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Sumário
Capa
Página Título
Direitos Autorais
Introdução
Dramatis Personae
Epígrafo
Capítulo Um
Capítulo Dois
Capítulo Três
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
Capítulo Seis
Capítulo Sete
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Capítulo Dez
Capítulo Onze
Capítulo Doze
Capítulo Treze
Capítulo Catorze
Capítulo Quinze
Capítulo Dezesseis
Capítulo Dezessete
Capítulo Dezoito
Capítulo Dezenove
Capítulo Vinte
Sobre o Ebook
Sobre o Autor
Dramatis Personae
Não era exatamente a culpa que mantinha Jacen acordado noite após noite.
Pelo contrário, era o reconhecimento de que deveria se sentir culpado, mas
não sentia isso, absolutamente.
Jacen se recostou em uma cadeira confortável o bastante para dormir, o
seu couro era tão macio quanto manteiga azul, e encarou as estrelas.
Os escudos de proteção estavam retraídos da janela enorme da sua sala
particular, e a câmara em si estava escura, dando-lhe uma visão
desimpedida do espaço.
A sua sala estava a bombordo, a proa estava orientada na direção do sol
Corell, e a popa apontava para Coruscant, então olhava na direção de
Commenor, Kuat e o Aglomerado Hapes, a extensão da Rota Comercial
Perlemiana..., mas não tentou distinguir essas estrelas individualmente.
Astronomia era uma ocupação de uma vida inteira para pessoas que
passavam as suas existências inteiras em apenas um planeta; o quão mais
difícil deveria ser tal estudo para alguém como Jacen, que viajava de estrela
em estrela por toda a sua vida?
Deixou as suas pálpebras caírem, mas a sua mente continuou a correr,
como acontecia todos os dias desde que ele e a sua força tarefa resgataram a
Rainha-mãe Tenel Ka do Consórcio Hapan de uma insurreição, instigada
pelos traiçoeiros nobres Hapan com o auxílio de uma frota Corelliana.
No meio de todos esses eventos, acreditando que Han e Leia Solo
fizeram parte da trama, Jacen ordenara para que os turbolasers de longo
alcance da Anakin Solo atirassem na Millennium Falcon. Mais tarde, ouvira
evidências convincentes de que os seus pais não desempenharam papel
algum na trama.
Então onde estava a culpa? Onde estava o horror que deveria sentir por
um ato tentado de patricídio e matricídio? Que tipo de pai poderia ser para
Allana se podia fazer isso sem remorso?
Não sabia. E tinha certeza de que até saber, o sono continuaria a lhe
escapar.
Atrás da sua cadeira, um sabre de luz ganhou vida com o seu
característico estalar e sibilar, e a sala foi subitamente banhada em luz azul.
Jacen estava de pé antes da lâmina do intruso ter atingido o seu
comprimento máximo, o seu próprio sabre de luz em mãos, com um dedo
acionou a lâmina, gesticulando com a mão livre para direcionar a Força
para varrer a sua cadeira para longe do caminho.
Quando ficou claro, podia olhar para a intrusa agora, ela era tão
pequena que a cadeira escondia tudo menos a ponta da sua arma brilhante.
Do outro lado da mesa estava a sua mãe, Leia Organa Solo, mas ela não
carregava o seu próprio sabre de luz. Jacen o reconheceu pelo cabo, sua cor.
Era o sabre de luz que Mara Jade Skywalker carregava por tantos anos. O
primeiro sabre de luz de Luke Skywalker. O último sabre de luz de Anakin
Skywalker.
Leia vestia um manto Jedi marrom, e o seu cabelo estava solto. Ela
segurava o sabre de luz com as duas mãos, com a ponta pra cima e o cabo
pra trás, pronta para atacar.
— Olá, mãe. — Essa hora parecia apropriada para um termo mais
formal, em vez de mamãe. — Você veio para me matar?
Ela assentiu.
— Vim.
— Antes de você atacar, como você subiu a bordo? E como você entrou
nessa sala?
Ela balançou a cabeça, com a sua expressão pesarosa.
— Você acha que as defesas comuns significam algo em uma hora como
essa?
— Talvez não. — Deu de ombros. — Eu sei que você é uma Jedi
experiente, mãe, mas você não é páreo para qualquer Cavaleiro Jedi que
esteja lutando e treinando constantemente em sua carreira... porque você
não é.
— E ainda assim matarei você.
— Eu acho que não. Estou preparado para qualquer tática, qualquer
truque que você provavelmente usará.
Agora ela sorriu. Era o sorriso que a via usar com os inimigos políticos
quando eles cometiam o erro final de suas carreiras, o sorriso feroz de um
cão de guerra brincando com a sua presa.
— Provavelmente usará. Você não sabe que o livro de táticas inteiro
muda quando o agressor escolhe não sobreviver à luta?
O seu rosto se contorceu em uma máscara de raiva e traição. Ela soltou
o seu agarrar do sabre de luz com a mão esquerda e a estendeu,
empurrando. Jacen sentiu o súbito acúmulo de energia da Força dentro dela.
Girou para um lado. O exercício da Força dela o erraria...
E então percebeu, tarde demais, que deveria errar.
A energia da Força passou direto por ele e acertou a janela bem no
meio, curvando-a, partindo-a pra dentro do vácuo do espaço.
Jacen saltou, afastando-se. Se pudesse agarrar o aro da entrada da sala,
segurar-se lá pelo segundo ou dois que levaria para as persianas se
fecharem, poderia não ser arrastado através da janela...
Mas o salto de Leia interceptou o dele. Ela se chocou contra ele, com os
seus braços o envolvendo, com o seu sabre de luz caindo pra longe. Juntos
eles voaram pela janela.
Jacen sentiu o frio cortar a sua pele e amortecê-la. Sentiu o ar sair de
seus pulmões, um guizo de morte que ninguém poderia ouvir. Sentiu a sua
cabeça doer, atrás da sua têmpora, em seus olhos, enquanto eles inchavam e
se preparavam para explodir.
E por todo o tempo a boca de Leia trabalhava como se ela ainda falasse.
Por um momento improvável se perguntou se ela falaria para sempre,
repreendendo o filho enquanto giravam, mortos, pela eternidade.
Então, como naqueles últimos segundos soube que deveria, acordou,
mais uma vez sentado em sua cadeira confortável, mais uma vez encarando
as estrelas.
Um sonho. Ou uma mensagem? Ele falou em voz alta:
— Isso foi você? — E ele esperou, meio esperando que Lumiya
respondesse, mas nenhuma resposta veio.
Girou a sua cadeira e encontrou a sua sala tranquilizadoramente vazia.
Com um controle na mesa, fechou as persianas da janela.
Finalmente, consultou o relógio.
Quinze minutos padrão se passaram desde a sua última checada. Teve,
no máximo, dez minutos de sono.
Colocou as botas sobre a mesa, recostou-se e tentou diminuir os seus
batimentos cardíacos.
E dormir.
Era uma reunião pequena e privada dessa vez, Luke, Mara, Chefe Omas,
Almirante Niathal e Kyp. Homens e mulheres da segurança governamental
esperavam do lado de fora na sala de espera, e, se Luke conhecia os seus
tipos tão bem quanto pensava, estariam inquietos, infelizes por não estarem
por perto para proteger os líderes do governo no caso dos Jedi decidirem
causas problemas.
Luke sorriu disso. A probabilidade dos Jedi causando problemas em
uma situação como essa era aproximadamente igual à de Cal Omas e a
Almirante Niathal proclamarem a si mesmos como os novos Imperador e
Imperatriz. Então ele ficou sério. Historicamente, a última vez que algo
assim acontecera, as coisas não acabaram muito boas para os Jedi.
— Eu entendo as exigências de seu tempo. — Chefe Omas dizia.
Cabelos brancos, sério, a personificação deliberada da simpatia e boa
vontade governamental, ele se sentava oposto a Luke, suas mãos
entrelaçadas sobre a mesa entre eles. — Então serei breve. Eu,
representando muitas vozes no governo da AG, quero dar a você a
oportunidade de fazer um grande favor para esse governo.
Luke assentiu.
— Ao elevar Jacen Solo a posição de Mestre Jedi.
Chefe Omas hesitou. A sua expressão não mudou, mas Luke teve a
distinta impressão de que o homem foi pego de surpresa.
Luke reprimiu um olhar para Kyp. Então o comentário de Kyp mais
cedo era um segredo ou um palpite... e já que Omas não está subitamente
suspeitando de Kyp, Kyp não traiu o segredo. Um palpite, então.
Interessante.
— Bom... sim. — Chefe Omas admitiu. — Esses são tempos incertos,
Mestre Skywalker. O Coronel Solo é um herói do povo, alguém que todos
os membros da Aliança Galáctica podem olhar em busca de liderança. Ao
dar a ele o comando da Guarda da Aliança Galáctica, o governo mostrou
uma enorme fé em suas habilidades e lealdade, e ele demonstrou que
merece essa fé e continuará a merecer. Jacen pode agora servir também
como um potencial exemplo de cooperação entre o governo secular e a
Ordem Jedi... se ao menos os Jedi demonstrassem uma fé similar nele.
A voz de Chefe Omas estava controlada como sempre, com o seu
comportamento tão persuasivo quanto, mas através da Força, Luke podia
sentir que o homem não tinha investimento pessoal nesse argumento.
Claramente, ele fazia a proposta a pedido de outros, talvez retribuindo
algum favor que devia a outro político, um dos patronos de Jacen. Luke deu
um rápido olhar para a Almirante Niathal, a política mais bem colocada da
Aliança Galáctica que também era uma grande apoiadora de Jacen, mas a
Mon Cal estava sob controle, não oferecendo emoções para ele detectar.
— Bom, aí está um problema. — Luke olhou para os seus
companheiros Jedi. Mara tinha o rosto como uma pedra, não mostrando
expressões para os políticos lerem, apesar de Luke poder sentir, pela ligação
da Força que ajudava a uni-los, a sua irritação com Omas. Kyp estava
largado em sua cadeira, sorrindo de leve, e Luke pensou poder detectar que
Kyp estava se divertindo imensamente. — Em minha estima, Jacen ainda
não possui a maturidade emocional necessária para ser um Mestre.
Chefe Omas deu a ele um olhar duvidoso.
— Muitos Jedi, tanto na Velha República quanto na era moderna,
tornaram-se Mestres na idade dele ou mais jovens.
Luke deu de ombros.
— Não é uma questão de idade.
— E. — Omas continuou. — ele demonstrou possuir habilidades e
poder que nem mesmo os mais inveterados Mestres podem igualar.
Mara suspirou e finalmente se inclinou para juntar-se à conversa.
— Não é uma questão de poder, tampouco. Se o poder fosse o critério
que pensa, então qualquer criança de oito anos com um detonador térmico
seria qualificado para ensinar em um nível universitário. Certo?
Oposta a ela, a Almirante Niathal também se inclinou, como se
estivesse se posicionando como um cruzador Mon Cal para combater o Star
Destroier que Mara representava. Ela falou no tom sério comum aos Mon
Calamari:
— Talvez poder, idade e sabedoria não sejam as únicas considerações
aqui. — Os seus olhos bulbosos giraram para focar Mara e depois Luke. —
Se Jacen for um mestre da Guarda e um Mestre entre os Jedi, isso embaça a
linha entre aqueles que juraram obedecer o governo e aqueles que
meramente reconhecem um vago dever e responsabilidade com o governo.
Uma angustiante perda de autoridade pessoal para o Grão-Mestre da Ordem
Jedi. Não?
Luke deixou um pouco de frieza aparecer em sua voz:
— O dever que eu reconheço por quarenta anos é tudo, menos vago.
Niathal assentiu.
— Precisamente. E então você não tem nada a temer.
— E essa não é a questão. — Luke deu um olhar de desagrado para a
Almirante, em uma mensagem dizendo que o esforço dela para levar a
conversa do reino da lógica para o reino da defesa não sucederia. — Jacen
não está pronto. Está fazendo muitas escolhas infelizes. Ele precisa de
orientação e está recusando a procurá-la.
— De você. Eu acho que ele está bem receptivo à minha orientação.
Luke não respondeu. Deixou o silêncio entre eles se prolongar por
longos segundos.
Finalmente Niathal girou para olhar Kyp.
— Mestre Durron, eu sei de uma fonte segura que você defendeu a
elevação de Jacen Solo à posição de Mestre.
O propósito da presença de Kyp finalmente fez sentido para Luke.
Meses antes, em uma reunião do Conselho Jedi, Kyp propusera a elevação
de Jacen à posição deles. Obviamente, notícias daquilo de alguma forma
vazaram das Câmaras do Conselho e alcançaram os ouvidos e membranas
timpânicas de Omas e Niathal, e Kyp fora trazido para reforçar o
argumento.
Kyp parecia assustado, mas Luke não detectou genuína emoção de
surpresa nele.
— Perdão?
Niathal o encarou.
— Você propôs que Jacen Solo fosse elevado.
Kyp assentiu, um pouco incerto.
— De certa maneira.
Suspeita surgiu na voz de Niathal:
— Qual maneira?
Kyp continuou a parecer desconfortável.
— Bom, claramente você não está familiarizada com o papel dos taras-
chi nos debates do Conselho Jedi.
— Os taras...
— ... chi. Sim. Um tipo de debate adversário ritualizado. — Kyp olhou
para Luke e Mara como se para confirmar. — Em certas tradições Jedi,
qualquer grupo de discussão, ou o seu moderador, elege um taras-chi. O
propósito do taras-chi é fluir ideias que correm contra a sabedoria
predominante. Isso serve para que todas as ideias sejam testadas... às vezes
destruídas. A ideia que o taras-chi promove não é aquela sendo testada, a
ideia que ele promove testa a ideia atualmente sob discussão. É como uma
larva que apenas come pele morta. Coloque-a sobre uma ferida, e ela
apenas devorará aquilo que não poderá sobreviver de qualquer maneira. A
carne viva, como uma ideia sólida ou raciocínio válido, não sofrerá com
isso. — Kyp pensou por um momento. — Eu suponho que o equivalente
mais próximo que vocês têm no mundo do governo seria um bobo da corte
ou imprensa livre.
Chefe Omas e Almirante Niathal trocaram olhares. Omas parecia
ligeiramente confuso; a postura de Niathal sugeria que estava irritada.
Omas limpou a garganta.
— Eu não consigo ver...
— A discussão durante aquela reunião. — Kyp continuou, — era sobre
as atividades de Jacen Solo e se eram apropriadas para um Jedi. Então, no
espírito do taras-chi, eu não apenas falei em apoio não-crítico a elas, eu
propus dar a ele a recompensa mais pródiga que os Jedi podem conferir.
Como um teste do item principal da discussão.
Havia um pequeno tremor na voz de Niathal:
— Então você está dizendo que nunca apoiou a elevação de Jacen Solo.
Kyp deu a ela um olhar intrigado.
— Eu apoio as decisões do Mestre da Ordem, Almirante. E me deixe
dar a você um pequeno exemplo de como poder e habilidade nas artes Jedi
não correspondem à maestria. Quando eu ainda era um adolescente, eu era
capaz de me estender até o poço gravitacional de um gigante gasoso e puxar
uma espaçonave de lá. Isso é algo que nem todos os Mestres podem fazer.
