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Isolda Guite Beira, Fevereiro /2017

ISCED

Manual de Curso de Licenciatura em Direito

3º Ano

Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário

Código: ISCED32-CJURCFE022

TOTAL HORAS/1o SEMSTRE: 125

CRÉDITOS (SNATCA): 5

Número de Temas: 5

Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED).

IG/17
Direitos de autor (copyright)

Este manual é propriedade do Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED),


e contém reservados todos os Direitos. É proibida a duplicação ou reprodução parcial ou
total deste manual, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (electrónicos, mecânico,
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Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED).

A não observância do acima estipulado o infractor é passível a aplicação de processos


judiciais em vigor no País.

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IG/17
Agradecimentos

Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância  Coordenação do Programa das


licenciaturas e o autor que elaborou o presente manual, Dra. Isolda da Conceição Guite,
agradecem a colaboração dos seguintes indivíduos e instituições na elaboração deste
manual:

Pelo design e revisão final

Financiamento e Logística

Elaborado Por:

Dra. Isolda da Conceição Guite, Licenciada em Direito pela Universidade Eduardo Mondlane.

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ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário i

Índice

Visão geral 1
Benvindo ao Módulo de Contencioso Administrativo e Tributário .................................. 1
Objectivos do Módulo....................................................................................................... 1
Quem deveria estudar este módulo ................................................................................. 1
Como está estruturado este módulo ................................................................................ 2
Ícones de actividade ......................................................................................................... 3
Habilidades de estudo ...................................................................................................... 3
Precisa de apoio? .............................................................................................................. 5
Tarefas (avaliação e auto-avaliação) ................................................................................ 6
Avaliação ........................................................................................................................... 7

PARTE I 9

CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO 9

TEMA – I: INTRODUÇÃO AO CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO 9


UNIDADE Temática 1.1. Noções Gerais do Contencioso Administrativo. ........................ 9
Introdução......................................................................................................................... 9
1.1.1. Conceito do Contencioso Administrativo ............................................................... 9
Sumário ........................................................................................................................... 11
Exercícios de Auto-Avaliação .......................................................................................... 11
Exercícios ........................................................................................................................ 12
UNIDADE Temática 1.2. Origem e evolução histórica do Contencioso Moçambicano .. 13
Introdução....................................................................................................................... 13
1.2.1. Breves aspectos sobre o surgimento do contencioso administrativo ......... 13
1.2.2. Casos particulares de Moçambique no período antes e pós a independência
(generalidades) ............................................................................................................... 14
1.2.3. O silêncio da Constituição de 1975 sobre a recorribilidade dos actos
administrativos ............................................................................................................... 16
1.2.4. Constituição de 1990 ................................................................................... 18
1.2.5. A Constituição de 2004 ................................................................................ 20
1.2.5.1. Recorribilidade dos actos administrativo na Constituição de 2004 ............ 21
Sumário ........................................................................................................................... 22
Exercícios de Auto-Avaliação .......................................................................................... 24
Exercícios ........................................................................................................................ 25
UNIDADE Temática 1.3. Exercícios do Tema .................................................................. 26
Introdução....................................................................................................................... 26
Exercícios ........................................................................................................................ 26

TEMA – II: O TRIBUNAL ADMINISTRATIVO 27

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UNIDADE Temática 2.1. Organização e funcionamento ................................................. 27


Introdução....................................................................................................................... 27
2.1.1. Organização e funcionamento .............................................................................. 28
2.1.2. A jurisdição do Tribunal Administrativo ............................................................... 29
2.1.3. A Estrutura do Tribunal Administrativo ................................................................ 29
Sumário ........................................................................................................................... 30
Exercícios de Auto-Avaliação .......................................................................................... 31
Exercícios ........................................................................................................................ 32
UNIDADE Temática ......................................................................................................... 33
2.2. Competências do Tribunal Administrativo e dos Tribunais administrativos
provinciais ....................................................................................................................... 33
Introdução....................................................................................................................... 33
2.2.1. Competências do Tribunal Administrativo .................................................. 33
Competências do Plenário .............................................................................................. 33
Compete à Primeira Secção (contencioso administrativo .............................................. 33
Compete à Segunda Secção (contencioso fiscal e aduaneiro) ....................................... 34
2.2.2. Competências dos Tribunais Administrativos Provinciais ........................... 35
Sumário ........................................................................................................................... 36
Exercícios de Auto-Avaliação .......................................................................................... 36
Exercícios ........................................................................................................................ 37

TEMA – III: RECURSO CONTENCIOSO E ACÇÕES 38


UNIDADE Temática 3.1. Formas do processo e pressupostos processuais .................... 38
Introdução....................................................................................................................... 38
3.1.1. Formas de processo e pressupostos processuais ................................................. 38
3.1.2. A Competência do tribunal ................................................................................... 40
3.1.3. A recorribilidade do acto ...................................................................................... 40
Sumário ........................................................................................................................... 41
Exercícios de Auto-Avaliação .......................................................................................... 41
Exercícios ........................................................................................................................ 42
UNIDADE Temática 3.2. Marcha processual em geral .................................................... 43
Introdução....................................................................................................................... 43
3.2.1. Objecto de Recurso Contencioso.......................................................................... 43
3.2.2. Concepção doutrinal sobre actos definitivos e executórios e susceptibilidade de
apreciação contenciosa .................................................................................................. 44
3.2.3. Validade da norma do artigo 33 do decreto n°7/2014, de 28 de Fevereiro, com a
norma do n°3 do art. 253 da CRM .................................................................................. 45
3.2.4. Legitimidade processual ....................................................................................... 47
Legitimidade activa – subjectivismo versus objectivismo .............................................. 48
3.2.5. Prazos para impugnação contenciosa .................................................................. 51
3.2.6. Processo Contencioso em Geral .................................................................. 52
3.2.6.1. Marcha do Processo..................................................................................... 53
1 – A Petição ................................................................................................................... 53
2 – Duplicados ................................................................................................................. 54
3 – Prova Documental..................................................................................................... 55
4 – Prova Testemunhal ................................................................................................... 55

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5 – Prova Pericial............................................................................................................. 56
6 – Citações e Notificações ............................................................................................. 56
7 – Entrada da petição ................................................................................................... 56
7.1 – Distribuição ............................................................................................................ 56
7.2 – Livro de Porta ......................................................................................................... 57
7.3 – Autuação ................................................................................................................ 58
7.4 – Preparos ................................................................................................................. 58
7.5 – Vista ao Ministério Público .................................................................................... 59
7.6 – Conclusão ............................................................................................................... 59
7.7 – Secretaria ............................................................................................................... 60
7.7.1 – Resposta ou Contestação.................................................................................... 60
“Vista” (oficiosa) ............................................................................................................. 61
Depois do Visto do Ministério Público “Conclusão” ....................................................... 61
Finda a Produção de Prova e alegações facultativas ...................................................... 62
Proferido o Acórdão Final ............................................................................................... 63
7.9 – Recursos Jurisdicionais........................................................................................... 64
Trânsito em julgado ........................................................................................................ 65
Sumário ........................................................................................................................... 65
Exercícios de Auto-Avaliação .......................................................................................... 67
Exercícios ........................................................................................................................ 68

PARTE II 69

CONTENCIOSO TRIBUTÁRIO 69

TEMA – I: PRINCÍPIOS GERAIS E MEIOS PROCESSUAIS 69


UNIDADE Temática 1.1. Princípios gerais do processo tributário. ............................... 69
Introdução....................................................................................................................... 69
1.1.1. Princípios Gerais Do Processo Tributário ..................................................... 70
Princípio do acesso aos tribunais .................................................................................... 70
Princípio da igualdade de meios processuais ................................................................. 70
O princípio da legalidade fiscal e o princípio da verdade material ................................ 70
O princípio da investigação no processo fiscal ............................................................... 72
a) O ónus da impulsão processual ............................................................................. 74
b) Ónus de alegar ....................................................................................................... 74
c) Os deveres de cooperação do contribuinte .......................................................... 75
Princípio da celeridade processual ................................................................................. 76
Sumário ........................................................................................................................... 77
Exercícios de Auto-Avaliação ......................................................................................... 78
Exercícios ........................................................................................................................ 79
UNIDADE Temática 1.2. Meios processuais.................................................................... 80
Introdução....................................................................................................................... 80
Meios de impugnação dos actos tributários .................................................................. 80
1.2.1. Revisão oficiosa e reclamação do contribuinte .................................................... 80
1.2.3. Recurso Contencioso ............................................................................................ 81

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a) A articulação entre os processos graciosos e contenciosos ................................. 81


b) Objecto de impugnação ........................................................................................ 83
1.2.4. Acção de impugnação ou recurso? ....................................................................... 85
A acção de impugnação como acção constitutiva .......................................................... 86
1.2.5. Providências Cautelares ........................................................................................ 88
a) A cargo da Administração Tributária ..................................................................... 88
c) Providências cautelares para sujeitos passivos..................................................... 90
1.2.6. Processos de Transgressão ................................................................................... 91
Elementos do tipo fiscal e os processos de transgressão............................................... 91
Relação entre o processo de transgressão e liquidação no processo ............................ 92
Sumário ........................................................................................................................... 94
Exercícios de Auto-Avaliação .......................................................................................... 95
Exercícios ........................................................................................................................ 96
UNIDADE Temática 1.3. Exercícios do Tema .................................................................. 97
Introdução....................................................................................................................... 97
Exercícios ........................................................................................................................ 97

TEMA – II: TRIBUNAIS FISCAIS 98


UNIDADE Temática 2.2. Organização e Tramitação Processual ..................................... 98
Introdução....................................................................................................................... 98
2.1.1. Enquadramento dos tribunais fiscais na jurisdição administrativa
(organização judiciária) ................................................................................................... 98
2.1.2. Organização e Funcionamento .................................................................. 100
Dos livros do cartório .................................................................................................... 100
2.1.3. Tramitação Processual ............................................................................... 101
Distribuição dos processos e marcha processual ......................................................... 101
2.1.4. Processo de Execução Fiscal ...................................................................... 102
A autotutela dos direitos do Estado ............................................................................. 102
Casos de ilegalidade em abstracto da dívida executada .............................................. 103
O título executivo fiscal: natureza e problemas ........................................................... 104
Marcha do processo e o papel do juízo das execuções fiscais ..................................... 105
Sumário ......................................................................................................................... 106
Exercícios de Auto-Avaliação ........................................................................................ 107
Exercícios ...................................................................................................................... 108
UNIDADE Temática 1.3. Exercícios do Tema ................................................................ 109
Introdução..................................................................................................................... 109
Exercícios ...................................................................................................................... 109

Exercícios do Módulo 111

Bibliografia Recomendada 113

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Visão geral

Benvindo ao Módulo de Contencioso


Administrativo e Tributário

Objectivos do Módulo
Ao terminar o estudo deste módulo de Contencioso
Administrativo e Tributário deverás ser capaz de saber: o âmbito
da jurisdição administrativa e fiscal, a organização e
funcionamento dos tribunais administrativos e fiscais e o
respectivo ordenamento processual; o estudo dos meios
jurisdicionais, com todo o cotejo de novas questões relativamente
ao objecto do processo administrativo e à legitimidade. Também
será do teu interesse saber os principais princípios que norteiam o
Contencioso Administrativo e Tributário numa justiça marcada
pelo princípio da tutela judicial efectiva e plena. Desses objectivos,
será especificamente importante:

 Conhecer o Conceito e o Objecto do Contencioso


Administrativo e Tributário;
 Conhecer a função do Contencioso Administrativo;
 Saber a origem e evolução;
Objectivos  Fontes do Contencioso Administrativo;
Específicos  Saber os princípios que norteiam o contencioso;
 Saber a organização e funcionamento dos tribunais
Administrativos e Fiscais;
 Saber as competências dos tribunais administrativos e fiscais;
 Conhecer e dominar a marcha processual;
 Conhecer as formas dos processos e espécies de acções;
 Conhecer o procedimento e processo tributário.

Quem deveria estudar este módulo


Este Módulo foi concebido para estudantes do 3º ano do curso de
licenciatura em Direito. Poderá ocorrer, contudo, que haja leitores
que queiram se actualizar e consolidar seus conhecimentos nessa

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disciplina, esses serão bem vindos, não sendo necessário para tal
se inscrever. Mas poderá adquirir o manual.

Como está estruturado este módulo


Este módulo de Contencioso Administrativo e Tributário, para
estudantes do 3º ano do curso Direito, à semelhança dos restantes
do ISCED, está estruturado como se segue:
Páginas introdutórias

 Um índice completo.
 Uma visão geral detalhada dos conteúdos do módulo,
resumindo os aspectos-chave que você precisa conhecer para
melhor estudar. Recomendamos vivamente que leia esta
secção com atenção antes de começar o seu estudo, como
componente de habilidades de estudos.
Conteúdo desta Disciplina / módulo

Este módulo está estruturado em Temas. Cada tema, por sua vez
comporta certo número de unidades temáticas visualizadas por
um sumário. Cada unidade temática se caracteriza por conter uma
introdução, objectivos, conteúdos. No final de cada unidade
temática ou do próprio tema, são incorporados antes exercícios de
auto-avaliação, só depois é que aparecem os de avaliação. Os
exercícios de avaliação têm as seguintes características: Puros
exercícios teóricos, problemas não resolvidos e actividades
práticas algumas incluído estudo de casos.

Outros recursos

A equipa dos académicos e pedagogos do ISCED pensando em si,


num cantinho, mesmo o recôndito deste nosso vasto Moçambique
e cheio de dúvidas e limitações no seu processo de aprendizagem,
apresenta uma lista de recursos didácticos adicionais ao seu
módulo para você explorar. Para tal o ISCED disponibiliza na
biblioteca do seu centro de recursos mais material de estudos
relacionado com o seu curso como: Livros e/ou módulos, CD, CD-
ROOM, DVD. Para além deste material físico ou electrónico
disponível na biblioteca, pode ter acesso a Plataforma digital
moodle para alargar mais ainda as possibilidades dos seus
estudos.

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ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 3

Auto-avaliação e Tarefas de avaliação

Tarefas de auto-avaliação para este módulo encontram-se no final


de cada unidade temática e de cada tema. As tarefas dos
exercícios de auto-avaliação apresentam duas características:
primeiro apresentam exercícios resolvidos com detalhes. Segundo,
exercícios que mostram apenas respostas.
Tarefas de avaliação devem ser semelhantes às de auto-avaliação
mas sem mostrar os passos e devem obedecer o grau crescente de
dificuldades do processo de aprendizagem, umas a seguir a outras.
Parte das tarefas de avaliação será objecto dos trabalhos de
campo a serem entregues aos tutores/docentes para efeitos de
correcção e subsequentemente nota. Também constará do exame
do fim do módulo. Pelo que, caro estudante, fazer todos os
exercícios de avaliação é uma grande vantagem.
Comentários e sugestões

Use este espaço para dar sugestões valiosas, sobre determinados


aspectos, quer de natureza científica, quer de natureza didáctico-
Pedagógica, etc. deveriam ser ou estar apresentadas. Pode ser que
graças as suas observações, o próximo módulo venha a ser
melhorado.

Ícones de actividade
Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas
margens das folhas. Estes ícones servem para identificar
diferentes partes do processo de aprendizagem. Podem indicar
uma parcela específica de texto, uma nova actividade ou tarefa,
uma mudança de actividade, etc.

Habilidades de estudo
O principal objectivo deste capítulo é o de ensinar aprender a
aprender. Aprender aprende-se.

Durante a formação e desenvolvimento de competências, para


facilitar a aprendizagem e alcançar melhores resultados, implicará
empenho, dedicação e disciplina no estudo. Isto é, os bons
resultados apenas se conseguem com estratégias eficientes e
eficazes. Por isso é importante saber como, onde e quando
estudar. Apresentamos algumas sugestões com as quais esperamos
que caro estudante possa rentabilizar o tempo dedicado aos
estudos, procedendo como se segue:

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ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 4

1º Praticar a leitura. Aprender a Distância exige alto domínio de


leitura.

2º Fazer leitura diagonal aos conteúdos (leitura corrida).

3º Voltar a fazer leitura, desta vez para a compreensão e


assimilação crítica dos conteúdos (ESTUDAR).

4º Fazer seminário (debate em grupos), para comprovar se a sua


aprendizagem confere ou não com a dos colegas e com o padrão.

5º Fazer TC (Trabalho de Campo), algumas actividades práticas ou


as de estudo de caso se existir.

IMPORTANTE: Em observância ao triângulo modo-espaço-tempo,


respectivamente como, onde e quando... estudar, como foi
referido no início deste item, antes de organizar os seus momentos
de estudo reflicta sobre o ambiente de estudo que seria ideal para
si: Estudo melhor em casa/biblioteca/café/outro lugar? Estudo
melhor à noite/de manhã/de tarde/fins de semana/ao longo da
semana? Estudo melhor com música/num sítio sossegado/num
sítio barulhento!? Preciso de intervalo em cada 30 minutos, em
cada hora, etc.

É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido


estudado durante um determinado período de tempo; Deve
estudar cada ponto da matéria em profundidade e passar só ao
seguinte quando achar que já domina bem o anterior.

Privilegia-se saber bem (com profundidade) o pouco que puder ler


e estudar, que saber tudo superficialmente! Mas a melhor opção é
juntar o útil ao agradável: Saber com profundidade todos
conteúdos de cada tema, no módulo.

Dica importante: não recomendamos estudar seguidamente por


tempo superior a uma hora. Estudar por tempo de uma hora
intercalado por 10 (dez) a 15 (quinze) minutos de descanso
(chama-se descanso à mudança de actividades). Ou seja que
durante o intervalo não se continuar a tratar dos mesmos assuntos
das actividades obrigatórias.

Uma longa exposição aos estudos ou ao trabalho intelectual


obrigatório pode conduzir ao efeito contrário: baixar o rendimento
da aprendizagem. Porque o estudante acumula um elevado volume

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ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 5

de trabalho, em termos de estudos, em pouco tempo, criando


interferência entre os conhecimentos, perde sequência lógica, por
fim ao perceber que estuda tanto mas não aprende, cai em
insegurança, depressão e desespero, por se achar injustamente
incapaz!

Não estude na última da hora; quando se trate de fazer alguma


avaliação. Aprenda a ser estudante de facto (aquele que estuda
sistematicamente), não estudar apenas para responder a questões
de alguma avaliação, mas sim estude para a vida, sobre tudo,
estude pensando na sua utilidade como futuro profissional, na área
em que está a se formar.

Organize na sua agenda um horário onde define a que horas e que


matérias deve estudar durante a semana; Face ao tempo livre que
resta, deve decidir como o utilizar produtivamente, decidindo
quanto tempo será dedicado ao estudo e a outras actividades.

É importante identificar as ideias principais de um texto, pois será


uma necessidade para o estudo das diversas matérias que
compõem o curso: A colocação de notas nas margens pode ajudar
a estruturar a matéria de modo que seja mais fácil identificar as
partes que está a estudar e pode escrever conclusões, exemplos,
vantagens, definições, datas, nomes, pode também utilizar a
margem para colocar comentários seus relacionados com o que
está a ler; a melhor altura para sublinhar é imediatamente a seguir
à compreensão do texto e não depois de uma primeira leitura;
Utilizar o dicionário sempre que surja um conceito cujo significado
não conhece ou não lhe é familiar;

Precisa de apoio?
Caro estudante, temos a certeza que por uma ou por outra razão, o
material de estudos impresso, lhe pode suscitar algumas dúvidas
como: falta de clareza, alguns erros de concordância, prováveis
erros ortográficos, fraca visibilidade, páginas trocadas ou
invertidas, etc.). Nestes casos, contacte os serviços de atendimento
e apoio ao estudante do seu Centro de Recursos (CR), via telefone,
SMS, E-mail, se tiver tempo, escreva mesmo uma carta
participando a preocupação.
Uma das atribuições dos Gestores dos CR e seus assistentes
(Pedagógico e Administrativo) é a de monitorar e garantir a sua
aprendizagem com qualidade e sucesso. Dai a relevância da
comunicação no Ensino a Distância (EAD), onde o recurso as TIC se

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torna incontornável: entre estudantes, estudante – Tutor,


estudante – CR, etc.
As sessões presenciais são um momento em que você caro
estudante, tem a oportunidade de interagir fisicamente com staff
do seu CR, com tutores ou com parte da equipa central do ISCED
indigitada para acompanhar as sua sessões presenciais. Neste
período pode apresentar dúvidas, tratar assuntos de natureza
pedagógica e/ou administrativa.
O estudo em grupo, que está estimado para ocupar cerca de 30%
do tempo de estudos a distância, é muita importância, na medida
em que permite-lhe situar, em termos do grau de aprendizagem
com relação aos outros colegas. Desta maneira ficará a saber se
precisa de apoio ou precisa de apoiar aos colegas. Desenvolver
hábito de debater assuntos relacionados com os conteúdos
programáticos, constantes nos diferentes temas e unidade
temática, no módulo.

Tarefas (avaliação e auto-avaliação)


O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e
autoavaliação), contudo nem todas deverão ser entregues, mas é
importante que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues
duas semanas antes das sessões presenciais seguintes.
Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não
cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do
estudante. Tenha sempre presente que a nota dos trabalhos de
campo conta e é decisiva para ser admitido ao exame final da
disciplina/módulo.
Os trabalhos devem ser entregues ao Centro de Recursos (CR) e os
mesmos devem ser dirigidos ao tutor/docente.
Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa,
contudo os mesmos devem ser devidamente referenciados,
respeitando os direitos do autor.
O plágio1 é uma violação do direito intelectual do autor/autores.
Uma transcrição à letra de mais de 8 (oito) palavras do texto de um
autor, sem o citar é considerado plágio. A honestidade, humildade
científica e o respeito pelos direitos autorais devem caracterizar a
realização dos trabalhos e seu autor (estudante do ISCED).

1
Plágio - copiar ou assinar parcial ou totalmente uma obra literária,
propriedade intelectual de outras pessoas, sem prévia autorização.

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ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 7

Avaliação
Muitos perguntam: Com é possível avaliar estudantes à distância,
estando eles fisicamente separados e muito distantes do
docente/tutor!? Nós dissemos: Sim é muito possível, talvez seja
uma avaliação mais fiável e consistente.
Você será avaliado durante os estudos à distância que contam com
um mínimo de 90% do total de tempo que precisa de estudar os
conteúdos do seu módulo. Quanto ao tempo de contacto
presencial conta com um máximo de 10% do total de tempo do
módulo. A avaliação do estudante consta detalhada do
regulamento de avaliação.
Os trabalhos de campo por si realizados, durante estudos e
aprendizagem no campo, pesam 25% e servem para a nota de
frequência para ir aos exames.
Os exames são realizados no final da cadeira/disciplina ou modulo
e decorrem durante as sessões presenciais. Os exames pesam no
mínimo 75%, o que adicionado aos 25% da média de frequência,
determinam a nota final com a qual o estudante conclui a cadeira.
A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da
cadeira.
Nesta cadeira o estudante deverá realizar pelo menos 2 (dois)
trabalhos e 1 (um) (exame).
Algumas actividades práticas, relatórios e reflexões serão utilizados
como ferramentas de avaliação formativa.
Durante a realização das avaliações, os estudantes devem ter em
consideração a apresentação, a coerência textual, o grau de
cientificidade, a forma de conclusão dos assuntos, as
recomendações, a identificação das referências bibliográficas
utilizadas, o respeito pelos direitos do autor, entre outros. Os
objectivos e critérios de avaliação constam do Regulamento de
Avaliação.

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ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 9

PARTE I

CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO

TEMA – I: INTRODUÇÃO AO CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO


UNIDADE Temática 1.1. Noções Gerais
UNIDADE Temática 1.2. Origem e evolução histórica

UNIDADE Temática 1.3. Exercícios do Tema

UNIDADE Temática 1.1. Noções Gerais do


Contencioso Administrativo.

Introdução
Pretende-se nesta unidade temática que o estudante adquira
conhecimentos básicos sobre os principais conceitos e o objecto do
Contencioso Administrativo.
Para o efeito, ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Conhecer e saber definir o Contencioso Administrativo;


 Compreender a importância do Contencioso Administrativo
Objectivos

1.1.1. Conceito do Contencioso Administrativo

O contencioso administrativo é um sistema de controlo da legalidade


dos actos administrativo que tem por objecto julgar os conflitos de
interesses entre vários órgãos da Administração Pública, ou entre
estes e os particulares.
Também se pode definir como uma sequência de actos ordenados

IG Beira/Fevereiro/2017 9
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 10

com vista a resolução de um litígio jurídico existente entre a os órgãos


administrativos ou entre a Administração e os particulares.
De modo geral, o Contencioso Administrativo é o sistema que busca
solucionar conflitos de ordem administrativo.2
Conforme se pode perceber, para que haja contencioso
administrativo, uma das partes ou intervenientes processuais deve
ser necessariamente um ente público que geralmente é a
Administração Pública, ou, não sendo ente publico, que as normas
que regem a relação material controvertida sejam de Direito
Administrativo.

Como tal, a função do contencioso administrativo resume-se no


seguinte:

 Propositura e acompanhamento de acções;

 Apresentação de defesas, recursos e impugnações;

 Realização de diligências processuais, como perícias e leilões

 Viabilização de soluções alternativas para a solução dos


litígios.

Imagem ilustrativa da função do contencioso administrativo

Ou ainda:

2
Cfr. Em
https://jairoegeorgemeloadvogados.jusbrasil.com.br/artigos/112345963/qual-o-
significado-de-contencioso, disponível em 02/02/2017, às 17:31 min.

IG Beira/Fevereiro/2017 10
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 11

Fonte:
https://www.google.co.mz/search?q=imagens+ilustrativas+do+conten
cioso+administrativo&rlz=1C1EODB_pt-
BRMZ702MZ702&espv=2&biw=1366&bih=662&tbm=isch&tbo=u&sou
rce=univ&sa=X&ved=0ahUKEwjy7Jnf2_vRAhUFyGMKHW4bAkcQsAQIF
w#imgrc=ghMqOrX9rCaw8M: disponível em 02/02/2017, às 16:14
min.

Sumário
Nesta Unidade temática estudamos o conceito do contencioso
administrativo nas várias formas de concepção; também foi merecida
a atenção em perceber a função do contencioso administrativo onde
vimos que a principal função resume-se em resolução de litígios que
possam existir entre a Administração e os particulares, neste sentido,
sumariamente:

 O contencioso administrativo é um sistema de controlo de


legalidade dos actos administrativos;

 O contencioso administrativo visa a resolução de litígios que


envolvam a Administração Pública;

Exercícios de Auto-Avaliação

1. O contencioso administrativo visa a resolução de litígio


existente entre os particulares.
 Certo
 Errado
Resposta: Errado, porque visa a resolução de litígios em que
necessariamente deve haver como sujeitos processuais, uma das
partes, a Administração Pública ou as normas que regulam a relação
jurídica sejam do Direito Administrativo.

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Exercícios

1. “No contencioso administrativo o que se pretende é que haja a


resolução de conflito desencadeado entre a Administração
Pública e o particular”. Comente!
2. Quais as funções do Contencioso administrativo?
3. Pode haver um contencioso administrativo sem que exista o
tribunal administrativo?
4. Em que medida o contencioso administrativo serve para a sua
sociedade?
5. O que deve haver para que si diga que estamos diante do
contencioso administrativo?

