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Agrupamento de Escolas Carlos Amarante

Rafael Teixeira / n*22 / 11*B

Objeções a David Hume

- Objeção Baseada na Argumentação a


Favor da Melhor Explicação:

As induções (generalizações e previsões), os argumentos por


analogia e os argumentos de autoridade são argumentos
não-dedutivos.

“Outro importante estilo não-dedutivo de argumentação é


conhecido como ​inferência a favor da melhor explicação​. Com este
tipo de argumento ponderamos a plausibilidade de uma hipótese
em função do tipo de explicação que oferece. A melhor hipótese é
aquela que explica mais. Assim, por exemplo, se chego a casa e
encontro entranhas de rato na cozinha e o meu gato a dormir
profundamente com um ar muito satisfeito no preciso momento
em que habitualmente pede para ser alimentado, a melhor
explicação do que aconteceu na minha ausência é que o meu gato
apanhou e comeu um rato e depois pôs-se a dormir uma sesta.

Mas há outras possíveis explicações para o que sucedeu. Por


exemplo, outro gato pode ter entrado através da gateira e ter
deixado as entranhas do rato no chão da cozinha. Ou talvez a
minha mulher, tentado confundir-me, tenha matado e
desmembrado um rato deixando-o ali para incriminar o gato. A
minha conclusão de que foi o meu gato que matou e comeu o rato
é, contudo, a mais plausível em circunstâncias como estas. Isso é
assim porque, enquanto as hipóteses alternativas conseguem
explicar as entranhas, não explicam a razão por que o gato parece
tão satisfeito.
Este tipo de raciocínio é muito importante na ciência e no
quotidiano. Mas, como mostram os exemplos anteriores, não é
completamente fiável. Há sempre outras possíveis explicações dos
mesmos factos [embora menos prováveis, atendendo às várias
circunstâncias envolvidas]. A minha mulher podia ter incriminado
o gato, tendo escolhido precisamente um dia em que o gato
estivesse particularmente inativo de modo a que ele dormisse
durante a hora habitual da refeição. A conclusão da inferência a
favor da melhor explicação não se segue, então, inevitavelmente
das premissas, ao contrário do que sucede com um argumento
dedutivo válido.

As inferências a favor da melhor explicação carecem da


fiabilidade dos argumentos dedutivos. Isto não deve ser
interpretado como uma crítica à inferência a favor da melhor
explicação. Usamos este estilo de raciocínio precisamente nas
circunstâncias em que a dedução é impossível: quando, por
exemplo, tentamos compreender a causa ou explicação de algo e
há mais do que uma perspectiva possível acerca de como as coisas
acabaram por ser o que são.”

- Objeção do homúnculo:

Através do Argumento da Mesa, Hume demonstrou que aquilo que


está presente na nossa mente não são os objetos reais do mundo
exterior, mas sim uma imagem ou representação mental dos
mesmos. Esta imagem do funcionamento da mente parece
implicar que somos homúnculos (pessoas minúsculas) fechados
numa espécie de cinema privado no interior das nossas mentes,
onde nos são apresentadas imagens ou representações dos
objetos do mundo exterior aos quais não temos qualquer tipo de
acesso direto. Mas esta imagem do funcionamento da mente
levanta os mesmos problemas que os colocados a propósito da
nossa relação com o mundo exterior. Se a natureza da explicação
se mantiver inalterada, acabaremos por supor a existência de
outro homúnculo dentro da mente do primeiro e assim
sucessivamente, caindo numa regressão infinita de homúnculos,
que aparentemente deixa por explicar o processo de interação
entre a mente e o mundo.

