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Reino em Ruínas
オーバーロード Ilustrado por so-bin
Aviso Legal:
A tradução de OVERLORD — para inglês e português — é feita e revisada de fã para fã,
não monetizem em cima da obra e não compactuem com quem o faz. Se quiserem e pu-
derem contribuir com o autor, comprem o livro ou ebook (japonês, inglês ou português)
em sua livraria de preferência.
Sobre:
A obra faz uso de muitos anglicismos, ainda mais por se basear em RPGS, então há mui-
tos termos em inglês e tentei preservar vários desses aspectos em alguns termos, nomes
de armas, itens, raças e coisas do tipo.
Claro, algumas coisas precisam ser adaptadas, outras é preciso generalizar. Dito isto,
àqueles que são adeptos do Dia do Saci em vez do Halloween podem não gostar. Estejam
avisados.
Créditos:
CRÉDITOS PT-BR:
ainzooalgown-br.blogspot.com
CRÉDITOS EN-US:
Hitori (não há links para sua persona)
REFERÊNCIA DE NOMES:
overlordmaruyama.wikia.com
Atenção: Se baixou este arquivo de outro link que não o oficial do blog. Ou se tem muito
tempo que baixou e deixou guardado, que tal dar uma conferida no blog? Talvez esta seja
uma versão desatualizada :)
Interlúdio................................................................................................................................................ 207
Capítulo 03: O Último Rei ........................................................................................................ 213
Parte 1 ..................................................................................................................................................................................................................214
Parte 2 ..................................................................................................................................................................................................................224
Parte 3 ..................................................................................................................................................................................................................242
Autor:
Maruyama Kugane
Ilustrador:
so-bin
Prólogo
o Andar mais inferior de Nazarick, quarto de Ainz.
Obviamente, Ainz havia dado um escritório particular a Albedo. Ela recebeu um dos
quartos vazios reservados primariamente para os membros da guilda, o qual original-
mente ela usaria como quarto e escritório. No entanto, um dia, ela não pôde mais resistir
aos seus sentimentos por Ainz. Ela queria trabalhar na mesma sala de quem a governara.
Olhando para o assento vago no ambiente, Albedo abaixou a cabeça e fez beicinho. Atrás
dela estava a empregada designada para o dia — não a designada para acompanhá-lo —,
que permaneceu em silêncio. Por isso, a expressão rara de Albedo ficou completamente
imperceptível. Seu primeiro e único mestre estava atualmente cuidando de seus deveres
e, portanto, estava ausente da Grande Tumba de Nazarick. Ele estava cuidando de negó-
cios rotineiros na cidade de E-Rantel.
Se ela tivesse a permissão de seu mestre, teria punido severamente os idiotas que, ao
marcar uma reunião, ousaram usurpar o tempo que ela deveria passar com ele.
Claro, ela sabia que esse pedido nunca seria aprovado. Como tal, ela reprimiu com força
o sonho de transformar E-Rantel em um mar de chamas, mas seus esforços foram em
vão. A insatisfação em seu coração cresceu e conseguiu ferver para se manifestar como
queixas.
Suspiros cheios de terror podiam ser ouvidos do teto, mas foram intencionalmente ig-
norados por Albedo. Ela ainda não havia esquecido a vez em que haviam arruinado
aquela chance de ouro, por isso, tinha certeza de que eles mereciam ter mais medo dela
que o normal. Ainda assim, por algum motivo, ela já havia perdoado Mare por seu envol-
vimento no incidente. Para regular suas emoções, Albedo suspirou profundamente. Ela
gentilmente rodeou os ombros algumas vezes antes de se virar para olhar os documen-
tos restantes.
Prólogo
6
Em relação à diplomacia:
Por trás das cortinas das interações cordiais que tiveram com vários outros países, as
trombetas que sinalizavam o início de uma guerra de espionagem já haviam sido soadas.
E-Rantel não sofreu muitos incidentes causados por tensões raciais. Não que fosse algo
para se ter tanto orgulho, mas, em comparação com outros países, seus números eram
surpreendentemente baixos.
Se um crime ocorria em uma cidade tão pacífica, essa se tornava uma questão de ex-
trema importância para Albedo. De acordo com a Lei de Heinrich, um acidente grave
indica a presença de 29 acidentes leves que, por sua vez, podem indicar mais de 300
anomalias. Diante disso, o que precisa ser feito é responder a toda e qualquer esquisitice,
por menor que seja.
Em conjunção a isso, a caneta que segurava na outra mão se moveu em um ritmo frené-
tico, anotando as informações que achou interessantes em uma folha de papel branco.
O que normalmente exigiria um intenso escrutínio dos registros por funcionários reu-
nidos em todos os cantos de uma nação, Albedo estava fazendo por conta própria: ana-
lisar, avaliar, processar. Para fazer isso, seria necessário um entendimento íntimo dos
assuntos internos, conhecer os assuntos como a palma da mão, bem como um nível de-
sumano de lucidez.
Sua caneta parou de se mover assim que ela terminou de ler o relatório e começou o
processo de transcrição das palavras-chave que anotara. Afinal, era algo que seu mestre
estava prestes a ler, uma letra ilegível seria absolutamente inaceitável. Depois de passar
mais tempo transcrevendo os detalhes, propostas e outros documentos mais importan-
tes do que ela havia lido, finalmente estava pronto.
Esta foi a quinta pasta concluída hoje. Uma expressão um pouco preocupada pôde ser
vista em seu rosto, no mínimo, a situação que se encontrava não era a ideal.
O Reino Feiticeiro, por de meios diretos e indiretos, expandiu enormemente seu terri-
tório, causando-lhes problemas sem fim. Comparado com antes, o número de documen-
tos que requeriam a atenção de seu mestre havia aumentado bastante. Um líder sendo
forçado a ler montanhas de documentos denotavam graves falhas na organização.
Como originalmente pretendido, seu superior só teria que ditar uma direção ou obje-
tivo geral para os subordinados trabalharem. Assim sendo, seu único trabalho seria sen-
tar-se no trono e observar o árduo trabalho de suas criações.
O fato de a realidade não corresponder às expectativas não foi culpa de seu mestre.
Aqueles que poderiam corresponder às suas expectativas eram poucos e isolados, em
outras palavras, aqueles com pouco talento. Como nomeada para gerenciar os assuntos
internos e os recursos humanos de Nazarick, Albedo não pôde deixar de sentir vergonha
de si mesma. Embora ela tivesse tomado medidas de precaução, o futuro permanece in-
certo.
Incomodar meu mestre por essas trivialidades seria absolutamente ridículo, mas... políti-
cas de unidade racial, planos para julgar leis nacionais, políticas econômicas e muito mais
devem ser determinados por ele... Se eu fizer todo o progresso nas tarefas atribuídas aos
Prólogo
8
Guardiões de Andar, acabaria desagradando a todos porque eles não poderão ver o Mo-
monga-sama, não é...?
No momento, seu mestre lhe deu livre arbítrio sobre o reino e todos os assuntos, por
mais importantes ou insignificantes que fossem. Ela também foi informada que, se fosse
algo que ela aprovasse, então estaria tudo bem. Ainda assim, para evitar complicações
desnecessárias, seria melhor deixar a palavra final de aprovação final para seu mestre.
Afinal, até Albedo comete erros.
Houve um momento em que ela estava prestes a enviar uma escória idiota e sua família
à prisão congelada por uma afronta ao seu mestre (pelo menos na opinião dela) e per-
guntou se a condenação deveria ser por indignidade ou idiotice. Para sua grande sur-
presa, seu mestre se opôs ao castigo.
Hmm... Albedo fez beicinho. Era realmente uma expressão rara vindo dela, era algo que
só acontecia momentaneamente quando seu mestre não estava lá.
Não tardou muito e seu sorriso retornou quando ela pegou mais uma pasta. Enquanto
lia, sua mente ficou preocupada com outra coisa. Entre todos os Guardiões de Andar,
havia um para quem ela deveria permanecer atenta — Demiurge.
Quando as operações contra o Reino Sacro chegaram ao fim, Demiurge ficou bem ocu-
pado viajando por toda parte para estabelecer uma agência de inteligência com Nazarick
em seu núcleo. Para Albedo, dita agência pode se mostrar problemática. Segundo ela,
seria melhor se ela mesma, a Supervisora Guardiã, a dirigisse, mas não era improvável
que a posição recém-criada fosse dada a Demiurge. Essa seria uma situação problemá-
tica.
Se possível, ela adoraria ter essa autoridade, pois seria fácil de manipular a agência.
Se eu não conseguir o cargo, o único candidato elegível com chances de ganhar seria o
Pandora’s Actor. Será muito difícil combater toda a autoridade que o Demiurge tem...
Se isso acontecer, não será impossível que ele descubra as verdadeiras intenções de
Albedo.
Se for o caso, será um grande motivo de preocupação. Provavelmente é melhor não fazer
nada precipitado por enquanto.
Sua irmã mais velha podia ser uma escolha decente, mas não era uma aliada em que
Albedo pudesse confiar incondicionalmente. Pois se ela descobrir as verdadeiras inten-
ções de Albedo, é perfeitamente possível que se tornassem inimigas.
Não, a mão de obra não era a única coisa que faltava. Havia também a questão dos fun-
dos que a própria Albedo poderia gastar livremente. Nesse caso, o plano de seu mestre
de expandir as operações fora de Nazarick havia funcionado a seu favor.
A nova Guilda dos Aventureiros pode ser minha... tem as ações do Mare... a necessidade de
estar em alerta com a Aura... subordinados do Cocytus... inteligência do Victim... o valor da
rede de transporte da Shalltear... acumular fundo secreto da Guilda Mercantil... mão de
obra... e também o Demiurge e ainda aquela menina, huh...
Não vai funcionar. Eu devo permanecer cautelosa com o Demiurge. A chegada daquela
menina pode ser algo muito perigoso. Se eu não for cautelosa, ela pode se tornar uma opo-
nente da qual eu terei que ter muito cuidado, mais ainda do que com o Demiurge…
Ela completou outra tarefa enquanto refletia sobre todos os tipos de estratégias e pegou
a próxima pasta.
Albedo olhou para a capa intitulada “Em relação aos problemas enfrentados pela equipe
de apoio ao gerenciamento de grãos do Reino Sacro”.
Aparentemente, era o primeiro caso. Albedo não conseguia se lembrar de nada relativo
a isso.
Será que aconteceu alguma coisa? Albedo piscou algumas vezes enquanto lia, seus olhos
se abrindo em círculos suaves. Ela leu novamente desde o início e, depois de confirmar
que o conteúdo não continha metáforas ou falsidades, sua boca se abriu levemente, como
se estivesse atordoada.
“Hã?”
Seu rosto comumente incorruptível parecia mais perplexo do que qualquer outra coisa,
como se ela fosse incapaz de compreender o que havia lido.
Prólogo
1 0
Albedo, uma das principais mentes de Nazarick, tinha uma expressão raramente vista
por outros, um testemunho da gravidade da situação. Apesar disso, a mente lúcida de
Albedo ainda computava a possibilidade causal do problema apresentado.
É muito mais provável que aquela garota tenha nos traído, mas ela aceitou uma oferta
melhor de outra organização? Se bem me lembro, aquela oferta deveria ser impossível de
superar. Não, ainda é cedo demais para afirmar algo. Falta de inteligência novamente, huh.
Ela examinou os outros dois relatórios, confirmou que não eram tão importantes e disse
à empregada que estava atrás dela:
“Preciso realizar uma reunião de emergência. Irei ao Sétimo Andar primeiro para dis-
cutir assuntos com o Demiurge. Se alguém vier me procurar, diga-lhe que estou ausente
no momento.”
Ela ativou o Anel de Ainz Ooal Gown no dedo anelar esquerdo, assim que terminou de
ditar suas ordens.
Como Supervisora Guardiã, ela tinha que manter em mente onde todos os Guardiões de
Andar estavam o tempo todo.
Demiurge acabara de terminar seu trabalho no Reino Sacro. Para preparar planos efi-
cazes contra a Aliança Cidade-Estado, a Teocracia Slane e Conselho Estadual, ele deveria
ter retornado à sua residência no 7º Andar.
Se Demiurge não estivesse lá, ela teria que encontrar Entoma e pedir para que ela
usasse 「Message」 ou pedir que sua irmã mais velha investigasse o paradeiro dele.
♦♦♦
Situava-se o castelo Ro-Lente, o qual abrigava o Palácio de Valência, dentro do qual ha-
via um escritório.
O rosto de Zanac ficou sombrio quando ele olhou para os documentos recebidos, um
suspiro pesado escapou de sua boca. Certamente ninguém conseguia manter uma ex-
pressão alegre depois de ler esses documentos; seu conteúdo detalhava o estado atual
do Reino.
Durante a Batalha das Planícies Katze, embora fosse mais preciso chamá-la de massacre,
grande parte dos soldados do Reino morreram. Mesmo assim, não foi como se o dano
infligido ao Reino tivesse sido letal. Sua população estava em cerca de nove milhões e,
dessa parcela, 180.000 morreram, uma mera perda de 2%. Além disso, uma infinidade
desse montante era de segundos ou os terceiros filhos de fazendeiros, então era pratica-
mente uma perda de “homens livres”. Em outros casos, eles haviam perdido aprendizes
com quase nenhuma experiência. Sendo assim, embora soasse cruel se dito em voz alta,
nada de valor foi perdido com a morte deles.
Entretanto, eles haviam perdido 4% de sua população masculina, aqueles que eram jo-
vens e fortes. O impacto negativo dessa perda foi se tornando gradualmente aparente e
tudo isso estava claramente descrito no documento.
Zanac soltou um grunhido quando colocou o documento sobre a mesa, sua visão mudou
o foco para a outra pessoa no recinto.
Ao ouvir a pergunta, sua irmã — Renner Theiere Chardelon Ryle Vaiself, que estava
sentada mais afastada em uma poltrona chaise lounge — sorriu ao erguer a cabeça. Ren-
ner olhava um conjunto diferente de documentos e tinha um sorriso de preocupação em
seu rosto.
Zanac não se incomodou em explicar, apenas pegou os documentos que havia juntado
e os espalhou. Renner levantou-se, caminhou em direção a Zanac e pegou os documentos
dele.
“...Isto?”
“Bem... não há nada que possamos fazer sobre isso, não acha?”
Prólogo
1 2
“Minha nossa...”
Se sua irmã, que era muito mais brilhante que ele, disse isso, então realmente não havia
nada que eles pudessem fazer. No entanto, como membros da família real, não podiam
simplesmente desistir de algo assim tão facilmente.
“Esse assunto é tão problemático assim? Embora a força de nossa nação tenha diminu-
ído temporariamente, no fim é apenas isso, é algo temporário. Não creio que seja sério o
suficiente para justificar que façamos algo a respeito.”
Devido aos confrontos repetidos que tiveram com o Império, sua inaptidão de armaze-
nar grãos suficientes continuou até os dias atuais. E justamente nessas condições que
tiveram de ceder E-Rantel, a região crucial na produção de grãos, que estava diretamente
sob o domínio do rei, ao Reino Feiticeiro. E juntamente com a perda de vidas no campo
de batalha, isso também significava que perderam um pedaço considerável de sua força
de trabalho.
Talvez mais efeitos colaterais ainda não tivessem sido notados por enquanto, mas, a
médio e curto prazo, era altamente provável que a queda na produção de grãos levasse
o preço a subir rapidamente até o ponto em que os pobres não poderiam mais pagar.
Não, era seguro dizer que isso definitivamente aconteceria.
“Nossa, faz tanto sentido. Diga, irmã, se for tão sério quanto pensa, como lidaremos caso
ocorra uma seca ou uma onda de frio, digo, se isso causar uma falha na colheita?”
“Os druidas de alto nível parecem ter a capacidade de controlar o clima, então acredito
que teremos pelo menos uma maneira de lidar com problemas relacionados ao excesso
de sol. Considerando que só precisaríamos contratar aventureiros para isso, seria algo
altamente econômico. Ainda assim, se esses aventureiros druidas de alto nível existem
ou não, é algo que precisamos descobrir o mais rápido possível. Se isso tivesse aconte-
cido no passado, seria possível contar com aventureiros do Império em casos de emer-
gência, mas agora que o Império se tornou estado vassalo do Reino Feiticeiro, creio que
será muito difícil.”
“Ah, entendo, então vamos lidar com as secas dessa maneira. E sobre uma onda de frio
repentina, irmã?”
“Também seria algo que os druidas teriam que trabalhar com afinco.”
Como Renner disse, druidas de alto nível eram capazes de lançar magias para criar
chuva temporária, e assim sanando o problema de uma seca. No entanto, ele se lembrou
de Marquês Raeven, seu confidente, ele havia dito que a magia druídica era impotente
contra ondas de frio.
Para lidar com uma onda de frio, o clima deve ser mantido estável durante toda a esta-
ção. Para esse fim, um druida de alto nível precisaria ser atribuído a cada vilarejo. Era
algo que simplesmente não era realista, pois para começo de conversa, druidas de alto
nível eram raros.
Esse nível de conhecimento em magia não fazia parte da educação convencional, por
isso não era ensinado nem em famílias nobres. Esse fato também se aplicava à realeza.
A única razão pela qual o Príncipe Zanac tinha conhecimento sobre os druidas fôra por-
que ele procurou ativamente essas informações.
A culpa disso provavelmente incidia no fato de que os magic casters não tinham ne-
nhum status no Reino. Se fosse como o Império, onde existia alguém tão famoso quanto
o Tríade Magic Caster, poderia ter sido uma história completamente diferente. No en-
tanto, a ignorância do Reino em relação à magia e o anseio por uma cavalaria forte e
valente já haviam se enraizado profundamente em sua cultura. Sendo assim, um magic
caster capaz de mudar o status quo nunca apareceu.
Como resultado, nobres que acreditavam que no campo de batalha a “magia é covardia”,
transmitiram essa noção para as gerações subsequentes. A ignorância sobre magia se
transformou em desdém, e um ciclo vicioso nasceu.
Para Zanac, a magia era uma arte com um poder incrível. Mas como as pessoas se dis-
tanciaram dela devido às antigas e chatas tradições, um dia isso levaria o Reino a perder
incondicionalmente a luta pelo poder com seus países vizinhos, semelhante à morte por
asfixia. Zanac, portanto, considerou contratar um professor com conhecimentos em ma-
gia para seus futuros filhos. Alguns nobres devem seguir o exemplo assim que descobrirem
que a realeza está sendo educada nesse campo, certo?
Ou melhor, mesmo se não fizesse algo assim, a vinda do Rei Feiticeiro, alguém que
brande uma poderosa magia, causou uma mudança de paradigma na mente dos cidadãos
do Reino, independentemente de ser nobre ou não. Talvez a época em que todo mundo
gostaria de aprender sobre magia finalmente tivesse chegado.
Embora fosse decepcionante que o gatilho para a mudança fosse uma fonte externa, no
final, acabou por ser algo benéfico para o Reino, então era algo para serem gratos.
Prólogo
1 4
Considerando o estado atual do Reino, era natural que Renner não soubesse. Até um
gênio chegaria à resposta errada em território desconhecido. Confiar cegamente em sua
irmã pode ser muito perigoso.
Por outro lado, Renner não tinha motivos para mentir sobre um detalhe tão ínfimo.
Provavelmente era apenas uma manifestação rara de seu lado humano; em outras pala-
vras, ela está sendo uma tola.
Era nítido que Renner não tinha interesse no trono, seu objetivo parecia pequeno para
Zanac. Melhor dizendo, seu objetivo se tornaria inatingível se ela subisse ao trono.
Mesmo que ela esteja conspirando contra ele, isso não a beneficiaria diretamente.
“—Irmãzinha, é difícil lidar com uma onda de frio, mesmo usando magia druídica.”
“É sério? Se for como diz, é uma pena então. Ah! Mas o problema é sobre grãos, não é?
Temos como conseguir muitos suprimentos, então não há com o que se preocupar. São
excelentes notícias, Onii-sama.”
“Por grãos, você quis dizer aquilo? Eu não gostaria de tocar nesse assunto... tem certeza
que as pessoas não se tornarão undeads ao comer demais daquilo?”
Se alguém fizesse a pergunta “o Reino tem grãos excedentes?”, A resposta seria afirma-
tiva: um suprimento generoso está nos armazéns de alguns comerciantes. Mas não se
deve fazer planos fundamentados no referido grão, pois tecnicamente não pertencem ao
Reino.
O Reino Feiticeiro, governado pelo temível Rei Feiticeiro, arrendou esses armazéns dos
comerciantes do Reino e os usou para alocar seus grãos. Tal coisa nunca havia ocorrido
em toda a história do Reino.
A riqueza do Reino Re-Estize não estava fluindo para o Reino Feiticeiro no momento,
mas, sendo franco, isso não prejudicava o Reino. A situação atual fez parecer que estava
“O Reino Sacro está consumindo o mesmo grão, então o grão deve ser inofensivo, não
acha?”
“Nem tanto, talvez eles queiram que pensássemos assim, logo, apenas os grãos da capi-
tal podem estar contaminados, não?"
Com relação ao uso dos armazéns na capital, a declaração oficial do Reino Feiticeiro foi
que era para armazenar grãos que seriam usados como ajuda alimentar ao Reino Sacro.
Aparentemente, foram feitos planos para transportar os grãos para o Reino Sacro a par-
tir desses armazéns.
Em relação à logística. Devido à falta de proteção para as caravanas, caso fossem ataca-
das por bandidos ou monstros, a responsabilidade por isso recairia sobre o Reino Feiti-
ceiro. Contratar mercenários seria a solução óbvia, mas o Reino Feiticeiro propôs sim-
plesmente instalar uma bandeira e isso tornaria extraordinariamente óbvio a qual país
pertenciam, aparentemente funcionava muito bem como uma forma de autodefesa. O
Reino, desejando evitar conflitos desnecessários, concordou com as propostas do Reino
Feiticeiro sob as condições de que seus undeads estavam proibidos de entrar nas fron-
teiras do Reino e que um imposto pela circulação de mercadoria seria obrigatório. Mas
agora, olhando para o passado, aceitar isso fôra sem dúvida uma decisão errônea.
O pior foi que, como estavam fazendo isso em nome da ajuda humanitária, era pratica-
mente impossível para o Reino recusar.
Prólogo
1 6
O Arquidemônio que outrora virou a capital do Reino de cabeça para baixo — aquele
que por fim acabou sendo derrotado pelo Rei Feiticeiro —, Jaldabaoth, havia liderado
um exército de demi-humanos para atacar o Reino Sacro. A região norte estava dividida
em pedaços e quase não era reconhecível. Comparado ao dano sofrido pelo Reino, o
Reino Sacro sofreu um destino pior. Pelo menos de acordo com o que Zanac ouvira.
Embora a metade norte do Reino Sacro tenha sido quase completamente destruída, sua
metade sul estava praticamente intacta.
Depois que a Rainha Sagrada fôra assassinada e o novo rei subiu ao trono, a morte dos
nobres no norte causou inquietação geral por todo território e os nobres ao sul começa-
ram a brigar internamente, além de outros incidentes similares que causaram um
grande problema para o Reino Sacro.
Os conflitos simultâneos fizeram com que as duas metades do Reino Sacro lutassem em
prol de poder e interesses pessoais.
O resultado foi o atraso da ajuda para o povo do norte, alguns nem sequer conseguiram
adquirir alimentos de modo seguro.
Em tempos tão difíceis, eles não tinham tempo para escrúpulos ou agonizar de onde
vinha a comida, mesmo que viesse de um rei de undeads.
“Se fôssemos nós a fornecer ajuda alimentar, a boa vontade que o Rei Feiticeiro está
recebendo seria sem dúvida toda nossa. Mas... estamos de mãos atadas nessas condições.”
Mas não foi o que aconteceu. Depois de receber notícias da coroação do novo rei, o di-
plomata enviado pelo Reino fôra recebido com indiferença, segundo relatos posteriores.
Não era uma guerra fria causada por políticas nacionais que antagonizavam os países
vizinhos. Até porque, a relação entre os dois países jamais havia sido ruim durante o
breve reinado da finada Rainha Sagrada, Calca Bessarez.
Afinal, tinha sido um momento ainda mais caótico para o Reino devido às pesadas per-
das infligidas pela poderosa magia do Rei Feiticeiro, Ainz Ooal Gown. Além disso, eles
haviam perdido alguns de seus guerreiros mais famosos, entre eles o mais importante,
o Capitão Guerreiro, Gazef Stronoff, famoso por ser o mais forte de todo o Reino. Naquela
época, que ajuda eles poderiam ter oferecido contra um demônio tão poderoso?
Independentemente do que dissessem agora, apenas soaria como uma desculpa esfar-
rapada de um reino sem coração, mas qualquer outro país que estivesse nessas mesmas
condições e recebesse tal pedido de ajuda responderia da mesma maneira. Mas somente
o Reino Feiticeiro enviou ajuda militar e doméstica, então, em comparação a isso, o Reino
perdera seu brilho.
De fato, o Reino Sacro do Norte já havia se tornado bastante favorável ao Reino Feiti-
ceiro, isso segundo seus diplomatas.
“Problema após problema sem solução isso que causou um atraso na resposta...”
Foi nesse momento que ele finalmente pôde ver o real problema e toda sua extensão.
Embora isso parecesse a confluência de inúmeras coincidências, a situação podia dar a
falsa impressão de que tudo estava conectado.
“Onii-sama!”
“Oh! ...Sim, irmãzinha. Eu posso te ouvir bem, não há necessidade de gritar. Eu não sou
tão velho.”
“...Mas só o fiz porque estava me ignorando, sendo que estou bem na sua frente. Preferiu
se focar nos seus pensamentos, então só quis criar algumas lembranças desagradáveis
como vingancinha. Ou era algo sério que estava pensando?”
“Isso não soou muito convincente, mas se diz. Bem, como sempre fala sobre coisas ne-
gativas o tempo todo, então naturalmente cada pensamento que tem desvia inevitavel-
mente para os piores cenários.”
Prólogo
1 8
Isso fazia sentido.
“Pode ser.”
“Mhm, as coisas são assim... Sobre o Reino Sacro, a cisão entre o norte e o sul significa
que estão a um passo de uma guerra civil, correto? Se for esse o caso, qual lado vencerá?
A meu ver o norte exausto como está não parece ter chance alguma de lutar...”
“Bem, quem sabe. O fato de alguém de grande renome do norte morrer é um fator in-
fluente. Afinal, até aquela paladina morreu...”
“Uhum. Pelo que ouvi, ela poderia ser capaz de rivalizar com o nosso finado Capitão
Guerreiro. Ela visitou o Reino uma vez, uma pena que não tivemos a chance de nos en-
contrar.”
Ignorar trâmite normal de reuniões para conceder audiência imediata a uma mensa-
geira não-oficial não era apropriado para ambas as partes.
A Família Real seria menosprezada caso se reunissem com qualquer um que chegasse.
E quando encontraram tempo para que diplomatas não os julgassem, eles já haviam dei-
xado a capital.
Se eles soubessem o que sabem agora, deveriam ter marcado uma reunião com ela, sem
se importar com fofocas. Talvez isso os tivesse ajudado a obter uma opção de suporte
em potencial no futuro.
“Naquela vez, seu julgamento foi diplomaticamente correto. Se não fosse você me acon-
selhando o tempo todo para fazer aquilo, ainda hoje eu estaria pensando que não era
grande coisa ter ido recepcioná-los. Se o rei os encontrasse imediatamente seria inapro-
priado, mas se um príncipe o fizesse, tudo bem.”
Renner fez beicinho. Era uma expressão fofa o suficiente para conquistar facilmente os
corações da maioria dos homens, um número incontável de pessoas já havia sido vítima
disso.
“Onii-sama é o atual sucessor do trono, mas nem todo mundo o aprova a portas fecha-
das. Qualquer possível causa de fofoca, por menor que seja, deve ser evitada. E me inco-
modaria muito se o trono não fosse seu. Ah, e causar uma rebelião agora seria um tanto
problemático. Se isso acontecer, não poderá cumprir sua promessa.”
“Mhm, é verdade...”
“Hm, normalmente seria assim que aconteceria... mas o Reino Feiticeiro tem prestado
ajuda ao Reino Sacro do Norte; se tudo seguir de acordo com os planos deles, em pouco
tempo terão um país facilmente manipulado em suas mãos. Devemos tentar entrar em
contato com o sul?”
Se era o Reino Sacro do Norte que mantinha relações amigáveis com o Reino Feiticeiro,
então o sul deveria ver o Reino Feiticeiro como seu antagonista. Portanto, se o Reino
fizesse uma aliança com o sul, era possível que eles pudessem conter um pouco os esfor-
ços do Reino Feiticeiro.
“Tem razão, certamente seria desejável essa façanha. Há outra razão pela qual ambos
os lados estão em pé de guerra, isso é, os novos ensinamentos da evangelista sem rosto,
algo assim não seria nada bom para o Reino.”
“Aaaaah, aquela...”
A Sem Rosto.
Um apelido para uma proselitista que apareceu após o caos causado por Jaldabaoth.
Embora parecesse que seu nome verdadeiro viera a conhecimento público, sua alcunha
já havia se espalhado infinitamente mais do que seu real.
Seus ensinamentos, estimados por seus muitos seguidores, era que “A fraqueza sem o
desejo de melhorar a si mesmo é um pecado, todos devem se esforçar para alcançar o ob-
jetivo de se tornarem mais fortes”. E era um conceito mais ou menos compreensível para
a maioria das pessoas.
Embora houvesse amplo apoio a seus ensinamentos no norte, no sul não apenas era
impopular, mas sumariamente impedido.
Claro, este foi o resultado previsível. Para a classe dominante, esse tipo de mentalidade
só atrairia instabilidade para os da alta hierarquia.
Talvez essa tenha sido a principal razão pela qual os nobres do sul conseguiram manter
sua autoridade, em contraste, o norte se deteriorava rapidamente em suas escaramuças
por status.
Aqueles liderados pela Sem Rosto eram mais uma comunidade do que uma religião. Por
causa disso, os Quatro Grandes Deuses ainda estavam sendo adorados e sequer existiam
problemas com as instituições religiosas. Ao mesmo tempo, o recém-coroado Rei Sa-
grado se posicionou a favor do grupo, dividindo ainda mais norte e sul.
“...Pela lógica, é até comum que ela não queira mostrar o rosto, não acha?”
Prólogo
2 0
Aparentemente, a Sem Rosto sempre aparecia em público usando uma espécie de más-
cara sobre os olhos.
A missão diplomática enviada pelo Reino tinha em mente as mesmas perguntas que
Zanac ponderava sobre a Sem Rosto, então eles perguntaram a seus seguidores. Não im-
portava a quem perguntassem, todas e cada uma de suas respostas eram vagas, na me-
lhor das hipóteses, era como se estivessem quebrando algum tipo de tabu ao responder
com sinceridade.
Ela não tinha noção de que ao esconder seu rosto, ela criaria a impressão de que tinha
feito algo inominável no passado?
“Seus pais aparentemente foram guerreiros de grande renome. Se ela tivesse revelado
o rosto e pregado ao ar livre, provavelmente teria aumentado sua reputação em uma
quantidade razoável. É possível que ela esconda sua aparência porque mentiu sobre sua
descendência?”
“Por que alguém espalharia uma mentira tão chata? Se for esse o caso, não acho que
nenhum dos benefícios de ocultar a aparência seja aplicável a ela.”
“Tem razão... ou talvez ela não seja humana, mas uma undead ou algo do tipo?”
“—Quer dizer que ela está servindo sob o julgamento do Rei Feiticeiro?"
“Eu só pensei que, se fosse esse o caso, todas essas coisas estranhas começariam a fazer
muito mais sentido, não?”
“Realmente explicaria muita coisa, mas por que alguém assim correria o risco de levan-
tar suspeitas adicionais ao ocultar o rosto?”
“Isso também é verdade... mas quais outras razões plausíveis levariam alguém a ocultar
a aparência assim?”
“Também é possível que ela tenha sofrido algum tipo de desfiguração facial durante a
invasão de Jaldabaoth, mas isso pode ser tratável com magia. A menos que feridas infli-
gidas por um demônio tão poderoso quanto o Jaldabaoth não possam ser curadas com
magia, ou algo semelhante?”
“Bem, isso é mais crível do que sua teoria anterior, especialmente por ela ser mulher.”
Expor uma cicatriz facial até poderia ser benéfico no sentido de que as pessoas a res-
peitariam mais, mas isso dependia muito da gravidade da ferida.
“A sudoeste daqui está o Reino Sacro, onde metade do país é a favor do Reino Feiticeiro
e a leste está o Império, um estado vassalo do Reino Feiticeiro. Será difícil lidar com isso.”
“Unhum.”
O olhar de Zanac permaneceu fixo em Renner, que vinha respondendo de maneira bem
indiferente.
“Eh? Mas o que mais há para dizer sobre isso? A situação só ficará inegavelmente pior
quanto mais considerar o estado atual dos países vizinhos. Sem contar o que disse até
agora, Onii-sama, também há a questão das organizações clandestinas que estão perme-
ando ainda mais o Reino.”
“Você está falando da Oito Dedos, correto? Recentemente, uma parcela do povo tem
feito arruaça em todo o reino devido à retirada de narcóticos. Então quer dizer que eles
realmente voltaram a ativa? Se não fosse aquele arquidemônio vindo do nada, podería-
mos dar mais um golpe ou dois no ego da Oito Dedos, com certeza.”
Zanac suspirou.
Com a perda de Gazef Stronoff, o guerreiro mais forte do Reino, o governo mudou sua
política para evitar o confronto direto com a Oito Dedos. Eles simplesmente não tinham
a quantidade necessária de indivíduos fortes para lidar com o problema.
Exceto um.
Mas, o dito homem era leal apenas a Renner, então provavelmente não havia chance de
que estivesse disposto a servir Zanac. Ele já havia tentado obter favores deles, mas não
surtiu qualquer efeito em sua pessoa.
Para seu pai, o Rei, a existência de Gazef Stronoff era de suma importância.
Prólogo
2 2
É solitário no topo, era o que diziam.
Sabendo que não tardaria até ser sua vez de suportar esse fardo, Zanac, sem o conheci-
mento de si mesmo, estava gradualmente entendendo o verdadeiro significado desse
provérbio.
Como pessoa, a existência de Gazef Stronoff era como a de uma fogueira reconfortante
para seu solitário pai. Apesar da diferença de idade significativa entre os dois, pode-se
dizer que eram mais próximos do que amigos em alguns aspectos.
Por seu pai ter tido alguém assim em sua vida, Zanac não pôde deixar de sentir inveja.
Por ser o segundo príncipe, Zanac nunca havia experimentado esse nível de amizade
antes. Como seu irmão mais velho já estava prometido ao trono há tempos, ninguém se
dava o trabalho de criar laços profundos com ele, alguém que não passava de uma peça
sobressalente. Provavelmente, julgaram que não valia a pena arriscar ficar no caminho
dos interesses do Marquês Boullope ao fazer amizade com um futuro Arquiduque.
O único que manteve contato com ele fôra o Marquês Raeven, provavelmente por causa
de sua preocupação com o futuro do Reino. Mesmo assim, o relacionamento deles era
mais de interesses em comum do que amigos próximos; como resultado, Zanac teve que
suprimir um pouco da depressão que o circundava.
Zanac balançou a cabeça, afastando suas emoções negativas. Renner olhou para ele
como se estivesse olhando para um criptido.
Apenas ignore-a.
Por falar em Brain, no momento em que Zanac for coroado rei, sua primeira ação pro-
vavelmente será recuperar os quatro tesouros do Reino de seu pai.
Embora fosse incerto que seu pai os entregaria de mãos beijadas, era imperativo que
ele confiasse os tesouros a Brain, caso contrário, seria um insulto aos sacrifícios que ele
fez.
Ele não era o Capitão Guerreiro do Reino, era apenas um subordinado de Renner, um
camponês sem a espada jurada a ninguém. Se os tesouros do Reino fossem dados a ele,
não haveria dúvida de que os nobres teriam opiniões divergentes contra isso.
Mesmo assim.
“Que tal declarar que pretendemos nos tornar um estado vassalo do Reino Feiticeiro?”
Sob a liderança do Imperador Sangrento, o Império ficou tão sólido quanto uma rocha.
Os nobres dissidentes haviam sido expurgados há muito tempo, razão pela qual, quando
escolheram se tornar um estado vassalo, não houve oposição alguma. E o império sequer
provou a ira do Reino Feiticeiro. E mesmo que tenham repugnado o acordo interna-
mente, não é como se tivessem o desejo de buscar retribuição. O Império tinha um en-
tendimento claro do quão aterrorizante o Reino Feiticeiro poderia ser. O Reino, no en-
tanto, estava em uma situação diferente.
Neste exato momento, o Reino estava dividido entre a Facção Real, Facção Nobre, os
independentes e uma nova facção que foi formada após a batalha. A distribuição de po-
der entre as quatro facções era aproximadamente 3:3:2:2.
O mais problemático era a nova facção. Era composta principalmente de “homens livres”
de famílias nobres que haviam perdido seu chefe e herdeiro, homens que obtiveram um
poder que não fôra destinado a eles. Os outros membros não tinham as virtudes comuns
esperadas da aristocracia e não tinham respeito pelas regras não ditas. Como resultado,
muitos deles careciam de integridade e boas maneiras. Relatórios de espionagem mos-
traram que mais do que alguns não passavam de bêbados.
Porém, como tinham autonomia em suas próprias terras, nada poderia ser feito a me-
nos que violassem a lei do Reino. Mesmo que o fizessem, não havia garantia de como as
outras facções reagiriam quando o poder da realeza fosse exercido. Eles não estavam
mais nos tempos da pré-guerra, onde a Facção Real dominava o poder político.
Ainda assim, a sugestão de vassalização de Renner não estava totalmente fora de ques-
tão. Poderia ser considerada se a situação mudasse drasticamente.
“Não, não tem como isso acontecer, Onii-sama. Não haverá desordem civil.”
Prólogo
2 4
Embora pudesse dizer que ela não estava falando sério, isso não teria sido um problema
mesmo que Zanac fosse estúpido o suficiente para ser enganado. Já fazia tempo desde
que Zanac aprendera a ver através de suas facetas.
Precisamente por esse motivo que mulheres como ela não eram dignas de confiança.
Zanac de repente sentiu uma sensação de profunda solidão em seu coração. Embora ele
não pudesse chamar o Marquês Raeven de amigo, ele ainda fôra alguém com quem com-
partilhava suas preocupações para com o Reino. Zanac estava preocupado com o fato de
que não seria mais possível trabalharem lado a lado, porque mesmo que os marqueses
que ocuparam seu lugar fossem tão talentosos quanto, sua falta de caráter e dubiedade
eram alarmantes.
Zanac virou-se para encarar Renner de maneira pretensiosa, como se isso o livrasse de
suas tristezas.
“Ainda assim, acho difícil de acreditar que o Império realmente importaria bens do
Reino Feiticeiro.”
“...Bem, essa foi uma maneira estranha de mudar de assunto, não que eu me importe...
hum, mas não é nada mau ser um estado vassalo como o Império, não acha?”
Os bens mais exportados do Reino Feiticeiro para o Império, em termos de ganho ge-
rado, foram as criaturas undeads. Aparentemente, se distinguiam por categorias como
mão de obra, serviço militar, transporte de carga e assim por diante.
“Mas eles não precisam dormir nem se alimentar. Sendo honesta, eles são o ápice da
mão de obra. Eu te dou total razão ao pensar que importá-los do Rei Feiticeiro para o
nosso país seria arriscado, pois seria essencialmente permitir que soldados de outra na-
ção entrassem em nosso próprio solo. Mas, por outro lado, isso contaria como um gesto
para o Reino Feiticeiro, pois deixaria claro que como vassalo, eles não têm nada a escon-
der. Então basicamente, estão apenas entregando ao Reino Feiticeiro a outra extremi-
dade da coleira que colocaram no pescoço.”
“De certa forma, é uma atitude admirável com a qual podemos aprender. É uma boa
maneira de mostrar que podem nos ameaçar sem esforço algum.”
Isso de acordo com as informações que haviam recebido de seu espião em E-Rantel, que
se encontrou com alguns Dwarfs.
“Exato.”
“Ah, sim, isso está em execução no momento, mas a situação não é das melhores. Em-
[S o b e r a no Dr ag ão ]
bora um Dragonlord tenha concordado com isso, ainda precisamos de mais tempo para
convencer os representantes das outras raças. Porém, mesmo que seja desaprovada, a
perspectiva de uma aliança não seria completamente descartada, foi isso que disseram.”
A Aliança Anti-Reino Feiticeiro estava se formando a passos de lesma, mas pelo menos
era constante. Eles estavam na fase de confiar na generosidade e solidariedade de outros
países para, esperançosamente, levá-los a assinar o pacto de apoio mútuo a todo custo,
ou seja, seria uma relação incerta e sem acordos escritos. Algo assim não poderia ser
anunciado publicamente como uma aliança.
Simplesmente havia coisas demais a serem feitas antes de se estabelecer uma aliança
firme, eles precisariam de pelo menos alguns meses para resolver o problema.
“Disseram isso? ...Seria ótimo se pudéssemos formar uma aliança militar o mais rápido
possível. Mas então, Onii-sama, quando planeja assumir o trono? Sinto que já é hora de
cumprir sua promessa.”
A promessa em questão era que Renner trabalharia ao lado de Zanac em troca de uma
mansão para viver em segredo com Climb, além, é claro, da permissão para isso.
“Sobre isso, apenas tenha um pouco de paciência. Certamente já sabe como as propos-
tas não-oficiais serão tratadas em breve? Conversei com nosso pai, decidi juntamente
com ele que é melhor esperar a apresentação de sua última grande política antes de to-
mar qualquer decisão.”
Se o rei cometesse um erro fatal na administração, ele seria compelido a assumir a res-
ponsabilidade e a abdicar de seu posto.
Prólogo
2 6
Caso não cometesse erros, ele apenas proporia mais e mais políticas projetadas para
perturbar a nobreza, para assim, permitir ao príncipe a oportunidade de propor medi-
das que aliviassem a insatisfação. O rei abdicaria de uma maneira em que ganharia favo-
res dos nobres. Embora isso pudesse deixar o reinado do rei idoso estigmatizado, para a
família real, os benefícios superavam os prejuízos.
“A propósito, como está indo seu orfanato? Está planejando cozinhar algo para eles no-
vamente? Você precisa de algum apoio financeiro?”
Era um número bem significativo, talvez o maior entre todos os orfanatos do Reino.
Apesar disso, Renner não procurou ajuda externa para administrar as operações do or-
fanato, tudo era financiado inteiramente por meio de seu subsídio privado. Embora, por
ser a terceira princesa, sua mesada não fosse muito, foi algo que aumentou substancial-
mente quando suas duas irmãs mais velhas se casaram. Certamente não seria impossível
que financiasse um orfanato sozinha, mas para que isso fosse viável, grandes cortes no
número de empregadas que a serviam fôra feito.
Agora que contemplava isso, percebeu que sua irmã parecia usar apenas um conjunto
de roupas.
A realeza jamais poderia fazer algo que levasse à nobreza a desprezá-los. Zanac ficou
um pouco irritado, mas também orgulhoso por Renner saber gastar seus fundos com
sabedoria.
“Hmm, se quiser, posso dividir parte do meu subsídio com você, o que me diz? Afinal, o
orfanato é uma façanha impressionante aos olhos dos cidadãos.”
“Se houver crianças talentosas no orfanato, pretendo levá-las comigo para a mansão.
Não vou permitir que você tenha direito na minha força de trabalho em potencial~”
“Exatamente, solicitei ao Brain-san que as ajudasse a treinar esgrima. Então devem co-
meçar a estudar em breve. Meus esforços para que cresçam bem estão apenas come-
çando.”
“Me faria muito feliz se fizer isso. Não precisarei me preocupar que algumas crianças
ficaram—”
A voz de Renner foi interrompida pelo som de alguém batendo violentamente na porta.
Um nobre vestido em trajes familiares da côrte entrou exaltado. Ele era um dos funcio-
nários encarregados dos assuntos internos. Apertado firmemente em sua mão havia um
pedaço de pergaminho.
“O que aconteceu!?”
Zanac deu uma olhada no pergaminho apresentado a ele e uma expressão de surpresa
pôde ser vista em seu rosto. Era como se ele não pudesse compreender seu conteúdo.
Não, era mais como se ele estivesse incrédulo.
“O que há de errado?”
Zanac não teve forças para responder, apenas passou o papel pergaminho para Renner
em silêncio. E depois—
“Hah?”
O som que ela fez não era característico dela, parecia que ela estava absolutamente es-
tupefata.
Oh, veja só, ela está expondo seu lado humano novamente. Zanac sorriu de uma maneira
como se ele tivesse acabado de ceder ao seu desespero.
Prólogo
2 8
Capítulo 01: Uma Jogada Inesperada
m grande gole de cerveja pale ale foi sorvida de uma caneca que estava
U quase transbordando.
Costumava ser o tipo de bebida que ele não tinha chance de provar em
suas terras, mas hoje em dia o gosto de bebidas de primeira classe que
escorria pela garganta parecia familiar demais.
No entanto, mesmo que quebrasse a caneca, ele não teria que pagar por isso, afinal, este
bar foi preparado especialmente por sua apoiadora secreta, Hilma Cygnaeus. Tudo era
gratuito para qualquer um dos nobres que ela enviava para este lugar, e se estendia até
a seus convidados.
Esse tipo de investimento era esperado para alguém destinado a se tornar um nobre
poderoso como ele, o Barão Philip Dayton L’Eyre Montserrat.
Tudo o que precisava fazer era demonstrar sua gratidão e retribuir em um futuro pró-
ximo esse favor a ela, pois agora tudo era mantido em sigilo.
Do modo que as coisas estavam, até Hilma, cuja riqueza era incomparavelmente maior
que a de Philip, precisava se curvar diante de autoridades. Talvez essa fosse a razão pela
qual ela estava tentando criar laços com um nobre como Philip, apoiando sua facção em
todas as frentes.
Era isso que separava os fortes dos fracos neste mundo — a diferença de status.
Ainda assim, ele lhe devia um grande favor por todos os seus esforços.
Como um cavalheiro que se responsabilizava por suas dívidas, Philips esperava melho-
rar sua posição social o mais rápido possível. Pois, Hilma provavelmente esperava que
ele obtivesse autoridade acima do posto de barão quanto antes.
Se esses favores não fossem pagos quanto antes, ele ficaria atado a concessões, tendo
que obter permissão mesmo para coisas que queria fazer por conta própria.
Mas—
Ele não poderia mais guardar seus verdadeiros sentimentos. Philip observou os arre-
dores. Este bar não era um bar comum para camponeses. Hilma havia convertido uma
de suas mansões em um bar, de modo que a acústica do lugar não favorecia ruídos. Por-
tanto, embora sua voz não tivesse sido demasiadamente alta, se houvesse alguém por
perto, provavelmente o ouviriam.
Depois de confirmar que ninguém estava olhando para ele, Philip se acalmou.
Permitir que outros descubram que ele falhou seria uma vergonha.
Philip engoliu a cerveja como se isso pudesse literalmente apagar as emoções ardentes
em seu coração. Mas isso apenas o agitou ainda mais, pois com a afobação, a cerveja aca-
bou vazando do canto de seus lábios, fazendo com que sua pele e roupas ficassem pega-
josas como resultado.
Se tudo tivesse acontecido de acordo com seus planos, a produção de suas terras teria
sido multiplicada e ele deveria estar cercado de pessoas gratas por ele ser seu novo lorde.
Seu nome deveria ser conhecido por todos depois que seus vizinhos nobres descobriram
suas realizações.
Não apenas a produtividade dos grãos de suas terras começou a cair, mas ele também
sentiu como se os aldeões que ele havia visitado o encarassem com desprezo.
Gentalha insolente!
Ele finalmente era o chefe da casa de Montserrat, uma família com uma história longa e
datada. Esses moradores deveriam saber muito bem como deveriam prestar o devido
respeito. Seria possível que todos os seus vizinhos estivessem agindo despretensiosa-
mente na tentativa de enfraquecer sua posição?
E não, ele não achava que esse era o único tipo de pessoa no mundo. Havia muitas pes-
soas lá, tinha que haver outra razão para aquilo. Por exemplo, um lorde vizinho pode tê-
los pago para sabotar as ambições políticas de Philip.
Era o óbvio, ainda assim, o número de pessoas que discordavam dele era anormal.
Bando de lixo! Que tal se eu perguntar a Hilma sobre como devo punir aqueles tolos? Se
eu fizer isso, eles certamente começarão a trabalhar como se deve! Ainda vou precisar in-
vestigar se estão conspirando contra mim, o lorde! ...Não, preciso ter calma. Se for algo tão
simples quanto aplicar punições, creio que não há problemas se eu fizer por conta própria?
Em teoria, seria o mesmo que dar chibatadas em vacas e cavalos para fazer com que
eles lhe obedecessem.
Isso aí, não há necessidade de contar a Hilma sobre isso. Se eu acabar lhe devendo outro
favor... uhum, a Hilma tem sido boa comigo há um bom tempo, já é hora de retribuir sua
generosidade...
Para um futuro Grande Nobre, dever para uma cidadã comum como Hilma poderia le-
var a uma falcatrua, era uma situação facilmente explorável. Mas, infelizmente, fazê-lo
não o tornaria diferente de um mero ladrão. Como um nobre entre os nobres, esse ato
seria totalmente desprezível, por isso seria melhor retribuí-la quanto antes.
Seria um grande problema se ele deixasse Hilma ter algo para ameaçá-lo devido à sua
boa generosidade. Se isso vier a acontecer, Hilma poderia manipular as coisas a seu bel-
prazer e calar Philip.
Se ele fosse de acordo com o contrato anterior, teria que pagar com o ouro coletado
vindo do aumento do lucro de sua terra, mas isso obviamente não seria possível — sendo
mais preciso, seria difícil fazê-lo no momento.
Eu até disse aquilo, mas ainda não tenho controle total sobre a facção...
Como membro da facção, Philip teve a oportunidade de se conectar com todos os tipos
de pessoas.
Embora o número de membros que apoiavam a idéia de Philip assumir o posto de líder
da facção aumentasse constantemente, ele não obteve o apoio de toda a aristocracia.
Hilma o ajudara nessa busca, mas, considerando sua idade, posição social, etc., ainda
havia alguns obstáculos importantes que precisava superar. Se Philip estivesse na posi-
ção deles, ele também estaria inclinado a concordar com as suas decisões.
Sendo membros de uma nova facção, eles não podiam agir como alguma organização
envelhecida, mas sim introduzir mudanças radicais no sistema. Por ser um homem com
a coragem de experimentar e inovar, Philip era a peça perfeita para o papel de líder nessa
facção.
Cego por seus sentimentos de irritação, Philip não percebeu que sua caneca havia se
tornado vazia.
Uma criada que aparentava trabalhar no estabelecimento estava passando, então ele
ladrou suas ordens para ela.
Depois de fazer uma profunda reverência, ela se afastou de uma maneira estranha,
como se estivesse fazendo uma pose, Philip não conseguiu tirar os olhos dela. Seria por-
que o uniforme era muito justo? Suas nádegas estavam bem delineadas no tecido.
“Uau.”
Ter dotes curvilíneos era obviamente uma qualidade desejável para exibir, mas essa
criada demonstrou uma compreensão clara do que constituía uma boa interação entre
suserano e vassalo por meio de sua ética de trabalho. Isso agradou muito Philip.
Essas damas fariam qualquer coisa que pedisse, mesmo se for sovino ao pagar seus sa-
lários. Todos os assuntos domésticos de Philip foram conduzidos por elas. Hilma tam-
bém recomendou pessoas como mordomos e comerciantes exclusivos.
Embora Philip quisesse demitir aqueles que estavam servindo sua família há muito
tempo e manter apenas aqueles que o serviam, a fervorosa rejeição de seu pai a essa
proposta o fez desistir. Bem, se ele pagasse por esses empregados, ele definitivamente
os demitiria para economizar despesas.
Enquanto Philip pensava vagamente sobre esses assuntos, alguém o abordou de re-
pente.
“Oh, olá, Barão Montserrat. Aconteceu algo? Parece perturbado por algo.”
Ele virou a cabeça na direção da fonte da voz e viu dois nobres à sua frente.
Eles haviam herdado seus baronatos ao mesmo tempo, amigos que pertenciam à
mesma facção. Um deles carregava uma caneca grande com cerveja enquanto o outro
segurava uma pratada de nozes.
O Barão Delvin era um homem que não possuía o status e o prestígio esperados de um
nobre de sua posição devido à sua baixa estatura e constituição frágil. O único aspecto
dele que combinava com seu status seria seus trajes, tirando isso, se ele usasse roupas
comuns, ninguém seria capaz de dizer que pertencia à aristocracia. Tal como estava, até
poderia convencer um grande grupo de pessoas a acreditar que ele era apenas um ator
se fingindo de nobre em alguma peça cômica.
Suas propriedades eram vizinhas e era comum eles trabalharem juntos. Philip lembrou-
se deles devido a uma nota mental que ele fez quando se conheceram, que era “Por que
não trabalhar sozinho como eu?”
“Com prazer!”
Segundo a lenda, o ato de tilintar os copos durante um brinde surgiu como uma maneira
de misturar o conteúdo de duas taças, provando que nenhuma delas foi envenenada.
Philip sabia desse fato e, portanto, usou mais força do que o necessário.
“Oh!”
Seria rude dizer que suas roupas finalmente combinavam com sua aparência, pois
mesmo que fossem roupas de aparência nobre, o mesmo não poderia ser dito de seu
frescor e limpidez. Não, seria mais preciso dizer que lembrava um estilo mais tradicional,
algo que Philip usaria no passado, como um repasse de roupa vindo de seus irmãos mais
velhos.
Atualmente ele só usava tecidos de primeira linha que havia instruído Hilma a preparar
para ele. Em outras palavras, esses dois não eram valiosos o suficiente para garantir esse
nível de investimento de Hilma.
“Unhum, isso mesmo. Viemos apenas para umedecer nossas gargantas, mas fomos afor-
tunados ao descobrir que o Barão Monserrat também estava aqui, então viemos prestar
homenagem! O que me diz!?”
“Não, não, não, de onde tirou isso de prestar homenagem? Não somos iguais? Camara-
das se apoiando mutuamente?”
“Oh! Eu nunca jamais conheci um homem tão bom quanto o Barão Montserrat, que trata
todos como iguais! Isso traz alegria aos nossos corações! Não acha!?”
“Nada do tipo, meu caro! Não somos estranhos, Barão de Montserrat. Sinta-se à vontade
para me chamar de Wayne e ele de Igor."
Os três compartilharam uma risada calorosa enquanto bebiam suas cervejas pale ales.
“Mas enfim— Philip-sama, o que te incomodava mais cedo? Parecia bastante pertur-
bado.”
“Mais cedo?” Nesse ponto, o álcool tinha um pouco— sim, apenas um pouco entorpe-
cido sua mente, sua raiva voltou à tona.
“Ahhhh, aqueles idiotas inúteis continuam me dando dores de cabeça. Falo daqueles
párias que vivem na minha terra.”
Eles eram nobres como ele, então era apenas natural que pudessem entender seus pro-
blemas? Era praticamente certo que fossem perturbados pela estupidez de seus pró-
prios súditos.
“Uhum, entendemos, entendemos bem. Embora eu não seja tão distinto quanto os seus,
Philip-kakka, também tive minha parcela de experiência nos problemas com os quais
vem se deparando.”
“Exatamente— parece que estamos sem cerveja. —HEY! O que pensa que está fazendo,
sirva uma cerveja para o Philip-kakka!”
Delicioso.
Ele sentiu como sendo a melhor cerveja que já provara até esse momento, talvez fosse
porque estivesse compartilhando uma bebida com seus simpatizantes.
A maioria dos membros da nova facção optou por se distanciar de Philip, uma das ra-
zões é que Philip estava praticamente no auge da hierarquia da facção; consequente-
mente, ele não conseguiu fazer nenhum amigo. Por isso Philip estava de bom humor,
pois esses dois que se aproximaram dele o consolaram. Ele ficou muito feliz ao ponto de
querer fraternizar como grandes e velhos amigos.
“Ah, Philip-kakka! Sinto-me honrado por isso, mas sua cerveja pode derramar. Que tal
se primeiro esvaziar a caneca e... oh!”
Ele derramou cerveja novamente. Embora fosse gratuita, ser tão desastrado seria um
insulto contra Hilma.
Philip retirou o braço ao redor do pescoço do outro nobre e bebeu de maneira desme-
dida.
“Woah! Não esperava nada menos de um homem do seu porte, certamente é forte con-
tra o álcool, então?”
“Psssh! Não, não, não é nada disso. Só que essa cerveja tem um sabor melhor quando
desfrutada com dois nobres de grande bom gosto.”
Os dois ainda estavam na primeira caneca e o nível de cerveja não havia diminuído
muito.
“É como diz, mas como estamos nesse tipo de estabelecimento, seria estranho não be-
ber nada, por isso vamos bebendo a pequenos goles.”
“Por não termos muita tolerância a álcool, sentimos muita inveja de homens que podem,
como Philip-kakka. Aqui, por favor, aceite nossa parte também.”
Philip aceitou suas sugestões e bebeu caneca após caneca. Quanto mais ele consumia,
mais leve sua cabeça se sentia. Foi só então que seu rosto começou a ficar vermelho.
“Isso, é assim que se faz. Philip-kakka, aqueles idiotas da sua terra, então o que aconte-
ceu exatamente!?”
“Sim, mencionou algo do tipo... parece que bebeu demais, devo trazer algumas bebidas
não alcoólicas? O que me diz?”
"Concordo. Philip-kakka, gostaria de um pouco de água? A água que eles servem aqui
não fede a musgo.”
A vermelhidão pulsava em seu rosto, nem era preciso um espelho para que percebesse
que seu rosto estava completamente vermelho:
“...Aahhh lembrei, tava falando dos meus problemas. Sem dinheiro, não tenho dinheiro.”
"Não, não. O problema é outro. Se aqueles párias inúteis tivessem feito o que eu ordenei,
era para meus bolsos estarem arrastando no chão de tanto ouro. Mas são uns preguiço-
sos que não dão ouvidos a mim. É tudo culpa deles. Não passam de inúteis.”
“Oooooh! Philip-kakka está absolutamente correto. Este mundo está cheio de gentalha
preguiçosa. Eu entendo sua dor! A propósito, o que cultiva em suas terras, Philip-kakka?”
Muitos testes estavam sendo executados em vários aspectos da produção, mas nenhum
dera frutos até o momento.
E de fato estavam corretos, por isso havia a necessidade de cultivar culturas de maior
valor. Seria arriscado, pois era provável que eles não pudessem colher a colheita a curto
prazo, também havia a questão se a colheita poderia ser totalmente cultivada. Ainda as-
sim, era um investimento necessário para o futuro, mas esses camponeses humildes
sempre diziam “Não há como a gente aceitar mais trabalho” como desculpa, mesmo di-
ante de uma ordem direta.
“Considerando a situação atual, se nada mudar, minha única salvação seria uma colheita
ruim, fazendo com que o preço dos grãos subisse!”
Wayne cutucou Igor com o cotovelo no meio da frase e depois se aproximou de Philip
para sussurrar.
“Tem razão, mas mesmo que ocorra uma colheita ruim, o preço não necessariamente
aumentará. Ficou sabendo que há uma enorme quantidade de grãos baratos sendo
transportados do Reino Feiticeiro para o Reino? Então é improvável que o preço dessas
commodities flutue muito e seria igualmente improvável que qualquer produto sem va-
lor agregado alcance um preço alto.”
“QUÊ!?”
“Isso é verdade?”
“Mhm, obtive essa informação de fontes confiáveis, é dita por alguns dos comerciantes
da capital. Aparentemente, o Reino Feiticeiro armazena grandes quantidades de grãos
em armazéns de propriedade dos comerciantes da capital. Dizem os comerciantes que
tiveram permissão para negociar a venda, mas desde que o Reino Feiticeiro, obviamente,
tenha prioridade em saber como tudo está sendo feito.”
“Hum? Então quer dizer que não há comerciantes importando mercadorias do Reino
Feiticeiro para vender aqui, mas o Reino Feiticeiro que está armazenando comida no
Reino?”
“Normalmente, seria difícil garantir espaço de armazenamento. Mas esse distrito dos
armazéns não foi aquele atacado por aquele demônio? Ouvi dizer que muitos dos arma-
zéns estavam largados às moscas, então os proprietários os alugaram alegremente.
Como eu disse, enquanto o grão permanecer lá, dificilmente os comerciantes aumenta-
rão o preço dos alimentos. E se o preço subir, é fácil imaginar pessoas dizendo coisas
como se ficar mais caro, prefiro comprar do Reino Feiticeiro. Ah, sim, e sobre o enorme
armazém de grãos de E-Rantel, ouviu falar?”
“Mesmo que a comida dure tanto tempo, o Reino Feiticeiro é um país com uma única
cidade, E-Rantel. Como é possível que eles produzam tanta comida?”
“Oh, sobre isso. De acordo com alguns rumores confiáveis, o Reino Feiticeiro está
usando criaturas undeads para cultivar grandes áreas agrícolas; Como resultado, eles
obtiveram um tremendo aumento em sua produtividade de grãos. Dessa forma, mesmo
um território tão pequeno poderia corresponder à produção do Reino inteiro. Se pensar
bem nisso, estamos falando de criaturas que não se cansam. Mas, bem, se ficar pensando
que foi uma criatura morta que fez sua comida, é meio difícil não sentir nojo.”
Philip não pôde deixar de gritar. O Rei Feiticeiro poderia facilmente realizar o que ele
não conseguia de seus súditos, por mais que tentasse. Toda a dor que ele estava sofrendo,
o Rei Feiticeiro também merecia.
“Mesmo dizendo isso, não é como se não houvesse algo de suspeito. Afinal, mesmo que
os undeads trabalhem incansavelmente o tempo todo, suprir todo o Reino ainda é... bem,
já entendeu. Mesmo assim, não podemos negar que sua produção agrícola é bastante
alta, não há dúvida sobre isso. E no momento, o Reino Feiticeiro está enviando ajuda
alimentar ao Reino Sacro.”
"Ajuda alimentar?"
“Uhum. Jaldabaoth, aquele Arquidemônio que trouxe o caos à nossa Capital Real, apa-
receu no Reino Sacro. Parece que sua brutalidade causou alguns problemas de escassez
de alimentos e o Reino Feiticeiro respondeu enviando a comida vinda dos comerciantes
do Reino como ajuda. Uma caravana dessas com carruagens cheias de grãos passou por
meu território outro dia, então deve ser verdade.”
“Quanto será que restará nos armazéns dos comerciantes se somente a comida de lá for
usada como ajuda ao Reino Sacro?”
“É incerto. Ainda assim, é necessário armazenar alimentos para se preparar para as más
colheitas. E não acho que o Reino Feiticeiro tenha usado todo o montante de grãos nessa
ajuda.”
Isso fazia sentido. Se Philip fosse o Rei Feiticeiro, ele também teria usado o excesso de
comida, que estava guardada há muito tempo, como auxílio.
“—É por isso que é arriscado esperar o clima influenciar a situação. É necessária uma
solução melhor. Por exemplo, se o suprimento de grãos do Reino Feiticeiro desaparecer
repentinamente, os alimentos produzidos nas terras de Philip-kakka poderão ser vendi-
das a um preço elevado. Dito isto, não dá para casualmente instigar uma guerra com o
único objetivo de forçar o inimigo a consumir seu suprimento de grãos.”
Foi nesse momento que uma idéia foi formada espontaneamente na cabeça de Philip.
Se o fato de seus grãos não venderem bem, mesmo durante as más colheitas, depen-
desse da existência ininterrupta do suprimento de grãos do Reino Feiticeiro, o que acon-
teceria se justamente isso fosse interrompido?
Próxima pergunta: como fazer com que o estoque de grãos do Reino Feiticeiro desapa-
reça de repente?
No momento em que Philip pensou nessa solução, sentiu como se um raio tivesse atin-
gido seu corpo.
Tomar a propriedade de um país estrangeiro pela força era, pelo senso comum, uma
ação extremamente perigosa. E mesmo que agisse sem levar em conta as consequências,
Philip simplesmente não tinha poderio militar para enfrentar um país inteiro no mo-
mento atual. Mas, por outro lado, o Reino deve ver o Reino Feiticeiro como inimigo. Afi-
nal, uma parcela significativa de seus próprios cidadãos foi morta na guerra. Seria estra-
nho que não os vissem como inimigos. Sendo assim, não seria uma jogada brilhante rou-
bar um inimigo?
Dessa forma, Philip seria capaz de obter o apoio da classe dominante do Reino e talvez
até surgisse a chance de ser promovido a uma posição mais elevada, tudo graças à luz de
suas contribuições.
E a cereja em cima do bolo, ele também poderia vender o grão que foi furtado do Reino
Feiticeiro.
É como matar três coelhos com uma cajadada só. Esse plano é tão bom que nem há como
melhorá-lo. Mas como vou roubar o grão? Devo discutir isso com a Hilma e contratar mer-
cenários? Não, isso não é bom. Mercenários não têm senso de honra. Somente idiotas dei-
xariam rastros que poderiam ser rastreáveis e usados como material de chantagem.
Seguindo essa lógica, apenas seus próprios soldados funcionariam. Ele os chamara de
soldados, mas na realidade, eram apenas alguns aldeões armados. Ele pensara em for-
mar uma corporação de soldados treinados no lugar de aldeões que só podiam trabalhar
na fazenda. E pagar os soldados com os grãos que apreenderiam seria uma excelente
opção.
Mas ainda assim, marchar diretamente para os territórios do Reino Feiticeiro seria peri-
goso.
O domínio de Philip estava a alguma distância do Reino Feiticeiro, então o custo de mar-
char um exército até lá era algo que ele não poderia simplesmente ignorar.
Não, calma, ele falou sobre algumas das caravanas do Reino Feiticeiro passando por suas
terras, não foi? E se eu atacar elas?
“Será que os dois estariam livres para conversar? Tenho uma coisa que quero discutir
em particular com os dois.”
♦♦♦
A roupa que agora estava manchada de cerveja costumava ser de seu pai e era bastante
antiga em textura e design, tornando-a um item bastante raro. Originalmente, ele plane-
jara comparecer a reuniões sociais formais com essa roupa, mas agora teria que fazer os
preparativos novamente.
No final do dia, a aristocracia não passava de um bando de criaturas cujos olhos não
podiam ver suas aparências passadas. A roupa era naturalmente parte do jogo, então o
que havia acontecido era absolutamente inaceitável. Mas a verdade era que Wayne es-
tava no fosso da sociedade de classe alta, então que bem viria ao exibir roupas bonitas?
Pelo contrário, uma roupa surrada poderia implicar fraqueza do proprietário e, por-
tanto, seria muito útil caso alguém desejasse estar sob a proteção de seus superiores.
Uma roupa como essa era essencial para ele desempenhar o papel de um nobre fraco no
palco que era aquela sala de visitas. Então, até que assumisse o papel de outro persona-
gem, ele agiria com cuidado.
Justamente por isso que era ainda mais insuportável do que o normal vê-la manchada.
“Concordo plenamente.”
Uma voz alheia a ele entrou na conversa, levando Wayne a se virar para olhar sua fonte.
Wayne nunca foi do tipo extrovertido, ele simplesmente não gostava de conversar com
outras pessoas. Para fazer isso, ele teria que criar camadas sobre camadas de fachadas
enquanto tentava desesperadamente fingir que era do tipo extrovertido e efusivo.
“Desculpa mesmo cara, num levo jeito pra lidar com esses trecos de disfarce não, você
teve que cuidar da maior parte.”
Igor também havia mudado de sua personalidade anterior, seu idioma agora era tão
rústico que ninguém da nobreza ousaria arriscar ser pego falando assim.
“Tudo bem, mas se realmente sente muito, então pratique essas bobeirinhas algumas
vezes. Nobres de nível mais baixo como nós temos que fazer um grande esforço para
acalmar aqueles que estão no topo.”
“A vida tá ficando cada vez mais complicada. Eu pensei que quando a gente herdasse a
baronia, a gente poderia se juntar com a ralé da aristocracia... elogios falsos e falar meias-
palavras, só basta essas duas pra eu ficar de saco cheio.”
“Prfft, do que está falando...? Os camponeses precisam lidar com essa merda também.
Ninguém liga para os que estão na pior, todo mundo que trabalha para alguém precisa
ser um puxa saco.”
“E é por isso que eu nunca quis crescer... Bons tempos cara, sinto falta dos dias que a
gente não tinha nada pra fazer, era só sair correndo por aí com uns gravetos fingindo ser
matador de dragão.”
“O tempo não volta, melhor nem pensar nisso. Mas como eu disse, tem que aprender a
elogiar os outros. Aquele cabeça de passarinho parece ser um bom candidato para pra-
ticar, percebeu? Porque, mesmo se ferrarmos as coisas, não vamos perder quase nada.”
Para os nobres do alto escalão ou aqueles com mais experiência de vida, ou seja, aqueles
que já provaram de tudo, nada poderia satisfazê-los a menos que fosse feito com perfei-
ção. Era por isso que eles tinham que ganhar experiência sempre que uma chance surgia.
"Sério mesmo...? Bem, da próxima vez que a gente se encontrar com ele, vou me esforçar
no personagem.”
"Isso, assim que é bom, assim que é bom. Ninguém acha ruim um gracejo ou dois. Se
tiver conversando com alguém, e a pessoa parecer entediada, isso significa que sua ca-
pacidade de manter uma conversa ainda é ruim... Igor, eu sei que isso é difícil. Eu com-
penso as suas falhas e você compensa as minhas, esse foi o nosso acordo, mas precisa se
esforçar e superar essas fraquezas que você tem, não pode desistir disso. Eu não vou
ficar na sua vida pra sempre.”
Se eles fossem do mesmo tipo, talvez tivessem sido concorrentes. Foi por esse motivo
que ambos ficaram agradecidos pelo fato de não pensarem isso um do outro. Era inco-
mum que lordes vizinhos fossem amigáveis, mas por serem os terceiros ou quartos filhos
de sua família, não foram doutrinados com essas animosidades do passado. Por isso es-
tavam tão próximos.
“É isso então...? Então, sobre aquilo lá que a gente conversou com ele?”
“Seria terrível.”
Wayne não hesitou por um segundo antes de responder à pergunta de seu amigo.
Alguém ele como ficar no comando da facção seria uma situação muito perigosa.
Seus membros só permaneciam nela para capitalizar seus status como nobres e não
tinham absolutamente nenhum interesse em desenvolver suas terras. Como uma criança
com uma espada de ferro, eles abusavam de sua autoridade vinda de repente. Eles não
haviam conseguido nada, mas estavam confiantes o suficiente para acreditar que eram
onipotentes. Essas pessoas estavam além da salvação. Mesmo alguém como Wayne po-
dia entender que não passava de um nobre comum, mas nem isso eles podiam. A facção
estava cheia desses tipos de pessoas.
Era seguro dizer que, por causa disso, a facção tinha um enorme problema.
Muitos nobres donos de terras agrícolas da facção tinham essa mentalidade. Apesar de
suas tentativas de sugerir sutilmente os riscos de fazê-lo, suas atitudes demonstraram
“...Perdemos muito da nossa força de trabalho na guerra. Dá pra entender o porquê pro-
curam lucros rápidos, só ver como estão distribuindo a força de trabalho restante.”
Abrir mão de ganhos insignificantes e concentrar-se nos lucros a longo prazo deveria
ser senso comum para aqueles que estavam no topo da hierarquia.
“Ou seja, só dele pensar em roubar a caravana de grãos do Reino Feiticeiro é uma evi-
dência de que ele não bate bem da cabeça. Não é possível que alguém seja burro o sufi-
ciente para não entender que atacar uma caravana que brande a bandeira do Reino Fei-
ticeiro seria o mesmo que uma declaração de guerra, será que ele pensa que não vai ter
retaliação? Mesmo que ele— Espere aí. Fomos ludibriados?”
Certamente era possível que estivessem sendo enganados e simplesmente não conse-
guiam descobrir qual era o objetivo daquele homem. Talvez não tenha sido uma má es-
colha aceitar sua proposta, afinal.
“Duvido, não acha que tá pensando demais nisso? Deve ser porque ele não passa de um
idiota mesmo e nem considerou as possíveis consequências enquanto fazia o plano dele.”
De todo modo, não era plausível que tivessem escolhido um nobre sem senso comum
para herdar o título de sua família; sendo assim, Philip provavelmente tinha algum ob-
jetivo. Qual poderia ser seu objetivo?
Hilma Cygnaeus, a mulher que fez tudo ao seu alcance para fundar essa facção.
Corria o boato de que ela era amante de um certo conde, mas a formação dessa facção
não teria beneficiado o referido conde de nenhum meio ou forma. E assim, a origem de
seus fundos excessivamente abundantes e amplas conexões permanecia um mistério.
A Oito Dedos.
Nesse caso, Hilma provavelmente era alguém que poderia ser prontamente descartada,
como um manequim.
Desde de suas poucas conversas com a mulher, já ficara claro para ele que ela definiti-
vamente não era um simples peão de sacrifício. E havia uma chance grande que, possi-
velmente, ela fosse uma das mandantes da organização. Ter alguém como ela perme-
ando a facção era preocupante, isso para dizer o mínimo. Embora alguns nobres tives-
sem o poder de secretamente fazer pactos com esse sindicato do crime, Wayne não que-
ria se envolver com essas organizações ilegais.
Era precisamente porque eles não achavam que os dois fossem grande coisa que era
possível para ambos tirarem vantagem enquanto se mantinham fora de seu radar.
“Por quê...? Aposto que tá pensando que não vou entender, mas já passou da hora de
me dizer o que tá acontecendo, não acha? Até eu percebi que aquele cara vai dar pro-
blema no futuro. Falta pouco até o ataque a caravana do Reino Feiticeiro no seu território,
sabia? Aquela ossudo desgraçado não vai deixar isso barato. Não tem como aquele idiota
não perder a cabeça por conta disso, e é bem capaz que no fim sobre até pra você.”
Igor estava completamente correto, mas Wayne tinha uma idéia; ele havia concordado
com a proposta já tendo um entendimento completo dos riscos envolvidos.
“Talvez seja isso que aquele idiota planeja, que sejamos seus bodes expiatórios e assim
ficar apenas com os louros. Que tal seguir o plano mesmo assim? Vamos patrulhar nos-
sos próprios territórios e, por acaso, daremos de cara com os bandidos, o grupo respon-
sável pelo ataque à caravana do Reino Feiticeiro. Depois disso, vamos matar todos eles.
É crucial que sejamos responsáveis por acabar com eles.”
“É bom pensar bem a frente, mas é bom considerar a possibilidade de que haja sacer-
dotes capazes de ressuscitar os mortos. Você sabe o que dizem também, né? Nenhuma
mentira escapa de um sacerdote.”
“Ele vale todo o aborrecimento? A gente vai mesmo correr tanto risco por ele?”
“Claro que ele não vale a pena, mas é necessário impedir aquela mulher que manipula
ele, Cygnaeus, mesmo que seja um pouco. Ela deve estar planejando usá-lo para mani-
pular a facção e desviar a atenção dela, permitindo de alguma forma que seu sindicato
opere ao ar livre. Se não for algo do tipo, não faria sentido investir tanto dinheiro na
facção.”
A Facção Real e a Facção Nobre já haviam perdido muito de seu poder. Se alguém pu-
desse manipular livremente essa terceira facção, seriam capazes de exercer uma quan-
tidade aterradora de autoridade. Isso significava que a Oito Dedos ficaria encarregada
dos assuntos legais e ilegais do Reino.
“No máximo, eu só conseguiria pensar em soluções temporárias pra essas coisas, mas
como você já pensou tão longe?”
Como disse Igor, uma idéia desse porte deveria estar além do alcance das mentes dos
nobres, quem dirá de um mero barão. Mas a simples verdade era que, obviamente, nem
todos os barões eram iguais, alguns deles possuíam mais terras do que nobres de uma
posição mais alta. Infelizmente para os dois, seus territórios eram de tamanhos condi-
zentes com seus títulos, então eram apenas barões comuns do Reino.
Eles tiveram essa idéia não apenas por serem nobres, mas também por suas próprias
ambições.
O que eles desejavam era tornarem-se mais ricos e felizes. É por isso que eles explora-
riam todas as oportunidades benéficas ao máximo potencial.
“Mas, mesmo que a gente fosse para uma facção melhor, vamos ter que reconstruir
nossa reputação e conexões novamente, não é?”
Eles haviam se juntado à facção para obter oportunidades que, de outra forma, não es-
tariam disponíveis caso tivessem se juntado a uma facção mais bem estabelecida. No
entanto, eles não esperavam que a Oito Dedos indicasse aquele cretino para a liderança.
Ao que tudo parecia, ingressar nessa facção fôra um erro.
“A propósito, o Reino Feiticeiro pode mesmo usar isso como desculpa pra declarar
guerra contra o Reino?”
“Improvável. O Reino Feiticeiro é uma nação com uma única cidade, eles não têm mão
de obra para ocupar completamente o Reino por inteiro. Mesmo que tenham muitos
undeads, eles são adequados apenas para trabalhos manuais simples mesmo. Eles não
conseguem administrar adequadamente um país, entendeu? Mesmo que a guerra fosse
declarada, no máximo vão pedir alguma terra próxima deles... Não deveria ser um pro-
blema para nobres como nós, cuja terra está longe do Reino Feiticeiro. O que me diz—”
Ele levantou um punho fechado enquanto falava e Igor fez os mesmos movimentos para
imitar seu gesto de soco.
“Uhum!”
Finalmente, Philip chegou ao seu destino, um trecho de estrada nas terras do Barão
Delvin. Ele liderou seus soldados em uma marcha, desde o dia anterior e acampando
durante a noite, até o local onde aconteceria o ataque. Segundo a inteligência coletada, a
caravana do Reino Feiticeiro passaria por esse lugar.
Ele havia enviado um resumo das ordens por todo o território, mas poucos homens
responderam ao seu chamado. A resposta mais comum foi que eles já haviam cumprido
o expediente a qual eram obrigados.
O plano foi elaborado para a prosperidade futura de suas terras, para o bem de todos
que moravam lá. Havia também uma abundância de possíveis espólios de guerra, que
Philip considerou e propôs que fossem distribuídos a todos. Ainda assim, ninguém veio
ajudar.
Um monte de ignorantes que não sabiam se algo seria, ou não, benéfico para eles. Não,
era justamente por isso que eles precisavam ser liderados por um gênio como ele.
No final, ele os pagou antecipadamente com o dinheiro que havia pegado emprestado
de Hilma.
Depois de todo o seu árduo trabalho, ele conseguiu reunir cinquenta homens, mas esses
homens se resumiam a velhos decrépitos que outrora tinham sido gloriosos, jovens ma-
gricelas de corpos frágeis, ou homens com egos inflados que andavam à procura de bri-
gas em seus vilarejos, esses eram geralmente turbulentos.