Eu podia fazer porque eu era forte com a Força... e porque eu tinha fé
absoluta em meu direito, na minha necessidade de usar essa nave para um
propósito específico, mas eu duvido que possa fazer isso hoje. Não sou
mais fraco na Força, e sou bem mais habilidoso.., mas hoje eu saberia que o
meu propósito pretendido não era um bom, e esse conhecimento me negaria
o foco necessário para executar essa tarefa. Então eu era um Mestre naquela
época, ou sou um Mestre agora?
Chefe Omas e Niathal trocaram outro olhar. O rosto de Omas estava
sereno, mas estava claro pela linguagem corporal de Niathal que essa parte
da reunião não fora da maneira que ela queria.
Omas tentou novamente, captando o olhar de Luke:
— A história de Mestre Durron só reforça a minha questão. Não tinha a
experiência que precisava, experiência que o compelia a buscar o conselho
de outros, mas não falta essa experiência ao Coronel Solo. Ele veio a nós
buscando orientação. Por favor, Mestre Skywalker, não confunda qualquer
raiva que tenta sentido por ele não se consultar com você o bastante pela
suspeita sobre a sabedoria e prontidão dele.
Luke sorriu, subitamente alegre.
— Tudo bem, não irei. — Enquanto Niathal se endireitava, na
expectativa, Luke acrescentou: — Eu continuarei a avaliar o progresso de
Jacen como um Jedi, e no instante que o julgar pronto para a categoria de
Mestre, vocês serão os primeiros que informarei.
— Ah. — Omas recostou-se, mas manteve a máscara de animação
educada. — Por favor.
Luke se levantou e assentiu.
— Obrigado por nos receber. Se não houver mais nada, eu não quero
tomar mais de seu tempo.
— Não, isso é tudo. — Havia um falso bom humor na voz de Omas. —
Obrigado.
Os Jedi deixaram o escritório em silêncio, e assim seguiram no
turboelevador até o nível do hangar do prédio, e até a speeder de Kyp os
levar pra fora do Prédio do Senado.
Mara quebrou o silêncio:
— O que são taras-chi?
Kyp sorriu, mostrando os dentes.
— Um inseto nas minas de Kessel. — ele disse. — Seis pernas sob uma
dura carapaça redonda com cerca de três centímetros de diâmetro.
Apropriadamente assados, eles têm um gosto só um pouco ruim. Quando
você os pega, eles oferecem um pouco de nutrientes, ajudam a morrer de
fome mais lentamente.
Luke parecia pensativo.
— Obrigado por me apoiar lá. Por que você fez isso?
— Luke... — Kyp parou, balançou a cabeça. — Não. Mestre Skywalker.
Eu realmente acho que Jacen devia ser um Mestre, ou eu não traria a
questão naquela reunião, mas gosto de mostrar solidariedade, uma Ordem
Jedi unida, quando esse tipo de coisa acontece. Quando rachaduras se
abrem e políticos colocam os dedos nelas, coisas ruins acontecem. Impérios
se formam. Também, estou bem irritado por eles trazerem a minha sugestão
daquela reunião, como eles descobriram, afinal? — Ele franziu a testa. —
Conversa fiada entre Mestres e aprendizes ao redor do Templo,
provavelmente.
— Provavelmente. — Mara disse, mas Luke podia sentir um traço de
suspeita crescendo dentro dela, como crescia nele. Mesmo se as opiniões de
Kyp fossem ouvidas nos salões do Templo, alguém, algum Jedi, teria de
repassá-las para o governo. Talvez o próprio Jacen tenha feito isso.
Luke se desviou dessa linha de pensamento, e da ainda mais
perturbadora possibilidade de ter sido Ben quem vazou a informação.
Capítulo Quatro
CORONET, CORELLIA
***
O visitante era pouco mais alto do que a altura média, mas parava tão ereto
que parecia bem mais alto. Vestido em um macacão de voo preto e envolto
por uma capa de viagem cinza escura, com o seu rosto encoberto, ele
parecia mais com uma figura ameaçadora em uma fábula infantil do que um
visitante pacífico. A escuridão do imponente Saguão de Recepção do
Templo, com a maioria dos bastões luminosos desligados por causa da hora
tardia e sombras se reunindo em cada canto, reforçava o forma sombria
dele.
Seha, a aprendiz a serviço recepcionando, curvou-se para Luke e Mara
quando eles entraram. Ela enrolava uma mecha de cabelo ruivo com dedos
nervosos. Ao gesto de Luke, ela saiu para o corredor principal.
Luke e Mara se aproximaram do visitante. Luke podia ler pouco dele,
nenhuma sensação de ameaça, mas também nenhuma de amizade. Talvez
um traço de raiva, enterrada profundamente.
— Coronel Fel. — Luke disse.
Jag se curvou e ofereceu um bater de calcanhares.
— Ao seu serviço. — ele disse. Estendeu as mãos para jogar para trás o
seu capuz, revelando as feições que Luke se lembrava. Tinha o rosto magro
com surpreendentes olhos verde claros e uma cicatriz indo de sua
sobrancelha até a raiz dos cabelos. O seu cabelo ainda era escuro, um pouco
mais comprido do que o corte militar que geralmente usava, com um
punhado pendendo quase em cima do olho direito; onde a cicatriz alcançava
a raiz dos cabelos, uma mecha era branca. A barba e o bigode aparados
eram novos, e davam a ele uma maior semelhança com o pai, o famoso
Soontir Fel.
Luke deu um passo pra frente e estendeu a mão.
— Por que o sigilo? Você poderia ter nos visitado oficialmente, com as
suas credenciais.
— Não tenho credenciais. — Jag apertou a mão de Luke, então a de
Mara quando ela a ofereceu. — Não sou mais um coronel, nem mais um
embaixador. Nem mais um cidadão Chiss, nem mesmo um membro da casa
de meu pai. Tecnicamente, isso sugere que nem mesmo sou mais Jagged
Fel. Eu sou tanto Arvóis Geleos quanto qualquer outra coisa.
— Ah. — Luke considerou. Jag não estava inundado por autopiedade,
não procurava simpatia com as suas palavras; ele estava apenas contanto a
Luke as coisas que o Mestre Jedi precisava saber. — E se eu entendi
corretamente, a sua missão aqui tem algo a ver com Alema Rar.
— Tem tudo a ver com ela.
— Caminhe conosco. — Mara disse.
Eles caminharam pelos corredores do Templo, os quais estavam em sua
maioria escuros e pouco trafegados a essa hora, e Jag contou aos Mestres
Jedi, em tons sem emoção, sobre os eventos dos últimos anos. Como,
durante as missões do Ninho Sombrio, ele garantira a condicional de
Lowbacca, como Lowbacca violara essa condicional, como os danos feitos
por Lowbacca e os seus amigos Jedi se tornaram responsabilidade da
família Fel... como Jag fora exilado dessa família, como questão de
consequência e honra. Como Jag fora abatido no mundo de Tenupe e
sobrevivera lá, em uma existência fraca e perigosa, por dois anos. Como
Alema Rar, louca como um inseto esmagado e carregando em sua mente a
dualidade imperativa para recriar o Ninho Sombrio e vingar-se de Luke e
Leia, também sobrevivera, também escapara.
— Nesses dois anos. — Jag concluiu, — eu pensei muito em Alema
Rar, o que ela era, o que ela podia fazer. Mais tarde, continuei a pesquisar
sobre ela... e investigar maneiras de combater as habilidades Killik dela. Ela
pode se eliminar da memória de curto prazo das pessoas, significa que pode
encontrá-la e, se sobreviver, momentos depois desse encontro não ter
memória dela. Isso a deixa terrivelmente difícil de rastrear. As habilidades
Killik dela e os poderes Jedi restantes a tornam um perigo extremo pra você
e pra sua irmã... e pra galáxia.
— Então você veio aqui para me avisar. — Luke disse. — Eu agradeço.
— Mais do que isso, eu trago presentes. — De um bolso interno da
túnica Jag removeu dois itens. Um tinha o formato e tamanho de uma
grande moeda de créditos, mas prateada e sem características; sem o retrato
de um herói há muito morto ou tirano que merecia morrer estampando as
faces, apesar de uma bolha de alguma substância esbranquiçada ter aderido
de um lado. O outro item era um cartão de dados comum.
Ele entregou o cartão para Mara.
— Isso é um intérprete gráfico e programa de comunicação. — ele
disse. — Ele opera em conjunto com a maioria dos programas de
holocâmeras de segurança encontrados nas instalações do governo, naves
principais, qualquer prédio protegido. Basicamente, ele avalia cada figura
humanoide que a câmera vê, as compara com um banco de dados das
características físicas incomuns de Alema Rar, e quando encontra uma
correspondência, ele notifica o departamento de segurança e envia uma
mensagem codificada para qualquer repositório de dados que você
especificar. Se você puder instalar isso em sistemas suficientes, podemos
talvez traçar os movimentos dela, descobrir o paradeiro dela antes de causar
mais danos.
— Isso pode não ser tão útil quanto você pensa. — Luke disse. —
Alema provavelmente conhece uma técnica de lampejo da Força, um
método pelo qual um Jedi pode causar interferências em holocâmeras,
mesmo das quais ela não está ciente, a fim de evitar ser filmada.
Jag franziu a testa, mas ele não parecia intimidado.
— Essa técnica... ela a torna invisível?
Mara balançou a cabeça.
— Não. Ela cria um pouco de estática na gravação. Causa uma espécie
de soluço na sincronia.
— Isso não é tão ruim. — Jag disse. — Parte do código envolve analisar
ocorrências progressivas ao longo de uma sequência de holocâmeras,
rastreando um alvo identificado. Se estendermos a sua análise para esses
“soluços” e designar a probabilidade de que eles indiquem um único
indivíduo usando a Força, o código ainda pode traçar os movimentos dela
em áreas observadas.
— Isso pode ser útil para detectar Lumiya, também. — Mara guardou o
cartão no bolso. — Obrigada.
— O cartão também contém um esquema completo disso, para vocês
poderem reproduzi-lo. — Jag entregou o objeto parecido com uma moeda
para Luke. — Vocês podem usar o material colante para fixar isso no seu
pescoço, ou num ponto raspado no crânio. Vocês podem ativá-lo ao dizer
“Alema”. Para desativar é só bater duas vezes com a unha. — Demonstrou,
batendo nele enquanto repousava na mão aberta de Luke. — Desde o
momento em que foi ativado até ser desativado, ele envia choques elétricos
através de seu sistema nervoso em intervalos de um minuto padrão.
Luke sorriu.
— Isso é útil. Você também me trouxe um broche que belisca minha
pele de tempos em tempos?
— O choque. — Jag continuou, sem humor, — é precisamente
sintonizado para o sistema nervoso humano. Eu não tive os recursos para
determinar a frequência exata necessária para outras espécies. A específica
dor gerada ajuda a transferir o que esteja em sua memória de curto prazo
para a memória de longo prazo.
— Ah. — Luke olhou para o dispositivo mais de perto. — Significa que
Alema... — O disco começou a vibrar em sua palma. Apressadamente ele
bateu duas vezes nele, e a vibração cessou. — Significa que ela não pode
escorregar pra fora de nossa memória novamente.
— Isso mesmo.
Mara franziu a testa.
— Sabe, nós devemos ser capazes de duplicar esse efeito com o uso da
Força.
Luke assentiu.
— É uma pesquisa válida. Eu preferiria uma técnica da Força a passar
por algo parecido com um treino de obediência de uma batha de circo.
Colocarei Mestre Cilghal nisso. — Ele guardou o disco em um bolso no
cinto. — Fel, obrigado. Sério. Há algo que nós podemos fazer por você?
— Eu... — Enfim Jag soou incerto. — Estou hesitante em pedir.
— Não. — Mara disse. — Quero dizer, não hesite.
— Eu não tenho nada pra fazer. — Jag disse, e a sua voz se tornou
curiosamente oca, vazia, — exceto perseguir Alema Rar até enterrá-la e ter
certeza de que ela não pode causar mais danos, mas eu não tenho muitos
recursos. Nenhum transporte, pouco financiamento. — Ele riu. — Tão
estranho viver no setor privado. No exército, eles dão a você uma missão e
quaisquer recursos que podem oferecer, algumas vezes poucos, outras
muitos... e você repete até se aposentar ou morrer. Fora do exército, tudo é
tão complicado.
Luke deu um tapinha nas costas dele.
— Eu conseguirei recursos para você. Começando por um alojamento...
— Não. Eu tenho um quarto. O endereço, e o meu código e frequência
de comunicação, estão no cartão de dados. Eu... preferiria não ficar aqui.
— Tudo bem.
— Eu irei agora. Posso encontrar o meu caminho sozinho. — Com uma
reverência final para os Mestres Jedi, Jag virou-se, corretamente, Luke
notou, apesar das muitas curvas e voltas que tomaram em sua caminhada,
na direção da entrada principal do Templo, e seguiu em diante, puxando o
seu capuz novamente enquanto caminhava.
Mara o assistiu ir e balançou a cabeça.
— Esse é um homem sem motivos suficientes para viver.
— Ele se recuperará. — Luke disse. — Ele é jovem. — Ele mexeu no
dispositivo que Jag deu a ele. — Venha. Vamos ver se Cilghal ainda está
acordado.
Voltando para o Templo de uma missão tardia, Jaina passou pelo Jedi
solitário de guarda na entrada principal aberta do prédio e entrou para o
corredor principal.
Deixando o corredor estava um homem envolto em uma capa escura.
Ele se mantinha ao lado esquerdo do corredor, longe dela, nem mesmo
parecia notá-la. Ela hesitou quando ficou lado a lado com ele, com a sua
postura ereta, porte militar e a arrogância inconsciente em seu caminhar fez
sinos soarem em sua memória.
Quando ele deu um passo além dela, ela parou e virou a cabeça para
olhá-lo.
— Jag?
Ele parou, também, mas não virou. O seu rosto permaneceu
completamente escondido dentro das dobras do capuz, mas era a voz de Jag
Fel que respondeu:
— Sim?
— Você iria simplesmente passar por mim? Nem mesmo dizer oi?
— Sim. — E então ele se foi, engolido pela noite de Coruscant além das
portas.
Capitã Uran Lavint estava deitada no convés de duraço sujo, meio apoiada
contra uma parede quase igualmente suja, e esperava a sua morte. As suas
ferramentas espalhavam-se pelo convés, juntos com as placas que
removera, placas que davam acesso aos vários componentes do hiperdrive
da Duracrud.
Os únicos sons ouvidos eram a respiração dela e os barulhos distantes e
ritmados do sistema de suporte de vida da nave. Não haviam luzes acesas
na nave exceto ali, bastões de luz mecânicos presos magneticamente para
oferecer luz ao compartimento do hiperdrive, e na ponte, onde as luzes de
situação deveriam piscar em várias cores.
Lavint sabia que levaria um bom tempo para morrer. A Duracrud
continuaria a fornecer ar respirável por semanas. Os estoques de comida e
água acabariam primeiro, em alguns dias. Teria tempo de sobra para gravar
e transmitir algumas mensagens finais. Uma denunciaria Jacen Solo por sua
traição. Uma confirmaria que o seu testamento, arquivado em um escritório
de advocacia no remoto Tatooine, registrava com precisão os seus desejos
finais. Poderia até mesmo registrar um discurso final, algo para colocar a
sua vida em perspectiva.
