhados do emolumento devido e da franquia postal para a
resposta, podem deixar de ser atendidos.
As inscrições de propriedade e usufruto e as anotações ou os
averbamentos de alterações de nome ou denominação dos seus
titulares, bem como as anotações de alterações de residência
habitual ou sede, serão comunicados ao comando da Policia de
Segurança Publica da área onde o proprietário tiver a residência ou
sede. Se os actos respeitarem a tractores agrícolas, serão também
comunicados à Direcção-Geral dos Serviços Agrícolas.
As comunicações serão feitas pela Conservatória, mediante a
expedição de postais-avisos dos modelos em uso, os quais devem ser
apresentados pelo interessado, devidamente preenchidos com letra
bem legível, e dactilografados sempre que seja possível.
Exercício

1) As respostas dos pedidos de informação feitos por correspondências, ficam


dependentes do pagamento de emolumentos devidos e da franquia postal.

a) Certo b) Errado Resposta: Certo

UNIDADE Temática: 5.3.6. Exercícios Integrados

1) O Conservador do registo automóvel da Maxixe solicitou o Sr. Vasco Fulede


afim de comparecer junto a conservatória para sanar alguma incorreção na
declaração para registo do seu automóvel. Mas este por se encontrar fora do
País em tratamento médico, delegou o acto a sua esposa para fosse corrigir a
declaração, acto este prontamente rejeitado pelo conservador.
a) Comente a atitude do conservador, sustentando com base legal.

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ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

TEMA VI – REGISTOS CIVIL

Objectivos deste Tema:

 O registo civil é o serviço criado com o objectivo de definir e publicitar factos e actos
relativos ao estado civil e à capacidade de todas as pessoas singulares.

 Competindo às conservatórias do registo civil o registo de todos os factos previstos


no Código do Registo Civil quando ocorridos em território nacional, qualquer que
seja a nacionalidade dos indivíduos a quem respeitem, pelo que, neste tema serão
abordadas questões relacionadas factos sujeitos ao registo, os actos de registo em
si, a organização dos serviços de registo, os mecanismos de publicidade e meios de
prova e outros factos atinentes ao processo.

UNIDADE Temática: 6.4.1. Objecto e factos sujeitos a Registo

UNIDADE Temática: 6.4.2. Efeitos e Vícios do Registo

UNIDADE Temática: 6.4.3. Actos de registo em Geral e em Especial

UNIDADE Temática: 3.4.4. Organização do registo civil, publicidade


e meios de prova

UNIDADE Temática: 6.4.5. Processos privativos do Registo Civil

UNIDADE Temática: 6.4.6. Impugnação das decisões do Conservador

UNIDADE Temática: 6.4.7. Responsabilidade civil, penal e disciplinar

UNIDADE Temática: 6.4.8. Exercícios Integrados

UNIDADE Temática: 6.4.1. Objecto e Factos sujeitos a Registo

Introdução

A Conservatória dos Registos Centrais, do Registo Civil e Postos de


Registo Civil são órgãos normais dos serviços de registo civil. Estes
órgãos funcionam á luz da Lei nº. 12/2003, de 8 de Dezembro que
institui o Código do Registo Civil, e de acordo com esta lei, o registo
civil é de carácter obrigatório e tem por objecto os seguintes factos:

a) o nascimento;
b) a filiação;
c) A adopção;
d) O casamento;
e) A emancipação;
f) A regulação do exercício do poder parental, sua alteração e
cessação;
g) O óbito;

102
ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

h) A inibição ou suspensão do poder parental e as providências


limitativas desse poder;
i) A interdição e inabilitação definitiva, a tutela de menores ou
interdito, a administração de bens de menores e a cura tela
de inabilitados;
j) A curadoria provisória ou definitiva de ausentes e a morte
presumida;
k) Os que determinem a modificação ou extinção de qualquer
dos factos indicados e os que decorram em território
moçambicano.

Segundo o nº. 2 do art. 1 da mesma lei, os factos respeitantes a


estrangeiros só estão sujeitos a registo obrigatório quando ocorram
em território moçambicano.

Como se pode perceber, compete às conservatórias o registo dos


factos previstos no referido código do registo civil, quando ocorridos
na República de Moçambique, qualquer que seja a nacionalidade dos
indivíduos a que respeitam, com as limitações impostas por lei18.

