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Prólogo
Capítulo Um
Capítulo Dois
Capítulo Três
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
Capítulo Seis
Capítulo Sete
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Capítulo Dez
Capítulo Onze
Capítulo Treze
Capítulo Quatorze
Capítulo Quinze
Capítulo Dezesseis
Capítulo Dezessete
Capítulo Dezoito
Capítulo Dezenove
Capítulo Vinte
Capítulo Vinte e Um
Capítulo Vinte e Dois
Capítulo Vinte e Três
Capítulo Vinte e Quatro
Capítulo Vinte e Cinco
Capítulo Vinte e Seis
Capítulo Vinte e Sete
Capítulo Vinte e Oito
Capítulo Vinte e Nove
Capítulo Trinta
Capítulo Trinta e Um
Capítulo Trinta e Dois
Capítulo Trinta e Três
Capítulo Trinta e Quatro
Capítulo Trinta e Cinco
Epílogo
Sobre o Ebook
Agradecimentos
Sobre a Autora
Star Wars: A Alta República - A Estrela Cadente é uma obra de ficção.
Nomes, lugares, e outros incidentes são produtos da imaginação do autor ou
são usadas na ficção. Qualquer semelhança a eventos atuais, locais, ou
pessoas, vivo ou morto, é mera coincidência. Direitos Autorais © 2021 da
Lucasfilm Ltd. ® TM onde indicada. Todos os direitos reservados.
Publicado nos Estados Unidos pela Del Rey, uma impressão da Random
House, um divisão da Penguin Random House LLC, Nova York.DEL REY
e a HOUSE colophon são marcas registradas da Penguin Random House
LLC. randomhousebooks.com/starwars.com/Facebook.com/starwarsbooks
Regald Coll tinha mais senso de humor do que a maioria dos Jedi. Pelo
menos, foi o que o não Jedi lhe disse. A maioria dos outros membros da
Ordem não concordou.
Ou, como diria Regald, eles simplesmente não tinham senso de humor
suficiente para apreciar o seu próprio.
— Então, o que é isso com a terminologia tempestade? — Ele perguntou
aos seus prisioneiros mais novos, um adulto de olhos ferozes chamado
Chancey Yarrow e uma jovem que se identificara apenas como Nan. —
Vocês todos deveriam ser uma grande tormenta, mas cada grupo se divide
em Tempestades, Raios e Nuvens. Até onde isso vai? Um Nihil que por
conta própria, não sei, é um Ligeiramente Nublado?
Os prisioneiros foram pegos perto de uma frota Nihil no sistema Ocktai,
apenas um dos muitos ataques ao Nihil ocorrendo simultaneamente. No
entanto, sua nave não era definitivamente parte desse grupo, e a princípio
ele pensou que provavelmente só questionariam as mulheres antes de deixá-
las ir. Mas Nan puxou um blaster para o primeiro Jedi que viu, o que levou
a uma verificação de identidade, o que revelou a sua verdadeira afiliação.
Nan parecia furiosa por ter sido pega. Por outro lado, o rosto de Chancey
Yarrow permaneceu totalmente impassível enquanto ela disse: — Você não
é tão engraçado quanto pensa que é.
— Provavelmente não, — concordou Regald. — Porque eu acho que
sou hilário e, na verdade, ninguém é tão engraçado. — Apreciar as suas
próprias piadas era o suficiente para ele.
— Não sou mais uma Nihil, — disse Nan. As palavras soaram estranhas,
como se tivesse que se forçar a dizê-las. — Nós trabalhamos para... — Ela
cortou quando viu o seu companheiro. O brilho gelado de Chancey Yarrow
poderia ter congelado a lava. Regald pensou em fazer uma piada de,
temporal, para combinar com todo o tema da tormenta, mas decidiu não
fazê-lo. Nan finalmente terminou: — Nós trabalhamos para nós mesmos.
Eu não estive com os Nihil por meses agora.
— Sincronismo conveniente, — disse Regald. — E quem sabe? Talvez
você esteja dizendo a verdade. Mas vocês terão que provar isso antes que
possamos deixá-los ir.
—
Aleen: um planeta nem particularmente obscuro e nem digno de nota.
Embora Aleen tivesse sido atormentado por guerras em seu passado
distante, agora era um lugar onde nada de significativo acontecia há muito
tempo, mesmo pelos cálculos de seus próprios habitantes, e nada de
significativo estava previsto para acontecer talvez um tempo ainda mais
longo. As lendas das guerras eram suficientes para deixar todas as almas de
Aleen satisfeitas com uma vida sem intercorrências.
Yeksom: um dos mais antigos mundos membros da República na Orla
Exterior, que sofreu terríveis terremotos nos últimos anos. A República
estava ajudando a reconstruir o planeta, mas foi um processo demorado e
meticuloso. O seu povo permaneceu cauteloso, incerto, de olhos tristes;
todos haviam perdido alguém nos terremotos, e a dor encobria o céu
cinzento do mundo.
Japeal: um planeta na fronteira, recentemente movimentado, com nada
menos que três pequenas estações espaciais em vários estágios de
construção. O clima temperado e a abundância de água praticamente
convidavam os colonos a encontrar um lugar que pudessem chamar de seu.
Dezenas de espécies montam vitrines e restaurantes; engenheiros mapearam
pontes e estradas; famílias dão os retoques finais em casas pré-fabricadas
novinhas em folha.
Tais Brabbo: Qualquer um em Tais Brabbo que não estava fazendo nada
de bom tomou a direção errada. Rumores diziam que os Hutts pensaram em
transferir algumas operações para Tais Brabbo, mas decidiram não fazer
isso, o lugar era muito corrupto até mesmo para eles. Era um bom lugar
para se perder e, em qualquer dia, abrigava milhões de almas que não
queriam nada além de permanecer fora da vista de quaisquer autoridades
mais poderosas do que os ineficientes agentes locais.
Em cada um desses planetas muito diferentes, sob quatro tons diferentes
de céu, milhões de indivíduos muito diferentes estavam realizando tarefas
tão divergentes quanto fiar lã de muunyak ou pegar discos de recompensa
quando cada um deles ouviu exatamente o mesmo som: o zumbido dos
motores das espaçonaves descendo.
Todos aqueles milhões de pessoas olharam para cima. Todos eles viram
as naves Nihil descendo do céu, numerosos como gotas de chuva... era o
início da Tormenta.
Explosivos caíram. Armas de plasma disparadas. O ataque atingiu as
casas, as fábricas, as pontes, as cantinas, os centros médicos, os hangares.
Não havia um alvo específico, porque tudo era um alvo. Pareciam que os
Nihil queriam causar caos pelo caos, o que alguém que nunca tinha ouvido
falar deles achava difícil de acreditar.
Uma nave de passageiros saindo de Japeal naquele exato momento teve
sorte. Ele sofreu danos... um tiro devastador a bombordo, mas foi capaz de
sair mancando da órbita e até mesmo entrar no hiperespaço. A tripulação e
os passageiros sobreviventes pensaram que era um milagre que ainda
estivessem vivos e poderiam até continuar assim, se conseguissem ajudar a
tempo.
O chamado ‘milagre’ não era, de fato, mais do que uma ordem
permanente que Marchion Ro havia dado antes do início do ataque dos
Nihil. Algumas pessoas precisavam escapar, porque os Nihil precisavam
que eles corressem direto para o Farol Luz Estelar, onde receberiam
conforto, tratamento médico e toda a atenção dos Jedi.
Assim que Stellan Gios retornou ao Farol Luz Estelar de Eiram, as notícias
dos ataques dos Nihil chegaram. Estala Maru, normalmente não se permitia
a falar palavrões, usou frases consideradas obscenas na maioria dos planetas
enquanto chegavam as notícias do ataque a Aleen.
— Ainda há mais Nihil, ainda atacando, e pra quê? Pra nada, até onde
sei. Eles não estão mais se preocupando em saquear naves ou planetas. —
Ele balançou a cabeça severamente. — Os Nihil pretendem nos causar mais
problemas enquanto houver pelo menos uma Nuvem restante.
— Isso não está perto da escala de destruição que vimos no início dos
Nihil, — disse Stellan, lembrando tanto a si mesmo quanto a Maru. —
Fizemos um progresso real. Deveríamos ter esperado ver os Nihil se
debatendo em agonia na morte do grupo. Por enquanto, a nossa atenção
deve permanecer em ajudar os afetados. Parece que algumas naves
danificadas estão vindo em nossa direção, sem dúvida com alguns feridos a
bordo...
— Já estou cuidando disso, — disse Maru. A atenção fanática do
homem aos detalhes só aumentava em tempos de crise, e Stellan raramente
se alegrava com isso. — Enviei alguns Padawans para preparar a torre
médica para alguns pacientes extras.
— Excelente. — Stellan colocou uma mão no ombro de Maru, um gesto
de gratidão. — Maru, às vezes eu acho que é você quem mantém esse lugar
unido.
— E não se esqueça disso, — Maru fungou. O seu comportamento mal-
humorado era apenas um escudo tênue, no entanto; Stellan viu o brilho de
satisfação nos olhos cinzas de Maru.
Stellan saiu correndo, deixando a situação que estava sendo resolvida
para lidar com as muitas que ainda precisavam ser resolvidas. Algumas
naves danificadas já haviam sinalizado a necessidade de um lugar para
pousar, e mais viriam.
Na verdade, estava um pouco mais preocupado com os ataques dos Nihil
do que tinha deixado Maru saber. Stellan teve dúvidas sobre a busca de
Avar Kriss pelo Olho dos Nihil desde o início; parecia muito com uma
vingança pessoal. Avar havia se afastado do Farol Luz Estelar, da sua
missão do Conselho, do próprio símbolo da República nesta parte do
espaço, tudo na esperança de fazer uma captura que outros poderiam ter
feito igualmente bem. Seria possível que a sua busca tivesse antagonizado
os Nihil, levando-os a atacar em vez de se esconder no esquecimento?
Ou talvez esses ataques dispersos sejam um sinal de que o plano de
Avar está funcionando, permitiu-se Stellan. O Olho está fugindo dela,
possivelmente perdendo contato com os Nihil em geral. Talvez o que
estamos vendo seja os Nihil recém-descentralizado, atacando
descontroladamente antes de desmoronar.
Nesse caso, Stellan seria o primeiro a se desculpar com Avar por duvidar
dela. Até que soubessem mais, no entanto... manteria o seu próprio
conselho.
Uma voz eletrônica chilreou:
— Mestre Stellan Gios?
Stellan se virou para ver um droide de logística rolando em direção a ele,
acobreado e brilhante, com um corpo vagamente humanoide acima de uma
base rolante.
— Sim... você está entregando uma mensagem?
— A mensagem é que você é meu novo mestre. Eu sou JJ5145 e estou
pronto para rotular, priorizar, classificar, arquivar, agrupar e organizar todos
os aspectos de sua existência. — O droide praticamente vibrou de prontidão
para começar.
— Deve haver um engano, Quatrocinco, — disse Stellan. — Eu não
pedi nenhum droide, e o Conselho teria mencionado...
— Sou um presente, — declarou JJ-5145 com aparente orgulho. —
Venho aos cumprimentos de Elzar Mann, que manda dizer que, como não
pode mais ser seu braço direito, desejava que eu servisse nessa função.
Não havia quase nada que Stellan quisesse menos do que um droide o
seguindo para organizar tudo.
O que, claro, Elzar conhecia perfeitamente.
Stellan já havia se preocupado em enviar Elzar para trabalhar em sua
crise atual sem acompanhá-lo, como havia planejado e, de fato, prometido.
No final, as muitas tarefas de Stellan não lhe deram nenhuma oportunidade
de se afastar, e encontrou um excelente substituto para guiar Elzar nessa
difícil passagem. Mas estava preocupado que Elzar pudesse se ressentir de
alguma forma... e no atual estado de espírito de Elzar, esse ressentimento
poderia facilmente ter se transformado em escuridão.
Agora parecia que Elzar não estava nem um pouco ressentido, e só
irritado o suficiente para fazer uma brincadeira.
JJ-5145 disse:
— Você permaneceu em silêncio por 3,1 segundos. Você não tem clareza
sobre como priorizar seus pensamentos? Vocalize-os e eu posso ajudá-lo a
ordená-los com mais eficiência.
— Tudo bem, Quatrocinco, — Stellan respondeu apressadamente. —
Que tal você ajudar os Padawans a organizar a torre médica? Isso seria de
grande ajuda. — Ele guiou o droide em seu caminho, aliviado por ter outra
coisa para fazer. Mais tarde, pediria para agendar algumas outras tarefas
para alguns dias no futuro.
Uma dessas tarefas seria:
— Pensar na vingança ideal por uma brincadeira medíocre.
A primeira nave a chegar ao Farol Luz Estelar após os ataques dos Nihil
não foi danificada e nem transportou feridos; era a Proa longa encarregada
de trazer alguns dos Jedi de volta de seus ataques ao sistema Ocktai, com
um punhado de prisioneiros a reboque.
Bell Zettifar, recém chegou de verificar os estoques de suprimentos na
torre médica, preparou-se para ajudar na descarga dos prisioneiros, mas a
sua Mestra, Indeera Stokes, dispensou-o.
—Só há um punhado de cativos e, se precisar de ajuda, posso fornecê-la,
— disse ela. — Tire um tempo para si mesmo.
Sem dúvida, ela notou o quão sombrio o seu humor permaneceu, meses
após a morte de Loden Greatstorm. Bell não queria que a sua nova Mestra
pensasse que não a apreciava, para deixar a sua admiração e tristeza por seu
antigo Mestre obscurecer o seu novo aprendizado. (E estava claro que
precisava de mais tempo como aprendiz. A convicção de Bell de que estava
pronto para se tornar um Cavaleiro virou pó com o Mestre Loden.)
Isso era algo que deveria considerar mais tarde. Por enquanto, havia
pouco a fazer além de dizer:
— Obrigado, Mestra Indeera.
Ela assentiu enquanto começava a se afastar.
— Todos nós teremos muito o que fazer em breve. É melhor usar o
tempo livre enquanto pode.
Burryaga, que também estava em liberado, perguntou com um rosnado
curioso se Bell não gostaria de meditar juntos. As técnicas de meditação em
dupla às vezes eram bem-sucedidas onde os esforços individuais falhavam;
muitas vezes era mais fácil acalmar a outra pessoa ou ser acalmado por ela.
Não era uma má ideia, mas uma forma sombria no final do corredor
lembrou a Bell que havia algo muito mais importante para fazer primeiro,
alguém que não podia visitar desde que voltou para o Farol em Eiram
naquela manhã.
— Espere só um segundo, — ele disse para Burryaga antes de cair de
joelhos e abrir bem os braços para a forma se arremessando em sua direção.
— Venha, Ember!
A charhound saltou das sombras e pulou em Bell, dando-lhe as boas-
vindas com todo o entusiasmo que conseguiu reunir, o que era muito. Bell
permitiu alguns segundos de lambidas frenéticas antes de estender a mão
para acalmar o seu animal de estimação. A sua pele ardia quente contra a
sua palma da mão.
— Calma, Ember, calma. Estou de volta agora.
Ember se contorceu de alegria, e Bell não pôde deixar de sorrir. Não
havia nada como um animal de estimação para lembrá-lo de liberar as suas
preocupações e viver o momento.
Burryaga fez um som baixo e ofegante. Bell olhou pra cima para ver o
seu amigo Wookiee observando o Cavaleiro Jedi Regald Coll levar os dois
prisioneiros Nihil para longe. Uma era uma mulher alta e feroz com longas
tranças e maçãs do rosto afiadas o suficiente para cortar. A outra era uma
garota que não tinha nem a idade dele, o cabelo preso em um rabo, com as
roupas um pouco grandes demais para o corpo, criando a ilusão de que era
ainda mais jovem do que sua verdadeira idade.
Bell conhecia o rosto da jovem, não por experiência pessoal, mas por
instruções de segurança.
— Pensei em Nan como quase ainda uma criança, — Reath os advertiu,
logo após a notícia de sua captura. — Ela não é. Ela é tão capaz quanto
qualquer Padawan, sem dúvida mais do que eu, porque ela me enganou
completamente. Não trate Nan como uma qualquer.
Bell imaginou que o discurso era principalmente para fazer Reath Silas
se sentir um pouco melhor por ter sido enganado com tanta habilidade. Mas
enquanto observava Nan se afastar, a cabeça erguida apesar dos pulsos
algemados, Bell se viu esperando que Regald Coll tivesse ouvido esse aviso
também.
—
Ao longe, a bordo do Olhar Elétrico, Marchion Ro estava diante de seus
poucos escolhidos.
Werrera era um Ithoriano, silencioso e cauteloso; Leyel era uma
humana, forte e baixa, com cabelos grossos e grisalhos amarrados em uma
trança quase até a cintura; Cale era um Pau'ano com presas ainda mais
longas do que a maioria, mas sem outras características distintivas. Os três
eram todos técnicos altamente competentes, mas não se distinguiam dentro
dos Nihil de nenhuma das maneiras usuais: nem especialmente implacáveis
nem misericordiosos, nem brilhantes nem fracos de espírito.
Mas eles acreditavam.
A promessa dos Nihil... o futuro dourado que Ro tinha falado para todos
eles... para a maioria, era uma esperança, um sonho. Dentro desses três, ele
vivia. Eles tinham tanta fé nesse futuro que, em certo sentido, já os haviam
alcançado. Este era o presente deles para as suas famílias e amigos, uma
terra prometida à qual eles já possuíam título, que eles estavam ajudando a
dar a inúmeros outros em toda esta parte da galáxia.
Somente esse nível de crença poderia alimentar a tarefa que Marchion
Ro precisava que eles realizassem.
Quanto aos familiares e amigos desses indivíduos... ou o que, dentro dos
Nihil, passavam por amigos, cada um deles foi transferido para outras
naves, longe da Olhar Elétrico, e partiu da nave de Ro às 1300 horas. Eles
não teriam chance de protestar. Para mudar a opinião de seus entes queridos
sobre assumir essa tarefa vital. Eles nunca perceberiam que essas pessoas
estavam desaparecidas, não até que fosse tarde demais.
— Você deve limpar todos os bancos de dados ao desembarcar e deixar
apenas os registros e permissões falsos, — disse Ro aos três lealistas que
estavam diante dele. Esses registros falsos identificaram a sua nave como
um transporte independente comum, notável apenas por sua licença para
transportar animais selvagens, neste caso, supostamente, um carregamento
de rathtars. (Ninguém estaria com pressa para confirmar essa informação
inspecionando pessoalmente a carga.) — Deixe os Jedi acreditarem nisso.
Você revelará a verdade em breve.
— Sim, nosso Olho. — Cale, que tendia a falar pelo grupo, olhou para
Ro com tanta reverência que era quase mais enervante do que gratificante.
Mas Marchion Ro não se enervava facilmente. — Nós estamos prontos.
— Eu sei que vocês estão. Eu acredito em todos vocês. — Ro colocou as
mãos nos ombros de Werrera e Leyel. Cale não precisava disso. — Vocês
não vão me decepcionar. Vocês nos entregarão a maior vitória que os Nihil
já conheceram.
A emoção que os varreu era palpável. Ro sabia que eles fariam a sua
vontade. Eles nunca voltariam atrás.
astromecânico encarregado da doca apitou em desânimo ao ler o
O manifesto do cargueiro. Até os droides não queriam nada com os
rathtars. Mas não era o trabalho do droide avaliar a sabedoria de deixar esta
nave atracar no Farol; o seu trabalho era garantir que o transporte de carga
tivesse a autorização necessária para transportar animais selvagens. Os
sensores afirmaram que sim, então o astromecânico obedientemente abriu
as portas da baía e permitiu que a nave pousasse.
Enquanto a doca principal do Farol era um lugar animado e
movimentado, a baía designada para armazenamento de carga permaneceu
quieta a maior parte do tempo. Werrera, Leyel e Cale entraram em um
espaço vasto e mal iluminado, grande o suficiente para que seus passos
ecoassem. Isso os incomodou, afinal, eles não queriam ser ouvidos, mas
logo perceberam que ninguém estava lá para ouvi-los. Apenas dois droides
testemunharam a sua chegada, nenhum dos quais foi programado para
confirmar que a carga de uma nave correspondia ao seu manifesto.
Assim como Marchion Ro disse que seria. O Olho nunca falhou com
eles. Eles estavam certos em confiar nele, em se voluntariar para essa
missão, em assumir esse grande trabalho.
— Por onde começamos? — perguntou Leyel. Como os outros, ela
usava um macacão escuro genérico, o tipo de coisa usada por engenheiros,
mecânicos e trabalhadores de manutenção em naves e estações em toda a
galáxia. — Direto para a engenharia?
Cale balançou a cabeça para a mulher humana.
— Primeiro começamos com as suas comunicações. Em seguida, os
pods de fuga. Isso deve ser feito passo a passo, assim como Ro ordenou.
Leal a Ro e aos Nihil como ela era, Leyel não pôde evitar a sua
impaciência para desferir um golpe real.
— E se eles nos pegarem antes que façamos algo que valha a pena
fazer?
— Não nos compete perguntar isso, — insistiu Cale. — Acredite no
plano do Olho. Levarão muitas horas até que saibam da nossa presença.
Quando eles souberem, será tarde demais para os Jedi nos impedirem.
—
O compartimento de carga do Farol Luz Estelar, que, por acaso, ficava a
dois níveis acima e diretamente sobre a área de treino, permaneceu quieto.
Ninguém tinha permissão para transportar mercadorias durante uma
emergência, a menos e até que mais suprimentos médicos fossem
necessários.
A nave de Werrera, Leyel e Cale, carregando... rathtars, permaneceu no
local, imperturbável, perto do coração da estação.
Indeera Stokes viu que o seu Padawan se apressou para ajudar os feridos
que chegavam rapidamente, antes mesmo que pudesse deixá-lo saber da
necessidade de fazê-lo. Ele se tornará um bom Cavaleiro Jedi, pensou, se
ele ainda acreditar que pode.
A dor de Bell por seu antigo mestre, Loden Greatstorm, coloriu cada
interação que Indeera compartilhou com ele. Teve que seguir uma linha
muito tênue: desafiar Bell respeitando o grave choque da morte de
Greatstorm, formando um vínculo entre Mestre e aprendiz sem procurar
substituir ou apagar o vínculo que havia antes. Às vezes se perguntava se
tinha ido longe demais, ou não o suficiente, ou se estava errando ao fazer as
duas coisas ao mesmo tempo.
Assim pensa todo Mestre com o seu primeiro Padawan, Mestre Yoda lhe
disse, quando inicialmente anunciou sua intenção de ensinar. Certeza, não
temos. Um indivíduo, cada aprendiz é. Aprender, você deve, como treinar
cada um por sua vez. Dois iguais nunca haverão.
Do outro lado da doca, Indeera viu Bell direcionando droides enfermeiro
para um indivíduo mais gravemente ferido entre este grupo. Nib Assek se
moveu entre os vários pilotos e tripulantes, avaliando os danos e as
capacidades da nave, fazendo recomendações. Os recursos do Farol
estavam um pouco apertados pelo número de convidados inesperados, mas
não inadequados para as necessidades daqueles que vieram aqui em busca
de refúgio.
— Com licença? — chamou uma voz abafada. Indeera se virou para ver
uma mulher Cereana de meia-idade, ainda sentada no assento do piloto de
sua hopper de dois motores. Ela estava gritando através da tela da cabine.
— Você poderia me ajudar?
Indeera acenou.
— Claro. Temos suprimentos médicos, peças de reparo, basta sair e...
— Mas esse é o problema, — disse o Cereano. — Não posso deixar
minha nave. As armas de fogo dos Nihil parecem ter selado a rampa.
Quando Indeera caminhou pelo lado da nave, viu o metal enegrecido e
queimado quase a extensão da nave. A porta e a rampa tinham de fato sido
derretidas, fundindo-se com o casco.
— Não se preocupe, — Indeera chamou enquanto pegava o seu sabre de
luz na mão. — Eu posso cortar e você sai. Fique longe da porta.
— Não! Não faça isso! — A Cereana agitou com os seus longos braços
freneticamente, visível como um dervixe em pânico no limite da visão de
Indeera. — Como vou pilotar uma nave com um buraco cortado?
— A sua nave pode ser consertada, mesmo depois de eu cortar o casco.
Mas não podemos avaliar adequadamente o dano total à sua nave sem
entrar. Nem podemos alimentá-la. — A fome às vezes motivava as pessoas
quando nada mais o fazia.
A Cereana caiu sobre os seus controles como se estivesse derrotada.
— Certo, certo. Apenas... faça isso rápido.
Os pilotos podiam ser tão protetores de suas naves que os viam como
extensões de si mesmos. Indeera, como uma piloto entusiasmada, achou
isso cativante. Rapidamente acendeu a sua lâmina e cortou, cortou, cortou,
até que a rampa se abriu com um baque alto, trazendo um pouco da lateral
da nave junto com ela.
— Aí está, — Indeera chamou. — Tudo acabado...
E se ela tivesse feito a coisa errada?
O medo a paralisou. Indeera não era de adivinhar a si mesma, mas no
momento não conseguia parar de olhar para o buraco irregular que abriu na
hopper da Cereana. Era reparável, então por que foi de repente perfurada
com o pensamento dessa pobre mulher tentando voar para longe em uma
nave meio aberta?
Recupere o auto controle, disse Indeera a si mesma severamente. Mas o
pensamento não seria banido tão facilmente.
Talvez a Força estivesse tentando lhe dizer algo. Avisando-a, talvez, de
um risco por vir, em que esta mulher precisaria muito de sua nave.
Mas Indeera não era estranha aos caminhos da Força. Sabia como era
sentir o perigo vindo pela frente. Isso era diferente. Isso era... um pavor
lento e rastejante, vindo de uma direção que Indeera não conseguia
identificar, de alguma forma fora da própria Força...
Não existe lugar, ela disse a si mesma. A Força está em todo lugar.
No entanto, no momento, a Indeera não acreditou inteiramente nisso.
I nterrogar prisioneiros não era um dever de que Stellan
gostava. Enquanto alguns Jedi, como o famoso investigador Emerick
Caphtor, tinham dons particularmente fortes que lhes permitiam sentir
camadas sutis de dissimulação, Stellan não possuía instintos excepcionais
nessa área.
(E você só gosta de fazer o que você faz excepcionalmente bem? podia
imaginar Elzar dizendo para ele provocantemente, o sorriso torto se
alargando enquanto falava.)
Pelo menos, neste caso, Stellan não teve que bisbilhotar informações
sensíveis ao tempo. Esperava apenas determinar se essas duas mulheres
estavam ou não afiliadas aos Nihil. Em caso afirmativo, elas poderiam
fornecer informações valiosas sobre a desintegração do grupo, em
particular, o que essas incursões e ataques dispersos podem indicar sobre o
estado dos Nihil. Se não, as suas informações não seriam tão atuais, mas
elas seriam muito mais rápidas para falar.
Stellan parou em frente à porta da cela, ajeitou as vestes e assentiu. O
droide sentinela obedientemente abriu as portas, revelando os prisioneiros
lá dentro.
Chancey Yarrow descansava em seu beliche como se fosse um sofá em
um hotel de luxo. (O que não estava tão longe da realidade, as celas a bordo
do Farol eram destinadas a instalações temporárias de custódia, não para
aprisionar criminosos endurecidos e, como tal, eram confortavelmente
equipadas.) Ela era uma mulher alta com pele escura e uma coroa real de
tranças, e o seu olhar o pegou como se fosse uma diversão temporária, nada
mais.
Esta aí, pensou Stellan, não revelará nada até que tenha certeza de que
é do seu interesse fazê-lo.
A outra mulher, porém, a jovem, conhecida apenas como Nan, era mais
difícil de ler. Ela parecia mais jovem do que seus anos graças à sua estatura
diminuta e feições suaves; Stellan poderia até ter pensado que ela era
inocente, se ele não tivesse lido os relatórios de Reath Silas sobre o seu
confronto com os Nihil na estação espacial Amaxine abandonada muitos
meses antes. Os seus olhos escuros revelavam tensão e incerteza. Ela já
estava perto de um ponto de ruptura, mas como seria essa ruptura, em que
direção Nan poderia virar... era um mistério para Stellan. Suspeitava que
fosse um mistério para a própria Nan.
— Srta. Yarrow, — ele começou. — E Srta....
— Eu sou Nan. — Ela cruzou os braços sobre o peito.
— Sim, já tinha ouvido isso, — ele disse agradavelmente. — Mas eu
queria saber se você tem um sobrenome, qualquer tipo de segundo nome.
— Eu compartilho com aqueles que significam algo para mim, — disse
Nan. — O que não é o seu caso.
Bastante justo, supôs Stellan.
— Srta. Nan. Eu sou o Mestre Stellan Gios, o Jedi responsável aqui no
Farol.
Nan inclinou a cabeça.
— A oficial do Farol é a Avar Kriss.
— Era, — disse Stellan. — Você tem informações sólidas, mas
aparentemente está um pouco desatualizada.
Quando as bochechas de Nan coraram, notou silenciosamente: Ela se
orgulha de ter boas informações. Ela gosta de saber coisas que os outros
não. Isso pode ser útil.
— Você está certo, — disse Chancey Yarrow, lentamente se esticando
em uma posição vertical. — Nossa inteligência é antiga. Porque nenhum de
nós tem nada a ver com os Nihil há alguns meses. O que significa que você
não pode provar que fizemos algo errado, e você não vai conseguir nada de
nós que possa usar. Poderia muito bem nos deixar ir, certo?
— Prefiro ser o juiz de quais informações posso ou não posso usar, —
disse Stellan. Embora encarasse Chancey, ele prestou atenção em Nan na
periferia de sua visão. Será que ela começaria a se perguntar o que fez e não
tinha como negociar? Se conseguisse alguma coisa de qualquer uma delas,
seria Nan quem vai quebrar. O exterior polido de Chancey Yarrow poderia
muito bem ter sido uma concha impenetrável. Esta mulher sabia quem e o
que era, e confiava no destino para entregá-la onde precisava estar. Nan não
tinha esse tipo de confiança. Ele acrescentou: — E se você não for mais
afiliada aos Nihil, eu ficaria muito interessado em saber para quem você
está trabalhando.
— Trabalhando com, — Chancey esclareceu. Seu sorriso, fino como
uma lâmina, indicava que isso era o máximo que ela estava disposta a ir.
— Por que devemos confiar em você? — Nan retrucou. — Você nos
prendeu.
— Isso parece mais uma razão para eu não confiar em você, — disse
Stellan. — Como ex-membros dos Nihil, vocês são responsáveis por crimes
contra pessoas, animais e propriedades, tantos crimes que são quase
incontáveis.
O sorriso preguiçoso de Chancey se espalhou por seu rosto.
— E você está tentando nos recrutar? Parece um plano ruim pra mim.
— Não estou recrutando ninguém. Apenas... esperando conversar.
Stellan julgou que tinha ido tão longe quanto precisava por enquanto.
Melhor dar um tempo para Nan considerar as possibilidades antes de falar
com ela novamente.
Deveria separar Chancey e Nan, colocá-las em celas diferentes?
Normalmente isso era um movimento sábio, já que os prisioneiros tendiam
a perder a sua lealdade a seus companheiros quando havia algum espaço
entre eles. No entanto, Stellan sentiu que os laços que uniam Chancey e
Nan poderiam ser testados mais pela proximidade do que pela distância.
Nan poderia ser mais rápida em perceber que suas prioridades não eram as
mesmas de seu mentor se ela fosse forçada a enfrentar essa diferença de
frente.
A jovem parecia mais tensa do que antes, o que Stellan não entendeu até
que ela disse:
— Eu sei o que isso significa, 'esperando conversar'. O que você vai
fazer conosco? Tubos de afogamento? Eletroestimulação? Sondas da
mente? Se você acha que vamos quebrar tão facilmente...
— Nada assim vai acontecer com vocês aqui, — disse Stellan,
levantando-se. — Eu não sei como os Nihil lidam com essas coisas, mas
esse não é o jeito Jedi.
— Você parece tão sincero, — respondeu Nan. — Eu quase acredito em
você. — Ela ainda não. Mas ela poderia com o tempo.
Ele disse apenas:
— Leve algum tempo. Pense bem nas coisas. Perguntem a si mesmas o
que vocês precisariam para começar de novo, para construir de novo.
— Muito agradecidas, — respondeu Chancey como se esta fosse uma
conversa casual entre amigos perguntando onde ir almoçar. — Nós
estaremos pensando.
Stellan estudou Nan por mais um momento, acenou para as duas e saiu
da cela, confiando no tempo e em suas próprias diferenças para fazer o resto
do trabalho para ele.
Regald Coll achava que nada poderia ser mais exaustivo do que ensinar
jovens, não importa o quão perigosa uma missão na fronteira pudesse ser.
Depois de algumas horas de trabalho com os pilotos encalhados e naves
danificados, prestando ajuda e assistência, com novas chegadas aparecendo
sem aviso prévio...
Bem, ainda achava que nada era mais exaustivo do que ensinar jovens.
Os Nihil eram ruins, claro, mas tente administrar uma sala cheia de crianças
que perderam a soneca e descobriram que podem basicamente fazer
mágica. Não era uma tarefa para os fracos.