Então morreria de sede, ou se escolhesse acabar com o seu sofrimento
mais rápido, podia atirar em si mesma ou saltar de uma escotilha.
Mas de uma coisa podia ter certeza: dada a natureza remota e pouco
usada do local que escolhera para o seu primeiro salto de hiperespaço,
nenhum cargueiro ou transporte rápido acabaria ali por acaso... e as suas
últimas transmissões, viajando na velocidade da luz, levariam oito anos
para alcançar a estrela mais próxima.
Estava sozinha e condenada tanto quanto qualquer um no universo
poderia estar.
— Delicioso, não é? — A voz era feminina, e veio de fora da escassa
luz fornecida pelos bastões luminosos de Lavint.
Lavint se sentou ereta. Procurou o seu blaster, então se lembrou que
estava com o seu coldre na cabine, o deixara lá quando pegou as
ferramentas.
— Quem está aí?
— O seu sofrimento, queremos dizer. — a voz continuou. — Você sofre
como uma criança que chora até dormir todas as noites, sabendo que os
seus pais nunca, nunca entenderão. Faz quanto tempo desde que foi uma
criança?
Lavint se ergueu com as pernas tremendo e começou a se esgueirar de
volta para a porta saindo do compartimento. Na porta poderia ligar os
bastões luminosos de cima e ver quem a atormentava.
Mas quase não queria ligar aquelas luzes. E se não houvesse ninguém
no compartimento com ela? E se o reconhecimento de seu destino a
enlouquecera, e estava condenada a passar os seus últimos dias ouvindo
vozes?
Como se lendo a sua mente, a voz na escuridão riu.
Lavint alcançou a porta, encontrou o controle das luzes pelo toque, e o
ativou. As luzes de cima se acenderam, brilhantes, cegando-a...
E então, enquanto os seus olhos se ajustaram, viu a sua visitante. E
soube que não estava louca, porque a sua experiência acumulada e neuroses
nunca inventariam um ser como aquele que viu.
A sua visitante era uma mulher Twi'lek azul de tamanho normal. Ela
vestia um manto de viagem escuro e roupas pretas. As suas feições eram
bonitas, mas ela obviamente fora vítima de uma catástrofe em algum ponto
de sua vida. O seu ombro esquerdo era mais baixo do que o direito, com o
braço esquerdo pendendo de uma maneira que Lavint suspeitou não
funcionar, e o seu tentáculo direito fora cortado pela metade.
E agora, enquanto ela se aproximava, ela mancava.
Esse não era um monstro da noite ou fantasma da imaginação. Lavint
encarava, incrédula.
— Quem é você?
— Nós somos Alema.
— Alema. E o que você está fazendo aqui?
— Nós somos clandestinas.
Lavint encarou Alema por alguns momentos mais, e então aconteceu. A
risada fervilhou dela como um vapor de alta pressão. A risada se tornou um
uivo doloroso. Ela se sacudiu e continuou rindo.
Zonza, Lavint debruçou-se com as mãos nos joelhos e as costas contra a
antepara; de outra forma teria caído. Finalmente a sua risada se perdeu,
deixando a sua garganta rouca, com o seu corpo esgotado.
A expressão de Alema não mudou, exceto por se tornar levemente
curiosa.
— Por que ri?
— Porque você é a pior clandestina da galáxia, da história. — Lavint se
endireitou. — Porque você escolheu a pior nave possível para subir a bordo
clandestinamente. O Herói da Aliança Galáctica sabotou o meu hiperdrive.
— Nós sabemos disso. Nós observamos os agentes dele sabotando.
Isso tirou Lavint de seu humor maníaco.
— Você observou?
— Sim.
— E subiu a bordo mesmo assim.
— Sim. — Alema sorriu. — Não, nós não desejamos morrer. Nós
embarcamos após ter certeza do que os agentes fizeram... e após adquirir as
partes necessárias para reparar o motor.
Lavint deu um passo involuntário em frente.
— Você pode consertar isso?
— Sim. Apesar de nós só consertarmos se você morrer, mas se você e
nós entrarmos em um acordo, você vive e você conserta o motor.
Lavint precisou processar a declaração. O uso de Alema da palavra nós
para se referir a si mesma fazia as suas frases saltarem através de aros em
chamas como um bantha de circo.
— Você quer dizer, se nós chegarmos a um acordo, eu faço os reparos e
nós duas saímos daqui. Se não, você supostamente me matará e então fará
os reparos para você sair dessa.
O sorriso de Alema se ampliou.
— Bom. Sim.
— Qual é o acordo?
— Você nos ajuda a encontrar os pais daquele Herói do Império
Galáctico. Você age como a figura pública para nós nessa busca. Você não
revela a nossa presença para as autoridades. Você é uma contrabandista,
sim? Você usa o seu conhecimento sobre contrabando para ajudar nessa
busca. — Ela franziu a testa por um momento, então relaxou. — Você nos
trata como uma estimada passageira pagante.
— E quando você encontrar os Solos?
— Você terá cumprido a sua obrigação.
Lavint considerou as suas opções. Ela sempre admirou Han Solo, e a
necessidade óbvia dessa mulher em ficar fora da vista do público não
argumentavam em favor das intenções dela para quando o encontrasse.
Lavint podia perguntar, mas então deveria decidir se estava disposta a se
opor, e arruinar esse acordo, se as intenções de Alema forem hostis.
Bom, se elas fossem, podia admirar Han Solo como uma peça única na
história galáctica.
— Concordo.
— Bom. Nós encontraremos os componentes substitutos onde os
encondemos. Nós até os entregaremos para você enquanto você faz os
reparos.
— Muito agradecida.
Capítulo Seis
CORONET, CORELLIA
CORONET, CORELLIA
textos liam CONTA NÃO ENCONTRADA, POR FAVOR INSIRA OUTRO CARTÃO.
— Ei. — Ben disse. — A sua mesa está quebrada.
O proprietário se aproximou para olhar. Apontou para um símbolo no
canto inferior esquerdo do cardápio, uma animação de pequenos raios de
blaster se cruzando, da direita para esquerda e esquerda para a direita.
— Não. A conexão de holocomunicação está ativa. Isso significa que
está checando até onde a sua conta deveria estar. E não encontrou a conta.
Tem outro cartão de créditos? Ou moeda?
Ben procurou em seus bolsos. Havia apenas uma moeda de créditos lá, a
sua última. Planejava conseguir moedas locais com o seu cartão de créditos.
Balançou a cabeça.
O proprietário deu um olhar simpático para ele.
— Bom, vá pedir à sua mãe ou pai por mais.
A fome que Ben sentia estava aumentando de leve para aguda e
dolorosa.
— Talvez. — ele disse. — você pudesse me deixar comer o café da
manhã, e eu peço ao meu pai para pagá-lo mais tarde hoje.— À sugestão ele
acrescentou um considerável impulso através da Força.
O proprietário riu.
— Eu poderia, mas após um ano fazendo isso, eu iria à falência. Vai
embora, filho.
Ben suspirou e deixou a mesa. Estava realmente faminto agora, e talvez,
refletiu, a fome o impedira de se concentrar e ser capaz de afetar o homem.
Ou talvez Ben estava muito fraco porque, como seu pai dissera, ele não
tivera treino Jedi suficiente. Ou talvez o proprietário tivesse a mente muito
forte.
Não importava. Ben resistiu a vontade de afastar as suas frustrações
batendo o pé e deixou o café.
E agora os seus planos precisavam de uma revisão maior. Antes do
reconhecimento, precisava de comida. E precisava descobrir o que
acontecera com a conta especial que deveria estar disponível pra ele nessa
missão.
Jacen parou alguns metros de uma das mesas no Cassino Goela. Como
muitos dos antros individuais dessa nave, essa era nomeada de acordo com
um planeta ou região do espaço em particular e decorado adequadamente.
Como a Goela era uma área onde buracos negros aglomerados cercavam
uma região escondida, engolindo toda a luz, o Cassino Goela era escuro,
com as suas paredes negras. As suas mesas prateadas tinham as bordas
luminosas com uma luz fraca, e não havia iluminação acima das cabeças; os
empregados e outro pessoal do cassino vestiam tubos, joias e acessórios que
brilhavam. A decoração deixava o cassino íntimo, um lugar onde as
conversas podiam ser quase privativas, onde encontros podiam ser
organizados ou conduzidos sem medo de descobertas.
A mesa a qual Jacen parou para observar era uma mesa de apostas de
luta de micro-droides. Inseridas na superfície da mesa estavam numerosas
telas. Várias delas mostravam o combate acontecendo em outra câmara a
bordo da nave, combates entre droides de não mais de dez centímetros,
droides projetados e programados por amadores cuja ocupação principal era
jogar os seus projetos um contra o outro. Outras telas mostravam as chances
de apostas sendo feitas nos combatentes. No duelo acontecendo naquele
momento, um droide no formato de um besouro piranha com rodinhas
trocava fogo com outro com a forma de um sandcrawler de Tatooine; eles
estavam separados por alguns metros de terreno artificial lembrando as
imponentes florestas de Kashyyyk.
Mas não era a luta de droides que atraiu a atenção de Jacen. Era a
mulher o encarando do centro da longa borda da mesa. Conhecia o rosto
dela, e não esperava vê-lo novamente.
Deu a volta na mesa para que ela não ficava entre eles e se aproximou
dela.
A Capitã Uran Lavint olhou por cima de sua aposta e a sua bebida e
assentiu pra ele.
— Coronel Solo.
— Capitã Lavint. Como você chegou aqui?
— Essa é uma pergunta boba, não é? Eu cheguei aqui no veículo
cargueiro que você me deu. — Ela ergueu a bebida, inclinou o recipiente na
direção dele em uma saudação, e deu um gole. — Por favor, me perdoe por
não agradecer a você antes. A Duracrud se tornou um amuleto de sorte pra
mim. A minha sorte melhorou desde que tomei o comando dela. Realizei
três rotas de carga, todas extremamente lucrativas.
— Você não teve nenhuma dificuldade com ela?
— Bom, ela é velha. Eu gastei parte de seu pagamento dando a ela uma
reforma, mas nada catastrófico.
Jacen a encarou, perplexo. Os Jedi podiam geralmente dizer quando
alguém estava mentindo, e Lavint estava claramente escondendo
informação, mas ela não manifestou nenhuma emoção que deveriam
acompanhar as mentiras que ele esperava. Se o hiperdrive dela falhara, ela
estaria irritada com ele. Ela não estava. Se estivesse encobrindo o fato de
que ele arruinara as suas fortunas financeiras com as ações dele, ela deveria
irradiar ressentimento. Ela não irradiava. Algo dera errado com as suas
instruções finais em relação a ela, mas resolveria isso com as suas próximas
questões.
Então sentiu uma leve oscilação dentro da Força. Olhou pra cima e viu
Luke e Mara parados bem na entrada do cassino, encarando-o.
Deu à capitã um sorriso puramente artificial.
— Nós conversaremos mais tarde.
— Estou ansiosa por isso. Você pode me pagar uma bebida.
Afastando Lavint de sua mente, se aproximou de Luke e Mara,
oferecendo a cada um deles um aperto de mão civilizado.
— Mestres Skywalker. Vocês deveriam ter me contado que estavam
vindo para Corellia.
— Onde você estaria se avisássemos? — Mara perguntou.
Jacen piscou com a pergunta.
— A bordo da Anakin Solo, provavelmente. — Ele não acrescentou: e
capaz de limitar o tempo que passaria com vocês.
Luke deu a ele um sorriso alegre.
— Bem, é bom que nós conseguimos encontrar você quando tem mais
tempo para socializar. Vamos pegar uma mesa, pedir drinques. — Sem
esperar por uma resposta, ele se virou e liderou o caminho até as fileiras de
pequenas mesas mais perto do bar. Escolheu uma vazia que parecia ter sido
limpa recentemente, sua superfície gordurosa e reluzente ainda estava
úmida, e sentou-se.
Mara e Jacen se juntaram a ele. Jacen precisou lutar para manter a
irritação longe de seu rosto. Esse encontro era inconveniente. A garçonete,
uma Bothana com pelo prata acinzentado, não muito dele coberto pelo curto
vestido preto, materializou-se para pegar os seus pedidos.
Assim que ela saiu, Luke se inclinou para perto.
— Jacen, isso é importante. Precisamos saber exatamente o que
aconteceu no asteroide perto de Bimmiel.
Jacen manteve as emoções sob controle firme e tentou projetar nada
mais do que uma irritação a mais, mas por dentro sentiu alívio, um retorno
de confiança. Luke e Mara obviamente encontraram as pistas que o pessoal
da Lumiya plantou. Tudo o que precisava fazer era se ater aos detalhes que
ela lhe enviara.
— É verdade que não tive tempo para escrever um relatório. A minha
comissão com a Guarda veio logo após o meu retorno para Coruscant. Há
algo de errado com o relatório de Ben?
— Bom, está incompleto. — Mara disse. — Ele não cobre o que
aconteceu enquanto ele estava inconsciente, ou o que aconteceu com você
enquanto estavam separados.
— Oh. É claro. — Jacen franziu a testa como se tentando cavar as
memórias enterradas sob toneladas de eventos mais recentes. — Bom,
vamos nos concentrar nesses dois períodos, então. Brisha Syo, Nelani, Ben
e eu embarcamos em uma espécie de carrinho que nos levou até o interior
do asteroide. Após um momento Brisha foi puxada pra fora. O carro parou
em uma caverna profunda, e lá eu fui atacado por um usuário da Força que
irradiava orientação do lado sombrio e usava o seu rosto, Luke.
Luke assentiu.
— Ao mesmo tempo, eu estava lutando contra uma projeção da Força
com a sua aparência. Uma aparência alterada. E Mara e Ben lutavam contra
versões distorcidas deles.
— Isso mesmo. — A mente de Jacen atravessou pelos detalhes que
Lumiya recentemente fornecera enquanto tentava descobrir a melhor ordem
na qual apresentar a informação. — O meu duelo terminou quando o falso
Luke arremessou algumas rochas contra mim e eu inverti em um giro com o
meu sabre de luz. Nós nos conectamos. Eu levei uma rocha na cabeça e
fiquei fora por um tempo, mas quando acordei, o meu oponente estava
dividido ao meio, e quando encontrei a sua cabeça, vários metros de
distância, eu pude ver as suas feições reais. Um Devaroniano. Não possuía
cartão de identidade. O seu sabre de luz sumira.
— Sumiu? — Mara franziu a testa. — Então alguém foi até lá enquanto
você estava inconsciente e o levou.
Jacen deu de ombros como se o detalhe não tivesse importância.
— Provavelmente só saiu voando por uma fenda em algum lugar e eu
não consegui encontrá-lo. Era um ambiente de baixa gravidade. Você
poderia atirar o cabo do sabre de luz a um quilômetro se tentasse.
— E Ben? — Luke perguntou.
— Eu o encontrei em uma caverna mais acima. — Jacen disse. —
Inconsciente. Brisha Syo estava por perto. Ela perdera um braço, sofrera
uma lesão na cabeça e no peito, todas infligidas por sabre de luz. Eu seria
capaz de curá-la. Ela disse que encontrou uma ruiva de aparência cruel, a
sua descrição batia com a de Ben da "Mara do mal", preparando-se para
decapitar Ben, e que interferira. Ela estava muito ferida, mas fez a Mara
falsa recuar.