Para ser franco, eles eram a gentalha do vilarejo e nenhum deles valia sequer um tostão.
Mesmo assim, Philip sentiu uma emoção indescritível aquecendo o olhar de seus solda-
dos.
Ele estava prestes a dar o primeiro golpe no Reino Feiticeiro, um feito que ninguém
mais poderia realizar. Como uma manobra para conter o Reino Feiticeiro, isso certa-
mente permitiria que Philip recebesse elogios da Família Real e uma classificação ade-
quada a essa conquista. Talvez ele pudesse se casar com aquela linda princesa—
Philip, que estava se aquecendo em seu sonho, foi arrastado de volta à realidade como
se lhe jogassem um balde de água fria.
O soldado era um homem comum, com cerca de 30 anos. Ele usava roupas maltrapilhas
e, por algum motivo, estava segurando uma pá de madeira. Até um bastão teria sido me-
lhor que uma pá, ou então, até alguns dos paus ao longo da estrada serviria. Philip queria
dizer algo sobre isso, mas a pá foi provavelmente o resultado de sua ordem, que era para
que trouxessem suas próprias armas.
Francamente, ver que alguns estavam sem um pau sequer deu a Philip uma ligeira dor
de cabeça. Mas olhando como um todo, apenas julgando a aparência, o grupo parecia um
bando de bandidos exilados. Talvez pudesse até enganar suas futuras vítimas a acreditar
nisso.
“Uh, Milorde, a gente não entende bem essas coisas do Reino, é muito complicado pra
nós. Mas a gente num vai ser amarrado e depois degolado não, né?”
Outro homem perguntou, e logo os outros começaram a ecoar junto com seus “Isso aí”.
Philip ficou muito surpreso com as perguntas que demonstravam uma completa falta
de entendimento da justiça.
“Eu já disse que não haverá problemas, vocês estão todos surdos?”
Talvez ele devesse ter executado alguém como um aviso para os outros, mas isso daria
a entender que ele não estava apto a liderar. Ele perderia sua dignidade se não conse-
guisse fazê-los trabalhar, apesar de saber que havia riscos envolvidos.
Ao entrar em pânico, Philip não soube o que fazer, foi então que ouviu o som ecoante
dos cascos de cavalos batendo no chão. Ele virou a cabeça e viu dois cavaleiros galopando
em sua direção. Os rostos deles estavam cobertos, exceto pelos olhos, mas ele ainda sabia
quem eles eram.
Por que eles não vieram aqui? O correto não seria eles virem na minha direção e não o
contrário? Philip pensou que talvez eles tivessem algo a dizer que deve ser mantido em
segredo.
Ele finalmente pôde se sentir um pouco melhor ao dizer isso de uma maneira mais pre-
tensiosa e, assim, mudou sua expressão para uma expressão irreverente.
Philip se aproximou deles a cavalo. Ele praticava equitação, portanto, conduzir um ca-
valo em linha reta era trivial.
O homem usava máscara no rosto, por isso era difícil identificá-lo, mas a julgar pela voz
e sua constituição ele deduziu que era o Barão Delvin, ou Wayne.
A armadura de couro estava um pouco suja e uma espada pendia de sua cintura. Seu
cavalo parecia tépido e sem vida, era mais como um jumento de fazenda em vez de um
cavalo de guerra. Ao lado estava o Barão Rokerson, ou Igor, que parecia praticamente o
mesmo. Suas aparências combinavam tão bem que até seus cavalos pareciam semelhan-
tes.
Bem, agora não é hora para mostrar a essa dupla patética que estou irritado com o baixo
moral dos meus soldados, ou é? Que saco.
Ele, como alguém de status superior, deve mostrar aos que estavam abaixo o que exa-
tamente o faz superior a eles. Philip precisava agir como um modelo para a sociedade, e
assim, os inferiores o seguiriam. Dessa forma, o mundo seria um lugar melhor.
Até Philip sabia dessa formação. A implantação de uma formação tão famosa seria uma
coisa bastante gratificante de se fazer; era como se tivesse se tornado o protagonista de
algum conto.
“Então, se as coisas rumarem para o sul, se espalhem para a esquerda e direita. O ini-
migo não se dispersará se formos apenas em uma direção. Lembre-se de se afastar o
mais distante possível ao se retirar.”
“—Não seria melhor decidir com antecedência qual caminho cada um deve tomar? Uma
retirada bem-sucedida pode ser difícil no calor da batalha. Isso também se aplica a Phi-
lip-kakka. Para qual direção vai se retirar?”
Eles falaram como se tivessem previsto a derrota, isso deixou Philip bastante irritado.
“Não, não, não é nada disso, Philip-kakka. Já ouviu falar da tática de fingir uma retirada
para voltar exterminando todos de uma só vez?”
Oh, sim, Philip aceitou a explicação deles, mas como seria desagradável admitir sua ig-
norância, ele agiu como se já soubesse da tática.
Bem, nesse caso... Enquanto Philip se preparava para discutir para onde se retirar, per-
cebeu que faltava uma informação importante.
“Antes de responder, tenho uma pergunta. Vocês dois ainda não me disseram sobre o
tamanho de suas tropas. Quantos homens trouxeram?”
Philip ficou tão chocado que puderam reunir mais homens do que ele que o pensamento
“com esses números, não importa para onde, não vão conseguir escapar” ficaria com ele
horas a fio. Philip racionalizou que, como estavam agindo em suas terras, fazia sentido
que fosse relativamente fácil fazê-lo. Se isso fosse simplesmente uma questão de quan-
tidade, as coisas teriam sido muito mais fáceis, o problema estava nas considerações an-
teriores. Philip calculara que poderia ter reunido pelo menos duas vezes o número de
homens, se essas fossem suas terras.
“...Se temos tanta mão de obra, faria mais sentido atacarmos todos ao mesmo tempo,
não? Afinal, temos cerca de duzentos homens aqui.”
“Embora essa também seja uma opção viável, ela impossibilitaria a Formação da Asa de
Grou. Philip-kakka, para criarmos essa formação, os soldados devem avançar primeiro
com nossas forças cobrindo os flancos laterais.”
Wayne soltou um suspiro audível. Como seu rosto estava completamente coberto, nin-
guém pôde ver sua expressão atual.
“Estou feliz que possa entender. Mas então, em que direção devemos recuar?”
“Enquanto eu tiver essa armadura, nada me preocupará, mesmo que um cavalo pisar
em mim. É um item de alta qualidade, criado por um ferreiro de renome e encantada por
magic caster.”
Esses Barões certamente não têm algo de qualidade tão alta. Philip se esforçou ao má-
ximo para impedir que seu senso de superioridade aparecesse em sua voz.
“Mesmo assim, é melhor prevenir do que remediar. Philip-kakka, tudo será inútil se
morrer nessa empreitada. Essa é a verdade.”
“Mesmo se estiver usando uma armadura tão primorosa, ainda existem pontos fracos
nos quais uma flecha pode acertar. Além disso, não importa quão durável seja a arma-
dura, ela será inútil contra a maioria das magias. Por favor, não baixe a guarda por causa
da armadura, pois o senhor, Philip-kakka, é nosso general.
Seus repetidos avisos incomodaram muito Philip, mas ele entendeu seus motivos. Se
um general fosse morto, a batalha terminaria, isso era senso comum.
Sabendo que esses dois o viam como líder, Philip não pôde deixar de sorrir.
“...Além disso, onde implantará nossas formações, Philip-kakka? Seria muito perigoso
implantar na estrada. Acredito que seria melhor ficar mais atrás, para que pudéssemos
nos apressar em seu auxílio, se precisarmos recuar. Seria de grande ajuda se pudesse
nos dizer sua posição.”
Quando o general estivesse em perigo, era dever de seus subordinados virem em seu
auxílio. Embora fosse o senso comum, Philip ficou chocado por não ter sido o primeiro a
sugerir isso.
Eu teria notado essas coisas se esse fosse o meu eu habitual... mas agora estou empolgado
demais. É minha primeira vez organizando uma batalha dessa escala.
“Ah, nada. Eu estava apenas tentando abrandar a paixão ardente por esta batalha no
meu coração.”
As estradas pavimentadas eram bastante largas, com espaço suficiente para duas car-
ruagens passarem lado a lado. Essa estrada parecia ser uma importante fonte de renda
para o Barão Delvin.
Florestas exuberantes a ladeavam, mas os pontos mais próximos onde os bandidos cos-
tumavam se esconder, haviam sido completamente desmatados até o nível da grama.
A floresta estava sob manejo humano, aparentemente para permitir que os porcos re-
virassem o solo por bolotas e coisas do gênero, tirando isso, não havia necessidade de
ficarem alertas com monstros ou animais selvagens.
Sendo assim—
“Mas é claro. Se for esse o caso, conheço um local adequado. Há um trecho de floresta
onde galhos, ervas daninhas e tudo mais já foi limpo, é um lugar que permite recuar
mesmo a cavalo. Se sente confortável com isso?”
“Certamente. Philip-kakka, quando decidiu que a emboscada seria nessas terras, sabía-
mos que algo assim era necessário, então dedicamos algum tempo preparando o local.”
Nas reuniões anteriores, Philip frequentemente propunha usar esse pedaço de terra
para a emboscada. Embora ele tivesse pedido opiniões a Wayne e Igor, os dois se mos-
traram pró-Philip. Deve ter sido bastante trabalhoso fazerem todos esses preparativos
depois disso.
“Não diga tolices, estamos cientes que assumiu grandes riscos de liderar essa investida,
apenas fizemos o mínimo que poderíamos, não concorda?”
Ao terminar sua discussão com os dois, Philip simplesmente retornou para seus solda-
dos.
Philip não conseguia parar de suar por causa de sua armadura de placas, e por estarem
em terreno irregular, seu elmo poderia fazer com que facilmente perdesse o equilíbrio e
caísse.
“Whoo, whooo.”
Philip bufou pesadamente quando tirou o elmo para prender abaixo da cintura. Ele pe-
gou um lenço e, enraivecido, começou a limpar a testa.
Ele deveria conversar com Hilma sobre isso na próxima vez que fosse na capital.
Depois de fazer uma anotação mental, ele voltou ao local onde viu seus soldados ente-
diados de tanto esperar.
“—Milorde. Quem era aquele homem com o rosto tampado? Parecia muito algum ban-
dido. É alguma tramoia contra nós?”
Além disso, durante a batalha das Planícies Katze, as famílias que perderam seus suces-
sores também perderam muitas armas e armaduras de herança. A casa de Philip estava
nessa exata situação; então se ele perder esse conjunto de armaduras, será difícil ad-
quiri-lo novamente.
Embora desse a entender que os soldados não acreditavam em seu raciocínio, não che-
gava ao ponto de haver a necessidade de forçá-los a aceitá-lo.
“Atenção! Vamos esperar até a caravana chegar! Depois disso, atacaremos imediata-
mente!”
“ENTENDERAM!!?
“Entendido...”
Embora todos respondessem relutantemente, suas vozes em uníssono ainda foram al-
tas o suficiente para serem ouvidas.
Philip ficou insatisfeito com a resposta deles, mas tinha que deixar por isso mesmo. Afi-
nal, esta seria a primeira batalha deles, não havia necessidade de atender a todas as ex-
pectativas.
Para que eles se transformem em excelentes soldados, precisarão se concentrar nos pro-
blemas mais imediatos.
Enquanto refletia sobre isso, Philip sentou-se no chão como se seu corpo estivesse ce-
dendo ao desejo de descansar.
♦♦♦
Um vasto sindicato do crime conhecido como Oito Dedos espreitava nas sombras do
Reino.
Havia oito divisões dentro do sindicato, dentre elas havia a Divisão de Contrabando.
Christopher Olsen, membro da referida divisão, exibia a faceta de um comerciante ho-
nesto. Suas palavras tinham bastante peso na principal rota comercial que ligava a Capi-
tal Real ao lado oeste do Reino. Como tal, ele foi um dos pioneiros ao experimentar seus
armazéns sendo saqueados, perdendo vários tipos de mercadorias durante o alvoroço
criado por Jaldabaoth.
Eles tiveram perdas substanciais, mas isso não significou o fim para seus negócios.
Ainda assim, era necessário um tempo considerável para recuperar essas perdas, então
ele considerou ser necessário pegar emprestado parte dos fundos da Oito Dedos.
Afinal, era preciso gastar dinheiro para ganhar dinheiro, era assim que as empresas
operavam. Claro, isso também poderia levar a maiores perdas, mas desde que manti-
vesse a cabeça baixa e evitasse riscos desnecessários, não havia muito com o que se pre-
ocupar.
Pedir dinheiro emprestado à Oito Dedos, no entanto, iniciaria um caminho gradual que
levaria à perdição. A Oito Dedos forçaria os comerciantes que haviam sofrido prejuízos
em atividades criminosas, como contrabando, venda ou transporte de narcóticos.
Para pedir dinheiro emprestado, ele teve uma reunião com os líderes das divisões, o
que o chocou, para dizer o mínimo. Christopher pertencia à Divisão de Contrabando,
portanto a administração de empréstimos deveria ser feita por seus superiores na
mesma divisão. Reuniões com executivos de outras divisões deveriam ter sido impossí-
veis.
Apesar de tudo isso, ele teve que se encontrar com os melhores. Seria porque suas rea-
lizações lhe renderam uma alta recomendação? Ou era alguma outra razão que não sa-
bia? Ele não conseguira descobrir o porquê, mesmo após a reunião ter terminado. A
única coisa da qual ele tinha certeza, era de suas suspeitas em relação à atitude atipica-
mente amigável dos líderes das divisões. Como alguém acostumado ao lado sombrio da
sociedade, ele mais do que ninguém tinha noção do quanto eram temíveis.
É claro que a boa vontade desses chefões da máfia poderia ser tão facilmente falsificada
quanto qualquer outra coisa.
Outra coisa que chamou sua atenção foi o fato que eles, beneficiários de seus status no
mais alto escalão da organização, aparentemente levavam a própria saúde muito a sério.
Embora se perguntasse o porquê de serem um pouco magros demais, eles eram defini-
tivamente mais saudáveis em comparação com seu corpo acima do peso.
“—Transportar grãos do Reino Feiticeiro, huh. Ainda não tenho certeza se isso é mesmo
seguro, huh.”
Ele usava uma couraça de aço com cota de malha por baixo. Um elmo que poderia cobrir
todo o rosto estava ao seu lado, junto com uma espada bem gasta.
A segurança consistia em 24 pessoas no total, todas empregadas pela Oito Dedos e, as-
sim como o próprio Christopher, pertenciam à Divisão de Contrabando.
Embora fossem membros do mesmo departamento, ainda cobravam pelo serviço e, sua
faixa de preço era acima da cobrada por mercenários do mesmo nível. Em compensação,
o contratante não precisava se preocupar com o vazamento de informações em missões
secretas, pois eram leais à missão em questão.
Diante de ameaças que não podiam ser resolvidas, mercenários provavelmente aban-
donariam a missão, mas esses homens lutariam como retaguarda até a morte. Isso era
compreensível, pois o abandono da missão custaria aos dignitários sua dignidade; como
resultado, seriam caçados e assassinados, mesmo se conseguissem escapar com vida.
Portanto, para alguém como Christopher, que não conhecia mercenários confiáveis, es-
ses homens da Oito Dedos eram provavelmente a melhor escolha. Mas, uma vez mais,
para esta missão em específico, eles eram a única escolha que tinha.
Para compensar a falta de opções, eles deveriam prestar seus serviços gratuitamente e,
assim, sobraria fundos excedentes para contratar ainda mais mercenários. Claro que, ao
contratar mercenários extras ele praticamente declararia desconfiança em relação aos
homens. Pois implicitamente ignoraria o fato de o alto escalão tê-los especificado, de
modo que a contratação de outros mercenários podia ser vista como desobediência di-
reta às ordens deles.
Até porque, todos os guardas pareciam bastante capazes, mas é claro que Christopher,
que não era guerreiro, não conseguia calcular adequadamente suas forças. Entretanto,
isso não foi um problema, pois homens mais capacitados no ramo já os havia lhe asse-
gurado, afirmando que eram excelentes. Ir contra ordens seria perigoso, independente-
mente do motivo.
Dito isto, se lhe fosse perguntado se deseja partir com um bando tão pequeno, ele teria
desejado homens mais capazes.
Dizia-se que o Seis Braços, incluindo seu líder Zero, que era considerado o guerreiro
mais forte de toda a Oito Dedos, foram exterminados em um conflito com a Família Real,
pouco antes da calamidade causada por Jaldabaoth.
Seria ultrajante supor que todos os seis foram derrotados por uma única pessoa, mas
aparentemente a Rosa Azul, um grupo de aventureiras adamantite, também se juntou à
luta. A partir disso, Christopher deduziu que provavelmente havia sido uma batalha de
seis contra seis.
Dizia-se que a Divisão de Segurança havia perdido a maioria de seus membros na bata-
lha. No momento, todos os departamentos estavam construindo uma força particular
para compensar a perda, a ponto de até os membros da Divisão de Assassinatos come-
çarem a operar sob holofotes.
Curiosamente, isso conseguiu melhorar o humor dos membros da Oito Dedos, ao ponto
de que agora estavam melhor do que eram antes do aparecimento de Jaldabaoth.
Os conflitos internos eram abundantes no passado e não era improvável alguém sendo
vítima de armações sujas ao mero ato de virar as costas. Alguns comerciantes até eram
denunciados às autoridades por pessoas de outros departamentos durante os estágios
mais cruciais de missões de contrabando.
No momento, porém, os líderes estavam sendo tão cooperativos entre si que quase eno-
java quem testemunhasse.
“Pbruu— Haaa.”
Christopher franziu o cenho. Esse foi o pior som para acordar de um devaneio.
Os navios seriam usados para transportar a carga de Re-Lovell para o Reino Sacro, de
modo que esse seria o trabalho de um determinado comerciante marítimo. Era um ho-
mem importante e Christopher o conhecia bem. Foi uma surpresa quando soube que o
homem também era membro da Oito Dedos, mas ele alegou que estavam colaborando
apenas para os benefícios mútuos.
“Você parece relaxado. Não acha que alguém vai nos atacar?”
“Hum? Oh, não senti nada esquisito, então não deve haver probl— Oh, deve estar pen-
sando que sentimentos não podem ser confiáveis, né? Bem, eu sei bem de onde isso vem,
mas com certeza passou por momentos na sua vida que pensou “isso vai dar certo”, não
foi? Também há momentos em que teve um mau pressentimento e tentou fazer algo a
respeito, e no fim acabou sendo verdade mesmo ou algo assim.”
“Viu só? Nossas experiências passadas podem funcionar como um tipo de intuição.”
“Agora ficou claro. Bem, também estamos hasteando a bandeira do Reino Feiticeiro.
Apenas aldeões ignorantes que queiram ganhar a vida fácil se atreveriam a atacar essa
caravana; se for o caso, podemos facilmente cuidar de uma centena deles.”
“Está preocupado com mercenários rivais? Acha que eles não seriam capazes de reco-
nhecer a bandeira do Reino Feiticeiro, o assunto mais falado por aí? Mercenários expe-
rientes são muito bem informados. E aqueles que nem conhecem as bandeiras dos países
não botam medo em ninguém... Parece que ainda não está convencido. Veja as coisas
assim, não ficaria preocupado ao não saber com qual nobre pretende comprar uma
briga? Você não gostaria de ter problemas por algo assim, ou gostaria?”
“Isso faz sentido... por curiosidade, quais são os nobres que alguém deve evitar comprar
briga?”
“Assim como você, não? Se eu tiver problemas com eles, os figurões vão me abandonar
sem pensar duas vezes. O mesmo vale para você, entendido?”
“Sim.”
Eles se lembraram da crueldade imposta pelo alto escalão, mas por serem pessoas que
faziam parte dessa organização apenas visando o lucro, não havia nada que pudessem
fazer a respeito. Talvez houvesse um modo de vida que não exigisse nenhuma conexão
com essa organização, mas isso não o teria levado a se tornar o grande comerciante de
hoje em dia. Talvez ele ainda estivesse à mercê de pequenos negócios até os dias de hoje.
“...Enfim, é só não me preocupar atoa, então? Já entendi. Mas então, qual é a pior ameaça
que podemos enfrentar no meio do caminho?”
“Se o inimigo usar flechas flamejantes para tentar queimar a caravana — queimar tudo,
sem roubar — isso significaria que nos envolvemos numa conspiração— um problema
nacional. Ou uma armadilha de uma organização rival.”
“Uma organização que consegue rivalizar com a Oito Dedos... Isso é mesmo possível?”
“Não sei. Até um grupo rival provavelmente não gostaria de queimar os bens do Reino
Feiticeiro, a menos que estejam confiantes de que nenhuma pista será deixada para trás.
Do meu ponto de vista, acho que conspirações nacionais ou artimanhas do Reino, talvez
de países vizinhos, são mais preocupantes. Há uma chance muito maior de vir algo des-
sas fontes do que de outros lugares...”
“Se for esse o caso, então não há motivos para se preocupar com isso, huh.”
“Não é? Ainda assim, parece seguro por enquanto. Não se preocupe, apenas sente-se em
algum lugar firme aí.”
Christopher montou uma imagem mental de um mapa para confirmar que estavam re-
almente fazendo um bom progresso. Ele finalmente podia relaxar. Ferrar com um traba-
lho relacionado ao Reino Feiticeiro convidava algumas consequências aterrorizantes.
Já era por volta do meio dia. Só precisavam atravessar por essa floresta e então pode-
riam fazer uma pausa como planejado. A floresta em questão não era selvagem, mos-
trava sinais de ser bem mantida por homens, por isso não demoraria muito tempo para
atravessar o lugar.
O relinchar de cavalos pôde ser ouvido dentro da carruagem, então começaram a desa-
celerar.
Christopher deu uma espiadela no líder mercenário e notou que sua aura era comple-
tamente diferente de antes, as coisas estavam ficando sérias.
Dois homens abriram a porta e colocaram a cabeça para dentro, subordinados do líder
mercenário.
“Desculpe, chefe! Esse cara acabou de me informar que há muitos aldeões escondidos
na floresta.”
O mercenário disse quando se virou para encarar Christopher. Aquele a quem ele se
referia como “esse cara” era o olheiro deles.
“Sim. Primeiro, o equipamento deles. Não estão bem armados e não tem armaduras.
Muitos estão usando enxadas como armas improvisadas... nada de clavas, mas enxadas.”
“Até pedras podem ser armas... mas são enxadas então? Isso é estranho. Não, mas pelo
menos são de metal?”
“Não vi detalhes a esse ponto, mas pelo que vi, parecia ser de madeira.”
Christopher, que ouvia silenciosamente a conversa, pensou que deviam ser apenas al-
deões comuns que estavam voltando para casa depois de trabalhar em suas fazendas.
“Hã? Sério? Enxadas? Será que querem fazer uma brincadeira de mau gosto...?”
A situação exigia que todos falassem o que pensavam, e provavelmente era por isso que
ele estava murmurando alto o suficiente para os outros ouvirem. Provavelmente.
“Com licença, desculpe por me intrometer na conversa, mas posso dizer uma coisa?”
“Antes de tudo, essa floresta é bem mantida — uma floresta cultivada, as pessoas dei-
xam seus porcos revirarem a terra aqui ou algo assim. Será que não estão apenas reu-
nindo os porcos? Se for isso e agirmos para dispersá-los, pode parecer que estamos ten-
tando roubar seus porcos. Também hasteamos a bandeira do Reino Feiticeiro, se circu-
lasse um boato de que o Reino Feiticeiro está roubando porcos... não seria muito pior
para nós se eles descobrissem?”
Até aquele momento, eles tinham sua segurança garantida pela bandeira. Eles tinham
o direito de passagem por algumas cidades ao longo do caminho e foram tratados com
respeito por causa disso, mas agora parecia que a graça do Reino Feiticeiro havia se
transformado em algemas. Envergonhar o Reino Feiticeiro convidaria desgraça sobre
suas vidas.
Foi por isso que Christopher não se atreveu a trazer nenhum contrabando em meio à
carga.
“Fazendo uma estimativa aproximada... parecia que tinha cerca de cinquenta homens.”
“Eu acho que é muita mão de obra para algum trabalho agrícola, e você, o que acha?”
Ele apenas criava demanda para trabalho agrícola, já seus pais também eram comerci-
antes. Christopher não tinha experiência em criar porcos.
"Nada, na verdade. Não sei se isso é pouco. Simplesmente não tenho idéia de quantas
pessoas são necessárias para capturar um porco. Talvez eles estejam aqui para plantar
mais árvores ou até cortar algumas. Ouvi dizer que também havia alguns tipos de traba-
lho agrícola que exigem porcos ou algo assim...”
“Não, eu já o vi uma vez, mas faz tempos. É um sujeito bem jovem, mas também alta-
mente confiável. Seu mandato também tem sido estável sob sua administração. Se ele
aprendesse mais sobre a etiqueta da aristocracia e das estratégias políticas, ele teria um
futuro brilhante pela frente.”
Embora não se conhecessem bem, eles haviam conversado quando Christopher forne-
ceu álcool a uma taverna na capital que estava sendo financiada pela Oito Dedos.
Era lamentável que Christopher não tivesse recebido um mandado de nomeação, por
isso nunca havia negociado com aquele nobre mesmo quando tinha que passar por esse
trecho da estrada em seu território antes. O lorde deste local tinha potencial digno da
atenção de Christopher, e não havia a menor razão para ser do tipo que mobilizava os
residentes de suas terras para atacar caravanas. Pelo que Christopher se lembrava, não
havia muitos aldeões com fome nessa região, ainda mais famintos o suficiente para ata-
car uma caravana de comércio, e com meros 50 homens.
Christopher não pôde evitar franzir a testa com a lembrança de ter sido ofendido na
ocasião.
“Chefe, mesmo se fossem atacar, eles são apenas cinquenta aldeões desarmados e sem
armaduras. Devemos ser capazes de derrotar eles facilmente.”
“Quais são as chances de que isso seja uma fachada e que haja mais soldados prontos
para nos emboscar?”
“Isso é possível. Devemos explorar os arredores? Se for assim, vamos precisar de mais
um tempinho.”
“E por favor, não demorem muito, se não cumprirmos o itinerário, eu vou ter que mar-
char com um exército de vagões na próxima vez, só para compensar o tempo que perde-
mos.”
Após cerca de dez minutos, ele voltou a relatar que, além dos cinquenta, não parecia
haver mais os esperando na suposta emboscada.
Eles chegaram à conclusão de que deveriam estar lá para o trabalho agrícola e continu-
aram seu caminho. Nem cinco minutos se passaram antes que a carruagem parasse no-
vamente.
“...Patrão, desculpa por te incomodar de novo, mas poderia sair por um segundo? Os
aldeões bloquearam a estrada. Se eles tivessem alguma intenção maliciosa, assustá-los
resolveria, mas eles parecem indiferentes, letárgicos ou sei lá... não parecem normais.
Então, pode sair e conversar com eles? É claro que sua segurança é a nossa principal
preocupação, então preparamos esse escudo aqui.”
Mas isso não era algo que ele poderia ignorar. Pois se estivessem envolvidos em uma
disputa sobre o que aconteceu hoje, custaria a Christopher o acesso a essa estrada. Nesse
caso, isso não afetaria apenas ele, mas possivelmente também seus filhos que herdarão
seus negócios.
Além disso, eles também foram seguidos por alabardeiros que estavam lá para prover
intimidação e arqueiros que se esconderam na floresta. Claro, o líder mercenário tam-
bém estava lá. Ele havia avisado Christopher a ouvir atentamente seus comandos caso
surgisse algum atrito.
Entre os dois lados da floresta, na estrada à frente deles, sentavam-se alguns aldeões
batendo papo.
Não havia como confundir, só podiam ser aldeões que estavam voltando para casa de-
pois de terminar um dia de trabalho agrícola.
Mas se esse era o caso, por que eles pararam no meio da estrada para bloqueá-los?
“Ei, muito desconcertante, né? Se estão planejando dar o bote, devem ter se dividido em
dois, podem estar escondidos na floresta. Existem várias maneiras de montar uma em-
boscada, mas nenhuma exigiria ficar plantado no meio da estrada. Nenhum comandante
seria estúpido o suficiente para cometer um erro desses.”
“Nos assustar? Com aqueles equipamentos? Com esses números? Se for isso mesmo,
não acha que é um insulto sério para nós? Patrão, não me leve a mal, mas os mercenários
que empregou antes eram de níveis tão baixos assim?”
Christopher não se incomodou em responder, mas apenas olhou para os aldeões. Dito
isto, a distância entre eles era enorme e havia fileiras e fileiras de mercenários em pé na
frente deles.
O homem trajava um conjunto requintado de armadura completa, mas como ele não
usava elmo, Christopher pôde ver seu rosto.
“Infelizmente, pelo bem do futuro do Reino, não posso permitir que você passe!”
“...Hein?”
Christopher não conseguiu não fazer esse som. Não foi apenas ele, os mercenários ao
redor dele tinham emitido sons semelhantes também.
“...Já entendi. Parece que houve algum tipo de mal-entendido, estamos apenas transpor-
tando a ajuda alimentar do Reino Feiticeiro para o Reino Sacro.”
“Eu comia! Ghrum—! Eu sabia! É exatamente por isso que estou fazendo isso!”
Que merda é essa que esse sujeitinho está falando? Ou melhor, que tipo de processo de
pensamento o levou a pensar isso?
Não importa o que esse tolo desagradável pensa. Até onde eu me lembro, as terras deles
são longe daqui, ou eu errei? Por que ele está aqui? É uma conspiração deles? Mas o lorde
desta terra se rebaixaria ao ponto de trabalhar com esse sujeito?
Meh, tanto faz. Christopher pensou. O homem já havia admitido culpa, agora Chris-
topher podia relatar aos seus superiores o porquê se atrasaram, pois houveram tolos
que ousaram ficar no caminho do Reino Feiticeiro. E muito provavelmente se matassem
todos eles, nem o Reino ou o Reino Feiticeiro reclamariam. Quando ele estava prestes a
pedir aos mercenários circundantes para matá-los, ele sentiu um forte sentimento de
que não deveria.
O homem que reconhecera como Philip era um nobre que ostentava o apoio de Hilma
Cygnaeus. Christopher, que foi humilhado e teve que esconder sua raiva sob um sorriso
falso naquela época, foi informado de que, embora esse homem fosse idiota, ele ainda
tinha valor, então era melhor ignorar sua própria humilhação.
Seria mesmo uma boa idéia matar um peão valioso da Oito Dedos?
Indo apenas pelo senso comum, não havia como um nobre local atacar uma caravana
arvorando a bandeira do Reino Feiticeiro. Qualquer um sabia que isso só convidaria a
ira do Reino Feiticeiro e desencadearia uma guerra total entre as nações. Não importava
quão burro fosse um nobre, ninguém seria retardado ao ponto de fazer algo tão estúpido.
Se fosse esse o caso, qual seria o motivo dele para fazer algo assim?
Além disso, se ele estivesse tentando fingir ser um bandido, ele pelo menos deveria enco-
brir o rosto. Não consigo entender o raciocínio dele.
Independentemente do quão estúpido alguém possa ser, pelo menos deveriam saber
como esconder a identidade em uma situação dessas. Como ele usava esse conjunto de
armadura completa, era lógico que tivesse um elmo que pudesse cobrir todo o rosto. Se
fosse esse o caso—
Ele quer que vejamos seu rosto. Ele quer que todos saibam que ele é o Philip? Por que
faria— Ah!
Só pode ser isso! É uma ilusão! Alguém está tentando incriminar o Philip, de modo que
copiaram sua aparência. Talvez esses aldeões não sejam aldeões no fim das contas...
Então—
“Então, segundo o que está dizendo, pretende nos roubar especificamente porque esta-
mos carregando os grãos do Reino Feiticeiro. Isso está correto?”
O líder mercenário que estava parado ao seu lado perguntou com uma expressão per-
plexa. Isso era de se esperar. Ele esperava uma ordem para matar, então Christopher
deve ter soado como um homem louco.
Ele até fala como um retardado... O homem que finge ser ele deve estar pensando o porquê
tem que falar algo tão idiota. Mas...
O primeiro pensamento de Christopher foi sobre as organizações rivais que o líder mer-
cenário havia mencionado em sua conversa anterior, seu próximo pensamento foi sobre
os líderes da Oito Dedos.
Se fosse o caso, eles tinham que sair deste lugar imediatamente. A Oito Dedos distribuía
os castigos mais implacáveis para traidores, seguido por aqueles que fracassavam nos
trabalhos que lhes fossem incumbidos. Considerando o primeiro caso como verdadeiro,
seus oponentes devem ter números suficientes para derrotar a equipe de segurança de
Christopher. Mas mesmo que estejam usando disfarces, ou seja lá o que for, Christopher
não conseguia pensar em uma razão pela qual haveria aldeões empunhando pás.
Analisando por esse ponto, o último caso parecia mais natural. Caso seja isso, então es-
tavam lidando com algo realmente — extremamente — problemático. Isso poderia im-
plicar que os líderes da Oito Dedos não estavam tão unidos quanto se pensava anterior-
mente, e ainda tentavam sabotar uns aos outros. Ou era um conluio de todos os líderes?
—Estamos sendo descartados? Estão tentando colocar a culpa do crime de matar o Philip,
um nobre do Reino, em cima de mim? ...Talvez seu corpo verdadeiro já tenha sido prepa-
rado.
O líder mercenário falou em tom sussurrante. Não foi uma boa hora, ele não deveria ter
interrompido os pensamentos de Christopher.
O problema não se resolveria esperando. Mas se fossem jogar o trabalho de matar Philip
em cima dele, por que não mencionaram isso antes? Pois se tivessem contado a Chris-
topher com antecedência, ele não pensaria duas vezes. Ele teria acabado com ele como
se fosse apenas um bandido normal.
Então, o plano consistia em fazer com que a caravana do Reino Feiticeiro matasse um
dos nobres do Reino e levasse as nações à beira da guerra? Esse pensamento fez Chris-
topher incontrolavelmente inclinar a cabeça.
Na situação do modo que estava, era mais como um comerciante do Reino matando um
dos nobres do Reino em legítima defesa.
Seria difícil forçar uma guerra nessas condições. É claro que Christopher, como alguém
que tinha conexões profundas com o submundo do crime, sabia muito bem que muitas
pessoas não pensariam duas vezes antes de fazer algo, desde que tivessem um motivo
para tal. Havia também pessoas que matariam por motivos triviais, mas era difícil ima-
ginar um país sendo tão impulsivo.
...Só resta uma possibilidade. O alto escalão já decidiu isso há tempos, mas a decisão nunca
chegou a mim, então é apenas um mal-entendido. Só pode ser, não há como pensarem que
podem matar todos nós, e que não vai ter notícia disso circulando por aí.
Erros simples eram uma história tão antiga quanto o tempo, então não era como se isso
fosse uma suposição irracional. Qual seria sua melhor jogada a partir deste ponto?
Se ele adotasse ações independentes, havia uma chance de que fosse o “responsável”.
Para evitar esse tipo de situação, ele deveria criar uma desculpa para si mesmo — deve-
ria agir de maneira que tornasse possível transferir a responsabilidade para outra pes-
soa.
Matar esse tal de Philip é a pior opção. Quando esse sujeito morrer, não poderemos trazê-
lo de volta e é bem provável que a Cygnaeus-sama ficará irritada. Se for isso mesmo...
“...Libere a carga... vamos deixar o lugar. Se fizermos isso, ele não irá nos perseguir, não
é mesmo?”
“Hein?”
Mesmo que não seja diretamente, você ainda está me prejudicando. Embora esses fossem
seus pensamentos cheios de ódio, Christopher não deixou que isso aparecesse em seu
rosto.
“Oy, oy, oy? Foi isso mesmo que eu ouvi? Tá falando sério mesmo? O que está aconte-
cendo? Que coisa é essa? Te enfeitiçaram? Ou viu um exército inteiro que ninguém mais
consegue ver?”
“Esta é uma ordem do seu patrão, preparem-se para uma retirada completa.”
O líder mercenário revirou os olhos e ficou quieto por um momento. Talvez ele esti-
vesse considerando a possibilidade de Christopher estar enfeitiçado, ou considerando
suas próprias opiniões e futuro. Depois de um tempo, com uma expressão de não acre-
dito nisso, ele disse:
“Já entendi.”
Ele permitiu que todo o grão fosse retirado, mas ele sabia a quantidade exata e o que
exatamente estava na carga. No pior dos casos, ele ainda poderia recomprar uma nova
carga de grãos e enviá-la ao Reino Sacro. Eles não seriam tão exigentes ao ponto de que-
rer justamente essa caravana de grãos, certo?
Embora ele tivesse que se desculpar com o comerciante marítimo que o esperava, era
imperativo que ele retornasse à capital para perguntar a Cygnaeus-sama sobre isso.
Christopher sabia do fundo do coração que não havia uma maneira fácil de sair dessa
situação.
♦♦♦
Seria porque os comerciantes sabiam em qual lado estava a razão? No fim eles recua-
ram sem desembainhar as espadas.
Ele dera uma olhada nos interiores, todos cheios de barris e caixas, cada uma cheia de
grãos. Embora todos os tipos de grãos fossem fáceis de armazenar, dificilmente esses
grãos estavam frescos, ainda assim, deveriam ser seguros para o consumo.
Capítulo 1 Uma Jogada Inesperada
7 2
Foi decepcionante apenas ter comida.
Philip queria levar algo como troféu para comemorar sua grande conquista, mas os
grãos não conseguiram cumprir esse objetivo.
Os cavalos já haviam sido levados, de modo que não havia como movê-los. É claro que
Philip ordenou que deixassem os cavalos, mas o homem que parecia o líder do grupo
mercenário havia recusado sua ordem.
E até atirou uma flecha na árvore ao lado de Philip quando ele insistiu.
Embora Philip o odiasse até o núcleo, ele não teve outra opção senão recuar.
Eu tenho minha armadura, então devo ficar bem, mas esses soldados não estão no mesmo
barco que eu. Ah, como sou misericordioso em perder meus próprios ganhos em considera-
ção a essas pessoas. E se bem que, considerando como tudo correu tão bem — nem uma
única lesão e nem uma única gota de sangue foi derramada —, eu quero que continue as-
sim até o fim.
Philip examinou seus espólios e seu olhar recaiu sobre a bandeira do Reino Feiticeiro.
Oh, eu posso guardar isso como lembrança. O primeiro a capturar a bandeira do Reino
Feiticeiro, a nação que derrotou os duzentos mil soldados do Reino em batalha, sou eu!
Embora quisesse esconder sua alegria, ele não pôde deixar de sorrir.
Uma conclusão perfeita destacando-o como o melhor — e como pensava, ele era verda-
deiramente alguém com habilidades excepcionais. Isso o deixou extremamente feliz.
Como há várias bandeiras aqui, tudo bem se eu fizer isso com uma, certo? Depois de ter-
minar esse pensamento, Philip soltou a bandeira e começou a pisar nela.
A imagem da bandeira do Reino Feiticeiro sendo manchada de terra encheu seu coração
de emoção. Isso era algo que ninguém mais no Reino era capaz de realizar.
Olhe só isso! Afinal, não sou inútil quanto pensavam! Comparado com meu irmão, compa-
rado com o pai— comparado com todos os outros no Reino! Eu sou realmente o melhor!
“Ah, hmm, Milorde. A gente pode mesmo levar isso? É melhor deixar isso aí, não?”
Um dos aldeões que verificava os vagões perguntou timidamente. Com sua excitação
contida, Philip perguntou sem mascarar suas emoções:
“Não, é que, hum, o pessoal que fugiu, num acha que podem voltar com soldados?”
“Hmm, Milorde. O que a gente faz com aquilo? Se der pra levar, como vai fazer?”
Os outros aldeões entraram na conversa, era o que também estava incomodando Philip.
Mesmo que ele force todos os 50 a descarregarem tudo na força braçal, ainda assim não
seria o suficiente para retirar todos os espólios. As próprias carruagens também eram
de alta qualidade, de modo que provavelmente poderia vender por um bom preço, ou
Philip poderia usá-las para si.
Mas, com a mão de obra presente, movê-las não seria uma tarefa fácil — seria um tra-
balho físico penoso e cansativo.
“Philip-kakka!”
Era a voz de Wayne, mas seu equipamento parecia completamente diferente de antes.
A armadura suja de couro que usava agora dera lugar a um robusto peitoral, ele também
tinha uma espada na cintura. Por que ele trocou de equipamento? Philip sentiu essa dú-
vida em seu coração, mas a sensação de excitação com o resultado dessa operação ainda
estava muito presente, portanto, a ignorou.
Wayne ficou parado, examinou o ambiente e falou com um tom incrédulo, como se os
vagões de carga dispostos lá fossem uma visão estranha. Nada fazia sentido com um ata-
que desse tipo — uma vez que considerou isso, Philip entendeu as perguntas que Wayne
tinha em mente.
Como se quisesse afirmar os pensamentos de Philip, Igor abriu a boca para perguntar.
“...Exatamente. Parece que nenhum dos soldados de Philip-kakka foi ferido. O chão pa-
rece limpo — o ar parece puro, nem mesmo uma lufada de sangue. Que tipo de tática
empregou? Tinha algum item mágico consigo?”
Quem sabe, talvez tivesse alguma aptidão arcana, mas não era disso que Igor estava
falando, não?
Os dois se viraram um para o outro, mas como ambos estavam com o rosto obscurecido,
ele não conseguiu ver como eram suas expressões.
Se ele estivesse sendo honesto, os espólios de guerra na frente deles estavam lá por
causa das ações de Philip. E ele estava um pouco irritado em ter que dividir o prêmio
com duas pessoas que estavam lá apenas como espectadores. No entanto, se Philip le-
vasse tudo para si, isso certamente traria infelicidade. Afinal, eles também tiveram que
mobilizar os aldeões em suas áreas. Oitenta por cento dos espólios iriam para Philip; a
dupla poderia ficar com o resto.
Ainda tenho que tirar um décimo dos espólios para cada um e só mobilizaram alguns ho-
mens. Não é possível que queiram mais, não é?
“Ah, não precisa se preocupar com isso. Não seria justo tomarmos parte dos espólios se
nem fizemos nada. Por favor, Philip-kakka, é todo seu por direito. Confio que não haja
objeções, certo?”
Mesmo alguém como Philip se sentiria culpado por aceitar tudo depois de ouvir tanta
cordialidade. Embora eles dissessem que seus vilarejos fossem pequenos demais e,
sendo assim, impedissem a estada de Philip, o fato de terem montado acampamentos
perto da floresta e preparado comida para ele significava que esses favores deviam ser
pagos.
Wayne respondeu sem hesitar, nem um único pingo de dúvida estava presente em sua
resposta.
“Tudo isso foi obtido com os seus esforços, Philip-kakka. Como dita a etiqueta da no-
breza, não podemos.”
“Isso é verdade?”
“Sim”, os dois responderam simultaneamente. Eles pareciam possuir uma opinião in-
flexível sobre esse assunto, então não havia nada que ele pudesse fazer sobre isso. Isso,
agora é todo meu! O coração de Philip vibrou com esse pensamento.
“Como tudo se resume a isso, aceitarei suas boas vontades. Além disso— embora eu
tenha vergonha de perguntar, tenho um pedido para ambos. Poderiam me emprestar
alguns cavalos para puxar esses vagões?”
“Cavalos?”
Os dois, que haviam deixado temporariamente sua presença, pareciam trocar suas opi-
niões, mas a essa distância era difícil dizer sobre o que estavam conversando. Eles pare-
ceram chegar a um acordo e, depois de um tempo, prontamente retornaram a Philip.
“Vamos preparar os cavalos o mais rápido possível. Porém, como não são cavalos de
guerra, mas cavalos de trabalho, poderia devolvê-los logo depois de terminar?”
“Hmm, antes disso, há algo importante para considerar, creio que seria melhor descer
as bandeiras do Reino Feiticeiro. Creio que não gostaria de ser visto pelo populacho du-
rante o transporte de seus espólios, por isso, embora seja difícil, considere transportá-
los pela floresta.”
Por outro lado, o que agora repousava sob o pé de Philip, a bandeira do Reino Feiticeiro
coberta de terra, era uma representação da eventual queda daquele país.
Parte 3
Sua maneira de andar régia e austera lhe rendera muitos elogios e prestígio. De fato,
sua versão de Momon parecia ser ainda mais heroica que a de Ainz.
Para ser sincero, Ainz considerou pedir que ele adotasse um jeito mais simples de andar,
para caso os cidadãos pudessem notar disparidades entre o modo que os dois davam
vida a essa persona.
Claro, isso não era algo que ele realmente diria em voz alta, então ele pensou que pode-
ria, pelo menos, tentar secretamente copiar seu andado. Para esse fim, ele dava espiade-
las constantes pelo canto de olho a Pandora’s Actor que, felizmente, não parecia ter per-
cebido ainda.
Entretanto, considerando como sempre agira dessa maneira, desde quando estreou
como companheira de Momon, Ainz sentiu que era desnecessário ordená-la parar.
É importante observar que esses três andavam pelas ruas da cidade sem nenhum obje-
tivo em mente.
Através desta procissão com Momon e Nabe, Ainz foi capaz de demonstrar diversas coi-
sas para a multidão. E isso foi o que levou Ainz a não trazer as empregadas consigo.
Esse ato serviu a vários propósitos, mas o mais importante estava em validar o fato de
que Ainz ainda estava trabalhando junto com Momon, de modo que não seria apropriado
excluir Narberal desta operação. Afinal, Momon sempre foi visto de armadura e sua apa-
rência não era conhecida por muitos. Sendo assim, se não trouxessem Narberal, come-
çariam a circular rumores de que “Momon já havia sido morto pelo Rei Feiticeiro e na
verdade era um undead nessa armadura”. De fato, esses rumores já haviam começado a
circular, por isso era crucial que eles evitassem criar outros mal-entendidos.
Todos os pedestres mantiveram-se ao lado da rua, como se fosse uma terra de ninguém,
assim que viram as silhuetas do trio.
Isso obviamente devia-se à presença do Rei Feiticeiro. Se Ainz tivesse andado por essas
ruas encarnando Momon, isso não teria acontecido. Embora tivesse passado muito
tempo desde a fundação do Reino Feiticeiro e agora, os cidadãos ainda estavam aterro-
rizados com Ainz.
Não foram apenas os humanos que reagiram a ele dessa maneira, mas também alguns
demi-humanos.
Isso porque E-Rantel, que costumava ser uma cidade puramente habitada por humanos,
não era mais assim. Demi-humanos podiam ser vistos dentre as multidões.
Se alguém olhasse ao redor a partir de onde estavam, veria os contornos de vários demi-
humanos (embora não muitos) nas lojas. Eram tanto funcionários quanto clientes e, às
vezes, até mesmo donos de lojas.
Sob as ordens de Ainz, a parte da cidade que costumava ser o bairro pobre foi refor-
mado em zonas residenciais para demi-humanos. Se eles estivessem naquela parte da
cidade, definitivamente não seria uma visão tão incomum de se ver, mas Ainz e os outros
estavam andando por uma das principais avenidas de E-Rantel, longe dos bairros pobres
de outrora.
A partir desse mero fato ficava claro que havia um número considerável de demi-hu-
manos circulando em E-Rantel.
Embora não fosse devido à nenhuma política especial que Ainz adotou, pois quem es-
tava se empenhando nesses assuntos era Albedo, ele ainda se sentia orgulhoso desse
fato. Pois isso o deixou ciente de que seus planos para unificar as raças estavam progre-
dindo em um ritmo constante.
Na verdade, ele já tinha esse plano em mente. Ainz havia pensado em realizar algum
tipo de evento em E-Rantel com as segundas intenções de atrair mais turistas e aumen-
tar sua renda de fontes estrangeiras. Mas o que ele não considerou foi quão pouco festivo
e introspectivo esse mundo era em geral, que por sinal, foi a causa de seu tédio constante.
Embora uma arena de gladiadores como a do Império não fosse tão ruim, Ainz queria
algo inédito, algo verdadeiramente especial.
Que tal algum tipo de esporte com bola, como beisebol ou futebol? Ou devo fazer algo para
dar uma apimentada em algum evento já existente...
Enquanto refletia sobre essas questões, Ainz também observava um lojista Orc que pa-
recia estar em uma discussão ajuizada com seus clientes humanos.
Provavelmente fazia parte dos Orcs que ele havia encontrado no Reino Sacro, aqueles
[Lorde Malig no d a I r a ]
que foram devastados pelo Evil Lord Wrath e depois foram unificados sob Ainz. Ele não
conseguia se lembrar de nenhuma outra vez que trouxera Orcs para E-Rantel.
Mas quem exatamente era aquele Orc, isso Ainz não fazia idéia. Não foi pelo fato de ter
incorporado um grande número de Orcs em seu domínio, a principal razão foi porque
Ainz, como alguém que ainda tinha sua parte humana, não conseguia de modo algum
distinguir os Orcs.
Do mesmo modo que ele também não conseguiu distinguir os membros das outras ra-
ças. Por exemplo, as Zerns fêmeas se diferenciavam por sua cor. Falando em Zerns, ele
não pôde deixar de se perguntar, como eles conseguem “enxergar”? Enfim, todos pare-
ciam iguais para Ainz.
Até porque, era igualmente difícil para um Orc diferenciar entre dois humanos, assim
como para um humano diferenciar entre dois Orcs.
Por esse motivo, eles se empenharam em reconhecer os seres humanos através de ca-
racterísticas como comprimento do cabelo, cores das pupilas etc., mas ainda ocorreram
incidentes onde as mercadorias reservadas para uma pessoa específica eram vendidas
O Reino Feiticeiro não teve problemas com a ordem pública. As taxas de criminalidade
por mau comportamento eram baixas, e quanto a crimes nem era preciso dizer. Isso, no
entanto, não se deveu à aplicação rigorosa da lei, mas ao medo das pessoas de que seus
cadáveres seriam transformados em undeads para servir o país após suas mortes.
Foi por esse motivo que os mal-entendidos foram esclarecidos rapidamente e sem
muito rebuliço, preferiam não fazer tempestade em copo d’água. E fôra por isso que o
Orc discutia amenamente negócios com seus clientes humanos.
Ainz disse baixinho, sem pensar muito, levando Pandora’s Actor a responder:
O Reino Feiticeiro ainda seguia o sistema de, “sua raça é muito boa nisso, então prova-
velmente deveria procurar trabalho nessa área”. No entanto, à medida que o conheci-
mento dos cidadãos sobre as outras raças e suas respectivas culturas aumentar, eles
provavelmente começarão a desejar várias outras carreiras. Embora essa mudança
ainda estivesse em suas fases iniciais, o desejo pela autodeterminação certamente flo-
resceria com o tempo.
A principal motivação para essa mudança foi o fato de que todo trabalho exauriente
agora era manejado pelos undeads.
“A Albedo parece estar administrando bem esse setor do país. Afinal, é imperativo im-
pedir o desenvolvimento de ofícios problemáticos.”
Ainz e os demais já estavam em seu nível máximo, então era necessário planejar e coibir
aqueles que eram mais fracos, ou seja, aqueles que tinham o potencial latente de se tor-
narem mais fortes.
Como parte desses planos, eles não podiam permitir que sua própria população alcan-
çasse superioridade em qualquer aptidão. Os fracos devem permanecer fracos.
Ao mesmo tempo, eles precisavam garantir que a supremacia do país como um todo
fosse bem mantida contra os países vizinhos. Talvez Albedo fosse a única capaz de man-
ter esse delicado equilíbrio.
Para criar um monstro POP que Nazarick não criava automaticamente, eram necessá-
rios dois ingredientes. Primeiro, os dados do monstro e, o segundo, a quantidade corres-
pondente de moedas de ouro de YGGDRASIL.
Embora a biblioteca de Nazarick contivesse dados de vários tipos de monstros, ela não
continha os dados de todos os tipos de monstros de YGGDRASIL. Os dados de alguns
monstros também eram de uso limitado. Por exemplo, eles já haviam exaurido o estoque
[Assassinos
de dados sobre Hanzos e a biblioteca não continha nenhum dado para a criação de Eight
dos Oito - G u m e s ]
-Edge Assassins.
A criação de monstros de níveis mais altos incorria no custo de uma grande soma de
ouro.
Se fosse esse o caso, monstros mais fracos não deveriam ser suficientes? Embora ele
quisesse dizer isso, na verdade, usá-los significaria uma chance maior de serem pegos
sempre que tentassem se infiltrar em algum lugar.
Entre as nações vizinhas, não era inconcebível pensar que eles eram os únicos capazes
de usar monstros. Sendo assim, seria melhor usarem monstros de níveis mais altos que
eram mais difíceis de serem detectados por outros, aproveitando-se de que seu país
ainda era de tamanho modesto. Ou talvez—
“—Espiões humanos?”
Ainz acidentalmente falou em voz alta. Nabe, ao ouvi-lo falar, aproximou-se por trás e
disse:
“Ainz-sama. Por falar nisso, como está indo o treinamento daqueles espiões? Devo ga-
rantir que aqueles vermes saibam quem é seu legítimo mestre?”
“...Nabe. Neste momento, você é a parceira do popular herói Momon, não esqueça sua
posição.”
Afinal, eles espalharam a narrativa de que Momon e Nabe haviam sido atados a esta
cidade por preocupação com a segurança de seus habitantes e exclusivamente por isso
que estavam trabalhando com Ainz Ooal Gown.
“Você foi perdoada”, seria o dito comumente, isso se ele não tivesse dado uma boa
olhada ao redor.
Seria inconveniente se ela parasse de fazer qualquer pergunta. Com isso em mente, Ainz
murmurou sua resposta em um volume inaudível para os demais aos seu redor:
“...Nós lhes emprestamos alguns Hanzos. Atualmente, Tira está encarregada do treina-
mento deles, mas sendo franco, até agora eles não são melhores do que um único Eight-
Edge Assassin... hmmm, considere apenas um investimento para o futuro.”
Algo digno de nota era que, embora os Death Assassins fossem ruins em se esconder,
eles tinham um alto dano devido à sua alta chance de acerto crítico. Se um inimigo bai-
xasse a guarda acreditando que um Death Assassin não representava ameaça, eles se-
riam capazes de causar uma quantidade alarmante de dano. Foi por isso que Ainz não
conseguiu fazer deles espiões.
Obviamente, eles estavam cobrando preços muito diferentes pelos mais fracos do que
pelos mais fortes, então o produto mais popular ainda consistia naqueles projetados
para mão de obra pesada e barata.
Ainda assim, seria um desperdício não esgotar seu limite diário de 「Create Undead」,
então Ainz as esgotava diariamente; como resultado, o número de undeads que ele criara
já havia se tornado um estorvo.
É meio estranho apenas andar assim em silêncio. Mas não quero falar muito com ele.
Afinal, se as pessoas percebessem que seu relacionamento não era tão bom, não haveria
sentido em fazer esse exercício.
Conversar com Pandora’s Actor seria insuportável, então Ainz escolheu falar com Nabe.
“Sim!”
Calma, não precisa responder com tanto vigor, sabia? Pensou Ainz, mas não se incomo-
dou em dar voz a isso. Porque essas ações não eram tão estranhas assim; pois diante da
narrativa, eles eram essencialmente subordinados sob Ainz.
Isso não poderia ser por falta de intimidade com Yuri, mas simplesmente porque ela
não tinha interesse nesse assunto, certo? Espere um pouco—
—Ela realmente estaria tão desinteressada no local de trabalho de alguém cuja existência
é o análogo mais próximo da família? Se bem que, essa resposta era de se esperar da Nar-
beral.
Será que ela teria reagido da mesma maneira se a pergunta fosse sobre o local de trabalho
da Shizu ou da Entoma? Ainz deu de ombros quando esse pensamento surgiu.
Como a responsabilidade total pelo orfanato havia sido dada a Yuri, nem mesmo Ainz
sabia de seu status atual. Obviamente, ele recebeu planos detalhados sobre o assunto,
mas nenhuma lembrança permaneceu na cabeça sem massa encefálica de Ainz.
Também deveria haver alguns relatórios agendados sobre as finanças do orfanato, mas
como Ainz sempre delegava essas responsabilidades a Albedo, ele apenas fingiu ter lido
esses relatórios.
Depois que Pandora’s Actor concordou, o trio começou a caminhar em outra direção,
liderados por Narberal.
Nem mesmo dois minutos se passaram até que Ainz recebesse uma 「Message」.
『—Ainz-sama.』
Ele não conseguia se lembrar da última vez que recebeu uma 「Message」 dessas neste
último ano, então só poderia ser algum tipo de emergência.
Todo o ordálio no Reino Sacro foi tão penoso que nada poderia ser pior se comparado
àquilo.
Comparado com o inferno que eu tive que passar, nada que este mundo possa me lançar
é imbatível.
O pedido, como ele esperava, era para que retornasse imediatamente à Nazarick. De-
pois de responder que faria isso, Ainz instruiu Narberal a trazer o resto das empregadas
também para Nazarick. Ele abriu um 「Gate」 depois de se despedir dos dois, ele per-
mitiria que os Hanzos que estavam protegendo seu perímetro voltassem.
Após dispensar os Hanzos, ele pegou o Anel de Ainz Ooal Gown de Solution, quem o deu
boas-vindas ao retornar. Usando o anel, ele se teletransportou para o 10º Andar e come-
çou a caminhar rumo ao seu destino.
Os lugares que eram importantes ou especiais em Nazarick tinham sido marcados, per-
mitindo que o usuário do anel pudesse se teletransportar direto para suas portas. Mas
desde o início, este não era o caso para os recintos considerados “normais”, portanto não
era possível se teleportar diretamente para eles.
Isso poderia ser visto como a única falha deste anel, que permitia ao usuário se tele-
transportar livremente dentro de Nazarick, mas agora não era mais possível modificar
suas funções. Se eles ainda tivessem os kits de criação de YGGDRASIL, isso seria possível,
mas não havia nenhum no inventário de Ainz e nem mesmo em toda Nazarick.
Albedo estava em frente à porta de seu destino, aguardando sua chegada. Ainz não com-
putou por quanto tempo ela o estava esperando, mas apenas sobre o progresso que ela
havia feito nas tarefas a que fôra atribuída.
Embora tivesse dito que voltaria imediatamente, ele não havia dado a eles um prazo
específico. Mas agora, o pensamento de que ele poderia ter feito Albedo perder tempo
ao esperá-lo fez Ainz ficar inquieto. Ele não deixou e nem podia deixar que esses pensa-
mentos brotassem em seu rosto.
Isso já havia acontecido várias vezes antes. E mesmo dizendo a Albedo que não havia
necessidade de esperar por ele, ela sempre contestava, dizendo que era natural que uma
serva desse boas-vindas ao seu mestre.
De fato, ele havia conversado sobre isso não apenas com os Guardiões de Andar, mas
com os Guardiões de Área e com as empregadas. Mas toda vez que mencionava o assunto,
as respostas que davam eram iguais às que Albedo dera. As empregadas ficaram especi-
almente enérgicas com suas respostas, demonstrando um nível de determinação que
poderia até fazer alguém como Ainz se acovardar e pedir desculpas.
Se esse era o consenso geral, então Ainz, sendo seu supremo suserano, precisou renun-
ciar a suas opiniões pessoais sobre o assunto.
Ainz acreditava que não era um homem excepcional o suficiente para ser digno de tal
tratamento, mas, com grande culpa, ele vestiu a casaca de que tudo isso era esperado e
adentrou.
Shalltear.
Cocytus.
Aura e Mare.
E Demiurge.
Parecia que todo mundo que deveria estar aqui, de fato já estava. Em casos como este,
onde todos os tripulantes estavam prontos para zarpar, Ainz tinha que ser o último a
chegar de acordo com os procedimentos. A menos que fosse para uma ocasião especial,
ninguém chegaria depois dele.
O sistema de transporte aéreo que contava sobretudo com monstros voadores (princi-
palmente Dragões) havia estabelecido uma rede de transporte entre o Reino Feiticeiro,
o Império, o Reino dos Dwarfs e a região desolada e desabitada, a leste do Reino Sacro.
A responsável por essa rede, Shalltear, agora tinha a responsabilidade de utilizar suas
habilidades para estabelecer gradualmente uma rede de transporte terrestre.
O encarregado de controlar o clima nos territórios e construir uma catacumba nos ar-
redores de E-Rantel, Mare, também estava trabalhando ao lado da recém-criada Guilda
dos Aventureiros.
Quem costumava apenas comandar suas próprias feras mágicas, mas agora tinha que
operar um departamento que dispunha de uma rede de alerta que fornecia cobertura
adequada para as fronteiras cada vez maiores dos territórios do Reino Feiticeiro, era
Aura.
Por isso, havia planos de transferir algumas dessas responsabilidades para aqueles que
até aquele momento estavam preocupados apenas com a defesa interna de Nazarick, os
Guardiões de Área.
Escusado dizer que quem estava encarregado de verificar o progresso de todos, receber
pedidos ou sugestões e aprovar os vários assuntos do Reino Feiticeiro, a Supervisora
Guardiã Albedo, que era a mais atarefada de todos.
Basicamente, ele havia sido chamado aqui porque aqueles acolchoados com as mais im-
portantes tarefas consideraram que isso exigia sua presença.
Ainz caminhou de maneira digna pelo centro. Albedo fechou as portas atrás deles e logo
depois o seguiu de perto.
Como assim, chegaram? Eles já estavam aqui! É claro que Ainz não disse e nem poderia
dizer isso em voz alta.
“Sim!”
Os Guardiões ergueram a cabeça enquanto davam respostas límpidas, a ação foi impe-
cável e síncrona.
Originalmente, era Albedo quem pedia que levantassem a cabeça, mas Ainz decidiu pôr
um fim nisso. Embora fosse dito que um superior não deveria falar tão diretamente com
seus subordinados, Ainz não queria se distanciar tanto deles.
Os olhares dos Guardiões, que deixava explícito sua lealdade absoluta, recaíram todos
no corpo de Ainz. No passado, Ainz não conseguia lidar com esse tipo de atenção, mas de
tanto passar por isso, ultimamente ele já estava anestesiado, a ponto de não o afetar de
forma alguma.
Mas... por quê? Estou tendo uma impressão errada ou eles parecem ainda mais leais do
que eram antes...? Não... devo estar vendo coisas, certo...?
Ainz, que não conseguia se lembrar de ter feito nada que pudesse levar a esse aumento
de lealdade, evitou que os olhares acolhedores dos Guardiões desvanecessem aleatoria-
mente pelo lugar. Não fôra porque não conseguia lidar com isso, mas ele o fez mesmo
assim.
Havia portas em ambos os lados do recinto, diferentes daquelas por onde entrou, e as
ditas portas não eram justificáveis, dado o tamanho relativamente pequeno da sala. Por
outro lado, a sala estava decorada de maneira tão requintada que emanava um ar de
grandeza.
Foi montada para ser uma sala de audiência em Nazarick. Uma outra também foi criada
em E-Rantel.
O Salão do Trono de Nazarick era glorioso, mas era exageradamente espaçoso e pare-
ceria vazio se não houvesse pessoas suficientes reunidas lá dentro. Ele poderia reunir
pessoas suficientes se quisesse, mas, considerando alguns problemas como a presença
de um Item World-Class, uma sala de audiência foi construída. Afinal, era algo que estava
Tudo em Nazarick havia sido feito no passado pelos antigos membros da guilda, exceto
esta sala de audiência. Sob as ordens de Ainz, os Guardiões de Andar haviam considerado
muito (embora no fim não fosse necessária tanta consideração assim) em reformar um
dos cômodos vazios para esse exato fim.
NPCs, feitos pelos membros da guilda, haviam amadurecido para além de serem meros
NPCs. Era como se eles tivessem se tornado jogadores.
Sempre chegará o dia em que os filhotes deixarão o ninho e voarão por conta própria, huh.
Suzuki Satoru não teve filhos e muitos dos outros membros da guilda também não. Ele
não tinha certeza, mas talvez ser pai fosse sentir isso. De certa forma, provavelmente
não seria bem assim que uma mãe se sentiria.
Ele mergulhou em seus próprios pensamentos por um tempo. No entanto, ninguém ou-
sou falar, então ele foi forçado a abrir o tópico, apesar de não ser o mestre de cerimônias
ou algo parecido.
“Então, Albedo. Diga-me o motivo pelo qual todos estão reunidos aqui. É algo impor-
tante para Nazarick, melhor ainda, para o Reino Feiticeiro, certo?”
“Sim. Direto ao ponto, nossos grãos que estavam sendo transportados através do Reino
para o Reino Sacro foram saqueados há quatro dias.”
A luz nos olhos de Ainz piscou por um momento. Albedo estava sendo vaga. Normal-
mente, ela relatava o nome, poder militar e objetivo dos nobres de uma só vez. Por que
isso? Ainz pensou enquanto perguntava mais:
“O comerciante da Oito Dedos encarregado disso não tinha soldados guardando as ca-
ravanas? Além disso, a regra era que nossa bandeira deveria ter sido hasteada, não? Ou
isso significa que o Reino escolheu iniciar uma guerra conosco?”
“Não, bem...”
Albedo abaixou a cabeça enquanto murmurava, então olhou para Ainz como se esti-
vesse tentando espiá-lo.
Ainz achou que sua atitude atual era bastante rara. Pelo contrário, talvez essa tenha
sido a primeira vez que ela demonstrou esse tipo de comportamento. Ela estava se com-
portando como uma garotinha que tinha medo de ser repreendida, definitivamente di-
ferente da figura supervisora que sempre demonstrou.
Ainz manteve cuidadosamente sua fachada incorruptível e sentiu como se suas costas
estivessem encharcadas de suor. Ainz, é claro, não podia suar.
Foi por causa de um erro que Ainz havia cometido? Se fosse esse o caso, a resposta de
Albedo faria sentido.
Ela estava se comportando como uma funcionária que tinha de apontar os erros que
seu chefe cometera, algo que tinha desandado completamente os planos.
Um nobre do Reino? Não faço a menor idéia... Eu fiz alguma coisa? Não fiz nada nem de
engraçado nos últimos meses, fiz? Não, eu poderia fazer?
Enquanto Ainz, que nem conseguia se lembrar dos documentos que havia carimbado
algumas semanas atrás, conjecturava, parecia cada vez mais que tinha sido um erro pró-
prio. Sua ansiedade crescia competindo com seus pensamentos.
Não, um segundo! Já sei! Só pode ser isso! Eu não contei aquilo a Albedo e Demiurge du-
rante a coisa do Reino Sacro? E eu disse a muitas pessoas a mesma coisa depois de voltar.
Sim, cometi um erro de propósito! Ah, meu eu passado, você é ótimo! Calma, agora é a hora...
de usar aquela desculpa!
Ainz sempre pensou que ter o título de soberano absoluto era demais para ele suportar.
E já era hora de dar um fim nisso.
Hmm? A pergunta floresceu na mente de Ainz. O que ela disse não era o que ele esperava,
mas nesse momento Ainz sabia o que dizer.
Albedo assentiu:
Mais mal-entendidos, então? “Humm...” Ainz começou a pensar. Ele não conseguia ver
os aspectos mais profundos desse esquema, mas provavelmente seria benéfico para o
Reino condenar um nobre associado à Nazarick. Dessa forma, eles poderiam purgar uma
praga de sua aristocracia.
“Já entendi... mas a culpa realmente está naquele imbecil? Não é uma jogada do Reino,
é? ...Um momento, você já deve ter investigado os dados da inteligência, Albedo. Des-
culpe por perguntas desnecessárias.”
“De forma alguma, essas são perguntas naturais para alguém como o senhor, Ainz-sama.
Nós preparamos uma testemunha para esse fim. Shalltear.”
“Entendido.”
Shalltear fez uma reverência, levantou-se e depois saiu pela porta esquerda.
Logo depois disso, uma mulher ladeada por dois Death Knights voltou com Shalltear.
Ela era tão magra que seus ossos eram visíveis, como os de alguém doente. Ela também
tinha fortes olheiras, não usava maquiagem e tinha cabelos bagunçados.
Manchas de lágrimas podiam ser vistas ao redor de seus olhos avermelhados, que olha-
vam de um lado para o outro incontrolavelmente, como um animalzinho aterrorizado.
Ainz lembrou-se de ter visto essa pessoa em algum lugar, mas não conseguia se lembrar
de detalhes importantes, como o nome e a posição dela.
A mulher se ajoelhou em um movimento suave. Foi impecável, pode-se até dizer que
era lindo.
“Voss, Voss Mejastad...” sua voz tremia muito. Ela parou por um momento e depois falou
de novo: “Vossa Majestade.”
A sala ficou em silêncio. Percebendo que era sua vez de falar, Ainz disse em um barítono
profundo:
Suas memórias brotaram e se espalharam como videiras. Ela era uma das líderes da
Oito Dedos, a organização criminosa do Reino.
“Oh, ah.”
Não se sabia como ela entendia o murmúrio que Ainz havia feito subconscientemente.
Hilma, que não levantou a cabeça nem uma vez, gritou enquanto sua testa esfregava o
chão.
“Eu, eu não fazia idéia! Não sabia de nada! Não tenho absolutamente nenhuma intenção
de desobediência! O roubo dos grãos não tem nada a ver comigo!”
Seria incrivelmente fácil determinar se a mulher havia mentido, então Albedo deve ter
feito isso. Então, por que ela não relatou os resultados diretamente para Ainz?
Ainz não sabia o que Albedo estava pensando, mas certamente não era sobre esfaqueá-
lo pelas costas. Na verdade, provavelmente era o contrário. Houve algum mal-entendido
desconhecido, causado por ela endeusar Ainz demasiadamente. Porém, não seria apro-
priado perguntar a ela diretamente.
Entrei nessa situação porque me apresentei repetidamente com meu alter ego, não é? Al-
bedo não entenderá se isso continuar. Devo perguntar e ver o que acontece? Seria bom se
a Albedo fosse a única presente, mas tem os outros aqui...
“Você desempenhou algum papel no roubo realizado pelo nobre ao nosso comboio de
grãos?”
“Nenhum!”
Um dominado não podia mentir para o seu dominador, isso significava que Cygnaeus
não tinha conexões diretas com o incidente. Embora uma conexão indireta ainda fosse
possível, nesse caso, isso não seria responsabilidade dela. A hipótese de que ela estava
mentindo por meios de manipulação da memória era improvável.
“—Você foi descrita por outras pessoas como tendo múltiplas personalidades?”
“Não!”
“De modo nenhum! Não tenho a menor intenção! Jamais farei isso!”
Ela negou com a voz ainda mais ferina. Testemunhando isso, Ainz a libertou de seu
「Dominate」.
“Seria muito severo se a puníssemos com base em um crime pelo qual ela não é a res-
ponsável direta. Cygnaeus, não é a culpada. Essa é a minha decisão.”
Cygnaeus levantou a cabeça e olhou para Ainz com uma paixão radiante em seus olhos,
a ponto de Ainz achar isso aterrorizante.
“A, a senhora está absolutamente correta! Mas ele tomou essas ações aleatoriamente e
de própria vontade! Eu o instruí várias vezes! Entre em contato comigo antes de fazer
qualquer coisa! Eu até nomeei um subordinado para monitorá-lo por esse exato motivo!”
Albedo não se opôs à sua explicação. Afinal, era a verdade. Ela havia cumprido suas
funções ao máximo, por isso seria cruel demais deixar que ela assumisse toda a respon-
sabilidade por esse incidente.
Albedo, Recursos Humanos, havia contratado um contínuo que causou grandes pro-
blemas para Cygnaeus, do departamento. Embora seja óbvio que havia problemas nesse
departamento, Ainz também entendeu a tendência de querer culpar o RH por isso.
Capítulo 1 Uma Jogada Inesperada
9 4
Ainz, o assalariado, pensou sobre esse assunto da perspectiva de Cygnaeus.
Se ele deixasse esse assunto para Albedo e os outros, eles certamente lhe dariam seve-
ras punições. Então—
“Mas, esse provérbio foi dito por um líder que desejava arcar com o fardo de seus su-
bordinados, mas não é para servir de escape para os subordinados jogarem a culpa em
seus superiores. Quanto à abrangência que essa declaração possa ter... Albedo, deixe-me
fazer uma pergunta. A Cygnaeus estava encarregada daquele pária, mas quem estava
encarregado da Cygnaeus?”
“Unhum. Sendo seu mestre, então a responsabilidade por este incidente recai sobre
mim no final, correto?”
"N-N-Nós não ousaríamos! O senhor não tem absolutamente nenhuma culpa nisso,
Ainz-sama!”
Cygnaeus, cuja expressão apenas um momento antes tinha sido uma predição de sua
própria destruição, agora olhava para Ainz com a mesma paixão que tinha antes. O rosto
dela estava quase sempre mudando.
“Embora o modus operandi da Cygnaeus possa ter falhas, ela se apresentou de acordo
com as expectativas de sua função. Por isso, ela foi perdoada. A primeira vez que ocorre
um erro, é porque todos cometem erros. A segunda vez é o resultado de descuido. A ter-
ceira vez deveria ter sido evitável. Mas a quarta vez é a que indica a incompetência de
alguém — Cygnaeus.”
“Sim, senhor!!”
Cygnaeus abaixou a cabeça tão rápido que causou um impacto audível no chão. Parecia
doloroso, mesmo para alguém apenas testemunhando.
“Para evitar que um incidente semelhante ocorra novamente, trabalhe com afinco em
suas medidas preventivas. Prepare um conjunto de todos os planos pensáveis sobre isso,
envie-os para Albedo e aguarde aprovação. Esse será o seu castigo.”
Cygnaeus esfregou a cabeça no chão, como se estivesse tentando abaixar a cabeça ainda
mais.
Isso parece desnecessário. Ainz pensou enquanto se virava para olhar em direção aos
Guardiões.
“Essa é minha decisão— vocês têm algo a comentar? Não ficarei com raiva, estão livres
para dizerem o que pensam.”
Ninguém parecia ter objeções. Ainda assim, cada um deles era capaz de dizer “As deci-
sões de Ainz-sama estão sempre corretas” com o rosto mais solene do mundo. E mesmo
que tivessem opiniões divergentes, era improvável que dessem voz a essas opiniões. En-
tretanto, era melhor confirmar em vez de remoer isso.
“—Albedo.”
“Nenhuma objeção.”
“—Demiurge.”
“—Aura.”
“—Nadinha.”
“—Mare.”
“—Cocytus.”
“Sem. Objeções.”
“—Shalltear.”
“Nenhuma.”
Eles estavam realmente bem com isso ou estavam com muito medo de falar? Ainz não
tinha certeza, mas pelo menos havia recebido a aprovação deles.
“Entendido!! Sou grata pelo julgamento misericordioso do meu senhor!! Agradeço das
profundezas do meu coração!! Oh, Vossa Majestade, Rei Feiticeiro!! Permita-me, Hilma
Cygnaeus, o continuar servindo lealmente agora e sempre!!”
“Pretende, é...?”
A quantidade quase nauseante de paixão de Cygnaeus o lembrou de uma garota que ele
conhecera no passado com olhos assustadores.
“Estou ansioso pelos frutos do seu leal serviço. Faça-me um favor, Shalltear, envie a
Cygnaeus de volta.”
“Entendido.”
Shalltear levou Hilma enquanto ativava a função de seu anel, o destino do teletrans-
porte era a superfície. A partir de lá, ela usaria 「Gate」, então não demoraria muito.
Com isso em mente, eles esperaram por ela. Como esperado, pouco tempo depois Shall-
tear voltou sozinha.
“A seguir, bem— esse não poderia ser o único motivo pelo qual fui chamado aqui, não
é mesmo?”
Se aquela fosse a única razão, ele estaria agradecendo às suas estrelas da sorte. Mas
esse desejo foi quebrado por Albedo.
Ainz olhou para Albedo como se tivesse guardado rancor contra ela. Ainz teria adorado
se ela o tivesse deixado se apegar a essa esperança por mais um tempo.
“Não, nada está errado. Mas e então, que tal você me dizer o verdadeiro propósito por
trás de me chamar— de reunir todos os Guardiões de Andar aqui?”
“Em resumo, com que propósito aquele bufão fez o que fez? Alguém o estava manipu-
lando como massa de manobra? É certamente possível. Dependendo da resposta a essas
perguntas, talvez tenhamos que revisar significativamente nossos planos contra o Reino.
“Uhum... Até agora, nossa estratégia contra o Reino tinha sido de “Cenoura & Chicote”,
não? Você já explicou o conceito para a Aura, Mare, Cocytus e Shalltear de antemão?”
“Demiurge e eu estávamos no processo de fazê-lo, mas ainda temos que explicar os de-
talhes específicos do plano.”
"Mesmo? Então Albedo, por favor, compartilhe as informações com todos. Todas as su-
gestões ou opiniões de todos vocês podem ser úteis.”
“Como desejar.”
A estratégia de Cenoura & Chicote (o termo, cunhado por Ainz, ficou popular pelo fácil
entendimento) que consistia em preparar o Reino para uma aquisição era, em essência,
um plano para desestabilizar o Reino por dentro até o ponto em que uma parte dos ci-
dadãos do Reino esperaria avidamente por uma intervenção estrangeira pacífica do
Reino Feiticeiro.
Isso teria sido porque Demiurge também estava envolvido no processo de planeja-
mento? Mas o plano começou a parecer cada vez mais igual ao usado no Reino Sacro. Era
uma estratégia que dependia de conflitos internos e, portanto, causaria uma enorme
perda de vidas no início. Essa preferência por conflitos internos em vez de invadir fisi-
camente um país provavelmente se devia ao fato de ele ser um demônio. Se Cocytus ou
Shalltear estivessem encarregados do planejamento, provavelmente prefeririam méto-
dos mais diretos, como uma invasão total.
Mas, aparentemente, esse plano havia sido formulado por alguém do Reino, e Albedo e
Demiurge haviam feito apenas pequenas modificações em cima do original.
Ele deveria começar uma revolução. Em conjunto com os conflitos internos iniciados
pela falta de grãos, o Reino seria forçado a solicitar ajuda ao Reino Feiticeiro. Havia múl-
tiplos meios para fazer uso da nobreza, mas nem todos poderiam criar um motivo para
Reino Feiticeiro intervir nos assuntos do Reino.
Isso significava que, para Ainz, tudo ainda estava indo conforme o planejado. O inci-
dente causado por aquele indivíduo especial era uma justificativa mais do que suficiente
para o Reino Feiticeiro se envolver.
No entanto, parecia que Albedo e Demiurge estavam um pouco preocupados com a si-
tuação atual. Tinha que haver algo que Ainz não tinha notado.
Albedo reclamou com Ainz várias vezes sobre “ter que enviar cartas para aquele nobre
desagradável”, “um mero humano...” ou algo do tipo. Ela também havia solicitado a Ainz
que revisasse as cartas mencionadas, e ele as leu em várias ocasiões.