​–Objeção à Imagem da Mente como Tábua


Rasa:

No século XX, o filósofo americano Jerry Fodor propôs um


argumento que põe em causa a crença partilhada pelos empiristas
de que, à nascença, a nossa mente é como uma tábua rasa (ou
folha em branco). Fodor considera que:

“Aprender uma Língua (incluindo, é claro, uma primeira Língua)


implica aprender o que os predicados dessa linguagem significam.
Aprender o que os predicados de uma linguagem significam
implica uma determinação da sua extensão. Aprender a
determinação da extensão de predicados implica aprender que
determinadas regras se lhes aplicam (…). Mas não podemos
aprender que R se aplica a P a menos que tenhamos uma Língua
em que P e R possam ser representados. Portanto, não podemos
aprender uma Língua a menos que já tenhamos uma Língua.”

Jerry Fodor (1976), The Language of Thought. Trad. Luís


Veríssimo. Hassocks, Sussex: Harvester Press, pp. 63-64

Assim, uma vez que à nascença somos capazes de aprender uma


Língua e qualquer processo de aprendizagem de uma Língua
pressupõe algum conhecimento linguístico, Fodor acredita ter
demonstrado a existência de conhecimento linguístico inato.

Explicitamente formulado, o argumento diz-nos o seguinte:

- (1) Para aprender uma Língua temos de aprender regras.


- (2) Para aprender regras temos de ser capazes de as
representar.
- (3) Para aprender uma Língua temos de ser capazes de
representar regras. (De 1 e 2)
- (4) Para poder representar regras temos de ter algum
conhecimento linguístico.
- (5) Para aprender uma Língua temos de ter algum
conhecimento linguístico. (De 3 e 4)
- (6) Quando nascemos temos a capacidade de aprender uma
Língua.
- (7) Se quando nascemos temos a capacidade de aprender
uma Língua e para aprender uma Língua temos de ter algum
conhecimento linguístico, então existe conhecimento
linguístico inato.
- (8) Logo, existe conhecimento linguístico inato. (De 5 a 7).

Se encararmos este conhecimento inato do funcionamento


da língua como genuíno conhecimento acerca do mundo,
teremos de abandonar a ideia de que, à nascença, a mente é
uma tábua rasa (ou folha em branco).

– O contraexemplo do matiz de azul


desconhecido:

A que iremos considerar é um contraexemplo ao Princípio da


Cópia apresentado pelo próprio Hume, após ter formulado o
argumento do cego de nascença.

“Suponhamos (…) que uma pessoa foi dotada de visão


durante trinta anos e se familiarizou perfeitamente com
cores de todos os tipos, com exceção, digamos, de um
determinado matiz de azul, com o qual nunca se calhou de se
deparar. Suponhamos que todos os diferentes matizes dessa
cor, com exceção daquele único, sejam colocados perante
essa pessoa, descendo gradualmente do mais escuro para o
mais claro. É óbvio que ela perceberá um vazio no lugar onde
falta aquele matiz, e perceberá que nesse lugar há uma
distância entre as cores contíguas maior do que em qualquer
outra.

Assim, a minha pergunta é se lhe seria possível, a partir da


sua própria imaginação, suprir essa deficiência e trazer à sua
mente a ideia daquele matiz em particular, apesar de este
nunca lhe ter sido transmitido pelos sentidos. Acredito que
poucos serão de opinião de que tal não lhe seja possível, o
que pode servir como prova de que as ideias simples nem
sempre são, em todos os casos, derivadas das impressões
correspondentes, embora este exemplo seja tão singular que
quase não vale a pena assinalá-lo, e tampouco merece que,
apenas por sua causa, devemos modificar a nossa tese
geral.”

David Hume (1748), Investigação sobre o Entendimento


Humano. Trad. João Paulo Monteiro. Lisboa: INCM, 2002, pp.
36-37.

Assim, embora Hume acreditasse que a maioria de nós


estaria tentada a afirmar que, nestas circunstâncias, a
pessoa seria capaz de imaginar o matiz de azul em falta,
mesmo na ausência da impressão correspondente,
desvaloriza o contraexemplo por considerá-lo uma situação
demasiado invulgar para que realmente possa pôr em causa
o Princípio da Cópia.

Fontes : slideshare

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