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Índice

Capa
Página Título
Índice
Direitos Autorais
Introdução
Epígrafo

Prólogo
Capítulo Um
Capítulo Dois
Capítulo Três
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
Capítulo Seis
Capítulo Sete
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Capítulo Dez
Capítulo Onze
Capítulo Doze
Capítulo Treze
Capítulo Quatorze
Capítulo Quinze
Capítulo Dezesseis
Capítulo Dezessete
Capítulo Dezoito
Capítulo Dezenove
Capítulo Vinte
Capítulo Vinte Um
Capítulo Vinte Dois
Capítulo Vinte Três
Epílogo

Sobre o Ebook

Sobre a Autora
A Alta República - Um Teste de Coragem é uma obra de ficção. Nomes, lugares, e outros incidentes
são produtos da imaginação do autor ou são usadas na ficção. Qualquer semelhança a eventos atuais,
locais, ou pessoas, vivo ou morto, é mera coincidência.Direitos Autorais © 2021 da Lucasfilm Ltd. ®
TM onde indicada. Todos os direitos reservados. Publicado nos Estados Unidos pela Del Rey, uma
impressão da Random House, um divisão da Penguin Random House LLC, Nova York.DEL REY e a
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único propósito de compartilhá-lo com outras que falam a língua portuguesa, em especial no Brasil.
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INTRODUÇÃO
A Força está com a galáxia.
É a época da Alta República: uma união pacífica de mundos de pensamento semelhante, onde
todas as vozes são ouvidas e a governança é alcançada por meio do consenso, não da coerção ou do
medo. É uma era de ambição, de cultura, de inclusão, de Grandes Obras. A visionária chanceler
Lina Soh lidera a República da elegante cidade-mundo de Coruscant, localizada perto do centro
brilhante do Núcleo Galáctico.
Além do Núcleo e de suas muitas colônias pacíficas, contudo, existe a Orla Interna, a Média e,
finalmente, na fronteira do que é conhecido: a Orla Externa. Esses mundos estão repletos de
oportunidades para os corajosos o suficiente para viajarem pelas poucas vias bem mapeadas do
hiperespaço que levam a eles, embora também haja perigo. A Orla Externa é um refúgio para
qualquer um que busca escapar das leis da República e está repleta de predadores de todo tipo.
A chanceler Soh se comprometeu em trazer os mundos da Orla Externa para os braços da
República por meio de programas ambiciosos de divulgação, como o Farol Estelar. Mas até que seja
colocado online, a ordem e a justiça são mantidas na fronteira galáctica pelos Cavaleiros Jedi,
guardiões da paz que dominaram habilidades incríveis originadas de um misterioso campo de
energia conhecido como Força.
Os Jedi trabalham em estreita colaboração com a República e concordaram em estabelecer
postos avançados na Orla Exterior para ajudar qualquer um que precise de ajuda. Os Jedi da
fronteira podem ser os únicos recursos para pessoas que não têm mais para onde recorrer.
Embora os postos avançados operem de forma independente e sem assistência direta do grande
Templo Jedi em Coruscant, eles agem como um impedimento eficaz para aqueles que fazem o mal
nas sombras.
Poucos podem enfrentar os Cavaleiros da Ordem Jedi. Mas sempre haverá quem tente...
Klinith Da cuidadosamente aterrissou o cargueiro roubado na borda do
porto enquanto o seu parceiro, Gwishi, procurava nos compartimentos
próximos pela lista de passageiros e da carga da nave. Roubar coisas dos
mais fracos era um bom modo de viver, mas às vezes vinha com uma
parcela de aborrecimento, como quando funcionários idiotas dificultavam a
vida. Normalmente Klinith não se preocupava com essas coisas, sendo uma
mulher humana em uma galáxia cheia de espécies muito mais fortes, ela
sabia se cuidar, mas eles deviam manter a discrição, e isso significava que
sair atirando nas pessoas estava, infelizmente, fora de questão.
— Será que irão pedir por algum documento oficial? — Klinith
perguntou, tirando uma madeixa de cabelo magenta de seu rosto. Ela viu o
seu reflexo num vislumbre de um painel lateral. Ela não parecia nada com o
que costumava ser. Ela tirou todos os seus piercings e cobriu as suas
tatuagens de uma Strike, as tatuagens que diziam para outros Nihil sobre a
sua equipe e a carreira como pirata, com o macacão que usava, mas ela não
estava afim de mudar o seu cabelo. Ela ainda era uma Nihil, mesmo quando
estava fingindo ser outra coisa.
Após um momento, ela enfiou a mão em um bolso e enroscou o fio de
prata em volta e através dos furos em seu lábio inferior. Assim ficava um
pouco melhor, menos estranho.
— A essa distância eles não devem se importar. — O Aqualish macho
disse, com a sua fraca compreensão da Linguagem Básica fazia as palavras
soarem especialmente mal-humoradas. — A República não controla essa
parte da galáxia. Ainda. — Como Klinith, Gwishi vestia um macacão
simples, estava com as suas tatuagens Strike cobertas, menos a cicatriz feia
no lado direito do seu rosto, onde ele foi atingido com um tiro de blaster em
um dos olhos. Que ainda possuía um brilho azul, uma linha irregular
bifurcada na base do seu olho direito e terminando em sua presa. A tinta
tinha sido adicionada à ferida em cicatrização para mostrar que por mais
que tivesse um ferimento grave, a pessoa responsável não estava mais aí
para repetir o equívoco.
Os Nihil pagaram por seus erros três vezes.
Klinith pegou o seu blaster e as facas, porque em situações furtivas as
facas às vezes eram uma opção melhor, colocando-as na sua caixa de
ferramentas. Gwishi pegou o seu blaster mais uma máscara e um cilindro de
gás ovax, colocando tudo em seu kit de ferramentas junto com o resto do
equipamento. O gás seria necessário para incapacitar os mecanismos a
bordo da Asa Firme, uma nave luxuosa que eles seguiram até o Porto
Haileap, um entreposto remoto no limite do setor Dalnan.
O plano era simples. Tinha sido dito a que embarcassem na Asa Firme e
a sabotassem para que ninguém a bordo fosse deixado vivo. Estava previsto
que a nave pegasse alguém importante para a República em Haileap, e os
Nihil precisavam deixar a República sabendo que não eram bem-vindos
nessa parte da galáxia.
Nem agora, nem nunca. A República era má pros negócios.
Antes de desembarcar, Klinith voltou e pegou mais um blaster, pequeno
o suficiente para enfiar no início de sua bota. Algumas vezes as coisas
acabavam mal e pessoas se machucavam. Aquele era a parte favorita de
Klinith.
Era preciso caminhar um pouco por uma selva densa, as árvores de
acácia eram grandes e cobertas de musgo azul, antes da estação de
ancoragem surgir. Klinith tinha escolhido de propósito um local de
aterrissagem mais afastado que permitisse que ela e Gwishi entrassem sem
serem detectados. A última coisa que precisavam era de muitas pessoas
fazendo perguntas. Com manifesto de carga ou não, chamar menos atenção
era melhor.
— É esse aqui mesmo. — Disse Gwishi, apontando para a enorme nave
que pegava a maior parte do pátio de aterrissagem. A coisa era facilmente
dez vezes maior que o cargueiro que eles tinham roubado, e Klinith sentiu
uma pontada de medo por dentro enquanto analisava o fato.
— Como, pelas sete luas Genetianas, nós iremos destruir isso? — ela
perguntou.
Gwishi suspirou.
— De dentro. Você é uma Nihil. Aja como uma e pare de se preocupar.
— Não estou preocupada. — Klinith disse. Ela não tinha problema com
a missão; só parecia bem mais séria que os seus serviços anteriores, como
se tivesse sido promovida. E se o serviço fosse bem-sucedido, e certamente
seria. Ela iria crescer dentro dos Nihil, talvez até reportar diretamente para o
próprio Kassav.
Klinith e Gwishi estavam perto da nave e ela sorriu por antecipação.
Todo mundo iria falar sobre a destruição da Asa Firme.
— Estou animada. Isso vai ser monumental. Eu só estou triste que a
gente não vai poder arrebentar nada.
Gwishi olhava pra ela sem piscar.
— Vamos lá.
O porto estava fervilhando com pessoas de diferentes sistemas. Sendo a
última parada antes de uma das regiões desconhecidas mais perigosas na
galáxia, o Porto Haileap, como outros portos no limite do que era
considerado espaço civilizado, era um lugar para naves reabastecerem e
para pessoas ficarem a parte de notícias de casa e relaxarem antes de passar
algum tempo numa nave apertada. Uma grande área de aterrissagem
armazenada com suprimento e rodeada por um círculo de oficinas, era
igualzinho a maioria dos entrepostos que Klinith já fora, com a exceção das
árvores de acácia gigantes que eram visíveis de longe, perfurando o céu
violeta com as suas copas verdes. Humanos, Trandoshanos, Pantoranos e
mais se entrelaçavam entre si em uma multidão, trilhando o seu caminho até
as várias oficinas enfileiradas na extremidade externa da zona de
aterrissagem. Klinith viu uma placa anunciando uma jogatina no final de
um corredor afastado e as suas mãos coçaram. Fazia um tempo desde que
tivera a chance de jogar rykestra, um jogo de dados popular. Mas tinha
assuntos mais urgentes que um jogo de azar.
Klinith e Gwishi caminharam até a rampa de embarque da Asa Firme.
Os guardas da República parados no topo da passarela estavam rindo de
alguma coisa e não prestaram atenção nos piratas enquanto eles entravam.
Eles se misturaram perfeitamente com os outros mecânicos entrando e
saindo da nave de luxo. Uma vez que estavam dentro da nave, Gwishi bateu
nas costas de Klinith.
— Fácil demais. — Ele disse. E estava certo.
Eles andaram pelo corredor e Klinith sentiu uma raiva familiar
crescendo dentro de si. Aquela era uma nave grandiosa, com lindos pisos
dourados e paredes prateadas com telas em formato de flores que mudavam
de forma a cada poucos segundos. Ela tentou imaginar como seria ficar
numa nave bonita como essa. Mas não conseguiu e isso a deixou com mais
raiva do que qualquer outra coisa. Ela mal esperava poder destruir a Asa
Firme e assistir a sua beleza se partir no vazio do espaço.
Klinith seguiu Gwishi, parando quando ele apontou para uma placa do
lado do corredor. A nave era tão grande que tinham mapas a cada metro
mostrando como chegar a diferentes partes da mesma.
— É para lá que eu vou. — Gwishi apontou para um espaço vazio antes
de dar umas batidinhas no kit de ferramentas que carregava. — Vou deixar
algumas surpresas pra eles. Você vai e se certifique de que as pods de fuga
também não funcionem. A última coisa que queremos eram sobreviventes.
Esse vai ser um desastre que vai fazer a Legacy Run parecer um dia na feira.
Antes que Klinith pudesse responder, Gwishi se virou e voltou pelo
corredor, deixando-a para descobrir sozinha onde ficavam as pods de fuga.
Depois de um momento estudando o mapa, já não sabia ler muito bem e o
mapa parecia ser confuso de propósito, ela descobriu que os pods estavam
em outro convés.
Quando Klinith chegou onde os pods de fuga estavam, descobriu que
não era a única lá. Um droide de manutenção estava zumbindo pelo hangar.
Ao entrar, o droide parou.
— Você está aqui para aprovar os pods? — O droide perguntou. Ele era
igual a uma pequena caixa, com diversos braços saindo de todos os ângulos.
— Sim, mas nós precisamos atualizá-los. Tirar os comunicadores e o
sistema de navegação.
O droide rolou para frente e para trás como se tivesse processado o
comando dela.
— Eu não recebi tais instruções. Preciso atualizar as minhas fontes para
receber as novas instruções.
Havia uma hidrochave grande e pesada na parede e Klinith a levantou
em suas mãos, testando o peso.
— Ah, eu tenho as suas atualizações bem aqui.
Ela bateu com a ferramenta pesada em cima do droide, de novo e de
novo, até o droide não ser mais do que peças metal qualquer. Klinith sorriu
para a destruição em volta dela.
Ela conseguiu quebrar algo no fim das contas.
Vernestra Rwoh olhou para a nave reluzente na doca e contemplou a
tarefa diante dela como uma mistura de entusiasmo e pavor. A sua primeira
missão para o Conselho Jedi e a sua primeira tarefa como Cavaleira Jedi.
Ela tem sonhado com esse dia desde que era uma Padawan. Fazia pouco
tempo que era uma Cavaleira, mas ainda parecia bom demais para ser
verdade.
Mesmo que a missão fosse simplesmente manter a filha de um senador
segura. Ficar de babá parecia algo inferior para um Cavaleiro Jedi. Mas!
Vernestra não iria deixar isso diminuir a sua animação.
A nave luxuosa na zona de pouso tinha sido enviada pela própria
Chanceler e era grandiosa e imponente. Ela pairava sobre as outras naves
em Porto Haileap, com o seu exterior claro brilhando como um peixe
encalhado, com curvas prateadas enormes e elegantes. A Asa Firme
ostentava dezesseis pavimentos, três jardins decorativos, um convés inteiro
de jogos, e até uma sala de jantar enorme com lugar para mil pessoas. A
nave era mais luxuosa que qualquer coisa que Vernestra já tinha visto antes
e o Porto Haileap recebia visitas regulares das melhores linhas de excursão,
Galáxia Excursões, Emoção Espacial Viagens e Linhas Estelares Chandrila,
em adição aos iates pilotados por embaixadores visitando planetas
periféricos e por aventureiros que descobriram novos planetas nas Regiões
Desconhecidas.
A Asa Firme era algo totalmente diferente. Era uma nave apropriada
para uma comitiva importante.
Vernestra ajustou a sua túnica, com o design em dourado brilhante dos
arabescos ao longo da extremidade inferior, indicando que era uma
Cavaleira do Templo em Hynestia. Ela se mexeu desconfortavelmente nas
roupas estranhas, mais delicadas das que costumava usar. O Porto Haileap
era um tipo de lugar muito agitado onde Vernestra normalmente se
contentava com um uniforme diário que consistia em uma túnica dourada e
calças marfim sobrepostas por uma túnica simples levando os mesmos
bordados dourados com o desenho do seu templo. Entrepostos como o Porto
Haileap não precisavam de pompa e circunstância. A pequena civilização
esculpida da floresta de acácias gigantes existia para ajudar os viajantes a
reabastecer e o traje de uma jovem Cavaleira Jedi era a última coisa na
mente dos turistas. Mas essa nave com destino a inauguração do Farol
Estelar, a maior conquista da gloriosa República, e estaria levando uma
comitiva das redondezas de Dalna para Coruscant depois da importante
ocasião. Ela não poderia aparecer em marfim simples e bordado. Então ali
estava ela, vagamente desconfortável em sua elegância.
Só de pensar no Farol Estelar, Vernestra conseguiu se distrair de seus
pensamentos sobre a missão e sobre fazer um bom trabalho para deixar os
Jedi orgulhosos. Uma estação espacial enorme, metade templo e metade
estação de passagem para a República, o Farol Estelar estava sendo
construída desde que Vernestra conseguia se lembrar. Quando era uma
Youngling, Vernestra ouvia os anciões conversarem sobre como o Farol,
como era mais comumente chamado, mudaria a galáxia para melhor,
especialmente para aqueles planetas longe do Núcleo. Melhor comunicação,
mais apoio da República... O Farol Estelar iria mudar tudo. A estação
espacial da República nos confins da Orla Exterior serviria como um porto
seguro na região selvagem, uma luz na escuridão. Faria a galáxia melhor
para todo mundo. Vernestra tinha sorte de ter a chance de vê-la com os
próprios olhos.
Isso fazia com que se sentisse orgulhosa de ser uma Jedi e feliz que a
Força tivesse proporcionado tamanha oportunidade a ela. Tentou não deixar
com que o orgulho a sobrecarregasse, pois sabia que a Força tinha tanto a
ver com a sua boa sorte quanto o seu próprio trabalho duro, mas ficava
difícil ao olhar para a Asa Firme e contemplar os próximos dias.
Em sua defesa, tem sido um ano e tanto. Vernestra tinha realizado os
seus testes Jedi antes que muitos, por recomendação de seu mestre e, para a
surpresa de muitos, tinha passado. “Quem é ela? Ela não é ninguém
especial”, alguns dos Padawans tinham sussurrado e estavam certos.
Vernestra era apenas uma garota Mirialana com o dom da Força e havia
centenas de outros Padawans e Younglings iguais a ela.
Mas até onde sabia, era a única Jedi que passou em seus testes na
primeira tentativa com quinze anos, quando a maioria dos Padawans
estavam nos estágios iniciais dos seus aprendizados. E na maioria das
vezes, ao contrário de se sentir prepotente ou arrogante por ser um prodígio,
Vernestra sentia uma grande responsabilidade em ajudar a galáxia de
qualquer forma que a Força, e o Conselho Jedi, determinasse ser melhor.
Mas era tão errado assim tirar um momento e apreciar as suas realizações?
Ela fechou os seus olhos e sentiu a Força fluir entre tudo, e contemplou os
seus sentimentos e as obrigações que estavam diante dela. Ainda agora, aos
dezesseis anos, parecia muita coisa ser uma Cavaleira Jedi de verdade. Mas
ela exerceria o seu papel o melhor que pudesse enquanto fosse permitida.
Ela decidiu que era bom estar feliz pela sua primeira missão, mesmo
que fosse apenas ficar de babá.
— Ei, pare-a!
A sensação de calmaria foi quebrada e Vernestra abriu os seus olhos
para ver um droide de manutenção perseguir uma garota humana pequena e
de pele escura, pilotando uma speeder feito de quinquilharias. O cabelo da
garota envolvia o seu rosto em uma auréola de cachos revoltados, e ela
segurava um cristal poderoso muito brilhante em uma única mão enluvada.
A expressão alegre de triunfo em seu rosto era uma que Vernestra conhecia
bem demais.
Avon Starros, filha da Senadora Ghirra Starros, estava de novo
tramando algo.
Avon não tinha visto Vernestra ainda e a Jedi usou isso como uma
vantagem. Ela levantou as suas mãos, com as palmas voltadas para Avon, e
puxou com a Força. A garota voou de costas para fora da sua engenhoca
caseira, mas ao invés de deixá-la cair com tudo no convés, Vernestra
manteve Avon suspensa no ar enquanto o veículo congelou no meio da área
de lançamento.
— Avon. — Vernestra disse suavemente. — O que está acontecendo?
Avon se contorceu toda no meio do ar, a sua expressão feliz azedou
quando espiou Vernestra.
— Argh, eu pensei que você já estava na nave.
— Não, eu decidi dar uma última caminhada pelo entreposto antes que
nós partíssemos. Posso ver que não fui a única. O que foi que você fez?
— Nada! Eu não fiz nada. Pelas estrelas, não sei porque você sempre
pensa que tudo é culpa minha, Vern.
Vernestra cerrou os dentes ao ouvir o apelido terrível. Mestre Douglas
Sunvale a chamava assim, e embora não fosse corrigir um Mestre Jedi, ela
não tinha tal escrúpulo para corrigir uma garota mais nova que ela.
— Por favor, não me chame assim. — Ela soltou o seu controle da
Força e deixou Avon cair no chão, que não estava assim tão longe. A
speeder, que Avon com certeza construiu de materiais que foram
abandonados ao redor do porto, bateu perto de uma pilha de caixas de
transporte.
— Você é a pior. — Avon gemeu, se espalhando dramaticamente no
chão.
— Não estava tão longe. — Vernestra disse, mesmo que tenha sido um
pouco cruel deixar a garota cair.
— Eu ficarei com isto. — O droide de manutenção disse, arrancando o
cristal da mão enluvada de Avon antes de sair pisando pelo caminho por
onde chegou. Vernestra andou até Avon e lhe ofereceu uma mão, mas a
garota mais nova apenas a olhou e se levantou sozinha.
— Um dia, quando eu for a inventora mais importante da galáxia, vou
criar um dispositivo que bloqueia a Força. — Avon disse. — E então vamos
ver o que você vai achar disso.
Vernestra riu.
— Avon, nós já discutimos isso. A Força está ao redor e dentro de nós
também. Não é como os seus cristais de poder. É impossível bloquear a
Força. Além disso, por que você pegou o cristal de energia daquele droide?
Avon suspirou irritada.
— É para um experimento, e não é como se eu fosse te contar, Jedi. Eu
sei que de alguma forma você vai arrumar uma maneira de arruinar tudo.
Além disso, você não pode apenas ler a minha mente? — A garota cruzou
os braços e Vernestra suspirou. Ela e Avon sempre batiam de frente. Não era
porque Vernestra não gostava da menina. Pelo contrário, ela achava que a
maioria das invenções e teorias de Avon eram infinitamente fascinantes.
Mas Avon não gostava que lhe dissessem não e ela acabou ali em Porto
Haileap exatamente por essa razão. A sua mãe, a Senadora Ghirra Starros, a
mandou para lá, esperando que passar algum tempo na extremidade do
espaço fizesse Avon ficar mais grata por sua vida em Coruscant. Tudo o que
fizera foi deixar Avon mais determinada a fazer o que queria, o que
geralmente era inventar máquinas de pedaços de outras coisas.
Não havia razão real para Avon acompanhar a comitiva para o Farol e
então de volta a Coruscant; a sua mãe não mandou a chamar e ela não tinha
um papel oficial na viagem, mas Mestre Douglas, o delegado do entreposto,
pediu para que Avon os acompanhasse especificamente porque o filho do
embaixador de Dalnan também tinha doze anos. Ele esperava que os dois se
tornassem amigos e que isso suavizasse a opinião de Dalnan sobre a
República.
Vernestra também esperava por isso. Principalmente porque Avon
precisava de um amigo.
— Senhorita Avon! Você está atrasada. Se não embarcar naquela nave
nesse instante eu irei soltar as suas mangueiras de ligação e então vamos ver
o quanto a sua speeder corre.
Um droide rosa dourado alto como Vernestra chegou pisoteando até
onde elas estavam. J-6, droide de protocolo de Avon, era metade guarda,
metade babá e cem por cento atitude. Ela falava como nenhum droide de
protocolo que Vernestra já tenha visto, e suspeitava que tinha uma mão de
Avon nisso.
Avon suspirou pesadamente e puxou o cabelo rebelde do rosto antes de
andar até a sua speeder e endireitá-la para subir nela.
— Bom, parece que o jogo acabou. Eu já entendi, Jota-Seis, não precisa
de nenhuma sabotagem. Você vem, Vern? Não quer chegar atrasada.
Vernestra sorriu e assentiu. Ela estava animada para ver o Farol Estelar,
mesmo que isso significasse que ela teria que trabalhar arduamente para
manter Avon fora de perigo.
— Vamos lá.
Enquanto elas caminhavam em direção a rampa de embarque para a Asa
Firme, Vernestra tropeçou e suspirou. Avon lhe olhou de soslaio.
— Está tudo bem?
Vernestra pôs uma mão no peito e olhou para onde um mecânico
Aqualish estava mexendo em um painel de controle perto da rampa de
embarque. Ele olhou de volta para Vernestra, com três olhos sem piscar. O
olho inferior direito estava faltando e em vez disso, uma cicatriz pintada de
azul ocupava o lugar. Não havia mais nada sobre ele que era marcante; ele
vestia o mesmo macacão laranja que todos os outros membros da equipe de
manutenção da estação de ancoragem.
— Estou bem. — Vernestra disse, finalmente, respondendo à pergunta
de Avon. Vernestra deu um sorrisinho para o homem Aqualish, e ele se
virou sem reação, voltando para o que quer que estivesse fazendo. Havia
alguma coisa no homem o qual fez com que Vernestra se sentisse mais
alerta que o necessário, uma sensação pontuda que não conseguia explicar.
Ela estava apenas nervosa e animada com a missão para o Farol, uma vez
que essa era a sua primeira missão Jedi de verdade e não queria estragar
tudo. Era por isso que estava fixada em mecânicos aleatórios fazendo seu
trabalho.
Pelo menos, era o que ela disse a si mesma, mesmo que não realmente
sentisse.
Pondo de lado o sentimento estranho, Vernestra acompanhou Avon e J-6
para a Asa Firme e tentou focar em certificar-se que a garotinha não
tentasse escapar antes da partida. Vernestra estava ocupada o suficiente sem
ver fantasmas em cada canto da Força.
Avon embarcou na nave, J-6 e Vernestra em cada um dos lados. Avon
não conseguia deixar de encarar o sabre de luz na cintura de Vernestra. A
arma era alimentada pelo cristal kyber. Ela tinha ouvido coisas incríveis
sobre eles, e a única vez que viu a Jedi usar o seu sabre de luz, a lâmina
tinha um brilho roxo com energia pura. Avon tentou convencer Vernestra a
deixar ela examinar o sabre mais de perto, mas a mais velha recusou
educadamente.
— Uma Jedi e o seu kyber estão ligados pela Força. Ele canta para mim
e o meu espírito retorna o chamado. Não é um mero cristal de energia,
Avon. Sinto muito. Mas não.
Avon decidiu há muito tempo que a pior coisa sobre Vernestra era o
quão insuportavelmente legal era. Sempre se desculpando a Avon quando
dizia não. Era quase tão ruim quanto J-6 constantemente resmungando
sobre as suas roupas.
— Senhorita Avon, nós devemos nos retirar para a cabine separada para
você e nos preparar para o jantar. Eu também tenho um vestido para você
que a sua mãe mandou junto. Será perfeito para a inauguração do Farol,
mas precisa ser alterado antes de chegarmos lá. — A droide falou, em toda
a sua chatice rosa dourada.
— Sim, é uma boa ideia. — Vernestra disse. — Apesar do que, vocês
devem ter um bom tempinho para alterar o vestido. Mestre Douglas disse
que por conta dos desastres recentes no hiperespaço nós iremos passar mais
tempo viajando a subluz até que possamos chegar a um ponto seguro para
saltar e então entrar na velocidade da luz para continuar nossa jornada.
Então provavelmente seria uma boa ideia ficar à vontade uma vez que
iremos estar a bordo por um bom tempo.
— Ah, é um prazer ouvir isso! Essa nave é de última geração, um luxo
incomparável. — J-6 disse, com a sua voz mecânica cadenciando com
alegria. — Eu mal posso esperar para me ligar e atualizar a minha
programação. E faz tanto tempo desde que alguém colocou óleo em meus
soquetes. — A droide lançou um olhar significativo para Avon, e a garota
bufou.
— A última vez que tentei te atualizar você enlouqueceu.
— Porque você adicionou o equivalente a um dicionário inteiro de
palavrões Aqualish em meu vocabulário! Você é uma criança terrível,
ingrata e maldosa.
Avon sorriu, porque não havia dureza de verdade nas palavras de J-6.
— É, mas pense em como foi legal quando aqueles transportadores de
vinho chegaram e você tentou saudar o capitão deles. Eu nem sabia que os
Aqualish tinham um senso de humor, mas aquela equipe quase desmaiou de
tanto rir.
A pele verde clara de Vernestra se escureceu em diversos tons, e as suas
sobrancelhas escuras levantaram tanto que quase atingiram o seu couro
cabeludo.
— Então era por isso que o Mestre Douglas teve que vir até a área de
lançamento e separar uma briga entre os Aqualish. E eles não estavam
rindo, Avon! Aqueles assobios eram sons Aqualish de desafio. Och,
qualquer dia desses as suas travessuras irão ter consequências reais.
Avon deu de ombros e ignorou a advertência de Vernestra.
— Tanto faz, Vern. Você ainda está responsável por certificar que eu
apareça para as coisas nessa viagem? — Avon planejava ficar no Porto
Haileap. Com os Jedi indo para Coruscant e fora do caminho (A Força
sempre pareceu denunciar a Avon muito antes dos sensores e dos guardas
droides), ela estava planejando em finalmente terminar a sua mais última
invenção, palmilhas de sapatos antigravidade. Mas aí J-6 começou a fazer
as suas malas e disse que iriam viajar para o Farol Estelar com uma enviada
diplomática de Dalna. O único ponto positivo era que Vernestra acabou
ficando com a tarefa de tomar conta dela, o que significava que talvez Avon
conseguiria ver o sabre de luz da Jedi de novo.
— Avon, você já tem idade suficiente para jantar sozinha. — Vernestra
disse com um sorriso amigável, o franzido em seus olhos comprimia os
desenhos nos cantos exteriores. Como a maior parte dos Mirialanos,
Vernestra carregava as tatuagens da sua família, seis pequenos diamantes
pretos sobrepostos em duas linhas de três em cada canto exterior de cada
olho. — Estou aqui para manter você e o filho do embaixador seguros, não
para te perseguir de tarefa em tarefa. Na sua idade eu era uma Padawan
viajando pela galáxia com o meu mestre. Se vestir para uma refeição
certamente não pode estar além da sua capacidade.
Avon fez uma careta para Vernestra.
— Isso só tem, sei lá, dois anos. Pare de agir como se você fosse super
madura. — Ela murmurou, consciente de que responder era o oposto de ser
madura sobre o assunto.
Argh.
Vernestra pareceu não se importar. Ela acenou e desapareceu ao longo
do corredor para achar o seu quarto. Avon virou-se para J-6.
— Suponho que você sabe onde nós ficaremos?
— É claro, Senhorita Avon. Esse é meu trabalho, não é?
Avon virou e seguiu J-6, sentindo um pouco do seu mau humor derreter.
A resposta de J-6 havia sido pouco cordial, e enquanto a maioria achasse
aquilo desagradável em um droide de protocolo, Avon estava curiosa. Um
mês atrás, tinha enviado um código de ação lenta junto com o vocabulário
de palavrões (tinham sido meia dúzia) que iria gradualmente retirar a
programação de fábrica e em essência deixaria J-6 se reprogramar sozinha.
Avon nunca gostou de como as personalidades dos droides parecia ser
programada quando eram construídos, e parecia ser mais justo deixar J-6
decidir que tipo de droide ela gostaria de ser.
Avon estava esperando que fosse algo mais interessante que alguém que
se preocupava demais com etiqueta.
Elas viraram a curva para outro corredor e uma mulher que parecia
humana com cabelo rosa claro e um par de macacões engraxados veio
correndo até elas. Ela estava tão ocupada olhando sob os seus ombros que
não percebeu que Avon e J-6 estavam lá, e antes que Avon pudesse alertá-
la, a mulher correu de encontro com a droide de protocolo.
J-6 não se moveu, mas a mulher tropeçou para trás antes de cair com
tudo no chão. Foi bem engraçado, e Avon não conseguiu se conter deixando
uma risadinha sair.
— Você está bem? — Avon perguntou. A mulher levantou-se, não
olhando nos olhos de Avon. Ela tinha um fio prateado trançado em volta de
seu lábio, o metal perfurando a pele várias vezes como se tivesse sido
costurado em seu rosto. Era uma visão estranha, e lembrava um pouco Avon
de como os Mon Calamari gostavam de pendurar contas e outras joias em
suas barbelas, aquele bigode que crescia em volta de suas bocas. Era
fascinante, e Avon queria perguntar à mulher se colocar aquele fio em seu
rosto doeu, mas a expressão feroz da mulher não era convidativa para uma
conversa.
— Estou bem. — A mulher cuspiu as palavras. — Você devia ensinar ao
seu droide a olhar por onde está andando.
— E você deveria realmente olhar por onde anda. — J-6 falou, e a
respiração de Avon falhou. Ah, aquilo definitivamente não era parte da
programação original da droide de protocolo.
Excelente, isso vai precisar de observações mais detalhadas.
A mulher de cabelo rosa não disse mais nada, só continuou na direção
que estava indo. Avon e J-6 foram para os seus aposentos para se preparar
para o jantar, o incidente foi rapidamente esquecido tanto pela garota como
pela droide.
Honesty Weft não queria estar no espaço. Ele não queria se vestir bem
ou comer um jantar formal, e ele não queria ser um bom filho do
embaixador de Dalnan. Mas lá estava ele, na Asa Firme, prestes a fazer tudo
aquilo.
Ninguém se importava muito com o que ele queria.
— Você vai continuar fazendo careta para o espelho, ou vai terminar de
se arrumar?
O pai de Honesty entrou em seu quarto. O Embaixador Weft já estava
vestindo a casaca lisa e formal da unidade diplomática de Dalnan: uma
túnica bronze de gola alta e calças combinando. Até as suas botas eram
desinteressantes. Os Dalnans não ligavam para frivolidades, nem mesmo os
geralmente ostensivos Pantoranos que haviam feito de lar o planeta
conhecido por sua agricultura.
— Quem sabe você não pode transmitir as minhas desculpas? —
Honesty perguntou esperançoso, puxando a gola desconfortável.
— Isso não parece com algo que um guerreiro diria. — O embaixador
disse, com um sorriso atravessando o seu rosto bronzeado. Ele ajudou
Honesty a colocar a sua gola no lugar, com o sorriso suavizando a sua
expressão branda de costume enquanto trabalhava. O pai de Honesty
explicou uma vez que a parte mais difícil de ser um embaixador era não
deixar os outros saberem o que você está pensando. Honesty tentou imitar o
ar de interesse cortês de seu pai mais de uma vez, mas a sua careta habitual
sempre aparecia.
Mais uma razão de que ele nunca seria um embaixador.