Luke e Mara trocaram um olhar.
— Então. — Luke disse, — se ela contou a verdade, a sincronia só leva
a um lugar. O Jedi Sombrio, ou seja lá o que ele fosse, passou-se por Mara e
atacou Ben. Ele venceu aquela luta, Brisha o impediu de matar Ben, e ele
fugiu. Então ele tomou a minha forma e atacou Jacen, e Jacen o matou.
Mara balançou a cabeça.
— Isso não funciona, no entanto, se nós presumirmos que havia uma
conexão entre as duas lutas entre Jacen e Luke e as duas lutas entre Ben em
Mara. Porque a minha luta com o falso Ben e a sua luta contra o falso Jacen
foram simultâneas.
— Sugerindo que a minha luta com o falso Luke e a de Ben com a falsa
Mara, também. — Jacen fingiu tentar entender aquilo. — A única
conclusão lógica é a de que haviam dois inimigos naquelas cavernas, não só
um.
— Isso mesmo. — Luke voltou a sua atenção para Jacen. Ele hesitou
um momento antes de continuar. — Jacen, nós temos evidências de que
Brisha Syo era filha de Lumiya.
Jacen recostou-se e permitiu um olhar de surpresa atravessar as suas
feições.
— Eu não acredito. Não sou enganado tão facilmente.
— Ela seria muita boa com ilusões. — Mara disse. — Se ela foi
treinada pela mãe dela.
— Então... — Jacen fingiu pensar naquilo. — Então Brisha
provavelmente matou Nelani. E Brisha duelou com Ben.
— E Ben a deixou em pedaços. — Um pouco de orgulho crepitou na
voz de Mara com esse comentário. — Mas ela o derrotou com algum
esquema. E ela provavelmente fez algo com ele, alterando a memória dele,
talvez deixando-o vulnerável a outras técnicas, logo antes de você os
encontrar.
E agora, Jacen disse a si mesmo, o teste de coragem. Você propõe que
as minhas memórias foram manipuladas, também? Que o meu pensamento
foi alterado?
Luke realmente parecia estar prestes a dizer algo mais quando olhou pra
cima e ao redor. Um momento depois Jacen e Mara sentiram também, uma
enorme erupção de surpresa, consternação. Outras emoções, de outra
direção, juntaram-se à mistura: medo, exultação, raiva.
Essas emoções deveriam ter sido projetadas por centenas, até milhares
de pessoas simultaneamente para se manifestar assim através da Força.
Jacen agarrou o seu comunicador e falou nele:
— Coronel Solo para Anakin Solo. Checagem de situação.
— Senhor. — Jacen reconheceu a voz; ela pertencia a um dos oficiais
de comunicação da Anakin Solo. — É, ah... — Houve silêncio por alguns
momentos. — Ação da frota, senhor. Há uma frota, vindo, estão por todo
lugar, eles já estão atingindo a força tarefa ao redor de Corellia própria...
Jacen se levantou e correu na direção da porta saindo do Cassino Goela.
Atingiu a garçonete Bothana retornando, girando-a, mandando três copos
cheios direto para o carpete.
Capítulo Quatorze
CORONET, CORELLIA
NA PONTE DA DODONNA
ESPAÇO CORELLIANO
NA AVENTURA ERRANTE
Bem longe das áreas públicas frequentadas pela clientela e hóspedes da
Aventura Errante, Lando saiu de uma passagem escura e entrou em um
pequeno turboelevador. As portas se fecharam atrás dele e o programa de
serviço disse:
— Convés, por favor.
— Subcomando Três.
— Por favor, pressione a digital, retina ou outro identificador individual
no sensor.
Lando ergueu a mão para fazê-lo, mas as portas se abriram novamente e
uma mulher com um manto escuro mancou até o lado oposto do elevador.
Lando deu a ela um aceno educado. Seria tanto suspeito quanto rude pedir a
ela para sair do turboelevador, então deixaria o elevador a levar até seu
destino, então o trancaria para impedir novas entradas e voltaria ao centro
de operações de seu grupo na sala de conferência.
— Convés, por favor.
A recém-chegada ignorou o programa de serviço. Ela puxou o capuz do
rosto, revelando as feições e o lekku, um deles um toco, de Alema Rar.
— Olá, Lando.
Lando tropeçou para trás contra a parede do turboelevador e sacou o seu
blaster, mas antes que ele tivesse saído de seu bolso escondido, ela o
alcançou. A arma voou de sua mão até a dela.
Alema olhou para o blaster antes de jogá-lo no chão atrás dela.
— Estamos desapontadas. Essa não é a saudação apropriada para uma
velha amiga.
Lando limpou a garganta.
— Você está certa, é claro. Desculpe. Um reflexo ruim. — Olhando pra
ela agora, precisou se forçar para não estremecer. Ele a vira pela primeira
vez anos atrás, durante a guerra Yuuzhan Vong, quando ela ainda era
adolescente, ainda em luto pela morte de sua irmã Numa, ainda fisicamente
perfeita.
Ainda lúcida.
Agora ela estava diante dele, com um brilho estranho nos olhos, os seus
ombros em ângulos diferentes. Ouvira sobre a lista de mutilações que ela
sofrera e sabia que as lesões que sofrera na sua mente se igualavam.
O tom dela permanecia curiosamente amigável, sem ameaças:
— Onde estão os Solos?
— Oh. Hum... Corellia?
— Não. Aqui. A bordo. Onde?
— Se eu disser, você não me matará?
— Nós nunca mataríamos você. Nós sempre admiramos você. — Havia
quase um ronronar na voz dela.
— Isso é reconfortante. — Ele apontou a bengala pra ela.
Ela, também, foi arrancada de sua mão por forças invisíveis e voou até a
mão dela.
Agora Alema realmente parecia magoada.
— Você atiraria em nós com um blaster oculto?
— Não exatamente. Zap-zap.
Ao comando vocal de Lando, arcos elétricos, pequenos e azuis,
ondularam da ponta de sua bengala e flutuaram através da pele de Alema.
Os olhos dela se arregalaram, ela convulsionou, com os seus músculos
travando pelos espasmos causados pela carga fluindo por ela.
Mas ela não caiu inconsciente. Lando xingou baixinho. O construtor de
armas que fez a bengala com as especificações de Lando, lhe assegurara
que a carga derrubaria um Wookiee de bom tamanho.
Mas o construtor de armas nunca lidara com Jedi.
Alema caiu sobre o blaster de Lando, mas claramente ainda lutava
contra os choques a paralisando mesmo enquanto fios de fumaça
começavam a subir de seu corpo. E os arcos elétricos pareciam
enfraquecer...
As portas do turboelevador se abriram com um assobio e Lando correu
pela passagem, na direção dos corredores se cruzando cheio de pessoas,
cheio de luz.
Não perderia fôlego com uma chamada de comunicador até estar
cercado de pessoas. Colocou todos seus esforços em correr.
Algo parecia se mover dentro de sua mente, como se houvesse uma
minhoca oleosa se contorcendo em seu cérebro, se movendo para sair por
uma de suas orelhas. Ele ignorou a sensação. Ele correu.
O primeiro cruzamento estava à frente, pouco trafegado. Ele se virou na
direção dele, na direção da maior concentração de pessoas. O seu
movimento rápido não atraiu muita atenção; muitas pessoas corriam.
Alguns momentos depois ele estava no meio de uma multidão de pessoal da
Aventura Errante saindo de um cassino sendo evacuado.
Puxou o comunicador. Agora podia...
Podia o quê?
Chamar alguém, supunha, mas quem? E por que precisava chamar
alguém? Do que estava fugindo?
E onde perdera a droga da bengala?
Balançando a cabeça, e se perguntando se a idade realmente começava a
afetar a sua mente, guardou o comunicador e procurou pelo turboelevador
mais próximo.
ESPAÇO CORELLIANO
NA DODONNA
A Almirante Limpan se retirou para o salão de comando, o qual era menor,
mais quieto e menos frenético do que a ponte. Agora ela podia ouvir os seus
pensamentos novamente, e podia mais facilmente acompanhar o progresso
da batalha.
E a provável morte da Dodonna. O porta-aviões de batalha de
classe Galáctica comissionado menos de um ano antes, era mastigado pelas
forças Bothanas o perseguindo; podia não durar o bastante para fugir do
sistema solar. O martelar constante das baterias de laser dos cruzadores
inimigos, e tão danosos quanto, os mísseis e torpedos dos caças estelares
inimigos, cobravam um preço terrível da nau capitânia de Limpan.
— Pronto para entrar no hiperespaço, Almirante. — o navegador dela
anunciou.
— Lançar. — ela disse.
A visão exterior, trazida pelas telas do salão, mostravam as estrelas
sendo torcidas, tornando-se raios de luz, e então instantaneamente
retornarem a ser estrelas novamente, porque esse salto de hiperespaço foi
bem curto, nem mesmo deixou o sistema.
A Estação Centerpoint e a luta violenta sendo travada ao redor dela
apareceram na tela principal.
— Navegação. — Limpan disse, — trace um curso para nos levar mais
perto da estação, em um alcance ideal para nossas baterias. Passaremos uma
vez e causaremos o máximo de dano possível nela. Então sairemos. Nosso
próximo salto deve nos levar para... Fenn, qual é a designação para o ponto
de encontro que você usou para nosso ataque inicial no sistema?
A Coronel Fiav Fenn, uma Sullustana, se virou de sua estação de
computador.
— Ponto Sombrio. — ela disse. Fenn fora a assessora do predecessor de
Limpan, Almirante Klauskin; Limpan tinha o próprio assessor, mas
transferira Fenn para a função de coordenação de caças estelares e estava
satisfeita com o trabalho dela naquele papel.
— Assim que ultrapassarmos a Centerpoint. — se nós sobrevivermos,
Limpan pensou, — nosso próximo salto nos levará para Ponto Sombrio.
Comunique-se com todas as outras forças da Aliança, diga a elas para
separarem-se do conflito e se juntar a nós lá. Diga a Aventura Errante que
eles têm a opção de juntarem-se a nós lá.
— Eu desaconselho esse curso de ação, Almirante. — Fenn disse.
Limpan a fixou com um olhar severo.
— Explique-se, Coronel.
— Se todas as forças da Aliança na zona de conflito de Centerpoint
saltarem para o mesmo ponto do espaço, bom... o inimigo pode traçar a
nossa direção, mas não a distância de nosso salto, então nos seguir seria
inútil, mas se naves da Aliança de seis diferentes zonas de conflito saltarem
para a mesma localização, tudo o que o inimigo precisa fazer é triangular, e
podem nos encontrar em minutos.
Limpan fervilhou em silêncio por um minuto. Ela fora promovida para
almirante de capitã durante o período de paz após a guerra Yuuzhan Vong.
Durante aquela guerra, ela precisou liderar as forças da Nova República em
retirada em mais de uma ocasião, mas ela apenas comandava uma nava à
época. Ela conhecia as táticas de uma retirada para uma força tarefa
completa em teoria, intelectualmente, mas não eram habituais para ela.
No silêncio que o salão de comando caíra, Limpan disse:
— Você está certa, Fenn. Bem pensado. Navegação, transmita a ordem
do Ponto Sombrio para todas as nossas forças nessa zona de conflito.
Comunicações, diga ao coordenador de cada zona de conflito separada para
encontrar o próprio ponto de chegada fora do sistema e comunicar-se
conosco de lá. Diga o mesmo para a maldita nave de apostas.
— Sim, madame.
Limpan se sentou em sua cadeira de comando e franziu a testa para a
tela principal, para as costas de Fenn. A cadeira vibrou sob ela quando a
Dodonna sofreu outro ataque de torpedo. Mais luzes vermelhas piscaram
nas telas de diagnóstico.
Fileiras inteiras de turbolasers falhavam. Os escudos estavam com
sessenta e oito por cento de eficiência e enfraquecendo. O suporte de vida
não funcionava em uma dezena de conveses, o pessoal de lá lutando para
chegar às áreas mais seguras. Várias fileiras de propulsores foram
destruídas, e mais eram testadas além do limite operacional. Vibrações
persistentes chacoalhavam a Dodonna, um sinal que o dano acumulado
torcia a própria estrutura da nave.
A Dodonna poderia sobreviver a esse combate, mas estaria em péssimas
condições e teria de voltar para os estaleiros imediatamente para reparos.
Estaria fora de comissão por meses.
Mais baixo, Limpan acrescentou:
— Comunicações, deixe a Mergulhador Azul saber que assim que
chegarmos ao Ponto Sombrio, ela deve seguir junto. Transferirei a capitânia
para Mergulhador Azul.
— Sim, madame.
Limpan viu várias colunas enrijecerem com o anúncio. Bom, ela pensou,
eles ainda têm o orgulho. Era uma coisa que não perderam completamente.
ZIOST
***
Uma hora mais tarde, eles estavam no limite de outra clareira, olhando para
um acampamento. Havia uma tenda, improvisada com vários cobertores de
emergência vermelhos vivo e cabo amarelo. Havia uma fogueira, tão
insignificante quanto a de Ben na noite anterior. Havia uma mochila
enorme, feita com uma sacola imensa, algumas longarinas de duraço sem
dúvidas recuperadas da YT-2400 abatida, e mais cabo amarelo.
E havia um homem.
Deixando Shaker pra trás, Ben se esgueirou em frente, mantendo-se
abaixado atrás dos montes de neve. Quando estava perto o bastante para dar
uma boa olhada no homem, sentiu uma sensação de desapontamento.
Faskus de Ziost não parecia muito com um protetor de artefatos Sith.
Era um humano de pele pálida com um queixo a dois passos de ser curto
demais e um bigode grosso e curvo que apenas enfatizava a inadequação de
seu queixo. Ele vestia roupas cinzas altamente discretas. Ele se movia
lentamente, acrescentando galhos à fogueira e falava consigo mesmo,
palavras que Ben não conseguia ouvir.
E na primeira vez que ele se virou na direção de Ben, para acrescentar
outro punhado de gravetos no fogo, Ben pôde ver que ele usava o Amuleto
de Kalara em uma corrente ao redor do pescoço.
Ben congelou. Se Faskus soubesse que ele estava ali, o homem podia
desaparecer de seus sentidos, podia rastreá-lo e matá-lo com pouco esforço.
Ben precisava obter o amuleto sem alertar Faskus.
E isso significava esperar uma oportunidade...
Não. Ben estava faminto agora e apenas ficaria ainda mais. E com frio,
prática contraprodutiva quando um agente tenta permanecer indetectado. Se
ele esperasse, ele enfraqueceria e enrijeceria tanto que não poderia
completar a missão, ou ele congelaria até morrer.
Então a situação significava que ele precisava atacar, e atacar em breve.
E atacar sem misericórdia. Qualquer um que pudesse roubar o amuleto e
deter o seu poder deveria ser formidável.
Quando Faskus virou as costas novamente, ainda murmurando para si
mesmo, Ben esgueirou-se para mais perto. Uma depressão no terreno
permitiu a ele se aproximar até dez metros da tenda. Ele podia ouvir
algumas das palavras de Faskus:
— ... nem se preocupar... deve ter abrigo... não é tão ruim quanto
parece...
Ben se levantou para espreitar sobre a borda da depressão. Faskus
estava de costas novamente.
Ben saltou em frente, empurrando-se através da Força, dando ao salto
uma distância e altitude a mais. No meio de seu arco, ergueu o sabre de luz.
