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OverlorD 13 A Paladina do

Reino Sacro | 2
オーバーロード Ilustrado por so-bin
Aviso Legal:
A tradução de OVERLORD — para inglês e português — é feita e revisada de fã para fã,
não monetizem em cima da obra e não compactuem com quem o faz. Se quiserem e pu-
derem contribuir com o autor, comprem o livro ou ebook (japonês, inglês ou português)
em sua livraria de preferência.

Sobre:
A obra faz uso de muitos anglicismos, ainda mais por se basear em RPGS, então há mui-
tos termos em inglês e tentei preservar vários desses aspectos em alguns termos, nomes
de armas, itens, raças e coisas do tipo.
Claro, algumas coisas precisam ser adaptadas, outras é preciso generalizar. Dito isto,
àqueles que são adeptos do Dia do Saci em vez do Halloween podem não gostar. Estejam
avisados.

Tentei remover o máximo possível de erros de português e concordância. Mas somos


apenas pessoas com boa vontade e não especialistas da língua portuguesa.
Quando encontrarem algum erro, sintam-se à vontade para entrarem em contato atra-
vés do e-mail disponível no blog :)

Créditos:
CRÉDITOS PT-BR:
ainzooalgown-br.blogspot.com
CRÉDITOS EN-US:
overlordvolume10.blogspot.com
REFERÊNCIA DE NOMES:
overlordmaruyama.wikia.com

Atenção: Se baixou este arquivo de outro link que não o oficial do blog. Ou se tem muito
tempo que baixou e deixou guardado, que tal dar uma conferida no blog? Talvez esta seja
uma versão desatualizada :)

Revisão: 3.5 | Versão: 4.0


Sumário
Capítulo 04: O Cerco.......................................................................................................................... 5
Parte 1 ....................................................................................................................................................................................................................... 6
Parte 2 .....................................................................................................................................................................................................................14
Parte 3 .....................................................................................................................................................................................................................35
Parte 4 .....................................................................................................................................................................................................................72
Parte 5 .................................................................................................................................................................................................................. 104

Capítulo 05: Ainz Morre ............................................................................................................. 122


Parte 1 .................................................................................................................................................................................................................. 123
Parte 2 .................................................................................................................................................................................................................. 152
Parte 3 .................................................................................................................................................................................................................. 201

Interlúdio................................................................................................................................................ 224
Capítulo 06: Artilheira e Arqueira ........................................................................................ 236
Parte 1 .................................................................................................................................................................................................................. 237
Parte 2 .................................................................................................................................................................................................................. 270
Parte 3 .................................................................................................................................................................................................................. 289
Parte 4 .................................................................................................................................................................................................................. 308

Capítulo 07: Salvador da Nação ............................................................................................. 321


Parte 1 .................................................................................................................................................................................................................. 322
Parte 2 .................................................................................................................................................................................................................. 344
Parte 3 .................................................................................................................................................................................................................. 355
Parte 4 .................................................................................................................................................................................................................. 363

Epílogo .................................................................................................................................................... 386


Posfácio .................................................................................................................................................. 407
Ilustrações .............................................................................................................................................. 410
Glossário ................................................................................................................................................ 429
OverlorD
オーバーロード
-Volume 13-
A Paladina do Reino Sacro -Parte 2-

Autor:

Maruyama Kugane
Ilustrador:

so-bin
Capítulo 04: O Cerco
Parte 1

fim do inverno estava muito distante e o ar estava frio, embora ele não o

O sentisse. Isso foi graças à sua pele. Seu corpo inteiro estava coberto de pêlo
preto brilhante, e vestindo um conjunto de roupas em cima do que propor-
cionaria excelente isolamento. Ele não iria tremer mesmo se usasse uma
armadura metálica completa.

No entanto, ele estava tremendo por um motivo diferente agora.

E a razão foi a raiva.

Chamar aquela tremenda raiva de “ira” não seria exagerado.

Um grunhido baixo escapou dele — como o que uma besta carnívora faria — e ele es-
talou a língua em vergonha.

Para os membros de sua raça — Zoastia — fazer barulhos de animais era a prova de
que não podiam controlar suas emoções; uma exposição vergonhosa para um adulto.

No entanto, isso foi apenas entre os membros da sua espécie.

Qualquer outra pessoa que ouvisse aquele rosnado vazando por entre seus dentes afi-
ados estaria tremendo de medo ou congelado de terror.

Ele virou as costas para a cidade humana que ele estava olhando agora e voltou para o
acampamento.

Seu supremo comandante era Jaldabaoth, um governante que exercia poder esmagador.
Muitas raças foram reunidas sob seu poder, e muitas disputas sem sentido irromperam
diariamente.

As forças da Aliança Demi-humana foram divididas em três destacamentos principais.

O primeiro fôra as 40.000 tropas dispostas contra as forças armadas do Reino Sacro do
Sul.

O segundo fôra as 50.000 tropas responsáveis por administrar e vigiar os acampamen-


tos que mantinham os prisioneiros do Reino Sacro.

O terceiro fôra as 10.000 tropas responsáveis pelo reconhecimento do Reino Sacro do


Norte, recuperando vários recursos e outras tarefas diversas.

O pessoal aqui abrangia 40.000 das 50.000 tropas alocadas para administrar os campos
de prisioneiros.

Capítulo 4 O Cerco
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Era natural que, com a presença de tais números, seus acampamentos fossem movi-
mentados, mas ninguém bloqueava seu caminho, e não impedia nem retardava seu ritmo.

Certamente não havia ninguém no mundo que ousasse ficar no caminho de um massivo
pedregulho ladeira abaixo.

Ninguém presente ousava ficar em seu caminho, ainda mais dado ao ar de dominação
que o rodeava.

Ele andava como se estivesse sozinho em um terreno baldio, e logo uma tenda particu-
larmente ostensiva apareceu.

Havia soldados demi-humanos à sua frente, mas eles não eram guardas. Eles estavam
lá para atender às ordens dos ocupantes da tenda. Em outras palavras, eram apenas ser-
vos.

Eles cuidadosamente abriram caminho para ele, e ele selvagemente puxou o tecido pen-
durado sobre a entrada, e então os cinco demi-humanos imediatamente o encararam.

Os demi-humanos podiam ser contados entre os dez principais membros das forças
demi-humanas, com exceção dos demônios. Mesmo ele podendo sentir o peso físico de
seus olhares sobre ele, seu comportamento calmo não mudou nem um pouco.

Como um colega desses dez seres, ele bufou e se sentou em um dos assentos vazios.
Dito isso, a parte inferior do corpo significava que sentar-se era mais como estar deitado.

Embora um dos cinco tenha acenado levemente a cabeça, ele não prestou atenção a essa
pessoa quando seus olhos se fixaram firmemente no demi-humano que ocupava o as-
sento de honra.

Tal demi-humano era um ser que parecia uma cobra com braços.

As escamas em seu corpo tinham um brilho úmido e refletiam um bizarro tumulto de


cores que fez jus ao apelido de “Escamas Arco-Íris”. Não só eram lindas, como se dizia
que sua dureza rivalizava com a dos Dragões. Além disso, possuía resistência mágica de
alto nível e estava equipado com um grande escudo e uma armadura de placas encantada.
Quando alguém levasse em conta sua proeza de guerreiro, poderia dizer que se qualifi-
cava como a entidade mais durona das Colinas Abelion.

Este demi-humano era Rokesh dos Nagarajas. Ele era o demi-humano que havia sido
apontado como comandante desse destacamento pelo Imperador Demônio.
[Tridente de D e s s e c a ç ã o ]
Descansando ao lado dele estava sua arma favorita, o Trident of Desiccation que pos-
suía um poder terrível.

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“—Por que ainda não começamos o ataque?”

Ele dirigiu a pergunta para Rokesh em um tom deprimido.

Passaram-se três dias inteiros desde que chegaram à cidade que a lamentável resistên-
cia humana havia assumido, mas nem mesmo uma escaramuça havia se manifestado
desde então.

“...Eu sei que os muros dos humanos são problemáticos, mas certamente elas não são
nada diante de nossos números, não?”

Isso foi especialmente verdadeiro para os membros da Aliança Demi-humana que po-
deriam desconsiderar completamente a existência de tais muros. Não deveria haver di-
ficuldade se tais indivíduos fossem cuidadosamente gerenciados.

“Estamos... amedrontados?”

“Garra do Demônio-dono.”

Uma expressão maligna floresceu em seu rosto — Vijar Rajandala — quando ele foi
abordado com o epíteto de “Garra do Demônio”. Ele deu uma rápida olhada sobre o outro
membro de sua espécie que estava presente antes de voltar para o Nagaraja.

O título de “Garra do Demônio” era conhecido em todo o sopé das colinas, e já contava
quase dois séculos desde que fôra usado pela primeira vez.

Isto não foi porque os Zoastias eram uma raça longeva, mas porque o título foi transmi-
tido através das gerações.

Para ele, esse título era algo que ele herdara de seu pai. Ele sabia muito bem que era
inapropriado para ele no momento. E exatamente por isso que precisava construir sua
reputação na próxima série de batalhas. No entanto, até agora ele não tinha sido capaz
de provar sua força — como herdeiro do título — para o mundo.

Todos que ele havia derrotado até agora eram fracos. Não havia ninguém que pudesse
[ A s a Afiada]
aguentar mais de um único golpe de seu machado de batalha encantado, Edge Wing.

Este estado de coisas não poderia continuar.

Ele não podia permitir que esta guerra terminasse, enquanto outros ainda o conheciam
como um simples lacaio do arquidemônio Jaldabaoth. Ele precisava de uma chance de
fazer um nome para si mesmo como um guerreiro, e agora era a hora.

No entanto, Rokesh ainda não pretendia atacar. A insatisfação de Vijar com essa decisão
foi o motivo que o levou a falar daquele modo.

Capítulo 4 O Cerco
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“Dizem que o Grandioso Rei costumava manter a cidade. Não me diga que você está com
medo só porque o inimigo tem alguém que pôde derrotá-lo?”

O Grandioso Rei — o rei que havia levado os Bafolks à grandeza.

Ele tinha sido um dos dez principais demi-humanos, por conta de suas habilidades.

Vijar estava confiante de que ele estava no mesmo nível do Grandioso Rei, com suas
Artes Marciais irritantes, que poderia quebrar as armas. Qualquer um que pudesse ven-
cer o Grandioso Rei certamente seria um adversário digno.

“Eu vou lidar com ela, então por que ainda não estamos atacando?”

Ele só conseguia pensar em uma pessoa que pudesse derrotar alguém do poder do
Grandioso Rei.

Deve ser aquela paladina humana dos rumores. Se o que dizem é verdade, ela pode ter
conseguido vencer o Grandioso Rei.

Em sua mente, ele esboçou uma imagem nebulosa de uma paladina com uma espada
brilhante.

“Vijar-dono. O fato do senhor, um comandante, dizer essas coisas, apesar de chegar


tarde sem uma palavra de desculpas, me faz... não ficar tão animado, mas eu sei, eu sei.”

Rokesh acenou para ele de uma forma relaxada.

“Ora ora. Filhotes ignorantes fazem muito barulho mesmo quando não sabem nada.”

A pessoa que estava rindo agora tinha quatro braços. Ela era a rainha dos Magelos, uma
mulher com o apelido de “Trovão Fogo-Gélido” — Nasrene Belt Q'ulle.

Vijar franziu a testa.

Ele sentiu que poderia vencê-la em uma luta corpo a corpo, mas Nasrene era adepta da
magia, então ele estava com medo que ela pudesse virar a situação de alguma forma
inesperada se isso acontecesse em uma briga. Mesmo assim, ele — como um herdeiro
do nome “Garra do Demônio” — não seria capaz de encarar seus ancestrais se deixasse
alguém chamá-lo de filhote e sequer retrucar.

“O mesmo vale para bruxas velhas que ficam o dia inteiro com a bunda na cadeira cau-
sando problemas para todo mundo.”

Os Magelos tinham uma vida bastante longa, mas ela deveria ter passado mais da me-
tade do seu ciclo de vida, já que Vijar ouvira falar de seu apelido pelas colinas quando
era criança.

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Ele não podia dizer a idade de sua pele quando inspecionou seu rosto devido a todos os
cosméticos que ela usava, mas o fato de que ela estava cobrindo-a significava que tinha
vergonha de sua idade. Além disso, certamente essa fragrância de flores é um sinal de usar
perfume para mascarar o mau cheiro que sai de coisa velha, não?

“—Ho.”

Nasrene estreitou os olhos e um ar gelado encheu o ar da tenda. Este foi um fenômeno


físico, não psicológico.

“—Eu não estou mentindo, estou?”

Vijar endireitou-se ao dizer isso. A parte inferior do corpo de um Zoastia não era mera-
mente uma decoração, mas algo que possuía destreza e poder explosivo de uma fera sel-
vagem. Mesmo que seu estilo habitual de luta envolvesse tencionar seus músculos ao se
abaixar para prover aceleração em uma investida, fazendo assim pleno uso de suas ha-
bilidades físicas, ele decidiu não fazer uso disso no momento. Isso porque ele queria se
apresentar como o único com alguma vantagem, que simplesmente cedeu a iniciativa à
sua oposição.

“Isso não é apenas uma questão de mentir, é? Eu deveria ensiná-lo a se dirigir às senho-
ras com mais respeito. Esse também é meu dever como sua antecessora.”

Em meio a toda essa tensão, Rokesh falou:

“Se contenham, vocês dois. Este é um conselho de guerra. Se continuarem causando


problemas, relatarei isso para Jaldabaoth-sama.”

Agora que Rokesh tinha trazido o nome de seu superior absoluto, os dois não tiveram
escolha senão acalmarem os ânimos. Ainda assim, eles continuaram se encarando, como
se dissessem: “Isso ainda não acabou” e “Se começar a briga e eu a terminarei”.

“Hah... bem, por eu ser forte, eu sei que vocês não podem realmente evitar a agir como
um, mas os dois devem saber o que significa cooperar.”

“Heeheehee, você não tem o direito de comentar sobre os outros também.”

Um demi-humano símio coberto de pêlo branco zombou de Rokesh resmungando com


uma risada.

“Hm, isso é verdade. Então, Garra do Demônio-dono. Sobre a sua pergunta anterior, não
é que eu esteja com medo. O Grandioso Rei era um indivíduo valente, mas certamente
todos os aqui presentes são iguais, estou errado?”

Capítulo 4 O Cerco
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Rokesh olhou para o Garra do Demônio e a Trovão Fogo-Gélido, e depois para os outros
três.

Um deles era um demi-humano parecido com um macaco que estava coberto de pêlo
longo e branco. Ele usava muitos itens de proteção feitos de ouro.

Ele era o rei dos Stone Eaters — Halisha Ankara.

Como um espécime superior de sua espécie, ele e outros como ele poderiam ganhar
várias habilidades especiais ao comer minerais. Por exemplo, comendo diamantes, eles
poderiam temporariamente ganhar resistência a danos físicos que só poderiam ser ig-
norados por ataques de impacto. Normalmente, apenas três dessas habilidades pode-
riam estar ativas ao mesmo tempo, mas ele poderia ter guardado muito mais do que esse
número. Essa também foi a razão pela qual ele foi chamado de mutante.

Então, havia o general dos Orthrous que acenou para ele quando entrou na tenda.

Ele usava uma armadura esculpida. Seu elmo igualmente ornamentado e sua lança de
cavalaria estavam ao lado dele. Seu nome era Hectowaizes Ah Ragara.

Seu acenar para Vijar não foi por respeito pelas habilidades pessoais de Vijar, mas sim
para as espécies Zoastianas como um todo. Essa foi a razão pela qual deixou Vijar infeliz.

Ainda assim, ele não poderia simplesmente desafiar Hectowaizes a um duelo para pro-
var sua força. Certamente, Vijar seria o vencedor em uma luta cara a cara. No entanto,
Hectowaizes não ganhou fama por causa de seu poder individual, mas porque ele era um
renomado general que poderia triunfar apesar de ter um décimo das forças de seu opo-
nente. As chances de vitória seriam viradas se chegasse a combates em massa, e não
havia nada mais vergonhoso do que gritar “Sou mais forte que você” sabendo desse fato.
Foi por isso que Vijar teve dificuldade em lidar com esse Orthrous.

O último foi seu companheiro de espécie, que permanecera em silêncio durante todo
esse tempo; Muar Praxua.

Também conhecido como “Aço Negro”, ele era um ranger que muitas vezes foi chamado
de “A sombra correndo pela escuridão”.

Ele era uma raridade entre os Zoastias, que tipicamente se aproveitava de seus dons
físicos e lutava com força bruta. Ele usava técnicas furtivas, surpresas e astutas como
parte de suas destemidas habilidades de assassinato. Seu apelido veio de sua determi-
nação inabalável e do fato de que ele eliminaria qualquer presa que tivesse marcado.

Mesmo pensando que não perderia para eles, cada um dos presentes seria um oponente
problemático em uma luta direta.

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“Então, vamos voltar ao tópico de por que não estamos atacando. Isso seria porque re-
cebi ordens de Jaldabaoth-sama na cidade de Rimun.”

“Como assim? Isso é verdade?”

A pergunta de Vijar se deveu ao fato de que, entre esse exército de 40.000, Rokesh era
o único que teve contato direto com Jaldabaoth. No momento em que os outros tinham
sido convocados para esta cidade — Kalinsha —, seus homens já estavam organizados e
esperando para agirem.

Jaldabaoth estava sempre se teleportando entre várias cidades, então havia poucas
oportunidades de receber instruções dele pessoalmente.

“Jaldabaoth-sama disse para dar vários dias aos humanos que ocupam a cidade.”

“Dar tempo a eles? E para que seria isso?”

“Ele disse que era para amedrontá-los. Há menos de dez mil pessoas naquela cidade. Há
ainda menos pessoas entre elas que podem lutar. Em contraste, todos nós aqui podemos
lutar... com que medo você acha que os humanos escondidos naquela cidade estarão?”

“Eu entendo... então é isso. Jaldabaoth-sama é verdadeiramente temível.”

“Heeheehee, de fato. Mas enfim, eu entendo como você se sente, Vijar-dono. A questão
agora é, quanto mais tempo devemos dar a eles?”

“Não, podemos decidir quantos dias a mais daremos. Dito isso, podemos aguentar dois
meses com as rações armazenadas, mas não seria bom dar-lhes esse tempo.”

“É porque ainda precisamos lidar com os prisioneiros?”

Havia apenas 10.000 demi-humanos para administrar um número esmagador de prisi-


oneiros humanos. Mesmo os demi-humanos sendo mais fortes que os humanos, a quan-
tidade era uma qualidade por si só. Era muito provável que eles não fossem capazes de
lidar com quaisquer motins ou levantes.

“Precisamente. É por isso que reuni todos aqui, para divulgar nossos planos para o fu-
turo. Pessoalmente, acho que podemos mover nossas tropas depois de mais alguns dias
e encerrar as coisas. Alguém discorda?”

Nenhum dos demi-humanos presentes — incluindo Vijar — se opôs.

“Perfeito. Atacaremos em dois dias. Continuaremos observando-os até lá.”

Havia a possibilidade de o inimigo lançar um contra-ataque, embora não achasse isso


muito provável.

Capítulo 4 O Cerco
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“Isso significa que é hora de lidar com os humanos que trouxemos.”

Alguns demi-humanos se alimentam de humanos. Algumas espécies os têm como favo-


ritos quando se trata de carne fresca. Os Zoastias não tinham preferência particular pela
carne humana. Para eles, carne bovina ou de cavalo eram melhores. No entanto, a maio-
ria deles preferiria a suculenta carne humana em vez da ressequida carne de animais.

Em contraste, Trovão Fogo-Gélido tinha um olhar de repulsa em seu rosto. Talvez o


porquê de os Magelos não comerem humanos, era devido às suas singelas semelhanças
com humanos.

“Heeheehee. Que tal matar e comê-los na frente da cidade amanhã? Isso deverá aterro-
rizá-los, não?”

“Uma excelente idéia. Depois disso, vamos declarar que atacaremos no dia seguinte...”

“Não há necessidade de pressioná-los tanto. O que acontecerá se eles se renderem?”

“Lutar só é divertido porque eles têm esperança e, portanto, lutam com todas as suas
forças. Nada é mais entediante do que matar pessoas que perderam a vontade de viver.”

Vijar queria lutar contra inimigos fortes. Não havia sentido em enfrentar os fracos.

“Concordo. Além disso, há outro ponto importante. Este é um pedido pessoal de Jal-
dabaoth-sama. Não devemos matar todos, mas deixar alguns escapar. Portanto, meu
plano é matar todos que vigiam o portão oeste — nosso lado — e afastar os que contro-
lam o portão leste.”

“Em outras palavras, quem atacar o portão leste precisa ser capaz de manter o controle
firme sobre seus homens, é isso? Caso contrário, parece que vai acabar em um grande
massacre.”

Depois que Nasrene disse isso, os olhos de todos foram para um único indivíduo.

“Entendi... Então, não se importará se eu levar todos os meus comigo?”

“Pode deixar alguns como mensageiros?”

“Certamente, Rokesh-dono. Nesse caso, Hectowaizes Ah Ragara e eu seremos respon-


sáveis pelo portão leste.”

“Depois disso, precisamos de algumas pessoas nos muros norte e sul para impor alguma
pressão. Mesmo não havendo necessidade de realmente capturar esses pontos, devemos
matar um número apropriado de defensores lá. Eu gostaria de mandar alguns comba-
tentes à distância...”

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Havia três presentes que eram adeptos do combate de longo alcance. A pessoa que Ro-
kesh escolheu entre eles foi o Zoastia silencioso.

“Muar Praxua-dono.”

“—Reconhecido.”

Isso foi tudo “Aço Negro”, disse em resposta.

“Todos estarão no portão oeste. Embora eu não ache que haja uma chance de mostrar
suas coisas, deixarei todos os adversários fortes que aparecerem para você. Afinal, eu
preciso comandar todo o exército, então não vou conseguir chegar à linha de frente.”

Os três demi-humanos restantes — incluindo Vijar — acenaram com a cabeça.

“Já que estamos todos de acordo, atacaremos a cidade em dois dias. Espero que todos
descansem e restaurem suas forças antes que os humanos chorem em desespero.”

Parte 2

Neia engoliu o refluxo estomacal enquanto caminhava em direção ao quarto do Rei Fei-
ticeiro. Ao fazê-lo, uma acidez intensa se espalhou por sua boca.

Ela pegou o odre amarrado ao cinto e bebeu a água.

A água tinha um gosto ruim, já que era contaminada pelo odor do couro que a continha,
mas ajudava a reprimir a sensação de queimação em sua garganta e o mau gosto em sua
boca. No entanto, a raiva ainda permanecia no peito de Neia e seu rosto ainda estava
pálido.

Ela recordou a cena de revirar o estômago que ela não conseguia esquecer, mesmo que
quisesse.

O exército demi-humano cercou a cidade por três dias inteiros agora.

O inimigo não atacou nem tentou negociar, simplesmente deixaram o tempo passar.
Mas hoje, os demi-humanos haviam trazido seus prisioneiros do Reino Sacro para os
muros externos do distrito de Loyts, onde Neia havia sido designada. Se eles tivessem
arqueiros habilidosos ou lançadores presentes, eles poderiam ter lançado um ataque,
mas eles infelizmente não tinham ninguém assim por perto.

Neia estava confiante em derrotar os demi-humanos se ela usasse o arco do Rei Feiti-
ceiro. No entanto, um ataque precipitado poderia desencadear o confronto derradeiro.

Capítulo 4 O Cerco
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Isso levaria a uma batalha de 10.000 contra 40.000, e eles teriam que abrir os portões
da cidade se quisessem salvar os prisioneiros.

Uma vez que os portões fossem abertos, as forças demi-humanas certamente entrariam
como uma avalanche. Tal coisa não poderia acontecer, e assim tudo o que eles podiam
fazer era ficar de fora e assistir.

Havia menos de vinte cativos. Eles eram compostos de homens e mulheres, adultos e
crianças, mas não havia pessoas velhas entre eles. Todos os prisioneiros estavam nus e
cobertos de cicatrizes e contusões.

Assim que o povo do Reino Sacro começou a pensar que eles haviam sido trazidos como
garantia para algum tipo de negociação, uma tragédia se desenrolou.

Os demi-humanos começaram a matar os cativos.

Um demi-humano que parecia ter cerca de três metros de altura decapitou um prisio-
neiro e depois levantou a cabeça decepada de cabeça para baixo. Neia tinha visto clara-
mente como a terra tinha bebido as vastas quantidades de sangue vermelho fresco que
fôra derramado sobre.

Depois disso, os demi-humanos começaram a destrinchar os cadáveres dos prisionei-


ros.

Neia tinha visto seu pai processar carcaças de animais antes. No entanto, a visão de tal
coisa acontecendo aos seres humanos deu um poderoso golpe à psique de Neia.

Depois disso, os demi-humanos comeram os cativos um após o outro, enquanto ainda


estavam frescos.

A parte mais cruel foi observar como algumas pessoas foram comidas vivas.

Mesmo agora, as orelhas de Neia ainda escutavam o choro de uma criança enquanto um
demi-humano mastigava sua barriga. Foi acompanhado pelo som de suas entranhas
sendo arrancadas.

Felizmente, Gustav tinha sido sábio o suficiente para impedir Remedios de segui-lo, sob
o pretexto de proteger o Príncipe. Certamente, eles estariam lutando agora se ela tivesse
visto algo assim.

Neia suspirou profundamente, depois tomou outro gole de água e se forçou a engoli-lo.

Ela tinha ouvido alguém dizer que seria melhor vomitar se a pessoa estivesse nauseada,
mas dado que ela estava indo para o quarto do Rei Feiticeiro, seria desrespeitoso chegar
impregnada com o fedor de vômito.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


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Depois de checar o hálito várias vezes, Neia parou diante da porta do quarto do Rei
Feiticeiro.

Não havia ninguém em nenhum dos lados da porta.

Agora que a cidade tinha sido cercada pelos demi-humanos, não havia ninguém para
proteger — ou melhor, ficar de olho — o Rei Feiticeiro.

Neia bateu na porta para indicar sua presença para a pessoa dentro.

“Vossa Majestade, eu sou a escudeira Neia Baraja. Posso entrar?”

“Entre.”

Depois de receber permissão, Neia entrou em silêncio pela porta.

A mobília era simples, já que os demi-humanos tinham destruído a maior parte. Mesmo
assim, ainda era mais do que qualquer outra pessoa na cidade tinha.

O Rei Feiticeiro estava de costas para Neia enquanto olhava para fora da janela.

“Parece um pouco caótico do lado de fora, se levado em conta o tanto de pessoas circu-
lando. Estamos cercados há quatro dias, mas hoje está mais ruidoso que o primeiro dia.
Isso significa... há sinais de que o inimigo está se preparando para atacar?”

O Rei Feiticeiro não mostrou intenção de participar dessa batalha, simplesmente per-
manecendo em seu quarto sem se intrometer. Ele nem sequer apareceu para a reunião
estratégica quando o exército demi-humano começou a espalhar-se pela cidade.

Naturalmente, a liderança do Exército de Libertação não tinha ficado feliz com isso, mas
eles acharam muito difícil perguntar qualquer coisa sobre o Rei Feiticeiro depois que ele
disse: “Depois de levar em consideração assuntos futuros, você não acha que seria ruim se
o rei de outra nação enfiasse o nariz em seus assuntos?”.

Neia recebera ordens para participar de várias reuniões em seu lugar. Este era o plano
do Exército de Libertação para compartilhar o que eles sabiam com o Rei Feiticeiro, e
Neia aprovou isso. No entanto, isso levou Neia a testemunhar a tragédia que se desdo-
brou anteriormente.

“...Não, os demi-humanos não fazem grandes jogadas assim. Mas... os demi-humanos,


ah... como eu vou colocar isso, talvez eles estejam tentando fazer uma demonstração de
força, então suas posições mudaram um pouco.”

“Entendo. Nesse caso, esse impasse só continuará por mais algum tempo, não? Os demi-
humanos estão tentando abalar suas tropas e enfraquecer o moral delas... pense nisso,
acha que essa batalha pode ser vencida?”

Capítulo 4 O Cerco
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Não.

Neia ansiava por dizer isso.

Para começar, havia uma grande diferença na força respectiva de suas tropas.

10.000 humanos contra 40.000 demi-humanos.

Mesmo esse número de 10.000 incluía a todo, tanto idosos quanto crianças. Além disso,
eles ainda não haviam se recuperado totalmente das feridas — físicas e mentais — e do
cansaço que haviam sofrido nos campos de prisioneiros.

Mesmo que os defensores normalmente tinham a vantagem durante um cerco, isso só


se aplicava quando ambas as forças militares eram equiparadas.

Quando se comparava o demi-humano médio a um humano comum, o último era tão


fraco que até compará-los parecia um ato tolo.

No máximo, as únicas pessoas que poderiam estar em pé de igualdade com os demi-


humanos eram os paladinos, os sacerdotes e os soldados profissionais, mas eles não ti-
nham muitos. Comparado com o exército de 40 mil soldados que estavam enfrentando
agora, era tão inútil quanto tentar apagar a respiração de fogo de um Dragão com um
balde de água.

Ainda assim, não se pode dizer que esta era uma batalha totalmente invencível.

Havia uma pessoa que podia derrotar as hordas de demi-humanos sozinha, mesmo sem
contar o Rei Feiticeiro.

Assumindo que a exaustão física e golpes de sorte do inimigo não fossem um fator, a
paladina mais forte do Reino Sacro — Remedios Custodio — poderia ficar encarregada
de cerca de 40.000 demi-humanos e matar todos eles.

No entanto, não se pode dizer que não existissem indivíduos poderosos no exército
demi-humano capaz de enfrentar Remedios de igual para igual. De fato, era muito pro-
vável que existissem tais seres por lá.

Neia relembrou o Grandioso Rei Buser, o demi-humano que anteriormente governara


esta cidade. Mesmo tendo o Rei Feiticeiro o matado como se ele não fosse nada além de
uma pilha de lixo, isso foi simplesmente porque o Rei Feiticeiro era incrivelmente pode-
roso. Buser era esmagadoramente forte por si só. Neia não poderia ter feito algum dano
nele, independentemente do quanto tentasse.

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Reis como esse podem ser os iguais a Remedios, ou até mesmo superiores. Eles eram
todos muito fortes na estimativa de Neia, então ela não podia julgar com precisão o re-
sultado de um confronto entre dois seres poderosos.

Além disso, o esgotamento físico tinha que ser levado em consideração se estivesse
sendo realista. Por mais fortes que fossem, ninguém poderia escapar do espectro da fa-
diga. A magia poderia aliviar brevemente, mas a fadiga continuaria a se acumular uma
vez mais.

Mesmo depois de matar um exército de 10.000, Remedios ainda poderia ser atacada em
um momento de exaustão e fraqueza e ser morta por um demi-humano mediano. Afinal,
a quantidade tinha uma qualidade própria.

Entretanto, se houvesse algum ser que pudesse derrubar essa lógica — os olhos de Neia
foram para o grande governante que ainda estava de costas para ela.

Essa pessoa seria uma força absoluta.


Uma entidade transcendental (Overlord).
Ele não era outro senão o Rei Feiticeiro, Ainz Ooal Gown.

Quando Neia olhou para suas costas, de repente percebeu que ainda não havia respon-
dido à pergunta do Rei Feiticeiro, e ela falou apressadamente.

“Eu, eu não tenho certeza!”

O pânico a fez exclamar mais alto do que o habitual e ela corou antes de continuar em
um tom normal:

“—Então, eu farei o meu melhor para descobrir.”

O Rei Feiticeiro parecia completamente indiferente a isso e fez outra pergunta.

“Entendo. Então, aprendeu algo novo sobre o inimigo? Chegou a verificar a presença do
Jaldabaoth?”

“A situação neste fronte não mudou nos últimos dias. Nós ainda não avistamos Jaldaba-
oth entre as forças demi-humanas.”

“Hm. Isso dificulta as coisas. Pode ser muito difícil para mim ajudá-los nessa defesa.
Afinal, eu preciso reabastecer a mana que usei. Devo considerar a possibilidade de que
seu plano seja privar-me de mana antes de agir.”

“Mas é claro. Todos estão plenamente conscientes da opinião de Vossa Majestade.”

Durante uma reunião de estratégia, alguém havia dito uma vez que havia avistado um
demônio que parecia Jaldabaoth, mas quando Neia disse que precisava se certificar, essa

Capítulo 4 O Cerco
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pessoa imediatamente dissera que provavelmente estava enganado. Dado o clima no ar,
ficou claro que todos os presentes — com exceção de Neia — planejavam envolver o Rei
Feiticeiro nos combates espalhando falsos relatos da presença de Jaldabaoth.

Eles podem desprezar os undeads, mas mentir para o rei de uma nação significa que
eles não têm integridade moral. Mesmo quando recuados, não seria apropriado dar seu
melhor para alguém que deve ser respeitado?

“Nesse caso, o que você acha da movimentação dos demi-humanos?”

“Ah, sim, os demi-humanos já estavam se concentrando no portão oeste, mas agora eles
dividiram suas forças e estão enviando algumas de suas tropas para o outro — o portão
leste. Acreditamos que estão prestes a agir — provavelmente se preparando para um
cerco.”

“Isso quer dizer que já passou tempo suficiente para que eles terminem de construir
armas de cerco, então? Bem, isso é provavelmente uma coisa boa. Afinal, o inimigo não
está tentando matar vocês de fome.”

Neia não sabia dizer se era algo bom ou ruim, mas não teria resposta às táticas de pri-
vação alimentícia.

Se os demi-humanos atacassem em um campo aberto, eles seriam prontamente aniqui-


lados devido à esmagadora vantagem da oposição na força militar. No entanto, se eles
estivessem lutando por trás da proteção dos muros da cidade, não seria uma batalha tão
desigual. Claro, isso apenas seria ir de “probabilidades incrivelmente ruins” para “chan-
ces muito ruins”.

“Claro, isso também pode ser devido ao fato de que os demi-humanos não estão cientes
da situação de nossos mantimentos. Então, novamente, é mais provável que eles sim-
plesmente não se importem com uma cidade pequena como essa.”

“Bem, os demi-humanos realmente conquistaram a linha da fortaleza que vimos


quando entramos no Reino Sacro, então seria razoável eles terem uma cidade pequena
como essa em baixa consideração... se você lhes fazer passar por dificuldades durante a
defesa e fazê-los sentir que um cerco é para a sua desvantagem, isso vai acabar com a
batalha. Depois disso, vocês terão uma luta muito difícil pela frente.”

Parecia que o Rei Feiticeiro acreditava que eles teriam que vencer essa batalha inven-
cível antes que a verdadeira batalha começasse.

“Vossa Majestade, posso perguntar sua opinião sobre como o senhor acha que a situa-
ção vai se desenvolver?”

“Desenvolvimentos futuros, hm. Honestamente, eu não sei. Na verdade, pode-se dizer


que vocês perderam por serem forçados a se esconder dentro da cidade. Abrigando-se

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em uma cidade é tipicamente feito sob o pretexto de que os reforços chegarão. Ou isso,
ou o inimigo está operando sob um limite de tempo ou algo similar. Mas no caso de vocês,
estão simplesmente defendendo uma cidade em território inimigo, então suas chances
de vitória são desesperadamente pequenas.”

“Ainda assim, conseguimos enviar os nobres que libertamos para o sul antes disso, por
isso não podemos dizer com certeza que nenhuma ajuda chegará.”

Neia poderia ter dito aquelas palavras, mas sabia em seu coração que não deveria con-
tar com reforços.

Os exércitos do Sul precisariam romper as forças da Aliança Demi-Humana, bloqueando


seu caminho para alcançar a localização de Neia, e mesmo se fizessem isso, ainda haveria
um exército de 40.000 demi-humanos para lutar.

Lutar repetidas batalhas seria um enorme dreno em sua força de combate. Seria mais
sensato abandonar as 10.000 pessoas nesta cidade.

“Isso seria bom...”

Parece que o Rei Feiticeiro não acreditou nem por um momento.

Mas isso era apenas esperado. Dadas as circunstâncias, quem poderia mudar as coisas
sem sacrificar ninguém?

Neia dissipou a crescente idéia em sua cabeça.

Sua Majestade está aqui para lutar contra Jaldabaoth, portanto, não é permitido diminuir
suas chances de vitória por tê-lo desperdiçado mana de maneiras não relacionadas ao seu
objetivo.

“...Levarei um tempo até que eu possa mais uma vez lançar a magia de teletransporte
que eu usei nos Orcs, mas eu ainda posso conjurar a magia que ocasionalmente uso para
retornar ao Reino Feiticeiro mais algumas vezes. Levar algumas dúzias de pessoas co-
migo não seria um problema... mas eu acho que você não pode decidir quem deve ou não
deve ser enviado.”

“Eu sou grata por sua compreensão, Vossa Majestade.”

Talvez fosse melhor pedir ao Rei Feiticeiro que pegasse o Príncipe Caspond e fugisse,
mas essa jogada teria mérito duvidoso.

Quando um rei de outra nação estava disposto a se comprometer com uma luta para
enfrentar um demônio terrível, ter um membro da própria família real implorando im-
placavelmente a alguém para tirá-lo do campo de batalha seria totalmente vergonhoso.

Capítulo 4 O Cerco
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Assim que Neia estava refletindo sobre essa informação, o Rei Feiticeiro se virou para
ela pela primeira vez desde que ela entrou no quarto.

Os pontos vermelhos de luz em suas órbitas vazias pareciam diretamente apontados


para Neia. Mesmo que no passado eles a tinham assustado, Neia se acostumara agora, e
ela passou a achar que eram bastante atraentes.

“Isso é o que eu acho, Srta. Baraja. Nós acabamos em um confronto com as forças inimi-
gas por causa da estupidez da liderança do Exército de Libertação. Tal situação não pode
ser alterada pelos esforços de uma única escudeira. Que tal se concentrar em sua segu-
rança pessoal, em vez de se centrar no quadro geral? Você entende que minha nação
aceitará sua fidelidade, se você estiver disposta a dar? Dado que você foi treinada como
uma paladina, tenho certeza que será capaz de exercer plenamente seus talentos no meu
país.”

Neia não sabia como responder e hesitou.

Mesmo ficando grata que o Rei Feiticeiro estava preocupado com ela, ela tremia de
medo ao considerar o que poderia perder se aceitasse a proposta do Rei Feiticeiro.

O sacrifício que seus pais fizeram.

Seu amor por sua cidade natal.

Ela pode nunca ser capaz de retornar à nação natal.

Ela se lembrou de vários amigos que fizera.

Muitas coisas giravam na frente dos olhos de Neia e desapareciam uma após a outra
com um *puf*, mas entre elas havia algo que se recusava a quebrar, que permanecia até
o fim — em outras palavras, a coisa mais importante.

Ela era um membro do corpo de paladinos.

Embora ela ainda não soubesse o que era justiça, era a única coisa que Neia podia dizer
com o peito estufado e a cabeça erguida.

“Como cidadã do Reino Sacro, sinto que sou obrigada a salvar o maior número possível
de pessoas. Isso porque salvar os desamparados — salvar os que sofrem é senso comum.”

O Rei Feiticeiro de repente parou de se mover, como se tivesse sido congelado no tempo.

“...Hm.”

O Rei Feiticeiro murmurou para si mesmo e depois acariciou o queixo.

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Parece que as palavras de Neia ressoaram dentro do Rei Feiticeiro, pois ele a observou
mais uma vez.

Foi apenas um comentário descartável, e Neia se viu mexendo-se desconfortavelmente.

“Eu estou certo em dizer que quando os demi-humanos atacarem, você será colocada
nos muros perto do portão oeste, no lado esquerdo da cidade? É um lugar muito perigoso,
e contar comigo para te salvar será um erro, sabe disso?”

“Eu sei muito bem disso.”

Neia era habilidosa em arco e flecha, e dado que ela tinha sido designada para um local
de suma importância, não havia dúvida de que seria morta em combate. Mas já que es-
taria indo para o campo de batalha, ela se preparara para a morte,

Ela apertou os lábios e Neia olhou o Rei Feiticeiro nos olhos.

“Ahh, esse olhar. Eu gosto desse olhar.”

Os murmúrios autodirigidos do Rei Feiticeiro fizeram Neia corar. Enquanto o Rei Feiti-
ceiro provavelmente não quis dizer mais nada por suas palavras, ouvir alguém que ela
respeitava dizer que ele gostava dela causou um grande impacto.

“Nesse caso... vou te emprestar várias coisas, Srta. Baraja. Por favor, faça bom uso delas.”

Houve um *whoosh* quando algo de repente apareceu do nada. O mesmo pensamento


cruzou sua mente quando o Rei Feiticeiro havia retirado o arco na carruagem, mas a
magia realmente era uma coisa surpreendente.

Neia tinha visto o item mágico — uma armadura — que surgira do nada. Era uma ar-
madura que parecia uma carapaça verde, que o falecido Grandioso Rei Buser tinha usado.

“Isso, isso é—”

“Esta armadura deve ser útil, quero dizer que irá garantir a sua segurança.”

A armadura era muito grande para Neia —, suas dimensões seriam bastante conside-
ráveis para qualquer ser humano. No entanto, dado o que Neia sabia sobre armaduras
encantadas, não seria um problema se ela provasse.

A armadura comum precisaria ser alterada por um ferreiro para se adequar ao biótipo
do usuário. No entanto, havia um limite para o quão longe essas alterações poderiam ir.
Uma armadura muito grande simplesmente não poderia ser redimensionada o sufici-
ente para se adequar a um biótipo pequeno.

Capítulo 4 O Cerco
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No entanto, para uma armadura mágica isso era diferente. Qualquer um poderia usá-la,
independentemente do sexo ou raça, desde que não houvesse restrições especiais ao seu
uso. Se as mudanças não fossem muito drásticas, a armadura ajustaria automaticamente
sua forma para se adequar ao seu usuário.

Poder-se-ia até ter um gigante usando uma armadura que antes não era maior do que
o seu próprio polegar, mas a durabilidade da armadura mágica variava com os materiais
com os quais era feita. Uma armadura do tamanho de um anel seria facilmente danifi-
cada se fosse submetida a ataques mágicos, ácidos ou ataques especializados em fender
equipamentos, e isso reduziria muito a potência dos encantamentos sobre ela.

Não havia caminho fácil, e os chamados atalhos geralmente não davam certo. Mesmo
assim, a armadura de Buser provavelmente era bem resistente, já que era desse tamanho
mesmo sem ninguém a usar.

“Além disso, vou lhe emprestar mais três coisas.”

O Rei Feiticeiro entregou pessoalmente esses itens para Neia.

“Uma tiara, manoplas e um colar. Alguma delas é redundante com o seu equipamento
pessoal?”

“Não, não mesmo. Pra começo de conversa, nem itens mágicos eu tenho.”

“Excelente. Agora, explicarei brevemente como usar esses itens.”


[ T i a r a d a Vontade de Ferro]
Como o nome indicava, o Circlet of Iron Will defenderia a mente contra charmes, medo
e outros ataques mentais. Ainda assim, enquanto a tiara tornava a pessoa imune a ata-
ques mágicos, isso só podia fortalecer a resistência do usuário contra ataques derivados
de habilidades especiais. Outra coisa que ela tinha que notar era que a tiara também
anularia efeitos mágicos benéficos.
[ M a n o p l a s d a Arquearia]
As manoplas eram Gauntlets of Archery. Contando todas as magias do mundo, havia al-
gumas que só poderiam ser usadas se o lançador possuísse habilidades de tiro, razão
pela qual o Rei Feiticeiro havia feito aquele item. No entanto, o Rei Feiticeiro havia aban-
donado essas magias depois de fazer aquele item, por isso, as manoplas eram inúteis
para ele. Estavam definhando no inventário até agora.

Finalmente, o colar era um item que consumia mana para lançar a magia divina de 3º
nível 「Heavy Recover」. Alguém poderia usá-lo indefinidamente, contanto que possu-
ísse mana suficiente, porém, consumiria mais poder mágico do que lançá-lo diretamente.
Considerando as escassas reservas de mana de Neia, era melhor que ela considerasse
um item de uso único. Portanto, ela teria que pensar cuidadosamente sobre quando me-
lhor usá-lo. Este item não havia sido feito pelo Rei Feiticeiro ou seus antigos companhei-
ros; simplesmente gostou da aparência e comprou de algum lugar.

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Certamente, um olhar mais atento revelou que o colar era de acabamento delicado. Pa-
recia uma deusa segurando uma esmeralda. De fato, foi uma obra de arte muito atraente.

Neia olhou para esses itens valiosos e depois sacudiu a cabeça em negação.

“Eu, eu sinto muito, Majestade, mas não posso aceitar esses itens.”

Os itens mágicos que o Rei Feiticeiro oferecia eram definitivamente os equipamentos


de primeira qualidade. No entanto, o que aconteceria se Neia morresse enquanto os
usasse? Esses itens cairiam nas mãos dos demi-humanos e acabariam fortalecendo os
demi-humanos. Mesmo que eles não caíssem nas mãos dos demi-humanos, o que acon-
teceria se o cadáver desaparecesse durante o caos da batalha e seu equipamento desa-
parecesse com ela? Mais precisamente, Neia já possuía o arco que o Rei Feiticeiro lhe
concedera, então como ela poderia ficar insatisfeita com isso e aceitar mais coisas dele?

Falando nisso, ela deveria devolver o arco para o Rei Feiticeiro antes de ir para a batalha.

“Por que diz isso? Esses itens serão úteis para você nos combates vindouros, não será?
Afinal de contas, você é do tipo guerreira e não tem mana, então talvez nem consiga usar
a habilidade desse colar. Por que não o pega e experimenta?”

Neia confessou sua inquietação em resposta à pergunta do Rei Feiticeiro. O Rei Feiti-
ceiro ouviu suas palavras e simplesmente sorriu.

“Que tal isso? Vá para o campo de batalha com a determinação de trazer esses itens de
volta para mim, não importa o custo.”

Neia estava decidida a fazer exatamente isso o tempo todo, mas a determinação sozinha
não conseguia romper sua inquietação. Depois de ouvir sua resposta, o Rei Feiticeiro
acenou com a mão de forma magnânima.

“Oh, apenas pegue-os. Eu tenho magias que podem localizar itens mágicos. Eu posso
encontrá-los mesmo se estiverem perdidos.”

“Mesmo?”

“Sim, isso mesmo... tudo bem, não precisa ficar de cerimônia. Faça uso deles.”

Se o Rei Feiticeiro pudesse fazer expressões faciais, ele provavelmente teria sorrido — es-
ses pensamentos passaram pela mente de Neia enquanto ela ouvia suas amáveis pala-
vras.

Agora que ele os ofereceu com tanta sinceridade, rejeitá-los seria um ato de grosseria.
A idéia de aceitar sua boa vontade guerreou com o desejo de pedir desculpas por incor-
rer em uma perda para o Reino Feiticeiro. Esses pensamentos rodaram na mente de
Neia—

Capítulo 4 O Cerco
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“Bem? Você pode me fazer uma promessa? Uma promessa de devolvê-los para mim de-
pois?”

“!”

Volte com vida. Esse era o significado por trás daquelas palavras, e elas umedeceram os
cantos dos seus olhos com lágrimas. Apenas seus pais a trataram com tanta gentileza
antes.

O Reino Feiticeiro é abençoado por ter um soberano tão misericordioso.

Enquanto Neia pensava isso, ela mordeu o lábio e abaixou a cabeça.

“Muito obrigada! Eu juro que vou devolvê-los!”

“...Uhum.”

Ela levantou a cabeça e enxugou as lágrimas.

Ela não podia vestir a armadura aqui depois disso. No entanto, colocar as manoplas,
colar e tiara não deve ser um problema. Ela começou apertando o colar em volta do pes-
coço.

No momento em que ela colocou, ela imediatamente entendeu as habilidades do item


mágico e como usá-las. Era como se o item fosse uma parte dela, e usá-lo era tão natural
e sem esforço quanto usar seus próprios membros.

O próximo foi a tiara. No entanto, ela não sentiu nada de especial quando a colocou.
Ainda assim, de acordo com a explicação anterior, ela provavelmente entenderia quando
a hora chegasse.

O último item foram as manoplas.

Ao contrário dos outros, ela podia sentir claramente a diferença.

O poder percorrendo seu corpo.

Parecia muito com a vez que ela tinha se fortalecido quando lançaram magias sobre ela.
Seus músculos pareciam ter dobrado de tamanho de repente e seus movimentos eram
mais rápidos e precisos. Além disso, ela conseguia distinguir detalhes minúsculos, e até
mesmo seu condicionamento cardiovascular melhorara. Ela se sentiu cheia de energia.

Era como se todos os aspectos de suas habilidades físicas tivessem melhorado.

“Isso é incrível...”

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A força obtida através do treinamento se acumulava lentamente, então foi difícil perce-
ber. No entanto, ela podia sentir claramente o aumento intenso de suas capacidades fí-
sicas. Mais surpreendente foi o fato de que ela não sentiu nenhum constrangimento em
controlar seu corpo, dadas as diferenças entre seu eu anterior e presente.

“Magia é realmente incrível...”

O Rei Feiticeiro deu de ombros quando ouviu Neia reagir com admiração.

“Isso é verdade. Na verdade, fiquei bastante surpreso com as magias utilitárias.”

“Por isso, o senhor quer dizer...?”

“Magias que podem criar açúcar e pimenta e gelo. Depois, há magias que podem até
criar minérios, embora não sejam muito eficientes em termos de mana. Algumas cidades
também dependem de magias utilitárias para suplementar seu suprimento de água... Pa-
rece que as magias utilitárias estão intimamente ligadas ao desenvolvimento da cultura
mundial.”

“É assim então?”

Por que um grande magic caster como o Rei Feiticeiro se surpreenderia com tais magias
triviais? Ainda assim, deve fazer sentido, dado que o Rei Feiticeiro disse isso. E, de fato,
as magias de utilidade tinham sido de grande conveniência em muitos lugares; a vida
cotidiana poderia ser inviável sem tais magias.

“Além disso, existem aqueles esgotos que usam Slimes... ou melhor, coexistem com eles...
ah, estou me desviando do ponto. Srta. Baraja, não me dê atenção e volte ao seu trabalho.”

Na verdade, não havia tarefa mais importante do que ficar na companhia do Rei Feiti-
ceiro. No entanto, também era verdade que eles não tinham mão de obra, e Neia tinha
um número surpreendente de coisas para fazer. Embora essas tarefas fossem em grande
parte relacionadas à guarda, algo que qualquer um podia fazer, ainda eram muito im-
portantes.

“Muito obrigada, Vossa Majestade. Eu prometo que vou voltar viva.”

“Ah, se as coisas ficarem feias, fuja para o leste. Com toda a probabilidade, esse é o único
lugar onde você pode ter uma chance de sobreviver.”

Neia pegou a armadura de Buser e fez uma reverência antes de sair.

♦♦♦

Capítulo 4 O Cerco
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Dentro da sala de operações, Remedios Custodio e três paladinos estudaram um gráfico
de distribuição de forças militares.

Ao contrário de como ela faria as pessoas suspirarem com exasperação a maior parte
do tempo, sua mente era ágil e perspicaz quando se tratava de guerra. Sua irmã mais
nova dizia: “Seu corpo é muito forte, tudo que você precisa agora é estudar um pouco mais”,
ela não poderia ter ganhado sua habilidade atual de luta se tivesse seguido esse conselho.

Isso porque ela era diferente de sua irmã, que havia sido abençoada com três presentes
— sabedoria, talento e beleza.

Nossa força de batalha é de dez mil. E a deles é estimada em quarenta mil. Nossas condi-
ções de vitória são manter-se até que reforços do Sul cheguem, ou o inimigo recue... nós
poderíamos realmente ser capazes de fazê-lo se houvesse dez de mim por perto...

Se os membros dos Nove Cores, que haviam sido escolhidos por sua força de combate,
estivessem presentes, eles poderiam ter sido capazes de fazer uma boa luta, mas perma-
neceu o fato de que a situação atual era incrivelmente sombria.

Se quisermos ganhar tempo, precisamos contra-atacar duramente o inimigo durante a


primeira ofensiva. Isso colocará o inimigo em guarda e nos dará o tempo que precisarmos.
Afinal, o inimigo não sabe que forças nós possuímos, certo?

Ela também considerou seriamente a proposta de lançar um primeiro ataque.

Eles poderiam reunir suas tropas no portão leste e esmagar o inimigo lá em um pode-
roso golpe antes de se dirigir para o portão oeste.

No entanto, ela rapidamente chegou a uma conclusão — tudo estaria perdido se eles
falhassem. Era muito provável que o portão oeste fosse perdido para a força principal
do inimigo antes de sequer derrotar o pequeno destacamento posicionado no portão
leste, e assim a cidade cairia.

E, claro, havia a disparidade entre suas forças. Eles teriam que compensar essa lacuna
se quisessem ganhar.

Mas isso é impossível.

Remedios franziu a sobrancelha e olhou as fichas colocadas no mapa.

Ela esperava por um lampejo de inspiração descer dos céus. No entanto, nada disso
aconteceu.

“Você tem alguma idéia?”

“Sim. Falando o que penso—”

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Ela escutou a proposta do paladino, o que a consternou, depois pediu mais idéias, e o
processo foi repetido até que nenhum deles pudesse pensar em nada. Só então, uma ba-
tida ecoou no silêncio pesado da sala.

“Capitã, finalmente de encontrei.”

A pessoa que entrou foi o Vice-Capitão — Gustav Montagnés. Parecia que ela havia sido
salva pelo gongo. E dado a reação dos outros paladinos, aparentemente também se sen-
tiam assim, pois um leve brilho de esperança apareceu em seus rostos desanimados.

“Ah, você chegou na hora certa. Eu queria perguntar se tem alguma idéia.”

Remedios fez um gesto para o mapa espalhado sobre a mesa com o queixo. Parece que
Gustav tinha entendido o significado, pois ele assentiu.

“Eu posso fornecer uma sugestão ou duas, mas posso discutir algumas coisas com você
de antemão?”

“Hm? O que seria? Vá em frente e diga.”

“Ah...”

Gustav continuou em um tom mais submisso:

“Na verdade, as coisas ficaram muito ruins. Algumas pessoas querem saber se o Rei
Feiticeiro participará dos combates.”

O Rei Feiticeiro não lutaria nesta batalha. Isso foi tanto para recuperar a mana que ele
tinha gasto até agora, quanto para frustrar o plano de Jaldabaoth caso fosse fazê-lo gas-
tar mana aqui.

Remedios teve dificuldade em aceitar o primeiro motivo, já que sua irmã mais nova,
Kelart, poderia restaurar a mana gasta em um dia. No entanto, todos os outros sentiram
que o Rei Feiticeiro não poderia ser mantido nos mesmos padrões que os seres humanos,
dado que ele havia tomado de volta à cidade sozinho, e assim Remedios não disse mais
nada. E falando nisso, havia sacerdotes presentes também, e eles também haviam con-
cordado com ele.

No entanto, mesmo Remedios poderia aceitar o segundo motivo.

Quem poderia dizer se Jaldabaoth estava escondido dentro das fileiras inimigas?

Em primeiro lugar, eles trouxeram o Rei Feiticeiro para lutar contra Jaldabaoth. Embora
fosse melhor se os dois acabassem se matando, ela não desejava ver o Rei Feiticeiro der-
rotado. Portanto, era natural que ela trabalhasse o mais próximo que pudesse com o Rei

Capítulo 4 O Cerco
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Feiticeiro, para que ele pudesse lutar ao máximo, mesmo ela desprezando intensamente
os undeads.

Mesmo assim, ainda havia alguns que queriam que o Rei Feiticeiro entrasse em campo.
Alguns dos nobres que permaneceram na cidade haviam oferecido enormes somas de
dinheiro — o que fez até os olhos de Remedios ficarem tão arregalados que pareciam
que poderiam cair das órbitas — para induzi-lo a lutar, mas o Rei Feiticeiro rejeitara
suas ofertas.

“O que há de errado com isso? O Rei Feiticeiro não lutará nesta batalha. Você deveria
saber disso também, não? Apenas diga a eles e encerre essa trivialidade.”

“Capitã. Nós não podemos dizer isso. Se as coisas correrem mal— não, mesmo que tudo
corra bem, isso causará um grande alvoroço.”

“Por que isso?”

Ela não conseguia entender. O que havia de errado com o Rei Feiticeiro não participar?

Depois de ver a dúvida escrita por todo o rosto de Remedios, Gustav franziu a testa e
respondeu:

“Isso acontece porque as pessoas que nos observaram tomar de volta à cidade sabem
que há coisas que nós, paladinos, não podemos fazer, mas que o Rei feiticeiro pode rea-
lizar com apenas duas pessoas.”

Ela ainda não conseguia entender o que Gustav estava tentando dizer.

“Isso pode perturbar algumas pessoas, mas é assim que as coisas são. O que há de er-
rado com isso?”

“Não é isso, o que estou tentando dizer, é que eles confiam no Rei Feiticeiro mais do que
em nós, os paladinos. Se as pessoas desta cidade souberem que o Rei Feiticeiro — o ativo
mais confiável e poderoso que temos — não vai lutar, o moral cairá para o fundo do poço.”

“Confiam? ...Você percebe que o Rei Feiticeiro é undead, não é?”

“Não importa o que ele é. O Rei Feiticeiro libertou a cidade e resgatou prisioneiros. En-
tão para eles, o Rei Feiticeiro é um herói.”

“Um herói?”

Remedios revirou os olhos enquanto repetia as palavras de Gustav.

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“As pessoas acham que ele é um herói? Mas ele é undead, não? Eles odeiam a vida e
amam a morte. Ele abandonou os reféns— não, ele os matou sem qualquer hesitação,
não é?”

“Para eles não faz diferença. Além disso... se eles simplesmente o considerassem um
herói e ponto, seria bom. O problema é, se isso continuar, as pessoas começarão a pensar
no Rei Feiticeiro como o salvador. Se as coisas derem errado, isso pode afetar o Rei Sa-
grado—”

“A Rainha Sagrada, você quer dizer.”

O rosto de Remedios se torceu de raiva:

“Eu já disse isso muitas vezes, mas a Calca-sama deve estar trancada em algum lugar.
Houve paladinos e sacerdotes que entraram em colapso em todos os lugares depois da-
quela batalha com Jaldabaoth, mas não conseguimos encontrar a Calca-sama e a Kelart
em nenhum lugar. Ele não precisaria movê-la se ela estivesse morta. Tenho certeza de
que ela deve ter sido tomada como refém.”

“Eu me expressei mal, Capitã. Eu sinto que pode ser um problema que pode causar pro-
blemas para o reinado de Sua Majestade Sagrada.”

“O reinado dela?”

“Sim... Nossa linha de fortaleza foi destruída e ninguém pode impedir que os demi-hu-
manos invadam. Não vai tardar em aparecer pessoas que querem se juntar ao lado de
um ser supremo que pode protegê-las.”

“Mas ele é um undead... percebeu?”

“Perdão por repetir isso, mas eles não se importam com isso. Ele os salvou quando mais
precisavam, esqueceu?”

Remedios ainda não conseguia entender esse ponto.

“Mas o Rei Feiticeiro não foi o único a lutar, sabia? Nós também lutamos sob a bandeira
da Rainha Sagrada.”

“Sim. Você está certa. Todos nós lutamos, incluindo o povo comum. Mas mesmo com
tudo isso levado em consideração, se o Rei Feiticeiro faz mais do que nós, então pode
haver pessoas que o valorizem sobre a Rainha Sagrada e procurem torná-lo seu novo
governante.”

“HAH!?”

Remedios inconscientemente levantou o tom de voz.

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“Como isso aconteceu? Não só o chamam de herói, mas ainda essa criatura undead está
sendo colocada acima da Rainha Sagrada? Você tem noção do que disse?”

“Não é isso, as pessoas—”

“—Não importa, ele ainda é um undead! Quanto sofrimento e esforço você acha que Sua
Majestade Sagrada teve que passar para o bem das pessoas? Como as pessoas pode-
riam—”

“—Calma, Capitã!”

“Como ousa me pedir calma!? Que merda é essa que você está falando, Gustav? Não, é
nisso que você realmente acredita, não é?”

Nas garras de suas fortes emoções, Remedios bateu com o punho na mesa. Como al-
guém que havia entrado no reino dos heróis, aquele golpe esmagou a área da mesa para
abaixo e arrancou um pedaço que caiu no chão. O padrão bizarro de dano parecia que
algum gigante havia pressionado a borda da mesa, isso falava da extensão de sua raiva.

“Por favor, acalme-se, Capitã! Todos nós conhecemos a grandeza e bondade de Sua Ma-
jestade Sagrada como uma coisa natural. Não há como o Rei Feiticeiro ou qualquer outra
criatura undead se equiparar à grandeza da Rainha Sagrada. Mas só sabemos disso por-
que ficamos ao lado da Rainha Sagrada.”

“Você está louco? Mesmo que eles nunca tenham tido uma audiência com ela antes, não
há como alguém respeitar um undead de outro país mais do que o governante de sua
própria nação! Você está delirando!”

“CAPITÃ!!”

Gustav exclamou, sua voz perto de um grito de dor:

“Mesmo o Rei Feiticeiro sendo um undead e o rei de outra nação, ele ainda foi quem os
libertara do tormento! E isso é algo... algo que Sua Majestade Sagrada, e nós não poderí-
amos fazer!”

Gustav expeliu essas palavras em uma grande explosão, e a sala ecoou com o som dele
tentando acalmar sua respiração agitada.

“...O que vocês acham?”

Os paladinos que estiveram anteriormente na sala se entreolharam quando ouviram a


voz calma de Remedios. Depois disso, um deles falou, com uma determinação mortal.

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3 1
“Naturalmente, nós, paladinos, não consideramos o Rei Feiticeiro um herói. Mas sabe-
mos que o povo comum pode se sentir assim.”

Depois disso, outra pessoa falou.

“A maioria das pessoas sabe que o Rei Feiticeiro conquistou esta cidade com a força de
apenas duas— não, uma pessoa. Aqueles que não viram o poder do Rei Feiticeiro, por
sua vez, exageram esses rumores, deificando-o ainda mais.”

O último completou:

“É fato que o Rei Feiticeiro se adiantou sozinho para oferecer ajuda a um país que não
era nem um aliado nem tinha relações amigáveis para com ele. Se desconsiderarmos o
fato de que ele é um undead... essas ações se qualificariam como heroicas.”

Parece que Remedios foi a única que não pôde aceitar esse estado de coisas. Nesse caso,
como ela poderia responder à pergunta de Gustav depois de se afundar tanto?

Era verdade que não ter seu herói participando da luta faria o moral cair, e pensar nas
razões para isso levaria a uma comoção. Afinal de contas, o inimigo estava com uma van-
tagem de quatro para um. Qualquer um estaria em tal estado de espírito quando pensas-
sem em ter que lutar contra algo assim.

“...Então, por que não pintamos o Rei Feiticeiro como um vilão e matamos dois coelhos
com uma cajadada só? Que tal dizer às massas que o Rei Feiticeiro não nos ajudará mais?”

“Mentir seria uma péssima idéia...”

Disse Gustav e completou:

“O temperamento das pessoas é como uma represa pouco antes de explodir. Se eles
souberem a verdade através de um canal ou outro e descobrirem que estávamos ten-
tando esconder a verdade, o assunto sairia do nosso controle.”

“Bem, nós não temos que contar uma mentira descarada. Nós podemos fazer isso de
uma maneira indireta.”

“Se as pessoas pensam que é mentira, elas tratam isso como uma mentira.”

“Então tudo o que precisamos fazer é impedi-los de ver o Rei Feiticeiro, não?”

“...Então, se um motim irromper ou se alguém quiser implorar pessoalmente a ele, nós


vamos matá-los?”

“...Eu não quero fazer isso.”

Capítulo 4 O Cerco
3 2
Gustav suspirou pesadamente.

“Isso é frustrante. O Rei Feiticeiro mostrou muito de sua força. Eu sinto que não seria
assim se tivéssemos tomado esta cidade de volta sob o nosso próprio poder... Se o pior
acontecer, o próprio país pode ser dilacerado. Quem vai parar o Rei Feiticeiro se ele de-
clarar que esta terra é um enclave do Reino Feiticeiro?”

“Esta nação pertence a Sua Majestade Sagrada e as pessoas que vivem nela! Não para
os undeads! E além disso, você acha que as nações vizinhas aceitarão uma coisa dessas!?”

Remedios bateu na mesa novamente. No entanto, o rosto de Gustav não mudou, e ele
interveio:

“Eles provavelmente vão. Capitã, você os viu também, certo... os monstros que vivem na
cidade dele. Nenhuma outra nação gostaria de se tornar inimiga do Reino Feiticeiro, que
possui um poder militar tão assustador. Seria mais sensato simplesmente fechar os
olhos para o Reino Sacro, que agora é impotente... e se este lugar se tornar um enclave,
a força defensiva do Reino Feiticeiro será dividida em dois frontes, e muitos dos países
vizinhos concordarão que é uma coisa boa. E se as pessoas quiserem que isso aconteça
também, o Rei Feiticeiro terá justa causa para suas ações.”

“...Então, ser um país dos undeads é melhor do que ser uma nação cujo povo não pode
se defender... é assim, Vice-Capitão?”

Gustav assentiu com a cabeça na pergunta do paladino.

“Exatamente.”

“Gustav. Eu cometi um erro ao trazer o Rei Feiticeiro conosco?”

“Claro que não, Capitã. Foi a melhor escolha que tínhamos. Mas... é verdade que nós
dependemos muito do poder do Rei Feiticeiro. Como eu disse antes, se tivéssemos recu-
perado os campos de prisioneiros com nossa própria força, não estaríamos nessa situa-
ção agora. Pelo que sabemos, as pessoas ainda podem temer e odiar o Rei Feiticeiro,
sendo que ele é um dos undeads.”

“...Então o que deveríamos fazer?”

“Precisamos apaziguar as pessoas, ganhar tempo e derrotar o exército inimigo por nós
mesmos. Se nem isso formos capazes, mesmo se derrotarmos Jaldabaoth... a luta ainda
pode continuar.”

Remedios olhou para o teto.

“...Então é isso que temos que fazer. Maldição, aquele Rei Feiticeiro... ele planejou tudo
isso antes?”

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


3 3
“Não sei... eu realmente não sei. Mas não duvido.”

“Talvez ele deseje expandir seu domínio. O Reino Feiticeiro é muito pequeno?”

“Eu não diria que é muito pequeno, mas é verdade que o Reino Feiticeiro é apenas sua
cidade e a terra ao redor, bem como a planície que supostamente gera grandes quanti-
dades de undeads.”

Então foi por isso que ele estava de olho na terra do Reino Sacro. Certamente havia
evidências mais do que suficientes para levar a essa conclusão.

“Aquela maldita criatura undead! Deveríamos ter esperado pelo Momon, droga!”

“Talvez as coisas tenham terminado da mesma maneira se o Momon tivesse vindo. O


choque simplesmente não teria sido tão grande quanto o impacto que o Rei Feiticeiro
fez. Um rei conquistando uma cidade por si mesmo é uma imagem incrivelmente im-
pressionante. O fato de que o dito rei é um dos undeads que são inimigos jurados de
nossa nação também é um grande fator nisso.”

Em outras palavras, um vilão que faz uma coisa boa teve um impacto maior do que uma
pessoa comum fazendo a mesma coisa.

“...Droga.”

Agora que o silêncio retornara à sala, Remedios — que finalmente percebeu que Gustav
estava pedindo sua opinião — deu-lhe ordens.

“Vamos discutir isso com o Caspond-sama. Se, talvez, embora eu ache que não é muito
provável, por via das dúvidas, se Sua Majestade Sagrada falecesse, então ele é a pessoa
mais elegível para ser o próximo Rei Sagrado.”

“Como ainda não encontramos outros membros da família real, esse certamente será o
caso. Vamos pedir a opinião dele sobre tudo isso, então.”

Remedios deixou os paladinos na sala e levou Gustav ao quarto de Caspond.

No final, as coisas acabaram como Gustav havia previsto. A conclusão era que eles de-
morariam em responder ao povo e se o inimigo atacasse durante esse tempo, eles os
enfrentariam sem a ajuda do Rei Feiticeiro e os derrotariam em resposta, mostrando ao
mundo que a força do Reino Sacro não havia diminuído.

Capítulo 4 O Cerco
3 4
Parte 3

Houve grandes movimentos no campo demi-humano — ao receber o relatório, Neia sa-


bia que a hora havia chegado.

Não havia nenhuma dúvida sobre isso; isso era o prelúdio para um ataque.

Neia correu pela cidade, usando o equipamento que pegou emprestado do Rei Feiticeiro.

Ela sabia que as pessoas pelas quais passava estavam olhando para ela.

A linha de visão deles foi atraída para o arco magnífico que ela pegou emprestado do
Rei Feiticeiro, e então eles olharam para a armadura anteriormente usada pelo ex-sobe-
rano da cidade, o Grandioso Rei Buser, todos ficaram chocados. A audição aguda de Neia
escolheu as pessoas que faziam uma pergunta através do barulho da multidão: “Quem é
aquela guerreira?” Foi respondido por “É a escudeira do Rei Feiticeiro” ou “A mulher do
Reino Feiticeiro”.

Eu não sou do Reino Feiticeiro...

Isso a incomodava toda vez que ouvia falsos rumores iguais a esse. Parte dela queria
saber, mas não queria saber como os boatos haviam retratado erroneamente. No entanto,
ela precisaria negar clara e firmemente quaisquer rumores que pudessem incomodar o
Rei Feiticeiro.

Ainda assim, a escudeira do Rei Feiticeiro...

Isso a agradou, mas quando ela estava prestes a sorrir, uma lamentação silenciosa veio
de uma das pessoas que ela passou enquanto corria.

Mesmo que ele se pareça com o pai...

Esse pensamento passou pela mente de Neia quando ela chegou no muro ao lado do
portão oeste, onde havia sido designada. Foi também onde praticamente todas as forças
demi-humanas foram reunidas.

Aproximadamente 80% de todos os paladinos, sacerdotes, soldados e homens fisica-


mente capazes da cidade estavam posicionados no portão oeste ou nas proximidades.
Os 20% restantes foram designados para o portão leste, já as mulheres, crianças, velhos
e outros não-combatentes estavam vigiando os muros norte e sul da cidade.

Remedios Custodio comandava o portão oeste. Gustav Montagnés comandava o portão


leste. Caspond Bessarez era o comandante supremo nominal. É claro que o comandante
supremo permaneceu no quartel-general no centro da cidade e não se aventurou.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


3 5
Ela finalmente podia ver o portão oeste.

O Rei Feiticeiro havia demolido o rastrilho do portão leste, mas o rastrilho do portão
oeste ainda estava intacto. No entanto, muitos demi-humanos eram mais fortes que os
seres humanos. Eles provavelmente poderiam destruir facilmente usando toras.

Neia fechou a mão em um punho antes que ficasse trêmula.

Se eles superassem esse ponto e entrassem, seria muito difícil lidar com os demi-huma-
nos quando começassem a se espalhar pela cidade. Em outras palavras, a cidade estaria
perdida.

Dadas as circunstâncias, Neia não podia fugir. Ela provavelmente lutaria e morreria em
combate contra um vasto enxame de demi-humanos.

Neia levou a mão trêmula à boca e depois a mordeu.

Não tenha medo! Se você ficar com medo, errará um alvo que poderia ter atingido!

O item mágico que ela pegou emprestado do Rei Feiticeiro podia defender-se contra
ataques mentais de origens mágicas, mas não podia suprimir o medo nascido de seu pró-
prio coração. Mesmo assim, ela provavelmente teria ficado ainda mais assustada se não
o tivesse usando.

Quando ela sentiu a dor se espalhando de seus dedos, Neia entrou em uma torre no que
parecia ser o lado esquerdo da cidade e subiu correndo as escadas até o topo do muro.

Neia fôra designada para o lado do Rei Feiticeiro, e por isso ela foi aparentemente a
última a aparecer — é claro, seus oficiais superiores concederam sua dispensação espe-
cial para que ela não fosse censurada por se atrasar — e as outras pessoas que deveriam
estar aqui já estavam presentes.

Enquanto Neia se preparava para ir correndo para sua posição, o paladino comandando
o flanco esquerdo dos muros a impediu.

“O Rei Feiticeiro— Sua Majestade parece que ainda não veio.”

Por um momento, Neia olhou para o paladino em surpresa. Ela já havia relatado a seus
superiores que o Rei Feiticeiro não tinha intenção de participar dessa batalha, mas eles
ainda estavam fazendo essa pergunta. Isso significa que eles ainda não haviam infor-
mado os outros?

No entanto, Neia imediatamente percebeu que não era esse o caso. Este homem estava
se apegando a um pedaço de esperança — ele estava se perguntando se o Rei Feiticeiro
iria mudar de idéia e aparecer.

Capítulo 4 O Cerco
3 6
Neia olhou para o exército demi-humano que estava disperso do lado de fora da cidade.
Havia bem mais de 30.000 demi-humanos lá, mas a pressão de olhar diretamente para
eles fez com que se parecessem mais numerosos do que realmente eram.

Neia podia entender o porquê alguém desejaria a ajuda do esmagadoramente poderoso


Rei Feiticeiro diante de tal ofensiva militar. Isso porque Neia já se sentira do mesmo jeito
também. Contudo—

“Sim. O Rei Feiticeiro não está aqui. Isso é porque esta é a nossa batalha— a batalha do
Reino Sacro.”

O paladino ficou sem palavras por um momento.

Neia passou por ele e correu para o posto—

“—Um momento! Escudeira Neia Baraja!”

“Sim!”

Neia parou e ficou atenta.

“Fique aqui por enquanto.”

“Eh!?”

Neia olhou em volta. Este lugar estava perto da saída da torre que levava ao topo do
muro da cidade. Muitas pessoas se moveriam através deste lugar. Ela não atrapalharia o
fluxo de todos se estivesse aqui? Além disso, este lugar estava longe da posição desig-
nada de Neia, que ficava perto do centro.

“Posso perguntar o motivo disso? Há algo que você precisa que eu faça?”

“Não, não, não é como se precisássemos de você para fazer alguma coisa, na verdade é
difícil explicar... Escudeira Baraja. Apenas fique aqui. Você entende!?”

“Ah, sim...”

Ela não tinha idéia do que estava acontecendo, mas deve ter havido alguma razão para
isso. Não havia razão para manter um soldado treinado aqui sem motivo, ainda mais
quando a luta poderia irromper a qualquer momento.

Minha tarefa foi alterada? É para que eu possa me concentrar em atacar os comandantes
inimigos? ...O arco que peguei emprestado do Rei Feiticeiro parece incrível, mesmo que seja
por um curto tempo, então isso significa que eles estão me usando como um trunfo?

“Compreendo. Quanto tempo servirei aqui? Além disso, onde devo ficar?”

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


3 7
“Ah, hum, bem, só até o inimigo se mover. Quanto ao lugar... em qualquer lugar está
bem.”

“Hã? Preciso esperar até o último momento?”

Foi realmente estranho. Assim que um sentimento de arrependimento começou a en-


cher Neia, vários homens que pareciam ter vindo da milícia levaram uma panela enorme
pelas escadas. Esta era provavelmente comida para os defensores que estavam nos mu-
ros. Eles estavam suando muito mais do que deveriam com o clima frio, e estava claro
que esses homens tinham ido e voltado muitas vezes. Era de se esperar, já que eles esta-
vam alimentando várias centenas de homens.

Neia encostou-se na parede para lhes dar espaço para passar e os homens passaram
apressadamente por ela. No entanto, um deles levantou a cabeça um pouco e notou o
rosto de Neia.

“Huh? Você não é a escudeira do Rei Feiticeiro— ah, não, usar você é errado, Vossa Se-
nhoria?”

“Ah, não precisa ser tão formal... er, me perdoe. Sim. Eu tenho o dever de servir como
escudeira do Rei Feiticeiro.”

Talvez tivessem ouvido Neia falar com o homem, mas os outros portadores de potes
pararam e olharam para Neia, surpresos. Foi provavelmente pela mesma razão que o
homem de antes.

Ela estava ligeiramente envergonhada por ser conhecida como a escudeira do Rei Fei-
ticeiro, mas ao mesmo tempo sentia-se muito orgulhosa de si mesma.

Os homens não sabiam como Neia se sentia, e perguntaram preocupados:

“Quero dizer... ah, na verdade, há algo que eu gostaria de perguntar ao Rei Feiticeiro—”

“—Pare com isso! Não... é, por favor, poderia deixar isso para mais tarde? Ela está muito
ocupada. Você se importaria de continuar com seu trabalho?”

De repente, o paladino se colocou entre Neia e os homens, como se para escondê-la.

Isso foi uma coisa estranha de se fazer. Parecia que ele não queria que ela falasse com
aqueles homens.

Essa foi a razão da interrupção de agora? Ele não quer que eu fale com eles... porque isso?
É porque eles fariam perguntas sobre o Rei Feiticeiro?

Capítulo 4 O Cerco
3 8
Ela não sabia o porquê ele estava fazendo isso, mas encontrar a resposta seria bem sim-
ples.

“Eu não me importo. Qual é o problema?”

Como o paladino não queria que ela falasse, era preciso se dirigir diretamente a eles.

“Escudeira Baraja!”

“Você está tentando impedir as pessoas de perguntar sobre o Rei Feiticeiro!?”

Neia respondeu tão alto quanto o grito que havia sido dirigido a ela.

Na verdade, era uma atitude muito desavergonhada continuar tomando emprestada a


reputação do Rei Feiticeiro assim, mas ela tinha que se certificar de que o Reino Sacro
não estava fazendo nada que pudesse impactar negativamente o Rei Feiticeiro. Ela não
queria que sua terra natal se desgraçasse.

Neia se dirigiu gentilmente ao homem que lhe fizera a pergunta antes. Claro, ela sabia
que isso provavelmente iria assustá-lo, mesmo se certificando se usar um tom gentil.

“Eu responderei da melhor maneira possível se a sua pergunta estiver relacionada ao


grande Rei Feiticeiro. Dito isso, eu não sou do Reino Feiticeiro, então lamento dizer que
há muitas coisas que eu também não sei.”

“Eh!? Mas você— Vossa Senhoria não é do Reino Feiticeiro?”

“Eh!? Não, não, nada do tipo. Eu sou uma escudeira dos paladinos deste país.”

“Eh? Mesmo?”

“Bem, sim...? Então você não precisa ser formal comigo...”

Uma comoção explodiu na multidão. Talvez fosse porque o paladino havia gritado com
ela agora, mas em algum momento os milicianos nos muros começaram a olhar em sua
direção.

Embora as coisas tivessem tomado um rumo bastante embaraçoso, ela não podia pare-
cer maltrapilha agora que invocara o nome do Rei Feiticeiro. Neia estufou o peito orgu-
lhosamente, determinada a deixar que todos os soldados presentes a ouvissem. Parecia
que o paladino havia se resignado ao fato de que ele não podia esconder isso, e então ele
ficou de lado enquanto olhava com raiva para Neia.

“Então, primeiro... Essa armadura sua parece algo que o chefe daqueles monstros de
cabeça de bode usava. Foi você quem o derrotou?”

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“Não, não mesmo. O portador anterior dessa armadura era o Grandioso Rei Buser, e o
Rei Feiticeiro o matou usando uma única magia.”

Ohhh, a multidão se entusiasmou.

Ela podia ouvir trechos de conversa da multidão: “Ele realmente derrotou aquele mons-
tro!”, “Eu não posso acreditar que ele usou apenas uma magia”, “Ele realmente tomou uma
cidade inteira sozinho... ele na verdade derrotou muitos demi-humanos... “Ele é super forte...
Eu acho que estou me apaixonando por ele...”, “Ele não é nem um pouco parecido com os
undeads que eu conheço, nem pensar...” e assim por diante.

Mesmo que eles estivessem sussurrando nos ouvidos uns dos outros ou murmurando
para si mesmos, os ouvidos atentos de Neia podiam nitidamente ouvi-los.

Naturalmente, ela ficou muito feliz em saber que os outros se sentiam da mesma ma-
neira em relação ao grande homem que tanto admirava. Isso foi particularmente verda-
deiro para aquelas pessoas que mantiveram essa opinião apesar de saberem que ele era
undead.

Os esforços de Sua Majestade não foram em vão, há pessoas lá fora que o entendem...

“Então, então, ah, Sua Majestade nos ajudará desta vez?”

O tumulto ficou em silêncio em um instante, e essa reação disse à Neia que essa questão
era crítica.

“...Sua Majestade não participará desta batalha. Isto porque, está é uma batalha que nós,
como cidadãos do Reino Sacro, estamos lutando para salvar nossa nação, e não uma
guerra de outro país. Além disso, Sua Majestade precisa conservar mana para quando
enfrentar Jaldabaoth.”

Os rostos dos homens entristeceram quando ouviram sua resposta. Neia se preparou
para uma repreensão—

“Bem, isso faz sentido... normalmente, o rei de outro país não viria sozinho. O céu vai
nos punir se não formos gratos a ele, apesar de tudo o que ele fez por nós.”

“Sim. Além disso, ela disse que ele está economizando mana para derrotar o Jaldabaoth.”

“...Aquele rei é muito sangue-frio, mas mesmo assim ele é um homem que vai escolher
um método que salvará mais pessoas... não, ele é undead. Nesse caso, deve haver uma
razão pela qual ele não participará dessa batalha. Quero dizer, eu vi na época.”

“Ahh, eu vi também. É verdade que somos nós que mais valorizamos este país. —Eu vou
proteger minha esposa!”

Capítulo 4 O Cerco
4 0
“Do que está falando?”

“Nós viemos dos campos de prisão antes que esta cidade fosse libertada—”

Ela podia ouvir vozes de boa vontade ao seu redor.

Claro, havia alguns que estavam infelizes que o Rei Feiticeiro não viria para ajudar. No
entanto, eles foram superados em número pelas pessoas que podiam entender as consi-
derações do Rei Feiticeiro, e isso aqueceu seu coração.

“Posso voltar ao meu posto agora?”

Neia dirigiu sua pergunta ao paladino. Agora ela entendia porque ele não queria que ela
fosse ao seu posto mais cedo. Nesse caso, não deveria haver problemas em deixá-la ir
para lá agora.

O paladino não escondeu como se sentia quando disse a Neia: “Vá”, com um olhar
amargo no rosto.

Neia passou pelos soldados que discutiam em voz alta sobre o Rei Feiticeiro e chegou
ao local para o qual ela fôra designada. Ela então observou atentamente o acampamento
inimigo.

Era um vasto exército. Ostentavam de ter mão de obra suficiente para engolir todos
aqui em um só gole. Eles não os atacariam, mas sim o inimigo que estaria atacando-os.

Ela sentiu como se fosse vomitar novamente.

Quantas vezes seu pai se sentiu assim quando estava ocupando a linha da fortaleza?

Neia olhou para o céu, que estava tão nublado quanto o seu coração.

♦♦♦

O exército demi-humano fez o seu movimento durante o dia.

Neia se apressou para terminar seu mingau.

Tal mingau foi feito de grãos de aveia cozidos com leite e servido em uma tigela de ma-
deira. Graças ao ar de inverno lá fora, estava frio quando chegou às mãos de Neia e, fa-
lando francamente, estava horrível. No entanto, se ela não comesse seu corpo não seria
capaz de suportar o esforço prolongado que teria que passar depois, e não haveria mais
comida esperando por ela. Além disso, mesmo que supostamente fosse um alívio para
ela, Neia tinha a sensação de que não seria aliviada tão facilmente, e que ela estaria ocu-
pada demais para uma refeição adequada mais tarde. Foi por isso que eles receberam
uma porção tão grande para a merenda.

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Ela forçou a colher a entrar em sua boca, forçando-se a engolir os grumos e os torrões
brancos de aveia que estavam inchados de leite.

A enorme quantidade que ela tinha para engolir inchava sua barriga, e a noção de que
essa coisa horrível poderia ser sua última refeição a enchia de desespero.

Nas ameias com vista para o exército de demi-humanos, Neia se enrolou em um tapete
de algodão. Seu casaco de cor cinza seria sua única defesa contra o frio do inverno a
partir de agora. Os milicianos começaram a comer ao mesmo tempo que ela, mas ainda
não haviam terminado.

Todo mundo estava franzindo a testa. Claramente ninguém estava feliz com o gosto.
Mas não era algo que poderiam evitar.

Claro, suas expressões tensas não se deviam ao mingau de aveia. Seus olhos não esta-
vam olhando para a comida em suas mãos, mas os demi-humanos fazendo seu avanço.

Não havia como alguém ser feliz — ou esperançoso — ao olhar para aqueles números
avassaladores.

Então havia aqueles que já tinham sido prisioneiros. O gosto de serem dominados pelos
demi-humanos havia gravado um intenso medo neles. Eles estavam sob tanto estresse
que não conseguiam comer.

O que o Rei Feiticeiro faria nessas circunstâncias?

Ele daria um discurso grandioso e animado para aumentar sua vontade de lutar? Ou ele
riria disso?

Neia não tinha idéia de quais ações heroicas ele tomaria. Ainda assim, mesmo que sou-
besse, não poderia imitá-lo. Afinal, ela era completamente diferente do Rei Feiticeiro,
que era tanto um herói quanto um rei.

Além disso, provavelmente causaria problemas se Neia dissesse algo como “relaxem e
não se preocupem” para eles. Afinal de contas, a tensão correta era o que impulsionava
as coisas.

Seus rostos podiam estar abatidos, mas não havia sinal de que eles haviam cedido ao
desespero, nem havia sinais de que eles queriam fugir. Havia algo sobre eles, algo que só
se podia encontrar em soldados que se prepararam para enfrentar seu destino.

A razão para isso foi aparentemente devido a algo que um dos milicianos — que havia
sido um dos primeiros a ser libertado dos campos de prisioneiros — havia dito sobre o
Rei Feiticeiro. Ele se espalhou através dos soldados posicionados nos muros como um
incêndio.

Capítulo 4 O Cerco
4 2
Vidas não eram igualmente importantes.

Eles ficaram infelizes quando souberam que ele havia matado um refém que os demi-
humanos estavam segurando para os salvar. Foi um ato implacável que era muito carac-
terístico dos undeads. No entanto, as pessoas que lá estiveram obstinadamente insisti-
ram que não era esse o caso. Eles falaram de como aquele incomparavelmente poderoso
Rei Feiticeiro disse: “Mesmo eu seria oprimido se fosse fraco.”

Neia também se lembrava daquelas palavras. Naquela época, ele parecia extremamente
humano, irradiando até mesmo um estoicismo trágico que parecia o propósito e a deter-
minação personificados. Era uma promessa poderosa para proteger as coisas que eram
importantes para ele, além disso, tinha um poder de persuasão que não podia ser colo-
cado em palavras.

E então, eles pensaram sobre o que aconteceria com seus entes queridos se eles fossem
derrotados aqui.

O espírito de luta dos soldados foi fortalecido por um poderoso senso de propósito, que
dizia: “Eu não quero deixar meus entes queridos passarem pelo inferno novamente”.

Sua Majestade considerou que as coisas poderiam acabar assim lá no começo?

Se ele não tivesse dito essas palavras para endurecer a determinação do povo, suas for-
ças militares poderiam ter perdido o moral diante do exército avassalador diante deles,
e poderiam até ter se dissolvido em uma derrota antecipada.

Neia só tinha visto a Rainha Sagrada uma vez. Ela praticamente não tinha idéia de suas
habilidades ou de seu caráter. Ainda assim, ela estava certa de que o Rei Feiticeiro era
superior a ela como um governante em ambos os aspectos. Ou melhor, o Rei Feiticeiro
era provavelmente o tipo de soberano que será conhecido como o Rei dos Reis, a mais
alta ordem de monarquia, mesmo entre outros reis.

“Quem diria que eu costumava pensar que as pessoas do Reino Feiticeiro eram lamen-
táveis porque se deixavam ser governadas pelos undeads...”

Mas agora, ela os via como sortudos quando pensou sobre isso. Aquelas palavras agar-
raram a garganta de Neia, fizeram um loop e se recusaram a deixar sua boca. Afinal, não
seria bom se as pessoas ao seu redor as ouvissem. Só então—

“Confirmado avanço inimigo! Todos se preparem para a batalha!”

Um grito bem alto veio à distância.

Todos engoliram o mingau e foram para os postos de batalha.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


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Se um exército com mais de 10.000 homens fizesse o seu movimento, o ar estremeceria,
a ponto de poder abalar os muros da cidade. Parecia que a pressão que se aproximava
iria esmagá-los.

Na verdade, a audição aguda de Neia havia captado o clamor de um exército que avan-
çava, e lamentos desanimados surgiram dos milicianos.

O moral estava caindo rápido.

Ainda assim, estava fora do alcance de Neia, e ela também não estava em posição de
fazer nada. O trabalho de Neia era cravar com flechas todos os inimigos que entrarem
em seu alcance.

Desde que esta cidade foi tomada de volta, ela passou todo o tempo livre para praticar
o arco e flecha quando não estava cumprindo suas obrigações como escudeira. Ela pen-
sou que era graças a essa prática que ela se acostumara com o Ultimate Shooting-Star
Super, e agora ela era capaz de usá-lo corretamente.

Ainda assim, por que os demi-humanos estão atacando agora? Atacar à noite seria melhor
pra eles... eles têm algo em mente? Se o Rei Feiticeiro estivesse aqui, eu poderia perguntar
sobre isso...

A ausência do magic caster que caminhara ao lado ou na frente dela durante o último
mês a fez sentir como se houvesse algo importante faltando em seu coração.

Não, eu não posso confiar em Sua Majestade para tudo. Eu preciso andar com minhas
próprias pernas... Mesmo eu não tendo certeza do que os demi-humanos estão planejando,
deve haver uma razão para lançar o ataque em plena luz do dia. Nesse caso, seria melhor
não ser descuidada.

Enquanto Neia observava os demi-humanos das ameias, a linha de frente dos demi-hu-
manos chamou sua atenção.

...Espera, aquilo é...

Havia um Ogro de três metros de altura na fileira da frente. Aquele demi-humano car-
regava uma arma enorme.

Era uma espécie de arma de longo alcance protegida por um escudo de madeira. Uma
balista. Embora parecesse adequada para os demi-humanos devido ao enorme tamanho
do último, o fato era que elas poderiam ser usadas como armas de cerco.

Muitos Ogros carregavam essas armas, que deveriam ser montadas no lugar, e ficaram
alinhados.

Capítulo 4 O Cerco
4 4
Eles as haviam pegado de uma cidade e as haviam remodelado para serem disparadas
na posição vertical?

Os tambores ribombaram e as balistas estavam preparadas para disparar.

E então—

—Os muros da cidade literalmente começaram a tremer. As ameias desmoronaram em


alguns lugares. Mesmo eles tendo a sorte de não sofrerem nenhuma casualidade dadas
as circunstâncias, essa sorte não duraria para sempre.

Uma flecha gigantesca perfurou as ameias. Não bem uma flecha, mas sim um dardo. Um
dardo grosso que era mais comprido do que Neia, ele voou pelo ar e se enterrou nos
muros. Neste ponto, a única palavra para isso seria “arma de cerco”. Certamente nin-
guém poderia sobreviver ao ser atingido por algo assim.

Os Ogros pareciam estar se preparando para uma segunda saraivada.

“Seus desgraçados!”

Neia olhou para eles.

Os Ogros estavam muito longe.

Dado o poder de seu arco, ela provavelmente poderia acertá-los nesse intervalo. No en-
tanto, sua capacidade de penetração seria muito diminuída, e o fato era que ela não podia
praticar tiro de longo alcance como este dentro dos limites da cidade. Ela não sabia o
alcance do arco e não estava confiante de que poderia atirar nos escudos das balistas e
matar seus detentores.

Sendo esse o caso, tudo o que eles podiam fazer era abrir os portões e lutar em uma
batalha campal para matar o grupo com balistas, mas isso seria uma jogada extrema-
mente tola.

Em outras palavras, tudo o que eles podiam fazer era continuar tomando esse ataque
unilateral.

Precisamos recuar... mas se o fizermos, não podemos impedir o avanço do inimigo. Que
tipo de plano os oficiais têm?

Embora o inimigo estivesse apenas atirando no momento, eles se moveriam para der-
rubar os muros se os homens recuassem, e se o inimigo se apoderasse dos muros, a ci-
dade estaria praticamente perdida.

Eles assumiriam o controle das escadas que desciam dos muros e forçariam os soldados
a voltarem para abrir os portões, a fim de deixar o corpo principal de suas forças entrar

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


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na cidade. Tudo o que eles precisavam fazer era forçar aquela sequência de eventos atra-
vés de força bruta. Não havia nada que pudessem fazer sobre isso. Mesmo Remedios
teria dificuldade ao ser cercada por inimigos em uma luta corpo a corpo.

Nesse caso, tudo o que podiam fazer era sacrificar a retaguarda e fugir da cidade pelo
leste. Mas isso provavelmente levaria à situação que eles haviam discutido em uma reu-
nião de estratégia anterior — eles seriam assolados ao longo das planícies, ou seriam
esmagados entre esse exército e o que estava contra o sul.

O que o paladino comandando o portão oeste decidiria?

Ele recuaria ou lutaria até o fim?

Quando Neia contemplou o assunto, uma segunda saraivada veio do inimigo.

Os muros tremiam novamente quando os projéteis do tamanho de lanças o atingiram.


O tremor pareceu mais intenso que da última vez e, ao mesmo tempo, ela ouviu um som
irreconhecível.

“Abgyahhhhh!”

Ela olhou para a fonte do som e testemunhou uma visão horrível.

Um dos dardos da balista tinha atravessado de uma parede e empalado um miliciano


escondido atrás dela. Sangue borbulhava de sua boca. Vários segundos depois, os espas-
mos do homem pararam e ele desabou como uma marionete cujos cordéis foram corta-
dos. O dardo o havia prensado na parede como um espécime de inseto, e seus braços e
pernas pendiam frouxamente para baixo.

Gritos eclodiram ao seu redor quando os homens viram o horrível cadáver que apare-
ceu de repente entre eles.

Neia pegou o colar que o Rei Feiticeiro a emprestou e mordeu o lábio.

Isso foi uma ferida fatal. Nenhuma quantidade de magia de cura poderia curar isso.

A morte de um soldado não afetaria muito suas forças de combate. No entanto, o medo
gerado por sua morte horrível infectou o ambiente. O pensamento de que eles poderiam
ser os próximos e que não havia nenhum lugar seguro para eles desencadeou os instin-
tos de sobrevivência dos homens, e seus corpos tremeram.

“「Under Divine Flag」!”

Alguém lançou uma magia.

Capítulo 4 O Cerco
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O terror que percorria os milicianos foi suprimido naquele momento. Este foi o resul-
tado do uso de magia para melhorar sua resistência ao medo. Enquanto a magia divina
「Lion’s Heart」 fornecia imunidade completa ao medo, tinha o ponto negativo de se
limitar a um único alvo. Em contraste, 「Under Divine Flag」 afetava todos em uma es-
fera ao redor do lançador.

Por isso os paladinos estavam entre os milicianos.

“Não tenham medo!”

Gritou o paladino que lançou a magia e continuou:

“Peguem suas armas para salvar aqueles que passaram pela mesma dor que vocês!”

Magias e certas habilidades especiais podiam fazê-los entrar em pânico rapidamente,


mas o medo que sentiam agora vinha de seus próprios corações. Sob os efeitos da magia
de suprimir o medo, o fogo voltou a brilhar nos olhos dos milicianos.

Ainda assim, isso estava simplesmente encobrindo o problema real. O importante era
saber se eles poderiam fazer alguma coisa em relação ao ataque unilateral que estavam
recebendo do inimigo. Caso contrário, a única coisa que viria disso seriam mais mortos
e feridos. No entanto, Neia não conseguiu apresentar boas idéias.

“Protejam-se! O inimigo não tem munição ilimitada! Não é possível que tenham um
grande amonte com eles!”

É isso.

Neia pensou. A maior parte de seus recursos deveria estar indo para o sul a fim de pro-
ver o exército que resistia contra as forças do Sul, então foi por isso que eles pensaram
que não teriam trazido munição suficiente para suas armas aqui? Mesmo assim, até um
artesão cativo poderia fabricar muitos virotes em pouco tempo, mas isso seria para ba-
lestras. Esta foi uma aposta.

—A terceira onda chegou.

Os Ogros não estavam acostumados com a arquearia, e muitos deles erraram seus dis-
paros. Mesmo assim, muitas das ameias desmoronaram sob a terceira saraivada, e houve
muitas baixas entre os milicianos.

Os dardos maciços como lanças podiam perfurar dois homens ao mesmo tempo.

「Under Divine Flag」 estava centrada no paladino que a havia lançado, o que signifi-
cava que seu efeito era mais forte quando muitas pessoas estavam amontoadas em seu
raio de efeito. No entanto, isso apenas levou à mais baixas.

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O som de bater de asas veio pelo ar antes que o inimigo pudesse disparar pela quarta
vez. Anjos alados voaram pelo céu e passaram sobre as cabeças de Neia e dos outros.

Mesmo que fossem anjos de baixo nível, eles se dirigiram diretamente aos demi-huma-
nos. Eles tinham marcas incandescentes nas mãos direitas e seguravam ânforas cujo pa-
nos saiam do gargalo nas mãos esquerdas. Aquelas ânforas claramente continham óleos
ou álcoois poderosos.

Em outras palavras, eles estavam carregando armas explosivas — bombas incendiárias.

É claro que as chamas produzidas por essas armas não prejudicariam em nada os opo-
nentes resistentes ao fogo, ou os demi-humanos com peles grossas ou corpos grandes.
Eles podem até não ter efeito algum.

Por outro lado, havia também aqueles demi-humanos que não podiam lidar com o fogo,
e danificar as balistas também impediria o ataque inimigo.

Os anjos povoaram o céu acima dos Ogros que usavam balistas e acenderam suas ânfo-
ras. No entanto, eles nem sequer tiveram tempo para derrubá-las.

Houve um som agitado quando os demi-humanos subiram ao céu. Eram os Pteropus.


Suas mãos foram moldadas em asas de pele, e seus braços permaneceram imóveis en-
quanto subiam direto no ar como se estivessem na proa do vento. Esse foi provavel-
mente o efeito de algum tipo de magia.

Uma substância branca semelhante a uma teia voou ao mesmo tempo, enredando os
anjos. Provavelmente foi produzido por uma habilidade especial dos Spidans.

Os anjos pareciam borboletas presas em uma teia de aranha e mergulharam no chão, já


que não podiam se mover livremente. Eles foram engolidos pelas hordas de demi-huma-
nos e é escusado dizer o que aconteceu com eles depois disso.

No entanto, os anjos não se sacrificaram em vão.

Várias bombas incendiárias atingiram o chão e o rugir das chamas se espalharam por
todo lado.

Neia julgou que essa era a melhor chance que ela conseguiria e tensionou a corda do
arco.

Até agora, era impossível mirar diretamente nos Ogros devido aos escudos montados
em suas balistas. Mesmo que ela apontasse para as pernas desprotegidas, seria quase
impossível matá-los em um golpe.

Capítulo 4 O Cerco
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Seu pai teria sido capaz de disparar no olho de um ogro através da pequena abertura.
Mas, as habilidades de Neia não eram tão aguçadas quanto as dele. No entanto, os Ogros
levantaram suas balistas e apontaram seus escudos para cima. Talvez porque eles te-
messem as chamas ou tivessem medo de terem suas balistas danificadas, mas, qualquer
que fosse o motivo, a atenção deles estava concentrada no fogo, e eles não prestaram
nenhuma atenção nela.

Se ela perdesse essa chance, provavelmente não conseguiria outra.

Ela puxou a corda do arco até o limite e soltou a flecha.

O item mágico que ela pegou emprestado do Rei Feiticeiro ajudou Neia a trazer um re-
sultado que se aproximava do que seu pai podia fazer.

A flecha voou em um caminho assustadoramente reto e atingiu a cabeça de um Ogro.

Neia não tinha apontado para o crânio espesso, mas sim para o globo ocular. Mesmo
que alguns monstros possuíssem uma membrana protetora sobre os olhos, ela julgou
que seria mais fácil dar um golpe fatal ali do que atacar o crânio.

No entanto — as coisas não correram como planejado.

Sua flecha fincou na área perto da mandíbula do Ogro.

O Ogro ferido gritou alto, estremecendo com a dor.

O Ogro soltou a balista e segurou o rosto — a parte em que fôra perfurada. Então, tre-
mulamente virou as costas para Neia antes de recuar. Apesar de não ter causado um
golpe mortal, ela pelo menos quebrou a vontade de lutar.

Se o exército demi-humano tivesse curandeiros, provavelmente seria capaz de voltar


rapidamente à linha da frente.

“Tch!”

Isso era tudo que Neia poderia realizar, mesmo com a ajuda dos poderosos itens mági-
cos que o Rei Feiticeiro emprestara a ela.

Neia estalou a língua e imediatamente se escondeu atrás das ameias, depois se espre-
meu ao lado do muro da cidade e começou a se mexer. Os milicianos ao lado dela olharam
surpresos quando ela de repente deixou o posto e se dirigiu a eles em tom severo.

“—Saiam daqui! Eles vão contra-atacar este lugar!”

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Não foi porque ouviram o grito de Neia, mas vários dos balistas lançaram seus projéteis
em sua direção. Mesmo que a maioria dos dardos tinham errado, alguns deles acertaram
nas proximidades de Neia e destruíram o muro próximo.

Se Neia tivesse tido azar, ela poderia muito bem ter sido empalada por esses dardos.

Ela espiou os demi-humanos novamente. O caos dos anjos e o ataque de fogo estavam
sendo constantemente contidos, e os Ogros levantaram suas balistas novamente. Parece
que a notícia de ser atingido por uma flecha se espalhou por todo o exército inimigo.
Nesse caso, eles provavelmente não cometerão o erro de baixar seus escudos novamente.
Portanto, ela apostaria em ser capaz de imitar a habilidade de seu pai por um golpe de
sorte, atingindo-os mesmo que ela só pudesse atacar as partes expostas de seus corpos?
Ou ela iria se esconder como uma tartaruga e esperar por uma chance?

Em meio à confusão, o arco que ela pegou emprestado do Rei Feiticeiro refletiu a luz do
sol e brilhou lindamente.

Você não será elogiada pela imprudência...

Sim. Ela havia recebido itens incrivelmente poderosos e precisava devolvê-los, inde-
pendentemente do custo. Portanto, ela não deveria correr riscos.

Não é possível que tenham muitos dardos especiais!

Pareceria que os demi-humanos estavam jogando uma rajada interminável de dardos


do tamanho de lanças contra eles. Entretanto, a manufatura grosseira significava que,
muitas vezes, eles voavam para lugares errados, e alguns até caíam nas ruas da cidade
sem acertar em nada.

Ela não podia responder contra-atacando, então tudo que ela podia fazer era se agachar
e esperar que o ataque inimigo cessasse.

Fragmentos dos muros que foram destruídos inundaram Neia. Alguns milicianos aza-
rados foram atingidos e morreram no local, mas outros rezaram silenciosamente para
que o ataque inimigo parasse, já que não podiam fazer mais nada.

Logo, ela ouviu um poderoso estrondo, a batida de um tambor. O mesmo som repetiu-
se quatro vezes. Ao longe, o mesmo som veio do que deveria ter sido a ala esquerda da
formação inimiga.

...Eles estão coordenando seus movimentos com o número de batidas. Parece que as alas
direita e esquerda estão usando isso para se comunicar. Se eu pudesse entrar no campo
inimigo e roubar um desses tambores, então batesse descontroladamente nele, o que deve-
ria atrapalhar a coesão do inimigo — o que seria impossível.

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O inimigo deveria saber a importância de seus tambores. Portanto, eles seriam forte-
mente protegidos. Nesse caso, quem poderia invadir seu acampamento?

Talvez um aventureiro pudesse usar 「Invisibility」 ou 「Silence」 ou outras magias


para causar o caos entre o inimigo e depois entrar sorrateiramente.

Não faz sentido esperar pelo impossível...

Ainda assim, não havia dúvidas de que o inimigo estava mudando de rumo. Neia — e
muitos milicianos — se levantaram nervosamente para espiar os movimentos do ini-
migo.