Se fosse uma papelada simples, Ainz poderia ter um pouco de expertise na área, mas
não confiava em sua capacidade de revisar ou editar. Ele tentou evitar fazê-lo, mas Al-
bedo o implorou ininterruptamente, então ele o fez.
A propósito, embora tenha passado muito tempo desde que chegou a este mundo, Ainz
ainda não havia aprendido a ler o idioma.
O melhor que ele pôde fazer foi escrever os nomes dele e de Momon e reconhecer nú-
meros. Comparado a Albedo, Demiurge — Pandora’s Actor também — que entendiam o
idioma de vários países, era fácil ver como o cérebro deles funcionava em um nível com-
pletamente diferente. Justamente por esse motivo que Ainz precisava confiar em itens
mágicos para entender qualquer texto.
Se ele tivesse sido honesto, teria dito que não revisou as cartas e apenas as devolveu
intocadas para Albedo.
“Também vi as cartas que nobres enviaram em resposta e, francamente, parece que ele
ficou completamente encantado com você. Não imaginei que ele fosse do tipo que se
oporia ao Reino Feiticeiro.”
Ele tinha ouvido falar de um ditado que dizia algo sobre “ser vítima de traição pode
levar alguém a se tornar irracionalmente odioso”. É como descobrir que uma seiyuu fofa
que você segue tem namorado. Quando esse pensamento veio à sua mente, Ainz pôde ver
uma imagem de seu antigo amigo chorando lágrimas de sangue no lugar onde Shalltear
estava.
Ele também podia ver no lugar de Aura e Mare, a irmã daquele amigo rindo dele.
“Sim, realizamos investigações detalhadas sobre esse assunto, e temos certeza absoluta
de que aquele homem foi o mentor do roubo de grãos. Mas... a possibilidade de que ele
possa ter sido enfeitiçado, sofrido lavagem cerebral ou que tenha sido controlado por
qualquer meio ainda é algo incerto... a única coisa que podemos ter certeza, é que ele
cometeu o crime.”
Albedo tinha uma expressão perturbada, o mesmo valia para Demiurge. O que Ainz
achou inacreditável foi a possibilidade de que alguém que pudesse rivalizar com o inte-
lecto desses dois aparecesse do nada. Ou melhor—
“Talvez aquele nobre tenha feito o que fez sem pensar nas consequências?”
Albedo disse em um tom como se estivesse se desculpando. Foi a primeira vez que ela
adotou essa atitude e Ainz não pôde deixar de se sentir revigorado com esse novo tipo
de comportamento.
“Não, não se precipite, Albedo. Nós só podemos fazer nossas jogadas preventivas contra
as estratégias de algum gênio, mas o Ainz-sama pode até mesmo ver através de ações
imprudentes de idiotas. Sempre existe a possibilidade de ser oposto, não é? Melhor di-
zendo, essa explicação não é a mais plausível?”
“M-mas... alguém ser tão estúpido assim... é realmente possível...? Mas o Ainz-sama...”
Por alguma razão, Aura e Mare haviam apoiado o argumento de Demiurge, aturdindo
Ainz, que simplesmente murmurou um comentário sem valor.
“Es-espere um pouco. Vamos ouvir as opiniões dos outros Guardiões de Andar em rela-
ção à operação. Eles devem ter muitas perguntas, então vamos reservar um tempo para
isso. Aqueles com perguntas podem simplesmente levantar as mãos e a Albedo ou o De-
miurge os responderão.”
Por favor, não perguntem diretamente para mim. Ainz já havia colocado uma bandeira
branca em sua mente.
“Por que a gente não atrai o máximo da nobreza que der logo no início da operação?
Porque se fizer isso, é só simplesmente matar aquele nobre encrenqueiro e continuar a
operação que já planejaram, né?”
A situação ficou assim porque não esperavam que essa pessoa fosse um curinga.
“Não é como se não pudéssemos. Até porque, já recrutamos alguém assim... é tão fácil
chantagear um pai amoroso. Chegamos a considerar o fato de que gostaríamos de pou-
par os nobres que fossem razoavelmente capazes, por isso que escolhemos a parte dis-
pensável da nobreza. Você não crê que é necessário levarmos esclarecimento aos idiotas,
para que o país se torne digno de ser governado pelo Ainz-sama? Foi por isso que for-
mamos uma facção cheia de pessoas incompetentes de várias formas. Como metáfora,
pense nisso como uma preparação para jogar o lixo fora, então primeiro, precisamos
abrir a lixeira. É claro que também recebemos informações sobre as pessoas talentosas
do Reino, mas queríamos coletar informações diretamente da fonte.”
“Pois no fim, o Reino Feiticeiro não tem necessidade de outros nobres além de alguns
deles que já são talentosos ou trabalhadores devotos.”
“Não tenho certeza se entendi ~arinsu. Mesmo que aquele tolo em forma de nobre es-
tivesse sendo manipulado para fazer o que fez, suas ações já não constituíram um ataque
contra o Reino Feiticeiro? Nesse caso, o Reino Feiticeiro não deveria usá-lo como casus
belli para invadir o Reino ~arinsu? Se realmente foi uma armadilha montada por alguém,
não poderíamos simplesmente esmagá-la?”
“Correto, deveríamos ter feito isso, especialmente se não houvesse mentores ocultos...
mas... hmm—”
“É extremamente difícil encontrar o equilíbrio certo para lidar com a situação. Embora
agora tenhamos a perspicácia superior de Ainz-sama, já chegamos à conclusão que o no-
bre cometera esse ato sem pensar muito nisso. Se aplicarmos uma punição leve por essa
transgressão, o Reino Feiticeiro será menosprezado por outras nações. Então, o que
acreditam ser a punição adequada para alguém que atacou uma caravana que hasteia a
bandeira do Reino Feiticeiro — algo que essencialmente significa o próprio Ainz-sama
— e manchou a imagem pública do Ainz-sama?”
“Isso mesmo. É assim que deve ser. A seguir, devo perguntar a todos. Simplesmente
devemos deixar isso passar depois que lidarmos com o criminoso?”
“Seria. Muito. Brando, Seu. Mestre. Também. Deve. Responder. Por. Esse. Crime.”
Embora fosse surpreendente que os Guardiões tivessem uma reação exagerada, não era
muito fora do comum, considerando suas personalidades. O que Ainz ficou chocado foi
como eles aceitaram seu comentário descartável sobre o nobre como a face da verdade
nunca antes vista.
“Isso mesmo, eu também concordo com o julgamento da Shalltear. Já que foram burros
o bastante para tentar fazer de Ainz-sama um tolo, digo que precisamos aplicar punições
apropriadas a todo o Reino! Mas, naquela época...”
“Ainz-sama disse uma vez que “governar uma nação em ruínas seria ruim para nossa
reputação”. Também ouvi dizer que o Ainz-sama não tem interesse em ficar no topo de
uma pilha de escombros, por isso devemos tentar o nosso melhor para evitar esse tipo
de situação.”
Mas quão credível ele poderia ser como pessoa, se nem se lembrava do que havia acon-
tecido há uma semana?
Sendo assim — embora Ainz não se lembrasse —, desde que Demiurge o dissera, ele
deve ter dito algo nesse sentido no passado. Se fosse esse o caso, havia apenas uma ma-
neira correta de abordar isso.
“Como esperado de você, Demiurge. Ainda se lembra do que eu disse. Demiurge, você
me deixou muito feliz.”
“Uhm, uhum. Shalltear, Aura. Também sou grato por vocês duas.”
Que por sinal, como ainda não descobriram a verdade de que ele era incompetente?
Será que Ainz era bom em atuar a esse ponto?
Muito tempo se passou desde que ele veio a este mundo como o regente de Nazarick.
Ele esteve agindo como seu mestre o tempo todo. Então eles já deveriam ter visto através
do disfarce de “Governante Absoluto”, ou seja, já deveriam ter visto a natureza inútil de
Satoru.
Ainz não pôde deixar de sentir uma grande sensação de culpa pelo fato de suas palavras
terem tanto destaque em suas mentes.
“...Então foi por isso. Mas, Demiurge, os planos realmente falharam desta vez?”
“...”
Demiurge olhou para Ainz com uma expressão desconcertada, Ainz já a tinha visto em
várias ocasiões. Era a expressão que fazia quando tentava descobrir o verdadeiro signi-
ficado por trás de suas palavras, como se todas fossem eufemismos ditos por um ser em
um nível completamente diferente de brilhantismo.
“Não entenda errado, Demiurge. Estou apenas tentando reafirmar o que você disse. Não
há significados ocultos. Você precisa relaxar, tome um banho de água fria.
Esses pensamentos desapareceram quando Ainz estava prestes a dar voz a eles.
Assim que uma premonição desagradável surgiu em sua mente, exatamente como Ainz
esperava, Demiurge ficou horrorizado como se tivesse acabado de ser iluminado pela
razão.
“...Não, um momento, poderia ser que... Ainz-sama. Será que o senhor teve a mesma in-
tenção no passado, quando imaculadamente colocou o Império sob nosso domínio?”
Em sua mente, Ainz começou a questionar Demiurge, que tipo de processo de pensa-
mento o levaria a essa conclusão?
“Não, não é nada do tipo.” Essa seria a melhor resposta, não é? Mas essa resposta seria a
mais apropriada?
“—Exato.”
Depois de hesitar por um longo tempo, essa foi sua resposta. Por alguma razão desco-
nhecida, os olhos de Albedo se arregalaram tanto quanto os de Demiurge.
“Não, Demiurge. Como alguém como você pode, quero dizer, como nós podemos ter a
esperança de compreender completamente os engenhosos planos do Ainz-sama? E pen-
sar que esquecemos que todos os movimentos feitos pelo Ainz-sama consistem de uma
infinidade de intenções, esse pode ter sido nosso maior fracasso.”
“—Correto. É como diz. Chegar a aplicar a política da Cenoura & Chicote em nível naci-
onal. Como esperado do nosso Ainz-sama. Como esperado do líder dos Seres Supremos...”
Ele não conseguia mais entender sobre o que os dois estavam falando.
Nesse momento, um pensamento passou por sua mente. E se esses dois já tivessem per-
cebido sua incompetência e estivessem apenas tentando cobrir seu erro?
Esses dois são gênios. E a um ponto que nem consigo entender o quanto eles são mais
inteligentes do que eu. Até quando pessoas como eles ainda continuarão confundindo mi-
nha estupidez com genialidade? Não, isso nem deveria ter sido possível!
“Ser capaz de planejar por milênios à frente, estou muito admirada mesmo... Ainz-sama.”
Quem? Quando eu disse isso? Como alguém seria capaz de planejar algo tão no futuro
assim? Parem de inventar coisas por conta própria. Ainz suprimiu seu desejo de gritar
seus pensamentos. Seria ruim se as duas crianças ingênuas a considerassem a verdade.
Entretanto, como ele aprovava todas as sugestões de Demiurge, ele não sabia qual era
a melhor maneira de responder a ele agora. Além disso, se ele fizesse objeções agora,
provavelmente criaria problemas para si no futuro.
“Não há necessidade de nosso mestre ser tão humilde ~arinsu. Oh, nosso grandioso
Ainz-sama.”
“Para. Ser. Capaz. De. Pensar. Tão. Longe. Na. Infinidade. De. Futuros... Não, Se. Esse. Não.
Fosse. O. Caso, Então. O. Ainz-Sama. Não. Teria. Sido. O. Líder. Dos. Seres. Supremos.”
“Vejamos, a seguir, como agora temos a permissão do Ainz-sama, vamos dar ao Reino a
mais miserável das punições.”
“Eh?”
Como a palavra “miserável” apareceu nesse ponto da conversa? Ainz estava completa-
mente confuso.
“...Uh.”
♦♦♦
Hilma foi violentamente despejada para o local de onde estava anteriormente. O 「Gate」
que a transportou de volta tinha sumido quando ela se virou para olhar.
Ela examinou os arredores enquanto apalpava o braço que havia colidido com o chão
quando foi jogada fora do portal. Ela estava em uma sala bem ventilada, espaçosa e fa-
miliar.
Este costumava ser o quartel da Divisão de Jogos de Azar, a mansão de Noah Zweden.
Originalmente, ele havia comprado esse terreno com a intenção de construir um cassino,
Capítulo 1 Uma Jogada Inesperada
106
o que era ilegal. Eles construíram com sucesso a mansão associada a ele, mas devido a
circunstâncias imprevistas, o restante dos planos teve que ser cancelado.
Por causa disso, a mansão havia sido feita com enormes cômodos destinados a jogos e
Hilma tinha o maior de todos.
“Hilma!”
Seus companheiros correram até ela. Havia mais três na sala, incluindo Özkuzu, que
tocou uma campainha na mesa.
Certamente suas expressões pálidas eram devido ao fato de estarem preocupados com
seu bem-estar.
“Você está bem!? Tem algo de errado!? Como está seu estômago?”
“Não se preocupe com isso! Você deve ter sofrido muito, deve descansar imediata-
mente.”
Noah enxugou as lágrimas dos cantos dos olhos enquanto dizia isso. Ele deve ter pen-
sado que ela havia experimentado “aquilo” ou algo igualmente horripilante. Hilma não
teve outra opção senão se explicar.
“Eu não fui submetida “àquilo”, eles não fizeram nada comigo.”
“Eu também me encontrei com Sua Majestade, Sua Majestade o Rei Feiticeiro."
Os olhos úmidos de Hilma eram como um quebra-mar despedaçado, pois um fluxo in-
terminável de lágrimas fluía.
Apenas seu título, por si só, comandava uma quantidade inconcebível de medo, Endio
fez o sinal de um Deus em que ele nem acreditava enquanto falava, já os outros dois
começaram a olhar freneticamente pela sala.
Talvez eles estivessem tentando achar bisbilhoteiros, mesmo que nunca tivessem tido
algum. Mas todos sabiam que havia sempre a possibilidade de alguém os ouvir.
“Você conheceu— não, você teve uma audiência com ele? Então conseguir voltar bem é
uma vitória.”
“Ufufu...”
Embora todos já tivessem sido chamados pelo Rei Feiticeiro, no tempo do ocorrido, eles
se curvaram o tempo todo e ninguém realmente viu seu rosto.
No entanto, através das informações que eles haviam coletado e relatos de terceiros
que deram uma olhadela para ele, a Oito Dedos, incluindo Hilma, chegaram à conclusão
inconfundível de que o Rei Feiticeiro era o avatar do mal. Ou melhor, ele era simples-
mente um magic caster que usaria os mais cruéis métodos de tortura e poderia esmagar
impiedosamente os soldados do Reino.
“Sua Majestade foi... Sua Majestade foi verdadeiramente um mestre sensato. Ele não
apenas tolerou meus fracassos, mas também foi misericordioso em sua decisão.”
Noah ficou chocado por um momento, mas depois fechou os olhos como se quisesse
oferecer piedade.
Na verdade, se alguém tivesse dito isso, a Hilma de alguns minutos atrás provavelmente
teria pensado o mesmo que eles. Então foi isso que aconteceu, ela está completamente
quebrada psicologicamente, ou algo parecido.
Os dois atrás dela falaram com os olhos avermelhados: “Hilma... tenho mais ou menos
inveja da sua situação atual.”, “Ahhh, se eu estivesse lá com você...” e outros lamentos.
“Não, muita calma. Talvez ela esteja sob alguma magia de controle mental, Hilma, isso
é verdade?”
Noah não parava de perguntar. Claro, ela própria sabia que não estava sob a influência
de nenhuma magia, mas, ao mesmo tempo, era algo que não podia provar para eles. Por
“Nem eu acreditava que voltaria com vida, mas o único motivo que voltei sem nenhum
arranhão, foi por causa do nosso mestre. Sua Majestade, o Rei Feiticeiro — é verdadei-
ramente alguém apto a ser chamado de rei. Se o nosso mestre não estivesse lá...”
Talvez ela tivesse sido forçada a assumir a responsabilidade pelo que havia acontecido.
Talvez— não, isso não era apenas em hipótese, ela definitivamente estaria comprome-
tida devido às ações daquele idiota e sofreria uma punição infernal por isso. A Primeira-
Ministra do Reino Feiticeiro, Albedo, definitivamente faria isso.
Se ela estivesse no lugar de Albedo, ela também teria alguém que levasse a culpa por
isso, mesmo que o castigo não fosse a morte, ainda seria preciso aplicar algo mais sim-
plório, como dor e sofrimento. Então, da perspectiva dela, a decisão do Rei Feiticeiro foi
infinitamente mais misericordiosa do que a que ela daria.
Embora ela tivesse dito isso, Hilma não acreditava que fosse esse o caso.
Essa não era uma habilidade incomum, mas apenas algo que ela aprendeu ao longo do
tempo com a experiência. Era acurado até certo ponto, então de acordo com o que con-
fiava ter sentido, o Rei Feiticeiro e Albedo não estavam brincando de Policial Bom, Poli-
cial Mau.
E a razão pela qual ela não estava completamente certa de seu julgamento foi porque
era incrivelmente difícil ler os pensamentos do Rei Feiticeiro, dado que ele não tinha
expressões faciais. Ainda assim, havia uma chance de que suas suposições estivessem
corretas.
“Isso mesmo. Afinal, eu já fiz isso no passado, e estou familiarizada com essas coisas.
Mas... ahhh, quão doce é a cenoura para aqueles que experimentaram a dor que o chicote
poderia causar. Talvez tenham mentido, talvez Sua Majestade, o Rei Feiticeiro, seja um
ser aterrorizante que não sente empatia pelos vivos e seus confidentes estejam lá para
garantir que ele não exagere. Mesmo assim, eu ainda estaria inclinada a acreditar nele.
Não... ou talvez eu queira acreditar nele.”
Damas da noite, que foram facilmente enganadas por homens e subsequentemente de-
soladas, era algo que Hilma já vira muitas vezes. Ela sabia que agora não era diferente
“...Hilma. Você já testemunhou inúmeros tipos de homens. Você é melhor que todos nós
em termos de compreensão de pessoas, especialmente os homens. Diga a verdade, que
tipo de homem é Sua Majestade, o Rei Feiticeiro?”
Como prostituta de alta classe, era verdade que ela tinha visto todos os tipos de homens,
especialmente aqueles de grande status ou tinham ampla autoridade sobre as pessoas.
Ela vira esse tipo de homem com tanta frequência que se tornara irritante.
“Se eu o descrevesse com uma única frase, seria; um mestre misericordioso. Ele tem a
clareza de espírito para pensar e julgar, mas também a flexibilidade de acomodar as su-
gestões construtivas de seus subordinados em sua própria linha de pensamento. Ele não
procura rir da desgraça alheia como um hobby, o que lhe cairia bem. Como devo colocar
isso... sim, ele simplesmente não tem aquela aura, sabe? É claro que ele ainda executaria
punições de forma insensível caso as julgasse necessárias.”
“Exatamente. Embora nosso mestre seja um dos undeads, ele incorpora justiça e mise-
ricórdia. Mesmo quando ele for insensível, ele não será cruel. Afinal, a consequência do
fracasso é a punição. Ele poderia ter me matado para enviar uma mensagem a todos vo-
cês, mas Sua Majestade não o fez.”
Ela não sabia quem acabara de engolir audivelmente, mas o som estava ecoando pela
sala espaçosa.
“Espero que Sua Majestade, o Rei Feiticeiro, fique conosco para todo o sempre. Se ele
fosse nosso mestre, então teria...”
“Hoooooh...”
Eles não sabiam quando aquele destino infernal os acometeria, mas como pessoas que
viviam com medo constante, isso era salvação.
“Sim, Noah. É o que devemos fazer... pois agora sabemos. Mas a Primeira-Ministra do
Reino Feiticeiro, Albedo, ainda é uma mestra aterrorizante. Sequer posso imaginá-la di-
zendo as mesmas palavras que Sua Majestade, o Rei Feiticeiro, me disse...”
Embora apenas murmurasse a última frase para si mesma, seus companheiros que a
ouviram tinham um olhar de surpresa no rosto.
Era difícil ler os pensamentos do demônio chamado Albedo, mas sua intuição lhe dis-
sera que algo estava errado naquele momento.
Talvez fosse porque seu cérebro estava exausto naquelas condições extremas.
Embora o Rei Feiticeiro pudesse ser considerado uma figura compassiva, Albedo era al-
guém que via as pessoas como meros brinquedos. Algo assim.
Hilma realmente queria fazer o possível para que ela e seus companheiros pudessem
se tornar subordinados diretos do Rei Feiticeiro. Ele era o tipo de mestre que recompen-
saria alguém com base em seu desempenho e não trataria seus subordinados de maneira
irracional.
“Pessoal. Vamos trabalhar com ainda mais afinco para Sua Majestade, o Rei Feiticeiro.”
Hilma disse aos três em sua frente e compartilhou seus pensamentos. Depois, ela come-
çou a procurar ajuda de várias fontes para a tarefa que havia sido dada pelo Rei Feiticeiro.
No centro, havia uma mesa de reunião retangular e situado no assento mais importante
da sala estava Ranpossa III. À sua direita, estava o segundo príncipe, Zanac, e o restante
dos assentos haviam sido ocupados por cortesãos e ministros do Reino. Devido ao fato
de todos serem de idade avançada, com apenas uma breve olhada pela sala, tudo o que
veria seriam cabelos brancos e cabeças carecas reluzentes.
Se essa fosse uma situação normal, todos, exceto o Rei, se levantariam para prestar seus
respeitos e então iniciar adequadamente a reunião — afinal, esse era o protocolo —, mas
não foi isso que aconteceu. Cada um deles tinha uma xícara cheia de chá diante de si,
significando a duração potencial dessa reunião.
Depois de confirmar que todos haviam recebido os materiais que haviam preparado,
Zanac disse em voz alta:
“Declaro iniciada a reunião da côrte. O tópico desta reunião será a declaração de guerra
que recebemos do Reino Feiticeiro.”
Ele usou um termo tão intenso quanto “declaração de guerra” na esperança de que to-
dos tratassem essa reunião com a gravidade que merecia.
Zanac olhou furtivamente para a lateral do rosto de seu pai. O julgamento de seu pai era
o que mais lhe preocupava. Seu pai ainda era capaz de entender completamente o quão
perigosa essa situação poderia ser e tomar as ações apropriadas para prevenir-se?
É bem provável que ele tenha algumas mágoas contra o Rei Feiticeiro que matou “aquele
cara”...
Ele ouvira dizer que, depois que seu pai recebeu notícias da morte do Capitão Guerreiro
Gazef Stronoff, ele ficou abalado e não conseguiu pensar direito. E ao ser explicado de
Desde então, seu pai parecia ter envelhecido bastante. Ele havia perdido toda a motiva-
ção e estava tão sem vida quanto um manequim construído de carne e osso.
Seu pai, que estava profundamente traumatizado, seria capaz de fazer um julgamento
calmo contra seu inimigo jurado, o Reino Feiticeiro?
O tópico desta reunião foi algo que lhes foi entregue dias atrás por um enviado do Reino
Feiticeiro, um documento oficial que trazia o selo real do Reino Feiticeiro. O conteúdo
do documento diz: “Um comboio de grãos destinado a servir como ajuda humanitária do
Reino Feiticeiro para o Reino Sacro foi usurpado à força por um cidadão do Reino. Con-
sideramos uma ação hostil contra o Reino Feiticeiro e declaramos guerra ao seu país.”
O documento também trazia os selos de outros países que aprovaram as ações do Reino
Feiticeiro.
“Sinto muito, pois tivemos que investigar dois dos seis selos no documento do enviado,
o que demandou um pouco de tempo.”
Quem abaixou a cabeça foi o Ministro das Relações Exteriores, que também era o Mi-
nistro dos Selos e estava encarregado da investigação dos selos que endossavam a deci-
são do Reino Feiticeiro.
“Os selos que tínhamos certeza eram os quatro do Reino Feiticeiro, do Império, do
Reino Dragonic e do Reino Sacro, correto?”
“Está correto. Dos dois restantes — um era da Nação dos Dwarfs. Embora tenhamos
identificado o design como sendo deles, o selo ainda tinha algumas variações em com-
paração com as dos documentos que possuímos de dois séculos atrás. Depois que rece-
Era o mais jovem dentre os ministros. Tanto ele como Zanac reduziram bastante a mé-
dia de idade da sala. Com isso dito, ele já tinha mais de 40 anos.
Sua aparência não fazia jus a um Ministro dos Assuntos Militares; ele era magro, fraco
e tinha um rosto que o sugeria como uma pessoa neurótica. Ele parecia mais alguém do
financeiro do que militar.
Seu relacionamento com Gazef não era bom — ou melhor, ele ostentava deliberada-
mente sua aversão a ele —, portanto era mais independente de Ranpossa e, frequente-
mente, estava ausente das reuniões da côrte. A falta de contato entre eles fez Zanac des-
conhecer suas capacidades.
No entanto, já que o Marquês Raeven elogiou suas habilidades para Zanac, ele deveria
ser alguém capacitado a prover para si, no mínimo. Não importava como ele era no âm-
bito pessoal, o que importava era no profissional, certo? Indo mais ao ponto, se ele não
fosse o mínimo competente, não teria conseguido ascender-se ao cargo de ministro.
“Parece que o Ministro dos Assuntos Militares não está muito familiarizado com esse
tema. Geralmente, quando o Reino Sacro aplica seu selo nacional em um documento, sua
suma sacerdotisa também carimba o selo de seu templo. Isso deve ser algo semelhante
a isso.”
“Seu servo acredita que esse seja o caso, Vossa Majestade. O documento que recebemos
para a atual coroação do Rei Sagrado ainda tinha o selo do templo de lá, pelo que parece,
ela começou a consolidar seu poder rapidamente logo após esse evento. Portanto,
mesmo que nunca tivéssemos visto o selo desta “Sem Rosto”, que por sinal impossibilita
nossos meios de confirmar sua validade, uma vez que esteja carimbado ao lado do selo
nacional do Reino Sacro, creio que podemos assumir que é esse o caso.”
“Não podemos ter certeza, Vossa Majestade, porque ainda temos que receber informa-
ções sobre o que aconteceu no Reino Dragonic. Talvez eles tenham sido vítimas de algu-
mas palavras doces ou talvez simplesmente sentiram que havia mais a ganhar ao se aliar
ao Reino Feiticeiro do que a nós.”
“Será o caso? Então é como diz, Ministro das Relações Exteriores. Obrigado pelo seu
árduo trabalho. A seguir... Ministro do Interior, quantos dentro do Reino acreditam no
conteúdo deste documento?”
“Sim. Embora não tenhamos muita certeza da totalidade do Reino, cerca de sete déci-
mos dos que estão na côrte acreditam que isso é uma tramoia do Reino Feiticeiro. Cerca
de um décimo de nós acredita que foi feito por ladrões de estradas — aquela parte do
campesinato que seria ignorante e tola o suficiente para fazer uma coisa dessas. Os dois
décimos restantes acreditam que isso possa ser uma conspiração de uma terceira nação.”
“Vossa Majestade, acredito que essa conclusão seja muito precipitada. Há também a
possibilidade de que o Império esteja planejando anular seu status de estado vassalo.
Afinal, se fossem os cavaleiros do Império, eles provavelmente poderiam facilmente ata-
car e oprimir por completo um comboio.”
“—Isso não seria possível. O incidente aconteceu em nossas terras. Nossas investiga-
ções já não revelaram que havia poucas dezenas de homens? Mesmo que fosse o Império
ou o Conselho Estadual e a Teocracia, não há como terem trazido tantos soldados para o
nosso solo sem sequer notarmos. A menos que tiveram ajuda de alguém daqui de dentro.
Talvez eles tenham contratado bandidos do Reino, mercenários também seriam uma op-
ção— mas os detalhes não importam, o que importa é que nós, como nação, cometemos
um erro.”
O Ministro dos Assuntos Militares afirmou que era impossível que isso fosse uma cons-
piração executada por soldados estrangeiros no Reino.
“Seria difícil com os bandidos, mas ainda espero que possamos absorver alguns desses
mercenários para as nossas fileiras, mas simplesmente não temos capital para fazê-lo.”
“Ministro das Finanças, Ministro dos Assuntos Militares, por favor, não discutam. Não
temos tempo para isso.”
O Ministro dos Assuntos Militares continuou a falar para a sala agora silenciosa.
“Mas não tenho dúvida que há alguma conspiração envolvida nisso. Tenho testemunhos
dos guardas nos portões de que a caravana estava hasteando a bandeira do Reino Feiti-
ceiro e tinha um grupo de segurança bastante impressionante quando deixaram a capi-
tal.”
A maioria do povo do Reino sabia do massacre que o Reino Feiticeiro havia realizado
nas Planícies Katze, de modo que ninguém dentro do Reino ousaria provocar um país
tão aterrorizante.
Se eles tivessem que deduzir quem estava por trás de tudo isso, havia apenas um país
que cumpria todos os requisitos.
—O Reino Feiticeiro.
Tudo fazia sentido quando a consideravam como uma trama orquestrada e executada
por eles.
“Zanac, embora não tenha passado muito tempo, quanto progresso fez em suas investi-
gações?”
“Na verdade... eu, seu filho, já descobri quem começou esse incidente.”
“...É exatamente isso que tornou as coisas difíceis. Ficamos com dúvidas sobre ser uma
conspiração precisamente porque foi muito fácil encontrar o culpado. Mas seria gentil
em me dar um pouco mais de tempo?”
“É claro que temos que investigar os detalhes exatos desse incidente, mas dada a situa-
ção, qualquer quantidade de informações seria útil. Poderia relatar o que descobriu —
do que tem certeza absoluta?”
“Como desejar, meu Rei. O que temos certeza é que os criminosos em questão incluem
um barão conhecido como Barão Philip Dayton L'Eyre Montserrat e seus servos.”
Os cortesãos começaram a falar: “Montserrat?”, “Já ouviu falar desse nome?”, “Um barão
e seus servos atacaram o comboio?”, “Será que estavam tentando se vingar por alguém
que morreu na batalha?”, “Talvez ele seja um daqueles que não pensa muito antes de
agir?”, “As emoções podem levar alguém a ficar descontrolado, não é?”
No meio disso, quem falou foi o Ministro da Justiça, que parecia bastante irritado.
“Vossa Majestade, isso... isso só pode ser esquema do Reino Feiticeiro, correto? Seu
servo não conseguia entender por que um nobre do Reino planejaria algo assim.”
“Eu concordo. O Reino Feiticeiro é um país que usaria「Charm Person」 em seus tri-
bunais sem o menor pudor, não? É perfeitamente plausível que eles não se importem
com o uso de métodos igualmente desprezíveis em nível nacional. Por exemplo — esse
tal barão estava sendo controlado por 「Charm Person」?”
A frase “Faz sentido...” podia ser ouvida por toda a sala. Depois de ouvir as acusações
que o ministro fez na segunda metade da retórica, Zanac não pôde deixar de se arrepen-
der por vazar essas informações.
“Se for como diz, precisamos oferecer proteção a esse barão o mais rápido possível.
Embora eu não seja muito versado sobre o assunto, ouvi dizer que a magia chamada
「 Charm Person 」 deixa a vítima com a memória do que aconteceu, do momento
quando foi enfeitiçada. Sendo assim, ele não ficará em silêncio.”
Zanac não era tão conhecedor de magia quanto o ministro, então cometera um erro de
novato.
“—Meu Rei...”
O olhar de seu pai estava afiado o suficiente para que ele sentisse que estava sendo
perfurado. Mesmo quando reduzido a um velho caquético, o homem que detinha o lon-
gevo título de rei ainda tinha uma aura digna de elogios.
Duvido que eu tenha esse mesmo nível de realeza, mas não recuarei tão facilmente.
Mesmo que fosse um plano do Reino Feiticeiro, valeria a pena travar uma batalha cam-
pal com um inimigo que havia preparado todo o terreno para ter a vantagem-mor? Ele
estava aterrorizado com a possibilidade de que tudo que fizessem fosse discutir conti-
nuamente sobre “é um esquema” ou “não é um esquema” até o momento que a guerra
batesse à sua porta.
Em vez de esperar que as coisas cheguem a esse ponto, seria melhor decapitar logo o
nobre que havia iniciado tudo e esperar que isso diminuísse a tensão.
E mesmo que estivessem dispostos a enviar seus próprios soldados, isso não mudaria
o fato de que ainda estariam em perigo.
“Meu Rei, acredito que devemos evitar uma guerra com o Reino Feiticeiro.”
“E você estaria disposto a oferecer um nobre inocente como sacrifício? Isso lá é algo
que o herdeiro do trono deveria dizer? Meu filho, pense antes de falar.”
“Se fizéssemos isso, vamos ter que entregar a cabeça de outro servo leal toda vez que o
Reino Feiticeiro bater à nossa porta? Entende esta simples lógica?”
Seu pai soltou um suspiro e sugou os lábios até fazerem uma linha reta. Zanac aprovei-
tou sua vantagem ao prosseguir com:
“Sou contra a idéia. Mas permita-me repetir, acredito que uma guerra com esse tipo de
país deve ser evitada a todo custo, mesmo que tenhamos que sacrificar um nobre ino-
cente.”
Seu discurso dificilmente era adequado para o herdeiro do trono. Pelas costas, ele seria
chamado de fraco e perderia a lealdade de alguns cortesãos por causa disso, mas Zanac
acreditava que esse era o único caminho pelo qual o Reino sobreviveria.
Quem concordou com ele foi o Ministro dos Assuntos Internos, mas ele estava prestes
a complementar a proposta de Zanac.
“Vossa Majestade, seu servo entende o desejo de proteger todos os cidadãos. Então, que
tal simplesmente nos tornarmos um estado vassalo do Reino Feiticeiro?”
Os cortesãos começaram a gritar; “Do que está falando!?”, “Você perdeu o senso de
honra!?”, e assim por diante ao ouvir o que o Ministro dos Assuntos Internos tinha a
dizer. O ministro ignorou todos eles e manteve seu olhar fixo no pai de Zanac.
Diante de uma sugestão que classificara o sugestor de traidor, seu pai gradualmente
soltou um sorriso.
“Isso, em especial, é algo que não posso fazer. Pois seria semelhante a trair a lealdade
de gerações de pessoas que serviram a este Reino. Como seremos capazes de encará-los
depois disso? Peço desculpas, Conde. E obrigado pela sua sugestão.”
Zanac viu que eles estavam se comunicando em um nível mais profundo através de seus
olhares.
Seu pai era um homem misericordioso, mas nada mais. Não — talvez fosse por isso que
pessoas talentosas estivessem dispostas a servi-lo. Seu pai era excepcionalmente talen-
toso em recrutar pessoas mais talentosas que ele, como o Capitão Guerreiro Gazef Stro-
noff.
Mas agora — Zanac não pôde deixar de se sentir inadequado em comparação a geniali-
dade de sua irmã ou ao carisma de seu pai. Mesmo se por ventura se tornasse rei, ele não
tinha certeza que faria do Reino um lugar melhor.
A única coisa que ele poderia fazer era aprimorar a si mesmo, mas não era uma tarefa
tão fácil, ainda mais dada a sua idade e personalidade, além disso, ele nunca quis melho-
rar a si próprio. Então, provavelmente manteria sua personalidade até a morte.
“—Ministro dos Assuntos Militares, quero propor uma hipótese. O que poderíamos fa-
zer para vencer uma guerra contra o Reino Feiticeiro?”
“Quais as circunstâncias? Na que formamos uma aliança com outros países de antemão,
ou na que os enfrentamos sozinhos?”
Zanac, Ranpossa III e o Ministro das Relações Exteriores trocaram olhares. Zanac, como
seu representante, respondeu com:
“Então é isso... então Vossa Majestade, embora essa pergunta possa estar um pouco fora
do assunto. O que o senhor consideraria como a condição de vitória desta guerra? Temos
que expulsar o inimigo em batalha? Ou temos que matar— ou melhor, destruir o Rei
Feiticeiro? Se for o último, não acredito que tenhamos alguma chance de vitória.”
“...Ministro dos Assuntos Militares, não seria bem isso. O que precisamos fazer para for-
çar o inimigo a retirar suas forças?”
O Ministro dos Assuntos Militares inclinou a cabeça enquanto contemplava. Ele veio
com a resposta:
“A sorte teria que estar do nosso lado, mas se fôssemos conduzir um exército ao longo
do caminho e ocupar E-Rantel, claro, enquanto as tropas deles estivessem marchando
de E-Rantel em direção à Capital, poderíamos ter a chance de mudar a maré da batalha.”
Outra maneira de dizer isso era que, se a sorte não estivesse do lado deles, não teriam
a mínima chance de vitória. Zanac não tinha certeza se seu pai havia entendido todas as
implicações das palavras do ministro.
“Se fosse esse o caso, e se o Reino Feiticeiro tivesse atacado sem uma declaração formal
de guerra, tudo já teria terminado. Um ataque surpresa nos deixaria incapazes de reunir
tropas suficientes a tempo, de modo que nem seríamos capazes de executar o plano.”
A declaração formal de guerra era uma tradição entre nações, uma espécie de acordo
ou etiqueta de cavalheiros.
Enviar uma declaração formal de guerra era o mesmo que dizer “nosso país respeita a
etiqueta” para as outras nações. Se não o fizessem, seriam vistos como uma nação bár-
bara, o que teria um sério impacto negativo em seus esforços diplomáticos.
Entre nações de diferentes raças, essa tradição não era algo tão frequente. Entretanto,
mesmo quando nações de diferentes raças se envolviam em escaramuças, esse tipo de
coisa dependeria da idade, história, relações diplomáticas com seus países vizinhos e
assim por diante.
Então, nesse contexto, como uma nação governada pelos undeads, aqueles que odeiam
a vida, se comportaria? Eles forneceriam uma declaração formal de guerra?
“—Meu Rei. Como eu esperava, teríamos chances risíveis de vitória se formos à guerra.
Se for esse o caso, não seria melhor tentar o nosso melhor para evitar esse resultado,
sacrificando o mínimo possível?”
“Sacrificando o mínimo...?”
“Sim, Meu Rei. Devemos convocar aquele barão imediatamente e julgá-lo. Depois, fare-
mos com que ele assuma a responsabilidade por suas ações, independentemente do re-
sultado, e por fim, entregaremos sua cabeça.”
“...Não podemos fazer isso, Zanac. Convocar aquele barão e julgá-lo seria ótimo, mas
caso ele seja inocente ou se pudermos declarar sua inocência, então eu não farei isso. Eu
tenho um plano melhor em mente.”
Zanac sentiu-se decepcionado com o pai e pensou no que deveria fazer a seguir.
Independentemente de como eu olhe para isso, o futuro do Reino parece sombrio... Parece
que vou ter que usar a força.
Embora a probabilidade seja pequena, aquele único barão pode ter sido a fonte de todos
os seus problemas. De todo modo, se pudessem fazer disso a verdade, seus problemas
seriam resolvidos.
Porém, Zanac não conseguia pensar em uma maneira de jogar todas as responsabilida-
des em cima dele. Mas, e se ele matasse o barão antes que ele chegasse a Capital Real e
depois dissesse que, de fato, ele fôra o culpado de tudo? Pois mesmo duvidando, seu pai
não seria capaz de dizer o contrário.
Mesmo com seu pai sendo um forte opositor do plano, contanto que ele possa executá-
lo sozinho, tudo ficará bem. Zanac já havia concluído que as coisas acabariam assim no
momento em que ouvira falar do incidente. Ele já havia chegado a uma conclusão na-
quela época.
No momento, ele estava tão perto de herdar o trono que nem precisava fazer nada além
de esperar. Mas o número de desvantagens em fazer o que desejava era demais para
computar. A única vantagem clara, seria que resolveria o problema em questão.
Se esse fosse o caso, usurpação poderia ser uma idéia estúpida no papel, mas se Zanac
permitisse que o status quo permanecesse inalterado, logo breve não haveria um Reino
onde qualquer status importasse.
Zanac esperava, no mínimo, receber a aprovação dos cortesãos presentes. Havia tam-
bém a necessidade de solicitar os serviços daquele homem a mando de sua irmã. Brain
Unglaus era uma parte imperativa de seu plano. Se Brain estivesse lá, eles definitiva-
mente teriam vantagem em termos de força.
—Ah... que frustrante! Por que justo eu tenho que planejar isso!? Se ao menos o Reino
Feiticeiro não existisse! Se ao menos aquele undead anormalmente poderoso não existisse!
Para interromper uma reunião tão importante, só poderia ser uma emergência. Para
ser sincero, a maneira como batiam na porta também era bastante violenta.
Zanac, como seu representante, deu sua aprovação para deixá-lo entrar. E exatamente
como esperava, um cavaleiro em pânico entrou na sala.
“Um mensageiro do Reino Feiticeiro acaba de nos notificar que sua Primeira-Ministra,
Albedo, chegará à capital em menos de duas horas!”
Em seus contatos anteriores, o título de Supervisora Guardiã não fazia muito sentido
para eles; portanto, eles haviam mudado seu título para Primeira-Ministra, algo facil-
mente compreensível. A chegada de uma pessoa desse calibre confirmou sua apreensão?
Sua premonição estava errada. Não eram más notícias — eram as piores notícias pos-
síveis.
O enviado que trouxe o documento oficial não estava hospedado no palácio. Embora
fosse necessária sua permanência na capital, eles não tiveram a coragem de deixar uma
criatura undead ficar entre eles. Era por isso que, atualmente, se hospedava em uma
mansão na parte nobre da cidade.
Eles haviam colocado guardas em torno da mansão sob o disfarce de proverem segu-
rança, então o perímetro estava tão bem guardado que nem mesmo um Slime conseguia
escapar sem que percebessem. Todavia, aparentemente o enviado ainda tinha que en-
trar em contato com o Reino Feiticeiro.
Considerando tudo isso — não parece que estão aqui para declarar guerra.
Se eles estivessem aqui para declarar guerra, não estariam enviando sua segunda oficial
mais poderosa para territórios onde não tinham certeza do que poderia acontecer.
Sendo uma enviada de uma nação estrangeira, o Reino não ousaria prejudicá-la —
mesmo que fosse ela a ter essa noção ingênua. No entanto, da perspectiva de Zanac, ela
não parecia ser o tipo de pessoa que passeava por territórios que sabia que seriam peri-
gosos para ela.
“Conceda a ela uma audiência. Prepare a sala do trono para uma recepção apropriada
imediatamente.”
Normalmente, mesmo que um dignitário estrangeiro viesse à capital, não seria a norma
base que tivesse uma audiência com o rei no mesmo dia. Mas, dada a situação atual, eles
não podiam simplesmente dizer a Primeira-Ministra do Reino Feiticeiro coisas como: “A
senhorita receberá uma audiência dentro de alguns dias”.
“Um anunciado importante, peço desculpas, mas os senhores podem mudar para trajes
mais formais e se reunirem na sala do trono?”
♦♦♦
Havia várias salas do trono para propósitos distintos. A sala do trono usada para audi-
ências com dignitários estrangeiros não era muito grande, mas prepará-la para que fosse
adequada o suficiente ainda era um compromisso que demandava tempo considerável.
Mas como o guia que eles enviaram era bastante lento — por sinal, não foi uma jogada
deliberada para ganharem mais tempo — eles tiveram tempo suficiente para preparar a
sala e reunir os cortesãos que agora estavam vestidos com trajes cerimoniais, logo em
seguida a Primeira-Ministra do Reino Feiticeiro, Albedo, chegou.
Para Zanac, tudo cheirava a grama, mas Renner provavelmente diria: “Onii-sama, pro-
vavelmente seu nariz está entupido”. ou algo semelhante.
Cada raça tinha atos comparáveis de etiqueta, mas a mesma ação poderia ser interpre-
tada de maneira diferente por diferentes raças. Então, como o Conselho Estadual, que
abrigava várias raças não humanas, administrou essa questão?
A razão pela qual esse pensamento veio à sua mente do nada foi devido aos chifres e
asas da Primeira-Ministra do Reino Feiticeiro, Albedo, que acabara de entrar.
O som de homens que se tornaram instantaneamente apaixonados pôde ser ouvido por
toda a sala, “Ooooh”, o som que fizeram ao suspirar. Sua paixão não só era perceptível
pelo som, mas também por seus olhares de encanto.
A beldade que instantaneamente foi capaz de mantê-los cativos deu um sorriso, algo
tão solene como o de uma mãe amorosa. Talvez ninguém mais neste mundo pudesse
produzir um sorriso tão encantador.
Embora a irmã de Zanac também fosse considerada alguém de beleza ímpar, ele achava
que a beleza de Albedo poderia até ofuscar a dela.
Se estivessem em um baile, nada seria mais apropriado do que aquele vestido de cor
pêssego claro, mas, dada a situação atual, não era apropriado.
Dificilmente ela teria escolhido tal vestido por engano. Tinha que ser de propósito. Qual
seria o significado oculto por trás de tudo isso?
Zanac não tinha idéias sobre as implicações dos diferentes tipos de vestidos usados
pelas mulheres. Talvez sua irmã fosse capaz de descobrir isso, mas ela não era exata-
mente normal para ser usada em comparações com outras mulheres da aristocracia.
Com isso dito, sua decisão de não gastar muito em roupas e joias ganhou o respeito de
Zanac.
Ela não estava usando seu vestido habitual, mas sim um que usava para cerimônias.
Seria impossível que ela estivesse usando as mesmas roupas da última vez em que rece-
beram Albedo, certo?
Embora ele quisesse dizer a Renner para não usar a mesma roupa, pois as pessoas a
desprezariam, seu vestido não era muito fora do comum em comparação com o que Al-
bedo usava.
Alguns dos cortesãos também haviam notado que Renner trajava o mesmo vestido que
usara na última vez e mostraram expressões de incômodo com a situação, mas essas
expressões só vieram à tona por um mero momento antes de desaparecer.
Ao ouvir a voz de Ranpossa, os nobres que ficaram encantados com a beleza de Albedo
finalmente voltaram à realidade.
“Digo o mesmo, é minha culpa por não visitar Vossa Majestade há tanto tempo.”
Albedo respondeu com uma voz surpreendentemente atraente que combinava com sua
aparência. Suas costas permaneceram retas e a posição vertical da cabeça permaneceu
inalterada, como ela havia feito da última vez. Isso contrastava diretamente com seu
comportamento gentil, deixando clara sua crença de que os humanos eram insignifican-
tes demais para que se curvasse.
A maneira como os dois sorriram e se entreolharam poderia levar a acreditar que era
apenas uma reunião calorosa de amigos, e nada mais.
“Creio que tenha muitos compromissos, então eu vou ser direto, por que veio aqui hoje?”
“De fato. Estou aqui devido à nossa casualidade anterior — que é o porquê a caravana
de grãos do meu país, que pretendia ser ajuda humanitária ao Reino Sacro, foi roubada
por um dos seus.”
Embora isso não fosse motivo de riso, o sorriso de Albedo permaneceu firme assim
como antes.
Seu pai abaixou a cabeça e curvou-se profundamente. O rei de um reino estava acei-
tando as palavras de sua contraparte como a verdade. Na diplomacia, isso era algo que
não deveria ter sido feito por qualquer motivo. No mundo da diplomacia, onde nem
mesmo os perspicazes estavam a salvo do engano, não considerar as falhas de outros
países era um erro tolo.
Não importava se era insensato um chefe de estado pedir desculpas diretamente por
algo, no fim, isso seria análogo a todo o país admitir a culpa.
Mas ao fazê-lo, seria como condenar seu país a todos os caprichos e fantasia do Reino
Feiticeiro. Não—
Considerando que estamos tentando evitar uma guerra, essa idéia pode ser razoável. Mas
se o Reino Feiticeiro exigir agora a cabeça daquele nobre, eles negarão?
Ele não podia imaginar que as coisas acabariam assim, dado o que seu pai havia dito
anteriormente. Se ele pretendia recusar as demandas do Reino Feiticeiro daquele modo,
aquele a pedir desculpas deveria ter sido alguém como Zanac. Afinal, a diferença no peso
das palavras de um Chefe de Estado e de seu filho estavam em patamares completa-
mente diferentes.
Mas assim que a linha de raciocínio de Zanac chegou a esse ponto, as palavras subse-
quentes de seu pai o deixaram sem palavras.
No momento em que essas palavras saíram da boca de seu pai, parecia que a sala inteira
havia sido tomada por gelo.
Depois que o choque diminuiu, Zanac não pôde deixar de sentir vergonha de si mesmo
vindo das profundezas de seu coração.
Seu pai não se considerava desafortunado por ter que oferecer sua vida, não porque
desejava morrer, mas porque se sacrificar pelo próprio Reino era a epítome de um rei.
Embora fosse factível a fraqueza de seu pai na maneira como lidava com os problemas,
parece que Zanac estava o subestimando há muito tempo.
“É claro que o Reino se responsabilizará pela perda de grãos do Reino Feiticeiro. Pode-
ríamos até reembolsar o dobro da quantidade de grãos, se assim desejar. Isso é um acrés-
cimo à oferta da minha cabeça. Qual a sua opinião sobre esta oferta? Albedo-kakka.”
“Hmph...”
A expressão facial de Albedo ficou densa. Embora ela ainda fosse uma beldade sorri-
dente, era estranhamente aterrorizante.
“...Hehehe, parece que fez uma previsão um pouco errada, Ranpossa III?”
“Foi porque perdeu aquele homem? Ou foi por causa de outra coisa? Descobriu o bri-
lhantismo—”
Um humano e um demônio.
Talvez fosse por isso. Havia uma coibição invisível emanando de Albedo que impedia
que todos expressassem seu descontentamento.
Isso foi apenas temporário, pois o demônio — a enviada do Reino Feiticeiro — rapida-
mente voltou a vestir sua pele de cordeiro.
“Esta é uma declaração formal de guerra do Reino Feiticeiro. Vamos enviar nossas tro-
pas daqui a um mês a partir deste dia ao meio-dia! No entanto, se marcharem com tropas
em direção à E-Rantel — se tentarem atravessar as fronteiras do Reino Feiticeiro, não
seguiremos mais este cronograma.”
“Não tenho a intenção de despender mais tempo aqui. Por fim, com isso meu trabalho
aqui está concluído. A última coisa que eu deveria transmitir de Sua Majestade é—”
“—Você planejou que as coisas acontecessem assim o tempo todo, não é?”
Disse um cortesão cheio de raiva. Albedo afinou os olhos ao olhar para ele. A mensagem
transmitida através de seu olhar provavelmente era uma ameaça.
Depois de dizer isso, Albedo tinha uma expressão confusa pela primeira vez:
““Mesmo que digam que isto foi uma artimanha que planejamos, sendo honesto com os
senhores, o que ocorreu estava fora das nossas expectativas. Também queríamos descobrir
como as coisas acabaram dessa maneira”. E isso encerra.”
Albedo parecia estar dizendo a verdade, julgando por sua expressão e voz, ninguém
acreditaria que ela estava mentindo. Claro, a possibilidade de que tudo isso fosse uma
atuação também era incrivelmente alta.
“Se deseja tratar esse incidente como o plano de nossa nação, não vejo problema algum
com isso. No fim, a história é escrita pelos vencedores. Todas as suas falsas acusações se
perderão no tempo.”
Zanac entendia a posição que o Reino Feiticeiro adotou para este incidente.
O Reino Feiticeiro não estava procurando expandir seus territórios através da con-
quista, mas sim com a destruição completa do Reino. Era seguro dizer que a guerra era
inevitável. Em um mês, os undeads do Reino Feiticeiro certamente estarão marchando
nas fronteiras do Reino.
“Não há necessidade de me acompanhar até a saída, não desejo desperdiçar seu preci-
oso e limitado tempo.”
Depois que Albedo demonstrou uma atitude que lhes dizia que já havia dito tudo o que
queria, ela deu as costas para os outros e saiu pela porta.
Se eles matassem essa mulher, que ocupava o cargo de Primeira-Ministra, isso mergu-
lharia temporariamente a política do Reino Feiticeiro em um caos e os tornaria incapa-
zes de iniciar uma guerra?
No entanto, uma breve olhada nas costas de sua figura imaculada o fez hesitar.
“Não faça nada desse tipo. Se fizermos algo como matar uma enviada de outra nação, a
culpa de tudo isso recairá sobre nossos ombros. Portanto, nenhuma outra nação viria
em nosso auxílio.”
Seu pai respondeu com uma voz fraca enquanto colocava a mão na testa, como se esti-
vesse com dor de cabeça. Zanac sentiu como se seu pai tivesse envelhecido rapidamente,
em comparação com alguns momentos atrás.
“Vossa Majestade. Seu servo deseja espalhar a notícia de que o senhor ofereceu sua ca-
beça como um presente de arrependimento a todas as nações.”
“...Sim, conto com seus serviços, Ministro das Relações Exteriores. Fazendo isso... no
pior dos cenários...”
“Por favor, não fale do pior cenário. Ficaremos bem, não é? Basta conseguirmos derro-
tar o exército do Rei Feiticeiro.”
“Zanac, Renner. Eu tenho algo a lhes dizer. Poderiam vir aos meus aposentos mais
tarde? A seguir, peço desculpas a todos reunidos aqui, mas teremos que nos reunir em
outra hora para discutir o que acontecerá em um mês.”
Depois que o chefe dos guardas escoltou seu pai para fora da sala, Zanac e Renner saí-
ram juntos.
Embora Climb e Brain esperassem do lado de fora como seus guardas, Renner disse
para a dupla aguardar por seu retorno em seu quarto, sendo assim, apenas observaram
Zanac e Renner saírem.
“Sim, acredito que seja pela mesma razão que tem em mente agora, Onii-sama.”
Zanac olhou para Renner com os olhos bem arregalados por um segundo, ao qual Ren-
ner respondeu com um sorriso como se nada tivesse acontecido. É muito difícil lidar com
essa mulher.
“Hm—”
Renner colocou o dedo indicador abaixo do queixo e inclinou a cabeça para o lado. Za-
nac viu que ela estava intencionalmente suspirando pesadamente.
“O que você ganha ao agir desse modo fofo na frente de seu irmão? Faça essas coisas
para o Climb, é ele quem é ingênuo.”
“Onii-sama, isso foi realmente rude da sua parte. Vou tentar isso com o Climb mais tarde
— embora não fosse meu plano original. Mas então, não seria melhor se tivesse se per-
guntando o que ele pretende fazer, Onii-sama?”
“Eu? Só quero fugir. Mas isso não seria possível. O Reino Feiticeiro certamente nos ca-
çaria.”
Para uma mulher que desejava se casar com um homem cujo status social estava longe
do dela e que por querer fez uma parceria com Zanac, essa resposta foi muito direta.
Zanac pensou que Renner seria do tipo que valorizaria mais sua sobrevivência e plane-
jaria deixar o palácio amanhã ou algo assim. Talvez ela também entendesse o quão im-
possível era escapar das garras do Reino Feiticeiro e, assim, extinguiu seus desejos de
fazê-lo.
Zanac olhou atentamente para Renner, mas não pôde ler seus sentimentos sobre esse
assunto apenas com suas expressões.
Depois que os dois entraram nos aposentos de seu pai, as primeiras palavras da boca
do Rei foram exatamente como Zanac esperava.
“Zanac, Renner. Deixem este lugar imediatamente. Você é o príncipe e sua irmã a prin-
cesa deste país, não há necessidade de perecerem junto com ele.”
“É o que pensam... mas ainda há tempo. Se mudarem de idéia, não hesitem em me avisar.”
Embora não acreditasse que suas intenções mudariam, a mente de um homem era mais
propensa a fraquejar.
Parte 2
“Tio, tio!”
Dez crianças cercaram Brain, nove meninos e uma menina. Todos órfãos. Brain acolheu
aqueles que acreditava ter algum tipo de potencial, permitiu que morassem consigo e os
estava treinando na arte da espada.
As crianças fediam a suor, mas não incomodava Brain. Afinal, ele ficaria do mesmo
modo após treinar, isso era uma prova de que as crianças estavam dando tudo de si.
“Intervalo—”
“Minha mão—”
“Certo, então façam uma pausa. Não se esqueçam, como eu disse a vocês, intervalos
também fazem parte do treinamento, estamos entendidos?”
“Vou praticar com vocês depois, então não venham me dizer que estão cansados demais
pra praticar, fui claro?”
“Ótimo! E bebam muita água. Nada de esquecer de repor os sais minerais só porque
estão suando muito!”
Algumas crianças disseram: “A gente já entendeu.” ou "Que coisa irritante, tio.”, mas a
maioria respondeu que entendeu.
“Assim que gosto, vão. Oh, sim. Antes de irem, onde estão aqueles dois?”
As crianças voltaram à casa para se empanturrar dos pratos que haviam recebido do
casal de idosos que as esperavam e provavelmente tirariam uma soneca depois.
Exercícios regulares, boa dieta e bom sono. A receita perfeita para construir excelentes
músculos.
"Ah, desculpa. Eu tive que me preparar com antecedência para acompanhar Sua Alteza,
a Princesa, em suas reuniões com a nobreza, os comerciantes e assim por diante, então
acabei me atrasando.”
Havia um homem e uma mulher lá, que estavam instruindo as crianças antes de ele
chegar.
Sua aparência, ao contrário do que se consideraria bonito, dava a impressão de que ela
era fria e perspicaz. Ela não era alta, talvez até um pouco mais baixa que a maioria das
mulheres de idade similar.
Embora ele tivesse uma atitude indiferente que pudesse fazer alguém pensar que es-
tava infeliz, não era esse o caso. Ele levantou a mão e de seu próprio jeito saudou Brain.
Ele simplesmente não era apto a se expressar. Brain chegou a ouvi-lo falar algumas ve-
zes no passado, mas sua voz era tão baixa quanto a de uma formiga.
O homem também não era muito alto. Ele tinha pernas curtas, mas estava em boa forma
física, se por acaso surgisse algum boato dizendo que tinha sangue de Dwarf em suas
veias, ele dificilmente conseguiria desmentir.
Os dois faziam parte dos Seis Grandes Discípulos do dojo do espadachim conhecido
como Vesture Kloff Di Laufen.
Brain tinha suas considerações ao seu método de ensino, mas ainda assim, Brain crera
que seu treinamento prático em esgrima era mais útil do que a prática performática de
Laufen.
No entanto, ainda era uma boa maneira de permitir que eles aprendessem as técnicas
primeiro, construindo assim uma base sólida o suficiente para que fosse menos provável
que morressem em combate real.
Embora todas tivessem ficando fortes, seus modos de vida eram completamente dife-
rentes.
“Sim, finalmente estão prontas. Está programado que eles viajem para noroeste — com
um grupo de comerciantes que negocia numa cidade perto do Conselho Estadual.”
“Já se passaram duas semanas desde que o Reino Feiticeiro declarou guerra contra nós,
mas não houve notícias da mobilização dos exércitos de nenhum país. De acordo com
alguns rumores que ouvi, o Reino Feiticeiro só quer forçar o Reino a recuar a um ponto
de negociar e que, na verdade, não quer travar guerra alguma... Caso seja verdade, isso
não jogaria seus esforços por água abaixo, Unglaus-shi?”
Se Brain não tivesse conhecido pessoalmente o Rei Feiticeiro, ele teria acreditado que
isso também era apenas uma tática de negociação. Mas como testemunha daquela trá-
gica batalha, era difícil não duvidar que o Rei Feiticeiro estivesse planejando algo. Quem
sabe, poderia até estar se preparando para lançar aquela magia novamente.
“Não apenas isso, mas testemunhei seu duelo com o Gazef... hum, até hoje não faço a
menor idéia do que aconteceu com o Gazef.”
Fôra concedida a ele logo quando a guerra foi declarada, mesmo que a tenha recusado
em várias ocasiões. Para Brain, essa espada era um fardo demasiadamente difícil de su-
portar, por consequência, ele a tratava como algo que lhe fôra confiado a proteger. Ele
não pretendia desembainhar a espada.
Embora essa espada fosse como uma batata quente que ele não via a hora de passar
adiante, se o suposto próximo legatário não pudesse corresponder às habilidades de Ga-
zef Stronoff, então ele não a passaria tão facilmente.
Não, era mais apropriado dizer que ele queria que ela testemunhasse também. Ele tinha
acabado de dizer que não fazia idéia do que havia acontecido durante o duelo, então, se
alguém pudesse explicar isso, seria melhor.
“Eu acho que o Rei Feiticeiro tá tramando algo, mas não tenho certeza do que exata-
mente é, não tenho uma base para me apoiar. Ainda assim, meus instintos têm gritado
ultimamente, eu costumo confiar nos meus instintos sem questionar.”
“Se for seu instinto de guerreiro, Unglaus-shi, então pode ser verdade...”
“Não tenho muita certeza... Mas enfim, temos que tirar esses pirralhos desse lugar o
mais rápido possível. Mesmo se eu morrer, eles ainda podem seguir a vida deles com a
arte da espada que eu já os ensinei, mesmo não sendo grande coisa.”
“...Unglaus-shi. Na verdade, nosso sensei nos disse o mesmo, que o Reino Feiticeiro está
tramando as escondidas. Então, quando as crianças partirem—”
Brain olhou para o homem que lhe deu um aceno sutil com a cabeça. Ele parecia estar
irritado, mas provavelmente não era o caso.
Não seria impreciso dizer que esse homem era paciente com crianças.
Embora todos os Seis Grandes Discípulos já estivessem passado por aqui em algum mo-
mento, ele fôra o único com o qual as crianças se deram bem.
“Sim, ao que tudo indica, o sensei já considerou isso. Enquanto ele viver, nossa arte da
espada pode continuar sendo transmitida através das gerações.”
Se fosse esse o caso, ele não tinha motivos para rejeitar o pedido.
“Eu não me importo, se do lado de vocês estiver tudo resolvido. Enfim, sou grato a todos
vocês. Vou falar com os comerciantes que os levarão embora.”
Brain ergueu a mão como resposta, à qual o homem respondeu gentilmente balançando
a cabeça.
“E então, depois que os pirralhos derem uma descansada, será a minha vez de treinar
eles. Desculpe ter incomodado os dois com o treino enquanto eu estava fora.”
Em suas palavras só havia gratidão. Mesmo que não tivesse pago muito, eles ainda tive-
ram tempo para ensinar as crianças.
Seu sensei, Vesture, provavelmente considerara o fato de que Brain era alguém que
possuía excelente esgrima e, portanto, queria apresentar seus Seis Grandes Discípulos a
ele, talvez fazendo com que Brain lhe devesse um favor no processo, mesmo Brain não
sendo dos melhores em demonstrar gratidão. Mas os Seis Grandes Discípulos eram dife-
rentes, talvez tiveram seus interesses despertados diante da perspectiva de serem capa-
zes de treinar crianças inexperientes que Brain julgou ter potencial, ou será que apenas
estavam interessados em passar habilidades para que as crianças pudessem sobreviver?
Seja qual for o caso, eles foram motivados a ajudar as crianças sem segundas intenções
desde o início.
Por estar agindo como guarda-costas pessoal da Princesa, ele tivera de entrar em con-
tato com vários nobres irritantes. De modo que, pessoas tão diretas quanto os Seis Gran-
des Discípulos reluziam ainda mais perante seus olhos.
“...Preciso admitir que fiquei bastante impressionada com o quão magnânimo o Un-
glaus-shi é. Ter adotado essas crianças e lhes ensinar habilidades para que pudessem
sobreviver...”
“Pare com esses elogios. Eu não sou esse sujeito legal. Embora seja verdade que eu pe-
guei essas crianças dos bairros pobres, eu fiz por um motivo. Vi algumas à beira da morte
e mesmo assim, passei por elas sem levantar um dedo pra oferecer minha ajuda. Se qui-
ser elogiar alguém, elogie alguém que realmente merece — a Princesa, por exemplo.”
Ele notou que a mulher tinha uma expressão perplexa, mas não tinha certeza do porquê
disso.
“Está falando sobre a Princesa, Renner-sama? Aquela que havia financiado um orfa-
nato? É verdade que a Princesa fez algo extraordinário, mas acredito que também reali-
zou o que nenhuma outra pessoa conseguiu, Brain-shi. Não acha que os dois não são
igualmente dignos de elogios?”
“.... Não, não é pra tanto, não estava sendo sério. Não tenho essa inocência toda ao ponto
de sentir culpa por algo tão pequeno.”
Brain desviou o olhar da expressão chocada do rosto da mulher e olhou para a residên-
cia de Gazef Stronoff, agora era de Brain.
Pensava nas crianças que já deveriam ter acabado de se empanturrar e agora estavam
dormindo, provavelmente.
♦♦♦
Em uma sala no 9º Andar de Nazarick, aproximadamente um mês após a guerra ter sido
declarada.
Em uma das salas reservadas para possíveis novos membros da guilda estavam Ainz e
os Guardiões de Andar. Eles estavam sentados ao redor de uma mesa em forma de “C”,
lendo os documentos preparados para esta reunião.
Como um adendo, não eram apenas os Guardiões de Andar que estavam lá, atrás de
cada um deles havia um número igual de Empregadas Regulares e atrás de Ainz estava
Pestonya. Elas estavam lá para cuidar de qualquer trabalho ocasional que surgisse e,
portanto, permaneceram silenciosas atrás de todos.
Ainz não conseguia entender o porquê havia tanto silêncio, aparentemente era para
simbolizar que eram simples ferramentas, prontas para serem usadas. Por esse motivo,
Ainz não lhes deu atenção alguma, assim, satisfazendo seus desejos.
“Uhum...”
Ainz leu os documentos com zelo, mas sentia-se como se seu foco estivesse sendo mi-
nado pela presença de Pestonya atrás dele. Ainda assim, ele tentou, o melhor que pôde,
concentrar toda sua atenção na tarefa.
Já que trocariam suas respectivas opiniões sobre o assunto mais tarde, era natural que
Ainz tivesse pensamentos apreensivos como, quão constrangedor seria se eu dissesse
algo sem sentido mais tarde.
De todo modo, isso era diferente dos documentos que Albedo geralmente enviava de
Nazarick com assuntos sobre política, economia e direito; isto era algo que até alguém
como Ainz podia entender.
Capítulo 2 Contagem Regressiva Para a Extinção
140
Mesmo sendo generosamente gentil, a inteligência de Ainz só poderia ser julgada como
mediana na melhor das hipóteses. Pedir a este alguém para encontrar dentro de si as
qualidades que o qualificariam a governar um país seria impor-lhe o impossível. Isso não
significava que ele era preguiçoso, na verdade ele era do tipo diligente e tentava o seu
melhor em tudo que fosse incumbido a fazer. E foi ainda mais agravado pelos mal-en-
tendidos nutridos pelos NPCs de Nazarick, cuja inteligência era incomparavelmente
maior que a dele. Para atender às suas expectativas, Ainz não podia se dar ao luxo de ser
preguiçoso.
No começo, ele estava fazendo isso por seu desejo de manter os NPCs leais, mas agora
estava mais por seu desejo em ser uma figura paterna determinada a não decepcionar
seus filhos.
Chegara a um ponto em que até estava lendo livros sobre autodesenvolvimento e negó-
cios. Ele também estava tentando o seu melhor para melhorar suas táticas de combate,
um dos únicos assuntos em que ele poderia reivindicar expertise.
Embora fosse seguro deixar tudo para Albedo e os demais, ainda havia muitas coisas
que eles consideravam indispensável as opiniões de Ainz. Se ele dissesse algo estúpido
quando chegasse a hora e eles respondessem: “Como desejar, Ainz-sama, isso será feito”
e tomassem medidas imediatas, isso poderia causar sérios danos colaterais. Para evitar
esse resultado, o aprimoramento pessoal de Ainz se provou indispensável.
Por causa disso, Ainz tinha particular interesse neste documento e estava ainda mais
focado nele do que normalmente estaria.
Ainz, ao terminar a maior parte e confirmar que já estava na hora marcada, disse:
“Sim, Ainz-sama.”
“Excelente. Agora— um momento, antes disso. Embora tenha passado um mês desde
que declaramos guerra contra o Reino, eles sequer perceberam nossa invasão. Ainda de-
vem pensar que nossas forças ainda estão escondidas em E-Rantel. Demiurge, você fez
um ótimo trabalho. Sua capacidade de gerenciar habilmente tudo, para que nenhuma
informação fosse vazada, é deveras impressionante.”
“Ainda no assunto, ter instigado parte da nobreza do Reino em se rebelar também foi
uma realização esplêndida, Albedo.”
Ainz tocou em uma das páginas do documento com a parte de trás do dedo e confirmou
que os dois haviam entendido o que quis dizer. Ele assentiu de uma maneira que se ade-
quava ao seu status de governante e examinou os Guardiões diante de si. Embora as em-
pregadas ao seu entorno olhassem para ele com olhos sérios, ele resistiu à vontade de
prestar atenção nelas.
“Perfeito, então vamos trocar nossas opiniões sobre esse assunto. Primeiramente, o fato
de termos conseguido conquistar cidades, mesmo quando aquela tática foi empregada,
me agrada muito. Cocytus, você fez bem.”
“Sinto-me. Grato. Pelos. Elogios. De. Meu. Mestre, Mas. Isso. Só. Foi. Possível. Devido. Ao.
Exército. De. Undeads. Que. Me. Emprestou, Ainz-Sama... Tudo. Isso. Foi. Graças. Aos.
Seus. Feitos— Aliás, Não. Seria. Errado. Dizer. Que. Não. Fiz. Nada.”
Ainz estendeu a mão para parar Albedo antes que ela pudesse terminar sua frase.
No início da guerra entre o Reino Feiticeiro de Ainz Ooal Gown e o Reino, eles adotaram
a tática para atacar a parte leste primeiro e depois marchar para o norte. O lado oeste do
Reino — onde situa-se a capital — ainda estava inalterado.
O principal objetivo dessa tática consistia em impedir que reforços de outras nações
interferissem na guerra e também permitindo que cercassem o Reino, ganhando con-
trole sobre a fronteira com o Conselho Estatual e outros.
Essa foi a estratégia de Cocytus, uma tática que o próprio Ainz também considerou ex-
cepcional.
“Eu achei esse resultado mais do que satisfatório — A seguir, Demiurge e Albedo, em
relação ao bloqueio de informações, o relatório indica que é altamente provável que esse
“Então discuta o assunto com a Albedo, fortaleça a rede de vigilância até corrigir essa
falha que mencionou.”
“Sim!”
Dentro dessas páginas havia documentações extenuantes sobre quem usou qual estra-
tégia para destruir completamente qual cidade. A entrada mais recente era sobre uma
cidade que foi destruída por Cocytus.
“...Atacar destemidamente uma cidade com uma pequena tropa, destruir perfeitamente
a cidade e massacrar todos os seus habitantes. Assim como o Cocytus fez, todos vocês
também pensaram em vários tipos de maneiras de conquistar cidade após cidade e vila-
rejo após vilarejo. Estou realmente impressionado.”
O Reino Feiticeiro havia iniciado uma guerra brutal na qual sua política era destruir
completamente todas as cidades e vilarejos à sua maneira e massacrar todos os seus
habitantes. Tudo o que restava após cada ataque surpresa do exército do Reino Feiti-
ceiro foram pilhas de cinzas inanimadas e escombros.
Neste instante, Ainz de repente se tornou mais consciente do olhar de alguém, que pro-
vavelmente estava fixado nele.
Ele não estava fazendo esses atos horrendos e cruéis porque queria, havia um propósito
que o guiava. Espero que ela possa entender meus motivos, pensou Ainz.
“É. Precisamente. Como. Diz, Ainz-Sama... Aprendi. Muitas. Coisas. A. Partir. Daquilo.”
“Era disso que eu estava falando, aprendemos com nossas falhas. Melhor dizendo, há
algumas lições que só podem ser aprendidas com falhas.”
Isso era um fato em YGGDRASIL, só era possível pensar onde melhorar depois de uma
derrota.
Ele não experimentou a derrota com tanta frequência, mas continuou se esforçando
para se tornar mais forte. Um homem que procurou as melhores sinergias de profissões
para minimax seu desempenho até o ponto de obsessão, poderia considerá-lo como um
caso raro se comparado ao jogador médio.
Colocando essas exceções de lado, Ainz acreditava que existiam algumas coisas que só
seriam possíveis de aprender com a derrota.
E justamente por isso que ele esperava algumas falhas em seus esforços de conquistar
as cidades.
Como estavam sendo os carrascos de uma perda maciça de vidas, isso precisava resul-
tar em algum benefício para Nazarick. Certamente, as vidas perdidas deveriam servir a
um propósito mais benéfico possível.
Havia outra coisa — Ainz decidiu que deveria fazer os preparativos para isso depois de
ouvir os desejos daqueles dois.
Ele não conseguia pensar no que dizer depois disso, havia esquecido o roteiro que pre-
parara:
“Esqueçam isso. O estúpido aprende através de suas experiências. Para ficar claro, não
estou dizendo que todos vocês são estúpidos, mas estou apontando o fato de que até os
idiotas podem entender a necessidade de coletar experiências.”
Por que ele esqueceu o que queria dizer durante esse momento crucial? Por que ele era
tão inútil?
Por que aqueles que foram bem-educados também eram inteligentes? Como eram ca-
pazes de jorrar palavras e frases que aprenderam sem hesitar? Geralmente, mesmo que
o dito alguém esquecesse o que estava prestes a dizer, isso não o impediria de continuar,
impediria?
Só havia uma conclusão provável: seus cérebros foram concebidos de maneira dife-
rente.
“...Haaah... Não importa as cidades que destruímos ou os cidadãos do Reino que massa-
cramos, nada disso sequer faz cócegas no poder da Grande Tumba de Nazarick. Mas,
nosso foco deve estar na acumulação de experiências. Se enfrentarmos uma situação
muito mais difícil, as lições que aprenderem nessa guerra podem ajudar.”
Ainz tinha experiência em atacar bases inimigas e montar cercos a cidades durante
guerras de guildas entre outros eventos similares. Todavia, isso fôra nos tempos de
YGGDRASIL. O conhecimento que ele adquiriu com o jogo deve ser implementado ade-
quadamente à sua atual realidade.
A Grande Tumba de Nazarick precisava se fortalecer. A crença de que a Ainz Ooal Gown
e a Grande Tumba de Nazarick era a única guilda e base de guilda neste mundo era bem
ingênua. Se Ainz veio parar neste mundo, outros jogadores e guildas também deveriam
estar presentes, e quem sabe, até mesmo poderiam chegar no futuro.
Para se preparar para esse futuro, era necessário robustecer o poder da guilda.
De fato, era imperativo que todos eles tivessem experiências próprias nesses assuntos.
Os Guardiões de Andar — menos Victim — eram todos seres de nível 100 e podiam dar
plena tranquilidade a Ainz, pois eram extremamente capacitados. Os Guardiões de Área
eram mais fracos que os Guardiões de Andar, então Ainz se sentia desconfortável com a
sugestão de levá-los para fora, onde poderia haver inimigos fortes. Era por isso que o
número de tarefas atribuídas aos Guardiões de Andar estava aumentando.
“Mas se mantivermos o status quo, vários problemas surgirão com o tempo. Quando o
Reino Feiticeiro de Ainz Ooal Gown subjugar um território vasto o suficiente, os Guardi-
ões de Área assumirão a responsabilidade por uma ampla gama de tarefas. Talvez che-
guemos a um dia que até o gerenciamento da guerra terá que ser delegado a alguém.”
“—Posso assumir que, nosso mestre deseja que aqueles que não têm experiência te-
nham um histórico pessoal, correto?”
Demiurge começou a falar coisas ininteligíveis novamente. Mas, o que ele disse sobre
ter um “histórico próprio” abrangeu mais ou menos a questão. E soava de forma legal.
Embora não sentisse que tenha sido transmitido adequadamente, Ainz ainda sorria en-
quanto usava sua voz praticada de, “Como Um Governante Sem Noção Deve Falar!”.
Por sinal, normalmente, se ele ouvisse uma gravação de sua voz atual, ele não seria ca-
paz de suportar a quantidade de vergonha alheia que sentiria, mas o ato de falar assim
não o fazia remoer essa vergonha. Afinal, suas emoções seriam reprimidas rapidamente
se ele tivesse ponderado o tom da voz que usou.
Eles adquiriram vários tipos de conhecimentos e métodos para cercos a cidades du-
rante essa invasão contra o Reino, portanto, deveriam registrar tudo isso em um livro
ou algo assim. Com os Guardiões de Área em foco, os habitantes da Grande Tumba de
Nazarick devem ser capazes de obter algum conhecimento através dessas experiências
compartilhadas, certo?
O ditado, “uma imagem vale mais que mil palavras” se encaixava perfeitamente, aqueles
que experienciaram algo em primeira mão aprenderiam muito mais do que aqueles que
só ouviriam depois. Ainda assim, Ainz sentiu que eles não seriam capazes de ter outras
oportunidades do tipo corriqueiramente.
“Exatamente. Creio que foi porque confiei a Shalltear todas as tarefas relacionadas ao
transporte e assim ela teve essa idéia. Com essa tática como base, poderíamos organi-
zar— Como era mesmo o nome? Paratropas? Ser capaz de organizar algo assim seria
bem interessante.”
Ela não apenas usou os sopros dos Dragões como tática de bater e correr, mas também
[Devorador d e A l m a ]
sobrevoou a cidade a 500 metros de altura lançando S o u l Eaters ao solo. Os Soul Eaters
se curavam do dano da queda e depois trotavam pela cidade matando aos montes com
suas auras.
Mesmo que fossem Soul Eaters, largá-los de 500 metros inevitavelmente causaria al-
gum dano. Neste mundo, a aceleração devido à gravidade não parecia ser afetada pela
resistência do ar; portanto, a velocidade de queda livre poderia aumentar infinitamente.
Poderia ter outro motivo, mas Ainz não queria gastar tempo e esforço nesse tipo de ex-
perimento; então, ainda faltava informações detalhadas.
Soul Eaters eram capazes de ativar uma aura que consumia almas e podia ser usada
para recuperar HP, isso significava que, essa estratégia incluía uma maneira de negar o
dano causado pelas quedas quase que imediatamente.
“Embora esse plano tenha sido um fracasso em alguns aspectos — ele foi uma boa lição
para aprender para o futuro. Quero dizer, alguns acabaram batendo nos telhados.”
Dos Soul Eaters que caíram do céu, um deles bateu em alguns telhados pontiagudos,
quicou em ângulos estranhos e sofreu mais danos do que esperavam. Esse caso foi até
mais digno se comparado àquele que quebrou o telhado, tentou arrombar as portas e
ficou preso dentro de casa.
Dos quatro que foram usados, apenas um falhou. O tamanho do teste foi pequeno, mas
a taxa de falhas acabou bastante alta.
“Seria melhor realizar esse experimento mais algumas vezes, talvez possamos obter
dados valiosos desse método de despejar tropas.”
“Sim!”
“Estou contando com você. Escolha algumas cidades e faça mais alguns experimentos.”
Esses registros dos métodos que eles usaram para destruir as cidades não foram apenas
úteis para educar os Guardiões de Área, mas também foram úteis como um estudo de
quais estratégias um inimigo poderia empregar para invadir Nazarick.
“—Tudo isso é para nos prepararmos para nossa inevitável luta contra alguma guilda
que é tão forte, ou até mais forte do que nós.”