Salvo disposição legal em contrário, os factos cujo registo é


obrigatório não podem ser invocados, quer pelas pessoas a quem
respeitem os seus herdeiros, quer por terceiros, enquanto não for
lavrado o respectivo registo e os seus efeitos retroagem à data em
que ocorrem.

UNIDADE Temática: 6.4.2. Efeitos e Vícios do registo

Introdução
Salvo disposição em contrário, nenhuma alteração pode ser
introduzida no texto dos assentos depois de serem assinados. No
caso de, por qualquer circunstância, não haver sido lavrado um
registo e não ser possível o suprimento da omissão dos termos
especialmente previstos neste código, observa-se o seguinte:
a) Tratando-se de registo que deva ser lavrado por inscrito,
o registo omitido só é efectuado mediante decisão
judicial passada em julgado;
b) Se o registo tiver de ser feito por transcrição, o
funcionário requisita à entidade competente, logo que
tiver conhecimento da omissão, o título necessário para
o lavrar;
c) Se, na hipótese anterior, também não houver sido
lavrado o original, o funcionário providencia para que a
entidade competente faça suprir a omissão pelos meios

18
Art.12 do CRC

103
ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

próprios em conformidade com as leis aplicáveis, e


remeta à conservatória o respectivo título;
d) Se não for possível obter o título destinado à transcrição
observa-se o disposto na alínea a).
Os funcionários do registo civil, bem como os agentes do Ministério
Publico, são obrigados, logo que tenham conhecimento da omissão
promover as diligências previstas nas alíneas acima, por si ou por
intermédio das entidades competentes, como no caso couber.
O valor jurídico do registo pode ser prejudicado pela existência de
vícios ou de irregularidades. Os vícios implicam o cancelamento do
registo, enquanto que, as irregularidades a mera rectificação.
Constituem vícios do registo a inexistência jurídica e a nulidade
absoluta e irregularidades as deficiências, inexactidões ou meros
erros materiais.
A inexistência jurídica do registo pode ser invocada a todo o tempo
por quem nela tiver interesse independentemente de declaração
judicial, mas esta deve ser promovida imediatamente pelo
funcionário que dela tiver conhecimento, e tal só é considerado nos
seguintes casos:
a) Quando respeitar a facto juridicamente inexistente;
b) Quando tiver sido por quem não tenha competência
funcional para o fazer, sem prejuízo do disposto no nº.2
do art. 369 do Código Civil;

c) Quando não contiver a assinatura do funcionário, se a


falta não for sanável mediante a assinatura do
funcionário em exercício no acto da convalidação, desde
que se não conheça ou não tenha sido deduzida qualquer
oposição, sem prejuízo da responsabilidade em que
tenha incorrido o respectivo funcionário;
d) Quando não contiver a assinatura das partes;
e) Quando, tratando-se de assento de casamento, não
contiver a expressa menção de terem os nubentes
manifestado a vontade de contrair matrimónio.
A falta de assinatura das testemunhas não é causa de inexistência do
registo se do contexto constar a sua intervenção ou, tratando-se do
assento de casamento, se a anulabilidade do acto celebrado,
resultante da falta de intervenção das testemunhas, tiver sido
sanada.
O registo é nulo quando for falso ou resultar da transcrição de título
falso, ou ainda se constituir a inscrição de um facto que nunca se
verificou, ou não serem das pessoas a quem são atribuídas as

104
ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

assinaturas das partes, das testemunhas ou do funcionário que nele


intervierem, ou ter sido alterado por forma a induzir em erro acerca
da parte registada ou da identidade das partes, ou quando os
Serviços de registo da República de Moçambique forem
incompetentes para o lavrar.
Nas situações acima descritas, o registo é cancelado não produzindo
nenhum efeito como título do facto registado, apenas pode ser
invocado como prova na acção destinada a suprir judicialmente a
omissão de registo.
Importa referir que o registo que enferme de alguma irregularidade,
deficiência ou inexactidão, que o não torne juridicamente
inexistente ou nulo, pode ser rectificado por meio de averbamentos
ou correcção, devendo ser autorizados pelo conservador
competente.
É obrigatória a promoção oficiosa do processo de rectificação de
registo sempre que a irregularidade, deficiência ou inexactidão a
sanar seja da responsabilidade dos serviços.