Depois disso, uma grande comoção surgiu deles.

Era um sentimento que combinava choque, medo, raiva e fúria.

Por fim, o exército que se encontrava do outro lado dos muros avançava. As alas es-
querda e direita das forças da Aliança Demi-humana avançaram em paralelo. O destaca-
mento central aproximou-se do portão da cidade em uma formação de camadas.

Os demi-humanos avançaram com passos fortes, como se quisessem caçar e matar Neia
e os outros.

E então havia outra unidade — uma muito pequena — que parecia flanquear a cidade.
Eles estavam planejando escalar as paredes, ou isso era para distraí-los de suas reais
intenções?

De todo modo, o inimigo já havia lançado a segunda onda de ataques. De agora em di-
ante, não seria uma luta unilateral, mas uma luta mútua de derramamento selvagem de
sangue.

No entanto, não foi aí que o problema estava. Afinal, estavam esperando há muito
tempo por isso, embora não pudessem se alegrar que finalmente havia chegado.

O que irritou os milicianos foi o avanço das alas esquerda e direita. Suas principais uni-
dades eram compostas de muitas espécies diferentes. Mesmo sem um senso de unidade,
eles tinham duas coisas em comum.

Uma era que eles estavam todos carregando escadas táticas.

Em outras palavras, a unidade deles pretendia escalar as paredes e invadir a cidade.


Isso também implicava que eles eram o objetivo de Neia.

A outra coisa era que eles tinham crianças humanas amarradas a seus corpos.

Capítulo 4 O Cerco
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Algumas gritavam e choravam, enquanto outras pendiam bambos. Todas estavam des-
nudas e vivas.

Neia mordeu o lábio com força.

Mas, ao mesmo tempo, o coração de Neia estava surpreendentemente calmo.

De seu canto escuro nos muros, ela observou a maré demi-humana pressionando-os.
Neia então deslizou uma flecha de sua aljava e começou a tensionar seu arco.

Mesmo que os inimigos pioneiros tivessem entrado em seu campo de tiro, ela precisava
se segurar.

Ainda era cedo demais.

Ela respirou fundo várias vezes, concentrou-se, depois se virou o mais rápido que pôde
e puxou a corda do arco.

Ela tinha apenas um momento para apontar, e havia apenas um ponto em que ela po-
deria acertar.

—Lá!

Ela soltou sua flecha.

Seu tiro sem hesitação perfurou o escudo humano — o peito de uma criança — e o
demi-humano por trás dele.

Talvez até mesmo aquele tiro poderoso tivesse sido difícil de derrubar com a resiliência
de um Ogro. No entanto, o demi-humano que ela acabara de atingir não parecia possuir
uma vitalidade tão irracional.

Neia não prestou atenção ao demi-humano que ela havia derrubado e sacou outra fle-
cha.

Ela havia matado uma pessoa, a criança amarrada na frente do demi-humano.

Suas mãos não paravam de tremer. Sua visão ficou turva e seu coração tremeu.

Embora ela soubesse que isso aconteceria e se preparasse para isso, foi assim que ela
reagiu.

Ela pegou o punho da espada pela força do hábito, mas seus dedos tocaram a corda do
arco.

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Era como se seu arco a estivesse repreendendo, dizendo que agora não era a hora para
esse tipo de coisa.

Uma fraca chama se acendeu no coração congelado de Neia. Ela se espalhou como fogo
e dispersou os ventos frios que assolavam sua alma.

Ela parou de tremer e sua visão não pareceu mais se turvar. O que enchia seu coração
eram as palavras da pessoa que incorporava uma justiça inabalável.

Ahh, pensar que isso teria um efeito tão grande.

Neia reconfirmou que o que o Rei Feiticeiro disse estava correto.

Os demi-humanos pioneiros que Neia atacara estavam visivelmente diminuindo a ve-


locidade. Isso foi porque eles foram abalados ao descobrir que seus escudos humanos
não eram eficazes.

Portanto, ela gritou.

Neia abriu os olhos e gritou para os milicianos que os encaravam.

“O que pensam que estão fazendo!? Não percam tempo e joguem as pedras para baixo!
Não há como salvar esses reféns!”

De fato. Neia e os outros não poderiam salvar os reféns. E então, eles já tinham visto o
que o inimigo faria com os reféns que haviam perdido seu valor. Portanto, o que eles
poderiam fazer?

Ela disparou outra flecha para acelerar os demi-humanos a caminho da vida após a
morte.

Neia usou sua visão treinada e viu que seu tiro havia perfurado um menino na testa. Ela
não sabia se era porque estava apontando para um Armat ou porque o crânio do menino
havia diminuído o impacto, mas essa flecha não fôra imediatamente fatal. No entanto, a
linha de frente do inimigo estava no caos. Isso era apenas esperado. Tanto humanos
quanto demi-humanos diminuiriam o ritmo quando as coisas não acontecessem como
planejado.

Ainda assim, tudo o que ela podia ver das linhas inimigas estendia-se de uma ponta da
visão à outra.

Neia apenas conseguiu efeito na região onde ela havia atirado. Nos demais lugares, as
coisas continuavam como se nada tivesse acontecido. Parecia um pequeno distúrbio em
uma linha extremamente longa.

“Apressem-se e joguem as pedras!”

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Neia gritou para eles novamente.

Se eles não jogassem suas pedras, tudo que Neia fez teria sido por nada. Isso era algo
ainda mais imperdoável do que tirar a vida das pessoas — crianças que tinham futuro
pela frente.

O inimigo estava atacando à esquerda e à direita ao mesmo tempo. Um confronto direto


com um inimigo que os ultrapassava várias vezes resultaria em serem esmagado sob o
peso dos números. No entanto, se ao menos um dos elementos inimigos diminuísse, já
aliviaria a pressão sobre eles.

Se o inimigo chegasse aos muros, eles subiriam enquanto usavam as crianças como es-
cudos. Se conseguissem subir os muros, os milicianos não seriam capazes de resistir aos
demi-humanos. O que ela tinha que fazer agora era ver quanta força de combate ela po-
deria remover do inimigo antes que eles chegassem.

É muito difícil para os milicianos matarem crianças. Alguém precisar estar disposto a dar
o exemplo, mesmo sujando as mãos!

Neia fixou os olhos em um paladino à distância.

Você deveria ter percebido quando retomou os campos de prisioneiros e esta cidade! Você
deveria saber que o Rei Feiticeiro estava certo! Você deveria saber que não pode fazer mais
nada! E você certamente deveria saber que é inútil ficar obcecado com vidas que não pode
salvar! O que você deve fazer é dedicar toda a sua força para salvar as pessoas que ainda
podem ser salvas!

Neia disparou outra flecha.

Assim como antes, seu tiro matou uma menina e o demi-humano ao qual ela tinha sido
amarrada.

“Rápido—”

“—UOOOOOHHHH!”

Um grito ecoou ao redor de Neia quando uma pedra voou. Parecia afastar a ansiedade
em seu coração.

A pedra atirada atingiu os demi-humanos, que ainda estavam hesitantes. Embora esti-
vesse longe de ser fatal, parece que causou algum dano.

“Hey, vocês! Rápido, ataquem os demi-humanos! Não dá pra salvar as crianças, desis-
tam!”

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Neia reconheceu o miliciano que gritava.

Ele era o pai do menino que o Rei Feiticeiro havia matado quando libertaram o primeiro
campo de prisioneiros.

Neia ficou surpresa ao encontrá-lo aqui.

“Se eles passarem por nós, as mulheres e as crianças sofrerão muito mais do que antes
de serem salvas! Se vocês ainda amam seus filhos, joguem as pedras o mais forte que
puder!”

Sua voz parecia banir todas as suas dúvidas, e logo foi seguida por uma saraivada de
várias pedras. Mesmo que voassem por caminhos estranhos e ficando incerto para onde
estavam mirando, o fato era que eles tinham jogado suas pedras.

No momento em que Neia tensionou seu arco novamente, uma chuva de pedras desceu
sobre os demi-humanos. Muitas dessas pedras atingiram os demi-humanos de frente, os
que usavam crianças como escudos de carne. Em vez disso, seria mais correto dizer que
elas atingiram as crianças amarradas àqueles demi-humanos, do que os próprios demi-
humanos.

As crianças choraram e prantearam de maneira desalentadora. Mesmo assim, as pedras


esmagaram impiedosamente aquelas crianças miseráveis. Elas foram o sacrifício mais
trágico de todos, presos entre a selvageria de ambos os lados.

Neia priorizou o mirar nas crianças.

Ela fez isso para libertá-los de sua dor e tormento o mais rápido possível.

Este foi um sinal de respeito para os poucos que tiveram que ser sacrificados para aju-
dar muitos.

Neia se inclinou para encontrar seu próximo alvo, e então sentiu algo rasgando o ar ao
se aproximar, mas tudo o que viu foi uma explosão de luz.

Isso é um ataque mágico do inimigo?

Neia congelou por um momento. Ao mesmo tempo, ela sentiu um leve impacto de sua
barriga. Parecia que algo a havia atingido levemente ali.

Assustada, ela tropeçou um passo para trás e então ouviu um barulho de seus pés. Ela
olhou de perto e viu algo que parecia algo entre uma lança e uma flecha gigantesca —
em outras palavras, um dardo de balista.

Sua ponta parecia ter sido moldada em um ângulo pontiagudo por um martelo.

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Neia rapidamente se escondeu atrás do muro. Depois disso, ela ouviu um som de ras-
pagem quando algo enorme atingiu os muros da cidade.

Suor frio correu pelas costas.

Neia inconscientemente acariciou a parte onde sentiu o impacto.

Ela pensou em como o Rei Feiticeiro havia arremessado sua espada na luta de antes, e
ela havia sido desviada por uma esfera de luz da armadura de Buser. Isso explicaria o
que acontecera agora. Parece que a armadura de Buser — que o Rei Feiticeiro emprestou
a ela — a protegeu. Em outras palavras, a vida de Neia foi salva no último segundo.

Isso é algum tipo de proteção contra ataques à distância? Meu peito, ombros e barriga
estão protegidos pela armadura, mas e os outros lugares? Essa habilidade tem que ser ati-
vada? Não, mais importante, quantas vezes mais posso usar isso? Ou já usei tudo?

Sem a armadura que o Rei Feiticeiro lhe emprestara, não havia dúvida de que Neia teria
sido empalada através de seu abdômen.

Esse fato enviou arrepios através de seu corpo.

“Huh... huh... huh. Vamos lá, droga!”

Neia não havia entrado no raio de 「Under Divine Flag」. Ela sentiu que era desneces-
sário porque tinha a tiara que o Rei Feiticeiro lhe emprestara. Por isso ela podia conviver
com o medo da morte assim. Não havia lágrimas turvando os olhos de Neia — em vez
disso, ela segurou seu arco antes de se revelar.

Ela resolveu continuar lutando, mesmo que isso significasse tirar a vida das crianças.
Ela não podia se permitir perder a vontade de lutar depois de um mero dardo de balista.

Isso era para proteger as crianças que não poderiam aguentar mais sofrimento. Ao
mesmo tempo, foi também para matar os demi-humanos que as arrastaram para a bata-
lha. Cada flecha que ela disparava encarnava esses sentimentos.

A intenção de atacar sem levar em conta as crianças se espalhou de sua porção do muro,
até que todos atirassem pedras contra os demi-humanos.

Neia viu até mesmo os paladinos jogando pedras.

“Desgraçados! Seus desgraçados!”

“Ahh, malditos demi-humanos...”

“Eu sinto muito! Eu sinto muito!”

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“Me desculpe... por favor, me perdoe...”

Embora aqueles gritos de remorso ecoassem pelo escalão, eles não pararam de jogar
suas pedras por um momento.

Este foi o ataque feito por aquelas pessoas que aceitaram que algum sangue tinha que
ser derramado para salvar o maior número de vidas.

No entanto, o inimigo era muito numeroso. No momento em que derrubaram a primeira


fileira — os que usavam crianças como escudos — os demi-humanos já haviam chegado
à vizinhança dos muros e começaram a desdobrar as escadas uma após a outra.

Mesmo que os demi-humanos tecnologicamente atrasados só pudessem fazer aríetes e


escadas táticas quando se tratava de armas de cerco, a verdade era que não havia contra-
ataque perfeito contra ambos. Vários homens empurraram as escadas com varas com-
pridas e os anjos destruíram várias outras, mas, lamentavelmente, havia inimigos de-
mais para enfrentar.

“Como estão as bombas incendiárias? Chame os sacerdotes para ajudarem com suas
magias!”

“Isso é problema! Estão conseguindo subir as escadas! Eu vou cuidar disso, cuide desse
lado para mim!”

“Joguem as pedras!”

Houve uma grande comoção no alto dos muros. Os defensores lançavam pedras ou gol-
peavam com longas lanças para repelir os demi-humanos que subiam as escadas, mas as
escadas subiram uma após a outra e ficou difícil lidar com todas elas.

Vários demi-humanos evitavam agilmente as estocadas de lança dos milicianos, em vez


disso, agarravam as lanças e puxando seus detentores dos muros. Então havia os demi-
humanos como os Armats e os Bladers, cuja força defensiva natural era comparável à
armadura de placas completa. Eles ignoraram as lanças e avançaram todo o caminho.

Embora os paladinos tivessem sido treinados em combate e pudessem lidar com esses
demi-humanos fortemente protegidos, o número de demi-humanos no topo dos muros
cresceu mais e mais. Quaisquer lacunas que aparecessem eram imediatamente preen-
chidas.

Depois de enrijecer sua determinação, Neia se inclinou por trás de uma parede e atirou
em um demi-humano que subia na lateral.

Não era tanto a habilidade de Neia, mas a arma que ela usava a permitia matar os demi-
humanos de uma só vez. Ela só poderia matar os resistentes Armats e Bladers porque
ela possuía o Ultimate Shooting-Star Super.

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O corpo de Neia era claramente visível quando ela se inclinou para fora, e ela foi atin-
gida várias vezes por pedras cuspidas por Stone Eaters. Essas pedras podiam talhar pla-
cas de metal. Mas Neia foi protegida pela armadura de Buser. Ainda assim, ela provavel-
mente estaria machucada e ela poderia ter sofrido uma fratura ou duas.

Embora estivesse suando muito, ela não parou de atirar nos demi-humanos nem por
um momento.

Eu ainda posso fazer isso... Eu só tenho mana suficiente para usar o colar de cura que Sua
Majestade me emprestou uma vez, preciso aguentar firme!

Enquanto ela continuava fazendo tiros certeiros um após o outro, parte de sua mente
tentava estimar quanto tempo ela poderia aguentar. Afinal, o único uso da magia de re-
cuperação de Neia era seu trunfo.

Ela puxava uma flecha de sua aljava, prendia ao arco, mirava na cabeça ou o coração de
um demi-humano e depois a soltava. Ela repetiu essa sequência inúmeras vezes.

Uma rocha a atingiu com força suficiente para derrubar a flecha de sua mão.

Neia rapidamente se escondeu atrás do muro.

Ela não consegiu segurar a flecha porque o ataque do Stone Eater fez todo o corpo de
Neia gemer de dor, mas essa não foi a única razão.

Paladinos eram usuários de espada. Como escudeira, ela havia treinado com espadas,
por isso, mesmo que conhecesse os fundamentos do arco e flecha, não passara muito
tempo treinando com arcos. Essa falta de prática fez com que seus braços ficassem com
câimbra e seus dedos doessem.

Se ela não pudesse usar um arco, então estaria apenas atrapalhando. Era muito cedo
para ela usar seu trunfo agora, mas ela não tinha outro jeito de restaurar sua capacidade
de lutar.

“Ativar:「Heavy Recover」!”

A mana drenava do corpo de Neia, e isso a fez se sentir um pouco tonta. Ela não seria
capaz de fazer isso pela segunda vez.

Ao mesmo tempo, toda a dor em seu corpo desapareceu, seja as câimbras nos braços
ou nos dedos doloridos.

“Eu posso fazer isso!”

Neia se inclinou novamente e continuou atirando.

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Felizmente, as forças de Jaldabaoth possuíam algum grau de liderança. Caso contrário,
os balistas teriam mirado em Neia para matá-la sem hesitação, mas já que estavam sendo
comandados, eles não atiraram por medo de acertarem os aliados.

Neia continuou atirando como se estivesse em um sonho. Por fim, a mão que desceu
não conseguiu pegar nada, sua aljava ficou vazia.

Ela olhou para baixo em pânico e viu que ela estava sem flechas.

Só então, um grito veio dos milicianos.

Havia um demi-humano de aparência muito forte em frente a uma escada. Embora não
fosse diferente dos Stone Eaters que haviam atirado pedras em Neia, seu físico era exce-
lente. Embora não fosse páreo para Buser, ainda irradiava a aura de um ser poderoso.

Segurava uma espada larga de aparência rústica na mão direita, que lembrava um cu-
telo de carne. A outra segurava um elmo que parecia conter alguma coisa. Era a cabeça
do paladino que comandava essa área.

“O grande Jajan-sama da tribo Lagon conquistou a liderança do comandante inimigo!


Agora, seus cachorros, matem eles! Matem todos os humanos!”

♦♦♦

A situação imediatamente se tornou austera.

Paladinos eram poucos em número, e uma morte entre aqueles pequenos números sig-
nificava que a força defensiva desta área despencaria vertiginosamente. E então, havia
mais uma coisa.

Havia uma tremenda disparidade na força de combate entre um miliciano e um pala-


dino, mesmo que o último não fizesse parte de uma elite escolhida a dedo. Não havia
como os milicianos ganharem contra um demi-humano que poderia matar um desses
paladinos.

Enquanto os milicianos congelavam de medo, os demi-humanos escalaram a escada


atrás do Stone Eater de antes — Jajan. Eles inundaram como a água de uma represa que-
brada, um se tornando dois, e dois se tornando quatro. Foi como mitose.

Uma vez que os Demi-humanos começaram a encher o topo do muro o número de mi-
licianos começou a diminuir.

Demi-humanos e milicianos. A diferença em suas habilidades individuais era tangível.

Ela olhou ao redor em pânico.

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Flechas. Ela não podia fazer nada sem flechas.

Ela olhou desesperadamente ao redor, como um viajante em um deserto à procura de


um oásis, e então viu um soldado completamente exausto encostado em uma parede.
Havia uma aljava com flechas ao lado dele.

É isso! Eu pegarei as flechas daquele homem ferido e o mandarei de volta para a reta-
guarda.

Neia prendeu a respiração enquanto corria. O homem que parecia um arqueiro não ti-
nha metade do rosto. Ele estava claramente morto.

Ele provavelmente recebeu um impacto direto de um Stone Eater. Seu cérebro estava
escorrendo, seu olho vidrado olhava para o nada, e o destino dele poderia muito em
breve ser o de Neia também.

Ela olhou mais de perto e encontrou vários cadáveres mortos de formas semelhantes.
Seu nariz normalmente sensível finalmente pegou o cheiro denso de sangue no ar. Não,
o nariz dela estava bem, o cérebro dela simplesmente não tinha recebido a informação.

Quando o mingau de repente subiu em sua garganta, Neia se forçou a engoli-lo de volta
com toda a força. Ela mal conseguiu, mas não havia como dizer se era porque teve sorte,
ou porque ela se tornou resistente a isso depois de assistir a “performance de comer
enquanto vivos” mais cedo.

Neia rangeu os dentes e transferiu as flechas restantes da aljava do arqueiro sem nome
para a sua. Reabastecer sua aljava parecia que ela estava restaurando seu próprio espí-
rito de luta.

Eu ainda posso lutar. Ainda há coisas que posso fazer...

Depois de terminar o trabalho rapidamente, Neia juntou as mãos do cadáver e fechou o


olho restante. Não havia tempo a perder fazendo isso, mas ela não conseguia se impedir
de fazê-lo.

“Eu vou lutar por sua causa também. Até o fim...”

Quando Neia se virou e se levantou, ela não mais murmurou para si mesma.

Seu espírito subiu a um pico que nunca havia alcançado antes, e seus sentidos estavam
incrivelmente afiados. Ela sentiu como se fosse parte do arco que segurava.

O topo do muro era agora um tumulto caótico. Considerando as habilidades de Neia,


parecia quase impossível atacar Jajan — que estava segurando a cabeça do paladino —
dado o grande número de amigos e inimigos entre eles. Contudo—

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


6 1
Eu ainda tenho essas manoplas! E o Ultimate Shooting-Star Super que Sua Majestade me
emprestou! —Eu posso fazer isso!

Ela soltou a flecha enquanto se enchia dessa poderosa convicção.

Quando Jajan notou o assobio no ar, já era tarde demais.

A flecha perfurou sua cabeça e Jajan caiu no chão.

“Jajan da Tribo Lagon caiu pela mão de Neia Baraja!”

Embora tenha gritado essas palavras, ela não foi respondida por uma alegria. Isso era
apenas esperado. Não houve tempo para uma longa hurra no meio de uma batalha de
vida ou morte. Neia sentiu um pouco de vergonha ao perceber isso, mas conseguiu aba-
lar o moral dos demi-humanos. Ela podia sentir a pressão sobre eles se afastando.

Parece que esta não foi uma derrota completa.

Neia pegou sua flecha novamente, então ela se virou procurando um demi-humano ade-
quado antes de enviar uma flecha em seu caminho. Ela atirou no demi-humano mirando
na cabeça e ele caiu da parede.

Neia retirou outra flecha de sua aljava. Ela estava fazendo isso como se não fosse nada,
como se não pudesse evitar fazer. Agora ela era uma mestra arqueira como o pai?

Sua arquearia havia melhorado rapidamente no decorrer dessa batalha. Foi assim que
ela conseguiu matar Jajan, embora este tenha sido ferido durante a batalha com o pala-
dino.

Em meio ao caos da guerra, Neia buscou novas presas para abater.

—Eu sou uma arqueira, então por que eles não estão me atacando?

Essa pergunta foi respondida quando sua próxima flecha perfurou outro crânio demi-
humano.

“Não abordem esse ser humano de maneira descuidada! Ela está usando a armadura do
Grandioso Rei!”

“O Grandioso Rei?”

“Grandioso Rei Buser? Armadura do Grandioso Rei Buser?”

Os ouvidos sensíveis de Neia captaram a tagarelice que os demi-humanos falavam.

Capítulo 4 O Cerco
6 2
“Não tenho dúvida alguma! Aquela é a armadura do Buser!”

“Não me diga que... aquele humano o derrubou...”

Ah! É isso!? Quando o Rei Feiticeiro disse que me protegeria, ele não estava se referindo à
capacidade da armadura de se defender contra ataques à distância, mas à reputação de
derrotar Buser!?

O nome do Grandioso Rei Buser era bem conhecido em todas as forças militares demi-
humanas. Portanto, os demi-humanos que haviam subido os muros estavam com a falsa
impressão de que estavam lutando contra “o guerreiro” que havia derrotado Buser. O
fato de Neia ter matado um demi-humano classificado como um líder de uma só vez só
aumentava isso.

Foi por isso que eles se recusaram a avançar contra ela, embora soubessem que Neia
era uma arqueira.

Eu tenho que entregá-la ao Rei Feiticeiro, ele levou isso em conta também?

Com toda a probabilidade, poucos demi-humanos a perseguiriam agora mesmo se ela


desse meia volta e fugisse. Eles provavelmente priorizariam a defesa diante de um ini-
migo forte, mesmo que estivessem cometendo um erro. Portanto, a vida de Neia prova-
velmente não estava em grande perigo. O conselho do Rei Feiticeiro para “fugir para o
portão leste” de repente veio à mente, mas ela não podia fazê-lo.

Qualquer um que desejasse isso nunca teria vindo aqui em primeiro lugar.

Neia soltou outra flecha e matou outro demi-humano.

“Uoooh! Esse... esse brilho de novo...”

Brilho... bem, eu estou olhando para eles...

“São os olhos de quem tem fome pela morte! Aquela mulher, bem, acho que é uma mu-
lher, ela não é um inimigo comum!”

Acha que é... uma mulher...

“Olhe àquele arco! É incrível! Não são apenas suas habilidades!”

Hehe~!

“A Arqueira de Olhos Furiosos!”

...Eh?

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


6 3
“O que, o que quer dizer com esse nome? Conhece aquela humana?”

...Não, não...

“Aquela humana tem um apelido?”

...Espere!

“Eu ouvi uma vez que havia um arqueiro humano com cara de demônio e habilidades
incríveis com o arco... poderia ser aquilo?”

Este era Papai!

“A Arqueira de Olhos Furiosos! A arqueira que matou o Buser!”

Por alguma razão, a frase “Arqueira de Olhos Furiosos” se espalhou pelos escalões de
demi-humanos como uma onda.

Eles já aceitaram isso!

Enquanto esse pensamento passava por sua mente, Neia já não tinha mais nenhuma
oportunidade de corrigi-los.

Quando Neia disparou suas flechas, os milicianos começaram a se mover.

“—Todos, mantenham-se no escalão! Não deixe os demi-humanos se aproximarem da-


quela garota!”

“Ohh! Formem escalões! Lembrem-se de seu treinamento!”

“Vamos subir lá!”

Cerca de vinte milicianos se moveram para atuar como escudos para ela.

“Apenas mate esses desgraçados pra nós! Vamos te proteger!”

“Entendido—”

O som de asas batendo veio do acampamento inimigo.

Neia girou e apontou a flecha para a fonte do som.

Ela viu vários Pteropus subindo da formação inimiga. Havia muitos deles.

Embora parecesse que ultrapassar os muros seria o objetivo final, vários deles saíram
do bando e desceram sobre Neia.

Capítulo 4 O Cerco
6 4
Ela há muito abandonara a idéia de quem mirar. Neste mundo branco, silencioso e puro,
onde tudo o que ela podia ver eram seus inimigos, Neia soltou com calma uma flecha em
cada um de seus inimigos. Sua cadencia de tiros era inumana, sem hesitar em sua preci-
são mecânica.

Depois de derrubar os Pteropus indo para ela, Neia exalou levemente. Ela podia ouvir
novamente depois de ser liberada daquele estado de concentração absoluta.

Para a lateral—

Ela queria se esquivar, mas uma torrente de dor veio de seu braço esquerdo.

O Armat ao lado dela havia rasgado a carne de seu braço.

“Gwaaargh!”

Apesar de seu grito de dor, Neia ainda fez o movimento para puxar outra flecha, mas
então ela pensou que poderia não ser capaz de segurá-la corretamente. Nesse caso, tal-
vez sacar sua espada seria mais apropriado.

Sua hesitação era uma enorme fraqueza, e o selvagem Armat levantou o braço, prepa-
rando-se para dar continuidade a seu ataque anterior com um golpe no rosto.

Ela queria voltar atrás, mas seu oponente era um lutador superior e conseguiu encurtar
a distância, para que ela não conseguisse evitá-lo.

Uma dor intensa encheu seu rosto. Mesmo que ela tenha conseguido virar a cabeça e
evitar que os olhos fossem rasgados, as garras rasgaram sua bochecha esquerda e abri-
ram uma ferida que expunha o interior de sua boca.

Sangue fresco encheu sua boca e o gosto do sangue se espalhou por sua língua. Além
disso, ela podia sentir o sangue quente escorrendo de sua bochecha, a sensação se espa-
lhando por seu pescoço e peito.

Neia não teve tempo de desembainhar a espada, e então bateu o Ultimate Shooting-Star
Super no rosto do Armat.

O Armat provavelmente não esperava que ela fizesse isso com o arco, então tentou re-
cuar para evitar o ataque.

Como ela não conseguia mover o braço esquerdo bem o suficiente para segurar o arco,
Neia sacou a espada com o braço direito.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


6 5
Neia realizou uma punhalada como se estivesse preparada para morrer por isso. O Ar-
mat imediatamente contra-atacou com garras afiadas, mas um miliciano próximo con-
seguiu ferir a perna do Armat e seu objetivo falhou. A garra errou a orelha de Neia por
uma fração de centímetro e, por sua vez, sua lâmina de aço afundou na garganta do Ar-
mat.

Ela olhou para baixo, para o Armat, quando ele desfaleceu e então analisou a situação.

Enquanto ela esteve concentrada em disparar flechas, os milicianos no topo do Muro


tinham sido quase completamente destruídos. Os demi-humanos chegaram a Neia e só
restavam mais cinco homens, todos pressionados perto da parede.

Os reforços mais próximos estavam lutando do outro lado dos demi-humanos que ti-
nham escalado as escadas, e eles seriam duramente pressionados a ajudá-la aqui. E para
ser honesto, eles pareciam estar bastante envolvidos nos combates, então eles não te-
riam tempo livre para ajudá-la.

Havia mais de trinta demi-humanos no bloco de Neia, e havia apenas seis pessoas ao
seu lado.

Neia olhou para os demi-humanos e recuou. A pressão sobre Neia e os outros diminuiu
um pouco.

“Desculpe por isso, Baraja-san!”

Os milicianos que foram pressionados contra a parede tomaram uma formação defen-
siva na frente de Neia.

“Não vamos deixar esses desgraçados passarem por nós, mesmo que seja a última coisa
que faremos em vida!”

A pessoa que disse isso parecia um homem covarde em seus quarenta anos, com uma
barriga mórbida e saliente. No entanto, seu rosto estava corado com o que parecia ser a
excitação da batalha, e seu corpo estava coberto de tanto sangue que não se podia dizer
se era dele ou do inimigo. Mesmo assim, ele se recusou a se ajoelhar, continuou de pé
com um espírito indomável.

Ele certamente parecia um guerreiro confiável.

“Muito obrigada!”

Disse Neia enquanto cuspia um bocado de sangue fresco que havia se acumulado em
sua boca. Então, ela completou com:

“—Eu conto com você!”

Capítulo 4 O Cerco
6 6
Ele não era o único que estava assim. Nenhum dos milicianos caídos em batalha mos-
trou qualquer sinal de que eles haviam tentado deixar o perímetro que haviam formado
em torno de Neia. O que mais ela poderia dizer, exceto dizer que ela confiava neles?

Os olhos do homem foram para o braço esquerdo de Neia e seu rosto endureceu.

“Eu posso ver o osso...”

“Por favor, não diga mais nada, dói ainda mais quando você aponta.”

“Ah, ahhh, desculpe.”

Uma vez atingido um certo nível de habilidade como paladino, eles poderiam usar ma-
gias de recuperação de nível baixo. No entanto, Neia era apenas uma escudeira, então
não podia fazer isso. Não havia paladinos ou sacerdotes ao lado de Neia, e sua mana
ainda não havia se recuperado o suficiente para usar o item mágico novamente. Prova-
velmente seria melhor abandonar o pensamento de usar o braço esquerdo nessa batalha.

Neia olhou para os demi-humanos, mas apenas mover os olhos fez a ferida em seu rosto
doer.

A dor fez com que seu olhar parecesse muito mais sinistro e, quando os demi-humanos
sentiram isso, eles ficavam em guarda.

“Graças aos seus disparos, ninguém mais se engraçou aqui como aquele cara de agora,
Baraja-san. É por sua causa que conseguimos sobreviver por tanto tempo.”

Se os demi-humanos diante dos olhos de Neia se precipitarem todos de uma só vez, os


milicianos provavelmente seriam derrotados em um instante. No entanto, eles estavam
todos cautelosos com Neia, a arqueira, então não podiam se mover de qualquer jeito. Na
verdade, ela podia entender a cautela quando ouviu o que os demi-humanos estavam
dizendo.

“A Arqueira de Olhos Furiosos... será que ela não é nada de mais usando uma espada?”

“Não seja descuidado, ela está apenas fingindo que não pode usar uma espada pra nos
enganar.”

“É sério? Você é um cara muito esperto.”


[Ho mens -Cob ras]
“Devemos chamar os Snakemen e matá-la à distância com lanças?”

Neia riu em seu coração. Parece que ela ganhou uma reputação imerecida graças ao
poder do arco mágico que ela pegou emprestado.

“...Há esperança para mim?”

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


6 7
Neia perguntou a si mesma essa pergunta em voz baixa o suficiente para que os demi-
humanos não pudessem ouvir, e então riu.

“...Se é o arco... o arco que eu peguei emprestado de Sua Majestade, o Ultimate Shooting-
Star Super, atirar não seria um problema, mas...”

O homem tentou repetir o nome Ultimate Shooting-Star Super, e então ele riu desespe-
radamente.

“Entendi... então é muito ruim, huh. Ei, Baraja-san... você deve pular do muro e fugir.
Você deve viver.”

Neia olhou para o homem.

“Hiieee! Me-me perdoe. É natural que você fique zangada com essas palavras tolas. Mas,
mas, embora eu não saiba que tipo de inferno a senhorita passou, a senhorita tem a idade
da minha filha... eu acho, mas deixar uma garota nessa idade morrer é...”

Eu não estava com raiva, só estava olhando normalmente para você...

O pensamento cruzou sua mente, mas isso era uma coisa comum até agora e Neia não
se ofendeu com isso.

O homem estava falando a verdade. Seria mais sensato recuar por enquanto e curar
suas feridas até que ela pudesse usar seu arco, ao invés de balançar uma espada que ela
não estava acostumada.

—O que vai acontecer com eles se eu fizer isso? Eu sei muito bem. Eu não posso ajudá-los,
mesmo se eu ficar e lutar. Eu vou morrer por nada. Mas...

Neia balançou o arco em sua mão esquerda para baixo e para o lado.

Eu preciso devolver esta arma. Há muitas razões pelas quais eu deveria fugir. Mas, mas o
que os inimigos de Sua Majestade vão pensar se eu fugir enquanto empunho uma arma que
Ele me emprestou? Nesse caso—

“Como eu poderia fugir!?”

Ela gritou.

“Como eu poderia, como alguém que segura uma arma emprestada de Sua Majestade,
dar meia volta e fugir!?”

Ela segurou com força a espada na mão direita.

Capítulo 4 O Cerco
6 8
Pagar os favores era natural para um ser humano.

As pessoas deste país — especificamente, os chefes de seus paladinos — não eram do


tipo que faziam isso, mas ela queria mostrar ao Rei Feiticeiro que nem todos neste país
eram como eles.

“Uwaaaahhhh!”

O grito de Neia parecia um lamento. Como ela não podia usar seu arco, os milicianos
morreriam por nada protegendo-a. Nesse caso, ela deveria aproveitar-se do temor equi-
vocado do seu poder e atacar os demi-humanos enquanto eles ainda não chamaram sol-
dados mais fortes.

O inimigo provavelmente não esperava que Neia atacasse tantos inimigos, e eles se mo-
veram devagar o suficiente para que até mesmo a esgrima de Neia fosse o suficiente para
cortá-los.

Os milicianos remanescentes atrás de Neia seguiram seu exemplo.

Neia manejou a espada.

A espada ricocheteou deixando uma abertura em sua defesa e os demi-humanos ataca-


ram seu corpo, apenas para ter seus ataques desviados pela armadura de Buser.

Neia empurrou sua espada.

Ela apunhalou o corpo de um demi-humano e, quando o puxou, os órgãos vieram junto.


Antes que o demi-humano atingisse o solo, outras garras de demi-humanos atacaram o
rosto de Neia. A ferida na bochecha esquerda agora continuava no lado direito, e o san-
gue que fluía entrou em seus olhos.

A dor intensa encheu suas pernas.

Um demi-humano enfiou uma adaga profundamente na carne.

Um dos milicianos caiu.

Espadas balançaram.

Mais dois milicianos caíram.

Todos os milicianos estavam mortos.

Não havia nada além de inimigos tanto na frente quanto nos lados dela.

Sua respiração estava irregular e seus batimentos cardíacos a irritava.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


6 9
As partes de seu corpo que haviam sido atingidas pelo inimigo ardiam quentes, e cada
vez que ela as movia, ondas de dor tomavam Neia com agonia.

—Estou assustada.

Neia estava com medo.

Ela ia morrer, e o pensamento disso a assustou.

Ela estava preparada para morrer aqui.

O inimigo superava seus números em várias vezes, e seu poder de luta individual era
superior também.

O inimigo tinha todas as vantagens e a única vantagem que o seu lado tinha era a sua
posição defensiva.

Sendo esse o caso, seria mais do que estranho se ela não morresse.

Ainda assim, olhar a morte nos olhos era aterrorizante, mesmo que ela tivesse se pre-
parado para isso de antemão.

A palavra “portão leste” — dita pela pessoa que ela respeitava profundamente — ecoou
em sua mente. Embora ela estivesse preparada para morrer, ela ainda queria viver.

Neia já havia pensado sobre o que aconteceria quando as pessoas morressem.

Como seria o momento de sua extinção?

Sua alma retornaria ao grande fluxo, onde os deuses a julgariam, e os que fizessem o
bem, conforme descrito nas escrituras, iriam para uma terra de descanso eterno, en-
quanto os ímpios seriam entregues a uma terra de tormentos.

Ainda assim, mesmo que ela tivesse acumulado boas ações ao longo de sua vida com o
objetivo de alcançar seu descanso eterno, ela estava com medo de encarar o fim de sua
vida.

Ela balançou a espada.

Esse ataque sem força não poderia matar um inimigo em um único golpe.

Qualquer um atacando, mesmo quando cercado, receberia contra-ataques do inimigo.

Uma espada perfurou a armadura de Neia e a cortou.

Capítulo 4 O Cerco
7 0
Neia ainda estava viva graças à armadura que o Rei Feiticeiro emprestara a ela. Ela teria
morrido há muito tempo sem isso. De fato, ela teria se tornado um cadáver como os in-
contáveis milicianos mortos e civis que haviam sido espalhados pela cidade como se ti-
vessem sido desovados de maneira negligente.

Eu devo estar muito fora de forma...

Neia riu de si mesma por ser capaz de pensar em coisas tão inapropriadas, mesmo es-
tando tão perto da vida após a morte.

Seus pés escorregaram devido à força de seu golpe. Sua coxa esquerda não se movia e
sua coxa direita ficou ferida e não pôde mais mantê-la de pé.

Ela perdeu o equilíbrio e caiu. Ela encostou-se nas ameias, mas foi tudo o que pôde fazer
para não desmoronar.

O mundo estava ficando branco e nublado, e ela podia ouvir uma respiração ofegante e
distante.

Era um som irritante. Ela se perguntou quem estava fazendo, e percebeu que era ela
mesma.

Ela estava no seu limite.

Neia morreria.

“Só mais um pouquinho e a Arqueira de Olhos Furiosos estará morta!”

“Ahhh! Todos ao mesmo tempo!”

As vozes dos demi-humanos vieram de longe.

Isso... realmente me incomoda...

Neia não podia mais dizer o que os demi-humanos estavam dizendo. No entanto, eles
provavelmente não estavam proferindo elogios. Enquanto seus pensamentos se disper-
savam no vazio, uma parte de sua mente pensava apenas em coisas assim.

Ela estava simplesmente agitando a espada que segurava — seus ataques eram feitos
para manter o inimigo à distância.

Estou... tão assustada... mas todos estão... esperando por mim...

Nesse mundo branco e nublado, ela viu os sorrisos de sua mãe, seu pai e seus amigos
de seu vilarejo natal.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


7 1
Quem... são eles... ahh... Bu-chan... Mo-chan... Dan-nee...? Estou com medo... Vossa... Majes-
tade...

Seus pulmões, coração, braços e seu cérebro queriam descansar.

Neia não podia mais resistir a essa tentação, mas ainda assim ela não havia desmoro-
nado. Por que isso?

Ela estava com medo da morte. Ela estava cheia da convicção de ser escudeira e lutar
até o fim.

Além disso, ela queria realizar proezas dignas do traje de guerra que ela havia recebido
emprestado.

As armas dos demi-humanos foram lançadas de uma só vez, trespassando o corpo de


Neia.

E assim, Neia Baraja morreu.

Parte 4

O ar do campo de batalha tinha um cheiro singular. Havia uma mistura de todos os tipos
de odores, era simplesmente um fedor repugnante. Ainda assim, era um cheiro que se
poderia acostumar.

Uma das pessoas por trás do rastrilho fechado — Remedios — respirou fundo várias
vezes aquele ar malcheiroso.

Seus olhos estavam fixos na força militar que avançava diante dela, que somavam mais
de 10.000.

Os líderes do ataque a esse local eram Ogros e demi-humanos parecidos com cavalos.
Remedios agarrou sua espada sagrada com força.

Ela gostava de usar a espada para resolver as questões. Ela adorava. Claramente definia
os ganhadores e perdedores. Afinal, não haveria mais problemas depois que matasse a
oposição. A vida teria sido muito mais fácil se tudo fosse tão simples. Sua irmã — Kelart
— e sua mestra — Calca — não mais franziriam a testa.

“Haaaah.”

Ela suspirou.

Depois disso, Remedios pensou sobre o que ela tinha que fazer.

Capítulo 4 O Cerco
7 2
Gustav tinha dito um monte de coisas difíceis de entender agora, mas a essência era que
eles não podiam deixar um único demi-humano passar por esse portão.

Os demi-humanos estavam na casa das dezenas de milhares. Cerca de 10.000 deles es-
tavam se amontoando no portão.

Não deixar nenhum passar seria impossível se estivéssemos lutando nas planícies, mas
aqui eu posso usar o portão para limitar os números que podem me atacar. Então, en-
quanto eu puder continuar lutando, será fácil impedir que eles passem! Eu só preciso con-
tinuar bebendo poções de recuperação de fadiga e continuar lutando um contra um!

Se Gustav estivesse aqui e tivesse ouvido isso, o olhar em seu rosto provavelmente diria
“Está falando sério?” E enquanto ela calmamente considerava essa imagem mental, Re-
medios riu. Ainda assim, a idéia era ridícula, e não era de admirar que ele muitas vezes
agarrava a própria cabeça em frustração.

Veja como meu plano é perfeito! Calca-sama disse que eu poderia delegar o comando a
outra pessoa, e Caspond-sama parece uma excelente pessoa.

Umu, Remedios assentiu.

Depois disso, Remedios pensou na única falha em seu plano de “lutar um a um por dez
mil vezes seguidas”.

Ou seja, a existência de Jaldabaoth.

O plano de Remedios quebraria se encontrasse alguém mais forte que ela.

Ela tinha problemas em usar seu cérebro na maior parte do tempo, mas sua mente era
bastante adepta quando se tratava de guerra.

Foi por isso que ela entendeu que seria muito difícil para ela derrotar Jaldabaoth. Claro,
ela não podia admitir isso na frente de seus subordinados. Ela era a paladina mais forte
do Reino Sacro, e se ela admitisse sua fraqueza, o moral provavelmente mergulharia
para o fundo do poço.

Foi por isso que eles trouxeram o Rei Feiticeiro.

O Rei Feiticeiro, huh...

O fato de que eles tinham que confiar o destino da nação a um dos undeads a incomo-
dava tanto que ela queria vomitar. Mas eles não tinham outra opção.

Tch. Se ao menos aquela criatura undead tivesse lutado de maneira sorrateira, como usar
aquelas cabras, ovelhas sei lá o que, que mataram todas as tropas do Reino. Dessa forma,

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


7 3
nenhum inocente teria que ser sacrificado. Os undeads não entendem que as pessoas com
força têm que proteger os fracos? Ainda assim... ele é muito forte, não é?

Retomar uma cidade por si mesmo foi um feito impressionante. Buser era um famoso
demi-humano — de acordo com Gustav — e derrotá-lo também foi bastante notável. No
entanto, Jaldabaoth era completamente diferente. Ela tinha dúvidas se até mesmo um
magic caster que pôde conquistar uma cidade sem ajuda poderia realmente derrotá-lo.

Talvez ela tivesse aprendido a verdade se pudesse cruzar lâminas com ele apenas uma
vez, mas Gustav implorara desesperadamente que ela não o fizesse. Portanto, ela não
sabia exatamente quão forte era o Rei Feiticeiro.

Remedios permaneceu cética quanto a força do Rei Feiticeiro.

Ela tinha experimentado pessoalmente o poder de Jaldabaoth quando ele revelou sua
verdadeira natureza, mas ela não podia sentir nada disso do Rei Feiticeiro. Se ele fosse
realmente capaz de esmagar o exército do Reino, então deveria estar cercado em uma
aura de poder que não poderia ser escondida.

Será que é porque ele é um magic caster? No entanto, se ele estivesse no nível de Jal-
dabaoth, ela deveria ter sido capaz de sentir algo dele.

Seria bom se ele fosse realmente tão forte quanto alega. Bem, não perderemos muito se
ele morrer. No futuro, essa criatura undead será um espinho no coração Reino. Idealmente,
seria ótimo se os dois se matassem.

A opinião de Remedios não mudou mesmo depois que seus subordinados protestaram.
Não, só havia se solidificado depois que o Rei Feiticeiro matou o menino que havia sido
tomado como refém. Como paladina, ela não podia tolerar alguém que pudesse cometer
atos tão desumanos.

As pessoas daquele país eram na verdade governadas pelo medo?

Quando pensou nisso, encontrou muitos pontos que apontavam para essa conclusão.
Talvez ter ele e Jaldabaoth matando um ao outro seria um bem mútuo para ambas as
nações.

O problema é o povo da nossa nação. Gustav estava certo quando disse que isso era uma
chance para nós. Nós, paladinos, podemos mostrar nossa força e abandonar as opiniões
tolas do Rei Feiticeiro... Ainda assim, se Jaldabaoth aparecer, nós temos que deixá-lo lidar
com isso.

Remedios tirou o elmo. Ela queria coçar a cabeça.

Capítulo 4 O Cerco
7 4
Era difícil imaginar que os cidadãos de um país governado por um indivíduo incrível
como Calca tolerariam um dos undeads desse jeito. Apenas pensar sobre o assunto de-
veria tê-los revoltado.

A Escudeira Baraja também— hm? Será que ela ficou encantada com alguma magia ou
algo assim? Só pode ser isso! Ele pode estar usando alguma magia com uma ampla área de
efeito que força as pessoas a gostarem dele! Maldito!

Remedios pensou. Ela não havia considerado essa possibilidade.

Preciso contar isso ao Gustav. Mas, terá que esperar até vencermos essa batalha!

Remedios olhou para trás.

Ali havia escalões alinhados de civis segurando lanças e escudos.

“Valentes senhores! Lamentavelmente, o Reino Sacro está sendo oprimido por demi-
humanos, vocês devem aceitar este fato! Derrotem os demi-humanos e salvem os civis
inocentes — seus amigos e familiares — do sofrimento! Este é o primeiro passo em di-
reção ao nosso objetivo, que é expulsar esses cretinos e tomar o Reino Sacro de volta
com nossas próprias mãos!”

Quando Remedios gritou imponentemente, olhares apreensivos encheram os rostos


dos milicianos.

“Os demi-humanos imundos estão atacando este lugar. Senhores, ergam seus escudos
e perfurem com suas lanças! Tornem-se um muro que não deixará o inimigo passar por
vocês! Não há necessidade de ter medo. Além da primeira onda, os únicos demi-huma-
nos com os quais vocês terão que lidar serão os demi-humanos que fugirem de mim!
Tudo o que precisam fazer é resistir por um tempo para que os paladinos e eu possamos
abatê-los!”

Isso aliviou um pouco a tensão deles. Embora estar muito relaxado não fosse uma coisa
boa, estar muito tenso era ainda pior. Remedios concluiu que todos os milicianos que ela
podia ver estavam em um estado de espírito ideal.

“Ontem vocês foram treinados o dia inteiro! Tudo o que vocês precisam fazer agora é
mostrar os frutos desse treinamento. Não precisam ficar tão tensos!”

Remedios parou por um momento e depois gritou mais alto que antes:

“PRIMEIRO ESCALÃO! LEVANTAR ESCUDOS!”

O primeiro escalão de milicianos — que pareciam estar cercando o portão — apoiou


seus escudos.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


7 5
Estes eram escudos gigantes que podiam esconder completamente um corpo humano,
e suas partes inferiores foram revestidas com espigões que eram o comprimento de um
dedo.

“Escudos! Entrincheirar!”

Os civis empunhando escudos golpearam para baixo com toda força, cravando os espi-
gões no chão. Assim, eles produziram uma parede de aço momentânea.

Ontem, esses escudeiros haviam praticado vigorosamente três exercícios. O primeiro


era levantar gigantescos escudos e abatê-los de volta para baixo, a fim de cravar os espi-
gões no chão. O segundo foi a não fraquejar, independentemente da pressão exercida.

“Segundo escalão! Levantar escudos!”

Os escudos que eles carregavam eram aproximadamente do mesmo tamanho que os do


primeiro escalão, porém, os deles não tinham espigões. Esses escudos iriam passar por
cima das cabeças do primeiro e segundo escalão, como uma tampa em cima deles. Dessa
forma, eles protegeriam contra ataques que ultrapassassem o primeiro escalão.

Havia também paladinos que podiam lançar 「Under Divine Flag」, espaçados unifor-
memente pelo segundo escalão, para protegê-los do medo de serem derrubados pelo
inimigo.

“Lanceiros do terceiro escalão, avançar! Lanceiros do quarto escalão, avançar!”

O terceiro e quarto escalão eram compostos por usuários de lanças longas.

Suas lanças longas se projetariam entre as equipes de proteção, as pontas traseiras fir-
memente plantadas no chão para deter o avanço do inimigo. Os lanceiros do terceiro e
quarto escalão eram ligeiramente diferentes uns dos outros, pois os do quarto escalão
tinham lanças um pouco mais longas. Normalmente, eles deveriam ter vários escalões
de lanceiros para formar um paredão de lanças, mas, como estavam em falta, o objetivo
era sobrepor as zonas mais críticas para evitar que o inimigo as atravessasse.

Uma formação perfeita.

No entanto, tinha uma falha.

Embora essa formação tenha se saído muito bem contra os guerreiros, era muito fraca
contra os demi-humanos com habilidades especiais ou com magic casters.

Era verdade que a parede de escudos poderia bloquear magias como 「Fireball」 e mi-
nimizar muito o dano causado. No entanto, magias como 「Lightning」, que tinham uma

Capítulo 4 O Cerco
7 6
área de efeito perfurante em forma de linha, perfurariam diretamente por eles até a re-
taguarda. Não se pode dizer que os demi-humanos não possuam habilidades especiais
semelhantes.

Eles sabiam disso, mas os ensinaram a tomar essa formação de qualquer maneira, por-
que nenhuma outra formação foi eficaz nessas circunstâncias.

“Muito bom! Então vamos começar! Abra o portão!”

O rastrilho começou a subir quando Remedios gritou. Os demi-humanos avançando se


assustaram e seus movimentos diminuíram. Os defensores estavam abrindo o portão
por conta própria — os otimistas poderiam pensar que era uma rendição, mas os realis-
tas considerariam uma armadilha.

Remedios riu.

“Ouçam bem, seus demi-humanos imundos! Vou esfolar vocês e limpar minha bunda
com suas peles!”

Depois de ser insultado por uma mera humana, os demi-humanos frustrados começa-
ram a agir.

Remedios se virou e correu. Ela apoiou as duas mãos nos escudos dos milicianos e sal-
tou sobre eles.

Os demi-humanos continuaram a sua investida, vários deles caindo quando se aproxi-


maram do portão.

Grandes quantidades de óleo foram derramadas lá, e apenas dois resultados esperavam
aqueles que caíram durante a investida. Ou eles fariam outros tropeçarem, ou seriam
pisoteados.

Infelizmente, os demi-humanos grandes, como os Ogros, não caíram, e entraram na ci-


dade. Os demi-humanos parecidos com cavalos escorregaram e caíram, o que os desace-
lerou.

A investida de um grande demi-humano deve estar a par com uma colisão de um cavalo
de guerra. No entanto, se eles não pudessem continuar com isso, então todas as apostas
estavam canceladas.

Os Ogros continuaram a investida, embora com o ritmo desajustado. Eles balançaram


seus grandes machados de um lado para o outro, mas as lanças eram mais longas em
comparação, e vários Ogros que não tinham conseguido avaliar corretamente a distância
foram empalados. Infelizmente, os Ogros não eram frágeis o suficiente para serem mor-
tos por isso.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


7 7
“Agora! Joguem-nas!”

De acordo com as instruções de Remedios, bombas incendiárias voavam sobre as cabe-


ças dos milicianos, e os sons de cerâmica quebrando podiam ser ouvidos perto do portão,
quando um inferno surgiu. Os demi-humanos ao redor do portão estavam cercados por
um grande fogaréu.

Os demi-humanos deveriam ter previsto algo assim, mas Remedios tinha certeza de que
as chamas estavam muito além do que eles esperavam. Isso porque o óleo no chão e o
óleo em seus corpos se inflamaram imediatamente.

Os Ogros que enfrentavam os portadores de escudos começaram a fraquejar.

Era de se esperar, considerando que havia um fogo ardente atrás deles.

Mesmo que tenham a pele mais espessa do que um ser humano, isso não significava que
eles não poderiam ser queimados.

Os lamentos e gritos subiram da área do portão. No entanto, muitos deles não perderam
a capacidade de lutar apesar de estarem envolvidos por um incêndio daquela intensi-
dade. A vitalidade dos demi-humanos era algo digno de reconhecimento.

Aqueles demi-humanos só tinham duas opções. Eles poderiam avançar ou recuar.

A fumaça negra bloqueava suas linhas de visão. Assim, eles foram roubados de todas as
outras opções. Mesmo que muitos demi-humanos podiam ver no escuro, essa habilidade
não lhes permitia ver através da fumaça.

Ninguém podia agir com calma sem visão do arredor, estavam angustiados com a fu-
maça e ainda estavam sendo queimados pelas chamas.

Recuar era muito difícil, dadas as circunstâncias. Isso foi porque os outros estavam se-
guindo de perto atrás deles para invadir a cidade. De fato, os demi-humanos do lado de
fora do portão hesitavam devido ao fogo, mas os que estavam dentro não sabiam disso,
já que a fumaça obscurecia tudo.

Portanto, os demi-humanos escolheram avançar.

Isso foi exatamente como Remedios previra.

Os demi-humanos tentaram um assalto, apostando em seus corpos poderosos para ob-


ter sucesso. Contudo—

—O terceiro exercício dos portadores de escudos consistia em manter sua parede de


proteção, mesmo quando cercados por fumaça negra ondulante.

Capítulo 4 O Cerco
7 8
“Lanceiros! Puxem!”

As lanças recuaram ao mesmo tempo—

“Lanceiros! Empurrem!”

—E eles empurraram as lanças ao mesmo tempo.

Os demi-humanos deram voz aos uivos selvagens, pensando apenas em sair da fumaça,
e foi nessas circunstâncias — onde a defesa e a evasão eram muito difíceis — que eles
correram para a linha de lanças. No entanto, a força de um plebeu seria duramente pres-
sionada para empalar o corpo de um demi-humano. Isso era particularmente verdadeiro
para os demi-humanos escolhidos a dedo que pretendiam romper o portão em um ata-
que frontal.

Mas isso não seria problema.

Remedios não achava que eles cairiam em um único ataque.

Mesmo que os portadores de escudos estivessem no lugar, os lanceiros poderiam atacar


repetidas vezes.

“Puxem — Empurrem!”

Enquanto ela repetia a ordem, Remedios saltou sobre os escudos no oposto de suas
ações anteriores e cortou os demi-humanos onde as lanças não podiam alcançar.

A fumaça negra encheu seus olhos e garganta, mas ela não teve tempo para se preocu-
par com isso. Havia poucos demi-humanos que conseguiram atravessar o óleo e o ras-
trilho, cerca de cinquenta no máximo.

Primeiro ela mataria todos eles e enfraqueceria a disposição de luta do inimigo. Já que
faziam parte da vanguarda, certamente deviam ser as tropas de elite altamente motiva-
das. Limpar o mundo daquela corja seria mais eficaz do que matar capangas imbecis.

A respiração de Remedios estava calma e sem pressa enquanto ela matava um inimigo
após o outro.

Demi-humanos grandes como Ogros não podiam usufruir completamente de suas apti-
dões para suportar se jogar com tudo em uma luta corpo a corpo.

A espada sagrada cortava tudo em seu caminho sem restrição.

Eventualmente, as formas dos demi-humanos desapareceram de sua visão manchada


pelo lacrimejar resultante da fumaça. No entanto, ela ainda podia ouvir uma grande força

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


7 9
de demi-humanos do outro lado da fumaça. Eles podem ter estado no meio do realinha-
mento de suas fileiras.

Enquanto Remedios recuava lentamente, as silhuetas de vários demi-humanos surgi-


ram.

“Capitã! Volte aqui!”

Seu paladino subordinado gritou para ela enquanto lançava 「Under Divine Flag」.

No entanto, Remedios não recuou. Seus instintos estavam dizendo algo a ela.

Enquanto a fumaça diminuía, ela podia sentir três demi-humanos se aproximando len-
tamente, e logo depois disso, seu palpite se mostrou correto.

Um deles era um guerreiro com a parte superior do corpo de um animal e a parte infe-
rior do corpo de um carnívoro.

Um deles era uma mulher demi-humana de quatro braços.

E o último era um demi-humano símio que estava enfeitado com acessórios dourados.

Remedios tinha planejado originalmente matar dezenas de milhares de demi-humanos


por conta própria, e ela estava muito confiante em fazê-lo. No entanto, ela agora sentia
que lutar contra esses três demi-humanos de uma só vez era extremamente perigoso.

Capítulo 4 O Cerco
8 0
Havia apenas três deles. Embora não conseguisse enxergar direito devido à fumaça, ela
percebeu que estavam cheios de confiança, dado o ritmo descompromissado que anda-
vam. Mesmo seus companheiros demi-humanos pareciam ter entregue sua tarefa àque-
les três, evitando assim chegar mais perto.

...Eles são fortes. Não sei se posso vencê-los mesmo que seja uma luta cara a cara... ou
posso? Eu não tenho chance se for três contra um.

O instinto de Remedios gritou para ela fugir em vez de lidar com esses três ao mesmo
tempo. Mas como ela deveria fugir? Ela não tinha idéia. Em contraste, se ela vencesse
aqueles demi-humanos, isso equivaleria a uma vitória perfeita para este combate dra-
mático.

Remedios agarrou sua espada sagrada com força e falou sem olhar para trás.

“...Paladino Sabicus, Paladino Esteban.”

Os dois responderam com um “Sim!” E, pelos sons que fizeram, ela julgou que eles ti-
nham vindo para o lado dela.

“Vocês podem segurar dois deles até que eu mate um?”

Os dois responderam em uníssono:

“Deixe isso conosco!”

O instinto de Remedios disse que ela estava sendo irracional. Eles podem comprar al-
guns minutos para iniciantes. Mas que tal mandar mais pessoas para segurar os demi-
humanos?

Não.

Remedios balançou a cabeça.

Seus adversários eram apenas três, aqueles que entraram em combate por si mesmos.
Claramente, eles estavam confiantes em suas próprias habilidades e queriam mostrar
sua força. Inimigos como esses certamente aceitariam um desafio um a um. Essa era a
arrogância dos fortes.

Além disso, tais seres arrogantes geralmente sentem prazer em fazer com que os fracos
sofram. Eles levariam o tempo extra para atormentar suas vítimas, mesmo que pudes-
sem acabar com eles em questão de segundos.

Com essa tênue esperança em mente, ela decidiu escolher três contra três.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


8 1
“Paladinos, se aqueles dois forem derrotados, continuem lutando contra eles cara a cara.
A ordem irá de: Sabicus e Esteban, para: Franco e Galban.”

Eles estavam abandonando sua vantagem em números para ganhar tempo. Simplifi-
cando, ela estava ordenando a todos que se matassem. No entanto, os paladinos não he-
sitaram por um momento quando receberam essas ordens.

Era isso que significava ser um paladino.

Era isso que significava incorporar a justiça.

É isso que significa sacrificar-se pelos outros.

Esta foi provavelmente a última vez que eles seriam vistos vivos e ilesos. Mesmo assim,
Remedios não tirou os olhos dos três demi-humanos nem por um momento. Ela não que-
ria perder nenhuma chance de reunir informações sobre eles.

Não tenho uma imagem clara do que está acontecendo, mas os dois primeiros demi-hu-
manos parecem lutadores habilidosos. Talvez aquele demi-humano semelhante a um ma-
caco seja um monge. Aquela com quatro braços parece uma magic caster. Ou é outra coisa?

Não havia nada a temer quando duelava com os demi-humanos que dependiam apenas
da força bruta, mas os demi-humanos treinados eram realmente assustadores. Se eles
tivessem recebido treinamento de guerreiro, então eles poderiam empilhar seu treina-
mento e suas aptidões físicas naturais para se tornarem indivíduos excepcionais que po-
deriam superar até os guerreiros veteranos do Reino Sacro. Na verdade, os oponentes
que tinham dado a Remedios as lutas mais difíceis — Jaldabaoth à parte — foram tais
entidades.

Ela recordou o golpe que a apunhalou em seu abdômen. Foi por isso que ela prestou
atenção ao lutar contra os demi-humanos e ouviu as advertências de seus instintos em
cima disso.

...Os demi-humanos que podem conjurar magias são os mais problemáticos de se lidar.
Terei problemas se eles puderem voar.

Embora Remedios pudesse usar as habilidades de sua armadura para voar por curtos
períodos de tempo, ela não teria toda a sua amplitude de movimento durante o voo. Su-
bir, descer e virar eram muito exaustivos, e ela não seria capaz de usar seu estilo habitual
de luta. Se seu oponente pudesse conjurar 「Fly」, ela nunca poderia alcançá-lo com
seus ataques. Embora possuísse Artes Marciais que lhe permitissem fazer ataques à es-
pada, seria difícil ganhar rapidamente quando se levasse em conta o fato de que sua efi-
cácia era muito menor.

Os três demi-humanos entraram pelo portão e depois pararam.

Capítulo 4 O Cerco
8 2
“—E pensar que teríamos que unir forças para uma humana medíocre dessas.”

Ela não conseguia distinguir claramente os três demi-humanos através da fumaça, mas
o tom relaxado deles havia chegado até ela.

A mão segurando a espada sagrada estava coberta de suor, e um gosto amargo espa-
lhou-se por sua língua, algo que só acontecia quando o perigo se aproximava.

Ela podia sentir a abordagem de seus oponentes.

A besta e o macaco estavam definitivamente entre os melhores dos melhores. Mesmo


Remedios não tendo certeza sobre a de quatro braços, o fato de que aquela demi-humana
andava ao lado deles significava que os três tinham níveis similares. Em outras palavras,
esses três demi-humanos eram páreos para Remedios.

“Esta fumaça está atrapalhando. Isso é um pé no saco.”

Houve um *whoosh* e um forte vento soprou a fumaça restante.

As formas dos demi-humanos foram reveladas. De pé à sua frente estava um gigantesco


demi-humano que brandia um machado de batalha.

“Zoastia!”

Exclamou o paladino Esteban.

Remedios estava um pouco desconcertada.

Zoastia?

Ela pensou. Esse era o nome do demi-humano?

“Hmm... bem, faz sentido que você me conheça.”


[Homem-besta]
O beastman disse com um sorriso maligno em seu rosto antes de continuar:

“Nesse caso, vou poupá-lo por conta de seu aprendizado, para que mais pessoas possam
saber de minha força.”

“Heeheehee, Vijar-dono. Jaldabaoth-sama ficará descontente se resolver os problemas


com suas próprias mãos desta maneira. No mínimo, peça que se renda para levá-lo como
prisioneiro.”

A entidade que se dirigiu ao Zoastia era o tipo demi-humano macaco.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


8 3
Totalmente confusa, Remedios se virou para as pessoas ao seu redor, havia um ponto
de interrogação flutuando acima de sua cabeça.

“Zoastia? Vijar? Vijar Zoastia? Zoastia Vijar?”

Mesmo que ela estava simplesmente perguntando os nomes da oposição, Vijar não per-
cebeu isso e então ele riu de prazer.

“Kuhahahaha! Está me chamando assim porque você concluiu que eu sou o líder da
nossa raça? Vocês humanos têm bom gosto!”

“Ela está apenas sendo educada, Vijar-dono...”

A demi-humana de quatro braços atrás e à esquerda de Vijar disse em um tom zombe-


teiro.

“Isso, isso mesmo, é apenas uma cortesia, Vijar!”

Foi só então que Remedios percebeu que havia cometido um erro sobre o nome de sua
espécie.

Em seguida, o demi-humano chamado Vijar torceu o rosto em desgosto.

“Hm, e até pedi permissão ao Jaldabaoth-sama para poupar quem quisesse. Não se ar-
rependa.”

“Quem vai se arrepender? Você que se arrependerá de nossa luta na vida após a morte!”

“Heeheehee, nossa, que jovem espirituosa... você ainda é jovem, não é? Eu não sou bom
com as idades de outras espécies...”

“Não importa, me chame do que quiser.”

Os demi-humanos provavelmente estavam sendo muito sérios. Esta foi simplesmente


a diferença entre suas espécies.

“Então, garota humana, eu me apresentarei. Eu sou Halisha Ankara. Este é Vijar Rajan-
dala, que não precisa de introdução. E por fim, Nasrene Belt Q'ulle-dono.”

“Esses nomes! Não são eles o Ancião Branco e a Trovão Fogo-Gélido!?”

O paladino Sabicus exclamou.

“Kukukukuku. Até os humanos sabem nossos nomes. O do novato, por outro lado—”

“—Humano. Eu não tenho um título assim?”

Capítulo 4 O Cerco
8 4
“Eu nunca ouvi falar do nome Vijar Rajandala. Mas sei que há um Zoastia que usa ma-
chados, ele é bem famoso. É o Garra do Demônio, o Garra do Demônio Vaju Sandiknara.”

“Esse aí era o meu velho.”

Vijar bufou.

“Eu sou o herdeiro do título de Garra do Demônio, Vijar Rajandala. Vou me certificar de
que você se lembre do meu nome quando ouvir boatos sobre o Garra do Demônio.”

“Heeheehee. O general humano é todo seu, Vijar-dono.”

“Que assim seja. Já é um milagre que tenha vindo até aqui lutar em vez de usar suas
magias à distância. Mas francamente, eu estava planejando lutar contra todos sozinho.”

“Heeheehee. Fomos obrigados a trabalhar juntos, sabia?”

“Quer dizer que estão tendo problemas porque estão juntos a muito tempo?”

“Tch!”

A demi-humana de quatro braços (Nasrene) que tinha estalado a língua se virou e deu
a Vijar um olhar assustador. Na verdade, parecia que eles poderiam começar a matar uns
aos outros a qualquer momento, se fossem deixados sem controle.

“Preste atenção, eu não tenho problema algum e fazer isso sozinho...”

Vijar olhou para Remedios antes de continuar:

“Mas vamos ouvir seu nome antes disso. Sei que é perca de tempo ouvir um nome de
uma estúpida, mas essa sua espada parece muito boa.”

“Remedios Custodio.”

As expressões de Vijar e Halisha mudaram, mas de maneiras diferentes.

Vijar estava sorrindo com sede de sangue ao pensar em encontrar um inimigo forte,
enquanto Halisha estava surpreso.

Nasrene, por outro lado, permaneceu indiferente.

“Então você é a escolhida, né? Você é a Remedios Custodio? Eles dizem que é a paladina
mais forte neste país. Excelente. Se eu te matar, ficarei famoso. Eu serei o Zoastia que
derrotou a paladina mais forte do Reino Sacro. O novo sucessor do título de Garra do
Demônio!”

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


8 5
“Hmph. Nesse caso, essa deve ser a espada sagrada? Diga, Vijar-dono, que tal me deixar
enfrentá-la? Meu povo cantará louvores em seu nome se me deixar tomar o seu lugar.”

Ambos demi-humanos reagiram imediatamente às palavras de Nasrene.

“Heeheehee. Quer dizer que está planejando entregá-la e pedir a Jaldabaoth por um fi-
lho?”

“Hmph, já decidimos que eu vou lidar com ela. Não precisa se intrometer em mais nada.”

“―Se procriar com um demônio? Que nojo.”

Remedios não pôde deixar de falar o que ela realmente pensava depois de ouvir aquela
conversa, e Nasrene se virou para dar a Remedios um olhar irritado.

“Então você não entende o que significa dar à luz a um filho do governante supremo...
os humanos são verdadeiramente criaturas idiotas.”

“Mesmo Jaldabaoth-sama cuidaria de suas proles, não acha? Se parar para pensar nisso,
verá que há muitas vantagens em ser mulher, huh.”

“Oh, claro. E se o excelente sangue do pai puder ser transmitido, a criança pode se apro-
ximar— não, pensando bem...”

Vijar estufou o peito:

“Pode até ser capaz de superar o pai — hm? Embora você possa me considerar uma
exceção também.”

Esses três demi-humanos não agiram como se estivessem se sentindo ameaçados, ape-
sar de estarem no campo de batalha.

Remedios começou a ferver de raiva enquanto os observava a conversa distraída.

“Como demi-humanos ousam vir aqui e falar baboseiras? Não adianta pensar em um
futuro que não terá. Aqui esmagarei seus sonhos estúpidos. Não, não apenas você, isso
vale para todos vocês.”

“Heeheehee. Oooh, estou com taaaaanto medo.”

Mesmo que Halisha parecia tremer os braços e as pernas ao redor em pânico, ele não
estava realmente com medo. Isso porque ele estava confiante da vitória, mesmo contra
um adversário como Remedios. Apenas serviu para desagradar Remedios ainda mais.

Capítulo 4 O Cerco
8 6
Remedios gritou uma ordem para os paladinos, alto o suficiente para os demi-humanos
ouvirem.

“Ouçam. Isso é um duelo. Eu lutarei com Vijar. Quanto a vocês—”

“Eu vou cuidar daquele.”

Disse Sabicus apontando para Halisha.

“Nesse caso, eu lido com aquela.”

Disse Esteban enquanto caminhava na frente de Nasrene.

“...Oya? ...Eu não sou uma guerreira, então não tenho certeza, mas eles são bem fracos,
não são?”

“Heeheehee... quem sabe? Melhor não ser descuidada, Nasrene-dono.”

Remedios pegou Vijar bufando para ela, e ela rugiu:

“Aqui vou eu!”

Ele deve ter percebido que aqueles paladinos eram fracos. Não adiantaria nada deixar
que ele mencionasse.

O primeiro ataque era fundamental. Os milicianos observavam-na por trás prendendo


a respiração; não só eliminaria o desconforto deles, como também deixaria seu oponente
saber que estava enfrentando uma adversária digna. Por estas razões, ela teve que fazer
um golpe sem se segurar, usando todas as suas forças.

Remedios atacou Vijar, segurando a espada sagrada em uma mão.

Em resposta, Vijar ergueu seu enorme machado de batalha para interceptar seu golpe.

Os dois lados colidiram e o ar estremeceu.

Ela podia ouvir gritos dos milicianos atrás dela. Não houve tempo para determinar len-
tamente se eram vivas ou gritos de pânico. Seu golpe com poder total foi respondido por
um contra-ataque de força equivalente.

As armas de ambos os lados não foram danificadas por essa troca de golpes uniforme-
mente sincronizados.

Se alguém trouxesse uma arma mundana para esse confronto intenso, provavelmente
teria trincado ou entortado. Em outras palavras, Vijar também estava empunhando uma
arma encantada.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


8 7
“Kuh!”

“Nuuu!”

O próximo movimento de Remedios raspou na parte superior do corpo de Vijar, tirando


um espirro de sangue. No entanto, o machado de batalha atingiu o peito de Remedios ao
mesmo tempo.

Mesmo que sua armadura encantada recebera o impacto do machado de batalha, o im-
pacto foi forte o bastante para que ela perdesse o fôlego, ficou difícil respirar.

Em contraste com Remedios — que havia sido derrubada pelo golpe — Vijar rugiu e
deu um passo à frente, movendo o seu machado de batalha diretamente nela.

Ela não tinha oxigênio suficiente para contra-atacar. Remedios levantou sua espada sa-
grada e desviou graciosamente a força do machado de batalha. Aquele golpe de arrepiar
errou por alguns milímetros e bateu no chão. Tão poderoso foi o golpe que por um mo-
mento pareceu que ela estava flutuando.

Remedios se virou para encarar Vijar — agora indefeso pois seu machado de batalha
estava enterrado no chão — e avançou com sua espada sagrada.

“《Pancada Forte》!”

“《Fortaleza》!”

Tendo julgado que não tinha tempo para remover uma arma pesada como o machado
de batalha do chão, Vijar tirou uma das mãos do punho e usou-a como escudo.

O braço direito de Vijar esguichou sangue fresco.

No entanto, a espada sagrada não alcançou o rosto de Vijar. Havia duas razões para isso.

A primeira foi porque ele usou uma Arte Marcial defensiva. A outra foi porque o braço
de Remedios estava dormente e não pôde exercer sua força total.

Nesse caso, ela simplesmente forçaria a espada sagrada que já havia penetrado mais
fundo — mas então a dor intensa que subia da perna de Remedios a congelou breve-
mente no lugar.

A fonte da dor era o corpo inferior de Vijar; os membros dianteiros de seu corpo bestial
tinham golpeado as pernas de Remedios em um ataque horizontal. Suas grevas a prote-
geram da maioria das garras afiadas como navalhas, mas uma delas ainda conseguiu fa-
zer um corte em sua perna.

Capítulo 4 O Cerco
8 8
Naquele momento, o machado de batalha foi removido.

Remedios deu um passo em direção a Vijar para impedir que o machado de batalha se
movesse. Apenas mover sua perna a enchia de agonia.

“《Pancada Forte》!”

“《Garra Poderosa》!”

Quando a espada sagrada foi para perfurar, Vijar desviou-a habilmente com o machado
de batalha.

Em resposta, Remedios redirecionou a espada sagrada enquanto afastava o corpo e a


guiou para fazer um talho em seus fortes membros dianteiros.

Se Vijar recuasse, Remedios avançaria para diminuir a distância entre eles.

Eles iam e viam várias vezes, ambos os lados usando Artes Marciais.

Apesar de nenhum dos lados ter sofrido ferimentos mortais, cada troca de golpes resul-
tava em respingos de sangue aos arredores.

Remedios tinha certeza de que tinha seu oponente na defensiva.

Se isso continuar, eu vencerei!

Deleite ferveu em seu coração.

Se ela pudesse derrotar esses três poderosos demi-humanos, ela poderia proteger as
pessoas aqui. Dessa forma, eles recuperariam a confiança dos cidadãos do Reino Sacro.

Não há necessidade daquele undead se mostrar!

Simplificando, a diferença entre guerreiros e paladinos era que os guerreiros eram van-
guardas ofensivos, enquanto os paladinos eram vanguardas defensivos.

Embora fosse difícil expressar em números, pode-se dizer que a taxa de ataque de um
guerreiro seria 11 e sua defesa 9, enquanto o ataque de um paladino seria 8 e sua defesa
11. Não é preciso dizer que os paladinos poderiam lançar magias, mas guerreiros pode-
riam aprender todos os tipos de Artes Marciais, então era impossível fazer uma compa-
ração simples. Ainda assim, essa era a maneira mais fácil de explicar a situação para al-
guém que não soubesse nada.

Se a questão fosse quem seria melhor contra um magic caster, a resposta seria um pa-
ladino. Graças à proteção dos deuses, eles se gabavam de resistência mágica superior em

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


8 9
comparação com os guerreiros. Portanto, se Nasrene fosse uma magic caster do mesmo
nível de Remedios, ela não seria uma ameaça muito grande.

Em seguida, estava Halisha, que era muito provável que fosse um tipo de monge, dado
sua panóplia de guerra e movimentos. Os monges tinham a vantagem contra os magic
casters ou ladinos, mas o inverso era verdadeiro contra os paladinos. Por essa razão,
esse macaco também não era um inimigo assustador.

Assim sendo—

Se eu puder vencer esse tal Vijar, as chances são altas de que eu possa abater todos os três.

Entre “lutar contra Vijar depois de ter se exaurido por combates anteriores” e “lutar
contra Vijar enquanto ainda ilesa”, a última opção prometia melhores chances para ela.
Remedios havia desafiado Vijar com base nessa decisão. Não deveria ter havido nada de
errado com essa decisão. No entanto, ela havia calculado mal:

“Ora ora. Já morreu?”

“Heeheehee. O mesmo aqui.”

—Porque os paladinos lutando com os outros dois eram muito fracos.

“O quê!?”

Teria ela superestimado esses dois paladinos ou subestimado a força daqueles dois
demi-humanos? Ou foram os dois?

“Pensa que pode me insultar assim, tirando os olhos de mim!?”

Vijar girou furiosamente o machado para Remedios.

“Guwaaargh!”

Ela mal conseguira impedir o golpe, ainda fôra forçada a uma curta distância. A maré
da batalha se virou em um instante.

“Remedios, não é... Você sabe que eu sou o Grande Vijar, um ser de grande poder cujo
nome ressoará pelo mundo? Se não colocar todo o seu corpo e alma nisso, você morrerá
em segundos, sabia?”

Remedios mordeu o lábio quando ouviu os sons dos outros brigando.

“Heeheehee. Eu me pergunto, será que esse paladino é suficientemente forte?”

Capítulo 4 O Cerco
9 0
“...Ele não é diferente do anterior... bem, eu realmente não posso dizer, já que eu não
sou uma guerreira.”

“Eu sou o Paladino Franco.”

“E eu sou o Paladino Galban. Eu serei seu oponente.”

Vários segundos depois de terem falado, ela mais uma vez ouviu o som de homens ar-
madurados caindo.

O paladino Franco era um bom homem. Ele não era um paladino muito forte, mas colo-
cou muita ênfase em se dar bem com os outros e foi bem-vindo como resultado. Na ver-
dade, ele havia sido designado aqui porque Gustav confiava nele. Remedios conhecia seu
caráter e por isso ela lhe dera a tarefa de organizar os milicianos aqui.

Ela ouvira dizer que Paladino Galban era recém-casado. No entanto, sua esposa estava
atualmente trancada em algum lugar. Ele havia suprimido seu desejo de salvá-la e veio
ajudar Remedios, a fim de ajudar mais pessoas.

Esses dois homens — que eram jovens demais para morrer — foram mortos.

“Se distraiu novamente!”

Vijar rugiu e deu-lhe um golpe ainda mais feroz que o anterior. Remedios se lançou para
Vijar, recebendo o golpe no braço que segurava a espada, e então deslizou sua lâmina —
mas Vijar a evitou com agilidade.

“Hm. Mas o que foi isso, algum tipo de blefe? Ou o seu corpo lembra desse movimento
por causa de todo o seu treinamento?”

Vijar rosnou. Ele não estava cauteloso com uma inimiga digna, mas sim se deleitando.

“Oh novato. Já terminamos aqui, mas você está nisso há muito tempo. E aí, precisa de
ajuda?”

“Não venham zombar de mim. Minha lenda será contaminada se eu precisar da sua
ajuda para matá-la. Muitas pessoas vão falar sobre isso se eu a derrotar usando apenas
minha força.”

“As palavras de Vijar-dono estão corretas. Que tal isso, Nasrene-dono. Vamos destruir
os escudos dos humanos e então—”

“—Como se eu fosse deixar!”

Enquanto ainda enfrentava Vijar, Remedios tirou os olhos dele e se virou para olhar
para o par indefeso. Contudo—

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


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“Sua puta! Eu já te disse, eu sou seu oponente!”

Vijar não permitiu que ela fizesse isso. A defesa de sua oponente estava cheia de furos,
mas ele não moveu seu machado de batalha, em vez disso deu um chute. Remedios re-
cebeu o golpe e foi enviada voando para a parede de escudo com uma força tremenda.

O choque do impacto fez sua respiração cair no caos por um momento.

“Hiiieeee!”

Os milicianos gritaram de medo.

“Mantenha sua atenção em mim, humana! Lute seriamente!”

O grito de Vijar foi seguido de perto pelo som de seus passos. Se ele girasse seu machado
de batalha de cabo longo, ele enviaria os civis empunhando escudos pelos ares, criando
uma lacuna na formação grande o suficiente para que a recuperação fosse impossível.

Mesmo que Remedios tivesse perdido o equilíbrio, ela ainda deu um passo à frente, ata-
cando Vijar, que vinha de frente.

Se possível, ela teria gostado de acabar com Vijar com suas próprias habilidades. Isso
foi por causa do poder que Remedios estava mantendo em reserva para lidar com os
outros dois.

Foi um movimento poderoso que a espada sagrada Safarlisia possuía, que só podia ser
usada uma vez por dia.

Uma versão fortalecida do golpe sagrado de um paladino.

O ataque mais poderoso que um paladino empunhando esta espada poderia desenca-
dear.

Seus instintos lhe disseram que seria melhor não fazer isso. No entanto, se ela não der-
rotasse Vijar imediatamente, os outros dois demi-humanos matariam mais pessoas.

! —Eu quero proteger o desejo de Calca-sama—!

“!!”

Ela gritou sem palavras, ignorando seus instintos que clamavam para serem levados
em conta, e mentalmente mandou uma ordem para a espada sagrada. Ao mesmo tempo,
ela infundiu seu golpe sagrado na lâmina e a fez se mover.

Capítulo 4 O Cerco
9 2
A espada sagrada brilhava com radiância divina e a luz se estendia até o dobro da ex-
tensão da lâmina real.

Essa luz aparentemente ficava mais intensa quanto mais maligno o inimigo fosse. Nesse
estado, evitar ou bloquear esse golpe seria mais difícil. A palavra “aparentemente” veio
à mente porque não parecia tão brilhante para os olhos de Remedios.

Remedios levantou a espada sagrada para o céu e a desceu com toda a força.

Como Remedios estava desnorteada, prever o curso desse ataque seria brincadeira de
criança. Vijar preparou-se casualmente para receber o golpe com o machado e depois
empurrá-la de volta. Contudo—

“!!”

Após outro grito sem palavras, Remedios pressionou sua espada sagrada enquanto
ainda estava atritando com o machado de batalha, e continuou a forçá-la para baixo.

Ela não pretendia que sua espada atingisse seu alvo através da força bruta.

A razão para isso foi que o brilho da espada seguia o caminho intencional da lâmina,
atravessando o machado de batalha e entrando no corpo de Vijar.

Esta foi a técnica final da espada sagrada Safarlisia.

Uma onda sagrada que ignorava as defesas e armaduras.

Armadura, escamas e peles mais resistentes não significavam nada. Uma vez que pode-
ria até mesmo atravessar armas mágicas, então nem armas ou escudos poderiam detê-
la, o que tornou um trunfo indefensável.

É claro que, se alguém escolhesse desviar do golpe e fosse ágil o suficiente para evitá-
lo, não seria atingido pela onda de luz. Entretanto, não havia como evitar o ataque de
Remedios, pois a luz ofuscante dificultava e muito qualquer manobra.

Quando a onda de luz passou como uma ventania, o resplendor sagrado da lâmina tam-
bém desapareceu.

No entanto— os olhos de Remedios se arregalaram.

Ela tinha claramente atingido seu alvo, mas Vijar não parecia estar com dor.

“...Mas o quê? Bem, foi um movimento bem chamativo, mas... até que não doeu. É só para
se mostrar? Mas eu tenho que admitir, isso me assustou...”

Remedios ficou chocada.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


9 3
Esse cara— ele não é de alinhamento maligno!

Esta técnica seria mais eficaz quanto mais mau o inimigo fosse. Em contraste, causava
pouco dano a alvos não-malignos. Não fez praticamente nada para seres de alinhamento
bondoso. Em outras palavras, o fato de ter machucado Vijar significava que, embora ele
não fosse bondoso, ele certamente não era maligno.

Ele fez as pessoas sofrerem! Ele invadiu nosso país! Como alguém assim não pode ser ma-
ligno?

“Heeheehee. Bem, isso foi um show de luzes espetacular, Vijar-dono. Isso realmente não
te machucou?”

Halisha estreitou os olhos ao questionar Vijar.

“Foi muito brilhante... meus olhos ainda ardem.”

Nasrene resmungou de lado.

Ela havia cometido um erro — afinal, ela não deveria ter usado esse movimento em
Vijar.

Vijar testou seus membros e certificou-se de que seu corpo estava bem e deu de ombros.
Mesmo quando parecia indefeso, Remedios não conseguia encontrar nenhuma fraqueza
em sua defesa, não importava o quão intensamente ela olhasse.

“...Um show de luzes? Bem, eu não tenho muita certeza do que se tratava, mas não é
nada de mais, não acha?”

“...Vijar, não esperava por essa. E pensar que sairia ileso deste ataque... Creio que subes-
timei você.”

“Fuha! Você finalmente entendeu! Hahaha! Tudo bem, humana. Você fez bem em me
fazer parecer incrível. Caso se renda, eu vou te matar sem dor. Que tal isso?”

“Não faça essas piadas sem graça! Ainda não resolvemos isso!”

Remedios ergueu a espada e gritou para os três demi-humanos.

Remedios ainda podia lutar, foi como se dissesse isso. Ela colocou a mão sobre suas
feridas e usou suas habilidades de cura. Sua dor foi levada embora por uma sensação
morna.

Muitas técnicas paladinas não vão funcionar nele, já que ele não é maligno... mas como os
dois ficaram deslumbrados com aquilo, vou poupar para aqueles dois.

Capítulo 4 O Cerco
9 4
Tudo o que ela tinha que fazer era lutar contra Vijar como puramente uma guerreira.

“Heeheehee. Bem, faça como bem entender, Vijar-dono. Nós caçaremos os humanos na
retaguarda.”

“O quê? Vocês são desprezíveis!”

Todos os paladinos que ela havia chamado estavam mortos. Os milicianos não pode-
riam impedi-los.

“Como se eu tivesse deixado que façam o que bem entender!”

Remedios recuou e reposicionou para que ela pudesse enfrentar os três demi-humanos
de uma só vez.

“Parece que você está pronta para lutar com três de uma vez, mas Vijar disse que queria
cuidar disso.”

“Heeheehee. Nosso objetivo é acabar com os humanos na cidade conforme necessário,


não para servir como seus oponentes. Nasrene-dono, posso contar com sua ajuda para
destruir essa ralé da retaguarda com seu poder?”

“Ah sim...”

Havia massas de poder mágico em três das quatro mãos de Nasrene. Uma era gelo, outra
era fogo e a última era raio.

“Droga!”

Remedios correu em direção à demi-humana—

“Já te disse antes! EU sou seu oponente!”

—Ela bloqueou o golpe do machado de batalha com um rugido, mas foi atirada para
longe nessa contenda.

Neste momento, Remedios percebeu que não havia como lidar com Nasrene enquanto,
ao mesmo tempo, lutava contra Vijar. Mesmo que ela simplesmente pulasse direto para
o lado de Nasrene, a defesa contra os ataques de Nasrene teria deixado seu corpo inde-
feso exposto a Vijar.

Como assim “não havia como”... Eu não vou aceitar isso! Não ser capaz de fazer nada é
apenas uma desculpa!

Os grunhidos dos milicianos despertaram as emoções de Remedios.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


9 5
Essas pessoas não fugiram em face do terror porque acreditavam nela. Ela não podia
mostrar a eles um lado vergonhoso de si mesma.

Ela não abandonaria os ideais de Calca — fazer um país onde ninguém chorará.

“Todos os milicianos! Recuem!”

Ao terminar seu comando, Remedios reuniu sua determinação.

Eu não vou morrer em um único golpe. Eu vou correr para essa demi-humana enquanto
ativo 《Fortaleza》!

Vijar riu ao ver Remedios começar a correr. Parece que ele entendeu erroneamente al-
guma coisa.

“Ho. Parece que você já se decidiu. Esse é o caminho! Lute comigo com o que tiver! Dê-
me uma batalha digna de uma lenda! 《Declaração de Confronto》!”

“—Huh?”

Vijar rugiu e havia um poder especial naquele rugido. As pernas de Remedios, que de-
veriam levá-la em direção a Nasrene, avançaram em direção a Vijar como se tivessem
perdido o controle. Não eram apenas as pernas — sua espada, sua mente, sua visão, ela
não conseguia retirar nenhuma delas de Vijar.

“「Fireball」.”

Uma magia de 3º nível voou, tanto para Remedios, quanto para milicianos. Remedios
podia suportar essa magia, mas seria fatal para os milicianos—

“—「Wall of Skeleton」!”

A bola de fogo colidiu com a parede grotesca de ossos que surgira diante dos milicianos
e depois desaparecera.

Alguém exclamou surpreso.

Inicialmente, era porque eles não tinham idéia do que acabara de acontecer. No entanto,
isso mudou lentamente. Isso porque eles viram algo descendo suavemente — como se
não fosse afetado pela gravidade — e aterrissara em cima de uma macabra parede de
esqueletos.

Aquela pessoa não possuía nenhuma das emoções intensas do campo de batalha e fa-
lava com um tom suave que parecia completamente fora de lugar com o ambiente.

Capítulo 4 O Cerco
9 6
“Embora esta seja uma ocorrência bastante comum no campo de batalha, acho um
pouco difícil assistir a uma batalha de três contra um. Não se importa se eu participar,
não é?”

O dono daquela voz era um undead.

Todos nesta cidade o reconheceram. Ele era a pessoa que originalmente se recusou a
lutar para recuperar sua mana.

Era o Rei Feiticeiro, Ainz Ooal Gown.

“OHHHH!”

Um aplauso tremendo veio do outro lado da parede.

Remedios apertou firmemente a mão da espada.

“O que, o que é isso, quem é esse?”


[ L i c h Ancião]
“...Pelo que parece, acho que é um Elder Lich. Então, há um tipo sem pele. Ainda assim...
um mero Elder Lich tem o poder de parar minhas magias? É por causa do manto dele?
Parece bastante impressionante. Ou não, é porque quem o invocou possui grande poder?”

Remedios não compreendeu as palavras dos demi-humanos. Ela ouviu os sons, mas não
entendeu o que eles queriam dizer. Isso porque toda a sua energia estava concentrada
em reprimir o intenso ódio que crescia dentro de si. Ela nem percebeu que estava inde-
fesa diante de Vijar.

—Ahhhhhhhhh!!! Por que ele apareceu!? Por que eles estão torcendo por ele!? Por quê!
Por quê!! Por quê!!! Para este undead imundo!!!??

Um canto da mente de Remedios estava calmo o suficiente para notar que era uma re-
ação natural ajudar alguém em dificuldade. No entanto, foi anulada por sua incapacidade
de perdoar os civis por torcer pelo antagonista de tudo que vive. Os cadáveres dos pala-
dinos que se sacrificaram como escudos para proteger o povo eram claramente visíveis.

Nenhum de vocês estava torcendo pelas pessoas que lutaram como seus escudos, mas
agora torcem por alguém que apareceu atrasado!!!!!

Ela estava com tanta raiva que queria rasgar o metal do elmo e coçar a cabeça enquanto
rolava no chão.

Remedios lutou para conter a raiva em seu coração, e ela se dirigiu ao undead que es-
tava na parede.

“—O que veio fazer aqui?”

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


9 7
Os movimentos do Rei Feiticeiro pararam, como se ele estivesse congelado no lugar. As
chamas vermelhas em suas órbitas vazias se fixaram em Remedios.

“...O quê? ...Eu vim? ...Para ajudá-la?”

“...Entendo.”

“Por que não veio mais cedo? Estava esperando até que os paladinos morressem? Você
planejou fazer uma entrada elegante na frente das pessoas?”

Ela queria gritar isso para ele, mas—

“Então conto com você para isso.”

Ela não disse isso como um pedido reprimido. E em um tom mais baixo:

“E se livre dessa parede...”

“Hm?”

“Eu disse conto com você para isso!”

Ela gritou sem pensar. Remedios se esforçou para reprimir suas emoções crescentes:

“—E desfaça essa parede. Ou você não pode?”

“...Certamente posso.”

Em um instante, a parede abaixo dos pés do Rei Feiticeiro desapareceu. O Rei Feiticeiro
não caiu, provavelmente porque ele estava usando 「Fly」.

Remedios virou as costas para Vijar. Ela não se importava se fosse morta. Dessa forma,
ela poderia rir do Rei feiticeiro por não protegê-la.

Tendo abandonado a si mesma para o desespero, Remedios achou um pouco lamentá-


vel que os demi-humanos não a atacassem enquanto ela caminhava penosamente de
volta na frente dos milicianos.

Havia uma sugestão de medo nos olhos dos milicianos. O olhar no rosto dela era tão
horrível assim?

“Vamos deixar o Rei Feiticeiro cuidar desse lugar! Vamos ajudar onde eles mais preci-
sarem de nós!”

Capítulo 4 O Cerco
9 8
Depois de ouvir as ordens de Remedios, os milicianos se entreolharam e pareciam con-
fusos.

“Estão desobedecendo minhas ordens!?”

Depois que Remedios olhou para eles, um dos milicianos perguntou em voz baixa:

“Ah, n-não. Mas... o Rei Feiticeiro, sozinho...”

“O Rei Feiticeiro é forte! Isso não ficou claro? Algo assim não será um problema para
ele! Vamos lá!”

♦♦♦

Remedios levou os milicianos a outro campo de batalha. Eles repetidamente olharam


para trás enquanto dispersavam.

Ainz olhou para o espaço vazio onde eles estavam e murmurou para si mesmo.

“Eh? ...Aquela vadia, ela na verdade jogou tudo para mim.”

Este estado ridículo de eventos fez Ainz revelar sua verdadeira natureza.

Normalmente, não teríamos uma cena como “Oh, vamos lutar juntos” ou algo assim? Ou
“Obrigada por vir, vamos deixá-los todos para o senhor?” no mínimo, ela poderia ter sido
educada sobre isso, poderíamos com uma conversa de vai em vem com “O senhor vai ficar
bem aqui?” E assim por diante... E nem mesmo uma única palavra de gratidão depois de
ser salva? Qual o problema dela?

A frustração crescia em seu coração. No entanto, não atingiu o nível de raiva verdadeira,
por isso não foi suprimida. Era como uma pequena chama de indignação fervendo den-
tro dele.

Era como se alguém ferrasse um projeto por completo e o obrigasse a trabalhar horas
extras, e a pessoa em questão que causara tudo simplesmente fosse embora.

Não—

Eu ficaria mais bravo. Por exemplo, se eu fosse para casa jogar YGGDRASIL... e a guilda já
tivesse planos, eu estar atrasado causaria problemas para todos. Isso aconteceu antes,
mesmo assim, todos me perdoaram naquela época...

Assim alimentadas, as chamas minúsculas se transformaram em um inferno e, em se-


guida, foram extintas à força.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


9 9
“Hm... Mesmo que minha raiva foi reprimida, ainda estou infeliz. Essa é a primeira vez
que eu fui tratado de forma tão rude.”

Quando ela gritara “cale a boca” para ele anteriormente, a situação estava bem diferente.
Em primeiro lugar, eles tinham concordado que Ainz poderia ficar fora desta batalha,
mas Ainz ainda veio como reforço. Certamente qualquer um que tivesse uma noção do
bom senso teria tomado um tom diferente ao se dirigir a ele.

Todos os que Ainz conhecera até agora foram, pelo menos, minimamente educados.

Foi por isso que Ainz achou estranho.

Depois de esfriar a cabeça e procurar em suas memórias, Suzuki Satoru lembrou de ter
encontrado pessoas como Remedios várias vezes antes.

Ainda assim, nada disso o confortou.

Ainz virou seu olhar ainda irado para os três demi-humanos.

Claro, não foi inteiramente culpa deles também.

Ainz entendeu que ele estaria simplesmente descontando neles.

O que deveria ter acontecido era que o medidor de relacionamento de Remedios com
Ainz deveria ter pulado para o máximo quando fosse salva do perigo no último instante,
ela deveria ter se desculpado por tratar Ainz daquele jeito todo esse tempo, e então tra-
balharia arduamente por Ainz de todas as maneiras possíveis no futuro. Foi por isso que
Ainz estava observando Remedios do ar com 「Perfect Unknowable」 ativo todo esse
tempo, e então entrou em cena para ajudá-la quando ela estava com problemas.

Mas no final, as coisas acabaram assim.

Ele não conseguia entender como acabaram assim.

Se a cota do departamento não fosse atendida e estivesse perto do fim do mês e alguém
desse um passo para compensar o déficit, certamente todo mundo ficaria grato a essa
pessoa, certo? Especialmente se aquela pessoa tivesse terminado seu próprio trabalho
há muito tempo e tivesse voltado do descanso para ajudá-los.

Ainz observava o campo de batalha de cima, e tinha uma firme compreensão do quadro
geral. Havia muitos lugares mais perigosos do que esse. Ele estava ciente de que a garota
que o encarara todo esse tempo estava em perigo.

Mesmo assim, ele tinha escolhido vir a este lugar porque queria vender um favor à pes-
soa de mais alta hierarquia que ele pudesse — melhor governar no inferno do que servir

Capítulo 4 O Cerco
100
no paraíso, algo assim — e ele havia julgado que a Capitã do Reino Sacro da Ordem Pala-
dina era a pessoa de mais alto escalão neste lugar.

Contudo—

“Eu realmente estou irritado.”

Enquanto ele resmungava sem pensar, Ainz ouviu um riso penetrante.

“Heeheehee. Parece que você foi deixado aqui. Heeheehee, que trágico, trágico.”

“Um Elder Lich. Em outras palavras, um indivíduo que é poderoso como magic caster.
Existe a necessidade de ter cuidado? Eu não vi essa magia de parede antes, mas parece
ser de um nível bastante alto.”

“Hmph. Então ainda por cima é um magic caster? Não sinto vontade de lutar. No final, é
preciso vencer um guerreiro se quiser que as pessoas cantem contos sobre mim.”

Os três demi-humanos pareciam ter se recuperado da situação bizarra o suficiente para


brincar um com o outro. Ainz se virou para olhá-los, e seus olhos se concentraram no
demi-humano parecido com um macaco que parecia ter rido agora.

“Isso importa? Primeiro nós o matamos, então—”

“—Cale-se.”

Ainz interrompeu a conversa e lançou uma magia de 8º nível, 「Death」.

O sorriso do demi-humano, semelhante a um macaco, estava congelado em seu rosto


enquanto ele desmoronava lentamente.

“...O quê? O que você—”

“—Eu disse para calar a boca, não?”

Ainz mais uma vez fez uma conjuração silenciosa 「Death」.

O demi-humano de quatro pernas entrou em colapso da mesma forma que o de antes.

“Eh? Ehhh O que aconteceu? O que está acontecendo?”

A demi-humana que permaneceu imóvel não entendia o que estava acontecendo, mas
parece que ela já havia reconhecido quem havia feito aquilo.

“Foi, foi você? Você matou esses dois num instante...?

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


101
O terror estava gravemente estampado em seu rosto. Seu corpo estava tremendo forte-
mente.

“Sim, sim...”

Ainz despretensiosamente fez uma conjuração silenciosa de 「Death」 na demi-hu-


mana.

“—Hmmm?”

Ela não morreu. Ela havia resistido ao 「Death」 de Ainz.

No momento em que percebeu isso, a mente de Ainz imediatamente mudou de marcha,


entrando em um estado mental que poderia ser considerado modo de combate.

Foi uma característica racial defensiva? Uma magia de proteção que ela lançou em si
mesma? Ela teria resistido normalmente? Um item mágico a protegeu? Ou era algo mais?

Embora não se pudesse descartar completamente a possibilidade de ser uma mera


coincidência, certamente ela não teria resistido com seu próprio poder. Ainz observara
os três enquanto lutavam. Mesmo que ele não tivesse a medida completa de suas habili-
dades, Ainz estava certo de que eles não poderiam resistir ao poder de seus ataques má-
gicos em uma disputa direta.

Quando Ainz refletiu sobre as razões para isso, ele sentiu que seria melhor ficar em
guarda e deixar seu oponente fazer um movimento.

Talvez ele possa descobrir algo que só poderia ser encontrado aqui. Ele gostaria de ver
o trunfo empunhado por alguém que pudesse resistir aos métodos usuais de ataque de
Ainz.

“Hmm... Bem, não importa o que ela fez. Que perda de tempo. Se eu soubesse, teria dei-
xado aquela mulher sozinha e ido ajudar em outro lugar. Eu estava pensando que se eu
lutasse junto com aquela mulher, poderíamos ter feito um espetáculo de um difícil
triunfo, então teríamos gasto um pouco mais de tempo em algum vai e vem...”

♦♦♦

Um undead tagarela estava parado diante dela.

Que tipo de criatura é essa? ...Os undeads não poderiam se aliar a humanos. Está sendo
controlado por um necromante? Ainda assim, esse poder...

Mesmo ela não tendo idéia do que ele tinha feito, ele instantaneamente matou dois
guerreiros que estavam no mesmo nível que ela. Será que um undead tão poderoso po-
deria ser controlado?

Capítulo 4 O Cerco
102
Se o dedo dele apontasse para ela, seria ela quem pereceria?

As únicas pessoas que ela conhecia que poderiam fazer isso além do Imperador Demô-
nio Jaldabaoth seriam os grandes demônios que eram seus servos.

—Isso é impossível! Qualquer um que pudesse controlar uma criatura que esteja a par
desses poderosos seres deve estar no nível de um deus! Como poderia tal necromante exis-
tir?

Se essa nação humana tivesse tal necromante, como a Aliança Demi-humana poderia
ter pressionado sua invasão até agora?

É melhor eu fugir? Devo aproveitar a chance de fugir enquanto ele está agindo todo rela-
xado? Será que conseguirei escapar?

Ela não possuía nenhuma magia que fosse útil para escapar. Afinal, ela nunca esteve em
tal perigo antes e não sentiu a importância de aprender tais magias.

Nesse caso, a única saída é passar por cima!

“Ahhhhhhhhh!”

Ela usou seu grito de guerra para despertar seu espírito e começou a lançar magias com
os lábios trêmulos.

Havia uma magia arcana de 4º nível chamada 「Silver Lance」. Era uma magia do tipo
físico, mas como possuía propriedades de prata, era uma magia tremendamente preju-
dicial contra inimigos que eram fracos contra a prata. Além disso, também teve um efeito
especial conhecido como “perfurante”, o que fez com que causasse mais danos a oponen-
tes não protegidos por armaduras. No entanto, também tinha a desvantagem de que seus
danos poderiam ser reduzidos pela armadura.

Seu trunfo estava em modificar essa poderosa magia para produzir novas magias úni-
cas.

Havia a 「Burn Lance」, que causava dano elemental de fogo. Havia a 「Freeze Lance」,
que causava dano elemental de gelo. Havia a 「Shock Lance」, que causava dano ele-
mental elétrico.

Todas essas três magias causavam danos elementais, então a armadura não reduziu sua
potência, e ainda retiveram a capacidade mortal de “perfuração”.

É claro que, de acordo com a sua mortandade, essas magias consumiam muito mais
mana do que as magias de 4º nível convencionais.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


103
Ela ativou três dessas potentes — para ela — magias de uma só vez.

Ela estava lançando simultaneamente três magias, cada uma das quais drenava uma
quantidade significativa de mana.

Além disso, lançar as três ao mesmo tempo já exigia um tremendo esforço por si só, e
como o choque de usar quantidades enormes de mana a atingiu, ela se sentiu leve e flu-
tuante, como se estivesse prestes a desmaiar.

“Morraaaaaaaa!”

As três lanças voaram em direção ao ser undead — e depois desapareceram sem deixar
vestígios.

“—Hah?”

Ela não conseguia entender o que havia acontecido diante de seus olhos. Ela podia en-
tender se tinha recebido dano, ou os desviados.

Mas isso— isso era como se nada tivesse acontecido.

As lanças simplesmente haviam desaparecido.

“Eh? Eh? O quê? Mas o quê?”

“...Eu te dei todo esse tempo e isso é o melhor que você pode fazer? É este o seu ás na
manga? Hm. Acho que não precisarei esperar que você haja sem cautela. Então, não te-
mos muito tempo para desperdiçar, agora apresse-se e morra. 「Maximize Magic: Rea-
lity Slash」.”

Parte 5

E um mundo de escuridão havia


Ela não sabia se o conceito de “ela” existia
Abrir os olhos queria — mas o que “olhos” significava ela não sabia
Escuridão, Mundo, se outrora tiveram algum significado, agora eram palavras vazias
O porquê pensava essas coisas ela não sabia
De nada sabia
Desaparecendo ela estava
Mas a palavra “desaparecer” a ela nada significava
Saber ou não o significado em nada a ajudaria
No entanto, subitamente, sendo puxada por algo ela sentia
Cima, baixo, da esquerda para a direita, de lugar nenhum para algum lugar—
Um mundo inteiro estava a puxar

Capítulo 4 O Cerco
104
Um ser lamentável que completado havia sido pelas obras de seus amigos
Todos aqueles pensamentos agora estavam selados
Por alguém que era um tesouro maior do que ela jamais pensaria
E então — uma explosão de luz branca o mundo tingia
Uma grande sensação de perda acontecia—
Uma sensação de se separar de tudo ela sentia—

Neia Baraja piscou várias vezes, tentando devolver seu campo de visão desfocado ao
normal.