Depois que Ainz terminou de falar, os Guardiões responderam sincronamente que obe-
deceriam.
Ainz olhou para Albedo — claro, por não ter olhos, a maioria das pessoas não conseguia
notar seu olhar. Ele precisava virar a cabeça para encará-los a maior parte do tempo,
mas Albedo era perspicaz o bastante para perceber suas intenções antes disso — Albedo
assentiu de uma maneira que parecia transmitir a mensagem: “É exatamente como disse,
Ainz-sama”.
Ele não conseguiu encontrar uma resposta para uma pergunta tão lógica. Para ser ho-
nesto, na teoria ele pensou que poderia segurar todas as pontas, mas na prática... Como
Demiurge e Albedo não haviam levantado nenhuma dúvida, ele esperava que Cocytus e
o resto fizessem o mesmo.
—Então é por isso. Como o Cocytus experimentou a derrota durante a batalha com os
Lizardmen, eu o instruí a pensar por si mesmo.
Não importava como olhasse para isso, a fonte de sua miséria sempre foi devido a algo
que disse no passado. Por quê? Não, afinal, o que ele havia dito naquela época estava
correto. Da perspectiva de fortalecer Nazarick, suas declarações foram boas. Foi graças
ao que disse a Cocytus naquela época que o levou a seu crescimento nos dias de hoje.
De volta a questão, por que Ainz organizou uma quantidade de tropas que não lhes ga-
rantiram a vitória? A explicação não era tão complexa, mas não era algo que pudesse
contar aos Guardiões de Andar.
Ele ficou em silêncio por tempo demais. Ele tinha que dizer algo, algo que pelo menos
fizesse algum sentido.
“E tem mais uma coisa, é sobre o pessoal que estava nas cidades ao lado. Um pouquinho
deles foi autorizado a escapar, né? Mas por quê?"
“As perguntas do Cocytus e da Aura eram de se esperar, talvez mais alguns de vocês
tenham as mesmas perguntas em mente.”
Ainz examinou aqueles à sua frente, todos os Guardiões de Andar acenaram a cabeça.
Ainz estava apenas procrastinando, deixando esses problemas incômodos para seu fu-
turo eu.
♦♦♦
Situada no extremo norte do Reino, de frente para o Mar de Rhynd, situava-se a cidade
de E-Naüru.
Era a maior cidade da região do Conde Naüa, uma cidade abençoada pelo mar.
Mesmo sendo a maior cidade das redondezas, se fosse para o leste através da fronteira
litorânea, não estaria muito longe da cidade famosa por seu porto naval, Re-Ulovale. A
cidade possuía um grande território e muitos navios atracados em seus portos, a única
provável vantagem que E-Naüru tinha se comparada à Re-Ulovale era que possuía me-
lhores peixes. Em outras palavras, E-Naüru não possuía razão estratégica.
Era seguro dizer que os epicuristas foram os responsáveis por acentuar o verdadeiro
valor de E-Naüru. A linhagem do Conde Naüa pesquisava frutos do mar há gerações, tudo
para garantir os direitos de se gabar de terem os melhores frutos do mar do Reino. A
referida pesquisa produziu um molho, feito da mistura de molho de soja e mel, usado
para cobrir outros ingredientes. A temperatura precisava ser controlada precisamente
durante o processo de cozimento para impedir que o molho se queimasse. Tudo isso
culminou na criação do peixe grelhado ao estilo E-Naüru, uma história bastante difun-
dida.
Havia também outras grandes cidades vizinhas que pertenciam a outros lordes, isso
sem contar os numerosos vilarejos dentro de seu próprio domínio. O Reino Feiticeiro
teria que passar por tudo isso antes de chegar a esta cidade.
Um Barão vizinho, assim como alguns de seus subordinados e o resto de sua família,
fugiram às pressas para E-Naüru.
Mas, para um undead poderoso ser gerado sozinho, isso demandava tempo. Ignorando
as Planícies Katze, era necessário que vários undeads fracos ocupassem um lugar antes
de ter chance de algum undead poderoso aparecer.
Se o domínio do Barão fosse bem administrado, seria fácil acabar com qualquer vestígio
de undead antes que pudessem criar quaisquer problemas maiores.
Foi por isso que dificilmente apareceriam tais seres de linhagem tão poderosa próximos
da civilização humana. Mas havia apenas duas exceções a esta regra.
Ou havia um magic caster maligno por perto que podia controlar os undeads, ou os
undeads haviam vindo de alguma terra distante.
Se fosse esse o caso, havia apenas uma pessoa que vinha à mente.
Quão numerosas são as forças do inimigo? Que tipo de exército de mortos é esse?
Questões estas que continuavam aparecendo mais e mais, mas havia algo mais impor-
tante a ser abordado antes que pudessem deduzir as respostas.
Com as informações atuais, não sabiam o que levou o exército do Reino Feiticeiro a
marchar para um porto tão ermo. Talvez fosse porque o Reino Feiticeiro era uma nação
sem litoral e queria colocar as mãos em uma cidade portuária imediatamente, e assim
escolheram atacar um lugar sem fortificação adequada. Talvez esperassem usar E-Naüru
como palco para seus futuros esforços de guerra.
Embora uma evacuação de cidade sempre fosse arriscada, a quantidade de pessoas que
realmente conseguiria fugir do exército usurpador do Reino Feiticeiro seria bem baixa.
No final, a maioria das pessoas optou por ficar dentro dos muros “tecnicamente” refor-
çados de E-Naüru.
Cinco dias após o término da evacuação de uma pequena parcela de cidadãos, guardas
no alto das torres de vigias de E-Naüru avistaram silhuetas de criaturas mortas, undeads.
Na manhã seguinte, três dias depois, um homem estava no topo de uma torre de vigia.
Parece ter mais de quarenta anos, tinha um corpo bronzeado e seu perfume era mais
parecido com ondas batendo em um escolho do que a fragrância de um guerreiro cale-
jado. Só pelo cheiro, ficara claro que era um homem cuja vida dependia do mar.
Embora o topo de sua cabeça estivesse completamente careca, os lados e a parte de trás
da cabeça ainda tinham os resquícios de sua juventude. Ele tentava o seu melhor ao pen-
teá-los para cima a fim de encobrir o vão calvo no topo de sua cabeça.
Apesar de sua aparência física gritar “PESCADOR!”, sua roupa era a de um nobre de
primeira classe; assim, alguém poderia facilmente distinguir seu status.
Seu tom não combinava com sua aparência um tanto indigna, mas esse homem era o
governante dessas terras: Conde Naüa.
[ Z u m b i s ]
Dentro de sua linha de visão, havia um grande grupo de Zombies, numerados aproxi-
madamente vinte vezes mais que a força de defesa de E-Naüru. O exército de undeads
havia interrompido sua marcha para esperar que os retardatários os alcançassem, isso
deu a impressão que o influxo de Zombies em suas formações houvesse diminuído, de
Dito isto, seus cabelos brancos não eram devido à idade, ela o tingira deliberadamente.
Sua cor de cabelo original era a tonalidade de loiro comumente vista em todo o Reino.
Até o ano anterior, ela pintara os cabelos de preto.
O cabelo tingido não era para a propagação de moda ou diversão, ela estava usando sua
aparência chamativa como um tipo de propaganda para seu grupo de aventureiros.
Aventureiros como ela não eram tão incomuns, havia até quem tingiria o cabelo de rosa
em uma tentativa de se tornar famoso.
Foi por esse motivo que ela mudou a tintura de cabelo de preto para branco.
Dos grupos ativos de aventureiros com classificação adamantite, já havia equipes com
as associações ao “Vermelho” e “Azul”, mas recentemente o “Preto” também foi escolhido.
Dentre os grupos de aventureiros, no momento em que mencionar a cor preta, os pen-
samentos da maioria das pessoas gravitarão naturalmente em direção a Momon da Es-
curidão. Porém, como poucas pessoas viram a verdadeira aparência de Momon, ela con-
siderou se manter o cabelo preto teria um impacto positivo, ou não, em sua publicidade.
Ela desistiu dessa idéia depois de saber que a parceira de Momon tinha lindos cabelos
pretos.
Consequentemente, a cor de sua equipe também mudou de preto para branco. Quanto
a ela, Skama Erbello, ela estava feliz por não terem incorporado cor alguma ao nome de
sua equipe, pelo menos não ainda, e apenas se autodenominaram os Quatro Armas.
“Esses obviamente não são gerados naturalmente. Muitos se parecem com agricultores,
então não podem ser do Reino Feiticeiro. Eles devem ter destruído os vilarejos vizinhos
e transformado seus cadáveres em Zombies. Que revoltante.”
“Oh, haaaaaaaah—”
Nestes tempos difíceis, sua voz não possuía um pingo de urgência. Talvez fosse irritante
para alguns, mas a expressão de Skama permaneceu inalterada.
“Se for esse o caso, não poderíamos criar um outro exército de undeads para detê-los?”
"Se houvesse dezenas daqueles que são favorecidos a necromancias arcanas exóticas e
pudessem usar as magias de nível mais alto dessa disciplina, digamos que não seria com-
pletamente impossível. Pena que não há ninguém assim na cidade~”
Conde Naüa havia enviado pedidos à Guilda dos Magistas, ao Templo, à Guilda dos
Aventureiros e a outros— basicamente, ele havia convocado todos os magic casters da
cidade para ajudá-los na defesa, na esperança de que ele pudesse formar uma unidade
composta inteiramente de magic casters.
Devido ao fato de a Guilda dos Aventureiros ter mais magic casters e os aventureiros
terem muita experiência em combate, o grupo de aventureiros mais bem classificado —
o Quatro Armas de Skama — foi escolhido para liderar esta unidade de conjuradores.
Por esse motivo, Skama tinha conhecimento detalhado de todos os magic casters da ci-
dade.
“Não tem? Então— tudo vai dar certo, não é mesmo? Cento e vinte anos— essa cidade
nunca foi cercada desde a sua fundação, desde quando era um vilarejo. Realmente não
temos muita experiência com isso.”
Isso não era algo que o governante desta cidade deveria estar dizendo agora.
Ainda assim, Skama não parecia irritada. E claro, como sempre, nem um pingo de res-
peito pôde ser ouvido em sua voz quando ela respondeu:
“Tudo vai dar certo, é? Duvido muito, Conde. Se não conseguirmos pensar em algum
plano, em breve faremos parte daquele exército. Tá todo mundo tentando o seu melhor
para nos ajudar, pois querem evitar esse resultado~”
“Entendo— por que algo assim aconteceu durante o meu tempo...? Se isso não aconte-
cesse por mais cinco anos, então meu primogênito provavelmente teria me sucedido.”
“Que... Esp-espere um segundo, tudo bem? Vamos ser sensatos. Não abandone a cidade,
não agora, por favor!”
“Se realmente quiséssemos fugir, agora seria o melhor momento! Dê uma olhadinha lá.”
Skama apontou para dois undeads que estavam no comando do exército de Zombies.
Eles eram muito fáceis de identificar, dado que tinham cerca de 20cm a mais de altura
que os outros ao redor. Adjacente a pressão esmagadora e arrepiante que acentuavam
sua presença, sua força se fez aparente.
“O Reino Feiticeiro.”
"Hmm? Enviei apenas alguns subordinados de confiança junto com os recrutas. Nem eu,
nem minha família participamos... bem, não é como se estivessem retornado mesmo.”
“Humm... espero que eles possam descansar em paz ao lado de Deus. Apenas dois unde-
ads especiais foram enviados pelo Rei Feiticeiro que massacrou duzentos mil — vieram
direto do Reino Feiticeiro... Você acredita que eles são fracos?”
“Sim... e não está com raiva? Eles julgaram que só precisavam daqueles dois para des-
truir esta cidade, afinal.”
“Neeem— Ao invés disso, penso é em como poderíamos ser salvos de tudo isso.”
Como governantes desta terra, essas palavras foram bastante chulas, mas eram a sim-
ples verdade.
“Não é só simplesmente fugir pelo mar? Você provavelmente já se preparou para algo
assim, não?”
Skama perguntou o que todos tinham em mente durante as reuniões anteriores, mas
ninguém disse em voz alta.
Embora ela não estivesse muito familiarizada com o Conde, eles tiveram muitas intera-
ções devido às suas linhas de trabalho. E desde então ela soube que ele era muito esperto.
O lamentável foi que, embora o filho do Conde fosse um substituto adequado, ele não
era tão singular quanto seu pai. Dito isto, havia pessoas que acreditavam que seu filho
poderia ganhar uma vantagem com experiência suficiente.
“Grhum. Claro, mas não será possível transportar todos para fora desta cidade de barco.
Mesmo se fizermos várias viagens e deixarmos as pessoas nos litorais próximos, o que
faremos com a situação alimentar? Para onde podemos fugir? Mais e mais perguntas
aparecem...”
“Mas se for apenas o Conde e sua família, então deve dar certo, não acha?”
“Creio que sim, mas esse será o último recurso. Atenção meu povo, por favor, volte para
a cidade, minha família e eu zarparemos primeiro, ou algo assim pesaria muito na minha
consciência—”
Normalmente, quando uma cidade era tomada, sua classe dominante seria abatida ou
forçada a submissão. Os cidadãos, por outro lado — embora seus bens possam ser sa-
queados — estariam apenas sob novo governo. Matar os civis de uma cidade seria como
matar a galinha dos ovos de ouro.
A menos que destruir uma cidade tivesse benefícios para os invasores, eles nunca fa-
riam isso.
Contudo—
Aqueles que haviam evacuado primeiro já estavam aqui, mas seus números eram ínfi-
mos em comparação com a população da área circundante. O que aconteceu com as pes-
soas que foram deixadas para trás ou que não conseguiram chegar aqui?
Mas, ao ver os Zombies vestidos como fazendeiros, ele teve a sensação de que não havia
como o Reino Feiticeiro tê-los tratado bem.
“Embora governe E-Rantel, parece que ele ainda é um monstro que não pode tolerar os
vivos—”
“Isso faz sentido, para o inimigo, é claro. Se estivessem tentando subjugar uma cidade
e forçando seus cidadãos a trabalhar, acho que fariam algo assim... Talvez não pretendam
deixar nenhum dos residentes do Reino saírem com vida. Se for isso, realmente vai im-
portar para onde escapemos?”
Ele estava tentando simpatizar com ela ou fazê-la simpatizar com ele?
Ela era a aventureira mais forte da cidade. Se ela abandonasse a cidade, o que poderia
ter sido uma vitória ficava a mercê de se transformar em uma derrota. Por isso o Conde
estava tentando fazê-la pensar que não havia para onde fugir.
Quando Skama estava prestes a dizer algo, alguma perturbação ocorreu em algum lugar
perto deles.
Os que apareceram na frente de Skama foram seus companheiros de equipe. Sua equipe,
Quatro Armas, era composta por quatro pessoas, incluindo ela mesma. A proporção de
homens e mulheres era igual. Além da guerreira Skama, havia também um ladino arcano,
uma sacerdotisa e um magic caster da escola de evocação. A composição da equipe deles
era bastante equilibrada.
Atrás de seus companheiros de equipe estavam todos os magic casters da cidade reu-
nidos.
A razão pela qual eles foram capazes de reunir tantos foi por causa de uma brecha na
regra subentendida entre os aventureiros — aquela que os impedia a participar de guer-
ras entre países.
Estritamente falando, não teria sido possível se o Reino Feiticeiro tivesse enviado sol-
dados humanos, mas seu exército era composto por undeads — dos quais eles tinham
quase certeza de que eram os civis do Reino que foram transformados.
Foi o motivo que encontraram, afinal, não havia como usar a regra para se forçarem a
um combate com undeads que no fim poderia resultar em ainda mais undeads.
Ter formado uma unidade de conjuradores entre as pessoas daqui significava que jun-
tos — bem, nem todos eram da mesma escola de magia, então isso era mais hipotético
— poderiam adotar a estratégia de criar uma chuva contínua de flechas usando 「Magic
Arrow」 no inimigo, o que teoricamente poderia matar até Dragões.
Ao contrário das flechas regulares, as flechas lançadas usando 「Magic Arrow」 tinham
uma chance garantida de acertar independentemente das habilidades do evocador. Se
fosse uma magia de nível mais alto isso aumentaria a quantidade de projéteis gerados,
bem como a produção de dano individual de cada projétil. Mesmo assim, a produção de
dano de um único projétil ainda era minúscula. Era praticamente impossível derruba-
rem todos os inimigos com uma só conjuração.
O dano causado pela magia não dependia de onde o inimigo fosse atingido, o que alguns
consideravam sua vantagem, outros acreditavam que era sua falha.
Com tudo isso em mente, ainda era uma magia conveniente para uso grupal. Quem por-
ventura formar um corpo do exército com pessoas versadas nessa magia, provavelmente
obterá muito sucesso. Todavia, não haviam registros históricos de tal tática sendo usada.
Isso ocorreu porque mesmo para aprender as magias mais primordiais e simples do
primeiro nível exigia uma certa quantidade de aptidão, isso sem contar a quantidade de
tempo que precisava ser investida para aprimorar um magic caster. Dada a mesma quan-
tidade de tempo e recursos, era mais benéfico treinar cem arqueiros para combate do
que um único magic caster.
Por trás desse sonho delirante sobre uma unidade do exército estavam os soldados a
mando do Conde e aventureiros habilidosos em arco e flecha e demais armamentos à
distância.
Ou seja, aqueles reunidos nos muros da cidade pretendiam atacar o exército do Reino
Feiticeiro primeiro.
“Sou grato a todos que se reuniram aqui! Gostaria de agradecer a todos e cada um de
vocês por sua ajuda.”
Skama não conseguia mais sentir aquela sensação de falta de confiança em seu tom,
tudo o que restava era a dignidade e a confiança de um líder.
Sua atitude, resultado de seu estilo de vida de nobre, deixou Skama admirada.
Um dos companheiros de Skama, o magic caster, respondeu. Uma maré de risada pôde
ser ouvida atrás dele. O Conde não ficou descontente ao ouvir o que um dos represen-
tantes dos aventureiros tinha a dizer. Pelo contrário, o sorriso que floresceu em seu
rosto era genuíno.
“Darei um jeito nisso! Os recompensarei de modo que, mesmo que todos os outros
aventureiros o obriguem a pagar uma refeição, ainda terá dinheiro de sobra. Entregarei
suas recompensas a vista de todos os presentes.”
“Claro, isso também se aplica aos meus soldados. Embora o salário deles não seja tão
grande quanto o dos aventureiros, pagarei um bônus grande o suficiente para que não
precisem mais se preocupar com o futuro de suas esposas e filhos! Mas—”
“—Não ousem desperdiçar toda a sua nova fonte de riqueza, eu fui claro~?”
Ele podia ver que as expressões tensas de seus soldados haviam diminuído um pouco.
A mulher, Lilynette Piani, também era uma das companheiras de Skama e não, ela não
estava usando aquela roupa de sacerdotisa porque é uma prostituta que estava reali-
zando os fetiches de um cliente ou algo assim.
“Huhhh. Uma relíquia mágica de minha família, isso seria um prêmio e tanto. Pois de
fato existe, é um item mágico que me foi passado por gerações. Muita gente já ouviu falar
sobre, é chamada de Espada Sagrada de Pentecromata.”
Era uma espada longa encantada com os poderes elementares de fogo, trovão, ácido,
sônico e gelo que causavam seus respectivos tipos de dano a um alvo cortado.
Mas, a lâmina não tinha ponta, então só poderia ser usada como uma arma cega, assim
como uma espada falsa usada na prática da esgrima. Ele não fazia idéia do porquê al-
guém forjara uma espada assim. O mais confuso foi que, a espada não causava dano sa-
grado e ainda foi chamada de espada sagrada, talvez o nome tenha sido alterado gera-
ções após a sua criação, não que isso realmente importasse.
Afinal, ainda era um item valioso, portanto, então entregá-lo a uma aventureira parecia
uma compensação totalmente inapropriada.
“Você a deseja então? Hmm, dependendo da situação, eu não descartaria isso por com-
pleto.”
“Do meu filho— eu gostaria que você pudesse se tornar concubina do meu filho.”
Alguns dos aventureiros olharam para o Conde com os olhos arregalados, aqueles que
estavam cortejando Lilynette. Em comparação, quem iniciou esse tema estava com os
olhos tão aguçados quanto os de uma águia.
Talvez essa piada tenha passado dos limites. Assim que o Conde Naüa abriu a boca para
se desculpar, Lilynette perguntou:
Seu tom mudou completamente. Desde sua atitude descuidada de instantes atrás até a
seriedade que se esperava de uma aventureira. Essa era sua personalidade real.
A expressão de Skama ficou mais sombria. Ela olhou para os outros colegas de equipe
que, sem um pingo de compaixão, evitavam fazer contato visual com ela.
Aqueles covardes.
“O terceiro? Mas ele tem apenas doze anos, não? Aquele que logo mais fará aniversário?
Quer que eu seja a concubina daquela criança?”
“...Foi, como diz. Como sabe da idade do meu filho? Aliás, como sabe a data de nasci-
mento do terceiro filho de um nobre local... Isso é importante? Ou todos os aventureiros
de elite são bem informados assim?”
“N-não...”, “Hum, não...” e diversas negações vieram dos outros aventureiros. Lilynette
ignorou todos e continuou enquanto mexia nos cabelos:
“Hah, tá booom. Grhum. Por mim tudo bem, serei a concubina de seu filho pela Espada
Sagrada de Pentecromata.”
O Conde observou Lilynette atentamente e depois encarou Skama, era como se tivesse
uma pergunta para a qual precisava de resposta nesse exato momento.
Skama tinha noção do que se travava, aliás, sabia muito bem do que se tratava.
“Embora tenha sido eu quem levantou essa sugestão. Espere um pouco, por que ela está
babando? Ela estava atrás do meu filho ou do item mágico?”
“É o primeiro—”, Skama tentou dizer, mas antes que suas palavras fossem ouvidas, uma
voz barulhenta ecoou.
Desculpe pessoal, ela pensou. Aqueles que a bajularam todo esse tempo finalmente pu-
deram entender o porquê não obtiveram sucesso.
Preferência de idade.
“É que eu pensei que perguntaria; por que uma concubina? ou algo assim.”
“Ah, Sogro-san. Mesmo que seja seu terceiro filho, ele é filho de sua esposa. Se tudo der
certo, ele conseguirá o título de Barão e um pequeno pedaço de terra, correto? Conside-
rando isso, seria pedir muito que uma aventureira fosse a esposa dele, mesmo que ele
fosse influente, certo? Embora eu tenha conexões com os templos, isso ainda é, bem, sabe
como é. Então planejava dizer algo como “Caso se saia bem nesta batalha, considerarei
deixar ser a esposa dele”, acertei? Mas se logo no começo me satisfizesse com oferta de
ser esposa, não haveria maneira de pôr minhas mãos na Espada Sagrada de Pentecro-
mata. Enfim, ser a esposa de seu terceiro filho e ainda herdar a herança da família, tenho
certeza que isso sustentaria a paz de nossa família~”
“...Te subestimei... Se tivesse aparecido mais cedo, eu teria feito de você a concubina do
meu filho mais velho.”
“Ah, quinze... errei, não... qualquer um acima de dezessete já é velho demais para meus
gostos, Sogro-san.”
O Conde continuou olhando para Skama enquanto ela tentava ignorá-lo. A expressão do
Conde Naüa dava a entender que havia levado um duro golpe, parecia querer chamá-la
de astuta, não criando simpatia alguma para com a multidão.
“Hum, há algo que preciso perguntar — mesmo que tenha doze anos, chegará o dia em
que ele ultrapassará os dezessete anos!”
“Verdade— Quem dera se ele fosse de alguma raça com longa jovialidade. Se bem que
se fosse assim, não seria eu quem envelheceria mais rápido...? Então, aquilo que disse é
aceitável para mim.”
“Só isso que pensou em enfatizar!? De todas as coisas que eu disse até agora, essa foi a
coisa mais digna de ênfase!?”
Com base no julgamento pessoal de Skama, Lilynette era uma pessoa honesta e atenci-
osa, e provavelmente seria uma boa esposa. No entanto, nada disso estava em exibição
no momento.
Se esse assunto continuasse por mais tempo, não apenas traria vergonha à sua compa-
nheira, mas também colocaria a reputação de toda a equipe em uma trajetória esquisita,
o que seria um tanto problemático. Skama não queria que vissem seus cabelos branco e
a ligassem a essas coisas de conotações negativas.
“...Escute, Conde. Embora apreciemos seus esforços para aliviar nosso estresse com al-
gum humor, precisamos continuar com nossos preparativos para a batalha. Posso pedir
para voltar ao centro de comando?”
Mesmo ficando aqui, ele, sem qualquer habilidade de combate, não seria capaz de fazer
muito. Seu trabalho seria de melhor proveito em outro lugar. Conde Naüa acenou com a
cabeça diante dessa proposta lógica, provavelmente com o desejo de ficar o mais longe
possível de Lilynette.
♦♦♦
Do ponto de vista dos muros da cidade, parecia que o inimigo não tinha formação e que
estava apenas reunindo Zombies em um único local. Seria fácil para uma aventureira
ranque mythril, como Skama, eliminá-los, isso é, se aqueles outros monstros não esti-
vessem lá.
“Sem movimento ainda, hmmm? Então, algum de vocês reconhece aqueles undeads?”
Um segurava um enorme escudo em uma mão e uma enorme espada na outra, enquanto
o outro usava duas espadas.
Os magic casters ao seu redor negaram com a cabeça ao ouvir sua pergunta. Skama
desviou o olhar para Lilynette.
Como resposta, ela simplesmente deu de ombros, só poderia haver duas possibilidades.
OVERLORD 14 A Bruxa do Reino em Ruínas
163
Ou esse era um tipo extremamente raro de undead ou uma nova espécie — ignorando
a nomenclatura por enquanto — de undead.
Esse era um cenário no qual eles não tinham nenhuma informação para agir.
Por exemplo, Ghouls tinham um ataque com as garras capaz de paralisar seus oponen-
tes com veneno enquanto infligiam dano.
Se alguém não soubesse de seu efeito paralisante e não se preparasse contra isso, o
efeito paralisante poderia se estender aos demais de seu grupo ou até mesmo sofrer um
[Aparições]
TPK. O que aconteceria com um grupo que desconhecesse a capacidade dos Wraiths de
roubar a vida? Ou de um grupo que não soubesse da resistência de Lobisomens e outros
monstros semelhantes a ataques não feitos com um metal específico? Ou de monstros
que poderiam se regenerar se não os atingisse com ataques de fogo ou ácido?
Informação era uma ferramenta ofensiva e defensiva. Se alguém lutasse sem nenhuma
informação para apoiá-los, a quantidade de perigo em que estariam se colocando seria
óbvia.
“...Isso não é nada bom. Melhor tentar atacá-los com todos os tipos de ataques e ver o
que seria eficaz, alguma objeção?”
“Certo, é isso que faremos — os detalhes sobre quem, assim como o que, estão conju-
rando, deixarei que você e os mais versados discutam. Façam um julgamento com base
na aparência, quero saber o que possivelmente podem fazer. Pois essencialmente, aque-
les dois parecem ser combatentes corpo a corpo.”
Era o que suas aparências indicavam, então não deveriam ser muito díspares das ex-
pectativas, certo? Não era como se monstros que pudessem disfarçar sua aparência não
existissem, mas Skama ainda não tinha visto um pessoalmente.
“Eles parecem ter alta capacidade defensiva, creio que seja perigoso tentar trazer os
dois para combate próximo. Nós os atacaremos de longe, se for esse o caso, como de
praxe, flechas comuns podem não ter um efeito tão grande. Talvez chegue o momento
que tenhamos que lutar cara a cara, de modo a maximizar a quantidade de dano antes
que aquela coisa atinja os muros, isso determinará se venceremos ou perderemos essa
Dito isto, ela já os havia advertido a não serem muito mesquinhos com o uso de mana
em situações onde fosse necessário.
“Se ninguém tiver idéias melhores, iremos com essa. Ótimo, vamos começar.”
Os magic casters começaram a trocar suas opiniões de acordo com as ordens de Skama.
Skama moveu-se para um lugar bastante distante de onde estava se reunindo com seus
companheiros — embora faltasse um.
Ele já sabia dos planos de batalha, pois já lhe havia sido explicado, então a pergunta era
sobre algo além disso.
“Com quanta força de vontade a gente vai lutar por esta cidade, é o que quero dizer.
Como a maior parte dos inimigos é de Zombies e a cidade não tá cercada por todos os
lados, se quisermos fugir... com nossas habilidades poderemos escapar fácil fácil, não é?
Roubar um dos barcos e fugir não é tão ruim, sacou? Preparar a comida só quando forem
pedindo, entendeu?”
“Nossos oponentes são undeads, sacou? Não me espantaria se marchassem até no mar~”
Como o extremo norte desta cidade estava de frente para o mar e estava coberto de
docas, não havia paredes cobrindo esse lado da cidade. Se seus inimigos fossem inteli-
gentes, teriam escolhido atacar daquele lado. Mas ainda era possível que o exército prin-
cipal estivesse os esperando perto do mar.
“É fácil quebrar a formação se forem apenas Zombies, no pior cenário, teremos que ex-
plorar usando 「Fly」 para garantir que as principais forças do inimigo não estejam
mais à espreita.”
Disse o ladino arcano, sem notar os olhares de suas duas companheiras, como se esti-
vessem tentando dizer “isso é porque você é o único que nunca pensou nisso”. O ladino
arcano então continuou:
“Então, vamos supor que fugimos, pra onde vamos? Pra cidade vizinha ou algum lugar
perto da capital?”
“Fala baixo.”
Disse Skama, depois confirmou que não havia ninguém nos arredores antes de conti-
nuar dizendo, “...Sim.”.
Ficar e ser governado pelo Reino Feiticeiro, o país que transformou tantas pessoas em
undeads (mesmo sendo cidadãos de um país hostil), certamente garantiria um fim infeliz
para todos eles.
Embora possa ser fácil para eles, como um grupo de aventureiros, escaparem, a líder
do grupo ainda precisa considerar vários cenários.
Três países vizinhos do Reino exceto o Reino Feiticeiro: o Conselho Estadual, o Reino
Sacro e o Império.
Pelo processo de eliminação, o único que restava era o Conselho Estadual, já que o
Reino Sacro parecia amigável ao Reino Feiticeiro e o Império era seu vassalo. Uma van-
tagem de escolher o Conselho Estadual era que se situava relativamente próximo de
onde estavam, mas fora isso, suas opções provavelmente eram a Aliança Cidade-Estado
ou a Teocracia. O Reino Dragonic não estava na melhor das situações segundo o que ela
“Haaaah— é sério que vamos fugir? Skama, deveria se esforçar mais pelo bem da minha
busca da felicidade própria~”
“...Então nada daquilo que falou sobre aquela criança era atuação?”
“Entendido! —Então, vamos nessa? Ajam de acordo com o plano, se o pior acontecer,
pulem e tentem romper o grupo de Zombies.”
Saltar de tal altura infligiria alguma dor, mesmo em alguém armadurado como Skama.
Esse problema foi resolvido pelo magic caster, que lançaria 「Falling Control」 e isso
permitia que caíssem com segurança.
Deveriam considerar-se sortudos pelos inimigos escolherem não esperar até a noite
para fazer sua jogada?
Nenhuma permuta foi feita trocando flechas, nenhum dos lados declarou suas justifica-
tivas, apenas uma grande quantidade de Zombies se movera tropeçando em direção aos
muros da cidade. Não se parecia em nada com o estopim de uma batalha normal.
Cadáveres grunhiam enquanto se aproximavam rapidamente, o que deve ter sido uma
visão assustadora para alguns, mas para Skama foi uma exibição risível. Se esses fossem
Zombies de raças diferentes de humanos, como Gigantes, Dragões ou outros monstros
colossais, essa seria uma situação completamente diferente. Nem mesmo os aventurei-
ros novatos teriam medo de meros Zombies humanos. Afinal, os muros da cidade não
eram tão pífios ao ponto de Zombies desse porte conseguirem violá-lo.
OVERLORD 14 A Bruxa do Reino em Ruínas
167
Os Zombies, embora tivessem mais força, durabilidade e resistência do que um zé nin-
guém, eram ainda piores que um aventureiro com um mínimo de experiência. Isso sem
considerar o fato de que os Zombies não eram sapientes.
Eles não estavam se mexendo. Qual seria o porquê? Não planejavam mudar de posição?
Normalmente, esperariam até que a distância entre eles fosse menor para começar a
atirar, pois garantiria que pudessem atingir seus alvos, mas, como eram Zombies, a
quantidade importava mais do que precisão.
Como esperado dos soldados que estavam confiantes em suas habilidades de arco e fle-
cha, eles foram razoavelmente precisos mesmo nessa distância. Talvez apenas duas das
dez flechas tenham errado o alvo, uma perda insignificante.
Porém, não era como se um Zombie morresse em uma única flecha. Ainda assim, era
algo que poderia consumir parte da não-vida de seus oponentes, desde que acertassem
o alvo.
Os aventureiros e soldados não se alegraram com a visão e o som dos Zombies caindo
no chão, pois todo o ocorrido ainda estava dentro de suas expectativas.
Skama, chocada com a velocidade extraordinária que seu oponente estava se movendo,
deu sua ordem.
“Iniciar ataque!”
Entre elas, a mais destrutiva foi a 「Fireball」 de seu companheiro, como ela esperava.
No entanto, ele ainda avançava, era como se não tivesse sofrido dano algum. Isso causou
alarde nas linhas de soldados.
Para os aventureiros, esse foi o resultado lógico. Os movimentos de undeads não eram
impedidos pela quantidade de dano sofrido. Independentemente de quanto dano rece-
bessem — mesmo que fosse o bastante para levar uma criatura viva à beira da morte —
eles poderiam se mover, desde que ainda tivessem a “força vital” de sua não-vida.
Mesmo a bem conhecida magia 「Fireball」 não fez dano o bastante para pará-los. Al-
guns dos aventureiros fortes podiam aguentar um golpe e viver, mas os mais fortes po-
diam até suportar vários ataques.
Magia desse calibre não foi suficiente para abater o Porta-Escudo, aventureiros que não
haviam considerado essa possibilidade deveriam ter sido demitidos há muito tempo.
Normalmente, o dano mágico não pode ser evitado, defendido ou reduzido pela arma-
dura física. Ataques mágicos puramente baseados em energia devem ser eficazes contra
inimigos com peças de armadura ou exoesqueletos resistentes. Ainda assim, não era
como se monstros com resistências mágicas ou elementares não existissem.
Se ataques mágicos não funcionassem, eles teriam que alterar drasticamente seus pla-
nos de batalha.
Os magic caster, um por um, sentiram a quantidade de dano que estavam causando
através da intuição e começaram a gritar “Funciona!”, “Estamos causando danos!” e ou-
tras frases semelhantes.
“Skama! Todo tipo de ataque mágico parece ser eficaz naquela coisa!”
Skama suspirou aliviada com a melhor notícia que recebeu no dia. Talvez eles tivessem
chance de vitória, afinal.
O oponente ainda estava correndo na direção deles a velocidade supina. Ela rezou para
que pudessem derrubá-lo antes que chegasse ao portão. Considerando que este ser não
tinha resistências, a quantidade de dano que ele já havia aguentado provava que de fato
não era um inimigo comum.
Como em resposta aos pensamentos de Skama, outra leva de magias foi lançada.
Muitos Zombies já haviam caído nesse ponto, mas o Porta-Escudo continuou a avançar.
A maioria dos undeads teria sido dizimada após algumas dezenas de magias.
Essa coisa é mais forte do que o esperado... não, é muito forte... essa coisa, podemos... real-
mente derrotá-la?
O Porta-Escudo não era o único inimigo do qual eles tinham que ter cuidado, havia tam-
bém o outro que ainda estava esperando no local. Por que não estava em movimento,
eles não tinham idéia—
Esse é o trunfo do Reino Feiticeiro? É por isso que existem apenas dois...? Ou ele quer dizer
que nós, assim como essa cidade, somos fracos ao ponto que apenas dois deles bastam?
Como se para refutar suas preocupações paranoicas, Skama mordeu os lábios e resistiu
à vontade de gritar: “Mate-o mais rápido!”.
Todo mundo já estava focado nisso e estava tentando o seu melhor. Que tipo de efeito
nublaria suas mentes se a aventureira mais poderosa daqui gritasse isso?
Skama ofereceu uma oração ao seu Deus, o Deus do Fogo, que infelizmente não trouxe
sequer um singelo sorriso a seu rosto.
Agora estava no ponto cego dos conjuradores, qualquer mira a essa altura seria impre-
cisa.
Se aquele outro fosse tão rápido quanto o Porta-Escudo, ele poderia alcançá-la rapida-
mente.
Não que fosse impossível sobreviver, pois ela já havia usado 「Fly」 para explorar além
do exército de Zombies e não encontrou nada além daqueles dois seres em particular.
Se seguissem o último plano e atraíssem o inimigo para a cidade, isso certamente pesa-
ria a consciência de todos com uma culpa muito mais forte do que se simplesmente aban-
donassem a cidade. Talvez uma culpa dessa escala possa causar arrependimentos ao
longo da vida.
“...É a nossa vez! Pessoal, mantenham sua atenção naquele undead imóvel e no que está
abaixo dos muros!! Vou atraí-lo para onde possam vê-lo. Assim que o virem, lancem ma-
gias imediatamente!”
Depois de uma breve ordem para seus companheiros de equipe e ordens detalhadas
para os soldados e os magic casters, Skama correu em direção às escadas que levavam
ao térreo dos muros da cidade. Seu companheiro, que ainda tinha a magia 「Fly」 ativa,
seguiu de perto atrás dela.
“Aquela coisa tem um nível inacreditável de resistência, mas já era para ter sofrido
muito dano!”
Esse undead que já levou dezenas de ataques mágicos. Eu é que não quero ganhar tempo
recebendo golpes daquilo enquanto fazem alguma magia para dar um fim nele.
Mas era preciso fazê-lo para terem uma chance de sobreviver a essa provação.
Havia um espaço entre os impactos, talvez o Porta-Escudo estivesse recuando para co-
meçar a correr antes de bater novamente no portão.
Portas como essa eram resistentes a ataques elétricos, mas isso não significava imuni-
dade a essa magia.
O dano potencial que tal magia poderia causar à porta tinha que ser inferior ao que
poderia causar a criatura undead. Os benefícios de lançar 「Lightning」 agora ou guar-
dar mana para quando o Porta-Escudo atravessasse o portão também tinham que ser
considerados.
Eles não deveriam almejar enfrentar o inimigo de frente, mas sim causar o máximo de
dano possível agora.
Skama acenou com a cabeça e seu companheiro imediatamente iniciou sua conjuração.
“「Lightning」.”
“GWOOOAHGWOAHWOAH!”
Sem compreenderem se estava ficando irritado ou não, o undead começara a rugir alto
o suficiente para que seu rugido atravessasse o portão. O rugido tinha determinação su-
ficiente para fazer alguém esquecer de respirar.
Nenhuma habilidade baseada em gritos de guerra foi usada, mas o rugido ainda podia
fazer o corpo tremer por inteiro, provavelmente foi apenas a diferença de poder — me-
lhor dizendo, seu subconsciente tinha entendido a diferença de poder entre eles.
Droga, is-isso não é nada bom... não é mais uma questão de saber se podemos ganhar ou
não. Se o Rei Feiticeiro pode dominar esse tipo de undead ... ahhh, faz sentido. Afinal, ele é
um monstro que pode matar mais de cem mil pessoas de uma vez.
Era difícil imaginar como alguém poderia controlar vários undeads desse nível. Talvez
esse tipo de undead fosse o trunfo do Reino Feiticeiro.
“「Lightning」.”
Outra faísca elétrica brilhou, deixando para trás um vulto branco, mas o som dos repe-
tidos impactos não cessou.
A única coisa que mudou foi a porta. As toras foram cortadas ao meio, as tábuas de re-
forço foram arrancadas e apenas os pregos retorcidos das dobradiças permaneceram na
estrutura.
“...Ahhh”
Skama desviou das lascas de madeira o melhor que pôde enquanto também se movia
para trás. Ela estava recebendo buffs Arcanos e Divinos de ambos os companheiros de
grupo.
O portão finalmente cedeu depois que terminaram seus buffs, as partes do portão caí-
ram no chão com um barulho alto.
Seus dentes rangiam e suas mãos tremiam. Para esconder esse fato dos outros, ela teve
que suprimir seu medo a ponto de quase desmaiar.
Esse nível de pavor não podia ser sentido no topo dos muros da cidade, era algo expe-
rienciado por aqueles que encaravam o monstro.
“Mas que coisa é essa...? Apenas um deles conseguiu derrubar o muro reforçado... O Rei
Feiticeiro domina esse tipo de undead...”
“Digo isso do fundo do meu coração, devemos evitar ser inimigos do Rei Feiticeiro da
próxima vez.”
Embora já tivesse ouvido falar de como o Rei Feiticeiro havia destruído um exército de
mais de cem mil homens, na ocasião ela não sentiu um medo real e tangível. Mas ao tes-
temunhar com seus próprios olhos, seu medo pelo Rei Feiticeiro, que tinha controle so-
bre essa criatura, alçou novos limites.
Ela não queria lutar contra essa coisa. Honestamente, ela queria correr o mais longe
possível.
Mas, não havia como esse undead, que desprezava a vida, deixasse que fizessem isso.
De todo modo, sua única esperança de sobrevivência estava em fazer algo contra esse
undead.
Os Zombies estavam distraídos demais com soldados nos muros, ou seu cerco ainda
não tinha chegado nesse buraco?
O fato dessa criatura na frente deles ter dispersado os Zombies perto do portão foi uma
sorte e tanto, mas estavam cientes que a sorte acabaria em breve.
Skama levantou seu tomahawk. A julgar pela velocidade do undead, era preciso consi-
derar-se dentro do alcance de seus golpes.
Depois de ativar a habilidade do machado, uma cópia etérea dele apareceu próxima a
ela. Essa era a habilidade de sua arma, 「Doppel」, que criava uma cópia flutuante de si
a uma distância intermediária do portador. Poderia atacar automaticamente um inimigo
com o mesmo nível de precisão e velocidade que o usuário.
Esta arma etérea não poderia ser destruída com força bruta, para quebrá-la exigiria
habilidades especiais de destruição de armas; como resultado, poderia continuar ativa
mesmo que Skama morresse.
Embora essa habilidade não tenha fraquezas reais, ela pode causar apenas metade do
dano que a arma real.
“GWOOOAHGWOAHWOAH!!”
Suas ações pareciam ter atraído a atenção do Porta-Escudo, que se moveu para antago-
nizá-la.
Ele apontou sua espada ondulada enquanto avançava em sua direção com seu escudo.
Isso é... problema... Falando nisso, por que essa coisa ainda está viva depois de tantos ata-
ques mágicos? É bem injusto, não?
Foi uma mentira deslavada que ela desviou dos estilhaços sem esforço. Ela mal conse-
guiu fazer isso com os buffs mágicos.
O Porta-Escudo avançou na direção deles. A brecha entre eles foi fechada em um ins-
tante, parecia uma parede se aproximando, era como se a criatura planejasse usar seu
escudo para esmagá-la até a morte.
Mas—
Skama não era boa o suficiente para usar 《Fortaleza Impenetrável》, então ela esco-
lheu usar 《Fortaleza》para interromper o escudo com seu tomahawk. O Porta-Escudo
defletiu habilmente o tomahawk com seu escudo, agora pretendendo quebrar a postura
de Skama. Essa foi uma manobra complexa que fez Skama sentir como se seu machado
estivesse sendo absorvido pelo escudo. Skama desistiu de afrontar sua força bruta, rolou
para o lado e usando a força contrária dessa ação para se afastar.
O machado etéreo golpeou de cima para baixo, mas foi desviado pela espada ondulada.
Ao mesmo tempo, a criatura atacou Skama.
Ela nem teve tempo de respirar. Forçada a tomar a defensiva novamente, Skama des-
viou os ataques com seu tomahawk e atacou seu oponente.
“「Sunlight」!”
Como se para forçá-la em sua decisão, um clarão ofuscante de luz foi emitido por de trás
dela.
Essa luz brilhante não apenas cegava o inimigo, mas também causava danos aos unde-
ads. Embora houvesse uma magia do mesmo nível chamada 「Holy Light」 que causaria
danos total às criaturas do mal, infelizmente não as cegaria. 「Sunlight」 provavelmente
foi escolhido para dar suporte em vez de dano.
O magic caster ainda voando disparou três raios de luz em direção a criatura undead,
ele usou 「Magic Arrow」.
Embora ela estivesse recebendo apoio, o escudo desse algoz ainda bloqueava tudo
como se fosse uma parede e não deixava aberturas à vista. Skama o cortou com seu to-
mahawk, mas foi facilmente desviado.
Mas que droga! Seus movimentos são muito precisos. Não era tão forte quando usava sua
espada— sua proficiência com seu escudo é muito alta! Quer dizer que sua principal ca-
racterística é a defesa? Hã? Mas, e aquele ataque pesado? Não, é impossível...
Aterrorizada por sua própria revelação, Skama recuou lentamente. Escusado dizer que
era para que os conjuradores nos muros pudessem ter uma linha de visão sem obstrução.
Ela não podia se afastar, ou a criatura poderia ignorá-la e rumar direto para a cidade.
Esse era um cenário que deveria ser evitado a todo custo, dada a rapidez com que tudo
acontecia, nem Skama nem os outros seriam capazes de alcançá-lo.
Era melhor se afastar para um lado mais seguro. O ladino arcano da equipe de Skama
estava esperando na lateral, isso dificultava sua ajuda, mas era para caso o monstro cor-
resse para a cidade, já que assim, ele teria uma chance maior de alcançá-lo. Esse era o
plano para impedir que um oponente saísse do controle, ainda assim, suas habilidades
físicas não muito tardariam o fracasso.
Ela lentamente o atraia, enquanto prestava atenção a todos os seus movimentos. Ele
não parecia ter notado que a seguia para mais longe.
Quando estavam prestes a trazê-lo para a linha de fogo, lamentações puderam ser ou-
vidas acima deles.
Skama falou com determinação depois que a voz de pânico de sua companheira a acal-
mou um pouco. Se não conseguissem abater aquela coisa, sequer teriam chance de esca-
par. Eles só podiam esperar que a vida dessa coisa já tivesse sido reduzida a um triz pelos
ataques mágicos.
Seu tomahawk foi facilmente bloqueado pelo escudo, assim como a cópia etérea. Os ata-
ques de Skama não foram suficientes para sobrepujar as defesas do Porta-Escudo.
Ela já esperava que seu ataque fosse anulado, pois isso era tudo que ela tinha que fazer.
Os ataques mágicos foram finalizados pelo ladino arcano, que arremessou um frasco na
lateral da perna do undead.
Quando o frasco se estilhaçou um líquido pegajoso se espalhou, era uma cola comum
que qualquer alquimista ou similar poderia fabricar. Essa era uma estratégia que só fun-
cionaria se o inimigo estivesse pisando em alguma superfície lisa.
Mesmo que por apenas por um breve momento, seu oponente estava imobilizado. Essa
era uma tática comum que usavam ao enfrentar um inimigo muito mais poderoso que
eles.
O Porta-Escudo manejou sua enorme espada e habilmente defletia cada golpe. Embora
suas duas pernas estivessem completamente presas no chão e ela tivesse usado Artes
Marciais para emendar seus ataques, Skama não conseguiu acertar um único golpe.
Pelo canto de olho, Skama viu a criatura usando força bruta para descolar o pé da pedra
lisa. Mais duas magias ofensivas foram lançadas e, ainda assim, não conseguiram der-
rubá-lo.
Havia monstros como Hydras ou Trolls que tinham a capacidade de se regenerar. Essas
duas criaturas eram imunes a acúmulos de danos, seria preciso acertar um único golpe
fatal que poderia reduzir a vida do monstro a zero.
Maldição!
“—Está vindo!”
Skama não pôde deixar de desviar o olhar ao ouvir o grito do ladino arcano. De pé no
portão estava a silhueta do outro ser undead.
O Duplo-Manejador.
Skama sentiu seu estômago revirar, a pressão combinada dos dois a fez querer vomitar.
O ladino arcano que estava combinando golpes com Skama não aguentou a pressão e
se retirou para seu lado. O Duplo-Manejador respondeu da mesma forma e se moveu
para o lado do Porta-Escudo.
“...Eles não vão atacar. Significa que... merda. Essas coisas são altamente sapientes.”
E o motivo disso era óbvio. Embora as magias de ataque tivessem provado sua eficácia,
por consequência, elas também seriam o estopim para seus ataques.
Mesmo que o seu lado protelasse o ataque, seu inimigo o faria mais cedo ou mais tarde.
Era só que simplesmente não conseguiam criar a coragem de confiar o destino em suas
próprias mãos.
Depois que ela se agonizou com isso, Skama tomou sua decisão.
Havia dois oponentes, se não houvesse pelo menos duas pessoas para comprar algum
tempo, então só rest— um estampido ecoou em seus ouvidos.
“...Hein?”
A criatura undead na frente deles, Porta-Escudo, teve a cabeça perfurada pelo que pa-
recia uma agulha longa.
O que atravessou a cabeça do Porta-Escudo não foi uma agulha; o que perfurou através
do crânio e agora estava encravado no ladrilho de pedra abaixo era algo do tamanho de
um dedo indicador.
Significava que, o objeto veio tão rápido que a visão cinética da Skama não conseguiu
interceptá-lo, ela viu apenas um rastro flutuando no ar, o qual se parecia com uma agulha.
O Porta-Escudo espasmava, seus pés estremeciam quando pisavam nos ladrilhos, mal
permitindo que ficasse de pé. Talvez fosse devido à sua gênese, mas ele ficou de pé
mesmo depois que teve a cabeça perfurada.
Foram necessários apenas dois tiros. Não, talvez fosse porque já havia sofrido diversos
ataques mágicos e já estivesse enfraquecido. Mas quem poderia realizar um feito desse
porte—
“Q-Quê?”
Era da própria Skama ou de seus companheiros? Ela estava tão chocada que não podia
mais dizer nem algo dessa trivialidade.
Por ter atacado o Porta-Escudo, eles puderam concluir que não era seu inimigo, mesmo
que também não houvesse indicativos que fosse seu aliado.
Ele jogou a espada com tanta força que Skama não teria a menor chance de esquivar. Se
ela tentasse bloqueá-la, ainda causaria uma quantidade fatal de dano.
O som estrídulo de metais colidindo foi ouvido, a espada lançada ricocheteou na arma-
dura. Em seguida, desapareceu como se tivesse evaporado no ar, apenas para no instante
seguinte surgir nas mãos do Duplo-Manejador.
A arma tubular travou no alvo e então— expeliu algo após um breve lampejo de fogos
e raios.
O que costumava ser ataques de tiro único se transformou em uma quantidade incon-
tável de projéteis. *Grakatatata*, o som da violência apática podia ser ouvido em toda
parte.
Duas espadas não poderiam ter lidado com dezenas ou mesmo centenas de projéteis.
Os minúsculos projéteis voavam a velocidades sem iguais e penetravam no inimigo. O
Duplo-Manejador começou a se contorcer como se tivesse espasmos musculares e, como
o Porta-Escudo antes dele, desapareceu.
Para ser sincera, ela não fazia idéia do que tinha acontecido.
Mas Skama entendeu uma coisa, que seja lá o que essa armadura fosse, era incrivel-
mente forte, mais forte do que todos que já conhecera.
Nada parecia real. Para ela, era difícil aceitar que haviam sido salvos. O desespero e a
prontidão para o sacrifício foram destruídos tão facilmente que sua mente não conse-
guiu se manter.
Depois que o ladino arcano disse, ela apertou os olhos tentando captar cada detalhe,
por fim, ela viu algo no pescoço da armadura — embora ela mal pudesse entender sua
forma — havia um colar que continha uma plaqueta de metal. Embora fosse do mesmo
tamanho que o de Skama, parecia minúsculo naquela figura gigante. Como esperado da
perspicácia de um ladino, se fosse por ela, sequer teria notado.
Ela já tinha visto a cor do orichalcum antes, então pelo processo de eliminação era um—
Havia três grupos classificados como adamantite no Reino, e a cor da armadura a fez
perceber de qual time fazia parte.
“E-espere!”
Ergueu a mão esquerda, juntou o dedo médio e indicador perto da testa. Como se esti-
vesse se despedindo, a armadura gesticulou gentilmente para eles.
“Sei lá...”
Ela não conseguia entender nada, mas alguém da Gota Vermelha veio ajudá-los, só res-
tava aceitar isso.
Parte 3
Ele sentiu como se tivesse acabado de ouvir um “Eh?”. Ainz sentiu que fosse similar a
algo tipicamente feito por ele.
Um Death Knight e um Death Warrior, essas duas criaturas morreram de repente. Quem
[ T r a j e Motorizado]
os derrotou também estava usando um item de YGGDRASIL, um Powered S u i t .
Ainz sentiu que havia perdido seu elo com os dois — embora não fosse um sentimento
forte, considerando quantas conexões mantinha ao mesmo tempo — e foi assim que des-
cobriu que não era uma ilusão.
Ele sentiu o olhar de todos os Guardiões de Andar — provavelmente até mesmo os das
empregadas — nele.
Ainz foi o mentor desse cerco, então não seria errado ver isso como a derrota de Ainz.
Embora algo inesperado tivesse ocorrido, foi uma perda insignificante, pois foram en-
viados para lá precisamente porque perdê-los não seria um grande problema. Então
Ainz desejou que não agissem com toda essa tensão e cuidado.
No entanto, dada a situação atual, se ele dissesse que era bom perder uma batalha, isso
soaria mais como a desculpa de alguém com dor de cotovelo. Nessas horas que a análise
posterior mostrava seu valor.
Ainz decidiu usar suas habilidades de atuação há muito praticadas, o que, é claro, ele
havia obtido praticando em frente ao espelho enquanto as empregadas regulares esta-
vam ausentes.
A parte importante dessa atuação estava em não falar em voz alta. Uma voz alta seria
bastante falha agora. O truque era agir como se ele estivesse apenas murmurando para
si mesmo.
Sua atuação, resultado de muita pesquisa, levou a uma onda de comoção que reverbe-
rou pela sala.
—Quê!? Cocytus!?
Quando Ainz entrou em pânico, Shalltear respondeu: “Sim, sim, sim!” enquanto balan-
çava ambas as mãos. Embora desse a entender que ela o chamava, estava simplesmente
chamando atenção para si mesma. Shalltear sorriu com orgulho quando os olhares de
todos recaíram sobre ela.
“Eu também entendi ~arinsu! Ainz-sama previu que algo assim apareceria ~arinsu! Foi
por isso que enviamos uma força tão fraca, estou correta ~arinsu!?”
Isso foi um sucesso ou um fracasso? Ainz encarou Demiurge, mas ele estava apenas sor-
rindo misteriosamente enquanto concordava com a cabeça.
Eh? Era um membro da Gota Vermelha? Essa informação é confiável? Quais são as possi-
bilidades de ser um jogador?
Eles poderiam ter certeza de que era a Gota Vermelha? Se sim, essa informação não
deveria ter chegado a ele há muito tempo?
Não, calma... O mais provável era que Ainz simplesmente tivesse deixado essa informa-
ção passar despercebida enquanto lia os documentos. Por esse motivo, Ainz fingiu que
tudo estava de acordo com o plano com uma súbita onda de risadas suaves.
Que obviamente ele havia praticado essa risada algumas vezes também.
“—Hehe. Mmm, não achava que ele realmente apareceria. Fiquei bastante surpreso
também... Pensei que fosse conservar suas forças para o confronto na capital.”
“O Ainz-sama sempre pensa nas coisas que a gente nem pode imaginar!”
Ainz não havia pensado que isso pudesse acontecer. Embora pensasse que perder fosse
bom, vencer era ainda melhor. Mas o problema era que, eles percebiam a coisa toda pelas
razões certas dentre os motivos errados.
Ainz relembrou a reunião entre ele, Sebas e mais algumas, a reunião que fez Ainz se
encarregar dessa batalha.
♦♦♦
Ainz não se lembrava do conteúdo da última ordem que lhe dera, muito menos que o
tivesse chamado aqui. Mas talvez estivesse aqui por vontade própria, algo que Ainz não
se importava.
Embora Sebas estivesse incumbido de E-Rantel, ele ainda recebia quantidade conside-
rável de liberdade. Incluindo o direito de retornar à Nazarick a qualquer momento.
Ainda assim, se seu objetivo fosse se encontrar com Ainz, ele poderia ter feito isso em
E-Rantel. Então deveria ser algo importante e urgente que o trouxera aqui.
Ainz sentiu como se houvesse algo ameaçador escondido na escolha confusa de pala-
vras de Sebas. Ele ordenou que a empregada regular mais próxima dele — a designada
para o dia — os deixasse em paz. A empregada, juntamente com a outra empregada de-
signada para esta sala, abaixou a cabeça com delicadeza e se retirou.
Se Ainz ordenasse que nunca falassem sobre o que fosse dito nesta sala, provavelmente
seguiriam essa ordem até a morte, mas neste mundo havia meios mágicos de extrair in-
formação. Escusado dizer que, mesmo que Ainz nunca permitisse que isso acontecesse,
ainda era melhor prevenir.
Se fosse Sebas a ordenar que os deixassem a sós, seria equivalente a ter dito que não
confiava em suas colegas, as empregadas regulares.
Em resposta, Ainz acenou suavemente a cabeça. A fim de obter o motivo para isso tudo,
Ainz perguntou novamente:
“Sim— Grhum, não. Não tenho muita certeza se isso é fora do comum ou não. Alguns de
nós desejam conversar com o senhor em particular, Ainz-sama. Me foi requisitado per-
guntar ao senhor por sua aprovação.”
“Então desejam que eu vá? Não podem vir aos meus aposentos?”
Dado que Ainz era o Governante Absoluto da Grande Tumba de Nazarick, esse foi um
pedido incomum.
“Não, não tem a ver com Tsuare. É sobre Guardiãs que não receberam permissão para
deixar a área. Elas sabem que isso seria desrespeitoso, mas ainda desejam incomodá-lo
por um tempo...”
Claro, se ele ordenasse que viessem, provavelmente o fariam. Alguns NPCs poderiam
responder negativamente devido a uma ordem anterior dos antigos companheiros de
Ainz, seus criadores e a quem se referiram como os Quarenta e Um Seres Supremos.
Ainda assim, a maioria obedeceria à ordem de Ainz.
Por causa de sua aura passiva, certamente causaria muitos danos colaterais ao se mover
para o 9º Andar. Não teria problema se incendiasse alguns tapetes de lã no caminho, mas
se passasse perto das empregadas regulares, elas certamente sofreriam muito dano.
Se fosse esse o caso, seria melhor ir até ele. Enfim, Ainz nunca tinha gostado de colocá-
lo ao ar livre mesmo. Além disso, ele não tinha nenhuma tarefa a ser resolvida no mo-
mento. Pelo menos segundo Ainz pensava.
“Nigredo-sama e Pestonya.”
“Aquelas duas...”
A expressão de Ainz ficou abatida e ele tentou o seu melhor para esconder esse fato.
Embora o rosto esquelético de Ainz não pudesse mostrar nenhuma expressão, parecia
que alguns poucos Guardiões eram capazes de ler essas nuances. Albedo fazia parte
dessa minoria. Como um adendo, Demiurge aparentemente sempre interpretava sua ex-
pressão de maneiras esquisitas.
Ainz crera que escondia suas emoções bem o suficiente, mas parecia que Sebas ainda
podia captar algumas sugestões advindas de seus maneirismos vocais. A expressão de
Sebas se tornou cada vez mais apologética como resultado.
Imagine se estivesse em um escritório e alguém lhe dissesse: “O pessoal desse outro de-
partamento está procurando por você. Não querem ligar, terá que ir pessoalmente". Oito
pessoas, ou mesmo nove, a cada dez se sentiriam incomodadas.
Dito isto, não era como se Ainz tivesse alguma escolha. Se um problema maior surgisse
devido à sua negligência em problemas menores, a responsabilidade pelas consequên-
cias cairia em suas costas.
E mesmo que fosse o soberano de Nazarick, descansar sobre os louros seria pura estu-
pidez.
Ainz não desejava ser odiado por nenhum NPC, mas sim ser adorado, assim como cri-
anças adoravam seus pais.
Ainz pegou um caderno para verificar suas tarefas de hoje. Ele era alguém que adiava
tarefas que achava irritantes, mas também desejava que os mesmos assuntos irritantes
fossem resolvidos o mais rápido possível.
“Sim. Embora eu corra o risco de ofendê-los, elas esperavam que o senhor vá sozinho,
Ainz-sama.”
“E aquela boneca?”
“Vou pedir a Pestonya para cuidar desse assunto, não deve haver problemas.”
“Ótimo. Daqui uma hora, então... hmm? Sebas, você também vai?”
Uma hora depois, Ainz usou o poder do anel para se teletransportar para a Prisão Con-
gelada no 5º Andar.
Ninguém o acompanhava. Ele dissera à empregada regular que tinha assuntos impor-
tantes a tratar e ordenara que ficasse e guardasse esse segredo.
No começo, ela protestou dizendo: “Fingirei que não vi nada. Pode simplesmente ignorar
minha presença, então me leve junto com o senhor, por favor”. Embora Ainz tenha achado
sua sugestão digna de confiança, parecia derivar-se de algum tipo de satisfação por ser
ignorada.
Ele perguntara a mesma empregada em algum momento do passado, mas ela dissera
que o ideal seria que ele as objetificasse, pois isso significaria que haviam cumprido seu
dever de empregada em sua plenitude. Aparentemente, todas estavam buscando ativa-
mente esse tipo de interação. Por outro lado, Ainz havia perguntado apenas a uma delas,
então talvez não fosse uma opinião compartilhada— não, o ideal seria que apenas ela
tivesse esse fetiche.
Mesmo que fosse uma empregada regular, ele precisava garantir que a probabilidade
de seu fetiche não ultrapassasse 1% da expectativa, não poderia crescer até virar uma
bola de neve, Ainz se fortaleceu.
Havia muitas pessoas em Nazarick que se comportavam como a dita empregada, por
isso nenhuma de suas políticas de férias de longo prazo e férias remuneradas havia sido
bem-sucedida. Se isso persistisse, as esperanças e os sonhos de Ainz estavam fadados ao
fracasso.
Ainz abriu as portas congeladas ao estilo château, eram dignas de conto de fadas. Assim
como antes, uma brisa fria fluiu de dentro, mas graças a seus traços raciais, Ainz tinha
imunidade completa a temperaturas frias, e isso em nada o incomodou.
Como antes, o gesso em alguns pontos do mural já havia caído. Parecia bastante deca-
dente.
“Bem-vindo, Ainz-sama.”
Como dona da sala, o convite veio de Nigredo, Ainz se aproximou da mesa em que esta-
vam sentados.
A última vez que esteve nesta sala, tudo o que tinha era um berço. Desta vez, o berço
não estava em lugar algum, apenas uma mesa e quatro cadeiras.
Depois que Ainz se sentou, Pestonya imediatamente começou a preparar um chá. O va-
por que emanava da xícara de chá à sua frente trazia consigo o aroma do chá preto. Sebas
providenciou alguns biscoitos para acompanhar.
Os biscoitos entregues a Ainz não eram requintados, apenas simples e quadrados. Po-
dia-se dizer que isso é uma visão rara em Nazarick.
Seria um experimento culinário de alguém? Ainz olhou para Sebas e perguntou com
apenas um olhar, levando Sebas a responder:
“Esses não são de Nazarick, mas mercadorias que eu trouxe de E-Rantel. Devido à atual
abundância de ingredientes frescos e baratos na cidade, uma cultura alimentar está se
desenvolvendo lentamente lá. Este biscoito está entre os alimentos que estão sendo de-
senvolvidos. Segundo o que dizem, eram mais duros antes, mas agora aprenderam a
fazê-los mais macios.”
“Hmmm.”
Ainz pegou um biscoito e o mordeu. Na verdade, não estava tão duro quanto ele espe-
rava.
Ele sentiu a textura do biscoito, mas não o seu sabor. Um ponto fraco deste corpo.
Ainda assim, da perspectiva de Ainz, não era nada disso. Justamente pelo fato desse
corpo não ter libido, apetite e sonolência que ele pôde ter sucesso em seu papel de go-
vernante de Nazarick.
Se um desses aspectos fosse aplicável, ele certamente entraria em uma espiral de des-
crédito desde o início.
“Ainz-sama, se arrendasse mais undeads para fins agrícolas, certamente haveria desen-
volvimentos no aprimoramento de diversas espécies alimentícias. A cultura alimentar
certamente florescerá e, talvez, até possam produzir alimentos de qualidade comparável
à oferecida por Nazarick.”
“Seria ótimo. Devido ao meu corpo, não pude investigar os buffs incorridos por diferen-
tes itens alimentares antes. Se investirmos mais recursos nisso, poderá até ajudar a for-
talecer Nazarick. Mas — se esse fosse o caso, aqueles sem níveis em “Cozinheiro” não
podem cozinhar tudo, eu suponho?”
De repente, Ainz se lembrou dos biomas europeus do passado e dos conflitos que sur-
giram em torno dos bancos de sementes. Embora não ficasse muito interessado no as-
sunto na época, Blue Planet ficava ouriçado quando o assunto surgira.
“Ah, sim. Seria uma ótima pedida. Uma força-tarefa deve ser formada para lidar com
esse assunto.”
“A seguir, é hora de abordarmos o tópico principal que me traz aqui. Conte-me. O que
exige minha presença?”
“Sim, senhor. Dada a situação atual, não é hora de pararmos de massacrar os cidadãos
do Reino?”
“Negativo. Por sinal, não deveria perguntar isso diretamente aos seus superiores dire-
tos, os Guardiões de Andar, e não a mim?”
No entanto, embora Nigredo estivesse expondo suas opiniões, do modo que Ainz espe-
rava, ela deveria ter feito isso com seu superior direto, o Guardião do 5º Andar, Cocytus.
Se Ainz aceitasse sua sugestão diretamente, seria danoso à autoridade de Cocytus.
Analisando o assunto sob outra ótica, seria como ignorar a autoridade de seu tutor e
solicitar um diploma a outro departamento. Nada de bom viria disso, não?
Mas se Ainz estivesse no lugar do Guardião do 4º Andar, Gargantua, ele estaria disposto
a fazê-lo.
“Ainz-sama está correto. Mas, permita-me fazer uma singela sugestão também ~wan.”
Se fossem denominar um Guardião para o nono e o décimo andares, Sebas seria o Guar-
dião de Andar do 9º e Albedo do 10º Andar.
Então como Sebas foi quem convidou Ainz, não deveria haver nenhum problema de in-
dignidade.
“—Claro, creio que entendo seus sentimentos, mas antes preciso te indagar. Esta guerra
é uma experiência massiva em prol de fortalecer a Grande Tumba de Nazarick, nossa
casa. Misericórdia não é uma graça com apelo forte o bastante. Com isso em mente, sua
sugestão foi construída com base nessa premissa?”
Não se iluda, a Grande Tumba de Nazarick — o Reino Feiticeiro de Ainz Ooal Gown não
é único, nem é invencível. Se encontrassem outra guilda que também fosse transportada
para este mundo, eles poderiam perder.
Assumir que foram os únicos a serem transportados para este Novo Mundo... seria oti-
mista demais.
Diante dos fatos, como o desconhecido Item World-Class do incidente com Shalltear,
não era muito difícil imaginar que alguma outra guilda existisse em outro lugar.
Por isso, para garantir a vitória de uma futura e inevitável guerra de guildas, seu dever
como Chefe de Guilda consistia em fortalecer Nazarick o máximo que pudesse.
“Mas por qual graça eles serão poupados se não somente pela sua misericórdia? ~wan.”
“...O que sugere? Se houver algum benefício tangível, então me informe. Mas, se for algo
do tipo: se pouparmos o maior número possível de pessoas, um ser forte poderá nascer no
futuro, então eu nem mesmo vou considerar. Ao longo da história do Reino, ele não pro-
duziu nada mais forte do que os aventureiros adamantite. Julgando em termos de puro
poder, talvez estejam no ápice da humanidade. Ainda assim, é melhor dar preferência a
Dragões ou outras raças mais fortes.”
Nigredo tinha um fraco por bebês, talvez até superando Pestonya neste quesito. Toda-
via, sua compaixão estava limitada apenas aos bebês. Depois que passavam dos dois
anos de idade, ela os via como nada além de sacos de carne prontos para o descarte.
Por esse motivo, as crianças salvas durante a invasão à Capital Real saíram dos cuidados
de Nigredo e foram colocadas sob os cuidados de Pestonya quando completaram dois
anos de idade.
“O que acabamos de discutir, aprimorar nossas espécies alimentícias, não se aplica tam-
bém aos seres humanos? Se aplicássemos as diferentes técnicas que temos em Nazarick
para fortalecê-los, certamente variedades mais fortes de seres humanos poderiam ser
feitas. Além disso, o valor de uma raça não está apenas em sua força, como a propensão
da humanidade à suas criações inventivas... creio que o senhor poderia chamar isso de
aptidão de desenvolvimento cultural, acredito que eles tenham essa capacidade. Se re-
duzíssemos sua população a nada, o senhor não acha que Nazarick perderia uma grande
oportunidade?”
Foi por isso que deram os biscoitos a Ainz? Se fosse esse o caso, tudo estava indo do
jeito que pretendiam. Não, isso não importava muito. Contanto que pudessem convencer
Ainz, sua vitória estaria garantida.
“Certamente, é algo que vale a pena considerar. Mas não desejo que os habitantes deste
mundo se tornem fortes demais, o mesmo se aplica até no âmbito do desenvolvimento
da civilização.”
“Quando os fortes não conseguem ficar mais fortes, mas os fracos encontram espaço
para crescimento, essa mudança de maré deve ser evitada a todo custo. Se descobrimos
a menor possibilidade de isso acontecer, devemos evitá-la a todo custo. Afinal, isso é
tudo para o bem de Nazarick... não é?”
“Ainz-sama, sou grato por estar disposto a vir aqui e dar ouvidos aos pensamentos delas.
É por isso que não farei mais pedidos.”
A voz de Pestonya foi mais alta que o de costume. Ela abaixou a cabeça com vergonha e
disse: “Eu sinto muito”.
“Sim — Ainz-sama. Pelo que ouvi, a nova estratégia que o senhor propôs se chama Ce-
noura & Chicote, ela mostra à países vizinhos a diferença de resultado entre o Império
que escolheu se tornar nosso vassalo e o Reino que escolheu nos antagonizar. Essa foi a
razão do massacre atual, ~wan?”
“À medida que mais e mais pessoas conseguem escapar deste tormento, a percepção do
quão tolo é desobedecê-lo, Ainz-sama— ou melhor, o Reino Feiticeiro, não se torna mais
difundida? Uh, ~wan.”
“Você está sugerindo que eu deva, intencionalmente, deixar mais vivos por causa disso?”
“Sim ~wan.”
Se fosse esse o caso, havia algum valor em permitir que eles escapassem.
Mas.
Ele não acreditava que Albedo e Demiurge já não tivessem considerado isso. Ambos
eram do tipo que não executavam um plano até que tivessem pensado em todas as pos-
sibilidades. Se Ainz permitisse isso, ele estaria pondo em prática um plano que Albedo e
Demiurge haviam abandonado por algum motivo.
Será que realmente seria para tanto? Afinal, ele havia dito a eles que “eu cometerei erros
intencionalmente”, portanto, mesmo que algo fora do comum acontecesse, ainda assim
poderia funcionar bem. Claro, a verdadeira questão estava no que aconteceria depois,
especificamente nas ações daqueles que chamariam o preto de branco e vice-versa, se
assim Ainz ordenasse.
Mas se desistiram do plano devido a uma falha fatal e eu ordenasse que eles o executassem
mesmo assim, isso poderia levar a grandes perdas do nosso lado.
Seria o mesmo que uma empresa que sofreu perdas maciças devido à incompetência do
CEO, enquanto os funcionários estavam alheios e impotentes diante do ocorrido.
Mesmo que recuperassem a perda, eu não sou tão sagaz e determinado para fazer algo a
respeito. Alguém incapaz de assumir essas responsabilidades e as consequências dessas
ações não deveria ponderar fazer algo assim.
Mas, mesmo que ele quisesse rejeitar a sugestão, ele não sabia exatamente como con-
testar Pestonya.
Claro, ele não o fez porque tinha descoberto por alto o tema da reunião depois de saber
que seria com Nigredo e Pestonya.
Pois essas duas já haviam sido presas antes. Naquela época, Albedo já havia sugerido
executá-las. Ele temia que, se ocorresse a mesma coisa novamente, Albedo solicitaria
incisivamente a execução. O que também poderia incitar alguma futura desavença entre
todos.
Uma organização forte por fora ainda podia desmoronar por dentro.
Justamente por isso que tinham que evitar qualquer coisa que pudesse representar uma
ameaça para eles.
Seu bom senso lhe disse para rejeitar a sugestão, mas algo ainda o incomodava: o futuro.
Se fosse esse o caso, ignorar suas sugestões agora poderia levar a problemas mais tarde.
Como pessoas com opiniões semelhantes a elas eram a exceção em Nazarick, ele deve-
ria focar ainda mais atenção para esse assunto.
Além disso—
“...Embora eu acredite que já estejam cientes, vou repetir novamente. Eu nunca pretendi
acabar com todos os humanos do Reino. A verdade é que já convencemos vários nobres
a se juntarem ao nosso lado... no máximo, apenas cerca de noventa por cento deles serão
mortos.”
“Ou seja, algumas pessoas escolhidas para serem poupadas viverão sob a regência de
Nazarick. Mas ao meu ver, ainda não é tão eficaz em espalhar a mensagem quando deixar
que mais escapem.”
Ele podia entender o desejo de Pestonya de ajudar aqueles que não foram escolhidos.
“Eu entendo completamente seu ponto de vista. Se não é por misericórdia, mas pelo
bem maior de Nazarick, então há espaço para consideração... considerarei deixar alguns
deles irem.”
Ainda assim, embora tivesse dito isso, ele não sabia exatamente como deveria fazer isso.
O coração de Ainz ficou pesado.
♦♦♦
“Ghrum! Continuando, Albedo. Embora tenha dito que aquele sujeito era da Gota Ver-
melha, quão confiável é a nossa fonte de informações?”
“Sinto muito, Ainz-sama. Como supõe, não temos provas concretas dessa alegação. Essa
foi apenas uma dedução superficial com base na plaqueta de adamantite na armadura,
bem como em sua cor.”
“Não é para tanto. Eu só queria verificar se tinha acesso a informações que eu não tinha.
Não estou tão incomodado com isso.”
Mesmo que toda essa lealdade o deixasse feliz, ficar tão tensa assim normalmente o
deixava bastante desconfortável. Para Ainz, toda essa manifestação do conceito de fra-
casso não era grande coisa. No entanto, essa nuance não era universal e ela poderia clas-
sificar isso como um fracasso.
“Uhum... Então foi a Gota Vermelha, ou uma trama de alguém que quer que acreditemos
que seja alguém da Gota Vermelha? Guardiões, digam o que pensam.”
“A seguir — devo perguntar algo a todos mais uma vez. Alguém sabe das especificações
de um Powered Suit? Caso não saibam, eu explico.”
Além disso, os jogos de luta com mechas estavam em alta na época, e provavelmente
deve ter sido uma tentativa de atrair essa base de jogadores.
Embora ele não soubesse dizer se isso contribuiu ou não para esse fato, as capacidades
do Powered Suit eram bastante altas.
Poderia até aplicar e ativar com os ombros, o tronco — e dependendo do tipo, até os
pulsos e os pés — diferentes tipos de magias ofensivas.
O nível mais alto de magia que poderia ser armazenada na armadura era o 10º nível e
o uso da referida magia estava sujeito a um limite de uma hora por uso. Magias mais
fortes tinham usos ainda mais limitados. Embora o número de vezes que uma magia pu-
desse ser usada recuperasse ao longo do tempo, parecia haver uma restrição pela qual a
magia armazenada não poderia ser modificada por certo período, mesmo que fosse gasta
apenas um pouco.
Um era o fato de que, por contar como armadura de corpo inteiro, não podia ser com-
binada com outras peças de armadura. Ainda assim, colares e outros equipamentos de-
corativos ainda podiam ser equipados.
OVERLORD 14 A Bruxa do Reino em Ruínas
201
Outro foi o fato de que a magia armazenada não poderia conter aprimoramentos meta-
mágicos. Mas, as magias ainda poderiam ser aprimoradas por meio de equipamentos,
então realmente não pode ser considerado uma fraqueza.
HP e MP.
Embora o alto dano do traje possa compensar os baixos atributos do usuário, os valores
de HP e MP do usuário não eram alterados pela armadura.
Ou seja, um fraco de armadura teria alta capacidade defensiva, mas também um HP frá-
gil. Obviamente, se o oponente não fosse capaz de romper as defesas relativamente altas
da armadura, essa fraqueza seria anulada.
Nos termos de Nazarick, um Guardião de Andar não teria problema algum em combatê-
lo.
A ameaça só se fazia presente para NPCs como as Pleiades, que não eram tão fortes. Se
ficassem no caminho do traje, seria preciso se retirar.
“Então, enquanto formos nós a lidar com isso, tudo ficará bem, correto?”
“Correto. Até mesmo os mais poderosos Powered Suits só tinham capacidades ofensi-
vas equivalentes a um personagem de nível oitenta. Claro, isso parte do pressuposto que
meu conhecimento sobre Powered Suits é perfeito. Hipoteticamente, se houver Powered
Suits raros ou artifact-class, seria uma situação completamente diferente. Caso exista
mesmo, então pode haver Powered Suits muito mais poderosos do que os descritos por
mim.”
“Hm, possivelmente, Aura. Mas como não estou muito familiarizado com isso, não con-
sigo distinguir suas capacidades apenas pelas aparências. Além disso, embora não fosse
possível alterar drasticamente a aparência, ainda havia pequenas alterações que o usu-
ário poderia fazer.”
Embora um Powered Suit possa ser útil para jogadores mais fracos, era completamente
inútil para um jogador mais forte.
O maior problema para Ainz estava na grande limitação ao lançar suas magias quando
o equipava.
“Há dois ou três? Deve haver alguns conjuntos de Powered Suits em Nazarick, os reti-
rarei da Tesouraria depois. Talvez todos precisam ter uma idéia de como é usar um.”
Ele se lembrou que a coisa ainda deveria estar lá, algo que Amanomahitotsu havia ad-
quirido depois de saber que mesmo aqueles com uma base de profissões artesãs podiam
entrar em combate com um. Aparentemente, ele, intimamente, estava bastante confiante,
pois também jogava jogos de combate aéreo, mas no fim foi facilmente derrotado por
Peroroncino em uma batalha simulada. Depois disso, a coisa nunca mais foi vista.
Ele também se lembrou de como Nishikienrai havia dito: “Melhor ir jogar ABERAGE,
kkkkk”.