Enquanto começava a sua descida, o acionou.
O som alertou Faskus, que começou a se virar.
E no quarto de segundo final antes do impacto, Ben viu, além de
Faskus, sentada em cobertores na frente da tenda, encarando-o com olhos
curiosos, uma garotinha.
Cortaria a cabeça do homem na frente dessa garotinha.
Ben aterrissou de pé, chutou Faskus para trás na direção da garota.
Pousando em cima do homem, ouviu o grunhido de dor de Faskus, ouviu o
grito abafado da garota. O sabre de luz de Ben cortou o cobertor do topo da
tenda, incendiando as bordas. Desligou a arma.
Então pegou o amuleto com a mão livre e o puxou. A corrente não
cedeu, e nem o pescoço de Faskus. Ben xingou e puxou, arrancando a
corrente do pescoço que o usava. Apenas então recuou, afastando-se com
esforço da entrada da tenda, e guardou o amuleto no bolso.
A garotinha se abraçou por baixo das pernas de Faskus e olhou em volta
com olhos arregalados. Ela tinha cabelos escuros curtos e olhos azuis; ela
deveria ter seis anos padrão, e ela vestia o que deveria ser uma cópia
infantil de um macacão laranja de X-Wing. Quando ela viu Ben, ela gritou
novamente. Ela estendeu a mão e pegou alguns gravetos e folhas, os quais
ela lançou na direção de Ben. Um graveto voou até seu pé; o resto dos
detritos caiu bem longe.
— Cale a boca. — Ben disse.
A garota se lançou para Faskus.
— Papai, acorde. Papai...
— Papai? — Ben levantou e se moveu para frente novamente.
A garota virou e agarrou mais detritos do interior da tenda para jogar em
Ben. Dessa vez foi uma panela de duralumínio. Ele a rebateu para o lado,
sem diminuir o ritmo, e entrou na tenda.
— Pare com isso.
— Não machuque o papai. — Ela agarrou outra coisa... um blaster. Ben,
subitamente surpreso novamente, puxou-o através da Força e ele voou até
sua mão.
Era leve, leve demais. Ele o examinou. Era um brinquedo de criança,
uma cópia em miniatura de uma pistola blaster DL-44 clássica, como
aquelas que o seu tio Han geralmente carregava. Ben a jogou pela abertura.
— Pare de jogar coisas. Eu falo sério.
A garota congelou, com a mão erguida com um garfo nela.
De olho na garota quando podia, Ben deu uma olhada em Faskus. O
homem estava inconsciente... estranho, já que Ben pensou não o ter
acertado com tanta força, mas isso ajudaria. Ben colocou o sabre de luz no
cinto, então revistou Faskus.
O blaster no coldre de cinto de Faskus era real. Assim como os menores
em sua bota e no coldre pequeno sob a manga direita. Assim como a
vibrolâmina na bainha na manga esquerda. Ben se apropriou de todas as
armas, então olhou em volta.
Lá estava o rolo de cabo amarelo em um canto da tenda. Ben o pegou.
Então virou Faskus, descobrindo, e se apropriando, de outro blaster em um
coldre na base de sua coluna, e começou a amarrar as suas mãos.
O garfo o atingiu na bochecha, prendeu-se por um momento, então caiu.
— Você está machucando ele!
Ben esfregou a bochecha. Os dedos voltaram com uma mancha de
sangue neles.
— Não, não estou. Só o estou amarrando.
— Ele já está machucado, você está piorando.
Ben terminou as mãos de Faskus e seguiu para os pés do homem.
— Onde?
— Na barriga dele.
Ben rolou Faskus de novo e puxou a túnica cinza do homem.
Assobiou. Uma bandagem improvisada, grossas camadas de tecido de
camisa seguradas por amarras feitas de faixas de tecido rasgado, cobriam a
parte inferior esquerda da barriga de Faskus. Estava empapada de sangue.
Cuidadosamente, Ben soltou as faixas e ergueu a bandagem. Um olhar
para a pele lavada de sangue por baixo mostrou a ele que Faskus sofrera
uma perfuração de, pelo menos, sete centímetros de profundidade. Mais
sangue jorrou dela quando a bandagem soltou. Faskus gemeu, mas não
acordou.
Ben trocou e amarrou o tecido. Recebera treinamento em primeiros
socorros tanto de seus professores Jedi quanto da Guarda, mas mais do que
primeiros socorros eram necessários ali.
Colocou as mãos no peito e testa de Faskus e buscou qualquer
conhecimento ou sentimos que conseguisse através da Força. Não sabia
muito sobre cura da Força, mas Mestre Ciaghal e o seu pai o ensinaram
algumas coisas, as necessidades básicas.
Faskus não era forte com a Força, não muito forte ali. Era como uma
vela oscilando comparado com a sua filha. Havia turbulência pela ferida.
Enquanto Ben espreitava mais fundo, sentiu sangue fluindo onde não
deveria. Sentiu a vida se esvaindo.
Não sabia muito sobre feridas na barriga. Outros Jedi disseram a ele que
às vezes elas não sangravam muito, mas que geralmente doíam muito.
Faskus deveria estar morto agora, e estava claro que apenas a força de
vontade e o desejo de proteger a sua filha o mantinham vivo. E mesmo isso
não seria o bastante por muito tempo. Ben hesitou, perguntando-se como
contar à garota.
— Qual é o seu nome? — Ele perguntou.
— Kiara. Você vai deixá-lo melhor?
— Não consigo.
Os olhos de Faskus se abriram. Eles estavam vidrados. Tentou rolar de
lado e falhou. A sua visão clareou um pouco, e ele olhou para Ben.
— Quem é você? — Ele perguntou.
— Ben Skywalker. Guarda da Aliança Galáctica.
— Alguma relação com Luke Skywalker?
— Sou filho dele.
— Bom. — Faskus se recostou e fechou os olhos por um momento. Ben
pensou que o homem poderia morrer ali mesmo, mas foi apenas um gesto
de alívio, e Faskus abriu os olhos para olhar para a sua filha.
— O homem da Guarda Skywalker vai tomar conta de você agora.
— Não, papai. — Kiara se lançou para o peito do pai. — Ele machucou
você.
— Ele apenas me nocauteou. Eu já estava machucado. O caça estelar
me machucou.
Desconfortável com a troca, com o que viria, Ben interrompeu:
— Por que você roubou o Amuleto de Kalara?
Faskus olhou pra ele, confuso.
— Não roubei.
— Sim, roubou. De um prédio de escritórios em Drewwa.
— Drewwa é onde me entregaram, sim. É lá que moro e trabalho.
— Eu achei que fosse de Ziost.
Faskus balançou a cabeça, não um movimento enérgico.
— Eu sou de Almania. Sou um transportador.
— Quem te deu o amuleto?
— Um Bothano. Chamado Dyur. Ele me disse para trazê-lo aqui. Pousar
em coordenadas específicas e levar o amuleto até uma caverna próxima.
Para vir sozinho. — Ele riu, um latido curto que terminou em um engasgo
de dor. — Desculpe, Kiara. Eu queria ter vindo. Sinto muito.
— E você foi alvejado? — Ben perguntou.
Faskus assentiu.
— Eu estava a meio caminho da caverna quando ouvi o rugido do
motor. Corri de volta para a Dente Preto. Estavam atirando nela, um TIE
fighter. Kiara ainda estava dentro. Eu precisava alcançá-la...
Ben não precisava perguntar mais. O resto da história estava claro para
ele. Faskus tirara a filha de perto do transporte, mas alguma calamidade,
uma explosão talvez, enviara um fragmento de duraço em suas entranhas.
E o matara. Lentamente.
— Por favor. — A voz dele estava fraca, oscilando. — Desamarre as
minhas mãos. Para que eu possa segurá-la.
Ben pensou sobre aquilo, então assentiu. Usando a vibrolâmina do
próprio Faskus, cortou as amarras das mãos do homem.
Então, enquanto Kiara soluçava e Faskus falava ternamente para ela, em
tons ainda mais baixos, Ben começou a desmontar o acampamento do
homem e fazer um inventário de seus bens.
E pensar.
Eu tenho o amuleto e ele não pode ser usado contra mim. Essa parte da
missão estava completa; Ben podia checá-la em sua lista. Agora precisava
encontrar uma maneira de sair do planeta, ou, pelo menos, enviar um sinal
para Jacen.
Se Faskus, ou seja lá qual for o nome real dele, não roubou o amuleto,
quem foi? Dyur, seja lá quem fosse. E Dyur incriminara Faskus ao deixar o
bilhete pra trás, mas por que Dyur daria o amuleto real para Faskus enterrar
em uma caverna? Esse deveria ser o de verdade; de perto, ele fedia à
energia do lado sombrio e a felicidade sinistra que permitira Ben segui-lo.
Algo não estava se encaixando.
Ben contou seis cobertores grandes, um deles ligeiramente mais
danificado por seu sabre de luz; vários postes de madeira sendo usados
como postes de tenda; quatro estacas de duraço ancorando a tenda ao chão;
três blasters e uma vibrolâmina, cada um com pacotes de energia extra;
rações de comida, possivelmente o bastante para uma semana; uma
quantidade de cabo; a mochila; o conteúdo da bolsa de Faskus, incluindo
um datapad, numerosas moedas de crédito, cartões de créditos, cartões de
dados e cartões de identidade; e as roupas do homem, se ele as quisesse,
mas não queria. Cuidadosamente desmontou a tenda, expondo a garota e o
pai para a primeira neve do dia, e enrolou todos os cobertores, exceto
aqueles constituindo o chão, nos quais Faskus e Kiara ainda estavam. Os
olhos de Faskus ainda estavam abertos, mas ele não mais falava, e Ben não
conseguia senti-lo na Força.
O astromecânico veio balançando de sua posição escondida quando Ben
começava a dividir seus novos pertences entre a própria mochila e a
mochila maior feita por Faskus.
— Boas notícias, Shaker. — Ben disse. — Vários pacotes de energia. Se
você tiver adaptadores, podemos mantê-lo funcionando por um bom tempo.
Mas a resposta de Shaker não soou feliz. O droide mantinha o sensor
óptico fixo em Kiara e Faskus, com uma nota de discordância.
— Sim. — Ben disse. — O que disse.
Ainda mais triste seria o que precisaria fazer em um minuto, mas o seu
dever estava claro. Precisava levar o amuleto para Jacen. E isso significava
não arriscar os seus recursos.
Pensou em pedir a Kiara se mover para poder pegar os dois últimos
cobertores, mas decidiu que tal pedido era desnecessário. Quatro cobertores
seriam o bastante para ele.
Passou alguns minutos usando mais do cabo para amarrar a mochila
grande no domo de Shaker, e então começou a andar.
Não ouviu Shaker o seguindo. Virou-se para ver o R2 ainda no mesmo
lugar. O seu sensor óptico deslizava para os dois lados, encarando-o
primeiro, então Kiara.
— Vamos, Shaker.
O astromecânico começou a balançar na direção dele. Ben imaginou
que podia sentir relutância em seu passo, mas ele dispensou o pensamento.
Shaker nunca conhecera essas pessoas, e portanto não poderia se importar
com eles.
— Ei! — Kiara sentou-se. Com neve acumulando em seus cabelos, e
lágrimas congelando em suas bochechas. — Você não pode ir. Papai disse
que você ia tomar conta de nós.
— Desculpe. — Ben disse. — Mas eu não disse que iria.
— Você não pode deixá-lo! Os animais vão comê-lo!
— Desculpe.
Dar as costas para a garota uma segunda vez exigiu vontade, mas o
reconhecimento de seu dever deu a ele a força para fazê-lo. Começou a
andar novamente, lentamente, e Shaker seguiu.
O droide trinou, uma longa e complicada comunicação. Ben abriu o
datapad, e recebeu a mensagem de Shaker:
QUAL É NOSSO DESTINO?
— Eu dei uma olhada no datapad de Faskus. — Ben deu um tapinha em
sua bolsa para se assegurar de que o datapad ainda estava lá. — Ele tem
informações sobre Ziost que não tenho. Como as coordenadas de onde ele
deveria pousar, a caverna onde ele deveria deixar o amuleto, eu acredito que
ele abandonou essa parte do plano após se ferir, e muitos locais marcados
como RUÍNAS. Aposto que onde sejam essas ruínas, há coisas para achar.
Talvez até pessoas. Talvez mesmo a base de onde o TIE fighter veio. Vamos
para o local das ruínas mais próximas. Eu aposto que Faskus também estava
indo.
POR QUE ESTÁ ABANDONANDO A GAROTA?
***
Kiara apunhalou o chão com a faca. Era um talher, não uma vibrolâmina, e
quando atingiu o chão, ressoou. Algumas vezes arranhava um pouco do
solo endurecido pela neve. Algumas vezes não. Após mais de uma hora
cavando, pontuada por ataques de choro, cavara um buraco pouco maior do
que a sua cabeça.
Mas continuava cavando. O seu pai estava morto, e precisava enterrá-lo
para que os animais não viessem e o comessem.
Através da neve, podia ver que haviam botas na frente dela. Olhou pra
cima, para o rosto de Ben Skywalker. O astromecânico bamboleante entrava
na clareira do outro lado.
Ben não disse nada por alguns momentos. Então deu uma olhada ao
redor.
— Acho. — ele disse, — que precisamos enrolá-lo em um dos
cobertores, então empilhar pedras nela. Isso afastará os animais.
— Eles não vão comê-lo?
— Eles não vão comê-lo. Eu o envolverei e procurarei as pedras. Você
se cobre com o outro cobertor e vai sentar com Shaker.
Kiara fez o que lhe foi pedido. As suas lágrimas não paravam de surgir,
mas agora sabia que o seu pai estaria seguro sob as rochas.
Capítulo Dezesseis
CORUSCANT
— Eu acho que está levando todo esse negócio de “Espada dos Jedi” a sério
demais. — Zekk disse.
Em resposta, Jaina avançou, erguendo o seu sabre de luz
horizontalmente. Iniciou um golpe alto, visualizando o ataque enquanto o
fazia, mas foi uma finta, e, contrário a sua visualização, mergulhou a ponta
da lâmina bem abaixo da manobra de bloqueio de Zekk e o seguiu até a
costela direita.
A arma fez um som de zap. Um sabre de treino, ele deu em Zekk uma
descarga elétrica em vez de uma nova cicatriz de queimadura para combinar
com a que recebeu não muito tempo antes.
Ele recuou, esfregando onde a lâmina o tocou.
— Ei! Você trapaceou.
Jaina assentiu.
— Eu contei com o fato de que você me anteciparia todas as vezes.
Porque você confia muito em se antecipar a mim.
— Talvez.
— E não estou levando a designação de Espada dos Jedi a sério demais.
Como poderia, quando nem sei o que significa? Nem mesmo tio Luke
realmente sabe o significado. Nunca teve certeza do porque disse isso.
Talvez fosse a Força falando através dele.
Zekk colocou o seu sabre de treino de prontidão novamente.
— Talvez signifique que você é a nova Escolhida.
Jaina estremeceu, então levantou a guarda novamente.
— Espero que não. Isso levou décadas para o meu avô, múltiplas
amputações e muita tragédia para conquistar o seu destino. — Ela avançou
e desferiu um golpe pra baixo que se tornou um impulso deslizante sobre o
topo da lâmina de Zekk bloqueando.
