Você está na página 1de 34

Tomasz Alen Kopera

O Problema do Livre-Arbítrio
Filosofia 10 Professor Paulo Gomes

www.filosofarliberta.blogspot.pt
Definição dos conceitos
Definição dos conceitos

https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/livre-arbítrio
“O problema do livre-arbítrio é um dos mais antigos e complexos da filosofia. Ele
diz respeito ao conflito existente entre a liberdade que temos ao agir e o
determinismo causal.”
“Podemos introduzi-lo considerando as três proposições
seguintes:

Proposição 1. Todos os acontecimentos são causados


[por acontecimentos anteriores].

Proposição 2. As nossas acções são livres.

Proposição 3. Acções livres não são causadas [por


acontecimentos anteriores].”
“A proposição 1 parece geralmente verdadeira:

cremos que, no mundo em que vivemos, para todos os acontecimentos deve


haver uma causa.”

(É isto que diz o Princípio da Razão Suficiente)


“A proposição 2 também parece verdadeira:

quando nos observamos a nós mesmos, parece óbvio que as nossas decisões e
acções são frequentemente livres.”
“Também a proposição 3 parece verdadeira:

se as nossas acções fossem causalmente determinadas, elas não poderiam ser


livres.”
“O problema do livre-arbítrio surge quando percebemos que as três proposições
acima formam um conjunto inconsistente, ou seja: não é possível que todas elas
sejam verdadeiras!”
1. Todos os acontecimentos são causados [por acontecimentos anteriores].
2. As nossas acções são livres.
3. Acções livres não são causadas [por acontecimentos anteriores].

Se admitimos que todos os acontecimentos são causados e que a acção livre não
é causalmente determinada (que as proposições 1 e 3 são verdadeiras), então
não somos livres, porque as nossas acções são acontecimentos (a proposição 2
é falsa).
1. Todos os acontecimentos são causados [por acontecimentos anteriores].
2. As nossas acções são livres.
3. Acções livres não são causadas [por acontecimentos anteriores].

● Se admitimos que as nossas acções são livres e que como tais elas não
são causalmente determinadas (que 2 e 3 são proposições verdadeiras),
então não é verdade que todo o acontecimento seja causado (a
proposição 1 é falsa).
1. Todos os acontecimentos são causados [por acontecimentos anteriores].
2. As nossas acções são livres.
3. Acções livres não são causadas [por acontecimentos anteriores].

● “E se admitimos que todo o acontecimento é causado e que somos livres


(que as proposições 1 e 2 são verdadeiras), então deve haver algo de
errado com a ideia de liberdade expressa na proposição 3.”
“Cada uma destas alternativas possui um nome e foi classicamente defendida.

A primeira delas é chamada de determinismo; ela consiste em negar a verdade da


proposição 2, ou seja, que somos realmente livres.

Ela foi mantida por filósofos como Espinosa, Schopenhauer e Henri d'Holbach.

Segundo o Determinismo não somos livres


“A segunda alternativa chama-se libertismo: ela não tem problemas em admitir
que o mundo ao nosso redor é causalmente determinado, mas abre uma
excepção para muitas de nossas decisões e acções, que sendo livres escapam à
determinação causal. Com isso o libertismo rejeita a validade universal do
determinismo expressa pela proposição 1.

Essa é a posição de Santo Agostinho, Kant e Fichte.”

Segundo o libertismo:

As nossas acções são livres.


Acções livres não são causadas [por acontecimentos
anteriores].
O universo não segue uma causalidade rígida
(indeterminismo).
“Finalmente há o compatibilismo, ou determinismo moderado, que tenta mostrar
que a liberdade de ação é perfeitamente compatível com o determinismo,
rejeitando a ideia de liberdade expressa na proposição 3.

Historicamente, Hobbes, Hume e Stuart Mill foram famosos defensores do


compatibilismo.”

O determinismo moderado (compatibilismo)


defende que:

Todos os acontecimentos são causados [por


acontecimentos anteriores].

As nossas acções são livres.

As nossas ações são causadas por


acontecimentos externos e por causas internas.
DETERMINISMO

“A conclusão do filósofo determinista é a de que o livre-arbítrio na


verdade não existe, posto que se a ação fosse realmente livre ela não
seria determinada por outros factores independentes dela mesma.

A liberdade que parecemos ter ao tomarmos as nossas decisões é pura


ilusão, produzida por uma insuficiente consciência das suas causas.

Mesmo quando pensamos que poderíamos ter agido de outro modo, o


que queremos dizer não é que éramos realmente livres para agir de
outro modo, mas simplesmente que teríamos agido de outro modo se o
sentimento mais forte tivesse sido outro, se soubéssemos aquilo que
agora sabemos etc.”
DETERMINISMO

“O argumento a favor do determinismo pode ser assim


esquematizado:

Uma ação é livre se não tiver uma causa (anterior)


Todos os acontecimentos são causados.
Todas as ações humanas são acontecimentos.
Nenhuma ação humana existe sem uma causa.
Logo, Nenhuma ação humana é livre.
DETERMINISMO

Um argumento mais simples em defesa do determinismo:

Tudo o que fazemos é causado por forças que não controlamos.


Se as nossas ações são causadas por forças que não controlamos,
então não agimos livremente.

