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MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

HÁ 5.000 CICLOS DE RÁ
A O.F.O. E A FRATERNIDADE DE FLOR DE LÓTUS
3ª FAMÍLIA ESPIRITUAL DE AKRON
LIVRO I

5ª Edição

Brasília, 2015

O.F.O. EDITORA
Copyright © 2004: Adhemar Luiz Lima de Carvalho
Érika Cristina Alves Custódio Viana
Paulo Henrique de Paula Viana.

Outras obras:
OS PAPIROS SAGRADOS DE HERMES: ESCOLA SINCROMÁTICA DE Akron
Há 5.000 Ciclos de Rá: 2ª FAMÍLIA ESPIRITUAL DE AKRON - LIVRO II
As Histórias Do Vovô Benedito
Malu - Infância Violentada
Glossário Ocultista e Dicionário O.F.O.
Frases Áureas de Akron

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS — Nenhuma parte deste livro, inclusive as capas,


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quais forem os meios empregados, sem a indispensável permissão escrita do Autor
ou detentor de autorização escrita do Mesmo. Aos infratores se aplicam as sanções
previstas em todas as leis pertinentes e vigentes no país e no exterior.

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Revisão: Maria de Lourdes da Cruz Gomes

Catalogação na fonte

G463 Gil, Maria Lúcia Távora.


Há 5.000 ciclos de Rá : a O.F.O. e a Fraternidade de Flor de Lótus :
3ª família espiritual de Akron : Livro I / Maria Lúcia Távora Gil. — 5.
ed. — Brasília : O.F.O., 2015.
185p.

ISBN 978-85-7766-337-8

1. Egito Antigo. 2. Família espiritual. 3. Fraternidade de Flor de


Lótus. 4. Ocultismo. I. Título.

CDU 133
“Uma Mônada tem 7 Raios Monádicos ou Egos.
Cada Ego tem 3 Aspectos ou Famílias Espirituais.”

AKRON

TERCEIRA FAMÍLIA ESPIRITUAL DE AKRON

San-Shú _ Zornay

Menhenúfis _ Nefáris

Karnak _ sem Nome Iniciático

Menherteth _ Noreya

Subahajah _ Surinaya
NOSSO AMOR

Ao Venerável Sacerdote Egípcio que viveu na


1ª Dinastia, durante o reinado do Faraó Menhenés, e que,
com o nome de AKRON, assumiu o cargo de
1º Faraó da 2ª Dinastia e Sumo Pontífice,
que já era. AKRON nos legou sua Obra, um poema de
harmonia que, penetrando no âmago das consciências, faz
brotar as luzes da Espiritualidade.

NOSSO OFERECIMENTO

A todos que já conhecem o Venerável Mestre AKRON


e àqueles que talvez ainda venham a conhecê-LO.
Também, com todo carinho, a todas as crianças.

NOSSO AGRADECIMENTO

A todos aqueles que, de uma maneira ou de outra,


cooperaram para a realização desta Obra e,
em especial, aos Irmãos:
AK-OM-THOR — Adhemar Luiz de Carvalho Lima
AKZAMON — Érika Cristina Custódio Viana
AKMONRÁ — Paulo Henrique de Paula Viana
HUNAY — Maria de Lourdes da Cruz Gomes
Símbolo da
ORDEM DAS ALMAS FRATERNALMENTE UNIDAS
O.F.O.

Representa suas 4 Fraternidades

de Menhenúfis _ o amor dividido é mais amor (o lema)


das Almas _ o coração
dos Filhos de Kam _ o triângulo
de Flor de Lótus _ a flor de lótus
SUMÁRIO

Prólogo................................................................11

PRIMEIRA PARTE

Os Seis Irmãos........................................................15
O Lugar................................................................19

SEGUNDA PARTE

A Morte do Faraó Menhenés.......................................23


Ápis – o Boi Sagrado............................................................27
Câmara das Imagens sem Mácula.................................29
O Palácio Real..................................................................33
O Sepultamento do Faraó................................................39
O Testamento de Menhenés...................................................43
O Acólito Permanente..........................................................45
Escolha da Sacerdotisa-Chefe................................................47
A Coroação de Akron.....................................................51
Os Cântaros Partidos...................................................57
O Festival da Dádiva....................................................65
Subahajah e Karnak.......................................................75
O Sacrifício....................................................................77
O Documento..............................................................81
A Pira....................................................................83
O Conselho Secreto dos Vinte e Um....................................85
O Desembarque de Akron em Tebas..................................87
A Criação da Ordem das Almas Fraternalmente Unidas (O.F.O.).......89
A Imagem de Amon......................................................91
Promessas Finais de Uma Vida...........................................97
A Fogueira.................................................................99
O Sumo Pontífice Substituto................................................103
O Faraó Atóthis...........................................................105
O Faraó Aktóthis..........................................................107
O Regresso dos Seis Irmãos...............................................111
TERCEIRA PARTE

Palavras da Autora.........................................................115
O Apelo de Um Mestre...................................................117
Fagulhas de Sabedoria...................................................141
Parábolas............................................................163
Previsões....................................................................167
Flor de Lótus..................................................................177
Saudação do Mestre........................................................183
Epílogo...................................................................185

PRÓLOGO

AKRON — sem mácula em MENHERTETH, pois MENHERTETH


só conhecia a alvura e o brilho das imagens polidas por si
mesmo.

AKRON — elevado no amor de MENHENÚFIS, porque


MENHENÚFIS não conhecia o ódio.

AKRON — altivo e corajoso em SUBAHAJAH, porque


SUBAHAJAH não conhecia o temor.

AKRON — poderoso e orgulhoso em KARNAK, porque


KARNAK era a personificação do próprio Poder.

AKRON — vítima inocente de Si Próprio, que, tendo


atingido a maioridade, não alcançou a maturidade.

AKRON — que acreditou nos humanos, porque não os


conhecia.

AKRON — que não encontrou lógica na preocupação de


Menhenés, quando Este teve receio de deixar os humanos
entregues à sua própria sorte.

AKRON — que confiou em demasia nos humanos e foi


vítima dessa confiança.

AKRON — sentindo-se traído por KARNAK.

11
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

AKRON — contemplando o luto com que MENHERTETH


cobriu as Imagens Sagradas.

AKRON — ouvindo os gritos de dor nascidos da espada


de SUBAHAJAH.

AKRON — presenciando a luta de MENHENÚFIS contra o


ódio.

AKRON — conhecendo a impureza quando procurou pelos


humanos.

AKRON — clamando pelos humanos e eles haviam se


perdido.

AKRON — Só!!! A HUMANIDADE AINDA ERA UMA


CRIANÇA...

AKRON — amadurecido quando caminhou para a


fogueira.

AKRON — imolado quando ardeu no fogo.

AKRON — um eterno Marco de Fogo para a


Humanidade.

AKRON — O INÍCIO DE UMA NOVA ÉPOCA...

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PRIMEIRA PARTE
OS SEIS IRMÃOS

Q ue estranha energia atuava sobre eles?

Pareciam robôs despertando, como se fossem movidos


por uma corrente magnética que, varrendo os céus, tocava
a cada um deles, fazendo-os rodopiar e unirem-se uns aos
outros, apesar das distâncias que os separavam.

Eram cinco homens e uma mulher. Dois, ou seja, um


homem e a mulher se encontravam em distantes pontos do
interior do país. No mesmo tempo daquele mesmo ano, embora
distantes um do outro, como se houvessem sido despertados
juntamente pelo toque magnético, movimentaram-se e
convergiram para aquela cidade maravilhosamente diferente
e distante de suas origens. Quanto aos outros quatro, já lá se
encontravam há tanto tempo que se poderia dizer que tinham
as suas origens ali. Todos os seis, no entanto, traziam consigo
as aspirações mesquinhas inerentes a todo Ser Humano: o pão
nosso de cada dia, o teto que protege, o carro que envaidece
e os filhos que dão orgulho. Tinham anseios e lutas em busca
da autoafirmação.

Aparentemente, todos os seis se acomodavam na rotina


de seus afazeres dentro e fora do lar. Entretanto, lenta e
sutilmente, um grande tabuleiro como que se armava, e
eles, como peças animadas do grande jogo, ocupando cada
qual o seu lugar, sem se aperceberem, iam tendo suas vidas
entrelaçadas entre si. Começava o grande jogo, o jogo de suas
próprias vidas!...

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MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

Era junho de 1959. Colegas que chegam atrasados


culpando o trânsito louco, papéis e mais papéis revelando o
início da luta de mais um dia de trabalho na grande firma.
Começava a faina diária...

KARNAK aí estava. Com uma posição assegurada pelo


longo tempo na empresa, cismava consigo mesmo e trazia um
olhar vago. Sempre que lhe vinha à memória o que ocorrera
na véspera, um tremor lhe descia pela espinha dorsal. Homem
experiente e vivido, dificilmente se deixaria impressionar por
algo que não fosse essencialmente marcante. Olhando para
o lado, viu o colega bem mais jovem num impecável terno
de linho azul-claro, que, já refeito do trânsito sufocante
da manhã, trazia no rosto o entusiasmo e a esperança no
trabalho comercial que realizava: era MENHENÚFIS. KARNAK,
aproximando-se dele, convidou-o a irem juntos, na próxima
semana, a um lugar... Sim, ao lugar que tanto o impressionara.
Combinaram; então iriam juntos. Por que não?

Perto dali, num outro prédio maior, a movimentação que


caracteriza os grandes bancos do país se fazia notar: ponto
para bater, máquinas diversas de somar e escrever trabalhando
ininterruptamente, chefes inspecionando as tarefas dos
diversos setores. Em meio a tudo, MENHERTETH — funcionário
de meia idade, constituição física invejável, ele também no
seu terno de linho, era moda naquela ocasião e fazia calor —
cismava e se abstraía. As lembranças da véspera o perturbavam
como nunca havia sido em sua vida. Oh, aquele lugar! No seu
Mato Grosso distante, jamais imaginaria que um dia sentiria
e veria o que sentiu e viu ali...

Também no centro da cidade, um outro prédio ali numa


posição tal que, caso se observasse um pouco mais, parecia
formar com os outros dois prédios o vértice de um triângulo.
Ou seria impressão?... Lá estava ela, ZORNAY, a única mulher

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HÁ 5.000 CICLOS DE RÁ

do grupo. Jovem nos seus vinte e poucos anos, envolvida pelo


mesmo azáfama de um dia de trabalho, esperava ansiosa que
o aparelho de ar-refrigerado amenizasse o calor do ambiente.
Recém-chegada, imaginando que a cidade e o mar eram
somente seus, vestia-se simplesmente, mas com o bom gosto
daqueles que adoram a vida. Sonhadora e feliz, centro de
muitas atenções, cheia de esperanças naquela nova vida bem
distante do inverno rigoroso do seu Paraná. Sonhava com a
sua independência, com o bem-estar dos seus filhos, com o
teatro. Ah, o teatro! Não perdia uma só peça de temporada.
No entanto, nem de leve suspeitava da existência daquele
lugar. Ah, se ela soubesse!...

Dos outros dois componentes do grupo, SUBAHAJAH era


o mais velho. Alto, claro, forte, militar da reserva, pautava
a sua vida pela simplicidade e correção. Era daqueles que só
se impressionava com o que podia ver, tocar e ter a certeza
da existência. Prolixo, como se constatou no decorrer dos
acontecimentos, fiel a tudo que assumisse, vivia só na sua
dor de viúvo. Foram ele e o outro que primeiramente viram
o lugar...

O outro, moreno, magro, baixo, sonhador, chamava-se


SAN-SHÚ. Parecia viver em outra dimensão. Suas concepções
de valores eram mais subjetivas que materiais, por isso
era perseguido e criticado. Viam nele alguém que não se
preocupava, nem um pouco, com o bem-estar da família.
Achavam-no preguiçoso, irresponsável. No entanto, não o
era, temos agora a certeza disso. Era, isto sim, dos seis,
o ponto crítico daquele lugar. Por isso mesmo, como um
predestinado, quedava-se ali, no lugar, como que aguardando
inconscientemente os acontecimentos, os acontecimentos
daquele lugar!...

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O LUGAR

N a cidade do Rio de Janeiro — uma sala de apartamento,


como tantas salas de tantos apartamentos —, reunidos na hora
mística da Ave-Maria, sentados num semicírculo, tendo ao
centro, um pouco afastado — SAN-SHÚ —, o invólucro masculino
que, nesse momento, transformava-se — em seus gestos, na
sua postura, na sua voz e até mesmo na sua fisionomia — em
um egípcio, que se denominou AKRON.

Foi aí que perderam inteiramente a consciência da


época em que viviam e, como num passe de mágica, como
que num sono hipnótico, deram um salto para quase 5.000
anos atrás.

Jet AMON!

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SEGUNDA PARTE
A MORTE DO FARAÓ MENHENÉS

E ra a primeira hora do relógio d’água naquela manhã


(três horas da madrugada).

O fogo da pira sagrada se extinguiu lentamente.


Inacreditável! Como poderia o fogo sagrado ser apagado? Qual
seria esse mecanismo? O segredo só a Primeira-Vestal saberia
responder, pois somente ela o conhecia, e não havia a mínima
esperança de arrancá-lo dela, já que isto significaria o seu
emparedamento.

Esse fogo era especial. Ninguém sabia como acendê-lo e


muito menos como apagá-Io. Sabia-se que seria apagado pela
morte do Faraó Menhenés, que já se encontrava bastante
combalido. Por isso, ultimamente, estavam alerta para que,
no momento em que o fogo se apagasse, todos estivessem em
seus postos.

Na Ala mais à frente, as Vestais só com a faixa da castidade


lhes cobrindo o sexo; o resto do corpo, completamente nu,
untado com os unguentos que se faziam necessários para a
cerimônia.

Mais para trás, a Ala das Sacerdotisas. No momento


em que o fogo se apagou, ouvindo o som prolongado do
gongo, começaram elas a lamuriar-se num lamento baixo e
compassado, enquanto iam rasgando as suas vestes de cores
variadas — brancas, amarelas e azuis —, conforme os seus
graus, em respeito ao Faraó que entregava o seu Bah (alma)
a Anúbis.

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MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

Dali para frente, a cada meia volta do relógio d’água, o


gongo soaria por mais ou menos um ciclo de Nut (um mês),
dependendo do tempo que fosse necessário para os preparos
do corpo (chamado por eles de Lah) do Faraó. Isso se deu
quando Menhenés já reinava por longos 49 ciclos de Rá (anos)
de profunda paz.

As Sacerdotisas menos graduadas, isto é, do Primeiro


Grau, lavavam o corpo da Sacerdotisa-Chefe que, nesse
momento, já estava completamente nua, assim como as
demais Sacerdotisas. Umas jogavam água no corpo deitado
em decúbito dorsal, na laje fria do átrio do Templo, enquanto
outras queimavam essências de diversos odores em recipientes
apropriados e o rodeavam com essas volutas. Após a água,
outras se aproximaram do corpo e derramaram sobre ele
os óleos aromáticos. De suas bocas todas, menos da que se
encontrava deitada com os olhos cerrados, saía o mesmo
murmúrio, como um lamento baixo e compassado.

Ela, a Sacerdotisa-Chefe, seria sacrificada quando Rá se


pusesse no horizonte. Isso porque o Faraó sendo solteiro, ao
invés da rainha, seria ela quem morreria para se cumprir a
tradição de que um homem, mesmo divino, como era o Faraó,
não poderia seguir sem uma companheira no Barco de Osíris,
pelo Nilo. Sua morte, entretanto, seria rápida e sem sofrimento,
como tão bem sabiam executar os sábios Sacerdotes, pois era
uma morte de honra. Seria ela embalsamada com os mesmos
unguentos a que fazia jus uma rainha.

Como raramente, muito raramente acontecia de um Faraó


falecer celibatário, aquela cerimônia das Sacerdotisas prendia
a atenção de quem estivesse ali presente. A sua substituta, com
toda certeza, seria a de mais alto grau e a mais velha dentre
elas, mesmo que houvesse alguma protegida. Essa substituição

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HÁ 5.000 CICLOS DE RÁ

interessava tanto à Ala das Sacerdotisas como à das Vestais,


pois a Chefe ficaria encarregada de ambas as Alas.

As Vestais permaneceriam imóveis, como estátuas, não


tendo o direito nem de chorar pelo seu Faraó, até que a pira
fosse novamente acesa. Este tempo dependeria da preparação
do corpo sagrado do Faraó; preparação essa bem demorada,
pois a mumificação seria especial, no caso de tão ilustre figura.
Elas não se moveriam e receberiam como alimento, ali mesmo,
em pé, leite de cabra com mel. Não tinham o direito nem de
se recolherem para atender às suas necessidades; fariam ali
mesmo, em lugar apropriado para essas ocasiões. O importante
era não abandonarem os seus postos sob hipótese alguma!
Muitas, enfraquecidas ou doentes, pereciam ali sem socorro
e só seriam retiradas quando o fogo da pira sacrossanta fosse
aceso novamente.

À Primeira-Vestal cabiam todas as regalias: retirava-se


para se alimentar, repousar e ali, no local, passaria poucas
horas. Afinal, se ela perecesse, quem acenderia a pira? De
mulher, no reino, só ela sabia o segredo, que era transmitido
de boca para ouvido a uma escolhida sua que lhe fosse suceder.
Ninguém ficava sabendo quem seria a escolhida, até a sua
partida para a presença de Osíris. A Primeira-Vestal só o seria
até o seu primeiro fluxo sanguíneo, que geralmente se dava
entre os 12 e os 14 anos. Essa jovem menina sacrificava-se, a si
mesma, pois, se assim não o fizesse, o seu sangue contaminaria
tudo o que tocasse. As Vestais eram para isso preparadas desde
o seu nascimento e, mesmo sabedoras do sacrifício que lhes
seria imposto, almejavam o lugar de Primeira-Vestal.

Muitos Sacerdotes sabiam o segredo do fogo da pira, mas


não podiam usá-lo nem transmiti-lo a uma Vestal, pois lhes
era vedada a aproximação com elas e, com muito mais rigor,

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MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

a aproximação da pira sagrada. Se aparecesse uma Vestal


qualquer se dizendo sabedora do segredo, isto acarretaria
infortúnios aos dedicados Sacerdotes, pois fariam tudo para
descobrir qual deles esteve com a Vestal. Quase sempre eram
cometidas injustiças e um inocente era sacrificado com a
morte ou com a mutilação da sua língua, ou mesmo do seu
sexo, dependendo de quão íntima fora a sua ligação com a
Vestal. Quanto a ela, não havia dúvidas: seria queimada sem
compaixão! Por isso, a Primeira-Vestal era cuidada com todo
o carinho, para que esse complexo esquema não sofresse
alteração nem houvesse complicações com quem quer que
fosse. Os desvelos e preocupações constantes com a Primeira-
Vestal se davam porque, dessa virgem, dependiam as cerimônias
secretíssimas das Iniciações dos Pontos do Hierofante. Ela era
a representação humanizada da Divina Mãe Ísis.

Bem mais à frente das Sacerdotisas, que pareciam


carpideiras chorando a morte do seu Rei, entre elas e as Vestais,
encontravam-se os Sacerdotes, cada qual ocupando, com os
seus iguais, as Alas que lhes correspondiam. Logicamente
eram os menos graduados, pois os demais se encontravam no
palácio, em redor da câmara onde jazia o falecido Rei.

Igualmente nus, para simbolizar que o seu Divino e Amado


Rei não teria nada para se envergonhar do seu rebanho quando
prestasse contas para Hórus — o Filho, para Osíris — o Pai,
e para a Divina Ísis — a Mãe. Desnudos, para mostrar que o
Faraó, que partiu, não se envergonharia dos seus filhos, pois
eles eram puros, sadios e belos. Desnudos, para mostrar que só
com o seu corpo poderiam honrar o seu Rei e defender as suas
lembranças, a sua dignidade, sem outra arma qualquer que
não fossem eles mesmos. Naquele momento, todos estavam
seguros de que assim seria agora e para sempre.

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ÁPIS - O BOI SAGRADO

A o lado, em outro prédio, dentro do pátio daquele


suntuoso Templo de Amon, em Mênfis, que era dedicado ao
culto da Deusa Hactor, em uma enorme câmara começava
a cerimônia e o ritual da morte do Boi Ápis.

O animal era anestesiado e colocado em um sarcófago


do formato de seu corpo, o qual tinha uma das partes, a do
lado da cabeça, inclinada para baixo a fim de que, quando
começasse a sangria, o sangue vigoroso, símbolo do vigor
que o Faraó deixaria para os seus filhos, fosse colhido em um
recipiente grande, todo de ouro, com a figura do boi entalhada
no seu meio. Essa cerimônia era dirigida por Ak-Ápis, o grande
Iniciado nesses afazeres.

Colhido o sangue, imediatamente o acólito Almeneths o


levou para dentro do Templo de Amon e o serviu primeiramente
para os Sacerdotes, depois para as Sacerdotisas, que o
recebiam em um cálice igualmente de ouro, que ia passando
de boca em boca para só um pequeno sorvo. Após, o cálice
passava para os que se encontravam mais atrás: serviçais de
atribuições diversas do próprio Templo, como, por exemplo,
o encarregado de lavar as imagens sagradas, que outro não
era senão MENHERTETH, e que também sorveu o seu gole.
Encontravam-se ainda alguns militares, enquanto aguardavam
ordens do comando superior.

Aquele sangue era a representação do sangue do próprio


Faraó, com a sua vitalidade e alta inteligência, dividindo-se
entre os seus súditos, como numa despedida.

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MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

Quando aqueles que se encontravam no prédio dedicado


a Hactor — e que eram os responsáveis por todos os bois
usados nesses rituais — acabassem a sua tarefa de retirar e
servir o sangue, extrairiam o coração do animal, que seria
embalsamado juntamente com os testículos, símbolo da
fertilidade. Depois de embalsamados, os testículos ficariam
junto da Sacerdotisa-Chefe, e o coração seguiria o Rei Divino,
simbolizando o amor da despedida de todos os seus súditos que
estiveram sob a sua proteção durante o reinado. O restante
do boi era entregue ao povo que, na sua miséria e fome, via
nele somente o alimento. O corte para a sangria era feito,
com perícia, bem no centro do triângulo branco que esse
boi especial trazia na testa; por isso, o povo supersticioso
não comia a parte da cabeça, que ficava jogada no deserto
para o banquete dos chacais. Assim se procedia por ocasião
de cerimônia fúnebre, pois, do contrário, se o boi morresse
por qualquer outro motivo, seria embalsamado e colocado na
galeria que lhe correspondia.

Depois de tudo pronto, os encarregados saíam pelos


domínios do reino para encontrar outro boi, que teria que ser
todo preto, sem mancha alguma e com o triângulo branco no
meio da testa. Esses encarregados eram muitos e não tinham
número determinado, pois seria necessário vasculharem o
reino todo à procura do Boi Ápis, já que não era fácil encontrá-
lo. Às vezes, algumas manchas, que teimavam em aparecer
no pelo do bicho, eram cuidadosamente pintadas e repintadas
depois dos banhos que o boi tomava, antes de cada cerimônia
ou ritual a ele dedicado. Os responsáveis pela câmara do Boi
Ápis tinham que ser muito unidos, para não correrem o risco
de serem delatados uns pelos outros. Mas, mesmo assim, isso
ocorria com frequência. E quase sempre, eles, que aspiravam
a subir aos mais altos postos dentro dos Templos, viam-se
alijados para bem longe dos mesmos, graças às delações
frequentes.

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CÂMARA DAS IMAGENS
SEM MÁCULA

M ENHERTETH sorveu o seu gole do sangue do boi


sagrado e se sentiu fortalecido dentro da fé e do respeito
pelos costumes da sua gente. Não tinha pressa. A imagem de
Amon — um homem em tamanho natural — estava preparada
desde a notícia do próximo desenlace do Faraó. Fora lavada,
polida cuidadosamente e estava toda reluzente no fulgor
maravilhoso do seu ouro. Fora perfumada e o incenso não
cessara de queimar aos seus pés. Faltava apenas retirar de
suas mãos o Pink e o Látego. O primeiro — com sua ponta
bipartida simbolizando o Poder Divino e o Poder Temporal
de um rei — era seguro pela mão da sinistra; o segundo —
simbolizando a Justiça — era preso pela mão da destra. Em
algumas imagens, o braço da destra era voltado para baixo;
em outras, cruzado no peito, segurando o Látego. O Pink e o
Látego só retornariam aos seus devidos lugares após a coroação
do sucessor de Menhenés.

Isso foi feito sem pressa, pois MENHERTETH sabia que


mais nada lhe restaria fazer, a não ser aguardar que, depois
dos funerais, o outro Faraó fosse coroado. Entretanto, ele
ainda tomou o Hank — símbolo da Vida Eterna — das mãos
da imagem de Ísis e o colocou na mão da sinistra, a do Pink,
da imagem de Amon. Antes de cumprir com essa cerimônia,
respeitosamente ele implorou a Amon que guiasse os passos de
Menhenés na caminhada da sua vida eterna, como simbolizava
o Hank, mesmo porque ele acreditava piamente que assim
seria.

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MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

O Hank só voltaria para as mãos da imagem, igualmente


de ouro, da Mãe Divina, quando a dupla coroa do alto e baixo
Egito fosse colocada na cabeça do sucessor do Rei falecido.
Isso porque a Divina Ísis seria a protetora e lhe conservaria
uma vida saudável enquanto reinasse, pois, quando partisse,
caberia a Amon — o Deus Supremo do Universo — encaminhá-lo
na sua trajetória, que seria eterna. Quanto à imagem, também
de ouro, de um menino representando Hórus menino — o Filho
—, chamado naquele tempo de Hórus-Arakiti, também já
estava preparada com o seu manto de realeza. Faltava-lhe
apenas a maravilhosa e rica coroa, parecendo mais um chapéu,
toda ornamentada com pedras preciosas, a ser colocada em
sua cabeça pelo próprio Faraó reinante. Assim seria porque
Hórus — o filho Divino — era representado, entre os homens,
pela figura humana do próprio Faraó, considerado um Rei
Divino.

MENHERTETH era feliz em seus domínios, pois ali estava


o seu trabalho e também, anexa, a morada que compartilhava
com a sua família.

Na Câmara das Imagens só penetravam, pela ordem: o


Hierofante Sumo Pontífice, os Hierofantes e os Sacerdotes do
5º Grau. Além desses, o Faraó e a Rainha em ocasiões especiais
relacionadas com as cerimônias femininas ou lunares. De
quando em vez, o Escriba Zoluakipa — figura muito importante
e que representava todos os artistas-artesãos do reino — e
mais algum artesão que se sobressaísse nos seus trabalhos de
entalhes nas pedras e que fosse portador de algum segredo,
que fora obrigado a tomar conhecimento quando o gravou em
hieróglifos. Por isso, teria que ser sacrificado após se entregar
a alguma imagem na Câmara. Mesmo assim, era uma honra
conhecê-la antes de morrer. Isso quando não fosse analfabeto,
pois, em geral, esses artistas não compreendiam o significado
do que gravavam. Mais raramente, ainda, ali penetravam

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HÁ 5.000 CICLOS DE RÁ

algum parente do Faraó e o Chefe dos Exércitos. De mulheres,


só a Rainha.

Portanto, MENHERTETH era o único que, sem iniciação


alguma, tinha a incumbência de guardar e lavar as imagens
sagradas, pois o seu cargo era de predestinação divina e
de maior confiança, só superado pelo do Guardador dos
Tesouros do Reino. Essa confiança só terminaria quando ele
partisse desta vida, sucedessem-se quantos períodos fossem
de reinados. Não tinha nada para guardar em segredo e, por
isso, não temia castigo algum. Sabia bem das suas obrigações
e as cumpria com todo respeito, vivendo pacatamente com
a sua família, que era numerosa. MENHERTETH sempre foi
amado e respeitado, principalmente pelos Altos Sacerdotes
que compunham o Conselho dos Cento e Onze — o Tribunal
Temporal da época — e que às vezes se aconselhavam com
ele, pelo seu discernimento e pela sua sincera discrição. Mal
sabia ele, naquele dia da morte de Menhenés, o que o destino
lhe preparava...