Mas Zekk usou o seu alcance maior e altura para a sua vantagem,
virando a ponta de Jaina pra cima, então o impulso terminou vários
centímetros à direita de seu rosto. Tentou arrastar a arma lateralmente, mas
Jaina manteve a posição e trouxe a lâmina pra baixo, recebendo o ataque de
Zekk perto do cabo.
— Além do mais. — Jaina continuou, com o seu tom de conversa
sugerindo que o duelo de sabre de luz não estava mais acontecendo. — não
há mais um Imperador para eu lançar em um poço.
— Tem a Lumiya. — A voz veio de vários metros de distância.
Jaina e Zekk afastaram-se um do outro e olharam na direção do orador.
Jag Fel estava sentado de pernas cruzadas em um colchonete de treino,
vestindo as suas vestes negras de costume. Jaina percebeu que não o vira ou
o sentira entrar.
— Eu queria que ele não espionasse a gente. — Zekk disse. A voz dele
foi um murmúrio, não alta o bastante para chegar até Jag.
Jaina desativou o seu sabre de treino. A lâmina, uma peça de duraço
carregada eletricamente, não retraia.
— O que tem Lumiya?
Jag deu de ombros.
— O Escolhido destruiu o líder dos Sith. Lumiya é Sith, correto?
Zekk desativou a própria lâmina.
— Ela é o que sobrou dos Sith. Eu duvido que precise de alguém que
preencha um papel profético de uma geração, se isso for o que a Espada é,
para eliminá-la.
— Eu admito não ter conhecimento suficiente dos Jedi mesmo para
especular de maneira informada...
— Bom pra você.
Jag sorriu como se as palavras de Zekk fossem engraçadas em vez de
insolentes. Então continuou:
— Mas eu vejo dessa maneira. Uma espada é uma arma. Uma arma dos
Jedi seria usada pela vontade, ou contra o inimigo dos Jedi. O inimigo dos
Jedi são os Sith e outros anti Jedi, seja lá como escolham se chamar. A
Espada dos Jedi portanto seria alguém que seria usado contra os Sith. Então
é simples assim, simplista ou errado?
— Eu voto por simplista. — Zekk voltou a atenção para Jaina. — Mais
uma rodada?
Jaina balançou a cabeça.
— Eu quero ouvir isso. Eu nunca tive a perspectiva de alguém fora da
Ordem. E Jag sempre teve uma perspectiva interessante.
Zekk suspirou, sofrendo, e estendeu a mão. Jaina passou o sabre de
treino para ele. Zekk obedientemente seguiu na direção das prateleiras onde
as armas eram armazenadas.
Jag ofereceu a Jaina um olhar arrependido.
— Não tenho certeza se tenho uma perspectiva além do que eu acabei
de dizer, mas posso especular.
— Por favor. — Ela se moveu para sentar no colchonete em frente a ele,
imitando a sua postura com as pernas cruzadas.
— Não sou mais adequado para analisar a Força do que sou para
compôr música ultrassônica, já que não tenho experiência com nenhuma
delas. Eu só sei o pouquinho que ouvi, e bastante coisa foi acrescentada
desde que vim pra cá, mas se a Força estava falando através do Grão-
Mestre quando ele pronunciou você a Espada dos Jedi, e se a Espada é algo
parecido com o Escolhido, então há algum tipo de desequilíbrio que precisa
ser corrigido. E isso parece apontar para Lumiya.
Jaina assentiu.
— Talvez a nossa força tarefa precise persegui-la em vez de Alema Rar.
— Ou além dela, já que as duas estavam claramente cooperando contra
os Skywalkers na Estação Roqoo.
Zekk voltou olhando sobre os dois.
— Não acho que nós três sejamos páreo para Lumiya. Ela lutou contra o
Grão-Mestre de igual pra igual. Ela tem o nível de um Mestre. Somos dois
Cavaleiros Jedi e um cego na Força.
Jaina franziu a testa pra ele.
— Zekk, isso foi desnecessário.
— Estou apenas explicando, corretamente e logicamente, que Fel não é
um recurso nas questões que importam para a Força
— Zekk, pare com isso!
Implacável, Zekk continuou:
— E sobre esse tipo de análise é algo que Fel sabe bem. — Ele voltou a
atenção para Jag. — Você não disse uma vez para Jaina que eu não era uma
piloto bom o suficiente para se juntar ao esquadrão dela? Isso não foi uma
análise fria e equilibrada?
Jaina estremeceu. Esse evento aconteceu durante a guerra Yuuzhan
Vong, em Borleias. E Jaina se deixou convencer pela opinião de Jag,
mesmo sabendo melhor.
A expressão de Jag não mudou, mas ele levou um tempo maior para
formular uma resposta.
— Não. — ele admitiu, — aquilo não foi uma análise. Aquilo foi eu
sendo um amante ciumento, tentando manter você longe do caminho.
Zekk parecia assustado. Obviamente, a honestidade não era o que ele
esperava.
Jag gesticulou para Zekk.
— E isso é algo que você sabe muito bem. O ciúme de um amante. De
outra forma não continuaria a pairar como um morcego gavião melancólico
toda vez que me aproximo para perguntar a hora para Jaina.
Jaina se sentiu corar.
— Jag...
— Você sempre sabe o momento. Só está arranjando desculpas para
falar com ela.
— Garotos, vocês estão me deixando com raiva...
Jag começou a apitar. Ou melhor, algum dispositivo eletrônico com ele
começou, e os bipes eram uma turbulência de tons musicais, como um
astromecânico tentando recitar uma poesia, um sinal mais elaborado do que
qualquer um que os Jedi ouviram de qualquer equipamento de Jag.
Parecendo surpreso, Jag pegou o seu datapad de um bolso.
— Tráfego de alta prioridade. — Ele ligou o dispositivo, leu algumas
linhas... e então começou a ler em voz alta: — Do computador central da
Aventura Errante. "O código de reconhecimento e análise das holocâmeras
do Templo Jedi atribuem noventa e quatro por cento de probabilidade de
correspondência com o alvo Alema Rar na sequência anexa.
A discussão esquecida, Zekk se sentou ao lado de Jaina.
— Coloque na tela grande.
Zekk posicionou o datapad na direção da tela que dominava a parede
oposta ao corredor de entrada. Pressionou um botão, e um momento depois
a tela ganhou vida, transmitindo uma gravação de holocâmera.
Parecia ser de uma holocâmera instalada no teto. Ela mostrava uma
multidão, a maioria delas pessoal militar uniformizado da Aliança, correndo
em direção a uma porta. No meio deles estava uma mulher humanoide toda
coberta, definitivamente de pele azul, possivelmente uma Twi'lek, mas o
seu rosto não era grande o bastante na imagem para Jaina reconhecer.
Então o código de Jag foi ativado. A representação da estrutura do
corpo de uma Twi'lek fêmea foi sobreposta sobre o alvo. Enquanto ela
confirmava a sua postura, linhas menores esticaram-se de partes do corpo,
pés, ombro, cabeça, e palavras e números percentuais apareceram rápido
demais para ler. A estrutura adaptou-se mais, diminuindo um pé pela
metade, deixando o ombro esquerdo cair sugerindo um dano fisiológico
permanente.
Aquela sequência terminou e outra começou. Ela parecia seguir logo em
seguida. A visão da holocâmera mostrava a passarela ampla da nave.
Pessoal uniformizado entrando vindo de uma câmara maior; o movimento
deles era restringido por seus números. A fêmea azul estava na direção do
centro da massa, pulando. Essa visão da holocâmera se aproximou e
manteve um quadro estável.
As feições da mulher eram muito parecidas com as de Alema, a Alema
do Ninho Sombrio.
Jag acionou um terceiro arquivo, mas não era uma sequência de
holocâmera. Eram várias ocorrências de falhas na gravação da holocâmera
feitas a bordo da Aventura Errante, nas áreas onde os conveses não estavam
classificados, de qualquer forma. O registro citava milhares de ocorrências,
e uma planta as representou sobre as plantas dos conveses, mostrando
padrões definitivos de progresso ao longo dos corredores, através de dutos
de ar, através de cassinos e centros de compras.
Claramente, Alema Rar estava na Aventura Errante, ou, pelo menos,
esteve quando os dados desse relatório foram compilados, não mais do que
alguns dias antes.
E a Aventura Errante estava agora no sistema Coruscant, recebendo o
direito de exercer os seus negócios ali após fugir de Corellia.
Jag se levantou tão rápido que poderia ter sido puxado por fios
invisíveis.
— A caçada começou. — Sem expressão, ele correu na direção da saída
da Sala de Treino.
CORRETO.
ZIOST
— Enviei?
Ben olhou pra a hora no canto da tela do datapad. Haviam dois itens ali,
um local e um de Coruscant, e a hora local era exatamente uma hora antes
do meio-dia.
Poderia o seu próprio datapad o estar traindo? Ou algum item de seu
equipamento? Rapidamente retirou tudo de ambas as mochilas, separando
os itens em duas pilhas, tudo o que examinara antes, e tudo que não
examinou. Atacou a segunda pilha, minuciosamente analisando cada item.
Poderia descobrir no dia seguinte se o seu datapad era o dispositivo de
rastreio. Presumindo que as comunicações aconteciam no mesmo horário
todos os dias, deixaria o datapad de lado logo antes do meio-dia, e ele e
Shaker se afastariam. Se o datapad enviasse um sinal, Shaker poderia
determinar se era aquele dispositivo e não outra coisa que Ben tivesse.
Metodicamente checou todos os outros itens, também, ao ponto de
chacoalhar o cinto sobre a pilha de coisas para ter certeza de que estava
vazio.
Não estava. Nada mais caiu, mas o fundo do bolso pendia
estranhamente em suas mãos. O bolso parecia pesar mais do que deveria,
por muito pouco.
Virou o bolso do avesso e encontrou o dispositivo de rastreamento.
Parecia uma pequena bolinha de aço, embora uma com compridas
pernas de aranha costuradas no tecido do bolso, segurando-a no lugar com
firmeza. Uma perna que se esticava por seis ou sete centímetros.
Ben encarou, perplexo. Quando aquilo fora plantado nele? Ou, mais ao
ponto, já que parecia uma unidade móvel, quando ela rastejara para o seu
bolso? Poderia ser em qualquer ponto entre o Templo Jedi e a sua chegada
ao acampamento de Faskus. As palavras de sua mãe sobre espiões
cumprindo as suas tarefas sem sequer serem notados vieram até Ben, e ele
sorriu.
— Bom trabalho, espião. — ele disse.
Então sentiu os olhos no céu novamente. Checou o seu datapad. Meio-
dia exatamente.
Exceto que dessa vez, a sensação de ser observado não desapareceu
após alguns segundos. Intensificou-se, e Ben podia sentir algo com ela,
emoções de divertimento maldoso, um desejo para causar destruição.
Olhou pra cima. Havia um pontinho no céu, no centro da cobertura de
nuvens bloqueando a maior parte dos raios de sol.
— Shaker. — ele disse. — se proteja!
Kiara, que estava desinteressadamente terminando a sua lata de
linguiças apimentadas, olhou pra cima. Ela não falara muito nos últimos
dias e não disse nada agora, mas ela saltou quando Ben a alcançou.
Foi quando os primeiros feixes de disparos laser chamuscaram o chão.
Disparos verdes alvejaram as pedras alguns metros à direita de Ben. Kiara
soltou um grito estridente. Ben a pegou e saltou para esquerda, na direção
das árvores próximas, cerca de sessenta metros de distância.
O TIE fighter passou guinchando e começou a fazer a volta para outra
rodada de bombardeio. Ben o viu como um borrão, era preto, com alguns
detalhes, como costelas separando os painéis no suporte de asas solares, em
bronze brilhante.
Ele parou. Se ele continuasse na direção das árvores, ele seria pego a
céu aberto na próxima volta. Ele inverteu a direção e correu no sentido do
monte de pedras; a única proteção perto o bastante.
Saltou atrás de uma porção de rochas e espreitou. O TIE fighter estava
baixo, a meros cinquenta metros acima do solo, e vindo diretamente até
eles. Shaker, cambaleando na direção da estrada plana, era um alvo fácil,
mas o piloto do caça estelar ignorou o droide.
Ben abaixou novamente quando o TIE atirou. As pedras imediatamente
à direita balançaram e caíram por trás, caindo ao lado dele, impulsionadas
pela imensa energia dos turbolasers do caça. Fumaça preta, acompanhada
de um cheio forte, subia dos pontos de impacto.
Olhou para Kiara. Ela estava encolhida contra o chão, contra a
superfície de pedra na qual deitou-se, melhor dizendo, e o seu rosto virado
pra cima, os olhos cheios de medo.
Por um momento, Ben estava em outro lugar, em centenas de outros
lugares com refugiados tremendo enquanto esquadrões, frotas de TIE
fighters rugiam por cima de suas cabeças. Então isso era o Império, ele
pensou distraidamente. Jacen lhe mostrara que havia algumas coisas a se
admirar sobre o velho Império, incluindo a maneira inabalável com a qual
impunha ordem, mas agora podia sentir como aquela ordem era do outro
lado.
Balançou a cabeça para se livrar das imagens e olhou pra cima.
Encontrou o TIE fighter vindo para uma nova rodada. Procurou pela pistola
blaster de Faskus...
Ainda estava lá fora na neve, onde a derrubara quando examinava as
suas posses. Reprimiu um palavrão e se entendeu até ela. Apesar de nunca
ter convocado o seu sabre de luz ou qualquer outro objeto para si de tal
distância, o blaster voou até a mão dele e mirou com a arma.
Então balançou a cabeça. Uma pistola blaster contra um caça estelar
blindado? Não tinha chance de causar dano ao seu oponente. Precisava de
armas maiores...
Precisava da Força. Era um Jedi, afinal, mesmo se apenas um aprendiz,
e a Força era a sua maior arma, a sua maior armadura.
Procurou por um míssil, então percebeu estar cercado deles. Fechou os
olhos e concentrou-se como fez no outro dia, quando libertou Shaker da Y-
Wing.
Ouviu o suspiro de Kiara quando a pedra que caíra se levantou alguns
centímetros no ar.
O TIE fighter veio. Ben não conseguia senti-lo como podia sentir o
piloto no coração de sua cabine em formato de bola. Sentiu a pedra, sentiu o
piloto... e tentou enviar um até o outro.
Lentamente, a pedra se ergueu até o caminho do TIE fighter. Ben ouviu
o grito de lasers atirando novamente e abriu os olhos a tempo de ver um
disparo verde atingir a parede à sua esquerda, o outro acertando a pedra
flutuando bem no meio, estilhaçando-a em milhares de fragmentos.
O TIE fighter desviou, mas não se livrou totalmente da nuvem de
destroços. Ben ouviu os estalos agudos quando o suporte da asa esquerda
acertou os fragmentos.
O TIE fighter subitamente ganhou muita altitude, fez um círculo e então
subiu novamente até se perder de vista.
Ben olhou para Kiara novamente.
— Estamos bem por enquanto. — ele disse. — O homem mau foi
embora.
Ela assentiu, acreditando em parte.
— Não de verdade. — Ele parou, tentando pensar no que dizer para
convencê-la. Então se inclinou e a abraçou, sentindo-a tremer. — Está tudo
bem, está tudo bem.
