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Capa
Página Título
Índice
Direitos Autorais
Introdução
Epígrafo
Prólogo
Capítulo Um
Capítulo Dois
Capítulo Três
Parte Um
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
Capítulo Seis
Parte Dois
Capítulo Sete
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Capítulo Dez
Capítulo Onze
Parte Três
Capítulo Doze
Capítulo Treze
Capítulo Quatorze
Capítulo Quinze
Capítulo Dezesseis
Parte Quatro
Capítulo Dezessete
Capítulo Dezoito
Capítulo Dezenove
Capítulo Vinte
Parte Cinco
Capítulo Vinte Um
Capítulo Vinte Dois
Capítulo Vinte Três
Capítulo Vinte Quatro
Parte Seis
Capítulo Vinte Cinco
Capítulo Vinte Seis
Sobre o Ebook
Sobre a Autora
Star Wars: A Alta República - Na Escuridão é uma obra de ficção. Nomes, lugares, e outros
incidentes são produtos da imaginação do autor ou são usadas na ficção. Qualquer semelhança a
eventos atuais, locais, ou pessoas, vivo ou morto, é mera coincidência.Direitos Autorais © 2021 da
Lucasfilm Ltd. ® TM onde indicada. Todos os direitos reservados. Publicado nos Estados Unidos
pela Del Rey, uma impressão da Random House, um divisão da Penguin Random House LLC, Nova
York.DEL REY e a HOUSE colophon são marcas registradas da Penguin Random House
LLC.randomhousebooks.com/starwars.com/Facebook.com/starwarsbooks
Reath não conseguiu escapar das despedidas afetuosas de seus amigos por
algum tempo, o que fez com que partisse tarde para o espaçoporto. Ele
entrou correndo, a bolsa pendurada nas costas, poucos minutos antes da
partida programada, mas de alguma forma foi a primeira pessoa a aparecer
na vaga designado. Nenhum dos outros Jedi estavam lá, nem a própria nave
estava.
Ele tinha errado o número da vaga? Reath já estava checando
freneticamente quando ouviu uma voz que reconheceu:
— Estava esperando encontrar você!
Reath se virou para ver o jovem Cavaleiro Jedi Dez Rydan se
aproximando, caminhando para mais perto com uma bolsa sobre o ombro
com as suas vestes para viagem. Não parecia que tinha vindo ao
espaçoporto para dizer adeus a Reath.
— Dez? O que você está fazendo aqui?
Dez sorriu e disse:
— Parece que estamos no mesmo transporte para a Fronteira.
— Não sabia que você foi designado para lá. — disse Reath. Um jovem
Cavaleiro tão ilustre quanto Dez poderia ir a qualquer lugar que desejasse.
— Acabou de sair. — Dez encolheu os ombros. — Na verdade, solicitei
esta tarefa há apenas alguns dias. Sorte que foi aprovado a tempo, hein?
Reath assentiu, o que era mais fácil e diplomático do que dizer: “Por
que alguém em sã consciência iria querer deixar a galáxia conhecida e ir
para o além? Quanto mais o Dez Rydan?!”
Provavelmente tinha a ver com o que Mestra Jora havia dito sobre como
seu segundo Padawan não queria aventura, enquanto o primeiro Padawan
ansiava por aventura demais.
Dez tinha sido o aprendiz da Mestra Jora Malli antes dela escolher
Reath. Às vezes os Cavaleiros mais jovens se tornavam mentores e amigos
íntimos dos próximos pupilos de seus antigos mestres. Embora Reath e Dez
não tivessem um relacionamento tão próximo assim, devido às missões de
Dez mais longe na galáxia, eles eram amigáveis e haviam praticado duelos
juntos. Isso fez com que muitos Padawans invejassem Reath, vários dos
quais escolheram Dez como o modelo a ser seguido.
Apesar da inclinação mais acadêmica de Reath, ele admirava Dez tanto
quanto qualquer um dos outros. Bonito, motivado, alto, com pele dourada e
cabelo preto e espesso, Dez fazia amigos rapidamente. Embora tivesse
passado nos seus testes de Cavalaria apenas oito anos antes, já havia se
destacado tanto na diplomacia quanto na batalha.
— Onde está o transporte? — Reath disse através do borrão das bebidas
que bebeu, esperando que Dez não notasse a sua condição. (Ele não temia
uma palestra, de qualquer forma. Reath tinha autoridade para afirmar que a
Mestre Jora uma vez pegou Dez depois de uma festa na qual muito, muito
mais bebidas foram consumidas, e que ela não o deixou inteiramente fora
de perigo até depois que ele passou nos testes de Cavalaria.)
Se Dez percebeu o estado em que Reath estava, aparentemente não viu
nenhuma razão para falar sobre o assunto.
— Parece que o nosso transporte original tem um subalternador
queimado. — disse Dez. — Obviamente não há muito a ser feito sobre isso.
Eles alegaram que arranjarão um substituto pra nós, mas até o substituto
está atrasado.
— E se eles não aparecerem? — Reath perguntou, meio que esperando
que a resposta fosse, Você pega uma tarefa totalmente nova e começa de
novo!
Dez encolheu os ombros.
— Encontraremos uma outra nave. Certamente alguém vai pra lá daqui
a um ou dois dias.
— Um dia ou dois dias? Esqueça isso. — Orla Jareni cruzou os braços
sobre o peito enquanto se encostava em um dos suportes próximos. Ela
parecia ter surgido do nada, quase luminosa na mundanidade cinza escuro
do espaçoporto. Enquanto Reath e Dez usavam trajes comuns para a
missão, ela usava mantos brancos que eram exclusivamente seus. — Estou
pronta pra sair. Acredite, há pelo menos uma nave neste espaçoporto que
quer tanto o nosso dinheiro que nos levaria direto para o Maw, se
necessário.
Reath só conhecia Orla Jareni de reputação, mas essa reputação era
memorável. Orla recentemente se declarou uma Perseguidora do Caminho,
uma Jedi que operaria independentemente dos ditames do Conselho Jedi.
Alguns Jedi, de vez em quando, se viam atraídos por um período de ação
solitária, quer isso significasse meditação no topo de uma montanha,
ajudando a revolucionários em um mundo governado por um tirano, ou
mesmo, em um caso oposto, tornando-se um cantor insignificante em
Alderaan. Todos os caminhos poderiam levar a uma compreensão mais
profunda da Força, era o que Reath tinha ouvido. Pessoalmente, ele não
acreditou. Ainda assim, se o Conselho Jedi respeitasse a decisão de Orla,
Reath também respeitaria. Parecia que ela sentia que o seu caminho a
levava à Fronteira.
A sua aparência era tão marcante quanto as suas escolhas. Ela era uma
Umbarana, com a pele totalmente pálida e as maçãs do rosto salientes,
comuns dessa espécie. Em comparação, as suas vestes eram tão brancas que
quase faziam a sua pele ter um pouco de cor. O seu cabelo, puxado pra trás
em um coque liso, era de um prateado, tão escuro que parecia preto. Tudo
em Orla era fino, desde as juntas de seu sabre de luz de lâmina dupla até os
cantos de seu sorriso instruído.
O sorriso no qual estava dando naquele momento a Reath, porque foi
pego a encarando. Ele abaixou a cabeça e esperou que não estivesse
corando.
— Eu não teria tanta certeza. — disse o Mestre Cohmac Vitus
caminhando para se juntar ao grupo em espera. A sua voz ressonante sob o
capuz de seu manto dourado fazia com que a cada palavra soasse como um
pronunciamento de um juiz. — Quase nenhum transporte comercial está
indo para Farol Estelar, pelo menos até agora.
Reath não conhecia Mestre Cohmac bem, embora gostaria. O humano
era conhecido tanto como um erudito quanto um místico. Ele aparecia em
notas de rodapé em metade dos livros que Reath lia, sobre tópicos tão
diversos quanto os antigos rituais da Força e negociações de reféns em
grande crise. Nada disso explicava totalmente a mística que pairava sobre
ele. Mestre Cohmac tinha uma altura média para um humano ou quase
humano, mas parecia mais alto por causa de seu corpo esguio e magro, o
cabelo preto espesso que usava quase até os ombros, e a aura de sua
presença.
Até recentemente, Reath tinha visto o Mestre Cohmac com frequência
nos Arquivos. Ele passou muitas horas sentado não muito longe, enquanto
os dois mergulhavam em holocron após holocron. Então por que o Mestre
Cohmac teria solicitado um posto de serviço na Fronteira? Então Reath se
lembrou: Ah, sim, ele também é um folclorista. Ele provavelmente coletará
as histórias e lendas locais.
Ele se perguntou se isso poderia ser perigoso para o Mestre Cohmac,
que era conhecido por ser altamente sensível à Força. Ir a algum lugar assim
certamente iria expô-los a influências com as quais nenhum deles ainda
havia sonhado.
Só então Reath percebeu que Orla Jareni e Cohmac Vitus estavam
caminhando um em direção ao outro, com olhares trocados, meio sorrisos
em seus rostos.
— Agora, veja, eu poderia ter jurado que uma vez ouvi você dizer que
nunca mais voltaria para aquela parte da galáxia. — disse Orla.
— Não importa o quão longe corremos ou em que direção vamos. —
Mestre Cohmac respondeu. — No final, sempre voltamos ao início.
Lentamente, Orla assentiu.
— Sim. É hora de fechar o ciclo das coisas.
O que isso significa? Reath e Dez trocaram olhares que sugeriam que
estavam igualmente curiosos, mas igualmente relutantes a bisbilhotar.
Naquele momento, a atenção de Reath e de todos os outros foi distraída
por uma nave voando pelo espaçoporto, bem baixo, e pousando diretamente
na plataforma onde o transporte deveria estar. Era uma nave incomum, pelo
menos para Reath: o seu revestimento era azul escuro e a cabine e motores
arredondados a ponto de serem bulbosos. Ou foi construído muito tempo
atrás, ou os seres que a construíram não se preocuparam em acompanhar os
desenvolvimentos tecnológicos, o que era um pensamento preocupante.
Quando ele se firmou na plataforma, todos os Jedi trocaram olhares.
— Parece mais uma nave de transporte do que uma nave de passageiros.
— Mestre Cohmac disse.
— Quem se importa? Pode saltar no hiperespaço, não é? — Dez sorriu
enquanto o ar em movimento bagunçava seus cabelos e mantos com um
silvo.
Reath franziu o cenho.
— Talvez?
Assim que a nave pousou na plataforma com um forte baque metálico, a
escotilha se abriu. Dela emergiu uma jovem, possivelmente da idade de
Reath, não mais que um ou dois anos mais velha, com pele bronzeada. Com
o seu comprido cabelo castanho solto enquanto caminhava na direção deles
vestindo um macacão normal de piloto, um capricho incomum e bem
passado, no mesmo tom distinto de azul da própria nave. Na manga foi
costurada uma crista em forma de estrela em laranja escuro. Ela colocou as
mãos nos quadris e estudou a todos como se estivesse desapontada.
— Vocês são os passageiros do Farol Estelar? Achei que estávamos
pegando um bando de monges ou algo assim. Vocês parecem... normais.
— Nós somos os seus passageiros e podemos ser chamados de algum
tipo de monge. — disse Mestre Cohmac sem nenhum sinal de surpresa e
apenas uma pequena pausa antes de perguntar. — Você é a piloto?
Ela sorriu e apontou o polegar para a porta.
— Claro que não. Sou a copiloto, Affie Hollow. Ele é o piloto.
Um copiloto adolescente parecia estranho para Reath, mas quando ele
olhou na direção que ela apontava, todas aquelas perguntas desapareceram,
substituídas por outras mais urgentes. Perguntas como: A camisa daquele
homem está aberta até a cintura? Ele está estendendo os braços para nós
como se quisesse abraço coletivo? Será que quer um abraço em grupo?
Esse cara está usando especiaria?
Não, a pergunta era quanto de especiaria aquele cara está usando?
— Lindas crianças. — disse o piloto, com um sotaque lacônico e um
sorriso enorme. — Sou Leox Gyasi e dou as boas-vindas à embarcação.
Houve uma breve pausa, o que fez Reath se sentir melhor; até mesmo os
Jedi experientes não tinham certeza de como abordar esse cara. Dez
finalmente deu um passo à frente com o seu charme de costume.
— Dez Rydan. Prazer em conhecê-lo. Qual é o nome da sua nave?
Leox e Affie trocaram um olhar, claramente entendendo uma piada que
estava para ser lançada.
— Já te disse. — Disse Leox. Ele era um humano alto, bronzeado e
esguio, e seu cabelo loiro escuro ondulado parecia não ter sido penteado
recentemente. Talvez nunca tenha sido. — Nossa nave é chamada
de...Embarcação. Eu a chamei assim não por causa do depósito, mas pelo
espaço dentro do depósito que lhe dá o seu valor e propósito. Para me
lembrar de olhar além do óbvio, sabe?
Isso soa como um Mestre Yoda que usa especiarias, Reath pensou. O
que era um sinal muito bom ou muito, muito ruim.
— Adorei. — Orla disse com um prazer aparentemente genuíno. —
Podemos ver os nossos beliches?
Affie fez uma careta.
— Sobre isso. Realmente somos mais uma nave de transporte. —
Mestre Cohmac deu a Dez um olhar que parecia dizer “que sorte a nossa”
— Mas vamos arrumar algumas partições e beliches pra vocês. — O rosto
estreito de Affie se iluminou quando sorriu. — Só porque somos uma
substituição de última hora não significa que não podemos torná-la
confortável.
Leox interrompeu:
— Isto é, se você não for muito específico sobre a sua definição pessoal
de “conforto”.
Orla foi a primeira a se dirigir para a passarela.
— Nós somos Jedi, Sr. Gyasi. Não precisamos de mimos.
Affie torceu o nariz.
— Então, os Jedi são monges ou não?
Isso parou Reath antes que percebesse o que isso deveria significar. Se
eles nem sequer realmente compreendem o que os Jedi eram...
— Vocês devem ser de fora da Fronteira, hein?
— Para nós não é uma Fronteira, filho. — Leox conduziu a todos depois
de Orla para a Embarcação. — É nossa casa. Mas se você quer dizer que
não estou acostumado com este trecho da galáxia, isso é verdade. Nunca
antes estive tão perto do Núcleo, nem tão longe dele.
— A Associação Byne cuida do transporte em todo o setor. — Affie
parecia orgulhosa. — Somos apenas uma das naves da Guilda Byne, uma
das menores, honestamente, mas Scover Byne ainda nos deu a primeira
missão a Coruscant.
Reath, envergonhado pela sua falta de tato sobre "a Fronteira", estava
ansioso para levar a conversa adiante. Ele tinha certeza de que essa era a
sua primeira oportunidade para perguntar mais sobre Leox e Affie, a sua
nave, e por que mereceram esta honra em particular. Ele também se viu
ansioso para explicar a Ordem Jedi para pessoas que de alguma forma
nunca tinham ouvido falar deles.
Mas toda a conversa terminou quando Leox e Affie pararam com o seu
grupo no limite da cabine.
— E este aqui é o nosso navegador, Geode. — Leox disse com um
sorriso.
Parado em um canto da cabine estava uma pedra.
Uma pedra alta e ligeiramente mais larga que o próprio Reath, cinza
escuro, com bordas arredondadas e uma superfície dura e escamosa.
Impressionante, como as pedras eram. Mesmo assim, era apenas uma pedra,
não era? Reath franziu a testa, certo de que era algum tipo de piada
estranha.
— Ele é um Vintiano, de Vint. — Leox preguiçosamente envolveu um
braço em torno dos “ombros” da rocha, como qualquer pessoa faria com um
amigo. — Geode é um apelido, aliás. Acontece que não se consegue
pronunciar o nome dele corretamente, a menos que não tenha uma boca.
Reath tentou analisá-lo e falhou. O seu principal consolo era que Dez e
o Mestre Cohmac pareciam tão confusos quanto ele. Orla Jareni, no entanto,
exibia outro de seus sorrisos instruídos.
— Geode, hein? — ela disse. — Prazer em conhecê-lo.
Affie deu um tapinha breve na lateral de Geode.
— Ele é um pouco tímido no começo, mas espere quando o conhecer.
Leox gargalhou ao começar a conduzi-los da cabine para a nave.
— Sim, espere. Mas não quero passar a vocês uma ideia errada. Geode é
um homem selvagem, claro, mas quando se trata de dirigir a nave, ele é um
profissional de valor.
— De peso, você pode dizer. — Orla ergueu uma sobrancelha. — Muito
bem. Vamos dar uma olhada em nossos beliches.
— Bem, nós meio que temos que criar os seus beliches antes que você
possa vê-los. — Admitiu Affie. — É melhor começar.
Ótimo, Reath pensou enquanto se virava para seguir os outros. Não
estou apenas indo para o fim da galáxia, mas a tarefa de nos levar através
do hiperespaço pertence a uma rocha.
Às vezes, a Força tinha senso de humor.
Cohmac Vitus era um homem de razão e lógica. Embora não negasse que
possuía emoções, nunca permitiu que elas nublassem o seu julgamento, ou
assim esperava. A sua mente precisa e sistemática preferia o tangível ao
nebuloso, o quantificável ao misterioso. Mais de um de seus companheiros
Jedi apontou que este era um estado de espírito incomum para um místico.
No entanto, isso foi parte do que Cohmac sentiu que o trouxe para a Ordem:
a estabilidade e a racionalidade.
Então, por que essa mentalidade agora parecia menos com um dom e
mais como uma defesa?
Porque está viajando para o lugar onde conheceu pela primeira vez o
mal que surge da imprecisão. Da emoção. Tudo isso nasceu entre Eiram e
E’ronoh.
Por um momento, estava de volta às cavernas, Orla tremendo de frio ao
lado, olhando com medo para as formas na escuridão gelada…
Cohmac balançou a cabeça, como se pudesse se livrar fisicamente da
memória. A melhor maneira de sair da lembrança era exercitar o corpo. As
opções eram limitadas em uma nave daquele tamanho, mas uma caminhada
rápida pelos corredores bastaria. Andou pela Embarcação, esperando ter
privacidade. A esperança foi em vão, pois quase imediatamente encontrou
Dez extasiado em uma conversa com Reath Silas.
— Quero dizer... — Reath estava dizendo. — Você nos chamaria de
monges?
— Não exatamente. — Dez disse. — Vejo que você não conseguiu
convencer a Mestra Jora a desistir da trança de Padawan.
— Não tive essa sorte. — Reath apontou vagamente para a nuca.
Antigamente a trança era obrigatória, pelo menos entre os aprendizes de
espécies que cresciam cabelo na cabeça. Hoje em dia, nem todo mestre
exigia tranças; Cohmac não tinha intenção de exigir isso, se ele assumisse
outro Padawan. A Mestra Jora Malli claramente sentia o contrário.
Cohmac pretendia se ausentar, mas antes de se afastar Reath se virou
pra ele ao perguntar:
— Com licença, Mestre Vitus? Posso perguntar como você descobriu e
registrou novas lendas? Como folclorista, quero dizer. Basta encontrar a
feiticeira local e pedir uma história?
— Às vezes sim. — Cohmac olhou através de uma das poucas janelas
pequenas da nave para o azul brilhante e misterioso do hiperespaço. —
Muitas outras vezes é mais complicado. Há sempre as histórias que as
pessoas querem contar sobre si mesmas... e depois há as outras histórias. As
secretas, as obscuras, aquelas cujos significados são mais difíceis de
compreender. Essas histórias não são contadas a estranhos. Claro, essas
geralmente elas são as mais importantes de todas.
Eram as histórias que teriam feito o maior bem, entre Eiram e E'ronoh.
Dez sorriu enquanto começou a conter as suas botas.
— Como você faz para eles as contarem?
— Isso varia. — respondeu Cohmac. — Existem espécies que respeitam
os forasteiros que os pressionam, pedindo fatos. Também existem espécies
que comem estranhos da mesma forma. É melhor não bisbilhotar até saber
com que tipo de cultura está lidando. Enquanto espera, você estuda a arte
deles. Pinturas, tapeçarias, literatura. Simbolismo e alegoria podem revelar
muito. Aí você pergunta sobre a arte e as lendas surgem naturalmente.
— Astuto. — disse Reath. — Mas também engenhoso.
— Obrigado. — Cohmac inclinou a cabeça.
— Deve ser um desafio para você, fazer algo completamente novo. Sair
do mapa. — disse Dez.
— Literalmente. — brincou Reath.
Cohmac poderia ter dito que já estivera naquela área do espaço antes.
Especificamente, para a lua perdida entre os planetas gêmeos que serviram
como hospedeiros para o novo Farol Estelar.
Mas não havia necessidade de falar sobre isso, e Cohmac aprendera a
limitar as suas palavras. Era muito fácil falar demais.
Orla Jareni esperava passar pelo menos parte da sua viagem ao Farol Estelar
conversando com a tripulação da Embarcação. Ela compraria a sua própria
nave em breve, algo que nunca tinha feito antes. Apesar de ter estudado
sobre as especificações e modelos, ainda achava que poderia haver dicas
valiosas para ouvir de pessoas que passaram a vida inteira navegando nas
estrelas.
(Alguns Jedi caíram na armadilha de pensar que os não-Jedi não tinham
nada a lhes ensinar. Orla, entretanto, sempre se lembrava de que cada ser na
galáxia sabia pelo menos uma coisa que ela não sabia.)
Affie Hollow parecia a candidata ideal para conversar, Orla decidiu,
apenas porque Affie parecia ter um compromisso maior com a sobriedade.
Mesmo assim, Orla se viu adiando a conversa. Na verdade, falar sobre a
compra de sua nave significaria falar sobre a sua decisão de se tornar uma
Perseguidora do Caminho. Como a Affie sabia pouco sobre os Jedi,
certamente faria a pergunta mais óbvia: Por quê?
No momento, Orla não se sentia confiante em sua resposta.
Poderia simplesmente dizer “instinto”. Isso era verdade, mas
dificilmente iria matar a curiosidade de Affie. Era provável despertar mais
curiosidade ainda.
Ou ela poderia dizer: “A Ordem Jedi e eu não... concordamos mais.”
Também é verdade. Provavelmente também a colocaria em apuros se
alguém do Conselho ouvisse isso.
Provavelmente a melhor resposta seria: Eu precisava conhecer a Força
de um modo ainda mais profundo e significativo. Também é verdade,
resposta longa e entediante o suficiente para desencorajar novas perguntas.
Perseguidora do Caminho, a sua mente tinha sussurrado, e lá estava ela:
se afastando da Ordem para navegar por uma região desconhecida da
galáxia por conta própria. Esperava que encontrasse lá fora o propósito que
não encontrava em suas missões recentes.
— Estou me iludindo? — ela murmurou, conforme chegava no
refeitório, preparando um chá Chandrilano para si mesma. — Se não
consigo encontrar as respostas no Templo, o que me faz pensar que vou
encontrá-las aqui? O que minha mestra diria se ela pudesse me ver? Se não
conseguir encontrar as respostas no Templo, o que me faz pensar que vou
encontrá-las aqui? O que minha mestra diria se ela pudesse me ver?
Então ela fez uma pausa, esperando que ninguém tivesse ouvido isso.
Provavelmente não, mas em uma nave tão pequena, você nunca poderia ter
certeza. Resolveu manter as suas reflexões internas durante a viagem.
Orla levou um momento para se concentrar, mas descobriu que não
conseguia. As energias na nave estavam ficando confusas. Até mesmo
frenéticas.
— O que está acontecendo? — murmurou Orla.
Foi então que ouviu a voz de Leox Gyasi pelos comunicadores da nave:
— Todos que quiserem continuar vivos, amarrarem-se em algo agora!
— Se tivéssemos que ser atingidos, gostaria que fosse por qualquer outra
coisa. Qualquer rocha maldita lá fora no espaço. — disse Leox. — Sem
ofensa.
O silêncio cordial de Geode indicou que nenhuma ofensa foi levada em
conta.
Affie voltou correndo para a cabine, sem fôlego.
— Tudo bem? — perguntou ela.
— Estamos por hora. Bom trabalho nos reparos, a propósito.
— O garoto monge me ajudou. Mas aquele cargueiro... Leox, aquilo
parecia um fragmento de uma nave de passageiros.
Leox suspirou. Já era a tentativa de falar isso pra ela.
— Sim, era mesmo.
— Deveria ter umas centenas de pessoas a bordo. Talvez até milhares.
— O rosto dela estava arrasado; em momentos como esse Leox se lembrava
do quão jovem Affie realmente era.
— Maneira horrível de morrer. — disse Leox, concordando. Poderia
muito bem soltar tudo de uma vez, mesmo que ainda fosse uma criança,
conseguia lidar com a verdade melhor do que com qualquer mentira. —
Escute, não tenho certeza, mas repassando as leituras... isso parecia muito
com os destroços da Legacy Run pra mim.
Os olhos escuros de Affie se arregalaram.
— Mas a Legacy Run é uma nave da Guilda Byne. A Scover às vezes
viaja com ela.
— Eu não disse que era a Legacy Run. Elas são semelhantes. Talvez
não sejam a mesma. Você só deveria se preparar. Certo?
Ela assentiu, já tentando se concentrar nos assuntos em questão, apesar
da luz febril avermelhada do hiperespaço perturbado ao redor deles. Seu
coração estava com Scover. Nem toda garota poderia se dedicar ao trabalho
quando acabava de descobrir que a sua mãe poderia ter morrido.