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UNIDADE Temática 1.2. Origem e evolução


histórica do Contencioso Moçambicano

Introdução
Pretende-se nesta unidade temática que o estudante adquira
conhecimentos básicos sobre evolução do contencioso administrativo
na perspectiva do acto administrativo para efeitos de impugnação
contenciosa nas constituições de 1975; 1990 e 2004.
Isto significa que, ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Saber explicar o seu surgimento e evolução histórica do


contencioso administrativo moçambicano;
Objectivos  Saber identificar os actos susceptíveis de recurso
contencioso a luz das constituições que vigoraram no
ordenamento jurídico moçambicano;
 Perceber as ideais das constituições quanto ao recurso
contencioso.

1.2.1. Breves aspectos sobre o surgimento do contencioso


administrativo

A história do surgimento do contencioso administrativo moçambicano


está intimamente ligada ao surgimento do Tribunal Administrativo,
órgão competente para tomar decisões com independência e
imparcialidade. Contudo, tendo em conta que Moçambique, no
período antes da independência era uma província ultramarina de
Portugal, a história portuguesa influenciada por França também é
aplicável ao contencioso moçambicano já que grandes decisões
tomadas em Portugal eram reflectidas, igualmente, em Moçambique.
Nesta lógica, numa primeira fase o contencioso administrativo
português estava inserido dentro da Administração Pública, o que
significa um período em que a Administração tinha poderes para

IG Beira/Fevereiro/2017 13
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resolver conflitos surgidos entre ela e os Administrados.


Este período em que os litígios dos particulares perante a
Administração Pública podiam ser resolvidos pelos órgãos
administrativos, precede o período em que vigorava o sistema de
Administrador-juiz. Nesta ordem, não se pode falar, nesta altura, do
contencioso administrativo, contudo, com o surgimento do sistema de
Administrador-juiz tenta-se inserir um modelo que embora ineficaz, os
administrados podiam ver os seus diferendos resolvidos por um órgão
quase jurisdicional.
Como característica principal do referido sistema, havia a figura de
recurso hierárquico jurisdicionalizado que traduzia-se num “recurso de
natureza administrativa interposto perante um órgão da
Administração Pública, mas cuja tramitação constituía um processo
com garantias de imparcialidade e com certa contrariedade, de modo
a que os particulares pudessem ver devidamente ponderada as suas
razões e atendidos os seus direito”3.
O sistema de administrador-juiz foi evoluindo até que surgisse a figura
do Conselho de Estado que segundo o autor DIOGO FREITAS DO
AMARAL, tratava-se de um órgão consultivo do poder executivo que
“recebeu poderes para, através da sua secção contenciosa, apreciar os
recursos interpostos pelos particulares contra decisões ilegais da
Administração Pública. E foi o Conselho de Estado que começou a
conhecer desses recursos e a emitir pareceres, que enviava ao
Governo, o qual homologava ou não esse parecer, apresentando ao
Rei. Mesmo assim, a última decisão cabia ao Rei, que podia ou não
homologar.
Depois, veio o sistema judicial que também conheceu vários estágios
até chegar a implantação dos Tribunais Administrativos, transferindo
competências que eram do Conselho de Estado para os órgãos
especializados como Tribunal.
Esse movimento todo, resultou no nascimento de justiça
administrativa e o Direito Processual Administrativo que, de igual
modo é extensivo a Moçambique.

1.2.2. Casos particulares de Moçambique no período antes e pós


a independência (generalidades)

Sendo essas transformações ocorridas em Portugal e por


consequência das colonizações aplicáveis à Moçambique como colónia
ultramarina de Portugal, conforme se disse atrás, essas

3
AMARAL, Diogo Freitas do. Direito Administrativo. Vol. IV. Lisboa. 1988
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transformações influenciaram bastante no contencioso moçambicana


máxime no surgimento do Tribunal Administrativo
Nesta perspectiva, o professor GILLES CISTAC4 refere que, “com a
aprovação da Portaria Provincial n° 398, de 18 de Fevereiro de 1856,
marca formalmente o nascimento de uma justiça Administrativa em
Moçambique, no sentido moderno da palavra. Ainda, não sendo
suficiente para tratar de uma efectiva justiça administrativa e pelos
outros vários motivos, foi aprovado um o Decreto de 1 de Dezembro
de 1869 que introduziu o termo “tribunal administrativo”.
Depois de sucessiva legislação, veio a Reforma Administrativa
Ultramarina (aprovado por Decreto-Lei n° 23.229, de 15 de Novembro
de 1933. Esta reforma veio consubstanciar e cristalizar o Direito
Administrativo de forma clara e de modo a permitir que os tribunais
administrativo tenham poderes bastante para agir nos conflitos entre
os administrados e a Administração.
Nas palavras do autor em referência, “é ilustrativo da vigência e
importância deste diploma legal como fonte principal do Direito
Processual Administrativo Contenciosa, até o princípio do ano 2001, a
análise dos fundamentos dos acórdãos proferidos pelo Tribunal
Administrativo na área do contencioso administrativo”.
Na mesma senda, o autor refere ainda que apesar da estabilidade do
corpus das normas aplicadas ao contencioso administrativo a partir do
princípio dos anos 30 o que permitiu o surgimento de uma
jurisprudência administrativa uniforma, a RAU não acompanhou as
exigências ditadas pelo crescimento de uma jurisdição administrativa
moderna, motor da consolidação de um Estado de Direito. A evolução
recente da natureza do contencioso administrativo mais preocupado,
tendencialmente, pela protecção dos direitos subjectivos públicos dos
particulares, constituiu um factor determinante para uma reforma da
RAU o que foi realizado através da Lei n° 9/2001, de 7 de Julho.”5
Como se pode perceber, a introdução da lei acima citada foi fruto de
muitas motivações que segundo o autor CISTAC, “além do comando
legal que impunha uma reforma legal nesta matéria (Artigo 46 da Lei
n.º 5/92, de 6 de Maio), o direito colonial herdado não se adequava às
novas realidades do país. A Reforma Administrativa Ultramarina
apresentava dificuldades na sua aplicação, designadamente quanto à
necessária celeridade processual e a melhor protecção dos direitos
subjectivos dos administrados. Além disso, as profundas alterações às
atribuições do Tribunal Administrativo, no contencioso administrativo,
consagradas pela Lei n.º 5/92, de 6 de Maio, nomeadamente, a

4
CISTAC, Gilles. O Direito Administrativo em Moçambique. Workshop on
administrative law. Hotel Cardoso, Mozambique. April 2009
5
CISTAC, Gilles. História do direito processual administrativo contencioso
moçambicano. P.34-35. Obra acesso em 10 de Outubro de 2015 através do website
http://www.fd.ulisboa.pt/wp-content/uploads/2014/12/Cistac-Gilles-HISTORIA-DO-
DIREITO-PROCESSUAL-ADMINISTRATIVO-CONTENCIOSO-
MOCAMBICANO.pdf
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introdução de figuras e institutos jurídicos até então inexistentes no


quadro legal implicava uma imperiosa necessidade de se reformular o
direito adjectivo, o direito processual, de modo a que o direito
substantivo seja melhor agilizado ou servido.
Um reformar profunda era necessária o que foi, efectivamente,
realizado com aprovação da Lei n.º 9/2001, de 7 de Julho sobre o
Processo Contencioso Administrativo”6, já na vigência da Constituição
de 1990.
Mesmo assim, o mundo jurídico é dinâmico facto que provou que a Lei
n° 9/2001, de 7 de Julho, não se mostrou eficiente até no ano 2013 o
que levou a sua alteração através da nova Lei n° 7/2014, de 28 de
Fevereiro. Contudo, o preâmbulo desta lei não clarifica o erro que se
pretende resolver com a introdução da lei nova, prescrevendo de
forma contundente de que a frase “havendo necessidade de simplificar
os procedimentos atinentes ao processo administrativo contencioso”, o
que demonstra que a lei antiga já estava desajustada aos parâmetros
actuais.
A lei 7/2014 é uma lei que para além de simplificar alguns
procedimentos manteve algumas expressões das leis que a
antecederam sobretudo no que diz respeito às garantias dos
administrados quanto a recorribilidade dos actos administrativo ao
manter a teoria da definitividade do acto, conforme mais adiante
tratar-se-á.

1.2.3. O silêncio da Constituição de 1975 sobre a recorribilidade


dos actos administrativos

A Constituição de 1975 foi a primeira de Moçambique pós


independência e como resultado, a maior preocupação da mesma
estava ligada ao alavancamento da economia nacional, introduzindo
políticas marxista e leninista que não se coadunavam com a justiça
administrativa. Apesar de vigorar, nesta época, a RAU, não se pode
falar nessa altura da existência dos tribunais administrativo e
consequentemente das garantias efectivas dos administrados quanto
ao recurso contencioso, pois, nessa altura os tribunais estavam
subordinados ao poder político embora estivessem inseridos no título
III como órgãos de Estado7.
Já, quanto a relevância das questões em discussão nesse artigo
científico, dificilmente se pode vislumbrar a existência de mecanismos
que permitam a sindicância dos actos administrativos, mormente,
sobre a definitividade e executório ou a consagração da teoria dos
actos lesivos porque não se podia falar da existência dos tribunais
6
Idem. P. 36
7
Sobre órgão de Estado, confira título III da Constituição da República Popular de
Moçambique.
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Administrativos, pois, segundo o autor ALFREDO CHAMBULE, “a única


referência que se fazia nesta Constituição e nesta matéria, era a
existência do Tribunal Popular Supremo, como sendo o mais alto
órgão judiciário com jurisdição em todo território nacional”8.
Ainda que existissem os Tribunais Administrativo com competências
para dirimir conflitos em matéria administrativa, estava em peso,
nessa altura, a doutrina defendida por MARCELO CAETANO, segundo a
qual, “o recurso contencioso de anulação cabia apenas dos actos
administrativos, strictu sensu, quando praticados por autoridades
cujos actos admitiam recurso contencioso, desde que fossem, actos
externos e tivessem carácter definitivo e força executória”9, ou seja,
partia-se, da noção de acto administrativo definitivo e executório.
Na mesma senda, o mesmo autor justificava que “antes da prática de
um acto definitivo e executório, a Administração Pública ainda não
disse a sua última palavra. Ou, se disse a última palavra, a mesma
poderá ser revogada, suspensa ou modificada nos termos admissíveis
no Direito Administrativo. Por outras palavras, a regra é de que não se
pode utilizar a via contenciosa antes de esgotados os recursos
necessários de carácter gracioso que correm seus termos até a
exaustão dentro dos canais da própria Administração Pública” 10.
Portanto, essa ideia de definitividade de actos administrativos
influenciou vários ordenamentos jurídicos e, conforme referiu-se
atrás, Moçambique não ficou à margem dessa teoria, consubstanciado
pelo facto ter a RAU em vigor e a determinar que não eram
susceptíveis de recurso de recurso contencioso “os actos, decisões ou
deliberação sem carácter definitivo; os actos decisões ou deliberações
que apenas representem a confirmação de outros de que não houve
reclamação ou recurso no prazo legal e os actos, decisão e
deliberações que a lei expressamente declara insusceptíveis dessa
apreciação”11.
De igual modo, estabelecia no artigo 684 que “aqueles que, expressa
ou implicitamente, se tenham conformado com os actos, decisões ou
deliberações não têm legitimidade para deles reclamar ou recorrer,
salvo se, por expressa disposição legal, forem obrigados a interpor
recurso ou reclamação”.
Por todo exposto, conclui-se que para além de não se falar de
Tribunais Administrativos, na Constituição de 1975 estava em rigor o
princípio da exaustão dos meios graciosos nos termos da Reforma
Administrativo Ultramarino.

8
CHAMBULE, Alfredo. As Garantias dos Particulares. Imprensa Universitária.
Universidade Eduardo Mondlane. Maputo. 2002. p 127.
9
CAETANO, Marcelo. Manual de Direito Administrativo. Vol. II. Almedina.
Coimbra. 1991. p. 428
10
Idem, p. 1332
11
Cfr. artigo 650 da Reforma Administrativa Ultramarina (RAU)
IG Beira/Fevereiro/2017 17
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Portanto, a Constituição de 1975 não tinha expressão relativamente a


Administração Pública, principalmente na faculdade de recurso
contencioso dos actos administrativos que, sendo lesivos, não eram
definitivos.

1.2.4. Constituição de 1990

A Constituição de 1990 rompeu na sua totalidade o regime implantado


na Constituição de 1975 atendendo às novas forças e dinâmica da
evolução dos tempos, as ideias marxistas implantados e a sucessão
das leis por força da Constituição da República Popular de
Moçambique, já não se compaginavam com um Governo virada
somente ao desenvolvimento económico sem atenção aos sistemas
repressivos de certas condutas que envolvesse a Administração
Pública.
Pode se perceber que é a Constituição que trás uma virada
incondicional para as instituições jurisdicionais, consagrando com
clareza a existência dos Tribunais Administrativos como instituição
vocacionada em dirimir conflitos de índole administrativo,
concebendo o cidadão como titular de vários direitos, liberdades e
garantias, e ainda, consagrando como princípio estruturante do
sistema de justiça o acesso aos tribunais.
Esta Constituição, substituindo a concepção antiga, foi sobreposta um
regime de Estado de Direito de democracia popular, nas vertentes
socialistas, para um regime de Estado de Direito Democrático12.
Segundo PEDRO SINAI NHATITIMA, a Constituição de 1990 surge numa
conjuntura histórico-política demarcada no plano externo, como no
plano interno. No plano externo destaca-se as transformações
políticas, económicas e sociais que se registaram nos países socialistas
do Leste europeu, a partir de 1985. E no plano interno, encontra-se
em referência a necessidade, por um lado, de funcionamento das
instituições do Estado, de acordo com os princípios democráticos do
tipo ocidental e, por outro, a preocupação em encontrar caminhos,
rumo à reconciliação nacional, que passam, necessariamente, pelo
pluralismo e tolerância política13.
Nesse sentido, a Constituição de 1990 institui um modelo de Estado
que para além de democrático é também Estado de Direito Social. Esta
Constituição consagra vários princípios de defesa da própria
Constituição e de elevação do Estado de Direito na sua plenitude.

12
Esta concepção é retirada da obra disponível em Jurisprudência do Conselho
Constitucional: «http://www.cconstitucional.org.mz/». Com o tema Separação dos
Poderes e Independência do Conselho
Constitucional. Acesso no dia 23 de Janeiro de 2017.
13
NHATITIMA, Pedro Sinai. Ob cit. p. 43
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Neste sentido, a Constituição de 1990, “democrática e pluralista,


elimina a referência ideológica marxista-leninista e o monismo
político-partidário, estabelecendo claramente a nova estrutura
democrática, a liberdade política e a consagração dos direitos
fundamentais”14. Dentre esses direitos fundamentais destacam-se o
acesso a justiça, a defesa e a resistência contra os actos ilegais.
Foi através da Constituição de 1990 que deu azo para implementação
dos tribunais administrativo através da criação da primeira lei orgânica
do Tribunal Administrativo, a Lei n° 5/92, de 6 de Maio. No preâmbulo
da mesma lei, consagrou-se os objectivos da sua criação
nomeadamente, julgar as acções que tenham por objecto litígios
emergentes das relações jurídicas administrativo, julgar os recursos
contenciosos interpostos das decisões dos órgãos do Estado, dos seus
titulares e agentes e apreciar as contas do Estado.
Consubstancia esse entendimento quando o n° 1 do artigo 173 da
Constituição de 1990, segundo ALFREDO CHAMBULE, veio
constitucionalizar o controlo da legalidade da acção administrativa
através da instituição do Tribunal Administrativo. Refere ainda que a
competência do tribunal Administrativo não é especial ou excepcional
em face aos tribunais judiciais, tradicionalmente considerados como
tribunais ordinários ou comuns. O Tribunal Administrativo é, antes de
mais nada, um tribunal ordinário de justiça administrativa15.
Recorribilidade dos actos a luz da Constituição de 1990
Em matéria de recorribilidade dos actos, mormente a questão de
saber que tipos de actos são passíveis de apreciação contenciosa a luz
da lei ordinária e dos comandos constitucionais, refere ALFREDO
CHAMBULE que uma viragem completa viragem completa foi operada
pela Constituição de 1990. Com efeito, o artigo 81 desta Constituição,
veio consagrar o princípio de que todo o cidadão pode impugnar os
actos que violem os seus direitos estabelecidos na Constituição e
demais leis; para o artigo 82 consagrar que o cidadão tem o direito de
recorrer aos tribunais contra os actos que violem seus direitos
reconhecidos pela Constituição e pela lei. Deste modo, o direito de
recurso consagrado na Constituição pelo seu artigo 82 representa na
área do contencioso administrativo, a constitucionalização deste tipo
de recurso no que refere ao particular, cujo direito reconhecido pela
Constituição e demais leis se mostre violado, por um lado, e pelo
direito do acesso aos tribunais, constitucionalmente consagrado nos
termos da primeira parte do número 1 do artigo 100, por outro16.

14
GOVEIA, Jorge Bacelar. Reflexão sobre a próxima revisão da Constituição
moçambicana de 1999. P. 5.
Apud. CHUVA, António et al. Estudos de Direito Constitucional Moçambicano –
Contributos para Reflexão. CFJJ. 2012. P. 140 a 141
15
Gomes Canotilho e Vital Moreira, Constituição da República Portuguesa – Anotado
– 3. Edição revista, Coimbra Editora, 1993. Apud CHAMBUL, Alfredo. Ob cit.
16
CHAMBULE, Alfredo. Ob cit. p. 128
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ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 20

Salienta que “só no número 1 do artigo 173 da Constituição e na Lei


número 5/92, de 6 de Maio é que encontramos referência ao acto
administrativo, mas este não é referido como acto definitivo e
executório”. A Constituição de 1990 bebeu dos ensinamentos mais
modernos sobre a matéria. Na verdade, hoje em dia, a definitividade e
a executoriedade do acto, já não são considerados pressupostos para
o recurso jurisdicional. O que se tem exigido - é que haja um
verdadeiro acto administrativo, que não é mais do que uma decisão
tomada por uma autoridade no uso dos seus poderes jurídico-
administrativos, com vista a produção de efeitos jurídicos.
Assim, a definitividade vertical e horizontal do acto impugnado já não
são um pressuposto processual para a interposição do recurso
jurisdicional. Deste modo, o recurso hierárquico administrativo tem de
ser meramente facultativo, sendo constitucionalmente duvidoso que a
lei possa estabelecer um recurso hierárquico obrigatório.17
Portanto, vislumbra-se uma autêntica desconformidade do artigo 27,
n° 1, da Lei n° 9/2001, de 7 de Julho (lei do processo contencioso
administrativo) ao consagrar que só é admissível recurso contencioso
dos actos definitivos e executório, com as disposições constitucionais
supra citados.

1.2.5. A Constituição de 2004

Fruto de mudanças radicais que embora estabelecidas na Constituição


de 1990, a revisão constitucional ocorrida em 2004 veio cristalizar
quase todos os princípios plasmados na primeira Constituição
democrática, prevendo mecanismos fortes para a defesa dos
administrados nos conflitos com a Administração Pública.
A maior novidade desta Lei mãe é a consagração do princípio da tutela
jurisdicional efectiva e da plena jurisdição dos Tribunais
Administrativos, ao referir que “é assegurado aos cidadãos
interessados o direito ao recurso contencioso fundado em ilegalidade
dos actos administrativos, desde que prejudiquem os seus direitos”18.
Como se não bastasse, através do artigo 214 estabelece que “nos
feitos submetidos a julgamento os tribunais não podem aplicar leis ou
princípios que ofendam a Constituição”. Aqui, vigora o princípio da não
aplicação das normas inconstitucionais o que subsumindo e
conjugando com o preceito anteriormente citado conclui-se que em
nenhum momento os tribunais devem permitir que leis ordinárias
limitem o cidadão de recorrer contenciosamente dos actos
administrativos produtivos de efeitos jurídicos, ou lesivos, mesmo não
sendo definitivos.

17
Idem. p. 129
18
Cfr. n° 3 do artigo 253 da Constituição actual.
IG Beira/Fevereiro/2017 20
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Também resulta do princípio da tutela jurisdicional efectiva que a sua


aplicação comporta várias dimensões, entre elas a dimensão petitória
no sentido de que a condição primária da tutela jurisdicional efectiva,
traduz-se no reconhecimento do direito de apresentação em juízo de
todo o tipo de pedido e de utilizar o correspondente meio
processual.19
Ainda, através desse princípio, confere-se aos tribunais “amplos
poderes de pronúncia, incluindo os de condenar a Administração ou
dirigir a esta injunções”20
Percebe-se deste modo, que a Constituição tutela efectivamente os
lesados quando são praticados actos administrativos, dando faculdade
de optar ou por via de uma impugnação graciosa ou, sem nenhuma
limitação optar por via do recurso contencioso contra os actos
praticados pela Administração.
A Constituição de 2004 estabelece uma série de garantias e, nas
palavras do professor Diogo Freitas do Amaral, as garantias
constitucionais do direito ao recurso contencioso abrange:
a) A proibição de leis ordinárias declarar irrecorríveis certas
categorias de actos definitivos e executórios;
b) A proibição de leis ordinárias reduzir a impugnabilidade de
determinados actos a certos vícios.

1.2.5.1. Recorribilidade dos actos administrativo na


Constituição de 2004

Conforme ficou patente atrás, a Constituição de 2004 estabelece um


conceito de acto impugnável que não suscita dívida, conforme o n° 3
do artigo 253. No mesmo diapasão, estabelece o n° 3 do artigo 153 da
Lei n° 14/2011, de 10 de Agosto21 que “é assegurado aos cidadãos
interessados o direito do recurso contencioso fundado em ilegalidade
dos actos administrativos, desde que prejudiquem os seus direitos”,
contudo, essa possibilidade de agir contenciosamente contra os actos
lesivos praticados por órgãos da Administração está condicionada aos
termos estabelecidos na lei do processo contencioso administrativo,
conforme prevê o n° 4 do artigo retro.
Já, a actual lei do processo contencioso administrativo22 restringe o
conceito de acto administrativo para efeitos de impugnação
pressupondo que sejam definitivos e executórios ao estabelecer, no
19
BRITO, Wladimir. Lições de Direito Processual Administrativo. 2ª Edição.
Coimbra Editora.2008. p.117
20
Idem. p. 119
21
Regula a formação da vontade da Administração Pública, estabelece as normas de
defesa dos direitos e interesses dos particulares, e revoga a reforma Administrativa
Ultramarina (RAU).
22
Lei n° 7/2014, de 28 de Fevereiro
IG Beira/Fevereiro/2017 21
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 22

artigo 33 sob epígrafe “actos recorríveis” que “só é admissível recurso


dos actos definitivos e executórios”.
A semelhança do que ficou assente ao tratar-se de recorribilidade e
actos na Constituição de 1990, resulta claro-evidente a revisão
constitucional operada em 2004 cristalizou os direitos, liberdades e
garantias fundamentais ao prever em várias disposições
constitucionais mecanismos de efectividade de tais direitos o que,
para não se repetir, chama-se para esta parte os argumentos
apresentados no subtítulo anterior.
Contudo, deve ficar assente que foi através desta Constituição que o
legislador ordinário revogou a anterior Lei n° 9/2001, de 7 de Julho,
introduzindo a nova lei do processo administrativo contencioso (Lei n°
7/2014, de 28 de Fevereiro) que se espera que com a mesma pudesse
ser ultrapassada a contenda que se levantava, justamente nas
disposições que limitavam o cidadão de acesso aos tribunais. Na
verdade, nada mudou, porque manteve o mesmo raciocínio da
definitividade e executoriedade dos actos administrativo para efeitos
de recursos, colocando as actuais disposições constitucionais em crise
já que é posta em causa o princípio da supremacia constitucional
previsto no n° 4 do artigo 2 da Constituição da República de
Moçambique.

Sumário

Nesta Unidade temática aprendemos que:


 A questão da evolução do contencioso administrativo tem uma
ligação estrita com o surgimento dos tribunais administrativo,
sendo certo que não é possível tratar do tema do contencioso
prescindindo o órgão competente para dirimir tais conflitos.

 Moçambique conhece do surgimento e, de certo modo, a


evolução do contencioso ou dos tribunais administrativos a
partir da história portuguesa que influencio bastante para as
suas colónias. Nesta perspectiva, com a introdução da reforma
administrativa ultramarina percebeu-se a questão fundamental
sobre a possibilidade de impugnação de actos administrativos
por parte dos administrados constituía uma garantia
fundamental, contudo, o regime estabelecido na referida
legislação limitava a impugnação de actos que não fossem
definitivos e executórios.

 Com a independência do Estado moçambicano, mudanças


profundas foram operadas até ao ponto de não constituir
prioridades do Estado o estabelecimento de um conjunto de
garantias administrativas, pois, as linhas e políticas mestres
estavam ligadas ao alavancamento da economia nacional,
sendo esquecido a questão dos
IG Beira/Fevereiro/2017 22
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 23

conflitos que podiam surgir entre os particulares e a


Administração Pública. Como consequência disso, não existiam
tribunais administrativo no verdadeiro sentido e, só a
Constituição de 1990 é que veio implantar e reorganizar o
sistema judicial, sendo reconhecido constitucionalmente a
existência de Tribunal Administrativo o que culminou com a
produção legislativa de um instrumento que regulasse o
funcionamento e as competências do Tribunal Administrativo
(Lei n° 5/1992, de 6 de Maio).

 Em 2001 foi introduzida a lei do contencioso (Lei n° 9/2001, de


7 de Julho), com vista a concretizar o modo de efectivação das
garantias dos administrados, como é o caso de acesso a justiça
administrativa. Estranhamente, sobre a recorribilidade dos
actos administrativos, todas as leis em referência limitam o
recurso, ao consagrar a teoria da definitividade e
executoriedade dos actos, numa clara contradição aos
comandos constitucionais.
 Em 2004, a Constituição foi mais claro sobre as matérias
susceptíveis de recurso, consagrando a teoria de acto lesivo,
mesmo assim, foi aprovado a nova lei do contencioso (Lei n°
7/2014, de 28 de Fevereiro), com isso, nada mudou o que nos
leva a concluir sobre a inconstitucionalidade de todas as
normas que condicionam a definitividade do acto
administrativo.
 Hoje não vale limitar os recursos contenciosos a actos
definitivos e executórios, bastando que o acto seja lesivo para
efeitos da sua sindicância nos tribunais administrativos, a
remota teoria da definitividade está ultrapassado, não se
compaginando com os actuais Estados de Direito e
garantístico.

Imagens ilustrativas sobre a evolução do contencioso

Período Colonial O contencioso


administrativo estava
dependente ao
Estado Português

Primeira Constituição de Moçambique Não existiam tribunais e


Independente (1975) não se pode falar do
contencioso
administrativo
IG Beira/Fevereiro/2017 23 administrativos
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 24

Constituição da República de Apenas foi implantado o


Tribunal Administrativo
Moçambique de 1990
Sede

Constituição da República de Tribunal


Moçambique de 2004 Administrativo Sede

Tribunais Tribunais Tribunais


Administra Fiscais Aduaneir
tivos os
provinciais

Exercícios de Auto-Avaliação

1. O contencioso administrativo moçambicano foi instituído pela


Constituição de 1795?
Resposta: Não, porque o contencioso administrativo moçambicano
tem ligação com a existência de tribunais administrativos, neste
sentido, só a partir da Constituição de 1990 é que foi prevista a
existência do Tribunal Administrativo que seria especialista em
matéria de conflitos administrativos.

2. A Constituição de 1990 consagrava a teoria de definitividade e


executoriedade de actos administrativos.