A limpeza depois que os ataques dispersos dos Nihil chegavam perto da
escala de exaustão, no entanto. Regald ficou feliz em tomar alguns
momentos na bagunça para se sentar, se esticar e reunir forças para decidir
o que comer.
— Bilbringi? — Indeera Stokes sugeriu enquanto tomava o lugar em
frente ao dele, carregando uma bandeja de comida apimentada que parecia
deliciosa e cheirava ainda melhor.
Regald se viu sentado ereto.
— Só a comida de Bilbringi poderia me acordar assim. Nada mais
poderia me fazer mover, exceto talvez rancor como estímulo.
Indeera lhe deu um sorriso torto. Ela parecia cansada também, mas o seu
tom era alegre quando ela tomou o lugar em frente a ele.
— Você notará que eu trouxe o suficiente para dois.
— Esse é o tipo de caráter que você tem. — Regald pegou uma torta de
carne e sorriu. — Lembre-me de nomeá-la para o Conselho Jedi algum dia.
— Por favor não! — Indeera ergueu as mãos. — Um destino pior que a
morte, pelo menos, para mim. Não sei como Stellan e os outros fazem isso.
— Eu também não. — Regald nunca fora ambicioso dessa forma. A
creche tinha sido suficiente para ele, até que decidiu que deveria expandir
os seus limites, assumir novas responsabilidades. Mas isso foi apenas uma
busca para aprender e experimentar mais, não para subir nenhum tipo de
escada.
Eles comeram juntos em um silêncio sociável, ou o que Regald
considerou ser um silêncio sociável, até que ergueu os olhos de sua refeição
para ver que Indeera nem sequer havia tocado a dela. Ele arriscou:
— Você está se sentindo bem?
— Não. Quero dizer, sim. — Ela estremeceu e esfregou as têmporas. —
Nada está fisicamente errado comigo. Estou cansada, mas isso não tem
importância. — A Indeera era estoica em relação a essas coisas. No entanto,
mesmo o seu semblante impassível não conseguia esconder totalmente a
sua inquietação.
Regald disse:
— Você disse que não há nada de errado fisicamente. Então o que está
acontecendo é... mental? Emocional? Espiritual?
— Talvez tudo isso, e ainda... — Indeera balançou a cabeça. — É difícil
falar dessas coisas. Mas você não sente isso, Regald? Nos limites de sua
consciência?
Quase perguntou a ela, O que você quer dizer? Antes que pudesse fazer
a pergunta, no entanto, entendeu a resposta.
O cansaço que estava sentindo era mais profundo do que músculos
doloridos ou uma cabeça latejando. Até os ossos... não. Profunda na alma.
Como se as cores vibrantes da Força haviam desbotado para o cinza. Regald
estremeceu, uma resposta de medo que pensou ter deixado para trás
enquanto era um Youngling.
Ainda assim, tinha que haver uma explicação sensata.
— Estamos todos passando por isso juntos, — ele sugeriu. — Todos os
Jedi nesta estação estão ajudando aqueles que vieram aqui em busca de
ajuda, lidando com os últimos remanescentes dos Nihil. Cada um de nós
está testemunhando muita raiva e medo. É claro que isso seria uma
drenagem psíquica para todos nós.
— Claro, — repetiu Indeera, mas os seus olhos se estreitaram com
suspeita. — Mas todos nós já estivemos em situações como essa antes, e em
nenhuma dessas situações eu senti esse terrível vazio.
Verdade seja dita, Regald também nunca havia sentido nada assim. Não
era tanto a presença de algo horrível, mas a ausência de outra coisa que
deveria estar lá. Algo tão básico e fundamental para o funcionamento
adequado do universo que nunca reconheceu e nem conseguiu entender
enquanto estava sentado aqui tentando criar um cenário...
— Aquilo é Bilbringi? — O rosto enrugado de Nib Assek se iluminou
com um sorriso cansado quando ela se aproximou. — Não se importe se eu
comer isso.
Regald lhe entregou uma das tortas de carne enquanto se sentava entre
ele e Indeera.
— Nib, como você está se sentindo agora?
— Cansada como todos os outros, — disse ela, e embora Nib ainda
tivesse um sorriso no rosto, podia ouvir o cansaço escondido em seu bom
humor. — Como se o meu cérebro já estivesse tirando uma soneca e o meu
corpo estivesse ansioso para se juntar a ele.
— Você está sentindo essa estranheza? — disse Indeera. — A...
opacidade da Força?
O sorriso valente de Nib finalmente desapareceu.
— Vocês também?
— Estamos nos convencendo disso, — disse Regald. O seu tom era
firme; deixou-se desviar muito facilmente. — Estamos esgotados,
emocionalmente comprometidos e agora estamos nos convencendo a
acreditar em fantasmas.
— Você realmente pensa assim? — Indeera continuou olhando para a
meia distância, focando em nada.
— Sim. Gostamos de pensar que somos mais sábios, somos os Jedi,
estamos no controle de nossas mentes e corpos, mas no final, podemos ser
tão supersticiosos e sugestionáveis quanto a maioria das pessoas, se
baixarmos a guarda. — Ele pontuou isso com um gesto enfático com a sua
torta de carne. — Depois de comermos e respirarmos por alguns minutos, a
sensação desaparecerá e mal perceberemos.
— Você está certo, — disse Nib, com determinação. — Claro. Deveria
ter pensado nisso por mim mesmo. — Indeera não parecia igualmente
disposta a acreditar nele, mas começou a comer a sua refeição, então
Regald contou como uma vitória.
Ele comeu. Tentou relaxar. E conseguiu.
Em sua maioria.
—
Sem o conhecimento da equipe Nihil, um de seus ‘passageiros’ já havia ido
em busca de comida mais saudável.
Um pequeno droide astromecânico, zumbindo enquanto verificava os
sensores no compartimento de carga, ouviu um forte estrondo de metal,
como se uma placa tivesse caído de um casco ou uma escotilha tivesse sido
forçada a abrir. Ele girou em direção ao som para encontrar uma nave de
carga, pequena e indescritível, com a escotilha aberta. Dentro, o
astromecânico podia ver um movimento sombrio.
Rapidamente verificou o manifesto de carga, depois assobiou em alarme.
Rathtars? Essas eram formas de vida que exigiam contenção imediata.
O astromecânico rolou para frente, conectado aos controles da escotilha
da nave, e foi recompensado com o fechamento quase instantâneo da porta.
Ele então se virou e esquadrinhou sua vizinhança imediata em busca de
Rathtars, não encontrou nenhum, e seguiu seu caminho satisfeito depois de
um trabalho bem feito.
Qualquer senciente saberia que os Rathtars não hesitavam em sair de
qualquer contenção, teriam procurado por qualquer pessoa ou qualquer
outra coisa que pudesse ter escapado daquela nave de carga.
Mas os compartimentos de carga eram administrados por droides, e os
droides eram satisfeitos mais facilmente.
Algo está acontecendo com ela, Bell pensou enquanto continuava o seu
caminho. A energia que emanava de Ghirra Starros tinha sido perturbada ao
extremo, e, além disso, aquele era um dos sorrisos mais falsos que já tinha
visto.
Mas talvez estivesse lendo demais. A energia estranha que estava
arranhando as bordas de sua consciência fez tudo parecer estranho e errado.
Bell continuou dizendo a si mesmo que era apenas a sua dúvida, a sua
culpa, a incerteza que o puxava há meses. Se mantivesse a sua mente onde
estava, o que estava fazendo, a sensação pararia a qualquer momento.
E, ainda assim, ela sempre esteva lá...
E m sua pequena e improvisada câmara a bordo da Embarcação,
Elzar Mann buscava a paz.
Alguns momentos de silêncio e quietude serviriam. A julgar pelos
relatórios que eles continuaram a receber sobre a atividade dispersa dos
Nihil, estaria ocupado no Farol logo após a sua chegada, e por um longo
tempo ainda. Se queria se concentrar, para acalmar os sussurros de dúvida
que assombravam os seus pensamentos, este era o momento.
Claro, teria sido mais fácil se Leox Gyasi não tivesse decidido que este
era um excelente momento para tocar todas as suas músicas favoritas pelo
intercomunicador da nave. Pelo menos dessa vez ele escolheu a ópera
Chandrilana, as melodias arrebatadoras e dramáticas banhavam Elzar como
as ondas em Ledalau, lembrando-o da estabilidade que encontrara lá.
A escuridão sempre será uma parte de mim, lembrou a si mesmo. Será
sempre uma parte de cada Jedi, de cada coisa viva. Reconhecer a
escuridão é conhecer a escuridão. Conhecer a escuridão é começar a
controlá-la.
A mente de Elzar, como sempre acontecia, passou por Avar Kriss. Ele a
imaginou como ela tinha estado em uma missão há muito tempo em Riosa:
com o seu cabelo preso em uma longa e dourada trança, a faixa de joias que
ela usava brilhando na luz rosada do sol.
Talvez uma razão pela qual achasse tão difícil aceitar a sua própria
escuridão como parte da vida, nem mais nem menos, veio de sua
incapacidade de acreditar que qualquer escuridão já havia encontrado o seu
caminho na alma de Avar.
O Farol Luz Estelar, assim como qualquer outra estação ou nave estelar que
residia quase inteiramente além dos ambientes planetários, não tinha, dia ou
noite natural. No entanto, a maioria dos seres funcionava melhor com
algum tipo de ciclo diurno e, portanto, em uma hora marcada, a maioria das
luzes diminuía e os turnos de trabalho não essenciais eram reduzidos ao
mínimo de funcionários. Stellan nunca deixou de se perguntar como essas
mudanças simples eram eficazes. Em apenas alguns minutos, o ritmo de
vida a bordo da estação havia mudado. As pessoas andavam mais devagar.
Com linguagem corporal relaxada. Mesmo aqueles que permanecem com as
suas naves na doca principal, encalhados pela atividade dos Nihil,
desaceleravam um pouco. Eles não estavam realmente calmos, eles estavam
longe de casa, talvez consertando as suas naves, irritados ou enervados por
essa explosão final de hostilidade dos Nihil. Mas a maior facilidade que
sentiram chegou perto o suficiente para ressoar por toda a estação.
Stellan estava ainda mais consciente dessa alteração do que a maioria a
bordo, e ainda assim funcionou nele também.
Um lembrete, disse a si mesmo, de que nossos animais interiores, nossas
naturezas mais vis, vivem para sempre dentro de nós.
— Saudações, Mestre Stellan! — JJ-5145 rolou ao lado dele, mais
animado do que nunca. — Você tem uma comunicação chegando!
Por que sempre chegava uma ligação quando Stellan achava que poderia
dormir? Balançando a cabeça com pesar, ele disse:
— Passe para o escritório do intendente, Quatrocinco. Pelo menos está
perto.
— Está muito perto! — JJ-5145 disse como se fosse a notícia mais
importante e maravilhosa que já havia sido entregue. Era mais ou menos
assim que ele dizia tudo. — Muito convenientemente localizado, para
vários sistemas e locais de estações. Você já pensou em fazer do escritório
do intendente um centro de controle secundário para o Farol Luz Estelar?
Isso permitiria que você tivesse acesso mais facilmente quando estiver na
metade inferior da estação.
Stellan abriu a boca para protestar, mas pensou melhor.
— Isso não é uma má ideia, realmente. Isso é algo que você pode lidar
sozinho?
JJ-5145 praticamente vibrou de prazer.
— Vou começar imediatamente, senhor!
— Comece depois da minha chamada, — disse Stellan. — Na verdade,
deixe-me pensar nisso esta noite, provavelmente vou dizer para você ir
trabalhar amanhã de manhã.
O atraso não diminuiu nem um pouco a alegria de JJ-5145.
— De manhã, claro e cedo, como quiser, Mestre Stellan!
Felizmente, o escritório do intendente já era um local bastante
confortável e conveniente, encravado em parte do espaço entre o
compartimento de carga principal e o compartimento de carga principal.
Stellan se sentou à mesa e digitado o código para a comunicação de entrada.
A imagem de Elzar Mann cintilou na frente dele, forrada com estática de
uma conexão fraca, mas mesmo assim inteira.
Stellan respirou aliviado.
— Graças à Força. Com os restos do Nihil atacando por aí, bem, haviam
preocupações.
Elzar ergueu uma sobrancelha.
— Você acabou de admitir que estava preocupado comigo?
— Se for perguntado, vou negar, — disse Stellan. A amizade deles era
de longa data, mas envolvia uma boa dose de rivalidade e muita
brincadeira.
— Estou emocionado, — Elzar respondeu secamente.
— Obrigado pelo droide, a propósito.
A risada de Elzar permaneceu jubilosa, mesmo através da estática.
— Ele já te colocou contra a parede?
— Na verdade, Quatrocinco está sendo muito útil, — admitiu Stellan. —
O que não te safa.
— Sério? Deveria. — No fundo de qualquer nave em que Elzar
estivesse, a música de ópera tocava, quase inaudível. — Verdade seja dita,
nos deparamos com algumas dessas ações dos Nihil, mas escapamos
intactos e conseguimos ajudar alguns outros a fugir também.
— Então você está voltando ao Farol? — Quando Elzar assentiu, Stellan
não se incomodou em disfarçar o seu alívio. — Você está... melhor, então.
— Muito. — A expressão de Elzar se tornou pensativa e mais difícil de
ler. — Tenho um longo caminho a percorrer, acho, esta é uma mudança
fundamental na forma como percebo e uso a Força. Mas fiz progressos, e o
resto do caminho só posso fazer caminhando. Orla me guiou bem. Será que
algum dia vou aprender como vocês dois se conheceram?
Aparentemente, Orla tinha feito a cortesia de Stellan de não revelar a
história completa.
— Algum dia. Mas ainda não.
Os olhos de Elzar se iluminaram.
— Então é uma boa história.
— Vamos apenas dizer que é longa.
— Uma muito boa, eu acho, — Elzar disse com um sorriso. — Deve ser
para explicar por que você se voltou para uma Desbravadora. Eu sei que
você não se importa com eles.
Stellan interveio:
— Isso é uma simplificação excessiva.
— De verdade, — enfatizou Elzar. — Mas as suas opiniões sobre
Desbravar não vêm ao caso. A questão no momento é que estou voltando e
pronto para ajudar da maneira que puder, assim como Orla Jareni, tenho
certeza.
— Muito bem. O sinal tocou antes de deixar o hiperespaço, e teremos
um ancoradouro pronto para a Embarcação o mais rápido possível.
Elzar permaneceu em silêncio por muito tempo antes de perguntar:
— Você teve notícias de Avar e da sua equipe?
— Não. Acredito que teríamos ouvido se houvesse algum problema. —
Ou se ela realmente teve sucesso em sua busca para capturar o Olho. —
Nenhuma notícia é boa notícia.
— Claro. Tenho toda a confiança nela e em você. Mann desliga.
Depois que o holo desapareceu, Stellan ficou ali por alguns longos
segundos. Estava realmente... esperando que Avar falhasse? Em algum
nível, parecia que sim.
Isso era indigno dele, Stellan sabia. Não deu crédito às habilidades
consideráveis de Avar, ao perigo muito real que os Nihil haviam
apresentado até recentemente, ou ao ego que Stellan aparentemente havia
trazido para esse desacordo sobre as prioridades. Deve meditar e purgar
esse orgulho desnecessário.
Mas primeiro, dormir.
(Aqueles que não meditavam às vezes ficavam surpresos com a ideia de
que era mais difícil fazê-lo quando cansado, que envolvia qualquer energia.
Na verdade, poderia ser profundamente dinâmico. Stellan queria a sua força
para isso e muitas outras tarefas que estava à frente.)
Estava cansado o suficiente para que até mesmo o seu quarto parecesse
muito distante. Em vez disso, foi para o único sofá no escritório do
intendente, que ficava encostado na parede mais próxima do compartimento
de carga. Isso serviria. Stellan mal teve energia para fazer mais do que tirar
o manto e chutar as botas antes de cair de costas no sofá e fechar os olhos.
Certamente haviam poucos prazeres mais justos do que descansar depois de
um longo dia de bom trabalho.
Stellan seria incapaz de descansar por muito tempo.
— Ajude-me... — Elzar Mann gritou, olhando impotente para Stellan
através da fumaça espessa e ondulante.
— Ajude-me! — Avar Kriss correu para o fogo Nihil, com o seu sabre de
luz em chamas enquanto ela entrava na briga sozinha.
— Por que você não nos ajudou? — A rainha Thandeka de Eiram estava
em seu manto cerimonial, cercada por massas de pessoas empoeiradas e
cansadas que não tinham água há dias.
— Você pode nos ajudar, — Pikta Adren implorou enquanto ela estava
entre os sobreviventes agredidos dos ataques dos Nihil na enfermaria
lotada do Farol. — Estamos com sede. Nós estamos com fome. Estamos
morrendo de fome.
— Ajude-nos. — Vieram sussurros de uma escuridão que cercava Stellan
por todos os lados. — Estamos morrendo de fome. Tão famintos. Tão
famintos. Alimente-nos.
— Alimente-nos.
— ALIMENTE-NOS...
Acordando com um sobressalto, Stellan olhou para o teto, respirando
com dificuldade. A fome desesperada que sentiu em seu sonho roeu a sua
barriga como se não tivesse comido um jantar farto. Tentou banir a ilusão,
mas no final se levantou do sofá e foi até a mesa. Vasculhou as gavetas e
encontrou uma pequena lata de pó de ração. Um pouco de água e um
redemoinho com o dedo produziram um pão doce, que comeu tão devagar
quanto pôde. Isso levou toda a força de vontade de Stellan para não devorar
a coisa como um Gundark faminto.
Embora o pão tenha saciado sua fome, a inquietação de seu sonho
permaneceu. Como sempre, depois de um sonho particularmente vívido,
Stellan se perguntou se isso poderia ser um envio da Força, uma mensagem
à qual deveria prestar atenção. Poderia ser um aviso sobre os Drengir? Tal
fome os chamou à mente imediatamente. Eles não foram realmente
derrotados e talvez estavam retornando para ameaçar os Jedi novamente?
Mas assim que se fez essas perguntas, teve certeza de que a resposta era
não.
Parece o oposto disso, pensou, então se perguntou exatamente o que isso
significava.
Não conseguia articular o motivo, mas sabia que estava certo. O pavor
que se infiltrou em sua mente inconsciente não veio da Força, mas de algo
completamente diferente.
Algo que estava entre e a Força. O obscurecendo, como nuvens na frente
de uma lua.
A lguns diziam que a consciência era a maneira da galáxia se
contemplar. Através dos olhos de Leox Gyasi, a galáxia se contemplar
com grande satisfação.
Não que ele não visse que a galáxia também tinha um monte de coisas
erradas com ela. Mas Leox reconheceu o dom que recebera por estar vivo,
então não perdia tempo com preocupação ou desespero. Se algo estivesse
errado e pudesse ajudar, ele o faria. Se uma crise viesse, lidaria com isso
então. Caso contrário, era um dia de cada vez para ser saboreado.
Geode entendeu isso. Leox percebeu que essa era uma das razões pelas
quais eles se davam tão bem. Affie Hollow... bem, ela ainda estava
aprendendo.
— Eu não gosto disso, — ela disse enquanto eles cruzavam os seus
últimos segundos de voo no hiperespaço. — Os Nihil me fazem querer ficar
segura aqui para sempre.
— Viajar sem destino está entre os passatempos mais perfeitos do
mundo, — disse Leox. — Mas, no momento, temos uma viagem com
passageiros para terminar.
Affie franziu a testa enquanto puxava o seu longo cabelo castanho-
escuro em um rabo, um sinal de que o seu eu interior estava mais pronto
para completar a viagem do que a sua consciência estava. (Leox era um
grande crente no eu interior.) Ela disse:
— Não parece que Farol é o último lugar que devemos ir? É o símbolo
da República nesta área, o centro da presença Jedi, o que faz com que seja o
lugar que os Nihil mais odeiam.
— Primeiro de tudo, de acordo com os Jedi, o que estamos vendo é o
último suspiro dos Nihil. Assim, eles não serão problemas por muito mais
tempo. Segundo, o Farol é o centro das atenções da República nessa parte
da galáxia, — Leox respondeu. — Se o que resta dos Nihil tentar invadir
aquele lugar, a República vai dar um chute nos dentes deles. Ou presas, ou
guelras, o que quer que os Nihil em questão estejam envolvidos. Não, eles
não virão para o Farol a menos que tenham algo muito mais engenhoso em
mente.
— Às vezes você faz isso pensando que está ajudando, mas
definitivamente não está, — Affie apontou.
— De qualquer forma, Pequenina, é hora de sair daqui. Pronto, Geode?
A resposta de Geode veio na forma de um leve estremecimento da nave
deixando o hiperespaço. O azul elétrico que os cercava instantaneamente
mudou para preto. Ao longe brilhou o Farol Luz Estelar...
...e na distância mais próxima eles viram uma nave, um pequeno
cruzador Japealeano de um piloto lutando para seguir em frente. Mesmo
daqui, Leox podia dizer que um de seus motores havia queimado e o outro
não estava em boa forma.
Affie ligou as comunicações antes que a mão de Leox pudesse se mover.
— Aqui é a Embarcação. Você está precisando de ajuda?
— Sim, por favor... — A mulher do cruzador Japealeano tossiu. Ela
parecia exausta. — Recebemos tiros dos Nihil, quando você pensa que os
kriffers se foram para sempre...
No mesmo instante, Leox e Affie olharam para as leituras. Geode já
tinha a análise na tela para eles: a nave realmente era o que parecia estar,
genuinamente bastante danificada, e a piloto a bordo estava realmente
sozinha.
— A caminho, — disse Leox enquanto inclinava a nave em direção à
Embarcação Japealeana ferida.
Cada um dos três tripulantes sabia o que fazer sem qualquer discussão
entre eles. Este era um trabalho de reboque padrão, o mesmo que seria ser
para contêineres de carga no espaço. (Contêineres orbitais eram
frequentemente usados por aqueles que não queriam passar pelas
verificações padrão do espaçoporto. Leox havia manuseado muito desse
tipo de carga nos velhos tempos.) Geode trouxe as coordenadas de precisão,
Leox preparou o cabo de reboque, e Affie pegou os controles na mão e
disparou.
O cabo prendeu-se magneticamente ao cruzador Japealeano com um
baque satisfatório. Leox e Affie compartilharam um sorriso rápido antes de
começar a avançar lentamente, passando por cima do cruzador e se
preparando para liderar.
No exato momento em que o cruzador estava diretamente abaixo deles,
uma explosão abalou a nave. Luzes vermelhas floresceram nos controles da
nave em uma onda terrível.
— Que droga... — Leox acionou o comunicador. — Você ainda está
vivo lá embaixo?
Após alguns segundos de estática, a piloto do Japealeano sussurrou:
— outro... outro motor explodiu...
Então tinha. Infelizmente, ao fazê-lo, parecia ter arremessado detritos de
metal no próprio corpo da nave. A nave permanecia hermética, o que Leox
sabia porque não estavam prestes a morrer horrivelmente naquele exato
segundo. Mas parecia que quase tudo na nave havia sofrido danos, em graus
variados. O pior de tudo:
— O Hiperdrive está desativado.
Affie mordeu o lábio inferior, então rapidamente recuperou a calma.
— Certo. Pelo menos isso aconteceu a uma curta distância de um porto
de reparo.
Orla Jareni e Elzar Mann apareceram na porta da cabine, calmos daquele
jeito sobrenatural que os Jedi pareciam, mas definitivamente alertas.
— O que aconteceu? — disse Orla.
— Nós pagamos um pequeno aluguel em nosso tempo no universo. —
Leox apontou para a nave Japealeana, ainda visível no canto da cabine. —
Fez uma boa ação, levou alguns estilhaços por isso. Espero que nada que
não possamos consertar no Farol.
— Qualquer coisa que você precise, — Elzar prometeu.
Leox se lembrou do que Affie havia dito sobre Farol Luz Estelar ser um
alvo dos Nihil. Se fosse do tipo preocupante, teria visto isso como um mau
presságio.
Do jeito que estava... bem, com mau presságio ou não, eles tinham
apenas um caminho que poderiam seguir. Leox pretendia tomá-lo com um
sorriso.
Bell sorriu enquanto Ember caminhava junto com o grupo de Jedi, como se
ela fosse um deles, pelo menos em sua própria mente. De vez em quando
Stellan Gios o repreendia gentilmente quando a sua charhound ficava de
plantão; até Avar Kriss às vezes franzia a testa. Mas Nib Assek sempre foi
amigo de Ember, e quanto aos recém-chegados, Elzar Mann sorriu e Orla
Jareni até assobiou, o que fez Ember inclinar a cabeça ao se aproximar de
Burryaga. (Burry rapidamente se tornou o favorito da charhounds, e vice-
versa. Talvez fosse uma espécie de solidariedade de peles.)
Acho que as pessoas que gostam de animais de estimação estão mais em
contato com a Força, pensou Bell. Então se perguntou se essa era uma
maneira mesquinha de ver as coisas, e muito conveniente, para o guardião
de uma charhound. Ainda assim, não havia algo nisso? Uma amizade com
um tipo de forma de vida totalmente diferente, uma com a qual não poderia
haver comunicação direta, não era um sinal de que seu espírito estava dando
boas-vindas à Força em qualquer forma que ela assumisse?
À distância de um corredor lateral, Bell vislumbrou uma pequena equipe
de trabalho em macacões escuros: um Pau'ano, um Ithoriano e uma humana,
todos agitados de um trabalho para outro. Nenhuma surpresa que eles
estavam ocupados.
—
Nan estava sentada em seu beliche de metal na cela, olhando para a luz que
vinha da grade acima.
— Por que eles não voltaram?
— Devem ter outras coisas para fazer, — respondeu Chancey. Ela estava
traçando preguiçosamente desenhos invisíveis na parede da cela ao lado de
seu beliche, no qual se esticou como se não tivesse nenhuma preocupação
nos mundos. Algumas de suas longas tranças pendiam da beirada do
beliche. — Além disso, é uma técnica clássica de interrogatório. Deixe-os
sofrer. Se ficamos nervosas, achamos que nos esqueceram, nos desgastamos
antes mesmo de começarem a fazer perguntas. Então não faça o trabalho
dos Jedi para eles, tudo bem?
— Tudo bem. — Era uma coisa fácil de prometer. Não é uma coisa fácil
de entregar. Mas Nan pretendia tentar.
Manteve as suas outras preocupações para si mesma, porque sabia que
Chancey Yarrow não seria compreensiva. O fato era que a prisão delas
havia feito Nan duvidar de muitas de suas escolhas, especialmente, acima
de tudo, de sua decisão de deixar temporariamente os Nihil.
Nan tinha o sonho de se tornar uma corretora de informações, uma
jogadora poderosa, uma espiã com o tipo de conhecimento e conexões que a
tornariam valiosa para qualquer um, do submundo ou legítimo. Os Grafs
foram apenas o começo. Mas mesmo no auge de seus sonhos, ela sempre
teve a intenção de retornar ao Nihil algum dia, esperançosamente, mais útil
para o Olho do que nunca.
Raramente esteve mais longe de seus sonhos do que estava neste
momento, presa em uma cela Jedi, aparentemente esquecida.
Por que eu fui embora? Nan perguntou a si mesma enquanto abraçava
os joelhos contra o peito. A galáxia pode ser brutal; era melhor não estar
sozinho. Muito melhor ser parte de algo maior, algo poderoso, algo como o
Nihil. Seus desejos individuais a cegaram para isso por um tempo, mas ela
viu isso muito claramente agora.
Ainda assim... Nan tinha ido embora. Estava enfrentando as
consequências, e os Nihil não estavam vindo para salvá-la. Se esperava se
juntar a eles, teria que sair dessa bagunça sozinha.
—
Orla poderia ter respeitado a privacidade de Stellan, ao pedir licença
quando Elzar foi embora e cuidar da própria vida.
Mas onde estava a graça nisso?
— Você vai acabar me contando eventualmente, você sabe. — Ela se
sentou em frente à mesa de Stellan, dando-lhe toda a intensidade de seu
olhar. — Não adianta adiar.
— Não há muito a dizer, — Stellan insistiu. — Tive insônia. Eu tive
pesadelos. Não estou descansado, e há muito o que fazer no Farol, e... isso
não é suficiente para cansar qualquer homem?
— A maioria dos homens, com certeza. Stellan Gios? Dificilmente. Você
é um dos Cavaleiros Jedi mais corajosos e engenhosos que eu já conheci,
mesmo que eu tivesse que salvar totalmente o seu traseiro em Pamarthe.
Stellan gemeu, soando um pouco como ele novamente.
— Você nunca vai me deixar esquecer isso?
— Certamente você já percebeu que a resposta é não.
— Certo, Certo. — Quando Stellan sorriu para ela, Orla sentiu como se
parte de sua concha protetora estivesse finalmente começando a rachar. E
então ele teve que ir e acrescentar: — Você está perdida como uma
Desbravadora. Você deveria ser um investigador trabalhando ao lado de
Caphtor.
E lá estava: o desdém por suas escolhas que Orla sabia que Stellan
sentia, no fundo, mesmo que só pretendesse fazer uma piada.
— Você já sempre teve um problema com um Desbravador. Eu tenho
uma teoria sobre o porquê, mas... você me diz.
Por um momento, Stellan pareceu mais cansado do que nunca, e Orla se
arrependeu de ter falado sobre isso. Mas ele respondeu com uma
determinação surpreendente.
— Os Jedi devem encontrar significado na Ordem. Em um no outro. No
cumprimento do nosso dever. Se às vezes é difícil manter esse curso, isso é
um sinal de que precisamos trabalhar mais, não dar um passo atrás. É
também um sinal de que nossos próprios desejos egoístas podem estar se
transformando em apegos e que esses desejos precisam ser sacrificados.
Perdoe-me, Orla, mas... você nunca achou fácil andar na linha.
— Não, eu não achei. — O que não tinha nada a ver com egoísmo ou
falta de vontade de se sacrificar. Orla não sentiu necessidade de se defender,
mas decidiu que talvez fosse hora de Stellan ouvir alguns de seus
pensamentos em troca. — Você achou que tudo é muito fácil, não achou?
Stellan Gios, o mais brilhante dos brilhantes, o mais bravo dos bravos,
símbolo de tudo o que é bom na Ordem Jedi, o membro mais jovem do
Conselho em um bom tempo e a frente e o centro de todos os esforços de
publicidade que a República faz em nosso nome. Não me entenda mal, você
fica bem no centro das atenções, Stellan. Mas eu te conheço bem o
suficiente para perceber o quão desconfortável você está lá. Você sempre
teve que ser o garoto de ouro da Ordem. Você nunca se sentiu livre para
procurar ou falhar. Você nunca teve o luxo de traçar o seu próprio caminho.
É por isso que você é ameaçado pelos Desbravadores que o fazem?
O rosto de Stellan aparentemente se transformou em pedra.
— Não estou ameaçado. E devemos seguir o caminho que a Ordem e a
Força nos mostram.
Orla balançou a cabeça.
— É aí que nos diferenciamos. Você ainda acha que a Ordem Jedi e a
Força são a mesma coisa. — Ela se levantou e colocou uma mão na dele. —
Eu não diria nada disso se eu não tivesse grande consideração por você,
Stellan. Por mais opostos que sejamos, eu respeito você e tudo o que você
fez, mais do que você pode saber. Mas acho que você corre o risco de
desaparecer nesse holofote. Algum dia, quando esta crise atual terminar,
talvez tire um tempinho para você.
— Não, não vemos as coisas da mesma maneira. — Stellan conseguiu
sorrir de volta para ela, mas rigidamente. — Espero que você saiba que eu
respeito você também.
— Claro que sim, — disse Orla alegremente ao sair da sala. — Como
você não poderia?
—
Vários dos poços de manutenção dentro do Farol Luz Estelar abrigavam
painéis de informações dos quais vários sistemas podiam ser verificados,
ou, se você soubesse o que estava fazendo, manipulados. Leyel sabia o que
estava fazendo.
Também imaginou que poderia coletar um pouco de informação extra
sobre o que estava acontecendo dentro do Farol. Cale sempre gostou de
seguir o plano ao pé da letra, mas e se as condições tivessem mudado de
uma forma que frustrasse a vontade do Olho? Eles haviam sido
encarregados de sua missão mais importante, com o que merecia ser seu
maior triunfo. Leyel não a veria em perigo.
À medida que vários conjuntos de dados passavam por ela, um item
intrigante chamou sua atenção.
— Olhe para isso, — disse ela à Cale e Werrera, que pararam de
trabalhar nas conexões do estabilizador da estação. — Prisioneiras
'suspeitas de se dos Nihil', aqui, a bordo da estação.
Cale se inclinou para examinar o painel também.
— Eu não conheço essa Chancey Yarrow. Mas Nan... ela não costumava
viajar com Haia? Ele era um bom homem, um guerreiro capaz. Ele foi
vítima dos Jedi.
Werrera sibilou com raiva e desprezo, emoções compartilhadas por
Leyel. Ela também conhecia Haia. Os Nihil não tinham combatentes mais
ferozes do que Haia.
— Não devemos deixá-las presas em sua cela, — argumentou Leyel. —
Não devemos dar satisfação aos Jedi.
Embora Cale parecesse cauteloso, ele finalmente assentiu.
— Depois de concluirmos as preliminares mais críticas, quando não
importará tanto se um alarme for acionado. Quem sabe? Talvez eles possam
nos ajudar.