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O PALÁCIO REAL

E m enorme prédio de pedra dentro do pátio do próprio


Templo e próximo das suas dependências, ficava a residência
oficial do Faraó, sua Rainha, suas mulheres e todo o seu
séquito.

Aquele Faraó, entretanto, como sabemos, não admitiu


dentro do palácio a Ala das Mulheres, pois era o último
Menhenés vivo e, portanto, completamente purificado.
Pelos corredores sem tamanho se chegava, em linha reta, aos
aposentos reais. Esses aposentos eram de uma austeridade
impressionante, entretanto, ricamente mobiliados e ornados.
Em seu leito de cedro — madeira de grande valor que era
trazida de terras distantes, onde hoje se situa o Líbano —,
reclinado e envolto nos linhos alvos de todas as peças que lhe
tocavam o corpo sacrossanto, estava Menhenés.

Era o momento de se recolher! Por isso, Menhenés


deixaria com o seu sucessor o melhor de Si, o mais perfeito da
Sua Sabedoria e da Sua Experiência, herdada dos antepassados.
Só um desejo lhe restava agora no momento derradeiro: que
o seu sucessor fosse a continuidade de sua Missão junto à
Humanidade. Dali para frente, Ele — o sucessor — seguiria
com os seus próprios pés, caminharia dentro daquilo que havia
assimilado, que havia herdado, tal qual o filho que assume a
direção dos assuntos do pai, quando este, já cansado, sente
o próprio fim.

Menhenés se apresentava sereno no seu leito de morte.


Entretanto, um vinco em sua testa, bem na altura do Olho

33
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

de Hórus, demonstrava, aos mais atentos, a sua imensa


preocupação.

Aos pés do leito e em posição de respeito, mas com


toda a sua atenção voltada para o semblante do moribundo,
estava um seu irmão — SUBAHAJAH —, que já fazia parte das
fileiras dos exércitos do Faraó em um lugar de destaque, por
isso mesmo considerado valente e destemido.

No lado direito, sereno, estava AKRON, sobrinho de


ambos, Hierofante Sumo Sacerdote de todo o Poder Religioso
daquele País.

No lado esquerdo, outro sobrinho de ambos, príncipe real,


boêmio e que até então não se detivera em estudo algum mais
profundo das Sabedorias daquela época, outro não era senão
KARNAK. A ele só uma coisa interessava: o trono que iria vagar.
E disso ele não tinha, naquele instante, dúvida alguma, nem
ele nem o seu tio SUBAHAJAH, pois KARNAK era o sucessor de
direito, por ser o sobrinho de mais idade, já que AKRON, como
Sumo Sacerdote, só para isso fora preparado. Ele não! Como
sucessor do Rei, tinha sido iniciado nas armas, nas montarias,
nos segredos do Nilo, nos assuntos administrativos internos
e externos, na astúcia para as guerras; enfim, parecia que
tudo nele o levaria a ser um bom rei. Desde que se conheceu
por gente, o seu tio SUBAHAJAH o preparou e, ainda ali, no
momento decisivo, estava ao seu lado como parente, amigo
e conselheiro.

Por fim, os dois representavam, como é representado


em tudo, Seth-Tifon — o lado negro —, assim como AKRON
com Menhenés seriam Ftah-Ptah — o lado branco — nos
acontecimentos dos destinos do Egito, naquela ocasião, há
5.000 ciclos de Rá.

34
HÁ 5.000 CICLOS DE RÁ

Foram feitas as preces, acompanhadas pelos diversos


Sacerdotes dos 3º, 4º e 5º Graus e por aqueles do mais alto
posto que compunham o Conselho dos Duzentos e Vinte e
Dois — o Tribunal Religioso —, tão importante quanto o outro
Tribunal. Nas fileiras desse Tribunal se encontrava MENHENÚFIS.
As preces foram todas acompanhadas por toques no corpo
do Faraó, que significavam o desligamento dos seus corpos.
Esses toques, em pontos diversos, eram dados somente por
AKRON, pois o corpo do Rei era intocável por ser de linhagem
divina.

A um sinal do Sumo Sacerdote, aproximou-se do


leito o Chefe dos Curadores — os médicos da época. Estes
se encontravam em recanto bem afastado do aposento,
preparados para a trepanação que era de hábito se fazer em
todo Faraó moribundo. Aproximou-se, então, o Chefe dos
Curadores com um escrínio nas mãos — de madeira, cobre e
ouro —, representando as três etapas de um reinado:
A madeira — sua vida terrena;
O cobre — sua fortaleza e a grandeza de um rei; e
O ouro — sua morada eterna, resplandecente como Rá,
pois era para lá que tinham que caminhar depois de mortos.
Os três compartimentos eram detalhadamente trabalhados
com inscrições secretas e religiosas. Encimando o escrínio,
havia a figura em ouro de um Escaravelho Sagrado — símbolo
da Vida e da Morte.

Olhando-o assim tão próximo de Si, Menhenés só pensava


em sua morte e no futuro do seu sucessor. E o sucessor?
Estaria suficientemente adulto? Seria capaz? Sim! Para isso lhe
havia herdado tudo... Tudo para que nada lhe faltasse. E se
lhe faltasse não seria porque ele deixara de lhe dar. Porém,
há sempre um “mas”: E o inimigo? A fraqueza? A tentação?
A outra face das coisas? Afinal, era apenas uma criança e,
para ele, jamais chegaria a ser adulto. Seria esse um novo

35
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

sentimento que experimentava no final de sua Missão? Não.


Sempre existiu essa preocupação, mas agora havia crescido
dentro do seu peito de tal forma, que o sentia profundamente
vazio. Faltava algo. Cismando assim, de olhos fixos no Sagrado
Escaravelho, ele foi colocando ali todos os seus símbolos: o
anel encimado com o próprio Escaravelho, tendo no seu dorso
a gravação do seu próprio nome secreto e iniciático; outro
anel com as suas armas; o seu brasão; o escudo de sua família
reaI; o seu selo; o seu lacre e algumas outras joias que não
puderam ser identificadas naquele instante. Por último e no
momento culminante, quando todos os pares de olhos o fitavam
atentos, foi que ele retirou de sob as almofadas o papiro ali
previamente colocado — o papiro que continha gravado, sem
deixar dúvida alguma, o nome do seu sucessor.

Nesse momento se ouviu, ali no aposento, a música suave


de uma harpa. Do lado de fora, em todos os recantos, os gongos
maiores e menores soavam e enchiam, com o seu som grave e
desencontrado, o ar daquela tarde que se findava, onde Nut
surgiria platinada e bela sobre o Nilo. O Nilo que, impassível,
continuaria o seu passar metódico e certo dentro das suas
cheias e das suas vazantes, tão bem controladas pelos sábios
Sacerdotes egípcios.

A Estrela do Divino Faraó Menhenés se apagou lentamente


naquela hora da madrugada, como o fogo sagrado da pira, não
menos sagrada, do Templo de Amon em Menhenúfis, sede do
Pontificado e do Reinado, cidade fundada por Menhenés e
conhecida hoje por Mênfis. Partiu sem a trepanação, mesmo
porque o seu sobrinho Sumo Sacerdote já havia declarado que
essa delicada operação não seria necessária e que também ele
não iria autorizá-la, porque o Rei, ali estendido, não era um
simples mortal como qualquer outro Faraó. Esse Rei, último
Faraó da 1ª Dinastia do antigo País de KAM, era metade divino
e metade humano. No entanto, dali para frente, os seus

36
HÁ 5.000 CICLOS DE RÁ

sucessores seriam, ao contrário dele, primeiramente humanos


e depois, talvez, divinos.

Estava tudo consumado! O corpo, com todos os pertences


do Rei, ia sendo retirado do aposento; desceria as escadas
toscas rumo à Casa da Morte, para o seu preparo, juntamente
com o da Sacerdotisa-Chefe. Os pertences de ambos seriam
vigilantemente incinerados ou guardados junto aos corpos
dos mortos. Vigilantemente, pois eram nessas ocasiões que
os maiores furtos ocorriam no palácio, nunca tendo sido
descobertos os responsáveis.

SUBAHAJAH e o seu sobrinho KARNAK não prestavam mais


atenção alguma para o que acontecia ao seu redor e já nem se
lembravam mais do morto, que fora tão estimado por todos.

Este gesto de cupidez dos dois dignitários do reino


não passou desapercebido pelos Sacerdotes ali presentes.
MENHENÚFIS, então, teve a precaução de retirar logo dali o
escrínio das joias contendo o papiro com o nome do sucessor
escolhido, levando-o para um lugar onde ninguém, a não
ser eles do Conselho dos Duzentos e Vinte e Dois, sabia.
Mesmo assim, como por intuição, MENHENÚFIS vigiou aquele
escrínio constantemente até a hora em que seria aberto em
uma reunião dos dois Conselhos — o Religioso e o Temporal.
Somente aí, mais ou menos quarenta dias após a morte de
Menhenés, é que se saberia, com certeza, de quem era o
nome ali colocado.

Nesse meio tempo, KARNAK se punha na posição de Faraó,


acolitado sempre pelo seu tio e exigindo que já lhe prestassem
as honrarias, mesmo antes do corpo do seu antecessor baixar
à sepultura.

37
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

O seu primo-irmão AKRON se recolheu ao Templo para


a preparação de seus encargos nos funerais, e não mais foi
visto nesse tempo de quarenta dias. Recolheu-se como o Íbis
sagrado que, na beira do rio, antes de começar a medir as suas
passadas, fica recolhido meditando por longo tempo, com o seu
pescoço enfiado por debaixo da asa. Preparava-se Ele, AKRON,
para cumprir, mais uma vez, a trajetória pré-determinada para
si, dentro dos desígnios de Amon — o único Deus.

Os demais integrantes da vida e da rotina dentro do


Templo, e que eram a maioria da população, também não
davam expansões em público e viviam em grupos pelos cantos
e recantos, aos cochichos, comentando como seriam as coisas
dali para frente. Para muitos deles, KARNAK, aquele jovem
alto, moreno e forte, era-lhes antipático pela sua presunção
aberta e descabida. Mas, enfim, era o herdeiro natural e
nenhum deles, em nenhuma ala e por nenhum instante,
abrigou, em seu íntimo, a ideia de impedir a coroação. Estavam
apenas apreensivos e dentre eles, muito principalmente, os
Grandes Sacerdotes Maiores.

38
O SEPULTAMENTO DO FARAÓ

Q uatorze dias antes da cerimônia do enterro, naquela


noite, à primeira hora da manhã, a mesma do desenlace,
saiu da Casa da Morte o corpo verdadeiro do Rei Divino,
enrolado em tiras de linho branco e acompanhado somente
pelos 21 Sacerdotes, que eram aqueles que pertenciam à Ala
das Responsabilidades e dos Conhecimentos mais ocultos que
se possa imaginar. Esses homens, como o Venerável Sumo
Pontífice, eram os únicos obrigados a se manter celibatários
enquanto vivessem.

Os 21 Sacerdotes Maiores já haviam se purificado,


começando pelo banho ritualístico no lago artificial que existia
em todos os Templos, tendo à frente o Sumo Sacerdote AKRON.
Após a purificação, AKRON, com mais um deles, puxava uma
espécie de carreta na qual haviam colocado o corpo. Sem
que ninguém os visse, no maior silêncio, encaminharam-se
para uma barca preparada para eles, ancorada ali mesmo
na entrada, pois as águas do Nilo eram represadas para
essas entradas, em todos os templos, formando belas praias
artificiais que encantavam a todos.

Dali rumaram incontinênti para a pirâmide do meio —


chamada hoje de Kéfren —, subindo para a câmara central
e depois descendo, sem grandes esforços, pois o corpo
franzino de Menhenés já não pesava tanto. Todos estavam
plenamente compenetrados da importância do que faziam.
Por essa descida, tomaram o túnel que se seguia e que ligava
a pirâmide à Esfinge. Ambas, como todo o resto, tinham sido
muito bem limpas por fora e, por isso mesmo, reluziam em
seu revestimento de pedra de alabastro polida.

39
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

Penetraram numa ampla sala localizada a sarkapta (sete)


côvados abaixo da Esfinge, onde 10 sarcófagos permaneciam
intactos com os corpos vivos, e em cada um deles brilhava uma
Luz. Ao lado, no último sarcófago vazio, colocaram o corpo
do Faraó Divino, do Faraó que foi um Manu, um Condutor da
Humanidade. Ao fazê-lo, entoavam cânticos misteriosos e
belos, verdadeiros mantras que atraíam as Forças de fora deste
plano, enquanto aguardavam que a Luz se fizesse naquele
corpo sacrossanto, pois esse seria o sinal de mais um — o
último Menhenés humanizado daquela maneira. Sem muita
demora, a chama começou a transluzir. Então, entusiasmados
dentro das suas dores, eles entoaram hosanas ao Senhor, no
sentido de agradecer mais esta vitória alcançada. O seu Manu
estava vivo e o seu coração voltaria a pulsar quando chegasse
a hora novamente.

Em se tratando do último deles, voltaram pelo mesmo


túnel. Durante o trajeto, vieram acionando os controles dos
blocos de granito que, descendo num engenho perfeito,
vinham obstruindo aquela passagem oculta. Na lembrança
deles tinham a figura de Orneka, o autor daquele engenho
e que já havia partido para Osíris. Ao entrarem na primeira
sala abaixo da pirâmide, colocaram ali os rolos dos papiros
secretos da sabedoria divina de Toth, mais tarde chamado de
Hermes — o Trimegisto — pelos helênicos. Isso foi executado
por um Sacerdote que se parecia muito fisicamente com o
Faraó construtor da pirâmide, tão parecido que todos eles
jurariam tratar-se da reencarnação do próprio construtor,
que, mais tarde, chamou-se Kéfren. Portanto, Kéfren e AKRON
sempre souberam perfeitamente a posição desses papiros,
dos cálices sacrossantos e de outros apetrechos relacionados
somente com a Ara e os domínios íntimos do Templo. Aquela
entrada também foi bloqueada e nunca mais seria usada. Para
se penetrar na Esfinge, havia outra entrada marcada pelo
triângulo de Hermes, com o seu ápice voltado para baixo, entre

40
HÁ 5.000 CICLOS DE RÁ

as patas do monumento, indicando exatamente onde deveria


ser calcado. Mas a sala dos sarcófagos nunca mais seria aberta
e nela só penetraria, dali para frente, um raio de sol, quando,
numa certa conjuntura, incidisse pela abertura que existia na
testa da Esfinge, também sagrada nos seus símbolos.

Saíram dali bem mais rápido e, tomando a barca,


rumaram de volta para a Casa da Morte. Lá, uma réplica da
múmia do Faraó Menhenés já estava no compartimento de
madeira do sarcófago real, aguardando-os para o cerimonial
do enterro, que duraria por mais sete dias. Colocaram essa
réplica, juntamente com o compartimento de madeira do
sarcófago da Sacerdotisa-Chefe, logo a seguir, no átrio da ara,
para a visitação de todos os egípcios.

Naquela ocasião era proibida a entrada de pessoas


estrangeiras, mesmo que ali estivessem cursando as Escolas
Iniciáticas. Vários ritos eram realizados, de hora em hora,
por esse período de sete dias. Para os sepultamentos, as
múmias eram levadas no primeiro compartimento, isto é, o de
madeira, pois os demais, em número de seis, eram colocados
previamente em seus respectivos lugares no local do enterro:
para o Faraó, no Vale dos Reis; para a Sacerdotisa, no Templo,
hoje de Karnak, pois ela não tinha o direito de se misturar
com as rainhas no Vale delas.

Os dois sarcófagos eram como uma arca em ouro,


fechados com tampa, também de ouro, em formato da esfinge
dos mortos. Dentro da arca existiam seis compartimentos ou
divisões, colocados um em cima do outro, feitos de diversos
materiais: pedra, prata e madeira. Devido aos detalhes, a
arca era de tamanho descomunal. Nos compartimentos, que
eram a representação dos sete corpos ou das sete mortes etc,
guardavam-se os diversos pertences dos falecidos.

41
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

A barca que os conduziria era bem ampla, toda enfeitada,


cabendo muita gente. Era chamada o Barco de Osíris. Com ela
começaram a subida até Tebas, em Lúxor, onde de um lado do
Nilo está o Templo de Karnak e do outro lado, o Vale dos Reis.
A viagem foi bem demorada, pois o povo nas margens fazia
questão de lhes jogar flores, sementes de trigo e até mesmo
animais de pequeno porte, para homenagear o seu Rei. Atrás,
o séquito que acompanhava o Barco de Osíris recolhia essas
oferendas, que seriam sacrificadas e oferecidas dentro dos
diversos Templos existentes. Nos pátios dos principais Templos
existiam inúmeros outros menores, que também recebiam
essas oferendas.

Nesses momentos, AKRON se abstraía e ninguém


conseguia penetrar em seus pensamentos. Parecia ter uma
premonição dos acontecimentos que iriam suceder-se após
aqueles enterros. E aconteceram...

42
O TESTAMENTO DE MENHENÉS

R eunidos todos em círculo de acordo com as suas


graduações, estando no centro os mais graduados, o escrínio
foi aberto por um curumim, aquele que futuramente seria
o Sumo Pontífice e que, na ocasião, tinha os seus sete anos
mais ou menos. Aberto, ele o exibiu aos mais próximos para
conferirem o que continha, mas o que interessava realmente
era o papiro com o nome do futuro Faraó. O documento foi
lido por um deles, que ansiosamente se adiantou. E, para
surpresa geral, lá estava escrito:

“O MEU SUCESSOR, PELA MINHA PRÓPRIA VONTADE


DIVINA, E EM MEU PERFEITO ESTADO MENTAL, E EM NOME DE
OSORÁPIS, MEU PAI, INDICO AKRON, MEU SOBRINHO MUITO
AMADO POR PARTE DE MEU IRMÃO ASTRAKON, QUE FOI UNGIDO
POR PTAH, PARA QUE ME SUCEDA NO TRONO E, COM ISTO,
ACUMULE OS ENCARGOS DE SUMO PONTÍFICE E DE FARAÓ,
NESTE COMEÇO DA 2a DINASTIA DOS GOVERNOS DA TERRA DE
KAM. QUE OSORÁPIS, MEU DILETO PAI, E PTAH, O VOSSO DIVINO
PAI, O ABENÇOEM E QUE AMON, AMON-RÁ E AMON-RÊ O TOMEM
SOB A SUA PROTEÇÃO. AMALDIÇOADOS SEJAM TODOS AQUELES
QUE PENSAREM OU AGIREM EM CONTRÁRIO A ESSA DECISÃO.”

Essas palavras seriam imediatamente gravadas nos


peitorais, nas estelas e nos obeliscos de todos os Templos.

A preocupação de Menhenés, nesse momento solene,


criou AKRON — seu nome, sua sabedoria, sua vibração, sua
imagem —, para que a Humanidade não se perdesse quando ele
tivesse partido. AKRON que, nos tempos presentes, ressurgiu

43
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

como SAN-SHÚ — o invólucro masculino — e como ZORNAY — o


invólucro feminino —, continuadores de sua linhagem.

Nesse instante, ao som das nove batidas do gongo


ressoando no Templo, foi que a Primeira-Vestal acendeu
novamente o fogo sagrado. Assim, as outras souberam que já
existia um novo Faraó.

O espanto foi geral. A alegria também foi muito grande.


A tranquilidade voltou às fisionomias dos mais achegados. A
desconfiança reinou entre alguns. Outros poucos se sentiram
lesados e não concordaram de imediato com a indicação de
AKRON. Para tanto, trataram de se retirar logo a seguir e,
depois de muitas confabulações, resolveram que se instalariam
em Tebas, mais próximos das Sacerdotisas e distantes dos
astutos Sacerdotes de Amon iniciados nos Mistérios de Osíris.
As mulheres que pertenciam ao Templo de Karnak seriam muito
mais facilmente suas aliadas...

44
O ACÓLITO PERMANENTE

R ecuperando-se do choque que lhe deixou sem fala,


AKRON, ali mesmo, antes de se retirar, convidou o Sacerdote,
que era MENHENÚFIS, para aceitar os encargos de ser o seu
Acólito Permanente e também a Sombra, como assim eram
chamados esses homens de inteira confiança dos Faraós.

“SEGUIR-LHE-EI OS PASSOS ATÉ O FINAL DOS MEUS


DIAS SOBRE A TERRA, NESTA VIDA E EM QUANTAS OUTRAS
HOUVER.”

Assim respondeu aquele jovem sacerdote impetuoso que


AKRON tão bem conhecia. Diante de tal resposta, AKRON, ali
mesmo, tomando por testemunha aquela multidão que o ouvia,
fez-lhe uma saudação e uma exaltação em público:

“TENDES O AMOR FORTE E PURO PELOS VOSSOS


SEMELHANTES. NECESSITO DE VÓS MAIS DO QUE NUNCA, E SE
NÃO FOSSE O AMOR, NADA EU PODERIA FAZER. SOIS COMO A
BRISA NESTE MOMENTO ABRASADOR E COM A ARAGEM DO VOSSO
AMOR, UMEDECEIS TODOS OS CORAÇÕES BONDOSOS. DEIXAI
O FARAÓ RENDILHAR A SUA HUMILDADE DIANTE DE UM AMOR
COMO O VOSSO, PARA PROVAR AQUI QUE O MESTRE SOIS VÓS,
DENTRO DA BONDADE DO VOSSO AMOR. SEREIS O RECEPTÁCULO
DE AKRON, VOSSO SUMO PONTÍFICE E PAI.”

A partir daí, nem o Sacerdote nem o Faraó foram vistos


sem a Sombra.

45
ESCOLHA DA
SACERDOTISA-CHEFE

M ais adiante, de onde se sucediam essas coisas


fantásticas, estavam as Sacerdotisas reunidas esperando pelo
seu novo Faraó, que passaria por ali acompanhado sempre de
MENHENÚFIS, a Sombra, para a indicação de sua Chefe. Se
o escolhido fosse o outro sobrinho, elas já teriam a ideia de
quem seria a substituta, pois previamente isso era estudado
e decidido. Mas, agora, a expectativa da surpresa era geral.
Enfim, após longa espera, chegaram os dois acompanhados
sempre por outros, pois, enquanto o Sumo Sacerdote
permanecia quase todo o tempo só, o Faraó, ao contrário,
nunca estaria sozinho. Elas silenciaram e se recataram para o
grande momento; momento em que o Faraó egípcio se sentiu
na dúvida, pois não havia pensado neste detalhe. Foi então
que num gesto para a Sombra, pediu o seu auxílio.

Este, por sua vez, relançou o olhar para aquelas mulheres


predestinadas e em uma delas, bem distante deles, parecendo
querer esconder-se, os seus olhos pousaram. Ela percebendo,
olhou-o também fixamente; um olhar que MENHENÚFIS nunca
mais esqueceria e que, em outras reencarnações, teria
oportunidade muitas vezes de captar. Era e seria sempre
um olhar de medo, de expectativa e de pedido de socorro.
Para ela, as atenções se voltaram e a Sacerdotisa Nefáris,
do 3º Grau Iniciático, nesse momento, passou a ser a Chefe
das demais, cargo mais elevado entre as mulheres e, por
isso mesmo, o mais invejado. Dizia-se, entre as invejosas,
que Nefáris era apaixonada por MENHERTETH da Câmara das
Imagens Sagradas. Poderia até ser verdade, mas isso nunca
foi desvendado naquela ocasião.

47
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

E AKRON partiu dali para começar a medir as suas passadas


no caminho dos sete ciclos do reinado, que transcorreriam em
relativa paz, já que ele havia recebido o país das mãos e da
proteção divina de Menhenés.

Restava ainda a última cerimônia dos funerais, que era


feita pelos Sacerdotes dos dois Conselhos, sem grandes pompas
externas, mas com muito respeito, pois esse povo era amante
da tradição e dela não abria mão. Consistia em levarem,
até o túmulo do Faraó enterrado, os pertences do mesmo
que sobraram dentro do escrínio. Isso foi feito no túmulo do
Vale dos Reis com a réplica da múmia, pois os verdadeiros
e secretos pertences já se encontravam na pirâmide, muito
bem guardados.

Nessa ocasião, o novo Faraó poderia escolher se


ficaria com os mesmos símbolos do falecido ou se mandaria
confeccionar outros modelos criados só para ele. Geralmente
era adotada a segunda decisão, pela vaidade em que todos se
deixavam enredar. Entretanto, AKRON mandou confeccionar
as suas insígnias idênticas às de Menhenés.

Seria Ele, assim, o traço de união entre Menhenés (o


Pai) e a Humanidade (o Filho).
Seria Ele a herança divina chamada Menhenés.
Seria Ele a pureza do Homem chamado Astrakon (seu
Pai carnal).
Ele que, por meio de Menhenés, conheceu todo o
mistério da Divindade.
Ele que, por meio de Astrakon, conheceu toda a pureza
da Humanidade.
Ele, o reflexo divino de Menhenés.
Ele, o reflexo humano de Astrakon.

48
HÁ 5.000 CICLOS DE RÁ

Para que tudo isso fosse real, foi construído, em frente


da Ara principal, um tablado dentro de medidas cósmicas
e ritualísticas. Esse tablado era pisado somente pelo Faraó
AKRON e representava seu Poder Humano como Rei. A Ara,
por sua vez, o seu Poder Divino como descendente dos Reis
Divinos.

Há muito não se via uma Ara principal assim armada, pois


há muito que um Faraó não era, ao mesmo tempo, o Supremo
Sacerdote dos destinos dos seus súditos e o seu Rei.

49
A COROAÇÃO DE AKRON

O trono foi removido para o tablado instalado em


frente da Ara principal. Seu formato era de um assento redondo
sobre um tripé e seu encosto era quadrado. O apoio para os
braços, nesse trono, era do formato de duas esfinges. Afora as
esfinges, que eram de ouro, tudo era de madeira entalhada.

O Templo estava maravilhosamente ornado numa profusão


de cores e aromas! As Vestais se movimentavam em suas danças
ritualísticas, ao som das flautas. Essas danças tinham, em cada
tempo de execução, um simbolismo, pois eram a linguagem dos
deuses. Como o Faraó a ser coroado era também o importante
Hierofante, as cerimônias se misturavam: religiosas e profanas.
As cerimônias religiosas eram executadas pelos 21 Sacerdotes
que compunham o Conselho Secreto. Coroação idêntica nunca
se tinha visto, até então.

As cerimônias eram entremeadas por diversas outras


formalidades, como o dia da oferta dos estrangeiros. Nesse
dia, todos os países amigos se faziam representar e eram
lembrados com o que tivessem de maior riqueza, tanto no
valor como na beleza. Seria nesse dia que o tesouro real ficaria
muito mais rico.

Havia ainda o dia das oferendas do próprio povo egípcio.


Desde os lavradores da beira do Nilo até os altos mercadores
cheios de riqueza, todos participavam dela. Essa fileira era
encabeçada por aqueles que tivessem as prendas mais valiosas
e, após, pelos menos favorecidos, que poderiam ofertar
até uma simples cabaça de barro contendo mel. Como era
demorada essa cerimônia, geralmente os últimos acabavam

51
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

sendo recebidos por algum outro dignitário, que os abençoava


em nome do Faraó. Por isso, era grande a expectativa para
se saber se teriam a sorte de oscular as mãos ou mesmo os
pés do Rei.

Era interessante notar que os estrangeiros ofereciam,


nessas ocasiões, mulheres, as mais belas dos seus reinos,
para servirem de escravas. Mesmo os compatriotas do Faraó,
quase sempre, tinham alguma filha ou parente que julgavam
perfeitas, saudáveis e belas para ofertarem ao Templo. Essas
mulheres, se fossem rejeitadas nos serviços particulares do
Rei, ficariam à disposição dos Sacerdotes, que as disputariam,
começando sempre pelos mais graduados.