A resposta dela veio abafada:
— Ele vai voltar?
— Sim, vai, mas da próxima vez estarei pronto pra ele.
— Por que ele quer atirar em mim?
— Em você? — Ben se afastou para olhar para ela. — Ele não quer
atirar em você. Quer atirar em mim.
Ela balançou a cabeça, solenemente.
— Não. Ele atirou na Dente Preto enquanto eu estava lá dentro. Foi
assim que papai se machucou. Papai disse que queriam atirar nele, mas
agora querem atirar em mim. Eles me querem morta.
— Não, não querem.
— Você queria. — O tom dela sequer era acusatório, apenas magoado.
— Não, não queria. Eu só... — Ben parou para tentar escolher as suas
palavras. — Estou em uma missão importante, e pensei que abandonar
você, até mesmo deixá-la morrer, deixaria as coisas melhores.
— Você mudou de ideia?
— Sim. Eu estava errado.
Subitamente, Ben se sentiu zonzo. Sentou-se na pedra ao lado de Kiara.
— O que há? — Ela perguntou.
Não conseguia dizer a ela, apesar de ter uma sensação. Fizera
exatamente o que Jacen vinha fazendo, decidir que alguma coisa era mais
importante do que outra, um objetivo mais importante do que uma vida, e
ele estivera pronto demais para sacrificar uma, sem vontade o bastante para
tentar proteger ambos.
Estava errado. Talvez, algumas vezes, Jacen estivesse errado, também.
Ben balançou a cabeça. Não, Jacen tinha mais que o dobro da idade de
Ben. Era mais velho, mais sábio, mais poderoso. Não cometeria esse tipo de
erro, nunca.
A menos que fosse humano.
A pergunta vibrante de Shaker tirou Ben de seus pensamentos.
— Estamos bem. — ele disse. — Estaremos com você num minuto.
Dyur olhou pro rosto com capacete na tela e não conseguiu deixar de rir.
— Ele fez o quê?
A pessoa com quem falava, era um homem anônimo no uniforme de um
piloto de TIE fighter, apesar de seu uniforme ser bronze em vez de preto,
soava envergonhado:
— Ele jogou uma pedra em mim.
— E agora você está correndo até nós?
— Não é assim, Capitão. Ele usou a magia Jedi para lançar uma placa
de pedra de um quarto de tonelada em mim. Se eu não tivesse acertado a
pedra com os meus lasers, ele teria me derrubado.
— Ah. Bom, isso é diferente.
— Ordens, senhor?
A voz de Dyur se tornou dura, e como qualquer Bothano que desejasse
soar com raiva, seu tom se tornou bem ameaçador.
— Keldan, você deveria ter voltado imediatamente e acabado com ele.
Sem hesitar, sem perguntar. Agora você não tem a chance, ou o bônus pela
morte. As suas ordens são para reportar imediatamente. Myrat'ur descerá
amanhã no horário de sempre e terminará o trabalho.
O piloto soava apropriadamente repreendido e ressentido.
— Sim, senhor.
— Nós não premiamos asneiras aqui, Keldan. Cemitério desliga.
Ben sonhou com olhos vermelhos saltando sobre a fogueira construída por
ele, e o sonho era tão poderoso, tão imediato, que acordou em meio a um
chute.
O pé dele encontrou algo muscular. O golpe desviou no ar, mas Ben
recebeu força suficiente do impacto para rolar para trás, pra fora do
cobertor.
Shaker gorjeava sons de alarme. Ben podia ver as luzes do droide,
brilhos tênues onde a fogueira se apagava, nada mais. A escuridão estava
por todo o lado. Agarrou o sabre de luz do cinto e o ativou, lançando um
suave brilho azul ao seu redor.
Kiara ainda enrolada nos cobertores, só agora acordando, com os olhos
arregalados. Dois metros além, entre ela e a árvore mais próxima, uma
forma lutava para ficar de pé e virava para encarar Ben.
Era extremamente amplo no peito, com quatro pernas grossas que
terminavam em patas com três dedos. O pescoço era protegido por uma
placa óssea ou espinhos que o cercavam como um colar, e a cabeça era
dominada por uma longa mandíbula cheia de dentes triangulares,
pontiagudos. Parecia muito com as holos que Ben vira de neks, mas não
havia aprimoramentos cibernéticos visíveis, e esse exemplo era coberto por
uma rala pelugem cinza.
A pelugem não fazia dele um bicho de pelúcia. Agachou-se e rugiu para
Ben, um rugido que ecoou de várias direções, fora da luz projetada pelo
sabre de luz.
Quando rugiu, Kiara se virou involuntariamente para ver. A criatura
retribuiu o olhar e, em vez de saltar até o Ben, investiu contra ela.
Ben se lançou para frente, mas os seus reflexos estavam amortecidos
pelo sono e exaustão. Não conseguiu alcançá-la a tempo.
O braço de soldador protuberante de Shaker tocou a lateral do nek.
Houve um clarão de luz e a fera uivou. Ela contorceu-se, mordendo Shaker,
arrancando o braço estendido do droide com uma mordida.
E então Ben o alcançou. Com um golpe duro de seu sabre de luz, cortou
a armadura do nek até o pescoço. Apenas chegou à metade, mas foi o
bastante para romper a coluna. A fera caiu, deixando outras na escuridão,
perto. Podia ouvi-las movendo-se, ouviu os pequenos rugidos e latidos.
Estavam se comunicando.
O fluxo de raiva inicial de Ben começou a desaparecer e se pôs a pensar.
Conectou-se a Força, procurando por seus inimigos. Encontrou-os, seis
ao todo, rondando. Sentiu que estavam esperando por um momento de
desatenção da parte dele, esperando o sabre de luz se apagar. Eles
entendiam que aquilo só os machucaria quando chegassem perto.
Ofereceu a eles o sorriso de “você me subestimou” de Jacen Solo. Com
a mão esquerda, sacou o blaster de Faskus. Mirando através da Força,
atirou.
Houve um uivo de dor na escuridão, e podia tanto ouvir como detectar
através da Força o nek ferido saltando pra longe.
Escolheu outro alvo, sem mesmo olhar naquela direção, e atirou uma
segunda vez. O resultado foi o mesmo: um animal ferido e fugindo.
O resto se virou e sumiu pela floresta ao redor. O silêncio caiu sobre o
acampamento; a única coisa audível era o zumbido do sabre de luz de Ben.
Agora o frio começava a fustigá-lo novamente, e estremeceu.
— Eles foram embora? — Kiara perguntou.
Ben guardou o blaster, pegou um bastão luminoso do cinto e o acendeu,
desligando o sabre de luz ao mesmo tempo.
— Sim, mas vamos passar o resto da noite nas árvores, para ter certeza.
— Ele olhou para Shaker. O droide recolhera o toco de seu braço e fechou a
placa sobre ele; o resto do braço de soldador repousava na neve. — Sinto
muito por isso, carinha. — Ben disse. — Você fez bem.
Shaker deu a ele um trinado satisfeito.
Minutos mais tarde, assim que ele e Kiara estavam aninhados juntos na
árvore, alto o suficiente, esperava, para os neks não conseguirem alcançá-
los, Ben teve tempo para pensar novamente.
Não estaria tão alheio à chegada dos neks, mas estava dormindo
profundamente. Ficava cada vez mais cansado todos os dias, e não dormia
tão levemente quanto estava acostumado, tão levemente quanto um Jedi ou
um Guarda da Aliança precisavam.
E vinha sonhando.
No sonho, as vozes que chegavam perto finalmente descobriram o seu
nome.
— Ben, Ben, Ben, Ben. — elas ecoavam, e era tão difícil ignorar o seu
próprio nome.
Não conseguia, de fato, e assim que souberam que as escutava,
aprenderam a dizer outras coisas.
— Proteja a garota. — elas sussurravam. — Proteja a garota.
Isso parecia tão estranho, que nesse lugar famoso entre os Jedi por seus
atos malignos, as vozes fantasmagóricas ofereciam uma mensagem tão
positiva. Era por que se importavam?
Ou por que sabiam que ele escutaria uma mensagem assim?
Com esse pensamento, ele dormiu novamente, e as vozes retornaram.
— Ben... Ben...
ZIOST
— Ben... salve garota.
— Ben... proteja garota.
— Eu preciso sair do planeta. — Ben murmurou enquanto dormia. —
Eu preciso de uma nave.
— Nave!
— Ben nave.
— Aprende nave.
— Ben aprende nave.
— Eu já sei como pilotar uma nave. — Ben protestou. Ele lutou contra
o sono que tomava conta dele, mas algo o lembrou de que ele não deveria
se mover agora. Se ele movesse, iria... o quê? Cair.
— Aprende nave. — A voz era geralmente enérgica, e na mente de Ben
uma imagem apareceu, a imagem de uma embarcação em formato de bola.
Era estranha e orgânica, com uma superfície vermelha de textura áspera.
No centro da esfera o encarando estava a escotilha ou canopi transparente.
Mastros vermelhos se esticaram pra cima e pra baixo da embarcação.
Eles pareciam articulados, como insetos, mas esse veículo não era uma
coisa viva, não como uma embarcação Yuuzhan Vong; Ben sentia o
maquinário, mas o maquinário estava ciente dele, esperando por ele.
Acordou com a luz do sol, interrompido pelos galhos acima, fluindo em
seu rosto, e sabia onde a nave vermelha estava.
Ou melhor, sabia a direção que tomar para encontrá-la.
Se fosse real.
O TIE fighter não os encontrou ao meio-dia. Isso era porque Ben cortou a
longa perna do dispositivo de rastreamento em seu bolso, presumindo que
fosse a antena da unidade. Deveria estar certo. Começando uma hora e meia
antes e esperando até um pouco após o meio-dia, ele, Kiara e Shaker
descansavam em uma pequena ravina, um lugar onde traços infravermelhos
seriam mais difíceis de detectar de qualquer ângulo além de diretamente
acima. Ele sentiu o olho no céu, vagamente, mas não veio de perto dele.
Se ele precisasse, ele podia recolocar a antena.
Esse era um bom resultado do dia. Outros eventos não foram tão
promissores.
A comida deles começava a acabar. Eles tinham duas latas de ração
preservada, as quais apenas durariam o tanto que escolhessem. Ben poderia
alegremente ter comido ambas as latas sozinho de uma vez.
A quantidade de água era boa. Tudo o que precisavam fazer era pegar
neve com o cantil de Faskus e deixá-lo contra o corpo para derreter, o que
era frio e desconfortável, mas simples. Ocasionalmente eles encontravam
um riacho congelado; nessas vezes, Ben usava o sabre de luz para cortar
através do gelo e dar a eles acesso à água.
Ele se perguntava, no entanto, sobre a neve e a água nesse mundo. Ele
agora vira algumas criaturas parecidas com aves, as asas eram
membranosas em vez de emplumadas, e geralmente distorcidas, com uma
perna maior do que a outra ou possuíam um bico disforme. Havia algo na
água causando os altos níveis de mutações? Para o bem dele e de Kiara, ele
esperava que não.
O pior de tudo, ele tinha certeza de que os neks os seguiam. Eles
ficavam fora de vista, mas ele podia senti-los mantendo o ritmo e Kiara à
direita e à esquerda, seguindo o rastro deles.
Ele e Kiara eram carne para os neks, ele sabia. Não gostava muito de ser
considerado carne. Esperava ter força o bastante para fazer algo quando a
hora chegasse.
***
ZIOST
Levaram quatro horas para escalar até o topo da pilha de escombros que
bloqueava a entrada principal da cidadela. Do topo, Ben podia ver um fosso
como uma trincheira entre partes da parede oposta que não caíram e a
parede interna alta, mais intacta, da cidadela em si. Podia ver céus azuis
acinzentados e florestas cobertas de neve se estendendo no horizonte. Era
tão bonito que queria ficar ali pra sempre.
E lhe ocorreu que se matasse e comesse a garotinha, recuperaria a sua
força rapidamente. Talvez até cozinhasse ela primeiro.
Mas ela estava olhando pra ele quando o pensamento veio, e a maneira
como ela lentamente se afastou dele o lembrou de que o pensamento não
vinha dele. Afastou-a e deu a ela um sorriso, num genuíno sorriso de Ben.
As portas de pedra além da pilha de rochas estavam derrubadas, e levou
bem menos tempo para descer até a grande câmara externa da cidadela.
As únicas luzes disponíveis pra ele eram pequenos raios de luz do sol
entrando por janelas perto do teto. Elas permitiam a ele ver que não havia
mais mobília na câmara, nem mesmo os vestígios mofados e despedaçados.
O lugar fora despido de bens há muito tempo. Tudo o que restava eram
entradas para corredores escuros e escadas de pedras arredondadas subindo
ou descendo.
Queria desesperadamente descer. Sabia que a nave em formato de olho
estava em algum lugar abaixo, escondida, esperando por ele. Chamando por
ele.
Mas não tinha forças, e sabia que para se tornar o mestre da nave, precisaria
conquistá-la.
— Vamos acampar aqui. — ele disse à Kiara.
Ela olhou em volta em dúvida, mas não disse nada.
Ben dormiu e sonhou que, na hora mais escura da noite, algo se
destacava do teto bem acima.
Pareciam três bolas gigantes, o centro de uma ligeiramente maior e
ligado às outras duas por eixos. Um conjunto de cinco pernas emergiu de
cada bola, e trabalhavam juntos para permitir à coisa descer lentamente pela
parede.
Em seu sonho, ele disse:
— Vai embora.
não
essa é a minha casa agora
a sua espécie se foi
— Eu vou matar você.
— Coma garota.
— Fique forte.
As vozes desapareceram quando Ben acordou. Apressadamente olhou
em volta.
Kiara, parecendo pálida, com as feições afinando pelo esforço e fome,
ainda dormia ao lado dele.
O teto estava melhor iluminado. Ao redor das bordas haviam muitas
formas estranhas, sacadas curvas, estátuas quebradas, outras formas que não
conseguia identificar. Perguntou-se se alguma delas poderia se tornar a
coisa que viu no sonho.
Cutucou Kiara para acordá-la.
— Vamos lá. Temos trabalho a fazer.
— Vamos acordar Shaker?
— Espero que sim.
Não muito tempo depois, Ben sentiu o olhar no céu. Olhou para as nuvens
acima e puxou a capa ainda mais apertada ao redor deles.
— Ele está lá?
— Sim, está.
Esse piloto não era sútil. Ele mandou o TIE fighter em um mergulho
gritante que terminou com o veículo a meros vinte metros acima do chão.
Então ele precisou diminuir e dar a volta, porque o boneco de Ben não era
visível dos espaços abertos ao redor da cidadela. Ele precisaria subir e então
descer pelo fosso entre as paredes externas e internas... e então ele alinhou
os lasers com o boneco de Ben.
Agora. Através da Força, Ben se estendeu contra as pedras no topo da
parede interna, por todo o caminho da parede acima do caça estelar.
Era difícil. Sentia-se tão cansado, era quase impossível focar, mas um
entendimento de que isso poderia ser a diferença entre a vida e a morte, do
frio, ou fome ou mumificação, o conduziu, e viu as pedras bem acima
começarem a balançar e então se soltaram.
O TIE fighter atirou e o boneco de Ben caiu, com os cobertores pegando
fogo.