— Eu não vou ser nada já que estou perdendo os meus Testes de
Metamorfose.
Seu pai suspirou profundamente, deu uma última batidinha na gola de
Honesty, e sentou na beirada da cama de seu filho.
— Isso de novo.
— Sim, isso de novo. — Honesty disse, não se importando em esconder
a sua frustração enquanto ajustava a sua túnica formal. — Todo mundo está
fazendo testes para a sua vocação agora e eu estou aqui! Até voltar, todos já
estarão no mínimo como aprendizes em seus campos, e eu estarei preso na
creche com o resto dos bebês.
— Há algo para ser dito por tomar o tempo de alguém. — O
Embaixador Weft disse. — Não esteja sempre com pressa de ser o primeiro
a sair pelo portal. Às vezes o primeiro do rebanho está mais perto do abate.
— Eu não estou falando sobre uma fazenda estúpida, estou falando
sobre minha vida! — Honesty gritou.
Seu pai levantou.
— Eu não vou passar essa viagem inteira discutindo com você sobre o
porquê você está aqui. A sua mãe e eu tomamos uma decisão, e nós
esperamos que você a respeite. Deixar Dalna irá te dar uma extensão de
perspectiva que irá te ajudar, não importa qual perspectiva escolher. Se não
quer ser considerado um bebê na creche, pare de agir como um. — A sua
voz estava equilibrada e calma, mesmo que as palavras tenham atingido
Honesty como um tapa verbal. — Você irá ser uma testemunha da história.
Se Dalna se juntar à República nós iremos ter segurança e proteção em
nosso setor da galáxia. Você irá ver o que é a diplomacia em primeira mão,
e talvez até conhecer a Chanceler. Deveria apreciar isso ao invés de agir
como um intelectual mimado, gordo de tanto grão.
Honesty abriu a boca para argumentar, mas o embaixador já estava de
pé e andando em direção a porta.
— Janex e o resto da delegação estarão aqui em breve. Eu espero que
você os cumprimente com um sorriso e esteja animado, não rabugento. Não
me decepcione.
Com isso o embaixador saiu do quarto, e Honesty foi deixado sem nada
a não ser as lágrimas de raiva e frustração que caiam em suas bochechas
pálidas.
Mais tarde, depois da decolagem e da profunda meditação, Vernestra
entrou na sala de jantar onde a refeição aconteceria, sentindo-se centrada e
ansiosa por estar em sua jornada. Haviam seis áreas de jantar localizadas na
nave, mas a melhor e mais íntima tinha sido separada para a delegação de
Dalnan, um droide garçom garantiu a Vernestra. Ela ficou mortificada ao
descobrir que foi a última a chegar. Mestre Douglas e o seu Padawan, Imri
Cantaros, já estavam sentados em uma ponta da mesa perto de alguns
homens e mulheres que Vernestra não reconheceu. Avon não estava em
lugar nenhum, mas Vernestra tinha certeza que J-6 se certificaria que a
garota atendesse o evento formal, então deixou essas preocupações de lado
e andou a passos largos em direção a mesa posta com um número quase
impossível de talheres de prata.
— Vern! Chegou na hora. — Mestre Douglas disse com um sorriso.
Vernestra fez uma careta.
— Mestre Douglas, espero que saiba que Avon Starros ama me chamar
de Vern graças a você. Você está passando isso pra ela.
Douglas riu, um som caloroso que fazia até os Dalnan de cara azeda
sentados perto dele sorrirem brevemente.
— Eu espero bem que sim! A garota é um gênio. Avon será uma das
grandes mentes de sua geração. Eu ficaria honrado em ser considerado
como uma de suas influências.
Vernestra sorriu e sentou-se onde o droide garçom havia indicado,
diretamente perto de Imri. Enquanto se acomodava, Vernestra avaliava os
seus companheiros de refeição. Mestre Douglas era um humano alto,
robusto e sociável. Era conversador e tinha uma postura relaxada, nada
parecido com que Stellan, o mestre de Vernestra, havia sido. A barba escura
de Douglas crescia grossa e desarrumada através de seu rosto pálido, e suas
vestes eram raramente vestidas; em vez disso, ele preferia usar a túnica
simples e calças dos habitantes de planetas da Orla Exterior como os Dalna.
Ele estava com o seu sabre de luz, como um verdadeiro Jedi sempre estaria,
mas aquela era a única indicação do seu status. Aquela noite ele vestiu a
túnica necessário de um Mestre Jedi, o pergaminho dourado contra o
material nevado impressionante, mesmo que fosse claro que tinha sido
desempacotado apressadamente.
— Eu passei a tarde toda procurando por isso. Por sorte, tinha
encomendado outro.
Imri sussurrava conspirativamente para Vernestra. O garoto humano era
originalmente de Genetia, embora tenha passado os seus anos como
Youngling no templo central de Coruscant. Imri era alto e tinha ombros
largos, a sua grande estrutura era uma combinação perfeita com o de seu
mestre. Ele tinha pele clara, uma cabeleira loira, olhos castanhos gentis e
um talento incrível em perceber os sentimentos e pensamentos daqueles em
volta dele.
— Mestre Douglas tem sorte em tê-lo. — Vernestra disse com um
sorriso gentil.
Imri riu.
— Eu que sou sortudo em tê-lo. Ainda não consegui terminar de
reconstruir o meu sabre de luz. E foi tão fácil da primeira vez que fiz! Mas
agora, parece errado toda vez que eu junto as peças.
— Acontece. Mas não se preocupe, você vai conseguir. Já considerou
pedir a Douglas para te levar ao templo para os testes de empatia? —
Vernestra perguntou. A capacidade de perceber os sentimentos dos outros
era uma habilidade rara da Força, mas esses eram tempos maravilhosos.
Parecia que mais e mais os Jedi espalhavam a sua luz através da galáxia e
faziam a vida melhor para todos. Não era por isso que a República tinha
realizado a construção do Farol Estelar? Por conta da benevolência dos
Jedi?
Imri balançou a cabeça.
— Não é a Força, Vernestra, é só prestar atenção. Ei, você acha que
poderia me contar um pouco sobre os seus testes? — Ele sussurrou. —
Douglas acha que eu deveria começar treinando pra eles, mas eu não sei.
Não me sinto pronto.
Vernestra sorriu e aproximou-se de Imri.
— Você ainda tem tempo. Fiz os meus mais cedo porque Mestre Stellan
achou que eu estava pronta. — A expressão esperançosa de Imri despencou
um pouco, e Vernestra pôs uma mão reconfortante em seu ombro. — Não se
preocupe, Imri! Você tem muito tempo. Não acabou de fazer quatorze anos?
— Sim, mas... — A voz de Imri se arrastou e ele suspirou. — Eu estou
pronto para ser um Cavaleiro.
— Você estará pronto quando a Força disser que você está. — Vernestra
disse gentilmente.
Imri suspirou de novo.
— Sim, Mestre Douglas diz praticamente a mesma coisa. A propósito,
não o deixe esquecer de te apresentar para os Dalnan. Eles ouviram
histórias sobre você e estão bem animados para conhecer a nossa
celebridade local.
Vernestra sentiu um rubor feliz de vergonha, mas Douglas levantou e
limpou a sua garganta, ouvindo as palavras de Imri.
— Ah, sim, obrigado, meu querido Padawan, pelo gentil lembrete. —
Ele deu uma risadinha e estendeu a mão para Vernestra. — Embaixador
Weft, Janex e Starstriker, por favor permitam-me apresentar a vocês o
orgulho de Porto Haileap, Vernestra Rwoh. A Vernestra aqui, a chamamos
de Vern, para abreviar, é a Padawan mais nova a passar nos testes em muito
tempo. Ela é uma estrela em ascensão.
— O que exatamente acontece durante os testes Jedi? É um teste de
força ou intelectual? — Perguntou o Embaixador Weft. O rosto do homem
carregava rugas profundas, como se tivesse vivido uma vida difícil. Seu
cabelo era vermelho fogo e sua pele era bronzeada, apesar de não tão escura
como a de Avon. Ele parecia que passava muito tempo no calor do sol, o
qual Dalna tinha os dois. Ele e seu filho eram os únicos humanos de sua
delegação; o resto dos Dalnans eram Pantoranos, Trandoshanos ou
Weequay. Todos vestiam túnicas lisas e calças, as suas botas que iam até o
joelho eram simples e utilitárias. Cada um deles tinham a mesma expressão
soturna e carregavam um arsenal de blaster, uma amostra de força que tinha
intimidado outros emissários da República ao planeta. Havia tido uma
guerra em Dalna há um século ou mais, e a população respondeu ao se
tornar em uma cultura temível que treinava constantemente para a batalha.
— São as duas coisas. — Vernestra disse com um sorriso, respondendo
à pergunta do embaixador. — Eles são preparados para testar as forças e as
fraquezas individuais de um Jedi.
— Nenhum teste é igual. — Douglas interveio, dando um tapinha no
ombro do embaixador como se fossem velhos amigos. — Eu ouvi que os
seus Testes de Metamorfose em Dalna são similares.
— Não exatamente. — Disse uma fêmea Pantorana, Embaixadora
Janex, com um sorriso educado. Ela vestia o mesmo uniforme cor cáqui que
o resto da delegação de Dalnan, o material marrom fazia a sua pele azul
parecer mais vibrante. — Nosso Metamorfose realmente testa a força de
nossas crianças, mas apenas para prepará-los para as realidades duras da
vida em nosso planeta. Eles são mais específicos para o trabalho do que
qualquer coisa.
— Sim. — Concordou o Embaixador Weft, com a sua voz uniforme e
suave. — Por exemplo, os testes do meu filho Honesty serão focados em
combate corpo-a-corpo. Pois ele despertou interesse em se juntar ao nosso
exército. — Com a menção do Metamorfose, Honesty olhou para baixo
para o seu colo, e Vernestra se perguntou se ele estava animado ou com
medo de seus testes. Mas então o Embaixador Weft continuou falando e ela
retornou a sua atenção ao homem mais velho. — Ele será testado em sua
habilidade em se defender e sobreviver a condições hostis, ambas
competências necessárias para suportar batalhas.
— Que necessidade ele tem quando não há uma guerra de verdade em
um século?
Todos se viraram para olhar para Avon e J-6 enquanto entravam, as
palavras de Avon causando um impacto tão grande o quanto seu atraso.
— Desculpe pelo atraso. Parece que eu cresci alguns centímetros desde
o meu último ajuste de roupas. Avon Starros, filha da Senadora Ghirra
Starros. Embaixadores, por favor me permitam oferecer as mais calorosas
saudações da República e recebê-los a bordo dessa bela embarcação
enviada por minha mãe.
— A nave foi enviada pela Chanceler. — Disse a Embaixadora Janex
com uma sobrancelha arqueada.
Avon sorriu educadamente.
— E quem você acha que convenceu o governo a participar com os
fundos? Como tenho certeza que você sabe, minha mãe está convencida de
que a República deve dobrar de tamanho enquanto ela viver. Nós somos,
como diz o ditado, mais fortes juntos. Se Dalna se juntar à República todo
mundo vence. Esperamos que vocês percebam isso durante essa viagem.
A delegação de Dalnan murmurou, mas Avon não disse mais nada,
apenas fez uma reverência.
Vernestra tentou não ficar boquiaberta com a garota. Essa era uma Avon
que Vernestra nunca conheceu. Os cachos indisciplinados da menina tinham
sido puxados para trás de cada lado e vestia tantos babados que metade dela
parecia ser uma conífera e a outra metade um doce. O seu vestido era
formado de camadas de fibra de gnostra creme e pêssego, uma homenagem
ao arbusto de gnostra, o recurso natural muito útil de Dalna. Mesmo que
Avon parecesse uma garota totalmente diferente, ainda se jogou em sua
cadeira, o único assento vago, perto de Honesty Weft, um garoto de cabelo
castanho com a pele clara e sardenta. Ele era a cópia perfeita do
Embaixador Weft, somente com a cor de cabelo diferenciando.
— Nós tivemos batalhas em nosso planeta no último século. — O
garoto disse, a sua voz era discreta e quase ininteligível. — A paz da
República nem sempre se estende aos seus planetas.
— Ou por suas vias do hiperespaço. — Opinou a Embaixadora Janex,
tomando um longo gole de seu vinho de gnostra escarlate antes de
continuar. — Eu ouvi que o desastre mais recente no hiperespaço foi
pensado para ser um ato de sabotagem.
— Das vias do hiperespaço? — Avon perguntou, pegando uma taça do
mesmo vinho. J-6 rapidamente interferiu e em vez disso, serviu um copo
enorme de suco de gnostra rosa, e a careta de Avon foi sumindo enquanto
sorria através da mesa para a comitiva.
Então a criança brigona ainda estava lá debaixo de todas aquelas firulas.
Aquilo de alguma forma fez Vernestra se sentir feliz.
— Sim. — A Embaixadora Janex disse, se aquecendo para o tópico. As
suas bochechas azuis coravam consideravelmente. — A destruição inicial
da Legacy Run desencadeou uma série de cataclismas que as pessoas estão
chamando de Emergências, uma erupção de dos escombros remanescentes
aparecendo aleatoriamente através da galáxia.
— O mais notável foi no sistema Hetzal. — Imri disse, falando para o
grupo pela primeira vez. — Mestre Douglas ajudou a salvar várias vidas.
— Imri está certo. Como um Jedi que foi chamado para lidar com o
desastre, posso te dizer que a tragédia foi tratada. — Douglas disse com o
seu bom ânimo usual. — Uma catástrofe devastadora, de fato, mas os Jedi e
a República se uniram para lidar não somente com o desastre inicial, mas as
Emergências subsequentes também. Não há nada a temer agora.
A Embaixadora Janex bateu de leve em seus lábios.
— Nós temos certeza disso? O falatório pelas redes de notícias parece
indicar que por mais que a resposta dos Jedi fora rápida e eficiente, a razão
pela qual nós ainda estávamos vendo essas... Emergências... não é porque a
nave original ainda está se despedaçando nas vias do hiperespaço, mas
porque os sabotadores ainda estão em serviço.
Mestre Douglas balançou a cabeça.
— Confie em mim, cara embaixadora. Não há nada que temer. O
hiperespaço está seguro como sempre foi, desde quando a República
realizou o projeto de mapeamento um século atrás.
— Nós iremos viajar pelo hiperespaço, então. — Disse Avon.
Douglas concordou.
— Eventualmente. Eu falei com o piloto e a maioria dos pontos dentro
do sistema para as vias do hiperespaço ainda estão fechadas, então nós
iremos fazer um breve desvio antes de saltar. Teremos um dia extra de
viagem, mas isso dará um pretexto para que todos possam passear pelos
lindos jardins suspensos de estilo Pantorano no convés três ao invés de
trabalhar.
Os adultos em volta da mesa riram, e Vernestra franziu a testa. Ela não
gostava da ideia de que iriam para o hiperespaço, mas não conseguia dizer
se eram as suas próprias reservas sobre viajar nas vias ou o nervosismo da
comitiva de Dalnan. Todos pareciam um pouco inquietos após a conversa
sobre o hiperespaço. Douglas tinha lhe dito que os Dalnan raramente saiam
de seu planeta natal e desgostavam da viagem espacial como um todo, então
talvez era de onde o sentimento estava vindo.
Os droides garçons chegaram mais perto e começaram a servir o
primeiro prato na frente de todos. As louças tinham acabado de ser
organizadas sobre a mesa quando houve um solavanco e depois outro.
— Minha nossa. — O embaixador Pantorano exclamou. — Um pouco
de detritos, talvez?
Douglas sorriu, mas seu sorriso logo evaporou.
— Estrelas. — Ele sussurrou. Ele retirou as suas mãos e Vernestra
sentiu como se estivesse sendo empurrada em seu assento. Foi quando
sentiu uma perturbação na Força.
Era como se uma lâmina estivesse atravessando-a, uma ponta afiada
feita de medo e pânico. Mas não estava vindo dos seus companheiros; vinha
de todas as outras coisas vivas na nave. Tiveram várias outras batidas e
então os alarmes começaram a tocar assim que o teto da sala de jantar foi
arrancado revelando as estrelas além.
— Segurem-se! — Mestre Douglas gritou, conectando com a Força para
segurar todos na mesa no lugar. A divisória de emergência superior, uma
cortina de metal feita de peças entrelaçadas começou a fechar antes de parar
com um ranger. As portas para a sala de jantar fecharam-se ao mesmo
tempo, deixando-os apenas com o ar que estava escapando rapidamente
para o espaço.
— Está emperrada! — Avon gritou. J-6 ficou parada atrás da garota,
mantendo-a no lugar. O vácuo do espaço puxou toda a atmosfera para fora
da nave, criando um movimento de sucção que fez os olhos de Vernestra
marejarem. Droides voavam para o nada, assim como os pratos e as toalhas
de mesa, e Vernestra jogou a sua própria energia para manter todos na mesa
e para que ninguém fosse jogado para o vazio implacável. Mas se eles não
conseguissem fechar a divisória, não faria a diferença. Eles iriam sufocar
em breve.
— Vern, você precisa evacuar por aquela ponta. Acha que consegue
fazer isso? — Mestre Douglas estava de olhos fechados e o suor se
acumulava em sua testa por conta do esforço de manter todos onde estavam.
Um olhar rápido e o coração de Vernestra afundou. Parecia impossível.
Como iria evitar de ser sugada para o espaço como todo o resto?
— Deixa comigo. — Vernestra disso, deixando as suas dúvidas de lado
e soltando as pessoas que estavam na mesa, deixando a tarefa para o Mestre
Douglas. Ela levantou, apenas a Força a impedindo de sair voando.
Destroços de cantos escondidos da sala ainda sobrevoavam de vez em
quando.
Vernestra olhou pra cima para a divisória de novo e viu o que Mestre
Douglas quis dizer. Uma cadeira ficou alojada na parte inferior do trilho, e
para que a divisória fechasse, a cadeira teria que ser removida.
Ela puxou o seu sabre de luz, respirou fundo, e soltou o controle da
Força deixando-se ser sugada para o espaço.
Vernestra não conseguiu respirar quando foi levada pela corrente de ar
saindo da sala de jantar. Um prato voou perto da cabeça dela e ela tentou se
inclinar para trás, o que a fez sair dando cambalhotas. Um breve instante de
pânico, e então Vernestra se retorceu e corrigiu o seu voo, apenas para bater
na borda da divisória, lutando para se agarrar enquanto tentava se levantar.
Voar era muito, muito mais fácil na teoria do que na prática.
— Você está se saindo bem, Vern. — Avon chamou, e Vernestra olhou
para baixo para as pessoas abaixo. Avon parecia tão amedrontada e
pequena, e o garoto Honesty não estava muito melhor. Vernestra sentiu uma
onda de motivação.
Ela era uma Jedi, e os Jedi protegem todas as vidas. Ela poderia fazer
isso.
A sua fé em suas habilidades a trouxe de volta para uma nova explosão
de energia, e a Força estava lá, ao redor dela. Isso a preencheu e fluiu por
ela enquanto corria através da divisória, sabre de luz na mão, a luz lavanda
mais estável que a sua intenção. Não havia um pingo de dúvida nela agora e
cortou a cadeira que estava bloqueando o trilho, raspando um pouco da
divisória no processo.
Assim que o metal começou a se mover, Vernestra correu junto da
persiana, usando o seu sabre de luz para fatiar generosamente qualquer
destroço que ameaçasse bloquear o escudo. Ela permaneceu alguns
centímetros acima do metal, e quando finalmente se fechou, silenciando o
vento estrondoso e selando a brecha, ela deu um mortal para trás e
lentamente se abaixou para o chão. No momento em que as suas botas
tocaram no chão, todo mundo estava falando ao mesmo tempo.
Mestre Douglas levantou sua mão e o barulho cessou.
— Nós precisamos evacuar.
— O que está acontecendo? — Exigiu o Embaixador Weft, com seus
olhos esbugalhados de pânico.
— Eu acredito que algo atingiu a Asa Firme. Uma Emergência,
possivelmente. — Douglas disse. Ele apontou sua mão na direção da porta
de saída, que havia fechado sozinha quando a divisória se recusava a fechar.
Ele puxou a alavanca de emergência perto da porta, mas nada aconteceu.
Quando aquilo não funcionou, ele pegou seu sabre de luz e cortou através
da porta, usando a Força para empurrar as partes no corredor.
— Temos que correr. — Douglas disse. — Vern, vai na frente!
Imri podia jurar que o seu coração iria pular pra fora do peito. É o que a
Força deseja, ele pensou, respirando fundo e soltando o ar. Se eles
sobrevivessem a esse teste seria porque a Força assim o quis, e isso
certamente deu a Imri uma certa calma. Ele confiava na Força como o
Mestre Douglas dizia que devia. Imri podia estar confiante contanto que o
Mestre Douglas estivesse ao seu lado. Mesmo que ele tenha pedido a
Vernestra para liderar o caminho e não a Imri, ele confiava em seu
Padawan.
Ele respirou fundo novamente e correu junto do resto do grupo.
O antes impressionante corredor que estava lotado de droides e
passageiros em pânico. Imri não sabia quem eles eram, mas presumiu serem
outros passageiros convidados importantes da Chanceler para a inauguração
do Farol Estelar. Todo mundo corria pelo corredor na direção dos pods de
fuga, e as multidões eram tão densas que Imri precisava se pressionar contra
a parede para passar pelo nó de pessoas.
— Isso não é bom, — Mestre Douglas disse, virando-se na direção do
grupo. — Não chegaremos aos pods de fuga dessa maneira.
— Os pods se foram, — resmungou um homem Mon Calamari vestido
lindamente. — Vocês precisam subir as escadas até o próximo deque. Não
há mais nenhum aqui embaixo.
— Como isso é possível? — Embaixador Weft disse franzindo a testa.
— Essa nave tem menos da metade dos passageiros que pode acomodar.
Um som de rachadura começou a ecoar através da nave, junto com as
explosões distantes que faziam todos nos corredores gritarem, abaixarem e
se espalharem. Mestre Douglas franziu a testa enquanto os alarmes
começavam a soar em alerta.
— Voltem! — Ele gritou.
Houve um empurrão no meio do peito de Imri, e ele saiu voando de
costas junto de Honesty, Avon e Vernestra. Imri caiu sobre a droide, J-6, e
gemeu.
— Com licença, — ela disse, um pouco irritada para um droide.
Imri não teve chance de responder. Ele encarou surpreso enquanto a
antepara fechava, separando-os de Mestre Douglas e os adultos da
delegação de Dalnan.
— Pai! — Honesty disse, saltando de pé e correndo para a barreira. Ele
socou os punhos contra o metal.
VÃO. SALVEM-SE, Imri ouviu em sua cabeça.
— Você fez isso? — Avon perguntou, com os seus olhos arregalando
enquanto encarava Vernestra. A Mirialana balançou a cabeça, o movimento
fez o seu cabelo se soltar do prendedor que o segurava pra trás.
— Foi o Mestre Douglas, — Imri disse, ficando de pé. — Ele nos
empurrou para trás para não ficarmos presos na antepara. Precisamos voltar
pelo caminho que viemos.
Honesty encostou a testa contra a barreira por um momento antes de
endireitar-se, afastando as lágrimas.
— Então vamos, — ele disse, com a mandíbula cerrada. Os seus cabelos
castanhos estavam desgrenhados e a sua túnica marrom clara estava rasgada
na linha do pescoço, mas esses eram os únicos sinais de que havia passado
por um turbilhão. Quando Imri o alcançou com seus sentidos, um hábito
que o ajudava a entender como as outras pessoas estavam se sentindo, não
sentiu nada, apenas um conjunto bem controlado de emoções. Ou o garoto
ainda estava em choque, como Avon, cujos os sentimentos estavam em tal
desordem que ela assentara em irritação, ou isolara tanto o seu terror que
Imri não podia sentir nada através da Força.
Mestre Douglas pressionava Imri a melhorar em conversar com pessoas,
não apenas sondar o que está acontecendo pela Força, mas Imri não podia
evitar, principalmente quando tudo menos a Força parecia caótico e errado.
Se ao menos Mestre Douglas estivesse ali para ajudá-lo a entender a
confusão que sentia. Mas ele estava do outro lado da barreira. O Jedi mais
velho dera a eles toda a chance de sobreviverem.
A sua equipe heterogênea correu pelo corredor, com Avon liderando.
Ela removeu a saia enquanto corria, revelando caneleiras e botas por baixo.
Imri não estava surpreso, a garota sempre parecia estar preparada para tudo.
Avon parou derrapando em frente a uma escotilha seriamente
danificada, franzindo o cenho.
— Que tal uma ajudinha da Força? — Avon disse, apontando para a
porta amassada. O metal fora empurrado para um lado de forma que a porta
seria impossível de abrir sem um maçarico ou uma espécie de martelo
pesado de gravidade.
Imri estava mais perto, então sacou o seu sabre de luz e cortou o metal.
Ele tentou usar a Força para empurrar os pedaços restantes para longe do
caminho, como Mestre Douglas fizera mais cedo, mas o seu controle era
escorregadio. Era difícil alcançar a Força quando tudo o que consegue
pensar é se o seu mestre saiu de lá vivo ou não.
Vernestra guardou o seu sabre de luz no coldre antes de gesticular na
direção da porta sem uma palavra, e as partes dobraram-se para dentro,
criando espaço para Avon e J-6, que não perderam tempo para atravessar a
porta. Honesty seguiu correndo, e enquanto Imri se preparava para ir em
seguida, a pressão de uma mão em seu ombro o parou.
— Imri, — Vernestra disse. — Vai ficar tudo bem. Tudo acontece como
a Força deseja.
Imri assentiu, mas as palavras dela não fizeram nada para afastar o
sentimento de entorpecimento que crescia em seu coração. Mas não havia
tempo para se preocupar; eles ainda precisavam fugir da nave.
Eles correram pelo corredor, passaram pelo salão de jogos e joalherias,
procurando por um caminho até acima, qualquer coisa para chegar ao outro
deque com os pods de fuga. Esse deque estava cheio de entretenimento para
passageiros, mas com poucos pods, e Imri começava a pensar que eles
nunca encontrariam um elevador ou escada para os outros andares quando
se depararam com a entrada de um hangar.
— Deveríamos tentar ali, — Vernestra disse, apontando para a porta
trancada.
— Como todas essas portas foram destruídas? — Avon perguntou,
franzindo a testa. — É quase como se alguém não quisesse que saíssemos
da nave.
Vernestra não esperou por Imri para tentar abrir a porta dessa vez. Ela
esticou a mão e amassou o metal como um guardanapo gigante. Avon foi a
primeira a atravessar, como sempre, mas dessa vez Vernestra estava bem
atrás dela.
— Avon, pare de correr para os lugares sem checar antes, — ela disse.
Imri esperou Honesty e J-6 atravessarem a porta antes de seguir.
Quando ele entrou no hangar, uma área apertada com apenas um único
transporte de manutenção, os seus olhos se arregalaram.
— Caramba, — ele disse. Alguém cortara os droides serviçais em
pedaços. Parecia haver um trio deles que foram desmantelados, os seus
componentes foram deixados espalhados.
— Eu não acho que foi uma Emergência, — Vernestra disse, sacando o
seu sabre de luz e o segurando diante dela. — Alguém queria ter certeza de
que ninguém sairia vivo.
— Então, estamos condenados, — Honesty disse, com a sua voz fraca.
— Deveríamos saber que não deveríamos viajar entre as estrelas. E ter
aceitado o nosso fim na sala de jantar.
Avon deu ao garoto um tipo de olhar que estava entre descrença e nojo.
— Sempre há esperança. O transporte de manutenção é melhor do que
nada. Mas precisamos nos apressar. Olhem. — Ela apontou para onde a
parede começara a abrir, revelando a escuridão do espaço do lado de fora,
além da barreira reluzente. O protocolo de emergência de rachadura no
casco que protegia as naves no caso de uma emergência começava a falhar.
— Essa é uma camada secundária e apenas feita para durar o suficiente para
proteger os passageiros nas partes mais protegidas da nave.
— E com o dano que vimos na sala de jantar, mesmo as áreas protegidas
estão comprometidas, — Vernestra terminou. — Não temos tempo para
sermos exigentes. Posso sentir o Mestre Douglas... enfraquecendo.
— Eu também, — disse Imri, a voz baixa. Era um sentimento terrível, e
ele queria se isolar da Força para evitar saber que em algum lugar da nave o
seu mentor estava lutando por sua vida, e perdendo.
— O que isso significa? — Honesty perguntou.
Ninguém respondeu a ele.
— Esse transporte parece estar operacional, na maior parte, — J-6
chamou. Avon correu até a droide, e o resto do grupo a seguiu. Por mais
luxuosa que a Asa Firme fosse, o transporte de manutenção era o oposto.
Interior branco com assentos cinza posicionados ao longo de cada parede, e
assentos de piloto e copiloto na frente. Havia armários cheios de
ferramentas e com sorte alguns suprimentos, comida e água para durar até
poderem chegar a uma estação. Era apertado dentro, e Imri estava perto do
fundo, incerto sobre o que fazer. Vernestra foi até o assento do piloto, mas
Avon já estava lá, acionando interruptores e apertando botões.
— Você sabe pilotar? — Imri disse, cético. Como um Padawan, ele
ainda não começara o seu treinamento de piloto, e Avon era pelo menos
dois anos mais nova do que ele. Isso o deixou incerto e um pouco invejoso
pela garota saber o que fazer, mesmo sem a Força para guiá-la.
— Eu roubei o meu primeiro pod de fuga quando tinha seis anos,
quando estava com minha mãe em uma viagem diplomática para Mon Cala.
Confie em mim, eu sei como pilotar. — Avon sorriu. O sorriso não apagou a
forma como as mãos dela tremiam ou a transpiração reluzindo junto da raiz
de seus cabelos. Imri podia sentir o medo dela, mas admirou que isso não a
impediu de fazer o que precisava ser feito. Eles estavam todos assustados,
mas todos lidavam com isso à própria maneira.
— Eu, no entanto, recomendo apertar os cintos. — J-6 disse, abaixando-
se em um dos assentos junto da parede e apertando as faixas no lugar.
Vernestra sentou-se no assento do copiloto ao lado de Avon. Imri
colocou o cinto do lado oposto ao de J-6 enquanto Honesty sentou-se ao seu
lado. Imri sorriu para o garoto mais novo.
— Vai ficar tudo bem, — ele disse.
— Já não está tudo bem, — Honesty disse, e havia tanta convicção em
suas palavras que Imri apenas olhou para as mãos.
— Tudo parece operacional, mas estou recebendo um erro dos escudos,
— Avon disse da dianteira. — Haverá muitos destroços quando
desacoplarmos, — ela disse, seriamente. — Então segurem os traseiros.
Imri engoliu em seco. Sem escudos, um pedaço qualquer da Asa Firme
poderia levar a sua ruína. Eles ainda não estavam fora de perigo.
— Eu posso ajudar com isso, — Vernestra disse. — Humm, com os
destroços. Não a segurar os traseiros.
Avon riu.
— Bom, viva a Força.
Houve um solavanco quando o transporte desacoplou, e então eles
aceleravam para longe da Asa Firme lentamente destruída e para a
escuridão do espaço. Imri fechou os olhos e tentou enviar uma emoção
através da Força para seu mestre, para deixar o homem saber tudo o que
significava para ele como um professor. Ele concentrou-se, tremendo pelo
esforço de alcançá-lo.
Mas os Jedi, e o resto da delegação de Dalnan, já se foram.
Avon agarrou o manche com mais força do que o necessário enquanto
pilotava o transporte de manutenção, levando-o para longe da nave maior.
Ela deveria ter deixado Vernestra pilotar. Todos sabiam que os Jedi eram
peritos em pilotar, a Força dava a eles uma vantagem sobre a maioria das
outras pessoas. Pelo menos era o que diziam as histórias. E após viver com
Vernestra em Porto Haileap, Avon aprendera que as histórias sobre os Jedi
eram de se acreditar. Especialmente após aquela manobra na sala de jantar.
Quem além de um Jedi se deixaria ser puxada em direção ao espaço para
fechar uma antepara? Ninguém que Avon conhecia.
Avon deveria ter deixado Vernestra pilotar, mas quando J-6 indicara o
transporte solitário funcionando, Avon correra para ele e pulara no assento
do piloto porque era algo a fazer além de pensar sobre as naves
desintegrando e os Mestres Jedi usando a Força para salvar a sua vida.
Pobre Douglas. Avon gostava dele. Ele dissera que era esperta uma vez
e dera a ela um doce de amora amarga de seu bolso. Parecia
desesperadamente injusto que encontrasse o seu fim de maneira tão
aleatória e ilógica. Quais as chances de uma nave partir ao meio no espaço
puro? Faixas de hiperespaço podiam ser arriscadas, especialmente quanto
mais perto você estiver da Orla Exterior. Mas elas eram, na maior parte,
seguras desde que todos seguissem as regras.
Não havia explicação lógica para isso, e isso era o que Avon mais
odiava.
Ao lado dela, Vernestra pulou, e por trás Imri soltou um gemido. Avon
em seu assento virou-se para olhar o Padawan antes de virar-se para a Jedi
ao lado dela.
— O que foi? O que aconteceu?
— A nave, ela se foi, — Vernestra disse. Avon se perguntou o que ela
queria dizer, e então os sensores de proximidade começaram a berrar.
Através da janela pedaços de destroços passaram zunindo, e havia apenas
uma explicação na qual Avon podia pensar para tal fenômeno.