Assim que Reath e Orla saíram, Affie se virou para Leox e perguntou:
— Desde quando precisamos de Jedi pra nos ajudar a decidir o que é
perigoso e o que não é? Principalmente quando nunca ouviram falar dos
Nihil.
— Não precisamos deles pra isso. — respondeu Leox. — Mas nós três
precisamos ter uma conversa rápida sem alguém da República presente.
Affie entendeu na hora sobre o que ele estava falando. Ela se inclinou
enquanto Leox colocava um braço em volta de seus ombros e o outro em
volta de Geode.
— É o seguinte. É claro que não queremos que os nossos Jedi pensem
que estão a bordo de uma nave contendo carga que não é, no sentido mais
estrito, permitida na República.
— Nunca. — disse Affie com o rosto sério. — Isso nunca aconteceria.
Os Jedi não sabem de nada pra que pensem isso.
Leox acenou com a cabeça.
— É melhor continuarmos assim. É por isso que não importa quem
esteja lá fora, o que querem, ou quanto podem pagar, continuaremos nos
apresentando como uma nave totalmente aberta, uma nave de transporte de
carga que virou transporte de passageiros apenas pra essa viagem.
— Não importa quem suba a bordo ou onde queiram fazer a busca,
certos compartimentos devem continuar não existindo. — acrescentou
Affie.
— Exatamente. — Leox afastou os braços. — Lembrem-se, as nossas
percepções definem a realidade do universo. Uma coisa se torna real
quando os nossos pensamentos a faz real.
— Não estou pensando nos compartimentos. — disse Affie. — Aqueles
que não existem.
— A Scover vai ficar tão orgulhosa de você.
Leox sorriu pra ela. Affie poderia tê-lo abraçado. Não pelo elogio, mas
por supor que a mãe dela ainda estava viva.
Pela primeira vez desde que a Mestra Jora o havia contado sobre a missão
no Farol Estelar, Reath estava animado. Uma estação espacial abandonada
parecia propensa a oferecer aventuras sem insetos e algumas histórias para
contar a seus amigos quando ele os visse novamente.
Mas Reath não iria pensar nisso ainda. Finalmente poderia voltar a viver
no momento presente, como um Jedi deveria. Já fazia muito tempo.
O seu fascínio aumentava a cada segundo que viajavam para mais perto
da estação. O projeto da estação era um que nunca tinha visto antes: o
centro era uma grande esfera feita de placas hexagonais de algum material
transparente. Anéis pesados de metal agrupados em cordas quadradas em
seus polos, com outro anel de metal estendendo-se ao redor de seu equador
celeste, que ele estimou em cerca de quinhentos metros de diâmetro. Uma
câmara de descompressão fazia parte da própria esfera, mas era inutilizável,
principalmente porque era enorme e de formato altamente irregular,
construída para receber algum tipo de nave que nenhum deles já viram
antes, talvez porque tivesse deixado de existir. A teoria do Mestre Cohmac
sobre o abandono da estação parecia ser precisa, porque os sinais de danos e
desgaste eram aparentes: painéis ausentes e um pequeno pedaço de um anel
quebrado. No entanto, o núcleo deve ter permanecido forte, porque ainda
havia uma luz a qual brilhava no globo central transparente. As leituras
confirmaram isso conforme a Embarcação se aproximava.
— Gravidade, confere. — disse Affie. — Sistemas de suporte de vida,
confere. A atmosfera é uma mistura de oxigênio e hidrogênio, então
podemos embarcar se quisermos.
Reath queria.
— Há quanto tempo você acha que esse lugar está abandonado?
Décadas? Séculos? — perguntou ele.
— Mais pra milênios, a julgar pela tecnologia. — respondeu Leox,
apertando os olhos enquanto analisava a estação. — Isso parece... familiar,
mas não consigo entender o por quê.
— Os Amaxines. — A animação percorreu Reath ao reconhecer,
colocando um sorriso em seu rosto conforme identificava as formas curvas
e padrões familiares do metal. — Isso é tecnologia Amaxine!
— Amaxine? — Affie torceu o nariz. — Quem são eles?
Reath amava uma oportunidade de explicar algo.
— Eles eram guerreiros antigos, de muito tempo atrás, antes mesmo de
existir a República. A sua ferocidade em batalha era supostamente
incomparável. Existem várias lendas sobre como os seus espiões apareciam
do nada, sinalizando para as tropas onde atacar.
— O que aconteceu com eles? — perguntou Affie.
— Aparentemente, quando a República unificou grande parte da
galáxia, os Amaxines não estavam dispostos a aceitar a paz. Então eles
deixaram a galáxia e voaram para o espaço vazio, em busca de outra grande
guerra para lutar. — O que não fazia muito sentido, na opinião de Reath,
mas ele não perdeu tempo julgando uma pessoa que morreu há milhares de
anos. Além disso, a pura emoção deste momento, ver algo que antes tinha
sido apenas mito e lenda de repente ganhar vida, ofuscou todo o resto.
— Agora que você mencionou, acho que já ouvi algumas histórias sobre
os Amaxines, sobre como eles sumiram há muito tempo. — disse Leox
lentamente. — Mas pessoas estiveram aqui bem mais recentemente do que
isso.
— Como você sabe? — perguntou Affie, franzindo a testa. Reath gostou
que ela perguntou, pois significava que ele não precisaria perguntar.
— Coordenadas pré-programadas. — Leox bateu no painel. — Este
sistema estava em nosso computador de navegação. Não sei por que, nem
Geode, nem você. E é por isso que quero que pergunte à sua mãe sobre isso
assim que voltarmos. Você é a única que pode obter uma resposta direta
sobre por que as naves da Guilda Byne vêm programadas com um mapa
que nos leva para fora do hiperespaço, direto pra cá.
Reath virou a cabeça, como se estudasse as leituras mais
profundamente, então ele não conseguia ver o rosto de Affie. A explicação
era óbvia: algum tipo de comércio ilegal, talvez algo que a Guilda fizesse à
parte. Não seria fácil para Affie ouvir isso, com certeza.
Mas havia outras possibilidades. A Guilda poderia monitorar o
comércio ilegal em vez de se envolver nele, ou até mesmo trabalhar contra
ele, com intuito de eliminar a concorrência corrupta. Eles não tinham
informações suficientes pra saber.
Para Reath, informação sempre foi tão vital quanto ar, algo que ele
sentia que nunca poderia acumular o suficiente. No entanto, ele estava
percebendo que não saber tudo criava uma certa... satisfação.
O que provavelmente seria curta. E não foi tão boa quanto estar
informado e preparado. Mesmo assim, ele aceitaria todo o prazer que
pudesse conseguir.
Uma luz vermelha apareceu no console da Embarcação. Então outro.
Em seguida, todos eles quase ao mesmo tempo, brilhando no tom escarlate.
Todos os avisos de alerta da nave estavam soando.
— Uh-oh. — disse Leox. Sua calma de costume finalmente foi abalada.
— Tem uma explosão solar chegando.
Reath olhou na direção aproximada da estrela, mas não era visível
naquele ângulo.
— Quanto tempo?
O rosto de Affie ficou pálido.
— Quatro minutos.
G eralmente um aprendiz deve esperar a aprovação de
um Mestre antes de realizar qualquer ação dramática.
Mas a situação em que se encontravam era diferente.
Reath se dirigiu para os comunicadores.
— Todas as naves! Aproximem-se da estação para ancoragem imediata.
Vocês têm quatro minutos para entrarem no lado seguro da estação, longe
da estrela. Enviaremos ordens de embarque em breve, depois de
verificarmos a estação. Só vão para lá agora!
As coordenadas surgiram no painel de Leox e ele assentiu.
— Obrigado, Geode. Avançando.
A nave se deslocou tão rápido que a gravidade não teve tempo de
compensar e Reath foi jogado para o outro lado da ponte. Aparentemente, o
Jedi mais velho também foi pego desprevenido, a julgar pelos baques e
gemidos que ouviu de dentro da cabine principal.
Em segundos, as outras naves apareceram, todas se dirigindo para a
única parte em segurança atrás da estação. Até que uma nave, a menor
delas, diminuiu a velocidade.
— É a nave da Nan, certo? — Quando Affie concordou, Reath assumiu
os comunicadores de novo. — Nan, vocês precisam se apressar.
— Nosso motor pifou! Precisamos de reparos e não há tempo.
Reath virou para Leox.
— A Embarcação possui raio trator?
— Negativo. — Leox estava com um olhar pensativo. — O que temos é
um cabo de reboque.
— Aponte para a nave de Nan. — disse Reath.
Affie olhou para Reath e ele percebeu que, embora os Jedi estivessem
prontos para arriscar as suas vidas por outros, civis não eram tão
comprometidos assim. Nem era justo esperar isso deles. As pessoas têm o
direito de proteger a sua própria sobrevivência. Porém antes que pudesse
falar, Affie já havia girado o botão para lançar o cabo de reboque e Leox
virou bruscamente em direção à nave de Nan.
Mais baques soaram na parte de trás e Orla Jareni apareceu apressada na
porta, apoiando-se no batente.
— O que droga está acontecendo?
— Estamos fugindo de uma explosão solar. — respondeu Reath. —
Outra nave precisa de ajuda para chegar aqui onde é seguro.
— Entendi. — Orla mudou o humor instantaneamente. — O que posso
fazer?
— A radiação solar está prestes a absorver todo o sistema. — respondeu
Leox. — Pra todos, exceto para os Mizi, essa estação é o único lugar seguro
pra se estar. Portanto, precisamos de exotrajes prontos.
— E de uma ordem de embarque para as naves, então nem todo mundo
está tentando engatar uma câmara de descompressão de uma vez. —
interrompeu Affie.
Imediatamente Orla começou a agir. Reath só podia esperar e observar
enquanto se aproximavam da pequenina nave pertencente a Nan e do seu
guardião. Parecia ainda mais descuidada de perto, obviamente cheia de
fragmentos retirados de outra nave. Como um projeto de artesanato em dias
chuvosos para Ugnaughts, Reath pensou, mas logo retirou o que disse em
seus pensamentos. Essas pessoas estavam fazendo o melhor que podiam
com o que tinham. Eles mereciam respeito por sua engenhosidade.
— A que distância temos que estar para lançar o cabo? — perguntou
ele.
— Não muito perto. — respondeu Leox, provando o que disse ao
disparar o cabo. O cabo avançou através do espaço vazio antes de colidir
com o casco da nave de Nan. Com um brilho de energia, a garra
eletromagnética entrou em ação. — Beleza. Agora só temos que chegar à
estação antes de sermos incinerados em átomos.
Reath tentou não demonstrar a sua reação, mas não deve ter feito um
bom trabalho, porque Affie disse:
— Não assuste os passageiros.
— Só temos 45 segundos. — disse Leox e o queixo de Affie caiu.
Aparentemente, a situação era tão assustadora quanto Reath pensava.
Mas Leox (e, possivelmente, o Geode?) os levou para a curva da estação
esférica dois segundos antes de o espaço se encher de um flash de luz
branca brilhante. Reath cobriu os olhos com o braço e ainda assim ficou
cego por um momento.
Quando conseguiu enxergar novamente, ele disse:
— Isso significa que conseguimos, certo?
Leox colocou as mãos atrás da cabeça.
— Sou bom ou não sou?
Affie Hollow não entendeu que a “sombra” Dez e Reath estavam falando (o
que não fazia sentido, já que estavam envolvidos por luz) e nem se
importava. Qualquer que fosse o misticismo que esses monges-bruxos
propagavam, era pouquíssimo interessante para ela. A estação, entretanto,
era fascinante.
Não por causa das antiguidades que os Jedi estavam bajulando.
Mas por causa de objetos muito mais recentes do que isso.
Os olhos penetrantes de Affie avistaram primeiro a chave inglesa,
depois uma anx. Um punhado de ferramentas de viajantes do espaço
espalhadas em um canto, obviamente abandonadas há tempos, mas não
tanto tempo a ponto de crescer plantas sobre elas. O musgo abaixo deles
ainda parecia verde e saudável, então havia gente por lá há alguns meses.
Talvez uns 2 anos? Ela não era uma especialista em musgo. Talvez Geode
soubesse. No entanto, tinha certeza de que não fazia muito tempo que
outros viajantes haviam passado pela estação.
Provavelmente alguns deles foram pilotos da Guilda Byne. Por qual
motivo as coordenadas deste sistema estariam pré-programadas no
computador da Embarcação? Absolutamente nada era mais interessante do
que isso. Mesmo para os padrões de espaço aberto, essa área era desolada.
Então essa estação deve ter sido de alguma utilidade para a Guilda, em
algum momento, ou não seria um dos lugares marcados em seu computador
de navegação.
Centenas de lugares, ela se lembrou. Talvez até milhares. Nunca
contamos todos eles. E pra quê? Alguns desses dados devem ser antigos,
fora de uso. Obsoleta a forma como a Guilda funciona hoje. Scover
construiu tudo a partir de computadores de navegação preexistentes,
quando estava criando a Guilda.
Então se lembrou que Scover naquele momento poderia estar morta ou
ferida por causa de um desastre muito maior do que qualquer coisa que já
haviam encontrado antes e o seu coração doeu novamente. Para os Jedi,
esse desastre era de grande preocupação, mas abstrato; pra ela, era
intensamente pessoal. Lembrar-se de como a sua mãe adotiva havia
trabalhado duro para construir a sua frota de naves deixou Affie ainda mais
esperançosa de que Scover tivesse sobrevivido. Ela merecia viver, colher os
benefícios de todo aquele esforço.
Mas os outros mortos no desastre provavelmente também mereciam
viver. O acaso era muito cruel para prestar atenção ao que as pessoas
mereciam.
Dez estava estudando a inscrição na estátua de arenito.
— Consegue ler? — perguntou Reath.
— Não, não está escrito em Aurebesh e os agrupamentos de glifos não
se parecem com o Básico. Mas também não é completamente desconhecido.
Isso me lembra algumas línguas antigas que estudamos. Um estudioso de
verdade deve ser capaz de traduzir. Felizmente temos um a bordo.
Affie se perguntou se deveria mencionar as ferramentas ou não. Os Jedi
não pareciam se importar com quem poderia ter usado a estação
recentemente, então decidiu que manteria essa informação para si mesma
por enquanto. Quando tivesse a chance de falar com Leox ou Geode
sozinha, eles poderiam discutir isso e decidir o que os Jedi precisavam e o
que não precisavam saber.
Quando Cohmac deu uma boa olhada pela primeira vez na pequena nave
que se aproximava deles com um décimo de potência, ele sentiu um
momento de empatia, quase ternura. Ela tinha sido literalmente remendada
de pelo menos outras quatro ou cinco naves, com nenhuma delas sequer
parecidas no design. Que pobreza deve ter inspirado isso? Pelo menos a
necessidade desesperada foi correspondida com inovação determinada.
Onde a maioria se considerava presa e sem possibilidade de sair do planeta,
essas pessoas encontraram uma maneira própria de viajar entre as estrelas.
Assim que tiveram a confirmação de que todas as espécies a bordo
podiam respirar dentro da estação, Cohmac indicou que a nave maltrapilha
poderia atracar na câmara de descompressão mais próxima e saiu para
recebê-los, com Orla ao seu lado. O trio de exploração inicial voltou a ficar
ao lado deles quando a segunda câmara de descompressão se abriu.
— Ah, olhe. — sussurrou Nan enquanto caminhava para frente. Ela era
ainda menor do que se parecia na tela, uma garota com, no máximo, um
metro e meio de altura, usando um vestido surrado, mas colorido. O seu
cabelo escuro estava vividamente pintado com mechas azuis, um toque de
vigor e vida. — É igual o meu terrário, mas grande o suficiente para se
conseguir entrar dentro!
— Sim, igual ao seu terrário. — disse o Zabrak idoso mancando atrás
dela, rindo. As roupas dele combinavam com as dela e a sua bengala tinha
incontáveis marcas esculpidas como um registro de alguma medida de uma
vida que Cohmac dificilmente poderia imaginar. — Olá. Eu sou Hague e,
aparentemente, você conheceu a minha pupila Nan.
— Cohmac Vitus, Cavaleiro Jedi. — Ele estendeu a mão para
cumprimentá-lo, um costume que felizmente parecia tão comum na
Fronteira quanto era em casa. — Bem-vindos. Deixe-me apresentar os meus
compatriotas: Dez Rydan, Orla Jareni, Reath Silas e Affie Hollow.
Esperamos transformar esta estação em um lugar de refúgio para aqueles
presos pela interdição do hiperespaço.
— Vocês estão no comando, hein? Bom, bom. Não me importo em dizer
que estamos gratos em vê-los. Quase não havia mantimento a bordo pra
durar mais três dias. Eu não preciso de muito, mas a pequenina...
— Acredito que os transportes maiores oferecerão alimento pra todos
nós. — disse Cohmac. Assumindo que estejam dispostos a compartilhar e
que as vias do hiperespaço não fiquem interditadas por muito tempo. Não
adianta preocupar essas pessoas com isso... — Por enquanto, se
acomodem.
Orla cumprimentou-os com um aceno de cabeça, mas passou por
Cohmac e voltou para a Embarcação por motivos próprios. Os viajantes
não se ofenderam com a sua partida. Nan, em particular, parecia encantada
por ter encontrado pessoas de sua idade.
Cohmac não conhecia a expectativa de vida dos Zabraks, mas Hague
tinha, no mínimo, muitas décadas de idade. Intercalando o olhar entre Reath
e Affie, Nan perguntou:
— Vocês dois são Cavaleiros Jedi também?
Affie fez um som que Cohmac decidiu não interpretar como grosseria.
— Até parece. Sou a copiloto da Embarcação.
— Eu vou ser Cavaleiro Jedi um dia. — disse Reath. — Mas por
enquanto ainda sou um Padawan. Um estudante nos Caminhos da Força.
Nan se animou.
— Ouvi as histórias sobre os Jedi. Pode me falar mais sobre a sua
Ordem? Como vocês aprendem a fazer as coisas que fazem?
A curiosidade sobre os Jedi era grande na região da Fronteira, de
maneiras boas e ruins. Cohmac esperava que causassem uma boa impressão
a partir deste momento. No entanto, suspeitava que o interesse de Nan tinha
tanto a ver com o rosto bonito de Reath quanto com os Jedi. Provavelmente
até mais.
Assim como os Jedi mais velhos sempre faziam ao observar tais
interações entre os mais jovens e pessoas fora da Ordem, Cohmac pensou:
Temo que alguém terá que dizer a ela que os Jedi não...
Bom. Que Reath lide com isso quando e se o assunto surgir.
Orla veio para o seu lado.
— Escute, sei que você tem muito em que pensar no momento. Liderar
o grupo, organizar os refugiados conforme vêm a bordo...
— O que quer dizer com isso? — perguntou Cohmac.
Orla arqueou uma sobrancelha com tanta força que quase foi parar no
cabelo.
— O que eu quero dizer é: você pode distribuir as suas outras funções,
já que não pode distribuir a função de reconhecimento de artefatos antigos.
Dez observou que este lugar está repleto de tecnologia antiga e estátuas
ainda mais antigas. Com inscrições. Em línguas desconhecidas. — Orla
pronunciou tudo na mesma entonação de voz que poderia ter usado para
falar sobre o Neutrino Angler a um fã de corridas no hangar ao lado ou para
descrever doces de Natal para uma criança animada.
Embora Cohmac geralmente fosse mais moderado em seus
entusiasmos... Orla conseguiu chamar a sua atenção.
— Línguas totalmente desconhecidas?
— Pelo menos uma delas fez Dez se lembrar um pouco de
Alderaaneano Antigo. Mas pode estar errado. Os olhos de um especialista
veriam muito mais.
— Então deixo Dez e Reath lidar com o embarque da estação agora. —
Ele colocou a mão no ombro de Orla. — Mostre o caminho.
Após vários passos, Orla disse, mais baixo:
— No começo fiquei abalada. Um acidente nesta área do espaço, uma
nave que não conhecíamos bem...
— Também pensei nisso. — disse Cohmac. Este era um capítulo de seu
passado que raramente pensava. A semelhança entre esta missão e a
primeira missão que ele e Orla tiveram juntos era algo que esperava colocar
de lado e ignorá-la durante o período desse desastre.
Aparentemente, Orla não pretendia deixar que ele se esquecesse disso.
Ele não deveria ter esperado menos. Cohmac praticamente conseguia ver as
palavras pairando nos lábios dela. No entanto, antes que pudesse se
aprofundar no assunto, ela parou e perguntou:
— Você sente isso? A sombra? O frio? Reath e Dez também sentiram.
— É a escuridão. — respondeu Cohmac. — Também senti. Alguma
coisa nesta estação está ligada ao lado sombrio.
A lgumas pessoas ficaram boquiabertas com os Jedi,
sendo incapazes de se conectar com eles; outros poderiam ser hostis,
com medo do que não conheciam, com medo do poder que não poderiam
possuir. Como ficava abrigado dentro do Templo, Reath muitas vezes não
tinha certeza de como quebrar o gelo e se conectar, bem, com as pessoas
comuns.
Com Nan não havia gelo a ser quebrado.
— Os Jedi são soldados? Jurados à República? — Ela olhou para baixo
timidamente enquanto permaneciam sob a copa de folhas que protegia as
docas da estação. — Ou vocês lutam apenas por si mesmos?
Reath balançou a cabeça.
— Nem um nem outro. Quer dizer, nós defendemos a República, mas
trabalhamos com eles. Não para eles. E isso não é tudo o que fazemos.
Tentamos ajudar e proteger todos os necessitados quando podemos.
Isso não fazia muito sentido para Nan.
— Vocês aceitam pagamento? — questionou ela.
— Não somos mercenários. — Ele teve que rir. — É tão difícil imaginar
que um grupo de pessoas tente fazer a coisa certa só porque é a coisa certa?
— É por aí. — respondeu ela, com uma expressão sombria. Apesar de
sua idade, Nan evidentemente presenciou coisas terríveis. — O que é isso
em seu cinto? É a espada da qual ouvimos falar? O sabre de fogo?
Ele sorriu.
— É chamado de sabre de luz. E sim, este aqui é meu.
— Pode acender? — perguntou Nan, com a ansiedade brilhando em
seus olhos escuros.
— Não, a menos que eu tenha um bom motivo.(Não era proibido, mas
se fizesse isso chamaria muita atenção. Mestre Cohmac poderia até pensar
que estavam flertando. Na verdade, Reath pensou que Nan provavelmente
estava flertando, mas ele estava apenas explicando.)
— Por favor. — A expressão de Nan poderia ter derretido até gelo. —
Adoraria saber como funciona.
Antes que Reath pudesse descobrir o quão vulnerável ele estava com a
expressão no rosto dela, a voz de Leox soou pelo comunicador:
— As últimas naves estão desembarcando todos os passageiros na
estação. Estão prontos aí?
— Com certeza. — respondeu Reath. O momento foi quebrado. Ele
poderia se concentrar em seu dever novamente. — Vamos, Nan. Vamos
cumprimentar os convidados.
Ela fez uma careta.
— Os Mizi? Os Orincanos? Pode chamá-los do que quiser... Mas eles
não vão agir como convidados.
— Como vão agir? — perguntou Reath.
Nan estava com um sorriso malicioso.
— Espere e veja.
— Está abafado aqui. — disse Orla. — Quase cheio de vapor. É preciso dar
os parabéns ao bioma, os melhores jardins botânicos raramente duram todo
esse tempo. Este não apenas sobreviveu como tem umidade.
— Sorte nossa. — disse Cohmac ironicamente.
Eles estavam na esfera central, dentro de um lugar que Orla pensava ser
uma espécie de área cerimonial, marcada com um assento de pedra
esculpido ou talvez um trono. Um total de quatro estátuas estavam de
guarda. Cada uma retratava uma espécie diferente, ou talvez uma figura
mitológica, mas todos tinham o mesmo revestimento de ouro e decoração
cheia de joias. As trepadeiras deslizavam ao longo das árvores e arcos
próximos, não literalmente, embora o farfalhar constante criava essa ilusão.
A luz estava ofuscada com as sombras das folhas. Essas sombras
brincaram no rosto de Cohmac quando se aproximou de uma das estátuas,
olhando para as asas e a carapaça delicadamente esculpidas.
— Reconhece isso? — perguntou Orla.
Cohmac balançou a cabeça.
— O estilo da escultura não é diferente do antigo Kubaz. Mas o sistema
deles está tão longe que minha primeira suposição é que a semelhança é
coincidência. Além disso, os Kubaz não têm deuses insetos, até onde eu sei.
Orla colocou as mãos na cintura.
— Talvez não sejam deuses. Talvez sejam monarcas ou líderes
históricos.
— Monarcas, talvez. — disse Cohmac. — Mas duvido que sejam
figuras históricas. A maneira como estão elevados acima do olhar, os halos
grandiosos sobre as cabeças... Veja, há espaços que provavelmente
continham joias ainda maiores antigamente. Para mim, isso sugere
reverência profunda. O mais profundo respeito e adoração. No final das
contas, a história não é tão boa com ninguém. Mas as religiões são. Os
mitos são. Podem haver outros significados também. Até traduzirmos este
idioma, não posso oferecer nada mais do que um palpite. Minha aposta é
que são deuses.
Uma brisa suave soprou a ponta das vestes de Cohmac, passando pela
bochecha de Orla. A princípio, Orla simplesmente sorriu para aquele leve
toque gelado. Então pensou: Acho que é por isso que as trepadeiras estão
farfalhando. Esta estação tem ventilação ainda melhor do que eu
imaginava.