O TIE fighter deslizou pra frente lentamente com os repulsores. Ben
sabia o porquê. O disparo de um canhão laser acertando um ser humano não
necessariamente destruiria o seu corpo completamente, mas transformaria
tanto do corpo da vítima em vapor que ela pareceria explodir. Não
simplesmente cairia. O piloto deveria estar curioso sobre o que acontecera.
O TIE fighter estava a meros cinco metros do boneco queimando
quando a primeira rocha, não maior do que uma cabeça humana, atingiu o
seu casco. Em seu mérito, o piloto reagiu instantaneamente, desviando e
subindo...
Direto pela porção mais densa de pedras caindo.
As pedras caíram mais de cem metros. Algumas pesando um quarto de
tonelada ou mais. Todas com bordas afiadas e algumas delas atingiram com
a borda primeiro.
O TIE fighter girou loucamente sem controle, acertou a parede interna
da cidadela, e ricocheteou. Com os motores de íon gêmeos ainda atirando,
mas o caça estelar girava tão rápido que isso apenas acrescentou energia à
sua espiral.
Ele pousou além da parede externa, com o seu casco colapsando com o
impacto, e continuou rolando, rompendo o painel solar das asas.
Ele rolou por meio quilômetro antes de parar contra um pilar de pedra
natural.
Ben se levantou e imediatamente se sentiu zonzo, mas confiou na Força
para se fortalecer e se estabilizar. Ajudou Kiara a se levantar.
— Temos que nos apressar. — ele disse. — Mais caças podem estar
vindo.
ZIOST
***
ZIOST
Tudo era tão alienígena. Através da pele do veículo, Ben podia ver o chão e
estrelas, podia até mesmo reconhecer algumas das estrelas.
E podia ver um cargueiro atarracado de aparência desajeitada mudar a
sua órbita para se aproximar do ponto no qual subia.
O seu coração apertou. Não poderia vencer um conflito em um veículo
que mal sabia como pilotar, sem sistemas de armas ou sistemas mais velhos
do que a maioria dos governos planetários modernos.
— Quais são minhas armas? — Ele perguntou.
Elas apareceram em sua mente. O braço na parte inferior do veículo
podia se enrolar até a base de pouso, ou podia permanecer estendido e
direcionar um ataque laser. O braço na parte superior do veículo podia se
alinhar com os oponentes e atirar bolas de metal neles.
— Canhão. — Ele quase cuspiu a palavra. — Canhão físico.
Para a sua surpresa, o veículo respondeu com indignação às suas
palavras. A sua visão mental se aproximou da arma montada no topo.
Assistiu enquanto uma bola de metal do tamanho de sua cabeça rolou,
impulsionada por ímãs, de um tubo até a base do braço articulado. E então
sumiu, emergindo do outro lado do braço como um borrão, sem sons de
propulsores acompanhando a ação.
Espiou mais de perto e a sequência se repetiu, mais lentamente, em sua
mente. A bola estava lá... e o mesmo magnetismo que a levara até seu lugar
acelerou ao longo do braço, aumentando a velocidade com cada centímetro
avançado até chegar ao final da arma.
Acelerador magnético. Ben ouvira falar de tais coisas, uma arma
Verpine, pensou, apesar de que aquele era um dispositivo bem menor.
Nunca ouvira falar de um sendo montado em escala de caça.
E talvez os seus inimigos tampouco.
A sua consulta mental lhe disse que estava a menos de um minuto até
estar perto o bastante para aqueles inimigos atirarem eficazmente contra ele.
Um minuto para praticar.
— Desvie. — ele disse. E o veículo começou uma dança pra frente e pra
trás, de esquerda pra direita, que quase lançou Ben de sua posição
ajoelhada. Kiara deslizou pelo chão áspero, até agarrar uma das pernas de
Shaker para se estabilizar.
Era frustrante não ter controle direto do veículo, mas também
empolgante apenas dar as ordens e vê-las serem seguidas.
— Preparar arma superior. — ele disse.
Como se fosse parte de seu corpo, podia sentir a bola de metal ser
manobrada até a base da arma. Podia também sentir uma impaciência
crescente dentro do veículo. Ocorreu-lhe, que o pensamento tenha sido
originado dele ou de sua embarcação, que não precisava dizer as coisas em
voz alta.
O cargueiro abriu fogo. Ben podia ver clarões de luz ao redor dele,
então uma dor estalou em seus ombros quando um dos disparos acertou a
parte superior do casco. O choque quase o fez perder a concentração, mas a
raiva era a sua amiga, raiva o ajudava a manter o foco.
Disparar arma superior. A bola deixou a arma, lançada na direção do
cargueiro... e raspou em seus escudos e casco, ricocheteando inofensiva.
Tarde demais, Ben percebeu que a bola ainda era uma extensão do
veículo, uma extensão de si mesmo. Mesmo agora, poderia conduzi-la um
pouco, desviar o seu curso, mas instintivamente sabia que virá-la e mandá-
la de volta contra o cargueiro tomaria muito de sua energia.
O veículo de Ben ultrapassou o cargueiro, que se virou para segui-lo.
Começou a virar antes de terem passado, na verdade, mantendo a sua proa e
estibordo na direção do veículo de Ziost, e Ben pensou ver algo se
contorcer e mudar a bombordo do cargueiro.
Sentiu o desejo de seu veículo de atirar com a arma inferior, para
espalhar laser sobre o inimigo, mas Ben estava mais focado no que vira.
Vire, pensou. Mergulhe na direção de Ziost. Volte do outro lado do
cargueiro.
O veículo inverteu com a velocidade e raio da curvatura de um caça
estelar moderno e desceu para subir pelo lado a bombordo do cargueiro. O
comandante inimigo sentiu a sua intenção, tentou virar para manter a proa e
estibordo o encarando, mas a velocidade e manobrabilidade da embarcação
de Ziost eram grandes demais. Quando o ângulo estava correto, pode ver
um grande painel a bombordo aberto, com outro TIE fighter lá, pronto para
decolar.
A raiva rugiu dentro de Ben, raiva pela lembrança de ser alvejado, raiva
pelo que o outro TIE fizera com Kiara e a sua vida, e uma segunda bola
deixou a sua arma superior antes que percebesse que a lançara.
O cargueiro rotacionava agora, tentando erguer o casco inferior para
levar ou desviar o disparo, mas Ben se aplicou através da Força e viu a bola
mudar o seu arco, subindo para evitar o ventre do cargueiro, ignorando os
escudos, lançando-se diretamente no compartimento aberto, com o seu
ângulo em direção a popa.
A bola emergiu a estibordo, levando consigo detritos do que um dia
foram componentes de atmosfera e propulsores.
O curso e velocidade do cargueiro estavam descontrolados. Ao
atravessar, a bola cedeu parte de sua própria energia cinética para o alvo e
parecia não ter causado danos importantes, mas então o cargueiro girou e
começou uma descida imediata na direção da atmosfera.
Agora Ben deixou a sua embarcação abrir fogo com o laser. Feixes
vermelhos tremulavam sobre o casco superior do cargueiro, com energia o
bastante para atravessar os escudos e chamuscar a pintura e rachar uma
antena de comunicação.
Ben balançou a cabeça, ordenando à embarcação parar cessar fogo, e
orientou-se na direção do espaço. Relaxou, sentando-se em vez de ajoelhar-
se.
— O que aconteceu? — Kiara perguntou.
— Vencemos. — Agora tudo o que precisava fazer era encontrar um
caminho pra casa, usar uma espaçonave sem computador de navegação, que
poderia não ter um hiperdrive, para chegar até o sistema estelar civilizado
mais próximo, provavelmente Almania novamente. Coruscant era esperar
demais...
Pelo olho de sua mente, Coruscant cresceu, e podia vê-lo
simultaneamente como um brilho distante no mar de estrelas.
Você pode nos levar para lá?
Sabia que o veículo poderia.
Antes de ficarmos velhos e morrermos?
O veículo não tinha um entendimento preciso de vida humana, mas Ben
podia sentir que a viagem levaria horas ou dias, não a vida inteira.
Então enviou o comando.
Nas sombras onde se escondia, Alema viu duas figuras abrirem caminho
através do fluxo de atores tentando escapar.
Eram Luke Skywalker e Mara Jade Skywalker, vestidos em macacões
pretos com equipamento de pilotos de X-Wing, e Alema quase desmaiou de
alegria. Luke estava ali e veria Mara morrer, Leia estava a caminho... o
universo estava prestes a vivenciar um muito necessário Equilíbrio.
Parou de pular por tempo o bastante para encontrar o seu comunicador.
Falou pra ele:
— Ative e execute a aproximação dois.
Na Duracrud, agora flutuando com todas as outras embarcações
chegadas conduzidas para a área de espera pelo pessoal de segurança do
resort, o computador de navegação estaria carregando e implementando
uma série de manobras simples. A Duracrud posicionar-se-ia diretamente
acima do domo do resort, alguns quilômetros de distância, e então
começaria a acelerar.
— O que você está fazendo, dançarina? — A voz era fria, contente,
familiar e congelou Alema no lugar.
Desviou a atenção da luta, onde Jacen enfrentava um sempre crescente
número de agentes de segurança, e olhou para a direita. A mulher de pele
escura que se dirigia a ela não era familiar... exceto por sua estatura e os
seus olhos verdes.
— Lumiya. — ela disse.
— Eu te fiz uma pergunta.
Alema encolheu o ombro.
— Estamos aqui para matar Mara Jade Skywalker, que está aqui, e Han
Solo, que está vindo. E você?
— Eu estava prestes a adentrar e ajudar Jacen.
— Não faça isso. — Alema balançou a cabeça veementemente. — Se
você resgatá-lo, Luke e Mara vão partir, e Leia e Han não virão. Eles
precisam estar aqui.
Lumiya considerou.
— Então vamos juntas. Nós estarmos aqui impedirá a partida dos
Skywalkers e Solos. Não acha?
— Vamos.
Lumiya se abaixou e rasgou uma longa fenda em seu vestido, libertando
as pernas para se movimentar. Ela desenrolou o lenço decorativo que usava
como cinto, revelando o chicote de luz por baixo, e amarrou o lenço ao
redor da parte inferior do rosto e escalpo, dando a ela o aspecto da Lumiya
conhecida por Alema e os outros. Então ela sacou o chicote.
— Pronta?
Alema ergueu o sabre de luz.
— Estamos.
Ela estava mais feliz do que estivera em um bom, bom tempo.
— Querida?
— Ocupada. — Leia desferiu uma enxurrada de golpes quase sem parar
em Alema, mas a Twi'lek Jedi continuou se afastando, em ação defensiva,
nunca tentando atacar. Era incomum pra ela.
— Jacen fugiu.
As palavras de Han criaram um nó apertado no peito de Leia. Arriscara
a vida dela, e Han a dele, para salvar o filho, e Jacen simplesmente os
abandonara.
Mas não podia se afundar nisso. Alema ainda era uma ameaça perigosa.
Leia precisava vencer ali.
— Querida.
— O que agora?
— Tem mais chegando.
Leia deu um mortal para recuar de sua inimiga, e no meio do salto viu
que a visão de Gilatter VIII estava parcialmente bloqueada, a mesma nave
na qual vira Alema desaparecer há apenas dias antes de seguir direto para
eles.
Quando pousou, viu que Alema desligara o seu sabre de luz e vestia um
capacete justo e flexível com o visor transparente, um capacete de
emergência de descompressão. Alema sorriu pra ela.
Luke sentiu o perigo vindo, mas não vinha de Lumiya. Virou-se e olhou pra
cima bem a tempo de ver o YV-666 entrar em contato com o domo.
O domo, transparaço antigo, não se estilhaçou. Desabou, amassado
como uma lata de metal fino. A grande massa da nave foi arremessada ao
chão do salão principal, e uma onda gigante se formou no chão.
Luke saltou em direção à saída. Mara estava à frente dele. Viu o efeito
de onda do impacto fazer os corpos saltarem do chão, e a nave de carga, a
velocidade dificilmente controlada, continuar arrastando no chão, formando
um buraco irregular através dos eixos da estação espacial. Além dela, ele
pensou ver os filamentos do chicote de Lumiya fustigando, contra o quê?
Um inimigo? Uma parede, para fornecer a ela uma rota de fuga?
Subitamente o chicote foi obscurecido por uma nuvem de detritos se
expandindo espalhada pelo impacto da YV-666.
A atmosfera da estação, com dois buracos para escolher, começou a
escapar para o espaço, puxando Luke junto.
SISTEMA GILATTER
NA ANAKIN SOLO
tradutoresdoswhills.wordpress.com
Sobre o Autor
AARON AIISTON foi o autor mais vendido do New York Times com os
romances de Star Wars Linhas Inimigas: Sonhos Rebeldes e Posição
Rebelde e romances da popular série Star Wars X-Wing; Teia de Perigo,
ficção baseada em jogos que apoia o Top Secret/S.I. linha de jogo; e
Hitman: Killer Brand, baseado no videogame de grande sucesso. Além de
ser um escritor, ele foi um designer de jogos de longa data e, em 2006, foi
incluído no Hall da Fama da Academia de Games Arte e Design de Jogos
de Aventura (AAGAD). Ele foi ex-editor da revista The Space Gamer, que
ganhou o prêmio H.G. Wells de melhor revista de RPG em 1982. Aaron
Allston morreu em 2014.
Agradecimentos
Quando Jyn Erso tinha cinco anos, sua mãe foi assassinada e seu
pai foi tirado dela para servir ao Império. Mas, apesar da perda de
seus pais, ela não está completamente sozinha, — Saw Gerrera, um
homem disposto a ir a todos os extremos necessários para resistir à
tirania imperial, acolhe-a como sua e dá a ela não apenas um lar,
mas todas as habilidades e os recursos de que ela precisa para se
tornar uma rebelde.Jyn se dedica à causa e ao homem. Mas lutar ao
lado de Saw e seu povo traz consigo o perigo e a questão de quão
longe Jyn está disposta a ir como um dos soldados de Saw. Quando
ela enfrenta uma traição impensável que destrói seu mundo, Jyn
terá que se recompor e descobrir no que ela realmente acredita… e
em quem ela pode realmente confiar.
Sylvestri Yarrow vive uma maré de azar sem fim. Ela tem feito o
possível para manter o negócio de carga da família em
funcionamento após a morte de sua mãe, mas entre o aumento das
dívidas e o aumento dos ataques dos Nihil a naves desavisados, Syl
corre o risco de perder tudo o que resta de sua mãe. Ela segue para
a capital galáctica de Coruscant em busca de ajuda, mas é desviada
quando é arrastada para uma disputa entre duas das famílias mais
poderosas da República por um pedaço do espaço na fronteira.
Emaranhada na política familiar é o último lugar que Syl quer estar,
mas a promessa de uma grande recompensa é o suficiente para
mantê-la interessada... Enquanto isso, o Cavaleiro Jedi Vernestra
Rwoh foi convocada para Coruscant, mas sem nenhuma ideia do
porquê ou por quem. Ela e seu Padawan Imri Cantaros chegam à
capital junto com o Mestre Jedi Cohmac Vitus e seu Padawan,
Reath Silas, e são convidados a ajudar na disputa de propriedade
na fronteira. Mas por que? O que há de tão importante em um
pedaço de espaço vazio? A resposta levará Vernestra a uma nova
compreensão de suas habilidades e levará Syl de volta ao
passado... e às verdades que finalmente surgirão das sombras.