A Asa Firme explodira.


O coração de Avon ficou apertado pela ciência de que o Mestre Douglas
se fora para sempre. Não era justo. Se a Força estava realmente guiando
tudo, como pessoas boas como Mestre Douglas morriam tão
estupidamente?
— Você está bem? — Vernestra perguntou, assustando a garota mais
nova. Ela assistiu Avon com olhos arregalados de preocupação, e Avon
afastou as lágrimas que conseguiu se libertar.
— Estou ótima. Você está pronta? — Vernestra ergueu uma
sobrancelha, e Avon soltou um suspiro impaciente. — Vern, você disse que
iria usar a Força para nos manter seguros. Os escudos desse modelo não são
muito fortes, e temos que atravessar isso, o que parece ficar pior a cada
minuto. — Através da janela, o caminho diante deles estava repleto de
pedaços da nave, e outras coisas além. Avon tentou não olhar para os
destroços tão atentamente. Ela tinha medo de que se o fizesse, os pedaços
quaisquer de lixo tornaram-se pessoas e coisas reconhecíveis.
Avon afastou a imagem. Foque no agora. Controle os seus impulsos,
Avon. A voz em sua cabeça era a de sua mãe. A Senadora Ghirra Starros
nunca encontrara um problema que não pudesse resolver, e mesmo se Avon
trabalhasse muito duro para ser completamente diferente da mãe, era um
traço valioso para se ter.
— Um passo depois do outro, — ela murmurou.
Os alarmes de proximidade continuavam a ressoar, o som tirando Avon
de seus pensamentos. Ela realmente estava farta de alarmes por um dia.
O transporte estremeceu, empurrando todos a bordo. Atrás de Avon,
Imri e o garoto de Dalnan, Honesty, se deslocaram.
— Isso deveria acontecer? — Imri chamou.
— Não, isso é apenas nosso dia piorando, — Avon disse. — Os escudos
parecem não estar funcionando de maneira alguma.
— Eu posso cuidar disso, — Vernestra disse, fechando os seus olhos e
inclinando-se em seu assento.
Avon respirou fundo e exalou, e então o transporte de manutenção
estava no meio do campo de destroços.
Avon fora obcecada por desastres teóricos por anos. Todas as vezes que
ela e a mãe viajavam em assuntos oficiais da República, Avon se alegrara
em repassar os fatos e riscos associados com viagem espacial de longa
distância e de hiperespaço para qualquer um que ouvisse. Havia centenas de
registros sobre o que acontecia quando uma nave começava a se partir no
espaço, mais recentemente com a Legacy Run. Conforme os relatórios
chegavam, Avon estivera fascinada por eles, não pela perda de vidas, o que
era terrível, mas por querer entender como o desastre acontecera e aprender
a prevenir outros como aquele. Avon acreditava que a tecnologia traria a
resposta para a maioria dos problemas, e mesmo se parecesse como se
estivesse simplesmente procurando encrenca, ela estava, na verdade,
procurando por respostas.
A resposta para o campo de destroços causado por uma nave se
desintegrando rapidamente eram os alarmes de proximidade, por isso todas
as embarcações supostamente o tinham, mesmo transportes de manutenção
que geralmente ficavam perto de naves maiores que eles geralmente
preservavam. Mas os sistemas de aviso eram apenas a metade da equação, e
sem qualquer tipo de escudo, a nave estaria vulnerável à violações. O
coração de Avon acelerou com a preocupação. Vernestra parecia cansada,
com os seus olhos fechados e respiração constante não conseguiam remover
as linhas de fatiga ao redor dos olhos. Com sorte, seria capaz de ajudá-los a
passar pelo pior do perigo.
Avon respirou fundo novamente e acelerou.
A primeira parte dos destroços rodopiava ao redor deles, afastando-se
para o lado enquanto passavam. Um pouco do aperto no peito de Avon se
soltou. Tudo estava bem; eles evitaram o pior da catástrofe.
Mas então um guincho veio acima do transporte, o som de algo grande
raspando ao longo do casco exterior. Avon piscou os olhos para Vernestra,
cuja pele verde estava profundamente pontilhada com transpiração.
— Desculpe, — ela sussurrou. Os seus olhos estavam apertados em
concentração, franzidos com tanta força que os pequenos diamantes
tatuados ao redor de cada olho quase desapareceram.
Vernestra estava enfraquecendo, mesmo que não admitisse.
A teimosia da Jedi espantava a Avon de uma maneira irritante, porque
era algo que conseguia admirar, se houvesse tempo. Ao invés disso, ela
virou-se na direção das leituras.
— Ei, Imri, você acha que pode ajudar? A impedir todos esses pedaços
de destruir nossa nave? — Vernestra chamou.
— Eu posso tentar, — Imri disse, um tremor em sua voz, e Avon sentiu-
se mal por ele. Ele acabara de perder seu mestre há alguns minutos. O luto
prejudicava a capacidade de um Jedi com a Força? Ela certamente esperava
que não.
Avon manteve os olhos fixos nas leituras dos sensores de proximidade.
— Sério, se você não puder seremos ensopados de joppa, se é que me
entende. — Não havia nada pior do que ensopado de joppa, na opinião de
Avon.
— Eu consigo, — ele disse, mesmo se não soasse completamente
convencido.
Se nem Vernestra ou Imri conseguissem ser o escudo à prova de falhas
deles, Avon teria de improvisar.
O bom era que ela era excelente nisso.
Avon fez alguns breves cálculos em seu cérebro. Seria arriscado, mas
achava que conseguiria.
Era provavelmente para o bem deles que não comeram o jantar.
— Espere, — ela disse.
— Oh não, — disse J-6.
Avon acelerou ao máximo a pequena embarcação e virou o manche com
tudo para a esquerda. O transporte de manutenção começou a inclinar-se
como um brinquedo que estivera uma vez numa Feira da República, e dois
segundos depois puxou o controle de volta para o outro lado e então para
frente. O transporte moveu-se loucamente, deslizando entre dois pedaços
grandes da nave antes de inclinar-se para cima para evitar outro pedaço de
detrito.
— Onde você aprendeu a pilotar? — Perguntou Honesty.
— Simulador, — Avon disse. — Mas eu empresto naves de verdade
para aprender a voar desde os seis anos.
— Ela quer dizer "rouba", — J-6 disse.
— Não me sinto muito bem, — Imri murmurou.
— Estamos quase terminando, — Avon disse. — Vern, você está
aguentando aí?
— Sim. — A sua voz era pouco mais do que um sussurro, e a tensão e
preocupação floresceu mais uma vez no peito de Avon. O que acontecia
com um Jedi quando usava a Força demais? Eles ficavam doentes? Talvez
Vernestra murchasse até ficar velhinha diante dos olhos de Avon, a sua vida
gasta em um grande ato final.
Esse pensamento realmente assustou a Avon mais do que o transporte
ser perfurado pelo lixo espacial. Mas os Jedi eram poderosos, as suas armas
alimentadas por uma fonte quase ilimitada de energia. Vernestra ficaria
bem.
Ela tinha que ficar.
Avon, que geralmente amava descobrir as respostas para as suas
questões, decidiu não querer saber a solução para esse dilema, e retornou a
sua atenção para costurar por entre os últimos pedaços de destroços.
Ela acelerou e desviou antes de girar a embarcação para evitar bater em
um último pedaço de escombro com as asas frágeis do transporte. E então
os sensores de proximidade estavam quietos e a tela de escarlate ficou
verde.
— Nós não morremos, — disse Honesty. Avon engoliu um suspiro. Ela
se perguntou se ainda era esperado dela ser diplomática com o garoto já que
muito provavelmente era o último membro da delegação de Dalnan.
Foi quando a ficha de Avon caiu: todas aquelas pessoas, todos na nave.
Eles se foram. Talvez alguns deles entraram em pods de fuga, mas achava
que não. Douglas e os embaixadores Dalnan se foram, também, incluindo
Embaixador Weft. Avon tentou imaginar o que ela faria se tivesse de deixar
a sua mãe a mercê de uma nave de passageiros luxuosa se desintegrando.
Ela não gostou da maneira de como o seu coração ficou apertado com o
pensamento. Pobre Honesty.
— Bom, eu não teria morrido, — J-6 disse para ninguém em particular.
— Eu teria simplesmente flutuado pela galáxia, meus circuitos congelando
lentamente, somente com um sinal de resgate piscando até meus sistemas
desligarem. Então, sim, eu acredito que seja melhor do que isso.
Avon virou-se para olhar seu droide. Certo, talvez a programação de
autorrealização estivesse funcionando um pouco bem demais.
— Bom trabalho, — Avon disse para Vernestra enquanto ela virava-se
de volta para os controles. Ela começou a virar os interruptores e checar os
sistemas, mas quanto mais ela checava mais o seu coração apertava.
Parecia que eles não estavam fora de perigo ainda.
Honesty Weft não iria chorar.
Ele piscou com força e respirou fundo, assim como fora ensinado em
suas aulas de artes defensivas. Centrado. Ancorado. Um guerreiro
permanecia calmo mesmo no meio do caos.
Isso, é claro, era muito mais do que qualquer guerreiro Dalnan já teve
de vivenciar. Afinal, não havia uma guerra em Dalna em mais de cem anos.
E Dalnans mantinham as suas lutas, quando aconteciam, dentro do planeta,
onde havia ar.
Ele não queria ter vindo nessa viagem. Tentara ficar em casa ao invés
disso, para estudar para a sua Metamorfose. Honesty queria ser um oficial
médico de combate, e esse era um dos treinamentos mais difíceis por lá.
Mas a sua mãe o pressionara para acompanhar o seu pai em sua viagem
diplomática, e como sempre, seu pai concordara com ela.
— Antes de você decidir o caminho de sua carreira, é importante tentar
uma série de coisas, — ela dissera enquanto fazia as suas malas. — Viagens
são como um acadêmico, e um guerreiro, ampliam os seus horizontes.
Viaje, Honesty. Vá ver a galáxia com o seu pai, e me traga relatos para a
história da família. Tenha uma aventura! É o que garotos da sua idade
deveriam querer, não treinar para uma guerra que nunca virá.
Honesty se irritara com a sua mãe, que crescera na distante Corellia e
viera para Dalna após conhecer o seu pai na universidade, estivera tão
falante sobre deixar o planeta em direção às estrelas. A maioria dos Dalnans
nunca sequer deixavam as zonas temperadas, e menos ainda deixavam o
planeta.
E agora Honesty conseguia entender o porquê.
Após a corrida maluca através dos restos da Asa Firme (uma nave
inteira, simplesmente se fora!) o transporte estava silencioso por um bom
tempo. Não parecia que eles sequer se moviam. A droide cantarolava uma
estranha melodia para si, o garoto ao lado de Honesty encarava as mãos
como se esperando algo aparecer lá, e a Jedi com a pele verde, uma
Mirialana, roncava alto enquanto dormia. Mas ninguém conversava, nem
mesmo a garota da República, que parecia sempre estar se divertindo mais
do que qualquer coisa.
Honesty respirou fundo novamente, e uma dor aguda apunhalou seu
peito. Por que ele discutira com seu pai? Por que ele não podia ser um filho
bom e obediente?
Honesty tentava tanto não entrar em pânico, mas ele podia sentir as
lágrimas histéricas surgindo cada vez mais. E quando fechou os olhos, tudo
o que viu foi o rosto do pai, aterrorizado e resignado, enquanto algum poder
invisível o empurrava para o lado errado da barreira de emergência.
— Você está bem? — Perguntou o garoto ao lado de Honesty. Imri
Cantaros, o Padawan. O garoto parecia menos com um Jedi, ou pelo menos
o que Honesty imaginava com o que um Jedi se parecia, e mais com os
fazendeiros que cultivavam as terras em casa. Ele era uma cabeça mas alto
do que Honesty e encorpado onde o garoto Dalnan era magricela. Mas o seu
rosto era incrivelmente gentil, os seus olhos brilhavam com a preocupação.
— Isso é uma batalha. Estou bem, — Honesty disse, cuspindo as
palavras para a sua voz não vacilar. Centrado. Forte. Ancorado.
O seu pai estava desapontado com ele naquele minuto final? Ele ainda o
considerava petulante? Os pensamentos correram pela mente de Honesty, e
ele respirou afastando as emoções que ameaçavam a tomar conta dele. Imri
o assistiu por um bom tempo antes de assentir de leve.
— Sinto muito pelo seu pai.
Honesty piscou e virou-se para o outro garoto.
— Sobre o que você está falando? — Em seu peito, a pequena chama de
esperança de que seu pai ainda estava vivo tremeluziu enquanto Imri falava.
Imri corou e limpou a garganta.
— Ninguém sobreviveu além de nós. Todos os outros... se foram.
— Você não tem como saber disso.
— É claro que ele pode saber. Ele é um Padawan, o que é como um
aprendiz Jedi. E os Jedi têm a Força, a qual conecta todas as coisas vivas.
— A garota morena (Avon era o seu nome) virou-se e deu a Honesty um
olhar com o qual não se importou. Ele não era estúpido, mas essa garota
parecia pensar que ele era um pouco burro, pela expressão em seu rosto. —
Além disso, as chances de alguém sobreviver aquilo... não são boas. — Ela
parou, e a sua expressão indiferente fundiu-se em uma de tristeza. — Sinto
muito sobre o seu pai. Minha mãe só disse coisas boas sobre ele no holo que
mandou, e ela não gosta de verdade de ninguém.
Lágrimas surgiram nos olhos de Honesty, e ele olhou para baixo antes
que pudessem cair. Ah. Agora ele sabia porque Imri estivera encarando as
mãos. Era mais fácil esconder o fato de que você estava chorando se
ninguém consegue ver o seu rosto.
— Também sinto muito sobre o seu pai, — Honesty disse para o garoto
ao lado dele, com a sua voz pesada.
— Ele não era meu pai. Ele era meu mestre, — Imri disse, mas havia
uma angústia amarrando suas palavras.
— O que o seu mestre fazia? — Não haviam muitos Jedi em Dalna, e
aqueles que estavam lá eram reservados, apenas aparecendo quando
chamados, não como aqueles que Honesty conhecera em Porto Haileap.
— Ele me ensinou o que significa ser um bom Jedi, e como estar mais
em sintonia com a Força.
Honesty assentiu.
— Isso soa um pouco como o que um pai faz.
A expressão de Imri tornou-se triste, sua dor ficando ainda mais
aparente.
— Sim, acho que sim.
Ambos ficaram em silêncio mais uma vez, enquanto voavam através da
escuridão implacável do espaço, o único som vinha do droide enquanto ela
continuava a cantarolar para si. Honesty olhou em volta e percebeu que
estava realmente vivendo uma aventura.
E ele não gostava nem um pouco dela.
Quando Vernestra acordou com um sobressalto. Ela não se lembrava de
ter dormido, mas o seu corpo zumbiu da maneira que sempre fazia após
usar a Força intensamente. Não estava exausta, mas ainda havia um vazio
em seu corpo que era em parte fome e em parte as consequências de usar a
Força. Embora ela meditasse regularmente, era raro que necessitasse
exercer tanto poder de uma vez. Lutar contra o vácuo natural do espaço não
foi fácil.
Quando era uma Youngling, muitas vezes ela se conectou a Força,
apenas para sentir a emoção, aquela sensação calma da galáxia e toda a vida
e energia movendo-se através dela. Quando se tornou uma Padawan
encontrou-se se conectando a Força todas as noites antes de dormir durante
asua meditação, como colocar uma túnica extra confortável após um dia
longo de trabalho pesado. Ela geralmente vagava após tal meditação,
embalada por uma sensação de justiça e paz.
Esse sono não havia sido esse tipo de descanso. Vernestra se alongou
quando acordou, o corpo estava doendo, e o coração acelerado. Ela testara
os seus limites, ajudando Douglas a manter a nave inteira, afastando o
campo de detritos enquanto fugiam dos destroços da Asa Firme.
Douglas. Uma pontada de tristeza lançou-se por Vernestra enquanto
pensava no Mestre Jedi. Ele retornaria para a Força cósmica que conecta
todas as coisas na galáxia. Vernestra sentiria aquela conexão, e o eco de
Douglas, todas as vezes que meditasse antes de dormir. A Força cósmica era
serena e ajudava a dar aos Jedi sabedoria e direção. Isso era o que acontecia
com todas as coisas vivas quando elas morriam, mas isso não diminuía a
dor da perda que Vernestra sentia quando pensava sobre os outros Jedi. Ele
fora o primeiro a recebê-la no Porto Haileap e a parabenizá-la por passar em
seus testes tão jovem.
— Quando eu tinha a sua idade ainda estava tentando entender a
Terceira Cadência, Vern. Você é uma Jedi incrível, e estou orgulhoso por ter
uma chance de trabalhar com você antes de você terminar no Conselho, ele
dissera com uma gargalhada que fez Vernestra se sentir acolhida e bem
recebida.
E agora ele se fora.
— Imri, — Vernestra disse, se virando. O luto do Padawan tingia o ar ao
redor dele, escorrendo na Força e puxando Vernestra de seu assento para o
lado dele. Ela não era empática, Imri era bem mais sensível para as
emoções dos outros do que ela, mas era impossível ignorar a dor dele no
pequeno espaço do transporte.
— Desculpe, eu acordei você? — Ele disse, olhando para cima
enquanto Vernestra sentava à esquerda dele.
— Não, já estava descansada. Como você está?
— Horrível, — ele disse, com uma lágrima rolando por sua bochecha e
então mais uma seguindo. — Mas consigo senti-lo um pouco quando o
alcanço na Força, e isso deixa um pouco melhor.
Vernestra colocou o braço ao redor dos ombros do garoto e puxou Imri
para um abraço.
— Quando era uma Youngling, um dos mestres mais velhos morreu
durante uma meditação. A maioria de nós o sentiu ir, e embora sentíssemos
falta dele, ajudava saber que se fora em paz e feliz. Eu espero que sinta o
mesmo quando alcançar Douglas.
Imri olhou para cima para encontrar o olhar de Vernestra diretamente.
— Você acha que ele foi em paz?
Vernestra ficou séria. Ela ainda podia sentir o eco e o medo da nave
explodindo, as vidas perdidas naquele momento de desastre.
— Não, mas eu realmente acho que ele se foi sabendo que nos salvou.
Ele morreu fazendo o que um Jedi deveria sempre fazer: colocar a vontade
da Força, a proteção de toda a vida, além de nós mesmos.
Irmri assentiu, lágrimas ainda rolando por suas bochechas pálidas.
Honesty Weft sentado à direita dele, com os olhos secos e solene. A tristeza
do garoto parecia uma coisa frágil em comparação ao luto do Padawan. Mas
todo mundo lamentava à sua maneira, e talvez ele não tivesse assimilado
que seu pai e o resto da delegação de Dalnan se foram. Vernestra não
conhecia o garoto bem o bastante para fazer nada além de pegar sua mão e
apertá-la, e mesmo isso o fez dar um sobressalto surpreso.
— Sinto muito por seu pai, — ela disse, com a voz suave.
— Obrigado, — ele murmurou, e embora ela quisesse fazer mais,
decidiu ser melhor deixá-lo sozinho por enquanto.
— Ei, Vern, chamou Avon. — Você podia vir aqui rapidinho?
Vernestra ergueu-se e retornou para a cabine, o qual estava a apenas
alguns passos de distância da área dos passageiros.
— O que está acontecendo?
— Certo, então, sabe quando disse que o transporte não tinha quaisquer
escudos? Bom, isso não é tudo. Estou tentando ligar os comunicadores
desde que saímos do campo de detritos, e não consegui nada, nem mesmo
estática.
Vernestra franziu a testa.
— Mesmo um transporte de manutenção deveria ter as necessidades
básicas. Navegação, comunicadores, talvez até mesmo um hiperdrive.
— Temos um meio hiperdrive, — disse J-6 de trás.
Vernestra atravessou o transporte até onde J-6 se debruçava sobre um
buraco no chão. A droide abrira a escotilha de manutenção do motor e
reclamava dos vários componentes que faziam o transporte funcionar.
— O que você está fazendo?
A droide apontou para o que parecia ser um pedaço de maquinário
esmagado.
— Investigando. É parte da minha programação central, apesar de
geralmente apenas a usar quando tento rastrear Avon.
— Jota-Seis é um droide guarda-costas reprogramado, Avon disse da
frente. — Minha mãe acha que droides babás são um desperdício de
créditos, porque você os supera rapidamente.
— A sua mãe te deu um droide guarda-costas como uma babá? —
Honesty perguntou incrédulo.
Avon suspirou.
— Quando você a conhecer, entenderá.
— Voltando para o transporte, — Vernestra disse.
— Certo, — Avon disse enquanto J-6 continuava a escanear o motor e
outros sistemas. — Nós também não temos qualquer navegação ou mapas
ou, bom, qualquer coisa que precisaríamos para realmente encontrar um
lugar para ir.
— E esse hiperdrive não será capaz de ser ligado, J-6 disse finalmente,
fechando a escotilha e se endireitando. — Parece que alguém o sabotou de
propósito. E é apenas por pura sorte que esse transporte ainda é capaz de
voar.
— Isso não é encorajador, — Honesty murmurou.
— Não tenho certeza de que o hiperespaço é seguro, não importa o que
Mestre Douglas pensava, Vernestra disse franzindo a testa. — Ainda há
uma chance de encontrarmos uma Emergência. — Ela afastou uma mecha
do escuro cabelo que se soltara de seu prendedor e sentou-se na cadeira do
copiloto mais uma vez. — Como tudo pode estar offline?
— Sabotagem, — J-6 disse, com as suas palavras sendo seguidas de um
longo silêncio enquanto todos refletiam sobre aquilo.
— É realmente a única resposta que correlaciona ao que vimos. Houve
explosões, uma após a outra, Avon disse. — Se fosse uma Emergência não
teríamos tido a chance de escapar. A nave teria se partido de uma vez,
cabum.
Vernestra respirou fundo e expirou. Avon estava certa, mesmo se cabum
não fosse a maneira mais sensível de descrever uma nave sendo destruída.
— Você acha que alguém pode ter planejado o ataque a Asa Firme? —
Imri perguntou, sobrancelhas loiras juntando-se.
— As chances de uma colisão com um objeto desconhecido enquanto
viajando pelo espaço real são bem baixas dado ao nível atual dos sistemas
das naves projetados para impedir tais ocorrências, e as chances de vários
sistemas em qualquer transporte falharem de uma vez são ainda mais
baixas, a droide disse secamente. — Eu posso mostrar a vocês o cálculo se
quiserem. Como vocês estão em provas teóricas Gherillian?
Vernestra olhou para Avon, que parecia completamente feliz com as más
notícias. Mas assim que notou Vernestra a observando, a expressão
encantada de Avon suavizou-se para algo mais perto de preocupação. Avon
não era o tipo que se deleita com o perigo. Vernestra tinha uma leve
suspeita de que a garota realmente alterara os comandos básicos da droide
de protocolo.
— Jota-Seis está certa, Avon disse. — Mas esse não é o problema agora.
Não tenho um lugar para ir, e não tenho como saber como chegar lá. Não
temos uma quantidade infinita de combustível. Os níveis de atmosfera estão
bons por enquanto, presumindo que tenha alguns suprimentos básicos
nesses armários. Após cerca de um dia voando, as coisas... não estarão tão
boas.
— As nossas opções são simples, — J-6 disse. — Sabemos quais
planetas existem no sistema Haileap. Já que não saltamos, a lógica é que
não viajemos para longe. Nós podemos tentar tanto ir para Haileap, ou ver
se há algo mais perto. Meu almanaque indica que há algumas poucas
opções habitáveis, apesar de nenhuma ser ideal.
— Sem navegação, qualquer palpite é tão bom quanto qualquer outro,
— Avon disse com um dar de ombros.
— Eu poderia tentar me localizar, — Imri disse, a voz hesitante. —
Através da Força. Mestre Douglas estava me mostrando como se faz. —
Vendo as expressões confusas de Avon e Honesty, o garoto elaborou. — Eu,
hum, devo ser capaz de detectar algum lugar que tenha muita vida, e se
houver criaturas vivas lá no planeta deve ser seguro o bastante para nós,
desde que eu tenha uma boa ideia do que estou procurando. Certo, Vern?
— Sim, — Vernestra disse, assentindo. — Boa ideia. — Era uma aposta
arriscada. Ela ouvira apenas poucas histórias de localização. Era algo
geralmente feito por Mestres Jedi experientes que praticaram a habilidade a
vida toda. Mas ela esperava que dar uma tarefa ao garoto o ajudaria a
superar um pouco do desespero de perder o seu mestre. Algumas vezes as
distrações eram úteis.
— Certo, já que a navegação está fora, eu acho que posso virar a nave
até apontarmos na direção correta? — Avon disse, com a dúvida amarrando
as suas palavras.
Imri assentiu.
— Sim, isso deve funcionar. — Ele fechou seus olhos e começou a
respirar com calma, meditando como todos os Younglings eram ensinados
em suas primeiras semanas no templo. Tarefas monumentais como
estender-se por grandes distâncias sempre funcionavam melhor quando o
usuário da Força estava calmo e centrado, e após os eventos das últimas
horas eles estavam compreensivelmente no limite.
Havia ainda um tilintar na cabeça de Vernestra que a fazia pensar não
ser uma boa ideia para ela tentar usar a Força no momento, não se ela não
quisesse outra soneca inesperada. Ela ainda se sentia desgastada pelos
esforços anteriores.
Imri fechou os olhos e estendeu-se na Força. Mas havia algo estranho
em sua técnica, e Vernestra foi até onde Imri estava e pegou a mão dele.
— Imri, foque, — ela disse, fechando os olhos e se conectando com ele
através da Força. Esse tipo de conexão era geralmente passiva; juntar-se
com a Força era natural e certo. Eles eram todos parte da Força viva, tanto
quanto da Força cósmica, e estender-se para a energia viva realmente
apaziguou um pouco da exaustão de Vernestra. Às vezes podia ser fácil
demais para Jedi se perderem nas grandes possibilidades da Força, e os
Younglings eram geralmente ensinados a se lembrar das necessidades de
seus corpos como uma maneira de ancorar os seus pensamentos. Passar
tempo demais na Força podia parecer luminoso, mas os corpos são matéria
bruta que precisam de cuidados e de alimentação, e essas necessidades
físicas precisavam ser mantidas em mente para atar os Jedi à suas formas.
Imri estabeleceu-se, e Vernestra o sentiu procurando por um caminho
para chamar por vida próxima. Ela não tentou guiá-lo, mas sobretudo o
assistiu como o seu mestre teria feito quando ela se tornou Padawan,
deixando Imri descobrir. Ela podia sentir o momento em que ele começou a
procurar por vida, cada ser vivo iluminado por sua conexão com a Força.
Honesty e Avon brilhavam forte, mas além disso havia apenas escuridão,
exceto por algumas imagens piscando levemente nos limites do que eles
podiam sentir.
Imri virou-se para donde tinham vindo, na direção de onde a Asa Firme
fora destruída. Vernestra queria afastá-lo do local da catástrofe, mas ela
sentiu que ele se virara naquela direção muitas vezes antes e ela deu a ele a
oportunidade de olhar uma última vez para os vestígios da nave.
Não havia sinal de vida.
Não haviam, tampouco, outras naves e Imri oscilou para cada vez mais
longe. Não havia nada, nada do calor e emoção, da fome e alegria, da
exaustão e medo que caracterizavam a vida por toda a galáxia. Imri
começou a se desesperar enquanto testava os limites de quão longe podia
alcançar e não encontrou uma única faísca de vida.
— Só mais um pouco, — Vernestra disse. Ela emprestou a Imri um
pouco de sua própria força, da mesma maneira que acrescentou as suas
habilidades para Douglas na sala de jantar da Asa Firme. Não, não pense na
Asa Firme, ela pensou. Foque na vida e mova-se adiante.
Mas não havia nada.
Vernestra abriu seus olhos e encontrou Avon e Honesty os observando.
J-6 parecia ocupada de outra forma, procurando por uma entrada onde
pudesse se carregar. Avon inclinou a cabeça, com os seus lábios cheios
pressionados em uma linha fina.
— Sem sorte?
Vernestra balançou a cabeça, e Imri suspirou.
— Desculpe, — ele disse. — Mas não há nada lá fora. Estamos
sozinhos.
Vernestra deu tapinhas na mão dele.
— Não é sua culpa, Imri. Ainda estamos em movimento, e podemos
tentar novamente mais tarde.
— Não muito mais tarde, — Avon murmurou. Com o olhar de Vernestra
ela pulou de seu assento. — Vern está certa. Sempre há uma chance de algo
aparecer conforme adentramos o espaço. Deveríamos comer e tentar
descansar enquanto podemos. Foi um dia terrível, mas com sorte temos
boas refeições aqui.
Honesty levantou-se e andou até o armário mais próximo, pegando
embalagens de comida.
— Parece que tudo o que tem aqui é algo chamado ensopado de joppa.
J-6 fez um som como algo entre uma bufada e uma risada. Vernestra
franziu a testa. Droides riam? Ela nunca encontrara um droide com qualquer
tipo de senso de humor.
— Qual o problema, Jota-Seis?
— Avon odeia ensopado de joppa, a droide disse. — Ela comeu isso por
um mês inteiro quando estávamos em Mon Cala durante uma conferência.
Era a única coisa que programei para preparar na época.
— Ela está certa, — Avon disse com um longo suspiro. — Isso fede.
— Todas as aventuras são assim? — Honesty perguntou, olhando para
as embalagens desconfiado.
— Se fossem, disse Avon, ninguém sairia de casa.
Imri sentou-se no assento do copiloto e deixou a sua mente vagar. Ele
não tinha ideia de como pilotar. Ele e Douglas deveriam começar a fazer
pequenos voos após retornarem da inauguração do Farol Estelar, mas agora
isso nunca aconteceria. Um nó formou-se em sua garganta, da mesma
maneira que acontecia sempre que pensava em seu mestre. Douglas
retornara à Força como um herói, mas isso não fazia a dor de sua perda
menor.
Imri observou os controles enquanto Avon e Honesty roncavam nos
fundos. As crianças mais novas caíram no sono logo após comerem, os seus
corpos estavam exaustos por sobreviver à tragédia. Houve um único
momento alegre assistindo Avon tentar engolir o ensopado de joppa. Ela
fizera um grande rebuliço para que todos rissem com o seu sofrimento, mas
agora Imri estava perdido mais uma vez em seu luto. Houveram vários
instrutores no templo quando ele era um Youngling, mas passara os últimos
dois anos com Douglas. A perda do Jedi doía mais do que poderia ter
imaginado. Sabia que se tivesse melhor controle de suas emoções não
sentiria a perda tão profundamente. Mas ele não conseguia evitar.
Imri, sem se afogar! Um Jedi nunca hesita. Ele simplesmente olha para
o problema diante dele, respira fundo, e acredita na orientação da Força.
A voz não era realmente de Douglas, mas a memória de seu conselho
amável era perfeita demais para ser ignorada.
Imri respirou fundo e exalou. Ao lado dele, Vernestra dormia na cadeira
do piloto, pronta para acordar se qualquer alerta fosse acionado. Mesmo no
meio de uma crise após a outra Vernestra tinha sido fria, tranquila e calma.
Ela era apenas dois anos mais velha que ele e já era uma Cavaleira Jedi.
Observá-la trabalhar deixava Imri ansioso e sentindo-se bem mais novo do
que era, como se ainda fosse um Youngling e não um Padawan.
Você não pode se comparar com os outros, Imri. Você pode apenas se
julgar pelos seus próprios esforços.
Imri respirou fundo novamente e exalou antes de fechar os olhos. Se ele
tentasse, podia ver Douglas sorrindo pra ele, encorajando-o a tentar levitar
mais uma vez ou explicando como remontar o seu sabre de luz pela
centésima vez. Mas mesmo enquanto Douglas dera a Imri encorajamento
infinito, sempre havia uma certeza de que Imri podia conquistar tudo o que
precisasse. Lá no Templo, os outros Younglings riam e criticavam Imri
quando não conseguia completar uma lição tão rápido quanto eles, mesmo o
orgulho sendo desencorajado entre os Jedi. Mas Douglas nunca suspirara,
nunca ficara impaciente. Ele apenas ria e mostrava a Imri o exercício de
novo e de novo até o Padawan entender.
Douglas sempre acreditara nele, mesmo se Imri secretamente não
acreditasse que pudesse um dia ser um grande Jedi. Douglas o fizera se
sentir corajoso quando mais nada conseguia.
E agora o Mestre Jedi se fora. O que Imri deveria fazer?
Com os seus olhos fechados e as memórias de Douglas em sua mente,
Imri estendeu-se mais uma vez. Para fora, na escuridão do espaço, na
direção das estrelas, luas e mistérios que deveriam ser revelados por um
sistema de navegação funcionando. E enquanto procurava por um lugar
com vida, um lugar seguro para eles pousarem o transporte, ele foi acolhido
pelas memórias de seu mestre, para que ele se sentisse forte e confiante.
Douglas fora corajoso e inabalável mesmo diante do seu fim.
Imri podia ser o mesmo.
Foi quando ele sentiu. Era como cutucar uma colmeia de qwizer:
barulhento e súbito, cheio de vida escondida infestando tudo.
Imri engasgou e voltou para o seu corpo com um sobressalto, e ao lado
dele Vernestra sentou-se, esfregando os olhos.
— Ei, o que está acontecendo?
— Eu acho, eu acho que encontrei um planeta. Mas não qualquer
planeta, um cheio de vida.
Ela sorriu para ele e assentiu.
— Você pode me mostrar?
Imri assentiu e conectou-se a Força, hesitante de primeira. Mas então
respirou fundo e agarrou, vibrando através da conexão em direção ao lugar
que sentiu antes, com a sua alma lembrando do caminho. Vernestra o seguiu
pelo percurso, e com a ajuda dela ele pôde realmente ver o planeta em sua
mente.
Era um lugar de floresta exuberante, com árvores ancestrais cobertas
por vinhas que pendiam de tudo. Os sons agudos de animais chamando
atravessavam o ar, o qual era quente e úmido. Assim que Imri começou a
suar pela temperatura, a qual era bem mais quente do que aquelas dentro do
transporte, ele voltou para seu corpo.
— Imri! Você conseguiu, — Vernestra disse. Ela jogou o cabelo para
trás dos ombros enquanto inclinava-se para frente e começava a apertar os
botões, adicionando potência aos motores. — Eu posso definitivamente nos
guiar naquela direção, e parece que não é muito longe. Deveríamos estar
direcionados nessa direção o tempo todo, mas sem você nunca saberíamos.
— Ela parou e virou-se para Imri com um sorriso aberto. — Bom trabalho,
Padawan.
Imri corou de felicidade, com as suas bochechas quentes. Talvez ainda
pudesse ser um Jedi. Ele podia fazer isso.
— Obrigado, ele disse. — Então, o que fazemos agora?
Vernestra terminou de virar os interruptores e apertar os botões, e então
recostou-se com um bocejo.
— Agora, esperamos.
Avon acordou e encontrou Imri sentado na cadeira do copiloto e
Vernestra explicando baixinho sobre os vários interruptores e botões para
ele. De frente à ela no outro banco, Honesty estava sentado roncando, com a
sua boca aberta de uma maneira que faria Avon rir se não sentisse pena
dele. Ele era estranho, mas Avon não podia dizer se era porque todos os
Dalnans eram um pouco estranhos, com as suas roupas simples e
desconfiança de estrangeiros, ou porque o seu luto o deixara tenso e
inacessível. Ela tentava não julgar, mas isso era o que uma mente científica
fazia: julgava, avaliava, analisava. J-6 costumava sempre a castigava pelo
jeito de como falava de etiqueta:
— Não é necessário você analisar o por que dos Mon Calamari achar
ofensivo espirrar alto, só precisa saber que é assim como se sentem. Nem
tudo precisa de investigação, Avon.
Mas o que J-6 não entendia era que tudo precisava disso. Avon
queimava para entender o porquê das coisas tanto quanto queria entender
como, e quando não havia respostas, uma sensação aguda de frustração a
levava a fazer coisas irracionais para descobrir as respostas. Era por isso
que a sua mãe a exilara em Porto Haileap.
— Talvez nos limites da galáxia você encontre o que está procurando,
querida, Ghirra Starros dissera exasperada enquanto enviava a sua única
filha para longe. — Eu tentei te ensinar diplomacia, e está claro que você só
está interessada nessa perseguição descuidada por ciência. Porto Haileap
tem um laboratório provisório, e a Professora Gleena Kip compartilha
algumas de suas questões sobre a Força e a vida em geral. Será bom para
você ter uma mentora que tem mais em comum com você.
Mas quando Avon chegou, a Professora Kip saíra em busca de algum
artefato, então Avon foi deixada à própria sorte, Douglas com prazer a
acrescentou às lições que dava a Imri, mesmo Avon não tendo um pingo de
sensibilidade à Força. Mas passar o tempo com Imri apenas deixou Avon
mais curiosa sobre a Força e os cristais kyber dos Jedi. Eles eram uma fonte
de energia quase ilimitada, e as aplicações possíveis eram infinitas. Não
fazia sentido que eles não tivessem sido explorados por mais do que apenas
os Jedi.
Então Avon seria a primeira a analisar os cristais e as suas propriedades.
Ela usaria as suas descobertas para enviar a sua inscrição na Universidade
de Coruscant e então poderia ir pra casa. Não mais ficar presa no meio de
lugar nenhum. Poderia ir pra casa e comer peixe hela frito no jantar, jogar
wicket e todas as outras coisas que faziam de Coruscant incrível. Coisas que
não existiam em Porto Haileap. Coisas como civilização.
Ela não estaria presa em um transporte com suprimentos diminuindo
rapidamente se ela nunca tivesse deixado Coruscant. E a realização a deixou
com vontade de chorar.
— Ei!
Avon virou-se na direção onde os Jedi sentavam-se na dianteira do
transporte, os dois voltaram-se em seus assentos para olhá-la.
— Você está com fome? — Perguntou Vernestra.
— Subitamente há algo além de ensopado de joppa? Pode usar a mágica
da Força para fazer algo realmente bom? — Avon foi mais afiada do que
pretendia, e respiro fundo para digerir o seu temperamento. Era sua própria
culpa ter sido enviada para Porto Haileap. A única pessoa com quem
poderia ficar brava era ela mesma.
— Não, Imri disse com um sorriso, alheio ao temperamento dela. —
Mas a boa notícia é que estamos quase em um planeta.
— O quê, sério? — Avon desceu do banco e levantou-se para poder ver
a janela dianteira. Lá, reluzindo no meio da janela estava uma pequena,
exuberante orbe verde que parecia orbitar uns dois planetas.
— Eu acho que é uma lua, na verdade, e é bem pequena, Avon disse,
com o seu ânimo despencando mais uma vez com a visão. — São duplo
gigantes gasosos?
