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Índice

Capa
Página Título
Índice
Direitos Autorais
Introdução
Epígrafo

Prólogo
Capítulo Um
Capítulo Dois
Capítulo Três
Parte Um
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
Capítulo Seis
Parte Dois
Capítulo Sete
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Capítulo Dez
Capítulo Onze
Parte Três
Capítulo Doze
Capítulo Treze
Capítulo Quatorze
Capítulo Quinze
Capítulo Dezesseis
Parte Quatro
Capítulo Dezessete
Capítulo Dezoito
Capítulo Dezenove
Capítulo Vinte
Parte Cinco
Capítulo Vinte Um
Capítulo Vinte Dois
Capítulo Vinte Três
Capítulo Vinte Quatro
Parte Seis
Capítulo Vinte Cinco
Capítulo Vinte Seis

Sobre o Ebook
Sobre a Autora
Star Wars: A Alta República - Na Escuridão é uma obra de ficção. Nomes, lugares, e outros
incidentes são produtos da imaginação do autor ou são usadas na ficção. Qualquer semelhança a
eventos atuais, locais, ou pessoas, vivo ou morto, é mera coincidência.Direitos Autorais © 2021 da
Lucasfilm Ltd. ® TM onde indicada. Todos os direitos reservados. Publicado nos Estados Unidos
pela Del Rey, uma impressão da Random House, um divisão da Penguin Random House LLC, Nova
York.DEL REY e a HOUSE colophon são marcas registradas da Penguin Random House
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INTRODUÇÃO
A Força está com a galáxia.
É a época da Alta República: uma união pacífica de mundos de pensamento semelhante, onde
todas as vozes são ouvidas e a governança é alcançada por meio do consenso, não da coerção ou do
medo. É uma era de ambição, de cultura, de inclusão, de Grandes Obras. A visionária chanceler
Lina Soh lidera a República da elegante cidade-mundo de Coruscant, localizada perto do centro
brilhante do Núcleo Galáctico.
Além do Núcleo e de suas muitas colônias pacíficas, contudo, existe a Orla Interna, a Média e,
finalmente, na Fronteira do que é conhecido: a Orla Externa. Esses mundos estão repletos de
oportunidades para os corajosos o suficiente para viajarem pelas poucas vias bem mapeadas do
hiperespaço que levam a eles, embora também haja perigo. A Orla Externa é um refúgio para
qualquer um que busca escapar das leis da República e está repleta de predadores de todo tipo.
A chanceler Soh se comprometeu em trazer os mundos da Orla Externa para os braços da
República por meio de programas ambiciosos de divulgação, como o Farol Estelar. Mas até que seja
colocado online, a ordem e a justiça são mantidas na Fronteira galáctica pelos Cavaleiros Jedi,
guardiões da paz que dominaram habilidades incríveis originadas de um misterioso campo de
energia conhecido como Força.
Os Jedi trabalham em estreita colaboração com a República e concordaram em estabelecer
postos avançados na Orla Exterior para ajudar qualquer um que precise de ajuda. Os Jedi da
Fronteira podem ser os únicos recursos para pessoas que não têm mais para onde recorrer.
Embora os postos avançados operem de forma independente e sem assistência direta do grande
Templo Jedi em Coruscant, eles agem como um impedimento eficaz para aqueles que fazem o mal
nas sombras.
Poucos podem enfrentar os Cavaleiros da Ordem Jedi. Mas sempre haverá quem tente...
—A h, piratas. — Jora Malli balançou a cabeça, quase com
pena da situação. — Nunca aprendem.
A Mestra Jedi Togruta sentou-se ao lado do seu Padawan no airspeeder
tipo PI-R, que voava pelas enormes construções que cobriam um terço de
Coruscant, perseguindo uma pequena nave pirata do tipo skiff. Desde a
época de intensas construções de prédios no planeta, minérios e materiais
valiosos foram enviados e armazenados lá.
Tentador, para um pirata. E por muitos anos, roubar uma carga e fugir
era fácil. Sim, Coruscant era o centro da República, um mundo de grande
segurança. Mas tudo no planeta era grande, incluindo os esconderijos e as
oportunidades de fuga.
Porém Coruscant estava se tornando um lugar mais organizado. Um
lugar mais importante. Lá tinha o maior Templo Jedi da galáxia.
O que significava que Coruscant estava mais seguro do que nunca. Já
era para os piratas saberem disso.
Jora abriu a boca pra dizer a seu Padawan que sentiu que os piratas
iriam tentar surpreendê-los voando pra cima deles, mas Reath já estava
guiando o airspeeder pra cima, sobre o emaranhado das vigas de
construção, em direção ao céu brilhante.
A habilidade dele na Força não é tão incrível, não entre os Jedi, pensou
enquanto analisava o jovem aprendiz humano. O vento soprou sobre o
cabelo castanho-escuro dele, deixando-o mais bagunçado que o normal.
Mas Reath é mais dedicado do que qualquer outro Padawan que já
conheci. Ele captou os meus pensamentos não por habilidade natural, mas
por esforço. E conseguiu fazer isso mais rápido do que quem tem essa
habilidade naturalmente. Ele irá mais longe do que muitos deles... de uma
maneira que talvez não entenda ainda.
O airspeeder atingiu o topo de uma construção e, por um breve
momento, Jora e Reath tiveram uma vista panorâmica dos prédios
cintilantes de Coruscant, muitos deles com andaimes prateados no topo,
mas outros prédios estavam prontos, inteiros e brilhando. A luz do sol fluía
através das finas nuvens no céu pálido, pintando tudo de rosa e dourado. O
mais bonito de tudo, aos olhos de Jora, eram as cinco torres do Templo Jedi
no horizonte.
Então, o skiff pirata surgiu do labirinto de edifícios, com o piloto
percebendo o seu erro tarde demais. Reath imediatamente disparou um cabo
de reboque. A garra magnética se abriu e agarrou o casco do skiff.
— Você conhece as capacidades do motor daquele skiff? — perguntou
Jora com calma.
— Não conhece, Mestra Jora. — Reath ficou confuso, mas logo ficou
desanimado quando entendeu. — Oh, nã...
As suas palavras foram cortadas quando o skiff mergulhou abruptamente
pra baixo, vencendo os motores do airspeeder com facilidade e arrastando
os Jedi com ele.
Reath colocou a sua mão no controle, a fim de liberar a garra, e
permaneceu assim, pronto pra agir. Já tinha percebido o que Jora planejava.
Ela sorriu enquanto se preparava, com o vento forte balançando os seus
chifres montrais listrados. Os seus olhos se concentraram na cabine do skiff,
chegando na silhueta do piloto que estava com tanta vontade de fugir que
poderia acabar matando a todos durante a fuga.
— Não é assim que vai ser. — Jora sussurrou pra si mesma e saltou.
O salto a levou do airspeeder direto para o skiff. As botas de Jora
bateram com força contra a cabine e ela acendeu o seu sabre de luz. A
lâmina azul cortou o ar através da cabine, abrindo um buraco. Um leve
tremor no skiff deixou claro que Reath havia soltado o cabo. Na hora certa,
pensou. A Força reforçou a aderência dela na nave, permitindo que
permanecesse de pé mesmo se o skiff desviasse bruscamente para ela cair.
Reath manteve o airspeeder logo atrás deles. O que havia começado como
um acidente agora era uma perseguição intensa.
Jora empurrou o que restava da abertura da cabine e saltou pra dentro.
Os piratas ficaram tão intimidados pelo ataque, ou, talvez, pelo sabre de luz,
que nem se atreveram a pegar um blaster. No entanto, o skiff continuou indo
em direção ao chão, que se aproximava rapidamente. Em menos de dois
minutos estariam mortos em um acidente esmagador.
— Por favor, recomponha a nave e dirija-se ao terminal mais próximo
para a prisão de vocês. — anunciou ela.
O piloto Rodiano hesitou. Naquela fração de segundo ela sentiu o ódio
dentro dele. Era ódio o suficiente pra fazê-lo sacrificar a sua própria vida e
a de seus colegas, apenas pra que ela morresse junto?
Talvez.
Jora passou a mão pelo ar em um gesto casual.
— Vocês querem se apresentar ao terminal mais próximo.
— Nós queremos nos apresentar ao terminal mais próximo. — disseram
os piratas em uníssono e o piloto obedeceu e recompôs a nave. Jora olhou
por cima do ombro para ver Reath atrás deles, o sorriso tão brilhante quanto
a luz do sol acima deles.
Uma pena tirar esse sorriso por causa do anúncio, Jora pensou. Mas
não posso adiá-lo por muito mais tempo.
Ela conseguiu adiar por mais uma hora. Demorou tudo isso para os
piratas serem presos e levados pelas autoridades e para analisar o
airspeeder, para ter certeza de que não havia sido danificado. Reath pilotou
bem, considerando as condições desafiadoras.
Ele, no entanto, permaneceu focado em seu único erro.
— Vou começar um estudo aprofundado sobre motores amanhã. —
prometeu Reath enquanto os dois se afastavam da estação, através das
várias cabines e quiosques que formavam uma espécie de mercado de rua
na área. Um grupo de Bith, vindo da Orla Exterior, murmurou quando os
Jedi passaram. — Já fiz uma lista dos modelos de naves que devo focar, se
quiser dar uma olhada.
— Essa não é a nossa prioridade no momento. — Jora cruzou as mãos
atrás das costas. — Passamos muito tempo em Coruscant. Você viajou bem
menos do que a maioria dos Padawans da sua idade.
— Mas pelo menos temos viajado. O suficiente pra saber que a galáxia
não é como Coruscant e pra saber que gosto mais daqui. E também eu sabia
disso quando você me escolheu, Mestra Jora. Poucos Padawans têm a sorte
de aprender com uma membro do Conselho Jedi. Ter você e viajar menos
não é um sacrifício tão grande assim.
Jora não iria deixá-lo escapar dessa.
— Não mesmo. Tem dias que seria necessário um poço gravitacional
para tirá-lo dos Arquivos.
Reath sorriu, abaixando a cabeça.
— Certo, muito justo. Essa é uma das razões nas quais sempre achei que
combinávamos bem. — disse ele.
— Eu também. Mas chegou a hora de expandirmos nossos horizontes.
Assumi uma nova missão bem longe de Coruscant, ficaremos por muitos
anos. Iremos para a Fronteira.
Como Jora havia previsto, a reação inicial de Reath foi de desânimo. Ele
tropeçou na calçada em frente ao quiosque de comida Bilbringi.
— Mas o Conselho... — resmungou Reath.
— Em breve deixarei o Conselho. — disse Jora, interrompendo-o. —
Esta missão é importante demais para justificar um envolvimento duradouro
e me ofereci. É uma tarefa que combina com as minhas habilidades
diplomáticas. Além disso, não teria assumido essa missão se não achasse
que seria importante pra você também.
— Por quê? — perguntou ele. — Como seria importante sair de
Coruscant e ir para um lugar aleatório?
— Lugar onde Jedi deram as suas vidas para proteger as pessoas
daquela área. Não é um lugar aleatório. É um lugar digno de todo o respeito
que pudermos dar.
— Claro. Não queria desrespeitar. — O seu rosto ficou pálido, o que fez
as sardas do nariz e das bochechas se destacarem. Jora adorava humanos
que tinham marcas próprias no rosto. — Só quis dizer que trabalhei como
arquivista, sempre dando o meu melhor, e parece que a Fronteira não
precisa de um arquivista.
Ela inclinou a cabeça, pensando.
— Você pode se surpreender. Mas quero que seja mais do que um
arquivista, Reath. Você prefere focar em áreas que acha que esforço vale
mais que talento. Mas você tem talento o suficiente pra fazer o que se
propõe fazer. E esforço sempre conta. Para qualquer missão, em qualquer
lugar.
— Aqui não conta mais? Lugar onde o esforço é mais benéfico?
Jora balançou a cabeça sem acreditar.
— O meu primeiro Padawan ansiava por aventuras sem fim. Já o
segundo evita uma com prazer. O que os dois realmente precisam é a
mesma coisa: equilíbrio. Encontrei equilíbrio pra ele e pra você.
(Pelo menos ela esperava ter ajudado Dez a ter encontrado equilíbrio.
Às vezes ela ouvia sobre as suas façanhas em Zeitooine e Christophsis e ela
ficava se perguntando se ele encontrou mesmo.)
A intensidade do aborrecimento de Reath seria cômica se não fosse tão
doída pra ele. Isso era uma coisa que nunca a contaram sobre ser uma
Mestra: às vezes ensinar uma lição dura dói mais do que aprendê-la.
— Diga-me, Reath, por que você não cruza o Arco Kyber sozinho? —
perguntou Jora.
Reath franziu a testa.
— Preciso mesmo?
Jora não respondeu. O Arco Kyber ficava dentro de uma das enormes
câmaras de meditação do Templo em Coruscant. Cada cristal no Arco era
um cristal kyber recuperado do sabre de luz quebrado de um Jedi morto em
batalha. Apesar da beleza e do brilho, o Arco era um lembrete do preço que
os seus companheiros Jedi pagaram por buscarem justiça nos milênios
passados. O Arco era largo nas bases e a curva no topo era extremamente
fina, representando os perigos que os mortos enfrentaram.
Escalar e cruzar o Arco Kyber era uma técnica de meditação avançada.
Poucos Jedi tentaram. Cruzaram o Arco apenas aqueles que foram
convidados pela Força. Portanto, se Reath continuasse tentando entender a
frase de forma literal, ele nunca iria ter uma resposta.
Ele continuou tentando.
— Bom, acho que posso cruzar. Já andamos por cordas e correntes mais
finas do que isso. Quer que eu tente? — Reath ficou esperançoso
novamente. — Se eu cruzar sozinho significa que não precisamos ir para a
Fronteira?
— Nem você ou qualquer Jedi vai cruzar o Arco Kyber sozinho. —
respondeu Jora. — Ninguém vai. Quando souber a resposta acredito que
entenderá por que estamos indo para a Fronteira.
Reath suspirou. Quase dava pra sentir a frustração saindo dele, mas ele
estava mantendo o controle muito bem.
— Para onde vamos exatamente? — perguntou ele.
Jora levantou a cabeça e olhou para o céu como se pudesse ver as
estrelas além do pôr do sol.
— Para o Farol da República. — respondeu ela. — Para o Farol Estelar.
R eath Silas estava prestes a deixar o Templo Jedi em Coruscant
para a sua nova e impressionante missão na Fronteira, e ele estava
infeliz com isso.
— Anime-se! — Kym insistiu, batendo em seu ombro e quase o
fazendo derramar o conteúdo de sua xícara. O rosto dela estava vermelho
com a emoção da festa de despedida que se espalhou ao redor deles. —
Você está prestes a ter uma aventura incrível!
— A “aventura” é geralmente um eufemismo para ir a lugares que têm
muitos insetos. — disse Reath. — Quer dizer, eu sei que os insetos têm o
seu lugar na Força e são só seres vivos... mas isso não significa que eu os
quero nas minhas meias.
Kym riu dele. Algumas das flâmulas coloridas que decoravam a área
comum dos Padawans tinham ficado presas em seus lethorns.
— Você entende que pelo menos metade dos aprendizes aqui fariam
quase tudo para uma colocação na Fronteira, certo?
Na opinião de Reath, a “Fronteira” era geralmente um eufemismo para o
"meio do nada". Mas ele não teve mais coragem de discutir com Kym. Já
era difícil fingir estar grato pela grande festa de despedida que os seus
amigos estavam lhe dando.
Não. Ele estava grato.Nunca era uma coisa ruim saber que os outros se
preocupam com você e que sentiriam a sua falta quando partisse. Mas Reath
não estava com humor para uma festa quando tudo o que sentia era
melancolia e a certeza absoluta de que estava sendo levado do melhor lugar
da galáxia para um dos piores.
Coruscant era o centro da galáxia conhecida, literal e figurativamente.
Reath sempre foi grato por ter sido enviado para o Templo de Coruscant,
por ter tido o privilégio de crescer ali, de aprender diretamente com os
membros do Conselho Jedi. A sua sorte continuou quando foi escolhido
como o Padawan de Jora Malli, uma das mais renomadas Cavaleiras da
época e membro do Conselho. Isso significava que Reath havia servido em
algumas das missões mais significativas dos últimos anos. O que lhe faltava
em habilidade natural na Força (da qual tinha plena consciência disso desde
que era criança), ele compensava se esforçando muito, sendo confiável e
assumindo responsabilidades. A maioria dos aprendizes ainda esperavam
por um pouco de independência quando completassem 20 anos. Com
apenas dezessete anos, Reath já havia recebido tarefas que a sua mestra
disse que seriam um desafio até para um Jedi formado.
Mas, principalmente, o melhor de tudo: tinha acesso aos Arquivos Jedi.
Reath adorava histórias, reais e fictícias. Adorava vasculhar os registros,
aprender o que as pessoas pensavam, diziam e faziam em eras passadas.
Enquanto os outros Padawans praticavam as suas acrobacias ou duelavam
com sabres de luz, ele ficava sentado até tarde com os seus textos digitais.
Isso o tornava no garoto estranho, na maioria das vezes. Em vez de se
conformar, Reath adotou esse estilo da leitura. Ele não entendia por que
alguém pensaria que ele era o estranho; na verdade, era estranho da parte
deles esperar que todos os jovens tivessem a mesma personalidade. Quando
os Localizadores saíam em busca de bebês sensíveis à Força, eles só
checavam a sua capacidade potencial. Não o temperamento e, certamente,
não as suas preferências. Ninguém nunca perguntava aos younglings:
"Você gostaria de se tornar um Cavaleiro heroico e aventureiro? Ou
você ficaria em casa lendo?" Algumas pessoas, por mais corajosas e
capazes que fossem, ainda preferem ler histórias a vivê-las, e Reath estava
no segundo grupo.
Até recentemente, Mestra Jora tinha sido mais do que compreensiva.
Ela sempre disse que a Ordem precisava de acadêmicos tanto quanto de
aventureiros, e geralmente havia muitos candidatos para a última opção,
mas não o suficiente para a primeira. Ela disse que achou revigorante que
Reath fosse contra a corrente. Portanto, as suas atribuições sempre incluíam
bastante tempo nos Arquivos. Um Jedi em Coruscant tinha até começado a
deixar aberto um cubículo particular, com a compreensão silenciosa de que
era o lugar de Reath.
Então, quando ninguém esperava, Mestra Jora assumiu uma missão no
meio do nada.
Ele protestou. Respeitosamente, é claro, mas deixou os seus sentimentos
conhecidos, não que tenha valido de algo.
"Será saudável para você se alongar." Mestra Jora disse com um sorriso.
"Para testar as suas habilidades de outras maneiras."
Mas Reath já tinha se testado. Ele se esforçou para se destacar em todos
os campos, não apenas em seus favoritos. Quem sempre esteve perto do
topo da classificação de duelistas de sabres de luz, na classe Padawan,
apesar não gostar muito de duelar? Reath Silas. Quem mandou bem em
todas as provas, exceto na vez em que sentiu enjoo no estômago? Também
Reath. Quem foi o único aprendiz em décadas a dominar as práticas de
meditação Gatalentana antes de seu vigésimo aniversário?
Você está sendo vítima do orgulho, Reath lembrou-se. Muito orgulho de
si mesmo é a prova de que tal orgulho é injustificado.
Não foi como se tudo isso fosse ideia da sua mestra. Depois de seus
protestos, ela admitiu: Mestra Jora foi escolhida por seus colegas para
liderar a missão Jedi neste novo limite da Fronteira. Ela seria a Mestra Jedi
que se mudaria para o Farol Estelar, o qual se tornaria totalmente
operacional a qualquer momento, para servir como uma fonte de unidade e
fidelidade em todo o mais novo setor da República. A sua mestra merecia
todas as honras que poderia receber e qualquer dever que escolheu. Mestra
Jora teria recusado a tarefa se não quisesse. Claramente ela a queria. E para
onde a Mestra vai, o aprendiz a segue.
Mestra Jora partira para o Farol Estelar semanas antes, indo antes de
Reath para que ele pudesse terminar os exames do curso de historiografia
que estava cursando. Mas eles foram encerrados. O tempo dele em
Coruscant havia acabado.
(Ele considerou reprovar em alguma matéria de propósito, mas não
conseguiu fazer isso.)
Por que nenhum Jedi pode cruzar o Arco Kyber sozinho? se perguntou
pela enésima vez. Reath queria muito dar a resposta para Mestra Jora
quando chegassem no Farol Estelar. A preparação para os exames
significava que não teve muito tempo para meditar sobre a sua pergunta. Ele
foi estudar o arco em si, esperando que acabasse descobrindo; em vez disso,
observou um Jedi cruzar o arco inteiramente sozinho e sem dificuldade
aparente. Mas sabia que dizer isso à Mestra Jora não levaria a lugar
nenhum.
Ele tinha uma missão. É hora de se concentrar nisso.
— Eu não deveria reclamar desta missão. Ou de qualquer outra missão.
— Reath disse a Kym.
Kym conseguiu encolher os ombros e dançar ao som da música
simultaneamente.
— Ei. Não é como se todo mundo estivesse igualmente pronto para
assumir todas as missões possíveis. É por isso que são atribuições em vez
de, sei lá... se voluntariado.
— Estou tratando isso como se fosse apenas um trabalho qualquer. — A
essa altura Reath falava tanto consigo quanto com Kym. — Ser Jedi é uma
vocação. Somos abençoados com essas habilidades, esses dons, que
devemos usar para o bem de todas as coisas vivas. Isso é tão verdade na
Fronteira como aqui em Coruscant.
Só que não parecia ser verdade.
Revirando os olhos, Kym disse:
— Obrigada pela palestra, Mestre Yoda. Agora você vai se soltar e se
divertir um pouco?
Reath tentou. Foi bom ver todos novamente. (Vários aprendizes já
tinham ido; ele estava ansioso para se reunir com Imri em particular. E
Vernestra de alguma forma conseguiu se tornar Cavaleira, o que era
incrível, então ela seria capaz de mostrar a eles as cordas em torno de Farol
Estelar.) A banda amadora que alguns aprendizes haviam formado treinou
pela primeira vez, o que significava que tocavam bem. Ele sorriu, dançou,
bebeu certas bebidas que, embora não fossem tecnicamente proibidas, eram
desaprovadas para Padawans de sua idade. Se divertir um pouco não era
uma coisa ruim, a sua mestra havia dito. Essas celebrações podiam ser
abraçadas quando reuniam as pessoas em comunhão e harmonia.
Mas o seu olhar continuava sendo atraído para a única janela ampla da
sala. Através de sua ampla e transparente janela a qual podia ver o
redemoinho vibrante de Coruscant: as naves e as speeders fechando em
várias alturas e ângulos, as torres de edifícios, passarelas tão numerosas que
cruzaram a sua visão como uma teia de aranha. Desde que conseguia se
lembrar, Reath amava esse zumbido de energia, a sensação de que a própria
galáxia tinha um coração batendo e que podia sentir a sua pulsação ao seu
redor, todos os dias.
Olhe para dentro de si, meu Padawan. Foi o que a Mestra Jora disse
quando Reath tentou expressar isso a ela. Você está relutante em deixar a
única casa que você já conheceu.
Isso não era tudo. Mas era uma parte. Uma pequena parte, mas ainda
assim. Reconhecer isso não mudava nada. Reath ainda queria estar lá e em
nenhum outro lugar.
Seu relógio apitou e seu coração afundou. É hora de deixar a festa, os
Arquivos, o Templo, o planeta e, efetivamente, a própria civilização.

Reath não conseguiu escapar das despedidas afetuosas de seus amigos por
algum tempo, o que fez com que partisse tarde para o espaçoporto. Ele
entrou correndo, a bolsa pendurada nas costas, poucos minutos antes da
partida programada, mas de alguma forma foi a primeira pessoa a aparecer
na vaga designado. Nenhum dos outros Jedi estavam lá, nem a própria nave
estava.
Ele tinha errado o número da vaga? Reath já estava checando
freneticamente quando ouviu uma voz que reconheceu:
— Estava esperando encontrar você!
Reath se virou para ver o jovem Cavaleiro Jedi Dez Rydan se
aproximando, caminhando para mais perto com uma bolsa sobre o ombro
com as suas vestes para viagem. Não parecia que tinha vindo ao
espaçoporto para dizer adeus a Reath.
— Dez? O que você está fazendo aqui?
Dez sorriu e disse:
— Parece que estamos no mesmo transporte para a Fronteira.
— Não sabia que você foi designado para lá. — disse Reath. Um jovem
Cavaleiro tão ilustre quanto Dez poderia ir a qualquer lugar que desejasse.
— Acabou de sair. — Dez encolheu os ombros. — Na verdade, solicitei
esta tarefa há apenas alguns dias. Sorte que foi aprovado a tempo, hein?
Reath assentiu, o que era mais fácil e diplomático do que dizer: “Por
que alguém em sã consciência iria querer deixar a galáxia conhecida e ir
para o além? Quanto mais o Dez Rydan?!”
Provavelmente tinha a ver com o que Mestra Jora havia dito sobre como
seu segundo Padawan não queria aventura, enquanto o primeiro Padawan
ansiava por aventura demais.
Dez tinha sido o aprendiz da Mestra Jora Malli antes dela escolher
Reath. Às vezes os Cavaleiros mais jovens se tornavam mentores e amigos
íntimos dos próximos pupilos de seus antigos mestres. Embora Reath e Dez
não tivessem um relacionamento tão próximo assim, devido às missões de
Dez mais longe na galáxia, eles eram amigáveis e haviam praticado duelos
juntos. Isso fez com que muitos Padawans invejassem Reath, vários dos
quais escolheram Dez como o modelo a ser seguido.
Apesar da inclinação mais acadêmica de Reath, ele admirava Dez tanto
quanto qualquer um dos outros. Bonito, motivado, alto, com pele dourada e
cabelo preto e espesso, Dez fazia amigos rapidamente. Embora tivesse
passado nos seus testes de Cavalaria apenas oito anos antes, já havia se
destacado tanto na diplomacia quanto na batalha.
— Onde está o transporte? — Reath disse através do borrão das bebidas
que bebeu, esperando que Dez não notasse a sua condição. (Ele não temia
uma palestra, de qualquer forma. Reath tinha autoridade para afirmar que a
Mestre Jora uma vez pegou Dez depois de uma festa na qual muito, muito
mais bebidas foram consumidas, e que ela não o deixou inteiramente fora
de perigo até depois que ele passou nos testes de Cavalaria.)
Se Dez percebeu o estado em que Reath estava, aparentemente não viu
nenhuma razão para falar sobre o assunto.
— Parece que o nosso transporte original tem um subalternador
queimado. — disse Dez. — Obviamente não há muito a ser feito sobre isso.
Eles alegaram que arranjarão um substituto pra nós, mas até o substituto
está atrasado.
— E se eles não aparecerem? — Reath perguntou, meio que esperando
que a resposta fosse, Você pega uma tarefa totalmente nova e começa de
novo!
Dez encolheu os ombros.
— Encontraremos uma outra nave. Certamente alguém vai pra lá daqui
a um ou dois dias.
— Um dia ou dois dias? Esqueça isso. — Orla Jareni cruzou os braços
sobre o peito enquanto se encostava em um dos suportes próximos. Ela
parecia ter surgido do nada, quase luminosa na mundanidade cinza escuro
do espaçoporto. Enquanto Reath e Dez usavam trajes comuns para a
missão, ela usava mantos brancos que eram exclusivamente seus. — Estou
pronta pra sair. Acredite, há pelo menos uma nave neste espaçoporto que
quer tanto o nosso dinheiro que nos levaria direto para o Maw, se
necessário.
Reath só conhecia Orla Jareni de reputação, mas essa reputação era
memorável. Orla recentemente se declarou uma Perseguidora do Caminho,
uma Jedi que operaria independentemente dos ditames do Conselho Jedi.
Alguns Jedi, de vez em quando, se viam atraídos por um período de ação
solitária, quer isso significasse meditação no topo de uma montanha,
ajudando a revolucionários em um mundo governado por um tirano, ou
mesmo, em um caso oposto, tornando-se um cantor insignificante em
Alderaan. Todos os caminhos poderiam levar a uma compreensão mais
profunda da Força, era o que Reath tinha ouvido. Pessoalmente, ele não
acreditou. Ainda assim, se o Conselho Jedi respeitasse a decisão de Orla,
Reath também respeitaria. Parecia que ela sentia que o seu caminho a
levava à Fronteira.
A sua aparência era tão marcante quanto as suas escolhas. Ela era uma
Umbarana, com a pele totalmente pálida e as maçãs do rosto salientes,
comuns dessa espécie. Em comparação, as suas vestes eram tão brancas que
quase faziam a sua pele ter um pouco de cor. O seu cabelo, puxado pra trás
em um coque liso, era de um prateado, tão escuro que parecia preto. Tudo
em Orla era fino, desde as juntas de seu sabre de luz de lâmina dupla até os
cantos de seu sorriso instruído.
O sorriso no qual estava dando naquele momento a Reath, porque foi
pego a encarando. Ele abaixou a cabeça e esperou que não estivesse
corando.
— Eu não teria tanta certeza. — disse o Mestre Cohmac Vitus
caminhando para se juntar ao grupo em espera. A sua voz ressonante sob o
capuz de seu manto dourado fazia com que a cada palavra soasse como um
pronunciamento de um juiz. — Quase nenhum transporte comercial está
indo para Farol Estelar, pelo menos até agora.
Reath não conhecia Mestre Cohmac bem, embora gostaria. O humano
era conhecido tanto como um erudito quanto um místico. Ele aparecia em
notas de rodapé em metade dos livros que Reath lia, sobre tópicos tão
diversos quanto os antigos rituais da Força e negociações de reféns em
grande crise. Nada disso explicava totalmente a mística que pairava sobre
ele. Mestre Cohmac tinha uma altura média para um humano ou quase
humano, mas parecia mais alto por causa de seu corpo esguio e magro, o
cabelo preto espesso que usava quase até os ombros, e a aura de sua
presença.
Até recentemente, Reath tinha visto o Mestre Cohmac com frequência
nos Arquivos. Ele passou muitas horas sentado não muito longe, enquanto
os dois mergulhavam em holocron após holocron. Então por que o Mestre
Cohmac teria solicitado um posto de serviço na Fronteira? Então Reath se
lembrou: Ah, sim, ele também é um folclorista. Ele provavelmente coletará
as histórias e lendas locais.
Ele se perguntou se isso poderia ser perigoso para o Mestre Cohmac,
que era conhecido por ser altamente sensível à Força. Ir a algum lugar assim
certamente iria expô-los a influências com as quais nenhum deles ainda
havia sonhado.
Só então Reath percebeu que Orla Jareni e Cohmac Vitus estavam
caminhando um em direção ao outro, com olhares trocados, meio sorrisos
em seus rostos.
— Agora, veja, eu poderia ter jurado que uma vez ouvi você dizer que
nunca mais voltaria para aquela parte da galáxia. — disse Orla.
— Não importa o quão longe corremos ou em que direção vamos. —
Mestre Cohmac respondeu. — No final, sempre voltamos ao início.
Lentamente, Orla assentiu.
— Sim. É hora de fechar o ciclo das coisas.
O que isso significa? Reath e Dez trocaram olhares que sugeriam que
estavam igualmente curiosos, mas igualmente relutantes a bisbilhotar.
Naquele momento, a atenção de Reath e de todos os outros foi distraída
por uma nave voando pelo espaçoporto, bem baixo, e pousando diretamente
na plataforma onde o transporte deveria estar. Era uma nave incomum, pelo
menos para Reath: o seu revestimento era azul escuro e a cabine e motores
arredondados a ponto de serem bulbosos. Ou foi construído muito tempo
atrás, ou os seres que a construíram não se preocuparam em acompanhar os
desenvolvimentos tecnológicos, o que era um pensamento preocupante.
Quando ele se firmou na plataforma, todos os Jedi trocaram olhares.
— Parece mais uma nave de transporte do que uma nave de passageiros.
— Mestre Cohmac disse.
— Quem se importa? Pode saltar no hiperespaço, não é? — Dez sorriu
enquanto o ar em movimento bagunçava seus cabelos e mantos com um
silvo.
Reath franziu o cenho.
— Talvez?
Assim que a nave pousou na plataforma com um forte baque metálico, a
escotilha se abriu. Dela emergiu uma jovem, possivelmente da idade de
Reath, não mais que um ou dois anos mais velha, com pele bronzeada. Com
o seu comprido cabelo castanho solto enquanto caminhava na direção deles
vestindo um macacão normal de piloto, um capricho incomum e bem
passado, no mesmo tom distinto de azul da própria nave. Na manga foi
costurada uma crista em forma de estrela em laranja escuro. Ela colocou as
mãos nos quadris e estudou a todos como se estivesse desapontada.
— Vocês são os passageiros do Farol Estelar? Achei que estávamos
pegando um bando de monges ou algo assim. Vocês parecem... normais.
— Nós somos os seus passageiros e podemos ser chamados de algum
tipo de monge. — disse Mestre Cohmac sem nenhum sinal de surpresa e
apenas uma pequena pausa antes de perguntar. — Você é a piloto?
Ela sorriu e apontou o polegar para a porta.
— Claro que não. Sou a copiloto, Affie Hollow. Ele é o piloto.
Um copiloto adolescente parecia estranho para Reath, mas quando ele
olhou na direção que ela apontava, todas aquelas perguntas desapareceram,
substituídas por outras mais urgentes. Perguntas como: A camisa daquele
homem está aberta até a cintura? Ele está estendendo os braços para nós
como se quisesse abraço coletivo? Será que quer um abraço em grupo?
Esse cara está usando especiaria?
Não, a pergunta era quanto de especiaria aquele cara está usando?
— Lindas crianças. — disse o piloto, com um sotaque lacônico e um
sorriso enorme. — Sou Leox Gyasi e dou as boas-vindas à embarcação.
Houve uma breve pausa, o que fez Reath se sentir melhor; até mesmo os
Jedi experientes não tinham certeza de como abordar esse cara. Dez
finalmente deu um passo à frente com o seu charme de costume.
— Dez Rydan. Prazer em conhecê-lo. Qual é o nome da sua nave?
Leox e Affie trocaram um olhar, claramente entendendo uma piada que
estava para ser lançada.
— Já te disse. — Disse Leox. Ele era um humano alto, bronzeado e
esguio, e seu cabelo loiro escuro ondulado parecia não ter sido penteado
recentemente. Talvez nunca tenha sido. — Nossa nave é chamada
de...Embarcação. Eu a chamei assim não por causa do depósito, mas pelo
espaço dentro do depósito que lhe dá o seu valor e propósito. Para me
lembrar de olhar além do óbvio, sabe?
Isso soa como um Mestre Yoda que usa especiarias, Reath pensou. O
que era um sinal muito bom ou muito, muito ruim.
— Adorei. — Orla disse com um prazer aparentemente genuíno. —
Podemos ver os nossos beliches?
Affie fez uma careta.
— Sobre isso. Realmente somos mais uma nave de transporte. —
Mestre Cohmac deu a Dez um olhar que parecia dizer “que sorte a nossa”
— Mas vamos arrumar algumas partições e beliches pra vocês. — O rosto
estreito de Affie se iluminou quando sorriu. — Só porque somos uma
substituição de última hora não significa que não podemos torná-la
confortável.
Leox interrompeu:
— Isto é, se você não for muito específico sobre a sua definição pessoal
de “conforto”.
Orla foi a primeira a se dirigir para a passarela.
— Nós somos Jedi, Sr. Gyasi. Não precisamos de mimos.
Affie torceu o nariz.
— Então, os Jedi são monges ou não?
Isso parou Reath antes que percebesse o que isso deveria significar. Se
eles nem sequer realmente compreendem o que os Jedi eram...
— Vocês devem ser de fora da Fronteira, hein?
— Para nós não é uma Fronteira, filho. — Leox conduziu a todos depois
de Orla para a Embarcação. — É nossa casa. Mas se você quer dizer que
não estou acostumado com este trecho da galáxia, isso é verdade. Nunca
antes estive tão perto do Núcleo, nem tão longe dele.
— A Associação Byne cuida do transporte em todo o setor. — Affie
parecia orgulhosa. — Somos apenas uma das naves da Guilda Byne, uma
das menores, honestamente, mas Scover Byne ainda nos deu a primeira
missão a Coruscant.
Reath, envergonhado pela sua falta de tato sobre "a Fronteira", estava
ansioso para levar a conversa adiante. Ele tinha certeza de que essa era a
sua primeira oportunidade para perguntar mais sobre Leox e Affie, a sua
nave, e por que mereceram esta honra em particular. Ele também se viu
ansioso para explicar a Ordem Jedi para pessoas que de alguma forma
nunca tinham ouvido falar deles.
Mas toda a conversa terminou quando Leox e Affie pararam com o seu
grupo no limite da cabine.
— E este aqui é o nosso navegador, Geode. — Leox disse com um
sorriso.
Parado em um canto da cabine estava uma pedra.
Uma pedra alta e ligeiramente mais larga que o próprio Reath, cinza
escuro, com bordas arredondadas e uma superfície dura e escamosa.
Impressionante, como as pedras eram. Mesmo assim, era apenas uma pedra,
não era? Reath franziu a testa, certo de que era algum tipo de piada
estranha.
— Ele é um Vintiano, de Vint. — Leox preguiçosamente envolveu um
braço em torno dos “ombros” da rocha, como qualquer pessoa faria com um
amigo. — Geode é um apelido, aliás. Acontece que não se consegue
pronunciar o nome dele corretamente, a menos que não tenha uma boca.
Reath tentou analisá-lo e falhou. O seu principal consolo era que Dez e
o Mestre Cohmac pareciam tão confusos quanto ele. Orla Jareni, no entanto,
exibia outro de seus sorrisos instruídos.
— Geode, hein? — ela disse. — Prazer em conhecê-lo.
Affie deu um tapinha breve na lateral de Geode.
— Ele é um pouco tímido no começo, mas espere quando o conhecer.
Leox gargalhou ao começar a conduzi-los da cabine para a nave.
— Sim, espere. Mas não quero passar a vocês uma ideia errada. Geode é
um homem selvagem, claro, mas quando se trata de dirigir a nave, ele é um
profissional de valor.
— De peso, você pode dizer. — Orla ergueu uma sobrancelha. — Muito
bem. Vamos dar uma olhada em nossos beliches.
— Bem, nós meio que temos que criar os seus beliches antes que você
possa vê-los. — Admitiu Affie. — É melhor começar.
Ótimo, Reath pensou enquanto se virava para seguir os outros. Não
estou apenas indo para o fim da galáxia, mas a tarefa de nos levar através
do hiperespaço pertence a uma rocha.
Às vezes, a Força tinha senso de humor.

Em meia hora os aposentos temporários foram todos construídos e


atribuídos, e os passageiros e a tripulação já haviam se preparado para a
decolagem. De onde Reath estava sentado podia apenas vislumbrar a janela
da cabine, emoldurada por painéis de controle de um lado e o contorno do
Geode (ainda imóvel) no que deve ter sido a posição do navegador. Ele teve
que esticar o pescoço para olhar, mas valeu a pena. Esta seria a última vez
que veria Coruscant por muitos meses, talvez um ano; Reath se recusou a
considerar a possibilidade de sua missão durar mais do que isso.
Casa, ele pensou. A palavra o perfurou como uma flecha. Os Jedi não
foram ensinados a pensar em seus templos como um lar, nem nos planetas
onde nasceram. No entanto, o desejo por um lar era algo que ninguém
poderia deixar de ter. Reath não queria se livrar disso. Ele queria se lembrar
de Coruscant assim: brilhante, próspero, ascendente.
Você resiste ao seu dever, meu Padawan? A voz da Mestra Jora ecoou
na memória de Reath, gentilmente divertida, mas afiada também.
Certamente isso é indigno de um Jedi.
Quero cumprir meu dever, Reath respondeu em sua própria cabeça, mais
claramente do que conseguiu se expressar à Mestra Jora quando se falaram
pela última vez. Mas sinto que meu dever está aqui, em Coruscant, nos
Arquivos.
Lembrou a si mesmo que se algo estava lhe dizendo que não deveria
mudar a sua vida, nem mesmo um pouquinho, isso não poderia ser a Força
falando.
Mas poderia ser.
Reath se encolheu na cadeira, se agarrando à confiança nos instintos que
lhe diziam que essa viagem inteira era uma má ideia, pelo menos pra ele. Os
outros três Jedi pareciam firmes, até serenos. Ele invejava as suas certezas,
as suas conexões constantes com a Força.
Quando eu passar nos meus testes, Reath pensou, serei como eles.
Firme e seguro. Com propósito. Sem conflitos ou dúvidas.

Orla Jareni apoiou as mãos nas alças almofadadas de seu cinto de


segurança. Este era um trajeto mais difícil do que estava acostumada, o tipo
de coisa que esperava encontrar na Fronteira e encontrava ainda mais perto
de casa. Queria ver isso como um bom sinal, mas sempre era um erro
esculpir presságios por esperança ou pavor. Os verdadeiros presságios se
criavam e não podiam ser confundidos quando vinham.
Nenhum sinal apareceu para provar que ela tomou a decisão certa.
Deveria retirar tudo o que disse? Orla se perguntou. O Conselho não
teria inveja disso. Se eu contar a eles que estava errada, então...
Então você vai romper a fé em si mesma. Pelo menos comece. Volte às
origens de tudo. Assim, você saberá se tomou a decisão certa.
Ou não.
O capuz de uma capa pode servir a muitos propósitos: calor, disfarce, abafar
o excesso de ruído e assim por diante. No momento de sua partida, Cohmac
Vitus puxou o seu capuz como um escudo. Estava trabalhando muito para
dominar as suas emoções para se preocupar em controlar cada centelha de
sentimento que pudesse aparecer em seu rosto. A turbulência interna teve de
ser acalmada antes que assumisse as suas responsabilidades na Fronteira.
Oferecer-se para isso parecia a jogada certa na época. Não só era um
trabalho importante, mas também levou Cohmac de volta ao lugar onde, em
sua mente, havia deixado de ser um estudante e se tornado um Jedi de
verdade. Os testes da Cavalaria eram apenas uma formalidade após a crise
de Eiram-E'ronoh.
Mas sempre que Cohmac pensava sobre esses eventos, ele tinha que
lutar contra emoções que nenhum Jedi deveria experimentar.
Voltar vai lhe dar paz, disse a si mesmo. Você finalmente será capaz de
colocar esses sentimentos de lado para sempre.
Quando Cohmac disse isso a si mesmo em Coruscant, ele acreditou.
Agora ele não tinha tanta certeza.

As longas pernas de Dez Rydan se esticaram pra frente, cruzadas nos


tornozelos, e inclinou o seu assento o suficiente para pensar que teria a
chance de cochilar assim que estivessem em movimento. Esperava que este
momento parecesse mais tenso, mas em vez disso, estava revigorado. A
mera tomada de decisão às vezes tinha tanto poder quanto qualquer ação. O
propósito esclarecia cada movimento, cada pensamento.
A Mestra Jora sem dúvida diria que deveria ser mais cuidadoso. Esse
desejo de aventura que tem poderia levar a outros desejos menos
compatíveis com o papel de um Jedi.
Mas renunciar a missão de Zeitooine tão repentinamente como fez,
perguntas foram feitas e seriam feitas novamente.
Você fez o que tinha que fazer, Dez pensou. Se tivesse ficado mais
tempo, a sua frustração teria se transformado em raiva. Você ainda não
acabou de se questionar?
Ele pensava que tinha acabado. No momento, isso era verdade. Mas só
o tempo diria quanto tempo a sua resolução duraria.

Na cabine, Leox acenou com a cabeça enquanto as coordenadas apareceram


em sua tela. Alguns fios de seu colar de meditação, pendurados sobre a
alavanca do suporte de pouso, balançaram e clicaram enquanto Affie tirou a
nave da plataforma de pouso e além dos limites do espaçoporto para a
corrida de Coruscant.
— Bom trabalho, Geode. — disse Leox. — Estou prestes a sair deste
planeta louco. É tão cheio e movimentado que estar aqui fora da superfície
ainda parece que estamos lá dentro.
— Eu também não fiquei impressionada. — disse Affie. — Não
conseguimos andar muito por aí, mas ainda assim, a Scover fez parecer que
este era o lugar mais grandioso da galáxia.
— É só grande, não grandioso. — Leox acenou com a cabeça em
direção à superfície do planeta enquanto voavam para longe dele. —
Grande no tamanho, não na beleza, na minha opinião.
Affie não conseguiu evitar o desapontamento. Ela esperava voltar até a
Scover Byne com algum entendimento ou impressão, isso provaria o seu
valor para ser uma das primeiras membros da Guilda a viajar para o Centro
Galáctico. Tinha que haver algo significativo e incrível sobre Coruscant, ou
não seria o mais importante dos Mundos do Núcleo, seria? Fosse o que
fosse, Affie não percebeu. Talvez os seus passageiros fossem interessantes;
se essa coisa de "Jedi" significasse muito, pelo menos seria capaz de dizer a
Scover sobre isso.
Só quero deixá-la orgulhosa, pensou ela sobre a detentora do Clã e a sua
mãe adotiva.
A atmosfera ficou mais fina. O céu escureceu. A nave escapou de
Coruscant e deslizou para o espaço. Leox agarrou as alavancas do
hiperdrive e disse:
— Mal posso esperar para fugir da civilização.
Com isso, ele saltou com a nave para o hiperespaço, para longe do
Centro Galáctico, para a liberdade.
O s beliches improvisados a bordo da Embarcação não
eram luxuosos, mas, novamente, nem mesmo os aposentos dos
Padawans no Templo eram. Reath notou a pequena cama, com as divisórias
finas, o mais básico possível, sem reclamar.
Ele também não podia reclamar da própria nave. Tudo bem, a sua
tripulação era... excêntrica, e talvez fosse mais desorganizada do que a
média das naves que pousaram em Coruscant. No entanto, os motores
zumbiram com facilidade. A temperatura interna permaneceu dentro de uma
faixa confortável para os humanos e para a maioria das espécies quase
humanas. Os Jedi tinham muito espaço para relaxar, seja na solidão ou com
os outros no refeitório.
Existia algum centro de informação? Alguma maneira de acessar as
histórias ou ficção? Claro que não. Seria tolice esperar algo assim em um
pequeno transporte. Mas Reath pensou nisso de qualquer maneira, como o
primeiro sinal das várias privações que, sem dúvida, enfrentaria na
Fronteira. Provavelmente era melhor ir em frente e acabar com o mau
humor agora, antes de chegar até a Mestra Jora e tivesse trabalho a fazer.
Reath ainda tinha esperanças dela mudar de ideia, mas acabaria
desperdiçando essa possibilidade antes mesmo de começar se ele aparecesse
no Farol Estelar não demonstrando o seu melhor.
Então não estava no clima pra companhia. Porém estava no clima para
comer, como sempre. Como estava crescendo rápido, doze centímetros só
no ano anterior, às vezes parecia que era fisicamente impossível consumir
tanta comida quanto realmente precisava.
Para o alívio de Reath, o refeitório da Embarcação estava
completamente silencioso. Ele poderia ter privacidade e almoçar. Ele
murmurou baixinho:
— Unindo o útil ao agradável, gahh!
Do outro lado do refeitório estava o Geode. Ele havia saído da cabine?
Leox e Affie moveram Geode de lugar? Será que ele andou, rastejou, rolou
ou se teletransportou? Reath semicerrou os olhos para a pedra, tentando
determinar se o ser estava amigável, irritado ou mesmo acordado. Ele
estava tentando e falhando.
— Desculpe. — falou Reath. — Você, hã, você me assustou aí.
Geode não respondeu. Reath se sentiu bobo por esperar uma resposta.
— Oh, ei. — disse Affie Hollo enquanto marchava para o refeitório. —
E então, gostou dela? Da Embarcação, quero dizer.
— Ela é perfeita para o que precisamos. — Admitiu Reath.
A palavra "perfeita" fez o rosto de Affie se iluminar como uma lanterna
de Naboo.
— Eu adoro esta nave. É a minha favorita em toda a frota.
— Qual frota?
— Da Guilda Byne. — respondeu ela, abrindo um pacote de pó rosa
claro e batendo em uma pequena tigela. — A Scover Byne é a proprietária e
ela diz que está me preparando para ajudar a assumir o controle algum dia.
Se eu assumir um pouco mais de responsabilidade, ela me dará uma nave
própria, tenho certeza. E eu escolheria a Embarcação.
Reath silenciosamente pensou sobre o tamanho e a influência da Guilda
Byne. A Embarcação era útil, com certeza, mas se esta era a escolha da
frota, ele tinha dúvidas sobre aquela frota.
A sua expressão deve ter traído os seus pensamentos muito claramente,
porque Affie riu.
— A Scover também não entende por que esta é a minha favorita. Mas
sinto que certas naves... elas têm uma energia, sabe? Talvez até um pouco
de alma. A Embarcação tem mais alma do que qualquer outra nave que
encontrei. E é nela que eu quero viajar pela galáxia.
— Entendo. — disse Reath. Talvez a paixão pela nave venha com o
passar do tempo. — Realmente ela tem, hum, personalidade.
Affie mexeu um pouco de água na tigela e o pó rosado se expandiu em
um pão pegajoso. — Então, certo, me diga o que os Jedi são em duas frases
ou menos.
Reath sorriu pela primeira vez em dias.
— Essas duas frases podem ser bem longas.
— Não temos nada além de hiperespaço e tempo. — Ela se acomodou
em uma cadeira e deu uma grande mordida no pãozinho pegajoso e
murmurou: — Está pronto, Geode?
Geode não disse nada e não fez nada.
Reath suspirou. Melhor começar do início absoluto.
— Você sabe o que é a Força?
Affie lançou lhe um olhar fulminante.
— Todo mundo sabe sobre a Força, qual é?!
— Certo, Certo. — Ele ergueu as mãos em um sinal simulada rendição.
— Desculpa. Só pra ter certeza. Então, os Jedi são usuários da Força unidos
em nossa busca para entender os mistérios da Força e servir como guardiões
da paz e da justiça em toda a galáxia.
— Já ouvi falar de usuários da Força antes. — Ela disse. — Mas por
que isso os torna monges?
— Eu ainda tenho uma frase para terminar. Hum, nós nos alicerçamos
em uma existência espiritual e desistimos de apegos individuais a fim de
nos concentrarmos em preocupações maiores.
Affie mastigou cuidadosamente o seu pão pegajoso por um momento
antes de dizer:
— Então, isso significa sem sexo.
Ele deveria dar a ela todo o discurso da Mestra Jora sobre a diferença
entre o celibato do corpo e a verdadeira pureza do coração? Foi um discurso
muito longo. Reath decidiu pular.
— Basicamente.
Ela assentiu.
— Definitivamente monges.

— Agora, veja, isso eu simplesmente não entendo. — disse Leox mais


tarde, quando Affie e Geode tentaram explicar quem são os Jedi pra ele. —
Como você pode provar o amor à galáxia em geral se não sabe como amar
alguém?
Affie encolheu os ombros ao verificar duas vezes as leituras. A luz azul
oscilante do hiperespaço refletia em cada pedaço de metal da cabine,
fazendo com que parecesse lindamente eletrificada. Até Geode brilhou
ligeiramente. Ela disse.
— Você não precisa fazer sexo com alguém para amá-lo. Você deveria
saber disso, se é que alguém sabe.
— Sim, sim. Mas outros seres parecem valorizar a cópula como uma
forma de vínculo. — Leox então fez uma careta e praguejou. — Isso não foi
apropriado. Desculpe.
Ele tinha boas intenções, ela sabia disso, mas Affie odiava quando ele a
tratá-la como uma criança em vez de uma igual. Felizmente, fazia isso com
frequência
— Está bem. Acho que já ouvi falar de sexo.
Isso fez Leox rir.
— Apenas certifique-se de que a sua mãe saiba que não fui a primeira
pessoa a falar com você sobre isso. — disse ele.
Cada vez que alguém descrevia a Scover Byne como a mãe de Affie,
isso a aquecia.
— Sabe, seria fácil fazer a Scover gostar mais de você. Se usasse o
macacão da Guilda de vez em quando...
— Não posso suportar aquilo. — Leox balançou a cabeça. — Um
homem tem que ter padrões. E desde que não tenho os recursos financeiros
para declarar a minha independência do Clã, a minha personalidade deve
ser afirmada em termos de vestuário. Em outras palavras, você pode tirar as
minhas contas do meu cadáver frio.
Affie reprimiu um sorriso.
— Sabe, os Jedi provavelmente diriam que está colocando muita ênfase
em coisas mundanas.
— Só eu posso julgar a minha relação com o metafísico, pequenina.
— Não me chame assim!

Cohmac Vitus era um homem de razão e lógica. Embora não negasse que
possuía emoções, nunca permitiu que elas nublassem o seu julgamento, ou
assim esperava. A sua mente precisa e sistemática preferia o tangível ao
nebuloso, o quantificável ao misterioso. Mais de um de seus companheiros
Jedi apontou que este era um estado de espírito incomum para um místico.
No entanto, isso foi parte do que Cohmac sentiu que o trouxe para a Ordem:
a estabilidade e a racionalidade.
Então, por que essa mentalidade agora parecia menos com um dom e
mais como uma defesa?
Porque está viajando para o lugar onde conheceu pela primeira vez o
mal que surge da imprecisão. Da emoção. Tudo isso nasceu entre Eiram e
E’ronoh.
Por um momento, estava de volta às cavernas, Orla tremendo de frio ao
lado, olhando com medo para as formas na escuridão gelada…
Cohmac balançou a cabeça, como se pudesse se livrar fisicamente da
memória. A melhor maneira de sair da lembrança era exercitar o corpo. As
opções eram limitadas em uma nave daquele tamanho, mas uma caminhada
rápida pelos corredores bastaria. Andou pela Embarcação, esperando ter
privacidade. A esperança foi em vão, pois quase imediatamente encontrou
Dez extasiado em uma conversa com Reath Silas.
— Quero dizer... — Reath estava dizendo. — Você nos chamaria de
monges?
— Não exatamente. — Dez disse. — Vejo que você não conseguiu
convencer a Mestra Jora a desistir da trança de Padawan.
— Não tive essa sorte. — Reath apontou vagamente para a nuca.
Antigamente a trança era obrigatória, pelo menos entre os aprendizes de
espécies que cresciam cabelo na cabeça. Hoje em dia, nem todo mestre
exigia tranças; Cohmac não tinha intenção de exigir isso, se ele assumisse
outro Padawan. A Mestra Jora Malli claramente sentia o contrário.
Cohmac pretendia se ausentar, mas antes de se afastar Reath se virou
pra ele ao perguntar:
— Com licença, Mestre Vitus? Posso perguntar como você descobriu e
registrou novas lendas? Como folclorista, quero dizer. Basta encontrar a
feiticeira local e pedir uma história?
— Às vezes sim. — Cohmac olhou através de uma das poucas janelas
pequenas da nave para o azul brilhante e misterioso do hiperespaço. —
Muitas outras vezes é mais complicado. Há sempre as histórias que as
pessoas querem contar sobre si mesmas... e depois há as outras histórias. As
secretas, as obscuras, aquelas cujos significados são mais difíceis de
compreender. Essas histórias não são contadas a estranhos. Claro, essas
geralmente elas são as mais importantes de todas.
Eram as histórias que teriam feito o maior bem, entre Eiram e E'ronoh.
Dez sorriu enquanto começou a conter as suas botas.
— Como você faz para eles as contarem?
— Isso varia. — respondeu Cohmac. — Existem espécies que respeitam
os forasteiros que os pressionam, pedindo fatos. Também existem espécies
que comem estranhos da mesma forma. É melhor não bisbilhotar até saber
com que tipo de cultura está lidando. Enquanto espera, você estuda a arte
deles. Pinturas, tapeçarias, literatura. Simbolismo e alegoria podem revelar
muito. Aí você pergunta sobre a arte e as lendas surgem naturalmente.
— Astuto. — disse Reath. — Mas também engenhoso.
— Obrigado. — Cohmac inclinou a cabeça.
— Deve ser um desafio para você, fazer algo completamente novo. Sair
do mapa. — disse Dez.
— Literalmente. — brincou Reath.
Cohmac poderia ter dito que já estivera naquela área do espaço antes.
Especificamente, para a lua perdida entre os planetas gêmeos que serviram
como hospedeiros para o novo Farol Estelar.
Mas não havia necessidade de falar sobre isso, e Cohmac aprendera a
limitar as suas palavras. Era muito fácil falar demais.

Na cabine da Embarcação, Leox Gyasi mastigou um palito de


especiarias e considerou as leituras do computador de navegação.
(O palito de especiaria era permitido em certas áreas da República. Por
enquanto. Principalmente porque não tiveram tempo de proibir tudo ainda.
Talvez os palitos fossem ignorados e continuassem permitidos. Mas talvez
não. Em todo caso, Leox escondeu um estoque.)
Deveria ver os sinais de outro tráfego, ele meditou. Sinais mais claros
do que isso. As leituras estão borradas? Se sim, por quê?
— Geode, amigão, está vendo o que estou vendo? — perguntou Leox.
O silêncio sinistro de Geode disse tudo. Algo estava realmente errado
com o tráfego do hiperespaço. Profundamente errado. O tráfego que ele
conseguia distinguir estava se movendo em direções que não faziam
nenhum sentido.
Leox murmurou:
— Não estou gostando disso. Não estou gostando nem um pouco disso.
A nave ainda estava avançando, condições não muito diferente do que
de costume, então conseguiriam atravessar. O problema pode ser o local,
pensou, algo que os atingiriam no voo.

Orla Jareni esperava passar pelo menos parte da sua viagem ao Farol Estelar
conversando com a tripulação da Embarcação. Ela compraria a sua própria
nave em breve, algo que nunca tinha feito antes. Apesar de ter estudado
sobre as especificações e modelos, ainda achava que poderia haver dicas
valiosas para ouvir de pessoas que passaram a vida inteira navegando nas
estrelas.
(Alguns Jedi caíram na armadilha de pensar que os não-Jedi não tinham
nada a lhes ensinar. Orla, entretanto, sempre se lembrava de que cada ser na
galáxia sabia pelo menos uma coisa que ela não sabia.)
Affie Hollow parecia a candidata ideal para conversar, Orla decidiu,
apenas porque Affie parecia ter um compromisso maior com a sobriedade.
Mesmo assim, Orla se viu adiando a conversa. Na verdade, falar sobre a
compra de sua nave significaria falar sobre a sua decisão de se tornar uma
Perseguidora do Caminho. Como a Affie sabia pouco sobre os Jedi,
certamente faria a pergunta mais óbvia: Por quê?
No momento, Orla não se sentia confiante em sua resposta.
Poderia simplesmente dizer “instinto”. Isso era verdade, mas
dificilmente iria matar a curiosidade de Affie. Era provável despertar mais
curiosidade ainda.
Ou ela poderia dizer: “A Ordem Jedi e eu não... concordamos mais.”
Também é verdade. Provavelmente também a colocaria em apuros se
alguém do Conselho ouvisse isso.
Provavelmente a melhor resposta seria: Eu precisava conhecer a Força
de um modo ainda mais profundo e significativo. Também é verdade,
resposta longa e entediante o suficiente para desencorajar novas perguntas.
Perseguidora do Caminho, a sua mente tinha sussurrado, e lá estava ela:
se afastando da Ordem para navegar por uma região desconhecida da
galáxia por conta própria. Esperava que encontrasse lá fora o propósito que
não encontrava em suas missões recentes.
— Estou me iludindo? — ela murmurou, conforme chegava no
refeitório, preparando um chá Chandrilano para si mesma. — Se não
consigo encontrar as respostas no Templo, o que me faz pensar que vou
encontrá-las aqui? O que minha mestra diria se ela pudesse me ver? Se não
conseguir encontrar as respostas no Templo, o que me faz pensar que vou
encontrá-las aqui? O que minha mestra diria se ela pudesse me ver?
Então ela fez uma pausa, esperando que ninguém tivesse ouvido isso.
Provavelmente não, mas em uma nave tão pequena, você nunca poderia ter
certeza. Resolveu manter as suas reflexões internas durante a viagem.
Orla levou um momento para se concentrar, mas descobriu que não
conseguia. As energias na nave estavam ficando confusas. Até mesmo
frenéticas.
— O que está acontecendo? — murmurou Orla.
Foi então que ouviu a voz de Leox Gyasi pelos comunicadores da nave:
— Todos que quiserem continuar vivos, amarrarem-se em algo agora!

Reath correu para os assentos de salto, alcançando-os assim que todos os


outros Jedi entraram. Enquanto apertavam apressadamente os cintos de
segurança, Orla chamou a atenção.
— O que está acontecendo?
— Pelo que posso imaginar, o hiperespaço está destroçado.
Leox atendeu e respondeu:
— O quê? — Dez parecia tão perplexo quanto Reath. — Como isso é
possível?
— Toneladas de escombros, sabe o tipo de coisa que você geralmente
nunca encontra no hiperespaço? Está no hiperespaço todo. — O palito de
especiaria preso entre os dentes de Leox estava rangendo. — Tipo, lixo em
todas as rotas.
Reath mal conseguia conseguia falar.
— Mas isso significaria um desastre em escala galáctica.
— É praticamente nessa escala. — disse Leox. — Agora segurem-
se todos.
A ffie tinha visto muito mais coisas do que a maioria dos
jovens de dezessete anos. Tinha embarcado e servido na tripulação em
naves que viajavam ao longo do setor, agora através da galáxia, em todo o
caminho de Kennerla a Coruscant. Uma vez ajudara a conduzir uma nave
por um vórtice no hiperespaço.
Mas nunca tinha visto Leox Gyasi tão perto de perder a coragem.
As suas mãos permaneceram fixas nos controles enquanto ele tentava se
manter firme.
— Então, o que fazemos agora? — perguntou ela.
— Procuramos verificar se o nosso caminho está limpo. — Leox teria
parecido quase relaxado para qualquer um que não o conhecesse tão bem
quanto Affie. Só ela e Geode podiam detectar a tensão interna. — Se
formos atingidos por uma lasca de metal, estaremos diante de uma ejeção
explosiva do hiperespaço, seguida pela sua favorita e pela minha, uma
ruptura no casco.
Ruptura no casco. Pior pesadelo de todo viajante do espaço.
Uma ruptura significava ser atirado para o vazio gelado do espaço, o que o
mataria em dois ou três minutos. Morreria em alguns segundos se você
tivesse ar em seus pulmões, que imediatamente se expandiriam e
explodiriam.
Pior ainda: o azul elétrico do hiperespaço estava mudando de cor.
Mudando para mais violeta, completamente para vermelho. Affie não fazia
ideia do por que isso estava acontecendo, mas não podia ser bom.
O computador de navegação começou a piscar rápido, enviando uma
rajada de luz carmesim pela ponte.
— Estamos detectando escombros. — ela conseguiu relatar. — Algo
enorme.
Leox disse o que realmente estava pensando:
— Essa coisa está mirando em nós.
— Podemos fugir?
— Vamos descobrir.
Dirigir dentro do hiperespaço não era uma tarefa fácil. Geralmente não
há necessidade, uma vez que o computador de navegação calculava e
modificava o salto em velocidades monstruosas. Hoje foi uma exceção.
Pilotos experientes tinham uma espécie de intuição sobre o hiperespaço, um
instinto, que funcionava melhor do que qualquer droide ou máquina. Leox
tinha instintos melhores do que qualquer outro piloto que Affie já
encontrara. Se alguém pudesse salvá-los, seria ele.
Ela só queria não saber o quão grande era esse se.

— Segurem-se! — a voz de Leox soou através do tremor da Embarcação.


Reath, que já estava se segurando o mais forte possível, sentiu seu estômago
revirar. Os outros Jedi mantiveram a calma, ou pareciam, mas Reath só
conseguiu manter a aparência. Não é a realidade. A sua mente agitada
continuava falando: Devíamos ter esperado uma nave melhor ou uma nave
maior ou uma nave com uma tripulação mais confiável ou basicamente
qualquer outra nave exceto esta...
URRAM! Uma sacudida de tremer os ossos sacode a nave, sacudindo
Reath com tanta força que ele foi contra os cintos de segurança e mordeu a
língua. Vibrações estranhas começaram a ondular pela Embarcação, mais
sinistras do que uma queda. A nave deles estava prestes a desmoronar?
No comunicador surgiu a voz de Leox, preguiçosa como sempre:
— Certo, então, há boas e más notícias.
Mestre Cohmac e Orla trocaram um olhar, que Reath captou com o
canto do olho. Ele não era o único com dúvidas.
— A boa notícia é que em vez dos detritos espaciais nos esmagarem,
eles acertaram só de raspão. — Continuou Leox. — A má notícia, quem é
esperto já percebeu, é que sofremos alguns danos. Affie vai verificar isso.
Affie já estava passando pelos bancos, encostando-se na parede toda vez
que a nave balançava em uma nova direção, como fazia constantemente.
— Alguém aqui tem experiência em reparos de nave espacial? —
perguntou Dez.
— Acabei de terminar o curso básico. — Reath disse e depois esperou
que os outros Jedi anunciassem o conhecimento superior deles.
Ninguém falou nada.
— A sua experiência é mais recente que qualquer uma das nossas,
então. — Mestre Cohmac disse. — Veja se pode ajudar. — Ele estremeceu,
como se estivesse com dor, mas não disse mais nada.
Pensar que ele poderia ser o especialista em reparos a bordo era quase
tão enervante para Reath quanto a colisão. Mas ele desamarrou
imediatamente tirou o cinto de segurança e seguiu Affie.
A nave balançou de um lado para o outro; Reath tropeçou em uma
parede, depois em outra, mas conseguiu se manter de pé até que finalmente
chegou à escada que levava ao convés inferior. Ele agarrou os degraus com
firmeza antes de arriscar um pé para baixo.
— O que você está esperando? — Affie gritou. — Depressa!
Reath largou a cautela e largou a escada, caindo no funcionamento
interno da nave. Affie já estava mergulhado em máquinas, ferramentas nas
mãos.
— O que está acontecendo? — perguntou Reath.
Então ele viu por si mesmo o que estava acontecendo: o regulador de
coaxium estava completamente desengatado de sua estação. Affie agarrou o
regulador com as próprias mãos, que já estavam ficando azuis com o frio
intenso. Sacudindo e tremendo, ela estava conseguindo segurar o regulador
no lugar, direcionando o seu feixe de energia verde e frio para os motores o
que pertencia.
Se ela perdesse o controle, o feixe deslizaria para o lado e quebraria a
Embarcação ao meio.
Affie não ergueu os olhos.
— Também precisamos de alguém para reiniciar a estação reguladora,
se você acha que consegue.
Reath pegou um kit de ferramentas e saltou para o trabalho ao lado dela.
— Eu consigo. Mas se preferir que eu segure o regulador enquanto faz
os reparos...
— Não. Se a nave balançar durante a transferência, estamos perdidos.
— Affie estremeceu de frio, mas continuou segurando. — Seja rápido,
certo?
Ele trabalhou o mais rápido que pôde para soldar a estrutura da estação
com firmeza suficiente para que a pior turbulência não a abalasse. A nave
continuou a empinar e sacudir e Affie parecia à beira de perder o equilíbrio.
Reath conectou-se com a Força e a segurou para estabilizá-la o melhor que
pudesse. Ele não tinha a sutileza necessária para segurar o regulador
exatamente no lugar, mas podia mantê-la de pé.
— Uau. — disse Affie. — O que é isso? Isso é uma terceira mão ou
algo do tipo?
— É a Força.
— Sério? Você pode senti-la! — ela riu alto com surpresa, talvez até
encantada. — Você não é um monge. Você é um mago.
— Sim! Magos monges. Somos nós. — Reath verificou o que ele tinha
feito; parecia certo, mas um olho mais experiente era necessário. —
Consegue dar uma olhada? Conseguimos?
Affie olhou por cima do ombro.
— Sim. Isso deve resolver. Ajude-me a levantar isso.
Reath colocou as mãos no regulador também e quase gritou. Estava
congelando, tanto que podia sentir uma dor aguda em cada osso dos braços.
Affie devia estar em agonia. Mas ela somente tremia, entretanto, eles
cuidadosamente, empurravam pra cima. O clique metálico do regulador
voltando à posição foi um dos melhores sons que ele já ouviu.
Gemendo, Affie cambaleou para trás da máquina. Suas mãos
permaneceram roxas e bolhas se formaram em suas palmas.
— Um estabilizador de estímulo. — disse ela se engasgando. — O kit
de primeiros socorros está naquela caixa de emergência laranja...
Reath entendeu antes que ela pudesse terminar de falar. Rapidamente o
pressionou contra o pescoço dela até ouvir o chiado da medicação sendo
distribuída. Em apenas alguns segundos, suas mãos começaram a retornar à
cor normal e as bolhas sumiram.
— Ótimo. — disse ele. — Conseguimos.
— Ainda não acabamos. — disse Affie. Já se livrando da dor anterior,
ela subiu a escada.
— O que você quer dizer? Mais reparos? — Reath olhou ao redor em
busca de qualquer sinal de dano adicional, mas nada parecia aparente.
— Por favor, pense nisso, algo no hiperespaço nos atingiu. E eu pensei
ter visto... — a voz dela sumiu, e ela correu de volta para a ponte.

— Se tivéssemos que ser atingidos, gostaria que fosse por qualquer outra
coisa. Qualquer rocha maldita lá fora no espaço. — disse Leox. — Sem
ofensa.
O silêncio cordial de Geode indicou que nenhuma ofensa foi levada em
conta.
Affie voltou correndo para a cabine, sem fôlego.
— Tudo bem? — perguntou ela.
— Estamos por hora. Bom trabalho nos reparos, a propósito.
— O garoto monge me ajudou. Mas aquele cargueiro... Leox, aquilo
parecia um fragmento de uma nave de passageiros.
Leox suspirou. Já era a tentativa de falar isso pra ela.
— Sim, era mesmo.
— Deveria ter umas centenas de pessoas a bordo. Talvez até milhares.
— O rosto dela estava arrasado; em momentos como esse Leox se lembrava
do quão jovem Affie realmente era.
— Maneira horrível de morrer. — disse Leox, concordando. Poderia
muito bem soltar tudo de uma vez, mesmo que ainda fosse uma criança,
conseguia lidar com a verdade melhor do que com qualquer mentira. —
Escute, não tenho certeza, mas repassando as leituras... isso parecia muito
com os destroços da Legacy Run pra mim.
Os olhos escuros de Affie se arregalaram.
— Mas a Legacy Run é uma nave da Guilda Byne. A Scover às vezes
viaja com ela.
— Eu não disse que era a Legacy Run. Elas são semelhantes. Talvez
não sejam a mesma. Você só deveria se preparar. Certo?
Ela assentiu, já tentando se concentrar nos assuntos em questão, apesar
da luz febril avermelhada do hiperespaço perturbado ao redor deles. Seu
coração estava com Scover. Nem toda garota poderia se dedicar ao trabalho
quando acabava de descobrir que a sua mãe poderia ter morrido.

Scover está bem. Scover está absolutamente bem.


Affie repetiu isso pra si mesma enquanto se acomodava no assento do
copiloto. A Scover Byne raramente viajava em viagens da Guilda; ela
preferia permanecer em seus planetas centrais, supervisionando a sua frota
em sua totalidade. Ela não havia mencionado nenhum plano recente para
fazer o contrário. Portanto, Affie se recusou a entrar em pânico.
Mesmo que a Scover não estivesse a bordo (e ela não estava), a
destruição da Legacy Run já era ruim o suficiente. A chegada da República
em seu setor havia levado a navegação a níveis de atividade febris; todos
queriam movimentar a carga antes que pudesse ser tributada, tarifada ou
proibida. Os colonos queriam muito chegar à Fronteira e pagavam pelo
transporte aos milhares todos os dias. Cada nave saía com a maior
quantidade de carga viva e inerte que poderia conter. Até mesmo a nave
tinha viajado para Coruscant com tantos engradados de feijão denta que
Geode não conseguia passar pelos corredores. Qualquer perda seria uma
grande perda. E a Legacy Run... haveria centenas de famílias a bordo,
milhares de pessoas, até mesmo crianças pequenas...
— A nave ainda está estranha. — disse ela, tanto para se livrar da
preocupação quanto porque era verdade.
— Isso é porque o hiperespaço ainda está agindo estranho, embora
agora acho que tem mais a ver com a destruição do cargueiro jogando tudo
para fora do alcance. Quero dizer, veja isso. — Leox gesticulou para as
leituras. — Detritos estão voando por todo o hiperespaço. O computador de
navegação está fechando vias mais rápido do que podemos contá-las. — Ele
balançou sua cabeça. — Estamos mudando de curso.
Affie foi fria, como se o regulador de coaxium tivesse caído de volta em
seus braços.
— No hiperespaço?
— Sim, eu sei, e nem comece, Geode. O problema é que temos que sair
do hiperespaço o mais rápido possível. Não podemos fazer isso e chegar
aonde estamos indo. Então agora estamos indo para outro lugar. Espero que
em algum lugar seguro.
Ela se preparou quando as coordenadas predefinidas começaram a rolar
para baixo na tela de navegação. Qualquer predefinição que os levasse ao
espaço real mais rápido era seu novo destino. Ela teria que confiar nisso a
Embarcação não iria programar as coordenadas para um lugar, digamos, ao
centro de uma estrela anã.
A predefinição final apareceu.
— O garoto monge está no assento? — perguntou Leox.
— Se não estiver é problema dele. — respondeu Affie. — A propósito,
na verdade ele é um mago.
Leox ergueu as sobrancelhas como se quisesse dizer: Nada mal.
— Segurem-se! — gritou pelo comunicador, e então...
Eles estavam no espaço real. Sem balanços, sem tremidas, com a
reentrada mais serena que alguém poderia esperar. Affie e Leox
compartilharam um sorriso quando ela disse:
— Boa escolha, Geode.
— Agora podemos descobrir o que droga deu errado lá. — disse Leox.
— E então podemos seguir o nosso caminho.
O alívio tomou conta de Affie quando ela olhou para o setor
majoritariamente vazio ao redor deles. Eles não estavam enfrentando naves
hostis, ou se intrometendo em uma zona de guerra, ou em qualquer lugar
próximo ao coração de uma estrela. Eles estavam... praticamente em lugar
nenhum.
Apesar da vertigem da fuga, não pôde deixar de se perguntar: Por que a
nave estaria programada para nos trazer aqui?

— O que aconteceu? — sussurrou Orla Jareni. O seu rosto branco ficou


ainda mais pálido. — As vozes gritando...
— Muitos morreram. — Mestre Cohmac disse. — Você também sentiu,
Reath?
Reath sentiu algo que estava terrivelmente errado muito além da própria
Embarcação, e que estava relacionado ao desastre, mas ele não sentiu nada
igual ao choque refletido nas expressões de Orla e Mestre Cohmac.
Ocorreu-lhe pela primeira vez que poderia haver certas vantagens em não
ser tão sensível à Força como a maioria dos Jedi.
— Você pode dizer o que aconteceu exatamente? — perguntou Reath.
Sem surpresa, o Mestre Cohmac se recompôs primeiro.
— Não. Devemos entrar em contato com Farol Estelar imediatamente.
Precisamos de mais informações e não queremos que nosso atraso cause
alarme.
Reath concordou. Bem, concordou com quase tudo. Uma pequena e
indigna parte dele queria que Mestra Jora ficasse um pouco alarmada,
apenas o suficiente para fazê-la dizer: Sabe, a Fronteira é um lugar
desnecessariamente perigoso para estarmos. Deveríamos voltar para
Coruscant imediatamente.
Ainda assim, ele se levantou e foi com Mestre Cohmac para a estação
de comunicação da Embarcação. Era improvável que Cohmac iria precisar
de ajuda mandando as mensagens, mas era função de um Padawan estar
preparado para oferecer assistência a qualquer Jedi, em qualquer momento.
A estação de comunicação era uma pequena área com um teto curvo,
pequena até mesmo para um humanoide adulto. Dois já estavam
amontoados lá dentro: Leox e Affie, ele segurando um amplificador contra
o ouvido. Aparentemente Geode estava sozinho na ponte, o que Reath não
achou reconfortante. Mestre Cohmac ajoelhou-se à porta, tão suavemente
como se fosse o que ele havia preparado para fazer o tempo todo, e disse:
— Sei que a sua nave tem comunicações urgentes a fazer, Capitão
Gyasi, mas...
Leox ergueu uma das mãos.
— Espere.
Se Mestre Cohmac ficou impaciente, ele não demonstrou, apenas
acenou com a cabeça. Mas Reath podia sentir a tensão crescendo dentro de
Leox e Affie, uma tensão contagiante. Ele deixou escapar.
— O que há de errado?
— Tudo, pelo que parece. — Leox desligou o amplificador e ligou um
interruptor, projetando para dentro da sala.
Imediatamente, eles foram inundados com um ruído, mais de uma dúzia
de sinais tentando romper de uma vez, se sobrepondo e borrando um ao
outro:
— ...perdemos toda a energia, presos no sistema Bespin, sinalizando
qualquer nave dentro d...
— ...pelo menos mil almas perdidas, possivelmente mais...
— ...cheio de coisas, como se alguém tivesse jogado isso no
hiperespaço...
— ...não consigo nem começar a avaliar os danos até que possamos
passar para...
— De que setor vêm essas mensagens? — Mestre Cohmac perguntou
baixinho.
A expressão de Affie era sombria.
— De todos eles.
— Tantos fragmentos da verdade. — Mestre Cohmac disse. — Sem
imagem completa. O que, claro, é mais assustador do que a verdade pode
ser.
— Esperamos que não. — respondeu Affie.
Orla Jaren apareceu na porta atrás de Reath e murmurou:
— Alguma novidade?
— Parece... que o desastre é gigantesco. Muitas pessoas já foram
mortas. — Reath sussurrou de volta.
Mortas. A palavra era tão final, tão absoluto. Reath de repente sentiu
vergonha de ter ficado infeliz com a sua missão na Fronteira, de ter ficado
infeliz com o seu futuro quando tantos seres haviam perdido totalmente o
futuro.
Em seguida, uma nova transmissão veio, mais alta do que o resto:
“Todas as vias do hiperespaço devem ser consideradas fechadas até
segunda ordem. Para os viajantes além das Fronteiras da República, até a
Orla Exterior, reiteramos que o hiperespaço atual não é navegável e é
extremamente perigoso. Todo o tráfego é aconselhado de que as viagens
pelo hiperespaço devem ser evitadas a todo custo.”
— Bem, é isso. — Leox desligou as transmissões. — Vocês ouviram a
senhora. Parece que vamos ficar por aqui um pouco.
— Onde é aqui? — Reath perguntou.
Affie respondeu:
— Basicamente lugar nenhum.
Eles estavam em um canto quase vazio de espaço, incapaz de avançar
ou voltar para casa. Por enquanto, e por um período desconhecido de
tempo, eles estavam presos.