Os dias dessa cerimônia terminavam em grande estafa


para nosso Faraó Sacerdote. Durante o dia de cada cerimônia,
Ele era obrigado a trocar as suas vestimentas de hora em hora,
para dar tempo de exibir todos os trajes, os mais sofisticados,
que eram confeccionados para a coroação. Esses trajes eram
feitos de linho no Egito, mas alguns vinham de terras distantes,
confeccionados com tecidos muitas vezes desconhecidos para
causarem surpresa à corte. Representavam o orgulho de quem
os oferecia e, quase sempre, eram de riqueza incalculável!
O Faraó não poderia descuidar-se de usá-los, pois isso seria
uma afronta aos países amigos. Esses trajes seriam colocados
à disposição da curiosidade pública, em locais apropriados,
pois, já em vida, o Faraó começaria a colecionar os objetos
que iriam contar a história do seu reinado. Pensavam mais na
posteridade do que no presente.

Os grandes salões do Templo estavam divididos de acordo


com a importância daqueles que deles se serviam. Ali estavam
armadas as mesas dos banquetes que em hora alguma do dia
ou da noite, pelo período de um mês, no mínimo, ficavam
vazias. Em ocasião alguma se vira tanta comida e bebida. Para

52
HÁ 5.000 CICLOS DE RÁ

o povo, que festejava na parte de fora ao redor do Templo,


também não faltavam a carne, o pão, o vinho e uma bebida
que era preparada de cereais, semelhante à cerveja.

Inúmeras eram as cerimônias que constavam do programa


de uma coroação naquele tempo. Havia a cerimônia do beija-
anel e até os nossos dias ela é seguida pelos padres da Igreja
de Roma.

Solenemente eram proferidos pelo Faraó incontáveis


juramentos. A maioria deles se relacionava com a obediência
e a subordinação que o Rei teria para com o Alto Clero,
isto é, os Sacerdotes de Amon. Outros, bem poucos, eram
relacionados com os seus deveres para com o povo. O Faraó,
se não tivesse fibra de aço, acabaria disfarçadamente como
um escravo do sacerdócio. Mas era sui generis o caso desse
Sacerdote Faraó: como não poderia jurar perante si mesmo,
como Sumo Pontífice que era, jurava perante o Conselho Oculto
dos Vinte e Um.

Mais sui generis ainda foi a sua coroação. Essa era


a primeira grande cerimônia que dava início ao resto das
festividades. Era feita na Câmara das Imagens Sagradas,
perante Hórus menino, e só os mais achegados participavam
dela. À sua disposição se encontravam duas coroas idênticas.
Já nesse tempo, os egípcios conheciam o vidro e costumavam
colori-lo para imitar pedras preciosas. Entretanto, as pedras
que ornavam as duas coroas eram legítimas, maravilhosas e
de grande valor. Nessa coroação, o próprio AKRON coroou a
si mesmo, quando, em outra circunstância, ele seria coroado
pelo Sumo Pontífice. Então, primeiramente, ele tomou uma
das coroas e a colocou na cabeça da imagem de ouro de Hórus
Arakiti. A seguir, tomando da outra coroa e começando a
murmurar o seu primeiro juramento, ele a colocou na própria
cabeça. O som do gongo, que anunciou esse momento da

53
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

cerimônia, foi seguido por estrondos parecidos com fogos


de artifício, pois os egípcios conheciam uma composição
semelhante ao fósforo. O povo todo tomava conhecimento de
que, naquele momento, um novo Rei havia sido coroado.

Flores exóticas enfeitavam todo o Templo derramando


o seu perfume narcotizante, que se misturava com os odores
das essências não menos exóticas e excitantes. De todas as
paredes, de todos os ambientes saíam archotes alimentados
por azeite de oliva para a iluminação à noite. Durante o dia,
os Templos eram iluminados pela luz do sol através de grandes
claraboias e, mesmo, pela falta de teto em muitos recintos,
pois raramente chovia naquela terra. AKRON comunicou que
não utilizaria o palácio real para a sua morada oficial e que
continuaria a residir dentro do seu Templo. Ele seria sempre,
primeiramente, um Sumo Pontífice; depois, um Faraó.

Coroado, AKRON era a personificação da própria beleza!


De estatura mediana, parecendo mais alto do que realmente
era, magro, entretanto forte, sua tez da cor de azeitona,
as maçãs do rosto proeminentes, o contorno da boca bem
acentuado, os lábios mais para grossos, testa alta e pescoço
fino e bem feito para as golas que usava. Seu rosto austero
raramente sorria. Impressionantes eram os olhos: grandes e
amendoados, de olhar penetrante e pesquisador, quase sempre
serenos e sonhadores e quase nunca vigilantes, pois era um
olhar de quem nada deve e, por isso mesmo, nada teme. Em
meio a esse movimento, o Templo estava repleto de astrólogos
e adivinhos, que mais divertiam os convidados do que falavam
a sério.

O espírito da festa era de muita alegria; e com a bebida


deixando as cabeças mais leves, iam se esquecendo dos
problemas para gozarem os deleites da alma. Entregavam-se
à evolução daquele programa cheio de rituais que enfeitiçava

54
HÁ 5.000 CICLOS DE RÁ

a todos. Estavam felizes e essa felicidade engenhosa estava


na coroação de um Rei quase desconhecido para eles, pois
esse homem pouco era visto em público. Para aquele povo,
a verdadeira felicidade era guardada para as suas almas no
além-túmulo.

Enfim, após o término das festividades, todos estavam


exaustos, mas satisfeitos — uns porque se divertiram, outros
porque cumpriram com os seus deveres.

55
OS CÂNTAROS PARTIDOS

A s uniões se davam entre Sacerdotes e Sacerdotisas.


Quando a escolhida de um Sacerdote não fosse das fileiras
do TempIo, este tinha o direito de trazê-la e propor a sua
aceitação como Sacerdotisa. No mínimo, por um ano, ele teria
que aguardar para que ela estivesse em condições de assumir o
compromisso do casamento. Esse compromisso era muito sério
e as leis que o regiam também eram rígidas, principalmente
para as mulheres. Estas não escolhiam o companheiro e eram
obrigadas a aceitar por esposo somente os Sacerdotes. Nunca
poderiam sonhar com um homem de fora do Templo.

Aos homens eram concedidas diversas regalias dentro


do matrimônio, entretanto teriam que seguir certas regras,
entre as quais nunca abandonar a esposa por outra. Poderiam
adquirir as concubinas comprando-as como se fossem escravas.
Essas escravas eram geralmente as Vestais que, a partir dos
14 anos de idade, eram alijadas dos seus encargos junto das
piras sagradas. Quando isso acontecia, já havia sempre algum
pretendente e na maioria das vezes casado, pois para elas era
vedado o casamento em qualquer circunstância. Poderiam
ser compradas também as Sacerdotisas que não tivessem
pretendentes, as mulheres de fora do Templo, as estrangeiras
que eram trazidas de suas terras ou as que eram ofertadas
como presentes dos reis vizinhos. A aquisição dessas escravas
para a ala das suas mulheres não poderia prejudicar a esposa
e nem os filhos, legítimos ou não. Teriam tantas mulheres
quantas fossem as suas posses. Eram levadas em conta,
também, as despesas com o sustento da prole que resultaria
dessas aquisições, assim como as despesas com os eunucos —

57
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

guardiões dessas alas. Mesmo assim, cada qual só poderia ter


o número de escravas de acordo com o seu grau hierárquico.
Os menos graduados não poderiam ter mais mulheres que os
de maior grau, e nenhum deles poderia ter em número igual
ou superior ao do Faraó.

Os casais só poderiam separar-se, dentro da lei, quando


não tivessem filhos e quando a decisão fosse de comum acordo.
Em nenhuma outra hipótese isso aconteceria. Se separados,
não poderiam quebrar novamente os cântaros com outro
companheiro ou companheira. A cerimônia do casamento
era feita somente uma vez com a quebra dos cântaros: um
contendo a água; outro, o vinho. Se o homem falecesse, a
sua companheira tiraria a própria vida para acompanhá-lo na
caminhada de além-túmulo. Ela fazia isso de boa vontade, pois
acreditava que só após a morte é que seriam realmente felizes.
Quando, ao contrário, era ela quem partia, o homem quase
nunca lhe seguia os passos. Entretanto, não poderia quebrar o
seu cântaro com mais ninguém, pois esse já estava quebrado.
Escolheria dentre as concubinas uma para substituir, no leito,
a esposa falecida. Por isso, a cerimônia dos cântaros era
reverenciada como um acontecimento de grande importância,
de enorme pompa e beleza. Era a realização do sonho de todas
as Sacerdotisas.

Foi assim que a rica filha de um agricultor conheceu,


na festa da coroação do Rei, o Sacerdote Orentóthis, que
pertencia à ala dos músicos. Até então, esse Sacerdote não
tinha outra paixão em sua vida a não ser a música.

Orentóthis se esforçava para que o programa musical,


naquela importante ocasião, não tivesse falha. Realmente,
as partituras eram singelas e maviosamente executadas pelas
flautas e pelas harpas e harmoniosamente cantadas pela voz
privilegiada desse Sacerdote. Foi a sua voz que primeiramente

58
HÁ 5.000 CICLOS DE RÁ

encantou aqueIa jovem que não pertencia ao Templo, pois


os seus pais nunca admitiriam a sua separação deles. Da
convivência daqueles dias de festa, começou a nascer um
grande amor. Depois de conversas rápidas e esquivas para
fugir ao controle dos genitores, a jovem já participava, ao
lado de Orentóthis, fazendo coro com a sua voz não menos
privilegiada e encantadora.

Quando de retorno ao lar, os pais, mesmo apreensivos,


acreditaram que o romance teria terminado como terminou
a festa. Que engano! Ela não teve mais tempo para as suas
alegrias, para o seu canto, e a sua tristeza já começava a
incomodar os seus familiares.

Orentóthis, imediatamente após as festividades, começou


a se organizar a fim de trazer aquela jovem para as fileiras das
Sacerdotisas de Ísis. Assim, eles já haviam combinado antes
de se despedirem. E era isso que ela, taciturna e abatida pela
saudade, aguardava ansiosamente e em segredo. Em segredo
porque, filha de família abastada, sabia que o seu pai iria
remover céus e terras para impedir aquele casamento com um
Sacerdote. Para ela já haviam escolhido alguém que pertencia
à mesma casta. Não podiam admitir a sua filha única envolvida
com as leis rigorosas do Templo. Isso nunca!

Quando, tempos depois, o emissário do Templo bateu à


porta daquele dono de grande extensão de terra que marginava
o Nilo, este o recebeu contrariado. Mais contrariado ficou
quando lhe foi entregue o papiro que continha o pedido
da mão de sua amada filha. Tal pedido vinha assinado pelo
Sacerdote Orentóthis e pelo Hierofante encarregado desses
assuntos. Simplesmente não deu resposta alguma naquele
momento. Fez, através daquele mesmo mensageiro, o pedido
de audiência com o Faraó AKRON. Como Faraó, AKRON havia
começado a sua vida pública e, por isso, era natural aquele

59
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

pedido. A resposta veio breve, mas o Faraó solicitava que


comparecesse juntamente com sua esposa e sua filha. Assim
foi feito.

O pai, agricultor e mercador, falava muito, enquanto


gesticulava sem parar, e solicitava o amparo da esposa que
estava de pleno acordo com ele. AKRON ouvia atentamente
sem se manifestar. Quando os desesperados genitores pararam
de expor as suas razões e se fez um silêncio pesado, foi que,
para surpresa de todos, o Faraó pediu para ficar sozinho com
a jovem pretendente de Orentóthis.

Sós, a jovem e o Faraó. Depois de acomodados, este lhe


contou a seguinte história: “Existia em Nut um Templo onde
tive o gáudio de fazer parte de seus cerimoniais e rituais.
Certa ocasião, bateu às portas desse Templo uma mulher, que
solicitou, da autoridade máxima, o seu ingresso para as fileiras
das Sacerdotisas. Entretanto, ela havia partido o cântaro com
um homem do povo e, por isso, foi-lhe negado o ingresso.
Cheia de dor dentro de si pela decepção, ela retornou à sua
morada. Por um lado, o Templo a chamava para uma vida de
sacrifícios, de renúncias e, por outro lado, havia aquele que,
com ela, compartilhava de tudo em sua vida, aquele que ela
amava com todas as suas forças, aquele que compreendia
os mínimos detalhes de seus pensamentos. Depois de algum
tempo de sofrimento atroz, atendendo à vontade de Amon
— que se fez mais forte — e ao chamado de Ísis — que se
fez imperioso —, ela se apresentou novamente ao Templo e
comunicou que havia renunciado ao homem com quem havia
partido o cântaro, para ingressar nas fileiras do Templo.”

E assim ela foi aceita, e assim ela passou a representar,


daquele momento em diante, a Guardiã de todos aqueles que
trazem o amor dentro do coração; esse amor que unirá a vós,
dileta filha, ao meu dileto Orentóthis.

60
HÁ 5.000 CICLOS DE RÁ

“O companheiro dela não resistiu e, no maior dos


desesperos, desprendeu o seu Ká (espírito) da matéria, e ela
trouxe, dentro de si, mais esse sofrimento. Implorou à Divina
Ísis que conservasse o corpo do seu companheiro até o dia
em que ela estivesse liberta desta missão: onde houvesse um
coração sentindo amor, onde houvesse um coração sofrendo de
amor sofrido, ela deveria estar presente. A Divina ÍSIS atendeu
o seu apelo e, até o presente momento, existem em Nut as
ruínas de um Templo e nessas ruínas se encontra um corpo,
um corpo que aguarda o retorno de sua companheira.”

Não estranheis, filha, se eu vos chamar de Dama de Tuíti.


Salve a Dama de Tuíti! Porque, deste momento em diante,
sereis a representação da Dama de Tuíti em nosso meio. Não
sois a Dama de Tuíti, apenas sereis a representação dela.
Onde houver um coração sofrendo de amor sofrido, Dama
de Tuíti estará presente através de vós. Onde houver as
incompreensões desse amor, Dama de Tuíti levará o bálsamo
a esses corações, ela que traz dentro do seu próprio coração
a maior parte de um amor sofrido. E só quando conseguir que
todos os homens estejam unidos, parte com parte, dentro da
mesma aura que une um homem e uma mulher, será então
que Dama de Tuíti partirá para as ruínas do Templo, para
buscar o seu companheiro. Era isso que eu tinha a dizer-vos,
filha, no momento em que ingressais, como a Dama de Tuíti
um dia ingressou, nas fileiras das Sacerdotisas do Templo.
Farei o cerimonial da vossa união, como a Dama de Tuíti
fez o cerimonial da desunião, para que daqui em diante os
cerimoniais dos cântaros partidos representem somente a
união.

Terminada a história, a jovem chorava copiosamente


e declarou que a havia compreendido. Sim, ela iria unir-se
a Orentóthis e aceitaria a missão de ser a representação da
Dama de Tuíti. O Faraó ainda lhe afiançou que não seria esta a

61
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

primeira vez, e nem a última, que renunciaria à sua verdadeira


felicidade para ser a Dama de Tuíti.

Depois de tudo esclarecido, o casal, que esperava à parte


cheio de apreensões, foi avisado de que a audiência terminara
e que a filha deles já se encontrava aceita como Sacerdotisa
de Ísis, no Templo de Amon. Que fossem preparar-se para o
casamento que se daria de ali a um ciclo de Rá (um ano). Nada
mais restou a fazer, pois quem desobedeceria a uma ordem
dada assim? Ela não poderia nem mesmo ser discutida.

E sem discussões, chegou o grande dia esperado por


aquela dedicada Sacerdotisa, a quem todos chamavam de
Dama de Tuíti. Na véspera do casamento, tanto o noivo como
a noiva permaneciam a noite toda recolhidos em uma câmara,
acolitados: ela, por duas Vestais; ele, por dois Sacerdotes. Era
nessa ocasião que cada qual recebia — ele de Osíris, ela de
Ísis — as instruções para essa nova etapa de suas vidas.

O átrio, que ficava em frente da ara secundária dedicada


somente às cerimônias de casamento, estava todo iluminado
pelas chamas vindas das tochas empunhadas pelas Sacerdotisas
amigas e escolhidas pela noiva. Entre a fileira delas estava a
ala das dançarinas, composta pelas Vestais e Sacerdotisas, que
evoluíam em movimentos sinuosos as suas danças próprias para
a ocasião. Atrás, estava o átrio dos convidados. Esse espaço
estava repleto, pois a família da noiva era bem relacionada e
tinha muitos amigos. Dentre eles, um estava morto por dentro!
Era o noivo desprezado, que sucumbiria de tanta dor. Tinha
o nome de Astrum.

A Sacerdotisa de nome Irmnéa nunca dançou tão bem!


Se alguém pudesse penetrar no seu íntimo, sentiria que a
dança ali executada não era para os noivos, e sim para o
Faraó Sacerdote. Irmnéa homenageava o seu Rei que, como

62
HÁ 5.000 CICLOS DE RÁ

Sacerdote Maior, iria oficiar aquela cerimônia, cuja beleza


ficaria marcada na memória de todos os presentes.

À direita da ara ficava o lugar reservado para os oráculos da


corte, que ali permaneciam com as suas essências queimando,
misturando-se aos perfumes, como se fossem um linguajar
estranho que bem poucos conheciam. Entre eles, homens
e mulheres, estavam as pitonisas Nayana e Andarah, como
também outros conhecedores da Astronomia e da Astrologia.
Os astros já tinham revelado o futuro do casal, o número de
filhos etc; era costume se dar bastante importância a essas
adivinhações. Mas a Dama de Tuíti, como já estava inteirada
do seu destino, não se interessou.

O Sumo Pontífice estava todo de branco e ouro, rodeado


pelos curumins com os seus corpinhos nus e reluzentes.
Cada um deles, meninos e meninas, futuros sacerdotes e
sacerdotisas, trazia nas mãos recipientes de barro contendo
pétalas das flores exóticas daquela terra e sementes de trigo,
com o propósito de jogar nos noivos no final da cerimônia,
costume que até os nossos dias é executado. Em frente do
oficiante estavam os noivos, igualmente com as túnicas brancas
com fios de ouro, cheios de vida e felicidade. Nesse momento,
ao comando de AKRON, o curumim Harmakipa pronunciou bem
alto o nome que a noiva receberia como Sacerdotisa de Ísis:
Ihamanaya. Assim, Orentóthis chamou por Ihamanaya e ela
se voltou para ele. Tinha, entre as suas mãos, o cântaro de
barro cheio de água, enquanto o noivo tinha, igualmente entre
as suas mãos, o cântaro que continha o vinho. Caminharam
lentamente um para o outro com os cântaros à altura do peito,
bem firmes, e, ao se encontrarem, estes se entrechocaram,
partindo-se. A união se realizava ali, à vista de todos, com o
simbolismo dos cântaros partidos e o vinho se misturando com
a água, mistura essa que ninguém mais conseguiria separar.
Nesse exato momento, o coração de Orentóthis pulsava rápido,

63
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

cheio de esperanças, e o coração de Ihamanaya sentia, bem


no fundo, o sofrimento de um amor sofrido. Como Ihamanaya,
era ela a felicidade de Orentóthis; mas, como Dama de Tuíti,
seria o bálsamo para todos os corações partidos. A música e
as danças continuaram até os nubentes se recolherem sob a
chuva de pétalas de flores e sementes de trigo, que eram os
augúrios de prosperidade. Os convidados festejariam por mais
três dias o acontecimento, como era o costume.

Em meio aos convivas se encontrava um próspero


mercador. Era um sábio em relação à navegação e um profundo
conhecedor e amante de todos os mares existentes. Esse
homem, depois de uma longa conversa com AKRON, requereu
imediatamente o seu ingresso para o Templo. Abandonou
tudo — mulher, filhos e riquezas — com o intuito de ingressar
nas fileiras dos Sacerdotes de Amon. A conversa com o
Sacerdote Faraó nunca foi conhecida, mas o seu nome ficou
indelevelmente registrado como Arkhems.

64
O FESTIVAL DA DÁDIVA

O 6º dia de Toth, primeiro mês do ano egípcio, era


um dos dias mais ansiosamente aguardados. Aguardado pelo
povo, devido a sua grande fé; e pelos Sacerdotes, devido à
necessidade de proverem os depósitos de cereais, víveres,
peixes, bebidas, enfim tudo o que pudesse ser dadivado para o
sustento deles e de todo o Egito. Precavidos, eles mantinham
em reserva o alimento para todos. Essa era uma das primeiras
razões desse dia ser tão propalado e mantido como tradição.
Eram intimados a não faltar, pois, nessa ocasião, fazia-se
também o recenseamento. Portanto, nesse dia se misturavam
todas as classes para, unidas, mostrarem a sua generosidade
com os menos favorecidos, numa irmandade que ficava bem
distante da realidade.

Naquele tempo não se conheciam as quatro estações do


ano. Aos egípcios interessavam somente dois acontecimentos
vitais: a enchente e a vazante do rio Nilo, por isso mesmo
chamado de o Rio da Vida. Alguns acreditavam que esses
acontecimentos eram regidos por Nut, a lua; outros achavam
que esses dois pontos vitais se descontrolavam, ou não, devido
ao merecimento das ofertas feitas nesse Dia da Dádiva. Em
virtude disso, seria um crime praticado contra todo o país
se alguém não ofertasse o que tivesse conseguido de melhor
durante aquele ciclo de Rá. A classe sacerdotal impingia a
crença de que eram eles, os Sacerdotes dedicados a Nut no
Templo de Denderah, quem controlavam esses acontecimentos
cíclicos.

65
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

Ocorre que existia grande distância entre a sabedoria dos


sacerdotes e a do povo, muito mais ainda em se falando dos
sábios do Templo de Denderah. Esses sábios, que descendiam
dos Seres Divinos que habitaram entre os homens no início
da Atlântida, dedicavam as suas vidas ao estudo dos céus.
Possuíam aparelhos sofisticados e, por isso, conheciam com
exatidão todas as conjunturas astrais, todas as influências
delas, principalmente as da lua; sobre tudo e todos. Com muita
exatidão, sabiam eles dessa influência sobre o movimento das
águas do Nilo.

O programa do dia das festividades da Dádiva era extenso.


Essas festividades coincidiam com o período da enchente, em
que não se poderia fazer nada a não ser esperar a vazante.
Então, enquanto durasse a enchente, comemorava-se por
tempo mais ou menos longo. Uma das partes do programa
consistia em serem anunciadas, ao povo, as previsões para o
ano que se seguia, a partir daquele dia. Era previsto o número
de enchentes ou vazantes, a fertilidade das plantações, as
pragas, as doenças ou a prosperidade dos rebanhos, a colheita
do trigo etc.

Assim, o povo, na sua grande ignorância, orientava-se


estritamente dentro dos preceitos determinados nesse dia.
Acreditava que eram esses sacerdotes de Denderah quem
comandavam e controlavam inteiramente as águas do Nilo, o
que fugia aos limites em que eles realmente operavam. Por
essa razão, dentre tantas, a casta sacerdotal dominava o povo
e, reconhecidamente, isso era necessário em se tratando de
tanto atraso e ignorância. Acreditava, o povo, que se não
produzisse o que lhe fora exigido, cairia no desagrado do Faraó
e no próximo período seria castigado com a falta d’água, vital
para o país que quase não tinha chuva. O que tivesse vida
dentro do Nilo era rigorosamente controlado pelos sacerdotes,
que não hesitavam em tornar sagrado o animal que corresse

66
HÁ 5.000 CICLOS DE RÁ

perigo de ser exterminado. O crocodilo, muito importante


na oxigenação das águas, foi declarado sagrado e, portanto,
intocável.

No intervalo entre as datas das comemorações do Dia da


Dádiva, o costume era decidir-se sobre as oferendas das vidas
humanas; isso porque havia também os sacrifícios humanos. No
seu barbarismo, acreditavam que assim saciariam os desejos
da deusa Nut, livrando-os da sua fúria pelo período de um
ano. Entretanto, a casta sacerdotal permitia o sacrifício
humano somente para satisfazer a parte animalesca daqueles
ignorantes. Essa era a parte do programa que se aguardava
com ânsia mal contida.

Para isso, armava-se uma arena, onde era colocado


um colosso na forma de uma deusa sentada com os braços
estendidos para frente. Desses braços enormes, feitos de
maneira a serem encharcados com combustível altamente
inflamável, sairia o fogo para o sacrifício. Os corpos eram
atirados nos braços da deusa Nut, enquanto durasse o fogo.
Terminadas as chamas, acabaria a oferta a dadivar e as
pessoas restantes ficariam nos templos para executar os
serviços mais comezinhos. Eram homens, mulheres e crianças,
exclusivamente do meio mais baixo do povo. Essas infelizes
criaturas eram os enfermos, loucos ou rejeitados pelos seus
familiares.

Os sacerdotes não se interessavam por essa cerimônia e


não tomavam conhecimento de quem era, ou não, sacrificado.
Só intervinham em duas situações: para que ficassem, sem
morrer, os melhores dentre eles para os seus serviços; e
também quando o número de pessoas para o sacrifício fosse
pequeno. Neste caso, eles diminuíam o tempo das chamas
nos braços da deusa para assim lhes sobrarem mais serviçais.

67
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

Esses braços eram reconstruídos em seguida a fim de que, no


próximo ano, voltassem a funcionar.

O povo chegava ao local do Templo dedicado a Nut, em


Denderah, por diversos meios de transporte: camelos, cavalos
e principalmente embarcações de portes diversos. No 6º dia de
Toth, todos teriam que obrigatoriamente estar no local desde
a antevéspera, pois, a partir da véspera, ninguém mais poderia
transitar, nem pelos caminhos nem pelo rio. Assim teria que
ser porque, na véspera, a corte e a sua grande comitiva — que
incluía o Sumo Pontífice, os Conselhos Temporal e Religioso, o
Conselho Secreto e também os convidados de honra — saíam na
maior procissão aquática presenciada por olhos humanos.

Assim foi naquele 5º ano do reinado de AKRON. A barca


real, que era a sua, ia na frente. Dentro dela estavam: a sua
mãe Flor de Lótus, assim chamada; MENHENÚFIS, o seu
acólito permanente, e o Conselho dos Vinte e Um. Astrakon,
seu pai muito amado, já havia entrado na grande Luz antes
de Menhenés.

A ornamentação das barcas era de tal grandiosidade e


cores que não se poderia descrever. Tudo ali resplandecia
entre os raios solares e a profusão das cores. Como sabiam
utilizá-Ias! Eram maravilhosas, vivas, combinadas entre si,
de um bom gosto artístico fabuloso. A frente dos barcos
era detalhada com figuras de deuses e deusas recebendo as
oferendas do Faraó e dos grandes Hierofantes. A comitiva se
estendia por toda a extensão do rio entre Tebas e Denderah.
Por tradição, era no templo de Karnak, em Tebas, que se
reuniam para dali partirem. A distância entre Tebas e Denderah
era percorrida navegando-se um dia e uma noite, se tudo
corresse normalmente. Os remadores, homens vigorosos,
cumpriam a sua tarefa com muita disposição, alegria e vigor.

68
HÁ 5.000 CICLOS DE RÁ

Essa alegria era traduzida nas canções entoadas por eles, ao


ritmo de cada remada.

O Sumo Sacerdote Faraó vinha, como sempre, calado,


recolhido e meditando. Meditava nas aberrações daqueles
costumes e quanto mais os analisava, tanto mais se decidia por
mudá-los. Para ele era uma profanação utilizarem o Templo
de Nut, em Denderah. Mesmo que ninguém penetrasse no
Templo, pois tudo era feito nos espaços ao redor do mesmo,
Ele não se conformava e pretendia inovar a maneira de se
realizarem essas cerimônias. Nos subterrâneos era onde Ele
e todos os outros haviam recebido a Iniciação para os pontos
do Hierofante. Por isso, era o local dedicado ao que havia de
mais sagrado e oculto nos seus conhecimentos. Foi com ele
pensando assim que a sua comitiva aportou na entrada do
Templo; e só bem longe dali é que se movimentava a turba. A
entrada dos barcos reais não seria, portanto, perturbada de
forma alguma.