Então Orla sentiu um leve arrepio de mal-estar. Uma sensação estranha
que só crescia em momentos específicos. Cohmac se virou pra ela.
— Aí está. A sombra. A escuridão.
Eles ficaram parados por alguns momentos.
— Todos nós já sentimos. — disse Orla. — Assumi que era apenas uma
árvore rebelde. Às vezes as plantas podem ser fortes no lado sombrio. Mas
isso…
— É diferente. — concluiu Cohmac.
— Parece proposital. — Orla inspirou e expirou, tentando se concentrar
na Força, mas essa calma era ilusória.
A essa altura, a escuridão era mais do que um arrepio, quase uma
presença. Como se algo ou alguém se aproximasse lentamente deles. Orla
se perguntou se isso poderia ser verdade. Tinha um ser escondido nesta
estação? Não estava tão abandonada como acharam?
— Vou checar o corredor. — disse Orla, correndo em direção à porta.
Com o canto do olho ela viu Cohmac assentindo. Ele sentiu a mesma coisa.
E então Orla ficou sozinha na escuridão uivante.
Ela se agachou antes que os ventos fortes pudessem derrubá-la. O frio
gelava até a sua medula e detritos afiados arranharam a sua pele. O terror
atingiu o seu estômago, ameaçando arrastá-la para a escuridão também.
Orla conectou-se à Força para sustentá-la. Mesmo que não pudesse mais
senti-la, a Força sempre estava lá.
— Cohmac! — gritou ela, sem saber por que. — Cohmac, onde você
está?
Fragmentos de metal e mineral grudaram em suas mãos enquanto se
levantava, tentando olhar ao redor. À distância ela só conseguia ver vigas de
metal desmoronadas e, através delas, um brilho sinistro. Embora fosse a luz
mais brilhante que conseguia ver, ela a enchia de pavor...
Não há mais frio. Não há mais escuridão. Orla abriu os olhos (quando
os fechou?) e se encontrou no jardim botânico, perto da porta, exatamente
onde estava alguns segundos antes, quando o universo fazia sentido.
— Cohmac? — chamou, mas não ouviu resposta. Ao se levantar ela o
viu deitado entre o musgo e as trepadeiras do chão, inconsciente ou em
transe, como se estivesse prostrado diante de um deus desconhecido. Orla
correu para o lado dele e assim que se ajoelhou ao lado do ombro de
Cohmac, os olhos escuros dele se abriram. Mas a sua respiração estava
curta e superficial e ele olhou para Orla, parecendo não enxergar direito.
— Precisamos voltar para a nave. — disse Orla gentilmente, sem saber
se Cohmac conseguia ouvi-la. — Deixe-me colocar o meu braço sob os
seus ombros.
— Aquilo não foi apenas uma visão. — Cohmac piscou, então ergueu
os olhos para Orla com total clareza. — Foi um aviso.
Reath pensou que estavam chegando à parte fácil. Todos estavam seguros.
Todos precisavam dividir espaço por um tempo, então todos tentariam se
dar bem, certo?
Ele estava muito errado.
Os primeiros pilotos a surgir eram humanos que pareciam durões e
queriam que você soubesse disso.
— Este lugar está abandonado, né? — perguntou um deles, passando
direto pela mão de Reath estendida em boas-vindas. — Isso faz com que
tudo a bordo esteja disponível.
— Espere. — disse Reath. — Todos merecem a chance de ter os
recursos que precisam.
— Não se forem meus. — O cara puxou o lenço vermelho em volta do
pescoço enquanto sorria para Reath. — Tudo o que não está aparafusado é
meu. Qualquer coisa que eu consigo puxar não está aparafusada. Vamos,
homens. Vamos começar a caçada.
Eles passaram pelos anéis, procurando por armários e depósitos. Antes
que Reath pudesse decidir se iria atrás deles, outro grupo surgiu. Eram os
Orincanos, que se pareciam com os Gamorreanos, só que mais pálidos e
menos fotogênicos. A capitã deles gritou de ira ao ver os humanos já
saqueando o anel, então saiu atrás deles.
Reath foi buscar o seu comunicador.
— Mestre Cohmac, estamos com alguns problemas entre os refugiados.
Se pudesse vir, seria uma grande ajuda.
Nenhuma resposta. Reath recorreu à Força, convocou a sua vontade e
gritou:
— Vocês querem parar de saquear a estação e voltem aqui!
Ninguém ouviu. Ele suspirou em frustração. Mestra Jora era tão boa em
flexionar a vontade das pessoas com a Força, mas era mais uma habilidade
natural do que uma facilmente ensinada. Reath conseguiria pegar o jeito
algum dia, mas isso não resolveria nesse momento.
Relutantemente, Reath puxou o seu sabre de luz. É hora de impor a lei.
Ele nunca havia imposto antes. Mas iria descobrir como era.
Fumaça em suas narinas.
Estrondo em seus ouvidos.
Sangue em sua língua.
Última coisa que percebeu: uma leve luz rodopiante coberta de poeira
que doíam os seus olhos.
Cohmac sentou-se em meio aos destroços de sua nave e avaliou a
situação. A nave permaneceu mais ou menos intacta, o que sabia porque a
temperatura permanecia constante. Através da janela podia ver a superfície
incrustada de sal do planetoide, com pequenos cristais brilhando com os
ventos uivantes. Eles haviam aterrissado na encosta de uma colina, ao que
parecia, pois a nave toda se tinha se inclinado perigosamente para um lado.
Os profundos arranhões que a nave deixou na superfície revelaram pedras
verde-escuras por baixo, enterrada nos centímetros de sal.
Preciso encontrar o Mestre Simmix, pensou ele. Essa era a sua
responsabilidade mais importante, mas isso não significava que pudesse
ignorar os que estavam mais próximos. Próximo a ele, Orla se inclinou para
frente, apoiando as mãos no console do piloto. A respiração dela era
superficial e rápida.
— Orla. — Cohmac conseguiu falar. — Você está bem?
— ...Sim. — Ela pareceu insegura dessa afirmação.
Cohmac se conectou com a Força para encontrar os outros dois
passageiros. Mestra Laret Soveral apareceu pra ele quase que
instantaneamente. Ela havia se afastado da cabine, com dor, mas focada, e
ainda assim o seu espírito estava repleto de tristeza.
Onde Mestre Simmix deveria estar, onde sempre esteve a sua calma e o
seu poderoso foco na Força, Cohmac não encontrou nada.
— Mestre Simmix? — gritou ele, desejando não saber o que a Força já
o havia contado. Pela primeira vez em sua vida ele se afastou da Força,
pensando nela como uma mentira. Cohmac se levantou e subiu o convés
irregular em direção à parte de trás da nave. — Mestra?
Laret Soveral apareceu na porta, com fuligem manchando o seu rosto e
sua roupa. Ela era alta para uma humana, com traços marcantes e uma
presença dominante, mesmo neste momento confuso e difícil. Os seus olhos
castanhos dourados encontraram os dele.
— Sinto muito, Padawan Vitus. O seu mestre novamente está em
harmonia com a Força.
Todos os princípios da doutrina Jedi diziam que Cohmac deveria se
sentir feliz pelo Mestre Simmix, que havia se libertado da ilusão da
mortalidade e das fraquezas da carne.
Em vez disso, Cohmac sentiu como se as suas entranhas tivessem sido
arrancadas pelas garras de um Rancor.
Ao passar pela Mestra Laret, ela não o impediu, apenas o deixou ir.
Após alguns passos, Cohmac encontrou o Mestre Simmix caído amassado
em um canto. Os cintos de segurança desta nave não foram configurados
para Filithar ou qualquer outra espécie sem membros. Simmix riu disso
quando embarcaram, dizendo que se arriscaria.
Por que eu não insisti? Mestre Simmix, sempre cauteloso com a vida
dos outros, às vezes era negligente com a própria. Cohmac mencionou
sobre isso mais de uma vez. Geralmente Simmix ficava feliz quando
Cohmac falava disso. Disse que terceirizou o seu senso de autopreservação
para o seu aprendiz. Porém desta vez, desta terrível vez, Cohmac deixou
passar.
Era o meu trabalho lembrá-lo dos riscos, disse Cohmac a si mesmo
enquanto se ajoelhava ao lado do corpo verde e escamoso de seu Mestre e
fechava os olhos com reverência. Não foi somente a decisão dele de pegar a
nave T-1, mas, mesmo assim, qualquer parcela da culpa que pertencesse a
ele seria para sempre um peso a carregar.
Affie deu a Leox todo o crédito por fazer os seus companheiros refugiados
se acalmarem. Mas tinha que admitir, os Jedi foram rápidos em dar a todos
um objetivo comum, isto é, entrar nos anéis inferiores da estação. Aquele
objetivo coincidiu perfeitamente com o dela.
Eles aceitaram o seu relatório sobre os anéis superiores com bastante
facilidade, o que era bom, pois o seu relatório era verdadeiro. Não era,
entretanto, a verdade completa. Affie estava mantendo o código dos
contrabandistas, e o que pensava sobre aquilo, pra si mesma, por enquanto.
Não faz sentido que este seja um local comum da Guilda Byne,
raciocinou enquanto se preparava para descer para os anéis inferiores com o
resto dos voluntários: Reath, Nan, Dez e um Mizi com membros longos
que, assim como todos os Mizi, preferiu não revelar os seus nomes para
estranhos. Está fora do caminho e não tem nenhuma vantagem óbvia. Mas e
se houver uma sociedade secreta dentro da Guilda, uma que esteja
operando nas costas da Scover? Eles podem estar furtando sem ela saber,
roubando pequenas quantidades de carga ou dinheiro, falsificando
registros para escondê-los da gerência. O local pré-programado pode ter
sido baixado de outra nave, de uma que faz parte disso.
Ela nem precisava perguntar se Leox fazia parte disso; ele nunca faria.
Por mais que essa teoria tenha deixado Affie brava, era de longe a mais
plausível que havia pensando. A Scover não esconderia algo assim dela,
então alguém tinha que estar escondendo coisas da Scover.
O seu peito inchou de orgulho ao se imaginar encontrando provas,
apresentando-as para a Scover, e ouvi-la dizer: Muito bem, filha...
— Certo. — disse Dez Rydan, trazendo-a de volta ao presente. O grupo
de patrulha estava em torno dele perto da entrada do anel inferior. Todos
usavam as suas próprias versões de equipamentos utilitários, exceto os Jedi,
cujas vestimentas cotidianas pareciam boas para todas as ocasiões. — Não
conseguimos obter nenhuma leitura específica sobre o que tem lá, apenas
que não é metal sólido. Se for armazenamento, pode haver itens úteis para
nós, que serão compartilhados igualmente por todo o grupo. Contanto que
todos entendam isso e aceitem os riscos, vamos começar.
— Deveria fazer isso? — Reath perguntou baixinho a Nan, que mal
chegava à cintura do Mizi.
— Estou bem. — respondeu Nan. Ela não mostrou sinais de trauma com
a tentativa de sequestro; Affie não tinha certeza se conseguiria ficar
tranquila assim nessas circunstâncias. — Além disso, Hague não consegue
escalar. Um de nós precisa ficar. Então só poder ser eu.
— Cuide bem dele. — disse Reath.
Nan sorriu.
— Ele retribui o favor.
Chega de espetáculo de flertes. Affie voltou a concentrar a sua atenção
nos túneis que levavam aos anéis inferiores.
Ao contrário de todos os outros túneis, estes mostravam sinais de danos
por seus longos anos de desuso. Enquanto a estrutura externa permanecia
intacta, trepadeiras e raízes do jardim botânico haviam crescido através
deles, transformando o que antes eram passagens claras em labirintos
espinhosos mergulhados na escuridão. Nada que Affie não pudesse ter
explorado sozinha; ela preferiria ir sozinha, caso tivesse mais inscrições do
código dos contrabandistas lá. No entanto, os túneis sinuosos eram
ameaçadores o suficiente para que ela pudesse ver a vantagem de se ter
companhia na viagem.
Dez assumiu a liderança, abaixando-se através do túnel. A gravidade
estava falhando, o que significava que a atração vinha dos anéis inferiores.
Felizmente, as raízes íngremes serviam como escada improvisada. Affie
agarrou-se com força enquanto se abaixava.
Por alguns segundos, ela estava cercada de raízes de árvores e um vasto
campo de estrelas, um contraste que a encantou pela sua estranheza. Porém
não havia tempo para relaxar e se divertir, o Mizi acima dela estava com
tanta pressa para descer que estava cortando trepadeiras para limpar o seu
caminho ainda mais.
Ela ouviu os bipes e gemidos de um droide. Olhando pra cima, viu um
8-T deslizando, com os seus passos agarrando a parede externa do túnel.
Nossa, ela pensou, essas coisas são completas.
Um estalo ecoou pelo túnel e Reath soltou um som de desconforto.
Olhando pra baixo, Affie percebeu que o seu pé havia passado direto por
uma raiz fina. Nada demais.
Assim achava, até que o 8-T passou zunindo por ela na direção de Reath
e o atingiu com um choque elétrico.
— Ai! — Reath chacoalhou sua mão com a dor. — Mas que...
O Mizi gritou de dor. Affie olhou para cima e viu outro 8-T estendendo
as pinças em direção ao Mizi, estalando os dedos dele. Mais adiante no
túnel, pelo menos mais três 8-Ts desciam em direção a eles.
Ela mal podia acreditar, mas não havia outra explicação.
— Estamos sendo atacados!
—O que eles estão fazendo? — Affie gritou tentando
acertar um dos 8-Ts. Não adiantava; outros dois surgiram em seu
lugar.
— Achei que esses droides fossem jardineiros! — gritou ela.
Reath reajustou o seu controle sobre as raízes e estabilizou o seu
equilíbrio.
— Eles são. Mas... Acho que isso significa que eles atacam qualquer
ameaça ao jardim.
— Realmente causamos alguns danos. — comentou Dez enquanto se
balançava através do emaranhado de trepadeiras para um lugar logo abaixo
de Reath. — Posso ver por que se sentiram ameaçados.
As bochechas redondas de Nan coraram; ambos os braços dela estavam
em volta a uma raiz grossa mais próxima, mas as suas pernas balançavam,
porque as pinças de um 8-T estava atacando sob os seus pés, impedindo-a
de encontrar um degrau estável.
— Vamos ficar falando sobre os sentimentos dos droides ou vocês
podem parar essas coisas idiotas?
— Se acalme. — disse Reath.
O que geralmente não era algo muito útil a se dizer, principalmente para
alguém pendurado pelos braços com um enxame de robôs atacando pelo
caminho. Mas isso os mantiveram quietos por um instante, dando a Reath
uma chance de pensar e se concentrar na Força.
Também deu aos 8-Ts a chance de se reagrupar. Dezenas deles estavam
passando pelas paredes curvas do túnel, com os seus trilhos magnéticos
funcionando tão bem que pareciam estar acelerando em um superfície
plana. Apesar de seus corpos escuros não aparecerem muito bem contra a
escuridão do espaço, podia vê-los se aglomerando pela maneira como
cobriam as estrelas. As suas pequenas garras de poda, que há pouco tempo
eram fofas, estavam estalando de forma ameaçadora. Affie deu um berro
quando um deles cortou a ponta de seu longo cabelo trançado. Se as pinças
podiam cortar videiras grossas e finos galhos de árvores, eles poderiam
cortar carne e ossos também.
Quem quer que fosse o jardineiro fanático, que há muito tempo que
havia programado esses droides, tinha feito um trabalho muito bom.
— Certo. — disse Affie bufando, enquanto se colocava em uma posição
mais segura dentro do labirinto de trepadeiras. — Isso não deveria ser um
problema. Vocês Jedi podem voar, certo? Então faça a gente voar pra fora
daqui logo.
— Não podemos voar. Alguns de nós conseguem levitar… — Disse
Dez ao balançar a cabeça.
— Dá no mesmo! — insistiu Affie.
— Mas é complicado de se fazer e difícil sob as situações estressantes.
— encerrou Dez, como se ela não tivesse falado.
— Então está me dizendo que vocês só podem voar quando não
precisam? Pra que serve isso, exatamente? — disse Affie ao fazer uma
careta.
Reath não podia deixar de pensar que ela tinha razão.
Bem abaixo deles, nos anéis inferiores, uma brilhante luz estranha e
arroxeada cintilou.
— O que foi isso? — perguntou Reath.
— Parece algum tipo de campo de energia. — especulou Dez. — Tem
algo interessante lá embaixo, o que quer seja.
— Vamos descobrir assim que estivermos seguros dos ataques dos
jardineiros assassinos... — As palavras de Affie foram interrompidas com
um grito. — Aiii. Essa trepadeira tem espinhos ou algo assim, me arranhou!
— Temos problemas maiores do que um arranhão. — disse Nan,
aparentemente com os dentes cerrados.
— Todos fiquem calmos até eu chegar até a Nan, certo? — disse Dez.
O lugar mais seguro para se mover era bem no centro do túnel, mas
também era o lugar com menos raízes ou cipós para se equilibrar. Qualquer
lugar seguro para ficar em pé estava dentro do alcance dos 8-Ts.
Dez escalou rapidamente, passando por Reath, até o lugar onde Nan e o
Mizi se agarravam a seus frágeis apoios para as mãos. Os 8-Ts se
amontoavam mais perto a cada passo que dava, mas ele nunca parava e nem
deixava de sorrir. Estendendo uma mãos, Dez convocou dois dos cipós de
cima, que se contorceram até a sua mão. Então ele jogou uma para o Mizi e
se abaixou para pegar Nan debaixo do braço.
— Siga-me com a Affie, tudo bem, Reath?
— Entendido! — respondeu Reath.
Dez acenou a cabeça para o Mizi, e, após uma contagem silenciosa entre
eles, começaram a subir. O Mizi se saiu tão bem que Reath percebeu que
Dez estava controlando a sua subida. Era muito mais fácil usar a Força para
ajudar a impulsionar alguém que já estava escalando do que simplesmente
levitá-la no ar.
Então Reath começou a seguir em direção a Affie, assim como os 8-Ts.
O enxame completo os alcançou. Affie estremeceu quando os droides
rastejaram como besouros até a curva da raiz que fornecia seu frágil
controle sobre a parede.
— Não acredito que vou ser derrotada por cabeças decepadas de
astromecânicos. — disse ela, pegando seu blaster. — Mas pelo menos vou
levar alguns comigo antes de...
— Affie, não! — Rapidamente, Reath teve uma ideia. — Não atire nos
droides. Atire nas raízes da árvore abaixo de nós.
— A árvore não é um problema!
— Mas vai ser um problema para os 8-Ts! Entendeu?
A compreensão do plano veio. Affie virou-se e disparou abaixo, na raiz
mais funda que conseguia mirar. O seu blaster acendeu um pequeno
incêndio, que então incendiou um pouco de musgo.
Por menores que fossem as primeiras chamas, foram necessários apenas
alguns fios de fumaça para disparar os alarmes dos 8-Ts. As luzes azuis
piscantes ao longo de suas bases ficaram vermelhas e todos eles giraram
como um só, girando para chegar o mais perto possível da árvore. Como
Reath havia suspeitado, proteger as plantas do fogo tinha prioridade sobre
qualquer outro trabalho que um 8-T tinha, incluindo perseguir vândalos que
invadiram os túneis.
Enquanto os droides borrifavam pequenos jatos de água sobre o musgo,
apagando facilmente o fogo, Reath foi capaz de alcançar Affie, que já havia
agarrado um cipó. Ele esperava que ela subisse ao nível do jardim botânico
sem ele, mas em vez disso ela estendeu a mão para obter ajuda, o que Reath
ficou feliz em dar. Enquanto ela se agarrava aos ombros dele, Affie disse,
ligeiramente sem fôlego:
— Ainda acho que você deveria ter me deixado atirar em um.
— Deixa pra próxima.
Seu pé escorregou e ele conseguiu abaixá-la antes que ela caísse. Reath
esperava que ela risse de sua falta de jeito e se endireitasse imediatamente.
Em vez disso, Affie cambaleou para o lado, segurando um pulso.
— Me sinto estranha. Aquele arranhão... da trepadeira...
— Está doendo tanto assim? — Reath franziu a testa — Deixe-me ver.
Ela começou a estender a mão, depois caiu contra a parede próxima e
deslizou até o chão. A marca em seu pulso já estava saltada e esverdeada, e
listras se espalhavam por ela em tons sinistros de roxo e preto.Veneno.
Zeitooine havia ensinado a Dez muito sobre venenos. A realeza de Zeit era
composta de casas traiçoeiras, sempre tentando assassinar umas às outras
por meios elaborados, tais como a adição de pó nas taças de vinho ou
veneno espalhado em fronhas. Dez reconheceu as listras pretas se
espalhando pela pele de Affie antes mesmo dela desmaiar completamente.
— Vamos. — disse ele, pegando-a pelos braços. — Um kit médico vai
cuidar disso, mas temos que resolver imediatamente.
Dez correu para a Embarcação. Reath correu tão rápido que passou por
eles, o que foi bom; ele poderia preparar o kit médico. A pele de Affie já
havia ficado amarelada e seus lábios já estavam sem cor.
— Deixa comigo! — Reath alcançou a câmara de descompressão
poucos segundos antes que Dez tivesse passado por lá com Affie. Em vez
disso, Dez se ajoelhou, segurando a garota. Em instantes, Reath voltou
correndo com um kit médico na mão.
Bem atrás dele estava Leox Gyasi.
— Ei, ei, o que há de errado com a Pequenina?
— Nada que isso não resolva. — Dez injetou o estimulante antitoxinas
contra a pele de Affie; aquele chiado e clique nunca foram tão bem-vindos.
Efetivamente, após alguns momentos, as listras escuras em sua pele
começaram a desaparecer e a respiração de Affie se aprofundou. Leox caiu
de joelhos aliviado e colocou uma das mãos na cabeça de Affie.
Ela se mexeu, abrindo os olhos.
— O que era aquilo?
— Uma trepadeira te arranhou. — disse Dez. — Aparentemente era
venenosa.
— Ótimo. — murmurou Affie. — Isso é exatamente o que
precisávamos nesta estação, além de tudo o mais. Algo venenoso.
— A diversão nunca acaba. — O sorriso de Leox poderia ter iluminado
qualquer noite. — Vamos, garota. Vamos buscar um pouco de chá de Jedha
pra você.
Dez deixou Leox levar Affie de volta à nave. Reath ficou pra trás com
ele.
— Devíamos marcar aquelas trepadeiras, talvez.
— Não vejo muitas delas por aí, felizmente. — Dez esticou os braços
acima da cabeça, grato por se mover livremente depois do confinamento do
túnel. — Mas sim, não é uma má ideia.
Reath hesitou como se houvesse algo que quisesse dizer a Dez, ou
talvez mais como se houvesse algo que ele definitivamente não queria
dizer, mas que não conseguia parar de pensar nisso.
— Ei. — disse Dez gentilmente. — Põe pra fora.
— Põe pra fora o quê?
— Põe pra fora o que quer que esteja te incomodando desde que nos
encontramos no espaçoporto.
Reath se encostou em uma das árvores próximas, estudando Dez com
uma expressão surpreendentemente adulta. Ou não tão surpreendente. Reath
era quase maior de idade, embora Dez ainda pensasse nele como o
Youngling animado por ter sido escolhido pela Mestra Jora. A amizade
deles teve que crescer junto com Reath, em algo mais igual e mais
significativo.
— Não acredito que você escolheu vir para a Fronteira. — Reath
finalmente disse. — De todos os lugares que você poderia ter ido. Até
Zeitooine...
— Zeitooine só havia intermináveis disputas mesquinhas e conspirações
sem ação. — Dez esfregou a cabeça, afastando as memórias de todas as
dores de cabeça que aquele mundo lhe causou. — Pelo menos depois dos
primeiros meses, assim que acalmamos alguns dos distúrbios. Depois que
tudo passou, não fiz nada de significativo. Na Fronteira existe uma chance
de agir.
— Acho que deveria ser mais parecido com você. — disse Reath. — Sei
que preciso abraçar esta missão. Qualquer missão que o Conselho nos der.
Mas não sou atraído pela ação da mesma forma que você.
— Às vezes acho que anseio demais por ação e emoção. Pode ser
perigoso, sabe? — Confessou Dez o que mal admitia pra si mesmo.
— É o que a Mestra Jora diz. — Mas Reath não soava como se
acreditasse nisso. Soava como se estivesse julgando a si mesmo e falhando.
Então Dez se levantou e colocou a mão no ombro de Reath.
— Escute, a Força é sobre equilíbrio, certo? De maneira ideal, é sobre
encontrar o equilíbrio dentro de cada Jedi individualmente. Mas isso não é o
mesmo que encontrar equilíbrio dentro da Ordem, o que é tão importante.
Precisamos de Cavaleiros que anseiem por aventura e de Cavaleiros que
não anseiem. Cada indivíduo traz dons diferentes para a Ordem Jedi. Nosso
trabalho é apreciar o valor desses dons, incluindo o nosso.
Reath deu a ele um sorriso torto.
— Certo. Vou tentar.
— Bom. — disse Dez, acrescentando interiormente: Vou tentar também.
— Ei, Dez, tenho uma pergunta...
— Certo, manda.
— Mestra Jora alguma vez perguntou se você sabe por que nenhum Jedi
pode atravessar o Arco Kyber sozinho?
Dez franziu a testa.