Exercícios

1) Os vicíos de um registo implica uma rectificação e as irregularidades o


cancelamento do registo.

a) Certo b) Errado Resposta: Errado

2) O registo é nulo quando for falso ou resultar da transcrição de título falso.


a) Certo b) Errado Resposta: Certo

UNIDADE Temática: 6.4.3. Actos de registo em Geral e em Especial

Introdução

As declarações prestadas nas conservatórias intermediárias, dentro


dos prazos estipulados na lei, consideram-se feitas em tempo
oportuno, ainda que depois deles tenham de ser rectificadas ou
repetidas.

Relativamente ao registo de nascimento ocorrido na República de


Moçambique este dever ser declarado verbalmente dentro dos
cento e vinte dias imediatos, na conservatória ou no posto do registo
civil da área do lugar do nascimento ou da residência habitual do
registando.

105
ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

São partes, em relação a cada registo, o declarante e as pessoas a


quem o facto registado directamente respeite, bem como as pessoas
de cujo consentimento dependa a plena eficácia destes.

Os declarantes são identificados, no texto dos assentos em que


intervierem, mediante a menção do seu nome completo, estado e
residência habitual.

Relativamente aos indivíduos surdos, mudos ou surdos-mudos só


podem intervir em qualquer acto de registo, para os que saibam ler
e escrever deverão exprimir a sua vontade por escrito, em resposta
às perguntas, que também por escrito, lhes forem formuladas pelo
funcionário, ficando ambos os escritos arquivados.

Quando alguma das partes não conhecer a língua oficial e o


funcionários não dominar o idioma em que a parte se exprime, deve
aquele nomear-lhe um interprete19, podendo o conservador do
registo civil notificar, pessoalmente ou por carta registada com aviso
de recepção, os interpretes por ele designados para comparecerem,
sob pena de desobediência, no dia, hora e local em que o acto de
registo deva ser realizado.

É lícito às pessoas que hajam de intervir um acto de registo, na


qualidade de parte, fazer-se representar por meio de procurador,
contanto que lhe confiram poderes especiais para o acto. A
procuração pode ser outorgada por instrumento público, ou por
documento assinado pelo representado, com conhecimento
presencial da assinatura. Importa referir que a procuração não pode
respeitar a mais de uma pessoa, como representado ou
representante, excepto quando se trate de marido e mulher.

No acto de celebração de casamento só um dos nubentes pode fazer-


se representar por procurador. A procuração para representação de
um dos nubentes, ou para concessão do consentimento necessário
a celebração do casamento de menores, deve individualizar o outro
nubente e indicar a modalidade do casamento.

Nos assentos de casamento devem intervir duas testemunhas,


maiores ou plenamente emancipadas, fazendo-se menção, quando
for caso disso, de que não sabem ou não podem assinar. E se, ao
funcionários do registo civil se suscitarem duvidas sobre a veracidade
das declarações ou identidade das partes intervenientes em assento
de qualquer outra espécie, pode exigir a intervenção de duas
testemunhas.

19
Alínea b) do nº. 1 do art. 49

106
ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

No entanto, as testemunhas consideram-se sempre abonatórias da


identidade das partes, bem como da veracidade das respectivas
declarações, e respondem, civil ou criminalmente, no caso de
falsidade.

O registo dos factos a ele sujeitos é lavrado, nos termos deste código,
por meio de assentos ou de averbamento. No que tange aos
averbamentos, há que destacar os de nascimento e de óbito.

Ao assento de nascimento são especialmente averbados:

a) O casamento não polígamo, civil, tradicional ou religioso, sua


dissolução, declaração de inexistência ou nulidade, bem
como a separação judicial de pessoas e bens ou a simples
separação judicial de bens;
b) O estabelecimento da filiação;
c) A declaração de que o registado na ocasião do nascimento
não beneficiou da posse de estado de filho relativamente a
ambos os cônjuges;
d) A paternidade do marido da mãe quando não afastada nos
termos legais;
e) O casamento dos pais, entre si, posterior ao registo de
nascimento do filho;
f) O reconhecimento voluntário ou judicial da maternidade ou
paternidade;
g) A adopção, a sua revogação, a revisão da respectiva
sentença;
h) A inibição e a suspensão do poder parental, bem como as
providências limitativas desse poder;
i) A interdição e a inabilitação, a tutela de menores ou
interditos, a administração de bens de menores, a curatela
de inabilitados e a curadoria de ausentes e a incapacidade do
menor casado para administrar os bens, sua modificação e
extinção;
j) A emancipação e sua revogação;
k) A mudança de nome;
l) O óbito e a morte presumida, judicialmente declarada;
m) Em geral, todos os factos jurídicos que modifiquem os
elementos de identificação ou o estado civil do registado.