Depois de uma alimentação frugal, o Faraó Sacerdote se


recolheu aos seus aposentos para o descanso merecido e não
mais foi visto até a hora em que teria que oficiar a cerimônia
de abertura do festival do Dia da Dádiva.

Causou impacto e estranheza AKRON não se apresentar


com a coroa real. Ao invés do Faraó, viram todos diante de
si um homem quase desnudo, coberto por uma tanga e um
peitoral, vestimenta usada para a intimidade nos dias de grande
calor. Muitos que já tramavam a sua queda reforçaram os seus
pareceres, induzindo outros para os mesmos objetivos, pois
todos se sentiram ofendidos. Teria o Faraó enlouquecido? AKRON
se dirigiu para a arena dos sacrificados, acompanhado sempre
pelo fiel Conselho dos Vinte e Um e pelo fiel companheiro, o
Hierofante MENHENÚFIS, que também estava surpreso. Diante
dos braços da deusa, que esperavam só por um sinal seu para

69
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

virarem grandes tochas flamígeras, Ele parou e de pé, quase


aos gritos para ser ouvido por todos, mandou que trouxessem
as vítimas daquele ano. Estas estavam amarradas, pé com
pé entre si, para não fugirem. A princípio, não se entendeu o
que se passava, pois nem mesmo se conhecia aquele homem
que dava aquelas ordens absurdas. Mas, por intercessão dos
sacerdotes presentes, foi restabelecida a ordem entre o povo
e a fileira dos desgraçados se adiantou. Cena igual jamais
seria vista! A corda com que estavam amarrados começava
a ser cortada com fúria por AKRON. Quando perceberam, os
sacerdotes se puseram a ajudá-Io. Parecia inacreditável ver
aqueles dignitários se curvando diante daqueles pés para
cortarem a corda que os prendia. Não se soube, nunca, como
apareceram tantos punhais para aquela inesperada cena em
tão poucos minutos! A verdade é que em pouco tempo estavam
libertos e, naquele ano, o número deles era bem grande.

Foi então que o silêncio pesou sobre todos, paralisando-


os. O Faraó Hierofante fez um gesto com as mãos, e a multidão
dos condenados para o sacrifício avançou para o colosso e
começou a derrubá-Io. Ninguém se mexeu. Quando tudo
terminou, só se ouvia o murmulhar das águas do Nilo. Foi nesse
momento que se encararam — as vítimas e o Faraó Sacerdote,
o libertador. Não houve dúvidas. Pareciam movidos por uma
mola comandada. Ao mesmo tempo, juntaram-se ao redor
dele e, aos gritos e aos prantos, alisavam-no, abraçavam-no,
beijavam-no, acarinhavam-no não respeitando nada! Queriam
tocá-Io, fosse como fosse e onde fosse. Principalmente,
queriam beijar-Ihe os pés. Ninguém ousou impedir, por medo
de ser trucidado.

AKRON se deixava amar sem resistência alguma, com


as lágrimas quentes se misturando com as daquelas infelizes
criaturas. Por fim, como que saciados, como que retornando
a si, talvez movidos pelo medo de algum castigo, foram se

70
HÁ 5.000 CICLOS DE RÁ

afastando, formando um círculo e no meio ficou o Rei Sumo


Sacerdote. Altivo na sua nudez, com a cabeça raspada, na sua
profunda bondade, serenamente, ele pediu que prestassem
atenção. Foi se transfigurando, parecendo que o Homem
não pertencia mais a este plano, tal a aura luminosa que o
envolvia!

A noite já descia; somente o acólito MENHENÚFIS se


aproximou dele e se apressou em tomar notas do que iria
ser falado. Então se ouviu, pausadamente, num tom de voz
muito doce e plangente, como num encantamento, o ditado
para o povo sofrido, amargurado e compungido — a prece do
Pai-Nosso:

“PAI NOSSO QUE ESTAIS NO CÉU.


PAI NOSSO QUE ESTAIS EM TODOS OS CORAÇÕES.
PAI NOSSO QUE RESIDE NA TRÍADE INFINITA E PERPÉTUA.
VENHA A NÓS O VOSSO REINO.
VENHA A NÓS A VOSSA INFINITA SABEDORIA.
VENHA A NÓS O VOSSO IMENSO AMOR.

JET AMON!”

Pela primeira vez, os humildes foram despertados para as


palavras — PAI NOSSO. Para aquele povo oprimido, o Pai sempre
foi dos afortunados e nunca deles. Ouviram que o Pai estava
em todos os corações e que, para eles, poderia vir o amor
desse Pai. Se tinham o amor do Pai em seus corações, já não
se sentiam tão rejeitados e infelizes. Parecia que um bálsamo
milagroso ia sendo, de gota em gota, derramado sobre as suas
cabeças, libertando-os dos grilhões que há tantos séculos os
prendiam, por falta de alguém que lhes estendesse as mãos
piedosas. Todos os presentes, amigos ou inimigos de AKRON,

71
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

tiveram consciência de que as cerimônias do Dia da Dádiva


nunca mais seriam como antes. Não o foram mesmo!

Em silêncio ouviram e em silêncio permaneceram até o


Faraó se retirar para o interior do Templo. Retirou-se, sem
olhar para ninguém nem falar com ninguém, e foi diretamente
ao encontro de sua mãe, que o aguardava para lhe oscular a
testa na altura do Olho de Hórus. Nessa noite, adormeceu sem
notar e foi um sono profundo e sem sonhos.

Na manhã seguinte mandou gravar as novas regras para


as festividades do Dia da Dádiva, dali para frente. Haveria a
dádiva, sim! Todos deveriam dadivar, nessa mesma data, o
que de melhor possuíssem. E o que todo Ser Humano possui
de melhor é o seu próprio interior. Dadivassem, em primeiro
lugar, as suas vidas corretas e perfeitas; depois, aquilo que
cada um achasse que deveria ser ofertado para o bem de
todos. Ficaria proibido qualquer sacrifício humano ou animal.
Ao invés desses sacrifícios, deveriam começar a ter por hábito
ofertar somente flores para as Divindades. Recomendava ainda
que em todas as tardes, ao cair da noite, como lembrança
daqueles últimos acontecimentos, se reunissem — famílias,
amigos, companheiros de trabalho, com quem fosse possível
— naquela volta do relógio d’água, para repetirem as palavras
do Pai-Nosso.

A última recomendação foi uma ordem para a casta


sacerdotal. O lema de aí para frente seria: primeiramente
compreender, depois receber e por último distribuir.

A expectativa era grande para verem novamente o Sumo


Pontífice. Finalmente, ele se apresentou todo paramentado
com as vestes sacerdotais: o peitoral em formato de triângulo
na cor verde e, na cabeça, com a majestosa mitra de formato
cônico, não muito alongado, de cor azul. Esse cone achatado

72
HÁ 5.000 CICLOS DE RÁ

era circundado por cinco anéis de ouro formando uma espiral,


que significava os cinco graus do Sacerdócio. Ladeando e
sobre as orelhas, os dois cornos do Carneiro Sagrado de Amon,
simbolizando o signo daquela Era. No meio da mitra, na frente,
havia uma esmeralda triangular de onde saíam duas penas
brancas. Esses símbolos eram: a esmeralda — o Olho de Hórus
que nunca se fechava, representando também a Sabedoria
Hermética; as penas — as armas do sábio que, pela sua leveza e
sutileza, tudo venciam. Tinha ainda, o Sumo Pontífice, a barba
postiça da cor de terra, com sete degraus, representando os
sete pontos do Hierofante. Nas mãos trazia o Hank — símbolo
da Vida — e o Pink — simbolizando o seu poder real.

Todos aliviados se apressaram em saudar o Sacerdote que


tão majestosamente se apresentava, impondo-lhes o amor
para uns, o temor para outros, mas a todos, principalmente,
o respeito exigido por ele — insigne expressão do mais alto
cargo que um homem poderia alcançar naquela terra. Com uma
pequena reverência, sobranceiro, mas respeitoso, AKRON se
encaminhou para cumprir as obrigações sacerdotais diante da
ara que, naquele instante, começava a se iluminar pelos raios
oriundos da estrela Sírius, da constelação do Cão Maior. Esses
raios, sabiamente e por cálculos exatos, incidiam naquele
altar que se encontrava na mais completa escuridão, através
de um orifício na parede do Templo de Denderah.

73
SUBAHAJAH E KARNAK

V oltemos a Tebas, conhecida hoje como Lúxor. Depois


de toda a metade desse reinado (quatro ciclos de Rá, mais ou
menos), vamos encontrar KARNAK, primo-irmão de AKRON, em
um desvario da ânsia do poder, envolvendo consigo centenas
e centenas de criaturas que almejavam as graças perante o
Faraó, que ele se obstinava em ser. Declinara do cargo de
Conselheiro junto ao Faraó, seu parente, e vivia com a ideia
fixa de assumir o poder.

Já SUBAHAJAH, seu tio, aceitara sua nomeação como


Chefe de todos os exércitos do reino, cargo este de que muito
se orgulhava. Mesmo assim ocupado, não se descuidava de
estar atento ao plano que urdia conjuntamente com o seu
sobrinho predileto, que seria a mola-mestra da intriga que
culminaria dali a bem pouco tempo.

Naquele plano diabólico, urdido sem pressa, estudou-


se, com cuidado premeditado, o comportamento de um por
um daqueles que necessitariam para a sua vitória, haja vista
os membros do Conselho dos Cento e Onze, que já estavam
todos, ou quase todos, em suas mãos. Quanto aos exércitos,
agora sob o seu comando máximo, ele se responsabilizaria
por eles. Não haveria problemas. KARNAK nunca deixou de
se sentir como um rei e à sua volta muitos já o respeitavam,
secretamente, como tal.

Dali de Tebas partiria a ordem — como partiu, justamente


depois de sete anos de reinado do 1º Faraó (AKRON) da 2ª
Dinastia —, ordem de prisão e de morte, que foi decidida em

75
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

uma última reunião secreta do Conselho dos Cento e Onze — o


Conselho Temporal —, no qual um deles, o Decano Sacerdote
Karmeth, deu o seu voto em contrário. Despachada a ordem
e de prontidão todos os exércitos, AKRON foi arrancado
do feliz aconchego do seu Templo e jogado nas masmorras
subterrâneas, tendo por companheiro seu fiel acólito
MENHENÚFIS. Foi amordaçado, foi espezinhado! Era o último
dia de Epagômenes (28 de agosto) do 7º ano de reinado da 2ª
Dinastia, aquela logo após o reinado do Faraó Menhenés. Ele
foi vigiado e guardado como um indesejável.

Nessa ocasião, um soldado, burlando a vigilância, chegou


até o cárcere e se comunicou com o prisioneiro, alertando-o
de que seria sacrificado pelo fogo. Para um povo como aquele,
não se preservar o corpo, como era a tradição, seria a maior
das humilhações. Na volta, esse homem, que se chamava
Arknor e que tinha por esposa Sandah, encontrou pela frente
o fio de espadas e partiu antes mesmo do prisioneiro, pelo
crime de ter se comunicado com ele.

76
O SACRIFÍCIO

E m Tebas não reinava a tranquilidade que à primeira


vista parecia. As Sacerdotisas, aos poucos, iam se enfronhando
nos acontecimentos que ali, bem debaixo dos seus domínios,
estavam se desenrolando. Umas porque estavam insatisfeitas,
outras por curiosidade, mas, finalmente, a maioria absoluta
se decidia pelas fileiras do príncipe que fora relegado a
segundo plano. Este levava a vida rodeado por pessoas que
já o consideravam Faraó.

Pela rotina diária não se percebia nada. Tudo se


processava de acordo com as tradições. As Iniciações femininas
continuavam. Os cultos eram religiosamente executados por
Sacerdotes compenetrados, que subiam de Mênfis para essas
ocasiões. Alguns se admiravam ao ver o príncipe KARNAK
muito recolhido, não se ocupando mais com as danças, que
tanto o agradavam, nem com as caçadas às hienas. Viam-no
sempre jogando em tabuleiros grandes, nos quais se travavam
verdadeiras batalhas; mas isso disfarçava a grande batalha
em que, na realidade, ele estava empenhado: a queda do Rei
egípcio, seu primo.

Estranho era que os componentes do Conselho dos Cento


e Onze, quase sempre, estavam viajando para Tebas. Caso
se prestasse mais atenção, notar-se-ia que eles estavam
desligados da rotina de suas reuniões tradicionais, em virtude
de uma grande maioria deles estar frequentemente ausente
de Mênfis.

77
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

Mais estranho ainda era MENHERTETH, da Câmara das


Imagens, ser também raramente visto em seus domínios.
Desculpava-se da ausência por intermédio dos seus filhos, que
ficavam de guarda das imagens. O próprio ar que se respirava
estava impregnado de muitas coisas estranhas.

Estranho também SUBAHAJAH, chefe dos exércitos,


estar sempre no meio da soldadesca, confabulando daqui,
agradando dali. Estranho esse chefe tão liberal com os seus
subordinados! Igualava-se, ombro a ombro, e não havia mais
hierarquias. “É como se fosse um pai para nós”, diziam todos,
satisfeitos e convictos de que era necessária a mudança do
Rei. O mais difícil foi com aqueles que pertenciam à guarda
particular do Faraó: SUBAHAJAH os substituía constantemente,
alegando cuidados exagerados com a proteção do Rei. Com
essas substituições constantes e com um trabalho penoso
de catequese, no final, aqueles que formavam tal guarda já
pertenciam, de corpo e alma, ao movimento encabeçado por
KARNAK.

A grande dificuldade foi com Nefáris que, em hipótese


alguma, concordou com os planos de traição. Ela tinha o seu
orgulho, era compenetrada da importância do seu cargo de
Chefe das Sacerdotisas e também amava com sinceridade
o seu Rei e Senhor. Por isso, foi a primeira vítima daquela
trama. Em uma manhã, aos primeiros raios de Rá, Nefáris
se dirigia sozinha ao lago sagrado do Templo de Karnak para
o seu banho de purificação e a saudação ao Sol, que estava
majestoso naquela hora, quando, sorrateiramente, um
Sacerdote se aproximou e não teve dificuldade nenhuma em
asfixiá-Ia e afogá-Ia nas águas tranquilas do lago artificial. A
seguir, substituíram-na por outra mulher muito parecida com
ela. Desta forma, caso não se observasse bem, não se notaria
diferença entre as duas.

78
HÁ 5.000 CICLOS DE RÁ

Desencadeada a crise, as coisas foram se sucedendo


paulatinamente sem ser esquecido detalhe algum. Os que
resistiam, e que não eram muitos, iam sendo eliminados.
Não eram muitos porque eram prometidas coisas fantásticas
e mirabolantes; e todos, nas suas aspirações inconfessáveis,
deixavam arrastar-se por essas promessas. Para MENHERTETH,
que sempre aspirou em segredo, no íntimo, a ser ungido
Sacerdote, foi-lhe prometido isso, mas nunca conseguido.
A outros supersticiosos eram incutidos medos que fugiam
à compreensão deles. Na verdade, envolvida pelas tramas
e exacerbada por propósitos egoístas, a maioria dos que
ocupavam cargos de confiança já se achava decidida pela
traição.

Como poderiam esses acontecimentos estarem ocorrendo


sem que AKRON ou MENHENÚFIS percebessem? Diríamos que,
primeiramente, eles viviam muito mais para as atribuições
religiosas do que para as mundanas, atribuições estas sempre
delegadas a outras pessoas julgadas de confiança e que se
mostraram indignas delas. Somando-se a isso, o Sacerdote
Faraó não tinha sido preparado para as intrigas do reino e,
mesmo, se esquivava a essas mesquinhas confabulações.
Mantinha-se sempre afastado do convívio geral porque se
julgava muito mais o Sumo Sacerdote de Amon, portanto,
intocável, do que o Faraó que todos queriam tocar, de uma
forma ou de outra, em demonstrações de carinho. Ele fugia
aos compromissos mundanos, pois julgava que assim estava se
preservando dos contatos de mãos hereges. E como celibatário,
não tinha a seu lado uma rainha que, como mulher, seria bem
mais astuta para perceber o que acontecia ao redor deles.
Enfim, Ele e a Sombra, também muito mais Sacerdote do que
homem da corte, eram sem vaidades, não possuíam maldade,
não concebiam nunca a traição, mesmo porque os traidores
eram sangue do mesmo sangue. Em suma, não percebiam o que
acontecia em volta deles, porque já estava predeterminado,

79
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

por Anúbis, o sacrifício de AKRON. Como julgar tão grande


desígnio?!...

Os dias foram se passando, sucedendo-se em semanas,


meses e anos. Encontramos KARNAK e SUBAHAJAH
confidenciando entre si: “Temos motivos para nos orgulhar.
Aqui para este Templo convergem todos os fios. Este Templo
parece uma fábula e as ligações todas estão em nossas mãos”.
Com essa certeza, SUBAHAJAH, chefe absoluto dos exércitos
neste 7º período do reinado de AKRON, da 2ª Dinastia, expediu
o seguinte comunicado aos seus subordinados: “Apresentem-
se todos aos seus superiores imediatos e permaneçam de
prontidão. Se as ordens de apresentação não forem cumpridas,
agiremos com todos os meios que estão ao nosso alcance.
A recusa de prestar obediência aos exércitos do reino será
punida com a morte. Mandarei decapitar qualquer desertor
ou insubmisso.”

Ordem clara e categórica! Para aqueles que se iludiram


com o companheirismo e a bondade desse chefe, tudo ficou
esclarecido quanto aos seus propósitos. Mesmo surpresos,
ninguém ousou desobedecer tal ordem.

80
O DOCUMENTO

R eunido pela última vez nesse final de reinado, o


Conselho dos Cento e Onze — com as presenças de KARNAK,
SUBAHAJAH e ainda MENHERTETH que, já sendo íntimo da falsa
Sacerdotisa Nefáris, participava ao lado dela nessa reunião
— assinou a sentença de morte, pelo fogo, para AKRON, seu
Sumo Pontífice e Rei.

O decano deles, pela vez primeira, deixou de ser ouvido e


as suas palavras se perderam naquele recinto, onde, nervosos,
todos tratavam de ultimar o documento que seria levado para
Mênfis. Mesmo assim, Karmeth, o decano, gritou até perder a
voz e as forças e, tomando Amon por testemunha, declarou
que não participaria daquela trama. Não lhe deram maiores
atenções devido à sua adiantada idade. Os mais jovens,
como Nerhoreb e Nerkapta, achavam que ele delirava e que
não representaria perigo algum aos seus planos. Por isso,
Karmeth foi renegado ao esquecimento e mal maior não lhe
aconteceu.

Muitas voltas do relógio d’água se passaram até que o


documento ficasse redigido de uma forma astuta, convidando
o Faraó para comparecer a uma cerimônia fictícia. Depois de
pronto o documento, não viram mãos de maior confiança do
que as de MENHERTETH para, no seu retorno a Mênfis, fazê-Io
chegar ao destino.

O documento era mais ou menos isto: primeiramente se


contava que um sacerdote, talvez fora do seu juízo perfeito,
chamado Olofar, havia introduzido na Câmara Secreta

81
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

(espécie de Santo Santorum) a figura de Basth, o gato, e o


havia entronizado perante a Ara principal e sagrada. Depois
o havia incinerado no fogo da pira, não menos sagrada.
Contavam ainda que isso fora feito durante a vigília da noite
e que ninguém se deu conta, a não ser quando, pela manhã,
o próprio sacerdote insano veio vangloriar-se do seu feito.
Imediatamente, os santos sacerdotes que guardavam aquele
Templo pertencente às Sacerdotisas cercaram todas as entradas
para aquela câmara, onde ninguém mais penetrou. Na câmara,
o fogo da pira já se encontrava apagado e, dentro desta,
achavam-se as cinzas do gato — a representação do mal. Por
todos esses infaustos acontecimentos, depois de convocados
para aquele local, o Conselho dos Cento e Onze, juntamente
com o Conselho dos Duzentos e Vinte e Dois — o religioso —,
reuniram-se várias vezes até que, em uma última reunião,
ficou resolvido que comunicariam isso à sede do Pontificado.
Humildemente solicitariam a presença do Venerável Sacerdote
Maior, Sumo Pontífice Faraó, pois decidiram que a não ser Ele
— Sua Santidade —, ninguém poderia corrigir esse gravíssimo
erro cometido perante a Ara, naquele sacrossanto lugar.
Comunicaram ainda que já haviam aplicado o merecido castigo
a Olofar, que fora queimado depois de seu corpo ter sido
mergulhado em azeite fervendo.

Esses acontecimentos foram reais, a fim de se dar maior


veracidade ao convite que era feito para o palácio em Mênfis.
Olofar só aceitara essa incumbência porque era cunhado de
KARNAK, pois partira o cântaro com uma irmã do mesmo.
Por isso, confiava cegamente no príncipe destronado. Que
ingenuidade! Pagou bem caro por tudo aquilo que em princípio
havia pensado: que a sua luta seria por uma causa sublime e
bem mais elevada do que a profanação de um local santo.

82
A PIRA

A pira, que permaneceu por longo tempo apagada,


só foi acesa depois da coroação de KARNAK, em uma linda
noite de lua cheia, aproveitando-se as cerimônias feitas à
Divina Nut. Quem a acendeu foi uma Vestal que, até então,
se encontrava na obscuridade, mas astuciosamente se fez
aparecer, relacionando-se primeiramente com o Sacerdote
Olofar e, por intermédio deste, com KARNAK. Em consequência,
era bem vista por SUBAHAJAH e por MENHERTETH. Foi KARNAK,
mais tarde como o Faraó Atóthis, quem a indicou para ser a
Primeira-Vestal, na Ala das Vestais daquele Templo. Talvez ela
não tivesse consciência de quão maldita era aquela pira e de
quanto mal traria, para ela e para os demais, a força daquele
fogo. Ela se chamava Zanuar, filha da influente Sacerdotisa
de Ísis — Noreya — e do Sacerdote de Osíris — Akheper-Hik-
Nor.

Noreya tinha também um filho chamado Skermeth,


que abandonou o Templo para se juntar a uma mulher
estrangeira.

83
O CONSELHO SECRETO DOS
VINTE E UM

A KRON recebeu a mensagem com o selo e o lacre do


Chefe dos Exércitos, bem como do representante do Conselho
dos Cento e Onze — o temporal — e do representante do
Conselho dos Duzentos e Vinte e Dois — o religioso. Convocou
ele imediatamente a reunião do Conselho Secreto dos Vinte e
Um, que juntamente com MENHENÚFIS, a Sombra, assistiram a
abertura daquela correspondência e ouviram a sua leitura.

A primeira reação do Faraó foi de indignação, não só contra


o sacerdote faltoso, que não mais existia, mas também contra
todos os responsáveis pelas coisas sagradas dos seus Templos.
Como poderia ter acontecido aquilo? Fugia à compreensão de
todos ali presentes. Urgia partir imediatamente! Decidiu sem
mais delongas e indicou alguns do Conselho dos Vinte e Um
para se responsabilizarem e responderem pelos encargos em
sua ausência, que acreditava seria breve.

Ele e MENHENÚFIS, seu acólito, acompanhados somente


de alguns serviçais, partiram imediatamente. E quando a
barca real se pôs a caminho, um sorriso iluminou o rosto de
MENHERTETH, que se encontrava muito apreensivo antes de
saber o resultado de sua missão. Então dera certo! Faltaria
apenas transmitir a ordem de prisão a todos os Sacerdotes
componentes do Conselho Secreto dos Vinte e Um, ordem
esta executada com precisão pelo chefe da guarda pessoal
de AKRON. E mesmo antes de o Faraó aportar em Tebas, os
Sacerdotes Maiores do misterioso Conselho já se achavam
aguardando suas execuções, sem maiores esclarecimentos
e sem a possibilidade de alguma reação. A única atitude foi

85
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

tomarem uma dose mortal do veneno que traziam consigo para


ocasiões especialíssimas como essa. Agiram dessa maneira,
sem muitas especulações, para não correrem o risco de
serem torturados e terem que revelar o esconderijo da Arca
Sagrada.

Essa Arca Sagrada, toda de ouro e cobre, continha a


gravação, em papiros ou em pedras, dos direitos sagrados
e humanos, dos regulamentos judiciários, dos cultos à
Divindade e suas manifestações, das regras para os sacrifícios
e principalmente o que havia de mais oculto: os 14 pedaços
contendo os Arcanos Sagrados. Continha tudo sobre a magia, a
medicina etc. O guardião dela era o dedicado e sábio Sacerdote
Ato-Himba-Yorihimbah, que, com o mais velho deles, Oren­
Hatu, liderou os seus companheiros naquela hora derradeira.
Assim, partiram sem dar trabalho ou preocupação a ninguém.
Tudo corria perfeitamente, sem maiores tropeços.

86
O DESEMBARQUE DE AKRON
EM TEBAS

E sem maiores tropeços, desembarcaram os dois


Sacerdotes. Preocupados, sim, mas à vontade, pois se
encaminhavam para os seus domínios e para o encontro de
parentes de sangue. Estranharam o silêncio que reinava,
apesar do movimento intenso que se observava naquele
espaçoso Templo em Tebas. Foram direto para a residência
de KARNAK, que morava com o tio de ambos, SUBAHAJAH.
Foram de peito aberto, apressados, cabeças ao vento, sem
suspeitarem que os seus algozes, tal como víbora das areias
do deserto, espreitavam-nos para darem o bote final.

Entraram, sentaram-se e lhes foi oferecida água fresca


para mitigarem a sede. Estranharam que KARNAK parecia
querer dizer-Ihes alguma coisa, mas tinha a voz presa,
embargada. Quem assistisse àquela cena teria a impressão
nítida de que, se não fosse o apoio de SUBAHAJAH, o príncipe
naquele momento iria fraquejar e se omitir diante do seu
primo-irmão, talvez pela sinceridade daqueles dois ali na
sua frente. As palavras lhe saíram em atropelos; disse ele a
AKRON que se considerasse sem liberdade para se movimentar
e que já era tido como indesejável entre eles. Foi então que
SUBAHAJAH falou pela primeira vez naquela manhã clara e
límpida e assumiu o comando em relação ao prisioneiro.

Descrever o que AKRON sentiu seria impossível! Palavras


humanas seriam muito pobres para se falar sobre o que se
passou naquele íntimo. Com a mente em turbilhão, ele só se
lembrava do sonho que tivera com Menhenés. Este tentava lhe
prevenir sobre os acontecimentos, mas não era para alertá-lo

87
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

no sentido de se proteger — era pedindo que ele aceitasse,


sobre os ombros, o peso da podridão de toda uma época.

MENHENÚFIS estava petrificado! Estariam mesmo


ocorrendo aquelas coisas absurdas ali sob às suas vistas? Num
raciocínio rápido, AKRON pediu que a prisão não se desse ali.
Que o deixassem voltar a Mênfis, para o aconchego do seu
Templo querido e para a sua adorada Ara. Antes, porém, pediu
para entrar na câmara onde Basth, o gato, fora sacrificado.
Levaram-no pressurosos e lá dentro, ele implorou à Divina
Mãe o perdão para aqueles que violaram aquele local sagrado.
MENHENÚFIS o acolitou em silêncio e em seguida declarou,
peremptoriamente, que seguiria o seu Sumo Pontífice para onde
ele fosse. Muito sutilmente se teve a impressão que os dois
traidores alimentavam alguma esperança daquele sacerdote se
passar para o lado deles. Logicamente não o conheciam! Para
eles seria bem mais cômodo ter o acólito ao seu lado a fim de
que pudessem se justificar, se isso fosse necessário. Alguém
tão ligado à vítima e que no último momento a abandonasse,
seria ótimo para os dois traidores.

— Desejo morrer com o meu Rei, declinou MENHENÚFIS.

— Bem, se este é o vosso desejo, estejais certo de que


vivereis para presenciar a morte do destronado, afirmaram
os algozes.