— Não, ela nunca me perguntou isso. E as pessoas atravessam sozinhas
o tempo todo. Não é como um desafio intransponível, apenas uma prática
meditativa, como caminhar em um labirinto.
— Exato! — Reath suspirou frustrado. — Mas Mestra Jora insiste que
ninguém pode atravessar aquele arco sozinho e ela quer que eu diga o
porquê.
— Não tenho a resposta. — Dez encolheu os ombros. — Tudo o que
posso dizer é que Mestra Jora é mais sábia do que nós dois juntos. Se ela te
deu um enigma pra resolver, vale a pena resolvê-lo.
Mais tarde, depois de se limpar, relaxar e voltar para a cabine, Affie ficou
indignada.
— Você está defendendo os 8-Ts?
— Eles são jardineiros. — respondeu Leox, esticado em sua cadeira,
com os pés apoiados no console da cabine. Os seus olhos estavam fechados,
como se pudesse conversar e tirar uma soneca ao mesmo tempo. Talvez
pudesse. — Guardiões do solo. Você ameaçou a razão de existir deles.
Affie suspirou e deixou pra lá. Claro que os droides estavam apenas
seguindo a sua programação. Não significava que ela tinha que gostar deles.
Além disso, ela tinha coisas mais importantes para contar a Leox.
— Escute. — começou ela. — Lá fora na estação, nos anéis superiores,
encontrei algumas linhas escritas em código.
— Código? — Leox não abriu os olhos. — Me conta mais.
— Parece algum tipo de... código de contrabandistas. Símbolos
manuscritos que lhes dão dicas sobre as direções em que podem viajar pelo
hiperespaço, esse tipo de coisa.
Leox finalmente virou a cabeça e olhou pra ela.
— Por que escreveriam isso em vez de registrar da maneira
convencional?
— Não sei. — disse Affie, flexionando o pulso ainda dolorido. — Só
escreveram.
— Essa pergunta não era retórica. Pense nisso. Quase ninguém mais
escreve símbolos com as mãos, em nenhum lugar da galáxia, até onde eu
sei, pelo menos não em planetas avançados o suficiente pra ter tecnologia.
Então, por que os pilotos espaciais rabiscam informações importantes nas
paredes?
Era bom ter a resposta antes mesmo de terminar a pergunta.
— Porque estão roubando coisas e escondendo da Scover.
Leox se endireitou na cadeira, com os colares balançando de volta ao
lugar.
— Espere. Como a Scover entra nisso?
— Um dos símbolos é este. — Affie apontou para a estrela no bolso do
macacão de uniforme. — Devem ser os pilotos da Guilda Byne
conversando entre si, mas de uma forma e em um lugar que a minha mã...
Quero dizer, um lugar que a Scover não saberia.
Ele ponderou as suas palavras por um longo tempo. Affie mal podia
esperar para vê-lo se inflamar com o mesmo espanto e raiva que ela sentiu.
Se ao menos Geode estivesse lá, em vez de se recristalizar no seu quarto!
Ela queria que a sua descoberta fosse testemunhada e confirmada.
Mas então Leox balançou a cabeça.
— Não acontece muita coisa na Guilda sem que a Scover Byne saiba.
— Claro que não. Mas ela não deve saber disso!
— Por que não? — Os olhos azuis claros de Leox encontraram os de
Affie com uma franqueza incomum. — As coordenadas para esta estação
foram pré-programadas na Embarcação, como parte do download de
navegação padrão que toda nave recebe ao ingressar na Guilda. Isso não é
coincidência.
A frustração sugou a paciência de Affie. Por que ele não conseguia
enxergar?
— Esses ladrões dentro da Guilda poderiam ter adulterado o download.
Colocado as informações que precisam para operar pelas costas da Scover...
— E compartilhá-lo com toda nave nova da Guilda, mesmo que não
façam parte dessa suposta conspiração?
Affie cruzou os braços sobre o peito.
— Então como você explicaria isso?
Leox demorou um tempo antes de responder, com a voz baixa e
paciente.
— Eu sei, e você sabe, que nem toda aquisição da Guilda é o que você
chamaria, no sentido mais literal, de legal. A Scover tem muito a esconder
das autoridades. Este parece ser um bom lugar pra isso.
— Ela não deveria esconder de mim! — insistiu Affie.
Não houve resposta. Leox apenas olhou pra ela, com a sua expressão
melancólica, mas gentil. Foi a gentileza que mais enfureceu Affie, a ideia de
que ela precisava de gentileza, de que era apenas uma idiota e ingênua que
Scover mimava e divertia, em vez de uma verdadeira piloto e oficial da
Guilda por direito próprio. Muitos outros pilotos a menosprezavam. Leox
nunca havia menosprezado ela. Não até aquele momento.
Sem dizer mais nada, ela saiu da ponte, meio que esperando que Leox a
seguisse pra se desculpar, mas ele a deixou ir.
Assim que Affie chegado nos anéis inferiores, ela se sentiu ligeiramente
decepcionada. Não era nada diferente dos anéis superiores, eram os mesmos
ladrilhos, mesmos corrimões, exceto que estava completamente desprovido
de plantas e ainda não tinha visto nada de código de contrabandistas nas
paredes. Ainda.
O anel da entrada era bem estreito; outros corredores curvos, ainda
inexplorados, deveriam dar a volta na circunferência. Sem o brilho roxo do
campo de energia, a única iluminação vinha da estação acima. Ainda assim,
eles tinham os bastões luminosos, então tinha luz o bastante para uma
busca.
— Então, vamos nos separar. — sugeriu Affie. — Checar diferentes
passagens sozinhos. — Não tem como ser mais óbvia? Ela se repreendeu.
Mas aparentemente nada sobre a sua sugestão pareceu suspeita para Dez
ou Reath.
— Claro. — disse Dez. — Não parece haver nada muito perigoso aqui
embaixo. Podemos muito bem cobrir o terreno o mais rápido possível.
Affie assentiu como se aquilo fosse exatamente o que estava pensando.
Finalmente, eles se separaram e estava livre para investigar uma das
passagens com a luz de seu bastão luminoso. Affie se perguntou se
encontraria os códigos, se os outros também iriam e se seriam capazes de
entendê-los tão rápido quanto ela.
De fato, após a primeira curva, as primeiras linhas de escrita
apareceram. Ela foi diretamente para elas, ansiosa para traduzi-las o melhor
que pudesse. Sobretudo, esperava encontrar algo que inocentasse a sua mãe
e provasse para o Leox que havia um elemento corrupto trabalhando dentro
da Guilda.
— Ali. — sussurrou ela. Os seus dedos tocaram o metal bem ao lado do
símbolo da estrela da Guilda Byne, ainda contrastando contra o fundo
esbranquiçado. Isso não foi escrito há tanto tempo, no máximo uma década,
palpitou ela. Ela tentou acompanhar, incerta de como interpretar as
próximas marcas, até encontrar um pequeno desenho de uma ave de rapina,
com o bico para baixo e com as penas da cauda para cima.
Affie encarou até que a imagem parecesse estar queimando em seus
olhos. Ela reconheceu imediatamente, mas recusou-se a acreditar que
significava o que claramente parecia significar.
Pode haver milhares de interpretações, disse a si mesma. É verdade.
Mas os seus pais (os seus pais biológicos, aqueles no qual se lembrava
vagamente, mas ainda amava profundamente) tinham uma nave chamada
Mergulho do Kestrel.
Seja lá quem escreveu isso estava falando sobre os seus pais.
Era isso ou foi escrito por seus próprios pais.
A jornada de Reath através de outro túnel foi mais curta, ou pelo menos a
parte que seguiu sozinho. Era mais escuro lá embaixo, tanto que o seu
bastão luminoso parecia mais fraco, uma ilusão de ótica, com certeza,
porém inquietante. Cada passo seu soava anormalmente alto enquanto
abaixava a sua cabeça sob os arcos curvados das vigas do túnel.
Se a vida vegetal tomou quase todas as outras partes dessa estação,
Reath se perguntou, por que nunca chegou até aqui embaixo? Aquele
campo de energia serve para proteger o que está aqui embaixo ou nos
proteger dele?
A passagem dele e a de Dez se cruzavam após apenas alguns metros,
com nada além de um punhado de armários de armazenamento e alguns
rabiscos na parede para marcar a importância do local.
— Parece que compartilhamos o mesmo destino. — disse Dez. —
Venha. Vamos dar uma olhada.
Ele sentiu uma pontada de orgulho. O que seus amigos diriam, aqueles
que tanto idolatravam Dez Rydan? Eles estavam ali, juntos em uma missão!
Parceiros!
Certo, possivelmente Dez estava animado demais sobre mergulhar na
escuridão desconhecida, mas era como Dez disse mais cedo: se algumas
pessoas não gostavam de aventuras, outras deveriam amá-las.
— Olhe isso. — disse Dez. Ele estava apontando para uma porta
circular à frente. As dobradiças estavam no centro do topo e da parte de
baixo, sugerindo que ela girava para abrir.
— Estranho. Por que construí-la desse jeito?
— Pode significar algo. Pode não significar nada. — Dez reajustou a
floreira embalada contra seu peito, certificando-se de não amassar nenhuma
das folhas. — Vamos lá, vamos ver se há alguma coisa interessante do outro
lado.
Reath se conectou com a Força, sabendo que Dez fazia o mesmo. Não
sentiu senciência do outro lado, nem ecos de escuridão.
— Nada vivo, de qualquer forma.
— É o que parece. — Dez seguiu em frente rapidamente, deixando
Reath vários passos atrás. — Agora, isso está trancado ou...
A porta girou, rotacionando em seu eixo de dobradiças central tão
rápido que levantou Dez do chão, girando-o para o outro lado da porta.
Reath piscou, subitamente sozinho.
— Ei. Dez, gire isso. — Pareceu, na verdade, bem engraçado; Dez tinha
senso de humor suficiente para apreciar isso.
Mas Dez não estava rindo. Não estava falando. A porta não girou
novamente.
Vibrações começaram a tremer através do chão e das paredes. Através
de finas fendas na porta, saiu uma luz clara de dentro, tão forte que Reath
recuou e ergueu uma das mãos para proteger os olhos.
— Dez?
Começou um estranho som de trituração, como motores ou alguma
outra grande máquina. Seja lá o que estivesse acontecendo, não parecia
bom, e Dez Rydan estava preso no meio daquilo.
Dez gritou sem palavras, um som que traia a dor. Reath correu na
direção da porta, ignorando a luz cegante, e tentou forçá-la a abrir. Mas as
dobradiças que giraram tão facilmente antes se recusaram a ceder.
A luz brilhava ainda mais, tanto que Reath precisou fechar os olhos.
Através de suas pálpebras ele viu um cordão de frágeis veias e capilares, em
silhueta contra um vermelho sem graça.
No segundo seguinte, estava escuro. A vibração e o som pararam.
Levou um momento para Reath recalibrar.
— Dez? Você está bem?
Nenhuma resposta.
Reath empurrou a porta mais uma vez sem muita esperança. Dessa vez
ela abriu imediatamente. A porta era surpreendentemente pesada; o peso
dela quase derrubou Reath, como fez com Dez. Ele podia ver dentro do
túnel, e era estreito, intensamente sulcado.
Dez não estava lá dentro.
Com cuidado, Reath inclinou-se pra dentro para ver melhor. Ainda nada
de Dez, mas vislumbrou a dois anéis Helix, eram antigos mais ainda
reconhecíveis. Anéis Helix eram potenciadores de energia incríveis, o
equivalente a coaxium puro suficiente para abastecer quarenta ou cinquenta
espaçonaves grandes; eles raramente eram usados, pois geravam energia
demais quando a finalidade de uso não envolvia o hiperespaço.
Eles tinham a tendência de dar defeito, principalmente quando mais
velhos, e criavam picos de energia capazes de derreter metal, explodir
circuitos, ou...
Ou desintegrar um corpo humano, até um nível atômico.
O primeiro indício veio com uma onda de pânico e
sofrimento, uma tão forte que perfurou a consciência de Cohmac
como uma fina agulha prateada. Ele se levantou na cabine, quase
esbarrando contra Geode.
— Algo está errado.
— Vivemos em um universo imperfeito. — disse Leox, que estava
mastigando um bastão de algo que cheirava como menta. — Então isso é
um fato.
— Quero dizer que algo está errado com nosso pessoal a bordo da
estação, nesse momento. — Cohmac apressou-se para a câmara de
descompressão. Leox estava a apenas alguns passos atrás; todo seu torpor
descontraído desapareceu no primeiro indício de que Affie Hollow poderia
estar em perigo.
Eles chegaram apenas na clareira arborizada da estação quando
encontraram Nan, que estava respirando pesado e, por alguma razão, tinha
um vaso de flor preso em seu bolso. Atrás dela, Cohmac pode ver o Mizi
correndo na direção de seu povo, e Reath Silas emergindo das trepadeiras,
com o seu rosto pálido. Nan suspirou e disse:
— Ouvimos um som alto, mas não vimos nada, Reath foi o único que
viu...
— Viu o quê? — Cohmac resistiu a vontade de colocar as mãos nos
ombros da garota. Provavelmente confortaria um Padawan, mas para Nan
poderia parecer uma ameaça. — Diga-me.
— Dez se foi. — sussurrou Nan.
Se foi. O que isso significava? Ele viajou para outra parte da estação?
Para fora da estação completamente? Nenhuma das naves atracadas partiu,
os sensores da Embarcação teriam percebido.
Ou ela queria dizer...?
Affie finalmente surgiu das árvores perto do túnel. Leox a chamou:
— O que aconteceu com Dez?
— Não sabemos. — A sua voz estava estranhamente fraca, como se
estivesse em choque, o que parecia estranho para Cohmac. A jovem mal
conhecia Dez. — Mas não é... não é nada bom.
Finalmente Reach os alcançou. Ele ergueu o rosto lentamente para
encontrar os olhos de Cohmac. Tudo nele irradiava tristeza e luto.
Logo, Cohmac sabia. Aconteceu novamente. Assim como aconteceu com
o Mestre Simmix. Os ecos me avisaram, mas eu não vi a tempo. Essa parte
da galáxia reivindicou o seu preço.
Ainda assim ele precisou dizer as palavras:
— Diga-me como Dez caiu.
Os próximos minutos foram um borrão de detalhes que não faziam
sentido (plantas como reféns?), mas a essência permanecia a mesma.
— Anéis Helix? — perguntou Leox, seriamente. — E nada mais dentro?
Isso geralmente significa... — Ele deixou no ar enquanto olhava Cohmac de
esguelha. Com razão. Era algo difícil de se dizer em voz alta. Mas precisava
ser dito.
— Vaporizado. — disse Cohmac. Aquilo foi dito calmamente, uma
conclusão lógica, nada mais. — A explicação mais provável é que Dez
Rydan foi vaporizado instantaneamente.
Affie finalmente os alcançou e, de alguma forma, Cohmac a chocou,
como se ela estivesse pensando em algo completamente diferente.
— Você quer dizer que ele está morto? — perguntou Affie.
— Sim. — Cohmac conectou-se na Força, tentando encontrar qualquer
vestígio da mente e espírito do jovem Jedi.
Só lhe responderam com o silêncio.
Reath esperou até que todos estivessem ocupados (pelo luto, dever ou o que
fosse), então juntou os seus equipamentos. Ele se preparou como se fosse
para uma expedição na montanha, com cabos e ganchos, e checou
novamente o seu sabre de luz. Ninguém o notou deixando a Embarcação e
entrar na estação.
Ele tinha o espaço para si, ao que parecia. Após o que aconteceu com
Dez, ninguém das outras naves de refugiados tinha interesse em explorar
mais. Os únicos sons eram os zumbidos e os bipes dos droides; os 8-Ts
estavam tranquilamente fertilizando, como se nada tivesse acontecido. Pra
eles, ele supunha, nada aconteceu.
Reath encontrou a pequena floreira que largou mais cedo e a colocou de
volta no bolso. Então ele seguiu o seu caminho pelo túnel, indo de passo a
passo, consciente de sua respiração lenta e estável. Corpo e espírito como
um, sussurrou a voz da Mestra Jora em sua memória.
Os seus pés alcançaram o anel inferior com um baque metálico. Se mais
alguém estivesse na estação, o ouviria com certeza. Reath estava grato por
conseguir manter esse segredo por um tempo.
Ele encontrou a curva exata que havia passado por ela antes e encontrou
a porta circular. Abri-la novamente parecia tanto imprudente quanto
necessário. Já que ele sabia sobre os anéis Helix, logo raciocinou que podia
evitar acioná-los.
Então Reath congelou quando viu, através das pequenas fendas na porta,
uma tênue luz piscando.
Esse não era o brilho ardente que o havia forçado a fechar os seus olhos
quando Dez se... perdeu. Era menos brilhante, mais fraco. Era também
desconhecido, não autorizado e muito suspeito. Se alguém estivesse
alterando a cena da morte de Dez, ou se acabasse por não ser a cena da
morte de Dez...
Com uma mão no sabre de luz, Reath lentamente empurrou a porta até
ouvir um grito horripilante. Uma figura pequena mexeu-se através do túnel.
— Saia de perto de... Reath?
— Nan? — perguntou ele. Ela se sentou no chão, com grande alívio por
ser apenas ele. — O que você está fazendo aqui embaixo sozinha?
— Investigando. — Ela ergueu o queixo e cruzou os braços. — Já que
todos parecem prontos para marcar Dez como morto quando não há corpo...
— Nem prova, nada! — O alívio o acalmou e ele se sentou ao lado dela.
— Pensei que eu fosse o único que não estava pronto a aceitar isso.
Nan o mediu com um olhar e aparentemente achou ele mais interessante
do que antes.
— Certo. Então pelo menos um de vocês Jedi tem opinião própria.
Reath não pensou haver nenhum deficit disso, realmente, mas haveria
tempo mais tarde para conversar com ela sobre as tradições de discordância
dentro da Ordem.
— O que você encontrou até agora? — perguntou ele.
— Na verdade, acabei de chegar. Por onde devemos começar?
— Nós seguimos em frente pelos túneis, tomando cuidado com os anéis,
e vemos se podemos encontrar evidências de para que essa área era usada.
Saber o propósito dela deve nos dar algumas respostas. Talvez Dez foi
transportado para algum outro lugar ou levado mais adiante até um anel
ainda mais baixo do que esses.
— Isso é mais ou menos o que eu estava pensando. — Nan ficou de pé;
ela parecia estar estudando as fixações dos anéis no nível térreo, mas sem
proveito. — Vamos em frente.
Os túneis se estendiam até o que parecia uma escuridão infinita. Reath
mantinha o seu bastão luminoso firme, assim como a Nan, mas o som de
seus passos ecoando pelo desconhecido ficou inegavelmente assustador
após um tempo.
Para romper o silêncio, ele perguntou:
— Como ficou sob a guarda de Hague? Se for desagradável...
— Uma pessoa crescendo sem os pais e você se pergunta se é
desagradável? — Mas Nan parecia mais entretida do que ofendida.
— Desculpe. Entendo que os pais são importantes, mas os Jedi são
criados nos Templos juntos desde a primeira infância. Eles levam a maioria
de nós quando somos apenas criancinhas, e isso é tudo o que sabemos.
Então nunca assumo que as pessoas têm famílias. Talvez eu deveria.
Nan deu de ombros. O seu longo rabo de cavalo caiu sobre um dos
ombros, emoldurando o seu rosto redondo como se as sombras que os
cercavam tivessem se envolvido nela. Ela tinha as mechas azuis no cabelo
até as pontas.
— Está tudo bem. Meus pais morreram bem. Eles fizeram o dever deles.
Eles foram militares? Reath decidiu que o assunto era delicado demais
para forçar por mais informação.
— Isso foi há uns dois anos. — continuou ela. — Hague já era um
amigo da família. Ele pode estar encarregado de apenas uma pequena nave
hoje em dia, mas ele já foi um comandante brilhante. Quando ele se
ofereceu para me criar, eu pensei “ótimo. Dessa maneira poderei aprender
com o melhor.
— Seus pais provavelmente teriam gostado dessa parte. — ofereceu
Reath. — Certo?
— Sim. Eles teriam amado essa parte. O meu pai sempre dizia que
Hague era o melhor estrategista que ele conheceu.
Definitivamente militares, Reath decidiu. Ele se perguntou se o planeta
natal deles era profundamente militar ou se Nan e Hague eram parte de uma
subcultura menor. As ramificações sociológicas estariam prontas para o
estudo... Se isso fosse o tipo de coisa que ele ainda faria. O que não era.
Outra curva no túnel levou os bastões luminosos a iluminar uma
segunda porta, essa bem maior do que a primeira. Nenhuma fenda ou
janelas, apenas metal preto e ameaçador. Eles trocaram olhares, então
apressaram-se em frente para investigar.
— Painel de controle. — murmurou ele enquanto checava. Padrões de
ciclos interligados sugeriam funções, o que o permitiu arriscar um palpite.
— Configuração desconhecida, mas isso parece mais para manutenção do
que a programação primária.
— Concordo. — disse Nan. — Não é o que você chamaria de acessível.
Embora Reath não conseguisse ler os símbolos incomuns gravados no
painel, a falta de seções coloridas ou de uma tela maior definitivamente
sugeria que não era de uso geral. Era um lugar para os funcionários
checarem as configurações, esse tipo de coisa. Isso indicava que pessoas
não usavam o túnel a pé geralmente.
O que chamou a sua atenção em seguida foi o grosso revestimento ao
redor das bordas da porta.
— Isso se parece com uma câmara de descompressão para você?
— Cem por cento. — Nan respirou fundo. — Do outro lado dessa porta
está o vácuo. Dá sentir a frieza no ar.
Era verdade. Reath já tinha começado a tremer.
— Para mim isso parece ter sido uma estação de lançamento para
pequenos pod de trânsito. Os anéis provavelmente impulsionavam os
módulos para deixar a estação. Os seus próprios motores acionariam assim
que saíssem da câmara.
Nan se abraçou.
— E Dez entrou sem uma espaçonave... Mas os túneis o lançaram
mesmo assim.
A esperança era provar que os anéis não desintegraram Dez
instantaneamente. Agora Reath rezava para que tivessem feito isso. A
alternativa era que Dez foi arremessado a uma velocidade esmagadora e
então ejetado para o vácuo do espaço. Pelas suas pesquisas sabia que a
morte demorava mais tempo no espaço sideral do que as pessoas achavam,
quase quinze segundos para perder a consciência. Não é um período longo
em medidas absolutas, mas uma quantidade de tempo excruciante para
sofrer o desespero de terror mortal. E se Dez não conseguisse exalar o ar,
então ele sofreria com o oxigênio se expandindo dentro de seus pulmões até
se romperem.
Reath fechou os olhos. Tudo o que podia fazer era ostentar um
testemunho para aquele sofrimento.
— Acabamos por aqui? — disse Nan, bem baixinho.
— Sim. Acabamos.
Leox Gyasi viu algumas coisas estranhas em sua vida. O suficiente para
tentar não usar a palavra estranha com tanta frequência. Para a mente
preparada, nenhum elemento da galáxia deveria parecer alienígena; todos
eram feitos da mesma matéria estelar, apenas tomando formas diferentes de
tempos em tempos.
E ainda assim...
— Há algo inquietante em ter ídolos amaldiçoados a bordo novamente.
— disse Leox. Ele estava sozinho com Geode, que sabia sobre o seu último
incidente com ídolo amaldiçoado e nunca o reportou para a Scover Byne (a
Pequenina era preciosa para ele, mas não daria para culpar uma garota por
querer conversar sobre as coisas com a mamãe. Por sorte, isso aconteceu
antes dela chegar). — Eles só dão azar e você e eu temos razões suficientes
para saber disso. Me dá arrepios.
Geode era feito de coisa mais forte. No entanto, Leox percebeu que ele
também não gostou. Da última vez, eles levaram os ídolos errados para o
planeta errado por conta de um Rodiano que acabou por ser um cliente
muito errado. A intenção, até onde Leox podia reconstruir após o fato, era
para o Rodiano ser idolatrado como um deus dominador pelo povo
temeroso.
O povo tinha outras ideias.
Inclinando-se contra o console mais próximo, Leox estudou o ídolo na
forma de inseto, aquele com as pinças e asas.
— Quero dizer, não me importo com o cântico ou o incenso. Os
sacrifícios tudo bem, já que eram apenas flores. E, cara, aquele pedestal que
esculpiram em sua honra? Era igualzinho a você. Poderia ser o seu irmão
gêmeo.
Geode nem precisava mencionar o péssimo mosaico retratando a
descida de Leox de sua nave estelar celestial. Não era como se Leox
pudesse esquecer, não importa o quanto tentasse.
— Não é bom para o espírito, ser idolatrado. Corrói você de dentro para
fora. — Leox balançou a cabeça. — O que é a real maldição desse tipo de
coisa, se quer saber. Nós saímos de lá nem um segundo cedo demais. Pelo
menos os Jedi estão guardando esses em vez de tentar usá-los para as razões
erradas.
Aquele Rodiano acabou fugindo do planeta o mais rápido que pode, e
em outra nave, já que Leox já estava cheio de sua tolice àquela altura. Leox
e Geode permaneceram apenas o quanto era aceitável antes de deixar as
pessoas com um bondoso código moral de gentileza. Provavelmente aqueles
sujeitos ouviram a razão dentro de alguns meses, assim que se acostumaram
a ter os seus objetos antigos mais sagrados de volta ao seu mundo e
voltaram a usar os seus nomes originais.