De acordo com as informações que eles reuniram de seus contatos na capital, a arma
que ela usava era poderosa o suficiente para terraplanar uma cidade inteira. Embora
quem os informou disso tenha achado a informação absurda, já que se originou de uma
das integrantes da equipe.
Ainz sempre pensou que, ou ela estava mentindo para suas colegas de equipe ou exa-
gerava as coisas.
Mas diante dos recentes acontecimentos — talvez, essa informação fosse verdadeira.
Ele ouvira dizer que os líderes da Rosa Azul e Gota Vermelha eram parentes.
Se fossem parentes de sangue, ter o mesmo nível de equipamento não seria nada estra-
nho.
É claro que Ainz não era paranoico o suficiente para acreditar que os Guardiões de An-
dar pudessem ser atingidos por qualquer coisa, era apenas que ele não tinha provas
dessa impossibilidade. Talvez as defesas dos Guardiões possam ser facilmente violadas
por alguma poderosa arma deste mundo.
Se travasse uma batalha com a equipe Rosa Azul, ele provavelmente deveria usar mons-
tros convocados e, fazendo assim, com que usassem em vão essa habilidade e por fim
derrotá-las.
Afinal, o principal objetivo da destruição do Reino não era o fim da Rosa Azul, mas se
entrassem em seu caminho, ele não se importaria de matá-las. Dito isto, era melhor não
fazer movimentos precipitados antes de aprender todas as capacidades da espada da-
quela mulher. Devo me desculpar com a Entoma, espero que ela entenda.
Ainz olhou em volta, parecia que nenhum dos Guardiões tinham perguntas.
“Sendo assim, pausaremos a discussão sobre o Powered Suit por enquanto. E então,
Demiurge, como devemos lidar com esta cidade? Na minha opinião, ter fisgado aquela
coisa foi mais do que satisfatório.”
“Seria um erro se pensarem que derrotaram o Reino Feiticeiro. Devemos enviar uma
entidade mais forte e, ao pó, eles voltarão.”
Se fizessem isso, ele teria que se esforçar ainda mais para salvar outra cidade para man-
ter a promessa que havia feito àqueles duas. Embora tenha cumprido dessa vez, repetir
esse feito seria extremamente difícil.
Pelo bem de Pestonya, que estava ouvindo tudo de pé atrás dele, ele tinha que salvar o
povo desta cidade para cumprir sua promessa.
Ele estava dando aos habitantes das cidades a chance e o tempo para fugirem. Se mor-
ressem por não terem escapado, aquelas duas não causariam problemas, não é mesmo?
Embora possa parecer que Demiurge estava sendo sarcástico, ele não era capaz de fazer
isso com Ainz.
Algumas pessoas geralmente percebiam várias indiretas ou mensagens ocultas nas pa-
lavras de outros, e essas mesmas pessoas são as que geralmente escondem algo, sendo
Ainz uma delas.
“Não diga isso, Demiurge. Se pensa em algo melhor, então devemos implementar.”
Até porque, o que dissera era senso comum, não valia a pena elogiar.
Embora estivesse lisonjeado, essas coisas o davam a impressão que estava sendo tra-
tado como criança, onde até mesmo a coisa mais trivial que fizesse ou falasse era aplau-
dida.
“Traga de volta os undeads que enviamos usando o 「Gate」. Então, reúna nossas for-
ças em E-Rantel e inicie o cerco à Capital.”
“Envie os Master Guarders de Nazarick e as outras guardas de elite. Não são muito for-
tes, mas como unidade é uma visão bem chamativa.”
OVERLORD 14 A Bruxa do Reino em Ruínas
205
“Afirmativo.”
Ainz pensou no futuro por um tempo e abriu a boca novamente para dizer:
“Não, uma parcela dos Guardiões deve ficar para trás. Aos demais, mostrem-me seu
verdadeiro poder.”
Karnassus.
Beppo Allo.
Gaith Leste.
Gaith Oeste.
Veneria.
Grande Listaran.
Oaknys.
Novas Oaknys.
Grand Wythes.
Ris.
Franklin.
E, finalmente, Peibart.
Esta cidade fazia parte das doze mencionadas que formaram uma aliança. Cada cidade
— incluindo os outros territórios adjacentes — possuía, em média, uma população de
400.000 habitantes. A maior cidade abrigava 600.000.
Entre essas cidades, Peibart foi uma exceção, pois as outras cidades nunca tiveram uma
única raça com maioria superior a 40% da população. A Aliança Cidade-Estado era uma
união de várias raças e cidades. Se alguém retrocedesse o tempo alguns séculos atrás,
encontraria a enorme nação que foi a origem da Aliança Cidade-Estado.
Devido ao enorme colapso, catorze cidades-estados apareceram, e cada uma tinha sua
própria metrópole. Depois que isso aconteceu, houve muito derramamento de sangue
entre as cidades-estados — ou melhor, pequenos países. Essa situação continuou com
Interlúdio
208
os estados se unindo e dividindo a exaustão, até que ocorreu o que veio a ser chamado
de Grande Debate, no qual a aliança atual entre as doze cidades-estados foi formada.
Mesmo assim, ainda era difícil abandonar preconceitos tão enraizados. Embora um sé-
culo atrás fosse muito para raças de vida curta, para algumas das raças longevas, a lem-
brança estava fresca na memória.
Por esse motivo, quinquenalmente realizavam um torneio para aqueles que ainda guar-
davam rancor do passado pudessem extravasar antes de descontarem em terceiros.
Embora fosse verdade que o mínimo de tempo para se preparar fosse de quatro anos,
eles justamente só tinham os quatro anos.
Cada cidade-estado enviava dez de seus combatentes mais fortes que lutariam com ou-
[Estandarte da P a z ]
tros combatentes sob a proteção do item mágico conhecido como Standard of Peace.
Era o mais divertido e chamativo dos eventos e bastante popular entre a população.
Chegara ao ponto em que a maioria das pessoas achava que não havia problema em não
ver todos os eventos, exceto este. Por esse motivo, seria inadmissível permitir que ocor-
ressem o mais tênue dos erros durante esse evento.
Não por demasias, de fato um tumulto com baixas maciças aconteceu no passado
quando a cidade-estado de Oaknys não se preparou adequadamente para o evento.
Mesmo depois de quarenta anos, a frase “Organizador de Oaknys” continuava sendo um
título depreciativo para incompetentes.
Embora estragar qualquer um dos eventos pudesse incitar raiva, o Connelier era o
único evento que sequer um meio erro seria permitido.
No entanto, o alto escalão do governo de cada cidade sabia que o “Organizador de Oa-
knys” não era o pior dos males, o grande problema estava na falta de atenção contra os
Espectros Subjugados.
Não havia nenhuma evidência direta para apoiar a existência desses espectros. Mesmo
aparecendo uma única vez, o erro que causaram foi fatal.
Embora tivesse se esforçado para aprender as rotinas do zero, ela ainda sentia como se
pudesse desmoronar com o estresse e a pressão de toda essa provação.
Ela perdia o sono toda vez que lhe vinha à mente a idéia de que o torneio poderia ter-
minar em fracasso.
Ela ainda tinha quatro anos pela frente e já estava nesse estado. Como seria quando
estivesse perto da cerimônia de abertura?
Mas, ao ler os documentos deixados por seus antecessores e anotar todos os seus pen-
samentos e idéias, houve um breve momento de alívio.
Quando Kista estava prestes a pegar outro punhado de documentos, alguém bateu na
porta.
Ela se levantou da cadeira e foi atender. Do outro lado, estava o rosto familiar à sua
espera. Era seu avô, o ex-prefeito da cidade, Ri Berun Kabelia.
Não apenas era o grande responsável pela paz duradoura de Peibart, mas também foi o
prefeito quando o torneio foi realizado pela última vez em Peibart.
“Veio aqui porque quis ou estava por perto? Eu teria ido te ver se tivesse me chamado.”
“Tudo bem, tudo bem, só estou dando uma esticada na espinha. Minhas pernas não fun-
cionam mais como costumavam, mas se eu ficasse preso em casa, aí que se atrofiariam
de vez. Além disso, Kista, desculpe por interromper seu trabalho, como vão as coisas?”
Kista conduziu seu avô em direção ao sofá, onde eles se sentaram de frente um para o
outro.
Berun serviu chá quente nas duas xícaras que Kista havia preparado. O líquido verde
pálido emitia um aroma suave e refrescante que permeava toda a sala.
“Então, Kista. Ouvi de uma das empregadas que não tem dormido bem ultimamente?”
Interlúdio
210
Embora ela não quisesse que seu avô se preocupasse, ela não podia mais esconder isso.
“É verdade, Avô-sama. É difícil pegar no sono, pois o tempo todo penso no que pode
acontecer daqui quatro anos...”
A maioria das pessoas daria risada da idéia de alguém se preocupar com o que aconte-
ceria em quatro anos no futuro, talvez até dissessem que ela estava muito ansiosa. Berun,
no entanto, não estava rindo. O peso dos encargos que um prefeito tinha que arcar era
um sentimento que ele, naturalmente, conhecia muito bem desde seus longos anos ser-
vindo como prefeito da cidade.
“Kista. Se ficar assim tão cedo, vai acabar estragando sua saúde. Este chá de ervas te
ajudará a se acalmar. Beba e durma cedo. Um líder excepcional não é aquele que pode
fazer muito em pouco tempo, mas sim aquele que sabe como delegar adequadamente
suas responsabilidades aos subordinados adequados. Não importa se é você ou eu, nem
mesmo o quanto podemos fazer sozinhos, entendeu?”
“Muito obrigada mesmo. Mas... tem uns trabalhos que preciso entregar em breve.”
“Tem algo a ver com as cidades vizinhas? Não me lembro de ouvir nada sobre o Rei
Equestre fazer algum movimento...”
O inimigo da Aliança Cidade-Estado era um rei que ocupava as vastas planícies do leste,
o Rei Equestre. Como Peibart não estava nem perto das planícies, sempre que o país
estava sob ataque, eles apenas precisavam enviar seus recrutas.
O país que vassalizou o Império ainda tinha apenas uma única cidade. Havia também
boatos de que eles haviam assimilado a infame organização assassina para suas alas.
Havia todos os tipos de boatos e fofocas circulando, se eram verdadeiros ou falsos, era
difícil dizer.
Era bem agraciado com inteligência, riqueza e charme, o esperado do líder de um país.
Como alguém como ele se tornou o vassalo de outro país?
Tinha que haver uma razão para isso — só poderia estar cobiçando alguma coisa.
“No que diz respeito ao processo de coleta de informações sobre o Reino Feiticeiro, eu
poderia incomodá-lo para mexer uns pauzinhos, Avô-sama?”
Berun, por ter sido prefeito por muito anos, tinha muitas conexões, bem mais do que
Kista. É claro que ela se encontrou com a maioria das conexões dele quando herdou o
cargo, mas a informação seria muito mais precisa se fosse Berun quem pedisse.
“Claro, Kista. Apesar de não ser exatamente pelas minhas conexões, ouvi falar de alguns
bons aventureiros que acabaram de imigrar do Império para cá, será melhor perguntar
a eles?”
“Sim, por favor, desculpe te incomodar com isso — Avô-sama, muito obrigada.”
Kista abaixou a cabeça profundamente. Mesmo sendo parentes, ele era alguém com
quase oitenta anos de idade e ainda assim poderia assumir o papel de prefeito sem ne-
nhum problema. Na região, era referido com respeito como a “Águia de Peibart”. Isso era
algo que ela tinha em mente desde a juventude.
“Me agradecer por isso seria— não é nada, aceito sua gratidão, Kista. A partir de hoje,
mesmo que apenas temporariamente, durma cedo. Estamos entendidos?
“—Sim, Avô-sama. Mais uma vez, obrigada por todo o cuidado que tem por mim.”
Interlúdio
212
Capítulo 03: O Último Rei
Zanac sacolejou a mão direita, já havia assinado tantos documentos que começou a doer
e também moveu os ombros em círculos. Ele podia ouvir seu corpo ranger ao fazê-lo.
Parecia que seu corpo, assim como os dos demais, ansiava desesperadamente por um
pouco de descanso.
Embora quisesse fazer uma pausa agora, a quantidade de trabalho sendo transferida
para este escritório estava, infelizmente, sempre aumentando.
Com esta situação nem longe de terminar, ele deveria buscar mais mãos para lidar com
isso ou distribuir seu trabalho aos outros. Infelizmente, não havia ninguém a quem Za-
nac pudesse delegar seu trabalho. Apenas outro membro da Família Real poderia assu-
mir essa carga de trabalho.
Zanac tinha suas próprias razões para não solicitar ajuda de seu pai ou Renner.
A verdade era que ele tinha acesso à ajuda, mas simplesmente não podia recorrer.
Zanac endireitou a caneta novamente, leu o documento colocado à sua frente, assinou
e carimbou.
Depois de repetir a mesma rotina pela oitava vez, uma batida na porta foi ouvida.
Suspiros saíram de vários oficiais. Talvez fosse mais uma remessa de documentos.
Um dos oficiais, cuja respiração pesada soava anormalmente igual a um porco guin-
chando, levantou-se e caminhou em direção à porta a passos de lesma. Seus movimentos
eram tão lentos que dava para entender parte de seus pensamentos, era como se quanto
mais lento fosse, menos teria que trabalhar.
“Sinto muito por incomodá-lo em um momento tão conturbado, mas Renner-sama de-
seja conversar com Vossa Alteza.”
Não foi o que esperava, mas ainda era um assunto igualmente problemático.
Desde que seu irmão desapareceu, Zanac e sua família tentaram jantar juntos o máximo
possível. Nos últimos dias foram a exceção, Renner provavelmente já jantava sozinha
fazia algum tempo.
Dificilmente seria solidão da parte dela. Em momentos como esse, onde havia escassez
de empregadas, ela teria jantado com Climb e Brain. Era provável que estivesse mais
feliz agora do que nunca, talvez mais feliz que Zanac e seu pai.
O cavaleiro fechou as portas e saiu, mas Zanac sabia que Renner não aceitaria essa es-
cusa.
Zanac parou de escrever e ordenou que o funcionário que estava prestes a retornar
ficasse onde estava.
“Sinto muito, Vossa Alteza. A Princesa, disse que... Se não deseja que ela espalhe alguns
rumores dúbios, então a conceda uma reunião imediatamente.”
Ela está mesmo recorrendo a ameaças? Zanac sorriu ironicamente. Zanac não acreditava
que sua irmã realmente faria tais alegações, mas como ela teve a disposição de ameaçá-
lo, então provavelmente seria melhor ouvir o que tinha a dizer. Se boatos fossem real-
mente espalhados, sem dúvida, sua carga de trabalho aumentaria ainda mais.
Era preciso aceitar, sentiu-se como se estivesse sendo forçado contra sua vontade.
“Tudo bem, deixe-a entrar, mas ninguém além da Renner. Aqueles dois, faça com que
esperem na sala adjacente.”
Pela resposta imediata do cavaleiro, Zanac percebeu que suas previsões estavam cor-
retas.
Brain era o melhor guerreiro do Reino, sua força era sem igual. Climb também era muito
mais forte que um guerreiro comum. Ter esses dois permanecendo no palácio o dia in-
teiro como guarda-costas de Renner parecia um desperdício de talento.
Depois que o cavaleiro fechou as portas, Zanac virou-se para os oficiais que ainda esta-
vam trabalhando na sala e disse:
“Atenção, minha irmã deve chegar em breve, ela não tem jeito, tem? Alegrem-se, pois
lhes concedo uma pausa. Três horas, contando a partir de agora. Descansem e voltem
rejuvenescidos.”
Os oficiais sorriram cansados e saíram em passos pesados, como se fosse uma marcha
de mortos.
A Princesa Renner entrou logo depois. Ao contrário dos oficiais que haviam acabado de
sair, ela tinha um sorriso radiante.
“Onii-sama, perdoe-me por falar isso, mas seus oficiais de assuntos internos podem ser
muito mais eficientes se deixá-los ter um bom descanso. As pessoas tendem a cometer
mais erros quando estão cansadas. E por falar nisso, como está se sentindo, Onii-sama?”
Zanac esfregou o queixo coberto de barba por fazer. Ele havia trabalhado a mesma
quantidade de tempo que seus oficiais, então parecia tão cansado quanto eles. Ele queria
descansar, mas por ser um superior, muitas coisas dependiam dele.
“Sinceramente, acho que devemos contratar alguém que possa forjar minha assinatura.”
Renner olhou silenciosamente para Zanac. Ele sabia o que a pergunta dela significava,
mas era melhor verificar para ter certeza.
“Ey ey... acha que eu planejaria matar nosso pai? Em uma situação dessas...? O Pai só
não estava se sentindo muito bem, está descansando em seus aposentos. Duvido que ele
possa descansar corretamente se for lembrado de seus deveres como rei. É por isso que
você, em sua posição de princesa, não deve perturbá-lo por enquanto. Perdão por isso~”
O sorriso de Renner combinava com o dele. Ao ver isso, teve certeza que ela entendeu
tudo.
Por causa disso, Zanac teve que intervir como regente do rei e cuidar de tudo o melhor
que podia.
Desde que trancou seu pai, ele teve que tomar as rédeas de todos assuntos em suas
próprias mãos. Se ele ainda solicitasse a ajuda de seu pai, dadas essas circunstâncias, ele
seria o homem mais patético de todos os tempos.
“Mmmm... Ainda assim, eu entendo a linha de pensamento do pai. Afinal, ele testemu-
nhou duzentos mil homens sendo exterminados no campo de batalha em um piscar de
olhos...”
Além disso, perdeu o Gazef Stronoff e um de seus filhos. Zanac não deu voz a esses pensa-
mentos, apenas os resmungou em seu coração.
“Não é que eu não entenda essa vontade de resolver isso por meio da diplomacia, assim
como a vontade de reduzir o número de baixas ao mínimo possível, mas já chegamos a
um ponto que uma solução pela diplomacia não é mais possível.”
Não era papel comum, mas um pedaço luxuoso de papel fino e branco. Nele estava o
mapa completo do Reino feito através da magia 「Copy」.
“Dê uma olhada. Essas são as cidades do Reino que já caíram pela conquista do Rei Fei-
ticeiro.”
Numerosas marcas ‘X’ pontilhavam as porções norte e leste do Reino, mais da metade
das cidades tinham a marca. Alguém bem versado em cartografia saberia que, pelo ta-
manho dessas cidades, abrigavam um grande número de pessoas. Aqueles inteligentes
o bastante já deveriam ter percebido que, se esse mapa incluísse os vilarejos, o número
de ‘X’s seria muito maior.
“Embora parecesse que o Reino Feiticeiro não tenha feito nenhum movimento desde o
início da guerra, o fato foi que estavam invadindo o norte.”
Quem pudesse tolerar esse tipo de tratamento não seria digno de ser chamado de rea-
leza.
“Então o Reino Feiticeiro não tem intenção de se comunicar conosco. Certamente eles
estão planejando algo sem precedentes? Não acha?”
“Concordo, o que acontecerá a seguir— talvez seja um ato de violência bem mais amplo.”
Era por isso que ele estava ocupado formulando um chamado à luta solicitando todos
os nobres do país.
“Diga-me, irmãzinha, com franqueza e usando essa sua mente brilhante. Por que não
notamos a invasão do Reino Feiticeiro? Por que não recebemos informações sobre a in-
vasão antes que a cidade de E-Naüru, no norte, repelisse o ataque do inimigo?”
Quando o Reino Feiticeiro sitiava uma cidade, dizia-se que nem uma única alma era
poupada do massacre resultante. No entanto, ter certeza de que nenhum vazamento
ocorreria foi um feito praticamente impossível. Afinal, comerciantes e viajantes ainda
trafegavam mesmo durante a guerra.
“Onii-sama, pensou o mesmo que eu, não é mesmo? O Reino Feiticeiro bloqueou todas
as nossas fontes de informações.”
“Ah... então percebeu isso também. Bem, se esse fosse o caso, essas marcas ‘X’ também
não seriam verdadeiras.”
“Se não fosse algo feito pelo Reino Feiticeiro, as coisas seriam muito mais fáceis de ex-
plicar. Podemos ter um traidor entre nós.”
O dedo de Zanac continuou a traçar linhas no mapa. Ele ponderou, qual nobre poderia
ser corrompido para manipular uma quantidade tão grande de informações.
O dedo de Zanac parou em uma cidade e ele o afastou para não bloquear o mapa.
“...Oh, minha irmã, certamente já descobriu, digo, o nobre que nos traiu?”
Era como se tudo estivesse estampado na testa de Zanac. Embora no passado ele
achasse a inteligência de sua irmã irritante, agora isso o reconfortava mais do que qual-
quer outra coisa.
“...Eu posso contar em uma mão o número de pessoas que teriam tanto controle sobre
as informações que fluem para a capital. Por exemplo, o Ministro dos Assuntos Militares,
mas nem mesmo ele é capaz de controlar o fluxo de comerciantes e viajantes dentro e
fora da capital. Aliás, é impossível para qualquer um na capital ter a capacidade de blo-
quear nossas informações dessa maneira.”
“Se entendeu até aqui, certamente já tem a resposta que procura, Onii-sama... É o Mar-
quês Raeven.”
“—Como? Impossível.”
Zanac imediatamente rejeitou essa noção, mesmo que seu dedo estivesse sobre E-Li-
bera.
“...Será que foi assim que eles coagiram o Marquês Raeven? Absolutamente desprezível!”
“Ainda assim, sou da opinião de que ele pode ter nos traído simplesmente porque con-
cluiu que “a coroa está condenada”.”
Embora ele não estivesse disposto a acreditar na traição do Marquês Raeven, não havia
outro nobre que fosse tão poderoso quanto ele. Ele só precisaria pedir alguns favores a
outros nobres próximos antes que pudesse interromper completamente o fluxo de in-
formações de, ou para, uma cidade à sua escolha. Os sobreviventes também teriam es-
colhido procurar abrigo e proteção nas grandes cidades; E-Libera seria uma excelente
escolha nesse sentido.
“Anormalmente flexível em seus modos de pensar, alguém que possui o intelecto e as-
túcia de uma nação inteira. O que é mais assustador sobre ele, é o fato de não confiar
apenas em seu poder avassalador, mas também planeja meticulosamente todos os seus
movimentos. Pode-se dizer que ele é um monstro completamente alheio ao conceito de
arrogância.”
Hoh? Zanac olhou para Renner, algo nela estava fora do habitual. Sua expressão era a
mesma de sempre, mas sua voz carregava uma emoção incomum, a de temor e reverên-
cia.
“A trama desenrolando diante de nossos olhos talvez tenha sido tecida no Reino há mui-
tos anos. Somos apenas mariposas presas na teia.”
“De todo modo, estamos à mercê deles, não importa se o Onii-sama prefere usar borbo-
letas nessa metáfora ou não. Mesmo que passássemos ilesos por essas teias, logo abaixo
teriam mais e mais... é profundamente aterrorizante. Eu não acreditava que alguém
como ele pudesse existir neste mundo. E se nossas ações já fazem parte de seus cálculos?”
“É verdade, mas certamente não podemos ficar de braços cruzados, não é mesmo?”
Dada a probabilidade de o Marquês Raeven tê-los traído, precisavam fazer algo a res-
peito. Zanac ainda estava esperançoso que juntos poderiam encontrar uma singela pista
para tudo isso.
“Antes de fazer isso, eu tenho uma pergunta, Onii-sama. Se a situação atual progredir, o
Reino Feiticeiro certamente iniciará a batalha final perto da capital. Então ordenaria que
os soldados defendessem a cidade ou os enviaria para receber o ataque? Como vamos
organizar nossas forças?”
A crença de que eles poderiam se distanciar disso já era prova suficiente de sua total
estupidez.
Não, ele não deveria estar zombando da idiotice deles. Se soubessem o quão cruel o
Reino Feiticeiro tinha sido, não teriam escolhido esse caminho. Simplesmente foram ví-
timas do bloqueio de informações imposto a todos.
Uma vez que a capital caísse, não havia dúvida de que o Reino Feiticeiro estenderia sua
brutalidade às outras cidades. Os nobres que desejavam se abster dessa batalha acaba-
riam derrotados cedo ou tarde.
“Não se trata de ganhar ou perder, simplesmente não temos outra opção a não ser en-
frentá-los. O Reino Feiticeiro queimará cada centímetro deste país e matará todos os
nossos cidadãos. Esta é a nossa última aposta na sobrevivência.”
“Como? O que quer dizer? Está insinuando que estou muito convencido?”
“...Umm, se formos derrotados nesta batalha, o Reino será destruído, não? Se for esse o
caso, os cidadãos do Reino não estariam seguros, independentemente para onde esca-
pem. Onii-sama, embora eu não acredite que sua escolha de apostar tudo nessa batalha
seja incorreta, o Marquês Raeven pode ter nos traído por esse motivo também, para sal-
var os cidadãos.”
“Faz sentido... desse modo, a cidade dele pode se tornar um santuário para os refugia-
dos, hummm.”
“Mas duvido que o Rei Feiticeiro permita que isso aconteça. Talvez ele também tenha
ordenado ao Marquês Raeven que matasse as pessoas que buscavam refúgio em sua ci-
dade a fim de testar sua lealdade.”
Zanac recordou o quanto o Marquês Raeven só queria um futuro melhor para o Reino.
Talvez ele devesse escrever uma carta e procurar ter uma conversa honesta com ele,
mas isso poderia ser uma jogada perigosa.
Um traidor que continua recebendo cartas de um ex-aliado. Isso certamente faria o Rei
Feiticeiro ter dúvidas para onde pendia sua lealdade.
Tudo isso já poderia ter sido orquestrado para ser usado contra eles, mas era melhor
estarem preparados para uma situação em que o Marquês Raeven marchasse junto com
o exército do Rei Feiticeiro. Por isso era melhor evitar contato no momento. Se o Mar-
quês Raeven realmente estava sendo coagido por ameaças contra o bem-estar de sua
família, ele não poderia culpá-lo.
Ele relembrou com tanta força que seus olhos praticamente formaram uma linha reta
antes de ser trazido de volta à realidade pela visão de sua irmã.
“Refugiados...? Por falar nisso, o pai queria que você... bem, ele queria que nós procu-
rássemos refúgio na Aliança Cidade-Estado como representantes do Reino. Isso foi
muito antes de eu colocar o pai sob vigilância. Se ainda quer fazer isso, é melhor você se
afastar da capital o quanto antes.”
Em breve, ele terá que convocar todos que puder e enfrentar uma batalha decisiva con-
tra o Reino Feiticeiro. Se fosse para ser honesto, eles não tinham chance alguma. A der-
rota significava que a capital e as outras cidades seriam arrasadas até às cinzas.
Isso significava que nenhum lugar dentro do Reino era seguro. Talvez devam seguir a
sugestão de seu pai e abandonar o país.
Em circunstâncias normais, havia duas maneiras pelas quais um vencedor lidaria com
a antiga realeza de um reino.
Uma era misturar sua linhagem através de casamentos políticos, a outra era acabar com
todos com sangue da realeza para não deixar pontas soltas para trás.
“Se o Reino Feiticeiro nos atacasse, eu poderei ser violada por um dos nossos que esti-
vesse desesperado o suficiente para fazê-lo.”
Zanac mostrou desgosto em seu rosto ao ouvir com que calma sua irmã havia dito essas
palavras. Mas, teve que admitir que ela também estava sendo realista.
A beleza de Renner era renomada, não estaria fora de questão que esse tipo de pessoa
existisse.
“Mmm, tudo bem, eu não vou deixar Climb sair do meu lado.”
“Não há ninguém além de nós dois e não falarei sobre isso, dada a situação atual, mas
você precisa me responder com “aqueles dois”.”
Embora tivesse ouvido rumores de que Brain estava interessado em Climb, ele não pa-
recia ser gay. Todavia, após algumas investigações, não encontraram vestígios que se
relacionasse com alguma mulher — não poderia ser porque ele só estava interessado
nas crianças, certo?
Ele não deu voz a esses pensamentos, dado o quão assustadora sua irmã era. Se ambos
descobrissem isso, seria problemático.
“Enfim, não pretendo fugir. Como princesa, enfrentarei a morte com graça e dignidade.”
Ele pensara sobre isso no passado, sobre como ela aceitaria qualquer tipo de vida, desde
que estivesse com Climb. Talvez ela estivesse apenas colocando uma fachada e já esti-
vesse preparada para escapar.
“Mas mesmo um cadáver ainda pode ser explorado pelo Rei Feiticeiro.”
“Agora a pouco você mencionou que eu sou praticamente o rei, é por isso que essa res-
ponsabilidade recai sobre mim... tenho fé e esperança que o pai cuidará dos preparativos
para o meu funeral... você pode optar por fugir a qualquer momento.”
Embora a maior parte do tempo ele achasse irritante sua irmã, eles ainda compartilha-
vam o mesmo sangue. Fazer o esperado de um irmão era o mínimo a ser feito. Talvez
assim ele pudesse receber a piedade de Deus após sua morte.
Quando Zanac olhou para ela, viu que Renner o havia respondido com seu sorriso ha-
bitual.
Parte 2
O Reino Feiticeiro finalmente começou sua invasão para o oeste. Cidade após cidade e
vilarejo após vilarejo caíram após sua passagem. Marchavam em direção à capital, em-
bora a um ritmo dolorosamente lento.
Quanto maior o exército, mais lento ele marcharia. Porém, de acordo com Evileye, sua
companheira, isso não seria aplicável ao exército do Reino Feiticeiro, que era completa-
mente composto por undeads. Ela acreditava que isso era feito para estressar os habi-
tantes do Reino.
A outra opção era permanecer na capital, fechar as portas e nunca mais sair do escon-
derijo.
Quanto à opção mais popular, a esmagadora maioria das pessoas escolheu a última.
Aqueles que escolheram o primeiro eram pessoas com fundos, conexões ou habilidades
para garantir sua sobrevivência, mesmo em terras distantes.
O decreto era que, devido ao exército usurpador em constante expansão do Reino Fei-
ticeiro, a cidade exigia mais mão de obra para defendê-lo. Todos os homens capazes ti-
nham que se juntar à batalha. E esse foi o rascunho.
É claro que havia aqueles que temiam o campo de batalha e ainda assim optavam por
se esconder, mas a quantidade de pessoas que acreditava que, se não contribuíssem com
o esforço de guerra, seus entes queridos morreriam, formavam a maioria.
A paixão ardente do povo começou a se espalhar pela capital e os afetados por ela co-
meçaram a ceder à loucura. As ruas barulhentas com homens se preparando para a
guerra. Pais e filhos sendo igualmente soldados. Aqueles que desejavam melhores rações
enquanto estavam fora fizeram a indústria da culinária crescer. Tudo isso foi exacerbado
pelo conhecimento do povo de que a realeza havia ordenado a todos os comerciantes da
cidade que mantivessem os preços dos alimentos baixos.
“Eu já disse, eu posso lidar com isso sozinha. A solicitação não especificou quem deveria
ir, mas isso não significa que todas nós precisamos ir juntas. Aposto que todas tem algo
mais importante a fazer, não? Que tal seguirmos caminhos separados agora?”
“...O que há com você, Lakyus? Por que não quer que a gente te acompanhe?”
Lakyus adotou um sorriso forçado ao ouvir o que Evileye havia dito. Embora, em sua
mente, ela tivesse pensado: “Espertinha você!” ela não deu voz a esse pensamento. Evi-
leye era boa nesse aspecto, mas Tina e Tia eram muito mais perspicazes do que ela. Gra-
ças aos céus ela não as estava encarando.
“Eu entendo o que a Lakyus está sentindo agora. Ouvi dizer que o Azuth-danna também
estava vindo, é verdade?”
Isso estava correto. O tio de Lakyus, líder do grupo de aventureiros Gota Vermelha, ran-
que adamantite, Azuth Aindra foi convidado assim como elas.
“Oh, vocês são família. Deve haver muita coisa que querem discutir em particular, é
isso? Entendemos isso.”
“Isso mesmo. Vocês poderiam fazer isso por mim? Ele nem sequer me procurou depois
que chegou à capital. Então—”
“Bem perplexo.”
“Inacreditável.”
“Eh?”
“Vocês dois são parentes e ambos são líderes de grupos de aventureiros de ranque ada-
mantite. Dada a situação atual, ele ainda não lhe contou sobre seu retorno à capital, então
como nosso solicitante descobriu isso?”
“Se ele fosse parente de alguém da Gota Vermelha, deveria ter dito isso. Mas o solici-
tante não disse nada.”
“Sim. Nem preciso dizer o quanto isso é suspeito, pode-se chamar isso de conspiração.
Quem sabe, pode ser uma armadilha ou algo assim.”
“Uhum. Dada a possibilidade de que isso possa ser uma armadilha— mesmo sendo forte,
ainda há algumas coisas que você não pode lidar sozinha. Se essa outra parte estiver
tentando nos prejudicar, devemos tentar não ser pegas uma por uma.”
“Pessoal...”
Lakyus estava feliz por todas estarem tão preocupadas com ela. Mas—
“Eu só o conheço de nome, mas nunca o encontrei no passado. Como você é parente
dele, deve ser fácil nos encontrarmos com ele, não é?”
Quando Lakyus se encontrou com ele em tenra idade, ele parecia ser normal, mas talvez
estivesse apenas escondendo sua verdadeira natureza. Seria possível que seu parafuso
solto tenha caído de vez durante suas aventuras?
Lakyus só tinha uma solução para coisas que não conseguia entender — embora isso
não fosse exatamente algo com que Deus se daria o trabalho —, ou seja, rezar. Fora isso,
não havia nada que ela pudesse fazer a respeito.
Seu tio era do tipo que agia de maneira honesta e sincera ao conhecer alguém pela pri-
meira vez. Ele também era do tipo que soltava frases bregas como: “Se você anseia por
um herói, é dever do herói conceder seu desejo”.
Os comércios por aqui pareciam bastante decadentes e o lugar, em suma, estava sujo.
Logo após Lakyus abrir a porta, Tia e Tina cutucaram sua cintura duas vezes.
Era um sinal para ela estar em alerta. As gêmeas devem ter notado alguma coisa.
Em frente à porta estava o balcão, mas não podiam ver nenhuma evidência de negócios
semelhantes a uma taverna sendo conduzido aqui.
Isso significava que aquele lugar era remoto o suficiente para que esse estabelecimento
não pudesse funcionar como uma taverna, mas apenas como uma pousada.
Lakyus sentiu que todas haviam mudado de modo devido à estranheza deste lugar. Elas
estavam preparadas para uma luta eclodir a qualquer momento.
“...Nós somos a Rosa Azul, viemos aqui para nos encontrar com o nosso cliente.”
O grupo chegou ao terceiro andar e constatou que a quantidade de quartos era surpre-
endentemente baixa. Os quartos nesse andar provavelmente eram enormes.
Lakyus bateu na porta que tinha uma placa marcada com o número 301.
Depois de aguçar os ouvidos, ela ouviu a voz de um homem do outro lado da porta di-
zendo “Entre”. O volume da voz foi tão baixo que ela não sabia dizer se era de seu tio ou
não.
Depois de impedir que Tia e Tina avançassem, Lakyus abriu a porta lentamente.
O ambiente estava cheio de móveis requintados e pesados, muito mais luxuosos que a
pousada de Lakyus. Para ser honesto, isso a assustou. Afinal, esta estalagem era terrivel-
mente suspeita.
Lakyus nem havia terminado de examinar todo o ambiente quando uma voz foi direci-
onada a ela.
“Ti...”
Ela olhou para a direção da voz e fechou bruscamente as portas sem permitir que nin-
guém entrasse.
“...”
Era provável que todas estivessem ouvido seu tio a chamando. Mas ela achava difícil
dizer que nada estava errado depois disso.
“...Pessoal, sinto que eu realmente deveria encontrar com meu tio sozinha, afinal...”
Lakyus olhou para as expressões de todas. Evileye tinha falado como representante e,
mesmo com a máscara, ela podia dizer que todas tinham o mesmo pensamento apenas
ao olhar suas expressões.
Então—
“Haaaaaah, pessoal. Quero deixar isso bem claro. Meu tio é um indivíduo estranho.”
Lakyus fez uma expressão severa como esperado de uma líder e assentiu aos dizeres de
Tina, depois olhou para as outras. Estavam confusas, mas, conhecendo Lakyus há muito
tempo, sabiam que ela era honesta. Depois de analisar suas expressões, Lakyus abriu a
porta novamente.
Nela estava um homem, um homem que ela conhecia bem — era Azuth Aindra em carne
e osso.
A parte superior de seu tronco estava completamente exposta, era possível distinguir
claramente os abdominais bem definidos e peitoral delineado. Não era exatamente as-
sim que alguém deveria se apresentar na frente do cliente, mas não foi por isso que
Lakyus estava constrangida para apresentá-lo a suas companheiras.
Em cima do corpo de Azuth, à esquerda e à direita, havia duas mulheres seminuas acon-
chegando-se a ele.
Não, seminu era muito brando para defini-las. Seus peitos voluptuosos estavam total-
mente expostos e, embora usassem roupas íntimas, eram apenas barbantes que mal co-
briam nada.
“Tio... fui convocada aqui pelo mesmo cliente. Não pode me receber de uma maneira
mais apropriada?”
Essa atitude enfureceu Lakyus um pouco. Se essas mulheres tivessem sido adquiridas
pelo cliente, Lakyus gostaria de conversar com elas.
“Bobagem, eu pensei que vocês viriam um pouco mais tarde. Ah, e veja bem, não estou
fazendo isso na cama, então que importância tem?”
“Toda, é claro!”
Lakyus não se deu ao trabalho de se virar para verificar as expressões de suas compa-
nheiras.
“...Sério?”
A expressão de Azuth estava confusa, mas ele não parou de apalpar as mulheres:
“Você ainda é bem inflexível. É da natureza de todo homem querer foder boas mulheres.
Meus filhos provavelmente nascerão e herdarão isso. Já não te disseram que é impor-
tante garantir que nossa linhagem continue?”
“Hmmm, mesmo ele tendo nascido em berço nobre, esse tipo de mentalidade ainda está
tão enraizada em seu coração?”
Ao ouvir o que Evileye havia dito, Azuth fez uma expressão descontente e a encarou.
Embora todas pudessem sentir uma pressão vinda de seu olhar, ninguém da Rosa Azul
recuou. Para Evileye, especialmente, parecia apenas uma brisa suave. Ela continuou:
“...Haaah. Só de me olhar assim, posso dizer que acertei na mosca. Eles te chamam de
herói, mas você não é diferente de uma criança. Na verdade, será que a razão pela qual
você abandonou seu status de nobre e escolheu a vida de aventureiro foi justamente por
isso...? Enfim, isso não é atitude para receber seus clientes. Senhoritas, vão embora.”
“Hah, que incômodo. Ei, Aindra... Aquele cômodo ali ainda está vazio?”
“Não aja como a toda poderosa e dona daqui, você é apenas uma pirralha que nem tem
coragem de mostrar a cara.”
Antes que a mulher pudesse responder, outro 「Charm Person」já havia sido lançado.
As mulheres obedientemente entraram no cômodo adjacente.
“Evileye... Bom trabalho!” Tina fez um gesto fechando a mão e levantando o dedo pole-
gar para Evileye e completou:
“Foi corajoso o suficiente para permitir que mulheres que poderiam ser assassinas che-
gassem tão perto de você, como esperado de um aventureiro adamantite.”
“Eram isso?”
“Fomos treinadas para fazer essas coisas também. Mulheres que não eram dotadas de
força bruta ou Talentos misteriosos só podiam recorrer ao armamento de sua feminili-
dade. Embora não se aplique a Gagaran, vou te explicar os métodos delas. Primeiro—”
“Seria problemático se isso não fosse feito. Bem, não vou mais interromper você com
isso. Falem do que quiser, eu acho.”
“Então, tio, nosso cliente desta vez é extremamente suspeito. Quem são eles?”
“Hmm? Oy oy, quer dizer que veio aqui sem saber? Hmm, devem ser apoiados por uma
enorme organização, provavelmente.”
“Eu não os conheci pessoalmente. Se tivessem modos melhores, teriam me dado seus
nomes. Hmmm, se eles pretendem esconder a identidade, então—”
Azuth sorriu:
“Devem ser do tipo que preferem as sombras. Então, o que planeja fazer?”
“Se vocês querem fug— deixar o lugar, podem seguir uma rota que planejei.”
“...Que saco. Pense um pouco. O exército do Rei Feiticeiro matou todos os civis ao longo
do caminho até aqui e arrasou as cidades também. Acha que a capital será diferente, não
está sendo ingênua demais?”
“É impossível. Como não confirmei seu poder diretamente, não tive certeza. Mas se to-
dos os rumores são reais, não temos chance de vencer aquele sujeito. Somente um mons-
tro pode lutar contra aquele monstro, seria imprudente os humanos intervirem.”
Azuth suspirou cansado. Lakyus nunca tinha visto seu tio assim.
“...Eu sabia que isso era uma perda de tempo, por isso não trouxe o resto da equipe. Já
até disse ao meu irmão para fugir.”
“Haaah. Que bando de... idiotas. Mas ele colocou seu filho sob meus cuidados. Eles foram
levados pelos meus companheiros ao Conselho Estadual e provavelmente já estão lá.”
As três que estavam de pé junto à porta, Tia, Tina e Gagaran, pareciam ser empurradas
por uma força invisível quarto adentro. Um homem e uma mulher entraram logo depois.
Todos seus dez dedos estavam adornados com anéis. Um sorriso gentil brilhava em seu
rosto.
Atrás dele havia uma mulher de aparência cansada. Suas roupas estavam frouxas e ela
andava de uma maneira que dizia que não queria andar. Um chapéu anormalmente
grande repousava em sua cabeça, cobrindo a maior parte do rosto.
No entanto, uma vez que a pessoa por trás deles apareceu, a atmosfera ficou mais turva
do que antes.
O corpo massivo daquele homem avançou lentamente para dentro. Sua aparência era
como a de um bárbaro empunhando um machado. Uma pressão intensa e esmagadora
emanava dele que as fez sentir como se o espaço ao seu redor estivesse sendo distorcido.
Como uma aventureira adamantite, ela derrotou vários monstros e demi-humanos po-
derosos, mas todos empalideceram quando comparados a esse homem. Ele pode até ser
mais forte do que o demônio cabeça de crânio que apareceu durante a perturbação de
Jaldabaoth.
“Oy oy oy, vocês estão atrasados, então não saiam por aí irradiando essa aura perigosa.
Foi o gerente que te mandou fazer isso? Fazer algo tão chato?”
“E pensar que traria prostitutas, quão impressionante, velho. Que eu saiba, não estamos
em um prostíbulo~”
“Hmph, mas foi exatamente por isso que os chamei aqui, eu tinha certeza que conhe-
ciam esse lugar tão bem quanto eu.”
Ela não se opôs ao que Azuth havia dito, significando que essa estalagem estava real-
mente ligada a eles. Havia apenas dois países que tinham a capacidade de criar organi-
zações em nível nacional. Um era o Conselho Estadual, o outro era a Teocracia.
“Azuth-sama está absolutamente correto. Ele tirou um tempo da sua agenda lotada para
se encontrar conosco, e ainda assim fomos os últimos a chegar. Peço desculpas à sua
estimada pessoa.”
“Hmph.”
Azuth zombou um pouco, mas o sorriso do cavalheiro à sua frente permaneceu inalte-
rado.
Seu tio havia abandonado o título de nobre, mas por ainda manter o título de cavaleiro
honorário, a etiqueta adequada ditava que ele deveria ser chamado pelo nome completo.
No entanto, Azuth era do tipo que não gostava de ser chamado pelo nome completo.
Aqueles que o encontravam pela primeira vez e queriam seguir o protocolo teriam ca-
ído nessa armadilha.
Este cavalheiro, no entanto, conseguiu evitar isso. Isso significava que esse homem ha-
via o pesquisado bem; não, era provavelmente mais preciso dizer que a organização por
trás dele havia pesquisado bem.
“Ugh. Está sendo um sujeito muito indelicado. Então, qual país enviou vocês?”
De repente, uma mão apareceu por trás da mulher e cobriu sua boca.
Atrás da mulher estava um homem vestindo uma roupa estranha. Todo o seu corpo,
incluindo o rosto e as mãos, estava coberto. Placas de metal cobriam suas roupas para
melhor defesa.
Essas duas eram as assassinas mais fortes — e cruéis — que Lakyus conhecia, mas esse
homem era mais forte que as duas.
“Por favor, não se preocupem e façam o favor de embainhar suas armas. Se nosso obje-
tivo fosse matá-las, não teríamos nos apresentado de maneira tão banal.”
Ou talvez isso também fizesse parte de sua tática. Poderiam estar os lembrando que, se
não se juntassem a eles, assassinos sem iguais poderiam pegá-los a qualquer momento.
“—Ey, ey. O que você ganha escondendo isso? Vocês são da Teocracia, certo?”
“Eles são realmente da Teocracia...? Não acredito que pessoas assim existam lá.”
Elas já haviam lutado contra uma unidade que estava queimando aldeias demi-huma-
nas no passado, seus membros eram relativamente fortes. Especialmente o capitão da-
quela unidade, que era mais forte que Lakyus naquela época. No entanto, ninguém da-
quela unidade era tão forte quanto as pessoas à sua frente.
“Você não sabe? Eu pensei que pelo menos tivesse ouvido os rumores... eles são o orgu-
lho da Teocracia, sua unidade de heróis, a Escritura preta. É provável que todos tenham
chegado ao reino dos heróis.”
O homem sorriu em resposta, como um animal que se deleitava com sua presa.
“Hahahaha... Parece que você sabe um pouco sobre nós. Mas vocês também têm alguém
assim, não? Alguém como eu, ou até mais forte que eu?”
Ainda assim, sua atitude não era como se admitisse a derrota, sua expressão dizia que
ele tratava Evileye como uma oponente à sua altura.
“...Humm. Existem pessoas mais fortes que eu... Hmm... sem contar os demônios, de to-
dos os humanos e demi-humanos, apenas o Momon-sama é mais forte.”
“Que tal. Pessoas da unidade secreta da Teocracia. Por que não lutam ao nosso lado
contra o Rei Feiticeiro?”
“Talvez aquela mulher também... não, aquilo foi...” Evileye continuou a murmurar para
si mesma, mas Azuth a ignorou e perguntou ao cavalheiro, que respondeu com seu sor-
riso imutável.
“Receber um convite de sua estimada pessoa é uma grande honra para todos nós. En-
tretanto, estamos aqui em uma missão relâmpago para convencer aventureiros tão esti-
mados a se juntarem a nós. É por isso que só podemos optar por rejeitar cerimoniosa-
mente sua sugestão. Afinal, soldados que participam de batalhas por seus próprios de-
sejos egoístas apenas trariam danos à organização que servem.”
“Apenas tentei usar seu pedido como um bode expiatório. Ainda assim, estou interes-
sado em ouvir sua opinião.”
“Que chatice — as coisas não são muito mais simples se apenas seguimos a ordem de
nossos superiores?”
Disse a mulher irritada. O sorriso do cavalheiro desapareceu ao ser substituído por uma
expressão de incômodo.
“Aposto que você é do tipo que acha irritante até o próprio ato de pensar.”
“Antes disso, poderíamos fazer uma pergunta? Como podemos escapar daqui?”
“Vou lhe dizer como depois que se juntar a nós. A propósito, já estendemos essa oferta
a vários outros grupos de aventureiros e todos já aceitaram. Esses grupos já foram rea-
locados para locais mais seguros do que aqui.”
“...Hey. Por acaso usou violência ou ameaças pra forçar eles a ir com você?”
“Na verdade, não. Do fundo de nossos corações, queremos nos tornar camaradas de to-
dos aqui. Esta é uma cooperação para o nosso futuro— para o futuro da humanidade.”
O cavalheiro não parecia mentir, sua personalidade provavelmente foi a razão pela qual
ele foi escolhido para ser o negociador.
“...Eu recuso—”
Lakyus nem sequer teve tempo de pedir a opinião de todas antes de Gagaran responder.
“Não precisa se isolar com “eu”... Sua decisão é a nossa também, Líder.”
“Tem certeza...? Parece que nada que eu poderia dizer influenciará suas opiniões. Creio
que estou sem opções.”
Depois de ver o que Lakyus havia feito, o cavalheiro deu um sorriso irônico.
“Por favor, Lakyus-sama, não precisa se preocupar. Não temos intenção de usar violên-
cia. Esperamos que todos aqui possam vingar aqueles que caíram para o Rei Feiticeiro.
Deixamos uma taxa pelo tempo despendido na recepção. Aceite-a antes de retornar. En-
fim— vamos indo.”
Depois que o cavalheiro deu suas ordens, o povo da Teocracia começou a caminhar em
direção à saída. As coisas pareciam ter concluído pacificamente. Assim que Lakyus deu
um suspiro de alívio, Azuth chamou o cavalheiro.
“Ei, por falar nisso... um cara chamado Luf, quero dizer Rufus-san, ele ainda está bem?”
“Ru...? Sinto muito. Nosso país abrange uma vasta área, então não sei a quem está se
referindo... Se pudesse ser um pouco mais específ—”
“Ah, claro. Suponho que seja natural que pessoas da sua categoria não o conheçam pelo
nome, afinal. Então, como vocês costumam abordar aquele undead? Milorde ou algo as-
sim?”
O cavalheiro encarou Azuth com olhos frios e imóveis e respondeu calmamente à mu-
lher.
"Ele está blefando. Não se mova por bel-prazer. Isso é uma ordem.”
A sede de sangue que emanava deles desapareceu tão rápido quanto surgiu. O olhar frio
do cavalheiro permaneceu em Azuth:
Os membros da Escritura Preta não baixaram a guarda enquanto saíam, mas mantive-
ram a atitude de que, se o grupo de Lakyus fizesse algum tipo de ação, eles retaliariam
no ato.
Depois de um tempo, assim que Lakyus teve certeza de que a Escritura Preta já havia
partido, ela começou a criticar Azuth.
“Tio... você é o mais fraco de todos nós. Pare de provocar as pessoas assim, por favor.”
“Como é...? É claro que eu sei que foi muito perigoso. Eu não esperava que eles nos an-
tagonizassem tanto assim. Se não fosse pelo cara de sorriso falso, eu estaria morto. Pro-
vavelmente estavam pensando algo assim; em vez de sujar nossas próprias mãos, será
mais benéfico se deixarmos que o Rei Feiticeiro se satisfaça primeiro antes de aproveitar-
mos, ou algo assim. Embora eu duvide que tenham esse tipo de consideração.”
Lakyus intencionalmente dirigiu seu suspiro para Azuth, que estava rindo alto.
Seu tio havia revelado a Escritura Preta que ele tinha algum tipo de informação crucial
sobre a Teocracia. Portanto, não seria incomum matá-lo para impedir que essa informa-
ção chegasse às mãos do Rei Feiticeiro. O outro resultado provável seria que eles o se-
questrassem para interrogá-lo ou usassem magia para obter as informações dele.
Azuth não era do tipo que não sabia ver as coisas como um todo. Dado que era esse o
caso, tinha de haver segundas intenções que Lakyus não sabia.
Ela não encontraria a resposta pensando nisso sozinha. E assim parou essa linha inútil
de pensamento.
“Hah? Eu pretendo esperar até que o exército do Rei Feiticeiro chegue aqui. Os manda-
chuvas parecem estar planejando enviar soldados aos territórios vizinhos para fazer for-
mações. Sinceramente, não acho que eles tenham chance de vitória. O Rei Feiticeiro e
seus lacaios chegarão aqui mais cedo ou mais tarde... E você não é forte o suficiente para
lutar com ele, apenas fuja.”
“Mesmo assim, não vou abandonar esta cidade para fugir. Tio...”
Se algo fosse derrotar o Rei Feiticeiro, não seria o ataque de um guerreiro, mas sim a
facada de um assassino. Precisamente por isso, Lakyus teve que se contentar e simples-
mente assistir como hordas de homens eram enviadas para defendê-los do ataque do
Rei Feiticeiro.
“Se deseja me convidar para lutar ao seu lado, desista. Eu tenho meus próprios planos.”
“É sério?”
“Sim. Farei o que faço de melhor e você deve fazer o seu melhor também. Ainda assim,
pelo bem da minha linda sobrinha, vou reiterar novamente. A melhor coisa que todas
podem fazer, é fugir. Vocês não são nada diante do poder do Rei Feiticeiro.”
“...Hmph, o que quer dizer? Está insinuando que pode fazer mais do que nós?”
Diante da pergunta de Evileye, Azuth riu como se não tivesse uma resposta para isso.
“De fato, nem eu conseguirei vencer o Rei Feiticeiro. Eu sou apenas um homem. Mas,
mesmo que o Rei Feiticeiro cerque toda a capital, eu ainda poderei escapar.”
Azuth levantou-se.
“Estamos de partida. Afinal, ainda há coisas para as quais precisamos nos preparar.”
Parte 3
A uma distância da capital que algum viajante levaria cerca de três dias para atravessar,
o exército do Reino Feiticeiro já podia ser avistado. Este relatório caiu nas mãos de Zanac.
Para enfrentar a ofensiva do exército do Reino Feiticeiro, todo o exército do Reino se
mobilizou sob o comando de Zanac.
Nas planícies, cerca de meio dia de distância da Capital Real, o exército do Reino já havia
estabelecido um fronte ao receber notícias de que o Reino Feiticeiro estava invadindo a
oeste. De acordo com seus planos de batalha, deveriam esperar o exército do Reino Fei-
ticeiro lá.
O fronte foi construído sobre uma ampla parte da estrada que fôra bloqueada para este
fim. Se o exército do Reino Feiticeiro continuasse em sua trajetória atual, isso seria o
mais eficaz. No entanto, se o Reino Feiticeiro mudasse sua direção de aproximação, ha-
veria a necessidade de formar um novo fronte. Embora estivessem preocupados com
essa possibilidade, todos os relatórios indicavam que o Reino Feiticeiro ia de acordo com
o planejado. Parecia que não precisavam se preocupar com essa possibilidade.
O exército com o qual o Reino que enfrentaria o Reino Feiticeiro era composto de re-
crutas vindos dos nobres, das milícias da capital e de homens capazes recrutados em
meios aos refugiados. Não seria incorreto chamar esse exército de última esperança do
Reino.
Ter formado um exército tão grande era algo digno de elogios, mas a realidade era que
eles estavam raspando o fundo do tacho. Poucos tinham equipamento adequado, muitas
pessoas só tinham porretes.
O tamanho do exército era uma arma em si, as longas alas de soldados emitiam uma
pressão avassaladora sem que fizessem absolutamente nada. Então, com que propósito
o exército do Reino Feiticeiro avançava direto para esse exército de 400.000?
Mesmo aqueles não muito versados em táticas de batalha saberiam que enfrentar um
exército tão grande de frente não era a melhor estratégia. Para o Reino Feiticeiro, sua
melhor estratégia seria “não fazer nada”. Eles tinham um exército dos mortos, que não
precisavam de suprimentos. Em comparação, a força de 400.000 do Reino era seme-
lhante a uma gigantesca e faminta fera. Contanto que consigam cercá-la completamente
e apliquem pressão necessária, essa imensa fera logo se condenará e morrerá de fome.
Nada deteve o exército do Reino Feiticeiro, que marchava em linha reta, destruindo
tudo em seu caminho. Ele sabia muito bem como o Rei Feiticeiro contemplava cada pos-
sibilidade, então era difícil imaginar que tivessem tudo até aqui sem nenhum objetivo
em mente.
Para algo do porte do Reino Feiticeiro, isso não seria um comportamento imprudente.
Para aquele que pôde derrotar um exército de 200.000 homens com uma única magia,
tecnicamente o exército atual poderia ser eliminado com o uso de apenas duas magias.
É claro que Zanac, como general, não queria acreditar que isso poderia acontecer. Ainda
assim, as pessoas, especialmente os nobres, que acreditavam nessa possibilidade não
eram exatamente uma minoria.
Ele entendeu o porquê sugeriram que suas forças fossem divididas em grupos. Embora
os grupos pudessem cair um a um, ao mesmo tempo, isso também evitaria a possibili-
dade de todo o exército sucumbir após uma única magia.
Devido à perda devastadora que eles experimentaram durante a batalha das Planícies
Katze, bem como à invasão atual pelo Reino Feiticeiro, o número de nobres capacitados
a comandar um número tão grande de soldados e cavalaria era escasso. Dividir suas for-
ças não criaria pequenas unidades de exército, mas sim transformaria a força de 400.000
soldados em 400.000 plebeus.
Depois que os dois lados fizeram suas formações, o exército do Reino Feiticeiro adotou
uma atitude orgulhosa que dizia nitidamente: “Demos a vocês tempo suficiente para se
prepararem”.
Suas forças eram cerca de 10.000, abarcando ¾ de undeads. Este era um número mi-
núsculo em face de 400.000 homens. Mas, em termos de força individual, o exército do
Reino Feiticeiro, sem dúvida, possuía uma vantagem esmagadora.
“Vossa Alteza.”
“Eu sei.”
Os movimentos do ministro eram rígidos, quase cômicos às vezes, devido à sua baixa
familiaridade com armadura que trajava. Mas Zanac não podia se dar ao luxo de apontar
dedos, afinal, seria como o sujo falando do mal lavado.
Ele estava usando o que costumava ser a armadura de Gazef, um dos tesouros do Reino.
Zanac sabia que isso em nada combinava com ele e tinha ciência do quão distante estava
do homem que Gazef foi.
Nos últimos dias, Zanac esteve ganhando peso devido a seus hábitos alimentícios sob
estresse. Se não fosse a natureza mágica da armadura, ele teria que solicitar a um fer-
reiro para adicionar uma polegada à área da cintura.
Seguindo sua ordem, um cavalo foi levado à grande tenda de Zanac por um cavaleiro.
Zanac precisou de bastante esforço para montar em seu cavalo favorito, que estava
meio arisco desta vez. Ele não levou nenhum guarda-costas consigo enquanto marchava
rumo à direção do exército do Reino Feiticeiro.
Mesmo que ele trouxesse guarda-costas, se o Rei Feiticeiro quisesse matá-lo, os guarda-
costas seriam completamente inúteis. Não eram capazes de servir como dissuasores.
Sem nenhum obstáculo, Zanac alcançou o ponto médio entre os dois exércitos. Ele ati-
vou um item mágico para amplificar sua voz.
“Eu sou o príncipe do Reino Re-Estize, Zanac Valleon Igana Ryle Vaiself! Desejo procu-
rar uma audiência com Sua Majestade, o Rei Feiticeiro!”
Zanac não planejava lutar uma batalha de inteligência com o Rei Feiticeiro. As coisas já
haviam chegado a um ponto em que isso era completamente sem sentido.
Ele só queria descobrir que tipo de processo de pensamento levara o Rei Feiticeiro a
fazer o que ele havia feito.
♦♦♦
Ainz examinou o fronte que seu exército havia formado a partir de uma tenda de lona
de três lados. Mesmo que o exército do Reino Feiticeiro fosse composto por criaturas
undeads que estavam alheias à fome e a fadiga, o fronte que formaram era muito menor
do que um exército convencional teria.
Na verdade, dos vários frontes que eles já haviam formado, o que estava à sua frente
parecia muito mais robusto dos que seus predecessores.
A princípio, esses frontes eram formados com a ajuda da magia de Mare, mas devido a
uma razão específica, Mare foi delegado a simplesmente assistir os soldados construindo
o fronte ao lado de Ainz.
Aura também estava observando os soldados, mas parecia que ela estava apenas obser-
vando seus próprios servos.
Não importa se era na construção de frontes ou tendas, a magia sempre poderia produ-
zir um resultado de maior qualidade. Entretanto, pelo mesmo motivo acima, Ainz havia
ordenado que a tenda que usava atualmente fosse transportada para esse local por
meios físicos.
Pode ser uma boa idéia deixar todas as tarefas de engenharia civil no futuro para o Mare.
Ela estava sendo tácita? Albedo, que deveria estar trabalhando arduamente para esta-
belecer um fronte, havia retornado com Cocytus.
“Não é um mensageiro para declarar o início da batalha? Prepare uma recepção... Pre-
pare as bebidas receptivas também.”
Quando Albedo começou a preparar a mesa, cadeiras e demais objetos, um homem ves-
tindo armadura completa a cavalo entrou na linha de visão de Ainz.
Aquilo é... acho que é a armadura do Gazef Stronoff. Aquele homem é o vice-capitão guer-
reiro? Ele é bem diferente das descrições que ouvi.
“Eu sou o príncipe do Reino Re-Estize, Zanac Valleon Igana Ryle Vaiself! Desejo procu-
rar uma audiência com Sua Majestade, o Rei Feiticeiro!”
Ele podia ouvi-lo claramente, mesmo a essa distância. Provavelmente usou algum tipo
de item mágico.
“O que devemos fazer, Ainz-sama? Se ele não está aqui para declarar o início da batalha,
será uma perda de tempo essa conversa. Vamos iniciar a batalha com isso?”
“Não, Albedo, Não. Podemos. Fazer. Isso... O. Oponente. Deseja. Ter. Uma. Batalha. De.
Inteligência. Com. O. Ainz-Sama... Se. Rejeitarmos, Isto. Refletirá. Negativamente. Em.
Como. Os. Povos. Nos. Veem, Afetando. Diretamente. A. Magnanimidade. Do. Ainz-sama.”
Albedo escarneceu:
“Qual valor isso terá? Estão todos mortos, só não se deram conta, de que servem os
boatos que não são ouvidos por ninguém?”
Ainz não estava muito interessado em travar uma batalha de inteligência ou o que quer
que fosse, certamente a realeza deste país não perderia para ele em nada, a menos que
fosse relacionado a proezas de combate. Ainda assim—
“...Sinto muito.”
“Hmm... eu irei então. A realeza da nossa oposição veio sozinha. Se eu não fizesse o
mesmo, isso manchará nossa imagem.”
“Não sei. Aura, se eu sofrer lavagem cerebral ou controle mental, você deve usar o seu
Item World-Class para me proteger.”
O Item World-Class de Ainz estava guardado em Nazarick, por isso, se Aura usasse seu
[ R e p r e s e n t aç ã o d a N a t u r e z a e Sociedade]
Depiction of Nature and Society nele, Ainz ficaria preso no item. Dessa forma, mesmo
que sofresse lavagem cerebral, eles não poderiam sequestrá-lo por meio de teletrans-
porte ou outros métodos semelhantes.
“Deixa comigo!”
“Uhum.” Respondeu Ainz a Aura e deixou o fronte montando em um Soul Eater. Ressal-
tando que, depois de praticar montaria, Ainz parecia confiante ao fazê-lo. Ainda assim,
por não ser um exímio montador, estava receoso em cometer algum erro na frente dos
dois exércitos e por isso escolheu montar um Soul Eater apenas por segurança.
A outra parte estava esperando por Ainz ao lado de seu cavalo, por sua vez, Ainz tam-
bém desmontou do Soul Eater ao chegar ao seu destino. Independentemente do quão
ruim isso ficasse para ele, Ainz blindou seu intelecto para retribuir aos outros o que eles
haviam feito com ele.
Seu oponente era um homem que pendia mais para o lado de um gordinho. Usava uma
maquiagem forte para encobrir as olheiras.
“Prazer em conhecê-lo, eu sou o Rei Feiticeiro, Ainz Ooal Gown. Estarei sob seus cuida-
dos. Bem, uma conversa em pé não seria agradável.”
Ainz lançou uma magia duas vezes, produzindo dois tronos negros, um em frente ao
outro. Por terem sido criados com magia, os dois tronos eram idênticos.
“Embora seja frio e pouco confortável, seria melhor nos sentarmos. Teria alguma con-
traproposta?”
Quando os dois se sentaram nos tronos, Ainz lançou outra magia para criar uma mesa
na cor preto brilhante entre eles.
Mesmo Ainz conjurando magias no momento em que se conheceram, Zanac não parecia
estar em guarda. Parecia que ele não tinha nenhuma intenção de assassinar Ainz.
Depois, Ainz pegou duas taças e um recipiente cheio de gelo de seu inventário.
“Aceita um pouco de água? Creio que álcool seria inadequado, dada a nossa situação
atual, se preferir, tenho suco de laranja também...?”
“Então, estamos prontos para a conversa. O que devemos discutir então? Talvez sobre
a justificativa de nossa invasão?”
“Isso não será necessário, Vossa Majestade. Estou mais interessado no motivo pelo qual
o senhor insistiu em realizar atos tão hediondos? Por que recusou nossa oferta de ren-
dição?”
Foi uma pergunta natural vindo de alguém nessa situação. Embora para Ainz, seus mo-
tivos fossem claros e justificados, para eles deve ter parecido um massacre sem sentido.
“Hmm...”, Ainz acenou com a cabeça. Dado como as coisas acabaram, não havia mais
sentido em esconder suas intenções. Ele começou a expor os planos do Reino Feiticeiro
para Zanac.
“Como não ganhamos nada com isso. Pretendo sacrificar seu povo como um exemplo
para o mundo, digo, do que aconteceria a eles caso se oponham ao Reino Feiticeiro. Para
esse fim, todos vocês serão erradicados e o Reino será transformado em uma montanha
de cinzas. A dita montanha continuará servindo como um aviso após séculos, ou mesmo
milênios, de quão tolo seria um ato contra o Reino Feiticeiro.”
“Claro que não, estou apenas declarando o que está por vir.”
“Por quê?”
Ainz não sabia ler nas entrelinhas de Zanac e, portanto, respondeu com uma pergunta.
“Mesquinho, eu?”
Zanac ficou tenso com a possibilidade de ter irritado Ainz, mas Ainz não estava nem um
pouco zangado.
No passado, para Ainz— não, para Suzuki Satoru, conhecer os amigos que teve no jogo
YGGDRASIL foi a síntese de toda a sua vida. Uma lembrança tão maravilhosa que tudo o
que ele desejava era se reunir novamente com seus amigos.
Quando ele estava prestes a ser deslogado do jogo, quando tudo isso voltaria ao nada,
ele foi transportado para este mundo.
O fim acabou não sendo o fim, mas, em vez disso, foi um novo começo.
Os NPCs criados por seus amigos começaram a exibir livre arbítrio. Em cada um de seus
gestos, ele podia sentir os fragmentos de seus antigos companheiros. Não, para ser sin-
cero, o choque que ele experimentara no começo o perturbou tanto que ele estava cons-
tantemente preocupado com a traição deles. Ao observar seu eu passado, ele ficou ciente
do quão idiota havia sido. Hoje em dia, ele simplesmente não questionava a lealdade de-
les.
No entanto, não parecia que Ainz tinha sido o único a ser transportado para este mundo.
Ele podia ver os resquícios de outros jogadores que vieram no passado.
Talvez fosse natural para ele pensar que seus companheiros, as pessoas que comparti-
lharam aqueles bons momentos com ele, também poderiam ter chegado a este mundo.
Era natural que ele desejasse isso. Obviamente, Ainz tinha noção que foi transportado
durante os momentos finais do jogo, e justamente isso que tornava improvável a apari-
ção de seus amigos neste mundo.
Claro que seus amigos ainda eram importantes, mas agora, os NPCs também importa-
vam.
Ainz, como o único a ficar para trás, tinha o dever de protegê-los a todo custo.
Por causa disso, Ainz estava disposto a sacrificar tudo para garantir que nenhum dano
acontecesse aos NPCs. Para garantir que Nazarick nunca perecesse por forças externas,
era preciso priorizar o empoderamento de todos os aspectos da organização.
Shalltear foi dominada por alguma entidade desconhecida no passado. Embora tivesse
conseguido recuperar o controle sobre ela, se as coisas tivessem saído do controle, in-
formações importantes sobre Nazarick poderiam ter chegado às mãos de estranhos;
consequentemente, poderia ter levado à destruição da guilda.
“Qual é o meu objetivo, é sua pergunta? Eu procuro algo que é difícil, mas também fácil
de obter. Tudo o que desejo... é uma coisa singular. Ou seja, a felicidade.”
“Felicidade?”
Ainz riu um pouco em resposta. Ele não achou que disse algo tão ultrajante.
“Não importa se é humano ou não, a busca da felicidade é o objetivo final, não é?”
Ainz parou com sua atuação pomposa e começou a conversar com Zanac como se ele
fosse um amigo íntimo.
“Isso não é óbvio? Se a felicidade daqueles que considero queridos pode ser garantida,
não me importaria em nada a felicidade alheia. Se for possível garantir a felicidade de
seus súditos infligindo sofrimento aos cidadãos de outro país, o que faria? Abandonaria
completamente a felicidade deles?”
“Mesmo com o intelecto e o poder de Vossa Majestade, Rei Feiticeiro, não existem ou-
tros métodos possíveis para garantir a felicidade?”
“...Talvez, mas, talvez é tudo que posso dizer. Se tivesse um método garantido para obter
felicidade, qual seria a melhor opção? Buscar um método secundário inexistente ou se-
guir o método testado e comprovado? “A Deusa da Sorte é careca atrás”, era assim o pro-
vérbio?”
“Que Deusa estranha... Perdão, não tive intenção de menosprezar a Deusa em que acre-
dita. Por favor, me perdoe.”
“Haha, eu não me importo. Não era algo em que eu acreditava, apenas um provérbio de
outro tempo. Muito bem, então, essa é a extensão de tudo. Para a felicidade de meus
súditos, devo sacrificar seu povo. Esta é a base para esta guerra, agora entende?”
“Creio que sim. Eu me compadeço com o desejo de Vossa Majestade. A busca pela me-
lhoria do próprio país e uma garantia para a felicidade de seus compatriotas, isso pode-
ria ser considerado a única responsabilidade de um governante. Se a destruição de nosso
povo garantirá ao povo do Reino Feiticeiro a felicidade, entendo o porquê de não aceitar
nossa rendição. Suponho que há mais nada o que fazer.”
“Não é? Realmente entendeu. Agora, é a minha vez de fazer uma pergunta, mas eu real-
mente não tenho uma..."
“Ah, sim. A armadura que está usando me lembrou, então eu vou perguntar sobre
aquela espada. A espada que Gazef Stronoff empunhava, quem a possui atualmente?”
Embora planejasse transformar a capital em cinzas, ele ainda planejava recuperar al-
guns itens, dentre eles, a espada de Gazef.
“Mesmo? Então não teria problema algum com o tipo de magia que usei no passado
para destruí-los, certo?”
O encarregado de cercar a capital era Cocytus, então era preciso ordená-lo a tomar cui-
dado com a espada.
“Embora não tenha intenção de desistir da batalha, ficaria eternamente grato se Vossa
Majestade usasse alguma magia que infligisse o mínimo de sofrimento ao meu povo.”
“...Hmm. Entendo como se sente. Tudo bem. Afinal, conversas agradáveis como essa são
difíceis de encontrar. Sua pessoa em especial, tentarei matá-lo o mais gentilmente pos-
sível.”
“Muito obrigado.”
Zanac tinha um sorriso brilhante com o qual Ainz não pôde deixar de se surpreender.
A coragem desse homem era bastante considerável. Se Ainz estivesse no lugar dele, ele
seria capaz de fazer o mesmo?
—Acho que não. Como esperado de alguém com sangue real. Isso foi muito educativo.
Zanac pegou a taça a sua frente e bebeu a água em um único gole, como se não estivesse
preocupado com algum possível veneno.
“Está delicioso, Vossa Majestade. Bem, espero que possa responder a uma última per-
gunta minha — foi Vossa Majestade quem matou meu irmão, ou foi um dos subordinados
de Vossa Majestade?”
“Seu irmão?”
Ainz inclinou a cabeça e, pouco depois, lembrou-se do príncipe do Reino que já haviam
descartado. Ele não conseguia se lembrar do nome, mas lembrava que era muito longo.
Ainz caminhou em direção ao Soul Eater após recolher os itens, e então notou que Zanac
ainda espera ao lado de seu cavalo.
Ainz mentalmente se questionou o porquê ainda não havia subido no cavalo enquanto
montava em seu Soul Eater. Somente depois que ele fez isso, Zanac montou em seu ca-
valo.
Entre um príncipe e um rei, era fácil dizer quem possuía o status mais alto, então pro-
vavelmente havia feito isso para evitar olhar para Ainz de uma posição elevada. Para
Ainz, alguém que não havia estudado etiqueta equestre, esse era o protocolo adequado
que a aristocracia deveria se esforçar para seguir. A posição de Zanac em sua mente au-
mentou um pouco.
Parece que estudar a etiqueta da alta classe se tornou obrigatório... bem, já não era? A
quantidade de coisas que tenho que aprender um dia diminuirá...?
♦♦♦
“Vossa Alteza!”
Todos os nobres vieram dar as boas-vindas a Zanac, quase todos os nobres que haviam
atendido ao seu chamado estavam presentes.
Ninguém o deteve ao sair pelo fronte, mas agora parecia que ele não poderia voltar se
tentasse. Isso significava que todo mundo estava esperando boas notícias, a melhor seria
se o Rei Feiticeiro concordasse—
“Eu não consegui. Sua Majestade, o Rei Feiticeiro, planeja matar todos nós, não é algo
negociável para ele.”
O que ele achou surpreendente foi o fato de que ainda havia nobres que empalideceram
com a notícia. Eles ainda esperavam que tudo desse certo, mesmo com a situação atual?
Zanac desceu do cavalo e deixou os nobres para trás, que estavam todos mordendo o
lábio inferior enquanto o contemplavam profundamente, caminhando rumo à sua pró-
pria tenda.
“Em outras palavras, exatamente como esperávamos, mas uma coisa surpreendeu um
pouco.”
“Sério? Por sinal, nunca me encontrei com o Rei Feiticeiro, que tipo de monstro maligno
ele é?”
Zanac sorriu.
O Ministro dos Assuntos Militares ficou chocado com a resposta, seus olhos estavam tão
arregalados que quase formaram um círculo. Talvez tenha sido a primeira vez que Zanac
o viu fazer essa expressão.
Era verdade que, do lado de fora, ele parecia ser um monstro aterrorizante que exibia
uma aura opressiva. Zanac não conseguia nem imaginar o valor das roupas que ele usava.
Mas ainda assim, sua única prioridade, a razão por trás de todas as suas ações, era a
felicidade daqueles que ele considerava queridos. Não era esse o desejo mais trivial?
Honestamente, aquilo não deveria ter sido a reação de um undead, o inimigo mortal dos
vivos. Ele era humano demais.
Ele não conseguia entender o nível exato de consideração que o Rei Feiticeiro havia
posto nesse assunto para chegar a essa conclusão, mas a partir dessa singela conversa,
ele pôde simpatizar um pouco com ele.
Por exemplo, antes— antes das coisas chegarem a esse ponto, talvez ele pudesse ter
pensado em um método melhor para lidar com isso. Mas já haviam passado do ponto de
não retorno.
“Hmmm, mas não há nada que possamos fazer. Eles não estão sob nosso comando, afi-
nal. Alguns dos nobres nem mesmo decidiram se sacrificar. Só podemos esperar que eles
não iniciem a batalha antes da hora. Quanto mais baixas forem nossas expectativas, me-
nos decepcionados ficaremos.”
Era realmente preocupante se não conseguissem sincronizar suas próprias alas milita-
res para esta batalha. Dito isto, sem suas forças, eles perderiam ¼ de seus soldados mo-
bilizados. Esse cenário seria igualmente problemático.
Mesmo que a magia do Rei Feiticeiro matasse apenas 200.000 como da última vez, su-
pondo que metade de seu exército e seus nobres correspondentes sobrevivessem,
quanta responsabilidade cairia sobre o ¼ de suas forças atuais?
O Ministro dos Assuntos Militares riu de maneira cansada e apática antes de continuar:
“Não temos uma formação em mente, apenas avançaremos cegamente. Por causa disso...
Se não fizéssemos nada para impedir que os soldados percam o moral, podemos esperar
o pior... Devo formar uma força anti-retirada?”
“Melhor não. Em vez disso, os cavaleiros reais devem estar posicionados no fronte e—”
“—Vossa Alteza, perdoe-me por falar fora de vez, mas permita com que sejamos a van-
guarda.”
Zanac olhou para ele com um olhar que dizia: tem certeza? Deixando de lado sua própria
condição, era difícil para ele imaginar aquele homem magro e ictérico manejando uma
espada.
“Se alguém tiver que ficar no fronte, permita-me ser esse homem. Vossa Alteza deve
comandar da retaguarda.”
“Sendo honesto, eu nunca me simpatizei com o Stronoff, mas não passa um dia em que
eu não desejasse que ele estivesse aqui...”
“Eu compactuo com isso. No meu caso, porém, eu gostava bastante dele.”
Assim que o Ministro sorriu docilmente, uma comoção podia ser ouvida do lado de fora.
“Não...”
Eram os nobres fundiários cujos feudos estavam por perto — embora a uma certa dis-
tância da capital. Entre eles estavam os nobres estupefatos de agora a pouco, pareciam
mercenários empunhando espadas manchadas de sangue.
Nenhum dos nobres respondeu ao brado do Ministro dos Assuntos Militares. Todos
olhavam para Zanac como ratos encurralados.
Ele sentiu por alto quando entrou em campo, entendeu completamente que pensamen-
tos a estupidez deles provocara.
Ele havia designado seus cavaleiros de confiança para posições de comando, tê-los afas-
tados de seu lado foi um fracasso por si só. Este foi um motim estimulado por sua perda
de presença, mas Zanac não esperava que conspirassem contra ele, especialmente nes-
sas circunstâncias. Ele não poderia esperar que a racionalidade dos humanos tivesse de-
caído tanto.
Suas ações, de um certo sentido, estavam corretas. Eles estavam simplesmente ten-
tando dar o seu melhor por uma chance de sobrevivência.
O que seu pai teria feito? Zanac quase arruinou a seriedade de seu rosto com uma
grande gargalhada.
“Ministro—”
Embora ele estivesse usando a armadura que era um tesouro nacional, Zanac não es-
tava bem treinado para o combate. Se fosse seu irmão, essa seria uma história diferente,
mas para Zanac era impossível matar todos os hostis aqui com suas próprias forças.
Se essa traição não fosse vinda do calor do momento, mas tivesse sido bem planejada
desde o início, ele não teria nenhuma chance de salvação.
Quão vergonhoso. Se eles realmente tivessem confiança própria, teriam mantido a ca-
beça erguida. Foi por isso que Zanac levantou a cabeça, para expressar sua coragem.
“Então, o que é tão importante ao ponto de virem à minha tenda para conversar co-
migo? Não sabem o que significa sacar suas espadas ante minha presença?”
Zanac sorriu.
“É uma perda de tempo render-se a Sua Majestade, o Rei Feiticeiro. Ele disse claro e em
bom tom que nunca aceitará nossa rendição... Embora possam não acreditar em mim,
nossa única esperança está em derrotar Sua Majestade o Rei Feiticeiro.”
“Mesmo assim, não temos outra opção senão lutar. Eu sugeri vassalagem, mas foi inútil.
Vou reiterar, nossa única esperança de sobrevivência é através da batalha.”