— Certamente parece isso, disse Vernestra. — Já que ainda estamos no
sistema Haileap suponho que sejam Nixus e Neralus. O que significa que
não há nada por perto. E com as comunicações fora do ar não temos como
saber antes de pousar.
— Certo, nova pergunta. Por que alguém tentaria nos matar? — Avon
disse. Ela esteve revirando os fatos que sabia em sua cabeça, e não
conseguia encontrar uma única razão para tudo o que acontecera. Quanto
mais pensava sobre, mais o coração de Avon batia mais forte. Não por
medo, mas com animação. Isso era um mistério a ser resolvido, e uma
resposta a ser encontrada. Ela sabia o que, mas quem e por que era uma
incógnita.
— Não sabemos disso, — Vernestra disse, rápido demais, e Avon
inclinou a cabeça para a garota mais velha.
— A Força não a deixa ver o passado? Você não consegue descobrir por
que a Asa Firme foi destruída? O que eram as explosões?
Vernestra corou.
— Há alguns Mestres Jedi que podem usar a Força dessa forma, mas
não, eu não consigo. E além do mais, que diferença isso faz? Temos
problemas maiores diante de nós. Isso pode ter sido uma Emergência, Avon,
nada mais. Apenas outro terrível acidente que ninguém poderia ter previsto.
— Você não acredita nisso, — Avon disse. — Discutimos isso. Se fosse
uma Emergência o padrão de destruição seria diferente.
— Avon, — Vernestra suspirou. — Por que isso importa?
— Importa porque alguém matou o Douglas e o pai de Honesty, —
Avon disse, incapaz de acreditar que Vernestra podia ser tão indiferente. —
Além do mais, se foi um ataque, como sabemos que estamos seguros? E se
alguém está apenas esperando para nós pousarmos e terminar o serviço?
— Ninguém está nos seguindo. Eu saberia, — Imri disse, e Avon sentiu-
se terrível. Ela esquecera de que Imri examinara os destroços da Asa Firme
procurando sobreviventes e então novamente por qualquer sinal de vida
entre as estrelas.
Mas então outro pensamento lhe ocorreu.
— E se eles enviaram droides atrás de nós? Você não seria capaz de
sentir isso.
— Isso é um pouco exagerado, — Vernestra disse, franzindo a testa. E
então balançou a cabeça. — E se alguém ainda estivesse atrás de nós, nos
preocuparemos com isso quando precisarmos. Eu tenho o meu sabre de luz,
e Imri tem o dele, também. Não vamos para o hiperespaço, e devemos estar
bem longe de qualquer nódulo que não deveríamos ver mais Emergências.
Qualquer outra coisa, Imri e eu podemos dar conta. Podemos manter todos
em segurança.
Avon bufou. Ela sabia o que Vernestra estava fazendo, tratando-a como
uma criança com medo do escuro. Os Jedi estavam preocupados, também;
as linhas na pele verde da sua testa que apareceram durante a fuga da Asa
Firme ainda estavam lá, mas de alguma forma pensou que ao tranquilizar a
Avon, podia manter a garota calma. Avon não estava assustada, no entanto.
Ela estava brava.
— Você não quer descobrir quem matou o Douglas? Ele morreu porque
estava tentando nos salvar. — Avon não podia acreditar que nenhum dos
Jedi queria vingança. Se alguém que ela amasse fosse ferido, vingança seria
a única coisa que Avon desejaria. Havia uma antiga história de família que
Caden Starros, o bisavô de Avon, seguira um inimigo até Orondia para
conseguir se vingar após o homem roubar a sua nave e deixá-lo encalhado
em uma lua menor. Se a história era verdadeira ou não, parecia mais sensato
a Avon do que apenas esquecer a injustiça.
Imri deu a Avon um sorriso triste.
— Os Jedi não acreditam em vingança. A vingança e a raiva pertencem
ao lado sombrio, e os Jedi são luminosos. Tudo o que acontece deve
acontecer. A Força trabalha de formas misteriosas, mas a parte de ser um
Jedi é confiar na Força mesmo quando é difícil.
Vernestra assentiu e deu um tapinha no braço de Imri, mas Avon jogou
as mãos para o alto indignada e voltou para onde estava sentada no banco
ao lado de J-6.
— A Força é muito estranha, — J-6 disse.
— Com certeza é, Avon murmurou, cruzando os braços.
Enquanto estava sentada no banco considerando a possibilidade de
sabotagem e perigos futuros, os olhos de Avon caíram sobre o sabre de luz
de Imri. Enquanto Vernestra mantinha o dela em um coldre nos quadris,
Imri tinha tirado do seu coldre e tabardo formal. Ambos estavam enfiados
em um cubículo do outro lado, um cubo de armazenamento feito para
cobertores.
Avon encarou o sabre de luz e um pensamento se formou. Ela poderia
ser capaz de fazer algo útil nessa viagem, afinal.
Honesty acordou com Avon parada acima dele. A garota de pele
morena o observava como se fosse algum tipo de espécime de laboratório,
com as suas sobrancelhas juntas e os seus lábios franzidos em confusão. Era
desconcertante, e Honesty sentou-se, estava com os membros se debatendo
enquanto lutava para se endireitar.
— O quê? — Ele disse, uma tensão evidente em sua voz. Havia algo de
errado com seu rosto?
— Você estava chorando, — ela disse simplesmente, completamente
imperturbada pela súbita agitação dele.
— E? Isso não significa que você precisa me olhar assim.
Ela deu de ombros, o movimento fluído.
— Eu não tinha certeza se estava acordado ou dormindo, no entanto,
então estava tentando descobrir antes de fazer algo. De qualquer forma, não
precisa ficar envergonhado por chorar. É perfeitamente normal. Você
deveria estar contente por ter descoberto e não um dos Jedi, do contrário te
dariam uma aula sobre a Força e tentariam te fazer meditar. — Avon fez
uma careta. — Você sabe quantas vezes Vern me fez apenas sentar, contar
minhas respirações e visualizar a luz? Não, obrigada.
Honesty não disse nada, e eventualmente ela jogou as mãos para o alto.
— De qualquer forma, pousamos numa lua, e você conseguiu dormir
durante isso. É quente e úmido e bem horrível, e ainda podemos morrer,
mas pelos menos não será no espaço.
E com isso ela virou-se nos calcanhares e saiu pela rampa de acesso, o
que deixou a luz do sol entrar e fez os olhos de Honesty lacrimejarem com a
intensidade.
Ele não a seguiu imediatamente, ao invés disso deu um tempo a si
mesmo para recolher os seus pensamentos. A garota deixara Honesty
nervoso. Não era apenas por ela ser esperta e segura de si; era por ela ser
imprudente. Ela não pensava nas regras como todos os outros faziam. A
única coisa que Honesty amava eram diretrizes. Havia uma ordem nas
coisas, e Honesty ficou radiante quando descobriu onde esses limites
estavam. Havia um conforto na ordem, e como a maioria dos Dalnans, ele
odiava o caos. Essa viagem inteira fora uma catástrofe após a outra, e a
última coisa de que precisava em sua vida era alguém como Avon Starros,
que parecia ser um ímã de caos, uma daquelas pessoas que não só
procuravam um pandemônio, mas o recebiam em suas vidas e faziam
chover em todos ao redor deles.
Não era como se Honesty culpasse Avon por tudo o que aconteceu com
a Asa Firme, mas sabia que quanto mais cedo pudesse sair de perto da
garota, melhor.
Se julgar alguém por suas expectativas ao invés das suas ações, você
sempre ficará desapontado.
Honesty engoliu em seco pela súbita memória de seu pai. O Embaixador
Weft sempre insistira para o seu filho ser mais paciente, especialmente em
seu julgamento dos outros. Um caroço formou-se na garganta de Honesty
quando percebeu que o seu pai nunca mais o criticaria novamente.
Honesty respirou fundo e se acalmou. Ele daria uma chance para Avon
Starros e o resto de seus companheiros. Ele não faria julgamentos
precipitados. O seu pai podia ter morrido, mas Honesty podia honrar a
memória dele ao aceitar o seu conselho de coração. Por isso se alongou e
levantou-se, ombros erguidos, enquanto marchava para enfrentar o que o
dia traria. Não deixaria um contratempo o atrasar, como o seu pai sempre
advertia.
Honesty espreitou a claridade cegante do dia além da porta do
transporte. Ele piscou enquanto os seus olhos lacrimejavam mais,
ajustando-se à luz. Assim que o fizeram, encarou maravilhado a área ao
redor dele. Eles pousaram nos limites de uma clareira de grama amarela
quase da altura da cintura gentilmente tremulando. Mas a apenas alguns
metros além do campo havia uma densa selva. Vinhas tão grossas enroladas
nas copas das árvores, quanto os braços de Honesty, as quais eram estranhas
com as suas folhas largas e lisos troncos brancos. Pequenas criaturas
voavam entre as árvores, com a sua pelagem em tons perolados e vibrantes.
O céu era de uma tonalidade lilás clara, e um planeta gigante com listras
marrons e laranjas pendia lá, pairando sobre tudo, fazendo-o se sentir
pequeno e incerto. Honesty nunca vira algo como aquilo, e o encarou até
alguém colocar a mão em seu ombro.
— Desculpe, não quis assustá-lo, — Imri disse com um pequeno
sorriso. — O único lugar que pudemos pousar o transporte foi aqui, mas
achamos que isso pode ser uma várzea. Vern quer que subamos através da
selva para ver se o terreno mais alto pode ser seguro, no caso de uma
tempestade.
Ambos os Jedi haviam removido os seu capotes com capuz e então
vestiam apenas calças marfim e túnicas com botas marrom claras. O sabre
de luz de Vernestra pendia de um coldre em seu quadril, enquanto Imri
segurava o dele nas mãos carnudas que faziam a arma parecer um
brinquedo. Eles pareciam capazes e prontos, e Honesty sentia o exato
oposto.
— Ela quer entrar ali? — Honesty perguntou, falhando em esconder o
seu medo. Era uma boa ideia encontrar terreno mais alto, e algo que o seu
instrutor de sobrevivência em Dalna teria insistido, também. Mas a selva
era formidável. Pouquíssima luz permeava as copas espessas, então a área
entre as árvores parecia impossivelmente escura e sinistra. Não parecia
muito seguro. Era parte da aventura tomar a pior decisão possível, apenas se
jogar contra o perigo? Com razão a maioria dos Dalnans não tinha
absolutamente nenhum motivo para viajar. Continuava a ficar cada vez pior.
— Vamos caminhar junto dos arredores, — Vernestra disse, andando na
direção de Honesty para responder a pergunta dele. — Se você olhar pode
ver como a grama faz uma espécie de trilha? Isso provavelmente significa
que essa área se torna um rio durante as chuvas pesadas. Essas árvores têm
folhas muito densas e o ar aqui é bem úmido. Se eu escutar com atenção
posso sentir os animais pensando sobre descansar e as plantas conversando
sobre enterrar as suas raízes para não serem arrastadas, então isso muito
provavelmente significa que as chuvas pesadas são algo comuns aqui.
Terreno alto será nossa melhor aposta, e mais segura.
Honesty olhou ao redor da lua, absorvendo a paisagem mais uma vez.
Os Jedi entenderam isso tudo da grama, algumas árvores, e alguns animais
coloridos? Ele sentiu-se irritado por estar tão despreparado e também um
pouco impressionado pelas habilidades deles. A menos, é claro, que ela
estivesse inventando tudo isso, mas não queria dizer isso.
— Aqui. — Avon empurrou uma mochila para Honesty. — Essa é para
você.
Ele pegou a bolsa e a olhou curioso.
— O que é isso?
— Comida e alguns outros suprimentos, — ela disse. Honesty notou
que a sua mochila era levemente menor do que a de Avon, e a droide não
tinha mochila nenhuma. Antes de poder perguntar o que havia na mochila
dela, Avon continuou. — Estamos levando tudo conosco e com sorte
encontraremos um lugar para descansar durante a noite, e então amanhã eu
e Vern voltaremos aqui para ter certeza de que o sinal de emergência está
ativo.
— Vocês discutiram tudo isso enquanto eu dormia? — Honesty disse,
sentindo-se deixado de lado.
— O seu pai morreu, — Avon disse com franqueza.
— Avon! — Vernestra exclamou. — Por favor, seja mais sensível.
A garota parecia um pouco confusa pela repreensão.
— A dissertação da filósofa Grat Resa sobre o luto diz que reconhecer o
falecimento de um ente querido é importante para o processo de cura. A
outra parte do processo de luto é descansar o suficiente. A perda pode ser
desgastante emocionalmente. Você dormir era uma coisa boa para o seu
corpo. Isso não era pessoal.
— Ciência não substitui a emparia, — Avon, Vernestra disse
suavemente, e Avon ajustou a sua mochila desconfortável.
— Oh. — Ela virou-se para Honesty, que estava realmente tentando
muito não dizer algo para a garota que se arrependeria depois. — Desculpe,
— ela disse. — Eu estava tentando ajudar.
Honesty assentiu distraído, porque a gentileza dela era de alguma forma
pior.
— Obrigado.
— Estamos prontos? — J-6 perguntou impaciente. — Meus sensores
indicam que há uma chance de vinte por cento de chuva, e isso continuará a
aumentar enquanto o dia passa. E eu não gosto de lama.
— Bom, então vamos, — Vernestra disse alegremente, claramente
querendo deixar o momento para trás. Honesty queria não gostar da garota
mais velha. Ela era um pouco mandona, mas havia algo caloroso e acessível
nela. Sorria o tempo todo. Por mais que Avon o deixasse um pouco
desconfortável, Vernestra o deixava pronto para seguir qualquer sugestão
dela. Era estranho, mas Honesty não considerou o sentimento muito
profundamente. Ele lembrou a si mesmo ser muito rápido para julgar, e
então resolveu mais uma vez tentar manter a mente aberta. Não que fosse
fácil.
De qualquer modo, não era como se pudesse simplesmente decidir
ignorá-los. Estava preso com os três desde Porto Haileap até saírem da lua.
E depois disso? Casa. Tudo o que Honesty queria era ir pra casa, onde
era seguro e previsível.
O grupo deles começou a andar, Vernestra liderando o caminho. Imri
ficou no fim da fila, mas Honesty não conseguia sentir-se seguro com o
outro garoto caminhando atrás dele, ele parecia aterrorizado. Se Honesty
estivesse em um clima mais magnânimo ele poderia perguntar ao Padawan
ele estava bem, mas Honesty estava um pouco cansado das coisas
acontecendo com ele. Sentiu como se a corrente da vida estivesse o
carregando, primeiro o pressionando para deixar a sua casa a bordo da Asa
Firme e então o colocando em rota de colisão com o perigo. Desejava forjar
o seu próprio caminho, mas mesmo quando tentara fazer isso com o seu
treinamento de guerreiro acabara em uma missão diplomática ao invés de
passar por sua Metamorfose.
Mas agora não era definitivamente a hora de fazer grandes declarações.
Temia o que poderia acontecer. Os Jedi supostamente tinham um tipo de
poder supremo do lado deles, e independentemente de Honesty acreditar
nisso ou não, os Jedi acreditavam; então decidiu ficar mais seguro ao segui-
los do que tentar se arriscar sozinho.
O grupo começou a andar, e o tempo parecia passar mais devagar.
Honesty assistiu o brilho da droide à frente dele, Avon cutucando árvores
incomuns pelo caminho e J-6 tentando evitar as poças, especialmente as
traiçoeiras, enquanto andavam. Por um tempo foi capaz de convencer a si
mesmo de que estava em outro treinamento com o seu grupo exterior, mas
após cerca de uma hora andando, ele encontrou dificuldade em pensar em
qualquer coisa além do quanto não queria estar naquela lua aleatória com
pessoas que não conhecia e um droide que parecia ter as suas próprias
intenções.
Um pequeno movimento à sua esquerda chamou a atenção de Honesty,
e se virou para espreitar as sombras embaixo das árvores de folhas largas.
Deu uma olhadela dentro da escuridão, com os seus pés parando enquanto
olhava. Imri chegou por trás, e Honesty debateu-se para se manter de pé.
— Ei, desculpe por isso, — o Padawan disse, com as suas bochechas
corando.
— Está tudo bem. Você viu aquilo? — Honesty perguntou, apontando
na direção de onde os galhos mais baixos das árvores se moviam como se
tivessem sido mexidos.
— Vi o quê?
Honesty observou o ponto onde vira o movimento. Podia jurar que viu
algo brilhante, de tom magenta, muito mais luminoso do que os primatas de
pelo colorido que pulavam de árvore para árvore. Mas o que quer que fosse
tinha sumido.
— Nada. Deixe pra lá, — Honesty disse.
Eles continuaram andando.
Após o que pareceram horas caminhando, a paisagem parecia
exatamente a mesma. As árvores ainda mais juntas umas das outras, e a
várzea pela qual atravessavam não se tornara nem mais ampla, nem mais
estreita. A única coisa que mudou foram as nuvens raivosas se formando no
horizonte, as quais agora ferviam em cinza escuro, faixas de raios rosa e
roxo cortando o céu a cada batimento cardíaco.
— Deveríamos talvez tentar dentro da floresta? — Honesty perguntou.
Ele olhou para trás para o caminho pelo qual vieram, mas o transporte
estava longe demais para ver, um testemunho de quão longe viajaram,
mesmo enquanto ainda andavam pelo gramado mais plano da várzea. —
Podemos ter uma chance maior de encontrarmos algum tipo de abrigo lá. —
Ele não gostava de como estavam expostos na várzea. O clarão rosa
brilhante surgiu, e quanto mais Honesty pensava nisso, mais pensava em ter
visto alguém. Era possível, certo? Os Jedi disseram que ninguém
sobreviveu ao desastre da Asa Firme, mas alguém poderia ter sobrevivido.
Eles podiam ter sofrido um acidente com o transporte na lua assim como o
grupo de Honesty teve. Quem sabe.
Esperançosamente.
— Honesty está certo, — Avon disse, espreitando o horizonte. Ela
parou, tirando a mochila das costas e a abrindo. Ela removeu um par de
óculos e os colocou. Honesty não tinha fazia de onde a garota os conseguiu,
mas ele viu pares similares com os homens da infantaria que treinavam no
complexo militar em Dalna. Eles geralmente eram conectados a droides
batedores que se distanciavam dos seus usuários para examinar a área.
Avon virou-se lentamente em um círculo, e todos pararam para observá-
la.
— As leituras locais indicam que uma tempestade irromperá nos
próximos minutos, e estaremos ensopados se não encontrarmos abrigo.
Vernestra colocou a mão no quadril.
— Onde você arranjou isso?
— Enquanto você e Imri pousavam o transporte de manutenção, eu me
adiantei e vasculhei o kit de ferramentas. E já que sou a escolha óbvia para
oficial de ciências nessa viagem, peguei esses, — Avon disse antes de
levantar os óculos e deixá-los na testa.
— O que mais você pegou? — Vernestra disse, com um fio de irritação
em sua voz. Honesty não conhecia os Jedi muito bem, mas julgando pela
cor em suas bochechas verdes, ela estava definitivamente agitada. Os Jedi
se irritavam? Honesty não sabia, mas achou a ideia muito interessante.
— Apenas esse carinha, — Avon disse, puxando um pequeno droide
redondo de sua bolsa. Era pequeno o bastante para caber na mão da garota,
mas por pouco. Agora Honesty sabia porque a mochila dela parecia mais
pesada do que a dos outros. Ela carregava um droide batedor o tempo todo.
Honesty não sabia se estava impressionado, porque os droides batedores
eram pesados e Avon não reclamara uma vez sequer sobre o ritmo, ou
estava ainda mais desconfiado da garota. Ela conseguira confundir até
mesmo um Jedi, e até onde Honesty entendia as coisas, eles sabiam de tudo.
— Avon, — Vernestra começou, mas a garota a interrompeu com um
aceno de mão.
— Não fique brava, Vern. Eu queria dar a você e Imri uma chance de
usar a Força antes de eu resolver nossos problemas com ciência, — Avon
disse, apertando um pequeno botão e ativando o droide. A bola desdobrou-
se, revelando um pequeno droide voador com quatro membros como garras
e dois grandes sensores que pareciam olhos. Ele voou no ar, pairando ao
lado de Avon e bipando uma série de tons altos e baixos que Honesty não
conseguia decifrar. Não haviam muitos droides em Dalnan; os colonos
tendiam a confiar apenas em seus próprios dispositivos, e os droides eram
caros. Mas Honesty vira droides batedores como esse antes, e algo nele se
desprendeu numa visão familiar.
Avon inclinou a cabeça como se estivesse escutando o que o droide
dizia a ela.
— O pequeno Essedê aqui têm só meia carga, e ele já avaliou a
paisagem e descobriu que o terreno mais alto é naquela direção. — Ela
apontou diretamente para a selva. — Então, ponto para a ciência.
— A Força e a ciência não estão em conflito, — Imri disse, com a sua
expressão meio surpresa, meio irritada combinava com o que Honesty
sentia. Se Avon tivesse mencionado o droide antes de começarem a andar
eles poderiam ter encontrado abrigo horas antes.
— Não, mas ninguém queria entrar ali, — Avon disse, ainda apontando
para a densa selva. — Então, seguir esse caminho através da várzea nos
permitiu perceber que o único caminho correto era o menos desejável.
Vernestra piscou.
— Eu não gosto de como isso faz sentido.
— Realmente parece... lógico, — Honesty disse no longo silêncio.
— A aparentar razão não faz automaticamente algo razoável, — J-6
disse, com os seus braços cruzados. — Mas nesse caso Avon tem um forte
argumento para não esperarmos e ficarmos ensopados. Ainda não tenho
fascínio pela lama.
— Ótimo, então, para as árvores, então? — Avon perguntou
alegremente. Havia um leve tremor nas mãos da garota que traía o seu
comportamento animado. Ela estava assustada, assim como Honesty, mas
escondia os seus medos atrás da lógica e procedimento. — Vern, acho que
você e o Imri deveriam liderar o caminho.
Vernestra assentiu e puxou o seu sabre de luz, Imri fez o mesmo. O
sabre de luz dela iluminou-se em um roxo brilhante, enquanto o de Imri era
de um azul tão pálido que era quase branco.
— Você ainda está com dificuldades com o seu sabre de luz? —
Vernestra perguntou, e o garoto deu de ombros.
— Douglas diz, dizia, que se resolveria se eu continuasse trabalhando
nele. Não é tão forte quanto deveria, mas deve cortar plantas. — Ele parecia
envergonhado pela confissão, e Honesty fez uma anotação mental para
perguntar ao Padawan sobre o sabre de luz mais tarde. Poderia ser uma boa
chance de conhecê-lo melhor.
Os dois Jedi começaram a cortar as vinhas e os galhos baixos, tentando
abrir caminho através da densa vegetação rasteira e criar uma trilha
atravessando a selva. Pequenos animais fugiam em todas as direções, com
os seus gritos barulhentos quase abafando o som de trovões ao longe.
Honesty engoliu em seco e tentou ignorar a tristeza esmagadora que
ameaçava enterrá-lo. Os Jedi tinham a Força para confiar e Avon tinha a sua
ciência, o que fazia Honesty se perguntar, o que ele tinha? Como
sobreviveria a essa provação?
— Ei, eu peguei algo para você, também, — Avon disse, esgueirando-se
ao lado de Honesty. Ela segurava um pequeno blaster, o metal brilhando
com propósito sinistro. — Só por garantia.
— Obrigado. Humm, você sabe como usá-lo? — Honesty pegou o
blaster e o colocou no bolso de suas calças cáqui após se certificar de que
estava com a trava de segurança. Ele podia não ter a ciência ou a Força para
recorrer, mas ele passara os últimos cinco anos de sua vida se preparando
para ser um oficial de combate médico.
Avon sorriu.
— Eu li as instruções.
Honesty ficou sério.
— Eu posso mostrar a você como usar em segurança? — Ele perguntou,
e Avon iluminou-se.
— Sim, isso seria excelente, — ela disse. Primeiramente, pensou que
talvez ela estivesse sendo sarcástica, mas quando ela o olhou com
expectativa, percebeu que estava sendo sincera.
Não, Honesty podia não ser um Jedi, e não era um gênio da ciência, mas
tinha treinamento, o tipo de lições que ninguém mais no grupo podia
ostentar. Usaria cada parte de seu conhecimento que pudesse para
sobreviver essa missão, essa aventura. E talvez ao compartilhar esse
conhecimento pudesse deixar o seu pai orgulhoso.
Era a primeira vez que Honesty se sentia otimista desde a destruição da
Asa Firme, e ele se agarrou com força àquela emoção e esperava que isso o
ajudasse a superar o dia.
Vernestra assumiu a liderança, puxando o seu sabre de luz e usando o
para limpar a vegetação mais pesada enquanto SD-7, o droide batedor
encontrado por Avon no transporte de manutenção, percorria o caminho à
distância, procurando uma trilha com menos resistência. Mesmo com o
sabre de luz de Vernestra limpando o caminho, o feixe roxo claro brilhava
nas sombras pesadas sob as copas, ainda era um avanço lento. Eles teriam
sorte se achassem abrigo nas próximas horas, se encontrassem.
Vernestra começava a reavaliar o seu plano. Pensava que seria fácil o
bastante encontrar um lugar para deixar as crianças, aconchegadas para que
ela e Imri pudessem estabelecer um sinal de emergência mais permanente
do que aquele padrão do transporte e procurar por alimentos, mas esse não
seria o caso. Todo esse tempo Vernestra olhara para Avon como pouco mais
do que uma criança precoce, mas a realidade era que ela era brilhante,
talvez mais do que alguém notara.
Não, isso não era verdade. Douglas frequentemente dissera a Vernestra
que Avon era um gênio.
— Se alguém pode resolver um problema com alguns pedaços de fios e
um pouco de goma gimer, é aquela garota. Não a subestime, Vern. — E
ainda assim, ela o fizera.
Ela não cometeria esse erro novamente.
O braço de Vernestra ficou pesado enquanto a exaustão começava a se
instalar nela. Ela estava cansada. Ela nunca usara a Força para nada tão
grande, tão importante quanto no dia anterior, e os efeitos faziam os seus
ossos doer e os seus olhos queimavam de cansaço. Ela era péssima em
renovação através da meditação, e ela fez uma nota mental para trabalhar
em sua técnica o mais breve possível. Era um lembrete humilde de que ela
não estava nem perto da perfeição.
Mas não importa o quão cansada estava, precisava continuar. Se Imri
não estivesse lá, usaria as capacidades totais de seu sabre de luz para limpar
um caminho bem maior, mas nunca mostrara a ninguém as modificações
que fizera, e estava... preocupada.
Porque seu sabre de luz era mais do que parecia. Era na verdade um
chicote de luz.
Vernestra nunca estivera tão preocupada com algo antes. Quando
criança fora para o templo quando era muito jovem, a sua família ficou feliz
quando descobriu a sua sensibilidade à Força. Para os Mirialanos, ser
sensitivo à Força era motivo de celebração, e conhecera a outros Mirialanos
tão ousados ao ponto de dizer a ela tamanha a honra era ter sido escolhida
pela Força para ser uma Jedi.
Quando acordara no meio da noite uma semana após chegar ao Porto
Haileap com uma necessidade urgente de modificar o seu sabre de luz em
algo estranho, Vernestra não questionara o seu sentimento. E mais tarde,
quando vira o que suas mudanças fizeram com a arma, teve certeza de que
era o que a Força demandara. Vernestra não sabia o porquê; a Força
raramente dava instruções explícitas, mas agora se perguntava se a
modificação fora para esse momento.
Mas como explicaria para Imri a estranheza de sua arma? O garoto não
tinha mestre, e não queria guiá-lo pelo caminho errado. Porque embora
Vernestra sentisse que a sua conexão com o lado luminoso da Força era
forte, sempre havia a atração do lado sombrio. E se a sua arma não ortodoxa
desviasse Imri? Ela podia sentir a indecisão nele desde a morte de Douglas,
um questionamento puro que parecia dissonante do resto de seu ser, e faria
todo o possível para ter certeza que ele não tivesse motivo para sentir a
tentação da escuridão.
O sabre de luz chiou, afastando Vernestra de seus pensamentos, e no
início pensou ser apenas a seiva das vinhas penduradas. Mas o som ficou
mais frequente, ela percebeu que seu tempo acabara. Estava começando a
chover.
— Certo, Essedê encontrou algo, Avon disse. — Há uma caverna, mas a
abertura é pequena. Mas pode ser útil se conseguirmos cavar um pouco.
— Deveríamos tentar lá, — Imri disse, franzindo a testa para o céu que
não conseguia ver. — Essa tempestade parece ser ameaçadora.
Vernestra cortou mais rápido, açoitando o seu sabre de luz ao redor em
um borrão lilás. Imri estava certo. Havia algo sobre essa chuva próxima que
parecia sombrio e agourento, até mesmo perigoso, e não queria estar ali
quando não fazia ideia do que causava a sensação. Talvez fossem apenas os
eventos do dia anterior a alcançando, mas ela queria abrigo, comida e uma
chance de dormir. Dormir de verdade, não os cochilos irregulares que tirara
no transporte.
Mas então Honesty gritou alarmado, e todo mundo virou-se para olhá-
lo.
— Isso queima, — ele disse. Ele levantou o seu braço, onde uma gota
de chuva caíra em sua manga, abrindo um buraco no tecido e deixando as
bordas chamuscadas.
— Gah, ele está certo, — Avon disse, abaixando a cabeça e correndo de
volta para o lado de J-6. — Onde está o nosso guarda-chuva?
— Que tal um, por favor? — J-6 disse. Um compartimento em seu peito
se abriu, e uma haste prateada estendeu-se para fora e sobre a sua cabeça.
Houve um estalo quando um domo azul de energia foi emitido da esbelta
vara, criando uma tenda de cobertura.
— Venha até aqui, Honesty. A menos que tenha poderes da Força para
protegê-lo, também, — Avon disse, empurrando os óculos para a testa.
Vernestra percebeu que inconscientemente estava usando a Força para
impedir gotas de chuva aleatórias de a acertarem, e um olhar para Imri
revelou que ele fazia o mesmo.
Mas usar a Força dessa maneira não era duradouro, então Vernestra
cortou algumas folhas largas e usou a Força para levitá-las sobre as cabeças
dela e de Imri. Isso os manteria secos.
Honesty se apertou junto de Avon e J-6, e os três caminharam em frente
desajeitadamente. O pequeno droide batedor voou de volta através das
árvores, apitando uma alegre melodia.
— Vá em frente e siga o Essedê. Ele os levará até a caverna que
encontrou. Eu posso rastrear o sinal dele, e iremos alcançar vocês, — Avon
disse para os Jedi, olhando para a chuva com preocupação.
— Nós podemos rastrear o progresso deles também sem problemas, —
Honesty disse, apontando para o galho chamuscado, a consequência dos
cortes e retalhos de Vernestra. — Algo mais importante, essa área inunda?
— Honesty perguntou, olhando em volta para o chão.
— Esperamos que não, — Vernestra disse. Se a chuva era cáustica o
bastante para queimar as roupas, então um rio corrente dessa coisa seria
desastroso para qualquer forma de vida orgânica não nativa. Matéria bruta
eles podiam ser, mas ninguém queria acabar derretido por uma chuva.
— Imri, venha comigo, — Vernestra disse antes de redobrar os seus
esforços na folhagem bloqueando o seu caminho. Os dois começaram a
cortar a vegetação densa, e enquanto faziam isso o ritmo da chuva
aumentou de intermitente para mais regular. As folhas largas sobre as suas
cabeças ficaram mais pesadas, e Vernestra teve de se concentrar em se
assegurar que as folhas permanecessem em um ângulo para que a água
pudesse se derramar sem danos. O mau pressentimento o qual Vernestra
tinha sentido floresceu em pavor, o sentimento de um fardo pesado dentro
dela. Ela podia limpar o mato mais rápido, mas isso significaria mostrar a
verdadeira natureza de seu sabre de luz. Ela olhou para Imri. Ele estava
decidido usando sua lâmina para cortar através dos arbustos. Mas ele
parecia tão cansado quanto Vernestra.
Ele podia lidar com a verdade.
— Imri, pra trás, — Vernestra disse. Eles avançaram o bastante para
longe dos outros para não ter mais ninguém ao redor para ver o que estava
prestes a fazer, e um pouco da ansiedade de Vernestra se esvaiu. — Eu
posso fazer isso bem mais rápido, mas preciso que saia do caminho.
— Vern, do que está falando? — Ele perguntou, mas ainda assim deu
alguns passos para trás como ela pediu.
— Observe. — Vernestra girou o anel frontal em seu sabre de luz, e a
lâmina única quebrou e dividiu-se antes de cair em um fio sinuoso de luz
roxa. Vernestra girou o chicote de luz para que o feixe mortal cortasse
através da vegetação à frente dela, limpando o caminho como ela e Imri
estavam fazendo em uma fração do tempo.
— Espere, como você descobriu como fazer isso? — Imri perguntou.
Ele não soava crítico sobre a arma incomum, apenas curioso. — Você
estudou um dos arquivos das armas de luz?
— Não, o projeto inteiro veio até mim no meio da noite algumas
semanas atrás. Eu não conseguia dormir até terminar a modificação. —
Vernestra brandiu o chicote em uma figura oito horizontal, deixando a
brilhante lâmina violeta trabalhar a partir do momentum residual. Ela
começara a treinar com o chicote em segredo, e mesmo Douglas não sabia
das modificações em seu sabre de luz. Imri era o primeiro a ver.
— Chicotes de luz são usados pelas Irmãs da Noite, — ele disse.
Vernestra virou-se para olhar Imri com o canto do olho. Ela aprendera bem
cedo que o chicote precisava de mais atenção e cuidado do que o sabre de
luz. Um movimento errado e poderia cortar um de seus próprios membros.
— Durante as Guerras Sith os Jedi também usavam chicotes de luz, —
Vernestra disse, limpando o caminho e andando em frente em um ritmo
mais acelerado. Conversa filosófica ou não, eles ainda tinham um temporal
intenso os ameaçando, e não podiam levitar as folhas sob as suas cabeças
para sempre. — Você leu os testemunhos de Cervil, a Estranha? Ela afirma
que o chicote foi usado algumas vezes para defesa contra os Lordes Sith
que usavam as Formas Proibidas. Além do mais, eu fui levada a esse
modelo pela Força. Eu não posso acreditar que o lado sombrio direcionou
na sua construção. Você sentiu alguma dessa raiva e desarmonia em mim?
— Vernestra não mencionou que não contara a mais ninguém sobre a
mudança em seu sabre de luz, nem mesmo ao seu antigo mestre, Stellan
Gios. O Padawan não precisava saber tudo.
Imri balançou a cabeça enquanto as suas bochechas coravam.
— Desculpe, eu não quis duvidar de você.
— Duvidar está ótimo, Imri. Eu deveria ter questionado o projeto,
também. Mas olhe! Já se provou útil.
Vernestra limpou um último grupo de mudas e então a vegetação se
afastou, revelando uma pequena clareira e uma elevação. SD-7 estava bem
ali, pairando na chuva firme.
— Imri, você vê aquela pedra? — Vernestra perguntou, desligando o seu
chicote de luz e colocando a sua arma no coldre. — Parece que pode haver
uma caverna embaixo. Você pode tirá-la?
Imri assentiu e estendeu a mão na direção da caverna. De início a rocha
enorme não se moveu, mas então ela começou a rolar na direção deles. Ela
ganhou velocidade quando atingiu o declive e Imri grunhiu com o esforço
de tentar pará-la, tremendo e suando enquanto atingia os limites de suas
forças.
Um segundo antes da rocha bater neles, Vernestra a empurrou para a
esquerda, mandando a enorme pedra afundando na vegetação rasteira
espessa.
— Desculpe, — Imri disse. O garoto grande estava curvado, as mãos
repousando em suas coxas. A folha sobre sua cabeça o protegendo da chuva
caiu quando ele perdeu seu foco. Gotas de chuva fervilhavam onde
atingiram a sua túnica, chamuscando o material claro. Vernestra moveu a
sua proteção para que flutuasse sobre o Padawan, também.
— Está tudo bem, Imri. Você fez bem, apenas precisa aprender a focar
na tarefa toda. O meu mestre me ensinou que isso ajuda a visualizar a
totalidade da tarefa, não apenas um passo de cada vez. Podemos praticar
quando estiver descansado. Venha, vamos checar essa caverna.
O droide batedor já voara adiante, e os usuários da Força seguiram de
perto. A caverna cheirava a umidade e fertilidade, como os jardins em Porto
Haileap. O aroma encheu Vernestra com uma sensação de paz e segurança
que não sentia desde que embarcara na Asa Firme. O espaço era grande,
três vezes mais espaçoso do que o transporte de manutenção, com
pedregulhos lisos e redondos por todo o lugar. Um arco-íris de líquen
bioluminescente crescia nas paredes mas emitiam um brilho muito leve,
longe de ser claro o bastante para iluminar a caverna inteira. Vernestra
andou pelo perímetro, checando para ver se tinham companhia. Mas nem
mesmo animais reivindicaram esse lugar como um lar.
Foi a primeira coisa que aconteceu exatamente como se esperava.
Ela respirou fundo e expirou antes de soltar a sua mochila em um canto.
O chão da caverna era arenoso, não a terra firme que Vernestra esperava, e
afundou grata, inclinando-se sobre a sua mochila ainda cheia. Era quase
confortável.
— Isso é bem aconchegante, — J-6 disse.
Vernestra abriu os olhos, ela nem mesmo percebera que os fechou, e o
resto de seu grupo entrou. J-6 retraiu o seu braço de guarda-chuva e parou
em um canto. Honesty olhou em volta da caverna e foi apoiar a sua mochila
contra uma pedra que se projetava do chão. Ele sentou contra ela e sem uma
palavra, olhou para o ponto em seu braço e se preocupou com o buraco com
uma expressão pensativa. Avon parecia animada como sempre enquanto
empurrava os óculos para a testa.
— Olhe o que descobri, — ela disse, segurando uma larga folha para
Vernestra. — As folhas das árvores aqui têm algum tipo de revestimento de
cera nelas, muito provável para se proteger dessa chuva. É bem grosso,
então se estivermos presos aqui por um tempo podemos descobrir como
usar isso para proteger nossa pele.
— É uma ótima ideia, — Vernestra disse.
— Podemos também cobrir nossas botas. Mais ou menos como a
proteção contra água dos droides.
— Diria que é uma ideia melhor do que imagina, — Imri disse. Ele
estava parado perto da entrada e encarava o lugar de onde todos tinham
vindo. A sua expressão era de preocupação, e mordia o lábio inferior. —
Olhem.
Todos, mesmo J-6 e o pequeno droide batedor, juntaram-se na entrada
da caverna. Vernestra sentiu um aperto no coração quando olhou pra fora.