 Certo

 Errado

Resposta: Certo, porque condicionava o recurso contencioso aos actos


administrativos definitivos e executórios.

3. O que entende por teoria da lesividade do acto administrativo


para efeitos do recurso contencioso?
a) O acto administrativo deve apenas ser lesiva para
efeitos de impugnação contenciosa, não sendo
necessário que seja

IG Beira/Fevereiro/2017 24
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 25

definitivo ou executório;
b) O Acto Administrativo deve ser definitivo e lesivo para a
sua impugnação contenciosa;
c) Todas as respostas estão correctas;

Resposta: a)
4. Com a revisão constitucional ocorrido de 2004 foram mantidas
todas matrizes da constituição de 1990.
 Certo
 Errado
Resposta: Errado, porque a Constituição de 1990 previa a teoria da
definitividade e executoriedade de actos administrativos enquanto
que a de 2004 consagra a teoria de lesividade do acto administrativo.

Exercícios

1. Em que momento da história moçambicana se pode falar do


contencioso administrativo?
2. Que tipos de actos eram passíveis de recurso contencioso na
Constituição de 1990.
3. Que tipos de actos administrativos se podem impugnar a luz da
Constituição moçambicana de 2004.
4. Estabeleça uma ligação entre o Contencioso Administrativos e
a Constituição de 1990.
5. A primeira lei do contencioso administrativo moçambicano é a
Lei nº 7/2013, de 28 de Fevereiro.
 Certo

 Errado

IG Beira/Fevereiro/2017 25
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 26

UNIDADE Temática 1.3. Exercícios do Tema

Introdução
Pretende-se nesta unidade temática que o estudante saiba resolver os
exercícios do tema anterior para que se sinta basicamente preparada
para o tema a seguir desta.
Ao completar esta unidade, você será capaz de:

Conhecer as diferenças das Constituições que vigoraram em


Moçambique;
Objectivos Saber e dominar as questões susceptíveis do tema;
Ter competências para resolver qualquer questão que se
coloque sobre a evolução do contencioso administrativo
moçambicano.

Exercícios
1. O que entende por recurso contencioso?
2. Qual é a relação entre o contencioso administrativo e o
Tribunal Administrativo?
3. Quando é que os tribunais administrativos provinciais
começaram a funcionar em Moçambique?
4. Quantos períodos compreende o contencioso administrativo
moçambicano?
5. Qual foi a primeira lei a estabelecer o recurso contencioso
administrativo?
6. Qual foi a primeira lei a regular sobre o funcionamento e as
competências do tribunal administrativo?
7. Qual é a função actual do contencioso administrativo?
8. A luz da Constituição da República de Moçambique de 2004 se
pode impugnar um acto não definitivo e executório?
9. Comente sobre a Constituição de 1975 relativamente ao
contencioso administrativo.
10. Qual é a importância do contencioso administrativo?

IG Beira/Fevereiro/2017 26
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 27

TEMA – II: O TRIBUNAL ADMINISTRATIVO


UNIDADE Temática 2.1. Organização e funcionamento
UNIDADE TEMÁTICA 2.2. Competência

UNIDADE Temática 2.2. Exercícios do Tema

UNIDADE Temática 2.1. Organização e


funcionamento

Introdução
Pretende-se nesta unidade temática que o estudante adquira
conhecimentos básicos sobre a organização e funcionamento do
Tribunal Administrativo e os tribunais administrativos provinciais,
incluindo a nomeação do dirigente máximo da jurisdição
administrativa.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Saber como o Tribunal Administrativo está organizado;


 Saber como do funcionamento do Tribunal Administrativo e
Objectivos suas secções;
 Identificar as atribuições do Tribunal Administrativo

Tribunal
Administrativo

IG Beira/Fevereiro/2017 27
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 28

2.1.1. Organização e funcionamento

Recordando nas matérias introdutórias do módulo do contencioso


Administrativo, ficou dito sobre a evolução do contencioso que este
existe efectivamente com a entrada em vigor do Tribunal
Administrativo e dos tribunais administrativos provinciais e da Cidade
de Maputo.

Neste contexto, Tribunal Administrativo de Moçambique segundo a


Constituição da República, de 1990, consequente a de 2004, compete
ao Tribunal Administrativo o controle da legalidade dos actos
administrativos e a fiscalização da legalidade das despesas públicas.

Entre as actividades atribuídas ao Tribunal para a consecução de suas


finalidades estão: o julgamento das acções que tenham por objecto
litígios emergentes das relações jurídicas administrativas; o
julgamento dos recursos contenciosos interpostos das decisões dos
órgãos do Estado, dos seus titulares e agentes, e a apreciação das
contas do Estado.

Imagem actual do Tribunal Administrativo Sede

IG Beira/Fevereiro/2017 28
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 29

2.1.2. A jurisdição do Tribunal Administrativo


O Tribunal Administrativo exerce sua jurisdição em todo o território da
República, conforme o disposto no art. 2 da Lei nº 24/2013, de 1 de
Novembro, alterado e republicado pela Lei nº 7/2015, de 6 de Outubro.
No que concerne ao conteúdo material, o Tribunal Administrativo
possui pluri-jurisdição: administrativa; de fiscalização, das despesas
pública; e fiscal e aduaneira.

2.1.3. A Estrutura do Tribunal Administrativo


O Tribunal é constituído por plenário, seções e subsecções. O
plenário funciona como a última instância, ou instância única,
dependendo do caso, e as seções e as subsecções como primeira
instância.
O Tribunal possui três seções: a Primeira Seção é responsável pelo
contencioso administrativo; a Segunda, pelo contencioso fiscal e
aduaneiro, e a Terceira, pela fiscalização das despesas públicas e do
visto, por meio da Primeira e da Segunda Subsecções, respectivamente.

Vide organigrama abaixo:

IG Beira/Fevereiro/2017 29
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 30

Tribunal Administrativo

Plenário

1ª Secção 2ª Secção 3ª Secção

Contencioso Contencioso Fiscal e Contas Públicas


Administrativo Aduaneiro

1ª Subsecção 2ª Subsecção

Fiscalização Prévia Fiscalização Sucessiva


e Concomitante
Legenda:

- Tribunal Administrativo,

- Plenário, Secções e subsecções que o compõe

Sumário
Nesta Unidade temática aprendemos que:
 O Tribunal Administrativo funciona em Secções e Subsecções,
das suas atribuições pode-se destacar o controlo da legalidade
dos actos administrativos e a fiscalização das contas públicas.

 No desempenho das suas atribuições, o Tribunal


Administrativo está constituído pelo plenário, secções e
subsecções. Disso resulta que a primeira secção é referente ao
contencioso administrativo, a segunda secção é do contencioso

IG Beira/Fevereiro/2017 30
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 31

fiscal e aduaneiro, sendo que a terceira secção é relativa as


contas públicas.

Exercícios de Auto-Avaliação
1. Uma das atribuições do Tribunal Administrativo é o controlo da
legitimidade dos actos administrativos.
 Certo

 Errado

Resposta: Errado, porque as atribuições do Atribunal Administrativo


nada tem a ver com o controlo da legitimidade dos actos
administrativo, mas sim, da legalidade dos mesmos.
2. Quantas Secções do Tribunal Administrativo conhece?
Resposta: São três Secções, nomeadamente, a Primeira Secção do
Contencioso Administrativo, a Segunda Secção do Contencioso Fiscal e
Aduaneiro, e a Terceira Secção de Contas Públicas.
3. O Tribunal Administrativo tem a sua jurisdição na Cidade de
Maputo.
 Certo
 Errado
Resposta: Errado, porque O Tribunal Administrativo tem a sua
jurisdição em todo o território moçambicano.
4. Qual é a jurisdição dos tribunais administrativos provinciais?
Resposta: Os tribunais administrativos provinciais têm a sua
jurisdição em cada província em que estejam instalados.
5. A fiscalização das contas públicas são atribuições da Secção do
Contencioso Administrativo.
 Certo
 Errado
Resposta: Errado, porque vimos que a fiscalização das
contas públicas está atribuída a Secção das Contas Públicas
que no organigrama constitui Terceira Secção.

IG Beira/Fevereiro/2017 31
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 32

Exercícios
1. Como funciona o Tribunal Administrativo?
2. Qual é o órgão máximo do Tribunal Administrativo?
3. Qual é a diferencia entre o Tribunal Administrativo
representado por letras maiúsculas e o tribunal administrativo
representado por iniciais minúsculas?
4. Quem nomeia o Presidente do Tribunal Administrativo
5. Qual é a Lei Orgânica actual do Tribunal Administrativo?

IG Beira/Fevereiro/2017 32
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 33

UNIDADE Temática

2.2. Competências do Tribunal Administrativo e


dos Tribunais administrativos provinciais

Introdução
Pretende-se nesta unidade temática que o estudante adquira
conhecimentos básicos sobre as competências do Tribunal
Administrativo e dos tribunais administrativos provinciais em matéria
do contencioso administrativo.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Conhecer as competências do Tribunal Administrativo e das


respectivas secções ou subsecções;
Objectivos  Conhecer a competência material dos tribunais administrativos
provinciais nas matérias relativas ao contencioso
administrativo;
 Saber distinguir as competências, em matéria do contencioso,
do Tribunal Administrativo e dos tribunais administrativos
provinciais.

2.2.1. Competências do Tribunal Administrativo


Competências do Plenário
Compete ao Plenário do Tribunal Administrativo apreciar:
 Os recursos dos actos administrativos praticados por órgãos de
soberania ou seus titulares; os recursos dos actos do Conselho
de Ministros ou de seus membros relativos a questões fiscais e
aduaneiras;
 Os pedidos de suspensão de eficácia dos actos referidos no item
anterior;
 Os conflitos de jurisdição entre as seções do tribunal e qualquer
outra autoridade administrativa, fiscal ou aduaneira; os recursos
dos acórdãos das seções;
 Os recursos dos actos do Presidente do Tribunal e os pedidos
relativos à produção antecipada de prova.

Compete à Primeira Secção (contencioso administrativo)


conhecer:
 Os recursos de actos administrativos praticados por qualquer

IG Beira/Fevereiro/2017 33
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 34

autoridade, excepto os praticados pelos titulares dos órgãos de


soberania;
 Os recursos de actos administrativos dos órgãos dos serviços
públicos com personalidade jurídica e autonomia administrativa;
 os recursos de actos administrativos das pessoas colectivas de
utilidade pública administrativa;
 As acções para obter o reconhecimento de um direito ou
interesse legalmente protegido;
 As acções relativas a contratos administrativos;
 Os pedidos de suspensão da eficácia dos actos referidos;
 Os pedidos de execução das suas decisões, e dos acórdãos
proferidos pelo plenário, na parte aplicável;
 Os pedidos relativos à produção de provas;
 Os pedidos de intimação a autoridade administrativa para
facultar a consulta de documentos ou processos e passar
certidões, com a finalidade de permitir aos requerentes o uso de
meios administrativos ou contenciosos;
 Os pedidos de intimação a particular ou concessionário para
adoptar ou se abster de determinada conduta, com a finalidade
de assegurar o cumprimento de normas de direito
administrativo e outros recursos e pedidos que lhe forem
confiados por lei.

Compete à Segunda Secção (contencioso fiscal e aduaneiro)


conhecer:
 Os recursos de actos de qualquer autoridade, relativos a
questões fiscais ou aduaneiras, excepto dos membros do
Conselho de Ministros;
 A suspensão da eficácia dos actos referidos anteriormente,
desde que seja prestada caução;
 Os pedidos relativos à execução dos seus acórdãos; os pedidos
de produção antecipada de provas;
 Os recursos interpostos dos tribunais fiscais e aduaneiros de
primeira instância e as demais matérias atribuídas por lei.

Compete à Primeira Subsecção da Terceira Seção (fiscalização das


despesas públicas) apreciar as contas do Estado e julgar as contas dos
organismos, serviços e entidades sujeitas à jurisdição do Tribunal.

Já à Segunda Subsecção da Terceira Seção (concessão do visto)


compete verificar a conformidade com as leis em vigor dos contratos
celebrados pelas entidades sujeitas à jurisdição do Tribunal; das
minutas de contrato de valor igual ou superior a ser determinado pelo
Conselho de Ministros; dos diplomas relativos à admissão de pessoal,
vinculado ao serviço público ou não e dos diplomas de reforma e
aposentadoria.

Nomeação do Presidente e dos Juízes O Presidente do Tribunal é

IG Beira/Fevereiro/2017 34
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 35

nomeado pelo Presidente da República, e ratificado pela Assembleia da


República.
Ele é eleito para um mandato de cinco anos, sendo permitida sua
recondução. Os demais juízes, que tomarão assento nas seções, são
escolhidos entre licenciados em direito ou altos funcionários da
administração e nomeados pelo órgão de gestão e disciplina da
magistratura jurisdicional administrativa sob proposta do Presidente do
Tribunal, e tomam posse perante o Presidente daquele órgão.

2.2.2. Competências dos Tribunais Administrativos Provinciais

As competências dos tribunais administrativos provinciais e da Cidade


de Maputo estão prescritas no art. 50 da Lei 24/2013, de 1 de
Novembro. Entre elas se pode salutar a competência em razão da
matéria que consiste em, conhecer:

a) Os recursos contenciosos de actos administrativos ou em


matéria administrativa praticados por qualquer autoridade não
compreendida nas alíneas a) e b) do art. 28;
b) Os recursos dos actos administrativos punitivos no âmbito das
suas competências;
c) Os recursos dos actos administrativos dos órgãos dos serviços
públicos com personalidade jurídica e autonomia
administrativa;
d) Os recursos dos actos administrativos das pessoas colectivas de
utilidade pública administrativa;
e) Os recursos de actos administrativos dos concessionários;
f) Os recursos dos actos administrativos de associações públicas;
g) As acções para obter o reconhecimento de um direito ou
interesse legalmente protegido;
h) As acções relativas aos contratos administrativos e ainda
quanto a responsabilidade das partes do seu incumprimento;

IG Beira/Fevereiro/2017 35
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 36

i) As acções sobre a responsabilidade civil do Estado, de


quaisquer outras entidades públicas e dos titulares dos seus
órgãos e agentes, por prejuízo derivado de actos de gestão
pública, incluindo-se as acções de regresso.

Entre outras.

Sumário

Nesta Unidade temática aprendemos que:


 O Tribunal Administrativo tem competências para julgar os
recursos dos actos administrativos praticados por órgãos de
soberania ou seus titulares e dos recursos dos actos do
Conselho de Ministros ou de seus membros relativos a
questões fiscais e aduaneiras.

 Fundamentalmente, os tribunais administrativos provinciais e o


Tribunal administrativo da Cidade de Maputo, as suas
competências estão prescritas no art. 50 da Lei 24/2013, de 1
de Novembro, entre elas se destaca os recursos contenciosos
de actos administrativos ou em matéria administrativa
praticados por qualquer autoridade não compreendida nas
alíneas a) e b) do art. 28;

Exercícios de Auto-Avaliação

1. Os tribunais administrativos tem competências para julgar os


recursos:
a) Dos órgãos de soberania;
b) Da relações jurídicas privadas.
c) Nomeação do Ministro do Trabalho
Resposta: Nenhuma das alternativas está correcta.

2. O Tribunal Administrativo tem a competência de julgar os recursos


das autarquias locais.
 Certo
 Errado
Resposta: Errada

3. O Tribunal Administrativo competências para julgar os recursos


dos órgãos de soberania.

IG Beira/Fevereiro/2017 36
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 37

 Certo
 Errado
Resposta: Certo.

4. Os tribunais administrativos provinciais têm competências para


julgar os recursos dos tribunais fiscais e aduaneiros.
 Certo
 Errado
Resposta: Errada
5. Os tribunais administrativos provinciais tem competência para
conhecer dos pedidos de suspensão de eficácia dos actos
administrativos de quaisquer autoridades locais.
 Certo
 Errado
Resposta: Certa

Exercícios

1. Enuncie três competências dos tribunais administrativos


provinciais.

2. Distinga as competências da Primeira Secção e da Segunda


Secção do Tribunal Administrativo?
3. Os tribunais administrativos provinciais podem conhecer dos
recursos dos actos privados?
4. O Tribunal Administrativo e os tribunais administrativos
provinciais podem conhecer os recursos dos actos praticados
pelas empresas concessionárias?
5. Qual é o tribunal competente para conhecer dos recursos das
associações públicas?
6. Como se organiza o Tribunal Administrativo?
7. Os tribunais fiscais e aduaneiros fazem parte da jurisdição
administrativa?
8. Qual é a relação entre a Segunda Secção do Tribunal
Administrativo e os tribunais fiscais e aduaneiros?

IG Beira/Fevereiro/2017 37
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 38

TEMA – III: RECURSO CONTENCIOSO E ACÇÕES


UNIDADE Temática 3.1. Formas do processo e pressupostos
precessuais
UNIDADE Temática 3.2. Marcha processual
UNIDADE Temática 3.3. Exercícios

UNIDADE Temática 3.1. Formas do processo e


pressupostos processuais

Introdução
Pretende-se nesta unidade temática que o estudante adquira
conhecimentos básicos sobre as espécies de processos e as acções
como meios a serem usados para o contencioso administrativo.
Também haverá necessidade de conhecer os pressupostos processuais
que constituem condições gerais para que o tribunal conheça do
pedido do autor.

Ao completar esta unidade, você será capaz de, fundamentalmente:

 Conhecer e saber diferenciar os diversos tipos de processos;


 Saber explicar os pressupostos processuais;
Objectivos
 Conhecer os actos impugnáveis e não

3.1.1. Formas de processo e pressupostos processuais


O recurso contencioso e as acções administrativas resultam do
princípio de acesso aos tribunais, previsto no art. 62 da CRM e doutro
princípio fundamental de tutela jurisdicional efectiva previsto nos art.
69 e 70 da CRM, que estabelecem fundamentalmente que o Estado
garante o acesso dos cidadãos aos tribunais e que o cidadão tem
direito de recorrer aos tribunais contra os actos que violem os seus
direitos e interesses reconhecidos pela Constituição.

De igual modo a Constituição da República de Moçambique prevê que


o cidadão pode impugnar os actos que violam os seus direitos. Com
esses dois principais princípios da justiça administrativa, resultam os

IG Beira/Fevereiro/2017 38
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 39

mecanismos de impugnação não só de acesso aos tribunais, mas


também de, em prazo razoável, obter uma decisão judicial que aplique
o direito à sua pretensão.

Para o efeito, a cada situação que coloque o cidadão na busca de


justiça administrativa vai corresponder a uma forma de acção ou
processo que desencadeado vai responder à pretensão deste, por isso
existem tipos e formas de processos para o cidadão prosseguir os seus
interesses. Para isso, alguns autores como José Andrade23, as formas
de processo principal no ordenamento jurídico português são:

 Processo Comum

 Processos especiais

Nas acções administrativas comuns, é a forma do processo aplicável a


todos os litígios cuja apreciação se inscreva no âmbito da jurisdição
administrativa que não seja objecto de regulação especial.

Já, nos processos especiais, ainda encontramos na legislação


portuguesa segundo o autor as seguintes acções:

- Acção Administrativa especial que engloba três tipos fundamentais


de pedidos – a impugnação de actos, a condenação à prática de acto
legalmente devido, a impugnação e a declaração de ilegalidade da
omissão de normas. Dentro de processos especiais ainda encontramos
os processos urgentes.

Relativamente ao ordenamento jurídico moçambicano, os tipos


principais dos processos estão previstas nos arts. 13 e 14 da Lei do
Processo Administrativo Contencioso, aprovado pela Lei nº 7/2014, de
28 de Fevereiro. Disto resultam que os principais processos existentes
em todas jurisdições, são fundamentalmente quatro:

- Recurso Contencioso

-Acções

- Processo de Impugnação de normas

- Processos urgentes

Voltando, para qualquer processo que careça da intervenção da justiça


administrativa, deve configurar-se numa situação em que preencha os
pressupostos processuais, pois, esses são condições de interposição do
recurso, isto é, as exigências que a lei faz para que o recurso possa ser
admitido.

Tratando-se especificamente do recurso de anulação, são quatros os


pressupostos a destacar:

23
ANDRADE, José Vieira de. A Justiça Administrativa (Lições). 10ª Edição.
Almedina. 2009. Página 168.
IG Beira/Fevereiro/2017 39
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 40

- A competência do tribunal;

- A recorribilidade do acto

- A legitimidade das partes;

- A oportunidade do recurso.

3.1.2. A Competência do tribunal


Segundo o autor Freitas do Amaral, compreende-se que nenhum
recurso contencioso de anulação possa ser acete e julgado num
determinado tribunal, se este não for o tribunal competente para
conhecer desse recurso. A Competência do tribunal é o primeiro
pressuposto processual, isto é, é o pressuposto processual que
primeiro deve ser verificado pelo próprio tribunal.

Essa competência pode ser em razão da matéria, em razão do


território e de hierarquia.

3.1.3. A recorribilidade do acto


É a segunda condição de interposição do recurso, ou segundo
pressuposto processual. Para que o tribunal possa receber o recurso
contencioso de anulação é necessário que o acto impugnado seja
recorrível.

Para que o acto seja recorrível significa, segundo o Freitas do Amaral,


que não se enquadre nos seguintes actos24:

a) Os actos que não são actos administrativos;


b) Os actos administrativos internos;
c) Os actos administrativos não definitivos;
d) Os actos administrativos não executórios.

É importante perceber que o autor em referência consagra a teoria da


definitividade e executoriedade do acto administrativo, teoria essa
que não pode ser aceite nos Estados Modernos, aliás, o legislador
ordinário moçambicano consagro essa teoria ao condicionar o recurso
contencioso ao acto administrativo definitivo e executório no art. 33
da Lei 7/2014, de 28 de Fevereiro com a seguinte redacção:

“1. Só é admissível recurso dos actos definitivos e executórios.”

E discutindo sobre esse assunto, passamos a fazer a análise da sua


validade em conformidade com o disposto no nº 3 do art. 253 da
Constituição da República de Moçambique, no ponto a seguir.

24
AMARAL, Diogo Freitas do. Direito Administrativo. Volume IV. Lisboa. 1988
IG Beira/Fevereiro/2017 40
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 41

Sumário

Nesta Unidade temática aprendemos que:

 Para efeitos de distribuição, nos tribunais administrativos


existem acções e os recursos contencioso e, alguns autores
consideram divididos entre as acções comuns e especiais, para
o efeito, esses mecanismos resultam do princípio fundamental
de acesso aos tribunais previsto no art. da Constituição da
República de Moçambique.
 O recurso contencioso e a acção para qualquer fim dependem
da verificação dos pressupostos processuais, entre eles a que
destacar a competência do tribunal, a recorribilidade do acto e,
a qualidade das partes que constitui legitimidade processual
em função do pedido e do autor que praticou o acto
impugnável.

Exercícios de Auto-Avaliação

1. São pressupostos processuais:


a) A competência do tribunal;
b) A legitimidade das partes;
c) A recorribilidade do acto.

Resposta: todas as alternativas estão correctas.


2. A Lei nº 7/2013, de 28 de Fevereiro condiciona o recurso
contencioso ao acto administrativo definitivo e executório.
 Certo
 Errado
Resposta: Certo
3. São recorríveis os actos administrativos internos.
 Certo
 Errado
Resposta: Errado
4. A Constituição da República de Moçambique não condiciona a
definitividade do acto para efeitos do recurso contencioso.
 Certo

IG Beira/Fevereiro/2017 41
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 42

 Errado
Resposta: Certo
5. Qual é a base legal que estabelece a possibilidade de um
recurso contencioso sem necessidade da sua definitividade e
executoriedade?
Resposta: A base legal são os artigos 62, 69, 70 e nº 3 do art. 253
da Constituição da República de Moçambique.

Exercícios
1. Os pressupostos processuais são a condição para que o
particular consiga satisfazer o seu interesse em demandar.
Comente a afirmação.
2. Quem são as partes num recurso contencioso ou acções
administrativas?
3. Identifique a base legal que estabelece a legitimidade activa?
4. Que tipos de processos são interportos nos tribunais
administrativos moçambicanos?
5. Qual é o primeiro pressuposto processual a verificar na
interposição de recurso contencioso?

IG Beira/Fevereiro/2017 42
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 43

UNIDADE Temática 3.2. Marcha processual em


geral

Introdução
Pretende-se nesta unidade temática que o estudante adquira
conhecimentos a marcha processual, desde a interposição do recurso
ou acção administrativa na secretaria do tribunal até os recursos
jurisdicionais.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Conhecer as fases do processo;


 Saber e dominar a legitimidade activa e passiva;
Objectivos
 Conhecer o prazo para a interposição do recurso contencioso;
 Acto impugnável a luz da vigência da Constituição da República
de Moçambique de 2004;
 Dominar as teorias de definitividade e executoriedade dos
actos administrativos;
 Questionar a validade da norma que condiciona o recurso
contencioso a definitividade do acto administrativo;
 Conhecer o objecto do recurso contencioso;
 Ter o domínio dos recursos jurisdicionais.

3.2.1. Objecto de Recurso Contencioso


O objecto do recurso contencioso constitui um dos elementos do
recuso contencioso a par dos sujeitos e a causa de pedir.

Segundo o autor José de Andrade, o objecto da acção pode, pois, ser


constituído pelos mais variados pedidos no âmbito de relações
jurídicas administrativas e a sua delimitação terá de ser feita pela
negativa: podemos dizer, em geral, que constituirá, em regra, o meio
adequado de acesso à justiça administrativa, se não estiver em causa
um litígio relativo à prática ou à omissão de actos administrativos
impugnáveis ou de normas.

Como forma de melhor compreensão sobre os actos administrativos


impugnáveis temos que ter em conta o disposto no art. 33 da Lei nº
7/2014, de 28 de Fevereiro que consagra os actos passíveis de recurso
contencioso. Como tal, o objecto do
IG Beira/Fevereiro/2017 43
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 44

recurso contencioso vai ser os actos administrativos definitivos e


executórios.

Esse espírito da disposição legal em causa merece alguma análise


atenta, porém, interessa saber e entender a teoria dos actos
administrativos definitivos e executórios previstos no art. 33.

3.2.2. Concepção doutrinal sobre actos definitivos e executórios e


susceptibilidade de apreciação contenciosa
Para efeitos de impugnação contenciosa a noção de acto
administrativo é aquela que consta da lei, sendo tal o acto material, ou
horizontal e verticalmente definitivo.

O acto materialmente definitivo é o acto que define a situação jurídica


de um particular, enquanto é horizontalmente definitivo quando
constitua a resolução final de um procedimento administrativo, ou
seja, põe termo ao procedimento administrativo.25

Fora da definitividade material ou horizontal o acto pode ser


verticalmente definitivo quando é praticado por um órgão colocado de
tal forma na hierarquia que a sua decisão constitui a última palavra da
administração activa.

Contrário ao professor DIOGO FREITAS DO AMARAL entende JOSÉ


CARLOS VIEIRA DE ANDRADE que o sentido e o alcance da exigibilidade
que os actos administrativos sejam definitivos e executórios são dos
actos já constituídos mas ainda não eficazes, praticados por órgãos
subalternos.