“...Talvez seja assim na visão de Vossa Alteza, mas, quem sabe...? Se contribuíssemos, se
fizermos por merecer, eles podem nos poupar — por favor, sacrifique-se para nos dar
uma chance de viver.”
Para Zanac, o que eles estavam dizendo não era diferente das bobagens ditas por no-
bres sobre seu cavaleiro ideal durante as cerimônias do chá. Ainda assim, ele entendeu
a origem disso.
“Deixe-me dizer uma coisa, é inútil me presentear a ele. Eu, como membro da realeza,
decidi lutar até o fim. Quem quiser morrer aqui, que tente!”
Que tragicômico. Encontrar o fim pela mão de seus iguais, uma piada de mau gosto.
Não, ele deveria se considerar afortunado por esses tolos atingirem seus objetivos aqui.
Certamente não poderão importunar sua irmã ou pai depois disso, certo?
Bem, sua irmã estaria a salvo desses idiotas em virtude daquele guerreiro ao seu lado.
Embora não confiasse em suas habilidades de esgrima, sua armadura compensaria isso.
“Que foi!? Não queriam sangue!? Então deveriam ao menos estarem prontos para sujar
as próprias mãos, mesmo que seja para enfiar veneno garganta abaixo! Já não tinham se
decidido!?”
Os nobres se entreolharam.
No frigir dos ovos, depois de terem testemunhado o poder militar do Rei Feiticeiro, deve
ter sido o medo que os deixou tão míopes que sequer conseguiam ver a razão.
Ele não estava apto para governar, afinal. Ele não tinha as virtudes de seu pai, o carisma
de seu irmão ou o intelecto de sua irmã. Ele não tinha nada, mas por ele, tudo bem. Ele
não desejava o trono acima de tudo, apenas queria que este Reino fosse funcional.
Dar-lhes felicidade.
Neste momento, um dos nobres começou a chamar alguém do lado de fora da tenda e
vários mercenários de aparência bruta entraram.
Zanac torceu a língua e se lembrou da silhueta de seu irmão manejando espada. Ele
imitou os movimentos de seu irmão e atacou os nobres.
♦♦♦
Na tenda de Ainz, Cocytus, Aura e Mare estavam apenas discutindo o cerco à Capital
Real quando Albedo, que deveria estar conduzindo a inspeção final das formações, en-
trou com uma expressão perturbada.
O que aconteceu?
Ainz levantou-se e saiu da tenda. Parecia que havia algum tipo de baderna, ou era mais
preciso dizer que uma luta havia começado.
No final, um grupo de cavalaria emergiu do campo inimigo. Não parecia que eram van-
guardas fora de passo.
“Tenho assuntos a discutir com Sua Majestade, o Rei Feiticeiro! Por favor!”
Zanac não estava entre eles. A comoção em seu acampamento e a pequena quantidade
de nobres deste grupo disseram a Ainz tudo o que ele precisava saber.
Ele não olhou para Albedo que se curvava, mas voltou à sua tenda, onde sentou desani-
madamente no trono temporário. Os três Guardiões ficaram em silêncio ao lado de Ainz.
Pouco tempo depois, dez nobres foram trazidos por Albedo. Os mercenários que esta-
vam servindo de guarda-costas pareciam ter sido deixados para trás.
Eles ficaram chocados com a visão de Ainz em seu trono, mais chocados com a visão de
Cocytus ao seu lado e confusos com a presença de Aura e Mare.
“Levantem a cabeça.”
O mais velho dos nobres começou a falar. Pela expressão dos outros, ele parecia ser o
líder do grupo.
“Estamos admirados com a grandeza de Vossa Majestade e desejamos servir sob sua
regência. Antes de tudo, temos uma oferta para Vossa Majestade...”
Um dos nobres tirou um objeto parecido com um saco de suas costas. Albedo estava
prestes a responder antes de Ainz a interromper. Ele se levantou lentamente — como
havia praticado inúmeras vezes — do trono e se moveu em direção aos nobres.
Ainz o observou detalhadamente. Eles tinham acabado de se conhecer, então era difícil
dizer se aquilo era um sósia ou não. No entanto, dada a maneira como eles estavam
agindo, era improvável que isso fosse a cabeça de um sósia.
Ele já tinha muitos outros cadáveres que poderia usar para a criação de undeads, não
havia problema em poupar Zanac.
Os nobres olharam para Ainz com expressões confusas ao ouvir a pergunta. Eles prova-
velmente pensaram que a cabeça de seu general era mais do que suficiente para recebe-
rem o prêmio.
“N-não! Sim, a armadura ainda deve estar no cadáver do príncipe, em sua tenda.”
O nobre que agira como seu representante rapidamente respondeu à fria pergunta de
Albedo.
Todos os nobres responderam “Sim, senhor!” com alívio florescendo em seus rostos e
todos abaixaram suas cabeças.
“Por favor, poupe a mim e minha família! Vossa Majestade, o Rei Feiticeiro! Juro minha
lealdade absoluta a vós!”
“Ele também! Eu também! Vossa Majestade! Por favor, estenda a mesma misericórdia
para mim também!”
“É apenas isso? Bem, então eu não vou matá-los. Albedo — envie-os a Neuronist.”
“—Como desejar.”
“Estenderei isso à família de todos. Albedo, pergunte onde estão suas famílias e envie-
as também.”
Os nobres foram levados da tenda por Albedo. Depois que se foram, Ainz fez sinal para
que Aura se prontificasse e deu a seguinte ordem:
“Quem não desejar morrer, não os conceda a morte. Isso é uma ordem.”
“Sim, Ainz-sama!”
Ainz segurou a mão de Aura quando ela estava prestes a sair. Aura ficou confusa, mas
Ainz completou com:
“Entendi!”
Assim que soltou sua mão, ela confirmou que ele não tinha outras ordens, Aura então
correu atrás de Albedo.
O olhar de Ainz permaneceu fixo em suas costas enquanto ele dava ordens aos dois
guardiões restantes.
Uma hora depois — o exército que era a última esperança do Reino Re-Estize desapa-
receu completamente da face deste mundo.
O
Oito Dedos ao longo do saguão de uma mansão. Eles estavam caminhando
em direção a um grande cômodo que uma das subordinadas do Rei Feiti-
ceiro havia escolhido.
Eles fizeram isso porque, embora a subordinada do Rei Feiticeiro tivesse especificado
o dia em que deveriam se reunir nesta mansão, não lhes fôra especificado o horário para
fazê-lo. Por esse motivo, Hilma e os demais da Oito Dedos estavam à toda no saguão para
evitar um cenário em que a enviada chegasse e percebesse que faltasse pessoas.
Mesmo que isso se devesse em parte ao tamanho da mansão, também foi porque eles
haviam mobiliado um cômodo longe do salão principal para servir de lounge. Embora
fosse melhor ter fornecido um cômodo mais próximo ao salão para ser um lounge, de-
pois de terem debatido sobre o assunto, eles finalmente decidiram usar os cômodos pró-
ximos ao salão como depósito para bagagem.
O silêncio não era exatamente insuportável, mas um deles — Prian Polson — começou
a falar.
Hilma concentrou-se.
Ela realmente podia ouvir o som de crianças brincando. Dito isto, parecia algo muito
distante da mansão. Estava quieto o suficiente para que não fosse possível ouvir, a me-
nos que se concentrasse para tal. Isso porque o saguão estava longe de onde ocorria os
vais-e-vens da juventude, essa também foi a razão pela qual escolheram usar os cômodos
próximos ao salão como depósito.
Ainda assim, mesmo que Hilma e companhia não achassem irritante, se a enviada do
Rei Feiticeiro se incomodasse com isso, eles nem imaginavam as consequências que sur-
giriam.
Um peso foi tirado dos ombros de Olin, seria porque ele havia falado? Ele passou a dizer
o que todos tinham em mente, mas se recusavam a dizer.
Olin provavelmente não queria falar isso, mas o estresse de ter que esperar pela envi-
ada do Reino Feiticeiro foi mais forte.
Fazia sete dias desde que os 400.000 homens do forte exército do Reino começaram
sua marcha. Pouco tempo depois disso, eles ouviram rumores de que o exército do Reino
Feiticeiro havia começado a acampar perto da capital. Embora isso tenha ocorrido ape-
nas um dia atrás, o estresse mental que estavam sentindo superava em muito o cansaço
físico que eles estavam enfrentando.
Eles haviam recebido suas ordens de uma das subordinadas do Rei Feiticeiro há cerca
de um mês, quando a guerra havia começado.
Eles foram instruídos que, quando o Reino Feiticeiro começasse sua marcha em direção
à Capital Real, poderiam escolher cerca de mil pessoas do Reino que eram leais a eles
cujo as vidas seriam poupadas, pessoas para servi-los no futuro. Os escolhidos seriam
levados para um local seguro.
Por essa razão, mil pessoas relacionadas à Oito Dedos estavam reunidas neste local.
Sem dúvida, a Oito Dedos era uma organização gigante, ainda mais se contar os tercei-
rizados. De seus afiliados, Hilma e o resto escolheram o grupo excepcional e leal, bem
como os membros de sua família também. Por isso havia crianças presentes.
Aos cabeças do sindicado da Oito Dedos que fôra prometido a salvação, mas estavam
cientes que seriam descartados se não fossem mais úteis. Seria o caso dessa vez? Esses
pensamentos permaneciam em suas mentes, dúvidas que nunca iam embora.
O som da voz de Olin encobriu todos os sons que as crianças pudessem fazer ressoar no
saguão. Olin percebeu o que acabara de fazer e imediatamente fechou a boca e abaixou
a cabeça.
Quando a porta se abriu, foram recebidos pelo que já esperava: o sorriso cansado de
seus outros associados.
Havia um item mágico em forma de sino de mão onde Noah Zweden olhava.
No entanto, se a distância entre ambos fosse muito grande, isso anularia seu efeito.
Além disso, só tocariam e nada mais, de modo que não era exatamente a melhor ferra-
menta de comunicação. Mas dada a simplicidade do aviso, podiam usá-lo para esse fim.
“—A propósito. Ainda tenho que esperar por aqui? Estamos perdendo tempo, o Rei Fei-
ticeiro... Sua Majestade. Já entendi, entendi. Não precisam me olhar assim com esses
olhos assustadores.”
A princípio, concluíram que havia duas maneiras que poderiam lidar com Cocco Doll.
Alguns pensaram que, por ele ser um dos chefes comuns, não haveria importância se
não o apresentassem. Outros pensavam que se o Rei Feiticeiro já estivesse ciente disso
e não o apresentassem, isso terminaria em tragédia.
Eles queriam evitar se arriscar, por mais improvável que fosse, e assim escolheram a
última opção.
Todos estavam de acordo que apresentá-lo primeiro era de suma importância, pois re-
moveria qualquer dúvida de que estavam tentando escondê-lo.
“Você tem que esperar aqui, assim, a enviada de Sua Majestade, o Rei Feiticeiro, poderá
dar uma boa olhada em você.”
Por esse motivo, ele teve que esperar nesta sala. Afinal, eles não sabiam quando a envi-
ada viria. Ele comia e dormia nesta sala e ficou deveras aborrecido com isso.
“Assim, eu agradeço a todos constantemente, sou grato por subornarem aqueles guar-
das para que não me tratassem tão mal na prisão e agradeço por terem me salvado de
servir no exército— por terem salvado o pobre e coitadinho de mim.”
“Se esforçaram tanto para salvar alguém que perdeu todo o poder, conexões e lacaios,
não é um pouco suspeito demais? Qual objetivo vocês têm? Por que reuniram todo
mundo relacionado a Oito Dedos aqui? Planejam me matar?”
“—Hah?”
Hilma ficou sem ação. Não, não era apenas Hilma, todo mundo na sala, exceto Cocco Doll,
estava do mesmo modo.
Se fossem igualmente culpados, nenhum deles sairia daqui com as mãos limpas, foi pro-
vavelmente o que ele quis dizer.
Hilma observou os arredores. Todo mundo tinha a mesma expressão, uma que dizia;
esse cara logo terá problemas. Ela falou em nome de todos.
“—Hah?”
Desta vez, foi Cocco Doll a ficar chocado. Sua expressão era esquisita, quase hilária.
“Ora sua— qual é o seu objetivo!? Ah, só pode ser, vocês são monstros vestindo suas
peles! É por isso que tudo que sai da boca de vocês são elogios ao Rei Feiticeiro!”
Cocco Doll esgoelou com uma expressão que era um misto entre pânico e medo. O
monstro que citou vinha de um conto popular ditos por mães para assustar filhos teimo-
sos que não queriam dormir. A maioria dos aventureiros concordava que esse monstro
realmente não existia.
“Desde o princípio eu sabia que algo estava errado! Até mesmo por estarem tão magri-
celas, todos de dieta ao mesmo tempo é bastante suspeito. E mesmo se eu ignorar isso,
é só olhar pra você, Hilma! Magra demais para ser saudável. Tudo isso pode ser explicado
se vocês fossem apenas monstros vestindo suas peles!”
Hilma olhou para Cocco Doll com ternura nos olhos. Havia felicidade, a alegria por ele
não ter experimentado aquele inferno.
“Não, não dê atenção, Ampétif. Na verdade, fico lisonjeada com a sua observação.”
“—Hah?”
“O quê?”
“Não, não, nada... não é nada mesmo... estou falando sério, eu juro que não é sarcasmo.
Mas você é mesmo a Hilma? Hilma Cygnaeus? Não é uma irmã gêmea ou algo assim?
Você sofreu lavagem cerebral?”
Ele falava apenas sobre o quão magra ela havia ficado. Provavelmente se referindo à
sua personalidade também, ela havia amadurecido muito. Normalmente, isso seria uma
mudança positiva, então a suspeita em relação a ela foi, no mínimo, surpreendente.
“...Claro, é como se fosse uma pessoa completamente diferente. Não só você, o mesmo
se aplica a todos. Monstros realmente roubaram suas peles?”
“O que posso dizer, é que experimentamos certas coisas que nos fizeram assim.”
“Então o que aconteceu? Não sei se realmente quero ouvir, mas eu preciso saber. Vo-
cês—”
Uma escuridão fina, infinita e circular apareceu de repente no ambiente. Um objeto se-
mioval começou a emergir do chão.
Hilma reconheceu isso como a magia 「Gate」 de onde adentrou tantas vezes. Uma
magia de alto nível, alto o suficiente para que não houvesse magic casters no Reino que
fossem capazes de usá-la. Somente uma subordinada do Rei Feiticeiro seria capaz. O fato
dessa magia ter se ativado aqui significava que—
Hilma apressadamente se ajoelhou. Depois de um tempo, ela sentiu Cocco Doll fazer o
mesmo.
Em frente ao portal do 「Gate」 havia uma donzela cujo tamanho do busto era incom-
patível com a idade aparente. Embora não a tivesse ouvido falar diretamente de seu
nome, Hilma sabia que se chamava Shalltear. Ninguém aqui era corajoso o suficiente
para se referir a ela pelo nome, mesmo alguém tão sem noção quanto Cocco Doll ficou
ciente disso pela atmosfera à sua volta.
“Estou aqui para retirar todos vocês. Me fôra informado que haveria mais ou menos mil
~arinsu. Você, poderia trazê-los imediatamente ~arinsu?”
Olin saiu correndo a toda velocidade. Afinal, dentre todos, ele era quem tinha mais vigor.
“—Shadow Demon.”
“...H-hmm... Olin vai precisar de algum tempo para trazer todos. Antes disso, há alguém
que desejamos apresentar a senhora. Porventura, me daria vossa permissão?”
“Desnecessário ~arinsu. Em vez de fazer isso, ouvi dizer que há bagagens a serem trans-
portadas, mova-as primeiro ~arinsu. Pelo que ouvi, há muitas, talvez seja mais rápido se
meus servos fizessem isso. Que tal ~arinsu?”
Shalltear respondeu com um, “Não” antes de lançar sua magia. Era provavelmente al-
guma magia de convocação. Alguns undeads fortes começaram a aparecer ao redor deles.
Seguindo suas ordens, eles saíram da sala e retornaram com uma quantidade conside-
rável de bagagem, da qual eles moveram para o「Gate」.
Embora fosse o maior cômodo da mansão, não poderia conter mil pessoas.
Embora fosse improvável que nenhum deles hesitasse em entrar no portal, todos já ha-
viam sido avisados para seguir à risca suas ordens; como resultado, houve menos desor-
dem do que esperavam.
Por outro lado, os meninos em torno daquela idade ficaram mesmerizados e ruboriza-
dos e isso era um grande problema. Por consequência, as meninas que ficaram frustra-
das com as reações dos meninos criaram outro problema.
Então, se apaixonar à primeira vista por ela não era um fenômeno tão incomum, assim
como o ciúme das mulheres.
As mãos dessas crianças foram tomadas pelos seus tutores e conduzidas através do
「Gate」. Felizmente, nada deu errado.
Hilma e seus associados foram os últimos a entrar no 「Gate」. Como havia sido des-
crito, na frente deles havia casas de madeira e o ambiente parecia uma floresta.
Na praça onde os undeads haviam empilhado suas malas, houve alguma comoção. Ou
seria excitação? Dada a quantidade de jovens, o último era mais provável.
Seria uma reação por ser a primeira vez que passaram por um 「Gate」?
“Atenção!”
Para que todos a vissem. Shalltear subiu lentamente para o céu e disse:
“Ademais, vocês decidirão entre si como vão passar esta semana. Preparamos provisões
para duas semanas ~arinsu. Não há com o que se preocupar quanto a isso. Voltarei em
três dias; se tiverem algum problema, me avisem quando eu retornar ~arinsu.”
Shalltear desceu ao chão e olhou em volta, seu olhar caiu sobre Cocco Doll.
“Eh? Eeeh? Qu— não— sim, o que posso fazer pela senhora?”
Cocco Doll havia experimentado a diferença de status entre os dois, então tentou seu
melhor para ser cordial.
Alguma coisa disse a Cocco Doll que algo ruim estava prestes a acontecer, seria seus
instintos? Isso o fez olhar em volta com uma expressão impotente.
Quando seu olhar se encontrou com o de Hilma, ela moveu os olhos. Ela não podia ir
contra a decisão de Shalltear. Os outros líderes fizeram o mesmo, ninguém se atreveu a
emitir um som.
“Es-espera ai, espera! Não! Por que estão agindo assim? Alguém me ajude!”
Shalltear saiu arrastando Cocco Doll que gritava desesperado. Diante desse tipo de
força, ele havia perdido toda a vontade de resistir.
Hilma sussurrou para Cocco Doll, que desapareceu através do portal. Depois disso, a
magia 「Gate」desapareceu.
Mil pessoas, alegremente inconscientes desse inferno, ocupavam esta praça. Ainda as-
sim, eles podiam dizer instintivamente que o destino de Cocco Doll era algo que não que-
riam sequer imaginar. Por isso, ninguém ousou se mexer.
Eles entenderam que não foi generosidade de alguém que os trouxe a este lugar, esta-
vam começando a entender exatamente como esse lugar era aterrorizante.
Ela não queria que mais ninguém experimentasse aquele inferno. Era isso que ela tinha
em mente, mas foi impossível impedir. Uma culpa intensa tomou conta dela.
“Batismo... pode ser... Talvez pensar desse modo possa aliviar muito da culpa que sinto.”
“Pessoal, eu entendo o quanto estão preocupados com o Cocco Doll, mas temos que dis-
cutir nosso futuro agora.”
Se o objetivo fosse matar todos aqui, eles já teriam feito, não perderiam tempo tra-
zendo-os até aqui... e muito menos levariam Cocco Doll embora.
Dadas as ações de Shalltear, isso significava que o Rei Feiticeiro estava mantendo seu
lado do acordo.
Hilma abaixou a cabeça. Claro, ela não tinha idéia de onde ela estava ou onde o Rei Fei-
ticeiro estava, mas, dada a situação atual, essa foi a única coisa que ela conseguiu pensar
que fosse capaz de expressar adequadamente sua gratidão.
♦♦♦
Três Guardiões de Andar partiram do fronte que haviam estabelecido em frente à capi-
tal.
O lugar para onde estavam olhando, a capital, estava terrivelmente silenciosa. Eles es-
tavam de luto? Ou talvez estivessem se encolhido de medo pela visão das forças do Reino
Feiticeiro?
Embora fosse verdade que eles eram poucos em número, o campo de Ainz não era igual-
mente desmoralizado. Mercenários de alto nível não estavam presentes, nem mesmo os
Master Guarders de Nazarick podiam ser vistos. O campo foi ocupado por Ainz, Albedo
e cerca de dez Death Knights de Ainz.
Albedo usava sua armadura e segurava uma alabarda nas mãos. Provavelmente estava
equipada com seu Item World-Class, apenas como precaução.
“...Já é hora?”
Ainz perguntou a Albedo depois que os Guardiões deixaram o campo. Eles foram espa-
lhados para cercar a capital.
“Creio que sim. Os Guardiões se afastaram bastante. Se eles realmente quisessem agir,
essa seria sua última chance. Dada a falta de movimento do lado deles, embora seja la-
mentável, parece que não haverá nada aqui também.”
Vindo da capital, ele viu uma silhueta voando na direção deles. Depois que olhou ao
redor, parecia que essa era a única entidade avançando. Alguém com coragem de desa-
fiar o Rei Feiticeiro, que arrasou um exército de 200.000 com uma única magia. Das in-
formações coletadas, apenas uma pessoa correspondia a essa descrição.
Se fosse esse o caso, eles poderiam passar para o segundo estágio do plano. No entanto,
Ainz estava um pouco desconfortável.
Afinal, esse era um plano importante. Tinha que ser manuseado com cuidado, como
uma fina lâmina de gelo. Ele era realmente capaz de executar tal plano? Ainz suspirou,
ele ficou de mãos atadas, pois não poderia delegar algo tão importante a terceiros.
A silhueta ficou cada vez mais perto. Ainz ficou perplexo, sua oposição não considerou
a possibilidade de que eles também tivessem força aérea? Ou será que pensou que os
Guardiões de Andar não notariam se ele estivesse alto o suficiente? Ou era alguma linha
de pensamento igualmente estúpida? Ainz ficou surpreso com a estratégia falha de seu
oponente. Não, talvez ele soubesse isso, mas não teve outra escolha.
“—Ele é ignorante ou orgulhoso? Ou talvez... Seja como for, isso não importa. Vamos
descobrir assim que ele chegar aqui.”
“De fato.”
Respondeu Albedo.
Suas respostas foram curtas e diretas ao ponto. Ainz não sabia dizer qual era seu estado
mental atual. Ainda assim, ele sabia o suficiente para dizer que ela não estava muito con-
tente com isso.
Ainz encarou a silhueta. Levaria um bom tempo para chegar onde estavam, eles pode-
riam permitir que ele se aproximasse antes de começar a emboscada. No momento em
que o pensamento passou pela mente de Ainz, ele percebeu que havia cometido um erro.
“Quem sabe? Mas isso não importa, o plano entrou em seu terceiro estágio. Todos estão
preparados?”
“...Estão sim. Cumprirei meus deveres da melhor maneira possível, você deve fazer o
mesmo.”
Ele podia distinguir claramente a aparência de seu oponente agora. Dito isto, neste
ponto era desnecessário confirmar sua aparência.
Albedo ergueu o braço e os Death Knights ao seu redor começaram a se mover para
formar uma parede de escudos à sua frente.
Assim que Ainz murmurou o nome da magia, o raio em forma de dragão atingiu um dos
Death Knights. O raio causou significativo dano elemental ao Death Knight antes de sal-
tar para os outros Death Knights ao seu redor.
Depois que a luz ofuscante do raio diminuiu, os undeads não estavam em lugar algum.
Todos foram mortos em um único ataque, que não atingiu Ainz e Albedo. Provavelmente
foi mais uma coincidência do que uma jogada calculada do oponente.
Gritou Albedo em tom enfurecido. O volume da voz foi alto o bastante para que Ainz
quisesse tapar os ouvidos. Dado o quão longe o oponente estava, ele ainda deveria ser
capaz de ouvi-la, mas não respondeu nada. Bem, nem tanto, isso dependia da definição
de uma resposta.
A próxima coisa que eles notaram foi um conjunto de armas se ativando no ombro es-
querdo. A luz foi atraída novamente quando outra magia foi lançada.
O fogo era uma das fraquezas de Ainz, mas como a magia não havia sido aprimorada
por habilidades especiais, nem o lançador estava no mesmo nível que Ainz, ela não cau-
sou muito dano. Ainda assim, ele não podia ficar recebendo esses golpes o dia inteiro.
“Sim!”
♦♦♦
Suas asas de puro preto bateram uma vez e foi mais do que suficiente para ela encurtar
a lacuna entre seu alvo.
Albedo quase afundou a alabarda em suas costas desprotegidas antes que o Powered
Suit voasse para longe. Ele não voou em direção à capital, mas se moveu para o norte.
Ela não conseguia se lembrar de nada de especial na direção que ele estava seguindo,
não havia nenhum recurso que pudesse facilitar uma emboscada.
É sério isso, acha que somos cegos? Realmente pensou que não anteveríamos o que está
tentando fazer? Ou talvez... Sua confiança venha justamente por saber que prevemos seus
planos... tenho que ficar alerta para isso...
O mais desagradável foi o fato de não poder fazer o inimigo pagar por sua insolência
com a vida.
Havia um objeto que se assemelhava a uma mochila na parte de trás do Powered Suit.
Tinha seis bicos, cada um ejetando luz branca que deixava uma trilha para trás, como
uma estrela cadente.
Aqueles que não estavam familiarizados com os Powered Suits provavelmente assumi-
riam que, se esses bicos fossem destruídos, seu oponente perderia a capacidade de voar
e, assim, cairia no chão.
Contudo, seu mestre já havia lhe dito: “Isso é apenas um efeito cosmético”.
Albedo não tinha nenhuma habilidade que pudesse aumentar sua velocidade de voo.
[Bicónio
Normalmente, quando se envolvia em perseguições assim, ela deveria montar seu War
de Gu er r a]
Bicorn, mas isso não era mais uma opção. Era por isso que ela estava voando com suas
próprias asas, que eram capazes de alcançar apenas essas velocidades.
Ainda assim, Albedo havia se preparado para isso. Ela havia pego emprestado itens de
seu mestre que poderiam aumentar sua velocidade de voo. Se ela os equipasse, poderia
facilmente fechar a lacuna entre eles. Mas, por que ela ainda não o fez? Simples, ela es-
tava esperando para ver qual seria o próximo passo de seu oponente.
Se estivesse apenas tentando escapar, Albedo poderia lidar com isso facilmente.
No momento em que ela analisava calmamente sua silhueta, seu oponente se virou.
“Hmph.”
Comparado ao Rifle Arcano tipo fuzil de Shizu, de acordo com Cocytus, o Rifle Arcano
desse inimigo era mais do tipo metralhadora pesada. Suas capacidades destrutivas esta-
vam acima da arma de Shizu.
Os projéteis eram maiores que uma bolota e foram disparadas a velocidades abrasantes,
era difícil para ela desviar de todos.
Porém, Albedo poderia, no mínimo, redirecionar alguns dos projéteis de volta para ele.
Isso não apenas o acertaria com o dano da arma de seu oponente, mas teria um adicional
de dano devido à alabarda de Albedo. Combinado com o dano que ela poderia causar
com suas habilidades, isso causaria uma quantidade considerável de danos ao inimigo.
Curiosamente, Albedo não ativou nenhuma habilidade especial. Ela segurou a alabarda
mais firme e encurtou a distância entre ela e o inimigo, nada mais.
Ela pretendia suportar todo o impacto do ataque com seu próprio corpo.
—Ela pensou que a armadura mitigaria a maior parte do dano, mas sequer havia neces-
sidade disso.
No nível dos Guardiões de Andar, todos teriam imunidade completa a projéteis não en-
cantados. Se sua arma não fosse encantada, nem mesmo faria sentido tê-la equipado.
Eu quis testar as capacidades destrutivas de sua arma... mas acabei expondo uma das mi-
nhas habilidades. Devido a isso, ele certamente usará um ataque encantado agora...
Pela linguagem corporal, a visão aguçada de Albedo podia dizer que ele estava bastante
abalado. Todavia, as coisas progrediram como ela esperava. Seu oponente soltou o Rifle
Arcano e estendeu algo para a frente.
“Bom, e agora?” Enquanto ela ponderava. Albedo não usou nenhuma de suas habilida-
des especiais enquanto diminuía a distância entre eles. Se ela tivesse usado, mesmo dado
Da mão direita do inimigo uma luz verde brilhante foi disparada, que voou em direção
a Albedo e a atingiu.
Isso não foi porque ela estava ativamente se defendendo contra essa magia, mas porque
essa magia em si não conseguia sequer passar pela resistência mágica passiva de Albedo.
Era provável que essa magia fosse como uma das especialidades de seu mestre, a ne-
cromancia, magias de morte instantânea.
Esses tipos de magias não apenas eram afetadas por aptidões, habilidades passivas, ha-
bilidades especiais e capacidades de equipamento, mas também eram afetadas pelas re-
sistências obtidas através de níveis, penalidades e assim por diante. Quando fosse lan-
çada por um oponente desse nível, seria difícil para essa magia ter algum efeito se não
fosse aprimorada por algum meio.
Albedo não só foi criada como uma NPC de nível 100, como também se equipou com
vários itens para fortalecer-se. Magias vindas de uma Powered Suit desse nível não po-
deriam afetá-la.
Talvez ele estivesse tentando avaliar a diferença de força, e foi por isso que assumiu o
risco de uma magia de morte instantânea. Mas o fato de seu oponente ter ponderado que
uma magia tão pífia poderia equalizá-los irritou Albedo.
Quando ela se aproximou rapidamente de seu inimigo, Albedo ergueu o punho para
dar-lhe um soco.
Ela pretendia zombar de seu oponente, não usando a alabarda. Outro motivo para o
soco foi que ela não conseguia medir com precisão a quantidade de dano que ele sofreria
se usasse a alabarda.
Seu oponente tentou bloquear com o Rifle Arcano, mas o ataque de Albedo foi muito
mais rápido.
Mesmo se contendo um pouco, um golpe de Albedo, de nível 100, ainda foi devastador.
*Gooong*. Um clangor metálico soou quando seu oponente foi arremessado para longe.
...Parece que causei mais danos do que o esperado. Ele é mais delicado do que tofu...
Fraco...
“—Ufufufu, agora você vai entender o quão tolo foi por atacar o Ainz-sama. Vou des-
membrá-lo por inteiro, quebrarei todos os dentes da sua boca, nem mesmo conseguirá
morder sua língua... mas, talvez eu permita que acerte mais uma vez. De todo modo, o
levarei ao Ainz-sama para se desculpar por seus crimes.”
“...Tsk.”
“Você acabou de estalar sua língua para mim...? Que rude. Mas não importa, já estava
claro que não passa de um bastardo indigno desde o momento que escolheu nos atacar
sem declarar seu próprio nome, é o grau de insolência que eu esperava de você.”
“Tsk. Pensei que fosse um bárbaro iletrado por ter nos atacado sem dizer nada. Eu não
esperava que... se bem que não, os cidadãos do Reino não são diferentes de bárbaros,
não?”
Albedo calculou os prós e os contras de prolongar essa conversa e concluiu que essa era
uma situação explorável.
Albedo estava confiante em lidar com assuntos internos, mas não estava muito confi-
ante em suas habilidades para planejar ou lidar com assuntos externos. Ainda assim, ela
estava sozinha sem ajuda, então teve que confiar em sua própria cabeça.
Ele era realmente alguém da Gota Vermelha? Ou estava tentando confundir Albedo?
Afinal, para não despertar a suspeita de seu oponente, Albedo teve que emular perfei-
tamente o caráter de um homem forte arrogante.
♦♦♦
Agora, Ainz era o único remanescente no acampamento. Se tudo correu conforme o pla-
nejado, o evento principal começaria em breve.
Aqueles que desejam destruir Ainz, mesmo que soubessem pouco dos pontos fracos dos
monstros do tipo Skeleton, saberiam a vantagem que teriam ao usar armas focadas em
danos por impacto. Se Ainz perdesse uma parte significativa de HP devido a suas fraque-
zas antes de atingir seu objetivo, isso seria um pouco preocupante.
E então, o 「Delay Teleportation」 que Ainz havia lançado antes entrou em vigor.
Em outras palavras, as coisas estavam realmente acontecendo como ele havia previsto.
Afinal, Albedo não era o alvo deles. Ainz ficou aliviado. Se ela fosse o alvo, as coisas
teriam ficado bastante difíceis.
Mas — seria mesmo o caso? Poderia ser uma armadilha de dupla camada?
Enquanto a chegada de seu oponente estava sendo atrasada, Ainz lançou a magia
「Explode Mine」 no destino do teletransporte. Depois, ele ficou parado, esperando seu
oponente chegar. No começo, ele planejara usar 「Life Essence」 para confirmar qual-
quer perda de vida, mas acabou decidindo postergar sua checagem.
Ainz imediatamente começou a se mover para frente, longe de seu inimigo, e se virou.
“Prata... não, não é, o brilho é diferente. Isso é platina? Ou é um metal que não conheço?”
Todas eram grandes demais para os padrões humanos, cada uma trazia consigo a alcu-
nha de forma-sobre-função. A Tesouraria de Nazarick possuía muito mais armas seme-
lhantes a estas.
As armas tinham um brilho semelhante ao da armadura; era então muito provável que
não fossem de prata, mas sim platina.
Se essa fosse a verdade, no entanto, criava mais perguntas do que respostas. Ignorando
o valor monetário do metal precioso, a platina não possuía propriedades mágicas espe-
ciais. Ele não conseguia entender quais vantagens poderiam ser concedidas com a cria-
ção de armas e armaduras.
A explicação mais provável era que estava apenas revestido de platina, para ocultar o
verdadeiro metal do qual o equipamento era feito. Um exemplo em que ele pôde pensar
foi no mais recente Golem dos aposentos de Kyouhukou. Também havia outros exemplos
da mesma técnica sendo usada em Nazarick.
A explicação mais provável foi que; era um metal idêntico à platina na aparência — mas
Ainz não era bem versado nas variedades de metais deste mundo.
A atenção total de Ainz estava em todos os movimentos de seu oponente. Afinal, até
informações triviais poderiam mudar o equilíbrio de uma luta.
Era difícil para Ainz acreditar que havia mitigado o impacto total de sua 「Explode
Mine」, mas como bem via, tudo o que fez foi manchar aquela armadura chamativa com
poeira. Mesmo com suas profissões necromantes, ainda era impossível para Ainz obter
imunidade completa ao dano de uma magia de alto nível. Era impossível sem truques
secretos, especialmente porque o tipo de dano da 「Explode Mine」 não era elemental,
não poderia ter sido anulado de maneira tão simples.
“Você achou que eu ficaria aqui em pé sem tomar nenhuma precaução? Há mais ao seu
redor—”
Ainz tentou avaliar a reação de seu oponente por meio de conversas, ou pelo menos era
o que pretendia. Seu oponente, no entanto, não lhe deu muita chance de falar, pois o
sujeito de armadura assumiu atrevidamente uma postura ofensiva. O martelo em seu
arsenal flutuou para onde poderia facilmente agarrá-lo.
Isso revelou um pedaço de informação para Ainz, fazendo-o rir gentilmente no fundo
do coração.
Isso significava que o alvo deles não era Albedo, mas o próprio Ainz.
Como nenhum dos dois que vieram se deram ao trabalho de conversar com Ainz, então
não estava tentando ganhar tempo. E este provavelmente planejava terminar essa luta
antes que qualquer apoio pudesse chegar.
Se ambos tivessem aparecido do céu e começassem a conversar com ele, isso significa-
ria que o alvo deles era Albedo ou mesmo os dois ao mesmo tempo.
Tudo até esse momento ocorreu dentro das margens do plano de Ainz.
No entanto, nem mesmo Ainz pôde prever o próximo passo de seu oponente.
Como as armas se moviam junto com a armadura, Ainz pensou que era do tipo lutador
e que preferiria diminuir a distância entre eles. Mas em vez disso, seu oponente moveu
Era como se um guerreiro de alto nível o arremessasse em sua direção, Ainz não teve
agilidade para se esquivar. Se a arma não fosse encantada, seria anulada por sua imuni-
dade a projéteis não encantados, mas não importava como Ainz ponderasse, ela só po-
deria estar encantada. Considerando essa possibilidade, Ainz ficou parado, imitando a
postura que seu oponente adotara ao receber o golpe. Claro, a magia se ativou no mo-
mento em que o martelo se conectou ao corpo de Ainz.
O dano do impacto foi completamente anulado pela magia 「Body of Effulgent Beryl」.
Seu olhar permaneceu no oponente o tempo todo, observando todos os seus movimen-
tos. Naquele momento, seu oponente parou de se mover, provavelmente por surpresa,
já que Ainz não recebera nenhum dano.
O martelo voltou à sua posição original tão rápido quanto havia disparado, flutuando
ao redor do inimigo.
“Muwahahahaha—”
Ainz riu alto com os braços estendidos para fora para mostrar que estava ileso.
“—Você entende agora? Tenho certeza que assim como eu, você também tem noção da
fraqueza de tipos Skeletons a ataques de impacto. O mesmo vale para mim. Você real-
mente acreditou que eu não tomaria precauções contra isso? Que eu seria tão estú-
pido? ...Isso mesmo...”
Ainz deu um tapinha em seu próprio corpo: “Eu sou imune a danos por impacto.”
O que significa isso? Ainz contemplou. Se tiver cometido um erro aqui, ele pode não ser
capaz de salvar a situação.
“「Muralha Separa-Mundos」.”
Com seu inimigo como epicentro, uma onda de choque — uma deformação espacial —
passou por Ainz.
Esse foi um dos truques mais antigos do livro, cortar a conexão de um inimigo com o
mundo exterior. Então, quão difícil seria penetrá-la? Seria capaz de impedir alguém de
entrar? O teletransporte ainda funcionaria?
Seu efeito e área de efeito também precisavam ser considerados. Como era uma cúpula,
alguém poderia entrar pelo chão?
Suas informações eram precárias e, portanto, não podia ter certeza de nada, mas podia,
pelo menos, fazer algumas inferências rudimentares.
Primeiro de tudo, seu oponente com certeza sabia que Ainz era um magic caster, então
essa coisa deveria, no mínimo, ser capaz de bloquear magias de teletransporte.
A menos que ele tivesse um motivo para não usar o Item World-Class capaz de dominar
mentes, essa pessoa não foi o responsável por fazer lavagem cerebral em Shalltear. E se
houvesse um motivo específico para ele não usá-lo? As perguntas continuavam se acu-
mulando, mas uma coisa de que ele tinha certeza era que não deveria subestimar esse
inimigo.
Isso porque Ainz tinha domínio sobre uma ampla variedade de magias e habilidades
especiais. Pela experiência que reunira por meio da experimentação, ele conhecia todas
as suas capacidades. Isso colocou Ainz no topo de Nazarick em termos de táticas de com-
bate.
Contudo, a habilidade que esse inimigo acabara de usar, Ainz não conseguia se lembrar.
Uma habilidade capaz de cobrir uma grande área tinha que ser uma magia de Super-Aba
ou um Item World-Class. Isso significava que seu oponente tinha acesso fácil a — e uso
imediato de — habilidades que poderiam rivalizar com essa classe de habilidades.
Alguém que poderia remover Ainz, e outros Guardiões de Andar de nível 100, de cena.
É claro que o rosto de Ainz não conseguiu demonstrar nada, mas sua incerteza ainda
poderia ser observada através de sua atitude e tom. Mas Ainz Ooal Gown nunca faria
algo tão deselegante.
O pensamento de, seria mais sábio eu ter sido o único a enfrentá-lo veio à mente.
Embora essa fosse uma habilidade desconhecida, ele ainda podia entender alguns as-
pectos dela. Primeiro, essa era uma habilidade que consumia HP e uma grande parte.
Devido a isso, essa barreira não poderia ser apenas cosmética. Se ele não conseguisse
descobrir seus efeitos exatos, poderia ficar com problemas.
Ainz notou a perda imediata de HP de seu oponente quando ele ativou essa habilidade,
tudo graças a magia 「Life Essence」. 「Mana Essence」, em contraste, não o deu ne-
nhum sinal, significando que seu inimigo era puramente um guerreiro, sem mana.
Se essa clausura fosse uma prisão inviolável, não seria estranho que seu oponente, que
havia efetivamente prendido Ainz nessa cúpula, relaxasse um pouco.
Com calma, Ainz decidiu fazer uma pergunta com isso em mente.
Ele usou um tom estranhamente gentil, considerando que acabara de ser atingido por
um martelo.
“Eu perdoarei sua emboscada anterior. Acredito que você já saiba meu nome, mas per-
mita-me me apresentar novamente. Eu sou o Rei Feiticeiro, Ainz Ooal Gown. Agora, é a
sua vez. Poderia me dizer seu nome?”
“...Riku Agneía.”
A probabilidade de que essa barreira não apenas impedisse sua fuga, mas também im-
pedisse que reforços aparecessem aumentou drasticamente. O fato de correr o risco de
expor informações significava que ele estava tentando lhe dizer: “Você não pode escapar”
e também “seus reforços não virão”.
Nos documentos compilados por Sebas e Demiurge, não havia menções ao nome “Riku”.
Alguém tão forte não teria passado em branco por sua rede de coleta de informações.
Mesmo se fosse um eremita, ainda haveria indícios de sua presença. De qualquer forma,
alguém tão forte certamente estaria nos livros de história do Reino. Não haver nenhum
registro dele era absurdo.
Se fosse alguém do Reino, deveria ter orgulhosamente declarado seu nome e sua inten-
ção de destruir a raiz de todo o mal que havia iniciado essa guerra. Seria alguém que
desejava permanecer anônimo por vontade própria? Outra possibilidade era que ele es-
tava tentando atrair a retaliação de Ainz para o verdadeiro Riku Agneía, ou talvez se sou-
besse seu nome verdadeiro, Ainz poderia descobrir algo ou ganhar vantagens táticas.
Embora as Colinas Abelion fossem essencialmente uma região selvagem, eles ainda ha-
viam coletado bastante informações dos residentes demi-humanos daquela região. Das
informações que obtiveram, uma foi sobre a conexão que alguns indivíduos tinham entre
seu verdadeiro nome e alma, e como alguém poderia se tornar mais suscetível a maldi-
ções caso seu verdadeiro nome se tornasse conhecido. Ainda assim, após muita investi-
gação de Nazarick, eles não conseguiram encontrar provas conclusivas de tal fenômeno.
Eles haviam relegado essa informação como lenda popular.
Então, era possível que Riku fosse de uma tribo que possuía crenças semelhantes?
Ainz tinha pouca ou nenhuma informação. Esta não era a situação mais ideal para ele
fazer deduções aqui ou acolá. Por tudo que se lembrava, havia apenas dois seres pode-
rosos com conexões ao metal platina. Um dos quais não era humanóide, o outro era—
“Eu ouvi através das canções dos bardos, a saga heroica dos Treze Heróis. Muitos de
seus nomes foram perdidos, embora eu me lembre de um deles usando uma armadura
forjada em platina... Se bem me lembro, o nome dele era Riku Agneía. Esses bardos não
ficarão entusiasmados ao descobrir que suas histórias eram verdadeiras?”
“Ficarão? Eu não sabia que era renomado o bastante para os bardos cantarem meu
nome.”
Seu inimigo não deu de ombros, nem fez nenhum movimento ao responder calmamente.
Ele era realmente um dos Treze Heróis, ou era um impostor? Ainda poderia haver de-
talhes faltando.
O verdadeiro e o falso, Ainz estava com dúvidas para qual lado os fatos estavam. Mas,
dado que seu oponente estava confiante o suficiente para enfrentar Ainz Ooal Gown, que
poderia derrotar facilmente um exército de 200.000 soldados com uma única magia, to-
das as extensões de suas capacidades precisavam ser exploradas nessa batalha.
“Negado.”
“Isso foi rude da minha parte. Creio que denotava intimidade demais. Devo me referir
a você como Agneía então? Ainda se importaria?”
“Está bem.”
“Oh. Perfeito. Então, eu tenho uma proposta. Se torne meu subordinado, o que me diz?”
O ar ao redor de Riku ficou ligeiramente frio. Ele não se posicionou, nem se mexeu. Riku
apenas ficou lá completamente imutável.
Se Riku o visse como inferior, faria sentido porque ele não assumiu uma posição. Afinal,
Cocytus agiu da mesma forma durante a batalha com os Lizardmen. Isso seria Riku o
menosprezando-o ou não?
Ele sentia que era diferente quando comparava com Cocytus naquela época.
Portanto, talvez essa já fosse a posição que ele pretendia adotar para esta batalha.
Talvez fosse seu plano ficar em um lugar e ter suas armas flutuantes fazendo todo o
trabalho, e foi por isso que ele adotou essa postura de batalha.
“...Parece que fui rejeitado. Que pena. Eu poderia te pedir mais uma vez? Atualmente,
estou tentando recrutar indivíduos poderosos sob meu estandarte. Até o Momon da Es-
curidão vive feliz sob meus serviços. Se você estiver disposto a se tornar meu subordi-
nado — eu até mesmo termino a conquista do Reino por aqui. Você sozinho vale mais do
que este país.”
“Negado.”
Se as palavras pudessem matar... Não houve um único pingo de hesitação em sua voz.
Ainz, sem demonstrar nenhuma emoção, começou a refletir sobre os significados ocul-
tos por trás de suas pequenas idas e vindas.
Mesmo que tivesse a confiança de que poderia derrotar Ainz e salvar o Reino, ele real-
mente não tinha dúvidas ou hesitações? Mesmo que Ainz fosse morto, ele estava real-
mente certo de que o exército do Reino Feiticeiro desistiria?
...Talvez ele nem se importe com o Reino, é isso...? Ele é de outra nação?
“「Manto-Luz」.”
Capítulo 4 Armadilhas Bem Preparadas
290
A armadura de Riku começou a brilhar. Por um breve momento, Ainz pensou que era o
Sol refletindo em sua armadura até perceber que o HP de Riku havia acabado de dimi-
nuir. Essa foi sem dúvida a ativação de algum tipo de habilidade.
No entanto, como o HP perdido poderia ser recuperado por meio de magias ou poções
de restauração, habilidades que eram alimentadas por HP eram geralmente mais fracas.
Em suma, quanto maior o custo de HP, mais forte ela seria. A mesma lógica deve ser
aplicada mesmo neste mundo.
Riku havia ativado sua habilidade especial, o que significava que a discussão entre eles
havia terminado. Ainz imediatamente conjurou uma magia.
“「Greater Teleportation」.”
Ainz se teletransportou até o limite da cúpula translúcida. Depois que sua visão se ajus-
tou, ele se deparou com a barreira translúcida bloqueando seu caminho.
“O teletransporte falhou...”
Ele deu uma olhada ao redor. Parecia que Riku não tinha a capacidade de segui-lo atra-
vés de seu teleporte, ele não estava em lugar algum.
Na direção em que Ainz olhava, muito além do horizonte, estava a Grande Tumba de
Nazarick.
Ele pelo menos pôde confirmar uma coisa sobre a barreira: ela impedia completamente
o teletransporte para fora. Por outro lado, já que estava em frente à barreira, isso signi-
ficava que o teletransporte para destinos dentro dela ainda era possível. Somente o te-
letransporte dentro e fora da cúpula foi desativado. Parecia que se alguém tentasse se
teletransportar para fora, eles seriam teletransportados para a borda da cúpula mais
próxima do destino pretendido.
Originalmente, ele pretendia não usar teletransporte durante toda a batalha, mas ainda
valia a pena obter essa informação à custa de um de seus trunfos.
Ao contrário de sua aparência suave, era extremamente dura. Quando ele tentou exer-
cer força, sem se importar se a quebraria, a barreira permaneceu incólume. Era como
uma muralha que separava os mundos.
Assim que ele ficou satisfeito com os resultados de seus experimentos, a magia 「Delay
Teleportation」 foi ativada novamente. Sem dúvida era Riku.
Ainz mais uma vez usou 「Body of Effulgent Beryl」 e esperou, de costas para Riku.
Depois que Riku apareceu, ele usou um objeto desconhecido para golpear o corpo de
Ainz em alta velocidade. Por ter sido um dano do tipo impacto, foi completamente anu-
lado pela magia 「Body of Effulgent Beryl」.
Mas, por algum motivo, seu corpo foi arremessado e pressionado contra a barreira. Isso
foi altamente incomum. Normalmente, quando o dano de um ataque é anulado, seus efei-
tos secundários não se aplicam. Ainda assim, o ataque de Riku não seguiu essa regra.
Qual era o significado disso? Ainz não fazia idéia.
O martelo voltou ao lado de Riku. As quatro armas que cercavam Riku estavam diferen-
tes de antes; todas estavam com um brilho branco. Isso combinado com a armadura,
inegavelmente parecia fodão.
Ele havia perdido mais vida do que quando ativou essa habilidade momentos atrás. Se-
ria porque ele tinha que aplicar essa habilidade a cada arma separadamente ou porque
o teletransporte também lhe custara um pouco de HP? Ainz desejava mais informações.
“...Mesmo que possa se teletransportar, você não poderá usar isso para escapar dessa
barreira. Seu destino é perecer aqui.”
Responda à pergunta, seu idiota, pensou Ainz, mas não disse em voz alta. Afinal, se ele
queria que seu oponente falasse, ele tinha que evitar irritá-lo muito.
“Percebi. Estou impressionado que seja capaz de criar uma barreira tão intransponível.
Presumo que esteja realmente decidido no que faz?”
Nenhuma resposta. Uma das quatro armas, a espada grande, parou de orbitá-lo.
—Estava vindo.
Riku parecia não querer saber de conversa. Ainz deu o primeiro passo com isso em
mente.
Uma das espadas foi desviada pela espada grande de Riku e o corte da outra foi esqui-
vado de uma maneira não natural.
“Quê!?”
O que foi chocante não foi o fato de Riku conseguir se esquivar do ataque, mas como ele
o defletiu. Nem mesmo Cocytus seria capaz de fazer o que Riku acabou de fazer.
Riku havia executado uma estrela lateral na altura da cabeça e sem usar as mãos, e as-
sim evadiu o ataque. Embora houvesse outras esquisitices além do que ele acabara de
fazer, Ainz não quis se concentrar nesses detalhes agora. A mais importante das conclu-
sões, foi que esses movimentos foram inumanos.
Talvez os super adeptos da magia 「Fly」 fossem capazes de fazer esses movimentos,
mas Ainz ainda se sentia desconcertado com esses movimentos. A explicação para isso
estava na ponta da língua, mas seu cérebro não conseguia expressar adequadamente.
Enquanto Ainz estava ficando cada vez mais irritado, Riku contra-atacou com sua es-
pada grande. As duas espadas de Ainz foram desviadas pelas outras armas que flutua-
vam ao redor de Riku.
A espada grande, como se fosse dotada de inteligência, voou em direção a Ainz, levando-
o a pensar em sua Arma de Guilda. Ainz lançou uma magia defensiva em resposta.
“「Wall of Skeleton」.”
A espada grande colidiu com a parede recém-criada. Mas o 「Wall of Skeleton」foi des-
truído em um único golpe.
“Impressionante.”
Das observações feitas, o que estava na ponta da língua de Ainz finalmente saiu.
Riku estava se movendo como uma marionete cujos cordéis ainda estavam intactos.
Era como se mãos gigantes estivessem atrás dele, uma controlando o corpo e a outra
controlando as armas.
—Isso não é algo como 「Psychokinesis」 controlando as armas, mas a armadura tam-
bém? A menos que o interior esteja vazio? Ou há uma pessoa viva lá?
[ C a j a d o Explosivo]
Diante do corte da espada grande de cima para baixo, Ainz pegou o item Blasting Staff
para interceptá-la.
A quantidade de pressão exercida sobre ele o fez sentir como se estivesse afundando
no chão.
“「Grasp Heart」.”
A magia de necromancia favorita de Ainz, porém, não teve nenhum efeito sobre Riku.
Ele tinha imunidade contra necromancia? Ou seria resistência contra os efeitos de sta-
tus negativo? Enquanto ainda estava considerando essas coisas, a espada grande foi lan-
çada contra ele a velocidades ainda maiores.
“Guhhh!”
Ele não poderia anular nem esquivar a tempo, então seu corpo recebeu todo o impacto
daquele ataque. Depois de receber o golpe, Ainz recuou um pouco apenas para esbarrar
na barreira atrás dele. Estava em posição desvantajosa.
“「Greater Teleportation」.”
Ainz se teletransportou para cima. Por terem sido feitas por magia de conjuração não
convencional, as duas espadas logo retornaram aos lados de Ainz.
Como estava logo acima de seu oponente, seria facilmente detectável. Ainz não se tele-
transportou para longe, nem pretendia ganhar tempo até Albedo chegar. Essa era uma
batalha que ele ansiava.
Apenas por precaução, ele lançou 「Body of Effulgent Beryl」 novamente enquanto ob-
servava Riku, de sua perspectiva, ele parecia um ponto. Ele começou a subir assim que
viu Ainz.
Ele não tentou atacar Ainz com suas armas, provavelmente devido à alguma restrição
de alcance.
Depois de passar por Riku, no instante que Ainz pousou no chão, ele percebeu a lança
caindo em sua direção a uma velocidade grotesca.
Ainz saltou para frente, custando evitar o ataque. Como já havia ativado 「Fly」, ele
não teve nenhum problema em ficar de pé novamente.
Ainz levantou-se para se distanciar daquele local enquanto Riku descia casualmente ao
chão. Suas três armas flutuavam ao seu redor e a lança que havia sido cravada no chão
logo retornou a orbitá-lo.
Ainz também tinha suas duas espadas de obsidiana flutuando ao seu lado.
Quando mais se movia, mais Ainz tinha certeza que não tinha um ser vivo naquela ar-
madura. Seus joelhos nem mesmo dobraram quando ele pousou.
Foi neste instante que Riku, que estava de pé com a mesma pose de sempre, de repente
segurou a espada grande em suas próprias mãos.
A distância entre eles foi reduzida em um instante. Sua velocidade atual foi a mais rá-
pida desde que que começaram.
Ainz enviou as duas espadas de obsidiana para interceptar o ataque de Riku, mas elas
foram desviadas pela katana, posteriormente caindo no chão.
Vários filetes elétricos convergiram para Riku, mas ele não diminuiu a velocidade. Ele
não tinha saído ileso, Ainz podia ver seu HP diminuindo. Era mais provável que ele ti-
vesse suprimido qualquer forma de dor.
A espada grande se erigiu bem acima da cabeça de Ainz, e cortou de cima para baixo.
“GWOOH!”
No momento em que Ainz sofreu danos, ele viu pelo canto do olho a katana de Riku
vindo lateralmente.
Ainz sorriu profundamente quando a onda de choque começou a se propagar. Riku foi
jogado para longe.
[Punhos
O Blasting Staff possuía um encantamento de repulsão aprimorado semelhante ao Iron
d e Ferro d a P r o f e s s o r a ]
Fist o f Schoolmarm de Yamaiko. O custo desse encantamento foi a completa falta de ca-
pacidade ofensiva do cajado, mas pelo menos garantia a distância entre um magic caster
e seu inimigo, que era uma das coisas mais importantes para um mago.
Seria porque ele havia sido repelido? O corte da katana apenas triscou em Ainz, mal
tocando seu esterno.
Riku permaneceu em pose inflexível, mesmo depois de ser rebatido. Ainz lançou outra
magia.
No entanto, Ainz só queria que ele fosse seu escudo, então nada disso importava para
ele.
Magic casters capazes de usá-las eram bem fortes em geral. Dito isto, um poderoso
guerreiro puro poderia facilmente ignorar essas convocações.
Ela provavelmente usaria suas capacidades defensivas como vantagem para atacar di-
retamente o conjurador, ignorando completamente a convocação. Ela também poderia
redirecionar o aggro para que eles se matassem.
Então, o que Riku faria? A tática de Riku até esse momento foi de confiar em suas armas
de ataque automático. Embora ele empunhasse sua espada grande, ele não usava habili-
dades especiais ou Artes Marciais em seus golpes. O mesmo déficit de Ainz, que não tinha
um domínio preciso de suas habilidades como guerreiro.
Riku encurtou a distância entre eles e avançou para Ainz sem hesitar. Uma ação inflexí-
vel.
Confrontado com o Riku que se aproximava rapidamente, o Doom Lord apertou com
mais força sua arma, uma lâmina longa e curva encaixada na ponta de um longo bastão,
[ F o i c e de Gu er r a ]
uma War Scythe. A foice estava embebida em energia negativa, envolta na mesma névoa
negra de antes.
Ainz usou o vínculo mágico que tinha com o Doom Lord para dar suas ordens.
“É altamente provável que nosso oponente não seja uma criatura viva, mas tente con-
firmar mesmo assim.”, sua ordem foi vaga. Escusado dizer que uma convocação possuía
uma parte do conhecimento de seu convocador, por isso deveria ter entendido suas in-
tenções mesmo sem sua ordem, mas era melhor prevenir do que remediar.
「Ruinous Night」.
A taxa em que a fumaça negra era expelida aumentou, espalhando-se pelos arredores.
Ainz também queria receber esse buff, mas a fumaça negra ainda não tinha se espalhado
tanto.
Para garantir que não seria alvejado por Riku, Ainz se afastou dos dois combatentes.
A foice do Doom Lord colidiu com a espada grande flutuante, um barulho estridente
ecoou ao redor
Depois disso, a foice continuou colidindo contra a katana em alta velocidade, seus anéis
metálicos zuniram sem parar.
Os golpes da espada grande logo tornaram-se inerte pela foice, o golpe perfurante sub-
sequente foi bloqueado pelo martelo em forma de escudo. A lança arremessada foi des-
viada pelo cabo da foice, enquanto o Doom Lord graciosamente se esquivava do corte da
espada.
Logo depois — para aproveitar a distância criada pela evasiva — Riku saltou para a
frente.
“—「Negative Burst」.”
Os “raios de luz” negros começaram a pulsar de Ainz enquanto expandia e engolia seus
arredores.
Para não ter recebido dano, era porque ele tinha imunidade à energia negativa? Era
uma característica racial? Ou era uma característica de alguma profissão? Ou talvez, a
explicação mais provável, tenha sido a relação com sua panóplia.
Ter planejado lutar contra Ainz significava que, pelo senso comum, ele deve ter se pre-
parado contra ataques de energia negativa, um elemento básico dos undeads. Mesmo
Ainz se equiparia com itens que conferissem resistência ao fogo se ele lutasse contra um
Dragão de sopro flamejante.
Enquanto os estrondos de suas armas colidindo não paravam, Ainz lançou sua próxima
magia.
“「Perfect Unknowable」.”
Ainz, agora completamente indetectável, saiu da sombra de seu tanque, o Doom Lord,
para circular em torno da batalha. De repente, a katana voou em sua direção a uma ve-
locidade rápida demais para se esquivar, perfurando seu manto na região do abdômen.
Ele não sofreu nenhum dano devido à sua resistência a danos perfurantes, Ainz ainda
estava atrás da figura do Doom Lord. A katana, suspensa no ar, começou a cortar em
direção ao Doom Lord.
Isso não foi surpreendente, não seria necessário atingir o nível de Ainz para obter algu-
mas contramedidas contra essa estratégia. O problema estava em qual método ele havia
usado para detectá-lo. Ainz não obteve respostas. Havia muitas contramedidas, demais
para chegar a uma conclusão com as informações que possuía.
Então, qual deve ser o próximo passo? Riku parecia desejar mirar Ainz diretamente,
dado que todas as armas flutuantes estavam apontadas para ele, mas com a presença do
Doom Lord, elas não conseguiram alcançá-lo.
Após cálculos aproximados de suas opções disponíveis, dado o status atual da batalha,
ele chegou à conclusão de que deveria estar inundando-o sem parar com magias ofensi-
vas. Se o Doom Lord caísse, ele poderia convocar outro. A probabilidade de vitória dessa
estratégia era bastante alta.
No entanto, não era assim que Ainz queria acabar com isso.
Embora soubesse que sua prioridade agora deveria estar em sua própria defesa, ele
tinha um motivo específico para não fazer isso. Era perigoso de fato, mas ele tinha que
resistir ao desejo.
Ainz observou ambos, ataques e defesas. O Doom Lord estava sendo reprimido leve-
mente, mas nenhum dos dois estava sofrendo danos significativos.
Pode-se chamar os golpes que eles estavam trocando de idas e vindas, mas a simplici-
dade no estilo de luta de Riku era bastante preocupante. Contudo, Ainz sabia exatamente
o porquê o Doom Lord não conseguia vencer. Nenhuma de suas habilidades, ataques de
energia negativa ou ataques espirituais tiveram efeitos contra Riku.
Nesse ponto, estava praticamente confirmado que Riku era de uma raça que possuía
propriedades semelhantes às de Golems ou outros construtos. Talvez seja alguma habi-
lidade ou item que lhe desse essas capacidades, ou talvez ele fosse apenas um construto
simples.
Em termos de qual opção era mais provável, tinha que ser a primeira, já que Riku era
capaz de falar. Meios-Golems ou raças semelhantes tinham as mesmas resistências que
outros construtos, então poderia ser de uma dessas raças.
Apesar disso, por que alguém de uma raça dessas ajudaria o Reino? Mas o que mais
importava no momento eram as habilidades de Riku e não suas motivações. Por que ele
estava usando ataques tão simples? Ele parecia não ter usado habilidades nem Artes
Marciais desde o começo.
Riku seria fácil de lidar se fosse um Meio-Golem, mas se ele fosse um Golem puro, com
alto-falantes conectados ou criados por técnicas secretas, as coisas seriam muito mais
difíceis.
Até onde Ainz sabia, a força de um Golem escalava com o valor do metal usado para
construí-los, as habilidades do criador e os cristais de dados adicionados.
O Doom Lord começou a liberar mais fumaça negra ao receber seu comando.
Sua velocidade e capacidade ofensiva foram aumentadas ainda mais, a ponto de a ar-
madura de Riku começar a sofrer danos. Porém, a rápida perda de HP por parte do Doom
Lord faria com ele desaparecesse não muito tempo depois.
Ainz tinha cronometrado isso e conjurou 「Summon Undead 10th」mais uma vez.
[ C r â n i o Elemental]
Era um undead de nível 68, um Elemental Skull.
Sua aparência era de um crânio flutuante, ao redor dele havia uma névoa mágica de luz
que alternava constantemente entre quatro cores: vermelho, azul, verde e amarelo.
O Elemental Skull era um undead do tipo conjurador capaz de usar a magia dos quatro
elementos principais.
Seu HP era quase igual a um magic caster de seu nível, bem abaixo do Doom Lord. Suas
capacidades ofensivas eram bastante impressionantes, pois toda magia que lançava vi-
nha imbuída com o aprimoramento metamágico 「Maximize Magic」.
Em termos de defesa, tinha imunidade à maioria dos ataques mágicos, incluindo Fogo,
Eletricidade, Ácido, Gelo e outros tipos de ataques elementais. Por outro lado, era extre-
mamente vulnerável a ataques físicos, principalmente danos causados por impacto.
Foi por isso que Ainz teve que ficar na frente dele.
Riku não levantou mais a guarda, apesar de um magic caster estar agora na linha de
frente. Ele apenas ficou em silêncio, diminuiu a distância entre ele e Ainz e começou a
atacar.
Por que não está nem um pouco preocupado com isso? Ainz resmungou em seu coração
ao usar a experiência que havia adquirido durante o treinamento com Albedo para blo-
quear os ataques cortantes de Riku.
Embora não fosse tão rápido quanto os Guardiões de Andar, ele ainda era relativamente
rápido. Ainz teve muita sorte de Riku ter parado de usar o martelo. Se ainda estivesse
em uso, Ainz não seria capaz de vencer.
Tendo testemunhado a batalha do Doom Lord, Ainz sabia que não poderia servir como
uma vanguarda adequada.
É claro que Ainz tinha a opção de usar 「Perfect Warrior」, mas a falta de equipamento
atual só garantia sua derrota se o fizesse.
Ainda assim, as ações de Ainz em agir como vanguarda começaram a valer a pena, pois
auras mágicas começaram a se formar no ar atrás de suas costas.
O mais forte ataque mágico, de alvo único, do tipo fogo começou a queimar Riku, mas
seu oponente não mostrou sinais de desaceleração quando a espada grande veio cor-
tando sobre Ainz novamente.
Embora seu corpo estivesse banhado em fogo, seu manejo da espada continuava calmo
e firme. Se isso fosse um guerreiro decidido até que não seria muito surpreendente, mas
a completa falta de resposta foi deveras suspeita para dizer o mínimo.
Uma garra que emitia ar tão frio quanto os polos feriu Riku. Esta era uma magia que
Ainz não havia aprendido. Não tinha efeitos secundários, mas causava muitos danos, o
maior DPS de qualquer magia baseada em gelo.
Ainz memorizou a quantidade de dano que Riku recebeu das duas magias.
Isso foi enquanto ele estava recebendo um ataque simultâneo da lança e da katana.
Riku foi instantaneamente cercado por uma névoa de ácido forte e suas armas também.
「Mist of Super Acid」 não apenas danificava o alvo, mas também seus equipamentos
e armas, embora apenas uma pequena quantidade de dano em panóplias. Certamente as
armas flutuantes ao redor de Riku contavam como seu equipamento, certo?
Até as armas ao redor de Riku foram danificadas, mas Ainz, que estava dentro da área
de efeito, não foi ferido. Isso foi devido a uma condição especial aplicada a magia.
A perda de HP de Riku pelo ácido foi notável. Dos quatro elementos, o ácido que causou
mais danos.
Através da análise de todas as informações que ele possuía, Riku provavelmente tinha
profissões focadas na defesa. E provavelmente estava no nível 90.
“Que incômodo!”
A raiva de Ainz aumentou quando seus pensamentos foram interrompidos, mas então
um milagre ocorreu.
Ele conseguiu rebater perfeitamente a katana que voava em sua direção usando o ca-
jado, fazendo com que os olhos inexistentes de Ainz se arregalassem.
A lança foi ateada longe, como se o efeito de repulsão tivesse sido ativado.
Por quê!?
O efeito de repulsão desse cajado tinha todos os tipos de condições de ativação impos-
tas.
Se um oponente bloquear o golpe do atacante com uma espada ou escudo, seu efeito
não será acionado. Só seria acionado se alguém desse um golpe no corpo de seus opo-
nentes. Uma espada ou escudo obviamente não contaria como o corpo de um oponente.
Porém, o efeito ainda seria acionado se alguém golpeasse o cajado usando uma manopla.
Para repulsão ser aplicada em equipamentos, apenas armas como o Iron Fist of School-
marm seriam capazes de ativá-lo. Mas o Iron Fist of Schoolmarm foi feito com um único
objetivo, criar ondas de choque mesmo se o usuário socasse o ar. Era uma arma que
aplicava repulsão a tudo, também podia aplicar repulsão ao equipamento.
Mas esse cajado não era nem de longe tão poderoso quanto aquela arma, então por que
foi capaz de fazer uma coisa dessas?
A partir dessas séries de tautologias, ele deduziu a resposta: as armas de Riku contavam
como parte de seu corpo.
Agora entendi...
A primeira foi que as armas de Riku eram criaturas como os Insetos Espadas de Entoma.
Se ele fosse assim, um Golem Santo da Espada, faria sentido por que o efeito de repulsão
foi acionado.
A outra hipótese, a mais provável, era que as armas não eram equipamentos, mas eram
partes reais do corpo de Riku. Essa seria uma situação semelhante à de como o efeito de
repulsão ainda se aplicaria se o ataque do cajado fosse interceptado pelas garras de um
Dragão.
Ele sentia que as armas também tinham HP, mas achava que era porque contavam como
equipamento de Riku. Foi uma suposição equivocada, com base no fato de que elas so-
freram danos quando Riku sofria danos. Parecia que eram barras de vida separadas, en-
tão—
Ainz sentiu que o Elemental Skull lançaria uma magia divina de 10º nível, 「Seven
Trumpeter」 e imediatamente a cancelou.
Significava que, se as armas fossem separadas de Riku a uma certa distância, elas não
poderiam mais se mover? Ou seu oponente estava tentando fazê-lo pensar isso? Ou ele
estava apenas chocado por ter sido derrubada?
Riku atacou Ainz enquanto avançava rente ao chão. Realmente não estava disposto a
conversar.
Fazia sentido que seu oponente desejasse aproveitar ao máximo seu tempo, responder
a um oponente em batalha seria uma ação tola. Portanto, embora respeitasse o compro-
misso de Riku com sua estratégia, ele ainda estava irritado por seu oponente o estar
ignorando.
Ainz, no meio dos ataques de Riku, jogou seu cajado para trás. Ele viu que Riku estava
um pouco confuso.
Como era imune a ataques críticos, ele não estava com muito medo de abaixar a cabeça
indefesa. Ao mesmo tempo, ele deu uma ordem ao Elemental Skull.
“...Você foi longe demais. Tinha que haver maneiras melhores de lidar com isso.”
A espada de Riku permaneceu suspensa, parecia que ele não tinha intenção de atingi-lo
no momento.
“Isso porque Vossa Excelência não foi a vítima! Como Vossa Excelência teria lidado com
isso!? Quando os grãos que seus compatriotas trabalharam para produzir fossem rouba-
dos!?”
“Se você não tivesse o poder que possui, as coisas não teriam acontecido dessa maneira.
As pessoas com poder precisam ter cuidado com o modo como usam seu poder e assumir
a responsabilidade por suas ações— eu, por exemplo, protejo o mundo. Sim, este mundo
está sob minha proteção.”
Ao ouvir a retórica de seu oponente, Ainz pensou: Finalmente esse idiota começou a falar.
Ele estava sendo um ouvinte silencioso. Alguns preferiram a resposta do público durante
seus discursos, enquanto outros não. Pelo seu tom de amante da justiça, Ainz percebeu
que era melhor ficar quieto.
“Os atos daqueles que se reuniram em torno de minha amorosa mãe estavam errados.
Eles estavam errados da mesma maneira que meu pai. No fim das contas, o poder abso-
luto apenas corrompe. É a fonte de todos os males.”
Riku estava apaixonado em seu discurso, Ainz não deveria ser tão rude em interrompê-
lo.
Para ser sincero, Ainz não conseguia entender o que Riku estava falando, mas, ao
mesmo tempo, não soava como se estivesse apenas falando besteiras. Ele deveria pelo
menos ter falado de uma maneira que um leigo como Ainz pudesse entender.
“Embora a raiz de todos esses erros tenham se originado em nós, não pedirei perdão
por isso, nem posso permitir que você continue nesse caminho de destruição. É por isso
que precisa— Perecer.”
Talvez ele se sentisse culpado por executar o indefeso Ainz, a espada desceu a uma ve-
locidade muito mais lenta do que antes.
Calma, calma aí, revele mais informações já que estava de tão bom humor, Ainz quase
disse em voz alta. Seu oponente não pretendia falar mais nada, então não havia necessi-
dade de continuar com esse teatro.
—A batalha continuou.
O Elemental Skull, que havia sido ordenado a entrar em modo de espera, avançou para
a trajetória da espada grande para interceptar o golpe.
Foi um uso eficaz de uma convocação, afinal, o Elemental Skull não seria mais útil. Essa
foi a escolha certa a fazer. Supondo que essa arma fosse como a Spuit Lance de Shalltear,
ele não teria feito isso. No entanto, como a arma de Riku não tinha capacidade de roubo
de vida, ele poderia usar livremente a convocação como sacrifício.
“HIIIIIEE!? Então isso tudo foi culpa sua? Então o errado aqui é você, não!?”
Ainz soltou um grito lamentável. Quem eram “eles”? E “o que” fizeram de errado? Ainz
não conseguia entender, mas talvez expressando sua resposta dessa maneira, Riku ex-
poria mais algumas informações. Uma tentativa válida.
Talvez ele realmente estivesse se sentindo culpado, seus movimentos estavam muito
mais lentos do que antes. Ainz aproveitou essa oportunidade para esquivar para trás.
“—Bloqueie ele!”
O Elemental Skull lançou sua magia síncrono com o comando de Ainz. Riku ignorou o
crânio e atacou Ainz. O Elemental Skull tentou detê-lo, mas devido ao seu tamanho e falta
de agilidade para fazê-lo, acabou falhando.
“「Wall of Skeleton」!”
Ainz ergueu uma parede para manter Riku e o Elemental Skull do outro lado.
Riku berrou de raiva. Talvez sua fúria fosse porque Ainz havia deixado sua convocação
do outro lado do muro para assim poder escapar, mas isso não importava para Ainz. Um
magic caster que preferisse ficar sozinho ao invés de ficar atrás de alguém, não passava
de um suicida. Seria pior do que—
Capítulo 4 Armadilhas Bem Preparadas
308
Ele poderia voar facilmente por cima do muro, mas Ainz sentiu que Riku estava ata-
cando o Elemental Skull e o muro.
Comparado ao Elemental Skull, 「Wall of Skeleton」 não era muito durável. Desmoro-
nou imediatamente após o golpe de Riku.
O Elemental Skull lançou 「Vermillion Nova」 várias vezes para reduzir o HP de Riku,
mas derrotá-lo seria uma tarefa difícil. Poderia ser por causa de suas profissões, mas sua
resistência mágica era anormalmente alta.
Dado que esse era o caso, Ainz lançou uma magia sobre Riku.
“「Temporal Stasis」.”
Uma magia de alvo único de 9º nível. Embora a magia pudesse impedir o oponente de
se mover, também os impedia de receber qualquer dano enquanto estivesse em vigor.
Era geralmente usada quando havia vários inimigos.
Entretanto, Ainz descobriu que sua magia não apenas foi resistida, mas anulada com-
pletamente. Parecia que Riku tinha contramedidas a paragem de tempo. Claro, isso não
era incomum, dado o quão forte era.
Ao mesmo tempo em que a espada grande foi apontada para Ainz, o martelo também
foi apontado para o Elemental Skull.
Ainz decidiu receber o dano da espada e, por precaução, lançou 「Greater Break Item」
nas outras armas que voam em sua direção. Não foi apenas resistido, mas anulado nova-
mente.
Quando o Elemental Skull sofreu uma enorme quantidade de dano, Riku olhou para o
céu em pânico.
Era Albedo.
“—!”
Ainz ouviu Riku soltar um som que nem mesmo poderia ser definido como um som. Ele
estava absolutamente atordoado.
Quando aquele rugido aterrorizante foi ouvido, a alabarda chamada 3F desceu com a
intenção de rachar a cabeça de Riku. Por sua vez, Riku levantou sua espada e lança em
uma cruz para bloquear seu ataque.
O impacto criado pela 3F foi considerável, pois os dois pés de Riku se afundaram no
chão.
A declaração de Albedo fez com que o ar ao redor deles tremesse. Ela começou a atacar
logo em seguida.
A distância entre os dois foi reduzida em um instante, Riku recebeu um ataque com
força suficiente para jogá-lo na exosfera.
Ele voou para trás com toda a sua força. Não com um salto, ele voou para trás sem tocar
os pés no chão.
Isso foi o suficiente, ele não deveria permitir que Albedo lutasse mais.
“—Entendido.”
Mesmo seu olhar dizendo que estava infeliz, Albedo ainda parou de se mover.
Provavelmente era correto supor que ele não queria mais lutar, Riku começou a subir
para distanciar um pouco deles.
“Agneía-danna. Direi mais uma vez. Torne-se meu subordinado! O que me diz? Darei
tudo que sempre quis!”
“Que pena! Ouça, as portas do Reino Feiticeiro estão sempre abertas para sua pessoa.
Visite-nos quando quiser!”
Depois que disse isso, Ainz abaixou a voz para dizer a Albedo:
“Não — ao meu ver ele não quer. Mas, se isso não for sua retirada, talvez seja melhor
derrotá-lo aqui. Se nós dois atacarmos ao mesmo tempo, não deve ser muito difícil, não?”
Embora não devesse tê-los ouvido, Riku desapareceu. A barreira que ele ergueu tam-
bém liquefez.
Ainz não tinha certeza se ele havia se teletransportado antes de desfazer a barreira ou
vice-versa, nem sabia para onde havia fugido.
Apesar de haver coisas a serem investigadas, Ainz sentiu como se tivessem completado
com sucesso sua missão.
“Não sou digna de tais elogios. Ainda pode haver pessoas nos vigiando. É melhor vol-
tarmos à Nazarick primeiro.”
Depois de banir o Elemental Skull, Ainz ativou 「Greater Teleportation」 para se reti-
rar com Albedo.
♦♦♦
Quem respondeu não foi outro senão o líder do grupo aventureiro adamantite, Gota
Vermelha, Azuth. Por estar usando seu Powered Suit de costume, Riku teve que olhar
para cima ao falar com ele.
Azuth não tinha sido sincero, isso porque já estava esperando por cinco minutos.
E quanto à razão pela qual Riku sabia disso, ele esteve observando esse lugar à distância
por um tempo.
A razão óbvia, foi porque estava preocupado que Azuth estivesse agindo como isca.
Dito isto, havia um tipo diferente de ameaça, uma que exigia conversar com Azuth para
ter certeza. Por isso, Riku apareceu diante de Azuth.
“Desculpe, Tsa. Ela acabou fugindo. Acho que ela foi para onde estavam... mas então,
deu um fim no Rei Feiticeiro?”
Aquele que se chamava Riku Agneía na frente do Rei Feiticeiro, Tsaindorcus Vaision,
abaixou a cabeça.
Talvez os outros Dragonlords diriam que isso estava abaixo da dignidade esperada de
um longínquo Dragonlord, alguém que estava no topo do mundo, mas Tsa não se impor-
tava muito com isso. Se o ato de se curvar lhe permitisse agradar a outra parte, ele se
curvaria inúmeras vezes.
“Não precisa se desculpar. Foi culpa minha, não conseguir atrasar aquela mulher. Mas
não conseguiu derrotar ele porque não teve tempo, é isso?”
Tsa pensou bastante sobre que tipo de resposta o pintaria da melhor maneira possível
e acabou dizendo gentilmente a Azuth: “De forma alguma.”
“Ou melhor, Azuth. Embora tenha sido lamentável que a Primeira Ministra do Reino
Feiticeiro, Albedo, não fosse alguém com quem pudesse lidar, você ainda foi capaz de
atrasá-la por um bom tempo. Sinceramente, foi de grande ajuda. Eu não pude vencer o
Rei Feiticeiro simplesmente porque ele é muito mais forte do que eu previ.”
Dado aos acontecimentos, foi realmente impressionante como Azuth conseguiu sobre-
viver a uma perseguição com Albedo.
Para Tsa, seu dever mais importante era permanecer vigilante contra jogadores que
mantinham intenções maliciosas em relação a este mundo, motivo pelo qual ele não gos-
tava de usar descomedidamente seus poderes.
Ainda assim, ele tinha uma pergunta em mente, ou melhor, algo que não conseguia des-
cobrir.