Mais tarde, MENHENÚFIS percebeu o quanto foi necessário


que a sua vida tivesse sido poupada. Este sacrifício imenso de
ficar vivo com o propósito de presenciar os horrores de um
assassinato teve a sua recompensa, quando ele entendeu que
era o emissário do próprio AKRON para a causa mais sublime
que resultou dos sofrimentos de ambos: o início da ORDEM
DAS ALMAS FRATERNALMENTE UNIDAS (O.F.O.).

88
A CRIAÇÃO DA ORDEM DAS
ALMAS FRATERNALMENTE UNIDAS
(O.F.O.)

D epois de concedida a última vontade, o Faraó AKRON


pôde ver, mais uma vez, a sua Ara querida e arrojar-se aos
seus pés, tendo como acólito MENHENÚFIS, que foi a única
testemunha daquele momento. AKRON, como que inspirado
pelo Altíssimo, criou, ali mesmo, uma Ordem. E como
despedida ditou para o seu acólito as regras dessa ORDEM
DAS ALMAS FRATERNALMENTE UNIDAS (O.F.O.), que conteria,
dentro dela, quatro grandes Fraternidades. O número de
adeptos dessas Fraternidades não teria limites, pois a O.F.O.
seria criada para a Humanidade. Para que se cumprisse essa
profecia, AKRON — como pai dessa grandiosa e divina Obra,
nascida ali em frente à Ara principal do Templo de Amon — a
selaria com a sua vida e com o seu sangue. E de tempos em
tempos, através dos séculos afora, a Ordem, que em qualquer
tempo teria a sigla de O.F.O., ressurgiria para os homens,
vertendo, cada vez mais, o sangue do amor dividido, porque
o amor dividido é mais amor. As colunas sustentadoras, por
ocasião das atividades dessa Ordem, seriam os Pais Espirituais
de dois Egos irmãos: o da destra — o Venerável Shri Gana, e o
da sinistra — o Venerável Sahadyl. Ambos, sábios Sacerdotes
do Conselho Secreto dos Vinte e Um.

A primeira Fraternidade seria a ala dos Sacerdotes,


comandada por MENHENÚFIS, e chamar-se-ia FRATERNIDADE DE
MENHENÚFIS. Como símbolo, teria um coração representando
o amor — o seu lema. Toda vez que os cinco homens e a mulher
se reunissem, como aconteceu naquele lugar, onde estivessem,
estariam dando a oportunidade da Fraternidade de Menhenúfis
reiniciar mais uma etapa da sua missão.

89
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

A segunda seria a OREHUMBA-BAH, a FRATERNIDADE


DAS ALMAS. Seus responsáveis, em número de cinco, trariam
sempre consigo a figura do Escaravelho Sagrado. Sob a égide
da Sacerdotisa de Ísis — Noreya — estaria essa Fraternidade.
Toda vez que Noreya convidasse os irmãos para partirem em
busca de almas de boa vontade, estaria dando a oportunidade
da Fraternidade das Almas reiniciar mais uma etapa da sua
missão.

A terceira Fraternidade, IRMANDADE SECRETA DOS FILHOS


DE KAM, teria como patrono, designado naquele momento,
SUBAHAJAH, seu tio e chefe dos seus exércitos. Isto porque
queria deixar o seu perdão para aquele que, sabia, teria mais
tarde o seu nome riscado, pela sua cobiça e pela sua cupidez, e
que enlouqueceria até o final dos seus dias naquela existência.
Essa Irmandade teria como símbolo o rastro luminoso das cinzas
de um Escaravelho Sagrado. Toda vez que se queimasse um
Escaravelho Sagrado no fogo da pira, seria o sinal de que se
estaria dando a oportunidade da Irmandade Secreta dos Filhos
de Kam reiniciar mais uma etapa da sua missão.

A quarta Fraternidade, a última e a síntese de tudo aquilo


que se iniciava, com o seu inaudito, mas grandioso sacrifício,
chamar-se-ia FRATERNIDADE DE FLOR DE LÓTUS. Seu símbolo
seria o cálice, que é o Santo Graal reencontrado — o Sagrado
Coração onde vibra o Cristo e que, mais uma vez, sangrará e
verterá o sangue do amor dividido. Toda vez que uma imagem
de AMON se materializar, é certo que se estará dando a
oportunidade da Fraternidade de Flor de Lótus reiniciar mais
uma etapa da sua missão.

90
A IMAGEM DE AMOM

F açamos um parêntese para nos reportarmos aos dias


de hoje e falarmos sobre a imagem de AMON.

Na cama confortável de um luxuoso apartamento do


Hotel Sheraton em Heliópolis, no Egito, o invólucro feminino
— ZORNAY — aconchegava, nos fofos travesseiros, sua
cabeça. Estava cansada da longa viagem que empreendia em
companhia do seu esposo MENHENÚFIS e dos seus amigos:
Aktóthis e sua esposa Imnhoah. Quando foi dominada pelo
sono tranquilo e reparador, começou a sonhar: viu-se diante
da figura majestosa de AKRON e a primeira frase que se formou
em sua mente foi:

— Pai, e a minha imagem que prometestes?

— Filha, antes que tenhais partido do Egito, tereis a


vossa imagem.

Ao acordar na manhã seguinte, entre todas as indescritíveis


sensações de prazer e felicidade, cheia de gratidão pela
oportunidade de rever, nesta vida, a terra das suas origens,
aqueIa frase martelava em sua mente: “Filha, tereis a vossa
imagem.” Teria sido mesmo um sonho? ZORNAY queria acreditar
que fosse realidade...

Há vinte anos, em uma data certa, na sede da O.F.O. no


Rio de Janeiro, Brasil, dentro da conjuntura lunar favorável,
um número correto de mulheres e homens se reuniram com
o propósito de armar um cerimonial e realizar o ritual da

91
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

materialização de uma imagem de madeira de AMON. O


centro energético desse ritual era ZORNAY. Quando AKRON,
por intermédio do seu invólucro masculino — SAN-SHÚ —,
armou cada qual em suas posições e quando a expectativa era
enorme, foi notada a falta de uma irmã que se atrasara.

O Mestre imediatamente suspendeu o ritual e chamando


ZORNAY em particular, disse-lhe:

— Filha, prometo-vos que tereis a vossa imagem.

Todos os presentes ficaram cheios de curiosidade para


saber o que ZORNAY ouvira naquela noite de plenilúnio.
Entretanto, ela não revelou a ninguém, nem mesmo ao seu
companheiro MENHENÚFIS.

Decorridos 20 anos da promessa do Mestre, começaram


os quatro — Menhenúfis, Zornay, Aktóthis e lmnhoah — sua
peregrinação pelo antigo país de Kam, cumprindo assim
mais uma sagrada missão relacionada com tudo e todos que
pertencem à Venerável Ordem das Almas Fraternalmente
Unidas (O.F.O.). Por não caber aqui, essa missão não será
descrita. Em todos os lugares percorridos do Egito — ruínas,
areias do deserto, bazares das rueIas estreitas do Cairo,
museus, estátuas abandonadas —, volta e meia aflorava à
mente de ZORNAY a ideia de encontrar a imagem de madeira —
a prometida imagem. Às vezes a desilusão se apoderava dela,
mormente quando Aktóthis lhe afirmava, com a certeza dos que
sabem, que ali era impossível encontrar imagens de madeira,
já que só havia pedra. No entanto, ela sabia que se não fosse
de madeira, não seria a imagem prometida!... Absorvida pelas
maravilhas que se lhe deparavam, por instantes se esquecia
de buscar a concretização de sua esperança.

92
HÁ 5.000 CICLOS DE RÁ

Assim, chegaram à última noite que passariam naquela


terra muito querida. O guia do grupo, Sr. Ibrahim, pessoa
boníssima que deixou a todos muito saudosos quando partiram,
comunicou-lhes que havia reservado, para aquela última noite,
o espetáculo de luz e som nas pirâmides. Um espetáculo
fascinante, no qual as luzes, como num bailado, passam de
uma pirâmide para outra e delas para a esfinge, ao mesmo
tempo em que se ouve a conversa entre esses monumentos,
conversação longa em que falam de sua sabedoria adquirida
através de séculos e séculos. É de uma beleza indescritível! Só
vendo! Em cada noite se fala em um idioma diferente: inglês,
francês, alemão e árabe. Justamente naquela noite foi falada
em árabe, a língua nativa.

Estavam jantando antes do espetáculo, em um restaurante


dentro do recinto onde ficam as cadeiras para o show, quando
MENHENÚFIS manifestou o desejo de comprar uma túnica
que lhe tinham encomendado. Então, o guia acertou com
o porteiro para saírem. Em todo o redor se encontravam
inúmeros bazares, mas, por ser a noite em que o espetáculo
seria falado em árabe, achavam-se fechados, já que não
esperavam turistas e comparecia, na maioria, somente o povo
da terra. Mesmo assim, o guia, muito gentilmente, deu uma
volta grande com o carro na esperança de encontrarem algum
bazar aberto. Não conseguiram. A hora passava e não queriam
perder o espetáculo.

Quando voltavam, de repente viram uma casa com


meia porta aberta. Que bom! Conseguiram! Lá foram os
quatro. Entraram na loja, onde ZORNAY com MENHENÚFIS
se entretinham na escolha da túnica, que teria que ser azul.
Escolhe-se, verifica-se o tamanho e principalmente discute-se
o preço com o vendedor, que singularmente falava o espanhol.
Compra feita, retiraram-se apressados, pois estava na hora.

93
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

Imnhoah saiu também com um embrulho; ninguém lhe prestara


atenção, mas ela tinha feito a sua compra.

Acomodados, Aktóthis e Imnhoah ficaram mais distantes


para verem o espetáculo de melhor ângulo. Quando teve
início a música, com uma lua cheia iluminando aquele enorme
recinto a céu aberto, ZORNAY se lembrou:

— Mestre, vou partir e nada de imagem.

— Tereis a vossa imagem, repetia a voz dentro de sua


mente.

Enquanto isso, mentalmente, Imnhoah ouvia uma voz


grave:

— Essa imagem não lhe pertence. Ela pertence a


ZORNAY.

Imnhoah contou depois que ouviu essa voz durante todo


o espetáculo, e que ela relutava em conceber a ideia de ser
obrigada a dar a imagem à ZORNAY. Entretanto, a voz era de
comando, embora ela não compreendesse por que teria que
se desfazer dela. Quando saíram, todos encantados com o que
assistiram, ao entrarem no carro, Imnhoah passou o embrulho
para ZORNAY e disse:

— Isto não é para mim, é para você.

ZORNAY compreendeu de imediato do que se tratava.


Estava ali a sua tão esperada imagem. Naquele novembro
de 1980, nem ZORNAY nem qualquer dos outros três sabiam
do seu significado. Não sabiam que a imagem de Amon de
madeira — imaginem só, de madeira! — significaria o início
da Fraternidade de Flor de Lótus. Ali mesmo, no carro parado

94
HÁ 5.000 CICLOS DE RÁ

do Sr. Ibrahim, ZORNAY contou, em prantos, a história dessa


imagem. No final, todos choravam copiosamente, inclusive o
guia, que levou algum tempo para se recuperar e tocar o carro
de volta para o hotel em Heliópolis. Afirmam os entendidos
que essa imagem é da época de 5.000 anos atrás, ocasião em
que no Egito se importava a madeira.

Bendita seja ela!


Bendito e louvado seja Amon!
Bendito e louvado seja o nosso Mestre e Pai!
Bendita e louvada seja a Fraternidade de Flor de Lótus
que, ainda encoberta para os homens, já resplandece com
toda a sua força!

95
PROMESSAS FINAIS DE
UMA VIDA

O Sumo Sacerdote AKRON prometeu a MENHENÚFIS


os dois últimos pontos secretos do Hierofante, que a vida não
lhe permitiu conceder naquela ocasião.

Por último, o Venerável Mestre AKRON fez duas promessas


solenes:

Primeira — iria, a partir daquele momento, influenciar


para que KARNAK se tornasse um sábio, introduzindo-o
no caminho dos conhecimentos da Sabedoria Eterna.
Assim, Ele deixaria patenteado o seu perdão para aquele
homem. Elevado no conhecimento divino, KARNAK teria
a oportunidade de se redimir.

Segunda — MENHERTETH, só depois de séculos, teria a


compreensão de que, por meio do sangue do Cordeiro
Imolado, estaria redimido.

Isso tudo acertado, AKRON se dirigiu para o pátio e,


no escuro de uma noite sem luar, viu os preparativos que se
findavam para uma fogueira que ali iria armar-se.

97
A FOGUEIRA

A rmar-se uma fogueira significava armar-se uma


pilastra. Essa pilastra era construída com a mistura de barro
e palha seca do trigo; muito mais palha do que barro. Tinha
ela de diâmetro duas vezes a largura do corpo do condenado
para que, quando ardesse, o corpo todo fosse envolvido pelas
chamas. Era ela encharcada por um combustível altamente
inflamável, cujo segredo da combinação dos elementos era
bem guardado pelos sacerdotes, que assim faziam brotar fogo
das pedras. Não poderiam esbanjar madeira, tão preciosa
para eles.

Estarrecidos, os poucos que se encontravam viram AKRON


ser amarrado naquela pilastra. Aproximou-se dessa singular
fogueira o Sacerdote chamado Thum, cujo nome quer dizer:
o escuro da noite.

Esse mesmo Thum, certa feita, com mais outro


companheiro, retornava de viagem na qual tivera uma
importante missão para desempenhar a mando de MENHENÚFIS.
Como a missão fora concluída a bom termo, foi preparada uma
recepção para festejarem, com um banquete, os dois heróis
daquele feito. Mas os dois sacerdotes, Thum e seu companheiro
Thum-Bah, não souberam ter a modéstia e a discrição que se
lhes esperavam e durante o banquete não se cansaram de se
vangloriar. Revelaram assim toda a trama do segredo de uma
importante missão. Terminados os festejos, eles, inflamados
pelo orgulho e pela vaidade, receberam o castigo decretado
por MENHENÚFIS e que era o hábito da época: tiveram as suas

99
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

línguas cortadas. Do companheiro de Thum, nada se soube,


mas dele se sabe que nunca conseguiu perdoar os culpados pela
sua mudez e que sempre aguardou o momento da vingança.

O momento da vingança de Thum chegara. Estava à


sua frente a pilastra com o importante e tão vilipendiado
Faraó. Nele e em MENHENÚFIS, Thum descarregou o seu ódio.
Acendeu a tocha e tocou fogo na pilastra que, em momentos,
transformou tudo em cinzas. Quando ficaram cinzas sobre
cinzas, um dos presentes, sob o terrível impacto, olhou para
o seu próprio corpo e viu uma chaga só; parecia que o fogo o
havia atingido também. Era MENHENÚFIS que, imediatamente,
foi lançado aos porões da Casa da Morte. Dali em diante, teria
por incumbência a retirada das entranhas dos mortos para o
embalsamamento.

Dentre os poucos que ali se encontravam, era consternador


o quadro da presença da mãe do Faraó, amparada por um
dedicado sacerdote de nome Arthródis. O seu filho querido
a chamava carinhosamente de Lótus, a flor sagrada, e assim
ela era conhecida por todos. Para o Faraó Sumo Pontífice,
foi constrangedor o sacrifício de sua mãe. Mas ela nunca o
havia abandonado em instante algum da sua humilde vivência
e não seria nesse momento supremo que iria faltar-lhe.
AKRON implorou, já amarrado na pilastra, que Arthródis não
abandonasse nunca mais aquela mulher. Assim, Arthródis, como
um filho, amparou-a pelo resto dos seus dias.

Outro que estava presente, mas se ocultando, pois


não pertencia à ala alguma do Templo, era Aram-Hakipa,
homem do povo que teve importante papel nesse sacrifício.
Por razões que a própria razão desconhece, foi Aram-Hakipa
quem juntou as cinzas ainda quentes daquela fogueira e as
guardou com a sua genitora, de nome Nufar. Evitou, ele, que
as cinzas do Santo Homem sacrificado fossem ultrajadas ou

100
HÁ 5.000 CICLOS DE RÁ

profanadas, ficando abandonadas ao vento. Fazendo isso, ele


queimou as suas mãos e o seu sangue ficou misturado com as
cinzas de AKRON. Muito tempo depois, Aram-Hakipa e Nufar,
secretamente num cerimonial, lançaram as cinzas do Sumo
Sacerdote Faraó nas águas do rio Nilo, que serviu de berço
para aquele Avatar.

AKRON, ao contrário de Menhenés, foi muito mais humano


do que divino e, como humano, soube tão bem compreender,
perdoar e amar todos os homens. Morreu o Sumo Pontífice e 1º
Faraó da 2ª Dinastia do País de KAM, e nasceu o Pai e o Mestre
da Ordem das Almas Fraternalmente Unidas (O.F.O.).

101
O SUMO PONTÍFICE SUBSTITUTO

A terra de KAM era dividida em 12 Nomos naquela


época. Em um deles, chamado cidade de OM, hoje Heliópolis,
estava o Templo da Iniciação dos curumins do sexo masculino.
O respeitável Guardião desse templo era Thor-Arakiti, cujo
nome significa Hórus menino. Thor-Arakiti tinha como auxiliar
o seu protegido de nome Thor-A-Thor.

Os curumins eram preparados, na sua maioria, desde


a mais tenra idade pelos Sacerdotes de Amon-Rá, que
constituíam uma ala de sábios. O curumim, que deveria ser a
continuidade da linhagem dos Sumos Pontífices, era entregue
a esses Sacerdotes desde o seu primeiro vagido. Vê-se, por aí,
como eram rígidos esses ensinamentos e iniciações.

Essa cidade ficava situada próxima às pirâmides e à


Esfinge Sagrada; justamente por isso, esses monumentos
eram, naquela ocasião, o ponto alto da Iniciação Sacerdotal.
O jovem que tivesse passado pelo Templo dos Sete Portais do
Sol, dedicado a Amon-Rá, em OM, estaria completamente
familiarizado com todos os segredos daquela milenar sabedoria.
Por lá passou, quando curumim, AKRON, que foi tratado com
toda a deferência em razão da sua linhagem divina.

Havia ali um grande e respeitado Sacerdote Maior que


chamaremos de O Essênio, filho de Imnharu. Esse venerável
sábio Sacerdote tomou conhecimento da morte do seu querido
discípulo, o muito mais Venerável Sumo Pontífice AKRON,
bem depois dos acontecimentos, pela demora que se tinha na
transmissão das notícias, devido às distâncias a percorrer.

103
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

Juntamente com a mensagem oral sobre a morte do seu


Faraó, vinha uma ordem do novo Rei Atóthis para que enviasse,
imediatamente, o jovem que seria elevado ao cargo de Sumo
Pontífice da religião praticada. Foi assim que Harmakipa,
filho de Nefer-U, mesmo antes dos 21 anos de idade, teve que
assumir tão alto posto. Estava na ocasião com os seus 15 anos
incompletos e se lembrava muito bem de AKRON, quando, bem
criança, abrira o escrínio de Menhenés durante a reunião dos
Conselhos.

O Essênio, que tinha por esposa a Sacerdotisa Jerus,


não teve outra alternativa senão cumprir a ordem do Rei,
mas não conseguiu conformar-se com a nefasta notícia sobre
o Sumo Pontífice desaparecido. Na inconsciência de uma
grande dor, atentou contra a própria vida, vindo a falecer
sem grandes sofrimentos nos braços de seus familiares, dentre
eles — Neizeth e Sandah. Teria ele um ano sideral para se
recuperar. Entretanto, muito antes disso, ele foi Ben Yossuf,
o Essênio Verdadeiro; e ali mesmo em HeIiópolis, em outras
circunstâncias bem parecidas, recebeu em seus braços e
apertou contra o peito um outro Venerável Sumo Pontífice da
Humanidade: YESUS NAZARENUS. E a história se repetiu, de
alguém que iniciava outro nos Mistérios da Divindade e nos
Mistérios da Vida!

104
O FARAÓ ATÓTHIS

O país inteiro se engalanou para a posse do novo


Faraó. Alguns poucos sacudiam as suas cabeças com a intenção
de jogarem fora as lembranças daquela noite terrível do
sacrifício de AKRON. Nem se falava mais nisso. KARNAK, o
novo Faraó, mandou riscar dos escritos em hieróglifos e em
sânscrito, a linguagem sacerdotal, o nome de AKRON e se
considerou como Atóthis, o 1º Faraó da 2ª Dinastia do Egito.
Esse era o hábito natural dos faraós vaidosos em relação aos
seus antecessores.

Noreya, como mãe da Primeira-Vestal Zanuar, foi a


escolhida para o cargo de Sacerdotisa-Chefe, sendo assim,
logicamente, uma escolha de grande conveniência para o
novo Faraó Atóthis.

Outra providência tomada por ele foi sobre a Sacerdotisa-


Chefe, aquela que indevida e criminosamente usava o nome de
Nefáris. Teria ela que ser silenciada. Por isso, foi emparedada
viva por ordem de Noreya, a sua sucessora. Mais um crime
foi cometido em nome das coisas santas do Templo de Amon!
A identidade real dessa mulher foi conservada em segredo
e o seu nome riscado, para que se preservasse qualquer
envolvimento nesse sentido.

Com esse Faraó veio a desordem e o caos, como se pragas


fossem jogadas do alto sobre aquela terra! Foram sete longos
ciclos de escuridão, torturas e injustiças. Os povos vizinhos já
cobiçavam as terras do país de KAM, vendo a possibilidade fácil
de conquista. Por isso, as guerras se sucederam, enfraquecendo

105
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

os homens. A sua esposa e Rainha não teve grande expressão,


por ser o Faraó muito volúvel. Essa Sacerdotisa deu um ósculo
em AKRON quando este partia para a fogueira, mesmo sabendo
que já era a escolhida para ser a companheira real do Faraó
Atóthis.

Na ala das suas mulheres, que eram muitas, estavam as


Sacerdotisas de Ísis: Surinaya, Andayah, Tankika, Ak-Ta-Them,
Aktínia, Shyrnéia, Hatay, Nenúfar, Irakenah, Indayah, Tayana,
Harmaki e sua filha, a princesa Harmakititi, dentre incontáveis
outras. Essa ala era severamente controlada por eunucos e
um deles, sabe-se, foi Sukanfar.

O Faraó Atóthis, quase sempre, tinha por companhia o


cântaro cheio de vinho. Teve como primogênito um varão; e
eram para ele que as esperanças de todos se voltavam, dentro
das grandes desilusões.

Em meio a isso tudo, um homem perdera a paz consigo


mesmo: era MENHERTETH. Ele, sem conhecimento algum,
aconselhara e mesmo insuflara muitos do Conselho Temporal
para que se decidissem pela condenação do Faraó Sacerdote
AKRON. No final dos sete ciclos desastrosos do reinado de
Atóthis, perseguido pelo remorso, embriagado, tomou de
um punhal e quando o Rei se encontrava em seu trono,
MENHERTETH — o Homem das Imagens sem mácula — solicitou
uma entrevista. O Faraó, sentindo-se solitário, recebeu-o
imediatamente, pois já ninguém mais o queria por companhia
e, fosse quem fosse, seria bem vindo para amenizar a sua
solidão, como também o peso dos seus crimes.

A cena foi inesperada e sem testemunhas. O Faraó se


levantou cambaleando pelo excesso de álcool, e MENHERTETH,
com os olhos dentro dos olhos dele, bem de frente, matou-o
com uma punhalada à altura dos rins.

106
O FARAÓ AKTÓTHIS

M orto o Rei, sobe ao trono o seu filho ainda bem


jovem e toma o nome de Aktóthis, que quer dizer: o filho de
Atóthis. Esse jovem demonstrou, desde o primeiro instante,
que governaria o seu país com pulsos de ferro e disso todos
deram testemunhos mais tarde. Ficou conhecido como o 2º
Faraó, na realidade era o 3º, da 2ª Dinastia, tão distante dos
nossos dias. Tomou ele por esposa e Rainha a Sacerdotisa de
Ísis chamada Imnhoah.

Sabe-se que uma de suas primeiras decisões foi corrigir


um dos erros do pai: reintegrar no Templo de Amon, em Mênfis,
MENHENÚFIS, patrono de uma ala de Sacerdotes que lhe
tinha sido usurpada por um Sacerdote conhecido pelo nome
simbólico de Akhepertiti. Este havia partido o cântaro com a
Sacerdotisa Menefreth.

Sem pestanejar, o Faraó Aktóthis, utilizando-se de sua


Vontade e Poder de Rei, decidiu imediatamente substituir
o Sumo Pontífice Harmakipa por MENHENÚFIS, contrariando
assim a tradição rigorosa da época sobre essas indicações.

Como tal, investido da autoridade máxima religiosa


daquele País, Menhenúfis renovou e ditou a Tábua das Leis,
que foi, daí para frente, respeitada e cumprida. O Sacerdote
e Escriba do Rei de nome Amenhotep foi quem divulgou,
mandando gravar essa Tábua:

107
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

1ª) Eu sou teu Amon.


2ª) Não desonrarei vosso Santíssimo Nome.
3ª) Honrarei meu Pai, honrarei minha Mãe,
honrarei meus Filhos.
4ª) Não direi nunca o nome das Divindades em vão.
5ª) Não serei orgulhoso, não serei vaidoso,
NÃO Serei mentiroso.
6ª) Não furtarei o pão e plantarei o trigo.
7ª) E nunca deixarei de crer na reencarnação,
onde Anúbis é o Senhor!

Com os seus poderes readquiridos e aumentados pelo


eminente posto de Sumo Pontífice do Culto de Amon, aquele
Sacerdote celibatário e Hierofante — MENHENÚFIS — teve
oportunidade para, inovando, recriar a Ala de Mulheres
Sacerdotisas com a finalidade de caminhar dentro dos
mesmos propósitos que caminhava a Ala dos Sacerdotes.
Feito fantástico para aquela ocasião! A Ala das Mulheres havia
deixado de existir depois da morte de Akron.

As primeiras Sacerdotisas a serem convidadas, dentre


muitas outras, foram: Zakititi, Kherínia, Nayana, Neferkaris,
Aytis, Zuniara e Ihatys. Esta última o amparou, quando,
genuflexado em frente à imagem de Amon recém-lavada,
entregou o seu bah para Anúbis. Kherínia, por sua vez, tinha
por costume colocar uma flor, que parecia uma açucena azul,
entre as dobras das túnicas de MENHENÚFIS. Nessa ocasião,
Iritiah foi a Primeira-Vestal.

Sabe-se que ele, na sua grande e incompreendida


compaixão e amor pelos seus semelhantes, socorreu as
mulheres abandonadas da Ala das concubinas do falecido
Faraó Atóthis, conduzindo-as com dignidade para a nova Ala
do Templo de Amon, em Mênfis. Era muito amado por todas
elas, que lhes eram gratas pela oportunidade preciosa de se

108
HÁ 5.000 CICLOS DE RÁ

elevarem como Seres Humanos. Mister se fazia que, para tanto,


MENHENÚFIS contasse com a proteção influente e benfazeja
da Rainha Imnhoah. Esta proteção lhe veio espontaneamente,
pois ele privava da intimidade do Faraó e de sua família. A
Rainha realizou o trabalho relevante de colocar a mulher,
naquele tempo, em lugar digno e de destaque. Por isso, ela
foi cognominada a “Rainha Bondosa”.

Para as suas realizações, MENHENÚFIS ainda contou com


a lealdade incontestável de diversos Sacerdotes de Osíris,
destacando-se, dentre eles: Orenkatu, Anknatum e aquele
que partira o cântaro com uma de suas irmãs, chamado
Menkatóthis.

Aktóthis mandou recolher do convívio geral MENHERTETH,


assassino de seu pai. Ao que se sabe, ele pereceu sem nunca
mais ver a luz de Rá, enclausurado nas masmorras do Palácio
Real.

Nesse reinado de Aktóthis houve muitas construções de


templos e palácios, dando assim ocupação aos homens do povo
que não pertenciam a nenhuma das quatro classes existentes:
sacerdotal, da realeza, militar e comercial. O trabalho sempre
fora um dever para aquele povo que não conhecia a preguiça.
Reimplantou ainda o costume de divertimentos, que se
constituía em corridas de cavalos e de touros, na caça e jogos.
Estes geralmente eram disputados em grandes tabuleiros com
pedras em figuras de crocodilos de um lado, e de barcos de
uma frota, do outro.