Para este autor, “a garantia constitucional não obsta a que a lei


imponha, entre outras condições de procedibilidade, a necessidade de
impugnação administrativa prévia de certos actos administrativo
praticados por órgãos subalternos (actos não definitivos), nem a que
exija uma necessidade concreta de protecção judicial do particular,
por vezes inexistente em casos de actos já constituídos mas ainda não
eficazes”26

Sobre essa situação, escreve o autor VIEIRA DE ANDRADE27 que “o


conceito de acto administrativo para efeitos de recurso contencioso é
um conceito material/funcional, englobando apenas (mas todas) as
decisões materialmente administrativas de autoridade que visam a
produção de efeitos (externos) numa situação individual e concreta
(…) independentemente da forma sob que são emitidos (…)”.
25
Cfr. AMARAL, Diogo Freitas. Curso de Direito Administrativo. Vol. II. 5ª
Reimpressão. Almedina. 2001. p. 281 a 284
26
ANDRADE, José Carlos Vieira de. A Justiça Administrativa (lições). 3ª Edição.
Almedina. 2000. P. 127
27
ANDRADE, José Carlos Vieira. A Justiça Administrativa. 2ª Edição. Almedina.
Coimbra. 1999. P. 119
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Para WLADIMIR BRITO, a teoria constitucional de acto lesivo “abona


definitivamente a clássica noção autoritária de acto definitivo e
executório”, ainda, “consagra de vez a ideia da protecção jurídica
subjectiva, através do alargamento do acto impugnável.28

Nesse entendimento, JOÃO CAUPER refere situações mais ajustadas


sobre a interpretação do princípio da tutela jurisdicional efectiva que
adopta a teoria da lesividade do acto ao dizer que “apenas são
impugnáveis os actos administrativos dotados de eficácia externa, isto
é, com capacidade para projectar os seus efeitos nas relações jurídicas
que se estabelecem entre a Administração Pública e os particulares”,
acrescenta ainda que “a impugnabilidade do acto é também
independente da respectiva eficácia, sendo suficiente para a
admissibilidade da impugnação que a execução do acto se tenha
iniciado ou que seja certo, ou muito provável, que a sua eficácia se virá
produzir”.29

Percebidos os conceitos e a susceptibilidade de apreciação


contenciosa de actos administrativos, analisemos esses institutos a luz
das várias constituições moçambicanas.

3.2.3. Validade da norma do artigo 33 do decreto n°7/2014, de 28 de


Fevereiro, com a norma do n°3 do art. 253 da CRM

Conforme ficou explícito atrás, acto administrativo é a decisão com


força e dotada da exequibilidade sobre um determinado assunto,
tomado por um órgão de uma pessoa colectiva de direito público. É
um conceito de maior importância no Direito Administrativo,
sobretudo porque é nele que assenta a garantia do recurso
contencioso, ou seja, o direito que os particulares têm de recorrer
para os tribunais administrativos contra os actos ilegais da
Administração pública.

É um acto de autoridade típico, pois nela a administração manifesta o


seu poder o seu poder de forma plena. É um acto jurídico em que se
traduz no caso em concreto o poder administrativo, sob a forma
característica do poder unilateral de decisão dotado de privilégio de
execução prévia.

Para concretização do conceito do acto definitivo e executório, alguns


autores avançam com a teoria da tripla definitivamente que são: acto
definitivo horizontal, vertical e materialmente definitivo.

28
BRITO, Wladimir. Lições de Direito Processual Administrativo. 2ª Edição.
Coimbra Editora.2008. p.117
29
CAUPERS, João. Introdução ao Direito Administrativo. 11ª Edição. Âncora
Editora. 2013. P. 431 a 435
IG Beira/Fevereiro/2017 45
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Dentre os três, Diogo Freitas do Amaral, aborda acerca dos actos


definitivos horizontal e vertical.

Acto Administrativo Definitivo é a conclusão de todo um processo que


se vai desenrolando no tempo, que se chama, procedimento
administrativo. No termo desse uma Administração Pública pratica um
acto, que é a conclusão lógica do respectivo processo, que é a sua
solução final: é a esse acto como refere Diogo Freitas do Amaral, acto
definitivo, num certo sentido, que se considera horizontal.30

Acto é verticalmente definitivo quando é praticado pelo órgão que


ocupa a posição suprema na hierarquia ou por um órgão
independente; inversamente, o acto não é verticalmente definitivo se
for praticado por qualquer órgão subalterno inserido numa
hierarquia.31 Em suma podemos dizer, quando a última palavra da
administração sobre aquele assunto é proferida por aquele órgão.

Acto materialmente definitivo é um acto administrativo que, no


exercício do poder administrativo, define a situação jurídica de um
particular perante a Administração, ou da Administração perante um
particular. São actos materialmente definitivos:

 Os actos sujeitos a condição ou a termo;

 Actos postos em execução a título experimental;

 As listas de antiguidade;

 Actos pelos quais um órgão da Administração se declara


incompetente para decidir uma questão;

 Actos pelos quais a administração notifica um particular para


legalizar uma situação irregular.

Acto executório são actos administrativos simultaneamente exequíveis


e eficazes cuja execução coerciva por via administrativa não seja
vedada por lei.32 Em outras palavras, é um acto independentemente
de sentença judicial.

Tendo apresentado os conceitos acima citados, importa agora fazer a


analise da validade do art. 33 da Lei n°7/2014, de 28 de Fevereiro, que
diz que “só é admissível recurso os actos definitivos e executórios”,
com a norma constitucional estabelecido no n°3 do art. 253 da CRM,
nos termos e fundamentos seguintes.

A exigência do prévio esgotamento das garantias administrativas como


condição necessária de acesso a justiça ou aos tribunais, constitui uma

30
AMARAL, Diogo Freitas do, Curso de Direito Administrativo, Vol. II, p.283.
31
Idem.
32
AMARAL, Diogo Freitas do, Curso de Direito Administrativo, Vol. II, p.285.
IG Beira/Fevereiro/2017 46
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das mais persistentes manifestações dos “traumas de infância” do


Contencioso Administrativo, enquanto resquício dos tempos do
administrador-juiz. Até hoje defende-se que este preceito do artigo 33
da Lei n°7/2014, de 28 de Fevereiro, não é inconstitucional ou
desconforme com a constituição, porque manifesta ou traz meios
alternativos de resolução de litígios, como é sabido a nossa
constituição consagra no artigo 4 o pluralismo jurídico, em que
“reconhece os vários sistemas normativos e de resolução de conflitos
que coexistem na sociedade moçambicana, na medida que não
contrariem os valores e os princípios fundamentais da Constituição”.
De acordo com a filosofia da moda, segundo o qual, “o acesso ao
direito não se confunde com o acesso ao juiz”, forçoso é constatar que
elas representam uma tendência (uma tentação?) de restrição do
acesso ao juiz, um sinal, entre outros de estrangulamento persistente
das jurisdições administrativas.33

Aqui o legislador ordinário dá mais passos largos, no sentido de


garantir a plena eficácia e utilidade das garantias administrativas
concebida pela nossa lei. O disposto no artigo 33 da lei do processo
contencioso administrativo não esta desconforme com a constituição,
pois salvaguarda ainda o espírito do direito fundamental de acesso a
justice, isto é, esta assegurado o direito de recurso contencioso do n°3
do artigo 253 da CRM. Nestes termos, a tutela jurisdicional efectiva, de
que, “é assegurado aos cidadãos interessados o direito ao recurso
contencioso fundado em ilegalidade de actos administrativos, desde
que prejudique os seus direitos”, esta abertura para além de assegurar
a eficácia da protecção jurisdicional não fique aniquilada em virtude
de esgotamento do recurso gracioso. Como refere Gomes Canotilho34,
a titulo de exemplo, a imposição da clareza não significa a necessidade
da adopção da forma processual mais simples, nem numa via que se
traduza, na pratica, num jogo formal reconduzível à existência de
formalidades e pressupostos cuja “desatenção” pelos particulares
implica a “perda automática das causas”, pelo que deveria haver um
dever funcional dos juízes convidarem as partes à regularização do
processo, em obediência ao principio de adequação formal. Isto é,
nesta mesma perspectivas se no caso de o particular recorrer
contenciosamente antes de recorrer graciosamente, podem os juízes
do Tribunal Administrativo, convidarem o particular a seguir o recurso
administrativo ou gracioso, fazendo valer da norma do artigo 33 da Lei
n°7/2014, de 28 de Fevereiro.

3.2.4. Legitimidade processual

33
Instituto de Ciências Jurídico-Politicas, Temas e Problemas de Processo
Administrativo, 2ª edição Revista e actualizada, Intervenções do Curso de Pós-
graduação sobre o Contencioso Administrativo, p.76.
34
Direito Constitucional e Teoria da Constituição, p.497.
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A legitimidade das partes é um pressuposto processual através do qual


a lei selecciona os sujeitos de direito admitidos a participar em cada
processo levado a tribunal.

No recurso contencioso de anulação, há três espécies de legitimidade


processual: a legitimidade dos recorrentes, a legitimidade dos
recorridos, a legitimidade dos assistentes ou contra-interessados.

A legitimidade pode ser activa e passiva. A legitimidade activa


pertence, em regra, a quem alegue ser parte na relação material
controvertido.

A legitimidade activa está prevista no art. 44 da LPAC que consagra,


fundamentalmente que:

“tem legitimidade para interpor recurso contencioso os que se


consideram titulares de direitos subjectivos ou interesses legalmente
protegidos que tivessem sido lesados pelo acto recorrido, quando
tenham interesse directo, pessoal e legítimo na interposição do
recurso e, ainda:

a) O Ministério Público;
b) Os titulares do direito de acção popular;
c) As pessoas colectivas, mesmo em relação aos actos lesivos dos
direitos ou interesses que a elas cumpra defender;
d) Os presidentes e membros dos órgãos colegiais em relação aos
actos praticados pelo órgão respectivo;
e) As autarquias locais, mesmo em relação aos actos que afectem
o âmbito da sua autonomia.”
Dessa legitimidade se extrai, em princípio o requisito de interesse
directo, pessoal e legítimo. De igual semelhança, o sujeito passivo terá
o interesse em contradizer e que se enquadre no art. 49 da mesma lei,
que prevê, fundamentalmente, o seguinte:

“Tem-se como entidade recorrida o órgão que tenha praticado o acto,


ou que, por alteração legislativa ou regulamentar, lhe tenha sucedido
na respectiva competência, salvo quando pertença à mesma pessoa
colectiva ou mesmo ministério”.

Legitimidade activa – subjectivismo versus objectivismo


De tudo o acima exposto, se pode verificar algum subjectivismo e
objectivismo na legitimidade activa. Essas anuências se verificam
principalmente quando olhamos para o direito comparado, mormente
a legislação portuguesa que embora tenha alguma semelhança com a
moçambicana, contem alguns traços distintivos.

A Lei do processo contencioso português, estabelece no âmbito do


processo administrativo a Legitimidade Activa o requisito geral que
consiste no facto de o autor, o
IG Beira/Fevereiro/2017 48
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demandante, invocar a sua qualidade de parte na relação material


controvertida. Afere-se a legitimidade da parte (activa) atendendo à
titularidade como configurada pelo autor.

Enveredou-se assim pela denominada tese subjectivista na


determinação da legitimidade activa, assente no pressuposto de que
são verdadeiros (para o efeito) os factos da respectiva causa de pedir,
tal como invocados pelo autor – tanto quanto à existência, como à
titularidade do direito ou interesse legalmente protegido que, o
particular por esta via acciona. Em suma: deve aferir-se a legitimidade
activa atendendo-se (salvo disposição especial em contrário) à
titularidade da relação material controvertida tal como é configurada
pelo autor (alegando factos que permitem sustentar a qualidade de
parte) independentemente da prova dos factos que integram a causa
de pedir. Consagra-se assim uma tese subjectivista.

Da legislação portuguesa para a moçambicana, encontramos no art. 44


da LPAC uma espécie de legitimidade ‘’social’’, para tutela de bens e
valores constitucionalmente protegidos, sem que haja ou tenha
necessariamente que haver, uma qualquer relação jurídica prévia
entre demandante e demandado. Dito isto dado reconhecer-se a
qualquer pessoa, às associações e fundações defensoras dos
interesses em causa, às autarquias locais e ao Ministério Público
legitimidade para propor ou intervir processualmente em defesa de
certos bens e valores constitucionalmente protegidos, como por
exemplo, saúde pública, urbanismo, património cultural, entre outros.

O que se procura com essa legitimidade activa é, efectivamente, a


tutela dos denominados “interesses difusos” – da perspectiva dos
beneficiários - certos bens ou valores legal ou constitucionalmente
protegidos. Não são ‘’interessi a despoti’’ ou sem dono, nas palavras
de alguns autores, mas sim interesses correspondentes a bens que a
toda a comunidade interessa garantir e preservar: supra ou meta-
individuais e, simultaneamente individuais. Configura-se deste modo
uma legitimidade impessoal ou social dado terem legitimidade, as
entidades que a lei empossa para defesa ou representação judicial dos
interesses gerais da colectividade no regular desempenho da
actividade administrativa.

A título de exemplo: uma fundação destinada à defesa do património


cultural do país pode impugnar a ordem de demolição de um
monumento, mesmo não tendo em relação àquele bem qualquer
direito de uso ou fruição, não sendo portanto pessoalmente afectada
por tal medida. Numa concepção puramente subjectiva restringia-se a
legitimidade activa aos titulares de um interesse directo em
demandar, apenas esses poderiam reagir. Possível constatar-se, desde
já, o quão positivo pode ser o temperamento de Objectivismo numa
construção tendencialmente Subjectivista.

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ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 50

Em suma: Quando a controvérsia diga respeito a um valor ou bem


constitucionalmente protegido, qualquer indivíduo (ou entidades ali
expressamente mencionadas) podem arrogar-se da sua defesa.
Vertendo um alargamento do universo das pessoas com legitimidade
activa na protecção judicial de tais interesses difusos e dispensando
em relação a estas - nessas matérias - a exigência de um interesse
pessoal na instauração do processo.

No âmbito da acção de Impugnação de Acto Administrativo, a


legitimidade afere-se em moldes diferentes dos da cláusula geral
(onde por referência à qualidade do sujeito da relação material
controvertida).Veja-se:

A concepção aqui plasmada afasta-se claramente da do 9º/1 da lei


portuguesa. Nos termos aqui referidos tem legitimidade para
impugnar os actos administrativos “quem alegue ser titular de um
interesse directo e pessoal”. No caso moçambicano se diz “os que se
considerem titulares de direitos subjectivos ou interesses legalmente
protegido”35. No pressuposto de que se trata de um interesse não
condenado pela ordem jurídica ou seja não é um interesse ilegítimo ou
ilícito em si mesmo. O requisito de um interesse directo e pessoal no
âmbito da impugnação do acto administrativo terá que se traduzir na
obtenção de uma vantagem ou num benefício específico imediato
para a esfera jurídica (ou económica) do autor: interesse directo
quando o benefício resultante da anulação do acto se repercutir de
imediato na esfera do interessado. Impera, portanto, que o autor
retire logo da impugnação uma qualquer utilidade ou vantagens
dignas de tutela jurisdicional ligadas ao aproveitamento do bem a que
respeita a posição jurídica violada.

Quanto à parte final da alínea, pretende-se com a referência a


‘lesados pelo acto nos seus direitos ou interesses legalmente
protegidos’ demonstrar que a lesão de uma posição jurídica
substantiva não é condição necessária da legitimidade, bastando-se a
invocação do interesse pessoal e directo.

Numa análise comparativa verifica-se que se afere a legitimidade em


prol de uma concepção objectivista: terá legitimidade quem: alegar ser
titular de um interesse directo, mesmo que não subjectivo.

Na alínea b) do art. 44 da LPAC moçambicana configura a genérica


acção pública, atribuindo legitimidade ao MP (na qualidade de
defensor da legalidade administrativa) para impugnar actos – tanto
iniciar a acção como continuá-la em casos de desistência do particular.
Revelam-se também aqui traços objectivistas.

Já na alínea c), confere legitimidade activa para impugnação de actos


administrativos a ‘’pessoas colectivas públicas e privadas, quanto aos
direitos e interesses que lhes cumpre defender’’ o que é diferente, de
35
Cfr. art. 44 da LPAC.
IG Beira/Fevereiro/2017 50
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 51

atribuir legitimidade quando os seus direitos e interesses sejam


lesados – legitimidade, desde logo, conferida na alínea a) quando o
acto administrativo fere a própria esfera jurídica ou patrimonial. A
pedra de toque da alínea é legitimidade colectiva a qual, se distingue,
embora com algumas dificuldades, da legitimidade interessada da
alínea a). Quanto às pessoas colectivas públicas, também por esta via
lhes é atribuída legitimidade. Em causa estão à priori, relações inter-
administrativas. Constatam-se laivos de uma concepção objectivista –
visto ser conferida legitimidade processual em termos amplos e, pelo
facto de irem a juízo não os titulares dos direitos e interesses mas,
pessoas colectivas – públicas e privadas – incumbidas de os defender.

Na d), estão em causa conflitos inter-orgânicos. O legislador pretende


que cada um dos órgãos que constituem a pessoa colectiva, defendam
a sua esfera de competência (ou interesses próprios) quando seja
violada pela actuação de outros órgãos da mesma pessoa colectiva.
Pelo que parece propender para um carácter mais próximo da tese
subjectivista: tais órgãos tornam-se directa ou particularmente
interessados na resolução do litígio.

Alínea e), consagra, traços objectivistas. Não é preciso que o


Presidente (ou quem o substitua no cargo), invoque qualquer
interesse funcional ou competencial na causa. Assim, o Presidente do
órgão colegial funciona, similarmente ao Ministério Público, como
defensor do interesse da pessoa colectiva na legalidade
administrativa. Ao atribuir-se legitimidade a quaisquer outras
autoridades às quais estejam legalmente cometidas ‘competências
específicas de fiscalização’ da legalidade administrativa -
independentemente de qualquer interesse funcional concreto na
situação – alarga-se o universo de autores, marcando,
indubitavelmente o cariz objectivista.

3.2.5. Prazos para impugnação contenciosa

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ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 52

Relativamente aos prazos para interposição de recurso, o autor José


Andrade defende que “a regra é a de que as acções podem ser
propostas a todo o tempo, sem prejuízo do disposto na lei substantiva
relativamente à prescrição dos direitos que se pretendem fazer valer
em tribunal”.

Esse argumento defendido pelo autor tem excepção na legislação


moçambicana, pois, a regre é já conhecida no sentido de que os actos
nulos podem ser propostas a todo o tempo, contudo, os actos
anuláveis tem um determinado prazo previsto no art. 37 que
passamos a citar.

1. O recurso de actos nulos ou juridicamente inexistentes pode


ser exercido a todo tempo.
2. O recurso de actos anuláveis é interposto no prazo de noventa
dias, salvo os casos de indeferimento tácito em que o prazo é
de trezentos sessenta e cinco dias.
3. É igualmente de trezentos sessenta e cinco dias o prazo
quando seja recorrente o Ministério Público.

3.2.6. Processo Contencioso em Geral


Lei Aplicável:

– Lei nº 7/2014, de 28 de Fevereiro (LPAC)

- Lei nº 24/2013, de 1 de Novembro, alterado e republicado pela Lei nº


7/2015, de 6 de Outubro.

Nos casos omissos aplica-se o disposto no Código de Processo Civil


relativamente ao processo ordinário, por força do art. 2 da LPAC.

IG Beira/Fevereiro/2017 52
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 53

3.2.6.1. Marcha do Processo


O processo inicia-se com uma petição, dirigida ao presidente do
tribunal, assinada pelo reclamante ou por advogado mandatado por
procuração.

O cumprimento do parágrafo anterior consolida-se pela interposição


da respectiva petição inicial na secretaria da jurisdição a que é dirigida
e ainda pode ser enviada sob registo do correio, considerando-se
apresentada na data daquele registo.36

A assinatura do reclamante carece de reconhecimento notarial,


podendo, contudo, em alternativa, ser reconhecida na secretaria do
tribunal, no momento da apresentação/entrega da petição inicial,
mediante a apresentação do bilhete de identidade do signatário

Essa prática, no ordenamento jurídico moçambicano, não tem


aplicação, embora legal, pois, às partes não levam as peças
processuais com reconhecimento notarial das assinaturas.

Em caso do ordenamento jurídico português, chama-se a atenção para


a verificação e cumprimento das obrigações fiscais em matéria de
imposto do selo determinadas pelo art.º 21 do Decreto n.º 36/89, de
27 de Novembro, cuja redacção é a seguinte:

"A apresentação de documentos não selados, quando sujeitos ao


imposto do selo, ou insuficientemente selados, será tratada nos
termos do disposto no n.º 4 do Diploma Ministerial n.º 19/84, de 29 de
Fevereiro, e no Regulamento do referido imposto. O funcionário que
os receber deverá, no entanto, advertir os interessados de tais
consequências caso não seja prontamente sanada a irregularidade o
que deverá constar, como anotação, do recibo ou duplicado dos
documentos apresentados nos termos do disposto no artigo seguinte."

Se o recorrente ou reclamante for uma entidade pública, dirige-se ao


presidente do tribunal através de um ofício. As reclamações
formuladas pelo Ministério Público designam-se promoções.

1 – A Petição
Requisitos – arts. 53 da LPAC e 467, nº 1 Código Processo Civil.

As partes envolvidas (reclamante e reclamados) são identificadas pelos


nomes, sedes (no caso de pessoas colectivas) ou domicílios (no caso de
pessoas singulares), seguindo-se uma exposição desenvolvida do

36
Cfr. art. 52 da LPAC
IG Beira/Fevereiro/2017 53
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 54

objecto e fundamento da reclamação, concluindo-se pelo pedido, nos


termos em que o reclamante pretende que se julgue e por
requerimento para a citação ou notificação das partes interessadas.

A anterior Lei do Processo Administrativo Contencioso, impunha a


obrigatoriedade de, na petição o reclamante indicar na petição o
domicílio na cidade de Maputo (sede do Tribunal Administrativo –
art.º 14.º da Lei n.º 5/92, de 6 de Maio) em que, pessoalmente ou por
intermédio do advogado constituído, receba as notificações. Se esta
indicação não constar da petição, após o pagamento do preparo, o
processo é concluso e o juiz ordenaria a notificação do reclamante
para corrigir a petição, correcção essa indispensável ao
prosseguimento dos autos.

Contudo, essa prática funcionava quando o Tribunal administrativo


não era descentralizado, hoje, não faz sentido porquanto existirem os
tribunais administrativos de nível provincial onde as acções ou
recursos contenciosos são interpostas, pois a LPAC não prevê
taxativamente essas situações, embora esteja prevista a disposição
segundo a qual “na petição deve o autor, não sendo órgão da
Administração, designar domicílio na sede do Tribunal Administrativo,
do tribunal administrativo provincial ou do Tribunal Administrativo da
Cidade de Maputo onde possa, por si ou por intermédio do seu
mandatário receber as citações e notificações necessárias”37. Neste
sentido, se pode perceber que é aplicável a todos os tribunais
administrativos, não sendo necessário que o reclamante ou autor
indique domicílio na Cidade de Maputo porquanto a acção estiver
interposta no Tribunal Administrativo da Província de Sofala.

A petição será instruída com documentos (ver mais adiante em prova


documental).

2 – Duplicados
A petição é acompanhada de tantos duplicados quantas as pessoas a
citar ou a notificar que vivam em economia separada. 152 do Código
Processo Civil -, e mais dois duplicados, um dos quais fica arquivado na
secretaria para eventual reforma do processo em caso de descaminho
e o outro para ser entregue ao apresentante a título de recibo, arts. 55
da LPAC e 152 do Código Processo Civil.

Se a petição não vier acompanhada dos duplicados obrigatórios,


depois de autuada e de pagos os preparos devidos, a secção faz o
processo concluso, a fim de o juiz ordenar a notificação do
peticionante para, no prazo que for fixado, apresentar os duplicados
em falta, sob pena de indeferimento – art.º 152, nº 2 do Código
Processo Civil.

37
Cfr. nº 1 do art. 17 LPAC.
IG Beira/Fevereiro/2017 54
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 55

Se faltar o duplicado isento de selo destinado a arquivo na secretaria,


faz-se o processo concluso para o juiz mandar extrair cópia da petição;

Esta cópia é contada como se tratando de uma certidão (cfr. Art. 3 da


Tabela de Custas, aprovada pelo Decreto n.º 28/96, de 09 de Julho) e o
valor alcançado é multiplicado por três, apurando-se, enfim, a quantia
a pagar pelo apresentante em falta.

3 – Prova Documental
Como já se referiu, a petição é instruída com:

– Certidão ou cópia autenticada da decisão reclamada e, se for caso


disso, com contrafé da respectiva intimação da autoridade
administrativa, art. 55 nº 1, alínea a) LPAC

– Quaisquer outros documentos em que se fundamente o pedido, art.


55 nº 1, alínea b);

– Procuração outorgada a mandatário judicial (advogado ou


solicitador), no caso de a petição estar assinada por um destes
profissionais do foro, art. 55, nº 1, alínea d).

4 – Prova Testemunhal
Se o reclamante quiser usar a prova testemunhal, deverá apresentar o
rol de testemunhas, juntamente com a petição inicial, indicando os
nomes, profissões e moradas ou locais de trabalho das testemunhas
arroladas, num máximo de três por cada facto, sem exceder o total de
vinte testemunhas.

Se forem arroladas mais de vinte testemunhas, nos termos do nº 3 do


art. 632 do Código Processo Civil, consideram-se como não escritos os
nomes das restantes, ou seja, ignora-se o rol a partir da 21ª
testemunha.

O rol pode ser aditado ou alterado nos termos do disposto no art. 631
Código Processo Civil.

É extremamente importante perceber que diferente do Processo Civil,


embora seja de aplicação subsidiária, as testemunhas não são
arrolados como meros formalismos, é necessário que tais
testemunhas saibam porquê constam do rol, ou seja, o recorrente ou
autor da acção deverá indicar para qual facto a testemunha deve
depor.38

38
Cfr. Alínea c), nº 1 do art. 55 LPAC
IG Beira/Fevereiro/2017 55
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 56

5 – Prova Pericial
Qualquer exame e/ou vistoria deve ser requerido na petição.

Segundo o art. 577 do Código de Processo Civil, exame reporta-se a


pessoas ou bens móveis e vistoria reporta-se a bens imóveis.39

6 – Citações e Notificações
Dispõe o nº 4 do art. 17 da LPAC que “as restantes citações e
notificações são feitas nos termos das normas do Processo Civil. Disto
resulta a aplicação subsidiária a que temos vindo a referir e isto
significa a aplicação das disposições do Código Processo Civil,
mormente ao arts. 228 a 232 – disposições comuns – arts. 233 a 252
do mesmo diploma para as citações; arts. 253 a 263 do mesmo
diploma, para o caso das notificações.

Tratando-se de entidade pública, a notificação faz-se por ofício a ela


dirigido, conforme o disposto no art. 17 nº 3 que estabelece que “a
citação ou notificação da autoridade pública, quando for parte, é feita
por ofício; a recepção deste é acusada nas quarenta e oito horas que
se seguirem ao recebimento”.

Como se pode perceber, as entidades notificadas devem acusar a


recepção do ofício, no prazo de quarenta e oito horas.

As entidades administrativas são notificadas e/ou citadas nas pessoas


dos respectivos presidentes.

Sendo vários os reclamantes que não tenham mandatário constituído


(advogado ou solicitador), nem tenham indicado pessoas para receber
as notificações, estas serão feitas ao primeiro dos signatários ou
àquele que para tal fim vier indicado na petição.

7 – Entrada da petição
A petição, ofício ou promoção e os documentos conexos dão entrada
na secretaria do tribunal, nos termos estabelecidos no art. 52 e,
depois, são presentes à distribuição.

Ao dar entrada, deve ser lançada na petição uma nota de registo,


contendo o número de ordem atribuído e as folhas do livro em que for
registada.