De qualquer forma, ele esperava isso. Caso contrário, agora havia um
planeta chamado Leoxo, e se Affie descobrisse, ele nunca mais deixaria de
ouvir sobre isso.
CONCLUSÃO DO RELATÓRIO
As razões que você me deu para aceitar uma missão na Fronteira foram
satisfeitas, Mestra. Eu encontrei situações mais imprevisíveis do que
qualquer coisa que pudesse acontecer nos Arquivos. Eu usei o meu
conhecimento em conflitos reais, não apenas nas simulações. Eu adquiri
informações sobre culturas desconhecidas, apesar do Mestre Cohmac dizer
que ainda temos muito a aprender sobre os ídolos e qual for a escuridão
que está presa dentro deles. Eu saí dos Arquivos por um tempo. E encontrei
formas de vida que eu nunca soube que existiam; embora eu não possa
dizer que consegui me comunicar com Geode, eu o sinto mais através da
Força. Um pouco mais. Eu acho.
Já que realizei tudo isso, por que permanecer na Fronteira?
Por favor, apenas considere isso, Mestra. O desastre do hiperespaço
não só nos prendeu em partes separadas da galáxia, nos separando por
dias, como também essa missão custou a vida de Dez Rydan. Sei que você
sente a perda dele mais do que eu. Dez tinha mais experiência, mais
habilidade, mais... Bom, quase tudo mais do que eu. Mais do que quase
todo mundo. Ainda assim ele morreu, porque há ameaças ali que não
conhecemos. Nem mesmo sabemos o bastante para adivinhar o que são, ou
quando as encontraremos. Como podemos estudar os segredos mais
profundos da Força, alcançar os níveis mais altos de meditação, se
estivermos muito ocupados lutando para continuarmos vivos? Como posso
usar o meu conhecimento enquanto a Fronteira não recorre à maioria
desse conhecimento?
Você sabe que não sou um covarde, Mestra Jora. Eu nunca falhei em
fazer o que era necessário e certo. Mas estar na Fronteira não é necessário.
Pelo menos, não pra nós.
Se ao pensar no Arco Kyber as coisas deveriam se esclarecerem para
mim... Bom, não se esclareceram. Jedi podem e o atravessam sozinhos.
Talvez isso fosse apenas um enigma que você me passou para me distrair
da perturbação de deixar Coruscant.
Nunca entregarei isso para você ler. Isso é apenas para organizar as
coisas em minha cabeça. Não há como te convencer a mudar de ideia... Se
sei de alguma coisa, é disso.
Mas é muito ruim se tiver esperança de que você mudará de ideia
sozinha?
Reath levou a sua carga Wookiee para a enfermaria das docas, para reuni-la
(no final era uma menina) com os seus pais. Essa enfermaria apenas lidava
com questões de saúde menos críticas: vacinações, lesões leves, a eventual
quarentena de viagens. Pelo menos esse era o plano.
Nada após o desastre do hiperespaço aconteceu de acordo com o
planejado. Isso ficou mais claro do que nunca para Reath quando um droide
médico zumbiu pelas portas da enfermaria, dando a ele uma visão do que
poderia muito bem ser uma zona de guerra. Após a primeira onda de
choque, ouviu os rugidos empolgados dos dois pais Wookiees vindo para
buscar a sua filha.
Ele se submeteu aos agradecimentos, abraços e até mesmo alguns
cuidados antes de deixar a feliz família reunida junta. Após isso, correu na
direção das portas para descobrir como poderia ajudar.
Cada superfície plana da enfermaria (camas, balcões, chão) estava quase
completamente coberta com os feridos da explosão da Viajante. Enquanto
aqueles no chão pareciam ter apenas lesões mais leves, como membros
quebrados ou cortes, alguns daqueles nas camas estavam ligados a
múltiplos monitores e reguladores. Os constantes zumbidos e bipes não
conseguiam abafar os gemidos. Enquanto um casal de médicos corria de
pessoa em pessoa, tanto eles quanto o punhado de droides médicos estavam
claramente sobrecarregados.
— Por que eles não estão nos hospitais? — murmurou ele.
Apesar de ter falado quase que para si mesmo, um droide por perto
respondeu:
— Todos os hospitais estão com a capacidade máxima como
consequência do desastre do hiperespaço. Cada instalação médica está
operando com força total.
Ou além disso, ele pensou, levando em conta a incrível multidão. Reath
viu uma mulher deitada no chão olhando pra ele e se ajoelhou ao seu lado.
— O que posso fazer por você?
Em grande parte, as pessoas queriam água. Muitas delas também
queriam analgésicos, o que os droides médicos relutantemente o permitiram
acesso. De início, Reath se perguntou se deveria estar os distribuindo tão
livremente, mas isso era uma emergência e ele se preocuparia com as
recomendações depois. Mas acima de tudo, ele percebeu que queriam
alguém para prestar atenção nelas e assegurá-las de que tudo ficaria bem.
Geralmente, ele podia fazer isso. Mas às vezes elas perguntavam coisas
que ele não conseguia responder.
— Mais alguém de nosso transporte escapou?
— Estávamos levando vacinas para Crothy... alguém as alcançou? Eles
foram capazes de conter a febre?
Graças à Força conseguimos atravessar o hiperespaço inteiros, Reath
pensou. Apesar de não ter sido só a Força. Um pouco também foi graças a
Leox, Affie e Geode. Ou a Força estava agindo através deles, eu acho.
Ainda assim... Eu não valorizei o quanto formos sortudos.
Ele olhou demais para os pontos negativos da situação deles, não os
positivos. Ele deveria ter sido mais como Leox, grato pelo bom ao invés de
reclamar do ruim.
E se fosse verdade sobre o acidente, talvez fosse verdade sobre a sua
rejeição à essa missão, também.
Um droide médico foi até ele.
— A sua condição é aceitável?
— Estou bem. Só estou aqui para ajudar. — Um pensamento terrível
veio até Reath, um que ele deveria ter considerado antes. Era apenas tão
inimaginável, tão impossível. — Você tem acesso aos registros médicos do
Farol Estelar?
— Sim, os dados são atualizados a cada metade de um dia.
— Na enfermaria deles... havia uma paciente chamada Jora Malli? Uma
mebro do Conselho Jedi, a nova líder da delegação Jedi no Farol. Mestra
Jora Malli. Ela se feriu após o desastre do hiperespaço?
O droide inclinou a sua cabeça oval.
— Mestra Jora Malli nunca foi levada para a enfermaria do Farol. —
Reath sorriu por um breve momento até o droide acrescentar: — Ela foi
morta na batalha contra os Nihil.
Ele não deve ter ouvido corretamente (ele ouviu muito bem). Não
poderia ser verdade (é claro que poderia). Ou o droide estava errado
(droides puxavam as informações direto da central de processamento).
— Morta? — repetiu Reath em voz baixa.
— Jora Malli foi declarada morta em combate pelo Mestre Jedi Sskeer.
— disse o droide. — Há mais alguma informação que posso oferecer?
Reath conhecia Sskeer. Eles se conheceram quando o Trandoshano foi
designado como assessor da Mestra Jora no Farol. Se Sskeer disse que era
verdade... Então era verdade. Ele engoliu em seco.
— Não. Isso é tudo. Obrigado.
Conforme o droide rolava pra longe, Reath se inclinou contra a parede
mais próxima. O ar não entrava em seus pulmões. Seus olhos não focavam.
Os seus ouvidos se recusavam a dar sentido aos sons ao redor dele. Ele não
era nada além de sua pulsação, sua respiração e o terrível conhecimento de
que a Mestra Jora se foi.
A área de treinamento dos Padawans estava
praticamente deserta naquele período do dia. Outros aprendizes
estavam se preparando para missões ou jantando com os seus mestres.
Reath, que não tinha uma missão ou mestre, estava lá pois não tinha outro
lugar pra ir.
Eles já tinham transferido os seus aposentos. Já tinham! Não era como
se um quarto no dormitório dos Padawans fosse muito diferente dos outros
e o quarto para o qual tinham feito ele se mudar temporariamente fosse bem
mais luxuoso (o tipo de lugar geralmente ocupado por um Mestre visitante
vindo de outro Templo). Mas o seu antigo quarto ficava perto do corredor
que levava aos Arquivos. A sua pequena janela dava para o nascer do sol,
ou o que dava para ser visto através da volumosa paisagem urbana. O mais
importante, era um lar. Familiaridade é o que Reath precisava mais do que
qualquer outra coisa. Em vez disso, tinha uma bela colcha e uma ampla
vista para o Senado Galáctico, e para ele poderia muito bem ser uma parede
branca de duraço. Então ele planejou ficar na área de treino até que não
estivesse mais em luto, ou nem pensasse nisso, e em retornar para o seu
quarto temporário assim que não fosse mais do que um lugar para desabar.
Ele colocou um capacete com um escudo contra disparos e baixou o
escudo sobre os seus olhos. Com um movimento do dedo, Reath ligou o seu
sabre de luz; na borda do escudo, ele conseguia ver um brilho verde fraco.
O seu barulho e vibração era familiar para os seus ouvidos e para a sua mão.
— Droide de treino. — chamou ele. — Ativar no nível cinco.
Ele ouviu o barulho dos passos do droide de treino. Mesmo que nenhum
droide conseguisse replicar completamente a experiência de duelar com um
oponente senciente, podiam testar os reflexos e a mira. Alguma vezes,
Reath sentia que não tinha treinado com eles o suficiente. Hora de corrigir
isso.
Foi difícil se concentrar. Se tivesse perdido só o Dez, ou só a Mestra
Jora... Mas não. Cada uma dessas mortes tinha o abalado profundamente,
fazendo desmoronar a base de sua própria vida. Perder ambos…
Mas eles gostariam que ele se tornasse um bom Jedi. Um dos grandes.
Reath pretendia merecer isso para honrá-los.
Atinja os seus sentimentos, sussurrou a voz da Mestra Jora em sua
mente. A dor que o perfurou quase o distraiu da concentração de energia
vinda do droide de treino.
Mas não o distraiu completamente. Reath levantou o seu sabre, parando
o disparo. Abaixou-se para evitar a barra giratória que tinha dispersado ar
suficiente para poder ouvir. Desviou-se de mais dois disparos, se levantou e
executou um golpe. O seu sabre de luz cortou o droide, levantando uma
chuva de faíscas que só o viu de relance nos seus pés.
Quando Reath tirou o seu capacete, ele olhou para o droide. Ele quase
arrancou a sua cabeça. Eles foram projetados para sofrer danos, mas talvez
não tanto assim.
— Muito bem, senhor. — disse a cabeça pendurada do droide numa voz
surpreendentemente profunda. — Aconselharia que o seu próximo treino
começasse num nível não menor que o sete.
— Entendi. Desculpe pelo seu pescoço.
— Isso pode ser reparado. Mas preciso checar isso imediatamente. — O
droide cuidadosamente apoiou a sua cabeça numa de suas mãos com
aparência de garra, enquanto se virava para sair da sala deslizando sobre
rodas.
Novamente ele ficou sozinho de dentro de sua mente, o último lugar em
que gostaria de estar.
Não consigo parar de pensar na Mestra Jora, ele pensou. Talvez seja o
que devo fazer.
Então Reath desceu para uma das várias câmaras de meditação do
Templo. Enquanto algumas áreas de meditação eram pequenas e
aconchegantes, outras tinham tetos altos e um espaço amplo. Essa era do
jeito da última alternativa. E se estendendo pela extensão da cavernosa
câmara branca, arqueado sobre tudo, estava o Arco Kyber.
Ele entrou silenciosamente na sala, tomando cuidado para não perturbar
a meia dúzia de Jedi sentados nos diversos bancos ou almofadas, em seus
transes profundos. Enquanto a maioria das áreas de meditação eram mais
próximas do centro do templo, esta, mais perto do topo, na verdade tinha
janelas dando para Coruscant. Numa hora específica de manhã cedo, a luz
do sol atingia o Arco Kyber bem no ângulo certo disparando um arco-íris
por toda a sala. Reath tinha perdido essa hora. Agora o arco parecia
simplesmente sombrio e irregular, como algo que poderia ter sido feito de
uma rocha velha comum.
Ele foi até a base do caminho (quase 2 metros de espessura, naquela
parte) e agarrou firmemente os apoios de mãos. Os cristais Kyber estavam
gelados no contato contra as palmas das mãos de Reath, respirou
profundamente, localizou o seu primeiro apoio de pé e começou a escalar o
arco.
Inicialmente, a subida foi tão fácil que poderia se imaginar numa
escaladeira da sala de jogos dos Younglings. Contudo, conforme ficava
mais alto, o arco se estreitava. Ficou mais difícil encontrar apoio para os
seus pés. Reath escalou sem medo; mesmo que estivesse abalado demais
para controlar a sua queda, um dos outros Jedi na sala o faria. Ainda assim,
a tarefa exigia destreza. Concentração. Ao fazer isso, Reath não pensava em
mais nada.
Finalmente, alcançou o topo. Lá, os cristais estavam fundidos numa
curva de quase dez centímetros de largura. Reath andou firmemente por ela,
então girou para começar a buscar pelo caminho de volta para baixo. Nesse
momento, entretanto, a sua concentração estava muito menos segura.
Consegui, Mestra Jora. Cruzei o Arco Kyber sozinho. É possível. Nem é
difícil. Então por que você... O que você queria dizer com...
Ele pulou o metro final até o chão. A frustração cresceu nele
novamente, combinada com o luto que ele não deveria sentir e de alguma
forma se sentiu mais longe da Força do que nunca. Provavelmente ele
deveria ir até a almofada mais próxima e tentar meditar, mas esse tipo de
serenidade parecia fora de alcance. Antes que pudesse pensar em outra
coisa para servir de distração (um pouco de ginástica, talvez?), o seu
comunicador zumbiu. Ele saiu apressadamente da câmara de meditação
para responder.
— Silas falando.
— Padawan Silas. — disse a Mestra Adampo, do Conselho. — Que bom
que conseguimos contato com você.
Ele só conseguia pensar na única razão para o Conselho Jedi querer
falar com ele.
— Fui designado para outro Mestre?
Por mais que doesse pensar em substituir a Mestra Jora, não havia outra
coisa a se pensar. A menos que, talvez, os diversos problemas em sua
missão levaram o Conselho a decidir que Reath não tinha nada a ver com
um treinamento para se tornar um Jedi...
— Ainda não. Em breve discutiremos isso com você.
— Então...
— Chegaram pacotes de comunicação do Farol Estelar. — disse a
Mestra Adampo. — Contêm novas informações e potencialmente críticas
para o setor. Como um dos poucos Jedi que retornaram daquele setor, as
suas percepções podem ser significantes.
— Envie a localização e logo chegarei aí, Mestre. Obrigado.
Com certeza o Mestre Cohmac seria mais útil na reunião, sem
mencionar Orla Jareni, mas então Reath percebeu que logo eles estariam
ocupados com os ídolos. Um arrepio percorreu o seu corpo ao imaginar
aquelas coisas no coração do Templo. Apesar dele ter ajudado a preparar a
contenção da Força, fazia sentido que os Jedi mais experientes cuidassem
do resto.
Só reportar o que tinham encontrado lá, a parsecs de distância do Farol
Estelar, na parte distante do setor? Claro, Reath podia cuidar disso, mesmo
que se resumisse a dizer: “Vimos um monte plantas. Isso o deixaria
ocupado e era tudo o que queria.”
Affie fez a sua primeira tentativa enquanto comiam num dos estranhos
estabelecimentos locais, um lugar com piso xadrez, assentos vermelhos
brilhantes e droides-garçons que deslizavam sobre rodas pouco práticas.
— Você leu o relatório? Sobre a Estação Amaxine?
— Ainda não tive tempo de revisar todos os materiais sobre a sua
jornada. — respondeu Scover, o que não era a mesma coisa que não. —
Como está o seu braço? O capitão Gyasi não deveria ter te forçado a ser a
encarregada numa missão perigosa.
— Eu me voluntariei para descer os túneis. Leox não conseguiria me
impedir. De qualquer forma, o meu braço está bom. Está vendo? — Affie
mostrou o seu tudo-menos-curado pulso.
— Agora experimente um pouco disso. — insistiu Scover, segurando
um pequeno prato de algo chamado barafuraha, apesar de que Affie ouviu a
maioria das pessoas o pedirem apenas como baha. Aparentemente, era um
prato favorito em Coruscant, mas…
— É feito de gelo. — disse Affie. — Quem quer comer gelo?
— Fazemos de vez em quando na minha família. Viemos do Núcleo
originalmente, você sabe. E baha é prazeroso para a maioria dos paladares
sencientes.
A Scover tinha usado o nome casual para alguma coisa, algo que Scover
nunca fazia, então realmente deveria gostar muito daquilo. Cautelosamente,
Affie pegou uma colherada e tremeu quando o choque de frio atingiu a sua
boca, e então abriu seu olhos.
— Oh, isso é incrível.
— O frio é parte do prazer, o que agora já sabe.
— Certo, Certo, admito. Estava errada. Pegue mais pra mim.
Scover sorriu e o momento por questões urgentes passou. Só depois de
pegar o seu segundo prato de baha Affie imaginou se a distração tinha sido
intencional.
A sua abertura para a segunda tentativa surgiu enquanto visitavam um
estaleiro holográfico. O droide vendedor cambaleou, trazendo imagens de
novos cargueiros, todos mais rápidos e seguros dos que os já lançados, mas
incrivelmente acessíveis, de acordo com o seu padrão.
— Como podem ver, não se sacrifica estilo por funcionalidade. — O
droide ampliou o holograma de uma visão da nave inteira que caberia nos
braços estendidos de Affie para uma imagem em tamanho real da ponta. O
brilho holográfico mascarou o estaleiro em modelos translúcidos de
assentos, controles e até mesmo um falso campo de estrelas à frente. — Se
quiserem ver os aposentos da tripulação...
— Envie os detalhes para eu analisar depois. — disse Scover. Muitas
pessoas poderiam ter surtado com um droide, especialmente um usando
táticas agressivas de venda. Mas a Scover permanceu educada com todos o
tempo todo. Era uma característica que Affie admirava muito e ainda não
dominava.
— Prontamente, madame. Também incluirei pacotes com as nossas
atualizações especiais. — O droide deslizou para transferir o pacote
completo de dados, deixando-as sozinhas entre a imgem holográfica de uma
nave que ainda não existia.
— Comprando cargueiros a granel? — perguntou Affie. — Cargueiros
da República? Estamos mesmo fazendo isso?
Scover sempre ficava um pouco orgulhosa quando falava sobre as suas
margens de lucro constantemente crescentes.
— Tivemos um aumento substancial de negócios ultimamente. —
respondeu Scover. — Sim, o desastre da Legacy Run causou atrasos, mas
são temporários. Muitas pessoas querem movimentar cargas logo, em vez
de só após da expansão da República, por vários motivos com os quais não
precisamos nos preocupar.
— Então você tem certeza da lealdade de todos os nossos pilotos. Não
está chegando carga a menos?
Aquilo atraiu a completa atenção de Scover.
— Você sabe de alguma desonestidade dentro da Guilda? Isso é sobre
Leox Gyasi?
— Não. Leox está limpo, totalmente. É só que... — Affie contou tudo: a
Estação Amaxine, as linhas de código estranho, os símbolos da Guilda
Byne e o fato de que um outrora sistema vazio teve as suas coordenadas
pré-programadas no computador de navegação da Embarcação. Scover
ouviu com interesse intenso e silencioso, sem dizer nada até que Affie
finalmente fez uma longa pausa o suficiente para parecer plausível que ela
havia terminado.
— Isso não é evidência de uma vertente corrupta na Guilda. — disse
Scover. — Tais códigos escritos são ocasionalmente usados por pilotos em
lugares onde mensagens padrão são mais difíceis de entregar. O uso é
principalmente arcaico agora, mas perdura em alguns lugares, incluindo na
estação Amaxine. — A sua explicação foi tão impessoal quanto qualquer
droide teria feito. Era assim que Scover sempre falava e normalmente não
teria parecido estranho a Affie.
Mas isso parecia… Estranho.
— Estou feliz que ninguém está tentando te trair. — disse Affie,
genuinamente aliviada. — Ainda assim, essa estação é perigosa, Scover. Os
anéis Helix, as plantas venenosas, até mesmo os pequenos droides
jardineiros te atacam e isso sem entrar em todo o negócio de lado sombrio.
— Talvez isso não passasse de bobagem Jedi, mas dado o terrível azar que
tiveram na estação, Affie começava a se perguntar se estavam no caminho
certo. — Nosso pilotos não deveriam usá-la.
— É a escolha deles usarem a estação como acharem melhor ou não.
Não imponho métodos para os pilotos que provam a sua capacidade.
O que era verdade. Affie sempre achou que isso mostrava uma notável
mente aberta; como a maioria dos Bivalls, Scover valorizava regras,
definições e precisão. O fato de dar liberdade para os seus pilotos
significava que podia ver as coisas de múltiplos pontos de vista.
Pela primeira vez, Affie percebeu que também significava que às vezes
a Scover não precisava fazer perguntas que poderiam ter respostas difíceis.
— É apenas uma estação de passagem. — disse Scover. — Você ainda
está abalada pela experiência e por isso dando mais importância do que
precisa na sua mente. Com o tempo você irá adquirir uma perspectiva
maior. Por ora, tire isso da sua mente. — Ela sorriu. — Você gostaria de
comer alguns bolinhos amanteigados? Sei que são os seus favoritos.
Affie deu um jeito de sorrir.
— Claro. Parece ótimo.
Mas ela não conseguia esquecer do que Scover tinha involuntariamente
dito, ao negar algo que ela não tinha sido solicitada a negar:
A estação Amaxine, fosse o que fosse, era mais para a Guilda Byne do
que uma estação de passagem.
Por mais isolado que Reath estivesse antes, desejou estar sozinho
novamente.
Ele se sentou no lugar mais longe na reunião, não dizendo nada e
mesmo assim se sentia como se tivesse um holofote. Os outros Jedi
mantiveram um distância respeitável, tão conscientes de seu luto que o
ampliaram. Reath sentiu como se tivesse que mostrar simultaneamente todo
o peso de sua tristeza e mantê-la sob controle.
Ninguém aqui está te julgando, ele se lembrou. Esse ainda não era um
exercício que pudesse praticar a ponto de dominá-lo. Ele sempre se
orgulhou de sua capacidade de se destacar, mas não mais. Quem se
importava? Por que sempre achou que valia a pena se importar com isso?
Ele e Dez tinham participados juntos de uma reunião naquela sala uma
vez, talvez três anos atrás. Sobre o que tinha sido? Grupos invasores
perturbando Kashyyyk? Reath não conseguia se lembrar. Tudo no que podia
pensar era na facilidade com que Dez tinha se esparramado em sua cadeira,
confiante com o seu novo título de Cavaleiro, enquanto Reath se perguntava
se alguma vez se sentiria tão impetuoso, tão seguro de seu futuro.
O futuro de Dez tinha terminado no meio de nada, por nenhuma razão.
Mestra Adampo andou até a frente da câmara e a multidão ficou parada.
Uma gratidão passou por Reath. Assim que o sermão começou, pode
finalmente escapar da câmera de ecos de seus pensamentos por um
momento.
— Hoje devemos examinar um elemento inimigo que causou grande
confusão na Fronteira: um grupo de saqueadores conhecidos como Nihil. —
disse Adampo enquanto a sala parecia mais escura. — Apesar da República
já ter identificado os Nihil como uma ameaça significante para
assentamentos e envios, agora ficou estabelecido que esse grupo causou o
desastre da Legacy Run.
Reath se sentou ereto enquanto murmúrios de desolação preenchiam a
sala. Se os Nihil foram capazes disso, o que mais poderiam fazer? Isso não
importava tanto quanto o que eles já tinham feito, não para Reath.
Se não fosse o desastre da Legacy Run e o subsequente conflito com os
Nihil, a Mestra Jora ainda estaria viva.
Foi como se a raiva descesse sobre ele, não acreditava que tinha a
capacidade para esse tipo de ódio. Mataram a minha mestra, sussurrou uma
voz desconhecida e inegável em sua cabeça. Os Nihil a mataram. O seu
corpo inteiro tensionou até quase tremer.
Afaste-se do ódio. Esse é o lado sombrio, sussurrou uma voz mais
familiar; não a voz dele mesmo, mas a da Mestra Jora. Era só a memória de
Reath sobre ela, mas essa era uma linha de salvamento para a luz.
Lentamente ele expirou. Banir toda a tensão era impossível, mas ele
resolveu direcionar essa energia em aprender mais sobre esses saqueadores
que causaram tanto dano e não apenas à Mestra Jora.
— Portanto o grupo requer um estudo mais aprofundado do que tem
sido conduzido. — continuou Adampo. — As origens dos Nihil são
misteriosas; eles compreendem numerosas espécies de mundos amplamente
díspares. Contudo, não temos uma contagem sólida das espécies incluídas
ou das proporções representadas, devido aos seus rostos mascarados. —
Adampo mostrou o primeiro holo, uma imagem de um temível guerreiro
Nihil com uma grande máscara respiratória amarrada em sua cabeça,
invadindo alguma nave azarada. Os Nihil usavam listras azuis de batalha
pintadas da linha do cabelo até o peito, sobre a própria máscara. Reath se
lembrou, de maneira bizarra, mas afetuosa, das mechas azuis no cabelo de
Nan.
Talvez ele tivesse se afeiçoado muito a ela.