Leyel tentou imaginar passar de um prisioneiro indefeso, à mercê dos
Jedi, para instantaneamente receber o poder de destruir todos eles. Que
presente. Ela quase invejou aquelas duas mulheres por seu cativeiro. A
libertação deles seria tão doce.
E então eles também poderiam servir ao grande plano do Olho.
O Farol Luz Estelar não era o único lugar na galáxia onde os
Jedi ofereciam refúgio para aqueles que foram recentemente atacados
pelos Nihil. Alguns templos nas terras de fronteira ou perto também
abriram as suas portas. Nenhuma instrução saiu do Conselho de Coruscant
ditando isto; a decisão era espontânea, ecoada por um Mestre Jedi após o
outro, através das vastas extensões do espaço. Aqueles que precisavam de
ajuda, aqueles que buscavam proteção e assistência em tempos perigosos,
os encontrariam dentre os Jedi.
Um desses templos ficava no mundo densamente arborizado de
Chespea. dentro da fronteira do espaço recém-jurado à República. Era um
templo de idade considerável, que tinha alojado um pequeno contingente de
Jedi por muitas gerações. Em algumas formas, as práticas e costumes dos
Cavaleiros Jedi aqui eram diferentes; eles eram independentes e privados, e
preferiam assim; mas não em sua disposição de providenciar ajuda àqueles
que precisavam.
Então, naquele dia, o Templo de Chespea de teto dourado, normalmente
rodeado por nada além de quilômetros de floresta e cantos de pássaros,
estava cercado de barracas e abrigos improvisados, por onde passavam
quase uma centena de pessoas de várias espécies e civilizações. Nas poucas
clareiras próximas estavam estacionadas naves avariadas e marcadas com
carbono, que haviam lutado tanto para chegar a um local de refúgio. Ainda
assim, a cena era pacífica a seu modo.
A calma antes da Tempestade.
Na órbita, um líder de Nuvem Nihil assentiu enquanto os esquemas
aumentavam, para mais e mais perto, até que o telhado dourado do templo
brilhou como um alvo.
— Não se preocupe com as naves — ele disse.
Uma subalterna que ainda não tinha aprendido qual era o seu lugar, se
aventurou.
— Mas, se a meta é causar dano e confusão, para deixá-los cientes de
nossas intenções…
— Essa foi apenas a primeira onda dos nossos esforços — vociferou o
líder de Nuvem. — Esta onda é para mandar uma mensagem para os Jedi.
De agora em diante eles saberão… isso é sobre eles.
Assim Marchion Ro tinha comandado. Assim seria.
— O alvo deles era de fato um templo Jedi — disse o auxiliar Norel Quo,
fazendo holo após holo flutuar sobre a mesa da Chanceler Lina Soh: os
retratos da devastação. — Um isolado, mas ainda assim, um templo da
Ordem da mesma forma. Ele foi completamente obliterado. Até onde
sabemos, nenhum Jedi sobreviveu.
A Chanceler Lina Soh balançou a cabeça, desalentada e descrente em
medidas iguais.
— Nós fomos levados a acreditar que os Nihil não representavam mais
uma ameaça. Mesmo que esses sejam apenas remanescentes e retardatários
atacando… a ameaça que eles representam pode ter sido reduzida, mas
claramente permanece bastante real.
— Devemos informar o Farol Luz Estelar? — perguntou Quo.
— Certamente a Ordem Jedi já contou a eles. — Ser chanceler da
República muitas vezes significava dar más notícias; Soh nunca se esquivou
dessa tarefa, mas também não via sentido em realizá-la quando era
desnecessário.
Quo parecia abatido.
— É difícil ouvir isso e pensar que não podemos fazer nada.
— Enviaremos patrulhas ao longo das vias do hiperespaço, pelo menos
— disse Soh. Como o seu auxiliar, ela se sentia melhor tomando algum tipo
de ação, mesmo que desnecessária. — Se os Nihil enviarem uma frota para
o farol, nós saberemos, e vamos encontrá-los com todo o poder que nós
pudermos reunir. Contacte os Mestres Jedi Adampo e Rosason, mande
nossas condolências oficiais… e extra oficialmente deixe-os saber que da
próxima vez que os Nihil tentarem alguma coisa, esses caras terão uma
surpresa desagradável.
—
— Alguém tem um ANX T-7 que eu possa comprar ou pegar emprestado?
— Estamos procurando por conversores de energia compatíveis com um
modelo Corelliano YD-2500.
— Blindagem do casco? Metal que poderia ser usado como Blindagem
de casco? Remendos de casco? Qualquer coisa?
Affie Hollow estava parada no meio do grupo no meio da baía de
ancoragem do Farol, tentando ouvir ao mesmo tempo as coisas que a
Embarcação precisava e as que poderiam fornecer. Embora os Jedi e a
República estivessem fornecendo todas as ferramentas, peças e assistência
que tinham para aqueles que estavam presos na estação, não era nem perto
o bastante. Então, uma espécie de local de troca popular se formou, com
todos oferecendo o que podiam fazer ou poupar na esperança de receber em
troca o que precisavam.
Ótimo em conceito, pensou Affie, mas meio barulhento em ação.
Ela começou a se afastar do amontoado quando ouviu uma voz pedir:
— Alguém aqui sabe como fundir um novo acoplamento?
— Eu sei! — Affie levantou uma mão e olhou ao redor. — Meus
companheiros de bordo e eu podemos lidar com isso.
— Isso é um alívio. — A pessoa que falou acabou por ser um homem de
talvez quarenta anos, com um rosto quadrado mas agradável. Segurando em
seu braço estava uma mulher com um cabelo cacheado rebelde. — Esta é
Pikta Adren, e eu sou Joss, e estamos felizes em conhecê-la. Muitas pessoas
não podem mais fundir os seus próprios acoplamentos…
— Nós podemos — Pikta interveio, — mas apenas os acoplamentos que
podemos construir com um maçarico de polaridade, e quem mais carrega
um maçarico de polaridade?
— Não nós — Joss admitiu. — O que mudará no futuro, mas não nos
levará a lugar nenhum hoje.
— Bem, nós podemos ajudar vocês. Eu sou Affie Hollow. Meu piloto,
Leox Gyasi, gosta de fazer as coisas à moda antiga, o que significa que ele
vem fazendo os seus próprios acoplamentos desde sempre. Eu sou bastante
boa nisso também. É claro, nós precisaremos de micrax…
— Nós temos micrax — disse Joss, com um sorriso. — Deixe-me
adivinhar. Vocês não têm, e esperam que possamos dividir?
Affie sorriu de volta. Teria se unido a qualquer pessoa que tivesse os
materiais que a Embarcação precisava… mas era melhor unir forças com
indivíduos que pareciam honrados. Estava começando a confiar em seus
instintos sobre pessoas.
—
Exatamente como Koley Linn suspeitara, sim, lá estava Leox Gyasi como
um idiota, esperando com todos os outros idiotas na fila por rações. Por que
ele não mandou a garota fazer isso? Koley viajava sozinho, mas se tivesse
um assistente, maldito seja, estaria fazendo algum trabalho pesado.
(Sabia que, supostamente, Leox trabalhava para Affie Hollow. Koley
não acreditava nisso. Aquela garota estúpida tinha arruinado a Guilda Byne
e todos que trabalhavam para ela; mesmo Gyasi não seria tolo o suficiente
para ouvi-la de novo. Não, provavelmente eles fingiam que ela era a chefe
porque isso lhes dava uma desculpa quando as coisas davam errado.)
Ainda assim, a estupidez de Leox deu a Koley uma oportunidade,
porque ele tinha certeza de que tinha visto Affie andando com alguns outros
pilotos, trabalhando em algum biscate ou outro. Isso significava que a
Embarcação estava pronta para exploração.
Koley caminhou em direção à nave, estudando-a enquanto caminhava.
Por mais que criticasse Leox sobre a antiguidade desta nave, Koley sabia
que também era rápida, manobrável e capaz de lidar com uma ampla gama
de trabalhos. Também sabia que, até recentemente, a Embarcação havia se
beneficiado do orçamento de manutenção bem financiado da falecida
Guilda Byne. Isso ainda pode vir a ser a boa sorte de Koley. Sim, a nave
tinha sofrido alguns danos, mas provavelmente havia alguns sistemas em
boas condições, com peças novas e de alta qualidade prontas para a
limpeza...
Koley se abaixou para verificar o trem de pouso da nave, então ouviu
um zumbido baixo e um baque. Ele ficou de pé com um solavanco e viu
que a rampa estava abaixada e que estava sendo observado.
Geode estava parado ali, inexpressivo, sem se afastar de Koley Linn.
— Você — murmurou Koley. — Ouvi um boato de que você tinha
assumido outro trabalho. Embora eu não tenha certeza do motivo pelo qual
pensei que haveria mais de uma nave na galáxia disposta a contratar uma
rocha.
Sua zombaria não teve efeito no olhar duro e frio de Geode.
— Que seja. — Koley deu de ombros enquanto se virava para sair. Não
que estivesse com medo de Geode ou de qualquer outra pessoa, mas se
fosse denunciado ao comando do Farol, quem sabe quanto tempo a partida
da Ás de Paus seria adiada?
Ainda assim, doeu voltar de mãos vazias. A Embarcação estava longe
de ser desprotegida, pelo menos por enquanto. Mas manteria os olhos
abertos para outras chances.
Koley pegou o seu receptor de comunicação, esperando escutar as
comunicações oficiais e ter uma ideia melhor de quando poderia dar o fora
daqui. Ao ligá-lo, porém, a estática passou por ele em intervalos estranhos,
irregulares, mas de alguma forma ordenados. Durou apenas um momento,
mas foi o suficiente para Koley saber que era definitivamente estranho.
Algo não está certo nesta estação, ele pensou.
— Sinto que devo ser um dos que devem investigar. — disse Bell, enquanto
colocava seu equipamento de distribuição de rações em seu devido lugar. —
Eu não quero falar fora de hora, Mestra…
— Você não está — Mestra Indeera o tranquilizou. — Obviamente, em
breve devemos fazer uma busca na estação para descobrir a origem do… do
problema.
Bell observou que mesmo a sua estoica e robusta Mestra não queria falar
diretamente sobre o problema que todos estavam enfrentando com a Força.
Talvez isso devesse tê-lo feito se sentir melhor sobre o seu próprio
desconforto. Em vez disso, deu-lhe um estranho tremor no fundo da barriga:
os Mestres estão preocupados com isso. Mais, até, do que eles deixaram
transparecer. Talvez mais do que eles admitiram para si mesmos.
Mestra Indeera continuou:
— No entanto, o nosso primeiro dever não é nos proteger. É proteger
aqueles que buscaram ajuda e refúgio a bordo desta estação.
— Claro, Mestra. — Bell não resistiu e acrescentou: — Mas se não
cuidarmos de nós mesmos, quem cuidará deles?
Por dentro, ele estremeceu, esperando uma reprimenda.
Que nunca veio. Em vez disso, a expressão da Mestra Indeera suavizou.
— Você é sábio, meu aprendiz Padawan. Sim, devemos sempre
encontrar um equilíbrio. Portanto, você ficará tranquilo ao saber que, assim
que a distribuição completa de ração terminar, pretendo participar da
investigação dos níveis em torno da engenharia e do compartimento de
carga.
Essa foi, ao mesmo tempo, a melhor notícia que Bell poderia ouvir e
profundamente assustadora.
— Você não deveria ir sozinha.
— Os outros também estarão procurando.
— Eu quis dizer que eu deveria ir com você. — explicou Bell.
— Não — ela disse. — Você tem outras tarefas a realizar, porque ainda
temos que revisar completamente todos os manifestos de carga das naves de
refugiados.
Mais trabalho de faz-tudo, mas isso era mesmo coisa de aprendiz. Bell
assentiu, mas permaneceu inquieto.
— Mas sempre haverá alguém com você?
Mestra Indeera inclinou a cabeça.
— Você está preocupado comigo.
— Não é que eu duvide de suas habilidades, Mestra. Eu nunca faria isso,
é só que…
— … que você perdeu o seu Mestre anterior, e você não deseja perder
esta, — A mão de Mestra Indeera se fechou suavemente ao redor do ombro
de Bell. — Em primeiro lugar, não há nenhuma razão especial para você
temer. Esta perturbação na Força não prejudicou ninguém até agora, e não
há razão para supor que o fará.
Pesadelos, ataques de pânico e insônia soavam como "prejuízos" para
Bell, mas sabia o que Mestra Indeera queria dizer.
— Certo. Claro.
— Além disso — ela continuou, — nenhum Jedi pode fugir do risco.
Nem os riscos para si mesmo, nem os riscos para os outros. Nossos grandes
dons exigem uma coragem ainda maior. Enfrentamos o perigo porque
somos capazes de enfrentá-lo quando os outros não o são. — Seus olhos
azuis vívidos encontraram os de Bell uniformemente, e, ele sentiu que pela
primeira vez ela estava olhando para ele mais como um Jedi e um igual, do
que um mero aprendiz. — Para simplificar, Bell, você deve estar sempre
disposto a me perder, se for necessário para fazer o que devemos. Devo
estar disposta a perder você. Devemos estar dispostos a sacrificar a nós
mesmos e uns aos outros por um bem maior.
— Sim, mestra.
Então, para o seu espanto, ela piscou.
— Só não me sacrifique antes que seja estritamente necessário, certo?
Bell sorriu de volta para ela.
— Eu prometo.
— Tudo bem, então. Volte para aqueles manifestos. Vou relatar em
breve. — Mestra Indeera fez uma pausa, então se abaixou para coçar Ember
atrás da orelha por um momento antes de se levantar para sair.
Na doca principal, Affie Hollow olhou para a nave dos Adrens com
aprovação.
— Boa navezinha, — disse ela. — Nós podemos colocá-lo de volta em
sua melhor forma em pouco tempo.
— Boa, — Joss respondeu distraidamente. — Boa, — Ele estava
olhando para longe, e o seu tom de voz mudou de humor descontraído para
algo mais sombrio. As orelhas de Affie se levantaram. O que tinha dado
errado? Apenas alguns minutos tinham se passado desde que ambos os
Adrens inspecionaram a Embarcação com ela, conheceram Leox e Geode e
ofereceram muitas maneiras de ajudar. Naquele exato momento, Leox
provavelmente estava mexendo em seus arquivos de áudio, porque ele e os
Adrens eram fãs da mesma banda de simjo.
Então todo mundo tinha ficado amigo. Se dado bem. Até trocado
arquivos. Como isso já poderia ter mudado para Joss Adren?
— Hum. — ela começou. — Qual é o problema?
Joss soltou um longo suspiro.
— Ouça. Eu sei que não há nada para me preocupar. Não de verdade.
Mas isso não significa que eu aprecie as pessoas flertando com a minha
esposa diante dos meus olhos.
— Ah, Leox não está flertando — disse Affie. — Ele sempre acaba
abraçando todo mundo mais cedo ou mais tarde.
— Leox Gyasi não é o problema. — Joss bufou. — É aquela maldita
pedra.
Affie inclinou o corpo para o lado da nave dos Adrens para ver a
Embarcação. A escotilha estava aberta, estava Geode no topo da rampa…
sobre a qual estava Pikta Adren, com o seu cabelo encaracolado balançando
enquanto ria.
— Geode é um Vintiano. — Affie disse apressadamente — Não é como
se houvesse algo que ele pudesse fazer com um humano, mesmo se ele
quisesse, o que ele não quer. Ele namora apenas dentro da própria espécie.
O que para a maioria das pessoas eu acho meio sem imaginação. Mas você
tem que admitir, para os Vintianos, é meio inevitável.
Joss olhou por cima do ombro e suspirou.
— Acho que você está certa.
Affie sorriu para ele, aliviada por ter restaurado o seu humor, enquanto
interiormente pensava: Ah, ótimo, Geode está à espreita de novo.
Sair daqui vai ser muito trabalhoso, pensou Leox enquanto se sentava na
cabine da Embarcação, olhando para a doca. A tripulação do Farol havia
feito um excelente trabalho colocando tantas naves em tão pouco espaço,
mas seria difícil para mais de uma ou duas decolar e sair ao mesmo tempo.
Dado que todos estariam ansiosos para seguir seu caminho assim que fosse
seguro, era uma boa aposta que nem todos iriam querer esperar a sua vez
para partir.
Especialmente não macacos de bico como Koley Linn.
Eles estariam olhando para um engarrafamento tridimensional mesmo
que os Jedi não estivessem com pressa. E se estivessem...
— Leox? — A voz de Affie ecoou pela nave quando ele ouviu os seus
passos na rampa. — Onde está Geode?
— Dormindo, eu acho. — Os Vintianos mantinham horários estranhos.
Affie apareceu na porta da cabine, com os olhos arregalados.
— Ele está na cama dele... sozinho, né?
— Claro. Você sabe que ele só flerta por aí.
— Sim, mas desta vez ele está flertando com uma das mecânicas que
podem nos tirar daqui. — Affie se sentou ao lado de Leox, balançando a
cabeça. — Que por acaso é casada com o outro mecânico que pode nos tirar
daqui.
— Ei, o cara não pode evitar — disse Leox com um encolher de ombros.
— As damas preferem esses tipos fortes e silenciosos.
Isso lhe rendeu uma carranca de Affie.
— Ele pode evitar mais do que evita e, desta vez, é melhor ele fazer isso.
— Tudo bem, tudo bem, tudo bem. Vou falar com ele quando ele se
levantar. — Leox não pôde deixar de pensar em mais tipos predatórios a
bordo. — Koley Linn não lhe deu nenhum problema, não é?
— Não, exceto por existir. — Affie se serviu de um dos palitos de
hortelã de Leox. Ela ainda achava que o maior problema deles era Geode
não saber quando desligar o charme.
Leox esperava que ela estivesse certa.
Um baque no alto fez Chancey olhar pra cima. Nan se encolheu no beliche,
sussurrando.
— O que é isso?
— Algo está acontecendo lá em cima, — respondeu Chancey. Ela olhou
para os droides sentinelas, apenas visíveis de sua cela; eles ficaram parados
no lugar, vibrando levemente, sem reagir.
Isso é um misturador trabalhando, ela pensou. Algo sério estava prestes
a acontecer, e parecia que elas estavam no centro disso.
Outro baque fez as duas mulheres ficarem de pé. Faíscas se espalharam
ao redor de um dos painéis do teto, e então ele se soltou para revelar três
seres olhando para ela.
— Toda glória ao Olho — disse o Pau'ano.
Os Nihil? Que droga? Isso não fazia nenhum sentido para Chancey.
Mas Nan já havia se levantado de um salto, com o alívio inundando seu
rosto.
— Toda glória ao Olho — ela retornou. — Como vocês… alguém os
mandou…
— Nós conhecemos Hague. — disse a fêmea humana. — Por ele,
viemos para ajudá-la.
O Pau'ano acrescentou.
— Em troca, vocês nos ajudarão. — Não era um pedido.
Chancey queria saber muito mais sobre com o que elas estariam
ajudando e por que, mas também sabia que não era hora de ser teimosa.
— Já fiz negócios piores — disse ela, movendo um dos beliches sob o
painel aberto do teto, do melhor modo para eles alcançarem. — Vamos nos
mexer.
N a torre médica, a situação era... bem, não era serena, mas o mais
próximo disso que qualquer parte do Farol Luz Estelar podia chegar no
momento. Quando Bell Zettifar começou a ajudar o pessoal da torre a se
preparar para um influxo de pacientes, pensou que eles estariam lutando
para manter o ritmo em pouco tempo.
Mas subestimou a equipe médica, os pacientes, os droides, a Força, até a
si mesmo. Eles tiveram que puxar algumas camas extras, mas as
enfermarias permaneceram em ordem. Todos os pacientes estavam sendo
atendidos, e eles tinham (poucos) droides médicos e suprimentos suficientes
para circular.
— Você acredita nisso? — Bell perguntou a Burryaga. — Nós realmente
conseguimos.
Burryaga apontou que a recompensa por restaurar a ordem na torre
médica provavelmente seria ser designados para restaurar a ordem na doca
principal.
— Então nós vamos gerenciar isso também. — Pela primeira vez em
dias, Bell se sentiu quase ele mesmo. A estranha distorção da Força mal o
tinha tocado, e ousava esperar que talvez estivesse terminando,
desaparecendo tão misteriosamente quanto havia começado.
Um droide médico no corredor ganiu em desânimo ao som de passos
correndo em direção a sua ala. Bell e Burryaga trocaram olhares: outro
paciente? Cada um deles sabia que nenhuma outra nave deveria atracar no
Farol Luz Estelar tão cedo, antes de sair para ajudar. Só esperava que não
houvesse outro ataque Nihil; o número já estava começando a deixá-lo com
medo de que não fossem apenas alguns últimos remanescentes, mas talvez
um sinal de que os Nihil estavam mais vivos do que a República e os Jedi
esperavam.
Ao entrar no corredor, Bell viu que Orla Jareni caminhava ao lado de
uma maca flutuante, na qual jazia uma Tholothiana...
Não, pensou Bell naquele primeiro momento de horror. Não pode ser, eu
sentiria, como não poderia sentir?
A sua Mestra, Indeera Stokes, estava deitada na maca cinza como a
morte.
Outro dos Mestres de Bell tinha sido cortado, e a Força não lhe dissera
nada.
A equipe Nihil, agora com recém cinco seres fortes, tinha feito o seu
caminho para a base da estação, para a própria parede da fundação da
estrutura.
— O que está guardado aqui? — disse a humana mais jovem que eles
resgataram, a garota chamada Nan. — Ou é sólido?
— Isso, — disse Leyel, dando um tapinha satisfeito na parede de metal,
— abriga o núcleo do reator que alimenta toda a estação.
A humana mais velha, Chancey, assentiu.
— Desligue isto e eles estarão implorando por ajuda em poucas horas.
Além disso, nossa nave de resgate poderá voar em segurança quando vocês
quiserem nos tirar daqui.
Werrera, Cale e Leyel trocaram olhares rápidos. Este não era o plano,
mas não havia necessidade de dizer isso às recém-chegadas ainda. Também
parecia que Chancey sabia um pouco mais sobre engenharia do que deixara
transparecer, mas eles poderiam garantir que não atrapalhasse o plano do
Olho.
— Desativamos os alarmes que detectam atividade ao longo da parede
central. — disse Cale apenas. — Então eles não devem detectar nada. —
Leyel e Werrera já estavam desembalando seus maçaricos de plasma.
Chancey se abaixou para abrir um poço de manutenção próximo; com
certeza, eles tinham mais tochas de plasma aqui apenas esperando para
reparos ordenados quando necessário. Essas tochas não eram tão fortes
quanto as que os Nihil trouxeram, mas ajudariam a fazer o trabalho. Assim
que as duas mulheres que eles libertaram estavam com as tochas na mão,
Cale se virou para olhar para a parede que estavam prestes a destruir.
— Comece.
Era quase “tarde” a bordo da estação. Bell Zettifar estava atrasado para
pegar sua ração para o jantar, mas se recusou a sair do lado de sua Mestra.
Até Ember havia se acomodado embaixo da cama médica e se enrolado em
uma bola para dormir.
Mestra Indeera permanecia inconsciente. Os seus espasmos assustadores
haviam cessado, mas Bell não sabia se isso era um bom sinal ou um terrível
sinal. Os droides médicos haviam relatado que todas as suas funções vitais
haviam diminuído tremendamente, como poderia acontecer em alguém de
idade muito avançada, mas continuavam a fluir. Enquanto havia vida, havia
esperança. No entanto, Bell se sentia mais longe dessa esperança do que há
muito tempo.
Um grunhido suave o fez olhar para cima. Burryaga estava ali,
segurando não um, mas dois pacotes de rações para o jantar.
Pela primeira vez desde que Mestra Indeera fora trazida, Bell foi capaz
de sorrir, mais ou menos.
— Obrigado. Eu agradeço.
Burryaga entregou-lhe o menor dos dois pacotes (as rações Wookiee
eram, compreensivelmente, mais amplas), e juntos tomaram lugar em uma
pequena mesa próxima silenciosamente. A comida tinha tão pouco sabor
que Bell pensou que poderia estar mastigando folhas.
Não, esqueça isso, ele percebeu. Algumas folhas são saborosas. As
rações de emergência não.
Foi Burryaga quem quebrou o silêncio, perguntando gentilmente por
Mestra Indeera, embora certamente a sua condição fosse óbvia.
— Nada mudou — disse Bell. — Eu gostaria de poder alcançá-la através
da Força, mas não consigo.
Burryaga grunhiu uma sugestão: e se eles trabalhassem juntos? Se
ambos se conectassem, talvez se mostrassem mais fortes do que quem ou o
que estivesse abafando a Força a bordo do Farol.
Bell não tinha certeza. A Força não operava de acordo com princípios
matemáticos. Dois Jedi trabalhando em combinação podem ter um efeito
maior ou não. Ainda assim, não faria mal tentar.
Depois de terminar as suas rações, eles voltaram para a cabeceira da
Mestra Indeera. Bell estava de frente para Burryaga, e algo naquele
momento o fez perceber que a amizade deles havia se aprofundado nos
últimos dias; e ele precisava de um amigo mais do que imaginava.
— Obrigado por estar aqui. — disse ele calmamente.
Burryaga simplesmente inclinou a cabeça, então fechou os olhos,
silenciosamente convocando Bell para começar.
Bell fechou os olhos também. Respirou fundo, depois de novo, e
começou a estender os seus sentimentos. Uma lembrança da creche passou
por sua mente: Mestre Yoda ensinando os jovens como fazer isso pela
primeira vez, sussurrando para eles, Deixe-se ir. Ainda hoje, ajudava a Bell
imaginar como Yoda soou quando disse isso.
Pelo menos, geralmente acontecia.
Hoje foi diferente.
Bell se conectou e não encontrou a Força. Ele ainda podia senti-la, mas a
uma grande distância, e ela não fluía através dele. Estava… distorcida.
Perturbada. Errada.
Não conseguia se conectar com a Mestra Indeera, mesmo
subconscientemente. Bell mal conseguia detectar a presença de Burryaga, e
isso foi com Burry a menos de um metro de distância e ativamente se
estendendo para ele também.
Os olhos de Bell se abriram para ver Burryaga parecendo igualmente
aflito. Ele sussurrou:
— Está tudo errado para você também?
Burryaga assentiu.
— Isso não pode continuar assim. — Bell deixou escapar. — O que quer
que esteja acontecendo nesta estação, não pode durar para sempre. A Força
é eterna. Nada pode danificá-la permanentemente. Nada jamais poderia.
Com um grunhido, Burryaga concordou que esta situação não poderia
durar para sempre. Mais cedo ou mais tarde, tudo mudaria.
A questão era como.
E nquanto uma aprendiz, Orla Jareni certa vez viajou em missão
para um mundo que era conhecido por suas esculturas lindamente
realistas. Os seus artistas criavam formas tão realistas em sua famosa pedra
nativa cinza iridescente que pareciam ter suavidade, textura e até espírito.
Pensava naquelas estátuas enquanto olhava para a casca que tinha sido
Regald Coll.
As suas feições haviam sido tão bem preservadas que ele poderia ter
sido uma daquelas estátuas: cinza como uma pedra, delicada como qualquer
obra de arte. Mas a ilusão de vitalidade que aqueles escultores criaram
estava totalmente ausente. Apenas algumas horas antes, Regald estava
brincando, rindo, totalmente vivo. Neste momento, olhando para a casca
deixada para trás, parecia impossível imaginar algo mais sem vida.
O droide logístico de Stellan teve um prazer indevido em ativar o
protocolo de cápsula de materiais perigosos de uma câmara. O ar tinha
cheiro de esterilidade; o chiado fraco dos filtros atmosféricos vinha de todas
as direções. Droides de análise sofisticados zumbiam ao redor da mesa onde
estava a casca de Regald, fazendo leituras, mas Orla tinha certeza de que o
mistério do que havia acontecido ali não seria resolvido por meros dados.
As portas se abriram e Elzar Mann entrou, mais sério do que ela jamais
o vira.
— Esta não é a primeira vez, você sabe. — disse ele quando veio para o
lado dela. — Loden Greatstorm foi encontrado assim, embora a sua... casca,
como você quiser chamar, tenha virado cinzas ao primeiro toque.
— Esse tem mais substância — disse Orla. Ele tinha sido transportado
para a cápsula de materiais perigosos sem dificuldade. — Mas você tem
certeza de que é a mesma coisa?
Elzar assentiu.
— A questão permanece, o que diabos é isso? O que tem o poder de
fazer algo assim?
Orla vinha se perguntando isso. Apesar de não ter encontrado respostas
definitivas, chegou à próxima pergunta, ainda mais sinistra.
— A perturbação na Força. Você acredita que é a causa da morte de
Regald?
— Você saberia mais do que eu. — disse Elzar. — Até agora… bem, não
me afetou muito.
— É claro. — Orla não podia acreditar que não tinha percebido isso por
si mesma; então, novamente, nem ela nem os outros Jedi eram exatamente
eles mesmos, no momento. — Você não está invocando a Força da mesma
maneira que antes. Isso o protegeu, até certo ponto, protegeu você. Elzar
Mann, você pode ser nossa única esperança.
Elzar lhe lançou um olhar que parecia dizer "Qualquer coisa menos
isso". Ele não confiava totalmente em si mesmo novamente, então. Não
importa. Orla estava confiante de que Elzar enfrentaria quaisquer desafios
que eles enfrentassem.
Se ao menos pudesse se sentir tão segura de si mesma.
Orla tinha um forte domínio sobre seu medo; ele não a incomodava
muito desde os seus primeiros dias como Padawan, independentemente do
perigo em que se encontrara ao longo dos anos. No entanto, uma onda dele
a varreu enquanto pensava "Precisamos sair desta estação. Precisamos sair
daqui agora. Abram as portas da doca e embarquem nas naves junto com
seus pilotos. Os Nihil ainda podem estar lá fora, mas é melhor
enfrentarmos os Nihil do que... o que quer que seja. Pelo menos com os
Nihil, sabemos como lutar…
Respirou fundo, recuperando o controle. A sua expressão não vacilou
nem por um instante.
— Precisamos procurar novamente.
Elzar não parecia entusiasmado.
— A última busca acabou com Regald morto.
— Se não descobrirmos o que está fazendo isso e pararmos. —
respondeu Orla, — ele não será o último a morrer.
Quando Nan era muito pequena, quando os seus pais ainda estavam vivos,
eles compartilhavam um dos rituais de união da maioria das famílias que
viajam pelo espaço. Entre as suas poucas lembranças, estava a de estar
sentada no colo de seu pai enquanto ele lhe mostrava como reconectar um
conduíte básico, e a maneira como a sua mãe pairava por perto na primeira
vez em que Nan pegou um T-7 nas mãos. Aprender a consertar e modificar
a sua nave, a sua casa, era um rito de passagem para qualquer criança que
passasse a maior parte de sua vida entre as estrelas.
Quem poderia imaginar, pensou Nan enquanto trabalhava com a
maçarico de plasma, com faíscas voando ao seu redor, que eu acabaria
usando as minhas habilidades pra isso?
— Quase lá — disse Leyel. — Afaste-se e deixe-me terminar.
Nan, Chancey e os outros membros da equipe Nihil fizeram o que Leyel
pediu, permitindo que a mulher mais velha completasse o último corte.
Então Werrera, o Ithoriano, aplicou um grampo magnético e puxou a grande
placa de metal que eles cortaram do invólucro do núcleo. Painéis e peças
internas zumbiam e brilhavam com sinais destinados apenas aos
trabalhadores da manutenção. De onde estava, Nan não podia vislumbrar
mais do que isso, mas ela sabia que se eles olhassem para cima naquela
escuridão oca, eles teriam uma visão de toda a estação.
Cale, o Pau'ano, assentiu com satisfação.
— Quase na hora certa. Temos menos de uma hora para esperar.
— Se ao menos o Olho pudesse saber o quão bem isso foi. — disse
Leyel.
— Será óbvio pelos resultados. — O orgulho emanava de Cale; de toda
a equipe Nihil, na verdade.
Mas Chancey lançou um olhar para Nan, que entendeu
instantaneamente. Ele significava "Por que o Olho não saberia disso? Não
vão contar a ele como foi? É o grande plano dele, afinal."
Nan só conseguia pensar em uma razão pela qual a equipe não contaria a
Marchion Ro sobre isso: eles nunca teriam a chance.
Werrera tirou a mochila que estava usando o tempo todo e a deixou cair
no chão com um baque pesado. Quando foi aberta, Nan viu o que havia
dentro. O seu estômago apertou, e seu corpo ficou frio quando ela percebeu:
eram explosivos.
Na torre médica, o solavanco fez com que Bell se esparramasse; ele mal
conseguiu se apoiar na lateral da cama de Mestra Indeera.
— O que é que foi isso? — gritou um dos pacientes, ecoado pelo
gemido alarmado de Burryaga. Ember rastejou para o lado dele, com o rabo
entre as pernas.
— Eles vão nos dizer — disse Bell, tão tranquilizador quanto ele
conseguiu. — Provavelmente haverá um anúncio muito em breve. Em
poucos segundos.
Assim que ele falou, as luzes piscaram, deixando a enfermaria em uma
escuridão quase total.
Koley Linn bateu de lado em sua nave com tanta força que foi como se ela
o tivesse atingido. Conseguiu ficar de pé, no entanto, o que era mais do que
poderia ser dito da maioria das pessoas na doca. Gritos de consternação e
alarme se ergueram de todos os lados.