— Ouçam. — disse Leox. — Claro, podemos olhar pra isso como se


fossemos abandonados no espaço profundo. Mas quando você pensa sobre
isso, é tudo só o espaço, na verdade.
Reath estava desconfortável. Ele foi para a ponte, que pelo menos
parecia potencialmente útil, e por um momento estava sozinho com Geode,
que ainda estava sentado (ou de pé?) na estação do navegador.
— Hum... — Reath começou a falar. — Oi. Isso é terrível, hein?
— Por favor. — Affie sussurrou ao entrar na ponte logo atrás dele. —
Não tente falar com ele sobre isso ainda. Geode é incrivelmente sensível.
— Claro. — disse Reath. — Mas... pensei que você disse que ele era um
homem selvagem?
Leox, que estava passando, interveio.
— A sua natureza é inconstante, de muitos humores e climas. — Depois
disso, e com um olhar carinhoso para Geode, ele continuou o seu caminho.
Reath estudou Geode por alguns segundos, se perguntando o que
exatamente eles enxergavam, porque, pra ele, era só uma grande pedra
parada.
Affie acomodou-se no assento do copiloto, aparentemente para matar o
tempo, mas depois franziu a testa para um sensor que piscava.
— O que é isso?
— São mais danos a nave? Algo mais que precisamos consertar? —
Reath estava apenas começando a perceber o quanto ele precisava de algo
para fazer, para que se sentisse menos desamparado.
Affie balançou a cabeça.
— É um farol. Um farol de sinal. Não é uma mensagem real, mas um
indicador de uma nave por perto que precisa de ajuda.
— Perto? — Reath perguntou. — Quão perto?
— Dentro deste sistema, sem necessidade de hiperespaço. — disse Affie
devagar. — Não estamos sozinhos. Alguém está lá fora.
— Não responda! — exclamou Orla. Ela estava andando pela ponte,
aparentemente, mas parou com suas palavras. — Você não sabe quem está
lá fora. — O seu olhar estava distante. — Nunca se sabe.
Os Padawans Orla Jareni e Cohmac Vitus estavam conduzindo o transporte
T-1 pelo hiperespaço, e Orla não conseguia acreditar em sua sorte. A julgar
pelo sorriso no rosto de Cohmac, ele estava igualmente satisfeito.
Era função de um Padawan fazer qualquer tarefa para a qual um Mestre
precisasse de ajuda. Sim, às vezes isso incluía atos emocionantes de
heroísmo, mas também poderia envolver consertar as roupas ou limpar o
chão. Pilotar uma nave era considerada uma missão de alta qualidade,
especialmente quando isso significava aproximá-los de outra tarefa ainda
mais emocionante ainda: resgatar dois governantes sequestrados dos
sistemas de Eiram e E’ronoh.
Esses sistemas ficavam muito além das Fronteiras da República, em
uma área que há muito resistia à adesão à República ou à ajuda... que eles
rotularam de "interferência". Enquanto os Jedi ocasionalmente viajavam
para esta zona do espaço, essas viagens eram raras, e os cidadãos pareciam
determinados a mantê-las assim. Era um espaço independente, como
proclamaram.
Portanto, o fato de esses dois mundos terem clamado pela ajuda dos Jedi
era extremamente promissor. Uma missão bem-sucedida pode finalmente
preencher a lacuna entre esta área e a República.
(A Mestra Laret havia apontado que se esses planetas estivessem
dispostos a pedir ajuda de dentro da República, a situação era, sem dúvida,
espinhosa. Mas Orla não se intimidou.)
Provavelmente, esta crise de reféns poderia ter sido resolvida pelos dois
mundos trabalhando juntos, algo que nenhum planeta estava disposto a
fazer. Eiram e E'ronoh ocuparam um sistema que servia como um ponto de
referência através do hiperespaço; eles mantinham um portal, que há muito
permanecia fechado para o resto da galáxia. Este portal poderia ter levado a
um imenso poder para os dois mundos, se estivessem dispostos a
compartilhá-lo. Em vez disso, competiram pelo controle da região, lidando
agressivamente com aqueles que ousavam violar o seu ritmo, cada um
limitando o tráfego a quase nada. Eiram e E'ronoh não estavam lutando
ativamente uma guerra um contra o outro, mas a inteligência sugeria um
impasse amargo entre os dois, um que durou mais de um século. As suas
origens eram obscuras e, àquela altura, eram irrelevantes. Eiram odiava
E'ronoh. E'ronoh odiava Eiram. Ponto final.
Até que a realeza de cada planeta fosse sequestrada e resgatada.
— É uma grande honra e uma grande oportunidade que essas pessoas
tenham chamado os Jedi em busca de ajuda. — A Mestra Laret dissera
quando instruiu Orla a caminho do espaçoporto. — Podemos fazer mais do
que salvar estes dois governantes. Podemos evitar uma guerra. Podemos até
ser capazes de abrir outra parte da galáxia.
Orla nunca tivera uma missão tão significativa antes. Pouquíssimos Jedi
tiveram. Ela não pretendia decepcionar a sua mestra.
De novo não.
Ultimamente, Orla vinha fazendo muitas perguntas. Desafiando as
decisões do Conselho Jedi, apenas para Mestra Laret, é claro, mas ainda
assim. No começo Mestra Laret escutou Orla e até teve um leve debate com
ela, mas a sua paciência estava sendo testada.
— Ser Jedi é servir — dissera Mestra Laret. — Como você pretende
servir se continua questionando cada comando?
A rara repreensão de sua mestra ainda doía. Portanto, desta vez, Orla
provaria o quanto desejava servir a Ordem. Ela não iria questionar nada.

Ninguém sabia se a lua costumava orbitar a Eiram ou E'ronoh, apenas que,


em incontáveis milênios atrás, saiu de sua órbita e ficou no espaço morto
entre os dois mundos. A lua era tão desprovida de qualquer valor que Eiram
e E'ronoh nem se deram ao trabalho de lutar por ela. Apenas ficou parada lá,
obscura e ignorada.
Razão pela qual quase ninguém sabia sobre as cavernas e túneis nas
profundezas das salinas lunares, e por que as cavernas eram um esconderijo
perfeito para aqueles que não desejavam ser encontrados.
Era o único elemento do plano de sequestro que poderia ser chamado de
“perfeito”. O resto deixava muito a desejar.
— Tolos! — resmungou Isamer. O corpulento Lasat jogou a coisa mais
próxima que pôde alcançar em seus tenentes; acabou por ser uma outra
extremidade da caverna estavam dois reféns, cada um amarrado com
algemas de metal, cada um usando roupas que haviam sido manchadas e
rasgadas durante o sequestro. O monarca Cassel de E'ronoh, um Pantorano
azul brilhante, parecia extremamente nervoso com a sua situação, o que
indicava mais inteligência do que ele era geralmente creditado. Ao lado dele
estava sentada a Rainha Thandeka de Eiram, uma humana de pele marrom
amarelada, que parecia furiosa. Isamer poderia esmagar a maioria dos
humanos sem o menor esforço, e Thandeka era uma mulher pequena, mas
estava grato por ela não ter um blaster.
Um dos tenentes apontou para Thandeka, especificamente para a tiara
de prata tecida em suas grossas tranças pretas.
— Mas ela está com a coroa. O manifesto informava que a rainha estava
a bordo...
— Sim. — Isamer dobrou os seus enormes braços na frente de seu
peito. — O cônjuge da rainha é quem estava a bordo. Cônjuge da rainha é
quem casa com o governante do planeta. Em Eiram, a governante é a
Rainha Dima, a rainha soberana. Em outras palavras, a rainha útil!
— Oh, bosh. — disse o Monarca Cassel, bastante amável. — Tenho
certeza de que a rainha soberana quer o seu cônjuge de volta. Isso vai servir,
não vai? Para vantagem?
Baixinho, Thandeka murmurou:
— O que está planejando? Você acha que pode se juntar a eles?
— Deuses, não. — Cassel pareceu horrorizado com a ideia. — Mas
ouvi-los descrevê-la como inútil é um tanto grosseiro...
— Você está tentando poupar os meus sentimentos? — Thandeka olhou
para o teto da caverna no que pode ter sido descrença ou desespero. —
Confie em mim, agora o meu ego é o menor dos nossos problemas.
Isamer ignorou tudo isso.
— Não vamos discutir mais. — disse ele. Haveria tempo para punir
esses tenentes e encontrar substitutos mais inteligentes depois que isso fosse
feito. Por enquanto, ele só poderia manter o curso.
Os Hutts não esperariam menos.
Eles abordaram Isamer, como um dos líderes da Diretoria. Os poderosos
Hutts foram até ele! Com o maior conhecimento local da Diretoria, eles
explicaram, ele estava em uma melhor posição para desestabilizar os
governos locais. Essa desestabilização seria uma vantagem de longo prazo
para os Hutts, uma vantagem que eles compartilhariam com aqueles que os
ajudaram.
Isamer podia ver: a Diretoria, com poderes como parceira dos Hutts,
acabando com todas as outras organizações criminosas naquela parte da
galáxia. Valia mais do que um pequeno risco.
— Lorde Isamer! — chamou um dos jóqueis sensores. — Uma nave
auxiliar T-1 emergiu do hiperespaço a setenta raios de distância.
Os pelos de Isamer se arrepiaram em antecipação. Seu sorriso com
presas se alargou quando ele disse:
— Ligue pra eles da nave de Cassel. — Os destroços da nave estavam
quebrados na superfície do planetoide, mas os seus tenentes conseguiram
salvar o sistema de comunicações. Pelo menos eles acertaram em uma
coisa. — Implore por ajuda. Atraia eles para cá.

Cohmac saiu de um devaneio, repetindo mentalmente: Foco.


Não era um devaneio ruim, apenas um em que estava duelando
brilhantemente com o seu sabre de luz, o tipo de imaginação detalhada que
poderia realmente melhorar o desempenho real. Mas isso era adequado para
meditação. Ele teria que melhorar a sua habilidade de viver totalmente no
presente, como Mestre Simmix constantemente o lembrava.
A princípio, achou que tinha feito bem em sair de seu devaneio, mas
então percebeu que tinha sido o painel de comunicação acendendo com um
sinal de entrada.
Orla e Cohmac trocaram olhares quando a voz falou:
— Monarca Cassel, em perigo, tentativa de abdução, sistemas
falhando...
O código do sinal confirmava que era a nave de Cassel. Orla respondeu
imediatamente:
— Os Jedi estão a caminho. Aguente!
Deveriam checar mais uma vez o sinal antes? Parecia um detalhe
pequeno, sobre o qual Cohmac não se demorou. Ele simplesmente guiou a
nave na direção do sinal.
— Então pelo menos um dos reféns fugiu. Isso torna nossa missão mais
fácil ou mais complicada?
— Acho que veremos. — respondeu Orla. Eles trocaram sorrisos.
Apesar de serem bem diferentes no temperamento, Cohmac sempre se
preservando enquanto Orla sempre avançava, eles eram amigáveis desde a
creche e estavam igualmente ansiosos para começar a missão de verdade.
Em poucos instantes, algum tipo de planetoide apareceu à distância, tão
pequeno e remoto que nem tinha nome. Cohmac digitou os vetores de
aproximação do transporte sem pensar duas vezes.
Então Mestra Laret correu para a ponte. Ela, assim como Mestre
Simmix, estivera profundamente em transe meditativo; Cohmac esperava
acordar os dois. Mas algo acordou e despertou Mestra Laret.
— O que está acontecendo? — perguntou ela.
— Monarca Cassel deve ter escapado. — respondeu Orla. — Temos um
sinal confirmado de sua nave...
— De sua nave. — Mestra Laret disse severamente. — Não do Monarca
Cassel.
Cohmac e Orla trocaram olhares incertos. Tarde demais. Cohmac sentiu
um arrepio na Força, a dissonância sinistra que significava que nem tudo
era o que parecia...
E então o espaço brilhou com luz e a nave balançou e torceu, não havia
mais para cima ou para baixo, nenhuma maneira de parar, nenhuma saída.
R eath não estaria nem um pouco preocupado se estivessem
presos em uma área no espaço da República. As Longbeams sempre
voavam estocados com combustível excedente e mantimentos para viagens
duas ou três vezes mais longas que o programado. Os excedentes eram
desnecessários, claro. O tráfego abundante no hiperespaço e um transceptor
subespacial significava que raramente estavam longe de uma possível nave
de resgate.
Na Fronteira, entretanto... Era possível ficar preso por longos períodos
de tempo. Talvez até permanentemente.
Então, o anúncio de Affie a princípio criou uma onda de alívio e
gratidão em Reath. Alguém precisava de ajuda. Eles poderiam ser capazes
de prover essa ajuda, o que daria um significado a esse desvio estranho.
Mas as palavras de Orla o fizeram parar, com a sua mão já na metade do
caminho para o interruptor do holo-transceptor. Ele não acreditou que
estava prestes a confiar na Fronteira.
Affie entendeu antes mesmo do aviso de Orla.
— E se forem piratas? E se forem os Nihil? E se forem apenas pessoas
desesperadas que nos atacariam por causa de comida? — questionou Affie.
— Desculpe. — disse Reath, desculpando-se pelo erro que quase
cometeu. — Não são riscos com os quais temos que lidar com muita
frequência na República.
Leox Gyasi contornou Orla e caminhou de volta para a ponte,
claramente tendo escutado a conversa toda.
— Essa é a primeira coisa boa que ouvi sobre nossa adesão à República.
— disse ele. — Estou reconsiderando as minhas reservas. Mas aqui ainda
não é a República, meu caro. Muito pelo contrário.
A voz de Mestra Jora ecoou na cabeça de Reath: Sempre que se sentir
um tolo, lembre-se de que na verdade essa é uma oportunidade de
aprendizado. Tolice mesmo é recusar essa oportunidade.
— Tudo bem. Piratas eu conheço. Mas os Nihil? Quem são eles? —
perguntou Reath.
— Boa pergunta. — respondeu Orla. Ela permaneceu parada e quieta na
porta, embora a tensão que Reath sentia dentro dela parecesse surgir de algo
diferente de sua situação atual.
Leox e Affie trocaram um olhar que, de alguma forma, parecia incluir
Geode, apesar da notável falta de olhos nele.
— Eles surgiram há alguns anos. — explicou Affie. — Quero dizer, eles
existem há mais tempo, mas recentemente se tornaram perigosos. Ninguém
sabe ao certo de onde são.
— Também não sabemos da índole deles. — acrescentou Leox. — Um
povo confuso. Mas temos certeza de três coisas: eles são invasores, são
brutais e não estão aí fora neste instante.
Foi a vez de Affie e Reath trocarem olhares.
— Como sabe que não são eles ali? — perguntou Reath.
— Porque ainda estamos vivos. — respondeu Leox, se sentando. —
Mas isso não significa que não podemos ter problemas. É o seguinte: você
chama o monge-chefe, ou o que quer que vocês sejam, e resolveremos
juntos. Para ver se vamos receber a ajuda ou se precisamos dar ajuda, ou se
devemos fugir bem rápido.
— Vamos chamar Cohmac. — disse Orla, já se virando para sair.
Reath correu para alcançá-la, pensando: A Mestra Jora não sabia de
nada disso, caso contrário ela nunca teria nos trazido aqui.

Assim que Reath e Orla saíram, Affie se virou para Leox e perguntou:
— Desde quando precisamos de Jedi pra nos ajudar a decidir o que é
perigoso e o que não é? Principalmente quando nunca ouviram falar dos
Nihil.
— Não precisamos deles pra isso. — respondeu Leox. — Mas nós três
precisamos ter uma conversa rápida sem alguém da República presente.
Affie entendeu na hora sobre o que ele estava falando. Ela se inclinou
enquanto Leox colocava um braço em volta de seus ombros e o outro em
volta de Geode.
— É o seguinte. É claro que não queremos que os nossos Jedi pensem
que estão a bordo de uma nave contendo carga que não é, no sentido mais
estrito, permitida na República.
— Nunca. — disse Affie com o rosto sério. — Isso nunca aconteceria.
Os Jedi não sabem de nada pra que pensem isso.
Leox acenou com a cabeça.
— É melhor continuarmos assim. É por isso que não importa quem
esteja lá fora, o que querem, ou quanto podem pagar, continuaremos nos
apresentando como uma nave totalmente aberta, uma nave de transporte de
carga que virou transporte de passageiros apenas pra essa viagem.
— Não importa quem suba a bordo ou onde queiram fazer a busca,
certos compartimentos devem continuar não existindo. — acrescentou
Affie.
— Exatamente. — Leox afastou os braços. — Lembrem-se, as nossas
percepções definem a realidade do universo. Uma coisa se torna real
quando os nossos pensamentos a faz real.
— Não estou pensando nos compartimentos. — disse Affie. — Aqueles
que não existem.
— A Scover vai ficar tão orgulhosa de você.
Leox sorriu pra ela. Affie poderia tê-lo abraçado. Não pelo elogio, mas
por supor que a mãe dela ainda estava viva.

É claro que não havia nenhum “monge-chefe” entre os Jedi presentes. No


entanto, Cohmac Vitus tinha a maior experiência de campo do grupo e
percebeu que Orla estava abalada. Em breve teriam que conversar sobre a
semelhança entre esta missão com a primeira que tiveram juntos, mas
haveria tempo pra isso mais tarde. O pedido de socorro exigiu a sua
atenção. Então voltou à ponte com Reath para ajudar a classificar os vários
sinais.
— Por que não tentamos o centro de comunicação? — disparou
Cohmac, sem nem um cumprimento. Leox Gyasi não parecia o tipo que
gostava de cerimônia.
— Primeiro, porque não vamos responder ainda. — respondeu Leox. —
Portanto só precisamos isolar e analisar os sinais agora. E segundo, porque
podemos fazer uma análise muito melhor da origem de cada sinal daqui de
cima.
— Inteligente. — disse Cohmac com aprovação. É raro encontrar um
piloto autônomo que opere racionalmente, mesmo que se pareça e fale
como Leox. Como era bom ter um problema que exigia soluções concretas,
que exigia que ele procurasse respostas além da nave, em vez de olhar para
dentro de si. — Quantos sinais estamos recebendo no setor imediato?
— Parece que... onze. — respondeu Affie, gesticulando para vários
pontos vermelhos piscando em uma grade verde. — Destes onze sinais, seis
são de naves de cargas, não muito diferentes da nossa, exceto que nenhum é
registrado em alguma Guilda. Outros dois são naves de passageiros, um
com tamanho de um skiff de cinco pessoas e outro... — Affie deu um
assovio. — Com pelo menos uns duzentos a bordo.
Muitas pessoas precisavam de ajuda, então. Possivelmente muito em
breve. Cohmac se sentiu reenergizado com um propósito. Ele já estava
ansioso para fazer qualquer coisa de útil; parece que será requisitado antes
do que esperava. A missão dos Jedi na Fronteira começaria com
misericórdia e força. Mas antes de tudo...
— E quanto aos outros sinais?
— E aquele ali? — perguntou Reath, apontando por cima do ombro de
Affie. — O maior. Algumas leituras... Isso são níveis elevados de radiação,
certo?
Leox acenou com a cabeça, mas a sua falta de preocupação era tão
grande que quase funcionou como um calmante.
— Parece uma nave Mizi. Os Mizi não são tão suscetíveis à radiação
quanto a maioria das espécies sencientes, então eles transportam cargas que
muitas outras naves não conseguem. E aquela ali... — Leox apontou para o
penúltimo ponto na tela. — Parece uma nave Orincana, o que é uma
péssima notícia. A feiura exterior deles é perfeitamente compatível com a
feiura interior. Odeio desprezar uma espécie inteira, mas se existe algum
orincano cheio de inteligência, charme e bondade, eu ainda não o conheci.
— E a última nave? — perguntou Cohmac.
— É essa que me incomoda. — Leox deu um zoom até as
especificações da nave distante ficarem claras. — A menor de todas. Ela
que enviou o sinal que interceptamos. Mas não entendo ela.
Cohmac percebeu o motivo da confusão: motores de um pod de corrida,
revestimento de uma nave de transporte, um poderoso escâner quase
semelhante ao de uma nave de pesquisa e ainda assim alguns dos
componentes são fracos.
— Pelas leituras é uma nave velha. — disse Affie. — Então eles
aprimoraram alguns sistemas, mas ignoraram outros até que estivessem
quase desmoronando. O que é estranho, certo?
— Sim. Mas parece ser uma exceção. — Cohmac considerou as
possibilidades. Nenhum armamento apareceu nas leituras. Armas podem ser
camufladas com certas blindagens. No entanto, os motores não pareciam
potentes o suficiente para suportar esse tipo de camuflagem. Ele pensou nas
possibilidades e decidiu: — Vamos contatá-los diretamente.
— Mas se eles forem piratas... — Affie começou a falar, mas parou
quando Leox balançou a cabeça.
— Você viu os escâneres deles. Eles sabem que estamos aqui. Sabem
que estamos próximos. Se quisessem atacar, eles já teriam. Até agora não
atacaram. Vale a pena arriscar. Quer fazer a ligação, Padawan?
Levou um tempo pra cair a ficha de Reath. Cohmac interrompeu:
— Hã, é Padawan, na verdade. Mas posso fazer a ligação. — Cohmac
se aproximou dos comunicadores e girou o botão. — Esta é a embarcação...
Embarcação. Qual é a sua designação? Pode transmitir um sinal visual?
Câmbio.
A tela chiou e depois surgiu a imagem de uma garota jovem, até mesmo
mais jovem que Reath Silas e Affie Hollow, embora Cohmac achasse que
era apenas um ano de diferença, mais ou menos. O cabelo escuro e brilhante
dela estava puxado para trás em um rabo elegante e as suas bochechas
arredondadas coraram quando sorriu.
— Oh, graças a Deus! Estávamos com tanto medo de que vocês fossem
piratas. Mas vocês não parecem piratas. Espere. Vocês são piratas?
Reath também estava sorrindo, assim como a maioria das pessoas na
ponte.
— Não somos piratas. Somos viajantes com destino ao Farol Estelar,
mas ficamos presos aqui. — respondeu ele.
— Pelo menos não somos os únicos. Me chamo Nan. Somos apenas eu e
o meu guardião aqui e não temos muita coisa.
— Alguns de nós são Jedi, incluindo Reath e eu, jurados proteger e
defender os povos da República. — interrompeu Cohmac.
Na verdade, protegiam todos os povos, mas queria que entendessem o
bem que a República poderia trazer para a vidas deles.
— Logo entraremos em contato com todas as naves, trabalharemos na
organização juntos. Compartilhar recursos será a melhor forma de
sobreviver a esta crise. — Nan sorriu. Talvez os Jedi tenham acabado de
fazer a primeira amizade no setor. — Aguente aí. Entraremos em contato
em breve.
Ela assentiu e o sinal visual desapareceu.
Nenhum ataque pirata era iminente. No entanto, uma estranha sensação
tomou Cohmac. Uma sensação quase inconsciente de que algo importante
permanecia desconhecido.
— Capitão Gyasi, consegue expandir os perímetros do escâner? —
perguntou ele.
Leox acenou com a cabeça.
— Contanto que saiba que conforme aumentamos alcance, perdemos
clareza. Como acontece com as coisas na vida.
— Uma troca aceitável. — Cohmac aproximou-se para analisar
qualquer fragmento de informação que pudesse receber.
Em vez de fragmentos, a tela de repente se encheu de informações. Os
olhos de Leox se arregalaram enquanto ele aproximava a tela.
— Opa, opa, o que droga é tudo isso?
— Uma estação espacial? — perguntou Reath, mais rápido do que
Cohmac pudesse pensar. — Mas está longe de tudo e os níveis de energia
estão baixos...
— Parece que não há ninguém a bordo. — disse Affie, enquanto olhava
para as leituras. — Mas a esta distância não dá para ter certeza.
— Não ouvimos nada da estação, apesar da chegada inesperada de onze
naves neste sistema. — disse Cohmac. — As leituras de energia estão bem
baixas. A conclusão mais provável é que a estação está abandonada.
— Abandonada? — perguntou Reath. — Por quê? Simplesmente foi
abandonada? Ou se tornou perigosa por algum motivo?
Cohmac encolheu os ombros.
— Talvez. Ou pode ser que esta área já tenha sido uma rota de
navegação movimentada e agora não é mais. Ou pode simplesmente ter
ficado velha. Independentemente disso, devemos investigar.
— Concordo. — disse Leox. — Precisamos investigar logo. Tipo,
urgente. As outras naves da região deveriam fazer o mesmo. Porque a
estrela local não está feliz.
Uma rápida varredura mostrou o perigo: a estrela daquele sistema vazio
era volátil. Ainda não estava pronta para se tornar uma supernova, mas
começando os milênios finais que levariam ao cataclismo. Com isso estaria
sujeita a explosões solares de escala e intensidade perigosas. As leituras
indicaram que estava prestes a ter uma explosão, enviando plumas de
matéria superaquecida de um milhão de quilômetros de comprimento.
Quando isso acontecesse, o que aconteceria dentro de um dia, se não dentro
de horas, seria um massacre total.
— Temos que colocar a estação espacial entre nossas naves e a estrela.
— disse Cohmac. — Obviamente a estação possui blindagem que permite a
sua permanência neste sistema. Se nos ancorarmos no outro lado, temos
uma chance.
Leox acenou com a cabeça.
— Enviando o alerta agora.
Graças à Força por problemas com soluções simples, pensou Cohmac.
Eles permitiram a ilusão de que o universo poderia ser controlado. Uma
ilusão que todos precisavam de vez em quando.

Pela primeira vez desde que a Mestra Jora o havia contado sobre a missão
no Farol Estelar, Reath estava animado. Uma estação espacial abandonada
parecia propensa a oferecer aventuras sem insetos e algumas histórias para
contar a seus amigos quando ele os visse novamente.
Mas Reath não iria pensar nisso ainda. Finalmente poderia voltar a viver
no momento presente, como um Jedi deveria. Já fazia muito tempo.
O seu fascínio aumentava a cada segundo que viajavam para mais perto
da estação. O projeto da estação era um que nunca tinha visto antes: o
centro era uma grande esfera feita de placas hexagonais de algum material
transparente. Anéis pesados de metal agrupados em cordas quadradas em
seus polos, com outro anel de metal estendendo-se ao redor de seu equador
celeste, que ele estimou em cerca de quinhentos metros de diâmetro. Uma
câmara de descompressão fazia parte da própria esfera, mas era inutilizável,
principalmente porque era enorme e de formato altamente irregular,
construída para receber algum tipo de nave que nenhum deles já viram
antes, talvez porque tivesse deixado de existir. A teoria do Mestre Cohmac
sobre o abandono da estação parecia ser precisa, porque os sinais de danos e
desgaste eram aparentes: painéis ausentes e um pequeno pedaço de um anel
quebrado. No entanto, o núcleo deve ter permanecido forte, porque ainda
havia uma luz a qual brilhava no globo central transparente. As leituras
confirmaram isso conforme a Embarcação se aproximava.
— Gravidade, confere. — disse Affie. — Sistemas de suporte de vida,
confere. A atmosfera é uma mistura de oxigênio e hidrogênio, então
podemos embarcar se quisermos.
Reath queria.
— Há quanto tempo você acha que esse lugar está abandonado?
Décadas? Séculos? — perguntou ele.
— Mais pra milênios, a julgar pela tecnologia. — respondeu Leox,
apertando os olhos enquanto analisava a estação. — Isso parece... familiar,
mas não consigo entender o por quê.
— Os Amaxines. — A animação percorreu Reath ao reconhecer,
colocando um sorriso em seu rosto conforme identificava as formas curvas
e padrões familiares do metal. — Isso é tecnologia Amaxine!
— Amaxine? — Affie torceu o nariz. — Quem são eles?
Reath amava uma oportunidade de explicar algo.
— Eles eram guerreiros antigos, de muito tempo atrás, antes mesmo de
existir a República. A sua ferocidade em batalha era supostamente
incomparável. Existem várias lendas sobre como os seus espiões apareciam
do nada, sinalizando para as tropas onde atacar.
— O que aconteceu com eles? — perguntou Affie.
— Aparentemente, quando a República unificou grande parte da
galáxia, os Amaxines não estavam dispostos a aceitar a paz. Então eles
deixaram a galáxia e voaram para o espaço vazio, em busca de outra grande
guerra para lutar. — O que não fazia muito sentido, na opinião de Reath,
mas ele não perdeu tempo julgando uma pessoa que morreu há milhares de
anos. Além disso, a pura emoção deste momento, ver algo que antes tinha
sido apenas mito e lenda de repente ganhar vida, ofuscou todo o resto.
— Agora que você mencionou, acho que já ouvi algumas histórias sobre
os Amaxines, sobre como eles sumiram há muito tempo. — disse Leox
lentamente. — Mas pessoas estiveram aqui bem mais recentemente do que
isso.
— Como você sabe? — perguntou Affie, franzindo a testa. Reath gostou
que ela perguntou, pois significava que ele não precisaria perguntar.
— Coordenadas pré-programadas. — Leox bateu no painel. — Este
sistema estava em nosso computador de navegação. Não sei por que, nem
Geode, nem você. E é por isso que quero que pergunte à sua mãe sobre isso
assim que voltarmos. Você é a única que pode obter uma resposta direta
sobre por que as naves da Guilda Byne vêm programadas com um mapa
que nos leva para fora do hiperespaço, direto pra cá.
Reath virou a cabeça, como se estudasse as leituras mais
profundamente, então ele não conseguia ver o rosto de Affie. A explicação
era óbvia: algum tipo de comércio ilegal, talvez algo que a Guilda fizesse à
parte. Não seria fácil para Affie ouvir isso, com certeza.
Mas havia outras possibilidades. A Guilda poderia monitorar o
comércio ilegal em vez de se envolver nele, ou até mesmo trabalhar contra
ele, com intuito de eliminar a concorrência corrupta. Eles não tinham
informações suficientes pra saber.
Para Reath, informação sempre foi tão vital quanto ar, algo que ele
sentia que nunca poderia acumular o suficiente. No entanto, ele estava
percebendo que não saber tudo criava uma certa... satisfação.
O que provavelmente seria curta. E não foi tão boa quanto estar
informado e preparado. Mesmo assim, ele aceitaria todo o prazer que
pudesse conseguir.
Uma luz vermelha apareceu no console da Embarcação. Então outro.
Em seguida, todos eles quase ao mesmo tempo, brilhando no tom escarlate.
Todos os avisos de alerta da nave estavam soando.
— Uh-oh. — disse Leox. Sua calma de costume finalmente foi abalada.
— Tem uma explosão solar chegando.
Reath olhou na direção aproximada da estrela, mas não era visível
naquele ângulo.
— Quanto tempo?
O rosto de Affie ficou pálido.
— Quatro minutos.
G eralmente um aprendiz deve esperar a aprovação de
um Mestre antes de realizar qualquer ação dramática.
Mas a situação em que se encontravam era diferente.
Reath se dirigiu para os comunicadores.
— Todas as naves! Aproximem-se da estação para ancoragem imediata.
Vocês têm quatro minutos para entrarem no lado seguro da estação, longe
da estrela. Enviaremos ordens de embarque em breve, depois de
verificarmos a estação. Só vão para lá agora!
As coordenadas surgiram no painel de Leox e ele assentiu.
— Obrigado, Geode. Avançando.
A nave se deslocou tão rápido que a gravidade não teve tempo de
compensar e Reath foi jogado para o outro lado da ponte. Aparentemente, o
Jedi mais velho também foi pego desprevenido, a julgar pelos baques e
gemidos que ouviu de dentro da cabine principal.
Em segundos, as outras naves apareceram, todas se dirigindo para a
única parte em segurança atrás da estação. Até que uma nave, a menor
delas, diminuiu a velocidade.
— É a nave da Nan, certo? — Quando Affie concordou, Reath assumiu
os comunicadores de novo. — Nan, vocês precisam se apressar.
— Nosso motor pifou! Precisamos de reparos e não há tempo.
Reath virou para Leox.
— A Embarcação possui raio trator?
— Negativo. — Leox estava com um olhar pensativo. — O que temos é
um cabo de reboque.
— Aponte para a nave de Nan. — disse Reath.
Affie olhou para Reath e ele percebeu que, embora os Jedi estivessem
prontos para arriscar as suas vidas por outros, civis não eram tão
comprometidos assim. Nem era justo esperar isso deles. As pessoas têm o
direito de proteger a sua própria sobrevivência. Porém antes que pudesse
falar, Affie já havia girado o botão para lançar o cabo de reboque e Leox
virou bruscamente em direção à nave de Nan.
Mais baques soaram na parte de trás e Orla Jareni apareceu apressada na
porta, apoiando-se no batente.
— O que droga está acontecendo?
— Estamos fugindo de uma explosão solar. — respondeu Reath. —
Outra nave precisa de ajuda para chegar aqui onde é seguro.
— Entendi. — Orla mudou o humor instantaneamente. — O que posso
fazer?
— A radiação solar está prestes a absorver todo o sistema. — respondeu
Leox. — Pra todos, exceto para os Mizi, essa estação é o único lugar seguro
pra se estar. Portanto, precisamos de exotrajes prontos.
— E de uma ordem de embarque para as naves, então nem todo mundo
está tentando engatar uma câmara de descompressão de uma vez. —
interrompeu Affie.
Imediatamente Orla começou a agir. Reath só podia esperar e observar
enquanto se aproximavam da pequenina nave pertencente a Nan e do seu
guardião. Parecia ainda mais descuidada de perto, obviamente cheia de
fragmentos retirados de outra nave. Como um projeto de artesanato em dias
chuvosos para Ugnaughts, Reath pensou, mas logo retirou o que disse em
seus pensamentos. Essas pessoas estavam fazendo o melhor que podiam
com o que tinham. Eles mereciam respeito por sua engenhosidade.
— A que distância temos que estar para lançar o cabo? — perguntou
ele.
— Não muito perto. — respondeu Leox, provando o que disse ao
disparar o cabo. O cabo avançou através do espaço vazio antes de colidir
com o casco da nave de Nan. Com um brilho de energia, a garra
eletromagnética entrou em ação. — Beleza. Agora só temos que chegar à
estação antes de sermos incinerados em átomos.
Reath tentou não demonstrar a sua reação, mas não deve ter feito um
bom trabalho, porque Affie disse:
— Não assuste os passageiros.
— Só temos 45 segundos. — disse Leox e o queixo de Affie caiu.
Aparentemente, a situação era tão assustadora quanto Reath pensava.
Mas Leox (e, possivelmente, o Geode?) os levou para a curva da estação
esférica dois segundos antes de o espaço se encher de um flash de luz
branca brilhante. Reath cobriu os olhos com o braço e ainda assim ficou
cego por um momento.
Quando conseguiu enxergar novamente, ele disse:
— Isso significa que conseguimos, certo?
Leox colocou as mãos atrás da cabeça.
— Sou bom ou não sou?

Antes que alguém pudesse embarcar na estação, um grupo de desembarque


precisava se certificar de que o interior estava seguro. Dez pediu para
liderar o caminho; Affie concordou em ir em nome da tripulação da
Embarcação.
Reath prontamente se ofereceu, embora tivesse perguntas.
— Não deveríamos escanear novamente antes? Pode haver algo aqui
que não entendemos. Riscos que ainda nem imaginamos.
— É por isso que chamam de aventura. — Dez já estava checando as
configurações de seu equipamento de pulso, andando perto da câmara de
descompressão. — Já checamos a atmosfera, então sabemos que podemos
respirar. Qualquer outra coisa, cuidaremos dela conforme a encontramos.
Enquanto Leox manobrava cuidadosamente a Embarcação para a
posição de atracação no anel central, Reath perguntou a Affie:
— Você explorou muitos lugares antigos e abandonados? Existem mais
coisas dessas por aí?
— Minha primeira vez. — disse ela alegremente, como se não houvesse
chance deles morrerem.
Talvez isso seja verdade. Veja desta forma, ele disse a si mesmo. Está
fazendo pesquisas com fontes primárias. Obtendo as informações direto da
fonte para compartilhar com outras pessoas mais tarde. Isso o ajudou,
pensar que a última fase dessa missão seria simplesmente anotar tudo.
A câmara de descompressão se abriu. A luz entrou, quase cegando a
princípio, e, por um momento, Reath temeu outra explosão solar. Os seus
olhos devem ter se ajustado à luz mais lentamente do que os de Dez, porque
Dez sussurrou:
— Olha só isso.
Um instante depois Reath também conseguiu ver: um túnel que
conduzia do anel utilitário e quadrado ao globo central da própria estação.
Enquanto os três caminhavam pelo túnel, ele percebeu que era transparente,
criando a ilusão de que estavam suspensos na escuridão do espaço. Ele
nunca passou por nada parecido, passeando pelo mar de estrelas. Vertigem o
alcançou por um momento, mas logo desapareceu pelo puro fascínio. Reath
ficou atraído pela vista espetacular ao seu redor e pelo que viu à frente: uma
abundância verdejante.
Eles emergiram no globo central, que incluía cabines e quiosques em
várias camadas de passarelas. Devem ter sido lojas, laboratórios, todos
abertos para a esfera de vidro que formava o corpo da estação, todos
cobertos por trepadeiras.
E samambaias. E musgo. Até algumas árvores. Plantas transbordavam
em cada viga, subiam em toda parede. Reath viu mais natureza ali do que
em um ano em Coruscant.
— Como... — Reath murmurou conforme saíam, com galhos sendo
esmagados sob os seus pés. — Como isso é possível?
Dez gesticulou em direção à luz resplandecente do núcleo, apontando
para um pequeno conjunto de bancos de energia hexagonais
supercarregados, suspensos em campos de energia. — Geração própria de
luz e calor abastecendo a estação. As plantas cuidaram do resto sozinhas.
— É lindo. — disse Affie, caminhando pra frente com o rosto voltado
pra luz.
Reath não podia discordar. Em vez de algo ameaçador e diabólico, ele
entrou em um jardim orbital.
— Aposto que a estação tinha um jardim botânico. — disse ele,
refletindo enquanto caminhavam. — Pra fornecer oxigênio e comida e
ajudar os viajantes a relaxar, essas coisas, e depois que a estação foi
abandonada as plantas assumiram o controle.
— Concordo. — disse Dez. Em seguida, ele respirou fundo e sorriu. O
ar não era só respirável, como também tinha um cheiro maravilhoso, fresco
e doce. — Olhe ali. Parece que as plantas tiveram ajuda.
Seguindo o dedo de Dez, Reath observou um movimento dentro da
vegetação. Um pequeno droide apareceu, um modelo antigo de jardinagem
8-T, parecia que a “cabeça” de um astromecânico havia se soltado por conta
própria. Os finos instrumentos de metal que se projetavam de um de seus
painéis pareciam ocupados polinizando algumas flores em forma de sino em
tons de laranja e violeta. Outro 8-T apareceu, mais perto deles, ocupado
com a mesma tarefa. Eles não deram atenção aos intrusos; a programação
deles tratava apenas de cuidar das plantas. Parece que os droides haviam
feito o seu trabalho admiravelmente.
— Vamos fazer um levantamento botânico? — perguntou Reath. —
Catalogar todas as formas de vida aqui para descobrir se alguma é
desconhecida no momento?
— É... Isso é trabalho pra droide. — respondeu Dez. — E não parece
ser tão urgente. Pessoalmente, gostaria de dar uma olhada nas outras coisas
que abandonaram aqui... Começando por aquilo.
Ele gesticulou em direção a um pedaço de folhagem particularmente
espesso, revelando uma forma que quase passou desapercebida atrás deles:
uma estátua de alguém, humano ou pelo menos humanoide, esculpida em
algum tipo de pedra e enfeitada com alguma coisa de ouro opaco que
refletia a luz. A figura vagamente feminina usava um cocar entalhado com
vidros coloridos ou joias e mantinha os braços cruzados sobre o peito. Não
se parecia com nenhuma divindade mitológica ou herói folclórico que Reath
conhecesse, mas sentiu uma emoção mesmo assim. Esta era uma porta de
entrada para a história, para as lendas.
Mas por trás dessa emoção havia um arrepio. Uma sombra.
Encarando a estátua, ele perguntou:
— Você sente isso?
— Sim. — respondeu Dez. Com a sua voz ficou mais pensativa. — A
sombra. Talvez seja nada.
Ou talvez seja algo, Reath não conseguiu deixar de pensar.

Affie Hollow não entendeu que a “sombra” Dez e Reath estavam falando (o
que não fazia sentido, já que estavam envolvidos por luz) e nem se
importava. Qualquer que fosse o misticismo que esses monges-bruxos
propagavam, era pouquíssimo interessante para ela. A estação, entretanto,
era fascinante.
Não por causa das antiguidades que os Jedi estavam bajulando.
Mas por causa de objetos muito mais recentes do que isso.
Os olhos penetrantes de Affie avistaram primeiro a chave inglesa,
depois uma anx. Um punhado de ferramentas de viajantes do espaço
espalhadas em um canto, obviamente abandonadas há tempos, mas não
tanto tempo a ponto de crescer plantas sobre elas. O musgo abaixo deles
ainda parecia verde e saudável, então havia gente por lá há alguns meses.
Talvez uns 2 anos? Ela não era uma especialista em musgo. Talvez Geode
soubesse. No entanto, tinha certeza de que não fazia muito tempo que
outros viajantes haviam passado pela estação.
Provavelmente alguns deles foram pilotos da Guilda Byne. Por qual
motivo as coordenadas deste sistema estariam pré-programadas no
computador da Embarcação? Absolutamente nada era mais interessante do
que isso. Mesmo para os padrões de espaço aberto, essa área era desolada.
Então essa estação deve ter sido de alguma utilidade para a Guilda, em
algum momento, ou não seria um dos lugares marcados em seu computador
de navegação.
Centenas de lugares, ela se lembrou. Talvez até milhares. Nunca
contamos todos eles. E pra quê? Alguns desses dados devem ser antigos,
fora de uso. Obsoleta a forma como a Guilda funciona hoje. Scover
construiu tudo a partir de computadores de navegação preexistentes,
quando estava criando a Guilda.
Então se lembrou que Scover naquele momento poderia estar morta ou
ferida por causa de um desastre muito maior do que qualquer coisa que já
haviam encontrado antes e o seu coração doeu novamente. Para os Jedi,
esse desastre era de grande preocupação, mas abstrato; pra ela, era
intensamente pessoal. Lembrar-se de como a sua mãe adotiva havia
trabalhado duro para construir a sua frota de naves deixou Affie ainda mais
esperançosa de que Scover tivesse sobrevivido. Ela merecia viver, colher os
benefícios de todo aquele esforço.
Mas os outros mortos no desastre provavelmente também mereciam
viver. O acaso era muito cruel para prestar atenção ao que as pessoas
mereciam.
Dez estava estudando a inscrição na estátua de arenito.
— Consegue ler? — perguntou Reath.
— Não, não está escrito em Aurebesh e os agrupamentos de glifos não
se parecem com o Básico. Mas também não é completamente desconhecido.
Isso me lembra algumas línguas antigas que estudamos. Um estudioso de
verdade deve ser capaz de traduzir. Felizmente temos um a bordo.
Affie se perguntou se deveria mencionar as ferramentas ou não. Os Jedi
não pareciam se importar com quem poderia ter usado a estação
recentemente, então decidiu que manteria essa informação para si mesma
por enquanto. Quando tivesse a chance de falar com Leox ou Geode
sozinha, eles poderiam discutir isso e decidir o que os Jedi precisavam e o
que não precisavam saber.

Quando Cohmac deu uma boa olhada pela primeira vez na pequena nave
que se aproximava deles com um décimo de potência, ele sentiu um
momento de empatia, quase ternura. Ela tinha sido literalmente remendada
de pelo menos outras quatro ou cinco naves, com nenhuma delas sequer
parecidas no design. Que pobreza deve ter inspirado isso? Pelo menos a
necessidade desesperada foi correspondida com inovação determinada.
Onde a maioria se considerava presa e sem possibilidade de sair do planeta,
essas pessoas encontraram uma maneira própria de viajar entre as estrelas.
Assim que tiveram a confirmação de que todas as espécies a bordo
podiam respirar dentro da estação, Cohmac indicou que a nave maltrapilha
poderia atracar na câmara de descompressão mais próxima e saiu para
recebê-los, com Orla ao seu lado. O trio de exploração inicial voltou a ficar
ao lado deles quando a segunda câmara de descompressão se abriu.
— Ah, olhe. — sussurrou Nan enquanto caminhava para frente. Ela era
ainda menor do que se parecia na tela, uma garota com, no máximo, um
metro e meio de altura, usando um vestido surrado, mas colorido. O seu
cabelo escuro estava vividamente pintado com mechas azuis, um toque de
vigor e vida. — É igual o meu terrário, mas grande o suficiente para se
conseguir entrar dentro!
— Sim, igual ao seu terrário. — disse o Zabrak idoso mancando atrás
dela, rindo. As roupas dele combinavam com as dela e a sua bengala tinha
incontáveis marcas esculpidas como um registro de alguma medida de uma
vida que Cohmac dificilmente poderia imaginar. — Olá. Eu sou Hague e,
aparentemente, você conheceu a minha pupila Nan.
— Cohmac Vitus, Cavaleiro Jedi. — Ele estendeu a mão para
cumprimentá-lo, um costume que felizmente parecia tão comum na
Fronteira quanto era em casa. — Bem-vindos. Deixe-me apresentar os meus
compatriotas: Dez Rydan, Orla Jareni, Reath Silas e Affie Hollow.
Esperamos transformar esta estação em um lugar de refúgio para aqueles
presos pela interdição do hiperespaço.
— Vocês estão no comando, hein? Bom, bom. Não me importo em dizer
que estamos gratos em vê-los. Quase não havia mantimento a bordo pra
durar mais três dias. Eu não preciso de muito, mas a pequenina...
— Acredito que os transportes maiores oferecerão alimento pra todos
nós. — disse Cohmac. Assumindo que estejam dispostos a compartilhar e
que as vias do hiperespaço não fiquem interditadas por muito tempo. Não
adianta preocupar essas pessoas com isso... — Por enquanto, se
acomodem.
Orla cumprimentou-os com um aceno de cabeça, mas passou por
Cohmac e voltou para a Embarcação por motivos próprios. Os viajantes
não se ofenderam com a sua partida. Nan, em particular, parecia encantada
por ter encontrado pessoas de sua idade.
Cohmac não conhecia a expectativa de vida dos Zabraks, mas Hague
tinha, no mínimo, muitas décadas de idade. Intercalando o olhar entre Reath
e Affie, Nan perguntou:
— Vocês dois são Cavaleiros Jedi também?
Affie fez um som que Cohmac decidiu não interpretar como grosseria.
— Até parece. Sou a copiloto da Embarcação.
— Eu vou ser Cavaleiro Jedi um dia. — disse Reath. — Mas por
enquanto ainda sou um Padawan. Um estudante nos Caminhos da Força.
Nan se animou.
— Ouvi as histórias sobre os Jedi. Pode me falar mais sobre a sua
Ordem? Como vocês aprendem a fazer as coisas que fazem?
A curiosidade sobre os Jedi era grande na região da Fronteira, de
maneiras boas e ruins. Cohmac esperava que causassem uma boa impressão
a partir deste momento. No entanto, suspeitava que o interesse de Nan tinha
tanto a ver com o rosto bonito de Reath quanto com os Jedi. Provavelmente
até mais.
Assim como os Jedi mais velhos sempre faziam ao observar tais
interações entre os mais jovens e pessoas fora da Ordem, Cohmac pensou:
Temo que alguém terá que dizer a ela que os Jedi não...
Bom. Que Reath lide com isso quando e se o assunto surgir.
Orla veio para o seu lado.
— Escute, sei que você tem muito em que pensar no momento. Liderar
o grupo, organizar os refugiados conforme vêm a bordo...
— O que quer dizer com isso? — perguntou Cohmac.
Orla arqueou uma sobrancelha com tanta força que quase foi parar no
cabelo.
— O que eu quero dizer é: você pode distribuir as suas outras funções,
já que não pode distribuir a função de reconhecimento de artefatos antigos.
Dez observou que este lugar está repleto de tecnologia antiga e estátuas
ainda mais antigas. Com inscrições. Em línguas desconhecidas. — Orla
pronunciou tudo na mesma entonação de voz que poderia ter usado para
falar sobre o Neutrino Angler a um fã de corridas no hangar ao lado ou para
descrever doces de Natal para uma criança animada.
Embora Cohmac geralmente fosse mais moderado em seus
entusiasmos... Orla conseguiu chamar a sua atenção.
— Línguas totalmente desconhecidas?
— Pelo menos uma delas fez Dez se lembrar um pouco de
Alderaaneano Antigo. Mas pode estar errado. Os olhos de um especialista
veriam muito mais.
— Então deixo Dez e Reath lidar com o embarque da estação agora. —
Ele colocou a mão no ombro de Orla. — Mostre o caminho.
Após vários passos, Orla disse, mais baixo:
— No começo fiquei abalada. Um acidente nesta área do espaço, uma
nave que não conhecíamos bem...
— Também pensei nisso. — disse Cohmac. Este era um capítulo de seu
passado que raramente pensava. A semelhança entre esta missão e a
primeira missão que ele e Orla tiveram juntos era algo que esperava colocar
de lado e ignorá-la durante o período desse desastre.
Aparentemente, Orla não pretendia deixar que ele se esquecesse disso.
Ele não deveria ter esperado menos. Cohmac praticamente conseguia ver as
palavras pairando nos lábios dela. No entanto, antes que pudesse se
aprofundar no assunto, ela parou e perguntou:
— Você sente isso? A sombra? O frio? Reath e Dez também sentiram.
— É a escuridão. — respondeu Cohmac. — Também senti. Alguma
coisa nesta estação está ligada ao lado sombrio.
A lgumas pessoas ficaram boquiabertas com os Jedi,
sendo incapazes de se conectar com eles; outros poderiam ser hostis,
com medo do que não conheciam, com medo do poder que não poderiam
possuir. Como ficava abrigado dentro do Templo, Reath muitas vezes não
tinha certeza de como quebrar o gelo e se conectar, bem, com as pessoas
comuns.
Com Nan não havia gelo a ser quebrado.
— Os Jedi são soldados? Jurados à República? — Ela olhou para baixo
timidamente enquanto permaneciam sob a copa de folhas que protegia as
docas da estação. — Ou vocês lutam apenas por si mesmos?
Reath balançou a cabeça.
— Nem um nem outro. Quer dizer, nós defendemos a República, mas
trabalhamos com eles. Não para eles. E isso não é tudo o que fazemos.
Tentamos ajudar e proteger todos os necessitados quando podemos.
Isso não fazia muito sentido para Nan.
— Vocês aceitam pagamento? — questionou ela.
— Não somos mercenários. — Ele teve que rir. — É tão difícil imaginar
que um grupo de pessoas tente fazer a coisa certa só porque é a coisa certa?
— É por aí. — respondeu ela, com uma expressão sombria. Apesar de
sua idade, Nan evidentemente presenciou coisas terríveis. — O que é isso
em seu cinto? É a espada da qual ouvimos falar? O sabre de fogo?
Ele sorriu.
— É chamado de sabre de luz. E sim, este aqui é meu.
— Pode acender? — perguntou Nan, com a ansiedade brilhando em
seus olhos escuros.
— Não, a menos que eu tenha um bom motivo.(Não era proibido, mas
se fizesse isso chamaria muita atenção. Mestre Cohmac poderia até pensar
que estavam flertando. Na verdade, Reath pensou que Nan provavelmente
estava flertando, mas ele estava apenas explicando.)
— Por favor. — A expressão de Nan poderia ter derretido até gelo. —
Adoraria saber como funciona.
Antes que Reath pudesse descobrir o quão vulnerável ele estava com a
expressão no rosto dela, a voz de Leox soou pelo comunicador:
— As últimas naves estão desembarcando todos os passageiros na
estação. Estão prontos aí?
— Com certeza. — respondeu Reath. O momento foi quebrado. Ele
poderia se concentrar em seu dever novamente. — Vamos, Nan. Vamos
cumprimentar os convidados.
Ela fez uma careta.
— Os Mizi? Os Orincanos? Pode chamá-los do que quiser... Mas eles
não vão agir como convidados.
— Como vão agir? — perguntou Reath.
Nan estava com um sorriso malicioso.
— Espere e veja.

Ainda bem que as articulações de reforço seguraram esta estação, pensou


Affie Hollow enquanto caminhava ao longo da passarela, através de um
emaranhado de trepadeiras. Caso contrário, essa coisa teria implodido e
quem sabe onde iríamos parar?
(Iriam parar em algum outro lugar pré-programado no computador. Em
algum outro lugar que Scover baixou, sem saber quais armadilhas poderiam
ter sido armadas pra ela nos antigos computadores de navegação.)
Affie escolheu subir, ao longo da solitária passarela espiral que
percorria o globo central da estação Amaxine, levando aos anéis superiores.
De onde estava, conseguia examinar a estrutura quase toda. Anel externo:
vários arcos de metal separando os vários segmentos, cada um com uma
câmara de descompressão própria. Esfera central: diversos compartimentos
montados ao longo da passarela, mas fora isso era um jardim botânico
completo. (Ela concordaria que a estação sempre foi planejada para ser um
jardim botânico, se não fosse pelo fato de que foram os Amaxines quem a
construíram. As lendas sugeriam que eles não eram do tipo “jardineiros
tranquilos”. Através das placas transparentes, ela podia ver algumas das
outras naves chegando para atracar.)
Colocaram a nave Orincana perto da nave Mizi? Ah, isso vai ser uma
confusão enorme. Esses Jedi podem ser monges-feiticeiros brilhantes, mas
também estavam completamente desinformados sobre esta parte da galáxia,
principalmente sobre quais espécies daqui se odiavam. Ao passar por uma
grande e irregular câmara de descompressão na esfera, Affie se sentiu
tentada a voltar para a ponte para ajudar Leox e Geode a resolver as
confusões que ocorreriam e testemunhar as expressões de choque nos rostos
dos Jedi.
(Ela não desgostava das pessoas da República, na verdade, mas era bem
óbvio o quanto pensavam que eram eles que traziam sabedoria e
conhecimento. Já era hora de aprenderem mais.)
Mas embora muitas das naves fossem tripuladas por seres que se
odiavam, nenhum deles pareciam dispostos a fazer guerra. Iria ser uma
confusão, não um desastre.
Provavelmente.
Então isso significava que Affie estava livre para explorar por conta
própria.
Anéis inferiores? Ela ainda não os conhecia. Anéis superiores?
Affie olhou pra cima. Ela se encontrava a poucos metros do túnel que a
levaria pra cima e pra fora. É hora de descobrir o que mais essa estação tem
a oferecer.
De um corredor, ouviu Orla Jareni e Cohmac Vitus dizendo algo
indistinto. Sem dúvida era sobre as antiguidades que pareciam praticamente
sujar o convés. Eles iriam ficar distraídos com isso por um tempo e não
prestariam atenção para onde Affie iria ou o que estaria fazendo. Isto era o
ideal
Ela afastou uma cortina de trepadeiras e entrou no túnel que levava pra
cima. A gravidade se ajustava à medida que avançava, uma modificação
incomum e engenhosa. Aparentemente, todos aqueles mecanismos dessa
estação antiga permaneceram em perfeito funcionamento. Affie não tinha
intenção de tocar em nada lá dentro, pois qualquer tecnologia antiga que
ainda estivesse funcionando seria melhor deixá-la sozinha. Qualquer outro
viajante espacial saberia disso também.
Outros viajantes espaciais também saberiam que os anéis superior e
inferior eram os locais mais prováveis para armazenamento de carga, as
quais haviam sido abandonadas. Se dependesse dela, o armazenamento da
estação estaria no topo.
Com certeza, quando Affie saiu do túnel para os anéis superiores
escuros, ela distinguiu longas filas de compartimentos de armazenamento,
alguns do tamanho de um armário, outros maiores, estendendo-se até a
escuridão no centro. Armazenamentos maiores devem estar localizados nos
anéis inferiores. Eles podem conter substâncias potencialmente perigosas,
então iria examiná-los mais tarde, talvez com a ajuda de Leox. Por
enquanto, ela iria apenas vasculhar...
Então inclinou a cabeça. Tinha algo escrito nos armários?
Affie ligou o seu bastão luminoso enquanto avançava. Ao longo dos
armários e outras portas do compartimento tinha alguns símbolos
rabiscados, não eram adesivos, mas caligrafia ou pintura de verdade, com o
mesmo tipo de lápis de graxa que os pilotos usavam para marcar os fios
para conserto. Affie nunca havia escrito nada em sua vida, o que já era
específico. Provavelmente ela nunca conheceu alguém que escreveu algo.
Não estava escrito em Aurebesh. Eram símbolos. Pequenos desenhos
em vez de letras. Linhas diferentes foram escritas em alturas diferentes, em
estilos diferentes. Então ela viu, bem no final das linhas, números bem
menores. Datas! Affie percebeu. Isso são datas que diz quando estiveram
aqui!
Como ela suspeitava, não fazia muito tempo. Uma linha era de apenas
seis anos antes. Outra era mais antiga, mas ainda era apenas cerca de trinta e
dois anos atrás. Toda a escrita parecia vir de uma era recente, muito tempo
depois que a estação foi abandonada.
Não havia sentido nas linhas sem conhecer a sua linguagem, ou, mais
provavelmente, o seu código. Os pictogramas eram bastante grosseiros.
Affie passou o dedo sobre o desenho de uma onda formada com uma linha
diagonal através dela, que se pareciam com as leituras que indicavam uma
perturbação gravitacional. E havia um desenho em forma de Y, que sugeria
uma bifurcação potencial nas vias do hiperespaço ou algum outro desvio.
Ela começou a sorrir ao perceber que aquele era um lugar onde os viajantes
deixavam mensagens uns aos outros, avisos sobre o caminho a seguir.
Mas por que deixar mensagens importantes em código? Por que não os
tornar fáceis de ler?
Affie continuou escolhendo novos símbolos, tentando adivinhar o que
cada um poderia significar, passando o dedo embaixo de cada linha. Então o
seu dedo parou e seu sorriso desapareceu. Este símbolo era uma estrela de
quatro pontas, distinta e estilizada, um símbolo que Affie já conhecia. Um
símbolo que ela usava todos os dias ao colocar seu macacão de uniforme.
Era o brasão da Guilda Byne.

— Está abafado aqui. — disse Orla. — Quase cheio de vapor. É preciso dar
os parabéns ao bioma, os melhores jardins botânicos raramente duram todo
esse tempo. Este não apenas sobreviveu como tem umidade.
— Sorte nossa. — disse Cohmac ironicamente.
Eles estavam na esfera central, dentro de um lugar que Orla pensava ser
uma espécie de área cerimonial, marcada com um assento de pedra
esculpido ou talvez um trono. Um total de quatro estátuas estavam de
guarda. Cada uma retratava uma espécie diferente, ou talvez uma figura
mitológica, mas todos tinham o mesmo revestimento de ouro e decoração
cheia de joias. As trepadeiras deslizavam ao longo das árvores e arcos
próximos, não literalmente, embora o farfalhar constante criava essa ilusão.
A luz estava ofuscada com as sombras das folhas. Essas sombras
brincaram no rosto de Cohmac quando se aproximou de uma das estátuas,
olhando para as asas e a carapaça delicadamente esculpidas.
— Reconhece isso? — perguntou Orla.
Cohmac balançou a cabeça.
— O estilo da escultura não é diferente do antigo Kubaz. Mas o sistema
deles está tão longe que minha primeira suposição é que a semelhança é
coincidência. Além disso, os Kubaz não têm deuses insetos, até onde eu sei.
Orla colocou as mãos na cintura.
— Talvez não sejam deuses. Talvez sejam monarcas ou líderes
históricos.
— Monarcas, talvez. — disse Cohmac. — Mas duvido que sejam
figuras históricas. A maneira como estão elevados acima do olhar, os halos
grandiosos sobre as cabeças... Veja, há espaços que provavelmente
continham joias ainda maiores antigamente. Para mim, isso sugere
reverência profunda. O mais profundo respeito e adoração. No final das
contas, a história não é tão boa com ninguém. Mas as religiões são. Os
mitos são. Podem haver outros significados também. Até traduzirmos este
idioma, não posso oferecer nada mais do que um palpite. Minha aposta é
que são deuses.
Uma brisa suave soprou a ponta das vestes de Cohmac, passando pela
bochecha de Orla. A princípio, Orla simplesmente sorriu para aquele leve
toque gelado. Então pensou: Acho que é por isso que as trepadeiras estão
farfalhando. Esta estação tem ventilação ainda melhor do que eu
imaginava.
Então Orla sentiu um leve arrepio de mal-estar. Uma sensação estranha
que só crescia em momentos específicos. Cohmac se virou pra ela.
— Aí está. A sombra. A escuridão.
Eles ficaram parados por alguns momentos.
— Todos nós já sentimos. — disse Orla. — Assumi que era apenas uma
árvore rebelde. Às vezes as plantas podem ser fortes no lado sombrio. Mas
isso…
— É diferente. — concluiu Cohmac.
— Parece proposital. — Orla inspirou e expirou, tentando se concentrar
na Força, mas essa calma era ilusória.
A essa altura, a escuridão era mais do que um arrepio, quase uma
presença. Como se algo ou alguém se aproximasse lentamente deles. Orla
se perguntou se isso poderia ser verdade. Tinha um ser escondido nesta
estação? Não estava tão abandonada como acharam?
— Vou checar o corredor. — disse Orla, correndo em direção à porta.
Com o canto do olho ela viu Cohmac assentindo. Ele sentiu a mesma coisa.
E então Orla ficou sozinha na escuridão uivante.
Ela se agachou antes que os ventos fortes pudessem derrubá-la. O frio
gelava até a sua medula e detritos afiados arranharam a sua pele. O terror
atingiu o seu estômago, ameaçando arrastá-la para a escuridão também.
Orla conectou-se à Força para sustentá-la. Mesmo que não pudesse mais
senti-la, a Força sempre estava lá.
— Cohmac! — gritou ela, sem saber por que. — Cohmac, onde você
está?
Fragmentos de metal e mineral grudaram em suas mãos enquanto se
levantava, tentando olhar ao redor. À distância ela só conseguia ver vigas de
metal desmoronadas e, através delas, um brilho sinistro. Embora fosse a luz
mais brilhante que conseguia ver, ela a enchia de pavor...
Não há mais frio. Não há mais escuridão. Orla abriu os olhos (quando
os fechou?) e se encontrou no jardim botânico, perto da porta, exatamente
onde estava alguns segundos antes, quando o universo fazia sentido.
— Cohmac? — chamou, mas não ouviu resposta. Ao se levantar ela o
viu deitado entre o musgo e as trepadeiras do chão, inconsciente ou em
transe, como se estivesse prostrado diante de um deus desconhecido. Orla
correu para o lado dele e assim que se ajoelhou ao lado do ombro de
Cohmac, os olhos escuros dele se abriram. Mas a sua respiração estava
curta e superficial e ele olhou para Orla, parecendo não enxergar direito.
— Precisamos voltar para a nave. — disse Orla gentilmente, sem saber
se Cohmac conseguia ouvi-la. — Deixe-me colocar o meu braço sob os
seus ombros.
— Aquilo não foi apenas uma visão. — Cohmac piscou, então ergueu
os olhos para Orla com total clareza. — Foi um aviso.

Reath pensou que estavam chegando à parte fácil. Todos estavam seguros.
Todos precisavam dividir espaço por um tempo, então todos tentariam se
dar bem, certo?
Ele estava muito errado.
Os primeiros pilotos a surgir eram humanos que pareciam durões e
queriam que você soubesse disso.
— Este lugar está abandonado, né? — perguntou um deles, passando
direto pela mão de Reath estendida em boas-vindas. — Isso faz com que
tudo a bordo esteja disponível.
— Espere. — disse Reath. — Todos merecem a chance de ter os
recursos que precisam.
— Não se forem meus. — O cara puxou o lenço vermelho em volta do
pescoço enquanto sorria para Reath. — Tudo o que não está aparafusado é
meu. Qualquer coisa que eu consigo puxar não está aparafusada. Vamos,
homens. Vamos começar a caçada.
Eles passaram pelos anéis, procurando por armários e depósitos. Antes
que Reath pudesse decidir se iria atrás deles, outro grupo surgiu. Eram os
Orincanos, que se pareciam com os Gamorreanos, só que mais pálidos e
menos fotogênicos. A capitã deles gritou de ira ao ver os humanos já
saqueando o anel, então saiu atrás deles.
Reath foi buscar o seu comunicador.
— Mestre Cohmac, estamos com alguns problemas entre os refugiados.
Se pudesse vir, seria uma grande ajuda.
Nenhuma resposta. Reath recorreu à Força, convocou a sua vontade e
gritou:
— Vocês querem parar de saquear a estação e voltem aqui!
Ninguém ouviu. Ele suspirou em frustração. Mestra Jora era tão boa em
flexionar a vontade das pessoas com a Força, mas era mais uma habilidade
natural do que uma facilmente ensinada. Reath conseguiria pegar o jeito
algum dia, mas isso não resolveria nesse momento.
Relutantemente, Reath puxou o seu sabre de luz. É hora de impor a lei.
Ele nunca havia imposto antes. Mas iria descobrir como era.
Fumaça em suas narinas.
Estrondo em seus ouvidos.
Sangue em sua língua.
Última coisa que percebeu: uma leve luz rodopiante coberta de poeira
que doíam os seus olhos.
Cohmac sentou-se em meio aos destroços de sua nave e avaliou a
situação. A nave permaneceu mais ou menos intacta, o que sabia porque a
temperatura permanecia constante. Através da janela podia ver a superfície
incrustada de sal do planetoide, com pequenos cristais brilhando com os
ventos uivantes. Eles haviam aterrissado na encosta de uma colina, ao que
parecia, pois a nave toda se tinha se inclinado perigosamente para um lado.
Os profundos arranhões que a nave deixou na superfície revelaram pedras
verde-escuras por baixo, enterrada nos centímetros de sal.
Preciso encontrar o Mestre Simmix, pensou ele. Essa era a sua
responsabilidade mais importante, mas isso não significava que pudesse
ignorar os que estavam mais próximos. Próximo a ele, Orla se inclinou para
frente, apoiando as mãos no console do piloto. A respiração dela era
superficial e rápida.
— Orla. — Cohmac conseguiu falar. — Você está bem?
— ...Sim. — Ela pareceu insegura dessa afirmação.
Cohmac se conectou com a Força para encontrar os outros dois
passageiros. Mestra Laret Soveral apareceu pra ele quase que
instantaneamente. Ela havia se afastado da cabine, com dor, mas focada, e
ainda assim o seu espírito estava repleto de tristeza.
Onde Mestre Simmix deveria estar, onde sempre esteve a sua calma e o
seu poderoso foco na Força, Cohmac não encontrou nada.
— Mestre Simmix? — gritou ele, desejando não saber o que a Força já
o havia contado. Pela primeira vez em sua vida ele se afastou da Força,
pensando nela como uma mentira. Cohmac se levantou e subiu o convés
irregular em direção à parte de trás da nave. — Mestra?
Laret Soveral apareceu na porta, com fuligem manchando o seu rosto e
sua roupa. Ela era alta para uma humana, com traços marcantes e uma
presença dominante, mesmo neste momento confuso e difícil. Os seus olhos
castanhos dourados encontraram os dele.
— Sinto muito, Padawan Vitus. O seu mestre novamente está em
harmonia com a Força.
Todos os princípios da doutrina Jedi diziam que Cohmac deveria se
sentir feliz pelo Mestre Simmix, que havia se libertado da ilusão da
mortalidade e das fraquezas da carne.
Em vez disso, Cohmac sentiu como se as suas entranhas tivessem sido
arrancadas pelas garras de um Rancor.
Ao passar pela Mestra Laret, ela não o impediu, apenas o deixou ir.
Após alguns passos, Cohmac encontrou o Mestre Simmix caído amassado
em um canto. Os cintos de segurança desta nave não foram configurados
para Filithar ou qualquer outra espécie sem membros. Simmix riu disso
quando embarcaram, dizendo que se arriscaria.
Por que eu não insisti? Mestre Simmix, sempre cauteloso com a vida
dos outros, às vezes era negligente com a própria. Cohmac mencionou
sobre isso mais de uma vez. Geralmente Simmix ficava feliz quando
Cohmac falava disso. Disse que terceirizou o seu senso de autopreservação
para o seu aprendiz. Porém desta vez, desta terrível vez, Cohmac deixou
passar.
Era o meu trabalho lembrá-lo dos riscos, disse Cohmac a si mesmo
enquanto se ajoelhava ao lado do corpo verde e escamoso de seu Mestre e
fechava os olhos com reverência. Não foi somente a decisão dele de pegar a
nave T-1, mas, mesmo assim, qualquer parcela da culpa que pertencesse a
ele seria para sempre um peso a carregar.

— Já era hora de algo sair de acordo com o planejado. — rosnou Isamer.


Diante dele brilhavam as leituras que mostravam a localização da nave Jedi
acidentada. Ele acenou para dois dos guardas. — Vocês aí, vão pra lá. Se
alguém sobreviveu, certifiquem-se de que não sobreviva por muito mais
tempo.
Isso também havia sido previsto pelos Hutts. Como haviam explicado a
Isamer, eles queriam que os Jedi viajassem para aquela área do espaço, não
apenas em busca de bebês sensitivos à Força ou em jornadas solitárias de
descoberta, mas como parte de uma missão. Uma missão que falharia
terrivelmente. Uma que provaria às pessoas desses mundos que nem a
distante República nem os Jedi poderiam salvá-los. A velha hostilidade com
a República parecia estar enfraquecendo. Os Hutts queriam fortalecê-la.
Então se esses forasteiros quisessem fazer comércio com a grande
galáxia, teriam que passar pelo Diretório. E, consequentemente, pelos seus
novos senhores, os Hutts, embora Isamer pensasse menos nesse aspecto. A
sua porcentagem não seria mais do que um símbolo, uma reflexão tardia.
Ele preferia se imaginar sentado em montanhas de riquezas, rico além dos
sonhos da avareza.
Tudo o que precisava fazer era garantir que nada atrapalhasse os planos
dos Hutts de escravidão em massa.
No canto dos prisioneiros, o monarca Cassel arriscou falar baixinho:
— Suponho que esses sejam nossos salvadores.
— Eram nossos salvadores. — disse a rainha Thandeka. — Agora são
alvos. Isso se eles sobreviveram ao acidente.
— Ouvi dizer que os Jedi são muito fortes. — disse Cassel, com o que
parecia uma esperança genuína. — Talvez os guardas não consigam destruí-
los.
A rainha Thandeka suspirou. Os dois estavam amarrados há algum
tempo. Tempo suficiente para que a sua desconfiança no governante de
E’ronoh se dissipasse um pouco.
— Você está tentando fazer eu me sentir melhor.
Cassel encolheu os ombros e deu um sorriso tímido.
— Não acho que dê para sentir-se pior.
Thandeka não disse nada. Parecia que Cassel não conseguia ver um
futuro a frente tanto quanto ela conseguia. Uma cegueira que ela invejava.
Pois quando ela projetava como essa situação acabaria, todos os finais
possíveis terminavam com os dois mortos.

Orla segurou o braço de Cohmac enquanto cambaleavam para o vento


gelado e salgado. Ele teve apenas ferimentos leves e não precisava de apoio
físico, mas sem dúvida ela sentiu que o contato com outra pessoa poderia
ajudá-lo a se recompor internamente. O frenesi de tristeza que sentia
reverberava pela Força. Cohmac notou que Orla e Mestra Laret perceberam.
Se um deles sonhasse em corrigi-lo, ousasse insistir que um Jedi não
deveria sentir tanto luto, Cohmac não seria responsável pelos seus atos.
Mas, no momento, a Mestra Laret permaneceu focada em seu objetivo.
— As cavernas. — gritou ela por cima do vendaval uivante, apontando
para o contorno vago de uma entrada distante ao longo da colina. — Vamos.
Juntos eles prosseguiram pelas dunas salinas. Cohmac deu um suspiro
de alívio quando o grupo finalmente cambaleou para dentro da caverna. Por
dentro as pedras pareciam ter sido polidas, lixadas pelo sal por séculos,
tanto que as paredes da caverna quase pareciam molhadas quando refletiam
a luz dos bastões luminosos dos Jedi.
Ou talvez não só pelo sal. Quando os olhos de Cohmac se ajustaram à
escuridão, ele reconheceu marcações nas paredes que representavam uma
grande serpente encapuzada. Não era um Filithar, mas parecido o suficiente
para que tivesse que virar o rosto. Era como se o retrato de Mestre Simmix
tivesse sido gravado ali séculos antes esperando por eles.
— Os sequestradores vão atacar os destroços em breve. — disse Mestra
Laret. — Lamento deixar o corpo de Simmix para trás, mas se o
encontrarem, podem acreditar que ele viajou sozinho. Nesse caso, isso nos
dá tempo para encontrar o esconderijo dos sequestradores.
— Essas gravuras... — Cohmac conseguiu dizer. — Mestre Simmix
disse algo sobre elas, sobre como as serpentes desempenhavam um grande
papel na tradição local. — Cohmac deveria ter lido sobre o folclore local
durante a jornada. Simmix insistiu que lesse. Apesar das lendas e dos mitos
serem interesse de Cohmac, apenas folheou as páginas. Eles tiveram que se
preocupar com pilotagem. Antecipar as lutas. Quais eram as chances de que
iriam precisar de folclore nisso tudo?
Ou assim ele pensava. No momento, com a serpente esculpida olhando
para ele, Cohmac não tinha tanta certeza.
Orla se endireitou.
— As esculturas parecem importantes. Como se a Força estivesse
tentando nos dizer algo. Devemos voltar?
A Mestra Laret inclinou a cabeça, reconhecendo as palavras de Orla
sem concordar com elas.
— Para voltar e ir para outro lugar, precisaríamos de outro lugar pra ir.
Não temos esse outro lugar. Nosso dever é seguir em frente.
— Mas e se... — disse Orla, com a sua voz sendo interrompida com um
som que todos ouviram. Um som estranho vindo das profundezas das
cavernas, quase um farfalhar. Não, forte demais pra isso.
Ela e Cohmac ficaram tensos. Com a Mestra Laret, à frente deles, já
estava com o seu sabre de luz na mão e o ativou bem a tempo de seu brilho
azul revelar a cobra branca enorme, com vários metros de comprimento e
mais de um metro de largura, deslizando em direção a eles com as presas à
mostra.
A ffie não percebeu
bem no meio de tudo.
que havia algo de errado até que estava

— Abaixe-se! — Reath gritou.


Ela não perguntou por que, nem se virou pra olhar, apenas se jogou no
chão da passarela. Uma barra de metal zumbiu no alto, batendo na parede
com um estrondo reverberante. Cobrindo a cabeça, correu até que pudesse
se agachar trás de uma barreira de folhas. Talvez um dia tivesse sido um
balcão de bar. Agora, inteiramente coberto de plantas, tornou-se uma
barreira natural. De qualquer modo, isso a esconderia dos saqueadores.
Por que não esperou um pouco mais para descer? Tarde demais para
arrependimentos.
Ela estava determinada a permanecer abaixada. Se ela aparecesse,
poderiam atacá-la, vendo-a como uma concorrente pelos poucos bens
preciosos da estação. Ou se quisessem apostar em dominar a Embarcação
(muito provável) e fugirem das vias do hiperespaço, era possível que
roubassem a própria Affie. A República proibiu a escravidão, mas ela não
tinha certeza se estavam na República no momento. Não enganou alguns
dos bandidos para obter um lucro rápido vendendo-a para alguém que a
levaria para o outro lado da Fronteira.
Então, pensou ela, respirando com dificuldade, vamos ficar escondida.
De onde estava, Affie conseguia espiar a confusão por entre as folhas.
Os Orincanos já estavam rasgando trepadeiras no nível do “solo”, abrindo
um buraco que lhes permitiriam vasculhar qualquer coisa escondida. Mais
acima no átrio, dois níveis acima dela, os Mizi haviam desenterrado algo
que parecia uma armadura Amaxine. Aquele material nunca enferrujou ou
se desgastou; valia milhares. Os Orincanos ficariam furiosos ao ver que os
seus rivais haviam encontrado um prêmio desse.
Provavelmente furiosos o suficiente para começar uma briga. Affie
lançou um olhar avaliador para a parede. A Scover diz que antigamente as
estações espaciais costumavam selar magneticamente os cascos inteiros. Se
fizeram isso aqui, um único tiro de blaster poderia ricochetear ao redor da
estação por minutos. Por horas, até.
Os Orincanos não davam a mínima para a história ou qualquer outra
coisa além de suas próprias peles de porco. Então eles nem perceberiam o
perigo. Se uma luta começasse, atirariam tanto que a estação toda se
transformaria em uma armadilha mortal.
Onde o Reath estava? A voz dele vinha de baixo, mas não conseguia ver
muito do anel da câmara de descompressão da estação. Os outros Jedi
estavam vindo para ajudá-la? Eles poderiam ajudar? Affie ainda não tinha
ficado muito impressionada com esses famosos guerreiros místicos, que, até
onde tinha visto, só deram palestra para eles antes de jogá-los em uma
antiga estação azarada.
O breve devaneio de Affie foi interrompido quando passos pesados de
botas começaram a bater contra os painéis do chão perto dela. Um
Orincano? Olhando através das folhas viu um humano com lenço vermelho,
mas um humano cujo sorriso ganancioso e cruel super combinaria com um
focinho de Orincano.
— Existe um mercado caro para garotinhas. — disse ele em tom
cantado. — Esta aqui não são tão velhas.
Queria que ela ouvisse? O instinto disse a Affie que ele não era um
traficante de escravos; o seu interesse parecia mais pessoal e ainda mais
sinistro. Não era como se fosse algo que ele pudesse vender, mais, sim,
como algo que não podia comprar.
Bem devagar, para não farfalhar ou encostar as suas roupas em alguma
folha, Affie pegou o blaster preso a seu lado. Ele deslizou silenciosamente
para fora do coldre.
Sim, atirar no casco pode matar todos nós, pensou ela. Mas só se eu
errar.
Eu não vou errar.
Affie olhou através da mira de seu blaster, apontando-o diretamente
para o homem de lenço vermelho. Se ele virasse um mísero centímetro em
sua direção, ele a veria. Isso é, se tivesse tempo de vê-la antes de morrer, o
que Affie não pretendia deixar acontecer.
Mas ele não se virou. Em vez disso, ele começou a gargalhar.
— Sim, sim. — gritou ele, provavelmente para um de seus
companheiros de viagem. — Essa vai servir muito bem!
Ele correu para longe. Affie se sentiu aliviada, mais do que deveria. Ela
nunca matou ninguém antes e não queria começar agora. Se a sua vida está
em jogo, repreendeu a si mesma, você não deveria pensar nisso. Você não
deve pensar em nada além de salvar a sua própria vida.
Mais fácil falar do que fazer.
Então um grito ecoou pela estação. Affie não conseguia ver quem havia
gritado, mas ela já sabia.
Eles levaram a Nan.