A chuva descia em pancadas pesadas, os relâmpagos roxos iluminando
a paisagem noturna em intervalos regulares. Escurecera tão rápido que
ninguém ainda se dera ao trabalho de pegar as lanternas, para que pudessem
ver facilmente o que Imri apontava.
Do lado de fora da caverna a água ácida descia pela colina em uma
torrente. Fumaça subia enquanto a vegetação rasteira era queimada pela
chuva cáustica, enquanto as árvores pareciam intocadas. Se eles não
tivessem encontrado a caverna e a segurança e proteção que ela fornecia,
era improvável que estivessem bem. Eles teriam sido varridos pela corrente,
a água os queimados vivos. Apenas considerar as possibilidades deu
arrepios a Vernestra.
Sobreviver a essa lua seria mais difícil do que ela pensava.
Enquanto todos ficavam o mais à vontade possível, Imri sentou-se de
pernas cruzadas na entrada da caverna e assistiu à chuva.
Chovera assim em Porto Haileap durante o que todos chamaram de Dias
Molhados. Semanas inteiras de chuva até tudo ficar úmido e grudento, até o
seu capote com capuz cair e o seu sabre de luz chiar toda vez que o sacava
para treinos de combate com Douglas. Mas essa chuva não era nada com
aquela. Essa corria pela caverna em rios e correntes que queimavam todas
as moitas e relvas menores que lutavam para crescer entre as árvores,
deixando pra trás poças traiçoeiras que queimariam mesmo o melhor par de
botas. Imri e Vernestra ficariam bem por um tempo caminhando por tal
tempestade, e mesmo J-6 não teria de se preocupar de início. Mas Avon e
Honesty estariam em apuros se forem pegos nessa chuva, então o aguaceiro
simultaneamente fez Imri sentir saudades de Porto Haileap e preocupar-se
sobre o que viria em seguida.
Imri fechou os seus olhos e se conectou a Força, diminuindo a sua
respiração enquanto começava a sua meditação. Douglas sempre dissera a
Imri para meditar sempre que tivesse um problema, e Imri descobrira que
tomar alguns segundos para desacelerar a sua respiração e mergulhar
completamente na Força centrava a sua mente e dava a ele tempo para
descobrir as respostas para mesmo as questões mais estranhas; precisava
desse sentimento agora mais do que nunca. Estava bravo, confuso e triste, e
o turbilhão de emoções era desagradável e desequilibrado de uma maneira
que Imri nunca sentira antes. Então era natural que voltaria para o que
sempre funcionara para ele no passado.
Mas pensar no Douglas apenas deixava esses sentimentos piores, então
Imri suspirou, fechou os seus olhos e considerou o chicote de luz de
Vernestra.
Ver a arma de Vernestra, tão especial e diferente, desencadeou uma
cascata de emoções em Imri, e ele não gostou. Estava mais do que
impressionado com Vernestra; estava com ciúmes. E inveja era uma das
muitas portas para o lado sombrio.
Imri ouvira histórias dos Jedi que foram para o lado sombrio, como
aqueles Jedi ancestrais que iniciaram os Sith, e ele estudara os arquivos na
biblioteca de Porto Haileap sobre os grupos de usuários da Força com
menos regras, como as Irmãs da Noite e os Guardiões de Javin, raças e
cultos que encontravam algo de valor no lado caótico e destrutivo da Força.
Mas Imri nunca ouvira sobre um Jedi tornando-se sombrio em tempos
modernos, e ele não imaginava querer ser uma dessas pessoas. Ele achava o
lado sombrio perturbador. Não aterrorizante, porque era necessário para
manter o equilíbrio, e como qualquer Padawan, sabia a importância do
equilíbrio para manter a galáxia movendo-se como deveria, mas
definitivamente uma coisa a se desconfiar. Imri nunca sentira a atração do
lado sombrio, mas ver Vernestra, perceber quão mais poderosa ela era e que
a Força definitivamente a escolhera para grandes coisas, bom...
Queria saber se ele tinha sido escolhido para algo importante.
Os ciúmes deixaram o seu estômago com náuseas e o seu apetite
desapareceu, e se havia algo que Imri amava era comida. Então o
sentimento era mais do que apenas uma chateação. Era um invasor hostil
que Imri não queria. E ainda assim, lá estava, ansioso para desmontar o
sabre de luz de Vernestra e ver as modificações feitas no modelo padrão
para dar a ela uma arma tão formidável.
Os olhos de Imri se abriram. Além da entrada da caverna, a chuva não
mostrava sinais de diminuir, mas Imri sabia que iria. Talvez se ele
desmontasse o seu sabre de luz e meditasse sobre ele, receberia algum tipo
de chamado para modificar o projeto de sua arma, também. Desde que
desmontara o seu sabre algumas semanas antes, parecia errado, como ter
algo entalado na garganta. E isso mostrava na própria lâmina, a sua
fraqueza e instabilidade. Os seu ciúme era descabido, mas talvez se a Força
soubesse que estava disposto a tentar coisas novas ele receberia algum tipo
se mensagem, também. Estava disposto a dar uma chance a qualquer coisa
para diminuir a agitação das suas emoções.
Imri o pegou seu sabre de luz e um lenço que mantinha em uma bolsa
no cinto. Abriu o lenço e colocou o sabre de luz em cima. Ele não tinha
qualquer ferramenta. Ele decidira que eram muito pesadas para carregar e
deixou o kit de ferramentas rudimentar padrão no transporte de
manutenção, então teria que se virar.
— Ei, Imri, o que está acontecendo?
Imri virou-se e encontrou Avon sorrindo pra ele. Ele sorriu de volta. A
garota estava sempre se metendo em encrencas, mas isso era parte do que
fazia ser tão divertido tê-la por perto. Nada a intimidava, e Imri achava a
sua ousadia inspiradora. Ademais, gostava da força das suas emoções, e ele
podia usar uma distração agora.
— Ah, nada, apenas verificando meu sabre de luz, — ele disse.
Uma onda de excitação feliz veio de Avon quando ela se aproximou
dele.
— Tudo bem se eu assistir? Eu fico tentando fazer com que Vern me
deixe segurar o sabre de luz dela, mas ela continua me dizendo não.
Imri riu um pouco.
— O sabre de luz de um Jedi é muito pessoal. É como pedir
emprestadas as roupas de baixo de alguém.
Avon fez uma careta.
— Certo, entendi. Você pode me dizer como funciona?
— Claro, não há nada de errado nisso. — Imri virou o sabre de luz e
começou a apontar as peças para Avon. — Tudo é alimentado por essa
bateria, e o meu cristal kyber concentra essa energia, o que acho que você já
sabe. Esses aqui são energizadores cíclicos de campo, e essas bem aqui são
lentes focais. Ela empurra a energia gerada pelo kyber para o emissor da
lâmina, e o cristal também contém a lâmina para que a energia permaneça
concentrada.
Avon assentiu.
— De outra forma você teria uma lâmina infinita.
Imri riu.
— Sim! E é assim que um sabre de luz funciona basicamente.
— Incrível, — Avon disse, e Imri podia sentir que ela estava sendo
genuína. Excitação parecia fluir dela, mais forte do que o habitual.
Havia algo mais, também, uma emoção que Imri não conseguia decifrar,
e antes que pudesse tentar, eles foram interrompidos por Vernestra.
— Ei, vocês dois comeram? — Ela perguntou enquanto trançava os
cabelos. Não uma trança de Padawan, apenas uma maneira de manter o seu
cabelo contido. Era mais um lembrete de como eram diferentes, e Imri
tocou a sua trança de Padawan timidamente.
— Não estou com fome, — Avon disse, e a sua barriga roncou alto,
desmentindo as suas palavras.
— Avon, você precisa comer.
— Não enquanto a única coisa que temos é ensopado de joppa.
Desculpe, Vern, mas só o cheiro daquilo me faz querer vomitar.
Imri sorriu.
— Se você olhar em minha bolsa, acho que deve ter rações de charque
de nuna. Elas estavam bem escondidas, mas encontrei algumas no fundo. —
Ele apontou para onde tinha jogado a sua mochila contra uma pedra
próxima.
Os olhos de Avon iluminaram-se.
— Sério? Obrigada, Imri. Você é o melhor. Obrigada por me mostrar
seu sabre de luz. — Avon foi até os fundos da caverna, e enquanto
caminhava Vernestra a observava.
— Está tudo bem? — A Mirialana perguntou, e Imri franziu a testa.
— É claro. Quero dizer, além do óbvio. Ainda estamos presos em uma
lua bem hostil sem nenhum jeito de voltar para Porto Haileap, — ele disse.
Vernestra assentiu, com a sua expressão pensativa.
— Quero dizer, você está bem, Imri?
O coração dele martelou um pouco e a sua boca ficou seca. Ela podia
sentir a incerteza nele? Mestre Douglas fora uma parte tão importante da
vida dele, e com a partida dele Imri não tinha certeza sobre o que fazer
sobre si mesmo. Douglas sempre acreditou que Imri podia ser um grande
Jedi mesmo quando Imri não acreditava, e sem o seu Mestre, Irmi estava
perdido.
Mas isso não era um sentimento muito Jedi, esse sentimento de
preocupação e tristeza, então Imri colocou as emoções de lado e disse:
— Estou ótimo. Sempre estou ótimo. Você não precisa se preocupar
comigo.
Vernestra suspirou.
— Eu sei que as coisas estão difíceis agora, Imri. Eu sinto muita
incerteza em você, e me desculpe se causei uma parte disso. Mas assim que
voltarmos para a civilização encontraremos um novo mestre para você e
muitas dessas dúvidas serão resolvidas. Eu prometo.
Imri assentiu e Vernestra virou-se na direção dos fundos da caverna. Ela
parou subitamente.
— Ah, e cuidado com Avon. Ela tem boas intenções, mas pode ser um
problema. Ela está um pouco interessada demais nos cristais kyber para o
próprio bem, e tenho medo de que essa fascinação a leve a tomar decisões
questionáveis.
Imri sorriu.
— Não se preocupe, Vern. Eu conheço a Avon. Ela tem um bom
coração.
Vernestra deu a ele um pequeno sorriso e assentiu antes de deixá-lo
contemplar o seu sabre de luz desmontado.
Ele poderia fazer melhor. Ele precisava se quisesse um dia ser um
Cavaleiro Jedi.
Ele só precisava descobrir o que implicava ser "melhor".
Avon encontrou o charque de nuna no fundo da bolsa de Imri e gritou de
alegria. Ela estava com fome. Até morrendo de fome. Ela não conseguia se
lembrar da última vez que esteve com tanta fome. Antes de ir para Porto
Haileap, isso com certeza. Foi há muito tempo, antes mesmo de ter J-6,
antes de se tornar boa em ciência. Foi até mesmo antes de irem para Mon
Cala por uma temporada. Foi quando ela estava em Hosnian Prime...
Avon enrijeceu e desejou que a memória fosse embora. Não, ela não se
lembraria. Ela se recusava. Mas então a memória estava diante dela e ela foi
paralisada pelo seu domínio.
Estava calor, e a sua mãe a avisara para ficar dentro do complexo. Mas
as borboletas multicoloridas que ela queria estudar estavam do outro lado
do muro do complexo, nas florestas, e como conseguiria pegá-las se devia
ficar dentro do estúpido complexo o tempo todo?
Pular o muro parecia uma boa ideia. Ela não esperava que houvesse
alguém esperando por ela.
— Avon, você está bem?
O toque gentil de Imri tirou Avon da memória, e ela afastou lágrimas.
Respirações profundas, era isso o que os Jedi sempre recomendavam, cero?
Ela inspirou e expirou.
— Estou bem. Eu só fui envolvida em uma memória, — Avon disse.
— Uma ruim? — Imri perguntou.
Avon assentiu.
— Sim, mas passou agora. Obrigada, e obrigada novamente pelo
charque de nuna. Você é o melhor.
Imri sorriu, e a sua expressão feliz afastou um pouco mais as sombras
da mente de Avon.
— Pensei que eu era a melhor, — Vernestra disse de onde estava
inclinada contra a mochila no fundo da caverna.
— Não, você é a pior, — Avon disse. Ela queria que soasse engraçado,
que fosse uma piada, mas pelo contrário, as suas palavras saíram rasas e
sem emoção. Ela limpou a garganta. — Desculpe, eu só estava brincando.
Acho que talvez eu precise comer.
Vernestra sorriu.
— Não se preocupe. Eu posso sentir quando você está realmente brava
comigo, Avon. Você é mais conectada com a Força do que você percebe.
Avon tentou não franzir o rosto e falhou. Lá vão eles com a coisa toda
da Força de novo. Não era como se ela não gostasse da Força; só ficava
cansada de ouvir sobre isso o tempo todo. Avon abriu a boca para
responder, mas a fechou. Decidiu que a coisa adulta a se fazer seria pegar a
sua comida e voltar para onde a J-6 estava perto de uma rocha e comer
enquanto observava a droide. Então foi o que ela fez.
Avon rasgou a embalagem metálica e deu uma mordida. Não era ótimo,
mas não era o ensopado de joppa, então mastigou lentamente antes de
engolir. Enquanto mastigava, fazendo o que sua mãe teria chamado de
"barulheira controlável". Maneiras à mesa era uma das primeiras atribuições
que Ghirra Starros dera a J-6, programação estranha para um droide de
proteção, mas ela aceitara, e Avon recebera vários sermões da droide nos
últimos anos. Mas enquanto ela mastigava J-6 não a parou nem uma vez
para instruí-la em etiqueta. Não houve recriminações, nenhuma sugestão
útil, nada. A droide nem mesmo a notou.
Avon parou de mastigar. E se ela de alguma forma quebrara J-6? E se o
seu conserto útil na verdade fizera algo para comprometer a droide?
Avon engoliu o pedaço, e a comida pareceu grudar em sua garganta. Era
difícil comer quando se está com medo. Avon aprendera em primeira mão
há muito tempo.
— Jota-Seis, você pode fazer um diagnóstico regular? — Avon pediu.
Ela sentiu um olhar cair sobre ela e esperava encontrar Vernestra a
observando com a sua expressão característica meio contente, meio
desconfiada. Mas tanto Vernestra quanto Imri caíram no sono, o tamborilar
ritmado da chuva do lado de fora da caverna um poderoso convite para um
cochilo.
Era Honesty quem observava Avon, com um olhar atormentado em seu
rosto pálido.
— Não há necessidade de um diagnóstico, Avon. Estou bem. Melhor do
que bem, na verdade. Meus sistemas estão excelentes, e mesmo aquela
chuva assassina não arruinou o meu dia. Coma a sua comida e me deixe em
paz, — a droide disse, e Avon bufou.
— Isso é incrível considerando quantas vezes você arruinou os
experimentos perfeitamente bons porque estava preocupada. — Honesty
ainda a encarava, e estava começando a deixá-la nervosa. — Ei, você está
bem aí, fazendeiro?
O garoto sacudiu-se, e Avon percebeu que ele encarava a meia distância,
imerso em pensamentos, não ela.
— Ah, sim, estou bem. Desculpe, eu estava apenas encarando as
partículas de poeira, — ele disse.
— No que estava pensando? — Avon perguntou.
Ele franziu a testa.
— Pensando?
— Sim. Uma encarada como essa geralmente produz grandes
pensamentos. Esquemas, dilemas, você sabe, algo importante. — Avon
acabou de terminar com o resto do charque de nuna e começou a amassar o
envelope de metal antes de pensar melhor e o dobrar cuidadosamente,
guardando-o na mochila dela. — Você poderia estar pensando sobre o fato
de que a chuva aqui sendo tóxica significa que provavelmente teremos
dificuldade em encontrar água, o que não são boas notícias para nós
orgânicos. Você podia estar se perguntando quão frequente são as chuvas e
se esse é um daqueles planetas onde chuva é um evento de um mês. Oh,
isso me lembra, Jota-Seis, — Avon disse, interrompendo-se e virando-se
para a droide. — Você pode referenciar locais de selva com componente de
chuva ácida no almanaque de Leric Schmireland? Concentre-se no sistema
Haileap. Isso deve estreitar a busca.
— O que é almanaque? — Honesty perguntou, a sua testa franzia ainda
mais enquanto Avon falava. Ela sorriu. Ela gostava desse garoto que parecia
não saber nada sobre a galáxia. Era divertido ter alguém para se mostrar.
— É um dicionário geográfico de planetas encontrados. A República
enviou Leric e uma equipe para catalogar planetas cerca de trezentos anos
atrás. O objetivo era encontrar lugares que seriam bons para colônias e não
tivessem ninguém os ocupando. Colonização, você sabe, é bem horrível
quando alguém já está vivendo feliz lá. Leric nunca retornou para
Coruscant, mas de vez em quando um de seus droides mensageiros aparece
na universidade para entregar outro relatório. O almanaque Schmireland é
em grande parte inútil, muitas curiosidades sobre planetas que ninguém tem
motivo para visitar, mas nesse caso, talvez não. Eu fiz Jota-Seis o baixar
principalmente porque eu fiquei entediada um dia e queria ter uma cópia
onde quer que eu fosse. E agora pode ser útil.
Avon bocejou. A comida pesava em seu estômago, e o seu corpo e
mente estavam cansados por quase dois dias lutando para sobreviver. A sua
mãe geralmente dava-lhe sermões sobre quão fácil a vida dela era, quão
pouco compreendia a sua sorte, e agora ela começava a ver.
— Então, hum, Jota-Seis sabe onde estamos? — Honesty perguntou
quando a droide não respondeu.
— Jota-Seis está fazendo uma pausa, — muito obrigada, a droide
respondeu. — Tenho meus próprios pensamentos, sabe?
Avon piscou. Isso era definitivamente novo. Ela não tinha como fazer
uma anotação, o seu datapad muito provavelmente estava em algum lugar
nos destroços da Asa Firme, mas ela anotou mentalmente.
— No que você está pensando?
— Isso não é da sua conta. Mas, quanto à sua outra pergunta, há uma
localização no almanaque que descreve uma área densamente florestada
com uma chuva corrosiva. Ela orbita em gigantes gasosos duplos com dois
sóis e é designada como Lua Dois-Três-Um-Dois-Três-Quatro, mas
conhecida coloquialmente como Wevo.
— Excelente. Então, quais as chances de alguém passar por aqui e ver
aquele sinal de emergência deixado por Vern no transporte de manutenção?
— Avon perguntou.
— Não há rotas de viagem estabelecidas por essa parte do sistema. Os
nódulos de hiperespaço mais próximos estão a pelo menos dois dias de
viagem à subluz. Então as chances são bem, bem baixas.
Avon virou-se para ver a reação de Honesty. A expressão geralmente
triste do garoto tornou-se uma de absoluto desespero.
— Vamos ficar presos aqui para sempre.
A J-6 fez um som que parecia uma bufada.
— Bom, pelo menos até a comida de vocês e a minha bateria acabar.
Mas não é uma previsão animadora, receio.
Honesty assentiu e tentou afastar as lágrimas que conseguiram escapar.
— O que há de tão bom em Dalna, afinal? — Avon perguntou.
— Nada. Eu quero dizer... é minha casa. Todos que amo estão lá. — Ele
encarou Avon como se ela tivesse duas cabeças, o que Avon percebeu que
provavelmente deveria se acostumar, já que continuava dando a ela o
mesmo olhar.
Avon ficou um pouco mais à vontade, deitando. Ela não tinha certeza
porque o súbito desespero dele a deixou tão mal-humorada. Talvez porque
ele tinha certeza de que ele poderia ir para casa, enquanto Avon não. Como
seria saber que a sua família sentia a sua falta e o receberia de braços
abertos? Avon não tinha recebido uma holo da sua mãe em quase um mês.
A maioria dos dias ela não se importava porque tinha tantas coisas com o
que se ocupar, mas nesse dia sentiu como se tivesse sido enviada para os
limites da galáxia e imediatamente esquecida. A mãe dela sabia sobre a
destruição da Asa Firme? Alguém sabia?
Mas apenas porque ela estava triste não significava que Honesty não
devesse ter esperança, e pela expressão em seu rosto pelo comentário de J-6
ele se sentia um pouco vazio.
— Não deixe as previsões de Jota-Seis arrasar as suas esperanças. Ela
pode apenas fazer os seus cálculos baseada nas informações que tem, e nós
podemos mudar essas variáveis. Podemos construir um sinal de emergência
melhor, ou até mesmo encontrar um meio de canibalizar outras partes do
transporte para reconstruir as unidades de comunicação. Quem sabe até
tentarmos? Mas por ora você está preso em Wevo com o resto de nós, o que
não é tão ruim. Por sorte temos muito ensopado de joppa. — Ela deu um
grande sorriso para Honesty, mas a expressão do garoto ainda era de muito
desapontamento, e Avon não fazia ideia de como consertar isso.
Ela suspirou.
— Tente dormir um pouco, Honesty. Podemos dar um jeito pela manhã.
E então Avon caiu em um sono irregular, cheio de sonhos de épocas
bem piores.
Honesty acordou assustado. Seu primeiro pensamento, de todas as
coisas possíveis, foi Meu pai está morto. Aquilo doeu. Ele se lembrou- da
primeira vez que perdera um molar da parte de trás da boca. O dente caíra,
como a maioria de seus dentes de leite, mas o espaço que ficou era maior,
mais evidente. Saber que o seu pai se fora era assim, como pôr a ponta da
língua naquele espaço onde deveria haver alguma coisa, mas ao invés disso
havia apenas vazio.
A comparação era fraca, mas encaixava.
Ele não deveria ter discutido com ele. Aquela última noite, parado em
frente ao espelho se arrumando. Honesty deveria ter respeitado seu pai e
dito a ele o quanto o amava, o quão feliz estava por tê-lo por perto. Mas ele
não o fizera, e agora nunca iria. Lágrimas surgiram em seus olhos com o
pensamento e ele abaixou a cabeça. Ele passara a noite toda chorando
baixinho para si mesmo. Ele inclusive não deixaria mais ninguém ver a sua
tristeza.
Mas então uma lágrima escorregou pelo seu nariz e foi tarde demais.
— Ei.
Honesty secou com pressa as suas lágrimas errantes e olhou pra cima
encontrando Imri sentado ao lado dele. Ele segurava uma cápsula de água,
uma das poucas que estavam a bordo do transporte de manutenção.
— Você está com sede?
Honesty assentiu e pegou a cápsula oferecida, mordendo-a para que a
água velha enchesse a sua boca.
— Não há muitas dessas, então eu queria ter certeza de que pegasse
uma, Imri disse. Não havia preocupação em sua expressão; até onde
Honesty podia dizer, nada incomodava muito os Jedi, o que era um pouco
irritante. Claro, no dia anterior Imri estivera tão aborrecido quanto Honesty,
mas agora aquela tempestade de emoções passara, deixando o garoto
sorrindo mais uma vez. Não parecia natural ser tão inabalável e constante,
mesmo que os instrutores de Honesty em Dalna frequentemente diziam que
uma cabeça fria era a chave para sobrevivência.
Uma cabeça fria o ajudará a superar mesmo nas horas mais
desesperadas. Esse não fora o conselho do instrutor de sobrevivência de
Honesty, mas de seu pai. Honesty fechou os olhos e então os abriu
novamente.
Embaixador Weft estava certo, no entanto. Honesty precisava manter a
cabeça fria e avaliar o problema usando tudo o que aprendera. Ele não
poderia salvar o seu pai agora, isso nunca foi uma opção, mas poderia
sobreviver e transmitir o que aprendeu com seu pai. Até então estivera com
medo de falar. Vernestra era uma Cavaleira Jedi, afinal, mas estava claro
que mesmo os Jedi sendo capazes, eles não tinham experiência em campo.
Não como ele. Ele podia ajudar. Daria a ele algo além da perda de seu pai
para pensar.
O problema mais óbvio, além de como enviar uma mensagem, eram as
precauções de curto prazo. Havia pouquíssimo suprimento de água. E
apesar de estarem bem em relação a comida, eles sentiriam a falta de água
em muito, muito breve.
E a água em Wevo era tóxica.
Enquanto ele bebia, Honesty olhou para a selva além da caverna,
recusando-se a sucumbir ao desespero sem esperanças que tentava atacá-lo.
A chuva parara, e enquanto ele observava, a vegetação rasteira verde, a qual
fora fritada pela chuva da noite anterior, crescia rapidamente.
— Eia, você viu isso? — Honesty perguntou, com a sua indisposição
anterior cedendo a surpresa. Ele ergueu-se e andou até a entrada da caverna
para assistir enquanto as vinhas rodopiavam ao redor dos troncos das
árvores, crescendo muito mais rápido do que qualquer coisa em Dalna.
— Sim, parece que mesmo apesar da chuva aqui destruir muito da vida
vegetal, a lua tem uma maneira de se recuperar. Equilíbrio, Imri disse com
um sorriso. Uma sombra passou por seu rosto antes do sorriso aumentar. —
Olhe, até mesmo os primatas engraçadinhos sobreviveram.
As criaturas coloridas pulavam de galho em galho, colhendo frutos
azuis gigantes que pendiam das árvores, pesados e redondos.
— Aqueles não estavam ali ontem, certo? — Honesty perguntou.
Imri franziu a testa.
— A fruta? Não, acho que não estavam.
Honesty bebeu o resto de sua cápsula d'água e a entregou para Imri
enquanto considerava as lições de campo que lhe foram ensinadas. Em suas
aulas de sobrevivência aprendera que em alguns planetas o ecossistema se
baseava em ciclos para a sobrevivência de certas espécies. A chuva em
Wevo era cáustica, e os pequenos primatas peludos podiam ser capazes de
beber a água tóxica.
Ou eles podiam depender de um outro recurso completamente.
Honesty correu para fora da caverna na direção das árvores, ignorando o
grito de Imri. Se a sua teoria estivesse correta, eles não precisariam se
preocupar com a sede. Ele correu para a árvore mais próxima, puxando a
fruta mais baixa e a arrancando do galho. Um primata de pelo vermelho
com seis braços e uma cauda incrivelmente longa tagarelou algo com ele
raivosamente, mas Honesty virou-se e correu de volta para a caverna antes
da pequena criatura poder fazer algo além de gritar.
— O que está fazendo? — Imri perguntou, os olhos arregalados. —
Você precisa ser cuidadoso. Quem sabe o que essas coisinhas podem fazer.
— Eu acho que ele ficou bravo porque roubei isso, — Honesty disse,
erguendo a fruta. Era mais pesada do que aparentava, lembrando a ele dos
melões de verão que alguns fazendeiros cultivavam em Dalna.
— O que está acontecendo? — Vernestra perguntou, caminhando até
onde Honesty e Imri estavam na entrada da caverna. Avon seguiu de perto,
os óculos de seu droide batedor segurando os seus cabelos cacheados, que
pareciam crescer como a vegetação rasteira lá fora.
— Eu acho que Honesty teve uma ideia, — Imri disse.
Honesty assentiu.
— Em Dalna, em preparação para nossa Metamorfose, temos que
assistir a certas aulas. Eu treinei em experiência de campo, isso são coisas
sobre sobreviver em diferentes climas, e uma das coisas que o meu
professor me disse foi sobre como em alguns lugares se consegue água de
fontes diferentes de um córrego ou rio.
— Você acha que a água potável em Wevo está nas frutas? — Avon
perguntou, franzindo a testa enquanto considerava. — Isso faria sentido.
Essas árvores se adaptaram ao ambiente de outras maneiras.
— E esses pequenos animais vêm comendo e bebendo a fruta a manhã
inteira, — Vernestra disse. — Mas não queremos nos envenenar
acidentalmente comendo isso para testar uma teoria.
— Não precisamos, — Avon disse com um sorriso. — Jota-Seis tem
programação de babá. Ela deve ser capaz de pegar uma amostra e ver se é
seguro para nós consumirmos. O programa de linguagem não deve interferir
nisso.
Vernestra cruzou os braços e deu a Avon um olhar desaprovador.
— Então você realmente fez algo com a programação dela.
— Eu apenas relaxei alguns de seus imperativos, dando-lhe um maior
grau de autonomia. Relaxe, Vern, Jota-Seis está bem, é apenas capaz de se
auto atualizar um pouco melhor.
Vernestra parecia duvidosa e Imri parecia confuso, mas Honesty estava
impressionado mesmo sem querer. Ele sempre pensou ser injusto que os
droides não tinham voz em suas vidas, que eles eram forçados a viver de
uma maneira que os fazia subservientes para os orgânicos com quem viviam
ao invés de parceiros. Honesty pensava ser bom se eles pudessem decidir
um pouco sobre que tipo de vida queriam ter.
Avon gesticulou para Honesty segui-la, e caminharam até onde J-6
estava nos fundos da caverna. Ela não se movera a noite toda, apenas parou
em um canto contemplando seja lá o que fosse que se recusara a dizer a eles
na noite passada. Avon limpou a garganta quando pararam diante do droide,
como se estivesse com um pouco de medo de perguntar sobre a fruta.
— Sim, Avon. Você tem outra pergunta astronômica que precise de
resposta? — J-6 disse, com os seus fotorreceptores um pouco perspicazes
demais para o gosto de Honesty. Talvez estivesse errado. Talvez um droide
totalmente consciente fosse menos interessante e mais aterrorizante.
— Não, mas o seu programa de segurança alimentar ainda está
funcionando? Queremos saber se isso é seguro para nossa biologia comer,
— Avon disse, apontando o fruto que Honesty ainda segurava.
J-6 suspirou, o que era incrível porque os droides sequer respiravam,
antes de subitamente pegar a fruta das mãos de Honesty e esmagar em suas
próprias. Honesty pulou pra trás e Avon gritou quando polpa roxa e suco
respingou nela inteira.
— Sim, deve ser seguro para você comer, — J-6 disse, derrubando os
restos da fruta enquanto Imri e Vernestra se aproximava.
— Bom, isso é um alívio, — Avon disse, tirando pedaços da fruta azul
de seu cabelo. Ela pegou um pedaço da polpa de seu ombro e colocou na
boca. — Tem gosto de melão mamba, mas um pouco mais picante.
— Bom, pelo menos sabemos que não morreremos de sede, — Imri
disse, dando um olhar simpático para Avon.
— Bom trabalho, Honesty, — Vernestra disse. — Esse foi um palpite
realmente bom. Nós devemos sair e pegar várias dessas frutas antes da
chuva começar. Você não disse que havia vinte por cento de chance de
chuva, Jota-Seis?
— Eu disse? Talvez. A informação para essa lua afirma que as chuvas
vêm diariamente ao anoitecer, bem antes da noite cair completamente.
Então enquanto os sóis brilharem vocês devem ficar bem. A menos, é claro,
que a informação que eu tenha esteja completamente errada, mas suponho
que sejam pilhas derretidas de gosma quando perceberem isso. — J-6 deu
de ombros como uma pessoa faria, e ninguém disse nada por um bom
tempo até Avon subitamente estender os braços e abraçar J-6, um sorriso
largo dividindo o seu rosto sombrio.
— Eu amo tanto você, — ela sussurrou.
Honesty decidiu naquele momento que se ele quisesse sobreviver ele
ficaria o mais longe possível da garota gênio e de sua droide
temperamental, não importa o quanto a garota estranha e esperta o
intrigasse.
Vernestra se encostou em sua mochila e comeu uma das muitas frutas
que haviam colhido antes da chuva voltar. O sabor era de algo entre melão e
um morango congelado, e havia um sabor agradável no final o que a fez
querer estalar os lábios em apreciação. O instinto de Honesty de
experimentar a fruta tinha sido bom, e Vernestra suspirou feliz com tamanha
sorte.
A Força realmente havia provido.
Foi um dia agitado. Ninguém queria se arriscar com o retorno da chuva
antes de armazenar as frutas, que eram principalmente sumo. Então, os
quatro se concentraram em colher o máximo possível, pegando as frutas
mais baixas antes do chilrear, se não, os primatas estridente poderiam
prossegui-los. Imri descobriu que as curiosas criaturas poderiam pular na
cabeça de uma pessoa se fosse descuidada, e todos e todos eles
compartilharam uma risada como o garoto tinha tentado escapar de uma
criatura laranja bastante tenaz. Avon começou a chamar os pequenos
animais de “mãozinhas” por causa de suas numerosas mãos, e no final do
dia o nome pegou. O amigo “mãozinha” de Imri até decidiu que gostava de
Imri mais do que de sua árvore, e a criatura fofa passou o dia inteiro
cavalgando nos ombros de Imri, usando o rapaz alto para pular nas árvores
e pegar as frutas nos galhos mais altos.
— Você vai dar nome a ele? — Honesty perguntou, o garoto, incapaz de
esconder o seu sorriso enquanto o “Mãozinha” tentava mastigar a trança
Padawan de Imri.
— Eu acho que vou chamá-lo de Chiri — Imri disse.
— Porque rima? Esperto — Avon disse acenando. — Imri e Chiri. —
Vocês são como uma equipe de coleta de frutas silvestres.
As pequenas criaturas haviam tentado subir dentro das vestes de
Vernestra também, mas ela tinha mantido cuidadosamente eles longe de se
sentirem muito confortáveis, os pegando e devolvendo para as árvores. Ela
imaginava se eram sensíveis à Força, especialmente porque não haviam
tentado se agarrar em Avon ou em Honesty, e nenhuma delas parecia se
importar.
Anoiteceu, e fora da caverna a água caía novamente, queimando mais
uma vez a vegetação rasteira enquanto os “Mãozinhas” se escondiam em
seus esconderijos. Todos, exceto Chiri, que decidiu se abrigar dentro da
túnica de Imri, onde a criatura agora dormia, dando uma ocasional
cantarolada sonolenta. No dia seguinte, as vinhas e samambaias rasteiras
voltariam mais uma vez, assim como no início da manhã, os frutos
cresceriam mais uma vez e os “Mãozinhas” festejariam.
Era a prova do perfeito equilíbrio da Força, a harmonia aparente na
galáxia e deu a Vernestra uma enorme sensação de paz enquanto ela fechava
seus olhos e caía nos ritmos do luar.
Morte. Destruição. Desolação
Os olhos de Vernestra se abriram com o ressoar de dissonância entre a
sinfonia da vida, de outro modo, calmante em Wevo. Ela se sentou e
encontrou Imri fazendo o mesmo do outro lado.
— Você sentiu isso? — Imri disse, levantando rapidamente. Vernestra
acenou com a cabeça.
— Sentiu o que? — Honesty perguntou, sentando bem ao lado de Avon,
que estava explicando algo a ele através de uma equação desenhada na
macia areia da caverna.
— É a Força. Há algo de errado, — Imri disse franzindo a testa.
“Alguém que não pertence ali”
— Há mais alguém em Wevo conosco? — Honesty perguntou.
Vernestra franziu a testa. Ela não conseguia analisar o distúrbio na Força
tão claramente quanto Imri, mas não conseguia imaginar outro grupo de
pessoas pousando em uma lua tão remota e distante. Certamente havia algo
a mais errado.
Imri balançou a cabeça. Há tanta vida que eu não sei dizer. Está tão
longe que parece... errado.
— E a chuva não? Isso derreteu a manga de Honesty! — Avon disse.
Vernestra balançou a cabeça. — A chuva faz parte deste lugar. Você vê
como os animais e plantas se adaptaram para lidar com isso. Isso é algo
completamente diferente.
— Pensei ter visto alguém no primeiro dia em que estivemos aqui —
disse Honesty. — Mas não tinha certeza. Talvez tenham outros
sobreviventes da Asa Firme, afinal.
O olhar de esperança no rosto do garoto fez o coração de Vernestra
apertar dolorosamente, porque sabia que ninguém havia sobrevivido ao fim
daquela nave. Ela tinha sentido isso. Mas ela não queria destruir as suas
esperanças sem mais evidências.
— Se existem pessoas por aqui, porque você não as sentiu na primeira
noite? — Avon perguntou franzindo a testa.
— Pode ser que eles estavam em outro lugar — Imri disse.
— Nós também não estávamos em equilíbrio com Wevo antes. Leva um
tempo pra aprender e conhecer um lugar — Vernestra disse, tranquila. Ela
se levantou e se esticou antes de se virar para olhar para Imri. — Devíamos
ir dar uma olhada.
Imri concordou e montou o sabre de luz antes de colocá-lo no coldre em
seu quadril. Chiri chiou aborrecido, mas permaneceu na túnica de Imri.
Aparentemente, a criatura decidiu que a perturbação era um preço pequeno
a pagar por um lugar tão bom para tirar uma soneca.
Vernestra se virou para as crianças mais novas antes de partir e disse:
— Fiquem aqui. Nós voltaremos logo.
Fora da caverna, a chuva atingia a paisagem, limpando os arbustos e
tornando mais fácil viajar pela selva. Vernestra usou o seu sabre de luz para
soltar uma folha larga para fornecer cobertura e usou a Força para levitá-la
sobre a sua cabeça para se manter seca. Imri fez o mesmo. Enquanto
caminhavam, a água que corria pelo solo foi desviada de seu caminho,
empurrada por Vernestra, de modo que permaneceram quase todos secos.
Em qualquer outro lugar, com chuva regular, Vernestra teria economizado
sua energia e deixado a chuva fazer o que quisesse, mas isso não era uma
opção em Wevo.
— Pra qual lado? — Vernestra perguntou. Ela poderia ter descoberto a
direção do distúrbio na Força sozinha, mas depois de sua conversa
preocupante no dia anterior, Vernestra queria que Imri fizesse o trabalho.
Ela podia sentir os sentimentos descontrolados que Imri estava tentando
ignorar, todos eles diretamente relacionados à perda de seu mestre. Ele
precisava restabelecer a sua fé não apenas na Força, mas nas suas
habilidades. E a melhor maneira de fazer isso era usando o seu dom.
— Acho que está vindo da direção da várzea — disse Imri franzindo a
testa.
— Teremos que ter cuidado. Com toda essa chuva, pode haver um rio lá
agora — disse Vernestra. E então os dois começaram a descer a colina, de
volta ao caminho que haviam feito no primeiro dia.
Conforme eles andavam, a chuva bombardeava as árvores nos arredores
e as folhas sobre suas cabeças, cobrindo o som de sua passagem. Vernestra
sentiu olhares sobre eles e olhou para ver os “Mãozinhas” enfiados em
esconderijos esculpidos nos troncos das árvores. Havia pouquíssima luz
natural, e Vernestra percebeu tarde demais que eles deveriam ter trazido
lanternas para enxergar por ali. Apenas os clarões regulares de relâmpagos
forneciam algum tipo de alívio para a escuridão implacável. Ela e Imri
podiam navegar usando a Força, evitando árvores e outras coisas vivas, mas
depois de um tempo a fadiga se instalaria, e é quando as coisas poderiam
ficar perigosas. Se esperassem demais para voltar eles estariam à mercê da
chuva assim como qualquer outro.
— Por aqui — Imri disse de repente, desviando de uma inclinação
íngreme. Alguma coisa havia passado por aquela área, derrubando árvores e
abrindo uma rota aleatória e Vernestra reconheceu o pedregulho de sua
caverna na base da colina. Mas além disso havia algo brilhante.
Era uma nave. Um cargueiro que estava batido em um lado por nada
menos que o pedregulho que Imri tirou da lateral da montanha. Luzes de
manutenção iluminaram a área, revelando a extensão dos danos. Vernestra
se sentiu um pouco culpada ao ver que seu desvio apressado da rocha
maciça teve consequências terríveis para outra pessoa.
— Existem outras pessoas aqui — Vernestra disse.