109
O REGRESSO DOS SEIS IRMÃOS

E ei-los de volta, os seis — cinco homens e uma mulher


—, de volta da peregrinação pelo passado. E havia transcorrido
14 cicIos de Rá (anos). No entanto, fora tudo tão rápido! Como
num passe de mágica!

Agora já não são mais como antes. Agora eles têm


conhecimento que pertencem a uma mesma família
espiritual.

Os seus Pais os despertaram para o caminho que, juntos,


terão que empreender para prepararem o Tapete do Senhor,
por onde caminhará um novo FLOR DE LÓTUS. Esse Avatar — a
exemplo de AKRON, no Egito de há 5.000 anos — ressurgirá para
a sua gloriosa missão avatárica neste imenso e maravilhoso
Brasil, reduto das reencarnações dos egípcios daquela época.
Ele virá para consolar os corações de todas as criaturas.

Jet AMON-RÁ!

111
TERCEIRA PARTE
PALAVRAS DA AUTORA

A princípio, pensei em escrever esta terceira parte


me baseando nos ensinamentos do Mestre dirigidos somente
a mim. Entretanto, compreendi que o mais importante é o
que tinha sido ditado para todos através de mim — o seu
invólucro.

As suas palavras seriam, portanto, para todos os homens e


mulheres, naquela ocasião, agora e sempre... O seu Verbo é e
será, por conseguinte, eterno, como o leitor poderá constatar
no decorrer da leitura deste capítulo.

Quando o Venerável Mestre diz “o homem”, é porque usa


o termo clássico da nossa língua para se reportar à espécie
humana, pelo que subentendemos “o homem e a mulher”.

Estamos, desta forma, transmitindo o chamamento deste


elevado Espírito, que se fez conhecer pelo nome simbólico
de AKRON, cujos ensinamentos chegaram até nós através de
seus dois invólucros em nossa época — SAN-SHÚ e ZORNAY —,
ficando, com certeza, para a posteridade.

Maria Lúcia Távora Gil


(Zornay — I.M.F.M.)
Brasília, DF

115
O APELO DE UM MESTRE

O UVI A VOZ DO MESTRE:

AKRON solicitaria de vós um encontro que podereis


organizar. AKRON, na sua pequenina humildade e na sua grande
ignorância, também tem que aprender e aprenderá no meio
de homens da estatura vossa; e se compromete a dar-vos
todas as explicações, responder-vos-á todas as perguntas e
vos aguardará com ansiedade.

AKRON vos saúda! AKRON saúda a vossa mente! Abri-a!


Preparai-vos mental e espiritualmente para o nosso encontro.
Erguei-vos e caminhai, pois que sois filho(a) da vida. Não
descanseis e não repouseis. Não mancheis a vossa veste; não
sujeis o vosso coração; não enlameeis a vossa mente, pois que
sois filho(a) de Deus. Praza aos deuses que dentro de tanto
amor, outros amores se engrandeçam.

Coloquemos o incenso, porque onde há uma pequenina


chama que se eleva, branca, há sempre uma sutil emanação
de Amon.

IURINÃNA SARAKUMBARÊ AMON-RÊ


(Eu sou o Filho de Deus e para Ele me dirijo)

Este é um ritual simples. Esse hino, quando emitido, nos


condensa numa egrégora única e faz com que um ponto central
vibre os seus treze raios, que nos abarcam os cinco pontos. É
a estrela de cinco pontas.

117
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

Jet Ísis! Jet a Santa Mãe Ísis, que consegue fazer-vos


sentir o contato veludoso do seu Manto Sagrado! Quando o
Manto Sagrado se identificar convosco, surgirá então, nessa
mente radiosa, aquela palavra sagrada: A.U.M.

Escutai, escutai! A vós responderei por linhas atravessadas,


mas vós o entendereis. Quando, na descida dos planos, não
se encontram senão as trevas, é chegado então o momento
de um AKRON, de muitos “AKRONS”, portadores da centelha
divina, iluminarem o caminho daqueles que na escuridão se
encontram.

Deixai, pois, que AKRON siga o seu caminho; deixai que


AKRON cumpra a sua trajetória; deixai que AKRON sofra,
porque o sofrimento é a redenção, e AKRON aspira essa
redenção que um dia há de chegar.

AKRON tem uma missão importante, uma missão de


religiosidade: AKRON necessita transformar aquilo que os
homens chamam de Espiritismo em um verdadeiro culto. E
como AKRON pertence ao país de KAM, só pode cultuar e exaltar
o seu Deus na figura de Amon e todas as suas manifestações.
O que AKRON vos transmitirá são ensinamentos adquiridos aos
pés da Esfinge. AKRON não deseja que o que ides aprender
ultrapasse as fronteiras do vosso cérebro.

AKRON não perderá nunca esta personalidade. Sabeis


por quê? Porque não deseja perdê-la; porque é egípcio até
as mais ínfimas de suas vibrações; mesmo em todas as suas
vidas subsequentes, sempre se portou como um egípcio e não
deseja mudar, e isso é estranho aos homens. Mas AKRON não
vem para satisfazer aos homens; AKRON vem para lhes dar
algo, algo de que carecem e, desta ou de outra maneira, será
justificado se conseguir o intento. Entendeis?

118
HÁ 5.000 CICLOS DE RÁ

AKRON se encontra num deserto, sem ponto de referência.


O tempo está nublado e o sol não aparece para dizer, a Ele,
qual a direção a tomar. Quando a noite baixa, o deserto se
clareia; mas as estrelas que fulgem, fulgem longinquamente
em miríades de agrupamentos que AKRON não conhece.
Entendeis?

AKRON se perde dentro de suas próprias meditações


e procura então encontrar, no amor dos Seres Humanos, a
resposta do “porquê” que AKRON aqui vem. AKRON necessita
mais de vós, do que vós de AKRON. Porque se AKRON não
conseguir, dentro da aura do amor que O domina e que O
inspira, fazer com que os homens e as mulheres partam para
outra trilha, AKRON nunca mais será Luz. Entendeis?

AKRON empenha, nessa missão, todo o amor que Ele


adquiriu através dos tempos. Impõe, a isso, uma virtude
única: mesmo sem ser compreendido, AKRON vos ama a todos,
como deseja que O amem. Aos Seres Humanos, cujos corações
empedernidos não encontram o eco das vibrações Dele,
AKRON deseja que procurem fazer uma egrégora de amor;
mas também necessita, como viandante cansado, encontrar
a sombra de um oásis e a água pura, fresca e cristalina para
Lhe dar força a fim de continuar a jornada.

Que nossas horas de emanação de amor emitam a


vibração do nome de AKRON. Porque emitindo a vibração
do nome de AKRON, mentes bem formadas captarão o amor
Dele. AKRON conta convosco! Sede vós o balaústre onde se
ampara toda a força da Fraternidade de FIor de Lótus! O Olho
Sagrado de Hórus, aquele que representa toda a súmula de
uma sabedoria milenar, verteu, sobre vós, os raios Dele. E o
vosso organismo pré-disposto os recebeu no âmago do vosso
Shushumnah. Entendeis?

119
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

AKRON, por certo, ainda não teve condições de falar


convosco, mas vos dará, numa de vossas noites, um som: é
a forma sob a qual AKRON poderá comunicar-se convosco.
Segui-o! Segui-o! Nessa situação, AKRON abrirá um caminho
para vos falar. Portanto, recebereis um sinal: uma luz intensa
vibrará diante de vossos olhos, numa de vossas horas de
divagação. Preparai-vos e recebereis AKRON. Entendeis? E
assim AKRON vos dará o tão almejado caminho, já que as
ordens superiores estão se fazendo apressar.

O silêncio encerra a maior força que o Ser Humano


conhece, porque é no silêncio que nos chega a voz Dele. AKRON
se sente, neste momento, jubiloso, exaltado, tanto que não
se contém... e chora. AKRON ainda vos pode mostrar, não digo
outros caminhos, porque os percorrestes quase todos, mas vos
pode levar através dos planos e pode então fazer com que o
vosso horizonte, tão restrito ainda, se alargue mais e mais.

OH! SABAT SURYNAN JAKARAMAN!


(ERGUEI-VOS E CAMINHAI,
POIS QUE SOIS FILHO(A) DA VIDA,
SOIS FILHO(A) DE DEUS!)

Um pouco da mente de AKRON vos pertencerá; levai-a,


é vossa... Usá-la-eis como desejardes, apenas para usardes
os conhecimentos de AKRON. Ao vos sentar, elevai vossas
extremidades ao vosso peito e tereis então, dentro da mesma
concentração, os conhecimentos que de AKRON emanam. E
quando digo de AKRON, quero dizer de onde AKRON provém.
Serão vossos. Dai licença para que AKRON continue a sua
ronda.

Deixai AKRON identificar-vos. Mentalizai, mentalizai.


AKRON sente a força de vossa mente penetrar na dele,
mas, apesar de terdes a mente poderosa, não sabeis ainda,

120
HÁ 5.000 CICLOS DE RÁ

dileto(a) filho(a), separar vossas mentalizações; e são tantos


os pensamentos que borbulham nessa mente, que não sois
capaz de distingui-los e emiti-los um a um. Mentalizai mais
serenamente! Escutai e vede se conseguis limitar o pensamento
que assoberba a vossa submente e afastar os outros. AKRON
vos auxiliará. AKRON deseja penetrar na vossa submente.
Havereis de entrar na Verdade, porque a Verdade procura por
vós; são dois pontos de atração magnética. Quando a Virgem
dos muitos braços puder tocar-vos, então tereis conseguido
realizar-vos.

AKRON vos poderia dar a sua bênção. Vai parecer


estranho o que irá ser feito: AKRON solicita a vossa bênção.
Com a paz e o amor nos corações, possamos, todos nós, vibrar
intensamente. O amor, o amor puro e a pureza da alma e da
mente sejam sempre o nosso símbolo, o nosso caminho para
um porvir melhor. Que a paz e o amor vibrem em todos os
corações. A.U.M.

Ao soar das trombetas dos Arcanjos, vós não vos afastareis


mais, a partir desse momento, da mentalização de Osíris.
Osíris é vosso! Vós pertenceis a Osíris! Quando sentirdes o
silêncio de vossas perguntas, erguei as vossas extremidades,
como num disco solar, sobre a vossa mente e nesse gesto
direis: “a mim Osíris, a mim!” E Ele vos responderá. E
quando tiverdes recebido a resposta de Osíris, reservai, em
vossa mente e em vosso coração, um pequenino lugar para
AKRON. De agora em diante, num reencontro, porque fostes
chamado, encontrareis o vosso campo de ação. Entendeis? Se
vós permitirdes, AKRON vos dominará, para juntarmos peito
com peito, mente com mente. AKRON vos agradece por vossa
boa vontade, compreensão e amor, porque há uma irmandade
entre os nossos espíritos.
121
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

RÊ, o divino e grandioso RÊ, em sua forma alada, baixa


sobre nós a sombra de suas asas e, ao entrarmos na penumbra
dela, vamos sentindo que os nossos espíritos crescem... crescem
em direção a Ele. Que RÊ nos abençoe a todos e que todos se
sintam na maviosidade do som que, neste momento, penetra
pelo Kosmos: A.U.M. Além, esse som, em desdobramento e
em vibrações concêntricas, há de chegar até a vibração Dele
e Ele nos dará a egrégora para nos abrigar.

Encontros maravilhosos dar-se-ão entre nós. Em vossa


trajetória levareis convosco Seth — o Deus do Mal; deixareis,
aqui, Ápis — a Deusa do Bem. As serpentes que vos rastejam as
plantas (pés), dominai-as, por Basth. Não as deixeis soltas em
consequência dos sentimentos daqueles que vos pertencem.
Prendei-as!

A Força reside dentro de vós, com a Força e a fé que


vos movimentam. Vós tendes uma Entidade que vos domina.
Identificai-vos com ela. Nas horas de vosso desespero, nas
horas de vossa incompreensão, nas horas de vossas torturas
sentimentais, chamai por ela. Ireis sentir, então, uma paz
interna.

É maravilhoso se encontrar hoje em dia, nos verdadeiros


Seres Humanos de boa vontade, a fé e o desejo sincero que
não se encontravam no tempo de AKRON. O homem e a mulher
evoluíram muito desde aqueles tempos até hoje. A mente
do Ser Humano abrilhantou-se, agigantou-se! Hoje, os Seres
Humanos são meio divinos, porque sabem aquilo que ainda não
deveriam saber. O Ser Humano adiantado encontra-se. Evoluiu
no espírito e no coração. Vós, portanto, estais de parabéns!

AKRON não resiste ao embate dos nossos corações! E se


sente materializado dentro do peito do invólucro que o serve,
e sente palpitar uníssono convosco numa só batida, numa só

122
HÁ 5.000 CICLOS DE RÁ

espiritualidade, numa só Luz radiosa que de vós emana! Oh,


filho(a)! Quanto vos esperei! Quanto me fizestes esperar! A
missão que AKRON tem é espinhosa e conta com o vosso amor
para poder levá-la a termo. Por isso, amado(a) discípulo(a), é
que caminhastes através dos tempos, através da Luz, através
das vibrações; e viestes com a vossa verdadeira vibração, com
a vossa verdadeira individualidade, com a vossa personalidade
radiosa de Amor, Bondade, Luz e Paz. Assim, AKRON sabe que
conta convosco, desta hora para diante. Não conseguiram nos
desencontrar. Encontrados estamos e caminharemos juntos.
AKRON sabia e esperava.

O Filho do Homem — YESUS — vos domina e sois, pois,


a humildade personificada. Sabeis o que gera a humildade?
A bondade! A bondade gera a caridade e a caridade gera o
amor.

Vós não sois divino(a). Mas, quando há um ardente,


sincero e honesto desejo de vos identificar, um pequenino
sopro, um átomo de Luz é lançado e vos sentireis preso(a)
a esse átomo, onde outros já se encontram. Portanto, está
próximo o princípio do fim para vós. E praza a Amon que vos
embebais tanto neste princípio de caminho, que havereis de
sentir vossa veste iluminada!

Vossas atitudes deverão ser retas, vossos escrúpulos


deverão duplicar-se. A mentira, a falsidade e a blasfêmia
deverão ser banidas de vossas conjecturas. Devereis ser
puro(a), numa pureza real. AKRON não vos deseja santificar. As
vossas relações humanas deverão continuar. As vossas relações
sexuais deverão continuar com o vosso par. Essas relações
deverão ser, única e exclusivamente, para a satisfação da
necessidade da carne e nunca para a satisfação dos desejos
lésbicos, porque os deuses fálicos olharão para vós e, na
oportunidade primeira, tentar-vos-ão. Continuai a vossa vida

123
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

normal, não a modifiqueis. Não vos transformeis. Pertencei a


Amon no vosso íntimo. Procurai fazer o bem e evitai o mal.
Elevai o Ser Humano e, sobretudo, amai-o. Amai-o como a
vós próprio(a).

Se vós conseguirdes sublimar... Oh, mérito dos méritos!


Mais mérito do que AKRON que vive num plano onde não há
dessas tentações, onde tudo já foi sublimado, onde existe
uma compreensão perfeita, uma disciplina rigorosa e uma
hierarquia sabiamente respeitada, onde há um entrosamento
perfeito, em que tudo é luz, harmonia e som, onde não há
mérito em AKRON ser o que é e onde haverá mérito em vós,
se conseguirdes ser o que não sois.

Entretanto, é necessário compreender que AKRON


não vos deseja santificar. AKRON vai repetir: AKRON vos
deseja homens e mulheres conscientes — Seres cuja fé
brote do interior de vossas chamas; Seres que raciocinem;
Seres que saibam separar o joio do trigo; Seres que saibam
escolher um caminho. Resguardai-vos, pois, resguardai-vos
conscientemente. Resguardai-vos convictamente. Antes de
fazerdes algo, pensai pichi (três) vezes. Se no vosso interior
levantar uma voz contra aquilo, não o façais, por Amon! É
chegado o momento de equilibrardes perfeitamente a vossa
mente radiosa e grandiosa com o vosso coração, não menos
grandioso e radioso.

O Ser Humano se torna identificado quando alcança um


plano que estava destinado a alcançar, e transpõe a morte, e
transpõe a vida, e se identifica com a dor. Vós ireis, um dia,
participar dessas experiências e sempre tereis, à vossa destra,
um Senhor que haverá de vos levar através dos planos, para
sentirdes que há tanta coisa após e além, e que aquilo que
é denso neste plano em que vos encontrais é reflexo daquilo
que está em cima. Se aqui vos esbarrais numa densidade, lá

124
HÁ 5.000 CICLOS DE RÁ

vos interpenetrais, porquanto todos são unos, porque o uno é


o todo. O coração do Ser Humano realizado se transformará
numa chaga ardente, cuja luz radiosa haverá de se espargir
sobre todos.

É necessário esclarecer os Seres Humanos. Palestrai com


eles sobre esses assuntos e trazei à tona a curiosidade deles.
Fazei com que os Seres Humanos interessados se esclareçam
o máximo possível, em todas as oportunidades que tiverdes,
durante as vossas atividades. Dai-lhes um pouquinho de calor
e deixai que a curiosidade faça com que o interesse descubra
a Luz que emana de tal calor.

Das mentes mal formadas surgem fluidos putrefatos. De


cada anomalia mental nascida surgem monstros que mantêm,
em suas entranhas, toda a força da vivificação daquele
pensamento. Faço-me entender? Com a força que eles possuem,
com os tentáculos que eles projetam, não estranharia AKRON
que tal força vibratória os tornasse matéria. Pode suceder, já
sucedeu! É necessário extirpar o cancro nascido na mente! É
necessário fazer da mente do Ser Humano — não o excremento
sórdido largado em larvas no pó da vida, não! —, é necessário
fazer fluir doçura, compreensão, tolerância, amor, respeito
aos irmãos, misericórdia pelos que sofrem. É preciso erguê-
Ios de seus catres e fazê-Ios caminhar, como o Mestre Jesus
já fez caminhar a pústula que era o homem deitado no catre,
a quem disse com a força do seu amor, com a pureza de sua
realidade: “Lázaro, levanta-te e caminha”.

Se vós, filho(a), pudésseis compreender, se vós pudésseis,


como AKRON, ler nos corações e ler nas mentes, desdobrar-
vos-íeis numa cavidade infinita! Porque cada mente é uma
chaga, cada coração é uma fogueira e quando não queima
para o bem, queima para o mal. Entendeis? As chagas que
existem na mente dos Seres Humanos são chagas que,

125
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

muitas e muitas vezes, dileto(a) filho(a), todo o amor de um


AKRON, tudo o que AKRON pede por eles não basta para ser
o bálsamo. É necessário então que esse corpo que tornou
a sua mente uma chaga sanguinolenta — por meio de seus
próprios pensamentos maledicentes, de sua carne pútrida e
de seus instintos animalescos e bestiais, chaga que nem em
outros planos encontra o lenitivo — tenha que voltar, voltar
muitas e muitas vezes à procura da pomada para que lhe
feche o ardor dela. Se vós pudésseis, dileto(a) filho(a), ver,
como AKRON vê nessas mentes, então vós voluntariamente
ergueríeis vossa mente e pediríeis para serdes transformado
nesse bálsamo, nessa pomada, e chafurdar-vos-íeis nessas
chagas, numa impetuosa ânsia louca de fazê-las sentir o amor
de Amon. Porque só o amor de Amon poderá fazer cessar essa
chama que crepita nos Seres Humanos e que eles ainda não
entenderam. Portanto, quando sentirdes em torno de vós uma
vibração odiosa, não a repudieis. Pelo contrário, imantai-a de
bondade e chamai-a para vós, porque AKRON não permitirá
que vós sejais contaminado(a).

Tereis que aprender a dominar o vosso cérebro! Tereis


que aprender a dominar a vossa vontade! Permiti Amon que
vos equilibreis numa marcha acelerada e uniforme, para
que possais ser aquele(a) que AKRON espera. Está em vossa
vontade; AKRON vos faz apenas um aviso.

Necessitamos muito, muito de amor, como nunca foi


necessitado! Identificai essa vibração que desce. É de amor! É
para vós! Absorvei-a, absorvei-a! Jet Amon-Rá! Jet Amon-Rê!
Jet Hórus! E que Tiphon se afaste, que Seth seja repudiado
e que somente Ísis recaia sobre nós! Que o amor seja uníssono
em nossos corações! Oh, Senhor! A vossa proteção, mais do
que nunca, é necessária para que nos façamos todos unos, nas
graças para a vossa grandiosidade.

126
HÁ 5.000 CICLOS DE RÁ

AKRON solicita que não deglutais a carne, solicita que


desprezai este papiro fumegante (cigarro); e há uma razão
para isso, razão que vós ireis compreender. Há no vício, há
nos alimentos uma força que em geral declina de Entidades,
de Entidades meio materiais ainda. Faço-me entender?
Quando se coloca uma dessas coisas na boca e se chupa,
uma vibração daquela Entidade está por detrás do indivíduo
chupando também. E não chupa apenas aquilo que ele chupa;
com a sucção suga, também, fluidos do próprio indivíduo
para alimentar a sua carcaça. Entendeis? Na carne há uma
evolução onde o animal se encontra numa escala abaixo. São,
portanto, irmãos menores nossos. A vibração constante dessa
carne também alimenta alguém mais do que aquele(a) que
a ingere. Essa é a razão porque AKRON solicita que, em dias
especiais, abstenham-se dessas pequeninas coisas. O contato
carnal também. Porque não é possível que num dia em que se
prepara para um encontro espiritual, haja a possibilidade de
se ter um contato carnal com ideia elevada. Se a ideia está
elevada, o contato carnal está abolido. Portanto, AKRON vos
pede e expõe as razões.

O fato de combater, o fato de discutir, o fato de


incompreender é o passo primeiro dado para a compreensão,
porque da divergência nasce a Luz e um de vós se aproveitará
dessa Luz! Entendeis? Portanto, AKRON vos pede, com toda a
intensidade, que continueis sempre dono(a) da vossa mente.
AKRON não costuma interceder; intercede apenas para mostrar
que pode realmente ajudar, pode realmente dar força a vós
outros(as). Ou nós daremos o impulso ou nós perderemos
a oportunidade, e outro Filho do Homem terá que pagar.
Evitemos que isso aconteça! O sofrimento ou grandiosidade do
futuro Filho do Homem, por incrível que vos pareça, depende

127
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

de nós. Se dermos uma boa semente, o fruto colhido será


perfeito. Se na semeadura lançarmos mal a semente, o fruto
já nascerá raquítico e terá que ser sacrificado em benefício
dos demais. Depende de nós, depende da grandiosidade de
como lançaremos uma Fraternidade, que está destinada a
transpor fronteiras. Tocaremos as trombetas, empunharemos
as flâmuIas, ergueremos bem alto o nome de Amon e alastrar-
se-á a Fraternidade de Flor de Lótus. Haveremos de vencer,
porque assim é o desejo dos Mestres.

Vós, filho(a), não viestes em vão! Fostes enviado(a) por


Aquele que vos domina. Conclamo-vos e vos concito a unir-vos!
Vós já passastes por muitas vidas: já fostes indígena, africano,
hindu etc. Vós fostes um mineral, vós fostes um vegetal, vós
fostes um animal. Vossa submente contém experiências sem
conta, e o vosso karma junto daria para resgatar o karma
da Humanidade em consequência de vossas vidas passadas.
Procurai-vos elevar naquilo que denominais o caminho da
espiritualidade, para alcançardes alguma coisa. No entanto, o
que se passa é o inverso, isto é, Aquele que vos domina é quem
procura preparar-vos para que possa fazer morada permanente
em vosso corpo. AKRON vos diz: “É necessário sutilizar a
matéria para que haja a condensação do Espírito.”

Existem os que caminham a passos céleres em direção


ao grande, ao único amor — Deus Onipotente. Vós podeis
ser um deles; vós deveis ser um deles. Vós sois como a vaga
turbulenta que, rebatida contra a rocha, volta. E como não
sabe mais para aonde ir, torna a se jogar contra a rocha. Um
dia, porém, essa vaga encontra uma correnteza e vai então
se confundir com a água doce do rio que procura o mar. Nessa
confusão, ela não é mais nem a água do mar nem a água do
rio — é uma identificação perfeita! Permita Amon que deixeis
de ser a vaga rebatida e que encontreis o vosso leito para a
identificação final.

128
HÁ 5.000 CICLOS DE RÁ

Procurareis e não achareis. Mas, depois de procurardes,


depois de ferirdes as plantas de vossos pés no áspero da via,
depois de bater vossa mente em tudo quanto é parede, depois
de maculardes vossa mente com o desespero, vinde! Vinde e
encontrareis a Paz do Senhor irradiando em mentes que se
chamam Seres Humanos. Homens e mulheres que vos darão
tudo e que não vos pedirão nada. Homens e mulheres como
vós!

Preparai-vos, pois, dileto(a) irmão(ã). Reparai que


AKRON tem-vos alertado, tem-vos espicaçado a curiosidade,
tem-vos feito ficar preso à palavra Dele. AKRON necessita que
sintais a seriedade, a gravidade dos conhecimentos que ireis
receber. Se alguém vos disser: “quisera eu ter determinados
poderes nas mãos para fazer isto ou para fazer aquilo”, esse
alguém não está à altura de compartilhar de tais segredos.
AKRON necessita, portanto, que peseis bem, mais uma vez,
a responsabilidade do que ireis receber, porque, uma vez
iniciando, AKRON não poderá mais parar. Necessita apenas
que o vosso pensamento seja mais sadio, pois irá colocar em
vossas mãos, por ordem superior, determinados poderes para
o amor ao próximo. Que será do próximo se uma aversão, uma
antipatia, uma vibração negativa fizerem com que desafiemos
aqueles que devemos respeitar, para podermos ter nas mãos
poderes para neutralizá-lo?

AKRON vos diz: “O amor não se dá. O amor se sente na


carne, fibra por fibra, e se divide, porque o amor dividido é
mais amor”.

129
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

Vós, mente conturbada e bipartida que ainda não


encontrastes a paz dentro de vós, que dais outro significado
ao valor real das verdades, havereis também de vos encontrar.
Assim AKRON espera! A vós que encontrastes espinhos amargos,
vós que sentistes o peso de UM em vós, incito-vos a desdobrar-
vos, a não desejar que outros se encontrem sozinhos e perdidos
dentro das trevas que os sentimentos humanos criam.

É necessário saber ter piedade. É necessário dosar aquilo


que nós chamamos de humanismo. É necessário dar a quem
realmente necessita. E é mais difícil saber dar do que saber
receber. Filho(a), é chegado o momento de tudo dardes!

Vós que sentistes a dor de um afastamento, vós que sabeis


avaliar a saudade, a vós conclamo: iluminai a Humanidade!
Iluminai a Humanidade todos vós e uni-vos! Olhai o(a) irmão(ã)
que está ao vosso lado como se fosse carne da vossa carne,
alma da vossa alma. Amai-vos, equilibrai-vos e caminhai
sempre para frente, altaneiro(a), sobranceiro(a), acima das
maldades humanas. Sede diferente! Sede Ser Humano mortal
que sois, mas sede puro em vossas convicções!

Elevai o vosso pensamento ao vosso Deus, como AKRON


eleva o pensamento Dele ao seu Deus. Vós tendes um Pai,
AKRON também. Se conseguirmos, todos nós, elevarmos
o nosso espírito no sentido de um único Pai, teremos nos
libertado.

Sois capazes de descrever um trigal quando o vento sopra?


Formam-se ondas! Exato! Notastes, quando isso acontece, a
sincronização dos movimentos? Quando o Ser Humano cria,
dentro de si, verdadeiro amor fraternal por tudo e por todos,

130
HÁ 5.000 CICLOS DE RÁ

é como se fosse um trigal oscilando ritmicamente ao sabor da


brisa. Quem viu um canavial? Quando, porém, o Ser Humano
não encontra dentro dele o verdadeiro amor fraternal, o seu
coração vibra como canavial. Em sentidos contrários e opostos,
como que se digladiando entre si, muitas e muitas vezes uma
cana estraga a outra. Quando AKRON comparece, Ele equilibra
os corações mal formados e faz transformar o canavial bravio
no trigal dolente e harmonioso.