Reath olhou em volta desesperadamente, tentando identificar os líderes. Se


pudesse eliminar uma ou duas peças importantes, isso poderia pacificar os
outros.
Uma voz quebrou a sua concentração.
— Reath, me ajude!
Orla Jareni lutou pela selva do átrio exposto, parcialmente apoiando o
Mestre Cohmac cambaleando. Qualquer pessoa em um nível superior teria
um tiro certeiro. Reath correu para ajudá-los a alcançar o túnel que levava
ao anel da câmara de descompressão.
Assim que os três chegaram ao túnel, Dez Rydan saiu correndo com o
sabre de luz em suas mãos e com a capa ondulando atrás dele. Ele foi ajudar
o Mestre Cohmac, mas ele já estava começando a se recuperar.
— O que aconteceu? — perguntou Dez.
— Ele teve um colapso. Acho que nós dois tivemos. — respondeu Orla.
— Ou nós dois tivemos uma experiência, uma que não consigo explicar
com facilidade. Mas está enraizado no lado sombrio. Disso pode ter certeza.
O átrio da estação ecoava gritos, urros e batidas de metal. Mestre
Cohmac acenou com a cabeça rapidamente enquanto se endireitava.
— Orla, você consegue lutar?
A mão dela foi para o sabre de luz em seu cinto.
— Sempre.
Mestre Cohmac olhou para Reath, que deu um aceno rápido. Então os
quatro correram de volta para a estação.
— Orla, cuide desse. — gritou Mestre Cohmac, apontando para o
segundo nível. — Vou cuidar dos níveis superiores. Dez, vá para o outro
lado da estação e veja o que está acontecendo lá. Reath, proteja as câmaras
de descompressão.
Reath assentiu. Orla e Mestre Cohmac pularam no mesmo instante,
ambos voando a metros de altura. Reath não ficou olhando-os por muito
tempo. Em vez disso, ele ativou o seu sabre de luz. Fazia tempo que ele não
sentia esse zumbido e a luz verde o banhando com seu brilho.
Mas para alguém que se considerava muito mais um acadêmico do que
lutador, era surpreendentemente bom ter o sabre de luz nas mãos
novamente.
Um grito agudo chamou a sua atenção para uma luta ocorrendo perto de
outra entrada do anel da câmara. Os olhos de Reath se arregalaram quando
ele viu Nan nas garras de um humano enorme. Os braços dela estavam
presos ao lado do corpo e, embora ela batesse a cabeça de um lado para o
outro, era impossível escapar. Ela parecia mais furiosa do que assustada,
embora devesse estar apavorada.
— Hague! — gritou Nan. — Hague, socorro!
Ela não tinha ninguém em quem confiasse em toda a galáxia para cuidar
dela, exceto um homem idoso. Reath não tinha dúvidas de que Hague
chegaria mancando, pronto para golpear o sequestrador com a sua bengala.
Como também não tinha dúvidas de que Hague seria rapidamente
espancado ou morto por isso.
Reath correu na direção deles e saltou. Seu salto o levou cinco metros
sobre a grama, através de trepadeiras que se chocaram contra as suas
pernas, até um local diretamente na frente de Nan e seu possível
sequestrador. Ambos pareciam igualmente surpresos ao vê-lo.
Outro humano usando um lenço vermelho apareceu atrás dele.
— Você está aqui para nos dizer que não estamos nos comportando? —
disse ele zombando. — Não há lei por aqui ainda, garotinho. Isso significa
que podemos pegar o máximo que conseguirmos desta estação. E
conseguimos carregar ela tranquilamente.
Os olhos de Nan estavam arregalados.
— Reath, o que você... — Ela perdeu o fôlego e só conseguia encarar o
sabre de luz sem acreditar.
Ele passou os cenários em sua cabeça. Não eram muitos. Todos eram
mais violentos do que ele preferia.
— Coloque-a no chão e vá embora ou serei forçado a agir. — disse
Reath uniformemente.
— O quê? Acha que consegue derrubar nós dois com a sua espadinha
brilhante? — zombou o bandido, ainda segurando Nan com força. —
Parece um brinquedo.
— Não é. — disse Reath baixinho, colocando força e intenção em suas
palavras. — Coloque-a no chão e vá embora.
Mas assim como todas as outras tentativas de usar a Força para mudar
mentes até agora, essa também não deu certo. O homem de lenço vermelho
avançou, com as mãos na cintura.
— Faça o seu pior, garotinho.
Reath nunca tinha estado nesta posição antes, onde teria que ser o
primeiro a agir, a fazer mal. Ele sempre se perguntou se hesitaria. Se
duvidaria de si mesmo.
Porém quando se tratava de salvar uma vida, não podia haver hesitação.
Em vez disso, Reath disse:
— Sei que as próteses de braços são mais avançadas que as de pernas.
Mais confortáveis também.
Nenhuma gota de compreensão apareceu no rosto do homem, não até o
sabre de luz de Reath passar pelo seu braço, cortando-o no cotovelo. Um
antebraço caiu no chão. A expressão do homem de lenço vermelho mudou
de presunção para descrença, então se contorceu em uma careta quando as
suas terminações nervosas finalmente transmitiram dor.
Imediatamente o cara maior soltou Nan e correu para a selva escura que
os cercavam. Nan colocou a mão na boca enquanto olhava para o antebraço
abandonado.
— Tenho que ficar de guarda nas câmaras de descompressão. Venha
comigo. — disse Reath.
O homem de lenço vermelho finalmente caiu de joelhos e uivou:
— O que você fez comigo?
Reath guardou o seu sabre de luz.
— Faremos um exame médico completo assim que a situação se
acalmar.
Com isso, ele puxou Nan para o seu lado. Ele não tinha certeza de como
se equilibrar para um salto enquanto segurava outra pessoa, então
recalculou rapidamente.
— Espere.
Os braços dela envolveram o pescoço dele. Reath saltou pra frente e pra
cima em um arco acentuado, até que a mão livre agarrou um cipó longo. O
seu impulso e peso fizeram o resto, enviando-os em uma longa curva de
volta ao anel da câmara de descompressão.
Assim que pousaram, Nan disparou em direção à câmara onde a sua
nave e Hague a aguardava. Claro que ela gostaria de encontrar o seu
guardião. Mas ela olhou por cima do ombro e gritou:
— Obrigada!
Reath esboçou um rápido sorriso para ela antes de pegar o seu sabre de
luz novamente.

Os Orincanos apontaram os blasters para Cohmac quando ele saltou para o


convés da estação. Selado magneticamente? Cohmac se perguntou sobre a
estação. Possivelmente.
A lâmina azul de seu sabre de luz se acendeu, com o seu brilho cortando
a escuridão. Enquanto os Orincanos atiravam, ele girava o seu sabre e, com
maestria, desviava os tiros para os troncos das árvores maiores que
aguentavam, ou para algumas caixas de carga abandonadas. Nenhum tiro
atingiu as paredes, o que era seu principal objetivo.
Grunhindo de pavor, os Orincanos recuaram depressa. Ele olhou para
baixo a tempo de ver Orla estender o seu sabre de luz e acendê-lo, um sabre
de duas lâminas brancas e brilhantes perfurando as sombras. Os Mizi
começaram a recuar imediatamente. Mas era muito fácil para os
saqueadores escaparem; pelo formato da estação, Cohmac e Orla ficariam
literalmente correndo em círculos tentando perseguir a todos.
A Embarcação não dispunha de peso militar para impedir os
saqueadores de partirem com os seus ganhos desonestos. Portanto, parar o
saqueio necessitaria mais do que somente força. Razão e persuasão também
não haviam funcionado.
É hora da admiração.
Cohmac escalou os degraus da grade do átrio. Os seus olhos detectaram
Affie Hollow muito bem escondida atrás de uma barreira coberta de
vegetação, mas isso não importava, exceto que ela também iria finalmente
ver quem eram os Jedi de verdade.
Ele concentrou a sua energia e conectou-se à Força. Embora a escuridão
o cercasse, a pura vitalidade das coisas vivas na estação funcionava como
combustível para Cohmac. A sua força inundou seu corpo e a clareza
aguçou a sua mente.
Com isso, ele saltou.
Affie gritou, mas o som passou por Cohmac, apenas mais um aspecto da
ilusão ou realidade ao seu redor. Conectado a Força, ele sentiu o chão do
átrio e se equilibrou acima dele. Oito metros acima.
A levitação era uma arte complexa. Os Mestres mais acadêmicos
discutiam sobre as razões pelas quais era mais difícil os Cavaleiros Jedi
levitarem a si mesmo do que qualquer outro objeto. Cohmac considerava a
discussão acadêmica um esoterismo; além disso, essa era uma habilidade
que, pra ele, vinha naturalmente.
Conforme flutuava no centro do átrio, ele segurou o seu sabre de luz
acima de sua cabeça. O brilho azul reluzia os pedaços de metal expostos
como se acendesse dezenas de pequenas chamas.
— Me escutem! — gritou ele.
A sua voz ecoou por todo o átrio, como Cohmac já havia calculado. Os
sons da luta diminuíram, e então silenciaram. Os rostos de muitas espécies
olharam, com as armas ao lado do corpo, perplexos ao ver um homem no ar,
sustentado somente por seu próprio poder.
E essa era uma das habilidades menos significativas de um Jedi. Mas
fazia com que as pessoas prestassem atenção e respeito, que era tudo o que
o Cohmac precisava no momento.
— Em nome da República, ordeno que cessem os saques e roubos a
bordo desta estação imediatamente. — A voz ressonante de Cohmac
preencheu todo o vasto espaço, alcançando toda antena e ouvido. — Dentro
de quinze minutos, todos os capitães das naves atracadas aqui devem ter
feito pelo menos uma dessas coisas: organizar a sua tripulação e ir embora
ou estarem preparados para cooperar pacificamente. Ou vocês aceitam a
autoridade das leis da República e continuam aqui, ou rejeitam e vão
embora. Não importa qual a opção, mas escolham uma agora ou seremos
forçados a fazer essa escolha por vocês.
Ninguém se apressou em sair. Em vez disso, muitos dos grupos se
recompuseram, largaram as cargas que haviam roubado e começaram a
andar de volta para o nível da câmara de descompressão. Eles estariam
prontos para negociar. Ele e os outros Jedi teriam a chance de discutir sobre
o estranho fenômeno que emanava das estátuas de ídolos fortemente ligadas
ao lado sombrio.
Mas Cohmac sabia que havia conseguido somente uma trégua
temporária. Enquanto descia pelo ar, com o seu manto ondulando ao seu
redor, ele sabia que essa paz frágil não duraria muito.
D ez sabia que o silêncio na estação era frágil, que necessitavam
dele para patrulhar e preservar a calma. Ainda assim, teve que
permanecer na Embarcação por alguns momentos, para tentar entender o
que Cohmac Vitus estava dizendo.
— Como assim? Você foi transportado? — perguntou ele.
Cohmac balançou a cabeça.
— Não quero dizer que a minha localização no espaço mudou
literalmente. Mas minha consciência não estava aqui. Estava em um lugar
escuro e assustador. Olhando para um abismo terrível. Minha alma doía
com um tipo de angústia que poderia ter se rasgado em pedaços. O porquê
eu não sei dizer. Mas a dor era muito real.
Dez analisou.
— Você estava investigando os artefatos antigos na hora, não estava?
Cohmac assentiu.
— Por toda a galáxia existiram lendas de objetos mergulhados no lado
sombrio. — disse Cohmac. — De amuletos e cristais e até geleiras que
continham tanta maldade quanto qualquer criatura viva. Alguns dizem que
os Sith mais poderosos de antigamente eram capazes de fazer isso, infundir
a sua própria escuridão nos objetos ao redor.
— Você acha que os artefatos podem ter sido marcados pelo lado
sombrio da mesma forma? — perguntou Dez.
— Geralmente essas coisas não passam de lendas. — disse Cohmac
com cautela. — Mas todas as lendas estão enraizadas em alguma verdade.
Sabe-se que pelo menos um artefato do lado sombrio existiu. Então não
podemos descartar a possibilidade.
— Se não for dos ídolos, então a escuridão deve estar emanando das
plantas a bordo da estação.
Cohmac soltou um som, zombando.
— Não. Já encontrei árvores mergulhadas no lado sombrio antes, sei
como é. As sensações podem ser poderosas, mas esse era... focado.
Direcionado, até. Havia inteligência por trás.
Dez franziu a testa.
— Inteligência? Sem um ser senciente por trás?
— Parece estranho. — admitiu Cohmac, perdido em pensamentos. —
Mas é possível, principalmente se...
— Se o quê?
Lentamente, Cohmac disse:
— Se os ídolos servirem como uma espécie de sinalizador de aviso,
transmitindo uma mensagem inteligente, ou seja, que devemos ficar longe
das trevas presas dentro deles.
— No momento, não vamos ficar longe deles. O que fazemos?
— Nada. Precisamos de um lugar para que todos possam se abrigar
enquanto as vias do hiperespaço estão fechadas. Esta é a única possibilidade
dentro do sistema. — Cohmac respirou fundo, esfregando as têmporas.
Dez absorveu isso.
— Então você está dizendo que o lado sombrio está aqui...
— E estamos presos com ele. — concluiu Cohmac.
O que eu posso fazer? Essa foi a pergunta que a Mestra Jora treinou Dez
a pensar primeiro. Neste caso, no entanto, com ou sem avisos, não havia
muito que pudesse fazer sobre a vaga ameaça da presença do lado sombrio.
Se essa escuridão se manifestasse, ele agiria. Até lá, ele se concentraria nos
aspectos concretos de sua missão.
A lembrança da Mestra Jora fez Dez perceber o que deveria vir a seguir.
— Acalme-se por alguns minutos. — disse ele a Cohmac, que inclinou a
cabeça concordando. — Tenho que encontrar o Reath.

Reath havia passado a maior parte de seu treinamento como Padawan


imerso nos Arquivos, mas já esteve em missões de resgate antes. Uma vez
ele ajudou a retirar os passageiros de um transporte com defeito grave no
sistema Brield. Outra vez ele se juntou a uma equipe dos Jedi colaborando
na evacuação de uma torre em chamas em Coruscant mesmo. Esse último,
em particular, foi difícil, desafiar a morte. Não faltava experiência pra ele.
No entanto, nunca tinha visto, e estava certo de que nunca veria, um
grupo de pessoas tão ingratas por terem sido resgatadas como os refugiados
da estação. Mesmo após vários dias de estadia na estação Amaxine, eles
permaneceram barulhentos e desagradáveis como sempre.
— Primeiro você nos colocou perto da escória Mizi! — rosnou a capitã
Orincana. — E depois diz que temos que devolver toda a nossa comida!
Quem você pensa que é?
Um humano em uma capa de cetim/pele acariciava o seu cavanhaque
enquanto proclamava:
— Obviamente os nossos passageiros pagaram adiantado pelo cardápio
superior, preparado por nossos famosos chefes com ingredientes
selecionados, então não poderíamos privá-los pelo que pagaram.
— Ninguém sabe compartilhar! — retrucou Nan, que ficou no meio
deles com os braços cruzados sobre o peito. Graças ao queixo obstinado e à
altura pequena, ela parecia mais uma garotinha do que a jovem mulher que
era. O idoso Hague, atrás dela, manteve a mão firme em seu ombro. —
Vocês não têm vergonha de si mesmos?
O capitão Mizi olhou pra ela com seu nariz comprido.
— Não.
— Todos precisam se acalmar. — disse Reath, pelo que pareceu ser a
octogésima vez. Ele ficou parado no meio da maioria dos passageiros, com
o datapad nas mãos, tentando não demonstrar a sua irritação. Provavelmente
foi por isso que Mestre Cohmac o entregou essa tarefa. Foi um teste de
paciência. — Estamos todos juntos aqui e não sabemos por quanto tempo.
Podemos receber um sinal para sair em uma hora ou daqui quinze meses. Se
esbanjar comida ou ser egoísta agora, são grandes as chances de se
arrependerem amargamente.
Silêncio. Eles não pareciam totalmente convencidos, pensou Reath, mas
pelo menos eles pararam de discutir por um segundo.
— Olá. — Leox Gyasi saiu da porta da câmara de descompressão da
Embarcação, com as mãos nos bolsos e com o seu colar multicolorido
balançando a cada passo. — Cara, ah, cara. Lindo aqui, não é? Espetacular.
Como um retiro em uma ilha, exceto que, em vez de oceano, temos o
espaço.
Alguns refugiados trocaram olhares. Essa parecia ser a reação normal ao
encontrar o capitão Gyasi.
— Claro que poderíamos estar encalhados em lugares piores do que
este. — Leox refletiu enquanto caminhava sob um grosso dossel de folhas.
Ele cheirou uma flor amarela e sorriu. — Poderíamos ter ficado presos em
um planeta deserto. Ou vulcânico. Ou apenas soltos no espaço, sozinhos,
sentados, imaginando se ficaríamos sem ar antes de conseguirmos fugir.
Reath respirou fundo reflexivamente. Ele não foi o único que fez isso.
Leox se encostou em uma árvore, suave e tranquilo.
— Vejam, podemos ver isso de duas maneiras. Um: não chegamos onde
queríamos chegar no tempo que gostaríamos. Isso é azar. Não é tão ruim
assim no geral, mas é azar. Ou dois: enquanto centenas ou milhares de
pessoas morreram em um desastre terrível, nós fomos levados a um local
seguro. Caramba, não só em um lugar seguro, mas em um lugar bonito. Isso
é sorte pra todos, não acham?
Algumas pessoas concordaram. Nan não concordou, mas Reath
percebeu o leve desenho de um sorriso em seu rosto. Até os Orincanos
começaram a se mexer um pouco enquanto relaxavam as suas posturas de
batalha de costume.
— Então em vez de olharmos para o nosso pequeno azar, vamos
comemorar a grande quantidade de sorte que tivemos. — disse Leox. —
Estamos em vantagem. Por que não agir assim?
O capitão da nave de luxo fez uma breve pausa antes de dizer:
— Honestamente, a maioria de nossas refeições poderia ser
confortavelmente reduzida pela metade e ainda fornecer os nutrientes de
uma refeição completa. Temos um pouco para compartilhar.
Para não ficar pra trás, o capitão Mizi acrescentou:
— Por acaso estamos transportando uma carga de peças de reparo.
Algumas podem ser úteis para os que sofreram danos no hiperespaço.
Nosso seguro cobrirá as perdas de nosso cliente.
A capitã Orincana grunhiu, o que não era exatamente um som amigável,
mas sugeria que ela e seu povo cooperariam.
Depois disso, Reath conseguiu juntar uma lista geral de comida e outros
suprimentos importantes com bastante rapidez. No final, enquanto todos se
afastavam, ele se virou para Leox, que ainda estava encostado na árvore.
— Obrigado.
— Não tem de quê, garoto. Às vezes todos nós precisamos de um
lembrete de concentrarmos nas coisas boas da vida.
Alguns dias antes, Reath estava relutante em acreditar que poderia
aprender alguma coisa (além de mecânica básica da nave) com uma pessoa
como Leox Gyasi. Ele ficou feliz por descobrir o contrário.
Enquanto Leox continuava seu passeio da meditação pela vegetação,
Reath foi deixado sozinho pela primeira vez desde o saque abortado da
estação Amaxine. Era uma paz de espírito indesejável. Se não tivesse que se
concentrar em um problema urgente, a sua mente teria tempo para divagar
ao momento em que enfrentou o sequestrador de Nan.
O som do sabre de luz. O baque pesado do braço decepado caindo no
chão.
Reath foi arrancado de seu devaneio pelo farfalhar das samambaias, que
se abriram para revelar Dez Rydan entrando. Dez sorriu, mas Reath sabia
por que ele estava ali antes mesmo que dissesse algo.
— Como está se sentindo?
— Abalado. — disse Reath. — Não estou me sentindo... culpado,
exatamente, mas também não... inocente, se é que faz sentido. Eu só... Só
fico pensando naquele momento e me perguntando se eu poderia ter feito
algo diferente para que aquele homem ainda tivesse seu braço.
Dez estava sentado de pernas cruzadas em uma parte de solo. Um
droide 8-T trabalhando nas proximidades o examinou rapidamente,
determinou que ele não representava nenhum risco para as raízes e
continuou trabalhando.
— Provavelmente havia algo que você poderia ter feito diferente. —
disse ele. Reath sentiu aquilo como uma chicotada. Mas Dez continuou
falando: — Você não sabe o que seria. Nem eu. Naquele momento, você
sentiu que aquilo era necessário para resgatar Nan?
— Sim. Caso contrário, eu nunca teria feito isso.
— Sabe... — continuou Dez. — A cada dois anos mais ou menos, um
aprendiz se encrenca por ser muito agressivo. Usar o sabre de luz em vez de
palavras, recorrer à ação quando a diplomacia ou a negociação resolveriam
melhor a situação. Essas críticas não seriam o seu caso, Reath. Foi um
momento perigoso. A ameaça era óbvia. A sua resposta foi proporcional ao
risco para Nan.
Ajudou um pouco ouvir Dez dizer isso. Mas não muito.
— Fico pensando nisso, repetindo isso toda hora em minha cabeça,
tentando pensar em uma maneira diferente que poderia ter terminado.
— Bom. É preciso força para questionar as suas próprias ações. Só não
permaneça no passado a ponto de esquecer o presente.
Reath esboçou um sorriso torto.
— Você é bom nisso.
— Diga isso à Mestra Jora algum dia. — Dez sorriu de volta. — Ela não
vai acreditar.
O humor de Reath já havia melhorado. O peso do que ele tinha feito
permaneceria, mas apenas em maneiras que o ajudariam a aprender com a
experiência. Mesmo assim, não conseguia parar de se perguntar: Aquele
cara que eu... como ele está?
Dez respondeu:
— Ah, ele vai viver. A menos que Orla Jareni acabe com ele.

— É um corte limpo, bem na articulação, então consegue usar uma prótese,


e a ferida foi cauterizada instantaneamente. — disse Orla ao ver os
analgésicos finalmente fazendo efeito no homem de lenço vermelho. —
Não precisa se preocupar com infecção.
— Não é infecção que me preocupa! Eu perdi meu braço! — berrou o
homem. A sua consciência havia retornado, junto com a fúria. — Vocês Jedi
são responsáveis por isso...
— Assim como você é responsável pela tentativa de sequestro de uma
jovem. — Orla se colocou de pé, tomando cuidado com o teto baixo do
compartimento de utilidades da Embarcação e não fazendo esforço algum
para disfarçar o desprezo em sua voz. — Você foi avisado para parar. Você
poderia ter parado. Mas optou por não parar pois pensou que um Jedi
Padawan não seria capaz de impedir que você roubasse a garota. Você está
colhendo as consequências de estar completamente errado.
O homem sabia que era culpado, obviamente, mas não estava disposto a
abandonar o que considerava a justiça de sua ira.
— Não fique se achando a toda-poderosa comigo. Os Jedi não raptam
crianças também?
Foi preciso todo o treinamento de Orla para ignorar aquele lampejo de
raiva.
— As famílias voluntariamente dão os seus filhos sensitivos à Força
para os Templos, para que possam ser treinados nos Caminhos dos Jedi. É
escolha deles. — Ela respirou fundo na tentativa de se acalmar. Funcionou
apenas pela metade. — E não se esqueça, quando uma menina grita pedindo
que a solte, isso também é a escolha dela. Se você ignora isso, então não
pode reclamar dos resultados. Agora, reúna a sua tripulação e retire a sua
nave desta estação em uma hora ou faremos isso por você.
O homem de lenço vermelho empalideceu.
— Você nos deixaria sem oxigênio? Sem comida?
— Certamente você já recirculou oxigênio pela sua nave o suficiente
para respirar por algumas semanas. Não vamos deixar que morram de fome.
Mas também não permitiremos que sequestradores circulem livremente. —
Orla fechou o kit médico. — Em outras palavras, caiam fora.

Depois que a nave criminosa se desatracou da estação e uma divisão


ordenada de mercadorias estava em andamento, Cohmac Vitus sentiu que
poderia poupar alguns minutos para se concentrar.
A sinistra escuridão a bordo da estação continuava o incomodando, mas
para explorar isso mais profundamente, ele precisava de sua energia na
Força. A meditação era um prelúdio necessário para a ação.
Antes de buscar um lugar de silêncio e privacidade, ele observou
cuidadosamente as posições de todos os ligados à Embarcação: Reath e Dez
estavam na estação com Leox, Orla no refeitório, Affie descansando em seu
beliche e Geode aparentemente encarregado da ponte. Encontrou
privacidade na parte de trás da nave, em frente a um contêiner de carga
lacrado. (Interessante que os tripulantes da Embarcação se desculpavam
com muita frequência pelo tamanho de seus aposentos improvisados,
enquanto ainda reservavam tanto espaço para carga que nem haviam
mencionado.) Cohmac soltou seu cobertor pesado, dobrando-o em uma
espécie de tapete de meditação, depois se ajoelhou nele.
Contemplo o mundo dentro de mim, pensou ele. Contemplo o mundo
sem mim.
O mantra ajudou a acalmá-lo por muitos anos; ele gostava do equilíbrio
do mantra. Mas agora havia se tornado literal demais para servir de mantra.
Eu sou um Jedi. Sempre fui um. É minha identidade e nunca procurei
mudá-la.
Mas a Ordem não responde às perguntas que permanecem dentro de
mim. As perguntas só crescem com o tempo.
A escuridão permanece nesta estação. É... muito familiar para mim
agora. Mas a forma que assume aqui é diferente e inquietante. Consciência
sem um corpo físico. O que criou isso? Como o lado sombrio tomou forma
neste lugar?
Como o lado sombrio toma forma em qualquer lugar? Às vezes acho
que nós, os Jedi, devemos ser de alguma forma os culpados. Nós que nos
recusamos a olhar para a Força em sua totalidade, para examinar as
trevas assim como a luz.
Cohmac suspeitava que se o lado sombrio não fosse tão estranho pra
eles, entenderiam mais prontamente a natureza dos ídolos.
Como podemos dividir a Força em dois? Como podemos justificar tal
ato de violência? E é violência, tal divisão, até mesmo a escuridão
separada da luz.

Affie deu a Leox todo o crédito por fazer os seus companheiros refugiados
se acalmarem. Mas tinha que admitir, os Jedi foram rápidos em dar a todos
um objetivo comum, isto é, entrar nos anéis inferiores da estação. Aquele
objetivo coincidiu perfeitamente com o dela.
Eles aceitaram o seu relatório sobre os anéis superiores com bastante
facilidade, o que era bom, pois o seu relatório era verdadeiro. Não era,
entretanto, a verdade completa. Affie estava mantendo o código dos
contrabandistas, e o que pensava sobre aquilo, pra si mesma, por enquanto.
Não faz sentido que este seja um local comum da Guilda Byne,
raciocinou enquanto se preparava para descer para os anéis inferiores com o
resto dos voluntários: Reath, Nan, Dez e um Mizi com membros longos
que, assim como todos os Mizi, preferiu não revelar os seus nomes para
estranhos. Está fora do caminho e não tem nenhuma vantagem óbvia. Mas e
se houver uma sociedade secreta dentro da Guilda, uma que esteja
operando nas costas da Scover? Eles podem estar furtando sem ela saber,
roubando pequenas quantidades de carga ou dinheiro, falsificando
registros para escondê-los da gerência. O local pré-programado pode ter
sido baixado de outra nave, de uma que faz parte disso.
Ela nem precisava perguntar se Leox fazia parte disso; ele nunca faria.
Por mais que essa teoria tenha deixado Affie brava, era de longe a mais
plausível que havia pensando. A Scover não esconderia algo assim dela,
então alguém tinha que estar escondendo coisas da Scover.
O seu peito inchou de orgulho ao se imaginar encontrando provas,
apresentando-as para a Scover, e ouvi-la dizer: Muito bem, filha...
— Certo. — disse Dez Rydan, trazendo-a de volta ao presente. O grupo
de patrulha estava em torno dele perto da entrada do anel inferior. Todos
usavam as suas próprias versões de equipamentos utilitários, exceto os Jedi,
cujas vestimentas cotidianas pareciam boas para todas as ocasiões. — Não
conseguimos obter nenhuma leitura específica sobre o que tem lá, apenas
que não é metal sólido. Se for armazenamento, pode haver itens úteis para
nós, que serão compartilhados igualmente por todo o grupo. Contanto que
todos entendam isso e aceitem os riscos, vamos começar.
— Deveria fazer isso? — Reath perguntou baixinho a Nan, que mal
chegava à cintura do Mizi.
— Estou bem. — respondeu Nan. Ela não mostrou sinais de trauma com
a tentativa de sequestro; Affie não tinha certeza se conseguiria ficar
tranquila assim nessas circunstâncias. — Além disso, Hague não consegue
escalar. Um de nós precisa ficar. Então só poder ser eu.
— Cuide bem dele. — disse Reath.
Nan sorriu.
— Ele retribui o favor.
Chega de espetáculo de flertes. Affie voltou a concentrar a sua atenção
nos túneis que levavam aos anéis inferiores.
Ao contrário de todos os outros túneis, estes mostravam sinais de danos
por seus longos anos de desuso. Enquanto a estrutura externa permanecia
intacta, trepadeiras e raízes do jardim botânico haviam crescido através
deles, transformando o que antes eram passagens claras em labirintos
espinhosos mergulhados na escuridão. Nada que Affie não pudesse ter
explorado sozinha; ela preferiria ir sozinha, caso tivesse mais inscrições do
código dos contrabandistas lá. No entanto, os túneis sinuosos eram
ameaçadores o suficiente para que ela pudesse ver a vantagem de se ter
companhia na viagem.
Dez assumiu a liderança, abaixando-se através do túnel. A gravidade
estava falhando, o que significava que a atração vinha dos anéis inferiores.
Felizmente, as raízes íngremes serviam como escada improvisada. Affie
agarrou-se com força enquanto se abaixava.
Por alguns segundos, ela estava cercada de raízes de árvores e um vasto
campo de estrelas, um contraste que a encantou pela sua estranheza. Porém
não havia tempo para relaxar e se divertir, o Mizi acima dela estava com
tanta pressa para descer que estava cortando trepadeiras para limpar o seu
caminho ainda mais.
Ela ouviu os bipes e gemidos de um droide. Olhando pra cima, viu um
8-T deslizando, com os seus passos agarrando a parede externa do túnel.
Nossa, ela pensou, essas coisas são completas.
Um estalo ecoou pelo túnel e Reath soltou um som de desconforto.
Olhando pra baixo, Affie percebeu que o seu pé havia passado direto por
uma raiz fina. Nada demais.
Assim achava, até que o 8-T passou zunindo por ela na direção de Reath
e o atingiu com um choque elétrico.
— Ai! — Reath chacoalhou sua mão com a dor. — Mas que...
O Mizi gritou de dor. Affie olhou para cima e viu outro 8-T estendendo
as pinças em direção ao Mizi, estalando os dedos dele. Mais adiante no
túnel, pelo menos mais três 8-Ts desciam em direção a eles.
Ela mal podia acreditar, mas não havia outra explicação.
— Estamos sendo atacados!
—O que eles estão fazendo? — Affie gritou tentando
acertar um dos 8-Ts. Não adiantava; outros dois surgiram em seu
lugar.
— Achei que esses droides fossem jardineiros! — gritou ela.
Reath reajustou o seu controle sobre as raízes e estabilizou o seu
equilíbrio.
— Eles são. Mas... Acho que isso significa que eles atacam qualquer
ameaça ao jardim.
— Realmente causamos alguns danos. — comentou Dez enquanto se
balançava através do emaranhado de trepadeiras para um lugar logo abaixo
de Reath. — Posso ver por que se sentiram ameaçados.
As bochechas redondas de Nan coraram; ambos os braços dela estavam
em volta a uma raiz grossa mais próxima, mas as suas pernas balançavam,
porque as pinças de um 8-T estava atacando sob os seus pés, impedindo-a
de encontrar um degrau estável.
— Vamos ficar falando sobre os sentimentos dos droides ou vocês
podem parar essas coisas idiotas?
— Se acalme. — disse Reath.
O que geralmente não era algo muito útil a se dizer, principalmente para
alguém pendurado pelos braços com um enxame de robôs atacando pelo
caminho. Mas isso os mantiveram quietos por um instante, dando a Reath
uma chance de pensar e se concentrar na Força.
Também deu aos 8-Ts a chance de se reagrupar. Dezenas deles estavam
passando pelas paredes curvas do túnel, com os seus trilhos magnéticos
funcionando tão bem que pareciam estar acelerando em um superfície
plana. Apesar de seus corpos escuros não aparecerem muito bem contra a
escuridão do espaço, podia vê-los se aglomerando pela maneira como
cobriam as estrelas. As suas pequenas garras de poda, que há pouco tempo
eram fofas, estavam estalando de forma ameaçadora. Affie deu um berro
quando um deles cortou a ponta de seu longo cabelo trançado. Se as pinças
podiam cortar videiras grossas e finos galhos de árvores, eles poderiam
cortar carne e ossos também.
Quem quer que fosse o jardineiro fanático, que há muito tempo que
havia programado esses droides, tinha feito um trabalho muito bom.
— Certo. — disse Affie bufando, enquanto se colocava em uma posição
mais segura dentro do labirinto de trepadeiras. — Isso não deveria ser um
problema. Vocês Jedi podem voar, certo? Então faça a gente voar pra fora
daqui logo.
— Não podemos voar. Alguns de nós conseguem levitar… — Disse
Dez ao balançar a cabeça.
— Dá no mesmo! — insistiu Affie.
— Mas é complicado de se fazer e difícil sob as situações estressantes.
— encerrou Dez, como se ela não tivesse falado.
— Então está me dizendo que vocês só podem voar quando não
precisam? Pra que serve isso, exatamente? — disse Affie ao fazer uma
careta.
Reath não podia deixar de pensar que ela tinha razão.
Bem abaixo deles, nos anéis inferiores, uma brilhante luz estranha e
arroxeada cintilou.
— O que foi isso? — perguntou Reath.
— Parece algum tipo de campo de energia. — especulou Dez. — Tem
algo interessante lá embaixo, o que quer seja.
— Vamos descobrir assim que estivermos seguros dos ataques dos
jardineiros assassinos... — As palavras de Affie foram interrompidas com
um grito. — Aiii. Essa trepadeira tem espinhos ou algo assim, me arranhou!
— Temos problemas maiores do que um arranhão. — disse Nan,
aparentemente com os dentes cerrados.
— Todos fiquem calmos até eu chegar até a Nan, certo? — disse Dez.
O lugar mais seguro para se mover era bem no centro do túnel, mas
também era o lugar com menos raízes ou cipós para se equilibrar. Qualquer
lugar seguro para ficar em pé estava dentro do alcance dos 8-Ts.
Dez escalou rapidamente, passando por Reath, até o lugar onde Nan e o
Mizi se agarravam a seus frágeis apoios para as mãos. Os 8-Ts se
amontoavam mais perto a cada passo que dava, mas ele nunca parava e nem
deixava de sorrir. Estendendo uma mãos, Dez convocou dois dos cipós de
cima, que se contorceram até a sua mão. Então ele jogou uma para o Mizi e
se abaixou para pegar Nan debaixo do braço.
— Siga-me com a Affie, tudo bem, Reath?
— Entendido! — respondeu Reath.
Dez acenou a cabeça para o Mizi, e, após uma contagem silenciosa entre
eles, começaram a subir. O Mizi se saiu tão bem que Reath percebeu que
Dez estava controlando a sua subida. Era muito mais fácil usar a Força para
ajudar a impulsionar alguém que já estava escalando do que simplesmente
levitá-la no ar.
Então Reath começou a seguir em direção a Affie, assim como os 8-Ts.
O enxame completo os alcançou. Affie estremeceu quando os droides
rastejaram como besouros até a curva da raiz que fornecia seu frágil
controle sobre a parede.
— Não acredito que vou ser derrotada por cabeças decepadas de
astromecânicos. — disse ela, pegando seu blaster. — Mas pelo menos vou
levar alguns comigo antes de...
— Affie, não! — Rapidamente, Reath teve uma ideia. — Não atire nos
droides. Atire nas raízes da árvore abaixo de nós.
— A árvore não é um problema!
— Mas vai ser um problema para os 8-Ts! Entendeu?
A compreensão do plano veio. Affie virou-se e disparou abaixo, na raiz
mais funda que conseguia mirar. O seu blaster acendeu um pequeno
incêndio, que então incendiou um pouco de musgo.
Por menores que fossem as primeiras chamas, foram necessários apenas
alguns fios de fumaça para disparar os alarmes dos 8-Ts. As luzes azuis
piscantes ao longo de suas bases ficaram vermelhas e todos eles giraram
como um só, girando para chegar o mais perto possível da árvore. Como
Reath havia suspeitado, proteger as plantas do fogo tinha prioridade sobre
qualquer outro trabalho que um 8-T tinha, incluindo perseguir vândalos que
invadiram os túneis.
Enquanto os droides borrifavam pequenos jatos de água sobre o musgo,
apagando facilmente o fogo, Reath foi capaz de alcançar Affie, que já havia
agarrado um cipó. Ele esperava que ela subisse ao nível do jardim botânico
sem ele, mas em vez disso ela estendeu a mão para obter ajuda, o que Reath
ficou feliz em dar. Enquanto ela se agarrava aos ombros dele, Affie disse,
ligeiramente sem fôlego:
— Ainda acho que você deveria ter me deixado atirar em um.
— Deixa pra próxima.
Seu pé escorregou e ele conseguiu abaixá-la antes que ela caísse. Reath
esperava que ela risse de sua falta de jeito e se endireitasse imediatamente.
Em vez disso, Affie cambaleou para o lado, segurando um pulso.
— Me sinto estranha. Aquele arranhão... da trepadeira...
— Está doendo tanto assim? — Reath franziu a testa — Deixe-me ver.
Ela começou a estender a mão, depois caiu contra a parede próxima e
deslizou até o chão. A marca em seu pulso já estava saltada e esverdeada, e
listras se espalhavam por ela em tons sinistros de roxo e preto.Veneno.

Orla atravessou pelo centro do globo do jardim botânico. No momento,


todos os outros atracados na estação Amaxine tinham um lugar para estar,
fosse em suas próprias naves ou no anel inferior da estação. Isso deu a ela a
chance de estudar os ídolos estranhos que encontraram a bordo.
A inquietação passou por ela enquanto se aproximava das estátuas,
aquela sinistra sensação de aviso emanando delas com tanta certeza quanto
a luz emana de uma chama. Talvez entender o que estavam olhando
ajudasse a determinar exatamente o que esse aviso vago significava.
Ela ficou cara a cara com a rainha humanoide, o primeiro dos ídolos a
aparecer. Para diversão de Orla, percebeu que elas se pareciam um pouco:
maçãs do rosto ressaltadas, sobrancelhas grossas, pose orgulhosa. No
entanto, a extrema simplicidade das vestes brancas de Orla contrastava com
as roupas entalhadas e enfeitadas de joias dessa governante de outrora.
Embora Orla não fosse acadêmica como Cohmac Vitus, ela tinha os
seus próprios dons para trazer para esta análise. A sua conexão com a Força
era instintiva, quase primitiva; ela confiava na Força para orientá-la. Às
vezes, o conhecimento preexistente atrapalhava a descoberta, colocando
limites no pensamento. Suspeitava que esta poderia ser uma dessas
ocasiões. Com todo o seu aprendizado, Cohmac já havia estudado esses
ídolos e encontrado apenas pistas intrigantes, mas nenhuma verdade.
Vamos dar uma chance ao instinto.
Orla olhou para a joia vermelho-escura que ficava no topo da coroa do
ídolo. Ela deixou a sua mente cair em uma espécie de transe, não uma
meditação completa, mas uma concentração profunda que permitia que
pensamentos aleatórios surgissem à tona. A prática deu ao subconsciente a
chance de ser ouvido.
Uma rainha. Poderosa e desafiadora. Isso parecia indiscutível.
Bem. Poderosa era indiscutível. Por que o “desafiadora” veio à mente?
Quando somos desafiadores? Quando somos opostos a algo.
Orla estudou o queixo erguido da rainha, comparando-o com o resto de
sua postura. As mãos da rainha não seguravam armas. Em vez disso, havia
uma espécie de espada cimitarra caída a seus pés. Ela não foi forjada com
os braços erguidos em algum tipo de saudação ou carregando um tesouro
saqueado; seus braços permaneceram ao lado do corpo, com braceletes
enrolados em cada pulso.
Braceletes, Orla se perguntou em um lampejo de percepção, ou
correntes?
De repente, ficou tão claro que ela ficou chocada por não ter visto isso
antes. Os ídolos não representavam líderes ou deuses.
Eles representavam os derrotados, representantes das forças
(Civilizações? Planetas?) que foram conquistados por quem construiu as
estátuas.
— Então... — murmurou ela. — Quem droga eram eles?

Zeitooine havia ensinado a Dez muito sobre venenos. A realeza de Zeit era
composta de casas traiçoeiras, sempre tentando assassinar umas às outras
por meios elaborados, tais como a adição de pó nas taças de vinho ou
veneno espalhado em fronhas. Dez reconheceu as listras pretas se
espalhando pela pele de Affie antes mesmo dela desmaiar completamente.
— Vamos. — disse ele, pegando-a pelos braços. — Um kit médico vai
cuidar disso, mas temos que resolver imediatamente.
Dez correu para a Embarcação. Reath correu tão rápido que passou por
eles, o que foi bom; ele poderia preparar o kit médico. A pele de Affie já
havia ficado amarelada e seus lábios já estavam sem cor.
— Deixa comigo! — Reath alcançou a câmara de descompressão
poucos segundos antes que Dez tivesse passado por lá com Affie. Em vez
disso, Dez se ajoelhou, segurando a garota. Em instantes, Reath voltou
correndo com um kit médico na mão.
Bem atrás dele estava Leox Gyasi.
— Ei, ei, o que há de errado com a Pequenina?
— Nada que isso não resolva. — Dez injetou o estimulante antitoxinas
contra a pele de Affie; aquele chiado e clique nunca foram tão bem-vindos.
Efetivamente, após alguns momentos, as listras escuras em sua pele
começaram a desaparecer e a respiração de Affie se aprofundou. Leox caiu
de joelhos aliviado e colocou uma das mãos na cabeça de Affie.
Ela se mexeu, abrindo os olhos.
— O que era aquilo?
— Uma trepadeira te arranhou. — disse Dez. — Aparentemente era
venenosa.
— Ótimo. — murmurou Affie. — Isso é exatamente o que
precisávamos nesta estação, além de tudo o mais. Algo venenoso.
— A diversão nunca acaba. — O sorriso de Leox poderia ter iluminado
qualquer noite. — Vamos, garota. Vamos buscar um pouco de chá de Jedha
pra você.
Dez deixou Leox levar Affie de volta à nave. Reath ficou pra trás com
ele.
— Devíamos marcar aquelas trepadeiras, talvez.
— Não vejo muitas delas por aí, felizmente. — Dez esticou os braços
acima da cabeça, grato por se mover livremente depois do confinamento do
túnel. — Mas sim, não é uma má ideia.
Reath hesitou como se houvesse algo que quisesse dizer a Dez, ou
talvez mais como se houvesse algo que ele definitivamente não queria
dizer, mas que não conseguia parar de pensar nisso.
— Ei. — disse Dez gentilmente. — Põe pra fora.
— Põe pra fora o quê?
— Põe pra fora o que quer que esteja te incomodando desde que nos
encontramos no espaçoporto.
Reath se encostou em uma das árvores próximas, estudando Dez com
uma expressão surpreendentemente adulta. Ou não tão surpreendente. Reath
era quase maior de idade, embora Dez ainda pensasse nele como o
Youngling animado por ter sido escolhido pela Mestra Jora. A amizade
deles teve que crescer junto com Reath, em algo mais igual e mais
significativo.
— Não acredito que você escolheu vir para a Fronteira. — Reath
finalmente disse. — De todos os lugares que você poderia ter ido. Até
Zeitooine...
— Zeitooine só havia intermináveis disputas mesquinhas e conspirações
sem ação. — Dez esfregou a cabeça, afastando as memórias de todas as
dores de cabeça que aquele mundo lhe causou. — Pelo menos depois dos
primeiros meses, assim que acalmamos alguns dos distúrbios. Depois que
tudo passou, não fiz nada de significativo. Na Fronteira existe uma chance
de agir.
— Acho que deveria ser mais parecido com você. — disse Reath. — Sei
que preciso abraçar esta missão. Qualquer missão que o Conselho nos der.
Mas não sou atraído pela ação da mesma forma que você.
— Às vezes acho que anseio demais por ação e emoção. Pode ser
perigoso, sabe? — Confessou Dez o que mal admitia pra si mesmo.
— É o que a Mestra Jora diz. — Mas Reath não soava como se
acreditasse nisso. Soava como se estivesse julgando a si mesmo e falhando.
Então Dez se levantou e colocou a mão no ombro de Reath.
— Escute, a Força é sobre equilíbrio, certo? De maneira ideal, é sobre
encontrar o equilíbrio dentro de cada Jedi individualmente. Mas isso não é o
mesmo que encontrar equilíbrio dentro da Ordem, o que é tão importante.
Precisamos de Cavaleiros que anseiem por aventura e de Cavaleiros que
não anseiem. Cada indivíduo traz dons diferentes para a Ordem Jedi. Nosso
trabalho é apreciar o valor desses dons, incluindo o nosso.
Reath deu a ele um sorriso torto.
— Certo. Vou tentar.
— Bom. — disse Dez, acrescentando interiormente: Vou tentar também.
— Ei, Dez, tenho uma pergunta...
— Certo, manda.
— Mestra Jora alguma vez perguntou se você sabe por que nenhum Jedi
pode atravessar o Arco Kyber sozinho?
Dez franziu a testa.
— Não, ela nunca me perguntou isso. E as pessoas atravessam sozinhas
o tempo todo. Não é como um desafio intransponível, apenas uma prática
meditativa, como caminhar em um labirinto.
— Exato! — Reath suspirou frustrado. — Mas Mestra Jora insiste que
ninguém pode atravessar aquele arco sozinho e ela quer que eu diga o
porquê.
— Não tenho a resposta. — Dez encolheu os ombros. — Tudo o que
posso dizer é que Mestra Jora é mais sábia do que nós dois juntos. Se ela te
deu um enigma pra resolver, vale a pena resolvê-lo.

Mais tarde, depois de se limpar, relaxar e voltar para a cabine, Affie ficou
indignada.
— Você está defendendo os 8-Ts?
— Eles são jardineiros. — respondeu Leox, esticado em sua cadeira,
com os pés apoiados no console da cabine. Os seus olhos estavam fechados,
como se pudesse conversar e tirar uma soneca ao mesmo tempo. Talvez
pudesse. — Guardiões do solo. Você ameaçou a razão de existir deles.
Affie suspirou e deixou pra lá. Claro que os droides estavam apenas
seguindo a sua programação. Não significava que ela tinha que gostar deles.
Além disso, ela tinha coisas mais importantes para contar a Leox.
— Escute. — começou ela. — Lá fora na estação, nos anéis superiores,
encontrei algumas linhas escritas em código.
— Código? — Leox não abriu os olhos. — Me conta mais.
— Parece algum tipo de... código de contrabandistas. Símbolos
manuscritos que lhes dão dicas sobre as direções em que podem viajar pelo
hiperespaço, esse tipo de coisa.
Leox finalmente virou a cabeça e olhou pra ela.
— Por que escreveriam isso em vez de registrar da maneira
convencional?
— Não sei. — disse Affie, flexionando o pulso ainda dolorido. — Só
escreveram.
— Essa pergunta não era retórica. Pense nisso. Quase ninguém mais
escreve símbolos com as mãos, em nenhum lugar da galáxia, até onde eu
sei, pelo menos não em planetas avançados o suficiente pra ter tecnologia.
Então, por que os pilotos espaciais rabiscam informações importantes nas
paredes?
Era bom ter a resposta antes mesmo de terminar a pergunta.
— Porque estão roubando coisas e escondendo da Scover.
Leox se endireitou na cadeira, com os colares balançando de volta ao
lugar.
— Espere. Como a Scover entra nisso?
— Um dos símbolos é este. — Affie apontou para a estrela no bolso do
macacão de uniforme. — Devem ser os pilotos da Guilda Byne
conversando entre si, mas de uma forma e em um lugar que a minha mã...
Quero dizer, um lugar que a Scover não saberia.
Ele ponderou as suas palavras por um longo tempo. Affie mal podia
esperar para vê-lo se inflamar com o mesmo espanto e raiva que ela sentiu.
Se ao menos Geode estivesse lá, em vez de se recristalizar no seu quarto!
Ela queria que a sua descoberta fosse testemunhada e confirmada.
Mas então Leox balançou a cabeça.
— Não acontece muita coisa na Guilda sem que a Scover Byne saiba.
— Claro que não. Mas ela não deve saber disso!
— Por que não? — Os olhos azuis claros de Leox encontraram os de
Affie com uma franqueza incomum. — As coordenadas para esta estação
foram pré-programadas na Embarcação, como parte do download de
navegação padrão que toda nave recebe ao ingressar na Guilda. Isso não é
coincidência.
A frustração sugou a paciência de Affie. Por que ele não conseguia
enxergar?
— Esses ladrões dentro da Guilda poderiam ter adulterado o download.
Colocado as informações que precisam para operar pelas costas da Scover...
— E compartilhá-lo com toda nave nova da Guilda, mesmo que não
façam parte dessa suposta conspiração?
Affie cruzou os braços sobre o peito.
— Então como você explicaria isso?
Leox demorou um tempo antes de responder, com a voz baixa e
paciente.
— Eu sei, e você sabe, que nem toda aquisição da Guilda é o que você
chamaria, no sentido mais literal, de legal. A Scover tem muito a esconder
das autoridades. Este parece ser um bom lugar pra isso.
— Ela não deveria esconder de mim! — insistiu Affie.
Não houve resposta. Leox apenas olhou pra ela, com a sua expressão
melancólica, mas gentil. Foi a gentileza que mais enfureceu Affie, a ideia de
que ela precisava de gentileza, de que era apenas uma idiota e ingênua que
Scover mimava e divertia, em vez de uma verdadeira piloto e oficial da
Guilda por direito próprio. Muitos outros pilotos a menosprezavam. Leox
nunca havia menosprezado ela. Não até aquele momento.
Sem dizer mais nada, ela saiu da ponte, meio que esperando que Leox a
seguisse pra se desculpar, mas ele a deixou ir.

Orla Jareni observou Affie invadir o corredor principal da Embarcação,


praticamente deixando um rastro de fumaça preta de raiva. Pela porta da
cabine, Orla teve um vislumbre de Leox observando-a partir, com a
preocupação estampada em seu rosto bronzeado pelo sol.
Não é um bom momento para bater papo, ela pensou.
No momento, Orla tinha outras coisas para fazer. Não pretendia se
aventurar de volta aos ídolos antigos até que Cohmac pudesse ir com ela.
Dez ainda estava planejando uma nova maneira de penetrar nos anéis
inferiores da estação e Reath estava lidando com os outros refugiados, mais
particularmente a Nan, ao que parecia.
Orla ainda esperava ter uma conversa sobre a compra de naves
espaciais. Tanto a Affie quanto o Leox pareciam estar distraídos no
momento. Quanto ao Geode... Bem, um Vintiano provavelmente tinha
necessidades diferentes em uma nave do que um humanoide teria. Orla teve
que colocar essa conversa em espera.
Além disso, ela e Cohmac tinham muito o que conversar além dos
ídolos.
Orla o encontrou no "convés de observação" da Embarcação: assim foi
intitulado o grandioso corredor que por acaso tinha uma pequena janela.
Cohmac a viu entrar, mas não falou nada.
— Você colocou o seu capuz de novo. — disse ela. — Nunca é um sinal
positivo.
Geralmente ela levava uns cinco minutos pra fazer Cohmac suspirar.
Desta vez, ela o pegou logo de cara.
— Suponho que pedir privacidade nesta nave é inútil.
— Isso eu não sei. O que é fútil é esperar que velhos amigos não
compreendam quando está tendo problemas.
— Dos muitos problemas nesta estação...
— Me poupe. — disse ela, sem grosseria. — O que estou falando está
pairando sobre você desde muito antes do desastre do hiperespaço.
O vínculo de Cohmac e Orla havia se formado durante os seus anos de
Padawan por causa da crise de reféns Eiram e E’ronoh. Os erros que
cometeram naquela época, por não serem cautelosos o suficiente para
responder aos sinais, não pesquisar o suficiente antes de entrar em ação,
foram redimidos a um preço terrível.
Às vezes lembrava a si mesma de ver o lado bom de tudo isso. Se a
missão tivesse resultado de qualquer outra forma, aquela parte da galáxia
iria algum dia confiar na República, ou mesmo escolher se juntar a ela? O
Farol Estelar teria sido construído? Orla duvidava disso.
Mesmo assim, nem ela nem Cohmac conseguiam relembrar desses
eventos sem arrependimentos. Isso foi algo que Orla entendeu sem ter que
perguntar. Eles cresceram e se tornaram dois indivíduos muito diferentes,
mas o vínculo entre eles durou e sempre duraria.
Orla sabia que suas decisões de se tornar uma Perseguidora do Caminho
poderiam separá-la de muitos da Ordem Jedi. Mas não de Cohmac.
— Nunca guardei segredos de você. — admitiu ele.
— Você já tentou. — disse Orla. — Eu só nunca deixo você escapar
impune.
— Não me lembre.
Ela pretendia lembrá-lo em intervalos regulares ao longo de suas vidas,
mas ela poderia deixar isso de lado por um dia.
— Vai me fazer interrogar você?
— Precisa mesmo? — Os olhos escuros de Cohmac procuraram os dela.
— Voltar, a caminho de um lugar tão perto de E’ronoh e Eiram,
encontrando-nos em perigo novamente, tendo que adivinhar os perigos que
temos pela frente...
— É uma situação muito diferente. — Orla apressou-se a dizer. As
vibrações daquele evento de muito tempo atrás eram fortes o suficiente, sem
precisar se aprofundar muito nisso. Ela não tinha certeza se estava pronta
para suportar isso.
— Sinto que haverá mais paralelos. — disse Cohmac. — Existem...
outras ressonâncias ao nosso redor. As suas formas permanecem obscuras,
mas antes que esta missão termine, nós as veremos claramente.
— Entendi. — Nada mística, Orla achou que era hora de mudar de
assunto, mas então ela sentiu. O mesmo arrepio gelado terrível que a
dominou antes, aquele mesmo lugar sombrio distante.
— Cohmac! — gritou ela, mas ele não conseguiu ouvi-la. Ambos
estavam perdidos na visão petrificante.
Reath caminhou pelo perímetro do nível do jardim botânico, quase
ociosamente, como se não estivesse de vigia nos Mizi, Orincanos e alguns
dos outros que tentaram saquear antes. (Ele, pessoalmente, teria esperado
mais para permitir que todos embarcassem livremente de novo, mas este
não era um tópico em que se sentisse confortável para desafiar um Mestre.)
Enquanto Leox habilmente os acalmava e os túneis para os anéis inferiores
forneciam os seus próprios impedimentos à entrada, parecia provável que
um solitário de qualquer um dos grupos pudesse tentar algo. Se eles
pegassem algum equipamento da estação, Reath honestamente não se
importaria. Qualquer pessoa que precisasse tanto de peças a ponto de roubar
de naves centenárias poderia pegá-las. Mas se eles roubassem um dos ídolos
antigos, eles apenas o venderiam pelos metais preciosos ou joias, sem nem
mesmo se preocupar em estudá-los. Sacrilégio.
O pior de tudo seria outra tentativa de sequestro. Reath novamente se
lembrou do momento em que seu sabre de luz cortou o braço do homem, o
baque fraco através da lâmina que anunciava que havia atingido e destruído
o osso. Estremeceu. As palavras gentis de Dez ajudaram, mas isso não era
algo que poderia deixar totalmente para trás. O ato de atacar outra pessoa
com um sabre de luz era horrível e Reath esperava que continuasse assim.
Que eu nunca me esqueça, ele pensou, que é uma criatura viva do outro
lado da lâmina.
Olhou para os arcos da floresta escura dentro do átrio...
Eles se foram. Tudo se foi. Reath ficou sozinho entre as plantas e
árvores, mas não as mesmas árvores. Ou elas foram apenas alteradas de
alguma forma? Com o seu sabre de luz na mão, já aceso. Sons deslizantes e
arrogantes encheram o ar de todos os lados, deixando-o tenso.
O nevoeiro, quase fumegante com o calor repentino, o envolveu. Reath
olhou em volta desesperadamente, tentando entender como o cenário havia
mudado. Ele foi transportado para outra parte da estação? Para outro
planeta? Ou ele de alguma forma falhou em ver o verdadeiro perigo ao seu
redor todo esse tempo?
À sua frente, ele sabia, estava a maior ameaça de todas. Reath não
entendia como sabia disso, mas tinha tanta certeza disso como qualquer
outra coisa que já conheceu na vida. Mudou o seu corpo para a posição de
batalha, respirou fundo e tentou se preparar contra a ameaça que não podia
ver.
Então, em meio à névoa, apenas alguns passos à frente dele, veio um
súbito raio de luz azul. Uma lâmina de um sabre de luz.
Um sabre que seria usado para matá-lo.
T ropeçando em frente
— Por que está fazendo isso?
através da névoa, Reath gritou:

Isso deve resolver. Nenhum Jedi iria voluntariamente machucar outro. O


outro Jedi chegaria perto o bastante para ver Reath, perceberia que não
eram inimigos e guardaria a arma. Reath estava tão certo disso que seus
músculos relaxaram um pouco, pronto para declarar a emergência como
alarme falso.
Ao invés disso, a figura pulou pra frente a uma velocidade que fez ele
(Ela? Ou uma coisa?) parecer um borrão. Reath não teve tempo de focar em
seu agressor até que um pé com botas o acertou em cheio no peito,
derrubando-o no chão. Ele tentou respirar sem sucesso; ele tentou se erguer,
apenas para afundar suas mãos em uma lama quente, escorrendo.
O zumbido de um sabre de luz deixou seus ouvidos mais apurados e
enviou um calafrio por sua pele. Não era sua própria lâmina, aquela tinha
sido tirada dele, então deveria ser a de seu oponente, subindo por sobre a
cabeça e então cortando...
E nada. Reath encontrou-se de quatro no chão da estação espacial,
cercado por nada mais sinistro do que samambaias e alguns droides 8-T
satisfeitos. O coração dele acelerou com adrenalina, com o seu corpo todo
ainda no limite por uma luta que não estava acontendo mais ou sequer
aconteceu.
Reath se levantou, respirou fundo, e trouxe a percepção de volta para o
seu corpo. Normalmente ele convocaria a Força para centrar-se, mas não
agora. Eles estavam cercados por escuridão, uma escuridão que buscava
aterrorizar e confundir os Jedi.
A julgar pela visão que Reath acabou de ter, ela também buscava jogá-
los uns contra os outros.

A pequena área de comunicações havia se tornado um lugar para os Jedi


consultarem e planejarem. Orla desejava que tivessem escolhido outro
lugar, talvez um sem o teto baixo e arqueado, algum lugar em que ela
pudesse ficar de pé. Mas a Embarcação oferecia poucas opções e pelo
menos dessa maneira, ela, Cohmac e Reath tinham que ficar bem pertos um
do outro, o que ela achava reconfortante. Dez, com os seus braços e pernas
compridos, estava na entrada, o que se não fosse reconfortante, era
provavelmente mais confortável pra ele.
— Sabemos o seguinte... — disse ela, contando os pontos em seus
dedos longos. — A escuridão reside dentro dessa estação. Ela tem uma
"sensação" bem diferente do tipo normalmente percebido nas plantas
mergulhadas no lado sombrio. Isso significa que não conseguimos
determinar a sua fonte.
Cohmac assentiu. O seu olhar analisava a meia distância, em algum
lugar conhecido, mas oculto.
— Todos nós sentimos que esses avisos estão emanando dos ídolos.
Pela aparência deles, tenho quase certeza de que não são originais da
estação. Portanto os ídolos foram colocados ali mais tarde por alguma razão
importante. Orla teorizou que eles representam povos conquistados, o que,
se for verdade, acrescenta outro fator para nossa consideração. Selar uma
escuridão derrotada dentro desses ídolos e fixar algum tipo de aviso
psíquico sobre esse selo, poderia explicar. É claro, isso é apenas uma
possibilidade.
Orla deu de ombros.
— Vamos chamá-la de uma hipótese em progresso.
Reath inclinou-se pra frente silenciosamente, como pedindo permissão
pra falar, a qual foi dada.
— A Força emana da vida. Não de objetos inanimados. Há lendas de
artefatos poderosos na Força criados pelos antigos Sith. Mas os Sith não
teriam aprisionado a escuridão, com certeza. Eles a teriam libertado.
— Você supõe isso porque cada artefato que conhecemos tem as suas
origens pelos Jedi ou pelos Sith, que apenas os Jedi ou os Sith poderiam
criar um artefato desses. Não podemos fazer suposições assim. Outros já
possuíram esse poder na Força. — disse Cohmac.
Orla considerou as possibilidades.
— Então o que fazemos? Continuamos ignorando os avisos? Porque
aqueles avisos são intensos.
— Ignorá-los seria perigoso. — concordou Cohmac, juntando os dedos.
— Se os ídolos contêm a escuridão e avisam sobre ela, então essa escuridão
deve ser examinada. Deve ser aprisionada ainda mais.
— Eles já estão bem isolados aqui. — disse Dez de onde estava na
entrada. — Em uma estação onde ninguém viaja e em um canto obscuro do
espaço.
— Não necessariamente. — respondeu Cohmac. — Affie indicou que
atualmente alguns comerciantes a usam, de tempos em tempos. Não seria
surpresa nenhuma se essa estação for reivindicada em breve por ainda mais
viajantes. Mais um motivo para agir.
— Não consigo ver mal para a estação em remover os ídolos. — disse
Orla. — Não há mais nada aqui além de algumas plantas e droides
jardineiros. Então vamos testar a hipótese.
— Como? — perguntou Dez.
— Há duas maneiras. — respondeu Orla. — Ou tentamos mover e isolar
as estátuas, ou as destruímos.
— Mas não podemos destruí-las. São artefatos antigos! — protestou
Reath. — Elas são história!
Orla olhou pra ele.
— Mais precisamente, se destruirmos algo que na verdade é um sistema
de contenção do lado sombrio, acabaremos libertando a escuridão. Então
voto na primeira opção.
Dez franziu a testa.
— Há uma outra possibilidade, uma que sequer investigamos
devidamente. E se a escuridão que está confundindo nossas mentes estiver
conectada com seja lá o que está sendo protegido pelo campo de energia nos
anéis inferiores da estação?
Todos eles trocaram olhares. Todos pensaram sobre isso, mas
aparentemente com conclusões variadas: Reath parecia completamente
duvidoso, enquanto Cohmac fez uma cara como alguém aliviado por ouvir
bom senso, para variar. Orla considerou-se aberta a qualquer possibilidade,
mas não para um debate infinito. Hora de fazer algo.
— Então testaremos essa hipótese também. — disse ela. — Mas
primeiro você precisa descobrir como descer até lá sem ser arranhado por
plantas venenosas e sem Oitotês te... podando até a morte.
Isso fez todos rirem, como Orla intencionava. Bom. Risadas faziam as
pessoas relaxarem e sorrir. Afastava o lado sombrio e os trazia para perto da
luz.

Reath dificilmente culparia Affie, Nan e o Mizi se eles se recusassem a


fazer qualquer coisa nos anéis inferiores da estação, mesmo se eles
conseguissem remover as plantas venenosas (gentilmente, para não
perturbar os 8-Ts), jogando-as inofensivamente para o lado. No entanto,
todos os três juntaram-se ao grupo para a próxima tentativa.
— Deve ter algo bom lá embaixo. — argumentou Nan enquanto
checava novamente seu cinto de utilidades, olhando para cima apenas uma
vez para sorrir para Reath. — De jeito nenhum vou deixar tudo pra vocês.
O Mizi assentiu concordando, a diferença sendo, na opinião de Reath,
que Nan estava brincando com ele, mas o Mizi estava completamente sério.
Era mais difícil interpretar a Affie. A sua atenção parecia só
parcialmente focada na tarefa.
— Então qual é nosso plano? Temos um plano, certo? Melhor do que o
último? — perguntou ela.
— Vamos dizer que temos um plano de fazer um plano. — começou
Dez. — Especificamente, faremos um reconhecimento. Fazer um estudo
mais completo desse nível e ver se podemos encontrar pontos de entrada em
potencial além do túnel principal, e assim por diante... sem disparar os
Oitotês dessa vez.
— Isso seria preferível. — disse o Mizi, com o rosto sério.
Era realmente o único passo seguinte. Mas Reath não podia deixar de se
perguntar se podiam pegar o que aprenderam da última vez e usar
taticamente. Mestra Jora sempre dizia: Se você usar a sua derrota para
aprender o caminho até a vitória, não foi uma derrota afinal.
Todos se deslocaram, prontos para se espalhar. Antes de começarem, no
entanto, Reath desabafou:
— Tenho uma ideia. Ou ela é muito boa ou completamente absurda.
— Se é absurda, provavelmente é ótima. — O entusiasmo de Affie foi
renovado. — Aprendi isso trabalhando com Leox e Geode.
Sem dúvida. Reath virou-se para Dez.
— Os Oitotês são programados para atacar qualquer ameaça para as
plantas nessa estação, certo?
— Parece que sim. — Dez repousou as mãos nos quadris. — Onde quer
chegar, Reath?
— Observe. — Reath foi até uma das plantas menores da estação, uma
floração amarela em um contêiner redondo do tamanho de um punho.
Muitas delas ladeavam as passagens; os contêineres pareciam operar como
berçários improvisados para os 8-Ts. Gentilmente, ele removeu o contêiner
do solo. Enquanto ele limpava um pouco da terra, um punhado de 8-Ts se
viraram para encarar Reath. Esse comportamento claramente era suspeito.
Com muito cuidado, ele enfiou o contêiner de flores nas dobras de suas
vestimentas, então ajustou o cinto ao redor dele. O nó era para assegurar
que ele pudesse dar uma cambalhota acrobática no ar sem ferir uma única
pétala. Os 8-Ts encararam por mais um segundo ou dois antes de virar e
continuar o seu trabalho.
— Pronto. — disse ele. — Eles percebem que isso não conta como
danificar as plantas. E se usarmos essas durante nossa missão...
— Não vão nos atacar. — disse Nan. — Porque nos machucar
significaria machucar as plantas!
Dez também sorriu, e até o Mizi assentiu. Affie, no entanto, cruzou os
braços.
— Então está dizendo que faremos as plantas de reféns. Usando-as
como escudos.
Quando ela falava desse jeito, parecia pior. Mas...
— Bom, sim.
— Absurdo. — disse Affie. O sorriso que escondeu tão bem antes
finalmente apareceu. — E ótimo.
Dentro de alguns minutos, cada membro do grupo estava usando as suas
próprias flores. Os 8-Ts achavam eles mais interessantes agora que vestiam
plantas, mas não agiram enquanto voltavam para o túnel e começavam a sua
descida.
— Agora sobre aquele campo de energia. — Dez encarou a luz piscante
e arroxeada. — Nada a ser feito além de descer até lá e dar uma olhada mais
de perto.
— Concordo. — Reath começou a descer, seguido pelos outros. Para o
seu espanto, os 8-Ts zumbiram mais perto e começaram a descer pelas
paredes do túnel novamente.
Dez xingou baixinho.
— Parece que irão sacrificar algumas flores pelo bem maior.
— Com bem maior você quer dizer nos matar.
— Isso é o que eles dizem, acho.
Mas Dez estava errado. Os 8-Ts enxamearam pelas paredes do túnel até
a ponta do anel inferior, estenderam várias ferramentas, e então, no instante
seguinte, a luz arroxeada desapareceu.
— Os droides desligaram o campo de energia para nós. — disse Reath,
maravilhado. — Para se certificarem que não iremos fritar as plantas!
Dez realmente acenou para os 8-Ts.
— Não se preocupem. — disse ele, dando tapinhas na floreira que
repousava contra o seu peito. — Vamos trazê-las de volta sãs e salvas.
Os droides estavam aliviados? Planejando vingança? Reath não sabia e
não se importava, nem quando finalmente alcançaram a última e mais
secreta parte da estação Amaxine.

Assim que Affie chegado nos anéis inferiores, ela se sentiu ligeiramente
decepcionada. Não era nada diferente dos anéis superiores, eram os mesmos
ladrilhos, mesmos corrimões, exceto que estava completamente desprovido
de plantas e ainda não tinha visto nada de código de contrabandistas nas
paredes. Ainda.
O anel da entrada era bem estreito; outros corredores curvos, ainda
inexplorados, deveriam dar a volta na circunferência. Sem o brilho roxo do
campo de energia, a única iluminação vinha da estação acima. Ainda assim,
eles tinham os bastões luminosos, então tinha luz o bastante para uma
busca.
— Então, vamos nos separar. — sugeriu Affie. — Checar diferentes
passagens sozinhos. — Não tem como ser mais óbvia? Ela se repreendeu.
Mas aparentemente nada sobre a sua sugestão pareceu suspeita para Dez
ou Reath.
— Claro. — disse Dez. — Não parece haver nada muito perigoso aqui
embaixo. Podemos muito bem cobrir o terreno o mais rápido possível.
Affie assentiu como se aquilo fosse exatamente o que estava pensando.
Finalmente, eles se separaram e estava livre para investigar uma das
passagens com a luz de seu bastão luminoso. Affie se perguntou se
encontraria os códigos, se os outros também iriam e se seriam capazes de
entendê-los tão rápido quanto ela.
De fato, após a primeira curva, as primeiras linhas de escrita
apareceram. Ela foi diretamente para elas, ansiosa para traduzi-las o melhor
que pudesse. Sobretudo, esperava encontrar algo que inocentasse a sua mãe
e provasse para o Leox que havia um elemento corrupto trabalhando dentro
da Guilda.
— Ali. — sussurrou ela. Os seus dedos tocaram o metal bem ao lado do
símbolo da estrela da Guilda Byne, ainda contrastando contra o fundo
esbranquiçado. Isso não foi escrito há tanto tempo, no máximo uma década,
palpitou ela. Ela tentou acompanhar, incerta de como interpretar as
próximas marcas, até encontrar um pequeno desenho de uma ave de rapina,
com o bico para baixo e com as penas da cauda para cima.
Affie encarou até que a imagem parecesse estar queimando em seus
olhos. Ela reconheceu imediatamente, mas recusou-se a acreditar que
significava o que claramente parecia significar.
Pode haver milhares de interpretações, disse a si mesma. É verdade.
Mas os seus pais (os seus pais biológicos, aqueles no qual se lembrava
vagamente, mas ainda amava profundamente) tinham uma nave chamada
Mergulho do Kestrel.
Seja lá quem escreveu isso estava falando sobre os seus pais.
Era isso ou foi escrito por seus próprios pais.

A jornada de Reath através de outro túnel foi mais curta, ou pelo menos a
parte que seguiu sozinho. Era mais escuro lá embaixo, tanto que o seu
bastão luminoso parecia mais fraco, uma ilusão de ótica, com certeza,
porém inquietante. Cada passo seu soava anormalmente alto enquanto
abaixava a sua cabeça sob os arcos curvados das vigas do túnel.
Se a vida vegetal tomou quase todas as outras partes dessa estação,
Reath se perguntou, por que nunca chegou até aqui embaixo? Aquele
campo de energia serve para proteger o que está aqui embaixo ou nos
proteger dele?
A passagem dele e a de Dez se cruzavam após apenas alguns metros,
com nada além de um punhado de armários de armazenamento e alguns
rabiscos na parede para marcar a importância do local.
— Parece que compartilhamos o mesmo destino. — disse Dez. —
Venha. Vamos dar uma olhada.
Ele sentiu uma pontada de orgulho. O que seus amigos diriam, aqueles
que tanto idolatravam Dez Rydan? Eles estavam ali, juntos em uma missão!
Parceiros!
Certo, possivelmente Dez estava animado demais sobre mergulhar na
escuridão desconhecida, mas era como Dez disse mais cedo: se algumas
pessoas não gostavam de aventuras, outras deveriam amá-las.
— Olhe isso. — disse Dez. Ele estava apontando para uma porta
circular à frente. As dobradiças estavam no centro do topo e da parte de
baixo, sugerindo que ela girava para abrir.
— Estranho. Por que construí-la desse jeito?
— Pode significar algo. Pode não significar nada. — Dez reajustou a
floreira embalada contra seu peito, certificando-se de não amassar nenhuma
das folhas. — Vamos lá, vamos ver se há alguma coisa interessante do outro
lado.
Reath se conectou com a Força, sabendo que Dez fazia o mesmo. Não
sentiu senciência do outro lado, nem ecos de escuridão.
— Nada vivo, de qualquer forma.
— É o que parece. — Dez seguiu em frente rapidamente, deixando
Reath vários passos atrás. — Agora, isso está trancado ou...
A porta girou, rotacionando em seu eixo de dobradiças central tão
rápido que levantou Dez do chão, girando-o para o outro lado da porta.
Reath piscou, subitamente sozinho.
— Ei. Dez, gire isso. — Pareceu, na verdade, bem engraçado; Dez tinha
senso de humor suficiente para apreciar isso.
Mas Dez não estava rindo. Não estava falando. A porta não girou
novamente.
Vibrações começaram a tremer através do chão e das paredes. Através
de finas fendas na porta, saiu uma luz clara de dentro, tão forte que Reath
recuou e ergueu uma das mãos para proteger os olhos.
— Dez?
Começou um estranho som de trituração, como motores ou alguma
outra grande máquina. Seja lá o que estivesse acontecendo, não parecia
bom, e Dez Rydan estava preso no meio daquilo.
Dez gritou sem palavras, um som que traia a dor. Reath correu na
direção da porta, ignorando a luz cegante, e tentou forçá-la a abrir. Mas as
dobradiças que giraram tão facilmente antes se recusaram a ceder.
A luz brilhava ainda mais, tanto que Reath precisou fechar os olhos.
Através de suas pálpebras ele viu um cordão de frágeis veias e capilares, em
silhueta contra um vermelho sem graça.
No segundo seguinte, estava escuro. A vibração e o som pararam.
Levou um momento para Reath recalibrar.
— Dez? Você está bem?
Nenhuma resposta.
Reath empurrou a porta mais uma vez sem muita esperança. Dessa vez
ela abriu imediatamente. A porta era surpreendentemente pesada; o peso
dela quase derrubou Reath, como fez com Dez. Ele podia ver dentro do
túnel, e era estreito, intensamente sulcado.
Dez não estava lá dentro.
Com cuidado, Reath inclinou-se pra dentro para ver melhor. Ainda nada
de Dez, mas vislumbrou a dois anéis Helix, eram antigos mais ainda
reconhecíveis. Anéis Helix eram potenciadores de energia incríveis, o
equivalente a coaxium puro suficiente para abastecer quarenta ou cinquenta
espaçonaves grandes; eles raramente eram usados, pois geravam energia
demais quando a finalidade de uso não envolvia o hiperespaço.
Eles tinham a tendência de dar defeito, principalmente quando mais
velhos, e criavam picos de energia capazes de derreter metal, explodir
circuitos, ou...
Ou desintegrar um corpo humano, até um nível atômico.
O primeiro indício veio com uma onda de pânico e
sofrimento, uma tão forte que perfurou a consciência de Cohmac
como uma fina agulha prateada. Ele se levantou na cabine, quase
esbarrando contra Geode.
— Algo está errado.
— Vivemos em um universo imperfeito. — disse Leox, que estava
mastigando um bastão de algo que cheirava como menta. — Então isso é
um fato.
— Quero dizer que algo está errado com nosso pessoal a bordo da
estação, nesse momento. — Cohmac apressou-se para a câmara de
descompressão. Leox estava a apenas alguns passos atrás; todo seu torpor
descontraído desapareceu no primeiro indício de que Affie Hollow poderia
estar em perigo.
Eles chegaram apenas na clareira arborizada da estação quando
encontraram Nan, que estava respirando pesado e, por alguma razão, tinha
um vaso de flor preso em seu bolso. Atrás dela, Cohmac pode ver o Mizi
correndo na direção de seu povo, e Reath Silas emergindo das trepadeiras,
com o seu rosto pálido. Nan suspirou e disse:
— Ouvimos um som alto, mas não vimos nada, Reath foi o único que
viu...
— Viu o quê? — Cohmac resistiu a vontade de colocar as mãos nos
ombros da garota. Provavelmente confortaria um Padawan, mas para Nan
poderia parecer uma ameaça. — Diga-me.
— Dez se foi. — sussurrou Nan.
Se foi. O que isso significava? Ele viajou para outra parte da estação?
Para fora da estação completamente? Nenhuma das naves atracadas partiu,
os sensores da Embarcação teriam percebido.
Ou ela queria dizer...?
Affie finalmente surgiu das árvores perto do túnel. Leox a chamou:
— O que aconteceu com Dez?
— Não sabemos. — A sua voz estava estranhamente fraca, como se
estivesse em choque, o que parecia estranho para Cohmac. A jovem mal
conhecia Dez. — Mas não é... não é nada bom.
Finalmente Reach os alcançou. Ele ergueu o rosto lentamente para
encontrar os olhos de Cohmac. Tudo nele irradiava tristeza e luto.
Logo, Cohmac sabia. Aconteceu novamente. Assim como aconteceu com
o Mestre Simmix. Os ecos me avisaram, mas eu não vi a tempo. Essa parte
da galáxia reivindicou o seu preço.
Ainda assim ele precisou dizer as palavras:
— Diga-me como Dez caiu.
Os próximos minutos foram um borrão de detalhes que não faziam
sentido (plantas como reféns?), mas a essência permanecia a mesma.
— Anéis Helix? — perguntou Leox, seriamente. — E nada mais dentro?
Isso geralmente significa... — Ele deixou no ar enquanto olhava Cohmac de
esguelha. Com razão. Era algo difícil de se dizer em voz alta. Mas precisava
ser dito.
— Vaporizado. — disse Cohmac. Aquilo foi dito calmamente, uma
conclusão lógica, nada mais. — A explicação mais provável é que Dez
Rydan foi vaporizado instantaneamente.
Affie finalmente os alcançou e, de alguma forma, Cohmac a chocou,
como se ela estivesse pensando em algo completamente diferente.
— Você quer dizer que ele está morto? — perguntou Affie.
— Sim. — Cohmac conectou-se na Força, tentando encontrar qualquer
vestígio da mente e espírito do jovem Jedi.
Só lhe responderam com o silêncio.