Claro que foi por isso que Azuth sobreviveu. O Powered Suit que ele usava poderia re-
almente aumentar as capacidades ofensivas e defensivas do usuário, além de fornecer
ao usuário uma variedade de habilidades. No entanto, não elevava o HP ou MP. Era como
um resistente exoesqueleto de quitina, que cobria as entranhas macias de um inseto.
Mesmo que suas interações de combate com Albedo tenham sido curtas, ele já estava
ciente de uma coisa — ela era muito mais forte que o Rei Feiticeiro.
Possivelmente, o Rei Feiticeiro era mais hábil em lidar com grandes exércitos, então em
combate individual ele não era capaz de liberar todo seu potencial.
Seja qual for o caso, Azuth definitivamente não era forte o suficiente para sobreviver a
uma luta com Albedo com alguma facilidade.
“Não, é quase impossível. Precisei usar o arsenal completo do traje e criei o máximo de
distância possível entre nós, custei sair de lá para esta vida maravilhosa.”
De fato, Albedo não usou nenhum ataque à distância, nem parecia ter armas de longo
alcance.
“Ah, sim. Eu disse ao Rei Feiticeiro que me chamava Riku Agneía, lembre-se disso. Se o
Rei Feiticeiro alguma vez te perguntar, não se esqueça de referir-se a mim por este nome
falso.”
“Não, é apenas um nome aleatório que inventei. Mas, se alguém neste mundo tiver esse
nome, provavelmente terá muitos problemas.”
De fato, ele nunca ouvira falar de Agneía como sobrenome, mas o nome Riku era usado
em vários lugares.
“Isso despertaria a ira do Rei Feiticeiro para com essa pessoa, e não seria uma mera
escaramuça.”
“Tem razão. E não se esqueça da fúria da Primeira Ministra do Reino Feiticeiro, Albedo.”
Claro, se alguém chamado Riku Agneía realmente existisse neste mundo, isso não seria
motivo de escárnio, para o dono do nome, pelo menos.
O Rei Feiticeiro não foi capaz de romper a barreira, então ele não era uma grande ame-
aça. Mas aquela demônia, no entanto, foi capaz de atravessar sua Magia Selvagem,
「Muralha Separa-Mundos」.
Essa era uma Magia Selvagem de nível intermediário que poderia criar um espaço se-
parado da realidade. Impedia a entrada por todos os meios convencionais, bem como
quaisquer tentativas de se teleportar para fora. Ser capaz de entrar na barreira signifi-
cava duas coisas, ou Albedo era uma usuária de Magia Selvagem ou possuía um Item
World-Class.
Embora não tenha confirmado se aquela demônia era um jogador ou NPC, pela relação
de mestre/servo entre os dois, provavelmente era o último. Mas se fosse esse o caso, por
Capítulo 4 Armadilhas Bem Preparadas
314
que Ainz não se equiparia com o Item World-Class, mas o entregaria a Albedo? Isso era
um mistério.
A menos que essa tal Albedo seja o jogador e o Rei Feiticeiro seja o NPC?
Não seria uma idéia tão ridícula assim. Classificar-se em segundo lugar na hierarquia
deste mundo seria, provavelmente, uma escolha de segurança.
Talvez o Rei Feiticeiro também tenha um Item World-Class? Mas ele nem mesmo conse-
guiu romper a barreira, então a probabilidade seria baixa, não? Ou talvez ele tenha dei-
xado seu Item World-Class para trás?
Isso certamente era possível. Tsa ouvira de Riku que havia guildas que possuíam dois
Itens World-Class, então era possível que eles também tivessem dois.
“Tsa, quão forte é o Rei Feiticeiro? Se nem você pôde derrotar, então realmente é forte.
Se fosse eu— não, se fosse isto aqui, poderia vencer?”
“Azuth, sem ofensa, mas não. Ele é um oponente que nem eu posso derrotar facilmente.”
“É mesmo é...”
“Mas, graças à sua assistência, tenho uma noção geral dos recursos que ele faz uso. É
claro que, se eu encarar o Rei Feiticeiro novamente, sairei triunfante.”
Mesmo tendo dito isso, se ele confiasse em sua armadura, a vitória seria dura. Talvez
ele devesse fazer os preparativos para o lugar onde fossem lutar.
Se ele estivesse em um nível semelhante à Vampira da última vez, essa armadura pas-
saria por maus bocados em combate sério. Contudo, se ele não usasse a armadura, mas
enfrentasse o Rei Feiticeiro pessoalmente, ele não poderia perder. Isso seria verdade
mesmo se ele fosse tão forte quanto a Vampira. Desde que lutasse usando seu corpo real,
não haveria problemas.
Ainda assim, se lhes desse tempo demais para expandir sua influência, as coisas fica-
riam fora de controle.
“Não é para tanto. Existem muitos por aí que são mais fortes do que eu. Hmmm... eu
posso vencer o Rei Feiticeiro, porque por acaso eu sou seu nêmesis.”
“Perdoe esse meu pedido, Azuth, mas se surgir outra situação como essa, ainda estaria
disposto a me ajudar?”
Azuth murmurou solenemente uma única frase. Tsa entendeu o significado por trás de
suas palavras e não o questionou mais.
“...Provavelmente. Não há muito que eu possa fazer para ajudar, mesmo que eu queira.”
“Então é isso... Da próxima vez eu terei que comprar tempo despistando aquela demô-
nia lá? Eu até posso, mas você sabe que há uma chance de que, da próxima, eu não con-
siga comprar tempo algum, não é?”
“Certamente, eles podem não se separar da próxima vez. É por isso que, se aquela de-
mônia deixar o lado do Rei Feiticeiro por qualquer motivo, você estaria disposto a lutar
com o Rei Feiticeiro ao meu lado?”
Se Azuth lidasse com as conjurações, Tsa definitivamente poderia derrotar o Rei Feiti-
ceiro.
Durante essa conversa, não houve nenhum sinal da presença de subordinados do Rei
Feiticeiro. Não havia mais nada para ele fazer aqui. Tsa desviou o olhar para a capital,
que estava ao longe, muito longe.
Tsa já havia testemunhado a queda de muitas nações. Esta logo mais enfrentaria sua
própria destruição. Tsa se sentiu um pouco solitário, mas se comparado a isso, ele estava
mais ansioso pelo fato de que essas terras logo entrariam sob o domínio do Reino Feiti-
ceiro.
Embora não tenha recebido nenhuma graça do Reino, ele ainda sentirá muita falta do
mesmo.
O próprio Azuth não tinha nenhum valor, mas o Powered Suit em sua posse era um item
de grande importância, importante o suficiente para que a Teocracia pudesse conspirar
contra ele por isso. Por esse motivo, foi preciso fazê-los pensar que Azuth tinha a prote-
ção de alguém, para que assim, não fizessem nenhum movimento contra ele. Isso tam-
bém fortaleceu seu relacionamento com Azuth. Uma jogada que não teve nada além de
benefícios.
“Mas fiquei me perguntando algo, por que não dizer a eles que ouvi diretamente de
você?”
“Simples, se não tiverem idéia de onde está a fonte dessa informação, eles não saberão
por onde investigar. Há uma chance de que isso possa causar algum atrito entre a alta
hierarquia da Teocracia.”
Se uma emergência surgir, ele poderia matar Azuth sem deixar pontas soltas.
“Aqui não é um bom lugar para conversar, vamos voltar. Seus companheiros devem es-
tar te esperando, certo?”
Foi apenas por um único motivo, a questão de ainda ser benéfico ajudá-lo ou não.
Claro, o Powered Suit de Azuth era muito valioso, mas sem isso ele não era nada. Para
ser franco, se o Powered Suit estivesse em mãos mais capazes, certamente seriam capa-
zes de utilizá-lo em todo o seu potencial.
Azuth por si só, era mais uma ajuda para Tsa do que um companheiro.
Se ele saísse do roteiro como da última vez, provavelmente levaria a perdas catastrófi-
cas.
Para dar a Azuth o nível apropriado de alerta contra a invasão do Rei Feiticeiro, eles
discutiram os possíveis resultados da invasão em detalhes.
Azuth havia solicitado a ajuda de Tsa para derrotar o Rei Feiticeiro e salvar o Reino. Na
época, ele deveria ter previsto que Azuth usaria o Powered Suit durante o cerco àquela
cidade.
Se ele não tivesse tomado uma ação independente naquela época, certamente Tsa teria
sido capaz de derrotar o Rei Feiticeiro durante seu cerco à capital.
Era uma idéia que valia consideração. Se ele desse o Powered Suit a alguém poderoso e
ainda assim submisso, seria definitivamente mais útil do que deixar nas mãos de Azuth.
Ele também poderia ganhar um peão mais forte.
Pessoalmente, Tsa não sentia desdém por Azuth, nem queria matá-lo, mas de que va-
liam as emoções neste mundo?
...Riku
Isso foi eu relembrando de como as coisas acabaram assim? Internamente, Tsa riu de si
mesmo. Suas mãos já estavam manchadas. Era melhor fazê-lo agora do que mais tarde.
Azuth lutou até perder a consciência com Albedo, mas antes disso entregou o Powered
Suit a Tsa. Seria uma história convincente.
“Huh?”
Ele deveria deixar esses pensamentos de lado. O advento da magia de ressurreição fez
com que nem mesmo a morte fosse o túmulo dos segredos. Se ele levasse apenas com o
Para não se arrepender depois, era melhor voltar e considerar com cuidado antes de
decidir se deveria ou não desistir da Gota Vermelha.
Tsa rezou para que suas ações nesse dia não levassem a erros fatais no futuro, então
lançou seu 「Teletransporte-Mundial」.
♦♦♦
Ainz voltou para Nazarick com 「Gate」 e pegou o anel do lugar de sempre. Ele usou
seu poder para avançar em direção ao 9º Andar com Albedo.
Depois de algum tempo andando, eles chegaram frente às portas que eram seu destino.
“Não, está tudo bem. Você contribuiu mais desta vez, portanto deve ser o primeiro a
entrar.”
Ele caminhou até o centro, em frente ao trono, e genuflectiu enquanto se curvava. Ele
podia sentir que Albedo, que estava atrás dele, estava fazendo os mesmos movimentos.
Ao levantar a cabeça, ele viu seu mestre assentindo regiamente. Ao seu lado estavam
[Espelho d a V i s ã o R e m o t a ]
Shalltear e Demiurge, que seguravam um Mirror of Remote Viewing.
Ele deve ter observado toda sua batalha com Riku através desse item.
“Embora desejasse devolver os itens mágicos que me emprestou, pensei ser desrespei-
toso fazê-lo esperar ainda mais, Ainz-sama. Perdoe-me por fazer uso deles diante de sua
presença.”
“Haha. Pandora’s Actor, não se preocupe. Não teria problema fazer o que bem enten-
desse com eles, afinal, não são grande coisa. O que realmente importa, é seu oponente
— então, mesmo que tenhamos visto sua batalha, ainda desejo ouvir diretamente de
você. Como foi?”
“Sim. Eu acredito que ele é um tanque em torno do nível noventa. Isso porque as magias
foram geralmente ineficazes, por isso julgo que esteja em torno desse nível.”
“Entendi. Um inimigo poderoso. Hmmm... huh? O que há de errado, Albedo? Você tem
outra opinião?”
“Sim, a minha difere da opinião do Pandora’s Actor. Creio que ele não seja tão forte.
Claro, eu só dei dois golpes nele, então não pude fazer um julgamento tão preciso, mas
ao que me pareceu, era um tanque em torno do nível... oitenta, ou pouco mais que isso.”
Como ambos tinham certeza de que se tratava de um tanque, a opinião de Albedo como
um tanque deve ser muito mais precisa.
“Entendi. Do meu ponto de vista, pensei que o Pandora’s Actor, que ficou em combate
por mais tempo, seria capaz de fazer um julgamento mais preciso, mas a Shalltear, que
esteve observando a batalha ao meu lado, estimou um nível semelhante ao dito por você,
Albedo. Por volta do nível oitenta e cinco ou pouco acima disso. Diante disso, bem, parece
que é necessário chamar o Cocytus e o Sebas.”
Embora as proezas de combate de Shalltear fossem altas, sua build não foi feita em puro
dano físico. Foi uma pena que Sebas estivesse de prontidão em E-Rantel e Cocytus esti-
vesse supervisionando o cerco à capital, impedindo que fossem convocados no momento.
“Se as duas— não, se combinarmos as estimativas de vocês três... Então, estão de acordo
que o oponente era um tanque especializado em resistência mágica?”
“...Shalltear, por que parece perturbada? Se algo estiver errado, não se acanhe em dizer.”
“Não há problema algum nisso. Afinal, toda essa operação foi para expor as habilidades
desse inimigo, sendo assim, tudo foi meticulosamente planejado desde o início. Contanto
que possamos obter algum tipo de compreensão sobre nosso oponente, fique à vontade
para falar o que pensa.”
“Não seria o caso. Embora as transformações do Pandora’s Actor sejam mais fracas que
as originais, isso não se aplica às suas convocações. Além disso, ele foi instruído a não
usar nenhuma das minhas habilidades especiais para fortalecer a convocação... Mesmo
assim, mais tarde convocaremos Doom Lords, assim poderão compará-los, tudo bem?
Talvez possa descobrir o que estava incomodando você.”
“Entendido!”
“Prosseguindo. Pandora’s Actor, você falou com ele, correto? Sobre o que falaram, que
atitude ele adotou e que emoções você sentiu dele? Conte-nos em detalhes. Já que, infe-
lizmente, esse espelho não pode transmitir som.”
“Sim, senhor!”
Pandora’s Actor começou a reencenar suas conversas com Riku. As conversas não de-
moraram muito, então foi bem fácil atuar. Ele até injetou algumas de suas próprias in-
terpretações no meio do diálogo; As emoções que sentiu através do tom de Riku e as
respectivas explicações.
No meio do caminho, Pandora’s Actor sentiu algo emanando por trás, uma aura desa-
gradável emitida por Albedo. Ela falou com um tom irritadiço:
“Mesmo com o pretexto de fazer o nosso oponente abaixar a guarda, ajoelhar-se na per-
sona do Rei Feiticeiro e, por consequência, como o Governante Absoluto da Grande
Tumba de Nazarick, Ainz-sama, é praticamente passar dos limites."
De fato, ele sentiu que havia exagerado. Se seu mestre estivesse lá, ele nunca faria isso.
Eu preciso pagar por minha transgressão, ele pensou enquanto levantava a cabeça, diante
de seus olhos estava seu mestre assentindo de maneira gratificada.
Mas quando Pandora’s Actor estava prestes a abaixar a cabeça, a voz de seu mestre
chegou aos ouvidos.
Mesmo parecendo um pouco sarcástico, seu mestre parecia estar de bom humor. Pan-
dora’s Actor não sabia dizer para qual lado a balança inclinava, e simplesmente perdeu
a oportunidade de se curvar.
—Que inspirador.
Embora já tivesse uma idéia da extensão do desejo de vitória de seu criador, arrepios
percorreram as costas de Pandora’s Actor.
Mesmo contra um oponente que poderia ser facilmente derrotado se lutasse a sério, ele
ainda não se dignaria a fazer uma coisa dessas, nem mesmo para invocar uma falsa sen-
sação de segurança em seu rival.
Poderia algum rei, ou melhor— poderia algum Governante Absoluto realmente não se
importar com a própria reputação e planejar as coisas a esse nível?
Poderia uma entidade, que jamais serviu a ninguém, resolutamente ajoelhar-se diante
de seu inimigo?
Não existia esse ser, além de seu mestre, aquele sentado à sua frente.
Todos devem ter tido o mesmo pensamento, os outros Guardiões no recinto tinham
expressões que deixavam claro o espanto em seu interior.
“Não despertaria mais suspeitas em nosso oponente se alguém tão grandioso quanto o
Ainz-sama se ajoelhasse nessas circunstâncias? Seria lógico ter julgado que o Ainz-sama
é capaz de deduzir a melhor jogada para todas as situações.”
“Não, certamente a cadeia de pensamento normal não levaria ninguém a essa conclusão,
concorda? Ele não é tão impressionante, afinal ou Então esse é seu verdadeiro eu, isso seria
o mais certo de se pensar, não acha? Se a situação mudasse... Se eu estivesse no lugar
dele, provavelmente seria tão descuidado assim... Não, eu provavelmente o mataria ime-
diatamente. E você, o que você faria, Albedo?”
“Se fosse apenas um civil comum, eu o mataria imediatamente, mas se fosse um rei, eu
os capturaria por informações. Eu abaixaria minha guarda... talvez.”
Pandora’s Actor não conseguiu descobrir o que era aquela barreira. Ele pensara que
aquilo bloqueava o acesso físico e mágico dentro e fora dela, mas Albedo pôde entrar
sem impedimentos. Então, o mistério foi resolvido?
“Vocês já devem ter percebido, mas acredito que seja por causa dos Itens World-Class.
Pandora’s Actor, partindo do que disse, você não tinha muita certeza?”
De fato, se fosse por conta disso, todas as peças se encaixavam. Albedo tinha um Item
World-Class na ocasião. Mas—
“Uma linha lógica de questionamento... eu estava usando o espelho para observar a ba-
talha do Pandora’s Actor contra o Riku. Porém, depois que a barreira foi erguida, o espe-
lho não foi afetado. No começo, pensei que era apenas algo cosmético para nos assustar...”
“Mas teve efeitos. Troquei minha linha de raciocínio e comecei a investigar as diferen-
ças entre nós — mais precisamente, as diferenças entre mim, o usuário do espelho, e
Pandora’s Actor.”
“Depois que tirei isso, não consegui mais ver nada através do espelho. Equipar isso me
permitiu ver a cena novamente. É altamente provável que o Riku tenha uma habilidade
semelhante ao Item World-Class da Aura.”
“Seria impossível realizar o que ele fez através do mesmo sistema que originou nossos
poderes. Por acaso, não é mais provável que ele tenha usado esse termo como um blefe?
O gasto da HP pode ser uma condição de ativação para um Item World-Class. O problema
é que nunca ouvi falar de um item assim. Muitos têm custos de ativação, mas apenas
reduzir o HP seria quase que... meigo.”
“Só caiu depois que ele a ativou. A barreira não parecia estar drenando continuamente
para se manter.
"Exatamente. E você mesmo disse que as outras habilidades também drenaram a vida,
não foi? De fato, existem Item World-Class com múltiplas habilidades, por exemplo, este.”
“Mas as regras pelas quais suas habilidades estavam operando eram muito diferentes
das nossas.”
“...Eu comentei sobre sistemas de habilidades antes porque, se seus poderes fossem
únicos a este mundo, tudo seria explicado. Assumindo o pior cenário possível, é uma
habilidade incomum que pode rivalizar com os Item World-Class. Se for esse o caso, não
podemos nem ter certeza se a lavagem cerebral sofrida pela Shalltear foi obra de um
Item World-Class ou não. Teremos que reavaliar isso. Que irritante!”
Mesmo que fosse intencional, nenhum dos presentes sentiria feliz por ver seu mestre
perder.
“Tirem essas expressões do rosto. Não pretendo perder porque desejo, mas porque é
uma necessidade entender os truques de nosso oponente. É assim que garantimos a vi-
tória, não há como evitar. Se este fosse um simples exercício de treinamento, perder não
significaria morte, nem teríamos que adotar essa encenação. No entanto, nossa vida está
em jogo.”
“Já confirmamos que todos vocês e os habitantes deste mundo podem ser ressuscitados
— mas e quanto a mim? Embora não tenhamos uma prova sólida disso, os Seis Grandes
Deuses e Oito Reis da Ganância de outrora provavelmente eram seres semelhantes ao
que eu sou. Suas lendas terminaram com suas mortes, então é provável que não pude-
ram ser ressuscitados. Não temos escolha a não ser assumir que essa é a verdade ao
“—Ainz-sama.”
“Ainz-sama, o que o senhor acabou de dizer faz muito sentido. Então, não seria melhor
se o senhor ficasse aqui na Grande Tumba de Nazarick, em vez de sair para passeios?”
“...Certamente. Também pensei nisso, mas creio que você possa me entender. Aliás, to-
dos os aqui presentes, não?”
Seu cérebro acelerou na tentativa de entender do que seu mestre estava falando, mas
nada veio à mente.
Como um dos principais intelectos de Nazarick, ele ainda assim não conseguia entender
imediatamente os pensamentos de seu mestre.
Pandora’s Actor atormentou tanto seu cérebro que um liquido quase começou a vazar
de sua cabeça. Era o mesmo para Demiurge e Albedo, era possível ver isso em seus rostos.
Shalltear por outro lado, não parecia que sequer estava pensando.
O silêncio caiu sobre o grupo por um bom tempo, apenas para ser quebrado pelo sus-
piro decepcionado de seu mestre.
Pandora’s Actor sentiu vergonha insuportável assim como Demiurge. Ele não podia ver
Albedo de sua posição, mas ela certamente se sentia do mesmo modo.
Ele falou em um tom deveras severo, mas Pandora’s Actor não se permitiu desobedecer
a uma ordem direta de seu mestre.
“...Mmmm, passemos ao próximo tópico. Quem é aquela pessoa? O que platina remete
a vocês?”
“...Uma das possibilidades é, como o Pandora’s Actor mencionou, que nosso oponente
seja um dos Treze Heróis.”
“A outra possibilidade é que ele seja um dos conselheiros do Conselho Estadual, o Pla-
tinum Dragonlord. Esses são os únicos seres que eu pude pensar que tem relação com a
platina.”
“Com isso em mente, responda-me isso; Ele estava tentando nos enganar a acreditar
que ele é o Platinum Dragonlord, ou que ele é um dos Treze Heróis? Isso foi para redire-
cionar nossa retaliação a algum deles ou não? A resposta também pode estar entre esses
dois extremos. Então, qual acha que é a resposta correta?”
“Sinto muito, Ainz-sama. Como não temos informações suficientes para trabalhar, é di-
fícil julgar conclusivamente qual é a resposta correta.”
Respondeu Demiurge.
Pandora’s Actor concordou, mas desde que seu mestre perguntou: “qual acha que é a
resposta correta?” a resposta correta deveria estar em umas das alternativas. Provavel-
mente foi por isso que ele havia antecedido sua resposta com um pedido de desculpas.
“Existem outras opiniões...? Parece que não. Eu também concordo com a opinião do De-
miurge de que não temos informações suficientes. Depois que acabarmos com o Reino,
reúna as opiniões dos outros Guardiões de Andar sobre esse assunto. Talvez um deles
possa notar algum detalhe que deixamos passar. De todo modo, ainda daremos prosse-
guimento ao nosso plano de enviar emissários ao Conselho Estadual de Argland. Quando
cumprimentarem os Chefes de Estado, peça-lhes que caçoem sarcasticamente desse Pla-
tinum Dragonlord uma vez ou outra — Não deve acarretar grandes problemas, con-
corda? Albedo.”
“Entendido.”
“Com isso, creio que a reunião está terminada, mais alguma tópico? Bem, devo voltar
para a capital em breve. Pandora’s Actor, embora deva ser vergonhoso, devo pedir-lhe
para se despi—”
Um som “—Ahh.” pôde ser ouvido. Seu mestre virou para olhar a Guardiã que fez aquele
som.
“Sim, Ainz-sama. Eu tenho uma pergunta ~arinsu. O senhor realmente estava plane-
jando recrutar aquele Riku como um subordinado ~arinsu?”
“Ahhh, sobre isso. Claro que não. Se ele realmente estivesse sob meu comando, eu reu-
niria todas as informações de que preciso — de qual organização ele serve, seu objetivo,
etc. — e depois o mataria.”
Ele sentiu que seu mestre tinha um sorriso jocoso ao ouvir a pergunta de Albedo.
“Não estou confiante em minhas habilidades de torná-lo meu subordinado. Se está per-
guntando se poderíamos explorar aquelas habilidades incomuns de seu Item World-
Class, ou seja lá o que for... Albedo, você estaria confiante o suficiente para fazer isso? Se
sim, deixarei que cuide disso...”
“Seria difícil fazer isso antes de coletarmos informações suficientes detalhadas. Mas, se
for realmente possível fazer isso, há muitos lugares onde ele poderia ser útil para nós.”
“Mmmm.”
Ainz provavelmente estava pensando nas habilidades de Albedo e Riku. Como seu mes-
tre poderia planejar milênios à frente, ele provavelmente estava analisando como Riku
poderia influenciar seus planos.
Não seria preciso pensar muito para conectar as experiências de criação de undeads a
isso.
Afinal, esse era seu criador. Sem dúvida, isso era um prelúdio de algo maior por vir, algo
que nem ele podia compreender.
Seu criador, um Ser Supremo cujo intelecto tinha profundidades insondáveis, quão in-
crível ele era? Para ser sincero, Pandora’s Actor sentiu pena dos outros. Chegava a doer
ter que conter a emoção de se gabar de seu querido criador.
Era impossível alguém se opor a isso. Se seu mestre assim desejou, assim deveria ser
feito.
“Ótimo. Vejamos... outras opiniões...? Parece que não. Preciso retornar à capital. Preciso
fechar as cortinas desse espetáculo.”
“...Teatros da gentalha não exigiriam sua estimada presença, Ainz-sama. Creio que
posso lidar com isso sozinha...”
“Não, Albedo. Não se preocupe, eu irei. Kuku, embora eu não esteja no mesmo nível que
o Ulbert-san e os demais, ainda tenho meus próprios padrões para impor formas de re-
sistência.”
Albedo respondeu de modo a implicar que ela havia percebido o significado oculto por
trás de suas palavras, levando seu mestre a encará-la. Provavelmente estava verificando
o quanto de suas palavras ela entendeu.
Depois de algum tempo, seu mestre pareceu satisfeito ao declarar da maneira esperada
de seu estimado governante.
Parte 2
Assim que retornaram ao palácio, Climb, Renner e Brain foram informados pelos pou-
cos cavaleiros remanescentes de que havia convidados à espera.
A maioria das criadas que serviam o palácio eram filhas de nobres. Elas fugiram para as
mansões de suas respectivas famílias. Ainda não se sabia se essa era a opção mais segura.
Climb ouvira de sua mestra, Renner, que as atrocidades infligidas pelo exército do Reino
Feiticeiro, durante sua marcha rumo ao Reino, provavelmente seriam cometidas aqui.
Uma dedução completamente lógica. Nenhum lugar dentro da capital estava seguro
agora.
Então, o que se poderia fazer para garantir sua segurança? Renner já havia respondido
sua pergunta a respeito de deixar a capital.
Pelo teor da resposta, Climb e Brain haviam discutido em segredo sobre a organização
de uma carruagem pronta para deixar o palácio. Se Renner mudasse de idéia, isso pode-
ria ser útil.
Claro, ele sabia que Renner não pretendia fugir, mas não podia dizer com certeza que
ela não mudaria de idéia. Este era apenas um plano para caso acontecesse.
Climb preparou água e uma toalha para Renner enxugar o suor. Normalmente ele teria
preparado um banho, mas eles só tinham uma hora para organizar tudo.
Com as criadas ausentes, Climb não teve escolha a não ser ajudar Renner a se arrumar.
O dever de preparar o chá recaiu em Brain. A cena de um espadachim vasculhando os
armários tentando encontrar chá foi um tanto hilária, mesmo sentindo um pouco de
pena dele.
Depois que Renner limpou o suor e aplicou perfume, ela foi escolher um de seus vesti-
dos. Por consequência, seus dois ajudantes foram tomar banho.
Ao contrário das mulheres — ou princesas —, o processo de higiene dos dois era bem
mais simples.
Eles apenas se despiram, deixaram a água cair do topo da cabeça até às unhas dos pés
e ariaram o corpo. Uma enxaguadela depois e tudo estava pronto. Claro, ambos tiveram
de vestir roupas limpas também, mas o processo inteiro não levou mais de dez minutos.
Uma hora — que pareceu ser mais curta do que de costume — se passou e os três esta-
vam prontos. Renner parecia ter sentido uma fragrância desagradável enquanto chei-
rava o cabelo e o pulso. Climb não sentia cheiro de suor, mas podia sentir um tênue
aroma de óleo e fumaça que havia impregnado nos cabelos de sua mestra ao preparar
Toda a equipe da Rosa Azul estava presente. Lakyus era a única usando vestido apro-
priado, as demais estavam em suas panóplias de combate. Parecia que eram as guarda-
costas de uma nobre.
De fato, Lakyus normalmente não aparecia sozinha, mas era raro vê-las todas juntas.
Esta pode ter sido a primeira vez que todas se reuniram aqui.
“Você separou um tempo para nós mesmo em dias tão corridos, e ainda assim a fiz es-
perar. Sinto muito por isso.”
“De forma alguma, está tudo bem. Eu deveria ter te informado mais cedo, a responsabi-
lidade por essa visita em cima da hora é minha. Eu devo te agradecer por ter aceitado—
ah, não há necessidade de chá. Afinal, não temos muito tempo.”
Quando Renner estava prestes a oferecer o chá que Brain havia escolhido, Lakyus a de-
teve.
“Ey, Lakyus. Acho que temos tempos o bastante para tomar uma xícara de chá, não
acha?”
“A Princesa foi tão gentil em receber convidadas inesperadas com chá, e a nossa líder
será tão cruel a ponto de recusar essa oferta? Quanta indiferença. Ey, Massa de Músculos.”
Gagaran não respondeu. Embora os olhares de todos estivessem fixos nela, Gagaran fin-
giu não ter ouvido e nem visto nada.
“Ey, e esse seu sorrisinho... é você mesmo, mulher que afundaria se caísse no mar.”
Ela realmente estava sendo ignorada. Evileye suspirou alto em resposta ao seu compor-
tamento.
“Hey, Gagaran.”
“Ahhh, claro. Estou com vontade beber vário goles. Provavelmente eu poderia beber
dez litros se precisasse.”
“Como assim... Você sabe quanto tempo nos fez perder só para responder... Mmm, tanto
faz. Independentemente de quanto tenha, chefe, podemos beber também?”
Evileye não respondeu à sua pergunta, apenas deu de ombros como se dissesse não.
“Bem, então, tomaremos o chá enquanto a chefe e a Princesa conversam. Garanto que o
chá será mais saboroso do que podem sonhar.”
[Garrafa M o r n a ]
“Eh? Vai servir a todos com o chá da Warm Bottle, huh?”
“Podemos não ter o suficiente, considerando a quantidade de pessoas aqui. Mas vere-
mos.”
Tia começou a servir o chá, seus movimentos não foram nada refinados e a maior parte
do chá derramou no pires. A cultura de chá deste país não ditava que o chá deveria ser
bebido do pires, Lakyus franziu as sobrancelhas. Como ela havia dito, a Warm Bottle não
continha líquido suficiente para todos os oito.
Climb recusou e Brain também o fez. Isso não significava que agora tinha chá suficiente
para todas. Mesmo com a recusa de ambos, a quantidade de chá que ainda era inade-
quada para seis pessoas.
Depois de servir cinco porções de chá, Tia agitou a Warm Bottle como se quisesse enfa-
tizar o fato de estar vazia.
“Ah — está vazio — que pena — por pouco não temos o suficiente, especialmente com
a moça dos dez litros por perto—”
“Não acha que rumores se espalharão se a Terceira Princesa sequer tiver chá suficiente
para atender adequadamente seus convidados?”
“Isso sim é preocupante. Embora, em uma época dessas, dificilmente é prudente manter
a imagem de um estilo de vida luxuoso. Mas acho que é necessário demonstrar que a
Família Real ainda tem futuro. Então, devo preparar mais chá?”
“Lakyus. Há um limite para o quanto você pode permanecer dependente da boa vontade
de todos, sabia?”
“Eh?”
“Mmmm. Parece que ela está começando a entender... Por favor, elucide nossa líder ca-
beça dura.”
“Muito bem então... Afinal, os momentos finais em breve estarão sobre nós. Todas estão
apenas tentando ganhar o máximo de tempo possível para nós duas.”
Climb finalmente entendeu agora que ela havia dito dessa maneira.
Normalmente, aventureiros não podiam participar de guerras, essa era uma medida
adotada para impedir uma contagem mais alta de vítimas do que o normal.
No entanto, como o inimigo desta vez era um undead que cometera massacres em
grande escala, a Guilda dos Aventureiros do Reino aceitou um pedido da realeza para
Alguns até optaram por se juntar às fileiras do exército enviado há quase uma semana,
dos quais ninguém havia retornado. Outras equipes escolheram servir como uma bar-
reira dentro da cidade.
E até mesmo algumas equipes de alto nível desapareceram no meio disso, talvez te-
nham aceitado o convite da Teocracia ou mesmo escapado e fugido da capital por meios
próprios.
Lakyus e sua equipe, Rosa Azul, foram uma das equipes que decidiram ser o último es-
tandarte da capital.
Elas haviam acabado de receber informações de que o exército do Rei Feiticeiro havia
acampado perto da capital, Lakyus e as demais não deveriam estar desperdiçando o pre-
cioso tempo que lhes restava.
Ainda assim, Lakyus conscientemente encontrou tempo para se encontrar com sua
amiga, Renner. Considerando que era extremamente provável— não, elas estavam
100% certas de que essa era a última vez que poderiam se encontrar com Renner.
De fato, o chá havia sido servido para cinco pessoas. Porções para Evileye, Gagaran, Tia,
Tina e, claro, a que está sendo entregue a Climb. No entanto, parecia que nenhum deles
estava planejando beber.
Com base em sua personalidade, se tivessem dito a Lakyus que ela deveria tirar um
tempo para se despedir de sua amiga, ela definitivamente rejeitaria. Mas se expressas-
sem isso tomando uma xícara de chá com seus amigos, ela provavelmente seria muito
mais receptiva à idéia. Suas companheiras estavam apenas sendo atenciosas.
“...Então, Brain Unglaus. Preciso fazer chá para todos, devem estar sentindo uma sede
terrível neste momento. Me mostre onde fervem a água.”
Provavelmente foi por isso. Tina e Tia conseguiram tirar o melhor guarda-costas da sala.
“Hmmm? Oh, não se importe. Não foi por isso que o levaram embora.”
Eh? Climb estava um pouco confuso. Então não estavam tentando conceder mais priva-
cidade a Renner e Lakyus, tirando todo mundo da sala?
Gagaran e Evileye não pareciam querer sair. Ela realmente queria ser levada aonde a
água era fervida?
“Como todas insistiram, vamos conversar um pouco antes que o chá esteja pronto. Ah!
Antes disso, eu tenho uma pergunta. Onde estava? Se estiver ocupada se preparando
para o que está por vir, então eu irei embora.”
Lakyus expressou vocalmente seu choque. Climb também ficou surpreso quando Ren-
ner o pediu que parasse a carruagem para que ela pudesse cozinhar para aquelas crian-
ças.
Entretanto, ao chegar no local e ver o estado do lugar, Climb percebeu que ela havia
tomado a decisão certa.
“Sim. O exército do Rei Feiticeiro cercou a capital há alguns dias, em cima disso, o exér-
cito que enviamos alguns dias atrás consumiu uma quantidade considerável de comida.
Nossas provisões estão diminuindo dia após dia. Foi por isso que peguei alguns dos ali-
mentos armazenados aqui para preparar uma refeição para eles.”
O orfanato não tinha muita comida sobrando. Além disso, o preço dos alimentos au-
mentou devido ao agravamento da situação na capital, de modo que o orfanato não pôde
mais sustentar suas próprias operações. Não havia escolha senão diminuir a quantidade
de refeições por dia, bem como a quantidade de comida que as crianças recebiam por
refeição. Foi por isso que ela escolheu cozinhar para eles, pois, afinal de contas, seu mo-
tivo era secretamente fornecer-lhes comida e além disso, também era uma oportunidade
rara para ela.
Renner, enquanto cozinhava para as crianças com suas habilidades culinárias bem
aprendidas, havia dito: “Eu queria distribuir grãos para todos, mas não nos resta muito.
Eu sou tão hipócrita.”
Preso entre a lealdade e seus próprios sentimentos, Climb sentia uma dor sufocante em
seu coração. Contudo, ele não podia permitir que as duas à sua frente percebessem isso
sob nenhuma circunstância.
Com grande esforço, Climb suprimiu a dor que parecia ser capaz de despedaçá-lo.
“Em toda a história, você pode ser a única integrante da realeza que sabe cozinhar.”
“Não acho. Deve ter havido outros, mas esse detalhe não foi registrado nos livros de
história, apenas isso... Aquelas crianças devem estar se empanturrando com suas refei-
ções agora, valeu a pena.”
Originalmente, Renner planejava cozinhar apenas uma simples refeição, mas para im-
pedir que as crianças brigassem por comida ou que funcionários optassem por se abster,
ela até cozinhou pratos para acompanhar a entrada. Todo mundo deve estar se saciando
agora.
Tamanha a quantidade que havia cozinhado, que até mesmo sobraria para o jantar.
A propósito, Renner, que nem sequer conseguia descascar uma batata, havia elevado
suas aptidões culinárias a outro patamar. A finura da casca que poderia tirar era, hones-
tamente, um tanto incrível.
Essa mulher, que reluzia com um olhar radiante, parecia ser naturalmente talentosa
para as artes culinárias.
A conversa das duas estava cheia de assuntos otimistas, talvez estivessem inconscien-
temente evitando discutir coisas a ver com seu amargo e inevitável fim. Ou melhor di-
zendo, seria precisamente porque elas sabiam sobre o destino que as esperava que evi-
tavam falar sobre isso?
Não muito tempo depois, Tia voltou sozinha com a Warm Bottle.
“Hmm? Foram procurar sobremesas para acompanhar o chá, então voltei primeiro.”
“Sobremesas?”
“—Eu não me importo, está tudo bem. Na ocasião, eu que deveria ter assado mais mas-
sas foleadas para servir de comida reserva. Como eu adicionei muito açúcar, podem até
ser usadas como sobremesas.”
“...Viu só? Até a Princesa concorda. Diab... Líder Diabólica, está apenas sendo teimosa.
Além disso, foi a primeira vez que experimentei tomar chá.”
“Ei. Líder Diabólica. É bom beber tudo em um único gole. Dá uma sensação de limpeza.”
“Obrigada.”
Essa quebra de etiqueta irritou Lakyus um pouco, Tia não se incomodou e ficou em si-
lêncio. Climb achou que ele também deveria ficar de boca fechada.
Lakyus pegou a xícara e sentiu as fragrânc— cheiros. Sua expressão ficou distorcida.
“Não se importe.”
“...É claro que eu me importo. É a primeira vez que tomo um chá tão forte. Quantas fo-
lhas você adicionou...?”
“Hey hey. Eu sei que você disse que era a sua primeira vez, mas não precisa ficar arre-
piada de tanta emoção~”
“Que rude. Nem mesmo o termo Diabólica pode fazer jus a você.”
Lakyus pegou sua xícara e deixou o chá tocar seus lábios. Sua expressão se transformou
em algo caricato como um personagem de desenho. Quão grosso era o chá?
“Hah? Sinceramente? É muito amargo. Não tem como chamar isso de saboroso— Blugh!”
Ela empurrou Tia para o lado e segurou o estômago. A prataria da mesa balançou
quando ela o fez.
No meio do caos, Climb percebeu que o vestido de Lakyus ficou manchado de vermelho.
Um objeto fino, semelhante a um espeto, foi cravado em sua barriga.
Ele não conseguia entender o que havia acontecido. Seu cérebro não podia aceitar o que
estava vendo agora.
Lakyus ficou altamente confusa, nem mesmo conseguiu lançar magia de cura em si
mesma. Era como se ela estivesse usando todas as suas forças para entender o que es-
tava acontecendo.
Climb pensou que ela estava correndo para ajudar, mas as coisas pioraram quando Ga-
garan golpeou o estômago de Lakyus com um forte soco.
Lakyus ficou indefesa contra esse ataque, pensando que sua companheira estava cor-
rendo para ajudá-la. Gagaran a atingiu no estômago com a força de um aríete.
“Gwaar!”
Tia, aproveitando de sua falta de ar, perfurou Lakyus novamente, tornando-a incapaz
de respirar.
Seus olhos não o enganaram, havia algum tipo de líquido na ponta. Provavelmente al-
gum tipo de veneno.
“Vossa Alteza!”
Climb puxou a mão de Renner, escondeu-a atrás de seu corpo e foi em direção a um dos
cantos. Tia e Gagaran o ignoraram completamente, optando por atacar Lakyus repetidas
vezes.
“Não se mexa. Caso contrário, não só apenas estará na mira da minha magia, mas a Prin-
cesa também.”
Climb estava prestes a sacar a espada, mas se deteve quando viu que Evileye havia le-
vantado a mão na direção de ambos. Naturalmente, ele deveria ajudar Lakyus, mas Ren-
ner era mais importante. Proteger Renner era de sua absoluta prioridade.
Climb queria levar Renner para fora da sala, mas no momento em que ele moveu, uma
espada curta de cristal cravou ao lado de seu pé.
“Não se mexa. Nem pense em sair. Se você me desobedecer, eu vou... arrancar uma das
pernas da Princesa, entendeu ...? Enquanto me ouvir, eu não vou machucá-la.”
“Há um bom tempo fiz observações, procurando maneiras de te matar, Lakyus... Você
resistiria aos métodos normais, de modo que uma combinação de magia e veneno teria
que ser usada. Essa é a única maneira de fazer isso. Certamente nem mesmo você poderá
resistir ao efeito de múltiplos venenos simultaneamente, não é? Evileye, é a sua vez.”
“Tudo bem.”
Confusa, aviltada e triste. Dor não era a única coisa transmitida através da expressão de
Lakyus, o sentimento que mais se destacou foi sua incapacidade de entender o que es-
tava acontecendo. Evileye lançou uma magia em sua direção.
“Como é?”
“「Resistance Weakening」... agora deu certo. Vamos ver— 「Charm Person」. Pronto.
Vocês duas fizeram um bom trabalho. Conseguimos.”
Lakyus falou como se nada tivesse acontecido. O terror de presenciar um controle men-
tal fez Climb tremer de medo.
Quando Tia estava prestes a puxar o objeto, Evileye levantou a voz para detê-la.
“Pare. Se infligir dor nela, você será tratada como hostil e o encanto poderá ser dissi-
pado. Lakyus, desculpe, mas tire você mesma. Não devem ter te perfurado muito fundo.”
“Seu objetivo era apenas injetar o veneno, então a agulha em si não é muito grossa... é o
tipo que seria ineficaz se estivesse usando armadura.”
Lakyus mordeu o lábio inferior e puxou a agulha. Ela então começou a lançar magia de
cura no ferimento.
“Gagaran. Abra a janela, melhor deixar entrar um pouco de ar... O que faremos com esse
sangue no chão?”
“O vestido absorveu a maior parte, não caiu muito no chão. Não precisa se preocupar
com isso.”
Renner respondeu calmamente. Todas falavam de uma maneira tão casual que Climb
sentiu que seu testemunho de momentos antes tinha sido uma ilusão. Era como se ele
tivesse sido transportado para um mundo desconhecido.
“Nossa. Ficou totalmente inabalada. Sempre soube que tinha muita coragem.”
“Diante disso, não tenho como recusar. O motivo é simples. Acreditamos que se compa-
rado ao Reino, ou qualquer outra coisa, a vida de nossas amigas é muito mais importante.
É isso.”
“Defender a capital foi uma decisão da Líder Diabólica. Desde o início, nós sempre fo-
mos profundamente contra isso.”
“Mas se a gente dissesse isso, tenho certeza que essa idiota diria: Eu defenderei o Reino
sozinha, ou algo assim. Então, decidimos que nossa única opção era usar a força bruta,
mas sequestros à luz do dia não são nada simples. Também não tivemos confiança na
nossa capacidade de fazer ela sair. Todo mundo aqui sabe que deve pedir desculpas a
Vossa Alteza pelo que fizemos, mas a gente não podia deixar de explorar essa oportuni-
dade.”
Tia e Gagaran deram de ombros em concordância. Esta deve ter sido uma decisão cole-
tiva tomada por todas da Rosa Azul, menos Lakyus, é claro. Brain ainda não havia retor-
nado, então certamente Tina estava mantendo-o ocupado.
“Seria ruim se ela estivesse em alerta máximo depois de rejeitar nossa sugestão... para
pegar um diab... pegar a Lakyus desprevenida, exigiria que a surpresa fosse tanta que ela
nem saberia como reagir. Falo isso por experiência própria.”
“Sim. Usamos cinco tipos de veneno, não a deixamos usar os equipamentos dela, usa-
mos magia de debuff e ainda assim tivemos que confiar na sorte para ver se poderíamos
encantá-la. Foi por isso que passamos por todo esse problema agora a pouco, se um des-
ses elementos estivesse faltando, teríamos falhado. Agora, vamos ver—”
“Assim que a Tina chegar, voltaremos para a pousada com 「Teleportation」, recupe-
raremos o equipamento da Lakyus e nos teleportaremos para fora desta cidade.”
“...Hey, oportunidades assim não vem duas vezes. Sabe que eu posso levar vocês comigo,
certo? Sendo franca com você, este país está condenado e o destino que aguarda a prin-
cesa de uma nação condenada não é nada bonito. Esta pode ser sua última chance de
escapar.”
“Bem, primeiro de tudo, temos que deixar este país. Depois disso... provavelmente va-
mos ir para sudeste, acho...? Se formos nessa direção, há ruínas de um país há muito
perdido. A capital lá — vamos para as ruínas limpas pelo fogo. Como é um lugar bem
distante, teremos que nos teletransportar várias vezes. Mmmm, enfim, é uma terra lon-
gínqua, de que nenhum de vocês ouviu falar.”
“Interessante...”
Renner abaixou a cabeça levemente. Ela estava hesitando? Pouco tempo depois, ela le-
vantou a cabeça como se tivesse tomado uma decisão resoluta.
“Se diz...”
Para escapar da frustração que brotava dentro de si, ele olhou para Renner, cujo sorriso
dizia que ela o entendia completamente. Essa era a expressão que Climb era agraciado
sempre que ela estava prestes a revelar a verdade.
“Climb. Eu sou membro da realeza, devo cumprir meus deveres, mesmo que me custe a
vida.”
Embora para ele a existência de Renner como pessoa fosse importante, de igual valor
era o status dela como membro da realeza.
Mas insistir em cumprir seus deveres reais em uma situação dessas não era nada bom.
Todavia, Renner, como realeza, como alguém que cuidava de seu próprio povo, ainda
estava disposta a permanecer fiel ao seu status real até o fim.
Comparado a ele, que apenas pensava na sobrevivência, quão magnânima ela era?
Climb se decidiu.
Ao mesmo tempo em que Climb se decidiu, ele ouviu Evileye dizer baixinho: “Que ba-
rulheira”. Batidas soaram da porta quando ela se abriu, do lado de fora estavam Brain e
Tina, segurando bandejas cheias.
“Demoramos mais porque essa aqui do meu lado mais atrapalhava que tudo, mas no
fim conseguimos— O que é isso? O que aconteceu aqui?”
Embora as janelas estivessem abertas, Brain ainda foi capaz de captar o leve odor de
sangue. Ele adotou uma postura mais baixa enquanto olhava cuidadosamente ao redor
da sala.
“...Mocinha. Tem sangue nas suas roupas. Alguém suspeito apareceu aqui?”
“Não—”
“Não foi nada. Pergunte pra Sua Alteza depois que a gente for.”
“Ah, claro. Brain Unglaus, eu tenho uma pergunta. Quer fugir deste lugar?”
“...Como é?”
Ao ouvir a pergunta de Evileye, Brain começou a inspecionar a sala mais uma vez.
Brain a respondeu com uma pergunta enquanto olhava para Climb e Renner. Quando
Evileye negou com a cabeça, sua resposta foi um sorriso:
“Então será assim. Se for esse o caso— não, não importa o que aconteça, eu não teria
escolhido fugir... Quero dizer... não há sentido nisso... E pra ser sincero... naquela época
eu disse que escolheria o caminho de menor resistência, mas parece que vou ter que
rever isso que falei.”
“...Jura? Pensei que você responderia dessa maneira mesmo, parece que acertei.”
Era para ser sua despedida final, mas terminou abruptamente. Mas, considerando a dor
que essas grandes amigas estavam sentindo por sua única escolha ter sido a separação,
talvez não houvesse alternativa melhor para essa despedida.
Ela provavelmente estava arrasada, então como ele deveria confortá-la? Climb olhou
para Renner e notou que estava apática. O sorriso gentil que normalmente enfeitava seu
rosto não estava em lugar algum, era como se ela tivesse colocado uma máscara.
“Princesa, eu posso imaginar o choque que deve estar passando agora, mas...”
Ele não conseguiu terminar sua frase. Ou melhor, seria mais preciso dizer que ele não
queria terminar essa frase. Embora quisesse dizer que ficaria com ela até o fim, como
poderia tentar se comparar com uma aventureira adamantite, que era tanto nobre
quanto amiga de Renner. Ainda assim, ele precisava confortar sua Princesa de alguma
forma, então começou a pensar freneticamente.
Talvez suas intenções tenham sido transmitidas suficientemente bem, pois a expressão
de Renner mudou de repente. Seu habitual sorriso gentil floresceu.
“Estou bem~, Climb... Não dê atenção àquilo. Brain-san, creio que tenha assuntos im-
portantes a tratar, não é?”
“Ahhh ... Então, Vossa Alteza, Climb. A hora chegou e aqui me despeço. Peço desculpas,
mas preciso ir agora.”
Climb não conseguia entender o que Brain estava pensando, então ele fez uma pergunta.
“Hmm? Eu pretendo desafiar o Rei Feiticeiro num duelo. Mmm, é provável que eu perca,
mas devo ser capaz de, no mínimo, derrotar um de seus subordinados.”
Brain tirou a espada que mantinha na cintura e a jogou na direção de Climb e disse:
“Estou devolvendo isso.”
"Quê!? Por que fez isso!? O único apto a manejar essa espada é aquele que herdou os
desejos do Stronoff-sama! Brain-san!”
“Ei ei, eu te disse na época, esqueceu? Eu não herdei os desejos dele. Primeiro de tudo,
isso aí é um dos tesouros nacionais, não? Isso não é adequado pra alguém tão modesto
quanto eu. Princesa-san, desculpe o incomodo, mas por favor devolva isso a Sua Majes-
tade.”
“Mas é claro.”
“Princesa-sama!”
“Acho que é nosso último adeus. Princesa, foi muito bom te servir. Climb— naquela
época, tive a sorte de conhecer você e o Sebas-san. Aquilo me deu vontade de viver... e
sou grato por isso.”
Quando essas palavras ecoaram a silhueta de Brain desapareceu atrás do outro lado da
porta.
“...Como tudo chegou nesse ponto... Rei Feiticeiro... se você não existisse...”
Tudo ao redor de Climb estava sendo destruído. Tudo, exceto o mais importante, havia
sido retirado, mas até isso não duraria muito diante do destino que os aguardava. Seu
tempo estava acabando.
Um humor depressivo havia tomado conta dele, mas essas palavras conseguiram puxá-
lo de volta. De fato, até que seu amargo fim chegasse, ele continuaria a dar tudo de si —
proteger a mulher que o salvara, servir a pessoa mais importante do mundo era tudo
para ele.
“...Bem, aquilo, isto, hum.” As palavras que saíam da boca de Renner não combinavam
com a atmosfera:
“É bastante pesada.”
Renner entregou a bainha para Climb. O fio da Razor Edge era tão afiado que podia cor-
tar armaduras como se fossem folhas de papel. Antes que Climb pudesse dizer “é peri-
goso”, Renner começou a balançar a espada no ar.
“Seu brincalhão. Até porque, é improvável que eu segure uma espada novamente.”
♦♦♦
Brain Unglaus andava pelas ruas vazias da capital. Normalmente, essas ruas estariam
cheias de vida, mas hoje nem uma alma era vista. Todos estavam escondidos em suas
casas com medo do Rei Feiticeiro, mas Brain sabia que isso não lhes trariam salvação.
Brain ficou ao redor de Renner por tempo suficiente para saber que o Rei Feiticeiro não
tinha motivos para não destruir a capital.
No entanto, se alguém perguntasse a ele “como podemos ser salvos?” ele não saberia
responder.
Brain olhou para os prédios ao longo da rua, todas as portas e janelas estavam fechadas.
Devem ter sido pregadas por dentro, para dificultar a entrada.
Não duvido nada que... por trás dessas portas deve haver alguns suicídios ou até famílias
inteiras mortas...
Ele pensou em como essa situação poderia ser revertida se Deus resolvesse dar uma
ajudinha. Se todo cidadão da capital decidisse se vingar— mas seria inútil, provavel-
mente só daria um susto no inimigo. Mas para que isso acontecesse, alguém tinha que
unir as pessoas sob uma bandeira.
Se fosse a Princesa, ela provavelmente conseguiria, mas ela não parecia querer fazer tal
movimento.
Se não fosse eu aqui, mas sim ele, as coisas teriam sido diferentes...? Provável que sim.
Brain sabia muito bem que eles não tinham chance de vitória em uma batalha, isso ficou
claro quando olhou para os inúmeros olhares no exército de 400.000. Mesmo assim,
nada ali, nem mesmo sua totalidade, não conseguia ultrapassar os 0,01%— não, os
0,000001% ou mesmo 0,0000000001% de chance de vitória.
Zanac pode tê-los levado a uma missão suicida, mas não para falsas fantasias. Ele agira
de acordo com a melhor aposta nesse cenário
O ar... mudou?
Nada havia mudado na realidade, a capital ainda cheirava como sempre, mas havia uma
diferença notável. Era algo entendível apenas a guerreiros sobreviventes de inúmeras
batalhas de quase morte. Era um pouco diferente de um cheiro físico, era uma espécie
de cheiro psicológico.
O mesmo cheiro que sentiu quando ele e Climb olharam para o céu noturno de E-Rantel.
Foi a única razão que conseguira pensar que resultaria em uma mudança tão brusca.
Brain parou de andar para refletir sobre seus próximos movimentos e viu os contrafor-
tes ficarem brancos.
Este foi o início do cerco. Os lamentos vieram dos abrigos temporários próximos aos
contrafortes, construídos para refugiados de outras cidades. O alvo do inimigo tinha que
ser o castelo, então provavelmente não haveria refugiados correndo em direção a Brain
— em direção ao castelo.
O que eu faço? Seria melhor abandonar o plano inicial quando o cerco começar?
Seu plano inicial era sair da capital primeiro e esperar o momento em que o exército do
inimigo entrasse. Ele estava planejando despistar o exército ao passar em meio ao caos
do cerco, para, assim, se aproximar do Rei Feiticeiro.
No entanto, se o inimigo já tivesse entrado na capital, seria melhor ele se esconder por
agora, esperar o exército passar e só depois sair pelos muros da cidade.
Mas se ele fizesse isso, havia uma grande chance de o Rei Feiticeiro optar por deixar seu
acampamento. Primeiro era preciso descobrir onde estava seu alvo para não perder
tempo correndo a troco de nada.
Talvez ele pudesse se esconder perto do castelo e esperar até que o Rei Feiticeiro con-
duzisse seu exército para então atacar.
Dito isto, ele não teria que mascarar perfeitamente sua presença como um ladino ou
assassino. Tudo ficaria bem, desde que se escondesse da vista do inimigo.
Um pequeno ponto passou sobre os entulhos do que até então era um portão. Só parecia
minúsculo porque estava muito longe, se considerasse na perspectiva certa, deveria ser
enorme se comparado a um humano médio.
Embora tivesse ultrapassado o perímetro, nenhum soldado estava correndo para detê-
lo. Só poderia haver uma razão para isso.
Era um ser com força física esmagadora, então sua velocidade deveria estar a par com
isso. Avançar por uma rua vazia não demoraria muito, então por que ele estava perdendo
tanto tempo—
Ahhh, é claro. Eles já violaram as defesas da capital, então o massacre está nas mãos deles.
Eles podem demorar o quanto quiserem!
Essa rua foi onde ele foi apanhado, levado à força por Gazef.
Essa rua foi onde ele correu com Climb para invadir as instalações da Oito Dedos e onde
conheceu Sebas.
Essa rua foi onde ele conduziu as crianças destinadas a se tornarem os próximos Capi-
tães Guerreiros.
E nessa mesma rua, agora um monstro pisava sem se importar com nada disso. A rua
que Brain percorreu com todos que considerava querido estava sendo pisoteada.
Imperdoável.
Espero que tenham conseguido sair em segurança. Elas eram como sementes que ele se-
meara para o futuro, a fonte de sua calma. Talvez — houvesse uma chance de 0,01%, não,
uma chance de 0,000001% de que uma delas crescesse e se tornasse poderosa o sufici-
ente para rivalizar com o Rei Feiticeiro. Sonhar com isso melhorou ainda mais seu humor.
O que deveria ter feito era se esconder e esperar por uma oportunidade de se vingar do
Rei Feiticeiro, e não se opor ao monstro que servia de vanguarda.
Um espectador diria para ele algo como, “veja a coisa como um todo, não faça uma idio-
tice dessas”.
No entanto, o objetivo de vida de Brain era viver por sua espada, pois isso permitiria
lutar contra tudo, e todos, sem impedimentos.
Mesmo assim, ele conseguia entender de forma inata que essa imensa criatura ciano
claro era de uma raça muito superior à sua.
...Tão frio.
Vindo de seu oponente, um vendaval soprava em sua direção, tão frio quanto um dia
gelado de inverno. O corpo inteiro de Brain tremia, não porque sentia uma intenção as-
sassina ou alguma aura opressiva, era apenas a brisa gelada. As baforadas brancas da
respiração de Brain provaram que não era ilusão.
“Mas o quê...?”
O portão não era pequeno, então, independentemente do domínio a qual esse monstro
pertencesse, era seriamente aterrorizante para ele.
Suas mãos tremiam, não por excitação nem por frio, mas por outra emoção.
O medo.
Paulatinamente ele lamentava em seu coração, coração esse que lhe dizia para se afas-
tar e se encolher em algum canto. Dada a maneira que essa coisa, embora fosse um mons-
tro, arrastava a alabarda pelo chão enquanto caminhava, certamente irradiava uma aura
de guerreiro. Se ele se agarrasse aos joelhos em um canto, talvez fosse ignorado como
uma pedra ao lado da estrada.
As casas que ladeavam a rua tinham sinais de vida, mas nenhuma parecia querer algo
com isso.
Ele concentrou sua força na mão que segurava o punho da katana e com a outra esbo-
feteou a si mesmo.
“Isso aí!”
Por causa de sua presença avassaladora, Brain só percebeu agora que havia mulheres
por trás do ser. Elas trajavam vestidos brancos, suas peles tinham uma tonalidade igual-
mente pálida, seus cabelos longos eram pretos, e delas ventos frios como geada sopra-
vam.
O inimigo ainda não havia tomado nenhuma ação contra Brain, que estava em seu ca-
minho.
Ele puxou um frasco preso ao cinto e o bebeu em um único gole. Ele bebeu outro frasco
e depois mais um. No total, Brain aplicou três tipos de buffs mágicos em seu corpo.
Mesmo após beber as poções, uma ação agressiva do ponto de vista de uma batalha,
seus inimigos não pareciam ter intenção de atacá-lo, pelo menos ainda. Entretanto, ele
sentiu algo semelhante ao espírito de luta deles.
A distância entre eles havia sido reduzida para cerca de cinco metros.
A essa distância, ficou mais claro para Brain que seu oponente era um ser que possuía
superioridade absoluta sobre ele. Estava em um cume tão alto que Brain jamais poderia
esperar escalar. Colocando em perspectiva, o aumento de suas habilidades foi como se
escalasse poucos centímetros, esse era um ser que ele não tinha absolutamente ne-
nhuma chance de vencer.
“—Brain Unglaus.”
Provavelmente esse era o nome do oponente. Ele não esperava receber nenhuma res-
posta.
Que sensação estranha... Ele sentiu como se já tivesse ouvido esse nome antes, mas não
conseguia se lembrar de onde. Talvez estivesse apenas pensando demais.
De repente, Brain sentiu uma vergonha insuportável de quão rude ele tinha sido.
O oponente à sua frente foi cortês ao respondê-lo, mas ele foi rude ao ponto de se perder
em suas memórias turvas.
A razão pela qual seus pensamentos foram nessa direção foi porque seu oponente era
um monstro que ele nunca poderia esperar igualar, provavelmente estava no mesmo
nível que Sebas ou Shalltear Bloodfallen. Isso significava que, para o oponente, ele não
passava de uma formiga no caminho. Apesar de tudo isso, seu oponente não o tratou
como um ser inferior.
Se seus papéis fossem invertidos, o que Brain faria? Ele provavelmente o teria bissec-
tado sem muita consideração e continuado em seu caminho. Brain era tão insignificante
em comparação a seu oponente, que provavelmente nem conseguirá marcar sua exis-
tência em sua mente.
Brain endireitou as costas e gentilmente abaixou a cabeça, como um aluno faria para
seu instrutor.
“Muito obrigado.”
Brain agarrou a empunhadura de sua katana com força. Mais forte, mais forte.
Apontar sua espada contra um ser que possuía poder avassalador, sem sequer um plano,
o fazia parecer um traidor diante da boa vontade daqueles que o haviam salvado. O que
ele estava fazendo agora não era diferente de suicídio.
E sinceramente, se ele parasse para considerar suas ações, de que serviria parar o ini-
migo aqui?
Ainda assim—
Eu sou muito idiota, dificilmente esse Cocytus-danna é o único atacando a cidade. Eu fa-
lhei com aqueles dois... não, não sou mais um pirralho. Meu futuro é o que eu faço dele. É
isso aí... está nas minhas mãos e apenas nas minhas mãos.
Um odachi de proporções colossais, muito maior que a altura de Brain, foi retirado do
nada, com o qual Cocytus assumiu a posição Jōdan.
Palavras não eram necessárias. Cocytus já havia transmitido seu desejo de resolver isso
pela lâmina.
Brain respirou fundo e rapidamente expirou novamente. Era como se ele estivesse ten-
tando expelir todo o ar restante em seus pulmões.
Ele ficou completamente indefeso ao fazer isso, mas Cocytus não se mexeu nem um
centímetro. Pela sua postura, Brain percebeu que ele mantinha um enorme respeito por
ele.
Não apenas sua força era imensurável, mas também seu caráter.
Mas, sob o pretexto de que Brain havia decidido, Cocytus o tratava com a honra de um
companheiro guerreiro.
Defletir o ataque Jōdan desse imenso odachi seria, sem dúvida, difícil. Se seu oponente
tivesse atributos físicos semelhantes aos de Shalltear, receber o golpe com sua katana
não seria capaz de detê-lo. A cabeça de Brain provavelmente seria cortada ao meio, sua
katana provavelmente também quebraria.
Não, mesmo que tivesse sorte para se esquivar do primeiro ataque, não significaria que
pararia por isso mesmo. O segundo e o terceiro ataques certamente emendariam a se-
quência. A estratégia comum seria defletir o primeiro ataque e contra-atacar seu opo-
nente enquanto estivesse corrigindo sua posição. No entanto, contra esse extraordinário
inimigo, até atrapalhar seu equilíbrio e postura exigiria toda a força de Brain. Isso signi-
ficava que, mesmo se conseguisse isso, não teria forças suficientes para contra-atacar.
Por causa disso, Cocytus provavelmente terminaria a luta cortando para cima ao dar se-
guimento.
Se quisesse vencer Cocytus, ele não tinha outras opções além de ser alguns milissegun-
dos mais rápido que ele. Todavia, mesmo que conseguisse perfurar o corpo ou a cabeça
de Cocytus, isso não mudaria a trajetória do odachi. A batalha terminaria com os dois
atacando um ao outro.
Desejar se mover mais rápido que um monstro no nível de Shalltear e ainda cortar seu
pulso, uma grande piada.
Mas—
É minha única opção, não tenho escolha a não ser usar aquele movimento...
Ele adotou a postura para a técnica capaz de cortar a unha de Shalltear Bloodfallen —
A lâmina oculta, o《Cortador de Unha》.
Capítulo 4 Armadilhas Bem Preparadas
356
—Não.
Foi por esse motivo que Brain procurou se tornar mais forte, chegando a solicitar assis-
tência dessa pessoa — o professor de Gazef Stronoff e ex-aventureiro adamantite, Ves-
ture Kloff Di Laufen. Sob sua tutela e através de treinamento contínuo, ele finalmente foi
capaz de usar o 《Corte de Luz Sêxtuplo》. Infelizmente, ele não conseguiu alcançar o
mesmo nível de familiaridade que Gazef tinha dessa técnica.
As Artes Marciais usavam algo semelhante a capacidade de se focar. Quanto mais forte
fosse a Arte Marcial, mais disso era necessário. Guerreiros excepcionais— guerreiros de
nível superior, embora tivessem uma capacidade maior para isso, também teriam difi-
culdade em usar várias Artes Marciais ao mesmo tempo. De fato, Brain tinha reservas de
foco acima da média de guerreiros comuns, mas ele já havia atingido seu limite quando
usou o 《Cortador de Unha》 contra Shalltear.
Portanto, deveria ser impossível que conseguisse usar o 《Corte de Luz Sêxtuplo》em
cima disso, uma técnica que exigia muito mais foco do que 《Corte de Luz Quadruplo》.
Apesar de tudo isso, havia apenas uma razão para que ele pudesse.
O Brain Unglaus de hoje em dia já havia ultrapassado Gazef Stronoff — ele havia en-
trado no Reino dos Heróis.
Cocytus moveu o pé um pouco para a frente para diminuir a distância entre eles, uma
distância muito curta.
Considerando a diferença em sua força, não seria estranho para Cocytus diminuir facil-
mente o espaço entre eles e o cortar.
OVERLORD 14 A Bruxa do Reino em Ruínas
357
Então, por que ele fez uma coisa dessas?
A resposta foi simples: ele desejava conceder a Brain uma morte digna de guerreiro.
Ainda... não...
Fora... de alcance...
Os buffs mágicos concedidos a Brain por suas poções significavam que ele estava muito
mais forte do que quando enfrentou Shalltear.
Mesmo assim.
O humano chamado Brain Unglaus não podia esperar alcançar o domínio de monstros
como Cocytus.
Não havia nada que ele pudesse fazer sobre isso. Afinal, era impossível uma formiga
prevalecer contra um Dragão. Era um fato difícil de engolir, mas era preciso fazê-lo sem
vomitar.
Mesmo diante dos fatos, ele não queria perder. Então o que deveria fazer? Seria ótimo
reduzir a enorme disparidade de forças entre eles, mesmo que um pouco, mas como ele
deveria conseguir isso?
“—《Impulso de Habilidade》.”
Ele usara todas as suas reservas preparando o bote de seu 《Cortador de Unha Verda-
deiro》, não deveria ter sobrado nada para outras Artes Marciais.
Um som como *shing* soou, como se significasse uma transição. Suas capacidades físi-
cas foram aumentadas para o próximo nível.
A verdadeira natureza de seu Talento, aumentar sua capacidade de foco, somente com
isso e com a adição de seus atributos mais altos ele conseguiu ativar as Artes Marciais
exigidas pelo 《Cortador de Unha》.
Mas, mesmo assim, Brain tinha seus limites. Ele não poderia usar mais Artes Marciais
do que isso, um limite imposto a ele pelo mundo.
Mas, neste instante— Brain quebrou as regras deste mundo mais uma vez.
Cocytus avançou—
E então—
Depois de manejar a God Slaying Emperor Blade, Cocytus sacudiu o sangue e a gordura
da katana e a devolveu ao seu espaço. Ele puxou a alabarda do chão e olhou para o cadá-
ver do homem que acabara de matar.
Se fosse possível, ele queria salvar sua vida e torná-lo leal ao seu mestre. Cocytus podia
ter facilmente quebrado sua espada, segurando seu golpe ou mesmo quebrar todos os
seus membros para incapacitá-lo, mas esse não é o caminho de um guerreiro.
Cocytus já havia percebido quando viu esse homem sozinho ao longe, quando ficaram
cara a cara, ele teve certeza: Brain era um guerreiro resoluto.
Ele sabia exatamente como seria benéfico colocá-lo sob seu domínio, mas ainda o ma-
tara. Não seria errado dizer que ele havia traído Nazarick.
Porém— Ele queria conversar com ele através do impacto de suas lâminas.
Ao. Considerar. Níveis, Ele. Estava. Por. Volta. Do. Nível. Quarenta.
No entanto, ele achava que, depois daquele único golpe, não haveria mais força nele.
Talvez fosse algo como 「Vidyārāja Strike」 de Cocytus, ou talvez ele tivesse usado ha-
bilidades especiais para se fortalecer.
Se comparado a Cocytus, ele era insignificante. Mas, nos termos deste mundo, ele era
forte.
Ele não estava muito interessado em deixar o corpo desse guerreiro ao léu.
Após dar sua ordem às Frost Virgins, o corpo do homem chamado Brain começou a
congelar lentamente.
Quando Cocytus estava prestes a passar por Brain, ele se deteve novamente.
“...”
Ele virou à direita e entrou em um caminho mais estreito que o anterior. Ele caminhou
pelo caminho até emergir na rua principal novamente, depois do qual fez outra curva à
direita. Ele caminhou enquanto confirmava a posição do castelo, fazendo todos os des-
vios que via até voltar à rua principal.
♦♦♦
Aura chamou os soldados agachados no topo dos muros da cidade. Ela fez uso das im-
perfeições ao longo do paredão para subir em um único fôlego.
Mesmo os soldados do topo desejando usar as lanças em mãos para atacar, o que teste-
munharam instantes depois foram movimentos inumanos — ela pulou sobre os solda-
dos, deu uma pirueta no ar e—
“Hyup.”
OVERLORD 14 A Bruxa do Reino em Ruínas
361
—Aterrissou perfeitamente do outro lado das ameias.
“V!”
Todos olharam para Aura, cuja aparência era a de uma criança, o medo estava presente
em cada olhar. Tendo visto seu corpo extraordinariamente ligeiro em ação, certamente
nenhum deles ainda acreditava que o ser diante era uma criança normal. Além disso,
havia também o problema da fera mágica aos pés do muro, esperando por ela.
Os soldados avançaram rumo a Aura, passo a passo, para cercá-la. Lanças foram apon-
tadas para ela, mas Aura continuou a ignorá-las.
“Oi, pessoal. Só pra lembrar vocês~ —Não fiquem no meu caminho, hein~”
Aura desenrolou o papel para comparar a capital à sua frente com o que estava dese-
nhado no mapa.
Ela facilmente encontrou a Guilda dos Magistas, seu primeiro objetivo pretendido.
Aura, agora satisfeita, virou-se para ver os soldados que a cercavam. As pontas de algu-
mas lanças estavam posicionadas bem na frente de seus olhos, a uma distância em que
um leve movimento a faria tocá-las.
“Assim... mesmo se eu fosse a única a subir aqui, acham mesmo que é inteligente focar
tudo em mim? Sabem que eles vão subir também, né?”
Os soldados se entreolharam e saltaram como molas para a borda externa dos muros,
mas já era tarde demais. As feras mágicas de Aura escalaram o paredão uma após a outra.
Aura tinha uma proeza de combate muito maior, embora fosse verdade que as aparên-
cias enganavam, testemunhar uma coisa dessas era demais para suportar.
Ainda havia soldados que sustentavam a idéia de que essa posição tinha que ser defen-
dida, mas com tantos de seus compatriotas fugindo, foi difícil manter o moral em alta.
Embora perseguir e exterminar fosse trivial para as feras mágicas, elas não estavam
interessadas nisso. Ainda não haviam recebido ordens de sua mestra, razão pela qual
deixaram que fugissem. Isso era verdade para todas as feras mágicas, exceto uma.
[Terrível T i r a n o
Era uma fera mágica de nível 71, a maior que ela trouxera para a ocasião, I r i s Tyrannus
Arco-íris]
Basileus. Sua postura correspondia à de um Tiranossauro Rex, mas possuía barbatanas
dorsais nas costas. Como o próprio nome sugeria, ele irradiava um brilho luminoso.
Aura não tinha muita certeza dos detalhes, mas lembrou-se de que seu mestre havia
dito: “O design original dela foi baseado no Rei dos Monstros”.
Isso não foi para afirmar dominância ou expressar suas próprias emoções.
Não fez isso porque a morte de humanos trouxesse alegria, mas simplesmente porque
achou inconveniente ter que mudar sua linha de visão para seres irritantes. Isso foi o
bastante para querer matá-los
Mas não era como se Iris Tyrannus Basileus saísse ilesa disso, ela teria que pagar o
preço por tal façanha.
Ao redor de Iris Tyrannus Basileus estavam cinco das seis feras restantes — o nível 78
[ C ã o d a C a ç a d a Selvagem] [ A n f i s b e n a ]
Fenrir, o nível 77 Hound of the Wild Hunt, o nível 76 Qilin, o nível 76 Amphisbaena e o
nível 74 Basilisco.
“Você fez muito barulho”, provavelmente era o que eles estavam tentando transmitir.
Embora as proezas de combate não tivessem nada a ver com isso, ainda estava sendo
intimidada por feras mágicas com níveis mais altos que ela. Choramingando, Iris
Tyrannus Basileus tentou buscar a simpatia de Aura, o que apenas fez com que as outras
feras mágicas intensificassem seus ataques.
Como um adendo, o único que não participou do linchamento foi um monstro de nível
58, Gagarpur — o Sapo Avarento.
Uma fera mágica que parecia ter saído diretamente do pesadelo de alguém, essencial-
mente era como um sapo gigante, mas... não, nem tanto. Sua boca estava coberta de filei-
ras e mais fileiras de dentes amarelos e sujos, seus olhos pareciam os de um homem
lascivo de meia-idade.
“Já tá bom! Meninos, não tô com raiva, parem de fazer bullying na Iris-chan agora
mesmo.”
Aura cruzou os braços e olhou para as feras mágicas com olhos meio fechados. Em res-
posta, as feras mágicas começaram a lamentar.
“Tá tudo bem, tudo bem. Também não tô com raiva de vocês.”
Após dizer isso, as feras mágicas — exceto Iris Tyrannus Basileus — se reuniram em
torno de Aura e usaram seus corpos imensos para se afagarem nela.
“Myuu~”
Aura soltou um som adorável. Claro, sua força física não era menor que a deles, mas
ainda assim foi empurrada por seus corpos imensos enquanto soltava esse som.
Na frente de Aura, que estava batendo palmas, as feras mágicas começaram a se alinhar
— Obviamente, com seus corpos enormes, se alinhar em fila única seria bastante difícil.
Cada uma encontrou um lugar para ficar em pé e puseram expressões tensas. As atitudes
lúdicas que tiveram quando se esfregaram em Aura não eram vistas em lugar nenhum.
“Então eu vou te dar uma missão especial! Vá ao longo desses muros e esmague todos
os humanos que for vendo.”
“GOOWOOOOOO...”
Aura saltou dos muros da cidade e entrou com sucesso no perímetro da capital. Ela
aterrissou em cima de um telhado aleatório e correu sobre eles.
As feras mágicas a seguiram pulando de cima. Cada uma delas se movia de maneira
ligeira enquanto seguiam atrás de Aura.
Enquanto se virava para verificar suas feras, Aura notou que Iris Tyrannus Basileus es-
tava balançando sua cauda grossa nos arredores. Aura acenou para ela, fazendo-a balan-
çar a cauda com ainda mais vigor, destruindo acidentalmente uma parte das ameias.
Por um momento, Iris Tyrannus Basileus pulou ao receber suas ordens telepaticamente
e começou a caminhar pesadamente ao longo dos muros.
O primeiro destino de Aura estava perto, a Guilda dos Magistas. Como o lugar continha
vários itens mágicos, deveriam estar em alerta máximo. As conclusões que chegaram foi
que esse seria o lugar com a maior quantidade de resistência em toda a capital.
Embora a força de combate do inimigo não fosse um problema, reunir todos os itens
mágicos naquele lugar possivelmente demandaria um tempo considerável. Talvez fosse
preciso pedir reforços.
Aura atravessou a capital pelos telhados enquanto refletia o que fazer a seguir.
A capital abrangia muitos quilômetros, mas para a velocidade de Aura quando levava a
sério, isso não representava problema algum.
Ao longo dos muros de perímetro havia três torres de cinco andares. A Guilda dos Ma-
gistas era essencialmente composta por várias estruturas de dois andares, eram mais
altas do que largas. Seus portões em forma de grade estavam fechados. Ao lado do portão
havia duas guaritas de dois andares de altura.
Ela não havia detectado a presença de pessoas do lado de fora, mas a atividade humana
podia ser vista em seu interior. Seres humanos a vigiavam.
Aura pulou aterrizando na frente da guilda e olhou o mapa em suas mãos, comparando
as aparências dos edifícios.
No entanto, como havia vários lugares prováveis para uma possível localização, eles
não haviam dado a localização exata de onde os itens mágicos eram mantidos. Também
não foram capazes de capturar nenhum magic caster de alto nível para interrogatório,
então Aura precisaria fazer seu próprio julgamento.
Embora fosse cansativo, ao considerar a área ocupada pela Guilda dos Magistas, ficou
claro que isso era muito mais eficiente do que ondas de ataques humanos.
“Vamos nessa.”
Assim que Aura começou a marchar em direção aos portões, pessoas emergiram dele.
Havia cinco homens e uma mulher. Uma figura idosa estava na frente deles.
Se fossem membros de alta hierarquia da Guilda dos Magistas, isso pouparia muito
tempo, mas Aura não pôde deixar de se sentir decepcionada depois de dar uma olhada
no ancião.
Ele usava traje típico de dojo, preto da cintura para baixo e azul-turquesa da cintura
para cima. Duas espadas pendiam ao lado da cintura e um peitoral cobria seu torso.
Todos seus fios de cabelo eram brancos. Seus braços eram esguios, o esperado de sua
idade, mas não frágeis. Podiam ser finos, mas eram duros como aço.
“A chance é alta, vamos confirmar primeiro. Garoto. Você é um subordinado do Rei Fei-
ticeiro, não é?”
Aura examinou os humanos atrás do ancião. Eles usavam roupas semelhantes a ele, po-
rém nenhum estava com espadas. Provavelmente, o ancião era o mestre de um dojo na
época, com os outros sendo seus discípulos.
Embora ela não conseguisse descobrir quais conexões a Guilda dos Magistas tinha com
um dojo, tinha que haver uma conexão para eles estarem protegendo este lugar.
Mesmo achando que eles poderiam fornecer mais informações a ela do que algum ma-
gic caster genérico, possivelmente seriam informações corriqueiras.
“—Por que não responde? Esteja ciente que não pegarei leve com você, mesmo que seja
apenas um pirralho.”
Ter agido desse modo mesmo cientes das feras mágicas de Aura, isso ocorreu muito
provavelmente porque elas não demonstraram nenhuma intenção assassina ou sede de
sangue. Ou talvez esses oponentes fossem corajosos, confiantes e determinados.
“Mmm— Hmm. Umm, se estiver afim de virar o meu guia, aí eu não vou te matar, que
tal? Ah, meus garotos não vão fazer nada também.”
Aura planejava cumprir essa promessa, afinal, Mare mataria todos mais tarde.