— Mas que tipo de pessoas? — disse Imri. Ele estava certo. A maldade
que Vernestra sentira vinha da nave e de quem estava dentro dela. Ela havia
sentido um eco dessa emoção antes, mas mais abafada. Apenas há alguns
dias antes, quando embarcava na Asa Firme. Vernestra abriu a boca para
contar ao Imri sobre o instante que teve com o mecânico Aqualish quando
os gritos vieram da direção da nave. Vernestra abaixou-se sob os galhos
particularmente baixos de uma das árvores de folhas largas e acenou para
Imri se juntar a ela para que pudessem assistir a cena.
Era uma nave cargueira de classe mais antiga, compacta e quadrada,
com um porão de carga traseiro que se abriu como um bivalve, as portas
superior e inferior se separando para revelar o interior da nave. As portas
traseiras estavam abertas e as pessoas lá dentro estavam tendo uma
conversa que parecia uma discussão.
— Eles são um bando de crianças. Como eles podem ter jogado a rocha
em nós, Gwishi? Estou te dizendo, esta lua está amaldiçoada. Eu sei que
vocês, Aqualish, não acreditam em espíritos, mas eu vi um fantasma da
areia em Pasaana. Eles não são piada, e a maneira como essa chuva queima
as coisas parece ameaçadora. Além disso, aqueles animais estúpidos
continuam comendo a nossa comida! Amaldiçoada. Toda esta missão está
amaldiçoada.
Uma mulher humana de pele clara com cabelo magenta brilhante
puxado para o centro de sua cabeça caminhou até a borda da rampa de
embarque e olhou para a chuva caindo sobre a paisagem.
— Aquelas não são crianças. Elas são Jedi. Eu vi uma a bordo da Asa
Firme quando coloquei as cargas. Temos que lidar com elas antes que
percebam que não estão sozinhos. — O Aqualish com quem Vernestra havia
fixado os olhos na baía de ancoragem apareceu de dentro da nave ao lado da
mulher humana. Vernestra concluiu que aquele devia ser o Gwishi com
quem a mulher estava falando.
— Então temos que matar essas crianças? — a mulher disse.
— Devemos, antes que Kassav descubra. Quer dizer a ele que não
conseguimos nem completar um golpe e uma colisão? Nossas ordens eram
simples: sem sobreviventes. Como essas crianças conseguiram não apenas
sobreviver aos explosivos que plantamos na Asa Firme, mas acabaram aqui,
está inteiramente conectado aos Jedi e os seus truques da Força.
Ao lado de Vernestra, Imri ficou tenso e a sua raiva era palpável. Uma
raiva normal tudo bem. Os Jedi não eram imunes aos seus sentimentos, não
importa o que alguns possam pensar. Mas os sentimentos vindos de Imri
estavam além da raiva e indignação normais; era uma raiva tão forte, tão
violenta que Vernestra teve medo de que puxasse o seu sabre de luz e saísse
atrás das pessoas do cargueiro destruído.
— Respira fundo — ela sussurrou para ele. — Vingança não é o
caminho da luz.
— Eu sei — disse ele, com algumas das emoções desaparecendo. —
Mas a Jota-Seis estava certa. Foi sabotagem. Eles mataram o Mestre
Douglas. E o pai de Honesty.
Vernestra silenciou o Padawan enquanto os dois sabotadores
continuavam a planejar.
— Assim que a chuva passar, pela manhã, vamos encontrar aqueles
ratos e acabar com eles pra sempre. Eu não vou deixar nossa equipe
carregar a vergonha deste fracasso. Nós somos Nihil agora, Klinith, e isso
significa algo. — Gwishi disse ao pisotear antes de voltar pra nave.
Uma vez que estavam fora de vista, Vernestra se endireitou em seu
esconderijo e fez um sinal para que Imri a seguisse. Mas de repente Chiri
saltou da túnica de Imri e correu para a próxima abertura da nave.
Imri levantou-se para correr atrás do “Mãozinha” laranja, a sua folha
caía no chão enquanto a sua concentração era quebrada. Ele gritou quando
algumas gotas atingiram a sua pele, mas Vernestra foi rápida em levantar a
folha dele mais uma vez.
Mas Imri não percebeu. Ele continuou correndo atrás de Chiri, que
parecia não se incomodar com a chuva. A criatura subiu correndo a rampa
de carregamento e entrou na nave. Imri fez sinal para segui-lo, Vernestra
apenas cortou o caminho atrás dele, quando um grito veio de dentro da
nave.
— Você não vai comer minha comida desta vez, seu pestinha! — o som
de um blaster disparando e um grunhido de dor ecoou pela nave antes de
uma coisa pequena e laranja ser lançada na chuva.
Imri deslisou até parar na lama, a poça de chuva torrando lentamente
suas botas.
— Chiri — ele sussurrou. A pequena criatura não se movia e Vernestra
podia sentir que a Força viva havia partido de seu corpo. Vernestra agarrou
Imri e puxou-o de volta para o abrigo das árvores antes que alguém pudesse
virar o blaster contra eles. Seu único pensamento era voltar para a caverna.
Eles tinham que estar lá para proteger a Honesty e a Avon.
— Devíamos ir atrás deles — disse Imri, lutando contra Vernestra.
— Não, ainda não. Precisamos ser espertos, e agora Avon e Honesty
têm apenas uma droide babá para mantê-los seguros. Nós voltamos para a
caverna e então pensamos em nossos próximos passos.
Vernestra arrastou Imri pra selva, fazendo o que podia para proteger os
dois da chuva, já que Imri havia deixado cair a folha e não parecia com
vontade de substituí-la. Voltaram para o caminho feito pelo pedregulho e o
seguiram subindo a colina, a chuva constante lavando as suas pegadas
enquanto caminhavam, o silêncio entre eles era pesado e desconfortável.
Vernestra procurou pensar em uma ideia do que fazer a seguir. Tinha que
haver uma resposta certa, mas qual era? Imri estava certo? Eles deveriam
ter atacado duas pessoas sem saber quem eram? Vernestra achava que não.
Os Jedi podiam se defender, mas também acreditavam na santidade da vida,
de toda a vida. A violência deve ser sempre o último recurso.
Imri se acalmou o suficiente para ligar o seu sabre de luz, ainda fraco e
trêmulo, e cortar uma folha para ajudar a se proteger da chuva, que havia se
reduzido a uma garoa.
— Esses devem ter sido os piratas espaciais de que Douglas estava
falando.
Vernestra olhou para Imri. As suas emoções eram um turbilhão de raiva,
e a surpreendeu que pudesse usar a Força estando naquele estado.
— Eles se autodenominavam Nihil. Você já ouviu falar de tal gente?
Imri balançou a cabeça.
— Não, mas Douglas tinha um holograma de outro Jedi sobre alguns
saqueadores perigosos que estavam rondando o setor de Dalnan. Eu não vi
isso. Ele me mandou sair da sala enquanto assistia, mas acho que
provavelmente eram eles.
Vernestra assentiu. Fazia sentido que os dois fossem os mesmos. Ela
estava disposta a apostar o seu sabre de luz que a nave que eles tinham era
roubada.
— O que faremos agora? — Imri questionou enquanto eles andavam.
— Voltamos para a caverna e contamos a Honesty e a Avon o que
aprendemos. E então, nós pensaremos em um jeito de parar aqueles dois e
levá-los à República para serem julgados. Isso é o que faremos. —
Vernestra disse. — Temos que ser espertos para mantermos todos vivos.
Precisamos de um plano.
Imri não disse nada. Ela ainda podia sentir a raiva nele, mas estava mais
abafada, e esperava que ele fosse capaz de deixar as suas emoções de lado
antes que elas o levassem a um caminho do qual não seria mais capaz de
tirá-lo.
Avon foi caminhar porque era a única coisa que poderia fazer. Assim
que os Jedi sentiram mais alguém na lua e saíram, Honesty foi para o seu
canto da caverna e se fechou novamente. E bem quando ela estava no meio
de explicar a prova de Hyderson pra ele. O garoto levava jeito para
matemática.
Avon poderia ter conversado com a J-6. Ela achou a mudança do droide
em uma matriarca mesquinha fascinante e agradável, mas o droide declarou
em alta voz que estava em modo de espera para economizar energia e se
desligou. Avon tinha considerado ligar o SD para que pudesse seguir
Vernestra e Imri, mas estava com apenas um quarto de sua carga da bateria
possível, e Avon tinha a sensação de que eles iriam precisar do pequeno
droide explorador. Então ela ficou com caminhada.
Ela começou a usar um sulco no fundo da caverna quando Honesty de
repente se sentou.
— Como você acabou em Haileap? — ele perguntou.
Avon parou na sua trilha.
— O quê?
— Bem, quando você estava explicando o negócio de matemática...
— Se chama prova.
— Certo, a prova, bem, você disse que a seu professor em Hosnian
Prime tinha te ensinado sobre a inter-relação entre energia e matéria.
— Olha! você estava prestando atenção.
Honesty deu uma olhada para Avon.
— Estou sempre prestando atenção quando as pessoas falam. É como se
aprende coisas sobre a galáxia. De qualquer forma, Hosnian Prime é bem
distante de Porto Haileap, então como você foi parar lá? A sua mãe não é
uma senadora?
Coração de Avon palpitou. Ela pensou no que o droide de suporte
emocional, o seu primeiro companheiro antes de sua mãe decidir que ela
precisava de algo mais sofisticado, como a J-6, costumava dizer a ela
— Falar sobre os próprios sentimentos ajuda a normalizar e sintetizar
essas emoções. Você deve considerar falar sobre o que aconteceu com você
com mais frequência.
Mas não era assim que a família Starros vivia a sua vida. Quando o seu
pai partiu, perseguindo um sonho de mapear as rotas do hiperespaço e viver
nos limites do Espaço Selvagem, a mãe de Avon, Ghirra, não disse uma
palavra, exceto para avisar a Avon que o seu pai não iria se juntar a elas
para jantar. Nunca mais iria. E quando a bisavó de Avon, Eldie Starros,
morreu, a família se reuniu por exatamente uma hora para prestar as suas
homenagens e comer uma seleção das comidas favoritas de Eldie antes de
voltar aos seus negócios habituais.
A família Starros não era emocionalmente forte, eis o motivo de Avon
ter tanta dificuldade para falar sobre o seu exílio.
— Eu... uma coisa ruim aconteceu comigo — Avon disse, suspirando e
se fechando na areia macia próxima a Honesty. — Quando eu estava em
Hosnian Prime, nós vivíamos em um complexo privado. A minha mãe era
Senadora júnior na época e passava mais tempo em Coruscant do que em
casa. Mas estava tudo bem. Eu tinha o resto da família lá, então estava
sempre acompanhada. Mas um dia, encontrei um espécime particularmente
intrigante. Humm, um flutterbug, se você tem desses em Dalna.
— Nós temos. — Honesty respondeu. A voz dele estava baixa, e algo
em sua tonalidade convenceu Avon de continuar falando.
— Sempre fui boa em descobrir como as coisas funcionam, então sabia
como desativar o escudo de energia que protegia o complexo familiar. E
então eu segui o flutterbug até a floresta atrás de nossa casa. Não pensei
sobre por que nossa família poderia precisar de tal medida de proteção. Fui
sequestrada por um grupo local que queria que a minha mãe votasse por
controles comerciais mais firmes no Senado.
Honesty piscou.
— Você foi sequestrada? Isso é terrível.
— É, não foi ótimo. — Avon disse, forçando uma risada. — Os meus
tios me encontraram e mataram as pessoas que me levaram, mas a minha
mãe ficou chateada quando descobriu. Então me levava com ela para todos
os lugares, depois disso. Mas só queria ir pra casa, em Hosnian Prime. Ou
ficar em Coruscant com os filhos dos outros senadores. E quando não
poderia ter nenhum, bem, vamos apenas dizer que fiz questão de ir pro
exílio.
— Então a sua mãe te mandou pra Porto Haileap pra te manter segura
— Honesty disse.
— A minha mãe me mandou porque me odeia e estava farta de eu
estragar a sua carreira. — Avon disse, as palavras a surpreenderam com sua
veemência.
— Isso não é verdade mesmo! — J-6 disse.
— Pensei que você estava em repouso. — Avon disse murmurando
— Percebi um tom de angústia em sua voz e isso me tirou do meu
estado de repouso. Mas você precisa entender que sua mãe te enviou para
Haileap porque achou que seria seguro. É bem distante das rotas mais
viajadas, e os Jedi tem uma presença definida lá. E estes são apenas alguns
dos muitos fatores que a sua mãe considerou. — J-6 disse. — Além disso,
você tem a mim. Eu mantive você viva pelos últimos três anos, e isso não é
um feito simples, ainda bem.
— A droide tem razão, — Honesty disse, mesmo dando uma olhada
desconfiada para a droide — Se a sua mãe te odiasse, porque não te enviar
para o complexo da sua família e deixar que você fosse problema de outra
pessoa?
Avon abriu a boca para responder e então a fechou. Honesty estava
certa, e a J-6 também, neste caso, mas foram as palavras de Honesty que
permitiram que Avon visse os fatos sob uma nova luz e chegasse a uma
conclusão completamente nova. Talvez, só talvez, a sua mãe realmente a
tenha enviado para Porto Haileap porque era a melhor coisa para ela na
época.
Isso foi antes de Avon embarcar em uma nave de luxo prestes a
explodir, é claro. Mas mesmo assim. Dados os dados anteriores e todas as
informações de apoio, Haileap tinha sido o lugar mais seguro para a Avon
em toda a galáxia.
Pela primeira vez em meses, o peso que Avon sentia diminuiu e ela se
sentiu feliz.
— Você está certo. Obrigado, Honesty. Você é um bom amigo.
O garoto piscou.
— O quê?
— Você providenciou uma compreensão muito necessária sobre um
problema que eu não conseguia resolver, pelo menos corretamente, sozinha.
Isso é o que amigos fazem.
As bochechas de Honesty rosaram.
— Ah, bem, de nada.
O momento foi interrompido por Vernestra e Imri correndo para dentro
da caverna, com ambos os Jedi aparentando agitados.
— Então, estamos salvos? — Avon perguntou.
— Não, tudo menos isso. — Imri disse, com os dentes cerrados. Avon
nunca tinha visto o Padawan parecendo nada mais do que ligeiramente
confuso, então sua expressão de raiva era errada e um pouco preocupante.
Os Jedi não ficavam bravos, ficavam? Não era isso que a Força deveria
prevenir de alguma forma?
— Onde está Chiri? — Honesty perguntou.
— Se foi. — Imri disse, Imri disse antes de se afastar para um canto
distante da caverna, com os seus olhos abatidos. Avon teve a sensação de
que ele não quis dizer “se foi” de volta para a selva, mas sim de uma
maneira terrível.
— Encontramos o distúrbio na Força que sentimos, — Ela lançou um
olhar preocupado em Imri que ecoava como Avon se sentia. — São dois
piratas, ou algo do tipo. Eles se denominam os Nihil.
Honesty deu um pulo.
— Os Nihil? Isso é muito, muito ruim.
Vernestra levantou as sobrancelhas.
— Você sabe quem eles são?
— Sim, são uma das razões pela qual os Dalnans não gostam de viagens
espaciais. Eles são piradas, mas não apenas roubam coisas. Eles gostam de
machucar as pessoas. Eles usam gás para te confundir quando atacam, e
ninguém que bate de frente com eles sobrevive. Eles permanecem em áreas
mais arriscadas e não mapeadas e geralmente desaparecem tão rapidamente
quanto apareceram. Eles machucaram o Chiri?
— Sim, mas isso não é tudo. Eles plantaram os explosivos na Asa
Firme. Por isso que nenhum dos sistemas de segurança foi capaz de manter
a nave inteira. — A voz de Imri estava fria, livre de emoções, Avon queria
simultaneamente abraçar o pobre rapaz e correr atrás das pessoas que foram
capazes de diminuir a luz interior do Padawan.
— O quê? — Honesty disse. Os seus punhos estavam cerrados e ele
tremia de raiva. Avon colocou a mão em seu ombro, mas ele deu de ombros
enquanto caminhava até Vernestra. — O que eles disseram? Como você
sabe de tudo isso?
— Ouvimos eles conversando. Eles não deveriam ter deixado
sobreviventes, e sabem que estamos aqui, então provavelmente vão querer
se livrar de nós. — Vernestra disse. Avon nunca havia visto a Jedi tão
incerta. Não é medo, longe disso, mas meio que sem saber o que fazer a
seguir.
— Nós não podemos apenas ficar esperando eles aparecerem e nos
pegarem. Temos que ser proativos. — Avon disse.
Honesty concordou.
— Temos que matá-los.
— Ou, — Avon interrompeu antes que qualquer dos Jedi pudessem
dizer algo, — nós os capturamos e descobrimos o por quê deles destruírem
a Asa Firme primeiramente. Tem que haver algo mais ali. Devemos
descobrir o que é.
— Eles mataram o meu pai — Honesty disse, com os olhos brilhando
mesmo com a pouca luz da caverna. — Não podemos só capturá-los e fazer
perguntas. Eles precisam pagar pelo que fizeram.
— E eles irão. Mas isso é justiça que deve ser transmitida pela
República — disse Vernestra, acenando com a cabeça. — Avon tem razão,
nós somos quatro e eles são apenas dois. Com certeza podemos capturá-los!
— Somos em seis. Não se esqueça de Jota-Seis e Essedê — disse Avon
— E você disse que eles têm uma nave?
— Está destruída, no entanto, — Imri disse — Mesmo que os
capturemos, o que devemos fazer com dois prisioneiros? Nós mal podemos
cuidar de nós mesmos — Ele não parecia nem um pouco tão convencido da
grandeza do plano de Avon como Vernestra parecia.
— Vocês são Jedi! — Disse Honesty, não desistindo facilmente. — Por
que não podem só ir lá pra faze-los pagar? Uma vez que estejam mortos,
nós podemos nos preocupar em concertar o transporte. Imri, você tem um
sabre de luz. Você não quer mostrar pra aqueles Nihil que não podem
simplesmente fazer o que quiserem e se livrar disso?
Imri não disse nada, apenas cerrou os punhos. Avon sentiu que a
situação estava saindo de controle, e quando Vernestra não disse nada, ela
respirou fundo.
— Mas nós podemos usar peças da nave deles pra concertar o transporte
de manutenção. Com um sistema de navegação adequado e mais alguns
ajustes, nós poderemos ir até Porto Haileap ou mesmo voltar para Dalna —
Avon disse. Por algum motivo, a ideia de matar alguém, mesmo que fosse
alguém mau como as pessoas que sabotaram a Asa Firme, parecia errada.
Quando seus tios contaram à sua mãe que haviam cuidado dos
sequestradores, no sentido de que foram mortos, Avon não se sentiu melhor.
Ela se sentiu muito triste. Os sequestradores dela sendo mortos não apagava
as memórias ruins; apenas as tornava piores.
Avon não conseguia ver como matar outra pessoa resolveria o problema.
Inevitavelmente, as coisas sempre escalonavam. Era muito melhor obterem
todas as respostas e descobrir uma solução mais lógica.
Não era?
— Ótimo, então está decidido. — Vernestra disse. Avon havia perdido
qualquer que fosse o que havia sido dito enquanto ela estava perdida em
seus pensamentos, mas nem Imri nem Honesty pareciam felizes com a
situação, então imaginou que eles iriam descobrir uma maneira de capturar
os sabotadores e interrogá-los antes de reconstruir o transporte.
— Vocês todos deveriam descansar. — Vernestra disse antes de colocar
as mãos na cintura e olhar para cada um deles. — Eu vou ficar acordada e
fazer a primeira vigilância enquanto crio um plano que possamos executar
logo ao amanhecer. — Estava claro pelo tom de voz de Vernestra que não
aceitaria nenhum questionamento e ninguém a pressionou. Todos voltaram
para os seus lugares separados da caverna e se acomodaram para a noite.
Enquanto Avon ia se acomodando próxima da J-6, a droide virou pra
ela.
— Você percebe que não tem como este plano funcionar, né?
— Você acha que é um plano ruim? — Avon perguntou, de repente, se
sentindo insegura.
— Ah, não, é um ótimo plano, mas eu conheço as pessoas, e algo me
diz que Honesty não está nem um pouco interessado em lógica neste
momento. As emoções tem um jeito de deixar mesmo o melhor dos planos
parecendo algo idiota. — J-6 ficou em silêncio e Avon refletiu sobre as suas
palavras.
Ela temia que a droide estivesse certa e que o luto de Honesty fosse algo
que não pudesse ser concertado com a ciência. De todos os Jedi, os quais
Avon haviam conhecido ainda era mais preocupante um Jedi que parecia
zangado e havia perdido a paz interior. O que acontecia quando um Jedi
perdia contato com o lado luminoso da Força? Nada de bom, Avon tinha
certeza disso.
Mas não achava que a vingança fosse ajudar também.
Imri diminuiu a sua respiração e buscou a Força. Mas quanto mais a
procurava, mais essa conexão vital parecia escapar. Tinham lhe contado que
sempre deveria estar calmo e plácido ao meditar. Essa tranquilidade era o
jeito de se conectar à Força cósmica e à gigantesca galáxia a sua volta. No
entanto, sentado no escuro da caverna, Imri não conseguia ficar calmo ou
em paz. Estava perdido, à deriva, e a Força estava longe demais para ajudá-
lo.
Imri sempre quis ser um Jedi, o melhor Jedi, e por muito tempo
ninguém o levou a sério. Era o garoto engraçado que era mais alto que os
outros Younglings e Padawans e que falava o idioma básico com um
sotaque estranho. O planeta natal de Imri, Hynestia, era distante do centro
da galáxia. E havia algo no seu jeito que fazia os outros Younglings
sentirem pena dele e evitá-lo. Quando se tornou um Padawan, Imri morria
de medo de descobrir que a sua conexão com a Força era fraca demais para
que prosseguisse e que seria mandado a um Templo distante para estudar e
servir os habitantes locais em vez de manter a ordem no lado da luz.
Mas, então, ele conhecera Douglas. E mais uma vez teve certeza de que
um dia se tornaria um Jedi. Douglas vira algo que ninguém mais vira em
Imri. Tinha visto potencial.
Porém, Douglas tinha partido, assim como tudo pelo que Imri tinha se
esforçado tanto. Não haveria mais a peregrinação para Jedha para se
familiarizar com a Força antes de partir para o templo principal em
Coruscant e realizar os testes. Não haveria mais o treino para piloto e Imri
nunca aprenderia como pilotar um Vector, naves que só os Jedi conseguiam
pilotar. Não havia mais nada disso, só luto e um futuro incerto onde as
pessoas responsáveis pela morte de Douglas aguardavam a punição da
República, uma sentença que poderia demorar meses ou anos para ser
proferida.
Não era justo. A Força deveria criar equilíbrio por toda a galáxia, e
quanto a isso? Não havia nada justo e equilibrado em piratas matando uma
nave cheia de pessoas e se safando. Especialmente numa galáxia onde
muitas pessoas podiam morrer num aleatório acidente de hiperespaço que
pareceu menos com um acidente e mais como algo planejado. E no
momento em que Imri se conectara com Chiri, a pequena criatura que
confiara tão facilmente nele, o seu amigo peludo fora assassinado.
Por isso Imri não sentia clareza, paz ou tranquilidade. Ele se sentia triste
e talvez um pouco perdido. Como a Força podia agir de maneiras tão
terríveis?
Imri tremeu ao sentir algo estranho e poderoso varrer a sua consciência.
Raiva, intensidade e calor. Ele achou que tivesse imaginado isso, pois a
sensação rapidamente se esvaiu. Os seus olhos estavam bem abertos, mas os
outros ainda estavam dormindo. Até mesmo Vernestra. Ela planejara ficar
de guarda pelo resto da noite, mas quando se ofereceu ficar em seu lugar ela
concordou com gratidão. Ele sentira ondas de exaustão emanando dela, ao
lado da preocupação. Ela não fazia ideia de como abordar a captura dos
piratas pela manhã e o caos de suas emoções facilitou para Imri projetar um
sentimento de aceitação na Jedi, amenizando a sua preocupação. Se ela
achasse que estava sereno seria mais fácil fazê-la descansar. Ela estava
incomodada com a raiva dele, mas quanto mais Imri se permitia sentir raiva,
mais decidido em agir pela raiva, melhor se sentia.
Mais forte.
A raiva era muito melhor que a tristeza que havia contaminando-o desde
que a Asa Firme tinha sido destruída. Parecia certo controlar aquela raiva
para desafiar as pessoas que haviam lhe machucado, que haviam levado
tudo o que sempre quisera. Talvez não conseguisse alcançar a Força naquele
momento, mas a força de suas convicções poderia ser um poder próprio,
não?
Ele causaria aos Nihil o desespero que sentira nos últimos dias,
devolveria dez vezes mais forte. Eles pagariam por terem matado o seu pai.
Imri piscou e percebeu que a raiva estimulante que sentira não era uma
emoção sua. Estava radiando de Honesty. Imri podia não conseguir se
familiarizar com a Força, mas não tinha problema em sentir e empatizar
com a raiva que vinha de Honesty.
Talvez, só dessa vez, Imri deixasse as emoções pelas quais não deveria
se apegar o guiarem.
Ele se levantou e ativou o seu sabre de luz, pronto para sair na chuva e
no escuro, e fazer justiça de verdade com os piratas. Mas parou e
reconsiderou, desligando o sabre de luz.
Sem os limites que a Força geralmente lhe dava, precisava de alguém
para cobri-lo. Por que não o garoto que estava tão bravo quanto Imri?
Imri andou até o garoto e ficou parado sobre ele antes de se abaixar.
— Eu sei que você não está dormindo.
Imri podia não ter a Força para guiá-lo, mas achava que talvez os Jedi
não fossem os únicos que podiam decidir sobre o que era certo e errado na
galáxia. Talvez as pessoas que haviam realmente sofrido podiam tomar as
decisões em alguns momentos.
E talvez um desses momentos fosse agora.
Honesty fingia que estava dormindo. Ele era bom nisso. Praticou
bastante. Em Dalna costumava evitar a sua mãe e as suas conversas
fingindo que estava dormindo. A sua mãe achava que ele dormia mais que
os outros garotos da idade dele, mas a verdade era que em alguns dias era
melhor ir pra cama mais cedo do que brigar com os seus pais sobre
basicamente tudo.
Era só a sua mãe, agora. O seu pai nunca mais iria voltar.
O luto o atingiu do nada, mas desta vez acompanhado de um ódio
consumidor. As pessoas que mataram o seu pai e o mestre de Imri não
estavam tão longe, e eles deveriam esquecer disso e simplesmente...
esperar? Pedir com educação para que se entreguem à República e esperar o
julgamento?
Só que não.
Honesty respirou fundo e deixou os sentimentos se dissiparem. Eles
apareceram subitamente, tão intensos que quase pareciam surgirem do nada.
E ele tinha que manter seus sentimentos contidos. Ele escutou a conversa de
Avon sobre como os Jedi podiam sentir emoções fortes, então ele não queria
que Vernestra soubesse o quão bravo estava. Ele respirou fundo várias vezes
e enterrou os seus sentimentos, tão fundo que só conseguia pensar no som
da chuva diminuindo do lado de fora e no ensopado que iria comer daqui
algumas horas no café da manhã.
Sei que não você estava dormindo.
Honesty abriu os olhos e viu Imri agachado ao seu lado. O Padawan fez
sinal para que Honesty o seguisse, então ele o seguiu, levantando-se em
silêncio. Próximo dali estava Vernestra, deitada no chão e relaxada, em sono
profundo.
— Ela não estava de guarda? — perguntou Honesty.
— Estava, mas eu disse que assumiria pra ela poder descansar um
pouco. — respondeu Imri. A sua expressão serena e pacífica de sempre
mudou na mesma hora, se parecendo outra pessoa com o seu semblante de
raiva. Honesty não o conhecia bem, mas estremeceu ainda assim. — Vou
encontrar aquela escória que matou o meu mestre e entregar a justiça que
merecem. Está comigo?
O coração de Honesty saltou de alegria e medo. Não era isso o que ele
queria? Mas ainda assim uma sensação de medo o apossou. Os Jedi não
podiam matar. Isso ia contra tudo o que acreditavam. O seu pai costumava
engrandecer os Jedi pela diplomacia e visão deles, e isso parecia o oposto.
Mas além disso, vingança seria algo que o seu pai gostaria que fizesse?
Honesty nunca presenciou o seu pai levantar a voz, nem mesmo quando
desobedecia de propósito. O embaixador era o tipo de homem que pegava
uma aranha perdida e a levava pra fora em segurança. “Esta aranha só está
tentando fazer o seu trabalho. Não é culpa dela que se perdeu”, diria ele,
enquanto soltava a aranha no lado de fora da casa. Entregar-se à violência
parecia o oposto do que seu pai gostaria.
Mas retomou a sua compostura. Se Imri estava disposto a lutar, ele
também não deveria estar? Ele queria ser um guerreiro. Honesty não
precisava se preocupar com o que seu pai iria querer, porque ele estava
morto. Honesty estava com raiva e sofrimento. E a maneira mais fácil de
lidar com a dor seria ir atrás dos responsáveis.
E um soldado lutaria.
— Estou com você. — declarou Honesty.
Imri assentiu e perguntou:
— Você tem um blaster?
Honesty deu um tapinha no blaster pendurado em seu cinto, que estava
lá desde que Avon o deu. Imri se virou e começou a andar. Honesty
precisou correr para o alcançar o garoto mais velho.
A chuva já havia parado, mas as árvores ainda gotejavam conforme
adentravam na selva. Uma gota caiu na manga da camisa de Honesty em
um local diferente que antes e ele gritou de dor conforme a água atingia sua
pele. Ia ter outra queimadura.
— Cuidado. — advertiu Imri.
— Você não pode levitar estas folhas pra cima?
— Não. — respondeu Imri rispidamente. — Agora não. — Honesty não
sabia o porquê, mas aquilo o deixou desconfortável. Um Jedi pode recusar
usar a Força? O que isso significava?
— Você já fez algo assim antes? — perguntou Honesty, conforme
andavam com cuidado pela selva.
— Sim, algumas vezes. Douglas e eu costumávamos andar pelo Porto
Haileap e, com frequência, tínhamos que afugentar os piratas que
incomodavam os viajantes. Mas nunca achei que fossem perigosos a ponto
de me preocupar. Acho que estava errado. — O maxilar de Imri se enrijeceu
e ele apontou para um ligeiro declive marcado por árvores severamente
mutiladas. — Vamos para lá.
— Tem algum plano? — perguntou Honesty. Agora que estava lá, ele
estava menos seguro sobre a parte de lutar. Ele teve várias aulas de luta, em
Dalna essas aulas eram necessárias para aumentar suas habilidades de
sobrevivência e, um dia, ser testado, a fim de se tornar um adulto, mas ele
não achava que seriam muito úteis contra um pirata de verdade. Todos
sabiam que aqueles que viviam saqueando as vias espaciais eram cruéis e
desprezíveis, e Honesty era mediano quando o assunto era luta. Imri tinha a
Força do seu lado, mas tudo o que Honesty tinha era um pequeno blaster.
Não parecia muita coisa.
— O plano é você me seguir. — respondeu Imri endireitando-se. O seu
semblante não havia mudado. Honesty se afastou um pouco do Padawan.
Era como se alguma coisa tivesse se apossado do garoto mais velho, como
se algo sombrio o tivesse empurrado para esse caminho de vingança.
Perceber isso fez Honesty diminuir um pouco a sua própria raiva.
— Talvez seja melhor a gente voltar. — disse Honesty com a voz baixa.
— Esperar Vernestra e Avon para que nos ajudem.
— Vern não machucaria ninguém se puder evitar. Vamos, chega de
enrolação. Ou você está comigo ou não está. Preciso da sua raiva, Honesty.
Não está bravo pelo que fizeram com o seu pai? Imagine o quão assustado
ele estava quando morreu.
E na mesma hora, Honesty foi tomado pelo ódio mais uma vez.
Imri caminhava entre as árvores em silêncio, enquanto Honesty o
seguia. Ele queria vingança, mesmo que no momento isso não parecesse a
melhor ideia, então ele espantou as suas dúvidas e seguiu o mais velho até a
nave de carga destruída.
— O que houve com a nave deles? — perguntou Honesty com a voz
baixa.
Imri gesticulou para que ficasse quieto. Eles pararam próximo a uma
pedra enorme caída no canto da nave. Ao sinalizar, Imri puxou o seu sabre,
enquanto Honesty pegava o seu blaster. A espada de plasma ao surgir
crepitou e Imri apontou para a direita, depois para si mesmo e em seguida
apontou para a esquerda.
Honesty entendeu facilmente. Ele hesitou. Não porque não tinha
entendido, mas porque esperava um plano elaborado. Este plano parecia, no
mínimo, incompleto.
Mas ele não disse nada, somente pressionou os lábios e assentiu,
esgueirando-se para a direção indicada por Imri.
O mundo ao redor de Honesty clareava rapidamente conforme os sóis
nasciam. Enquanto se arrastava pela selva, a vegetação aumentando a cada
passo, ele teve outro momento de medo. Ele deveria voltar.
Ele ignorou as dúvidas e focou em manter-se perto da nave. Não muito
longe estava a entrada do compartimento de carga. Ele não conseguia ver
Imri, mas certamente ele estaria do outro lado, esperando para entrarem na
nave juntos...
Foi quando escutou um tiro de blaster passando perto de seu ouvido.
— Eu soltaria o blaster se fosse você, verme. — alertou a voz.
Honesty hesitou por um segundo e soltou o seu blaster sobre algumas
samambaias ao seu pé. Uma forte pancada em sua coluna e ele cambaleou
para frente:
— Ande. — disse a pessoa atrás de Honesty.
Honesty obedeceu, com o coração acelerado, tomado por puro medo
pela primeira vez desde que fugiu da Asa Firme para encontrar um pod de
fuga. Ele não conseguia ver quem era, mas a voz era grave e firme e
impedia qualquer um de retrucar.
Conforme passava pela beirada da rampa de carga, Honesty percebeu
que o plano deles não tinha a mínima chance de dar certo. Imri estava
jogado na rampa, inconsciente ou morto. Vernestra estava certa. Eles
subestimaram os piratas e agora vão pagar por isso.
— Ele está morto? — perguntou a pessoa de voz grave, empurrando
Honesty, que caiu na rampa ao lado de Imri. Honesty se virou e viu que o
pirata era um Aqualish. Havia vários Aqualish em Dalna, mas eram todos
agradáveis e gentis. O pirata só tinha um olho e o seu pelo parecia pelo de
rato, o que o fazia parecer malvado. Uma cicatriz no lado direito de seu
rosto estava pintada de azul, e conforme sorria, Honesty sentia um arrepio
na espinha. Não havia um pingo de bondade ali.
— Não, só o atordoei. — respondeu uma humana de pele pálida e com
cabelo da cor magenta, enquanto segurava o sabre de Imri. Ela apertou o
botão, mas nada aconteceu. — Como isto funciona?
— Por quê? Você vai cortá-lo e fatiá-lo? — perguntou o Aqualish, rindo
e tomando o sabre, analisando-o de perto.
— Talvez. — respondeu a mulher com um sorriso malicioso. Honesty a
reconheceu da Asa Firme. Ela estava vestida como mecânica e
cumprimentou o seu pai quando os dois andavam pelo convés em direção
ao quarto de Honesty, após um rápido passeio pelo Porto Haileap. Eles
destruíram a nave de propósito.
Os piratas queriam que as pessoas morressem. Esses são os piores tipos
de gente.
O coração de Honesty se endureceu conforme sentava e encarava os
piratas. Ele iria morrer como um guerreiro, não como um garotinho.
— Bom, você vai ter que esperar. — disse o Aqualish, guardando o
sabre. — Você não disse que havia mais deles por aqui?
— No total eu vi quatro crianças e um droide de protocolo. Ainda
faltam uma garota humana e uma Mirialana. Não as vi na selva quando
achei este aqui. — disse ela, apontando para Imri. — Deveríamos procurá-
las?
— Não. — respondeu o Aqualish. Os seus olhos se encheram de
maldade ao se encontrarem com os de Honesty.
— Deixe que venham até nós.
Assim que acordou, Vernestra sentiu que algo estava errado. O local
parecia muito vazio e desocupado. Enquanto se sentava, ela notou que Imri
e Honesty haviam sumido. Avon ainda dormia, o droide ao seu lado.
Vernestra levantou-se e acordou a garota mais nova.
— Não, era para ser um conector bivolt... hã, o que... Vern... —
murmurou Avon, se sentando e esfregando os olhos. — Aconteceu alguma
coisa?
— Os garotos sumiram. — respondeu Vernestra, com uma profunda
sensação de pavor amargando seu estômago. — Acho que foram atrás dos
piratas sozinhos.
— Claro que foram, eles são completamente ridículos. — disse Avon,
levantando-se e espreguiçando-se. Ela pegou os óculos que estavam em sua
cabeça e os colocou. — Sério que vamos atrás deles antes de tomar café da
manhã?
— Você está calma demais em relação a isso. — disse Vernestra,
cruzando os braços.
— Vern, olhe pela perspectiva dos piratas. Eles nos querem mortas,
certo? Todos nós. Então eles devem querer que nós vamos até eles. Imri e
Honesty devem estar bem por enquanto, assumindo que não mataram os
piratas. E não mataram.
— E como sabe disso? — perguntou Vern.
— Antes de dormir eu programei o Essedê para ficar de guarda, caso
alguma coisa acontecesse. — respondeu Avon, apertando um botão na
lateral dos óculos. — Parece que ele seguiu a Imri e Honesty quando saíram
bem cedo. Ele ainda está por lá, um pouco depois de um declive onde há
uma nave de carga danificada.
Avon pressionou o botão novamente e empurrou os óculos de volta para
o topo da cabeça.
— Como aquela pedra foi parar na lateral da nave? — questionou Avon.
Vernestra deu de ombros, embora soubesse bem que aquela pedra era
resultado de uma falha de Imri ao manusear a Força no primeiro dia. O
simples fato de ter caído na nave dos piratas, deixando-os preso em Wevo,
indicava que a Força estava a favor deles. Os piratas teriam escapado com
os seus crimes se não fosse pela Força agindo na pedra, um pouco de
justiça.
Avon encarou Vernestra por um tempo e também deu de ombros.
— Certo, fique com os seus segredos, Jedi. — falou Avon. — O
importante agora é como vamos salvar aqueles teimosos antes que os
piratas decidam matá-los. Somos em duas só.
— Somos em três. — interferiu J-6, levantando-se de onde estava.
— Não acho que uma droide será útil em uma luta. — disse Vernestra.
— Que bom que não sou uma droide comum. — O compartimento
central de J-6 se abriu e vários braços mecânicos surgiram, cada um
segurando blaster de vários tamanhos. — Também sou programada para
proteção, vigilância e defesa. — Outro braço surgiu das costas de J-6,
segurando um canhão de longo alcance, e Vernestra olhou para Avon em
dúvida.
— Ah, sim, acho que deveria ter falado sobre os blasters. — disse Avon
com um sorriso amarelo. — Minha mãe é realmente, realmente
superprotetora.
Vernestra inspirou fundo e deixou pra lá.
— Bem, então, vamos descobrir como salvar os nossos amigos.