Orla levou alguns minutos para juntar as peças do que exatamente


aconteceu, conseguindo as informações apenas dos exaustos e em estado de
choque Reath e Affie. Cohmac já havia andado pela extensão da nave, na
direção da sua cama, declarando a sua intenção de meditar. Sem dúvida ele
estava se lembrando de Mestre Simmix. Orla tinha o seu próprio luto pra
carregar, mas ela sempre foi capaz de colocar as suas emoções de lado até
ter tempo para lidar com elas. Cohmac sentia as coisas mais intensamente e
mais rapidamente. O equilíbrio dele era mais difícil de manter.
Se houvesse algo a ser feito, qualquer esperança imediata, Orla sabia
que Cohmac não teria recuado; ele, como o resto deles, teria feito qualquer
coisa para trazer Dez de volta.
Mas não havia esperança. Nada além de aceitar que um jovem corajoso
e compassivo foi morto.
Seria melhor se tivesse sido morto em batalha, Orla pensou. Ou durante
uma missão de resgate. Então a sua morte pelo menos teria um significado.
Isso? Um equipamento defeituoso em uma estação espacial antiga? Era tão
arbitrário, tão injusto.
Assim como a vida.
— Tudo bem. — disse Orla para o grupo reunido, assumindo a
liderança no lugar de Cohmac. — Estão todos bem? Sem ferimentos?
— Sim. — respondeu Reath, o que não parecia verdade, visto que ele
tinha os olhos extremamente vermelhos e uma faixa de queimadura na testa.
Mas ele estava de pé, movendo-se e falando, então um escaneamento de
radiação pode esperar até mais tarde. Affie parecia estar em choque, o que
era bastante compreensível. O Mizi voltou para o seu povo. Nan não parecia
completamente afetada, apesar de estar com uma expressão triste,
provavelmente em consideração pelos sentimentos daqueles que conheciam
Dez a mais tempo. Aquela coisinha é mais forte do que parece, Orla
decidiu. Imagino o que ela já viu por aí.
— Então ninguém precisa de atenção médica. — disse ela. — Certo.
Isso é o que eu preciso que façam: Reath e Affie, limpem-se e descansem
por alguns minutos; Nan, se você estiver bem o suficiente para explicar isso
para os outros refugiados, ia ser muito apreciado, e não se preocupe, aquele
canalha do lenço vermelho se foi faz tempo. — Nan se iluminou, então
percebeu que o seu sorriso era inapropriado e o reprimiu. — E leve essas
flores de volta para onde pertencem, pode ser? Os Oitotês estão pairando
sobre a câmara. A última coisa que precisamos é de uma invasão.
— Eu faço isso. — disse Leox, que esteve parado silenciosamente na
orla do grupo. Ele cuidadosamente pegou a pequena floreira de Affie, que
não olhou para ele nenhuma vez.
— Não há boas palavras para dizer. — começou Orla. — Perdemos um
bom homem e um ótimo Jedi. Teremos que procurar por respostas sobre o
que aconteceu, e logo. Primeiro, devemos a ele e a nós mesmos um
momento para refletir sobre quem Dez Rydan era, e para reconhecer a sua
unidade com a Força.
O grupo se separou desajeitadamente, arrastando-se em várias direções
em silêncio. Orla colocou uma das mãos na cabeça tempo o bastante para
respirar um pouco.
Não podia se permitir o mesmo tempo para refletir que concedeu a
Cohmac e Reath. Não quando precisava descobrir o que fazer com os
ídolos.

Affie tomou um banho rápido no pequeno banheiro da Embarcação,


tudo como se estivesse no modo piloto-automático. O processo havia se
tornado esquisito, como se agora o seu corpo fosse estranho pra ela. Parecia
viver completamente em outra galáxia, uma que ela não mais habitava e
podia apenas observar de uma grande e silenciosa distância.
Mais tarde ela trançou os longos cabelos castanhos escuros para trás e
vestiu um macacão de uniforme limpo. Normalmente isso a fazia se sentir
melhor, independentemente de como se sentia. Em vez disso, os seus dedos
não paravam de tocar o escudo bordado da Guilda Byne, com alguns fios
desfiando, mas nunca se soltavam.
Quando ela saiu do banheiro, Leox estava parado no corredor,
esperando.
— Pode entrar. — disse ela disse, com pesar.
— Não é a minha preocupação agora. Estou mais preocupado com você.
Parece que foi atropelada por uma debandada de gundarks.
— Eu saí para uma investigação rotineira e alguém morreu. — gritou
ela, surtando. — Eu deveria dar uma festa?
— É claro que não. — disse ele, irritantemente calmo. — Mas você tem
um espírito feito de duraço. É preciso mais do que isso para te derrubar.
A Mergulho do Kestrel. Quem estaria escrevendo sobre a Mergulho do
Kestrel? Affie continuava revirando aquilo em sua cabeça. Ela tinha
interpretado outros símbolos como nomes de naves antes, mas ela deve ter
entendido algo errado, porque parecia como se... Como se os pilotos
estivessem escrevendo sobre as próprias naves. O que devia ser impossível,
porque senão isso significava que seus pais estiveram ali, naquela mesma
estação. Eles não iriam conspirar contra a Scover. Sei que não iriam. Eu
mal lembro deles, mas tenho tanta certeza...
— Não vou a lugar algum. — disse Leox.
— E se não tiver um espírito feito de duraço? — A raiva ardeu dentro
de Affie, incandescente, infundindo-a com uma força renovada. — E se isso
for exatamente o bastante para me derrubar? E se for capaz de sentir
compaixão por outras pessoas?
Leox ergueu as mãos.
— Não estou dizendo... Sim, perder o Dez é uma coisa horrível. Mas há
mais do que isso, não?
— Não. — Com isso ela se virou e se afastou.
Afastar-se de Leox, infelizmente, significava afastar-se de sua cabine.
Isso a levou até o refeitório, no entanto. Se ela pegasse algumas barras de
nutrientes, isso poderia supri-la por um dia ou mais. Ela podia se esconder
em seu quarto, sem ver ninguém, sem dizer nada. Parecia bom.
Affie entrou no refeitório e encontrou Geode. Ele tinha mais juízo e não
a interrogou.
O silêncio empático dele a atravessou por onde palavras não poderiam.
Ela inclinou a cabeça contra a lateral de Geode e as lágrimas vieram.
Pacientemente ele esperou enquanto ela chorava, por uma dúzia de razões e
nenhuma sequer.

Reath esperou até que todos estivessem ocupados (pelo luto, dever ou o que
fosse), então juntou os seus equipamentos. Ele se preparou como se fosse
para uma expedição na montanha, com cabos e ganchos, e checou
novamente o seu sabre de luz. Ninguém o notou deixando a Embarcação e
entrar na estação.
Ele tinha o espaço para si, ao que parecia. Após o que aconteceu com
Dez, ninguém das outras naves de refugiados tinha interesse em explorar
mais. Os únicos sons eram os zumbidos e os bipes dos droides; os 8-Ts
estavam tranquilamente fertilizando, como se nada tivesse acontecido. Pra
eles, ele supunha, nada aconteceu.
Reath encontrou a pequena floreira que largou mais cedo e a colocou de
volta no bolso. Então ele seguiu o seu caminho pelo túnel, indo de passo a
passo, consciente de sua respiração lenta e estável. Corpo e espírito como
um, sussurrou a voz da Mestra Jora em sua memória.
Os seus pés alcançaram o anel inferior com um baque metálico. Se mais
alguém estivesse na estação, o ouviria com certeza. Reath estava grato por
conseguir manter esse segredo por um tempo.
Ele encontrou a curva exata que havia passado por ela antes e encontrou
a porta circular. Abri-la novamente parecia tanto imprudente quanto
necessário. Já que ele sabia sobre os anéis Helix, logo raciocinou que podia
evitar acioná-los.
Então Reath congelou quando viu, através das pequenas fendas na porta,
uma tênue luz piscando.
Esse não era o brilho ardente que o havia forçado a fechar os seus olhos
quando Dez se... perdeu. Era menos brilhante, mais fraco. Era também
desconhecido, não autorizado e muito suspeito. Se alguém estivesse
alterando a cena da morte de Dez, ou se acabasse por não ser a cena da
morte de Dez...
Com uma mão no sabre de luz, Reath lentamente empurrou a porta até
ouvir um grito horripilante. Uma figura pequena mexeu-se através do túnel.
— Saia de perto de... Reath?
— Nan? — perguntou ele. Ela se sentou no chão, com grande alívio por
ser apenas ele. — O que você está fazendo aqui embaixo sozinha?
— Investigando. — Ela ergueu o queixo e cruzou os braços. — Já que
todos parecem prontos para marcar Dez como morto quando não há corpo...
— Nem prova, nada! — O alívio o acalmou e ele se sentou ao lado dela.
— Pensei que eu fosse o único que não estava pronto a aceitar isso.
Nan o mediu com um olhar e aparentemente achou ele mais interessante
do que antes.
— Certo. Então pelo menos um de vocês Jedi tem opinião própria.
Reath não pensou haver nenhum deficit disso, realmente, mas haveria
tempo mais tarde para conversar com ela sobre as tradições de discordância
dentro da Ordem.
— O que você encontrou até agora? — perguntou ele.
— Na verdade, acabei de chegar. Por onde devemos começar?
— Nós seguimos em frente pelos túneis, tomando cuidado com os anéis,
e vemos se podemos encontrar evidências de para que essa área era usada.
Saber o propósito dela deve nos dar algumas respostas. Talvez Dez foi
transportado para algum outro lugar ou levado mais adiante até um anel
ainda mais baixo do que esses.
— Isso é mais ou menos o que eu estava pensando. — Nan ficou de pé;
ela parecia estar estudando as fixações dos anéis no nível térreo, mas sem
proveito. — Vamos em frente.
Os túneis se estendiam até o que parecia uma escuridão infinita. Reath
mantinha o seu bastão luminoso firme, assim como a Nan, mas o som de
seus passos ecoando pelo desconhecido ficou inegavelmente assustador
após um tempo.
Para romper o silêncio, ele perguntou:
— Como ficou sob a guarda de Hague? Se for desagradável...
— Uma pessoa crescendo sem os pais e você se pergunta se é
desagradável? — Mas Nan parecia mais entretida do que ofendida.
— Desculpe. Entendo que os pais são importantes, mas os Jedi são
criados nos Templos juntos desde a primeira infância. Eles levam a maioria
de nós quando somos apenas criancinhas, e isso é tudo o que sabemos.
Então nunca assumo que as pessoas têm famílias. Talvez eu deveria.
Nan deu de ombros. O seu longo rabo de cavalo caiu sobre um dos
ombros, emoldurando o seu rosto redondo como se as sombras que os
cercavam tivessem se envolvido nela. Ela tinha as mechas azuis no cabelo
até as pontas.
— Está tudo bem. Meus pais morreram bem. Eles fizeram o dever deles.
Eles foram militares? Reath decidiu que o assunto era delicado demais
para forçar por mais informação.
— Isso foi há uns dois anos. — continuou ela. — Hague já era um
amigo da família. Ele pode estar encarregado de apenas uma pequena nave
hoje em dia, mas ele já foi um comandante brilhante. Quando ele se
ofereceu para me criar, eu pensei “ótimo. Dessa maneira poderei aprender
com o melhor.
— Seus pais provavelmente teriam gostado dessa parte. — ofereceu
Reath. — Certo?
— Sim. Eles teriam amado essa parte. O meu pai sempre dizia que
Hague era o melhor estrategista que ele conheceu.
Definitivamente militares, Reath decidiu. Ele se perguntou se o planeta
natal deles era profundamente militar ou se Nan e Hague eram parte de uma
subcultura menor. As ramificações sociológicas estariam prontas para o
estudo... Se isso fosse o tipo de coisa que ele ainda faria. O que não era.
Outra curva no túnel levou os bastões luminosos a iluminar uma
segunda porta, essa bem maior do que a primeira. Nenhuma fenda ou
janelas, apenas metal preto e ameaçador. Eles trocaram olhares, então
apressaram-se em frente para investigar.
— Painel de controle. — murmurou ele enquanto checava. Padrões de
ciclos interligados sugeriam funções, o que o permitiu arriscar um palpite.
— Configuração desconhecida, mas isso parece mais para manutenção do
que a programação primária.
— Concordo. — disse Nan. — Não é o que você chamaria de acessível.
Embora Reath não conseguisse ler os símbolos incomuns gravados no
painel, a falta de seções coloridas ou de uma tela maior definitivamente
sugeria que não era de uso geral. Era um lugar para os funcionários
checarem as configurações, esse tipo de coisa. Isso indicava que pessoas
não usavam o túnel a pé geralmente.
O que chamou a sua atenção em seguida foi o grosso revestimento ao
redor das bordas da porta.
— Isso se parece com uma câmara de descompressão para você?
— Cem por cento. — Nan respirou fundo. — Do outro lado dessa porta
está o vácuo. Dá sentir a frieza no ar.
Era verdade. Reath já tinha começado a tremer.
— Para mim isso parece ter sido uma estação de lançamento para
pequenos pod de trânsito. Os anéis provavelmente impulsionavam os
módulos para deixar a estação. Os seus próprios motores acionariam assim
que saíssem da câmara.
Nan se abraçou.
— E Dez entrou sem uma espaçonave... Mas os túneis o lançaram
mesmo assim.
A esperança era provar que os anéis não desintegraram Dez
instantaneamente. Agora Reath rezava para que tivessem feito isso. A
alternativa era que Dez foi arremessado a uma velocidade esmagadora e
então ejetado para o vácuo do espaço. Pelas suas pesquisas sabia que a
morte demorava mais tempo no espaço sideral do que as pessoas achavam,
quase quinze segundos para perder a consciência. Não é um período longo
em medidas absolutas, mas uma quantidade de tempo excruciante para
sofrer o desespero de terror mortal. E se Dez não conseguisse exalar o ar,
então ele sofreria com o oxigênio se expandindo dentro de seus pulmões até
se romperem.
Reath fechou os olhos. Tudo o que podia fazer era ostentar um
testemunho para aquele sofrimento.
— Acabamos por aqui? — disse Nan, bem baixinho.
— Sim. Acabamos.

Enquanto eles emergiam dos túneis, Reath ouviu os sons de...


celebração?
Aquilo parecia tão errado no momento. Ele e Nan trocaram um olhar e
ele pode ver que a consternação dela se equiparava a dele. Os dois se
apressaram na direção das câmaras de descompressão, onde os Orincanos e
os Mizi estavam rindo e batendo as mãos nas costas uns dos outros. Leox
estava por perto, com uma expressão mais solene, mas não triste.
— O que está acontecendo? — perguntou Reath.
— Parece que nosso tempo nesse depósito de estranheza está
terminando. — respondeu Leox. — A galáxia em geral recebeu um
comunicado oficial da Chanceler da República.
Nan se iluminou.
— O hiperespaço está liberado? Podemos viajar novamente?
— Viagens ainda estão limitadas. — Leox suspirou. — Mas há um
canal aberto para Coruscant. Os Jedi mais velhos decidiram que é hora de
voltar para casa.
O sabre de luz de Cohmac voou de seu cinto para a sua mão, acendendo no
segundo em que o tocou...
O que era tarde demais. A serpente branca gigante rastejou na direção
deles em uma velocidade incrível, com um fino borrifar de sal marcando o
seu caminho como o rastro de um nave no mar. A sua boca escancarou-se,
revelando três presas enormes e uma garganta já ondulando em antecipação
de suas vítimas.
Assim que a sua lâmina azul se iluminou, outra se juntou a ela, a da
Mestra Laret, e outras duas brancas. Cohmac se perguntou se realmente era
necessário ter um sabre de luz de lâmina dupla, se talvez Orla não estivesse
apenas se mostrando.
Confrontado pelas presas da serpente, no entanto, podia ver o apelo de
uma lâmina extra.
No mesmo segundo em que a serpente deu o bote, todos os três Jedi
atacaram de uma vez, com Cohmac de um lado, a Mestra Laret do outro, e
Orla do topo e fundo simultaneamente. A serpente não teve chance; estava
morta quase no mesmo segundo. No entanto, o seu peso e impulso a
mandou disparando em frente, derrubando Cohmac e Orla de costas antes
de deslizar e parar permanentemente com a cabeça na entrada da caverna.
— Certo. — disse Orla, ofegante, enquanto se colocava de pé e eles
desligavam os seus sabres de luz. — Regra número um: não ignore os mitos
locais se esses mitos estiverem tentando te dar um aviso. — Ela apontou na
direção do entalhe da serpente.
Cohmac assentiu. Ele se sentiu tolo e bravo consigo mesmo por ter
desapontado ao seu Mestre.
— Mestre Simmix me entregou as leituras de lendas por uma razão. Eu
pensei que fossem apenas histórias. Um plano de fundo que poderia nos
informar um pouco. Então não prestei atenção o suficiente. — As histórias
de fato falavam de serpentes que foram banidas para as luas dos planetas
por uma deusa antiga. Por que ele não refletiu sobre o fato de que a maioria
das lendas eram baseadas em alguma verdade?
Não importava muito, na verdade. A serpente estava morta e não era
mais uma ameaça. Seu erro não custou a vida a eles. Ainda assim Cohmac
permaneceu assombrado. Provavelmente porque ele não conseguia evitar
ver a leve semelhança entre essa criatura e os Filithar. Mais
especificamente, com o Mestre Simmix.
Alguns mestres eram duros e severos. Alguns eram distantes. Alguns
constantemente desafiavam os seus Padawans a defender cada opinião, cada
ação, cada pensamento. Todas as abordagens podiam ser bem-sucedidas
para moldar excelentes Cavaleiros Jedi. Ainda assim, Cohmac sempre foi
grato por um mestre que era gentil.
Agora Simmix se foi e eles abandonaram o seu corpo como se não fosse
nada.
E é nada, Cohmac lembrou a si mesmo. Matéria crua. Mestre Simmix é
um com a Força.
Esses pensamentos ajudaram. Mas apenas um pouco. Ele foi deixado
com o duro conhecimento de ter ignorado Mestre Simmix sobre as lendas.
Que ele imprudentemente neglicenciou o seu dever de manter o seu mestre
seguro.
Que ele deixou seu mestre morrer.
Durante todo o tempo, a cabeça da Mestra Laret esteve inclinada e os
seus olhos fechados. Ela era conhecida por sua habilidade de encontrar
caminhos na Força, e parecia que ela fez isso novamente quando disse:
— As cavernas formam uma rede por baixo da superfície do planetoide.
É coerente assumir que o Diretório escondeu os reféns em algum lugar
dentro dessa rede, e a Força me diz que eles não estão longe.
— Então vamos. — disse Orla.
Mestra Laret já tinha fechado os seus olhos e estava se conectando com
Força para ver se outras serpentes gigantes, ou outra vida selvagem
igualmente hostil, poderiam estar à espreita dentro dos túneis. Cohmac fez o
mesmo.
Nada por perto, ele pensou. Mas isso não é o mesmo que "nada".

Da próxima vez que Isamer enviasse capangas para preparar um


esconderijo, ele teria certeza de mandar pessoas com algum senso de
conforto. Sim, as cavernas eram praticamente impenetráveis para qualquer
um que não tivesse levantamentos profundos à mão (o que Isamer tinha e
ele limpou as memórias de muitos droides para assegurar que ninguém fora
do Diretório pudesse dizer o mesmo). Mas era frio, escuro e apertado lá
embaixo, e os humanos tolos que escolheram aquele local não consideraram
que o topo da caverna era muito baixo para o conforto de um Lasat. Isamer
estava cansado de se curvar, cansado dos reféns exaustos encolhidos em um
canto, cansado de esperar pelo fim dessa operação.
Os governos de E'ronoh e Eiram já deram os primeiros passos
inevitáveis: oferecer resgate pela sua realeza roubada, investigando o
sequestro com muita incompetência e seguindo os rastros falsos deixados
por Isamer para eles, fazendo apelos públicos desajeitados pedindo por
calma que apenas deixavam os seus cidadãos ainda mais em pânico, e
pedindo ajuda dos Jedi.
E os Hutts explicaram que as grandes atividades entre a República e
aquela área do espaço deixavam inevitável que alguns planetas ou outros
mundos recorressem aos Jedi em uma crise. Ao criarem uma crise no lugar
e tempo certos, Isamer e o Diretório poderiam ter certeza de que a missão
de resgate dos Jedi falhasse terrivelmente, com a equipe de resgate e os
reféns bem mortos no fim. A Ordem Jedi lamentaria os seus Cavaleiros
perdidos, e esses planetas e todos os seus vizinhos perceberiam que nem a
República, nem os Jedi poderiam ajudá-los.
Então nada ficaria no caminho dos caçadores de escravos. Planetas se
voltariam contra os outros planetas, contra as suas próprias subculturas ou
espécies sencientes não dominantes, oferecendo pessoas para escravizar na
esperança de impedir que eles mesmos fossem escravizados. O medo
triunfaria. E Isamer lucraria.
Um dos guardas invadiu a câmara interna, com uma fina camada de sal
em sua capa; no canto, tanto Thandeka quanto Cassel se encolheram.
— Lorde Isamer. — disse o guarda. — Encontramos o corpo do Jedi na
nave.
Fácil demais. Isamer estreitou os seus olhos dourados.
— Quantos Jedi vocês encontraram?
— Só... só esse, Lorde Isamer, um Filithar, não havia mais ninguém
com...
— Tolo! — rosnou Isamer. — Eles não enviariam um único Jedi nessa
missão.
— Mas não vimos rastros ou sinais de que alguém escapou. — insistiu o
tenente.
— Vocês não viram porque os Jedi são mais espertos do que vocês. Eles
sabem como se esconder. Outros devem ter sobrevivido e escapado.
Encontrem-nos e os eliminem, agora!
O guarda correu pra fora. Isamer, com o temperamento mais selvagem
do que antes, enrolou-se em sua cadeira e acariciou as suas garras no punho
de seu blaster. Ele esperava chegar ao fim disso em breve, porque ele estava
no clima para massacrar alguém. Qualquer um. Uma gloriosa batalha com
um Jedi seria preferível, mas apenas executar os reféns bastaria.
Isamer já teria matado os reféns, se não fosse pelas habilidades mentais
alardeadas dos Jedi podendo sentir a ausência dos reféns.
No canto, os olhos de Thandeka encontraram os de Cassel em um pavor
mútuo.
— Espero que os Jedi nos encontrem logo. — sussurrou Cassel.
— Você coloca mais fé na República e em seus magos do que eu. —
disse Thandeka.
— Isso é engraçado. — Era a primeira vez que havia uma tensão em sua
voz, um indício de que os mundos deles eram inimigos. — Sendo que foi
Eiram que implorou pela ajuda deles.
— Duvido. — Certamente Dima teria tido mais orgulho para chegar a
esse ponto, Thandeka pensou... Então imaginou se fosse ela que estivesse
segura em casa enquanto Dima estivesse em perigo. Thandeka faria de tudo
para ter a sua rainha de volta. Ela teria implorado a ajuda de qualquer um
que pudesse oferecê-la, até mesmo para a República. Até mesmo para os
Jedi. Ainda assim, o orgulho a fez acrescentar: — Não tem como você saber
disso.
Cassel suspirou, a faísca de animosidade já extinta.
— Não, acho que não tenho. É só estranho pensar em se virar para a
República quando sempre nos protegemos contra eles, bom, nos engolindo.
— Talvez não deveríamos ter pensado nisso assim. — Ela se inclinou
para trás contra a parede e desejou um analgésico para tratar de sua cabeça
latejando. — Talvez deveríamos pensar em ter a quem recorrer em tempos
de crises. Pensar em não lutar sozinhos.
— Nossos dois mundos sempre estiveram separados um do outro. —
apontou Cassel, mas ele parecia pensativo. Bom, pensativo para ele, pelo
menos. — Nem mesmo os livros de história sabem o porquê. É só a
tradição. Na verdade, isso não é uma boa razão se para fazer qualquer coisa,
não é?
Thandeka olhou para Isamer e para o blaster pesado no coldre ao seu
lado.
— Não parece nesse momento. — Qualquer coisa que tivesse os
mantido longe dessa situação, até mesmo uma amizade com E'ronoh, seria
melhor do que sentar ali com os pulsos amarrados, esperando para morrer.

Orla pensou que Cohmac e Mestra Laret provavelmente estivessem


paranoicos quanto à ameaça de mais cobras. Quantas outras serpentes
conseguiriam sobreviver em uma pedra quase morta no espaço?
Resposta: pelo menos cinco até agora.
Presas atacaram Orla, já que estava encurralada contra a parede da
caverna. Por perto, o zumbido vibrante dos sabres de luz da Mestra Laret e
Cohmac anunciavam que estavam lutando contra a quarta das serpentes que
os atacaram até o momento, mas a serpente número cinco era só dela.
Infelizmente, estava presa em um lugar que não a permitia atacar. Mas
também não permitia a serpente de alcançá-la, por alguns centímetros, então
ela aceitou.
— Não faz sentido nenhum você estar aqui. — murmurou ela para a
cobra. — Como uma espécie carnívora consegue viver em uma lua com
quase nenhuma outra vida animal?
Chega disso. Ela sabia que tinha um péssimo costume de observar
apenas o que era lógico e sensato, o que obscurecia o fato de que a galáxia
não era nenhum dos dois.
Orla concentrou-se na Força o melhor que pode. Inspirando, expirando.
Então, enquanto a serpente novamente investia na direção dela de boca
aberta, ela enfiou o sabre de luz bem em frente, enterrando-o no céu da boca
da serpente.
Ela gritou sibilando, um som pavoroso. Através da Força ela sentiu a
dor da criatura e teve um momento de pena dela, sendo uma simples fera
que apenas estava caçando por comida.
Desculpe, ela pensou. Mas "comida" não é algo que tenho a intenção de
ser.
Quando a serpente caiu morta, Orla conseguiu ver o Cohmac e a Mestra
Laret de pé sobre outra cobra morta. Cohmac respirava com dificuldade e
até a Mestra Laret parecia levemente abalada.
— Estamos livres no momento. — disse Orla. — Certo?
— Acredito que sim. — respondeu Mestra Laret. A expressão dela não
refletia nada do imenso alívio que Orla sentiu ao pensar que não havia mais
cobras. Ao invés disso, estava séria e pensativa. Ela se moveu para mais
perto de sua Padawan.
A essa altura, Orla sabia o que aquilo significava.
— O que eu fiz? — sussurrou ela. — Apenas agi em defesa própria.
— Você não cometeu erros. — Geralmente calorosa e compreensiva,
Mestra Laret sempre tentava tranquilizar a sua aprendiz, mas ela também
sempre encontrava outras coisas nas quais Orla precisava trabalhar mais.
Sempre. — Ainda assim, hoje você falhou repetidamente em invocar o seu
treinamento completo em combate contra seres não inteligentes.
Eu segui meus instintos, Orla queria dizer. Eu continuei viva. Eu venci!
Em vez disso, ela assentiu.
— Eu me lembrarei da próxima vez.
Mestra Laret deu a ela um raro sorriso.
— Vamos esperar que "da próxima vez" esteja mais longe que daqui em
cinco minutos, humm?
— Com certeza. — concordou Orla.
Por dentro, no entanto, ela não conseguia parar de pensar: Se a Força
fala comigo através de meus instintos... Por que não consigo escutar?
A lguns poucos dias antes, a notícia de que poderiam
viajar em segurança novamente poderia ter sido a causa para
celebração. Orla teria exagerado com algumas garrafas de vinho Toniray no
destino deles (ou qualquer safra que conseguissem) e ser aquela quem
começaria a festa.
Ao invés disso, ela não sentiu nada. Ou melhor, tantas emoções estavam
emaranhadas dentro dela que não conseguia distinguí-las e estava
amortecida.
— Temos assuntos inacabados nessa estação. — disse ela para Leox e
Geode enquanto estava na cabine com eles. De onde estavam, conseguiam
ver pouca coisa, só dava para ter uma visão extremamente aproximada do
revestimento da câmara de descompressão; somente no canto mais alto Orla
conseguia vislumbrar fragmentos de estrelas. — Incluindo assuntos que não
poderão ser acabados, nunca.
— É difícil saber que precisa abandonar um homem. — Leox balançou
a cabeça enquanto dava uma tragada pensativa em seu bastão de especiaria
(Orla seria contra a fumaça amarga se isso não parecesse tão insignificante
comparado com as suas outras preocupações). — Mas ficar não mudará
nada. Além disso, achei que vocês todos se considerariam bem protegidos
do lugar, já que está contaminado com o lado sombrio; é assim que vocês
chamam, certo?
Orla assentiu.
— A questão é: precisamos levar a escuridão conosco quando
partirmos, se pudermos.
Leox e Geoge trocaram um olhar, ou pelo menos Leox olhou para
Geode. Orla ainda considerava os humores de Geode difíceis de entender.
— Deixe-me ver se entendi. — disse Leox. — Vocês identificaram uma
fonte de um mal primitivo nesse universo, então ao invés de irem para o
canto mais longe possível da galáxia, vocês querem trazê-lo a bordo?!
— Se pudermos conter a escuridão de uma maneira a nos permitir
transportá-la, será completamente seguro. Se não, não seremos capazes de
trazê-la a bordo para começo de conversa. — Assumindo que já não esteja,
ela pensou, mas não falou. Esse era um risco que nenhum deles tinham
controle sobre, e além do mais, no minuto em que se sugeria a alguma
pessoa que ela pudesse estar sob uma influência do mal, ela geralmente
começava a se comportar como se estivesse. A tripulação da Embarcação
estaria melhor não se preocupando com isso.
Leox ponderou sobre isso e então assentiu.
— Então use aquela magia sombria.
— É magia luminosa.
— Tanto faz.

Reath já teve múltiplas tarefas de pesquisa em artefatos influenciados


pela Força, o que ele não esperava que iria compensar tão cedo em sua
carreira como Jedi. Só servia para mostrar que as pesquisas, as notas de
rodapé e todas as outras coisas de estudo das quais alguns Padawans
debochavam eram, na verdade, muito importantes.
Mestre Cohmac, que era um arquivista, sem dúvida concordava com
ele, sendo um verdadeiro especialista nessas questões. Mas aparentemente
queria ver, mais uma vez, quanta responsabilidade o Padawan da missão
conseguiria lidar. Então o Mestre Cohmac se sentou em um canto, tão
impassível quanto os ídolos, enquanto Reath assumia as explicações.
— Os Jedi anciãos identificaram três principais tipos de artefatos da
Força. — disse ele para o grupo reunido na área de comunicações. — Há
artefatos que contêm certas memórias ou mesmo as personalidades de
usuários da Força do passado. Há artefatos que reforçam as capacidades de
um Jedi em usar a Força. E também há os artefatos que dificultam ou
confundem essa capacidade, vocês podem chamá-los de inibidores da
Força.
Era difícil dizer se o Mestre Cohmac estava realmente ouvindo; a sua
expressão era impenetrável. No entanto, Orla Jareni ouvia profundamente, e
ao menos Leox e Affie, assistindo de diferentes entradas, estavam ouvindo.
Reath continuou falando:
— Esses artefatos aparecem com mais frequência nas lendas do que na
vida real...
— Não vamos ignorar as lendas. — interveio Orla. Os seus olhos
encontraram os de Mestre Cohmac, como se tivessem algum tipo de
segredo que aprendizes não eram experientes o bastante para saber. Reath
poderia ter achado que era uma piada interna, se Mestre Cohmac tivesse
sorrido.
Melhor simplesmente continuar.
— Então. — continuou Reath. — Parece que as estátuas foram
colocadas nessa estação alguns séculos após ela ser construída. Nosso
melhor palpite é que essas estátuas são do primeiro tipo: recipientes da
Força. Se forem, elas foram colocadas aqui especificamente para conter o
lado sombrio. De alguma forma a escuridão se apoderou daqui; talvez esse
seja o motivo da estação Amaxine ter sido abandonada. Ou talvez ela tenha
sido abandonada primeiro, então pensaram que aqui seria um lugar seguro
para os ídolos. Sejam quais forem os poderes que as estátuas deveriam
conter, eles estão sob controle, na maior parte. Não completamente. É por
isso que a maioria de nós teve aquelas visões estranhas.
Orla assentiu.
— Faz sentido pra mim. A Força vem nos avisando para lidar com isso.
Quais são nossos próximos passos?
Mestre Cohmac finalmente falou:
— As estátuas deveriam ser removidas desta estação. Se a contenção
delas está falhando, então a escuridão contida pode liberar-se a qualquer
hora. Já que parece que essa estação está sob uso de contrabandistas de
tempos em tempos. — Ele balançou a cabeça para a direção de Affie, que
por alguma razão estremeceu. — Isso pode provar-se extremamente
perigoso.
Leox ergueu a mão.
— Como impedimos de ser perigoso para nós, é a minha pergunta.
— Um exercício de união. — disse Mestre Cohmac. — Nós três
devemos ser capazes de convocar o poder necessário. Ensinarei aqueles que
precisam aprender os detalhes do ritual.
— Eu já sei. — Reath mal podia conter a sua alegria. Sempre buscar os
créditos extras compensaram novamente. — Apareceram durante um dos
meus projetos antigos.
Mestre Cohmac colocou uma mão em seu ombro.
— Então você já compreende o quão perigoso é. A sua coragem é um
exemplo para todos nós.
Os riscos, que antigamente eram teóricos, destacaram-se mais
acentuadamente para Reath. Mas ele não vacilou. Aprender era mais
poderoso quando se tornava real. Ele estava pronto.

Após a reunião de Reath, Orla finalmente conseguiu encontrar um momento


sozinha com Cohmac.
— O que há de errado com você? — A questão era metade
preocupação, metade irritação. — Uma coisa é estar mal-humorado, outra
coisa é entregar as suas obrigações para um aprendiz que nem sequer é seu.
Perder o Dez é trágico e difícil, mas você mal o conhecia, ou há alguma
conexão da qual não estou ciente?
— Eu mal o conhecia. — reconheceu Cohmac. O seu rosto era
impassível, mas os seus olhos escuros encontraram os de Orla, refletindo o
desafio para ela. — E ainda assim eu o conheci o bastante para entender que
ele era cheio de vida e vigor, que ele estava sempre disposto a ajudar
aqueles ao seu redor, que deveria ter décadas a mais para viver. Então
quando eu penso na insignificância e inutilidade de sua morte, só mais uma
no meio do rastro de mortes incontáveis causadas por esse desastre no
hiperespaço, eu fico furioso.
Orla assentiu.
— É claro. Todos precisamos superar a nossa raiva...
— Por quê? Por que eu deveria superar? Se eu não posso sentir raiva
pela perda de uma vida dessa, então eu não posso sentir absolutamente
nada. A Ordem nos pede para cortar as partes mais profundas de nós
mesmo, e para quê? Para um jovem poder morrer não lamentado?
Isso deteu Orla. Por todos os seus desentendimentos com a atual direção
da liderança Jedi, ela nunca duvidou dos fundamentos de seus
ensinamentos.
— Para que não caíamos no caminho da escuridão. — disse ela para
Cohmac, o mais delicadamente que conseguiu. — Não há emoção tão
justificada ou nobre que não possa levar à loucura, se não for mantida na
proporção adequada.
Isso também é sobre o Mestre Simmix, Orla percebeu. O mestre de
Cohmac morreu há 25 anos e a perda ainda o marcava.
— Você carregou esse fardo um bom tempo. — disse Orla, falando o
mais delicadamente que conseguia. — Você percebe que não fez nada tão
errado naquela época? E nós todos compartilhamos daqueles erros, não só
você.
Cohmac balançou a cabeça.
— Eu percebi que não foram os meus erros que marcaram lá. Fiquei os
remoendo porque a Ordem não me permitia sentir luto. O meu sofrimento
não teve por onde sair. E eles nos dizem que este é o Caminho Jedi
adequado.
Ela se perguntou se deveria investigar mais profundamente, mas isso
apenas prolongaria a inquietação de Cohmac sobre o incidente que ele
deveria ter deixado pra trás décadas antes.
Ou isso é uma desculpa? Orla se perguntou. Uma razão para evitar
examinar as falhas de um amigo mais de perto?
Até ela questionar os próprios motivos, no entanto, o momento de falar
havia passado.
— Você sempre achou essa parte do Caminho mais fácil do que eu. —
disse Cohmac. Com isso, ele retornou para as suas preparações para o
exercício de união.
Insegurança lampejou na mente de Orla. Estou deixando a Ordem para
me tornar uma Perseguidora do Caminho porque realmente essa é a
vontade da Força? Ou estou simplesmente me afastando das outras
pessoas?

Leox e Geode foram incumbidos de preparar uma área de


armazenamento a bordo da Embarcação, o que, por alguma razão, Leox
parecia considerar um procedimento bem complicado, um que deveria ser
entregue a profissionais (“Nós damos conta. Não se preocupem com isso.
Nem precisam voltar aqui até termos terminado. Confiem em mim”).
Mestre Cohmac guiou os outros até o centro do jardim botânico, para
onde os quatro ídolos que encontraram foram levados. O vasto campo de
estrelas do espaço piscava através dos azulejos hexagonais que formavam a
esfera principal. Ali, a ventilação da estação, presa nas espirais de seus
anéis, ecoava o som do mar dentro de uma concha, um gemido distante e
granular. A pele de Reath se arrepiava com a adrenalina, o seu corpo
reagindo com a visão que vivenciou antes e que poderia ter novamente. Ele
se perguntou se os outros Jedi foram afetados da mesma forma, se isso era
apenas o seu medo ou a mera presença da escuridão instigando o pavor.
Não, não era só ele. As sombras sob os olhos de Mestre Cohmac
aprofundaram-se e seus ombros estavam tensos como se ele esperasse ser
atingido. A respiração de Orla estava tão compassada que ela só podia estar
trabalhando um exercício para acalmar e centrar o corpo, mas ela estendeu
as mãos como se estivesse afastando a escuridão.
Finalmente todos eles estavam bem no centro da esfera. Os quatro
ídolos os cercavam, formando uma espécie de bússola. Reath decidiu que o
inseto coroado era o norte, a humana o sul, o anfíbio o oeste e a ave o leste.
Sob a luz, as joias lapidadas reluziam em tons de ferrugem, cobalto e ouro.
Folhas de plantas emolduravam cada ídolo tão intensamente que ambos os
pedestais e as paredes estavam quase escondidos. Ele se sentiu estranho ali,
como se as plantas fossem os habitantes reais.
Mestre Cohmac fechou os seus olhos, conectando-se com a Força tão
intensamente que Reath conseguiu sentir, o mais leve impulso em sua
concentração, os contornos de uma consciência que não era a dele mesmo.
— As quatro estátuas parecem estar conectadas. — disse ele. — Nós
devemos contê-las dentro de um vínculo da Força, ou as ligações serão
rompidas.
— Entendi. — disse Orla. — Vamos começar.
Os Jedi fizeram um círculo, cada um encarando o exterior. Reath olhou
para a rainha guerreira, a humana com a sua couraça e coroa, até ele sentir
que havia chegado o momento de fechar os seus olhos.
— Juntos. — entoou Mestre Cohmac. — Nossas mentes formam o
núcleo de toda a energia nesse cômodo. Nós somos o ponto central. O eixo.
A base. Sintam isso.
Reath concentrou-se até conseguir sentir isso, fisicamente, um tipo de
brilho caloroso que os envolvia.
— Empurrem as paredes do núcleo pra fora. Expandam a esfera.
Permitam que a sua mente preencha esse espaço.
Era uma sensação tão real quanto qualquer uma que Reath já sentiu, a
corrente adiante fez o seu corpo inteiro balançar. O poder que detinham
aumentou exponencialmente conforme as mentes deles começaram a se
conectar e o núcleo brilhante que criaram preencheu quase o espaço todo,
parando bem perto dos ídolos.
Ali, ele sentia... frieza. Quietude. Não paz, mas a inércia de um túmulo.
Mestre Cohmac disse:
— Agora, todos nós, como um... chamem os ídolos.
As suas mentes se conectaram como uma só, empurrando as fronteiras
de sua esfera através do cômodo inteiro e além dele. Algo não identificado
dentro dos ídolos partiu-se; Reath imaginou que conseguiu ouvir, uma
ruptura rápida e limpa. Ainda assim a escuridão rodopiava ao redor deles,
mas em uma maneira bem diferente, mais difusa do que antes. O vínculo da
Força parecia estar no lugar.
Ele abriu os seus olhos para ver os outros Jedi respirando com força e se
recompondo, como ele. Enquanto viravam-se na direção um do outro,
Mestre Cohmac sorriu.
— A boa notícia é: esses ídolos estão contidos com sucesso. — disse
ele.
— Qual é a má notícia? — perguntou Reath.
— Agora temos que levar as coisas de volta para a Embarcação. E elas
são pesadas. — respondeu Orla.
Elas eram. Mas Reath nunca havia carregado um fardo tão pesado com
o coração tão leve.

Affie não se importou em assistir seja qual fosse a cerimônia de magia


esquisita com a qual os monges da República estavam mexendo. Em vez
disso, ela se ocupou em conseguir registros visuais de cada linha do código
dos contrabandistas.
Enquanto ela passava os escâneres ao longo das paredes, ela não pode
deixar de tentar interpretar mais símbolos. Os dois anéis separados por um
asterisco de linhas irregulares... Aquilo era uma viagem? Talvez uma
interrompida por algo desastroso? Com certeza, uma das funções principais
dos códigos deve ser avisar outros pilotos dos riscos.
Não é só sobre trair Scover, Affie disse a si mesma, uma espécie de
piada desoladora.
Lá, novamente, apareceu o símbolo da estrela da Guilda Byne. Ela
aumentou a resolução para ter certeza de que essas imagens fossem as mais
nítidas e as melhores do monte.
E então...
Affie franziu a testa quando viu um desenho do que parecia ser a cabeça
de um ser, um com um crista alta no meio. Como a cabeça de um Bivall.
Scover Byne era uma Bivall.
Estão conspirando contra ela. Não apenas roubando... Estão atrás dela,
especificamente.
Os olhos de Affie focaram novamente nos dois anéis com o asterisco
irregular no meio. Poderia ser uma explosão? Uma pista de uma futura
expedição que poderia ser sabotada?
— Graças aos espíritos estamos saindo desse lugar logo. — murmurou
ela enquanto rapidamente terminava de registrar. Não havia como dizer
quão longe o esquema já havia chegado.

Leox Gyasi viu algumas coisas estranhas em sua vida. O suficiente para
tentar não usar a palavra estranha com tanta frequência. Para a mente
preparada, nenhum elemento da galáxia deveria parecer alienígena; todos
eram feitos da mesma matéria estelar, apenas tomando formas diferentes de
tempos em tempos.
E ainda assim...
— Há algo inquietante em ter ídolos amaldiçoados a bordo novamente.
— disse Leox. Ele estava sozinho com Geode, que sabia sobre o seu último
incidente com ídolo amaldiçoado e nunca o reportou para a Scover Byne (a
Pequenina era preciosa para ele, mas não daria para culpar uma garota por
querer conversar sobre as coisas com a mamãe. Por sorte, isso aconteceu
antes dela chegar). — Eles só dão azar e você e eu temos razões suficientes
para saber disso. Me dá arrepios.
Geode era feito de coisa mais forte. No entanto, Leox percebeu que ele
também não gostou. Da última vez, eles levaram os ídolos errados para o
planeta errado por conta de um Rodiano que acabou por ser um cliente
muito errado. A intenção, até onde Leox podia reconstruir após o fato, era
para o Rodiano ser idolatrado como um deus dominador pelo povo
temeroso.
O povo tinha outras ideias.
Inclinando-se contra o console mais próximo, Leox estudou o ídolo na
forma de inseto, aquele com as pinças e asas.
— Quero dizer, não me importo com o cântico ou o incenso. Os
sacrifícios tudo bem, já que eram apenas flores. E, cara, aquele pedestal que
esculpiram em sua honra? Era igualzinho a você. Poderia ser o seu irmão
gêmeo.
Geode nem precisava mencionar o péssimo mosaico retratando a
descida de Leox de sua nave estelar celestial. Não era como se Leox
pudesse esquecer, não importa o quanto tentasse.
— Não é bom para o espírito, ser idolatrado. Corrói você de dentro para
fora. — Leox balançou a cabeça. — O que é a real maldição desse tipo de
coisa, se quer saber. Nós saímos de lá nem um segundo cedo demais. Pelo
menos os Jedi estão guardando esses em vez de tentar usá-los para as razões
erradas.
Aquele Rodiano acabou fugindo do planeta o mais rápido que pode, e
em outra nave, já que Leox já estava cheio de sua tolice àquela altura. Leox
e Geode permaneceram apenas o quanto era aceitável antes de deixar as
pessoas com um bondoso código moral de gentileza. Provavelmente aqueles
sujeitos ouviram a razão dentro de alguns meses, assim que se acostumaram
a ter os seus objetos antigos mais sagrados de volta ao seu mundo e
voltaram a usar os seus nomes originais.
De qualquer forma, ele esperava isso. Caso contrário, agora havia um
planeta chamado Leoxo, e se Affie descobrisse, ele nunca mais deixaria de
ouvir sobre isso.

— Então acho que é isso. — disse Nan.


Reath estava com ela perto das câmaras de descompressão. A
Embarcação já estava prestes a partir.
— Vocês vão partir em breve, também? — perguntou Reath.
— Na verdade vamos terminar alguns reparos antes. Lembra-se do
estado em que nos encontraram?
— Certo. — respondeu ele, estremecendo por seu próprio
esquecimento. — Vocês precisam de algo? Suprimentos ou ajuda...
— Não, estamos bem. — insistiu Nan. — Temos tudo o que precisamos.
Inclusive tempo, agora, graças a vocês.
Os olhos deles se encontraram. Reath queria dizer adeus e achou que
Nan também queria. No entanto, enquanto olhava pra ela, que claramente
estava lutando para encontrar as palavras certas e relutante em olhar nos
olhos dele, percebeu que o curto tempo como companheiros talvez tivesse
significado mais pra ela do que pra ele. Que a maneira como ele agiu pode
ter passado como interesse romântico, pelo menos para alguém levando
uma vida mais normal. Pessoas na fronteira ainda não entendiam os Jedi, o
que significava que não entendiam os limites nesses relacionamentos. Reath
compreendeu, tarde demais, que deveria ser mais cauteloso.
Mas não havia necessidade de ser indelicado.
— Foi um prazer conhecer você, Nan. Duvido que os nossos caminhos
se cruzarão novamente, mas te desejo sorte. — disse ele.
— Nossos caminhos se cruzarão. — repetiu ela, distraída, e então se
endireitou. Ela encontrou os olhos dele com firmeza, como se fazendo um
voto. — Você me salvou de ser sequestrada. Isso significa que foi o
responsável por me levar de volta ao meu povo. Eu não levarei isso
levianamente.
— Qualquer Jedi faria o mesmo.
— Não foi “qualquer Jedi”. Foi você. E eu direi isso a eles. — Nan
olhou nos olhos dele com grande solenidade por um longo momento e então
sorriu, mostrando o seu lado alegre mais uma vez. — Obrigada por me
contar tanto sobre a República e os Jedi. A galáxia está mudando e me
ajudou a entender isso.
Reath sentiu-se feliz por ter feito isso, mas também feliz por
eventualmente relatar isso para a Mestra Jora. Então ela entenderia que ele
não estava apenas rejeitando descontroladamente as pessoas da Fronteira, o
que significava que as suas razões para querer voltar a Coruscant eram
completamente objetivas.
— Fico contente por ajudar.
Finalmente eles se separaram. Ele olhou por cima do ombro uma vez
para vê-la partir, no mesmo momento em que ela se virou para olhá-lo.
Quando os seus olhos se encontraram, Nan ergueu uma mão em adeus.
Eu a verei novamente, Reath pensou. Ele tinha total certeza disso. A
Força declarou.
— E ssa via de hiperespaço pode ter sido liberada para o
trânsito, mas isso não faz a navegação ficar um mar de rosas. —
Leox balançou a cabeça enquanto estudava as coordenadas de navegação.
— Geode, tem como você triangular os vórtices... Mas olhe só, já está feito.
Deveria saber que estaria um passo à minha frente.
Geode tinha a educação de não esfregar isso na cara dele, pela qual
Leox era grato. Seu estado de espírito estivera no limite recentemente, e ele
não era um homem cujo temperamento chegava ao limite com muita
frequência. Não era um usuário da Força, mas não tinha dúvidas de que o
universo tinha dimensões espirituais, e nessa estação, essas dimensões
estavam seriamente fora de controle. Chame de lado sombrio ou do que
quiser, mas Leox estava grato por ir para longe dali.
É claro, eles estariam voando com os ídolos que ocuparam até o último
pedaço do armazenamento da Embarcação sem revelar os compartimentos
dos quais a República não precisava saber. Os Jedi falaram que os ídolos
estavam sob controle.
Não que ele acreditava em tudo o que os Jedi falavam. Mas a Força era
a especialidade deles. Além do mais, as dimensões espirituais da galáxia
não estavam o avisando sobre o compartimento de carga. Elas estavam o
avisando sobre a estação. Mais um motivo pra ir embora.
— Quanto tempo até nossa partida? — perguntou Cohmac Vitus da
entrada da cabine.
— Apenas esperando pela nossa copiloto. — respondeu Leox.
Enquanto falava, Affie passou por Cohmac e entrou na ponte, fazendo o
Jedi erguer uma sobrancelha. O olhar que deu a Leox claramente
significava algo como: Adolescentes... o que podemos fazer?
Os problemas de Affie eram bem mais complicados do que isso. Bem
mais válidos. Mas nada disso era da conta de Cohmac.
Leox apenas disse:
— Diga a todos para apertarem os cintos. Sairemos daqui em cinco
minutos.
Assim que o Jedi saiu, ele retornou para o seu assento. Affie mantinha o
olhar fixo nos controles, sem nem olhar para os seus companheiros de
tripulação. Geode não ousou começar uma conversa com ela e Leox não
podia culpar o cara. Ele também não pretendia começar uma conversa.
Não porque estava com medo do temperamento de Affie, apesar de ser
algo razoável a se temer, mas porque qualquer conversa a levaria
novamente a fazer as perguntas erradas, e ele a conter as respostas das quais
ela não estava pronta para ouvir.
As coordenadas foram estabelecidas.
— Desacoplando da câmara de descompressão em cinco. — anunciou
ele.
Affie assentiu.
— Cinco, quatro, três...
Na momento certo, ela girou a alavanca que soltava as braçadeiras; um
baque pesado e metálico ecoou através da Embarcação, o som de sua
liberdade. Enquanto os motores ligavam, Leox virou o nariz da nave,
trazendo-a até a visão habitual das estrelas. Era um alívio ver o espaço
aberto novamente. Leox ficava inquieto com o confinamento em planetas
ou estações, e apenas se sentia em casa com uma nave sob seu comando.
Geralmente, Affie o provocava quanto a isso dizendo coisas como:
Estamos decolando finalmente, você pode respirar novamente! Mas nesse
dia ela se conteve ao mínimo.
— Preparando para o salto para o hiperespaço. — anunciou ela.
— Vai ser uma viagem um pouco agitada. — murmurou Leox. —
Geode conectou as rotas o mais tranquilamente possível, mas isso não é o
mesmo que ser realmente tranquilo. Você está pronta?
A sua única resposta foi:
— Saltando em cinco.
Leox agarrou a alavanca, respirou fundo e fez o salto. O espaço
estendeu-se até o infinito, cada estrela se tornando um cometa por um breve
instante. Então o hiperespaço os cercou, um azul novamente (mas escuro,
tingido de violeta, nem um pouco certo) e cintilante, quase vivo.
E com raiva.
Ele falou metaforicamente antes, mas a agitação foi bem real quando o
primeiro dos saltos programados por Geode entrou. A Embarcação sacudiu
sob eles como um blurrg tendo um dia ruim, e Leox permaneceu em seu
assento apenas por segurar os braços.
— Uau. — Affie estava surpresa o bastante para falar com ele
normalmente. — O que aconteceu lá fora?
— Algo ainda pior do que a gente sabia. — disse ele. — Em breve
vamos descobrir.

Orla considerava-se uma boa viajante (adaptável, flexível e inventiva) e


contava isso como uma das razões para ser uma boa Perseguidora do
Caminho. (Não que tais considerações fossem realmente significantes, em
termos de decidir como melhor seguir a Força, mas ela teve que analisar
cada fator antes de fazer uma decisão tão grande).
Então era desencorajador perceber que ela ainda podia sentir enjoo com
o movimento.
— É como se tivéssemos entrado em um campo de asteroides. — disse
ela para Cohmac. Eles estavam juntos no compartimento de carga com os
ídolos, assegurando que as amarras que colocaram permaneceriam firmes.
— Não entramos, certo?
— Não, estamos no hiperespaço. Mas o próprio hiperespaço está um
pouco atribulado agora.
Orla hesitou.
— Como isso é possível?
— Não tenho certeza. — respondeu Cohmac. — Pelo que eu entendi,
ainda há muitos destroços interestelares da Legacy Run que precisam ser
contabilizados. Sondas enviadas de Coruscant deram à tripulação,
particularmente para o Geode, suponho, informações o bastante para montar
uma rota improvisada para casa pra nós, o que envolve vários saltos
fragmentados incorporados pelo computador de navegação. Normalmente
não há saltos intermediários, então isso parece como lombadas na estrada.
Orla suspirou.
— Em outras palavras: é seguro, mas não confortável.
— Exatamente. — disse Cohmac. — Quase me faz desejar ter prestado
mais atenção nas aulas de topografia supraliminar, antigamente.
— Arquivistas não deveriam ter interesse em todas as matérias?
— Em teoria. — Muito de vez em quando, como agora, Cohmac Vitus
dava um sorriso malicioso.
Reath viajava em seus aposentos, onde Orla sugeriu que começasse a
montar um relatório para a Mestra Jora Malli. Eles dependeram
intensamente do Padawan durante essa viagem; ele merecia um pouco de
descanso e privacidade. Ela sabia que ele também estava triste pela morte
de Dez, especialmente pela ligação que compartilhavam por terem a mesma
mestra. Não era o Caminho Jedi ficar de luto, mas tristeza era algo a ser
trabalhado, não negado. Particularmente para um aprendiz encarando a sua
primeira experiência real de luto, poderia ser difícil.
Melhor o luto, Orla disse a si mesma, do que a raiva. Ela deu a Cohmac
um olhar de esguelha. O seu velho amigo parecia adequadamente calmo e
focado novamente. Ainda assim, seja qual fosse a tempestade oculta que
alimentou aquela raiva, ela ainda rugia por baixo da superfície. Orla sabia
disso. Mas ela se intrometeu o bastante. O resto seria de Cohmac para
descobrir sozinho.
O chão sacudiu sobre os seus pés e os ídolos tremeram.
— Se um desses cair e quebrar... — disse Orla. — Quais as chances de
seja lá o que estiver preso dentro sair?
Cohmac balançou a cabeça lentamente.
— Vamos torcer para não descobrirmos.

Nenhum caminho para a Embarcação era direto. O de Affie era mais


estranho do que a maioria.
Affie Hollow tinha quatorze anos e era ansiosa para deixar a sua marca
na Guilda. A sua mãe adotiva, a própria Scover Byne, pensou ser uma boa
ideia começar a ensinar à garota o seu ofício. A Guilda Byne já havia
crescido quase além da capacidade de Scover controlá-la pessoalmente.
Uma filha leal, brilhante e capaz seria a ideal segunda em comando, assim
que tivesse experiência além de pilotar simuladores, lá fora nos mundos
reais.
Então quando o passeio de Affie pelas naves da Guilda começou,
transbordava de animação, praticamente soltando faíscas na primeira vez
que entrou na ponte sem a sua mãe ao seu lado. Essas faíscas diminuíram
no minuto em que viu a expressão nos rostos dos outros membros da
tripulação. Pela postura deles em relação a ela, as palavras mais gentis nas
quais imaginou que eles estavam pensando eram: A gente esperava mais.
Eles tinham total razão para estarem assim. Affie sabia que era jovem e
sem treinamento, era mais um incômodo do que uma ajuda. Mas não era
essa a ideia de treinamento? Tornar-se alguém útil?
Por alguns meses ela saltou de nave em nave, nunca foi rejeitada (ela
era a filha da Scover, afinal), mas também nunca foi aceita. Alguns pilotos
relutantemente a ensinaram as habilidades básicas. Isso foi o máximo que
conseguiu. Uma vez Affie ouviu um navegador resmungando: “Meu
trabalho é traçar rotas, não ensinar pequenas pirralhas melequentas.”
Aquilo foi profundamente injusto e deu a ela um complexo de inferioridade
que a fez carregar lenços para onde ia por meses.
Então ela foi enviada para a menor nave até então: a Embarcação.
Geode foi o primeiro indivíduo que fez Affie sentir-se verdadeiramente
acolhida em muito tempo; ela confiou imediatamente nele. Com Leox
Gyasi foi outra história. Ele fedia a especiaria e falava sobre “as dimensões
espirituais mais profundas do cosmos", e ele vestia camisas abertas com um
colar com várias miçangas como se ele nem se importasse se aquilo não era
nada prático para os voos de longa duração. (Graças à influência de Scover,
Affie se importava muito com praticidade). A Embarcação era minúscula e
não era particularmente notável, então não tinha certeza de como os
acontecimentos se aplicavam às outras naves.
Mas ela precisava saber sobre a Guilda inteira, não apenas as naves
principais. Ela resignou a si mesma à jornada.
Para sua surpresa, a sua primeira viagem na Embarcação a ensinou mais
do que todas as outras viagens combinadas. Leox explicava cada passo pra
ela; Geode a deixava observá-lo sempre que quisesse, o quanto ela quisesse.
Ninguém a menosprezava por sua idade ou inexperiência. Eles a deixavam
aprender fazendo.
Scover ficou perplexa quando, ao fim daquela viagem, Affie pediu para
viajar com a Embarcação novamente. Ela inclinou a sua cabeça de pássaro
azul enquando dizia:
— Eu pensei que quisesse tentar um dos transportes de passageiros
maiores, como a Legacy Run, talvez.
A Legacy Run era a maior e melhor em termos de transportes, confiada
apenas aos melhores capitães, e Affie vacilou por um segundo, mas não
mais do que isso.
— Vou continuar com a Embarcação, se estiver tudo bem pra você.
Scover não gostou, mas concedeu.
Enquanto eles finalizavam as preparações para a próxima partida, Affie
surgiu com o que esperava ser uma questão tática:
— Por que acha que a Scover me designou para cá em primeiro lugar?
— Porque sou seguro pra você. — respondeu Leox.
— O que isso significa?
— Significa que eu nasci abençoadamente livre das febres apaixonadas
que dominam tantos seres. — Ele inclinou-se no assento do piloto;
aparentemente havia modificado o assento para funcionar reclinado quando
quisesse. — Eu não possuo desejos de me reproduzir, nem, e mais ao ponto,
qualquer desejo de realizar os atos de reprodução sem nenhum objetivo
geral em mente.
Affie desenvolveu aquilo.
— Isso significa que você... não transa. — As bochechas dela coraram e
queimaram; ela não era uma criança, mas não estava acostumada a
conversar sobre isso com adultos.
No entanto, para Leox, era como se estivessem discutindo o clima.
— Eu já experimentei. Não é uma prática desagradável, com certeza.
Mas no meu caso não é uma coisa indispensável, pelo qual sempre fui
grato. Parece libertar a mente, à medida que posso julgar as mentes de
outros seres. Certamente libera muito tempo. E aprecio o conhecimento de
que sou a concretização final da minha linha ancestral, o ponto para o qual
todo o seu esforço conduziu. — Após uma pausa, ele acrescentou. — Bom,
eu e minha irmã. Até ela ter filhos. Nesse caso, o grande ciclo se renova.
— Mas... Nossos pilotos são boas pessoas, não são criminosos, ou
contrabandistas, ou... Ninguém iria...
Leox ergueu a mão.
— Até as pessoas boas levam os seus amantes a bordo de suas naves de
tempos em tempos, e em aposentos fechados, não se pode saber o que uma
jovem pessoa poderia ver. Mas aqui somos só eu e o Geode, e ele não
entrará em seu próximo ciclo de acasalamento por mais, o quê, nove anos,
mais ou menos? — Geode não o contradisse. — Como disse, aqui está
segura. Você está também em serviço. Então que tal começar e me mostrar
que consegue guiar essa nave pra fora da atmosfera?
Pela primeira vez, Affie pilotou uma nave real. O curso deles oscilou
um pouco, mas conseguiu. Leox não a enalteceu, nem a criticou, disse
apenas:
— Você saberá como verificar a turbulência atmosférica da próxima
vez; Geode traçará as rotas daqui.
Foi simples assim. Leox a aceitou como tripulante e esperava que ela o
acompanhasse. Affie sempre o fez. Pelos dois anos seguintes,
desenvolveram mais do que um relacionamento de trabalho. Se ela tinha um
melhor amigo, era o Leox.
O que era a razão pela qual não conseguia ficar com raiva dele sempre.
Geode havia uniformizado o caminho deles de alguma forma, ao ponto
de terem um passeio ligeiramente turbulento. Affie arriscou:
— Espero que a Scover esteja lá para nos encontrar. — Era mais fácil
dizer isso do que “espero que a Scover ainda esteja viva.”
Leox entendeu sem ela dizer.
— Tenho certeza de que a sua mamãe está bem. — Ele agiu como se
nada tivesse acontecido entre eles. Talvez pra ele, não tivesse. — Isto é,
exceto por estar preocupada com você.
Isso era mais complicado, mas queria dizer:
— Reportarei tudo o que encontrei na estação. Scover saberá como
interpretar.
— Sem dúvida.
Ele disse com tranquilidade o bastante, mas... O Leox parecia
preocupado? Nunca ficava preocupado. Nunca. Exceto agora.
Affie se recusou a pensar nas razões pelas quais ele não iria querer que
ela reportasse uma operação de contrabando. Ela focou em manter a nave
estável e tirar todo o resto de sua mente.

—Viagem para a estação Amaxine, por Reath Silas.—

CONCLUSÃO DO RELATÓRIO

As razões que você me deu para aceitar uma missão na Fronteira foram
satisfeitas, Mestra. Eu encontrei situações mais imprevisíveis do que
qualquer coisa que pudesse acontecer nos Arquivos. Eu usei o meu
conhecimento em conflitos reais, não apenas nas simulações. Eu adquiri
informações sobre culturas desconhecidas, apesar do Mestre Cohmac dizer
que ainda temos muito a aprender sobre os ídolos e qual for a escuridão
que está presa dentro deles. Eu saí dos Arquivos por um tempo. E encontrei
formas de vida que eu nunca soube que existiam; embora eu não possa
dizer que consegui me comunicar com Geode, eu o sinto mais através da
Força. Um pouco mais. Eu acho.
Já que realizei tudo isso, por que permanecer na Fronteira?
Por favor, apenas considere isso, Mestra. O desastre do hiperespaço
não só nos prendeu em partes separadas da galáxia, nos separando por
dias, como também essa missão custou a vida de Dez Rydan. Sei que você
sente a perda dele mais do que eu. Dez tinha mais experiência, mais
habilidade, mais... Bom, quase tudo mais do que eu. Mais do que quase
todo mundo. Ainda assim ele morreu, porque há ameaças ali que não
conhecemos. Nem mesmo sabemos o bastante para adivinhar o que são, ou
quando as encontraremos. Como podemos estudar os segredos mais
profundos da Força, alcançar os níveis mais altos de meditação, se
estivermos muito ocupados lutando para continuarmos vivos? Como posso
usar o meu conhecimento enquanto a Fronteira não recorre à maioria
desse conhecimento?
Você sabe que não sou um covarde, Mestra Jora. Eu nunca falhei em
fazer o que era necessário e certo. Mas estar na Fronteira não é necessário.
Pelo menos, não pra nós.
Se ao pensar no Arco Kyber as coisas deveriam se esclarecerem para
mim... Bom, não se esclareceram. Jedi podem e o atravessam sozinhos.
Talvez isso fosse apenas um enigma que você me passou para me distrair
da perturbação de deixar Coruscant.
Nunca entregarei isso para você ler. Isso é apenas para organizar as
coisas em minha cabeça. Não há como te convencer a mudar de ideia... Se
sei de alguma coisa, é disso.
Mas é muito ruim se tiver esperança de que você mudará de ideia
sozinha?

Reath virou-se de sua holocâmera quando sentiu uma sútil mudança na


vibração que significava que a viagem deles no hiperespaço acabaria em
breve. Para câmera, ele disse:
— Delete tudo. — Então se levantou.
Quando ele alcançou os assentos, Orla Jareni já estava se acomodando e
ajustando os seus cintos. Da ponte, Leox gritou:
— Devemos proteger aqueles ídolos? A última coisa que quero são
espíritos do mal atrapalhando o meu pouso.
— Eles estão estáveis. — Orla falou com tanta confiança que Reath
quase parou de se preocupar com os ídolos. Aquela vibração de escuridão
que eles liberavam havia acabado, o que era um alívio. Mais nenhuma visão
sinistra de aviso, o que era ainda melhor. Parece que o ritual de contenção
deles funcionou perfeitamente.
(Apenas mais uma tarefa avançada que ele já realizou e não precisava
procurar na Fronteira! Apenas mais uma coisa que era importante para
estudar e escrever para as futuras gerações de Jedi!)
Mestre Cohmac se juntou a eles apenas segundos antes do anúncio
chegar.
— Estamos recebendo um sinal de socorro. — anunciou Leox. — O
tráfego ainda está interrompido por todos os lugares. Ninguém mais irá
alcançá-los logo...
— Vá. — comandou Mestre Cohmac. — Estamos prontos para ajudar.
Reath se preparou. Alguém estava encalhado, assim como eles estavam
há pouco tempo? Isso seria uma coisa relativamente simples de se consertar,
caso fosse.
— Estamos prestes a sair do hiperespaço! — disse Affie. — Segurem-
se!
Reath agarrou o cinto. Assim que fechou as mãos, a nave sacudiu uma
vez, até se estabelecer naquele arraste de luzes familiar.
Ele soltou o seu cinto de segurança no segundo antes de Leox
murmurar:
— Pelos deuses.
— O quê? — gritou Orla. — O que é?
— É melhor vocês verem por si mesmos. — Ele soava ofegante e
também sóbrio. — Não tenho as palavras.
Os Jedi correram para a ponte.
Não era tão incomum para uma nave encontrar perigos em sua jornada,
sair do hiperespaço para lidar com qualquer que fosse o problema antes de
continuar. Sem dúvida isso foi o que aconteceu com uma nave encalhada
tão fundo no espaço vazio, no trecho de bilhão de quilômetros entre o nada
e vários sistemas estelares.
O que era incomum era estar ao alcance de uma nave prestes a ser
destruída.
Parecia ser um cargueiro pessoal, apesar de ser difícil de ter certeza,
com o seu casco amassado e com marcas carbonizadas. Não eram marcas
carbonizadas que significavam combate ou com faixas de disparos de
armas, mas o tipo mais preocupante, eram manchas pretas se expandindo
que indicavam incêndios fora do controle dentro da nave. As áreas
superiores da nave, incluindo a ponte, já haviam queimado. Provavelmente
isso significava que ninguém estava no comando das evacuações que
precisavam acontecer imediatamente. Reath não conseguiu ver sequer um
pod de fuga sendo acionado.
Ele estava se preparando antes mesmo de Orla dizer:
— Certo, Leox, leve-nos até a câmara de descompressão e prepare-se
para atracar.
Affie ficou de boca aberta.
— Você quer que a gente se prenda a uma nave em chamas?
— As pessoas lá dentro estão em perigo. — disse Reath. — Não tem
mais ninguém por perto. Então é o nosso trabalho tirá-los de lá.
O cargueiro Viajante partiu de Cerea transportando trezentas
pessoas, através de uma via do hiperespaço que se achava estar
liberada. Mas foi aberta precocemente. Destroços espaciais colidiram contra
a Viajante, transformando-a de uma nave confortável de passageiros para
um desastre contido.
Cohmac atravessou os corredores cheios de fumaça da Viajante,
inalando apenas através da máscara firmemente apertada em sua boca. A
névoa ardia em seus olhos, desfocando-os, mas ele dependia mais da
audição do que da visão, e da orientação da Força, para encontrar o seu
caminho até a principal zona de carga.
Quando chegou, encontrou, como se esperava, mais de duzentas pessoas
encolhidas juntas, respirando através de máscaras ou ventiladores, ou
tossindo desesperadamente. Apesar da maioria serem Cereanos, ele notou
Ogemites, Sarkanos, humanos e um punhado de Wookiees entre a multidão.
O reconhecimento do seu manto Jedi dourado foi imediato. A multidão
disparou na direção de Cohmac, cercando-o com centenas de apelos.
— Não tem como sair daqui!
— As portas dos módulos não estão onde deveriam estar!
— Não conseguimos chegar até o outro compartimento de lançamento!
— Não consigo respirar!
— Estamos presos!
A loucura deles beirava perigosamente o pânico. Quando um grupo de
pessoas tão grande dava espaço ao pânico, o resultado era uma turba.
Ninguém conseguiria salvar uma turba.
Cohmac removeu a sua máscara para gritar sobre o barulho:
— Levem-me até as portas dos pods!
A multidão separou-se para ele, criando uma rota que mostrava o
caminho. Viu instantaneamente o escudo blindado interno, destinado a
reforçar a nave contra desastres como aquele, com a porta presa no lugar. Se
ela não se erguesse, ninguém poderia alcançar os pods de fuga.
Com um grande salto, Cohmac disparou sobre a multidão para subir até
uma plataforma de serviço perto do topo do escudo. Na mesma hora ele
detectou o problema: uma viga de metal dobrada alojou-se nos mecanismos
do escudo. Ele acionou o seu sabre de luz e mergulhou a lâmina fundo na
viga. Quase imediatamente ela começou a derreter. Ondas de calor
emanaram dela, impedidas de chamuscar a pele de Cohmac apenas através
do poder absoluto da Força.
— Afastem-se aí embaixo! — gritou ele. Mas a multidão havia se
acalmado o suficiente para entender o seu plano e antecipou a pedido. Já se
afastavam, deixando um amplo semicírculo de espaço vazio.
Bem a tempo, também. A viga quebrou em duas, caindo no chão do
compartimento com um som muito estridente que doeu os ouvidos de
Cohmac. Mesmo enquanto o som ecoava, os escudos começaram a subir,
liberando o caminho até os pods de fuga.
Cohmac percebeu que precisaria sair por meio de um dos pods. O
corredor por onde havia chegado já ardia em chamas. Ele caiu
silenciosamente no chão e juntou-se a horda evacuando, que saiu de
frenética para estar calma, pelo propósito urgente. Enquanto corria, ele
pegou o seu comunicador.
— Os pods principais serão lançados em breve. Todos os outros
passageiros morreram na colisão?
A voz de Affie surgiu:
— Algumas pessoas estavam presas nos deques superiores. Orla tirou a
maioria delas e Reath supostamente deveria voltar para a nave com o
último... se ele conseguir.
Ela não precisava explicar o resto. A Embarcação não poderia
permanecer perto da Viajante por muito mais tempo, pois a Viajante
explodiria em breve.

Resgatar uma criancinha de uma nave em chamas soava heroico no


sentido mais clássico. A realidade era menos nobre.
— Ai. Ai. — Reath estremeceu enquanto tentava reajustar o bebê
cabeludo se contorcendo em seus braços. — Está tudo bem, bebê Wookiee.
Segure-se, bebê Wookiee.
Mas esse era o problema. O pequeno Wookiee estava se segurando,
como todos os seus instintos arbóreos o mandavam fazer em um momento
de perigo, ao prender as suas garras no objeto mais próximo. Infelizmente,
o objeto mais próximo era Reath.
E também, mesmo um bebê Wookiee era grande e pesado. Reath podia
lidar com o peso, mas isso deixava o percurso desajeitado enquanto se
abaixava sobre vigas danificadas e tentava desviar de destroços fumegantes
no deque.
O Wookiee choramingou penosamente e Reath tentou acariciar a sua
cabeça.
— Não fique assustado, bebezinho Wooki... gahh!
Enquanto a sua nuca doía, ele viu que o Wookiee aparentemente tentou
acariciar a cabeça dele em troca, e ao fazer isso ele arrancou a trança de
Padawan de Reath pela raiz. Ótimo, ele pensou, vou ter que deixar crescer
novamente, assumindo que sairemos daqui. Pelo menos isso teve um efeito
calmante para o bebê, que imediatamente colocou a sua nova aquisição na
boca.
Reath tossiu. A fumaça estava chegando até ele. Quando tinha pego o
pequeno Wookiee, o bebê estava agitado pelo medo. E no meio dessa
agitação derrubou a máscara de Reath. Pelo menos não estavam longe.
Por favor, que o corredor esteja liberado, por favor, por favor, por
favor...
Ele parou deslizando. O corredor que levava para a câmara de
descompressão da Embarcação estava pegando fogo.
Rapidamente Reath considerou as suas opções. Chegar até outro pod de
fuga a tempo era improvável. Podia procurar por outro caminho, mais
indireto, até a câmara de descompressão, mas mesmo se um existisse, não
havia garantias de que o encontraria rápido o bastante para salvar as suas
vidas.
A única chance era algo que nunca fez antes, nem mesmo havia tentado,
mas uma sensação de certeza o preencheu, dizendo-lhe que este poder era
seu para comandar.
Equilibrando o bebê Wookiee em um lado do quadril, Reath liberou
uma das mãos, esticou ela e fechou os seus olhos. Com todo o poder da
Força, ele se concentrou nas chamas, no movimento molecular do próprio
calor até a sua consciência interligar-se com ele.
Então empurrou para fora com toda a sua força.
Com um grande rugido, o fogo correu pra fora através dos buracos no
teto, liberando o corredor completamente de chamas e fumaça por um breve
momento. Esse momento foi longo o suficiente para Reath atravessar
correndo com o Wookiee, saltando da câmara de descompressão até a
Embarcação.
Assim que os seus pés tocaram o deque, antes do fogo voltar a arder
novamente, a câmara de descompressão se fechou.
— Você demorou um bom tempo. — disse Leox pelo comunicador. —
Segure-se!
Não havia tempo para chegar até os cintos de segurança. Reath
simplesmente agarrou a criança peluda em seus braços e abaixou-se no
chão.
A Embarcação virou drasticamente para a esquerda, o fazendo rolar até
a parede mais próxima. Apesar de a criança Wookiee uivar em protesto, ela
não relaxou o seu aperto enquanto a nave acelerava e fugia. Apenas
segundos depois, a onda de choque da explosão passou por eles, fazendo a
nave inteira tremer, mas eles estavam seguros.
Orla apareceu na porta.
— E quem é esse aqui?
Apesar de suas feições acentuadas e aparência medonhamente
imaculada, Orla deveria ter parecido com algo maternal para o bebê, que
imediatamente engatinhou até ela e envolveu os seus braços ao redor da sua
perna. Ela o pegou e afagou a cabeça dele enquanto Reath se levantava.
— Muito jovem pra falar. — disse ele. — Temos que torcer para o
manifesto da Viajante poder ser encontrado.
— Cuidarei dele por um tempo. — prometeu Orla. Reath estava na
metade do caminho para a ponte antes de ouvi-la dizer para o Wookiee: —
O que você tem na boca?
Quando ele entrou na ponte, conseguiu ver a cena toda por si só. Onde a
Viajante estava, havia apenas uma ruína esquelética e escura. Pelo menos
aquela destruição estava cercada por um anel de pods de fuga, cada um
piscando um sinal para ser recolhido.
— Temos que resgatá-los? — perguntou Reath.
Leox balançou a cabeça.
— Um transporte da República já sinalizou que está a caminho vindo de
Coruscant. Deve chegar aqui em uma hora. Eles estarão bem melhor
equipados para lidar com o número de pessoas. Não caberiam todos a
bordo, a não ser que concordemos em ficar muito mais apertados,
pessoalmente, estou confortável com isso. Provavelmente nem mesmo eles
achem isso.
Affie olhou para Reath e riu.
— Você precisa de um banho. Ou um polimento. Alguma coisa.
— Aposto que tenho fuligem em mim todo. — disse Reath, percebendo
que o seu manto estava completamente manchado de cinzas, exceto pelo
formato do bebê Wookiee em seu peito. Como a Orla embarcou na nave e
continuo imaculada? Algum dia ele descobriria o segredo dela. — Mal
posso esperar pra chegar em Coruscant. Especificamente nos chuveiros do
Templo.
A voz de Mestre Cohmac surgiu pelos comunicadores:
— Temos dois pais aqui que foram separados de seu bebê...
— Eles são Wookiees? — perguntou Reath.
— Sim. O filho deles tem o pelo com manchas cinza. — respondeu
Cohmac.
— Então pode dizer a eles que o bebê está são e salvo na Embarcação.
— Reath se permitiu sorrir.
— Graças à Força. — disse Mestre Cohmac. — Já vimos morte
demais.
O sorriso de Reath sumiu quando pensou novamente em Dez, perdido
em um clarão, pra sempre.