7.1 – Distribuição
A distribuição é presidida pelo Presidente do Tribunal e realiza-se às
segundas e quintas-feiras, pelas 12 horas. O distribuidor é auxiliado

39
Cfr. Conceitos de bens móveis e imóveis nos arts. 204.º e 205.º do Código Civil.
IG Beira/Fevereiro/2017 56
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pelos funcionários da secretaria que o juiz designar (art. 214 do Código


de Processo Civil).

Para efeito, são processos a serem distribuídos no Tribunal


Administrativo, conforme o disposto no art. 13 da LPAC:

- Recursos jurisdicionais;

- Recursos de decisões arbitrais;

- Recursos contenciosos;

- Acções;

- Processos de impugnação de normas;

- Conflitos de competência entre tribunais administrativos provinciais;

- Processos Urgentes;

- Outros Processos.

E no Plenário, são as seguintes espécies de processos:

- Recursos directamente interpostos em primeira e em única instância;

- Conflitos

- Processos urgentes

- Outros processos

Para os tribunais administrativos provinciais, são as seguintes


espécies:

- Recursos Contenciosos;

- Acções;

- Processos de impugnação de normas;

- Processos urgentes;

- Outros processos.

7.2 – Livro de Porta


O processo é registado no LIVRO DE PORTA.

Este é o livro onde se registam os processos distribuídos e os actos


nele praticado, por ordem cronológica, até à baixa ou remessa para o
arquivo.

IG Beira/Fevereiro/2017 57
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 58

Os processos são registados por ordem numérica a partir da unidade,


em cada ano, indicando-se os nomes do recorrente/reclamante e dos
recorrido/reclamado, a data da apresentação da petição e a natureza
do pedido.

No mesmo livro, será registado o arquivamento do processo.

7.3 – Autuação
Todas as folhas do processo são rubricadas pelo funcionário que
chefiar o cartório.

No rosto da petição far-se-á o averbamento do registo (de preferência


por carimbo adequado), indicando-se o nº de ordem atribuído no livro
de porta, a folha do livro porta em que o processo é registado e a data
da apresentação da petição em juízo.

7.4 – Preparos
Embora haja muita discussão nessa matéria já que existe a tabela de
custas do Tribunal Administrativo e a Tabela dos Tribunais Judiciais
que se aplica subsidiariamente, se o requerente da petição não estiver
isento por lei ou dispensado do pagamento de preparos e custas
(atente-se que a dispensa tem origem no pedido de concessão do
benefício de assistência judiciária e que tal pedido pode ser formulado
na petição inicial), deverá efectuar o pagamento do preparo devido,
nos termos do Código de Custas dos tribunais judiciais.

Para tanto, o escrivão passará e entregará à parte, ou a quem as


solicitar em seu nome, as guias para depósito do preparo devido,
lavrando-se no processo o respectivo termo de entrega – arts. 6 e 30,
nºs 1 e 2 da Tabela de Custas, aprovada pelo Decreto n.º 46252, de 19
de Março de 1965.

As guias são emitidas em impressos próprios, fornecidos por


instituição bancária, onde são efectuados todos os depósitos.

A parte dispõe de cinco dias, após o recebimento das guias, para


efectuar o pagamento do preparo e de quarenta e oito horas, após o
pagamento para entregar na secretaria ou cartório respectivo o
duplicado da guia e respectivo talão de depósito – art. 32, nº 2 da
Tabela de Custas, aprovada pelo Decreto n.º 46252, de 19 de Março
de 1965, e arts. 178 e 182 do Código das Custas Judiciais, aprovado
pelo Decreto n.º 43809, de 20 de Julho de 1961, com as alterações
introduzidas pelos Decretos n.ºs 48/89, de 28 de Dezembro, e 14/96,
de 21 de Maio.

IG Beira/Fevereiro/2017 58
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 59

7.5 – Vista ao Ministério Público


Pago o preparo ou não havendo lugar a ele, vão os autos com “Vista”
ao Ministério Público, por oito dias. A esse respeito, o visto a que nos
referimos chama-se “visto inicial”, previsto no art. 70 da LPAC.

Porém, se o requerente pedir assistência judiciária, antes da “Vista”,


deve a secretaria fazer o processo concluso ao Juiz, para que se
pronuncie sobre aquele pedido.

Se, porventura, o Juiz indeferir o pedido de assistência judiciária, fica o


requerente obrigado ao pagamento do preparo.

Também, no caso de a petição ser formulado pelo Ministério Público,


não se justifica esta "Vista".

EXCEPÇÃO:

Se, na petição, o reclamante não tiver indicado o domicílio na sede do


tribunal ou estiverem

em falta os duplicados exigíveis, em lugar desta “Vista” deve a


secretaria fazer o processo

“concluso” ao juiz.

Fora do visto inicial a que nos referimos no parágrafo anterior, a LPAC


prevê o visto final e parecer do Ministério Público logo que concluída a
instrução. Em princípio este visto final acontece quando o processo
está pronto para o julgamento, isto é, depois das alegações
facultativas. Neste visto, por força do disposto no art. 82 da LPAC, o
Ministério Público pode:

- Deduzir excepções ou suscitar novas questões que obstam o


conhecimento do recurso;

- Pronunciar-se sobre questões que não tenha suscitado;

- Arguir fundamentos não invocados pelo recorrente no âmbito


definido pelos factos aduzidos ao processo, independentemente da
caducidade do direito de arguição;

- Dar parecer sobre decisão final a proferir.

7.6 – Conclusão
O Juiz ordena a citação ou notificação da entidade recorrida, se não
ordenar a notificação do reclamante para suprir quaisquer
insuficiências, se tiver qualquer promoção do Ministério Público.

Este é um entendimento anterior a entrada em vigor da Lei nº 7/2014,


de 28 de Fevereiro (LPAC), pois,
IG Beira/Fevereiro/2017 59
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 60

estando vigente esta nova Lei do Processo Administrativo


Contencioso, as promoções do Ministério Público acontecem depois
da citação do recorrido ou reclamado, o que significa que o processo
este órgão terá o primeiro contacto com o processo depois da fase dos
articulados, ou seja, depois de juntada a contestação, conforme o
disposto no art. 64, conjugado com o art. 70, ambos da LPAC.

7.7 – Secretaria
1. – Exame dos autos

As partes interessadas poderão examinar os autos na secretaria, onde


se conservarão durante o período fixado pelo juiz para a resposta.

2 – Certidões

As certidões que forem solicitadas serão passadas e entregues aos


interessados, independentemente de despacho nos termos gerais do
Código do Processo Civil.

O custo das certidões está regulado no art. 3. da tabela de custas


aprovada pelo Decreto n.º 28/96, de 9 de Julho.

7.7.1 – Resposta ou Contestação


A resposta é a contestação e deve obedecer aos mesmos requisitos da
petição Inicial.

É apresentada na secretaria, contra recibo, se solicitado (v. notas


sobre petição, mesmo no que se refere à indicação da prova
testemunhal, documental e/ou pericial).

O termos da contestação estão previstos no art. 65 da LPAC o de


consagra que:

“1. Na contestação o recorrido deve deduzir, de


forma articulada, toda a matéria relativa à
defesa, indicar os factos cuja prova pretende
fazer, juntar todos os documentos destinados a
demonstrar a verdade dos factos alegados e,
ainda, sendo o caso, apresentar o rol de
testemunhas ou requerer outros meios de
prova.

2. a falta de apresentação do rol de testemunhas


ou da indicação dos factos a que elas devem

IG Beira/Fevereiro/2017 60
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 61

depor impede o recorrido de fazer tal prova.”

A Contestação torna-se obrigatória, pois, não apresentação tem as


suas consequências previstas no art. 66 da LPAC, segundo a qual a
falta de contestação ou de impugnação implica a sua confissão dos
factos articulados pelo recorrente, com excepção daqueles que
estejam em manifesta oposição com a defesa considerada no seu
todo, ou não sejam admitidos a sua confissão, ou ainda, sobre eles
resultem contraditados pelos documentos que constituem o processo
administrativo instrutor.

“Vista” (oficiosa)
Decorrido o prazo para oferecimento das respostas,
independentemente de despacho, a secretaria abre “Vista” ao
Ministério Público, por cinco dias.

Para o entendimento dessa matéria remetemos para o ponto relativo


ao visto inicial atrás tratado, pois, essa vista oficiosa tem o seu
momento depois da fase dos articulados.

Depois do Visto do Ministério Público “Conclusão”


Passado a fase anterior, abre-se a conclusão para, se for caso disso,
principalmente se houver a promoção do Ministério Público, o juiz
relator ordenar a realização de diligências probatórias eventualmente
requeridas pelas partes envolvidas, nomeadamente:

– Vistorias

– Exames

– Avaliações ou

– Inquirição de testemunhas, cujos depoimentos serão reduzidos a


escrito

Estas diligências realizam-se na sede do tribunal e são presididas pelo


juiz relator a menos que delegue (expressamente) em qualquer
autoridade administrativa.

Ordenada a realização de qualquer diligência, a secretaria notifica os


interessados não estejam isentos de custas e que não beneficiem de
assistência judiciária, para, no prazo de cinco dias, procederem ao
depósito dos preparos para despesas, cujo montante é fixado pelo juiz
(do despacho em que determina a realização da(s) diligência(s).

Sobre preparos para despesas confira os arts. 121, nº 1; 122 § 4; 123


(isenção); 124, nº 2; 125; 129 e 137 do Código das Custas Judiciais, e

IG Beira/Fevereiro/2017 61
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 62

art. 1, nº 3 da Tabela de Custas do Tribunal Administrativo, aprovada


pelo Decreto n.º 28/96, de 09 de Julho.

No caso de peritos ou louvados, o cálculo do valor dos preparos para


despesas é feito com base no art. 13, nº 2 da Tabela de Custas do
Tribunal Administrativo, aprovada pelo Decreto nº 28/96, de 9 de
Julho, e nos arts. 51 e 53 do Código das Custas Judiciais.

Após a promoção do Magistrado do Ministério Público;

E no caso de testemunhas, deve ter-se em consideração que o valor da


indemnização a atribuir é também fixado pelo juiz e que só é devida se
as testemunhas pedirem no acto da inquirição. Se as testemunhas não
fizerem o pedido no momento próprio, o valor da indemnização
reverte para o cofre do tribunal – art. 13, nº 3 da citada Tabela.

Vale dizer que nesta fase de instrução do processo vigora o princípio


do inquisitório que segundo o autor José Andrade, o juiz ou o relator
pode ordenar as diligências de prova que considere necessárias para o
apuramento da verdade, bem como indeferir as diligências requeridas
que considere claramente desnecessárias.40

Finda a Produção de Prova e alegações facultativas


Conforme o disposto no art. 81 da LPAC, terminada a fase de instrução
do processo que culmina com o fim da produção de prova, segue-se a
fase de alegações facultativas, caso o relator repute essencial para o
apuramento da verdade material, dai que o recorrente, o recorrido e
os contra-interessados podem ser notificados para alegações
facultativas, isto é, no prazo de 10 dias contados, para o recorrente e
da entidade recorrida e contra-interessados, do termo do prazo do
recorrente e da entidade recorrida, respeitosamente. O mesmo prazo
corre simultaneamente para todos os contra-interessados.

Deve se salientar que o recorrente pode alegar factos novos,


devidamente fundamentados, desde que se trate de conhecimento
superveniente. Consequentemente, para o recorrido e os contra-
interessados podem suscitar, nas alegações, novas questões que
impeçam o conhecimento do recurso, por força do nº 6 do art. 81 da
LPAC.

40
ANDRADE, José Vieira de. A Justiça Administrativa (Lições). 10ª Edição.
Almedina. 2009. Página 334.
IG Beira/Fevereiro/2017 62
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 63

Posto isto, é permitido o exame do processo, por cinco dias, primeiro


aos interessados, na pessoa dos seus procuradores judiciais e depois
ao Ministério Público.

Esta “Vista” destina-se a proporcionar o exame do processo às partes


intervenientes, para, querendo, alegarem o que tiverem por
conveniente na defesa do seu direito.

Expirados estes prazos, abre-se “Vista” ao Ministério Público para o


mesmo fim.

Após a promoção do magistrado, a secção abre “conclusão” ao juiz


relator, que poderá ainda ordenar alguma diligência que julgue
indispensável para a instrução do processo.

Após o "visto" do juiz relator ou concluídas as diligências por ele


ordenadas vai o processo concluso, por cinco dias, a cada um dos
vogais (juízes relatores adjuntos da Secção) e, por fim, vai ao juiz
titular da Secção;

Se o juiz relator entender que o processo pode ser resolvido


independentemente de “visto”, leva os autos à conferência, seguindo-
se os trâmites.

O processo é apresentado pelo secretário, na primeira sessão que


tiver lugar após os vistos, para julgamento por acórdão em
conferência, podendo o tribunal ordenar a realização de qualquer
diligência que julgue necessária para instrução do processo.

As decisões do tribunal revestem a forma de acórdão.

Os acórdãos são relatados e redigidos pelo relator e assinados por


todos os que tiverem votado em conferência.

Proferido o Acórdão Final


A secretaria tem o prazo de cinco dias, a contar da data em que o
acórdão seja proferido, para o notificar às partes, com entrega de
cópias, de acordo com o art. 259 do Código Processo Civil.

De seguida, são os autos continuados com "Vista" ao Ministério


Público.

Tanto as partes, como o Ministério Público, podem interpor RECURSO


ORDINÁRIO do acórdão, no prazo de trinta dias a contar da notificação
respectiva, por força do disposto no art.

IG Beira/Fevereiro/2017 63
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 64

7.9 – Recursos Jurisdicionais


Os recursos representam o princípio de duplo grau de jurisdição. Este
princípio de duplo grau de jurisdição, segundo alguns autores é
entendido como garantia de duplo grau de jurisdição de mérito, e tem
sido tradicionalmente adoptado pela lei no âmbito da justiça
administrativa, que assegura às partes processuais, designadamente
aos particulares, com raras excepções, o direito ao recurso contra
decisões jurisdicionais, mesmo quando tenham sido proferidas em
primeira instâncias por tribunais superiores.41

Desde logo, as decisões sujeitas a recursos são aquelas que, em


primeiro grau de jurisdição, tenham conhecido o mérito da causa, isto
é, as sentenças (acórdãos) finais.

Os recursos jurisdicionais no contencioso moçambicano são regulados


pelos arts. 163 e seguintes da LPAC, contudo, não são impugnáveis as
decisões previstas no art. 164 (LPAC), nomeadamente:

a) Dos acórdãos do Plenário do Tribunal Administrativo;


b) Dos acórdãos da Primeira Secção do Tribunal Administrativo
em matéria de facto quando julgue em segunda instância;
c) Dos acórdãos da Secção de Contas do Tribunal Administrativo
em matéria de fiscalização prévia quando julguem a segunda
instância;
d) Das decisões que resolvam conflitos de jurisdição e
competências;

De igual modo, as decisões dos tribunais administrativos provinciais e


do Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo que tenham sido
objecto de recuso na Primeira Secção só admitem recurso em matéria
de direito para o Plenário do Tribunal Administrativo.

Importa realçar que o prazo para interposição de recurso das decisões


impugnáveis é de trinta dias, contados desde da data de notificação,
por força do estipulado no art. 167 da LPAC.

A doutrina fala de decisões não sujeitas a recurso por força da


introdução de alçado, para tal avança que a introdução da alçada nos
tribunais administrativo visa excluir de recurso jurisdicional a decisão
das pequenas causas, avaliadas do ponto de vista económico,
contudo, esta exclusão do recurso em função do valor da causa pode
suscitar algumas dúvidas sobre a garantia, em alguns casos, de uma
tutela jurisdicional efectiva, tendo em conta que o baixo valor do
processo, em regra, da inexistência do recurso.42

41
ANDRADE, José Vieira de. A Justiça Administrativa (Lições). 10ª Edição.
Almedina. 2009. Página 448.
42
Idem. Página 450
IG Beira/Fevereiro/2017 64
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 65

Para o nosso ordenamento jurídico moçambicano, as causas


interpostas nos tribunais administrativos não tem alçada, de acordo
com o art. 12 da Lei nº 24/2013, de 1 de Novembro, alterado e
republicado pela Lei nº 7/2015, de 6 de Outubro.

Trânsito em julgado
Uma decisão considera-se passada ou transitada em julgado logo que
não seja susceptível de recurso ordinário – art. 677 do Código
Processo Civil.

Transitado em julgado, o acórdão proferido é registado em livro


próprio, por cópia ou fotocópia, certificando-se a data do trânsito.

Execução da Sentença

Os acórdãos transitados em julgado têm força executiva e a sua


execução, bem como a cobrança de multas impostas e das custas será
promovida perante os tribunais ordinários, nos termos da lei
processual civil.

Porém, basicamente as matérias relativas aos recursos encontram-se


previstas do art. 187 e seguintes da LPAC.

A execução tem por base:

– Uma certidão do acórdão com indicação do trânsito em julgado (é o


título executivo – art. 46, alínea a) e d) do Código Processo Civil;

– Certidão do respectivo registo, quando tiver sido interposto recurso


com efeito devolutivo;

– Certidão da conta, quando se tratar de custas;

As execuções são promovidas pelos interessados ou pelo Ministério


Público, consoante os casos, nomeadamente quando este último tiver
sido parte principal e vencedora ou tenham de ser cobradas multas ou
custas.

Sumário

Nesta Unidade temática aprendemos que:

 O objecto da acção pode, pois, ser constituído pelos mais


variados pedidos no âmbito de relações jurídicas
administrativas e a sua delimitação terá de ser feita pela
negativa: podemos dizer, em geral, que constituirá, em regra, o
meio adequado de acesso à justiça administrativa, se não

IG Beira/Fevereiro/2017 65
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 66

estiver em causa um litígio relativo à prática ou à omissão de


actos administrativos impugnáveis ou de normas.

O objecto de recurso a luz da legislação moçambicana consagra


como actos administrativos impugnáveis tendo em conta o
disposto no art. 33 da Lei nº 7/2014, de 28 de Fevereiro que
consagra os actos passíveis de recurso contencioso. Como tal, o
objecto do recurso contencioso vai ser os actos administrativos
definitivos e executórios.

Porém, esse espírito da disposição legal em causa entra e


contradição com o disposto no art. 253 da CRM, por isso,
questiona-se a validade dessa disposição legal do artigo 33 da
Lei supracitada, quando se refere que “só é admissível recurso
os actos definitivos e executórios”, com a norma constitucional
estabelecido no n°3 do art. 253 da CRM, nos termos e
fundamentos seguintes, porque a exigência do prévio
esgotamento das garantias administrativas como condição
necessária de acesso a justiça ou aos tribunais, constitui uma
das mais persistentes manifestações dos “traumas de infância”
do Contencioso Administrativo, enquanto resquício dos
tempos do administrador-juiz.

Até hoje a quem defende que este preceito do artigo 33 da Lei


n°7/2014, de 28 de Fevereiro, não é inconstitucional ou
desconforme com a constituição, porque manifesta ou traz
meios alternativos de resolução de litígios, contudo,
recentemente foi declarado inconstitucional.

 Relativamente a legitimidade, há que perceber que existe três


espécies de legitimidade processual: a legitimidade dos
recorrentes, a legitimidade dos recorridos, a legitimidade dos
assistentes ou contra-interessados.

A legitimidade pode ser activa e passiva. A legitimidade activa


pertence, em regra, a quem alegue ser parte na relação
material controvertido.

A legitimidade activa está prevista no art. 44 da LPAC que


consagra, fundamentalmente que:

“tem legitimidade para interpor recurso contencioso os que se


consideram titulares de direitos subjectivos ou interesses
legalmente protegidos que tivessem sido lesados pelo acto
recorrido, quando tenham interesse directo, pessoal e legítimo
na interposição do recurso.

 O prazo para a interposição do recurso contencioso é o


seguinte:

IG Beira/Fevereiro/2017 66
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 67

- O recurso de actos nulos ou juridicamente inexistentes pode


ser exercido a todo temo.

- O recurso de actos anuláveis é interposto no prazo de


noventa ias, salvo os casos de indeferimento tácito em que o
prazo é de trezentos sessenta e cinco dias.
- É igualmente de trezentos sessenta e cinco dias o prazo
quando seja recorrente o Ministério Público.

 Os recursos jurisdicionais os representam o princípio de duplo


grau de jurisdição. Este princípio de duplo grau de jurisdição,
segundo alguns autores é entendido como garantia de duplo
grau de jurisdição de mérito, e tem sido tradicionalmente
adoptado pela lei no âmbito da justiça administrativa, que
assegura às partes processuais, designadamente aos
particulares, com raras excepções, o direito ao recurso contra
decisões jurisdicionais, mesmo quando tenham sido proferidas
em primeira instância por tribunais superiores.

Desde logo, os recursos jurisdicionais no contencioso


moçambicano são regulados pelos arts. 163 e seguintes da
LPAC, contudo, não são impugnáveis as decisões previstas no
art. 164 (LPAC).

Exercícios de Auto-Avaliação

1. Qual é o objecto do recurso contencioso?


Resposta: O objecto do recurso contencioso é o acto administrativo
definitivo e executório.

2. O acto administrativo é verticalmente definitivo quando é


praticado por um órgão colocado de tal forma na hierarquia que a
sua decisão constitui a última palavra da administração activa.
 Certo
 Errado
Resposta: Certo

3. É correcto afirmar que tem legitimidade para interpor recurso


contencioso os que se consideram titulares de direitos subjectivos
ou interesses legalmente protegidos que tivessem sido lesados
pelo acto recorrido, quando tenham interesse directo, pessoal e
legítimo na interposição do recurso.

IG Beira/Fevereiro/2017 67
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 68

 Certo
 Errado
Resposta: Certo

Exercícios

1. Pode ser requerida uma providência cautelar acessoriamente a


uma intimação para protecção de direitos, liberdades e garantias?
2. Quem tem legitimidade activa para interpor o recurso contencioso
administrativo?
3. O recurso dos actos nulos podem ser interpostas a todo tempo?
4. É obrigatório a constituição de advogados nos processos remetidos
ao Tribunal Administrativo, cuja competência é da secção do
contencioso administrativo?
5. Os contratos de empreitadas de obras públicas, para fornecimento
de bens contínuos e prestação de serviços para fins imediatos de
utilidade pública, podem ser considerados processos de natureza
urgente?
6. De forma sintentizada, quais são as fases ou momentos
processuais, correspondente ao itinerário completo ou geral do
contencioso administrativo.

IG Beira/Fevereiro/2017 68
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 69

PARTE II

CONTENCIOSO TRIBUTÁRIO

TEMA – I: PRINCÍPIOS GERAIS E MEIOS PROCESSUAIS


UNIDADE Temática 1.1. Princípios gerais do processo tributário
UNIDADE Temática 1.2. Meios Processuais

UNIDADE Temática 1.3. Exercícios do Tema

UNIDADE Temática 1.1. Princípios gerais do processo tributário.

Introdução

Pretende-se nesta unidade temática que o estudante adquira


conhecimentos básicos sobre os principais princípios do contencioso
tributário e que saiba adequar e separar os princípios do processo
tributário aos princípios doutros ramos como é o caso do Processo
Civil.
Para o efeito, ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Conhecer e saber definir o princípio do acesso aos


tribunais;
Objectivos  Saber a quem cabe o impulso processual nos diversos
processos;
 Identificar os princípios que norteiam a actividade
jurisdicional.

IG Beira/Fevereiro/2017 69
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 70

1.1.1. Princípios Gerais Do Processo Tributário

Princípio do acesso aos tribunais

O contencioso tributário é a par do contencioso administrativo,


sequência de actos e formalidades que visam dirimir um litígio
jurídico, para o caso, tributário.

Para entender o contencioso administrativo torna-se necessário


entender o seu enquadramento nos tribunais administrativos, ou seja,
na organização judiciária administrativa.

Com concordância prática ao estabelecido na Constituição da


República de Moçambique, mormente nos arts. 62, 69 e 70, este
princípio está intimamente ligado ao princípio da tutela jurisdicional
efectiva prevista e consagrada através do direito ao recurso plasmado
no art. 171 da Lei nº 2/2006, de 22 de Março, segundo o qual, o
interessado tem o direito de recorrer contenciosamente de todo o
acto definitivo, independentemente da forma que assume para a
defesa dos seus direitos e interesses legalmente protegidos, de acordo
com as formas de processo constantes da lei.

Princípio da igualdade de meios processuais


Este princípio resulta do princípio sacrossanto da igualdade
consagrada fundamentalmente no art. 35 da Constituição da
República de Moçambique. Na lei tributária está previsto no art. 174
(Lei nº 2/2006, de 22 de Maço), ao consagrar que “as partes dispõem,
nos processos fiscais e aduaneiro, de iguais faculdades e meios de
defesa.

O princípio da legalidade fiscal e o princípio da verdade material


O princípio da legalidade é resultado do plasmado no art. 100
da CRM que tem uma função essencial na estruturação das normas
básicas do direito fiscal, constituindo um verdadeiro princípio comum
a todos os ordenamentos jurídicos assentes na limitação jurídica dos
poderes do Estado, tem, necessariamente, os seus reflexos nos
princípios ordenadores do contencioso tributário Procedendo a uma
distinção entre a situação existente no processo civil, que constitui
conceitual e cronologicamente uma matriz de onde se forma

IG Beira/Fevereiro/2017 70
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 71

destacando as demais formas de processo, verificamos que o processo


tributário, quer quanto ao procedimento gracioso de liquidação, quer
no processo gracioso de reclamação, quer no processo contencioso, se
encontra teleologicamente orientado no sentido de obter uma
distribuição dos encargos tributários nos termos da previsão legal.

Ao contrário do processo civil, criado para a solução de litígios


de natureza privada constituindo por isso o prolongamento da
autotutela dos interesses privados, o processo tributário existe para a
tutela do interesse público, que consiste na realização da tributação
de acordo com a lei. E por isso todo o contencioso tributário se deve
encontrar ordenado para proporcionar aos contribuintes uma tutela
contra a possível violação dos seus direitos por parte da
Administração.

A natureza dos litígios que se propõe dirimir e a necessidade de


obter formas de limitar juridicamente a intromissão do Estado na
esfera jurídica dos particulares vêm atribuir aos princípios
ordenadores do processo fiscal, tal como todo o contencioso
administrativo, uma particular preponderância das normas com
dignidade constitucional.

Estão em jogo, neste caso, os direitos e garantias do


administrado em relação à actividade estatal. A criação de obrigações
tributárias aos cidadãos integra-se na ela é de per si e pela própria
natureza da sua actuação algo que vem restringir e limitar o interesse
dos particulares. E daí que, contrariamente ao que sucede no processo
civil, marcado pelo princípio do dispositivo e pelo ónus atribuído aos
particulares de carrearem para o processo os factos sobre que vai
incidir o veredicto judicial, corporizado na velha máxima dabo mihi
factus, dabo tibi jus, no processo fiscal valha, quer para a
Administração quer para o tribunal, o princípio do dever da
averiguação oficiosa dos factos relevantes.

Ou seja, do princípio da legalidade fiscal decorre naturalmente


o princípio da verdade material como objectivo do processo fiscal, sob
pena de os órgãos da Administração, a quem cabe o cumprimento do
imperativo constitucional. A tramitação do processo fiscal na sua
concepção mais ampla, que abrange necessariamente o processo
gracioso de formação do acto tributário e o contencioso tributário
onde se vai ajuizar da conformidade com a lei do primeiro, estará
portanto ordenada com vista à descoberta da verdade material.