A perfilhação só é averbada ao assento de nascimento desde que


haja o assentimento do próprio perfilhado ou, sendo ele pré-
defunto, dos seus descendentes, quando esse assentimento for
necessário à perfeição do acto.
107
ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

A inibição ou suspensão do poder parental, decretada pelo tribunal


de menores, é averbada ao assento de nascimento do inábil e dos
filhos menores a que respeite.

Ao assento de óbito são especialmente averbados:

a) A transladação;
b) A incineração ou cremação;
c) Quaisquer elementos de identificação do falecido que
venham ao conhecimento do conservador, depois de lavrado
o assento.

Os averbamentos são lançados à margem dos assentos originais.


Relativamente aos prazos, os averbamentos acima referidos são
efectuados no prazo de vinte e quatro horas, a contar da realização
do acto, quando este conste dos livros da própria conservatória, ou
do dia da recepção do boletim ou documento comprovativo.

Quanto a forma, os averbamentos são lavrados segundo os modelos


a estabelecer em regulamento, com referência aos assentos ou
documentos que lhes serviram de base.

Os averbamentos de assentos lavrados com base em documentos


referidos nos nºs. 2 e 4 do artigo 4 ou nos n.° 1, 2 e 3 do artigo 85
deste CRN, com as necessárias adaptações.

É permitindo o uso de algarismos no texto dos averbamentos, desde


que correspondam à reprodução do número ou das datas constantes
dos assentos anteriores.

Aos averbamentos é aplicável o disposto nos nºs. 4 e 5 do artigo 71


e no artigo 72 do CRC. No que diz respeito a assinaturas, os
averbamentos são assinados pelo conservador ou pelos técnicos do
registo civil, podendo usar-se uma assinatura abreviada. Os
averbamentos a que falte a assinatura devem ser assinados por
qualquer dos funcionários mencionados no número anterior que
notar a omissão, se verificar, em face dos assentos correspondentes
ou dos documentos arquivados, que o averbamento estava em
condições de ser efectuado.

Importa referir que, no averbamento é anotada a omissão e a data


em que foi suprida. Se o averbamento tiver que ser feito em
conservatória distinta de que lavrou o registo do facto a averbar,
estas enviam à conservatória, ou entidade competente, dentro do

108
ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

prazo de cinco dias, o boletim do modelo aprovado com as


indicações necessárias à realização do averbamento.

Se o registo for de óbito de indivíduo que faleceu no estado de


casado, o conservador do registo civil que o tiver efectuado envia o
boletim à conservatória detentora do assento de casamento, a esta
competindo, por sua vez, comunicar o facto a averbar, por meio de
boletim análogo, à conservatória detentora do assento de
nascimento do falecido e do cônjuge sobrevivo.

Compete à Conservatória dos Registos Centrais dar cumprimento ao


disposto nos números antecedentes, relativamente ao averbamento
dos factos que constituam objecto dos duplicados de assentos
consulares e bem assim aos averbamentos que devam ser lançados
simultaneamente a estes duplicados e aos originais
correspondentes.

Efectuado o averbamento, a conservatória devolve o talão anexo ao


boletim correspondente, depois de o ter preenchido. A
conservatória expedidora conserva, devidamente numeradas e
ordenadas, as matrizes dos boletins expedidos e nelas anota a
recepção dos respectivos talões.

Existindo dúvidas sobre o assento o conservador do registo civil que


receber um boletim para averbamento e não encontrar nos livros o
assento correspondente ou não conseguir identificá-lo com
suficiente segurança, comunica o facto à conservatória expedidora,
por meio de ofício, para que estas promovam as diligências
necessárias ao esclarecimento da omissão ou das dúvidas suscitadas.

Se houver omissão do assento ou erro na elaboração do registo, que


obste à realização do averbamento, o conservador do registo civil
providencia, nos termos e para o efeito do disposto no artigo 302 do
CRC.