Ao chegarem em Coruscant, seria aceitável para Cohmac ir imediatamente


para um chuveiro e vestir o seu traje cerimonial, ou ao menos lavar o seu
rosto sujo de fuligem. No entanto, solicitou uma audiência imediata com o
Conselho. De alguma forma, para a sua surpresa, ela foi concedida.
Quando ele entrou na sala, viu um trio de Mestres esperando por ele, o
máximo de membros do Conselho que poderia ser reunido em tão pouco
tempo. Ele se ajoelhou, um gesto antiquado de respeito entre os Jedi, mas
um que parecia certo para ele.
— Mestre Vitus. — disse Mestra Adampo, um Yarkorano com bigodes
magníficos. — Estamos contentes em saber que você retornou em
segurança, apesar dos vários perigos desse desastre no hiperespaço. Os
relatórios iniciais indicam que você e a sua nave foram cruciais no resgate
dos passageiros da Viajante. — Em sua voz estava a pergunta não dita:
Então por que está aqui?
— Enquanto estávamos presos na estação Amaxine, sofremos uma
perda. — disse Cohmac. — Eu lamento informar ao Conselho que o
Cavaleiro Jedi Dez Rydan foi morto.
Espanto, e então dor, revelaram-se nos rostos deles.
— Isso foi devido o dano ao hiperespaço? — perguntou Mestra
Adampo.
Cohmac resumiu, o mais sucintamente que conseguiu, a infinidade de
estranhos fatores que levaram ao acidente fatal de Dez: a estação antiga, os
ídolos aprisionando o lado sombrio, o labirinto dos anéis inferiores que
escondiam os anéis Helix até ser tarde demais. Tudo soava seco, oficial e
correto. Até um droide teria falado com mais emoção. Isso era, é claro,
como deveria ser.
Ainda assim, a voz dentro de sua cabeça, aquela a qual ele tentava não
escutar, aquela que falava mais e mais frequentemente, se questionava: “Por
que deveria ser uma virtude esconder os seus sentimentos? Fingir que não
existem?”.
Mestra Rosason, uma humana com idade avançada, assentiu quando
terminou.
— Esperamos um relatório aprofundado sobre os ídolos, também. Vocês
todos fizeram o seu dever admiravelmente sob as difíceis condições. A
perda de Rydan é um golpe para a Ordem inteira.
Essas eram as frases que vieram antes do adeus.
Vocês não têm mais emoção do que isso para ele? Cohmac queria dizer.
Um jovem vai até a sua morte e não é mais que uma linha em um relatório?
Ele reprimiu a sua raiva. Tentou lembrar exatamente o que Orla tinha
dito a ele a bordo da Embarcação sobre moderação. Mas a memória de
Cohmac, geralmente excelente, não conseguia mais lembrar as palavras.

Os registros de transporte de Coruscant eram incrivelmente minuciosos e,


para a surpresa de Affie, totalmente abertos para a leitura do público. Isso
deu a ela a chance de investigar um universo de informação que
normalmente estariam fechados pra ela. Até a nave-mãe da Guilda Byne
não tinha tantos dados.
Se ao menos pudesse contactar Scover diretamente! Mas Scover
geralmente mantinha em sigilo em quais naves viajava, e preferia manter
desse jeito. Affie sabia respeitar a discrição de sua mãe, mesmo quando isso
a mantinha em um suspense infeliz.
Leox sentou-se ao lado dela quando ela parou de correr a tela e apontou
para a tela.
— Olhe pra isso. — disse ela. — Há três naves da Guilda aqui, então
saíram do hiperespaço seguras...
— E ali está a Rushlight Equinox. — Leox riu e bateu as mãos com
entusiasmo real. — Mal posso esperar para falar com a Vishla e saber o que
a sua tripulação aprontou enquanto o hiperespaço estava fechado, apesar de
duvidar que tenham uma história que se compare com a nossa.
— Espero que não. — disse Affie. — Um pessoa morreu.
— Isso faz dela uma missão trágica, eu admito, mas há um certo valor
episódico.
Affie o teria repreendido se não soubesse que Leox realmente se
importava sobre o que aconteceu com Dez. Além do mais, Geode já estava
dando um olhar fatal pra ele. Não havia necessidade de acrescentar mais
um.
Além disso, ainda tinha muita informação pra percorrer. Tantas naves.
Tantas rotas registradas. Coruscant era um dos poucos lugares que as naves
da Guilda poderiam procurar refúgio do desastre, assumindo que
sobreviveram. Ela não conseguia encontrar a nave-mãe da Guilda em lugar
nenhum.
— Olhe pra isso. — disse Leox finalmente, focando a tela em um
pacote de dados específico. — Mais três naves da Guilda Byne acoplaram
aqui ontem.
— Mas não a de Scover.
— Você não está olhando com atenção. Vê ali? — O seu anel com joias
reluziu enquanto batia na tela. As palavras eram: Redirecionado, Selado
Sob Autoridade Expressa da Guilda.
Apenas uma pessoa tinha o direito de designar algo como “Autoridade
Expressa da Guilda” e essa era a própria Scover Byne.
— Ela está aqui em Coruscant. — Affie começou a sorriu, e depois a rir,
apesar das lágrimas que brotavam em seus olhos. — Scover conseguiu.
— Eu te disse. — disse Leox, abraçando os ombros dela. Tinha quase
certeza de que não tinha dito nada a ela, mas quem se importava? A sua
mãe estava viva.

O desastre do hiperespaço convocou todos os Jedi de um jeito ou de outro;


todos estavam envolvidos com resgates, resoluções ou análises. Com todos
ocupados em cada nível do Templo, conseguir fechar um corredor era,
como a inspetora da creche da Orla costumava dizer, um trabalho e tanto.
Contudo, nada tirava as pessoas do caminho mais rápido do que anunciar:
— Lado sombrio passando!
Não que tenha realmente gritado aquilo. Ela queria. Mas os fatos
concretos foram o bastante para fazer o Conselho Jedi liberar a área rápido,
o que significava que não tinha desculpas, e nada para distraí-la da tarefa
assustadora adiante.
Primeiro, a bordo da Embarcação, eles cuidadosamente transferiram
cada um dos ídolos para um flutuador antigravidade. Depois Orla liderou a
procissão dos ídolos da nave até a estação. O seu trabalho era garantir que
ninguém acidentalmente tropeçasse na área “fechada”, enquanto os outros
Mestres seguiam atrás para manter um olhar mais atento nos ídolos.
Dezenas de pessoas estavam nos corredores laterais, não assistindo, mas
esperando o caminho ser liberado. No entanto, enquanto Orla guiava as
estátuas em frente, os espectadores inquietos ficavam em silêncio e parados,
até os únicos sons serem os seus passos e o zumbido baixo dos flutuadores.
Até os poucos convidados civis que não conseguiam sentir a Força ficavam
impressionados com os entalhes ornamentados e a sombra sinistra no rosto
de cada ídolo.
E quanto daqueles que podiam sentir a Força? A contenção protetora
que colocaram nos ídolos lá na estação permanecia forte; não havia perigo
imediato. Mas a própria contenção formigava desconfortavelmente no
limite da consciência de Orla. Era um pouco como a sensação de saber, sem
se virar, que alguém entrou em uma sala que deveria estar trancada.
Eles estavam, de fato, prestes a entrar em um lugar que foi efetivamente
fechado há muito tempo, um mantido à parte do Templo como um todo,
escondido dos próprios Jedi: o Santuário nas Profundezas.
Atualmente, o santuário nos níveis mais profundos do Templo foi
coberto por uma área de meditação, que foi apressadamente desmontada
com a chegada da Embarcação em Coruscant. O batimento cardíaco de
Orla aumentou conforme lentamente atravessavam a sala ampla e escura,
sobre o que restava do chão, até alcançarem o buraco quadrado no
centro escuro. Escadas foram esculpidas na pedra muito antes, o bastante
para as bordas estarem arredondadas. Passaram-se tanto tempo, na verdade,
que os Jedi nem iam ali.
Poucas pessoas sabiam que o Templo Jedi foi construído por cima de
um santuário Sith.
Existia uma vergência na Força ali, uma conexão de poder e energia que
poderia ser usada para muitas coisas, tanto dignas quanto más. Vergências
erguiam-se espontaneamente; elas não podiam ser criadas, apenas
descobertas. No passado muito distante da Velha República, durante o
antigo Império Sith, Sith e Jedi guerreavam pelo controle dessas vergências.
Os Sith mantiveram essa primeiro.
Talvez, Orla pensou, os ídolos estão voltando pra casa.
Ela estava sendo melodramática. Os Jedi controlaram essa vergência por
milhares de anos, primeiro através de seu próprio santuário, e depois através
da construção do Templo.
Todavia, foram os Sith que esculpiram as escadas.
Orla liderou o caminho para baixo, segurando a bainha de seus robes
brancos enquanto entrava no santuário sombrio. Eles estavam no
subterrâneo, e ela podia sentir frescor úmido que sempre impregnava o
espaço. Até o ar cheirava a terra.
Relíquias e outros objetos fortemente mergulhados no lado sombrio da
Força eram levados ali para purificação. Lá, Orla ainda trabalharia com
alguns dos grande Mestres para remover a energia sombria dos ídolos
naquele lugar seguro e sagrado, onde ela poderia afundar na vergência,
dissipar-se na Força cósmica, e novamente ser curada.
Orla suspirou enquanto pensava: Teoricamente, de qualquer forma. A
realidade poderia ser bem mais perigosa.

Reath levou a sua carga Wookiee para a enfermaria das docas, para reuni-la
(no final era uma menina) com os seus pais. Essa enfermaria apenas lidava
com questões de saúde menos críticas: vacinações, lesões leves, a eventual
quarentena de viagens. Pelo menos esse era o plano.
Nada após o desastre do hiperespaço aconteceu de acordo com o
planejado. Isso ficou mais claro do que nunca para Reath quando um droide
médico zumbiu pelas portas da enfermaria, dando a ele uma visão do que
poderia muito bem ser uma zona de guerra. Após a primeira onda de
choque, ouviu os rugidos empolgados dos dois pais Wookiees vindo para
buscar a sua filha.
Ele se submeteu aos agradecimentos, abraços e até mesmo alguns
cuidados antes de deixar a feliz família reunida junta. Após isso, correu na
direção das portas para descobrir como poderia ajudar.
Cada superfície plana da enfermaria (camas, balcões, chão) estava quase
completamente coberta com os feridos da explosão da Viajante. Enquanto
aqueles no chão pareciam ter apenas lesões mais leves, como membros
quebrados ou cortes, alguns daqueles nas camas estavam ligados a
múltiplos monitores e reguladores. Os constantes zumbidos e bipes não
conseguiam abafar os gemidos. Enquanto um casal de médicos corria de
pessoa em pessoa, tanto eles quanto o punhado de droides médicos estavam
claramente sobrecarregados.
— Por que eles não estão nos hospitais? — murmurou ele.
Apesar de ter falado quase que para si mesmo, um droide por perto
respondeu:
— Todos os hospitais estão com a capacidade máxima como
consequência do desastre do hiperespaço. Cada instalação médica está
operando com força total.
Ou além disso, ele pensou, levando em conta a incrível multidão. Reath
viu uma mulher deitada no chão olhando pra ele e se ajoelhou ao seu lado.
— O que posso fazer por você?
Em grande parte, as pessoas queriam água. Muitas delas também
queriam analgésicos, o que os droides médicos relutantemente o permitiram
acesso. De início, Reath se perguntou se deveria estar os distribuindo tão
livremente, mas isso era uma emergência e ele se preocuparia com as
recomendações depois. Mas acima de tudo, ele percebeu que queriam
alguém para prestar atenção nelas e assegurá-las de que tudo ficaria bem.
Geralmente, ele podia fazer isso. Mas às vezes elas perguntavam coisas
que ele não conseguia responder.
— Mais alguém de nosso transporte escapou?
— Estávamos levando vacinas para Crothy... alguém as alcançou? Eles
foram capazes de conter a febre?
Graças à Força conseguimos atravessar o hiperespaço inteiros, Reath
pensou. Apesar de não ter sido só a Força. Um pouco também foi graças a
Leox, Affie e Geode. Ou a Força estava agindo através deles, eu acho.
Ainda assim... Eu não valorizei o quanto formos sortudos.
Ele olhou demais para os pontos negativos da situação deles, não os
positivos. Ele deveria ter sido mais como Leox, grato pelo bom ao invés de
reclamar do ruim.
E se fosse verdade sobre o acidente, talvez fosse verdade sobre a sua
rejeição à essa missão, também.
Um droide médico foi até ele.
— A sua condição é aceitável?
— Estou bem. Só estou aqui para ajudar. — Um pensamento terrível
veio até Reath, um que ele deveria ter considerado antes. Era apenas tão
inimaginável, tão impossível. — Você tem acesso aos registros médicos do
Farol Estelar?
— Sim, os dados são atualizados a cada metade de um dia.
— Na enfermaria deles... havia uma paciente chamada Jora Malli? Uma
mebro do Conselho Jedi, a nova líder da delegação Jedi no Farol. Mestra
Jora Malli. Ela se feriu após o desastre do hiperespaço?
O droide inclinou a sua cabeça oval.
— Mestra Jora Malli nunca foi levada para a enfermaria do Farol. —
Reath sorriu por um breve momento até o droide acrescentar: — Ela foi
morta na batalha contra os Nihil.
Ele não deve ter ouvido corretamente (ele ouviu muito bem). Não
poderia ser verdade (é claro que poderia). Ou o droide estava errado
(droides puxavam as informações direto da central de processamento).
— Morta? — repetiu Reath em voz baixa.
— Jora Malli foi declarada morta em combate pelo Mestre Jedi Sskeer.
— disse o droide. — Há mais alguma informação que posso oferecer?
Reath conhecia Sskeer. Eles se conheceram quando o Trandoshano foi
designado como assessor da Mestra Jora no Farol. Se Sskeer disse que era
verdade... Então era verdade. Ele engoliu em seco.
— Não. Isso é tudo. Obrigado.
Conforme o droide rolava pra longe, Reath se inclinou contra a parede
mais próxima. O ar não entrava em seus pulmões. Seus olhos não focavam.
Os seus ouvidos se recusavam a dar sentido aos sons ao redor dele. Ele não
era nada além de sua pulsação, sua respiração e o terrível conhecimento de
que a Mestra Jora se foi.
A área de treinamento dos Padawans estava
praticamente deserta naquele período do dia. Outros aprendizes
estavam se preparando para missões ou jantando com os seus mestres.
Reath, que não tinha uma missão ou mestre, estava lá pois não tinha outro
lugar pra ir.
Eles já tinham transferido os seus aposentos. Já tinham! Não era como
se um quarto no dormitório dos Padawans fosse muito diferente dos outros
e o quarto para o qual tinham feito ele se mudar temporariamente fosse bem
mais luxuoso (o tipo de lugar geralmente ocupado por um Mestre visitante
vindo de outro Templo). Mas o seu antigo quarto ficava perto do corredor
que levava aos Arquivos. A sua pequena janela dava para o nascer do sol,
ou o que dava para ser visto através da volumosa paisagem urbana. O mais
importante, era um lar. Familiaridade é o que Reath precisava mais do que
qualquer outra coisa. Em vez disso, tinha uma bela colcha e uma ampla
vista para o Senado Galáctico, e para ele poderia muito bem ser uma parede
branca de duraço. Então ele planejou ficar na área de treino até que não
estivesse mais em luto, ou nem pensasse nisso, e em retornar para o seu
quarto temporário assim que não fosse mais do que um lugar para desabar.
Ele colocou um capacete com um escudo contra disparos e baixou o
escudo sobre os seus olhos. Com um movimento do dedo, Reath ligou o seu
sabre de luz; na borda do escudo, ele conseguia ver um brilho verde fraco.
O seu barulho e vibração era familiar para os seus ouvidos e para a sua mão.
— Droide de treino. — chamou ele. — Ativar no nível cinco.
Ele ouviu o barulho dos passos do droide de treino. Mesmo que nenhum
droide conseguisse replicar completamente a experiência de duelar com um
oponente senciente, podiam testar os reflexos e a mira. Alguma vezes,
Reath sentia que não tinha treinado com eles o suficiente. Hora de corrigir
isso.
Foi difícil se concentrar. Se tivesse perdido só o Dez, ou só a Mestra
Jora... Mas não. Cada uma dessas mortes tinha o abalado profundamente,
fazendo desmoronar a base de sua própria vida. Perder ambos…
Mas eles gostariam que ele se tornasse um bom Jedi. Um dos grandes.
Reath pretendia merecer isso para honrá-los.
Atinja os seus sentimentos, sussurrou a voz da Mestra Jora em sua
mente. A dor que o perfurou quase o distraiu da concentração de energia
vinda do droide de treino.
Mas não o distraiu completamente. Reath levantou o seu sabre, parando
o disparo. Abaixou-se para evitar a barra giratória que tinha dispersado ar
suficiente para poder ouvir. Desviou-se de mais dois disparos, se levantou e
executou um golpe. O seu sabre de luz cortou o droide, levantando uma
chuva de faíscas que só o viu de relance nos seus pés.
Quando Reath tirou o seu capacete, ele olhou para o droide. Ele quase
arrancou a sua cabeça. Eles foram projetados para sofrer danos, mas talvez
não tanto assim.
— Muito bem, senhor. — disse a cabeça pendurada do droide numa voz
surpreendentemente profunda. — Aconselharia que o seu próximo treino
começasse num nível não menor que o sete.
— Entendi. Desculpe pelo seu pescoço.
— Isso pode ser reparado. Mas preciso checar isso imediatamente. — O
droide cuidadosamente apoiou a sua cabeça numa de suas mãos com
aparência de garra, enquanto se virava para sair da sala deslizando sobre
rodas.
Novamente ele ficou sozinho de dentro de sua mente, o último lugar em
que gostaria de estar.
Não consigo parar de pensar na Mestra Jora, ele pensou. Talvez seja o
que devo fazer.
Então Reath desceu para uma das várias câmaras de meditação do
Templo. Enquanto algumas áreas de meditação eram pequenas e
aconchegantes, outras tinham tetos altos e um espaço amplo. Essa era do
jeito da última alternativa. E se estendendo pela extensão da cavernosa
câmara branca, arqueado sobre tudo, estava o Arco Kyber.
Ele entrou silenciosamente na sala, tomando cuidado para não perturbar
a meia dúzia de Jedi sentados nos diversos bancos ou almofadas, em seus
transes profundos. Enquanto a maioria das áreas de meditação eram mais
próximas do centro do templo, esta, mais perto do topo, na verdade tinha
janelas dando para Coruscant. Numa hora específica de manhã cedo, a luz
do sol atingia o Arco Kyber bem no ângulo certo disparando um arco-íris
por toda a sala. Reath tinha perdido essa hora. Agora o arco parecia
simplesmente sombrio e irregular, como algo que poderia ter sido feito de
uma rocha velha comum.
Ele foi até a base do caminho (quase 2 metros de espessura, naquela
parte) e agarrou firmemente os apoios de mãos. Os cristais Kyber estavam
gelados no contato contra as palmas das mãos de Reath, respirou
profundamente, localizou o seu primeiro apoio de pé e começou a escalar o
arco.
Inicialmente, a subida foi tão fácil que poderia se imaginar numa
escaladeira da sala de jogos dos Younglings. Contudo, conforme ficava
mais alto, o arco se estreitava. Ficou mais difícil encontrar apoio para os
seus pés. Reath escalou sem medo; mesmo que estivesse abalado demais
para controlar a sua queda, um dos outros Jedi na sala o faria. Ainda assim,
a tarefa exigia destreza. Concentração. Ao fazer isso, Reath não pensava em
mais nada.
Finalmente, alcançou o topo. Lá, os cristais estavam fundidos numa
curva de quase dez centímetros de largura. Reath andou firmemente por ela,
então girou para começar a buscar pelo caminho de volta para baixo. Nesse
momento, entretanto, a sua concentração estava muito menos segura.
Consegui, Mestra Jora. Cruzei o Arco Kyber sozinho. É possível. Nem é
difícil. Então por que você... O que você queria dizer com...
Ele pulou o metro final até o chão. A frustração cresceu nele
novamente, combinada com o luto que ele não deveria sentir e de alguma
forma se sentiu mais longe da Força do que nunca. Provavelmente ele
deveria ir até a almofada mais próxima e tentar meditar, mas esse tipo de
serenidade parecia fora de alcance. Antes que pudesse pensar em outra
coisa para servir de distração (um pouco de ginástica, talvez?), o seu
comunicador zumbiu. Ele saiu apressadamente da câmara de meditação
para responder.
— Silas falando.
— Padawan Silas. — disse a Mestra Adampo, do Conselho. — Que bom
que conseguimos contato com você.
Ele só conseguia pensar na única razão para o Conselho Jedi querer
falar com ele.
— Fui designado para outro Mestre?
Por mais que doesse pensar em substituir a Mestra Jora, não havia outra
coisa a se pensar. A menos que, talvez, os diversos problemas em sua
missão levaram o Conselho a decidir que Reath não tinha nada a ver com
um treinamento para se tornar um Jedi...
— Ainda não. Em breve discutiremos isso com você.
— Então...
— Chegaram pacotes de comunicação do Farol Estelar. — disse a
Mestra Adampo. — Contêm novas informações e potencialmente críticas
para o setor. Como um dos poucos Jedi que retornaram daquele setor, as
suas percepções podem ser significantes.
— Envie a localização e logo chegarei aí, Mestre. Obrigado.
Com certeza o Mestre Cohmac seria mais útil na reunião, sem
mencionar Orla Jareni, mas então Reath percebeu que logo eles estariam
ocupados com os ídolos. Um arrepio percorreu o seu corpo ao imaginar
aquelas coisas no coração do Templo. Apesar dele ter ajudado a preparar a
contenção da Força, fazia sentido que os Jedi mais experientes cuidassem
do resto.
Só reportar o que tinham encontrado lá, a parsecs de distância do Farol
Estelar, na parte distante do setor? Claro, Reath podia cuidar disso, mesmo
que se resumisse a dizer: “Vimos um monte plantas. Isso o deixaria
ocupado e era tudo o que queria.”

Tão grande e confuso quanto era Coruscant (muito e muito), espaçoportos


eram espaçoportos em todo lugar. Affie Hollow se dirigiu apressada ao
Hangar Central Senatorial, contando todas as similaridades com um grande
sorriso.
Droides transportando grandes cargas? Confere. Pilotos usando as suas
jaquetas mais chamativas e batendo papo? Confere. Cargueiros antigos que
mal pareciam se manter inteiros, muito menos voar no espaço? Confere.
Um amontoado de viajantes carregando malas demais e tentando descobrir
qual o seu meio transporte? Confere. Nesse caso, um grupo Trandoshanos,
rosnando por estarem confusos.
Pelo menos um enorme cargueiro de primeira linha, reluzindo como se
estive acabado de ser polido?
Não era algo que encontraria em qualquer outra doca espacial. Mas
Affie tinha acabado de encontrar a Guilda Byne número 1-7-1, a
Spiderspun.
Ela correu pela rampa, com as suas longas tranças fluindo atrás dela.
Alguns dos droides da tripulação gorjearam ou a chamaram enquanto ela
saía, mas ela não podia parar. Ainda não. Ela só acenou e continuou
correndo.
A Spiderspun era nova demais para Affie ter muitas boas lembranças
dela, ou qualquer memória. No entanto, parecia como a nave da Scover:
limpa até o menor rebite, precisamente calibrada, cheirando a limpador em
vez de graxa. Provavelmente, Affie estava procurando por sujeira. Mas ela
sabia que Scover não se importaria.
Finalmente ela correu para a ponte. Alguns tripulantes permaneciam
trabalhando até nas docas, em parte por razões de segurança, em parte
porque o funcionamento dos equipamentos nunca era perfeito o suficiente.
No centro de tudo estava uma mulher Bivall. A sua cabeça enrugada se
inclinou enquanto observava os letreiros, até que ouviu passos e se virou.
Ao avistar Affie, Scover Byne sorriu.
— Aí está você.
Affie envolveu a Scover com os seus braços, abraçando-a o mais
apertado que se permitiu. Scover a abraçou de volta (não tão apertado, pois
Bivalls não se deixavam empolgar tanto). Mesmo assim, foi um abraço.
— Estou tão feliz por você estar bem. — disse Affie. — Quando
ouvimos sobre o desastre no hiperespaço... O que aconteceu com a Legacy
Run...
— Já tinha concluído as minhas viagens quando ocorreu. — Scover
analisou o rosto de Affie. — Espero que não tenha deixado os seus medos te
distraírem.
— Não. Leox me trouxe para a razão rapidamente, então consegui
continuar trabalhando. — Affie fingiu não notar a pequena ruga na testa de
Scover à menção de Leox Gyasi. Scover não conseguia entender o Leox.
Um monte de gente não entendia. Apesar de suas recentes desavenças, Affie
queria apoiá-lo sempre que fosse possível. Eventualmente a Scover
perceberia que ele era um grande piloto. — Mas isso não quer dizer que não
estou feliz em te ver.
— Como estou feliz de te ver. Não tínhamos confirmação da localização
segura da Embarcação. — A voz de Scover estava tranquila, mas ajeitava
as mechas soltas do cabelo de Affie para longe do seu rosto enquanto
falava. — Vocês não poderiam ter entregado nenhuma de suas cargas nessas
condições. Informe ao Capitão Gyasi que isso não será contabilizado contra
a sua métrica da Guilda.
— Informarei.
— Mas... — Scover fez uma pausa de forma maliciosa. — Posso
presumir que uma de suas cargas não foi descoberta pela outra?
Affie entendeu do que ela estava falando.
— Ah. Não se preocupe. Nosso segredo permanece seguro num
armazém de temperatura controlada.
Até mesmo a Scover sorriu com isso.
— Temos alguns dias até que as vias hiperespaciais sejam
completamente abertas novamente. Vamos usar parte desse tempo para
explorarmos Coruscant juntas?
— Com certeza. — Affie se regozijou com a atenção de sua mãe
adotiva; por ser uma ocupada gerente de uma guilda de navegação, Scover
raramente dedicava toda a sua atenção a Affie ou a qualquer um. Agora,
entretanto, elas teriam chance de passar um tempo juntas.
E era a chance de Affie finalmente fazer algumas perguntas sérias a
Scover.

No coração do Templo de Coruscant, no Santuário nas Profundezas, os


ídolos pareciam brilhar. As suas superfícies polidas captaram a luz dos
droides vela e a cor das joias brilhou em contraste contra o ouro no escuro.
Cohmac parou entre eles, tentando entender a sua natureza e suas histórias
secretas.
Que escuridão esses ídolos continham?
Quando se conectou com a Força, não sentiu nada além do escudo que
ele, Orla e Reath tinham conjurado. O escudo manteve-se forte e estável
como um campo de energia, tão distinto que Cohmac imaginou poder
visualizar a bolha ao redor dos ídolos, colando o seu dedo no exato lugar
onde a barreira terminava. Era uma ilusão, a maneira como a mente de um
ser vivo tentava dar sentido aos limites sem forma e desconhecidos da
Força. Mas era uma ilusão que servia a uma propósito. Tornava a barreira
mais real em suas mentes, que por sua vez os fez confrontarem melhor os
poderes aprisionados ali dentro.
Orla ficou do seu lado, assim como alguns dos especialistas nos
segredos dos Jedi. O Conselho havia escolhido um punhado de outros Jedi
para se juntar a eles no grupo de meditação, cada um sendo um Mestre,
cada um possuindo conhecimentos e habilidades únicas que poderiam servir
de ajuda. Poreht La, um Lasat, era especialista em técnicas antigas. A
arquivista humana Tia Mirabel havia aprendido mais sobre objetos
mergulhados na Força do que qualquer um na Ordem. E o poder da Lurmen
Giktoo Nelmo falava por si mesmo.
Se o Mestre Yoda estivesse presente, sem dúvida teria liderado a equipe.
Mas eles administrariam a situação do melhor jeito que pudessem sem ele.
— Estamos prontos? — perguntou Mestra Giktoo, alisando o seu pelo.
Os outros Jedi se aproximaram, formando um círculo ao redor dos ídolos.
Cohmac se forçou a não ter futuro, não ter passado, sem perguntas, sem
raiva, sem dúvidas, para se existir em nada a não ser no presente conforme
Giktoo continuava. — Vamos começar.

Affie fez a sua primeira tentativa enquanto comiam num dos estranhos
estabelecimentos locais, um lugar com piso xadrez, assentos vermelhos
brilhantes e droides-garçons que deslizavam sobre rodas pouco práticas.
— Você leu o relatório? Sobre a Estação Amaxine?
— Ainda não tive tempo de revisar todos os materiais sobre a sua
jornada. — respondeu Scover, o que não era a mesma coisa que não. —
Como está o seu braço? O capitão Gyasi não deveria ter te forçado a ser a
encarregada numa missão perigosa.
— Eu me voluntariei para descer os túneis. Leox não conseguiria me
impedir. De qualquer forma, o meu braço está bom. Está vendo? — Affie
mostrou o seu tudo-menos-curado pulso.
— Agora experimente um pouco disso. — insistiu Scover, segurando
um pequeno prato de algo chamado barafuraha, apesar de que Affie ouviu a
maioria das pessoas o pedirem apenas como baha. Aparentemente, era um
prato favorito em Coruscant, mas…
— É feito de gelo. — disse Affie. — Quem quer comer gelo?
— Fazemos de vez em quando na minha família. Viemos do Núcleo
originalmente, você sabe. E baha é prazeroso para a maioria dos paladares
sencientes.
A Scover tinha usado o nome casual para alguma coisa, algo que Scover
nunca fazia, então realmente deveria gostar muito daquilo. Cautelosamente,
Affie pegou uma colherada e tremeu quando o choque de frio atingiu a sua
boca, e então abriu seu olhos.
— Oh, isso é incrível.
— O frio é parte do prazer, o que agora já sabe.
— Certo, Certo, admito. Estava errada. Pegue mais pra mim.
Scover sorriu e o momento por questões urgentes passou. Só depois de
pegar o seu segundo prato de baha Affie imaginou se a distração tinha sido
intencional.
A sua abertura para a segunda tentativa surgiu enquanto visitavam um
estaleiro holográfico. O droide vendedor cambaleou, trazendo imagens de
novos cargueiros, todos mais rápidos e seguros dos que os já lançados, mas
incrivelmente acessíveis, de acordo com o seu padrão.
— Como podem ver, não se sacrifica estilo por funcionalidade. — O
droide ampliou o holograma de uma visão da nave inteira que caberia nos
braços estendidos de Affie para uma imagem em tamanho real da ponta. O
brilho holográfico mascarou o estaleiro em modelos translúcidos de
assentos, controles e até mesmo um falso campo de estrelas à frente. — Se
quiserem ver os aposentos da tripulação...
— Envie os detalhes para eu analisar depois. — disse Scover. Muitas
pessoas poderiam ter surtado com um droide, especialmente um usando
táticas agressivas de venda. Mas a Scover permanceu educada com todos o
tempo todo. Era uma característica que Affie admirava muito e ainda não
dominava.
— Prontamente, madame. Também incluirei pacotes com as nossas
atualizações especiais. — O droide deslizou para transferir o pacote
completo de dados, deixando-as sozinhas entre a imgem holográfica de uma
nave que ainda não existia.
— Comprando cargueiros a granel? — perguntou Affie. — Cargueiros
da República? Estamos mesmo fazendo isso?
Scover sempre ficava um pouco orgulhosa quando falava sobre as suas
margens de lucro constantemente crescentes.
— Tivemos um aumento substancial de negócios ultimamente. —
respondeu Scover. — Sim, o desastre da Legacy Run causou atrasos, mas
são temporários. Muitas pessoas querem movimentar cargas logo, em vez
de só após da expansão da República, por vários motivos com os quais não
precisamos nos preocupar.
— Então você tem certeza da lealdade de todos os nossos pilotos. Não
está chegando carga a menos?
Aquilo atraiu a completa atenção de Scover.
— Você sabe de alguma desonestidade dentro da Guilda? Isso é sobre
Leox Gyasi?
— Não. Leox está limpo, totalmente. É só que... — Affie contou tudo: a
Estação Amaxine, as linhas de código estranho, os símbolos da Guilda
Byne e o fato de que um outrora sistema vazio teve as suas coordenadas
pré-programadas no computador de navegação da Embarcação. Scover
ouviu com interesse intenso e silencioso, sem dizer nada até que Affie
finalmente fez uma longa pausa o suficiente para parecer plausível que ela
havia terminado.
— Isso não é evidência de uma vertente corrupta na Guilda. — disse
Scover. — Tais códigos escritos são ocasionalmente usados por pilotos em
lugares onde mensagens padrão são mais difíceis de entregar. O uso é
principalmente arcaico agora, mas perdura em alguns lugares, incluindo na
estação Amaxine. — A sua explicação foi tão impessoal quanto qualquer
droide teria feito. Era assim que Scover sempre falava e normalmente não
teria parecido estranho a Affie.
Mas isso parecia… Estranho.
— Estou feliz que ninguém está tentando te trair. — disse Affie,
genuinamente aliviada. — Ainda assim, essa estação é perigosa, Scover. Os
anéis Helix, as plantas venenosas, até mesmo os pequenos droides
jardineiros te atacam e isso sem entrar em todo o negócio de lado sombrio.
— Talvez isso não passasse de bobagem Jedi, mas dado o terrível azar que
tiveram na estação, Affie começava a se perguntar se estavam no caminho
certo. — Nosso pilotos não deveriam usá-la.
— É a escolha deles usarem a estação como acharem melhor ou não.
Não imponho métodos para os pilotos que provam a sua capacidade.
O que era verdade. Affie sempre achou que isso mostrava uma notável
mente aberta; como a maioria dos Bivalls, Scover valorizava regras,
definições e precisão. O fato de dar liberdade para os seus pilotos
significava que podia ver as coisas de múltiplos pontos de vista.
Pela primeira vez, Affie percebeu que também significava que às vezes
a Scover não precisava fazer perguntas que poderiam ter respostas difíceis.
— É apenas uma estação de passagem. — disse Scover. — Você ainda
está abalada pela experiência e por isso dando mais importância do que
precisa na sua mente. Com o tempo você irá adquirir uma perspectiva
maior. Por ora, tire isso da sua mente. — Ela sorriu. — Você gostaria de
comer alguns bolinhos amanteigados? Sei que são os seus favoritos.
Affie deu um jeito de sorrir.
— Claro. Parece ótimo.
Mas ela não conseguia esquecer do que Scover tinha involuntariamente
dito, ao negar algo que ela não tinha sido solicitada a negar:
A estação Amaxine, fosse o que fosse, era mais para a Guilda Byne do
que uma estação de passagem.

Por mais isolado que Reath estivesse antes, desejou estar sozinho
novamente.
Ele se sentou no lugar mais longe na reunião, não dizendo nada e
mesmo assim se sentia como se tivesse um holofote. Os outros Jedi
mantiveram um distância respeitável, tão conscientes de seu luto que o
ampliaram. Reath sentiu como se tivesse que mostrar simultaneamente todo
o peso de sua tristeza e mantê-la sob controle.
Ninguém aqui está te julgando, ele se lembrou. Esse ainda não era um
exercício que pudesse praticar a ponto de dominá-lo. Ele sempre se
orgulhou de sua capacidade de se destacar, mas não mais. Quem se
importava? Por que sempre achou que valia a pena se importar com isso?
Ele e Dez tinham participados juntos de uma reunião naquela sala uma
vez, talvez três anos atrás. Sobre o que tinha sido? Grupos invasores
perturbando Kashyyyk? Reath não conseguia se lembrar. Tudo no que podia
pensar era na facilidade com que Dez tinha se esparramado em sua cadeira,
confiante com o seu novo título de Cavaleiro, enquanto Reath se perguntava
se alguma vez se sentiria tão impetuoso, tão seguro de seu futuro.
O futuro de Dez tinha terminado no meio de nada, por nenhuma razão.
Mestra Adampo andou até a frente da câmara e a multidão ficou parada.
Uma gratidão passou por Reath. Assim que o sermão começou, pode
finalmente escapar da câmera de ecos de seus pensamentos por um
momento.
— Hoje devemos examinar um elemento inimigo que causou grande
confusão na Fronteira: um grupo de saqueadores conhecidos como Nihil. —
disse Adampo enquanto a sala parecia mais escura. — Apesar da República
já ter identificado os Nihil como uma ameaça significante para
assentamentos e envios, agora ficou estabelecido que esse grupo causou o
desastre da Legacy Run.
Reath se sentou ereto enquanto murmúrios de desolação preenchiam a
sala. Se os Nihil foram capazes disso, o que mais poderiam fazer? Isso não
importava tanto quanto o que eles já tinham feito, não para Reath.
Se não fosse o desastre da Legacy Run e o subsequente conflito com os
Nihil, a Mestra Jora ainda estaria viva.
Foi como se a raiva descesse sobre ele, não acreditava que tinha a
capacidade para esse tipo de ódio. Mataram a minha mestra, sussurrou uma
voz desconhecida e inegável em sua cabeça. Os Nihil a mataram. O seu
corpo inteiro tensionou até quase tremer.
Afaste-se do ódio. Esse é o lado sombrio, sussurrou uma voz mais
familiar; não a voz dele mesmo, mas a da Mestra Jora. Era só a memória de
Reath sobre ela, mas essa era uma linha de salvamento para a luz.
Lentamente ele expirou. Banir toda a tensão era impossível, mas ele
resolveu direcionar essa energia em aprender mais sobre esses saqueadores
que causaram tanto dano e não apenas à Mestra Jora.
— Portanto o grupo requer um estudo mais aprofundado do que tem
sido conduzido. — continuou Adampo. — As origens dos Nihil são
misteriosas; eles compreendem numerosas espécies de mundos amplamente
díspares. Contudo, não temos uma contagem sólida das espécies incluídas
ou das proporções representadas, devido aos seus rostos mascarados. —
Adampo mostrou o primeiro holo, uma imagem de um temível guerreiro
Nihil com uma grande máscara respiratória amarrada em sua cabeça,
invadindo alguma nave azarada. Os Nihil usavam listras azuis de batalha
pintadas da linha do cabelo até o peito, sobre a própria máscara. Reath se
lembrou, de maneira bizarra, mas afetuosa, das mechas azuis no cabelo de
Nan.
Talvez ele tivesse se afeiçoado muito a ela.
— As naves Nihil são unicamente perigosas, pois elas podem se juntar
ou separar em seções menores. — continuou Adampo. — Portanto, nenhum
oponente pode ter certeza se enfrentará uma tempestade de pequenos caças
ou um enorme couraçado. As naves são geralmente construídas de partes de
outras embarcações, como essa.
Outro holo preencheu o espaço, este mostrando uma nave espacial
montada de pedaços, uma que era muito familiar.
Os olhos de Reath se arregalaram quando ele percebeu: Parece a nave
de Nan e Hague.
Parecia exatamente com eles.
O jeito vago deles sobre de onde tinham vindo. A morte violenta dos
pais de Nan. As marcas de carbono nas placas da nave. A mecha azul do
cabelo de Nan.
Ele sussurrou:
— Eles são Nihil.
U m hotel de luxo em Coruscant fazia o “luxo” de outros
planetas parecem farrapos e cinzas. No Hotel Alisandre, os quartos
estavam situados nos andares mais altos dos edifícios mais altos, completos
com deques de pouso pessoais, banheiras e droides servos que serviam os
melhores vinhos, refeições e sobremesas. Affie, que passou a maior parte de
seus dias em seu beliche minúsculo na Embarcação, ficou cinco minutos
inteiros passando as mãos sobre os lençóis de seda de sua enorme cama.
— As camas devem ter este tamanho. — comentou Scover, enquanto os
droides servos guardavam as suas coisas. Embora sejam extremamente
grandes para os padrões da maioria das espécies humanoides, nada menor
do que isso pareceria luxuoso para um Gigorano, ou mesmo ser suficiente
para um Trodatome.
Affie se deixou cair em um ninho de travesseiros, saboreando a maciez
que não estava acostumada.
— Certo, você não está impressionada. Então por que ficar em um lugar
como esse? — A casa de Scover era boa, mas dificilmente grandiosa, e ela
era sempre cuidadosa com dinheiro.
— Importantes empresários e políticos se hospedam nesses hotéis,
principalmente aqui no Distrito Federal. — respondeu Scover. — Esses
podem ser os nossos futuros clientes. Poderei marcar várias reuniões nos
andares de clube abaixo.
— Deixarei você encontrar a desculpa perfeita.
Não era uma desculpa, era o verdadeiro motivo de Scover, como Affie
sabia, mas soou como uma provocação que fez Scover sorrir e despentear o
cabelo de sua filha adotiva.
Convencida do contentamento de Affie, Scover pensou em sair uma
hora depois para começar a trabalhar em algumas dessas reuniões. Affie
ficou imóvel na rede antigravitacional da varanda por vários minutos,
fingindo observar as nuvens passando logo acima do nível dos olhos. Quase
preguiçosamente, ela estendeu uma mão e apertou o controle que colocaria
todos os droides-servos em modo de espera.
No momento em que os seus olhos se fecharam, ela pulou. Com o
coração acelerado, ela correu pela suíte até o guarda-roupa onde as coisas
de Scover estavam guardadas.
Devo ser a pior filha de todas, pensou Affie enquanto pegava um dos
infopads de Scover. Eu deveria confiar nela. Eu não deveria fuçar nas
coisas dela. O tempo todo em que pensava nisso, os seus dedos digitavam
habilmente uma das senhas de nível superior, uma que Scover tinha
compartilhado sem pensar duas vezes.
Assim que a capacidade total de memória do infopad foi carregada,
Affie inseriu os códigos de setor da estação Amaxine, os mesmos que foram
pré-programados na Embarcação. (Ela os memorizou; depois de vê-los
brilhando vários dias no painel da Embarcação, eles estavam praticamente
gravados em seu cérebro). Ela prendeu a respiração no instante em que mais
informações rolaram pela tela. Certas frases se destacavam como se
estivessem escritas em vermelho:

Centro de Transporte/CONFIDENCIAL

Revelação às Guildas Concorrentes, Puníveis com Expulsão

Incentivos Incluem Bônus em Dobro/Perdão de Juros do Preço de


Compra da Nave/Servidão Por Contratos Encurtados
— Trabalho Escravo? — sussurrou Affie. — A Guilda Byne... possui
trabalhadores obrigados a trabalhar?
Ela tentou navegar ainda mais na parte dos registros do “centro de
transporte”, mas eles estavam inacessíveis até mesmo para a sua senha. Eles
devem ser só para os olhos de Scover.
Em sua mente, Affie imaginou as longas linhas de código dos
contrabandistas, especialmente a pequena ave de rapina. Rapidamente ela
clicou em Mergulho do Kestrel.
Essa informação não era protegida por nenhuma camada de segurança;
Affie poderia ter acessado sem nenhuma senha. Era assim que Scover sentia
que precisava esconder.
Mas enquanto Affie lia, as suas mãos começaram a tremer e ela desejou
nunca ter acessado o infopad.

— Muitas pessoas de várias espécies tingem o cabelo ou a pele...


— Estou dizendo. — insistiu Reath. — Eles eram Nihil.
Houve um tempo (na verdade por toda a sua vida até os últimos três
minutos) em que Reath nunca teria sonhado que poderia se levantar no meio
de uma palestra de um membro do Conselho Jedi e anunciar que tinha
informações importantes. Mas lá estava ele. Mais tarde, ficaria
envergonhado. No momento, estava ocupado tentando convencer os vários
Mestres céticos, o restante do grupo da reunião, que os Jedi já haviam
encontrado o mais novo e mortal inimigo da República na forma de uma
garota jovem e um homem idoso.
Um droide de protocolo interrompeu.
— Solicitação de transmissão da Embarcação chegando, Mestres.
Graças à Força que Leox estava na nave para receber a mensagem, em
vez de descansando em algum antro de especiarias, Reath pensou. Ou...
Será que o Geode que enviou?
Antes que pudesse se perguntar sobre a capacidade de uma rocha de
lidar com as comunicações entre naves, as imagens foram projetadas na
tela. Ele apontou para a nave de Nan e Hague.
— Olhem. Estão vendo? É definitivamente um design Nihil.
— Os Nihil não devem ser os únicos que fazem naves com pedaços de
outras. — argumentou Mestra Rosason. Principalmente na Fronteira, onde
estaleiros e suprimentos são mais difíceis de encontrar. No entanto, as
semelhanças são impressionantes.
— E há marcas de carbono. — disse Mestra Adampo, apontando isso
antes que Reath tivesse que fazer. — Uma prova de que participou de uma
batalha relativamente recente, embora prestando atenção, dificilmente se
parece com uma nave que escolheria entrar em uma luta.
— Exatamente. — Reath se concentrou em detalhes que o haviam
escapado antes. Como ele não tinha visto? — Esta junção, bem aqui? É uma
versão estranha de uma câmara de descompressão, mas se foi personalizada
para funcionar com outras naves em vez de uma estação...
— Sim, eu vi algo semelhante em holos de outras naves Nihil. — A
Mestra Rosason fechou os olhos com uma expressão que Reath achou
difícil de compreender, então percebeu que era de alívio. — Mesmo sendo
apenas dois, vocês tiveram muita sorte que eles decidiram não prosseguir
com uma ação agressiva na estação. Poderíamos ter perdido mais de uma
vida. Do jeito que está, parece que escapamos muito facilmente.
Essa seria a parte difícil.
— Hum... Sobre isso.
O pelo da Mestra Adampo se arrepiou.
— Você não quer dizer... Você acha que os Nihil tiveram algo a ver com
a morte de Dez Rydan?
— Não, não vejo como poderiam ter feito isso. — Nan estava mais
longe de Dez do que Reath. — Mas enquanto estávamos abandonados lá,
Nan e eu tivemos várias conversas sobre... Bem, os Jedi. E a República. E o
Farol Estelar. E sobre as futuras explorações para a área. — De alguma
forma queria viajar de volta no tempo e sacudir o seu antigo eu, tão
facilmente encantado e persuadido. Nan o enganou para trair a Ordem bem
no momento em que, há vários sistemas de distância, a Mestra Jora estava
morrendo. — Pensei que ela estava apenas curiosa. Queria nos representar
bem em uma nova área da galáxia. Agora eu percebo que ela estava... Me
usando para obter informações. E ela conseguiu.
Esperava olhares sombrios e de desaprovação como o primeiro aspecto
de sua punição, e talvez o mais leve dentre as punições que viriam. Em vez
disso, os membros do Conselho apenas pareciam conformados.
— Não teria suspeitado deles também, especialmente com as
pouquíssimas informações que você tinha sobre os Nihil. E não tinha como
ter entregado algum material confidencial. — disse a Mestra Rosason.
— Ainda assim é uma informação útil que os Nihil não tinham, mas
agora têm. — disse Reath. — É culpa minha. E quero consertar, se puder.
Os Mestres trocaram olhares confusos.
— O que você quer dizer? — perguntou Mestra Adampo.
— Hague e Nan tiveram que ficar na estação Amaxine. Eles ainda
estavam terminando os reparos, graças à ajuda que demos a eles. — O
desapontamento trouxe um rubor ao rosto de Reath, mas ele não parou. —
Ela disse que demoraria um pouco pra terminarem. Talvez Nan estivesse
mentindo, mas na hora eu não suspeitava de nada, então ela não tinha
nenhum motivo para me enganar. Me enganar ainda mais, quero dizer.
— Você deseja confrontá-los. — disse Mestra Rosason. — Com que
propósito?
Reath não conseguia acreditar que não era óbvio.
— Eles são Nihil! Eles aprenderam sobre nós; poderíamos aprender
sobre eles! Poderíamos estar com pessoas responsáveis pelo que aconteceu
com a Legacy Run! Podemos até ser capazes de fazer uma prisão, se a nave
deles tiver alguma ligação com qualquer um dos ataques.
— São apenas duas pessoas. — ressaltou Mestra Adampo.
— Eles estão na estação Amaxine. — disse Reath. — Em outras
palavras, o lugar onde os ídolos foram colocados para conter o lado
sombrio. Pra mim, isso sugere que há algo interessante sobre a estação, algo
sobre a sua história que ainda não descobrimos. Potencialmente, algo
poderoso. Se for assim, não acho que devemos deixar para os Nihil
encontrarem.
Rosason inclinou a cabeça.
— São argumentos válidos. Mas também são hipotéticos. Não sei se,
neste momento de crise, podemos enviar um Jedi para investigar uma mera
hipótese.
A frustração queimava dentro de Reath.
— Então você quer apenas deixá-los ir embora?
A Mestra Rosason colocou a mão em seu ombro tão delicadamente que
lembrou de Mestra Jora. Enquanto engolia em seco, ela disse:
— Se você tivesse descoberto as suas identidades enquanto ainda estava
na estação Amaxine, sim, estaria certo em levá-los sob custódia, se fosse
possível. Mas, a esta altura, significa enviar pessoas que precisamos através
de rotas perigosas do hiperespaço para uma estação perigosa, apenas na
esperança de que Nan não estivesse mentindo pra você e a nave deles ainda
não tenha partido. É muito risco para pouquíssima recompensa.
Talvez isso fizesse sentido. Tudo o que Reath sabia era que não podia
aceitar isso.
— Posso fazer um pedido formal para viajar de volta por conta própria?
— Pode. — disse Mestra Adampo. — Mas provavelmente será negado.
— Você perdeu a sua Mestra e o seu amigo. — acrescentou Mestra
Rosason. — Precisa de um novo propósito, de uma ação construtiva que
possa tomar, e precisa disso rapidamente.
— Isso não é sobre mim e os meus sentimentos. — insistiu ele, e então
se questionou. — Não se trata apenas disso, de qualquer maneira.
— Se fosse tão simples, nós o deixaríamos ir. — disse Mestra Adampo.
— Mas esse é um tempo complicado e uma situação complexa.
Falou tão gentilmente. Todos eles falaram. Isso apenas deixou Reath
mais determinado a fazer aquele pedido formal. E se fosse negado...
Pode ter que descobrir o quão longe estava disposto a se desviar das
ordens do Conselho.

Leox relaxou no refeitório da Embarcação, envolto em uma fumaça doce e


se sentindo muito bem. A Guilda foi justa quanto ao atraso e até mesmo
pagou uma pequena indenização por periculosidade. Isso era raro na Guilda
Byne; suspeitou que tinha que agradecer à Affie. De qualquer forma, ele
não era homem de desprezar a generosidade simplesmente por causa de sua
raridade. No dia seguinte, poderia entrar em uma daquelas lojas chiques de
Coruscant, comprar um novo par de botas, Geode pode querer um bom
polimento.
Esta agradável linha de pensamento foi interrompida por uma voz baixa.
— Leox?
Ele olhou pra cima e viu Affie parada na porta. Ela estava exatamente
com o mesmo macacão de uniforme de antes, mas tinha soltado o cabelo.
Essa pequena mudança não explicava o quão mais jovem ela parecia. O
quão menor.
— Qual é o problema, Pequenina?
O fato dela não se opor ao apelido o preocupou mais do que qualquer
outra coisa. Affie se sentou na cadeira oposta para que ficassem frente a
frente na estreita mesa do refeitório. Em vez de responder à pergunta dele,
ela perguntou:
— Onde está Geode?
— Indo aos clubes. Só os deuses sabem a que horas ele volta. Algum
dia aquele cara vai ter que diminuir o ritmo.
— Não sei como ele consegue. — disse Affie, mas a piada
compartilhada não trouxe nenhum sorriso em seu rosto.
Leox se recostou e cruzou as mãos atrás da cabeça.
— Parece que posso ir muito mais longe respondendo às perguntas em
vez de perguntá-las.
Demorou alguns instantes para começar, e ela não começou com uma
pergunta.
— A Guilda Byne não só emprega as pessoas com um contrato comum.
É servidão por contrato.
— Correto.
— Você sabia? — Ela ficou boquiaberta com ele. — Por que nunca me
contou?
— No começo achei que sabia desse pequeno segredo, por ser a
protegida da Scover e tudo mais. — admitiu ele. — Então eu percebi que
ainda tinha uma visão mais doce do mundo, e não queria ser a pessoa a tirá-
la. Pena que temos que perdê-la.
Affie pousou a cabeça na mesa. Ele não a forçou ou instigou, apenas
deu outra tragada e a deixou entender.
A servidão por contrato às vezes parecia melhor do que era, porque não
era tão ruim quanto a escravidão. Nem de perto. No entanto, também não
era tão bom quanto a liberdade. As servidões por contrato surgiram quando
pessoas desesperadas por emprego encontravam empregadores que queriam
trabalhadores que não podiam protestar. Até mesmo os proprietários de
naves eram vítimas disso, ao acabarem com mais contas de conserto e de
combustível do que de com carga, um risco nada incomum para
embarcações menores. As pessoas vendiam o seu trabalho e a sua liberdade
de movimento por um determinado período de tempo, geralmente não
menos do que sete anos; Leox tinha ouvido falar de contratos que duraram
três décadas inteiras. Havia alguns limites legais sobre os quais servos
contratados poderiam ser forçados a fazer em guildas que queriam trabalhar
com a República (eles não podiam ser obrigados a arriscar as suas próprias
vidas, por exemplo), mas isso ainda deixava os contratados presos por anos
na miséria do trabalho incessante e sem recompensa. Os Hutts, nenhuma
surpresa, construíram indústrias dessa prática.
— Procurei pela nave dos meus pais. — disse Affie finalmente. — A
Mergulho do Kestrel. Foi assim que descobri que foram servos da... Scover.
Falar isso tinha custado a ela. Leox enfiou a mão na caixa térmica ao
lado e pegou uma garrafa de água pra ela. Ela aceitou sem falar nada.
— Você estava certo sobre o código dos contrabandistas. — continuou
ela. — Não era um grupo tentando enganar Scover por causa de dinheiro. É
apenas uma prova de que o pessoal da Guilda Byne usa a estação Amaxine.
Eles meio que têm que usarem. Ela oferece bônus e benefícios se
assumirem os riscos, incluindo cancelar alguns anos de seus contratos.
Tenho certeza de que é por isso que os meus pais... — Affie engoliu em
seco. — Por isso que eles levaram a Mergulho do Kestrel para aquela
estação. E por isso que morreram lá.
— Foi lá que eles morreram?
— Encontrei nos registros dela. — disse ela sombriamente. — Marcado
como confidencial. Algumas horas atrás. Aparentemente, alguns
comerciantes tentam usar os anéis Helix para impulsionar os seus motores.
— Quando feito corretamente, essa manobra poderia enviar uma nave em
uma viagem usando apenas um décimo do combustível normal. Isso
aumentaria consideravelmente as margens de lucro. Mas feito
incorretamente, e era uma coisa difícil de se fazer certo, poderia explodir
uma nave em pedacinhos. Pela expressão no rosto de Affie, os seus pais
devem ter cometido esse erro.
— Ah, cara. — Leox balançou a cabeça. — Sinto muito que teve que
descobrir desse jeito. Sinto muito que teve que descobrir tudo.
— Não. — disse ela ferozmente. — Isso não. Odeio saber disso tudo,
mas estou satisfeita por saber.
— Você só precisa se acostumar a carregar esse peso.
Ela assentiu. Ele bateu a sua própria garrafa de água contra a dela e, por
um tempo, não havia nada a fazer a não ser aceitar.

A quebra do transe profundo pareceu para Orla como emergir de águas


escuras, com a respiração e a luz derramando sobre ela. Embora os seus
olhos estivessem abertos, não tinha visto os seus arredores, ou realmente
qualquer coisa, apenas conectando-se mais profundamente aos outros Jedi
no círculo.
Todos trocaram olhares enquanto se viravam um para o outro, com os
seus movimentos em perfeita sincronia. Orla ainda mantinha o controle de
sua própria mente e corpo (eles não alcançaram consciência conjunta
completamente), mas haviam alcançado um estado de harmonia que os
permitia refletir não apenas os movimentos, mas também o pensamento e a
intenção. Isso os daria a melhor chance possível de combater qualquer mal
que estava prestes a ser libertado.
Em união ao levantar as mãos, notaram novamente a intensidade quente
da contenção da Força, e a extinguiram.
O Santuário nas Profundezas não escureceu, mas de repente tudo
pareceu mais sombrio. Não, ela percebeu que ficou apenas mais frio.
Mesmo que o “calor” da contenção fosse uma ilusão, as ilusões tinham a
sua própria força.
O que ela não entendia era que a câmara agora parecia estar... Vazia.
Nada mais. As únicas emanações da Força vinham de seus companheiros
Jedi.
— Já foi dissipada para a vergência? — perguntou Orla. A confusão
estava enfraquecendo o vínculo compartilhado. — Ou ainda está presente?
À espreita?
— Não há nada aqui. — Os olhos de Giktoo se arregalaram quando ela
percebeu. — Não tem nada preso aqui. Nunca teve.
— Isso é impossível. — disse Mestra Mirabel. — Nós compartilhamos
as suas memórias da estação Amaxine. A escuridão que sentiram lá, aquele
poder bruto, aquilo era muito real.
— E os avisos que recebemos? — interrompeu Orla. — As visões?
— Temo que possamos ter interpretado mal os avisos. — Cohmac
caminhou até o ídolo de inseto adornado com joias. — Talvez eles não
fossem usados para conter o lado sombrio. Acho que, em vez disso, eles
eram usados para... Enfraquecê-lo. Para mantê-lo no lugar. É por isso que os
exercícios de contenção foram tão difíceis de executar. Estávamos nos
sobrepondo aos seus objetivos originais, acabando por desfazê-los.
— Explique em termos simples para aqueles de nós que não são fluentes
em Arqueologia da Força Antiga. — disse Orla.
— Essas estátuas não estavam contendo o lado sombrio dentro de si.
Elas estavam contendo o lado sombrio na estação Amaxine, mantendo-o
preso lá, tentando nos avisar disso. — Cohmac colocou uma das mãos no
peito quando percebeu o significado de suas próprias palavras. — Então
quando removemos as estátuas...
— Não removemos a escuridão. — concluiu Orla. — Nós a
libertamos...
Para a profunda gratidão de Orla, eles haviam entrado em uma área das
cavernas sem nenhuma serpente. A Mestra Laret liderou o caminho, com o
bastão luminoso na mão. Orla e Cohmac seguiam vários passos atrás. No
início, Orla acreditou que a sua mestra insistia em manter alguma distância
entre eles para o caso de alguma serpente atacar por trás.
Porém agora que tinha sido capaz de se concentrar melhor, Orla sabia
tão bem quanto a Mestra Laret que nenhum predador espreitava por perto.
Em vez disso, os dois aprendizes estavam recebendo espaço para que
pudessem conversar livremente.
— Sinto muito pelo Mestre Simmix. — disse Orla.
Cohmac assentiu. O seu olhar permaneceu desfocado.
— Nós não devemos nos lamentar. — disse ele. — Ele é um com a
Força.
Ela respondeu exatamente como deveria:
— Mas podemos lamentar a perda... — Cohmac a interrompeu com um
gesto.
— Isso é ridículo. — Ele reajustou as suas vestes, inquieto, com pouco à
vontade. — Eles ordenam que o mestre e o aprendiz passem anos juntos,
trabalhando em parceria, tão próximos quanto qualquer família poderia ser,
e então esperam que não nos apeguemos. Nunca pensei sobre isso antes,
Nunca precisei, mas agora não consigo parar de pensar em como isso é
injusto. Pior do que injusto. Isso é errado.
As palavras dele atingiram uma parte desconhecida dentro de Orla.
Mestra Laret não era, necessariamente, completamente ortodoxa em seus
métodos, mas ela ou qualquer outra pessoa nunca havia assumido achar que
os Jedi poderiam estar completamente errados sobre alguma coisa. Sobre
qualquer coisa.
Se ao menos alguém tivesse falado antes. Orla poderia não ter se sentido
tão completamente sozinha.
Por anos ela esteve ciente de que estava mais profundamente conectada
a Força às vezes e de maneiras que iam contra os ensinamentos da Mestra
Laret. Orla queria seguir os ensinamentos de sua mestra (Laret Soveral era
o modelo perfeito de uma Jedi, na opinião de Orla), mas a sua própria
experiência da Força não era a mesma.
Vai ser, ela disse a si mesma teimosamente. Você será mais parecida
com a Mestra Laret se apenas continuar tentando. Cohmac está sofrendo
porque perdeu o seu próprio mestre, mas não há razão para permitir que a
dor dele o afaste dos ensinamentos Jedi.
Confie em sua mestra. Confie na Ordem. Acredite que um dia tudo
ficará claro para você, tão claro quanto a água da chuva.

Quando Orla ficou em silêncio, Cohmac a princípio se perguntou se ela o


condenava, mas não. Ainda irradiava dela compreensão.
Provavelmente estava apenas tentando guiá-lo pelo caminho certo.
Como Mestre Simmix disse uma vez: Você pode discordar do Conselho,
mas o que importa é como você discorda. Transmitir a raiva que sentia era
tolice. Não resolveu nada e refletiu mal na formação de seu mestre. Se
Cohmac não pudesse ficar de luto, pelo menos pretendia ser um exemplo do
fiel dever de Mestre Simmix para com os Jedi.
Além disso, a raiva era uma distração, e não era hora de se distrair.
Mestra Laret parou de andar e ergueu uma das mãos, alertando-os. Mais
serpentes? Cohmac ficou tenso e esperou ouvir o barulho revelador de
escamas na pedra.
Nada. Mestra Laret estava olhando pra cima.
Em voz baixa, ela disse:
— Acredito que estamos embaixo do covil dos sequestradores.
— Embaixo? — Orla também manteve a voz baixa, apesar de sua óbvia
perplexidade. — Mas essas cavernas não são tão profundas...
— Nós viajamos por baixo de uma formação rochosa maior. Tem mais
espaço acima de nós do que antes. O que significa mais cavernas. — Mestra
Laret virou-se para os Padawans com uma expressão séria. — Sem qualquer
mapeamento, não podemos ter certeza, mas acredito que encontraremos
uma conexão entre esta caverna e a deles. Pelo menos alguma passagem. As
correntes de ar sugerem isso.
Cohmac percebeu que havia uma leve brisa.
— Então, vamos entrar?
— Estamos chegando perto. — Mestra Laret o corrigiu. — Não
entraremos até sabermos onde os reféns estão, se estão vivos e como mantê-
los seguros. Nosso trabalho aqui não é lutar contra os sequestradores. É para
salvar os reféns.
Era bom, antes de um conflito, lembrar que qualquer ação armada era
apenas um meio para um fim. Cohmac acenou com a cabeça, determinado a
servir bem em homenagem a Simmix.

— Bem. — murmurou Thandeka. — Poderíamos nem estar nesta posição


se E'ronoh estivesse disposto a negociar com Eiram.
Cassel tinha os dentes da frente ligeiramente compridos, olhos redondos
e um nariz torto que o fazia parecer um voorpak azul brilhante.
— Achei que fosse Eiram que não negociasse com E'ronoh.
Os dois planetas estiveram em conflito por tanto tempo que nenhuma
cooperação foi vista como possível e, portanto, nenhuma foi procurada.
Há quanto tempo ninguém sequer tenta? Às vezes parecia que Eiram se
definia não por seus próprios méritos, mas simplesmente como aqueles que
se posicionavam contra E'ronoh. Ela estava começando a suspeitar que
E’ronoh havia feito a mesma coisa ao contrário. Alguém ao menos se
lembrava verdadeiramente dos motivos de todo esse ódio? Esses motivos
ainda eram válidos nos dias de hoje?
Vou perguntar à Dima, Thandeka pensou antes de se lembrar que, muito
provavelmente, nunca mais veria a sua esposa novamente.
— Além disso, por que não estaríamos nesta posição? — questionou
Cassel. — Estes criminosos não fazem parte de nenhuma negociação
comercial entre Eiram e E'ronoh, tenho certeza.
— Não. Mas se tivéssemos feito acordos comerciais com a República
antes, a escória da galáxia não estaria tentando entrar agora. E a principal
razão pela qual nunca imaginamos lidar com a República é porque nunca
aprendemos a lidar uns com os outros. — Por muito tempo eles se
orgulharam de sua independência. Mas em que ponto o orgulho se tornou
mera teimosia? Em que ponto a independência se tornou ignorância
intencional?
Onde quer que fosse esse ponto, Thandeka suspeitava que os dois
planetas já o haviam ultrapassado há muito tempo.
O rosto de Cassel esmoreceu, mas ele tentou sorrir para ela. Ele parecia
ser um homem gentil.
— Pelo menos os nossos sequestradores também não estão se
divertindo. A julgar pela carranca do grande cara peludo, ele está tendo um
dia quase tão ruim quanto nós.
Thandeka simplesmente sorriu de volta. Foi mais gentil do que
mencionar que quanto mais furiosos os seus captores ficavam, maior a
probabilidade de acabarem mortos.
O que eles fazem com um Padawan remanescente?
Reath estava refletindo sobre essa questão um pouco depois de
saber da morte da Mestra Jora, assim que se recuperou do choque extremo.
Era lógico que seria escolhido por outro mestre eventualmente, mas quando
e como?
(Era uma medida da paz e prosperidade da República que Reath nunca
tivesse conhecido um aprendiz na mesma situação).
Quando foi convocado para outra reunião do Conselho, presumiu que
era sobre os Nihil que havia identificado na estação Amaxine. Reath estava
trabalhando duro para pensar neles dessa forma, como os Nihil, em vez de
Nan e Hague. Guerreiros ferozes em vez de refugiados. Reiniciar o seu
pensamento, eliminando a bondade que sentia por eles, podia ajudá-lo a
lidar com parte da intensa vergonha que sentia por vazar conhecimento para
um inimigo, para o inimigo que matou Mestra Jora, nada menos. Eles o
haviam feito de tolo uma vez, mas nunca o fariam novamente.
O Conselho raramente se preocupava com Padawans individualmente.
Então provavelmente procuravam ainda mais informações sobre os Nihil ou
queriam castigar Reath por seu descuido. Talvez ambos.
Em vez disso, ao se ajoelhar diante deles, a Mestra Adampo disse:
— Queremos falar com você sobre o seu novo mestre.
— Alguém já me escolheu? — Reath não conseguia imaginar quem.
Todos os Mestres que ele conhecia bem já tinham os seus próprios
aprendizes, exceto, é claro, aqueles que estiveram com ele na estação
Amaxine, mas certamente um deles teria falado com ele primeiro.
— Não. — respondeu Mestra Rosason. — Você está de luto e só você
pode nos dizer o momento certo para retomar o seu treinamento.
Reath não tinha pensado em quando gostaria de começar a treinar
novamente. Padawans não costumavam tomar muitas decisões importantes
por conta própria, como regra geral, e a sua primeira reação a esta decisão
foi desejar que tudo desaparecesse. A escolha parecia um fardo. A sua dor
por Mestra Jora já era pesada o suficiente.
— Dadas as circunstâncias excepcionais, também aceitaremos a sua
opinião sobre qual tipo de tarefa seria mais benéfica para você no futuro. —
disse Mestra Rosason.
— O que você quer dizer?
Mestra Adampo estendeu as mãos, como um gesto expansivo.
— Alguns, em sua situação, podem solicitar uma designação na
Fronteira, a fim de cumprir os desejos de seu falecido mestre. No entanto,
outros podem pedir mais tempo em Coruscant ou em um dos outros
Mundos do Núcleo, para que o seu relacionamento de trabalho com um
novo mestre possa começar em um terreno mais familiar. Existem
vantagens e desvantagens em cada opção e em outras opções que não
discutimos aqui. Cabe a você pesquisar, refletir e nos dar uma resposta.
Não tenho que ir para a Fronteira afinal, Reath pensou.
Apenas algumas semanas atrás, isso teria sido motivo de comemoração.
Mas a sua liberdade foi comprada por um preço muito alto.
A sua inquietação deve ter ficado evidente para todo o Conselho, porque
a Mestra Rosason gentilmente disse:
— Você não precisa escolher agora. Na verdade, não deveria; não
passou tempo suficiente para fazer uma escolha informada. Queríamos
apenas alertá-lo de que esta escolha é sua.
Reath agradeceu a eles e saiu das câmaras do Conselho o mais rápido
que pode decentemente. Pelo menos se os Mestres o deram essa
responsabilidade, eles deram tempo para pensar sobre as coisas. Quando
tentou imaginar o seu futuro, só conseguia imaginar uma coisa: voltar para
a estação Amaxine para confrontar Nan e Hague e prendê-los, se possível.
Para consertar o único grande erro que já cometeu na vida.
E esse era o único futuro que não poderia acontecer.
Ou poderia?
Affie havia blefado na noite anterior, jantando com Scover e passando a
noite em sua vasta e luxuosa suíte de hotel. Por mais macia que a cama
fosse, ela mal dormiu. Em vez disso, ficou por horas invocando as poucas
memórias que tinha de seus pais:
Viajando na cabine da Mergulho do Kestrel no colo de sua mãe,
maravilhada com a bela nebulosa pela qual estavam viajando.
Remando nas piscinas de Wrea, com o seu pai mantendo uma mão sob a
sua barriga enquanto aprendia a nadar.
Indo até eles depois de um pesadelo e adormecer entre eles, sentindo-se
segura de qualquer perigo.
Eles queriam ser livres enquanto eu ainda era jovem. A única maneira
de fazer isso era assumir as tarefas perigosas da Scover. Então assumiram.
E morreram.
A injustiça disso a irritou, assim como o conhecimento de que não havia
maneira de consertar nada. A sua mãe e seu pai se foram, assim como o
pobre Dez Rydan.
Não havia realmente nada que ela pudesse fazer?
Ao amanhecer, fez algumas pesquisas altamente inespecíficas em bases
de informações, tentando descobrir se alguma coisa que Scover estava
fazendo era considerada ilegal. Provavelmente não, ela imaginou,
considerando como a Guilda Byne prosperava em vários sistemas. No
entanto, descobriu-se que a República tinha regras muito mais rígidas sobre
o que os contratados poderiam ser obrigados a fazer. Scover não estava
forçando ninguém, mas as leis da República eram minuciosas, indicando
que “incentivos” excessivamente perigosos podem ser considerados um
requisito estabelecido na lei.
Mas as penalidades eram severas. Prisão? Dissolução de qualquer
empresa de navegação que se envolver com essas práticas? Affie tentou
imaginar a vida dela sem a Guilda Byne e falhou.
Damos um trabalho bom para muita gente, ela racionalizou, como Leox
e Geode. A maioria dos nossos pilotos são livres. Como posso forçá-los a
voltar a serem independentes?
Era um trabalho árduo ser um piloto independente, pelo menos um que
operava dentro da lei. Mas isso também era uma pergunta mais fácil para
Affie se questionar do que: Eu poderia colocar a Scover na prisão?
Devia haver outra maneira de impedir que a Scover colocasse os seus
pilotos em perigo. Affie quebrou a cabeça até perceber que havia uma coisa
que poderia fazer, se tivesse coragem pra fazer isso.
Naquela manhã, ela engoliu o seu café da manhã e deu umas desculpas
para Scover, que acenou pra ela distraidamente; várias das reuniões
esperadas já tinham sido agendadas. Isso deixou Affie livre para voltar para
a espaçonave, caminhar pela ponte da Embarcação e anunciar:
— Temos que voltar para a estação Amaxine.
Geode ficou sem palavras. Leox girou tão lentamente que as miçangas
do colar nem balançaram e disse:
— Por que exatamente temos que fazer isso?
— Outros pilotos da Guilda estão usando aquela estação. — disse ela.
— Pessoas contratadas e qualquer outra pessoa que está falida e
desesperada o suficiente para arriscar as suas vidas apenas por um dos
bônus da Scover.
— O que é uma coisa terrível. — Leox a estudou cuidadosamente. —
Também é um risco que eles aceitam. Esse bônus por si só diz a qualquer
piloto olhando para ele que pode não haver volta.
— Ela não oferece essas corridas aos pilotos que são genuinamente
livres para recusá-las. Somente pessoas que estão desesperadas. É por isso
que nenhum de nós nunca soube sobre a estação antes.
— Certo, porque é um lugar terrível para se estar. E nós estaríamos
voltando para lá pra fazer o que exatamente? — perguntou Leox.
— Para obter registros. — respondeu ela. — Para construir um caso. Se
alguém levasse tudo isso às autoridades da República e eles realmente
ouvissem, e parece que ouvem, bem, Scover estaria em apuros.
Leox cruzou os braços sobre o peito.
— Isso é um eufemismo. Algo assim faria com que ela fosse presa.
Pode até levar à dissolução da Guilda. Você está pronta pra isso?
Affie ainda não conseguiu responder a essa pergunta. Talvez ela nunca
precisasse responder.
— Se eu mostrar isso para Scover, vai perceber que tem que recuar. Que
tem que parar de usar aquela estação e quaisquer outros locais perigosos
para os quais mande pessoas contratadas.
— Você acha que Scover vai aceitar isso? — Leox parecia em dúvida.
— Ela não é uma mulher que aceita muitas limitações.
Antigamente, era isso que Affie mais admirava nela.
— Ela terá que aceitar isso. Além disso, mesmo que ela não dê ouvidos
a ninguém, ela pode me escutar.
— Ela pode fazer isso. — disse Leox. Ele ainda parecia em dúvida. —
Precisamos estar preparados, no entanto. Os Orincanos podem ter
continuado lá e provavelmente não serão tão receptivos quando não
tivermos os Jedi ao nosso lado. Quero dizer, a Embarcação tem artilharia
suficiente para se defender, mas é só isso. Tampouco podemos comprar
abertamente uma grande atualização em armamentos sem atrair a atenção
indevida das autoridades. — Ninguém se importaria se eles se armassem em
preparação para retornar a uma antiga estação Amaxine, provavelmente,
mas Affie entendeu que as autoridades não poderiam de maneira nenhuma
bisbilhotar no contêiner “secreto” de carga. — Precisaríamos de mais armas
individuais também.
— Isso a gente consegue resolver. Aposto que tem um mercado
clandestino de armas à venda em algum lugar em Coruscant. — A euforia
cresceu dentro do coração de Affie até que ela sentiu como se ela brilhasse
como raios de sol. — Geode, você conhece algumas, digamos, pessoas
interessantes. Alguém que pode vender um pouco à parte? Talvez até um
detonador térmico ou dois?
O olhar de Geode disse tudo.
Lentamente, Leox começou a sorrir.
— Tudo bem, então. Vamos incendiar.

A história milenar dos Jedi significava que havia protocolo ou precedente


para praticamente todas as situações possíveis que um membro da Ordem
poderia se encontrar.
Mas não por cometer um erro tão grande quanto esse.
Orla sabia que o Conselho teria colocado de forma mais elegante do que
isso. Ela preferia a sua própria versão. Não havia sentido em tentar se
esconder de verdades desagradáveis, na opinião dela, e a verdade
desagradável ali era que eles haviam estragado tudo majestosamente.
Nem todos podiam aceitar o fracasso tão facilmente, o que Cohmac
Vitus estava atualmente demonstrando. A raiva o envolveu tão tangível
quanto as nuvens de tempestade.
— Parecia com o tipo de vínculo usado em artefatos da época. Quase
idêntico.
— Ninguém culpa você, Mestre Vitus. — disse Giktoo, e talvez fosse
verdade mesmo. — Pode ser difícil diferenciar as várias formas de objetos
vinculados à Força. O único erro aqui foi realizar o ritual de proteção no
final de sua estadia na estação Amaxine.
Orla reprimiu a sua frustração ao perceber que Giktoo estava certo.
— Se tivéssemos ficado mais um ou dois dias, teríamos reconhecido o
que fizemos. A escuridão a bordo da estação teria se manifestado.
— A sua cautela foi compreensível. — insistiu Poreht La. — Não queria
expor você e a tripulação de sua embarcação a poderes mais sombrios. Não
posso dizer que você fez a escolha errada.
— Liberamos algo profundamente no lado sombrio. — Uma pulsação
nas têmporas de Orla pressagiava uma dor de cabeça. — Isso parece a
escolha errada pra mim.
— Mas o que poderia ter sido? — perguntou Cohmac, falando mais para
si mesmo do que para os outros na sala. — Não havia mais nada vivo
naquela estação, exceto pelas plantas. E o que eu senti foi muito mais
complexo do que qualquer coisa que eu já captei de plantas fortes na
escuridão.
— Outro motivo pelo qual o erro era compreensível. — disse Tia. A
única palavra que Orla conseguiu entender foi erro.
— Os avisos. — disse Orla. — As visões que tivemos na estação. Elas
não estavam nos dizendo para prestar atenção na escuridão presa dentro dos
ídolos. Estavam nos dizendo que os ídolos deveriam ser deixados
completamente em paz. — A frustração a irritou. Era a maneira da Força
falar em imagens e instintos, mas Orla gostaria que pudesse apenas ser
precisa de vez em quando.
Cohmac respirou fundo, visivelmente tentando se concentrar. O controle
geralmente vinha tão facilmente pra ele, as lutas de que falou devem ter
sido ainda mais profundos do que Orla havia percebido.
— O que passou, passou. O que importa é o presente. O que vamos
fazer sobre a estação Amaxine?
Orla não teve tempo de se perguntar o que vinha a seguir, mas a
resposta parecia clara.
— Temos que voltar. Temos que substituir os selos que quebramos e
torná-los ainda mais fortes do que antes, se pudermos. — Isso seria difícil.
O selo anterior havia durado séculos, até que eles apareceram e o
arruinaram. Mas Orla estava determinada a tentar.
Embora todos os Mestres assentiram, Tia disse:
— Ainda não.
— O que estamos esperando? — perguntou Orla. — Que mais alguém
se machuque ou morra? Aquela estação ainda está em uso por
contrabandistas e comerciantes livres. Mesmo que eles estejam se
envolvendo em atividades ilegais, isso não é desculpa para expô-los a esse
tipo de perigo.
Foi Cohmac quem a respondeu, embora tenha sido com os outros que
ele falou.
— O trânsito para aquela área ainda é perigoso. A maioria dos Jedi
próximos são designados ao Farol Estelar, e estão ocupados lidando com as
consequências lá. Você não tem os Mestres lirados.
— Não precisamos de Mestres. — insistiu Orla. — Tiramos aquele selo
por conta própria; podemos colocá-lo de volta também.
— Vocês estariam se arriscando desnecessariamente. — disse Poreht La.
— Perdemos muitos Jedi corajosos neste desastre para assumir tais riscos.
Sim, isso deve ser feito. O Conselho irá em breve estabelecer um grupo
para ir à estação Amaxine. Só não agora. — Ele apontou para os ídolos. —
No momento, devem ser removidos para um local mais seguro e o santuário
lacrado mais uma vez.
— Claro. Eu vou cuidar disso pessoalmente. — Cohmac aceitou com
tanta facilidade que Orla sentiu que não poderia protestar sem parecer uma
excêntrica. Ao saírem da câmara, a cabeça de Orla latejava. Ela estava
determinada a falar com Cohmac e ver se não conseguia convencê-lo. Se
ambos apresentassem uma frente única, o Conselho poderia realmente
ouvir.
Em vez disso, assim que as portas se fecharam, Cohmac voltou-se para
ela e falou baixinho.
— Você vai notar que eles não nos proibiram de ir.
— Não proibiram, né? — A cabeça de Orla já estava melhor.
— Em nossa primeira missão juntos, cometemos um erro. — disse
Cohmac. — Agora nós cometemos outro. Mas este, pelo menos, podemos
consertar, e pretendo fazer isso.