Ainda, sob influência desse princípio encontram-se muitos sob


princípios que acima se indicaram e está consagrado no art. 175 da Lei
nº 2/2006, de 22 de Março, o regime da sua actuação. Doutrinalmente
é um princípio que está associado ao princípio da livre apreciação de
prova e obriga a que o tribunal deva realizar e ordenar oficiosamente
todas as diligências com vista a busca da verdade material

IG Beira/Fevereiro/2017 71
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 72

relativamente aos factos alegados.

Ainda, resultante desse princípio é imperioso que subjaza o


princípio da cooperação das partes para que essa busca de verdade
todas as autoridades ou repartições públicas se obriguem a prestar as
informações ou remeter cópia dos documentos que o juiz entender
necessários ao conhecimento do objecto do processo.

Já, para os particulares tem a obrigação de prestar a colaboração


nos termos ada lei de processo civil.

O princípio da investigação no processo fiscal


O princípio da investigação é apanágio do vertido no nº 2 do art.
175 da Lei nº 2/2006, de 22 de Dezembro que consagra
expressamente que o tribunal não está limitado às alegações e provas
acarreadas pelas partes. E, como tal, o nº 1 estabelece que o tribunal
deve realizar ou ordenar oficiosamente todas as diligências que
afigurem úteis para conhecer da verdade relativamente aos factos
alegados ou de que oficiosamente pode conhecer. A necessidade de
ordenar a tramitação processual com vista à determinação da verdade
material vai ter, por este modo, influência decisiva nos princípios
ordenadores do contencioso tributário, que não poderá reger-se pelo
princípio do dispositivo, como sucede no processo civil.

E o princípio da investigação vai abranger o princípio da


inquisitoriedade9, quanto à determinação dos factos relevantes e
acerca do conhecimento dos quais o tribunal se encontra numa
situação de poder-dever, e o princípio da oficialidade, na medida em
que os participantes do processo só de forma muito limitada podem
dispor sobre a sua marcha: não terão lugar no contencioso tributário
institutos como a condenação de preceito, que desempenha um papel
fundamental no contencioso civil.

Mas o princípio da investigação não tem também uma


aplicação irrestrita no processo fiscal. O funcionamento de regras de
preclusão e de caducidade vai limitar as possibilidades de
conhecimento do tribunal, uma vez que irá tornar definitivos quer o
acto tributário na sua totalidade, quer alguns dos seus elementos. Se,
por exemplo, não tiver havido oportunamente recurso de um facto
prejudicial, como uma avaliação feita por uma comissão que para isso
dispõe de poderes, tal questão não poderá ser posteriormente
suscitada, sanando-se tal irregularidade dentro do prazo previsto pela
lei, uma vez que neste caso os imperativos de justiça cederam perante
a necessidade de conferir estabilidade a uma decisão administrativa.

A existência destes princípios ordenadores do campo do


processo fiscal constitui uma mera consequência processual dos
princípios fundamentais do direito
IG Beira/Fevereiro/2017 72
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 73

constitucional financeiro, que depois da criação do Estado de Direito,


ou État constitutionnel, se transformaram em normas de direito
comum em todos os Estados onde se aceite de forma irrestrita o
princípio da limitação jurídica do poder político.

Para além das formas específicas que assume a concessão de


tutela aos direitos dos contribuintes através desta ou daquela forma
de organização judiciária ou de estrutura das acções, em todos os
ordenamentos jurídicos estruturados segundo os princípios
fundamentais do Estado de Direito poderemos encontrar um corpo
comum de princípios com a mesma intencionalidade e que se
destinam a tutelar os direitos subjectivos dos contribuintes.

E esta posição representa a definitiva ultrapassagem de


conceitos que vêem na cobrança de impostos feita pelo Estado uma
actividade orientada pela finalidade de maximização das receitas,
contando de antemão com a possível resistência do contribuinte. Pois,
na verdade, estando a partilha dos encargos fiscais estritamente
determinada pela lei, do primado do direito decorre necessariamente
que o interesse público será tanto mais obtido quanto mais conforme
se revelar a concreta distribuição dos impostos, com a abstracta
previsão legal.

Daí que se não possa encontrar suporte legal para um interesse


fazendário de maximização de receitas, nem se possa considerar digno
de tutela jurídica um suposto interesse dos particulares em pagar o
menos possível. É certo que a criação, através da lei, de um
determinado encargo tributário, que vai na sua previsão abstracta
legitimar futuramente transferências patrimoniais do contribuinte
para o Estado, constitui uma restrição aos seus direitos patrimoniais, o
que representa, de per si, uma restrição ao interesse privado de
manutenção e acréscimo do património, a que é conferida tutela
constitucional através da concessão do direito de propriedade. Mas
não pode confundir-se a arbitragem exercida pelo legislador entre este
interesse em manter um dado património a que é atribuída tutela
jurídica e a necessidade de assegurar ao Estado recursos para a
prossecução destes fins, e a actividade administrativa necessária ao
cumprimento da lei.

Como consequência desse princípio vai existir o ónus de impulso


processual e o ónus de alegar, para o efeito está, no recurso
contencioso subjacente o art. 171 da Lei nº 2/2006, de 22 de Março
que demonstra o impulso processual que caberá ao sujeito passivo a
faculdade de recorrer contenciosamente e o art. 126 que consagra a
iniciativa do particular (sujeito passivo) intentar a reclamação graciosa.
Já, na revisão oficiosa cabe a iniciativa do sujeito activo (administração
tributária) rever oficiosamente o acto por si praticado.

IG Beira/Fevereiro/2017 73
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 74

Na mesma senda, o autor em referência é de seguinte


entendimento, sobre as consequências práticas do princípio da
investigação:

a) O ónus da impulsão processual


Apesar de ser um processo dominado pelo princípio da
investigação, o contencioso tributário aceita sem restrições o ónus de
impulso processual, como requisito indispensável para o escrutínio
judicial da existência de uma dada obrigação fiscal. Temos aqui uma
excepção ao princípio da inquisitoriedade e uma aceitação de uma das
consequências do princípio dispositivo, na medida em que nos
processos plenamente inquisitórios existe a oficialidade do impulso
processual, explicável pela impossibilidade de conceder tutela judicial
a todas as situações que indicassem uma tributação contraria a lei. E,
por outro lado, sempre que a Administração constate casos em que
isso se verificou, dispõe de poderes para proceder à revisão oficiosa,
sem necessidade da mediação judicial para repor a legalidade violada.

Nesse sentido, mas apenas nesse sentido, pode considerar-se a


prática de um acto tributário, com ou sem notificação ao contribuinte,
como uma provocatio ad oponendum, no sentido de que a sua inércia
é uma condição para se obter a definitividade processual6 de um
determinado acto tributário. Definitividade processual no sentido de
preclusão ou impedimento de todas as formas de apreciação da sua
invalidade.

b) Ónus de alegar
Fala-se também comummente do ónus de alegar que recairia
sobre o demandante no contencioso tributário. De acordo com este
princípio, como o encontramos por vezes formulado, cabe sempre ao
demandante «apresentar um projecto de resolução em seu favor, que
se consubstancia na sua pretensão substantiva».

Em tudo, sobressai de forma muito nítida um princípio de


economia processual. No caso de direito administrativo não fiscal, a
exigência da indicação das normas ou princípios de direito que se
considerem infringidos pode ainda considerar-se como justificada pelo
particularismo das situações sobre que o tribunal se vai debruçar, o
que justifica amplamente que este exija a cooperação do
administrado, em muitos casos com conhecimento directo das normas
e princípios que determinam a sua situação funcional.

No caso do direito fiscal, e independentemente da redacção


destes preceitos, não pode dar-se, contudo, uma resposta única para a
questão de saber se existe ou não existe um ónus de alegar em todas
as situações.

IG Beira/Fevereiro/2017 74
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 75

Pondo de lado os casos especiais do processo de transgressão


e de execução, mesmo nas acções que tenham por objecto a
legalidade da situação tributária, o ónus de alegar não terá o mesmo
conteúdo se tratar de uma mera acção de impugnação, onde se
pretende obter a anulação de um acto tributário, ou de uma acção
para restituição do indevido, onde se pretende recuperar uma soma
que se pagou sem fundamento legal, ou uma acção de condenação
por erro de facto da Administração, ou uma outra em que se pretende
a produção de um certo acto administrativo. E isto sem abordar a
questão, de que trataremos quando falarmos dos recursos, dos
diversos conteúdos deste ónus quando nos encontramos na primeira
ou na segunda instâncias ou, em alternativa, no conhecimento de
questões de direito por parte do tribunal superior.

O ónus de alegar no contencioso tributário deve ser entendido como o


ónus de afirmar que se verificou por parte da Administração uma lesão
efectiva dos direitos ou interesses do demandante. O que terá
conteúdo necessariamente diferente quando se pretenda obter da
primeira instância a anulação de um acto tributário que se considera
injusto ou a produção de um acto administrativo que declare uma
determinada isenção.

c) Os deveres de cooperação do contribuinte


A prevalência processual do princípio da investigação tem a sua
principal derrogação, superior em importância aquelas derrogações
que já assinalámos, na situação decorrente do dever de cooperação
que a lei fiscal cria para os contribuintes e que vai ter os seus reflexos
no campo do contencioso tributário. E temos aqui a principal distinção
entre o processo fiscal e o processo penal: enquanto o processo penal
se constrói com base no reconhecimento que assiste ao presumível
delinquente de negar a sua cooperação na descoberta da verdade10, o
processo fiscal constrói-se na pressuposição do dever de cooperação
do contribuinte na determinação do ane do quantum das suas
obrigações tributárias.

O dever de cooperação do contribuinte constitui-se. Assim,


paralelamente, ordenado pela mesma intencionalidade que o dever de
investigação dos factos que incumbe a Administração fiscal e, de
forma semelhante, ao tribunal fiscal: a descoberta das bases factuais
em que vai assentar uma tributação de acordo com a lei. Não quer isto
dizer que se possa falar de uma partilha igualitária dos deveres de
informação entre a Administração e o contribuinte, na medida em que
o dever de recolha e valoração dos factos incumbe primordialmente à
Administração, que apenas poderá apelar nesse campo para a
cooperação - entendida como actividade subsidiária, ainda que

IG Beira/Fevereiro/2017 75
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 76

indispensável - por parte do contribuinte.

Mas, em muitos casos, do preenchimento ou não desses


mesmos deveres pela parte depende a forma como vai desenrolar-se a
actividade de medição da matéria colectável, com recurso a técnicas
de avaliação, de mera estimativa, quando a ausência de cooperação
do contribuinte tornar impossível a adopção de um método que
permita uma quantificação mais rigorosa.

Para além destes deveres de natureza substancial, que deveres


processuais existem, nomeadamente quando um contribuinte se
coloca na posição de demandante pondo em causa a legalidade de um
determinado comportamento da Administração? Parece aqui ter
pleno cabimento o princípio formulado pelo Código do Processo Civil,
no seu artigo 519, nº 2, in fine, como regra de decisão do juiz em casos
duvidosos, em que a dúvida se pode atribuir à recusa da parte em
cooperar com o tribunal para o esclarecimento da verdade: o tribunal
apreciara livremente esta conduta para efeitos probatórios.

O princípio tem aqui aplicação plena, ainda que numa situação


distinta daquela que se pode encontrar no processo civil: neste caso,
uma vez que o sistema processual assenta num ónus atribuído as
partes de carrear para o processo as provas em que o tribunal vai
basear a sua decisão, o ordenamento processual reage à má vontade
de uma parte quanto ao esclarecimento do tribunal com o aumento
das possibilidades de que ela não obtenha ganho de causa, num
princípio que se insere dentro da repartição do ónus da prova, típico
do processo civil.

Não porque neste caso ele tenha o ónus subjectivo de


demonstrar a ilegalidade do comportamento administrativo. Poderá
não o fazer e o tribunal chegar a essa conclusão pelos elementos que
obrigatoriamente lhe são fornecidos pela Administração fiscal. Mas,
no caso de o tribunal considerar necessários esclarecimentos
suplementares da sua parte para chegar a uma conclusão sobre factos
incertos, ele não poderá desonerar-se de tal esclarecimento invocando
o dever de investigação da Administração, a não ser que possa
demonstrar um interesse, digno de tutela jurídica, de recusar tal
cooperação ou de pretender confiná-la a determinados limites.

Princípio da celeridade processual


Tendo em conta a morosidade processual, o legislador
moçambicano não ficou refém de criar condições para que os
particulares obtenham uma justiça em tempo útil. Desta feita, a lei
prescreve o seguinte:

“O direito de recorrer contenciosamente implica o direito de obter,


em prazo a regulamentar, uma
IG Beira/Fevereiro/2017 76
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 77

decisão que aprecie, com força de caso julgado, a pretensão


regularmente deduzida em juízo e a possibilidade da sua execução”.

Veja-se que diferente do que está estipulado na lei de processo civil, o


legislador nessa lei tributária não deixou a expressão “prazo razoável”,
para evitar que tal prazo razoável ou útil seja a cargo do intérprete.

Sumário

Nesta Unidade temática estudamos os principais princípios do


contencioso tributário, mormente:

 O princípio de acesso aos tribunais com concordância prática


ao estabelecido na Constituição da República de Moçambique,
concretamente nos arts. 62, 69 e 70, pois, este princípio estão
intimamente ligados ao princípio da tutela jurisdicional
efectiva; De igual modo aprendemos o princípio da igualdade
dos meios processuais que resulta do princípio sacrossanto da
igualdade consagrada fundamentalmente no art. 35 da
Constituição da República de Moçambique;

 O princípio da legalidade que é resultado do plasmado no art.


100 da CRM que tem uma função essencial na estruturação das
normas básicas do direito fiscal, constituindo um verdadeiro
princípio comum a todos os ordenamentos jurídicos assentes
na limitação jurídica dos poderes do Estado à lei, e tem,
necessariamente, os seus reflexos nos princípios ordenadores
do contencioso tributário procedendo a uma distinção entre a
situação existente no processo civil.

 Sobre o princípio da celeridade processual estudamos que o


direito de recorrer contenciosamente implica o direito de
obter, em prazo a regulamentar, uma decisão que aprecie, com
força de caso julgado, a pretensão regularmente deduzida em
juízo e a possibilidade da sua execução;

 Já, o princípio da investigação é apanágio do vertido no nº 2 do


art. 175 da Lei nº 2/2006, de 22 de Dezembro que consagra
expressamente que o tribunal não está limitado às alegações e
provas acarreadas pelas partes. E, como tal, o nº 1 estabelece
que o tribunal deve realizar ou ordenar oficiosamente todas as
diligências que afigurem úteis para conhecer da verdade
relativamente aos factos
IG Beira/Fevereiro/2017 77
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 78

alegados ou de que oficiosamente pode conhecer. A


necessidade de ordenar a tramitação processual com vista à
determinação da verdade material vai ter, por este modo,
influência decisiva nos princípios ordenadores do contencioso
tributário, que não poderá reger-se pelo princípio do
dispositivo, como sucede no processo civil.

Exercícios de Auto-Avaliação

1. Pode resultar do princípio da verdade material, o sob princípio


da cooperação.
 Certo
 Errado
Resposta: Certo
2. O princípio da verdade material não está associado ao sob
princípio da livre apreciação da prova.
 Certo
 Errado
Resposta: Errado
3. O impulso processual no procedimento de revisão oficiosa cabe
ao sujeito passivo.
 Certo
 Errado
Resposta: Errado
4. A administração tributária pode proceder a revisão oficiosa,
sem necessidade da mediação judicial para repor a legalidade
violada?
 Sim
 Não
Resposta: Sim
5. O que o juiz pode fazer em caso de uma das partes não
cooperar com o tribunal?
Resposta: O juiz condena a parte em multa, nos termos do art.
519 nº 2, parte final, do Código do Processo Civil.

IG Beira/Fevereiro/2017 78
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 79

Exercícios

1. O que entende por princípio da legalidade no processo de


impugnação tributária?
2. Referira-se ao impulso processual no processo de impugnação.
3. Fale do ónus de impugnação.
4. Estabeleça a destrinça entre o princípio da cooperação e o da
verdade material.
5. O princípio do acesso aos tribunais permite que o sujeito
passivo possa atacar qualquer acto tributário, ainda que
preparatório. Concorda? Justifique-se.

IG Beira/Fevereiro/2017 79
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 80

UNIDADE Temática 1.2. Meios processuais

Introdução
Pretende-se nesta unidade temática que o estudante adquira conheça
os meios processuais e os tipos de processos que vigoram no
contencioso tributário. Para efeito, será importante conhecer o
processo desde a revisão oficiosa até ao processo de transgressão
instaurado pela administração tributária.

Meios de impugnação dos actos tributários

Isto significa que, ao completar esta unidade, você será capaz


de:
 Saber diferenciar o recurso contencioso com o recurso
Objectivos gracioso;
 Perceber a articulação entre o processo contencioso e o
gracioso;
 Conhecer as formalidades burocráticas prescritas na lei
para a marcha interna dos recursos;
 Conhecer os fundamentos do recurso contencioso;
 Conhecer o objecto de impugnação contenciosa
 Saber o que visa a impugnação judicial;
 Identificar os actos sujeitos a impugnação graciosa;
 Conhecer todos os vícios que fundamentam o objecto de
recurso contencioso;
 Conhecer a natureza jurídica do processo de impugnação
de acto tributário moçambicano.

1.2.1. Revisão oficiosa e reclamação do contribuinte

A revisão, reclamação e recurso contencioso encontram-se


consagradas nos arts. 134, 126 e 141, respectivamente da Lei nº
2/2006, de 22 de Março e constituem garantias do sujeito passivos da
obrigação tributária.

Para o autor Saldanha Sanches, estreitamente conexas com os


meios contenciosos pelos quais se
IG Beira/Fevereiro/2017 80
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 81

procura garantir os direitos subjectivos e os interesses legítimos dos


contribuintes estão a revisão oficiosa dos actos tributários feita a favor
do contribuinte e a reclamação ordinária ou extraordinária.

A diferença fundamental entre a revisão oficiosa de um acto


tributário feita oficiosamente por a Administração ter constatado que
foi liquidada a um determinado contribuinte uma quantia superior a
que de direito lhe cabia e a reclamação é que esta origina uma
alteração ou anulação de um acto tributário mediante um impulso
processual que cabe ao contribuinte, ao passo que a revisão é uma
medida de autocontrolo da Administração. Verificando que uma
liquidação carece de conteúdo legal e que isso vai lesar os direitos
subjectivos do contribuinte, a Administração encontra-se constituída
no dever de anular a liquidação, independentemente de qualquer
iniciativa deste.43

O dever de proceder à revisão do acto tributário decorre, tal


como sucede com os princípios fundamentais do processo fiscal, do
dever de imparcialidade e de estrita conformação com a lei que
dominam todo o processo fiscal. Mas se através do reexame desta ou
daquela liquidação pode a Administração constatar que violou direitos
dos contribuintes, a tendência normal será para a ausência de
reexame dos actos tributários, uma vez praticados; desde a
estabilidade que se procura obter para os pronunciamentos da
Administração3 até à tendência para a inércia que acompanha a
actividade burocrática, tudo se conjuga para tornar a revisão dos actos
tributários a excepção e não a regra.

Necessário se torna, portanto, criar outras formas, para além


da contenciosa, de assegurar o reexame dos factos tributários, sem a
inevitável morosidade do processo contencioso, ainda que sem a
garantia de preordenação em relação a uma certeza final que
caracteriza este.

Deveremos, portanto, estudar aquilo que a lei designa como


«processo gracioso», como contraposição a processo contencioso, a
especificidade própria dos institutos de reclamação ordinária e
extraordinária e também a articulação existente entre os processos
graciosos e contenciosos.

1.2.3. Recurso Contencioso

a) A articulação entre os processos graciosos e contenciosos

43
ANDRADE, José Robinde. A Revogação dos Actos Administrativos.
Coimbra. 1969.
IG Beira/Fevereiro/2017 81
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 82

Orientados teleologicamente pelo objectivo comum de tutelar


os direitos e os interesses legítimos dos administrados, garantindo a
distribuição dos encargos tributários nos estritos termos da lei, os
processos gracioso e contencioso encontram-se articulados entre si.

E a respeito desta articulação a primeira questão que se


levanta é a de saber se o pedido dirigido à Administração de anulação
de um dado acto tributário poderá ser feito simultaneamente com a
impugnação contenciosa desse mesmo acto.

Pois, face a essa questão, o art. 127 nº 2 da Lei nº 2/2006, de


22 de Março estabelece que “não pode ser deduzida reclamação
graciosa quando tiver sido apresentado recurso contencioso com o
mesmo fundamento”.

Pensa-se que o legislador moçambicano quis acautelar


decisões contraditórias, no sentido de que enquanto corre um recurso
gracioso poderia sobrevier uma decisão contenciosa com conteúdos
diferentes sobre o mesmo acto reclamado.

Para o autor em referência, coloca a questão da


admissibilidade para o administrado do uso dos dois meios de
assegurar a revisão da liquidação contrária à lei e do recurso
contencioso, para efeito procura saber r se os dois processos podem
ou não decorrer paralelamente e, se a resposta for positiva, quais as
consequências que resultam para o processo contencioso se da
reclamação do contribuinte resultar uma satisfação parcial da sua
pretensão, com modificação do acto tributário.

Como resposta prévia, entende que a tendência que se pode


encontrar para a solução deste problema, quer na doutrina quer na
jurisprudência, é a de que os dois processos não podem decorrer
paralelamente. Por isso, no caso de ser interposta impugnação judicial
depois de ter sido já utilizada a reclamação ordinária, no sentido de
obter a anulação do mesmo acto tributário, considerou um acórdão da
segunda instância que deveria decretar-se a suspensão da mesma até
a obtenção da decisão no processo iniciado com a reclamação. E, num
sentido paralelo, considerou já alguma doutrina que deveria ser
arquivado o processo de reclamação, no caso de ser utilizada já a
possibilidade do processo de impugnação.

Nenhuma destas duas posições nos parece, contudo, dever ser


acolhida. O uso da reclamação, tal como o da impugnação, para além
de não estar sujeita a qualquer prazo para que o administrado
obtenha uma decisão, não tem efeito suspensivo em relação ao
cumprimento da obrigação fiscal contestada: dominado o processo
fiscal pelo princípio do solve et repete, não dispõe o contribuinte de
qualquer meio para evitar o pagamento do imposto que considera
ilegal ou, em alternativa, a prestação de uma caução.

IG Beira/Fevereiro/2017 82
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 83

No caso concreto moçambicano, lembre-se o disposto no art.


129 ao consagrar que “a reclamação graciosa não tem efeito
suspensivo, salvo quando for prestada garantia adequada. É nesse
contexto que a privação de uso de algum dos meios porque o outro
está a correr seria inconstitucional na medida em que a Constituição
da República Moçambicana estabelece no art. 62 a garantia do acesso
aos tribunais e, no art. 69 estabelece que “o cidadão pode impugnar
os actos que violem os seus direitos estabelecidos na Constituição e
nas demais leis”.

b) Objecto de impugnação
Em concordância com os fundamentos anunciados anteriormente
quando falávamos sobre o objecto de recurso, a Lei nº 2/2006 refere-
se, no nº 2 os seguintes actos:

a) A liquidação de tributos;

b) A fixação dos valores patrimoniais;

c) A determinação da matéria tributável quando não dê lugar a


liquidação do tributo;

d) O indeferimento, expresso ou tácito e total ou parcial, de


reclamações, recursos ou pedidos de revisão da liquidação;

e) O agravamento à colecta resultante do indeferimento de


reclamação;

f) O indeferimento de pedidos de benefícios fiscais sempre que a


sua concessão esteja dependente do procedimento autónomo;

g) A fixação de taxas em quaisquer procedimentos de


licenciamento ou autorização;

h) A aplicação de juros, coimas, multas e sanções acessórias em


matéria fiscal e aduaneira;

i) Os actos praticados por entidades competente nos processos


de execução fiscal;

j) A apreensão de bens ou outras providências cautelares da


competência da administração tributária, incluindo a
aduaneira.

Como se referiu ao tratar-se do contencioso administrativo, a


impugnação judicial visa, precisamente atacar o acto tributário. Acto
tributário viciado de ilegalidade alguma, a necessitar de ser anulado.
Essa ilegalidade pode ser total ou parcial, e isto significa que o

IG Beira/Fevereiro/2017 83
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 84

processo de impugnação tributária tem como fundamento de


anulação, qualquer ilegalidade, incluindo a errónea quantificação da
matéria colectável ou ainda a errónea qualificação dos factos
tributários.

De forma clara, podemos agrupar os fundamentos do objecto


do processo de impugnação, entre outros:

1. Errónea qualificação e quantificação dos rendimentos, lucros,


valores patrimoniais e outros e outros factos tributários;

2. Incompetência;

3. Ausência ou vício da fundamentação legalmente exigida;

4. Preterição de outras formalidades.

A base legal que sustenta os fundamentos de impugnação é o


nº 2 do art. 127 da Lei nº 2/2006, de 22 de Março.

Errónea qualificação e quantificação dos rendimentos, lucros,


valores patrimoniais e outros factos tributários, segundo o autor
Helder Martins Leitão44, era matéria excluída da competência dos
tribunais tributários por se entender ser demasiado técnica, incapaz,
pois, de poder ser apreciada para além da própria Administração
Tributária.

Incompetência

É fundamento válido para a impugnação judicial, decorrente do


facto de regras de competência, quando violadas, ferirem razões de
interesse e ordem pública.

A ausência ou vício da fundamentação legalmente exigida

Seja, a violação das garantias dos contribuintes,


designadamente, a exigida fundamentação e notificação de todos os
actos praticados em matéria tributária que afectem os seus direitos e
interesses.

Preterição de outras formalidades legais

Reconduzindo-se, no dizer de Alfredo de Sousa e Silva Paixão,


ao vício de forma do acto tributário, existindo sempre que na

44
Ob cit.
IG Beira/Fevereiro/2017 84
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 85

formação ou na formulação da declaração de vontade que lhe subjaz,


foi preterida alguma formalidade essencial.

Como tal, presume-se formalidade essencial, toda aquela que é


exigida por lei, salvo disposição em contrária. Neste conceito cabem os
actos preparatórios e os temos do processo gracioso prescrito por lei.

Ainda na mesma senda, se devem considerar como não essencial:

 As formalidades preteridas ou irregularmente praticadas


quando, apesar da omissão ou irregularidades, se tenha
verificado o facto que elas se destinavam a preparar ou
alcançado o objectivo específico que mediante elas se visava
produzir;

 As formalidades meramente burocráticas prescritas na lei com


o único intuito de assegurar a boa marcha interna dos serviços.

1.2.4. Acção de impugnação ou recurso?


As acções de impugnação no recurso contencioso em matéria
fiscal encontram-se previstas no art. 177, nº 2, alínea a e b). a lei
moçambicana consagra, ao lado do recurso contencioso que significa a
impugnação de um acto tributário que é um acto administrativo
especial, as acções para o reconhecimento de direito ou interesse
legítimo em matéria tributária.

Para o autor que tem sido referência nessa matéria, a natureza


jurídica da acção de impugnação, que constitui a espécie mais
importante das acções existentes no contencioso tributário, tem sido
objecto de grande controvérsia na doutrina e na jurisprudência a
respeito das suas características fundamentais.

As questões principais que se colocam nessa matéria são de


saber, essencialmente se trata-se de um mero recurso concebido
legalmente como forma de modificar uma decisão já obtida? Trata-se
de uma acção em que se procura obter de um órgão jurisdicional a
modificação de uma decisão da autoridade administrativa?