Sempre que, por qualquer circunstância, tome conhecimento da


omissão de algum averbamento, independentemente da data da
verificação do facto que há-de ser averbado, o conservador do
registo civil deve suprir oficiosamente a omissão, solicitando a
remessa dos boletins ou dos documentos necessários ao
averbamento.

109
ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

Se o averbamento omisso tiver de ser realizado noutra


conservatória, a esta é comunicada a omissão, para que promova a
realização do averbamento.

A realização dos averbamentos devidos pode, a todo o tempo, ser


requerida verbalmente por qualquer interessado, mediante a
apresentação do documento comprovativo do facto que há-de ser
averbado.

Os actos de registo em especial para nascimento, abandonados


filiação, perfilhação, casamento e óbito, encontram suas fases e
sequências para registo nos artigos 118, 132, 140, 152, 202 e 233,
respectivamente do CRC.

Porém, constitui impedimento do funcionário no caso em que o


conservador não pode realizar actos em que intervenham como
partes ou como seus procuradores ou representantes, ele próprio, o
seu cônjuge ou qualquer parente ou afim, na linha recta ou em
segundo grau de linha colateral. Tal é extensivo aos demais técnicos
da conservatória a que pertence o conservador impedido. Ademais,
ao conservador que exerça advocacia é vedado o patrocínio nos
processos previstos no CRC.

Exercícios

1) O registo de nascimento em Moçambique deve ser declarado verbalmente


dentro de:

a) 30 dias; b) 60 dias; c) 90 dias; d) Nenhum; Resposta: d)

2) Na impossibilidade de se fazer presente na celebração de casamento, os


nubentes podem se fazer representar por procurador.

a) Certo b) Errado Resposta: Errado

3) Ao Conservador que exerça advocacia é “vedado” o patrocinío nos processos


previstos no CRC.

a) Certo b) Errado Resposta: Certo

110
ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

UNIDADE Temática: 6.4.4. Organização do registo Civil, Publicidade e Meios de Prova

Introdução

Os órgãos normais dos serviços de registo civil são:

a) Conservatória dos registos Centrais;


b) Conservatória do registo civil;
c) Postos do registo civil.

Em cada sede do posto administrativo funciona um posto de registo


civil adstrito a uma Conservatória do Registo Civil da sede do
respectivo distrito. Todavia, o posto de registo civil pode desdobrar-
se em brigadas móveis.

Os postos de registo civil têm a competência de lavrar assentos


relativos aos nascimentos e óbitos ocorridos na área da sua
jurisdição. Também, estes têm a competência de requisitar às
Conservatórias as certidões que, por intermédio do posto
administrativo, forem solicitadas pelos interessados.

Os livros especialmente destinados ao serviço de registo são os seguintes:

a) Livro de assentos de nascimentos;

b) Livro de assentos de casamento;

c) Livro de assentos de óbito;

d) Livro de assentos de declaração de maternidade e perfilhação;

e) Livro de assentos de emancipação;

f) Livro de assentos de tutela, administração de bens, curatela e


curadoria;

g) Livro de transcrição de assentos de casamentos religiosos;

h) Livro de transcrição de assentos de casamentos tradicionais;

i) Livro de registo da decisão do divórcio e separação de pessoas e


bens por mútuo consentimento;

j) Livro de transcrição de assentos diversos;

k) Livro de extractos.

111
ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

Sempre que o movimento da conservatória o justifique, o


conservador pode autorizar o desdobramento, em dois volumes, dos
livros nas alíneas a), b), c) e d). Os livros obedecem aos modelões
aprovados, sendo anuais os livros de assento de nascimento, de
casamento e de óbito.

Para além dos livros de registo, há os seguintes livros:

a) Livro diário e de registo de emolumentos;


b) Livro de inventário;
c) Livro de receitas e despesas;
d) Livro de emolumentos pessoais; e
e) Livro de assento de bodas

No fim da cada livro de assentos, após o termo de encerramento, há


um índice alfabético dos nomes próprios e dos apelidos das pessoas
q quem se refere cada registo, seguidos da indicação do número de
registo e das folhas em que se encontra lavrado.

O índice de cada livro pode ser encadernado em volume separado,


mas há um só índice para os vários volumes do mesmo livro. A
organização em volumes separados do índice dos livros de assentos
de nascimento é obrigatória.