Aceitação, até mesmo resignação, era uma habilidade que os Jedi deveriam
dominar. Todas as habilidades e toda a sua autoridade não podiam corrigir
todas as situações. A ordem pode exigir que eles façam coisas e vão a
lugares que não teriam escolha. Qualquer grande Jedi poderia aceitar isso
rapidamente e de maneira indolor.
Era uma habilidade em que Reath ainda estava trabalhando, com pouco
sucesso.
Uma vez que não tinha tarefas atribuídas no momento e nenhum mestre
para atender, era responsável por preencher o seu próprio tempo. Memórias
da Mestra Jora e de Dez o atormentavam por todos os lados. Tudo o que fez
ou aprendeu durante os últimos anos estava ligado a uma ou ambas as
pessoas que havia perdido. A concentração era impossível. Em vez disso,
ele se dirigiu ao seu lugar favorito, a única fonte segura de conforto que
conhecia.
Nas grandes câmaras do Arquivo, Reath se sentou em sua antiga e
confortável cabine com um dos textos que negligenciou nos últimos anos,
um que recontava os contos de fadas e lendas dos Mundos do Núcleo. Essas
figuras já eram todas conhecidas através das canções e rimas ensinadas às
crianças, mesmo dentro dos Templos; algumas delas tinham raízes de fato,
como a “Boa Princesa Chaia de Alderaan” ou “O Pirata Ithoriano
Bluebrow”.
Assim como os guerreiros Amaxine.
Ele percorreu as imagens das armaduras, naves e armas dos Amaxines,
a maioria delas representações artísticas encontradas em artes antigas. Mas
havia artefatos reais retratados também. Enquanto Reath estudava as
imagens, ele viu padrões com círculos infinitos, enrolados juntos,
sequenciados, envolvendo um ao outro, sejam gravados em metal ou
pintados em vasos.
Não é à toa que construíram uma estação esférica com anéis ao redor,
ele pensou. Círculos significavam algo para eles. Talvez algumas das
lendas expliquem o porquê.
Antes que pudesse estudar mais, no entanto, outra pessoa entrou em sua
cabine.
— Ei. — disse Reath. — Essa está ocupado... Mestre Cohmac?
— Boa tarde, Reath. — Mestre Cohmac usava o capuz de sua capa
dourada, o que não era incomum pra ele, mas no momento parecia um
pouco... Furtivo. A sua voz também estava baixa, embora essa fosse a regra
nos Arquivos. — Vi que você pediu para voltar à estação Amaxine.
— Eu, hã, sim. — Reath se endireitou e arrumou o cabelo castanho para
trás de seu rosto. — Por todo o bem que fez. Você viu sobre Nan e Hague,
também, certo?
— Correto. — Mestre Cohmac não parecia interessado o suficiente no
fato de que foram enganados pelos Nihil. — Além disso, descobrimos que a
escuridão que encontramos na estação Amaxine não estava de jeito nenhum
ligada aos ídolos. Eles serviam como supressores e como sentinelas. Ao
remover os ídolos, libertamos essa escuridão. Isso não pode ser permitido.
Reath levou um momento para processar isso.
— Espere. Não deveríamos mover os ídolos?
Mestre Cohmac estremeceu, como se estivesse com dor.
— É o que parece. É importante que os ídolos sejam devolvidos à
estação e que a escuridão seja novamente suprimida.
Era lisonjeiro ser procurado para ajudar com o ritual de aprisionamento,
que certamente era o motivo, mas Reath sentiu que era justo explicar que
tinha planos completamente diferentes.
— Pedi permissão para voltar a estação para apreender Hague e Nan.
Eles se recusaram e disseram que não podiam dispensar ninguém, até
mesmo um Padawan. O Conselho reverteu a decisão por causa dos ídolos?
— Não. Essa decisão é final. No entanto, ninguém foi proibido de viajar
para a estação Amaxine. Você e eu somos livres no momento, assim como
Orla Jareni, que compartilha de nossas preocupações. O meu salário pessoal
poderá cobrir o aluguel de uma nave, de preferência a Embarcação, pois
eles podem fazer uma escolha consciente sobre os perigos inerentes de
viajar para lá.
— Então você está sugerindo que nós... Nos rebelemos? Nos opondo ao
Conselho?
— O Conselho não proibiu explicitamente isso. E eu também não
descreveria isso como uma ação rebelde. — Mestre Cohmac revelou ter um
sorriso muito astuto. — Prefiro pensar nisso como 'mostrando iniciativa'.
Cada segundo que Reath passou na estação Amaxine havia provado que
aventuras não eram para ele. De jeito nenhum.
Mas não podia deixar uma tarefa inacabada.
— Precisamos inventar uma desculpa? — sussurrou ele.
— Não. Nós não mentiremos. Simplesmente vamos.
— O que precisamos levar? — Reath tentou pensar em dispositivos
especiais que podia ajudá-los a capturar os Nihil.
Mestre Cohmac, no entanto, estava claramente pensando mais sobre a
escuridão que eles encontrariam novamente.
— Precisamos dos ídolos.
Isso tinha sido mencionado antes, mas só agora Reath viu as
implicações.
— Vamos roubar eles? — Certo, é legal passar mais tempo com
artefatos históricos, mas não é legal que tenhamos que tirá-los do Templo
sem sermos notados.
— Eles são os únicos objetos que sabemos serem poderosos o suficiente
para combater essa escuridão. Então, assumimos o roubo.
Reath hesitou antes de dizer:
— Você fez uma piada.
— É sabido que isso ocorreu. — disse Mestre Cohmac, com o rosto
sério. — O Conselho me encarregou de remover os ídolos de seu local no
Templo e encontrar um local mais adequado pra eles. Acontece que o local
mais adequado é na estação Amaxine.
Sorrir, para variar, era bom. Mas o sorriso de Reath durou pouco.
— É somente nós? Nan e Hague não pareciam guerreiros mortais, mas
aposto que têm armamento a bordo daquela nave.
— Sem dúvidas, você está certo. — Mestre Cohmac tornou-se ainda
mais grave do que de costume. — Esteja ciente, Padawan Silas, que a
jornada que estamos empreendendo é extremamente perigosa. Se... não,
quando tivermos algum problema, não seremos capazes de pedir ajuda para
a Ordem Jedi ou à República. O que faremos aqui, faremos sozinhos. Pense
nisso cuidadosamente antes de aceitar.
— Percebi essa parte desde o início. — disse Reath. — Estou dentro.

Affie estava verificando o trem de pouso da Embarcação quando ouviu


passos atrás dela. Scover, ela pensou, e o seu estômago se revirou.
Em vez disso, eram Reath Silas e Cohmac Vitus, ambos vestindo as suas
capas com os capuzes para cima como se estivesse ventando e chovendo ao
invés de um dia totalmente lindo. Cohmac parecia sereno, mas os olhos de
Reath disparavam de um lado para o outro de uma maneira que ela só
poderia chamar de sorrateira.
— Senhorita Hollow. — disse Cohmac. — Queremos alugar a
Embarcação novamente. Privadamente, desta vez. Para outra viagem para a
estação Amaxine, se puder considerar a proposta.
— Claro que considero. — Affie enxugou as mãos engorduradas em um
pano enquanto ficou de pé. — Aceitaríamos esse fretamento em um
instante. O problema é que outra pessoa já nos contratou.
Os ombros de Reath cederam. Até Cohmac pareceu desapontado.
— Posso perguntar quanto tempo levará a jornada desse cliente?
— Pergunte à nossa passageira. — Ela apontou para a rampa, onde Orla
Jareni tinha acabado de sair para recolher o resto de suas coisas.
Orla sorriu.
— Desculpa, Affie, não mencionei que os outros iriam comigo?
— Não, não mencionou. — Affie fez alguns cálculos rápidos de risco
em sua cabeça, mas, no final das contas, simplesmente acenou para os
outros em boas-vindas.
Cohmac ergueu uma sobrancelha.
— Houve algum problema ao remover os ídolos?
— Nem um pouco. — respondeu Orla. — Todos assumiram que eu
estava levando-os a um centro de pesquisa. Eu só não disse para qual
centro. Contanto que os pesquisemos um pouco no caminho, eu diria que a
Embarcação é um centro de pesquisa tão bom quanto qualquer outro.
Depois disso, os três Jedi se reuniram no arco de ancoragem mais
próximo no espaçoporto, discutindo os seus planos em voz baixa. Affie os
observou da cabine, entre Leox e Geode.
— Devíamos dizer a eles que já estávamos indo para lá? — perguntou
Affie. — E diminuir a taxa?
Leox balançou a cabeça.
— Um homem precisa ganhar o seu pão.
A Embarcação saiu de Coruscant sem incidentes, era apenas
uma das milhares de naves espaciais que deixam o planeta todos os
dias. Às vezes, Leox refletiu, é bom ser apenas uma gota no oceano, um
único grão de areia na praia.
Viajar de volta era mais fácil do que da primeira vez. A via do
hiperespaço, embora ainda acidentada, estava muito mais limpa. Leox se
sentiu livre para deixar Affie e Geode encarregados da ponte. Além disso,
aqueles dois precisavam de um tempo para colocar o papo em dia.
Ele foi para o refeitório, esperando que tivessem pego um pouco mais
daquele caf chique (você realmente consegue perceber a diferença com as
coisas de qualidade), e acabou topando de cara com Orla Jareni parecendo
mais furiosa que um Grindalid ao meio-dia.
— Precisamos conversar. — disse ela, com as mãos na cintura.
Isso não parece favorável, pensou Leox.
— Sobre qual assunto devemos conversar?
— Acidentalmente entrei no compartimento de carga da esquerda ao
invés de entrar no da direita, o qual é o compartimento que reformou para
ser meu quarto. — Os seus olhos escuros de bruxa se estreitaram. — O que
significa que eu sei o que você está transportando.
Certo, não era assim que Leox esperava que o assunto fosse abordado.
Na verdade, esperava que nem sequer fosse abordado. Ainda assim, se
explicações eram necessárias, mais fácil explicar de uma vez.
— Senhora, garanto a você que aquela especiaria é completamente
legal.
— Legal no sentido de que realmente é permitido? — indagou Orla. —
Ou legal no sentido de que as leis da República nem sequer chegaram a
falar desse setor?
— Totalmente legal. Absolutamente. Cento e um por cento.
— Não existe cento e um por cento.
Leox encolheu os ombros, o gesto expansivo e evasivo de um homem à
vontade, o tipo de homem que também pode deixar os outros à vontade.
— Uma figura de linguagem. Mas não há absolutamente razão nenhuma
para levantar objeções a essa especiaria.
A sobrancelha de Orla permaneceu erguida em um arco extremamente
cético.
— Razão nenhuma, hein?
Ele jogou a sua melhor carta.
— É medicinal.
— Ceeeeerto. — Ela suspirou. — Não há nada que possamos fazer
sobre isso agora. E acho que você é inteligente demais para mentir
abertamente sobre isso ser legal, pelo menos, no sentido mais limitado.
Então acho que vamos ter que deixar pra lá.
— Não só isso, também sou o único piloto que encontrará disposto a
aceitar um emprego envolvendo robôs de jardinagem assassinos, trepadeiras
venenosas, garotas adoráveis que no fim são guerreiras Nihil e um elemento
misterioso do lado sombrio que você, pessoalmente, liberou.
Depois de uma pausa, ela admitiu:
— Isso também.

Acabou sendo uma viagem muito mais rápida ao irem diretamente para a
estação Amaxine, em vez de a encontrarem no caminho como uma parada
de emergência. Dentro de uma hora, Affie anunciou:
— Todo mundo, apertem o cinto. Vamos sair do hiperespaço em breve.
Reath se amarrou. Desde o momento em que Mestre Cohmac foi até ele
nos Arquivos, estava tenso, energizado por um propósito. No entanto, teve
que se concentrar. Se fosse confrontar Nan e Hague, precisava fazer isso
com o máximo controle.
Eles são guerreiros perigosos, disse a si mesmo. Provavelmente têm
armas que você não descobriu antes. Você tem que estar pronto pra eles.
Tudo verdade e mesmo assim, quando pensou sobre Nan e Hague, ainda
via uma jovem doce com um rosto redondo e cabelos escuros brilhantes e
um idoso que usava uma bengala para andar.
A história deles pode ser mais complexa. Será que poderiam estar sob o
controle dos Nihil, servindo o grupo contra a sua vontade? De algumas
reuniões, Reath lembrou que os Nihil eram famosos por ameaçar certas
autoridades planetárias, forçando-as a fechar os olhos aos seus saqueadores
ou pagar resgates enormes. Se os Nihil podiam intimidar todo o governo de
um planeta, eles poderiam facilmente forçar a duas pessoas vulneráveis a
fazer o que mandassem.
Talvez tenhamos vindo aqui para prendê-los, Reath percebeu. Ou talvez
tenhamos vindo aqui para libertá-los.
— Saindo do hiperespaço em cinco minutos! — gritou Leox sobre o
rangido agudo da Embarcação. — Quatro! Três!
Reath prendeu o cinto de segurança, assim como os outros Jedi.
— Dois! E um!
A Embarcação estremeceu e então voltou para a suavidade de um voo
normal. Cada um dos Jedi respirou aliviado. Sarcasticamente, Cohmac
Vitus disse:
— A parte fácil acabou.
Da ponte, Leox gritou:
— Disso pode ter certeza.
Os outros trocaram olhares. Reath foi quem perguntou:
— Por que disse isso?
— Disse isso porque tem uma Storm Nihil completa do outro lado da
estação, e ela está carregando poder de fogo suficiente para nos transformar
em poeira estelar.

Affie tinha ouvido falar dos Nihil. Tinha visto holos e imagens na tela de
suas naves de guerra, dos seus ataques de gás venenoso e dos horríveis
danos que deixavam para trás. Já destruíram naves da Guilda, não muitas,
mas o suficiente pra estar ciente das perdas devastadoras de vidas.
Nada disso a havia preparado para o puro terror de ver uma de suas
enormes naves de guerra com seus próprios olhos.
Assim como a nave de Nan e Hague, ela era um remendado de peças de
outras naves, com metais e formas diferentes, tudo selvagemente colado
junto. Mas a nave de guerra Nihil não era simplesmente maior; era
infinitamente mais perigosa. O casco estava completamente lotado de portas
de armamento, em cada fresta e ângulo. Não havia uma abordagem segura
para uma nave dessas, e nem como possuir mais armas que ela. Isso tudo
combinado com o conhecimento de que a nave de guerra pode se dividir em
outras naves e cercá-los de uma vez...
Affie não queria mais pensar nisso.
Leox reagiu instantaneamente, batendo nos controles que levariam os
motores até a configuração ativa mais baixa e desligar todos os sistemas
desnecessários. Até as luzes se apagaram. O interior da Embarcação
poderia muito bem estar iluminado por velas.
— Eles ainda vão nos ver. — disse Affie. As suas mãos permaneceram
congeladas no console.
— Mas vai demorar mais e isso nos dá tempo para fazer isso.
Leox usou o menor impulso possível para inclinar o curso para baixo e
lateralmente, logo atrás de um pouco de detritos aleatórios do espaço, um
asteroide pequeno que era pouco maior que a Embarcação.
— Vamos soltar um cabo ali.
Affie já havia percebido onde ele estava mirando.
— Entendi.
Ela ativou um cabo de reboque magnético, esperando que a composição
do asteroide contivesse metal o suficiente para funcionar. Uma pequena
vibração sinalizou que continha. Affie exalou de alívio enquanto flutuavam,
protegidos por um asteroide que iria obscurecê-los da visão dos Nihil. Se
escaneassem a área, pensariam que o asteroide era um pouco maior e muito
mais metálico. Qualquer sinal de vida provavelmente seria classificado
como mynocks.
A essa altura, os Jedi se aglomeraram em torno da porta da ponte.
Cohmac falou primeiro:
— Muito bem.
— Mas não podemos ficar aqui pra sempre. — acrescentou Orla. —
Vamos esperar até eles irem embora da estação?
— Não podemos. — Os olhos de Reath estavam arregalados com o
tamanho da nave Nihil, mas parecia determinado. — Quando os Nihil
partirem, levarão Nan e Hague consigo e não descobriremos nada.
Cohmac cruzou as mãos.
— As repercussões podem ser ainda piores. Seja qual for a escuridão a
bordo dessa estação, dependendo da forma que ela assumir, os Nihil
poderiam potencialmente reivindicá-lo como sendo deles.
— Os Nihil não atracaram na estação ainda. — refletiu Leox. — Apenas
Hague e Nan. As trilhas de íons indicam que estão ali por algumas horas.
No momento, estão apenas orbitando.
— Por que não atracaram? — perguntou Affie.
Leox encolheu os ombros.
— Meu palpite é que viram leituras como essas. — Ele apontou o
console. Só então Affie olhou as leituras que sugeriam que mais explosões
solares gigantescas podem acontecer. Não imediatamente... Mas seria em
breve. Leox continuou:
— Provavelmente os Nihil desejam permanecer flexível. Deixar as
opções em aberto caso precisem partir.
Cohmac Vitus cruzou as mãos.
— Isso sugere que os Nihil também não têm sensores de primeira linha
que os permitiriam ser mais precisos sobre as explosões solares, ou que o
procedimento de acoplamento demora mais do que a maioria das naves.
Seria excelente se pudéssemos descobrir qual, embora, é claro, essa não seja
a nossa prioridade no momento.
O Jedi permaneceu calmo o suficiente para pensar sobre as implicações
das ações dos Nihil. Affie ficou impressionada sem querer.
Enquanto a nave Nihil continuava o seu lento arco ao redor da estação
Amaxine, códigos começaram a rolar da estação de navegação. Leox sorriu.
— Ah, sim. Já sei no que você está pensando, Geode. Agora isso sim é
um plano.
Affie também entendeu, mas não ficou tão entusiasmada.
— Isso é insanamente perigoso.
— Sim. — disse Leox. — Mas vai ser legal pra caramba.
Eles não poderiam usar os motores; se os ligassem tempo o suficiente
para acelerar o mais rápido que precisassem, os Nihil notariam o aumento
de energia em um instante. Mas se soltassem algum combustível
sobressalente, isso empurraria a nave até a estação Amaxine. A velocidade
seria adequada, se, e somente se, conseguissem a manobra em uma fração
de segundo.
Com qualquer outra pessoa, exceto Leox e Geode, Affie teria pensado
nessa tática como uma sentença de morte. Então ela colocou o seu cinto de
segurança e se preparou.
Assim que a nave Nihil orbitou para o outro lado da estação Amaxine,
as duas naves ficaram brevemente invisíveis uma da outra. A Embarcação
soltou o cabo, manobrou com metade da potência em torno do asteroide e...
— Ligue. — disse Leox.
Affie ligou o ejetor de combustível de emergência. Instantaneamente, a
Embarcação deu um impulso pra frente. As coordenadas de Geode os
mantiveram apontados diretamente para o alvo. Mesmo assim, sabendo
exatamente o que estava acontecendo, Affie não conseguiu deixar de
prender a respiração.
No último instante antes que a colisão se tornasse inevitável, Leox
disparou os motores apenas o suficiente para manobrar contra a propulsão
do combustível resta. Isso fez com que a nave quase parasse, virando a nave
somente um pouco e...
— Pronto. — murmurou ele. — Estamos em órbita, assim como os
Nihil. Mesma velocidade. Não podemos vê-los, mas eles não podem nos
ver, o que é o principal.
— Ótimo trabalho. — disse Orla Jareni, mas a sua expressão era de
preocupação. — Porém eu diria que o principal é que, de alguma forma,
temos que embarcar em um estação espacial sem acoplar a nave. Alguma
ideia de como vamos fazer isso?

No final das contas, sempre havia uma maneira. Não necessariamente uma
maneira segura. Mas nenhum deles tinha voltado para a estação Amaxine
pra não se arriscarem.
Orla ajustou o seu exotraje, satisfeita por ter um traje que realmente
servisse nela. Reath e Affie também, mas Cohmac teve que se contentar
com um que era muito grande. Normalmente isso criaria um risco
inaceitável, mas essa era uma situação urgente, e pelo menos não estavam
viajando pra longe.
Uma grande caixa estava perto dos pés de Affie, e parecia ter a intenção
de levar com eles.
— O que é isso?
— Ah, apenas... — Affie hesitou. — É algo que preciso para fazer os
registros do código dos contrabandistas na estação. Quero descobrir o que é
aquilo.
Reath balançou a cabeça.
— Affie, há Nihil naquela estação. Sem falar as trepadeiras e os Oitotês.
É muito perigoso ir lá apenas para pesquisa. — Então, pra si mesmo, ele
murmurou: — Não acredito que acabei de insultar a pesquisa.
— Não trabalho para os Jedi. — retrucou Affie. — Quer dizer, trabalho,
mas como a copiloto da Embarcação, e assim que chegarmos ao nosso
destino, estou por conta própria. O que significa que vou embarcar na
estação Amaxine, com ou sem vocês.
— Não posso argumentar contra isso. — disse Orla. Na verdade, queria
argumentar, mas a garota tinha razão. Eles não tinham qualquer maneira de
pará-la, exceto pela força física, que era a última coisa que qualquer um
deles precisava. Além disso, Geode ficou atrás de Affie, carrancudo, como
se desafiasse alguém a se opor à vontade de sua amiga. — Venham todos.
Vamos andando.
Minutos depois, todos os quatro membros do grupo de desembarque
estavam reunidos na câmara de descompressão. Na contagem, Leox liberou
as válvulas de pressão. Placas metálicas se abriram em espiral, expondo-os
ao vazio gelado do espaço. A gravidade os soltou, então balançaram sem
peso dentro da câmara de descompressão. Em vez de ouvir o costumeiro
chiado da trava da câmara, Orla foi instantaneamente envolvida no total
silêncio.
Vários metros abaixo de seus pés estava a superfície de deslocamento
da estação Amaxine.
— Devemos chegar nas câmaras de descompressão em 45 segundos. —
disse Cohmac, via comunicação de capacete. — Na contagem.
A sincronização era essencial. Orla preparou o seu propulsor portátil e
ficou em posição com o restante.
A voz profunda de Cohmac surgiu nos comunicadores:
— Três. Dois. Um.
Orla disparou o propulsor, permitindo que o seu impulso a empurrasse
para frente, para fora da câmara de descompressão da Embarcação e em
direção à superfície da estação. Ela estava com os grampos magnéticos
preparados antes mesmo dos seus pés tocarem a superfície.
Instantaneamente ela travou. Consegui, pensou.
Todos os demais também conseguiram, cada um tentando o seu melhor.
Depois, encostados na parede, todos foram em direção à câmara de
descompressão nas proximidades. Reath foi quem agarrou a alça manual
por fora e a girou para abrir. Enquanto as portas se abriam, todos
manobraram para entrar na câmara de descompressão.
Agora, Orla pensou, a parte complicada.
Na hora, a Embarcação liberou as portas do compartimento de carga.
Para fora derivou o seu conteúdo: os ídolos, amarrados com cabos de carga
básicos. Por um momento eles flutuavam livre em gravidade zero, e Orla
podia imaginá-los voando: o inseto, o pássaro, a rainha e o anfíbio.
Mas não podiam ir longe. Ela ergueu a mão ao mesmo tempo ao
momento que Cohmac e Reath; como um, eles se conectaram a Força,
trazendo os ídolos para mais perto. As quatro formas douradas flutuaram
cada vez mais perto, até que os Jedi pudessem manobrá-los para dentro da
câmara de descompressão. Ela os empurrou para o lado, não queria essas
coisas viessem pra cima dela quando a gravidade voltasse, administrando-os
antes que as portas se fechassem novamente. Por um instante eles flutuaram
na escuridão total. Então as luzes se acenderam, a gravidade os puxou
novamente, e o chiado revelador do ar ficou cada vez mais alto. Os ídolos
pousaram com um baque enorme. Enquanto a atmosfera continuava
preenchendo o espaço, Cohmac disse:
— Muito bem pessoal. Conseguimos.
Orla sorriu, mas não pode deixar de acrescentar:
— E agora a nossa recompensa: perigo mortal.
As portas da estação se abriram, revelando a selva.

Cohmac removeu o capacete assim que pode. O calor e o ar quase


escaldante da estação o cercava, junto com os cheiros familiares de solo e
flores. Um 8-T passou, fez uma pausa, aparentemente concluiu que não
representava ameaça às plantas e continuou no seu caminho.
Ele começou a tirar o seu exotraje, aliviado por se livrar de seu volume
pesado e sem forma. Uma eventual fuga poderia ser mais rápida se eles
continuassem com os trajes, mas isso tornaria todas as suas tarefas mais
difíceis de executar, forçando-os a ficar na estação Amaxine por mais
tempo. Cada momento que permaneciam era um momento em que os Nihil
poderiam se dar conta da presença deles.
— Estou indo para as instalações de armazenamento nos anéis
superiores. — anunciou Affie, que já havia tirado o exotraje e estava lá em
seu macacão de uniforme da Guilda. — Vocês fazem o que precisam fazer.
Eu não vou deixar eles me verem. Devo estar pronta pra sair em uns dez
minutos.
— Podemos demorar mais tempo. — advertiu Cohmac. — Tome
cuidado.
Affie acenou com a cabeça, e em seguida correu através da vegetação
para a tarefa ela focou no que fazer.
Os Jedi estavam sozinhos. Enquanto começaram a trabalhar para mover
os ídolos de volta para uma localização central perto do assento de pedra,
Orla perguntou:
— Você sente isso?
— Ah, sim. — Cohmac podia sentir a escuridão pressionando-o em
todas as direções, como se tentasse esmagar o seu corpo até os ossos. — É
como se a escuridão soubesse que os ídolos voltaram.
— Essa energia... Ela não pode cair nas mãos dos Nihil. — disse Reath
com calma.
Cohmac ergueu a mão em advertência.
— Não revele a sua presença se puder nos ajudar. — Não havia como
saber exatamente onde os dois Nihil estavam na estação, ou o que poderiam
estar fazendo. — Mas procure por quaisquer evidências de suas atividades
desde que partimos. Precisamos saber quais são os planos deles antes de
sabermos como combatê-los.
Reath assentiu enquanto colocava de lado o capacete do exotraje.
— Nan estava se esgueirando pelos túneis inferiores. É provavelmente
por lá onde devo começar.
Cohmac acenou com a cabeça. Ele não gostava de deixar um aprendiz
entrar em uma situação perigosa sozinho, mas ele e Orla teriam que dar
tudo de si para o esforço que estava por vir. Reath poderia ser protegido
desse perigo, mas não dos outros.
— As visões que tivemos antes. — disse Orla, franzindo a testa. — Há
alguma coisa sobre elas...
— O quê? — Cohmac as considerou como não mais do que pesadelos
gerados pela proximidade de tanta energia negativa.
— Algo familiar, quando não era antes. — Orla fez uma pausa, depois
balançou a cabeça. — Ainda não consigo explicar.
— Seja qual for a resposta que pudermos obter, precisamos logo. —
Com isso, Cohmac entrou na estação com Orla ao seu lado, se preparando
para o que viesse.
Como esses túneis ficaram ainda mais escuros?
Nada poderia ser mais preto do que preto, mas para Reath, essa
escuridão em particular realmente tentou ser mais. Ele avançava bem
lentamente, colocando o pé no chão silenciosamente. O feixe do seu bastão
luminoso iluminava apenas um pequeno pedaço das paredes curvas ao redor
dele.
Em pouco tempo, encontrou a escotilha circular onde Dez morreu, o que
o levou para o caminho que ele e Nan haviam percorrido antes. Naquela
vez, Reath estava procurando por respostas sobre Dez. Ele não acreditava
mais na explicação de Nan sobre o motivo dela ter estado lá. O que ela
realmente estava procurando? Fosse o que fosse, provavelmente a manteve
longe disso.
É hora de descobrir. Hague e Nan claramente tinham planos secretos
durante toda a permanência deles na estação, e Reath não pretendia deixar
isso passar despercebido de novo. Se conseguisse confrontá-los e prendê-
los, ele pretendia mantê-los como responsáveis por tudo o que fizeram.
Cautelosamente, Reath abriu a escotilha e entrou, lembrando a si
mesmo: Cuidado com os anéis Helix...
Não estou vendo os anéis Helix...
Desde quando esse túnel é branco por dentro?
A escotilha se fechou.
Reath se virou e tentou abri-la novamente, mas não conseguiu. Através
das finas frestas da porta, ele não viu luz ou movimento; ninguém estava lá
fora. O que quer que tenha acontecido com a escotilha foi automático. Mas
um sistema automatizado poderia matá-lo tão certamente quanto a maldade
de qualquer ser.
Ainda pior do que a porta trancada foi a percepção de que o túnel que
ele entrou não era mais um túnel. Era muito menor, pálido por dentro, quase
como algum tipo de célula.
Tudo se deslocou, vibrou, mudou. Reath foi jogado pra trás quando uma
luz de repente encheu o pequeno espaço, e ele se viu em uma sala que era
para ser destinada a um prisioneiro. O pequeno assento moldado na parte de
trás, as janelas finas…
Os olhos de Reath se arregalaram. Ele viu que nem toda a luz que o
rodeava estava vindo de dentro do pod. Um pouco de luz vinha de fora, e
era o inconfundível azul elétrico do hiperespaço.
Isso não é para um prisioneiro, ele percebeu. É para um passageiro.
Aonde droga estou indo?
E como é que eu vou voltar?
U m tremor profundo dentro da estação paralisou Affie
onde ela estava. O que foi isso?
Ela se moveu para o canto mais próximo, ficou contra a parede e
manteve o seu blaster pronto. O seu instinto dizia que o que tinha ouvido
não era trabalho dos Jedi, dos Nihil e nem dos 8-Ts; dizia que tinha sido um
movimento mecânico bem no interior do funcionamento da própria estação.
Uma câmara de descompressão sendo explodida? Não, se fosse isso,
eles já estariam fatalmente despressurizados. A nave de guerra Nihil
atracando na estação Amaxine? Affie nem tinha certeza de que isso era
possível. Ela esperava que não, de qualquer maneira. Se isso acontecesse,
seriam necessários muito mais Jedi para salvá-los do que os que estavam lá.
O som era vagamente familiar pra ela. Affie levou alguns segundos para
se lembrar, até que ela percebeu que tinha ouvido algo muito parecido
quando Dez Rydan morreu.
O Reath se explodiu? Ela esperava que não, passou a gostar dele mais
do que esperava. Parece que até caras arrogantes da cidade podiam ser
pessoas decentes.
Talvez estivesse morto ou talvez não. Não havia nada que Affie pudesse
fazer sobre isso de qualquer maneira. Depois de alguns segundos, quando
nenhum outro som emergiu da estação, retomou o seu progresso pelas
câmaras escuras. Caminhou através das grossas cortinas de trepadeiras que
pendiam para baixo, roçando nela de todas as direções.
Bem longe viu um movimento, muito alto do chão para ser um 8-T,
muito longe da câmara central para ser um dos Jedi. Affie se abaixou
quando deu uma espiada cuidadosa e reconheceu Nan.
Em vez do vestido colorido que usava antes, Nan estava com um
macacão de uniforme simples e utilitário, como o de Affie, com uma correia
de cartuchos e um cinto amarrado com pelo menos três vezes mais armas do
que Affie estava carregando. Os braços de Nan estavam expostos, revelando
tatuagens; não eram desenhos, mas algum tipo de escrita, muito pequeno
para ser lido daquela distância. Para Affie, eram tatuagens demais para
alguém tão jovem. Talvez isso fosse comum entre os Nihil.
Mas se preocuparia em obter mais informações sobre os Nihil mais
tarde. Por enquanto, Affie só precisava saber se Nan e Hague tinham notado
a sua presença, e a julgar pelo andar indiferente de Nan, eles não tinham.
Isso significava os Jedi estavam livres para fazer o que quer que estivessem
fazendo.
E Affie estava livre para obter a prova de que precisava para fazer
Scover recuar.

— Isso é mal. — repetiu Reath para si mesmo enquanto afundava no


assento do pod do hiperespaço. — Isso é muito, muito mal. Isso é o que
acontece quando não se tem acesso a materiais de pesquisa.
Ele confiou em sua habilidade como Jedi e nos caminhos da Força. O
seu sabre de luz permaneceu ao seu lado. Para que Reath pudesse se
preparar para lidar com tudo o que viesse.
Mas se preparar incluía avaliar com precisão a situação em que se
encontrava, o que era de fato extremamente terrível.
— Estou em um pod de hiperespaço. — disse Reath em voz alta. O
interior arredondado do pod captava os sons e os moldava de maneira
estranha. — Não tem um computador de navegação a bordo, pelo que estou
vendo, e, além disso, é muito pequeno para ter um hiperpropulsor próprio.
Acho... acho que isso deve ser algum tipo de veículo de sentido único, o
equivalente a um droide sonda do tamanho de um humano.
Ele tentou muito não pensar nas palavras “sentido único”. Pânico não
podia ajudá-lo, já analisar... Provavelmente também não ajudaria muito,
mas pelo menos valia a pena tentar.
— Não sei para onde estou indo, o que vou encontrar lá ou como voltar.
Certo. Isso mais ou menos resume tudo.
As viagens ao hiperespaço podiam durar de alguns minutos até várias
semanas. Sem saber quanto tempo essa duraria, Reath começou a se
preocupar com a falta de comida, água e tubo de evacuação. Mas assim que
ele percebeu isso, o pod de repente saltou para fora hiperespaço. Ele piscou
enquanto olhava para as janelas finas da escotilha, janelas que acabaram de
mudar do azul elétrico para a noite escura. Um campo de estrelas estava
além. Será que o pod o jogou no meio do nada?
O único sensor dentro do pod começou a piscar, e Reath sentiu o
estrondo que poderia significar apenas uma coisa: um raio trator.
— Pelo menos estou indo a algum lugar. — disse ele, pegando o sabre
de luz de seu cinto. O que quer que viesse a seguir, ele pretendia estar
pronto.
O pod se inclinou ao começar a descer pela atmosfera. As nuvens não
variavam tanto de planeta para planeta, assumindo que eram vapor d'água e
não metano, o que Reath esperava profundamente que fosse. Não
conseguiria dizer muito durante o caminho para baixo; a investigação teria
que esperar pela superfície do planeta.
O raio trator puxou o pod inevitavelmente pra baixo, mas de forma
controlada. Reath sentiu apenas um pequeno baque quando o pod pousou
em... Algo.
Ele olhou pelas janelas finas da escotilha e não viu nada além de
vegetação: árvores, arbustos, uma espécie de paisagem pantanosa. Na
verdade, reconheceu as trepadeiras da estação, algumas sementes devem ter
feito a mesma jornada no passado. Isso sugeria fortemente que a atmosfera
era respirável por humanos. Ninguém estava esperando para matá-lo
também, o que sempre era um bom sinal.
Reath empurrou a porta da escotilha e saiu. Nuvens grossas filtravam a
luz branca do sol, mas a não escondiam. O ar era quente e úmido e cheirava
a solo argiloso, água salgada e espessas plantas verdes do pântano. Um
terreno molhado deveria estar próximo. No entanto, o pod havia parado em
uma base de terra rochosa.
Uma que deve ter sido escolhida, tempos atrás, como a base para este
pod de hiperespaço.
Enquanto Reath se afastava do pod, deu uma boa olhada no mecanismo.
O pequeno pod quase esférico em que ele estava era apenas uma parte do
todo; era a cabine, por assim dizer. Atrás dele estava o resto do mecanismo,
longo e delgado, o que ele assumiu que era o hiperpropulsor. Outro pod,
idêntico ao que ele havia viajado, estava parado mais longe ao longo da via
sinuosa. Ele fez uma curva através dos túneis, ele percebeu.
É um mecanismo antigo e totalmente automatizado. Devem haver vários
pods ainda na estação Amaxine. As pessoas entram no pod e ele viaja para
coordenadas predeterminadas.
Então para onde essas coordenadas me levaram?
Prestou atenção em seu entorno primeiro. Ele reconheceu os padrões
circulares dos Amaxines na plataforma de pouso, que se enrolavam ao
redor, claramente preparando os pods de hiperespaço para a viagem de
volta. Havia anéis Helix pendurados lá também, o que significava que
provavelmente havia energia e combustível suficiente para mais de uma
viagem. Reath esperava; caso contrário, este era o seu novo planeta de
residência. Embora o musgo tenha crescido sobre a plataforma central (os
controles?), todo o equipamento parecia estar em condição de
funcionamento.
O que significava que provavelmente tinha uma maneira de voltar para
a estação Amaxine. Só tinha que descobrir como.
Então ouviu farfalhar nas folhas, na grama seca. Reath se virou para ver,
com o sabre de luz na mão... Nada. Apenas árvores. Apenas plantas.
No entanto, enquanto estava parado ali, podia sentir um peso opressor
sobre ele: a presença do lado sombrio, poderoso, agudo e focado. Alguém
estava se aproximando dele com más intenções, aparentemente de todas as
direções de uma vez.
Ocorreu a Reath que ele poderia correr para os controles do pod. Essa a
tecnologia parecia ser altamente automatizada; ela deve ser capaz de fazer
uma viagem de retorno à estação Amaxine em apenas alguns minutos. O
outro pod estava esperando retornar sem saber por quanto tempo. Isso
significava que tinha duas chances de sair dali, para voltar aos outros e à
importante missão.
Mas a Força disse que tinha que ficar. Que o que estava no planeta, por
mais perigoso que fosse, era de importância crítica. Que poderia aprender
algo que ele e todos os Jedi precisavam muito saber. Os segredos da estação
Amaxine não permaneceriam na estação; eles iriam se expandir muito além
de seus antigos limites, para a galáxia em geral. Os Jedi tinham que estar
prontos.
Reath respirou fundo, assumiu uma postura defensiva e ligou o seu
sabre...
A pesquisa de Cohmac sobre artefatos e conhecimentos da Força o ensinou
que a contenção do lado sombrio geralmente assume algumas poucas
formas: o eco de um Sith ou outro servo da escuridão; uma memória
específica de uma atrocidade, geralmente a lembrança daqueles que
cometeram; ou uma energia amorfa e sem foco.
O que ele sentia agora, na estação Amaxine desvinculada e
desprotegida, era algo totalmente diferente. Por mais impossível que fosse,
ou que deveria ser, era uma consciência. Sapiência. A vontade de um
indivíduo...
Não. A vontade de vários indivíduos, cada um possuídos de intenção
assassina.
— Já ouviram falar dos guerreiros de argila de Zardossa Stix? —
murmurou Cohmac, enquanto os dois Jedi se moviam mais fundo na
clareira florestal no centro da estação.
— Claro. — respondeu Orla. — As estátuas antigas de um exército
caído. As lendas Zardossanas afirmavam que as estátuas eram as únicas
coisas que mantinham os guerreiros mortos, que se elas fossem destruídas,
o exército voltaria à vida. Agora estou me perguntando o porquê de você ter
mencionado isso neste momento específico, e nenhuma das respostas é boa.
— Acho que esses ídolos podem estar segurando uma espécie de
exército, ou algum outro grupo perigoso.
Orla parou no meio da clareira e estendeu os braços.
— Não estou vendo exército nenhum.
— Mas você pode sentir um. — disse Cohmac à medida que as
impressões se tornavam mais tangíveis. A postura dele mudou de
“meramente alerta” para “pronto para uma batalha". — Conectem-se com
os seus sentimentos.
— Sinto algo. — anunciou Orla. — E sinto a sua maldade. Ainda assim,
nós fizemos uma busca bem completa desta estação. Você está me dizendo
que de alguma forma deixamos escapar uma força militar inteira?
Então ouviram os primeiros passos.
Ambos os Jedi se viraram até ficar de costas para o outro, uma unidade
de luta. Eles ligaram os seus sabres de luz no mesmo instante, os dois feixes
brancos do sabre de lâmina dupla de Orla e o feixe azul solitário de Cohmac
brilhando entre as manchas escuras das trepadeiras.
O farfalhar ficava mais alto a cada batimento cardíaco, mas quanto mais
Cohmac ouvia, menos ele entendia. Nenhum dos inimigos que se
aproximavam usava botas; ele também não conseguia ouvir quaisquer
cliques reveladores de metal sugerindo armas. E o som era estranho, de
alguma forma, inconfundível e ainda assim estranho...
Ele viu uma árvore balançar em direção à clareira, como se tivesse sido
empurrada. Então chegou mais perto e percebeu que não era uma árvore.
A criatura que estava diante deles tinha dois metros de altura, era
deformada e desajeitada. Não possuía nada no centro, nem um tronco; em
vez disso, parecia ser uma massa rastejante de tentáculos de trepadeira
espinhosa, muitos deles revestidos em casca de árvore. Parecia haver uma
espécie de “cabeça” com chifres de espinhos e com uma boca larga e
sorridente como a armadilha de uma planta carnívora, projetada para se
fechar sobre a sua presa. Atrás deles estavam pelo menos mais uma dúzia
da mesma espécie, todos eles enormes. Cohmac percebeu que estas coisas
haviam se misturado perfeitamente com a vegetação densa e grande da
estação Amaxine, mas antes essas criaturas estavam imóveis.
Dormentes.
Até que os Jedi as libertaram.
— Finalmente. — O líder das criaturas disse em uma voz baixa e
estrondosa. — Um pouco de carne.

— Parem de se esconder. — gritou Reath para o seu inimigo invisível. —


Apareçam.
As trepadeiras ao redor do lançador de pods balançaram. Galhos
farfalharam. Ainda assim, Reath só conseguia enxergar as plantas...
Os seus olhos se arregalaram quando ele viu formas incrivelmente
enormes se aproximando dele, rastejando em sua direção com dezenas de
trepadeiras, ou tentáculos. No mínimo se pareciam com substâncias do
pântano comprimidas, cobertas de cascas de árvore e repletas de espinhos.
Apenas um detalhe contrastava com sua aparência arbórea. Em seus...
Troncos? Caules? Eles seguravam blasters que pareciam extremamente
antigos e extremamente letais.
O inimigo não estava escondido nas plantas. De alguma forma eles
eram plantas.
— Uou. — disse ele. O seu lado pesquisador havia superado o seu lado
guerreiro. — Isso é incrível. Vocês são botânicos em vez de animais, mas
são sencientes?
Todos se entreolharam, aparentemente perplexos. Qualquer que fosse a
reação que eles estavam esperando, não era essa.
Reath já havia se recomposto, mas ele sentiu que manter o inimigo
desprevenido era uma estratégia inteligente. A resposta inicial tinha feito
isso muito bem, então ele iria continuar assim.
Abaixando ligeiramente o seu sabre, enquanto ainda o mantinha pronto,
ele disse:
— Suas bocas parecem um pouco com armadilhas de plantas
carnívoras. É isso que são? Ou isso é o tipo de criatura da qual vocês
evoluíram? Você têm algumas histórias antigas? Espero não estar sendo
rude. Apenas... Uau. Nunca encontrei uma espécie como vocês.
— Esse fala mais do que o outro. — disse um dos seres do pântano aos
outros. — Mas também esqueceu o nome dos Drengir.
— Nunca ouvi falar dos Drengir antes. — disse Reath com sinceridade.
Ele estava apenas supondo que era o nome da espécie deles, mas como
nenhum deles o contradisse, deve ter sido um palpite correto. — Ou
qualquer coisa remotamente parecida com vocês. Existem plantas
sencientes na galáxia, claro, mas elas costumam ser enraizadas no lugar.
Literalmente enraizadas. Vocês não.
Nenhum deles olhou para Reath nem uma vez. Um Drengir disse:
— Eu acho que é mais jovem que o outro.
O líder Drengir rosnou:
— Todas as carnes parecem iguais pra mim.
Carne não era realmente a descrição que Reath queria ouvir sobre ele.
Ele avançou como se ninguém tivesse falado, registrando mentalmente o
tempo todo.
— Eu sou um humano. Meu nome é Reath Silas. Vir aqui foi um
acidente, então se estou me intrometendo, hã, sinto muito por isso. — Sete
Drengir no grupo. Dois mantêm as armas ao lado e devem ser não
combatentes. Pontos vulneráveis incertos, mas cuidado com os espinhos.
— Se for mais jovem, é ainda menos provável de ter informações do
que aquele que temos. — continuou o líder Drengir. — Não vai saber como
o relançamento dos pods funciona. Pedaços de carne estúpida caem dos
pods e não aprendemos nada. Mas dois visitantes significa que temos a
confirmação: nosso espaço de pouso permanece intacto. Podemos encontrar
nossos irmãos novamente. E podemos parar de fazer perguntas ao nosso
prêmio. Finalmente podemos comê-lo.
Ninguém estava falando com Reath, mas ele pensou que deveria dizer
alguma coisa, mesmo que fosse para deixar de ser chamado de carne. Eles
não conseguiam ouvi-lo? Ou entendê-lo? O sotaque deles era pesado, mais
parecido com a maneira como as pessoas falavam há séculos. Ainda assim,
ele tentaria.
— Provavelmente essas outras pessoas não pretendiam vir aqui, assim
como eu. — supôs ele. — Pensamos que era tecnologia Amaxine...
— Os Amaxines! — Todos os Drengir fizeram um som de estalo que
deve ser a versão de risada deles. Então, Reath pensou, eles podem me
ouvir. Eles simplesmente acham que não vale a pena conversar comigo.
O líder Drengir continuou:
— Uma de nossas primeiras grandes conquistas. Eles construíram este
lugar para fazer guerra contra nós, tentando tomar nosso planeta como
fizeram com muitos outros. Em vez disso, nós os derrotamos e os
devoramos. — Até este comentário foi mais discurso para seus colegas
Drengir do que uma declaração dirigida a Reath. — Tomamos posse da
estação deles. Lá nós planejamos causar destruição em muitos mundos. Mas
então o nosso povo ficou em silêncio. Nenhum deles voltou pra cá, em
glória ou derrota.
Não vimos o seu povo na estação, Reath queria dizer, mas foi
interrompido por duas compreensões.
Primeiro, eles viram Drengir na estação. Agora que olhou pra eles,
reconheceu a curva de seus espinhos, o específico verde-amarelado escuro
de alguns caules. Os Drengir estiveram lá o tempo todo, silenciosos e
quietos. Eles eram a escuridão que estava sendo controlada pelos antigos
ídolos?
Segundo, apenas alguns momentos antes, o líder Drengir disse que outra
pessoa apareceu recentemente em um pod de hiperespaço. O quão
recentemente?
— Quem mais veio ao seu planeta pelos pods? — perguntou Reath,
apertando firmemente o sabre.
— Este aqui está fresco. — disse um dos Drengir, ainda ignorando
Reath. — Não é como aquele murcho com seiva escorrendo na cabeça.
Talvez possa responder mais perguntas.
Reath ignorou a ameaça implícita de interrogatório. Ele percebeu quem
era o outro humano que tinha ido lá.
— Traga-o aqui. — disse ele, convocando a Força para moldar as suas
vontades. — Traga Dez Rydan para mim.

O último pensamento convincente e coerente na mente de Dez Rydan foi:


Essa escotilha vai me atingir bem no rosto.
A dor atingiu a sua testa, sacudindo todo o seu corpo como eletricidade,
a agonia atingindo o seu estômago, seus dedos, seus pés. Tudo depois disso
era um escuro por um longo e silencioso tempo, mas não indolor. A agonia
era a única sensação que o restava, e seu único desejo era que parasse. Se
ele tivesse que morrer para que parasse, estava tudo bem. Contanto que
parasse.
Teve uma hora em que ele foi virado e forçado a olhar a luz do sol; a sua
cabeça latejava tanto com a entrada sensorial que ele vomitou. Algo havia
açoitado cruelmente as suas costas como punição. Um chicote? Um cipó?
Dez não sabia e não se importava. Ele só queria que a sua cabeça parasse de
doer.
Com o passar dos dias, deveria se sentir melhor ou então morrer. Em
vez disso, embora pudesse sentir o inchaço em seu rosto e pescoço
diminuindo, Dez permanecia em uma terrível espécie de paralisação. Ele
estava sendo envenenado? Eles o espetavam com espinhos, fazendo-o se
sentir sonolento e nauseado. Os olhos dele se recusavam a se concentrar,
mas se era por causa da lesão ou se estavam provocando isso nele, ele não
sabia. Os Drengir continuaram fazendo perguntas a ele, mas não conseguia
entender exatamente o que eles queriam saber. Nem tinha certeza se Drengir
era o nome certo. Se pudesse explicar as coisas pra eles, teria-o feito. Mas o
mundo em torno dele girava, nauseante e embaçado, além da sua
compreensão.
Dez suspeitou que tinham enjaulado ele, por mais que isso fosse
desnecessário. Ramos o envolviam por todos os lados. Não conseguiria se
levantar nem se quisesse. Ele não queria.
Um dos Drengir se aproximou; a essa altura conhecia o cheiro deles e o
associou à dor. Mas enquanto estava se preparando, um Drengir sussurrou:
— Há mais carne aqui.
Talvez. Dez não tinha total certeza do que ele disse. Não fazia sentido
nenhum, mas também nada mais fazia.
— Queremos ver o que o seu povo acha que pode fazer com isso. —
Entre os ramos, Dez conseguiu ver os Drengir balançando o que tiraram
dele quando chegou inconsciente: o seu sabre de luz. — Mate ele e vamos
deixá-lo livre.
— O sabre de luz não é... Não é a ferramenta de um assassino. — Dez
tossiu. Ele não conseguia nem ficar de pé; como esperavam que lutasse?
Não fazia ideia de quem ou o que estava ali. Um pirata? Um
contrabandista? Leox Gyasi? Não importava. Ele se recusava a matar outro
ser senciente para a diversão dos Drengir. — Deixei que ele fique livre em
vez disso. Me mate. — Então, finalmente, tudo estaria acabado.
— Isso não nos diz nada. — disse o Drengir. Ele estava falando consigo
mesmo e com Dez. — Queremos ver mais do que isso.
Outro espinho perfurou a carne de Dez e ele gritou de dor, mas um
segundo depois a dor desapareceu. Sentiu que não havia sumido, apenas
mascarada, mas só isso parecia uma razão para viver.
O que quer que tenha sido injetado nele teve outros efeitos também. O
seu coração bateu muito rápido e os seus músculos começaram a apertar e
tremer. Adrenalina, sussurrou alguma parte de seu cérebro que ainda estava
funcionando, mas estava tudo muito distante.
— Lute e a dor cessa. — disse o Drengir. Através de sua visão
embaçada, Dez viu a porta da jaula se abrir. — Lute e seja livre.
A sua mente não importava mais. Dez não era nada além de seu corpo,
nada além raiva e desespero e um frenesi químico selvagem. Ele fez
menção de pegar o sabre de luz e o Drengir o deixou pegar.
Instantaneamente Dez balançou o sabre de luz em um arco longo e baixo,
cortando o Drengir, que caiu em duas partes no chão.
Era isso que ele deveria fazer? Ele matou algo; eles o libertariam agora?
Cada parte do Drengir se contorceu. Então se contorceu novamente.
Então começou a crescer tentáculos. A visão de Dez dobrou, triplicou, então
dobrou novamente quando os tentáculos alcançaram um ao outro. Eles
cresceram rápido e espessos, emendando o Drengir novamente até ficar
intacto.
— Muito bem. — disse o Drengir. — Agora vamos levá-lo para o novo
intruso e você fará isso de novo.
U sar a Força para moldar a vontade de alguém fluía
instintivamente para alguns Jedi. Até os professores tinham
problemas, ocasionalmente com os Younglings que pegavam o jeito, mas
que ainda não entendiam como não brincar com a mente dos outros. Para
outros Jedi, no entanto, era um truque que poderia levar anos ou até décadas
para dominar.
Reath estava na última categoria. Então quando um dos Drengir voltou
para a clareira, arrastando uma figura humana atrás dele, Reath ficou de
início mais surpreso do que satisfeito. Eu realmente consegui?
Qualquer pensamento de sua própria realização desapareceu no segundo
em que reconheceu o homem sendo puxado para frente. Reath sabia quem
tinha que ser, mas o seu rosto se dividiu em um sorriso quando ele gritou:
— Dez!
Dez não gritou de volta. O seu olhar estava desfocado, a sua respiração
estava acelerada e o seu rosto estava vermelho. O sorriso de Reath
desapareceu quando ele viu o roxo inchaço ao redor de um dos olhos de
Dez e o seu cabelo preto emaranhado com sangue. Pior do que a aparência
de Dez era a do Drengir, cujas bocas de planta carnívora estavam sorrindo.
Pelo menos eles soltaram Dez, que ficou lá olhando fixamente para os
pods de transporte. Ele não parecia capaz de entender o que eles
significavam fuga, liberdade, casa. Seja por causa de seu ferimento na
cabeça ou pelo o que o Drengir tivesse feito com ele, ou talvez as duas
coisas, ele estava em um estado profundamente alterado de consciência.
Mas Reath tinha que chegar a Dez de alguma forma. Ele tentou de novo.
— Dez? Venha. Vamos.
Sem resposta. O Drengir começou a rir, um som misterioso de farfalhar.
Talvez o meu truque mental não tenha funcionado afinal, Reath pensou.
Ou talvez só tenha funcionado porque eles já pretendiam trazer Dez para
mim. Porque eles queriam que eu o visse. Mas por quê?
Ainda assim, Dez não se moveu. Talvez um gesto fosse mais fácil de
compreender. Reath estendeu a mão para Dez.
Finalmente, Dez deu um passo em direção a Reath e os pods de
transporte. O Drengir não fez nenhum movimento para detê-lo. Reath sabia
que isso só poderia significar péssimas notícias. Apenas alguns minutos na
companhia dessas criaturas o ensinaram que eles não eram do tipo que
deixava as suas vítimas irem embora.
— Este aqui? — perguntou Dez, arrastando as palavras.
— Sim. — respondeu o líder Drengir. — Este aí. Mate-o e vá embora
livre.
Reath não teve tempo de processar o que tinha acabado de ouvir, porque
no mesmo instante Dez estava saltando em direção a ele, com o sabre de luz
ardendo.

— Quem são vocês? — exigiu Cohmac.


As criaturas vegetais o ignoraram. No coração da estação Amaxine, eles
cercaram os Jedi. Sempre cercaram, percebeu Cohmac.
Ele também reconheceu o peso opressor caindo sobre eles, não muito
diferente da sensação estranha que surgia antes de um terremoto ou ciclone.
O lado sombrio tinha poder ali, poder que havia sido liberado.
— Os seus ancestrais foram presos aqui há muito tempo. — disse
Cohmac. — Eles foram mantidos no lugar pelos ídolos. Estou correto? —
Mesmo com o sabre de luz mão e enfrentando os inimigos, ele desejava
permanecer um acadêmico.
As plantas ouviram, ou pelo menos não se preocuparam em fingir que
não ouviram. As criaturas vegetais emitiram um som sibilante de puro
desprezo.
— Não os nossos ancestrais. Nós fomos presos aqui. Um truque
simples, conseguimos enxergar agora, mas não conseguimos na época. Não
será tão fácil capturar os Drengir novamente.
Os ídolos não existiam há séculos? Mas Cohmac vagamente se lembrou
que algumas formas de vida vegetal podem ficar adormecidas em ambientes
hostis, “dormindo” por meses, anos ou até mais. Esses seres conhecidos
como Drengir devem ter capacidades semelhantes. Em qualquer outra
situação, isso poderia ter sido fascinante.
— Eles são descendentes daqueles que nos colocaram aqui. — rosnou
outro Drengir. — Olhem para as armas deles, aquelas que brilham. São os
mesmos.
Os Jedi prenderam os Drengir lá? Antes que Cohmac pudesse abrir a
boca para falar sobre isso, o líder Drengir disse:
— Não são os mesmos. As outras armas eram vermelhas.
Orla e Cohmac trocaram olhares rápidos. Cada um sabia o que poderia
significar.
Os Sith.
Um arrepio percorreu a coluna de Cohmac quando percebeu que os
Drengir devem ter lutado e foram capturados pelos antigos Sith. Se os
Drengir eram fortes o suficiente no lado sombrio a ponto de serem um
desafio aos próprios Sith…
Então o líder Drengir disse, com um sorriso cada vez maior:
— Hora de comer.
Cohmac respondeu ao movimento antes mesmo de vê-lo, um flash de
movimento no canto do olho. A lâmina de seu sabre de luz cortou através
do que só poderia chamar de um chicote de espinhos, tão espesso quanto
um antebraço humano. Ele caiu no chão, então continuou se debatendo,
dobrando, quase deslizando.
Mas não havia mais tempo para analisar o que era ou o que tinha
acontecido, porque os Drengir estavam sobre eles.
Cohmac se conectou com a Força, trabalhando para prever os
movimentos dos seus oponentes antes que fizessem, o que deu tempo para
se esquivar de um de seus chicotes. Já Orla saltou sobre eles em um amplo
arco, virando a cabeça sobre os calcanhares para pousar atrás do líder
Drengir. As duas lâminas de seu sabre de luz faiscaram enquanto
perfuravam o tronco da criatura com dois cortes giratórios, com brilhantes
lanças brancas emergindo de sua casca.
Em vez de cair, o Drengir riu. Ele puxou para frente, removendo o
sabre, e se virou para acertar Orla com o seu chicote de espinhos. Cohmac
percebeu que o tronco já estava se curando, criando novos tecidos para
substituir o que foi perdido.
Droga, droga, Cohmac pensou. Como você mata um inimigo que não
pode ser ferido?
A situação não era tão terrível assim, como provou um instante depois
quando cortou os tentáculos inferiores de um Drengir, que desabou, vivo e
consciente, mas incapaz de se regenerar rápido o suficiente para voltar para
a luta. Esses tentáculos devem ser essenciais para o equilíbrio, Cohmac
pensou. Pelo menos sabiam de uma vulnerabilidade para atacar.
Mas até esses ferimentos eram apenas temporários. Mais e mais Drengir
emergiam das trepadeiras, revelando que os Jedi não estavam lutando contra
um mero grupo armado, mas sim um exército.

Os ouvidos de Dez zumbiram. A sua cabeça doía. A coisa na frente dele


segurava um sabre incandescente igual ao seu e continuava gritando algo
que Dez não conseguia entender. Apenas uma palavra fazia sentido: o nome
dele.
Não queria ouvir o seu nome mais. Não queria ouvir mais nada. Dez
simplesmente queria fazer tudo parar. Eles disseram se matasse essa coisa,
tudo pararia.
Com todas as suas forças, desceu o seu sabre de luz sobre o outro.
Colidiram juntos, enviando uma vibração em suas mãos e braços. O
oponente dele tropeçou pra trás. Através do fluxo de sangue em seus
ouvidos, Dez ouviu a risada do Drengir. Queria que isso parasse também.
Por um instante foi capaz de se concentrar em seu oponente: alguém
jovem. Alguém vagamente familiar. Uma voz gritou:
— Dez, por que você está fazendo isso?
Não fazia diferença. O oponente tinha que morrer.

De barriga pra baixo, Affie rastejou entre as camadas de caixas de


armazenamento, em busca de mais códigos. Ela registrou uma boa parte,
mas ela sentia que precisava absolutamente de tudo o que escrito na estação
Amaxine para provar a sua teoria.
E talvez, apenas talvez, pudesse encontrar algo mais sobre a sua
família... Até mesmo algo que seus pais escreveram...
Ela se assustou com mais sons abaixo. Este não era o barulho alto de
antes, não era tão estrondoso quanto aquele, mas ainda contava como o que
Leox chamava de “tumulto”. Batidas de coisas ou pessoas caindo no chão, o
zumbido dos sabres de luz, e por algum motivo um monte de farfalhar das
plantas...
Affie pegou o seu comunicador.
— Leox, responda.
— Alguma coisa errada, Pequenina?
Ela tinha problemas maiores para lidar do que aquele apelido idiota.
— Os Jedi estão fazendo muito barulho na câmara central. Não sei por
que, mas estão. Se consigo ouvir daqui, te garanto que Nan e Hague
também conseguem ouvir.
— Espere um segundo, deixe-me verificar uma coisa. — Leox ficou em
silêncio por um momento, e então murmurou uma palavra rude que nunca
tinha falado perto dela antes. — Sim, os Nihil sabem que não estão
sozinhos.
A mão de Affie apertou o comunicador.
— Como você sabe?
— Sei porque não estão mais orbitando a estação. A nave de guerra
assumiu uma posição bloqueada. O que significa que temos que parar de
orbitar também, senão vão nos ver daqui... Em dois minutos.
— Saia daí. — disse ela. Talvez tenha sido errado tomar uma decisão
dessa sem a opinião dos Jedi, mas não havia tempo a perder, e foram os Jedi
que causaram esse problema para começo de conversa. — Você e Geode.
Só vão. Salvem-se.
— Calma. Tudo o que precisamos fazer é pisar no freio. Talvez nós
possamos até conectar a uma das câmaras de descompressão, colocar-nos
à disposição para ajudar vocês se a situação piorar.
— Ótimo. — disse Affie. Os estrondos e gritos vindos de baixo ficaram
mais altos. — Porque tenho quase certeza de que vai piorar.

Duelo de sabre de luz era amplamente considerada a aula mais legal no


Templo Jedi. (Reath preferia História Antiga, mas estava em uma minúscula
minoria). Toda a ênfase no duelo obscurecia uma verdade simples: esta era
uma situação que um Jedi quase certamente nunca se encontraria durante
todo o tempo de serviço. Apenas outros Jedi carregavam sabres de luz. Jedi
não lutavam uns contra os outros no campo ou em qualquer outro lugar,
aliás. Logo, duelar era efetivamente inútil, exceto como exercício.
Então Reath argumentou, e ainda sentia que estava certo no começo.
Porém naquele momento, a prática de duelo era a única coisa que o
mantinha vivo.
Dez Rydan, com os olhos arregalados, atacava Reath de novo e de novo,
implacável. Os ferimentos óbvios dele não haviam diminuído a sua força;
pelo contrário, Dez estava enlouquecido com adrenalina, quase incapaz de
ter pensamento racional. Era como se aproximar de um animal ferido,
poderia tentar cuidar dele, mas iria apenas surtar e te agarrar.
Desviar. Posição dois. Virar e desviar. Bloquear alto, bloquear baixo,
posição quatro. O corpo de Reath conhecia as posturas e exercícios tão bem
que poderia defender a si mesmo sem pensar nisso. Mas isso era tudo o que
podia fazer: defender a si mesmo e prolongar a luta.
A única outra opção era mutilar ou matar Dez Rydan.
— Corte-o com a lâmina que queima. — rosnou um dos observadores
Drengir, todos parecendo muito entretidos. — Cozinhe a carne pra nós.
Reath não tinha certeza qual dos Drengir estava falando, mas não gostou
dessa instrução.
Tenho que acordar Dez, pensou. Fazer ele me ouvir, se puder. Como
deveria fazer ele me entender?
Então Reath se lembrou de outra voz, quando estava reclamando sobre a
missão na Fronteira. Como vou fazer você me entender?
— Mestra Jora. — disse Reath. — Lembra dela? Nossa mestra?
Dez mal parecia entender o que Reath estava dizendo. Então Reath se
conectou na Força, enchendo a mente com memórias de Jora Malli: o seu
sorriso caloroso, a sua risada surpreendentemente profunda, os seus desejos
insaciáveis por comida Bilbringi...
E então a lembrança de que ela estava morta, longe, para nunca mais ser
vista de novo...
Reath conseguiu criar uma conexão com a mente de Dez bem a tempo
de inundá-lo com tristeza e dor. Dez se afastou e levantou o sabre de luz
para outro golpe. Mais cedo ou mais tarde, iria bater mais forte do que
Reath conseguiria desviar.
Dez parou no meio do movimento, como se estivesse congelado. A
expressão dele permanecia vidrada, mas em seus olhos havia alguma
evidência de que estava pelo menos tentando entender o que Reath estava
dizendo.
O suor escorreu na pele de Reath. O ar estava denso com a umidade e
com o cheiro de solo, seiva e mofo. Ele ficou lá em posição de defesa,
mantendo os seus olhos fixados em Dez, sem saber quanto tempo duraria a
trégua.
Reath tentou se conectar com a Força, se conectar com Dez desse jeito,
mas imediatamente parou. A mente de Dez estava quase irreconhecível,
desordenada e enlouquecida. Mesmo se uma conexão pudesse ser forjada
por meio desse caos, era mais provável Reath se perturbar do que Dez se
estabilizar. O risco era muito grande.
Teria que se conectar com Dez de outra maneira.
Com cuidado, Reath disse:
— Pense na Mestra Jora. Só imagine a voz dela. Sei que consegue
ouvir, dentro de sua cabeça, se você se propor a ouvir. Ela diria para você
parar de lutar e deixar que te leve pra casa.
No começo parecia que Dez nem sequer tinha ouvido. Mas então baixou
o sabre de luz, apenas alguns centímetros, mas foi o suficiente para dar
Reath uma chance.
Não era honroso bater em um oponente quando estava distraído.
Geralmente. Esta era uma das exceções. Reath balançou a sua lâmina
bruscamente para cima para colidir com a lâmina de Dez quase na base.
Com Dez vacilante e atordoado, o controle sobre o seu sabre de luz cedeu.
O sabre girou para cima e Reath o agarrou com a mão livre.
Reath se colocou entre Dez e os Drengir, com as lâminas cruzadas. Até
através do brilho, Reath podia ver a fúria em seus rostos torcidos.
Para Dez, ele disse apenas:
— Venha. Vamos pra casa.

— E de pensar que algumas pessoas dizem que jardinagem é um


passatempo relaxante. — Orla ofegava.
Cohmac não riu de sua piada. Não que ele risse muito. E sem dúvida
estava distraído tentando evitar que a sua cabeça fosse cortada pelos
chicotes espinhosos dos Drengir.
Um daqueles chicotes havia arranhado a panturrilha de Orla no início da
luta. Tinha sido apenas um golpe de raspão, mas foi o suficiente para fazer a
sua perna doer dos pés até o quadril. O inchaço já havia enrijecido a seu
tornozelo e estava começando a fazer o mesmo com o joelho. Espinhos
venenosos, ela imaginou.
Um Drengir se lançou sobre ela, mas Orla se jogou para trás, meio que
pulando, meio levitando, até que estivesse fora da luta. Não que tivesse a
intenção de deixar Cohmac sozinho por muito tempo, mas eles poderiam
lutar melhor como uma unidade assim que tivesse alguma perspectiva sobre
o que estavam lidando.
Quando ela desceu, o seu pé dolorido tocou algo, não o chão, mas em
algo curvo e solto. Orla caiu de quatro e olhou para trás para ver o 8-T que
teria a coragem de ficar em seu caminho. O droide não percebeu,
simplesmente continuou podando os galhos.
Podando.
Com tesouras especialmente projetadas para cortar plantas.
A mente de Orla girou com as possibilidades. Os Oitotês atacam
qualquer coisa que eles entendam como ameaça às plantas. Eles não estão
nos atacando no momento, o que significa que não consideram os Drengir
como plantas sob os seus cuidados.
O que significa que deve haver alguma maneira de provocar os Oitotês
para os Drengir.
Ela se virou e se lançou sobre a cúpula do 8-T; ele assobiou uma vez em
choque, mas fora isso ele continuou com a sua tarefa. Nenhuma interface
óbvia se apresentou. Se fosse usar os droides, teria que trabalhar com a
programação existente.
Orla ficou de pé, ignorando a pontada de dor em seu tornozelo. De onde
estava, podia ver que Cohmac estava preso perto de um dos arcos centrais.
Acima, curvava um dos caramanchões, tão densamente envolto em
trepadeiras que o metal era quase invisível.
Este foi um daqueles raros momentos em que um blaster teria sido mais
útil do que um sabre de luz. Orla lembrou-se de carregar um no futuro,
então reuniu forças para pular ainda mais longe do que antes, novamente
metade levitando, subindo até o quiosque. No ponto mais alto, ela balançou
o seu sabre de luz, cortando a conexão do quiosque com o teto. Enquanto o
metal cedia e ela começava a descer, ela gritou:
— Atenção em cima. — O amigo dela não precisava mais do que isso
para entender o que ela havia feito.
Orla controlou a sua queda o melhor que pode, mas até o seu pouso
suave enviou mais dor percorrendo toda a sua perna. O veneno continuava a
se espalhar. Antitoxina, ela pensou. O mais rápido possível. Mas ainda não.
Como estava emaranhado nas trepadeiras, o quiosque caiu em estágios,
com cada haste se desenrolando apenas até certo ponto, depois parando, até
que o peso o forçava a ir mais longe ainda. Ele balançava de um lado para o
outro, o que chamou a atenção dos 8-Ts. Orla mancou de volta para o meio
da luta. Como ela havia previsto, Cohmac tinha entendido o seu plano; ele
recuou até estar bem longe do local onde o quiosque iria cair. Os Drengir,
acreditando que os seus inimigos estavam recuando, mudaram-se para a
posição privilegiada. Orla se juntou com Cohmac, cada um desviando os
golpes dos chicotes espinhosos com os sabres em um chiado de luz.
Cada golpe de um sabre mandava pontas de espinhos espalhando-se
pela estação, como dardos envenenados mortais.
O quiosque finalmente caiu no chão com um baque. Ele atingiu um dos
Drengir, mas isso era apenas um benefício colateral. Os Drengir estavam
cobertos com trepadeiras e presos como se tivessem sido apanhados em
uma rede. Não demoraria muito tempo para saírem, é claro. Orla queria que
saíssem, ou melhor, queria que tentassem.
— Libertem-se. — gritou o líder Drengir. Uma de suas mãos
pontiagudas cortou uma trepadeira com um spray de seiva. Os outros
Drengir fizeram o mesmo, triturando as trepadeiras com todas as suas
forças.
E foi então que os 8-Ts entraram em ação.
Eles cercaram os Drengir. Primeiro um punhado, depois uma dúzia,
depois mais droides de toda a estação rolavam pelo chão e pelas paredes,
com as tesouras de poda cortando. Logo os Drengir começaram a uivar em
protesto enquanto aquelas tesouras encontravam os seus alvos. Os Drengir
não teriam problemas em destruir os 8-Ts assim que estivessem livres, mas
isso demoraria um pouco.
— Boa ideia. — disse Cohmac a Orla. — Esta é a nossa chance.
— Totalmente de acordo.
Orla deixou a batalha sumir de sua memória, a tensão de seu corpo. Ela
inalou profundamente, habitando apenas o momento. Das profundezas de
sua mente, ela convocou a Força para responder.
Conforme abria mais a sua percepção, ela se tornou mais capaz de sentir
Cohmac ao lado dela, fazendo a mesma coisa. A coragem de se reuniu com
a dela. Com a determinação renovada, traçou os contornos da escuridão,
formando-a na forma de uma esfera, sentindo o esforço de Cohmac
duplicando o seu. Então centrou aquela energia para dentro dos ídolos,
elevando o círculo.
Uma explosão de luz esverdeada brilhante iluminou toda a estação por
um momento. O primeiro impulso de Orla foi que algo estava errado com a
iluminação interior, ou pior, que os sistemas internos estavam começando a
explodir. Então percebeu que a luz estava apenas em sua mente, a sua
consciência tentando dar sentido ao poder puro da Força.
Naquele instante, a luta entre os Drengir e os 8-Ts havia terminado.
Mais uma vez os Drengir se misturaram à escuridão da selva. Orla quase os
perdeu. O 8-Ts giraram em uma breve confusão, e então voltaram para o
importante trabalho de jardinagem.
Isso manteria os Drengir no lugar?
— É o selo. — disse ela, quase em transe. — Está funcionando.
— Esperamos que para sempre, mas pelo menos por um curto período
de tempo. — Cohmac já tinha se recuperado totalmente e mais uma vez ele
puxou o capuz de seu manto em preparação para a viagem. — Isso nos dá
tempo para escapar e nos reconectar com Reath. Espero que Affie tenha
terminado com o código.
— Se não terminou, faremos Leox e Geode chamá-la de volta. — Orla
empurrou nas mangas de seu manto branco imaculado. — Vamos embora.
Eles se apressaram em direção à porta que levaria ao anel da câmara de
descompressão. Sentindo a aproximação deles, a porta se abriu, revelando o
espaço escuro.
Mas no meio dessa área estava uma figura esguia e curvada. Conforme
os olhos de Orla se ajustavam à luz, ela reconheceu quem os havia
encontrado.
— Receio ter que pedir a vocês para ficar aqui. — disse Hague,
apontando o seu blaster direto pra eles.
Cohmac e Orla se arrastaram atrás da Mestra Laret pelos túneis da
caverna. Estavam se aproximando do covil dos sequestradores, todos
podiam sentir isso, mas determinar a localização precisa estava sendo
difícil. O problema foi agravado pela realidade de que escolher o caminho
errado para os reféns poderia levá-los direto para guardas armados ou
armadilhas explosivas.
Orla ficou para trás, onde estava mais escuro. A sua silhueta tênue era
apenas uma das muitas sombras que os cercavam. A essa altura, estavam
muito perto para arriscar ativar os sabres de luz ou até mesmo usar os
bastões luminosos em qualquer configuração que não seja a mais baixa.
Ela não duvidava de Mestra Laret. Encontrar caminhos através da Força
era um dom conhecido dela. O mais importante, o julgamento da Mestra
Laret era invariavelmente e indiscutivelmente correto. Não era uma questão
de seguir servilmente as imposições da Ordem, Laret Soveral tomava as
suas próprias decisões, seja o que fosse, como Orla tinha aprendido ao
tentar em vão influenciar o seu julgamento. Mas ao tomar decisões, a sua
mestra sempre tinha alguma regra em mente, fosse ética, legalista ou outra
coisa. Todas essas regras os incentivavam a continuar fazendo o que
estavam fazendo, ou seja, ao procurar os reféns da realeza.
Orla, no entanto, sempre sentiu o desejo de seguir os seus instintos
primeiro, que se danem as regras. No momento, os seus instintos estavam
dizendo para parar.
Só para parar. Não para procurar. Nem mesmo para se conectar com os
seus sentimentos. Dizia para parar e esperar por um sinal que os diria algo.
Você está com medo, disse a si mesma, agarrando com firmeza o cabo
de seu sabre de luz. Não ceda ao medo. Não passa disso.

O monarca Cassel sussurrou:


— Eu estava pensando.
Deve ser a primeira vez, Thandeka disse a si mesma, depois se sentiu
culpada. Em Eiram, as piadas sobre a inteligência de Cassel, ou a falta dela,
eram comuns... E talvez não fossem completamente erradas. Mas depois de
horas fisicamente presa a ele, ela aprendeu que o que faltava de inteligência,
ele compensava com bondade.
— Sobre o quê?
Cassel olhou para Isamer antes de responder. O Lasat estava muito
ocupado se empanturrando de carne malcozida para prestar atenção em seus
resmungos. Tranquilizado, Cassel disse:
— Ele continua enviando os seus guardas para procurar os Jedi, então
eles devem estar bem perto de nós.
— É uma possibilidade. — disse Thandeka. Ela não criaria esperanças
mais além do que isso. Thandeka se conformou com a sua morte horas
atrás, pelo menos a maior parte. A única parte que não conseguia aceitar
totalmente era que nunca mais ia ver a sua esposa novamente. — Por que
está falando disso?
— Estava pensando que poderíamos fazer algo para chamar a atenção
deles. — disse Cassel, com o seu rosto Pantorano ficando azul escuro. —
Gritar em alto e bom som, algo assim.
— Estamos cercados por rocha sólida. Não acho que gritar vai nos
ajudar muito. — Então Thandeka considerou. Os detalhes da sugestão de
Cassel poderiam não ser úteis, mas a ideia em si...
Ela olhou ao redor do covil deprimente com uma nova perspectiva.
Antes só estava procurando um (nenhum) meio de escapar ou as armas que
provavelmente seriam usadas para a sua execução (blasters). Desta vez,
Thandeka procurou por equipamentos de comunicação. Nada ali iria
transmitir um sinal fora do mundo, ou mesmo para a superfície. Mas se os
Jedi tivessem chegado perto o suficiente de sua localização, então talvez
pudesse contatá-los.
Um dos dispositivos de comunicação portáteis usados pelos guardas do
Lasat ficava em cima de uma caixa próxima. Thandeka acenou com a
cabeça na direção dele. Cassel olhou pra ela em desconcerto, mas então o
seu queixo caiu quando entendeu.
Ela olhou de volta para o sequestrador. Isamer ainda estava engolindo a
sua comida, alheio a qualquer outra coisa. Eles tiveram uma breve chance.
Juntos, ela e Cassel se contorceram alguns centímetros para a esquerda,
longe o suficiente para os dedos dos pés tocarem aquela caixa. Thandeka
bateu o mais forte que podia. O comunicador caiu, pousando na ponta
macia de seu manto, que abafou o som da queda. (Não que Isamer fosse
ouvir o som sobre os seus grunhidos e estalos). Usando o pé, puxou a
unidade de comunicação de volta até eles.
Os olhos de Cassel e Thandeka se encontraram em alegria
compartilhada. Ainda assim, conseguir o comunicador era uma coisa, usá-lo
efetivamente era outra.
As algemas em suas mãos tornavam difícil pegar o comunicador, mas
ela conseguiu. Não havia dúvidas de que ela o levaria até a boca para que
pudesse sussurrar uma mensagem; qualquer coisa que ela pudesse dizer alto
o suficiente para ser ouvido essa distância alertaria Isamer imediatamente.
Porém diferentes tipos de mensagens podem ser enviados por
comunicadores, não somente vozes. Vários códigos e sinais, nenhum dos
quais Thandeka conhecia, mas a mensagem não precisava fazer sentido. Só
precisava que os Jedi detectassem alguma coisa, qualquer coisa, vindo de
sua localização.
Com o polegar, Thandeka apertou um botão, fechou os olhos e pensou:
Dizem que os Jedi podem fazer qualquer coisa.
Veremos.