— As naves Nihil são unicamente perigosas, pois elas podem se juntar
ou separar em seções menores. — continuou Adampo. — Portanto, nenhum
oponente pode ter certeza se enfrentará uma tempestade de pequenos caças
ou um enorme couraçado. As naves são geralmente construídas de partes de
outras embarcações, como essa.
Outro holo preencheu o espaço, este mostrando uma nave espacial
montada de pedaços, uma que era muito familiar.
Os olhos de Reath se arregalaram quando ele percebeu: Parece a nave
de Nan e Hague.
Parecia exatamente com eles.
O jeito vago deles sobre de onde tinham vindo. A morte violenta dos
pais de Nan. As marcas de carbono nas placas da nave. A mecha azul do
cabelo de Nan.
Ele sussurrou:
— Eles são Nihil.
U m hotel de luxo em Coruscant fazia o “luxo” de outros
planetas parecem farrapos e cinzas. No Hotel Alisandre, os quartos
estavam situados nos andares mais altos dos edifícios mais altos, completos
com deques de pouso pessoais, banheiras e droides servos que serviam os
melhores vinhos, refeições e sobremesas. Affie, que passou a maior parte de
seus dias em seu beliche minúsculo na Embarcação, ficou cinco minutos
inteiros passando as mãos sobre os lençóis de seda de sua enorme cama.
— As camas devem ter este tamanho. — comentou Scover, enquanto os
droides servos guardavam as suas coisas. Embora sejam extremamente
grandes para os padrões da maioria das espécies humanoides, nada menor
do que isso pareceria luxuoso para um Gigorano, ou mesmo ser suficiente
para um Trodatome.
Affie se deixou cair em um ninho de travesseiros, saboreando a maciez
que não estava acostumada.
— Certo, você não está impressionada. Então por que ficar em um lugar
como esse? — A casa de Scover era boa, mas dificilmente grandiosa, e ela
era sempre cuidadosa com dinheiro.
— Importantes empresários e políticos se hospedam nesses hotéis,
principalmente aqui no Distrito Federal. — respondeu Scover. — Esses
podem ser os nossos futuros clientes. Poderei marcar várias reuniões nos
andares de clube abaixo.
— Deixarei você encontrar a desculpa perfeita.
Não era uma desculpa, era o verdadeiro motivo de Scover, como Affie
sabia, mas soou como uma provocação que fez Scover sorrir e despentear o
cabelo de sua filha adotiva.
Convencida do contentamento de Affie, Scover pensou em sair uma
hora depois para começar a trabalhar em algumas dessas reuniões. Affie
ficou imóvel na rede antigravitacional da varanda por vários minutos,
fingindo observar as nuvens passando logo acima do nível dos olhos. Quase
preguiçosamente, ela estendeu uma mão e apertou o controle que colocaria
todos os droides-servos em modo de espera.
No momento em que os seus olhos se fecharam, ela pulou. Com o
coração acelerado, ela correu pela suíte até o guarda-roupa onde as coisas
de Scover estavam guardadas.
Devo ser a pior filha de todas, pensou Affie enquanto pegava um dos
infopads de Scover. Eu deveria confiar nela. Eu não deveria fuçar nas
coisas dela. O tempo todo em que pensava nisso, os seus dedos digitavam
habilmente uma das senhas de nível superior, uma que Scover tinha
compartilhado sem pensar duas vezes.
Assim que a capacidade total de memória do infopad foi carregada,
Affie inseriu os códigos de setor da estação Amaxine, os mesmos que foram
pré-programados na Embarcação. (Ela os memorizou; depois de vê-los
brilhando vários dias no painel da Embarcação, eles estavam praticamente
gravados em seu cérebro). Ela prendeu a respiração no instante em que mais
informações rolaram pela tela. Certas frases se destacavam como se
estivessem escritas em vermelho:
Centro de Transporte/CONFIDENCIAL
Aceitação, até mesmo resignação, era uma habilidade que os Jedi deveriam
dominar. Todas as habilidades e toda a sua autoridade não podiam corrigir
todas as situações. A ordem pode exigir que eles façam coisas e vão a
lugares que não teriam escolha. Qualquer grande Jedi poderia aceitar isso
rapidamente e de maneira indolor.
Era uma habilidade em que Reath ainda estava trabalhando, com pouco
sucesso.
Uma vez que não tinha tarefas atribuídas no momento e nenhum mestre
para atender, era responsável por preencher o seu próprio tempo. Memórias
da Mestra Jora e de Dez o atormentavam por todos os lados. Tudo o que fez
ou aprendeu durante os últimos anos estava ligado a uma ou ambas as
pessoas que havia perdido. A concentração era impossível. Em vez disso,
ele se dirigiu ao seu lugar favorito, a única fonte segura de conforto que
conhecia.
Nas grandes câmaras do Arquivo, Reath se sentou em sua antiga e
confortável cabine com um dos textos que negligenciou nos últimos anos,
um que recontava os contos de fadas e lendas dos Mundos do Núcleo. Essas
figuras já eram todas conhecidas através das canções e rimas ensinadas às
crianças, mesmo dentro dos Templos; algumas delas tinham raízes de fato,
como a “Boa Princesa Chaia de Alderaan” ou “O Pirata Ithoriano
Bluebrow”.
Assim como os guerreiros Amaxine.
Ele percorreu as imagens das armaduras, naves e armas dos Amaxines,
a maioria delas representações artísticas encontradas em artes antigas. Mas
havia artefatos reais retratados também. Enquanto Reath estudava as
imagens, ele viu padrões com círculos infinitos, enrolados juntos,
sequenciados, envolvendo um ao outro, sejam gravados em metal ou
pintados em vasos.
Não é à toa que construíram uma estação esférica com anéis ao redor,
ele pensou. Círculos significavam algo para eles. Talvez algumas das
lendas expliquem o porquê.
Antes que pudesse estudar mais, no entanto, outra pessoa entrou em sua
cabine.
— Ei. — disse Reath. — Essa está ocupado... Mestre Cohmac?
— Boa tarde, Reath. — Mestre Cohmac usava o capuz de sua capa
dourada, o que não era incomum pra ele, mas no momento parecia um
pouco... Furtivo. A sua voz também estava baixa, embora essa fosse a regra
nos Arquivos. — Vi que você pediu para voltar à estação Amaxine.
— Eu, hã, sim. — Reath se endireitou e arrumou o cabelo castanho para
trás de seu rosto. — Por todo o bem que fez. Você viu sobre Nan e Hague,
também, certo?
— Correto. — Mestre Cohmac não parecia interessado o suficiente no
fato de que foram enganados pelos Nihil. — Além disso, descobrimos que a
escuridão que encontramos na estação Amaxine não estava de jeito nenhum
ligada aos ídolos. Eles serviam como supressores e como sentinelas. Ao
remover os ídolos, libertamos essa escuridão. Isso não pode ser permitido.
Reath levou um momento para processar isso.
— Espere. Não deveríamos mover os ídolos?
Mestre Cohmac estremeceu, como se estivesse com dor.
— É o que parece. É importante que os ídolos sejam devolvidos à
estação e que a escuridão seja novamente suprimida.
Era lisonjeiro ser procurado para ajudar com o ritual de aprisionamento,
que certamente era o motivo, mas Reath sentiu que era justo explicar que
tinha planos completamente diferentes.
— Pedi permissão para voltar a estação para apreender Hague e Nan.
Eles se recusaram e disseram que não podiam dispensar ninguém, até
mesmo um Padawan. O Conselho reverteu a decisão por causa dos ídolos?
— Não. Essa decisão é final. No entanto, ninguém foi proibido de viajar
para a estação Amaxine. Você e eu somos livres no momento, assim como
Orla Jareni, que compartilha de nossas preocupações. O meu salário pessoal
poderá cobrir o aluguel de uma nave, de preferência a Embarcação, pois
eles podem fazer uma escolha consciente sobre os perigos inerentes de
viajar para lá.
— Então você está sugerindo que nós... Nos rebelemos? Nos opondo ao
Conselho?
— O Conselho não proibiu explicitamente isso. E eu também não
descreveria isso como uma ação rebelde. — Mestre Cohmac revelou ter um
sorriso muito astuto. — Prefiro pensar nisso como 'mostrando iniciativa'.
Cada segundo que Reath passou na estação Amaxine havia provado que
aventuras não eram para ele. De jeito nenhum.
Mas não podia deixar uma tarefa inacabada.
— Precisamos inventar uma desculpa? — sussurrou ele.
— Não. Nós não mentiremos. Simplesmente vamos.
— O que precisamos levar? — Reath tentou pensar em dispositivos
especiais que podia ajudá-los a capturar os Nihil.
Mestre Cohmac, no entanto, estava claramente pensando mais sobre a
escuridão que eles encontrariam novamente.
— Precisamos dos ídolos.
Isso tinha sido mencionado antes, mas só agora Reath viu as
implicações.
— Vamos roubar eles? — Certo, é legal passar mais tempo com
artefatos históricos, mas não é legal que tenhamos que tirá-los do Templo
sem sermos notados.
— Eles são os únicos objetos que sabemos serem poderosos o suficiente
para combater essa escuridão. Então, assumimos o roubo.
Reath hesitou antes de dizer:
— Você fez uma piada.
— É sabido que isso ocorreu. — disse Mestre Cohmac, com o rosto
sério. — O Conselho me encarregou de remover os ídolos de seu local no
Templo e encontrar um local mais adequado pra eles. Acontece que o local
mais adequado é na estação Amaxine.
Sorrir, para variar, era bom. Mas o sorriso de Reath durou pouco.
— É somente nós? Nan e Hague não pareciam guerreiros mortais, mas
aposto que têm armamento a bordo daquela nave.
— Sem dúvidas, você está certo. — Mestre Cohmac tornou-se ainda
mais grave do que de costume. — Esteja ciente, Padawan Silas, que a
jornada que estamos empreendendo é extremamente perigosa. Se... não,
quando tivermos algum problema, não seremos capazes de pedir ajuda para
a Ordem Jedi ou à República. O que faremos aqui, faremos sozinhos. Pense
nisso cuidadosamente antes de aceitar.
— Percebi essa parte desde o início. — disse Reath. — Estou dentro.
Acabou sendo uma viagem muito mais rápida ao irem diretamente para a
estação Amaxine, em vez de a encontrarem no caminho como uma parada
de emergência. Dentro de uma hora, Affie anunciou:
— Todo mundo, apertem o cinto. Vamos sair do hiperespaço em breve.
Reath se amarrou. Desde o momento em que Mestre Cohmac foi até ele
nos Arquivos, estava tenso, energizado por um propósito. No entanto, teve
que se concentrar. Se fosse confrontar Nan e Hague, precisava fazer isso
com o máximo controle.
Eles são guerreiros perigosos, disse a si mesmo. Provavelmente têm
armas que você não descobriu antes. Você tem que estar pronto pra eles.
Tudo verdade e mesmo assim, quando pensou sobre Nan e Hague, ainda
via uma jovem doce com um rosto redondo e cabelos escuros brilhantes e
um idoso que usava uma bengala para andar.
A história deles pode ser mais complexa. Será que poderiam estar sob o
controle dos Nihil, servindo o grupo contra a sua vontade? De algumas
reuniões, Reath lembrou que os Nihil eram famosos por ameaçar certas
autoridades planetárias, forçando-as a fechar os olhos aos seus saqueadores
ou pagar resgates enormes. Se os Nihil podiam intimidar todo o governo de
um planeta, eles poderiam facilmente forçar a duas pessoas vulneráveis a
fazer o que mandassem.
Talvez tenhamos vindo aqui para prendê-los, Reath percebeu. Ou talvez
tenhamos vindo aqui para libertá-los.
— Saindo do hiperespaço em cinco minutos! — gritou Leox sobre o
rangido agudo da Embarcação. — Quatro! Três!
Reath prendeu o cinto de segurança, assim como os outros Jedi.
— Dois! E um!
A Embarcação estremeceu e então voltou para a suavidade de um voo
normal. Cada um dos Jedi respirou aliviado. Sarcasticamente, Cohmac
Vitus disse:
— A parte fácil acabou.
Da ponte, Leox gritou:
— Disso pode ter certeza.
Os outros trocaram olhares. Reath foi quem perguntou:
— Por que disse isso?
— Disse isso porque tem uma Storm Nihil completa do outro lado da
estação, e ela está carregando poder de fogo suficiente para nos transformar
em poeira estelar.
Affie tinha ouvido falar dos Nihil. Tinha visto holos e imagens na tela de
suas naves de guerra, dos seus ataques de gás venenoso e dos horríveis
danos que deixavam para trás. Já destruíram naves da Guilda, não muitas,
mas o suficiente pra estar ciente das perdas devastadoras de vidas.
Nada disso a havia preparado para o puro terror de ver uma de suas
enormes naves de guerra com seus próprios olhos.
Assim como a nave de Nan e Hague, ela era um remendado de peças de
outras naves, com metais e formas diferentes, tudo selvagemente colado
junto. Mas a nave de guerra Nihil não era simplesmente maior; era
infinitamente mais perigosa. O casco estava completamente lotado de portas
de armamento, em cada fresta e ângulo. Não havia uma abordagem segura
para uma nave dessas, e nem como possuir mais armas que ela. Isso tudo
combinado com o conhecimento de que a nave de guerra pode se dividir em
outras naves e cercá-los de uma vez...
Affie não queria mais pensar nisso.
Leox reagiu instantaneamente, batendo nos controles que levariam os
motores até a configuração ativa mais baixa e desligar todos os sistemas
desnecessários. Até as luzes se apagaram. O interior da Embarcação
poderia muito bem estar iluminado por velas.
— Eles ainda vão nos ver. — disse Affie. As suas mãos permaneceram
congeladas no console.
— Mas vai demorar mais e isso nos dá tempo para fazer isso.
Leox usou o menor impulso possível para inclinar o curso para baixo e
lateralmente, logo atrás de um pouco de detritos aleatórios do espaço, um
asteroide pequeno que era pouco maior que a Embarcação.
— Vamos soltar um cabo ali.
Affie já havia percebido onde ele estava mirando.
— Entendi.
Ela ativou um cabo de reboque magnético, esperando que a composição
do asteroide contivesse metal o suficiente para funcionar. Uma pequena
vibração sinalizou que continha. Affie exalou de alívio enquanto flutuavam,
protegidos por um asteroide que iria obscurecê-los da visão dos Nihil. Se
escaneassem a área, pensariam que o asteroide era um pouco maior e muito
mais metálico. Qualquer sinal de vida provavelmente seria classificado
como mynocks.
A essa altura, os Jedi se aglomeraram em torno da porta da ponte.
Cohmac falou primeiro:
— Muito bem.
— Mas não podemos ficar aqui pra sempre. — acrescentou Orla. —
Vamos esperar até eles irem embora da estação?
— Não podemos. — Os olhos de Reath estavam arregalados com o
tamanho da nave Nihil, mas parecia determinado. — Quando os Nihil
partirem, levarão Nan e Hague consigo e não descobriremos nada.
Cohmac cruzou as mãos.
— As repercussões podem ser ainda piores. Seja qual for a escuridão a
bordo dessa estação, dependendo da forma que ela assumir, os Nihil
poderiam potencialmente reivindicá-lo como sendo deles.
— Os Nihil não atracaram na estação ainda. — refletiu Leox. — Apenas
Hague e Nan. As trilhas de íons indicam que estão ali por algumas horas.
No momento, estão apenas orbitando.
— Por que não atracaram? — perguntou Affie.
Leox encolheu os ombros.
— Meu palpite é que viram leituras como essas. — Ele apontou o
console. Só então Affie olhou as leituras que sugeriam que mais explosões
solares gigantescas podem acontecer. Não imediatamente... Mas seria em
breve. Leox continuou:
— Provavelmente os Nihil desejam permanecer flexível. Deixar as
opções em aberto caso precisem partir.
Cohmac Vitus cruzou as mãos.
— Isso sugere que os Nihil também não têm sensores de primeira linha
que os permitiriam ser mais precisos sobre as explosões solares, ou que o
procedimento de acoplamento demora mais do que a maioria das naves.
Seria excelente se pudéssemos descobrir qual, embora, é claro, essa não seja
a nossa prioridade no momento.
O Jedi permaneceu calmo o suficiente para pensar sobre as implicações
das ações dos Nihil. Affie ficou impressionada sem querer.
Enquanto a nave Nihil continuava o seu lento arco ao redor da estação
Amaxine, códigos começaram a rolar da estação de navegação. Leox sorriu.
— Ah, sim. Já sei no que você está pensando, Geode. Agora isso sim é
um plano.
Affie também entendeu, mas não ficou tão entusiasmada.
— Isso é insanamente perigoso.
— Sim. — disse Leox. — Mas vai ser legal pra caramba.
Eles não poderiam usar os motores; se os ligassem tempo o suficiente
para acelerar o mais rápido que precisassem, os Nihil notariam o aumento
de energia em um instante. Mas se soltassem algum combustível
sobressalente, isso empurraria a nave até a estação Amaxine. A velocidade
seria adequada, se, e somente se, conseguissem a manobra em uma fração
de segundo.
Com qualquer outra pessoa, exceto Leox e Geode, Affie teria pensado
nessa tática como uma sentença de morte. Então ela colocou o seu cinto de
segurança e se preparou.
Assim que a nave Nihil orbitou para o outro lado da estação Amaxine,
as duas naves ficaram brevemente invisíveis uma da outra. A Embarcação
soltou o cabo, manobrou com metade da potência em torno do asteroide e...
— Ligue. — disse Leox.
Affie ligou o ejetor de combustível de emergência. Instantaneamente, a
Embarcação deu um impulso pra frente. As coordenadas de Geode os
mantiveram apontados diretamente para o alvo. Mesmo assim, sabendo
exatamente o que estava acontecendo, Affie não conseguiu deixar de
prender a respiração.
No último instante antes que a colisão se tornasse inevitável, Leox
disparou os motores apenas o suficiente para manobrar contra a propulsão
do combustível resta. Isso fez com que a nave quase parasse, virando a nave
somente um pouco e...
— Pronto. — murmurou ele. — Estamos em órbita, assim como os
Nihil. Mesma velocidade. Não podemos vê-los, mas eles não podem nos
ver, o que é o principal.
— Ótimo trabalho. — disse Orla Jareni, mas a sua expressão era de
preocupação. — Porém eu diria que o principal é que, de alguma forma,
temos que embarcar em um estação espacial sem acoplar a nave. Alguma
ideia de como vamos fazer isso?
No final das contas, sempre havia uma maneira. Não necessariamente uma
maneira segura. Mas nenhum deles tinha voltado para a estação Amaxine
pra não se arriscarem.
Orla ajustou o seu exotraje, satisfeita por ter um traje que realmente
servisse nela. Reath e Affie também, mas Cohmac teve que se contentar
com um que era muito grande. Normalmente isso criaria um risco
inaceitável, mas essa era uma situação urgente, e pelo menos não estavam
viajando pra longe.
Uma grande caixa estava perto dos pés de Affie, e parecia ter a intenção
de levar com eles.
— O que é isso?
— Ah, apenas... — Affie hesitou. — É algo que preciso para fazer os
registros do código dos contrabandistas na estação. Quero descobrir o que é
aquilo.
Reath balançou a cabeça.
— Affie, há Nihil naquela estação. Sem falar as trepadeiras e os Oitotês.
É muito perigoso ir lá apenas para pesquisa. — Então, pra si mesmo, ele
murmurou: — Não acredito que acabei de insultar a pesquisa.
— Não trabalho para os Jedi. — retrucou Affie. — Quer dizer, trabalho,
mas como a copiloto da Embarcação, e assim que chegarmos ao nosso
destino, estou por conta própria. O que significa que vou embarcar na
estação Amaxine, com ou sem vocês.
— Não posso argumentar contra isso. — disse Orla. Na verdade, queria
argumentar, mas a garota tinha razão. Eles não tinham qualquer maneira de
pará-la, exceto pela força física, que era a última coisa que qualquer um
deles precisava. Além disso, Geode ficou atrás de Affie, carrancudo, como
se desafiasse alguém a se opor à vontade de sua amiga. — Venham todos.
Vamos andando.
Minutos depois, todos os quatro membros do grupo de desembarque
estavam reunidos na câmara de descompressão. Na contagem, Leox liberou
as válvulas de pressão. Placas metálicas se abriram em espiral, expondo-os
ao vazio gelado do espaço. A gravidade os soltou, então balançaram sem
peso dentro da câmara de descompressão. Em vez de ouvir o costumeiro
chiado da trava da câmara, Orla foi instantaneamente envolvida no total
silêncio.
Vários metros abaixo de seus pés estava a superfície de deslocamento
da estação Amaxine.
— Devemos chegar nas câmaras de descompressão em 45 segundos. —
disse Cohmac, via comunicação de capacete. — Na contagem.
A sincronização era essencial. Orla preparou o seu propulsor portátil e
ficou em posição com o restante.
A voz profunda de Cohmac surgiu nos comunicadores:
— Três. Dois. Um.
Orla disparou o propulsor, permitindo que o seu impulso a empurrasse
para frente, para fora da câmara de descompressão da Embarcação e em
direção à superfície da estação. Ela estava com os grampos magnéticos
preparados antes mesmo dos seus pés tocarem a superfície.
Instantaneamente ela travou. Consegui, pensou.
Todos os demais também conseguiram, cada um tentando o seu melhor.
Depois, encostados na parede, todos foram em direção à câmara de
descompressão nas proximidades. Reath foi quem agarrou a alça manual
por fora e a girou para abrir. Enquanto as portas se abriam, todos
manobraram para entrar na câmara de descompressão.
Agora, Orla pensou, a parte complicada.
Na hora, a Embarcação liberou as portas do compartimento de carga.
Para fora derivou o seu conteúdo: os ídolos, amarrados com cabos de carga
básicos. Por um momento eles flutuavam livre em gravidade zero, e Orla
podia imaginá-los voando: o inseto, o pássaro, a rainha e o anfíbio.
Mas não podiam ir longe. Ela ergueu a mão ao mesmo tempo ao
momento que Cohmac e Reath; como um, eles se conectaram a Força,
trazendo os ídolos para mais perto. As quatro formas douradas flutuaram
cada vez mais perto, até que os Jedi pudessem manobrá-los para dentro da
câmara de descompressão. Ela os empurrou para o lado, não queria essas
coisas viessem pra cima dela quando a gravidade voltasse, administrando-os
antes que as portas se fechassem novamente. Por um instante eles flutuaram
na escuridão total. Então as luzes se acenderam, a gravidade os puxou
novamente, e o chiado revelador do ar ficou cada vez mais alto. Os ídolos
pousaram com um baque enorme. Enquanto a atmosfera continuava
preenchendo o espaço, Cohmac disse:
— Muito bem pessoal. Conseguimos.
Orla sorriu, mas não pode deixar de acrescentar:
— E agora a nossa recompensa: perigo mortal.
As portas da estação se abriram, revelando a selva.
Affie não queria deixar a sua missão inacabada. Mas os Jedi já estavam em
apuros. Isso significava que Leox e Geode também podiam estar. Apesar de
não ter conseguido identificar todo som estranho ricocheteando na estação
nas últimas horas, os últimos estrondos definitivamente eram tiros de
blaster atingindo metal. Ela queria que os seus amigos deixassem a estação
vivos, o que significava deixar a sua missão de lado por um momento.
Pelo menos ficaram com armas, como Leox sugeriu. Ela colocou a mão
no único detonador térmico em sua bolsa, apenas para se certificar de que
estava lá. O melhor seria nem lutar, mas se os Nihil tinham começado um
luta, Affie queria saber o que poderia acabar com ela.
Um baque quase inaudível parecia vir do anel da câmara de
descompressão. Affie hesitou... Ir pra luta ou ir pra câmara de
descompressão, onde aparentemente a Embarcação havia acabado de
atracar? Eles teriam mais chances em uma luta se Leox e Geode estivesse
com eles. Então para o anel da câmara de descompressão.
Com a bolsa raspando na parede atrás dela, Affie deu a volta no canto,
em um corredor que se abria para o jardim botânico principal. Até onde
podia ver, nada havia mudado; os ídolos estavam de volta mais ou menos
onde estavam antes e os 8-Ts estavam cuidando do jardim como de
costume. Mas algo da vegetação lá embaixo, as árvores, os troncos e coisas
do tipo, tinham se movido? Desde quando as plantas andam?
Affie se permitiu continuar e deixar as perguntas para depois.
Ela continuou descendo a longa passarela em espiral para o caminho
que traçava a circunferência do anel da câmara de descompressão, onde,
aparentemente, a Embarcação não tinha atracado. Em vez disso, várias
figuras com roupas escuras estavam emergindo do que deveria ser uma nave
enorme. Quando os olhos de Affie se ajustaram, ela conseguiu distinguir as
listras azuis pintadas em seus cabelos e nas máscaras de respiração
macabras que eles usavam.
Essas máscaras eram muito familiares.
— Os Nihil. — sussurrou ela. A enorme nave de guerra havia atracado
na estação afinal. Estavam invadindo a estação em massa. Que chance ela e
os seus amigos tinham?
Nenhuma... A menos que impedisse o grupo de guerra de embarcar.
Affie não viu os Jedi abaixo dela. Para o bem deles, esperava que não
estivessem muito perto. Não havia tempo pra verificar. Pegou o detonador
térmico de sua bolsa. O peso dele parecia estranho em sua mão,
desconhecido e assustador; Affie sabia o quão perigosa era essa arma.
Nunca tinha realmente usado um desse antes.