Os factos sujeitos a registos bem como o estado civil das pessoas


provam-se conforme os casos, por meio de certidões, boletins,
cédula pessoal ou bilhete de identidade.

As certidões extraídas dos actos de registo podem ser de narrativa


completa ou de cópia integral. As narrativas obedecem aos modelos
aprovados ou aos estabelecidos em convecções, conforme os actos
a que respeitem. Enquanto que, nas certidões de copias integral
deve transcrever-se todo o texto dos assentos a que respeitam e os
seus averbamentos.

Os boletins são lavrados/emitidos após feita a leitura de assentos de


nascimento, de casamento, de óbito ou de depósito do certificado
de morte fetal, devendo ser passado, gratuitamente e entregue aos
interessados o respectivo boletim, em impresso de modelo
aprovado.

Efectuado o registo de nascimento, entrega-se ao declarante uma


cédula pessoal, conforme o modelo em
112
ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

uso, devidamente preenchida, rubricada e assinada pelo funcionário


do registo civil e autenticada com o selo branco da repartição.

UNIDADE Temática: 6.4.5. Processos privativos do Registo Civil

Introdução

São admitidos como meios processuais privativos de actos de registo


civil o processo comum de justificação, judicial ou administrativa, e
os processos especiais previstos no CRC.

Os referidos processos são instaurados, instruídos e formados nas


conservatórias do registo civil, cabendo a sua decisão, consoante os
casos, ao juiz de direito ou ao tribunal de menores, ao conservador,
ao director nacional dos registos e notariado ou ao Ministro da
Justiça, competindo ao conservador do registo civil presidir à
instrução dos processos e nomear o funcionário que neles serve de
secretário.

Tem legitimidade para intervir em processos de registo como


requerentes, os requeridos ou opositores, as pessoas a quem o
registo respeita ou seus herdeiros, os declarantes e, no geral, todos
aqueles que tiverem interesse directo no pedido ou na oposição e
bem assim o Ministério Publico. De referir que é dispensada a
constituição de advogado, excepto na fase de recurso.

Na petição destinada a servir de base ao processo os requerentes


devem expor, sem dependência de artigos, os fundamentos da sua
pretensão e indicar concretamente as providências requeridas,
sendo a assinatura do requerente reconhecida nos termos legais.

A petição pode ser formulada verbalmente perante o conservador


do registo civil, que a reduz a auto, e é apresentada no Diário, sendo
o auto subscrito pelo conservador do registo civil e pelo requerente,
se souber e puder assinar.

Com a petição do requerente e com a oposição são juntos os


documentos comprovativos dos factos alegados, oferecidas as
testemunhas e escolhido o domicilio do requerente ou oponente na
área da conservatória, para efeito das notificações que hajam de ser
efectuadas. Importa referir que os processos de justificação devem
ser instruídos com certidão de copia integral do registo a que
respeitam.

113
ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

As citações e notificações são feitas na pessoa dos intervenientes. E


nas localidades onde houver distribuição domiciliária são feitas por
carta registada com aviso de recepção e nas outras localidades são
feitas por termo lavrado no processo ou por mandado do
conservador.

Se o citado ou notificado residir fora da área da conservatória, a


diligência é requisitada por ofício dirigido ao conservador
competente. No acto da citação ou da notificação de qualquer
decisão é entregue às partes cópia da petição ou da decisão
notificada.

Importa frisar que, o número de testemunhas oferecidas por cada


uma das partes não pode exceder cinco, e os seus depoimentos são
sempre reduzidos a escrito, competindo a redacção ao conservador
do registo civil que presidir à inquirição.

As testemunhas que, tendo sido notificadas, faltarem no dia


designado para a inquirição podem, neste acto, ser substituídas por
outras, desde que estejam presentes ou a parte interessada se
obrigue a apresentá-las. Nota importante é que não há segundo
adiamento de inquirição por falta de testemunha, e em caso algum
constitui motivo de adiamento a falta de testemunha que a parte se
haja obrigado a apresentar.

As testemunhas não residentes na área da conservatória instrutora


do processo são ouvidas, por oficio precatório, na conservatória da
área da sua residência, salvo se a parte se obrigar a apresentá-las. Os
ofícios são acompanhados de copia da petição ou oposição em
relação à qual as testemunhas hajam de depor e devem ser
cumpridos e devolvidos dentro do prazo de oito dias, a contar da
data da sua recepção.