Preciso sair daqui o mais rápido possível, pensou ele, e estou preso
nessa maldita coisa.
Nan tossiu, rastejando pelo chão para longe da fumaça espessa. Chancey
estava ao lado dela, e parecia que o resto da equipe Nihil estava bem atrás
dela. Todos eles sobreviveram, então. Mas Nan não tinha certeza do quanto
isso lhes fazia bem.
O núcleo da estação havia sido maciça e permanentemente
comprometido. Nan podia sentir a instabilidade, a mudança sutil que
tornava o chão instável sob os seus pés. Já tinha andado em muitas naves
remendadas para não saber quando uma estrutura estava prestes a
desmoronar. O Farol Luz Estelar estava em perigo disso agora.
A teia de reforço da gravidade que unia a estação e orientava todos a
bordo com uma sensação de “para cima” e “para baixo” estava vacilando.
Nan percebeu que o verdadeiro “baixo” estava caindo alguns graus. A
estrutura invisível e tensa que mantinha a estação unida começava a ficar
frouxa.
Assim que chegaram a um corredor menos enfumaçado, todos se
levantaram. Enquanto Nan limpava a fuligem do rosto e das mãos, esperava
ouvir o medo e o arrependimento da equipe Nihil. Eles tinham usado
explosivos demais, com certeza. Ou detonado no local errado.
Mas não. Eles estavam sorrindo. Eles estavam contentes.
Chancey não pareceu nem um pouco surpresa.
— Digam que vocês têm um jeito de sair desta estação.
Cale balançou a cabeça.
— Se pudéssemos escapar, outros também poderiam. Isso iria arruinar o
plano do Olho.
— Não precisamos de mais nada. — acrescentou Leyel. — Concluímos
o trabalho dele. A galáxia verá isso e finalmente entenderá o poder dos
Nihil.
Nan já havia se perguntado antes, mas finalmente entendeu: aquela era
uma missão suicida.
A estação ia ser destruída e Nan morreria com ela, assim como todos os
outros a bordo do Farol Luz Estelar.
bordo da Olhar Elétrico, a notícia veio como um simples
A toque de comunicação, um que poderia significar nada mais do que uma
distante Nuvem fazendo contato. Mas esta era a hora que Marchion Ro
tinha decretado, e, ao que parece, a sua equipe tinha atendido às suas
expectativas.
Levantou-se da cadeira do capitão, o que significou desalojar Ghirra
Starros de seu colo. Rindo, ela disse:
— Não há ninguém a bordo da sua nave? Você precisa de alguém por
perto para cuidar de coisas assim para você. Achei que era para isso que
aquela Ferr servia.
Marchion não abordou a questão de quem mais estava a bordo de sua
nave. Starros entenderia com o tempo e ele lidaria com a reação dela, ou
não, mais tarde. Ouvir esta comunicação era muito mais urgente.
Assim que ele alcançou o console, Thaya Ferr entrou correndo. Starros
deu um pequeno bufo de irritação. Ro não prestou atenção em nenhuma
delas.
Ele mesmo apertou o interruptor. Todas as telas a bordo se iluminam
com a comunicação de texto simples e automatizada: Uma explosão
danificou o núcleo da estação Farol Luz Estelar. Todos os sistemas
respondem conforme previsto.
— Nós fizemos isso, então. — Starros, com grande e óbvio esforço,
parecia alegre. — Você conseguiu. Enquanto Lourna Dee e todos os outros
Executores da Tempestade estão perseguindo as suas próprias preocupações
egoístas, correndo atrás da glória, você atingiu o coração do inimigo.
— E tirei sangue. — disse Ro, antes de se virar para Thaya Ferr. —
Continue monitorando esse canal.
Ghirra Starros interrompeu.
— Vai ter mais? — O seu rosto parecia pálido.
— Muito mais — disse Ro. Ela não compreendia completamente o que
tinha feito? Só um tolo não compreenderia. Mas Starros era, sem dúvida,
como a maioria dos seres: capaz de uma negação considerável quando se
tratava do mal que poderia fazer. Ele nunca precisara de tal auto engano.
Deixe-a encarar a verdade do que tinha forjado. — Veja, nós poderíamos ter
detonado o tipo de dispositivo que destruiria o Farol instantaneamente.
Colocá-lo a bordo teria sido mais difícil… mas, com nossas informações,
não seria impossível. No entanto, isso teria arruinado o propósito. A galáxia
inteira deve ver isso. Eles devem ver isso acontecer. Eles devem conhecer o
verdadeiro poder dos Nihil.
— Não estamos em grande forma, mas podemos voar para fora daqui,
vamos até Eiram. — disse Leox Gyasi enquanto ele e Affie começavam a
passar pelas verificações pré voo. Geode já estava sentado na navegação,
firme apesar do caos. — Pode ser um caroço de planeta no meio do nada,
mas tem ar respirável. O Farol Luz Estelar pode não ser capaz de dizer o
mesmo em pouco tempo.
Affie parecia aflita.
— Circulação de ar... é claro, isso também é alimentado. Quanto tempo
você acha que eles podem aguentar?
— Depende do dano, alguns dias, talvez? — Leox sabia que a ideia de
deixar para trás pessoas em perigo deixaria Affie ainda mais chateada, então
acrescentou. — A melhor coisa que podemos fazer por eles é ir embora.
Quanto mais pessoas saírem daqui, mais ar respirável sobra para os que
ainda estão na estação.
Da cabine, viu um astromecânico aparecer; segundos depois, o local de
decolagem e as coordenadas apareceram nos controles. Affie respirou
aliviada.
— Estamos na primeira onda.
— Viu? A sorte da estação pode ter acabado, mas a nossa ainda está
aguentando. — Leox ligou os motores; a Embarcação zumbiu para a vida.
No console começou a contagem regressiva para a janela de decolagem.
As suas mãos estavam tensas nos controles, prontas para levá-los a voar
no instante em que as portas da doca se abrissem. Aquelas portas, para
mantê-los seguros em caso de hostilidades ou desastres, agora eram apenas
as barras em sua jaula. Leox não ficaria triste em ver a última delas. Ele
contou os últimos momentos silenciosamente em sua cabeça: três, dois, um.
As portas não abriram.
Talvez os droides não estivessem em perfeita sincronia: o que não
surpreende, dada a situação caótica. Mas com o passar dos segundos, o
estômago de Leox começou a apertar e as portas do compartimento
permaneceram fechadas.
— Elas deveriam abrir. — disse Affie. — Os problemas com a fonte de
energia não deveriam importar. As portas do compartimento do Farol Luz
Estelar têm suas próprias fontes de energia de emergência independentes, a
Orla me disse isso. Elas devem funcionar, não importa o motivo!
— Elas deveriam, — Leox concordou. — Mas, aparentemente, não
estão.
Geode ficou muito quieto. Affie sussurrou:
— Você quer dizer que estamos presos aqui?
Leox desejou poder deixar mais fácil para ela, mas não gostava de
mentir.
— Estamos presos.
Leox Gyasi estava em uma das poucas janelas da doca, um pequeno espaço
retangular bem ao nível de seus olhos. Olhava através do visor do
dispositivo de madeira e metal que segurava nas mãos, ajustando
cuidadosamente os pequenos espelhos em sua moldura.
— O que é essa coisa? — Affie perguntou. Ela parou ao lado de seu
ombro, principalmente por falta de mais alguma coisa para fazer.
— É um sextante astrométrico.
— Parece algo saído de um museu.
— É mais provável que você encontre um em um museu do que na
maioria das espaçonaves hoje em dia — concordou Leox. — Eu, às vezes,
prefiro fazer as coisas à moda antiga. Principalmente para se conectar com
os ancestrais, para entender como eles encontraram o seu caminho em uma
vasta e caótica galáxia, mas nas raras ocasiões em que todas as nossas
maravilhas tecnológicas atuais falham, como de fato aconteceu hoje,
ferramentas antigas podem ser muito úteis.
Esperava que isso pudesse distrair Affie por um tempo, fazer com que
ela começasse algumas de suas provocações sobre as suas “antiguidades”.
Em vez disso, ela disse:
— Mas o que exatamente você está fazendo à moda antiga?
Deveria saber que a Pequenina não me deixaria tão facilmente, Leox
pensou.
— Estou medindo as distâncias relativas entre as estrelas e o horizonte
de Eiram.
— A única razão para fazer isso seria se você achasse que nossa
localização está mudando. Mudando em relação a Eiram.
— Você entendeu de primeira.
— Mas o que isso importa? — Affie perguntou. — A explosão só
poderia ter derrubado o Farol por tanto, e não poderíamos estar nos
movendo muito rápido apenas com a força dela.
Leox verificou novamente a sua quarta leitura dos últimos dez minutos,
aceitou a verdade e baixou o sextante para poder olhá-la nos olhos.
— Outras forças estão entrando em jogo, especificamente, a gravidade
de Eiram.
Era horrível ver a percepção se instalando, o pavor no rosto jovem dela.
— Você quer dizer que a estação está caindo.
— Temos um longo caminho a percorrer ainda — disse Leox
rapidamente. — E tenho certeza de que eles estão colocando o Farol sob
controle enquanto falamos.
— Claro que eles estão. Claro. — Affie passou a mão pelo cabelo
castanho-escuro, o que era uma maneira de se acalmar. — Mas... você
descobriu quanto tempo temos?
— Ainda não. — O que era verdade, embora ele já percebesse que eles
estavam falando de horas, não dias... e não muitas horas também. — Veja.
A República tem as melhores pessoas, os melhores equipamentos. Sem
dúvida, eles já estão pedindo ajuda do outro lado da galáxia. A qualquer
minuto, algumas Proas longas vão aparecer e nos tirar do caminho do
perigo. Droga, nós podemos pegar um reboque do hiperespaço para nós
mesmos.
Affie deu um meio sorriso.
— Isso seria legal.
Leox deu um tapinha no ombro dela, mas estava olhando além dela para
o resto da doca. As pessoas estavam, em sua maioria, trabalhando em suas
naves (o bastante para lançar quando as portas da baía finalmente pudessem
ser abertas) ou amontoadas em grupos, conversando, matando o tempo.
Leox não era o único que esperava que a República cuidasse da situação em
breve.
Só esperava que a situação fosse resolvida antes que mais pessoas
descobrissem o perigo, porque a única coisa que poderia piorar essa
situação seria o pânico.
Na torre médica, Bell sentiu como se a ordem tivesse sido restaurada... mais
ou menos.
Mais, no sentido que as pessoas se acalmaram, tudo e todos foram
colocados de volta no lugar, e nenhuma outra explosão ou distúrbio parecia
estar por vir. Menos, pois ainda tinham apenas luz de emergência para
passar, as comunicações permaneciam inativas e continuavam cortadas do
resto da estação, tanto superior quanto inferior.
— Fizemos tudo o que podíamos fazer. — disse Bell a Burryaga
enquanto caminhavam lentamente pela enfermaria. Ember trotava ao lado
dele, abanando o rabo; no que lhe dizia respeito, tudo estava bem. Bell
desejou poder ser tranquilizado com a mesma facilidade. — É loucura
desejar que ainda tivéssemos mais o que fazer? Porque pelo menos então
estaríamos ocupados?
Burryaga disse que não, porque era difícil enfrentar um problema
quando não havia como resolvê-lo. Mas, acrescentou com um grunhido
suave, que a galáxia continha muitos problemas que não podiam ser
resolvidos facilmente e, às vezes, eles precisavam ser enfrentados. Portanto,
seria sábio aprender a lidar com esses momentos.
— Eu sei — disse Bell. — Eu só gostaria que não tivéssemos que
aprender hoje.
Não foi uma grande piada, mas ambos estavam cansados, e nada era tão
bom quanto deixar a tensão quebrar. Burryaga riu; Bell riu; Burryaga deu
uma gargalhada; e então ambos estavam cobrindo a boca, tentando não
perturbar os pacientes com gargalhadas.
Os olhos de Bell estavam marejados quando eles se recompuseram.
— Então. Como estamos de suprimentos?
Os suprimentos médicos estavam escassos, mas dariam para mais um
dia ou mais, desde que não houvesse mais ferimentos, informou Burryaga.
As rações de comida, infelizmente, cobririam apenas mais uma refeição
para todos na torre.
— Não devemos precisar de mais do que isso. — Embora o fato de não
terem recebido nenhuma comunicação até agora fosse preocupante, Bell
sentia que os Mestres Stellan, Maru e o resto chegariam ao topo da situação
em breve. E a Ataraxia não tinha acabado de chegar? Isso significava que
Avar Kriss também estava lá. Bell se inclinou para coçar Ember atrás das
orelhas. — Não se preocupe, garota. Vou dividir a minha ração com você.
Burryaga disse que tinha contado Ember o tempo todo, e Bell sorriu.
—
Orla Jareni desejou violentamente ter trazido a Perseguidora da Luz com
ela nesta jornada. Mesmo que as portas da doca tivessem permanecido tão
teimosamente fechadas para a sua nave quanto para todas as outras, gostaria
de saber que estava lá esperando por ela depois que essa crise tivesse
passado.
Não que tivesse qualquer intenção de abandonar qualquer pessoa a
bordo do Farol Luz Estelar. Não, o desejo de Orla de partir tinha menos a
ver com a emergência atual do que com a crise anterior, aquela na qual
Stellan e Elzar pareciam ter perdido a cabeça após a explosão dos Nihil.
A casca fantasmagórica deixada por Regald Coll não era algo que
pudesse esquecer tão facilmente.
Nem os outros seriam capazes de ignorar por muito mais tempo,
suspeitava Orla. À medida que as consequências imediatas da explosão se
acalmavam, estava se tornando cada vez mais consciente de que a
perturbação na Força não havia desaparecido. Permanecia presente, mais
difusa, de alguma forma? Mas sentia que a fonte poderia estar ainda mais
próxima do que antes.
O que pode ser essa fonte? Orla caminhava pelo corredor do lado de
fora do escritório de Stellan Gios; o movimento às vezes a ajudava a pensar.
O que poderia ter o poder de perturbar a conexão de um Jedi com a
Força? E o que poderia ter feito aquilo com o pobre Regald? Embora
tivesse ouvido falar do destino que quase se abatera sobre Terec e Ceret, e o
grotesco fim de Loden Greatstorm, não tinha visto os resultados; e o que
aconteceu com Regald foi ainda mais horrível do que isso.
Não estava mais perto dessas respostas do que jamais estivera, mas uma
nova percepção a atingiu então, uma que a fez parar em seu caminho:
qualquer que fosse a fonte da perturbação, ela deveria ter sido trazida para o
Farol pelos Nihil.
E se os Nihil encontraram uma maneira de atacar os Jedi atacando a
própria Força, eles eram um inimigo muito mais perigoso do que qualquer
um da República jamais imaginara.
—
Chancey e Nan haviam encontrado um pequeno conjunto operacional que
permanecia funcional, mais ou menos. Não foi muito além de dizer a elas
como estavam ferradas.
— Podemos acessar as comunicações deles. — sugeriu Nan. — Ouvir se
eles têm naves de resgate vindo que os Nihil poderiam atacar. Ou pegar um
sinal dentro de um deles, avisar à Olhar Elétrico que precisamos de ajuda.
— Um, nem Marchion Ro nem qualquer outra pessoa em sua nave dá a
mínima que precisamos de ajuda. — Chancey franziu a testa para as últimas
varreduras que surgiam na pequena tela da matriz. — Dois, esses fanáticos
podem ser loucos, mas eles sabiam o que estavam fazendo quando foram
atrás das comunicações do Farol.
Nan sentiu uma vibração nauseante em seu estômago.
— Todos os sistemas de comunicação estão desligados?
— Nenhum deles caiu. No entanto, todos eles estão atualmente
transmitindo sinal em branco. — Diante da expressão confusa de Nan,
Chancey elaborou: — O sinal em branco é composto de loops de dados
copiados que dão a ilusão de que está tudo bem, nada mudou. Portanto, não
apenas o Farol não pode pedir ajuda à República, mas se a República os
verificar por qualquer motivo, as comunicações também farão parecer que
não há nenhum problema aqui. É verdade que isso não resistirá a nenhuma
tentativa direta de contato, mas atrasar a comunicação por algumas horas
torna muito menos provável que a ajuda da República chegue a esta estação
a tempo.
Por mais que Nan odiasse contar com a República para fazer alguma
coisa, ela odiava ainda mais saber que eles não viriam.
— Os bloqueadores em fontes de energia individuais significam que
nenhuma das portas do compartimento se abrirão, então mesmo que
pudéssemos roubar uma nave, não poderíamos voar para fora daqui. — Isso
deixava apenas uma opção. — Você pode descobrir a localização dos pods
de fuga da estação?
Chancey assentiu, mas hesitou.
— A equipe Nihil parecia confiante de que havia prendido todos a
bordo. Eles não diriam isso se não tivessem lidado com os pods de fuga
também.
— Eles não podem ter tido tempo de interferir em tudo nesta estação,
não importa o que digam. — insistiu Nan.
— Espero que não — disse Chancey quando começou a procurar os
pods de fuga. — Porque essa parece ser nossa última chance, e todo mundo
nesta estação está prestes a descobrir exatamente a mesma coisa.
A queles na metade inferior do Farol Luz Estelar começaram a se
reunir dentro e perto da doca principal. Oficiais da República,
trabalhadores da manutenção e até droides circulavam pelos corredores do
lado de fora da baía, compartilhando os poucos fragmentos de informação
que tinham. O clima geral permanecia calmo. Eles tinham fé na República;
eles esperavam que a ajuda chegasse em breve; este era um acidente
considerável, e a estação exigiria reparos, mas nenhum deles suspeitava que
a situação pudesse ser pior do que isso.
Orla Jareni não sabia se tinha pena deles ou os invejava. O que queria
era esclarecê-los. Mas Stellan ainda não queria ouvir falar disso.
— As pessoas têm o direito de saber — insistiu Orla. — No lugar delas,
eu gostaria da verdade.
— Não pretendo lhes negar a verdade para sempre — disse Stellan. —
Nem mesmo por muito mais tempo. Mas a situação, e alguns dos indivíduos
dentro dela, é volátil. Assim que conseguirmos estabelecer contato com a
República, assim que tivermos um plano, poderemos fazer o anúncio. Koley
Linn e outros como ele não terão chance de criar problemas se chegarmos a
eles com uma solução já em mãos.
Orla podia ver a sabedoria nisso. Mas também podia ver as falhas.
— Tudo isso se baseia na crença de que realmente podemos entrar em
contato com a República em um futuro próximo. No momento, não temos
absolutamente nenhuma prova disso.
— Tem que ser possível — Stellan insistiu. Os seus olhos estavam com
aquele brilho que às vezes tinham, aquela fé absoluta e total, que fazia Orla
entender exatamente por que o Conselho o escolhera como o exemplo
público de todos os Jedi. — Os Nihil são fortes e cruéis. Mas eles não são
necessariamente inteligentes. Eles vencem por força bruta e engano.
Alguma sabotagem tecnológica que eles fizeram? Conseguiremos
desvendá-la. Apenas temos que encontrar a corda certa para puxar.
Os Nihil foram espertos o suficiente para nos enganar uma e outra vez!
Orla quase se irritou, mas manteve a calma. Por muito pouco.
— Espero que você esteja certo, Stellan. — disse ela. — As apostas são
muito altas se você estiver errado.
Enquanto se afastava, as palavras raivosas que não havia falado ferviam
dentro dela. Você sempre precisa da aprovação do Conselho, não é,
Stellan? Você não sabe quem você é sem ele. Precisou de todo o seu
autocontrole para não voltar atrás, confrontar Stellan, atacá-lo para discutir
o assunto ainda mais, com mais veemência, até que...
Eu não sou eu mesma, percebeu.
O seu temperamento havia sido o seu companheiro mais difícil, mas
possuía mais autocontrole do que isso, ou pelo menos quando estava em
comunhão com a Força.
Mas a sua conexão com a Força estava novamente perturbada. Assim
como a de Stellan, apostaria. O que quer que tenha dado errado antes não
tinha ido embora convenientemente quando esta crise começou. Em vez
disso, tinha ficado à espreita, destruindo todos os Jedi a bordo.
Temos que fazer alguma coisa, pensou Orla. Não. Eu tenho que fazer
alguma coisa.
—
Do canto do olho, Elzar Mann viu uma vibração branca. Imediatamente
deixou o seu posto, onde estava conectando ainda mais astromecânicos na
esperança de ganhar maior poder computacional, e correu atrás dela.
— Orla? Onde você está indo?
Ela parou ao ouvir o som de seu nome.
— Estou em apuros por desafiar os decretos de Stellan Gios?
Elzar deu-lhe um olhar.
— Eu seria a última pessoa na galáxia a lhe causar um problema por
quebrar as regras. Mas não devemos nos desviar. Os níveis de radiação da
base da estação estão aumentando, haverá ainda mais instabilidade em
breve.
— Sei disso — disse Orla, mesmo balançando a cabeça negativamente.
— Mas essa perturbação na Força ainda está lá fora, Elzar. Está ficando
mais forte. Você realmente não sente isso?
Ele teve que admitir.
— Eu me afastei da Força ainda mais do que antes. O que eu sei que é
exatamente o oposto do que um Jedi deveria fazer...
— Não aqui. — disse Orla. — Não hoje. Confie em seus instintos, Elzar.
Eles estão guiando você na direção certa.
Pela primeira vez, pensou Elzar, mas permaneceu calado.
Orla continuou.
— Eu não sou eu mesma. Stellan está melhor, pelo menos, do que
estava, mas ainda não está operando na capacidade máxima, não concorda?
Provavelmente todos os outros Jedi a bordo do Farol estão sofrendo a
influência maligna de… do que quer que seja. — Orla suspirou
pesadamente. — Devemos parar isso. Para detê-lo, devemos identificá-lo.
Para identificá-lo, primeiro temos que encontrar a maldita coisa. Que é o
que estou prestes a fazer.
Elzar agarrou o seu braço, sem vontade de soltá-la.
— Mas, o que aconteceu com Regald, e até mesmo com a Indeera, todos
nós concordamos, ninguém mais deveria prosseguir com isso até que
tenhamos mais apoio e a crise termine...
— Reconheço os riscos — disse Orla. — Vamos precisar de toda a nossa
força para passar por esta crise, e o que quer que seja essa coisa, minou essa
força. Não podemos salvar a estação sem assumir isso. — Com a sombra de
um sorriso, ela acrescentou — Não se preocupe. Posso ser
surpreendentemente cuidadosa, quando quero ser.
Queria detê-la, mas ela estava certa.
— Se você não voltar dentro de uma hora, eu vou atrás de você.
— Eu não esperaria menos. — Com isso, Orla lhe deu um sorriso
surpreendentemente fácil. — Cuidado com o seu temperamento até que eu
volte para cuidar de você. — Então Elzar só pôde vê-la partir.
— Oh, céus. — o droide LT-16 chiou, ainda quase vibrando com o poder
emprestado. — Oh, céus, oh, céus, digitalizações chegando.
— Finalmente! — Bell conectou o droide à tela mais próxima; Burryaga
se inclinou sobre o ombro dele para olhar também. A onda de excitação que
cada um sentiu diminuiu, no entanto, quando os exames começaram a se
desenrolar.
O que eles estavam vendo era quase irreconhecível como Farol Luz
Estelar. O meio da estação tinha se tornado nada mais do que um borrão
brilhante. Normalmente, as varreduras mostrariam o Farol iluminado com
energia em todas as paredes, em todos os níveis, mas, em vez disso, grandes
seções da estação estavam completamente escuras. A torre médica não era a
única área que funcionava apenas sob luzes de emergência. O pior de tudo,
aos olhos de Bell, era a escuridão ao redor das docas. Sem elas, seria
impossível evacuar os pacientes, muito menos sair sozinhos.
— Leituras de trajetória chegando — disse LT-16. — Oh, céus.
Preciso desengatar essa coisa da energia extra logo, pensou Bell. O LT-
16 já era, por enquanto, a sua única conexão com qualquer coisa fora desta
torre; ele não queria fritar os seus circuitos.
— O que você quer dizer com trajetória?
O droide respondeu trazendo um esquema na tela, que mostrava o Farol
Luz Estelar, Eiram e algumas setas extremamente desencorajadoras. Não
era nada que os propulsores posicionais da estação não pudessem consertar,
mas nas varreduras anteriores, esses propulsores estavam escuros e
impotentes. Quando o significado completo do esquema afundou, Bell
olhou para Burryaga para ver, em seu rosto, tanto desânimo quanto Bell
sentiu em si mesmo.
De acordo com o esquema, o Farol entraria na atmosfera do planeta
dentro de três horas.
Bell se obrigou a permanecer calmo.
— Diga ao cruzador médico que estamos analisando os novos dados e
entraremos em contato com eles em breve.
— Mensagem entregue — disse LT-16, ainda tremendo.
Lenta e deliberadamente, Bell desligou o droide da energia amplificada.
Ele ficou quieto com um longo assobio que só poderia ser interpretado
como alívio.
— E agora? — Bell disse a Burryaga. — O que podemos fazer que seja
remotamente construtivo?
Burryaga trouxe o esquema de volta à tela. Ele iria mostrar alguma coisa
a Bell, ou ele estava procurando por algum tipo de resposta? Não
importava, porque quando Bell estudou dessa vez, viu uma oportunidade.
Rapidamente apontou para o contorno de um poço de manutenção
próximo.
— Isso normalmente seria desligado em caso de emergência, mas está
aberto. — O que significa...
Burryaga rosnou em triunfo. Eles finalmente tinham uma maneira de
chegar ao resto da estação; e se isso não era uma solução, era pelo menos
um ponto de partida.
Elzar Mann teria ficado muito surpreso ao saber que os seus avisos a Orla
tinham sido, em parte, atendidos.
Por mais que Orla gostasse de pensar em si mesma como uma exceção à
maioria das regras, não havia razão para acreditar que ela estaria mais
consciente do perigo, ou mais capaz de se defender dele, do que Regald
Coll e Indeera Stokes. Sim, algo tinha que ser feito, mas isso não
necessariamente envolvia confronto.
Em vez disso, ela decidiu simplesmente selar a área.
Devíamos ter feito isso desde o início, Orla pensou. Parecia tão óbvio
pra ela agora, mas deveria ter sido óbvio para todos eles, imediatamente.
Essa era mais uma prova de que o que quer que estivesse a bordo desta
estação estava afetando seu julgamento; o medo nublava os pensamentos
tão efetivamente quanto qualquer truque mental Jedi, se não mais.
E selar a área provavelmente conteria o que estava causando o
problema… mas não acabaria com esses efeitos. A perturbação na Força
permaneceria.
Ainda. Tomar essa ação poderia não resolver tudo, mas a inação não
resolveria nada. Uma vez que a área fosse selada, a fonte dessa interrupção
na Força não poderia chegar mais perto; pelo menos isso representava
algum tipo de limite.
E uma vez preso, pensou Orla, ainda sem saber o que aquilo poderia ser,
as nossas opções para lidar com ele aumentam.
Quando se aproximou do local onde Regald havia caído, muito perto do
compartimento de carga, o ar ficou gelado. Os controles climáticos nesse
nível pareciam estar falhando. Logo Orla pôde ver a sua respiração, visível
como leves baforadas cinzentas. Por mais mundana que essa visão fosse,
sempre a fazia sorrir; isso a lembrava de um dia distante, quando Yoda
levou o seu grupo de Younglings ao telhado do templo para brincar em uma
das raras nevascas do planeta.
Orla cambaleou para o lado e ele a pegou com sua bengala...
Foi isso que aconteceu. Lembrava-se bem. Mas em sua mente, as
imagens haviam mudado. A sua memória não era mais sua.
Cambaleando para o lado, tropeçando na lateral, gritando ao cair,
depois caindo para todo o sempre pelo labirinto dourado dos edifícios de
Coruscant, inexoravelmente em direção à morte...
Pare com isso, Orla disse a si mesma. Não fazia sentido imaginar como
aquele dia poderia ter sido se Yoda não tivesse sido cuidadoso.
Como sempre, quando era perturbada pelo pensamento mórbido perdido,
Orla convocou a Força para ampará-la e guiá-la. Isso ainda funcionava...
mais ou menos.
Os seus passos a levaram a um longo corredor marcado apenas por
algumas caixas de armazenamento aleatórias, algumas baixas, outras altas.
Orla olhou para longe, para uma pilha mais alta de lixeiras muitos metros à
frente.
Acima da pilha haviam baforadas branco acinzentadas, altas demais para
representar a respiração de qualquer humanoide. Isso era outra coisa.
Não significa que seja a causa do problema, ela disse a si mesma. Pode
ser apenas um Trandoshano perdido, ou algo assim.
Ainda assim, o terror a atravessou, ameaçando prendê-la.
Orla se forçou a começar a andar para frente, mas cada passo se tornava
mais difícil do que o anterior, como se estivesse tentando caminhar pela
água gelada que subia até as panturrilhas, depois as coxas e depois o peito.
Em vez da leveza que vinha de estar na água, porém, sentia-se infinitamente
mais pesada.
Como nas ondas que ordenou que Elzar enfrentasse em Ledalau, mas
pior, mais escura, mais alta, mais forte, ameaçando jogá-la de lado e
esmagá-la nas rochas mais próximas...
Ele sabe que estou chegando, pensou ela.
E então, sem saber de onde veio o conhecimento: está com fome.
Não de sua carne, Orla sabia. De algo muito pior.
Tentou alcançar os seus sentimentos, mas era impossível. Não conseguia
se lembrar como, não conseguia recuperar o foco, não conseguia pensar em
nada. Os seus olhos permaneciam fixos no outro extremo do corredor, e viu
movimento, mas sem forma.
Ou melhor, com mil formas ao mesmo tempo, contorcendo-se e
desaparecendo e reaparecendo e se aproximando cada vez mais, e ela não
conseguia nem correr.
Está derretendo, ela pensou enquanto as formas caíam ao seu redor,
caindo e caindo e caindo sem fim. A estação está derretendo. Ou a galáxia.
Ou ou…
Nada mais fazia sentido pra ela. Sentia isso mais do que sabia; Orla
havia passado do ponto em que nada em seu cérebro ainda podia ser
considerado pensamento. Em vez disso, ela estava à mercê das torções e
reviravoltas alucinógenas que a haviam engolido inteira.
A mente de Orla não era mais sua. A Força estava em silêncio, mas
ainda existia. Tinha que existir.
Não é?
A Força a encontraria, a encontraria, não simplesmente desapareceria no
vazio, não se tornaria apenas nada, ou ninguém…
O frio se apoderou de Orla, perfurando a sua carne, aparentemente
congelando os seus próprios ossos. Queria se abraçar contra o frio brutal,
mas os seus braços não obedeciam mais aos seus comandos. As suas pernas
não se moviam. Nem a cabeça e o pescoço; queria olhar para baixo e ver o
que a havia agarrado, mas não podia mais.
O seu rosto ficou ainda mais branco. Então ficou cinza como cinzas.
Caiu no chão, incapaz de se mover, para sempre. A Força ficou em silêncio,
e nada restou de Orla além do medo.
clima na doca estava mudando, de “tenso” para algo muito mais
O estranho e sinistro. Leox podia pensar em muitas razões para isso:
ninguém gostava de ficar preso, os Jedi não estavam fazendo um ótimo
trabalho em manter todos informados, e os sensores a bordo de naves
individuais estavam sem dúvida sendo usados para estabelecer o quão
confuso o Farol Luz Estelar realmente estava.
Mas isso não era nada comparado com como as coisas iriam mudar
quando mais pessoas descobrissem que a estação estava caindo.
Leox, Affie e Geode estavam sentados na cabine da Embarcação, no que
ele considerava vários graus de dormência. Geode havia se desligado
completamente, sem dizer nada; Affie não estava muito melhor. Leox, que
se orgulhava de ter uma abordagem filosófica da vida, ficou um pouco
desapontado ao descobrir que não podia enfrentar a sua própria morte
provável com uma maior sensação de calma.
Gostaria de poder pelo menos dizer adeus à minha irmã, ele pensou.
Então ele disse:
— Comunicações.
Affie virou-se para ele.
— O que?
— Comunicações. — Leox pensou rápido. — Estamos em uma
emergência de alto nível, o que significa que os protocolos de emergência
devem se encaixar. Isso bloquearia as comunicações de naves
independentes ancoradas a bordo do Farol.
— As comunicações estão bloqueadas — disse Affie, apontando para a
luz indicadora vermelha que confirmava.
— Talvez não. — Leox virou-se para Geode. — Ei, faça uma varredura
nessas frequências. Mostre-me o que temos.
Outra tela começou a flutuar com dados e um sorriso lento começou a se
espalhar pelo rosto de Leox.
— Às vezes, a beneficência da galáxia me surpreende.
— Eles não estão enviando o sinal de emergência em todas as
frequências? — Affie estava tendo problemas para entender isso. — Por
que não? Se isso não é uma emergência, o que é? E se eles não estão
enviando o sinal de emergência, então por que nossos sensores dizem que
nossas comunicações na Embarcação estão bloqueadas?
— Quem quer que tenha sabotado esta estação foi com tudo. — disse
Leox. — Há truques dentro de truques, mentiras dentro de mentiras.