Retornar ao local onde Vernestra e Imri viram os piratas na noite anterior


estava sendo demorado. A J-6 era muito mais lenta que as meninas e o
terreno desnivelado pioravam a caminhada. Avon observou a droide e
franziu as sobrancelhas.
— Vou arranjar propulsores novos para você quando voltarmos ao Porto
Haileap. Isso é frustrante. — disse Avon.
— Nunca pensei nisso, mas adoraria algumas melhorias. Vou fazer uma
lista. — disse J-6.
Era estranho estar perto de uma droide que obviamente possuía desejos
próprios. O que quer que Avon tenha feito na droide a fez parecer menos
como máquina e mais como uma criatura viva. Mas elas estavam muito
próximas da nave e Vernestra foi forçada a deixar as suas reflexões para
outra hora.
As três se esconderam atrás de um grande arbusto roxo com folhas no
formato de estrelas gigantes.
— Onde está o seu droide sentinela? — perguntou Vernestra.
— Está naquela árvore. — respondeu Avon, apontando para um galho
perto e colocando os óculos. — Programei modo furtivo antes de sairmos.
Vamos ver... Parece que Imri e Honesty estão amarrados na rampa de
embarque. — Avon abaixou os óculos. — Gostaria de reiterar que minha
teoria estava correta.
Vernestra bufou de aborrecimento.
— E os Nihil? Consegue vê-los? — perguntou ela.
Avon colocou os óculos de volta, hesitou e balançou a cabeça.
— Não estou detectando ninguém, nenhum sinal de vida.
— Eles estão lá. — retrucou Vernestra, certa de que os piratas estavam
próximos. Eles pareciam como um formigamento na nuca dela, como uma
praga na harmonia perfeita de Wevo. — Só precisamos atraí-los.
— Deixe isso comigo. — disse J-6. Ela começou a caminhar
cambaleando em direção à nave, enquanto falava “zzt zzt zzt”. Vernestra só
observava.
— O que ela está fazendo? — perguntou Vernestra.
— Acho que está fingindo estar com defeito. — respondeu Avon.
— Sabe que isso é estranho, né?
— Estranho ou incrível? Vern, isto é uma das coisas mais fascinantes
que já vi. Droides que podem se auto reprogramar se tiverem a
oportunidade! Isso significa muita coisa.
Vernestra suspirou e pegou o seu sabre.
— Fique aqui.
Avon começou a protestar, mas calou-se.
J-6 chegou à entrada da nave e começou a entrar. A humana e o
Aqualish saíram de seus esconderijos atrás de samambaias gigantes.
Era exatamente o que Vernestra estava esperando. Mas antes que
Vernestra pudesse se mover, J-6 parou e ativou os seus braços, cada um
segurando um blaster.
— Podem parar aí, escórias! — advertiu J-6.
Os Nihil pararam e Vernestra suspirou:
— Isso não era parte do plano.
— Improviso! — exclamou Avon. — Jota-Seis está se reinventando
conforme acontece. Isso é melhor do que esperava.
E não havia mais tempo pra conversa, todos começaram a atirar.
— Abaixe-se ou saia daqui! — gritou Vernestra. Tiros de blaster
chamuscando as folhagens ao redor delas, alguns acertando J-6, que nem se
incomodava.
— Ótima ideia. — disse Avon, abaixando-se nas folhagens.
Vernestra acionou seu sabre e saltou para frente, usando a Força para
impulsioná-la para entre as árvores. Atrás dela, Avon soltou um grito de
surpresa, mas Vernestra não tinha tempo para se preocupar com a mais
nova. Ela tinha que salvar Imri e Honesty e capturar os piratas.
Ser cavaleiro Jedi se mostrou ser mais complicado do que Vernestra
achou que seria.
O Aqualish mirou o seu blaster em Vernestra quando a viu surgindo das
árvores. Ela usou o sabre para repelir os tiros e rolou no chão, chutando os
pés dele, o fazendo tropeçar. Ele soltou o blaster e Vernestra o chutou pra
longe, o segurando usando a Força e o arremessando na árvore. Ele atingiu
os galhos, caindo inconsciente ao pé da árvore.
Vernestra não teve tempo para celebrar. A mulher a abordou por trás, a
derrubando no chão, com a Jedi ficando sem ar com o impacto. Vernestra
deixou o sabre escapar. Ela tomou um impulso na Força e saltou no ar, junto
com a mulher. Vernestra caiu de pé, mas a mulher de cabelos magenta não.
Mas isso não importava, pois a mulher estava com um blaster apontado
diretamente a Vernestra. E ella tentou puxar o seu sabre, mesmo sabendo
que não adiantaria nada, mas antes que a mulher pudesse atirar, arregalou os
olhos e começou a engasgar. Ela soltou o blaster e colocou as mãos na
garganta. Vernestra balançou a cabeça.
— Não estou fazendo isso. — disse Vernestra, em confusão. Porém viu
Imri descendo a rampa, puxando o seu sabre com a Força, que estava no
bolso do Aqualish. Atrás dele estava a J-6, que havia guardado os blasters e
estava agachada, removendo a corda das mãos de Honesty.
— Não. — disse Imri, a testa enrijecida em concentração. — Eu que
estou.
— Você precisa soltá-la, Imri. Este não é você. É a escuridão te
alcançando. Essa necessidade por vingança e toda essa raiva? Este é o
caminho para o lado sombrio.
— Mestre Douglas está morto por causa dela. Sinto muito, Vern. Não
vou permitir que ela machuque mais ninguém.
A mulher caiu, com a sua vida desvanecendo-se rapidamente, e
Vernestra sabia que não dava para impedi-lo com palavras. Ela alcançou a
Força e segurou Imri no ar, lançando-o para longe da nave, perto das
árvores. A mulher caiu no chão e Avon saiu de onde estava escondida.
— O que há de errado com Imri? — perguntou Avon, com os olhos
arregalados de medo.
— Raiva está levando-o para o lado sombrio da Força. Tenho que ajudá-
lo antes que piore. Você e a Jota-Seis cuida do restante. E o que quer que
aconteça, não nos sigam.
J-6 abriu o compartimento peitoral e apontou um blaster para a mulher,
que estava tossindo, e outro para o Aqualish, que estava inconsciente.
— Se vocês se moverem, vão morrer. — disse ela.
A Nihil tossiu mais e levantou as mãos, se entregando.
Vernestra pegou o seu sabre e adentrou a selva, indo atrás de Imri. Ela
não o deixaria cair para o lado sombrio.
Imri gemeu ao sentar-se. Vernestra o jogou como se fosse um boneco. Ele
estava impressionado e, ao mesmo tempo, enfurecido. Teve sorte de cair
sobre um amontoado fofo de samambaias e não machucou nada, só o seu
orgulho. Ela o dominou com tanta facilidade, mas ele não deixaria isso
acontecer de novo.
Ele teria a sua vingança. E se Vernestra tentasse impedi-lo, ela iria se
arrepender disso.
Vernestra apareceu diante dele quando tentou alcançar o sabre, sua pele
verde brilhante contrastando com as folhagens escuras ao redor dela.
Algumas mechas de cabelo se soltaram do laço. Ela estava parada, porém
atenta, com o seu sabre roxo.
— Imri, pare. Você não irá matar os piratas.
— É aí que você se engana. Eu vou matá-los. E se não me deixar passar,
vou matar você antes. — As palavras que saíram da boca de Imri pareciam
ser de outra pessoa. Ele não queria matar a Vern de verdade, queria?
A culpa a apossou. Vernestra sempre foi gentil com ele, mas ele estava
perdido sem o seu mestre o guiando. Ele tinha uma dívida com Douglas de
punir os Nihil por seus crimes.
Então Imri decidiu enfrentar Vernestra. Ele iria matá-la se não o
deixasse lidar com aquela mulher desprezível e aquele homem horrível.
Eles não mereciam viver e ele iria fazer isso acontecer.
— Saia, Vern. Tenho que fazer isso. Por Douglas.
— Isso é a última coisa que ele iria querer.
— Saia por bem ou por mal. — disse Imri, com a voz inexpressiva.
O semblante de Vernestra se fechou.
— Então tá, Padawan. Vamos ver do que é capaz.
Imri acionou o seu sabre. Era azul e forte, e isso deu-lhe confiança. Ele
era tão bom quanto Vernestra. Iria mostrar que estava errada em subestimá-
lo, como todos fizeram.
Ele avançou, o ódio e a Força o impulsionando.
Vernestra bloqueou o ataque com facilidade. Apesar de ser mais
poderosa e mais bem treinada, Imri era mais alto que ela. Ela não falava
nada enquanto lutava. O seu sabre se chocava com o dele repetidas vezes,
conforme repelia os ataques. Não importava o que Imri tentasse, Vernestra
não cedia. Então ele a empurrou com a Força.
Nada aconteceu. Vernestra nem se mexeu.
O seu semblante se fechou e ela deu um salto mortal para trás para
evitar o próximo ataque. Imri avançou, determinado em acertar a Jedi, e
soltou um alto gemido em surpresa quando algo queimou a palma de sua
mão, fazendo-o soltar o sabre de luz.
Vernestra estava parada na frente dele. O seu sabre de luz havia se
transformado em um chicote de luz. Quando Imri tentou pegar seu sabre, a
ponta do chicote riscou o chão, deixando cortes que chiavam entre ele e seu
sabre. Imri tentou pegar seu sabre novamente, mas desta vez Vernestra
chicoteou o sabre, cortando-o e deixando dois pedaços chamuscados.
— Já chega, Imri. Basta. Você usou a Força de maneira agressiva
quando enforcou aquela mulher! Douglas nunca iria querer aquilo e
principalmente não iria querer dois Jedi lutando entre si.
Imri resmungou de raiva ao ouvir falar de seu mestre morto. Ele poderia
não ter o sabre, mas ainda sabia lutar. Ele se conectou a Força, mas quando
fez isso, a sua raiva, juntamente alimentada com a raiva de Honesty,
começou a esvair-se quando, por um breve momento, ele sentiu a mão de
seu mestre repousando firme sobre seu ombro.
— Ser Jedi é sempre confiar que a Força trabalha de formas
misteriosas, Imri. Aceitamos e damos nosso melhor, mas nunca esquecemos
que, no fim, tudo é como a Força deseja.
A voz de Douglas poderia ser alguma lembrança, mas parecia mais que
isso. Toda a raiva saiu de Imri e ele caiu de joelhos, enterrando o rosto nas
mãos. Ele nem sequer sentia a raiva de Honesty, ainda que o garoto também
tivesse perdido o desejo de vingança. Ele não queria chorar. Ele queria estar
bravo. Mas a sua tristeza era maior do que pudesse suportar, então começou
a chorar muito.
— Isso não é justo. Não é. Douglas era bom, justo e forte e aquelas
pessoas o mataram. E por quê? Por nada.
— Vamos descobrir o motivo, Imri. E você pode ficar bravo. Mas se
entregar ao ódio, deixar essa emoção conduzir as suas ações, isso é caminho
direto para o lado sombrio. Podemos levá-los à justiça, mas essa justiça não
cabe a nós fazer. Servimos à Força e a Força não escolhe lados.
Vernestra abraçou Imri e foi pegar o sabre quebrado dele. Uma
vergonha profunda apossou Imri. Ele cometeu um erro e era um que teria
que lidar por um bom tempo.
— Venha. — disse Vernestra. — Vamos descobrir o motivo de terem
destruído a Asa Firme.
Quando Vernestra e Imri chegaram na nave, J-6 havia acabado de
amarrar os piratas usando o nó Batuu, um estilo de amarração comum nesse
planeta, que Avon ensinou pra ela. O garoto parecia esgotado. Avon olhou
para Vernestra com as sobrancelhas levantadas em dúvida e Vernestra
assentiu.
Tudo estava bem. Por enquanto.
Avon apontou para o Aqualish e para a humana, que estavam no convés
de carga da nave. Ambos estavam acordados e olharam para a Jedi
conforme ela se aproximava.
— Achei que amarrá-los seria uma boa ideia, já que eu não sabia quanto
tempo vocês iriam demorar. — disse Avon. — Também enviei um pedido
de socorro para os canais da República e dos Jedi. Enviei uma transmissão
para o Templo em Dalna e o Porto Haileap também. Com sorte, alguém
escutará alguma transmissão e irá responder. Podemos esperar uma resposta
logo, mas não sei aqui neste setor. Pode levar dias ou semanas.
— Eu também enviei uma mensagem para a Capital de Dalna. — disse
Honesty, esfregando a nuca. — Imaginei que pudessem nos ajudar a lidar
com os Nihil, já que o governador possui experiência com eles.O garoto se
recusava a falar ou olhar para Avon, ela imaginou que fosse pelo ego ferido
em precisar ser salvo. Imagine a vergonha de planejar destruir alguém e no
fim virar refém. Ele deveria ter avaliado as suas opções com mais lógica,
mas Avon ficou quieta. Ela imaginou que ego ferido já era castigo o
suficiente, mas ainda assim torcendo para que percebesse que violência não
era a resposta para tudo.
Vernestra assentiu e apontou um canto perto das caixas de transporte
para que Imri se sentasse. Ele foi, sem dizer uma palavra, e Avon começou
a andar em direção a ele, porém Vernestra a interrompeu.
— Deixe-o. Ele precisa ficar um pouco sozinho, pensando. — disse
Vernestra.
— O que aconteceu com ele, Vern? — Avon nunca havia visto o garoto
tão bravo como quando ele estava desafiando Vernestra.
— Um Jedi precisa sempre estar alerta com o lado sombrio. O luto de
Imri tirou o melhor que há nele, seduzindo-o e forçando-o a tomar decisões
que se arrependeria.
Avon examinou o Padawan e mordeu o seu lábio inferior.
— Ele está encrencado?
— Não sei.
— Seus mynocks desleixados é melhor nos libertarem antes que
fiquemos zangados. — resmungou o Aqualish atrás delas. Avon e Vernestra
se viraram. Avon deu um passo e Vernestra levantou a mão.
— Permita-me. — disse Vernestra, caminhando em direção aos piratas
amarrados. Ela se agachou, ficando cara a cara com o Aqualish. — Diga-me
o seu nome.
Uma sensação estranha percorreu Avon. Ela sentiu um leve desejo de
dizer o nome dele para Vernestra. Ela deixou o sentimento de lado, mas o
Aqualish começou a falar.
— Gwishi dos Nihil. Sou o líder deste Strike.
— E exatamente quem são os Nihil? Vocês são somente piratas? —
perguntou Avon, antecipando a pergunta de Vernestra. O que quer que
Vernestra estivesse fazendo para que o Aqualish colaborasse, ainda estava
funcionando. Ele ajeitou a coluna, endireitando-se.
— Somos mais poderosos que isso. Piratas sonham em fazer o que
fazemos. Os Nihil vão aonde querem, fazem o que querem, pegam o que
quiserem. Somos muitos e somos fortes, e somente o mais forte sobrevive,
como deve ser.
Vernestra inclinou a sua cabeça.
— Então por que destruíram a Asa Firme? O que tinha na nave que
vocês queriam tanto?
Gwishi não falou nada, apenas balançou a cabeça. Vernestra acenou
devagar em frente os olhos dele e repetiu a pergunta. Mas o Aqualish se
recusou a responder.
— A gente não queria que Dalna se juntasse à República. — respondeu
a mulher. Gwishi xingou em seu dialeto e J-6 deu uma risada.
— Essa foi boa. Quer que eu traduza? — perguntou J-6.
— Não. — disse Vernestra ao mesmo tempo em que Avon disse:
— Sim!
Avon quase retrucou, mas um olhar severo da Jedi a fez pressionar os
lábios e levantar as mãos em rendição.
— Por que não queriam Dalna juntando-se à República? — perguntou
Honesty, surgindo do nada. Ele caminhou em direção à mulher, que olhou
para ele desafiando-o.
— Porque este é nosso setor. Se houver cruzadores da República
patrulhando este canto, arruinará tudo. E agora que os Nihil estão em guerra
com os Jedi e a República, vocês sentirão o peso de nossa ira. Uma
tempestade está chegando e vocês se arrependerão por nos enfrentarem. O
forte sobrevive, o fraco morre.
Honesty encarou a mulher por um bom tempo e assentiu.
— Bom, estão vamos ter que impedi-los, para que nunca mais
machuquem alguém. — disse ele. Ele se virou, caminhou em direção ao
compartimento de carga e sentou-se em uma caixa. Avon olhou para
Vernestra e andou em direção ao garoto, sentando-se ao seu lado.
— Sinto muito sobre o seu pai. — disse Avon, incerta sobre o que fazer,
por fim dando um tapinha constrangedor no joelho do garoto.
— Acha que a sua mãe consegue uma audiência com o Senado para
mim? — perguntou ele após um tempo.
— Não sei. Talvez. Por quê?
— Porque quero ser o primeiro a contar sobre o que estes Nihil, ou o
que for, fizeram com o meu pai e os meus amigos. — Uma lágrima escorreu
seu rosto e Avon colocou o braço sobre o ombro dele, dando o melhor
conforto que conseguia.
— Honesty, pode ter certeza de que vou conseguir que você fale com o
Senado, não importa como. Prometo.
E então houve silêncio por um bom tempo. Ele abraçou Avon e ela
percebeu que, de alguma forma, eles se tornaram amigos, e então o abraçou
um pouco mais forte.
Os Jedi apareceram para resgatar Avon, Imri, Honesty e Vernestra após dois
dias. Foram dois dias quietos e tranquilos. Durante a espera, a bateria de
SD-7 finalmente se esgotou e Avon o guardou em sua mochila, fazendo um
lembrete mental de carregar baterias extras futuramente. J-6 não precisava
dormir e era capaz de recarregar-se em um carregador na nave, então ela
ficava rondando os Nihil com os seus blaster apontados, atirando em aviso
toda vez que pareciam confortáveis demais, desfrutando do momento mais
do que Avon gostaria.
Ela iria ajustar a programação de J-6 um pouquinho quando chegassem
à civilização. Não a ponto de voltar como era antes, mas o suficiente para
que ela não fique animada demais perto de armas.
O Jedi que os encontraram era um Trandoshano, Mestre Sskeer, com a
sua Padawan aprendiz Keeve Trennis, ambos chegando do planeta
Shuraden. O Mestre Jedi estava sem um braço, Avon morrendo de
curiosidade para saber como ele o perdeu.
— Sabia que Trandoshanos podem regenerar partes do corpo? —
sussurrou Avon para Honesty, que estava tão acostumado com as falas
espontâneas de Avon que deu um pequeno sorriso.
— Por favor, não pergunte ao Mestre Jedi sobre o braço perdido. —
disse Vernestra, com a sua habilidade de saber o que Avon estava pensando
era muito irritante.
— Não ia perguntar isso. Só ia perguntar quanto tempo demora para
crescer de volta. — disse Avon, porém Vernestra já estava andando para
longe.
Avon caminhou pra perto de onde Imri estava, em algum canto da nave.
O garoto mal falou desde a sua luta com Vernestra e quando falava havia
hesitação nas palavras, como se temesse o que pudesse falar. Enquanto a J-6
estava encarregada de monitorar os prisioneiros Nihil, Vernestra monitorava
Imri de perto. Honesty e Avon ficaram se perguntando o que deve ter
acontecido entre os dois. Avon sabia que era algum assunto de Jedi, algo
sobre o lado sombrio e como os Jedi se tornam maus se perderem o
caminho, mas ainda assim não estava certa dos detalhes. E Vernestra
certificou-se de que Avon não descobriria o que aconteceu.
Vernestra estava conversando com o Mestre Jedi e Avon tinha pouco
tempo para conversar com o garoto.
— Então, acho que é a última vez que nos falamos. — disse ela,
sentando-se ao seu lado. — Parece que você está bem encrencado.
— Você nem imagina o quanto.
— O que aconteceu com você?
Imri encolheu os ombros.
— Um Jedi deveria entender que ódio e raiva são destrutivos se
alimentados por muito tempo. Me esqueci disso e meio que me fez fazer
decisões horríveis.
— Tipo lutar contra a Vern?
Imri deu um sorriso.
— Sim, aquilo foi burrice.
Avon suspirou.
— Todo mundo comete erros. Eles não vão te expulsar da Ordem por
isso, vão?
— Não, acho que não. — respondeu Imri, balançando a cabeça. — Vern
acha que tenho que voltar e passar um tempo em um dos templos, repetir
alguns treinamentos. Mas não sei se quero fazer isso. — Imri deu uma
longa piscada, como se estivesse lutando contra as lágrimas. — Não acho
que sou capaz de ser um Jedi.
— Pffft, até parece. — Avon bateu o seu ombro contra o do garoto. —
Quando cheguei em Porto Haileap, você foi o que mais se esforçou para que
eu me sentisse bem-vinda. Você é uma pessoa boa, Imri. Os Jedi são
sortudos em terem você.
Ele fungou o nariz e assentiu.
— Obrigado, Avon. De coração.
— E se quiser, posso ficar com o seu sabre para você, até que você
melhore.
Imri riu.
— Nem eu o tenho. Vern o pegou depois que lutamos. Além do mais,
está quebrado. Não vale mais nada.
O coração de Avon pulou de animação e desespero. Ela não esperava
que Imri respondesse “sim”, mas também não esperava um sabre quebrado.
Isso era melhor ainda. Se ninguém estava pensando no sabre, ninguém
perceberia sua falta.
Quando Vernestra estava distraída com o Mestre Jedi, Honesty
conversando com Imri e J-6 esperando a sua chance de atirar nos Nihil,
Avon foi até a mochila de Vernestra.
Um dia a ciência iria agradecê-la pelo seu comportamento questionável.
Avon tinha certeza disso.
Conforme chegavam cada vez mais Jedi, correndo para a selva e
voltando com um speeder de carga para todos retornarem para suas naves,
Avon encontrou os pedaços do sabre de Imri na mochila de Vernestra. Ela o
colocou em sua mochila ao lado do droide sem bateria. Também pegou um
pouco do ensopado que tinha ali.
No geral, uma aventura nada ruim.
Vernestra olhava em uma das várias janelas de observação do Farol
Estelar. Eles chegaram a tempo para a dedicatória. Fizeram o trajeto de
volta bem rápido, menos de dois dias, e foram necessários alguns saltos na
velocidade da luz para navegarem em locais que não foram atingidos pelo
desastre recente. Alguns relatórios diziam que os Jedi ainda respondiam a
Emergências, mas a pior parte já passou.
Ao se aproximarem da estação era possível ver o seu brilho branco
quente e acolhedor, brilhando como uma linda estrela. A torre central
piscava em uma lenta combinação das cores do arco-íris. As naves se
aproximavam em filas organizadas. A estação aumentaria a comunicação,
forneceria uma parada para viajantes cansados e ajudaria os Jedi a
realizarem as suas missões de paz. Tudo foi escolhido tendo em mente a
grandiosidade da República e a luz dos Jedi. Só de olhar para a estação
algumas dúvidas e medos de Vernestra desapareceram. Ela nunca seria um
Mestre Douglas, mas daria o seu melhor, como sempre fez.
Em relação ao restante do grupo, Vernestra não tinha dúvidas de que se
dariam bem. Avon e Honesty já avisaram que planejavam ver cada
centímetro do maravilhoso Farol Estelar antes de irem embora, e teriam
tempo suficiente pra isso. Vernestra estava calma e em paz. Eles
sobreviveram à destruição da Asa Firme e capturaram os responsáveis.
Honesty defenderia o seu caso discursando ao Senado e Avon estava
animada em passar um tempo nos laboratórios de pesquisa do Farol Estelar
antes de voltar ao Porto Haileap.
Mas Vernestra não estava feliz com o resultado. Tudo o que lembrava
era da maneira confiante que os Nihil falaram sobre travarem uma guerra
contra os Jedi, a convicção de que poderiam fazer o que bem entendessem,
ao ponto de destruírem civis inocentes. Centenas morreram na Asa Firme e
essas mortes repercutiriam por toda a galáxia, alimentando o medo e a
raiva. Mesmo que a República e Dalna respondessem um pedido de ajuda,
no fim cairia para os Jedi. Era o que eles faziam de melhor e Vernestra
prometeu que estaria pronta quando fosse chamada. Isso diminuiu a alegria
que Vernestra poderia ter em estar de volta à civilização.
Além disso, ainda tinha a questão com Imri. O que seria do Padawan
sem um mestre?
— Você está inquieta, Vernestra. — As palavras saíram com um chiado,
o que significava que só poderia ser uma pessoa.
Ela se virou e encontrou o Mestre Sskeer parado na porta da câmara de
observação. Ele sorriu para ela e caminhou em sua direção. Ela achava a
conversa muito útil e calmante, mesmo que achasse que não havia
necessidade, ainda assim era útil ter alguém para conversar.
— Estou preocupada com Imri. — disse Vernestra, suspirando. O
Padawan fechou-se ainda mais quando entraram na Benção Irradiante em
Wevo e ninguém conseguiu contato real com ele. Ele se trancou
emocionalmente e Vernestra estava preocupada se ele iria pedir para sair da
Ordem.
— Então você deveria tomá-lo como seu Padawan. — disse Mestre
Sskeer. Sua doce sugestão atingiu Vernestra como um saco cheio de baterias
de droide.
— O quê? Do que você está falando? Eu já o decepcionei em Wevo. Se
eu fosse mais bem preparada, ele nunca teria se entregado completamente
ao ódio. Ele poderia ter ido para o lado sombrio!
Mestre Sskeer deu uma risada.
— A Força não é tão simples assim, nem os sentimentos das criaturas
são. A maioria dos Jedi já sentiram a tentação do lado sombrio. É natural.
Mas resistimos. São passos planejados e intencionais para se entregar ao
lado sombrio, não alguns dias ruins. Ser Jedi significa escolher a Luz dia
após dia.
Vernestra soltou um suspiro.
— Sei disso, no fundo. Mas não sei como ensinar isso a ele quando
estiver cheio de dúvidas.
Mestre Sskeer estendeu a mão.
— Imri conseguiu encontrar seu caminho de volta à luz com a sua
ajuda, Vernestra. Somente com a sua ajuda. Você é uma cavaleira Jedi muito
talentosa e ter um Padawan já é algo esperado de um cavaleiro. Então por
que não?
— Vou pensar nisso.
— Ah, agora você que está cheia de dúvidas.
Vernestra riu.
— Parece que sim.
Eles olharam para fora da janela de observação, para a luz que brilhava
no topo do Farol.
Vernestra pediu licença e saiu em busca de Imri. Ela sentia a sua
presença no jardim de meditação. Encontrou ele sentado em um banco perto
de um lago cheio de peixes bioluminescentes que cantarolavam de alegria
através da Força viva enquanto nadavam. Era um som encantador e
Vernestra não conseguiu deixar de sorrir pela alegria deles.
Quando ela entrou no jardim, Imri lançou a cabeça para trás.
— Estou encrencado?
Vernestra franziu as sobrancelhas.
— O que fez você pensar isso?
— Senti você pensando em mim, mas as emoções estão confusas.
Imaginei que finalmente estaria encrencado.
Vernestra balançou a cabeça e sentou-se no banco, ao lado de Imri.
— Não, você não está encrencado. Já falei antes que não haveria
punição alguma pelo que aconteceu em Wevo.
— Mas eu absorvi a raiva de Honesty, deixei que ela alimentasse minha
própria raiva e lutei contra você. Aquilo foi muito errado.
— Reconhecer os nossos erros e melhorar é o Caminho de um Jedi.
Imri, a Ordem Jedi não te expulsará por um erro bobo. Não é assim que
funciona. Se fosse, não restaria mais ninguém. Eu estava com medo em
Wevo, porque achei que não conseguiria te ajudar. Mas agora acredito que
podemos trabalhar muito bem juntos. Gostaria que fosse o meu Padawan, se
não for estranho demais. — Como Imri não falou nada, Vernestra deu um
sorriso esperançoso pra ele. — Não sou o Mestre Douglas, mas ele estava
certo sobre você. Um dia você vai ser um Jedi incrível, pois você está
disposto a se adaptar e melhorar.
— Você fala sério? — Lágrimas escorreram pela pele pálida do garoto e
Vernestra o abraçou.
— Mas é claro. Podemos começar o seu treinamento assim que a
dedicatória estiver completa.
Imri assentiu, sorrindo pela primeira vez em dias.
— Não vou decepcioná-la.
— Sei que não vai. — disse Vernestra, com um sorriso no rosto.
Eles continuaram sentados no jardim por mais um tempo até que Imri
perguntou:
— Acha que precisamos nos preocupar com os Nihil?
Vernestra não disse nada por um bom tempo, então inspirou fundo e
expirou devagar.
— Acho que vimos o mínimo do que realmente são capazes, Imri. Mas
não se preocupe. Somos Jedi. Estaremos prontos quando atacarem
novamente.
Kara Xoo encostou na cadeira de comando de sua nave, a Farpa
Envenenada. Ela olhou para o holograma e rangeu os dentes. Estava datado
de uma semana antes, do outro lado do sistema Haileap. Nele estava Klinith
Da, um dos humanos que Kara mais odiava, falando muito rápido e
parecendo um pouco assustada. Se a humana fosse uma Quarren, igual a
Kara, saberia como se comportar e se parecer feroz. Em vez disso, cada
emoção estava transparecendo em seu rosto, fazendo-a parecer menos como
uma Nihil e mais como uma presa.
— Ficamos presos em uma pequena lua que identificamos como Wevo.
Tenho certeza de que é amaldiçoada, mas Gwishi falou que é porque tem
umas crianças Jedi aqui. Vamos lidar com eles, não se preocupe. O desastre
da Asa Firme vai se parecer mais como um acidente perigoso no
hiperespaço. Nenhuma testemunha, nenhum problema.
Kara virou para um Weequay que estava próximo a ela. Ela não se
lembrava do nome dele e nem iria tentar se lembrar. Ele só estava na sala de
comando dela porque fez parte da equipe que foi resgatar Gwishi e Klinith.
— Tem certeza de que não há sinal nenhum deles? — perguntou Kara.
O Weequay assentiu.
— Somente os pedaços da nave destruída que ajudamos a roubar antes
de irem.
— Entendi. Saia.
Kara se levantou e segurou um palavrão. Assim como a maioria dos
Nihil de sua Tempestade, ela usava uma túnica, calças e botas pesadas, tudo
preto, tudo roubado. Ela perdeu um de seus tentáculos em uma luta recente.
A ponta brilhante e azul do tentáculo era onde ficava a única cor nela, além
de sua pele marrom-avermelhada. Ela sabia que era uma figura imponente,
principalmente quando se levantava. O nervosismo do Weequay conforme
ele saía da sala deu a ela uma dose de alegria.
Ela esperou até que ele saísse para começar a andar pela sala. Não seria
bom que alguém a visse nervosa. Klinith e Gwishi eram a sétima equipe que
Kara perdeu. Ela enviou muitos piratas para Kassav e também não soube de
notícias deles. Quanto mais equipes ela perdia, mais significava que a sua
Tempestade estava perdendo forças, e quando uma Tempestade se mostrava
fraca, uma das outras vinha e a destruia.
Era assim com os Nihil.
Kara tinha que fazer alguma coisa. Ela acariciava um de seus tentáculos
enquanto andava. Ela precisava urgentemente melhorar os seus resultados,
qualquer coisa para que a sua Tempestade se pareça menos vulnerável. Eles
tentavam recrutar da maneira comum, através de olheiros em cantinas e
confronto direto, mas isso demorava, e Kara precisava arranjar uma forma
rápida de aumentar a sua equipe.
Tem umas crianças Jedi aqui...
Kara piscou quando teve a ideia e foi para a cadeira de comando,
apertando o botão de chamada.
— Pere, quantas escolas existem em Dalna?
Houve um chiado de estática e então uma resposta.
— Hum, talvez centenas, mais ou menos. Por quê?
Kara encostou na cadeira. Se ela pudesse sorrir como um humano, ela
teria sorrido. Em vez disso, os seus tentáculos balançaram.
— Temos alguns recrutamentos para fazer.
Ela mostraria à República e aos Jedi do que os Nihil eram capazes.
Kassav e as outras Tempestades ficariam orgulhosos. E quando ela
terminasse, todo o setor de Dalna iria virar pó.
STAR WARS / A ALTA REPÚBLICA - UM TESTE DE CORAGEM
TÍTULO ORIGINAL: Star Wars / The High Republic - A Test of Courage
COPIDESQUE: TRADUTORES DOS WHILLS
REVISÃO: TRADUTORES DOS WHILLS
DIAGRAMAÇÃO: TRADUTORES DOS WHILLS
ARTE E ADAPTAÇÃO: TRADUTORES DOS WHILLS
ILUSTRAÇÃO: Soyoung Kim e Scott Piehl
GERENTE EDITORIAL: TRADUTORES DOS WHILLS
DIREÇÃO EDITORIAL: TRADUTORES DOS WHILLS
ASSISTENTES EDITORIAIS: TRADUTORES DOS WHILLS