Durante a instrução do processo o conservador do registo civil pode,


por iniciativa, ouvir pessoas, solicitar informações e documentos, ou
determinar outras diligências necessárias ao esclarecimento da
verdade.

Os processos de registo e respectivos prazos correm durante as


férias judiciais, sábados, domingos e dias de feriado.

114
ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

UNIDADE Temática: 6.4.6. Impugnação das Decisões do Conservador

Introdução

Quando o conservador recusar a praticar algum acto de registo, o


interessado pode deduzir reclamação hierárquica para o director
nacional dos registos e notariado ou interpor recurso para o juiz.

Se o interessado declarar, verbalmente ou por escrito, que pretende


recorrer, é-lhe entregue pelo funcionário, dentro de quarenta e oito
horas, uma exposição escrita, na qual se especificam os motivos da
recusa.

Nos quinze dias subsequentes à entrega da exposição dos motivos


da recusa, o recorrente deve apresentar na conservatória a
reclamação hierárquica dirigida ao director nacional dos registos e
notariado ou a petição de recurso dirigida ao juiz, acompanhada da
exposição do funcionário e dos documentos que pretenda oferecer.

Na petição, o recorrente procura demonstrar a improcedência dos


motivos da recusa, concluindo por pedir que seja determinada a
realização do acto. Actuada a petição com os respectivos
documentos, o conservador recorrido profere, dentro de quarenta e
oito horas, o despacho destinado a sustentar ou a reparar a recusa.

Se o conservador recorrido houver sustentado a recusa, ordena a


remessa do processo à Direcção Nacional dos Registos e Notariado
ou ao tribunal, podendo completar a sua instrução com as certidões
necessárias.

Recebido o processo, o director nacional dos registos e notariado


decide, no prazo de oito dias. E, independentemente do despacho, o
processo, logo que seja recebido em juízo, vai com vista ao
Ministério Público para este emitir parecer e, seguidamente, é
julgado por sentença no prazo de oito dias a conta da conclusão.

Da decisão do director pode ser interposto recurso para o Ministro


da Justiça, no prazo de dez dias, a contar da data em que o
interessado tomar conhecimento da decisão. A parte prejudicada
pela decisão, o conservador recorrido e o Ministério Público podem
interpor recurso de sentença, com efeito suspensivo, sendo o
recurso processado e julgado como o de agravo em matéria cível.

115
ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

UNIDADE Temática: 6.4.7. Responsabilidade Civil, Penal e Disciplinar

Introdução

Os funcionários do registo civil, dignitários religiosos, autoridades


comunitárias ou agentes diplomáticos e consulares que não
cumprirem os deveres impostos no Código do Registo Civil
respondem pelos danos a que derem causa.

As pessoas que sendo obrigadas a declarar perante o conservador do


registo civil o nascimento ou óbito de qualquer individuo, o não
façam dentro dos prazos legais incorrem em multa, salvo caso de
força maior. Se, porém, a declaração vier a ser prestada,
voluntariamente, antes de participada a falta, não há lugar à
aplicação da multa.

Incorre na pena correspondente ao crime de desobediência o


funcionário do registo civil que praticar algum dos factos seguintes:

a) Der causa a que o casamento não se celebre, ou a que o


casamento religioso ou tradicional não sejam transcrito
dentro do prazo legal, quando para isso não exista motivo
justificado;
b) Celebrar o casamento, ou passar o certificado para a sua
celebração, sem a prévia organização do processo, salvo
se a lei o permitir;
c) Celebrar o casamento, ou passar o certificado para a sua
celebração, depois de haver sido denunciado algum
impedimento, enquanto a declaração não for considerada
sem efeito ou impedimento não for julgado
improcedente;
d) Realizar o casamento, quando algum dos nubentes
reconhecidamente se encontre em estado de não poder
manifestar, livre e esclarecidamente, a sua vontade.

Pela omissão dos averbamentos, o funcionário do registo civil incorre


em multa, as quais podem ser pagas contra recibo na conservatória
respectiva, dentro do prazo de dez dias, a contar do aviso para
pagamento.