Geode deu a ele o olhar direto que geralmente significava que Leox
precisava chegar logo ao ponto.
— Certo, comece com o básico. — explicou. — O sinal de emergência
do Farol Luz Estelar é igual ao de muitas estações espaciais: composto por
dois sistemas quase inteiramente separados. Há um sistema que realmente
transmite pedidos de ajuda em todas as frequências disponíveis e outro
sistema separado que lida com tarefas mais localizadas, incluindo, e mais
pertinente à nossa situação atual, informar às naves ancoradas na estação
que as comunicações estão bloqueadas. Se alguém quisesse sabotar esta
estação, como alguém obviamente fez, um primeiro passo óbvio seria
bloquear a capacidade do Farol de pedir ajuda. O que parece ser exatamente
o que aconteceu.
O rosto de Affie se iluminou.
— E um segundo passo óbvio seria separar esses dois sistemas de
emergência, para que todas as naves a bordo pensassem que as suas
comunicações foram bloqueadas pelo Farol. Então, essas naves não
pediriam ajuda, pensando que não podiam, mas na verdade podiam. Quero
dizer, nós podemos!
— É exatamente isso que estou lhe dizendo. — Leox levou um
momento para considerar, então decidiu que a última estação em que
ancoraram, a que orbitava Parlatal, era sua melhor aposta. — Aqui é a
Embarcação chamando, relatando uma emergência no Farol Luz Estelar.
Repito, temos uma emergência no Farol Luz Estelar, queda da estação,
várias naves presas a bordo, possibilidade de impacto catastrófico. Por
favor, confirme o sinal.
Demorou alguns segundos para uma resposta, que veio em um sotaque
entediado.
— Embarcação, essa piada não é engraçada.
— Não é nenhuma piada — disse Leox. — É pra valer.
— Certo, claro — disse o controle da estação Parlatal no mesmo tom de
voz. — E você está nos contando isso em vez do pessoal do Farol... por
quê, exatamente?
Haviam muitas razões para isso, mas não fazia sentido elaborá-las
quando uma solução melhor estava à mão. Leox virou-se para Affie.
— Vá encontrar alguém no comando e traga-os aqui imediatamente. Ou
para qualquer outra nave. Temos que pedir ajuda enquanto a ajuda ainda
pode ter uma chance de chegar aqui a tempo.
O que Elzar quis dizer com “manter a situação sob controle” foi acalmar as
muitas pessoas presas na doca porque o clima estava ficando mais sombrio
a cada minuto.
Koley Linn, de acordo com o esperado, não estava ajudando.
— Definitivamente vamos cair. — disse ele para um par aterrorizado de
Arconas amontoados perto de sua nave. — Eu ouvi aquela garota da
Embarcação dizendo para a mulher de cabelo encaracolado... aquela. —
Apontou para Pikta Adren, que no momento estava ajudando o marido a
trabalhar na nave. — Eles não acharam que o resto de nós merecia saber.
Havia dado variações dessa informação para quase todos na doca a essa
altura. Os objetivos de Koley eram duplos: primeiro, fazer com que as
pessoas confiassem nele, porque a confiança pode ser muito útil em pouco
tempo.
Segundo, fazer com que as pessoas desconfiassem da tripulação da
Embarcação, exatamente pelo mesmo motivo. Koley queria muito escapar
do Farol Luz Estelar, mas sair daqui seria ainda mais doce se ele pudesse
garantir que Leox Gyasi e seus amigos fossem deixados para trás. Leox era
um traidor e um delator. Ele merecia o que quer que viesse a ele.
Se Koley Linn soubesse que o seu próprio comportamento havia
motivado a decisão de não informar os pilotos a bordo do perigo da estação,
ele teria apenas dado de ombros. Seus erros não eram de mais ninguém para
criticar; os erros de outras pessoas eram oportunidades para capitalizar, se
possível.
Stellan se sentia algo mais parecido com ele mesmo novamente, e nem um
momento antes. Elzar, Bell, Burryaga, Nib e JJ-5145 rodeavam a sua mesa,
cercados por astromecânicos, aguardando as suas ordens, e, finalmente,
Stellan tinha certeza das ordens a serem dadas.
— Nossa primeira prioridade deve ser estabilizar a energia auxiliar —
disse ele. — Sem ela, não temos suporte de vida. Não temos nem luz. Se
perdermos essas coisas, qualquer outro esforço de reparo ou resgate se
tornará impossível. Nossas análises sugerem que ainda podemos segurá-lo
funcionando por mais duas a quatro horas.
— Mas a instabilidade estrutural! — Elzar parecia não entender que não
havia mais nada a ser feito. — Você está falando de horas a partir de agora,
mas Stellan, não tenho certeza de que a estação vai durar tanto tempo.
— O que nós devemos fazer então? — Stellan exigiu. — Você tem uma
equipe de engenheiros de uma espécie resistente à radiação, prontos para
entrar com milhares de toneladas de duraço e construir um novo esqueleto
para esta estação?
— ...claro que não, e ainda…
— Só podemos colocar nossas as energias em nossa prioridade absoluta.
— Stellan olhou atentamente nos olhos de Elzar, desejando que ele
entendesse. — Nada pode ser mais prioritário do que manter o ar em nossos
pulmões e a luz para trabalhar. — Um punhado de técnicos da República e
Jedi a bordo eram de espécies que não dependiam da visão como seu
sentido primário, mas não eram numerosos nem especializados o suficiente
para realizar o nível de trabalho necessário por conta própria, e até mesmo
eles precisavam respirar. — Existem perigos no trabalho que somos
impotentes para evitar. Se permitirmos que eles nos distraiam das poucas
ferramentas que temos para aumentar nossas chances de sobrevivência,
então desperdiçamos essas chances. Além disso, honestamente, se a estação
está se partindo em duas, não sei se há muito que possamos fazer a respeito.
Finalmente, a verdade parecia ter afundado. O rosto de Elzar
empalideceu.
— Você deveria saber, os astromecânicos acham que atingiremos o
ponto de ruptura dentro de meia hora. Talvez nos próximos quinze minutos.
— Imagino que vamos reconhecê-lo quando chegar. — disse Stellan
secamente.
— Mas as pessoas lá em cima... — protestou Nib. — e a Ataraxia está
ancorada na metade superior da estação, então o que acontece com eles?
— Esse fardo pesa sobre todos nós — disse Stellan. — Mas não
podemos fazer literalmente nada por eles. Temos que confiar que Maru e
Avar e todos os outros estão fazendo o melhor para todos lá. Estão em boas
mãos. Então, por enquanto, continuamos trabalhando. Se perdermos a
metade desta estação, continuamos trabalhando. A menos e até o instante
em que as paredes se romperem e perdermos ar, continuamos trabalhando.
Pensem em reforçar o suporte de vida auxiliar. Não pensem em mais nada.
— Entendido. — disse Nib, endireitando os seus ombros minúsculos.
Onde está a Orla? pensou Stellan. Ela já deveria ter voltado.
Provavelmente ela se deparou com uma das incontáveis mini crises a bordo
e estava tentando lidar com isso sozinha, do jeito que ela geralmente fazia.
A sua linha de pensamento foi interrompida quando Bell perguntou:
— Nossas atribuições?
Tomar decisões ficou muito mais fácil para Stellan exatamente no
momento certo.
— Nib, eu gostaria que você dividisse os sistemas auxiliares em
conjuntos menores; eles são compartimentados, então você deve ser capaz
de fazer isso. Então podemos localizar os problemas e corrigi-los. Depois
disso, veja se consegue localizar Orla Jareni; precisamos dela nisso
também. Elzar, você precisa recuperar o maior número possível de células
de energia individuais para ajudar a alimentar algumas das matrizes
menores; podemos esperar mais falhas de energia localizadas à medida que
a estação se tornar mais instável. Burryaga, Bell, vocês vão liderar a equipe
principal de reparos.
Elzar assentiu, assim como Burryaga. Bell parecia preocupado; a falta de
confiança do jovem desde a morte de um Mestre e o ferimento de outra o
estava segurando, mas isso também era um assunto a ser tratado outro dia.
Foi Nib quem disse, cansada:
— Eu esperava que não chegasse a isso.
Stellan suspirou. Nesse momento, focado no problema em questão,
pensando apenas nos outros, sentiu-se um pouco como ele mesmo
novamente, pela primeira vez em dias.
— É isso que é esperança. Não é fingir que nada vai dar errado se
tentarmos o suficiente. É olhar diretamente para todos os obstáculos no
caminho, conhecer os limites de nosso próprio poder e a possibilidade de
fracasso, e seguir em frente de qualquer maneira. É assim que devemos
proceder. Com esperança.
Este anúncio veio quando Bell e Burryaga lideravam uma equipe de reparo
em direção a uma junção do sistema auxiliar, e isso os impediu de seguir em
frente.
Eles trocaram olhares, entendendo as implicações imediatamente.
— A separação está realmente acontecendo. — disse Bell. — Seremos
capazes de estabilizar o suporte de vida a tempo?
Burryaga disse que não tinha certeza, mas eles tinham uma chance: o
sistema auxiliar poderia se dividir em unidades componentes, então o
trabalho que eles fariam aqui poderia sustentar a parte inferior da estação,
mesmo que a parte superior se quebrasse.
— Certo. Vamos nessa. — Bell parecia mais confiante do que se sentia
enquanto conduzia Burryaga e o grupo de técnicos da República.
Um gemido metálico profundo soou nas profundezas da estação, como o
gemido de um enorme animal moribundo. O cabelo de Bell ficou em pé; o
mesmo aconteceu com o de Burryaga, o que era uma visão assustadora de
se ver.
Burryaga balançou a cabeça negativamente. Depois de ouvir aquele
som, Bell sabia que ele estava certo. A hora da verdade estava chegando,
em poucos minutos. Por mais desesperadora que a situação do suporte de
vida pudesse ser, teria que esperar para ver se algum deles sobreviveria à
separação iminente.
Fechou os olhos com força e imaginou Ember sentada ao lado de Mestra
Indeera. Pelo menos elas estavam juntas. Pelo menos não tinha deixado
nenhuma delas sozinha.
— Devemos pegar máscaras de respiração? — disse Bell. — Já que os
passageiros vão estar a bordo de suas próprias naves?
Burryaga não conseguiu pensar em mais nada útil para fazer, então eles
também poderiam, e começou a liderar a equipe de reparos em direção ao
caixote de armazenamento mais próximo que poderia conter máscaras.
Era quase inútil, uma perda de pressão atmosférica quase certamente os
levaria a serem sugados para o vácuo gelado do espaço. Mas permanecer
vivo significava retornar para salvar a sua Mestra e a sua charhound, então
Bell faria isso ou morreria tentando.
—
Embora apenas poucos minutos passaram desde o rompimento da estação,
pessoas das naves encalhadas na doca já tinha se aventurado a sair
perguntando o que tinha acontecido e exigindo respostas. Bell gostaria de
ter mais para lhes dizer.
— Não estamos mais a caminho da superfície do planeta? — Perguntou
Joss Adren, — Talvez isso mudou nossa trajetória?
— Quanto tempo podemos ficar no ar? — Essa foi de um pequeno
Twi'lek de pele verde e olhos enormes de medo, — Como sabemos que não
fomos comprometidos?
— Por que não estão nos tirando daqui? — Perguntou Koley Linn.
Burryaga rosnou para todos ficarem calmos. Seja se ele se expressou
bem, ou as pessoas naturalmente ficaram intimidadas pelo enorme ronco
dos Wookiees, mas a multidão de acalmou.
No entanto, Koley Linn era menos submisso que a maioria.
— Minha pergunta continua. Tudo bem, os pods de fuga não estão
funcionando. As portas das docas não funcionam. Mas vocês são os Jedi.
Parecem ser capazes de fazer milagres, mover coisas apenas com a mente.
Então por que não usam a Força, ou seja, lá como for que chamam, para
abrir as portas das docas?
Era uma boa pergunta, e infelizmente tinha uma resposta desanimadora.
— Porque não é apenas uma questão de abrir as portas, — disse Bell, —
Os campos de contenção menores estão funcionando, não somos capazes de
ativar os maiores... como os do tamanho das docas, por exemplo. Então
teríamos de usar a Força para segurar todo o ar respirável para evitar que a
estação se desestabilize, talvez até matando todos a bordo. Fazer uma
dessas coisas seriam difíceis, até para nós. Fazer as duas ao mesmo tempo é
impossível.
Talvez não fosse, pensou Bell, se tivessem uma chance de meditar. Se
pudéssemos ter mais alguns dos Cavaleiros Jedi sobrecarregados juntos de
uma só vez. E se a perturbação na Força nessa estação finalmente
desaparecesse. Mas isso não está acontecendo.
— Vocês são milagreiros, — disse Koley antes de sair. Os outros,
entretanto, pareciam ouvi-lo, e a multidão ficou quieta... por um momento,
pelo menos.
Tão logo Bell e Burryaga foram deixados só, eles correram juntos para
um dos terminais (na maior parte) ainda funcionando. Bell sabia que
compartilhavam da mesma preocupação. Sem dúvida Stellan Gios os
ocuparia em breve, mas eles tinham de saber o que aconteceu na torre
médica. Tinha sido arrancada no rompimento, também?
Não posso perder outro Mestre, pensou Bell. E a Ember... Ember deve
estar tão assustada...
Então a tela iluminou-se com a imagem do que restou do Farol Luz
Estelar. Para qualquer outro virtualmente, teria sido um retrato de pura
destruição. Mas Bell riu alto enquanto Burryaga se animou.
— Ainda estão conosco! — Disse Bell, — Ainda podemos pegá-los.
Muito antes, ele se reuniu com a sua charhound... ajudaria a cuidar dos
feridos indefesos... e ele iria salvar Indeera Stokes.
Nos dias que virão, Stellan suspeitava, ficaria desconfortável com o modo
que usou a Embarcação como um centro de comunicação improvisado. No
entanto, por enquanto continuava focado na ligação que acabou de chegar.
— Mestre Gios, nós sofremos com você neste tempo terrível. Desejamos
ajudar como pudermos, — Rainha Thandeka de Eiram, em forma
holográfica, apareceu na cabine da nave, — No entanto, Rainha Dima e eu
precisamos pensar em nosso planeta e nosso povo. As análises estratégicas
sugerem que a metade superior da estação... sem os propulsores
posicionais... provavelmente está vindo tão rápido que incendiará na
descida por nossa atmosfera.
Maru, pensou Stellan. Avar. A realidade disso o machucou novamente.
Rainha Thandeka continuou.
— Se for capaz de reativar os propulsores a tempo, a sua metade da
estação pode sobreviver. Mas se não conseguir, parece que provavelmente
atingirá uma das maiores cidades de nosso planeta, localizado na costa do
continente ao norte. Parece como se... como se a única maneira de salvar os
habitantes da cidade fosse abatendo a estação.
— Nos explodindo até aos átomos, você quer dizer, — Stellan não podia
culpar a mulher. Qualquer bom líder teria de considerar essa opção.
Ela parecia arrasada.
— Por favor saiba que essa é a nossa última opção. Nunca faremos...
não se tiver outras possibilidades...
— Não precisa se desculpar, — ele respondeu, — Se tiver que sacrificar
centenas de vidas nessa metade da estação para salvar muitos milhares na
superfície do planeta, então é o que precisa ser feito. Mas isso não será
necessário.
— Tem certeza? — As mãos de Rainha Thandeka desabaram na frente
dela, agitada em preocupação.
Stellan deu de ombros.
— Absolutamente certo? Não. Mas eu conheço os Jedi a bordo dessa
estação. Sei do que são capazes. O que somos capazes. Não deixaremos o
Farol cair. Já confiou em nós, Rainha Thandeka. Devo pedir que faça isso
novamente. Confie que nós salvaremos essa estação.
Ela hesitou..., mas apenas por um momento. Levantando o queixo, disse:
— Então estamos orgulhosos de colocar novamente a nossa fé nos Jedi.
Stellan só esperava que os Jedi merecessem a fé dela.
C hancey Yarrow se perguntava qual cairia primeiro... o
restante do Farol Luz Estelar, ou essa garota Nan.
Ela ainda queria acreditar tão ferozmente em Marchion Ro, Chancey
pensou enquanto as duas continuavam a procura pelos pods de fuga. Pode
até ter se convencida de que ela acredita nisso.
Mas um cético também conseguia ver a dúvida em outros, mesmo
quando não podem ver em si mesmos. Chancey tinha usado os Nihil para os
seus próprios propósitos, da mesma forma que estava usando os Grafs, mas
não precisou acreditar em algum líder carismático ou algum propósito mais
alto, maior em muito tempo. Era um modo mais eficiente de viver, e menos
desapontador.
Nan, por outro lado, ainda procurava validação em alguém ou algo
exterior. Chancey tinha a esperança de que se estabelecer por conta própria
iria despertar alguma independência dentro Nan, mas a adulação que ela
tinha pelos Nihil ainda brilhava intensamente dentro do coração da garota.
Realmente teremos de pegar fogo e queimar com essa coisa antes que
ela entenda que Ro não dá a mínima para qualquer um no seu caminho?
Chancey se perguntou. Se não encontrarmos alguns pods de fuga logo,
acho que descobrirei.
Estranhamente, Chancey se viu lembrando de sua filha, Sylvestri. De
algumas formas, Nan e Sylvestri eram muito parecidas... mais que uma
delas jamais admitiria, ela suspeitava. Mas cada uma tinha uma camada
idealística que não lhes servia bem em longo prazo. Provavelmente a razão
pela qual ela aceitou Nan, de forma que pudesse ensinar alguma jovem
mulher as coisas que a sua própria filha se recusou a aprender. Então
Chancey poderia entender como chegar a Sylvestri, e elas podiam ficar
juntas novamente... como sempre pretendeu, mesmo que Sylvestri não
pudesse ver ainda...
Bem, os anos provavelmente cuidariam do idealismo de Sylvestri. A
adoração heroica de Nan também, assumindo que tinha anos pela frente.
O bastão de luz de Chancey iluminava para frente e para trás do corredor
curvo o qual seguiam, até que finalmente a luz pousou em algo interessante.
— Ali, — Chancey cutucou Nan com o ombro.
— Um pod! — Nan se iluminou, — Tudo que temos que fazer agora é
detonar os lançadores explosivos, e estaremos fora daqui!
— Vamos dar uma olhada. — Disse Chancey ao não ter certeza.
A maioria dos pods funcionavam como Nan sugeriu, equipados com
explosivos químicos que os lançariam da nave mãe ou da estação, de forma
que podiam ser usados mesmo quando nenhuma energia estivesse
disponível. Deveriam ser capazes de pegar um desses não importa qual.
Mas não podiam.
— Arrogância da República, — disse Nan, o seu rosto escureceu numa
carranca, — Eles pensaram que nada podia dar errado na estação deles,
então não se preocuparam em ter pods de fuga que funcionassem...
— Ou, quem sabe, a mesma equipe que sabotou o resto da estação
sabotou os pods também, — apontou Chancey, — Quais dessas
possibilidades lhe parece mais provável? Em qualquer avaliação, nós
esperávamos que essas coisas estivessem sabotadas, senão teríamos de
dividir com eles.
Nan começou a arregaçar as mangas do macacão.
— Eu posso hackear alguma coisa.
Chancey, uma cientista quase ímpar, dificilmente precisava de ajuda
com um pequeno hackeamento, mas não precisava dizer isso. Apesar disso,
quem sabia? Talvez o tempo de Nan com os Nihil tinha a ensinado
exatamente o que precisaria para desfazer uma sabotagem dos Nihil.
Haviam dois pods... uma para cada trabalhar... então quando uma delas
terminasse o trabalho, ambas sobreviveriam.
Aqui estavam novamente. Um leve som arrastado atrás delas. Chancey
não imaginou isso.
Os seus olhos se encontraram com os de Nan. Ambas perceberam que
não estavam mais sozinhas.
O suporte auxiliar a vida era na verdade mais fácil de ser consertado com a
parte superior da estação quase inteiramente perdida... era estranho, mas era
verdade. Bell foi capaz de ‘amarrar’ áreas diferentes da metade inferior da
estação, separando o suporte de vida de reserva em cápsulas separadas,
independentes, cada uma das quais estava estável suficiente por enquanto.
Ao menos até batermos no chão, ele pensou, o humor negro não se fala
em voz alta.
Continuou a sua tarefa, colocando reforços duplos, triplos em cada
sistema, até mesmo restaurando alguns sistemas de comunicação internos,
até que Burryaga curiosamente choramingou.
— O que foi? — Bell colocou a cabeça para fora do compartimento
inferior que estava trabalhando; Burryaga, naturalmente, assumiu algumas
junções localizadas na parte superior
Burryaga falou que a Mestra Nib tinha saído por um momento.
— Ela está procurando Orla Jareni, certo? — Uma vez que completaram
o trabalho primário no suporte auxiliar a vida, Nib tinha ido para a tarefa
secundária, — Pode levar um tempo, dado o estado do Farol.
Embora Burryaga entendesse que era razoável, não podia deixar de
lembrar que tinham perdido Regald Coll, e quase perderam Indeera Stokes,
para a perturbação estranha da Força... e embora essa perturbação tenha
aumentado e diminuído, particularmente depois da explosão, ela não
desapareceu.
Bell empurrou a pesada alavanca industrial para o lugar, então recuou
para olhar no rosto preocupado de Burryaga.
— Fizemos tudo que podíamos aqui. Devemos designar alguns droides
para procurar a Mestra Nib?
Podiam, Burryaga concedeu rispidamente, mas queria ele mesmo ir
procurar a sua Mestra.
Esse sentimento Bell entendia bem.
— Certo, temos poucos minutos. Vamos.
Nib teria começado a sua busca no último lugar que sabia que Orla
estava indo; na área de carga, mesma área que parecia ser o centro das
perturbações na Força. Era também o último lugar no Farol que Bell queria
visitar. Mas Burryaga não descansaria até encontrar a sua Mestra segura e
consciente, e Bell não negaria a qualquer Padawan o tipo de alegria o qual
não teve com Loden Greatstorm.
Quando se aproximaram do porão de carga, os corredores se dividiam
em uma dúzia de direções diferentes. Burryaga sugeriu que se dividissem
para cobrir mais áreas.
— Ah não, não vamos, — disse Bell, — Nunca assistiu um holo de
terror? Se dividir é a pior coisa que poderíamos fazer.
Burryaga salientou que assistia holos de terror por muito tempo antes de
Bell nascer, e nenhum deles tinha qualquer semelhança com a vida real.
Era um argumento válido. Dentro de minutos, Bell estava tomando o seu
caminho pelo corredor da esquerda, sozinho. Andava o mais rápido que
podia enquanto era cuidadoso em procurar qualquer vestígio da presença de
Orla. Na verdade, queria mais retornar para a torre médica o mais rápido
possível. Mestre Indeera precisava dele. Ember precisava dele.
E precisava delas também.
Bell parou conforme o seu bastão de luz passou por uma forma cinza
não familiar no chão. A textura era peculiar... teia de aranha? Não havia
muitos aracnídeos na estação espacial. Deu mais passos para frente,
tentando compreender os detalhes.
Esses são... pés?
E então viu que era a forma de um corpo humano deitado de lado em
posição fetal. Estava de costas para ele, mas Bell não tinha dúvida que
encontrou o que sobrou de Orla Jareni.
—
—
— Bell Zettifar para Mestre Stellan...
— Bela sincronia, — disse Mestre Stellan antes que Bell pudesse dizer
algo, — Tanto em restaurar algumas comunicações... vi nos escâneres, bom
trabalho... e quanto a sua ligação em si. Um dos pilotos civis encontrou
duas prisioneiras, potencialmente as sabotadoras Nihil, aproximadamente
setenta metros do porão de carga. Precisamos de uma equipe para investigar
a área ao redor. Quatrocinco diz que estavam trabalhando perto, certo?
— Sim, senhor, estou, mas...Eu acabei de encontrar Orla Jareni. Quer
dizer, o que sobrou dela.
Uma longa pausa se seguiu, durante a qual Burryaga apareceu no fim do
corredor, ele tinha ouvido o grito de Bell momentos antes. Burryaga deve
ter percebido que Orla não tinha sido localizada viva e bem, mas
choramingou de desgosto ao vê-la deitada nos pés de Bell.
Finalmente Mestre Stellan disse, com voz áspera.
— Ela está... está dizendo em estado de casca?
Tão oca e morta quanto ‘casca’ soava, Bell pensava que o termo não
chegava perto do horror da verdade. A cobertura cinza, como papel, frágil
diante dele era um escárnio da mulher vibrante cujo esse corpo já foi. Pior,
para Bell, era um lembrete terrível do trágico fim de Loden Greatstorm.
— Sim, — disse, — Ela é uma casca.
— Pela Força, — E não podemos salvar o que restou para estudo, nem
mesmo fornecer uma pira. Orla merecia uma pira funerária, — Mas Mestre
Stellan, balançado como aparentemente estava, focou de volta rapidamente
na tarefa que tinha, — Coloque algum tipo de campo protetor ao redor de
Orla... ao redor de Orla. Estou a caminho para me juntar a vocês na procura.
Se os Nihil estão por trás do que aconteceu com Orla e Regald, é mais
importante ainda encontrar os sabotadores e conseguir algumas respostas.
— Entendido, senhor, — Mas Mestre Stellan já tinha cortado a conexão.
Bell olhou para Burryaga conforme começava a buscar de forma hesitante
em seu cinto de equipamentos um campo de contenção portátil, — O que
tem o poder para fazer algo assim?
Burryaga disse não saber, mas eles tinham um problema mais urgente.
— Eu sei, eu sei, a colisão da estação...
Mais urgente que isso ainda, Burryaga salientou: Eles ainda não
encontraram a sua Mestra, Nib Assek.
— E essa é a parte da estação onde ela ia, — Realidade caiu em Bell
como uma pedra, — Ah não.
Stellan nunca conseguiu dizer uma última coisa para Orla Jareni, e agora
nunca o faria.
Talvez estivesse certa sobre mim, pensou Stellan. Eu queria ter a chance
de dizer isso para você. Parecia tão errado que nunca seria honrado
novamente pela honestidade inflexível dela. Ela tinha partido tão
corajosamente, tentando resolver um dos poucos problemas nessa estação
que tinha qualquer chance de uma solução permanente, e isso tinha custado
a sua vida.
O que que seja que esteja causando essa perturbação na força, decidiu
enquanto entrava no porão de carga, tinha de ser simplesmente evitado. A
investigação, tão importante antes, era tudo um pouco fútil; já tinham
perdido dois excelentes Jedi na procura, sem respostas. O que ou quem for
que esteja interferindo na conexão dos Jedi com a Força iria provavelmente
perecer junto com essa estação espacial. Se eu puder salvar o Farol, então
será hora de chegar ao coração desse mistério.
Ele pensou novamente em Orla Jareni... primeiro como a garota
sorridente que tinha conhecido em Pamarthe todos esses anos atrás, então
quando ela disse que tinha se deixado definir pela Ordem. Quanto tempo
antes tinha sido? Um dia? Três? Mais?
Parecia como se devesse saber disso. Mas Stellan não podia encontrar a
resposta em seus pensamentos. A memória de Orla oscilava, brilhava, como
uma miragem quente. Era tristeza pela perda da companheira que minava a
sua habilidade de pensar direito?
Não. Era a perturbação da Força que tinha mais uma vez nublado os seus
pensamentos. Stellan se lembrava tão claramente, aquela terrível frieza
penetrante que se infiltrava por todos os poros de sua pele.
Arrepiou-se.
Não. Não, não estou nem perto ainda... nem perto... e ainda...
Não estava lembrando de seu pesadelo. Estava acontecendo novamente.
Stellan pegou o seu sabre de luz e o ligou. Embora parecia que o seu
inimigo era do tipo que não daria para lutar, ele pretendia morrer lutando.
Seja o que for que matou Regald e Orla tinha encontrado Stellan Gios
também.
A cor pereceu primeiro.
Em um momento Stellan podia ver, apesar da diminuição das luzes
de emergência, algumas cores: o vermelho das luzes de emergência em
todas as interfaces eletrônicas, o branco e dourado de seu manto, a lâmina
azul e os traços de seu sabre de luz. Então, conforme o frio lhe tocava, toda
sombra e cor escoava da existência, o deixando numa realidade que parecia
ser feita somente de sombras.
Está vindo, ele pensou, embora não pudesse conseguir dizer o que, nem
como sabia disso.
Medo veio em seguida, puro medo biológico, os reflexos do próprio
animal que ao menos obedecia aos ensinos Jedi. O seu coração batendo
rápido, a sua pressão sanguínea se intensificou até suas têmporas latejarem,
com o suor pegajoso na sua pele. Se Stellan já teve medo de algo
específico... qualquer coisa... poderia ter falado baixo disso.
Mas essa era uma categoria diferente de medo, o tomando como um
manto frio e molhado, pesado e encharcado. Era tangível, até mesmo
palpável. Não podia mais se exorcizar de seus pensamentos que poderia
querer um sol nos céus.
Está vindo, Stellan pensou novamente. A sua visão ficou borrada; o
corredor que estava ficou ondulado e líquido, então mais escuro e então
mais claro novamente. Pensou que pode ver algo se movendo até ele, mas
não tinha certeza. Não havia certeza de mais nada.
Poderia escapar? Stellan tentou correr, mas não conseguiu. Mal
conseguia andar. O chão se mexia e balançava sob os seus pés como se
estivesse num convés de um veleiro durante uma tempestade. Náusea o
atingiu, e tinha dificuldade para respirar. Quase batendo, alcançou a parede
para se segurar.
A sua mão fez contato com uma caixa. A caixa era chamada...algo...algo
que Stellan deveria lembrar.
Está vindo está vindo está vindo.
Stellan apertou o botão na caixa. Imediatamente, um escudo de ar
comprimido abaixou-se, cortando o corredor a menos de um metro de onde
estava. A espessura do metal parecia prover algum conforto... o suficiente
para ele se afastar..., mas ele sabia que isto não era uma fuga.
Era apenas um atraso.
O que quer que estivesse atrás daquela parede viria atrás dele
novamente, em breve.
O humor nas docas não era de pânico ainda, mas a calmaria que tinha se
estabelecido antes era apenas temporária, e o tempo estava acabando.
Assim parecia para Leox Gyasi, que estava terminando de soldar alguns
grampos danificados dentro do bloqueio de ar do piloto de um Cereano.
Levantou os óculos, pronto para anunciar que o trabalho terminou, mas
primeiro tirando um tempo para ver a situação completa ao redor dele.
Aqueles cujas as naves foram reparadas, ou quase, estavam em geral
agindo de forma produtiva, checando novamente os sistemas, ajudando os
vizinhos, preparando-se para o momento que tivessem a chance de partir.
No entanto, os que a naves estavam mais danificadas ficavam sinistramente
quietos. Alguns nem mesmo se moviam. Olhavam com grandes olhos para
os mais sortudos por perto, algumas vezes cheios de medo, mas em outras...
de forma mais perigosa... com inveja, até mesmo raiva.
Pior ainda, próximo do fundo, um pequeno grupo de Sullustanos
estavam mergulhados numa conversa com ninguém mais que o derradeiro
lixo de carbono, Koley Linn. Leox estava muito longe para ouvir algo que
estava sendo dito, mas podia dizer pela linguagem corporal dos Sullustanos
que estavam ficando com medo e com raiva a cada segundo. Podia dizer
pelo sorriso malicioso de Koley que gostava de os enrolar.
Algumas pessoas se alimentam de conflito como plantas se alimentam
de luz, Leox se lembrou. É tão natural quanto a fotossíntese para uma
folha.
No entanto, Drengir a parte, plantas nem sempre deixam a situação pior.
Koley Linn quase sempre o fazia. E essa situação atual era uma que
precisava melhorar, não o contrário.
Se chegasse o momento de calar a boca de Koley Linn... Leox ficaria
bem feliz com a tarefa.
Elzar Mann nunca, nunca mais compraria um droide como uma brincadeira.
— Talvez você devesse tentar os refletores de polaridade, — sugeriu JJ-
5145 enquanto Elzar continuava o seu trabalho no escritório do intendente,
se esforçando para fazer os propulsores posicionais voltarem a funcionar, —
Isso geralmente é eficaz.
— Você sabe que já tentei isso, — disse Elzar, — Certo?
— Sim, mas enquanto você tentava vários métodos sem sucesso, há
poucas possibilidades adicionais para sugerir. Portanto pode querer começar
a repetir os métodos que tentou antes.
— Por que eles funcionariam agora? Elzar disse ao olhar para droide
tagarela.
— Eles não vão. Mas você ficaria menos frustrado se tiver mais coisas
para fazer. É bem sabido que a maioria dos sencientes é menos eficiente
quando estão frustrados.
— Deixe-me ser direto, Quatrocinco. Está sugerindo que fazer algo que
eu sei que não funcionará vai reanimar a minha mente de forma que eu
possa pensar algo que vai funcionar?
— Exato, Mestre Elzar. — Disse o droide ao girar em sua base esférica
bem animado.
Era absolutamente ridículo, claro, e Elzar pretendia discutir outros
modos de trabalho potenciais com Stellan assim que ele retornasse. Até lá,
no entanto... pode bem tentar do jeito de JJ-5145. Elzar se forçou a passar
pelos movimentos de cada opção mais uma vez, apenas para o caso de
alguma delas...
