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TESE, ARGUMENTO,

VALIDADE, VERDADE
E SOLIDEZ
TESE, ARGUMENTO, VALIDADE, VERDADE E SOLIDEZ

A lógica como estudo da validade dos argumentos

Embora desde muito cedo os seres humanos se tenham tornado capazes de usar a
linguagem para elaborar argumentos e detetar falhas nos argumentos uns dos outros, a
fundação da lógica enquanto disciplina filosófica situa-se na Antiguidade grega. Aristóteles
(c. 384-322 a.C.) é geralmente reconhecido como o primeiro pensador a estabelecer um
sistema de lógica e a fornecer uma distinção ordenada dos argumentos válidos e inválidos.
A lógica aristotélica permaneceu vinte e dois séculos praticamente inalterada. Só a partir
do século XIX, Gottlob Frege (1848-1925) e Charles Pierce (1839-1914) revolucionaram os
fundamentos da disciplina, dando origem a uma nova era na lógica. No século XX, a ciência
da inferência conheceu progressos relevantes.
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Para que os nossos raciocínios possam ser claros e traduzir-se em bons argumentos, é
importante saber evitar o erro. A sistematização dos princípios ou fundamentos com os
quais é possível argumentar validamente, isto é, defender uma tese, é tarefa da lógica.

A lógica interessa-se por aqueles processos a que chamamos «raciocínios» ou


«inferências», quando pensamos neles como processos mentais, e a que chamamos
«argumentos», quando atentamos de modo especial no seu aspeto linguístico.

Quando nos socorremos da argumentação, estamos a encadear raciocínios lógicos


que permitem suportar a nossa tese. A adesão a uma tese está, pois, diretamente
relacionada com a força e a validade dos argumentos usados.
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O que é um argumento?
Um argumento é um complexo formado por uma ou várias proposições (premissas), a
partir da(s) qual(ais) se infere uma única proposição (conclusão). A relação que se
estabelece entre as premissas e a conclusão é uma relação de justificação, conseguida ou
não, frequentemente assinalada com expressões como «logo», «portanto», «por
conseguinte», etc. O movimento ou passagem das premissas para a conclusão designa-se
inferência ou raciocínio.

As premissas são o ponto de partida de um argumento. Devem apoiar racionalmente a


conclusão e visam, no seu conjunto, fornecer os fundamentos para que a conclusão seja
aceite. Premissas e conclusão são muitas vezes acompanhadas de expressões que nos
ajudam a identificar umas e outra.
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Exemplo:
→ Conclui-se que as galinhas não são peixes, uma vez que os peixes têm guelras e as
galinhas não têm guelras.
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O que são proposições?


Cada uma das premissas de um argumento, bem como a sua conclusão, são proposições.
As proposições, aquilo que é proposto ou declarado, são asserções: dizem como as coisas
são, foram ou serão. No entanto, nem todas as frases são proposições. Só as frases
indicativas, por vezes também enunciados declarativos, suscetíveis de serem encaradas
como verdadeiras ou falsas são proposições.

Uma proposição é necessariamente portadora de valor de verdade, isto é, pode ser


verdadeira ou falsa. A verdade ou falsidade, valores que se excluem mutuamente, são
propriedades que podem unicamente ser atribuídas às proposições e nunca aos
argumentos.
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Exemplos de frases que são proposições:


→ Está a chover.
→ Hoje não faz sol.
→ Existem animais estranhos.

Exemplos de frases que não são proposições:


→ Qual o significado da palavra meditabundo?
→ Traz-me aquele lápis, por favor.
→ Desejo-lhe boa sorte.
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Como se distinguem as noções de validade e de verdade?

Consideremos os exemplos que se seguem.


Argumento 1
Os ursos-polares são mamíferos.
Todos os mamíferos respiram por pulmões.
Logo, os ursos-polares respiram por pulmões.

Argumento 2
Os carapaus não são mamíferos.
Todos os mamíferos respiram por pulmões.
Logo, os carapaus não respiram por pulmões.
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As conclusões dos argumentos apresentados são ambas verdadeiras. Efetivamente,


os ursos-polares respiram por pulmões, o mesmo não acontecendo com os carapaus.
Mas não precisamos de ser especialistas em zoologia para rapidamente percebermos
que há qualquer coisa de errado com o argumento 2. Quanto ao primeiro,
independentemente de sabermos ou não o que são ursos-polares, se reconhecermos
como verdadeiras as premissas, somos forçados a aceitar a conclusão.

Dizemos então que o argumento 1 é válido. Não há alternativa à conclusão


apresentada. A conclusão não é apenas verdadeira, é também uma consequência
lógica das premissas. Percebemo-lo a partir da forma lógica ou estrutura formal do
argumento. Qualquer outro argumento que respeite rigorosamente a mesma forma
lógica será também válido.
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No caso do argumento 2, tanto as premissas como a conclusão são verdadeiras, mas o


argumento carece da propriedade de validade. É, por isso, inválido, pois a conclusão
não é uma consequência lógica das premissas. Uma das premissas do argumento diz
que os mamíferos, todos eles, respiram por pulmões, mas não diz que apenas os
mamíferos respiram por pulmões.
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O argumento 2 é, assim, um exemplo de mau argumento.


→ Diz-se que um argumento é mau quando apresenta, para a sua conclusão, um
suporte débil ou nenhum suporte em absoluto.

Inversamente, o argumento 1 é um bom argumento.


→ Diz-se que um argumento é bom quando é válido ou quando as premissas apoiam, no
sentido mais forte que há, a sua conclusão.

→ Reserva-se frequentemente o termo sólido para nos referirmos a argumentos válidos


com premissas verdadeiras.
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Um argumento inválido pode ter premissas e conclusão verdadeiras, do mesmo modo


que um argumento válido pode ser constituído por premissas e conclusão falsas.

A virtude essencial de um argumento válido não reside no facto de as premissas serem


verdadeiras ou falsas, mas no facto de a conclusão se seguir necessariamente das
premissas, o que acontece no argumento 1 – por isso se disse que a sua conclusão era
consequência lógica das premissas – e não no argumento 2 – por isso se disse que a sua
conclusão não era consequência lógica das premissas.

Sabemos que é impossível que, num argumento válido, as premissas sejam verdadeiras e
a conclusão falsa. Consequentemente, se um argumento possui premissas verdadeiras e
conclusão falsa, então podemos rejeitá-lo de imediato: é inválido. Mas, em todas as
demais circunstâncias, teremos de analisar a forma como a conclusão é extraída do
conjunto das premissas para podermos determinar se o argumento é válido ou inválido.
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Em conclusão:

→ Das proposições dizemos que são verdadeiras ou falsas.


→ Dos argumentos afirmamos que são válidos ou inválidos.
→ A validade refere-se à forma/estrutura dos argumentos.
→ A verdade diz respeito ao conteúdo/matéria das proposições.
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Concluímos assim que:


→ A validade é uma propriedade que se refere exclusivamente à forma lógica ou
estrutura formal do argumento.

→ O conteúdo específico das premissas e da conclusão não é relevante para determinar


a validade dos argumentos.

A validade é uma importante propriedade dos argumentos. Se, e apenas se, nos
basearmos em informação verdadeira e, simultaneamente, raciocinarmos validamente, é
seguro que não chegaremos a uma conclusão falsa.
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