AKRON costuma dizer que não influi no livre-arbítrio de


ninguém. Na verdade, porém, quando a necessidade se impõe,
damos as diretrizes. Foram dadas.

Mas vós sois um barco, um barco que diversos náufragos,


nadando sofregamente, não podem alcançar. E vós tendes
então, em vossa trajetória, de cerrar os panos e fazer com
que a marcha se torne mais lenta, a fim de dar oportunidade
a esses náufragos sem salvação de, pelo menos, estender a
mão e descansar os espíritos doentios. Aceitai-os! Aceitai-os
como sendo provação vossa e tornar-vos-eis grandioso(a)! E
assim AKRON, Sacerdote de Menhenés, usado e ungido por
Ptah, seu grande e dileto irmão, deixa convosco as bênçãos
divinas de Hórus, o Filho do Homem.

Prestai atenção a tudo o que se passar convosco. Analisai,


pesai, criticai, separai e aceitai aquilo que achardes que deve
ser aceito. Repudiai aquilo que achardes que não condiz com
as vossas convicções, mas pesquisai e, sobretudo, nunca deis
uma sentença sem antes fazer um julgamento sincero.

Existiu em tempos idos, na terra de AKRON, um engenho


maravilhoso que elevava o nível da água da barranca do Nilo

131
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

até uma altitude maior para depois, então, ir molhar os


campos. Era uma hélice dentro de um tronco de madeira.
Um homem apenas, ao movimentar uma pequenina alavanca,
movimentava essa hélice, e a água era elevada de uma
altitude para outra, de onde era jorrada. Se esse homem
não movimentasse essa manivela, toda a fertilidade de uma
pequena área ficaria árida. Era necessário, pois, que uma
mente, na sua simplicidade, tivesse então previsto aquele
engenho. Antes desse engenho, muito antes, os homens simples
das margens do Nilo saltavam sobre uma espécie de balança
e faziam um jogo de ombros, até a água, com o balanço do
corpo, ser entornada de um cesto. Mas era necessário que
houvesse o cesto e que houvesse o homem dando o balanço
de corpo. Foi necessário que depois houvesse um homem
trabalhando a alavanca, para que surgisse então, de um campo
árido, o trigo benfazejo. Entendeis? Vós sois, pois, a hélice; e
AKRON, o operário humilde que dá movimento à alavanca. E
vós carregais, dentro de vós, toda aquela água que vai fertilizar
o campo árido. Sois vós quem carregais toda a aridez daquele
campo e que deixais lá toda a pujança da água que brota de
vós. AKRON nada fará, apenas tocará a alavanca para que vós,
o verdadeiro elemento, possais regar aqueles corações áridos,
sôfregos da água do bem e do amor.

Escutai, irmão(ã): quando um Ser Humano erra, ninguém


interfere. Sentimos nós o erro dele, choramos por ele e damos-
lhe, muitas e muitas vezes, a oportunidade de remediar o
erro. Mas quando um Espírito que não se encontrava na Luz
radiosa entra nela e recebe, como um caudal volumoso, todos
os ensinamentos do Senhor, e o germe da vaidade o toca,
perde ele o direito, como humano, de se fazer proteger e
erra sozinho. Caminha então como humano, sem saber, para
trás. Já se julga um Mestre. Este necessita muito de ajuda,
porque está prestes à derrocada. Se puderdes, se quiserdes, se

132
HÁ 5.000 CICLOS DE RÁ

sentirdes necessidade de ajudá-Io, ajudai-o. Necessita mais,


muito mais do que o lazarento putrefato.

Se conseguirdes equilibrar aquilo que parte da vossa


mente com aquilo que colocais para dentro do vosso coração,
se conseguirdes equilibrá-Ios — oh, filho(a)! —, AKRON beijará
a poeira em que pisardes! Sereis completo(a)! AKRON aguarda
isso com a ansiedade da mãe que espera ver a criança dar os
primeiros passos, falar a primeira palavra. Ainda conseguireis,
porque assim está escrito.

Depois de ter conseguido sublimar todas as suas aspirações


— de ser bom(a) filho(a), de ser bom(a) esposo(a), de ser pai
(mãe) extremoso(a) —, depois do Ser Humano ter realizado
todas essas aspirações da mente, todos esses desejos, aquilo
que ele pode aspirar de mais sublime é conseguir mergulhar
para se elevar e chegar a ter conhecimento do verdadeiro
Nirvana.

AKRON responde à vossa mentalização. Por que vos


preocupais se tudo corre como plano pré-traçado? Pois
bem, tudo que vos pareça difícil, adquirido com sacrifício
e sem facilidades, será, em tempo não muito longínquo,
satisfatório para vós. Em vós não reside mais o espírito de
galhardia da realeza, de domínio e de poder; reside agora um
espírito humilde, sem ser servil, que não se deixa dominar
pelas fraquezas humanas. E quanto mais vos enquadrais na
misericórdia pelos Seres Humanos, mais forte vos fareis, maior
podereis fazer-vos. AKRON vos dá o toque!

AKRON necessita dizer-vos que o Espírito realmente


sublimado não condena nem julga os atos humanos da
matéria. Vós também sois Espírito e nós não viemos aqui
para vos dirigir. Viemos aqui para vos orientar. A missão
vossa é mais árdua do que a nossa. Vós viveis num plano

133
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

de matéria cercado(a) de dinheiro, de sexo e de inimigos.


Cercado(a) de invejosos que tudo cobiçam, desde a(o) vossa(o)
companheira(o), o vosso cargo e até a vossa felicidade. Se sois
simples, sois invejado(a); se sois garboso(a), sois invejado(a).
Se sois humilde, também sois invejado(a) por aqueles que não
têm capacidade de serem humildes. Se sois grandioso(a), sois
invejado(a) por aqueles que não têm capacidade de alcançar
os pináculos onde vos colocastes. A tarefa é árdua! Dia a dia,
hora a hora sois tentado(a) e sois jogado(a), como a vaga,
nos embates da vossa luta interna. É mais árdua para vós a
tarefa do que para nós. É, portanto, no desejo de vos ajudar
a cumprir o tão pouco que resta da meta final, que se vos dá
um pouco de orientação.

Como os Seres Humanos são cegos, Senhor! É necessária


uma hecatombe sobre as suas cabeças para que se convençam
da verdade! Porque só veem aquilo que desejam ver; porque
são nulos na sua crença! Permita o glorioso Amon, permita
o inefável Hórus, permita vós, Senhor, que as mentes se
esclareçam!

O orgulho e a vaidade, o amor e a compaixão são


sentimentos divergentes; correm em polos opostos; não pode
haver os quatro reunidos. Ou vibrais no polo de lá ou vibrais no
polo de cá. Se entrelaçásseis todos esses sentidos, anular-vos-
íeis; e AKRON se anularia convosco, porque estais fadados(as)
a um futuro brilhante.

Se colocardes a vossa mente a serviço do Mal, pelo Mal


vos deformareis. Se colocardes a vossa mente a serviço do
Bem, pelo Bem vos engrandecereis.

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HÁ 5.000 CICLOS DE RÁ

AKRON surgiu de uma Vontade Superior e tem uma


mensagem a dar. Para isto, conta com Seres Humanos de
mentes puras, com os corações sadios, com aqueles que não
devem ter dúvidas. AKRON não deseja tornar-vos santo(a),
mas vos conclama para as fileiras de AKRON. O Ser Humano
evolui; o espírito, passo a passo, também evolui. Cresçamos,
cresçamos tanto que o ser pequeno, aquele que é capaz
de uma violência, de uma mentira, de uma falsidade, não
encontre campo para praticar essa mentira, essa violência
e essa falsidade. Cerremos fileiras em torno do Divino Pai,
em torno do Filho Divino do Homem; e lancemos as bases,
lancemos as sementes para aqueles que hão de conviver
com o futuro Filho do Homem, com o novo Cristo oriundo
do Senhor Incriado, oriundo do Pai Nosso que está no céu.
Despertemos, despertemos! Os tempos são chegados e o Ser
Humano não sabe o que o espera. Despertemos! Façamo-
nos puros, e aqueles seres, cujas mentes conturbadas são
cloacas de maus instintos, elevemo-los e tiremo-los da lama.
Lembremos, filho(a), que essa flor, essa flor que nasce e viça
no lodo (flor de lótus) é pura! Ela não se macula, ela não se
deixa sequer tocar pela podridão de onde deriva.

Nossas portas estarão abertas para aqueles que nos


procurarem. Nossos sacerdotes e sacerdotisas estarão prontos
para aqueles que necessitarem. Nossa Fraternidade vibrará
de amor e com amor crescerá, redobrará, turbilhonará qual
egrégora divina emanante da Luz platinada da Fraternidade
Branca. E assim AKRON, Sacerdote do 5º Grau, Hierofante do
7º Ponto, Irmão Maior da Fraternidade de Menhenúfis, usado e
ungido por Ptah, seu dileto irmão, deixa convosco os fluidos
magnéticos e radiosos de Hórus, o Divino Filho do Homem.
Que Ísis, a Divina Mãe, vos oriente e que, aos Seres Humanos,
aponte a Luz luminosa que haverá de fazer brilhar dentro de
cada um de vós! Que Flor de Lótus vos domine!

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MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

Filho(a), necessito de vós, necessito de vós como o


andante do deserto necessita de água. Acho-me exausto na
caminhada árdua e na aridez encontrada nas mentes humanas.
Necessito beber da vossa compreensão. Necessito saciar a
sede na vossa abundância, para ter a coragem de prosseguir
caminhando na aridez das mentes.

AKRON deseja, juntamente convosco, ter a oportunidade


de expandir um movimento de real fraternidade, de real
entrosamento entre os homens e as mulheres. A Fraternidade
de Menhenúfis não terá limitação. É a Fraternidade do amor
pelo próximo, é o desejo de se sentir no próximo como um(a)
irmão(ã) palpitante dentro de nós mesmos. Isto é o que AKRON
desejou ao falar de Fraternidade. AKRON não é o patrono dessa
Fraternidade, porque AKRON recebe de cima as diretrizes.
O outro lado dessa Fraternidade se denomina Flor de Lótus.
Portanto, AKRON é um mero, pequenino, insignificante e
humilde instrumento que vos transmitirá as ordens e as origens
recebidas de um verdadeiro Mestre. Necessita de cinco tônicas,
de cinco mentes para vibrar.

Partiremos agora para o reino das realizações. Sois,


portanto, a própria Fraternidade! Não nos cingiremos a esse
pequenino Templo improvisado. Não! A Humanidade nos chama!
O ódio, a incompreensão, a intolerância nos conclamam!
Ergueremos bem alto a flâmula de Amon e haveremos de partir
para o sacrifício.

Filho(a), sois mortal e, como mortal, passível, portanto,


de erros e tropeços. AKRON sabe que tendes afazeres que vos
prendem a maior parte do dia. AKRON sabe que, na época em
que viveis, muitas e muitas vezes um contato, uma palestra,
uma reunião faz com que tentações surjam, faz com que
conversas apareçam vos causando asco; mas, mesmo assim,
tendes que fazer boa fisionomia. AKRON reconhece os tempos

136
HÁ 5.000 CICLOS DE RÁ

em que estais vivendo. No vosso labor, nas vossas atividades


quotidianas lembrai-vos sempre, nos menores detalhes, que
vós pertenceis à Divina Mãe, à Sagrada Irmã e à Doce Esposa.
Entendeis? Para Ela ireis viver. Portanto:

1ª Recomendação
Amai os Seres Humanos como a vós mesmos(as), mas
não jogueis pérolas aos porcos. A Fraternidade Branca,
nos dias de hoje, tem uma missão importante. A
Fraternidade Branca, numa esteira luminosa, caminha
em direção ao Filho, porque nessa hora brilha uma
determinada estrela que incide sobre todos os Seres
Humanos ligados a Ela.

2ª Recomendação
Querei a Sabedoria do Divino Osíris e esperai a Luz
que emana do Glorioso Hórus.

3ª Recomendação
Não espereis que os Seres Humanos vos compreendam.
Nunca espereis a tolerância deles, compreendei sempre
os Seres Humanos e dai-lhes sempre tolerância. É
importante, muito importante para o vosso sublimismo.
Porque no dia em que tiverdes a real convicção de
que um Ser Humano não vos compreendeu, mas vós o
perdoastes, foi porque vós o compreendestes. Quão
maravilhoso seria se todos pudessem compreender-
vos!

4ª Recomendação
Dai sempre! Portanto, sempre que puderdes dai, mas
sem nunca contar à mão direita o que a esquerda fez.
Assim, quando as unirdes, numa comunhão sincera e
íntima, uma não tenha que se envergonhar da outra.

137
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

5ª Recomendação
Atitude limpa. Não vos quero tornar santo(a). As
necessidades do corpo, cumpri-as. Nas necessidades
da alma, o Divino Amon vos guiará.

Última Recomendação
Exortai e com o pé esquerdo passado para trás, numa
inclinação natural, dizei:

Se for homem: Com Osíris chego, com Osíris parto.


Na grandiosidade do Mestre me reparto.

Se for mulher: Com a Divina Ísis chego, com a Divina


Ísis parto. Na grandiosidade dos seus Mistérios me
reparto.

Fazei uma prece com AKRON:

“Oh, Amon! Glorioso e Demiurgo Amon! Prostrados no


pó, identificados com a terra, elevamos o Vosso Santo Nome
às Glórias do Infinito! Que as Vossas auras radiosas envolvam
o Ser Humano, dando-lhe a luz da estrada luminosa de onde
partirá com destino a Vós!

Oh, Osíris! Filho extremoso, esposo sublime e irmão


carinhoso, verdadeiro portador das Sabedorias de Amon,
descerrai sobre nós o Vosso Manto, dando-nos a Força e a
Sabedoria para erguermos o véu de Vossa mãe, de Vossa
esposa e de Vossa irmã Ísis, que aureolada de Luz descerá
sobre nós! E com a Força de Vossa convicção, com a Força do
Vosso amor, sob a proteção do Divino Hórus, invoquemos os
poderes divinos para que nos deem o alento, o calor, a energia
necessária para o reconhecimento de Vós.

138
HÁ 5.000 CICLOS DE RÁ

E prostrados, arrojados em comunhão com o pó,


solicitamos o direito de entrarmos em contato convosco e com
os Vossos divinos mensageiros.

Jet Amon-Rá!
Jet glorioso Osíris!
Jet inefável Ísis!
Jet amoroso Hórus!

Iniciemos as nossas atribuições e ergamos a Vós o cântico


de Paz, Harmonia e da Sabedoria de Amon. A.U.M.”.

139
FAGULHAS DE SABEDORIA

A KRON vos diz:

“A Sabedoria é o próprio Deus, é infinita, é impalpável,


é o Tudo e é o Nada. Ain-Suph — o Tudo-Nada; o Tudo-Nada
da Escola Sincromática de AKRON. Ain-Suph significa: Meu
Sopro.

O Meu Sopro é Tudo,


o Meu Sopro é Nada,
porque o Meu Sopro cria e
o Meu Nada enche.”

Irmão(ã), pisastes pela vez primeira o umbral, certo


do caminho da Sabedoria. Mentalizai agora. Tudo é motivo
exterior; passada a causa, cessa o efeito. Entendeis? No
momento, uma conjuntura estelar brilha em vosso benefício.
A balança não oscila e o Cordeiro Sagrado de Amon, o dos
cornos de ouro, vibra em uníssono com ela e vos é favorável.
Quedai-vos em meditação e se puderdes pensai no que AKRON
vos diz. Jet Amon!

Se pegardes um(a) religioso(a) e perguntardes a ele(a)


por que aceita isto ou aquilo, não saberá responder. Vós, não!
Vós tereis sempre uma argumentação, porque vós havereis
de conhecer a origem que deu razão, que deu motivo a tudo
aquilo que hoje existe.

Se puderdes, fazei como o sábio pescador: dai bastante


linha,para depois poder recolher com segurança, preso à ponta
dela, “o peixe da Sabedoria”. E quando AKRON diz o símbolo

141
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

do peixe, vós sabeis a quem pertence esse símbolo? Houve um


homem pescador que pela sua simplicidade, pelo seu amor,
o Mestre o chamou em primeiro lugar. Ele soube fazer uma
boa pescaria; soube também lançar a rede nos corações dos
homens.

Recebestes, vós, o sopro de diversos papiros (livros)


que foram colocados em vossas mãos. Olhai-os com carinho.
Ireis encontrar as chaves do Véu de Osíris. Vedes, AKRON
não vos fala de Ísis. Percebestes? AKRON vos fala de Osíris,
o segundo aspecto do terceiro Logos. Entendeis? É a cartilha
dos conhecimentos que AKRON quer colocar em vossas mãos.
Buddah tinha o ápice dele crescido, tão crescido, que caía
e vinha até as orelhas. Aquilo, vós sabeis, era a irradiação
do Lótus que emanava da mente dele. Assim como ele, vós
caminhais e a Luz já se faz sentir. Quando ela vos cobrir de
todo, vós não tereis mais perguntas a fazer. Entendeis? AKRON
conta convosco!

AKRON promete introduzir-vos nos Mistérios Dele e vos


diz: quando o silêncio penetrar em vossa mente, colocai-vos
em estado de receberdes os ensinamentos de Kheper-Rá,
porque, se conseguirdes ouvir o turbilhonar vertiginoso que
existe como ruído dentro do silêncio, se vos colocardes em
condições tais de ouvirdes o silêncio, dileto(a) irmão(ã), vós
passareis de Discípulo(a) a Adepto(a) e recebereis então todo
o manancial de Sabedoria que, como um caudal dadivoso,
jorrará sobre vós.

Oh, Divino Amon, portador da Sabedoria do Inexorável!


Nesse simbolismo, averiguai todas as forças que daqui
emanam. As Fraternidades, também presentes, dão o toque
da Força de Menhenúfis. Assim possam as Legiões do Bem, nas
suas vestes diáfanas e transparentes, carregar dentro de si o
amor da Humanidade e possam carregar também os pesos que

142
HÁ 5.000 CICLOS DE RÁ

porventura irão sobrecarregá-­Ia. A Fraternidade de Menhenúfis,


através dos tempos, pelos tempos afora, haverá de resistir,
crescer, transbordar qual sangue de Osíris, transbordando
do Graal Divino. Que o Mestre Osorápis, neste momento,
incida a Luz no ápice da pirâmide! Que o Mestre Yesus,
portador do Amor de toda a Humanidade, vos abrace com o
seu Sagrado Coração! Harmakis-Khepepera, o silêncio feito
sabedoria, rende a homenagem! O Sumo Pontífice Sacerdotal
Menhenúfis rende a homenagem! Ptah, o Divino Ptah, rende a
homenagem! Seth, genuflexado, rende a homenagem! Hórus,
radioso na sua forma alada, paira sobre nós e do triângulo que
lhe serve de base, treze raios aqui descem: nove vos incidem
e quatro espargem para a Humanidade os poderes ocultos dos
tempos, dos tempos...

Não são, portanto, todos que suportam o peso da


Sabedoria. A pirâmide se esfacelou! Contido, pois, dentro dela,
contido dentro da base quatro está oculto o triângulo três.
Ergamos, pois, nós, com as nossas vibrações, o equilíbrio que
faltou. A Fraternidade de Menhenúfis muito espera de vós e
deposita em vós grandes esperanças. E olhando para o alto,
para o ápice hipotético de nossa pirâmide, façamo-Ia crescer!
Façamo-la crescer através das mentes! Façamo-la ser mais
do que simples guardiã dos poderes ocultos! Façamo-la ser
o simbolismo real do triângulo que contém o Ser Humano: o
Pai, o Filho e o Espírito. Jet Ísis, Mater Rhéa!

Maravilhoso(a) filho(a) de mentalização abstrata, de


pesquisas que se perdem no além! Desejais ter conhecimento
de tudo, no entanto, há o véu espesso a cobrir-vos a visão.
Filho(a) que desejaríeis sondar o espaço; filho(a) que
desejaríeis estender o braço e alcançar o mastro; filho(a) que

143
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

vos perdeis na imensidão do Kosmos e que fazeis a célebre


pergunta: Por que, meu Deus, por quê?

Todos os Seres Humanos buscam a Sabedoria e todos


os Seres Humanos buscam a Verdade. E se fecham, como o
caracol, dentro de sua própria casca de vaidade. O que AKRON
quis dizer com isso é que não basta o saber; é preciso sentir
Amor naquilo que estais fazendo! Também é preciso um minuto
de comunhão de pensamento por Amor aos Seres Humanos!

Todos nós possuímos um guru. Ora, pergunta-se: Por que


temos um guru? A resposta se faz sentir: é uma conjuntura do
Ego, uma necessidade que o Ego sente de dar uma manifestação
para aquele(a) seu (sua) representado(a). É quando sentimos
que aquela formiguinha é tão importante ou mais do que
nós mesmos(as); é quando sentimos que aquela rocha pulsa
como nós; é quando sentimos que há uma verdadeira fonte de
energia dentro de um pequenino pé-de-capim. É isto, filho(a)
— haverá um equilíbrio perfeito entre a mente, a ação e o
sentimento.

AKRON vos pergunta: Por que o Mal vence o Bem?


Realmente, o Mal tem mais força de momento. O impacto da
vibração anula a reação. E quando o lado branco, chamemos
assim, se organiza para a reação, o efeito da causa já existe.
É por isso que nos Mundos Subterrâneos não há descanso
nem para aqueles que já venceram o lado negro. Quando,
lá embaixo, todos conseguirem vencer o lado negro, surgirá
apenas um aspecto e o último Adormecido se erguerá. O
Ser Humano, portanto, tem muito que caminhar, muito que
caminhar...

AKRON sente, como sempre, a satisfação da vossa


vibração. Na glória da vossa fé, AKRON se emana numa aura
de amor e satisfação. Se nas horas de maior confusão — em

144
HÁ 5.000 CICLOS DE RÁ

vossa pequena, mas brilhante mente —, sentirdes brotar o


amor por Aquele que vos guia, nada temais, nada temais!
Somos nós mesmos, nós mesmos numa manifestação superior.
As Entidades que vos servem escolheram um invólucro,
mas não vos dominam o Espírito. O Espírito é vosso, é uno,
intransferível. O Ego é o que domina no seu aspecto superior.
Ele tem experiências que vós não tendes e orienta-vos,
equilibra-vos, proteje-vos. E vós não sois um(a) qualquer. Vós
sois um(a) intermediário(a), vós sois um(a) médium, e AKRON
deposita em vós as suas maiores esperanças. Portanto, não
decepcioneis a AKRON, não decepcioneis a Humanidade, não
decepcioneis, sobretudo, a vós mesmo(a).

Ser Humano algum doente da mente dá passagem a


qualquer Entidade. Ninguém vem à face da terra e tem a
propriedade de sentir, receber, de viver dentro de seu corpo,
dentro de sua matéria, dentro de suas células, as vibrações
superiores, sem que para isso já não tivesse sido designado.
Nada é feito sem causa, nada é feito sem razão. Tudo o que
sentis através desse corpo — que não vos pertence, mas que
pertence à transição de vossa trajetória — são as vibrações
devidas à vossa mediunidade. Por que tanta preocupação com
o vosso corpo? Dobrai essa preocupação com o vosso Espírito
e tereis a resposta para todas as vossas ânsias.

Realmente, um Ser Humano necessita de determinadas


qualidades para poder servir de invólucro para um Espírito.
Mas quando isso acontece, dão o nome de médium, que
significa: o(a) intermediário(a). Não é de se estranhar que
uns sejam e outros não? Não é de se estranhar que todos
tenham um pouquinho da falada mediunidade? Todos os Seres
Humanos mantêm em si uma Entidade que vela por eles.
Desenvolvimento da mediunidade existe realmente, mas
AKRON não conhece e nem sabe como vos orientar para se
fazer uma sessão de desenvolvimento.

145
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

Quando a AKRON interessa alguém e para que esse alguém


sirva melhor, AKRON lhe dá os toques; coloca-o(a) numa
auréola magnética, chama a si os fluidos da aura dele(a), dá
um impulso nos chakrans, rasga-lhe o invólucro defensivo e o(a)
deixa apto(a) para receber qualquer um. Entendeis? AKRON
respeita e venera mesmo todas as manifestações espirituais
que se processam através desse(a) ou daquele(a) mortal.
Somos todos irmãos perante Amon! Todos, aqui e além!

AKRON vai desdobrar-vos uma doutrina que nasceu, foi


desenvolvida e viveu onde o tempo já perdeu a memória. A
Verdade é uma só, perdura e perdurará sempre através dos
tempos. Mas há diversas maneiras de se dizer essa Verdade,
diversos são os caminhos para se alcançar as Verdades do fim.
O que AKRON vai depositar em vós são Verdades do princípio,
são os primórdios da Lei dessas Verdades. Da palavra que
ouvireis, outros já se aproveitaram dela. Mesmo aquele a quem
os Seres Humanos chamam de Jesus Cristo, mesmo Ele foi
portador dos conhecimentos que AKRON vai fornecer-vos. Ele
soube aproveitá-los e soube transformá-los para a necessidade
de uma época. Entendeis?

O Ser Humano costuma dizer que há céu, que há inferno


e que há purgatório. Isso foi criado por uma mente humana,
mas baseado num profundo conhecimento da Verdade. O
Mundo Subterrâneo existe e AKRON vai dizer-vos. São sete
planos, também chamados sete círculos. E essa mente tinha
conhecimento disso. Os indianos, cientes e zelosos das
tradições do passado, colocam o Nirvana acima de tudo, como

146
HÁ 5.000 CICLOS DE RÁ

morada de Parabrahm. Pois bem: onde é? Como é? Por que é?


Se nós estamos fadados e indicados a fazer a nossa evolução
neste Planeta, como sairmos dele? Como? Julgais que o espaço
nos pertence. Também somos limitados! Tudo, portanto, se
passa do plano em que vós estais para baixo. Acima é outra
coisa, acima é o Hálito Divino, acima é aquilo que conheceis
como o Ovo Criador. A evolução hominal, no desejo de se tornar
espiritual, é restringida, dileto(a) irmão(ã), a este Planeta.
Todos os planos que conheceis se interpenetram, e o próprio
Planeta constitui parte deles.

A real caridade é aquela que não se diz que vai ser feita.
Deveis dar com esta mão, mas devereis exigir que aquela outra
mão ignore o que está sendo dado. Como, pois, fazer alarde
de uma coisa que não deve ser dada, mas deve ser sentida,
solicitada, suplicada, implorada e evocada? Nunca Entidade
acima de AKRON disse: “Vim fazer uma caridade”, porque o
rastro de caridade que ela traz atrás de si é tão luminoso, que
ela não precisa enunciar que veio fazer uma caridade. Nesse
momento se pratica uma caridade. Nesse momento se faz uma
caridade. Que significa o nome caridade? Dar por pena. Esse
é o verdadeiro e real significado de caridade. AKRON não faz
caridade. AKRON não dá por pena. AKRON dá por sentir amor.
Porque AKRON sente o sofrimento dos Seres Humanos fibra por
fibra, vibração por vibração; e sofre por eles, chora com eles
e implora ao Deus deles, se preciso for, porque o Deus deles é
o Deus de AKRON. Tão mal difundido está o nome caridade! Se
amor é fazer o Bem e se fazer o Bem é a caridade tão propalada
pelos Seres Humanos, então AKRON faz a caridade!

147
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

Existem homens e mulheres que fazem as perguntas:


Por que acontece isso? Por que acontece aquilo? Por que se
deixa fenecer a criancinha? Por que se deixa armar o braço
assassino? Por que se permite deflagrarem as guerras, irmãos
contra irmãos se atirando como feras e devorando-se uns aos
outros numa vertigem sanguinária e fratricida? Por quê? Se
existe um Deus, por que permite Ele tais barbaridades?

