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PROBLEMA DA EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA

Formulação do problema: Como progride a ciência? Como evolui o conhecimento científico?

1. PERSPETIVA DE KARL POPPER


A ciência progride por aproximação à verdade.
 Nunca podemos garantir que uma teoria científica é verdadeira, mas isso não impede o progresso da
ciência; basta que as teorias científicas atuais sejam melhores (resistir aos testes de falsificabilidade) que as
anteriores.
 As novas teorias, ao ocuparem o lugar das velhas, preservam alguns dos seus melhores aspetos,
enquanto desfazem os seus defeitos; e isto só é possível porque procuram ativamente o erro.
A ciência evolui por conjeturas e refutações, num processo de contínua aproximação à verdade. Nunca
podemos dar como certo que lá chegamos, mas temos boas razões para concluir que nos aproximamos dela
cada vez mais.

2. PERSPETIVA DE THOMAS KHUN


A ciência não tem de progredir em direção a um fim previamente estabelecido , rejeitando a ideia de
que a ciência progride em direção à verdade. Para Kuhn, só faz sentido falar de progresso dentro de um
paradigma.
Um paradigma é uma visão do mundo que proporciona os princípios teóricos e práticos para se fazer ciência
numa dada área; conjunto de crenças, princípios e metodologias partilhadas pela comunidade científica.
Um paradigma estabelece:
 Pressupostos teóricos fundamentais.
 Regras para aplicar a teoria à realidade.
 Princípios metafísicos.

 Se para Kuhn a história da ciência é uma sucessão de paradigmas, como se dá essa evolução?
1 - Período de Ciência Normal:
 Período em que se estabelece consensualmente um paradigma.
 Refere-se aos longos períodos de ciência que decorrem ao abrigo de um paradigma (como p.e. o
geocentrismo de Ptolomeu).
 A função do cientista normal é alargar o âmbito e alcance do paradigma, ao resolver enigmas ou
puzzles, sem pôr em causa paradigma.
 Há uma atitude dogmática em relação às hipóteses.

2 - Período de Crise Científica:


 Por vezes os cientistas descobrem que os pressupostos do paradigma não estão de acordo com
aquilo que se observa na natureza.
 Quando as tentativas de resolver um enigma fracassam, surge uma anomalia (considerada como
falha da investigação, não do paradigma).
 Se as anomalias forem resolvidas à luz do paradigma, este é reforçado.
 Mas se as anomalias permanecerem sem uma solução satisfatória, começa-se a perder confiança no
paradigma.

3 - Período de Ciência extraordinária:


 Ao perder-se a confiança no paradigma, dá lugar à crise (i.e., o paradigma vigente deixa de ser o
modelo consensual de fazer ciência).
 Uma vez instalada a crise, inicia-se a ciência extraordinária.
 É um período de competição e escolha de teorias, acabando por surgir uma teoria alternativa que
proporciona um novo paradigma.
 A comunidade científica divide-se entre os conservadores (que defendem o velho paradigma) e os
revolucionários (que defendem o novo).

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 Na teoria de Kuhn faz sentido falar de progresso científico?
Para Kuhn, só faz sentido falar de progresso dentro de um paradigma. Nos períodos de ciência normal há
um evidente e reconhecido progresso científico, pois cada enigma resolvido amplia a aplicação do paradigma
e acrescenta novo conhecimento, sem pôr em causa o que existe – o progresso é cumulativo.

 Por que razão pensa Kuhn que os paradigmas são incomensuráveis?


1 - Argumento baseado na impossibilidade de tradução entre paradigmas: (Aplicação da regra modus tollens)
Se os paradigmas são comensuráveis, então não são demasiado diferentes entre si para poderem ser
comparados objetivamente. P   Q
Mas os paradigmas são demasiado diferentes entre si para poderem ser comparados objetivamente. Q
Logo, os paradigmas são incomensuráveis.   P

Justificação da premissa (2):


 Para Kuhn, cada paradigma tem os seus próprios conceitos, os seus próprios problemas e os seus
próprios procedimentos para observar o mundo. Daí que se torne impossível compará-los objetivamente.

2 - Argumento baseado na insuficiência dos critérios objetivos: (Aplicação da regra modus tollens)
Se os paradigmas são comensuráveis, então é possível justificar a preferência por um paradigma através
de critérios puramente objetivos. P   Q
Mas não é possível justificar a preferência por um paradigma através de critérios puramente objetivos.  Q
Logo, os paradigmas são incomensuráveis. P

Justificação da premissa (2):


 A escolha de teorias/paradigmas envolve, além de fatores objetivos (como a exatidão, consistência,
simplicidade, alcance, fecundidade), também fatores subjetivos importantes.
 Os critérios de escolha de teorias/paradigmas são vagos e, portanto, a sua aplicação é muito
subjetiva.
 Assim, não é possível, por exemplo, determinar com rigor o nível de simplicidade de uma teoria.

 Críticas à teoria de Kuhn


1. A ideia de que os paradigmas são incomensuráveis é implausível: essa ideia é contrariada pela própria
história da ciência. Por exemplo, a teoria heliocêntrica foi inicialmente proposta por Copérnico porque
permitia explicar precisamente os mesmos fenómenos observados (movimento aparente de certos planetas,
eclipses, estações do ano, fases da lua, etc) à luz da teoria geocêntrica, mas de modo mais simples, exato e
eficaz.

2. De um modo geral, as teorias científicas atuais permitem fazer previsões mais rigorosas e exatas do que
as teorias do passado.

3. Kuhn propõe uma conceção relativista da ciência: se tudo não passar de conceções do mundo
inconciliáveis às quais se adere pelas mais variadas razões (incluindo motivações psicológica, ideológicas,
religiosas ou políticas), então elas não são diretamente confrontadas com o mundo, sendo antes
construções sociais tão justificáveis como os mitos e lendas.

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