Ela sentiu que algo havia acontecido, mas não conseguia se lembrar de nada sobre isso.
Entretanto, ela sentia deveria ter lutado contra os demi-humanos. Qual bizarrice havia
acontecido?

“...Esse era um lugar perigoso.”

Quando ela ouviu aquela voz calma, Neia estreitou os olhos e olhou para cima com um
olhar anormal.

Parecia-se com a escuridão.

Não era a escuridão que uma criança temeria, mas a escuridão que dava paz àqueles
que estavam cansados.

Era o Rei Feiticeiro Ainz Ooal Gown.

“Vosha... Mhajeistade...”

Neia, reflexivamente, chegou até ele, como uma criança preocupada se agarrando a seus
pais—

“Neia Baraja. Não se force a se mover. Deixe-me cuidar deste lugar e descanse.”

Atrás dele, ela podia ver os demi-humanos atacando freneticamente o Rei Feiticeiro,
apunhalando-o com espadas, golpeando-o, socando-o.

No entanto, o Rei Feiticeiro ignorou-os completamente. Ele falou com ela como se nada
estivesse acontecendo.

A memória de Buser chegou à mente de Neia.

O Rei Feiticeiro alcançou a manga de sua túnica e, depois de um breve atraso, retirou
uma poção roxa, de aspecto venenoso. Normalmente, as poções eram azuis.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


105
Neia não questionou o Rei Feiticeiro enquanto ele derramava aquela poção de aparên-
cia venenosa sobre ela. O que o Rei Feiticeiro fez certamente deve estar correto.

A realidade se moldou como ela imaginou. A poção roxa que ele derramou no corpo de
Neia instantaneamente curou todas as suas feridas. Parece que as poções do Reino Fei-
ticeiro eram de uma cor diferente.

“Embora pareça que uma recuperação completa demorará muito, você deve recuperar
sua energia antes do que imagina— Sinto muito. Tch. Os milicianos estão todos mortos...
parece que sobraram alguns. Nesse caso...”

O Rei Feiticeiro virou-se para encarar os demi-humanos quando eles o atacaram por
trás repetidas vezes.

Houve luta por toda a cidade neste exato momento, e alguém morria a cada segundo
que passava. No entanto, naquele momento, Neia esqueceu-se completamente disso,
porque seus olhos foram roubados pelas gloriosas costas do Rei Feiticeiro que se levan-
tara para protegê-la.

Seu mal-estar e preocupações com o exército demi-humano desapareceram completa-


mente.

Isso foi — o que Neia tinha desejado.

Então estava aqui o tempo todo. Entendo...

Neia tinha certeza de que ela havia encontrado a resposta perfeita para as dúvidas que
ela estava segurando a todo esse tempo.

O Rei Feiticeiro casualmente lançou uma magia.

Um deslumbrante golpe de eletricidade correu ao longo do topo do muro da cidade.


Aparentemente era a magia chamada 「Chain Dragon Lightning」.

Os demi-humanos foram exterminados tão facilmente que era difícil imaginar que ou-
trora havia uma luta de vida ou morte aqui.

“Mas...Senhosh... derrothou... dodos... eles...?”

“Não, havia algumas pessoas ainda lutando por perto, então eu estava tentando não as
acertar. Um momento— 「Napalm」 ah, isso é tudo. Em seguida, temos que lidar com
os idiotas subindo. 「Widen Magic: Wall of Skeleton」.”

Uma parede de ossos de repente se ergueu do lado de fora dos muros da cidade, onde
estavam as tropas demi-humanas. Mesmo ela não conseguindo ver o outro lado porque

Capítulo 4 O Cerco
106
sua visão estava bloqueada, ela podia ouvir os demi-humanos nas escadas grunhindo,
seguidos pelo som de objetos caindo e batendo no chão com força.

“Agora, para cuidar de suas tropas que já estão em formação... Mandei alguns undeads
para lá anteriormente, eles vão lidar com isso em breve.”

Enquanto falava, ele pegou outra poção. Era completamente diferente daquela de antes,
sendo armazenado em um frasco bonito e esguio. Ela não tinha idéia do que a poção
dentro dela poderia fazer, mas parecia ser um item muito valioso.

“Eu, ehu exthou bem, Vosha Mhajeistade...”

“...Chega disso. Me desculpe por ter me atrasado em te salvar.”

O Rei Feiticeiro protegeu as metades superiores de suas órbitas oculares como se esti-
vesse sendo ofuscado enquanto derramava o conteúdo da garrafa. A sensação de fra-
queza que ela vinha sentindo desde então se dissolveu. No entanto, seu corpo ainda pa-
recia pesado. Ela sentiu como se alguma coisa tivesse sido arrancada de si mesma, mas
se misturando novamente — não, estava excessivamente mais forte do que antes — no
calor no centro de seu corpo.

Ela poderia levantar. Mesmo que seu corpo ainda doía ao ponto de suas lágrimas escor-
rem, ela não pôde permanecer em uma posição tão vergonhosa diante da pessoa que
veio salvá-la.

“Pare— Srta. Baraja. Não há necessidade de se forçar a ficar de pé.”

Mesmo ela desejando se levantar, Neia obedientemente se deitou quando ele empurrou
seus ombros para baixo.

“Sim, assim mesmo... vou buscar alguém para te levar. —Vocês aí, por aqui!”

O Rei Feiticeiro acenou para o que pareciam ser milicianos.

Foi nesse momento que Neia percebeu que, para expressar sua gratidão, ainda não fi-
zera uma pergunta que deveria ser feita.

“Vossa Majestade, o senhor ficará bem? O senhor veio nos ajudar e usou a mana que
deveria ter poupado para lutar contra Jaldabaoth.”

“Está bem. Quando se pensa sobre isso, a conclusão é que não dá para evitar, conside-
rando que foi para te salvar.”

“Vossa Majestade...”

Algo tão pesado quanto uma rocha parecia ter sido removida de seu peito:

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


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“Eu entendo agora.”

“Hm? O que é?”

O Rei Feiticeiro esperou pela resposta de Neia.

“Eu entendo o que é justiça.”

“—Ah, então você encontrou a justiça que pertence a você? Isso é bom. Está em proteger
os fracos ou algo assim?”

Sua voz estava cheia de ternura e Neia respondeu com confiança.

“Vossa Majestade é justiça.”

Por um momento, o Rei Feiticeiro congelou.

“......Hm?”

“Eu entendo agora! Vossa Majestade é a justiça!”

“...Ah, é isso então. Você deve estar cansada. Você não acha que seria melhor descansar?
Você vai pensar em coisas estranhas enquanto estiver cansada. Certamente você não vai
querer rolar na cama e fazer barulhos estranhos depois de se acalmar, certo?”

“Estou um pouco cansada, mas o mais importante é que meu coração se esclareceu. Es-
tou absolutamente certa de que Vossa Majestade é justiça!”

“Não, nãonão, eu disse na época, mas não sou justo. Olha, o que eles chamam de justiça
deveria ser algo como proteger os fracos é senso comum, esse tipo de... uh, conceito abs-
trato. Certo? Quero dizer, seguindo o significado real da palavra.”

“Não. Justiça sem poder não tem sentido, mas poder como o que Jaldabaoth possui tam-
bém não é justiça. Portanto, ser forte e usar essa força para ajudar os outros é verdadei-
ramente justiça; em outras palavras, o senhor é a encarnação da justiça, Vossa Majes-
tade!!”

Quando os olhos de Neia se arregalaram enquanto falava, o Rei Feiticeiro de repente


levantou a mão e depois colocou sobre os olhos de Neia como se estivesse persuadindo-
a a dormir. O frescor agradável de seus dedos fez as bochechas de Neia relaxarem.

“...Ah. Se você gritar muito alto, não vai machucar suas feridas? Depois disso, podemos
continuar lentamente de onde essa conversa parou.”

“Sim! Vossa Majestade!”

Capítulo 4 O Cerco
108
Ela ouviu o som de vários passos e, ao desviar o olhar, viu as formas de paladinos e
milicianos se aproximando.

“Vossa Realeza! Muito obrigado por vir aqui para nos ajudar!”

“Não agradeça por isso.”

Enquanto respondia, o Rei Feiticeiro lentamente se levantou. Neia sentiu-se solitária


quando ele se levantou e quis alcançar o manto do Rei Feiticeiro, mas então percebeu
que fazer isso seria terrivelmente vergonhoso e então ela se conteve.

“—Não, na verdade, talvez você deva sim. Então espero que leve a Escudeira Baraja
para um lugar seguro, assim mostrará sua gratidão. Mesmo que não consiga ver daqui,
eu já enviei undeads que eu fiz para o acampamento demi-humano, então deve ficar tudo
bem se vocês descansarem por um tempo.”

“Vossa Majestade—”

“—Neia Baraja. E também as pessoas deste país. Deixe-me cuidar do resto. Eu prometo
a vocês que farei o meu melhor para salvar as pessoas desta cidade.”

O Rei Feiticeiro flutuou suavemente no ar.

“Além disso, há mais uma coisa. Você pode me ajudar a mover os corpos daqueles três
demi-humanos para lá? Eles eram inimigos fortes, então eu quero estudá-los com cui-
dado.”

Os três cadáveres para os quais o Rei Feiticeiro apontava pareciam ter sido outrora
muito impressionantes.

“Mova-os com a panóplia de guerra. Não se preocupem em serem grosseiros com os


corpos deles, mas tomem cuidado com os equipamentos. Conto com a ajuda de vocês.”

Enquanto observava o Rei Feiticeiro voar no ar, um paladino se virou para Neia.

“Escudeira Neia Baraja, estamos felizes em levá-la... mas a falta de materiais para uma
maca torna as coisas difíceis. Consegue ficar de pé?”

“É um pouco difícil, mas consigo.”

Neia se levantou lentamente. Suas pernas estavam tremendo e doeram assim que for-
çou seu peso sobre elas. Neia se apoiou no ombro de um miliciano e se agarrou firme-
mente a ele.

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Olhando para baixo a partir da muralha da cidade, a unidade que deveria defender o
portão oeste se foi, nem mesmo seus corpos eram vistos. O som de lâminas se chocando
com o vento parecia vir de muito longe; portanto, seguir o caminho mais curto da torre
lateral deveria ser bom.

Neia procurou a forma do Rei Feiticeiro que havia desaparecido no céu, e como ela pen-
sava que era uma pena não poder vê-lo, Neia entrou na torre lateral.

♦♦♦

Enquanto saudava os demi-humanos que invadiam a cidade com magias ao fazer ata-
ques aéreo, Ainz pensou na sequência de eventos que haviam transpirado e enrugado
suas sobrancelhas inexistentes.

—Aquilo foi um erro enorme. A ordem estava errada. Eu deveria ter priorizado a Neia
Baraja em vez daquela mulher irritante.

Neia havia morrido porque ele ajudou Remedios e ficou atrasado em ir para o lado de
Neia. Ele teve que usar uma varinha de alto nível para ressuscitar Neia, pois não tinha
certeza de quão alto era o nível de Neia, e ele estava com medo dela se tornar cinzas
como um Lizardman que tentara ressuscitar.

Na verdade, ele não tinha idéia se o preço de ressuscitar Neia era justificado pelos be-
nefícios que ela poderia trazer para Ainz e Nazarick. Dito isto, uma vez que o plano de
ajudar Remedios e deixá-la endividada para ele tinha sido um completo fracasso, ele de-
veria pelo menos tentar novamente com Neia, e foi por isso que ele escolheu ressuscitá-
la. Contudo—
[Varinha d a R e s s u r r e i ç ã o ]
...Será que a Wand of Resurrection — com poder de magia de sétimo nível — também es-
tava bem? ...Parece que eu estava sendo muito cauteloso. Além disso, levarei uma hora até
que eu possa trocar de anel.

Ainz estava olhando para um de seus oito anéis, o do polegar direito.


[ A n e l d a M a e s t r i a em V ar inh as ]
Era o Ring of Wand Mastery.

Dito anel era um artefato ultra-raro dropado por um chefão de YGGDRASIL.

Normalmente, apenas os magic casters de ramificações específicas poderiam usar as


magias armazenadas dentro de uma varinha. Por exemplo, somente um magic caster di-
vino poderia usar uma varinha imbuída com magia divina de primeiro nível — 「Light
Healing」. Se elas pudessem ser usadas por magic casters de outras ramificações, então
teriam que ser varinhas, que eram mais caras.

Capítulo 4 O Cerco
110
Apesar disso, um patch atualizou certas varinhas para que pudessem ser usadas por
todos os jogadores. Infelizmente, a varinha imbuída com magia de 9º nível 「True Re-
surrection」 que ele usou para ressuscitar Neia não era uma delas, e Ainz não seria ca-
paz de usá-la em circunstâncias normais.

No entanto, ele poderia usá-la, desde que ele tivesse este anel.

Ainda assim, o poder do anel só ficaria vinculado em apenas uma varinha de cada vez,
ele teria que esperar uma hora antes de poder trocá-la. Ele também carregava a desvan-
tagem de exigir mana para ser usado, mas ainda era um item muito valioso.

Devido à sua alta raridade, poucas pessoas na guilda “Ainz Ooal Gown” a possuíam, e a
que Ainz tinha lhe foi deixada por Amanomahitotsu quando ele desistiu do jogo.

Bem, não parece que vou precisar usar esta varinha em outro lugar, então melhor não me
preocupar demais. Falando nisso, percebi quando eu cobri os olhos dela, parece que ela
simplesmente me respeita. Dado o que ela disse... isso significa que eu ganhei a confiança
dela? Uhum. O que será que aconteceu?

Ainz se lembrou da reação de Neia.

Sua gratidão soou sincera... mas ao mesmo tempo parecia que ela estava me encarando
com raiva. É porque o rosto dela é assustador? Que tal recomendar que ela use óculos es-
curos ou algo assim?

Ainz poderia pensar isso, mas é claro que ele não podia dizer. Na carruagem, ela men-
cionou estar consciente de como seus olhos pareciam assustadores.

Se alguém encontrasse uma mulher com axilas fedorentas, como elas reagiriam quando
dissesse “você tem cecê”, e lhes desse um frasco de desodorante?

Parece que todo o respeito que eu cultivei desapareceria e ela só se ressentiria de mim...

Além disso, Ainz — Suzuki Satoru — não era corajoso o suficiente para dizer tais coisas.

Ainz avistou um aglomerado de demi-humanos nas proximidades e descarregou uma


magia de efeito de área no chão, abatendo todos. Os milicianos que estavam de frente
para eles acenaram em sua direção. Ainz levantou o braço também como resposta. Ori-
ginalmente, ele pretendia apenas levantar a mão, mas havia uma distância entre eles,
então ele ergueu o braço para que pudessem vê-lo.

É isso aí~ É o misericordioso Rei Feiticeiro~ Sejam gratos a mim~ Mas ainda assim, será
que a magia de ressurreição faz as pessoas enlouquecerem ou agirem de forma estranha?
Comparado a isso, seria melhor se ela estivesse apenas animada ou agitada...

Ainz pensou em Neia.

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Parecia estranho, independentemente de como pensasse sobre isso. Ela estava perfei-
tamente normal quando se separou dela, mas ela acabou assim depois de ser trazida de
volta à vida.

Ela é louca? Devo curá-la com magia? Seria um pouco assustador se fosse um efeito cola-
teral da ressurreição. Eu não quero acabar distorcendo a personalidade dela com o passar
do tempo.

Havia uma energia estranha nos olhos criminosos de Neia, um brilho de insanidade e
ferocidade que o assustava.

É muito ruim que ela tenha me confundido com a justiça, huh. Algum descanso deve ajudar
ela com isso... oh.

Ainz moveu seu olhar para a localização dos demi-humanos.


[Devoradores d e A l m a s ]
Metade deles já haviam sido destruídos e os S o u l Eaters andavam preguiçosamente
entre os demi-humanos em fuga. Mesmo isso já era suficiente para fazer os demi-huma-
nos colapsarem em massa com suas auras de morte instantânea. Os Soul Eaters consu-
miram suas almas, o que por sua vez os deixou mais fortes.

Quando Soul Eaters apareciam em YGGDRASIL, eles eram quase sempre encontros ni-
velados pelos níveis dos jogadores, então as chances de um jogador ser abatido por um
efeito de morte instantâneo seriam apenas uma em cem ou menos que isso. Foi por isso
que essa habilidade especial dos Soul Eaters raramente teve a chance de ser vista em
uso.

No entanto, foi diferente desta vez. Esta foi a oportunidade perfeita para mostrar isso.

“Almas, huh... oh não. Eu deveria fazer experimentos com isso.”

Ainz de repente pousou. Então ele usou sua habilidade para criar undeads de nível in-
termediário para criar um Soul Eater.

Vá.

Depois que ele emitiu um comando mental, o Soul Eater imediatamente começou a se
mover. Ao mesmo tempo, ele enviou uma ordem aos Soul Eaters que estavam destruindo
os demi-humanos do lado de fora.

Que consistia de: Deixem algumas presas para o Soul Eater recém-criado.

Undeads criados com cadáveres não desapareceriam com a passagem do tempo. Mas
qual seria o porquê disso?

Capítulo 4 O Cerco
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Se não é porque estão usando o cadáver como um intermédio, mas a alma, significa que
os Soul Eaters que comeram almas não desaparecerão? ...Bem, mesmo que eu encontrasse
a resposta, não saberia onde aplicá-la. Ainda assim, saber é melhor do que não saber.

Ele ascendeu ao céu mais uma vez e verificou que a cidade estava segura. A maioria dos
demi-humanos deveria ter sido eliminado agora, mas ele deveria ser cuidadoso, apenas
por precaução.

Mmm, aquela mulher chata está lá. Ignore-a, ignore-a.

Ainz desviou o olhar de Remedios e voou para outro lugar.

Quando Ainz voou, ele pôde ouvir os gritos vindos de baixo dele, e Ainz respondeu com
um aceno de mão. Depois de verificar que não havia mais demi-humanos — que a luta
tinha terminado, Ainz começou a fazer o seu caminho para a sala de guerra. Ele precisa-
ria de muito tempo para voltar a Nazarick e cuidar de todos os tipos de reuniões irritan-
tes.

“Eu preciso lidar com isso corretamente...”

Uma onda esmagadora de mal-estar inundou-o e, em seguida, sua supressão de emo-


ções entrou em ação. A única coisa que restou foi uma sensação de frio em seu coração.

Eu preciso usar 「Message」 para dizer ao Demiurge que se encontre comigo em Naza-
rick.

♦♦♦

Uma vez que Ainz fez sua jogada, a vitória foi muito fácil. Depois de aniquilar os demi-
humanos que atacavam a cidade e terminar algumas outras coisas, Ainz voltou para seu
quarto.

Uma dessas coisas era dar as caras nos aposentos de Caspond e pedir-lhe alguns favores
menores no futuro. Sendo curto e direto, depois de destruir o acampamento dos demi-
humanos até as cinzas, ele não tinha nenhum problema em dar-lhes as rações e todo o
resto — exceto itens mágicos.

Já que Ainz havia devastado o acampamento demi-humano sozinho, então os espólios


[C a i x a d e
dos demi-humanos deveriam ter pertencido a ele por direito. Colocá-los na Exchange
Câmbio]
Box teria dado uma boa quantia. Porém, se ele monopolizasse tudo, a boa vontade que
ele construíra tão meticulosamente poderia acabar perdendo seu valor. Sendo esse o
caso, ele precisava pensar no sentido de ser um investimento e dar tudo para o Reino
Sacro. Claro, pode haver itens mágicos valiosos entre os itens, e ele não tinha intenção
de desistir deles.

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Normalmente, Ainz teria ido ao acampamento sozinho e usado 「Greater Magic Vi-
sion」, 「Detect Magic」 e outras magias de adivinhação para examinar a cena, mas ele
sentiu que não havia necessidade de fazê-lo. Além disso, Demiurge deveria ter investi-
gado quais itens mágicos os demi-humanos possuíam de antemão. Mesmo se um peixe
tivesse pulado fora da rede, não deveria haver nada ali que pudesse prejudicar Ainz. Se
houvesse, então teria sido mais chamativo.

Depois disso, ele foi recuperar o equipamento daqueles três demi-humanos. Como es-
perado, ninguém ousou saquear os cadáveres, e assim Ainz recuperou seus itens mági-
cos sem incidentes. Claro, ele tinha uma idéia de quão poderosos esses itens eram e da
mana que continham, mas ele ainda tinha esperança por algo bizarro ou incomum.

Ele os jogou na cama e se preparou para investigar magicamente todos e cada um deles,
mas ele tinha algo que precisava fazer primeiro.

“—Agora, vejamos!”

Ele deliberadamente fez barulho.

Parte disso era a própria psique, mas havia outro significado.

Havia algo que ele precisava fazer antes de contatar Demiurge usando 「Message」.

Ainz pegou um pergaminho — com a marca de Demiurge — e ativou sua magia, após
isso, um par de orelhas de coelho brotou da cabeça de Ainz.

Ele os usou para checar os sons próximos, e parecia que não havia ninguém se escon-
dendo para espioná-lo. No entanto, isso não foi suficiente para deixá-lo à vontade. Afinal
de contas, havia magia como 「Silence」 de 2º nível, que poderia eliminar o som, e tam-
bém havia habilidades de ladinos, então era cedo demais para concluir que não havia
ninguém por perto só porque ele não podia ouvir nada.

É graças à fazenda de Demiurge — que nos permite obter matérias-primas com facilidade
— que eu posso usar esses pergaminhos casualmente. Despejar grandes quantidades de
produtos na Exchange Box significa que podemos recuperar o ouro gasto nos pergaminhos
sem problemas. Eu já pensei sobre isso antes, mas tenho um bom pressentimento sobre as
várias maneiras pelas quais Nazarick está se desenvolvendo.

Eles podiam usar o pergaminho comum deste mundo para magias de 1º nível como
「Rabbit’s Ear」. Mas alguém precisaria de materiais de YGGDRASIL para usar itens de
níveis mais altos. No entanto, parte do problema de abastecimento já havia sido sanado.

Embora fosse verdade que eles só poderiam ser usados como substitutos para perga-
minhos de até 3º nível, era um fato que Demiurge já havia feito um grande trabalho. Mas

Capítulo 4 O Cerco
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primeira e indiscutivelmente, ao considerar tudo o que havia sido feito até agora, Demi-
urge seria o mais merecedor de elogios por suas contribuições. Em seguida, seria Albedo
e seu perfeito gerenciamento de Nazarick.

Ainz, ao considerar tudo isso, usou sua habilidade para criar undeads de baixo nível e
[Aparição]
trouxe um Wraith.

Verifique os arredores e veja se alguém está me espionando.

Depois de receber o pedido, o Wraith saiu do quarto sem abrir a porta. Wraiths tinham
corpos astrais, e assim podiam se mover diretamente através das paredes e outros obs-
táculos. Ainda assim, havia um limite dependendo de quão espessas fossem as paredes,
de modo que não era ilimitado, mas a espessura das paredes do quarto não eram pro-
blema para ele.

Ainz concentrou sua mente nas orelhas que brotara em sua cabeça.

Mesmo que houvesse um ladino habilidoso à espreita, eles poderiam realmente perma-
necer imóveis se uma criatura undead aparecesse de repente, especialmente se estivesse
cercada por uma aura de medo? Além disso, eles precisariam de uma capacidade de ocul-
tação que pudesse escondê-los da detecção de um Wraith. É claro que enganar os unde-
ads de baixo nível era fácil, mas se alguém realmente possuísse essas habilidades, então
deveriam ser muito capacitados.

Ainz concluiu que não poderia haver tal pessoa. Se houvesse alguém assim nessa nação,
eles deveriam tê-los usados nas duas batalhas anteriores.

Enfim, não posso descartar a possibilidade de que alguém assim seja cauteloso comigo e,
portanto, fique à espreita. Mas bem, dada a personalidade daquela mulher, eu duvido
muito... se houvesse alguém assim, não seria incomum o Demiurge me informar sobre eles.

Não seria incomum. Enquanto pensava naquelas palavras, Ainz se perguntou:

É realmente esse o caso?

Certamente Demiurge jamais imaginaria que Ainz não teria entendido, mesmo ele não
dizendo nada, não é mesmo?

...Ah, quanto mais eu penso sobre isso, mais meu estômago dói...

Se tal erro tivesse acontecido, então ele deveria reunir sua determinação e se sentar
com Albedo e Demiurge para uma boa conversa.

Eventualmente, o Wraith retornou.

“Encontrou alguém?”

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O Wraith respondeu negativamente. As orelhas de Ainz não tinham captado nenhum
som suspeito.

“Então é assim? Certo, esconda-se nas paredes e fique atento aos arredores.”

Depois de o ver entrar em uma parede, Ainz se preparou mentalmente.

Vejamos, irei conjurar 「Message」 e prosseguir.

Era uma coisa simples, mas ele não conseguia reunir determinação para fazer.

Ele se sentia como um empregado que sabia que seria repreendido por seu chefe depois
de retornar ao escritório.

Mas obviamente, ele não poderia ficar assim para sempre. Seu coração também ficaria
pesado se Demiurge o contatasse primeiro.

“Meu eu, é hora de fazer isso!”

Depois de se animar, ele enviou uma 「Message」 para Demiurge. Ele havia ensaiado
o que queria dizer em sua cabeça inúmeras vezes e fizera simulações mais do que sufi-
cientes. Tudo o que ele tinha que fazer agora era dizer.

No entanto, a 「Message」 conectou antes que ele pudesse respirar profundamente


para aliviar seu estresse — ou melhor, não houve praticamente nenhum atraso entre
lançar a magia e abrir um canal de comunicação para Demiurge. A resposta foi muito
rápida.

“Demiurge, é você?”

『Certamente sim, Ainz-sama.』

“Ótimo.”

Ele praticou isso muitas vezes. Tudo o que ele tinha que fazer agora era dizer isso:

“...Eu queria saber se possui alguma dúvida sobre a divergência de minhas ações no
relatório e, por conta disso, entrei em contato com você. Embora eu entenda o que você
quer dizer, sinto que a Albedo também deveria estar presente se houver perguntas de-
talhadas. Volte para Nazarick sem demora. Eu voltarei agora também. Nós nos encontra-
remos na cabana da superfície.”

『Entendido. Por minha vez, então entrarei em contato com a Albedo.』

“Ahh, por favor o faça.”

Capítulo 4 O Cerco
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Ele imediatamente encerrou a 「Message」. Depois disso, Ainz suspirou profunda-
mente.

Ah, isso é bom. Ele não parecia bravo. Ahhh, isso foi assustador. O que devo fazer se um
subordinado talentoso ficar com raiva de mim?

Ele pensou. O coração de Ainz estava cheio de medo; a fim de se sentir à vontade, ele
canalizou nova força em seu corpo enfraquecido e olhou para a parede.

A missão do Wraith estava completa. Graças ao fogo amigo, ele poderia destruir unde-
ads como Shalltear fez, mas não havia necessidade de desperdiçar sua força. Ordená-lo
a retornar também era uma tarefa simples. Aliás, não havia necessidade de falar; ele po-
deria simplesmente emitir um comando mental. Dessa forma, ele poderia quebrar o vín-
culo tênue entre eles.

Dito isto, havia inúmeros vínculos desse tipo em E-Rantel. Lá, ele não estava confiante
em ser capaz de dar uma ordem concisa sem falar. Isso era a mais pura verdade. No en-
tanto, Ainz tinha feito poucos undeads neste lugar, então a emissão de um comando bem
definido seria bastante simples.

—Desapareça. A seguir, para retornar a Nazarick por um tempo...

A seguir, seria uma tarefa muito assustadora — uma tarefa de desilusão que tinha que
ser completada. Se possível, ele gostaria que houvesse alguém para lidar com isso, mas
no momento era impossível. Além disso, a quem mais ele poderia entregar tal tarefa?

Ele tocou os itens mágicos que estavam na cama, pertencentes aos três demi-humanos,
na esperança de limpar seu desconforto.

Fufu~ São fracos, são baratos, mas ainda assim, a obtenção de itens mágicos neste mundo
me deixa feliz... bem, talvez eu não seja tão feliz quanto o Pandora’s Actor, mas eu sinto que
gosto de itens mágicos também, huh?

A primeira coisa que ele fez foi avaliar os itens mágicos pertencentes a demi-humana
de quatro braços. Entre eles, estava a braçadeira que a havia protegido contra a magia
[ B r a ç a d e i r a Guarga-Morte]
de morte instantânea de Ainz, e seu nome era a Deathguard Armband. Poderia conceder
imunidade à magia da morte uma vez por dia.

Ainz pegou-a e girou-a na mão várias vezes, depois a colocou de volta na cama.

Chatos. Se ao menos houvesse itens melhores. Então—

Assim que ele estava prestes a sair, ele ouviu o som de bater na porta. Uma voz do ex-
terior disse: “Vossa Majestade, sou eu, Neia Baraja.”

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Ainz imediatamente se inspecionou. Então ele olhou ao redor do quarto para assegurar
que seu porte era o do soberano absoluto conhecido como Rei Feiticeiro. Depois disso,
ele lentamente se acomodou em uma cadeira e a pose que ele adotou foi o Rei Ainz No.
24.

“—Entre.”

Ele fez o melhor que pôde para falar em voz calma e grave. Essa mudança no tom tam-
bém foi o resultado das repetidas práticas.

A porta se abriu e Neia — seus ferimentos agora se recuperaram — entrou na sala e se


curvou para ele.

“Sou profundamente grata por ter recebido permissão para entrar, Vossa Majestade. Eu
vim aqui para cumprir minhas obrigações como escudeira.”

“Uhum. Estou feliz que tenha vindo, Srta. Baraja. Mas não há necessidade de cumprir as
obrigações de escudeira hoje. Mesmo que suas feridas tenham sido curadas, o cansaço
da batalha deve—”

Ah, aquilo resolveu tudo.

Pensou Ainz. A poção que ele usou naquela época foi uma que removia tanto fadiga,
quanto exaustão. Era uma poção que Nfirea — com sua pele seca e áspera — elogiara os
céus.

“Eu sou capaz de cumprir minhas obrigações como escudeira graças ao poder de Vossa
Majestade. Além disso, estou muito feliz por poder ficar ao lado de Vossa Majestade.”

Neia sorriu — ou foi um sorriso pretensioso? Seu corpo naturalmente ficaria na defen-
siva em face de um sorriso hostil ou maligno, mas a postura real de Ainz era inquebrável.

“...Mesmo? Bem, no momento devo retornar ao Reino Feiticeiro por um tempo para li-
dar com algumas tarefas críticas. Peço desculpas por desperdiçar sua viagem.”

“Entendo...”

Ela parecia muito triste, mas não parecia fofa em nenhum sentido da palavra. Tudo o
que ele conseguia pensar era que ela olhava com raiva para ele. No entanto, Ainz já havia
pensado em uma maneira de lidar com Neia.

Tudo o que ele tinha que fazer era fechar os olhos. Dessa forma, seus olhos não mais o
assustariam.

“Falando nisso, eu estou feliz que você esteja bem— que esteja viva, Srta. Baraja.”

Capítulo 4 O Cerco
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“Muito obrigada, Vossa Majestade! Tudo isso é graças ao seu poder. Em particular, sem
esta armadura, eu poderia não ter conseguido resistir até que Vossa Majestade chegasse.”

Mas você não resistiu né... você morreu... bem, tudo fica bem quando acaba bem. Falando
nisso, ouvi dizer que ela estava lutando nos muros da cidade, então dando-lhe a armadura
que poderia se defender contra ataques à distância foi a escolha certa!

“Fufu. Bem, isso é bom de ouvir. O que me diz do arco? Você mostrou o quão forte ele é
para as massas?”

“Sim... muitas pessoas viram o incrível poder deste arco... apesar de estarem todas mor-
tas agora.”

“Quê—!? Entendo, então foi o que aconteceu. Que pena.”

Ele falhou novamente. Ainz estava cheio de um profundo sentimento de arrependi-


mento. Se todo mundo que viu estava morto, não era diferente de ninguém ver.

Talvez eu devesse desistir de tentar promover armas rúnicas...

Pensou Ainz.

Ainda assim — acho que deve haver mais chances para isso. Mesmo que esse plano falhe,
isso não significa que eu perdi, e haverá grandes benefícios se for bem-sucedido.

“Tenho certeza de que sem o equipamento que Vossa Majestade me emprestou, eu es-
taria no Céu com os outros... muito obrigada, Vossa Majestade.”

Ainz sentiu que suas palavras vinham do coração, e assim Ainz pensou:

Belo trabalho.

Claro, ele não podia expressar essa emoção. Afinal, ele teve que continuar mostrando a
ela um equilíbrio de governante.

“Não é nada de mais. Tudo o que você precisa saber é que o dever de um mestre é pro-
teger seus seguidores.”

Ainz abriu os olhos em uma pequena fenda para estudar sua reação. O rosto de Neia se
contorceu ligeiramente quando ela ouviu a palavra “seguidores”. Provavelmente não era
raiva, mas parecia uma espécie de infelicidade. Dado sua atitude atual e considerando
que o fluxo da conversa fosse confiável, não era esse o caso.

Em outras palavras, abrir os olhos foi um erro. Ainz fechou os olhos novamente.

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“Muito obrigada, Vossa Majestade. Além disso, as pessoas que Vossa Majestade salvou
também desejam que eu expresse a gratidão deles ao senhor.”

“Ho...” É isso aí!

Ainz lutou para esconder o jeito que ele se sentia.

“Você não precisa se preocupar com isso. Eu os salvei apenas pelo acaso, pois eles esta-
vam lá. Mas espero que eles não esperem que essa boa sorte se repita, eu usei bastante
mana nesta batalha, então eu posso não ser capaz de ajudar da próxima vez, sabe?”

“Sim senhor, vou transmitir sua mensagem para eles.”

“Ahh. No entanto... isso mesmo. Por favor, informe a essas pessoas que estou feliz em
receber a gratidão deles... por agora, Srta. Baraja, peço desculpas, mas realmente preciso
ir. Depois disso— sim, você pode voltar daqui a quatro horas?”

“Sim! Não há problema algum! Então, por favor, com sua licencia, Vossa Majestade!”

Neia saiu do quarto e Ainz abriu os olhos.

Hm. A gratidão dela parece bastante genuína. Parece que no fim eu consegui uma pessoa.
Não, como diz o ditado, grandes coisas têm pequenos começos. Devo dar poções de cura
gratuitas como propaganda? Isso deve me render mais gratidão... mas pode compensar o
erro com as armas rúnicas?

Ainz tirou a poção roxa.

Esta era a poção de Nfirea. Sua qualidade era ligeiramente inferior à das poções feitas
por YGGDRASIL, e ainda estava em fase de desenvolvimento. No entanto, seus efeitos
podem ser aprimorados no futuro, ou ele pode acabar fazendo as poções vermelhas de
YGGDRASIL.

Teria sido muito cansativo espalhar a notícia das poções vermelhas de YGGDRASIL por
nada, então eu não as usei... ainda assim, eu não sei se as pessoas que estão acostumadas
com poções azuis podem aceitar poções roxas. Usá-los aqui e coletar os resultados parece
um bom plano.

Mesmo pensando isso, ele pretendia que Nazarick escondesse as poções que Nfirea e
sua avó tinham feito. Ele não planejou distribuir a tecnologia. Mas claro, esse plano pode
mudar no futuro, e pode chegar o momento em que ele poderia vender essa poção. Seria
bom estar preparado para tal situação.

Isso é complicado. Há méritos e deméritos de ambos os lados...

Capítulo 4 O Cerco
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Francamente... o fato dele estar discutindo sua vida sexual comigo só me causa problemas.
Quero dizer, pelo menos eles não estão fazendo isso na minha frente, mas seria ruim se
saísse a notícia de que ele comenta comigo essas coisas da intimidade dele com a esposa,
não?

Em primeiro lugar, por que o Nfirea está discutindo isso comigo? É porque ele não tem
parentes homens e está longe da cidade em que viveu até agora, então ele concluiu que não
tinha ninguém com quem conversar? Pelo que sei, ele pode estar pensando que a Narberal
e eu temos esse tipo de relacionamento.

Mas ele deve saber que meu corpo é um esqueleto...

Mesmo que Ainz desejasse espioná-los à noite para satisfazer sua curiosidade, ele sentia
que, ao fazê-lo, isso mudaria sua atitude em relação aos dois, por isso reprimira este
impulso. No entanto, era preciso um grande esforço para fazer tal curiosidade — que
passava por sua mente toda vez que Nfirea vinha discutir isso com ele — desaparecer.

Eu me lembro de algo sobre dar uma sensação muito boa, então ele pediu para fazer
aquilo várias vezes... poderia ser a razão pela qual ele fez uma grande quantidade daquela
poção — algum tipo de suplemento nutricional, eu acho — e então deu para mim foi por-
quê...

De todo modo, ele decidiu dar o frasco para aqueles dois Lizardmen para que eles tra-
balhassem arduamente para criar mais crianças raras.

Os frutos da tecnologia são aplicados primeiramente aos militares, depois ao sexo e por
fim na medicina. Isso é verdade? ...Ah, hora de voltar.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


121
Capítulo 05: Ainz Morre

Capítulo 4 O Cerco
122
Parte 1

avia um total de quatro pessoas na sala.

H Havia dois paladinos, que vieram direto para cá depois da luta e ainda es-
tavam em armaduras manchadas de sangue — Remedios Custodio e Gustav
Montagnés. Havia a pessoa encarregada dos sacerdotes sobreviventes, um
homem de meia-idade que poderia usar magias de 3º nível — Ciriaco Naranjo. E por fim
o Príncipe Caspond Bessarez.

Dois deles vieram do campo de batalha e um deles estava encarregado de curar os feri-
dos. Como resultado, o quarto do Príncipe Caspond estava cheio de fedor de sangue.

Remedios ainda não havia removido o elmo. Essa não era a etiqueta apropriada para
visitar os aposentos de um Príncipe — pode-se até dizer que isso era desrespeitoso —,
mas Caspond não parecia incomodado com isso e parecia muito calmo.

Ao mesmo tempo, a atmosfera na sala era terrível, embora não por causa do ponto pre-
cedente. Claro que o cheiro não era dos melhores, mas havia algo mais de desagradável.
Era tão pesado que parecia até entorpecer a luz do sol entrando pela janela.

Não era assim que estas pessoas, que haviam vencido adversidades extremamente des-
favoráveis, deveriam agir.

Caspond foi o primeiro a falar nesse pesado silêncio. Ainda assim, quem mais poderia
falar primeiro, senão ele?

“Então me fale sobre nossa situação de casualidade.”

“Dos seis mil milicianos que trouxemos para o campo de batalha, aproximadamente
dois mil e quatrocentos deles foram feridos ou mortos.”

“...Se eu puder acrescentar às palavras do Vice-Capitão-dono, houve cerca de mil feridos.


Os sacerdotes tentaram curá-los, mas não conseguimos chegar à metade deles a tempo,
o que os levou a óbito.”

“...E então metade dos paladinos sobreviveu e oito sacerdotes morreram.”

Caspond fechou os olhos e sacudiu a cabeça ao ouvir as palavras de Gustav.

“Contra um exército como aquele... não podemos dizer que perdas como essas são boas,
mas não devemos ser gratos por termos perdido apenas isso? Ou deveríamos estar tris-
tes pelo grande número de vítimas—”

“O último.”

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


123
A voz ainda baixa de Remedios interrompeu Caspond.

“O último.”

“...A Capitã Custodio está certa. Devemos ficar tristes por ter sofrido essas perdas.”

Gustav e Ciriaco baixaram os olhos quando ouviram as palavras de Caspond.

Eles sabiam que era um milagre — embora feito pelo homem — que o Exército de Li-
bertação do Reino Sacro, em desvantagem numérica, tinha tantos sobreviventes, ainda
mais com o fato de terem enfrentado um exército de 40.000 demi-humanos. No entanto,
eles também entenderam que dizer algo como isso seria perturbador e improdutivo, en-
tão eles não tinham escolha a não ser fazer isso.

“Foi o Rei Feiticeiro quem derrotou as forças demi-humanas em sua formação?”

“Sim. Não temos certeza sobre os detalhes devido à falta de relatos de testemunhas ocu-
lares durante o caos de defender os muros da cidade, mas há rumores de misteriosas
criaturas undeads destruindo o exército.”

“Entendo. Isso combina com o que eu ouvi do Rei Feiticeiro. Então ele usou os undeads
que ele cria para exterminá-los — destruiu um exército enorme como esse, hm? Nesse
caso... você acha que o Rei Feiticeiro pode derrotar Jaldabaoth?”

Caspond desviou o olhar para Remedios, mas ela simplesmente franziu os lábios e per-
maneceu em silêncio. O ar altamente volátil em torno da paladina mais forte do Reino
Sacro fazia dela uma figura de trazer pavor aos fracos. Caspond afastou-se dela e dirigiu-
se para Gustav, que imediatamente mudou seu olhar profundamente apologético e bai-
xou a cabeça.

“Hahh... está tudo bem apostar todo o Reino nele? Ou melhor, devemos pensar no que
fazer se o Rei Feiticeiro perder para Jaldabaoth? Alguém tem alguma idéia para a melhor
coisa que podemos fazer se isso acontecer?”

Ele foi respondido pelo silêncio. Em meio a tudo isso, Remedios falou:

“Nesse caso, que tal chamar o Momon?”

As três pessoas, além de Remedios, se entreolharam com expressões austeras em seus


rostos.

Remedios — que sentia que era uma boa idéia — franziu a testa.

“O quê? O senhor tem alguma idéia melhor? É mais adequado que aquele maldito
undead, não?”

Capítulo 5 Ainz- Morre


124
“...Capitã. Estamos discutindo o que fazer se o Rei Feiticeiro morrer. Em tal situação,
esperar ir ao Reino Feiticeiro para obter mais ajuda seria muito arriscado.”

“Não necessariamente...”

Disse Ciriaco enquanto acariciava seu bigode branco, e completou:

“Um momento, por favor, Vice-Capitão-dono. A idéia da Capitã-dono é arriscada, mas


não é uma má jogada. Que tal mentir sobre o Rei Feiticeiro ser capturado por Jaldabaoth
e fazer com que o Momon venha?”

“Sacerdote-dono, isso seria muito perigoso. Mesmo que esse Momon derrotasse Jal-
dabaoth, a descoberta da mentira poderia desencadear uma guerra. Mesmo que tudo
corra bem, a impressão do Reino Feiticeiro sobre nosso país mergulhará para o fundo
do poço. E se as coisas correrem mal, Momon poderia muito bem se tornar um segundo
Jaldabaoth e liderar o exército de undeads do Reino Feiticeiro em nossa nação.”

“A vocês dois, precisamente. E o pior é que o Reino Feiticeiro terá uma injustiça justifi-
cada contra nós.”

Remedios inclinou a cabeça para a explicação de Caspond.

“Nós não somos adjacentes ao Reino Feiticeiro, então tudo bem, certo?”

“...Capitã Custodio, pare de pensar em coisas perigosas. Não quero adotar políticas que
nos ponham em perigo... isso significa que não tenho boas idéias. E vocês dois?”

Ciriaco e Gustav também não conseguiram pensar em nada.

A sala mergulhou num breve silêncio.

Eventualmente, Caspond falou em voz baixa.

“...Por enquanto, vamos voltar para nossos afazeres e pensar sobre isso por conta pró-
pria. Não haverá problemas se o Rei Feiticeiro puder derrotar Jaldabaoth.”

Disse Caspond batendo palmas e:

“Então vamos falar sobre outra coisa. E sobre as rações que os demi-humanos trouxe-
ram? Podemos comê-las normalmente? Se sim, quanto tempo elas podem durar?”

Normalmente, isso também pertenceria ao Rei Feiticeiro já que ele havia derrotado o
exército de demi-humanos, mas ele já havia dito que as entregaria gratuitamente.

Gustav respondeu. Ele estava encarregado de tarefas diversas como essa.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


125
“Parece haver um monte de pão endurecido de diversas formas e vegetais que seremos
capazes de comer. Graças ao ataque feito pelos undeads do Rei Feiticeiro, os mantimen-
tos foram capturados intactos, por isso estão em excelentes condições. Além disso, tam-
bém há alguns itens alimentícios que precisam ser investigados a fundo, como verduras
de cheiro azedo e assim por diante.”

Preservação de alimentos eram muito comuns no Reino Sacro. No entanto, estas eram
rações demi-humanas, então poderiam pertencer a uma espécie que comia comida apo-
drecida, razão pela qual Gustav disse que eles precisavam investigar mais a fundo.

“Há apenas um problema. Isto é, a carne.”

“O que quer dizer?”

O rosto de Gustav estava escuro quando ele olhou para Caspond.

“Uma parte da carne parece que veio de humanos. Essa conclusão veio dado ao formato
e não estamos certos disso. Talvez pudéssemos dizer se comermos, mas prefiro não ex-
perimentar, se Vossa Alteza não se importar.”

“Quanta carne estamos falando aqui?”

Ciriaco tinha um olhar enojado no rosto.

“Muitos demi-humanos comem carne, então há bastante. De relance, parece que metade
das rações que eles trouxeram são carne.”

“Quê!? Metade das rações para um exército de quarenta mil soldados é carne?”

Hipoteticamente, se um demi-humano comesse um quilo de carne por dia, isso daria 40


toneladas. Se eles tivessem o suficiente por duas semanas, seriam 560 toneladas. Nesse
caso— o príncipe agarrou seu rosto.

“...Quanto disso é carne humana?”

“Não sabemos. Verificar cada peça levaria muito tempo, ainda mais se não estiverem
em suas formas originais...”

“Seria uma pena descartar a comida quando o futuro parecer sombrio. Eu gostaria de
separar a carne humana da outra carne... Sacerdote Naranjo, suas magias podem fazer
alguma coisa quanto a isso?”

“Minhas desculpas, Príncipe. Nós não podemos fazer algo assim. Eu sinto que entre
meus colegas paladinos a conclusão será a mesma.”

Capítulo 5 Ainz- Morre


126
Caspond viu que Gustav assentiu e suspirou profundamente.

“Então magia não pode fazer tudo, não é? Que tal ter os demi-humanos cativos para
comê-la e assim descobrir qual é qual?”

“Devemos deixar os mortos descansar em paz. Se há carne humana, devemos devolvê-


la à terra.”

“Exatamente, Capitã Custodio... o que você acha, Vice-Capitão Montagnés?”

“Sim, eu concordo com a Capitã. Eu sinto que não importa o que aconteça, não teremos
tempo suficiente para investigar cada barril de carne. Devemos usar nosso tempo e es-
forço em outras áreas.”

“Entendo... muito bem, eu compreendo. Então, com relação à carne dos demi-humanos,
vamos descartar tudo o que parece questionável. Nesse caso, que tal as armas e arma-
duras dos demi-humanos?”

O Rei Feiticeiro também as entregou de graça, mas disse que estaria esperando algo em
gratidão, então eles teriam que entregar os itens apropriados se a hora chegasse.

Se eles pudessem derrotar Jaldabaoth ou recuperar a Capital Real, Caspond planejava


anunciar ao povo que estivera planejando entregar as riquezas da nação para o Reino
Feiticeiro.

“Primeiramente, recuperar o equipamento dos demi-humanos e enterrar os cadáveres


vai precisar de tempo, por isso nem teremos tempo para verificar a qualidade deles...
Sacerdote-dono, se algum undead surgir aqui, eles se tornarão os lacaios do Rei Feiti-
ceiro?”

Undead desovavam facilmente em lugares onde muitas pessoas morreram. Um lugar


onde mais de 10.000 demi-humanos haviam morrido se encaixava perfeitamente.

Ao ser abordado, um olhar profundamente angustiado apareceu no rosto de Ciriaco.

“Eu não sei. Eu realmente não faço idéia. Mas qualquer coisa pode acontecer, então de-
vemos lidar com os corpos e abençoar a terra o mais rápido possível. Eu gostaria de con-
fiar apenas em nossas forças para isso, mas nós simplesmente não podemos administrar
isso, então eu gostaria de obter alguma ajuda dos paladinos.”

“Ah, nós lidaremos com isso. Afinal, estamos acostumados a lidar com os undeads.”

“Eu não esperaria menos da Capitã Remedios, isso deixa meu coração aliviado... Se ape-
nas a Rainha Sagrada-sama ou Kelart-sama estivessem aqui...”

Todos ficaram em silêncio enquanto as palavras de Ciriaco diminuíam.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


127
Depois do que pareceu um período de oração silenciosa, Caspond falou:

“Ah, algo nesse ponto, Vice-Capitão Montagnés. O Rei Feiticeiro parece querer levar os
itens mágicos de volta para sua nação, então ele os escolheu primeiro. Claro, ele devol-
verá qualquer coisa que pertença ao Reino Sacro.”

“Entendido. Dito isso, embora tenhamos algum conhecimento sobre espadas e armadu-
ras, teremos dificuldades com outros itens. Se alguém aqui tem conhecimento de itens
mágicos, eu gostaria que se manifestem e ofereçam ajuda.”

“Eu posso ajudar se for relacionado a itens passados pela família real. Quanto a itens
religiosos, porém—”

Ciriaco assentiu enquanto Caspond olhava para ele.

“—Nesse caso, vamos buscar ajudantes civis. Ainda assim, isso foi realmente inespe-
rado. Não, devemos dizer que foi mais do que esperávamos. Devemos agradecer ao po-
der do Rei Feiticeiro por superar nossas expectativas.”

Ninguém presente expressou objeções. Em meio ao silêncio, Caspond falou novamente,


como se fosse um representante de tal sentimento.

“Esta cidade não caiu graças ao poder do Rei Feiticeiro.”

Houve um som muito audível de dentes rangendo, e Caspond olhou preocupado para
Gustav.

“Enfim, precisarei agradecê-lo em nome do Reino Sacro. Quando chegar a hora, espero
que todos vocês estejam presentes... em qualquer caso, poder aproveitar o poder do Rei
Feiticeiro e conquistar a vitória é uma ocasião alegre.”

“Nós fizemos o nosso melhor também. Não se esqueça disso.”

As palavras de Remedios pareciam congelar o ar da sala. Não, foram apenas duas pes-
soas que ficaram congeladas; Gustav e Ciriaco.

A boca de Gustav se abriu e fechou como uma koi. Parecia que ele não tinha idéia de
como se desculpar pelo desabafo de sua superior.

“...Certamente. Capitã Remedios, é fato que não teríamos vencido essa batalha sem a
feroz resistência que você e o povo fizeram.”

Caspond viu Remedios acenar com a cabeça e continuou falando.

Capítulo 5 Ainz- Morre


128
“No entanto— também é um fato que sem a ajuda do Rei Feiticeiro, nós teríamos per-
dido, e é tão verdadeiro que ele poderia ter ganho sozinho. Estou errado?”

Remedios arrancou violentamente o elmo e o jogou contra a parede, fazendo um es-


trondo alto.

“Vossa Alteza! Aconteceu alguma coisa!?”

A porta da sala se abriu e os paladinos de guarda do lado de fora entraram correndo.

“Nada aconteceu. Continuem esperando do lado de fora.”

Os olhos dos paladinos foram de um lado para o outro, entre o elmo de Remedios e o
olhar em seu rosto, e eles perceberam o que havia acontecido. Depois de indicar que
entenderam, eles saíram da sala em silêncio.

“Capitã Custodio, por favor, não fique nervosa. Se acalme, é tudo que peço.”

“Como posso me acalmar!? Quase todo mundo que conheci no caminho até aqui fica
elogiando ele! É como se ele ganhasse tudo sozinho! Parece que se esqueceram, mas ele
só apareceu agora! Quantas pessoas morreram antes dele vir e ganhar! Essa foi uma vi-
tória paga pelas vidas das pessoas, paladinos, sacerdotes, homens, mulheres, idosos e
crianças!”

Remedios olhou para Caspond.

“Não é verdade que ele ganhou isso sozinho!”

“Capitã!”

Gustav não conseguia mais esconder o medo do modo como Remedios agia em frente
ao Príncipe. Remedios nunca foi de pensar, mas pelo menos ela era esperta o suficiente
para saber quem era seu superior. No entanto, as coisas eram diferentes agora — ela
parecia uma fera enlouquecida pela amargura.

“Aquele cretino esquelético estava voando no céu quando tudo acabou, só para se mos-
trar! A guerra é um joguete para ele?”

“...Capitã Custodio, parece que testemunhar a mortes de tantos plebeus tem te pertur-
bado. Você gostaria de descansar?”

Em resposta à pergunta madura de Caspond, Gustav lançou um olhar de gratidão ao


homem.

“Antes disso, há uma coisa em que tenho pensado. Tenho certeza de que Jaldabaoth e o
Rei Feiticeiro estão juntos um com o outro.”

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


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As três pessoas, além de Remedios, se entreolharam.

“Você tem um único fato para comprovar isso, Capitã-dono?”

Ciriaco olhou friamente para Remedios. Se alguém olhasse calmamente para o que ela
tinha feito até agora, ela estava claramente dizendo isso porque odiava o Rei Feiticeiro
e queria derrubá-lo. Agora não era hora de deixar as preferências pessoais de alguém
ditar decisões importantes.

“Ele não é o único a ganhar com isso? Os demi-humanos e as pessoas do Reino Sacro
estão mortas. Ele— o Reino Feiticeiro está desgastando a nossa força de luta, a fim de
um dia assumir o controle da nação e das Colinas! É por isso que ele veio aqui!”

“...Entendo. Isso certamente faz sentido do ponto de vista do lucro. O que vocês dois
pensam?”

Gustav franziu as sobrancelhas enquanto respondia à pergunta de Caspond.

“O Rei Feiticeiro veio aqui porque pedimos a ele. Além disso, não foi a sugestão da Ca-
pitã para que os dois lutassem?”

“...De fato foi. Aquela cadela mascarada da Rosa Azul também deve estar em conluio
com eles. Se não fosse pelo que ela disse, nunca teríamos ido ao Reino Feiticeiro. Se não
fosse por sugestão dela, teríamos ido ao Império ou à Teocracia. E quem sabe, ele pode-
ria ter vindo mesmo se não disséssemos nada.”

Haaaaah, Caspond suspirou profundamente.

“Capitã Custodio, sua lógica não tem sido nada além de egoísta desde o começo. Você
está simplesmente distorcendo os fatos para se adequarem melhor à sua visão das coisas.
Lembro-me do Rei Feiticeiro dizendo que ele queria as empregadas demônios, estou er-
rado?”

“...Por favor, perdoe-me por dizer estas coisas que são impróprias para um sacerdote.
Ouvi dizer que essas empregadas demônios são bem poderosas. Nesse caso, posso enten-
der o porquê o Rei Feiticeiro gostaria de obtê-las. Demônios não precisam comer ou be-
ber, além de ter longevidade indeterminada. Ser capaz de dominar ditas entidades po-
derosas pode ser melhor do que ganhar um exército.”

“Nesse caso, isso significaria que o Rei Feiticeiro está ajudando nossa nação porque ele
sentiu que havia valor suficiente nela. É apenas senso comum para um rei que governa
uma nação.”

“Mesmo se for o caso, ninguém viu esses demônios antes, certo!!?”

Capítulo 5 Ainz- Morre


130
Enquanto Remedios gritava no apogeu de suas emoções, Caspond olhou para ela como
se ela fosse uma criança deplorável e triste.

“Capitã Custodio. Eu gostaria de ter uma conversa racional com você, e não emocional,
mas parece que você está cansada. Vá e descanse. Isso é uma ordem.”

Remedios com o rosto completamente vermelho ainda parecia querer gritar outra coisa,
mas Caspond estava um passo à frente dela e continuou falando:

“Vá visitar os homens feridos. Isso faz parte dos seus deveres como comandante de
campo, estou errado?”

“...Como desejar, Alteza.”

Remedios pegou o elmo e saiu da sala.

Não havia como descrever como o ar da sala relaxava depois disso. Parecia a sensação
de cansaço que uma pessoa teria depois que uma tempestade passasse e todas as peças
tivessem sido recuperadas, misturadas com uma sensação de alívio pelo fato de que al-
guém conseguira sobreviver.

No entanto, um homem ainda não havia terminado.

“Vossa Alteza! Peço sinceras desculpas pelas ações da Capitã Custodio!”

Caspond sorriu amargamente para Gustav quando este inclinou a cabeça.

“Deve ter sido muito difícil para você também. Mas seria demais pedir para pensar no
futuro? Eu honestamente não tenho idéia do que vai acontecer com este país depois que
esta guerra acabar. Se ao menos pudéssemos encontrar minha irmã, a Rainha Sagrada...
o que aconteceu com a Rainha Sagrada durante a batalha de Kalinsha? Você ouviu al-
guma coisa da Capitã Custodio?”

Gustav era assistente pessoal de Remedios. Portanto, ele teria estado presente quando
Remedios contou a Caspond sobre isso.

O fato dele já saber, mas ainda assim perguntar novamente provou uma coisa — o Prín-
cipe suspeitava que Remedios poderia estar mentindo para ele.

“...Meu Príncipe, o que eu ouvi da Capitã Custodio foi exatamente o mesmo que ela disse
a Vossa Alteza quando nos encontramos pela primeira vez.”

Ela havia sido arremessada longe por uma onda de choque e quando chegou, a Rainha
Sagrada e sua irmã — Kelart Custodio — não estavam em lugar nenhum. Embora hou-
vesse cadáveres de paladinos e aventureiros e sacerdotes por toda parte, os corpos da-
quelas duas não estavam em lugar nenhum.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


131
“Então é isso? Talvez eu estivesse me preocupando demais... Capitã Custodio não parece
uma daquelas pessoas que jogam verde para colher maduro. Seria melhor pensar que
elas foram capturadas. Pois se fossem mortas... a questão da sucessão se tornaria muito
complicada.”

Assustado, Ciriaco fez uma pergunta.

“Caspond-sama, está farto da posição do Rei Sagrado?”

“Você está me lisonjeando? Na verdade, esse poderia ser o caso se minha irmã tivesse
morrido de um acidente em circunstâncias normais. No entanto, as coisas são diferentes
agora. O Norte está cansado e o Sul ainda tem a capacidade de lutar. Nesse caso, é muito
provável que o Sul possa apoiar alguém para ser o Rei Sagrado. E sendo honesto, é muito
provável que um dos grandes nobres do Sul possa acabar como o Rei Sagrado.”

“O quê!?”

Caspond sorriu ao olhar para o rosto chocado de Ciriaco.

“Eu não acho que isso seja uma grande surpresa... nesse caso, em relação ao que o Vice-
Capitão Montagnés disse anteriormente, se as coisas correrem bem, a primeira coisa que
os nobres do Sul farão é pedir que a Capitã Custodio se responsabilize por tudo e a colo-
carão sob prisão domiciliar.”

“Por que eles fariam isso?”

“Então eu vou perguntar a você, Vice-Capitão Montagnés — por que eles não fariam
isso? Uma paladina que falhou em proteger Sua Majestade Sagrada não é a saída perfeita
para tal infelicidade? E claro, essa não é a única razão também. Ela sozinha pode vencer
um exército. Nesse caso, certamente fragmentar seu inimigo é uma tática básica na
guerra, estou errado?”

“O inimigo!? Quem é o inimigo!?”

“Os inimigos dos nobres do Sul. Em outras palavras, a facção da Rainha Sagrada. Reme-
dios Custodio era confidente da Rainha Sagrada. Certamente os paladinos que ela lidera
também seriam vistos como inimigos, estou errado?”

“Nesse caso, e sobre os sacerdotes que a Kelart Custodio-sama é responsável?”

“Mesmo que haja sacerdotes que subiram de patente graças a suas conexões com os
nobres do Sul... não acha que seria o caso também? Magia sacerdotal é indispensável na
vida cotidiana. Eu sinto que alguém minimamente inteligente sabe o quão estúpido é
colocar alguém incompetente em um alto cargo, as pessoas às vezes fazem coisas que só
podem ser descritas como tolas pelos outros.”

Capítulo 5 Ainz- Morre


132
“Meu Príncipe... o que devemos fazer?”

“Vice-Capitão Montagnés, o que quer dizer com isso? Você quer impedi-la de ser colo-
cada em prisão domiciliar? Ou quer evitar que os paladinos se envolvam?”

“Eu quero um futuro melhor para o Reino Sacro.”

“...Precisamos encontrar minha irmã. Então, precisamos de uma conquista que todas as
pessoas aceitarão como tendo salvo a nação. Por exemplo, expulsando o inimigo sem ter
que aproveitar a força do Sul.”

“Isso é impossível... não podemos vencer sem o poder do Rei Feiticeiro.”

Caspond olhou para Gustav, que estava reclamando inconscientemente, e deu de om-
bros.

“Ainda assim, isso precisa ser feito. Caso contrário, não haverá maneira de parar a pres-
são do Sul depois que vencermos. Sim, ou poderíamos danificar o Sul tanto quanto o
Norte. Tudo o que importa é que o equilíbrio de poder seja preservado no final.”

Caspond olhou para o teto antes de continuar:

“Se ao menos tivéssemos feito um acordo com o Sul mais cedo. Ela era muito gentil para
seu próprio bem. E eu entendo como tudo isso poderia ter pisado no calo da Capitã Cus-
todio. Afinal, o único que parecia bem nessa batalha era o Rei Feiticeiro. Se as coisas
correrem mal, o Rei Feiticeiro pode acabar se tornando o Rei Sagrado também, estou
errado?”

Os outros dois acharam que era impossível, mas nenhum deles podia negar isso.

“Nesse caso, precisamos começar a pensar sobre nossos planos a partir de agora. Eu
gostaria que a Capitã Custodio estivesse aqui, mas ela desobedeceria a uma ordem di-
reta?”

“...Eu acho que estaria tudo bem, desde que esteja de acordo com a justiça deste país.”

“Entendo... eu tenho pensado em como atacar os campos de prisioneiros. A razão para


isso é—”

Caspond começou a explicar.

Cerca de 100.000 demi-humanos atacaram a nação.

Uma vez que não tinham ouvido falar de quaisquer movimentos dos demi-humanos
contra as forças do Reino Sacro do Sul, eles estimaram que os 40.000 demi-humanos que

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


133
os atacaram desta vez eram uma grande parte das forças designadas para administrar
os campos de prisioneiros na região Norte.

“Concordo com sua opinião. Ao atacar os campos de prisioneiros, podemos destruí-los


aos poucos e, ao mesmo tempo, aumentar nossas próprias forças. Eu sinto que vai matar
dois coelhos com uma cajadada só.”

“Vice-Capitão Montagnés, fico feliz em ouvir você aprovar. E quanto a você, Sacerdote
Naranjo?”

Ciriaco também concordou com a sugestão de Caspond.

“O Rei Feiticeiro está nesta cidade. Já que ele pode nos manter seguros, eu gostaria que
os paladinos atacassem os campos de prisioneiros... você pode fazer isso? Além disso,
mais uma coisa. Eu gostaria que a Capitã Remedios ficasse aqui enquanto você está lan-
çando o ataque. Faça-a pensar que ela está encarregada de me proteger.”

“Muito obrigado, Meu Príncipe!”

“...Eu acho que não disse nada que precisasse de agradecimento, Vice-Capitão Montag-
nés.”

Disse Caspond, quando o sorriso desapareceu de seu rosto ele disse:

“...A ausência da paladina mais forte do país significa que se houver alguém como o
Grandioso Rei no campo de prisioneiros que atacar, todos vocês podem ser eliminados,
estou errado?”

“Podemos decidir qual campo atacar?”

“Mas é claro. Deixarei que decida. Não há necessidade de se forçar a atacar um grande
campo que é mais perigoso.”

“Entendido. Nesse caso, sinto que devemos ir.”

“Vice-Capitão Montagnés, alguns de nossos sacerdotes capazes de lutar poderiam


acompanhá-lo?”

“Certamente. Então, iremos daqui a alguns dias.”

♦♦♦

Ainz usou 「Greater Teleportation」 para alcançar seu destino, que estava em frente à
cabana de madeira na superfície de Nazarick. Albedo, Demiurge e Lupusregina já esta-
vam lá, embora não soubesse há quanto tempo estavam esperando.

Capítulo 5 Ainz- Morre


134
Albedo e Demiurge foram convocados por Ainz, enquanto Lupusregina deve ter sido a
encarregada da cabana.

Como Lupusregina estava encarregada de todos os assuntos relacionados ao Vilarejo


Carne, ela deveria ter sido dispensada da escala de serviço da cabana, mas isso não eram
em indefinidamente.

Talvez outra pessoa estivesse encarregada, mas não chegou a tempo, então Lupusre-
gina tinha vindo em vez disso. Seria maravilhoso se fosse o caso. Afinal de contas, isso
implicaria que, mesmo que houvesse falta de mão de obra, um sistema de para compen-
sar o déficit já estava em funcionamento.

Ainda assim, espere aí.

Mesmo as Pleiades possuindo aptidões táticas completamente diferentes, suas habili-


dades de empregada eram iguais. Só fazia sentido que pudessem substituir alguém nessa
capacidade profissional.

No entanto, em contraste com isso, havia também pessoas que eram difíceis de substi-
tuir. Começando com os Guardiões de Andar e a Supervisora Guardiã, havia alguns NPCs
com habilidades altamente especializadas que poderiam precisar de alguém para subs-
tituí-los por uma razão ou outra. Isto era especialmente verdade porque Ainz estava tra-
balhando arduamente para estabelecer um sistema de férias.

Afinal, deixar o Pandora’s Actor substituir todos também é perigoso.

Para tomar um caso extremo, e se o próprio Ainz não estivesse por perto? Por exemplo,
se ele estivesse preso, ou se fosse vítima de magias, encantamentos de charme e coisas
assim. Embora ele não achasse que tudo entraria em caos sem ele para tomar decisões,
ele tinha a impressão de que Albedo e Demiurge diriam: “Ainz-sama nunca deixaria isso
acontecer a si mesmo”, e, portanto, não planejariam circunstâncias imprevistas.

Eu preciso avaliar seriamente a necessidade disso, e rápido.

Em um tom grave, Ainz ordenou que as três pessoas que se curvavam para ele para
levantar a cabeça.

“A quanto tempo, Demiurge.”

“Sim, senhor!”

Na verdade, Ainz agonizou sobre os assuntos do Reino Sacro todos os dias, assim como
também pensava em Demiurge diariamente, então tecnicamente não fazia tanto tempo.
Mas de fato, fazia muito tempo desde que se encontravam pessoalmente.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


135
“Então, você provavelmente tem dúvidas sobre o porquê eu agi da maneira que agi.
Embora eu gostaria de lhe responder de imediato, falar neste lugar não é muito apropri-
ado. Vamos a um lugar mais reservado.”

Ainz foi o primeiro a entrar na cabana de madeira.


[ E s p e l h o d o Portal]
Ele poderia ter vindo aqui imediatamente pois havia um Mirror of Gate configurado,
mas ele não o usou hoje.

Havia uma mesa no centro da sala e havia duas cadeiras de frente uma para a outra em
cada lado dela. Ainz tomou o assento de honra com familiaridade e sem hesitação. Ele já
havia experimentado diversas vezes os problemas que surgiram de não fazer tal ato. An-
tes ele precisava ponderar qual era o primeiro lugar antes de se sentar, ele agora alcan-
çou o ponto onde ele poderia inconscientemente tomar o lugar de honra.

Quando ele se aproximou da cadeira, Lupusregina imediatamente puxou a cadeira para


que se sentasse.

Na verdade, ele era da opinião de que deveria puxar a cadeira para si mesmo. Porém,
suas observações de Jircniv o fizeram entender que era muito importante para um go-
vernante deixar seus subordinados trabalharem. Ainda assim, deixá-los lidar com tare-
fas triviais como essa deu a Ainz, uma pessoa comum, um pouco de dificuldade.

Depois que Ainz se sentou, Albedo e Demiurge não se sentaram, mas genuflectiram no
chão. Atrás deles, Lupusregina genuflectiu imediatamente também.

“—Eu permito que vocês dois se sentem.”

Os dois guardiões educadamente recusaram em uníssono. Ainz mais uma vez concedeu
sua permissão para os dois Guardiões, quando eles finalmente se sentaram em frente a
Ainz depois de um grande agradecimento e gratidão. Lupusregina, por outro lado, ficou
de pé atrás dos dois.

Isso demora tanto e é uma perda de tempo. Não poderia ser mais simples como... ugh.

“Então, vamos continuar nosso tópico anterior. Antes eu disse que não havia ninguém
que precisasse ser salvo, porém, eu resgatei as pessoas do Reino Sacro. Tenho certeza
de que você tem suas perguntas sobre isso, não tem?”

“Não, não mesmo.”

—Eh? P-por quê?

Demiurge balançou a cabeça suavemente, incapaz de resistir ao desejo de suspirar de


admiração.

Capítulo 5 Ainz- Morre


136
“Tudo que o senhor faz está correto, Ainz-sama. Eu sinto que a razão pela qual o senhor
fez isso foi porque viu que tinha méritos que sequer posso imaginar.”

“Exatamente. Se o senhor acha que precisava ser feito, então deve estar correto, Ainz-
sama.”

—Eh?

As palavras de Albedo congelaram as expressões faciais de Ainz. Mas claro, Ainz não
tinha expressões faciais que demostrassem isso.

O modo como os dois Guardiões — que eram também os Guardiões mais experientes
em Nazarick — concordaram em uníssono diante dele, o preencheu com vários sabores
de terror e ansiedade.

“Espere, espere. De fato... sim, é verdade.”

Ainz começou a entrar em pânico. A conversa percorrera um caminho ligeiramente di-


ferente do que ele previra, e por isso ficou confuso e não conseguia pensar claramente
no que queria dizer. No entanto—

“—Na verdade, em circunstâncias normais, eu teria agido como o senhor imaginou.”

Huh?

Ainz estava um pouco confuso. Ele lutou para forma algumas frases e usar conforme
apropriado. Mesmo assim, os dois continuaram assentindo vigorosamente, e Ainz achou
isso um pouco estranho. Ele continuou falando, esperando desesperadamente ser salvo
no último segundo.

“No entanto... sim, no entanto. Desta vez foi um pouco diferente. Eu não fiz isso porque
estava planejando algo.”

Tendo encontrado uma maneira de emendar suas palavras, Ainz continuou aprazido:

“Desta vez, eu estava deliberadamente introduzindo uma falha no plano.”

“Qual seria a razão para isso, Ainz-sama?”

Ainz se inclinou lentamente nas costas da cadeira fazendo “Hmm”. Então adotou uma
postura bem praticada, uma grandiosa que era condizente com um governante, que um
mestre deveria ter, e depois falou:

“Demiurge, Albedo. Vocês dois são mais inteligentes que eu.”

“Mas isso—”

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


137
Ainz levantou a mão para impedir que os dois falassem.

“Estou apenas dizendo que é assim que me sinto. Nesse caso, o que aconteceria se algo
inesperado ocorresse durante partes do evento descrito em seu plano? Se tudo aconte-
cesse como você descreveu, tudo seria perfeito e terminaria em excelente forma.”

Mas bem, seu plano foi realmente exagerado. Eu tinha certeza que falharia, dado que você
jogou tudo em seu esquema nas minhas costas.

Ainz resmungou em seu coração.

“Portanto, uma pergunta de repente me veio à mente, Demiurge. Uma mente tática per-
feita não pode funcionar apenas quando tudo está acontecendo; também deve ser capaz
de funcionar quando a situação muda drasticamente ou quando diverge de suas expec-
tativas. Quero dizer, eu queria saber se sua adaptabilidade também era louvável.”

“Eu entendo, então é isso!”

Eh—!? Ele já entendeu! E realmente parece que ele entendeu tudo!

Ainz resistiu à vontade de fazer uma observação sobre a velocidade de pensamento so-
brenatural de Demiurge, algo parecido com isso: Você já é tão inteligente, por que acha
que eu sou mais inteligente? Está fazendo bullying comigo?

“Como esperado de— Ah... você é tão impressionante quanto eu esperava, Demiurge.”

“Muitíssimo obrigado, Ainz-sama.”

“Ainda assim, eu, ah, peço desculpas, pois pode parecer que eu estava te testando...”

“Certamente não, Ainz-sama. Para mim, o fato de o senhor querer avaliar minhas habi-
lidades é uma honra sem igual. Eu certamente retornarei resultados que correspondam
às suas expectativas, Ainz-sama!”

“Uhum. Eu conto com você para isso, Demiurge. Nesse caso, durante o curso de nossas
atividades no Reino Sacro, causarei problemas conforme necessário e você corrigirá o
plano em resposta. Está bem com isso?”

“Sim! Compreendo!”

Tudo certo—!

Ainz se alegrou em seu coração. Ele estava tão feliz que a supressão de emoção foi ati-
vada.

Capítulo 5 Ainz- Morre


138
Mesmo assim, a excitação ainda permanecia dentro dele.

Ótimo, ótimo, ótimo. Dessa forma, mesmo se eu fizer algo errado, posso dizer que estava
fazendo isso de propósito! Calma, em primeiro lugar, eu preciso tentar não fazer nenhum
erro. Se eu soubesse que acabaria assim, deveria ter dito isso desde o começo.

Embora ele não tivesse o mau hábito de se regozijar quando o plano de um subordinado
desse errado, era possível que ele acidentalmente fizesse alguma coisa para preocupá-
los. Dessa forma, eles não teriam que adivinhar se ele tinha alguma intenção em mente,
mas, em vez disso, passariam a revisar o plano conforme necessário. Ainz sentiu a sen-
sação de felicidade que veio com um peso pesado em seus ombros.

“...Sua serva entende suas preocupações, Ainz-sama. Então isso significa que o senhor
avaliará simultaneamente as habilidades de cada Guardião de Andar e de Área também?”

Ao ouvir a pergunta de Albedo, Ainz ficou brevemente intrigada por um momento e


pensou:

O que ela está dizendo?

Contudo—

“Não há necessidade de fazer isso agora. Eu estou fazendo isso pelo Demiurge, pois ele
está trabalhando fora de Nazarick por longos períodos. Quanto aos outros, vou testá-los
quando for necessário.”

“Entendo...”

“Uhum. Agora, para o próximo tópico... o plano inicial era levar o povo do Rei Sagrado
que ficou ao meu favor e seguir para a parte leste do Reino Sacro até as Colinas Abelion,
onde os demi-humanos viviam. No entanto, vou alterar esta parte do plano. Eu vou lá
primeiro. A partir disso, espalhem a notícia da minha morte.”

Parecia que o tempo tinha parado por um momento. E então—

“—Eh? O que está dizendo, Ainz-sama! Como poderíamos anunciar a morte de um Su-
premo, Ainz-sama!?”

Esse protesto veio de Albedo. Esta poderia ter sido a primeira vez que ele viu a expres-
são de Albedo desmoronar dessa maneira. Pelo menos, era assim que o olhar em seu
rosto o fazia sentir. Mas antes que Ainz pudesse explicar suas verdadeiras intenções para
Albedo, foi a vez de Demiurge falar.

“Albedo. Já que o Ainz-sama afirmou isso, ele deve ter algum objetivo maravilhoso em
mente. Você não acha que rejeitá-lo usando a emoção como base é inadequado?”

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


139
“Demiurge. Eu questiono de onde sua calma vem. Você reagiria assim se o Ulbert Alain
Odle...—sama dissesse a mesma coisa? Ou...?”

“Fufu~... Albedo. Você poderia me dizer o que quer dizer com isso? Ou significa que tem
algo a me dizer além disso?”

Os dois Guardiões se encararam, um com um olhar congelante, e a outra com um olhar


incandescente, e uma atmosfera estranha começou a fermentar entre os dois. Essa sen-
sação de asfixia era muito parecida com o que acontecera quando Ainz estivera lutando
contra Shalltear. Talvez fosse por medo ou tensão, mas até Lupusregina estava come-
çando a ofegar com força.

“—Basta!”

O clima perigoso no ar instantaneamente desapareceu quando Ainz gritou. A mudança


repentina fez Ainz se perguntar se ele estava enganado sobre o que aconteceu agora. No
entanto, a respiração ofegante de Lupusregina provou que não tinha sido uma ilusão.

“Acalmem-se, vocês dois. Essa é a razão pela qual eu devo fingir minha morte. Existem
atividades chamadas de exercícios de desastre. Devemos nos preparar mentalmente e
planejar com antecedência em caso de emergência. Nesse caso, o que você faria se eu
morresse? Eu vou começar com você, Albedo. Diga-me o que tem em mente.”

“Sim! Eu sujeitaria imediatamente a pessoa que ousasse desrespeitá-lo a experimentar


a todo o sofrimento neste mundo e então eu o ressuscitaria, Ainz-sama!”

“Entendo. Sua vez, Demiurge.”

Capítulo 5 Ainz- Morre


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“Sim! Enquanto me prepararia para a sua ressurreição, eu fortaleceria as defesas de
Nazarick e então obteria informações sobre a pessoa que te ofendeu.”

Albedo olhou para Demiurge com o canto do olho.

“Simplesmente reunir informações é ser muito tolerante. Independentemente de quem


ousar ofender o Supremo, eles devem ser capturados com toda a força que Nazarick
pode fazer e então atormentá-los até o ponto em que o ego deles se rompa.”

“Albedo, sinto que o que você diz é muito sensato. Mas o suposto inimigo é alguém que
pode matar o Ainz-sama. Assim, não podemos ser descuidados. Aprender os movimen-
tos e forças do inimigo é vital. Se o inimigo é mais forte do que podemos imaginar, então
o lugar em que ressuscitaremos o Ainz-sama será de suma importância.”

Antes que a expressão de Albedo se tornasse ainda mais sombria, Ainz bateu seu cajado
nas tábuas do assoalho. O duro impacto foi como jogar um balde de água gelada sobre
os dois e seus rostos imediatamente recuperaram a calma.

“Eu não especifiquei que fui morto por alguém. Se as coisas correrem mal... não é im-
possível que eu acabe morrendo naturalmente de algumas circunstâncias imprevistas.”

Na verdade, ele não conseguia pensar em nenhuma causa natural da qual pudesse mor-
rer, e por isso estava usando termos tão vagos.

“Aparentemente, até as duas pessoas que considero as mais inteligentes têm opiniões
diferentes. Isso me aflige. É por isso que devemos realizar esse treinamento, para que
não haja problemas se esse cenário imaginativo acontecer.”

Os dois abaixaram a cabeça.

“Claro, eu não sou o único que poderia sofrer esse destino. Demiurge, como comandante
defensivo de Nazarick durante algum ataque, se uma situação inesperada ocorrer e você
for levado a óbito, Nazarick pode continuar funcionando normalmente?”

“Sim! Eu fiz preparações completas a esse respeito. Lembro-me de ter enviado um re-
latório sobre isso para o senhor no passado, Ainz-sama.”

Eu recebi algo assim?

Ainz decidiu que seria melhor confiar na memória de Demiurge do que em sua própria.

“Uhum. Ainda assim, isso é apenas no papel, não é? A razão pela qual estou perguntando
é porque gostaria de saber se você testou para ver se realmente funciona.”

“Eu sinceramente peço desculpas! Eu não fiz isso!”

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


141
Demiurge inclinou a cabeça, em seu rosto estava uma máscara de profundo pesar en-
quanto sua voz tremia.

“Minhas mais profundas desculpas, Ainz-sama! Repassar um relatório sem fazer essa
sugestão foi tolice da minha parte!”

Albedo tinha o mesmo olhar em seu rosto, assim como Demiurge, quando inclinou a
cabeça.

Ainz estava cheio de um tremendo senso de culpa. Quem era o Culpado? Obviamente
era ele, está foi a verdade nua e crua. Se ele fosse mais confiante, os dois não precisariam
se desculpar assim. E essa não era justamente a atitude da escória de chefe que ele queria
evitar ser?

“—Não há necessidade de vocês se desculparem. Foi minha culpa não explicar correta-
mente a vocês. Eu sou o único que deveria ter notado que nenhum teste havia ocorrido.
O erro é meu.”

Ainz inclinou a cabeça até que sua testa tocou a mesa e completou:

“Tudo isso foi devido à minha indignidade e eu busco o perdão de todos.”

“O quê!? Ainz-sama!”

“Por favor, por favor não faça isso!”

Os dois tentaram apressadamente impedir Ainz. No entanto, Ainz não levantou a cabeça.
Ele estava muito envergonhado para mostrar-lhes o rosto, pois ele sabia o quão superfi-
cial havia sido e que não conseguia sequer ser direto quando se desculpava.

“Lu-Lupusregina! Apresse-se e levante a cabeça de Ainz!”

“Eh! Eu? Por favor, por favor, me perdoe, eu não posso levantar a cabeça de Ainz-sama
à força!”

“Por favor, por favor, levante sua cabeça!”

Todos disseram em uníssono.

Foi só depois que os três — Demiurge em particular — começaram a parecer especial-


mente aturdidos que Ainz apressadamente olhou para cima. Depois disso, ele ouviu sus-
piros de alívio dos três.

“...Sou grato por terem aceito minhas desculpas. Agora, quando eu alcançar as colinas
Abelion, usaremos minha morte como base para um exercício. Sim. Como esta é uma

Capítulo 5 Ainz- Morre


142
oportunidade rara, por que não realizamos outros exercícios também? Por exemplo, se
o Demiurge e eu formos mortos por alguém, esse tipo de coisa...”

Neste ponto, Ainz começou a se sentir desconfortável com suas próprias sugestões.

“Dito isso, até eu não planejei totalmente os detalhes quando se trata deste treinamento.
Portanto, se tiver um plano melhor, vá em frente e execute-o. Ahh, não precisa pedir
minha permissão. Afinal, este é um exercício baseado na premissa de que estou morto.”

Os dois sorriram amargamente.

“Ainz-sama, ter que considerar o senhor morto desde o início da fase de planejamento
do exercício é um pouco...”

“É como o Demiurge diz, Ainz-sama.”

Hahahaha, o riso de três pessoas soou pela cabana.

Dois deles estavam rindo do coração, mas um deles estava apenas fingindo.

“Ainda assim, vocês não precisam levar isso muito a sério, sabiam? Afinal, o objetivo
deste exercício não é espalhar desafetos por toda Nazarick, como aconteceu com vocês
dois agora. Apenas gostaria de conduzir vários tipos de treinamento e acumular conhe-
cimento nesse campo, de modo que todo Guardião possa se tornar intercambiável —
bem, eu sei que o que eu disse é inútil, dado aos seus respectivos intelectos. Façam o que
acharem que precisa ser feito, na medida em que acharem conveniente. Posso contar
com vocês?”

Agora que ele pensava sobre isso, Suzuki Satoru nunca tinha sido o tipo de pessoa que
levara a sério os desastres, então seria realmente convincente quando alguém assim dis-
sesse aos outros para darem o melhor de si? Foi por isso que Ainz não podia esquecer
de dizer a eles para irem com calma.

Depois de ver os dois se curvarem profundamente a ele, Ainz disse:

“Agora, sobre o outro assunto de grande importância—”

Vamos lá, eu consigo!

A razão pela qual ele elaborou todos esses fluxogramas e simulou maneiras de discutir
com os dois Guardiões foi para esse objetivo.

“—Vocês devem congelar todo o progresso na estátua gigante que está atualmente
sendo planejada.”

“Compreendo. Nós faremos como o senhor diz.”

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


143
A única frase de Albedo pareceu pôr fim a todo o tópico.

Huh?

A atitude de Ainz se transformou de desconcertada à temerosa enquanto ele pergun-


tava nervosamente o que ela pensava.

“...Está tudo bem? Foi idéia sua, não foi, Albedo?”

“Como alguém poderia contradizer uma decisão que o Ser Supremo fez, Ainz-sama? Se
o senhor disser que é branco, então será branco mesmo que seja preto. Isso é tudo.”

Ainz engoliu em seco. Essa linha de pensamento o assustou e o fez tremer.

“...Eu não gosto desse jeito de pensar, Albedo. Isso é como abandonar o pensamento
lógico, e certamente, até eu cometerei erros em algum momento.”

Ele estava apenas dizendo “certamente”, mas parecia que estava acontecendo o tempo
todo.

“E nesse caso, se eu for capturado e manipulado? A pessoa que fez lavagem cerebral na
Shalltear ainda está lá fora, se esqueceu? Embora não seja necessário questionar todos
e cada um dos meus objetivos, se eu sugerir algo e você pensar em outra coisa, então me
informe.”

“Compreendo.”

Albedo e Demiurge se entreolharam com os olhos apertados.

“Então, posso perguntar por que o senhor deseja interromper a construção? O objetivo
dessa estátua não é deixar que o mundo entenda melhor sua glória, Ainz-sama?”

“Uhum...”

Ainz riu friamente em seu coração:

“Minha grandeza não é algo que só possa ser expressa através de objetos materiais.”

Ele lembrou que essa frase recebeu aprovação de Neia.

—É perfeita.

“Não seria melhor ensiná-los com objetos materiais? Afinal, os tolos são aqueles que
não conseguem ver nada além do que está diante de seus olhos.”

Capítulo 5 Ainz- Morre


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As palavras de Albedo paralisaram Ainz. Era como um arremessador jogando uma bola
em um batedor, mas em vez de tê-lo a rebatido de volta para ele, o batedor o pegou e
jogou de volta com força total.

“...Entendo. Você tem razão, Albedo, mas—”

Enquanto Ainz agradecia sua voz por não tremer, ele lutou para que seu cérebro funci-
onasse, e então desistiu quando nada veio à mente. Mesmo querendo dar de ombros, ele
não podia permitir que sua imagem como um governante desmoronasse diante de seus
subordinados.

“—Não, esqueça. Tenho certeza de que a Albedo pode identificar pelo menos cinco das
falhas que eu descobri, e os méritos superam esses defeitos. Nesse caso, não há mais
nada para eu dizer.”

“C-cinco, cinco falhas? Demiurge, preciso discutir algo com você depois. Posso fazer uso
de seu intelecto por um tempo?”

“Mas, mas é claro. Eu, eu não esperava nada menos do senhor, Ainz-sama, e pensar que
o senhor disse que nossas mentes são superiores... realmente, sua humildade não co-
nhece limites.”

Os dois começaram a ficar confusos e Albedo curvou a cabeça profundamente.

“Eu realmente sinto muito, Ainz-sama. Já que meu plano de construir sua estátua já re-
cebeu sua aprovação, permita-me suspender temporariamente a construção. Eu since-
ramente peço desculpas.”

“Hm, mm. Bem, não dá para evitar. Prossiga, Albedo.”

Ainz tinha apenas lançado uma observação improvisada, mas Albedo e Demiurge pare-
ciam anormalmente abalados por isso. Ele podia até ouvir Lupusregina sussurrar “Incrí-
vel...” por trás deles.

Ele olhou para longe, sentindo-se culpado porque ele mais uma vez confundiu os dois
ao falar tolices. No entanto, ele estava feliz que o plano para construir a estátua gigante
fosse brevemente interrompido.

A seguir, preciso fazer algo sobre os quatro festivais com meu nome, como o Dia de Ação
de Graças do Grande Rei Feiticeiro, o Aniversário do Rei Feiticeiro e assim por diante! Se o
Dia de Ação de Graças do Grande Rei Feiticeiro for cancelado porque a estátua foi cance-
lada também, isso deixa apenas três deles! Além disso, se estes fossem festivais normais, eu
não me importaria em querer pará-los!

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


145
Na verdade, Ainz certa vez indiferentemente sugeriu um plano para organizar festivais.
Porém, isso levou à formação de um comitê do festival, fôra deveras estranho e embara-
çoso. Ainz suspirou forte e alto em seu coração, e então olhou para Demiurge.

“Tudo bem, agora resta os detalhes que preciso discutir com o Demiurge. Depois disso,
você usará o demônio que convocou, este seria Jaldabaoth, aquela que usou para atacar
a cidade, correto?”

“Sim. De fato, é isso mesmo.”

“Portanto... eu tenho alguns pedidos. O primeiro diz respeito a um projeto pessoal que
estou realizando e que não está indo muito bem, pelo qual precisarei da sua ajuda. Ah,
não se preocupe, não há necessidade de ficar muito preocupado com isso. E a segunda
coisa é, você pode comandar para que aquele demônio lute comigo?”

♦♦♦

Neia fechou silenciosamente a porta do quarto do Rei Feiticeiro e virou-se. E então...


seu corpo estremeceu.

Ela deu um leve tapinha nas bochechas um pouco ruborizadas para forçar o rosto a ficar
sério antes de perder completamente a compostura. Uma razão para isso foi porque ela
sabia que seu rosto relaxado deixava os outros cautelosos, enquanto a outra razão, mais
importante, era porque a envergonhava profundamente.

Neia não queria andar por aí com um olhar indecoroso no rosto. Ela teria que encontrar
outras pessoas mais tarde, então no mínimo ela tinha que parecer apresentável.

Mais precisamente, Neia era a escudeira do Rei Feiticeiro, então qualquer coisa vergo-
nhosa que fizesse também prejudicaria a reputação do Rei Feiticeiro.

Ainda assim, eu estou apenas atuando como sua escudeira temporária, então é o Reino
Sacro que seria desonrado...

No entanto, as pessoas que odiavam o Rei Feiticeiro não pensariam assim. Como dizia
o ditado, o ódio é o antolho da razão. Ou também, quem odeia espadas, odeia ferreiros.

Tudo bem!

Neia não queria que o Rei Feiticeiro se arrependesse do fato dela ser sua escudeira. Em
outras palavras, tudo o que Neia tinha que fazer era o trabalho dela.

Quando Neia se dirigiu ao lugar onde havia combinado encontrar-se, ela pensou inces-
santemente sobre a bondade que o Rei Feiticeiro mostrara naquele momento.

“—Entendo, então foi o que aconteceu. Que pena.”

Capítulo 5 Ainz- Morre


146
Ela sentiu um arrependimento profundo do Rei Feiticeiro quando ele disse aquelas pa-
lavras naquele momento. Não havia como ele estar tagarelando casualmente.

...Sua Majestade é realmente uma pessoa gentil...

O Rei Feiticeiro lamentou por alguém de outro país que morrera em batalha como se
fosse um de seu próprio povo. Onde no mundo alguém poderia encontrar um rei assim?
Claro, Neia não conhecia nenhum outro rei, então talvez isso simplesmente refletisse
seus sonhos.

Por exemplo, se Neia e os outros tivessem aguentado um pouco mais, eles teriam sido
salvos junto com Neia, mesmo aquele pai que perdera seu filho também teria sobrevi-
vido.

Neia não estava infeliz que o Rei Feiticeiro tivesse chegado atrasado em seu resgate. Em
primeiro lugar, ela estava grata pelo fato dele ter vindo resgatá-la, pois ele já havia dito
que precisava conservar mana para a batalha contra Jaldabaoth. Além disso, ela ouviu
alguns milicianos na unidade de Remedios dizerem que ele havia lutado com vários po-
derosos demi-humanos no portão oeste antes de vir resgatar Neia.

O Rei Feiticeiro havia lutado contra dois demi-humanos que podiam matar um paladino
em um único ataque e outro cuja força estava no mesmo nível da paladina mais forte do
Reino Sacro.

Os milicianos que disseram a Neia tudo isso, tinham sido duramente pressionados para
esconder sua excitação enquanto discutiam os procedimentos como uma metralhadora,
e eles acrescentaram: “Todos nós teríamos morrido se não fosse pelo Rei Feiticeiro”.

Foi a mais pura verdade. Neia sentiu uma onda de calor no peito.

O Rei Feiticeiro tinha ido a outro lugar para ajudar os outros antes de vir para salvar
Neia.

Mesmo estando um pouco desapontada pelo Rei Feiticeiro não ter priorizado ajudá-la,
ela sabia que era errado se sentir assim. A defesa dos muros da cidade era importante,
mas seria muito pior se o portão da cidade caísse. Se o portão tivesse sido violado e os
demi-humanos conseguissem entrar na cidade, haveria massacres impiedosos em todos
os lugares.

Qualquer pessoa com algum bom senso teria priorizado o portão da cidade para salvar
mais vidas.

As pessoas que agiam de acordo com a lógica eram mais confiáveis do que as pessoas
que eram dominadas por suas emoções.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


147
Como esperado do Rei Feiticeiro!

Neia pensou na paladina mais forte de seu país.

Apenas comparar os dois já é desrespeitar Sua Majestade!

Depois disso, o Rei Feiticeiro também havia caçado os poucos demi-humanos que ha-
viam chegado à cidade, e muitas pessoas foram salvas como resultado. De fato—

“Ohhh! Se não é a Escudeira-sama de Sua Majestade! Contou a ele por nós?”

Parece que Neia tinha chegado ao seu ponto de encontro enquanto pensava em quão
legal o Rei Feiticeiro tinha sido.

Em certo setor da cidade, seis homens se reuniram em uma rua que ainda cheirava ao
campo de batalha.

Eles se dirigiram a Neia como se estivessem esperando impacientemente por ela. Na


verdade, eles estavam bastante impacientes.

“Sim, transmiti a gratidão de todos a Sua Majestade.”

Várias pessoas inconscientemente ficaram na defensiva quando Neia olhou para elas,
mas depois de ouvir suas palavras, elas sorriram e agradeceram.

“Ah, muito obrigado mesmo. É difícil expressar gratidão ao Rei de outra nação. Não, é
difícil até mesmo agradecer a Rainha-sama.”

“Isso é verdade. Pra começo de conversa, nunca nem vi ela de perto.”

As pessoas diante dela tinham idades que variavam de 14 a 40 anos. No entanto, todos
eles eram líderes de esquadrão. Alguns deles outrora até foram soldados profissionais.

A julgar pela atitude, eles não sentiram nenhum temor em relação ao Rei Feiticeiro por
ele ser um undead.

Era verdade que algumas pessoas ainda estavam cautelosas com o Rei Feiticeiro por
causa de sua natureza. Além disso, pessoas assim eram mais comuns entre os plebeus
do que os sacerdotes ou paladinos. Eles costumavam dizer que o Rei Feiticeiro estava
sendo gentil para traí-los no momento certo e outras coisas semelhantes.

Mas Neia sentia que essa reação foi porque eles não conviveram com o Rei Feiticeiro e
simplesmente agiram com o desdém habitual pelos undeads. A razão para isso foi o
grupo de pessoas diante dela. Havia muitas pessoas que mudaram seu modo de pensar
quando conheceram o Rei Feiticeiro.

Capítulo 5 Ainz- Morre


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“Não, por favor, não se preocupem com isso. Eu simplesmente transmiti sua gratidão a
Sua Majestade. Ah, sim, Sua Majestade disse que seus agradecimentos o fizeram muito
feliz.”

Havia olhares tímidos entre os representantes dos milicianos.

“Não, nós somos aqueles que devem ser felizes... oh, o que devemos fazer...”

“Isso mesmo, Sua Majestade é realmente compassiva. Eu estou envergonhado por como
nós costumávamos temê-lo por ele ser um undead.”

“Sua Majestade é realmente uma pessoa gentil. No entanto, espero que não esperem
que essa boa sorte aconteça de novo e de novo. Afinal de contas, Sua Majestade disse que
ele havia usado uma grande quantidade de mana nessa batalha, e ele não será capaz de
ajudá-los se houver uma próxima vez.”

Os rostos do grupo imediatamente ficaram sóbrios.

“Então, podemos não ter a ajuda de Sua Majestade da próxima vez... isso é ruim.”

“Muitas pessoas ficarão com medo se souberem que não podem confiar em Sua Majes-
tade no futuro, especialmente minha equipe.”

“Não é só o seu pessoal. É o mesmo do meu lado também... não podemos dizer a eles
uma coisa dessas.”

Neia silenciosamente se dirigiu ao grupo abalado:

“Pessoal, eu aprendi uma coisa e queria compartilhar. Isto é: ser fraco é um pecado.”

Quando olhares intrigados apareceram em seus rostos, Neia lentamente se explicou:

“Não entenderam? Se fôssemos fortes o suficiente, as coisas não teriam chegado a esse
ponto. Poderíamos ter salvado nossos pais, nossos filhos, nossas esposas, nossos amigos,
poderíamos ter salvado todos eles com nossas próprias mãos. O Rei Feiticeiro disse uma
vez que somos nós que temos que valorizar mais as coisas que são importantes para nós.
Afinal, Sua Majestade não é o rei deste país, e ele simplesmente veio nos ajudar por uma
razão especial.”

Neia respirou fundo, depois levantou a voz, para que as pessoas que a observavam e as
pessoas do Reino Sacro passassem a ouvir suas palavras.

“...Quando o Rei Feiticeiro derrotar Jaldabaoth e retornar ao seu próprio país, o que fa-
remos quando os demi-humanos atacarem novamente? Será que vamos chorar e implo-
rar ao Rei Feiticeiro, o rei de outro país, por ajuda mais uma vez? Pelo que sabemos, o

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149
Rei Feiticeiro pode não nos ajudar da próxima vez. Isso porque dessa vez foi uma exce-
ção. Vocês já ouviram falar do rei de um país trabalhando tanto para outra nação?”

Ninguém respondeu a Neia, porque tal coisa não estava em lugar algum.

“Talvez vocês não se sintam felizes por uma garota como eu estar lhe dizendo isso. Mas
quem pode proteger as coisas que são importantes para vocês além de vocês mesmos?
É por isso que quero me tornar mais forte. Quando eu me tornar mais forte, posso me
proteger e não vou precisar pegar emprestado a força do Rei Feiticeiro.”

“Sim, é isso aí. Exatamente. Eu também vou treinar.”

“Ah, eu também. Da próxima vez, serei o único a proteger minha esposa e meus filhos.”

“...Eu vou fazer isso também. Eu não queria quando fui recrutado pela primeira vez...
mas agora me sinto feliz por ter sido recrutado.”

“Ainda assim, o que o Rei feiticeiro pensa faz sentido. Valorizar as coisas importantes
para nós... mm, quando se pensa sobre isso, é realmente a verdade.”

“Então, se alguém mais valorizar minha esposa, eu tenho que matá-lo, então?”

“...Eu, eu não penso assim, acho? Bem, eu não acho que o Rei Feiticeiro estava falando
sobre algo assim, não é?”

“...Ei, era não brincadeira, não percebeu?”

“Não soou como uma...”

Enquanto a multidão ria, Neia fez uma sugestão.

“Pessoal, vocês gostariam de treinar comigo? Embora eu não possa ensinar esgrima, sei
uma coisa ou duas sobre arco e flecha.”

Fraqueza era um pecado. Isso porque os fracos só criavam problemas para o Rei Feiti-
ceiro, que era a justiça. Nesse caso, tudo o que precisavam fazer era ficar forte. Ela não
poderia se permitir causar problemas para o Rei Feiticeiro da próxima vez. Ela tinha que
permitir que Sua Majestade se concentrasse em lutar contra Jaldabaoth. Era o que ela
deveria fazer, como escudeira.

“Ah, é uma boa idéia.”

“Precisamos nos tornar fortes. Eu vou protegê-los da próxima vez.”

“—Por que estão todos se reunindo aqui? Vocês estão discutindo alguma coisa?”

Capítulo 5 Ainz- Morre


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“Ah— Capitã.”

Depois de ser questionada de repente, Neia olhou para trás e viu Remedios Custodio
em pé atrás dela. Na verdade, Neia ouvira passos se aproximando, mas ela não pensara
que seriam os de Remedios.

Lá vem problema...

Neia pensou enquanto tentava evitar que seu rosto mostrasse como se sentia. Os repre-
sentantes, por outro lado, estavam visivelmente desconfortáveis.

“Poderia responder à minha pergunta?”

“Sim, senhora! Eu estava dizendo a esses cavalheiros que havia transmitido a gratidão
deles a Sua Majestade.”

“Então é para ele?”

“...Não é apropriado se dirigir ao rei de outra nação como ele.”

Remedios olhou para Neia.

“O forte proteger os fracos é senso comum, não é?”

“...Eu não sei se é senso comum, mas sinto que apenas os fortes são qualificados para
dizer tais coisas, e não os fracos.”

“Quê!? Por acaso está dizendo que eu sou fraca?”

“Sim.”

Neia respondeu sem demora.

“Comparado a Sua Majestade, você é fraca... Capitã, eu disse alguma coisa errada?”

Remedios olhou para Neia e Neia olhou de volta vigorosamente para Remedios.

“Hmph, não importa se você quer ser amiguinha do Rei Feiticeiro, mas ele é um undead,
você sabe disso, certo? Um monstro que habita um mundo diferente dos vivos.”

“Sim, eu sei disso.”

“Eu só te avisei porque estava preocupada com você. Mas parece que me preocupar com
você foi um desperdício.”

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


151
Remedios parecia desapontada, mas para Neia, isso parecia uma atuação. Isso definiti-
vamente não era o que a paladina diante dela realmente pensava.

“Tenho certeza de que deve estar ocupada com muitas coisas, Capitã, e eu não ousaria
tomar seu tempo. Além disso, tenho coisas para contar aos outros. Não seria melhor se
a Capitã se dirigisse para os outros lugares que precisa ir?”

“...Muito bem então. Vocês aí, é natural que o Rei Feiticeiro os ajude. Vocês não precisam
pensar muito sobre isso, sabiam?”

Depois de dizer isso, Remedios saiu. Enquanto a observavam, alguém falou em voz
baixa.

“Como eu deveria dizer isso... isso foi incrível... é a mais forte paladina deste país...”

“Sim, é isso que ela é.”

Depois de ouvir os homens darem voz ao que pensavam, Neia os respondeu inconsci-
entemente. Depois disso, os representantes cobriram os rostos com as mãos. Parece que
eles sofreram um grande choque.

Embora Neia não tivesse feito nada de errado, ela ainda se sentia um pouco culpada.

“Os paladinos não são assim. Como devo dizer... ela é um pouco especial. É assim... que
ela é. Sim.”

“Deve ser difícil para senhora, Escudeira-sama... se puder beber, seria uma honrar te
pagar uma dose.”

“Eu aprecio suas intenções... uh, onde eu estava mesmo? Sim, em treinar juntos. Eu
posso encontrar uma maneira de pedir emprestado um lugar e equipamento. Posso en-
trar em contato com vocês quando tudo estiver pronto?”

“Contamos com a senhora para isso!”, “Tudo bem, vamos esperar.” Os homens respon-
deram alegremente.

Parte 2

Neia puxou a corda do arco em um movimento suave.

Ela fixou seu olhar atento no alvo, e ela podia ver as silenciosas plumas brancas de sua
respiração exalada sendo levadas pelo vento até o fim de sua visão periférica, onde de-
saparecia. A primavera estava perto, mas o frio ainda se fazia presente.

Capítulo 5 Ainz- Morre


152
Neia enterrou seus pensamentos aleatórios no fundo de sua mente, olhando para o alvo
em um estado de não pensar, e então ela lentamente se afastou.

Durante a defesa da cidade, Neia chegou à conclusão de que ninguém tinha tempo para
mirar lentamente no campo de batalha, mas agora eles estavam treinando para melho-
rar sua precisão, de modo que exercícios rápidos poderiam ser deixados para outra oca-
sião.

E então — ela soltou sua flecha.

A flecha sibilou rasgando o ar. E voou em linha reta acertando o alvo do centro.

“Hoo.”

Neia exalou.

Das dez flechas que ela havia disparado, nem uma única havia errado o alvo.

Esta foi uma excelente taxa de precisão, mas Neia não gostou disso.

Ela não podia fazer isso no passado, mas agora, Neia poderia até mesmo dividir a flecha
que acabara de lançar. Claro, ela iria danificar a flecha se ela fizesse isso, então ela não
fez.

A razão pela qual ela havia terminado assim, podendo fazer algo que antes era impos-
sível para ela, foi porque depois daquela batalha ela agora não só é mais capaz no arco e
flecha, mas também podia aproveitar do que eles chamavam de poder divino. No entanto,
o estranho era que era um pouco diferente das habilidades que os paladinos diziam pos-
suir. Isso porque, normalmente, os paladinos só podiam canalizar seus poderes através
de armas brancas, já ela pôde imbuir armas de longo alcance com seus poderes.