— Espere, — Ele olhou para a tela abaixo dele, onde várias luzes
vermelhas tinham se tornado verde, e pelo menos uma promissora luz
laranja, — Espere. Isso funcionou? Conseguimos os propulsores
posicionais?
Os astromecânicos no escritório do intendente todos apitaram e pularam
alegres conforme um sorriso apareceu no rosto dele. Esse passagem
secundária funcionou... mais ou menos. Elzar não conseguiu força total
sobre os propulsores, mas os ligou com um terço da potência.
— Também, algumas vezes repetir um método traz resultados diferentes,
— disse JJ-5145, com certa presunção que ele mereceu, — Dentro do
razoável, claro.
— Duvido que a potência que temos seja suficiente para prevenir a
colisão com Eiram para sempre, — disse Elzar, — mas isso deve funcionar
para nos prevenir de queimar na atmosfera, certo?
— Sim, não estamos mais em perigo iminente de morte por incineração,
— disse JJ-5145 feliz, — Agora está noventa e oito por cento de
probabilidade de ao invés disso nós morrermos no impacto com a superfície
do planeta. É um excelente progresso!
Inebriado com a esperança, Elzar riu alto. Ao menos comprou tempo
valioso para eles. E se os propulsores posicionais podiam ser ativados a esse
nível, então havia todas as razões para ele acreditar que poderia fazê-los
funcionar em cem por cento.
Entretanto, no momento os únicos modos que ele podia pensar para
fazer isso envolvia interagir manualmente com os mecanismos dos
propulsores, o que envolvia mandar alguém através da radiação
insustentável, coisa que não seria possível mesmo para um droide...
Pés no corredor do lado de fora do escritório do intendente fizeram Elzar
se desviar de seu trabalho com um sorriso.
— Pronto, — disse, — quem é você, porque eu acho que você está
prestes a... Stellan?
Stellan Gios caiu em direção a ele, uma mão na parece como se o
lembrasse onde estava, ou que caminho seguir. Seu rosto estava branco
como se tivesse um choque, seus olhos mortos e sem conseguir ver. Elzar
agarrou um dos braços de Stellan para dar apoio; parecia possível o homem
morrer a qualquer momento.
— Elzar, — disse Stellan. Sua voz mostrando esforço para falar, — Veio
atrás de mim.
— ... o que veio atrás de você?
— Seja o que for. Está faminto. Está muito faminto. E não acabou
conosco... não está nem perto disso...
— Os Drengir? — Que não fazia sentido... se os Drengir tivessem
retornado, eles saberiam..., mas o apetite desenfreado da espécie por carne
senciente não podia deixar de vir à mente.
— Não. Pior. Muito... muito pior, — Lágrimas encheram os olhos de
Stellan.
— E eu continuo ouvindo... shrii ka rai, ka rai... repetidamente...
A estação estava à beira do apocalipse e a mente de Stellan estava
nublada com com versos infantis? O que tinha acontecido com ele? O que
pode fazer isso a um Jedi tão forte e orgulhoso como Stellan Gios?
Rapidamente, Elzar o colocou no escritório do intendente, tanto para
descansar como para evitar de ser visto por qualquer piloto estranho. Se eles
vissem o responsável pelo Farol Luz Estelar quase morrendo, o resultado
certamente seria de pânico.
As pessoas ali pensavam que seu maior problema era impedir a colisão
da estação. Momentos antes, Elzar concordaria com eles.
Agora, no entanto, suspeitava que a colisão não era tão perigoso como o
que está espreitado nos corredores da estação.
B ell não precisava de qualquer empatia pela Força para entender a
angustia que Burryaga sentia. Ele mesmo passou por isso quando
Loden Greatstorm se foi.
Burryaga continuava curvado sobre as cinzas que permaneceram no solo
dos restos de Mestra Nib. Os seus uivos de tristeza tinham acalmado, mas
não acabado; ele não mostrava sinais de querer se levantar novamente.
Regald Coll. Orla Jareni. Agora Nib Assek. Três Jedi, cada um mais
poderoso que uma dupla de aprendizes. Se essa coisa nos encontrar, como
podemos ter esperança de resistir contra isso?
Ao menos Mestra Indeera tinha sobrevivido. Se ela se recuperasse,
poderia ser capaz de lhes contar com o que estavam lidando. Mas essa não
era a única razão para Bell querer retornar para a torre médica. Nesse
momento mais do que nunca, sentia necessidade de protegê-la. Queria o
conforto da presença de Ember. Queria estar de volta num lugar com outras
pessoas, onde os problemas que enfrentava eram conhecidos e tangíveis.
O corredor que eles estavam permanecia obscuro. Pareceu para Bell que
a distância... no meio de um fragmento de poeira solta das peças de metal
caindo... havia algum tipo de caminho, a pegada de algo muito grande. Era
o agressor? Ou era apenas um membro de uma espécie senciente grande a
bordo?
Tudo que Bell sabia era que investigar essa coisa matou pessoas. Sim,
precisavam da verdade, mas nesse momento, a prioridade tinha que ser ficar
vivo, salvando outros... e deixando Mestres Stellan e Elzar saber o que
aconteceu aqui.
Primeiro tinha que cuidar de seu amigo.
— Burryaga? — A voz de Bell era suave, — Precisamos relatar isso.
Os sons tristes de dor de Burryaga pararam, mas ele não se moveu.
Olhava para baixo nas cinzas que estavam diante dele como se a
intensidade de sua atenção pudesse de alguma forma ressuscitar Nib Assek.
Não havia descrição para a dor de perder um Mestre. Bell a carregava
desde a abdução inicial de Loden Greatstorm pelos Nihil; então a dor
dobrou quando descobriu como tinha falhado com o seu Mestre, não o
procurando, deixando que fosse torturado grotescamente pelos Nihil. A sua
próxima Mestra, Indeera Stokes, no momento deitada na torre médica,
inconsciente, suspensa entre a vida e a morte. Então sabia de coração o
choque terrível e sentimento de perda que sem dúvida quase paralisou
Burryaga.
No entanto, pelo bem de Burryaga, Bell podia vislumbrar a perspectiva
maior que tantas vezes o iludiu com as suas próprias perdas.
Bell se ajoelhou ao lado do Wookiee.
— Ela gostaria que avisássemos os outros. Ela nos alertaria para não
lamentar. Ela nos diria para fazer o nosso trabalho, — Como antes Mestre
Loden faria. Como Mestra Stokes fará, se ela acordar.
Burryaga não reagiu inicialmente. Bell se perguntava se tinha sido
ouvido. Mas então Burryaga se levantou, pronto para sair de perto de sua
Mestra.
Embora Koley Linn não fosse capaz de acreditar que Leox Gyasi era
estúpido o suficiente para se inscrever para alguma missão suicida só
porque os Jedi disseram para fazer isso, lá estava ele. Inacreditável.
Como certa vez, tinha sido estúpido o suficiente para registrar horas
corretamente naquele maldito cargueiro, arruinando o plano de qualquer um
que queria lucrar por si mesmo. Então, não havia como dizer qual seria a
próxima idiotice de Gyasi.
A tolice de um homem podia ser a oportunidade de outro, se jogasse as
cartas certas. Koley se orgulhava de tirar o máximo de cada mão.
— Você vem?
Ele foi surpreendido no momento pela visão de uma mulher linda com
cabelos quase tão encaracolados quanto os seus, olhando para ele com as
mãos nos lábios. Pikta Adren, ele se lembrou. Muito amigável com Gyasi
para o gosto de Koley.
— Por que quer saber?
— Apenas pensei, visto que gosta tanto de falar sobre os outros, poderia
gostar de fazer algo para mudar, — ela retrucou antes de ir embora com os
outros. Obviamente ela não fazia ideia que Koley Linn estava fazendo
planos para fazer um bom negócio.
Essa rocha idiota ficaria para trás para supervisionar a nave, ele
pensou, olhando para o lado da Embarcação. Mas parece que a maioria das
pessoas nessa baia estão se juntando a equipe que vai destruir algo ou
cortar algo ou basicamente perder tempo fazendo algo que não vai nos
tirar daqui.
Essa garota enxerida que viajava com Leox iria na missão também?
Koley teria de esperar para ver. Sua estratégia dependeria se precisaria lidar
com ela.
Independentemente disso, mesmo que algumas pessoas ficassem para
trás, teria a sua chance de sugerir o seu plano.
Ghirra Starros por regra não duvidava de suas escolhas. Ela gostava de
dizer, o passado é a única coisa além de seu controle. Então não olhe para
trás. Olhe para frente.
Forjar uma aliança com Marchion Ro... usando a sua posição como
senadora para ajudar os Nihil, particularmente em seu ataque contra o Farol
Luz Estelar... que tinha sido um movimento tático, um modo se colocar dos
dois lados do conflito nessa nova parte da República. Qualquer um que
vença, Ghirra pretendia ficar com eles no topo. O relacionamento com
Marchion Ro não era sua motivação primária, apenas um lado agradável do
benefício. Muito, muito prazeroso. Mas ele não turvou seu pensamento;
Ghirra sabia o que era e o que não era sua aliança. Se alguém carregaria
emoção, sem dúvida seria Marchion Ro não ela.
Ou assim acreditava, até que ficaram juntos na nave dele.
A sua reunião na Olhar Elétrico tinha sido tão apaixonante quando
Ghirra fantasiou que seria. Claro, nada era perfeito: a atenção de Marchion
era inevitavelmente dividida entre ela e os eventos no Farol; não tinha ainda
solidificado o seu álibi para esse período de tempo (ela poderia nem
precisar, mas era bom ser cuidadosa); e a nave dele estava estranhamente
deserta, exceto por essa assistente onipresente dele, Thaya Ferr.
Thaya a invejava? Ghirra se perguntou. (Ela gostava quando as pessoas
a invejavam) Era fácil imaginar essa criatura tímida, desprezível ao ansiar
pela atenção de um líder tão poderoso e dinâmico. Imaginar ela percebendo,
com desespero, que nunca poderia ser uma parceira igual que Marchion
merecia, que a sua vida monótona, o seu eu absolutamente normal, nunca
poderia ofuscar uma senadora da República que estava jogando habilmente
em ambos os lados e desfrutando disso ricamente. Essas fantasias chegaram
ao ponto de imaginar Thaya olhando para o macacão simples em desespero
depois de ver o elegante manto de viagem em seda Nubiana verde-mar de
Ghirra.
Mas Thaya Ferr não mostrava nem indício de inveja. O seu respeito por
Marchion era evidente, mas parecia completamente sem qualquer anseio
romântico por ele. Ela rapidamente atendia a qualquer necessidade de
Ghirra, quando solicitada, então voltava eficientemente para completar os
trabalhos triviais de Marchion.
Então não havia rivalidade ali, e Ghirra tinha consciência suficiente para
saber que se ela quisesse uma... se precisasse alguém para competir com ela
e ser derrotada... era um aviso que talvez ela não estava tão certa sobre o
caminho que queria estar. É mais fácil acreditar nas coisas quando lutamos
por elas.
Ainda assim, sem mudar o passado. Então Ghirra notou a sua
inquietação interna e se movimentou.
Depois de sua chegada a bordo, e o cumprimento entusiástico de
Marchion, Ghirra precisava descansar; parecia como se não dormisse a dias.
Quando acordou na Olhar Elétrico o primeiro pensamento de Ghirra era
que ainda era ‘noite’... embora tivesse descansado algumas horas. A maior
parte das estações espaciais e naves aproximavam um ciclo diurno através
do brilho gradual e aumento das luzes, mas Marchion, pelo que parece,
mantinha a sua nave numa noite eterna. Era fria também... não frígida, mas
à beira do desconforto humano. Talvez fosse a temperatura que a espécie
dele preferia.
Certamente era a única razão para o frio que estremecia por sua pele.
Ghirra andava pelos corredores, com a cabeça erguida. Deixar que todos
que passem testemunhem o orgulho que sentia em ajudar Marchion com a
sua principal tarefa de todas. Deixá-los entender quem ficou sozinha como
a sua grande aliada.
Mas ninguém passou por ela.
As suas botas soavam artificialmente altas contra o piso de metal
conforme Ghirra caminhava para a ponte da nave. Quanto mais andava,
mais instável ela ficava. Onde estava a tripulação?
Ghirra virou uma esquina, parou um pouco, e ofegou.
De pé em frente da ponte estavam dois droides..., mas droides de um
tipo que não reconhecia. As suas formas eram humanoides, mais que os
droides comuns de protocolo, mas a sua cobertura era peculiarmente lisa,
desprovidos de portas e ferramentas comuns. Era estranho o suficiente, mas
o que desconcertou Ghirra foram as cabeças dos droides: Eram ovais,
brilhantes, escovadas tão bem que pareciam refletir a própria face dela.
Normalmente um droide no corredor estaria fazendo algo, mesmo que
fosse só se movimento entre tarefas. Mas esses permaneciam parados, como
sentinelas, em frente das portas da ponte.
Essas portas se abriram, e Ghirra se assustou. A ponte estava cheia
desses droides estranhos, inquietantes, todos nas estações que tinham antes
sido ocupadas por guerreiros Nihil. Ainda sentado na cadeira de capitão,
parecendo confortável, estava Marchion Ro.
— Ah, — ele disse, — Ghirra. Você finalmente acordou, — Ele
estendeu a mão para ela se juntar a ele, o que Ghirra se apressou em pegar.
— Marchion, esses droides...o que são?
— Eles, — disse, — são a nova tripulação da Olhar Elétrico.
Ghirra olhou lentamente ao redor da ponte, o único ser vivente presente
era Thaya Ferr, mexendo em seu painel como se estivessem completamente
normais. Era tudo menos isso, como qualquer um na galáxia concordaria.
Os droides não pilotavam sozinhos. Haviam funções que nunca, nunca
seriam completamente dadas a eles, não importa quão mais eficiente um
droide poderia ser, ou quanto mais rápido eles poderiam realizar cálculos e
manobras. Ghirra sabia que tinha um sentimento mais forte sobre isso que
alguns sencientes, mas também sabia que a maioria concordaria neste
ponto. Era como se os sencientes tivessem aprendido, em algum ponto de
seu desenvolvimento tecnológico, que os droides tinham que ficar no seu
lugar ou as consequências seriam terríveis.
Pilotos e tripulação de droides eram comumente usados por criminosos.
Por contrabandistas. Pela maior das baixezas.
Como Marchion Ro poderia chegar a isso?
— Gostou da minha nova tripulação? — disse ele. As vezes era como se
pudesse ler a mente dela.
Ghirra soube responder melhor.
— Nunca vi droides como esses antes. Onde... onde os pegou?
— Há certos comerciantes que lidam com cargas proibidas, como sei
que você já sabe.
— Sua tripulação... por que você...
— Sem mais traição, — disse Marchion, — Sem mais planos e intrigas
nos corredores. Sem mais Executores de Tempestade ambiciosos
subornando e coagindo os meus subalternos por informação, os levando a
sedição. De agora em diante, a Olhar Elétrico está complemente,
imutavelmente sob o meu único controle.
Ghirra engoliu seco.
— Vejo a sabedoria disso, — ela disse, que em certo nível era verdade.
Mas a repulsa que sentia enquanto testemunhava os droides em total
controle de uma nave era grande e poderosa... levaria tempo para diminuir.
Ela nem tinha certeza se queria que diminuísse.
Das sombras no fundo na ponte veio um movimento, uma forma
diferente desses droides estranhos espelhados ao redor deles. A tensão no
peito de Ghirra diminui um pouco... ao menos um outro senciente estava a
bordo..., mas então a forma chegou a luz, e o horror retornou dez vezes
maior.
O droide pairava em direção a ela era enorme, quase dois metros de
altura, largo no meio, se estreitando para a base de repulsor. A sua
superfície era tão incomum como a sua forma; seja o que for não parecia ser
metal, mas algo quase cristalino, um azul claro fantasmagórico que
lembrava Ghirra dos lábios de um morto. Ao invés do rosto falso que
muitos droides do tamanho de humanos tinha, ou a trivialidade refletiva dos
droides de tripulação ao seu redor, esse droide tinha duas aberturas
horizontais, ambas vermelhas fortes, como cortes na carne...ou raios de luz
cortando um céu de tempestade. Iluminação fraca brilhava de cada abertura.
Como se pudesse vê-la, e rosnar para ela, mesmo sem movimento e som.
— Parece que Carnine quer se apresentar, — Marchion fez sinal para o
KA-R9 chegar mais perto, — Eu preciso de mais tripulação, entende.
Preciso de reforços também. E KA-R9 é excelente em seu trabalho.
Ghirra colocou uma mão no ombro de Marchion, esperando que isso a
estabilizasse. Não o fez.
— Eu não duvido.
A Embarcação não era a única nave que conseguia se conectar aos satélites
de Eiram. Um pequeno e seleto grupo de pilotos assistiram a bordo da Ás de
Paus.
Isto é, a maioria deles assistiu. Koley Linn olhava para aqueles que
convidou, medindo as suas reações. Escolheu uma tripulação diferente, se
houvesse mais escolha; aqueles que não trabalhavam em fechar o resto da
estação tendiam a ser muito jovens, ou idosos, ou estavam de alguma forma
vulneráveis, como a grávida Shistavanana que assistia com a sua mão
apertada sobre o focinho.
Ainda assim, eles podiam voar com uma nave, e todos podiam atirar.
Isso significa que serviam ao propósito de Koley.
Uma vez que a parte superior da estação ficou preta e quebrou e parou
de ser interessante, ele disse:
— Os Jedi não puderam salvar essa metade. O que lhes faz pensar que
com essa metade será diferente?
Ninguém parecia capaz de responder. A pessoas estavam tão abaladas
com as coisas, mesmo quando aconteceu com outros... Koley nunca
entendeu isso.
Ele continuou:
— Não podemos ficar sentados esperando os Jedi consertarem isso. Não
podemos sacrificar as nossas vidas num esforço fútil de salvar pessoas que
já estão amaldiçoadas. Todos nós temos naves valiosas no espaço.
Precisamos é de uma porta aberta... ou um buraco grande o suficiente para
voar por ele, — Koley sorriu, — O que dizer de abrirmos um?
H aviam poucas notícias boas o suficiente no momento, e Elzar
Mann ficaria grato por alguma. Isso lhe daria alguma medida de alegria
por um tempo.
— Confirmado, — disse JJ-5145 conforme rodava entre o emaranhado
de cabos que ligavam os astromecânicos no escritório do intendente, — A
Ataraxia decolou livre da destruição da outra metade da estação. Presumo
que muitas pessoas a bordo da parte superior da estação evacuaram com a
nave.
Avar vive. Elzar não tinha sentido a sua morte, o que certamente teria
acontecido. Ainda assim, a confirmação trouxe uma faísca de luz em seu
mau humor.
JJ-5145 sacudiu a cabeça de um lado para o outro em aparente confusão.
— Essas trajetórias da parte superior da estação não batem. Ela deveria
ter caído mais rápido.
— Sem dúvida os Jedi a bordo usaram a força para segurar a estação
juntos o máximo que podiam.
— Elzar tinha sentido o esforço titânico... a tentativa heroica..., mas
tinha visto o seu fracasso. Já considerava tentar algo assim com essa metade
do Farol (tudo que restou do Farol, agora); significaria total reconexão com
a Força novamente como não tinha desde Ledalau, de uma forma que ele
ainda não estava plenamente confiante, mas se fosse necessário, Elzar o
faria. No entanto, entre a perda de tantos Jedi e a estranha perturbação na
Força a bordo, suspeitava que não teriam sorte melhor que os da parte
superior da estação.
A Força não podia resolver tudo. Algumas vezes até o mais poderoso
Jedi tinha de lidar com o mundo material enquanto eles a buscavam. Essa
era uma das vezes.
Coloque os propulsores posicionais para funcionar, Elzar disse a si
mesmo, e a preocupação com as limitações da Força depois.
Mas a sua próxima tarefa prometia ser mais difícil que isso.
Stellan Gios entrava e saía da... consciência? Sono? Não podia saber a
diferença e não se importava mais. O seu corpo pedia descanso; sua mente
cansada estava pronta para desistir também.
Então uma mão tocou seu ombro, o forçando a reconhecer o mundo
além de sua pele.
— Sim, — ele respondeu, — Sim, estou acordado. Estou aqui.
— Stellan, aqui é o Elzar, — O tom de Elzar era gentil, como deveria ser
se estivesse falando com uma criança assustada, — Você me entende?
— Entendo, — Stellan se esforçou para ficar sentado de forma que
pudesse olhar Elzar nos olhos. O desânimo que viu ali fez Stellan se
perguntar se ele parecia tão mau como Indeera Stokes; ele apenas se sentia
um pouco mais consciente, — Estamos... na estação...
— Ainda caindo, mas os propulsores posicionais estão de volta com um
terço da potência. Se pudermos o aumentar para dois terços, podemos
permanecer no alto por muito tempo, provavelmente o suficiente para
receber ajuda. E se pudermos aumentar para o total, podemos ficar
indefinidamente.
O humor de Stellan mudou... não muito, mas o máximo que seria
possível pensar.
— Excelente. Como está indo a parte superior da estação?
Elzar respirou fundo.
— Eles tentaram usar a Força para segurarem a estação, para diminuir a
velocidade de descida. Mas não funcionou.
— Então precisam de nossa ajuda...
— Não, — disse Elzar, — Não temos como ajudar. Mas eles estão no
passado agora. Me desculpe Stellan... na parte superior do Farol Luz Estelar
foi destruída, junto com todos a bordo.
Estala Maru. Todos os funcionários da República. Todos os civis a
bordo. Tantos outros Jedi... cada um deles mortos, e a República
desonrada... não, humilhada pelos Nihil. Era uma falha completa, tão
apavorante, que Stellan dificilmente compreenderia.
O símbolo dos Jedi. Seu orgulho e alegria públicos. Sob minha
supervisão, o Farol foi destruído.
Elzar inclinou a cabeça.
— Stellan? Pode me ouvir?
Claro que Stellan podia, mas não podia reagir. Não podia agir. Seja o
que for o mal que espreitava a bordo dessa estação tinha roubado mais que
a Força. Tinha levado o seu orgulho, a sua vontade, a sua língua. Se tivesse
apenas roubado a sua dor.
O pedido de socorro que saiu foi genérico, falava em tons gerados por
computador. (Affie não tinha problema em tomar a iniciativa de confiscar a
rede de comunicações de um planeta inteiro, mas reconhecia a linha em
falar literalmente pela República.) Declarava a situação em termos mais
secos e breves possíveis. E ainda assim atordoava todos que ouviam:
O Farol Luz Estelar está caindo sob ataque dos Nihil. Milhares estão
presos a bordo. A metade superior já foi destruída; a parte inferior precisa
de ajuda imediata. Todas as naves capazes de prover alguma ajuda são
requisitadas para viajar ao sistema de Eiram imediatamente.
Muitos que ouviram esse sinal acreditou ser uma brincadeira. Outros
pensaram ser numa propaganda levada pelos Nihil, uma que exagerava o
dano real.
No entanto, aqueles mundos e naves que já tinham testemunhado o que
os Nihil podiam fazer acreditaram. Em minutos, naves espaciais começaram
a se preparar para o salto no hiperespaço. Alguns líderes planetários e
conselhos de governos chegaram ao ponto de iniciar esforços de socorro em
larga escala, preparando frotas e caravanas de naves bem equipadas com
suprimentos médicos.
A mensagem chegou em Coruscant, e foi rapidamente passada para a
Chanceler Lina Soh. Ela estava sentada entre Voru e Matari, lendo a
mensagem transcrita em horror crescente. Ainda nas últimas horas de
suspense, sempre acreditou que as mentes brilhantes a bordo Farol Luz
Estelar encontrariam as respostas. Os Jedi sempre conseguem. Eles
protegeriam a estação e os a bordo do pior.
Ao invés disso... metade do Farol se foi? A maior de todas as Grande
Obras, divididas, queimando?
Eu deveria ter pedido um esforço civil antes, percebeu Soh. Não tinha
feito isso em parte porque parecia impossível que o Farol Luz Estelar
pudesse realmente cair. Mas amplificaria esse pedido e faria o seu próprio.
Que, ao menos, é o que poderia fazer. Que a Força permita que seja a
tempo!
Então lembrou dos Jedi que conheceu... aqueles que tinham salvo seu
filho na lamentável feira da República... aqueles que celebraram com ela,
via holo, apenas uns dias atrás. Então muitos deles já morreram.
E Lina Soh, chanceler da maior República que a galáxia já conheceu,
estava impotente para evitá-lo.
—
Entre os primeiros a ouvir a mensagem foram aqueles que já sabiam do
horror, mais que qualquer um na parte inferior do Farol. Eles estavam entre
os poucos que escaparam da parte superior antes do fim trágico.
Avar Kriss estava na superfície de Eiram, com fuligem e areia nas
roupas, piscando contra a luz do sol. As ondas escuras que marcaram a
incineração dos últimos fragmentos da estação... de Maru, e de muitos
outros... já estavam se dissipando na atmosfera. Tão horrível quanto
estarem testemunhando, Avar mal podia suportar o fato que estavam
desaparecendo. Em breve não haveria nada dessas pessoas, dessa estação,
da esperança da República inteira.
O seu pensamento foi de Elzar, depois para Stellan, ambos que sabia
deveriam estar lutando valentemente para salvar a parte de baixo. Fechou os
olhos e desejou-lhes força. A Força os guiaria. Não perderemos a estação
inteira.
—
Todos astromecânicos do Farol tinham sido ligados em rede nesse
momento; Elzar só esperava que o que perderam em aumento de defeitos
ganhariam em poder de computação. Eles tinham exaurido todas as opções
de ativar os propulsores posicionais que não requeressem ir ao próprio
trabalho mecânico... assumindo que poderiam até mesmo passar pelas áreas
ao redor para fazer esses trabalhos, que agora estão em chamas. Tinha
esperança que os droides trariam uma terceira via, e logo.
Enquanto isso, Elzar tinha alguém para salvar.
Ele se sentou com Stellan num porão de carga no fundo da Embarcação.
(O escritório do intendente, cheios de droides apitando e piscando, não
podia ser visto mais como ‘pacato’.) Stellan aceitou a sugestão de Elzar
com uma disposição perturbadora, e o seu olhar continuava sem foco... uma
sombra do que seu olhar afiado tinha sido tão recentemente.
— Sem a Força, — disse Stellan, ainda olhando para um lugar vago, —
Aqui é onde você esteve. Onde estou agora.
— Você não está totalmente sem a Força, — Elzar não sabia exatamente
o que estava atormentando os Jedi no Farol Luz Estelar, mas se recusava a
acreditar que pudessem estar cortados completamente da Força. A Força era
muito vasta para isso; o seu poder era eterno e universal, e sempre seria, —
É só mais difícil para você buscá-la agora.
— E é o que escolheu para você mesmo, de forma a se desviar da
escuridão, — O rosto de Stellan se franziu um pouco, com um sorriso triste,
— Eu não teria tido a coragem.
Elzar não poderia ter ouvido isso corretamente.
— O que?
— Eu nunca me perguntei quem eu seria sem o meu controle da Força.
Sem a Ordem Jedi para estruturar e definir a minha vida.
— Porque você é um grande Jedi, um dos maiores de todos, — disse
Elzar, — Stellan, certamente não duvida disso certo?
Stellan deu de ombros, com o seu olhar ainda parecia muito longe de
Elzar, longe dessa sala.
— Grandeza pode significar coisas diferentes. Sempre acreditei o que
queria dizer... dever, honra, altruísmo. Mas como pode ser altruísta se nunca
se definiu? Porque eu nunca me defini, Elzar. Vivi como um Jedi
exemplar... me derramei no molde de outros. Tire a minha habilidade com a
Força, e eu me vejo como... como um homem que mal conheço.
— Stellan. Você está machucado. Não é momento de questionar a sua
existência... — Elzar disse ao colocar as mãos nos ombros do amigo.
— É exatamente o momento, — Stellan balançou a cabeça, e por fim,
encontrou os olhos Elzar; a abertura que Elzar viu ali, a vulnerabilidade, era
algo que os dois não tinham compartilhado desde que eram Padawans.
Stellan se defendia tão lentamente, tão gradual, que Elzar nem mesmo
notava.
Meu amigo retornou, Elzar pensou, aquele que nem mesmo percebi que
tinha ido embora.
Stellan continuou:
— Você teve a força para trilhar o seu próprio caminho. Mesmo se esse
caminho fosse torto as vezes, é seu e só seu. Você e Avar, sempre souberam
o que são. Você nunca deixou a Ordem pensar por você. Você sempre
brilhou... um pouco mais brilhante.
— Você tem uma tarefa nada fácil, — protestou Elzar, — Você deveria
estar no Conselho a mais tempo.
— Mas é diferente, e você sabe, não sabe? — Stellan olhou para baixo
por um momento antes de continuar, — Você sempre soube que sou
cauteloso sobre... a sua intimidade com Avar.
Era o último tópico que Elzar sonharia que surgisse, e provavelmente o
último que queria mencionar no momento.
— Eu... uhum...
— Você pensava que era porque eu obedecia às regras, mas essa não é a
verdade toda. Realmente, eu estava com ciúmes, que os vocês dois tinham
uma conexão que eu não partilhava, — Stellan inclinou a cabeça, estudando
Elzar como se eles tivessem se visto há muito tempo, — Uma constelação
de três estrelas, mas duas estão muito mais próximas.
Elzar sentiu a garganta apertar.
— Mas você era nossa estrela polar. Nosso guia. Você sabe disso?
Stellan respirou fundo.
— Fico feliz que pense assim.
Eles precisavam trabalhar, tão importante quanto fosse a conversa, e
quanto precisavam voltar a ela, não era o dia.
— Eu não sei que dano à Força sofreu, — começou Elzar, — ou se é
nossa habilidade de se conectar à Força que está destruída. Independente,
você sentiu o impacto disso. Orla me ensinou uma técnica de meditação...
um tipo de auto cura. Pode ajudar. Tentará isso comigo?
Stellan concordou com a cabeça. Parece que confiava plenamente em
Elzar.
Agora Elzar tinha que confiar em si mesmo.
— Feche os olhos, — disse Elzar conforme fazia o mesmo. Nos olhos da
mente, ele retratou Orla Jareni de pé na praia de Ledalau. Atrás dela as
marés externas.
Veja a Força como um oceano, Orla me disse no primeiro dia do retiro
de meditação. Mas você cai no hábito de acreditar que o oceano é algo que
pode controlar. Esse é o primeiro passo para pensar que a Força é
meramente como uma ferramenta para ser dominada como você quiser.
Nenhum oceano obedece a qualquer criatura viva... hora de se lembrar
disso.
Elzar não podia recriar essa experiência para Stellan, nem pensava que
precisaria. Stellan sabia muito sobre a falta de poder, naquele momento. O
que poderia fazer era encontrar serenidade dentro da própria mente, e
compartilhar o máximo possível.
Não buscaria a Força de alguma fonte externa... apenas a que
encontrasse dentro de si mesmo.
Precisou coragem para Stellan se fortalecer fora da orientação da Força.
Também precisou coragem para Elzar retornar plenamente para a Força,
para acreditar na sua habilidade de dominá-la plenamente de novo.
Muito antes, imaginou que podia ouvir o oceano. Elzar achava que
talvez Stellan o tenha ouvido também.
—
Leox Gyasi teve mais diversão na vida que estava tendo neste dia em
particular, mas se ele não conseguisse aproveitar a carona nos ombros de
um Wookiee um pouco... por que, então, poderia muito bem estar morto.
Então sorriu conforme preparava mais um bloqueio de ar, então gritou.
— Liberar!
A sua pequena equipe abriu espaço, Leox acionou o mecanismo, e
SHOOMP... o bloqueio de ar fechou.
— Estamos em setenta e cinco por cento do caminho, — disse ele,
continuando no ombro de Burryaga, — Está pronto para testar esse seu
esquema de cockamamie?
O jovem Bell Zettifar se esforçou para sorrir.
— Não é cocka... seja lá o que disse. Mas sim. Está quase na hora.
Apenas precisamos ter certeza que as rotas internas e externas estão
liberadas, que trabalharão como se estivessem.
Leox com certeza esperava que sim... assim pelo menos alguns teriam a
chance de sobreviver.
Mais uma vez Stellan estava descansando, Elzar estudava o seu semblante
por alguns momentos. Embora a energia de Stellan permanecesse baixa,
parecia ser um pouco mais dele ali. Talvez, quando acordasse, ele voltaria a
si o suficiente para ajudar Elzar com algumas das decisões diversas os quais
tinham de ser tomadas.
Não. Elzar podia tomar as decisões sozinho; o que realmente queria era
um senso básico de calma. Para achar algo puro e bom que arrancasse a
raiva de dentro dele. Para saber que mais alguém estava com ele nessa luta.
A única pessoa na galáxia que fazia Elzar se sentir assim.
Avar, ele pensou, fechando os olhos mais uma vez enquanto a chamava
telepaticamente. Avar, por favor, esteja comigo. Esteja comigo por apenas
um instante.
Era como se ela pudesse ouvir as palavras em sua mente, mas não
responder. Mas haviam outras formas de comunicação pela Força, outras
formas de entender e ser entendido.
Elzar encheu a mente com as memórias dela: o som da voz, o modo que
duelava no ringue de sabre de luz, até mesmo o perfume de sua pele.
Quanto mais real ela se tornava em sua mente, mais chance tinha de...