“Você ousa balbuciar para mim, pirralho. Daqui você não passará. Não permitirei que o
item de invocação de demônios caia nas mãos de pessoas da sua laia.”
Descobrir que a coisa ainda estava aqui já foi mais que o suficiente. Ela precisava recu-
perá-lo e devolvê-lo a Demiurge.
A cabeça do ancião, perfurada pela rápida flecha de Aura, se abriu como uma romã. Seu
cérebro estava espalhado por todo o lugar.
Os humanos alinhados atrás do ancião ficaram atordoados e sem expressão. Aura sen-
tiu que seria muito problemático esperar até que seus cérebros voltassem a raciocinar,
então ela deu uma ordem a seus animaizinhos.
Aura falou enquanto caminhava em direção ao portão. As feras mágicas passaram por
ela como um turbilhão e atacaram os humanos restantes. Apenas sangue e tripas perma-
neceram no chão.
♦♦♦
Mare estava sentado sozinho no topo da segunda torre mais alta do castelo, com vista
para a capital.
Na batalha que começou três dias antes de chegarem à cidade, Mare havia matado um
número significativo de humanos. A maioria foram homens, entretanto, ele não tinha
visto mulheres ou crianças. Nesse caso, provavelmente todos os mais fracos foram dei-
xados para trás.
Ele não conseguia mais contar quantas vezes repassara os números em sua cabeça.
Se mais alguém estivesse por perto, Mare o teria consultado, mas não havia ninguém.
Bem, isso é se não contasse os Hanzos ocultos, mas não estavam visíveis na frente de
Mare. No fim, seria inútil perguntá-los.
Hum. O-o que devo fazer... para destruir uma cidade tão vasta e ainda ser eficiente e matar
todos os humanos...?
Antes de chegar à capital, Mare havia destruído várias cidades com seu mestre e adqui-
rido experiência relativa a isso. Justamente por isso que ele tinha uma compreensão
clara do quão difícil era destruir uma cidade — do quão difícil era uma tarefa para matar
todos os habitantes nela.
Por exemplo, se ele usasse a magia para induzir um terremoto, destruiria todas as es-
truturas acima do solo e as instalações subterrâneas. As pessoas dentro dessas estrutu-
ras seriam esmagadas até a morte ou enterradas vivas.
Mas um terremoto induzido por magia não poderia afetar coisas fora da área de efeito
da magia, de modo que as pessoas escondidas em casas em outras áreas não notariam.
Claro, o som de prédios em colapso e o lamento de pessoas morrendo era uma variável
à parte.
Se ouvissem esses barulhos, poderia haver muitas pessoas saindo de seus esconderijos
para investigar, olhar pela janela e coisas do tipo.
Os tipinhos que cobrem os olhos e ouvidos com medo eram os melhores, porque esses
ficavam em posição fetal dentro das casas, acreditando que as coisas logo passariam,
então simplesmente lançar outra magia e acabar com eles.
O problema era outro, ou seja, pessoas acreditavam que seriam as próximas a serem
esmagadas ou grupos inerentemente corajosos. Mais problemático que isso, só os fracos
que, sob estresse, assumiam um viés suicida, levando-os a correr em direções imprevi-
síveis.
Quando alguém notava esses fujões, havias chances de abandonarem suas casas para
fugir também.
Se escolhessem fugir para estruturas ainda em pé, as coisas ainda seriam fáceis. No en-
tanto, pessoas aterrorizadas tendem a tomar decisões irracionais, como escolher cami-
nhos através de áreas devastadas ou até mesmo tentar salvar outras pessoas presas sob
os escombros. Eles tornaram a situação muito mais difícil de lidar.
Se isso se transformasse nesse tipo de situação, Mare teria que usar outra magia de
efeito em área para matá-los, tendo o dobro de trabalho para o mesmo resultado.
Se não fosse pelas restrições de tempo, ter o dobro de trabalho não seria um problema,
mas essa operação tinha que seguir os preceitos de seu mestre. Não havia como ele per-
mitir que isso acontecesse.
Se fosse uma solução relacionada ao terremoto, ele não poderia garantir que mataria
todos. Haveria mais sobreviventes do que ele esperava. Embora pudesse iniciar um in-
cêndio para matar os sobreviventes, um incêndio seria nitidamente visível para pessoas
distantes. Isso também poderia desencadear respostas primárias de fuga, fazendo com
que ainda mais pessoas fugissem.
Que dilema.
Por isso, se ele não pudesse destruir a cidade com sucesso e matar todos os seus habi-
tantes, isso o faria questionar seu próprio valor e existência.
“Nnnnng, nnnnng...”
“Eu tenho que tentar o meu melhor... Ainz-sama me disse isso também.”
Se Ainz não tivesse permitido que Mare praticasse demolir cidades para que acumu-
lasse experiência em suas várias tentativas, ele não teria conseguido amadurecer tanto
quanto agora.
Agora que pensava nisso, quando a guerra começou, Mare foi convidado a destruir uma
pequena cidade. E honestamente, os resultados foram terríveis.
Mas quando Mare sofrera um gigantesco golpe em seu ego, as palavras gentis de Ainz o
fizeram tão feliz que ficou a ponto de chorar.
Ainz dissera a Mare que: “Desde que esteja ciente que não possui experiência em algo,
tudo o que precisaria fazer é estudar muito para melhorar”.
Ele destruirá mais cidades e matará mais pessoas até que se torne a pessoa que Buku-
bukuchagama queria que ele fosse.
“Isso mesmo!”
Mesmo dizendo em sua voz infantilmente fofa, seu tom carregava um espírito extraor-
dinariamente poderoso, algo dissonante de Mare. Se os outros Guardiões o vissem agora
e o comparassem com Mare que conheciam, provavelmente ficariam chocados e sem pa-
lavras.
♦♦♦
Climb estava em pé no corredor, observando o cenário do outro lado das espessas ja-
nelas de vidro.
Renner o havia dito que estaria ocupada se maquiando, segundo ela, era para não se
envergonhar caso o exército do Reino Feiticeiro chegasse antes que ela pudesse se en-
contrar com seu pai e, assim, ele foi enxotado de seu quarto. Ela também o informou que
até mesmo poderia trocar de roupa, o que naturalmente levaria um tempo.
Ao contrário do grupo de guerreiros liderados por Gazef Stronoff, a maioria desses ca-
valeiros era apenas um pouco mais forte que um soldado médio. Se eles lutassem contra
os monstros do Reino Feiticeiro, provavelmente seriam destruídos tão facilmente
quanto se alguém quebrasse os galhos de uma árvore morta. No entanto, como homens
que haviam sido condecorados pela realeza, eles desejavam demonstrar lealdade até o
fim. Eles haviam se mobilizado sem reclamar. Os verdadeiramente patéticos seriam
aqueles que ousassem zombar deles.
Se Climb fosse honesto consigo mesmo, devido a experiências passadas, ele diria que a
grande maioria desses cavaleiros não nutria boa vontade para com ele. Por sua vez,
Climb sempre pensara que se surgisse uma situação de vida ou morte, eles fugiriam
como galinhas. Climb não pôde deixar de zombar de suas idéias pré-concebidas sobre
aqueles homens.
Eles foram do jeito que foram precisamente por serem leais à realeza, não era fácil de
engolir e nem podiam aceitar um rato de rua servindo tão perto de uma realeza.
Ele não deveria estar lutando lado a lado com os cavaleiros? Climb refletiu sobre o as-
sunto e concluiu que não deveria.
Naquela época, ele não foi salvo pela realeza. Quem o salvou foi Renner em pessoa.
Se Renner ordenasse que o fizesse, ele se juntaria aos cavaleiros sem hesitar. Porém,
como ela não havia emitido tal ordem, ele deveria permanecer ao seu lado. Se ele pu-
desse comprar um único segundo para adiar a morte de Renner, seria esse seu dever.
Para ele, sua vida e alma pertenciam a Renner desde muito tempo, desde que ela o sal-
vou.
Nesse silencioso e vazio corredor, Climb ponderou sobre todos os tipos de coisas.
Ele pensou em sua vida até esse momento, em Renner, em seu hipotético futuro e—
Climb olhou em volta. Claro, ninguém estava lá. Aquele que havia servido ao lado dele,
Brain Unglaus, há muito deixara o palácio.
Brain foi como um mentor, um amigo e um irmão. Ele havia ensinado muitas coisas a
Climb e o havia guiado por um bom tempo.
Comparado a Gazef, Climb havia se aproximado muito de Brain. Para Climb, que consi-
derava Renner a pessoa mais importante em seu coração, Brain era alguém que chegava
em segundo lugar.
Climb pensou que a paz seria duradoura, que as coisas seriam as mesmas amanhã e
depois de amanhã. Contudo, olhando agora ele— de repente, as portas da sala foram
abertas. Um baque alto ecoou.
Como o som fôra mais alto do que o de costume, Climb olhou rapidamente e viu Renner
ao lado da porta. Ela não mudou de roupa, apenas um leve toque de vermelho estava em
seu rosto, leve o suficiente para que ele não soubesse ao certo se era maquiagem.
Ela passou um tempo considerável se arrumando, mas sua aparência não estava dife-
rente em comparação com o habitual.
“Aconteceu alguma coisa?” Quando Climb estava prestes a perguntar, Renner falou:
“Sim!”
Ao longo do caminho, Renner passou a Razor Edge para ele. Após acatar suas ordens,
foram direto para o quarto do Rei.
Renner não tinha a intenção de amortecer seu embalo, pois abriu as portas do quarto
sem cerimônias.
Depois de tanto barulho, percebeu que era sua própria filha. Ele deve ter pensado que
alguém havia invadido. Ranpossa III parou de falar no meio da frase.
Climb sentiu que o olhar do Rei havia mudado de Renner para ele, então fez uma grande
reverência como um pedido de desculpas.
“Ah, pai, o senhor ainda está aqui! Acabei de me lembrar de algo realmente importante.”
Ela correu por todo esse percurso, mas sua respiração permanecia calma e constante.
Climb não estava ofegante, mas ainda estava curioso para saber como Renner, que rara-
mente vira correndo, tinha o mesmo nível de fôlego que ele. Ainda assim, ela não correu
tão rápido, então provavelmente não havia nada com que se preocupar. Climb rapida-
mente enterrou esse pensamento.
“Renner, o que aconteceu? Além disso, por que abriu a porta assim?”
Renner falou um pouco mais rápido do que faria normalmente, fazendo Ranpossa III
sorrir ironicamente.
“...Bem, boa argumentação. Mas diga-me, Renner, o que há de errado? Você mencionou
que há algo importante.”
“Eu fui trancado aqui por aquela criança, você não sabia disso?”
“Haaaaah, Zanac foi um idiota ao dizer que vocês dois partiriam antes de mim. Aquela
criança...”
A expressão de Ranpossa III estava cheia de tristeza. Todo mundo sabia que, a essa al-
tura, do exército que enviaram da capital há uma semana, ninguém havia retornado. Em-
bora nenhum deles soubesse de seu destino, não era muito difícil imaginar o motivo pelo
qual não haviam retornado.
“...E ontem, quando finalmente fui libertado, pensei que deveríamos fazer os preparati-
vos antes da chegada do Rei Feiticeiro. É por isso que ainda estou aqui, me preparando
sozinho. Os cavaleiros se ofereceram para me ajudar, mas os dispensei. Eu me pergunto
para onde eles escaparam...”
Na direção em que os dois olhavam, havia tesouros como a coroa e muitos livros.
“...Então, por que Renner, por que ainda está aqui? Aquela criança... não te deixou esca-
par?”
“Não fugirei. Aquela criança era apenas um príncipe. Eu quem deveria ser o único a
assumir toda a responsabilidade. Ainda assim, aquela criança... hm? Essa espada não é...”
Ranpossa III notou a espada na cintura de Climb. Ele olhou para além de Climb e depois
para Renner.
“Aquele que te servia... o guerreiro capaz de rivalizar com o Gazef, o que aconteceu com
ele?”
“Brain-san deixou o castelo para batalhar com Sua Majestade, o Rei Feiticeiro.”
“Eu não sinto que isso... seria possível. Afinal, aquele é um oponente que nem o Capitão
Guerreiro poderia derrotar. E no estado atual das coisas, mesmo que o Rei Feiticeiro
fosse derrotado, fundamentalmente, nada mudaria.”
“Realmente... é como diz. Isso é verdade. Se não formos capazes de fazer o exército do
Reino Feiticeiro recuar, todo o resto é sem sentido.”
“Quanto ao porquê eu ainda estou aqui. Acredito que tenho o dever de passar a história
de nossa linhagem real ao nosso conquistador. Como último rei, devo demonstrar a eles
nossa dignidade.”
Ranpossa III riu como se estivesse cansado. Bem, provavelmente estava realmente can-
sado.
“—Climb. Cumprirei meu dever como rei. Então pegue a Renner e fuja. Embora já seja
tarde demais, o palácio tem passagens escondidas para fora da capital. No momento em
que o exército do Reino Feiticeiro entrar no palácio, use essas passagens.”
Desde que se lembrava, as ordens do Rei nunca haviam entrado em conflito com as de
Renner. Desta vez foi diferente.
Climb pensou por um momento e não fez nada. Ele apenas apertou os punhos com força.
De fato, Climb não queria deixar Renner morrer, mas as ordens de Renner tinham mais
prioridade para ele. Até porque, se ele realmente quisesse obedecer a essa ordem, teria
deixado Evileye levá-la quando tiveram a chance.
“—Climb.”
“—Climb.”
Depois de ver que Climb não havia se mexido, os dois exclamaram seu nome. As emo-
ções imbuídas em suas vozes, no entanto, eram completamente diferentes.
“De fato... parece ser o caso... mas, Climb... se é verdadeiramente leal, acredito que de-
veria escapar com a minha filha. Faça isso, mesmo que apenas faça com que a linhagem
Essa sugestão foi deveras tentadora, fazendo seu coração vacilar. Dizer que não tinha
fantasiado com isso seria uma mentira. Por diversas vezes ele pensou em Renner nos
momentos que se consolava.
Mas ele já estava decidido de que seu destino seria morrer como escudo de Renner.
“Embora a recompensa seja certamente tentadora... é mais valiosa do que eu possa acei-
tar... então permita-me recusar essa oferta...”
Ele olhou para Renner, e percebeu um sorriso incrível em seu rosto. Certamente era um
elogio sem palavras à sua lealdade.
“...Agora, é minha vez de dizer o porquê eu vim... Pai. Por favor, deixe a coroa para mim.”
“Por quê?”
“Acredito que não devemos entregar a coroa, um tesouro que carrega consigo a história
de nossa família, diretamente para Sua Majestade, o Rei Feiticeiro.”
“...Ele é quem destruiu nosso país, por isso deve ser feito o gesto simbólico de passar a
coroa. Além disso, se objetos como a coroa continuarem sendo transmitidos, a história
de nossa família será preservada. Essa foi a minha linha de pensamento, e foi por isso
que recuperei tudo isso do tesouro.”
“Do meu ponto de vista, esses itens deveriam estar todos escondidos na cidade. Então,
poderíamos dizer ao Rei Feiticeiro que: os itens que representam a realeza estão todos
escondidos pela cidade; portanto, se destruir a capital, corre o risco de perder todos.”
“...Faz sentido. Talvez seja... um bom plano. Talvez a aquisição da coroa e a destruição
da capital se tornem um dilema para ele. Embora minha vida não seja poupada, se isso
puder ajudar as pessoas, mesmo que uma pequena parcela, então deve ser feito.”
“Pai, não apenas isso, mas a outra também. Creio que a coroa usada para a cerimônia
de coroação mereça prioridade de ocultação.”
“Sim, Pai. Na verdade, peguei essa idéia do Onii-sama. O procedimento para ocultar es-
ses itens já havia sido planejado. Mas, com a possibilidade de ser uma tramoia do Mar-
quês Raeven, fiquei desconfortável com isso...”
“Mesmo? Aquela criança tinha pensado tão à frente?” A voz de Ranpossa III vagueou
quando murmurou para si mesmo. Seus olhos pareciam um pouco marejados.
“Então, Climb. Como sabe, o distrito dos armazéns foi abandonado depois do ataque de
Jaldabaoth. Há um pequeno armazém lá.”
Embora Renner tivesse explicado, suas instruções foram vagas o suficiente para que
Climb não confiasse em si mesmo para encontrá-lo.
“Há um porão secreto neste local aqui. Por favor, esconda os itens lá dentro.”
Climb olhou atentamente para o rosto de Renner, esperando que ela não dissesse algo
como “não volte”. Por favor, deixe-me ficar ao seu lado até o fim. Seus pensamentos a
alcançaram? Renner falou depois de um prolongado momento de hesitação.
Embora não tivessem certeza de onde o exército do Reino Feiticeiro havia chegado, era
muito provável que eles já tivessem invadido a capital e estivessem rastejando por todo
“Sim!”
“Você deve retornar ileso. Não tente lutar. Se surgir um inimigo, corra com todas as suas
forças. Fui clara?”
Parecia que sua determinação a havia alcançado, mas ainda assim não podia confiar
muito em suas capacidades. Renner se repetiu novamente.
“Fui clara?”
“Sim!”
Climb acenou com a cabeça pesadamente. Nesse ponto, parecia que finalmente Renner
estava aliviada.
“—Ótimo. Então, pai. Dada a situação atual, será difícil sair do palácio... então, o senhor
poderia contar ao Climb?”
“Exatamente.”
Depois de ouvir a explicação do Rei, Climb ficou verdadeiramente chocado. Ele atraves-
sara o corredor fechado várias vezes, mas nunca havia detectado a presença desses ca-
minhos ocultos.
“Climb, não haverá problemas casos se atrase um pouco. Pode permanecer vigilante e
não deixar estes itens caírem nas mãos do inimigo?”
“Claro, Renner-sama! Vou completar minha missão, mesmo que seja a última coisa que
eu faça!”
“Depois de ocultar os itens, mesmo que algo preocupante ocorra, volte aqui o mais rá-
pido possível, independentemente do custo. Dada a situação atual, não sabemos quando
o exército do Reino Feiticeiro chegará.”
Embora a estrutura da frase fosse um pouco diferente, ela provavelmente estava sendo
redundante apenas para aprofundar essa idéia nele. Isso mostrou o quanto ela se impor-
tava com ele.
Renner sorrira como sempre o fizera. Antes de sair, Climb notou que Ranpossa III havia
passado algumas poções para Renner.
Parecia surreal. Era como se todos os habitantes da capital tivessem desaparecido. Tal
era o nível de silêncio.
Foi então que ele ouviu o rugido de algum animal gigante, mas de sua posição atual ele
não conseguiu descobrir o que era. A capital era vasta, se não estivesse em um lugar com
ponto de vista alto como o castelo ou nos muros da cidade, seria difícil para ele descobrir
o que estava acontecendo.
No entanto, no momento isso não era necessário. Tudo o que Climb precisava fazer era
correr à toda velocidade em direção ao armazém.
Era uma missão relâmpago, mas esse lugar era bem distante. Mesmo considerando o
quão cauteloso estivera em sua jornada, ele gastara bastante tempo.
O armazém não era tão grande quanto ele imaginara. Climb chegou perto da porta e
percebeu que não estava trancada.
Ele devolveu o sino que havia preparado de volta à bolsa e entrou furtivamente.
Ele sentira o cheiro da poeira. Não havia luminárias e as janelas estavam fechadas, fa-
zendo o lugar ficar um tanto escuro. Ainda assim, algumas frestas deixavam feixes de luz
entrar, permitindo uma visão básica do ambiente.
Climb atravessou a entrada e prendeu a respiração. Ele se concentrou nos sons que vi-
nham de fora.
Havia muitas prateleiras vazias. Ele encontrou a terceira prateleira da direita e empur-
rou-a com força. No começo, nada aconteceu, mas depois que gradualmente aplicou mais
força, um clique pôde ser ouvido. A prateleira não resistiu mais ao empurrão e se abriu
como uma porta.
Graças ao encantamento, ele conseguiu distinguir o ambiente. No chão, havia uma sali-
ência em forma de maçaneta. Ao erguê-la, uma escada em espiral para baixo foi revelada.
Ao pé da pequena escada havia uma pequena sala com uma única prateleira.
Estava igualmente vazio como tudo até aqui, nada de substancial estava presente. A
poeira acumulada formou uma espessa camada que cobria tudo. Ele colocou os tesouros
reais lá.
O castelo estava branco como a neve. Paredes grossas cercavam o castelo, mas também
eram brancas. A luz era intensamente refletida.
Para terceiros, seria uma visão bonita, mas como um de seus residentes, essa era uma
situação urgente—
“Ah! A-ainda bem, você não foi esmagado... hmm... é perigoso ficar aqui, sabia?”
Ele olhou para onde a voz veio. No topo do armazém havia uma garota que estava
olhando para ele. Em suas mãos havia um cajado preto. Seu tom de pele era escuro, ela
provavelmente era da raça conhecida como Elfo Negro.
“E você é...?”
Embora não parecesse ser forte, não seria possível que tivesse chegado aqui sozinha.
Seria perigoso tratá-la como uma mera garota.
Segundo a avaliação de Climb, ele poderia vencer essa luta, mas se causasse um distúr-
bio aqui e fizesse com que os undeads do Reino Feiticeiro se reunissem, ele não seria
capaz de retornar ao lado de Renner. Seu dever não era derrotar o inimigo, mas servir
ao lado dela.
Além disso, Renner não o havia alertado repetidas vezes sobre isso?
Ele queria olhar para o armazém, mas conseguiu reprimir esse desejo. Como ele não
podia matá-la para silenciá-la, ele deveria fazer o possível para não despertar sua sus-
peita.
Climb deu as costas para a garota e correu. Comparado ao medo de ser atacado pelas
costas, seu desejo de retornar a Renner o mais rápido possível era muito mais forte.
Climb acelerou o passo. No momento em que virou uma esquina, ele ouviu o som de
prédios colapsando. Ele precisou matar seu anseio de verificar o que estava acontecendo.
Ele preferiu acreditar que o ataque que sentira foi uma ilusão. Climb chegou em segu-
rança à entrada das passagens. Enquanto verificava se estava sendo seguido, Climb no-
tou plumas de fumaça subindo até o céu.
Por causa das casas bloqueando sua visão, ele não pôde confirmar de onde vinha a fu-
maça, mas tinha certeza de que era de mais de duas fontes.
Portanto, aquela garota não fazia parte da vanguarda, mas sim de um contingente con-
siderável do exército do Reino Feiticeiro que já havia entrado e saqueado a cidade.
Dentro do palácio, estava quieto e calmo. Ele não conseguia entender o porquê.
Anteriormente, o castelo parecia ter sido congelado. Isso foi inegavelmente o resultado
de algum ataque do Reino Feiticeiro. Se fosse esse o caso, embora ainda não houvesse
muitos, ainda restariam alguns cavaleiros para defender o local.
Mesmo que este lugar estivesse longe das linhas defensivas dos cavaleiros, ele ainda
deveria ouvir algum tipo de ruído, mesmo que fosse apenas o som de uma espada coli-
dindo contra algo. Falando nisso—
Climb intencionalmente avançou com passos mais pesados, a fim de fazer mais barulho
enquanto se dirigia para os aposentos do Rei. Talvez ele devesse ter seguido o protocolo
ao abrir a porta, mas Climb não se importava mais. Ele abriu a porta com todas as suas
forças.
Ele olhou ao redor. Não encontrou sinal de Renner nem de Ranpossa III.
O quarto do Rei estava conectado a outro quarto, talvez estivessem lá. Quando Climb
estava prestes a vasculhar o outro cômodo, percebeu que havia um pedaço de papel so-
bre a mesa.
Era o mesmo tipo de papel que Renner usara para desenhar o mapa.
Era a caligrafia familiar de Renner, havia instruções para que fosse para a sala do trono.
Tinham que ser os subordinadas do Rei Feiticeiro. Elas não pareciam querer antagoni-
zar Climb, que havia vindo correndo em sua direção. Bem, era mais como se elas não
estivessem interessadas nele.
Climb tinha um mau pressentimento com o significado dessas palavras, um calafrio su-
biu em sua espinha.
No momento seguinte, tanta informação inundou seu cérebro que ele teve uma sobre-
carga sensorial.
Sentado no trono não estava Ranpossa III, mas um monstro esquelético que irradiava
uma pressão avassaladora — o Rei Feiticeiro, Ainz Ooal Gown. À sua esquerda e direita
estava um homem com uma cauda longa, a Primeira-Ministra do Reino Feiticeiro, Albedo,
e um monstro insectoide que parecia ser feito de gelo.
Não muito longe deles, sem vida e no chão, estava Ranpossa III. Suas roupas estavam
manchadas de vermelho escuro, ao lado do corpo estava Renner, com as roupas ensopa-
das com o sangue de seu pai. No chão, por perto, estava a Razor Edge.
A lâmina da espada estava coberta de sangue. Não havia como confundir, essa foi a arma
usada para matar Ranpossa III.
“Princesa!”
“Climb.”
Climb ficou entre Renner e eles e sacou a espada. Os dois provavelmente morrerão aqui.
Proteger Renner até o fim, apesar disso, foi a demonstração final de lealdade de Climb.
Renner.
A imagem de Renner sendo mentalmente controlada passou por sua mente e tudo co-
meçou a se encaixar.
A tragédia na frente do trono: Renner foi controlada e forçada a matar seu próprio pai.
Seu ódio borbulhava, mas ele ainda não conseguia se mexer. Era como se seu corpo não
o pertencesse mais.
“Ahhh, lembro-me de você. Eu o encontrei durante meu duelo com o Gazef Stronoff.
Desfaça o 〔Command Mantra〕.”
Com as restrições mentais removidas, Climb pulou para o lado e recuperou a Razor
Edge, que estava no chão. Ele se levantou rapidamente, ajustou a respiração e adotou
uma postura. Seu oponente, era o Rei Feiticeiro.
É claro que isso não fazia sentido, pois seu oponente foi capaz de matar o Capitão Guer-
reiro a uma velocidade que ele nem sequer conseguiu acompanhar. Ainda assim, ele era
o escudo vivo de Renner. Qual valor ele teria se não se colocasse entre eles?
“Você deveria estar agradecido por um rei, como eu, estar disposto a duelar pessoal-
mente com você. Ah, sim... se eu ganhar, levarei essa espada.”
O Rei Feiticeiro caminhou em sua direção sem se importar, ele não estava em guarda.
Se ele não existisse, a paz seria o status quo, ninguém teria morrido—
O Rei Feiticeiro deu um passo e, naquele momento, Climb arremessou Razor Edge com
toda a sua força.
Climb rapidamente diminuiu distância entre eles, fechou o punho e deu-lhe um soco.
“Climb!”
Monstros do tipo Skeleton tinham uma fraqueza inata a ataques de impacto, era um
conhecimento bem amplo, mas assim que seu punho fez contato, ele quem sentiu uma
dor intensa.
O Rei Feiticeiro, por outro lado, não parecia ter sofrido nada.
O Rei Feiticeiro estendeu a mão a uma velocidade inacreditável para agarrar o peitoral
de Climb. Ele tentou escapar, mas não conseguiu nem abrir a mão.
“—O poder do amor o faria despertar um poder adormecido, que te concederia a capa-
cidade de me derrotar.”
O Rei Feiticeiro ergueu Climb. Sua resistência não teve nenhum efeito, como se ele esti-
vesse lutando contra uma parede.
Ele foi arremessado. O corpo de Climb voou pelo ar por um bom tempo antes de cair no
chão.
Climb levantou-se em pânico e olhou para o Rei Feiticeiro. Depois de arremessar Climb,
ele não deu mais um passo. Não parecia ter considerado emendar o ataque.
“Você vai morrer aqui... não vale a pena te salvar. Você, que não tem talento nem capa-
cidade, não merece salvação. No entanto, não se desespere.”
O Rei Feiticeiro parecia estar olhando para Climb, mas também não ao mesmo tempo.
Seus olhos pareciam estar olhando para algum lugar distante.
Climb não conseguia entender do que estava falando, provavelmente estava dizendo
para descansar em paz no pós-vida.
A morte estava diante dele, uma entidade que nenhum ser vivo poderia se opor. Era
como se Climb estivesse prestes a ser engolido pelo orgulho do Rei Feiticeiro.
É claro que o Rei Feiticeiro, um Chefe de Estado capaz de usar magias capazes de des-
truir facilmente um exército, era totalmente dispare em comparação a Climb, um mero
guerreiro sem talento. No entanto, a diferença entre ambos não era apenas isso.
Era como a de uma formiga, ansiando pelos céus. Essa era a diferença entre seus mun-
dos.
Mesmo assim — mesmo sabendo muito bem que não poderia vencer, ele havia decidido
dar tudo de si, ser o escudo de Renner até o final do fim.
Sim.
Ele deve ter percebido a intenção de lutar emanando de Climb. O Rei Feiticeiro expôs
suas costas indefesas a Climb, pegou a Razor Edge que estava no chão e a jogou em sua
direção.
“Levante-se.”
O Rei Feiticeiro estendeu uma mão e, em um instante, uma espada negra apareceu. O
comprimento da lâmina era em torno do de uma espada longa.
Climb encarou o Rei Feiticeiro, que o olhava indiferente enquanto ele recuperava a Ra-
zor Edge. Ele não pôde evitar deixar aberturas. Ele pensou no duelo de Gazef. Logo antes
do início da luta, o Rei Feiticeiro havia dito a si mesmo que armas sem encantamentos
adequados não poderiam danificá-lo, mas também que essa espada poderia matá-lo.
Mesmo esse conjunto — esse conjunto de armadura concedido a ele por Renner, que
tinha vários encantamentos imbuídos, não podia quebrar sua defesa. Um fato depri-
mente que ele havia confirmado no soco de momento atrás.
“Climb...”
Para Renner, que se inclinou em sua direção com preocupação nos olhos, Climb sorriu
e sussurrou.
“Princesa, eu te comprarei algum tempo. Se... se desejar, faça aquilo o quanto antes.”
Climb criou alguma distância entre ele e Renner antes que ele erguesse a Razor Edge.
“Já se despediu?”
“Como devo atormentá-lo...? A melhor maneira seria não responder à sua pergunta.”
“REI FEITICEIRO!”
Ele golpeou com a Razor Edge, que foi facilmente interceptada pela espada do Rei Fei-
ticeiro. Após vários ataques, o Rei Feiticeiro permaneceu em pé onde estava.
O Rei Feiticeiro não o atacou, estava brincando com ele, como alguém faria para entre-
ter uma criança.
Como antes, o Rei Feiticeiro interceptou seu ataque usando a espada negra.
Climb ativou suas Artes Marciais. Não apenas isso, mas ele também havia ativado o en-
cantamento de seu anel. Nesse momento, as proezas de combate de Climb aumentaram
significativamente.
Sendo assim — devido ao Rei Feiticeiro ter se acostumado com seus movimentos habi-
tuais, esse ataque seria basicamente uma emboscada.
Ele fingiu usar toda a sua força para golpear de cima para baixo, relaxou os músculos e
puxou a espada de volta com toda a força no momento em que foi bloqueada. Em um
único golpe, ele a empurrou em direção à esfera vermelha no estômago do Rei Feiticeiro.
Mesmo que não fosse, se ele conseguisse quebrá-la, isso também não contaria como
uma forma de vingança?
“...GWARH!”
Climb sentiu o ombro queimar, uma sensação úmida começou a se expandir e, no mo-
mento seguinte, o calor se transformou em dor intensa.
Ele pulou para trás imediatamente, sabendo que seu ombro havia sido cortado.
A armadura dada a ele por Renner foi cortada com facilidade pela lâmina do Rei Feiti-
ceiro. Dito isto, não parecia ter habilidades de destruir panóplias, pois a armadura em si
não quebrou.
Ele ainda podia mexer o braço, mas o problema era que ele não podia mais fazer o
mesmo ataque de antes.
O pensamento de que poderia se vingar por aqueles que caíram se provou ser um mero
sonho.
“A Razor Edge poderia quebrar um Item World-Class? Estou muito interessado no re-
sultado desse experimento. Caso possa, o valor dessa espada dispararia. Enfim—”
Climb sorriu. O Rei Feiticeiro optou por usar magia contra alguém como ele, então ele
não poderia dar-lhe tempo suficiente para lançar.
Climb avançou. Ao ouvir as palavras “「Grasp Heart」”, ele sentiu uma dor intensa,
como se seu corpo estivesse sendo rasgado por dentro.
“Esplêndido.”
Logo depois—
Sua visão—
Por fim—
Notou—
Ele ouviu uma voz desconhecida ao seu lado, seguida pelo som de portas sendo fecha-
das. Isso o acordou exatamente como um apertar de um gatilho.
Algo deveria ter acontecido, mas tudo parecia estar esvanecido. Ele sentiu algo seme-
lhante à sensação de esquecer um sonho pela manhã.
Climb sentia que seus músculos e ossos haviam se liquefeito, pois ele não conseguia
reunir força alguma. Até o simples ato de torcer o pescoço parecia hercúleo.
O quarto mais luxuoso que Climb tinha visto até então era o de Renner, mas onde estava
agora superava o dela em opulência. Ele tinha algo similar a uma memória fotográfica,
mas mesmo assim não conseguia se lembrar de ter visto esse cômodo no palácio.
Embora não pudesse mover seu corpo muito bem, ele podia sentir a presença de outra
pessoa no ambiente.
“Aaaa...”
Ele tentou chamar a pessoa, mas os sons que saíam dele não podiam constituir nenhum
tipo de fala. Ainda assim, a pessoa o havia entendido e correu apressadamente para seu
lado.
Ele ainda não conseguia vocalizar, mas isso era de se esperar. Seu corpo inteiro estava
sem força, de modo que nem suas cordas vocais podiam se mover. No entanto, essa não
foi a razão pela qual ele não falou, foi por causa do tumulto de emoções que inundou sua
mente.
“Aaa, saa...”
Não, ela estava no limite de seu campo visual, mas ele ainda podia dizer claramente,
isso era diferente de seu sorriso habitual.
Climb moveu os olhos para descobrir algo bizarro nas costas de sua mestra.
Asas negras.
Como as de um morcego.
Mesmo se fossem artificiais, pareciam muito realistas para isso. De todo modo, ele de-
veria parar de inventar mentiras para se confortar.
Talvez ela tivesse percebido sua fonte de confusão. A expressão de Renner tornou-se
neutra.
“Essas coisas... fui mudada pelo poder do Rei Feiticeiro. Não sou mais um ser humano,
mas sim um demônio.”
“Saaaaaa...”
Climb queria dizer a ela que isso não era verdade, mas não conseguiu reunir forças para
falar. Ele só podia grunhir com “Aa—” e “Oo—”.
Climb tremia de emoção enquanto grunhia. Não importava o quanto tinha mudado por
fora, ela ainda era a Renner de sempre por dentro.
Ele não hesitou, havia se decidido há muito tempo a dar tudo de si por Renner. Climb
reuniu toda sua força para fazer seu corpo imóvel acenar com a cabeça.
“Muito obrigada... então permita-me responder sua pergunta. A verdade é que já jurei
lealdade a Sua Majestade, o Rei Feiticeiro. Esse foi o preço para te ressuscitar.”
“Não fique com peso no seu coração por isso. Não acredito tenha sido um mau negócio.
Afinal, eu não desejava viver sozinha... Climb, você está disposto a jurar lealdade a Sua
Majestade, o Rei Feiticeiro, também?”
“Si...m.”
Mesmo ainda estando um pouco confuso, se Renner estava disposta a jurar lealdade por
sua vida, ele deveria optar por servir também. Ou melhor, era mais preciso dizer que
essa era a única opção que ele tinha.
“Muito obrigada, Climb. Depois de jurar lealdade a Sua Majestade, o Rei Feiticeiro, ele
definitivamente exigirá que cumpra algumas tarefas para testar sua lealdade. Provavel-
mente será doloroso para você, e isso me entristece muito...”
“...Muito obrigada... Climb, isso é tudo o que tenho a dizer por enquanto. Descanse, eu
cuidarei bem de você.”
Ela manteve o sorriso e desapareceu de sua vista. Da direção para onde ela foi, Climb
pôde ouvir o som de portas se abrindo seguido por portas se fechando.
Climb relaxou.
♦♦♦
“Albedo-sama—”
“Eu não pude agradecer ao nosso mestre a tempo, sinto muitíssimo por isso. A prepa-
ração do veneno e da teatralidade na sala do trono, por ter incomodado Sua Majestade,
o Rei Feiticeiro, a ir pessoalmente lá para me ajudar, sou profundamente grata por isso.”
“Fufu. É o bastante. Não há necessidade de se preocupar com essas coisas. Se for para
indivíduos excepcionais, essas trivialidades valem a pena.”
A parte “se” da frase foi, de certa forma, um pouco mais enfatizada do que as outras,
fazendo Renner estremecer. Ela não sabia se tinham visto quem ela era, mesmo neste
aspecto. Albedo não continuou, mas Renner sentiu um olhar fixo em si.
“...Fufu. Não há necessidade de estar tão tensa ao meu redor. Demiurge e eu temos um
completo entendimento de suas capacidades através deste evento com o Reino.”
Naquela época, desde o momento em que ela se encontrou com o demônio Demiurge
até a destruição do Reino, cerca de 90% do plano havia sido sugerido pela própria Ren-
ner. Ela havia manipulado habilmente todos os lados através de sua presunção. A única
coisa que não estava confiante foi quando o plano havia mudado para o massacre de
quase todos os cidadãos do Reino. Ela estava preocupada se seria descartada depois.
Fora isso, as coisas tinham acontecido principalmente de acordo com seus planos.
“Essas habilidades excepcionais devem ser utilizadas em Nazarick — sob minha auto-
ridade.”
“Naturalmente, Albedo-sama.”
Foi singelo, ela só conseguiu detectar uma singela diferença, mas o tom de Albedo mu-
dou de algum modo.
“A recompensa pelo seu serviço de agora, e pelos os próximos milênios, será dada a
você com antecedência.”
“Muitíssimo obrigada, Albedo-sama. Por favor, agradeça também a Sua Majestade, o Rei
Feiticeiro.”
“Renner. Vou reiterar... não me decepcione. Isso não foi dado a você porque tem valor
intrínseco como refém, mas algo que ganhou com suas ações e a confiança que foi cons-
truída entre nós. Você entende?”
Ao ouvir sua voz gentil, mas fria, Renner inclinou a cabeça ainda mais baixo do que an-
tes.
“...Sim, Albedo-sama. Para retribuir essa generosidade, como vossa serva, eu mante-
rei— não, eu me esforçarei para servi-la com tudo que posso lhe oferecer.”
Sua superior levantou e saiu, deixando apenas uma leve risada no ar.
Renner manteve a cabeça baixa até ouvir o som da porta sendo fechada. Ela deu um
grande suspiro de alívio. Misturados em sua respiração havia sensações persistentes de
medo.
Sua contraparte era uma demônia impiedosa, afinal, não teria sido estranho que tivesse
dito tudo isso para aumentar suas esperanças, apenas para frustrá-la no último mo-
mento. Contudo, nada desse tipo aconteceu. O peso de seus ombros finalmente saiu, mas
ela não se permitiu acreditar por um único momento que sua posição estava segura.
Para ela ter conquistado a confiança deles era — impossível. O melhor cenário seria que
acreditassem que ela era um peão de valor, digno de sua benevolência. Foi por isso que
Renner precisava contribuir o máximo possível. Se ela não pudesse provar ser digna de
sua graça, as coisas iriam ladeira a baixo rapidamente.
Por esse motivo, Renner teve que expor suas fraquezas para eles, quanto mais, melhor.
Ela basicamente se colocou uma coleira e entregou a rédea para eles, a fim de cultivar a
narrativa que ela era um animalzinho de estimação leal e que eles eram seus donos. Ela
tinha que tornar a relação de Mestre-Escravo o mais clara possível. Se ela não tivesse
feito isso, eles provavelmente nem se incomodariam em fingir confiar nela.
Justamente por isso que eles fizeram toda aquela encenação na sala do trono.
Climb era a maior fraqueza de Renner — para mostrar o quão importante ele era, Ren-
ner o mencionou na primeira conversa que teve com Albedo —, somente quando essa
verdade foi apresentada na frente daqueles monstros, que ela realmente colocou a co-
leira.
O valor de Climb como refém teve que ser posto à prova, mas ela também teve um outro
motivo além desse. No entanto, eles aparentemente tinham notado suas intenções, mas
como as coisas saíram melhor do que ela esperava, não foi um grande problema.
Ela não imaginava que o Rei Feiticeiro atuaria em sua própria persona.
Toda vez que Renner pensava no nome de Ainz Ooal Gown, ela não podia deixar de ficar
toda arrepiada.
Teria sido mais do que suficiente a Primeira-Ministra Albedo ter representado essa
cena, mas o Rei Feiticeiro se dignou a desempenhar essencialmente o papel do próprio
bobo da côrte. Isso provavelmente significava que ela era muito bem considerada. “Ou
seja, o soberano de uma nação se esforçou para cooperar com sua chata peça de teatro.
Certamente você entende o que isso significa?”, provavelmente foi o que Albedo estava
implicando com suas declarações.
Se alguém que ela admirava tivesse que se diminuir para atuar em um palco, isso tam-
bém a desagradaria. Isso significava que sua boa vontade para com Renner, a pessoa
responsável por ele estar naquele palco, provavelmente havia secado.
Ela havia planejado demonstrar apenas uma parte de suas habilidades e esconder suas
verdadeiras capacidades por enquanto, mas agora que o Rei Feiticeiro pessoalmente ha-
via colaborado com seu joguete, ela foi acuada a um canto.
...Sua Majestade, o Rei Feiticeiro, provavelmente já havia previsto tudo isso. Parece que
um superior excepcional não seria necessariamente uma boa notícia para seus subordina-
dos.
Quão sortuda tinha sido por realizar esse sonho através da simples traição e sacrifício
do Reino?
Ela realmente se sentia muito feliz. Seu cérebro parecia que poderia romper com toda
essa felicidade.
Demônios eram imortais. Estar trancada aqui significava que ela acabara de encontrar
abrigo no lugar mais seguro do mundo.
E sendo esse o caso— Renner olhou para a porta atrás dela. Não, para o jovem dor-
mindo na cama além da porta.
“Climb. Fique aqui comigo para sempre~ Hoje teremos nossa primeira vez.”
“Ou eu devo dar mais valor a isso — e me conter por hoje? Esta é a primeira vez que me
deparo com um dilema— Haaah, estou tão feliz.”
Para ele, era difícil acreditar que aquela era a capital. Se alguém lhe dissesse que tudo
era uma ilusão, para ele, seria bem mais crível, mas não era esse o caso. A cena à sua
frente era a verdade, a conclusão de uma batalha.
A expressão do Marquês Raeven ficou torcida ao ver a tragédia diante de seus olhos.
Quanta mão de obra e tempo seriam necessários para arruinar uma cidade tão grande
quanto a capital e nessas extensões?
Qualquer quantidade seria inimaginável para ele, o único com o poder de conceber isso
era o Rei Feiticeiro, que só poderia ser descrito como desumano.
Passos vindos de trás ficaram mais altos quando uma voz o abordou.
“Marquês...”
Era um nobre de sua própria facção, que o acompanhara no caminho até aqui. Embora
ele fosse um mero barão, o Marquês Raeven tinha alta consideração por sua sagacidade.
Era a um ponto que a prioridade de elevar o título desse homem estava acima da de
qualquer outro.
Por esse motivo, quando perguntado pelo subordinado do Rei Feiticeiro quais dos no-
bres eram bons o suficiente para poupar, esse homem foi a segunda pessoa que ele no-
meou. Nem mesmo um homem tão distinto conseguiu falar, porque também não conse-
guiu esconder seu medo, juntos, tremeram frente os escombros. Provavelmente estava
experimentando as mesmas emoções que o próprio Raeven ao testemunhar as ruínas
diante de seus olhos.
O Marquês Raeven olhou para trás e confirmou que todos os doze nobres haviam des-
cido das dez carruagens.
Ninguém se opôs e isso era de se esperar. Eles foram convocados para este lugar pelo
Rei Feiticeiro, então não havia como ainda conseguirem dizer coisas como “não vamos”.
Até porque, eles nem sequer conseguiriam reunir tanta coragem— ou sendo mais pre-
ciso, nenhum deles era tão imprudente a esse ponto.
O problema agora estava no local a qual foram instruídos a vir, não os especificara onde
na capital.
Epílogo
400
O Marquês Raeven deu uma olhada em volta e notou uma estrutura ainda em pé ao
longe; o Palácio de Valencia. O terreno do castelo, destinado a servir como defesa do
palácio, também havia sido transformado em escombros.
A razão pela qual o Marquês Raeven conseguira identificá-lo de onde estavam prova-
velmente se devia a terem propositalmente limpado os escombros.
Uma estrutura única em meio a uma montanha de escombros. Raeven não havia pen-
sado nisso antes, mas aquilo não representava salvação. Pelo contrário, tornou-se um
monumento que inspirava um desgosto indescritível e violento naqueles que o viram.
“Vamos prosseguir.”
A comitiva do Marquês Raeven estava atualmente nas ruínas do que costumava ser os
muros da capital, então o palácio estava bem distante. Embora pudessem ir mais rápido,
eles precisavam evitar serem vistos em suas carruagens por medo de desrespeito. Por
sinal, eles chegaram em um horário muito antes do combinado, para terem tempo de
sobra até chegar, mesmo que caminhassem o caminho inteiro até lá.
A rua principal em direção ao palácio estava livre de escombros. Estava tão limpo que
provavelmente tinha sido varrido de antemão.
Em outras palavras, a única coisa que permaneceu intacta aqui foi a rua. Nenhuma das
casas nem as paredes ladeando a rua permaneceram. Parecia provável que tudo foi de-
molido depois incinerado até não sobrar nem o pó. No caminho para a capital, eles tam-
bém testemunharam vilarejos e cidades destruídas, mas nenhuma delas correspondia à
extensão da destruição em exibição na capital.
O Marquês Raeven olhou para as ruínas ao seu lado. Quantas pessoas estavam enterra-
das abaixo delas? Ele até sentiu como se estivesse andando por um imenso cemitério.
Seus corações foram enfraquecidos pela visão de tanta tragédia? Raeven ouviu alguém
murmurar.
“—Rei Louco.”
“Seu desgraçado!”
Seu olhar afiado esquadrinhou os nobres, dentre eles havia um cuja pele estava pálida
e cujo rosto espasmava constantemente.
Quem vivera tempo o bastante na nobreza já teria aprendido a subjugar suas emoções
e esconder expressões, mas a visão à sua frente ainda o fez ceder internamente.
Raeven podia simpatizar com eles, mas mesmo que concordasse com esse pensamento,
o lugar não era apropriado para isso. Não seria aconselhável ser inimigo deles, então ele
teve que repreendê-los vocalmente.
“Todos os presentes aqui são talentosos e fenomenais, foi por isso que escolhi salvá-
los... então tentem evitar desperdiçar meus esforços com tais gafes... Não há necessidade
de pedir desculpas ou me agradecer. Apenas tentem entender de onde vim.”
Ninguém respondeu, mas ele tinha fé que suas intenções foram bem transmitidas.
“...Essa é uma boa sugestão. Então... Que tal falar sobre o nascimento do meu segundo
filho?”
Ele elogiava seu filho por horas a fio, mas tudo o que falava era essencialmente sem
substância.
Epílogo
402
Ainda assim, considerando o fato de que isso poderia aliviar um pouco o clima, ele ainda
falava do filho. Quando voltou à realidade, eles já haviam andado metade do caminho até
o palácio.
Talvez ele possa ter falado um pouco — Claro, apenas um pouco — além da conta.
Embora ainda tivesse muito mais a dizer, ele estava ciente que estava na hora de parar.
Raeven propositalmente fingiu tossir.
“Bem, então, falaremos mais do meu filho quando voltarmos. O que devemos propor ao
Rei Feiticeiro para que nossos filhos possam viver felizes no futuro?”
Eles haviam discutido esse tópico várias vezes antes de chegar aqui, mas já era hora de
chegarem a uma conclusão.
O Marquês Raeven examinou seus arredores para confirmar que não havia soldados do
Reino Feiticeiro nas redondezas.
“Embora seja uma pergunta que precisamos fazer, Sua Majestade, o Rei Feiticeiro, é um
undead, afinal. Ao contrário de seres vivos como nós, seu governo será eterno. Nossos
netos e bisnetos esquecerão essa cena e farão algo para enfurecer Sua Majestade?”
“Isso é altamente provável. Embora nossos netos possam se sair bem, aqueles que pos-
sam vir depois deles que me preocupa.”
Um discurso que chocaria qualquer um que se orgulhasse de sua nobre linhagem foi
feito por uma lady cuja família só havia ascendido à nobreza durante a geração de seu
pai. Ela estava aqui como representante de seu pai enfermo.
Por ter vindo de alguém cujas raízes na nobreza não eram tão profundas, muitos ex-
pressaram descontentamento.
“Contemple o que está à sua frente, as coisas não terminariam com apenas uma família
sendo abatida.”
As palavras de Raeven fizeram com que ela olhasse para o chão, mas ele não parou por
aí:
Raeven ouviu uma pergunta da direita, que recebeu uma refutação da esquerda.
“Reconstruir agora que tudo está arruinado a este ponto? Não acha isso um pouco difícil
de imaginar?”
O Marquês Raeven concordou. Contudo, o Rei Feiticeiro possuía um poder que nem ele
nem toda a raça humana podiam reunir. Talvez desde o início ele desejasse construir
uma cidade ideal e foi por isso que fez o que fez.
Ele não tinha certeza se o Rei Feiticeiro exigiria reféns deles, mas, levando em conta a
possibilidade de terceiros fazendo essa sugestão, a probabilidade de estarem favoráveis
a essa idéia aumentava substancialmente. O Marquês Raeven imolou seu cérebro e che-
gou a uma conclusão.
Em outras palavras, ele defendia que todos ficassem dançando na palma de sua mão.
Muitos dos nobres provavelmente discordaram de sua decisão em seus corações, mas
nenhum deles falou nem mudou de expressão.
Depois de tomarem suas decisões finais sobre vários assuntos, o palácio finalmente es-
tava diante deles.
O que Raeven e o resto viram foi uma montanha de escombros que parecia estar blo-
queando a entrada. Curvado no topo, havia um ser undead.
Ainda havia um pouco de distância entre eles, mas Raeven e sua comitiva aceleraram o
passo.
Epílogo
404
Quando se aproximaram, finalmente entenderam o formato real da montanha de es-
combros em que o Rei Feiticeiro estava sentado. Bem, seria incorreto chamá-lo de “for-
mato real” porque era de fato uma montanha de escombros, mas, de um ponto de vista
diferente, não era.
Aquele era um trono feito de escombros, uma obra de arte que simbolizava o fim do
Reino.
Era difícil para eles imaginarem que os escombros que constituíam esse trono eram
desta cidade. Talvez tivesse sido transportado de algum lugar inominável.
Aterrorizante.
Um monstro que era capaz de conceber tal idéia e também capaz de executá-la como
tal, era aterrorizante.
Eles correram com todas as suas forças e prostraram diante dele quase como se tives-
sem tropeçado. “Hooo, hooo” arfaram, estavam terrivelmente sem fôlego.
“Estamos aqui para prestar nossos respeitos a Vossa Majestade, o Rei Feiticeiro.”
“Raeven, correto? Você chegou aqui bem a tempo. Dito isto, hmm... como devo dizer isso,
que tal acalmar sua respiração primeiro...? Afinal, está suando bastante.”
“P-por ter mostrado um lado tão vergonhoso de mim mesmo a Vossa Majestade, devo
me desculpar profusamente.”
A voz desse ser foi tão cheia de condescendência que o chocou. Era exatamente por isso
que ele era aterrorizante.
Seu cérebro gritou “ARMADILHA!” para ele. A situação deles só pioraria se eles manti-
vessem sua imprudência. Raeven tirou um lenço para limpar o suor da testa.
“...Eu convoquei todos vocês aqui, afinal, a etiqueta dita que eu os saúde primeiro. To-
davia, eu não gosto de conversas sem sentido, então vamos ser sucintos.”
“Como desejar!”
Ele estava prestes a falar com Raeven e os outros sobre algo que não haviam discutido
antes?
“Isso é tudo. A partir de agora, a Albedo notificará vocês sobre quaisquer alterações
importantes que possamos fazer em suas ações. Até lá, sigam as mesmas regras que es-
tão seguindo até hoje.”
“Absolutamente nada! É só que, para provar a minha lealdade e a dos meus colegas no-
bres, em minha posição de servo, se possível, eu gostaria de fazer algumas propostas.”
Para Raeven, cada palavra que dizia fazia com que se sentisse cuspindo sangue. Depois
de ter dito as palavras que era fonte de sua depressão, ele viu que o Rei Feiticeiro havia
virado a cabeça para contemplar algo longínquo. Ele pode estar pensando em algo como
“Meros humanos se atrevem a falar em vez de apenas responder minhas perguntas?
Quanta arrogância”.
Ele o desagradou? Raeven sentiu como se seu estômago estivesse cheio de chumbo. Se
estivesse prestes a terminar um trabalho cansativo e seu subordinado acrescentasse
mais documentos à pilha, ele provavelmente estaria fazendo uma expressão semelhante
à que o Rei Feiticeiro fazia. Raeven pensou sobre essas coisas em uma vã tentativa de
escapar da realidade.
“Creio que isso conclui a conversa... Enfim, para permitir que as pessoas percebam o
quão idiota é se opor a mim e ao meu país, esse lugar será deixado em seu estado atual.
Tendo isso em mente, se alguma praga nascesse disto aqui, seria bastante problemático.
Por esse motivo, lançaremos uma magia por todo o lugar após desintegrar tudo. Para
evitar ser pego em quaisquer incidentes, lembre-se de não permitir ninguém por aqui.”
“Entendido!”
“—Albedo, chame o Guren aqui e queime tudo até as cinzas. Devo ressaltar, porém, que
o belo exterior do palácio deve ser preservado. Mova os móveis e outros enfeites para E-
Rantel.”
Epílogo
406
“Sim, senhor.”
Embora ele quisesse saber quem era Guren, provavelmente era algo que não era para
seus ouvidos. Se ele tivesse que categorizar as coisas em “Preciso saber” e “Jamais deve-
ria descobrir”, tudo ao redor do Rei Feiticeiro provavelmente pertencia a esse último.
“Sim... O fato do quão tolo é se opor a Vossa Majestade, o poderoso Rei Feiticeiro, certa-
mente se tornará um conhecimento comum para as eras vindouras.”
Como sua cabeça estava inclinada, ele não sabia dizer qual expressão o Rei Feiticeiro
tinha — é claro, o Rei Feiticeiro não tinha pele e, portanto, nenhuma expressão —, mas
ele podia sentir uma pitada de alegria após sua resposta.
“É o que pensa? Então o que fizemos aqui valeu a pena. Estou bastante satisfeito com
isso.”
Ouvir as opiniões do Rei Feiticeiro, alguém que matou 8 milhões de habitantes do Reino,
deu a Raeven um desejo intenso de vomitar. Ele não pôde deixar de orar.
Para que um dia, apareça um herói capaz de matar esse Rei Demônio.
♦♦♦
Philip repetiu a mesma frase que já havia repetido várias vezes ao longo desta semana.
De fato, suas ações definitivamente não desencadearam a guerra. Tudo isso foi um es-
tratagema do Reino Feiticeiro. Se ele pensasse dessa maneira, tudo finalmente faria sen-
tido lógico.
Havia uma chance de que o motivo pela qual suas terras não produzissem uma colheita
abundante e por suas propostas nunca serem aprovadas fosse tudo por causa dos planos
do Reino Feiticeiro.
Eles devem ter pago aqueles caras ou falaram mal de mim. Eu sabia que tinham feito algo
contra mim. Claro, só pode ser isso!
Philip saiu da cama e estendeu a mão para a mesa de cabeceira. Ele pegou a jarra e a
inclinou, mas pelo peso soube que estava sem água.
OVERLORD 14 A Bruxa do Reino em Ruínas
407
“Tsk...”
Espalhadas por todo o chão havia garrafas vazias de bebida. Embora o ambiente pu-
desse estar cheio de um forte cheiro de álcool, o nariz de Philip havia se acostumado a
isso há muito tempo, de modo que não podia dizer a diferença.
Ele escolheu aleatoriamente uma garrafa do chão e a levou aos lábios, mas nem uma
gota caiu na garganta.
“Merda!”
Mesmo após gritar, ninguém veio lhe servir álcool. Normalmente, haveria empregadas
— o pessoal de Hilma — em espera no quarto, mas agora que pensava nisso, ele perce-
beu que não as via há muito tempo.
Seu corpo cambaleou. “Opa” disse ele ao se apoiar em sua cama pela leve vertigem. Em
vez de ficar bêbado, seu corpo provavelmente estava mais lento devido ao fato de ele
não ter saído do quarto há muitos dias.
Ele gritou enquanto chutava a porta com todas as suas forças. Ele não usou o punho por
medo de que pudesse doer.
Sem resposta. Ele estalou a língua novamente, abriu a porta e gritou mais uma vez com
força.
“ESTÃO SURDOS POR ACASO!? Eu disse que estou sem bebida!! TRAGAM MAIS!”
Epílogo
408
Philip saiu zangado do quarto.
O pai e a família do irmão mais velho haviam se mudado para outro lugar porque Philip
queria fazer uso da casa principal. Além dele, apenas servos permaneceram aqui.
Embora fosse a mansão de um nobre, era apenas uma condizente com a de um mero
barão. Ele rapidamente poderia chegar à sala de jantar a partir de seu quarto.
Isso porque ele havia notado uma mulher de branco, sentada em uma das cadeiras.
“Ara, só acordou agora? Você demorou tanto que eu estava prestes a te acordar pesso-
almente.”
Era a Primeira-Ministra do Reino Feiticeiro, Albedo. Seu sorriso de deusa era o mesmo
desde a primeira vez que a vira. Ela não parecia estar brava com Philip pelo que havia
feito. De repente, o pensamento de que o Reino Feiticeiro provavelmente nem se impor-
tava com o que ele havia feito surgiu na mente de Philip.
De fato.
Se eles estivessem realmente bravos com ele, teriam começado a invasão pelas terras
de Philip. Mas, eles não haviam feito isso, portanto, em outras palavras, não estavam com
raiva dele. Pelo contrário, eles deveriam ser gratos a ele por ter acendido o estopim para
iniciar uma guerra com o Reino. Talvez ela estivesse lá para expressar sua gratidão.
Não, melhor ainda. Talvez ela não tivesse descoberto. Talvez nem mesmo soubessem
que foi Philip quem fez tudo isso.
O sorriso de Albedo estava contagiante, fazendo com que Philip sorrisse de volta.
“O-obrigado por ter vindo a um lugar tão indigente, Albedo-sama. Não acredito que a
senhorita teve que esperar aqui! Definitivamente repreenderei meus servos mais tarde.”
Colocada em cima da mesa havia uma caixa branca com aproximadamente cinquenta
centímetros de largura.
“—HIEEEE!”
Em seu rosto havia um sorriso de orelha a orelha, mas agora que as coisas haviam pro-
gredido até esse ponto, até Philip sabia.
Se ele não escapasse deste lugar, as coisas não terminariam nada bem.
Philip virou-se para correr, mas, em pânico, sua perna tropeçou na outra, fazendo-o cair
no chão com o baque alto.
“Você realmente acredita que agir como uma criança mimada pode tirá-lo dessa situa-
ção?”
Ela o arrastou pela orelha, o que causou uma dor tão intensa no cérebro que ele come-
çou a questionar se a orelha estava prestes a ser arrancada.
Epílogo
410
“Então ande. Aqui, levante-se.”
Philip queria empurrar a mão de Albedo, que ainda segurava a orelha, para longe. No
entanto, embora suas mãos fossem finas e delicadas como esperado de uma mulher, sua
força de agarro era muito mais forte que a dele.
Sua visão estava turva pelas lágrimas, mas Philip deu um soco na direção do rosto de
Albedo. No entanto, seus punhos foram facilmente pegos no ar, e então—
“HIKYAAAAAH!!”
Uma força forte o suficiente para esmagar os ossos foi aplicada ao seu punho, que co-
meçou a emitir sons estaladiços.
“...Se apenas andar, eu não vou esmagar suas mãos, que tal?”
Ele havia tentado o seu melhor, mas não apenas ele não teve sucesso, como nunca havia
sido tratado assim antes.
Por que ninguém veio ajudá-lo? Outros o haviam vendido para o Reino Feiticeiro em
troca de segurança?
Albedo não reagiu a Philip chorando pela dor no punho e pelo puxão na orelha. Ela ape-
nas avançou como se ele não existisse. Philip a seguiu sem resistência, já que ainda es-
tava sendo puxado pela orelha.
Mas, diferentemente de uma floresta normal, essa não era feita de árvores e arbustos.
Empalamento.
Homens, mulheres, velhos ou jovens, estavam empalados. Nenhum deles foi poupado.
Seus sofrimentos eram visíveis através de suas expressões, não havia exceções. Sangue
escorria de todos os orifícios e poças de sangue circundavam a base das estacas.
Quando eles fizeram algo assim? Era impossível para Philip não ter notado isso.
“Isso... não é um sonho. Apenas usei magia de isolamento acústico no seu quarto. Estava
tão silencioso lá, não é mesmo? Haaah, se você fosse um pouco mais esperto, talvez ti-
vesse notado algo errado... mas pelo que vi, estava completamente alheio a situação.”
Uma vez mais, Philip usou toda a força de suas mãos para liberar seu ouvido da mão de
Albedo. Albedo reagiu dando-lhe um soco no rosto enquanto dizia:
“Pensei em deixar sua execução para os aldeões, mas isso seria chato. Aquele que ad-
miro, Ainz-sama, enfatizou fortemente a noção de ter experiência prática e treinamento.
É por isso que eu queria testar alguns métodos de tortura a fim de coletar informações
sobre você. Assim deveria ser de alguma utilidade para mim.”
Ao ver a expressão de Albedo, um sorriso largo o bastante para rasgar um rosto, Philip
perdeu a consciência.
“Haaah... esse sujeito, sério...? Haaah, tudo bem. Afinal, seu pai me disse: “Deixe aquele
idiota provar a dor de todos!” Vou manter minha promessa a ele.”
♦♦♦
Epílogo
412
Como Albedo disse que precisava pôr um fim em alguns assuntos, eles se separaram no
meio do caminho de volta. Ainz voltou para seus aposentos sozinho e disse em tom so-
lene à empregada encarregada de atendê-lo hoje.
“Revisarei as estratégias que o Reino Feiticeiro deve empregar no futuro. Fique aqui e
não permita que mais ninguém passe desse ponto.”
Ainz viu que a empregada designada para o acompanhar havia fixado o olhar em dire-
ção à porta, na direção da empregada responsável por seus aposentos hoje. Ela prova-
velmente estava prestes a dizer: “Vou deixar tudo aqui para você, assim, serei a única a
assessorar o venerável Ainz-sama.” Afinal, era assim que elas geralmente operavam.
“Terei que considerar as coisas na escala de anos no futuro. Qualquer tipo de movi-
mento pode prejudicar minha linha de raciocínio, fui claro?”
“Sim, senhor! Tentarei o meu melhor para apagar completamente a minha presença a
partir de agora!”
Mesmo Ainz ansiando por dizer que não era nesse sentido, as coisas desse modo não
estava bem também? Com toda a honestidade, quanto mais ele pensava sobre, menos
ele queria pensar sobre isso.
“Perfeito. Porém, como não pode apagar sua presença por enquanto, você deve ficar
aqui.”
“Sim, Ainz-sama.”
A empregada encarregada de cuidar dele ficou para trás no escritório. O próprio Ainz
foi direto para o quarto.
Seu corpo estava ótimo, mas sua mente estava absolutamente destruída. Ainz pulou em
sua cama como se estivesse mergulhando em uma piscina.
Um mergulho magnífico.
Se alguém considerasse o tempo no ar, a distância em que saltara, o local em que pousou,
a pose que estava quando pousou, etc., seu movimento de mergulho o angariaria elogios
que eram objetivamente bem merecidos.
Uma destreza que ele adquirira com prática e experiência, afinal, ele mergulhava em
sua cama toda vez que estava mentalmente exausto.
Ainz deu um suspiro de alívio da mesma maneira que um homem de meia idade. Mesmo
seu suspiro foi lindo. Se feito uma enquete com milhares de pessoas, os resultados apon-
tariam que era realmente assim que um homem de meia idade suspirava. A razão para
isso era a mesma de antes, Ainz havia praticado seus suspiros várias vezes antes também.
Ainz rolou em sua cama depois disso. Às vezes à esquerda, às vezes à direita.
Ele estava na capital arruinada até agora, então seu corpo estava coberto de poeira e
sujeira. Embora soubesse que seria melhor tomar um banho de Slime primeiro, ele não
tinha mais capacidade mental para isso.
Tão cansativo...
Ele foi bem sucedido em atuar como um vilão? Ele havia lidado com aquele sujeito da
armadura platina corretamente? Embora houvesse vários pontos que justificassem con-
sideração e revisão, eles finalmente resolveram um grande problema.
—Não.
Este foi apenas o primeiro passo bem-sucedido em seu grande esquema, pode-se dizer
que as coisas só ficariam mais difíceis a partir de agora. Com isso dito, porém, eles con-
seguiram riscar a destruição sem sentido em sua lista de tarefas, uma das partes mais
simples do plano. O que estava por vir eram destruições em menor escala, em outras
palavras, trabalho de precisão. O que realmente era problemático seria o esforço de re-
construção que viria depois.
Até esse momento, o território do Reino Feiticeiro era pequeno — excluindo as Planí-
cies Katze —, mas tinha nações imensas como seus vassalos. No entanto, as coisas esta-
vam diferentes agora. Eles tinham acabado de ganhar uma grande quantidade de terri-
tório, os problemas que poderiam surgir disso eram óbvios.
Certamente, quem estava encarregada dos assuntos internos era Albedo, mas, se sur-
gisse algo sério, ela definitivamente consultaria Ainz. Os problemas que poderiam ocor-
rer no futuro eram certamente mais críticos e difíceis do que os já enfrentados. Ele não
tinha absolutamente nenhuma confiança em si mesmo no sentido de que poderia resol-
ver esses problemas de maneira apropriada.
Além disso, ele não conseguia descobrir se tinha feito algo errado desde que entrara
nesse empreendimento. Agora, além de Albedo e Demiurge, os dois gênios de Nazarick,
a mulher mentalmente afetada chamada Renner também havia sido adicionada às alas
de Nazarick também. Ela não tinha nada a ver com YGGDRASIL, era puramente uma fo-
rasteira, alguém que não se limitava a narrativa base e, portanto, podia analisar Ainz de
Epílogo
414
um ponto de vista puramente objetivo. O que mais o preocupava foi o fato de que seu
intelecto era facilmente comparável aos dois gênios de Nazarick.
Com alguém como ela por perto, ele poderia realmente representar e atuar a persona
de Ainz Ooal Gown que ele vinha construindo até agora?
Ainz falou como um verdadeiro escravo assalariado que cometera um grande erro que
provavelmente seria descoberto no dia seguinte em que entrasse na empresa.
Pensei ter atingido meus limites naquela época. Não é hora de que todos saibam que eu
fui um picareta sem talento por todo esse tempo? Não me preparei mentalmente para esse
caminho?
Mas—
Assim que penso em como seria isso... fico com medo do tipo de reação que eles teriam...
Que se dane. Isso é não suficiente para desencadear minha supressão emocional...?
Era como se a passiva de Ainz lhe dissesse que isso não era motivo de preocupação.
Entretanto, isso era mais fácil falar do que fazer. Não havia como deixar tudo para trás
de modo que fosse aceitável. Era como se quisesse pedir conta e ainda receber todos os
benefícios antes de renunciar. Definitivamente, essa não era uma maneira aceitável de
deixar um emprego.
Embora ele pudesse dizer “É isso aí, vou dar uma fugida” e realmente fugir, ele seria
menosprezado por isso.
Mas é claro!
Ficar livre das amarras de Nazarick por algum tempo, entregar o trabalho necessário a
Albedo, seria definitivamente uma aposta mais segura do que deixar o trabalho para ele.
Mas havia uma chance de que ela dissesse a Ainz, por ser o líder supremo de Nazarick,
que ele tinha que ser incluído no processo de planejamento. Se ela dissesse isso...
“Eu já usei a desculpa de que eles deveriam treinar para serem autossuficientes caso eu
falecesse, então usarei essa tática como variante dessa. Vou dizer a eles que, caso eu me
tornar incontactável, Albedo ficaria encarregada de tudo— é esse o plano que vou seguir.”
Simples assim—
Ele poderia melhorar o relacionamento deles com o Império, e mesmo com o próprio
Jircniv, fazendo um tour pelo Império.
O Reino Sacro—
Aura e Mare. Ele já havia pensado nisso antes, se estava exigindo muito trabalho deles.
Embora isso estivesse dentro da norma de seu antigo mundo, Yamaiko repetidamente
lhe dizia que a maneira de fazer as coisas estava errada. Partindo desse princípio, ele
provavelmente deveria ser mais condescendente com as crianças.
Mas então, o que ele deveria fazer? Deveria levar aqueles dois em um passeio?
Não soa nada mal... ou melhor, seria um excelente plano, não? Se eu fizer isso, os dois po-
dem dar o exemplo para os Guardiões de Andar sobre as férias remuneradas, e também
seria um experimento ver como Nazarick se sairia sem eles.
Epílogo
416
Ele havia notado o problema do aumento da carga de trabalho nos Guardiões de Andar
há muito tempo. Talvez ele pudesse descobrir uma solução para esse problema através
disso.
“É isso aí!”
Depois de concluir uma certa quantidade de trabalho, ele levaria as crianças à nação
élfica, para fazerem alguns amigos.
Ainz levantou-se e saiu do quarto com esse plano firmemente definido em seu coração.
Epílogo
418
Há quanto tempo pessoal, aqui é Maruyama Kugane. A partir daqui, explanarei algumas
coisas, portanto, se vieram primeiro aqui antes de terminarem de ler, tenham cuidado.
Conseguem sentir...? O meu esforço de trazer em um tempo menor que 2 anos? Senti-
ram...? Que desânimo, hein.
Mas, 2 anos é muito tempo. Tenho certeza que muita coisa aconteceu com vocês, pois
muita coisa aconteceu comigo. E o período imperial mudou de Heisei para Reiwa.
Quanto a mim, bem, eu estava ocupado no trabalho, então quase não vi o tempo passar,
mas se meus caros leitores sentiram que, “Estava contando os minutos para ler”, eu fica-
ria muito feliz em certo sentido. Pois significaria que existem aqueles que estavam ansi-
osos por mais OVERLORD.
Agora, vamos ao volume 14. O Reino, que foi o cenário muitas vezes desde o primeiro
volume. Muitos personagens terminaram aqui. Uns viveram e uns morreram. Provavel-
mente o destino de alguns já estava bem previsível. Mas, para dizer a verdade, algumas
escaparam da morte enquanto escrevia este volume.
Aquelas mesmas. Enquanto escrevia isso, me perguntava “esses personagens vão mor-
rer de forma tão ridícula” e acabou assim. É muito decepcionante. Deixando isso de lado,
eu ficarei feliz se pensarem que bons personagens existiram. É por isso que rasguei vá-
rias páginas!
Então, com isso dito, já estamos rumo a reta final. A todos os leitores e àqueles que me
ajudaram, meu muito obrigado!
Maruyama Kugane
Ilustrações
Glossário
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Glossário
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-Magias, Habilidades & Passivas- Widen Magic:Ampliar Magia - aumenta a área de efeito
Tradução livre de seus nomes da magia.
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Death Warrior: ...................................... Guerreiro da Morte. muita intimidade. O “chan” é usado após o nome inteiro
Death Wizard: ............................................... Mago da Morte. ou abreviado.
Diabrete:Um imp ou diabrete é um ser mitológico seme- Danna:旦那 - é um termo com muitos significados, por
lhante a uma fada ou um demônio, frequentemente des- exemplo: mestre (de uma casa, loja, etc.), marido (infor-
crito no folclore e superstição. A palavra deriva do termo mal), palavra usada para se dirigir a um consumidor, cli-
ympe, usado para denotar uma árvore enxerta. ente ou pessoa de alto status (senhor, chefe, mestre, go-
Doom Lord:............................................. Senhor da Perdição. vernador), patrono de uma anfitriã amante, gueixa, bar
Dragonlord: ................................................ Soberano Dragão. ou boate ou até mesmo Sugar Daddy.
Dwarf: ..................................................................................Anão. Heika: 陛下 - É usado para realeza soberana, semelhante
Eight-Edge Assassin: .............. Assassino dos Oito-Gumes. a "majestade" em português. Por exemplo, Tennō Heika
Elder Lich:Lich Ancião - Em Inglês, a palavra está relaci- significa "Sua Majestade o Imperador" e Kōgō Heika sig-
onada com Inglês Antigo, no Alemão lych Leiche, signifi- nifica "Sua Majestade a Imperatriz". Heika por si só tam-
cando cadáver. bém pode ser usado como um pronome de tratamento, o
Elemental Skull:........................................ Crânio Elemental. que equivale a "Sua Majestade".
Evil Lord Wrath: ................................ Lorde Maligno da Ira. Kakka:閣下 - É um adereçamento militar a pessoas en-
Fenrir:É um lobo monstruoso. Fenrir é atestada na Edda volvidas com governo. O caractere kanji 閣 ("kak (u)")
em verso, compilada no século XIII a partir de fontes tra-
significa "gabinete / prédio / palácio do governo" e 下
dicionais anteriores, e a Edda em prosa e na Heimskringla,
escritas no século XIII por Snorri Sturluson. ("ka") significa "abaixo/sob". Colocado em conjunto, 閣下
Frost Dragon: ................................................... Dragão Gélido. é usado para se referir indiretamente a alguém sob o Ga-
Frost Virgin: ..................................................... Virgem Gélida. binete (teto do edifício), equivalente à Sua Excelência.
Ghoul:Espécie de forma humanoide que se alimenta de Kouhai:後輩 – Uma forma de tratamento baseada no sta-
carne humana. tus, assim como senpai. É um pronome para tratar alguém
Golem:No folclore judaico, o golem ( )גולםé um ser ani- inexperiente. Seria algo como “Novato / Calouro”. Um
mado que é feito de material inanimado, muitas vezes kouhai deve respeitar seu senpai.
visto como um gigante de pedra. Onii:Uma maneira informal de falar irmão mais velho, e
Hound of the Wild Hunt:........... Cão da Caçada Selvagem. se junto com o sufixo “chan”, denota uma forma carinhosa.
Hydra:Hidra - em grego antigo: Ὕδρα, na mitologia grega, Sama:様 | さま- O sufixo “Sama” é uma versão mais res-
era um monstro, filho de Tifão e Equidna. peitosa e formal de “san”. A traduções mais próxima do
Iris Tyrannus Basileus: ............ Terrível Tirano Arco-íris. termo “sama” para o português seria “Vossa Senhoria”.
Qilin:Na mitologia chinesa, 麒麟, é uma criatura quimé- No Japão, é importante referir-se a pessoas importantes
rica, a qual simboliza bons presságios. Os machos são Qi ou a alguém que admira e é muito importante, no império
e as fêmeas, Lin. No mito, é dito possuir cabeça de dragão, antigo era muito usado para se referir a rainhas.
cascos de cavalo, corpo de cervo, cauda de touro, dorso de San:さん - O sufixo “San” é um honorífico que pode ser
penugem colorida, ventre de pelos amarelos, boca que usado em praticamente todas as situações, independente
cospe fogo e voz de trovão. do sexo da pessoa. Normalmente é usado para pessoas
Lizardman: ...................................................Homem-Lagarto. que temos pouca ou nenhuma intimidade. Também usado
Orc:Orcs são demi-humanos com a altura relativa a um quando a pessoa considera o interlocutor como um de
humano mediano, com características faciais suínas. igual hierarquia.
Shadow Demon: ........................................ Demônio Sombra. Senpai:先輩 - senpai deve ser um exemplo em todos os
Skeletal Dragon: ................................... Dragão Esquelético. aspectos possíveis, para mostrar aos kohai qual a postura
Skeleton: ................................................................... Esqueleto. que deve ser adotada. O senpai deve possuir habilidades
Slime:Raça em RPG com aspecto glutinoso, possuem di- técnicas e de postura que inspirem seus kohai a fazer o
versas resistências inatas. mesmo. É um “veterano”.
Soul Eater:............................................... Devorador de Alma. Sensei:先生 - É usado para referir-se ao seu professor, ou
Troll:Criaturas horrendas, possuem nariz comprido e mestre (no sentido de mestre e discípulo). Também é
orelhas longas. Apesar de suas deformidades, eles pos- usado para se referir a médicos, políticos, advogados e
suem um corpo forte e medem cerca de 5 metros de altura. outras figuras de autoridade. Ele é usado para mostrar
Sua aparência pode diferir devido ao ambiente em que re- respeito a alguém que alcançou certo nível de domínio em
sidem. uma forma de arte ou alguma outra habilidade, como es-
Undead:................................................................... Morto-Vivo. critores, músicos, artistas e lutadores consumados. Nas
War Bicorn: ............................................. Bicórnio de Guerra. artes marciais japonesas, sensei se refere a alguém que é
Wraith: ........................................................................ Aparição. o chefe de um dojo. Tal como acontece com senpai, sensei
Zern:Os kanjis abaixo do furigana são 藍蛆, algo como pode ser usado não apenas como um sufixo, mas também
Verme Índigo. como um título autônomo.
Zombie: ............................................................................ Zumbi. Shi:氏 – O sufixo “shi” é um honorífico formal, usado es-
pecialmente em escritas formais como documentos jurí-
dicos, diários, jornais, publicações acadêmicas, entre ou-
-Honoríficos & Tratamentos- tros escritos, para se referir a uma pessoa cujo interlocu-
tor não conhece pessoalmente, mas o conhecemos atra-
Chan:ちゃ ん - O sufixo “chan” é um termo carinhoso vés de publicações.
usado geralmente para crianças ou pessoas que temos
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OVERLORD 14 A Bruxa do Reino em Ruínas
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OVERLORD 14 A Bruxa do Reino em Ruínas
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Uma caravana do Reino Feiticeiro foi atacada pela nobreza de Re-Estize.
Mesmo Re-Estize ciente da armadilha, eles ainda escolheram enfrentar o
inimigo em uma batalha aberta.
Por sua vez, Nazarick declarou guerra ao Reino como se esperasse esse de-
senrolar de eventos. O Reino Re-Estize, ainda sofrendo o revés pelo massa-
cre nas Planícies Katze, é forçado a seguir um caminho que culmina em sua
ruína. Embora saibam que enfrentarão um inimigo que não conseguem su-
perar, o Príncipe Zanac, Rosa Azul e Brain ainda encararão seus inimigos de
frente.
ISBN 978-4047358867
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