COPYRIGHT © & TM 2021 LUCASFILM LTD.


COPYRIGHT © TRADUTORES DOS WHILLS, 2021
(EDIÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA PARA O BRASIL)
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS.
PROIBIDA A REPRODUÇÃO, NO TODO OU EM PARTE, ATRAVÉS DE QUAISQUER MEIOS.

A ALTA REPÚBLICA - UM TESTE DE CORAGEM É UM LIVRO DE FICÇÃO. TODOS OS PERSONAGENS, LUGARES E


ACONTECIMENTOS SÃO FICCIONAIS.
DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)
TDW CRB-1/000
I28j Ireland, Justina
A ALTA REPÚBLICA - UM TESTE DE CORAGEM [recurso eletrônico] / Justina Ireland ; traduzido por Tradutores dos
Whills
80 p. : 2.0 MB.
Tradução de: The High Republic - A Test of Courage
ISBN: 978-1-368-06208-4 (Ebook)
1. Literatura norte-americana. 2. Ficção científica. I. dos Whills, Tradutores CF. II. Título.
2017.352

ÍNDICES PARA CATÁLOGO SISTEMÁTICO:

Literatura : Ficção Norte-Americana 813.0876


Literatura norte-americana : Ficção 821.111(73)-3

tradutoresdoswhills.wordpress.com
Justina Ireland é autora mais vendida pelo New York Times com o
livro Dread Nation e a selecionada com uma das dez melhores da
Associação de Serviços para Bibliotecas para Jovens Adultos (YALSA) no
ano de 2019. Os seus outros livros para crianças e adolescentes incluem
Deathless Divide, Vengeance Bound, Promise of Shadows e os romances de
Star Wars A Sorte do Lando e Faísca da Resistência. Ela gosta de chocolate
amargo e de humor negro e não tem muito orgulho de admitir que ainda tem
medo do escuro. Ela mora com o marido, o filho, o cachorro e os gatos no
estado de Maryland, nos EUA. Você pode visitá-la online
em www.justinaireland.com.
STAR WARS – GUARDIÕES DOS WHILLS
Greg Rucka
240 páginas
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No mundo do deserto de Jedha, na Cidade Santa, os amigos Baze e Chirrut costumavam ser
Guardiões das colinas, que cuidavam do Templo de Kyber e dos devotos peregrinos que adoravam lá.
Então o Império veio e assumiu o planeta. O templo foi destruído e as pessoas espalhadas. Agora,
Baze e Chirrut fazem o que podem para resistir ao Império e proteger as pessoas de Jedha, mas nunca
parece ser suficiente. Então um homem chamado Saw Gerrera chega, com uma milícia de seus
próprios e grandes planos para derrubar o Império. Parece ser a maneira perfeita para Baze e Chirrut
fazer uma diferença real e ajudar as pessoas de Jedha a viver melhores vidas. Mas isso vai custar
caro?
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Episódio VIII – Os Últimos Jedi – Movie Storybook
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Um livro de imagens ilustrado que reconta o filme Star Wars: Os Últimos Jedi.
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Chewie e a Garota Corajosa
Lucasfilm Press
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Um Wookiee é o melhor amigo de uma menina! Quando Chewbacca conhece a jovem Zarro na Orla
Exterior, ele não tem escolha a não ser deixar de lado sua própria missão para ajudá-la a resgatar seu
pai de uma mina perigosa. Essa incrível Aventura foi baseada na HQ do Chewbacca… (FAIXA
ETÁRIA: 6 a 8 anos)
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Star Wars Ahsoka
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Esse é o Terceiro Ebook dos Tradutores dos Whills com uma aventura emocionante sobre uma
heroína corajosa das Séries de TV Clone Wars e Rebels: Ahsoka Tano! Os fãs há muito tempo se
perguntam o que aconteceu com Ahsoka depois que ela deixou a Ordem Jedi perto do fim das
Guerras Clônicas, e antes dela reaparecer como a misteriosa operadora rebelde Fulcro em Rebels.
Finalmente, sua história começará a ser contada. Seguindo suas experiências com os Jedi e a
devastação da Ordem 66, Ahsoka não tem certeza de que possa fazer parte de um todo maior de
novo. Mas seu desejo de combater os males do Império e proteger aqueles que precisam disso e
levará a Bail Organa e a Aliança Rebelde….
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Star Wars Kenobi Exílio
Tradutores dos Whills
79 páginas
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A República foi destruída, e agora a galáxia é governada pelos terríveis Sith. Obi-Wan Kenobi, o
grande cavaleiro Jedi, perdeu tudo… menos a esperança. Após os terríveis acontecimentos que deram
fim à República, coube ao grande mestre Jedi Obi-Wan Kenobi manter a sanidade na missão de
proteger aquele que pode ser a última esperança da resistência ao Império. Vivendo entre fazendeiros
no remoto e desértico planeta Tatooine, nos confins da galáxia, o que Obi-Wan mais deseja é manter-
se no completo anonimato e, para isso, evita o contato com os moradores locais. No entanto, todos
esses esforços podem ser em vão quando o “Velho Ben”, como o cavaleiro passa a ser conhecido, se
vê envolvido na luta pela sobrevivência dos habitantes por uma Grande Seca e por causa de um chefe
do crime e do povo da areia. Se com o Novo Cânone pudéssemos encontrar todos os materiais
disponíveis aos anos de Exílio de Obi-Wan Kenobi em um só Lugar? Após o Livro Kenobi se tornar
Legend, os fãs ficaram sem saber o que aconteceu com o Velho Ben nesse tempo de reclusão. Então
os Tradutores dos Whills também se fizeram essa pergunta e resolveram fazer esse trabalho de
compilação dos Contos, Ebooks, Séries Animadas e HQs, em um só Ebook Especial e Canônico para
todos os Fãs!!
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Star Wars -Dookan: O Jedi Perdido
Cavan Scott
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Esse é o Quarto Ebook dos Tradutores dos Whills com uma aventura emocionante sobre um Vilão
dos Filmes e da Série de TV Clone Wars: Conde Dookan! Mergulhe na história do sinistro
Conde Dookan no roteiro original da emocionante produção de áudio de
Star Wars! Darth Tyranus. Conde de Serenno. Líder dos Separatistas. Um
sabre vermelho, desembainhado no escuro. Mas quem era ele antes de se
tornar a mão direita dos Sith? Quando Dookan corteja uma nova aprendiz, a
verdade oculta do passado do Lorde Sith começa a aparecer. A vida de
Dookan começou como um privilégio, nascido dentro das muralhas
pedregosas da propriedade de sua família. Mas logo, suas habilidades Jedi
são reconhecidas, e ele é levado de sua casa para ser treinado nos caminhos
da Força pelo lendário Mestre Yoda. Enquanto ele afia seu poder, Dookan
sobe na hierarquia, fazendo amizade com Jedi Sifo-Dyas e levando um
Padawan, o promissor Qui-Gon Jinn, e tenta esquecer a vida que ele levou
uma vez. Mas ele se vê atraído por um estranho fascínio pela mestra Jedi
Lene Kostana, e pela missão que ela empreende para a Ordem: encontrar e
estudar relíquias antigas dos Sith, em preparação para o eventual retorno
dos inimigos mais mortais que os Jedi já enfrentaram. Preso entre o mundo
dos Jedi, as responsabilidades antigas de sua casa perdida e o poder sedutor
das relíquias, Dookan luta para permanecer na luz, mesmo quando começa
a cair na escuridão.
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Star Wars – Discípulo Sombrio
Tradutores dos Whills
319 páginas
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Esse é o Quinto Ebook dos Tradutores dos Whills com uma aventura emocionante sobre um Vilões e
Heróis dos Filmes e da Série de TV Clone Wars! Baseado em episódios não produzidos de Star Wars:
The Clone Wars, este novo romance apresenta Asajj Ventress, a ex-aprendiz Sith que se tornou um
caçadora de recompensas e uma das maiores anti-heróis da galáxia de Star Wars. Na guerra pelo
controle da galáxia entre os exércitos do lado negro e da República, o ex-Mestre Jedi se tornou cruel.
O Lorde Sith Conde Dookan se tornou cada vez mais brutal em suas táticas. Apesar dos poderes dos
Jedi e das proezas militares de seu exército de clones, o grande número de mortes está cobrando um
preço terrível. E quando Dookan ordena o massacre de uma flotilha de refugiados indefesos, o
Conselho Jedi sente que não tem escolha a não ser tomar medidas drásticas: atacar o homem
responsável por tantas atrocidades de guerra, o próprio Conde Dookan. Mas o Dookan sempre
evasivo é uma presa perigosa para o caçador mais hábil. Portanto, o Conselho toma a decisão ousada
de trazer tanto os lados do poder da Força de suportar – juntar o ousado Cavaleiro Quinlan Vos com a
infame acólita Sith Asajj Ventress. Embora a desconfiança dos Jedi pela astuta assassina que uma vez
serviu ao lado de Dookan ainda seja profunda, o ódio de Ventress por seu antigo mestre é mais
profundo. Ela está mais do que disposta a emprestar seus copiosos talentos como caçadora de
recompensas, e assassina, na busca de Vos.Juntos, Ventress e Vos são as melhores esperanças para
eliminar a Dookan – desde que os sentimentos emergentes entre eles não comprometam a sua missão.
Mas Ventress está determinada a ter sua vingança e, finalmente, deixar de lado seu passado sombrio
de Sith. Equilibrando as emoções complicadas que sente por Vos com a fúria de seu espírito
guerreiro, ela resolve reivindicar a vitória em todas as frentes, uma promessa que será
impiedosamente testada por seu inimigo mortal… e sua própria dúvida.
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Os Segredos dos Jedi
Tradutores dos Whills
50 páginas
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Descubra o mundo dos Jedi de Star Wars através desta experiência de leitura divertida e totalmente
interativa. Star Wars: Jediografia é o melhor guia do universo Jedi para o universo dos Jedi,
transportando jovens leitores para uma galáxia muito distante, através de recursos interativos, fatos
fascinantes e ideias cativantes. Com ilustrações originais emocionantes e incríveis recursos especiais,
como elevar as abas, texturas e muito mais, Star Wars: Jediografia garante a emoção das legiões de
jovens fãs da saga.
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Star Wars – Thrawn – Alianças
Timothy Zahn

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Palavras sinistras em qualquer circunstância, mas ainda mais quando proferidas pelo
Imperador Palpatine. Em Batuu, nos limites das Regiões Desconhecidas, uma ameaça ao
Império está se enraizando. Com a sua existência pouco mais que um vislumbre, as suas
consequências ainda desconhecidas. Mas é preocupante o suficiente para o líder imperial
justificar a investigação de seus agentes mais poderosos: o impiedoso agente Lorde Darth
Vader e o brilhante estrategista grão-almirante Thrawn. Rivais ferozes a favor do Imperador
e adversários francos nos assuntos imperiais, incluindo o projeto Estrela da Morte, o par
formidável parece parceiros improváveis para uma missão tão crucial. Mas o Imperador
sabe que não é a primeira vez que Vader e Thrawn juntam forças. E há mais por trás de
seu comando real do que qualquer um dos suspeitos. No que parece uma vida atrás, o
general Anakin Skywalker da República Galáctica e o comandante Mitth’raw’nuruodo,
oficial da Ascensão do Chiss, cruzaram o caminho pela primeira vez. Um em uma busca
pessoal desesperada, o outro com motivos desconhecidos... e não divulgados. Mas, diante
de uma série de perigos em um mundo longínquo, eles forjaram uma aliança
desconfortável – nem remotamente cientes do que seus futuros reservavam. Agora,
reunidos mais uma vez, eles se veem novamente ligados ao planeta onde lutaram lado a
lado. Lá eles serão duplamente desafiados – por uma prova de sua lealdade ao Império... e
um inimigo que ameaça até seu poder combinado.

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Star Wars – Legado da Força – Traição
Tradutores dos Whills
496 páginas
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Esta é a era do legado de Luke Skywalker: o Mestre Jedi unificou a Ordem em um grupo coeso de
poderosos Cavaleiros Jedi. Mas enquanto a nova era começa, os interesses planetários ameaçam
atrapalhar esse momento de relativa paz, e Luke é atormentado com visões de uma escuridão que se
aproxima. O mal está ressurgindo “das melhores intenções” e parece que o legado dos Skywalkers
pode dar um ciclo completo.A honra e o dever colidirão com a amizade e os laços de sangue, à
medida que os Skywalker e o clã Solo se encontrarem em lados opostos de um conflito explosivo
com repercussões potencialmente devastadoras para ambas as famílias, para a ordem Jedi e para toda
a galáxia.Quando uma missão para descobrir uma fábrica ilegal de mísseis no planeta Aduman
termina em uma emboscada violenta, da qual a Cavaleira Jedi Jacen Solo e o seu protegido e primo,
Ben Skywalker, escapam por pouco com as suas vidas; é a evidência mais alarmante ainda que
desencadeia uma discussão política. A agitação está ameaçando inflamar-se em total Rebelião. Os
governos de vários mundos estão se irritando com os rígidos regulamentos da Aliança Galáctica, e os
esforços diplomáticos para garantir o cumprimento estão falhando. Temendo o pior, a Aliança
prepara uma demonstração preventiva de poder militar, numa tentativa de trazer os mundos
renegados para a frente antes que uma revolta entre em erupção. O alvo modeloado para esse
exercício: o planeta Corellia, conhecido pela independência impetuosa e pelo espírito renegado que
fizeram de seu filho favorito, Han Solo, uma lenda.Algo como um trapaceiro, Jacen é, no entanto,
obrigado como Jedi a ficar com seu tio, o Mestre Jedi Luke Skywalkers, ao lado da Aliança
Galáctica. Mas quando os corellianos de guerra lançam um contra-ataque, a demonstração de força
da Aliança, e uma missão secreta para desativar a crucial Estação Central de Corellia; dão lugar a
uma escaramuça armada. Quando a fumaça baixa, as linhas de batalha são traçadas. Agora, o
espectro da guerra em grande escala aparece entre um grupo crescente de planetas desafiadores e a
Aliança Galáctica, que alguns temem estar se tornando um novo Império.E, enquanto os dois lados
lutam para encontrar uma solução diplomática, atos misteriosos de traição e sabotagem ameaçam
condenar os esforços de paz a todo momento. Determinado a erradicar os que estão por trás do caos,
Jacen segue uma trilha de pistas enigmáticas para um encontro sombrio com as mais chocantes
revelações… enquanto Luke se depara com algo ainda mais preocupante: visões de sonho de uma
figura sombria cujo poder da Força e crueldade lembram a ele de Darth Vader, um inimigo letal que
ataca como um espírito sombrio em uma missão de destruição. Um agente do mal que, se as visões
de Luke acontecerem, trará uma dor incalculável ao Mestre Jedi e a toda a galáxia.
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Star Wars – Battlefront II: Esquadrão Inferno
Christie Golden
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Após o humilhante roubo dos planos da Estrela da Morte e a destruição da estação de batalha, o
Império está na defensiva. Mas não por muito. Em retaliação, os soldados imperiais de elite do
Esquadrão Inferno foram chamados para a missão crucial de se infiltrar e eliminar os guerrilheiros –
a facção rebelde que já foi liderada pelo famoso lutador pela liberdade da República, Saw Gerrera.
Após a morte de seu líder, os guerrilheiros continuaram seu legado extremista, determinados a
frustrar o Império – não importa o custo. Agora o Esquadrão Inferno deve provar seu status como o
melhor dos melhores e derrubar os Partisans de dentro. Mas a crescente ameaça de serem descobertos
no meio de seu inimigo transforma uma operação já perigosa em um teste ácido de fazer ou morrer
que eles não ousam falhar. Para proteger e preservar o Império, até onde irá o Esquadrão Inferno. . . e
quão longe deles?
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Star Wars – Star Wars – Catalisador – Um Romance de Rogue One
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A guerra está destruindo a galáxia. Durante anos, a República e os Separatistas lutaram entre as
estrelas, cada um construindo uma tecnologia cada vez mais mortal na tentativa de vencer a guerra.
Como membro do projeto secreto da Estrela da Morte do Chanceler Palpatine, Orson Krennic está
determinado a desenvolver uma super arma antes que os inimigos da República possam. E um velho
amigo de Krennic, o brilhante cientista Galen Erso, poderia ser a chave. tativa de vencer a guerra.
Como membro do projeto secreto da Estrela da Morte do Chanceler Palpatine, Orson Krennic está
determinado a desenvolver uma super arma antes que os inimigos da República possam. E um velho
amigo de Krennic, o brilhante cientista Galen Erso, poderia ser a chave. A pesquisa focada na energia
de Galen chamou a atenção de Krennic e de seus inimigos, tornando o cientista um peão crucial no
conflito galáctico. Mas depois que Krennic resgata Galen, sua esposa, Lyra, e sua filha Jyn, de
sequestradores separatistas, a família Erso está profundamente em dívida com Krennic. Krennic
então oferece a Galen uma oportunidade extraordinária: continuar seus estudos científicos com todos
os recursos totalmente à sua disposição. Enquanto Galen e Lyra acreditam que sua pesquisa
energética será usada puramente de maneiras altruístas, Krennic tem outros planos que finalmente
tornarão a Estrela da Morte uma realidade. Presos no aperto cada vez maior de seus benfeitores, os
Ersos precisam desembaraçar a teia de decepção de Krennic para salvar a si mesmos e à própria
galáxia.
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Star Wars – Ascenção Rebelde
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Quando Jyn Erso tinha cinco anos, sua mãe foi assassinada e seu pai foi tirado dela para servir ao
Império. Mas, apesar da perda de seus pais, ela não está completamente sozinha – Saw Gerrera, um
homem disposto a ir a todos os extremos necessários para resistir à tirania imperial, acolhe-a como
sua e dá a ela não apenas um lar, mas todas as habilidades e os recursos de que ela precisa para se
tornar uma rebelde.Jyn se dedica à causa e ao homem. Mas lutar ao lado de Saw e seu povo traz
consigo o perigo e a questão de quão longe Jyn está disposta a ir como um dos soldados de Saw.
Quando ela enfrenta uma traição impensável que destrói seu mundo, Jyn terá que se recompor e
descobrir no que ela realmente acredita… e em quem ela pode realmente confiar.
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Star Wars – A Alta República – A Luz dos Jedi
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Muito antes da Primeira Ordem, antes do Império ou antes mesmo da Ameaça Fantasma . . . Os Jedi
iluminaram o caminho para a galáxia na Alta República. É uma era de ouro. Os intrépidos batedores
do hiperespaço expandem o alcance da República para as estrelas mais distantes, mundos prosperam
sob a liderança benevolente do Senado e a paz reina, reforçada pela sabedoria e força da renomada
ordem de usuários da Força conhecidos como Jedi. Com os Jedi no auge de seu poder, os cidadãos
livres da galáxia estão confiantes em sua habilidade de resistir a qualquer tempestade. Mas mesmo a
luz mais brilhante pode lançar uma sombra, e algumas tempestades desafiam qualquer preparação.
Quando uma catástrofe chocante no hiperespaço despedaça uma nave, a enxurrada de estilhaços que
emergem do desastre ameaça todo o sistema. Assim que o pedido de ajuda sai, os Jedi correm para o
local. O escopo do surgimento, no entanto, é o suficiente para levar até os Jedi ao seu limite.
Enquanto o céu se abre e a destruição cai sobre a aliança pacífica que ajudaram a construir, os Jedi
devem confiar na Força para vê-los em um dia em que um único erro pode custar bilhões de vidas.
Mesmo enquanto os Jedi lutam bravamente contra a calamidade, algo verdadeiramente mortal cresce
além dos limites da República. O desastre do hiperespaço é muito mais sinistro do que os Jedi
poderiam suspeitar. Uma ameaça se esconde na escuridão, longe da era da luz, e guarda um segredo.
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Star Wars – A Alta República – O Grande Resgate Jedi
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Conheça os nobres e sábios Jedi da Alta República! Quando um desastre acontece no hiperespaço,
colocando o povo de Hetzal Prime em grave perigo, apenas os Jedi da Alta República podem salvar o
dia! Esse ebook é a forma mais incrível de introduzir as crianças nessa nova Era da Alta República,
pois reconta a história do Ebook Luz dos Jedi de forma simples e didática para as crianças. (FAIXA
ETÁRIA: 5 a 8 anos)
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Star Wars – A Alta República – Na Escuridão
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Muito antes da Primeira Ordem, antes do Império ou antes mesmo da Ameaça Fantasma . . . Os Jedi
iluminaram o caminho para a galáxia na Alta República. Padawan Reath Silas está sendo enviado da
cosmopolita capital galáctica de Coruscant para a fronteira subdesenvolvida, e ele não poderia estar
menos feliz com isso. Ele prefere ficar no Templo Jedi, estudando os arquivos. Mas quando a nave
em que ele está viajando é arrancada do hiperespaço em um desastre que abrange toda a galáxia,
Reath se encontra no centro da ação. Os Jedi e seus companheiros de viagem encontram refúgio no
que parece ser uma estação espacial abandonada. Mas então coisas estranhas começaram a acontecer,
levando os Jedi a investigar a verdade por trás da estação misteriosa, uma verdade que pode terminar
em tragédia …
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A ALTA REPÚBLICA

Muito antes das Guerras Clônicas, do Império ou da Primeira Ordem,


os Jedi iluminaram o caminho da galáxia em uma era dourada conhecida
como Alta República!

Vernestra Rwoh é mais nova Cavaleira Jedi com dezesseis anos, mas
a sua primeira missão de verdade parece muito com ser babá. Ela foi
encarregada de supervisionar a aspirante a inventora Avon Starros,
de 12 anos, em um cruzador rumo à inauguração de uma nova

estação espacial maravilhosa chamadaFarol Estelar.

Mas logo em sua jornada, bombas explodem a bordo do cruzador.


Enquanto o Jedi adulto tenta salvar a nave, Vernestra, Avon, o
droide J-6 de Avon, um Padawan Jedi e o filho de um embaixador
conseguem chegar a uma nave de fuga, mas as comunicações acabam
e os suprimentos são poucos. Eles decidem pousar em uma lua
próxima, que oferece abrigo, mas não muito mais. E sem o
conhecimento deles, o perigo se esconde na selva ...

TRADUTORES
PR E S S

WHlll5
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Visite o site oficial de Star Wars DOS
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