Em resposta o autor considera que a primeira das posições,


que talvez pudesse encontrar algum fundamento no ordenamento
jurídico, vê no recurso contencioso um mero prolongamento da fase
graciosa do processo. Entendendo correctamente que a entidade
recorrida, vinculada como esta a defesa da legalidade e à obtenção do
interesse público, não constitui parte do processo, conclui de forma já
insustentável que esta se encontra na mesma posição de um juiz de
cuja sentença se recorre.

É a conclusão lógica da tese objectivista sobre o recurso


contencioso: a Administração cria
IG Beira/Fevereiro/2017 85
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 86

órgãos que, sendo seus, lhe concedem uma autotutela e enxerta um


prolongamento contencioso na fase graciosa do processo. Mas é
inteiramente incompatível com a visão de um conjunto de acções
definidas e estruturadas a partir de determinadas situações de direito
substantivo e que têm como objectivo conceder tutela judicial a
direitos ou interesses legítimos dos administrados.

Em oposição a esta tese, objecto de frequente controvérsia


apenas pela consequência secundária da diversa forma de contar os
prazos para impugnação, conforme se tratar de um recurso ou de uma
acção, vem a tese que considera a impugnação como uma acção ou,
mais rigorosamente, como uma das acções que se destinam a tutelar
os direitos do contribuinte.

Como já foi referido atrás, a legislação moçambicana


acompanha a evolução história dos tribunais administrativos e fiscais,
pelo que, ao lado de acções consideram mais importantes os recursos
através de processo de impugnação de acto tributário, conforme se
vislumbra da especificação das diversas acções consagradas no art.
177 da Lei nº 2/2006, de 22 de Março. Isso é mesmo que dizer que o
recurso contencioso porque visa a anulação ou declaração de nulidade
de acto tributário tem a natureza de acção constitutiva para efeitos do
processo civil, porque vão implicar uma mudança na ordem jurídica.
Ainda, para as acções de reconhecimento de um direito ou interesse
legítimo em matéria tributária, tem a natureza jurídica de acções
declarativas de simples apreciação porque o fim último é declarar a
existência ou não existência de um direito ou interesse legítimo.

A acção de impugnação como acção constitutiva


Depois de termos definido a natureza jurídica da impugnação
como uma acção, resta integrar esta dentro dos vários tipos de acções
que podemos encontrar.

Tendo a impugnação como objectivo a modificação ou


anulação de um acto administrativo, devemos considera-la como uma
acção constitutiva e não, como faz alguma doutrina, como uma acção
declarativa.

E isto porque é da natureza das relações jurídicas tributárias


que a produção de um determinado acto tributário pelo Estado,
precisamente por se integrar na actividade do Estado que podemos
designar como Administração-intromissão, vai afectar a esfera jurídica
dos particulares, o que só poderá ser alterado por sentença judicial
que proceda à anulação desse mesmo acto. A natureza constitutiva de
acção provém precisamente da necessidade de assegurar uma tutela
efectiva ao administrado, uma vez que a Administração tem a
possibilidade de praticar actos que vão afectar a sua esfera individual,
determinando a realização de
IG Beira/Fevereiro/2017 86
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 87

prestações suas, através de um acto que, em princípio, permanecera


na ordem jurídica se se não proceder a sua competente impugnação.

A acção de impugnação tem, pois, um papel central dentro do


contencioso tributário, do mesmo modo que a possibilidade de
recurso contencioso contra os actos administrativos definitivos
executórios desempenha um papel central dentro do contencioso
administrativo. Mas, ao lado deste conceito central de acção, onde,
segundo uma interpretação simplista, começam e acabam todas as
formas de tutela judicial dos direitos do contribuinte, outras situações
se podem encontrar, com um recorte mais nebuloso, onde a defesa
dos direitos e dos interesses legítimos dos contribuintes exige a
atribuição de outros meios processuais, ou seja, de diversos tipos de
acção, de modo a garantir a sua efectiva tutela.

A impugnação como acção de natureza constitutiva


verificamos, que esta tem sempre como pressuposto a existência de
um interesse em agir, o que atinge a sua expressão mais nítida sempre
que se verifica, por parte da Administração, a produção de um
determinado acto tributário considerado pelo contribuinte como
estando em desconformidades com a lei. A impugnação é, pois,
sublinhemo-lo, uma acção constitutiva, consequência directa do poder
de que dispõe o Estado, como Administração que pratica actos que
interferem directamente na esfera pessoal do administrado, com a
produção de efeitos que só podem ser removidos por um novo acto
administrativo, que procede a revogação do primeiro, ou por uma
sentença judicial que vem anular total ou parcialmente.

Mas a necessidade de um interesse em agir como pressuposto


da possibilidade de recurso à tutela judicial, que em si é um dado que
não merece discussão, levanta contudo a questão de saber se existirá
uma predeterminação legislativa deste interesse em agir, se através da
tipificação das situações a acção deve ou não ser admitida, ou se pelo
contrario é concedida ao tribunal a mais ampla latitude para verificar
se tal interesse existe ou não.

No sistema acolhido pelo ordenamento jurídico português e


copiado pelo ordenamento jurídico moçambicano que estabelece
prazos para agir nos arts. 141 da Lei nº 2/2006, de 22 de Março e
parágrafo 1º do Regulamento da Contribuições e Impostos, aprovado
pelo Diploma Legislativo nº 783, de 18 de Abril de 1942, e revelado a
partir das regras criadas para a caducidade do direito de impugnar,
com dois regimes distintos conforme se trate de cobrança eventual ou
virtual, parece dever concluir-se que só pode aceitar-se a existência de
um interesse em agir em dois casos que são objecto de previsão
normativa: quando se tiver verificado a produção de um acto

IG Beira/Fevereiro/2017 87
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 88

tributário e nos encontremos, por isso mesmo, na situação


tradicionalmente designada por cobrança virtual, ou quando, não se
tendo verificado a produção de um acto tributário, se verificou, dado
nos encontrarmos numa situação de autoliquidação, o cumprimento
da obrigação tributária por parte do contribuinte.

1.2.5. Providências Cautelares


As providências cautelares são meios que visam acautelar,
preventivamente, o efeito útil de uma decisão posterior. Como tal, os
requisitos principais são: perigo da demora que a acção principal possa
levar (perículumin mora), que constitui o prejuízo que a demora possa
causar; a mera probabilidade da existência desse direito (fumus bónus
iuris); e o procedimento seja o único meio para acautelar.

a) A cargo da Administração Tributária


Para a Administração Tributária a base legal a instauração da
providência cautelar é a existência de um meio processual que consta
da alínea e) do nº 2 do art 177 da Lei nº 2/2006, de 26 de Março.
Apesar de não existirem normas, na legislação tributária vigente em
Moçambique, que abordem a possibilidade de utilização ou recurso às
providências cautelares por parte da administração tributária, por
força das normas remissivas constantes do art. 40 do Diploma
legislativo nº 783, de 18 de Abril de 1942 e da alínea b) do nº 3 do art.
2 da Lei Do Ordenamento Jurídico Tributário Moçambicano, são
aplicáveis ao Contencioso fiscal, as normas sobre Providências
Cautelares constantes do Código de Processo Civil.

Tendo em conta que a principal garantia da administração


tributária para o cumprimento das obrigações tributárias é o
património do devedor, nos termos do art. 161, nº 1 da Lei do
Ordenamento Jurídico Tributário, ao analisarmos as providências
cautelares constantes do CPC, devemos dar especial relevo àquelas
relacionadas com o património, os seja as que incidem directamente
sobre o património.

Assim sendo, analisadas as Providências Cautelares constantes


daquele Código, nomeadamente nos arts. 388 e seguintes, concluímos
que são aplicáveis à administração tributária as seguintes:

a) Arresto

A providência cautelar de Arresto está prevista nos arts. 402 a


407 do CPC e “consiste numa apreensão judicial de bens, a qual são
aplicáveis as disposições relativas à
IG Beira/Fevereiro/2017 88
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 89

penhora, em tudo quanto não contrariar o preceituado neste capítulo”

As disposições relativas a penhora constam dos arts. 821 e


seguintes do CPC.

A remissão para os efeitos da penhora consiste em os bens


arrestados garantirem o cumprimento da obrigação, ainda que sejam
transmitidos, desde que o registo da transmissão seja posterior ao
registo do arresto. Isto quer dizer que os actos de disposição dos bens
podem ser praticados pelo proprietário após o registo do arresto.

Não obstante esta remissão para a penhora, os fins do arresto


e da penhora são diferentes, uma vez que a apreensão na penhora
visa a posterior venda para a satisfação da divida exequenda,
enquanto que o fim do arresto é a apreensão dos bens não para
efeitos de venda mas apenas como garantia do cumprimento por
parte do devedor. Contudo, nada obsta a que o arresto se converta
em penhora quando haja falta de pagamento voluntário do devedor.

Concretizando, para efeitos de contencioso fiscal: suponha-se


que determinado processo esteja em sede de tribunal fiscal, com o
objectivo de, por exemplo, aferir-se da exigibilidade ou não de
determinado imposto a um sujeito passivo, ou a aplicabilidade de
determinada multa, e a administração tributária tome conhecimento
de que o sujeito passivo pretende vender o seu património, e com
isso, impossibilitar, no momento posterior a prolação da sentença
eventualmente confirmatória da dívida tributária, a cobrança efectiva
dos crédito. A administração tributária, neste caso, pode requerer uma
providência cautelar ao tribunal, que impeça o sujeito passivo de
dispor dos seus bens/património que servem de garantia as dívidas
tributárias. Seria, neste caso, uma Providência Cautelas Conservatória,
na medida em que destinar-se-ia a conservar a titularidade dos bens
no sujeito passivo, devedor tributário, até a conclusão do processo.

Contudo, o CPC distingue duas formas de Arresto,


designadamente o Arresto Preventivo (art. 403) e o Arresto Repressivo
(art. 407). Como resulta da própria etimologia das palavras, o primeiro
visa prevenir a perda de determinada garantia patrimonial e o
segundo visa obviar a ofensa a propriedade industrial.

Assim, a administração poderia requerer o arresto preventivo


de bens do sujeito passivo, nos termos dos artigos 403º do Código de
Processo Civil, aplicável nos termos da norma remissiva do art. 40 do
Diploma Legislativo nº 783, de 18 de Abril de 1942, e do art. 78 e
seguintes do Código das Execuções Fiscais11. Deve recorrer ao arresto
preventivo porque pretende prevenir a perda da garantia patrimonial
sobre o seu crédito tributário, pois não está aqui em causa qualquer
direito de propriedade industrial.

É essencial para o requerimento desta providência cautelar que


o representante da fazenda
IG Beira/Fevereiro/2017 89
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 90

(administração tributária) demonstre que realmente existe o crédito


tributário ou que existe forte probabilidade de este vir a existir.

b) Arrolamento

A providência cautelar de Arrolamento está prevista nos


artigos 421º e seguintes do CPC e consiste em requerer a listagem de
bens móveis ou imóveis, ou documentos que estejam em risco de
extravio ou dissipação.

Consiste na descrição, avaliação ou depósito desses bens ou


documentos, por quem tenha interesse nessa conservação com vista a
assegurar a manutenção de direitos litigiosos no período em que
persistir a discussão da titularidade do direito.

Concretizando, no contencioso tributário, o representante da


Fazenda (administração tributária), pode requerer o arrolamento
quando haja fundando receio de extravio ou dissipação de bens ou
documentos relacionados com as obrigações fiscais. Tais documentos
podem ser declarações de rendimentos de anos anteriores, relatórios
de contabilidade ou quaisquer outros que sejam essenciais para a
administração tributária aferir da situação tributária de determinado
sujeito passivo.

Ao contrário do que sucede com o arresto, em relação ao arrolamento


não é necessário que já exista uma obrigação tributária definida, até
porque os referidos documentos podem ser essenciais para a fixação
da obrigação tributária.

c) Providências cautelares para sujeitos passivos


Relativamente a possibilidade de intentar Providências
Cautelares, por parte dos sujeitos passivos ocorre o oposto.

Na fase declarativa, este não terá a necessidade de recorrer as


providências cautelares na medida em que o recurso contencioso
suspende a execução, pela Administração, de actos que afectem os
direitos dos sujeitos passivos.

Não encontramos norma na Lei do ordenamento Jurídico


Tributário Moçambicano que atribua esse efeito ao recurso
contencioso, contudo, verificamos que sempre que determinado
recurso ou reclamação não tenho efeito suspensivo o legislador assim
o declara expressamente. Aliás, nem se justificaria que fosse diferente
na medida em que, existindo litígio sobre determinado acto praticado
pela administração tributária, que tenha originado uma divida
tributária, não seria razoável que se continuassem a praticar actos
tendentes a cobrança da referida
IG Beira/Fevereiro/2017 90
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 91

dívida antes que o tribunal se pronunciasse, através de sentença


(confirmatória ou anulatória) sobre a exigibilidade do referido crédito.

Contudo, na fase executiva o sujeito passivo já poderá recorrer


a providências cautelares sempre que os seus direitos estejam em
risco de serem gravemente violados.

A semelhança do que acontece com as providências cautelares


à favor da Administração, também não existe até ao momento, norma
jurídico-tributária Moçambicana que elenque as providência
cautelares as quais os sujeitos passivos podem recorrer para a garantia
dos seus direitos.

Assim sendo dever-se-á, aqui também, recorrer as normas


subsidiárias do Código de Processo Civil.

1.2.6. Processos de Transgressão

Elementos do tipo fiscal e os processos de transgressão


O processo de transgressão fiscal em Moçambique está
regulado pelo Diploma Legislativo nº 783, de 18 de Abril de 1942,
mormente no art. 8 e seguinte. Este Diploma Legislativo regula o
processo de transgressão fiscal, bem assim como o processo de
reclamação ou impugnação.

Para o autor Saldanha Sanches, o há questões que se podem


levantar sobre a realização ou verificação dos elementos factuais, pois,
o problema de se saber se se verificou ou não a previsão contida no
tipo legal, quer no aspecto material do tipo, com a verificação de um
facto que preenche as características da previsão legal, quer quanto ao
elemento pessoal do tipo, existência de uma conexão fiscalmente
relevante entre o facto-tipo e um determinado sujeito passivo da
obrigação tributária, constitui uma condição para que se possa
desencadear um processo de transgressão ou um processo de
execução.

Mas se este problema carece de qualquer relevo autónomo


nos casos em que os processos de execução ou transgressão foram
antecedidos por uma acção onde se discutiu a existência do facto
tributável e as suas conexões subjectivas, surge como problema
autónomo sempre que se verifica a existência de um processo de
transgressão ou de execução sem que tenha havido uma expressa
pronúncia judicial sobre a existência dos pressupostos legais para o
aparecimento da obrigação fiscal. E só poderá existir a violação dos
deveres de cooperação que consiste no motivo legalmente definido
para o desencadear do processo de transgressão ou pode uma dívida
fiscal ser sujeita a um processo de
IG Beira/Fevereiro/2017 91
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 92

execução se se tiver verificado o preenchimento da previsão legal.

Mas decorre daqui que a acção judicial, com uma controvérsia


centrada sobre a verificação desses pressupostos, deverá
obrigatoriamente anteceder os processos de transgressão ou de
execução?

E aqui se coloca de novo uma das habituais dicotomias entre


justiça, por um lado, e realização atempada dos fins do Estado quanto
a cobrança dos impostos, por outro. Considerando apenas o problema
da justiça e da segurança dos contribuintes, seria defensável uma
acção judicial sobre a existência dos pressupostos da tributação, como
condição prévia ao processo de transgressão e de execução. Mas
considerando a necessidade de não permitir o uso abusivo de meios
litigiosos com o fim único de atrasar e colocar entraves à cobrança de
créditos fiscais, tende-se a encontrar sistemas que de forma mais ou
menos feliz, com garantia ou sem garantia dos direitos e interesses
legítimos dos contribuintes, procurem conciliar a necessidade de
evitar as condenações ou execuções injustas com os princípios da
economia processual. O que vai necessariamente implicar uma
redução das possibilidades atribuídas ao demandante para discutir a
existência dos pressupostos - ou do facto tributável se englobarmos
neste conceito a questão de uma existência de conexão entre uma
dada situação fáctica e um determinado sujeito passivo - em relação
às possibilidades que lhe são atribuídas aquando da acção de
impugnação. Uma diminuição ligeira no processo de transgressão e
outra de maior vulto no processo de execução.

É o que iremos ver a seguir, sempre com a preocupação de


verificar se as restrições da lei processual aos direitos e interesses
legítimos dos contribuintes vão atingir o conteúdo essencial destes
direitos ou se existe, pelo contrário, um «critério de
proporcionalidade» na distribuição dos custos do conflito.

Relação entre o processo de transgressão e liquidação no processo


É importante procurar saber como se relacionam os processos
de transgressão fiscal com o processo administrativo de liquidação que
por outras palavras se pode chamar de procedimento administrativo.

A questão aqui é que pode correr um processo de transgressão


que constitui uma infracção fiscal e em paralelo o processo de
cobrança de dívida liquidada, pois, o art. 189 da Lei nº 2/2006, de 22
de Março estabelece que o cumprimento das sanções aplicadas, em
caso algum exonera o condenado do pagamento da prestação
tributária em dívida e dos respectivos juros.

Para Saldanha Sanches uma outra estrutura para a relação


entre o processo de transgressão e o
IG Beira/Fevereiro/2017 92
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 93

processo de impugnação, temos aqueles em que o exercício da acção


penal por parte da Administração vai ser feito simultaneamente com o
processo de liquidação do imposto e em que por isso processo
administrativo de liquidação e processo judicial de transgressão se
encontram amalgamados, com uma liquidação «da multa e do
imposto» feita inicialmente pelo chefe da repartição de finanças e
confirmada, anulada ou modificada pelo pronunciamento judicial.

Este processo, na configuração que ainda conserva, reflecte


uma insuficiente distinção entre tribunais e Administração, entre
actividade da Administração para determinar o quantitativo do
imposto e ou a sua existência e julgamento pelos tribunais da
conformidade entre esta actividade administrativa e a lei. As garantias
essenciais do contribuinte são asseguradas pela intervenção judicial no
processo, mas nele deverá ter lugar a liquidação, pelo chefe da
repartição de finanças.

Do ponto de vista das concepções processuais contidas na


tramitação, recorta-se com nitidez uma ausência de separação entre
funções administrativas e funções jurisdicionais, uma situação de
autorité contentieuse. Ao chefe da repartição de finanças já não cabe o
julgamento do processo em primeira instância, mas, da mesma forma
que retém a posição de juiz auxiliar nas várias formas do processo,
mantém nesta forma peculiar do processo de transgressão a
possibilidade de um pronunciamento inicial, dentro do processo, sobre
o quantitativo do imposto e da multa.

E sublinhe-se que, em relação ao imposto, não se trata da


normal decisão administrativa que o interessado poderá impugnar
através do processo de impugnação. A decisão encontra-se inserida no
processo de transgressão e por isso verifica-se uma coincidência entre
a contestação do processo de transgressão e a impugnação da decisão
administrativa, que aparece configurada em decisão judicial: caso se
não verifique o pagamento voluntário que assinala, como afirmamos
acima, a aquiescência do contribuinte em relação a decisão
administrativa, o processo passará para a alçada judicial, cabendo aos
tribunais, nas várias instâncias decisórias, confirmar, alterar ou anular
a decisão administrativa.

E por esta forma, por ausência de separação entre a função


administrativa e judicial, vem também o processo de transgressão
assumir o conteúdo de um contencioso de plena jurisdição: o tribunal
não se vai limitar, de forma ainda mais nítida do que sucede no
processo de impugnação, a funcionar como um contencioso de pura
anulação, destinado a fazer desaparecer os actos viciados por um
qualquer tipo de ilegalidade, reconstituindo a posição existente no
caso de o acto não ter sido praticado. Essa anulação é apenas uma das
três possíveis consequências deste tipo de processo, juntamente com

IG Beira/Fevereiro/2017 93
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 94

modificação ou manutenção da decisão.

A decisão judicial tem pois a sua primeira forma, ao menos


como proposta de decisão, numa decisão administrativa: e essa
decisão administrativa, no caso de subsistir, vai aparecer transformada
e reabsorvida por uma decisão judicial.

Sumário
Nesta Unidade temática aprendemos que:
 A revisão, reclamação e recurso contencioso encontram-se
consagradas nos arts. 134, 126 e 141, respectivamente da Lei
nº 2/2006, de 22 de Março e constituem garantias do sujeito
passivos da obrigação tributária.

 Para o autor Saldanha Sanches, estreitamente conexas com os


meios contenciosos pelos quais se procura garantir os direitos
subjectivos e os interesses legítimos dos contribuintes estão a
revisão oficiosa dos actos tributários feita a favor do
contribuinte e a reclamação ordinária ou extraordinária.

 A diferença fundamental entre a revisão oficiosa de um acto


tributário feita oficiosamente por a Administração ter
constatado que foi liquidada a um determinado contribuinte
uma quantia superior a que de direito lhe cabia e a reclamação
é que esta origina uma alteração ou anulação de um acto
tributário mediante um impulso processual que cabe ao
contribuinte, ao passo que a revisão é uma medida de
autocontrolo da Administração. Verificando que uma
liquidação carece de conteúdo legal e que isso vai lesar os
direitos subjectivos do contribuinte, a Administração encontra-
se constituída no dever de anular a liquidação,
independentemente de qualquer iniciativa deste.

 Sobre a relação entre o recurso contencioso e a reclamação


graciosa é preciso perceber que a privação de uso de algum
dos meios porque o outro está a correr seria inconstitucional
na medida em que a Constituição da República Moçambicana
estabelece no art. 62 a garantia do acesso aos tribunais e, no
art. 69 estabelece que “o cidadão pode impugnar os actos que
violem os seus direitos estabelecidos na Constituição e nas
demais leis.

 Os fundamentos do objecto de processo de impugnação


resumidamente são: errónea qualificação e quantificação dos
rendimentos, lucros, valores patrimoniais e outros e outros
factos tributários; Incompetência; Ausência ou vício da
fundamentação legalmente exigida; Preterição de outras
formalidades. E, para o efeito,
IG Beira/Fevereiro/2017 94
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 95

a base legal que sustenta os fundamentos de impugnação é o


nº 2 do art. 127 da Lei nº 2/2006, de 22 de Março.

 A impugnação, como meio de tutela jurisdicional, tendo como


objectivo a modificação ou anulação de um acto
administrativo, devemos considera-la como uma acção
constitutiva e não, como faz alguma doutrina, como uma acção
declarativa.

 As providências cautelares são meios que visam acautelar,


preventivamente, o efeito útil de uma decisão posterior. Como
tal, os requisitos principais são: perigo da demora que a acção
principal possa levar (perículumin mora), que constitui o
prejuízo que a demora possa causar; a mera probabilidade da
existência desse direito (fumus bónus iuris); e o procedimento
seja o único meio para acautelar.

 O processo de transgressão fiscal em Moçambique está


regulado pelo Diploma Legislativo nº 783, de 18 de Abril de
1942, mormente no art. 8 e seguinte. Este Diploma Legislativo
regula o processo de transgressão fiscal, bem assim como o
processo de reclamação ou impugnação

Exercícios de Auto-Avaliação
1. Qual é a diferença entre a revisão oficiosa e reclamação?
Resposta: é que a reclamação origina uma alteração ou anulação de
um acto tributário mediante um impulso processual que cabe ao
contribuinte ao passo que a revisão é uma medida de autocontrolo da
administração.
2. Os actos de liquidação de tributo podem ser objecto de
impugnação contenciosa.
 Certo

 Errado

Resposta: Certo

3. A incompetência não pode ser fundamento do objecto de


impugnação contenciosa.
 Certo
 Errado
Resposta: Errado
4. Não há nenhuma formalidade legal pode ser fundamento do
objecto do recurso contencioso?

IG Beira/Fevereiro/2017 95
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 96

 Certo
 Errado
Resposta: Errado
5. O diploma legal que regula o processo de transgressão em
Moçambique é o Diploma Legislativo nº 783, de 18 de Abril de
1942
 Certo
 Errado
Resposta: Certo
6. Quais são os requisitos para a instauração de providência cautelar?
Resposta: Perigo da demora que a acção principal possa levar; O
prejuízo irreparável que a demora possa causar; o procedimento
seja o único meio para acautelar.

Exercícios
1. A natureza jurídica do processo de impugnação de actos
tributário é de acções constitutivas para efeitos do Processo
Civil.
 Certo
 Errado
2. As formalidades meramente burocráticas prescritas na lei com
o único intuito de assegurar a boa marcha interna dos serviços,
não devem ser tidas como essencial para fundamento do
recurso contencioso.
 Certo
 Errado

3. “A errónea qualificação ou quantificação dos rendimentos era


matéria excluída da competência dos tribunais” (Hélder
Martins). Comente!
4. O que visa a impugnação judicial de acto tributário?
5. O sujeito passivo pode recorrer a providência cautelar de
arresto preventivo para segurar o seu crédito junto da
administração tributária.
 Certo

 Errado

IG Beira/Fevereiro/2017 96
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UNIDADE Temática 1.3. Exercícios do Tema

Introdução
Pretende-se nesta unidade temática que o estudante saiba resolver os
exercícios do tema anterior para que se sinta basicamente preparada
para o tema a seguir desta.
Ao completar esta unidade, você será capaz de:

Conhecer os meios processuais existentes no contencioso


tributário moçambicano;
Objectivos Dominar as matérias de meios processuais e os princípios que
conduzem o processo contencioso tributário;
Ter competências para resolver qualquer questão que se
coloque sobre o processo de transgressão, providências
cautelares.

Exercícios
1. O que entende sobre o princípio da cooperação?
2. O processo de impugnação tributária tem natureza constitutiva
ou declarativa?
3. A quem cabe impulso processual nos casos de transgressão
fiscal?
4. Quais são as providências cautelares a disposição da
administração tributária?
5. Pode correr o processo judicial por transgressão em paralelo
com o processo de cobrança de dívida?
6. A condenação do transgressor por infracção fiscal pode
exonerá-lo do pagamento da prestação tributária? Justifique
com base legal.
7. Como se articulam os processos contencioso e gracioso?
8. Distinga o princípio da legalidade e investigação?
9. A ausência ou vício da fundamentação legalmente exigida pode
ser fundamento de objecto de recurso?
10. Qual é o objecto de impugnação contenciosa?

IG Beira/Fevereiro/2017 97
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TEMA – II: TRIBUNAIS FISCAIS


UNIDADE Temática 2.1. Organizaçao e Tramitação Processual
UNIDADE Temática 2.1. Exercícios

UNIDADE Temática 2.2. Organização e Tramitação


Processual

Introdução
Pretende-se nesta unidade temática que o estudante adquira
conhecimentos sobre a organização e funcionamento dos tribunais
fiscais como órgão da jurisdição administrativa, bem assim como a
tramitação processual, desde o processo de transgressão até ao
processo de execução.

Com isso, ao completar esta unidade, você será capaz de,


fundamentalmente:

 Saber toda a tramitação processual nos processos submetidos


aos tribunais fiscais;
Objectivos  Conhecer as competências dos tribunais fiscais em matéria
tributária;
 Conhecer e dominar os títulos executivos que sustende a
execução fiscal;
 Conhecer a organização e o enquadramento dos tribunais
fiscais na organização judiciária administrativa;
 Conhecer as competências do juízo das execuções fiscais;
 Diferenciar os actos de que não podem ser realizados pelo juízo
das execuções e o tribunal.