Embora ela não entendesse bem o que aquilo significava, o Rei Feiticeiro parecia bas-
tante interessado quando soubera disso. Mesmo assim, até mesmo o Rei Feiticeiro disse
apenas isso: “É difícil dizer só com isso, me avise se outras habilidades despertarem.”

Os aplausos soaram e Neia sorriu amargamente, porque se sentia desconfortável.

“Uau, você é incrível, Baraja-chan.”

“Ah, sim, é a primeira vez que vejo alguém que é tão bom com um arco. Ninguém no
meu vilarejo podia fazer uma coisa assim.”

“Ah, é verdade. Eu costumava ganhar meu sustento como caçador e já conheci muita
gente, mas nenhum tinha as habilidades da Baraja-chan.”

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


153
As pessoas elogiando Neia eram as mesmas suando e treinando com ela na área de arco
e flecha. Muitos de seus rostos não foram vistos nessas ruas durante a defesa da cidade
há três semanas.

A razão para isso foi porque as pessoas haviam sido resgatadas dos campos de prisio-
neiros próximos, e a população da cidade cresceu rapidamente como resultado. Aqueles
com um talento especial para tiro com arco ou que usaram arcos antes foram recrutados
para unidades de arqueiros e colocados sob o comando de Neia.

Normalmente, as pessoas se recusam a ser subordinadas a uma escudeira, especial-


mente quando algumas tinham idade suficiente para serem os pais dela. No entanto, ne-
nhum dos homens — e mulheres — reunidos aqui protestaram.

A principal razão foi porque ninguém se atreveu a fazer objeções depois de ter sido
submetido ao seu olhar perverso, e também porque eles tiveram que reconhecer sua
habilidade com o arco. Alguns deles ficaram ainda mais gratos a Neia depois de saber
que ela era a escudeira do Rei Feiticeiro.

Havia também alguns que estavam com medo de que ela fosse uma undead porque eles
ouviram que ela era a escudeira do Rei Feiticeiro, mas nem todo mundo era assim.

Nessas três semanas, os paladinos foram enviados para libertar os campos de prisio-
neiros, mas, ao mesmo tempo, o Rei Feiticeiro e Neia também saíram para atacar acam-
pamentos e resgatar prisioneiros.

Quando o Rei Feiticeiro abordou o assunto pela primeira vez, houve um número cho-
cante de objeções. Entretanto, o Rei Feiticeiro disse: “Agora que a Aliança Demi-humana
está com pouca mão de obra, eles começarão a executar os prisioneiros se julgarem que
não têm a capacidade de administrar os campos de prisioneiros, então devem ser resgata-
dos sem demora”, e isso convencera Caspond a aceitar a sugestão do Rei Feiticeiro e en-
viar os dois para executar a tarefa.

Neia queria originalmente argumentar que o Rei Feiticeiro deveria conservar sua mana
para lutar contra Jaldabaoth. Mas Neia admirava, e muito, o modo como ele agia para
proteger as pessoas de outro país e sentiu a justiça que emanava dele, e, portanto, não
conseguiu detê-lo.

E assim, Neia e o Rei Feiticeiro haviam libertado muitos prisioneiros e os trazido para
esta cidade. Por essa razão, havia pessoas que estavam felizes em servir sob Neia.

“Ahhh~ eu deveria aprender algumas coisas com a Baraja-chan.”

“Sim, isso mesmo. Ela é incrível. Além disso, esse arco que pegou emprestado do Rei
Feiticeiro — o Ultimate Shooting-Star Super — pode fazer coisas ainda mais incríveis,
né?”

Capítulo 5 Ainz- Morre


154
“O Ultimate Shooting-Star Super, huh. Que arco incrível...”

Todos os seus olhos foram para o arco preso nas costas de Neia — o Ultimate Shooting-
Star Super.

Ela deveria tê-lo usado durante seu treinamento, mas evitou fazê-lo porque não queria
depender muito de sua arma.

“Sim, durante a batalha pelos muros da cidade, foi graças ao Ultimate Shooting-Star Su-
per que consegui sobreviver até a chegada de Sua Majestade... não, não é isso. Não foi
apenas o Ultimate Shooting-Star Super, mas a armadura que eu peguei emprestado de
Sua Majestade e todos os outros itens que me ajudaram também...”

Neia acariciou a armadura do Grandioso Rei Buser.

“Esta armadura veio de um renomado demi-humano, parece incrível para mim, não im-
porta quantas vezes eu olhe para ela...”

“Eu fui permitido tocar uma vez, sua dureza é incrível. Eu dei um golpe cortante com
uma espada e ela apenas quicou.”

“Sério? Eu nunca ouvi falar de algo assim antes.”

Quando a armadura de Neia se tornou o tema principal, ela bateu palmas para chamar
a atenção de todos.

“Tudo bem, já conversaram muito, de volta ao treinamento. De acordo com o Rei Feiti-
ceiro, Jaldabaoth está se preparando para fazer outro movimento em breve, então não
podemos perder um único segundo.”

Houve um coro de agradecimentos.

“Tudo bem, é hora de começar a prática de tiros. Pessoal, vamos começar.”

Enquanto observava seus subordinados dispersarem — suas ordens a fizera se sentir


como a “mandachuva” o que a deixara envergonhada —, Neia removeu o item que cobria
metade de seu rosto. Era um item que ela pegou emprestado do Rei Feiticeiro.

Esse item mágico semelhante a uma viseira espelhada permitia que ela usasse uma ha-
bilidade especial conhecida como 「Serpent Shot」 a cada três minutos. Era uma técnica
que permitia que a disparada flecha flexionasse e contorcesse em frente ao oponente,
atacando-o como um bote de um animal derrubando sua presa.

Ela não estava muito certa do que fazia porque não a disparara contra ninguém, mas,
com toda a probabilidade, precisaria ser uma habilidade muito ágil.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


155
Era um item muito útil para alguém como Neia, que usava o arco como sua arma prin-
cipal, mas o mais importante, o fato de que ele escondia seus olhos era incrível. Ou me-
lhor, sem esse item ela não poderia ter se dado tão bem com os outros.

Neia colocou sua viseira mais uma vez e levantou o arco novamente.

Todos aqui eram experientes e, agora que o tempo estava apertado, ela não precisava
instruí-los sobre os pontos mais delicados do posicionamento dos dedos. Ela havia dito
brevemente em como disparar rapidamente, e depois disso tudo o que era necessário
era dar-lhes treinamento individual e fazê-los praticar até seus dedos doerem. O mais
importante agora era acumular experiência de tiro.

Como sempre, Neia pensou em pedir magia de cura aos sacerdotes enquanto soltava
uma flecha.

Nesse exato momento, os ouvidos atentos de Neia captaram um ruído.

Veio do lado de fora. Mesmo isso quase quebrando a posição de tiro de Neia, ela conse-
guiu se manter. Pode não ter sido o que ela esperava, e mesmo que fosse a pessoa que
ela esperava encontrar, ele poderia estar passando e não tinha a intenção de vir para cá.

No entanto, o ser que apareceu na porta do pátio de treinamento era o grande rei com
o rosto esquelético — o Rei Feiticeiro.

No começo, todos temiam os undeads, mas muitos deles haviam sido resgatados pelo
Rei Feiticeiro durante a defesa da cidade e dos campos de prisioneiros. O clamor de vo-
zes respeitosas e gratas logo veio a anunciar a chegada do Rei Feiticeiro.

No entanto, ninguém parou de praticar. Normalmente, eles teriam se ajoelhado diante


do Rei Feiticeiro quando ele aparecesse, mas o próprio Rei Feiticeiro havia colocado um
fim nisso.

“Este não é um lugar público, então não precisam fazer isso quando estou apenas olhando
para vocês, estou errado?”

Nenhum rei, especialmente um que fosse um herói salvador da nação, deveria ter sido
tratado dessa maneira.

Mesmo assim, o Rei Feiticeiro disse que eles não precisavam fazê-lo.

Que pessoa incrível ele é...

Depois de suspirar com admiração, Neia foi para o lado do Rei Feiticeiro e fechou bem
a boca, que estava aberta até então.

Ela manteve sua viseira nos olhos.

Capítulo 5 Ainz- Morre


156
O Rei Feiticeiro disse que ela não precisava removê-la, já que deveria estar pronta para
lutar a qualquer momento.

Ele provavelmente estava preocupado se ela poderia usar um item mágico como se
fosse parte de seu corpo, além de testar se ela deveria estar em guarda, independente-
mente das coisas inesperadas que acontecessem. Neia ficou profundamente impressio-
nada com a profundidade das considerações do Rei Feiticeiro.

Neia entendeu que os olhos do Rei Feiticeiro tinham parado de olhar para suas mãos e
agora olhava para si mesma enquanto ela corria. Por alguma razão, observando os mo-
vimentos habituais do Rei Feiticeiro fez Neia se sentir um pouco feliz.

O pensamento de que ela entendia as pequenas peculiaridades de um indivíduo extra-


ordinário fez as bochechas de Neia se relaxarem.

“Vossa Majestade! Somos gratos pelo senhor ter escolhido nos visitar pessoalmente em
um lugar como este!”

Neia ainda era a escudeira do Rei Feiticeiro, mesmo depois de ser nomeada a coman-
dante da unidade de arquearia. Dito isso, era difícil dizer que ela fizera o trabalho de uma
escudeira adequadamente já que saíra do seu lado para treinar outros no arco e flecha,
sem mencionar que fez, mesmo que indiretamente, o rei a quem servia vir até aqui.

Neia queria priorizar seu trabalho como escudeira do Rei Feiticeiro, mas em vez disso
ela escolheu o treinamento, pois acima de tudo, ela não queria mais ser um fardo para
ele. E havia também outro motivo, que ela não contou a mais ninguém.

Isso porque o Rei Feiticeiro se recusou a ter qualquer pessoa que não fosse Neia para
servi-lo como seu escudeiro. Ele havia dito isso na cara de Caspond e com Neia presente.

O número de pessoas aqui estava aumentando constantemente. Havia muito mais pes-
soas habilidosas ou charmosas do que essa dama de olhos furiosos. Mesmo assim, ele
dissera que Neia seria a melhor opção. A pessoa que ela via como justiça dissera isso
sobre ela.

Poderia alguma coisa tê-la feito mais feliz?

“—Uhum. Embora eu saiba que você está sendo humilde, não acho que seja meramente
“lugar como este”. Afinal, é onde afia suas presas, não é?”

“Mu-muito obrigada, Vossa Majestade!”

Ela olhou ao redor — talvez fosse desrespeitoso desviar o olhar do Rei Feiticeiro, mas
a viseira que ela usava tornou isso possível — e viu que seu pessoal, as orelhas deles

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


157
estavam com as pontas avermelhadas. O problema era que o desempenho deles caiu ver-
tiginosamente, possivelmente por estarem nervosos, ou porque enrijeceram os ombros
para parecerem dignos para o Rei Feiticeiro.

Dito isto, suas próprias orelhas pareciam um pouco quentes também.

“...Srta. Baraja. Seus homens fizeram um grande progresso desde a última vez. Certa-
mente isso deve ser devido ao seu árduo trabalho sendo a líder deles.”

Suas amabilidades tanto a envergonharam quanto a deixaram sem saber como respon-
der.

Seria embaraçoso dizer que eles ficaram nervosos e por isso não podem mostrar toda a
sua capacidade porque Vossa Majestade chegou. Tenho certeza que não gostariam que
dissesse isso.

Portanto, Neia decidiu que receberia suas palavras como elas foram dadas. Contudo—

“Não, não é nada disso. Eu quase não lhes ensinei nada. Eles poderiam ter feito isso
sozinhos.”

“Mesmo? Bem, se você diz, então deve ser verdade.”

Em outras palavras — o Rei Feiticeiro não pensava assim. O que significava que o Rei
Feiticeiro considerava muito bem as palavras de Neia.

Neia levantou a voz um pouco para tentar esconder seu desejo de pular de prazer.

“Nesse caso, Vossa Majestade, a presença do senhor aqui significa que as reuniões aca-
baram?”

“Ah sim. As de hoje acabaram, porém, não fiz nenhuma sugestão especial.”

Neste momento, esta cidade tinha uma montanha de problemas, todos derivados da
crescente população. A pequena cidade de Loyts tinha originalmente abrigado menos de
20.000 pessoas, mas depois de reunir as pessoas dos campos liberados, havia mais de
150.000 pessoas aqui agora.

O mais recente desses problemas de superpopulação foram os Slimes usados nos esgo-
tos — os Slimes Sanitários — cuja própria população havia surgido devido à abundância
de alimentos e, portanto, causaram um pânico quando irromperam dos cursos de água.

Quando a população de Slimes crescia, eles eram tipicamente queimados com itens má-
gicos, mas o crescimento inesperadamente rápido significava que isso não era feito a
tempo e vários homens e mulheres haviam sido atacados.

Capítulo 5 Ainz- Morre


158
Quando esses homens e mulheres estavam cercados pelos Slimes, um grupo de mons-
[Comensais da Imundice]
tros que limpavam o lixo, chamados de Fi lth Eaters, apareciam nos esgotos para ajudá-
los.

Ao contrário do que sua aparência indicava, os Filth Eaters são monstros inteligentes,
e sabiam que os humanos podiam produzir uma grande quantidade de comida, sendo
assim, eles salvavam as pessoas com seus corpos resistentes ao ácido.

No entanto, as pessoas não ficavam gratas aos Filth Eaters. Isso porque os Slimes Sani-
tários não infectavam ninguém, mas os Filth Eaters que os ajudavam eram uma massa
ambulante de doenças. Assim, as pessoas que eles ajudaram adoeceram e estavam em
péssimo estado, particularmente aqueles que haviam contraído encefalite.

Além disso, estava inverno agora, então a lenha e outros combustíveis se tornaram es-
cassos. Depois houve o fato de que aconteceram atrasos na construção de moradias. Em-
bora ainda não houvesse escassez de alimentos, isso se tornaria um perigo no futuro.

O Rei Feiticeiro tinha sido convidado para muitas das reuniões para lidar com esses
problemas, possivelmente porque eles estavam contando com seu conhecimento prodi-
gioso para resolver seus problemas.

Mesmo o Rei Feiticeiro simplesmente dizendo que não sabia muito e apenas sentando-
se de lado para ouvir, tal pessoa não poderia ter sido convocada para reuniões de novo
e de novo.

O fato dele se comportar tão humildemente apesar de ser o rei de uma nação só apro-
fundou o respeito de Neia por ele.

“O que o senhor pretende fazer a seguir, Vossa Majestade?”

“Humm. Eu pretendia ver se o transporte de troncos estava indo bem... Está ocupada
com o treino, Srta. Baraja? Se você não se importa, gostaria de me acompanhar?”

Para resolver a falta de combustível e moradia, eles estavam usando os cavalos undeads
do Rei Feiticeiro para transportar troncos de uma floresta distante. Inicialmente, muitas
pessoas tinham sido contrárias ao uso de cavalos undeads para o transporte, mas agora
havia um fluxo constante de elogios pelos méritos de tais cavalos.

“Não, de forma alguma, permita-me te acompanhar! Eu sou a Escudeira de Vossa Ma-


jestade, afinal de contas!”

O conhecimento súbito de que ela seria capaz de finalmente executar seus deveres e
seu prazer de estar sozinha com o Rei Feiticeiro fez Neia inconscientemente falar mais
rápido e mais alto do que o normal.

Como resultado, as orelhas de Neia ruborizaram.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


159
“Tem, tem certeza? Então vamos prosseguir.”

“Sim! Por favor—”

Então, como se para interrompê-la, um inferno escaldante explodiu à distância. Por um


momento, Neia se perguntou o que estava queimando.

Mas isso estava errado. Ela estava muito longe. Isso não poderia ter sido causado por
qualquer forma de combustão natural. Aquele fogo parecia estar envolvendo a cidade.
Em outras palavras, era uma parede de fogo — a mente de Neia imediatamente lembrou
o que os membros da Rosa Azul tinham dito.

“—Vossa Majestade! Aquilo é—”

“Ah, é exatamente o que pensa, é o mesmo que eu ouvi do Momon... finalmente chegou
a hora. É Jaldabaoth. Finalmente ele decidiu atacar. Srta. Baraja, estou indo.”

Ele havia antecipado essa série de eventos? Como se influenciado pela atitude calma do
Rei Feiticeiro, o coração de Neia também se acalmou. Ou não, seria melhor dizer que a
presença de um Ser Supremo como o Rei Feiticeiro lhe deu paz de espírito.

“Para onde!?”

“Ah— hm. O objetivo de Jaldabaoth ainda não está claro. Então, ah— ele pode estar aqui
para matar indiscriminadamente. No entanto, se ele tiver um objetivo, ele alvejará a mim
ou a liderança do Reino Sacro, então seria melhor se nos encontrarmos. Diga a seus ho-
mens que se preparem para a batalha e depois que eles fujam para um lugar seguro.”

“Eh!?”

“Eles serão inúteis contra Jaldabaoth. Por isso seria melhor que se preparassem para
lidar com quaisquer demônios que possam aparecer. Como a cidade provavelmente es-
tará no caos agora, assim que você formar sua unidade, não será melhor tê-los fora da
cidade?”

Embora suas palavras não tenham ficado claras no início, talvez ele tenha organizado
seus pensamentos de antemão, porque a parte do meio em diante foi uma série de ins-
truções ininterruptas para Neia.

“Sim! Muito obrigada, Vossa Majestade! Atenção, pessoal!”

Mesmo fazendo planos no caso de Jaldabaoth liderar um exército contra eles, não con-
sideraram que um incêndio cercasse toda a cidade. Outro grande problema era o fato de
que eles não sabiam a extensão dos preparativos que o inimigo havia feito.

Capítulo 5 Ainz- Morre


160
Neia deu suas instruções. Havia apenas um único esquadrão aqui e eles não podiam
fazer o que queriam, mas como a líder de equipe, ela tinha a responsabilidade de fazer
várias coisas antes que suas ordens viessem.

As instruções foram mais ou menos assim:

Todos no esquadrão deveriam levar suas famílias e ir para o portão leste, porque se o
inimigo atacasse, era mais provável que eles atacassem do portão oeste. Depois disso,
eles iriam se formar no portão leste, e se houvesse demônios fora do portão leste, eles
escalariam os muros perto do portão leste e os atacariam. Além disso, eles deveriam ou-
vir o ajudante de ordens de Neia até ela chegar e se adaptar às mudanças nas condições
do campo de batalha.

Os subordinados de Neia obedeceram às suas instruções e entraram rapidamente em


ação.

“Vossa Majestade!”

Depois de dar suas ordens, Neia se virou e viu que os olhos do Rei Feiticeiro estavam
fixos nas mãos enquanto usava uma magia de voo para subir em algum lugar ao redor
do nível da cabeça de Neia.

“Vossa Majestade! Deixe-me ir com o senhor!”

Talvez ele tenha ficado assustado com o grito de Neia, mas o Rei Feiticeiro de repente
fechou a mão e um som baixo.

“Hmm... bem, tudo bem.”

O Rei Feiticeiro lançou uma magia de voo em Neia também. Naquele momento, ela per-
cebeu a grandeza da magia enquanto aprendia o que era voar.

Neia e o Rei Feiticeiro se moviam como se estivessem deslizando pelo chão. Eles não
saíram da superfície, a não ser para voar sobre multidões de pessoas que haviam caído
no caos, afinal, não conseguiam controlar a situação. A razão para isso era porque voar
no ar sem cobertura os tornava muito óbvios, e se houvesse demônios, eles poderiam
ser submetidos a ataques de todas as direções.

Neia mordeu o lábio em infelicidade, sentindo como se estivesse sendo um fardo. Quais-
quer que sejam as magias utilizadas pelos demônios, elas não poderiam representar um
problema para o Rei Feiticeiro. Ela não podia deixar de pensar que ele havia escolhido
percorrer o caminho mais longo em vez de voar diretamente para o seu destino porque
ela estava por perto.

Eventualmente, eles chegaram ao seu destino — a sede, que também servia como apo-
sentos de Caspond.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


161
Os dois paladinos na porta estavam com as mãos ocupadas tentando controlar as pes-
soas amontoadas perto da porta.

“Srta. Baraja, nós vamos por cima.”

“Sim!”

Depois de ver que seria um pouco difícil entrar pela porta da frente, os dois flutuaram
e chegaram à varanda. Só então, a janela de frente para eles se abriu.

“Vossa Majestade! Obrigado por ter vindo.”

Era um paladino.

“Os outros já chegaram?”

“Não, Vossa Majestade. Os sacerdotes estão se reunindo. O Vice-Capitão Montagnés foi


libertar um campo de prisioneiros e não deve retornar hoje. Neste momento, apenas a
Capitã Custodio e o Príncipe Caspond estão presentes.”

“Então é isso? Ainda assim, é bom que os dois estejam aqui. Lidere o caminho.”

“Imediatamente!”

Depois que o paladino os conduziu aos aposentos de Caspond, eles ouviram uma con-
versa alta pela porta. Parecia bastante caótico.

O paladino abriu a porta para eles e mais de uma dúzia de sacerdotes de olhos verme-
lhos os saudaram.

“Desculpe estou atrasado. Estamos sem tempo, então, quais planos estão discutindo?”

Todos se entreolharam e Caspond falou em nome deles.

“Ainda não vimos Jaldabaoth. Vossa Majestade, aquele fogo poderia ter sido feito por
um item mágico ou um demônio diferente de Jaldabaoth?”

“Eu não tenho certeza. Nem eu consigo fazer uma coisa daquelas.”

Os outros ficaram abalados. O Rei Feiticeiro utilizava uma magia que extrapolava a ima-
ginação. Quão poderoso deve ser Jaldabaoth se ele pudesse usar uma magia que nem
mesmo o Rei Feiticeiro poderia?

“Nesse caso, que efeitos esse fogo possui? A Rosa Azul disse que elas conseguiram pas-
sar por ele, então certamente pessoas normais também podem fazer isso, certo?”

Capítulo 5 Ainz- Morre


162
Depois de dizer isso, Remedios moveu seu olhar diretamente para o Rei Feiticeiro.

“Isso não será um problema. Quanto aos seus efeitos, os demônios que estão dentro do
fogo se beneficiam de atributos aprimorados, as magias que tiram proveito de carma
negativo causam um pouco mais de dano, as taxas de drop de itens aumentam e muitos
outros. Mas de acordo com os resultados da equipe de investigação, nenhum deles es-
tava em vigor. Ainda assim, se faz alguma coisa só resta ver para crer.”

“O que significa que podemos entrar e sair livremente, correto?”

“Hm? Eu não disse isso no começo?”

“Nesse caso, devemos evacuar enquanto não houver demi-humanos ou demônios por
perto, e então nos formarmos em unidades lá. Ouvi dizer que demônios apareceram den-
tro da área cercada pelo fogo quando foi visto pela última vez no Reino. Pessoal, vamos
com esse plano de ação.”

Depois de dar as ordens aos paladinos, ele perguntou ao Rei Feiticeiro novamente:

“O senhor pode usar sua magia para identificar a localização de Jaldabaoth, Vossa Ma-
jestade?”

“Se eu pudesse, eu não precisaria ficar nesta cidade agora, não é mesmo?”

“Isso faz sentido.”

Assim que o Rei Feiticeiro estava lidando com uma pergunta após a outra, todos ouvi-
ram um rangido sinistro. Tudo começou em voz baixa o suficiente, e então cresceu para
abafar o clamor da sala.

Um por um, todos se acalmaram e, finalmente, o único som no silêncio foi o rangido.

Todos olharam em volta, inquietos. Só então, Neia notou algo estranho na parede ex-
terna do prédio e exclamou com um:

“Ah—”

Uma rachadura apareceu na parede e, enquanto todos observavam, começou a se espa-


lhar. A parede se arregalou e então—

“Se afastem!”

Assim que Remedios gritou, o Rei Feiticeiro ficou na frente de Neia.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


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Capítulo 5 Ainz- Morre
164
A parede se rompeu com um poderoso estrondo. Tijolos voaram pela sala como tiro de
escopeta usando chumbo grosso. Gemidos encheram o ar; vieram daquelas pessoas que
foram atingidas pelos estilhaços de alvenaria.

Se o Rei Feiticeiro não tivesse protegido Neia com seu corpo, Neia poderia acabar ge-
mendo no chão com eles.

“Obr-obrigada—”

O Rei Feiticeiro levantou a mão para parar Neia antes que ela pudesse agradecê-lo, e
então ele apontou para a abertura de fumaça na parede, chamando sua atenção para lá.

Havia uma silhueta gigantesca, com a cor de um incêndio rugindo.

“—Agradeço-lhes pela calorosa recepção, humanos.”

Era uma voz profunda e poderosa.

Como se cortasse a fumaça, algo entrava inclinado lentamente através do buraco na


parede.

Um demônio.

Devido ao seu vasto tamanho, ele teve que se abaixar, pois mal cabia dentro da sala. Sua
postura parecia um pouco estúpida, mas agora definitivamente não era hora de rir. Sua
garganta não podia funcionar corretamente; ela queria engolir a saliva acumulada em
sua boca, mas não conseguia.

Esta foi uma massa esmagadora de poder.

Neia nunca tinha sido muito boa em julgar a força de seus inimigos em relação a si
mesma, mas ela entendeu que não poderia ganhar contra ele, nem mesmo com dezenas
de milhares de Neias. Ela foi engolida por uma onda de poder comparável ao Rei Feiti-
ceiro depois de remover seu anel, e ela não conseguia mover um músculo.

Foi então que ela percebeu quem estava enfrentando.

Esse, esse é Jaldabaoth... o Imperador Demônio Jaldabaoth...

Seu rosto estava cheio de raiva, suas asas estavam vermelhas e seus braços ardentes —
ele parecia estar segurando algo em uma mão, e Neia não pôde deixar de duvidar de seus
olhos.

Isso era — embora ela não ousasse acreditar — a parte inferior de um corpo. Emanava
um fedor horrível, de putrefação avançada.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


165
“Kyaaaaahh!”

Foi um grito— não, um berro estridente. Era um som que apenas alguém que tivesse
arrebentado os grilhões em suas emoções e caído na loucura faria. Veio de trás de Neia.

As costas de Neia estremeceram. A pessoa que fazia esse som era Remedios.

Remedios levantou sua espada sagrada e atacou diretamente Jaldabaoth, não se impor-
tando com sua própria defesa.

Isso foi muito precipitado. Até mesmo Neia, que não era habilidosa com espadas, achava
que era uma ação tola.

“—Desapareça.”

Aquelas palavras pesadas e quietas foram acompanhadas pelo som de passos pesados.
Ao mesmo tempo, Remedios foi arremessada em linha reta e colidiu contra uma parede.
Seu impacto foi tão alto que parecia que todo o prédio desmoronaria. Depois disso, Re-
medios — que tinha sido golpeada como uma mosca — desmoronou frouxamente da
parede.

Parece que Jaldabaoth golpeou Remedios com o objeto que parecia a parte inferior do
corpo de um humano.

Neia certamente teria morrido se tivesse tomado aquele golpe. Mas, como esperado da
paladina mais forte do país, sua vida não parecia estar em perigo.

Como se despertos, um odor vil começou a se espalhar pelo ar.

A sala estava cheia de pedaços de carne da parte inferior do corpo putrefato que Jal-
dabaoth usara para atacar Remedios.

“Ahh... que bagunça. Peço sinceras desculpas por ter sujado a sala. Claro, não teria ter-
minado assim se aquela mulher não tivesse atacado a mim sem pensar — bem, isso é
apenas uma desculpa. Por favor perdoem-me.”

Jaldabaoth abaixou a cabeça devagar. Ele parecia genuinamente sentido, mas isso só
deixou a todos com mais medo.

E então, ele casualmente despejou o que estava segurando — algo que parecia com os
restos carbonizados de um tornozelo humano — no chão.

“Ora ora, acho que fiquei um pouco empolgado enquanto balançava e a metade superior
voou para algum lugar. É uma coisa um tanto suja, então estive procurando por uma

Capítulo 5 Ainz- Morre


166
chance de livrar-me dela... quem diria, no final consegui fazer bom uso dela. Não sou eu,
um demônio gentil? Ela deve estar agradecendo-me na vida após a morte.”

Jaldabaoth murmurou para si mesmo.

“Ahhhhhhhhhh!”

Remedios se tocou enquanto gemia de angústia, sangue fresco escorria do canto da


boca. Para ser mais preciso, ela estava coletando os pedaços de carne que estavam pre-
sos a ela. O que ela estava fazendo?

Ela ficou maluca?

Neia se perguntou.

Não, havia um significado para suas ações bizarras.

Não me diga que, esse cadáver é... não pode ser...

Embora a parte inferior do corpo tivesse pedaços esfarrapados do que parecia uma ar-
madura presa a ela, deveria ter pertencido a uma mulher. Nesse caso, ela poderia imagi-
nar duas pessoas que poderia ter sido.

Se isso fosse realmente o caso...

“Que som encantador...”

Jaldabaoth acenou com a mão como um maestro e completou:

“Nesse caso, creio que esta é a primeira vez que nos encontramos, Rei Feiticeiro Ainz
Ooal Gown-dono— ou talvez -sama seria uma forma melhor de endereçar-me a ti?”

“Não importa. Então, creio eu que você está aqui para um confronto comigo, correto?”

“Certamente. Nenhuma quantidade de fracotes fará diferença.”

“Creio que seja algo que concordamos. Não tenho intenção de gerar mortes sem sentido.”

Ainda fungando, Remedios olhou para o Rei Feiticeiro.

“Vossa Majestade, você é forte. Mais forte até do que o Momon. Espero que me permita
adotar uma estratégia que garantirá a minha vitória.”

Jaldabaoth levantou a mão, a cabeça de uma empregada apareceu no buraco que ele
fizera anteriormente.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


167
Era uma mulher usando uma máscara e uma roupa de empregada. Na verdade, havia
duas delas.

“Eu confio que não pretende chamar-me de desprezível, não é?”

“—Uh, hm. Bem, isso é... mhm... uh... hum.”

O Rei Feiticeiro estava começando a ficar preocupado. Não, isso era apenas esperado.

Ninguém poderia esperar que Jaldabaoth viesse com suas empregadas demônios em
seu encalço. Contudo—

Esse provavelmente não é o caso. O Rei Feiticeiro é sábio, e ele deve ter previsto isso. Nesse
caso, por que ele age assim? Será que é porque estamos aqui? Talvez ele não esteja seguro
de nos proteger também, e é por isso que ele está preocupado!

“Vossa Majestade, por favor, não se preocupe conosco.”

“Eh!?”

O Rei Feiticeiro fez uma pequena exclamação de surpresa.

Neia sabia muito bem que as empregadas demônios eram seres que podiam matar to-
dos nessa sala, e eram tão poderosas que ela não podia relaxar, mesmo que alguém dis-
sesse para ela não se preocupar. Comparado a alguém no nível do Rei Feiticeiro, Neia e
os outros, provavelmente incluindo Remedios, eram pouco mais que peões sem valor.

No entanto — ela preferiria morrer a entrar em seu caminho.

Ela ouvira uma vez que os subordinados do Rei Feiticeiro estavam preparados para
morrer se fossem reféns. Mesmo o Rei Feiticeiro dizendo que isso o perturbava, Neia
finalmente pôde entender como seus subordinados se sentiram. Eles não queriam se
tornar um fardo para a pessoa que eles respeitavam.

“Hahaha! Não se preocupem, humanos. Mais tarde eu torturarei todos vocês, lenta-
mente, até a morte. O esperaremos na fonte no centro da cidade. Claro, estás livre para
fugir se assim preferir, Rei Feiticeiro.”

“Eu aceito suas palavras, e elas valem o mesmo para você, Jaldabaoth.”

O Rei Feiticeiro e Jaldabaoth se entreolharam.

Depois disso, Jaldabaoth se virou — e Remedios levantou rapidamente, com a espada


sagrada na mão, e correu para ele.

A espada sagrada fracamente brilhante parecia uma estria de luz fluida.

Capítulo 5 Ainz- Morre


168
“MORRAAAAAAAAAA!”

E então, ela apunhalou nas costas de Jaldabaoth.

“O quê? Então é isso... estás satisfeita agora?”

—Era uma voz fria e monótona.

“Por que... porque... depois de receber um golpe da espada sagrada... você deveria ser
maligno...”

As costas de Remedios pareciam muito pequenas e insignificantes em comparação a ele.

“Eu não tenho idéia do que fazer com isso. Por quê? E ainda perguntas? Parece uma
picada de inseto. Já se satisfez? Se terminou, se importaria de sair do caminho? Não pre-
tendo matá-la aqui. Isso será depois que eu matar o Rei Feiticeiro.”

Jaldabaoth não deu atenção a Remedios e abriu suas enormes asas de fogo. Ele as agitou
e Remedios desabou no chão.

Jaldabaoth a ignorou, assim que ela caiu no chão, ele alçou voo. As empregadas demô-
nios o seguiram.

“...Então eu também vou. Vocês deveriam ir se abrigar para não serem pegos nos com-
bates. Embora eu não ache que isso seja um problema, espero que vocês entendam se
essa cidade acabará demolida.”

“Vossa Majestade, o senhor ficará bem?”

Caspond se levantou de onde havia se escondido para se proteger dos detritos que vo-
avam pela sala. Seus olhos olhavam para Remedios, que parecia totalmente derrotada e
não conseguia se levantar.

“Vai ficar tudo bem — eu não posso dizer com certeza, mas deve haver uma chance.
Seria muito problemático se ele trouxesse os demi-humanos como escudos. Parece que
ele ainda está me subestimando, e esta também é uma chance de trazer as empregadas
demônios para o meu rebanho.”

“Vai ficar bem. Tudo vai ficar bem. Minha irmã ainda está aqui. Kelart, ela ainda está
viva. Enquanto ela estiver por perto, Calca-sama pode...”

Remedios batia no rosto enquanto murmurava para si mesma, e então ela se levantou
com força.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


169
“Rei Feiticeiro! Eu também vou! Me empreste uma arma que pode prejudicá-lo! Eu me
tornarei sua espada por enquanto!”

O Rei Feiticeiro olhou para Remedios, com os olhos vermelhos e cheios de ódio, e então
balançou a cabeça.

“...Esqueça isso. Você só ficaria no caminho.”

“O que disse!?”

“Ainda não entendeu? Eu falo da disparidade na força. Ou quer dizer que entende, mas
se recusa a aceitar? Que fique claro, você será um fardo.”

Remedios olhou para o Rei Feiticeiro como se fosse seu inimigo.

As palavras do Rei Feiticeiro foram muito duras, mas também muito verdadeiras. Ou
melhor, elas eram difíceis de aceitar precisamente porque eram a verdade.

“Capitã Custodio! Eu tenho outra tarefa para você. Evacue essas pessoas fora da cidade!”

Caspond deu a ordem num tom severo e autoritário.

“O plano original era deixar Sua Majestade lidar com Jaldabaoth. Você concordou com
isso também, não é?”

“...Ahh, eu sei.”

Remedios mordeu o lábio, e então ela forçou suas próximas palavras:

“Você deve matar aquele desgraçado.”

“Entendido.”

“—Paladinos, cuidadosamente coletem os restos daquele corpo. Não deixe um único


pedaço para trás.”

“Capitã... esse corpo é...”

O paladino teve uma idéia do que estava acontecendo e aventurou a perguntar em uma
voz trêmula. Remedios respondeu em um tom que parecia estar dizendo a ele para não
perguntar mais nada.

“Não se esqueça de que pode haver truques demoníacos em meio a isso.”

Remedios saiu sem olhar para trás. Vários paladinos a seguiram, com olhares meio as-
sustados em seus rostos.

Capítulo 5 Ainz- Morre


170
“Vossa Majestade, peço sinceras desculpas pela forma como ela tratou o senhor... Posso
pedir desculpas por ela?”

Caspond baixou a cabeça e finalizou:

“Por favor, peço seu perdão.”

“...Eu aceito suas desculpas. Agora, apresse-se e evacue. Se ele ficar esperando por
muito tempo, ele pode decidir voltar atrás em sua palavra. Eu vou sair primeiro para
ganhar tempo, mas espero que entendam que só posso dar a vocês cerca de trinta minu-
tos.”

“Compreendo. Todos ouviram? Mexam-se!”

Vários sacerdotes e paladinos acompanharam Caspond.

As únicas pessoas que restaram na sala foram o Rei Feiticeiro e Neia, assim como vários
paladinos e sacerdotes que estavam colocando os restos mortais do corpo de uma pes-
soa em uma sacola. Nesse caso—

“Vossa Majestade, posso ir com o senhor!?”

Houve suspiros de admiração e súbitas tomadas de ar ao redor dela. Mas Neia ignorou
essas pessoas irrelevantes. Ela tirou a viseira e olhou diretamente para o Rei Feiticeiro.

“...Humm. Melhor não. Ele pode ter dito tudo aquilo, mas ele é um demônio. Se pressio-
nado, ele revelará sua verdadeira natureza e usará você como refém.”

“Mas se isso acontecer, Sua Majestade vai me matar sem hesitação, não vai?”

“Quando diz isso com um olhar tão sério em seu rosto, você me faz soar como uma pes-
soa cruel. Bem, se eu não puder te salvar, eu te descartarei. Eu a acertaria com uma magia
de ataque.”

“Mesmo assim, eu—”

“—Eu! Eu não estou fazendo isso porque quero matar reféns, entende?”

“Ah! Me perdoe...”

Era assim que as cosias eram. Ele faria isso porque era a melhor escolha disponível. Se
houvesse uma alternativa melhor, esse homem misericordioso certamente escolheria
isso. Assim, não deixar Neia acompanhá-lo era porque era a melhor das melhores alter-
nativas.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


171
“Mas... Vossa Majestade, o senhor usou muitas magias e até seus itens mágicos e mana
para libertar esta cidade. Como um magic caster, certamente o senhor deve estar enfra-
quecido agora. Isso vai ficar bem?”

“Mhm! De fato, pode ser perigoso, mas vim aqui para derrotar o Jaldabaoth. Felizmente,
ele veio me encontrar em vez disso. Agora eu vou destruí-lo e reivindicar as empregadas
demônios... ugh, dizer que eu quero as empregadas me faz soar como um velho tarado,
hm...”

Neia sorriu amargamente para o Rei Feiticeiro, que ainda podia fazer uma piada sem
graça em um momento como esse. Ela queria falar, mas o Rei Feiticeiro a interrompeu
com um gesto de levantar a mão.

“Além disso, serei motivo de riso se eu fugir daqui.”

O Rei Feiticeiro deu de ombros, como se estivesse brincando. Neia sentiu que ele não
estava falando sério, e então ela levantou a voz.

“Vossa Majestade! Se eles querem rir, deixe-os! Eu humildemente submeto que o se-
nhor só deve lutar com ele nas melhores condições! Além disso, o senhor veio aqui para
lutar contra Jaldabaoth, mas acabou usando uma grande quantidade de mana e força em
nome do Reino Sacro. Isso não estava no trato que o senhor aceitou. Se dissermos isso,
as pessoas do meu país vão...”

“De fato, isso é verdade. Mas os seres humanos são criaturas que só acreditam no que
querem acreditar. Mesmo que você espalhe a notícia, ninguém levaria isso a sério, Srta.
Baraja.”

“Mas isso...! Nesse caso, posso ser uma testemunha! E...”

Neia olhou pelo canto do olho para os paladinos e sacerdotes ouvindo a conversa. Cer-
tamente eles estariam dispostos a ser testemunhas.

“...Neia Baraja. Eu te agradeço, mas não há necessidade disso. Não vou mudar minha
intenção de lutar contra Jaldabaoth.”

“Mas— por que isso?”

“Simples. É porque é uma promessa que fiz como um rei.”

Neia não tinha nada a dizer. Não havia nada que ela pudesse dizer em resposta a isso.
Uma plebeia como ela não poderia dizer nada que pudesse mudar a mente de um rei.

Houve murmúrios de admiração ao seu redor. De fato, essa pessoa grande e orgulhosa
não era outra senão Sua Majestade, o Rei Feiticeiro, Ainz Ooal Gown.

Capítulo 5 Ainz- Morre


172
Neia estava cheia de orgulho pelo rei com quem tinha grande consideração.

“Vossa Majestade, eu sei que isso é profundamente desrespeitoso, mas se o senhor sen-
tir que corre perigo, peço que fuja.”

Talvez mencionar a possibilidade de sua perda pudesse deixá-lo infeliz, mas mesmo
assim ela ainda precisava dizer isso.

“...Mas é claro. Quem luta sem preparar um meio de fuga não passa de um tolo. Mesmo
se perder uma batalha, você pode fazer bom uso das informações obtidas na próxima.
Perder a primeira batalha pode ter seus usos.”

“Eu não esperava nada menos do senhor, Vossa Majestade.”

Uma interpretação extrema disso era que se seu objetivo era derrotar Jaldabaoth, então
tudo o que ele precisava era ser vitorioso no final. Neia estava animada com essa linha
de pensamento, que não era a mentalidade de um guerreiro, mas a de um rei.

“Então, é hora de ir.”

♦♦♦

Ainz caminhou em direção ao lugar indicado por Jaldabaoth. Ao longo do caminho, ele
usou 「Message」 para ordenar os dois Hanzos que o seguiam para verificar duas coi-
sas; se ninguém o seguia e se alguém estava observando de longe.

Depois de receber um relatório negativo para ambos, Ainz tinha originalmente a inten-
ção de terminar a transmissão imediatamente, mas depois ele recebeu um relato um
tanto confuso de que havia membros das Pleiades presentes.

Ainz reconheceu e finalizou a 「Message」.

...E mais uma vez não encontramos outros jogadores ou detentores de itens World-Class.
Não consigo parar de pensar eles já deveriam ter se mostrado... mas se não existem, como
dá pra explicar o que aconteceu com a Shalltear? Foi algum tipo de coincidência? Só pode
ter sido o efeito de um item World-Class, certo? Ou foi obra de algum Talento?

O fato de nada ter aparecido, apesar de ter ido tão longe, fez a coisa toda parecer uma
armadilha para ele. Por tudo o que sabia, a oposição esperava que ele abaixasse a guarda
antes de atacar.

Só pode ser brincadeira... bem, isso não importa. Um planejamento cuidadoso para o fu-
turo não será desperdiçado.

Portanto, Ainz contatou as outras equipes de Hanzos com 「Message」 para verificar
se estavam prontas e se suas ordens haviam sido recebidas.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


173
Tudo bem, as preparações estão completas. A próxima parte é simples, eu só preciso seguir
o manual do Demiurge. Mesmo se eu cometer um erro, eu sempre posso dizer “eu estava
apenas testando você” e assim por diante.

Tudo estava indo bem.

Ainz ficou comovido com o quão leve foi seu modo de andar. Essa foi a primeira vez que
ele se sentiu tão relaxado desde que veio a este mundo, foi como flutuar pelo céu.

Logo, Ainz chegou a uma praça de tamanho médio.

Originalmente, tinha sido uma fonte que regularmente pulverizava água para o lazer
dos cidadãos. No entanto, a água já não fluía por aqui depois que os demi-humanos a
destruíram. Não havia planos para restaurá-la por enquanto, e os arredores pareciam
muito austeros.

Um demônio estava de pé, esperando orgulhosamente.

Era um demônio enorme com asas em chamas e dois punhos vermelhos e musculosos.
[Lorde Malig no d a I r a ]
Este era um Evil Lord Wrath de Nazarick. Mas o que estava aqui era apenas um monstro
que Demiurge havia invocado com seu 「Evil Lord Summons」. Só podia ser usado uma
vez a cada 50 horas, mas podia ser controlado livremente por um tempo. Nazarick não
ficaria em desfalque, mesmo que fosse morto.

Possuía o nível 84.

Como um atacante do tipo físico, o Evil Lord, tinha um HP máximo muito alto.

De todas as habilidades especiais que os Evil Lords possuíam, a mais perigosa era a
habilidade de invocar outro Evil Lord que era de nível inferior a eles mesmos. Porém, os
monstros invocados não poderiam, por sua vez, invocar mais monstros. Sendo assim, o
Evil Lord Wrath que Demiurge convocou não poderia convocar outro Evil Lord.

Se este Evil Lord tivesse sido criado ou feito, então poderia convocar criaturas adicio-
[Lorde Malig no da Preguiça]
nais. Por exemplo, o Evil Lord Sloth muitas vezes invocava matilha de demônios e
undeads, tornando-os muito difíceis de lidar.

Além disso, um ponto problemático sobre o Evil Lord Wrath era que era muito difícil
administrar seu ódio.

O Evil Lord Wrath tinha o status de aggro mais facilmente aumentado do que outros
Evil Lord. Ele ouviu os jogadores tanques dizerem que a coisa mais irritante em lidar
com os vários Evil Lords de uma só vez era como manter o Evil Lord Wrath longe do alvo.

Capítulo 5 Ainz- Morre


174
Além disso, ele tinha a habilidade especial de causar mais danos e ganhar mais defesa,
quanto mais alto o seu valor de ódio se tornasse. Ainda assim, isso não era muito assus-
tador. A única coisa que Ainz tinha que se preocupar era sua habilidade chamada 「Soul-
Bought Miracle」, que produzia efeitos desconhecidos.

O Evil Lord poderia conjurar as seguintes magias:

• Magias 10º Nível: 「Meteor Fall」, 「Time Stop」, 「Field of Unclean」


• Magias 09º Nível: 「Greater Rejection」, 「Vermillion Nova」
• Magias 08º Nível: 「Distort Moral」, 「Insanity」, 「Astral Smite」, 「Wave of
Pain」
• Magias 07º Nível: 「 Napalm」 , 「 Hellflame 」, 「Greater Word of Curse」 ,
「Greater Teleportation」, 「Blasphemy」
• Magias 06º Nível: 「Flamewing」, 「Wall of Hell」
• Magias 03º Nível: 「Fireball」, 「Slow」

Embora o número exato de magias que os monstros poderiam usar variasse com seu
nível e tipo, era tipicamente por volta de 8. No entanto, monstros de alto nível como
Dragões, Demônios e Anjos eram uma exceção.

Ainda assim, como um tipo puramente guerreiro, as magias do Evil Lord Wrath não
eram particularmente temíveis.

Não tinha habilidades para fortalecer suas magias e seus atributos relacionados à magia
eram muito baixas. Mesmo que as magias de ataque do Evil Lord fossem do elemento
fogo e, portanto, visavam uma fraqueza dos undeads, não havia necessidade de ser cau-
teloso. Suas magias que afetam a mente também eram inúteis contra os undeads, para
começo de conversa, os valores de Carma de Ainz eram negativos, então magias como
「Distort Moral」 eram uma perda de tempo.

Como o valor do carma de Ainz era negativo, os anjos eram mais difíceis de lidar do que
os demônios.

Enquanto contemplava os dados de sua oposição, Ainz olhou para as duas empregadas
atrás do Evil Lord. Ele pensaria sobre elas mais tarde.

“Então, já foi avisado?”

“Mas é claro, Ainz-sama.”

Ouvir aquela voz pesada fez Suzuki Satoru sorrir inconscientemente do interior do co-
ração de Ainz. Isso porque esse demônio — e todos os monstros de Nazarick — foram
projetados de acordo com a imagem deles.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


175
Essas vozes eram provavelmente o que os desenvolvedores ou seus criadores tinham
imaginado para eles. Nesse caso, quem inventou a voz adorável que os Insetos Bocas
tinham antes de consumir quaisquer cordas vocais? Ou toda a coisa de a seiyuu-em-sua-
mente que Peroroncino estava falando realmente existe?

Não, isso era impossível.

Pandora’s Actor era um bom exemplo. Ele era um ser que não sentia que refletia o que
seu criador tinha em mente. E então havia o fato de que até mesmo um ser sem cordas
vocais como Ainz podia falar. Tudo o que ele podia dizer seria que os mundos mágicos
eram realmente surpreendentes.

“Se está se dirigindo a mim com esse nome e nesse tom, posso assumir que os arredores
estão seguros?”

“De fato.”

“Então, hora da pergunta mais importante de todas. Você está verdadeiramente prepa-
rado para lutar com a intenção de me matar?”

“Sim, eu fui ordenado a fazer isso.”

Ainz assentiu enquanto ouvia a resposta do Evil Lord.

Uma coisa que deixou Ainz desconfortável no passado foi a falta de fortes oponentes
para lutar. Desde a batalha contra Shalltear, Ainz estava preocupado em não ter chances
de lutar com todas as suas forças.

Depois de treinar e ganhar experiência em combate corpo a corpo, ele poderia habil-
mente mover seu corpo como Momon e lutar como um guerreiro de nível 33.

Ainda assim, a questão de como ele se sairia em combate de alto nível ainda permanecia
em dúvida.

Ele deveria ter conduzido treinamento de combate contra oponentes de alto nível. In-
felizmente, ele não teve a chance de encontrar monstros de alto nível até agora.

Foi por isso que Ainz ordenou que Demiurge comandasse esse Evil Lord para matá-lo.

Ele derrotaria este poderoso inimigo que queria matá-lo e, assim, fortalecer-se-ia.

Isso era mais fácil falar do que fazer. Os dois se opuseram fortemente à idéia e con-
vencê-los demorou muito tempo. Não se pode culpar um Ainz mentalmente exausto de
pensar: “Eu pensei que nós havíamos concordado que minha palavra é a lei...”

Capítulo 5 Ainz- Morre


176
No final, depois de inúmeras concessões e condições, o palco estava montado para essa
batalha de vida ou morte.

Um arrepio percorreu seu corpo enquanto considerava que ele poderia morrer. Foi uma
sensação completamente diferente do que ele sentiu durante a batalha com Shalltear,
pois esta era uma batalha desnecessária.

Contudo—

Mesmo com toda a experiência em PVP de YGGDRASIL, percebi na batalha contra a Shall-
tear que este mundo não é um jogo. Se chegar a hora de enfrentar um jogador de nível cem
com muita experiência de combate real, não poderei ganhar sem uma quantidade equiva-
lente de experiência. Eu sei que a covardia leva à derrota.

Ainz estava muito feliz por ele ser undead e poder suprimir o medo que poderia sentir
pela perspectiva da morte. Se ele ainda fosse humano, provavelmente teria desistido
agora.

“Vejamos, Yuri...”

Ainz disse para as empregadas atrás do Evil Lord.

“Já que você e Lupusregina estão aqui, isso significa que lutará comigo junto com o Evil
Lord? As outras não estão aqui?”

Ele não viu sinal de Solution, Entoma ou CZ. Elas devem estar em outro lugar fazendo
algum trabalho.

“Somos as únicas que vieram aqui. Nós, irmãs, vamos desafiá-lo junto com o Evil Lord
Wrath. A razão é porque a Albedo-sama crê que permitir que as pessoas deste país tes-
temunhem as empregadas demônios não será problema algum. Além disso, o Evil Lord
Wrath sozinho pode não ser suficiente para satisfazer o seu pedido, Ainz-sama.”

Era verdade que um único Evil Lord de nível +/-80 seria duramente pressionado por
Ainz. No entanto, mesmo a adição de Yuri e Lupusregina não o tornou um adversário
muito poderoso.

Mesmo assim, fatores problemáticos podem se tornar más notícias. Sofrer porque subes-
timei meu oponente seria tolice. Eu melhor ficaria em guarda.

“Além disso, Albedo-sama nos mandou verificar algo com o senhor, Ainz-sama. O se-
nhor está realmente bem com a condição de não sair de Nazarick durante o próximo ano
se for derrotado?”

“Ah, essa foi uma das condições em que a Albedo insistiu antes de concordar com essa
luta. Se eu perder, vou passar o próximo ano trabalhando com afinco dentro da Grande

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


177
Tumba de Nazarick, com a Albedo e eu... na mesma sala... você não vai verificar as condi-
ções que o Demiurge mencionou?”

Ainz olhou para o Evil Lord, mas não disse nada. Provavelmente, sentiu que não havia
necessidade de verificar.

“Muito obrigada.”

Yuri se curvou.

Agora não haveria margem para ele mudar o plano. Enquanto pensava em quão terrível
a situação era, Ainz não pôde deixar de suar internamente.

Seria fácil matar Yuri e as outras devido à tremenda disparidade em suas respectivas
forças, mas Ainz Ooal Gown nunca permitiria isso. Matar um NPC para treinamento seria
totalmente ridículo.

Em outras palavras—

Eu tenho que matar o Evil Lord sem prejudicar a Yuri nem a Lupusregina.

Ainz não pôde deixar de rir. Isso seria um desafio e tanto. Ainda assim, seria um bom
treinamento.

“Há algo errado, Ainz-sama?”

“Não, não é nada, não se preocupe com isso.”

“Além disso, Cocytus-sama solicitou que gravássemos essa batalha para que todos em
Nazarick pudessem aprender com ela. O senhor se importa?”

Embora ele não quisesse fazê-lo porque sentia que era embaraçoso, gravar batalhas era
muito comum em YGGDRASIL. Com isso em mente, ele deveria aceitar esse pedido.

“Bem, registrar os procedimentos de batalha irá desencadear a interferência das bar-


reiras ofensivas anti-adivinhação. Devo suspendê-las?”

“Certamente se refere às magias de detecção de adivinhações, correto, Ainz-sama? A


mesma não está ligada ao modelo ofensivo de magia?”

“Ah, sim, exatamente. Afinal, se fosse o último, seria ruim se alguém de Nazarick esti-
vesse tentando encontrar minha posição e a acionasse sem querer.”

Se ele empregasse a barreira ofensiva de magias, como ele costumava fazer no passado,
qualquer membro de Nazarick que tentasse lançar adivinhação em Ainz ficaria muito

Capítulo 5 Ainz- Morre


178
ferido. Antigamente ele costumava lançar essa magia o tempo todo porque o fogo amigo
estava desligado, fazê-la agora seria perigoso.

É claro que os habitantes de Nazarick não seriam feridos pela barreira ofensiva, uma
vez que eram protegidos por um Item World-Class, mas a defesa incorreria em um custo
em moedas de ouro. Se as coisas fossem de mal a pior, despesas como essa seriam mais
dolorosas para ele.

“Então não há necessidade de se preocupar ~su.”

“Não, seria melhor desativá-la. Além disso, barreiras ofensivas desaparecem quando
elas são ativadas e precisam ser reiniciadas. Nesse caso, posso simplesmente desativá-
la desde o início e ter alguma paz de espírito.”

“Entendo ~su, então eu conto com is~su.”

Ainz desativou sua barreira ofensiva.

“Tudo bem— então vamos começar a gravação de combate. Pretende usar o ponto de
vista de quem? Eu não me importo se for o meu, tudo bem?”

“Acho ~su que eu deveria fazer a gravação ~su.”

Na verdade, Ainz estava bem com qualquer coisa. A perspectiva de qualquer um teria
sido boa.

Além disso, as lembranças de treinar com seus amigos estavam voltando para ele, e
Ainz começou a se divertir.

Batalhas simuladas com seus amigos eram parte fundamental da criação de novas téc-
nicas e do uso de novos equipamentos.

Ele costumava lutar com Touch Me, mas essas batalhas não contavam e não haviam sido
registradas no registro PVP de Ainz.

Como Ainz nunca o venceu sequer vez, seu índice de vitórias teria caído se elas tivessem
sido registradas. Ele nunca levou a sério, simplesmente pensava naquilo como “treina-
mento”, pois sabia que não poderia vencer. Ainz sempre enfatizou isso.

“Vamos começar então? Vocês precisam se preparar para me matar. Claro, eu não vou
matar vocês.”

“Não, na verdade, tudo bem se o senhor nos matar.”

Antes que Ainz pudesse dizer que não queria fazer isso, Yuri declarou o motivo:

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


179
“Ainz-sama, não somos os membros reais das Pleiades. Todas nós somos Grandes Dop-
pelgängers.”

“O quê!? Como assim?”

“Somos músicos da Orquestra de Cordas de Erich sob Chacmool-sama dos Cinco Piores.
Por ordem de Albedo-sama, nos transformamos em membros das Pleiades.”

“—Então é isso?”

Ele olhou para elas várias vezes mais, mas Ainz não podia dizer a diferença entre elas e
Yuri e Lupusregina que ele conhecia. Ele não podia deixar de se perguntar se isso era
uma mentira que elas estavam contando para que ele pudesse matá-las sem preocupa-
ções durante a luta.

Talvez um deles fosse falso. Ele ouvira uma vez que as melhores mentiras eram aquelas
que tinham um fundo verdadeiro.

Ainz não podia ver através do disfarce das Doppelgängers. Havia uma magia que pode-
ria dissipar o metamorfismo de Doppelgängers, mas usar essa magia os impediria de se
transformarem novamente por um período de tempo devido ao efeito. Nesse caso, tê-los
transformado nas Pleiades não teria sentido. Seria um assunto diferente se Ainz tivesse
aprendido magias de nível inferior, mas—

Não—

“Hm, parece que a Lupusregina está falando diferente do normal. O que aconteceu?”

O rosto de Lupusregina ficou em branco por um momento.

“Isso é estranho, Ainz-sama?”

A Grande Doppelgänger fingindo ser Lupusregina mudou seu jeito de falar. Esse era
provavelmente seu padrão de fala usual.

“Ah, essas não são as expressões usuais que ela usa.”

“Mas Lupusregina-sama sempre falava assim na nossa frente...”

Quando um Doppelgänger se fazia passar por alguém, era mais difícil para as pessoas
mais próximas do alvo enxergarem através de seu disfarce. Isso porque eles usaram uma
forma de telepatia durante sua mudança de forma para ler os pensamentos superficiais
das pessoas com quem estavam falando e os que estavam ao seu redor para extrair in-
formações relacionadas ao alvo que estavam representando e aplicá-las na atuação ao
representá-los. Pelo menos foi isso que a entrada deles na enciclopédia dos monstros
dizia.

Capítulo 5 Ainz- Morre


180
De acordo com Pandora’s Actor, essa habilidade se tornou real neste mundo.

No entanto, isso era simplesmente discernir as possíveis reações que o alvo personifi-
cado poderia ter, e não lia mentes nem procurava memórias.

Além disso, uma vez que essa habilidade era uma forma de ataque psíquico, era inútil
em Ainz e outras criaturas undeads. Também se poderia simplesmente resistir se a dife-
rença de nível fosse grande o suficiente. Foi provavelmente por isso que não pôde dis-
cernir as possíveis reações que Lupusregina possui de Ainz que fez o segredo ser reve-
lado.

A propósito, era mais provável que Doppelgängers se desprendessem disso quando en-
frentassem várias pessoas, porque cada um deles teria uma impressão diferente do alvo.

Uhum. Por que a Lupu não adicionou ~su apenas no final de suas sentenças na frente de-
les? Ahh, entendi, então foi para fazê-los soar estranho. Talvez ela estivesse tentando me
ajudar. Que malandrinha fofa ela é...

“...Hm? Me desculpe. Eu tenho outra questão que não está relacionada ao combate.
Mesmo a Albedo lhe dando uma ordem, quem teria prioridade se eu dissesse para você
abandonar essa ordem?”

“Naturalmente, as palavras do Supremo teriam prioridade, Ainz-sama. No entanto, devo


sinceramente pedir desculpas por obedecer às ordens de nosso invocador, Kurayami no
Shirabe-sama, acima de tudo.”

“...Hm? Quem é esse?”

Havia um NPC assim? Enquanto a pergunta crescia em seu coração, as chamas nos olhos
de Ainz arderam quando ele ouviu a resposta da Doppel-Yuri.

“Esse seria o Temperance-sama.”

“Eh? Temperance-san? Kurayami? Ahhh... bem, isso funciona como uma descrição fí-
sica... mas ainda assim, Kurayami no Shirabe?”

“Sim. Temperance-sama uma vez pediu para ser abordado dessa forma, então Chac-
mool-sama nos instruiu a fazê-lo também.”

“...Quando eu retornar à Nazarick, gostaria de ouvir tudo sobre isso. Kurayami no Shi-
rabe, huh.”

Esta foi a primeira vez que ele o ouviu se referir a ele dessa maneira.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


181
Ainz não pôde deixar de rir quando soube que um antigo amigo se referia a si mesmo
daquele jeito em um lugar onde ninguém mais sabia. Esta foi realmente uma armadilha
astuta, destinada a diminuir seu espírito de luta.

Ah não, não. Eu não devo cair na armadilha do Kurayami no Shirabe! Fu, fufu...

Embora soubesse que não era o momento certo para fazê-lo, ele se lembrou do membro
da guilda em questão.

Como ele estava e sentia quando deu esse nome?

Ainz estreitou os olhos enquanto se lembrava de seu amigo do passado, e então ele viu
um olhar surpreso no rosto da Doppel-Yuri enquanto inclinava a cabeça. Ainz sentiu que
ele se tornou descuidado e se recompôs.

Ele poderia se lembrar de seus velhos amigos mais tarde. Agora, ele deveria analisar as
palavras da Doppelgänger.

Depois disso, gostaria de questionar todos os vassalos e NPCs sobre o que eles estão escon-
dendo. Fufufu— Então! Outra pergunta me veio à mente...

Na ausência de uma ordem direta, vassalos como Doppelgängers obedeceriam ao NPC


encarregado deles. Nesse caso, o que aconteceria se um certo NPC quisesse matar Ainz
e reunisse muitos vassalos de alto nível e ordenasse que atacassem Ainz com seus golpes
mais fortes? Claro, isso aconteceria enquanto Ainz não conseguisse detectá-los ou detê-
los.

Eles realizariam essa ordem? Ou desobedeceriam?

“...Você também está pronto para vir até mim como se quisesse me matar, é isso?”

“Sim. Essas são as ordens que recebi e determinei que também tenho sua permissão,
Ainz-sama.”

A resposta da Doppel-Yuri fez Ainz enrugar suas sobrancelhas inexistentes.

...Isso não é perigoso? Provavelmente, é melhor ver exatamente onde está o limite.

Se até mesmo Ainz pudesse pensar nisso, Albedo provavelmente teria verificado isso
por si mesma. Ainda assim, era melhor ter certeza. Ele não podia ignorar uma possível
falha na segurança.

“...De fato. Eu permito que você use todas as suas habilidades para me matar nesta ba-
talha. Preciso que jure sob o nome de Ainz Ooal Gown mais uma vez. Pode jurar sobre o
que disse sobre suas verdadeiras identidades é a verdade?”

Capítulo 5 Ainz- Morre


182
“Sim. Isso nós juramos em nomes de todos os Seres Supremos.”

Yuri e Lupusregina transformaram suas mãos em objetos de aparência alienígena.

“—Ah!”

“O quê? Algum problema, Doppel-Yuri?”

“Ainz-sama, há uma coisa que esqueci de dizer. Nosso equipamento foi emprestado das
Pleiades. Portanto, podemos nos incomodar em recuperá-los para nós se formos mor-
tos?”

Doppelgängers poderiam até copiar as roupas e equipamentos de seus alvos se quises-


sem. No entanto, eles só podiam duplicar as aparências e não as habilidades do equipa-
mento. Já que não ganhariam nenhum benefício com o equipamento, ao lutar contra um
magic caster como Ainz, a diferença entre eles seria assim entre o céu e a terra. Portanto,
não tiveram escolha senão pegar emprestado das originais.

Grandes Doppelgängers podem imitar pessoas de até o nível sessenta. No entanto, dife-
rentemente dos NPCs, eles só podem copiar até noventa por cento das habilidades dos ori-
ginais. Mesmo que possuam equipamentos das Pleiades, não há necessidade de se preocu-
par... com isso? Nesse caso, matá-los seria um grande desperdício. Afinal, eles são vassalos
mercenários, o que significa que convocá-los custa dinheiro — como eu pensava, eu deveria
deixá-los impotentes. Eu preciso colocar isso nas regras depois?

“Tudo bem! Eu adicionarei mais uma regra. Uma vez que as Grandes Doppelgängers
ficarem perto da morte, vocês se darão por vencidas. Vou monitorar sua saúde com
「Life Essence」. Vocês não podem esconder seus pontos de HP, ou podem?”

Depois que Yuri respondeu afirmativamente, Ainz assentiu:

“Então, suprima essa habilidade por um tempo. Se eu julgar que você vai morrer depois
de um golpe leve, eu vou chamar o seu nome e ficarão fora de combate. Nesse caso, estará
virtualmente morto. Deixe a área de batalha imediatamente. Além disso, a mesma coisa
se aplica ao Evil Lord Wrath. Se eu declarar vitória, o combate terminará. Estamos en-
tendidos?”

O Evil Lord Wrath e as duas Doppelgängers indicaram que entenderam.

“Ótimo. Então, começaremos quando a moeda cair no chão... cerca de vinte e cinco mi-
nutos se passaram, então acho que eles não vão reclamar, mesmo se começarmos.”

Ainz conjurou 「Life Essence」 e depois tirou uma moeda de ouro. Claro, isso não era
uma moeda de ouro de YGGDRASIL, mas uma moeda de ouro comercial usada neste
mundo.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


183
“E quanto aos buffs?”

“Arranjar tempo para se aprimorar com buffs também faz parte do treinamento de
combate.”

Depois de responder assim a Doppel-Lupusregina, Ainz se afastou, então jogou a moeda


com o polegar para que caísse entre os dois.

Quando a moeda bateu no chão, Ainz pulou para trás, ergueu as mãos e gritou:

“Barreira de Imunidade Absoluta!”

Ele viu o Evil Lord e as duas Doppelgängers paralisarem por um momento. No entanto,
o Evil Lord e a Doppel-Yuri se recuperaram imediatamente.

Foi isso. Essa foi a resposta certa.

As ações anteriores de Ainz foram sem sentido. Não havia nenhuma habilidade cha-
mada “Barreira de Imunidade Absoluta” em YGGDRASIL — ou pelo menos, não deveria
ter, até onde Ainz sabia. Ainda assim, Ainz gritou esse nome não apenas para fingir, mas
também por um motivo diferente.

Ah— parece que estão um pouco lentos. Será que pensam que algo foi feito para eles e se
tornaram um pouco tímidos agora? Bem, isso é o que acontece quando você se pergunta se
caiu na armadilha do inimigo.

Seus movimentos eram restritos pelo desconforto que vinha do fato de que tal técnica
poderia realmente existir neste mundo. Pode-se dizer que essa finta foi bem-sucedida
porque ainda havia coisas desconhecidas por aí.

Claro, isso não foi simplesmente por causa do desconhecido. Um bom exemplo foi a ca-
pacidade do Ainz de criar undeads.

Em YGGDRASIL, não existia o uso de um cadáver como meio para ignorar a duração dos
undeads criados. Esta aberração só surgiu depois de vir a este mundo. Pode-se imaginar
que houve muitas outras mudanças semelhantes que aconteceram no processo de vir a
este mundo. Não, só um tolo não pensaria em tais coisas.

Em outras palavras, tomar decisões apenas com o conhecimento de YGGDRASIL era


muito perigoso.

Eu deveria discutir isso com a Albedo... os outros e Cocytus incluso.

Ainz lançou uma magia silenciosa 「Fly」 e começou a pensar enquanto se retirava
para a retaguarda, mantendo uma distância fixa de seus perseguidores.

Capítulo 5 Ainz- Morre


184
Albedo disse que destruir o Reino levaria cerca de dois anos de preparação. Devo coletar
informações até então? Expandir a nação significa expandir o contato com o exterior... Eu
deveria fazer essas perguntas para a Albedo e Demiurge e obter suas opiniões. As ilusões
parecem ser surpreendentemente poderosas, pode ser muito ruim se nós não tomarmos
cuidado com elas. Parece que dá para fazer muito com elas caso seja inteligente. Se eu
encontrar um ilusionista habilidoso, provavelmente deveria tratá-lo bem para recrutá-lo.
Fluder— Nossa!

O Evil Lord tinha ultrapassado a magia 「Fly 」 de Ainz em um instante. Infelizmente,


voar não era tão rápido.

“!”

Depois de socar o punho grande como um martelo do Evil Lord, Ainz sentiu dor — em-
bora tenha sido imediatamente reprimida. Embora ele tivesse sentido o mesmo durante
a luta contra Shalltear, ele estava mais uma vez agradecido por este corpo que poderia
suprimir sua dor. Ainz poderia lutar graças a isso.

Em seguida, o Evil Lord perseguiu Ainz — que havia sido derrubado no ar — e encurtou
a distância entre eles.

Para Ainz, essa era a pior coisa que poderiam ter feito.

Yuri circundou atrás de mim. Estão usando um ataque de pinça de duas pessoas que po-
dem causar dano por concussão, que é minha fraqueza. Enquanto isso, Lupusregina está
mantendo distância e lançando magias... hm, isso é um bônus. Quem diria, esta é a melhor
maneira de lidar com os magic caster. Isso é por causa da I.A de combate do Evil Lord? Ou
é porque está escolhendo movimentos da mente de seu conjurador, Demiurge? Bem, tudo
bem.

Se eles não o deixassem manter distância, então ele simplesmente teria que criar seu
próprio espaço.

“「Greater Teleportation」.”

Seu campo de visão imediatamente se abriu e a cidade se espalhou abaixo dele. Em cir-
cunstâncias normais, ele não teria sido capaz de se teletransportar para um destino des-
conhecido, mas estaria tudo bem, desde que estivesse dentro da linha de visão. Tendo
teleportado um quilômetro acima do solo sem qualquer hesitação, Ainz lançou outra ma-
gia.

Foi 「Body of Effulgent Beryl」.

Esta magia era excepcionalmente eficaz porque Yuri e o Evil Lord causaram danos por
concussão.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


185
“Claro, isso não é tudo que há.”

Ainz murmurou enquanto olhava para o chão:

“...Se a Bukubukuchagama-san ou Variable Talisman-san estivessem aqui, as retaguar-


das não seriam espancadas.”

Ao jogar como uma equipe, os gerenciadores habilidosos em relação ao aggro como


tanques não cometeriam erros como permitir que os magic casters na retaguarda fos-
sem atacados.

Durante o tempo em que eles pararam de jogar — quando Ainz tinha que sair sozinho
para ganhar o dinheiro para a manutenção de Nazarick, ele tinha usado NPCs mercená-
rios para permitir que ele agisse impunimente. A única vez que ele realmente lutou so-
zinho foi na batalha contra Shalltear. Talvez por isso ele não pudesse deixar de reclamar.

Ele estava um tanto longe, de modo que ele não tinha idéia de onde estava o Evil Lord,
mas tinha uma idéia aproximada da localização da praça. Embora bombardear a área
com magias de ataque fosse uma tática válida, isso seria inútil. Pode-se dizer que o obje-
tivo desta vez estava em vencer a oposição em uma competição.

“「Widen Magic: Delay Teleportation」!”

Antigamente eu costumava ficar chateado com o gerenciamento de aggro medíocre que


os NPCs mercenários faziam. Essa era provavelmente a maneira dos desenvolvedores dize-
rem: “Façam amigos com outros jogadores” ou algo assim.

Ele então confirmou que algo grande iria se teletransportar acima dele, dentro da área
da magia 「Delay Teleportation」— o Evil Lord. Graças ao efeito do 「Delay Teleporta-
tion」, levaria algum tempo até que aparecesse de fato. Em outras palavras, significava
que esses dois fracos inimigos que haviam perdido seu escudo mais forte estavam com-
pletamente expostos diante de Ainz.

Para enfraquecer a força de combate do inimigo, Era preciso derrotar os dois mais fra-
cos primeiro. Ainz deixou a gravidade reivindicá-lo e depois acelerou ainda mais com
「Fly」.

A velocidade adicional da queda livre significava que ele estava se movendo muito rá-
pido. O ar atingia o rosto de Ainz e passava por ele. Ao mesmo tempo, Ainz abriu os olhos
e observou a praça.

“Ainda acho que me esconder em uma casa teria sido melhor...”

Ainz murmurou e então selecionou Lupusregina — que estava orgulhosamente de pé


no meio da praça — como seu alvo.

Capítulo 5 Ainz- Morre


186
Yuri estava a alguma distância. Mesmo o detectando, ela não parecia estar preparada
para interceptá-lo. Deixar a suporte de cura sozinha era bastante frustrante, mas Yuri
tinha tomado a decisão certa, considerando que ela tinha que ter cuidado com as magias
de efeito de área.

Ainz parou quando resvalou pelo chão — na verdade, ele não teria se machucado
mesmo se tivesse batido diretamente — e lançou uma magia.

Ainz escolheu uma das magias mais destrutivas de 10º nível em seu arsenal, 「Reality
Slash」. Ao mesmo tempo, ele usou uma habilidade especial para maximizar a magia.
Embora ele pudesse ter triplicado a magia ou algo similar para causar muito dano, seria
muito perigoso, embora ele não soubesse quanto dano as Doppelgängers haviam sofrido.
Ele tinha que evitar a possibilidade de matá-las por acidente.

“「Maximize Magic—”

Quando ele levantou a mão, sua mão foi golpeada e danificada, e a magia fracassou. A
mana gasta em o lançar foi desperdiçada.

O que é isso? Impedir uma magia através de um ataque à distância? É algum tipo de ha-
bilidade especial?

Talvez fosse por ele ser um undead, ou por ser um jogador veterano, mas sua confusão
durou apenas um momento. Ainz imediatamente analisou o ataque que ele havia rece-
bido.

Nem o Evil Lord, nem Yuri nem Lupusregina possuíam habilidades como esta.

Talvez seja o titular do item World-Class que fez lavagem cerebral em Shalltear—

E se os Hanzos não tivessem detectado—

Se fosse um usuário de arma de longo alcance—

Se fosse ela, ela poderia usar uma habilidade especial para interferir com magias—

“—Não acredito que cai nisso!”

Ainz gritou quando encontrou a resposta.

Embora Yuri tivesse se aproximado e executado um soco, Ainz já havia aumentado sua
defesa com uma magia, então ele não precisava ser tão cauteloso com ela. Afinal, havia
algo mais importante que isso.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


187
A coisa toda foi uma armadilha desde o começo! Não, Yuri— Entendi! “Aqui” estava se
referindo à praça! Foi por isso que os Hanzos disseram que “as Pleiades” estavam presen-
tes! Droga! Eu estava me perguntando o porquê elas disseram “todas nós” mesmo quando
estavam apenas as duas lá!

Todas as pontas soltas se conectaram fazendo uma bela linha.

CZ estava atacando agora.

Não apenas Yuri e Lupusregina que estavam presentes. CZ também estava no campo de
batalha. Com toda a probabilidade, Solution e Entoma estavam aqui também.

Todas as Doppel-Pleiades estavam presentes na cidade.

Não, não, preciso me acalmar. A Doppel-CZ teve apenas sorte. Foi bastante fácil resistir a
isso por causa da diferença de nível entre nós. Ela não vai ter tanta sorte — bem, falta de
sorte — da próxima vez.

“「Greater Word of Curse」!”

O Evil Lord finalmente o alcançou e lançou uma magia, mas Ainz resistiu sem problemas.
Era apenas ameaçador em combate próximo, então tudo o que ele tinha que fazer era
manter distância.

Ainz ignorou o Evil Lord acima dele e ignorou Yuri, que tinha feito apenas um dano
mínimo desde o início. Então se preparou para dar um bote direto para Lupusregina.

Naquele momento—

Incontáveis Insetos Bala foram atirados para seu lado. Não havia dúvida de que era En-
toma.

Ele nem precisou usar sua 「High Tier Physical Immunity」 para pará-los. Isso porque
os ataques não-mágico de longo alcance não podiam prejudicar Ainz.

Talvez se fosse uma arma carregada pelas Pleiades, a imunidade de Ainz teria sido der-
rotada graças à enorme quantidade de dados dentro delas. O melhor exemplo disso fo-
ram os ataques de CZ e Yuri a partir de agora. No entanto, determinadas habilidades
eram calculadas com base no nível do usuário. Entoma era um excelente exemplo, já que
ela possuía muitos desses ataques baseados em nível de usuário.

Entoma estava apenas no nível 50, então seus ataques não incomodavam Ainz. Além
disso, se todo o dano de um ataque fosse anulado, nenhum dos efeitos subsequentes
ocorreria também.

Portanto, ele poderia ignorá-la.

Capítulo 5 Ainz- Morre


188
Ainz nem sequer olhou para a Entoma quando ele se aproximou para acabar com a su-
porte de cura, mas então, Solution irrompeu de seu ponto de emboscada na frente de
Lupusregina. Teria sido um gesto fútil se ela estivesse lidando com um ataque de efeito
de área, mas essa era a única maneira de proteger a responsável pela cura.

Porém, Solution tinha cometido um erro fatal. Por Ainz ser um magic caster e não pre-
cisava se aproximar para atacar. Tudo o que ele precisava fazer era lançar ataques má-
gicos à distância. Ele teve que pensar sobre o porquê ela iria atacar na frente de Lupus-
regina.

Ainz tinha apenas um objetivo.

Ele queria expor o inimigo e revelar qualquer carta que tivesse na manga.

A Narberal não está por perto?

Ele não entendeu. Ela não estava entre as empregadas demônios que atacaram a Capital
Real. No entanto, ninguém poderia descartá-la se todas as Pleiades estivessem presentes.
Era possível que elas estivessem salvando seu ás na manga pelo último momento. Ainda
assim, desde que ele sabia que tipo de mão a oposição tinha, não havia razão para conti-
nuar lutando no meio do inimigo.

“「Greater Teleportation」.”

CZ não interrompeu sua magia, e ele conseguiu se teletransportar sob um teto dentro
da linha de visão.

Eu preciso lembrar o que a Yuri e as outras podem fazer. Quem devo matar primeiro? —
Lupusregina, a suporte que cura. Mas eu preciso ter muito cuidado com a CZ... Eu não tenho
idéia de onde ela está... então vou deixar as outras virem primeiro. O Evil Lord vai levar
mais tempo, então melhor deixá-lo para o fim.

Ele viu Lupusregina lançando uma magia em Solution. Elas não perseguiram Ainz por-
que a batalha não era um problema para elas? Não, foi porque entenderam que desde
que Ainz poderia se mover à vontade com 「Greater Teleportation」, elas poderiam ser
facilmente dispersas e individualmente derrotadas. Afinal, Ainz também esperava por
isso.

Não importava se elas enxergassem através de suas intenções.

Tudo o que ele tinha que fazer era enfraquecê-las com magias de longo alcance e depois
derrotá-las uma por uma. Enquanto CZ, a especialista em combate à distância, estava
presente, ela acabaria por se expor se atacasse continuamente. Portanto, ela só atacaria
em momentos críticos. Nesse caso, ela não seria tão assustadora. Ou melhor—

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


189
“Eu não a vi, então deixe eu adivinhar, você está no lugar da Narberal.”

Ainz murmurou para si mesmo enquanto observava o Evil Lord aterrissar.

“Haha, você engordou, Narberal. Vamos chamá-la de Gorilona agora? E o seu elemento
mudou muito também. Bem— isso é interessante. Se as Doppel-Pleiades são meus opo-
nentes—”

Ainz floresceu sua capa. Claro, não havia sentido para isso; ele simplesmente queria se
exibir como um rei:

“Então eu devo levar um pouco mais a sério.”

Não morram~

“「Twin Maximize Magic: Rea—”

Assim que Ainz estava prestes a lançar uma magia em Lupusregina, outra bala atingiu
o braço de Ainz e o interrompeu.

“—Hah?”

Impossível.

Mesmo que tivesse conseguido uma vez por sorte, ela não poderia ter o interrompido
duas vezes seguidas. CZ era um nível muito inferior ao de Ainz.

Ele poderia ter tido o azar de falhar em sua checagem de resistência duas vezes segui-
das? Quão improváveis eram essas chances? Ou talvez isso não fosse azar, mas certeza
— por exemplo, se seu oponente não era a CZ que ele conhecia?

O Evil Lord Wrath bateu suas asas de fogo e se aproximou de Ainz. Yuri veio da direita,
e Entoma voou da esquerda de uma forma indireta.

O que é isso? Por que isso está acontecendo? Isso é alguma mudança que ocorreu depois
de vir a este mundo? Ou o Garnet-san deu alguma coisa para a CZ? Ou não é a CZ? O que a
Yuri disse antes? Elas são irmãs, mas são Doppel... Pandor— ahhhh!

O Evil Lord havia chegado perto e então levantou a mão, preparando-se para fazer um
golpe absurdamente poderoso.

Droga! Eu odeio pessoas assim, que já vem querendo socar! Se você é um substituto da
Narberal, então ataque com magia! Seu Gorilão maldito!

Bem, se o Evil Lord tivesse realmente lançado uma magia em Ainz, ele teria resistido,
então de todo modo teria sido chato.

Capítulo 5 Ainz- Morre


190
Ainz não hesitou; Ele entrou antes que seu inimigo pudesse se aproximar por completo.

O Evil Lord havia adivinhado que Ainz fugiria, então seus movimentos diminuíram a
velocidade. Atrás dele estava Yuri, que provavelmente estava planejando flanquear Ainz
com o Evil Lord.

O golpe do punho flamejante foi apenas uma distração, razão pela qual Ainz conseguiu
evitá-lo ao entrar no alcance do golpe.

Os braços assobiaram por suas orelhas, e o vento em seu rastro soou como um rugido.

Um magic caster puro evitou o ataque de um monstro do tipo guerreiro.

Enquanto pensava que isso seria impossível se ele ainda fosse um jogador de YGGDRA-
SIL, isso não se devia à sorte. Como mencionado anteriormente, o Evil Lord não esperava
que Ainz entrasse no ataque, então ele não usou toda a sua força. E então houve outro
ponto, que foi o resultado de seu treinamento.

Ainz tinha praticado este método de desviar de seu oponente, pois havia treinado cen-
tenas de vezes com Cocytus. Cerca de uma em cada dez vezes, se Cocytus não estivesse
atacando seriamente, ele poderia esquivar completamente de tais golpes.

Cocytus disse que um bom guerreiro nunca faria ataques incrivelmente chamativos e ób-
vios, então eu não deveria ficar descuidado... mas é muito útil numa luta real, não é?

E assim, Ainz colocou sua mão ossuda no peito robusto do Evil Lord.

E então ele lançou uma magia ao toque.

Mesmo que a maioria das magias tenha um alcance efetivo, algumas tinham um alcance
praticamente zero. Tais magias necessitavam de contato direto com o alvo, então apenas
pessoas com níveis em classes de conjuração ou de guerreiros poderiam usá-las bem.
Isso porque eram inconvenientes assim como poderosas magias de nível similar, sendo
mais ou menos um nível efetivamente aproximado.

A especialidade de Ainz era necromancia, e esta foi uma magia de 8º nível dessa espe-
cialidade, 「Energy Drain」. Uma magia que drenava os níveis do oponente e concedia
vários benefícios, dependendo da quantidade de níveis drenados. Naturalmente, essa
magia também foi maximizada.

Ele quebrou a resistência mágica do Evil Lord e drenou seus níveis. Graças a isso, ele
recuperou quase todo o dano que Yuri infligiu. Dito isto, a cura proporcionada por essa
magia era apenas de natureza suplementar.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


191
Os parâmetros de Ainz foram todos aprimorados temporariamente e ele recebeu um
buff especial que desapareceria em pouco tempo. Por sua vez, o Evil Lord havia recebido
um debuff de baixo nível que não podia ser removido pela passagem do tempo.

Desta vez, foi o Evil Lord que recuou.

Seu rosto normalmente enraivecido estava preenchido por outra coisa.

Surpresa, ou seria admiração?

Ainz queria elogiar a si mesmo por ter evitado com sucesso aquele golpe. Afinal, ele
conseguiu porque sua oposição tinha sido muito arrogante. Assim como um truque de
mágica se tornava chato quando era descoberto, esse movimento provavelmente não
funcionaria uma segunda vez.

“Bem, por melhor que seja um plano, apenas um idiota o usaria mais de uma vez. Não é
mesmo— Pleiades! Aureole Omega!”

Esse era o motivo.

Ele estava lutando contra cinco Doppelgängers, o Evil Lord Wrath e um NPC de nível
100.

Albedo está realmente querendo que eu perca? Eu não tinha idéia que ela usaria a Aureole.

Aureole Omega, a última a nascer das sete irmãs Pleiades. Ela era uma Guardiã de Área
do 8º Andar e uma NPC de nível 100 especializada em profissões do tipo comandante.
Como comandante, ela poderia emitir ordens que melhorassem seus aliados. CZ deve ter
conseguido superar a diferença de nível graças a isso.

Embora ele não tivesse idéia de que tipo de habilidade especial que Aureole usara, se
alguém visse papéis de grupo como atacante físico, atacante mágico, curandeiro e assim
por diante, então ela seria um coringa — uma polivalente. Não era estranho que ela fosse
capaz de fazer qualquer coisa.

O que exatamente o Punitto Moe-san faria?

Ainz nunca enfrentou oponentes do tipo comandante durante um PVP, então Ainz tinha
pouca experiência em lidar com inimigos desse tipo.

Ela não pode ter saído do 8º Andar e vindo aqui sem minha permissão. Isso significa que
ela deve ter usado buffs nas Doppelgängers antes de virem para cá. Ou seja, ela provavel-
mente não as buffou cuidadosamente— ou será que, existe uma Doppelgänger da Aureole
aqui?

Capítulo 5 Ainz- Morre


192
—Não. Não houve tempo para pensar em tais coisas inúteis. Apenas uma coisa impor-
tava. Elas poderiam interromper completamente os lançamentos mágicos de Ainz, elas
poderiam continuar assim para sempre?

Havia dois tipos de habilidades especiais em YGGDRASIL. Um tipo tinha um período de


espera após o uso. O outro tinha um período limitado de utilizações dentro de um deter-
minado período. Houve também combinações dos dois.

Em geral, quanto mais poderosa a habilidade, maior o tempo de recarga ou menor o


tempo de uso. O trunfo de Ainz — 「The Goal Of All Life Is Death」 — que só poderia
ser usado uma vez a cada 100 horas, era uma dessas habilidades.

Nesse caso, em qual categoria a técnica que CZ usara para interromper as magias de
Ainz pertencia?

Esse movimento de agora era muito útil, mas não parecia ter um longo tempo de espera.
Se fosse o caso, então era do tipo de uso limitado. No entanto, ele não sabia dizer quanto
tempo levaria para recuperar seus usos. Tudo o que podia fazer era esperar que ela não
pudesse recuperá-los durante o curso da batalha depois que elas estivessem esgotadas.

—Mesmo assim, ainda acho que devo guardar minhas magias de décimo nível para
quando elas estiverem esgotadas...

Ainz rapidamente verificou as posições das Pleiades e do Evil Lord. O Evil Lord estava
na frente dele. Yuri estava atrás dele — e se preparando para golpear Ainz. Enquanto
seus ataques melhorados por Ki poderiam até quebrar aço, eles eram de pouca preocu-
pação diante dos níveis de Ainz. Depois de reconfirmar que o Evil Lord era o perigo real,
ele voltou sua atenção para as outras.

Entoma estava dentro de uma casa no lado esquerdo da praça. Lupusregina estava na
praça. Solution ficou na frente dela, como se estivesse a protegendo. A localização de CZ
era desconhecida.

Embora não conhecer a posição de um franco-atirador fosse o pior cenário possível, o


fato de o inimigo estar agora disperso era o melhor caso para ele.

Ainz bufou.

Embora soubesse que agora não era hora de rir, ele não resistiu à alegria que crescia
dentro de si.

Isso sim é interessante!

“Tudo bem, agora saia da minha frente. 「Maximize Magic: Nuclear Blast」!”

“!”

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


193
Diante dos olhos de Ainz, o espaço entre ele e o Evil Lord brilhou e inchou, consumindo
tudo em um instante. Yuri ficou surpresa, mas isso era de se esperar, porque Ainz tam-
bém havia sido englobado pelo ataque.

Usando a magia de 9º nível, 「Nuclear Blast」, como um ataque foi uma escolha ques-
tionável. Ela causava dano composto — meio fogo, meio concussão —, uma das magias
mais fracas do 9º nível em termos de dano.

Considerando que o Evil Lord Wrath possui imunidade ao fogo, esta magia não deveria
sequer ter sido considerada nesta luta. Mesmo assim, Ainz tinha suas razões para usar
essa magia.

Primeiro de tudo, tinha uma área muito grande de efeito. Era superior a quase todas as
outras magias nesse aspecto. Além disso, essa magia também gerava todos os tipos de
efeitos de status negativos, como envenenamento, cegueira, surdez e assim por diante,
mas qualquer coisa do nível do Evil Lord seria capaz de resistir apenas com seus atribu-
tos brutos e o equipamento das Pleiades deveria as tornam-nas imunes a todos esses
efeitos. A principal razão pela qual ele escolheu esta magia foi porque ela também pos-
suía um poderoso efeito colateral.

Claro, Ainz também seria danificado por esta magia. Já que o fogo amigo estava desati-
vado em YGGDRASIL, usar uma magia de forma tão imprudentemente não seria um pro-
blema, mas agora seria ferido no processo. Mesmo que sua defesa mágica fosse muito
alta, não havia necessidade de fugir para não receber o dano colateral da magia. Afinal,
se não quisesse agir como um homem-bomba, ele deveria ter escolhido outra magia.

No entanto, Ainz já havia descartado isso.

Se ele gastasse a magia 「Body of Effulgent Beryl」 para anular todo o dano de con-
cussão, o dano elementar de fogo também seria negado, o que significaria que ele não
seria ferido. Além disso, todos esses status negativos eram ineficazes para os undeads.

Em outras palavras, Ainz não foi danificado pelo próprio ataque.

Se ele resistisse completamente a seu dano, o efeito colateral também seria anulado, e
assim Ainz era o único que permanecia de pé no coração da explosão.

“Hahah.”

Ainz riu. Afinal, a sensação de que tudo estava indo como planejado era muito revigo-
rante.

O objetivo de Ainz era explodir o inimigo e rasgar a formação do inimigo em pedaços.

Capítulo 5 Ainz- Morre


194
Por um momento, Ainz imaginou brevemente os membros da guilda que lhe ensinaram
várias coisas — incluindo essa tática.

Tanto a batalha simulada anterior como até esta batalha em que o fracasso significava
a morte lembraram Ainz de YGGDRASIL, o que o deixou estranhamente feliz.

Eu já me perguntei sobre isso antes, mas ainda não acho que me tornei um maníaco por
batalhas...

“Venha, ainda não acabou. A batalha está apenas começando. Eu vou te mostrar a força
de todos que me nutriram.”

Libertar a fúria daquela magia do 9º nível significava que os prédios vizinhos haviam
sido todos dizimados, e agora havia muito espaço.

Não é algo que dava para evitar. Afinal, esta cidade sobrevivera à sua utilidade.

Ele poderia ter ampliado a magia para tentar pegar CZ na explosão. No entanto, Ainz
estava preocupado com os problemas que poderiam resultar da destruição de grande
parte da cidade, então ele não o fez. Por tudo o que sabia, poderia ter sido um erro.

Esqueça, deixarei por isso mesmo. O que resta é—

Ainz olhou na direção de Lupusregina. A sinergia do inimigo estava em frangalhos.

Mesmo com os buffs de Aureole, elas não podiam evitar o efeito colateral, e Ainz podia
ver o inimigo ficando rapidamente a seus pés.

“Se tudo se resume a dano, então o 「Nuclear Blast」 deve ter dado conta, então—”

Ainz voou em direção a Lupusregina e lançou 「Reality Slash」.

Desta vez, ele não foi interrompido por CZ, e o corpo de Lupusregina espirrou uma fonte
de sangue.

“「Widen Magic: Shark Cyclone」.”

Um ciclone extragrande passou a existir atrás dele, engolindo Yuri e o Evil Lord. Isso
era para obscurecer a visão de Yuri e do Evil Lord e também para comprar o tempo de
Ainz. Na verdade, Ainz tinha planejado criar um ciclone antes do 「Nuclear Blast」 para
bloquear a visão e depois livrar-se de Yuri primeiro, mas depois de considerar que o Evil
Lord poderia sair facilmente da magia, ele decidiu não ir com esse plano. Em vez disso,
decidiu usá-la quando o inimigo estivesse confuso.

Ainz ouviu o som de pedras sendo deslocadas quando viu Entoma empurrar um pilar
de si enquanto se levantava.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


195
Ele não tinha idéia de onde CZ estava agora. Idealmente, ela estaria presa debaixo de
uma casa caída.

“Ele está vindo! Pare-o!”

Solution gritou de seu lugar na frente de Lupusregina, mas sua voz não pôde alcançar
os ouvidos de Yuri e do Evil Lord, que estavam dentro do ciclone. Yuri em particular
estava se movendo desesperadamente dentro do ciclone para evitar ser arremessada.
Enquanto certas classes poderiam usar magias ou habilidades especiais para se tele-
transportarem ou se tornarem incorpóreas e assim escaparem facilmente do ciclone, ela
não parece possuir tais habilidades.

E isso significaria que Yuri se concentrou em fortalecer outras coisas—

Depois de rever esta batalha, eles devem entender que equipamento precisariam ter e
quais preparações precisam fazer, certo? Não, não é isso...

Se fossem as verdadeiras Pleiades, poderiam ter conseguido lidar melhor com isso. Mas
eram simplesmente Doppelgängers copiando as habilidades das Pleiades. Só fazia sen-
tido que perdessem quando a batalha ficasse séria em termos de habilidades de combate.

Quando Ainz encurtou a distância e se preparou para lançar 「Reality Slash」, insetos
caíram do céu um após o outro. Eram insetos grandes de transporte sem capacidade de
combate. O objetivo desta ação foi simplesmente bloquear a linha de visão de Ainz.

Tal uso não seria possível em YGGDRASIL. Mesmo assim, Entoma — embora na verdade
uma Doppelgänger — poderia usá-los dessa maneira. Ainz deu graças em seu coração
quando ele incitou uma magia.

“「Greater Teleportation」.”

Depois de teletransportar-se no ar e evitar a chuva de insetos, Ainz lançou 「Twin Ma-


ximize Magic: Reality Slash」.

Mesmo que CZ tivesse Ainz em sua mira, o fato de seu alvo ter se teleportado de repente
para o ar significava que ela o perderia de vista. Afinal de contas, a fraqueza de um corpo
humanoide era a sua incapacidade de seguir o movimento súbito para cima e para baixo
com os olhos.

Dito isso, se ele estivesse enfrentando um atirador experiente como Peroroncino, por
exemplo, seria capaz de antecipar os movimentos do oponente, mesmo no plano vertical.
Portanto, era possível que ninguém pudesse escapar com magia de teletransporte.

A pontaria do Peroroncino-san era praticamente uma mira automática... CZ, você precisa
se esforçar muito para chegar ao nível dele...

Capítulo 5 Ainz- Morre


196
Enquanto ele se deleitava com a nostalgia, Ainz gritou:

“Lupusregina, fora!”

Ter que lutar mantendo um olho no HP de seus oponentes era muito difícil. Alguém
poderia até chamar isso de desvantagem. Portanto, se lhe perguntassem se o HP de Lu-
pusregina estava realmente esgotado, Ainz não seria capaz de responder com alguma
confiança. Mesmo assim, ele teve que evitar qualquer chance de matar Lupusregina por
causa de um momento de descuido.

Ela é uma Doppelgänger, então não só ela é mais fraca que a original, mas seu HP não é
o mesmo que o da Lupusregina. Certo, agora que tirei a magic caster do inimigo, é hora de
ser um cretino. 「Perfect Unknowable」.

Embora houvesse maneiras, sem a ajuda de itens mágicos, para detectar Ainz depois de
ser afetado pelo 「Perfect Unknowable」, o único membro das Pleiades que poderia
fazê-lo era Lupusregina, o Evil Lord deveria ser incapaz de detectá-lo também. Portanto,
provavelmente seria seguro dizer que eles não tinham como lidar com esse meio dissi-
mulado de ataque.

Já que eu tirei a curandeira do inimigo, eu deveria procurar pela CZ. Não me diga que ela
está gastando itens consumíveis?

Pessoalmente, Ainz não podia perdoar o desperdício da riqueza de Nazarick em uma


batalha como essa.

“Onde ele está?”

“Ele se foi! Será que está usando 「Invisibility」?”

“Eu já teria encontrado se ele estivesse invisível! Não detecto nada!”

“Isso é algum outro tipo de invisibilidade?”

Ele podia ouvir a confusão.

“Suas idiotas! Ele está usando o 「Perfect Unknowable」!”

“Lupusregina! Você está trapaceando!”

Ainz gritou, mas graças ao 「Perfect Unknowable」, ninguém pôde ouvi-lo.

Ainz coçou a cabeça.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


197
O Evil Lord e Yuri pareciam ter saído do ciclone e agora estavam procurando por Ainz.
A melhor opção teria sido lançar outro 「Nuclear Blast」 neles, mas isso poderia acabar
matando Lupusregina, então Ainz abandonou a idéia. Em vez disso, ele desceu mantendo
o controle da posição de Yuri. Depois disso, ele comparou a quantidade de HP que Yuri
estava perdendo com em relação aos demais, e verificou que, além do dano causado pela
concussão, ela também havia recebido dano de fogo do ataque mágico anterior—

“「Triplet Maximize Magic: Vermilion Nova」!”

Ainz usou o nível mais alto — sem contar as magias de Super-Aba — com um único
ataque de elemento de fogo com alvo único que ele conhecia e mirou em Yuri.

Era de se esperar que houvesse magias do 10º nível que poderiam causar dano elemen-
tal de fogo.

Por exemplo, 「Stream of Lava」, 「Uriel」 e similares. No entanto, o uso daqueles


apresentou problemas para Ainz.

Primeiro, Ainz não conseguiu conjurar 「Stream of Lava」. Era uma magia divina que
só podia ser usado por um druida como Mare.

「Uriel」, por outro lado, era uma magia que poderia ser aprendida por qualquer tipo
de magic caster, desde que os requisitos para aprendê-la fossem cumpridos, mas ele só
causaria danos massivos quando lançado por um magic caster com valores de carma
altamente positivo. Seu dano diminuía conforme o valor de um carma diminuía, e para
alguém como Ainz, causaria menos dano do que uma magia de 1º nível.

Portanto, essa magia era a única escolha de Ainz quando se tratava de usabilidade.

A vida de Yuri caiu drasticamente.

“「Perfect Unknowable」.”

“Ele desapareceu de novo!”

“Isso é injusto!”

“Se ao menos o Ainz-sama lutasse de forma justa e honesta!”

Não, não, errada está você por sequer ter pensado nisso.

“E além disso, não tenho idéia de onde está a CZ! Vocês três nunca disseram nada sobre
quem estava participando dessa batalha! Então, quem está sendo injusto aqui?”

Ainz gritou, embora soubesse que a oposição não podia ouvi-lo.

Capítulo 5 Ainz- Morre


198
Depois de cair em si, o Evil Lord atacou no lugar em que Ainz estivera.

“Que pena, eu não estou mais lá”

Ainz começou a se mover, tudo que restava era atacar os possíveis locais onde esteve.
No entanto, ele ainda estaria dentro da área de efeito se o Evil Lord decidisse lançar ma-
gias de ataque de área, mas assim que Ainz pensava isso, o Evil Lord de repente mudou
de direção e veio direto para Ainz.

“Hah?”

Ele não estava invisível? Essa questão foi logo eliminada pela dor que sentia.

O Evil Lord golpeou Ainz que foi arremessado para trás. Como ele estava muito mais
sério do que antes, Ainz achou difícil se defender ou evitar o ataque. Não, Ainz estava
relaxado demais — ele nem pensara em fugir.

Felizmente, a magia 「Fly」 ajudou a controlar sua postura e poupou-o da desonra de


rolar pelo chão. Foi exatamente como a batalha contra Shalltear.

O Evil Lord pulou sobre Ainz, ele firme em seu encalço, e sua linha de visão estava defi-
nitivamente seguindo a rota de voo de Ainz.

...O Evil Lord Wrath não deveria ter a capacidade de ver através disso... Ah, ele usou aquilo!
Seu trunfo, 「Soul-Bought Miracle」!

Inspirada em histórias de vender a alma ao diabo para satisfazer os desejos, essa capa-
cidade realmente operava milagres. Mesmo ele não tendo certeza de como o procedi-
mento funcionava, uma vez que alguém usasse essa habilidade, podia-se usar qualquer
uma das magias abaixo do 8º nível uma vez.

Normalmente, quando os Evil Lords usavam essa habilidade, eles quase sempre usavam
magias de cura — essa era uma regra não escrita. No entanto, desta vez ele provavel-
mente usou uma magia para ver através de 「Perfect Unknowable」.

Ainz silenciosamente agradeceu que o Evil Lord usara a habilidade da qual ele era o
mais cauteloso, mesmo quando sentia a urgente necessidade de formular um novo plano
de batalha.

Quando o Evil Lord se aproximou e socou-o novamente, Ainz começou a ficar preocu-
pado.

Embora houvesse uma grande diferença de nível entre os dois e ele ainda tivesse algum
espaço para a desleixo, ele não poderia simplesmente se permitir continuar sendo gol-
peado desse jeito.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


199
“Cheh. Aqui, tome isso também. 「Triplet Maximize Magic: Call Greater Thunder」.”

Demônios de alto nível tinham resistências elementares muito altas. Mesmo suas resis-
tências exatas variando entre seus tipos, a eletricidade era um dos tipos de energia mais
eficazes contra eles. Depois de receber três golpes de uma magia de ataque elemental
com dano maximizado, o corpo do Evil Lord enfraquentou.

Ainz lançou outra magia.

“「Perfect Unknowable」.”

“—Trapaceirooooooooo! Ainz-sama, o senhor é muito trapaceirooooo!”

“Ahhh, é sério!”

Entoma pisou forte em frustração, enquanto Lupusregina rolava no chão. Solution era
a única que examinava o ambiente com um olhar afiado.

Em teoria, cada mercenário vassalo deveria ser idêntico, mas elas desenvolveram per-
sonalidades divergentes como essa. Foi porque copiaram as relações entre os membros
das Pleiades? Ou suas personalidades mudaram com o tempo? O Evil Lord atrás de Ainz
seguiu seus movimentos de perto e gritou:

“Aqui! Use ataques de área aqui, me acerte com isso também!”

Entoma não hesitou, mas exalou uma nuvem negra pela boca. Era o seu trunfo, o 「Fly
Breath」.

No entanto, foi inútil contra Ainz, porque esse movimento fazia dano penetrante. Além
disso, Ainz era essencialmente um esqueleto; o que as moscas comeriam? No final, só
serviu para irritar o Evil Lord.

“Hey! Não funcionou nele! Isso só funciona em mim!”

“—Eh!?”

Ser capaz de copiar uma habilidade e usá-la bem, eram duas coisas completamente di-
ferentes. Certamente a verdadeira Entoma não teria cometido um erro tão amador.

“Eu não tenho nenhum ataque de efeito de área, e você, Yuri-nee?”

“Eu lido com isso!”

Yuri juntou luz entre as palmas das mãos.

Capítulo 5 Ainz- Morre


200
O 「Kibakushou」, uma técnica que, quando tocava o inimigo, agia como um ataque
anti-individual, mas que se tornava uma onda de choque se não fizesse contato com o
alvo. Naturalmente, como um ataque destinado ao contato direto, ficaria muito fraco
quando disperso. Como os monges eram uma classe focada em lutar contra indivíduos,
eles tinham poucos ataques de efeito de área — na verdade, praticamente nenhum —,
portanto, pode-se dizer que era completamente inútil.

“Lá! Ele se moveu!”

“Aqui!?”

Yuri lançou seu 「Kibakushou」 em área no local onde Ainz estava. Ainz franziu a testa
— apesar de não ter nenhuma sobrancelha — quando viu isso e estendeu a mão.

“...Não, não, você deveria ter priorizado a cura.”

Yuri poderia ter se curado usando o Ki.

Depois de fazer sua observação em Yuri, Ainz lançou sua magia. Escusado dizer que
seria uma magia que ele já sabia ser eficaz.

“「Twin Maximize Magic: Vermilion Nova」.”

Tendo lançado uma magia de ataque, Ainz foi exposto. Ele olhou para Yuri, que estava
envolta em chamas, e fez um pronunciamento sem nenhuma emoção.

“Yuri, fora— 「Perfect Unknowable」.”

Agora, as coisas ficarão ruins se eu não procurar pela CZ com seriedade.

Tendo tomado essa decisão, Ainz começou a fazer um grande desvio enquanto ficava
de olho no Evil Lord.

Parte 3

Muitas pessoas ficaram nos muros da cidade com Neia, observando a batalha se desdo-
brar.