______________________________
Logo, nunca agimos livremente.

(James Rachels)
DETERMINISMO

Objeções à teoria determinista:

1. Desvaloriza a convicção (o sentimento) de que somos livres, mas


não é capaz de a eliminar (nós continuamos com essa convicção
muito forte).
2. O sentimento de arrependimento ou remorso parece perder o
sentido, pois como se justifica que nós possamos arrepender-nos
das nossas ações, se não formos livres para escolhê-las?
3. Também a responsabilidade moral perde a validade. Se nas
nossas ações somos tão determinados como uma pedra que cai
ao ser solta no ar, faz tão pouco sentido responsabilizar uma
pessoa pelos seus atos quanto faz sentido responsabilizar a pedra
por ter caído.
LIBERTISMO

O libertista rejeita a primeira premissa do argumento determinista.

O princípio da causalidade (o Princípio da Razão Suficiente), enunciável


como "Todo o acontecimento tem uma causa", não parece ter a sua
validade universal garantida. Há acontecimentos que podem não ter
uma causa originada por um acontecimento anterior.

A isso o libertarista poderá acrescentar que nós simplesmente sabemos


que somos livres. Há uma grande diferença entre um comportamento
reflexo e um comportamento resultante da decisão da vontade.

Nós sentimos que no último caso somos livres, que podemos decidir
sempre de outro modo.
LIBERTISMO

O argumento que conduz à teoria da ação libertista tem a forma:

Não é certo que todos os acontecimentos são causados por


acontecimentos anteriores
Sabemos que as nossas ações são frequentemente livres
As ações humanas livres não podem ser causadas por acontecimentos
anteriores

____________________________________________________

Logo, as ações humanas não precisam de ser causadas por


acontecimentos anteriores.
Este argumento resulta da síntese dos seguintes argumentos:

O argumento da experiência. = Nós temos a experiência de que somos livres

A experiência da liberdade gera em nós uma forte

convicção de que somos livres

Logo, somos livres

O argumento de que o universo não é um sistema determinista.

= A nível subatómico os componentes da matéria não seguem leis causais


rígidas

O comportamento dos átomos e dos componentes subatómicos da matéria


só pode ser explicado de acordo com leis probabilísticas

_____________________________

Logo, o universo não é um sistema determinista


O argumento de que não podemos prever as nossas próprias decisões.

Se o comportamento humano está causalmente determinado, então é previsível


em princípio.
Mas uma previsão sobre o que alguém irá fazer pode ser contrariada se a pessoa
cujo comportamento está a ser previsto souber qual é a previsão e escolher agir
de outra forma.

______________________________________________________
Logo, nem todas as ações humanas são previsíveis em princípio.
O argumento da responsabilidade

Não conseguimos deixar de admirar ou de censurar as pessoas pelo que fazem,


nem conseguimos deixar de, por vezes, sentir orgulho ou vergonha pelo que
fazemos.

Estas reacções – admiração, censura, orgulho e vergonha – não seriam


apropriadas se as pessoas não tivessem livre-arbítrio.

___________________________________________________
Logo, temos de acreditar que as pessoas têm livre-arbítrio.
Objeções à teoria libertista:

“Embora essa solução preserve a noção de livre arbítrio, ela tem o inconveniente
de explicar o obscuro pelo que é mais obscuro ainda, que é um mistério a ser
aceite sem questionamento. A pergunta que permanece é se não há uma solução
mais satisfatória.”
Objeções à teoria libertista:
Compatibilismo

Segundo o compatibilismo, também chamado de determinismo moderado ou


reconciliatório, nós permanecemos livres e responsáveis, mesmo sendo
causalmente determinados nas nossas ações.
Compatibilismo

O raciocínio que conduz ao compatibilismo tem a forma:

Todos os acontecimentos são causados.


As ações humanas são acontecimentos.
Todas as ações humanas são causadas.
Sabemos que as nossas ações são às vezes livres.
Portanto, as ações livres são causadas.

O determinista acredita que a liberdade da vontade é o mesmo que a capacidade


de produzir ações sem que elas sejam determinadas por causas. Mas isso é
falso. Se assim fosse, uma pessoa que se comportasse arbitrariamente, mesmo
que contra a sua própria vontade, seria um exemplo de pessoa livre. Mas o
comportamento arbitrário não é visto como um comportamento livre. A diferença
entre a vontade livre e a vontade não-livre não deve residir, pois, no facto de a
segunda ser causalmente determinada e a primeira não.
Compatibilismo
Tanto no caso de actos livres como no caso de actos não-livres, nós costumamos
encontrar determinações causais, como mostram os seguintes exemplos:
Compatibilismo

A diferença entre as ações livres da coluna A e as não-livres da coluna B é


que as primeiras são voluntárias, enquanto as segundas não.

Daí que a diferença entre a vontade livre e não-livre como resida no facto de
que os actos derivados da vontade livre são voluntários, enquanto os actos
que não são derivados da vontade livre são involuntários, no sentido de se
oporem à nossa vontade ou de serem independentes dela.

Se Gandi passa fome para libertar a Índia, se alguém rouba um pão por
estar com fome, estes actos são ações livres, posto que são actos
voluntários; mas se uma pessoa assina uma confissão sob tortura ou toma
uma dose de aguardente contra a sua vontade, esses são actos que se
opõem à vontade dos agentes, por isso mesmo não são livres.

Você também pode gostar