E então ele ouviu.
Por apenas um momento. Um breve sentido de melodia. Mas ainda lá.
Era o som da Força como Avar ouvia... e por um instante, ela o tinha
dotado disso.
O choque e o deleite disso quebrou a sua concentração. Elzar estava de
volta no presente, tão longe de Avar como antes. Ainda assim ele estava
forte para esse momento de comunhão.
Esperava que Avar, seja o que for que estiver fazendo, seja quais
problemas estejam enfrentando, tenha partilhado um momento quando ela
ouviu as ondas do mar.
Tão longe e tão perto, Avar levitava com os braços esticados, clamando
pelo som da Força para os sustentar e lhes dar a força enquanto todos Jedi
dentro ou perto do Farol lutava para salvar a estação e todos a bordo. Cada
pessoa era uma nota no maior, e mais significativo acorde que já conheceu.
Entre essas notas vinha outro som, tão sutil que ela mau reconheceu: o
som das ondas, o furor dos mares.
B ell Zettifar levou o grupo na estação reservada apenas para
carga. Como regra geral, as naves de carga eram deixadas sem
vigilância, exceto pelos droides, os pilotos passavam a maior parte do
tempo no resto da estação. Alguns desses pilotos eram parte do grupo
selando essa seção; os outros, os quais tinham aproveitado da hospitalidade
oferecida na parte superior do Farol Luz Estelar, já estava morto.
— Minha intenção é essa, — disse Bell, aparentemente para Burryaga,
mas na verdade para todos que pudessem ouvir. — Nós abrimos essas
portas da doca e deixamos todas as naves de carga fugirem, junto com o
máximo de passageiros que puderem carregar. Isso não salvará a todos, e
significa que muitos perderão as naves ao serem deixadas para trás na doca
principal, mas salvaremos muitas vidas. O piloto chamado Leox parecia
incrédulo.
— Como pode abrir essas portas, mas não as outras, na doca principal?
— Porque, na doca principal, é mais complexa, teríamos de nos segurar
na atmosfera, lidar com a pressurização, manter as naves que ainda não
podem ir para o espaço no lugar, fechar as portas novamente em tempo,
basicamente, é tão complicado que chega a ser impossível até para os
usuários da Força mais experientes. — Isso fez a cabeça de Bell doer só de
pensar. — Aqui, no entanto, todas essas naves continuam dignas do espaço.
Já temos essa área selada da maior parte da estação. O que significa que
tudo que temos que fazer aqui é abrir as portas. Será uma despressurização
explosiva. As pessoas terão de estar preparadas para isso. Mas então podem
sair.
Burryaga resmungou de modo encorajador. Leox levantou uma
sobrancelha que parecia dizer, Bem pensado, garoto. Os outros amontoados
próximos começaram a discutir ansiosos sobre como poderia funcionar, que
naves diferentes poderiam levar, e assim por diante. Foi Pikta Adren que
perguntou:
— Mas como decidimos quem fica e quem vai?
Se mal administrado, Bell podia ver que isso se transformaria num
começo para conflito, mas pensava que sabia como deveria ser feito.
— Obviamente, os pilotos e tripulações dessas naves devem estar a
bordo delas. Cada nave então será lotada com as pessoas, a lotação a ser
determinada por droides. Uma vez que soubermos quantas pessoas teriam
lugar, distribuímos os lugares aleatoriamente.
Uma Ardenniana quase no fundo, uma das pilotos de carga, parecia
desconfiada, cruzado os quatro braços no peito.
— Significa que teremos de despejar a carga?
— Provavelmente, — disse Bell. — Essa é uma emergência extrema.
Certamente você... e os seus empregados, verão isso. — A Ardenniana
concordou com um aceno, já conformada com a perda.
Pikta falou novamente, perguntando a Bell algo que não antecipou:
— O que dizer se não quisermos abandonar as nossas naves? Para
alguns de nós, as nossas naves são as nossas vidas. — Muitos sussurraram
concordando.
Isso parecia suicida para Bell, mas essas pessoas sabiam os fatos, e
podiam tomar as próprias decisões.
— Ninguém seria forçado a ir.
Burryaga rosnou questionando; ele pegou um datapad e fez uma revisão
dos manifestos de carga de tudo na doca. Duas naves estavam levando
criaturas vivas, teriam de ser esvaziadas como as outras cargas? Ou
deveriam salvar as cargas?
— Que criaturas vivas? — Bell pensou inicialmente em charhounds
como Ember; a ideia de deixar para trás mesmo um deles fazia dor o
coração.
Então Burryaga explicou que, mesmo improvável, ambas naves
carregavam rathtars.
— Rathtars? — Bell não esperaria quem ninguém fosse tolo o suficiente
para transportar essas coisas por aí, muito menos dois pilotos na mesma
semana. A julgar pelos risos e olhares incrédulos do grupo no geral, ele não
era o único.
Pikta balançou a cabeça.
— Sim, podemos deixar eles.
Burryaga, no entanto, ficou inexplicavelmente sério. Disse que na última
vez que viu Orla Jareni, ela tinha mencionado os rathtars. Ela achou a
etiqueta suspeita, provavelmente falsa, feitas para prevenir que alguém
olhasse dentro dos compartimentos de carga para ver que era realmente.
Eles tinham de se apressar, Bell sentiu essa urgência em cada célula do
corpo, mas o que dizer se tivesse sido a tática usada pelos Nihil para sabotar
a estação? E se outro ato de sabotagem ainda estivesse acontecendo?
— Certo. — disse ele. — Nós checamos aqueles compartimentos de
carga. Então finalizamos a preparação. Dentro de meia hora precisamos
explodir essa coisa.
— O que fariam a essas coisas? — Nan bateu tão forte no anel de entrada
para a última série de pods de fuga que o pedaço de metal atingiu a sua
mão. A dor pouco importava. — Já passei por todo tipo de corte que já ouvi
falar, e inventei alguns novos. E os pods ainda não vão ser lançados!
— Aquele grupo de Nihil sabia o que estavam fazendo, — assinalou
Chancey Yarrow, — e desde que juntamos as nossas forças a deles e os
ajudamos a fabricar essa crise em particular, só temos a nós mesmos para
culpar.
Nan sentia como se houvesse mais que culpa, mas discutir isso com
Chancey apenas a deixaria mais nervosa, então descartou.
Elas andaram para longe o suficiente do perigo da radiação; isso era o
convés mais baixo, era a sua última tentativa. Mas nenhum dos pods de
fuga estavam ligados diferente. Teria menos importância se Nan e Chancey
tivessem conseguido achar qualquer célula de energia para ativar
manualmente um pod ou dois. Não tiveram essa sorte.
— Vamos ter que voltar para o nível das docas. — disse Chancey.
— Se formos subir lá, seremos pegas. — Nan podia imaginar que alegria
a Addie teria em levá-las aos Jedi. Esperava que uma equipe de captura as
atacasse a qualquer momento.
Chancey balançou a cabeça.
— Não tenho tanta certeza. Sim, em outro momento, estariam
vasculhando a estação de baixo a cima por algum sinal nosso. Mas eles têm
problemas maiores agora.
Isso fazia sentido, Nan presumiu. Mesmo assim, ir para o nível das
docas e presumir que ninguém estivesse procurando-as... estariam jogando
com a sorte.
Então novamente, seriam capturadas, e os Jedi encontrariam um jeito de
fugir do Farol Luz Estelar, a República provavelmente salvaria os seus
prisioneiros também. Eles seriam idiotas o suficiente para isso. Nan preferir
sair de seu próprio jeito, mas Chancey estava certa.
— Certo. Vamos tentar.
Elzar pegou o senso de alarme, novo alarme, mais agudo que o resto, mas
perdeu quase instantaneamente. Respirou frustrado. Agora que tinha parado
de se proteger e mais uma vez procurava pela orientação total da Força,
entendeu mais quão comprometidos seus companheiros estavam. O
amortecimento, e dano, da Força nessa estação...era como ter de trabalhar
com um braço amarrado. Enquanto estivesse acontecendo, não poderia ser
completo, dar o seu melhor, e isso era o que precisava para salvar ao Farol
Luz Estelar.
Do jeito que estava, estava lutando com tudo que lhe restava, e ainda
parecia que não era o suficiente.
Então ele estava falando alto, a maioria das vezes sozinho, mas também
com JJ-5145.
— Não tem jeito de passar com seguranças pelos níveis com radiação
até os mecanismos dos propulsores posicionais. — Elzar continuava
olhando no holo da seção cruzada do Farol, que ele tinha mexido para não
mostrar mais a parte superior. Ser lembrado daquela dor só podia distraí-lo.
— Onde estão as vestes de radiação?
JJ-5145 amavelmente reportou:
— As vestes de radiação estão armazenadas em duas áreas principais a
bordo do Farol Luz Estelar, tanto nos níveis mais altos quanto nos mais
baixos.
— Nós perdemos as vestes do nível superior, mas...
— A área de armazenamento mais baixo com as vestes de radiação está
no momento inacessíveis devido à radiação, — relatou o droide sem
nenhum senso de ironia. Elzar se esforçou para não gemer alto. — Algumas
espécies são mais resistentes à radiação. Alguma delas está a bordo,
Quatrocinco?
— Uma das supervisoras de manutenção, Ar Prace, é uma Fiana, —
disse JJ-5145, que deu a Elzar esperança por um breve momento antes do
droide continuar, mas parece que ela estava na parte superior da estação
quando o Farol se partiu em dois.
Mais uma pessoa se foi que Elzar nem tinha contado.
— Quanto tempo levaria para a radiação diminuir?
— Aproximadamente dez mil anos.
— É um pouco mais de tempo que temos para gastar. — Elzar correu as
mãos do lado do rosto, o arranhão do restolho contra suas palmas. — Naves
podem voar atrás desse nível de radiação, se estiver com escudo, mas não
podemos tirar qualquer nave das docas...
Não, é uma ideia lunática.
É também a única que temos.
— Talvez, — disse Elzar. — Se não podemos voar com essas naves para
fora da estação, talvez possamos voar dentro dela.
—
Bell não pretendia hesitar em seu caminho de volta a torre médica; o Farol
estava sem tempo, e esse conhecimento o pressionava a cada minuto. Mas
no meio do caminho, Burryaga cruzou o seu caminho e rosnou um
cumprimento amigável.
— Burry! Estou indo de volta a torre médica. — Bell apertou a pata do
amigo. — Eu temo, que isso deixa você com os rathtars.
Burryaga informou ao Bell que era a dívida que teria de ser paga depois,
sendo o ideal que Bell pagasse um jantar do tamanho de um Wookiee pra
ele no melhor restaurante de Coruscant.
Exatamente isso, pensou Bell. Nós acreditamos que vamos viver. Temos
de acreditar nisso para fazer todo o possível.
Ele sorriu para o seu amigo.
— Fechado.
Koley Linn gostaria que tivesse um droide câmera no ombro para filmar o
rosto das mulheres quando ele explicou seu plano. O queixo da pequena
caiu, e a mais velha disse:
— Abrir um buraco através das portas das docas? Tem ideia de quanto
poder de fogo precisaria?
— Muito, — respondeu Koley, mas temos o suficiente com as naves
juntas, e podemos fazer isso. O que é o motivo que poderíamos usar mãos
extras para operar as armas nas naves cujo as tripulações não estão, como
dizemos, cooperando.
— Então todos são sugados para o espaço através de uma abertura
irregular que está quente como lava, — disse a mais jovem, Nan. — Você
acha sinceramente que todas as naves vão passar ilesas?
— Não, eu acho que as naves que não estão preparadas, aquelas que não
se ancoraram ou colocarem os propulsores no reverso, serão sugadas
primeiro. Serão rasgadas como descarte. Mas elas apenas abrirão ainda
mais a abertura para o resto de nós, que sairemos por nossa própria conta
em seguida.
— Não tenho certeza que funcione, — disse a mais velha, Chancey ou
algo assim. — De qualquer forma, isso é muito mais difícil do que imagina.
Tão longo que suspeito que não está compartilhando os perigos com todos.
Tão longo para ter certeza que sua própria nave saia por último, quando o
caminho estiver liberado.
Koley amava o momento quando as pessoas percebiam o quanto as tinha
lhes ferrado, e não tinham escolha a não ser ir junto.
— Coloque dessa forma. Não é uma chance de sobrevivência tão grande
quanto terá se for sozinha. E não se engane, os Jedi não vão nos salvar. Se
eles têm alguma resposta, já teríamos ouvido. Eles não podem salvar os
seus amigos, então que chances acha que temos deles nos ajudarem?
Chancey e Nan compartilharam um olhar, que lhe dizia que ele estava à
frente.
Essas duas mulheres, sejam quem fossem, eram difíceis. Eram
complicadas. Elas eram acostumadas a fazer o que fosse preciso para ficar
vivas. Koley tinha visto esse olhar no espelho muitas vezes para não
reconhecer em outra pessoa.
Pessoas como essas poderiam capturar as naves que não colaborassem
com as armas mais pesadas, e o seu plano de fuga poderia se tornar
realidade.
—
Depois uma longa e difícil jornada de volta, Bell finalmente chegou na torre
médica. Surgiu com os sorrisos dos poucos sobrecarregados funcionários
médicos sencientes, mas não conseguiu sorrir de volta até chegar a Indeera
Stokes e Ember. Quando entrou na sala onde deixou a sua Mestra, viu que
ela ainda estava inconsciente, mas viva, descansando na cama, com Ember
ao seu lado, lealmente.
Em algum momento, Mestra Indeera deve ter despertado um pouco,
porque a sua mão estava sobre a cabeça de Ember.
Ao menos, até Ember perceber que Bell tinha retornado. Ela deu um
salto, saltando na direção dele, tão feliz que Bell não pode deixar de rir alto.
— Ei, garota, — sussurrou conforme se curvava para lhe fazer um bom
carinho. — Bom trabalho em cuidar da Mestra Indeera. — Ember se
contorceu alegre, com a sua calda batendo contra o chão.
Esse momento de alegria se provou transitório. Bell passou todo o
caminho de volta para a torre médica se perguntando como ele poderia ser
capaz de transportar alguns ou todos os pacientes para a doca de carga, de
forma que tivessem uma chance de escapar. Seus poucos planos fantasmas
evaporaram conforme ele olhava ao redor para as baias médicas
improvisadas. Essas pessoas não podiam ser transportadas da torre em
menos de algumas horas, e algumas estavam muito feridas para ser seguro
as moverem dali.
Do lado de fora de uma das janelas podia ver o cruzador médico de
Eiram, cheio de médicos e droides médicos e todos suprimentos possíveis,
ainda voando impotente perto do Farol.
Os bloqueios de ar a cada poucos metros em incontáveis passagens
nessa estação, pensou Bell, e nenhum que eles possam usar para atracar.
A menos... a menos que eu possa mudar isso.
V ários seres reagiram diferente a opinião de deixar as suas naves
para trás e fugir via doca de carga. Aqueles que eram meros viajantes,
que eram passageiros a bordo de naves de outros, ou apenas pensavam em
suas pequenas naves como meio de ir de um lugar para outro: Estes já
disputavam as suas vagas. Aqueles que eram donos de suas naves como um
elemento necessário de seus negócios: Estavam hesitantes, mas na maioria
escolhendo ir para a doca.
Mas aqueles que, como Leox Gyasi, pensavam nos seus lares não como
um planeta, mas como uma nave entre as estrelas: Estes estavam ficando
com as suas naves.
Além disso, Leox percebeu que não tinha o menor problema de limpar o
caminho para a doca de carga porque estava parado. Cada indivíduo era
uma pequena centelha de uma grande consciência, o universo
contemplando a si mesmo; se tiver de fazer algo para salvar a sua própria
vida, pensou, deveria estar disposto a fazer isso para salvar a de outro.
Então ficou de pé entre o grupo reunido como preparação para começar
a corrida para a doca de carga.
— Todos a bordo agora sabem, nós temos três rathtars soltos na área
geral da doca de carga, — disse Elzar Mann, que parecia ter assumido o
controle. (com Stellan Gios de pé próximo, parecendo um pouco melhor
que Leox tinha visto da última vez, mas não falou nada.) — Isso significa
que levar as pessoas a pé se tornou significativamente mais arriscado.
Embora Burryaga, Stellan, e eu possamos dar alguma cobertura com nossos
sabres de luz, os rathtars são... desafiadores.
— Não seja educado! Eles uns são idiotas com tentáculos enormes! —
Falou Pikta Adren. Não foi uma ótima piada, mas a maior parte das pessoas
riu. Quase tudo impregnava o clima cada vez mais tenso a bordo.
Elzar simplesmente acenou com a cabeça.
— Tenho falado com as poucas pessoas aqui na doca principal que
chegaram em naves pequenas, de uma só pessoa, tais como uma nave de
reconhecimento. Esses pilotos corajosamente concordaram em se unir em
nossos esforços.
Leox levantou uma sobrancelha. Isso vai levar à onde ele pensa que vai?
Com certeza, Elzar continuou:
— Vamos essencialmente abrir vários corredores entre aqui e o último
bloqueio de ar que agora separa essa parte da estação. Isso permitirá que as
naves voem por dentro da estação até a doca de carga, dando cobertura
extra contra os rathtars, e lhes dando a sua própria chance de escapar
quando abrirmos as portas da doca de carga.
Leox mentalmente aumentou a probabilidade de sua morte nesse
esforço, mas ainda assim teve de dizer:
— Gostaria que pudéssemos vender ingressos pra isso.
Elzar olhou de lado para Burryaga, que empunhou o seu sabre de luz
desligado visto que um rathtar podia aparecer a qualquer segundo.
— Entende que estamos seguros até abrirmos os corredores, certo?
Burryaga grunhiu concordando, mas declarou que eles não ficariam
seguros dos rathtars por muito tempo depois disso. Melhor estar preparado.
— Bom argumento. — Conforme Elzar pegava a sua própria lâmina,
teve uma lembrança fugaz do estranho sabre de luz de duas lâminas de Orla
Jareni. Ela tinha encorajado a iconoclastia dele, sempre lhe disse, fazer as
coisas diferente não significa que está fazendo algo errado.
Gostaria que ela estivesse viva para ver esse plano, porque ela o amaria.
Acenou para Stellan do outro lado da doca, que ativaria a contagem
regressiva através dos astromecânicos. Um droide âncora próximo começou
a entoar:
— Dez, nove, oito...
Os quatro pilotos de reconhecimento ligaram os motores, mandando um
gemido por toda doca.
— Seis, cinco, quatro...
Todos os pilotos de reconhecimento se levantaram do solo, planando no
ar. Aquelas poucas pessoas que não viriam para a fuga se abaixaram para os
cantos mais distantes da sala ou se retiraram para dentro de suas naves.
— Dois, um, iniciar.
Naquele instante, os astromecânicos mandaram sinais para as junções
internas do funcionamento da nave, junções feitas para facilitar a sua
construção original e uma reconstrução teórica. Elas só deveriam ceder em
caso de uma readaptação, mas com os códigos certos poderiam ser soltar a
qualquer momento.
Descendo o corredor vinha uma série de ruídos profundos, vibrantes, o
som do metal se separando e cedendo. Elzar olhou para o grupo reunido e
os viu prontos para correr. Eles o fariam assim que os pilotos avançassem,
que aconteceria logo que...
O corredor final cedesse, as paredes e chão se soltassem em frente deles
para revelar uma enorme caverna escura que se estendia para o que parecia
o infinito. Elzar gritou:
— Vai!
Todos começaram a correr. Os poucos levemente feridos andavam em
cadeiras de rodas tecnológicas, empurrados por amigos ou novos aliados.
Burryaga rugia conforme se movia rapidamente na frente, com o seu sabre
de luz brilhante guiando o caminho, e algumas das pessoas que fugiam
estavam aplaudindo para aumentar a coragem.
Eles não deveriam, os rathtars ouvirão isso, Elzar pensou fugazmente
conforme corria, mas não, os motores das naves eram mais altos, isso vai
desviar a atenção das feras.
Então, ligou o seu sabre de luz também, pronto para a batalha que viria.
—
Koley Linn confirmou a carga em seu blaster. Para a sua sorte, ficou preso
aqui bem quando o seu BlasTech B95 favorito entrou em pane. Ainda
assim, 90% de carga o levaria muito longe. Poderia aniquilar algumas
dúzias sozinho. Contando os outros com ele, tinham poder de fogo
suficiente para superar qualquer resistência.
Um Jedi ficou para trás, o líder, Stellan Gios. Mas parecia como se a
explosão tivesse arrancado algo de Gios. O homem de pé ali era uma
imitação pálida daquele que Koley falou inicialmente. Ele conseguiria sacar
o seu sabre de luz e lutar com ele, do jeito que estava?
Koley decidiu não se importar se Stellan Gios conseguiu se despertar.
Ele olhou para baixo no grupo que ele juntou e riu.
Com Jedi ou sem Jedi, a equipe dele seria a única a bordo com uma
bomba.
Elzar correu pela cobertura vazia do Farol Luz Estelar, mantendo a atenção
focada no caminho à frente. Mas a sua mente ainda tinha espaço para se
perguntar: O que quer que seja que está prejudicado a Força, está matando
o nosso pessoal, não estamos deixando solto novamente? Se sim, ainda
teremos força para abrir as portas da doca de carga?
Só tinha um jeito de descobrir.
O grupo chegou na doca de carga com Burryaga ainda tomando a
liderança. Assim que Elzar entrou na doca, ele podia ver quão
profundamente o local tinha mudado: O chão e as antigas paredes de cada
lado sido retiradas, abrindo um espaço vasto e expondo os esqueletos da
estação, vigas de metal e fios pendurados. Na escuridão acima, Elzar podia
ver as naves de reconhecimento circulando e mergulhando, e atirando.
Algo, mais um grito assustador ecoou pelas vigas, dizia para Elzar que
pelo menos um dos rathtar continuava solto.
O cheiro de carne viva chamava a atenção das feras rapidamente. Elzar
gritou:
— Todos para as suas naves!
Pessoas de duas dúzias de espécies saíram. Os computadores tinham
preservado os chips de identificação com as estações de doca, então todos
sabiam onde encontrariam suas caronas designadas. Dentro de minutos
todos estariam a bordo e prontos para ir.
Vamos apenas esperar que os rathtar nos deem esse tempo, pensou
Elzar.
— Trajes atmosféricos! — Ele disse para Burryaga.
Mas Burryaga já estava correndo em direção ao armário de
armazenamento onde os trajes atmosféricos de cada baía foram mantidos.
Por sorte os trajes eram elásticos o suficiente para servir até pra um
Wookiee, embora Elzar não invejasse a tarefa de Burryaga de lutar com um
traje.
Estava apenas alguns passos atrás quando ouviu um som medonho vindo
de cima.
Elzar olhou para cima para ver um rathtar batendo contra a parede, com
os tentáculos batendo, e indo diretamente para ambos.
— É uma vergonha que o escritório tenha ficado tão caótico tão rápido
depois da organização inicial, — disse JJ-5145, com o único sentimento de
desgosto que tinha expressado desde que o desastre começou. — Em nossa
trajetória atual e taxa de descida que haverá qualquer oportunidade de
restabelecer a ordem é improvável.
— Em outras palavras, — disse Stellan, — você acha que todos vamos
morrer.
— Você morrerá, — especificou carinhosamente JJ-5145. — Eu vou
ficar meramente inativo. Stellan não conseguiu resistir a um sorriso.
— Encontre o lado positivo, Quatrocinco.
JJ-5145 girou:
— Que positivo? O que você quer que eu localize?
— ...pensando bem, seria melhor se monitorasse a rede de
astromecânicos por instabilidades potenciais.
Uma vez que JJ-5145 estivesse ocupado, Stellan teria um momento para
se equilibrar. A Força ainda parecia abafada, distorcida, longe, mas o transe
meditativo, com Elzar o acalmou, o ajudou. Se Stellan não podia ainda ser
como um Jedi deveria, ele poderia pelo menos funcionar como o líder que
deveria.
Um comunicador soou, assustando inicialmente Stellan; tantas chamadas
da comunicação haviam caído no momento. Mas graças ao trabalho sério
dos astromecânicos, a torre médica tinha se tornado uma das poucas
exceções, e o holo granulado de Bell Zettifar apareceu no escritório do
intendente.
— Bell, — disse Stellan. — Está tudo bem onde você está?
— Sim, senhor. E acho que sei como deixar ainda melhor.
Enquanto Bell explicava o seu plano de separar a torre médica do Farol,
um alívio profundo tomou Stellan. Ao menos alguns seriam salvos.
— Quando planeja detonar?
— Em breve, Mestre Stellan. Se eu esperar muito, estou certo que o
impacto levará a torre médica para longe o suficiente para fugir da
gravidade de Eiram.
Ele não estava pedindo permissão. Ele não estava palpitando. A dúvida
que tinha pego Bell desde o desaparecimento inicial de Loden foi embora, e
que não volte mais.
— Você trabalhou bem, — disse Stellan. — Indeera ficará orgulhosa de
você quando acordar. E Loden Greatstorm ficaria orgulhoso também.
Bell piscou rapidamente, segurando a emoção.
— Obrigado, senhor.
Stellan ergueu uma mão em despedida, se perguntando se ainda veria
Bell Zettifar novamente. Ao menos, neste momento, ele tinha sido
concedido um vislumbre do Grande Cavaleiro Jedi que Bell se tornaria.
— Que a Força esteja com você.
—
As boas notícias: Não era um rathtar descendo em direção a Elzar Mann e
Burryaga.
As más notícias: Eram dois rathtars.
Elzar saltou pra frente, atacando com o seu sabre de luz, não com a
esperança de um ataque fatal, mas na esperança de assustar os animais.
Infelizmente, esses rathtars pareciam como objetos reluzentes. Os seus
tentáculos batiam em direção a Elzar, um deles atingindo seu pulso, mas
falhando em dar um aperto.
Elzar pousou para trás na doca em posição de combate, sabre de luz
ainda em prontidão. Burryaga também saltou no ar, no giro atingindo os
tentáculos do rathtar, mas uma ramificação envolveu a cintura do Wookiee,
o apertando poderosamente.
Elzar pensou rápido. Pular sobre os rathtars poderia ganhar tempo, mas
também ficaria vulnerável no ar. Ao invés disso bateu na escada de serviço
ao lado, normalmente escondida dentro do shaft de manutenção, ela tinha
sido exposta no novo espaço cavernoso da doca de carga quando
derrubaram as paredes. Escalou o mais rápido que pode, desesperado para
chegar a Burryaga antes que mais dano foi feito.
Burryaga, no entanto, não terminou de se defender. Ele estendeu as
garras ao máximo, uma visão que Elzar nunca tinha visto, e uma temível,
para atingir o rathtar que o segurava. Gritou de dor e se soltou.
Por um momento, Elzar sorriu. Burryaga usaria a Força para se ajudar,
Elzar pularia até ele, e talvez os Rathtars tinham aprendido sua lição.
Eles não tinham. O outro rathtar girou pela parede para agarrar Burryaga
novamente. Dessa vez, o seu tentáculo abraçou o pescoço, forte o suficiente
para sufocar alguém até a morte. Burryaga bateu no tentáculo novamente,
mas esse rathtar era feito de um material mais duro que o último. Ele apenas
berrou conforme trazia o Wookiee para cada vez mais perto de sua grande e
faminta boca.
—
A doca estava quase vazia. Quase todos lá pareciam distraídos pela
explosão que tinha estremecido a estação, para não mencionar a torre
destacada que parecia estar flutuando por aí do lado de fora. Nan não se
importou em ir dar uma olhada. Não se importava.
O que importava era que haviam algumas pessoas atualmente focadas no
lugar atual e no momento eram membros da pequena equipe de Koley Linn.
Próxima, Chancey deu um rápido aceno pra ela. Um instante depois, o
explosivo de Koley explodiu na doca.
Nan se abaixou, esquivando-se dos detritos e estilhaços, não foi bem
uma bomba, mas tinha dizimado a nave em que tinha sido colocada, e agora
a doca estava cheia de fumaça e gritos. Ela avançou, indo direto para a nave
que tinha sido informada para mirar. As suas botas batendo contra o convés,
vai, vai, vai, vai...
— Unh! — Nan tropeçou em algo e caiu esparramada no convés. Um
pedaço de metal saindo fumaça no chão a queimou ou fez um corte dolorido
no seu antebraço. Pior de tudo, olhou pra cima para ver que tinha tropeçado
em ninguém menos que Addie Hollow, que estava olhando pra ela como se
o olhar pudesse matar.
A aparência não podia matar. Nan podia. Apressou-se a ficar de pé,
pronta para bater em Addie, mas parou quando Koley Linn gritou:
— Ninguém se mova!
Tanto ela quando Addie se viraram para ver Koley de pé próximo do
centro da doca, com o seu blaster mirando numa pequena criança que caiu
no chão, gemendo lamentavelmente. Todos congelaram, Nan viu, tanto os
membros de sua equipe quanto a dos outros, que tinham começado a lutar
mais rápido do que pensariam que fosse possível. Até o estupefato Stellan
Gios surgiu, com o sabre de luz nas mãos, em posição de batalha na
extremidade da doca.
Estamos num impasse, Nan percebeu.
—
Elzar assistiu horrorizado enquanto Burryaga golpeava loucamente com o
seu sabre de luz, ainda sufocando com o aperto do rathtar. O outro rathtar
tentava agarrar a coisa brilhante com um tentáculo e chegou perto o
suficiente para tirar o sabre de luz da mão de Burryaga. Que caiu para trás,
e Elzar o pegou com a Força.
Mas era difícil, muito difícil como se buscar a Força causasse dor, e ela
respondia tão debilmente, e quando Elzar finalmente pegou o sabre, sentia-
se exausto, como se estivesse tentando levitar por horas. É isso que os
outros Jedi estavam lutando todo esse tempo?
Burryaga, ainda estava lutando com o aperto do rathtar, tinha ao menos
consigo livrar o seu pescoço. Ele rugiu para Elzar não se preocupar com
ele; as pessoas da doca de carga precisavam fugir.
— Pare de ser nobre! — Elzar tinha pouca paciência com esse tipo de
coisa. — Preciso que você me ajude com as portas da doca de carga!
Mas Burryaga rosnou que Elzar podia fazer isso. Ele era forte e criativo
o suficiente.
Se alguém Jedi nessa estação podia fazer isso sozinho, seria Elzar Mann.
Ele também queria que Elzar dissesse adeus a Bell.
— Não, Burryaga! — Mas Elzar podia ver que os dois rathtars, agora
trabalhando juntos, estavam arrastando para cada vez mais longe, além do
alcance de Elzar. Se ele exercesse através da Força com tudo que tinha
sobrado, talvez pudesse pegá-los...
...e depois, Elzar não teria força suficiente para abrir as portas.
Elzar jurou em voz baixa. As lágrimas desceram pelos olhos, mas se
recusou a desmoronar. Podia apenas honrar o sacrifício do Wookiee.
O seu trabalho era salvar as pessoas nesse convés, e isso significava
deixar Burryaga ir.
—
A essa altura já era de manhã em Barraza, a maior cidade costeira de
Eiram... ou aquela que havia sido a sua cidade mais populosa até poucas
horas antes. Em vez disso, tornou-se várias outras coisas: uma cidade
fantasma, um engarrafamento, uma cidade muito menos povoada ainda por
vários milhares de pessoas incapazes de sair.
As naves voadoras já haviam partido se pudessem, embora a fuga
frenética tivesse causado vários acidentes; peças de aeronaves fumegantes
jaziam nos telhados onde haviam caído. Landspeeders e veículos com rodas
tentaram segui-lo, mas o terreno ao redor de Barraza era muito acidentado e
irregular para sair da estrada. Isso significava longas filas de veículos
avançando em um ritmo lento demais para garantir que aqueles dentro
estivessem protegidos do horror que descia de cima.
A essa altura, a morte ardente da metade superior do Farol Luz Estelar
havia sido exibida em estações de holonoticiários em todo o planeta; todas
as telas de todos os dispositivos reproduziam o desastre, intercaladas com
depoimentos de testemunhas oculares e, às vezes, pessoas exibindo achados
horríveis e carbonizados que haviam feito na zona abaixo do inferno.
Nada disso era tão assustador para as pessoas da cidade quanto o ponto
escuro escura que aumentava lentamente contra o céu, diretamente acima.
Nem eram as pessoas de Eiram as únicas assistindo com horror.
— Isso é um desastre. — A Chanceler Lina Soh se inclinou
pesadamente contra os targons de cada lado dela. Os holos mostrando as
transmissões de... e reações à... descida de Farol em uma dúzia de mundos
diferentes foram projetados ao seu redor, — O maior desastre para a
República em um século, talvez mais. — Até agora, ela pensou, mas não
era mórbida o suficiente para acrescentar, — Não podemos levar ninguém
lá mais rápido?
— Isso não vai demorar mais de duas horas agora, — disse Norel Quo.
Mas todos eles sabiam que Farol Luz Estelar não tinha tanto tempo.
Um de seus assessores mais novos decidiu que esta era uma excelente
oportunidade de receber atenção.
— Tomei a liberdade, senhora, de redigir várias declarações, cada uma
com nuances ligeiramente diferentes, para a sua revisão. O mais importante
neste momento, é claro, é demonstrar que a República continua forte e no
controle, e que a sua liderança não pode estar ligada a este incidente de
forma alguma...