Muitos deles eram pessoas que torciam para o lado do Rei Feiticeiro depois que ele as
resgatou, mas não eram os únicos.

Havia sacerdotes e paladinos aqui também. Neia não podia ver Remedios de onde ela
estava, mas ela estava perto o suficiente para que Neia pudesse ouvi-la falar.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


201
Os únicos membros do comando que estavam ausentes foram Gustav e Caspond.

Todos que assistiam a batalha estavam em silêncio — não, foi simplesmente porque
não havia palavras para descrever a batalha.

Mas era algo que já deveriam esperar.

Os membros da Rosa Azul tinham dito que a classificação de dificuldade de Jaldabaoth


era acima de 200. Em outras palavras, isso era como lutar contra um enorme Dragão na
forma humana. Mesmo que essas duas entidades só lutassem perto do mundo dos ho-
mens, isso já levaria a uma grande tragédia.

Eles deveriam ter ficado gratos que apenas um único distrito da cidade foi destruído.
Muitas casas estavam em chamas e nuvens brancas de fumaça chegavam ao céu, mas o
total de baixas era quase nulo.

Enquanto observava a batalha, ela tinha visto ciclones, chamas, relâmpagos e outras
tremendas manifestações de poder que estavam além do conhecimento mundano. Cada
uma dessas descargas de energia poderia facilmente ter ceifado inúmeras vidas.

Mas acima de tudo—

“É lindo...”

O que realmente moveu o coração de Neia foi a bola de luz branca que ela tinha visto
duas vezes.

Foi o poder que consumia tudo e desaparecia sem deixar vestígios. Parecia algo bom
para Neia, embora ela não pudesse confirmar se era realmente o trabalho do poder di-
vino. A incrível devastação que ela viu na sequência do desaparecimento da luz a assus-
tou, mas sua admiração por seu grande poder havia vencido no final.

Parece que a luta ainda está acontecendo. Eu não posso acreditar que a batalha ainda
não acabou depois de usar todas essas magias... Jaldabaoth é muito forte.

Ela tinha ouvido falar sobre isso, e ela tinha visto isso com seus próprios olhos. No en-
tanto, o pensamento de Neia ainda era muito ingênuo. Essa ingenuidade agora estava
completamente erradicada.

O rei a quem servia — embora apenas temporariamente, e somente dentro do Reino


Sacro — estava lutando. Ela sentiu que gravar seu rosto heroico em seus olhos era ape-
nas natural como parte dos deveres de escudeira, razão pela qual Neia estava vigiando
a partir daqui. No entanto, se ela pudesse—

—Neia apertou firmemente o arco que ela estava carregando.

Capítulo 5 Ainz- Morre


202
Se alguém olhasse de perto, veria várias outras formas lutando contra o Rei Feiticeiro,
além de Jaldabaoth. Aquelas eram as empregadas demônios, que foram classificadas com
dificuldade de 150. Neia não podia fazer nada além de admirar o poder do Rei Feiticeiro
para lutar contra tantos adversários poderosos de uma só vez sem ficar na desvantagem.

Foi nesse momento que Neia finalmente percebeu algo sobre si mesma. Ela invejava as
pessoas do Reino Feiticeiro — aquelas pessoas que eram protegidas pela justiça. Quão
felizes devem ser para viver em um país governado por tal ser.

“A fraqueza é um pecado, por isso é preciso tornar-se forte, ou humildemente, aceitar a


justiça semelhante à de Sua Majestade.”

Neste ponto, Neia expressou as palavras que esteve pensando durante todo esse tempo.
A maneira como ela repetia repetidamente parecia muito uma oração.

De repente, houve uma grande explosão quando um meteoro caiu.

E arremessou as estruturas dos edifícios para cima, depois caíram como uma chuva de
detritos e poeira.

“Capitã... esse Jaldabaoth... é muito poderoso, não?”

“Sim, isso mesmo.”

“O Rei Feiticeiro— Sua Majestade também é incrivelmente forte. Se ele se tornar um


inimigo da nossa nação... o que faremos?”

“Sim, isso mesmo.”

“Capitã?”

“Sim, isso mesmo.”

Ela podia ouvir Remedios conversando com três paladinos.

Os paladinos fazendo suas perguntas provavelmente não tinham visto como Remedios
acabara sendo tratada como uma criança, mesmo depois de liberar o poder da espada
sagrada e esfaquear Jaldabaoth pelas costas.

Ah, talvez eles não tenham visto.

Ainda assim, quem assistisse a essa luta teria entendido. Tanto o Rei Feiticeiro, quanto
Jaldabaoth eram inimaginavelmente poderosos. Mas era tarde demais para pensar em
coisas assim agora. Ou melhor—

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


203
Se Sua Majestade pudesse tomar este país sob seu governo, não teríamos que sofrer inva-
sões demi-humanas novamente.

Neia ficou surpresa com a perfeição da idéia e até com um pouco de medo.

Fusão com o Reino Sacro... se ele fosse um tirano assustador, nem eu pensaria nisso. Mas
o Rei Feiticeiro não é assim. Ele é justiça. Nesse caso... devo reunir pessoas que se sentem
da mesma maneira que eu!

Neia ponderou o assunto.

Muitas pessoas passaram a respeitar e idolatrar o Rei Feiticeiro. Havia aqueles que
eram atraídos para o seu poder esmagador, aqueles que eram gratos por serem libertos
do sofrimento, aqueles que odiavam os demi-humanos e que estavam contentes por ele
ter se vingado em seu favor, e muitos outros.

Deles, ela selecionaria aquelas pessoas que sempre haviam orado pela paz deste país, e
então as deixaria ouvir suas palavras.

Neia sabia que ainda era jovem e não tinha experiência de vida. No entanto, adultos com
bom senso poderiam parar Neia se sentissem que seu julgamento estava errado.

Começarei procurando entre meus subordinados na unidade de arquearia.

Havia pessoas entre eles que haviam perdido seus entes queridos e nutriam ódio em
seus corações. Talvez seja melhor tentar persuadi-los, pois Neia podia entender como se
sentiam.

Enquanto ponderava isso, ela ouviu um estrondo e uma explosão incrivelmente alta
soou.

Depois disso, um prédio alto começou a desmoronar ao longe.

O Rei Feiticeiro não teria destruído o prédio sem motivo algum. Neia estreitou os olhos
para tentar ver o que estava acontecendo, mas ela não podia discernir o que estava acon-
tecendo no prédio enquanto ele desmoronava dentre as nuvens de poeira.

Foi seguido por um enorme raio partindo o céu.

Como pressupunha, parece que ele estava se preparando para algum objetivo.

Depois de um tempo, todos os tipos de magia destruíram a cidade e a situação se repetiu.

Neia estava desconfortável.

Capítulo 5 Ainz- Morre


204
Essas eram magias inacreditáveis, mas a mana do Rei Feiticeiro realmente poderia
aguentar?

Neia balançou a cabeça e baniu o medo e desconforto de seu coração.

Vai ficar tudo bem! O Rei Feiticeiro deve ter levado tudo isso em conta! Ele já gastou tanta
mana neste país, mas mesmo assim—

Ainda assim, hipoteticamente, se Jaldabaoth vencesse, não haveria salvação para este
mundo, apenas desespero. O que ela deveria fazer se isso acontecesse?

Vossa Majestade, eu estou torcendo para o senhor!

E então, duas formas voaram para o céu, como se o desejo de Neia tivesse se realizando.

O primeiro a subir deixou uma faixa de escuridão em seu rastro, enquanto o que o per-
seguia batia as asas carmesim e deixou um rastro de fogo por onde voava.

O fato de que as empregadas não os estavam perseguindo significava uma coisa — o


Rei Feiticeiro havia derrotado múltiplos seres de dificuldade 150, monstros entre mons-
tros, enquanto lutava contra Jaldabaoth.

—Ele é incrível!

Neia ficou tão comovida que ficou arrepiada.

Sua Majestade é mais poderoso que o Jaldabaoth!

De fato. Não havia necessidade de pensar em outra coisa.

Por sua vez, as empregadas eram muito mais fracas que Jaldabaoth, que ficava abaixo
do Rei Feiticeiro. Foi por isso que ele poderia derrotá-las enquanto lutava contra Jal-
dabaoth.

Neia lutou para conter seu deleite. Enquanto ela gravava com cuidado a grandeza da
pessoa que ela respeitava em seus olhos, ela estava tão cheia de alegria que parecia que
explodiria dela a qualquer momento.

O coração de Neia bateu forte, a ponto de quase doer.

Eles estavam todos assistindo à cena que um dia seria consagrada em uma saga heroica.

—Não, isso não está certo.

Parece que eles iriam lutar novamente no ar.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


205
Esferas carmesim e esferas brilhantes floresceram no céu.

Cada uma dessas magias provavelmente poderia destruir um distrito inteiro da cidade,
e eles estavam atirando uns nos outros em rajadas selvagens. Ainda assim, pareciam re-
lativamente atraentes à distância.

Mesmo que fosse belo, isso era um combate mágico dentro de um reino que a humani-
dade nunca poderia alcançar.

Isso é...

Quando ela olhou para o canto dos olhos, viu as pessoas ao lado dos muros da cidade
engolindo em seco enquanto observavam tudo isso. Parece que eles também entende-
ram. Eles assistiram a batalha aérea em silêncio, com olhares sinceros em seus rostos.

Alguém juntou as mãos em oração, e as pessoas ao lado dele seguiram o exemplo — e


logo quase todos nos muros da cidade tinham as mãos juntas enquanto olhavam para o
céu.

Parecia que eles estavam no culto.

...Isso é mitologia...

Neia não sabia quanto tempo havia passado, mas eventualmente — houve uma como-
ção entre as pessoas.

Diante dos olhos de todos, uma das formas no céu caiu para o leste — e então desapa-
receu.

A batalha acabou.

Enquanto todos observavam atentamente, a forma restante descia lentamente. A visão


de Neia era melhor que a maioria, e então ela viu primeiro. Isso a chocou tanto que ela
teve que pressionar a mão sobre a boca.

Quando os outros viram o fogo vermelho, as muralhas da cidade ficaram em silêncio.


No entanto, ninguém tentou fugir. Todos que viram a batalha sabiam que não havia
sentido em correr.

Com um bater de suas asas flamejantes, o vencedor, Jaldabaoth, se mostrou.

Embora ele fosse o vencedor por nome, sua aparência estava em frangalhos.

Seu corpo inteiro estava coberto de marcas elétricas de queimadura. Metade do rosto
dele parecia ter sido esmagada e suas feridas profundas escorriam sangue fresco. Talvez

Capítulo 5 Ainz- Morre


206
fosse devido a sua temperatura, mas o sangue chiou ao espirrar nos muros da cidade, e
permaneceu assim por algum tempo.

Nenhuma palavra poderia descrever a intensidade de sua batalha melhor do que a


forma como ele estava agora.

“Nem pensar...”

Uma voz pesada, mas um pouco dolorida, ecoou pelos muros da cidade, como se para
varrer para longe os resmungos de Neia.

“...Que oponente poderoso. Um dos mais fortes que enfrentei desde Momon. Eu o su-
bestimei. Que tolo. Liderar os demi-humanos quase se tornou sem sentido. Mas— sim,
no entanto, ele está morto.”

Neia não podia acreditar nisso. Portanto, ela gritou:

“Seu mentiroso!”

Jaldabaoth virou o olho intacto para Neia, mas ela não se mexeu, apesar de estar ba-
nhada pelo olhar de uma criatura de uma ordem de vida completamente diferente. As
emoções intensas dentro de seu coração não deixaram espaço para o medo entrar.

“Não estou mentindo.”

“Sua Majestade é muito ruim com piadas... mas isso é mentira... não é?”

“Não estou mentindo.”

As palavras que Jaldabaoth repetiu atingiram Neia com força suficiente para quebrar
sua alma.

O mundo parecia tremer sob seus pés.

Neia imediatamente entendeu o porquê o Rei Feiticeiro havia perdido para Jaldabaoth.
Não havia necessidade de sequer pensar nisso.

Foi simplesmente porque esse país não tinha Evileye da Rosa Azul e Nabe da Escuridão,
as duas magic casters que conseguiam manter as empregadas demônios afastadas.

Não, havia outro motivo além disso.

“Se aquele undead estivesse em ótimas condições, ele poderia derrotar-me. Mas pensar
que ele realmente gastou sua mana em prol de humanos como vocês — na verdade, ele
foi um idiota sem prioridades. Por isso, agradeço-lhes.”

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


207
Eu sabia! Eu sabia, a fraqueza é realmente um pecado!

Neia estava absolutamente certa disso.

“Por isso eu os recompensarei. A recompensa será... vida.”

“...O que quer dizer!?”

Jaldabaoth bufou de prazer com a pergunta de uma fonte desconhecida.

“Eu estou dizendo que vou poupá-los. Pelo menos por enquanto.”

Alguém suspirou de alívio, mas Neia ficou furiosa.

“Bobagem! Bobagem! Bobagem! É tudo um monte de mentiras! Tudo o que você diz é
mentira! Quem acreditaria no que um diabo diz?”

“Parece que não podes aceitar a realidade. Diga-me, humana, você é louca? Lamentável.”

Jaldabaoth apontou para Neia:

“Desapar... Entendi.”

E então ele imediatamente retirou o dedo.

“O que há de errado, Jaldabaoth!”

“Então pretendes provocar-me e assim provar que eu menti? ...Perder a sua vida vale
tanto? Não entendo onde queres chegar, mas parece ser o caso.”

Os dentes de Neia rangeram quando ela os apertou.

Jaldabaoth só poderia estar mentindo.

Ele tinha que ser um mentiroso, do tipo que diria uma mentira ridícula como o Rei Fei-
ticeiro está morto.

“Não permitirei isso. Suas vidas foram salvas. Me despeço por hora. Preciso recuperar-
me dessas feridas. Durante esse tempo, permito que chorem suas lágrimas de desespero.”

Quando Jaldabaoth estava prestes a decolar com uma batida de suas asas, as mãos de
Neia se moveram com vontade própria.

Ela preparou seu arco — e fez um disparo.

Ela tinha disparado diretamente nas costas, sem dar qualquer aviso de suas intenções.

Capítulo 5 Ainz- Morre


208
No entanto, Jaldabaoth imediatamente se virou e pegou a flecha. Apesar de suas feridas
terríveis, ele ainda era muito ágil.

Jaldabaoth virou-se para Neia, e então seus olhos foram para o arco de Neia, o Ultimate
Shooting-Star Super. Depois disso, seu rosto retorcido pela ira mudou um pouco.

“Ohh!? Ah! Que arma incrível é essa!? Eu não vejo uma arma assim há muito tempo!
Essa foi por pouco, humana, quase acabou comigo!”

Jaldabaoth gesticulou descontroladamente com seus membros quando disse isso. Ele
parecia calmo, mas também bastante ansioso.

“Que tipo de arma é essa? Como isso foi feito?”

“Até parece que eu falaria!”

O que se passa na cabeça dessa coisa?

A mente de Neia transbordou de ódio ardente.

Como ela poderia dizer a esse mentiroso o que aprendera com o Rei Feiticeiro?

“Como eu poderia dizer a um mentiroso como você?”

“Muu, ah, não... não me diga que, foi feito por ofício rúnico?”

O coração de Naia balançou por um momento quando ele acertou na mosca. Embora ela
tivesse conseguido se acalmar um pouco, quando seu coração partido recordou a figura
compassiva do Rei Feiticeiro mais uma vez, sua raiva despertou.

“Você está errado!”

Neia gritou como se não se importasse com mais nada, e Jaldabaoth gemeu. Tomando
isso como uma abertura, Neia atirou novamente.

Seu próximo alvo era os pés dele, que eram mais difíceis para as mãos alcançarem.

Dessa vez, Jaldabaoth mexeu-se freneticamente para evitar a flecha.

Ele está cauteloso! Talvez este arco possa—!

Só podia haver uma razão pela qual Jaldabaoth havia evitado tão desesperadamente
seu tiro quando ele tinha sido indiferente a ser esfaqueado pelas costas pela espada sa-
grada. O que mais poderia ser, se não que esse arco pudesse prejudicá-lo?

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


209
Uma onda de arrependimento agrediu Neia quando seus olhos se encheram de lágrimas.

Ela percebeu que deveria ter se juntado àquela batalha, mesmo que ela tivesse morrido
rapidamente. Se ela pudesse tê-lo atingido com o Ultimate Shooting-Star Super, então
ela deveria ter participado, mesmo que fosse apenas para ser um escudo de carne. Se ela
tivesse, então talvez—

Neia atirou outra flecha.

Jaldabaoth moveu a cabeça. A flecha errou e voou para partes desconhecidas.

“Acerta, maldição!”

Ela disparou novamente.

E mais uma vez.

Mas nenhum de seus tiros acertou o alvo. Apesar de seu tamanho e suas feridas graves,
Jaldabaoth ainda evitou os ataques de Neia com uma facilidade surpreendente.

“Ofício R—”

“—Cala a boca!”

Neia disparou outra flecha para calar Jaldabaoth.

No entanto, também errou.

Por quê? Por que ninguém está atacando?

Ela podia entender sua incapacidade de atacar Jaldabaoth porque ele estava no ar. No
entanto, mesmo assim, como eles poderiam simplesmente deixar o demônio mentiroso
que matou o mais misericordioso dos reis, o Rei Feiticeiro, ficar impune?

“...Huum. Bem, creio que não chegaremos a lugar algum... não é? 「Greater Teleporta-
tion」.”

Jaldabaoth subitamente desapareceu.

“Volte aqui!!!”

Neia olhou em volta.

Tudo o que ela viu foram os rostos de olhos arregalados de pessoas que ficaram choca-
das com o que Neia havia feito. Jaldabaoth não estava à vista.

Capítulo 5 Ainz- Morre


210
“Filho da puta! Ele fugiu!”

“Se acalme!”

Remedios gritou.

O grito de raiva de um ser poderoso poderia exercer uma pressão peculiar, e normal-
mente isso teria levado Neia de volta a seus sentidos ou até mesmo a feito ficar parali-
sada. No entanto, isso fez pouco mais do que irritá-la.

“Como posso me acalmar!?”

“Escudeira Neia Baraja! Você pegou emprestado essa arma do Rei Feiticeiro? Por que
ele estava tão interessado nisso?”

“Não me faça perguntas irrelevantes como essa! Mais importante, precisamos encon-
trar Sua Majestade! Eu o vi cair para o leste! Precisamos enviar um grupo de resgate!”

“Ele deve estar morto.”

“Como ele poderia estar morto? Como poderia Sua Majestade morrer!?”

Neia instintivamente agarrou Remedios, mas Remedios facilmente a jogou para o lado
e Neia caiu no chão.

“Já esfriou a cabeça? Ninguém poderia sobreviver a uma queda daquela altura.”

“Esfriar a cabeça? Você realmente acredita nas palavras daquele demônio? Capitã, você
vendeu sua alma pra ele?”

A expressão de Remedios mudou e depois enrijeceu.

“Escudeira! Como ousa, há coisas que não insinuar a seu bel-prazer!”

Ela agarrou o colarinho de Neia com uma força tremenda, e Neia ficou com dificuldade
de respirar.

“Vocês duas! Acalmem-se! Acalmem-se agora mesmo!”

Os paladinos, sacerdotes e soldados apressadamente se entrepuseram entre Neia e Re-


medios, separando-as.

Neia ofegou com toda a força enquanto gritava:

“Precisamos enviar uma equipe para resgatar Sua Majestade!”

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


211
“Não podemos desperdiçar nossos recursos nisso!”

“Como você ousa chamar isso de um desperdício!”

Neia queria levantar e dar um soco em Remedios, mas as pessoas entre elas a pararam.

“Eu não te devo satisfação alguma!”

Tendo esfriado um pouco, Neia se dirigiu às pessoas que a seguravam.

“Vocês poderiam me soltar? Há algo que tenho que fazer.”

“E onde pensa que vai!?”

Em resposta a essa pergunta, Neia olhou para Remedios com uma expressão totalmente
incrédula no rosto.

“E que olhar é esse? É assim que uma escudeira deveria olhar para uma paladina?”

Hmph!

Neia bufou.

“Primeiro, pedirei a Sua Alteza, o Príncipe, para organizar um grupo de resgate para o
Rei Feiticeiro. Depois disso, irei diretamente para o Reino Feiticeiro e direi exatamente
o que aconteceu com Sua Majestade, e depois pedirei ajuda para resgatar Sua Majestade.”

Dadas as circunstâncias, nada de bom viria do Reino Feiticeiro. Mesmo assim, ela ainda
era a escudeira do Rei Feiticeiro, e ela tinha que completar seu dever.

Neia não tinha certeza se poderia chegar com segurança ao Reino Feiticeiro partindo
daqui, mas ela tinha que ir, mesmo que isso significasse sua morte.

“Ohhh, se você estiver indo para o Reino Feiticeiro, deixe-me ir com você, Baraja-san!”

A pessoa que falou era um ex-soldado de meia-idade, que havia se aposentado e se tor-
nado um caçador. Ele tinha sido elogiado por seu arco e flecha e se juntou à unidade de
Neia.

“Não se preocupe comigo, como vê, eu sou bem velho. Já vivi o que tinha que viver.”

“Baldem-san!”

Pelo seu tom, ela sabia que ele entendia que tipo de destino o esperava mesmo se eles
alcançassem o Reino Feiticeiro com segurança.

Capítulo 5 Ainz- Morre


212
“Ei, Neia-chan. Não se esqueça de mim!”

“Você também, Codina-san!?”

“Eu também vou, não se esqueça. Não é por você, mas se for para o Rei Feiticeiro, então
não dá pra evitar.”

“Até você, Mena-san?”

Todas as pessoas habilidosas da unidade de Neia deram um passo à frente, uma após a
outra. Com a ajuda deles, é possível que eles alcancem o Reino Feiticeiro com segurança.
Contudo—

“Agradeço a todos. Mas vocês, poderiam se juntar ao grupo de resgate?”

“O que estão dizendo? Vocês estavam todos reunidos para resgatar o Reino Sacro e as
pessoas que sofrem das garras daquele demônio, não? Onde estão suas prioridades?”

“O que está dizendo, Capitã! Tem alguma coisa mais importante do que resgatar Sua
Majestade!?”

“Claro! Agora, neste exato momento, quantas pessoas do Reino Sacro você acha que es-
tão vivendo no inferno que os demi-humanos proporcionam? Acha mesmo que alguma
coisa é mais importante do que resgatá-los?”

“Claro! Isso é—”

“—Mas que pandemônio é esse que estão fazendo!? Por que todos estão gritando!?”

A argumentação parou imediatamente quando o intruso apareceu. Era Caspond.

“Capitã Custodio, você não deveria ter retornando imediatamente? Onde está Sua Ma-
jestade? E quanto a Jaldabaoth? O que aconteceu? Alguém poderia me explicar?”

Caspond parecia estar completamente perdido, e sua voz ecoou em voz alta no silêncio
esmagador.

♦♦♦

A sala de reuniões estava muito apertada. Estava cheio de paladinos, sacerdotes, nobres
que tinham sido prisioneiros até recentemente e paladinos honorários. Dito isto, não
havia acomodações melhores para eles, uma vez que Jaldabaoth destruíra aquela que
Caspond usara anteriormente.

Caspond convocara uma reunião de emergência depois de receber um relatório de um


paladino e instruíra todo o pessoal-chave a se reunir naquela sala.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


213
Depois que todos se reuniram, Caspond e Remedios entraram com passos rápidos.

Todos se curvaram quando o Príncipe entrou. Neia foi uma delas, porque não mantinha
rancor contra Caspond.

Caspond ficou na frente de todos e começou a falar.

“Obrigado a todos por virem aqui. Desejo discutir o curso de ação que adotaremos no
futuro.”

Embora devesse ser uma discussão, havia apenas uma coisa que Neia tinha que fazer, e
ela estava certa de que era a coisa certa a fazer. Assim que Neia estava prestes a falar,
Caspond levantou a mão para impedi-la.

“Tenho certeza que todos têm preocupações, mas eu oro para que me ouçam primeiro.”

Caspond passou lentamente o olhar por todos os presentes.

“Acredito que muitas pessoas testemunharam até que ponto a força de Jaldabaoth ex-
cede nossa imaginação... sim. Embora eu lamente dizer isso, devemos aceitar o fato de
que ninguém neste país pode triunfar sobre ele.”

Várias pessoas franziram as sobrancelhas em silêncio, depois espiaram Remedios, que


fôra saudada como a mais forte do Reino Sacro. Depois de saber que ela concordou com
a opinião de Caspond, insinuações de medo e desapontamento apareceram em seus ros-
tos.

“Contudo, é cedo demais para ceder ao desespero. Se não pudermos derrotá-lo, então
vamos desviar seus planos de alguma outra forma e fazê-lo desistir de tentar conquistar
o Reino Sacro. Nós não o expulsaremos diretamente, mas indiretamente.”

Caspond esperou alguns segundos para que suas palavras fossem absorvidas, e então
falou sua conclusão:

“O que vamos fazer é abater todos os demi-humanos que ele lidera.”

“Por que faríamos uma coisa dessas?”

Caspond viu alguém fazendo uma pergunta e acenou para eles.

“No passado, Jaldabaoth criou problemas no Reino. Naquela época, ele lutou contra um
certo guerreiro em um duelo, mas então ele perdeu e fugiu. Naquela época, ele liderava
um exército de demônios, mas não um exército de demi-humanos. Em outras palavras,
ele veio para liderar o exército demi-humano depois de perder para aquele guerreiro.”

Capítulo 5 Ainz- Morre


214
Caspond olhou nos arredores, como se quisesse ver se todos haviam entendido.

“Em outras palavras, ele está usando o exército de demi-humanos como escudos de
carne para evitar ser forçado a uma batalha de frente com aquele guerreiro. Jaldabaoth
não disse algo assim quando derrotou Sua Majestade? Algo sobre liderar o exército
demi-humano quase se tornando sem sentido, ou algo assim.”

Isso fazia sentido.

Naquela época, eles não entendiam, mas depois de ouvir essa explicação, era difícil pen-
sar em qualquer outro motivo.

“Em outras palavras, o exército demi-humano é como uma armadura e resistência para
quando ele lutar contra aquele guerreiro novamente. O que Jaldabaoth fará se ele perder
seu exército demi-humano? Ele permanecerá despojado de sua armadura e resistência,
imagine se aquele guerreiro aparecer na frente dele novamente? Quem sabe— ele pode
até preferir fugir, não?”

“Entendo... então pretende abandonar esta cidade, derrotar seu exército sulista e, em
seguida, unir forças com o Sul para expulsar os demi-humanos”

Perguntou um sacerdote. Ele foi respondido por um dos nobres resgatados.

“Isso seria bom. Graças ao poder do Rei Feiticeiro, quase quarenta mil demi-humanos
foram exterminados. Os demi-humanos perderam grande parte de sua força de luta,
não? O restante deve estar almejando o Sul. Se reunirmos todas as pessoas que esta ci-
dade resgatou para um ataque total e atacá-los pelas costas em um ataque de pinça, de-
veremos ser capazes de derrotar o exército demi-humano. Dessa forma, poderemos nos
juntar às forças do Sul e recuperar nossa terra.”

“—Eu proponho o oposto. Retornaremos a cidade principal mais próxima do oeste, que
é o baluarte do norte de Kalinsha.”

“Me atrevo a perguntar, mas por que isso?”

“Exatamente! Todas as grandes cidades a oeste, como Kalinsha, Prart, Rimun e a capital
de Hoburns, serão muito difíceis de tomar. Muitas vidas serão perdidas. Por que não
combatemos os demi-humanos do sul? Destruir o poder de luta dos demi-humanos não
se encaixa mais em seus planos, Meu Príncipe?”

“Entendo. Todas as suas preocupações são válidas. Sou grato pelo fato de que muitas
das pessoas presentes aqui são sábias. Mas essa será uma ação que todos podem enten-
der?”

Havia olhares perplexos nos rostos de muitas das pessoas presentes.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


215
“Que tal isso? Ir para o sul implica que estaremos abandonando — embora seja apenas
temporário, ainda estaremos abandonando — todas as pessoas presas que não vamos
resgatar como resultado disso. As massas— as pessoas poderão perdoar isso?”

“Isso, mas... mas isso faz mais sentido, haverá uma chance maior de salvá-los, não?”

Caspond virou-se para olhar para o homem de meia idade que fizera a pergunta.

“Você é um barão, correto?”

“S-Sim. Acredito que nos encontramos uma vez, Meu Príncipe.”

“Ahh, então é isso. Me diga, todas as pessoas do seu domínio foram resgatadas?”

“Ah, não, ainda não. Eu fui preso quando entrei em campo ao lado de Sua Majestade
Sagrada, então eu não sei sobre o meu domínio...”

“Entendo. Então, quando se juntar às forças do Sul e voltar para o Norte, o povo pode
dizer que você fugiu para o Sul.”

O rosto do nobre congelou.

Quando se pensava calmamente sobre isso, o nobre estava certo. Entretanto, não havia
garantia de que todos — especialmente os que se contorciam em agonia — pudessem
ver o sentido dito pelo nobre. Era possível que houvesse pessoas que diriam: “Por que
não nos salvou antes, nossas famílias foram massacradas pelos demi-humanos”, e isso se
tornaria lâminas de ódio contra os nobres. Neia já havia visto essas pessoas antes.

No entanto, ninguém havia dito isso nos campos de prisioneiros que o Rei Feiticeiro
havia libertado. Dada a sua magia esmagadoramente poderosa — que às vezes poderia
arruinar os muros da cidade em uma única explosão — e o fato de que ele era o rei de
outra nação, ninguém se atreveria a descontar quaisquer frustações nele.

“Além disso, eu pretendia falar com os proprietários de terras um a um depois disso.


Neste caso, podemos fazer isso agora... Ainda assim, estamos todos exaustos. Em con-
traste, o que farão os nobres do Sul? Em particular, o que farão os outros nobres com os
seus iguais que abandonaram seus feudos?”

O miasma enjoativo da política e do poder começou a infectar o ar.

Embora soasse inacreditável para Neia, era isso que os nobres queriam? Eles assenti-
ram repetidamente.

“Meu Príncipe. Nossos domínios...”

Capítulo 5 Ainz- Morre


216
“Quero que vocês finjam que não escutaram o que virá a seguir. Isso porque eu não
posso te garantir nada. No entanto, os nobres do Sul provavelmente ficarão mais pode-
rosos em um piscar de olhos. É por isso que você deve escolher o melhor movimento
para fazer, sempre com um olho tentando ver o que acontecerá depois da guerra.”

“Um momento por favor!”

Um dos paladinos gritou para ele.

“Como poderíamos derramar mais sangue das pessoas para disputas judiciais?”

“De fato! De fato!”

O sacerdote chamado Ciriaco gritou em uma voz que foi dito ter sido treinada para seu
tom de voz, e concluiu:

“O importante é como salvar mais pessoas!”

“...Expulsar os demi-humanos não significará que é o fim, entende? Se o Sul receber todo
o crédito, teremos dificuldade em recusar as exigências dos nobres do Sul. E não há ga-
rantia de que eles não imponham impostos severos às pessoas exaustas.”

“...Agora que a Rainha Sagrada está morta, seria muito ruim se o próximo Rei Sagrado
fosse escolhido pelos nobres do Sul. Ainda assim, se pudermos mostrar resultados con-
cretos com a nossa força, pelo menos...”

Havia duas facções na sala agora.

A facção dos nobres e a facção de paladinos e sacerdotes.

Ambos os lados estavam em desacordo. Já Remedios, seus companheiros paladinos es-


tavam tentando explicar uma versão simplificada do que o príncipe havia dito.

Neia não fazia parte de nenhuma das facções. Ela simplesmente seguiu o fluxo da con-
versa em silêncio. Isso porque Neia já havia se decidido sobre o que faria, de modo que
não importava a conclusão a que chegassem. Em vez disso, ela queria trazer sua própria
sugestão e partir o mais rápido possível.

Ainda assim, falar sobre coisas irrelevantes aqui só vai arruinar o clima, e as pessoas que
podem ajudar não virão em meu auxílio...

Depois de ouvir vários tópicos chatos, ela decidiu deixar Caspond lidar com isso, uma
vez que ambos os lados se desgastaram discutindo.

“O Príncipe trouxe este tópico. Talvez devêssemos deixá-lo terminar de falar?”

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


217
“Ahh. Como eu disse anteriormente, pretendo recuperar Kalinsha. Isso também é mili-
tarmente vantajoso. Na verdade, esta cidade é muito apertada e grande parte dela já foi
destruída. Viver aqui é difícil, então eu gostaria de ter uma base maior e mais sólida.
Além disso, ao recuperar uma cidade importante, teremos uma vantagem ao lidar com
os nobres do Sul. E Kalinsha foi construída para impedir os avanços do inimigo, por isso
deveria ter amplos estoques de material militar, supondo que eles ainda não tenham
sido removidos.”

“...Eu apoio a proposta para garantir uma base melhor.”

“Ahhh, estou um pouco desconfortável com o saneamento de uma cidade como esta.
Muitas pessoas estão tremendo de frio também.”

Mesmo com esse vai e vem político, eles continuaram dizendo: “Precisamos evitar um
grande número de mortes.”

“De fato. É por isso que é o melhor momento para atacar as fortalezas inimigas. Afinal,
Jaldabaoth não pode agir agora.”

Não havia como dizer quanto tempo as feridas de Jaldabaoth levariam para curar, mas
certamente ele se recuperaria antes que o exército demi-humano fosse completamente
derrotado.

Além disso, era muito improvável que ele mostrasse seu rosto antes de fazer uma recu-
peração completa. Depois de saber da existência de um poderoso guerreiro como Mo-
mon, ele certamente levaria a possibilidade de Momon aparecer em consideração antes
de fazer qualquer coisa. Portanto, se ele agisse, isso não aconteceria antes de estar quase
completamente recuperado.

Dito isto, uma vez que Jaldabaoth entrasse em campo, não importaria quanta força o
Reino Sacro pudesse reunir. Portanto, eles tiveram que tomar o baluarte agora.

Então é por isso.

Depois de ouvir essa explicação agradável, Neia também expressou sua aprovação.

“—Nesse caso, parece que a única coisa que lhe desagrada é o número de pessoas que
devem morrer por isso. Posso assumir que pretende me apoiar se eu puder minimizar o
número de mortes?”

Todos os presentes concordaram, com exceção de Remedios. Neia não se importava de


nenhum modo, mas depois de considerar o fluxo da conversa, ela percebeu que seria
ruim se apenas uma pessoa não estivesse assentindo, e então ela concordou com todos
os outros.

Capítulo 5 Ainz- Morre


218
Quanto a Remedios, várias pessoas olharam para o rosto dela e viram que ela não pa-
recia ter nenhuma razão especial para o que fazia, então decidiram ignorá-la.

“Está decidido então. Vamos discutir os detalhes de retomar Kalinsha depois. A se-
guir— nosso próximo item.”

Caspond suspirou alto e depois olhou para Neia.

“Isso diz respeito à morte do Rei Feiticeiro.”

“Meu Príncipe, peço sinceras desculpas, mas espero que o senhor altere essa declaração
imediatamente. A morte do Rei Feiticeiro permanece incerta. Isso foi simplesmente o
que Jaldabaoth nos disse. Seria tolice tomar as palavras de um demônio como a verdade.”

Neia olhou para Remedios e continuou:

“Acho que é mais provável que ele esteja tentando nos enganar.”

“Nesse caso, por que ele não voltou? Ele pode lançar magias de teleporte, não?”

“Talvez ele tenha sido imobilizado por suas feridas, talvez ele esteja sem mana. Pode
haver várias razões para isso.”

Remedios não perguntou mais nada.

“Isso é verdade. É por isso que gostaria de ouvir de todos vocês. O que acham que de-
vemos fazer?”

“Não há nenhum sentido em perguntar o que devemos fazer!!”

Neia gritou, forçando as palavras para fora como se estivesse tentando forçá-las através
de seus dentes:

“...Acho que devemos enviar uma equipe de resgate e transmitir esta notícia ao Reino
Feiticeiro ao mesmo tempo. Se possível, eu gostaria de ser a mensageira.”

“Entendo. Isso é o que você pensa, Escudeira Baraja. O que os outros pensam?”

Enquanto Caspond olhava as pessoas reunidas, um dos nobres falou.

“Eu tenho uma pergunta. Mesmo que o Rei Feiticeiro tenha caído à leste, considerando
que estaríamos montando uma operação de resgate em território controlado por demi-
humanos, não seria melhor esperar até que tenhamos alguma informação concreta antes
de...”

“Já será tarde demais.”

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


219
Neia imediatamente retrucou e concluiu:

“Quanto mais atrasarmos, mais Sua Majestade estará exposta ao perigo. Sugiro que fa-
çamos nosso resgate o mais rápido possível.”

A maioria concordou com a opinião de Neia. O que ela disse foi perfeitamente lógico.

“Nesse caso, devemos enviar uma equipe de busca ao mesmo tempo que enviaremos
uma equipe para o Reino Feiticeiro.”

“...Tem algo que eu gostaria de confirmar, já que você tem o dever como escudeira de
Sua Majestade. Em algum momento ouviu algo sobre o Rei Feiticeiro dizer ao povo de
seu país que ele estava vindo para o Reino Sacro?”

Neia começou a pensar.

“Peço desculpas, mas não tenho certeza. No entanto, eu sinto que não seria estranho ele
ter contado ao povo do Reino Feiticeiro, porque houve momentos em que ele retornou
ao seu país com magias de teletransporte.”

“Nesse caso, sinto que não deveríamos enviar um enviado ao Reino Feiticeiro.”

“Por quê!?”

Neia olhou para o nobre que não fez nada além de negações. O nobre recuou dois passos
e seu rosto ficou pálido sob aquele olhar penetrante. As pessoas ao redor daquele nobre
também se afastaram dele.

“Não, ah, por favor, acalme-se e ouça. Isso, porque isso trará problemas. Tenha calma!
Por favor, acalme-se e me escute. Quando pensa nisso normalmente, existe a possibili-
dade de que os exércitos undeads do Reino Feiticeiro se vingariam de nós, estou errado?
E pode não parar apenas nisso; eles podem anexar o Reino Sacro também. E... ah, quem
sabe? Quem pode dizer que o Rei Feiticeiro não estava desejando isso o tempo todo?”

“Como é!?”

Neia estava tão brava que ela realmente se sentiu tonta.

“Nesse caso, permita-me fazer uma pergunta! Se Sua Majestade retornava ao seu país
por teletransporte, o que eles pensariam do Reino Sacro, quem sabe o que aconteceria
se nós não dissermos nada?”

Todos que ela podia ver assentiram em concordância. Em meio a tudo isso, Remedios
falou.

Capítulo 5 Ainz- Morre


220
“Bem, não dá para evitar, ou dá? Nosso país não tem o luxo de fazer isso agora. Tudo o
que temos que fazer é pedir desculpas depois que tudo acabar, certo?”

“Mesmo se SUA—”

Neia estava tão nervosa que estava prestes a gritar, e então ouviu o som de palmas ao
lado dela. Ela olhou e viu que era Caspond. O Príncipe queria falar, tudo o que Neia podia
fazer era permanecer em silêncio.

“Escudeira Baraja. Permita-me escolher as pessoas que irão para o Reino Feiticeiro. Que
tal isso? Afinal, se enviarmos uma simples escudeira como mensageira, o outro país não
pensará que estamos zombando deles?”

“M-mas, é como diz...”

Sua explicação fez perfeito sentido. Em circunstâncias normais, eles certamente esco-
lheriam o embaixador de um país sobre uma escudeira que tivesse pegado emprestado
um arco mágico do Rei Feiticeiro. No entanto, ele realmente enviaria um emissário? Ela
achou aquela parte difícil de acreditar. Mesmo assim, seria muito ruim mostrar que ela
não confiava nas palavras de um príncipe.

“Estou feliz que você entenda.”

“Nesse caso, por favor, permita-me levar várias pessoas para o leste.”

“De fato. Eu também gostaria muito de lhe enviar, mas ainda não sabemos onde exata-
mente o Rei Feiticeiro caiu. Ele pode estar a dez quilômetros ou cem. E se a sorte nos
abandonar ainda mais, ele poderia ter caído nas Colinas Abelion, que Jaldabaoth controla.
Mesmo se eu permitisse que você fosse para um lugar tão desolado, você teria algum
meio de encontrar o Rei Feiticeiro?”

Neia não pôde responder.

Descobrir onde os demi-humanos viviam em terreno desconhecido era uma tarefa im-
possível. Ela poderia facilmente imaginar a equipe de escoteiros completamente imersa
em problemas e sendo completamente eliminada.

“Sobreviver nas colinas, evitar as sentinelas demi-humanas e coletar informações...”

Caspond contou em seus dedos:

“Se você for para lá sem se preparar, estará simplesmente se matando indiretamente, e
de que serve uma equipe de resgate que termina em fracasso?”

“Então, tem algum outro jeito?”

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


221
“Claro.”

“Eh?”

Como poderia haver?

Quando ela pensou sobre essa questão, foi facilmente respondida. Os olhos de Neia se
arregalaram de surpresa, e então Caspond se ajustou antes de dizer a Neia a resposta.

“Tudo que você precisa é encontrar alguém que conheça as colinas.”

Neia piscou e Caspond sorriu para ela.

“Ouça. Tudo o que precisamos fazer é levar um demi-humano cativo e fazê-lo liderar o
caminho. Não seria mais seguro ordenar a um demi-humano que atuasse como seu guia?”

“Ah.”

De fato, esse foi o caso. Os humanos estariam correndo um risco absurdo de entrar na-
quela terra. No entanto, seria diferente se tivessem guias.

Claro que também haveria possíveis problemas que não poderiam ignorar.

Se eles simplesmente ameaçassem um prisioneiro demi-humano a mostrar-lhes o ca-


minho, o prisioneiro poderia estar disposto a se sacrificar para matar todos, o grupo de
busca estaria indo para a morte. Os Orcs que ela conhecera antes pareciam do tipo que
não se importavam se viviam ou morriam.

Eles precisariam de demi-humanos confiáveis, mas onde eles os encontrariam?

O que ela poderia fazer para fazer um demi-humano agir como um guia confiável?

Neia torturava seu cérebro, mas quando pensava em demi-humanos, só conseguia pen-
sar neles tentando matá-la, e ela não conseguia imaginá-los aceitando uma oferta para
serem seus guias.

Não, os Orcs e o Grandioso Rei Buser lembravam um pouco os humanos— é isso, tomar
seus parentes como reféns... não, se pudéssemos pegar um rei como Buser como prisioneiro,
sua tribo provavelmente nos obedeceria.

Ou, por outro lado, a tribo enfurecida poderia resistir rigidamente. Além disso, como
eles capturariam um rei poderoso como Buser—

Enquanto Neia vagava sem rumo num labirinto mental, procurando uma resposta que
não conseguia encontrar, a porta da sala se abriu e um paladino entrou.

Capítulo 5 Ainz- Morre


222
Ele ofegava pesadamente e olhou ao redor e para o centro da sala, mas ele se aproximou
de Caspond em vez de Remedios.

Talvez ele não quisesse que os outros ouvissem que notícias ele tinha. Ele levou o prín-
cipe para um canto da sala e sussurrou em seu ouvido, mas a audição de Neia pegou
trechos de sua conversa. Entre eles, a última informação despertou seu interesse.

Ele dissera “empregada demônio”.

“Senhores, algo urgente surgiu. Infelizmente, a reunião terminará aqui. Espero que co-
mecem a formular maneiras de recuperar Kalinsha. Além disso, Capitã Custodio, venha
comigo.”

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


223
Interlúdio

Capítulo 5 Ainz- Morre


224
ecentemente, Jircniv estava em ótima forma.

R Realmente, formidável.

De todo modo, a vida era boa.

Depois de visitar o pesadelo que era Nazarick, as cólicas estomacais que o atormenta-
vam todo esse tempo tinham desaparecido. A gaveta que uma vez continha poções, agora
continha pilhas de documentos. Ele estava livre de todos os seus problemas, ele não mais
recolhia cabelos de seu travesseiro, e ele não estava mais chocado como havia ficado no
passado.

Quão refrescante!

Quão prazeroso!

Quão confortável!

Esta foi provavelmente a primeira vez em sua vida que ele foi preenchido com tal sen-
timento de libertação. Ele se sentia tão bem que não pôde deixar de imaginar que tinha
asas brotadas em suas costas com as quais podia chegar ao céu.

Ele desfez o sorriso sincero que tinha e encarou seu subordinado. Você sorri mais vezes
agora, dissera sua concubina não tão bela, mas não era hora de deixar que os outros o
vissem sorrir. A dignidade era uma coisa que causava muitos problemas quando perdida.

E assim, a reunião matinal habitual começou.

Jircniv tinha muitos escribas, mas o que estava diante dele agora era um excelente ho-
mem chamado Loune Vermillion.

A princípio, ele se preocupara que algo lhe tivesse sido feito depois de voltar do palácio
do Rei Feiticeiro, e por isso o colocara em uma sinecura. No entanto, isso também era
uma coisa do passado. A posição de Loune como escriba principal agora estava segura.
Isto não foi porque ele estava certo de que nada havia sido feito para ele. Era simples-
mente para provar que ele não tinha nada a esconder do Reino Feiticeiro.

Além disso, também era um fato que Loune era muito habilidoso.

Ele olhou para o documento que tirara de Loune e, devido ao conteúdo ridículo, Jircniv
perdeu o controle de si mesmo e caiu na gargalhada.

“Quem escreveu isso foi algum comediante. O que pensa dessa tal morte do Rei Feiti-
ceiro?”

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


225
“Primeiramente, eu tenho absoluta certeza, com praticamente nenhuma chance de es-
tar enganado, que isso é uma mentira deslavada.”

Jircniv concordou com o que Loune dissera.

“Ahh, concordo totalmente. Deve ser falso. Além disso, é impossível que Sua Majestade
perca ou morra, ou seja lá o que for.”

Ninguém poderia matar um magic caster que poderia esmagar um exército de 200.000
com uma única magia e lutar em combate armado com o Senhor Marcial, o mais pode-
roso guerreiro do Império. Jircniv tinha certeza disso.

Claro, ele também não poderia ser envenenado e não poderia contrair doenças ou mor-
rer de velhice. Era mais provável que alguém estivesse espalhando uma piada de mau
gosto em grande escala, a fim de fazer a piada de “...Pra começo de conversa, ele já está
morto.”.

“Bem, provavelmente é para descobrir quaisquer descontentes. Ainda tenho uma per-
gunta.”

“Qual seria?”

“Fico me perguntando o porquê Sua Majestade, que possui um intelecto incomparável,


está recorrendo a um esqueminha chulo como este, qualquer um logo vê que é um ab-
surdo. A menos que isso signifique que há algum outro... sim, é possível que haja alguma
grande conspiração que nem eu possa discernir...”

Quem poderia dizer com certeza que não era o caso? Não, se isso fosse um esquema
estabelecido pelo intelecto monstruoso que conhecia todos os detalhes dos movimentos
de Jircniv, então Jircniv tinha certeza de que aquilo não passava de uma ponta do iceberg.
Por tudo que Jircniv sabia, até pensar desse jeito poderia ter sido parte de seu plano.

Ainda assim, e se este não fosse um esquema criado pelo Rei Feiticeiro, mas sim por um
de seus subordinados — por exemplo, aquele monstro parecido com um sapo que agia
como um imbecil?

“...Eu não sei. Além disso, tem coisas que não dá simplesmente para descobrir só porque
deseja descobrir, então só resta desistir. Mais precisamente, tudo o que precisamos fazer
é obedecer a Albedo-sama, a Primeira-Ministra do Reino Feiticeiro, e fazer o que ela diz.
Não haverá problemas, só precisamos ser fiéis a eles e seguir todas as tarefas. Como go-
vernante de um país vassalo, não serei tão facilmente expurgado se formos adequada-
mente incompetentes.”

“É como o senhor diz.”

Loune deu de ombros.

Interlúdio
226
No passado, ele era uma pessoa que não fazia tais movimentos, mas suas muitas expe-
riências o haviam treinado a fazê-lo. Ou talvez tenha sido porque ele se tornou ousado.

Independentemente de o Rei Feiticeiro estar vivo ou morto, tudo estaria bem enquanto
o Império não deixasse de ser um vassalo do Reino Feiticeiro. Dessa forma, eles seriam
imunes a qualquer estratagema empregada pela oposição. A lealdade era a melhor de-
fesa. Se eles foram mortos mesmo depois de dar sua lealdade, então tudo que eles pode-
riam fazer era rir da mesquinhez da outra parte e ir para o túmulo em paz.

“Então, esse é todo o trabalho de hoje?”

Desde a vassalização, a carga de trabalho administrativo de Jircniv caiu para cerca de


metade de antes. Ainda assim, a carga de trabalho de hoje parecia muito leve.

“Não, Vossa Majestade, ainda há outra coisa. Este é um documento que recebemos pela
manhã. Foi submetido pelas legiões dos cavaleiros.”

Infelizmente, o trabalho dele ainda não tinha terminado.

Jircniv aceitou o documento apresentado com um sorriso zombeteiro no rosto.

Ele olhou brevemente o conteúdo. Parecia conter as queixas dos cavaleiros sobre a re-
organização de sua legião.

No passado, ele teria dado uma certa consideração especial aos cavaleiros. Ou melhor,
considerando que Jircniv tinha muitos nobres como seus inimigos, ele não podia permi-
tir que o inimigo arrebatasse a força marcial que os cavaleiros representavam. No en-
tanto, as coisas eram diferentes agora.

“Diga-lhes isto: Os senhores podem dizer a Sua Majestade o Rei Feiticeiro em pessoa.
Francamente, não posso acreditar que gastaram papel nisso.”

O papel usado nesses relatórios era feito pela magia utilitária e custava mais do que o
comum, independentemente do nível de magia usada para produzi-lo. Jircniv poderia
ter jogado fora após o uso sem qualquer preocupação, mas ele não pretendia tolerar
despesas excessivas.

Papel feito por magias de 0 nível ficava amassado. O papel era grosso e descolorido.

Papel feito através de magias utilitárias de 1º nível, era mais fino e mais branco. As téc-
nicas de fabricação de papel também poderiam produzir papel com essa qualidade, mas
seu rendimento era menor e, portanto, o papel era mais caro.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


227
Magias utilitárias de 2º nível produziam papel muito fino e muito branco. Naturalmente,
pode-se colorir papel magicamente até certo ponto. Magias desse nível poderiam pro-
duzir um papel muito macio e de alta classe, conhecido como papel nobre, que era o
principal rendimento dessas magias.

“Ainda assim, não é como se eu não entendesse o porquê são tão resistentes em deixar
que outro país cuide da nossa defesa nacional.”

“Não venham se queixar disso para mim, informe a Albedo-sama. Além disso, nós já não
dissemos que não estávamos confiando todos esses deveres a eles?”

Isso veio das instruções da Primeira-Ministra Albedo para suplementar a força militar
do Império com os exércitos undeads do Reino Feiticeiro.

Jircniv acreditava que isso fazia parte do programa para completar o processo de vas-
salização, e assim obedeceu. Ele planejava deixar alguns cavaleiros se aposentarem e
pretendia desfazer duas das oito legiões do Império.

Isso deveria ter sido uma boa idéia, já que havia muitas pessoas que estavam mental-
mente exaustas com o massacre, mas ainda havia alguma insatisfação com a falta de lu-
gares que pudessem ser ocupados.

“E eu até preparei posições para eles se transferirem...”

“É o mesmo de sempre, pessoas infelizes por perder privilégios e desconfortáveis em


fazer trabalhos que nunca fizeram antes, eu acho.”

“Se for esse último, então eles só têm que se esforçarem mais, mas se for o primeiro,
então é de se esperar. Ou é esperado que eu pague a quem trabalha com qualquer coisa
que exija algum esforço físico o mesmo que pago as pessoas que tem trabalhos perigo-
sos?”

Jircniv bufou e desconsiderou isso.

Se fosse no passado, talvez ele precisasse manipulá-los magistralmente, mas agora não
havia necessidade disso.

Jircniv tinha o apoio de alguém chamado Rei Feiticeiro, que possuía poder absoluto. Não
importava o que acontecesse, tudo o que ele tinha que fazer era dizer: “Por favor, vá em
frente e informe pessoalmente a Sua Majestade”, e toda discordância anular-se-ia em um
instante.

Ninguém no Império poderia expressar seu descontentamento para alguém que pode-
ria abater em tal escala e até mesmo derrotar o Senhor Marcial em combate.

Interlúdio
228
Mesmo que apresentassem reclamações a Jircniv como fizeram no passado, sua posição
agora estava segura, dado que era um servo do Rei Feiticeiro. Melhor ainda, agora ele
era temido, era seguro dizer que sua posição agora estava mais segura do que jamais
esteve. Imutável, talvez?

E, francamente, havia poucas pessoas atônitas no Império e que estavam insatisfeitas


em se tornarem vassalos do Reino Feiticeiro. Isso porque o Reino Feiticeiro fez pouquís-
simas exigências. Havia alguns pedidos bem detalhados, mas havia apenas duas exigên-
cias principais.

A primeira foi para alterar uma parte da lei do Império — isso para enfatizar a natureza
absoluta do Rei Feiticeiro e seus confidentes.

A segunda foi entregar criminosos condenados à pena de morte. Isso foi chocante no
sentido oposto. Mesmo ele sentindo que eles iriam sofrer destinos piores que a morte,
um deles tinha sido devolvido em segurança pelo seguinte motivo: “Ele foi incriminado
injustamente, portanto, é inocente”.

E assim, pode-se dizer que praticamente não houve mudança da vida cotidiana.

“Venha, vamos terminar rápido para que eu possa encontrar meu amigo.”

Hoje, um verdadeiro amigo que Jircniv fizera recentemente estava programado para
visitá-lo. Todos os preparativos para a sua recepção estavam completos, e tudo o que
restou foi que Jircniv terminasse seu trabalho.

Ele passou meia hora cuidando de várias tarefas, e então seu subordinado entrou na
sala depois de receber a aprovação de seus guardas e do próprio Jircniv.

“Vossa Majestade, seu convidado chegou—”

“Ohh! Se apresse e deixe-o entrar!”

Seu trabalho ainda não estava terminado. Ainda assim, de que isso importava? O que
poderia ser mais importante do que saudar um amigo?

Logo, seu amigo foi levado para a sala por seus subordinados.

Jircniv se levantou, seu rosto todo sorridente, e ele abriu os braços de boas-vindas e
convidou seu convidado para entrar.

Era um demi-humano que parecia uma toupeira curta e atarracada. O pingente encan-
tado que ele lhe dera oscilava de um lado para o outro.

“Ohhh! Bem-vindo! Meu grande amigo, Riyuro!”

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


229
Jircniv abraçou Riyuro sem qualquer hesitação e passou os braços ao redor dele.

“Ahhh! Jircniv, meu grande amigo com quem compartilhei meus problemas! Estou pro-
fundamente grato pelas suas boas-vindas!”

Riyuro abraçou Jircniv também. Dadas as garras afiadas em seus membros dianteiros,
podia-se ver a gentileza em seus movimentos enquanto ele tomava cuidado para não
machucar Jircniv com elas.

Eles se abraçaram por um tempo e depois se separaram lentamente.

“—Por que diz uma coisa dessas? Minhas portas estão sempre abertas para você,
Riyuro.”

Riyuro sorriu.

Mesmo que o rosto sorridente de um demi-humano parecesse cruel, Jircniv entendia


que ele estava sorrindo. Tal era a intimidade de seu relacionamento.

Jircniv de repente ficou impressionado com o quão interessante isso era.

Ele havia nascido e crescido como candidato a ser o próximo imperador, e todos ao re-
dor dele de sua idade o consideravam o príncipe herdeiro. Portanto, ele não teve nin-
guém que pudesse chamar de “amigo”. Mas agora, o fato de que seu primeiro amigo era
um demi-humano—

—Hmph. Se eu tivesse contado ao meu passado de dez ou quinze anos atrás sobre isso, ele
não teria acreditado... Por isso, pelo menos, eu tenho que agradecer a aquele undead.

Ele conheceu esse querido amigo diante dele em uma sala de espera quando ele foi bus-
car uma audiência com o Rei Feiticeiro.

Naquela época, ele simplesmente se perguntava de onde esse demi-humano tinha vindo
e até onde a dominação do Rei Feiticeiro chegara.

Mas depois disso, eles se encontraram novamente e conversaram um com o outro para
aprender mais um sobre o outro — e então, ambos se deram conta da verdade. Depois
de um minuto juntos, que poderia muito bem ter sido um mês, nasceu uma profunda
amizade.

Foi por isso que eles não se dirigiram mais aos honoríficos. Isso não aconteceu porque
ambos eram reis.

De fato, foi porque ambos—

Interlúdio
230
—Ambos estavam sendo atormentados pelo mesmo opressor — eram companheiros
de sofrimento.

“Venha, preparei todos os tipos de iguarias que irão surpreendê-lo. Não nos recompen-
saremos por nossos labores hoje?”

“Ah, eu ficaria feliz em fazer isso, Jircniv. Eu também trouxe muitos dos cogumelos que
disse que era deliciosos naquela vez. Vamos comê-los depois.”

“Ohhh! Obrigado Riyuro.”

Os cogumelos que Riyuro trouxera eram cheirosos e carnudos, e eles eram um ingredi-
ente de luxo chamado Obsidian.

Os dois saíram da sala lado a lado.

No passado, Jircniv ficou desconfortável quando soube que o Reino Feiticeiro tratava
os demi-humanos da mesma maneira que tratava os humanos.

No entanto, ele olhou de relance para Riyuro ao seu lado e pensou:

Demi-humanos não são tão ruins assim. Pelo menos, em comparação com os undeads —
o Rei Feiticeiro.

“Falando nisso, já ouviu as novidades, Riyuro? O Rei Feiticeiro parece ter batido as bo-
tas.”

Riyuro expeliu um grande fluxo de ar do nariz. Essa era sua maneira de rir.

“Jircniv, isso é impossível. Como— como alguém como ele pode morrer?”

“De fato, concordo com você. No entanto... qual nação verá seu povo se lamentando
desta vez...?”

“Sim...”

Riyuro e Jircniv olharam para o céu.

Havia dor nos olhos deles. Eles se lamentaram por uma tragédia que estava aconte-
cendo em algum lugar distante, e a solidariedade compartilhada que logo eles ganhariam
um novo companheiro.

♦♦♦

“Ahhhhhhhhhhhhhhhh!”

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


231
O grito que de repente ecoou pela sala fez o homem ficar rígido. Ele pertencia a uma
organização secreta chamada Oito Dedos e, embora já tivesse visto muitas coisas antes,
nunca vira uma erupção dessas emoções sombrias. Parecia ódio genuíno com amaldiço-
amentos dúbios.

Ele não teria ficado chocado se tivesse vindo de um inimigo. De fato, ele estaria sorrindo
em vez disso. No entanto, a pessoa que fazia esse som era uma amiga, uma amiga que o
entendia, pois ela havia passado pelo mesmo sofrimento e miséria que ele.

Amigos — ele pensou que não poderia haver uma palavra que fosse menos aplicável a
ela do que essa.

Até recentemente, os colegas de sua organização lutavam para atormentar seus iguais,
roubavam poder e procuravam as fraquezas de cada um a cada dia. Se seus objetivos
fossem e encontro com os interesses alheios, então haveria sangue.

No entanto, as coisas eram diferentes agora.

Se alguém não pudesse fazer sua parte, todos teriam mais trabalho a fazer, e ainda as-
sim, no fim, provavelmente falhariam. Quando isso acontecesse, todos seriam responsa-
bilizados e arrastados para um inferno. Mesmo sendo punido uma vez já fôra suficiente
para condená-los a uma dieta líquida e ser atormentado por pesadelos. Por tudo que ele
sabia, havia outros infernos esperando por ele.

Com isso em mente, sempre que alguém começava a dar indícios de não dar conta do
trabalho, todos imediatamente lhe davam todo o seu apoio, preocupavam-se com sua
saúde e se preocupavam com seu estado mental. E o faziam desesperadamente.

Eles haviam se tornado verdadeiros companheiros, aqueles que compartilhavam suas


vidas e cujos destinos eram um só.

E uma dessas amigas estava agora gritando e rolando no chão frio de pedra. O medo
chamado “se você não descobrir o motivo em breve, você vai acabar assim também” levou
o homem a agir.

“O-o que foi, Hilma? O que aconteceu?”

A mulher lamentando parou de se mover, e seus olhos deslizaram de baixo para olhar
para o homem.

“—Eu cansei! Troque comigo! Meu estômago dói! Eu preciso ficar de olho aos movi-
mentos daquele idiota! O que há de errado com ele? Ficar perto daquele idiota tá me
deixando louca!”

Eles conheciam apenas um homem que poderia ser chamado de idiota. Embora tives-
sem usado a palavra “idiota” com frequência ao longo da vida, aquele homem sozinho

Interlúdio
232
redefiniu o conceito da palavra, e por isso não podiam mais usar a palavra idiota levia-
namente.

“O que foi? O que aquele idiota fez agora?”

Hilma falou rapidamente, como se estivesse vomitando sua raiva reprimida.

“Ah sim! Você ouviu sobre aquilo, não é, como Sua Majestade pereceu!?”

Ele queria deixá-lo um pouco mais relaxada, mas parecia que Hilma estava exalando
seu estresse. Portanto, ele não a interrompeu, mas escutou pacientemente.

“Mm, claro.”

A Oito Dedos foi a responsável por espalhar a notícia. Naturalmente, não é preciso dizer
que eles usaram comerciantes não relacionados para divulgar as notícias através do
Reino.

“E o que acha que ele me disse depois que soube disso?”

Bem, ele era um idiota, afinal. Ele teve que considerar esse ponto antes de responder.
Mas, tudo o que ele conseguia pensar eram em respostas comuns. Claro, não havia como
dizer o que um idiota pensava, então ele desistiu no final e disse algo normal.

“...Ele disse algo sobre o enterro?”

“Se fosse só isso, meu estômago não doeria assim! Ele disse que se casasse com a Al-
bedo-sama, ele seria capaz de herdar o Reino Feiticeiro!”

“Hiiieeee!”

O homem guinchou e olhou em volta.

O homem não podia senti-los, mas deveria haver observadores do Reino Feiticeiro aqui.
Depois de certificar-se de que eles não tinham feito o seu movimento, o homem suspirou
de alívio.

Eles tinham sido ordenados a preparar um idiota, mas ele preferia não ser jogando em
um inferno por conta de um idiota que desafiava toda a lógica.

“Ei ei ei! Recebemos ordens para preparar um idiota, mas por que não o matamos? Não
seria melhor preparar um idiota mais adequado?”

“E por acaso dá para preparar mais alguém neste momento?”

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


233
A resposta do homem fez Hilma rolar enquanto gritava “Ahhhhhhhh!”. A bainha de seu
vestido subiu por sua perna até acima de sua coxa.

Ela tinha sido originalmente uma prostituta de alta classe e ainda era tão bonita quanto
uma, mas tudo que o homem podia sentir por seu estado sem graça e vergonhoso agora
era a simpatia.

Afinal, ele sabia muito bem que, se tivesse sido designado para a mesma tarefa, seria
quem ele que estaria rolando.

“Anime-se, Hilma, dê o seu melhor.”

De repente ela parou e olhou para o homem antes de falar.

“Não ficariam melhor se você manipulasse ele... ou se ele não fizesse nada extravagante?”

“Idiotas daquele jeito só são controlados por mulheres. Não é verdade?”

Depois de ouvir essa pergunta, Hilma fez “Ahhhhhhhhhhhh!” novamente e continuou


rolando no chão.

“Creio que isso não vá durar muito mais tempo. A parte séria virá daqui dois ou três
anos. Temos que reunir mais idiotas até lá. Faremos o nosso melhor para te ajudar se
precisar formar uma facção de idiotas.”

“Dois anos é muito tempo ahhhhhhhhh!”

“Sim, mas são nossas ordens. Controlar as informações que recebem e fazer uma facção
que fará coisas ainda mais tolas.”

“Isso é verdade ahhhhhhhh!”

Hilma parou de repente e então se levantou.

“Você tem a parte mais fácil. Tudo o que precisa fazer é mobilizar os comerciantes e
divulgar as notícias que o Rei Feiticeiro — Sua Majestade! — morreu, até que chegue ao
Segundo Príncipe.”

Você faz parecer tão fácil...

Ele pensou.

No passado, ele não achava que o Príncipe fosse muito inteligente. No entanto, ele len-
tamente percebeu que isso se devia ao Primeiro Príncipe, que o encobrira todos esses
anos.

Interlúdio
234
Justamente pelo Segundo Príncipe ser inteligente, que receber as notícias exigia mano-
bras extremamente cuidadosas e complicadas.

Isso era para impedi-lo de perceber que ele trabalhava para o Reino Feiticeiro.

“...Não é tão fácil quanto diz.”

“...Ahh, me desculpe então. É algo bem trabalhoso também, certo... que tal esta noite, vai
vir?”

Hilma imitou a ação de beber um grande gole de vinho.

“Por mim, tudo bem. Preciso ter certeza de não vazar nada mesmo quando estiver
caindo de bêbado.”

Eles podem não conseguir ingerir alimentos sólidos, mas beber era uma questão dife-
rente.

“Haha.”

Um sorriso seco apareceu no rosto de Hilma:

“Vai ficar bem. Nossos observadores vão nos ajudar.”

“Haha.”

Um olhar semelhante apareceu em seu rosto:

“Tem razão...”

“Mas agora que você mencionou, onde está aquele cara sortudo...?”

Havia apenas uma pessoa entre eles que poderia ser considerada um sujeito de sorte.

“Cocco Doll, huh? Ainda está na cadeia, afinal, perdeu influência durante aquela confu-
são toda... sorte dele.”

“Tem razão... ele é um cara sortudo...”

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


235
Capítulo 06: Artilheira e Arqueira

Interlúdio
236
Parte 1

epois de sair da sala de Caspond, o primeiro lugar que Neia se dirigiu foi

D
para o campo de arquearia. Os subordinados de Neia estavam esperando lá
e eles imediatamente se reuniram para saudá-la.

Por serem seus amigos, disseram: “Como foi a reunião, Srta. Baraja?”, “A
gente tá pronto pra partir a qualquer momento”, e outras coisas assim, Neia falou sobre
a reunião.

Ela contou tudo — o que aconteceu, o que foi dito e as conclusões a que chegaram.

A maioria deles caçava para ganhar a vida, todos eram excelentes homens. E mesmo
eles não puderam deixar de concordar com a conclusão de Caspond. Não havia dúvida
de que procurar nas Colinas seria extremamente difícil.

Sendo esse o caso, um despacho inicial de um grupo de busca parecia impossível. Toda-
via, eles poderiam realizar uma simples busca dentro do Reino Sacro — indo para leste
deste lugar até a linha da fortaleza. Como não estava claro onde o Rei Feiticeiro havia
caído, ele ainda poderia estar dentro das fronteiras do Reino Sacro.

Várias pessoas qualificadas em técnicas ranger avançaram.

Neia também queria participar, mas não tinha praticamente nenhuma habilidade como
ranger, de modo que só atrapalharia se os acompanhasse.

Esta seria uma operação para resgatar um rei justo que havia ajudado a salvar as pes-
soas de outro país. Como sua escudeira, não ser capaz de ir soava como deslealdade, o
mero pensamento disso atormentou o coração de Neia.

Ela sentiu vontade de gritar do jeito que fizera com Remedios, mas nada aconteceria,
mesmo que o fizesse.

Neia disse a todos que eles tinham recebido a permissão de Caspond para pesquisar
dentro das fronteiras do Reino Sacro, mas ela não poderia participar.

“Pode deixar com a gente, Srta. Baraja.”

“Ahhh. Vamos manter os olhos abertos enquanto procuramos por Sua Majestade. Não
vamos deixar nem uma única pista passar sobre o nosso grande benfeitor!”

“Tudo bem, pessoal. Quando o Príncipe der permissão, eu contarei com todos vocês!”

Neia se curvou profundamente para eles.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


237
“Srta. Baraja, e quanto ao resto de nós? Como podemos ser úteis ao Rei Feiticeiro?”

Enquanto todos olhavam para ela com zelo nos olhos, Neia se encheu de prazer.

Eles não achavam que o Rei Feiticeiro estivesse morto, mesmo depois de testemunhar
aquela cena.

Isso mesmo! Como Sua Majestade poderia morrer!? Tenho certeza de que ele deve estar
esperando por nós para resgatá-lo... assim espero.

Neia não podia imaginar um cenário em que essa entidade suprema esperasse por essas
pessoas para resgatá-lo. Por tudo o que ela sabia, eles provavelmente o encontrariam
elegantemente tomando um copo de vinho na frente de uma pilha de cadáveres de demi-
humanos e demônios.

“Me escutem bem! Todos os que ficaram começarão a treinar, porque a fraqueza é um
pecado!”

De fato, isso era tudo que Neia podia fazer agora. Ela precisava se tornar forte o sufici-
ente para ser de alguma utilidade na próxima vez. Se ela e seu povo tivessem sido fortes
o suficiente, o justo Rei Feiticeiro não teria terminado assim.

“Ohhhh!”

Ela recebeu uma resposta espirituosa. Isso porque todos entendiam o que Neia queria
dizer quando dizia: “O Rei Feiticeiro é justiça e a fraqueza é um pecado”. Poucas pessoas
concordaram com essas palavras quando esta unidade foi formada, mas depois de se
misturar com elas, mais pessoas compartilharam seu ponto de vista.

“Então eu vou ver o Príncipe!”

♦♦♦

Depois de falar diretamente com Caspond, o grupo de busca recebeu rapidamente per-
missão para sair. Eles partiram no mesmo dia e três dias se passaram desde então.

Embora as coisas pudessem ter sido problemáticas se os membros do grupo de busca


não tivessem pensado, o fato era que todos eles tinham sido escolhidos porque concor-
davam com a proposta de Neia, e por isso eles partiram sem demora.

Embora os rumores de recuperar Kalinsha tivessem circulado pela cidade durante es-
ses três dias, o Exército de Libertação não fizera nenhum movimento e apenas deixava
passar o tempo sem rumo. A exceção foi Neia e o crescente número de pessoas que ti-
nham vindo a aceitar o Rei Feiticeiro como justiça — eles se dedicavam diligentemente
à sua formação.

Capítulo 6 Artilheira e Arqueira


238
Neia atirou uma flecha no alvo, estava com uma expressão irritada no rosto.

Sua ansiedade e raiva provavelmente fizeram suas mãos ficarem escorregadias, porque
a flecha acertou um pouco fora do centro do alvo.

Normalmente, alguém viria para repreender Neia, mas ninguém se atrevia a falar com
Neia agora.

A razão para isso era a expressão de seu rosto.

Sua ansiedade por não poder fazer nada para o Rei Feiticeiro e a falta de sono devido à
falta de notícias significava que a área em torno de seus olhos estava inchada e descolo-
rida, o que a fazia parecer horrível, especialmente quando se considerava as rugas entre
suas sobrancelhas também. Já que ela normalmente escondia seu rosto com a viseira,
isso causava um grande impacto nos outros quando ela a removia.

Mesmo os subordinados de Neia entendendo profundamente como ela se sentia, nin-


guém se atreveu a se aproximar.

—Vossa Majestade, Vossa Majestade, Vossa Majestade, Vossa Majestade, Vossa Majestade,
Vossa Majestade, Vossa Majestade, Vossa Majestade, Vossa Majestade, Vossa Majestade,
Vossa Majestade, Vossa Majestade, Vossa Majestade, Vossa Majestade, Vossa Majestade,
Vossa Majestade, Vossa Majestade, Vossa Majestade, Vossa—

Essas palavras rodopiavam e giraram na cabeça de Neia.

“—Ahh, droga.”

Os ombros de todos os arqueiros ao redor de Neia tremeram ao ouvir aquelas palavras


silenciosas.

—Majestade. Não, eu preciso me acalmar. Faz apenas três dias! Apenas a região leste do
Reino Sacro já é grande o suficiente! Acalme-se Neia, você não quer assustar os outros, não
é?

Neia tirou a viseira — e ouviu algo parecido com um grito suprimido de alguém que por
acaso apareceu em sua direção — e massageou as têmporas levemente enquanto ten-
tava relaxar seu rosto tenso.

Nesse momento, Neia ouviu dois pares de passos correndo em direção ao campo de
arquearia. Dado que ela podia ouvir um tilintar metálico que era característico de cota
de malha, ficou claro que não eram milicianos que tinham vindo aqui para treinar. Os
paladinos usavam armadura de placas de metal, certamente não poderiam ser eles. Eles
eram, provavelmente, soldados ou escudeiros mais graduados.

“Escudeira Neia Baraja!”

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


239
Quando Neia se virou para as pessoas que haviam se intrometido, os dois homens que
apareceram simultaneamente recuaram e gritaram.

“O que— o que foi? Aconteceu alguma coisa!?”

Vocês não tinham algo a dizer?

Neia pensou enquanto respondia:

“Ah, quanto tempo. Essa é a reação habitual... não, talvez seja um pouco mais do que a
reação habitual?”

Essas duas pessoas também eram escudeiros e treinaram ao lado de Neia. Dito isto, ela
não sabia quase nada sobre suas personas, já que não tinham interagido muito, mas pelo
menos ainda se lembrava de seus nomes e rostos.

como Neia os conhecia, então também deveriam ter conhecido Neia. Ou seja, já deve-
riam estar acostumados com o olhar de Neia. Mesmo assim, o fato de terem reagido
dessa maneira mostrou o quão aterrorizante estava seu rosto.

Por sinal, Neia se lembrou que eles também haviam sido libertados dos campos de pri-
sioneiros.

“Ah sim. Eu normalmente não tenho essa cara— como se eu odiasse o mundo inteiro...
eu acho. Não, normalmente sou assim?”

Neia esfregou o rosto e pensou que talvez não devesse tirar a viseira.

“...Ah, desculpe. Parece que vieram aqui porque precisam de algo. O que seria?”

“Ah, quase isso, é que o Príncipe Caspond está procurando por você. Por favor, se re-
porte imediatamente a ele.”

“Príncipe Caspond?”

Por que ele estava procurando por ela? Ela conseguia pensar em alguns motivos, mas
não sabia qual estava correto, então tudo que podia fazer era rezar para que ele a pro-
curasse por um bom motivo.

“Compreendo. Por favor, diga a ele que eu irei imediatamente.”

Entretanto, eles ainda permaneceram no local, mesmo depois de ela ter dado sua res-
posta. Isso intrigou Neia.

“O que é? Tem algo mais?”

Capítulo 6 Artilheira e Arqueira


240
“Não, parece um pouco— bem, não é seu rosto, mas talvez seja o ar ao seu redor? Parece
que o ar ao seu redor mudou. Eu sei que não posso expressar isso muito bem em pala-
vras...”

“Bem, se for para melhor, eu ficarei até amis feliz... afinal, todos nós mudamos. Todos
nós já passamos por muita coisa.”

“Ah, sim. Você está certa. É como o que diz, Baraja.”

Os dois sorriram cansados. Ela não sabia se tinham acreditado. Eles disseram: “Vamos
conversar novamente em outro momento”, e então foram embora.

Neia disse a seus subordinados presentes no local que visitaria Caspond e então saiu.

Caspond ainda permanecia no mesmo prédio de antes, mas agora ele estava em uma
sala diferente.

Isso porque Jaldabaoth tinha feito um buraco enorme na parede de seu aposento ante-
rior na ocasião que deu as caras.

Ninguém a parou no meio do caminho, mesmo com sua viseira, e ela chegou sem pro-
blemas.

Durante esse tempo, ninguém pediu que ela deixasse o arco nas costas também. Não
havia como dizer se era porque confiavam nela, ou porque estavam conscientes do fato
de que o arco havia sido emprestado pelo Rei Feiticeiro.

“Príncipe Caspond, Escudeira Neia Baraja se reportando.”

Caspond estava sentado e dois paladinos estavam ao lado dele — Remedios e Gustav.
Neia imediatamente genuflectiu.

“Estou feliz que veio. Pedimos que te informassem quanto antes. Ah, tudo bem. Não se
preocupe, apenas levante-se.”

Neia fez como solicitado, e então perguntou:

“Peço desculpas por mantê-lo esperando. Posso saber suas ordens?”

“Antes disso, remova o item que cobre seu rosto, Escudeira Neia Baraja.”

Essas palavras factuais vieram de Gustav. O senso comum indicava que ela deveria ter
feito isso.

“Sim! Por favor me perdoe.”

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


241
Depois que Neia tirou a viseira, os olhos de Gustav se arregalaram levemente.

“...Ah, você não está se sentindo bem? Gostaria que os sacerdotes te examinem?”

“Não, não sinto nada que precise disso.”

Como explicar era problemático, Neia decidiu continuar:

“...Então, posso perguntar qual é o problema?”

“Bem, sobre isso... um momento, há mais uma pessoa que se juntará a nós, além de nós
quatro aqui. Solicitarei que venha agora, só não fique muito chocada, tudo bem?”

Ela podia ver um olhar de desgosto no rosto de Remedios pelo canto do olho. Se pudesse
dar uma expressão de desgosto no rosto da Capitã, provavelmente estava relacionado a
Jaldabaoth. E então a palavra “empregada demônio” de repente veio à mente de Neia.

Depois de ouvir o pedido de Caspond, Gustav abriu uma porta lateral e falou com a pes-
soa.

E então, um monstro surgiu diante deles. Neia sabia que espécie era.

Um Zern.

Embora fosse uma espécie com uma carapaça brilhante, sua aparência não era ofensiva.
Porém, havia um cheiro quase imperceptível de derramamento de sangue em torno dele.

O que é um demi-humano desses faz aqui?

Neia se perguntou. Caspond pareceu sentir isso e falou.

“Ela é uma emissária.”

Então a emissária de Jaldabaoth está aqui, é isso?

Neia inconscientemente deixou sua hostilidade aparecer, e a Zern se contraiu como se


estivesse na defensiva.

“Contenha-se, Escudeira Baraja. Parece que você está um pouco confusa. Ela não é emis-
sária de Jaldabaoth. É o contrário. Ela é uma emissária daquelas pessoas que planejam
se rebelar contra Jaldabaoth.”

“Eh?”

Capítulo 6 Artilheira e Arqueira


242
Neia não pôde deixar de exclamar de surpresa. Caspond parecia ter esperado essa res-
posta e riu.

“Você parece surpresa. Bem, isso é apenas esperado. Certamente não esperava que
demi-humanos se rebelassem contra a subjugação de Jaldabaoth, não é? No entanto,
existem seres assim. De acordo com a Emissária-dono, nem todos os demi-humanos ser-
vem a Jaldabaoth por vontade própria. Por exemplo, os Zerns. Existem outras espécies
como os Zerns, que não têm escolha a não ser ajudar Jaldabaoth em sua empreitada, pois
sua classe dominante — sua família real — foi tomada como refém. O que eles querem é
resgatar os reféns.”

“Precisamente.”

Neia nunca tinha ouvido aquela voz feminina antes e a assustou. Ela olhou ao redor do
cômodo. Finalmente, quando estava prestes a falar “Não pode ser”, seus olhos pousaram
na Zern. Aquela voz teria soado perfeitamente familiar a de um ser humano.

De onde em seu corpo repulsivo veio sua voz humana?

Essa era uma habilidade especial dos Zerns, ou era uma espécie de poder mágico?

“A cidade que vocês, humanos, chamam de Kalinsha, está há cinco dias de viagem para
o sudoeste, lá abriga alguém importante para nós. Nós pedimos que o salve.”

Neia visualizou um mapa do Reino Sacro em sua mente.

De suas palavras anteriores, a cidade da qual a Zern falava era de fato Kalinsha. Claro,
era mais perto do oeste-sudoeste do que do sudoeste e ela se perguntou se a viagem para
lá levaria cinco dias, mas tudo o mais estava dentro das margens de erro.

No entanto, havia uma coisa que ela não entendia. Por que eles estavam contando a Neia
sobre isso?

Mas antes que Neia pudesse contemplar as razões para isso, Caspond disse algo cho-
cante:

“É por isso que decidimos nos aliar a eles para lutar contra Jaldabaoth, Srta. Baraja.”

Ehhh?

Neia não pôde deixar de duvidar de seus ouvidos. Eles poderiam confiar em uma espé-
cie como os Zerns, monstros que nem sequer tinham características faciais?

“Fomos forçados a nos curvar ao poder de Jaldabaoth e invadir este lugar como parte
de seu exército, nós recebemos a notícia de que nosso rei, que estava sendo mantido
como refém nas Colinas Abelion, foi morto por demônios. Quanto ao outro, o príncipe

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


243
que está sendo mantido prisioneiro como um símbolo de nossa submissão... agora que o
rei anterior foi morto, ele é nosso novo rei. Se resgatarem-no, nós vamos ajudá-los.”

Eles o mataram porque não precisaram de dois reféns? Ou havia uma razão mais dia-
bólica para o assassinato? Mesmo ela não conseguindo quantificar em questões, parece
que o importante era que o rei deles tinha sido morto.

“Dito isto, estamos nos preparando para levar nosso novo rei a algum lugar que Jaldaba-
oth não possa alcançar, então nossa Guarda Real de Elite não poderá ajudá-lo. Ainda as-
sim, os três mil restantes de nossos guerreiros que Jaldabaoth trouxe lutarão ao seu lado.
Nossa espécie não morrerá enquanto houver um rei e uma única fêmea, então podem
usar esses guerreiros como quiserem. Não haverá problemas, mesmo que sejam todos
mortos.”

“É assim que é. Já está ciente das condições que estabeleci para triunfar contra Jaldaba-
oth. Em vez de diminuir o número de demi-humanos com combate, precisamos con-
vencê-los para assim, termos menos perdas. Além disso, nos forneceram informações
importantes e terminamos de verificá-las.”

Caspond sorriu e continuou:

“Pelo que sabemos, esta notícia não é uma armadilha de Jaldabaoth. Pelo contrário, isso
é algo que podemos usar para lidar com os Zerns. Se Jaldabaoth descobrir, eles serão
expurgados e seu príncipe — o novo rei — também será morto.”

Isso é o que vai acontecer se você nos trair, Caspond estava ameaçando os Zerns.

Embora fosse natural que alguém em alta posição pensasse assim, o fato de Caspond
descrever impiedosamente tal desenvolvimento deixou Neia um pouco assustada.

No entanto, uma vez que a calma voltou ao coração de Neia, uma pergunta borbulhou
dentro de si: Por que ele a trouxe aqui para ouvir o planejamento deles? Se ele queria que
Neia participasse do resgate, tudo o que teria que fazer era dar uma ordem. Era verdade
que agora Neia era uma comandante de unidade, mas no fim, ainda apenas uma escu-
deira que tinha uma singela habilidade em arquearia. Não havia necessidade de explicar
a operação para ela com tantos detalhes. E não apenas isso—

... Ah, não me diga que eles ainda me consideram como a escudeira de Sua Majestade?
Quero dizer, já estou a meio caminho de ser uma cidadã do Reino Feiticeiro, é isso? Eles
provavelmente querem dizer que o Rei Feiticeiro também estaria ouvindo isso em circuns-
tâncias normais. Ou talvez queiram que eu explique isso ao Rei Feiticeiro quando o vermos
de novo?

De fato. Neia ainda era a escudeira do Rei Feiticeiro.

Capítulo 6 Artilheira e Arqueira


244
Neia estufou o peito e Caspond ficou um pouco surpreso com a mudança repentina em
sua atitude.

“A seguir. Com relação ao resgate do príncipe Zern, chegamos à decisão de que resgatá-
lo durante o caos de atacar Kalinsha será muito difícil.”

“Concordo.”

A Zern acompanhou as palavras de Caspond e continuou:

“Deixe-me dizer onde o príncipe está sendo mantido. Vice-Capitão, espero que ajude a
esclarecer detalhes para mim.”

A Zern iniciou uma explicação com Gustav de apoio.

Primeiramente, a grande cidade de Kalinsha ocupava o topo de uma colina. Ficava sob
a administração direta da família real e estava protegida por grossas muralhas. Do lado
oeste, perto de seu ponto mais alto, estava o Castelo Kalinsha.

Pretendia-se manter os demi-humanos à distância, caso a linha da fortaleza fosse rom-


pida, e ao mesmo tempo estava perto de uma importante rota comercial que levava ao
sul. Portanto, era mais robusta do que qualquer outra cidade do Reino Sacro.

Além disso, o castelo Kalinsha foi utilizado pouquíssimas vezes e foi solidamente cons-
truído para resistir a cercos.

O príncipe Zern preso foi detido em uma das torres do castelo. Já que ele estava no mais
interno das torres que foram planejadas para as defesas de última hora, pode-se dizer
que era o lugar mais difícil em Kalinsha para se infiltrar.

Nem sequer tinha janelas, o que dificultava ataques aéreos, e não se podia alcançá-las
sem passar por uma passarela suspensa.

Esta torre era agora habitada por um poderoso guardião — uma variação de Ogros com
afinidade ao elemento água, conhecidos como Vah Uns. Os Zerns não tinham permissão
para chegarem perto e, algo aconteceria ao seu príncipe se o fizessem.

Porém, contanto que a traição não fosse exposta, se os guardas avistassem humanos —
que não eram relacionados com os Zerns — a vida do príncipe ainda estaria segura, pois
não teria correlação. Na verdade, eles até protegeriam o príncipe. Foi isso que quiseram
dizer com pegar emprestado a força dos humanos.

“Mas uma vez que a verdadeira luta comece, se o príncipe continuar aprisionado, não
teremos outra escolha senão matar vocês, humanos. Já que todos os nossos companhei-
ros que foram trazidos para esta terra estarão presentes...”

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


245
As palavras da Zern começaram a perder a coerência, mas todo mundo entendeu o sig-
nificado delas.

Seria tarde demais até lá.

Havia valor em resgatar o príncipe, pois os Zerns eram inimigos da humanidade. Se os


Zerns fossem eliminados, não haveria necessidade de resgatar o príncipe.

“Será tarde demais para enviar reforços assim que a luta começar. Portanto, a maneira
mais segura e eficaz de resgatar o príncipe é enviar um grupo de guerreiros de elite que
se moverá o mais furtivamente possível. Escudeira Neia Baraja, eu gostaria que você co-
mandasse essa operação.”

“Eu não posso. Não tenho a capacitação necessária.”

Neia respondeu imediatamente a Caspond.

Normalmente, recusar o Príncipe — que era seu supremo comandante — não seria to-
lerado, tanto em termos de disciplina militar, quanto de convenções sociais, mas, ao
mesmo tempo, essa ordem foi realmente ridícula. Simplesmente exagerada demais, não
importava como olhasse para isso.

“Eu sabia que diria isso. No entanto, Srta. Baraja, esse assunto é de grande benefício
para você também.”

Caspond estreitou os olhos.

“Eles nos fornecerão conhecimento sobre as colinas e nos apresentarão guias confiáveis
de lá.”

Neia engoliu em seco.

Ela mordeu o lábio, tentando desesperadamente conter suas emoções.

“...Quanta confiança podemos depositar nessas palavras?”

“Quando resgatar o príncipe, os Zerns responderão erguendo-se se em revolta de den-


tro para fora, ponto no qual a retomada de Kalinsha será muito mais simples. Certamente
é melhor do que um cerco convencional, e seremos capazes de levar mais prisioneiros
demi-humanos. Os Zerns também dizem que vão perguntar aos arredores para ver quais
prisioneiros têm o conhecimento que você deseja.”

“Não tenho muita certeza sobre os detalhes...”

Acrescentou a Zern às palavras de Caspond e completou:

Capítulo 6 Artilheira e Arqueira


246
“Parece que deseja viajar para as Colinas Abelion. Se você resgatar nosso príncipe ileso,
toda a nossa espécie estará endividada com vocês. Quem se recusaria a compartilhar o
que sabem com um benfeitor? Além disso, esse conhecimento não é nada especial.”

O argumento da Zern foi totalmente irrefutável.

Recusá-los significaria ser desleal a Sua Majestade. Se eu deixar a chance de ser útil para
Sua Majestade escapar das minhas mãos, só porque estou com medo, eu...

Após calmamente considerar o assunto, ela sentiu que esta era sua melhor chance. No
entanto — ela não pretendia ir em uma missão suicida.

“Quem mais vai na missão para resgatar o príncipe?”

Neia olhou para Remedios, que estivera em silêncio todo esse tempo.

“Eu não vou. Eu não possuo habilidade de me infiltrar nem nada do tipo.”

Se você está dizendo isso, imagina eu?

Pensou Neia, e então ela olhou silenciosamente para Caspond.

“...Eu já pedi várias vezes que ela fosse com você, mas ela continuava recusando. Por-
tanto, você será acompanhado por uma cativa... não, uma colaboradora.”

“Hmph. Cativa já está de bom tamanho.”

“...Capitã.”

“Não importa. Vice-Capitão Montagnés, pode trazê-la?”

Montagnés saiu do aposento falando “Sim”. A emissária Zern também saiu. Aparente-
mente não queriam que os outros soubessem que eles estavam trabalhando com os hu-
manos.

Gustav retornou em pouco tempo, mas ele não estava sozinho. Ele tinha com ele uma
garota envolta em camadas de correntes, uma garota que Neia nunca tinha visto antes.
Ela parecia mais baixa, mais delicada e mais jovem que Neia.

Ela usava um lenço que misturava as cores verde-escuro e amarelo-areia em um padrão


complexo, assim como uma roupa estranha de empregada.

Seus traços faciais eram requintados, e até mesmo o tapa-olho que cobria um de seus
olhos não diminuía sua beleza.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


247
De repente, Neia se lembrou do que Evileye havia dito e, embora tivesse certeza de
quem era essa pessoa, resolveu perguntar por precaução.

“Meu Príncipe, quem é essa?”

“...Você já não adivinhou? Ela é uma das empregadas demônios que apareceu nesta ci-
dade.”

Neia ficou entorpecida. Ela tinha pensado na possibilidade, mas ainda se assustou. Uma
empregada dessas tinha classificação entorno do nível 150 de dificuldade. Em outras
palavras, ela era um monstro entre os monstros. Um ser que a humanidade não poderia
superar, que agora estava diante de seus olhos.

No entanto, Neia também sentiu algo mais que a assustou.

O fato de conseguir sentir um ódio tão intenso diante de um monstro imbatível.

Como ela poderia se agarrar a tais emoções quando enfrentava uma criatura que a su-
perava além da compreensão? Foi porque essa empregada demônio não estava irradi-
ando uma aura de medo, ou foi por causa de sua lealdade ao Rei Feiticeiro?

Independentemente do porquê — Neia submergiu seu ódio pela empregada demônio


nas profundezas de seu coração e não deixou transparecer.

Se fosse descuidada, ela começaria a repreendê-la como uma das razões pelas quais um
monarca tão notável como o Rei Feiticeiro perdeu para Jaldabaoth.

No entanto, enquanto Remedios mantinha a mão no punho de sua espada sagrada, Cas-
pond e Gustav não pareciam estar fazendo nada de especial da parte deles.

Portanto, Neia pôde concluir que ela não representava nenhum perigo imediato. Caso
contrário, nunca permitiriam que ela ficasse no mesmo ambiente que o príncipe.

“...Garota Assassina. Não tenha medo. Neste momento não sou mais jurada a Jaldabaoth,
mas sim ao Ainz-sama. Não vou atacar.”

“Eu não acredito em você.”

Ainz-sama...?

Aquele termo de tratamento preencheu o coração de Neia com desagrado, como se ela
estivesse tentando rejeitar o fato de que isso havia sido dito. No entanto, a empregada
demônio respondeu a ela em um tom monótono.

“...Não precisa acreditar em mim. É a simples verdade.”

Capítulo 6 Artilheira e Arqueira


248
“Srta. Baraja. Parece que Sua Majestade de alguma forma conseguiu usurpar o controle
dela de Jaldabaoth durante a batalha.”

Os olhos de Neia ficaram tão grandes quanto pires.

Teria ele realmente conseguido executar uma tática não-letal como assumir o controle
dela enquanto lutava contra vários oponentes — Jaldabaoth e as empregadas demônios?

Neia não sabia muito sobre magia e não sabia o quão difícil era tal façanha. Se alguém
precisasse de um exemplo, seria como tentar roubar equipamento de um oponente
muito poderoso durante o meio do combate. Se esse foi o caso, então deve ter sido uma
manobra incrivelmente difícil que somente o Rei Feiticeiro poderia fazer.

Neia passou a respeitar o Rei Feiticeiro cada vez mais.

No entanto, ela tinha duas perguntas agora.

Ela queria acreditar que, se o Rei Feiticeiro tivesse feito isso, tudo ficaria bem e ela po-
deria aceitar esse fato. Mas a empregada estava realmente sob o controle do Rei Feiti-
ceiro? Essa foi a primeira pergunta. E se ela não estivesse trabalhando para o Rei Feiti-
ceiro, mas agindo sob as ordens de Jaldabaoth para fingir que ela estava sob seu con-
trole?

E então, a outra pergunta—

“Eu entendo que você é leal ao Rei Feiticeiro. Mas por que está aqui? É por causa de suas
correntes?”

“...Não é por isso.”

A empregada demônio começou a exercer sua força, e as grossas correntes emitiram


um som desagradável de rangido.

“Pare com isso!”

Quando Remedios gritou no instante com uma onda de intenção assassina, o som parou.

“...Mesmo eu poderia quebrar correntes sem sentido.”

“Então por quê? Por que não deixou este lugar e foi para o lado de Sua Majestade?”

Ela perguntara porque esperava que os instintos demoníacos ou as habilidades de um


vínculo demoníaco a levassem ao Rei Feiticeiro. A empregada demônio respondeu sem
rodeios:

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


249
“...Porque é uma ordem. A última ordem que recebi foi para ajudá-la. Então, farei o meu
melhor, desde que isso não signifique minha morte.”

“Eh!?”

Neia ficou chocada.

...O Rei Feiticeiro veio a este país para tomar o controle das empregadas demônios. Ele
veio para obter as empregadas demônios, uma tremenda força de combate que poderia
tornar o Reino Feiticeiro ainda mais forte. A lógica seria que, sua primeira ordem para a
empregada demônio deveria ter sido para retornarem ao Reino Feiticeiro. Mas em vez
disso, Sua Majestade... Que pessoa gentil ele é... Existe um rei lá fora que é tão compassivo
com as pessoas de outro país? Não, não pode ser, apenas o Rei Feiticeiro é uma exceção.
Sua Majestade é realmente justiça! Que incrível! Eu estava certa o tempo todo!

Neia lutou para evitar que sua emoção pulsante escorresse de seus olhos.

“Nesse caso, o que significa “desde que isso não signifique minha morte”?”

“...Se me pedirem para lutar contra Jaldabaoth eu vou recusar. Será muito difícil escapar
se eu o enfrentar.”

Então é isso...

Neia entendeu. Caspond já havia verificado a verdade de tudo o que ela dissera. Foi por
isso que ela foi trazida para cá.

“Então essa empregada demônio virá comigo.”

“É como pode ver. Inicialmente eu pensava em despachá-la para o Reino Feiticeiro


como uma emissária, comparado a isso— ah... bem, uma vez que acabou e aprendemos
informações que podemos trocar, ah. —Enfim, eu estava planejando que ela se juntasse
à equipe de busca que estamos enviando. Afinal será perigoso... Aquelas pessoas que es-
colheu ainda não encontraram nada, creio que podemos ter certeza de que ele caiu nas
colinas.”

Ela não sabia por que as instruções de Caspond estavam tão vagas.

Ela espiou o rosto da empregada demônio e viu que não havia mudado. Ela não parecia
preocupada.

Claro, essa empregada demônio poderia não saber o que aconteceu com o Rei Feiticeiro,
e ela provavelmente não poderia imaginar que o Rei Feiticeiro estivesse em território
perigoso. No entanto, seu rosto inexpressivo ainda deixava Neia muito infeliz.

Capítulo 6 Artilheira e Arqueira


250
Mais importante, ela poderia deixar um demônio assim usar um termo de tratamento
tão íntimo como “Ainz-sama?”

Não, claro que não!

Neia fumegou. Nem mesmo ela havia se dirigido a ele de uma maneira tão íntima.

“—ta. Baraja?”

“Ah, sim!”

Essa não!

O rosto de Neia estava levemente vermelho. Ela aparentemente se esquecera devido ao


seu desgosto pela empregada demônio.

“Qual o problema? Algo a incomoda?”

“Oh, não! Faz apenas três dias desde que a busca começou, então acho que pode ser um
pouco precipitado concluir que ele caiu lá...”

“Entendo. E até faz sentido. Mas, não seria melhor estar você preparada para qualquer
coisa?”

“Isso é verdade.”

“Tudo bem. Nesse caso, Empregada Demônio-kun. Esta é a terceira vez que falo com
você. O dia em que te encontramos ontem e agora.”

A empregada demônio não disse nada e olhou para Caspond.

“Se eu te pedisse para ir a uma certa cidade para resgatar alguém preso lá, você nos
ajudaria?”

“...Como eu disse ontem. Eu vou.”

“Ahh, bom, eu entendo. Então, peço desculpas por isso, mas você se importaria de voltar
para o seu quarto? Vice-Capitão Montagnés, faça as honras.”

Ele levou a empregada demônio embora e eles começaram a falar novamente assim que
Gustav retornou.

“Srta. Baraja. Embora eu não saiba se preciso lhe contar tudo isso, possuir essa infor-
mação pode significar a diferença entre sucesso e fracasso quando você se infiltrar em
Kalinsha. Então temos algumas coisas a discutir. O primeiro diz respeito a Jaldabaoth.”

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


251
Caspond contou a ela o que haviam aprendido com a empregada demônio.

Parece que ela sabia pouco sobre Jaldabaoth. Praticamente nada, na verdade. Ela nem
sabia quais habilidades, ataques ou fraquezas ele possuía. Além disso, ela não sabia o
que Jaldabaoth estava fazendo agora ou qual era seu objetivo.

No entanto, ela disse que ele precisaria de muito tempo para se recuperar se ele esti-
vesse gravemente ferido. Seria como reabastecer um reservatório cujo nível de água es-
tivesse muito baixo.

E assim, depois de aprender sobre Jaldabaoth, demi-humanos e os outros demônios,


Neia perguntou a Caspond a pergunta cuja resposta ela mais queria saber.

“Podemos confiar nela?”

“Não podemos. Nós deveríamos matá-la por segurança.”

Essa resposta foi fornecida por Remedios.

Neia resistiu ao impulso de perguntar se ela poderia vencer uma empregada demônio
com dificuldade de 150 e preferiu ouvir o julgamento de Caspond.

“Eu acho difícil confiar nela. Este pode ser um dos esquemas de Jaldabaoth. Ela pode ser
uma espiã enviada caso alguém como o Momon apareça, alguém que possa lutar contra
Jaldabaoth.”

Foi por isso que pediram a emissária Zern que partisse antes de trazer a empregada
demônio e conversar obliquamente diante dela.

“Eu te disse, não? Seria melhor matá-la. Assim haverá uma coisa a menos para se preo-
cupar.”

“Entendo sua sugestão, Capitã Custodio. Essa é uma opção. Porém, é muito provável que
a empregada demônio esteja realmente sob o controle do Rei Feiticeiro. Isso porque ela
não tem falado informações falsas sobre Jaldabaoth, ela simplesmente responde que não
sabe. Ainda assim, por que não pergunta nada sobre o Rei Feiticeiro? Enfim, foi você
quem concordou em entregar as empregadas demônios para ele, não foi? Já que prome-
teu isso, uma vez que descubram que a matamos, eles vão considerar nosso país incapaz
de cumprir suas promessas, percebe? Quando isso acontecer, nenhum outro país vai
querer ajudar se alguma coisa acontecer conosco.”

“Ele já foi morto por Jaldabaoth, não?”

As palavras de Remedios fizeram Neia olhar para baixo enquanto ela lutava para conter
sua raiva. Graças a Remedios, ela sentiu como se tivesse ganho a capacidade de gerenciar
melhor suas emoções.

Capítulo 6 Artilheira e Arqueira


252
“Não podemos ter certeza disso. É por isso que sinto que precisamos testá-la e usá-la
durante o resgate do príncipe. Se ela nos trair e vazar informações, então apenas os
Zerns serão eliminados, o que reduzirá o número de demi-humanos. Também podere-
mos erradicar o vira-casaca entre nós. Estes são os dois méritos desta opção. E, claro, se
obtivermos sucesso, podemos simplesmente nos alegrar.”

Por favor, não se esqueça da vida da pessoa que realizará a infiltração.

Neia resmungou em seu coração.

“Por acaso perguntou a empregada demônio sobre suas próprias fraquezas? Se ela nos
trair no caminho, não seria melhor ter alguma maneira de lidar com ela?”

“Nós não perguntamos nada sobre isso.”

Caspond sorriu sem graça. Neia seguiu o exemplo.

Mesmo que ela lhes dissesse, não haveria como determinar se ela estava dizendo a ver-
dade. Eles não podiam dizer olhando e, obviamente, não podiam testá-la.

“Bem, nós não somos aqueles que a controla. Até onde sabemos, ela está apenas nos
ajudando porque o Rei Feiticeiro ordenou que ela fizesse isso.”

Gustav ainda tocava nesse tema, mas na verdade tanto Caspond quanto Neia já haviam
percebido isso. Provavelmente havia apenas uma pessoa presente que não entendia a
situação.

“Então os infiltrados serão eu e a empregada demônio. Alguém mais foi selecionado?”

“Nessa missão, se não tiver mais ninguém para recomendar, então serão apenas vocês
duas.”

Por um momento, Neia olhou para Caspond porque achava que ele estava brincando,
mas o rosto dele estava sério.

“Permitam-me acrescentar às palavras do Príncipe, certamente uma infiltração é me-


lhor tratada por um número muito pequeno de pessoas, estou errado? Pessoas erradas
entrando no caminho causariam problemas, e é por isso que não temos ninguém para
apresentar.”

Embora a explicação de Gustav fosse convincente o suficiente, Neia sabia que não era
apenas por isso.

Foi por causa da situação de Neia Baraja.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


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Seria bom se esta operação de resgate fosse bem-sucedida. Se fracassasse, tudo o que
perderiam seria uma escudeira intrometida que se aproximara do Rei Feiticeiro e uma
das lacaias do Rei Feiticeiro. Além disso, eles perderiam pouco mesmo se a empregada
demônio os traísse. Um plano perfeito.

Quer dize que— então foi dita uma mentira quando disseram que pediram a Remedios
que fosse? Também era possível que não fosse, e eles estavam apenas tentando minimi-
zar suas perdas.

Neia exalou. Não poderia haver outra resposta. Esta seria uma boa chance para mostrar
sua lealdade ao Rei Feiticeiro.

“Compreendo. Eu e ela—”

E refletiu que provavelmente o demônio era uma mulher:

“—A empregada demônio virá junto.”

“Oh. Sim. Então contaremos com você.”

“Sim! —Então o Vice-Capitão Montagnés fará um esboço da cidade. Prepare-se antes de


sair. Além disso, evite o combate se algum demônio próximo a Jaldabaoth estiver pre-
sente.”

De acordo com a empregada demônio e a informação da Zern, Jaldabaoth estava sendo


servido por três grandes demônios. Esses três demônios eram—

• O governante das Colinas Abelion, onde os demi-humanos viviam.


• O comandante geral da invasão do Reino Sacro do Sul.
• O responsável por três grandes cidades, que se teletransportava entre Kalinsha,
Rimun e Prart.

Pareciam ser esses.

Portanto, se fosse azarada, o grande demônio encarregado das cidades estaria presente.

O grande demônio encarregado das cidades aparentemente não tinha cabeça e seu
corpo era como uma árvore ressequida. Tinha dois metros de altura e não tinha asas
nem cauda. Tinha mãos de garras e seu corpo esguio possuía uma força inimaginável.
Além disso, faltava-lhe a cabeça, mas ainda era capaz de sentir seu entorno e, poderia
até mesmo ler.

Como um demônio, tinha uma fisiologia verdadeiramente diabólica.

A propósito, a capital de Hoburn aparentemente estava sob o comando direto de Jal-


dabaoth e não de seus assessores.

Capítulo 6 Artilheira e Arqueira


254
“Posso saber quem é mais forte, ele ou a empregada demônio?”