Mas trouxe para salvar os seus amigos e era isso o que pretendia fazer.
Affie ajustou o cronômetro para dez segundos e o arremessou direto pela
câmara de descompressão conectada na nave Nihil.
Caindo no chão da passarela, teve apenas o tempo suficiente para cobrir
a sua cabeça antes da explosão.
BUM! A onda de choque a atingiu, um impacto físico que a atingiu,
jogando-a de lado. Mesmo que os seus braços estivessem sobre as orelhas,
ficou momentaneamente surda, exceto por um som agudo de estática.
Piscando, Affie olhou para o ar denso de poeira rodopiante e pequenos
pedaços chamuscados do que poderia ser tecido, armadura ou pele.
A náusea se apoderou dela. Affie teve que se defender e a sua nave
antes, mas realmente tinha que matar várias pessoas, mesmo que fossem
Nihil.
Então sentiu, em vez de ouvir, pés marchando pela escada de metal da
passarela.
Alguém havia sobrevivido à explosão e esse alguém estava indo
diretamente em direção a ela.
Eu e minha boca grande, Orla pensou, não pela primeira vez, quando
percebeu que os cargueiros Nihil estavam atracando na estação a apenas
cinquenta metros abaixo do arco do corredor da câmara de descompressão,
depois do arco mais próximo. Me gabei porque tínhamos sabres de luz e o
que aconteceu? Mais inimigos do que nós três jamais conseguiríamos
cortar.
Provavelmente isso era a Força a ensinando sobre humildade. Orla
odiava humildade.
O seu desconcerto durou o mesmo tempo que levou para se virar na
direção dos atacantes que se aproximavam, porque naquele momento algo
havia se detonado com um estrondo poderoso. O impacto da explosão fez
Hague cambalear pra trás, e até mesmo os Jedi balançaram em seus pés.
Pelo menos alguns dos Nihil caíram, mas através da turbulenta fumaça preta
logo depois do arco, outros guerreiros continuaram indo em direção a eles,
ignorando os seus camaradas caídos.
Uma arma Nihil disparou acidentalmente? Esta antiga estação estava
finalmente começando a desmoronar depois de todo o caos dos últimos
dias?
Não importa, Orla pensou. Você conseguiu uma chance. Aproveite.
Ela se lançou em direção a Hague, que havia se endireitado, ou quase.
Orla caiu quase a seus pés, como se estivesse ajoelhada diante dele. Talvez
ele pensasse que estava prestes a se render. Em vez disso, acendeu o seu
sabre de lâmina dupla, lâminas paralelas, o cabo ainda travado, e moveu
para cima para cortar o rifle blaster em três partes. Fagulhas de plasma se
espalharam em torno deles enquanto Orla abria o cabo do sabre para que as
duas lâminas brilhassem nas extremidades.
Hague recuou, mas a sua raiva era maior do que a sua cautela. Com o
pedaço fumegante do rifle blaster ainda em suas mãos, tentou acertar a
cabeça de Orla. Ela conseguiu se esquivar e saltou vários metros para trás
para ver melhor o conflito que se desenrolava.
Cohmac enfrentou o caminho do arco, bloqueando o fogo com o seu
sabre de luz com tanta velocidade que Orla mal conseguia distinguir a
lâmina; parecia estar segurando um escudo giratório de cor brilhante. Por
causa disso, os Nihil não conseguiam avançar pelo arco para se infiltrar na
estação.
Isso não era uma vitória. Era apenas um empate. Mesmo que Orla se
juntasse a ele, dois Jedi só conseguiriam manter tantos guerreiros armados à
distância por um certo tempo.
Olhou ao redor e viu, embutido nos vários arcos do anel externo, o que
pareciam ser portas de emergência, provavelmente colocadas lá em caso de
ruptura atmosférica. A estrutura parecia comprometida tanto pela explosão
como pelo tempo; a moldura centenária continha deformações e até
rachaduras finas e pequenos orifícios. Não manteriam nada hermeticamente
fechadas por muito tempo. Mas isso não significava que as portas não
poderiam ser usadas.
Precisaria dos controles manuais, que avistou perto do teto. Uma
pequena escada de serviço ajudou Orla a chegar lá sem gastar energia para
pular diretamente; pelo jeito, precisaria preservar a sua força. A escada
estava perto o suficiente de um dos controles dela alcançar. Infelizmente
também era alta o suficiente para torná-la uma alvo perfeito para os blasters
dos Nihil. Reativando o seu sabre, girou as duas lâminas brancas para criar
uma espécie de escudo, como um círculo cintilante, que defletia o tiro dos
blasters. A julgar pelos gritos e xingamentos que ouviu, os tiros estavam
ricocheteando diretamente de volta nos Nihil. Com a mão livre, alcançou os
controles, que estavam perto das pontas dos dedos, mas precisou apenas do
menor puxão com a Força para movê-los.
As paredes começaram a tremer. Ela gritou:
— Cuidado aí embaixo.
Com um poderoso impacto, as portas de emergência há muito
adormecidas bateram e trancaram. Criaram uma parede de três metros de
altura que quase bloqueou o comprimento e largura total do anel; alguns
buracos traíam o tempo e os danos, mas não seriam facilmente violados. A
barreira não era impenetrável, já que os Nihil poderiam contorná-la pelo
caminho mais longo, mas iria atrasá-los. Talvez também os fizesse pensar
duas vezes antes de agravar o conflito.
Escorregando pela escada, Orla voltou para o chão antes que a poeira
tivesse se assentado. Cohmac ficou ali ofegante, começando a abaixar o
sabre de luz, e deu a ela a sombra de um sorriso.
— Você sempre foi excelente na improvisação.
— É a minha especialidade. — Orla colocou uma mão em seu ombro.
— Você está bem?
Cohmac ergueu a mão enquanto tossia.
— Estou. Inalei algumas partículas. Nada que uma lavagem com kolto
não resolva.
Em seguida, precisavam bolar um plano para não apenas manter os
Nihil fora da estação, mas também para afastá-los completamente. Era o
que Orla tinha pensado, antes de ouvir um grito.
— Quem é? — perguntou Orla. — Não é um dos Nihil...
— É a Affie. — respondeu Cohmac, com a expressão caída. — Ela está
em perigo.
Orla terminou por ele:
— E eu acabei de prendê-la do outro lado.
O redemoinho azul elétrico do hiperespaço visível através das janelas do
pod de transporte poderiam ser reconfortantes se Reath não soubesse que os
Drengir estavam vendo isso também.
Pelo menos não há destroços neste caminho, disse a si mesmo. Não era
exatamente um lado positivo.
Dez caiu sobre o seu ombro, fraco, mas consciente, mais ou menos. Ele
murmurou:
— Eles se foram?
— Os Drengir? Eles se foram por enquanto. — Reath verificou os olhos
de Dez e viu que estavam avermelhados e as suas pupilas ligeiramente
dilatadas. A condição dele não tinha melhorado, mas pelo menos não tinha
piorado também. — Eles podem nos alcançar na estação, mas teremos os
outros lá para nos ajudar. Mestre Cohmac estará lá, lembra? Orla Jareni
também. Mais a tripulação da Embarcação, lembra deles? Leox e Affie e o
cara de pedra?
Com um aceno de cabeça, Dez pareceu acordar um pouco mais.
— Teremos ajuda.
— Certo. Exatamente. — Provavelmente não era um bom momento
para mencionar que Hague e Nan eram Nihil. Definitivamente não era a
hora de se aprofundar sobre a morte da Mestra Jora. Havia a possibilidade
de Dez nem mesmo se lembrar que ela se foi; nesse caso, Reath o invejava.
Enfim, já tinham o suficiente pra lidar, principalmente pelo fato de que os
Drengir iriam com toda a certeza alcançá-los na estação.
Plantas guerreiras homicidas, ele pensou. Nunca li nada sobre isso.
Mais uma coisa que preciso escrever nos Arquivos.
Com um movimento sutil, o pod de transporte saiu do hiperespaço.
Pressionando o rosto contra a escotilha, Reath teve um vislumbre da
estação à frente, da qual estavam se aproximando em alta velocidade. Os
mecanismos do retorno estavam funcionando tão bem quanto os
mecanismos de lançamento estavam?
— Bom... — murmurou pra si mesmo. — Estamos prestes a descobrir.
Mais uma vez um raio trator segurou o pod. Reath exalou em alívio
conforme desaceleravam; ao menos tinham a chance de pousar com vida.
Então, através as janelas finas da escotilha, vislumbrou algo ao lado do anel
equatorial da estação. Era uma nave? Se sim, era muito maior do que a
Embarcação. Mas então o ângulo mudou, a estação saiu de vista e ele não
tinha certeza do que tinha visto.
A escuridão os engoliu quando o pod entrou no tubo de lançamento. Em
segundos, eles pararam. Imediatamente Reath abriu a escotilha.
— Vamos. — disse ele, puxando o braço de Dez ao redor de seus
ombros para que pudesse levá-lo de volta em segurança. — Vamos lá. Um
pé na frente do outro. — Não ficou claro se Dez entendeu, mas ele foi
tropeçando.
Seguiram pelos túneis do anel inferior. Na escuridão, a espiral cheia de
labirintos era ainda mais confusa. Reath tinha acabado de determinar a saída
quando reconheceu o som de um pod de transporte atracando. Os Drengir
chegaram.
Ele fez o possível para se apressar, mas isso foi um erro; Dez se enrolou
em seus próprios passos e caiu no chão. Reath se inclinou sobre ele,
agarrando as vestes de Dez em suas mãos.
— Você tem que se levantar, tem que...
Dez o olhou vagamente. Não estava em condições de escalar o túnel
traiçoeiro que levava à parte principal da estação, mesmo se os 8-Ts não os
atacassem, e não havia garantia disso. Embora Reath tivesse a força e a
habilidade na Força para levar Dez com ele, ele não conseguiria fazer isso
rápido o suficiente para escapar da perseguição dos Drengir.
Ele se recusou a deixar Dez, mesmo que isso significasse de que
estavam presos.
S ai, sai, sai!
Affie forçou-se a ficar de pé, desesperada pra fugir. Em qual direção,
ela não sabia dizer; o mundo tinha se transformado em fumaça e cinzas,
quase desprovido de luz. Mas tinha que sair de lá antes que os Nihil a
encontrassem.
Ela se apoiou contra a grade da passarela, tentando recuperar o fôlego,
então se engasgou quando uma mão enluvada agarrou o seu cabelo.
— Tem que ser ela! — Um dos Nihil a arrastou para perto dele. A sua
máscara respiratória cheia de tubos tinha o brilho seboso de uma mancha de
óleo. Pela viseira Affie encontrou os olhos estreitos dele. — Ela jogou o
explosivo, ela pode ter mais!
Estava cheio de fúria, provavelmente por isso não pensou em checar
imediatamente se tinha um blaster. A mão dela se moveu até o coldre e no
momento seguinte sacou. Affie enfiou a coronha em seu intestino com
força, esperando que doesse.
— Me solta. — disse ela. A sua voz estava áspera por causa das cinzas
no ar. — Agora.
Em vez disso, ele a jogou de lado, violentamente. Affie bateu forte na
grade, perdeu o equilíbrio e tombou.
Ela gritou quando caiu, certa de que despencaria sobre o metal e
arremessaria o cérebro para fora. Em vez disso, pousou em outros Nihil,
espalhando-os. A aterrissagem ainda doeu, mas Affie ignorou os ferimentos
enquanto tentava escapar do emaranhado de braços e pernas e armas
embaixo dela. Mas os Nihil estavam se recuperando ainda mais rápido do
que ela, e enquanto um deles agarrava o seu antebraço, percebeu que tinha
perdido o blaster na queda. Estava cercada por figuras de capacete, todas
com raiva, todas armadas, e não havia nada que pudesse fazer sobre isso.
Naquele momento através da fumaça surgiu um círculo rodopiante de
luz branca brilhando na escuridão. Painéis de metais pesados bateram
através do túnel com um baque, e então brilharam três raios de luz: um azul
e dois brancos.
Sabres de luz, percebeu Affie. Ela só esperava que os Nihil
reconhecessem também.
Eles devem ter reconhecido, porque os agressores instantaneamente a
soltaram e avançaram em direção aos Jedi. Affie se abaixou para evitar ser
atingida pelas armas, mas quando estava agachada, percebeu o quão difícil
era recuperar o fôlego. A fumaça a estava afetando.
O seu comunicador zumbiu.
— Affie? — Ela nunca tinha ficado tão feliz em ouvir a voz de Leox. —
Acabamos de captar algumas ondas de choque intensas.
— Joguei o detonador térmico nos Nihil. — respondeu ela. Ela estava
engatinhando pelo chão, onde o ar era mais fresco e ligeiramente mais
limpo. Inspirar ficou muito mais fácil.
— Um impulso compreensível, mesmo tendo comentários sobre alguns
problemas em seu valor estratégico. Consegue voltar pra a nave?
— Acho que não. Além disso, ainda não acabei. — Affie apalpou a sua
bolsa; ainda que alguns dispositivos tivessem rolado durante a queda da
passarela, ela ainda tinha a maior parte do que precisava para pegar os
registros que procurava.
— Uma droga que não acabou. — Foi tão estranho ouvir Leox soar
severo. — Os Nihil mudaram toda a nossa estratégia e nossa única
estratégia agora é dar o fora daqui. Precisamos de você a bordo.
Eles não precisavam dela. Leox estava apenas preocupado porque a
situação tinha se tornado mais perigosa. Talvez Affie devesse ter se
preocupado também, especialmente porque os Jedi e os Nihil estavam
lutando furiosamente a apenas alguns metros dali, com o frenesi não
estando totalmente obscurecido pela fumaça.
Mas os seus pais também teriam ficado com medo, próprias vidas, com
o que aconteceria com a sua filha. A Scover tinha tirado as escolhas deles.
Affie pretendia garantir que todos tivessem uma escolha daquele momento
em diante.
— Segure a nave. — disse ela. — Voltarei em breve. — E ela desligou o
comunicador antes que Leox pudesse dizer outra palavra.
— Affie? — gritou Orla. Ela não conseguia ver a garota em toda aquela
bagunça; mal podia ver o seu próprio sabre de luz na frente do seu rosto. No
fundo sentia que a garota permanecia viva, mas ainda não podia gastar a
energia mental para procurar mais longe.
Não até que se afastasse dos Nihil.
Orla enfrentou dois guerreiros Nihil, um para cada uma de suas lâminas.
Eles usavam armas de pólo energizadas que podiam desviar o golpe de um
sabre de luz, mas custava-lhes, sempre. Eles a atacavam com um ataque
selvagem, porém descoordenado. Deixou a Força fluir através dela,
sentindo todos os movimentos deles um segundo antes de serem feitos, com
o sabre se movendo quase que sozinho de forma a bloquear cada ataque.
Eles foram recuando a cada golpe, não muito, talvez nem mesmo o
suficiente para que percebessem, mas o suficiente para Orla saber que
dominava a situação.
Ao lado dela, Cohmac estava desligando o sabre de luz dele. Antes que
Orla pudesse até mesmo se perguntar conscientemente o porquê, Cohmac se
conectou com a Força em direção a uma viga de metal caída no chão,
arrastando-a em direção aos Nihil. Ela não chegou a subir inteiramente no
ar, mas nem precisava; a viga varreu os Nihil, derrubando-os e enviando os
raios de blaster em direções aleatórias.
Mas uma dessas direções poderia ser o lugar onde Affie Hollow estava
tentando se esconder...
Quase como um só, os Nihil se viraram e fugiram dos Jedi, de volta em
direção ao anel da câmara de descompressão. O movimento foi muito
coordenado para ser uma simples fuga ou rendição; foi um recuo
estratégico. Os Nihil iriam se reagrupar e atacar novamente, mais forte que
antes. Mais uma razão para encerrar os negócios nesta estação esquecida
pela Força e partir.
Cohmac apontou para os Nihil.
— Eles vão voltar com mais poder de fogo.
— Sem dúvida. — disse Orla. — Está vendo a Affie?
— Não. A garota foi para mais fundo na estação. — Cohmac olhou para
a meia distância. — Devemos encontrar ela e Reath e tirá-los daqui assim
que possível.
Orla assentiu.
— Sabemos que Reath está nos túneis. Cohmac, porque não desce lá
enquanto procuro por Affie? — Ele correu em direção ao acesso mais
próximo para os anéis inferiores, o que servia como um sim.
Orla já sentia que Affie havia sumido de propósito. Estava tentando
fazer algo que achava que os Jedi não deveriam descobrir. Orla não sabia o
que era e não se importava. Só tinha que pegar Affie e sair antes que os
Nihil atacassem novamente.
Reath, Dez e Mestre Cohmac alcançaram o que uma vez havia sido a
entrada mais próxima para o anel da câmara de descompressão e agora era
uma massa de metal retorcido. Uma arma Nihil estava no chão; levou um
momento para Reath perceber os Nihil estavam lá também, meio
escondidos e esmagados pelas vigas caídas. O capacete do homem tinha
sido arrancado na queda, revelando um rosto humano absolutamente
comum, exceto pela sua palidez.
— Quem são eles? — sussurrou Reath. — Por que querem todos nós
mortos?
— De acordo com as informações limitadas que temos até agora, os
Nihil estão geralmente mais interessados em capturar riqueza do que
massacrar. — Mestre Cohmac reajustou Dez contra o seu ombro, o tempo
todo olhando em volta e analisando a situação. — No entanto, não hesitarão
em matar quando isso servir aos seus propósitos, como muitas vezes
acontece. Se querem reivindicar esta estação como sendo deles, usá-la da
maneira que os Amaxines faziam, como um posto avançado de
reconhecimento para os seus ataques...
— Então nos matar serve a seus propósitos. — finalizou Reath. O
caminho para a nave estava quase bloqueado pelos destroços do que parecia
ser algum tipo de portas antiexplosão ou câmara de emergência. — Teremos
que achar uma saída através dessa bagunça.
Assim que terminou de falar, alguém surgiu através de uma abertura nos
destroços e caiu de lado. Leox Gyasi havia tirado o seu colar de miçangas e
carregava um blaster, o que Reath achou inesperadamente chocante.
Aparentemente, ele os ouviu, porque Leox sorriu e disse:
— É assim que se passa desta bagunça. De nada. — Então o seu rosto se
iluminou. — Dez! Que bom ver você, meu amigo! Parece que você tem
história pra contar.
Embora Dez não estivesse em condições de contar a sua história ou
qualquer outra, esboçou um sorriso torto.
Mestre Cohmac estava menos entretido.
— Capitão Gyasi, a sua coragem é louvável, mas te falta prudência.
Você está mais seguro a bordo da nave...
— Primeiro, enquanto Affie estiver em perigo nesta estação, a minha
própria segurança não significa droga nenhuma. — disse Leox. — Segundo,
tem mais erupções solares chegando a qualquer momento, erupções
intensas, então não tenho certeza se qualquer um de nós esteja
particularmente seguro em qualquer lugar neste sistema.
Reath pensou rápido.
— Os escudos da estação. Podemos fortalecê-los? Então poderíamos
expandi-los para proteger as naves.
— Talvez. — disse Mestre Cohmac. — Mas temos que encontrar os
controles e ainda interpretá-los...
— Eles estão nos níveis mais baixos. — interrompeu Reath. Ele
realmente acabou de interromper um Mestre Jedi? Mas isso era muito
importante e tinham pouco tempo. — Fui descobrindo os caminhos
enquanto estava lá embaixo e acho que os controles estão começando a
fazer sentido pra mim. Talvez possa aumentar os escudos.
Leox assentiu.
— Parece um bom plano, garoto. Boa sorte lá embaixo. — Com isso,
saiu correndo em busca de Affie Hollow.
Mestre Cohmac não se convenceu tão facilmente.
— Sou eu quem deveria...
— Por favor, mestre. Sou eu quem tem experiência com a tecnologia
Amaxine.
A experiência de Reath consistia principalmente em ser atirado para o
hiperespaço contra a sua vontade, mas ainda assim era mais do qualquer
outra pessoa do grupo tinha feito. — Essa tarefa deve ser minha. Além
disso, Dez precisa de você agora.
O seu apelo poderia não ter funcionado, se não fosse pelos joelhos de
Dez se dobrando naquele exato momento. Mestre Cohmac o segurou e
balançou a cabeça.
— Muito bem, Reath. Que a força esteja com você.
Reath sorriu, se virou e correu de volta para o jardim botânico central e
para a passagem que o levaria aos anéis inferiores.
Com os 8-Ts certamente distraídos por todo o caos a bordo do estação
Amaxine, alcançar os níveis mais baixos seria mais fácil do que antes.
Neste ponto, Reath estava grato por qualquer chance que tivessem. Assim
que alcançou os controles principais, ele conseguiu achar os esquemas da
estação com bastante facilidade, e a partir daí, era apenas uma questão de
tocar na tela. O zumbido baixo de energia surgiu através da estação,
incluindo os escudos.
Reath esperava que incluísse os escudos, de qualquer maneira.
Descobririam de uma maneira ou de outra. Com sorte, essa maneira não
envolveria ser torrado por explosões solares.
Ele tinha feito tudo o que podia, e tudo o que restava era voltar pra nave
o mais rápido possível. Enquanto corria de volta ao longo do que restava do
corredor, com o cheiro de fumaça densa no ar, avistou mais corpos de Nihil,
mais armas Nihil abandonadas. Um sabre de luz era de longe a melhor arma
para se ter em uma batalha, mas ocorreu a Reath que um blaster poderia ser
útil. Havia um blaster longe o suficiente de qualquer um dos corpos dos
Nihil para que não se sentisse como um ladrão de túmulos, então se
ajoelhou para pegá-lo. Pouco antes de sua mão se fechar, alguém disse:
— Não se mexa.
Reath congelou, exceto os seus olhos, que ergueram para ver a Nan de
pé, com o blaster apontado diretamente para ele.
A parte mais estranha era que Nan parecia exatamente a
mesma de antes. Apesar do fato de que estava usando um macacão de
uniforme em vez de seu colorido vestido de retalhos, que os seus braços se
revelaram estar repletos de tatuagens e que as mechas azuis em seu cabelo
combinavam com linhas pintadas no rosto, nenhuma grande transformação
havia ocorrido. O comportamento de antes não tinha sido um disfarce,
decidiu Reath, apenas outra faceta de sua personalidade. Ela era uma
guerreira Nihil e uma jovem solitária.
Qual lado dela venceria?
A única razão pela qual Reath assumiu que não seria a guerreira Nihil
era o simples fato de que ela o tinha surpreendido, mas permanecia vivo.
Não havia razão para se preocupar com preliminares.
— Tudo o que você me disse era verdade, não é? — perguntou ele. — A
destruição, os seus pais, tudo isso. Você apenas omitiu a parte sobre ser
resgatada pelos Nihil.
— Quase isso, mas não exatamente. — respondeu Nan. O seu rosto
estava sem expressão, ilegível. Ela permanecia segurando o blaster firme.
— Nossa família se juntou aos Nihil. Eles nos ofereceram a chance de uma
vida melhor do que jamais poderíamos ter de outra forma. Minha mãe e
meu pai estavam orgulhosos de sua escolha. Eu tenho orgulho da escolha
deles. Quando morreram em um ataque, fui levada por Hague. Então sabia
que sempre seria pequena, que teria que aprender a lutar de forma mais
inteligente, já que nunca seria mais forte. Que precisaria de habilidades
estratégicas. Quem melhor para ensinar isso do que um homem que não
consegue mais lutar com o seu corpo e que tem que usar o cérebro?
A certeza em sua voz, a clareza da convicção absoluta, irritou Reath.
Ele estava acostumado a ouvir Padawans falando assim, ou cadetes de caças
estelares da Patrulha de Coruscant. Não passou pela cabeça dele que alguém
ainda poderia acreditar na violência como uma crença, pelo menos não
tendo tanto orgulho dela. Enquanto ele sabia que tais mentalidades não
eram apenas artefatos da história, este era o seu primeiro encontro com um.
Ele ansiava falar profundamente sobre isso com ela, para entender os Nihil
em seus próprios termos brutais.
Mas entrar em uma discussão filosófica com uma pessoa fanática
provavelmente era um erro, principalmente quando a fanática estava
segurando uma arma contra você.
— Faz sentido. — Reath ajustou a sua postura ligeiramente, movendo o
peso de uma perna para a outra, esperando que ela não percebesse que ele
estava triangulando as posições deles em relação à saída mais próxima. —
Consigo perceber que você já é uma ótima estrategista. Conseguiu
informações suficientes de mim.
A piada autodepreciativa tinha o objetivo de baixar a guarda de Nan.
Mas não funcionou.
— Não posso levar nenhum crédito por isso. Você estava transbordando
com explicações, porque esse era o seu trabalho, certo? Contar ao povo
desesperado da Fronteira como as vidas das pessoas seriam gloriosas agora
que os Jedi chegaram.
— Não me lembro de ter prometido glória a ninguém. — ressaltou ele.
Nan deu de ombros, tipo, muito justo.
— Você pode parar de procurar a sua rota de fuga. Não pretendo matar
você.
— A mira do seu blaster sugere o contrário.
— Você poderia desviar de qualquer tiro. — disse ela, apontando para o
sabre de luz que ainda não tinha tirado do cinto. — Luta corporal contra um
Jedi? Inútil. Isso é mais uma coisa que me ensinou. Quando matar um Jedi,
será com a minha nave.
Reath considerou.