116
ISCED CURSO: DIREITO; 30 Ano Disciplina/Módulo: REGISTOS E NOTARIADO

Em caso de falsidade das certidões, atestados ou declarações, os


signatários ou declarantes e os que delas usarem ou aproveitarem,
além da responsabilidade criminal em que incorrem, são
solidariamente responsáveis pelos emolumentos, taxas e selos
correspondentes ao acto de registo efectuado e pelas multas
devidas.

UNIDADE Temática: 6.4.8. Exercícios Integrados

1) “O valor jurídico do registo pode ser prejudicado pela existência de vícios ou


irregularidades”.
a) Diferencie Vício de Irregularidade, exemplificando.

2) Diga quais são os órgãos normais da Conservatória do Registo Civil?

3) No mês de Janeiro a Conservatória dos Registos Centrais achou melhor apoiar


as outras Conservatórias da cidade de Maputo a fim de dar cobro a demanda
de serviços em actos de registo de nascimento e extrair certidões de
nascimento no balcão.
a) Diga argumentando se foi correcto o posicionamento do conservador,
sem sim/não, porque?
4) O registo civil é de carácter obrigatório tanto para os nacionais como para os
estrangeiros dentro do território nacional. Concorda? Comente e justifique a
sua posição;
5) Para qualquer que seja o registo obrigatório, não existe prazo para tal.
Concorda?

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BIBLIOGRAFIA DE REFERÊNCIA

 ARAÚJO, A. M. Borges de; Albino Matos; S/D – Prática


Notarial, 3ª Edição, Livraria Almedina, Coimbra
 GUERREIRO, A. Mouteira; SD – Noções de Direito Registral,
Coimbra Editora, Coimbra
 LOPES, J. de Seabra; S/D – Direito dos Registos e do
Notariado, Livraria Almedina
 RODRIGUES, Pedro Nunes; S/D – Direito Notarial e Direito
Registral – O Novo Regime Jurídico do Notariado Privado,
Livraria Almedina, Coimbra
 ALMEIDA, Carlos Ferreira de (1966) – Publicidade e Teoria
dos Registos, Almedina
 BRANDELLI, Leonardo. Teoria Geral do Direito Notarial. Porto
Alegre : Livraria do Advogado, 1998.
 CENEVIVA, Walter. Lei dos Notários e Registradores
Comentada. 4. Ed. São Paulo : Saraiva, 2002.
 CENEVIVA, Walter. Lei dos Registros Públicos Comentada. 15.
Ed. São Paulo : Saraiva, 2002.
 COLÉGIO NOTARIAL DO BRASIL – Conselho Federal. XXIV
Congresso Internacional do Notariado Latino. Conclusões. O
Cartório, Belo Horizonte, ano V, n. 47, nov. 2004.
 COMASSETO, Miriam Saccol. A função notarial como forma
de prevenção de litígios. Porto Alegre : Norton Editor, 2002.
 KOLLET, Ricardo Guimarães. Tabelionato de Notas para
Concursos. Porto Alegre : Norton Livreiro, 2003.
 LEONHARDT, Liani. A função do tabelião na prevenção de
litígios.
http://www.colegioregistralrs.org.br/doutrina.asp?cod=1.
Acesso em julho de 2009.
 MARTINS, Cláudio. Teoria e Prática dos Atos Notariais. Rio de
Janeiro : Forense, 1979.
 SANTOS, Marcia Elisa Comasseto dos. Fundamentos teóricos
e práticos das funções notarial e registral imobiliária. Porto
Alegre : Norton Editor, 2004.
 LOURES, José Costa; GUIMARÃES, Taís Maria Loures
Dolabela. Novo Código Civil Comentado, Del Rey, Belo
Horizonte, 2002.

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LISTA DA LEGISLAÇÃO NOTARIAL RELEVANTE

 Constituição da República de Moçambique, 2004;

 Código de Registo Civil (CRC); Lei nº. 12/2004, de 08 de


Dezembro;

 Código do Notariado; Decreto-Lei nº.4/2006, de 23 de


Agosto;

 Código de Registo das Entidades Legais (CREL); Decreto-Lei


nº.1/2006, de 23 de Agosto;

 Código de Registo Automóvel (CRA); Decreto-Lei nº.47952,


de 22 de Setembro de 1967.

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GLOSSÁRIO

CRM – Constituição da República de Moçambique

CC – Código Civil

CRC – Código de Registo Civil

CREL – Código de Registo das Entidades Legais

CRA – Código de Registo Automóvel

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