“Nas próprias palavras da empregada demônio, ela não sabe.”

Ela queria ver a habilidade de luta da empregada demônio apenas uma vez. Em parti-
cular, ela queria saber que armas ela favorecia e quais habilidades especiais ela tinha. Se
ela não sabia disso, eles poderiam sofrer uma derrota inesperada.

“Seus três grandes demônios são generais e lordes. Jaldabaoth provavelmente sente
que demi-humanos não são adequados para trabalhos intelectuais, aparentemente, ele
criou uma estrutura de poder ditatorial. Portanto, os grandes demônios lidam com
grande parte da administração e não designaram sucessores ou substitutos. Se puder
derrotá-los, seremos capazes de causar um golpe devastador na Aliança Demi-humana.”

“Isso satisfaria as condições de vitória que o senhor estabeleceu, Meu Príncipe.”

“Ahh. Embora Jaldabaoth possa cuidar disso pessoalmente uma vez que suas feridas
tenham se recuperado... No momento, eu não acho que ele vai se forçar a entrar em
campo. Mas como dizem, se pelo menos conseguir cortar os braços, a vitória estará pró-
xima, mesmo se não esmagar a cabeça. Enfim, sua principal prioridade agora é o resgate,
então evite o combate se puder.”

“Compreendo.”

“Nesse caso... quando pretende começar a missão de resgate?”

“Eu estava planejando sair o mais rápido possível. Mas, eu gostaria de falar com a em-
pregada demônio antes disso.”

“Claro. Então, que tal daqui a dois dias?”

Neia respondeu afirmativamente e recebeu permissão para encontrar com a empre-


gada demônio. Depois disso, ela saiu do aposento.

Mesmo com um fardo pesado para suportar, seu passo estava enérgico e seu rosto es-
tava cheio de determinação. As chamas da raiva que vieram da perda de seu propósito
receberam recentemente uma nova direção, e elas se tornaram uma luz ofuscante que
iluminava seu caminho.

Ainda havia algo que ela poderia fazer, e seu caminho levava a Sua Majestade. Quando
ela pensava assim, até viajar com um perigoso demônio não seria nada de mais.

♦♦♦

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


255
A empregada demônio morava em uma casa de tamanho médio com um jardim. Prova-
velmente pertencera a um rico morador da cidade no passado. Durante a tomada bruta
desta cidade, parte das belas decorações foram destruídas, e as estátuas que deveriam
estar lá foram destruídas. Ainda assim, a casa em si estava intacta e não aparentava bre-
chas por onde o ar frio entraria.

Ainda assim, mesmo uma casa barata e imperfeita poderia se gabar disso. Cada aber-
tura que poderia ser considerada uma janela tinha sido fechada, como se quem a fizesse
estivesse determinado a não deixar o ar fluir para dentro ou para fora. Cheirava à para-
noia.

No geral, isso era uma gaiola ou algum tipo de unidade de isolamento. Era um lugar
para alguém que era nominalmente uma serva de um ser undead ou um demônio, mas
que também era a subordinada de um herói que veio para salvar o Reino Sacro. Era um
lugar que tinha sido construído para muitos propósitos, havia com uma sensação de pe-
rigo iminente misturada com aversão.

Mesmo desejando perguntar várias vezes coisas relacionados ao o que a empregada


demônio faria, o Rei Feiticeiro ainda não tinha a apresentado oficialmente, então não
poderiam ser corteses com ela.

A parede ao redor da casa tinha sido reparada às pressas, mas faltava o elemento crucial
de um portão barrado. O removeram porque não havia aço suficiente por aí? Em seu
lugar havia um posto de guarda construído às pressas ao lado da porta, parecia uma ca-
bana temporária.

O guarda posicionado ali era de aparência poderosa com armadura completa, era um
paladino que havia sido nomeado comandante deste lugar. Neia entregou-lhe o perga-
minho que Caspond havia preparado.

O paladino rapidamente verificou o conteúdo, depois devolveu o pergaminho a ela en-


quanto a entregava um candelabro aceso.

Era dia, mas as janelas com tábuas deixavam óbvio que a luz não podia penetrar no
interior. De acordo com o paladino, a empregada demônio não precisava de luz, então o
interior estava escuro como breu.

Neia passou pela porta e olhou ao redor do jardim desolado antes de se dirigir para a
casa. Ela caminhou por uma estrada de tijolos quebrada e, quando chegou à porta prin-
cipal, Neia respirou fundo.

Ela usou a aldrava na porta, mas não houve resposta. Neia hesitou e depois tentou a
maçaneta. Estava destrancada. Ela abriu a porta e olhou para o interior escuro. Não havia
som de dentro e era tão silencioso quanto um mausoléu.

Capítulo 6 Artilheira e Arqueira


256
Depois de reunir sua determinação, Neia entrou. Não havia luz no interior nem servos.
Neste momento, não havia nada nesta casa além de Neia e uma empregada demônio
classificada em 150 de dificuldade.

Suor brotava em suas costas. A vela que segurava balançava instavelmente. Tudo fora
do pequeno círculo de iluminação da vela parecia ter sido absorto na escuridão.

“Eu sou Neia Baraja! Estou aqui para te ver! Onde você está!?”

Neia gritou para a escuridão, mas a escuridão não respondeu.

Ela estava dormindo?

Ela gritou novamente, mais alto do que antes, mas não houve resposta.

A determinação de Neia fraquejou e deu um passo à frente.

Por ser uma construção de dois andares. Tinha muitos quartos, e verificar todos eles
levariam bastante tempo. Ainda assim, mesmo sem fazer isso, Neia poderia captar algo
com sua audição aguçada.

Ela começou no primeiro andar.

Neia se preparou para o pior e deu um passo adiante—

“—Uwah.”

Alguém a chamou de um dos lados e um rosto apareceu na luz.

“Hiiiiieee!”

Seus ombros se contraíram e ela inconscientemente se afastou do rosto que apareceu.

Suas costas atingiram uma parede com um baque.

Ela não poderia ter deixado aquele rosto passar desapercebido. Mas apareceu ao lado
dela como se tivesse passado pelas paredes.

“...Me sinto muito bem.”

Com os seus olhos cheios de lágrimas, ela viu a empregada demônio. Seu rosto estava
inalterado enquanto observava Neia entrar em pânico.

“Demônio maldito...”

Neia resmungou.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


257
Até mesmo o Circlet of Iron Will seria incapaz de impedir a sensação de surpresa? Seu
coração batia como um tambor, e parecia estar pronto para explodir. Se esse fosse o ob-
jetivo do demônio—

Nah, não poderia ser isso...

“...Por que veio aqui?”

“Eu vim aqui para te perguntar uma coisa. Daqui a dois dias, quero que nós duas...”

Provavelmente seria muito perigoso explicar detalhadamente a operação, já que ela


não sabia até onde podia confiar nela.

“...Embarquemos em uma determinada missão.”

“...Entendido.”

“Então, eu acho que seria bom se pudéssemos compartilhar o que sabemos e discutir o
que podemos fazer...”

“...Partilhar informação é importante. Entendido.”

Se ela realmente compartilharia ou não informações, isso dependeria da próxima dis-


cussão.

“...Tudo bem, por aqui.”

A empregada demônio se moveu com passos rápidos, era como não se importasse com
a ausência de luz. Parece que o paladino que ela havia encontrado antes estava dizendo
a verdade.

Quando Neia a seguiu por atrás, ela aproveitou e estudou as costas da empregada de-
mônio.

Ela era uma linda garota cujos membros esguios e rosto bonito evocavam um desejo
protetor nos outros.

Ainda assim, tudo parecia uma farsa para Neia, que sabia a verdade sobre ela.

As correntes nas quais ela havia sido enfeitada nos aposentos de Caspond não estavam
em lugar algum. No entanto, as correntes não faziam sentido algum. Este demônio foi
feito na simples forma de uma garota humana, mas, na verdade, era um monstro que
poderia até superar os Dragões.

Capítulo 6 Artilheira e Arqueira


258
Quando ela considerou que mesmo um ligeiro tapinha poderia matá-la, seu estômago
começou a doer.

“Eu sou muito frágil, então, por favor, seja gentil comigo.”

Ao ouvir Neia resmungar reflexivamente essas palavras, a empregada demônio parou


de se mover, depois se virou e disse:

“Entendido.”

Mesmo os olhos de Neia não conseguiram perceber nenhuma mudança em sua expres-
são. Não saber o que ela achava a deixava um pouco desconfortável.

Elas continuaram até chegarem à sala de recepção.

Havia apenas uma única vela para iluminação.

“...Sente-se.”

Ela apontou para a poltrona namoradeira. Neia sentou-se.

“...Bebidas.”

De repente, ela produziu uma garrafa de líquido marrom. Foi exatamente como o Rei
Feiticeiro retirava objetos do nada.

Enquanto Neia observava surpresa, ela abriu a tampa e colocou um canudo. Era feito de
um material bizarro que parecia macio e duro ao mesmo tempo.

Ela esperava que o líquido cor de lama não fosse veneno. Seria muito angustiante se ela
acidentalmente esquecesse que isso era prejudicial aos humanos.

No entanto, se ela fosse realmente uma subordinada do Rei Feiticeiro, então ela não
seria capaz de recusar. Neia se encorajou e moveu a língua.

Ela tomou um gole e esfregou a língua no palato.

Não era tão amargo quanto ela esperava e formigava na boca, como agulhas—

É doce!? O que é isso!

Neia tomou um gole após o outro. Mesmo sendo pegajoso e precisava de algum esforço
para sugar, mas era gelado, refrescante e delicioso.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


259
“...É sabor chocolate. As calorias são um pouco altas... por volta de duas mil. Mas não se
preocupe. Comer boa comida e engordar é uma ambição há muito acalentada para as
mulheres, de acordo com uma grande pessoa.”

A mudança de tom fez Neia espiar seu rosto novamente, mas ela ainda estava sem ex-
pressão.

As palavras “grande pessoa” a fizeram pensar no Rei Feiticeiro, mas Neia teve a sensa-
ção de que ela estava se referindo a outra pessoa.

“...Quer outro?”

“Posso?”

A empregada demônio provavelmente sabia que seria uma pena terminá-lo de uma só
vez, e ela pegou outra garrafa.

Neia também era uma garota — embora os Orcs de antes não tiveram certeza do fato
— e era difícil para ela buscar algo que a deixasse gorda. No entanto, esta bebida estava
em um pequeno recipiente, o que significava que não havia muito disso. Comer muito de
qualquer coisa faria engordar, então tudo o que ela tinha que fazer era comer menos no
jantar para compensar.

Eu não tenho idéia do que são essas “calorias” ou o quanto duas mil delas fazem, mas ela
disse que era um pouco, então tudo bem.

Era uma doçura completamente diferente das frutas ou mel. Desta vez, ela iria saborear
o gosto enquanto bebia.

Ela tomou um gole—

“Ah! Não, não é por isso que eu vim. Eu vim para conversar.”

“...Mm.”

A empregada demônio sugou com o canudo e bebeu da mesma maneira que Neia, en-
quanto seus olhos sinalizavam para que Neia continuasse.

“Er, bem, primeiro, se você tem um nome, poderia me dizer? Eu sou Neia Baraja, mas
pode me chamar como quiser.”

De acordo com Evileye da Rosa Azul, cada empregada demônio era completamente di-
ferente das outras em termos de aparência e equipamento. Na verdade, as empregadas
demônios que ela tinha visto atrás de Jaldabaoth quando ele destruiu o aposento de Cas-
pond eram completamente diferentes dessa. Talvez houvesse nomes diferentes para di-
ferentes tipos de empregadas demônios, bem como Goblins e Hobgoblins.

Capítulo 6 Artilheira e Arqueira


260
Embora não houvesse a necessidade de saber seu nome individual e qual raça, se a em-
pregada demônio fosse realmente uma subordinada do Rei Feiticeiro, então, como escu-
deira, seria apenas educado tratá-la com toda a devida cortesia.

“...Puhaa~. Apenas Shizu basta. Te chamarei de Neia.”

“Shizu, é isso?”

Neia esperava ser tratada como “humana”, então ela ficou levemente surpresa.

O nome pessoal da empregada demônio é Shizu? Ou Shizu é o nome da raça dela? Bem, os
dois fazem sentido...

“Esse é o seu nome pessoal?”

“...Nome pessoal? Excelente pergunta. Sim. Nome pessoal.”

“Ah, me perdoe. Eu não entendo os demônios tão bem...”

“...Mm. Demônios... huh. Isso... mm.”

Shizu parecia estar resmungando. Neia podia ouvir tudo, mas desde que ela estava fa-
lando sozinha, decidiu não a indagar com nenhuma observação.

“Tudo bem então, Shizu. O que você pode fazer? Além disso, havia várias empregadas
demônios, então por que o Rei Feiticeiro te escolheu?”

“...Sou boa em ataques à distância. Também porque eu fui a MVP — a melhor.”

“Melhor? Ah, é isso? Então naquela batalha você foi a adversária mais problemática, é
isso?”

Shizu riu. Dito isso, o rosto dela não pareceu mudar. No entanto, Neia tinha olhos agu-
çados e entendeu depois de observá-la cuidadosamente.

Houve uma ligeira mudança em sua expressão — ela parecia orgulhosa.

Ao mesmo tempo, Neia relaxou. Parece que ela não foi facilmente controlada porque
ela era a mais fraca.

“Também posso usar armas à distância, porém não sou boa em combate corpo a corpo...
Não temos uma vanguarda.”

Shizu sorveu sua bebida em silêncio.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


261
“Tem alguma idéia?”

“...O que faremos?”

“Infiltraremos em uma cidade e resgataremos um VIP.”

Ela ainda não podia mencionar a palavra “Zern”.

“...Então precisamos da habilidade de nos movermos furtivamente. É melhor não ter


uma vanguarda fazendo muito barulho.”

“Sim, isso mesmo.”

“...Pode se mover em silêncio, Neia?”

“Eu tive algum treinamento, então provavelmente sou melhor que antes. Mas ainda não
estou totalmente confiante em mim mesma.”

“...Pode lançar magias como 「Invisibility」 ou tem itens mágicos que podem fazer
isso?”

Neia sacudiu a cabeça.

“...Entendo. Então dê seu melhor.”

“Sim, eu vou. Então...”

Ela poderia realmente confiar em Shizu? Ela poderia acreditar que ela estava sob o con-
trole do Rei Feiticeiro?

Se Shizu ainda era uma lacaia de Jaldabaoth e fingia ser uma subordinada do Rei Feiti-
ceiro para espioná-los, então falar sobre ele seria muito ruim. No entanto, era muito pro-
vável que o Rei Feiticeiro tivesse tomado o controle dela das garras de Jaldabaoth. Nesse
caso, não confiar nela o suficiente seria jogar fora seu melhor trunfo.

E assim, nervosa e hesitante, ela falou.

“Neste lugar, er, eu tenho o dever de ser a escudeira do Rei Feiticeiro.”

O belo rosto artificial de Shizu não se mexeu.

“...Eu ouvi. Ele disse que você tinha olhos perversos. E então emprestou-lhe um arco
com ofício rúnico. Mostre-me.”

Capítulo 6 Artilheira e Arqueira


262
Alarmes soaram no canto de sua mente — Jaldabaoth também parecia bastante inte-
ressado nele. Ainda assim, se Shizu realmente estivesse a serviço do Rei Feiticeiro, ela
não seria capaz de recusar.

Neia entregou seu arco e Shizu pegou. No entanto, ela apenas olhou brevemente para
ele antes de devolvê-lo para Neia.

“Isso é muito bom. Você deve deixar que muitas pessoas o vejam.”

Ela falou calmamente, parecia que ela estava lendo alguma coisa. Mas provavelmente
era apenas sua imaginação, pois Shizu não estava olhando para o arco com interesse.
Afinal, ela falara assim desde que a vira pela primeira vez.

“Obrigada. Ah sim. Sobre o que acontece depois da missão—”

Shizu estendeu a mão para interromper Neia.

“Você deve deixar que muitas pessoas o vejam.”

Por que ela tá insistindo tanto nisso?

Shizu provavelmente notou a perplexidade no rosto de Neia e continuou:

“Ele te emprestou uma excelente arma rúnica. Você deveria espalhar a palavra da gran-
deza de Ainz-sama.”

A palavra “Ainz” fez Neia se contrair. Remover essa dúvida era sua principal prioridade.

“—É Sua Majestade.”

Neia sentiu algo no rosto inexpressivo de Shizu, de que ela não estava sendo clara o
suficiente e acrescentou:

“O correto é “Sua Majestade”. Chamá-lo de Ainz-sama é muito íntimo, não acha?”

Desta vez, foi Shizu cujo rosto se contraiu um pouco. Não, de relance, o rosto dela ainda
estava inexpressivo, mas Neia tinha certeza de que sua expressão havia mudado.

“Não é muito íntimo.”

“Não, é sim. Normalmente, você não se dirige a alguém tão importante pelo nome, mas
sim pelo título. Você acabou de chegar ao seu serviço e ainda não tem sido útil para ele...
O que há com esse seu rosto?”

“Nada. Mas, eu quero chamá-lo de Ainz-sama e não de Sua Majestade.”

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


263
Ela viu uma vagamente um vislumbre por aquela máscara inexpressiva, seria um olhar
de pena, ou ela estava cantando vitória? Mesmo Neia não entendeu, mas isso a deixou
furiosa. Aquela recém-chegada cheia de indiferença surgira do nada, e o fato de ela estar
tentando se aconchegar à pessoa que ela reverenciava a deixou muito infeliz.

Neia decidiu não fingir mais. Mesmo desejando agir como escudeira e lidar com ela edu-
cadamente como uma pessoa do Reino Sacro, ela decidiu desistir disso. Não importava
se ela estivesse lidando com um monstro que não conhecia a história ao longo dos dias
atuais, ela tinha que deixar uma coisa clara.

“Alguém como você—”

“Foi-me ordenado por Ainz Ooal Gown-sama — “Me chame de Ainz-sama”, ele disse.”

“Eh?”

“Então eu posso chamá-lo de Ainz-sama. Eu - Posso - Chamá-lo - Assim.”

Ficou nas entrelinhas de, “Mas você não pode.”, o corpo de Neia tremeu.

Não, ela era um demônio que o Rei Feiticeiro tinha vinculado em seu serviço com magia.
Talvez fosse natural que ela fosse tão longe.

“Não, não pode ser. Deve estar mentindo. Você está mentindo como um demônio faria.
Como ele poderia ter explicado com detalhes em uma situação como aquela?”

Shizu balançou a cabeça, como se dissesse: Minha nossa.

“É uma pena, mas é a verdade. Bem, eu sei que você deve estar chocada. Eu entendo
muito bem. Ainda assim, essa é sua posição. Entretanto, se trabalhar arduamente para
ele, algum dia você poderá chamá-lo de Ainz-sama também. Trabalhe bastante para isso.”

“—Shizu.”

“...Neia. É dever de uma predecessora ensinar a quem vem depois.”

Mesmo sendo uma boa frase, não foi Shizu quem veio depois? Ainda assim, o fato de
que ela poderia chamá-lo de Ainz-sama a fez sentir que talvez ela fosse a mais velha. Foi
um pouco difícil de aceitar, mas primeiro—

“Eu quero te agradecer.”

“...Não mencione isso. É preciso mostrar bondade àqueles que conhecem a grandeza de
Ainz-sama.”

Capítulo 6 Artilheira e Arqueira


264
Os olhos de Neia se arregalaram de surpresa. Ela só estava ligada a ele por um tempo
tão curto, então como ela ganhou tal respeito? Não, isso simplesmente provou o quão
grande o Rei Feiticeiro era.

“Sim, eu concordo. Eu sei muito bem o quão grande Sua Majestade é.”

Depois que Neia respondeu, as duas se entreolharam por um tempo.

Shizu foi a primeira a se mover.

Ela rapidamente estendeu a mão direita. Neia respondeu instantaneamente e sem he-
sitação.

Neia estava levemente incomodada pelo fato de Shizu não ter tirado a luva, as duas
apertaram as mãos.

Dado o quanto ela reverencia o Rei Feiticeiro, realmente parece que ela está sob o domínio
de Sua Majestade. Caso contrário, ela não o chamaria de Ainz-sama, mas em vez disso ela
o chamaria de Sua Majestade como eu, para que ela não soasse estranha.

Ela estava sendo ingênua? No entanto, neste momento, Neia estava muito confiante em
suas crenças. Ela entendeu que a lealdade de Shizu era genuína. Assim como os dentes
de duas rodas dentadas se encaixavam, elas podiam entender uma a outra porque eram
companheiras de adoração do mesmo deus.

“...A propósito, é fácil se dar bem com você. Como uma humana, você tem um futuro
brilhante, Neia.”

“Eu tenho sentimentos muito mistos sobre se dar bem com um demônio. Estamos fa-
lando assim porque você está falando a verdade sobre o quão grande Sua Majestade é.”

Hum. Shizu assentiu.

“...Embora eu creia que é irrelevante o que aconteça com você. Neia, eu a trarei de volta
em segurança para este país. Eu prometo.”

“Obrigada.”

A gratidão de Neia foi honesta e direta. A classificação de dificuldade de Shizu era 150.
Ela estava em um nível em que até mesma Rosa Azul teria dificuldade em vencer. Era
justo ser grata pela proteção de tal demônio. Isso era duplamente verdadeiro se ela fosse
uma serva do Rei Feiticeiro. Embora houvesse uma coisa que ela precisava esclarecer.

“...Você pode jurar isso em nome do Rei Feiticeiro?”

Shizu levantou a mão, como se ela tivesse sido chamada por um professor.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


265
“Isso eu juro em nome do Ser Supremo, Ainz Ooal Gown-sama... Mas, se morrer e for
ressuscitada, isso ainda conta como manter minha palavra, certo?”

“Segurança...? Não, acho que é um pouco diferente...”

As duas se entreolharam.

Para Neia, havia uma grande diferença entre “volta com segurança” e “voltar à vida de-
pois de morrer”. Todavia, isso estava apenas dentro dos limites do que ela poderia com-
prometer.

“Se não se tornar um demônio ou um dos undeads, mas voltar à vida como uma humana,
isso deve contar, certo...”

“...Assim parece melhor... Tudo bem.”

Houve uma ligeira mudança na voz de Shizu, que estava em um tom monótono durante
todo esse tempo. Ela parecia estar motivada agora.

“...Mesmo não sendo fofa, isso é especialmente para você.”

Shizu tirou algo e foi para o lado de Neia. Então apertou algo firmemente em sua testa.

“Eh!? O quê!? O que é isso!?”

Assustada com aquela ação inexplicável, ela tentou desesperadamente retirá-lo, mas
não conseguiu. Estava colado com tanta força que não se mexia. Foi muito assustador.

“Que coisa é essa!? Eh! Pare! Tá me assustando!”

“...Está bem. Não vai doer e não é assustador. Veja.”

Shizu mostrou-lhe algo com o número 1 e um design estranho — algo como uma letra
— estampado. Era feito de algum tipo de papel que brilhava com um brilho esquisito e
possuía uma superfície estranhamente lustrada. Ela tinha ouvido falar de talismãs, então
era um tipo de talismã usado como um meio mágico para essa arte? Independentemente
do que fosse, certamente não seria um item trivial, então deve ser algum tipo de item
mágico. Isso foi o que enviou um frio na espinha de Neia. E se ela não pudesse removê-
lo pelo resto de sua vida?

“E por que teve que colar na minha testa!? Há lugares melhores pra colocar isso!”

“...Mm, como uma irmãzinha.”

“Eh!?”

Capítulo 6 Artilheira e Arqueira


266
Embora ela tivesse ouvido algo muito chocante, havia um assunto mais importante em
mãos:

“Enfim, tire isso. Pelo menos cole nas minhas roupas ou em outro lugar!”

“...Não consegui evitar.”

Shizu pegou uma pequena garrafa e colocou uma gota de algo na testa de Neia. Depois
disso, o objeto firmemente preso foi retirado com facilidade, como se nunca tivesse sido
preso. Ela pegou, olhou para ele e viu que era o mesmo que o Shizu mostrou a ela ante-
riormente.

“...Adesivo. Precisa ser colado em algum lugar óbvio.”

Parece que ela teria que colá-lo. Fazer Shizu ficar com raiva não seria sábio, então Neia
fez o que lhe foi dito.

“Sim...”

“...Nós terminamos?”

“Eh? Ah, não, depois disso, eu queria falar sobre encontrar Sua Majestade, ah, não, para
recebê-lo de volta...”

“...Eu também vou... Precisamos de muita preparação. Então tudo vai terminar.”

“Mesmo?”

“...Eu prometo. Mas precisamos terminar o mapa das colinas dos demi-humanos antes.”

“Isso é verdade. Eh, demi-humanos?”

Um momento depois que ela concordou, uma pergunta apareceu de repente em seu
coração. Agora, ela não havia dito nada. Mesmo assim, por que ela de repente usou a
palavra “demi-humano?”

Poderia ser... ela ouviu do Príncipe Caspond sobre ele caindo nas Colinas?

“...O que há de errado?”

“Er, hum... eu entendi. Eu vou falar com as pessoas no comando.”

“...Prazer em conhecê-la, Neia.”

“O prazer foi todo meu, Shizu.”

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


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Capítulo 6 Artilheira e Arqueira
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Embora ainda estivesse ligeiramente incomodada com o adesivo, Neia estendeu a mão,
e Shizu respondeu. Ambas apertaram as mãos novamente.

“Você não acha que Sua Majestade morreu depois de tudo isso, não é, Shizu?”

Os olhos de Shizu se arregalaram.

“...Por que diz isso?”

“Na verdade, Sua Majestade caiu para o leste, e então ele não nos contatou novamente...
Já que Sua Majestade pode lançar magias de teletransporte, o fato de ele ainda não ter
voltado me faz pensar que algo aconteceu com ele... Então... e se... Sua Majestade...”

Doía demais falar mais do que isso. Ela hesitou, pois se dissesse, isso poderia se tornar
realidade.

Para isso, Shizu respondeu com o que provavelmente foi surpresa.

“...Ele está bem. Ainz-sama não está morto. Meu vínculo com ele é a prova. Hm... Por que
está chorando?”

Suas lágrimas estavam fluindo por conta própria.

O Rei Feiticeiro estava realmente vivo.

Ela realmente acreditava que ele não estava morto. Mas, às vezes, o desconforto que de
repente surgia em sua mente a deixava incapaz de dormir. Muitas pessoas haviam dito
a Neia que o Rei Feiticeiro estava bem, mas todos pareciam estar apenas tentando con-
solá-la, tentar manter suas próprias preocupações à distância, e não porque acreditavam
realmente nisso.

Mas, naquele momento, alguém lhe dissera isso com absoluta confiança e certeza. Isso
e Shizu era a prova de que o Rei Feiticeiro estava vivo. Isso permitiu que Neia finalmente
relaxasse.

Foi um alívio, como o de uma criança perdida encontrando seus pais, que fez Neia cho-
rar.

Shizu produziu um pedaço de pano, impresso com o mesmo desenho do cachecol —


provavelmente era um lenço —, e cobriu o rosto de Neia com ele. E então, ela esfregou
com força. Ela não o fez com violência, mas sim inexperiência, e o lugar onde ela esfre-
gava doía muito.

Shizu puxou o lenço para longe, e o ranho de Neia se esticou em uma ponte viscosa.

“...Tem ranho nele... Super chocante.”

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Depois de ouvir a voz distintamente chocada de Shizu, houve um olhar indescritível no
rosto de Neia.

Logo depois, ela tirou um lenço do bolso e quebrou a ponte do ranho.

“...Eu vou lavá-lo.”

“...Mm.”

Parte 2

Entrar no castelo de Kalinsha não seria difícil.

Tudo o que tinham que fazer era se esconderem em barris e esperar serem contraban-
deadas como carga. Haveria verificações, é claro, mas havia outros barris — oito no total
— além dos que elas haviam escolhido para se esconder, então tudo o que tinham que
fazer era deixar os inspetores verificarem os adjacentes. O motivo de conseguirem pas-
sar pela segurança com medidas tão simples foi devido à natureza diversa da Aliança
Demi-humana.

Todos os demi-humanos possuíam culturas diferentes e tinham normas sociais varia-


das. Talvez a única coisa que tivessem em comum fosse a força, pois a força de luta sig-
nificava tudo. Portanto, quando um indivíduo poderoso exercia sua influência, ele geral-
mente seria respeitado, quaisquer transgressões menores seriam perdoadas. Para os
demi-humanos, seu poder pessoal determinava sua capacidade de violência e, por sua
vez, sua posição social. Aqueles na base da pirâmide do poder não tinham outra escolha
senão obedecer.

Portanto, uma Zern poderosa poderia acabar com a inspeção de carga apenas enca-
rando os inspetores.

Eventualmente, houve um barulho alto quando os barris foram colocados no chão.

Depois disso, alguém bateu no topo do barril.

Foi o sinal informando que chegaram ao seu destino. Como planejado, Neia contou três
minutos em silêncio enquanto ouvia a Zern responsável por transportá-las abrir uma
porta e sair.

Depois que os três minutos terminaram, Neia empurrou o divisor acima dela.

Capítulo 6 Artilheira e Arqueira


270
Os pedaços maiores de carne crua não caíram quando o divisor se inclinou, mas os pe-
daços menores choveram sobre Neia. Este barril foi construído com um fundo falso. Neia
estava abaixo do divisor e a carne fresca estava em cima dela.

A razão pela qual os barris estavam cheios de carne fresca e não legumes ou grãos era
para que eles pudessem usar o cheiro de sangue para mascarar o cheiro de Neia e Shizu.

Neia achava um pouco desconfortável estar encharcada de sangue e sumos de carne,


mas ela ainda se sentia feliz porque nenhuma das contramedidas que haviam preparado
fôra usada.

Neia levantou lentamente a tampa do barriu e espiou os arredores.

Ela olhou ao redor do interior escurecido do cômodo — havia uma luz fraca que poderia
ser o brilho de um item mágico — e depois de verificar que não havia ninguém por perto,
Neia lentamente saiu do barril.

Havia todos os tipos de alimentos e urnas nas prateleiras dessa despensa. Havia tam-
bém muitos barris como os que foram recentemente trazidos para cá.

Deu muito trabalho, mas ela conseguiu sair com segurança. Para facilitar a reentrada,
ela deixou o divisor em pé dentro do barril.

Elas precisariam usar esses barris para escapar depois de resgatar o príncipe Zern.

Shizu, a outra infiltrada, acabara de sair de seu barril. Ela era mais baixa que Neia, então
sair de um grande barril era mais cansativo. No entanto, suas habilidades físicas estavam
muito além das de Neia e até de Remedios, então ela conseguiu sair sozinha antes que
Neia pudesse ajudá-la.

“Shizu-san.”

“...Hm?”

“Tem carne presa ao seu cabelo.”

Shizu parecia infeliz. Mesmo que sua expressão facial não mudasse, isso não significava
que ela não tivesse emoções. Talvez fosse porque estivera com Shizu todo esse tempo
ou porque a visão de Neia era excelente, ou talvez olhar para as feições ósseas do Rei
Feiticeiro todo esse tempo havia aperfeiçoado sua capacidade de examinar os outros,
mas Neia tinha uma noção aproximada de como Shizu se sentia.

Shizu se atrapalhou para tentar tirar os pequenos pedaços de carne de seu cabelo, mas
como estavam presos aos fios na parte de trás de sua cabeça e ela não conseguia tirá-los.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


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Me disseram para cortar meu cabelo curto, porque o cabelo longo poderia ser facilmente
agarrado em combate, mas parece que há muitos outros inconvenientes além desse.

Neia foi para o lado de Shizu e pegou todos os pedaços antes de jogá-los no barril.

“...Obrigada... Não quero infiltrar dessa maneira novamente.”

“Mas vamos ter que fazer isso de novo quando escaparmos.”

“......”

Shizu olhou desanimada para o barril, depois tirou uma toalha do nada para se limpar
antes de entregá-la a Neia.

A toalha úmida tinha uma suavidade e delicadeza que Neia nunca sentira antes. Neia
imaginou que seria algo de valor considerável. Como Shizu tinha colocado as mãos em
algo assim? Era uma qualidade comum no mundo dos demônios?

Enquanto todas essas perguntas e mais coisas passavam por sua cabeça, Neia limpou
as mãos que estavam pegajosas pela carne, e depois limpou o cabelo de Shizu com a parte
limpa. Mesmo isso apenas fazendo-a se sentir um pouco melhor, era melhor do que não
limpar nada.

“...Obrigada.”

“Não precisa agradecer.”

Enquanto Neia estava fazendo isso, Shizu pegou sua arma.

Aquele dispositivo de formato estranho era aparentemente uma arma de longo alcance
que chamaram de Arma Mágica. Usava mana para disparar pequenos virotes de formato
aerodinâmico, algo como uma balestra compacta. Shizu havia dito alguma coisa sobre a
pólvora não mostrar sinais de combustão ou algo do tipo, mas Neia não tinha entendido
nada, então a explicação foi desperdiçada com ela.

Ela queria testar, mas Shizu se recusou, então a habilidade de luta de Shizu ainda era
desconhecida. Ainda assim, ela tinha uma classificação de dificuldade de 150, então Neia
sentiu que não havia nada com o que se preocupar.

“...Hm.”

Shizu produziu o Ultimate Shooting-Star Super e uma aljava de flechas do nada, como
um mágico de palco, antes de entregá-las a Neia e, por sua vez, Neia devolveu a toalha
suja.

Capítulo 6 Artilheira e Arqueira


272
Inicialmente, havia uma discussão sobre como Neia levaria seu arco. O arco era muito
comprido, e quando se acrescentava camuflagem em cima, ela não conseguiria fechar a
tampa do barril e, se o barril fosse aberto, ela estaria exposta.

Elas poderiam ter deixado a Zern carregá-lo, mas o arco era uma obra magnífica e teria
deixado uma impressão nas pessoas que o vissem. Além disso, a Zern também havia re-
cusado, por medo de ser dragada junto com elas se a missão de resgate falhasse.

No final, quando todos lhe disseram para deixar o arco para trás, Shizu disse que ela
poderia armazenar suas armas em um espaço misterioso no ar, para que ela pudesse
colocar o arco lá também.

O desconforto era de trazer um item valioso emprestado a ela pelo Rei Feiticeiro em
uma missão e em um lugar perigoso misturado com a garantia de não ter que se separar
com sua arma deu a ela um leve desconforto. Neia agradeceu Shizu por sua gentileza
enquanto ambas as emoções a aumentavam. Parece que Shizu aceitou Neia como sua
kouhai, e depois disso, Shizu ocasionalmente agia como sua senpai.

Parte disso era como Neia tinha que abordar Shizu como “Shizu-san”, pois Shizu ficava
aborrecida se Neia não fizesse isso. Claro, Shizu era muito bonita e quando ela fazia uma
careta — Shizu não mostrava expressões com intensidade, apenas um leve nuance —
Neia realmente achava fofo.

Depois que cada uma delas preparou suas armas, Shizu foi a primeira a se mover.

Neia aguçou os ouvidos para ouvir qualquer movimento do lado de fora da porta, mas
não havia ninguém lá.

“...Vamos sair.”

Cada segundo seria precioso, então Neia assentiu.

O Exército de Libertação se aproximava de Kalinsha enquanto a operação para resgatar


o Príncipe Zern estava em andamento, então a batalha por Kalinsha começaria em breve.

• 1: Neia e Shizu se infiltrariam em Kalinsha e resgatariam o príncipe Zern.


• 2: O Exército de Libertação se aproximaria de Kalinsha e começaria seu ataque.
• 3: Se o príncipe Zern fosse resgatado, os Zern atuariam como uma quinta-coluna
dentro das muralhas da cidade.
• 4: Se o item 3 falhar, então em vez dos Zerns abrindo os portões da cidade e gui-
ando o Exército de Libertação, Neia e Shizu teriam que lidar com essa tarefa. No
entanto, isso era demais para elas, então só fariam o que estava dentro de suas
capacidades.

Esses eram os pontos-chave do plano de batalha.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


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O importante era que, se pudessem resgatar o príncipe Zern, poderiam contar com o
Exército de Libertação e o exército Zern para socorrê-las, mesmo que fossem forçadas a
se esconder e a se defender. Isso também era bom para o povo Zern; se o resgate fosse
bem-sucedido, poderiam libertar o príncipe depois que Kalinsha fosse tomada de volta.

Em outras palavras, se poderiam ou não recuperar Kalinsha de forma simples e com o


mínimo de baixas, tudo dependia do resgate do príncipe.

Quando ela sentiu o peso esmagando seus ombros, Neia gemeu e sua barriga doeu no-
vamente.

Portanto — não havia muito tempo. Uma vez que o Exército de Libertação iniciasse seu
ataque à Kalinsha, ou se elas fossem detectadas antes disso, a segurança de Kalinsha se-
ria reforçada.

De acordo com o que haviam planejado, Shizu produziu um frasco do nada, parecia ser
perfume, e o borrifou em Neia e em si mesma. Parecia ser algum tipo de item mágico
consumível que continha uma magia de 1º nível 「Odorless」. Não havia muito no frasco,
então elas tinham que conservá-lo o máximo possível.

Shizu abriu a porta, olhou para fora e depois saiu.

Elas escolheram o caminho e decidiram como lidar com várias situações depois de con-
sultar o mapa de Kalinsha, e já haviam discutido quais deveres cada uma delas teria de
executar.

Neia também saiu da despensa, depois fechou cuidadosamente a porta para não fazer
barulho antes de correr atrás de Shizu.

Embora eu não esteja ajudando muito...

Francamente falando, nas circunstâncias atuais, Neia não era nada mais que um fardo.
Isso ficou imediatamente claro se alguém observasse o passo de Shizu. Ela corria como
seu pai se movia pela floresta— não, ela era muito melhor, sendo tanto rápida quanto
silenciosa. Ela definitivamente estava usando algum tipo de técnica.

Ela é um demônio, mas usa técnicas como um humano... Aqueles que não se pode julgar
pelas aparências, são os mais assustadores, huh?

Mesmo com a possibilidade de deixar tudo para Shizu, a presença de Neia era tanto para
manter um olho em Shizu, quanto para assegurar que era um esforço conjunto entre a
Shizu do Reino Feiticeiro — assumindo que ela estava realmente ligada ao Rei Feiticeiro
— e a Neia do Reino Sacro para o resgate do príncipe. Dessa forma, o Reino Sacro poderia
agir como se tivesse contribuído para isso.

Capítulo 6 Artilheira e Arqueira


274
As passagens estavam escuras. Era noite. O luar entrava pelas janelas — ou melhor, a
única coisa que entrava era a luz da lua. Não havia outras fontes de luz aqui, nenhuma
iluminação mágica ou tochas.

Isso porque muitos demi-humanos eram indiferentes à escuridão. Porém, havia dife-
rentes graus de ser capaz de ver na escuridão. Algumas espécies tinham visão completa
no escuro, porém, a maioria delas tinha visão noturna superior. Portanto, Neia e Shizu
evitavam o luar e avançavam se escondendo de sombra em sombra.

Como ser humano, Neia teve que se concentrar e aguçar seus sentidos. Não só ela não
podia ver claramente devido à escuridão, mas os guardas de patrulhamento também não
carregavam fontes de luz, então ela não conseguia avistá-los de longe.

Embora não entendesse bem o porquê a despensa era iluminada, provavelmente era
por causa daquelas espécies que não tinham visão no escuro.

As duas mantiveram seus passos tão silenciosos quanto possível enquanto corriam pelo
castelo em direção ao seu destino.

Considerando que os atributos físicos de Shizu eram muito superiores aos de Remedios,
mesmo um ritmo que deixava Neia ofegante e quase incapaz de acompanhar, para Shizu
não seria nada além de um caminhar acelerado.

Elas ocasionalmente avistaram os guardas demi-humanos, que eram a deixa para pren-
der a respiração e esperar silenciosamente pela oposição passar. Elas não podiam matá-
los, pois isso significaria ter que lidar com os cadáveres e esconder os vestígios. Já que
estavam no meio da fortaleza do inimigo, seria melhor não serem vistas até que o resgate
fosse executado com sucesso.

Felizmente, Neia e Shizu não foram vistas e continuaram em frente.

Havia poucos guardas dentro do castelo, graças à maior parte do pessoal sendo atribu-
ído às muralhas e às torres de vigia, bem como às prisões da cidade. O Rei Feiticeiro
havia matado uma grande quantidade de demi-humanos, isso implicava que eles não
poderiam estabelecer uma rede de segurança apertada. Assim, a vigilância dentro do
castelo se tornou relaxada, de acordo com a Zern.

A razão pela qual elas puderam prosseguir com segurança foi porque as Zerns fizeram
reconhecimento de área de antemão e feito preparações quase perfeitas, mas Neia ainda
sentia uma pontada de desconforto.

Haveria dois desafios em seu caminho.

O primeiro era a longa passagem que tiveram que percorrer para chegar à torre.

O segundo seria a ponte para a torre — a passagem suspensa.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


275
Não havia esconderijos em nenhum dos locais, e obviamente haveria sentinelas vigi-
ando também. E claro, obviamente não estariam sozinhos. Além disso, pelo menos um
estaria fora da linha de fogo e equipado com armas de longo alcance, afinal, também
estavam em guarda contra ataques à distância.

Enquanto discutiram o assunto em um grande grupo na frente do mapa de Gustav, elas


ainda teriam que passar por esses dois lugares para alcançar a torre.

Se pudéssemos usar 「Invisibility」 para enganar sua visão e 「Silence」 dos sacerdotes
para enganar sua audição, seríamos capazes de nos infiltrar perfeitamente... é por isso que
os aventureiros — que formam grupos que podem assumir todos os tipos de situações —
são tão altamente valorizados.

Eventualmente, as duas atingiram seu objetivo.

Chegaria no primeiro desafio, a longa passagem. Se elas tentassem correr diretamente


para baixo, elas seriam vistas antes que pudessem cobrir a distância. Para evitar isso,
elas precisavam chegar a um local onde pudessem executar ataques à distância sem se-
rem vistas pela oposição.

Era por isso que elas tinham vindo aqui, o nível acima da longa passagem, o cômodo
diretamente acima de onde os guardas estavam posicionados.

Se baixassem uma corda daqui e fizessem rapel nas paredes externas, elas poderiam
pegar um atalho sem serem detectadas.

“...Aqui?”

Em resposta à pergunta de Shizu, Neia consultou seu mapa mental e a rota que haviam
tomado, e ela fez um “sim” acenando a cabeça.

“...Hm. Nada mau.”

A resposta de Shizu soou como se ela estivesse elogiando uma kouhai, e então ela pres-
sionou o ouvido na porta. Então, ela rapidamente e silenciosamente abriu.

O cômodo estava cheio de vários itens, mas parecia que não era usado há muito tempo
e havia uma camada branca de poeira no chão. No entanto, havia vestígios de que bate-
dores Zerns estiveram aqui. Elas haviam se movido entre a janela e uma prateleira muito
grande.

Shizu produziu uma corda do nada. Era da mesma cor que a muralha do castelo.

Capítulo 6 Artilheira e Arqueira


276
Depois disso, ela a amarrou na grande prateleira. Ela usou toda a sua força para puxar
para ver se poderia suportar o peso de Neia e de si mesma, a prateleira não ser moveu e
nem mostrou sinais de desgaste.

O tamanho — e peso — da prateleira foi um fator, mas os fios parecidos com teias pre-
sos às prateleiras provavelmente eram o fator mais importantes. As Zerns que haviam
chegado a esse cômodo de antemão fixou-a no lugar com fios pegajosos tirados dos Spi-
dans.

A janela foi facilmente aberta e Shizu olhou para as muralhas da cidade do lado de fora.
Depois de verificar que não havia guardas de patrulha à vista, Shizu pendurou a arma
nas costas e disse:

“Eu vou primeiro.”

Ela se jogou da janela e deslizou pela corda até a janela abaixo.

Ela segurou seu peso em uma mão e usou a outra para abrir a próxima janela, que abriu
facilmente. Esse também tinha sido o trabalho das Zerns.

Shizu então deslizou para dentro. Seus movimentos hábeis levaram apenas alguns se-
gundos.

Depois de confirmar que o cômodo abaixo estava seguro, Shizu colocou a cabeça para
fora da janela e acenou para Neia.

Neia agarrou a corda e se inclinou para fora da janela.

Mesmo a janela no andar de baixo ficando a apenas quatro metros de altura, elas esta-
vam a mais de cem metros do chão. Se Neia caísse, ela se encontraria com uma morte
horrível. Não, seria pior se ela não morresse. Ela certamente seria torturada até que
abrisse a boca e então seria morta. Cair à sua morte seria uma alternativa misericordiosa.

A corda tinha nós uniformemente espaçados ao longo do comprimento — em outras


palavras — e não houve problemas durante as várias sessões práticas que haviam reali-
zado. No entanto, o treinamento pareceu completamente diferente da coisa real.

Ah, eu realmente não quero ir...

Mas ela não tinha escolha. Se ao menos houvesse algo como uma sacada que ela pudesse
simplesmente pular...

Neia segurou a corda com força enquanto empurrava o corpo inteiro para fora da janela.
Ela cruzou as pernas para apertar firmemente a corda entre suas coxas.

Depois disso, tudo o que ela precisava fazer era descer devagar.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


277
O chão é logo abaixo. O chão é logo abaixo.

Ela desceu lentamente a corda, lembrando-se repetidas vezes de não olhar para baixo.

Ela tirou o peso da mão direita e depois para a esquerda, exatamente como ela havia
praticado. O vento soprava e fazia seu corpo tremer em uma intensidade que não podia
ser comparada ao treinamento.

Vamos lá Neia, vamos lá, vamos lá! Shizu deve ter ficado mais assustada que isso!

A janela estava aberta por causa da ajuda Zern.

Entretanto, alguém teria que fechar a janela aberta pelas Zerns, então Shizu teria que
subir de volta. Com isso em mente, Neia — que só precisava fazer uma única viagem —
relaxou ao pensar nisso.

Neia finalmente se aproximou da janela, e Shizu estendeu a mão para agarrar seu corpo.
Assim, ela puxou Neia com força incrível.

“Obrigada, muito obrigada.”

“...Mm. Mas, demorou tempo... remova isso, segure.”

“Sim.”

Shizu se inclinou para fora da janela e levantou sua arma mágica. Neia segurou a corda
como indicado. Houve um chiado de ar expulso e Neia sentiu uma força puxando a corda.
Shizu tinha cortado com sua arma.

Ela puxou a corda cortada e jogou no canto. Elas não usariam essa rota no caminho de
volta, então Shizu a puxou de volta em vez de deixá-la balançar livremente, mas havia
méritos e deméritos para isso.

O mérito era que isso minimizava o risco de serem vistas por sentinelas.

O demérito era que, se acontecesse alguma coisa e não pudessem se infiltrar pela rota
planejada, elas não seriam capazes de subir ao andar superior com essa corda.

No final, as duas decidiram que os inconvenientes de serem vistas superam os méritos.

“Está feito, Shizu-san. Agora só precisamos passar pelo primeiro obstáculo...”

“...Mm. Vamos... Preciso matá-los. Consegue fazer isso?”

“Mm. Acho que sim.”

Capítulo 6 Artilheira e Arqueira


278
Uma vez que saíssem deste cômodo, estariam em posição de atirar nas sentinelas posi-
cionadas ao longo da passagem.

Se elas não matassem as sentinelas antes que soassem o alarme, todo o seu esforço seria
em vão.

Neia pegou seu arco e colocou uma flecha. Shizu também levantou sua arma mágica.

“Eu vou tomar a direita, você toma a esquerda, Shizu-san.”

Shizu formou um círculo com o polegar e o dedo indicador.

As duas trocaram olhares e então Shizu abriu a porta.

Neia fez contato visual com um demi-humano próximo, a cerca de um 1,50 metro de
distância. Ele não sabia o que estava acontecendo ou quem eram. O demi-humano ficou
tão surpreso que não conseguiu analisar a situação, mas Neia não hesitou e atirou uma
flecha nele.

Com um *katsun*, a flecha acertou sua testa e perfurou seu crânio.

Eu consegui!

As habilidades de Neia tinham desempenhado um papel, mas a maior parte do trabalho


foi feito pelo Ultimate Shooting-Star Super.

Obrigado, Vossa Majestade!

Assim que a flecha de Neia perfurou o demi-humano pela cabeça, a arma mágica de
Shizu explodiu metade da cabeça do outro demi-humano.

Os demi-humanos fizeram mais barulho quando desabaram do que Neia esperava.


Neia apressou-se a aguçar as orelhas. Felizmente, ela não ouviu ninguém correndo em
sua direção. Parece que ninguém as havia detectado ainda.

“...Rápido.”

Elas já tinham atribuído suas devidas tarefas de antemão. Quando Shizu arrastou os
cadáveres para o cômodo que acabavam de entrar com a corda, Neia usou o item de lim-
peza de cheiro que Shizu lhe emprestara. Depois disso, ela pegou o odre de água no cinto
e despejou um poderoso vinho em todo o lugar, lavando os pedaços de carne, cérebro,
crânio e manchas de sangue no chão. Quando o fedor de álcool permeou o ar, Shizu saiu
do cômodo, em seguida, produziu um jarro vazio e o encheu com o vinho de antes, em
seguida o quebrou sem fazer barulho e o deixou no lugar.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


279
“...Vamos.”

“Sim.”

Mesmo tentando esse encobrimento, era muito provável que o próximo turno perce-
besse que algo estava acontecendo ao assumir a ronda. Neia seria capaz de relaxar se
elas pudessem colocar os corpos na misteriosa dimensão de bolso de Shizu, mas Shizu
disse que não faria isso, assim, elas deixaram os cadáveres na sala. É claro que também
haviam feito preparativos, mas não havia como ter certeza de que não seriam encontra-
dos.

Elas tinham que assumir que não tinham o luxo de ter tempo suficiente.

Por fim, chegaram ao segundo obstáculo, a passagem suspensa. Dos vários cenários que
surgiram, este foi o mais próximo de ser ideal. Elas ainda tinham tempo e ninguém as
havia visto.

“...É uma corrida contra o tempo agora.”

“Eu sei. Se eu escorregar, não se preocupe comigo.”

O caminho do castelo para a torre tinha aproximadamente duas pessoas de largura.

Não havia parapeito de ambos os lados — um vão livre. Aparentemente, várias pessoas
tinham caído do lado antes, e depois de ver isso, tudo o que ela conseguia pensar era que
era apenas o esperado.

Esta passagem suspensa foi a razão pela qual este lugar foi o reduto final quando se
envolver invasores durante um cerco.

Uma tropa não poderia passar por aqui, portanto, uma vantagem em números seria
anulada. Ao mesmo tempo, havia também o risco de cair. Se houvesse uma linha de lan-
ças no final do caminho, romper seria muito difícil. Esse design astuto era do tipo que os
atacantes odiavam. Precisariam de magic casters com ataques como 「Fireball」 ou si-
milares para derrotá-los.

Usar armas de longo alcance para um ataque contínuo era desvantajoso para o lado de
Neia, que operava furtivamente e com restrições de tempo. Portanto, tudo o que elas
podiam fazer era atacar de perto e acabar com o inimigo, já que o inimigo poderia acertá-
las com armas de longo alcance, elas não teriam o benefício da cobertura.

Nesse caso, elas precisariam encurtar a distância antes que as sentinelas as detectas-
sem. Mas em um olhar mais atento, o caminho se mostrou irregular. Foi projetado para
desacelerar qualquer um que tentasse atravessá-lo, pois o forçaria a escorregar e cair.

Capítulo 6 Artilheira e Arqueira


280
Isso é perigoso... se um inimigo me encontrar e me segurar... eu vou cair e morrer. Se não
tiver cuidado...!

Depois de esculhambar com toda sua determinação, Neia percebeu que Shizu estava
olhando para ela. Embora fossem do mesmo sexo, sendo encarada por Shizu, tão bela
quanto uma boneca, fez Neia ficar um pouco envergonhada.

“O-o quê?”

“...Use isso... Neia, espere aqui.”

“Eh?”

“...Eu vou cuidar dos guardas da porta. Não importa o que aconteça, não saia.”

“—Eh?”

Antes que ela pudesse obter uma resposta, Shizu desapareceu.

Ela havia desaparecido. Este não foi um movimento de alta velocidade. Shizu estava de
pé aqui até agora e então ela desapareceu no ar como se tivesse sido uma ilusão.

Uma onda de confusão atacou Neia. No entanto, Shizu já havia dito a ela para esperar,
então ela deveria ficar aqui e esperar.

Neia se escondeu na entrada da passagem suspensa e ouviu atentamente o que estava


acontecendo na torre e no caminho atrás, atenta a qualquer coisa fora do comum.

Vários segundos depois — algo aconteceu no posto de guarda.

Ela ouviu um grito e depois o som de um guarda entrando em colapso.

Neia colocou o rosto para fora desejando ver o que estava acontecendo e viu Shizu
emergir do posto de guarda. Shizu acenou para chamar Neia.

Quando Neia começou a entrar em pânico e se perguntar o que estava acontecendo, o


gesto de Shizu ficou mais intenso, até que todo seu corpo estava se movendo de um lado
para o outro.

Ela precisava mesmo ir, agora que Shizu tinha feito praticamente tudo?

Neia se abaixou, depois correu pela assustadora passagem suspensa exposta ao vento
e enquanto prestava atenção em seus passos.

Assim que chegou ao outro lado, ela pôde sentir o cheiro de sangue do posto de guarda.
Vários demi-humanos mortos jaziam no chão, e Shizu estava lá dentro, com a expressão

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


281
vazia de sempre. Ela segurava o que parecia ser uma faca grande e muito afiada em sua
mão direita. A lâmina estava manchada de vermelho brilhante, e ela tinha sua arma má-
gica na mão esquerda.

“...Limpo. Mova-se.”

“Ah, sim...”

“...Não posso desaparecer novamente hoje. Tenha cautela.”

“Entendi.”

Parece que não havia necessidade de explicar, então Neia não perguntou, apenas seguiu
atrás dela.

Como esperado de uma empregada demônio...

Neia pensou.

Ela não poderia ter vindo até aqui sem Shizu.

E isso também é graças à ordem que Sua Majestade deu a Shizu.

Apenas o Rei Feiticeiro poderia inspirar maior respeito nas pessoas, mesmo quando ele
não estava presente.

Honestamente, o fato de ser um undead ou o que quer que fosse, era um problema in-
significante.

Eu preciso que todos saibam, afinal. Eu preciso dizer a eles o quão grandioso é Sua Majes-
tade!

A torre era quase completamente feita de pedra e tinha apenas uma pequena janela
para a luz. Era mais escuro que o castelo pelo qual passaram antes.

A passagem dentro da torre era bastante espaçosa, grande o suficiente para que Neia e
Shizu andassem lado a lado. E espiralava-se ao longo do interior da parede da torre.

O objetivo delas, o príncipe Zern, deveria estar perto do topo, então a única coisa que
faziam quando passavam pelas portas ao longo do caminho era verificar se havia movi-
mentação alguma dentro, enquanto as continuavam subindo.

Cerca de duas voltas depois, Shizu levantou a mão para sinalizar que deveriam parar.
Isso aconteceu quase ao mesmo tempo em que a audição aguçada de Neia captou os pas-
sos de uma criatura.

Capítulo 6 Artilheira e Arqueira


282
Parece que estava usando uma armadura de metal, porque ela podia ouvir o som do
metal batendo na pedra.

“Está sozinho, Shizu-san.”

“...Sim. Mas... pegadas pesadas.”

Neia não tinha certeza, mas como foi Shizu a dizer, então provavelmente era a verdade.
Em outras palavras, o que quer que fosse, não era de tamanho humano.

“O que vamos fazer? Deveríamos nos esconder atrás de uma das portas pelas quais pas-
samos ao longo do caminho?”

“...Já está aqui. Mate-o.”

“Entendido.”

Neia preparou seu arco depois de Shizu. Seu plano era atirar primeiro e não se preocu-
par com perguntas. Ela ouvira dizer que o príncipe Zern era do tamanho de uma criança
humana. Além disso, ele não usaria armadura de metal.

Um objeto maciço apareceu, e Neia e Shizu atacaram sem hesitar.

A flecha e as balas entraram em seu corpo, como se tivessem sido sugadas.

“GAAAHHHH!”

O objeto massivo tropeçou e recuou ao longo do caminho.

Como havia recuado ao longo de um caminho curvo, não estava mais na linha de fogo.

O fato de ter sobrevivido a seus ataques — particularmente o de Shizu — sugeriu que


era um demi-humano muito resistente.

“O quê! Quem é você!?”

Um grito de raiva ecoou das profundezas da passagem.

“O que fazemos agora, Shizu-san?”

“...Não podemos sentar e esperar... Aproximar e atacar antes que o inimigo junte os
guardas da torre.”

“Entendido.”

Neia e Shizu começaram a correr.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


283
Como poderia sobreviver ao ataque surpresa de Shizu e Neia, eles poderiam assumir
que era o guardião — um Vah Un. Vah Uns eram seres que possuíam muito bom poder
de luta e uma quantidade impressionante de energia.

Enquanto corriam, a umidade no ar parecia aumentar também — o nariz de Neia captou


o cheiro da chuva.

“Gooaahh! E pensar que haveria humanos aqui!”

Após se aproximarem, eles viram um enorme demi-humano.

Embora possuísse a aparência selvagem de um Ogro, parecia muito mais inteligente


que um.

Sua pele era branco-azulada, embora parecesse mais demoníaca do que doentia.

Tinha um único chifre grosso na testa. Ele carregava uma maça que era maior que Neia.

A julgar pela sua aparência física, estava bastante semelhante às descrições das espé-
cies conhecidas como Vah Uns.

Apesar de não estar no nível de Buser, ainda era um adversário bastante perigoso. A
flecha e as balas tinham claramente atingido, mas parecia não tê-lo ferido. Também não
havia cheiro de sangue, por isso parece que não o encobriu com ilusões.

De alguma forma, isso havia negado seus ataques — particularmente o de Shizu.

“Então estão aqui para tomar minha vida, não é? Você é bem peculiar, humana!!!”

Parecia muito feliz.

Nesse caso, ela deixaria que ele continuasse errado.

“...Não.”

Shizu disparou enquanto falava.

Houve um chiado de gás expelido quando alguma coisa voou pelo ar. Depois disso, parte
do corpo do Vah Un se dissolveu em névoa e a bala passou.

“...Hm.”

“Wahahahaha! Armas de combate são inúteis contra mim!”

Capítulo 6 Artilheira e Arqueira


284
Neia disparou uma flecha na testa do Vah Un, mas sua cabeça também se sublimava em
névoa e a flecha afundou na parede atrás dele.

“—Inútil! É inútil! Agora tremam de medo diante de mim, pois sou a ruína de todos os
arqueiros, morram!”

“...Imune a todas as armas de longo alcance? Ou é apenas forte?”

Shizu ponderou e murmurou:

“Deve haver um truque.”

Neia olhou para Shizu e sacudiu a cabeça. Infelizmente, os Zerns não conheciam deta-
lhes sobre suas habilidades.

“O que estão tagarelando!?”

“Se proteja!”

O Vah Un encurtou a distância. A visão de seu corpo massivo se aproximando delas pa-
receu distante, como se seu senso de distância estivesse bagunçado.

Neia não seria capaz de sobreviver a um único golpe, então ela obedientemente escutou
Shizu e recuou.

Shizu estava na linha de frente e a maça caiu sobre ela. O golpe foi como uma tempes-
tade uivante, mas ela elegantemente o evitou.

A força do Vah Un era extraordinária, dado que podia balançar uma arma tão alta
quanto Shizu com apenas uma mão. A pedra estava estilhaçada e rachaduras irradiavam
em todas as direções. Parecia que a enorme torre estava tremendo.

“Tch!”

Neia disparou uma flecha.

Mesmo o Vah Un preso em combate com Shizu, havia uma enorme diferença entre os
tamanhos dos corpos. Se ela apontasse para cima, seria possível atacar o Vah Un sem
acertar em Shizu.

Como esperado, o Vah Un transformou-se em névoa para evitar a flecha assobiando no


ar.

“É inútil! Inútil! Eu te disse que as flechas são inúteis contra mim! Tola— UWOOOOOH!”

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


285
O Vah Un rugiu ainda mais alto que antes. Shizu parecia achar isso irritante e partiu
para cima dele.

As habilidades de tiro de Shizu eram muito superiores às de Neia, mas ela não era tão
habilidosa em combate corpo a corpo, então, infelizmente, seu ataque foi bloqueado pela
maça.

Neia recuou e armou outra flecha.

Desta vez, Neia apontou para a mão segurando a maça. Embora fosse muito provável
que a arma não caísse mesmo que se transformasse em névoa, ela decidiu que tinha que
tentar, por menor que fosse a possibilidade.

No final—

O braço formado por névoa não soltou a maça.

“Você não vai parar, humana!?”

O Vah Un apontou a palma para Neia:

“「Water Splash」!”

Uma bola de água voou para Neia.

Algo atingiu seu ombro direito. Neia foi arremessada longe e caiu no chão.

Doeu como se tivesse sido selvagemente espancada. Seus ossos poderiam ter se que-
brado.

Depois de nervosamente tentar mover o braço direito, ela descobriu que poderia movê-
lo sem problema. No entanto, uma torrente de dor se espalhou de seu ombro até o inte-
rior de seu corpo. Ela tocou o ombro e notou que estava molhado. Enquanto o tocava
com medo antevendo o carmesim do sangue, ela imediatamente percebeu que era água.

“Hmph! Você me fez usar uma magia medíocre!”

O Vah Un balançou sua maça enquanto cuspia sua resposta para elas.

Shizu murmurou baixinho para si mesma enquanto evitava agilmente um golpe mortal
que poderia ter esmagado Neia em pedaços.

“...Por que a garota? Por que atacar alguém que não pode te ferir? Não faz sentido.”

“Hah, sua idiota! Isso é porque ela é um pé no s—”

Capítulo 6 Artilheira e Arqueira


286
“—Porque foi eficaz? Usos limitados?”

O rosto do Vah Un mudou. Em outras palavras, Shizu estava certa.

“Neia!!”

“Entendido!”

Neia disparou uma flecha, da qual o Vah Un evitou se transformando em névoa. Depois
disso, ela disparou novamente — e a flecha perfurou o Vah Un.

Quando o Vah Un grunhiu de dor, Shizu falou.

“...Entendi. Você só pode se defender contra sete ataques à distância. Isso é... por dia?
Por hora? ...Não importa. Você vai morrer aqui.”

O Vah Un não conseguiu alcançar Shizu, que se esquivava com incrível habilidade. Em
outras palavras, se isso acontecesse, seria preciso uma surra unilateral e morreria. Tal-
vez o Vah Un tivesse percebido que isso aconteceria, porque seu rosto estava torto.

“M-Maldita! 「Fog Cloud」!”

Um banco de névoa surgiu.

Era mais espessa do que o nevoeiro que Neia vira no Reino Feiticeiro, ela nem mesmo
sabia onde estava. Mesmo sendo incapaz de ver Shizu lutando contra o Vah Un, ela podia
ouvir a arma mágica de Shizu fazendo pew pew pew.

Quando ela pensou sobre isso, tudo ficou óbvio.

Mesmo que o Vah Un conjurasse o nevoeiro no meio da passagem, ela ainda sabia onde
estava. Tudo o que ela tinha que fazer era continuar atirando. Neia seguiu a liderança de
Shizu e atirou mais flechas. Ela estava um pouco preocupada, então ela apontou para o
alto; Dessa forma, mesmo que errasse, ela não acertaria Shizu.

A flecha que ela soltou derreteu na neblina, e foi seguida pelo som de algo atingindo a
parede. Parece que ela tinha errado.

“Está se movendo atrás de você agora.”

Quando Shizu disse isso, Neia pensou:

Eh?

Quando se considerava o tamanho da passagem, era impossível para o enorme Vah Un


ficar atrás de Shizu e Neia sem esbarrar nelas. No entanto, ao longo do caminho aqui,

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


287
Neia tinha chegado a perceber que Shizu era um demônio confiável. Ou melhor, ela não
confiava tanto em Shizu, mas confiava no Rei Feiticeiro a quem ela servia.

Neia se virou e, embora a névoa ainda estivesse tão espessa que não pudesse ver nada,
ela disparou outra flecha.

Assim como antes, ela ouviu o som de uma flecha atingindo uma parede distante.

“Onde, onde ele está?”

“...Mm. Mirou na direção certa. Ele está tentando fugir... se abaixe!”

Neia imediatamente caiu de bruços enquanto Shizu falava em um tom muito severo.

“...Recarregando... rajada máxima.”

Houve um kyuuuuun penetrante e, em seguida, um dakka dakka dakka cacofônico tro-


vejou pela passagem. Ao contrário do som anterior, esse era um som preenchido por
uma brutalidade opressiva.

“Gobooh~” Houve o som de alguém tossindo algo, seguido por um estrondo quando um
corpo massivo atingiu o chão. Depois disso, a névoa clareou e ela pôde ver o corpo do
Vah Un deitado ao longo da passagem curva.

Seu corpo estava coberto de buracos e parecia que tinha sido explodido. Havia marcas
semelhantes ao redor das paredes próximas. O que aconteceu para causar isso?

Como um ancião dedicado a proteger este lugar, deveria ter sido bastante forte. Na ver-
dade, Neia sozinha não teria a menor chance. Mas Shizu poderia matar instantanea-
mente um demi-humano desses, desde que sua arma fosse eficaz contra ele. Como espe-
rado de uma empregada demônio de dificuldade 150.

“O que... foi... não. Com magia, você pode fazer qualquer coisa, huh.”

Neia moveu o ombro ferido. Ela havia esquecido a dor durante a excitação da batalha,
mas agora estava começando a doer mais e mais.

“...Tubo bem?”

“Mm. Mas dói puxar o arco. A acho que não posso mais mirar com precisão.”

“...Tem alguma poção de cura?”

“Não, mas eu tenho um item de cura que Sua Majestade me emprestou.”

Capítulo 6 Artilheira e Arqueira


288
Neia só poderia usá-lo uma vez durante a batalha, mas agora ela sentia que poderia usá-
lo com mais frequência. Ainda assim, isso não significava que ela poderia desperdiçar
mana, porque ela poderia precisar curar Shizu se a situação exigisse isso.

“Não se preocupe. Nós só precisamos resgatar o refém e recuar.”

“...Mm. Então vamos nos apressar.”

Neia assentiu e correu com Shizu. O Vah Un, que definitivamente era um adversário
digno, havia sido derrotado.

Tudo o que restava agora seria resgatar o príncipe e voltar para a despensa.

Parte 3

“...Aqui.”

“Sim.”

Tendo atingido o nível mais alto, Shizu e Neia trocaram olhares. Havia apenas uma
porta aqui. Isso significava que, sem dúvida, estavam em seu objetivo.

Elas acenaram uma para a outra e então chutaram a porta.

Elas há muito abandonaram qualquer pensamento sobre uma entrada secreta. Afinal,
tinham acabado de travar uma grande batalha com o Vah Un. Dito isto, as duas se incli-
naram contra o batente da porta, no caso de alguém atacá-las no instante em que se abria.

Porém, sua cautela foi em vão. As duas entraram no cômodo ao mesmo tempo. Neia
rangeu os dentes contra a dor do ombro e foi para a esquerda, enquanto Shizu foi para a
direita, e as duas cobriram uma a outra.

A primeira coisa que viram foi uma cama grande e com dossel. Talvez seus enfeites de
renda já tivessem sido brancos, mas a idade os enegreceu. O cômodo também continha
uma cômoda simples e móveis de tamanho humano, como um armário e outros. Essas
peças de mobília de estilo nobre estavam velhas e danificadas, pareciam mais mercado-
rias usadas do que móveis antigos.

Um rápido olhar através da sala não revelou demi-humanos.

Shizu levantou o queixo para sinalizar para Neia, que, em resposta, se aproximou silen-
ciosamente do armário antes de abrir as portas. É claro que Neia a abriu ficando fora do
caminho para o caso de alguma coisa acontecer, ao mesmo tempo, Shizu apontava o cano
de sua arma mágica no interior do gabinete.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


289
“...Nada aqui.”

Depois disso, as duas olharam para a cama.

Verificaram que não havia nada por baixo e se aproximaram.

Uma parte estava abaulada.

Neia olhou para Shizu antes de acenar para mostrar que entendia, e então ela levantou
o cobertor.

Havia um majestoso pedaço de carne roxa brilhante ali. Não, seria melhor dizer que era
uma larva enorme. Tinha cerca de 90 centímetros de comprimento e não tinha as mãos,
apenas pés atarracados.

Shizu apontou o cano da arma para ele sem qualquer hesitação, e Neia apressou-se a
chamá-la.

“Espere! Esse é o alvo para o qual fomos enviadas para resgatar, o príncipe dos Zerns!”

“...Isto?”

Foi isso que a emissária Zern disse a Neia. No entanto, ela podia entender as dúvidas de
Shizu, porque Neia estava bastante confusa quando a Zern lhe dera a descrição do prín-
cipe Zern.

Os Zerns eram uma espécie de demi-humanos cuja realeza parecia muito diferente de
outros indivíduos de sua espécie. Além disso, eles também deveriam ser sexualmente
dimórficos.

“Er, pode nos ouvir, Príncipe Zern-sama?”

“—Mm. Fale. Parece que você não é minha comida.”

Ele parecia um adolescente. Neia estava curiosa para saber de onde sua voz estava
vindo e o examinou, e então ela viu uma boca semelhante a boca de vermes se abrindo e
fechando.

“Exato. Nos pediram para te resgatar. Vamos começar tirando o senhor daqui.”

Ele ainda era um príncipe, mesmo com essa aparência, então ela tinha que obedecer às
regras da etiqueta. Além disso, ela precisaria da ajuda de sua raça quando encontrasse o
Rei Feiticeiro. Portanto, deveria fazer-lhe dever um favor agora, em vez de ofendê-lo.

“Foi um pedido de minhas companheiras de ovo? Quem te pediu para fazer isso?”

Capítulo 6 Artilheira e Arqueira


290
“Foi uma Zern chamada Beebeebee. O senhor a conhece?”

“Beebeebee, é isso? Ah, então foi ela? Hm... Mas se eu deixar este lugar, Jaldabaoth...-
sama ficará zangado. Isto colocará o povo Zern e particularmente o Rei em perigo.”

“Embora eu não esteja muito certa sobre os detalhes, parece que o Rei faleceu, então
devemos pelo menos resgatá-lo. É por isso que a Zern fez esse pedido a nós.”

“Quê!?”

Era impossível para um humano como Neia ler as expressões do príncipe Zern, que não
podia ser nada além de uma larva gigantesca. No entanto, ela podia sentir claramente a
profunda tristeza em sua voz.

“Oh, o pai na verdade... eu entendo. Aquele desgraçado do Jaldabaoth... Nesse caso, vo-
cês podem me tirar daqui em segurança?”

“As subalternas de Vossa Alteza nos guiarão, então eu acho que tudo deve ficar bem.”

“Entendo... oh, heróis humanos, que vieram até aqui para me ajudar, eu tenho um pe-
dido vergonhoso a fazer. Podem fingir que me levaram contra minha vontade e que eu
resisti ao resgate?”

Esse pedido foi provavelmente apenas caso alguém os visse.

“Compreendo. Vamos fingir que é assim.”

“Muito obrigado.”

O Príncipe levantou a cabeça. Embora parecesse um verme erguendo a cabeça, prova-


velmente era assim que sua espécie expressava sua gratidão.

Neia envolveu o Príncipe nos lençóis como um bebê — se fosse um bebê, ela teria ficado
com medo dele chorar; ela experimentara isso duas vezes agora — e o segurou.

Ela amarrou firmemente o cobertor ao redor do peito, para que ele não se soltasse,
mesmo quando ela estava se movendo vigorosamente.

O peso no ombro dela fez Neia se machucar. Ela enxugou o suor que cobria sua testa e
usou a magia do colar.

Suas feridas se curaram instantaneamente. Agora ela ficaria bem, mesmo que tivesse
que correr com o Príncipe nas costas.

“O senhor está confortável? Se doer, por favor, me avise imediatamente.”

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


291
“Sim, não sinto desconforto algum... mas você cheira muito bem. Isso me deixa com
fome.”

Ouvir aquelas palavras ditas nos arredores de seu pescoço fez Neia estremecer.

“...O que os Zerns comem?”

Shizu fez uma pergunta que Neia não queria perguntar.

“Os fluidos corporais das criaturas vivas, estejam elas vivas ou moribundas.”

Um arrepio percorreu a espinha de Neia.

“...Eu ficarei zangada se fizer algo estranho para a minha kouhai.”

“Não precisa se preocupar. Eu não estou com fome o suficiente para fazer uma coisa
dessas com as heroínas que vieram me resgatar. Embora eu não tenha tido permissão
para partir nem uma vez desde o dia em que me trouxeram aqui, eles cuidaram de me
alimentar, pelo menos.”

Se ela soubesse exatamente com o que eles o alimentaram, provavelmente teria derru-
bado ele como uma tonelada de tijolos, então Neia rapidamente parou de ouvir. Feliz-
mente, Shizu não perguntou mais nada.

“...Tudo bem, vamos.”

“Certo.”

“Sim, por favor.”

Depois dessa breve permuta, as duas— ou melhor, os três começaram a se mexer. Não
havia tempo a perder com conversa fiada durante uma infiltração clandestina.

Felizmente, eles conseguiram retornar à despensa sem incidentes. Foi quando Shizu
levantou a mão para detê-los.

“...Há pessoas dentro.”

“Conto com você para isso.”

Shizu preparou sua arma mágica e abriu a porta à força.

Então ela parou. Shizu olhou para trás.

“...Não tenho certeza de quem são. Mas são Zerns, muitos.”

Capítulo 6 Artilheira e Arqueira


292
Provavelmente a equipe de resgate. Especificamente, elas eram as Zerns que trouxeram
Neia e Shizu para cá.

Elas provavelmente haviam chegado primeiro porque Neia e Shizu tinham demorado
mais do que o previsto.

Depois de entrarem na despensa, as cinco Zerns que lá estavam se viraram para eles
sincronamente. A visão desses monstros com rostos ilegíveis fazendo a mesma coisa jun-
tos gerou um sentimento dentro de Neia que era algo entre o medo e a repulsa.

Neia desfez os lençóis nas costas e revelou o príncipe Zern.

“Ohhh! É o Príncipe!”

Disse Beebeebee. Neia não teria sido capaz de distingui-las se não falassem. Claro, se
suas vozes não fossem díspares entre si como a do Príncipe, ela sequer poderia ter sido
capaz de dizer que eram as Zern que as ajudaram.

“Oh, minhas companheiras de ovo. Eu soube que meu pai se foi. Eu sei que ele, Jaldaba-
oth, não pretende manter sua palavra. Mas para onde vamos fugir depois de traí-lo? Ele
já conquistou nossas terras e instalou seus demônios de confiança como seus governan-
tes... não estamos escolhendo nossa destruição aos rebelar-nos?”

“Vossa Alteza tem razão em se preocupar. Mas para ele, o povo Zern não é diferente do
gado. Nossa heroína, Boobeebee, chegou atrasada ao seu chamado, e isso foi motivo su-
ficiente para ser julgada e a carne de seu ombro foi arrancada como punição.”

“O quê! A Boobeebee!?”

O estremecimento do Príncipe disse à Neia que tal Zern devia ter algum status.

“Quando tudo estiver terminado, o povo Zern encontrará um lugar sob o governo de
Jaldabaoth? Nós determinamos que a resposta é não. Meu Príncipe, não há tempo, vamos
guardar essas palavras para—”

“—Suas tolas. Podemos deixar essa questão para quando escaparmos? Este é o ponto
de virada. Uma vez que a cruzemos, devemos seguir nosso curso até o fim. Agora é a
única vez que podemos voltar atrás. Diga-me, quando voltarmos à nossa colmeia,
quando voltarmos para nossas colinas, como vocês pretendem viver?”

“Essa... essa terra é vasta. Com certeza haverá um lugar onde poderemos nos esconder.”

“Você acha? Você acha que as espécies seguirão a estrada para a destruição por essa
chance tênue e fugaz? Me dê uma solução mais concreta e mais prática.”

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


293
“Nesse caso, nem todos estão a serviço de Jaldabaoth, poderíamos formar uma resis-
tência...”

“Tolice. Isso só vai convidar o Jaldabaoth a destruí-los. Um enxame de formigas atrai


mais atenção do que uma única formiga.”

Beebeebee ficou em silêncio quando o Príncipe derrubou toda e qualquer proposta. Se-
ria ruim se isso acontecesse. Neia e os demais realizaram essa operação perigosa para
que tivesse essa oportunidade. Se o príncipe dissesse: “Não podemos fazer isso, afinal”,
seus esforços teriam sido desperdiçados.

Foi então que Neia surgiu com algo para acalmar as preocupações do príncipe.

“Ah, nesse caso, por que os Zerns não vão para o Reino Feiticeiro?”

“O Reino Feiticeiro? O que é isso?”

Não foram apenas os Zerns, mas também Shizu que olhou para ela.

“Sim. É o país onde o Momon reside. Ele é o herói que uma vez expulsou Jaldabaoth do
Reino.”

Neia percebeu que os Zerns estavam olhando para ela, mas ela não sabia das implica-
ções desse “olhar”. Como os humanos poderiam entender as expressões de um Zern?

“O que diz é verdade?”

Aquela única sentença foi suficiente para Neia entender o motivo dos Zerns ficarem ca-
lados. Eles duvidaram da verdade das palavras de Neia. Mas isso era apenas esperado.
Quanto mais conhecia o poder de Jaldabaoth, mais difícil era acreditar que alguém pu-
desse derrotá-lo.

“Cada palavra. Eu soube disso através de canais confiáveis. Na verdade— Shizu-san?”

“...Ela está certa. Neia fala a verdade.”

“Além disso—”

Essa foi a parte crucial. Neia se empolgou internamente:

“—Se vocês forem para o Reino Feiticeiro, tenho certeza que eles aceitarão vocês como
refugiados.”

“Sermos refugiados...”

Havia amargura na voz do Príncipe.

Capítulo 6 Artilheira e Arqueira


294
“Mas se o senhor puder fornecer informações sobre o Rei Feiticeiro do Reino Feiticeiro,
tenho certeza de que não serão menosprezados quando chegarem lá.”

“Calma, calma. Por que eles ficariam felizes em ouvir sobre o seu próprio rei?”

“Oh, sim. Então... ah... a localização do Rei Feiticeiro não é acurada...”

“Isso é muito ruim, não? Na pior das hipóteses, ele pode até estar morto, não é verdade?”

“Um momento por favor. Sua Majestade não pode estar morto. Há evidências concretas
e estamos verificando isso agora.”

Neia contou a eles que o Rei Feiticeiro poderia ter caído nas colinas onde os demi-hu-
manos viviam, então ela queria contar com a ajuda deles para procurá-lo. O príncipe fi-
cou em silêncio.

Não vai funcionar?

Neia pensou, mas já que ela já tinha feito seu discurso, ela não podia dizer mais nada.
Agora era com eles.

Além disso, mesmo que eles não pudessem fornecer qualquer assistência direta, eles
deveriam ser capazes de pelo menos fornecer conhecimento, como haviam prometido.

“...Entendo. Se fizermos um favor a eles... mas seremos aceitos como demi-humanos? O


Reino Feiticeiro é uma nação de humanos, não é?”

“Não, não é. O Reino Feiticeiro é uma nação governada por um undead.”

“Undead!?”

Tanto o Príncipe quanto as Zerns em torno dele exclamaram como um.

“Você está nos dizendo para ir a um lugar tão perigoso!?”

Todas as raças tinham um forte ódio pelos undeads. Até mesmo Neia tinha sido assim
antes de entender o Rei Feiticeiro. Ela ficou comovida com a constatação de que as pes-
soas à sua frente foram semelhantes às que ela tinha no passado.

“Um momento por favor. O Reino Feiticeiro pode ser governado por um undead, mas
seu supremo governante é um rei de mente aberta e nobre, e eu pessoalmente testemu-
nhei os humanos coexistindo pacificamente com os demi-humanos dentro do país.”

“Você está realmente chamando os undeads de ótimos, eu não posso acreditar que os
humanos são tão—”

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


295
“—É o bastante. Neia-dono, peço desculpas se minhas subordinadas a ofenderam. Seja
honesta, o Rei Feiticeiro é realmente tão bom quanto você diz que ele é?”

“Sim.”

Neia segurou seu peito enquanto respondia à pergunta do Príncipe.

“...Não podemos ler as expressões dos seres humanos. Mas eu entendo que vindo de
você, alguém que teve coragem para mergulhar atrás das linhas inimigas a fim de efetuar
um resgate tão ousado, essas afirmações possuem grande verdade. Portanto, eu devo
acreditar nele também — não no Rei Feiticeiro que é undead, mas o Rei Feiticeiro em
quem você colocou sua fé. Vamos confiar nosso futuro ao Rei Feiticeiro, então.”

“Ohhhh!” As Zerns gritaram de alegria.

“Parece que chegamos a uma decisão. Nesse caso, rezo para que fuja para o Reino Fei-
ticeiro o mais rápido possível, Meu Príncipe. Infelizmente, há algumas notícias muito
ruins, nos informaram que um dos demônios de confiança de Jaldabaoth chegará em
breve. Eu pensei que teríamos mais alguns dias antes que ele chegasse... mas será ruim
se formos encontrados. Tudo bem, vamos.”

Como espécie, os Zern eram em grande parte compostos de fêmeas, com pouquíssimos
machos. Praticamente só o rei e o príncipe estavam na última categoria. Se os machos de
uma tribo fossem exterminados — embora houvesse casos em que as fêmeas pudessem
mudar de sexo — a tribo seria colocada no caminho da extinção.

Portanto, o Príncipe precisava fugir para um lugar absolutamente seguro — o Reino


Feiticeiro, e foi por isso que eles tiveram a discussão anterior.

“Um demônio de confiança de Jaldabaoth? Ele está vindo?”

Havia uma palavra que as Zerns tinham dito que ela não podia ignorar.

“Mmm. Você não o viu? Ele tem três demônios de confiança ao seu lado e um deles está
vindo para cá.”

“...Precisamos derrotá-lo aqui.”

Ao ouvir as palavras de Shizu, o Príncipe — que havia sido deixado no chão — de re-
pente se debateu.

“Você está louca!? Vocês duas devem ser muito fortes para terem sido capazes de me
resgatar, mas mesmo assim, vocês nunca conseguirão derrotá-lo!”

Capítulo 6 Artilheira e Arqueira


296
O rótulo de “forte” só se aplicava a Shizu, mas Neia não conseguia encontrar uma chance
de se intrometer e, assim, ela não conseguiu esclarecer as coisas.

“...Dizem que ele se teletransporta entre muitas cidades... Ele vindo aqui é uma oportu-
nidade rara. Se deixar isso passar, você não terá outra chance.”

“Isso é verdade...”

“Meu Príncipe!”

“Acalme-se e pense sobre isso. Se pudermos matar um dos auxiliares de Jaldabaoth, sua
cadeia de comando cairá no caos, e será mais difícil para eles nos encontrarem, já que
não estão indo para as colinas, mas para o Reino Feiticeiro... então, é possível derrotá-
lo??”

“...Não sei. Mas esta é a única chance.”

“Então vamos emboscá-lo. Aposto que foi graças às suas forças que mataram aquele
Vah Un!”

Disse o Príncipe. Ele ficou bastante chocado quando viu o cadáver do demi-humano no
caminho de volta:

“Ouçam bem, todas vocês. A partir de agora, vamos ajudar as duas a derrotar o servo de
Jaldabaoth!”

“Sim, senhor!”

“Existem duas humanas e seis de nós. Até recentemente, nós oito éramos inimigos em
comum, mas agora somos companheiros de batalha. Tal como os que aparecem nas sa-
gas heroicas cantadas.”

Eh?

Surpreendida, Neia voltou a verificar o número de Zerns presentes e, depois de ver que
não se enganara, falou apressadamente.

“Espere, por favor espere. O senhor não precisa se envolver nisso, Meu Príncipe. Afinal,
viemos aqui para te proteger!”

Além disso, o que esse príncipe poderia fazer em combate? Por mais gentil que alguém
quisesse interpretar suas intenções, ele ainda era uma larva gigantesca que se rastejava
pelo chão. Honestamente, seria menos problemático se ele simplesmente as seguisse
como um estandarte de batalha.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


297
“Entendo, então para vocês, a missão acabou, já que me ajudaram a escapar. Estou bem
ciente disso. No entanto, com a minha ajuda, deverá ser mais fácil derrotar o lacaio de
Jaldabaoth. Não, eu diria que sem mim, será muito difícil para vocês derrotá-lo, mesmo
que sejam as heroínas que derrotaram um Vah Un.”

Shizu derrotou o Vah Un sozinha. Neia não teve nada a ver com isso. Mesmo assim, o
Príncipe ainda considerava ambas como heroínas, o que a deixava muito constrangida.

“Então, o senhor quer dizer que podemos fazer isso se conseguirmos a ajuda de todos
os Zerns?”

O Príncipe fez um barulho estranho.

“Não, não, grandes heroínas. Ainda não entenderam. Eu posso conjurar magias espiri-
tuais de quarto nível.”

“Quarto nível!?”

Neia ficou surpresa. O 4º nível de magia era um reino que apenas os gênios mal conse-
guiam alcançar após muitos anos de muito trabalho e esforço. No Reino Sacro, as únicas
pessoas que poderiam lançar tais magias eram a suma sacerdotisa Kelart Custodio e a
Rainha Sagrada Calca Bessarez.

Neia olhou para o lado, pensando que Shizu ficaria tão surpresa quanto ela, mas o rosto
de Shizu estava vazio como sempre.

Uma empregada demônio com dificuldade cento e cinquenta, como esperado dela — tais
coisas nem sequer a perturbam...

“A... ah... todos os Zerns são tão poderosos quanto o senhor?”

O príncipe fez outro som estranho e se debateu como um peixe capturado.

“Eu sou especial.”

“Precisamente. É por isso que ele é o Príncipe.”

Depois de ouvir a voz orgulhosa da Zern, Neia refletiu:

Faz sentido...

Pois relembrou o conteúdo das aulas que ela havia tomado uma vez.

É isso então. As realezas de algumas espécies são muito mais poderosas do que os plebeus,
ao ponto de algumas parecerem ser de uma espécie completamente diferente...

Capítulo 6 Artilheira e Arqueira


298
“Dito isso, eu tenho uma fraqueza... ou seja, sou muito lento.”

Bem, isso é verdade.

Neia pensou. Isso era óbvio de relance.

“Se alguém se aproximar de mim, eu serei morto sem a chance de revidar. Então, posso
te incomodar para que me carregue? Eu posso lançar magias quando necessário.”

“Entendo. Compreendo o que o senhor deseja fazer. Mas não seria melhor que uma das
Zerns — isto é, suas guardas reais — levasse o senhor em nosso lugar?”

“Ao contrário do nosso Príncipe, nos especializamos em combate corpo a corpo. Vocês
lutam a distância, estou certa?”

“Sim, isso mesmo... hm. Seria melhor se Shizu-san ou eu o carregasse... enfim, vamos
deixar isso de lado por enquanto. Seria ruim se arrastássemos o Príncipe para isso e ele
acabasse morrendo.”

“...Neia. Há um significado especial para carregar o Príncipe... É por isso que ele sugeriu
ir conosco.”

“Fufufu. De fato, existe. Quero dizer, sabe alguma coisa sobre ele? Falo daquele demônio
igual a árvore-murcha que se enfeita com cabeças?”

“...Existem vários demônios como esse. Silk Hats, Crowns, Circlets e Corollas.”

Shizu contou os quatro tipos em seus dedos.

“...Eu acredito que o lacaio demônio deve ser um deles. Mas... se encontrarmos um Silk
Hat, devemos fugir. Mesmo eu não poderia ganhar contra um.”

“Então você sabia?”

Neia ficou surpresa e, em seguida, esse sentimento foi substituído pela raiva. Quando
elas se prepararam para a missão, Shizu disse que ela não sabia muito sobre os lacaios
demônios.

Ela mentiu para eles?

Isso porque, se ela estivesse tentando manter informações sobre o exército de Jaldaba-
oth do Reino Sacro, isso significaria que Shizu nunca esteve sob o controle do Rei Feiti-
ceiro desde o início. Também significa que a existência de Shizu não provava nada sobre
a segurança do Rei Feiticeiro.

“...Eu confiei em você! E no fim, você estava mentindo pra mim desde o começo!”

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


299
Apanhada em suas emoções, Neia agarrou Shizu pelos ombros. Ela usou muita força,
mas a empregada demônio não parecia ferida. Não foi porque Shizu não tinha emoções,
mas porque essa quantidade de força não era nada para ela.

O arrependimento e ressentimento insuportáveis fizeram Neia querer chorar. Ela tinha


pensado que tinha forjado um vínculo com Shizu, mas no final ela acabou sendo nada
mais do que uma piada. Neia não pôde deixar de zombar de si mesma.

O rosto de Shizu estava tão vazio quanto antes. Ainda assim, houve uma mudança sutil
que só Neia podia ler.

Aflição, contemplação ou talvez— remorso.

“...Eu sinto muito.”

Shizu espremeu essas palavras entre seus lábios depois de um longo silêncio. Dificil-
mente se qualificava como um pedido de desculpas — na verdade, serviu apenas para
alimentar as chamas de sua raiva. Mas agora, Shizu parecia estranhamente impotente, e
vê-la assim ajudou Neia a recuperar um pouco de sua compostura.

Cuidadosamente, como se estivesse fazendo algo que nunca havia tentado antes, Shizu
continuou em silêncio.

“...Se soubesse o quão forte esse lacaio demônio é, você e os outros poderiam ter tido
medo e não realizado a operação. Mas para o bem da vitória do Ainz-sama... nós devemos
vencer esta luta. Foi por isso que eu menti.”

Cada palavra que ela disse tinha sido cuidadosamente considerada antes de ser colo-
cada em uma declaração sincera e aflita. Mas essas palavras também continham uma fé
genuína e inabalável.

Neia não sabia como ver através de mentiras. Sem mencionar que ela era um demô-
nio— não, mesmo que ela não fosse um demônio, Neia não seria capaz de dizer se uma
garota de rosto inexpressivo como ela estava falando a verdade.

No entanto, mesmo que ela estivesse se alimentando de informações para Jaldabaoth


como uma espiã, ou tentando derrubar o Reino Sacro de dentro, as ações de Shizu até
agora não correspondiam a essas motivações. Ela deveria ter agido de forma mais sen-
sata.

E mais do que qualquer outra coisa, Neia queria acreditar em Shizu. Parte disso era
porque sua existência era uma prova da sobrevivência do Rei Feiticeiro, mas também
porque a conexão misteriosa que ela compartilhava com Shizu se tornou insubstituível.

Capítulo 6 Artilheira e Arqueira


300
“...Tudo bem. Eu acredito em você. Mas não faça pouco caso de mim, é só o que peço. Eu
ficaria feliz em enfrentar qualquer perigo ou medo se for para o bem de Sua Majestade.”

Shizu pareceu visivelmente aliviada. Como esperado, não seria o caso dela ser uma es-
piã. Quando considerou isso, ficou evidente que ela não era adequada para essas coisas.
Enquanto pensava nisso, um sorriso natural e espontâneo voltou ao rosto de Neia.

“Tudo bem, tudo bem, podemos voltar ao tópico anterior? Se você sabe muito sobre
eles, pode nos contar sobre as habilidades desse demônio?”

“Todos esses demônios possuem as mesmas habilidades, mas não são muito fortes em
suas formas básicas. Mas, o problema surge quando esses demônios são capazes de ob-
ter cabeças de criaturas inteligentes... particularmente se conseguirem de magic casters.”

De acordo com Shizu, demônios desse tipo poderiam equipar-se com as cabeças de ma-
gic casters e usar os poderes dos donos das cabeças. Os Silk Hats podiam usar quatro
cabeças de uma só vez, os Crowns podiam usar três, os Circlets podiam usar duas, e os
Corollas podiam usar uma. O seu nível de ameaça aumentava exponencialmente se con-
seguissem obter as cabeças de magic casters excepcionais.

“Não importa quão boa seja a cabeça que um Corolla use, ele só pode lançar magias de
até o terceiro nível. Silk Hats, por outro lado, pode lançar magias de até o décimo—”

“Espere!”

“Um momento!”

Tanto o Príncipe quanto Neia interromperam Shizu.

Neia e o príncipe trocaram olhares. Mesmo Neia não conseguindo ler o rosto do prín-
cipe, Neia tinha certeza de que ele estava pensando a mesma coisa que ela.

“...Diga primeiro.”

“Umu... er, você disse décimo nível? O quinto nível não é o mais alto nível de magia?”

Foi como o príncipe disse. Neia ouvira dizer que esse era o limite da magia. A razão pela
qual ela sentiu que o Rei Feiticeiro poderia usar magias do 6º nível também se originou
disso.

Em resposta à pergunta do Príncipe, Shizu balançou a cabeça como se dissesse: “Haa, o


que vou fazer com você?”

“...O décimo nível é o mais alto nível de magia. A magia que Jaldabaoth usou para chamar
meteoros do céu também pertence a esse nível.”

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


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“Como, como podemos vencer— Quê? Eh? Isso só pode ser brincadeira! Não me diga,
Sua Majestade, que desafiou Jaldabaoth...”

Quando a verdade chocante atingiu Neia, o príncipe também estava estremecendo de


choque.

“O décimo nível? Não. Não pode ser verdade, né? O décimo nível... Poderia ser verdade...
E pensar que eu estava tão orgulhoso de mim e do meu quarto nível...”

Não, o 4º nível já era muito poderoso. A arrogância seria justificada ao usar tal nível.
Havia poucos e preciosos magic casters capazes de atingir esse nível.

“Shizu... eu gostaria de checar algo, mas... Sua Majestade pode usar magias do décimo
nível... também?”

“...Mas é claro.”

“Por que fez essa pergunta idiota?” O tom de Shizu parecia implicar. Ela parecia estar
revirando os olhos. Pode ser a primeira vez que Neia havia discernido tão claramente os
sentimentos de Shizu.

O Príncipe, que era um magic caster, estava se contorcendo com o baita choque.

“Hah? Hah? Então o rei da terra para a qual estamos fugindo — o Rei Feiticeiro — é um
ser undead tão poderoso assim? O domínio do décimo nível significa que, ele é no mí-
nimo duas vezes mais poderoso que eu?”

“...Haaa.”

—Shizu suspirou profundamente:

“Sua Majestade.”

“Eh?”

“...Chame-o de Sua Majestade.”

“Ah sim, sim. Sua Majestade é verdadeiramente poderoso...”

Quando se pensava calmamente sobre isso, Shizu tinha sido bastante rude com o Prín-
cipe de toda uma tribo, mas como Shizu estava falando sobre fatos, Neia admitiu tacita-
mente suas ações enquanto expressava sua concordância.

“De fato, Príncipe-sama. Sua Majestade é incrivelmente poderoso!”

“Ah, sim.”

Capítulo 6 Artilheira e Arqueira


302
“...Príncipe. Se pudesse localizar alguém tão poderoso, ele estaria em dívida com o se-
nhor!”

“Você está absolutamente certa! Então reconsideraremos sua proposta anterior — para
procurar por Sua Majestade nas colinas —, daremos nosso total apoio!”

Neia cerrou os punhos em entusiasmo.

“Muito obrigada, Príncipe-sama. —Então, Shizu, você poderia continuar o que estava
dizendo?”

“...Sobre o quão poderoso o Ainz-sama é?”

“Estávamos falando sobre aquele lacaio do Jaldabaoth. Ah, eu também gostaria de ouvir
sobre o Rei Feiticeiro — você poderia me contar mais depois que voltarmos em segu-
rança?”

“...Hm. Demônios de múltiplas cabeças com múltiplas cabeças equipadas podem usá-las
ao mesmo tempo e conjurar múltiplas magias de uma vez, mas existem várias condições.
Primeiro, cada cabeça só pode usar duas magias ao mesmo tempo. Além disso, há um
limite em quantos níveis de magias podem ser conjuradas de uma só vez. Por exemplo,
os Silk Hats podem conjurar um número máximo de quinze níveis de magias ao mesmo
tempo—”

“—Quinze níveis! As magias atingem no máximo quinze níveis!?”

“...Elas não vão tão alto. Os níveis das magias somados que podem chegar ao máximo de
quinze.”

O príncipe se contorceu de alívio diante da resposta de Shizu.

O fato de que Neia pudesse supor um pouco de como o Príncipe se sentiu através de
suas ações começou a assustá-la.

“...Continuando. O importante é quantas cabeças esse demônio pode equipar de uma só


vez.”

“Duas. Uma é uma cabeça demi-humana e a outra é a cabeça de um humano como vocês.”

Neia tinha um mau pressentimento sobre isso. Jaldabaoth estava segurando um corpo
humano quando apareceu. Sua metade superior não estava faltando?

“Como era essa cabeça humana, Príncipe-sama?”

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


303
“Infelizmente, não posso distinguir indivíduos de outras espécies que não a minha. Ah,
eu sei sobre a outra cabeça. Pertencia à rainha das espécies demi-humanas chamadas de
Pandexs. O nome dela é Grand Mother.”

Neia queria perguntar mais sobre os Pandexs e a Grand Mother, mas havia coisas mais
urgentes que ela precisava saber.

“Eu gostaria de perguntar sobre a humana. Que cor era o cabelo dela?”

“Pelo cabelo você quer dizer o pêlo na cabeça? Era um preto-claro.”

“Preto? Então não pertence a alguém do Reino Sacro?”

O coração de Neia estava de alguma forma aliviado. Por um momento, ela se perguntou
se a cabeça pertencia à Rainha. Agora que seu palpite se provara errado, ela sentiu uma
profunda sensação de alívio. Ao mesmo tempo, Neia observou que isso pode ser uma
sugestão para outro enigma.

Ela ouvira dizer que os humanos das regiões do sul geralmente tinham cabelos negros.

Então é isso...

Neia pensou.

Será que o Jaldabaoth veio de lá?

Ela se perguntou.

Para o Reino Sacro, as regiões do sul não eram uma terra governada por humanos. Me-
nos da metade da população era humana, e muitos deles tinham o sangue de outras es-
pécies, e esse número estava aumentando constantemente. De acordo com o que Neia
sabia, apenas o Reino Sacro, o Império e o Reino que eram governados pela realeza hu-
mana. A Aliança Cidade-Estado e a Teocracia não tinham famílias reais.

Então foi por isso que nenhuma notícia sobre Jaldabaoth chegou a esses países domi-
nados por humanos.

“...A propósito, demônios de múltiplas cabeças não podem usar as habilidades de cabe-
ças que não pertencem a magic casters. Eles não ganham as habilidades de guerreiros
equipando a cabeça de um guerreiro. Isso é porque existem outros demônios com essas
habilidades.”

“Nesse caso, a cabeça da demi-humana... Príncipe-sama. O senhor pode nos contar um


pouco sobre essa Grand Mother?”

Capítulo 6 Artilheira e Arqueira


304
“Claro. É por isso que quero batalhar junto de vocês. Os Pandexs são uma espécie que
se alimenta de musgo e se parecem conosco.”

Em outras palavras, se pareciam com larvas.

Neia sentiu uma pontada de repulsa ao pensar em um demônio que se enfeitava com a
cabeça de verme.

“...Grand Mother também é uma magic caster espiritual?”

“De fato. Eu uso o princípio Yin dos Cinco Elementos, mas a Grand Mother é o oposto;
ela usa o princípio Yang dos Cinco Elementos. Yin e Yang são dois extremos, e as magias
de um podem resistir ou dificultar as magias do outro.”

“...Entendi.”

Shizu assentiu:

“Permitir que ele venha conosco melhorará nossas chances.”

“Mm. Estou feliz que entenda. Pessoalmente, estou muito infeliz que um demônio esteja
usando a cabeça da Grand Mother. De fato. Afinal de contas, ela foi meu primeiro amor.”

“Meu Príncipe!”

“O que o senhor está dizendo! Como o senhor poderia se apaixonar por uma fêmea de
outra espécie?”

“Ahhh! Isso foi uma paixonite infantil! É diferente agora!”

Embora parecesse um tema meloso, tudo que ela sentia sobre o primeiro amor de uma
larva foi a total repugnância.

“Nesse caso, supondo que nosso inimigo seja um Circlet capaz de equipar duas cabeças
de uma só vez, quantas séries de magias totais podem ser lançadas de uma só vez?”

“...Um máximo de seis níveis. A propósito, os Crowns podem conjurar no máximo dez
níveis.”

“Então, se eu usar magias de quarto nível, ela só poderá conjurar magias de segundo
nível. Claro, isso é simplesmente uma suposição, então ainda precisa ter cuidado...”

“E a tal cabeça humana. Ainda sabemos pouco sobre isso. Neia?”

“Eu sinto Muito. Mas não conheço essa pessoa de cabelos negros. Ainda assim, estou
bastante surpresa. Pois pensei que iria direto para a luta, já que você é a Shizu.”

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


305
“...Ainz-sama disse que coletar informações é muito importante.”

“Ah, como esperado de Sua Majestade. Que excelente aviso!”

Quando Neia disse isso, Shizu estendeu a mão para ela, e Neia imediatamente agarrou
e sacudiu.

“...Boa menina. Se fosse mais bonita, eu colocaria um adesivo em você. Talvez um casaco
de pele.”

“...Um adesivo? Ah, você já colocou um em mim, então eu não preciso de outro. Por favor,
cole em outra pessoa que você goste.”

“...Mm. Você é a primeira pessoa a não gostar dos meus adesivos.”

“Eh!?”

Neia exclamou surpresa quando Shizu disse que ela foi a primeira. Depois disso, ela
imediatamente percebeu que talvez Shizu — como um demônio — não tivesse tido mui-
tos contatos com humanos. Não, era possível que outros a tivessem a desprezado em
seus corações, mas não ousassem demonstrar, devido ao medo que ela impõe por ser
um demônio. Ela queria dar uma indireta, mas Neia não podia fazer nada como estragar
a diversão de alguém que era leal ao mesmo Ser Supremo que ela. Assim, Neia simples-
mente deixou passar com um sorriso sem graça.

“...De fato, os humanos não têm pêlo, muito parecido com nós, os Zerns. É por isso que
eles moram em casas como essas. Por que não cavar buracos como nós fazemos?”

“Príncipe, estamos nos afastando do assunto. Nós não temos muito tempo — precisa-
mos lidar com isso antes que os humanos ataquem esta cidade.”

“...Mm. Em conclusão, o príncipe também irá.”

Ninguém falou contra isso. Ou melhor, Neia foi a única a expressar sua oposição a isso.

“Com relação às nossas táticas, vamos lidar com a linha de frente, mas o que devemos
fazer se houver guardas que nos bloqueiam? Permitir que um conjurador se movimente
livremente é muito perigoso.”

“...Vou me envolver em combates próximos.”

Ninguém questionou se ela poderia fazer isso. Afinal, ela foi metade da equipe capaz de
derrotar o guardião Vah Un — embora, de fato, Shizu tenha feito praticamente tudo. En-
tão ninguém duvidava das habilidades de Shizu.

Capítulo 6 Artilheira e Arqueira


306
“Tudo certo. Então nós vamos nos mover. Antes de aproximar-se do lacaio, nos coloque
nos barris e nos leve para dentro. Se você disser que está levando comida para o demô-
nio sob as ordens dele, poderemos nos aproximar dele.”

Por “nós”, o príncipe estava se referindo a si mesmo, Neia e Shizu. Enquanto os três
permanecessem despercebidos, eles poderiam continuar mantendo sua farsa — a trai-
ção dos Zerns não havia sido detectada. Essa era uma tática que só poderia ser aplicada
agora.

Mais uma vez, Shizu e Neia se esconderam dentro dos barris que usaram para entrar na
cidade.

“Shizu-san. Nós somos realmente sortudas.”

Shizu colocou a cabeça para fora do barril.

“...Por quê?”

“Veja bem. Tudo está indo bem para nós. Graças à traição dos Zern, conseguimos salvar
o príncipe, e até o lacaio do Jaldabaoth está aqui. Se o derrotarmos, teremos conseguido
uma grande conquista. Dessa forma, ninguém mais poderá falar mal de nós. Também
poderemos montar facilmente uma equipe de resgate para encontrar Sua Majestade.”