— Você poderia ter me matado quando eu estava de costas. Não matou.
— Não. Não esqueci que você me salvou de ser sequestrada. Você me
devolveu para a minha frota. Isso te dá uma chance de ir embora. — O dedo
de Nan massageou o gatilho de seu blaster. — Uma.
Obrigado, Reath quase respondeu, antes de decidir que realmente não
deveria agradecer a ninguém por não o deixar em pedaços.
— Você gostou? De fingir estar indefesa?
— É repugnante. Não pretendo fazer disso um hábito.
— Posso respeitar isso.
— Vocês vão nos respeitar. — disse Nan. — Com o tempo vocês se
curvarão diante dos Nihil.
— E eu que pensei que esta estação estava mais ferrada que poderia antes
mesmo de atracarmos. — murmurou Leox pra si mesmo ao passar por cima
dos destroços fumegantes da explosão. Affie tinha destruído o local, isso era
certo.
O principal era garantir que os Nihil não a destruíssem.
Os sons ecoaram mais longe no corredor: passos, algo assim. Leox
percebeu que eram os Nihil; os Jedi se moviam tão silenciosamente quanto
gatos tooka. Rapidamente se escondeu atrás do pedaço de entulho mais
próximo, um par de vigas que formavam uma boa barreira sólida entre ele e
qualquer guerreiro saqueador. É sempre bom colocar algo entre você e a
energia negativa, ele pensou. Especialmente a energia negativa armada.
Apesar de seus hábitos indolentes e aparência desgrenhada, Leox Gyasi
tinha uma mente perspicaz quando se importava em usá-la. Com uma
memória fotográfica precisa, lembrou-se do layout da estação que haviam
mapeado anteriormente, em seguida, sobrepôs o plano de Affie para
examinar o código. A partir daí foi relativamente simples descobrir o quão
longe ela teria ido nos anéis superiores antes que os Jedi se encontrassem
em apuros e, portanto, onde teria voltado para depois da explosão.
Isso, naturalmente, exigiria que Leox de alguma forma conseguisse
passar pelos Nihil e pela área controlada pelos ídolos que continham os
Drengir.
Mas ele não teria feito de outra maneira. Como poderia dar um
sentimento de culpa adequado para a Affie mais tarde, se não fosse difícil
pra caramba tirá-la de lá?
Sorrindo, Leox esperou por uma abertura, então disparou pela escuridão
do interior da estação.
Uma voz soou pela estação.
— Nihil, vocês estão sendo convocados!
Reath se virou, assustado; Nan mordeu o lábio inferior e disse:
— Se quiser sair daqui vivo, sugiro que o faça agora. Os outros estão
vindo. Te devo uma, mas eles não.
Os Nihil não se considerariam vinculados por uma gentileza a um dos
seus, ele pensou, registrando isso para referência futura.
— Entendi.
Ele correu pela porta mais próxima, sem se preocupar em olhar pra trás.
Se Nan não tinha atirado no rosto dele, não atiraria pelas suas costas.
Assim que Reath conseguiu se proteger, no entanto, ele se abaixou e
inclinou-se para ver o interior do globo da câmara central da melhor
maneira possível. Nan estava exatamente onde a havia deixado, mas não
estava procurando por ele. Toda a sua atenção estava nos outros Nihil.
Eles não usavam uniformes, exatamente, embora houvesse uma
semelhança em suas vestimentas: escuras, acolchoadas, cobertas por faixas
ou painéis de material de segurança que seria resistente à água, talvez ao
fogo também. Os capacetes e máscaras respiratórias reveladores estavam
pendurados em seus pescoços ou em seus cintos de utilidades, o que sugeria
que um ataque com gás não era iminente. Pelo que Reath podia ler pelas em
suas expressões, não pareciam exultantes nem desanimados. Isso sugeria
que os seus companheiros Jedi permaneciam vivos... Mas que os Nihil
ainda sentiam que poderiam cumprir os seus objetivos.
— Cloud. — disse o líder deste grupo Nihil, um homem Trandoshano.
— Temos uma maneira de nos provarmos para o Viajante da Tempestade.
Sorrisos e alguns gritos responderam a isso. Eles parecem usar um
imaginário climático, imaginário de tempestades, Reath raciocinou.
— Esta estação nos dá o poder de alcançar qualquer lugar da galáxia em
instantes. — disse o líder. — Apenas o nosso povo, não as nossas naves,
mas nosso povo pode preparar o caminho para os ataques que virão.
Derrubar os escudos, criar distrações, enviar sinalizadores... Tudo o que
precisarmos para nos tornarmos o poder dominante nesta parte da galáxia.
— Não! — gritou alguém atrás. — De toda a galáxia!
Isso ganhou mais aplausos e o líder sorriu.
— Pensamos que não seriamos capazes de compensar a nossa falha
durante a ação. Mas quando revelarmos esta estação, e ainda revelar que, ao
tomá-la, humilhamos os Jedi, seremos favorecidos. Os melhores ataques, a
melhor posição dentro da Tempestade... Tudo isso será nosso.
Os Drengir acreditam que podem usar esta estação para causar
estragos em toda a galáxia, Reath pensou. Os Nihil também acreditam que
podem.
O que significa que se alguém vai manter esta estação, tem que ser a
República.
Mas talvez ninguém deva mantê-la.
Orla conseguiu enviar Leox e Affie de volta à nave antes que a garota
fizesse mais perguntas incômodas. Manter o foco era mais fácil quando não
tinha que pensar em todas as coisas que poderiam dar errado.
Em muitas, muitas coisas.
Ela e Reath voltaram para o jardim botânico. As sombras dos Drengir
petrificados a gelou, mas o mais irritante de longe era o puro poder
pulsando pela sala, cruzando os ídolos, um poder que reverberava em seu
corpo. Mesmo que Orla tenha ajudado a colocar a barreira no lugar, a
imensidão do que fizeram a atingiu novamente.
— Não vai ser como abaixar uma cortina ou abrir um portão. —
murmurou Orla para Reath. — Não vai ser um impacto suave, como antes.
A barreira recriada é nova. Mais vital. Quando a barreira cair, a reação será
intensa.
— Também sinto isso. — Reath se preparou.
Ela assentiu.
— Basta seguir os meus passos.
Orla conectou os seus sentimentos a Força, fazendo contato com o
limite da barreira. A tensão lá era quase consciente, consciente do seu dever
de manter os Drengir presos.
Você não é necessário mais, projetou para o redemoinho de energia.
Você fez bem. Mas agora você fará melhor os deixando ir.
Ao seu lado, Orla podia sentir Reath fazendo algo muito semelhante,
alcançando o campo do seu próprio jeito, persuadindo-o a liberar. Mas o
campo era teimoso, agarrando-se cada vez mais forte enquanto eles
puxavam contra ele.
Orla redobrou os seus esforços. Os seus braços tremeram quando os
estendeu, fisicamente se esforçando para puxar de volta os poderes que
haviam libertado. Sentiu que a barreira não estava cedendo, mas se
expandindo, chegando cada vez mais perto, até que a eletricidade estática
correu ao longo de sua pele e deixou os seus cabelos em pé. Faíscas voaram
pelo ar e por um instantese perguntou se iriam conseguir apenas paralisar a
si próprios também, prendendo-os com os Drengir.
Então eles o perderam. O controle que tinham sobre o campo de energia
escapou, deixando os dois respirando com dificuldade.
— Chegamos perto. — disse Reath. — Se tentarmos novamente...
— Não. — Orla balançou a cabeça. — Duas pessoas não são
suficientes. — Com isso se ajoelhou em meio aos escombros no chão da
estação e pegou um blaster.
Reath franziu a testa.
— O que você vai fazer?
— Profanar a história. — disse Orla. — Me desculpe por isso.
Ela mirou diretamente no ídolo da rainha humana, bem entre os olhos
dourados dela e disparou.
Mesmo falando baixo, eles ainda eram audíveis para Cohmac, que estava
parado não muito longe da entrada da cabine. Pretendia falar com eles sobre
o Dez, obter mais informações sobre o que estava acontecendo dentro da
estação, antes de retornar para lutar ao lado de Orla e Reath. Em vez disso,
ele se virou e saiu correndo pra fora da nave, de volta ao anel de atracação.
O que acontecer entre os Nihil e os Drengir a esta altura não é mais a
nossa preocupação mais urgente, ele raciocinou enquanto saltava sobre as
trepadeiras ao longo do convés. Somos responsáveis pelas vidas da
tripulação da Embarcação, e a de Dez Rydan. Quaisquer outras
complicações podem ser tratadas mais tarde.
Agora, devemos escapar.
O seu caminho através dos escombros espalhados pela estação o levou
mais perto do jardim botânico, onde uma batalha estava acontecendo. Antes
mesmo que pudesse procurar por Orla e Reath através da Força, eles
surgiram de uma das passagens, cheirando levemente a produtos químicos
tóxicos. Os comunicadores deles estavam piscando em seus cintos, sem
dúvida com o aviso de Affie sobre as trepadeiras.
No entanto, foram capazes de ver o problema por si próprio.
— O que foi agora? — perguntou Orla. — É algum tipo de... Drengir
gigante?
— Não tenho certeza. — disse Cohmac enquanto Reath chutava uma
das trepadeiras. — Sem dúvida, os Drengir criaram as trepadeiras; isso é
tudo que sabemos. As trepadeiras já começaram a prender a Embarcação.
Temos que partir imediatamente.
Orla acompanhou os passos de Cohmac enquanto voltavam correndo.
— A boa notícia é que os Drengir e os Nihil estão se mantendo
ocupados. Se conseguirmos fugir, não acho que tenhamos que nos
preocupar em ser perseguidos. Como está o Dez?
— Quase delirante. — respondeu Cohmac. A sua mente estava só pela
metade no presente momento em que tentava considerar as maneiras de
danificar as trepadeiras.
Razão pela qual não percebeu que estava faltando alguém no grupo até
que já estavam embarcando na Embarcação.
Orla percebeu isso naquele mesmo momento.
— Espere... Onde está o Reath?
Orla rastejou para mais perto da entrada da caverna. A essa altura, ela e os
outros podiam ouvir movimentos e murmúrios. Eles tinham uma passagem
livre direto para a câmara onde os reféns estavam presos. Mestra Laret, logo
à frente de Orla e Cohmac, manteve-se em posição de batalha, esperando a
oportunidade certa.
O treinamento tático indicava claramente que o momento ideal para a
ação aconteceria quando os sons estivessem mais distantes da entrada, e que
deveriam entrar rapidamente, procurar imediatamente os reféns e os
sequestradores, primeiro proteger os reféns e depois ir atrás dos
sequestradores. O seus sabres de luz forneciam uma cobertura que lhes
permitia defender primeiro, então atacar.
No entanto, todos os instintos de Orla estavam dizendo a ela: Encontre
os sequestradores e prenda eles primeiro.
Mas o treinamento tático existia por uma razão. Ela decidiu não ignorá-
lo.
Passos pesados se afastaram da porta. Mestra Laret mudou a posição
sutilmente, porém o suficiente para dizer aos aprendizes que o momento
estava próximo. A ordem foi silenciosa, mas Orla ouviu com tanta certeza
como se sua Mestra tivesse gritado:
Vão.
Todos os três irromperam pela entrada da caverna ao mesmo tempo. Os
instintos de Orla eram tão fortes que pareciam quase dirigir a sua lâmina,
mas se segurou, mantendo a formação enquanto se moviam para cercar e
proteger os reféns.
Um Lasat alto e fortemente armado saltou pra frente, mas não dos Jedi.
A maioria das espécies não poderia ter saltado sobre dois humanos e uma
Umbarana em um único pulo, mas um Lasat poderia, e este fez. Orla
percebeu o que estava acontecendo tarde demais para pular e bloqueá-lo,
apenas com tempo de pensar: Não tem nada entre ele e os reféns.
A Mestra Laret girou, cortando com o seu sabre de luz através do Lasat
meio instante depois que ele disparou. As duas metades, cauterizadas,
caíram para no chão, e então não houve nenhum som. Tudo acabou em um
minuto. Orla olhou para os destroços diante deles, as paredes fumegantes e
rachadas, os cadáveres no chão, baleados por seus próprios blasters. Como
isso poderia ter terminado tão rápido?
O próximo som que ouviu foi um choro.
Orla se virou para ver o Monarca Cassel caído no chão, com o seu
manto ainda fumegante da queima do blaster. Ele estava muito perto da
morte. A Rainha Thandeka se ajoelhou ao lado dele, as lágrimas escorrendo
pelo rosto.
— Você me cobriu. — Thandeka conseguiu dizer para Cassel. — Você
me protegeu. Por quê?
— Para... Para que você pudesse ir pra casa, para a sua rainha. — Cassel
sorriu fracamente. — Para convidar o... Próximo monarca, para...
A sua voz sumiu. Seus olhos ficaram vazios. Cassel estava morto.
A rainha se inclinou, apoiando a testa no ombro de Cassel, e se rendeu
às lágrimas.
— Ele deu a vida dele pela minha.
— Então morreu nobremente. — disse a Mestra Laret, colocando uma
mão nas costa da Rainha Thandeka. — Ele será lembrado.
Os instintos de Orla disseram pra ir atrás de Isamer imediatamente. Por
que não os ouviu?
Porque não é isso que a Ordem Jedi diz pra fazer, ela se lembrou.
Muitos anos se passariam antes que ela processasse totalmente aquele
momento e percebesse que se a Ordem estava dizendo a ela pra ignorar a
Força... Não era o Força que estava errada.
Cohmac observou a Rainha Thandeka com uma emoção tão estranha que
levou alguns segundos para reconhecer que era inveja.
Ela poderia chorar por sua perda. Ele não conseguia nem reconhecer a
sua.
Mestre Simmix teria me dito para enterrar a dor, Cohmac disse a si
mesmo. Não há lugar pra isso em um Jedi. Não há lugar pra isso em você.
Então enterrou tão profundamente quanto uma mina.
Uma que poderia demorar anos para explodir.
tradutoresdoswhills.wordpress.com
Claudia Gray é a autora de Star Wars: Mestre & Aprendiz; Star
Wars: Leia, Princesa de Alderaan; Star Wars: Legado de Sangue; e Estrelas
Perdidas. Os seus outros livros incluem Defy the Stars e as séries
Evernight, Spellcaster e Firebrand. Ela trabalhou como advogada,
jornalista, DJ e uma garçonete particularmente ineficaz. Os seus interesses
ao longo da vida incluem casas antigas, filmes clássicos, estilo vintage e
história. Ela mora em Nova Orleans.
STAR WARS – GUARDIÕES DOS WHILLS
Greg Rucka
240 páginas
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No mundo do deserto de Jedha, na Cidade Santa, os amigos Baze e Chirrut costumavam ser
Guardiões das colinas, que cuidavam do Templo de Kyber e dos devotos peregrinos que adoravam lá.
Então o Império veio e assumiu o planeta. O templo foi destruído e as pessoas espalhadas. Agora,
Baze e Chirrut fazem o que podem para resistir ao Império e proteger as pessoas de Jedha, mas nunca
parece ser suficiente. Então um homem chamado Saw Gerrera chega, com uma milícia de seus
próprios e grandes planos para derrubar o Império. Parece ser a maneira perfeita para Baze e Chirrut
fazer uma diferença real e ajudar as pessoas de Jedha a viver melhores vidas. Mas isso vai custar
caro?
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Episódio VIII – Os Últimos Jedi – Movie Storybook
Elizabeth Schaefer
128 páginas
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Um livro de imagens ilustrado que reconta o filme Star Wars: Os Últimos Jedi.
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Chewie e a Garota Corajosa
Lucasfilm Press
24 páginas
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Um Wookiee é o melhor amigo de uma menina! Quando Chewbacca conhece a jovem Zarro na Orla
Exterior, ele não tem escolha a não ser deixar de lado sua própria missão para ajudá-la a resgatar seu
pai de uma mina perigosa. Essa incrível Aventura foi baseada na HQ do Chewbacca… (FAIXA
ETÁRIA: 6 a 8 anos)
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Star Wars Ahsoka
E.K. Johnston
371 páginas
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Esse é o Terceiro Ebook dos Tradutores dos Whills com uma aventura emocionante sobre uma
heroína corajosa das Séries de TV Clone Wars e Rebels: Ahsoka Tano! Os fãs há muito tempo se
perguntam o que aconteceu com Ahsoka depois que ela deixou a Ordem Jedi perto do fim das
Guerras Clônicas, e antes dela reaparecer como a misteriosa operadora rebelde Fulcro em Rebels.
Finalmente, sua história começará a ser contada. Seguindo suas experiências com os Jedi e a
devastação da Ordem 66, Ahsoka não tem certeza de que possa fazer parte de um todo maior de
novo. Mas seu desejo de combater os males do Império e proteger aqueles que precisam disso e
levará a Bail Organa e a Aliança Rebelde….
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Star Wars Kenobi Exílio
Tradutores dos Whills
79 páginas
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A República foi destruída, e agora a galáxia é governada pelos terríveis Sith. Obi-Wan Kenobi, o
grande cavaleiro Jedi, perdeu tudo… menos a esperança. Após os terríveis acontecimentos que deram
fim à República, coube ao grande mestre Jedi Obi-Wan Kenobi manter a sanidade na missão de
proteger aquele que pode ser a última esperança da resistência ao Império. Vivendo entre fazendeiros
no remoto e desértico planeta Tatooine, nos confins da galáxia, o que Obi-Wan mais deseja é manter-
se no completo anonimato e, para isso, evita o contato com os moradores locais. No entanto, todos
esses esforços podem ser em vão quando o “Velho Ben”, como o cavaleiro passa a ser conhecido, se
vê envolvido na luta pela sobrevivência dos habitantes por uma Grande Seca e por causa de um chefe
do crime e do povo da areia. Se com o Novo Cânone pudéssemos encontrar todos os materiais
disponíveis aos anos de Exílio de Obi-Wan Kenobi em um só Lugar? Após o Livro Kenobi se tornar
Legend, os fãs ficaram sem saber o que aconteceu com o Velho Ben nesse tempo de reclusão. Então
os Tradutores dos Whills também se fizeram essa pergunta e resolveram fazer esse trabalho de
compilação dos Contos, Ebooks, Séries Animadas e HQs, em um só Ebook Especial e Canônico para
todos os Fãs!!
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Star Wars -Dookan: O Jedi Perdido
Cavan Scott
469 páginas
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Esse é o Quarto Ebook dos Tradutores dos Whills com uma aventura emocionante sobre um Vilão
dos Filmes e da Série de TV Clone Wars: Conde Dookan! Mergulhe na história do sinistro
Conde Dookan no roteiro original da emocionante produção de áudio de
Star Wars! Darth Tyranus. Conde de Serenno. Líder dos Separatistas. Um
sabre vermelho, desembainhado no escuro. Mas quem era ele antes de se
tornar a mão direita dos Sith? Quando Dookan corteja uma nova aprendiz, a
verdade oculta do passado do Lorde Sith começa a aparecer. A vida de
Dookan começou como um privilégio, nascido dentro das muralhas
pedregosas da propriedade de sua família. Mas logo, suas habilidades Jedi
são reconhecidas, e ele é levado de sua casa para ser treinado nos caminhos
da Força pelo lendário Mestre Yoda. Enquanto ele afia seu poder, Dookan
sobe na hierarquia, fazendo amizade com Jedi Sifo-Dyas e levando um
Padawan, o promissor Qui-Gon Jinn, e tenta esquecer a vida que ele levou
uma vez. Mas ele se vê atraído por um estranho fascínio pela mestra Jedi
Lene Kostana, e pela missão que ela empreende para a Ordem: encontrar e
estudar relíquias antigas dos Sith, em preparação para o eventual retorno
dos inimigos mais mortais que os Jedi já enfrentaram. Preso entre o mundo
dos Jedi, as responsabilidades antigas de sua casa perdida e o poder sedutor
das relíquias, Dookan luta para permanecer na luz, mesmo quando começa
a cair na escuridão.
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Star Wars – Discípulo Sombrio
Tradutores dos Whills
319 páginas
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Esse é o Quinto Ebook dos Tradutores dos Whills com uma aventura emocionante sobre um Vilões e
Heróis dos Filmes e da Série de TV Clone Wars! Baseado em episódios não produzidos de Star Wars:
The Clone Wars, este novo romance apresenta Asajj Ventress, a ex-aprendiz Sith que se tornou um
caçadora de recompensas e uma das maiores anti-heróis da galáxia de Star Wars. Na guerra pelo
controle da galáxia entre os exércitos do lado negro e da República, o ex-Mestre Jedi se tornou cruel.
O Lorde Sith Conde Dookan se tornou cada vez mais brutal em suas táticas. Apesar dos poderes dos
Jedi e das proezas militares de seu exército de clones, o grande número de mortes está cobrando um
preço terrível. E quando Dookan ordena o massacre de uma flotilha de refugiados indefesos, o
Conselho Jedi sente que não tem escolha a não ser tomar medidas drásticas: atacar o homem
responsável por tantas atrocidades de guerra, o próprio Conde Dookan. Mas o Dookan sempre
evasivo é uma presa perigosa para o caçador mais hábil. Portanto, o Conselho toma a decisão ousada
de trazer tanto os lados do poder da Força de suportar – juntar o ousado Cavaleiro Quinlan Vos com a
infame acólita Sith Asajj Ventress. Embora a desconfiança dos Jedi pela astuta assassina que uma vez
serviu ao lado de Dookan ainda seja profunda, o ódio de Ventress por seu antigo mestre é mais
profundo. Ela está mais do que disposta a emprestar seus copiosos talentos como caçadora de
recompensas, e assassina, na busca de Vos.Juntos, Ventress e Vos são as melhores esperanças para
eliminar a Dookan – desde que os sentimentos emergentes entre eles não comprometam a sua missão.
Mas Ventress está determinada a ter sua vingança e, finalmente, deixar de lado seu passado sombrio
de Sith. Equilibrando as emoções complicadas que sente por Vos com a fúria de seu espírito
guerreiro, ela resolve reivindicar a vitória em todas as frentes, uma promessa que será
impiedosamente testada por seu inimigo mortal… e sua própria dúvida.
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Os Segredos dos Jedi
Tradutores dos Whills
50 páginas
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Descubra o mundo dos Jedi de Star Wars através desta experiência de leitura divertida e totalmente
interativa. Star Wars: Jediografia é o melhor guia do universo Jedi para o universo dos Jedi,
transportando jovens leitores para uma galáxia muito distante, através de recursos interativos, fatos
fascinantes e ideias cativantes. Com ilustrações originais emocionantes e incríveis recursos especiais,
como elevar as abas, texturas e muito mais, Star Wars: Jediografia garante a emoção das legiões de
jovens fãs da saga.
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Star Wars – Thrawn – Alianças
Timothy Zahn
Palavras sinistras em qualquer circunstância, mas ainda mais quando proferidas pelo
Imperador Palpatine. Em Batuu, nos limites das Regiões Desconhecidas, uma ameaça ao
Império está se enraizando. Com a sua existência pouco mais que um vislumbre, as suas
consequências ainda desconhecidas. Mas é preocupante o suficiente para o líder imperial
justificar a investigação de seus agentes mais poderosos: o impiedoso agente Lorde Darth
Vader e o brilhante estrategista grão-almirante Thrawn. Rivais ferozes a favor do Imperador
e adversários francos nos assuntos imperiais, incluindo o projeto Estrela da Morte, o par
formidável parece parceiros improváveis para uma missão tão crucial. Mas o Imperador
sabe que não é a primeira vez que Vader e Thrawn juntam forças. E há mais por trás de
seu comando real do que qualquer um dos suspeitos. No que parece uma vida atrás, o
general Anakin Skywalker da República Galáctica e o comandante Mitth’raw’nuruodo,
oficial da Ascensão do Chiss, cruzaram o caminho pela primeira vez. Um em uma busca
pessoal desesperada, o outro com motivos desconhecidos... e não divulgados. Mas, diante
de uma série de perigos em um mundo longínquo, eles forjaram uma aliança
desconfortável – nem remotamente cientes do que seus futuros reservavam. Agora,
reunidos mais uma vez, eles se veem novamente ligados ao planeta onde lutaram lado a
lado. Lá eles serão duplamente desafiados – por uma prova de sua lealdade ao Império... e
um inimigo que ameaça até seu poder combinado.
Essa foi a promessa que o Grão Almirante Thrawn fez ao Imperador Palpatine em seu
primeiro encontro. Desde então, Thrawn tem sido um dos instrumentos mais eficazes do
Império, perseguindo os seus inimigos até os limites da galáxia conhecida. Mas por mais
que Thrawn tenha se tornado uma arma afiada, o Imperador sonha com algo muito mais
destrutivo. Agora, enquanto o programa TIE Defender de Thrawn é interrompido em favor
do projeto ultrassecreto conhecido apenas como Estrelinha, do Diretor Krennic, ele percebe
que o equilíbrio de poder no Império é medido por mais do que apenas perspicácia militar
ou eficiência tática. Mesmo o maior intelecto dificilmente pode competir com o poder de
aniquilar planetas inteiros. Enquanto Thrawn trabalha para garantir o seu lugar na
hierarquia Imperial, seu ex-protegido Eli Vanto retorna com um terrível aviso sobre o mundo
natal de Thrawn. O domínio da estratégia de Thrawn deve guiá-lo através de uma escolha
impossível: dever para com a Ascendência Chiss ou a fidelidade para com o Império que
ele jurou servir. Mesmo que a escolha certa signifique cometer traição.