O comunicador de Orla começou a vibrar em seu quadril. Confusa, pegou e


não viu nenhuma mensagem, não ouviu nenhuma palavra. As rajadas de
sinais às vezes eram usadas para enviar códigos, mas esta foi apenas uma
longa rajada e estática, basicamente.
Ainda assim, estava sendo enviado de muito perto, mais perto do que
qualquer nave poderia possivelmente estar.
Os sequestradores iriam se comunicar entre si de forma inteligível, Orla
raciocinou. Portanto isso é um mau funcionamento ou uma tentativa
fracassada de nos contatar.
De qualquer forma, isso deu a ela um meio de rastrear a localização do
sinal.
O alívio percorreu Orla. Odiava o sentimento de estar presa, e vagar por
aquele labirinto parecia demais como uma prisão.
Mas agora eles podiam escapar.
M antendo os dois sabres de luz cruzados em sua
frente, Reath começou a recuar em direção ao pod de transporte.
Com o seu ombro foi capaz de guiar o Dez, mas não tão rápido.
Reath teria preferido se mover rapidamente, porque os Drengir
continuavam se aproximando deles. No entanto, o seu óbvio plano de fuga
parecia não preocupar eles, o que significava que havia algum problema que
Reath ainda não tinha percebido.
Se for um problema muito grande, vou descobrir em breve, disse a si
mesmo.
Queria fazê-los falar, tanto para descobrir o que conseguisse como para
que finalmente parassem de se referir a ele como carne.
— Então... — disse ele. — Os Drengir são deste mundo e alguns de
vocês viajaram para a estação? Ou vocês chegaram neste planeta saindo da
estação em um dos pods de hiperespaço? — Para Reath, os pods pareciam
um retransmissor automatizado, mas queria que os Drengir confirmassem
isso.
Ele percebeu que o que disse os interessou, mas ainda não ligavam pra
ele. Um deles disse:
— Outros de nossa espécie permaneceram no estação. Ele os viu.
O líder Drengir sibilou, o que parecia ser a versão dele de som
pensativo.
— Então eles não foram mortos. Estão apenas dormentes. Se estão
dormentes, podem ser libertados.
— Podemos fazer isso sem que nós fiquemos dormentes? — perguntou
outro Drengir. — Por que devemos nos arriscar pelos fracos?
Em resposta, o líder Drengir atacou com seu chicote de espinhos,
forçando o que havia falado a se abaixar em submissão.
— Não nos arriscamos pelos fracos. Nos arriscamos para saber se
podemos usar os pods novamente. Se sim, podemos retomar a nossa caça.
Finalmente encontraremos carne fresca.
— Certo, então, já falaram demais em “carne”, vamos agora. — disse
Reath, empurrando Dez, que estava cambaleando, mais firmemente em
direção ao primeiro pod.
— Então seremos capazes de caçar! — Um Drengir apontou um dedo
verde mofado para Dez. — Este aqui nos mostrou que nada mais nos
impede.
Quando Dez começou a incentivar os Drengir? Mas então Reath
entendeu que Dez não era ele mesmo e não tem sido quase desde o
momento de seu transporte. Ele obviamente sofreu um sério ferimento na
cabeça, mas aquele era apenas o começo de seus problemas. Só a Força
sabia com o que Dez deve ter sido drogado ou se foi interrogado.
Ele encarava os Drengir enquanto mantinha Dez às suas costas. Eles
tinham quase alcançado o mecanismo de lançamento.
— Antigamente os Amaxines eram os nossos inimigos. — disse o líder
Drengir para aqueles à sua volta. Todos os seus seguidores evidentemente
concordaram. — Eles construíram essa estrutura para lutar contra nós.
Então nós a encontramos e usamos para lutar contra eles. Eles abandonaram
a estação e a deixaram para nós. Nossa vitória!
Todos os Drengir gritaram com a lembrança daquela glória. Com base
no que Reath havia estudado sobre os Amaxines, qualquer vitória contra
eles teria sido duramente conquistada. Tudo o que importava era que a
celebração uivante tinha dado o momento de distração que precisava para
empurrar Dez pela porta do pod. Dez tropeçou e caiu sobre as suas mãos e
joelhos; Reath estremeceu, mas disse a si mesmo que pelo menos esse seria
o último sofrimento de Dez Rydan.
Um dos Drengir fez um gesto na direção deles.
— Deixe-os ir para a estação. Nós os seguiremos.
— Sigam... — A voz de Reath sumiu. Havia dois pods no lançador, e
entrou em um, sem perceber que os Drengir já embarcando no outro.
Reunindo a sua coragem, ele disse:
— Tudo bem. Sigam a gente. Temos amigos a bordo da estação.
Eles prestaram atenção novamente, mas com risadas estridentes e
sussurrantes que provocaram arrepios ao longo da espinha de Reath.
— Essa estação será nossa, e nossa conquista da galáxia poderá ser
retomada.
Reath imaginou a vegetação densa em toda a estação Amaxine. Os
Drengir poderiam estar... deveriam estar em hibernação o tempo todo,
escondidos em plena vista. A escuridão que os rodeava não era a sombra de
algo morto há muito tempo, mas de algo que poderia despertar novamente.
— Temos que ir. — disse Reath. — Obrigado pela conversa
estimulante.
A risada dos Drengir encheu os seus ouvidos até que ele também
estivesse no pod. Apagando os sabres de luz, Reath soltou eles, fechou a
porta da escotilha e apertou o único controle do painel. Imediatamente o
mecanismo começou com seu estranho zumbido.
— Onde estamos? — disse Dez, finalmente. Ele ainda estava caído com
as mãos e joelhos no chão. — Não entendo onde estamos.
Reath ajeitou Dez em um assento, agachando-se ao lado dele para
mantê-lo estável.
— Não importa, porque não vamos ficar. — disse ele gentilmente. —
Estamos indo pra casa.
E os Drengir estarão bem atrás de nós.

O blaster de Hague disparou.


Como se estivesse em câmera lenta, Cohmac viu a mão levantada de
Orla e a sentiu empurrando de volta pela Força.
O raio de energia estalou no ar, não paralisado no lugar, mas se
movendo devagar o suficiente para que os Jedi pudessem contorná-lo
facilmente. Assim que passaram pelo raio, Orla o liberou. Ele bateu na
parede com um spray de faíscas que iluminou brevemente o rosto surpreso
de Hague.
— Por que você está nos atacando? — exigiu Cohmac. Não te fizemos
nenhum mal.
Orla acrescentou:
— Nós ajudamos você.
— Sim, ajudaram. Mas fizeram tanto pra si quanto por mim, não é? —
Hague ainda mantinha algum resquício do guardião caloroso que tinha se
mostrado quando se encontraram pela primeira vez após o desastre da
Legacy Run, mas o blaster que segurava dizia a verdade. — Convinha a
vaidade de vocês serem os grandiosos e sábios, salvando os pobres e
indefesos. Mas os Nihil não são mais pobres e nunca fomos indefesos.
E lá estava, a raiva de Hague, desmascarada. Nele não estava um chama
repentina de estresse, mas um profundo calor vulcânico que se acumulava.
Nem a sua raiva era puramente por si mesmo; foi algo que suportou por seu
povo. Cohmac se perguntou quem eram os Nihil, e de onde devem ter
vindo, para carregarem tanta ira como um direito.
Ele disse apenas:
— Nada disso responde à pergunta. Por que está nos atacando?
— Éramos os únicos presos aqui, mas todo o azar caiu sobre a nossa
Cloud.
Hague falou como se eles soubessem que “Cloud” ele estava se
referindo. Provavelmente um subconjunto dos Nihil, raciocinou Cohmac.
Enquanto isso, Hague continuou:
— O que deveria ter sido um momento de o triunfo supremo acabou
sendo de humilhação. Quando pedirem tudo o que conseguimos pegar, não
teremos quase nada a oferecer, e poderão nos expulsar. — Um brilho surgiu
em seus olhos. — Mas se oferecermos a vida dos Jedi e os segredos desta
estação espacial, isso compensará por tudo. Agora que o resto da nossa
Cloud está aqui, podemos finalmente agir.
Hague levantou o blaster e atirou, não nos Jedi, mas nas portas de
proteção atrás deles. Elas se fecharam com um estrondo forte, prendendo-
os. Cohmac e Orla trocaram olhares que revelavam que tinham procurado
por uma saída e não encontraram nenhuma.
— A feitiçaria de vocês não pode salvá-los. — disse Hague. Mas ele
apareceu um pouco abalado.
— Não precisamos de feitiçaria. — retrucou Orla. Ela sempre se deixou
provocar um pouco rápido demais. — Nós temos sabres de luz.
Hague não queria mais se envolver com eles; Cohmac não sabia dizer se
o homem tinha ficado intimidado ou estava apenas seguindo em frente. A
cabeça de Hague se virou enquanto falava em um pequeno comunicador
preso na lapela de sua jaqueta:
— Invasores a bordo da estação confirmados. Dois Jedi. Possivelmente
outros, já que um também foi detectado movimento nas áreas de transporte
da estação.
Áreas de transporte? Cohmac registrou isso para consulta posterior,
assumindo que haveria uma mais tarde.
Do comunicador de Hague veio uma voz áspera:
— Envie uma equipe para investigar as áreas de transporte e limpá-las.
Segure os Jedi. Outra equipe vai se juntar para o extermínio.

Affie não queria deixar a sua missão inacabada. Mas os Jedi já estavam em
apuros. Isso significava que Leox e Geode também podiam estar. Apesar de
não ter conseguido identificar todo som estranho ricocheteando na estação
nas últimas horas, os últimos estrondos definitivamente eram tiros de
blaster atingindo metal. Ela queria que os seus amigos deixassem a estação
vivos, o que significava deixar a sua missão de lado por um momento.
Pelo menos ficaram com armas, como Leox sugeriu. Ela colocou a mão
no único detonador térmico em sua bolsa, apenas para se certificar de que
estava lá. O melhor seria nem lutar, mas se os Nihil tinham começado um
luta, Affie queria saber o que poderia acabar com ela.
Um baque quase inaudível parecia vir do anel da câmara de
descompressão. Affie hesitou... Ir pra luta ou ir pra câmara de
descompressão, onde aparentemente a Embarcação havia acabado de
atracar? Eles teriam mais chances em uma luta se Leox e Geode estivesse
com eles. Então para o anel da câmara de descompressão.
Com a bolsa raspando na parede atrás dela, Affie deu a volta no canto,
em um corredor que se abria para o jardim botânico principal. Até onde
podia ver, nada havia mudado; os ídolos estavam de volta mais ou menos
onde estavam antes e os 8-Ts estavam cuidando do jardim como de
costume. Mas algo da vegetação lá embaixo, as árvores, os troncos e coisas
do tipo, tinham se movido? Desde quando as plantas andam?
Affie se permitiu continuar e deixar as perguntas para depois.
Ela continuou descendo a longa passarela em espiral para o caminho
que traçava a circunferência do anel da câmara de descompressão, onde,
aparentemente, a Embarcação não tinha atracado. Em vez disso, várias
figuras com roupas escuras estavam emergindo do que deveria ser uma nave
enorme. Quando os olhos de Affie se ajustaram, ela conseguiu distinguir as
listras azuis pintadas em seus cabelos e nas máscaras de respiração
macabras que eles usavam.
Essas máscaras eram muito familiares.
— Os Nihil. — sussurrou ela. A enorme nave de guerra havia atracado
na estação afinal. Estavam invadindo a estação em massa. Que chance ela e
os seus amigos tinham?
Nenhuma... A menos que impedisse o grupo de guerra de embarcar.
Affie não viu os Jedi abaixo dela. Para o bem deles, esperava que não
estivessem muito perto. Não havia tempo pra verificar. Pegou o detonador
térmico de sua bolsa. O peso dele parecia estranho em sua mão,
desconhecido e assustador; Affie sabia o quão perigosa era essa arma.
Nunca tinha realmente usado um desse antes.
Mas trouxe para salvar os seus amigos e era isso o que pretendia fazer.
Affie ajustou o cronômetro para dez segundos e o arremessou direto pela
câmara de descompressão conectada na nave Nihil.
Caindo no chão da passarela, teve apenas o tempo suficiente para cobrir
a sua cabeça antes da explosão.
BUM! A onda de choque a atingiu, um impacto físico que a atingiu,
jogando-a de lado. Mesmo que os seus braços estivessem sobre as orelhas,
ficou momentaneamente surda, exceto por um som agudo de estática.
Piscando, Affie olhou para o ar denso de poeira rodopiante e pequenos
pedaços chamuscados do que poderia ser tecido, armadura ou pele.
A náusea se apoderou dela. Affie teve que se defender e a sua nave
antes, mas realmente tinha que matar várias pessoas, mesmo que fossem
Nihil.
Então sentiu, em vez de ouvir, pés marchando pela escada de metal da
passarela.
Alguém havia sobrevivido à explosão e esse alguém estava indo
diretamente em direção a ela.

Eu e minha boca grande, Orla pensou, não pela primeira vez, quando
percebeu que os cargueiros Nihil estavam atracando na estação a apenas
cinquenta metros abaixo do arco do corredor da câmara de descompressão,
depois do arco mais próximo. Me gabei porque tínhamos sabres de luz e o
que aconteceu? Mais inimigos do que nós três jamais conseguiríamos
cortar.
Provavelmente isso era a Força a ensinando sobre humildade. Orla
odiava humildade.
O seu desconcerto durou o mesmo tempo que levou para se virar na
direção dos atacantes que se aproximavam, porque naquele momento algo
havia se detonado com um estrondo poderoso. O impacto da explosão fez
Hague cambalear pra trás, e até mesmo os Jedi balançaram em seus pés.
Pelo menos alguns dos Nihil caíram, mas através da turbulenta fumaça preta
logo depois do arco, outros guerreiros continuaram indo em direção a eles,
ignorando os seus camaradas caídos.
Uma arma Nihil disparou acidentalmente? Esta antiga estação estava
finalmente começando a desmoronar depois de todo o caos dos últimos
dias?
Não importa, Orla pensou. Você conseguiu uma chance. Aproveite.
Ela se lançou em direção a Hague, que havia se endireitado, ou quase.
Orla caiu quase a seus pés, como se estivesse ajoelhada diante dele. Talvez
ele pensasse que estava prestes a se render. Em vez disso, acendeu o seu
sabre de lâmina dupla, lâminas paralelas, o cabo ainda travado, e moveu
para cima para cortar o rifle blaster em três partes. Fagulhas de plasma se
espalharam em torno deles enquanto Orla abria o cabo do sabre para que as
duas lâminas brilhassem nas extremidades.
Hague recuou, mas a sua raiva era maior do que a sua cautela. Com o
pedaço fumegante do rifle blaster ainda em suas mãos, tentou acertar a
cabeça de Orla. Ela conseguiu se esquivar e saltou vários metros para trás
para ver melhor o conflito que se desenrolava.
Cohmac enfrentou o caminho do arco, bloqueando o fogo com o seu
sabre de luz com tanta velocidade que Orla mal conseguia distinguir a
lâmina; parecia estar segurando um escudo giratório de cor brilhante. Por
causa disso, os Nihil não conseguiam avançar pelo arco para se infiltrar na
estação.
Isso não era uma vitória. Era apenas um empate. Mesmo que Orla se
juntasse a ele, dois Jedi só conseguiriam manter tantos guerreiros armados à
distância por um certo tempo.
Olhou ao redor e viu, embutido nos vários arcos do anel externo, o que
pareciam ser portas de emergência, provavelmente colocadas lá em caso de
ruptura atmosférica. A estrutura parecia comprometida tanto pela explosão
como pelo tempo; a moldura centenária continha deformações e até
rachaduras finas e pequenos orifícios. Não manteriam nada hermeticamente
fechadas por muito tempo. Mas isso não significava que as portas não
poderiam ser usadas.
Precisaria dos controles manuais, que avistou perto do teto. Uma
pequena escada de serviço ajudou Orla a chegar lá sem gastar energia para
pular diretamente; pelo jeito, precisaria preservar a sua força. A escada
estava perto o suficiente de um dos controles dela alcançar. Infelizmente
também era alta o suficiente para torná-la uma alvo perfeito para os blasters
dos Nihil. Reativando o seu sabre, girou as duas lâminas brancas para criar
uma espécie de escudo, como um círculo cintilante, que defletia o tiro dos
blasters. A julgar pelos gritos e xingamentos que ouviu, os tiros estavam
ricocheteando diretamente de volta nos Nihil. Com a mão livre, alcançou os
controles, que estavam perto das pontas dos dedos, mas precisou apenas do
menor puxão com a Força para movê-los.
As paredes começaram a tremer. Ela gritou:
— Cuidado aí embaixo.
Com um poderoso impacto, as portas de emergência há muito
adormecidas bateram e trancaram. Criaram uma parede de três metros de
altura que quase bloqueou o comprimento e largura total do anel; alguns
buracos traíam o tempo e os danos, mas não seriam facilmente violados. A
barreira não era impenetrável, já que os Nihil poderiam contorná-la pelo
caminho mais longo, mas iria atrasá-los. Talvez também os fizesse pensar
duas vezes antes de agravar o conflito.
Escorregando pela escada, Orla voltou para o chão antes que a poeira
tivesse se assentado. Cohmac ficou ali ofegante, começando a abaixar o
sabre de luz, e deu a ela a sombra de um sorriso.
— Você sempre foi excelente na improvisação.
— É a minha especialidade. — Orla colocou uma mão em seu ombro.
— Você está bem?
Cohmac ergueu a mão enquanto tossia.
— Estou. Inalei algumas partículas. Nada que uma lavagem com kolto
não resolva.
Em seguida, precisavam bolar um plano para não apenas manter os
Nihil fora da estação, mas também para afastá-los completamente. Era o
que Orla tinha pensado, antes de ouvir um grito.
— Quem é? — perguntou Orla. — Não é um dos Nihil...
— É a Affie. — respondeu Cohmac, com a expressão caída. — Ela está
em perigo.
Orla terminou por ele:
— E eu acabei de prendê-la do outro lado.
O redemoinho azul elétrico do hiperespaço visível através das janelas do
pod de transporte poderiam ser reconfortantes se Reath não soubesse que os
Drengir estavam vendo isso também.
Pelo menos não há destroços neste caminho, disse a si mesmo. Não era
exatamente um lado positivo.
Dez caiu sobre o seu ombro, fraco, mas consciente, mais ou menos. Ele
murmurou:
— Eles se foram?
— Os Drengir? Eles se foram por enquanto. — Reath verificou os olhos
de Dez e viu que estavam avermelhados e as suas pupilas ligeiramente
dilatadas. A condição dele não tinha melhorado, mas pelo menos não tinha
piorado também. — Eles podem nos alcançar na estação, mas teremos os
outros lá para nos ajudar. Mestre Cohmac estará lá, lembra? Orla Jareni
também. Mais a tripulação da Embarcação, lembra deles? Leox e Affie e o
cara de pedra?
Com um aceno de cabeça, Dez pareceu acordar um pouco mais.
— Teremos ajuda.
— Certo. Exatamente. — Provavelmente não era um bom momento
para mencionar que Hague e Nan eram Nihil. Definitivamente não era a
hora de se aprofundar sobre a morte da Mestra Jora. Havia a possibilidade
de Dez nem mesmo se lembrar que ela se foi; nesse caso, Reath o invejava.
Enfim, já tinham o suficiente pra lidar, principalmente pelo fato de que os
Drengir iriam com toda a certeza alcançá-los na estação.
Plantas guerreiras homicidas, ele pensou. Nunca li nada sobre isso.
Mais uma coisa que preciso escrever nos Arquivos.
Com um movimento sutil, o pod de transporte saiu do hiperespaço.
Pressionando o rosto contra a escotilha, Reath teve um vislumbre da
estação à frente, da qual estavam se aproximando em alta velocidade. Os
mecanismos do retorno estavam funcionando tão bem quanto os
mecanismos de lançamento estavam?
— Bom... — murmurou pra si mesmo. — Estamos prestes a descobrir.
Mais uma vez um raio trator segurou o pod. Reath exalou em alívio
conforme desaceleravam; ao menos tinham a chance de pousar com vida.
Então, através as janelas finas da escotilha, vislumbrou algo ao lado do anel
equatorial da estação. Era uma nave? Se sim, era muito maior do que a
Embarcação. Mas então o ângulo mudou, a estação saiu de vista e ele não
tinha certeza do que tinha visto.
A escuridão os engoliu quando o pod entrou no tubo de lançamento. Em
segundos, eles pararam. Imediatamente Reath abriu a escotilha.
— Vamos. — disse ele, puxando o braço de Dez ao redor de seus
ombros para que pudesse levá-lo de volta em segurança. — Vamos lá. Um
pé na frente do outro. — Não ficou claro se Dez entendeu, mas ele foi
tropeçando.
Seguiram pelos túneis do anel inferior. Na escuridão, a espiral cheia de
labirintos era ainda mais confusa. Reath tinha acabado de determinar a saída
quando reconheceu o som de um pod de transporte atracando. Os Drengir
chegaram.
Ele fez o possível para se apressar, mas isso foi um erro; Dez se enrolou
em seus próprios passos e caiu no chão. Reath se inclinou sobre ele,
agarrando as vestes de Dez em suas mãos.
— Você tem que se levantar, tem que...
Dez o olhou vagamente. Não estava em condições de escalar o túnel
traiçoeiro que levava à parte principal da estação, mesmo se os 8-Ts não os
atacassem, e não havia garantia disso. Embora Reath tivesse a força e a
habilidade na Força para levar Dez com ele, ele não conseguiria fazer isso
rápido o suficiente para escapar da perseguição dos Drengir.
Ele se recusou a deixar Dez, mesmo que isso significasse de que
estavam presos.
S ai, sai, sai!
Affie forçou-se a ficar de pé, desesperada pra fugir. Em qual direção,
ela não sabia dizer; o mundo tinha se transformado em fumaça e cinzas,
quase desprovido de luz. Mas tinha que sair de lá antes que os Nihil a
encontrassem.
Ela se apoiou contra a grade da passarela, tentando recuperar o fôlego,
então se engasgou quando uma mão enluvada agarrou o seu cabelo.
— Tem que ser ela! — Um dos Nihil a arrastou para perto dele. A sua
máscara respiratória cheia de tubos tinha o brilho seboso de uma mancha de
óleo. Pela viseira Affie encontrou os olhos estreitos dele. — Ela jogou o
explosivo, ela pode ter mais!
Estava cheio de fúria, provavelmente por isso não pensou em checar
imediatamente se tinha um blaster. A mão dela se moveu até o coldre e no
momento seguinte sacou. Affie enfiou a coronha em seu intestino com
força, esperando que doesse.
— Me solta. — disse ela. A sua voz estava áspera por causa das cinzas
no ar. — Agora.
Em vez disso, ele a jogou de lado, violentamente. Affie bateu forte na
grade, perdeu o equilíbrio e tombou.
Ela gritou quando caiu, certa de que despencaria sobre o metal e
arremessaria o cérebro para fora. Em vez disso, pousou em outros Nihil,
espalhando-os. A aterrissagem ainda doeu, mas Affie ignorou os ferimentos
enquanto tentava escapar do emaranhado de braços e pernas e armas
embaixo dela. Mas os Nihil estavam se recuperando ainda mais rápido do
que ela, e enquanto um deles agarrava o seu antebraço, percebeu que tinha
perdido o blaster na queda. Estava cercada por figuras de capacete, todas
com raiva, todas armadas, e não havia nada que pudesse fazer sobre isso.
Naquele momento através da fumaça surgiu um círculo rodopiante de
luz branca brilhando na escuridão. Painéis de metais pesados bateram
através do túnel com um baque, e então brilharam três raios de luz: um azul
e dois brancos.
Sabres de luz, percebeu Affie. Ela só esperava que os Nihil
reconhecessem também.
Eles devem ter reconhecido, porque os agressores instantaneamente a
soltaram e avançaram em direção aos Jedi. Affie se abaixou para evitar ser
atingida pelas armas, mas quando estava agachada, percebeu o quão difícil
era recuperar o fôlego. A fumaça a estava afetando.
O seu comunicador zumbiu.
— Affie? — Ela nunca tinha ficado tão feliz em ouvir a voz de Leox. —
Acabamos de captar algumas ondas de choque intensas.
— Joguei o detonador térmico nos Nihil. — respondeu ela. Ela estava
engatinhando pelo chão, onde o ar era mais fresco e ligeiramente mais
limpo. Inspirar ficou muito mais fácil.
— Um impulso compreensível, mesmo tendo comentários sobre alguns
problemas em seu valor estratégico. Consegue voltar pra a nave?
— Acho que não. Além disso, ainda não acabei. — Affie apalpou a sua
bolsa; ainda que alguns dispositivos tivessem rolado durante a queda da
passarela, ela ainda tinha a maior parte do que precisava para pegar os
registros que procurava.
— Uma droga que não acabou. — Foi tão estranho ouvir Leox soar
severo. — Os Nihil mudaram toda a nossa estratégia e nossa única
estratégia agora é dar o fora daqui. Precisamos de você a bordo.
Eles não precisavam dela. Leox estava apenas preocupado porque a
situação tinha se tornado mais perigosa. Talvez Affie devesse ter se
preocupado também, especialmente porque os Jedi e os Nihil estavam
lutando furiosamente a apenas alguns metros dali, com o frenesi não
estando totalmente obscurecido pela fumaça.
Mas os seus pais também teriam ficado com medo, próprias vidas, com
o que aconteceria com a sua filha. A Scover tinha tirado as escolhas deles.
Affie pretendia garantir que todos tivessem uma escolha daquele momento
em diante.
— Segure a nave. — disse ela. — Voltarei em breve. — E ela desligou o
comunicador antes que Leox pudesse dizer outra palavra.

Reath não conseguia se concentrar. Se pudesse, talvez conseguisse levitar


Dez, levá-lo dos túneis até à estação e até ao restante dos Jedi. Talvez
pudesse levitar o próprio corpo, salvando os dois. Mas estava muito
disperso para fazer isso, com adrenalina em seu sangue, em uma guerra com
seus melhores instintos.
— Quando não consegue alcançar o equilíbrio dentro de si,
simplesmente volte-se em direção à luz e faça o seu melhor. Não há sentido
em reagir à falta de tranquilidade de uma forma que o deixe ainda menos
tranquilo. — dizia Mestra Jora.
— Certo. — murmurou Reath enquanto equilibrava Dez, com o braço
de Dez em torno de seus ombros. — Pela luz e pela vida. Aqui vamos nós.
— O que você disse? — Dez o olhou grogue.
— Continue caminhando, certo? Tentaremos subir pelas raízes em
alguns minutos. Talvez possa segurar no meu pescoço. — Reath conseguiu
sorrir. Queria tranquilizar Dez, embora houvesse muito pouco para ser
tranquilizado na situação atual. Mas quando pensou sobre o que Dez devia
ter sofrido nos últimos dias, delirando, com dor, cercado por criaturas que o
torturaram para obter informações que ele nem estava condições de dar, era
impossível não querer tranquilizá-lo.
Todos os pensamentos de conforto se foram quando Reath ouviu as
batidas reveladoras do pod dos Drengir se acomodando na base.
Em apenas um minuto, estarão soltos. Vindo atrás de nós.
Portanto, não vou dar a ele esse minuto.
— Fique aqui. — disse Reath desnecessariamente, permitindo que Dez
caísse no chão. Então ele correu em direção ao pod dos Drengir.
A Força o levou até à escotilha, a qual abririam a qualquer momento; já
conseguia ver as mãos verdes parecidas com folhas lutando com a
maçaneta. Reath estendeu a mão e empurrou mentalmente os Drengir para
longe do porta. Eles caíram pra trás. Essa era a parte fácil.
Fechou os olhos e se conectou novamente com os seus sentimentos.
Desta vez não envolveu a sua mente em torno dos Drengir, mas em torno do
próprio pod. A sua forma tornou-se real para ele, tangível, quase como se
ele estivesse segurando em sua mão.
Finalmente empurrou o pod inteiro pra trás, através do túnel de
lançamento. Sentiu como se estivesse fisicamente empurrando metal pesado
puro pra trás, forçando todos os músculos de seu corpo, mas conseguiu
movê-lo alguns metros. Isso seria o suficiente, se o seu plano funcionasse.
Apesar da porta grossa da escotilha, Reath podia ouvir os Drengir
emergindo do pod, simplesmente rastejando pelo túnel. Eles estavam indo
para a escotilha para confrontá-lo.
Uma luz branca brilhante cintilou no túnel e uivos de dor ecoaram por
apenas um instante. Então o túnel ficou escuro; tudo estava em silêncio.
Com o sabre de luz em uma mão, Reath usou a outra para abrir a porta
da escotilha. Instantaneamente foi saudado pelo cheiro de plantas
carbonizadas, ligeiramente agradáveis, na verdade, como fumaça de
madeira ou ervas aromáticas.
Com o brilho do sabre, conseguiu ver os restos de folhas murchas e
carbonizadas no fundo do túnel, fumegando logo acima dos anéis Helix. A
energia deles destruiu os Drengir em uma fração de segundo. Havia uma
sensação de justiça em saber que os anéis haviam poupado Dez e matado
aqueles que o tinham torturado.
Não há justiça em matar um inimigo, Mestra Jora o repreendeu dentro
da mente de Reath. Matar nunca é uma verdadeira vitória. Na melhor das
hipóteses, é o conhecimento de que você fez o que deveria.
— Eu fiz o que devia, mestra. — sussurrou ele. Parecia possível que
talvez, na Força cósmica, ela pudesse ouvir.

— Affie? — gritou Orla. Ela não conseguia ver a garota em toda aquela
bagunça; mal podia ver o seu próprio sabre de luz na frente do seu rosto. No
fundo sentia que a garota permanecia viva, mas ainda não podia gastar a
energia mental para procurar mais longe.
Não até que se afastasse dos Nihil.
Orla enfrentou dois guerreiros Nihil, um para cada uma de suas lâminas.
Eles usavam armas de pólo energizadas que podiam desviar o golpe de um
sabre de luz, mas custava-lhes, sempre. Eles a atacavam com um ataque
selvagem, porém descoordenado. Deixou a Força fluir através dela,
sentindo todos os movimentos deles um segundo antes de serem feitos, com
o sabre se movendo quase que sozinho de forma a bloquear cada ataque.
Eles foram recuando a cada golpe, não muito, talvez nem mesmo o
suficiente para que percebessem, mas o suficiente para Orla saber que
dominava a situação.
Ao lado dela, Cohmac estava desligando o sabre de luz dele. Antes que
Orla pudesse até mesmo se perguntar conscientemente o porquê, Cohmac se
conectou com a Força em direção a uma viga de metal caída no chão,
arrastando-a em direção aos Nihil. Ela não chegou a subir inteiramente no
ar, mas nem precisava; a viga varreu os Nihil, derrubando-os e enviando os
raios de blaster em direções aleatórias.
Mas uma dessas direções poderia ser o lugar onde Affie Hollow estava
tentando se esconder...
Quase como um só, os Nihil se viraram e fugiram dos Jedi, de volta em
direção ao anel da câmara de descompressão. O movimento foi muito
coordenado para ser uma simples fuga ou rendição; foi um recuo
estratégico. Os Nihil iriam se reagrupar e atacar novamente, mais forte que
antes. Mais uma razão para encerrar os negócios nesta estação esquecida
pela Força e partir.
Cohmac apontou para os Nihil.
— Eles vão voltar com mais poder de fogo.
— Sem dúvida. — disse Orla. — Está vendo a Affie?
— Não. A garota foi para mais fundo na estação. — Cohmac olhou para
a meia distância. — Devemos encontrar ela e Reath e tirá-los daqui assim
que possível.
Orla assentiu.
— Sabemos que Reath está nos túneis. Cohmac, porque não desce lá
enquanto procuro por Affie? — Ele correu em direção ao acesso mais
próximo para os anéis inferiores, o que servia como um sim.
Orla já sentia que Affie havia sumido de propósito. Estava tentando
fazer algo que achava que os Jedi não deveriam descobrir. Orla não sabia o
que era e não se importava. Só tinha que pegar Affie e sair antes que os
Nihil atacassem novamente.

Dez cambaleou, apoiando-se em Reath enquanto caminhavam por uma


selva.
É o jardim botânico da estação Amaxine, disse a si mesmo. Quanto
mais se afastava dos Drengir, mais Dez conseguia se lembrar. Mas ainda
podia sentir as toxinas em seu sangue, tornando o seu corpo e pensamentos
lentos, e tudo permanecia um delírio e tudo surreal.
No centro do jardim botânico podia distinguir vagamente formas que
reconhecia como os Drengir. Eles também estão aqui. Eles estão por toda
parte. Eu não consigo escapar.
Porém antes que o pânico se apoderasse dele, Reath murmurou:
— Está tudo bem. Trouxemos os ídolos de volta pra aprisionar o lado
sombrio novamente. Eles devem ter aprisionado os Drengir, porque olhe,
não conseguem escapar.
Dez percebeu que os Drengir não estavam se movendo. Mais uma vez
os quatro ídolos estavam de sentinela, vigiando todos eles. Isso ajudou com
o medo, embora a estranheza ardente em seu sangue continuasse turvando a
sua mente.
— Você acha que isso impediria os Drengir de usar esta estação
novamente? — perguntou Reath. — O poder dos ídolos? Porque não
podemos deixá-los tomar posse deste lugar. É perigoso demais.
Dez conseguiu dizer:
— É pra eu realmente responder? Ou você está apenas tentando me
fazer falar?
— O segundo. Você está melhor! — Reath sorriu.
Dez poderia ter sorrido de volta, exceto que tinha visto uma figura se
aproximando deles na escuridão. O medo disparou dentro dele, esmagando
e preenchendo, até que a sua visão embaçada clareou o suficiente para ele
ver o rosto da pessoa.
— Mestre Cohmac?
Cohmac correu na direção deles, os olhos arregalados de admiração.
— Como isso é possível?
— Os anéis inferiores são uma área de transporte. — respondeu Reath.
Faz sentido, Dez pensou. Estavam no hiperespaço. Não estavam? A sua
cabeça ainda doía. — Eles são equipados com pods de hiperespaço
automatizados. Dez não morreu; foi enviado dali pro planeta natal desses
caras plantas do mal chamados...
— Drengir. — completou Cohmac. — Nós os conhecemos. Pela Força,
Dez, o que fizeram com você?
Pareço tão mal? Dez pensou. Provavelmente não quero saber.
— Eles o interrogaram. — respondeu Reath calmamente. — Eles o
drogaram com algo que o deixou fora de si por um tempo. Mas não acho
que esteja gravemente ferido. Só temos que tirá-lo desta estação.
— Mais fácil falar do que fazer. Os Nihil abordaram. Devem suspeitar
das capacidades de transporte desta estação.
— Ah, não. — Os olhos de Reath se arregalaram. — No momento, os
controles estão programados para o planeta natal dos Drengir... Pelo menos
acho que é o planeta natal deles. Talvez seja apenas um planeta em que
alguns deles vivem... Não importa. Esses controles podem ser
reprogramados para direcionar os pods para qualquer lugar. Para os
estaleiros da República, para os planetas fronteiriços, até para a própria
Coruscant.
— São apenas pods... — começou Cohmac.
Reath disse:
— Precisa de apenas um ou dois agentes para derrubar um escudo de
segurança ou fornecer relatórios sobre as capacidades de defesa. Aposto
qualquer coisa que foi como os Amaxines conseguiram informações sobre
os seus alvos antes de atacarem.
— Ou carregar dispositivos explosivos para detonar somente depois que
partissem. Mais motivos para impedir os Nihil. — disse Cohmac. — Vamos
levar Dez para a Embarcação, se pudermos. E tirá-la de lá.
As palavras estavam escapando de Dez. Não conseguia se concentrar
por mais do que alguns momentos de cada vez e em mais de uma ou duas
coisas ao mesmo tempo. Ele estava com os seus amigos novamente; estava
em perigo. Isso ele entendeu. O restante caberia ao seus companheiros Jedi.

A bordo da Embarcação, Geode era o único elemento com calma enquanto


Leox andava em torno da ponte.
— Existem cerca de oitenta outras maneiras de impedir que a Scover
Byne envie contratados pra esta estação. — disse Leox. O seu colar
balançava pela extensão desnuda de seu peito enquanto caminhava. — Mas
não. A Pequenina tem de fazer a criptoanálise, e sim, eu sei, já passou da
fase desse apelido, não descreve mais a miríade de complexidades como um
indivíduo, então me poupe, certo?
Geode o poupou, o que era a única folga que Leox imaginou que teria o
dia todo.
— Agora temos apenas uma rotatória do centro da estação para a nave e
suspeito que a Affie não está ciente desse fato importante. — Leox suspirou
frustrado. Até então, os Nihil saberiam que outra nave tinha atracado, mas
ou eles ainda não haviam encontrado a Embarcação ou estavam distraídos
por outras preocupações. Por enquanto, por pouco tempo, essa nave
permanecia o único lugar seguro ao redor e era o único lugar em que Affie
não conseguiria chegar. — Ela não vai conseguir voltar para nós. O que
significa que nós vamos ter que a ir até ela.
Leox Gyasi não era do tipo guerreiro, mas acreditava no poder da
preparação. Foi até o baú esculpido e pintado que mantinha em um lado da
ponte, abriu-o e vasculhou embaixo das camisas e incenso por um segundo
antes de puxar um blaster. Fazia muito tempo que tinha atirado em alguém,
mas se lembrava de como fazer. Se alguém ficasse entre Affie e a segurança
dela, puxar o gatilho não seria difícil.
Ele se virou para Geode, que o olhou com um silêncio solene.
— Cuide da nave. — disse Leox. — Fique nos controles. E nem pense
em vir atrás de nós, a menos que a situação piore muito. Não sei exatamente
como isso seria possível, mas o destino tem uma maneira de nos mostrar
como, não é?
Foi quando as leituras no console começaram a aumentar de maneira
assustadora. As erupções solares, chegando intensas e em breve, enormes o
suficiente para poderem causar danos até mesmo nas naves escondidas atrás
da estação. O que poderia significar penetrar na Embarcação, com todos
dentro dela, e vaporizá-los imediatamente.
E não havia uma maldita coisa que Leox pudesse fazer a respeito.
Ele se recusou a se preocupar com coisas que não podia mudar. Hora de
se concentrar no que podia fazer.
Com um aceno final de despedida, Leox se dirigiu à câmara de
descompressão, em direção a Affie.

Reath, Dez e Mestre Cohmac alcançaram o que uma vez havia sido a
entrada mais próxima para o anel da câmara de descompressão e agora era
uma massa de metal retorcido. Uma arma Nihil estava no chão; levou um
momento para Reath perceber os Nihil estavam lá também, meio
escondidos e esmagados pelas vigas caídas. O capacete do homem tinha
sido arrancado na queda, revelando um rosto humano absolutamente
comum, exceto pela sua palidez.
— Quem são eles? — sussurrou Reath. — Por que querem todos nós
mortos?
— De acordo com as informações limitadas que temos até agora, os
Nihil estão geralmente mais interessados em capturar riqueza do que
massacrar. — Mestre Cohmac reajustou Dez contra o seu ombro, o tempo
todo olhando em volta e analisando a situação. — No entanto, não hesitarão
em matar quando isso servir aos seus propósitos, como muitas vezes
acontece. Se querem reivindicar esta estação como sendo deles, usá-la da
maneira que os Amaxines faziam, como um posto avançado de
reconhecimento para os seus ataques...
— Então nos matar serve a seus propósitos. — finalizou Reath. O
caminho para a nave estava quase bloqueado pelos destroços do que parecia
ser algum tipo de portas antiexplosão ou câmara de emergência. — Teremos
que achar uma saída através dessa bagunça.
Assim que terminou de falar, alguém surgiu através de uma abertura nos
destroços e caiu de lado. Leox Gyasi havia tirado o seu colar de miçangas e
carregava um blaster, o que Reath achou inesperadamente chocante.
Aparentemente, ele os ouviu, porque Leox sorriu e disse:
— É assim que se passa desta bagunça. De nada. — Então o seu rosto se
iluminou. — Dez! Que bom ver você, meu amigo! Parece que você tem
história pra contar.
Embora Dez não estivesse em condições de contar a sua história ou
qualquer outra, esboçou um sorriso torto.
Mestre Cohmac estava menos entretido.
— Capitão Gyasi, a sua coragem é louvável, mas te falta prudência.
Você está mais seguro a bordo da nave...
— Primeiro, enquanto Affie estiver em perigo nesta estação, a minha
própria segurança não significa droga nenhuma. — disse Leox. — Segundo,
tem mais erupções solares chegando a qualquer momento, erupções
intensas, então não tenho certeza se qualquer um de nós esteja
particularmente seguro em qualquer lugar neste sistema.
Reath pensou rápido.
— Os escudos da estação. Podemos fortalecê-los? Então poderíamos
expandi-los para proteger as naves.
— Talvez. — disse Mestre Cohmac. — Mas temos que encontrar os
controles e ainda interpretá-los...
— Eles estão nos níveis mais baixos. — interrompeu Reath. Ele
realmente acabou de interromper um Mestre Jedi? Mas isso era muito
importante e tinham pouco tempo. — Fui descobrindo os caminhos
enquanto estava lá embaixo e acho que os controles estão começando a
fazer sentido pra mim. Talvez possa aumentar os escudos.
Leox assentiu.
— Parece um bom plano, garoto. Boa sorte lá embaixo. — Com isso,
saiu correndo em busca de Affie Hollow.
Mestre Cohmac não se convenceu tão facilmente.
— Sou eu quem deveria...
— Por favor, mestre. Sou eu quem tem experiência com a tecnologia
Amaxine.
A experiência de Reath consistia principalmente em ser atirado para o
hiperespaço contra a sua vontade, mas ainda assim era mais do qualquer
outra pessoa do grupo tinha feito. — Essa tarefa deve ser minha. Além
disso, Dez precisa de você agora.
O seu apelo poderia não ter funcionado, se não fosse pelos joelhos de
Dez se dobrando naquele exato momento. Mestre Cohmac o segurou e
balançou a cabeça.
— Muito bem, Reath. Que a força esteja com você.
Reath sorriu, se virou e correu de volta para o jardim botânico central e
para a passagem que o levaria aos anéis inferiores.
Com os 8-Ts certamente distraídos por todo o caos a bordo do estação
Amaxine, alcançar os níveis mais baixos seria mais fácil do que antes.
Neste ponto, Reath estava grato por qualquer chance que tivessem. Assim
que alcançou os controles principais, ele conseguiu achar os esquemas da
estação com bastante facilidade, e a partir daí, era apenas uma questão de
tocar na tela. O zumbido baixo de energia surgiu através da estação,
incluindo os escudos.
Reath esperava que incluísse os escudos, de qualquer maneira.
Descobririam de uma maneira ou de outra. Com sorte, essa maneira não
envolveria ser torrado por explosões solares.
Ele tinha feito tudo o que podia, e tudo o que restava era voltar pra nave
o mais rápido possível. Enquanto corria de volta ao longo do que restava do
corredor, com o cheiro de fumaça densa no ar, avistou mais corpos de Nihil,
mais armas Nihil abandonadas. Um sabre de luz era de longe a melhor arma
para se ter em uma batalha, mas ocorreu a Reath que um blaster poderia ser
útil. Havia um blaster longe o suficiente de qualquer um dos corpos dos
Nihil para que não se sentisse como um ladrão de túmulos, então se
ajoelhou para pegá-lo. Pouco antes de sua mão se fechar, alguém disse:
— Não se mexa.
Reath congelou, exceto os seus olhos, que ergueram para ver a Nan de
pé, com o blaster apontado diretamente para ele.
A parte mais estranha era que Nan parecia exatamente a
mesma de antes. Apesar do fato de que estava usando um macacão de
uniforme em vez de seu colorido vestido de retalhos, que os seus braços se
revelaram estar repletos de tatuagens e que as mechas azuis em seu cabelo
combinavam com linhas pintadas no rosto, nenhuma grande transformação
havia ocorrido. O comportamento de antes não tinha sido um disfarce,
decidiu Reath, apenas outra faceta de sua personalidade. Ela era uma
guerreira Nihil e uma jovem solitária.
Qual lado dela venceria?
A única razão pela qual Reath assumiu que não seria a guerreira Nihil
era o simples fato de que ela o tinha surpreendido, mas permanecia vivo.
Não havia razão para se preocupar com preliminares.
— Tudo o que você me disse era verdade, não é? — perguntou ele. — A
destruição, os seus pais, tudo isso. Você apenas omitiu a parte sobre ser
resgatada pelos Nihil.
— Quase isso, mas não exatamente. — respondeu Nan. O seu rosto
estava sem expressão, ilegível. Ela permanecia segurando o blaster firme.
— Nossa família se juntou aos Nihil. Eles nos ofereceram a chance de uma
vida melhor do que jamais poderíamos ter de outra forma. Minha mãe e
meu pai estavam orgulhosos de sua escolha. Eu tenho orgulho da escolha
deles. Quando morreram em um ataque, fui levada por Hague. Então sabia
que sempre seria pequena, que teria que aprender a lutar de forma mais
inteligente, já que nunca seria mais forte. Que precisaria de habilidades
estratégicas. Quem melhor para ensinar isso do que um homem que não
consegue mais lutar com o seu corpo e que tem que usar o cérebro?
A certeza em sua voz, a clareza da convicção absoluta, irritou Reath.
Ele estava acostumado a ouvir Padawans falando assim, ou cadetes de caças
estelares da Patrulha de Coruscant. Não passou pela cabeça dele que alguém
ainda poderia acreditar na violência como uma crença, pelo menos não
tendo tanto orgulho dela. Enquanto ele sabia que tais mentalidades não
eram apenas artefatos da história, este era o seu primeiro encontro com um.
Ele ansiava falar profundamente sobre isso com ela, para entender os Nihil
em seus próprios termos brutais.
Mas entrar em uma discussão filosófica com uma pessoa fanática
provavelmente era um erro, principalmente quando a fanática estava
segurando uma arma contra você.
— Faz sentido. — Reath ajustou a sua postura ligeiramente, movendo o
peso de uma perna para a outra, esperando que ela não percebesse que ele
estava triangulando as posições deles em relação à saída mais próxima. —
Consigo perceber que você já é uma ótima estrategista. Conseguiu
informações suficientes de mim.
A piada autodepreciativa tinha o objetivo de baixar a guarda de Nan.
Mas não funcionou.
— Não posso levar nenhum crédito por isso. Você estava transbordando
com explicações, porque esse era o seu trabalho, certo? Contar ao povo
desesperado da Fronteira como as vidas das pessoas seriam gloriosas agora
que os Jedi chegaram.
— Não me lembro de ter prometido glória a ninguém. — ressaltou ele.
Nan deu de ombros, tipo, muito justo.
— Você pode parar de procurar a sua rota de fuga. Não pretendo matar
você.
— A mira do seu blaster sugere o contrário.
— Você poderia desviar de qualquer tiro. — disse ela, apontando para o
sabre de luz que ainda não tinha tirado do cinto. — Luta corporal contra um
Jedi? Inútil. Isso é mais uma coisa que me ensinou. Quando matar um Jedi,
será com a minha nave.
Reath considerou.
— Você poderia ter me matado quando eu estava de costas. Não matou.
— Não. Não esqueci que você me salvou de ser sequestrada. Você me
devolveu para a minha frota. Isso te dá uma chance de ir embora. — O dedo
de Nan massageou o gatilho de seu blaster. — Uma.
Obrigado, Reath quase respondeu, antes de decidir que realmente não
deveria agradecer a ninguém por não o deixar em pedaços.
— Você gostou? De fingir estar indefesa?
— É repugnante. Não pretendo fazer disso um hábito.
— Posso respeitar isso.
— Vocês vão nos respeitar. — disse Nan. — Com o tempo vocês se
curvarão diante dos Nihil.

— E eu que pensei que esta estação estava mais ferrada que poderia antes
mesmo de atracarmos. — murmurou Leox pra si mesmo ao passar por cima
dos destroços fumegantes da explosão. Affie tinha destruído o local, isso era
certo.
O principal era garantir que os Nihil não a destruíssem.
Os sons ecoaram mais longe no corredor: passos, algo assim. Leox
percebeu que eram os Nihil; os Jedi se moviam tão silenciosamente quanto
gatos tooka. Rapidamente se escondeu atrás do pedaço de entulho mais
próximo, um par de vigas que formavam uma boa barreira sólida entre ele e
qualquer guerreiro saqueador. É sempre bom colocar algo entre você e a
energia negativa, ele pensou. Especialmente a energia negativa armada.
Apesar de seus hábitos indolentes e aparência desgrenhada, Leox Gyasi
tinha uma mente perspicaz quando se importava em usá-la. Com uma
memória fotográfica precisa, lembrou-se do layout da estação que haviam
mapeado anteriormente, em seguida, sobrepôs o plano de Affie para
examinar o código. A partir daí foi relativamente simples descobrir o quão
longe ela teria ido nos anéis superiores antes que os Jedi se encontrassem
em apuros e, portanto, onde teria voltado para depois da explosão.
Isso, naturalmente, exigiria que Leox de alguma forma conseguisse
passar pelos Nihil e pela área controlada pelos ídolos que continham os
Drengir.
Mas ele não teria feito de outra maneira. Como poderia dar um
sentimento de culpa adequado para a Affie mais tarde, se não fosse difícil
pra caramba tirá-la de lá?
Sorrindo, Leox esperou por uma abertura, então disparou pela escuridão
do interior da estação.
Uma voz soou pela estação.
— Nihil, vocês estão sendo convocados!
Reath se virou, assustado; Nan mordeu o lábio inferior e disse:
— Se quiser sair daqui vivo, sugiro que o faça agora. Os outros estão
vindo. Te devo uma, mas eles não.
Os Nihil não se considerariam vinculados por uma gentileza a um dos
seus, ele pensou, registrando isso para referência futura.
— Entendi.
Ele correu pela porta mais próxima, sem se preocupar em olhar pra trás.
Se Nan não tinha atirado no rosto dele, não atiraria pelas suas costas.
Assim que Reath conseguiu se proteger, no entanto, ele se abaixou e
inclinou-se para ver o interior do globo da câmara central da melhor
maneira possível. Nan estava exatamente onde a havia deixado, mas não
estava procurando por ele. Toda a sua atenção estava nos outros Nihil.
Eles não usavam uniformes, exatamente, embora houvesse uma
semelhança em suas vestimentas: escuras, acolchoadas, cobertas por faixas
ou painéis de material de segurança que seria resistente à água, talvez ao
fogo também. Os capacetes e máscaras respiratórias reveladores estavam
pendurados em seus pescoços ou em seus cintos de utilidades, o que sugeria
que um ataque com gás não era iminente. Pelo que Reath podia ler pelas em
suas expressões, não pareciam exultantes nem desanimados. Isso sugeria
que os seus companheiros Jedi permaneciam vivos... Mas que os Nihil
ainda sentiam que poderiam cumprir os seus objetivos.
— Cloud. — disse o líder deste grupo Nihil, um homem Trandoshano.
— Temos uma maneira de nos provarmos para o Viajante da Tempestade.
Sorrisos e alguns gritos responderam a isso. Eles parecem usar um
imaginário climático, imaginário de tempestades, Reath raciocinou.
— Esta estação nos dá o poder de alcançar qualquer lugar da galáxia em
instantes. — disse o líder. — Apenas o nosso povo, não as nossas naves,
mas nosso povo pode preparar o caminho para os ataques que virão.
Derrubar os escudos, criar distrações, enviar sinalizadores... Tudo o que
precisarmos para nos tornarmos o poder dominante nesta parte da galáxia.
— Não! — gritou alguém atrás. — De toda a galáxia!
Isso ganhou mais aplausos e o líder sorriu.
— Pensamos que não seriamos capazes de compensar a nossa falha
durante a ação. Mas quando revelarmos esta estação, e ainda revelar que, ao
tomá-la, humilhamos os Jedi, seremos favorecidos. Os melhores ataques, a
melhor posição dentro da Tempestade... Tudo isso será nosso.
Os Drengir acreditam que podem usar esta estação para causar
estragos em toda a galáxia, Reath pensou. Os Nihil também acreditam que
podem.
O que significa que se alguém vai manter esta estação, tem que ser a
República.
Mas talvez ninguém deva mantê-la.

Quase quando Cohmac havia perdido todas as esperanças de encontrar um


caminho livre, um fio de luz revelou espaço suficientemente livre de
detritos para que levasse Dez para o anel de atracação.
Dez tentou atravessar sozinho, mas os seus movimentos ainda eram
lentos, descoordenados. Cohmac teve que ajudá-lo a cada centímetro do
caminho, praticamente arrastando-o no final. O que os Drengir fizeram com
ele? Quais efeitos tóxicos tinham os seus venenos? Dez estava se
recuperando ou havia uma substância de ação mais lenta percorrendo
através de seu sistema, destruindo-o?
— Chegamos, viu? — Cohmac ajustou Dez para que ele pudesse olhar
para frente, para dentro da entrada da Embarcação. — De volta onde
pertencemos.
— Os Drengir…
— Não, não. — disse Cohmac, esperando que Dez pudesse realmente
entender. — Eles já se foram. Não podem mais te ferir.
Enquanto Cohmac os empurrava em direção à câmara de
descompressão da Embarcação, uma grande sombra a distância, mais
escura que as outras sombras, chamou a atenção de Cohmac por apenas um
instante. Em seguida, não conseguiu ver mais nada lá. Mas se parecia com...
Não podia ser...
— Geode? — murmurou Cohmac.

O cheiro de fumaça se impregnou em Affie. Parecia ter se fixado em suas


roupas, em seu cabelo, até em sua pele. Ansiava por aquela banheira
incrível no luxuoso quarto de hotel da Scover em Coruscant...
Para Affie, isso estava muito perto de desejar a aprovação da Scover.
Não conseguia pensar nisso enquanto rastejava de volta para o centro da
estação Amaxine. A sua lealdade à Scover não poderia coexistir com o seu
desejo de eliminar as práticas ilegais que aparentemente formavam uma
parte tão grande da prosperidade da Guilda Byne. O amor por sua mãe
adotiva estava em guerra contra o amor por sua mãe biológica que havia
perdido há tanto tempo.
Ela verá como é melhor trabalhar sem isso, Affie pensou enquanto
rastejava. Ficará mais feliz sabendo que os seus pilotos estão seguros. Não
vou ter que convencê-la, apenas mostrar as minhas provas e ela recuará.
Isso vai ensiná-la uma lição da melhor maneira possível.
O próximo local da lista de locais de pesquisa de Affie estava a matriz
gravitacional da estação. Estava localizada no alto, perto do topo da esfera.
Em vez de rastejar, era hora de escalar.
Quando encontrou o tubo de acesso que conduzia pra cima, o seu
coração apertou. Era estreito e mostrava mais marcas de tempo do que a
maioria das outras áreas da estação; apenas com o feixe de seu bastão
luminoso, podia ver vários lugares onde os painéis estavam faltando,
expondo os fios. Não havia outra iluminação no tubo, o que significa que
teria que fazer o caminho pra cima no escuro. E as trepadeiras haviam
crescido através dos buracos e fendas nas paredes, se enrolando em torno
dos degraus da escada do tubo. Isso deixaria escorregadio, mas Affie disse a
si mesma que o tubo era estreito demais para ela cair. Pelo menos os 8-Ts
estavam ocupados.
Começou a tomar o seu caminho para cima, com o bastão luminoso
amarrado ao cinto de utilidades de forma que o feixe apontasse para cima;
em vez de iluminar o caminho, ele oscilava pra trás e pra frente, lançando
sombras estranhas e oscilantes. As trepadeiras na escada eram ainda mais
complicadas de contornar do que ela havia pensado, porque a menor
pressão liberava seiva escorregadia pelos degraus e pelas palmas das suas
mãos.
E então entendeu que não importava o quão estreito era o túnel, ainda
poderia despencar todo o caminho pra baixo. Era mais provável quebrar um
osso ao longo do caminho.
Continue, disse a si mesma, ignorando o tremor em seus músculos
enquanto subia ainda mais. Você tem que continuar...
— Affie!
A voz ecoante a assustou tanto que ela quase se soltou. Xingando
baixinho, Affie se firmou e apontou o brilho da bastão luminoso para baixo.
— Leox, o que você está fazendo aqui?
Ele enfiou a cabeça pela escotilha de acesso, o que mostrou a ela apenas
o quão perigosamente alto ela estava.
— Tirando você desta estação imediatamente.
— Eu não acabei.
— Não importa mais. Veja, os Drengir querem esta estação. Os Nihil
querem esta estação. Assim que descobrirem sobre isso, o meu palpite é que
a República também vai querer esta estação, e se não, eles vão explodi-la
em pedacinhos. Independentemente disso, este lugar não é mais território da
Guilda Byne. Mesmo se a República a deixar intacta, não há como a Scover
continuar usando. Com ou sem código, nenhum outro piloto será forçado a
passar por aqui, nunca mais.
Isso deveria ter feito Affie se sentir melhor, mas não fez.
— Isso não é o suficiente.
— Por quê?
Ela ignorou.
— Eu tenho que continuar.
— Você não está mais tentando salvar os outros pilotos. — disse Leox.
— Se fosse só sobre isso, já teria começado a descer essa escada. O que que
você está tentando fazer é salvar a alma de Scover. Esse não é o seu
trabalho, Affie. Somente a própria Scover pode fazer isso.
Affie encostou a cabeça no degrau mais próximo da escada. As mãos
dela coçavam; a seiva tinha irritado a sua pele. Leox não estava errado
sobre os seus motivos, ela podia ver isso, mas voltar ainda parecia tão
errado.
— Affie, por favor. — A súplica crua na voz de Leox a atingiu. — A
sua vida não vale nem um pouco menos que a dela. E se me perguntar, vale
muito mais. Então vai voltar e descer daí?
Ela resistiu por mais um momento, imaginando os seus pais perdidos
neste mesmo tubo. Se tivessem uma saída, eles a escolheriam. Teriam
desejado que estivesse segura.
Não era por Leox, nem por ela mesma, mas era pelos seus pais que
Affie finalmente começou a descer em direção à segurança.
O reconhecimento ao redor da estação apenas obscureceu a visão de Orla
sobre as suas chances. Não viu nenhuma área estratégica que os daria uma
vantagem sobre os Nihil. Demorou apenas algumas varreduras para
confirmar a enorme escala da nave Nihil; a Embarcação não teria chance
em uma batalha espacial contra ela. Eles literalmente não tinham outra
opção a não ser fugir e torcer para não serem vistos, e com o acesso à
Embarcação tão limitado e perigoso, não tinha certeza se teriam a chance
de fugir. E onde droga estava a Affie?
Você precisa de mais tempo, disse a si mesma. Então tem que ganhar
tempo, de alguma forma.
A melhor maneira de ganhar tempo de um inimigo geralmente era criar
um distração, fazendo uma bagunça tão grande que os Nihil se manteriam
ocupados limpando-a enquanto a Embarcação escapava da estação
Amaxine.
Exatamente quanto mais bagunça consigo fazer? O lugar já está em
chamas.
Então uma ideia atingiu Orla. Eu pego a bagunça que já limpamos e a
bagunço tudo de novo.
Se os Jedi tiveram tantos problemas lutando contra os Drengir e contra
os Nihil, Orla mal podia imaginar os problemas que eles teriam lutando
entre si.
Às vezes reprimir a escuridão só a tornava mais forte. Às vezes você
tinha que libertá-la.
C orrendo através do amplo anel da câmara de descompressão
da estação Amaxine, Reath pensou: Eu realmente voltei para este
lugar por vontade própria? Eu desafiei ordens para fazer isso? Talvez o
pólen de Drengir distorça as mentes.
Assim que finalmente chegou a algumas dezenas de metros da
Embarcação sem encontrar mais nenhum Nihil, ele se sentiu encorajado.
Melhor ainda foi quando teve um relance de algo branco movendo-se entre
as colunas sombrias de metal: as óbvias vestes de Orla Jareni.
Ela parecia igualmente aliviada em vê-lo.
— Graças à Força. Pensei que os Nihil poderiam ter alcançado você. —
disse Orla, colocando uma mão em seu ombro.
— Eles alcançaram. Na verdade, a Nan alcançou. Mas disse que porque
a devolvi para a sua frota, ela me daria uma chance. Então aqui estou.
— Pelo menos um deles tem senso de honra, então. — A expressão de
Orla era cética. — Mas não estou convencida de que isso seja um valor do
grupo como um todo.
— Nem eu. — disse Reath. Ele se lembrou da maneira como o dedo de
Nan permaneceu firme no gatilho do blaster; ela queria tanto matá-lo que o
deixar ir embora foi difícil. Seria um erro testar a “honra” dela novamente.
— Os Nihil querem usar esta estação como base de operações para invadir
toda esta área do espaço. A República tem que manter a estação Amaxine
como propriedade própria ou destruí-la.
— Eu cheguei na mesma conclusão. — disse Orla.
Reath tentou não se sentir desapontado por já ter chegado naquela
conclusão sem ele.
— Pelo menos já cuidamos dos Drengir.
— Sobre isso... — Orla estremeceu. — Estamos prestes a libertar os
Drengir novamente.
— Espere, o quê? Por quê? — Mas Reath imediatamente percebeu a
única razão que jamais estaria sob consideração. — Não há outra maneira
de escapar da estação sem os Nihil nos ver?
Ela balançou a cabeça.
— Sem chance. Temos que distraí-los em uma escala que fará com que
cada guerreiro daquela enorme nave corra pela estação pra lutar. Caso
contrário, vão nos explodir em pedaços assim que sairmos da câmara de
descompressão.
Reath não conseguiu conter um arrepio ao pensar em enfrentar os
Drengir novamente. Desta vez, pelo menos, não estaria com a mesma
desvantagem: preso em um mundo que não é seu, tentando proteger alguém
ferido e incapaz de se defender. Tudo o que tinham que fazer era evitar
serem mortos tempo o suficiente para os Drengir e os Nihil se colidirem uns
com os outros, ao ponto de os Jedi caírem na lista de prioridade dos
inimigos.
Mas evitar serem mortos por tanto tempo, com ambos os grupos os
caçando, não seria fácil. Mais do que isso, uma sensação de pavor estava
rastejando nas bordas da consciência de Reath. O perigo estava à frente e de
uma forma que ainda não tinham reconhecido totalmente.
— Você viu o Cohmac? — perguntou Orla. — Ele foi atrás de você...
— Ele me encontrou com Dez. — O espanto e a alegria no rosto de Orla
apagaram as preocupações de Reath, pelo menos naquele momento. — Há
uma área de transporte abaixo da estação, razão pela qual os Nihil e os
Drengir estão tão interessados aqui, pra começar. Dez foi acidentalmente
enviado ao planeta natal dos Drengir, ou pelo menos talvez fosse o planeta
natal deles; havia muitos deles lá, estava gravemente ferido e tenho certeza
de que o interrogaram severamente. — Que palavras simples para descrever
um pesadelo. Reath continuou: — De qualquer forma, Cohmac levou Dez
de volta à Embarcação. Você precisa dele para ajudar a remover o barreira
da Força?
— Dez precisa de mais ajuda agora e já estamos aqui. Então vamos ver
se nós dois conseguimos lidar com isso. — disse Orla. Ela parecia mais
confiante do que suspeitava que ela se sentia (certamente mais confiante do
que ele se sentia). Ela já estava guardando o seu sabre, se preparando para a
jornada de volta ao jardim botânico.
— Você está pronto, Reath?
Percebeu, então, o que ela realmente estava pedindo a ele: ir com ela
para o coração da tempestade.
— Sim. — respondeu ele. — Vamos lá.

As mãos de Affie continuaram a ficar vermelhas e arder enquanto ela e


Leox avançavam de volta para a Embarcação.
— Acho que a seiva é tóxica para os humanos. — disse ela.
— Acho que pode estar certa. Com sorte, algum tipo de bálsamo ou
unguento a bordo da nave pode ajudar. Até lá, vamos continuar andando.
Leox continuou a apressando, como se achasse que ela continuava
querendo voltar. Isso irritou Affie, embora não estivesse totalmente errado.
Ela não ia voltar; apenas desejava que pudesse.
Acho que vou ter que falar com a Scover sobre isso
diretamente, pensou. Fazer explicar exatamente o que estava pensando e
ver se ela realmente entende o quão errada está.
Caso ela não... Não. Affie nem iria imaginar isso. A Scover iria
entender. Ela precisava.
Os dois chegaram ao corredor que circundava o jardim botânico. De
longe, conseguia ouvir estrondos e passos marchando os quais só podiam
ser os Nihil. Ficou tensa ao ouvir passos mais perto.
— Mas que mer... — Leox parou e colocou as mãos nos quadris. — Não
esperava encontrar nenhum amigo ali.
Affie olhou à frente e avistou dois dos Jedi vindo em sua direção através
das sombras: Orla Jareni em suas vestes brancas, que de alguma forma
continuava impecável, e um Reath Silas desleixado. Provavelmente Affie
não parecia tão bem também.
Orla ignorou as palavras amigáveis de Leox.
— Vocês dois precisam voltar pra Embarcação imediatamente.
Preparem-se para sair em dez minutos. Se não conseguirmos voltar, devem
partir sem nós.
— Ei, ei, ei. — Leox ergueu as duas mãos. — Que papo é esse? Não
pretendo deixar ninguém para trás. É o tipo de coisa que pega mal pra um
piloto comercial.
Isso o rendeu um meio sorriso de Orla.
— A única maneira de distrair os Nihil por tempo suficiente pra
escaparmos da estação é libertar os Drengir.
Reath gesticulou em direção às árvores que mudaram de localização.
— Era isso que era mantido aqui preso pelos ídolos. Mas temos que
libertá-los novamente, para distrair os Nihil.
— Se libertarem esses Drengir, teremos dois grupos tentando nos matar
em vez de apenas um. — disse Affie.
— A esperança é que estejam muito ocupados tentando matar uns aos
outros. — disse Reath.
— Como sabem que não vão juntar forças para se voltarem contra nós?
— exigiu ela. Ninguém teve uma resposta imediata para isso, o que
confirmou as piores suspeitas de Affie: os Jedi ainda estavam planejando
enquanto avançavam.
Veja pelo lado bom, ela disse a si mesma. Se você morrer, não precisa
confrontar a Scover.

Orla conseguiu enviar Leox e Affie de volta à nave antes que a garota
fizesse mais perguntas incômodas. Manter o foco era mais fácil quando não
tinha que pensar em todas as coisas que poderiam dar errado.
Em muitas, muitas coisas.
Ela e Reath voltaram para o jardim botânico. As sombras dos Drengir
petrificados a gelou, mas o mais irritante de longe era o puro poder
pulsando pela sala, cruzando os ídolos, um poder que reverberava em seu
corpo. Mesmo que Orla tenha ajudado a colocar a barreira no lugar, a
imensidão do que fizeram a atingiu novamente.
— Não vai ser como abaixar uma cortina ou abrir um portão. —
murmurou Orla para Reath. — Não vai ser um impacto suave, como antes.
A barreira recriada é nova. Mais vital. Quando a barreira cair, a reação será
intensa.
— Também sinto isso. — Reath se preparou.
Ela assentiu.
— Basta seguir os meus passos.
Orla conectou os seus sentimentos a Força, fazendo contato com o
limite da barreira. A tensão lá era quase consciente, consciente do seu dever
de manter os Drengir presos.
Você não é necessário mais, projetou para o redemoinho de energia.
Você fez bem. Mas agora você fará melhor os deixando ir.
Ao seu lado, Orla podia sentir Reath fazendo algo muito semelhante,
alcançando o campo do seu próprio jeito, persuadindo-o a liberar. Mas o
campo era teimoso, agarrando-se cada vez mais forte enquanto eles
puxavam contra ele.
Orla redobrou os seus esforços. Os seus braços tremeram quando os
estendeu, fisicamente se esforçando para puxar de volta os poderes que
haviam libertado. Sentiu que a barreira não estava cedendo, mas se
expandindo, chegando cada vez mais perto, até que a eletricidade estática
correu ao longo de sua pele e deixou os seus cabelos em pé. Faíscas voaram
pelo ar e por um instantese perguntou se iriam conseguir apenas paralisar a
si próprios também, prendendo-os com os Drengir.
Então eles o perderam. O controle que tinham sobre o campo de energia
escapou, deixando os dois respirando com dificuldade.
— Chegamos perto. — disse Reath. — Se tentarmos novamente...
— Não. — Orla balançou a cabeça. — Duas pessoas não são
suficientes. — Com isso se ajoelhou em meio aos escombros no chão da
estação e pegou um blaster.
Reath franziu a testa.
— O que você vai fazer?
— Profanar a história. — disse Orla. — Me desculpe por isso.
Ela mirou diretamente no ídolo da rainha humana, bem entre os olhos
dourados dela e disparou.

O campo é tecido pelos ídolos, Reath estava pensando. Destrua um dos


ídolos e você destruirá...
Uma onda de energia atingiu Reath como um tsunami, jogando-o de
costas no chão, deslizando por mais de um metro. A carga elétrica
tensionou todos os músculos de seu corpo e o fez morder a língua forte o
suficiente para sentir o gosto de sangue.
E os Drengir estavam livres.
Os Drengir ficaram ali, recuados, aparentemente atingidos pela mesma
carga que derrubou os Jedi. Levariam mais um ou dois segundos para
descobrirem que estavam livres novamente. Isso deu aos Jedi alguns
segundos para fugir. Orla parecia atordoada, talvez semiconsciente,
enquanto lutava pra se levantar. Engatinhou até ela e a puxou por suas
vestes brancas.
— Levante-se. Temos que ir, agora.
Enquanto ela se recuperava, os Drengir também se recuperavam. As
mãos semelhantes à folhagem apontadas na direção deles enquanto Reath e
Orla se levantavam, já era hora de correr.
Correr sobre o chão do jardim botânico era como atravessar um terreno
rochoso, coberto com trepadeiras, detritos e os restos de droides 8-T
destruídos na explosão. Teria sido difícil fazer tudo isso rápido mesmo que
Reath não estivesse se sentindo enjoado e tonto com o impacto do colapso
da barreira de energia.
Atrás deles, ouviu o estranho farfalhar que devia ser o som dos Drengir
correndo. O que quer que fosse, estava ficando mais alto. E mais perto.
À sua frente estava a entrada do anel equatorial, que não estava mais
vazio, mas cheio de roupas escuras, máscara de respiração e guerreiros de
listras azuis.
Pela primeira e última vez, Reath ficou aliviado ao ver os Nihil.
Um dos Nihil lançou um míssil de gás, provavelmente com a intenção
de acertar os Jedi. Mas tanto Orla quanto Reath se esquivaram com
facilidade enquanto respiravam fundo. Os Jedi podiam ficar mais tempo
sem respirar do que um ser senciente comum; e essa vantagem deu a chance
de colocar uma distância entre eles e o gás tóxico.
Em vez disso, o gás detonou bem no centro dos Drengir.
E eles não se intimidaram nem um pouco.
As armas a gás só funcionavam contra os seres que respiravam os
mesmos gases. Isso não incluía plantas.
A risada assustadora e sussurrante dos Drengir ficou mais alta enquanto
saltavam a frente, passando direto por Orla e Reath, para atacar o novo
inimigo. Parece que os Drengir não só acordaram com fome, Reath pensou
enquanto ele continuava correndo. Eles acordaram prontos pra uma luta.
Por uma fração de segundo, os Nihil hesitaram. Esse segundo foi longo
o suficiente para Reath reconhecer que eram invasores, não guerreiros, e a
coragem deles vacilou em um conflito em que não havia lucro. Mas todos
os seres vivos vão lutar por suas vidas.
Os Nihil sacaram as armas e começaram a atirar. Luzes brilhantes dos
tiros dos blasters cintilavam na escuridão enquanto Orla e Reath
continuavam correndo em direção à Embarcação.
Temos que sair daqui, Reath pensou. Então... Vamos deixar essa estação
para os Nihil ou para os Drengir?
Não podemos fazer isso.
Não importa o que aconteça.

Voltar à Embarcação já parecia ser uma rendição. O humor de Affie


despencou ainda mais quando ela e Leox alcançaram o anel da câmara de
descompressão e encontraram o caminho quase completamente bloqueado
por destroços fumegantes. O ar ainda coberto por cinzas. Ela gemeu.
— Eu fiz isso?
— Basicamente. — Então Leox parou ao lado dela e estudou os
destroços mais cuidadosamente. — Espere. Talvez você não tenha feito
isso.
O cenário ao redor deles era obviamente o resultado do explosivo que
tinha jogado, então a reação de Leox a pegou desprevenida.
— O que quer dizer? — perguntou ela.
— Tudo foi movido. Mais detritos foram transferidos pra esta área.
Isso não fazia sentido.
— Quem faria isso? — perguntou Affie. — Com todas as coisas
acontecendo nesta estação, quem tem tempo para reorganizar os destroços?
Leox pegou uma das vigas menores e jogou-a de lado. No espaço
recém-liberado, Affie ficou surpresa ao ver trepadeiras crescendo, grossas,
pegajosas e espinhosas como cactos. Pelo menos meia dúzia de trepadeiras
se espalhava ao longo do chão inteiro.
— Elas cresceram tanto assim nos últimos minutos? Como é isso é
possível?
— Não temos a menor ideia do que os Drengir podem fazer agora que
foram libertados. — Leox cruzou os braços sobre o peito. — Parece que as
trepadeiras estão se espalhando para toda a estação à medida que crescem.
Nada promissor.
Ele tinha um dom para o eufemismo. Fazendo careta para as trepadeiras
torcidas, Affie disse:
— Vamos só entrar na nave antes que as trepadeiras entrem.
— Podemos estar atrasados demais.
Pensou que Leox estava sendo fatalista até que caminharam em direção
à câmara de descompressão, com trepadeiras sob os seus pés todo o
caminho, e então subindo ao longo das paredes da própria câmara de
descompressão, com caules entrando em cada abertura e fenda. Affie correu
para a Embarcação e suspirou de alívio ao ver que as plantas não haviam
crescido a bordo. Esse alívio durou apenas o tempo que ela levou para
chegar à cabine, onde viu as trepadeiras grossas alcançando toda a frente da
nave. Leox se sentou no assento do piloto e começou a verificar os
sensores.
— Droga, eu falei pro Geode ficar por perto.
— O que ele poderia ter feito? — Affie gesticulou em direção às
trepadeiras.
— Nada. Só queria que estivesse aqui, em vez de se aventurar na
estação, ele nunca sabe quando se afastar de uma briga. — Leox desabou
em sua cadeira. — As trepadeiras estão cobrindo a nave toda. Os Drengir
nos amarraram bem apertado.
Affie tentou imaginar como as trepadeiras poderiam viver no frio de
espaço. Provavelmente não teriam que sobreviver por muito tempo.
Trepadeiras mortas podem prender a Embarcação quase tão forte quanto as
vivas.
— Sinalize para os Jedi. — disse Leox. — Avise-os que temos mais um
probleminha para lidar.
Calmamente, ela perguntou:
— Como vamos sair daqui?
Leox respondeu no mesmo tom de voz.
— Explodindo tudo no caminho ou morrer tentando.

Mesmo falando baixo, eles ainda eram audíveis para Cohmac, que estava
parado não muito longe da entrada da cabine. Pretendia falar com eles sobre
o Dez, obter mais informações sobre o que estava acontecendo dentro da
estação, antes de retornar para lutar ao lado de Orla e Reath. Em vez disso,
ele se virou e saiu correndo pra fora da nave, de volta ao anel de atracação.
O que acontecer entre os Nihil e os Drengir a esta altura não é mais a
nossa preocupação mais urgente, ele raciocinou enquanto saltava sobre as
trepadeiras ao longo do convés. Somos responsáveis pelas vidas da
tripulação da Embarcação, e a de Dez Rydan. Quaisquer outras
complicações podem ser tratadas mais tarde.
Agora, devemos escapar.
O seu caminho através dos escombros espalhados pela estação o levou
mais perto do jardim botânico, onde uma batalha estava acontecendo. Antes
mesmo que pudesse procurar por Orla e Reath através da Força, eles
surgiram de uma das passagens, cheirando levemente a produtos químicos
tóxicos. Os comunicadores deles estavam piscando em seus cintos, sem
dúvida com o aviso de Affie sobre as trepadeiras.
No entanto, foram capazes de ver o problema por si próprio.
— O que foi agora? — perguntou Orla. — É algum tipo de... Drengir
gigante?
— Não tenho certeza. — disse Cohmac enquanto Reath chutava uma
das trepadeiras. — Sem dúvida, os Drengir criaram as trepadeiras; isso é
tudo que sabemos. As trepadeiras já começaram a prender a Embarcação.
Temos que partir imediatamente.
Orla acompanhou os passos de Cohmac enquanto voltavam correndo.
— A boa notícia é que os Drengir e os Nihil estão se mantendo
ocupados. Se conseguirmos fugir, não acho que tenhamos que nos
preocupar em ser perseguidos. Como está o Dez?
— Quase delirante. — respondeu Cohmac. A sua mente estava só pela
metade no presente momento em que tentava considerar as maneiras de
danificar as trepadeiras.
Razão pela qual não percebeu que estava faltando alguém no grupo até
que já estavam embarcando na Embarcação.
Orla percebeu isso naquele mesmo momento.
— Espere... Onde está o Reath?

Reath se desviou dos outros depois em apenas alguns metros.