“Foi tudo coincidência.”

Neia foi derrotada pelo tom um tanto severo de Shizu.

“Eh? Ah, i-isso é errado? Tivemos sorte porque foi uma coincidência... bem, tivemos su-
cesso porque Sua Majestade fez de você propriedade dele, então acho que nesse sentido,
não é realmente uma coincidência.”

“Propriedade... do Ainz-sama.”

“Ah, talvez propriedade não seja a palavra certa, huh?”

“...Eu não me importo. Neia.”

“Eh?”

“...Eu gosto muito de você. Você não é fofa, mas não me importo de lhe dar outro adesivo.”

Doía um pouco ser chamada de “não é fofa” de novo e de novo, e enquanto pensava isso,
Neia disse:

“Esqueça isso...”

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


307
E se abaixou em seu barril.

Parte 4

As Zerns foram paradas por outros demi-humanos várias vezes enquanto moviam Neia,
Shizu e o príncipe em seus barris, mas nenhum dos barris foi aberto e revistado. Dessa
maneira, os três chegaram na área do escritório do lacaio demônio.

Neia e os outros emergiram dos barris.

Elas haviam espiado do lado de fora de dentro dos barris, mas a segurança não havia
ficado mais incisiva. Parece que o resgate do Príncipe ainda não havia sido exposto.

Neia pendurou o príncipe nas costas e, enquanto o segurava com uma corda, uma das
Zerns foi em frente para procurar uma audiência com o lacaio demônio. Como uma
forma de fazer reconhecimento.

Quando todos terminaram os preparativos para entrar, a Zern retornou.

“Ele está sozinho, sem guardas.”

Neia franziu a testa.

Agora que Jaldabaoth estava tão ferido, então ele — como um dos únicos três demônios
— não fortaleceria suas defesas? Ou ele relaxou agora que o Rei Feiticeiro estava morto?

Enquanto todos os tipos de perguntas giravam em sua cabeça, a única coisa que impor-
tava era o resumo do Príncipe.

“Isso significa que é a oportunidade perfeita para matá-lo. Vamos lá.”

De acordo com as palavras do príncipe, todos eles entraram em ação.

Uma das Zerns abriu a porta, e Neia — que estava na frente do grupo — podia ver cla-
ramente o que estava dentro da sala.

O amplo escritório tinha um teto de cinco metros de altura e era muito espaçoso. Devido
aos seus muitos móveis de qualidade superior, deu a impressão de uma suíte de luxo
estereotipada.

Havia uma mesa preta e sólida, e atrás dela um monstro horrível, que falava:

“Humanos? Zer...”

Capítulo 6 Artilheira e Arqueira


308
Parecia estar dizendo alguma coisa. No entanto, não estavam aqui para conversar.

O Príncipe imediatamente lançou uma magia das costas de Neia.

“「 Yin • Cinco Elementos: GouKakyuu」.”

Uma fraca e bruxuleante chama passou por Neia como se tivesse sido jogada na sala.
Ela tinha ouvido falar ao longo do caminho que era uma magia de ataque de 4º nível que
foi nomeada pelo seu poder de ataque. Tipicamente, a sequência lógica de eventos ao se
lançar uma magia em ambiente fechado seria explodir ao fazer contato com qualquer
coisa. Contudo—

“「 Yang • Cinco Elementos: GouKakyuu」.”

A chama desapareceu no meio do caminho, como se tivesse sido apagada pelo vento.

“Eu sabia...”

O Príncipe murmurou com ódio.

Ele não lançou mais nenhuma magia. Essa magia tinha sido um experimento. Ele plane-
java pressionar o ataque caso não tivesse sido negado, mas infelizmente não foi possível.
Como não pretendia desperdiçar mana, ele esperaria para conjurar magias de acordo
com os ataques da oposição.

“...É o Príncipe Zern nas costas da humana? Não parece que os humanos o capturaram
e o trouxeram aqui... Kuhahaha. É traição, então? Interessante.”

O grande demônio parecia ter vindo de um pesadelo quando lentamente se levantou,


como se em zombaria aos humanos.

Estava completamente nu, de modo que seus braços — que chegavam até os joelhos —
e suas pernas e corpo de pele e ossos estavam completamente expostos.

Seu corpo parecia madeira murcha, tão esguio e frágil que até Neia sentiu que poderia
quebrá-lo.

Aquele corpo de madeira murcha não tinha cabeça. Não havia nada além de uma linha
reta que se estendia de ombro a ombro. Ou melhor, havia uma rama esguia — mais fina
que o pulso de uma mulher — projetando-se da região do pescoço. Havia duas frutas
nela. Aquelas devem ser as cabeças deste grande demônio.

“EH? —AH.”

Neia não pôde deixar de gritar. Tamanho foi seu choque, que este foi o único som que
pôde fazer a princípio.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


309
Como Shizu havia dito, essa era a característica especial dos Circlets — duas cabeças.

Uma delas pertencia a uma larva de aparência monstruosa. Parecia muito com o Prín-
cipe e, dada a impressão do que ouvira, provavelmente era a Grand Mother. O problema
estava na outra cabeça.

Pertencia a uma mulher, com os olhos arregalados na cabeça e a boca escancarada como
um peixe. Sua pele parecia horrivelmente pálida, mas a cabeça não parecia apodrecida
ou danificada, e seu cabelo cintilava com um brilho dourado. Ela podia ver carne verme-
lha brilhante na parte onde a cabeça havia sido separada do corpo, e parecia úmida o
suficiente para sangrar. Embora o fato de a cabeça parecer ter sido recém-removida
fosse bastante misterioso, era assim que ela podia dizer imediatamente a quem perten-
cia.

“Kelart Custodio-sama...”

Mesmo só olhando de longe, não havia como ela ter confundido com outra pessoa. Ela
era a suma sacerdotisa mais forte do Reino Sacro.

Confusão e dúvida dançavam dentro de Neia.

O que estava acontecendo? O Zern havia mentido? Eles achavam que Neia e Shizu con-
siderariam fugir se soubessem que era Kelart?

“Claro. Claro. Mas é claro. Zerns, isso significa que vocês não se importam mais com o
que acontece com o seu rei e o povo daquela terra? Eu lhes darei uma última chance. Se
apossarem dessas pessoas, eu farei vista grossa para isso, e aplicarei uma leve punição.
Que tal?”

As duas cabeças — que pareciam frutas bizarras — não se mexeram. Nem aqueles glo-
bos oculares opacos. Pareciam apenas decorações. Nesse caso, de onde veio essa voz?

O Príncipe não deu atenção ao murmúrio de Neia e criticou o grande demônio.

Suas subalternas Zerns imediatamente se posicionaram para atacar a qualquer mo-


mento.

“Hmph! O que mais há a dizer neste momento? Quem acreditaria em você depois que
mataram o rei!?”

“O rei? É mesmo...”

Neia ouviu o que parecia ser surpresa naquela voz. Ler isso foi difícil porque esse de-
mônio não tinha uma cabeça própria e sua expressão não mudou. Isso dificultou ver se

Capítulo 6 Artilheira e Arqueira


310
o ataque de alguém foi efetivo pela reação do inimigo. A esse respeito, os Zerns também
eram adversários problemáticos para os humanos.

“Meu dever é governar este lugar. Esse assunto estava fora da minha jurisdição... Mas
então, ele foi morto? Deve ter acontecido porque o seu rei foi um tolo.”

“Quê!?”

“Ora. Ora. Ora. Caros traidores, não me digam que vieram apenas para falar? Vocês vie-
ram aqui porque pensam que podem me derrotar, não? Nesse caso — qual é o seu
trunfo? Essa humana?”

Um dedo se levantou, com uma garra que deveria ter mais de 60 centímetros de com-
primento. Apontou para Neia.

“Não direi a você!”

O grande demônio respondeu calmamente à fúria do Príncipe:


[Demônios S o m b r a ]
“Mas não precisa. Shadow Demons.”

A sombra do grande demônio se estendeu em um movimento deslizante.

Ela inchou, indo de um plano bidimensional para um plano para tridimensional. Parecia
a imagem comumente falada de um demônio, mas era completamente preto. E havia dois
deles.

Por isso, provavelmente, não havia guardas militares ao seu lado.

“Matem todos os Zerns que não seja o Príncipe. Eu mesmo o capturarei... Ouça humana,
se você os trair, eu posso poupar as pessoas nos campos que são valiosas para você, até
o número de dedos nas duas mãos.”

O grande demônio fez a mesma proposta que Shizu esperava.

Quando Neia se encheu de respeito pela perspicaz percepção de Shizu, ela decidiu res-
ponder a fim de torná-lo descuidado.

“Promete?”

Ao responder com cuidado, ela pôde ouvir a alegria na voz do demônio.

“O que está dizendo!? Vai nos trair!?”

O Príncipe gritou das costas de Neia, e então a atenção do grande demônio ficou com-
pletamente focada em Neia.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


311
“Cale-se. Faça silêncio. Estou falando com ela... Eu sou um ser de palavra. Diga-me quan-
tas pessoas quer proteger e ajudar. Se os dedos das duas mãos não forem suficientes,
podemos continuar as negociações—”

O demônio indefeso parecia ter esquecido o significado da precaução, e estava cheio de


aberturas.

Seu trunfo escondido (Shizu) não deixou de perceber isso. Ela saltou da sombra da
porta e levantou sua arma mágica.

Uma rajada foi disparada, e o grande demônio agarrou seu ombro e tropeçou para trás.

Shizu estava esperando sozinha do lado de fora da sala pelo tempo certo para lançar
este ataque surpresa, e isso sinalizou o início das hostilidades.

As negociações que tinham a intenção de manipular seu oponente em negligência aca-


baram. As guardas de honra do príncipe Zern saltaram em direção aos Shadow Demons.
Shizu correu para a sala com uma velocidade assustadora, passou pela frente dos dois
lados com movimentos rápidos dos pés e se aproximou do grande demônio.

“O quê! O Rei Fei—”

Capítulo 6 Artilheira e Arqueira


312
“...Não precisa explicar.”

Shizu cortou com sua adaga, e o grande demônio aparou com suas garras.

Enquanto ela sabia que havia pouco tempo para tais coisas uma vez que a batalha co-
meçasse, Neia desabafou sua infelicidade no Príncipe atrás dela.

“O que quis dizer com cabelo preto!? Não é loiro!?

“Loiro? Aonde que aquilo é loiro!? É preto claro, não é?”

“Eh?”

Ele não parecia estar mentindo. Poderia ser que— Zerns percebem as cores de forma
diferente dos seres humanos?

Neia ouvira uma vez que certas espécies, com visão completa no escuro, não distin-
guiam as cores, apenas preto e branco. Havia também alguns que não conseguiam dis-
cernir cores em lugares escuros.

A luz na despensa era provavelmente para que as espécies pudessem ver a cor da co-
mida.

“Depois falaremos disso! 「Yin • Elemento Madeira: KaminariTsume」!”

“Tch! 「Yang • Cinco Elementos: KaminariTsume」!”

Um golpe de eletricidade percorreu o ar como as garras de uma fera, mas se dissipou


na metade do caminho.

Havia magias como 「Cinco Elementos: Kin Yawara」 que diminuíam a força defensiva
e magias como 「Cinco Elementos: Kin Tsuyoshi」 que aumentavam o poder de ataque,
assim como a magia elétrica 「Cinco Elementos: Kaminari Sourou Shourai」, a oposição
poderia não invalidar esses, mas em vez disso, lançou uma magia de alto nível sobre Neia
e os outros.

Para evitar isso, o Príncipe simplesmente lançava magias de ataque, que o inimigo não
podia ignorar. Além disso, ele se concentrou no uso de magias elementais de eletricidade,
que o inimigo não deveria ser capaz de resistir, e então modificou o elemento da magia
para o elemento madeira. O elementalismo do demônio provavelmente seria capaz de
protege-lo, mas a magia aprimorada do Príncipe não poderia ser totalmente anulada, e
assim a oposição começou a sofrer pequenos danos.

A Grand Mother original poderia ter usado técnicas de fortalecimento como o Príncipe,
mas agora ela não era mais que um acessório para o grande demônio. O demônio não
possuía técnicas próprias de fortalecimento e a magia do Príncipe o dominou.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


313
Já que Shizu estava assumindo o papel de vanguarda, Neia precisava fazer seu trabalho
como a retaguarda. Ela não poderia simplesmente servir de transporte para o Príncipe
diante de um inimigo tão poderoso. Ela soltou uma flecha do Ultimate Shooting-Star Su-
per que segurava.

Seu tiro contra o corpo principal foi altamente preciso, mas o grande demônio facil-
mente o rebateu com a mão.

“Fora do meu caminho. 「Shockwave」.”

O rosto de Kelart — seus lábios se moveram e ela lançou uma magia de ataque de 2º
nível em Shizu. Mesmo o corpo de Shizu saltado do chão com impacto invisível ao olho
humano, ela não parecia ter sofrido qualquer dano que poderia ter dificultado seus mo-
vimentos. Neia não esperava nada menos de uma empregada demônio com dificuldade
150.

“「Yin • Elemento Madeira: KaminariTsume」!”

“「Yang • Cinco Elementos: KaminariTsume」!”

Eles lançaram as mesmas magias um para o outro novamente, e uma fraca corrente de
eletricidade passou pelo corpo do demônio.

“「Open Wounds」!”

Aquele contra-ataque pioraria o estado de qualquer ferida. Naturalmente, Shizu foi o


alvo, que estava sendo atacada pelas garras do demônio.

Tudo o que ela podia ver foram as costas de Shizu. No entanto, sua destreza não parece
ter diminuído.

O suor escorria pelas costas de Neia.

Neia era a única entre seus aliados que podia se curar. Portanto, ela naturalmente se
tornou a curandeira do time. Entretanto, ela podia dizer o quanto ela estava ferida, mas
ela não tinha a experiência de combate para dizer se as feridas eram severas. Em parti-
cular, pessoas inexpressivas como Shizu podem exceder seus limites e entrar em colapso
antes de perceber que algo estava errado. Assim sendo, Neia teve que prestar muita
atenção ao que Shizu e o Príncipe estavam fazendo. Era como fazer uma coisa com a mão
direita enquanto fazia outra com a esquerda, e ela estava tão ocupada que começou a
ficar confusa.

Independentemente do esforço, ela precisa continuar fazendo.

Capítulo 6 Artilheira e Arqueira


314
O príncipe continuava lançando magias de ataque, enquanto Shizu levava um pequeno
dano enquanto ela lutava com o demônio com sua faca. Ambos estavam realizando suas
tarefas com perfeição, e ela não podia simplesmente desistir e dizer que ela era a única
que não podia fazer sua parte.

“「Heavy Recover」.”

Neia julgou que Shizu tinha sido gravemente ferida, então ela ativou o item que o Rei
Feiticeiro havia emprestado a ela e lançou uma magia de cura de 3º nível em Shizu.

“Entendo!”

Os instintos de Neia disseram a ela que a atenção do demônio sem rosto estava nela.

As palavras do grande demônio implicavam que ele conhecia a identidade da curan-


deira do time — que deveria ser destruída primeiro. Na verdade, o grande demônio
ainda tinha força suficiente para lançar uma magia de ataque em Neia depois de invali-
dar a magia do príncipe.

“「Shockwave」.”

Um pulso invisível de força a atingiu como um martelo de guerra.

Ela podia ouvir rachaduras repugnantes de dentro de seu corpo, e ela se contorcia em
agonia da dor que corria através dela.

Doeu mais do que a magia que o Vah Un usara nela. Ela não podia acreditar que Shizu
tivesse sofrido um ataque como aquele com uma cara tão séria. Agora ela sabia a razão
pela qual Kelart Custodio fora saudada como um gênio. Foi por causa desse poderoso
golpe.

“Aíííí!”

Neia rangeu os dentes, mas não conseguiu evitar que um grito abafado de dor lhe esca-
passe.

“Como está!?”

“Eu estou bem!”

Neia respondeu ao Príncipe, que estava preocupado com ela.

“Chamarei as Zens—”

“—Não. Eu protegerei a Neia.”

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


315
Shizu abriu os braços, levantando-se como se estivesse protegendo Neia.

O imenso corpo do grande demônio fez Shizu parecer minúscula. Portanto, ele seria
capaz de ver Neia sem qualquer impedimento. Ainda assim, Neia estava muito feliz por
dentro.

“O QUÊ!? AHHHH!”

O demônio gritou com uma voz rouca. Parece que Shizu fez algo com ele que teve algum
efeito.

Ela usou uma habilidade especial? Ou foi uma magia?

Ela não tinha certeza do que exatamente havia acontecido, mas Neia sentiu a hostili-
dade do grande demônio enfraquecendo. Claro, ela provavelmente estava imaginando
coisas. Afinal, não havia razão para que esse grande demônio quisesse matá-la menos
agora.

Se houvesse outro ataque como o último, outra magia tão poderosa quanto a última, ela
deveria ser capaz de aguentar. Não, ela precisaria aguentar.

Ela havia recuperado a mana que havia perdido durante a batalha com o Vah Un, mas o
número de vezes que podia usar 「Heavy Recover」 ainda era desconhecido, então era
melhor salvar o máximo possível. No entanto, esperar até o último momento para curar
também significava que o menor erro a levaria à beira do abismo. Julgar com precisão o
momento certo para curar era muito difícil.

“E ela está empunhando o arco que o Ainz-sama lhe emprestou!”

A voz de Shizu soava muito alta. Ela provavelmente estava aumentando a voz para me-
lhor elogiar o Rei Feiticeiro. Estavam em uma batalha de vida e morte, mas Shizu ainda
conseguiu mencionar isso. Shizu era a pessoa mais forte do lado deles, ela tinha uma
aura de veteranismo. Poderia ser algum tipo de plano.

“O quê!? Quer dizer, aquele Rei Feiticeiro!?”

Houve surpresa na voz do lacaio demônio. Tal era a fama do Rei Feiticeiro. Ele deve ter
ouvido de Jaldabaoth que ele era um adversário para ser cauteloso.

“Sim! É um arco feito com ofício rúnico!”

Tendo ouvido algo que ela não podia ignorar, Neia advertiu Shizu.

“Shizu! Não conte essas coisas!”

Capítulo 6 Artilheira e Arqueira


316
“O quê! Então foi uma arma feita com a antiga, a arte perdida do ofício rúnico! Uma
arma como essa pode até ser capaz de me matar!”

Por que ele fala isso com tantos detalhes?

Ao pensar nisso, Neia imediatamente sentiu vergonha. Agora, ela estava lutando com
um adversário incrivelmente poderoso com sua vida em risco. Uma fracote como ela
mesma não tinha o luxo de contemplar tais assuntos.

“Então é ofício rúnico! Surpreendente!”

O lacaio demônio continuou falando em um tom muito cauteloso. Talvez estivesse fa-
zendo isso para distrair Neia. De fato.

“Ofício rúnico?”

A voz surpresa do Príncipe veio de trás dela. E Neia apressadamente falou:

“Não! Esse arco não é nada disso!”

Enquanto Neia gritava, ela sentiu Shizu e o demônio congelarem por um instante. Deve
ter sido isso. Quando dois oponentes eram equilibrados, tudo o que podiam fazer era
olhar um para o outro sem poder fazer um movimento. Não havia nenhuma dúvida sobre
isso.

“Ofício r...”

“Não!”

Neia gritou sem se preocupar com mais nada, e o lacaio demônio grunhiu em voz baixa.

“Sei... então a seguir, eu vou... 「Blindness」.”

A magia que veio do nada escureceu a visão de Neia. Ele deve ter feito isso para tornar
a curandeira impotente.

O item que Neia recebeu emprestado permitia que ela usasse 「Heavy Recover」, e não
magias que pudessem curar sua cegueira.

Um sacerdote ou um magic caster divino poderiam ter curado facilmente o status de


cegueira. Infelizmente, não havia ninguém assim aqui.

Ela não sabia quanto tempo a escuridão iria durar, mas se quisesse curar Shizu, ela teria
que ficar ao seu alcance.

“Estou cega!”

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


317
Era muito importante contar a seus camaradas o que havia acontecido com ela.

“Shizu! Me conte quando estiver ferida!”

“...Mm.”

“Desculpe, não sei magias que possam curar sua condição!”

“Não se preocupe com isso!”

Depois de responder ao pedido de desculpas vindo de trás, Neia puxou a corda do arco.
Ela deveria ser capaz de acertar o alvo usando sua memória muscular. Este foi o fruto da
experiência que ganhou ao lutar contra o Vah Un e muitos adversários de grande porte.
A corda do arco vibrou.

“—GUWAAAARGH!”

Ela ouviu o lacaio demônio gemer de dor.

“Você acertou! Ele tentou se esquivar, mas teve o efeito oposto! Bom trabalho!”

Depois de ouvir o esclarecimento do Príncipe, Neia percebeu o quão sortuda ela tinha
sido e orou ao Rei Feiticeiro.

“...Continue atirando assim.”

“Eiii!”

“Mm!”

Embora o som das Zerns lutando contra os Shadow Demons ao redor tornasse muito
difícil dizer o que estava acontecendo, Neia se concentrou em quanto Shizu tinha sido
ferida e a localização do lacaio demônio para continuar atirando.

Talvez fosse porque ele havia se machucado e percebido que perderia se não derrotasse
Shizu primeiro, mas o lacaio demônio concentrou todos os seus ataques em Shizu. Além
disso, continuava lançando magias 「Blindness」 em Shizu, tentando desabilitá-la como
fez com Neia, mas ela resistiu a todas, então não tiveram efeito.

Nesse caso, tudo o que ela tinha que fazer era continuar pressionando.

Assim que a mana do Príncipe estava prestes a acabar, a vitória veio a eles como uma
coisa natural. Os gritos de alegria do Príncipe eram até um pouco irritantes.

As Zerns que lutavam ao redor deles tinham sofrido perdas, mas saíram vitoriosas.

Capítulo 6 Artilheira e Arqueira


318
No entanto — a magia em Neia ainda não havia expirado. Ela ainda não conseguia ver
nada. Ainda assim, não era um efeito permanente. Com toda a probabilidade, passaria
após algum tempo, e a única razão pela qual durou tanto tempo foi porque Kelart Custo-
dio era muito poderosa.

Ela não podia ver nada, mas podia sentir a presença das Zerns se aproximando.

“Meu Príncipe! Fico feliz que o senhor esteja bem.”

“Ahh... por favor, consuma os restos da Grand Mother-dono com todo o respeito.”

Então ele literalmente vai comer ela?

Neia pensou.

Seria com todo respeito. Como haviam dito isso, tudo o que ela podia fazer era aceitar
como uma tradição única dessa espécie.

“Neia. O que devemos fazer com a cabeça da humana? Vamos comê-la também?”

“Não, por favor, não. Nós, humanos, não temos essas práticas funerárias. Vamos de-
volvê-la à cidade com todo o respeito.”

“Entendo... práticas funerárias humanas são verdadeiramente um mistério. Não, certa-


mente você deve pensar o mesmo de nós também. Isso é provavelmente o que eles cha-
mam de choque cultural. Além disso, sou profundamente grato a você. Nós sozinhos
nunca poderíamos ter—”

“—Conversem depois. Não há tempo para continuar conversando. Vamos nos mover.”

Ela podia ouvir uma perturbação na distância. Parece que o Exército de Libertação ha-
via finalmente feito contato com a Aliança Demi-humana. Ou isso, ou soldados ouviram
o som da batalha de agora e estavam se movendo a fim de ver o que estava acontecendo.
Qualquer um que fosse, não poderiam ficar aqui por muito tempo.

“Isso mesmo, Shizu-san. Por favor, ajudem o Exército de Libertação a atacar Kalinsha
enquanto nos organizamos.”

“Uhum, claro. Vocês aí!”

“Sim! Vamos nos mover imediatamente. O senhor e as humanas entrarão nos barris,
Meu Príncipe? Vamos levá-los para fora da cidade.”

Neia não tinha certeza, já que não podia ver, mas podia sentir Shizu hesitando. A razão
para isso era óbvia — ela odiava os barris. Neia sentia o mesmo.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


319
“...Eu vou ajudar também.”

“Mm. Eu darei uma ajudinha assim que me recuperar da minha cegueira.”

O Príncipe estava se debatendo de costas como um peixe capturado. Ele estava pulando
de alegria. Neia ficou um pouco desanimada com o quão bem ela se adaptou à situação.

“Se nossos aliados estiverem saindo, nós também iremos. É claro que a minha mana foi
esgotada, por isso não posso conjurar magias poderosas, mas vou lançar magias de for-
talecimento em vocês.”

“Meu príncipe!”

“Fique em silencio. Por acaso pretende que eu seja um homem que envia minhas com-
panheiras para a morte?”

“...Isso deve ser o suficiente. Vamos.”

Shizu interveio. Ela parecia ansiosa para se afastar dos barris o mais rápido possível.

“Enviarei vocês para onde nossos companheiros de ovo estão reunidos. Por favor, en-
trem.”

Capítulo 6 Artilheira e Arqueira


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Capítulo 07: Salvador da Nação

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Parte 1

libertação de Kalinsha foi surpreendentemente fácil.

A A combinação do povo Zern se levantando em revolta, a pura falta de mão


de obra humana em comparação com o tamanho da cidade que eles tinham
que defender, e a ausência do lacaio demônio para comandá-los significava
que era uma conclusão inevitável. Claro, houve muitas baixas em ambos os lados, mas as
perdas do Exército de Libertação do Reino Sacro foram surpreendentemente leves, con-
siderando que eles haviam conseguido retomar uma cidade tão grande.

Uma das principais razões para isso foi Neia, que carregou o Ultimate Shooting-Star
Super nas costas.

Claro, Shizu havia ajudado nas sombras, mas Neia e seu arco espetacular tinham sido
uma visão majestosa que inspirou muito as pessoas.

E assim, Neia ficou no topo de um tablado e se dirigiu apaixonadamente ao público reu-


nido na praça.

Ela lhes disse: “Não há maior rei neste mundo do que o Rei Feiticeiro.”

A primeira coisa que Neia fez depois de libertar Kalinsha foi reunir apoio para ir à pro-
cura do Rei Feiticeiro.

Os Zerns fizeram a sua parte e questionaram os prisioneiros demi-humanos sobre as


Colinas Abelion, mas ela ainda carecia de muitas coisas, como recursos materiais, infor-
mação, experiência e assim por diante.

Seria uma coisa se pudessem tentar quantas vezes quisessem, mas era difícil mandar
repetidamente grupos de busca e equipes de resgate para o território inimigo. Em outras
palavras, era preciso acertar na primeira vez. Sendo esse o caso, eles não podiam se pre-
parar o suficiente. Foi por isso que ela decidiu capitalizar o fato de que muitas pessoas
haviam sido libertadas através da libertação de Kalinsha e buscar sua ajuda em várias
áreas.

Dito isto, as pessoas não ofereceram ajuda imediatamente após a solicitação. Mesmo
depois da tomada de Kalinsha, ainda havia muitas outras cidades que haviam sido cap-
turadas pelos demi-humanos, bem como muitas pessoas que haviam sido presas ou que
haviam perdido o controle de seus parentes. Neia estava tentando vender a eles os be-
nefícios de ajudar o Rei Feiticeiro, a fim de mover seus corações.

No entanto, à medida que o número de ajudantes aumentou, o conteúdo de seus discur-


sos gradualmente começou a mudar.

Capítulo 7 Salvador da Nação


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As pessoas que vieram ouvir Neia falar sobre o Rei Feiticeiro eram todas as pessoas que
o Rei Feiticeiro havia resgatado antes. Eram pessoas que sofreram muito e que agora
queriam se agarrar a um ser poderoso para curar o trauma emocional persistente em
suas almas.

Aqueles que sabiam da grandeza do Rei Feiticeiro poderiam ser considerados seus com-
panheiros.

Era natural para Neia contá-los alegremente sobre a magnificência do Rei Feiticeiro.

Gradualmente, as pessoas que não haviam conhecido o Rei Feiticeiro começaram a par-
ticipar também, amigos daqueles que haviam sido resgatados pelo Rei Feiticeiro.
Quando a notícia se espalhou, mais e mais pessoas não relacionadas vieram ouvir as pa-
lavras de Neia.

Com a viseira colocada, Neia disse a essas pessoas sobre a excelência do Rei Feiticeiro
durante a libertação da cidade e a batalha com Jaldabaoth.

Ela não teria sido capaz de falar sem sentir vergonha há algumas semanas. Ela teria
ficado tensa sob os olhos da plateia e ficaria sem palavras, sua mente ficaria branca. Mas
depois de se dirigir às multidões repetidamente, ela finalmente percebeu que não preci-
sava expressar seus próprios pensamentos, apenas precisava pintar uma imagem do Rei
Feiticeiro em seu coração com suas palavras. Neia tornou-se uma oradora eloquente.

Sim, as massas referiam-se a ela como a Evangelista Sem Rosto.

E então—

“Assim, Sua Majestade é verdadeiramente incomparável! Como poderia haver outro rei
que se importasse tanto com o povo! Sim, eu sei o que vocês querem dizer. Afinal, Sua
Majestade Sagrada, Calca Bessarez, também é uma excelente rainha. No entanto— al-
guém aqui ouviu falar de um rei que foi tão longe para o povo de outra nação!? Você aí!”

Neia apontou para um dos membros da plateia na frente dela.

“Você já ouviu falar de um rei que saiu sozinho para salvar do tormento o povo de outra
nação?”

“Eh, ah, não, isso, eu nunca ouvi... nada parecido... antes...”

Quando os olhos de todos se voltaram para ele, a voz do homem que havia sido chamado
gradualmente diminuiu.

“Excelente resposta! É exatamente isso!”

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Capítulo 7 Salvador da Nação
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Como Neia o elogiou, as fileiras de pessoas com idéias semelhantes às de Neia se junta-
ram aos demais que compartilhavam essa mesma linha de raciocínio e começaram a
aplaudir o homem.

O homem corou e pareceu um pouco tímido.

“Na verdade, nós checamos se algum outro rei tinha feito isso, mas não! Não houve mais
ninguém! Não conseguimos encontrar nenhum rei como o Rei Feiticeiro!”

Havia reis que tinham liderado exércitos para salvar países vizinhos, mas era fato que
não havia reis que tivessem ido sozinhos.

“Pensem nisso, um rei vai ajudar as pessoas de outro país, independentemente do risco
para si mesmo!? Isso é algo inédito! Apenas o Rei Feiticeiro o fez!”

Neia fez uma pausa e continuou:

“Só Sua Majestade! Somente um rei como esse realmente merece ser chamado de rei
justo!”

“Mas podemos confiar nele? Ele é um undead, não é?”

Neia respondeu à pergunta da plateia com um sorriso gentil. Neia já havia pensado a
mesma coisa no passado. Em outras palavras, ele era como responder ao seu eu passado.
Ele simplesmente não sabia; ele não entendia.

Ela o faria ver— não, ela abriria os olhos dele, assim como ela abrira os próprios olhos,
e os de todos os outros. Com esse sentimento em seu coração, Neia se dirigiu à multidão.

“Sim! Sua Majestade é um undead! É normal que todos se sintam desconfortáveis! É um


fato que os undeads são monstros assustadores. Não tenho intenção de dizer que todos
os undeads são bons. Muitos undeads são maus e não há dúvida de que eles odeiam os
vivos!”

Agora que todo mundo estava ouvindo a sério, Neia aproveitou o clima no ar e declarou
vigorosamente seu resumo.

“Contudo! Existem exceções para todas as coisas! Assim como pode haver um dia
quente no inverno, assim como um broto pode florescer de um galho seco, assim como
uma estrela cadente brilhante pode atravessar a noite mais escura. Assim também é Sua
Majestade — ele é um ser undead que ajuda os vivos. Vocês devem ter ouvido as histó-
rias das pessoas que ele resgatou. Também é possível que alguns de vocês tenham sido
resgatados por ele. Então, com base no que vocês sabem ser a verdade, vocês têm a prova
de que eu não estou mentindo!”

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Depois de verificar que não havia objeções da multidão, Neia falou em tom severo e
pesado.

“...Desta vez, essa robusta linha da fortaleza foi quebrada, e os demi-humanos vieram
como uma avalanche. Tal tragédia só acontecerá uma vez? Alguém acredita que isso não
acontecerá uma segunda vez?”

O silêncio do público falou por eles.

É claro que eles esperavam que isso não acontecesse novamente, mas ninguém podia
acreditar cegamente nisso.

“Eu entendo completamente o quão desconfortável estão. Talvez nossa geração e a dos
filhos de vocês possam descansar em paz. Afinal, a tragédia que acabou de ocorrer nos
incitará a uma vigilância incessante... No entanto!”

O tom de Neia ficou forte.

“Alguém pode garantir que tal tragédia não se repita na geração de nossos netos, ou
netos de nossos netos? Alguém ousa dizer que nunca acontecerá novamente já que acon-
teceu antes? É por isso que devemos nos preparar, para que a fortaleza nunca seja que-
brada novamente!”

Vozes dizendo “Sim” e “Isso mesmo” começaram a surgir na multidão.

“—Parece que todos concordam, mas no futuro distante, na era dos filhos de nossos
filhos e netos de nossos netos, em uma época em que essa tragédia será apenas uma
lembrança distante, as pessoas ainda poderão permanecer vigilantes? Vocês acham que
podemos posicionar duas ou três vezes mais pessoas do que nós agora na linha da for-
taleza?”

As despesas militares drenariam as reservas nacionais e empregariam uma quantidade


intimidante de força de combate, mas não teriam resultados óbvios para demonstrar.

“Eu confio que há pessoas que serviram nas fortalezas durante o recrutamento. Então
peço-lhe para procurar suas memórias. Se as despesas diárias e os estoques consumidos
naquela época fossem triplicados, vocês não acham que isso prejudicaria muito a nação?
Quando esse dia chegar, acham que um país que só sabe da tragédia através das memó-
rias permanecerá vigilante?”

Quando a compreensão surgiu nos rostos de sua plateia, Neia deu sua conclusão.

“É por isso que precisamos da proteção de Sua Majestade!”

“Por quê!? Por que devemos procurar a ajuda de um undead?”

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A mesma voz de antes soou.

Foi o homem que a questionou antes. Pessoas como ele deixavam Neia mais calma. As
multidões mais difíceis seriam aquelas onde ninguém reagia. Quando isso acontecia, ela
se sentia desconfortável, preocupada se suas palavras estavam sendo ouvidas.

Os defensores de Neia haviam sugerido o plantio de alguns pessimistas como esse na


plateia de antemão, mas Neia se recusou. Da mesma forma, ela rejeitou a idéia de plantar
otimistas na plateia.

“Estou dizendo isso precisamente porque ele um undead. Sua Majestade é poderoso,
mas mais importante, ele é um undead, e assim, nesse futuro distante, ele ainda estará
vivo — ele ainda existirá.”

“Mas, mas ouvi dizer que o Rei Feiticeiro foi derrotado em batalha e morreu.”

“Esse boato é verdadeiro e falso ao mesmo tempo. Infelizmente, a primeira parte é ver-
dadeira. Sua Majestade gastou uma grande quantidade de mana e lançou muitas magias
para salvar a nós, que fomos impotentes, e no final ele foi derrotado por Jaldabaoth. Mas
a segunda parte é falsa. Sua Majestade não está morto! A existência de Shizu irá provar
isso para todos.”

Esta foi a deixa para Shizu — uma das figuras-chave na libertação de Kalinsha — entrar
em cena.

A plateia ofegou em admiração, e murmúrios adoráveis de “Shizu-sama” puderam ser


ouvidos.

“...Mm.”

Shizu levantou a cabeça e estufou o peito.

“Antigamente, ela foi uma das empregadas demônio a serviço de Jaldabaoth, mas lutou
ao nosso lado na Batalha de Kalinsha. Isso é porque Sua Majestade tomou o comando
dela das mãos de Jaldabaoth.”

Muitas pessoas tinham visto Shizu matando demi-humanos um após o outro durante a
batalha. As pessoas que se dirigiram a ela com “-Sama” provavelmente tinham sido aju-
dadas diretamente por ela.

Shizu se tornou muito popular. Embora ela já tenha sido uma empregada demônio de
Jaldabaoth, ela ainda era muito bonita e, mais importante, passava um ar de jovialidade.
Pode-se dizer que era difícil manter hostilidade contra ela.

“Teria o Rei Feiticeiro considerado isso quando colocou você ao seu serviço?” Neia uma
vez perguntou a Shizu. Shizu respondeu: “Talvez.”

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“Shizu está vinculada à magia de Sua Majestade, e isso permanece em vigor enquanto o
Rei Feiticeiro ainda viver. Em outras palavras, ela é a prova de que Sua Majestade ainda
vive.”

Quando o ar ficou cheio de estática, Neia levantou os braços para indicar que todos de-
veriam ficar quietos, porque ela não terminou de falar.

“Tenho certeza de que todos vocês estão se perguntando o porquê Sua Majestade ainda
não se mostrou. Na verdade, eu também não sei. No entanto, não consigo imaginar que
um senhor tão misericordioso nos abandonaria! Deve haver alguma razão pela qual ele
não pode retornar aqui imediatamente. Eu não sei se isso é por causa das considerações
de Sua Majestade, ou se algum perigo surgiu. E é por isso—!”

A voz de Neia reverberou pela praça silenciosa.

“—É por isso que eu peço a todos vocês que emprestem sua força! Por favor, empres-
tem-me a força para encontrar Sua Majestade. Mesmo se apostarmos nossas vidas ao
percorrer toda a extensão das Colinas Abelion, onde os demi-humanos vivem, antes que
encontremos Sua Majestade, o Reino Sacro ainda não pode pagar integralmente a dívida
que devemos a Ele. E eu já disse isso antes, mas Sua Majestade veio apenas para lutar
contra Jaldabaoth, mas acabou combatendo os demi-humanos em nome da nossa pró-
pria fraqueza, desgastando assim sua força e levando à sua derrota!”

Neia levantou a voz ainda mais alto enquanto gritava.

“Não apenas isso — Pessoal! É por isso que devemos pagar a dívida que devemos à
pessoa que veio nos salvar! Esse grande homem veio sozinho para nos salvar! Mesmo
que ele seja um undead, não pretendo ser uma ingrata! —E assim, eu convido as pessoas
que procuram pagar de alguma maneira essa dívida que fizemos a Sua Majestade.”

Neia parou por um tempo para deixar a antecipação crescer antes de gritar novamente.

“Estou procurando pessoas para me ajudar a encontrar Sua Majestade! Mas vocês não
precisam ir pessoalmente! Suas habilidades, seu conhecimento, qualquer coisa que pos-
sam contribuir, será útil. Por favor, me emprestem sua força! Por favor nos ajude!”

Neia inclinou a cabeça e ao lado dela, Shizu também o fez.

“Ohhhh!” a multidão aclamou.

Depois de levantar a cabeça, Neia terminou com:

“...Estou certa de que há alguns de vocês que não podem acreditar apenas em minhas
palavras. No entanto, que tal perguntar ao povo do Exército de Libertação sobre o que

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aconteceu antes de Kalinsha ser tomada? Dessa forma, tenho certeza de que vocês acre-
ditarão que minhas palavras não são mentiras.”

♦♦♦

Depois de voltar para uma sala, Neia afundou-se em uma cadeira.

“Obrigado por trabalhar com tanto afinco, Baraja-sama.”

A pessoa que lhe agradecia era uma mulher de aparência pacata — embora um pouco
sombria.

Ela parecia estar na casa dos 20 anos, e suas características distintivas eram um par de
amplos seios que atraiam os olhos dos homens e cabelos curtos. Outrora foram longos,
mas foram cortados em algum campo de prisioneiros.

Ela fazia parte da equipe de apoio que Neia havia estabelecido. Os defensores de Neia
queriam se nomear, e então se chamavam de Corpo de Resgate do Rei Feiticeiro.

Seu trabalho era ajudar a gerenciar o cotidiano cada vez mais ocupado de Neia.

Apesar de ter passado apenas meio mês desde que se conheceram, essa mulher se tor-
nou insubstituível para Neia. Isso porque ela tinha completado suas tarefas designadas
— limpeza, lavanderia, culinária e várias outras tarefas — com exímia perfeição.

“Ahh, obrigada.”

Neia enxugou o rosto com o pano que a mulher lhe oferecera, e a sensação fria pareceu
muito confortável em seu rosto quente.

Ela então fez um som de *Whew* de uma maneira que parecia muito reminiscente de
um homem de meia-idade antes de colocar a toalha sobre a mesa e virar-se para a mu-
lher que imediatamente a recolheu.

“Ah, eu tenho dito isso todo esse tempo, mas por favor, não me chame de -sama. Afinal,
eu não sou digna disso.”

“O que a senhora está dizendo? A senhora é a porta-voz de Sua Majestade neste país e
age em seu nome. Não me endereçar a senhora com o honorífico apropriado seria rude.”

O fato de uma mulher mais velha do que ela estar dizendo isso incomodava levemente
a Neia.

Este foi um problema apenas experimentado por aqueles que não estavam acostuma-
dos a uma posição superior.

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Falando nisso, Neia não era uma porta-voz nem nada. E constantemente ela se pergun-
tava como acabara nessa posição.

Neia sentiu que Shizu — que estava a olhando descompromissadamente enquanto dei-
tada casualmente em um sofá — se encaixava melhor na descrição.

Em primeiro lugar, a grandeza do Rei Feiticeiro deveria ser óbvia para todos, mesmo
de um ponto de vista objetivo. Então ela estava simplesmente declarando o óbvio e não
advogando a seu favor, ela não pretendia começar a pregar qualquer forma de crença ou
opinião generalizada.

Neia começou a fazer isso por sua própria vontade e nunca esperara que as coisas aca-
bassem assim.

“Eu vou me despedir, então. Além disso, Bertrand Moro-shi deseja contatá-la.”

“Tudo bem. Pode me ajudar a chamá-lo? Agradeço pela dedicação.”

A governanta curvou-se para ela e saiu da sala. Um homem entrou, como se quisesse
trocar de lugar com ela. A mulher era avessa aos homens e temia-os, ela se sentia des-
confortável quando estava no mesmo ambientes que os homens. Ainda assim, ela esco-
lheu pedir licença.

“Baraja-sama, peço desculpas por incomodá-la enquanto descansa. Posso pedir um


pouco do seu tempo?”

Bertrand Moro.

Ele tinha o corpo robusto de um homem na casa dos 40 anos, mas a parte dele que mais
se destacava era o cabelo ralo no alto da cabeça.

A família Moro tinha uma tradição de se intrometer em notáveis casas nobres e, no pas-
sado, ele também trabalhara como mordomo. Foi por isso que ele serviu como secretário
no Corpo de Resgate, a fim de fazer pleno uso de suas habilidades.

Neia teve muita sorte em conhecer alguém como ele quando fundou o grupo. Se ela não
o conhecesse, seu cabelo ficaria grisalho de tanto trabalho.

“Não se preocupe, está bem. É sobre o quê?”

“Obrigado. Eu serei breve. Eu gostaria de dizer que os membros de nossa organização


estão agora acima de trinta mil.”

“Ah, isso é maravilhoso! E pensar que ganhamos tantas pessoas que entendem a gran-
deza de Sua Majestade! Não, isso é apenas esperado. Afinal, Sua Majestade é realmente
uma pessoa incrível!”

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Shizu assentiu e fez “Mhm”.

A organização agora tinha mais membros do que a população de uma cidade pequena.
Dos 3,5 milhões de habitantes do Reino Sacro do Norte, cerca de 1% deles pertenciam
ao grupo.

“Nossos apoiadores expressaram o desejo de algum tipo de símbolo para expressar que
fazem parte deste grupo.”

“Claro... de fato... Isso... faz sentido.”

“De fato. Algum item vestível para indicar sua afiliação é essencial para promover uma
sensação de segurança e pertencimento ao grupo.”

Mhm, Neia assentiu. Eles ficariam muito felizes em ter algum símbolo de solidariedade
— algo relacionado ao Rei Feiticeiro. Neia também queria um.

“Por favor, use os melhores meios possíveis à sua disposição. Mas não desejo nenhum
tipo de tratamento preferencial baseado em doações em dinheiro e coisas do tipo.”

“...fã...lub...não...ficial...”

Neia captou algo que até mesmo sua audição aguçada não conseguia entender comple-
tamente.

“Shizu-senpai, o que disse?”

Neia perguntou.

“...Nada.”

“...Mesmo? Bem, é que se eu cometer um erro ao falar sobre Sua Majestade, você deve
me dizer.”

Neia voltou seu olhar para Bertrand. Recentemente, havia mais e mais pessoas que per-
maneciam inabaláveis, mesmo quando ela olhava para elas, e isso fez Neia muito feliz.

“Que os artesãos cuidem disso então. A seguir... pode me falar sobre o resto da minha
agenda?”

“Sim, Baraja-sama. Em cerca de duas horas, os apoiadores organizarão a “Ação de Gra-


ças para o Rei Feiticeiro”. Acredito que a senhora esteja programada para participar e
falar dos grandes feitos de Sua Majestade.”

“Compreendo.”

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Neia ficou bastante animada. Tendo descoberto que o Rei Feiticeiro era a justiça, ela
sentia um senso de camaradagem e proximidade com os apoiadores que podiam enten-
der como ela se sentia, e ela gostava de conversar com pessoas que compartilhavam seus
pontos de vista.

“Além disso, há pessoas que gostariam que a senhora testemunhasse os frutos do trei-
namento deles. Dado que a senhora está muito ocupada agora, eu deveria recusá-los?”

Neia havia fundado recentemente uma unidade de guarda de honra de seus partidários
e atualmente os colocava em treinamento intenso. Tanto Neia quanto Shizu haviam par-
ticipado desse treinamento.

Para Neia, que achava que a fraqueza seria apenas um fardo para o Rei Feiticeiro, se
esforçar ao máximo possível para se tornar forte se tornou rotina. Se a participação de
Neia pudesse animar o clima e motivá-los, ela teria que se juntar a eles.

“De forma alguma, eu gostaria de estar lá com eles.”

“Tenho certeza de que ficarão encantados... bem, esse resumo de eventos foi bastante
básico, é tudo o que tenho a lhe reportar. Quanto ao tempo que levará para reunir os
apoiadores — depois de considerar o tempo necessário para se preparar, acredito que a
senhora terá uma hora para descansar e relaxar em paz.”

Bertrand inclinou a cabeça e saiu. Depois de vê-lo sair, Neia levantou-se da cadeira e
caminhou até o sofá onde Shizu estava. Então ela se deitou ao lado de Shizu e abraçou-a
com força, como se estivesse tentando esmagá-la com seu corpo.

“...Pronto, pronto.”

Shizu era mais baixa que ela, mas ela deu um tapinha nas costas de Neia de uma maneira
suave, como uma mãe faria com seu filho.

“Quando poderemos ir procurar Sua Majestade... já faz um mês...”

As pessoas que procuravam a região leste do Reino Sacro não haviam encontrado o Rei
Feiticeiro, e embora não pudessem descartar a possibilidade de terem deixado algo pas-
sar, era quase uma conclusão inevitável que ele caíra na terra dos demi-humanos, as
Colinas Abelion. Portanto, eles precisavam fazer preparações amplas, mas isso simples-
mente demoraria muito.

Dos 3.000 Zerns que tinham traído Jaldabaoth, 2.800 deles tinham ido com o seu prín-
cipe para o Reino Feiticeiro, enquanto os 200 restantes tinham ido às Colinas para cole-
tar informações, mas não haviam encontrado nada até agora.

“...Você não deve falhar.”

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“Eu sei! Mas, mas...”

Neia abraçou Shizu com mais força. Ela respirou fundo o aroma — como a do chá preto
— que vinha dela.

A mera presença de Shizu foi suficiente para manter o desconforto de Neia sob controle.

Isso porque sua existência era a prova de que o Rei Feiticeiro estava vivo.

“...Tudo vai ficar bem. Ainz-sama é generoso.”

“Ah, isso mesmo, Shizu-senpai.”

“...Portanto, você deve obter mais adeptos e elaborar um plano de busca que não falhe.”

“Ah, isso mesmo, Shizu-senpai.”

“...Dessa forma, Ainz-sama será feliz.”

“Ah, isso mesmo, Shizu-senpai.”

“...Neia. Você é bem interessante. Agora que me acostumei com isso, seu rosto é bem
fofo.”

“...Bem fofo... Falando nisso, você deve estar muito entediada porque não pode sair,
Shizu-senpai. Vamos juntas em algum lugar da próxima vez?”

A extraordinária beleza de Shizu — praticamente esculpida — atraia muita atenção.


Todavia, os olhares direcionados a ela se tornariam de medo e cautela se as pessoas sou-
bessem sua verdadeira identidade de empregada demônio. Muitos deles teriam ilusões
exageradas como “Ela vai roubar minha alma!”, Que se originou das histórias em que
demônios se transformavam em mulheres bonitas para reivindicar almas como parte de
um acordo. No entanto, Neia sentia que os demônios tinham o direito de escolher seus
parceiros.

Para começar, sendo ela uma subordinada do mais do que misericordioso Rei Feiticeiro,
essa empregada demônio com dificuldade 150 não poderia desejar as almas das pessoas
ao seu redor, muito menos querer encantá-las com alguma magia.

Mesmo assim, havia coisas problemáticas que elas não podiam evitar, e Neia — como
escudeira do Rei Feiticeiro — não seria capaz de encará-lo se acabasse causando proble-
mas para Shizu, sua subordinada. Claro, Neia também entendeu que Shizu era tão pode-
rosa que ela não seria prejudicada.

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Por essa razão, ela passou muito do seu tempo aqui, mas agora que havia mais pessoas
em sua organização, deveria ser certo levá-la para onde os apoiadores se reunissem.

“...Não é uma má idéia. Vamos juntas para testar.”

“"Por mim, tudo bem. Então vamos nos aprontar. Embora, essas roupas de empregada
sejam atraentes... poderia se trocar em algo mais comum?”

“...O médico... ghrum. Sem problemas. Me empreste algumas roupas. Eu vou deixar que
escolha.”

“...Perdão, mas eu não tinha ninguém com quem sair e não tinha interesse em roupas,
então não estou confiante em escolher roupas para você.”

Shizu gentilmente deu um tapinha nos ombros de Neia. Ela parecia sem emoção como
sempre, mas Neia podia entender seu calor materno. Depois disso, Shizu apontou o po-
legar para si mesma.

“...Deixe isso comigo.”

“Jura?”

A descoberta de que os gostos de Shizu eram inesperadamente bons seria assunto para
mais tarde.

♦♦♦

A carga de trabalho de Caspond aumentou dramaticamente após a reconquista de Ka-


linsha. Ele tinha que trabalhar na organização das pessoas que haviam sido resgatadas,
a quantidade resultante de informações que precisavam ser processadas aumentara
muito, tanto o trabalho de verificação quanto o de atribuição eram muito demorados.

Durante este período movimentado, apenas um paladino foi posicionado ao lado de


Caspond para sua segurança.

Isso representava uma falta de segurança, mas não se podia usar um paladino habili-
doso — eles podiam ler, escrever, fazer contas, conduzir ritos religiosos e manter a paz
— como um mero guarda-costas. Se fosse apenas pela força, teria sido mais eficiente
atribuir Remedios a ele, mas depois de considerar seu estado mental, ele decidiu deixá-
la treinando com outros paladinos.

Quando Neia e Shizu voltaram com a cabeça de Kelart Custodio, seu frenesi resultante
causou tamanha perturbação que foi uma surpresa que ninguém morreu como resultado.
Mesmo ela se acalmando eventualmente, ainda tinham que lidar com ela com cuidado.

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Na verdade, ninguém podia fazer nada sozinho. Ele tinha que ser grato ao seu criador
por abençoá-lo com sabedoria. Ao aprofundar sua devoção ao dito criador, Caspond se
jogou em seu trabalho, sua caneta passava rapidamente sobre as páginas.

Embora fosse uma boa prática para o futuro, esse trabalho ainda era muito chato. Seu
paladino ajudante aparentemente não sabia ler o estado de espírito alheio, ou simples-
mente estava realmente incomodado, e falou com Caspond, que estava tentando enter-
rar suas reclamações nas profundezas de seu coração.

“—Meu Príncipe, está tudo bem em deixar a situação de Neia Baraja continuar como
está?”

Caspond compreendeu o significado daquela pergunta e sorriu sem se desvencilhar dos


documentos.

“Não dá para evitar, ou dá? Apenas deixe como está. Além disso, Apenas Príncipe já está
bom.”

“Muito obrigado. No entanto, o que o senhor quer dizer que não dá para evitar?”

O paladino não parecia aceitar isso, então Caspond levantou a cabeça dos documentos
e olhou-o nos olhos.

“O que você acha que aconteceria se fizéssemos alguma coisa com ela, digamos, pressi-
onando-a a parar?”

“Eu não acho que nada aconteceria, Príncipe. Tudo o que ela está fazendo é causar agi-
tação na nação.”

“Entendo. Então, seus discursos — não tenho certeza se perguntar é apropriado —,


você já ouviu algum? ...Julgando pelo aspecto das coisas, acho que não, mas você prova-
velmente leu um resumo do que ela está falando... Então, minha primeira pergunta é...
ela mentiu?”

Caspond observou o paladino revistar sua memória antes de responder:

“Não, de forma alguma... bem, seria melhor se ela estivesse mentindo. Pois, qualquer
um com um mínimo de inteligência pode verificar o que ela disse e descobrir que quase
tudo é justificado. O Rei Feiticeiro os libertou, e ele é um herói que sozinho recapturou
uma cidade também.”

Ele tomou um gole de água do copo na mesa para molhar a garganta antes de continuar.

“E então, Neia Baraja é uma heroína que ajudou a libertar Kalinsha. Nós mesmos decla-
ramos isso. Quanto a empregada demônio — nós a apresentamos como uma serva do

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Rei Feiticeiro. Isso elevou a opinião deles com o Rei Feiticeiro as alturas, e tivemos que
elogiá-la exageradamente. Além disso, o equipamento dela é apropriado de uma heroína.”

A visão de Neia carregando a maravilhosa reverência que o Rei Feiticeiro lhe empres-
tara e usando a armadura do Grandioso Rei Buser era nada menos que heroica.

“Perfeito, agora de volta à pergunta original. Se tentarmos silenciá-la, como o mundo


nos verá? Você não acha que eles nos veriam tentando calar uma heroína porque ela está
dizendo algo inconveniente à família real?”

“Mas isso...”

O paladino tentou balbuciar uma negação, mas seu rosto já dizia melhor do que suas
palavras. Ele sabia o que aconteceria.

“Por um lado, temos uma heroína cujo estrelato não para de subir e, por outro lado,
temos a família real que está em declínio. Em quem você acha que as pessoas vão acre-
ditar?”

“—Meu Príncipe! Por favor, não diga isso!”

“Sinto muito... mas, mais ao ponto, o que você acha que a empregada demônio do Rei
Feiticeiro fará se tentarmos interferir com a Neia Baraja?”

“Uuug...”

O rosto do paladino ficou rígido e um olhar horrível se formou no rosto de Caspond.

“Heheh. O fato dela ser protegida por aquela empregada demônio significa que ela é a
pessoa mais poderosa da cidade. Tentar silenciá-la diretamente com força é extrema-
mente perigoso, então teremos que deixar as coisas como estão. Eu entendo suas preo-
cupações, mas cada possível jogada à nossa disposição é ruim.”

Houve uma batida na porta e um dos soldados do lado de fora entrou.

“Meu Príncipe, o Vice-Capitão-sama deseja falar com o senhor.”

“Chame-o imediatamente.”

Talvez ele tivesse ouvido a voz de Caspond, mas Gustav entrou correndo de onde esti-
vera do lado de fora. O leve ofegante em sua respiração mostrou que ele tinha vindo aqui
com pressa.

“Perdoe-me, Vossa Alteza, Príncipe Caspond!”

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O trabalho de Gustav o levou mais longe do que Caspond, e o deixou mais ocupado, en-
tão ele raramente vinha se reportar. Foi por isso que Caspond sabia que esta era uma
situação complicada. Se ele tivesse vindo aqui pessoalmente, ele havia trazido consigo
um problema difícil que ele não conseguia resolver sozinho.

“Já te disse isso inúmeras vezes, não se preocupe com isso. Além disso, você não precisa
se curvar se somos os únicos por perto. Já que está com tanta pressa, deve ser bastante
urgente, não é mesmo?”

“Sim, senhor! Nossos batedores relatam um exército de cinquenta mil homens que ar-
voram a bandeira dos nobres do sul vindo para esta cidade!”

“Entendi... não me diga que o Sul já superou as forças de Jaldabaoth? Não importa, pre-
pare-se para a batalha, porque não sabemos se os exércitos do Sul estão sendo controla-
dos por Jaldabaoth. Seja cuidadoso. Conto com você.”

“Sim, senhor!”

“Sob nenhuma circunstância você deve atacar, espere até que o inimigo faça um movi-
mento. E se desejarem conversar, tragam-nos aqui. Além disso—”

Caspond virou-se para o paladino:

“Você aí, será o responsável por receber nossos hóspedes. Se eles são quem eu acho que
são, deve haver vários nobres de alto escalão. Prepare boa comida e vinhos que os agra-
dem.”

Os dois homens responderam:

“Sim, senhor!”

E depois saíram da sala. Enquanto Caspond os observava sair, ele murmurou para si
mesmo.

“E agora... eu me pergunto, será este um bom momento?”

♦♦♦

“Estou realmente feliz por terem vindo, Marquês Bodipo, Conde Cohen, Conde Domin-
guez, Conde Granero, Conde Randalse e Visconde Santz.”

“Oh, não é nada de mais, fico feliz em ver que o senhor está bem, Meu Príncipe.”

“De fato! De fato! Estávamos muito preocupados, Vossa Alteza!”

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


337
Depois de um brinde, Caspond e os nobres do Sul sorriam de orelha a orelha, beberam
à sua respectiva segurança e trocaram saudações novamente.

Os nobres descreveram a situação e falaram de suas dificuldades. Caspond ouviu aten-


tamente, porque ao fazê-lo, ele estava jogando com a vaidade do quanto eles tinham tra-
balhado — do quanto eles tinham desistido por causa da lealdade para com o Reino Sa-
cro.

O Conde Cohen, que falou durante muito tempo, subitamente pareceu ter notado al-
guma coisa e fez uma pergunta.

“—Oya, Príncipe-denka. É impressão minha, ou o senhor parece um pouco diferente


agora?”

“Ahh, mas é claro. Eu creio que sabe como o Jaldabaoth invadiu o Norte? Isso me mudou
muito por dentro. Além disso, acho que as partes que não pode ver mudaram ainda mais...
não acha que eu fiquei mais magro?”

Caspond apontou para a barriga. “Bem, isso parece ser o caso”, todos responderam ale-
gremente. Ao mesmo tempo, havia um brilho aguçado nos olhos dos nobres.

Caspond não deixou de notar isso. Ele imediatamente percebeu que estavam avaliando
o Caspond do passado em comparação ao Caspond do presente.

Eles haviam camuflado cuidadosamente seu julgamento, mas ele entendeu que a avali-
ação ainda estava em progresso.

Agora ele esperava que eles pensassem que nada havia mudado, na esperança de que
eles não interferissem na família real depois da guerra.

“...Ainda assim, eu, Caspond, estou profundamente grato por vocês terem liderado suas
casas aqui para salvar o Reino Sacro.”

“O que o senhor está dizendo? Vossa Alteza, como nobres, é natural que tenhamos nos-
sas forças e partimos para o bem da família real. Ou não, qualquer um que seja fisica-
mente capaz e não participe de uma batalha sobre a sobrevivência do Reino Sacro não
pode nem mesmo ser considerado um nobre!”

Os nobres assentiram e emitiram sons de reconhecimento. Em outras palavras, os no-


bres que não vieram para cá eram inimigos políticos dos que estavam presentes.

Infelizmente, Caspond não sabia quais casas nobres não estavam se dando bem. Isso
provavelmente significava que ele não estava suficientemente bem informado.

Capítulo 7 Salvador da Nação


338
Embora quisesse evitar comprometer-se com promessas desfavoráveis aqui, ele preci-
saria dar às pessoas um tratamento preferencial ou estar disposto a enfrentar conse-
quências terríveis. Afinal, todos odiavam o típico nobre morcego, que voava por aí ten-
tando entrar nas boas graças de todos.

“Senhores, sua lealdade à família real precisa ser proclamada por toda parte. Eu sinto
que precisa ser uma questão de registro histórico.”

Mesmo só por um momento, aquele que parecia mais feliz com isso foi o Marquês Bo-
dipo, a pessoa mais velha presente, cujo cabelo loiro estava com várias áreas grisalhas.

Agora que ele tinha poder e posição, ele provavelmente queria prestígio. Os outros pro-
vavelmente prefeririam ser recompensados. Naturalmente, era natural que esperassem
certo retorno de seu investimento, agora que haviam mobilizado suas forças.

O Marquês murmurou algumas palavras educadas de recusa — mais uma cortesia do


que qualquer outra coisa —, mesmo quando ele adotou um tom arrogante. Durante esse
tempo, o Visconde Santz — que parecia bastante à vontade — aproveitou o momento
certo para interromper a conversa e, hesitante, fez uma pergunta.

“Meu Príncipe, tenho uma pergunta que gostaria de fazer ao senhor. Qual é a condição
atual de Sua Majestade Sagrada? Eu ouvi que ela faleceu...”

“Isso é um fato.”

Assustado com a resposta franca e direta de Caspond, o Visconde Santz fez outra per-
gunta.

“Então, então onde é que o corpo de Sua Majestade Sagrada se encontra?”

“...Estava em um estado horrível, então tivemos que cremá-lo. Originalmente, estáva-


mos planejando usar a magia 「Preservation」 e dar a ela um funeral de estado depois
de expulsar Jaldabaoth...”

Caspond balançou a cabeça com uma expressão de dor no rosto, como se não pudesse
suportar continuar:

“Ao mesmo tempo, confirmamos a morte da suma sacerdotisa, Kelart Custodio.”

“Então foi isso...”

Durante esse silêncio, Caspond aproveitou o tempo para tomar uma bebida.

O substituto de Calca estava bem diante de seus olhos. No entanto, a suma sacerdotisa
Kelart Custodio — que estava no ápice de todos os magic casters divinos — não poderia

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339
ser tão facilmente substituída. Assim, eles estavam cuidadosamente considerando a me-
lhor forma de usar a morte de Kelart.

Depois de ver que eles não reagiram mesmo depois de tomar dois drinques de vinho,
Caspond lhes deu outro pedacinho de informação.

“Seus restos também estavam em condições terríveis, então foram cremados.”

Os nobres franziram o cenho. Eles sentiram algo da morte de duas das principais indi-
víduas do Reino Sacro? Talvez eles finalmente tivessem percebido que aquela era uma
batalha em que suas vidas estavam em jogo e perder significava a morte. Eles provavel-
mente estavam assustados com a percepção de que não seriam resgatados mesmo se
fossem aprisionados.

“E quanto a capitã dos paladinos, Custodio-dono?”

“Quer falar com ela? Se puder esperar, eu providenciarei isso.”

“Oya, então ela ainda está viva? Enquanto isso, Sua Majestade Sagrada e a suma sacer-
dotisa-dono estão ambas mortas...”

O Conde Randalse tinha uma barba magnífica. Quando ele entregou aquelas palavras
em um tom de voz desdenhoso, os outros sorriram ironicamente, como se pensassem o
mesmo. Caspond abriu a porta e ordenou que o paladino do lado fora chamasse Reme-
dios.

Assim que o vinho nos copos estava prestes a secar, Remedios entrou na sala.

Antes que o Conde Randalse pudesse falar, ele deu uma olhada em Remedios e seus
olhos se arregalaram.

“O quê!? Você é a Capitão Remedios, líder da Ordem Paladina?”

A zombaria em seu tom foi substituída pelo choque. Todos os nobres do Reino Sacro
sabiam como era Remedios. O Conde Randalse também não foi exceção, daí sua surpresa.
Ela parecia tremendamente diferente de como ele se lembrava dela.

Neste momento, Remedios Custodio parecia um fantasma.

Seus olhos estavam profundamente afundados e suas bochechas estavam abatidas. No


entanto, uma luz ardente brilhava em suas pupilas.

“Você me chamou aqui, não? Acha que eu sou quem?”

“Quê! Que... que atrevid...”

Capítulo 7 Salvador da Nação


340
A voz do Conde Randalse esmaeceu e ele olhou atentamente para Remedios.

Mesmo agora, Remedios parecia muito assustadora. O fato de que ninguém sabia o que
ela estava pensando ou o que faria, deixava os outros inquietos. Foi por isso que Caspond
não manteve Remedios ao seu lado. Também foi por isso que ele tomou o cuidado de não
deixar Remedios saber nada sobre Neia.

“O que você quer?”

Todos neste país sabiam que Remedios Custodio era a melhor paladina do país. Quando
se tratava de força bruta, ela era o principal ser nesta nação.

Que uso teria a autoridade em face da violência quando a mesma estava à beira da sel-
vageria? A armadura mais sólida da aristocracia não passava de papel para ela. No pas-
sado, havia pessoas próximas a ela que seguravam suas rédeas, então antes ela estava
em um estado de espírito onde ela poderia suportar ser contrariada. No entanto, era uma
questão diferente agora.

Todos os nobres entenderam isso, então não disseram nada. Remedios bufou ao vê-los
e deu de ombros.

“...Posso ir agora, Vossa Alteza? Parece que não havia razão para me chamar.”

“Ahh. Obrigado por ter vindo.”

Depois que Remedios saiu, os nobres finalmente se permitiram parecer infelizes.

“Como ela ousa mostrar tal desrespeito a Sua Alteza?”

“Mesmo que ela seja a capitã da Ordem Paladina, essa atitude é intolerável. Podemos
permitir que alguém sem lealdade à família real permaneça como capitã?”

Caspond levantou a mão para reprimir os murmúrios.

“Estamos em guerra agora. Seus talentos ainda são úteis. Deixe-nos deixá-la a disposi-
ção para o futuro Rei Sagrado.”

Algumas pessoas ficaram aborrecidas com a atitude de Remedios. Alguns deles estavam
escondendo o medo com a raiva, mas outros tinham segundas intenções. Caspond sabia
disso e sorriu friamente em seu coração.

Remedios tinha sido o punho férreo do antigo Rei Sagrado, além de uma arma poderosa.
Certamente alguém lá fora não iria querer deixar a arma para o próximo Rei Sagrado.
Não, todos eles podem estar pensando isso até onde ele sabia.

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“Ohhh! Vossa Alteza tem razão! São tempos de guerra! Ainda assim, não continuaremos
lutando contra os demi-humanos para sempre!”

“O Conde tem razão! Creio que o nosso emissário já mencionou que conseguimos vir
aqui porque derrotamos as forças demi-humanas. Vossa Alteza! Devemos pressionar
nossa vantagem e montar uma perseguição!”

“Exatamente! Devemos destruir os demi-humanos de uma só vez, para que as realiza-


ções de Vossa Alteza alcancem mais ouvidos.”

“Entendo, entendo. Então, como está o Velho Roxo?”

Os nobres se entreolharam e depois o Marquês Bodipo falou em seu nome.

“O velho parece doente, então não pôde nos agraciar hoje.”

O Marquês era a pessoa mais idosa aqui, então a pessoa que ele chamou de “velho” era
um indivíduo de 80 anos que outrora fôra um dos Nove Cores. Por ser um grande nobre
do Sul com o posto de Marquês, ele recebera essa cor em reconhecimento por sua leal-
dade à família real e suas realizações.

Nem todos os Nove Cores haviam conquistado sua posição por causa de sua força de
luta. Muito parecido com o Roxo, alguns deles ganharam o título por causa de uma
grande contribuição. Por exemplo, havia uma Duquesa que foi nomeada a Azul devido à
sua fama como perita forense.

Enquanto Caspond ponderava a resposta do Marquês Bodipo, ele sentiu que o outro
homem não estava escondendo nada, Caspond sorriu friamente em seu coração. Ele já
tinha percebido tudo, mas estava simplesmente confirmando essa reação com seus pró-
prios olhos.

“...Entendo. Parece que suas opiniões coincidem com as minhas.”

Caspond delineou seu plano de arruinar o esquema de Jaldabaoth matando os demi-


humanos:

“No entanto, o que faremos se o Jaldabaoth aparecer?”

“Jaldabaoth é um demônio muito poderoso? Ouvi dizer que a Capitã-dono não pôde
proteger Sua Majestade Sagrada.”

O Conde Granero nunca havia visto Jaldabaoth antes, motivo pelo qual ele estava fa-
zendo uma pergunta tão inocente. Caspond respondeu em tom sombrio.

“Ele é extremamente poderoso. Pedimos ao Rei Feiticeiro para enfrentá-lo, e sua bata-
lha com Jaldabaoth foi realmente intensa.”

Capítulo 7 Salvador da Nação


342
“O Rei Feiticeiro? Quer dizer aquele rei undead!?”

Era de se esperar que eles exclamassem de surpresa.

“Oya? Então não ouviu os rumores? Entendo...”

“Então o senhor pediu ajuda do exército de outro país, Meu Príncipe? Mas isso é terrí-
vel!”

“Não é um exército. Apenas o Rei Feiticeiro.”

Os nobres congelaram com um “Eh?” Em seus lábios. Demorou algum tempo antes que
eles se mexessem novamente.

“O Rei Feiticeiro? Sozinho? O primeiro e único rei, aquele que está no auge de sua nação,
veio sozinho?”

Caspond assentiu em resposta à pergunta do Conde Randalse.

“Como pode... isso é impossível, não é? Não há como um rei assim existir! Ele não tinha
seus exércitos a disposição?”

Não faz sentido algum, as pessoas reunidas murmuraram. Alguns se perguntaram se


isso era algum tipo de estratagema. Porém, Caspond negou-lhes tão concisamente
quando um machado de um carrasco.

“Mesmo que digam isso, é a verdade. Tudo o que podemos fazer é aceitá-la. Além disso,
se o Rei Feiticeiro trouxesse seus exércitos com ele, então eles teriam se retirado no mo-
mento em que perderam o duelo contra Jaldabaoth.”

“Ele perdeu? ...Eu não entendi. Não dizem que seres de natureza undead não morrem
mesmo que o cérebro apodreça? Enfim... Isso é uma situação péssima, não?”

“Certamente é. Mas um dos emissários que pediram que o Rei Feiticeiro viesse foi a
Remedios. Então creio que entregá-la para ganhar o perdão da nação dele será de suma
importância, assim como outras medidas diplomáticas.”

“Isso resolverá as coisas? ...Agora que mencionou, o Reino Feiticeiro é uma nação dentro
das fronteiras do Reino Re-Estize. Nesse caso, eles não poderão cruzar as fronteiras do
Reino para nos alcançar... isso significa que devemos estar em alerta se o Reino for des-
truído?”

Eles não conseguiam entender o que estava acontecendo, e todos os nobres se agarra-
vam às suas cabeças. Era como se estivessem pensando sobre o que fazer se o sol nas-
cesse no oeste. Portanto, eles decidiram arquivar o assunto por enquanto.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


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“Bem, vamos deixar isso de lado por hora. Quais são seus planos futuros, Vossa Alteza?”

“Eu— eu gostaria de retomar a capital. E eu gostaria de fazer isso o mais rápido possí-
vel.”

“Nesse caso, certamente vamos ajudá-lo!”

“Vossa Alteza vai se tornar o herói que salvou esta nação de Jaldabaoth!”

“O exército de demi-humanos que invadiu nossa nação foi de cem mil. Eles foram redu-
zidos à cerca de trinta mil agora, se reunirmos as pessoas desta cidade e os soldados que
trouxemos, poderemos derrotá-los facilmente!”

“Vossa Alteza! Em breve chegará o dia em que te chamarão de Vossa Majestade!”

Caspond encarou os nobres lisonjeiros e colocou uma expressão de seu rosto que dizia
que eles tinham acertado na mosca.

“Hum. Não vou esquecer de ser grato pela ajuda que os senhores providenciaram.”

“O que o senhor está dizendo? Estamos apenas fazendo nosso dever ao Reino Sacro e à
família real!”

Em seu coração, Caspond sorriu de uma maneira completamente diferente.

“Muito bem. Então, senhores, vamos nos preparar para recuperar a capital!”

Parte 2

Uma semana depois de terem se juntado aos exércitos dos nobres do Sul, eles termina-
ram seus preparativos e começaram um novo avanço.

Seu próximo alvo era a cidade de Prart, a oeste de Kalinsha.

Neia não pôde esconder seu desconforto enquanto galopava a cavalo.

Embora fizesse todo o sentido aproveitar essa chance de exterminar os demi-humanos,


enquanto os ferimentos de Jaldabaoth ainda não haviam se curado, isso não se ajustava
bem aos sentimentos dela. Ela queria aumentar o número de apoiadores e colocar seus
esforços na finalização dos preparativos para o esforço de resgate que seria enviado em
busca do Rei Feiticeiro.

Capítulo 7 Salvador da Nação


344
Dito isso, Neia sabia por experiência direta com Remedios que a irritação de um coman-
dante estava intimamente ligada ao moral. Ela não podia descontar suas frustrações em
seus subordinados.

Neia respirou fundo várias vezes para se acalmar e seus pulmões se encheram de ar frio.
A primavera estava perto, mas ainda se podia sentir o frio do inverno.

Depois de recuperar a compostura, Neia examinou o exército que estava indo em frente.

Havia cerca de 95.000 pessoas aqui, em uma coluna que parecia estender infinitamente.
Suas forças eram compostas de aproximadamente 30.000 homens dos nobres do Sul e
65.000 homens do Exército de Libertação. Aliás, dos restantes 20.000 homens do Sul,
10.000 foram designados para garantir o eixo de retiro e os outros 10.000 estavam pos-
tos em Kalinsha.

Entre eles, estavam 2.000 arqueiros liderados por Neia, todos pertencentes ao Corpo
de Resgate.

Enfrentando-os estavam os remanescentes do exército demi-humano, que eram esti-


mados em cerca de 30.000, então havia uma enorme disparidade nos números.

No entanto, cada indivíduo era mais forte do que um ser humano, e mais importante,
eles tinham que estar em guarda contra Jaldabaoth, então não poderiam ser descuidados
mesmo com sua vantagem numérica.

Eles embarcaram nessa operação sob a suposição de que Jaldabaoth ainda estava ferido
e incapaz de agir. Se Jaldabaoth tivesse se recuperado totalmente, seria como marchar
para a morte.

Seu coração batia como um despertador.

Eu deveria ter priorizado o resgate do Rei Feiticeiro acima de tudo...

Neia se perguntou. Seus pensamentos começaram a girar em círculos.

“—Baraja-sama. A senhora precisa de informações dos membros do Corpo em outras


unidades?”

Bertrand moveu o cavalo ao lado dela antes de fazer sua pergunta, e Neia piscou em
resposta. Ela não fazia idéia do que ele estava falando.

Depois de pensar um pouco, Neia finalmente entendeu e acenou apressadamente a mão


que não segurava as rédeas de seu cavalo.

“Não, não, não precisamos fazer essas coisas de espião. Afinal, somos companheiros
marchando em direção ao mesmo objetivo.”

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“Ohhh! Eu não esperava nada menos da senhora, Baraja-sama. Como porta-voz de Sua
Majestade, suas palavras são muito gentis.”

“...Embora seu rosto seja assustador.”

Depois que Bertrand a elogiou, Shizu falou por trás de Neia. Como Shizu não podia ca-
valgar, as duas dividiram a mesma sela.

Mesmo que Shizu fosse sua senpai, uma digna de seu respeito, ainda era um pouco chato
ouvi-la continuar repetindo isso repetidas vezes.

Deveria ter deixado você ir a pé.

O passo e a resistência de Shizu excediam os de um ser humano normal. Ela estava na


sela só porque seria rude deixar uma das subordinadas do Rei Feiticeiro a pé.

Bertrand ouviu isso, mas não a ajudou em nada. Ele não apoiou nem rejeitou essa afir-
mação. Ele provavelmente não poderia negar essas palavras porque elas tinham sido
faladas por uma subordinada do Rei Feiticeiro e, acima de tudo, porque eram verdadei-
ras.

Bem, acho que ele não pode simplesmente dizer não... afinal, eu não teria que usar a vi-
seira se não fosse verdade...

Dito isto, Neia ainda era uma menina. Mesmo que fosse verdade, e mesmo se as pessoas
tivessem dito tantas vezes ao ponto dela se acostumar, ter pessoas dizendo que seu rosto
era assustador ainda doía.

“Baraja-sama. Um mensageiro veio da sede. Nossos exploradores avistaram o exército


demi-humano. Seu número é estimado em trinta mil. Portanto, faremos a formação aqui.
O mensageiro voltou para a sede depois de transmitir essa mensagem. Precisa fazer
algo?”

“Isso é bom. Se você acha que precisa ser feito, então tudo bem.”

Bertrand estava indo muito bem como seu diretor executivo.

“Ainda assim, os demi-humanos realmente querem lutar uma batalha campal...”

Os demi-humanos tinham apenas um terço dos números do Reino Sacro. Embora cada
um deles fosse um combatente individual superior, certamente não teriam chance se
lutassem em campo aberto. Se eles defendessem uma cidade, seriam capazes de fazer
pleno uso das defesas da cidade e compensar o déficit na força de combate.

Capítulo 7 Salvador da Nação


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De todo modo, seria extremamente difícil vencer uma vez que Jaldabaoth se recupe-
rasse. A melhor estratégia dos demi-humanos deveria ser ganhar tempo.

Ou isso, ou teriam que lidar com a criação de áreas inacessíveis à cavalaria e a limitação
do alcance da luta.

“Então, estamos prontos para lutar em campo aberto?”

“Sim. Até porque, não há bosques nas proximidades, onde o inimigo poderia esconder
emboscadores. E também não há nem colinas, certamente estariam em desvantagem
onde for que isso se forme.”

“...Por que em um lugar como esse?”

Bertrand começou sua resposta à pergunta de Shizu com:

“É mais provável...”

“Eles estão se preparando para fugir, não?”

“Fugir?”

“Isso mesmo, Baraja-sama. Do mesmo modo que os Zerns traíram, nem todos os demi-
humanos são fiéis a Jaldabaoth. Se desejarem fugir, mesmo que isso signifique trair Jal-
dabaoth, as raças que querem viver não se entocariam em uma cidade, mas escolheriam
lutar em campo aberto. Isso porque seria difícil debandar caso tenham que defender
uma cidade.”

Os olhos de Bertrand tremelicaram e ele ficou sombrio, isso fez Neia estremecer.

Assim que Neia se perguntou se deveria usar a habilidade que havia desenvolvido re-
centemente, a sombra que pairava sobre ele gradualmente desapareceu e seus olhos re-
cuperaram o brilho habitual. Já que a luta estava prestes a começar, talvez fosse bom
reprimir esse ódio interno.

“...Agora entendi.”

Shizu assentiu em aprovação e Bertrand simplesmente respondeu: “Provavelmente


deve ser isso.”

As palavras de Bertrand faziam muito sentido.

Nem mesmo Jaldabaoth poderia ter certeza se estavam planejando morrer em uma ba-
talha de campo ou fugir. Se fosse esse o caso, seria melhor esperar até o cair da noite, o
que permitiria aos demi-humanos a chance de fugir e, assim, reduzir a quantidade de
mortes desnecessárias.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


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Neia sabia disso, mas não disse.

Os demi-humanos causaram muita desgraça ao povo desta nação.

Os demi-humanos sob Sua Majestade provavelmente poderiam ser perdoados, mas eles
vão matar todos os outros demi-humanos além deles...

Havia até rumores de que as pessoas que defendiam a coexistência com os demi-huma-
nos ou que se manifestavam por elas tinham sido secretamente mortas ou abertamente
linchadas.

Na verdade, quando o Rei Feiticeiro a levou para libertar os campos de prisioneiros,


onde ela havia testemunhado vários cadáveres humanos que pareciam ter sido lincha-
dos. Eles aparentemente eram pessoas que tentaram bajular os demi-humanos.

“Baraja-sama. Embora eu não saiba como a sede pretende nos alocar, devemos reunir
todos os comandantes da unidade primeiro?”

“Não, eu só preciso de uma noção aproximada de onde eles foram alocados. Não im-
porta onde tenham sido atribuídos, acredito que todos saberão o que fazer.”

A posição de Neia e dos outros seria determinada pela forma como a liderança do Reino
Sacro pretendia implantar Shizu, que estava abraçando Neia pela cintura.

Se houvesse inimigos fortes entre os demi-humanos, Shizu seria enviada para as linhas
de frente para fazer uso dela. Se fossem usá-la como uma arqueira normal, então seria
posicionada no meio da formação, ou talvez ficaria com os outros arqueiros. Se eles não
quisessem deixar Shizu — uma subordinada do Rei Feiticeiro — se destacar demais, en-
tão a colocariam atrás da retaguarda.

Neia previu que elas permaneceriam na retaguarda até que tivessem feito contato.

Três horas depois, ela percebeu que esta era a resposta certa.

♦♦♦

Em contraste com a formação Escamas de Peixe dos demi-humanos, os humanos esco-


lheram dividir-se em duas colunas. O flanco esquerdo era composto por 30.000 homens
do Sul e 10.000 homens do Exército de Libertação, num total de 40.000. Os 55.000 res-
tantes membros do Exército de Libertação formaram o flanco direito e juntos formaram
algo como uma formação de Asa de Grou.

Já que os humanos queriam exterminar os demi-humanos nessa batalha, eles escolhe-


ram cercar o inimigo e lentamente fechar o laço.

Capítulo 7 Salvador da Nação


348
Os demi-humanos, por outro lado, escolheram uma formação que enfatizava o poder
penetrante, embora ainda fosse incerto se era para romper o cerco ou para abater tantos
humanos quanto possível.

Por fim, Neia e os outros foram encarregados de proteger os engenheiros que estavam
montando o acampamento para eles, em uma unidade isolada que ficava alguma distân-
cia do campo de batalha.

Isso foi mais um pedido de Caspond do que uma ordem, o que significava que eles ti-
nham praticamente permitido que se movessem livremente. Eles poderiam até mesmo
negligenciar seu dever de proteger os engenheiros sem se responsabilizar pelas conse-
quências, o que significava que a liderança do Reino Sacro havia essencialmente renun-
ciado à toda autoridade de comando sobre eles.

Com certeza, a razão para isso foi por causa da presença de Shizu.

Neia estava nominalmente no comando, mas como viajou com Shizu — que era prati-
camente uma cidadã do Reino Feiticeiro — significava que eles não poderiam ordená-la
como bem entendessem. Um membro da realeza do Reino Sacro emitindo um comando
para um lacaio do Rei Feiticeiro pode acabar se tornando um casus belli.

Neia queria muito perguntar o porquê deles fazerem coisas diferentes depois que Shizu
fez tanto durante a batalha de Kalinsha. No entanto, a chegada dos nobres do Sul havia
mudado a recepção que ela havia recebido. Isso porque eles não podiam simplesmente
considerar o presente, mas também os eventos futuros.

Quando Neia e os outros se formaram, observaram o distante campo de batalha.

Dito isso, eles estavam longe o suficiente para não sentir a tensão no ar, a sede de san-
gue daquele lugar não poderia chegar onde estavam. O som dos engenheiros batendo
nas estacas com seus porretes soou um tanto solene.

“...Eles ainda estão se encarando? Quando isso vai começar?”

“Nossa situação só vai piorar quanto mais tempo passar. Sinto que devemos dar o pri-
meiro passo...”

Bertrand respondeu à pergunta de Shizu.

A escuridão da noite era aliada dos demi-humanos. Mesmo alguém conseguindo ver
nitidamente em uma planície enquanto houvesse a luz da lua, hoje estava nublado. Não
havia dúvida de que os demi-humanos seriam um oponente muito complicado se ata-
cassem nessas circunstâncias. Além do mais, o acampamento atual que construíam não
seria muito resistente.

Portanto, os humanos deveriam fazer sua jogada antes do anoitecer.

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Além disso, eles tinham uma enorme vantagem nos números, então, se conseguissem
uma vitória completa aqui, poderiam arruinar o esquema de Jaldabaoth. Em outras pa-
lavras, o Reino Sacro seria libertado desse longo tormento. Não havia razão para não
avançar.

Neia também esperava que a luta terminasse aqui. Dessa forma, nada mais impediria
Neia. Ela poderia dedicar toda sua força em busca do Rei Feiticeiro.

Neia olhou para cima.

Sua aguçada audição havia captado um poderoso grito e o trovejo de muitas pessoas
correndo. Bertrand pareceu ter ouvido um momento depois, porque ele disse em voz
baixa:

“Começou.”

Ninguém sabia como esses dois exércitos — que computavam mais de 100.000 quando
somados — se moviam ou como se chocariam.

As planícies onde os demi-humanos esperavam eram retilíneas, sem morros dos quais
pudessem supervisionar o campo de batalha.

Esta deveria ter sido a deixa para montar uma torre de vigia, mas eles não tinham essa
estrutura em seu acampamento.

“...E agora?”

“Nossa missão é ficar aqui e protegê-los. Vamos nos concentrar em executar isso.”

Era praticamente impossível para o exército em tremenda desvantagem romper as for-


ças humanas até chegar a este lugar. Manter Shizu — sua força de combate mais forte —
foi uma boa jogada política, mas um péssimo movimento militar.

Se eles a colocassem na linha de frente, diminuiria muito as perdas do Reino Sacro.

Todos entendiam isso, mas ninguém podia realmente fazê-lo. Isso porque queriam evi-
tar inflacionar ainda mais a reputação de Shizu.

Que perda de vidas sem sentido...

Pensou Neia, mas nem cavalos selvagens arrancariam essas palavras de sua boca.

30 minutos depois, houve aplausos do flanco direito. Não apenas Neia captou isso — os
gritos de alegria foram altos o suficiente para que chegassem aos ouvidos de todos em

Capítulo 7 Salvador da Nação


350
seu time. Eles devem ter conseguido a vitória se pudessem ser ouvidos a uma distância
tão grande.

10 minutos depois disso, um mensageiro do campo de batalha anunciou em voz alta o


que havia acontecido.

“A Capitã Remedios Custodio, da Ordem Paladina, relata que acabou de derrotar o co-
mandante inimigo, um dos demônios de Jaldabaoth, o Scale Demon!”

O mensageiro saiu depois de transmitir essa mensagem.

Neia começou a se perguntar se era verdade.

Não, provavelmente era verdade que Remedios havia derrotado um demônio. Mas
aquele demônio era realmente um dos lacaios de Jaldabaoth?

Neia sabia muito bem o poder do demônio que ela e Shizu tinham lutado em Kalinsha.

Ela não achava que Remedios poderia derrotá-lo.

A Capitã é forte o suficiente para derrotar algo assim? Ou... poderia ser algum tipo de
dupla? Se eu não perguntar a Senpai...

“Shizu-senpai, eu tenho uma pergunta. Quão forte é esse Scale Demon?”

“...O suficiente para que a Capitã consiga derrotá-lo.”

“Mas o Circlet era mais forte, certo?”

“...A existência de demônios fortes implica que há demônios fracos. O Scale Demon é um
dos mais fracos.”

“Entendi...”

Neia ficou aliviada. Dois dos lacaios demônios que haviam entrado neste país já haviam
sido derrotados. Agora restara o grande demônio das colinas, mas não havia sentido em
pensar nisso.

“O país está salvo agora... Já que o comandante inimigo está morto, o exército demi-
humano deve se separar. De acordo com o plano do Príncipe, tudo deveria ter acabado.”

Havia um olhar melancólico no rosto de Bertrand, porque ele perdera a chance de se


vingar com as próprias mãos.

“...Ainda é preciso caçar os retardatários.”

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


351
“Claro! Eu não esperava nada menos da senhora, Shizu-sama!”

Quando Bertrand respondeu, sua expressão alegre de repente congelou.

Da ala esquerda — E de fato, bem no meio das forças nobres —de repente brotou uma
coluna de fogo. O rugido infernal foi alto o bastante para que eles pudessem ver clara-
mente à distância, e parecia que queimaria o céu.

Todo mundo olhou preocupado para Shizu.

Eles poderiam pensar em apenas um ser que poderia fazer uma coisa dessas. Logo de-
pois disso, Shizu confirmou o que eles estavam imaginando.

“...Oh não... é Jaldabaoth.”

♦♦♦

“A Capitã Remedios Custodios, da Ordem Paladina, relata que acabou de derrotar o co-
mandante inimigo, um dos demônios de Jaldabaoth, o Scale Demon!”

A ala direita explodiu em aplausos ao ouvir o que o mensageiro de Caspond lhes havia
dito. O rosto do Marquês Bodipo se iluminou com um sorriso.

“Fuhahaha! Ela conseguiu! Ela abateu o general inimigo! Seja lá o que se passa no cére-
bro daquela mulher, seu estilo de espada ainda é de primeira classe. Isso deve enfraque-
cer o ímpeto do inimigo. Ordeno a todos que os obriguem a voltar e matar cada um da-
queles demi-humanos! Ninguém sobreviverá!”

“Sim, senhor!”

Os soldados se espalharam imediatamente ao receber as ordens do Marquês.

“Realmente esplêndido, Marquês-sama. Nós somos verdadeiramente afortunados que


o comandante da unidade que está diante de nós nesta batalha — na mesma batalha que
nós — tenha sido eliminado.”

Conde Cohen, um homem que era muito respeitado em sua facção, sorria abertamente
enquanto falava.

“É verdade, Conde. Agora estamos um passo à frente deles.”

A eliminação do comandante da unidade que havia escaramuçado repetidamente as


forças da Aliança Nobre do Sul durante o longo confronto foi um golpe massivo. Era, sem
dúvida, uma carta importante que eles poderiam jogar ao negociar com os outros nobres
do Sul.

Capítulo 7 Salvador da Nação


352
Comparada a Remedios Custodio, sua irmã Kelart Custodio deixara lembranças muito
mais amargas em suas mentes. Ainda assim, esta foi uma conquista que poderia acabar
com esse ódio.

Além disso, isso também foi uma conquista e tanto para Caspond. Simplificando, se ele
conseguisse sobreviver até o fim, a posição do próximo Rei Sagrado seria praticamente
dele. Mesmo os nobres do Sul mais influentes não seriam capazes de se queixar, e com o
apoio completo dos marqueses, não haveria nenhum problema.

Se houvesse algum elemento incerto nesse cenário, seriam os outros membros da famí-
lia real. Não haveria problemas se todos eles estivessem mortos. Todavia, ele ainda não
estava preparado para manchar as mãos, então tudo que podia fazer era orar.

O Marquês imaginou alegremente o futuro equilíbrio de poder na sociedade nobre.

Se quisesse que sua família se tornasse a mais influente do Reino Sacro, ele não poderia
se dar ao luxo de cometer erros na operação de limpeza que se seguiria a isso. Tudo até
agora foi perfeito. Tudo o que eles tinham que fazer era continuar assim.

“Conde. Acha que podemos levar os demi-humanos para o sul?”

“Marquês-sama, por que o senhor faria isso?”

O Conde pareceu surpreso e confuso ao fazer sua pergunta. O Marquês riu dele interna-
mente.

Não havia como o Conde não entender o subtexto. O Marquês não teria favorecido nin-
guém tão incompetente. O Conde fingia surpresa, embora soubesse o que o Marquês ti-
nha em mente.

Ele devia estar tentando dar a impressão de que não conseguia entender o que o grande
e poderoso Marquês-dono estava planejando. Foi realmente uma tentativa maçante de
bajulação.

O Marquês decidiu seguir o fluxo das intenções. Se ele fizesse o Conde acreditar que
poderia ser facilmente manipulado, seria mais fácil usá-lo.

“Não ouviu? Os demi-humanos são uma excelente ferramenta para enfraquecer os no-
bres que não são da nossa facção.”

Ele levantou um dedo, adotando o ar de um velho que não resistiu à vontade de se ex-
plicar.

“Agora que os nobres do norte foram enfraquecidos, o equilíbrio de poder entre o Norte
e o Sul foi abalado. Sendo as coisas assim, é inevitável que os nobres do Sul acabem tendo

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


353
mais poder em certas questões... Mas isso seria problemático para a família real. Em ou-
tras palavras, é isso que a família real que estamos ajudando vai enfrentar.”

“Eu não esperava nada menos do senhor, Marquês-sama. E pensar que suas considera-
ções se estenderam tão longe!”

A bajulação estava flagrantemente escancarada neste momento, mas o Conde ainda a


entregava com um tom alegre e uma voz alta.

“De fato. Nada me traria mais alegria do que a devastação deles às terras dos nobres
que nos atrapalharam.”

Enquanto observava o Conde olhar em volta preocupado, o Marquês afagou a barba e


pensou:

Esse homem é mesmo um bom ator.

“Relaxe, Conde. Estamos cercados por pessoas confiáveis. Boatos não se espalharão.
Além disso, quem acreditaria?”

“S-será mesmo? Há muitos elementos incertos se simplesmente deixarmos que os


demi-humanos fujam para o Sul. Nesse caso, por que não pressioná-los até o fim e depois
forjar um pacto secreto com os demi-humanos...?”

“Negociar com demi-humanos, então? Não é uma má idéia.”

Embora o Conde parecesse estar enojado com a idéia de usar demi-humanos, isso pro-
vavelmente era atuação. Ele era o tipo de homem que usaria tudo que podia até não so-
brar nada.

Conseguir um homem tão excelente em sua própria facção era também ficar de olho
nele.

Na verdade, ele já havia embutido várias pessoas na família do Conde. Ele também tinha
usado pessoas de outras facções para que ele não fosse descoberto, mesmo se alguém
usasse magias de charme.

“Conde, você também iria se houvesse uma chance de fazer um acordo com os demi-
humanos?”

O Marquês estava ciente de que o Conde estava planejando todo tipo de coisas por trás
daqueles olhos dele.

“Eu, eu realmente não quero ir, mas se o senhor pretende ir, então eu certamente o
acompanharei, Marquês-sama.”

Capítulo 7 Salvador da Nação


354
Ele provavelmente estava fazendo isso para poder dizer “o Marquês disse isso e aquilo”
e assim obter um trunfo para usar contra o Marquês. No entanto, apenas indo lá com ele
já o transformava em farinha do mesmo saco. No fim, seria um trunfo muito fraco.

“...Mesmo? Então não deveríamos dizer a Sua Alteza para interromper os ataques aos
demi-humanos? Não há necessidade de sacrificar mais pessoas na luta. Depois disso, al-
cançaremos a vitória na mesa de negociação.”

“É como diz, Marquês-sama. Mas os outros Condes parecem estar montando um ataque
total, se é o que deseja, então devemos detê-los o mais rápido possível para um melhor
efeito.”

“Tem razão.”

Pará-los enquanto tentavam fazer um nome para si mesmo seria um desserviço, então
seria melhor manter as coisas como estavam enquanto ainda consideravam o futuro. O
Marquês ficou encantado por em breve poder influenciar o futuro do Reino Sacro. Claro,
ele nunca deixaria isso aparecer em seu rosto.

“Entre em contato com os Condes—”

O pilar de fogo irrompeu e cortou as palavras do Marquês.

O Marquês não era completamente ignorante sobre magia. Ele pode não ser capaz de
usá-la, mas o conhecimento sobre a magia divina era comum entre a nobreza do Reino
Sacro. No entanto, ele só sabia sobre magias até o 2º nível, e seu conhecimento não se
estendia a magias de outros sistemas.

Mesmo assim, ele entendeu que o pilar de fogo diante de seus olhos era uma magia
incrivelmente poderosa.

“O que, isso poderia ser magia do chamado quarto nível? O tipo que a Kelart Custodio e
Sua Majestade Sagrada poderiam usar?”

“Eu, eu não sei. O que devemos fazer, Marquês-sama?”

“Er, hm. Eu não tenho muita certeza, mas vamos apenas recuar um pouco e nos mover
para um lugar mais seguro.”

Parte 3

O soldado Robby era um jovem de 24 anos. Mesmo não tendo recebido uma educação
completa, ele tinha ciência que havia muitas coisas neste mundo que não conhecia.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


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Assim sendo—

“Humanos. Eu retornei— Vocês realmente tiraram vantagem enquanto eu estava cu-


rando as feridas que o Rei Feiticeiro deixou em mim.”

—Quando o rugido furioso reverberou através do interior de seu corpo, Robby se mo-
lhou.

Ele não podia mais sentir sua calça encharcada em sua pele.

Depois de perceber o poder do monstro diante dele, ele teve uma premonição de que
estava prestes a morrer, e assim seus instintos de sobrevivência entraram em colapso.
Eles abandonaram seus sentidos inúteis e procuraram rapidamente uma maneira de so-
breviver.

No entanto, antes que pudessem encontrar alguma coisa, Jaldabaoth soltou seu poder.

“Morram. Queimem até as cinzas nas chamas da minha IRA.”

O fogo rugiu e uma onda de calor atingiu Robby no rosto. O calor incrível secou seus
olhos e encheu-o de uma dor incrível. O ar quente entrando em seus pulmões parecia
que estava prestes a incendiar todo o seu corpo por dentro. Na verdade, foi exatamente
isso que aconteceu.

Chamas chamuscavam sua pele e a água de seu corpo evaporava. Sua derme queimava
e depois a gordura abaixo, seguida pelos músculos e depois os nervos. Onde as camadas
subdermais de gordura eram finas, como nos braços, as chamas atingiam imediatamente
os músculos e nervos. Isso deveria ter causado a contração dos músculos e fazer com
que ele assumisse uma postura bizarra. No entanto, as altas temperaturas queimaram
sua pele exposta pela armadura, que impediu ser consumido de uma só vez.

Suas roupas, pele, músculos e por fim a gordura de sua barriga pegaram fogo, e suas
vísceras se esvaziaram intactas.

Os corpos humanos continham muita água. Foi por isso que demorou algum tempo para
que suas entranhas queimassem. Se isso fosse um incêndio comum, as chamas continu-
ariam queimando dentro do corpo por algum tempo, mas como a aura de fogo de Jal-
dabaoth gerava magicamente o calor, desaparecia quando ele se afastava.

Portanto, as tripas espalhadas de Robby não estavam esmaecidas pelo calor, mas per-
maneceram com uma cor bem rosada. A visão de pilhas de corpos chamuscados e as
novas porções que espreitavam através dos oceanos de sangue eram o suficiente para
fazer os espectadores quererem vomitar. Parecia o inferno na terra.

Capítulo 7 Salvador da Nação


356
Jaldabaoth deixou Robby — que havia gerado uma guirlanda de vísceras frescas — e
mais de 50 outros cadáveres chamuscados à sua volta enquanto ele caminhava para a
frente.

Jaldabaoth — o recém-invocado Evil Lord Wrath estava caminhando. Mesmo isso foi o
suficiente para matar as pessoas ao seu redor que foram apanhadas em sua aura de fogo.

“Desapareça! Saia do meu caminho!”

Muitos desses gritos podiam ser ouvidos, mas o primeiro a gritar foi o miliciano Fran-
cesco.

Ele pensava, Por que eu sou tão azarado? durante todos os dias. Graças ao sistema de
recrutamento do Reino Sacro, todos tiveram que fazer seu serviço militar e se unir ao
exército.

De fato, mesmo o filho de um grande comerciante como ele — um homem de futuro


brilhante — não era exceção. Claro, seu pai pagou os subornos apropriados para que ele
fosse designado para uma unidade mais leve, mas a vida de um soldado ainda era mise-
rável.

E assim que a miséria estava prestes a acabar, essa guerra havia se iniciado.

Não passou um dia em que ele não se queixou de sua infelicidade e da injustiça de tudo
isso. Ainda assim, tudo acabaria em breve, e ele poderia voltar a ser o herdeiro de uma
grande família de mercadores e entregar-se às atividades lucrativas de que tanto gostava.

As coisas estavam a poucos passos de se tornarem assim.

Um pequeno passo.

No entanto, agora estava fugindo desesperadamente do monstro em sua frente.

Se o pegasse, ele certamente morreria.

Ele desesperadamente moveu as pernas, que se recusaram a ouvi-lo devido ao seu


medo.

Ele estava cercado por outras pessoas que também estavam fugindo como ele. Assim,
ele fez pouco progresso apesar de seu pânico.

Em particular, o homem gordo na frente de Francesco era uma monstruosidade.

Portanto, Francesco empurrou o homem para longe.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


357
Ele fez isso para ficar apenas um passo mais longe daquele monstro. Ele fez isso por
causa de seu futuro alegre.

No entanto, quando ele empurrou o outro homem para longe, Francesco percebeu que
as pessoas à sua frente também tinham a mesma idéia.

Se o homem que foi empurrado para longe colidisse com as pessoas à sua frente, era
muito provável que entrassem em colapso em massa como dominós. Na verdade, foi exa-
tamente o que aconteceu com as pessoas na frente de Francesco.

Talvez se fosse apenas uma ou duas pessoas, ele poderia tê-las evitado. Talvez pudesse
tê-las pulado.

Mas Francesco não era atlético o suficiente para evitar uma enorme massa de pessoas
caindo ao mesmo tempo.

Ele desabou sobre a massa de pessoas.

Ele se debateu para ficar de pé — mas não teve tempo para isso.

A aura de fogo irradiando de Jaldabaoth alcançou-o.

Francesco não teve tempo de gritar. Por que eu? ele pensou, e então o dito pensamento
foi instantaneamente engolido pela mais pura agonia e tudo o que ele podia sentir foi a
dor.

Francesco teve sorte. Isso porque ele morreu imediatamente.

Jaldabaoth não parou de se mover. Ele pisoteava cadáveres enegrecidos sob os pés en-
quanto caminhava, como se estivesse em um terreno baldio vazio.

“FUJAM! FUJAAAAAAM!”

Um homem gritou o óbvio. Seu nome era Gorka, um soldado. Ele era um homem que
tinha fé em suas habilidades com a espada.

Foi por isso que teve a coragem de gritar essas palavras na frente de Jaldabaoth.

Ainda assim, isso foi apenas imprudência, porque Jaldabaoth passou a se mover em di-
reção a Gorka. Não havia como dizer se ele havia despertado o interesse de Jaldabaoth
ou porque tinha sido mera coincidência.

Quando Jaldabaoth avançava em outra direção era uma dádiva de Deus para uns, mas a
mais horrível das sortes para aqueles que entravam em seu caminho.

Capítulo 7 Salvador da Nação


358
Gorka viu que seria muito difícil fugir do monstro em meio ao caos, e então ele desem-
bainhou a espada.

Os olhos do monstro se moveram e, menos de um segundo depois, ele passou por Gorka.

Foi isso que o monstro pensava de Gorka.

Ele só merecia um único olhar.

Gorka berrou e correu na direção oposta ao seu fluxo humano.

A visão de pessoas carbonizadas desmoronando nas proximidades era muito assusta-


dora, mas talvez houvesse alguma esperança para ele. Talvez ele pudesse parar o mons-
tro.

Gorka soube da resposta com seu corpo.

A dor o preencheu.

Ele sequer pôde se aproximar daquele monstro.

Gorka queimou assim como os outros soldados que eram mais fracos que ele.

Gorka percebeu algo.

Para aquele monstro, Gorka não era diferente dos civis ao seu redor.

Se ao menos eu tivesse fugido, lamentou ele, antes que esse pensamento fosse abafado
pela agonia de ser queimado vivo. Gorka desabou com um grito silencioso, contorcendo-
se no chão como todos os cadáveres em volta dele.

Jaldabaoth não tinha nenhum objetivo em mente enquanto caminhava. No entanto, se


os humanos tentassem fugir, ele os perseguia.

“Fique longe!”

Ela correu.

Vivianna, que se juntou à campanha como uma magic caster, corria por sua vida.

Seus longos cabelos loiros balançavam ferozmente enquanto ela corria com toda sua
força.

Ela não tinha tempo para enxugar seu ranho ou suas lágrimas.

Ninguém poderia vencer um monstro assim.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


359
Alguém estava dizendo alguma coisa.

Ela não tinha tempo para se importar com isso.

Tudo o que ela conseguia pensar era: Eu só quero ficar longe daquele monstro.

Ela não podia afastar as pessoas correndo na frente dela. Tudo o que ela podia fazer era
passar por eles e continuar correndo.