— Tolo! — gritou Soh. Ela tentou ser uma líder moderada e generosa,
mas esta foi uma provocação além de qualquer restrição, — Este não é um
momento para me preocupar em como dar a volta nisso para a minha
campanha de reeleição. Esta grande tragédia merece respeito, do qual você
parece incapaz. Saia.
O assessor claramente queria perguntar se licença significava ‘agora’ ou
‘para sempre’. (Foi o último, como ele acabou descobrindo.) Ele conseguiu
sabedoria suficiente para simplesmente sair sem outra palavra.
A tragédia pode forjar unidade, pensou Lina Soh. A sua declaração...
que ela mesma escreveria... começava a tomar forma em sua cabeça. Mas
isso não era uma questão de política, não era qualquer tentativa de salvar a
sua própria reputação. Olhou para ela como um médico olharia para uma
ferida, vendo se havia alguma maneira de curar o que não podia ser
desfeito.
Não fosse a visão do Farol Luz Estelar abaixo, Bell poderia estar de
excelente humor.
A torre médica, totalmente ancorada no cruzador médico Eiram,
fervilhava de médicos e droides enfermeiros. Cada pessoa ferida teve
tratamento; cada um deles estava seguro. Ember havia se enrolado em uma
bola de contentamento aos pés de Bell enquanto se sentava ao lado da cama
de Indeera Stokes. Mestre Indeera ainda não havia recuperado a consciência
plena, mas os médicos lhe asseguraram que as suas leituras estavam se
normalizando lentamente, e havia alguma indicação de que ela estava
percebendo tanto som quanto luz. Havia todos os motivos para pensar que
ela não apenas se recuperaria, mas também poderia explicar exatamente que
entidade horrível havia tirado a vida de Regald Coll e Orla Jareni.
E de Loden Greatstorm.
Vamos finalmente obter respostas, pensou Bell.
Ainda assim, na beirada da janela da enfermaria, ele podia ver a metade
inferior do Farol... irregular e feia no topo... ficando cada vez menor à
distância.
Bell pegou o seu comunicador e tentou mais uma vez.
— Bell Zettifar para qualquer um a bordo do Farol Luz Estelar que
possa ouvir meu...
— Padawan Zettifar. A voz de Stellan Gios soou rouca e fraca, mas
melhor do que Bell tinha ouvido pela última vez. — Bom trabalho com a
torre médica.
">— Tem que haver algo mais que eu possa fazer para ajudar, — Bell
insistiu, — Há alguns transportes médicos a bordo. Os funcionários me
ofereceram...
— Não volte aqui, — disse Stellan, — Vidas suficientes estão em perigo
sem que se junte.
Embora Bell pudesse ver o sentido disso, era difícil aceitar que não
havia mais nada que pudesse fazer. Buscando ideias, ele disse:
— Ouça, há alguma maneira de você fazer Burryaga passar? Ele e eu
somos muito bons em pôr as nossas cabeças pra pensar juntas. Talvez haja
maneiras de separar outras seções da estação, para que possam ser puxadas
com segurança pelo trator...
— Eu não posso fazê-lo passar. Infelizmente... sinto muito, Bell.
Perdemos Burryaga.
Bell olhou para o comunicador, como se isso pudesse de alguma forma
mudar as palavras que ouviu.
— Você quer dizer... Burryaga está morto?
— Considerado morto, — Stellan respondeu, — Aparentemente ele deu
a sua vida protegendo Elzar Mann dos rathtars, para que as naves do
compartimento de carga pudessem escapar a tempo.
Considerado morto. Isso significava que eles não tinham um corpo.
Depois do que aconteceu com Loden Greatstorm, Bell nunca desistiria
de alguém que estivesse desaparecido novamente.
—
Descer escadas não era muito menos cansativo do que subir por elas, e Nan
havia feito muitas das duas coisas durante aquele dia incrivelmente longo.
Os músculos de suas pernas pareciam quase gelatinosos quando finalmente
subiu ao nível inferior da estação que abrigava os propulsores posicionais e
fechou a escotilha que ficava entre eles e a radiação mortal.
Chancey Yarrow, embora quase tão vacilante, endireitou-se primeiro,
tirando o capacete com um suspiro de alívio.
— Depois que isso acabar... quero dizer, tudo isso... vou encontrar o
planeta de férias mais próximo com fontes de água mineral quente e me
preparar para um longo banho. Estou falando de dias. Droides vão ter que
voar e me trazer minha comida. Mais pelo menos duas garrafas de vinho
Toniray. Depois disso, talvez... A expressão de Chancey suavizou.
— ...talvez eu possa conversar com a minha filha, tentar novamente. Vai
correr melhor, da próxima vez. Não que pudesse ficar muito pior.
Nesse ponto, as ambições de Nan chegaram ao ponto de ‘não morrer
hoje’. Se conseguisse isso, certamente não pretendia perder tempo com
atividades frívolas. Mas estava exausta demais para começar essa discussão.
— Qual o próximo passo?
— Em seguida, encontramos a matriz de engenharia localizada e
aumentamos o poder dessa coisa.
— Precisamos encontrar células de energia, ou...
— Deveria haver bastante conexão, para emergências como esta. O
Farol só precisa de alguém para ligar os interruptores certos, e é isso que
estamos aqui para fazer. — Chancey sorriu enquanto abria um kit de
equipamentos montado na parede mais próxima, — Não é muito
complicado. Então se anime. A parte difícil acabou.
— Isso é o que você pensa, — disse uma terceira voz... uma familiar.
Chancey e Nan se viraram como um só para ver a equipe Nihil parada
ali olhando para eles: Cale, Leyel e Werrera, esfarrapados e sujos, com os
seus trajes de radiação quase pretos de fuligem, mas ainda muito vivos. Eles
também estavam muito armados, não com blasters, mas com pedaços de
cano que poderiam causar muitos danos.
— O que vocês estão fazendo aqui? — Nan disse.
O rosto invernal de Pau'an de Cale nunca pareceu mais ameaçador.
— Nosso trabalho não terminou com a explosão. Fizemos análises após
a explosão e depois que a estação se dividiu em duas. Não foi difícil ver que
a única maneira de salvar a estação era usando os propulsores posicionais.
— Então colocamos alguns trajes de radiação que tínhamos escondido,
apenas para ter certeza de que não derreteríamos antes que pudéssemos
terminar o nosso trabalho, — acrescentou Leyel, — Desci aqui e esperei
para ter certeza de que ninguém tinha a brilhante ideia de desfazer o nosso
trabalho duro. Mas aqui estão vocês. A menos que vocês tenham vindo de
tão longe para dizer adeus?
Chancey pegou uma ferramenta do kit de equipamentos: um laser de
fusão, que não só podia selar conexões de difícil acesso à distância, mas
também operar como um blaster em um aperto. Nan tinha usado eles assim
antes de si mesma.
— Vim de tão longe para salvar o meu pescoço e fritar qualquer um que
se interponha no meu caminho, — disse Chancey.
— Você arrebataria a maior vitória do Nihil? — A voz de Cale
aumentou de tom.
Quando ele colocava dessa forma, Nan podia ver o seu ponto de vista.
Mas também achava que a vitória dos Nihil já era inegável. O que
importava se houvesse um punhado de sobreviventes? Será que isso
realmente tira a vitória que Marchion Ro havia realizado aqui?
Nem um pouco, ela decidiu, desde que estivesse entre aqueles que
viviam.
No final, Elzar insistiu que o seu veículo para a viagem pela estação seria
uma pequena nave de manutenção para uma pessoa, o tipo de coisa
destinada apenas a pequenos reparos no casco e outros trabalhos externos
ímpares. Stellan havia recomendado algo mais robusto... os pods não eram
destinadas a nada tão perigoso quanto isso, e restava um punhado de naves
monopiloto..., mas ele não disse nada quando Elzar embarcou.
Ele não vai me ouvir, pensou Stellan. A única pessoa com chance de
chegar até ele seria Avar.
A terceira estrela em sua constelação. A luz no céu noturno da qual
Stellan havia se desviado, tudo por causa de um desacordo sobre tática...
um que agora parecia míope, até mesquinho. Como eles puderam deixar os
Nihil, destruidores de tantas coisas, prejudicar a sua amizade também?
Stellan agora percebia isso, foi o maior erro que qualquer um deles já
cometera... e, ironicamente, já que isso os colocara em desacordo, foi um
erro que eles cometeram igualmente, juntos.
Diria a Avar que não a tinha apreciado o suficiente, caso eles se
encontrassem novamente. A sua constelação brilharia no firmamento mais
uma vez.
Visto de fora, o que restava do Farol Luz Estelar parecia ainda mais
quebrado e condenado do que Bell esperava... e esperava que fosse ruim.
Mas os seus olhos se arregalaram quando viu todo o horror: as vigas de
metal dobradas e quebradas se projetando para cima do buraco feio, as
poucas paredes de pé do nível do buraco que revelavam onde os quartos... e
as pessoas... estiveram, a escuridão proibitiva de uma estação largamente
iluminada apenas por luzes de emergência, de modo que brilhava em um
laranja doentio no escuro.
O pior de tudo, a curva da superfície de Eiram tinha chegado a cobrir
quase todo o horizonte, e Bell podia sentir a sutil resistência dos primeiros
traços da atmosfera planetária. Eles tinham tão pouco tempo.
Guiou o transporte espacial ao redor da curva do casco do Farol,
direcionando toda a sua atenção para o compartimento de carga. Sim, veio
aqui para ajudar qualquer um que pudesse, mas o seu amigo Burryaga
permaneceu em primeiro lugar em seus pensamentos. Mestre Stellan o
havia contado o suficiente sobre o desaparecimento de Burryaga para Bell
saber que as chances não eram boas. Ainda assim, o seu cérebro continuava
a fornecer possíveis formas de seu amigo ter sobrevivido: Burryaga poderia
ter conseguido se espremer por uma câmara de ar em um nível superior.
Ou, se ele se livrasse dos rathtars a tempo, poderia colocar o seu traje
atmosférico e se amarrar, o que significa que ele não teria sido sugado
para o espaço quando as portas do compartimento se abriram.
Se Bell pudesse pensar nessas possibilidades, Burryaga também poderia.
Aproximou sua nave do casco ao se aproximar do compartimento de
carga... a vinte metros. Ao fazer isso, Bell sentiu um pequeno arrepio de
medo.
Qual é, disse a si mesmo. Você é um piloto bom o suficiente para lidar
com isso. O que era verdade, mas não fez nada para acalmar a sua
preocupação.
Em vez disso, aumentou.
Algo está errado, ele pensou, o cabelo em seus braços se arrepiando
enquanto o seu coração acelerava. Não é para ser assim, não é assim...
Os controles do transporte não faziam sentido. O que deveria estar
fazendo? Parecia que o painel de instrumentos mudava cada vez que olhava
para ele, enquanto estava olhando para ele, e isso só tornava tudo mais
assustador.
Então outra voz dentro de sua cabeça, aquela que falou com ele como
Mestre Loden já havia falado, disse: Afaste-se deste lugar.
Agindo por instinto, Bell conseguiu empurrar os controles o suficiente
para afastar a nave do Farol Luz Estelar. Dentro de outras cem metros, o
medo começou a diminuir. Respirou fundo enquanto sentia o terror cada
vez mais distante.
De alguma forma... o próprio medo foi colocado a bordo do Farol. E
Bell não tinha dúvidas, foi esse mesmo medo que matou Orla Jareni,
Regald Coll e Loden Greatstorm.
Mas o que é isso? Como é que isso faz?
Essas eram questões que exigiam investigação, e logo. No momento,
porém, Bell estava certo de apenas uma coisa: ele não deveria retornar à
Farol. O que quer que estivesse lá dentro era veneno para os Jedi, e se
voltasse, seria uma presa também.
Em vez disso, ele teria que encontrar uma maneira de ajudar a partir
daqui.
Fazia um tempo desde que Bell havia voado na atmosfera, mas estava
voltando rapidamente.
O céu sobre Farol Luz Estelar não era mais preto, mas azul escuro, um
azul que clareava a cada minuto. Até agora, o arrasto atmosférico em seu
transporte espacial era mínimo, mas só aumentaria a partir daqui.
Felizmente, Bell só precisava chegar a um alcance razoável do Farol
para fazer o seu trabalho.
— O pod de fuga A está livre, — ele relatou, pairando um pouco acima
dele, — Repita, o pod está liberado!
Segundos depois, o pod de fuga foi lançado... o primeiro a se afastar do
Farol Luz Estelar. Bell aplaudiu, então estremeceu; não valia a pena ser
muito barulhento enquanto usava um capacete de voo.
Mas não pôde deixar de sorrir. Depois de tanto sofrimento, perda e
medo, finalmente as coisas estavam dando certo.
Pelo comunicador veio a voz de Affie Hollow:
— Certo, o pod B está carregado e pronto para ser usado. Pode
confirmar se está liberado?
Uma pequena luz laranja ao redor do pod B estava piscando; nenhum
destroço estava em seu caminho. Bell disse:
— Liberação confirmada. Vamos tirá-los daqui!
Este pod também disparou para a frente, lançando-se em um arco longo
e gracioso em direção à superfície de Eiram.
Burryaga poderia ter saído da baía, encontrado um pod, encontrado
uma maneira de liberá-lo, pensou Bell. Tudo era possível.
Deixou essas esperanças de lado para se concentrar no momento
presente. Atualmente era fácil confirmar que os pods estavam liberados,
mas depois dos próximos, eles chegariam a uma área da estação que
mostrava mais danos. Nem todos esses pods poderiam ser enviados com
segurança, e seria trabalho de Bell informá-los sobre quais poderiam.
Não importa quantas vidas já tivessem sido perdidas, cada uma que eles
salvassem seria uma vitória.
Affie estava hesitando sobre a sua escolha de permanecer com a nave antes,
mas nunca tanto quanto fez no momento em que Pikta Adren colocou as
mãos nos ombros de Affie e disse:
— Uma nave não é uma vida.
— Eu sei disso, — Affie conseguiu responder, — Ainda assim, é minha,
tanto a minha nave quanto a minha vida.
— Claro que é. A decisão é sua. — Pikta trocou um olhar com o seu
marido, Joss, que já estava se abaixando no pod de fuga, antes de se voltar
para Affie, — Só quero que você entenda que é sempre possível recomeçar.
Acredite ou não, antes de Joss e eu estarmos juntos, trabalhei na tripulação
de uma pequena nave ao qual me dedicava tanto que... fiz sacrifícios que
não deveria ter feito... Pikta fechou os olhos com força, como se quisesse
retribuir. as memórias, — Longa história. Um pouco fora do assunto. A
questão é que as coisas são sempre substituíveis. As pessoas não são. Isso
inclui você.
— Também inclui minha equipe, — disse Affie. Geode não estava mais
perto de passar pela porta de um pod de fuga do que nunca, — Que tipo de
capitã abandona o seu pessoal?
— Fale sobre isso com o seu pessoal, então. Pergunte a eles o que eles
pensam.
Affie não disse nada, porque já sabia que se perguntasse a Leox e
Geode, eles a empurrariam para um pod de fuga tão rápido que a sua cabeça
ainda estaria girando ao desembarcar. Não queria deixá-los, e não queria
abandonar a Embarcação, e caramba, eles ainda tinham mais de quarenta
minutos! Os pods de fuga podem ser lançados muito mais tarde do que isso.
(Bem. Não muito mais tarde. Mas mais tarde.)
Ou Pikta presumiu que Affie iria aceitar a sua sugestão, ou ela
simplesmente sabia que não havia tempo para discutir mais. Abraçou Affie,
que a abraçou de volta, repentina e nitidamente ciente de que havia feito
uma nova amiga, uma que ela poderia não ver novamente.
— Pousem seguros, — Affie sussurrou, — Encontro vocês no chão.
Leox Gyasi gostava dos Jedi tanto quanto qualquer pessoa, mais se a pessoa
fosse um Nihil, mas os únicos seres na galáxia os quais gostava o suficiente
para confiar a sua vida eram o Geode e a Affie Hollow. Isso significava que
estava prestes a esperar que os Jedi corrigissem essa situação. Se eles
pudessem ter feito isso, eles já teriam feito.
Hora de um novo plano... e esse plano tinha que envolver salvar a
Embarcação.
Leox entendia o que a nave simbolizava para Affie, talvez mais do que
ela mesma. A Embarcação tornou-se dela depois que entregou a sua mãe
administradora de cartel por inúmeras violações flagrantes das leis que
protegem os pilotos contratados. Isso fez da nave a única coisa que Affie
ganhou por tudo o que perdeu, a única prova tangível de que ela não
torpedeou toda a sua vida fazendo a coisa certa.
No final, sabia que, para salvar as suas vidas, Affie desistiria da
Embarcação..., mas estava tão propenso a deixá-la fazer isso quanto a
deixá-la cortar o próprio braço. Tinha que ser de outra maneira.
Pensando rápido, Leox se dirigiu à cabine para verificar algumas
leituras. Geode ficou ali, totalmente imóvel, totalmente em branco. Leox
parou e deu-lhe um olhar fulminante.
— Qual é, cara, se recomponha! Eu sei que é bastante assustador, mas
nesse momento é quando mais precisamos de nosso juízo conosco.
Pegou alguns equipamentos de um armário, colocando uma mochila nas
costas, colocando óculos de proteção e tirando um dispositivo que tinha há
algum tempo. Na verdade, havia vencido em um jogo de Sabacc, muito
tempo antes. Em vários momentos, Leox pensou em vendê-lo... as coisas
não eram baratas..., mas sempre se perguntou se poderia ser útil. Hoje seria.
Affie apareceu na porta da cabine, ligeiramente sem fôlego.
— Certo, o primeiro anel dos pods de fuga está longe.
— Bom trabalho, Pequenina, — disse Leox, — Estamos prestes a sair
por nós mesmos. A única maneira de abrir as portas do compartimento de
lançamento é usando os controles manuais.
— Mas... — Affie franziu a testa, — Esses controles estão localizados
no casco exterior. Fora da estação.
— Realmente estão. — Leox ficou de pé, exibindo o item de seu
armário para os seus companheiros de tripulação pela primeira vez. Geode
ficou novamente em silêncio de choque, embora de um tipo muito diferente
do que antes. O queixo de Affie literalmente caiu.
— Leox... isso... você... — Ela gaguejou, — Você está segurando um
detonador térmico?
— Estive guardando para uma ocasião especial. Parece que é hoje. —
Disse ao assentir.
C hancey Yarrow havia esquecido que trabalhar em máquinas
podia ser divertido. Passou tanto tempo lutando, raspando e arranhando
para obter vantagem, fazendo o melhor que podia em uma galáxia dura...
analisando o seu funcionamento, esquecendo tudo e qualquer coisa que
estivesse além do alcance de suas mãos. Mesmo a invenção, com todos os
deslumbrantes fogos de artifício mentais que proporcionava, carecia de algo
da satisfação central de simplesmente consertar o que precisava ser
consertado.
Eu tenho me concentrado nas coisas erradas ultimamente, ela meditou
enquanto verificava os controladores que alimentavam os propulsores
posicionais do Farol Luz Estelar. Eu deveria voltar ao básico. Há algo a ser
dito para lidar com problemas que podem realmente ser resolvidos.
— Sem pressão, — disse Nan, que estava ao lado dela com os braços
cruzados, — mas só temos alguns minutos restantes.
Chancey entendeu que isso não significava ‘alguns minutos antes do
Farol colidir com a superfície do planeta e matar a todos nós’. ‘Significava
‘uns poucos minutos antes de Farol cair tão pra baixo que os propulsores
posicionais não serão mais capazes de evitar a colisão.’ Ainda não é uma
boa notícia, mas a distinção ajudou a manter a espairecer a cabeça.
Além disso, finalmente vislumbrou a solução. Apenas redirecione um
pouco de energia aqui, incline os propulsores assim... e em poucos minutos,
o Farol Luz Estelar estaria no ar novamente.
Os Jedi algum dia admitiriam que uma prisioneira fugitiva, alguém que
trabalhou com os Nihil, ninguém menos, foi a única a salvar o dia?
Provavelmente não. Mas eles saberiam a verdade. Chancey se perguntou
se eles engoliriam o orgulho da República para agradecê-la. Talvez algum
dia até Sylvestri percebesse o que a sua mãe havia realizado naquele dia, e
esse conhecimento poderia ser a primeira pedra de uma nova ponte entre
elas, uma sobre a qual finalmente poderiam se encontrar novamente.
A esperança não importa, Chancey lembrou a si mesma enquanto
pegava o T-7 e começava a trabalhar. A única recompensa de que preciso é
a sobrevivência.
Elzar avançou com o sabre de luz nas mãos, ouvindo os sons... as vozes...
que ouvia da sala de controle do propulsor.
— Tem certeza que pegou?
— Mais um segundo, e então esse passeio acaba.
Inclinou-se para a frente em um ângulo e viu duas figuras que
reconheceu das imagens que Stellan lhe mostrara: as prisioneiras que
haviam sido capturadas nos ataques aos Nihil, as que protestaram a sua
inocência. No entanto, ali estavam elas, no centro dos mecanismos da
estação, revelando-se como as sabotadoras.
Elas ainda estavam vivas... enquanto Regald Coll, Nib Assek e Orla
Jareni jaziam mortos, transformados em restos empoeirados de si mesmos.
Não só as sabotadoras trouxeram a bordo essas criaturas misteriosas, não só
elas detonaram um dispositivo que matou muitos e condenou a quase todos,
mas agora elas também estavam tentando destruir a última chance de Elzar
salvar vidas.
Não havia fim para o mal que eles criaram? Elas eram completamente
sem piedade, misericórdia, decência comum?
Mil imagens surgiram na mente de Elzar em um instante: o caos criado
pelo Desastre do Hiperespaço. Valo. O terrível destino de Loden
Greatstorm. O rosto pálido e abatido de Stellan. As naves de feridos
vagando pelo espaço, sombrias e mortas como os seres que estiveram
dentro delas. O relâmpago. O seu orgulho, a sua arrogância, a sua
ganância...
Não podia suportar mais.
Não aguentaria mais.
Não mais.
Elzar saltou para dentro da sala, acendendo o seu sabre de luz no meio
do salto, até que pousou diretamente na frente da mulher que estava no
fundo do funcionamento dos propulsores posicionais. Os seus grandes olhos
se arregalaram, e já estava indo para uma arma, pronta e disposta a matá-lo
se essa fosse a única maneira de matar os outros...
Antes que pudesse alcançá-lo, Elzar balançou o seu sabre de luz, com a
lâmina dividindo-a em duas. Instantaneamente ela caiu, morta.
—
Às vezes, o destino lhe deu um brinde.
Leox estava confiante de que teria seguido esse plano de qualquer
maneira, mas foi ótimo que uma das naves estacionadas mais próximas de
seu alvo do detonador térmico fosse a Ás de Pau. Não só nenhum
proprietário vivo seria privado de sua nave devido a danos causados pela
explosão iminente, mas como benefício, algumas das últimas evidências da
existência de Koley Linn provavelmente estavam prestes a cair no
esquecimento.
Guardar rancor contra os mortos é indigno, Leox se repreendeu. A vida
é para ser vivida no agora, onde os mortos não podem mais estar. Precisava
transcender essa mesquinhez... e acertaria isso, assim que tivesse certeza de
que não estavam todos prestes a morrer.
Uma pequena torção clicou o detonador térmico no modo de contagem
regressiva. Leox enfiou o detonador em um pequeno recipiente na frente
daquele pedaço do casco e correu como o diabo. Contanto que colocasse a
Ás de Paus entre ele e a explosão, deveria se sair bem...
A explosão abalou a baía, quase derrubando Leox. Ouviu alguns gritos
um instante antes que aquela seção do casco cedesse... e então a baía se
encheu de vento uivante e o brilho repentino da luz do sol. O estômago de
Leox se revirou com a prova absoluta de que esta estação espacial não
estava mais no espaço, e provavelmente nunca estaria novamente.
Mas ainda teve tempo de sair e salvar a Embarcação.
Leox ativou os grampos magnéticos em suas luvas e correu para a
abertura do casco. A próxima parte seria difícil, mas poderia fazer o
trabalho. Ele tinha que fazer. A vida de Affie e Geode dependia disso.
Nan havia removido apenas parcialmente o seu traje de radiação, então não
demorou muito para ela se proteger novamente para a jornada para cima.
Ainda assim, tinha sido uma longa descida, seria uma escalada mais longa
para cima, e todos os músculos de seu corpo estremeceram de exaustão.
Posso fazer isso? Nan pensou brevemente enquanto olhava para o trecho
impossível do poço de manutenção que levava à segurança. Mas que coisa
inútil de se perguntar. Faria a escalada ou morreria. Não existiam outras
possibilidades.
Nan se moveu para cima o mais rápido que podia enquanto ainda andava
de um lado para o outro e mantinha um aperto sólido. Para se distrair da
queimação em seus braços e pernas, ela começou a planejar o que poderia
vir a seguir. Alcançar um pod de fuga deveria ser factível... e sabia que,
nesse ponto, a República finalmente descobriu como recarregar alguns dos
pods. Mas algum dos pods carregados permaneceria?
Nada a fazer além de tentar, ela disse a si mesma, e continuou subindo.
O Farol Luz Estelar estremeceu ao redor dela. A sua queda estava
próxima.
Uma vez que Elzar chegou acima, correu pelo nível da doca, gritando:
— Alguém ainda está aqui? Alguém mais? Deixe-me vê-los!
Nenhuma resposta. Esperançosamente, isso significava que todos os
outros foram levados para um local seguro.
Algum tempo antes, Stellan havia enviado droides para procurar outros
níveis acessíveis por pessoas que de alguma forma poderiam não ter
encontrado o caminho para a doca; aparentemente os droides não haviam
localizado mais ninguém. Neste ponto, o melhor que Elzar podia fazer era
evacuar todas as almas restantes. Ele e Stellan eram os últimos
remanescentes?
Passos batendo no chão da doca sacudiram Elzar do pântano de sua
tristeza. Virou-se para ver uma garota... a prisioneira de Nihil, Nan, que
parecia alguém que havia encontrado há muito mais tempo... correndo pela
baía, com o vento selvagem chicoteando o seu cabelo com mechas azuis.
Estava indo direto para uma das poucas naves abandonadas restantes. Havia
sido danificado pela detonação recente e poderia não voar.
— Não! — ele chamou, — Pode não funcionar! Venha conosco!
Ou Nan não conseguia ouvi-lo por causa do rugido do vento, ou preferia
se arriscar como mulher livre a viver como prisioneira. Independentemente
disso, correu para a nave sem nunca olhar para trás.
Se ela tivesse se arriscado, teria jogado um dado de sorte, porque os
motores da nave ganharam vida quase instantaneamente. Elzar
simplesmente ficou parado na entrada da baía, segurando-se firmemente,
para vê-la partir. A essa altura, ele a via apenas como mais uma vida salva.
Mais uma pessoa com quem ele não falhou completamente... ao contrário
de tantos outros.
O bipe de um droide atrás dele fez Elzar se virar. Os seus olhos se
arregalaram ao ver que o droide havia, de fato, encontrado mais um
sobrevivente: um atordoado Sullustano que parecia ter sofrido um ferimento
na cabeça. Apesar do sangue escorrendo de sua têmpora inchada e mancar
dolorosamente, a Sullustano estava indo em direção a ele o melhor que
podia.
— Há mais alguns pods de fuga ligadas, certo? — Elzar perguntou ao
droide, que assobiou afirmativamente. Olhou para a abertura dos pods de
manutenção, desejando que Stellan já estivesse de volta. Mas o dever de
Elzar era claro. Ele pendurou o braço do Sullustano por cima do ombro e
começou a guiá-la em direção ao pod de fuga.
— Espere. Vou tirar você daqui.
Mais uma vida salva.
Quando a nave saiu da doca, Nan gritou em puro triunfo. Navegou no céu
azul puro, na luz.
Por um momento, o seu sorriso vacilou quando se lembrou de Chancey
Yarrow... brevemente a sua parceira, embora desconfortável, e agora nada
além de uma lembrança horrível. Mas Nan não se deteve muito nisso. Tinha
que se concentrar em encontrar os Nihil. Se nada mais, teve a melhor visão
da queda do Farol Luz Estelar; Marchion Ro adoraria ouvir os detalhes.
Sim, isso lhe renderia um lugar ao lado dele, pelo menos por alguns dias.
Mais do que isso... bem, seria com ela.
Nan percebeu então que também havia adquirido uma nave própria.
Uma rápida rolagem pelos sistemas de identificação do computador revelou
que era chamada de Ás de Paus. Eu gosto desse nome, decidiu. Eu vou
mantê-lo.
No chão rochoso abaixo, recortado por penhascos e morros, Nan avistou
algumas naves pequenas que circulavam em busca de espaço seguro para
pouso, a maioria delas familiar da baía de ancoragem do Farol. Uma delas
tinha que ser a Embarcação. Tentador, descobrir qual e testar os sistemas de
armas de sua nova nave como último adeus…
Isso poderia esperar. Marchion Ro vem primeiro.
Nan dirigiu a sua nave para cima, em direção ao espaço, à liberdade e
aos Nihil.
— A sua nave já viu dias melhores, — disse Joss Adren a Affie Hollow, —
mas ela verá muito mais quando terminarmos com ela.
Affie deu um tapinha carinhoso na lateral do casco.
— Vamos tê-la brilhando como nova. Bem, não hoje. Mas logo.
Nas últimas horas, todos que escaparam através de pods se reuniram
perto da costa, então não foi difícil encontrar Joss e Pikta Adren novamente.
Affie tinha feito um acordo com eles: transporte para onde eles precisassem
para ir para a galáxia, desde que ajudassem nos últimos reparos necessários
da Embarcação. Era um bom negócio, e os Adrens sabiam disso, e era por
isso que trabalhavam ao lado de Affie, Leox e Geode há algum tempo.
— Graças aos Deuses adotamos uma apólice em nossa nave, — disse
Pikta enquanto verificava algumas fiações na rampa. Leox, que estava
sentado entre Pikta e Geode como uma espécie de amortecedor, assentiu
sabiamente, — Poderemos conseguir outra nave, embora eu não saiba onde
encontraremos uma que gostemos tanto.
— Se for a nave certa, — disse Leox, — você saberá. Em breve você
não será capaz de imaginar as suas vidas sem ela.
Affie se perguntou se ela poderia ter substituído a Embarcação com
tanta facilidade. Graças aos Deuses não teve que descobrir hoje, ou
esperançosamente por muito, muito tempo.
STAR WARS: A ALTA REPÚBLICA - A ESTRELA CADENTE É UM LIVRO DE FICÇÃO. TODOS OS PERSONAGENS,
LUGARES E ACONTECIMENTOS SÃO FICCIONAIS.
DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)
TDW CRB-1/000
G28c Gray, Claudia
Star Wars: A Alta República - A Estrela Cadente [recurso eletrônico] / Claudia Gray ; traduzido por
Tradutores dos Whills.
400 p. : 4.0 MB.
Tradução de: The High Republic - The Fallen Star
ISBN: 978-059-335-54-04 (Ebook)
1. Literatura norte-americana. 2. Ficção científica. I. Dos Whills, Tradutores CF. II. Título.
2017.352
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Agradecimentos
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Star Wars: Guardiões dos Whills
Baixe agora e leia
Quando Jyn Erso tinha cinco anos, sua mãe foi assassinada e seu
pai foi tirado dela para servir ao Império. Mas, apesar da perda de
seus pais, ela não está completamente sozinha, — Saw Gerrera, um
homem disposto a ir a todos os extremos necessários para resistir à
tirania imperial, acolhe-a como sua e dá a ela não apenas um lar,
mas todas as habilidades e os recursos de que ela precisa para se
tornar uma rebelde.Jyn se dedica à causa e ao homem. Mas lutar ao
lado de Saw e seu povo traz consigo o perigo e a questão de quão
longe Jyn está disposta a ir como um dos soldados de Saw. Quando
ela enfrenta uma traição impensável que destrói seu mundo, Jyn
terá que se recompor e descobrir no que ela realmente acredita… e
em quem ela pode realmente confiar.
Sylvestri Yarrow vive uma maré de azar sem fim. Ela tem feito o
possível para manter o negócio de carga da família em
funcionamento após a morte de sua mãe, mas entre o aumento das
dívidas e o aumento dos ataques dos Nihil a naves desavisados, Syl
corre o risco de perder tudo o que resta de sua mãe. Ela segue para
a capital galáctica de Coruscant em busca de ajuda, mas é desviada
quando é arrastada para uma disputa entre duas das famílias mais
poderosas da República por um pedaço do espaço na fronteira.
Emaranhada na política familiar é o último lugar que Syl quer estar,
mas a promessa de uma grande recompensa é o suficiente para
mantê-la interessada… Enquanto isso, o Cavaleiro Jedi Vernestra
Rwoh foi convocada para Coruscant, mas sem nenhuma ideia do
porquê ou por quem. Ela e seu Padawan Imri Cantaros chegam à
capital junto com o Mestre Jedi Cohmac Vitus e seu Padawan,
Reath Silas, e são convidados a ajudar na disputa de propriedade
na fronteira. Mas por que? O que há de tão importante em um
pedaço de espaço vazio? A resposta levará Vernestra a uma nova
compreensão de suas habilidades e levará Syl de volta ao
passado… e às verdades que finalmente surgirão das sombras.