2.1.1. Enquadramento dos tribunais fiscais na jurisdição


administrativa (organização judiciária)

A Constituição da República de Moçambique estabelece no n°


1 do artigo 228 que o Tribunal
IG Beira/Fevereiro/2017 98
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 99

Administrativo é o órgão superior da hierarquia dos tribunais


administrativos, fiscais e aduaneiros o que significa enquadrar os
tribunais fiscais dentro da hierarquia do Tribunal Administrativo.
Consubstanciam o mesmo entendimento o facto do artigo 10 da Lei n°
2/2004 de 21 de Janeiro referir que “das decisões de primeira
instância dos tribunais de jurisdição fiscal cabe recurso em segunda
instância e última para a Segunda Secção e para o Plenário do Tribunal
Administrativo,…”. Neste sentido, pode ver-se de forma clara no
organigrama abaixo.

TRIBUNAL ADMINISTRATIVO

TRIBUNAIS TRIBUNAIS FISCAIS TRIBUNAIS ADUANEIROS


ADMINISTRATIVOS
PROVINCIAIS

Conforme pode se notar com facilidade, os tribunais fiscais


estão ao mesmo nível com os tribunais administrativos provinciais e
aduaneiros, sendo todos tribunais de primeira instância e com
competência previstas na lei, entre outras, em razão da matéria,
conhecer:

“a) Dos processos relativos a infracções jurídico-fiscais de qualquer


natureza;

b) Dos actos de liquidação de receitas fiscais;

c) Dos actos de fixação dos valores patrimoniais, bem como dos actos
de matéria colectável susceptíveis de impugnação jurisdicional
autónoma;

d) Dos actos praticados por entidade competente nos processos de


execução fiscal;

e) Da impugnação de decisões relativas à aplicação de multas e


sanções acessórias em matéria fiscal;

f) Das acções destinadas a obter o reconhecimento de direitos ou


interesses legalmente protegidos em matéria fiscal;

g) Dos incidentes, embargos de terceiro, verificação e graduação de


créditos, anulação de venda, oposições e impugnações de actos

IG Beira/Fevereiro/2017 99
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 100

lesivos, e ainda quanto a todas as questões relativas à legitimidade dos


responsáveis subsidiários suscitados;

h) Do pedido de produção antecipada de prova em processo pendente


ou a instaurar cm tribunal fiscal;

i) Dos pedidos de providências cautelares para garantia de créditos


fiscais;

j) Do pedido de execução das suas decisões; (sublinhado nosso)

k) Do pedido de intimação de qualquer autoridade fiscal para facultar


a consulta de documentos ou processos, passar certidões e prestar
informações; e

l) Das demais matérias que lhe sejam deferidas por lei.”

Essas e outras competências dos tribunais fiscais estão


previstas no art. 23 da Lei n° 2/2004, de 21 de Janeiro.

Para melhor conhecer o contencioso tributário é importante


saber o que é um acto jurídico tributário e o que o contencioso visa.
Desta feita, acto tributário é, segundo o autor Helder Martins Leitão45,
acto de aplicação de uma norma tributária material, isto é, de uma
norma que prevê e regula a obrigação de imposto especificamente
considerada, por um órgão da Administração.

2.1.2. Organização e Funcionamento


Dos livros do cartório
Tendo atenção ao disposto na legislação que regula os livros
obrigatórios para o devido funcionamento de um tribunal46 e outros
não obrigatórios que em particular o Tribunal Fiscal usa para a melhor
organização de expediente e o devido funcionamento.

Nesse sentido, são os seguintes livros essenciais para o melhor


funcionamento do tribunal fiscal:

 Livro de Registo de correspondência

 Livro Porta

 Livro de Distribuição

 Livro de Vistas

 Livro de Contas

45
LEITÃO, Helder Martins. O Processo de Impugnação Tributária. 3ª Edição.
Almedina.
46
Segundo o disposto no n° 2 do artigo 26 do Decreto n° 352/72, de 9 de Setembro.
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ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 101

 Livro de Mandados

 Livro de Emaçados

 Livro de Sentença

 Livro de Controlo Bancário

 Livro de recursos

2.1.3. Tramitação Processual

Distribuição dos processos e marcha processual


Os processos fiscais, nos tribunais fiscais, começam com a
distribuição feita pelo juiz presidente na qualidade de distribuidor,
coadjuvado por um escrivão.

Antes da distribuição os papéis são registados no livro de


correspondência, e o escrivão chefe faz uma informação proposta para
que os papéis sejam distribuídos, propondo a data de distribuição que
será, nos termos do art. 214 do Código de Processo Civil feita às
segunda ou quinta feiras pelas 12 horas. Contudo, há situações em
que não é necessário a distribuição, nos casos em que uma secção
tenha mais processos que a outra, para tal, aloca-se imediatamente a
secção que tiver menos processo.

Sobre os papéis a serem distribuídos, os mesmos devem vir


acompanhados de:

i. Requerimento do representante da Fazenda da área fiscal,


onde consta o pedido (petição inicial)

ii. Auto de transgressão e auto de notícias;

iii. Mandato de notificação que é um dos comprovativos que


confirma que o sujeito passivo foi notificado;

iv. Prova da transgressão cometida que é o modelo com carimbo


inscrito fora de prazo se for o caso ou outro documento
relevante.

Nota: todos os papéis acima referidos devem ser apresentados


em tantos duplicados, conforme resulta do art. 152 do CPC.

Depois da distribuição o processo é autuado, sendo colocado a


capa onde vai constar o número de processo, o juiz a quem o processo
foi distribuído. Deve conter ainda, a assinatura de Escrivã que autua o
processo.

IG Beira/Fevereiro/2017 101
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 102

Em caso de alguma anomalia nos autos que vem da


administração faz-se constar na apresentação e exame.

Os actos a serem praticados pelo cartório após a distribuição


dos papéis que depois de autuação formam um processo terminam
com o termo de conclusão que significa a remessa para o Juiz produzir
qualquer despacho.

No mesmo sentido, a sentença é notificado ao transgressor,


representante da fazenda e o Ministério Público.

A parte que pretender recorrer deve fazer um requerimento a


pedir que seja admitido o recurso, conforme o estabelecido no artigo
18 do Regulamento Contencioso das Contribuições e Impostos,
aprovado pelo Diploma Legislativo n° 783, de Abril de 1942, e este
recurso é protocolado no livro de recurso que fará constar o número
de processo e a data de subida, bem como do seu regime.

Não tendo sido submetido o recurso e passado o prazo para o


processo transitar em julgado vai a conta em que é feito por um
contador.

Na folha de conta tem o espaço para a vista do Ministério


Público que aprecia a conta para e promove o que achar necessário,
mas isto depois do despacho de juiz que remete aquele órgão.

Depois disso, o processo estará em condições para que o


sujeito passivo seja notificado para o pagamento das custas. O
transgressor terá 10 dias para pagar as custas e depois o processo é
concluso ao juiz para mandar ao Ministério Público e depois o
arquivamento.

Depois da promoção de arquivamento do processo por


Ministério Público o processo é registado no livro de emaçados para o
controlo do local onde o processo vai ser arquivado, isso depois dos
três meses, passado esse período o processo é arquivado depois de
feito o registo no livro de emaçados

2.1.4. Processo de Execução Fiscal


A autotutela dos direitos do Estado
O processo de execução fiscal é regido pelos arts. 179, 156 e
seguintes da Lei nº 2/2006, de 22 de Março e o Código de Execuções
Fiscais que estabelece no art. 37 a 40, os títulos executivos. Como tal,
numa situação paralela ao processo de transgressão encontra-se o
processo de execução fiscal com a possibilidade atribuída ao Estado de
reagir inexecutivis, sem necessidade de prévia sentença judicial, para

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ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 103

proceder ao pagamento das suas dívidas.


Quer aquelas dívidas que resultam directamente da aplicação
das leis fiscais, quer aqueles casos muito numerosos em que há uma
obrigação parafiscal para com o Estado (dívidas à segurança social por
exemplo), ou mesmo pela simples prática de actos de gestão privada
de empresas públicas, como é o caso de dívidas resultantes do
incumprimento em relações creditícias que têm por sujeito activo a
Caixa Geral de Depósitos.
Os problemas colocados por este excessivo alargamento do
conceito de execuções fiscais, ao pôr no mesmo nível dívidas
resultantes dos poderes soberanos do Estado e dívidas que têm a sua
origem na Administração indirecta, sob formas de direito privado, são
vários.
Mas limitando-nos a questão central da execução como um
exercício de autotutela executiva por parte do Estado, na medida em
que a execução não e precedida de uma acção declarativa onde se
discuta a existência da dívida fiscal, coloca-se a questão de saber se é
admitida a discussão sobre a existência da dívida no próprio processo
de execução ou, caso o seja, qual a latitude concedida a esta
possibilidade de discussão.

Casos de ilegalidade em abstracto da dívida executada

As questões que se colocam em matéria de ilegalidade da


dívida executada é, segundo o autor, de saber em que ponto de
situação se pode sair quando estamos diante de ilegalidade “em
abstracto” e ilegalidade “em concreto” das liquidações em causa.

Para o efeito, de acordo com esta distinção, que representa


uma adaptação da doutrina do “erro manifesto” as execuções fiscais,
não é admitida como fundamento da oposição qualquer “discussão da
legalidade da dívida exequenda”, como se diz quando se prevê como
fundamento da oposição aqueles que possam provar-se apenas “por
documento”, como seria nomeadamente o caso da apresentação da
quitação que confirma o pagamento da dívida.

Em todo, estes casos a apreciação dos fundamentos invocados


poderá ser feita sem se entrar na questão da legalidade da liquidação,
cuja discussão só pode ter lugar no processo de impugnação.

Não é esta porém a situação, como foi decidido em


jurisprudência recente, nos casos em que na oposição se ponha em
causa a constitucionalidade da lei onde se fundamenta a existência de
uma determinada dívida para com o Estado. Também nestes casos,
entendeu correctamente o STA que nos encontramos perante uma
ilegalidade em abstracto, uma vez que a discussão sobre a
constitucionalidade de uma norma se
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ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 104

mantém fora da zona vedada pela lei processual de apreciação do


modo como se procedeu à liquidação.

O título executivo fiscal: natureza e problemas


Tal como noutros domínios do direito fiscal formal ou material,
transpôs-se para o processo de execução fiscal um conceito extraído
do direito civil, o título executivo, para permitir distinguir os casos em
que estão preenchidas todas as condições para que o Estado possa
reagir inexecutivis e aqueles em que ainda o não pode fazer.

Mas ao contrário do que se passa com o direito privado, onde


se trata de distinguir entre os casos em que é essencial uma acção
declarativa e aqueles onde existe um título que só por si pode permitir
a execução, veio-se a dar a dignidade de título executivo, não a
algumas situações excepcionais, como sucede no direito civil, mas sim
ao resultado normal, típico da actividade de liquidação dos impostos.

Partindo do clássico postulado de que o Estado, por dispor de


imperium, pode afectar directamente nos casos em que a lei lhe dá
poderes para isso a esfera jurídico dos administrados, deu-se a
categoria de título executivo ao resultado normal do procedimento
administrativo de liquidação. Por isso dispõe o art. 38 do Código das
Execuções Fiscais que, para efeitos de cobrança coerciva, os
conhecimentos e outros títulos de cobrança das contribuições e
impostos, taxas e de outros rendimentos do Estado são equiparados e
valem como sentença passada em julgado nos termos da legislação em
vigor.

Podemos assim inferir desta disposição a fluidez tipológica do


conceito. Título executivo será, pois, tudo aquilo a que a lei chame
título executivo, como sucede cada vez mais frequentemente com a
legislação avulsa que vai sendo publicada atribuindo aos tribunais
fiscais competência para processos de execução movidos por
inúmeras entidades públicas.

E esta tentativa de assegurar a fácil cobrança dos créditos do


Estado através da concessão de privilégios ligados ao processo de
execução fiscal poderá levar a situações de forte insegurança jurídica
sempre que se dê a categoria de títulos executivos, ou seja, a que
atribui fundamento a uma execução com dispensa de debate judicial
prévio sobre a existência ou não existência da dívida, ao que passa a
ser não o resultado da actividade pública de liquidação dos impostos
mas o produto da actividade empresarial ou quase empresarial de
uma empresa pública.

E isto porque o procedimento de liquidação tributária é dotado


de alguns mínimos para assegurar a defesa dos direitos dos

IG Beira/Fevereiro/2017 104
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 105

contribuintes e um grau razoável de segurança jurídica.

Porque de duas uma: ou a execução se vai basear numa


liquidação que assenta no cumprimento por parte do contribuinte dos
seus normais deveres de cooperação, declaração de rendimentos, por
exemplo, e nesse caso a dívida fiscal em causa formou-se a partir dos
elementos fornecidos pelo administrado, que não só tem consciência
da sua existência como de certo modo contribuiu para a sua formação,
ou nos encontramos num caso de liquidação oficiosa.

Ou num daqueles casos, hoje excepcionais, em que cabe à


Administração quase toda a actividade de liquidação do imposto,
recebendo o contribuinte o aviso para pagamento, ou naqueles em
que a liquidação oficiosa resulta da violação de deveres de cooperação
por parte do contribuinte. Em qualquer destes casos a dívida surge
geralmente no decorrer de um processo em que há alguma
participação do contribuinte, momentos em que lhe facultam a
impugnação das decisões da Administração, formas de o alertar para a
necessidade de reacção.

O mesmo se não passa em casos em que a dívida se forma


numa actividade que escapa ao seu controlo e verificação, o que
poderia permitir em flagrante violação de princípios fundamentais da
legalidade fiscal, que tem de se estender ao processo de execução
fiscal como forma de limitar juridicamente os privilégios que esta
concede ao Estado. Parece-nos pois inaceitável o alargamento do
conceito de título executivo a situações deste tipo.

Contudo, como é de lei que essas situações também têm a


força de sentença passada em julgado, não há como questionar a
validade da norma que estende os títulos executivos para efeitos de
execução fiscal.

Marcha do processo e o papel do juízo das execuções fiscais


Para alguns autores o Processo de Execução Fiscal inicia com a
instauração da execução, pelos serviços da Administração tributária,
designadamente as Direcções de Áreas Fiscais (DAFs).

- Instaurar o processo de execução –“ trata-se de um acto de natureza


administrativa (simples “operação material”) – (...) – que vai
despoletar toda a tramitação subsequente em que o processo se vai
materializar, e mais não é do que a remessa do título executivo ao
órgão de execução”.

O papel do Juízo das Execuções Fiscais inicia logo após esta


instauração e consiste em:

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ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 106

- Mandar Citar o Executado;

- Remeter o Processo ao Tribunal em caso de oposição;

- Autorizar eventuais pedidos de pagamento em prestações e dação


em cumprimento;

- Ordenar a penhora dos bens do executado;

- Convocar credores do executado;

- Vender os bens penhorados para satisfação da dívida tributária.

Em suma, o Juízo das execuções Fiscais realiza todos os actos


do Processo de Execução, que não tenham natureza estritamente
jurisdicional.

O processo fiscal termina com a prolação de sentença que em


caso de incumprimento de voluntário intervém o juízo privativo das
execuções fiscais para efeito de execução de sentenças.

Sumário

Nesta Unidade temática aprendemos que:


 A Constituição da República de Moçambique estabelece no n°
1 do artigo 228 que o Tribunal Administrativo é o órgão
superior da hierarquia dos tribunais administrativos, fiscais e
aduaneiros o que significa enquadrar os tribunais fiscais dentro
da hierarquia do Tribunal Administrativo.

 Os tribunais fiscais estão ao mesmo nível com os tribunais


administrativos provinciais e aduaneiros, sendo todos tribunais
de primeira instância e com competência previstas na lei. Essas
e outras competências dos tribunais fiscais estão previstas no
art. 23 da Lei n° 2/2004, de 21 de Janeiro.

 Tendo atenção ao disposto na legislação que regula os livros


obrigatórios para o devido funcionamento de um tribunal e
outros não obrigatórios que em particular o Tribunal Fiscal usa
para a melhor organização de expediente e o devido
funcionamento.

 Os processos fiscais, nos tribunais fiscais, começam com a


distribuição feita pelo juiz presidente na qualidade de
distribuidor, coadjuvado por um escrivão.

 Antes da distribuição os papéis são registados no livro de


correspondência, e o escrivão chefe faz uma informação
proposta para que os papéis sejam distribuídos, propondo a

IG Beira/Fevereiro/2017 106
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 107

data de distribuição que será, nos termos do art. 214 do Código


de Processo Civil feita às segunda ou quinta feiras pelas 12
horas. Contudo, há situações em que não é necessário a
distribuição, nos casos em que uma secção tenha mais
processos que a outra, para tal, aloca-se imediatamente a
secção que tiver menos processo.

 O processo de execução fiscal é regido pelos arts. 179, 156 e


seguintes da Lei nº 2/2006, de 22 de Março e o Código de
Execuções Fiscais que estabelece no art. 37 a 40, os títulos
executivos. Como tal, numa situação paralela ao processo de
transgressão encontra-se o processo de execução fiscal com a
possibilidade atribuída ao Estado de reagir inexecutivis, sem
necessidade de prévia sentença judicial, para proceder ao
pagamento das suas dívidas.

 Título executivo para efeito de execução fiscal será, pois, tudo


aquilo a que a lei chame título executivo, como sucede cada
vez mais frequentemente com a legislação avulsa que vai
sendo publicada atribuindo aos tribunais fiscais competência
para processos de execução movidos por inúmeras entidades
públicas.

 O processo de Execução Fiscal inicia com a instauração da


execução, pelos serviços da Administração tributária,
designadamente as Direcções de Áreas Fiscais (DAFs).

 O papel do Juízo das Execuções Fiscais inicia logo após esta


instauração e consiste em: Mandar Citar o Executado; Remeter
o Processo ao Tribunal em caso de oposição; Autorizar
eventuais pedidos de pagamento em prestações e dação em
cumprimento; Ordenar a penhora dos bens do executado;
Convocar credores do executado; Vender os bens penhorados
para satisfação da dívida tributária.

 Isso é mesmo que dizer que o Juízo das execuções Fiscais


realiza todos os actos do Processo de Execução, que não
tenham natureza estritamente jurisdicional.

 O processo fiscal termina com a prolação de sentença que em


caso de incumprimento de voluntário intervém o juízo
privativo das execuções fiscais para efeito de execução de
sentenças.

Exercícios de Auto-Avaliação

1. A Segunda Secção do Tribunal Administrativo é competente


para apreciar dos recursos provindos dos tribunais fiscais.
 Certo
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ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 108

 Errado
Resposta: Certo.
2. A Lei que fixa as competências, funcionamento e a composição
dos tribunais é:
a) Lei nº 2/2006, de 22 de Março
b) Lei nº 2/2004, de 21 de Janeiro
Resposta: b)
3. Porque é que a execução fiscal é auto tutelada?
Resposta: Porque a execução fiscal não é precedida de uma
acção declarativa onde se discute a existência da dívida fiscal.
4. Convocar credores do executado não é papel do juízo das
execuções fiscais.
 Certo
 Errado
Resposta: Errado
5. O juízo das execuções fiscais pode realizar todos os actos,
incluindo os jurisdicionais.
 Certo
 Errado
Resposta: Errado

Exercícios

1. Quais são os actos de execução que o juízo fiscal pode realizar?


2. O juízo pode realizar todos os actos?
3. Enuncie três competências dos tribunais fiscais.
4. Para onde cabe recurso das decisões dos tribunais fiscais?
5. O que é um título executivo para efeitos de execução fiscal?

IG Beira/Fevereiro/2017 108
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 109

UNIDADE Temática 1.3. Exercícios do Tema

Introdução
Pretende-se nesta unidade temática que o estudante saiba resolver os
exercícios do tema com vista a consolidar todos os conhecimentos
adquiridos.
Ao completar esta unidade, você será capaz de:

Conhecer o funcionamento e a organização dos tribunais fiscais;


Ter competências para resolver qualquer questão que se coloque
Objectivos sobre o processo de execução fiscal;
Saber identificar os actos que o juízo das execuções fiscais pode
realizar.

Exercícios
1. Qual é o Diploma legal que regula o processo de execução
fiscal?
2. Porquê o processo de execução fiscal é auto tutelado?
3. Pode o sujeito passivo dirigir-se ao juízo das execuções fiscais
instaurar uma acção executiva contra a administração
tributária?
4. Quais são os actos de execução que o juízo fiscal não pode
realizar?
5. O juízo pode realizar todos os actos?
6. Enumere três actos a serem realizados pelo juízo no processo
de execução fiscal.
6. A Segunda Secção do Tribunal Administrativo é competente
para apreciar dos recursos provindos dos tribunais fiscais.
 Certo
 Errado
Resposta: Certo.
7. A Lei que fixa as competências, funcionamento e a composição
dos tribunais é a Lei nº 2/2001, de 22 de Março.
 Certo

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ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 110

 Errado
8. Porque é que a execução fiscal é auto tutelada?
9. Não convocar os credores do executado não é papel do juízo
das execuções fiscais.
 Certo
 Errado
10. Qual é a relação existente entre a Segunda Secção e os
tribunais fiscais?

IG Beira/Fevereiro/2017 110
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 111

Exercícios do Módulo

1. Em que momento da história de Moçambique se pode falar do


contencioso administrativo?
2. Na sua análise, que tipos de actos eram passíveis de recurso
contencioso na Constituição de 1990?
3. Pode-se falar do recurso contencioso sem a existência de um
Tribunal Administrativo?
4. Indique a primeira lei a regular sobre o funcionamento e as
competências do tribunal administrativo?
5. A luz da Constituição da República de Moçambique de 2004 se
pode impugnar um acto não definitivo e executório?
6. Uma das atribuições do Tribunal Administrativo é o controlo da
legitimidade dos actos administrativos. De que forma?
7. Qual é a jurisdição dos tribunais administrativos provinciais?
8. Qual é a diferencia entre o Tribunal Administrativo
representado por letras maiúsculas e o tribunal administrativo
representado por iniciais minúsculas no ordenamento jurídico
moçambicano?

9. Qual é a actual Lei Orgânica dos Tribunais Administrativos


moçambicanos?
10. Os tribunais administrativos provinciais tem competência para
conhecer dos pedidos de suspensão de eficácia dos actos
administrativos de quaisquer autoridades locais?
11. O Tribunal Administrativo e os tribunais administrativos
provinciais podem conhecer os recursos dos actos praticados
pelas empresas concessionárias?
12. Os tribunais fiscais e aduaneiros fazem parte da jurisdição
administrativa? De que forma?
13. A Constituição da República de Moçambique de 2004 não
condiciona a definitividade do acto para efeitos do recurso
contencioso. Comenta!
14. Os pressupostos processuais são a condição para que o
particular consiga satisfazer o seu interesse em demandar.
Comente a afirmação!
15. Qual é o primeiro pressuposto processual a verificar na

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ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 112

interposição de recurso contencioso ou fiscal?


16. É correcto afirmar que tem legitimidade para interpor recurso
contencioso os que se consideram titulares de direitos
subjectivos ou interesses legalmente protegidos que tivessem
sido lesados pelo acto recorrido, quando tenham interesse
directo, pessoal e legítimo na interposição do recurso?
17. Qual é o prazo estabelecido por lei para se interpor um recurso
contencioso dos actos nulos?
18. A administração tributária pode proceder a revisão oficiosa,
sem necessidade da mediação judicial para repor a legalidade
violada?
19. O que o juiz pode fazer em caso de uma das partes não
cooperar com o tribunal?
20. O princípio do acesso aos tribunais permite que o sujeito
passivo possa atacar qualquer acto tributário, ainda que
preparatório. Concorda? Justifique-se.
21. Qual é a diferença entre a revisão oficiosa e reclamação?
22. Quais são os actos tributários podem ser objecto de
impugnação contenciosa?
23. “A errónea qualificação ou quantificação dos rendimentos era
matéria excluída da competência dos tribunais” (Hélder
Martins). Comente!
24. O processo de impugnação tributária tem natureza constitutiva
ou declarativa? Justifique-se.
25. Quais são as providências cautelares a disposição da
administração tributária?
26. ?
27. Quais são os actos de execução que o juízo fiscal não pode
realizá-los?
28. Para onde cabe recurso das decisões dos tribunais fiscais?
29. Pode o sujeito passivo dirigir-se ao juízo das execuções fiscais
instaurar uma acção executiva contra a administração
tributária?
30. Porque é que a execução fiscal é auto tutelada?
31. Qual é a relação existente entre a Segunda Secção e os
tribunais fiscais?

IG Beira/Fevereiro/2017 112
ISCED CURSO: Direito; Disciplina: Contencioso Administrativo e Tributário 113

Bibliografia Recomendada

AMARAL, Diogo Freitas do. Direito Administrativo. Vol. IV. Lisboa.


1988.

AMARAL, Diogo Freitas. Curso de Direito Administrativo. Vol. II. 5ª


Reimpressão. Almedina. 2001.

AMARAL, Freitas do AMARAL e ALMEIDA, Aroso de. Grandes Linhas da


Reforma do Contencioso Administrativo. Coimbra. 2002.

ANDRADE, José Robinde. A Revogação dos Actos Administrativos.


Coimbra. 1969

ANDRADE, José Vieira de. A Justiça Administrativa (Lições). 10ª Edição.


Almedina. 2009.

ANDRADE, José Carlos Vieira de. A Justiça Administrativa (lições). 3ª


Edição. Almedina. 2000.

__________________________. A Justiça Administrativa. 2ª Edição.


Almedina. Coimbra. 1999.

ANTUNES, Colaço. “Brevíssimas notas sobre a fixação de uma summa


gravaminis no processo administrativo”. in Revista da F.D.U.P., n.º 1,
2004

CAUPERS, João. Introdução ao Direito Administrativo. 11ª Edição.


Âncora Editora. 2013.

CHAMBULE, Alfredo. As Garantias dos Particulares. Imprensa


Universitária. Universidade Eduardo Mondlane. Maputo. 2002.

CAETANO, Marcelo. Manual de Direito Administrativo. Vol. II.


Almedina. Coimbra. 1991.

CISTAC, Gilles. O Direito Administrativo em Moçambique. Workshop on


administrative law. Hotel Cardoso, Mozambique. April 2009.

____________. História do direito processual administrativo


contencioso moçambicano.

CHUVA, António et al. Estudos de Direito Constitucional Moçambicano


– Contributos para Reflexão. CFJJ. 2012.

GOVEIA, Jorge Bacelar. Reflexão sobre a próxima revisão da


Constituição moçambicana de 1999.

LEITÃO, Helder Martins. O Processo de

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Impugnação Tributária. 3ª Edição. Almedina.

SILVA, Vasco Pereira da. Para um Contencioso Administrativo dos


Particulares. esboço de uma Teoria Subjectivista do Recurso de
Anulação. Coimbra: Almedina. 1989.

SOUSA, Marcelo Rebelo de. Lições de Direito Administrativo. Vol. I.


Lisboa. 1995.

TAVARES, José. Administração Pública e Direito Administrativo, para


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Wladimir. Lições de Direito Processual Administrativo. 2ª Edição.


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http://www.fd.ulisboa.pt/wp-content/uploads/2014/12/Cistac-Gilles-
HISTORIA-DO-DIREITO-PROCESSUAL-ADMINISTRATIVO-
CONTENCIOSO-MOCAMBICANO.pdf

IG Beira/Fevereiro/2017 114

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