Saiam do meu caminho.


Saiam do meu caminho.
Saiam do meu caminho.

Por que havia tantas pessoas em seu caminho?

Não dou a mínima se todo mundo morrer, mas eu não quero morrer.

Vivianna correu com esse pensamento em seu coração.

Ela estava correndo atrozmente, mas estava cercada por pessoas que fugiam em todas
as direções. Mesmo Vivianna, que era mais rápida que a média das pessoas, estava tão
lenta quanto uma tartaruga. Ela não podia fugir do demônio.

Calor escaldante acariciava as pontas do cabelo de Vivianna.

NÃOOOO!

Ela pensou na maneira horrível como as pessoas ficavam quando morriam.

“EU NÃO QUERO MORRER!!!”

Era uma coisa perfeitamente natural gritar.

Qualquer um teria pensado a mesma coisa.

Era muito difícil aceitar a morte calmamente quando ela aparecia diante de si. Isso seria
mais verdadeiro quanto mais repentinamente a morte aparecesse na sua frente.

“ISSO DÓÓÓÓÓÓI!”

O calor incrível significava que ela não podia sentir nada além de dor. Seu cérebro foi
agredido por uma agonia insuportável. Ela percebeu que logo estaria morta.

Não, eu não quero morrer, Vivianna pensou enquanto queimava até a morte.

Capítulo 7 Salvador da Nação


360
Jaldabaoth continuou em frente em silêncio enquanto começava a sentir-se entediado.

“Não corram! Lutem!”

Um valente homem gritou em cima de um cavalo.

Leoncio, o segundo filho de um retentor a serviço do Marquês. Ele havia se juntado à


batalha na esperança de ser reconhecido por sua esgrima. Ao redor dele estavam os ho-
mens que seu pai colocara sob seu comando, todos os quais eram pessoas que conheciam
suas habilidades.

O demônio caminhou sem pressa e deixou incontáveis cadáveres em seu rastro, cada
um deles torcido em agonia. Ele queria fugir, mas se o fizesse, seu futuro seria sombrio.
Tudo o que ele podia fazer era apostar em um futuro brilhante.

Tendo tomado essa decisão, ele gritou “Não corram!” várias vezes.

No entanto, isso era irrelevante para seu cavalo. Seus instintos gritavam que o demônio
que se aproximava era um monstro aterrorizante, e por isso queria fugir.

O que aconteceria se um cavalo disparasse em galope entre todas essas pessoas?

A resposta foi simples.

O cavalo se enroscou na multidão e caiu. As pessoas que o cavalo atropelou gritaram.


Não apenas isso, alguns deles tinham morrido.

Leoncio foi arremessado de sua sela e jogado no chão.

Felizmente, ele havia caído em cima de pessoas, tinha sido poupado do destino de ser
pisoteado pela multidão em fuga.

Se isso não bastasse, uma dor intensa encheu seu braço enquanto ele tentava se levan-
tar. Ele o torcera quando ele foi jogado de seu cavalo.

Ele não tinha idéia de onde sua espada estava. Deve ter sido arremessada pelo choque
de ser derrubado de seu cavalo.

Ele tentou procurá-la— e naquele momento, ele foi engolido por uma onda de dor su-
focante. Essa foi a primeira vez que Leoncio experimentou tanta angústia em sua vida.

A agonia o impediu de pensar.

Nos farrapos de sua mente dilacerada pela dor, o único pensamento coerente que ele
poderia formar era: por que eu?

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“Hm.”

Alguém estava em cima de uma pilha de cadáveres humanos queimados. O Evil Lord
que recebera o dever de agir como Jaldabaoth examinou as multidões em fuga.

Foi um pouco chato.

A aura ígnea não era uma habilidade incrível. Tudo o que fazia era causar dano de fogo
nos arredores. Pode-se reduzir bastante esse dano com magias de resistência ao fogo. É
claro que ele recebera o conhecimento de que o soldado médio deste país não possuía
tais habilidades.

Como um demônio, ele não gostava de simplesmente atormentar os fracos. Em vez


disso, ele gostava de brincar com os fracos que achavam que eram muito fortes. Era por
isso que ele esperava que um bobo tão arrogante se mostrasse, mas infelizmente não
parecia haver alguém assim.

O Evil Lord Wrath pisou em um cadáver queimado.

As entranhas espremidas pelo impacto foram carbonizadas em um instante.

O cheiro de miúdos encheu o ar.

O Evil Lord Wrath se afastou.

Se fosse para levar a sério e elevar seu poder, haveria muito mais baixas.

Esses humanos ainda não perceberam isso?

O Evil Lord Wrath manteve essa pergunta em seu coração enquanto caminhava.

Todos assistiram em silêncio enquanto o demônio caminhava orgulhoso e regiamente


de volta ao acampamento demi-humano.

Ninguém pensou, o que era esse monstro? não havia necessidade de perguntar. Até o
tolo mais idiota sabia a resposta.

Ele era o Imperador Demônio Jaldabaoth.

O ser que havia pisoteado o Reino Sacro e fez o povo chorar rios de lágrimas.

O demônio que causou estragos em duas nações demonstrou um poder que a humani-
dade nunca poderia superar. Ele havia retornado para trazer desespero para as pessoas
que já estavam cheias de esperança pela vitória.

Capítulo 7 Salvador da Nação


362
Parte 4

Neia tinha ouvido em silêncio, mas isso era outra coisa. Ela havia sido convocada para
a tenda de reunião e ficou surpresa com o quão deprimido estava os ânimos lá dentro.

Uma mesa tinha sido especialmente movida para cá, e os nobres do Sul que se sentavam
em volta estavam pálidos. Não apenas eles, os comandantes do Exército de Libertação
também estavam no mesmo estado.

Foi uma reação natural.

Ninguém poderia ter testemunhado o poder esmagador de Jaldabaoth e não ter ficado
chocado— não, naquela vez, Neia não ficara tão chocada. No entanto, isso aconteceu por-
que o choque de perder a grande entidade conhecida como o Rei Feiticeiro foi ainda pior.
Isso, além de tudo o que ela havia testemunhado até então, poderia ter entorpecido seu
coração.

Por outro lado, os nobres do Sul não tinham experimentado duras lutas até agora, então
talvez seu alarme fosse apenas o esperado. Eles não tinham experimentado um inimigo
que poderia matar homens um após o outro apenas andando, não deixando nada para
trás, apenas corpos hediondos.

Além disso, seu exército de quase 100.000 pessoas entrou em pânico por um único de-
mônio e se dissolveu em derrota.

“—O que é aquilo? Que droga é aquilo!? COMO VOCÊS CHAMAM AQUILO, AQUELE
MONSTRO!”

A voz do Conde Dominguez aumentou de forma constante.

Em contraste, Caspond — que sabia do poder esmagador de Jaldabaoth — deu de om-


bros despreocupadamente.

“Aquilo é Jaldabaoth... em carne e osso. Já falei sobre ele antes, Conde Dominguez.”

“Eu nunca ouvi falar da capacidade de matar pessoas apenas caminhando!”

É esse o problema...

Neia zombou de seu coração.

“De fato, é assim que é. Sua batalha com o Rei Feiticeiro — Sua Majestade — estava em
uma cidade, então não pudemos ver toda a extensão de seu poder. Mas eu já te disse o
quão poderoso é. Então, certamente, conseguir fazer algo assim não deveria ser uma
surpresa, não?”

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


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“Mesmo, mesmo assim!”

“—Conde. Eu sei o que quer dizer. Ver para crer, não é?”

Foi o Marquês quem falou. Tudo o que podia ser dito se resumia à; era preciso parabe-
nizá-lo por não estar tão nervoso quanto os outros.

“...Ainda assim, dizer isso não nos ajudará a fazer nenhum progresso. Não deveríamos
discutir o que precisamos fazer a partir de agora?”

“Isso faz todo o sentido, Marquês-sama. O que devemos fazer?”

Perguntou o Visconde Santz em uma rápida explosão de palavras. Sua atitude era com-
preensível, dado que ele não sabia se sua localização atual era segura.

Os nobres do Sul tinham a intenção de abater alguns retardatários com força esmaga-
dora para se tornarem os heróis que salvaram a nação. Deveria ter sido tão simples as-
sim. Mas Infelizmente, não foi o caso. Agora os caçadores se tornaram a caça.

O Marquês estava de braços cruzados e permaneceu em silêncio. Caspond respondeu


em seu lugar.

“Temos uma vantagem esmagadora no quesito números. O problema é que Jaldabaoth


pode derrubar essa vantagem sozinho. Gostaria de fazer a todos os presentes uma per-
gunta em minha capacidade de Príncipe. O que acham que devemos fazer para alcançar
a vitória sob essas circunstâncias?”

Após um breve silêncio, o Marquês respondeu:

“Só há uma coisa que podemos fazer.”

Em um tom extremamente confiante.

“Príncipe Caspond. Como o senhor disse antes, Jaldabaoth provavelmente irá recuar
uma vez que eliminarmos esses demi-humanos, certo? Então não temos outra opção se-
não fazê-lo.”

“Marquês-sama! O senhor ainda vai lutar?”

“Exatamente, Conde Randalse. Acha que podemos fugir agora?”

“...Marquês-sama, seria muito difícil para todos nós fugirmos, mas um pequeno grupo
não conseguiria fugir?”

Remedios bufou com a sugestão do Conde Cohen.

Capítulo 7 Salvador da Nação


364
“Essa é uma resposta apropriada para um incompetente que não consegue entender os
ideais de Calca-sama.”

“O quê!?”

“O que você fará depois de correr e fugir? Se agachar como um bebê sob um fardo de
feno em um celeiro? Você não é nobre? Você não deveria dizer que vai se sacrificar pelas
pessoas ou algo assim?”

“E você, Capitã Custodio? Você é uma paladina que porta uma espada sagrada, mas nem
mesmo pôde derrotar um único demônio!”

Gritou o Conde Randalse.

Remedios parecia um fantasma agora, e seus olhos pareciam brilhar por dentro quando
ela se virou para ele.

“Sim. Eu não pude vencê-lo. O único que pode lutar contra ele é aquela criatura undead.
Mas se fosse comprar algum tempo — mesmo que fosse apenas para deixar as pessoas
viverem um segundo a mais — então eu lutaria até a morte contra ele! E você, o que
faria?”

Quando uma guerreira que estava preparada para enfrentar a morte olhasse fixamente
para um nobre que queria fugir da morte, o resultado foi uma conclusão precipitada.

O Conde Randalse desviou o olhar e Remedios bufou ironicamente para ele.

“Meu Príncipe. Meu desejo é ordenar que os paladinos lutem até a morte, o senhor ainda
tem algo a dizer?”

“Você está decidida e isso é muito importante... mas, bem, pode mesmo ir? Não se im-
portaria em deixar o Vice-Capitão Montagnés conosco, não é?”

“Não há problemas. Montagnés, o resto é com você.”

Com isso, Remedios saiu devagar da tenda. A última coisa que fez foi olhar para Shizu,
que estava sentada ao lado de Neia.

“A todos, peço desculpas em nome da nossa Capitã.”

Disse Gustav enquanto ele olhava para os nobres — que estavam falando, “Franca-
mente...” — antes de continuar:

“Ainda assim, essa opinião é compartilhada por todos nós. Nós, paladinos, estamos to-
dos prontos para morrer como escudos para o povo. Esperamos que os senhores, sendo

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de nascimento nobre, sejam igualmente determinados. Afinal, não podemos lutar se não
houver comandantes.”

“Como é!?”

Antes que Neia pudesse dizer quem havia exclamado de surpresa, o Marquês Bodipo
falou.

“Isso é o suficiente... Não estamos planejando como morrer gloriosamente, estamos pla-
nejando como vencer. Não é mesmo, Meu Príncipe?”

“Exato, Marquês-dono. Não há muito tempo antes que Jaldabaoth assuma o controle
total. Precisamos encontrar uma maneira de vencer antes disso.”

“—Não há como vencer, ou há!? Você não viu o poder desse demônio!?”

Gritou o Conde Granero enquanto se levantava e:

“Se ele usasse magia, atacasse ou algo assim, ainda podemos pensar em um modo de
detê-lo! Mas tudo o que ele está fazendo é andar! Ele pode transformar a área ao seu
redor em um inferno escaldante apenas caminhando!”

“Por falar nisso... Conde Granero, creio que saiba um pouco sobre magia, certo? Teria
como...”

“Nada que aprendi abrange poderes assim...”

“Então é isso... então, supondo que ainda restam dez mil inimigos demi-humanos. Po-
demos fugir de Jaldabaoth enquanto os derrotamos?”

O Marquês pareceu aprovar a proposta de Caspond.

“Parece que não há outra maneira... Embora seja complexo, acho que seria mais difícil
tentar derrotar Jaldabaoth com a nossa força.”

“Um momento, por favor.”

Interrompeu o Conde Cohen, levantando a mão:

“Eu me oponho. Talvez Jaldabaoth permaneça mesmo depois de matarmos os demi-


humanos. Ou ainda, ele pode matar todos nós como souvenirs antes de ir.”

Ele estava certo. Portanto, Caspond seguiu com uma pergunta perfeitamente razoável.

“Então, o que deveríamos fazer?”

Capítulo 7 Salvador da Nação


366
“Devemos tentar negociar.”

Poucas pessoas conseguiram resistir ao impulso de rir do Conde Cohen ao entregar essa
sugestão com um rosto perfeitamente sério.

O rosto de Conde Cohen ficou vermelho enquanto os outros riam dele. Antes que ele
pudesse continuar, Caspond perguntou:

“Conte, que tipo de transação pretende fazer com esse diabo?”

“Ah, sim. Por exemplo, talvez pudéssemos oferecer alguma coisa com ele em troca de
nos deixar sair em segurança...”

“E o que seria essa coisa? Não seria mais simples apenas nos matar e tirar dos nossos
corpos? Ou quer dizer que devemos oferecer algo que não está aqui? O que seria isso?”

“Um momento por favor, Vossa Alteza! Tudo o que estou dizendo é que lutar não é a
nossa única opção! Eu só queria dizer que existe a possibilidade de podermos negociar
com ele, só isso!”

“Conde, sua maneira de pensar é um pouco... como direi... um pouco otimista demais.
Para começar, quem nós enviaremos para negociar com aquele monstro... Por falar nisso,
ouvi dizer que Sua Majestade colocou uma de suas empregadas demônios sob seu con-
trole, e ela se mostrou bastante útil na reconquista de Kalinsha. Certamente aquela em-
pregada demônio poderia fazer alguma coisa, não?”

O Conde Granero virou-se para olhar para Shizu.

“...Eu não posso vencer o Jaldabaoth... O tempo que posso comprar não seria de grande
ajuda.”

“Ainda assim, se você lutasse ao lado da Capitã Custodio, poderiam comprar algum
tempo.”

Essa sugestão fez muito sentido. Eles precisariam de alguém para manter Jaldabaoth no
lugar enquanto executassem o plano de Caspond, em qualquer caso.

No entanto, isso seria essencialmente enviá-las para a morte.

“...Hmm~”

Shizu inclinou a cabeça para olhar para o teto e disse:

“...Muito problemático...”

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


367
“E o que me diz disso? Assim, podemos aprofundar a relação entre o Reino Feiticeiro e
o Reino Sacro.”

“...Hmm... hm!”

“Isso é um sim?”

Será que eu interrompo isso?

Neia pensou quando Shizu respondeu.

“...Não.”

“Posso saber o motivo?”

“...Sem motivo.”

“Então não há motivo?”

Shizu acenou para Conde Dominguez, que estava inerte em seu lugar.

“Jaldabaoth é realmente tão assustador?”

“...Hm? ...Deve ser o motivo. Ele é assustador e eu não quero fazer isso.”

“Guh.”

O Conde Dominguez estava sem palavras. Agora que ela havia dito isso, não havia como
retrucá-la. Se Shizu dissesse: “Se você não tem medo, então vá ganhar tempo”, seria seu
fim. Se ela tivesse rejeitado a proposta com base em algum tipo de argumento, então
tudo o que ele precisaria fazer era separar esse argumento, mas como ela se recusou
com base em seus sentimentos, superar isso seria muito difícil.

Quando o silêncio retornou à tenda, um dos altos oficiais do Exército de Libertação, uma
pessoa que comandava milhares de soldados e milicianos, disse lentamente:

“Por que não fugimos antes que o Jaldabaoth assuma totalmente o comando? Eu não
acho que podemos vencer um monstro assim. Nós costumávamos ter o Rei Feiticeiro no
passado, mas ele não está mais aqui... alguém sabe de alguém que possa derrotar Jal-
dabaoth? Até onde sei, não. Então se fugíssemos para o Sul...”

Ao seu lado, outro comandante disse em voz baixa:

“...Não há garantia de que Jaldabaoth não vai nos perseguir para o sul, ou tem?”

Com um baque alto da mesa, o orador anterior berrou:

Capítulo 7 Salvador da Nação


368
“Nesse caso, tudo o que podemos fazer é seguir a sugestão do Príncipe e matar os demi-
humanos! Se não podemos fugir, então devemos lutar! É simples assim!”

“Eu concordo. Essa a nossa única chance. Eu não quero me curvar e passar por aquele
inferno novamente. Vamos começar deixando claro cada informação que sabemos—”

A aba da tenda foi aberta com força e um soldado que se reportava diretamente a Cas-
pond entrou correndo.

“Vossa Alteza! Os demi-humanos estão se movendo! Eles estão reformando suas filei-
ras!”

Eles não tiveram uma formação adequada na batalha anterior. Será que tinham agora
por causa da liderança de Jaldabaoth?

“Era só o que faltava... Cavalheiros, o inimigo atacará logo. Precisamos nos preparar
para a batalha o mais rápido possível!”

Depois que Caspond terminou, todas as pessoas que tinham sido chamadas aqui se le-
vantaram como uma só. Neia e Shizu também o fizeram.

Os outros saíram da tenda primeiro, ansiosos por economizar tempo.

As últimas que ficaram na tenda foram Neia e Shizu. A unidade de Neia já estava a pos-
tos, então não havia necessidade de reuni-los.

De repente, Neia sentiu que algo estava errado sobre a expressão sombria no rosto do
mensageiro que invadiu a tenda, mas não havia nada que ela pudesse fazer quanto a isso,
e então ela e Shizu retornaram à sua unidade.

“Diga, são mais más notícias, não é?”

“Sim! Meu Príncipe! É realmente aconselhável deixar os cavalheiros retornarem?”

“Isso vai depender do seu relatório.”

Caspond dissera uma vez a seus subordinados que eles nunca deveriam falar de infor-
mações que não eram de conhecimento comum na presença de terceiros. Foi por isso
que este homem foi o último a permanecer na tenda.

“...Vossa Alteza, os demi-humanos estão avançando vindo do leste. Nesse ritmo, eles nos
alcançarão em uma hora.”

“Impossível...”

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


369
Caspond se esforçou para não levantar a voz. Seria ruim se alguém fora da tenda ouvisse
isso.

“Kalinsha é para o leste. Por que a cidade ainda não nos contatou? Mesmo que tenham
feito um grande desvio para circundar ao nosso redor, como conseguiram evitar a vigília
de nossas patrulhas? ...Ou são poucos em número?”

“Não, estima-se que tenham mais de dez mil... o que devemos fazer, Vossa Alteza?”

O Reino Sacro ainda tinha a vantagem numérica, mesmo que se acrescentasse 10.000
homens às forças demi-humanas. Contudo, o fato de que eles estavam vindo do leste era
desastroso. Quando uma tropa menor tentava um ataque de pinça, normalmente derro-
tariam individualmente cada braço da pinça. No entanto, desta vez, eles estavam enfren-
tando Jaldabaoth.

Em outras palavras, sua rota de fuga havia sido cortada.

“...Tudo bem, ouça atentamente. Você não deve contar essa notícia a ninguém, enten-
deu?”

Caspond disse friamente ao surpreso batedor, e:

“Esta notícia é muito perigosa. Se o exército souber disso, desistirão de lutar e perdere-
mos uma batalha que poderíamos ter vencido. Além disso, muitas pessoas podem acabar
morrendo. Não devemos contar a ninguém sobre isso pelo bem de cada unidade.”

“Vossa Alteza...”

“...Não se preocupe. Tudo ficará bem se pudermos ganhar dentro de uma hora. Não há
nada para se ter medo.”

“...Compreendo.”

“Além disso, faça o seu melhor para evitar que os batedores investiguem o leste. Se as
coisas forem de mal a pior, eles podem deixar a notícia escapar, e então seremos frag-
mentados e, por fim, aniquilados. Você deve guardar esse segredo o máximo possível,
estamos entendidos?”

“Sim, senhor!”

Embora ele não parecesse à vontade com tudo isso, o homem provavelmente crera que
a lógica de Caspond estava certa e logo depois saiu da tenda. Sozinho dentro da tenda,
Caspond espalmou o rosto.

♦♦♦

Capítulo 7 Salvador da Nação


370
A paliçada que eles construíram era muito simples. Os lados oeste e norte estavam com-
pletos, mas o lado sul estava apenas meio acabado. Enquanto isso, não havia nada no
lado leste. Seria melhor tomar a formação em campo aberto em vez de tentar lutar em
um lugar tão apertado, então eles abandonaram o acampamento e se espalharam pelas
planícies.

Eles escolheram formar uma longa fileira.

Qualquer unidade que fizesse contato com Jaldabaoth seria perdida. Portanto, as outras
unidades os abandonariam e atacariam os demi-humanos. Eles haviam tomado essa for-
mação porque estavam preparados para fazer esse sacrifício. Em meio a tudo isso, Re-
medios levaria os paladinos em um ataque de bater e correr, então ela não tinha posição
fixa. Isso foi para que ela pudesse ir para qualquer lugar onde Jaldabaoth aparecesse.

Neia e sua unidade também não estavam atreladas à nenhuma tropa. Ela entendeu as
duas implicações dessa tarefa. A primeira foi que seria fácil para Shizu — como uma
subordinada do Rei Feiticeiro — escapar. A segunda era que, se Shizu quisesse lutar con-
tra Jaldabaoth, colocá-la em uma unidade imóvel resultaria em um buraco no fronte de
batalha.

A unidade de Neia já havia discutido o que fariam se Jaldabaoth aparecesse.

Eles caçariam os demi-humanos, fugiriam para um lugar seguro — ou talvez, eles luta-
riam contra Jaldabaoth?

A resposta foi unânime.

Eles derrotariam os demi-humanos.

Todos odiavam profundamente Jaldabaoth, a fonte de todo o mal. Entretanto, eles sa-
biam seus limites — que bem eles poderiam fazer, se mesmo o poderoso Rei Feiticeiro
não foi páreo para ele? Nesse caso, seria melhor se concentrar em matar os demi-huma-
nos, a fim de se aproximar um pouco mais da vitória. Claro, parte disso também foi por-
que eles não queriam deixar Shizu morrer, sendo que ela era uma subordinada de seu
grande benfeitor, o Rei Feiticeiro.

Neia montou em seu cavalo e examinou o inimigo.

A formação demi-humana que outrora estava cheia de aberturas na batalha anterior,


agora era imaculada. O que um dia fôra um agrupamento heterogêneo de demi-humanos
por tipos raciais era agora uma linha de batalha similar a um exército veterano.

Os demi-humanos teriam projetado tal imagem de força e poder na batalha anterior?


Suas alas de escudos pareciam resistentes e intransponíveis, enquanto as pontas de suas
lança eriçadas cintilavam com um brilho ofuscante. Não obstante a incrível capacidade
de comando de Jaldabaoth, a coesão dessa unidade era evidente por si só.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


371
Não—

Isso é apenas esperado. Todos obedeceriam quando vissem seu poder esmagador.

Muitos demi-humanos davam grande ênfase ao poder pessoal. A esse respeito, eles pro-
vavelmente ficariam felizes em seguir Jaldabaoth.

A batalha estava prestes a começar.

Neia e seu povo atiraram flechas da retaguarda.

Uma chuva de flechas lançada por 3.000 pessoas caiu sobre o inimigo.

Durante esta batalha, os humanos adotaram uma ampla formação para terminar rapi-
damente a batalha — eliminando os demi-humanos.

Eles lançaram uma investida com cavalaria pesada, deixando nada para trás. Os huma-
nos estavam comprometidos com um assalto atroz e atacaram ferozmente. Em contraste
com eles, os demi-humanos solidificaram sua defesa.

Talvez tenha sido porque entenderam que esse ataque total não era mais do que lançar
fogo sobre um incêndio. Os restos carbonizados do graveto se espalhariam por todo o
solo em pouco tempo.

Dado que os humanos eram indivíduos fracos, seria muito difícil para eles derrubarem
a defesa reforçada dos demi-humanos. Ou melhor, os humanos poderiam ter tido uma
chance contra os demi-humanos se Jaldabaoth não estivesse por perto. No entanto, a
composição da unidade dos demi-humanos permitia que as muitas raças fizessem pleno
uso de suas respectivas aptidões, compensando suas fraquezas e enfatizando ainda mais
seus pontos fortes.

A defesa dos demi-humanos fez com que a vantagem que os humanos tinham desfru-
tado há várias horas parecesse um sonho agradável. Não importava quantas vezes ata-
cassem, quantas vezes perfuravam com suas lanças, ou quantas flechas eles atirassem,
nada que fizessem poderia abalar a formação dos demi-humanos. Em vez disso, os ata-
cantes do Reino Sacro sofreram perdas mais pesadas do que sua oposição.

O tempo estava passando e eles não podiam deixar a batalha durar até o anoitecer. Em
perspectiva, o moral e a resistência dos humanos provavelmente cederiam antes disso
e, por sua vez, eles seriam esmagados.

Além disso—

“Jaldabaoth apareceu no setor II-A! A segunda infantaria foi completamente destruída!”

Capítulo 7 Salvador da Nação


372
“Quarta Infantaria levou mais de metade das baixas!”

“O Sextante de lanceiros sofreu mais de metade das baixas!”

—Os mensageiros anunciaram em voz alta a situação no campo de batalha.

“Onde ele está dessa vez?”

Caspond sugeriu que eles dividissem o campo de batalha em vários setores.

Eles foram numerados, para tornar o deslocamento dos homens o mais fácil possível.
Era um sistema muito grosseiro, mas era fácil de entender.

As infantarias devem ter tentado fugir de Jaldabaoth. Mesmo a partir daqui, ficou claro
que eles estavam em completa desordem. Os demi-humanos daquela região iniciaram o
ataque e a organização de tropas se desintegrou como poeira ao vento.

Foi isso.

Apenas aparecendo uma vez e usando apenas aquele pouco de poder, ele destruiu um
batalhão de 500 homens, e havia quase 1000 baixas no total. Os demi-humanos que
avançaram pela lacuna que ele criou causaram ainda mais mortes.

Seria menos pior se os demi-humanos se tornassem arrogantes e pressionassem o ata-


que, mas imediatamente recuaram depois de avançar por uma curta distância, como
uma tartaruga se encolhendo em sua concha. Isso transformou a batalha em um tumulto,
e as táticas destinadas a dificultar o uso dos poderes de Jaldabaoth não puderam ser
aplicadas.

Essa estratégia magistral foi provavelmente o resultado da capacidade de comando de


Jaldabaoth.

Remedios levou seus paladinos ao setor 2A o mais rápido que pôde. Entretanto, quando
chegou, Jaldabaoth não estava mais lá. Ele estava se movendo para outra região via tele-
porte, como se fosse para zombar deles.

Esta série de eventos se repetiu várias vezes desde então.

A palavra “ruim” não era o bastante para descrever isso.

Ainda assim, era fato que ninguém aqui, incluindo Neia, conseguia pensar em boas so-
luções. Tudo o que Neia e seu povo podiam fazer era continuar disparando saraivadas
flechas nas tropas demi-humanas.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


373
Shizu simplesmente assistiu a batalha ao lado de Neia. Sua arma não era capaz de ar-
quear o projetil como os arcos, então ela não teve chance de demonstrar suas incríveis
habilidades.

Eventualmente, os dedos de Neia começaram a doer de tanto puxar a corda do arco, e


as aljavas de todos — inclusive a dela — começaram a esvaziar.

“Baraja-sama! Estamos quase sem flechas!”

Eles não tinham flechas ilimitadas.

“...Voltem imediatamente e reabasteçam os suprimentos!”

A unidade obedeceu às instruções de Neia e voltou para a retaguarda para se reabaste-


cer de flechas.

Ela teria gostado de lhes dar algum tempo de descanso, mas não podiam se dar a esse
luxo.

“Você está pronto?”

“Sim, Baraja-sama. Podemos sair a qualquer momento!”

“Nesse caso—”

Quando ela estava prestes a gritar para que eles saíssem, Neia viu vários batedores
montados do leste.

O chefe de equipe trocou olhar com Neia por um momento e depois gritou:

“Demi-humanos à leste! Tenham cuidado!”

“Hah?”

Surpreendida, Neia olhou ao longe e estreitou os olhos. Ela podia ver um pouco de po-
eira crescente e as formas do que pareciam pessoas. E ela precisaria checar suas veloci-
dades de movimento para ter certeza, mas dada à sua distância, eles estariam aqui em
breve.

Que erro tudo isso tinha sido.

Ficaram tão concentrados nos demi-humanos diante de seus olhos que haviam negli-
genciado a cautela de suas costas.

Ela queria acreditar que isso era falso. Ela queria acreditar que Kalinsha enviara refor-
ços para ajudá-los.

Capítulo 7 Salvador da Nação


374
Entretanto, não foi o caso. Se fosse, então eles teriam enviado um cavalo veloz à frente
para informá-los.

As pernas de Neia pareciam poder entrar em colapso a qualquer instante.

Esta notícia era muito sombria.

O plano de Jaldabaoth era prendê-los com um ataque de pinça vindo de reforços inimi-
gos.

Ele não lutou, mas deixou os demi-humanos lutarem. Dessa forma, os humanos esco-
lheriam resistir, e lutar para cumprir as condições de vitória. O objetivo de Jaldabaoth
era atrair todos os humanos para o campo de batalha e impedir que escapassem.

Em outras palavras, Jaldabaoth já antevira o plano dos humanos, que ele fugiria assim
que os demi-humanos fossem exterminados.

“Haha, mas é claro!”

Bertrand riu com alegria genuína.

Assim que todos os encararam com os olhos em pânico, Bertrand recuperou a calma e
se dirigiu a Neia.

“O Príncipe Caspond cometeu um erro fatal em seu pensamento. Mais importante, por
que ele não percebeu?”

“Mas o que quer dizer!?”

“...Baraja-sama. É uma coisa perfeitamente natural. Enquanto o Jaldabaoth controlar as


colinas, ele pode enviar reforços aqui. Apenas destruir os demi-humanos neste lugar não
significa que Jaldabaoth recuará.”

“Ahhh!”

Depois de ouvir a explicação, Neia não foi a única que entendeu. Os mesmos ruídos po-
diam ser ouvidos em torno de Bertrand.

“Depois de expulsar os demi-humanos daqui, ainda teremos que contra-invadir as coli-


nas. A idéia do Príncipe Caspond só se provará correta depois que nós exterminarmos
todos os demi-humanos de lá também.”

De fato. Bertrand também forneceu uma resposta sobre o porquê não haviam pensado
nisso.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


375
“...O Príncipe Caspond e nós mesmos pensamos a mesma coisa, e ficamos cegos pela
possibilidade da salvação e não consideramos o assunto em maior profundidade.”

Mas o lançamento de uma contra-invasão das colinas era praticamente impossível. Em


outras palavras—

“...Não há como salvar o Reino Sacro?”

O silêncio tomou conta. O clamor do campo de batalha parecia muito distante.

“Não...”

Bertrand se obrigou a falar e finalizou:

“Tem jeito.”

“Qual seria?”

“...Jaldabaoth. Temos que derrotar o Imperador Demônio Jaldabaoth.”

Foi uma resposta lógica, mas não houve alegria. Era o problema mais insolúvel do
mundo, adotaram o plano de Caspond precisamente porque não podiam fazê-lo.

“...Como eu pensava, deveríamos ter priorizado procurar Sua Majestade acima de tudo.
Fomos nós que fizemos a escolha errada.”

Se ela não tivesse ido retomar Kalinsha, mas ido para as colinas com Shizu, elas pode-
riam ter evitado isso.

Ainda assim, teria sido muito difícil. Neia fez a melhor escolha que pôde com base no
que poderia fazer. Ela tentara evitar a imprudência e escolher o caminho mais bem-su-
cedido.

No entanto, eles deveriam ter tentado afinal?

E se—
E se—
E se—

Inúmeros “e se’s” passaram através da mente de Neia. Toda vez que ela pensava sobre
“e se eu tivesse feito isso ou aquilo”, ela se inundava de culpa e arrependimento.

Sua vontade de lutar estava no fundo do poço. Neia não foi a única. Sua unidade inteira
que se sentia assim.

O vencedor estava tão nítido quanto um dia ensolarado.

Capítulo 7 Salvador da Nação


376
Ao perceberem isso, a premissa de sua vitória foi falha desde o início. Ou melhor, a ba-
talha em si foi uma perda de tempo.

Tudo o que podiam fazer agora era pensar em como salvar o maior número possível de
vidas e fugir para um lugar seguro. No entanto, essa não era a coisa certa a fazer.

Fraqueza era um pecado.

Era um pecado serem fracos ao ponto de não poder resgatar ninguém. Foi por isso que
eles treinaram tanto até hoje.

Ela não podia permitir que isso acabasse com ela mesma uma pecadora-mor.

Se isso acontecesse, ela não seria capaz de encarar a figura da absoluta justiça, Sua Ma-
jestade Ainz Ooal Gown.

Neia havia preparado sua alma para o que estava por vir, ela inconscientemente men-
cionou o que estava em seu coração.

“É o fim, huh.”

Ela disse mais alto do que pensava que seria. Não havia como dizer se as pessoas ao seu
redor tinham sido afetadas pelo seu humor, ou se estavam pensando a mesma coisa que
Neia desde o começo, mas qualquer que fosse a razão, todos eles curvaram suas cabeças.

O fim chegara.

O sonho de libertar o Reino Sacro e ajudar as pessoas chegou ao fim aqui.

Contemplando o fim, eles se lembraram quando foram atrevidos a ficarem entretidos


nesse sonho por causa do poder do Rei Feiticeiro. Mas foi assim que eles acabaram
quando estavam sozinhos.

Neia sabia que agora não era hora de rir, mesmo assim ela o fez. Então seu rosto ficou
sério e ela olhou para Shizu.

“...Você pode fugir?”

“...E você, Neia?”

Neia estufou o peito.

“Eu não posso fugir! Eu sou uma pessoa que viu Sua Majestade trabalhar para os outros,
e sou quem se beneficiou disso. Eu não posso deixar isso acabar comigo como uma fraca
— como uma pecadora.”

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


377
Neia viu as pessoas ao seu redor levantarem a cabeça.

“Nós não vamos fugir daquele desgraçado!”

Todos pareciam guerreiros dignos novamente.

Estavam com expressões dignas de quem encararia a morte de frente. Os rostos que ela
queria mostrar para o Rei Feiticeiro.

“Mas... senp... não, isso não vale para você... É por isso que queremos colocar nossos
desejos em você. Eu sei que deve parecer estranho nós pedirmos isso, mas o agradeça
por nós, já que é uma subordinada do Rei Feiticeiro, então... Por favor, faça isso por nós.
Por favor, encontre Sua Majestade, Shizu. Você pode comandar aqueles de nós que ainda
estão em Kalinsha como achar melhor. É isso...”

“...Entendido.”

Neia deu um suspiro de alívio depois que ouviu Shizu concordar.

No entanto, essa expressão imediatamente se tornou uma surpresa.

“...Não há necessidade de eu ir.”

“O que, como assim?”

“...Veja.”

Shizu apontou para os objetos que se aproximavam — os reforços demi-humanos vin-


dos da direção de Kalinsha. Eles eram compostos de muitas raças diferentes, até Orcs e
Zerns. Neia olhou para as bandeiras que os reforços demi-humanos estavam segurando
em fileiras ordenadas. Aquilo era—

“EH!?”

Neia ficou tão chocada que exclamou.

Ela duvidou do que seus olhos tinham visto e olhou novamente várias vezes, mas o que
viu permaneceu o mesmo.

“...Viu? Não há necessidade.”

Neia conhecia muito bem aquela bandeira.

Era a bandeira do Reino Feiticeiro.

Capítulo 7 Salvador da Nação


378
Os gritos chocados de seus camaradas provaram que o que Neia tinha visto não era
ilusão.

“Aquilo não é a bandeira do Reino Feiticeiro? A senhora nos falou sobre isso antes, não
foi, Baraja-sama?”

“Será que são reforços do Reino Feiticeiro? Baraja-sama, lembro-me que disse alguma
coisa sobre demi-humanos no Reino Feiticeiro.”

Eles estavam no meio de uma guerra agora. Neste exato momento, inúmeras pessoas
estavam se matando e Jaldabaoth estava matando pessoas também.

No entanto, Neia esqueceu tudo isso enquanto tentava desesperadamente entender o


que estava acontecendo.

O que aconteceu a seguir pegou a todos de surpresa.

O exército demi-humano se dividiu em dois, como se tivessem praticado a manobra


inúmeras vezes. Eles abriram caminho no centro para um único ser undead avançar.

Era um magic caster em um manto negro, montado em um cavalo de guerra esquelético.

Essa era a forma do herói que Neia adorava, que ela via mesmo em seus sonhos.

“É a Sua Majestade... não creio...”

Neia não tinha certeza se estava assistindo a um sonho ou testemunhando a realidade.

No entanto, o ser que ela viu era imutável e ele não poderia ser um sonho.

Dentro de seu ser, suas emoções deflagraram em num instante, a tal ponto que ela nem
conseguia descrever como se sentia.

Suas lágrimas quentes borraram seu campo de visão. Ela não conseguia nem pensar em
limpá-las.

Shizu acenou para o Rei Feiticeiro. Ele parecia ter notado isso e conduziu o cavalo para
ela.

O Rei Feiticeiro se aproximou.

O que ela deveria dizer a ele? Deveria se desculpar por não procurar por ele? Ela seria
perdoada se fizesse isso? Enquanto Neia estava procurando as palavras certas para dizer,
o Rei Feiticeiro já havia chegado a ela e desmontado agilmente de seu corcel.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


379
“...Uhum. Que coincidência que nos encontrarmos aqui. Srta. Baraja. Você achou que eu
estava morto?”

“Vossa, Vossa Majestade!”

Neia não pôde conter o fluxo de suas lágrimas.

“Eu duvidei disso o tempo todo, porque a Shizu-senpai me contou. Eu pensei que o se-
nhor estaria bem, mas... de fato era verdade!”

“Ah... hum. Ah... hm. Mm. Entendo. Isso me agrada. Uh... senpai?”

Parece que o Rei Feiticeiro também ficou encantado com essa reunião, porque ele pa-
recia estar sem palavras.

“...Não chore.”

Shizu pressionou o lenço no rosto de Neia e esfregou-o com força.

“...Cheio de ranho de novo. Realmente chocante.”

“Oh... parece que você está se dando muito bem com a Shizu, Srta. Baraja. Isso me
agrada.”

“Tudo graças a Vossa Majestade! Eu não sei o que eu faria sem a Shizu-senpai! Muito
obrigada!”

As emoções de Neia tinham sido tão confusas que ela não sabia o que estava dizendo
agora.

“Claro... Isso é uma grande surpresa para mim ... Shizu, o que me diz?”

“...Eu gosto da Neia. Seu rosto é meio charmoso.”

“Não diga isso, por favor.”

Neia disse enquanto esfregava os olhos, parando de chorar. Logo, ela limpou as últimas
lágrimas:

“Vossa Majestade, existem muitas coisas que gostaria de perguntar ao senhor, mas o
mais importante... o senhor está descontente por ainda não termos ido ao seu resgate?
Se sim, então assumo total responsabilidade—”

“—Srta. Baraja.”

O Rei Feiticeiro levantou a mão para impedi-la de continuar:

Capítulo 7 Salvador da Nação


380
“Por que está dizendo isso? Nenhum de vocês me desagradou de maneira alguma.”

Os olhos de Neia se encheram de lágrimas novamente. Ela também não estava sozinha
— todos ao seu redor que ouviram as palavras gentis do Rei Feiticeiro também choraram.
Havia pessoas que estavam segurando suas lágrimas e que finalmente começaram a so-
luçar.

Os ombros do Rei Feiticeiro se moveram ligeiramente.

“...Ah, pessoal, não chorem. Mais importante, deve ter outras coisas que deseja pergun-
tar, não? Muitas outras coisas? Por que não perguntar?”

“Ah, sim.”

Depois que Shizu enxugou as lágrimas novamente — aparentemente havia colocado o


lenço manchado de ranho em outro lugar — Neia fez uma pergunta ao Rei Feiticeiro.

“Aqueles soldados demi-humanos, eles são do Reino Feiticeiro?”

Embora ela não tenha visto nenhum undead entre eles, esses demi-humanos podem ser
apenas a vanguarda.

“Não... não, pensei que perceberia, não? Quando eu caí nas Colinas Abelion, eu conquis-
tei a terra para o Reino Feiticeiro. Portanto, sim, você pode chamá-los de forças do Reino
Feiticeiro, não?”

Neia ficou sem fala.

Ele era incrível.

Aliás, isso poderia ser outra coisa senão “incrível”?

As colinas eram dominadas por demi-humanos, e eles eram supostamente governados


por um lacaio de Jaldabaoth. No entanto, ele havia lidado com ele apenas com sua força
e subjugado as colinas. Quem mais poderia fazer isso além do Rei Feiticeiro?

Neia tremeu de emoção.

“Bem, levei um pouco de tempo para reunir os demi-humanos que sofriam sob co-
mando de Jaldabaoth e liderá-los aqui como um exército. Tudo isso foi para resolver as
coisas com Jaldabaoth — parece que tivemos um bom timing.”

Não havia expressões faciais no rosto esquelético do Rei Feiticeiro, mas Neia podia
senti-lo sorrindo majestosamente.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


381
“Eu! Eu não esperava nada menos de Vossa Majestade!”

Bertrand correu para o Rei Feiticeiro, com o rosto manchado de lágrimas.

“Oh! É Ele!”

De repente, Bertrand caiu de joelhos. Não, ele não estava sozinho. Todos ao redor de
Neia — todos que pertenciam ao seu rebanho — se reuniram e se prostraram diante
dele.

“Aos incrédulos, vejam, é a Sua Majestade!”

“Simplesmente magnífico, Vossa Majestade!”

Até mesmo o Rei Feiticeiro foi surpreendido pelo coro de elogios.

“Ah, ahh... hm... falando sobre isso, eu tenho uma pergunta para você também, Srta. Ba-
raja... quem são eles?”

“Eles são pessoas que são gratas pela bondade de Vossa Majestade e que desejam pagar
esse débito!”

“Exatamente! Nós fomos resgatados por Vossa Majestade!”

“Sim! Nós somos as pessoas que desejam pagar de alguma forma a dívida que devemos
a Vossa Majestade. Assim, quando Baraja-sama nos chamou, nós respondemos!”

Como para apoiá-los, Neia orgulhosamente declarou:

“Nós não somos os únicos! Há muito mais pessoas que querem retribuir a gentileza que
Vossa Majestade nos mostrou!”

“Oh... isso me deixa muito feliz... todos se sentem assim?”

“Sim! Precisamente! Todos são gratos ao senhor!”

“En... entendi... Obrigado a todos.”

Os agradecimentos do Rei Feiticeiro fizeram todos sentirem que escolheram o caminho


certo para expressar sua gratidão, e por isso choraram com nódoas na garganta.

“...Estas lágrimas são de gratidão por mim?”

“Sim! Precisamente!”

Capítulo 7 Salvador da Nação


382
“E você reuniu todos eles, Srta. Baraja... parece que você cresceu enquanto eu não estava
por perto para ver.”

“Muito obrigada, Vossa Majestade!”

Neia sorria de orelha a orelha após ser elogiada pelo Rei Feiticeiro.

“Ah, então... Srta. Baraja, por favor, faça-os levantar. Eu vim aqui para compensar minha
derrota anterior... e Jaldabaoth, fez algo?”

“Ah! Sim! Jaldabaoth—”

Chamas irromperam, como se estivessem esperando por esse momento. Neia estreme-
ceu ao pensar em quantos soldados do Reino Sacro devem ter morrido naquele incêndio.

“...Já entendi. Parece que foi uma pergunta desnecessária. Creio que a hora de lutar con-
tra ele novamente chegou. Shizu!”

“...Sim, Ainz-sama.”

“Eu vou lidar com o resto. Quanto a você, proteja as pessoas aqui. Não se esqueça de
prepará-los para o meu retorno vitorioso, certo?”

Felicitações de “UOHHHHH!” retumbaram da multidão.

“Ouçam-me! Eu calculei mal na batalha anterior. Eu estava em desvantagem e com


pouca mana. Mas agora, a situação é diferente. Jaldabaoth não pode convocar muitos
demônios de novo em pouco tempo. Além disso, estou totalmente recuperado agora. Não
há nada que me dê desvantagem! Tudo o que precisam fazer é esperar aqui, pois eu vol-
tarei triunfante!”

As pessoas aplaudiram quando o Rei Feiticeiro anunciou sua vitória absoluta.

Ele floresceu sua capa e avançou regiamente. Todos se afastaram, abrindo um caminho
reto para ele, como se estivessem abalados por sua aura soberana e dominadora.

“Vossa Majestade!”

O Rei Feiticeiro virou-se para olhar para Neia.

“Por favor, vença!”

“Claro!”

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


383
O Rei Feiticeiro avançou mais uma vez. Embora sua forma parecesse encolher ao se
afastar, ela não se sentia sozinha ou com medo. Era a garantia de uma criança sendo
cuidada pelos pais. Neia não foi a única. Havia outros que se sentiam da mesma maneira.

“...Nós vencemos.”

Do lado de Neia, Shizu anunciou a vitória do Rei Feiticeiro com confiança em sua voz.
Neia concordou com ela.

Logo — uma nuvem de chamas acendeu aos céus. Foi seguida por um rastro de escuri-
dão.

Assim como antes, fogo e trevas se chocaram um com o outro.

A essa altura, os gritos do campo de batalha haviam se calado.

Ambos os lados baixaram as lâminas e olharam para a batalha no céu.

Sim.

Todos sabiam disso em seus corações.

O vencedor desta batalha teria o direito de acabar com tudo.

Eles não estavam mais em um reino onde homens mortais poderiam intervir. Esta foi
uma batalha dos deuses.

Luzes
Trevas
Chamas
Relâmpagos
Meteoros

Todo tipo de fenômenos incompreensíveis


—Colidindo com forças incríveis.

E então—

“Ahhh!”

Neia se alegrou.

Isso porque os olhos aguçados de Neia viram o fogo desvanecer e as trevas descerem
lentamente.

Capítulo 7 Salvador da Nação


384
Esta batalha foi surpreendentemente rápida em comparação com a anterior. Era como
se para provar que com sua mana restaurada e sem as empregadas demônios para en-
trar em seu caminho, o Rei Feiticeiro poderia triunfar tão facilmente.

“Shizu-senpai!”

“...É como eu te disse, kouhai.”

Shizu parecia agir como se isso fosse perfeitamente natural, e Neia agarrou a mão dela
e apertou-a vigorosamente. Contudo, isso não foi suficiente para acalmar seu coração.
Neia abraçou firmemente o pequeno corpo de Shizu e as mãos atrás de suas costas con-
tinuaram afagando e dando tapinhas.

Quando todos testemunharam sua vitória, salvas de aplausos estrondosos tomaram


conta.

O Rei Feiticeiro desceu lentamente e pousou na terra.

Depois disso, o Rei Feiticeiro ergueu ambos os braços e fazendo-os ovacionar mais in-
tensamente do que antes.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


385
Epílogo

Capítulo 7 Salvador da Nação


386
s coisas ficaram simples após a vitória do Rei Feiticeiro. Os demi-humanos

A
já haviam perdido a vontade de lutar, então tudo o que restava era massa-
crá-los. Não havia praticamente nenhuma vítima do lado do Reino Sacro,
mas o solo estava cheio de cadáveres demi-humanos.

Agora que o general inimigo, Jaldabaoth, havia sido derrotado, ninguém poderia ficar
no caminho do Exército de Libertação do Reino Sacro.

Recapturar a cidade de Prart e a capital de Hoburns foi praticamente instantâneo.

Ainda demoraria um pouco mais para libertar a cidade de Rimun, que ficava mais a
oeste, e também havia pessoas sofrendo em vilarejos que haviam sido convertidos em
campos de concentração, mas isso já era um grande passo.

A capital liberada estava cheia de sons alegres, e seu ardor não diminuíra mesmo depois
de um dia inteiro. Na verdade, ficou mais animada.

Mesmo em meio a tantas conquistas, os militares de alto escalão — incluído Neia —


sabiam que ainda havia uma verdadeira montanha de problemas a serem resolvidos.

A primeira questão era comida. Os demi-humanos tinham comido tudo e causaram es-
cassez de comida. Isso certamente prejudicaria o progresso do Reino Sacro no futuro.

A segunda foram as pessoas que morreram. Perdas na força de trabalho podem ser
substituídas. No entanto, se os mortos fossem artesãos, estudiosos ou pessoas capazes
de um dia terem tais ocupações, então a perda de conhecimento seria um golpe fatal
para a nação.

A quarta foi a questão dos recursos. Os demi-humanos haviam saqueado e destruído


muitas coisas, e a reconstrução de tudo exigiria muitos recursos.

E por fim, havia a questão do tempo. Os demi-humanos tinham tomado duas tempora-
das de colheitas durante a invasão, e precisariam trabalhar duas vezes mais para com-
pensar a perda.

E, claro, pode haver demi-humanos à espreita dentro do Reino Sacro. Eles precisariam
ser erradicados e exterminados.

A localização da maioria dos itens roubados pelos demi-humanos — objetos de valor e


itens mágicos — era desconhecida. Os demi-humanos tinham culturas diferentes, assim
adornar-se com metais preciosos e colecionar riquezas humanas não era uma coisa es-
tranha. Mas o mais estranho, era que não havia pistas sobre onde essas coisas haviam
sido tiradas. Isso porque eles tinham sido completamente incapazes de rastrear as uni-
dades de transporte do inimigo.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


387
Por mais que houvesse muitos problemas pela frente, havia pessoas que achavam me-
lhor se aliviar um pouco em festejos francos e honestos. Ansiavam por uma pequena
pausa antes dos dolorosos dias que viriam, e Neia concordou com esse ponto também.

No entanto, ela não poderia fazer isso hoje. Ela não poderia se entregar a festejos no dia
de hoje.

A razão para isso foi porque foi um dia de despedida.

Um dia muito triste.

Havia uma carruagem solitária parada em frente ao portão principal da capital real, no
lado leste da cidade. Em contraste com o simples exterior da carruagem, Neia sabia que
seu interior era luxuoso e meticulosamente equipado, e seu desempenho também era
excelente. Em particular, seus assentos não machucariam a bunda mesmo depois de lon-
gos períodos sentados neles.

De fato.

Era a carruagem que Neia teve permissão de compartilhar com o Rei Feiticeiro quando
ele veio para o Reino Sacro.

Em outras palavras, hoje era o dia em que o Rei Feiticeiro deixaria o Reino Sacro e re-
tornaria ao seu próprio país.

Originalmente, não seria surpreendente ver uma carruagem do Reino Feiticeiro cer-
cada por demi-humanos. O Rei Feiticeiro havia unificado as Colinas Abelion e trazido
muitos dos demi-humanos sob sua bandeira para a batalha com Jaldabaoth. Dito isto,
não havia nenhum deles à vista, pois o Rei Feiticeiro permitira que todos voltassem para
as colinas.

Esta não foi uma questão dos últimos dias. Ele os deixara retornar depois que a batalha
final com Jaldabaoth terminara.

Quando perguntou a razão para isso, ela recebeu a resposta: “Você deve odiar estar perto
dos demi-humanos, não é?” Tal era sua simpatia pelo povo do Reino Sacro.

Neia ficou profundamente comovida.

Ele considerou o estado mental do Reino Sacro e deixou seus próprios soldados volta-
rem para casa, dizendo que viajariam na companhia dos soldados do Reino Sacro, que
eram de outra nação. Isso não era de maneira alguma um comportamento comum para
o governante de uma nação.

De fato, a menos que fosse o Rei dos Reis — o magnânimo Rei Feiticeiro.

Epílogo
388
O grupo de seguidores de Neia também estava profundamente comovido.

Portanto, quando Neia e seus companheiros tinham assumido a responsabilidade de se


tornarem a guarda de honra do Rei Feiticeiro, ninguém poderia protestar. É claro que
quase não havia mais brigas, então na maioria das vezes eles simplesmente se moviam
com o Rei Feiticeiro, mas os rostos de seus camaradas ainda estavam frescos nas memó-
rias de Neia.

Ela lembrou de sua alegria por poder andar com a pessoa que os salvara, o orgulho de
poder acompanhar o herói que derrotara Jaldabaoth e, depois, a felicidade de poder ficar
ao lado do rei que tanto admiravam. Seus rostos todos misturavam essas emoções dife-
rentes.

Eles não estavam à vista hoje.

Tudo o que ela podia ver foram as paredes e o portão principal da capital do Reino Sacro,
e depois a estrada que levava à Prart — que continuava até o Reino Feiticeiro.

“O senhor vai voltar hoje, Vossa Majestade? As pessoas estão todas cheias de alegria
após a libertação da capital real. Eu sinto que não seria incômodo ter Vossa Majestade
se juntando a nós nos próximos dias, em um festival de ação de graças por quem foi o
maior contribuinte para recuperar a capital em poucos dias...”

Ela havia feito essa pergunta várias vezes no passado. Mas provavelmente obteria a
resposta que já esperava, que ele estava voltando para casa. Mesmo assim, ela ainda ti-
nha que perguntar de novo. Possivelmente obra do lado feminino de Neia.

“Ahh, eu voltarei para o Reino Feiticeiro hoje. Eu não estou confiante em minha capaci-
dade de lidar com cerimônias.”

Quando o Rei Feiticeiro murmurou para si mesmo, ele fez um movimento muito exage-
rado, como dar de ombros de forma cômica, talvez porque ele soubesse que Neia se sen-
tiria angustiada se levasse suas palavras a sério.

“És certamente brincalhão, Vossa Majestade.”

“Uhum, bem, sim, eu estava, eu estava apenas brincando. Sim, brincando... Na verdade,
fiz tudo o que vim fazer aqui. Assim, minha presença não é mais necessária. Eu também
preciso guiar o desenvolvimento do Reino Feiticeiro, na minha condição de rei. Se eu
deixar o trono por muito tempo, minha Primeira-Ministra, Albedo, vai me repreender.”

A mente de Neia evocou o rosto da beleza Classe Mundial que ela vira apenas uma vez.
Ela era uma mulher cuja beleza a tornava inesquecível.

Certamente ela não pode ser tão assustadora quando fica brava... ou ela é assustadora
quando fica brava porque ela é bonita? Não acho que foi isso que Sua Majestade quis dizer,

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


389
é um pouco difícil imaginar alguém tão bonita quanto ela ficar com raiva. Ainda assim...
eu tenho inveja...

Ser permitida falar com ele assim, por estar próxima, era algo que Neia queria desespe-
radamente, mas não podia pedir, o que a deixou com muita inveja. Quão feliz Neia seria
se soubesse que o Rei Feiticeiro, que ela tanto respeitava, contaria aos outros que “Neia
me repreenderia” ou algo assim?

“Então é isso... bem, é uma pena que não haja ninguém para providenciar uma despe-
dida a Vossa Majestade, dado que o senhor salvou esta nação.”

A decisão do Rei Feiticeiro de ir foi uma coisa repentina. O fato de que não havia nin-
guém para conduzir uma despedida fazia disso uma história triste e solitária.

“Eu já disse ao Príncipe Caspond que seria problemático se o festival fosse muito luxu-
oso. Esta nação enfrenta muitas dificuldades no momento. Em vez de desperdiçar recur-
sos e mão de obra para uma despedida, prefiro que usem na reconstrução do país.”

“Vossa Majestade...”

Por que ele precisava voltar?

Se ela se agarrasse a ele e fizesse uma grande cena de choro, provavelmente poderia
atrasar o seu retorno por uma semana.

Mesmo sentindo o desejo de fazê-lo, Neia o suprimiu. Ela não podia agir mimadamente
em torno do mais misericordioso dos reis, o Rei Feiticeiro.

“Ah, não é porque eu quero agir como uma espécie de figurão, é só que esse país real-
mente não tem mais nada, digo... como riqueza. Eu até pensava que em dar uma volta e
conhecer melhor... O que eu quero dizer é... ah sim, eu gostaria que todos vocês não se
importassem comigo e continuassem trabalhando arduamente. E também... olhe, a esta-
bilidade do seu país também será boa para o Reino Feiticeiro, seremos bons vizinhos.
Haverá comércio entre nós e assim por diante no futuro, sim.”

Ele sentiu o que Neia estava pensando e estava tentando confortá-la. Ele era tipica-
mente muito legal e elegante, mas às vezes ele falava de uma forma que a deixava preo-
cupada.

“Muito obrigada, Vossa Majestade.”

“Oh? Hm, não-não se preocupe com isso. Eu vim para este país por causa das emprega-
das de Jaldabaoth, afinal. E agora—”

O Rei Feiticeiro deu um afago das costas de Shizu — que estivera ao seu lado todo esse
tempo, como se estivesse tentando mascarar sua presença.

Epílogo
390
“E agora eu as tenho, valeu a pena vir para este país.”

Neia sentiu que era um pouco embaraçoso que o Reino Sacro não pudesse dar nada ao
Rei Feiticeiro.

O Rei Feiticeiro ganhou Shizu — a empregada demônio — com sua própria força. Neia
e todos que compartilhavam suas crenças sentiam o mesmo.

Houve discussões sobre o que eles dariam a ele, mas alguém mencionou que, já que ele
era um rei, ter alguém que não representasse o país dando-lhe um presente, ao contrário
de suas intenções, seria muito rude, e então o plano havia ido por água abaixo.

No mínimo, Neia esperava que Caspond fizesse concessões a nível nacional ou assinasse
um tratado favorável ao Reino Feiticeiro.

“...Se você quiser, eu posso ressuscitar sua mãe com uma magia poderosa que só pode
ser usado uma vez por ano, o que me diz?”

“Muito obrigada, Vossa Majestade, mas— não há necessidade disso.”

Durante a libertação da capital, um dos prisioneiros testemunhou a morte da mãe de


Neia em batalha. Ela tinha ouvido falar do valente apoio de sua mãe. Certamente não
ficaria brava mesmo se não fosse ressuscitada.

Além disso, dizia-se que as magias de ressurreição exigiam materiais extremamente


valiosos como componente material, e Neia teria dificuldade em comprá-los. Talvez o
misericordioso Rei Feiticeiro pudesse fornecê-los de graça, mas ela não podia continuar
contando com a generosidade de seu salvador para seu próprio bem.

Porém, no caso de seu pai, parece que os demi-humanos tinham descartado o cadáver,
de modo que ela não poderia sequer dar um último adeus, o que era muito triste.

“Falar por muito tempo só torna a despedida mais difícil. Daqui alguns instantes parti-
rei. Shizu, há alguma coisa que queira dizer à Srta. Baraja?”

“...Tchau.”

“Tudo bem! Adeus!”

Shizu estendeu a mão para Neia, que a sacudiu.

E então, as duas soltaram sem mais delongas.

“...Vocês duas estão bem com isso?”

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


391
“...Vai ficar... bem.”

“Sim, Vossa Majestade.”

“Entendi. Bem — vamos indo, Shizu.”

Quando o Rei Feiticeiro colocou um pé no degrau que levava à sua carruagem, ele se
virou para Neia.

“...Este país terá muitas dificuldades no futuro, mas... tenho certeza de que você poderá
trabalhar bastante e superar isso. Espero te ver novamente.”

“Sim, senhor!”

Assim que o Rei Feiticeiro estava prestes a entrar em sua carruagem, Neia olhou para
suas costas e não pôde deixar de gritar:

“—Majestade! Vossa Majestade!”

O Rei Feiticeiro parou no degrau da carruagem e olhou para trás. Neia engoliu em seco,
teve coragem e perguntou com voz trêmula:

“Ah, me perdoe! Eu poderia, eu poderia te chamar de Ainz-sama!?”

Ela disse deslavadamente. Certamente ela, como plebeia de outra nação, seria repreen-
dida por se atrever a falar com ele de uma maneira tão familiar.

“...Eh? Ah, sim, você pode... me chamar do que quiser.”

“Muito obrigada.”

Ela curvou-se profundamente ao magnânimo rei de outra nação e, quando levantou a


cabeça, chegou a vez de Shizu subir à carruagem.

“Se cuide, Shizu-senpai!”

“Mm!”

Shizu esticou o polegar para cima e depois entrou na carruagem.

Talvez, por sentir que os dois haviam embarcado, o cavalo relinchou e começou a trotar.

“—Então, Vossa Majestade!”

Enquanto observava a carruagem se afastar, Neia não pôde mais esconder as lágrimas
enquanto gritava:

Epílogo
392
“Vida longa a Sua Majestade o Rei Feiticeiro!”

Ela não foi a única que gritou no alto de sua voz.

Havia mais de um portão na capital real. Seus companheiros crentes usaram os outros
portões e secretamente se reuniram para que pudessem aparecer do lado de fora do
portão para desejar o bem ao Rei Feiticeiro.

“Por muito tempo ele viva!”


“Por muito tempo ele viva!”
“Por muito tempo ele viva!”

Ao mesmo tempo, espalharam as flores que dedicaram tanto para colher.

A carruagem continuou em meio a tudo isso.

Dificilmente seria uma boa opção para o homem que salvara o Reino Sacro. Mesmo as-
sim, foi o melhor que Neia e as pessoas que entenderam como ela se sentia, puderam
fazer.

A carruagem foi encolhendo ao longe em sua visão foi borrada pelas lágrimas.

Neia soluçou.

Ela se sentia muito solitária agora.

Ela queria que o Rei Feiticeiro e Shizu perguntassem: “Você gostaria de vir para o Reino
Feiticeiro?”, se eles perguntassem isso, Neia poderia ter abandonado tudo para ir com
eles.

Mas eles não tinham.

Ela odiou isso.

No final, Neia tinha sido nada mais do que uma escudeira durante sua breve estada
neste país.

Todos os tipos de emoções negativas se agitaram dentro dela.

No entanto — isso estava errado.

Nos ouvidos de Neia, ecoou as palavras que o Rei Feiticeiro dissera.

“...Este país terá muitas dificuldades no futuro, mas... tenho certeza de que você poderá
trabalhar bastante e superar isso. Espero te ver novamente.”

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


393
Em outras palavras, ele tinha expectativas em Neia.

Algo como, embora o Reino Sacro esteja no caos, tenho certeza de que Neia pode fazer
o país se unir, ou algo assim.

O tempo pareceu longo e curto ao mesmo tempo, porém mudou sua vida de pernas para
o ar — e agora acabou. No entanto, isso foi apenas o começo. Havia muitas coisas que ela
tinha que fazer.

Para começar, ela precisava retribuir a gentileza do Rei Feiticeiro com ações.

Depois, ela precisaria reconstruir este país. Justiça e maldade. Neia nunca tinha real-
mente entendido o que aquelas duas palavras significavam, mas agora ela podia inflar
seu peito e bradar a resposta.

O Rei Feiticeiro é a justiça, ela diria. E ser fraco é um pecado. O importante é trabalhar
com afinco para ser forte, e assim por diante.

Neia precisava espalhar as verdades que aprendeu para todo o Reino Sacro.

“Baraja-sama, por favor, limpe suas lágrimas.”

Era Bertrand.

Olhando mais de perto, seus olhos também estavam vermelhos. Talvez ele tivesse en-
xugado suas próprias lágrimas antes de chegar ao lado de Neia, mas sua voz ainda estava
tremendo, outro fato de que havia chorado.

“Ahh...”

Neia enxugou com força suas lágrimas, assim como Shizu limpava o rosto pela primeira
vez.

“Baraja-sama. As pessoas que testemunharam essa batalha, todos querem ouvir sobre
o Rei Feiticeiro. Muitos mais vieram com suas famílias também.”

“Tudo bem. Nós lhes diremos que Sua Majestade — Ainz-sama é um rei verdadeira-
mente nobre, e também sobre a Shizu.”

Neia olhou para frente.

“Despedidas realmente são deprimentes. Contudo — Pessoal! Vamos! Vamos espalhar


a verdade — que Sua Majestade é justiça — para mais pessoas!”

“—Ohhhh!”

Epílogo
394
Mais de 3.000 pessoas gritaram em uníssono e, em seguida, ficaram atrás de Neia.

♦♦♦

A carruagem seguiu em frente.

O longo projeto finalmente acabou. Ainz nunca tinha experimentado por conta própria,
mas provavelmente era assim que se parecia ao ser expatriado. Mesmo voltando a Na-
zarick de vez em quando, esta poderia ter sido a primeira vez que ele esteve longe por
tanto tempo.

Ele tinha deixado a questão de governar os demi-humanos das Colinas Abelion para
Albedo, e ele entregou a totalidade dos futuros assuntos do Reino Sacro para Demiurge.

Em outras palavras, Ainz tirou o peso de seus ombros. Ele suspirou, sutil o bastante
para que Shizu — que estava sentada à sua frente — não notasse. Embora ele tivesse
mudado o roteiro de Demiurge para o modo fácil na metade, a fadiga de todos os eventos
complicados até aquele momento ainda não havia sido totalmente eliminada. No entanto,
ele sentiu a sensação de relaxamento resultante da solução de um problema anterior-
mente insolúvel.

Dito isto, depois de voltar à Nazarick — E-Rantel, ao invés disso — ele precisaria cui-
dadosamente e lentamente cuidar do trabalho que ele havia adiado nas duas últimas
temporadas. Antigamente, ele havia colocado seu carimbo nos documentos de uma
forma descuidada, confiando que Albedo já os havia examinado, apenas para ser infor-
mado: “Na verdade, apenas o Ainz-sama poderia tomar decisões tão rapidamente. Estou
cheia de respeito.” Ainz se perguntara se essa avaliação era sarcástica ou não.

De fato. Não era porque tinha trabalho esperando por ele que não tinha usado 「Gate」
— o que poderia levá-lo de volta em um instante.

Definitivamente não.

Havia maneiras de se teletransportar para lugares que não se viam antes, mas ainda era
cedo demais para isso. Não adiantaria mostrar as cartas em suas mãos. É claro que o
Hanzo na carruagem não havia dito nada, e a magia de anti-adivinhação que ele havia
conjurado não havia sido acionada. Era um sinal claro de que ninguém estava monito-
rando Ainz e os outros, mas a oposição poderia estar usando métodos que Ainz não co-
nhecia.

Como ainda há tempo, posso esperar até chegarmos a um local mais protegido para lan-
çar uma magia de teletransporte.

Pensou Ainz.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


395
De fato. Definitivamente não era porque ele queria ficar longe daqueles documentos
que ele não conseguia entender, não importando quantas vezes ele os lesse.

Ainda assim, se houvesse um problema—

Shizu não disse nada desde que entrou na carruagem...

Neia também tinha sido assim, mas ele sempre se sentia inquieto quando comparti-
lhava uma carruagem com alguém e o mesmo ficava quieto. Ele poderia mencionar algo
se a outra pessoa fosse um homem, mas ele teria de tomar cuidados com suas palavras,
já que ela era mulher.

Você não pode dizer algo, Shizu?

Esse pensamento estava na mente de Ainz desde o começo. Lamentavelmente, não pa-
recia que isso iria acontecer tão cedo. Finalmente, Ainz não sendo mais capaz de supor-
tar o silêncio, e depois de se preparar para o pior, disse:

“Shizu, como se sente sobre deixar Nazarick e trabalhar sozinha? Você tem alguma per-
gunta ou sugestão para o futuro?”

Começaria ouvindo um relatório de sua subordinada, que estivera ocupada com o tra-
balho quando fôra enviada para uma missão.

Embora ele não fosse bom em falar com mulheres, tudo bem quando ele as imaginava
como colegas de trabalho.

“...Eu acho que... fiz meu melhor.”

“Mesmo? Você realmente trabalhou muito mesmo.”

Esse foi o fim da conversa. Estava morta e enterrada.

Mesmo que ele esperasse um pouco mais, ele não deveria esperar que Shizu continu-
asse.

Uma vez que as palavras “fiz meu melhor” foram mencionadas, foi muito difícil conti-
nuar a partir daí. Ela não respondeu à pergunta sobre ter dúvidas ou sugestões futuras.

Todavia, esses pensamentos eram apenas as contemplações superficiais de um supe-


rior. Ele deveria estar pensando: já que ela fez seu melhor, tudo o que tenho a fazer é
esperar pelos resultados. Também havia benefícios. Isso porque a implicação era que
nada havia acontecido, o que poderia causar um problema ou se tornar um problema.

Contrariando suas expectativas, Shizu continuou:

Epílogo
396
“...É difícil pensar e agir por conta própria...”

“Realmente, é algo um tanto corriqueiro.”

Shizu estava trabalhando em Nazarick todo esse tempo, e tudo o que fazia se resumia a
receber instruções e executá-las. No entanto, ele só lhe dera instruções superficiais desta
vez, e então as ações que ela tomou com base nas decisões que tomou dentro do escopo
dessas instruções foram sua primeira tarefa. Por tudo que sabia, isso poderia ter sido
muito amplo para ela. Talvez ele devesse ter começado dando-lhe uma tarefa mais sim-
ples, mas Ainz tinha certeza de que Shizu lhe daria resultados concretos.

“Ainda assim, não é incomum que as Pleiades saiam para missões. Agora a narrativa é
de que as empregadas demônios são lacaias do Rei Feiticeiro, isso se espalhará do Reino
Sacro para as outras nações. No futuro, você pode receber ordens que resultam na lide-
rança de seus subordinados para atividades fora de Nazarick. Esta foi uma boa experi-
ência. Mas dar instruções vagas foi uma má idéia. Assim como eu pensava, a pessoa que
dá ordens tem que dizê-las de forma clara—”

Neste ponto, Ainz sentiu que ele estava cavando seu próprio túmulo. Como o pináculo
de Nazarick, Ainz era o mais propenso a dar ordens.

Eu não posso chegar a planos de ação concretos. Ou melhor, se eu chegar a planos super-
ficiais, Albedo e Demiurge terão olhares de desaprovação!

“—Deve-se enfatizar a adaptação à situação e propor planos que deem certo grau de
liberdade. No fim, a pessoa que lida com a situação cara a cara que deve julgar como
prosseguir!”

“...Sim. Eu aprendi muito mais em comparação com apenas seguir instruções.”

“Ahh, mesmo? Isso é bom. Eu entendo muito bem como se sente.”

Ainz coçou a cabeça enquanto a acenava, mas quando percebeu a diferença de compe-
tência entre Shizu e ele — cujo cérebro inexistente doía quando lia os relatos de Demi-
urge —, a vontade de chorar veio do fundo de seu coração.

“A propósito...”

Ainz decidiu mudar de assunto. Se ele continuasse, só poderia acabar se chocando mais:

“Parece que você e a Srta. Baraja se davam muito bem. Foi uma pena que tivemos que
nos separar.”

“...Eu estava interessada... nela...”

“—Mesmo!? Mas isso é maravilhoso!”

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


397
A expressão de alegria de Ainz foi genuína.

Suzuki Satoru não tivera filhos, mas podia entender como um pai se sentia quando ou-
via que uma criança que não tinha amigos fizera amigos pela primeira vez.

Ah, ainda bem que eu a ressuscitei... hm? O que significa ficar interessada... não me diga
que ela não é uma amiga, mas sim como um brinquedo...

“...Posso supor que vocês são amigas?”

Shizu brevemente inclinou a cabeça em pensamento, mas no final ela respondeu com
um:

“...Sim.”

Ainz ficou extasiado de felicidade. No entanto, esse estouro de alegria foi prontamente
negado.

Ele estava infeliz por ser privado disso, o pensamento de que esta poderia ser a pri-
meira vez que alguém de Nazarick fez um amigo fora, trouxe um pouco de alegria ao seu
coração.

A maioria dos residentes em Nazarick não a deixou, por isso não fizeram amigos do lado
de fora. Talvez se ele deixasse os outros membros saírem regularmente, eles seriam ca-
pazes de fazer boas amizades.

Ainz não achava que as pessoas com amigos fossem superiores às demais. No entanto,
pensar que alguém não precisava de amigos também estava incorreto.

Dito isto, sempre foi melhor ter a chance de fazer amigos, do que não os fazer.

Eu tive meus amigos na Ainz Ooal Gown. Nesse caso, pode ser bom deixar os outros mem-
bros saírem e dar-lhes tempo livre para interagir com os outros... especialmente o Mare e
a Aura. Não, também é possível que dar a eles algum tempo no aniversário deles é... uhum.

“Você pretende encontrar a Neia novamente?”

“...Não... longe demais...”

“Ahh! Não precisa se preocupar com isso. Eu já marquei este lugar como um ponto de
teleporte. Você pode ir e se divertir sempre que quiser. Apenas use 「Gate」. Não há
necessidade de ser tímida. Mm.”

“...Se eu estiver livre... por favor, deixe-me fazer isso...”

Epílogo
398
“Exatamente isso! Livre... eu lhe darei muito tempo livre. Eu tenho pensado sobre um
plano de férias por algum tempo. Eu deveria dar às Pleiades umas férias também. Não
seria bom sair e se divertir juntas? Eu já planejei tudo, não há nada com o que se preo-
cupar.”

Shizu pensou brevemente sobre isso e depois sacudiu a cabeça.

“...Isso causará problemas.”

“Problemas...?”

Como assim? Problemas para a Neia? Ou vai impedi-la de se divertir com a Neia? Ou é
porque as outras Pleiades não aprovam...

“Bem, se causar problemas, não poderemos fazer nada quanto a isso. Você terá que ir
sozinha, Shizu. Falando nisso, deixe-me mudar de assunto. Os pais da Srta. Baraja estão
ambos mortos. O que pensa disso?”

Os pais de Neia Baraja estavam ambos mortos. Se ela tivesse pedido a ele, ele achava
que seria bom ressuscitá-los. Se isso a deixasse ainda mais grata—

Não, isso não está certo.

Resumindo, os pais de Neia não valeriam o custo. Era claro que Neia estava suficiente-
mente grata a ele. Nesse caso, não havia necessidade de continuar marcando pontos com
ela. Além disso, as Wands of Resurrection eram muito caras, então ele queria economizar,
se possível. Se Pestonya e os outros usassem magias de ressurreição, ela precisaria de
moedas de ouro, joias ou outros objetos de valor como parte do custo da magia.

Na verdade, praticamente não havia benefícios a serem obtidos.

Bem, seria um assunto diferente se fosse a amiga da Shizu. Eu não me importaria de dar
benefícios assim às amigas das crianças.

Por ela parecer íntima de Shizu, ele fez suas perguntas — tanto Neia quanto Shizu —
para julgar suas reações.

“...Está tudo bem... Tratamento especial não é bom.”

“Mesmo? Seria um excelente presente... mas já que é assim... bem, é isso.”

Na verdade, ressuscitar os mortos — especialmente os cadáveres incompletos — po-


deria ser muito problemático. Haveria muitas pessoas que diriam: “Como você pode fazer
isso por ele e não por mim?” Além disso, seria problemático se ele fosse convidado a res-
suscitar a Rainha Sagrada. Com certeza, Demiurge poderia lidar com a situação se ele
ressuscitasse a Rainha Sagrada, mas os deméritos superavam as vantagens.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


399
“Se quiser brincar, que tal ler aquele livro? Estaria tudo bem?”

“...Está tudo bem... está no Consultório Médico.”

Shizu possuía conhecimento de todos os mecanismos de Nazarick. Deixá-la sair assim


era muito perigoso, e ela não teria sido capaz de deixar Nazarick. Portanto, ele usara
「Control Amnesia」 nela.

O conhecimento de Shizu sobre esses mecanismos fazia parte da narrativa que seu cri-
ador — um jogador — havia feito para ela. Ainz não sabia se a magia poderia funcionar
em tais coisas, mas depois de lançá-la nela, descobriu que a magia funcionava como de-
veria.

Essa era uma técnica que Ainz havia desenvolvido após repetidas experiências em co-
baias que ele havia obtido. Aparentemente poderia fazer coisas incríveis depois que a
dominasse por completo.

A razão para isso foi porque Ainz teve a sensação de que ele poderia acessar o núcleo
dos NPCs. Onde estava exatamente as narrativas dos NPCs, ou começo de suas memó-
rias? Ainda assim, isso era simplesmente uma ilusão da parte de Ainz, era muito provável
que as duas coisas não estivessem completamente relacionadas. Se ele quisesse resolver
isso, precisaria entender melhor a magia e entender tudo a ver com a memória humana.
Nesse caso, ele precisaria de muitas cobaias e décadas de treino e pesquisar, além de se
preparar para a possibilidade de que tudo isso poderia ser uma perda de tempo.

Ainda assim, Shizu estava atualmente com memórias incorretas, então, em certa me-
dida, ela era uma armadilha.

Qualquer um que tentasse usar Shizu para entrar em Nazarick teria maus bocados es-
perando por eles.

“O Médico... hm? Aquelas Shizus podem se mover?”

“...Se a hora chegar.”

Elas não são apenas construtos, então?

Ainz queria dizer isso, mas não disse. Era exatamente como a verdadeira identidade de
Papai Noel, escondida sob um véu de mistério.

Suzuki Satoru não se lembrava de ter visitado o local depois de vir ao novo mundo, mas
ele tinha visitado nos tempos de YGGDRASIL—

“Embora, na verdade eram desenvolvedores.”

Epílogo
400
Quando Ainz riu desamparadamente, ele notou Shizu olhando atentamente para ele, e
então ele disse:

“Eu estava falando sozinho.”

“...Vossa Majestade.”

“Hm?”

“...Vossa Majestade.”

“...O que é, Shizu?”

No passado, ela havia se dirigido a ele pelo nome, mas agora ela tinha passado a usar
um tratamento formal. Isso perturbou ligeiramente — ou melhor, muito — Ainz.

“...Fui muito familiar todo esse tempo... é assim que é o certo?”

“O que está dizendo? Eu me sentiria triste se você me chamasse de Vossa Majestade.


Ainz-sama está de bom tamanho. Sendo sincero, você nem precisa do -sama. Que tal Ainz-
san?”

“...Isso seria rude. Eu seria repreendida.”

“...Ah, claro. Bem, você não precisa me chamar de Vossa Majestade.”

“...Entendido.”

“Oh sim, e sobre o ofício rúnico que te falei utilizando 「Message」?”

“...Eu tentei.”

“Entendo...”

Parece que não correu bem. Ainda assim, não deve ser um problema, mesmo que falhe.

Ainda assim, talvez eu devesse esperar para pegar os itens que emprestei, incluindo aquele
arco.

Ainz refletiu enquanto observava Shizu.

Quando partiu, ele compartilhou sua carruagem com uma garota que continuava enca-
rando-o. E no caminho de volta, estava uma garota de rosto inexpressivo. Ambas eram
únicas à sua maneira.

Enquanto Ainz pensava sobre isso, ele sorriu.

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


401
♦♦♦

Do interior do palácio real, nos aposentos do Rei Sagrado, Caspond olhou para fora.

Sua coroação seria em poucos dias. Portanto, ele veio a este recinto vazio — incluindo
a sala de descanso ao lado desta — para acalmar seus pensamentos.

A primeira a reclamar e que não mediria palavras seria Remedios. Mas atualmente es-
tava meditando em sua casa. Não, não seria correto dizer que estava meditando. Em vez
disso, seria mais preciso dizer, recuperando suas forças. Isso porque Caspond pretendia
que ela encontrasse quaisquer demi-humanos que ainda estivessem escondidos dentro
do Reino Sacro e os extirpasse.

Dito isso, ele ainda havia se mudado para o quarto do Rei Sagrado antes de a coroação
terminar. Esta foi uma ótima razão para os inimigos de Caspond atacarem-no. Ele insis-
tira em fazê-lo, embora soubesse que as lutas pelo poder já haviam começado.

O objetivo era estabelecer os fatos antes que os nobres anti-Caspond pudessem dizer
qualquer coisa. Dado que Caspond não entendia bem a sociedade nobre, a habilidade de
contar ao amigo do inimigo era bastante conveniente. Isso também fazia parte do plano.

“...Eu tenho certeza que alguns nobres devem estar infelizes por eu ter assumido o trono
sem fazer acordos com os demais nobres. Isso é particularmente verdadeiro para os Su-
listas — aqueles que ele não oprimiu. Nesse caso, o que os Nortenhos com quem eu lutei
pensariam se eu os escutasse...”

“Eles certamente ficariam infelizes e se tornariam um grande fator de divisão. Dessa


forma, o plano de dividir o país em dois estará completo.”

Os murmúrios auto-direcionados de Caspond receberam uma resposta.

Era uma voz suave que parecia infiltrar-se no coração. Pertencia à entidade que era o
superior de Caspond.

Caspond imediatamente se virou e se ajoelhou ao orador. Ele se curvou e depois levan-


tou a cabeça.

“Eu lhe ofereço boas-vindas, Demiurge-sama.”

Ele não estava usando a máscara e não havia mudado de aparência antes de aparecer.
Em outras palavras, ele estava certo de que este lugar era seguro.

“Estou aqui para levar os itens de volta a Nazarick. Há algum problema?”

“Nenhum. Tudo se foi como o senhor planejou, Demiurge-sama.”

Epílogo
402
Caspond sorriu e Demiurge replicou.

“Embora houvesse algumas coisas que estavam além das minhas expectativas, a pri-
meira fase do plano foi concluída sem nenhum problema, graças às ações do Ainz-sama.
Aguardo com expectativa o seu bom desempenho no futuro.”

A cabeça de Caspond estava curvada, mas ele sabia que aquelas palavras não eram ver-
dadeiras.

Demiurge não esperava nada dele. No entanto, se necessário pular nos trilhos, ele ime-
diatamente pularia para corrigir o plano e mantê-lo nos trilhos.

Ele deveria ter preparado vários planos para revelar a verdadeira identidade de Cas-
pond. Suas instruções incluíam vários itens que o fizeram se perguntar o porquê ele ti-
nha que fazer tais coisas. Aqueles devem ter sido planejados para se preparar para
aquele momento.

A primeira fase do plano era levar as Colinas Abelion e os demi-humanos sob o domínio
do Reino Feiticeiro. Antes disso, eles exterminariam as espécies problemáticas e então
plantariam as sementes de um conflito entre o Reino Sacro do Norte e o Reino Sacro do
Sul.

Depois disso, Caspond ficaria encarregado da segunda fase, que consistia em colocar o
Norte e o Sul na oposição e, depois, em conflito.

A terceira fase final seria ter o Reino Feiticeiro para assumir tudo.

“...Eu tenho uma pergunta sobre o item necessário para isso, que seria o meu cadáver.
O senhor vai mantê-lo aqui?”

“Não há necessidade disso. Já foi levado para Nazarick. Quando for necessário para o
plano, poderá ser trazido aqui.”
[Sudário do
O corpo do verdadeiro Caspond estava envolto em um item conhecido como Shroud of
S o n o ]
Sleep, e aparentemente fôra levado para Nazarick.

Este item mágico poderia impedir a decadência de um cadáver. Ele havia sido morto
com magia de morte instantânea após a captura, e seu corpo havia sido preservado antes
que o rigor mortis pudesse entrar em ação.

Se alguém o tocasse, ainda assim poderia sentir traços de seu calor corporal. Com esse
cadáver, alguém poderia simplesmente assumir que ele havia morrido de repente.

“Permita-me verificar alguma coisa. Você entende o que deve fazer como o Rei Sagrado?”

OVERLORD 13 A Paladina do Reino Sacro - 2


403
“Sim. Para fazer disso um país digno do Ainz-sama, devo torná-lo próspero.”

“Mm, exato. No entanto, você deve manter as pessoas infelizes. Afinal, a insatisfação é o
melhor tempero para receber um novo rei.”

“Sim.”

Respondeu o Doppel-Caspond. Então ele perguntou a Demiurge sobre um problema


que não havia sido descrito em seu plano.

“A propósito, o que devemos fazer com aquela menina?”

Apenas isso foi necessário para Demiurge perceber de quem o Doppel-Caspond estava
falando, e pela primeira vez seu sorriso veio do fundo de seu coração.

“Uma vez eu usei a palavra “insondável” para descrever o Ainz-sama... de fato, esse é o
caso. Ainz-sama preparou uma excelente peã para mim. Sua existência cortou anos do
meu plano.”

Doppel-Caspond tinha a sensação de que os olhos de Demiurge — ele não sabia exata-
mente onde ele estava olhando — de repente se moveram. Eles pareciam estar olhando
para a parede.

Está nessa direção… sobre esse assunto, Caspond lembrou da direção do portão princi-
pal da capital.

“Ele disse que queria cativar os humanos para o seu lado... mas pensar que poderia re-
almente fazer uma garota dessas em um país de religiosos tão fanáticos. Embora, eu não
tenha idéia do porquê ele disse que não teria problemas em matar a garota cujo havia
emprestado a arma rúnica. Sem dúvida, deve ter sido para forçá-la ao estado mental
apropriado.”

Demiurge parecia estar de bom humor, e ele não parecia estar dizendo isso para nin-
guém em particular. Caspond apenas esperou em silêncio que Demiurge voltasse sua
atenção para si mesmo.

“A instrução para ajudar aquela garota foi realmente a resposta certa. Não, já que é o
Ainz-sama, ele certamente seria capaz de corrigir qualquer coisa que eu fizesse. Mesmo
ele dizendo no passado que planejava introduzir falhas no plano para testar minha ca-
pacidade de adaptação... mas pensar que ele tinha planejado tão ardilosamente... Ainz-
sama é verdadeiramente aquele que uniu os Seres Supremos. Em todas as vezes, ele me
mostra como sou inferior à sua estimada pessoa... Kuku~, que mestre cruel ele é.”

Demiurge parecia profundamente comovido quando acenava a cabeça e o interior da


sala ficou em silêncio. Finalmente, Demiurge ajustou o colarinho, como se para estancar
a última gota de sua excitação, e depois apertou a gravata.

Epílogo
404
“Apoie qualquer coisa que Neia Baraja fizer, use tudo o que sua posição te oferece. Faça
isso como forma de agradecimento ao Ainz-sama. Isso deve acelerar ainda mais o con-
flito entre o Norte e o Sul. Em breve, repassarei os planos sobre o que fazer se alguém
tentar interferir nessa garota. Até então, aja como discutimos.”

“Sim, senhor! ...Mas o que será dessa garota? O senhor pretende fazer dela a próxima
Rainha Sagrada?”

Nesse caso, ele precisaria fazer os preparativos apropriados. Dito isso, Demiurge disse
que ele daria instruções exatas, então seria melhor fazer o que lhe foi dito.

“Isso não é uma má idéia, mas seria melhor dar-lhe outra missão. Por enquanto não há
como dizer se o Ainz-sama deseja ser considerado como um deus, mas caso pretenda,
seria melhor fazer os preparativos para isso. O experimento de adoração ao Ainz-sama
como um deus certamente será útil nesse caso.”

“Sim, senhor!”

“E então, há algo mais que gostaria de aproveitar esta oportunidade para verificar.”

“Sim. Diz respeito àquela mulher que não é mais necessária, Remedios Custodio. Em-
bora o plano original fosse fazer com que ela executasse missões conforme fosse neces-
sário, não seria melhor matá-la?”

“Não, apenas mantenha-a viva e deixe que ela se torne um bode expiatório para a insa-
tisfação dos nobres. Foi por isso que eu disse que ela era a única que não seria morta
durante nosso primeiro encontro. Transfira-a para outro posto. Deixe o Vice-Capitão se
tornar o Capitão da Ordem Paladina e, em seguida, faça bom uso dele. Ele pode ser colo-
cado em trabalhos de grande importância.”

“Afirmativo!”

“Lide com ela quando o conflito se tornar evidente.”

Depois do Doppel-Caspond mostrar que entendeu, Demiurge indicou que a conversa


tinha acabado e desapareceu com 「Greater Teleportation」.

O demônio escondido em sua sombra, e o Hanzo que Caspond nunca poderia derrotar,
não importava o que ele tentasse, ainda estavam à sua disposição.

Doppel-Caspond levantou-se e olhou para fora da janela novamente.

Ele só podia ver o pátio, mas se imaginou como seria revelar para todas as pessoas da
cidade. Depois disso, ele riu ironicamente.

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“—Desfrutem do sabor da felicidade por mais algum tempo, meu povo.”

Epílogo
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Posfácio

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407
Obrigado por se esforçarem para chegarem até aqui, queridos leitores. Àqueles que
compraram a versão física, a mão que segurou no livro deve estar se sentindo pesada,
não? Tenho certeza que devem ter sentido o medo de deixar o livro cair no rosto ao ler
enquanto estava deitado.

Volume 13 é o primeiro livro OVERLORD na história com um número de páginas com


bem mais de 500. O que acharam do conteúdo? Eu ficaria feliz se mesmo uma pequena
parcela dos leitores sentira que fôra interessante.

No entanto, na verdade, poderia ter sido melhor dividi-lo em três partes. Lendo a coisa
toda do começo ao fim realmente sobrecarrega o cérebro. Ler os Capítulos 4, 5 e, em
seguida, o Interlúdio antes de ir dormir pode ser um ritmo melhor.

Pessoal, como vocês o leram? Ah, uma grande vantagem do dividindo-o em dois livros
seria a oportunidade de desfrutar de mais de lindas ilustrações de So-bin-san!

Ainda assim, isso não vai acontecer novamente, então não faz sentido pensar nisso.
Mesmo que eu continuei dizendo que queria cortar o número de páginas, ainda acabou
ficando muita coisa. Quanto mais páginas, mais tempo qualquer coisa relacionada ao li-
vro aumenta, o cronograma continua apertado.

Além disso, o número de palavras erradas também aumenta, então parece que não há
praticamente nenhuma vantagem nisso.

Da próxima vez, gostaria de escrever um livro que seja mais fácil tanto para o autor
quanto para o público. A segunda temporada de o anime também vai sair durante o
tempo, então espero que todos gostem.

Então, mesmo eu dizendo que o próximo volume só em 2019, estou planejando escre-
ver algo muito antes disso, então eu não sei como as coisas vão realmente acabar. Rela-
xar e esperar ajuda muito. A terceira temporada do anime também sairá durante esse
tempo, então espero que todos gostem.

Mas, na verdade, eu praticamente não tenho mais nada para colocar no posfácio. No
passado, quando eu era um leitor e via o autor dizendo que ele não sabia o que escrever,
eu pensava “basta escrever o que você quiser”.

Agora que estou na mesma situação, posso entender com o que eles tiveram que lidar.
O que vocês escreveriam se estivessem na minha posição? Honestamente... a idéia de
que eu não preciso mais escrever essas palavras está começando a crescer dentro de
mim!

E por fim, gostaria de agradecer a todos que me ajudaram com este volume. Estou an-
sioso para trabalhar com vocês no futuro.

Maruyama Kugane
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Ilustrações
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Glossário
-Magias, Habilidades & Passivas- Slow:..............................................................................Lentidão.
Tradução livre de seus nomes Soul-Bought Miracle: ........ Milagre Comprado pela Alma.
Stream of Lava: .................................................. Jato de Lava.
The Goal Of All Life Is Death:O Objetivo de Toda a Vida
Astral Smite: .............................................. Ferimento Astral. é a Morte.
Blasphemy: ............................................................... Blasfêmia. Time Stop: .................................................. Parada de Tempo.
Blindness: ................................................................... Cegueira. True Resurrection: .................... Ressurreição Verdadeira.
Body of Effulgent Beryl: ....... Corpo de Berilo Refulgente. Under Divine Flag: .......................... Sob a Bandeira Divina.
Burn Lance: .......................................................... Lança Ígnea. Uriel: .................................................................................... Uriel.
Call Greater Thunder: .................Chamar Grande Trovão. Vermillion Nova: ......................................... Vermilion Nova.
Chain Dragon Lightning:.Dragão Relâmpago em Cadeia. Wall of Hell: ...............................................Parede de Inferno.
Control Amnesia:................................... Controlar Amnésia. Wall of Skeleton: ................................ Parede de Esqueleto.
Death: ................................................................................ Morte. Water Splash:....................................................Jorro de Água.
Delay Teleportation: ...................... Atraso Teletransporte. Wave of Pain: ...................................................... Onda de Dor.
Detect Magic: ................................................. Detectar Magia.
Distort Moral: ............................................... Distorcer Moral.
Energy Drain: ................................................Drenar Energia.
-Metamagia-
Evil Lord Summons: ........................ Invocar Lorde do Mal.
Field of Unclean: ...................................... Campo de Impuro
Maximize Magic:Maximizar Magia - aumenta o poder
Fireball: ............................................................... Bola de Fogo.
destrutivo da magia.
Flamewing: ................................................. Asas Flamejantes.
Triplet Maximize Magic:Triplicar Magia Maximizada -
Fly: ........................................................................................ Voar.
triplica a magia e aumente o poder destrutivo.
Fog Cloud: ................................................. Nuvem de Neblina.
Twin Maximize Magic:Duplicar Magia Maximizada - du-
Freeze Lance: .............................................. Lança Congelada.
plica a magia e aumente o poder destrutivo.
Gate: ................................................................................... Portal.
Widen Magic:Ampliar Magia - aumenta a área de efeito
GouKakyuu: ..........................................Grande Bola de Fogo.
da magia.
Greater Magic Vision: ......................... Maior Visão Mágica.
Greater Rejection:........................................ Maior Rejeição.
Greater Teleportation: ................... Maior Teletransporte.
-Itens-
Greater Word of Curse: .........Maior Palavra de Maldição.
Tradução livre & Curiosidades
Heavy Recover: ................................... Recuperação Pesada.
Hellflame:................................................... Chama do Inferno.
Circlet of Iron Will: ................. Tiara da Vontade de Ferro.
High Tier Physical Immunity:.... Anulação Física de Alto
Deathguard Armband: ........... Braçadeira Guarda-Morte.
Nível.
Edge Wing: .............................................................. Asa Afiada.
Insanity:.................................................................. Insanidade.
Exchange Box: ............................................ Caixa de Cambio.
Invisibility: ........................................................Invisibilidade.
Gauntlets of Archery: ...................Manoplas da Arquearia.
Kaminari Sourou Shourai: .... Chamar Senhor do Relâm-
Mirror of Gate:.......................................... Espelho do Portal.
pago.
Ring of Wand Mastery: ... Anel da Maestria em Varinhas.
KaminariTsume: ...................................... Garra Relâmpago.
Shroud of Sleep: ..........................................Sudário do Sono.
Kibakushou: .................................................Palma Explosiva.
Trident of Desiccation:............... Tridente de Dessecação.
Kin Tsuyoshi: ..................................................Endurecer Aço.
Ultimate Shooting-Star Super: ... Super Estrela-Cadente
Kin Yawara: ...................................................... Amolecer Aço.
Final.
Life Essence: ................................................ Essência da Vida.
Wand of Resurrection: ............. Varinha da Ressurreição.
Light Healing: ..........................................................Cura Leve.
Lightning: ............................................................... Relâmpago.
Lion’s Heart: .................................................Coração de Leão.
Message: .................................................................. Mensagem. -Termos & Terminologias-
Meteor Fall: .............................................. Queda de Meteoro.
Napalm:..........................................................................Napalm. Aggro:Termo de RPG para criaturas que tem postura hos-
Nuclear Blast: ............................................Explosão Nuclear. til perante ao jogador.
Odorless: ...................................................................... Inodoro. Ajudantes de Ordens:É o assistente ou secretário pes-
Open Wounds: ..............................................Feridas Abertas. soal de uma pessoa de alta posição, normalmente de um
Perfect Unknowable: .....................Incognoscível Perfeito. antigo oficial militar ou de um Chefe de Estado.
Preservation: ...................................................... Preservação. Baluarte:Do provençal baloart, do neerlandês bolwerk
Rabbit’s Ear: ............................................... Orelha de Coelho. ou bastião (do francês bastion) - em arquitetura militar -
Reality Slash: ..............................................Cortar Realidade. é uma obra defensiva, situada nas esquinas e avançada
Serpent Shot: .............................................. Tiro da Serpente. em relação à estrutura principal de uma fortificação aba-
Shark Cyclone:....................................... Ciclone de Tubarão. luartada.
Shock Lance: .................................................... Lança Choque. Buff: ............... Efeitos Positivos que aprimoram o jogador.
Shockwave:...................................................Onda de Choque. Drop:Itens deixados por monstros após serem mortos
Silence: ...........................................................................Silêncio. em jogos, o termo também vale para a taxa com qual os
Silver Lance: .................................................. Lança Prateada. itens veios em sorteios, lootboxes.

Glossário
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Enclave:Em geografia política, um enclave é um territó- Stone Eater:Comedores de Pedra - Os kanjis abaixo do
rio com distinções políticas, sociais e/ou culturais cujas furigana são 石喰猿, algo como Macaco Comedor de Pe-
fronteiras geográficas ficam inteiramente dentro dos li- dra.
mites de um outro território. Undead: ................................................................... Morto-Vivo.
Quinta-coluna:Quinta-coluna é uma expressão usada Vah Um:Os kanjis abaixo do furigana são 水精霊大鬼,
para se referir a grupos clandestinos que atuam, dentro algo como Ogro Espírito da Água.
de um país ou região prestes a entrar em guerra. Wraith: ........................................................................ Aparição.
Koi: ........................................................ 鯉 - Um tipo de Karpa. Zern:Os kanjis abaixo do furigana são 藍蛆, algo como
MVP: Most Valuable Player >> Jogador Mais Valioso/Per- Verme Índigo.
sonagem Mais Valioso. Zernlord ...........................................................Soberano Zern.
Seiyuu:優 é um dublador japonês que atua no rádio, tele- Zoastia:Os kanjis abaixo do furigana são 獣身四足獣,
visão e jogos de computador. Na televisão, são mais usa- algo como Besta Quatro-Patas.
dos em animes e anúncios comerciais e são muito mais
famosos que os atores de voz que vimos no ocidente.
-Honoríficos & Tratamentos-
-Nomes- Chan:ちゃ ん - O sufixo “chan” é um termo carinhoso
usado geralmente para crianças ou pessoas que temos
Uriel:Em hebraico: ‫אוריאל‬, Uriʾel; no hebraico tiberiano:
muita intimidade. O “chan” é usado após o nome inteiro
ʾÛrîʾēl; “Chama de Deus”. É um dos arcanjos da tradição
ou abreviado.
rabínica pós-exílio, bem como de algumas tradições cris-
tãs. Denka:殿下 - É usada para a realeza não soberana, simi-
Kurayami no Shirabe: 暗闇の調べ - Investigação da Es- lar à “Sua Alteza”. Geralmente utilizado para príncipes e
princesas que são filhos do Imperador. Pode ser utilizado
curidão.
como um título específico.
Dono:殿 | どの - O sufixo “dono” vem da palavra “tono”,
-Raças & Monstros- que significa “senhor”. Seria semelhante ao termo “meu
senhor”. Na época dos samurais, costuma-se denotar um
grande respeito ao interlocutor.
Armat:Os kanjis abaixo do furigana são 鉄 鼠 人 , algo
Kouhai:後輩 – Uma forma de tratamento baseada no sta-
como Homem-Rato de Ferro. 鉄鼠 vem da lenda de ratos
tus, assim como senpai. É um pronome para tratar alguém
demônios do Japão.
inexperiente. Seria algo como “Novato / Calouro”. Um
Bafolk:Os kanjis abaixo do furigana são 山羊人, algo
kouhai deve respeitar seu senpai.
como Homem-Cabra da Montanha.
Kun:君 - O sufixo “Kun” é bastante utilizado na relação
Beastman: .........................................................Homem-Besta.
“superior falando com um inferior”, mas apenas se hou-
Corolla:.. Corola - do termo latino corolla, “pequena flor”.
ver um certo grau de intimidade e amizade entre ambos.
Crown: ............................................................................... Coroa.
Sama:様 | さま- O sufixo “Sama” é uma versão mais res-
Elder Lich: ..............................................................Lich Ancião.
Evil Lord Wrath: ................................ Lorde Maligno da Ira. peitosa e formal de “san”. A traduções mais próxima do
Evil Lord Sloth: ........................ Lorde Maligno da Preguiça. termo “sama” para o português seria “Vossa Senhoria”.
Filth Eater: ...................................... Comensais da Imundice. No Japão, é importante referir-se a pessoas importantes
ou a alguém que admira e é muito importante, no império
Magelos:Os kanjis abaixo do furigana são 魔現人, algo
antigo era muito usado para se referir a rainhas.
como Povo Místico.
San:さん - O sufixo “San” é um honorífico que pode ser
Nagaraja:Do sânscrito: नागराज nāgarāja. Raja significa
usado em praticamente todas as situações, independente
Rei, ou seja, na mitologia é Rei dos Naga.
do sexo da pessoa. Normalmente é usado para pessoas
Orthrous:Os kanjis abaixo do furigana são 半人半獣, algo
que temos pouca ou nenhuma intimidade. Também usado
como Meio Homem Meio Besta. quando a pessoa considera o interlocutor como um de
Pteropus:Os kanjis abaixo do furigana são 翼亜人, algo igual hierarquia.
como Homem Alado. Claro, Pteropus também é uma clas- Senpai:先輩 - senpai deve ser um exemplo em todos os
sificação dada a morcegos conhecidos como Raposa-voa- aspectos possíveis, para mostrar aos kohai qual a postura
dora. que deve ser adotada. O senpai deve possuir habilidades
Scale Demon: ......................................Demônio de Escamas. técnicas e de postura que inspirem seus kohai a fazer o
Shadow Demon: ........................................ Demônio Sombra. mesmo. É um “veterano”.
Silk Hat: .......................................................... Chapéu de Seda.
Shi:氏 – O sufixo “shi” é um honorífico formal, usado es-
Snakeman: ....................................................... Homem-Cobra.
pecialmente em escritas formais como documentos jurí-
Soul Eater:............................................... Devorador de Alma.
dicos, diários, jornais, publicações acadêmicas, entre ou-
Spidan:Os kanjis abaixo do furigana são 人蜘蛛, algo
tros escritos, para se referir a uma pessoa cujo interlocu-
como Humano Aracnídeo. tor não conhece pessoalmente, mas o conhecemos atra-
vés de publicações.

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Notas de Tradução:
Poeminha no Capítulo 04. Na tradução base do Nigel tinha tradução certinha lá. Mas
aí fui olhar no RAW pois estranhei a falta de pontuação, e com isso me deparei com a
estrutura de texto típica daqueles poemas japoneses. Aí adaptei o mínimo para tentar
criar uma estrutura de poemas que fizessem sentido em português.

As magias do Zern. Diferentemente das magias do Ainz, as magias do Zern são escritas
100% em japonês, pois pertencem a um sistema diferente de magia, a magia espiritual,
tem relação com o oriente. Poderiam ser traduzidas por completo, mas esse mix acabou
resultando em algo interessante.

Kelart e seu Cabelo Dourado. Em um tweet, Maruyama menciona que ele esqueceu
de mencionar que o cabelo castanho de Kelart era tão brilhante que parecia loiro.

Performance de comer enquanto vivos. Quando mencionado o termo é 踊り食い |


Odorigui, ou comer frutos do mar vivos enquanto ainda se movimentam. Referente à
cena dos demi-humanos comendo os humanos ainda vivos.

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Ainz Ooal Gown morre. O Reino Sacro Roble está cercado por um exército
de 40.000 demi-humanos.

Comandados por Remedios Custodio, que é a mais forte paladina do Reino


Sacro, o exército humano está muito cansado devido à sua batalha defensiva
para impedir o massacre feito pelos demi-humanos.

A fim de cumprir a promessa que fez como um rei, o Rei Feiticeiro, Ainz, lu-
tará sozinho contra o Imperador Demônio Jaldabaoth e as Empregadas De-
mônios sob seu comando. E então...

O Reino Sacro está envolto em chamas, ele ainda pode ser salvo?

O Volume 13 aponta o caminho para a justiça.

ISBN 978-4047349476

Glossário
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