Ele observou Cohmac e Orla irem, querendo ficar pra trás e ter total
certeza de que os eventos estavam ocorrendo da maneira que deveriam. Se
alguma coisa fosse dar errado com o plano, ele e os seus amigos
precisariam saber logo. Mas mesmo que tudo desse certo, Reath tinha um
trabalho importante a fazer.
Esta estação não poderia ser deixada para os Nihil e os Drengir
disputarem. A estação tinha dado aos Amaxines uma vantagem tática,
milênios antes; ela permanecia capaz de causar muitos danos. Talvez a
República pudesse reivindicá-la, mas a República não estava vindo para
esta área da galáxia para a conquistar com um ataque surpresa.
Estaríamos apenas mantendo-a para evitar que os Drengir ou os Nihil a
controlasse, Reath pensou. Ambos os grupos vão querê-la de volta. Isso vai
gerar conflitos desnecessários, custar vidas e pra quê?
Se a estação não pudesse ser mantida em segurança, precisava ser
destruída.
Não literalmente, pelo menos não agora: Reath não estava carregando
nada com o poder de fogo necessário para isso. A Embarcação também
não. Mas ele não precisava demolir a estação Amaxine para acabar com a
capacidade estratégica do local.
Tudo o que precisava fazer era lançar todos os pods de hiperespaço de
uma vez, vazios e de preferência em locais no meio do espaço vazio.
Sem dúvida, se tivesse falado de seu plano, Orla ou Mestre Cohmac
teriam insistido em realizar a tarefa no lugar. Reath não queria mais
ninguém correndo o risco.
— Os controles vão estar lá embaixo. — murmurou Reath enquanto se
encaminhava para o globo central. — Não estou ansioso pra passar por esse
túnel novamente.
A sua segunda descida pelo túnel foi tão monótona quanto a primeira,
embora o seu senso de suspense tenha ido de um grau bem alto para quase
insuportável. Quando se tornasse um Jedi completo, talvez pudesse entrar
em um transe meditativo em momentos assim. Mas não tinha chegado lá
ainda.
Quando encontrou os controles novamente, colocou a mão sobre eles;
eles se levantaram. Foi preciso um pouco de experimentação e muita fé na
Força para trazer à tona os holos de localização, mas Reath finalmente os
fez funcionar, com os minúsculos círculos de luz pairando no ar. A
linguagem e os sistemas de notação eram muito antigos... Mas não eram
desconhecidos para quem fez vários estudos sobre os antigos Amaxines.
Pesquisas, ele pensou com um vislumbre de satisfação. Não zombe
delas.
Reath mudou as coordenadas para cada um dos pods em uma medida
que deveria colocá-los perto, mas não dentro, de qualquer planeta ao qual
tenham ido anteriormente, mesmo para os maiores planetas habitados
conhecidos pela ciência. Estações espaciais e tráfego espacial mais
próximos também seriam seguros. Uma ou duas luas distantes podem ser
atingidas, mas era muito mais provável que os pods simplesmente
aparecessem no espaço vazio e flutuassem por lá até serem esmagados por
asteroides aleatórios ou recolhidos para sucata.
Assim que as coordenadas foram colocadas, pressionou o controle
central. Instantaneamente, todo o anel inferior começou a vibrar, aquele
poder que havia sacudido pela estação quando ele e Dez partiram, mas
exponencialmente maior. Reath foi quase atirado ao chão, mas estendeu as
mãos, mantendo o equilíbrio enquanto os pods voavam para os cantos mais
distantes da galáxia. O trabalho dos Amaxines foi desfeito.
Era um pouco triste estragar a peça de uma máquina antiga que
funcionou tão bem por tanto tempo. Mas quando Reath ouviu o conflito
contínuo dos Nihil e dos Drengir lá em cima, pensou: Nada pode durar pra
sempre.
Escalou pra cima e foi para o o túnel, estremecendo ao perceber como a
luta havia chegado mais perto. Eles permaneceram alheios a ele até agora, e
alheios à perda dos pods. Mas Reath não tinha uma rota clara para o anel
externo da a estação, para a Embarcação ou para escapar.
Então o seu comunicador tocou. Confiando no barulho da batalha para
cobrir o som, ele o levou ao ouvido e ouviu Leox:
— Eu perguntaria o que droga você está fazendo, mas acho que tem
algo a ver com os pods que acabei de ver sendo lançados da estação.
— Bom palpite. — disse Reath. — Escute, o meu caminho de volta está
bloqueado agora. Vou tentar chegar até vocês, mas se não conseguir, confio
em vocês para irem embora a tempo de se salvarem.
— Sacrifícios nobres não têm nenhuma utilidade atualmente. Não
podemos partir. Os Drengir amarraram a Embarcação, literalmente.
Enviaram trepadeiras para nos prender à estação. Vamos tentar nos
libertar, mas precisamos ir o mais rápido possível, as trepadeiras ainda
estão crescendo.
— O quê? — Reath nunca tinha considerado que os outros não seriam
capazes de lidar com as trepadeiras por conta própria. Eram apenas
trepadeiras, não eram? Mas quando pensou sobre o quão longas e grossas as
raízes teriam que ser para estarem enterradas através da própria estação,
percebeu que a nave poderia estar presa também.
— Existe alguma maneira de detê-los?
— Não que eu saiba, além de força bruta. Se a força bruta deve servir
de algum proveito, precisa ser usada imediatamente. Esta é a melhor
chance que teremos.
Não era uma grande chance. Reath percebeu isso na voz de Leox.
Se a Embarcação fosse fugir, as pessoas a bordo precisariam de tempo
para cortar as amarras. Tempo em que nem os Nihil nem os Drengir
pudessem atacá-los. A batalha atual estava distraindo os seus inimigos, mas
por quanto tempo?
Ele pensou em Dez, ferido e indefeso, nos outros Jedi na missão que
tentaram liderá-lo na ausência de Mestra Jora, e na tripulação da
Embarcação, que de alguma forma se tornaram seus amigos. Eles estavam
todos em perigo, todos agarrando a última chance de sobreviver.
A voz de Mestra Jora ecoou em sua mente novamente. Por que nenhum
Jedi pode cruzar o Arco Kyber sozinho? E, finalmente, Reath sabia a
resposta.
Reath tinha que salvar os seus amigos se pudesse.
Mesmo que isso custasse a sua própria vida.
— Se superarmos isso, pelo menos as coisas serão melhores de agora em
diante. — disse Cassel para Thandeka.
Thandeka, estava distraída por seus pulsos inchados e feridos e os
murmúrios raivosos dos guardas perto de Isamer, levou um momento para
processar o que ele disse.
— O que quer dizer? Que coisas?
O seu rosto corou em azul escuro novamente.
— Quero dizer entre Eiram e E'ronoh. Nós poderemos parar toda essa
briga boba e sermos aliados. Amigos, até.
Houve disputas mais substantivas entre os dois planetas; isto não era
apenas uma questão de “briga boba”. E amizade levava tempo. Mas
Thandeka também viu a oportunidade.
— Vamos abrir relações diplomáticas. Permitir algumas viagens de ida e
volta.
Cassel parecia mais alegre do que Thandeka já tinha visto.
— Ah, eu amo eventos diplomáticos. Vestir a estola e os trajes e tudo
mais.
Thandeka não conseguiu deixar de sorrir para ele.
— Tenho que admitir, a Dima adora qualquer oportunidade de usarmos
as joias da coroa. Às vezes nós brigamos pelas melhores tiaras.
— Esplêndido, esplêndido. — Cassel acenou com a cabeça como se
tudo já estivesse acertado. — É bom ter algo pelo qual ansiar, não é?
Thandeka não tinha certeza se acreditava que eles sobreviveriam. Mas
os Jedi estavam vindo, e não havia por que não ter esperança.
— Sim. É bom, mesmo.

Orla rastejou para mais perto da entrada da caverna. A essa altura, ela e os
outros podiam ouvir movimentos e murmúrios. Eles tinham uma passagem
livre direto para a câmara onde os reféns estavam presos. Mestra Laret, logo
à frente de Orla e Cohmac, manteve-se em posição de batalha, esperando a
oportunidade certa.
O treinamento tático indicava claramente que o momento ideal para a
ação aconteceria quando os sons estivessem mais distantes da entrada, e que
deveriam entrar rapidamente, procurar imediatamente os reféns e os
sequestradores, primeiro proteger os reféns e depois ir atrás dos
sequestradores. O seus sabres de luz forneciam uma cobertura que lhes
permitia defender primeiro, então atacar.
No entanto, todos os instintos de Orla estavam dizendo a ela: Encontre
os sequestradores e prenda eles primeiro.
Mas o treinamento tático existia por uma razão. Ela decidiu não ignorá-
lo.
Passos pesados se afastaram da porta. Mestra Laret mudou a posição
sutilmente, porém o suficiente para dizer aos aprendizes que o momento
estava próximo. A ordem foi silenciosa, mas Orla ouviu com tanta certeza
como se sua Mestra tivesse gritado:
Vão.
Todos os três irromperam pela entrada da caverna ao mesmo tempo. Os
instintos de Orla eram tão fortes que pareciam quase dirigir a sua lâmina,
mas se segurou, mantendo a formação enquanto se moviam para cercar e
proteger os reféns.
Um Lasat alto e fortemente armado saltou pra frente, mas não dos Jedi.
A maioria das espécies não poderia ter saltado sobre dois humanos e uma
Umbarana em um único pulo, mas um Lasat poderia, e este fez. Orla
percebeu o que estava acontecendo tarde demais para pular e bloqueá-lo,
apenas com tempo de pensar: Não tem nada entre ele e os reféns.

Thandeka gritou quando o blaster de Isamer apontou diretamente pra ela.


Foi a primeira e única vez que gritou durante o sequestro, e apesar do terror
mortal, odiava ter cedido, mesmo que na última fração de segundo de sua
vida.
Então Cassel caiu em direção a ela, não sendo capaz de cobrir o corpo
dela completamente, mas o suficiente. O seu rosto azul estava a apenas
alguns centímetros do dela. Os olhos deles se encontraram.
O blaster disparou, ensurdecendo e cegando-a como se fosse o fim do
mundo.

A Mestra Laret girou, cortando com o seu sabre de luz através do Lasat
meio instante depois que ele disparou. As duas metades, cauterizadas,
caíram para no chão, e então não houve nenhum som. Tudo acabou em um
minuto. Orla olhou para os destroços diante deles, as paredes fumegantes e
rachadas, os cadáveres no chão, baleados por seus próprios blasters. Como
isso poderia ter terminado tão rápido?
O próximo som que ouviu foi um choro.
Orla se virou para ver o Monarca Cassel caído no chão, com o seu
manto ainda fumegante da queima do blaster. Ele estava muito perto da
morte. A Rainha Thandeka se ajoelhou ao lado dele, as lágrimas escorrendo
pelo rosto.
— Você me cobriu. — Thandeka conseguiu dizer para Cassel. — Você
me protegeu. Por quê?
— Para... Para que você pudesse ir pra casa, para a sua rainha. — Cassel
sorriu fracamente. — Para convidar o... Próximo monarca, para...
A sua voz sumiu. Seus olhos ficaram vazios. Cassel estava morto.
A rainha se inclinou, apoiando a testa no ombro de Cassel, e se rendeu
às lágrimas.
— Ele deu a vida dele pela minha.
— Então morreu nobremente. — disse a Mestra Laret, colocando uma
mão nas costa da Rainha Thandeka. — Ele será lembrado.
Os instintos de Orla disseram pra ir atrás de Isamer imediatamente. Por
que não os ouviu?
Porque não é isso que a Ordem Jedi diz pra fazer, ela se lembrou.
Muitos anos se passariam antes que ela processasse totalmente aquele
momento e percebesse que se a Ordem estava dizendo a ela pra ignorar a
Força... Não era o Força que estava errada.

Cohmac observou a Rainha Thandeka com uma emoção tão estranha que
levou alguns segundos para reconhecer que era inveja.
Ela poderia chorar por sua perda. Ele não conseguia nem reconhecer a
sua.
Mestre Simmix teria me dito para enterrar a dor, Cohmac disse a si
mesmo. Não há lugar pra isso em um Jedi. Não há lugar pra isso em você.
Então enterrou tão profundamente quanto uma mina.
Uma que poderia demorar anos para explodir.

Poucos dias depois, e meia galáxia de distância, a notícia do fracasso do


Diretório alcançou aos Hutts. Os relatórios indicaram que não apenas o
Lorde Isamer foi morto, mas as informações coletadas no covil dos
sequestradores permitiram que as autoridades pudessem rastrear e prender
quase todos os principais oficiais em toda a organização. O Diretório se foi.
O que era exatamente o que os Hutts esperavam.
Eles haviam feito uma missão tola. Lançaram uma armadilha. O
Diretório foi tolo o suficiente para entrar nela de bom grado. Agora o único
grande sindicato criminoso naquela área do espaço não existia mais.
Então quando os Hutts decidissem se mudar, seja um ano depois, ou
vinte e cinco, nada ficaria no caminho deles.
R eath precisava ganhar tempo para os outros. Mas como?
Desesperadamente olhou ao redor da cena caótica que o cercava no
globo central da estação. Demorou apenas um momento para encontrar uma
possibilidade.
Como tinha notado antes, havia uma câmara de descompressão maior e
de formato irregular com a lateral aberta diretamente para a área do jardim
botânico. Podia ver os controles a apenas alguns metros de distância.
Rastejou para verificá-los. Todos os sinais sugeriam que estavam totalmente
operacionais.
O que ele estava prestes a fazer poderia matá-lo. Mas era a única
maneira de eliminar as ameaças dos Drengir e dos Nihil à Embarcação de
uma só vez.
Além disso, talvez realmente conseguisse. Expire, ele lembrou a si
mesmo. Expire e aguente firme com todas as suas forças. Essa é a sua
única chance.
Com isso, Reath eliminou o temporizador, agarrou uma escada de
serviço próxima, expirou com força e clicou em VENTILAÇÃO.
A câmara de descompressão se abriu, expondo o jardim botânico ao
vazio do espaço. Normalmente, o temporizador teria mantido o campo de
contenção magnética no lugar tempo suficiente para qualquer um no local
escapar; desta vez, tinha desaparecido imediatamente.
A energia explosiva agarrou tudo e todos no centro da estação: Nihil,
Drengir, droides, plantas, detritos, calor, ar. Gritos de desespero soaram no
primeiro instante; depois disso, não havia ar suficiente para o som se
propagar. Parecia que estava sendo golpeado por ventos fortes. Reath
agarrou-se à escada de serviço com todas as suas forças, mas parecia que
estava sendo arrastado pelos pés, pelos cotovelos, pelos cabelos, cada parte
do seu corpo. O espaço queria reivindicá-lo.

As trepadeiras saíam do jardim botânico aos pedaços. Paredes que haviam


sido cobertas com plantas por séculos ficaram completamente limpas. Os
corpos dos Nihil e dos Drengir passaram por ele rodando como um
catavento, com os membros girando no ar, armas ainda atirando, e Reath
lamentou ser obrigado a tirar tantas vidas. Mas estavam determinados a tirar
a vida de outras pessoas; e por causa disso os fez perderem o combate.
Cristais de gelo começaram a se formar em seus cabelos e roupas. Reath
manteve o seu peito achatado, com os pulmões sem ar, embora o esforço
fizesse as suas costelas doerem. Se inalasse e inspirasse qualquer parte do ar
restante, a falta de pressão exterior faria com que o gás se expandisse,
rompendo os seus pulmões. Espera aí, disse a si mesmo, espere, espere, as
portas vão se fechar em breve...
Mas não breve o suficiente. A escada começou a tremer; os parafusos
que a seguravam na parede começaram a ceder. Ela iria se rasgar a qualquer
momento.
Reath não estava com medo. Triste, mas sem medo. Se era assim que se
tornaria um com a Força novamente, que assim seja. Pelo menos ganhou
tempo para os seus amigos e uma chance de viverem. Isso era mais do que a
maioria das mortes conquistavam. Teve sorte que a sua morte teve um
significado. Ninguém poderia pedir nada além disso.
A sua mente se encheu com a memória do rosto gentil da Mestra Jora.
Nos uniremos na Força em breve, ele pensou.
A escada cedeu. Reath deslizou pelo chão, em direção à câmara de
descompressão e ao espaço aberto. Ele fechou os olhos contra o vazio...
E acertou algo muito sólido, muito forte.
— O que...
A dor ecoou por todo o corpo de Reath. Mas qualquer que fosse a
barreira que tivesse atingido, não estava cedendo ao vácuo; era forte demais
para isso. Ele abriu os olhos e descobriu que podia ver ao redor do canto da
coisa, que mostrava as portas da câmara de descompressão finalmente se
fechando.
O vácuo desapareceu. Reath caiu no chão procurando por ar. Os
controles ambientais da estação levaram mais alguns instantes para
restaurar o oxigênio. Naqueles segundos confusos, procurou o que o salvou.
Não, não o quê. Quem.
— Geode? — ofegou Reath.
Geode estava acima dele, tranquilizadoramente calmo e firme. E Reath
pode senti-lo agora, uma conexão com uma forma de vida profundamente
alien, e ainda assim claramente viva como qualquer ser que já havia
encontrado.
O comunicador de Reath tocou.
— O que aconteceu? — soou a voz de Affie. — As leituras que estamos
obtendo... Reath, você ainda está aí?
Ele conseguiu responder com uma voz rouca:
— Graças ao Geode, sim. Ainda aqui. Ainda estamos aqui. Mas os Nihil
e os Drengir já se foram.
— Você vai ter que explicar isso mais tarde. — disse Affie. — Espere.
Estamos indo pegar vocês.
Ele caiu de costas no chão e olhou para Geode.
— Meu herói.
Geode não respondeu, mas Reath sabia que ele entendeu.

As trepadeiras começaram a traçar o caminho através da cabine, sinalizando


o fechamento completo da Embarcação, quando os seus sensores
acenderam em vermelho. O pânico resultante da descompressão dentro da
estação distraiu a todos. Mas quando Orla e os outros finalmente souberam
que Reath estava seguro e a estação intacta, eles se viraram para ver que as
trepadeiras não apenas pararam de crescer, mas também começaram a ficar
pretas. Elas morreram junto com os Drengir.
Depois disso, fugir da estação Amaxine não seria tão difícil. Sim,
demoraram muito para cortar todas as trepadeiras grossas e pegajosas que
estavam mortas e que prendiam a Embarcação, mas tinham tempo pra
trabalhar, sem ter os Drengir ou Nihil para se preocupar.
(Pelo menos alguns dos Nihil sobreviveram; a nave deles permaneceu
operacional. Provavelmente a maioria dos sobreviventes estava a bordo
quando Reath explodiu a câmara de descompressão, ao invés da estação.
Mas não deve haver tantos deles, pois as varreduras indicaram que
fecharam a maioria das áreas de sua nave e estavam fazendo um balanço
dos danos. Orla não tinha dúvidas de que os Nihil iriam querer vingança por
isso algum dia, mas sabiam que era melhor não tentar nada naquele dia).
— A estação está completamente vazia? — perguntou Affie enquanto
Leox e Geode executavam as verificações finais dos sistemas. —
Quebrada? Inútil?
— Honestamente, a maior parte sobreviveu em bom estado. — disse
Orla, que havia acabado de completar uma pesquisa rápida para verificar as
coisas. — Várias plantas cresceram fora do jardim botânico. Imagino que
elas encontrarão o caminho de volta, com a ajuda dos Oitotês que estavam
nas seções externas da estação quando Reath explodiu a câmara. Todos os
principais sistemas estão intactos. No entanto, não tem pods de hiperespaço
mais, todos foram lançados longe de seus mecanismos de retorno, o que
significa que este lugar não tem mais valor tático. É apenas um jardim
botânico agora.
Affie assentiu. A menina por algum motivo parecia estranhamente
satisfeita com o abatimento da estação, mas Orla optou por não questionar.
Era o suficiente saber que todos estavam vivos (até o Dez!), todos mais ou
menos bem e capazes de ir pra casa.
E com mais vias do hiperespaço sendo limpa todos os dias, a Fronteira
não poderia escapar de Orla por muito mais tempo. O espaço aberto a
chamava e ela mal podia esperar para atender o convite.

Reath teve que pegar leve na viagem de volta a Coruscant. Os seus


ferimentos da manobra na ventilação foram pequenos, mas numerosos:
arranhões e cortes na pele por fragmentos de entulho, uma leve torção na
mão por agarrar a escada muito forte, além de hematomas e um olho roxo
da colisão que salvou sua vida com o Geode. Isso significa que foi
acomodado em seu beliche com chá quente, cobertores e elogios por suas
ações heroicas, o que foi o melhor analgésico de todos.
Com o objetivo de vigiarem ambos os pacientes ao mesmo tempo, os
outros Jedi derrubaram a barreira entre o “quarto” de Reath e o de Dez.
Infelizmente, Dez não estava indo tão bem.
Dez estava deitado em sua cama, com a respiração irregular. A sua pele
bronzeada estava pálida e úmida. Apesar de estar enfaixado com pele
sintética, as feridas nos braços e pernas de Dez permaneceram roxas e
inchadas. Quando o Mestre Cohmac veio ver como eles estavam, ele
murmurou:
— Você tentou uma cura, Reath?
— Tentei. — respondeu Reath. — A Mestra Jora sempre disse que valia
a pena tentar. Mas duvido que teve efeito. Não saber exatamente quais as
toxinas que os Drengir colocaram em sua corrente sanguínea, bem... Não
ajudou muito.
Orla enfiou a cabeça para dentro.
— Como ele está?
— Ele não está piorando. — respondeu Reath. — Mas não está
melhorando, também. — Estava claro que Dez precisava melhorar e rápido.
— Desculpe a intrusão. — disse Leox, que estava entrando pela porta
com um pacote embrulhado em pano nas mãos. — Talvez eu consiga cessar
a dor de nosso amigo.
Orla e Cohmac trocaram olhares enquanto Leox se sentava perto da
cabeça de Dez. Então Reath não conseguiu ver as reações dos outros,
apenas o seu próprio choque, conforme Leox tirava folhas prensadas que
cheiravam distintamente, fortemente, inconfundivelmente a especiaria.
Leox começou a pressionar as folhas largas e macias no peito de Dez,
então envolveu as outras ao redor de seus ferimentos e, finalmente, colocou
uma em sua testa. Enquanto ainda aplicava as últimas folhas, Dez já estava
respirando com mais facilidade.
Quando os Mestres trocaram olhares, Leox disse:
— Eu disse que era medicinal.
Mestre Cohmac realmente sorriu. Reath geralmente achava que não era
uma boa ideia manter segredos do Conselho Jedi... Mas desta vez podia ser
uma exceção. Além disso, o Conselho já estaria bastante infeliz com eles.
Fazia pouco mais de um dia desde que deixaram Coruscant, mas as
memórias pareciam muito mais distante. Reath refletiu novamente sobre as
regras que quebraram para chegar até ali e a reação que inevitavelmente
resultaria.
— Seremos disciplinados, não é? Por vir aqui, pra começo de conversa.
— Eles podem decidir se vale a pena nos perdoar pelo o que realizamos
aqui. — disse Mestre Cohmac. — Se não o fizerem, não seremos apenas
disciplinados, mas talvez até mesmo expulsos da Ordem completamente.
Reath empalideceu. Será que a sua primeira missão como um Jedi
independente seria a última?
Então Orla riu.
— Cohmac, pega leve com ele, tá? Reath não tem experiência para
saber a diferença entre o que poderia acontecer e o que é provável. — Ela
se virou para Reath e disse: — Sim, estamos encrencados. Mas não me
preocuparia muito com isso.
Orla estava subestimando seriamente a profunda e longa relação de
Reath com a preocupação. Ele puxou o cobertor firmemente até os ombros
e começou a compor mentalmente a sua própria defesa.

O retorno da Embarcação à Coruscant deveria ter sido um alívio. Eles


estavam seguros novamente, improvável de encontrarem os Drengir por um
bom tempo. Os Nihil, bem, eles ainda estavam por aí, mas pelo menos Affie
não teria que lidar com eles por um tempo.
No entanto, se sentia entorpecida. Sem direção.
Enquanto se arrastava pelas tarefas associadas ao pouso, como
lubrificação das juntas do trem de pouso e inserir os códigos bancários da
Guilda para reabastecimento, manteve o pensamento na estação Amaxine.
A Scover não podia mais usá-la para os seus propósitos originais. Os
Jedi se certificaram de que a estação fosse conhecida. Sem dúvida alguma
espécie ou grupo empreendedor iria assumir o controle e transformá-la em
uma parada comercial padrão. Contrabandistas contratados e desesperados
não seriam mais capazes de fazer uso ilegal dela. Os “bônus” desonestos de
Scover iriam desaparecer. Ninguém mais precisaria morrer como os pais de
Affie morreram.
Ainda assim, a Scover continuaria usando pilotos pelo contrato. A
estação Amaxine estava longe de ser o único lugar perigoso da galáxia. Ela
iria manter os pilotos coagidos e sob o seu controle para aceitarem missões
perigosas. Essa ainda seria a única possibilidade de se livrarem da servidão
antes da velhice.
Achei que isso iria ensinar alguma coisa a ela, decretou Affie. Não iria.
Isso teria mostrado como estou zangada, só isso.
Ela foi ao hotel de Scover naquela noite e suportou a inevitável
repreensão.
— Fugir assim foi muito preocupante. — disse Scover sob uma luxuosa
janta na espaçosa varanda com vista para as luzes da cidade de Coruscant.
Até mesmo o seu tom de voz sugeria nenhuma preocupação, mas era assim
que os Bivalls eram. Como a a Scover era. Affie sempre dizia a si mesma
isso; ela ainda acreditava bastante nisso. — Percebi que você tinha que estar
na Embarcação, mas não pensei que iria embora sem me dizer adeus.
— Os Jedi queriam voltar com pressa e em segredo. — Isso era
verdade, mas não a verdade toda.
— E o cliente tem sempre razão. — Scover assentiu. — É bom que você
aprenda a priorizar os gostos de nossos clientes. O lucro não pode ser
mantido de outra forma.
Affie não resistiu e disse:
— Existem coisas mais importantes do que lucro.
— Sim. — disse Scover. — Mas não muitas coisas.
— A vida dos nossos pilotos são mais importante. — disse Affie.
Depois de uma pausa ela acrescentou: — Você não concorda?
Scover parecia despreocupada.
— Essa é uma escolha que os pilotos devem fazer por si próprios. Todos
nós equilibramos risco e recompensa, Affie.
— As pessoas geralmente não arriscam as suas vidas por recompensas.
Geralmente arriscam para escapar de algo terrível.
— Muitas pessoas arriscam as vidas por recompensas. — Scover
continuou provando as iguarias Chandrilanas amontoadas em sua mesa de
jantar. — Pilotos de corrida, por exemplo. Hummm, coma um pouco do
baha. Lembro que você adora.
Affie obedientemente pegou um prato de baha. Mas mesmo a sua
doçura refrescante não conseguia penetrar na névoa da depressão. Parecia
que estava comendo gelo picado.
— Pronto. — O pequeno sorriso no rosto da Scover se alargou um
pouco. — Você aprecia as coisas boas, Affie. Deve reconhecer que recebe
essas coisas por causa da prosperidade da Guilda Byne. Algum dia, daqui
duas ou três décadas, vou me aposentar e tudo isso se tornará seu. Mas
preciso saber se estarei deixando minha Guilda nas mãos certas. Você
entende tudo agora, não é?
— Sim. — disse Affie. — Entendo tudo.
Naquela noite, Affie considerou voltar à Embarcação pra dormir. Mas a
vista da varanda a acalmou, o zumbido baixo constante do movimento
transformando-se em ruído branco, tranquilo à sua maneira. Ela precisava
se acalmar. O cérebro dela estava acelerado.
Muito depois de Scover ir pra a cama, Affie ficou sentada ali até tarde,
com o seu cabelo castanho agitado pela brisa. Ela olhou para o céu estranho
e sem estrelas de Coruscant e se perguntou se poderia ficar em silêncio. Se
pudesse, Scover iria continuar dando a ela mais e mais autoridade dentro da
Guilda. Affie poderia ganhar a capacidade de liberar contratos mais cedo, a
preços muito mais baixos. Quando Scover morresse ou se aposentasse,
Affie herdaria tudo, riqueza e poder quase além da imaginação, se os seus
planos de expansão da República se concretizassem. Então poderia acabar
com as servidões por contratos na Guilda e proteger a todos.
Quando esse dia chegasse, anos e anos depois. Décadas. A maior parte
de uma vida humana.
Sim, Affie podia esperar. Mas os pilotos servos não podiam.

Reath estava no centro do Conselho Jedi entre os seus amigos.


Por um lado, foi incrível perceber que esses Mestres Jedi adultos,
Cohmac Vitus e Orla Jareni, o consideravam um amigo. De pensar que eles
o viam como mais do que um aprendiz, mais como um parceiro em suas
empreitadas.
Por outro lado, estava desconfortavelmente ciente de que essa amizade
poderia ter que continuar fora da Ordem Jedi. Todos eles tinham ignorado
ou desafiado diretamente os comandos que receberam (exceto Dez, é claro,
que finalmente estava descansando bem entre os médicos do Templo).
Por enquanto, tudo o que podia fazer era ficar em pé em boa postura,
expressar respeito ao Conselho e esperar pelo melhor.
— Cada um de vocês está ciente, é claro, dos perigos quando os Jedi
desobedecem. — disse Mestra Adampo. — Até mesmo os Perseguidores do
Caminho têm protocolos a seguir. As habilidades que possuímos, as
habilidades que aprendemos a manipular, não podem ser usadas na busca de
interesses egoístas. Se não forem aplicadas no serviço aos outros, são
aplicadas erroneamente. É por isso que a Ordem existe, para garantir que as
nossas habilidades não nos corrompam, mas, em vez disso, enriqueçam a
galáxia e a própria Força.
Reath percebeu uma rápida expressão no rosto de Orla, uma que sugeria
que não concordava com todos os elementos daquele discurso. Ele ficou
aliviado que ela (estranhamente) decidiu não compartilhar esses
pensamentos com o Conselho. Isso provavelmente foi mais para o seu
benefício, e dos outros, do que pra ela mesma.
A Mestra Adampo continuou:
— No entanto, embora as suas razões possam ter sido não oficiais, elas
não eram egoístas. Na verdade, eram altruístas ao extremo. Jareni e Vitus
esperavam conter entidades profundamente conectadas ao lado sombrio. E o
Padawan Silas sabia que poderia obter mais informações sobre inimigos da
República na Fronteira. Os riscos que vocês assumiram foram grandes.
Todos vocês quase perderam as suas vidas. No entanto, vocês conseguiram
tomar um valioso recurso estratégico dos inimigos da República. Mais que
isso, vocês salvaram Dez Rydan, a quem todos acreditávamos ter perdido.
A Mestra Rosason acrescentou, de forma mais severa:
— Dado que isso não é um comportamento comum dentre qualquer um
de vocês, e a importância dos resultados alcançados, o Conselho vota contra
a disciplina neste momento. Mas estejam cientes: desobediências futuras
serão julgadas com muito mais severidade.
— Em outras palavras: não façam disso um hábito. — disse Mestra
Adampo. — Seção adiada.
Os ombros de Reath cederam de alívio. Os outros Jedi ficaram menos
surpresos do que ele, talvez eles tivessem experiência suficiente para dizer o
quão longe eles poderiam provocar o Conselho. Essa era a experiência que
Reath não tinha intenção de ganhar. A partir de agora, ele iria seguir todas
as regras com mais fidelidade do que nunca.
Quando todos se viraram para a porta, no entanto, Mestra Adampo
disse:
— Padawan Silas, você poderia ficar por alguns instantes?
Ah, não. Eles vão me punir afinal. Apesar da sensação estranha em suas
entranhas, Reath se voltou para o Conselho e se ergueu diante deles. Com o
canto do olho, notou um olhar solidário de Orla, mas os outros foram
dispensados e tiveram que sair. Reath estava sozinho.
A Mestra Adampo disse:
— Padawan Silas, você ainda não nos respondeu.
— Não, senhora . Ah, qual era a pergunta mesmo, senhora?
— Não estamos discutindo esta audiência, mas sim a nossa conversa
anterior com você. Você está pronto para começar a treinar novamente?
Reath lembrou, como se estivesse relembrando um sonho, que o
Conselho tinha colocado o seu futuro em suas próprias mãos. Para onde ele
iria? Que caminho iria caminhar?
— Depende de você, Silas. — disse a Mestra Adampo. — Qual o
próximo passo?
A ffie estava acostumada com “escritórios oficiais” que
eram só no nome. Eles operavam da nave de outra pessoa ou na parte
de trás de uma cantina. Em vez de leis e regulamentos, a maioria das
pessoas obedecia aos costumes de uma região ou aos caprichos de algum
potentado local.
A República faz as coisas de forma diferente. Ela tinha ouvido isso
antes, mas a verdade disso não a atingiu totalmente até que entrou nos
escritórios que regulamentavam as cargas. Cada passo que ela com as suas
botas surradas ecoava nos pisos de pedra polido; o teto alto era sustentado
por colunas grossas demais pra colocar os braços ao redor. Cada peça de
equipamento que viu brilhava com a limpeza, como se cada um tivesse sido
colocado no lugar no dia anterior. Affie tinha agendado a sua visita para
logo que abrisse, principalmente porque ela aguentava esperar que Scover
voltasse de sua reunião durante o café da manhã, mas também em parte,
porque achava que a maioria das pessoas não acordaria tão cedo. Em vez
disso o lugar estava movimentado, mas organizado.
Ela achou aquele ambiente todo limpo mais intimidante do que
acolhedor. Os arquivos que ela baixou no datapad em sua bolsa brilhavam
com um calor imaginário, como se fossem queimar a tela. Mais de uma vez,
Affie pensou em simplesmente voltar pelo caminho por onde veio.
Mas ficou ali tempo suficiente para que o seu nome fosse chamado.
Affie foi conduzida a uma pequena sala com um oficial subalterno
Twi'lek. Apesar de Affie ser uma garota de dezessete anos, o Twi'lek
parecia estar levando ela a sério. Se tivesse dado risada dela, isso teria dado
a ela uma desculpa...
Mas ela estava cansada de desculpas.
— Deseja fazer um relatório? — perguntou o Twi'lek.
— Sim. — Respirando fundo, Affie puxou o datapad de sua bolsa e
entregou. Ela pensou que se sentiria melhor uma vez que não houvesse mais
volta. Não se sentiu. Mesmo assim seguiu em frente. — Estou denunciando
o abuso de servidão por contrato na Guilda Byne.

A princípio, Reath esperou por um convite. Nenhum veio. Finalmente, três


dias depois da alta de Dez do hospital, Reath decidiu não esperar mais.
Quando apertou a campainha da porta, a princípio não obteve resposta.
As autofunções falavam que Dez Rydan estava em casa e acordado, mas
isso não era o mesmo que aceitar convidados. Ele poderia estar cansado.
Ainda se recuperando. Reath estava já se virando para sair quando a porta
abriu.
Ela se abriu para revelar os aposentos de Dez. Reath sabia que eram
normalmente mais bagunçados do que a maioria dos aposentos dos Jedi,
umas dez vezes mais, mas somente Dez poderia fazer tanta bagunça em
suas primeiras horas de cuidados médicos. Ele se sentou em uma almofada
de meditação no centro da sala, com um manto casual enrolado
frouxamente em torno dele. Ele recuperou o peso que tinha perdido, e a
julgar pelo que Reath podia ver, não tinha nem mesmo cicatrizes.
— Você parece estar bem. — disse ele, sorrindo enquanto entrava na
sala com a porta fechando atrás dele. Muito melhor do que da última vez
que te vi.
— Eu imagino. — Dez passou uma mão por seu espesso cabelo escuro.
— Eu definitivamente me sinto melhor. Seria difícil me sentir pior.
— Talvez isso não seja útil para você. — arriscou Reath. — Mas pra
mim... Vou fazer vigília pela Mestra Jora. O corpo dela está perdido, então
não podemos queimá-lo. Mesmo assim, vou acender uma fogueira e ficar de
guarda. Gostaria de se juntar a mim?
— Não posso. — respondeu Dez. A sua voz parecia remota; não
encontrou bem os olhos de Reath. — Amanhã vou partir para um dos
mundos da contemplação. Vou fazer o Voto Barash.
O Voto Barash era um compromisso extremo de se obter a máxima
comunhão com a Força. Aqueles que faziam o voto passam anos, às vezes
até décadas, em meditação profunda e na solidão. Era o último caminho que
Reath jamais teria previsto para Dez.
— Mas por quê? — perguntou Reath. — O Voto Barash é feito pelos
Jedi que cometeram erros terríveis. Você não fez isso! Você não quebrou a
sua conexão com a Força.
— Não. — disse Dez. — Ela foi quebrada pelos Drengir. Os
curandeiros tentaram juntar as peças novamente, mas está... Instável. As
falhas estão aparecendo. Não vai aguentar, a menos que eu me comprometa
com todas as minhas forças para renová-la.
— Mas... — A voz de Reath falhou. — É essa a vida que você
realmente quer?
Lentamente Dez assentiu.
— Você tem que entender, os Drengir são profundamente conectados ao
lado sombrio. Os dias que passei como prisioneiro foram dias que
danificaram e testaram a minha conexão com a Força. Não sei se passei no
teste. Sem você, eu poderia ter me tornado uma criatura deles, um servo
estúpido das trevas. Isto é, se não tivessem me comido primeiro.
— Passou no teste. — insistiu Reath. — Você ainda é você.
— Sim, eu sou. Mas em certas situações isso não é bom. Eu sempre
quis... Ação, emoção. Queria isso um pouco demais. Os Jedi não foram
feitos para agradar a si mesmos. Devemos servir. Servir não significa
apenas fazer o que você quer fazer. Significa ouvir a Força. E eu parei de
ouvir. — Dez balançou a cabeça. — Eu sei o que tenho que fazer.
— Entendo. — disse Reath. — Também tenho pensado nisso. — A sua
resistência à missão da Fronteira, isso era sobre tudo o que queria. Não é
sobre servir. Honrar a Mestra Jora com fogo e vigília não significa nada se
não honrasse tudo o que ela lhe ensinou. Ao aceitar a missão no Farol
Estelar, ela estava tentando ensinar a ele o que servir realmente significava.
Estou aprendendo, mestra, ele pensou.
Dez pareceu reconhecer o impacto que suas palavras tiveram em Reath.
— O que você vai fazer a seguir?
— Eu acho... — Reath fez uma pausa, então acenou com a cabeça. —
Acho que acabei de descobrir.

Por volta do meio-dia, no espaçoporto, os oficiais da República estavam


ocupados catalogando cada nave da Associação Byne e entrevistando todos
os pilotos da Associação Byne. Até onde Affie poderia dizer, elas
começaram poucos minutos depois de sua denúncia às autoridades. Ela
assumiu que levaria dias ou semanas para a República agir, tempo que
poderia ter dado Scover a chance de viajar de volta para a Fronteira. Ela
tinha mais influência lá, e a República menos; ela poderia ter permanecido
livre.
Em vez disso, os oficiais prenderam Scover imediatamente. Affie fez
esfoço para assistir à filmagem da prisão do hotel (que se fez disponível pra
ela, como convidada de Scover). Scover permaneceu calma e quieta o
tempo todo em que estava sendo algemada e levada embora.
Essa calma poderia se quebrar quando soubesse que Affie era quem a
tinha denunciado, o que era uma notícia que Affie pretendia entregar
pessoalmente. Esse seria o encontro mais difícil da vida de Affie, mas era
um que não poderia fugir. Scover a criou, cuidou dela, até a amou. Ela
merecia a chance de perguntar como sua filha adotiva poderia ter feito isso
com ela.
E Affie merecia a chance de explicar o motivo.
Esperava inquieta na frente da Embarcação, observando a atividade em
todo o espaçoporto. A pior parte não era a culpa ou a incerteza; era saber
que todo o seu futuro estava sendo moldado por forças externas fora do seu
controle, e não tendo absolutamente nada que pudesse fazer sobre isso.
Passos na rampa de embarque a fizeram virar. Leox estava passeando ao
lado da oficial humana da República verificando a Embarcação. A oficial
acenou com a cabeça enquanto verificava os itens em um datapad.
— Sem irregularidades aqui, então posso liberar esta nave para
decolagem.
— Muito gentil de sua parte. — disse Leox. — Mas no momento não
temos para onde ir.
— Pegue o trabalho que quiser. — A oficial da República obviamente
viu ela mesma como a salvadora, ou pelo menos a portadora de boas novas.
— De acordo com a lei da República, após a dissolução de uma empresa de
navegação ilegal, todas as naves são consideradas propriedade individual de
seus superiores oficiais. O que significa que a Embarcação agora é sua,
Capitão Gyasi.
Leox balançou a cabeça.
— Não tão rápido. Se você está anotando tudo isso para os registros da
República, certifique-se de corrigir. Eu não sou o oficial atribuído à
Embarcação. É a Affie Hollow, de pé ali.
Quando ele apontou para ela, Affie conseguiu fechar a boca a tempo
deles não a verem perplexa os encarando como uma boba.
— Eu?
— A representante oficial da Guilda supera o capitão todas as vezes.
Com um encolher dos ombros, Leox estava entregando a coisa que mais
amava no mundo, a coisa que poderia ter reivindicado em um piscar de
olhos. Apesar da Scover ter dado algumas boas coisas para Affie ao longo
dos anos, nunca recebeu presente mais generoso que esse.
A oficial da República pareceu disposta a acreditar na palavra de Leox.
Para Affie, ela disse:
— Você vai mudar o nome da nave?
— Não. — disse Affie, um sorriso se espalhando por seu rosto. — Esta
é a Embarcação, para todo o sempre. E Leox Gyasi continua sendo o
capitão. Ele apenas... Trabalha pra mim.
Leox estava sorrindo também, enquanto balançava a cabeça.
— Onde foi que me meti?
Enquanto a oficial da República seguia o seu caminho, Affie abraçou
Leox com todas as suas forças.
— Quero que tudo permaneça igual. Exatamente como antes, exceto
que desta vez, estamos nisso apenas por nós. Por conta própria.
— Por mim, tudo bem, Pequenina. E posso chamá-la assim de novo,
porque se tornou minha chefe, fazendo o apelido se tornar irônico.
Ela iria brigar com ele por isso? Talvez mais tarde, decidiu Affie.
— Nós três... Espere. Cadê o Geode?

No armazém da nave espacial, Orla olhava a amostra de holo que recebeu


que representava o item real: a nova nave que seria dela. Com uma estrutura
quase piramidal, com três motores, uma proa pontiaguda e uma popa
igualmente angular, a nave era afiada, como um dardo ou um caco de vidro.
Como a própria Orla. A nave brilhou contra a escuridão total do depósito,
com o casco perolado tão bonito quanto qualquer joia.
O droide de vendas zumbiu até ela.
— Se você deseja entrar na nave...
— Ah, sim. Sim, eu quero.
Orla entrou em sua nova nave quase que com reverência. Durante o
desastre do hiperespaço e os eventos na estação Amaxine, ela se perguntou
se estava sendo egoísta ao se declarar uma Perseguidora do Caminho e sair
por conta própria. Agora que tudo acabou, no entanto, ela recentemente
entendeu que fez a escolha certa. A galáxia era maior e mais estranha do
que qualquer ser poderia saber. Havia um lugar para a Ordem Jedi operar
dentro dela, e lugares para os outros Jedi descobrirem por conta própria.
Servir a Ordem era importante, mas nunca poderia dar o melhor de si a
menos que conhecesse a si mesma, os seus instintos e a Força mais
verdadeiramente. Ela nunca se sentiu mais pronta para a jornada começar.
— Ela é linda. — disse Orla, passando a mão pela elegante cadeira do
piloto. — Uma obra de arte. Passe os meus elogios aos projetistas.
As luzes do droide de vendas piscaram de orgulho.
— Isso significa que você vai ficar com esta?
— Depois de uma pequena barganha sobre o preço. — Orla encolheu os
ombros. — O que posso dizer? Estou apaixonada por ela, mas está com um
valor e tanto.
A negociação não durou muito; o preço sugerido por Orla era justo e o
droide claramente tinha uma meta de vendas a cumprir. Em uma hora, Orla
tinha colocado a sua impressão digital em todos os documentos e obteve
todas as senhas para a sua nova nave.
— A Perseguidora da Luz. — disse ela. — Vou chamá-la de
Perseguidora da Luz.
— Devidamente registrado. — respondeu o droide de vendas. — Devo
anotar que viaja com tripulação de uma pessoa?
— Sim, a menos que possa convencer o meu amigo navegador a se
juntar a mim...
Geode estava por perto, com o seu silêncio sendo a sua única resposta.
Ele estava disposto a olhar as naves com ela, mas Orla já sabia que a
lealdade dele era para Leox, Affie e a Embarcação.
Além disso, esse era um caminho que precisava percorrer sozinha.
— Talvez da próxima vez. — disse ela, dando um tapinha na lateral de
Geode, já sonhando com as viagens que virão.
Assim que ela ficou sozinha na ponte de sua nave (sua nave!), ela
enviou uma mensagem para Cohmac. Quando o rosto dele apareceu na tela,
Orla se encolheu para que ele pudesse ver mais a Perseguidora da Luz do
que ela.
— O que você acha?
— Bonita. — O sorriso de Cohmac não alcançou os seus olhos. —
Estou realmente feliz por você, Orla. A Força a chamou e você respondeu.
— Tenho lutado contra os meus instintos durante toda a minha carreira.
— admitiu Orla. — Obrigando-me a seguir um caminho que não era o meu.
Quero servir a Ordem e a galáxia, mas não posso fazer isso se estou
vivendo uma mentira.
Ela pensou novamente naquele dia distante, quando resgataram uma
refém, mas perderam o outro, tudo porque colocou o que era “certo e
adequado” à frente do que a Força disse a ela. Orla não cometeria esse erro
novamente.
Cohmac assentiu.
— Invejo a certeza de suas convicções, Orla.
A raiva que sentiu depois da suposta morte de Dez, os ecos da morte de
seu mestre e do refém, muito tempo antes, havia afetado Cohmac, um
pouco mais do que Orla havia percebido.
— Você está bem? — perguntou ela. — Está precisando perseguir o seu
próprio caminho?
— Não. Preciso da Ordem agora, mais do que nunca. Mas preciso de
outra coisa, também. Uma nova direção, um foco. Isso só o tempo pode
fornecer.
Orla não tinha certeza se a Ordem era o que Cohmac precisava. Mas não
poderia dar essas respostas a ele. Isso caberia à Força.
— Que a Força esteja com você, velho amigo. — Ela levantou uma mão
junto com ele, em uma saudação mútua de despedida.

Reath entrou no centro de meditação do Templo Jedi com um pouco de


apreensão. Era indelicado perturbar as meditações dos outros. Porém, por
acaso, Mestre Cohmac estava sozinho na sala, sentado no ar.
Isso não deve ser fácil. Sem dúvida, esta era uma meditação
extremamente profunda. Reath se perguntou se deveria sair na ponta dos
pés novamente, e estava prestes a fazer isso, quando Mestre Cohmac
perguntou, sem abrir os olhos:
— O que é, Reath?
— Queria falar com você. — disse ele. O que era óbvio. Mas pelo
menos Mestre Cohmac não falou isso.
Em vez disso, ele desceu ao chão e caminhou com Reath para uma área
de reunião do lado de fora, onde uma fonte esculpida borbulhava.
— Como posso te ajudar, Reath? Assumo que seja urgente.
— Não queria te interromper. — disse Reath. — Mas vi que se escalou
para sair em um dos próximos transportes para Fronteira, para assumir a
missão original. Como não sabia quando seria exatamente, achei que a coisa
mais inteligente a fazer era te encontrar imediatamente.
Mestre Cohmac inclinou a cabeça.
— E ainda assim você não me disse o porquê.
Ele não tinha certeza de como expressar o que viria a seguir.
— Queria perguntar, apenas perguntar, sem pressão, sem mágoas se
você disser não...
— Pergunte.
Ele disparou:
— Você consideraria me aceitar como seu aprendiz?
Mestre Cohmac ficou olhando, como se nunca tivesse sonhado com tal
coisa. Provavelmente não. Mas não era um pedido tão estranho, era?
Talvez Reath não tivesse sido suficientemente claro.
— Durante nossas aventuras na estação Amaxine, eu passei a ter um
grande respeito por você. Em muitos aspectos, você não é um Jedi típico,
mas acho que talvez precise expandir minha ideia de como um Jedi pode
ser. Do tipo de Jedi que eu posso ser. Treinar com você me ensinaria muito
e quero aprender. Se estiver disposto a me aceitar, quero dizer. — Após um
momento de hesitação, ele se atreveu a acrescentar: — Retornar à Fronteira
é o que Mestra Jora iria querer para mim. Estamos nós dois indo lá. Achei
que poderíamos ir juntos. — Mestre Cohmac ainda parecia perplexo. Reath
decidiu oferecer uma saída diplomática. — Se esta não é a hora certa, eu
entendo.
— É... Um momento interessante. — disse Mestre Cohmac. Ele
começou a andar lentamente ao longo do pátio e Reath caminhou ao lado
dele. — Ouvi Jora Malli ser descrita como a mais gentil e sábia dos
professores. É difícil imaginar retomar de onde ela parou. Mas o que ela
tinha pra te oferecer e o que tenho para te oferecer são duas coisas muito
diferentes.
Reath se iluminou. Isso parecia promissor.
— Sim, exatamente. Quer dizer, sim, Senhor.
— Você mostrou iniciativa em vir até mim e em querer o seu
treinamento prosseguindo por um novo caminho. Agora devo mostrar
coragem e ser aberto com você. — Mestre Cohmac parou e olhou nos olhos
de Reath. — Tive dúvidas nas últimas semanas sobre se os caminhos
prescritos pelo Conselho Jedi são invariavelmente os melhores caminhos a
seguir.
Ele tinha ouvido direito? Não poderia ter.
— Senhor?
Mestre Cohmac suspirou.
— A escuridão é tanto parte da Força quanto a luz. A Ordem pensa que
pode dividir a Força tão nitidamente, como se a energia vital primordial de
toda a existência fosse uma coisa para ser fatiada e servida.
Reath levou um momento para considerar isso.
— Essa separação não nos mantém seguros?
— Será? — indagou Mestre Cohmac. — Ou a divisão só faz a escuridão
mais forte e mais perigosa do que jamais teria sido em um estado de
natural?
— Não sei. — admitiu Reath. Ele não tinha pensado que filosofia
abstrata seria uma parte importante do treinamento, mas parece que seria
com o Mestre Cohmac. Pelo menos, seria se aceitasse Reath. — Só sei que
o nosso trabalho é um bom trabalho. Que salvamos vidas, acabamos com o
conflito e trazemos a paz.
Mestre Cohmac sorriu pra ele.
— Você conhece o seu caminho, Reath Silas. Nunca deixe nada te
abalar nisso.
— Eu só pensei que sabia antes. — confessou Reath. — Mas antes de
sair pra a Fronteira, Mestra Jora me fez uma pergunta. Ela disse que quando
soubesse a resposta, saberia por que precisávamos deixar Coruscant. Ela
perguntou por que os Jedi não podem cruzar o Arco Kyber sozinhos. Agora
eu entendo. Ninguém atravessa sozinho porque o próprio arco não existiria
sem todos os Cavaleiros Jedi que se foram antes. Tanto os que morreram em
batalha quanto os que construíram o arco para que outros se lembressem.
Eu estava dando à Ordem apenas o quanto de mim eu queria dar. Era tudo
sobre mim. Não sobre nós. De agora em diante, eu estou colocando nós em
primeiro lugar.
— Jora Malli era uma mulher sábia. — disse Mestre Cohmac. —
Duvido que possa competir com a profundidade de seus ensinamentos.
Isto soou suspeitosamente como um adeus.
— Então... — começou Reath. — Nós estamos...
— Eu ainda tenho muito que aprender. — disse Mestre Cohmac. Isto
soou bem mais como um não até que ele acrescentou: — E não há melhor
maneira de aprender do que ensinando. Você será o meu primeiro Padawan,
Reath, e talvez o meu maior instrutor na Força.

Semanas depois, o Farol Estelar estava oficialmente funcionando. Os seus


feixes brilhavam através da galáxia, brilhante como qualquer supernova, em
uma mensagem da promessa da República de orientação, proteção e
prosperidade.
Quando os feixes foram iluminados, aplausos soaram a bordo da estação
das muitas partes presentes: a Jedi sênior Avar Kriss, Elzar Mann e Stellan
Gios; outros Jedi, como Sskeer e Burryaga; oficiais da República; vários
diplomatas; e delegações de mundos próximos.
E um Padawan que fez a última escolha que jamais esperava que fosse
fazer apenas algumas semanas antes.
Reath Silas bateu palmas junto com o resto. Por um momento desejou
que a Mestra Jora estivesse lá para comemorar com eles, para se colocar em
uma posição de honra na plataforma. Ela queria isso para Reath, neste lugar
na Fronteira onde tudo e qualquer coisa poderia acontecer, mas nada
poderia ser menosprezado. Por fim, reconheceu o valor do que ela desejava
dar a ele, e resolveu não recusar o presente final de sua falecida Mestra.
Não, não gostava de aventuras. Elas eram perigosas, confusas, sendo
melhor evitar; a estação Amaxine provou isso sem sombra de dúvida. Reath
ainda preferia que as aventuras permanecessem nas histórias, onde
pertenciam.
Mas alguém precisava viver as histórias antes que pudessem ser
contadas. Alguém tinha que contar as histórias. Talvez Reath fosse um dos
contadores. Tudo que sabia era que estava pronto para servir aos meios da
Força, o que quer que fosse, ou onde quer que elas possam estar.
Houveram vários discursos e apresentações ao longo da cerimônia e isso
continuaria por algum tempo. A próxima, no entanto, parecia chamar uma
atenção especial, quando uma mulher mais velha com vívidas mechas
prateadas em seu cabelo preto subiu ao palco entre saudações e aplausos. O
seu manto luxuoso e diadema reluzente testificaram a sua origem em
família real mesmo antes de ser anunciada.
— Para falar à multidão, a Rainha Thandeka de Eiram!
A rainha ergueu o queixo e toda a multidão ficou em silêncio. Ela era a
esposa da governante de um planeta próximo, pelo que Reath entendeu, mas
algo sobre a sua presença dava a ela uma autoridade maior.
— Damos as boas-vindas à República. — disse ela, com a sua voz
soando sobre a multidão. — Vinte e cinco anos atrás nós nos isolamos do
resto da galáxia. Não confiávamos na República, ou nos Jedi, ou mesmo
uns nos outros. Tudo isso mudou quando os Jedi vieram para resgatar a
mim e ao falecido Monarca Cassel de E'ronoh, que deu a sua vida pela
minha. — Ela curvou a cabeça ligeiramente quando disse o nome de Cassel.
— Depois disso, os nossos mundos começaram a se ouvir mais. Ousamos
aprender mais sobre a galáxia além de nossos estreitos limites. Aprendemos
que independência é uma ilusão, que ninguém está realmente sozinho.
Recuperamos a coragem de confiar, sem a qual nunca poderíamos ter
seguido em frente. Confiar é ter esperança, é acreditar em um futuro melhor
e acreditar que outros trabalharão conosco para tornar isso possível.
Muitas pessoas aplaudiram. Reath se juntou a eles.
— E em memória ao Monarca Cassel e do Mestre Jedi que morreu em
nossa missão de resgate, foi tomada a decisão de colocar o Farol Estelar
bem perto do planetoide onde ocorreu a crise. — continuou a Rainha
Thandeka. — Celebramos aqui a memória deles, hoje e para sempre.
Mais aplausos e a rainha desceu da plataforma enquanto um coral se
preparava para cantar. Reath, que não era um amante de música, ficou
aliviado quando o seu novo mestre começou a afastar os dois do centro da
cerimônia.
— O que vem depois? — perguntou Reath.
Mestre Cohmac, ao lado dele, continuou aplaudindo.
— Acredito que o que vem a seguir é um grande banquete.
— Ótimo. Estou morrendo de fome.
Isso fez Mestre Cohmac rir, o que Reath considerou um bom sinal.
Após a apresentação musical, quando começaram a caminhar com a
multidão em direção ao banquete, Reath perguntou:
— O que acontece depois disso, mestre?
— Qualquer coisa pode acontecer. — disse Mestre Cohmac. — E essa é
a diversão disso.
A meia galáxia de distância...
Nan se ajoelhou diante do líder dos Nihil. O líder, o Olho, Marchion Ro,
uma figura tão acima dela que ela nunca teria ousado sonhar com um
encontro desses. Teria se prostrado diante dele; nunca tinha se sentido tão
indigna de suas listras. Mas as suas emoções eram menos importantes do
que comunicar os fatos.
— Hague, o meu guardião, foi morto pelo truque dos Jedi. — disse ela.
— Junto com vários outros. Só sobrevivi porque havia retornado aos túneis
inferiores para me certificar de que estavam livres de outros Drengir.
Marchion Ro assentiu; a luz tremeluziu fracamente em sua pele cinza
metálico.
— Você não tem culpa. — disse ele. — Essas mortes são
responsabilidade dos Jedi. E os Jedi vão pagar.
A raiva em sua voz restaurou Nan, deu combustível à chama vingativa
dentro dela. E ainda assim ela teve que adverti-lo.
— Temo que os Jedi sejam muito poderosos. Eles têm habilidades
diferentes de tudo que já encontramos antes.
Marchion Ro apenas sorriu.
— É sábio temer os Jedi e a República. Mas eles deveriam nos temer
em troca. Pois os Nihil serão a destruição dos Jedi.
STAR WARS / STAR WARS: A ALTA REPÚBLICA - NA ESCURIDÃO
TÍTULO ORIGINAL: Star Wars / The High Republic - Into The Dark
COPIDESQUE: TRADUTORES DOS WHILLS
REVISÃO: TRADUTORES DOS WHILLS
DIAGRAMAÇÃO: TRADUTORES DOS WHILLS
ARTE E ADAPTAÇÃO: TRADUTORES DOS WHILLS / JOSEPH MEEHAN
ILUSTRAÇÃO: TRADUTORES DOS WHILLS
GERENTE EDITORIAL: TRADUTORES DOS WHILLS
DIREÇÃO EDITORIAL: TRADUTORES DOS WHILLS
ASSISTENTES EDITORIAIS: TRADUTORES DOS WHILLS

COPYRIGHT © & TM 2021 LUCASFILM LTD.


COPYRIGHT © TRADUTORES DOS WHILLS, 2021
(EDIÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA PARA O BRASIL)
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS.
PROIBIDA A REPRODUÇÃO, NO TODO OU EM PARTE, ATRAVÉS DE QUAISQUER MEIOS.

STAR WARS: A ALTA REPÚBLICA - NA ESCURIDÃO É UM LIVRO DE FICÇÃO. TODOS OS PERSONAGENS,


LUGARES E ACONTECIMENTOS SÃO FICCIONAIS.
DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)
TDW CRB-1/000
G28c Gray, Claudia
Star Wars: A Alta República - Na Escuridão [recurso eletrônico] / Claudia Gray ; traduzido por Enclave da Força e Tradutores
dos Whills.
400 p. : 2.0 MB.
Tradução de: The High Republic - Into The Dark
ISBN: 978-85-503-0253-9 (Ebook)
1. Literatura norte-americana. 2. Ficção científica. I.Da Força, Enclave CF. II. Título.
2017.352

ÍNDICES PARA CATÁLOGO SISTEMÁTICO:

Literatura : Ficção Norte-Americana 813.0876


Literatura norte-americana : Ficção 821.111(73)-3

tradutoresdoswhills.wordpress.com
Claudia Gray é a autora de Star Wars: Mestre & Aprendiz; Star
Wars: Leia, Princesa de Alderaan; Star Wars: Legado de Sangue; e Estrelas
Perdidas. Os seus outros livros incluem Defy the Stars e as séries
Evernight, Spellcaster e Firebrand. Ela trabalhou como advogada,
jornalista, DJ e uma garçonete particularmente ineficaz. Os seus interesses
ao longo da vida incluem casas antigas, filmes clássicos, estilo vintage e
história. Ela mora em Nova Orleans.
STAR WARS – GUARDIÕES DOS WHILLS
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No mundo do deserto de Jedha, na Cidade Santa, os amigos Baze e Chirrut costumavam ser
Guardiões das colinas, que cuidavam do Templo de Kyber e dos devotos peregrinos que adoravam lá.
Então o Império veio e assumiu o planeta. O templo foi destruído e as pessoas espalhadas. Agora,
Baze e Chirrut fazem o que podem para resistir ao Império e proteger as pessoas de Jedha, mas nunca
parece ser suficiente. Então um homem chamado Saw Gerrera chega, com uma milícia de seus
próprios e grandes planos para derrubar o Império. Parece ser a maneira perfeita para Baze e Chirrut
fazer uma diferença real e ajudar as pessoas de Jedha a viver melhores vidas. Mas isso vai custar
caro?
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Um Wookiee é o melhor amigo de uma menina! Quando Chewbacca conhece a jovem Zarro na Orla
Exterior, ele não tem escolha a não ser deixar de lado sua própria missão para ajudá-la a resgatar seu
pai de uma mina perigosa. Essa incrível Aventura foi baseada na HQ do Chewbacca… (FAIXA
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Esse é o Terceiro Ebook dos Tradutores dos Whills com uma aventura emocionante sobre uma
heroína corajosa das Séries de TV Clone Wars e Rebels: Ahsoka Tano! Os fãs há muito tempo se
perguntam o que aconteceu com Ahsoka depois que ela deixou a Ordem Jedi perto do fim das
Guerras Clônicas, e antes dela reaparecer como a misteriosa operadora rebelde Fulcro em Rebels.
Finalmente, sua história começará a ser contada. Seguindo suas experiências com os Jedi e a
devastação da Ordem 66, Ahsoka não tem certeza de que possa fazer parte de um todo maior de
novo. Mas seu desejo de combater os males do Império e proteger aqueles que precisam disso e
levará a Bail Organa e a Aliança Rebelde….
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Star Wars Kenobi Exílio
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A República foi destruída, e agora a galáxia é governada pelos terríveis Sith. Obi-Wan Kenobi, o
grande cavaleiro Jedi, perdeu tudo… menos a esperança. Após os terríveis acontecimentos que deram
fim à República, coube ao grande mestre Jedi Obi-Wan Kenobi manter a sanidade na missão de
proteger aquele que pode ser a última esperança da resistência ao Império. Vivendo entre fazendeiros
no remoto e desértico planeta Tatooine, nos confins da galáxia, o que Obi-Wan mais deseja é manter-
se no completo anonimato e, para isso, evita o contato com os moradores locais. No entanto, todos
esses esforços podem ser em vão quando o “Velho Ben”, como o cavaleiro passa a ser conhecido, se
vê envolvido na luta pela sobrevivência dos habitantes por uma Grande Seca e por causa de um chefe
do crime e do povo da areia. Se com o Novo Cânone pudéssemos encontrar todos os materiais
disponíveis aos anos de Exílio de Obi-Wan Kenobi em um só Lugar? Após o Livro Kenobi se tornar
Legend, os fãs ficaram sem saber o que aconteceu com o Velho Ben nesse tempo de reclusão. Então
os Tradutores dos Whills também se fizeram essa pergunta e resolveram fazer esse trabalho de
compilação dos Contos, Ebooks, Séries Animadas e HQs, em um só Ebook Especial e Canônico para
todos os Fãs!!
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Star Wars -Dookan: O Jedi Perdido
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Esse é o Quarto Ebook dos Tradutores dos Whills com uma aventura emocionante sobre um Vilão
dos Filmes e da Série de TV Clone Wars: Conde Dookan! Mergulhe na história do sinistro
Conde Dookan no roteiro original da emocionante produção de áudio de
Star Wars! Darth Tyranus. Conde de Serenno. Líder dos Separatistas. Um
sabre vermelho, desembainhado no escuro. Mas quem era ele antes de se
tornar a mão direita dos Sith? Quando Dookan corteja uma nova aprendiz, a
verdade oculta do passado do Lorde Sith começa a aparecer. A vida de
Dookan começou como um privilégio, nascido dentro das muralhas
pedregosas da propriedade de sua família. Mas logo, suas habilidades Jedi
são reconhecidas, e ele é levado de sua casa para ser treinado nos caminhos
da Força pelo lendário Mestre Yoda. Enquanto ele afia seu poder, Dookan
sobe na hierarquia, fazendo amizade com Jedi Sifo-Dyas e levando um
Padawan, o promissor Qui-Gon Jinn, e tenta esquecer a vida que ele levou
uma vez. Mas ele se vê atraído por um estranho fascínio pela mestra Jedi
Lene Kostana, e pela missão que ela empreende para a Ordem: encontrar e
estudar relíquias antigas dos Sith, em preparação para o eventual retorno
dos inimigos mais mortais que os Jedi já enfrentaram. Preso entre o mundo
dos Jedi, as responsabilidades antigas de sua casa perdida e o poder sedutor
das relíquias, Dookan luta para permanecer na luz, mesmo quando começa
a cair na escuridão.
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Star Wars – Discípulo Sombrio
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Esse é o Quinto Ebook dos Tradutores dos Whills com uma aventura emocionante sobre um Vilões e
Heróis dos Filmes e da Série de TV Clone Wars! Baseado em episódios não produzidos de Star Wars:
The Clone Wars, este novo romance apresenta Asajj Ventress, a ex-aprendiz Sith que se tornou um
caçadora de recompensas e uma das maiores anti-heróis da galáxia de Star Wars. Na guerra pelo
controle da galáxia entre os exércitos do lado negro e da República, o ex-Mestre Jedi se tornou cruel.
O Lorde Sith Conde Dookan se tornou cada vez mais brutal em suas táticas. Apesar dos poderes dos
Jedi e das proezas militares de seu exército de clones, o grande número de mortes está cobrando um
preço terrível. E quando Dookan ordena o massacre de uma flotilha de refugiados indefesos, o
Conselho Jedi sente que não tem escolha a não ser tomar medidas drásticas: atacar o homem
responsável por tantas atrocidades de guerra, o próprio Conde Dookan. Mas o Dookan sempre
evasivo é uma presa perigosa para o caçador mais hábil. Portanto, o Conselho toma a decisão ousada
de trazer tanto os lados do poder da Força de suportar – juntar o ousado Cavaleiro Quinlan Vos com a
infame acólita Sith Asajj Ventress. Embora a desconfiança dos Jedi pela astuta assassina que uma vez
serviu ao lado de Dookan ainda seja profunda, o ódio de Ventress por seu antigo mestre é mais
profundo. Ela está mais do que disposta a emprestar seus copiosos talentos como caçadora de
recompensas, e assassina, na busca de Vos.Juntos, Ventress e Vos são as melhores esperanças para
eliminar a Dookan – desde que os sentimentos emergentes entre eles não comprometam a sua missão.
Mas Ventress está determinada a ter sua vingança e, finalmente, deixar de lado seu passado sombrio
de Sith. Equilibrando as emoções complicadas que sente por Vos com a fúria de seu espírito
guerreiro, ela resolve reivindicar a vitória em todas as frentes, uma promessa que será
impiedosamente testada por seu inimigo mortal… e sua própria dúvida.
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Os Segredos dos Jedi
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Descubra o mundo dos Jedi de Star Wars através desta experiência de leitura divertida e totalmente
interativa. Star Wars: Jediografia é o melhor guia do universo Jedi para o universo dos Jedi,
transportando jovens leitores para uma galáxia muito distante, através de recursos interativos, fatos
fascinantes e ideias cativantes. Com ilustrações originais emocionantes e incríveis recursos especiais,
como elevar as abas, texturas e muito mais, Star Wars: Jediografia garante a emoção das legiões de
jovens fãs da saga.
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Star Wars – Thrawn – Alianças
Timothy Zahn

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Palavras sinistras em qualquer circunstância, mas ainda mais quando proferidas pelo
Imperador Palpatine. Em Batuu, nos limites das Regiões Desconhecidas, uma ameaça ao
Império está se enraizando. Com a sua existência pouco mais que um vislumbre, as suas
consequências ainda desconhecidas. Mas é preocupante o suficiente para o líder imperial
justificar a investigação de seus agentes mais poderosos: o impiedoso agente Lorde Darth
Vader e o brilhante estrategista grão-almirante Thrawn. Rivais ferozes a favor do Imperador
e adversários francos nos assuntos imperiais, incluindo o projeto Estrela da Morte, o par
formidável parece parceiros improváveis para uma missão tão crucial. Mas o Imperador
sabe que não é a primeira vez que Vader e Thrawn juntam forças. E há mais por trás de
seu comando real do que qualquer um dos suspeitos. No que parece uma vida atrás, o
general Anakin Skywalker da República Galáctica e o comandante Mitth’raw’nuruodo,
oficial da Ascensão do Chiss, cruzaram o caminho pela primeira vez. Um em uma busca
pessoal desesperada, o outro com motivos desconhecidos... e não divulgados. Mas, diante
de uma série de perigos em um mundo longínquo, eles forjaram uma aliança
desconfortável – nem remotamente cientes do que seus futuros reservavam. Agora,
reunidos mais uma vez, eles se veem novamente ligados ao planeta onde lutaram lado a
lado. Lá eles serão duplamente desafiados – por uma prova de sua lealdade ao Império... e
um inimigo que ameaça até seu poder combinado.

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Star Wars – Legado da Força – Traição
Tradutores dos Whills
496 páginas
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Esta é a era do legado de Luke Skywalker: o Mestre Jedi unificou a Ordem em um grupo coeso de
poderosos Cavaleiros Jedi. Mas enquanto a nova era começa, os interesses planetários ameaçam
atrapalhar esse momento de relativa paz, e Luke é atormentado com visões de uma escuridão que se
aproxima. O mal está ressurgindo “das melhores intenções” e parece que o legado dos Skywalkers
pode dar um ciclo completo.A honra e o dever colidirão com a amizade e os laços de sangue, à
medida que os Skywalker e o clã Solo se encontrarem em lados opostos de um conflito explosivo
com repercussões potencialmente devastadoras para ambas as famílias, para a ordem Jedi e para toda
a galáxia.Quando uma missão para descobrir uma fábrica ilegal de mísseis no planeta Aduman
termina em uma emboscada violenta, da qual a Cavaleira Jedi Jacen Solo e o seu protegido e primo,
Ben Skywalker, escapam por pouco com as suas vidas; é a evidência mais alarmante ainda que
desencadeia uma discussão política. A agitação está ameaçando inflamar-se em total Rebelião. Os
governos de vários mundos estão se irritando com os rígidos regulamentos da Aliança Galáctica, e os
esforços diplomáticos para garantir o cumprimento estão falhando. Temendo o pior, a Aliança
prepara uma demonstração preventiva de poder militar, numa tentativa de trazer os mundos
renegados para a frente antes que uma revolta entre em erupção. O alvo modeloado para esse
exercício: o planeta Corellia, conhecido pela independência impetuosa e pelo espírito renegado que
fizeram de seu filho favorito, Han Solo, uma lenda.Algo como um trapaceiro, Jacen é, no entanto,
obrigado como Jedi a ficar com seu tio, o Mestre Jedi Luke Skywalkers, ao lado da Aliança
Galáctica. Mas quando os corellianos de guerra lançam um contra-ataque, a demonstração de força
da Aliança, e uma missão secreta para desativar a crucial Estação Central de Corellia; dão lugar a
uma escaramuça armada. Quando a fumaça baixa, as linhas de batalha são traçadas. Agora, o
espectro da guerra em grande escala aparece entre um grupo crescente de planetas desafiadores e a
Aliança Galáctica, que alguns temem estar se tornando um novo Império.E, enquanto os dois lados
lutam para encontrar uma solução diplomática, atos misteriosos de traição e sabotagem ameaçam
condenar os esforços de paz a todo momento. Determinado a erradicar os que estão por trás do caos,
Jacen segue uma trilha de pistas enigmáticas para um encontro sombrio com as mais chocantes
revelações… enquanto Luke se depara com algo ainda mais preocupante: visões de sonho de uma
figura sombria cujo poder da Força e crueldade lembram a ele de Darth Vader, um inimigo letal que
ataca como um espírito sombrio em uma missão de destruição. Um agente do mal que, se as visões
de Luke acontecerem, trará uma dor incalculável ao Mestre Jedi e a toda a galáxia.
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Star Wars – Battlefront II: Esquadrão Inferno
Christie Golden
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Após o humilhante roubo dos planos da Estrela da Morte e a destruição da estação de batalha, o
Império está na defensiva. Mas não por muito. Em retaliação, os soldados imperiais de elite do
Esquadrão Inferno foram chamados para a missão crucial de se infiltrar e eliminar os guerrilheiros –
a facção rebelde que já foi liderada pelo famoso lutador pela liberdade da República, Saw Gerrera.
Após a morte de seu líder, os guerrilheiros continuaram seu legado extremista, determinados a
frustrar o Império – não importa o custo. Agora o Esquadrão Inferno deve provar seu status como o
melhor dos melhores e derrubar os Partisans de dentro. Mas a crescente ameaça de serem descobertos
no meio de seu inimigo transforma uma operação já perigosa em um teste ácido de fazer ou morrer
que eles não ousam falhar. Para proteger e preservar o Império, até onde irá o Esquadrão Inferno. . . e
quão longe deles?
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Star Wars – Star Wars – Catalisador – Um Romance de Rogue One
Baixe agora e leia
A guerra está destruindo a galáxia. Durante anos, a República e os Separatistas lutaram entre as
estrelas, cada um construindo uma tecnologia cada vez mais mortal na tentativa de vencer a guerra.
Como membro do projeto secreto da Estrela da Morte do Chanceler Palpatine, Orson Krennic está
determinado a desenvolver uma super arma antes que os inimigos da República possam. E um velho
amigo de Krennic, o brilhante cientista Galen Erso, poderia ser a chave. tativa de vencer a guerra.
Como membro do projeto secreto da Estrela da Morte do Chanceler Palpatine, Orson Krennic está
determinado a desenvolver uma super arma antes que os inimigos da República possam. E um velho
amigo de Krennic, o brilhante cientista Galen Erso, poderia ser a chave. A pesquisa focada na energia
de Galen chamou a atenção de Krennic e de seus inimigos, tornando o cientista um peão crucial no
conflito galáctico. Mas depois que Krennic resgata Galen, sua esposa, Lyra, e sua filha Jyn, de
sequestradores separatistas, a família Erso está profundamente em dívida com Krennic. Krennic
então oferece a Galen uma oportunidade extraordinária: continuar seus estudos científicos com todos
os recursos totalmente à sua disposição. Enquanto Galen e Lyra acreditam que sua pesquisa
energética será usada puramente de maneiras altruístas, Krennic tem outros planos que finalmente
tornarão a Estrela da Morte uma realidade. Presos no aperto cada vez maior de seus benfeitores, os
Ersos precisam desembaraçar a teia de decepção de Krennic para salvar a si mesmos e à própria
galáxia.
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Star Wars – Ascenção Rebelde
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Quando Jyn Erso tinha cinco anos, sua mãe foi assassinada e seu pai foi tirado dela para servir ao
Império. Mas, apesar da perda de seus pais, ela não está completamente sozinha – Saw Gerrera, um
homem disposto a ir a todos os extremos necessários para resistir à tirania imperial, acolhe-a como
sua e dá a ela não apenas um lar, mas todas as habilidades e os recursos de que ela precisa para se
tornar uma rebelde.Jyn se dedica à causa e ao homem. Mas lutar ao lado de Saw e seu povo traz
consigo o perigo e a questão de quão longe Jyn está disposta a ir como um dos soldados de Saw.
Quando ela enfrenta uma traição impensável que destrói seu mundo, Jyn terá que se recompor e
descobrir no que ela realmente acredita… e em quem ela pode realmente confiar.
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Star Wars – A Alta República – O Grande Resgate Jedi
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Conheça os nobres e sábios Jedi da Alta República! Quando um desastre acontece no hiperespaço,
colocando o povo de Hetzal Prime em grave perigo, apenas os Jedi da Alta República podem salvar o
dia! Esse ebook é a forma mais incrível de introduzir as crianças nessa nova Era da Alta República,
pois reconta a história do Ebook Luz dos Jedi de forma simples e didática para as crianças. (FAIXA
ETÁRIA: 5 a 8 anos)
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Star Wars – A Alta República – Na Escuridão
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Muito antes da Primeira Ordem, antes do Império ou antes mesmo da Ameaça Fantasma . . . Os Jedi
iluminaram o caminho para a galáxia na Alta República. Padawan Reath Silas está sendo enviado da
cosmopolita capital galáctica de Coruscant para a Fronteira subdesenvolvida, e ele não poderia estar
menos feliz com isso. Ele prefere ficar no Templo Jedi, estudando os arquivos. Mas quando a nave
em que ele está viajando é arrancada do hiperespaço em um desastre que abrange toda a galáxia,
Reath se encontra no centro da ação. Os Jedi e seus companheiros de viagem encontram refúgio no
que parece ser uma estação espacial abandonada. Mas então coisas estranhas começaram a acontecer,
levando os Jedi a investigar a verdade por trás da estação misteriosa, uma verdade que pode terminar
em tragédia …
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Star Wars – A Alta República – Um Teste de Coragem
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Muito antes da Primeira Ordem, antes do Império ou antes mesmo da Ameaça Fantasma . .
. Vernestra Rwoh é mais nova Cavaleira Jedi com dezesseis anos, mas a sua primeira missão de
verdade parece muito com ser babá. Ela foi encarregada de supervisionar a aspirante a inventora
Avon Starros, de 12 anos, em um cruzador rumo à inauguração de uma nova estação espacial
maravilhosa chamada Farol Estelar. Mas logo em sua jornada, bombas explodem a bordo do
cruzador. Enquanto o Jedi adulto tenta salvar a nave, Vernestra, Avon, o droide J-6 de Avon, um
Padawan Jedi e o filho de um embaixador conseguem chegar a uma nave de fuga, mas as
comunicações acabam e os suprimentos são poucos. Eles decidem pousar em uma lua próxima, que
oferece abrigo, mas não muito mais. E sem o conhecimento deles, o perigo se esconde na selva…
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Star Wars – A Alta República – Corrida para Torre Crashpoint
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Muito antes da Primeira Ordem, antes do Império ou antes mesmo da Ameaça Fantasma... Padawan
Ram Jomaram quer cuidar das suas atividades em paz, mas o droide V-18 vem trazer notícias sobre a
queda das comunicações. Contudo os outros Jedi estão resolvendo outros problemas e ele é o único
disponível para resolver a situação.
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Star Wars: Velha República – Enganados
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“Nossa hora chegou. Durante trezentos anos nos preparamos; ficamos mais fortes enquanto você
descansava em seu berço de poder... Agora sua República cairá.” Um guerreiro Sith para rivalizar
com o mais sinistro dos Lordes Sombrios da Ordem, Darth Malgus derrubou o Templo Jedi em
Coruscant em um ataque brutal que chocou a galáxia. Mas se a guerra o coroasse como o mais
sombrio dos heróis Sith, a paz o transformará em algo muito mais hediondo, algo que Malgus nunca
gostaria de ser, mas não pode parar de se tornar, assim como ele não pode impedir a Jedi
desobediente de se aproximar rapidamente. O nome dela é Aryn Leneer - e o único Cavaleiro Jedi
que Malgus matou na batalha feroz pelo Templo Jedi era seu Mestre. Agora ela vai descobrir o que
aconteceu com ele, mesmo que isso signifique quebrar todas as regras da Ordem.
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Star Wars: Thrawn – Traição
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Essa foi a promessa que o Grão Almirante Thrawn fez ao Imperador Palpatine em seu
primeiro encontro. Desde então, Thrawn tem sido um dos instrumentos mais eficazes do
Império, perseguindo os seus inimigos até os limites da galáxia conhecida. Mas por mais
que Thrawn tenha se tornado uma arma afiada, o Imperador sonha com algo muito mais
destrutivo. Agora, enquanto o programa TIE Defender de Thrawn é interrompido em favor
do projeto ultrassecreto conhecido apenas como Estrelinha, do Diretor Krennic, ele percebe
que o equilíbrio de poder no Império é medido por mais do que apenas perspicácia militar
ou eficiência tática. Mesmo o maior intelecto dificilmente pode competir com o poder de
aniquilar planetas inteiros. Enquanto Thrawn trabalha para garantir o seu lugar na
hierarquia Imperial, seu ex-protegido Eli Vanto retorna com um terrível aviso sobre o mundo
natal de Thrawn. O domínio da estratégia de Thrawn deve guiá-lo através de uma escolha
impossível: dever para com a Ascendência Chiss ou a fidelidade para com o Império que
ele jurou servir. Mesmo que a escolha certa signifique cometer traição.

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