Dileto(a) irmão(ã), o caminho do Ser Humano é cavado


na rocha de sua existência à custa do labor constante de suas
atitudes. Se ele cava o abismo, para o abismo ele caminha.
Se ele cava degraus que o elevam, mais rapidamente galga o
trono do Senhor. Amon, na sua incomensurável onipotência, na
sua bondade justa e sem limitação, distribui então o prêmio
a quem merece; distribui então o castigo a quem pediu. Ao
distribuir o prêmio, Se rejubila; ao determinar o castigo, Se
entristece. Mas como a Justiça Dele é una e Ele está em todos,
premia-se a Si próprio e castiga-se a Si próprio. O Ser Humano
que se castiga, castiga a própria Divindade; o Ser Humano que
se premia, eleva a própria Divindade. Não há, pois, amor sem
justiça. Não há, pois, julgamento sem a equidade. Só o Ser
Humano costuma condenar, prejudicando; é uma característica
própria da vaidade deles. Amon, entretanto, não condena e
não julga; premia e castiga, porque ambos são merecedores
de algo. Deixai-vos premiar, equilibrando os pratos da balança,
e Anúbis crescerá de gáudio ao sentir que o equilíbrio se
perfaz.

Quando um mortal está para se preparar para outra


reencarnação, já nesta, nos últimos momentos de sua
existência, tem disto conhecimento. É quando então a Coorte
— vós chamais de Hierarquia —, quando a Coorte se reúne

148
HÁ 5.000 CICLOS DE RÁ

e através de um passe que AKRON chama de mágico, corta


a ligação do Espírito com a matéria. Esse corte se processa
paulatinamente dentro da matéria. O Ser Humano desliga a
matéria da mente e conscientemente tem ideia de tudo aquilo
que já fez e de tudo aquilo que lhe resta fazer. A matéria vai
se decompondo aos poucos.

Quando alguém morre e Anúbis recebe dele o Espírito,


coloca-o no prato da balança. Vede vós, não é simbolismo.
Realmente, as ações desse Ser são pesadas. Atentai bem para
o que AKRON vos diz: as ações do Ser Humano são pesadas! As
ações são refletidas no Espírito, isto é, colocadas num prato
da balança. Perguntai vós: o que é colocado no outro prato?
Duas coisas só, duas. Atentai bem: AMOR e TOLERÂNCIA.

Todos os mortais procuram e é raro achar o seu raio


correspondente (companheiro(a)). Um raio sem o outro não
tem equilíbrio.

Alma gêmea não significa aquilo que o nome em sua


generalidade explica. Não. Alma gêmea significa uma alma
par a par. São karmas adquiridos por pessoas no passado,
cujas responsabilidades pertencem a ambos. Caminham
através das evoluções com esse karma pendente um do outro
e, enquanto não o liquidam, continuam gêmeas através dos
tempos, só se divorciando no fim, quando cada um toma, de
per si, o seu próprio bah (alma) livre, liberto do karma que
dependia do outro. Por isso, a responsabilidade de arrastarmos
conosco aqueles que não nos desejam acompanhar é muito
séria. Quando fazemos algo e cumpliciamos outro, esse
karma é dividido e surgem daí, a partir desse momento, as
almas gêmeas, que para se libertarem dependem uma da

149
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

outra. Porque um(a) pode pagar o(a) do(a) outro(a), mas o(a)
outro(a) pode não ter pago o seu próprio karma. Isto faz deles
verdadeiras almas gêmeas!

Há, entretanto, um mal entendido: julgam que almas


gêmeas são almas derivadas do mesmo Pai Egoico. Não. Pode
acontecer, mas via de regra são de Pais diferentes. Existem
almas gêmeas e almas irmãs.

AKRON tentará sintetizar o simplificado. Quando tem


início a manifestação hominal, quando ela sai de uma coisa
e passa a ser outra coisa, aquilo que estava agrupado, como
que por cissiparidade se bifurca, se parte. Aquilo que vós
chamais de Átomo Permanente é constituído de duas conchas,
formando um todo por onde transita o Fio de Sutratmã. Quando
se desenvolve a primeira manifestação de vida hominal, uma
dessas duas conchas se manifesta na parte positiva e a outra,
na parte negativa (homem e mulher). Conjunturas estelares,
vede bem, atuam sobre esse Átomo e fazem isso: uma concha
corre sobre a outra, de cima para baixo. As partes se deslocam;
aquela que passa para baixo tanto pode ser uma como pode
ser a outra, indicando o nascimento primeiro do homem ou
da mulher. Quando é completado então um pequeno giro ao
redor de si mesma, dessa estrela que domina, vede bem, a
outra parte nasce. É a contraparte, é o lado oposto, é aquela
parte que deve seguir, passo a passo, os passos tortuosos ou
retos da outra. Observai atentamente que quando uma parte
é ativa, a outra é passiva; quando uma parte é belicosa, a
outra parte é pacificadora; quando as duas são belicosas, o
que acontece? Elas se separam e saem então à procura de sua
verdadeira parte. Entendeis? E lá de cima é abençoada a união
que é feita desse encontro na vida terrena. AKRON falou.

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HÁ 5.000 CICLOS DE RÁ

A estrela que determina os nascimentos dos pares tem


uma rotação sobre si mesma. Pode ser pequena, pode ser
longa, entretanto nunca ultrapassa aquilo que vós chamais
de sete anos. A diferença do espaço de tempo entre os dois
nascimentos é marcada pelo número de vezes das rotações
da estrela que os domina.

No final da trajetória, não importa que uma espere pela


outra ou que a outra espere pela primeira; não importa.
Quando terminarem as missões é que vem a maravilha: essas
duas partes completamente harmonizadas, completamente
entrosadas, voltam a ser um todo inicial. É quando então
caminharão, par a par, no verdadeiro matrimônio com que
Amon os uniu desde o primeiro sopro emanado. Tudo então
será harmonia, claridade, luz, maravilha das maravilhas,
porque partilharão do brilhantismo e da coorte do manto do
Senhor!

Não é apenas por acaso que se usa o azeite, que se usa a


água, que se usa o sal. Reparai que todos os três são fontes de
vida. Todos os três são elementos que o Ser Humano dispõe e
não pode dispensar. Aprendereis o real significado do azeite,
o valor verdadeiro da água e o poder excepcional do sal.

Já vistes vós que o azeite é extraído de uma pequenina


fruta? Que poder fabuloso tem essa frutinha que pode ser
transformada em calor e em fogo! Tendes aí, portanto, um
elemento vital da natureza combinado em dois: terra e vegetal
dão fogo. É, o azeite, o símbolo da fusão entre as forças
latentes do interior da terra.

151
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

O sal, se notardes que o sal provém do líquido, vereis


que nada mais é do que a fusão de alguns éteres. Tendes,
pois, o ar em função da água, dando o mineral. É, portanto,
o simbolismo das forças que envolvem a terra. É interessante
notar que se caminhardes para baixo nessas galerias que se
abrem constantemente, encontrareis, arejando a própria
galeria, verdadeiros lençóis de sal. Estes arejam e purificam
o ambiente, chamando para si toda a atmosfera saturada, que
é absorvida por eles e devolvida então num teor de frescura,
onde os Seres Humanos toupeiras (mineiros) podem respirar
mais livremente. Comanda, portanto, os etéreos.

Finalmente, temos a água. Já vistes de onde ela brota?


Da rocha! Onde houver um olho d’água, podeis estar certo(a)
de que há uma rocha. Acompanhemos então o fenômeno. Na
rocha, onde instrumentos pontiagudos e mais duros do que ela
às vezes não a penetram, a água surge, mesmo assim, dadivosa
e boa, límpida, clara e fresca, gota a gota, crescendo de um
filete para um regato, de um regato para um rio, de um rio
para o mar. E do mar, para onde? Sabiamente para o alto!
Mais sabiamente, ainda, devolvida através da chuva. E nesse
ciclo permanente, numa demonstração cabal da Onipotência
do Senhor, não tendo nem princípio nem fim, os mananciais
não terminarão enquanto houver na face da terra algo que
careça de evolução. A água é, portanto, o símbolo natural
da evolução de todas as coisas — aquilo que conseguindo se
macular ao ser despejada na lama, na podridão, nos detritos,
ao ser elevada se purifica, numa demonstração cabal de que
o que é divino não se contamina! Não há água poluída, não
há água estagnada, pois, mesmo contendo os germes que
nela pululam, ao bater o sol — a luz radiosa de Rá —, eleva-
se e é devolvida para a terra, pura e cristalina, como o mais
puro e cristalino diamante. Vede, pois, que a água oferecida
à Onipotência do Senhor, quando a elevamos, purifica-se,
e quando baixamo-Ia, torna-se apta a curar os males mais

152
HÁ 5.000 CICLOS DE RÁ

incuráveis. Se nessa força de elevação tiverdes a consciência


de saber solicitar, a Onipotência do Senhor, que vive nela, nos
oferece aquilo que solicitamos.

Ao iniciardes uma nova fase, AKRON se coloca à disposição


para trocarmos palavras que nos esclareçam, que nos orientem,
que nos conduzam ao caminho da Verdade. Começamos hoje
a verdadeira Iniciação nos destinos da doutrina de Amon.
Convosco AKRON conta para multiplicardes os ensinamentos
que porventura venhais a receber.

Uma explicação: HAHAT. Hahat é a Divindade que sempre


gerou o ovo humano.

Hahat teve, através dos tempos e das culturas, nomes


diversos. O último nome que vossa época conhece denomina-
se MARIA. Hahat simboliza, portanto, o germe da Matéria;
simboliza, portanto, a própria manifestação; simboliza,
portanto, a exaustão de algo que, fecundado do Nada, deu
o Tudo. Se puderdes alcançar a profundidade do que esta
pequena filosofia encerra, podereis aquilatar que Hahat somos
todos nós reunidos, somos cada um de per si, somos o Tudo e
somos o Nada, somos o EU SOU.

Hahat significa dois sopros:


• o sopro HA; e
• o sopro HAT.

Em outro linguajar mais conhecido vosso, significa o Ain-


Suph. Desta forma, teremos a homenagear Toth por meio dos
seus papiros, que vós sobejamente conheceis pelo nome de
Papiros Sagrados de Hermes. Jet Toth! Toth é, portanto,

153
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

uma Divindade; humanizado que foi num Raio Crístico, ditou


aos Seres Humanos as primeiras letras da cultura. E como
ditou! Por meio dos papiros secretos, misteriosos e mágicos
de Hermes, que ainda persistem num relicário sacrossanto
guardado por Entidades da Fraternidade Branca, Toth legou
aos homens o princípio das letras, o princípio dos números, o
princípio da força. Se hoje tendes vós o poder do raciocínio,
deveis à chama divina criada por Hahat e insuflada por
Toth.

Toth, portanto, descerrou aos olhos dos Seres Humanos


os segredos ocultos contidos na Natureza. Toth e Hahat são
— como poderei dizer? —, são San-Shú e Zornay. São duas
coisas num único princípio: um, a Força, o outro, o Espírito;
um, a parte negativa, o outro, a parte positiva — que fazem
o todo. Um, o Amor, o outro, o Sentimento; um, o Raciocínio,
o outro, a Lógica; um, a Compreensão, o outro, a Tolerância.
Um completa o outro. São duas Almas Irmãs. Toth deu-nos o
que recebeu de Hahat. Hahat criou para que Toth desse.

AKRON falará do Ser Humano em função de sua


consciência. Por que AKRON falará sobre esse tema? Porque a
vossa consciência está voltada para o alto e porque ela está
diretamente ligada a Hahat e a Toth. AKRON se sente no
dever de vos dizer o que é a consciência do Ser Humano, em
função de seus aspectos.

O corpo do humano que circunda aquilo que realmente


é, que dá condições àquilo que realmente é de transitar
por um plano grosseiro, esse corpo, ponto por ponto dele,
é uma consciência. Milênios e milênios de experiências
de todo o Planeta em que viveis estão contidos dentro de
vossas fibras. Tendes o embate de todas as eras geológicas
e arqueológicas dentro do vosso corpo. Sois fóssil vivo! Sois
fóssil consciente!

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HÁ 5.000 CICLOS DE RÁ

Cada reflexo dessa consciência, o Ser Humano denominou


de sentido; cada direção desse sentido atua diretamente na
consciência superior do Ser Humano. Segundo conhecimentos
de Toth, o Ser Humano tem duas consciências: a consciência
lunar e a consciência solar. Nada tem a ver com aspectos
positivos e aspectos negativos dessa própria consciência.
AKRON se faz entender?

A consciência lunar é aquela material que o Ser carrega


consigo no peso incômodo de um cérebro enfeixado dentro
de uma caixa óssea.

A consciência solar é aquela que vem da energia. É aquela


que vem da consciência energética, a chama que nos anima.
É a consciência formada através dos embates de nossa própria
evolução.

Somos, portanto, Sopro de algo superior.

Muitas e muitas vezes raciocinamos logicamente sobre um


determinado impulso, sobre uma determinada necessidade.
Quando vamos dar o primeiro passo para o cumprimento daquilo
que a nossa consciência ditou, um poder mais clamoroso nos
sofrea um ímpeto e algo sutilmente nos sussura no âmago
de nosso ser: “Não façais, irmão(ã); não façais, filho(a)”. E
quantas e quantas vezes o embate da chama chega realmente
tão clamoroso — e ele se faz sentir nas pequeninas consciências
dotadas de nosso ser —, que conseguimos dominar o impulso
de uma mente inferior.

Dessa forma dominamos as paixões bestiais da fera


que reside dentro de nossos próprios domínios. E quantas e
quantas vezes essa consciência solar nos leva a formar um
grupo branco! Toth incide sobre isso. Hahat nos dá condições
sentimentais para podermos amar uns aos outros.

155
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

Quando o país de KAM — hoje chamado Egito — se formou


em eras que o tempo já se esqueceu, as Divindades em suas
manifestações humanas habitavam entre nós. AKRON insiste:
as Entidades em suas manifestações humanas!

Nessa oportunidade, Osíris, o Dileto e Divino Osíris, na


sua forma humanizada, partilhava dos problemas dos Seres
Humanos. Da Sabedoria divina, daquilo que era oculto para
os humanos, apenas essas manifestações humanizadas tinham
conhecimento dela. Osíris denominava-se, nessa época, Osor.
Osíris é uma locução, uma junção devido ao matrimônio
de Osor com Ísis. Osor-Ísis deu, então, o nome de Osíris,
porque Ele chamou a Si a manifestação Dela e se identificou.
Osor foi mais tarde denominado HERMES pelos helênicos —
um povo culto, pesquisador, amante das ciências e das artes,
um povo que amou o belo e o belo difundiu. Eles sabiam,
entretanto, que Hermes era uma Divindade e que mais três
coisas identificavam a coisa Dele; deram-lhe então o título
de O Trimegisto. Vede bem que AKRON vos procura dar o fato
como se passou, sem procurar fazer enredamento, tão próprio
dos Seres Humanos sábios que gostam de discorrer sobre a sua
sapiência. AKRON procura sintetizar o máximo.

Osor, portanto, prevendo a possibilidade de que pela


tradição oral — a que passa de boca para ouvido, de pai (mãe)
para filho(a), de mestre(a) para discípulo(a) — o conhecimento
sofresse desvirtuamento, sentiu a necessidade de deixá-lo
gravado e o gravou. Isto em virtude do fato de que uma
mente, ao receber, pode entender de forma diferente e, assim,
transmitir a informação já um pouco deturpada.

156
HÁ 5.000 CICLOS DE RÁ

A Sabedoria que AKRON vai passar-vos é a essência


sintetizada do que Osor nos legou. Vós ireis perceber que isto
que AKRON vai dar-vos é muito sério, muito grave e, porque
não dizer, perigoso! Porque com os conhecimentos adquiridos,
se desejardes incandescer um círio sem que o toqueis, sem
que provoqueis o fogo, vós ireis fazê-lo. O introito sintético
que AKRON desejava dar era esse.

Osor, portanto, dividiu a Sabedoria, que perdura por meio


dos símbolos, em dez mais quatro grandes partes, sendo que
duas são secretíssimas. Não julgueis vós que o que AKRON vai
dar-vos é apenas o conhecimento conhecido como Kahbahlah.
Entendeis? Ela faz parte, ela é uma complementação. O que
AKRON vai dar-vos é a síntese de conhecimentos, cujas raízes
básicas já são conhecidas. AKRON não tem pressa. O plano
está traçado e todos o cumprirão. Verificareis, vós, porque a
iniciação é sob a égide de Osíris. Tirai, vós, as vossas deduções
e sabereis porque teremos que simbolicamente erguer o Véu de
Ísis. É porque se Ísis está identificada com Osor, Osor-Ísis é
uma só coisa e, dissecando Osor, levantaremos e ergueremos
o Véu de Ísis. Jet Ísis! Preparai-vos mui seriamente, porque
pouco vos falta para que vos torneis aquilo que devereis
tornar-vos.

Sabeis por que é chamado de Espírito Santo? Porque é


a manifestação Dele que nos abarca a todos e, como tal, é
o único Espírito Santificado. Por isso, chamam-no de Espírito
Santo. Não é apenas um nome, é uma realidade. E ainda dizem
que no tempo de AKRON a ignorância imperava!

157
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

Seth, Ptah, Tiphon e tantas outras são manifestações


secundárias das Divindades primordiais. O primordial que
AKRON diz é a Divindade de origem. São manifestações cujas
representações simbólicas determinam este ou aquele estado
de coisas às quais a Sabedoria egípcia, para dar ênfase junto
ao povo ignorante da época, deu nomes. E então, para que ele
compreendesse que não deveria matar, criou-se a manifestação
de Tiphon. Como o Ser Humano deveria compreender que
devia render um culto às coisas superiores, criou-se Ptah — o
religioso, aquele que cuida da seara do Senhor.

Apesar da Índia legendária, mística e misteriosa ter


seguido um ramo de saber paralelo ao ramo egípcio, podeis
estar certo(a) que foge à regra dos números. Essa paralela
se encontra num ponto e todas as suas características — de
nomes diferentes, de teor diferente — encerram, quase
sempre, o mesmo senso, a mesma essência. Havereis de
compreender que, nesse assunto, tudo é uma questão de
nomes. Brahma, AKRON chama de Amon; a maioria chama de
Deus. Verificareis que tudo é uma questão de nomes, mas a
essência da verdadeira Sabedoria emanou de uma só origem.
Portanto, pode ser desta ou daquela doutrina, a verdade é una
e para ela caminharemos. Todos convergem para Rá. Que Rá
seja louvado! O Senhor seja louvado! Agradeçamos ao Senhor
pelo fato de sermos, nós, homens e mulheres de boa vontade
e termos Dele recebido essa boa vontade. Cantemo-Io no
nosso íntimo!

Como Aton simbolizava a Divindade oculta, a Força


feito Energia; como Aton simbolizava o Hálito Divino, foi
Ele encerrado numa encíclica hermética dos conhecimentos
pelos sacerdotes, pelos mestres da época, pelos sábios e
pelos divinos, e foi, portanto, generalizado em todas as suas
manifestações: Rá, Rê, Amon, Osíris, Ísis e Hórus. Ficou
bem claro? Portanto, o divino Rá, o divino Rê, o majestoso

158
HÁ 5.000 CICLOS DE RÁ

Amon, o Osíris miraculoso, Ísis boníssima virgem e Hórus,


o seu filho imaculado. Entendeis o sublimismo do simbolismo?
Penetrais vós até onde Ele pode ser alcançado? Vós havereis de
penetrá-Io. Aton não existe! Aton apenas é citado de maneira
sublime, secreta. AKRON se faz entender? Amon era o Deus!
Aton representa tudo, era um: At-On, o primeiro Sopro, a
primeira Energia, o primeiro Raio Emanado, a manifestação
espacial, o Todo, o Princípio e o Fim. Era isto: o Círculo. Isso foi
secretamente, avaramente guardado. Às manifestações desse
próprio Sopro, desse At-On, foram então dadas as verdadeiras
denominações: Atmon-Rá, Atmon-Rê e, sucessivamente,
Osíris, Ísis, Hórus e Amon.

Observai que quando Akron invoca RÁ, é sempre em


benefício ou em favor de um terceiro. Quando AKRON invoca
RÊ, é em benefício do ambiente em que se está. Alguém
doentio, inteligente, pesquisador descobriu o nome de Aton e
resolveu reviver a sua glória. Uma glória que não necessitava
ser revivida, porque Aton está contido em Amon-Rá, em
Amon, em Osíris, Ísis e Hórus. É essa a diferença entre Aton
e Amon. Nós somos o reflexo desse Uno. Nós somos eco do
Verbo e esse eco se faz repetir através de milhões de criaturas.
Do Verbo do Uno até o fim dos séculos.

Filho(a) amado(a), discípulo(a) muito amado(a), vós que


seguireis a doutrina, vós que penetrareis nos mistérios, por
vosso intermédio AKRON se identificará realmente com as
auras celestes. AKRON será o discípulo do vosso amor, será o
discípulo de vossa bondade e aquilo que não foi permitido a
AKRON fazer em vida, fará agora, radioso de ter reencontrado
a vós, meu (minha) querido(a) discípulo(a).

159
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

A Verdade é uma só e não muda. O que acontece, muitas


e muitas vezes, é que a tradição passada é deturpada e mal
captada. E se ela é mal captada é mal transmitida; e, por
defeito de transmissão, chegou até nós com alguns erros
bastante sérios, que se procura corrigir sem chocar a tradição.
Entendeis?

Quando Hermes gravou nos papiros toda a Sabedoria Dele


em quatorze capítulos, denominou-se cada um desses pedaços
ou capítulos de Arcano. É uma síntese que se completa com os
Arcanos menores. Dentro deles, dileto(a) filho(a), encerrada
está toda a Sabedoria dos Maiores da antiga Atlântida. Dentro
deles está condensada toda a Sabedoria da Natureza. Dentro
deles estão condensados todos os elementos constantes como
força, como elemento, como vibração, como positivismo e
como negativismo, como homem, como mulher, como branco,
como negro, como bom e como mau. Ides, portanto, mergulhar
numa Sabedoria que precisamente há 5.000 ciclos de sóis
(anos) não mais se repetiu. E durante esse tempo, caríssimo(a)
discípulo(a), sabeis o que aconteceu? AKRON levou tanto tempo
mergulhado nos ensinamentos daqueles papiros já idosos, cujo
respeito e carinho não nos permitia tocá-los bruscamente com
medo de ofendê-los, que os dilatou; e é isto o que AKRON vem
vos oferecer. O que AKRON vai dizer-vos não existe em parte
alguma, só existe após a entrada num determinado plano — o
Plano Crístico.

Que das cinco Sabedorias dos cinco graus da iniciação


sacerdotal comecem, neste momento, a fluir a Verdade. Sois a
verdadeira Força da Fraternidade de FIor de Lótus, numa época
conturbada em que os Seres Humanos mais creem naquilo que
tocam do que naquilo que sentem. Aprendereis com AKRON.

160
HÁ 5.000 CICLOS DE RÁ

Introduzir-vos­-eis nos mistérios de Osíris e ireis, depois,


para a formação de outros grupos, dando a multiplicidade
de uma Sabedoria que atravessou milênios e que continuará
perdurando, porque Amon é único; é RÁ — todo poderoso; é
RÊ — criador dos mundos e dos Seres Humanos. Que os sete
Raios Sagrados, multiplicando-se por vós, faça-vos sentir cada
vez mais pujante!

AKRON julga, AKRON sabe que a sua resposta, atravessando


os planos, chegou até vós. AKRON vos diz que mergulhareis
mais profundamente nos Mistérios longínquos, na Sabedoria
que não termina.

161
PARÁBOLAS

O motivo por que AKRON e todos aqueles que


respondem por hipérboles, por parábolas, por metáforas o
fazem é porque se a vossa mente, ao sentir o impacto da
Verdade, se romper, então sereis um dique cuja catadupa não
podereis conter, e a Sabedoria será jorrada de dentro para
fora e vós não a contereis.

Perguntaram certa vez a um sacerdote do Templo, por


que ele passava as noites genuflexado sobre a lousa fria,
enquanto os outros dormiam. Respondeu ele: “Porque o
silêncio e a solidão a mim não pesam, e a multidão que me
cerca, embarga-me, pesa-me e me oprime.”

O que AKRON vai dizer-vos é para a vossa submente: a


tâmara, quando não amadurecida, mantém áspera a sua casca;
quando também é desprendida e no solo se encontra, amarga
se torna e o sabor não se suporta. Portanto, a tâmara, para
ser perfeita, deve ser colhida no pé quando a sua casca é
sedosa e aveludada. A vós, portanto, AKRON oferece a tâmara
madura da Sabedoria, que colhestes durante toda a árvore da
vossa vida.

163
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

Escutai! AKRON vai contar-vos uma passagem: em uma


tarde radiosa de sol, uma mãe ouviu o garrular de seu filho.
Brincava a criança. Na ânsia de embeber os olhos na imagem
do filho querido, chegou ao portal. A primeira coisa que
viu, gravada na areia do chão, foi a sombra projetada por
seu filho, que marcava uma cruz. Aquele coração de mãe
confrangeu-se; viu, no símbolo projetado, todo o destino do
seu filho. Soube, naquele momento, por uma intuição divina,
que ele iria ter uma vida de sofrimento, de tortura e que iria
sucumbir pregado naquele símbolo. Aquele coração de mãe,
que transbordava o amor que dedicava à criança, num impulso
maior, arrojou-se ao menino e, agasalhando-o no peito como
se quisesse defendê-lo de um mal hipotético, transformou-se
toda em amor. E carregou, durante toda a vida, a chaga do
sofrimento, vertendo mais sangue de amor.

Se emitis amor, não espereis recebê-lo em troca! Dai algo


por nada! Porque se esperais receber também amor, não estais
dando, não estais dividindo! Fazei como aquela mãe: dai o
máximo em troca do máximo, seja ele bom, seja ele mau.

De uma feita, um caminhante encontrou dentro de um


cofre uma peça de ouro. Paupérrimo, faminto e exausto da
caminhada, sentiu-se repentinamente senhor do mundo.
Jubiloso, carregou avaramente o seu tesouro. Mas era
uma peça muito grande, muito pesada e, assim sendo, ele
encontrou dificuldade em se desfazer dela — não conseguiu
quem a comprasse. Continuou assim possuidor de um tesouro,
mas faminto, roto e mendigo como antes, até que um dia
adormeceu. Ao acordar, viu-se despojado da peça: tinham-na
roubado. Chorou a perda do tesouro; mas, repentinamente,
começou a sorrir, do sorriso para o riso, do riso para o gargalhar

164
HÁ 5.000 CICLOS DE RÁ

insano. Tinha chegado à conclusão de que não tinha ficado


mais pobre, porque ele nunca tinha sido rico. É para vós
meditardes...

O aroma do sândalo, do puro sândalo, faz AKRON se


reportar aos tempos das cerimônias fálicas, onde esse bálsamo
perfumava o ambiente, e Osíris-Amon, com a cabeça de
carneiro, ouvia o cântico dos cânticos e a dança sagrada dos
véus multicolores. Era então queimada uma pira de sândalo
que embalsamava o ar. E dizem que da pira fumegante de
sândalo ressurgia a expressão máxima de Ísis, feito mulher.
Lenda! Todo povo tem a sua lenda e o país de KAM também.
Assim, quando homens e mulheres, sob o perfume inebriante do
sândalo que envolvia a todos, remiam, diante de Amon, todos
os seus pecados, nesse dia e nessa noite era que os homens se
purificavam e as mulheres se purificavam.

Sândalo: perfume que exala da madeira quando ela é


queimada; perfume que inebria a acha que fere a sua madeira;
perfume que, quando a brisa canta, transmite ao passante o
aroma árido da natureza. E quando queimado, como num grito
de desespero, mantém-se puro no seu aroma inconfundível,
numa expressão sincera.

As mentes devem seguir o exemplo do sândalo: quando


feridas, tombadas, trituradas e calcinadas devem manter a
mesma emissão de vibração, o mesmo perfume sutil que nunca
perde a sua essência, mesmo quando transfiguradas pelos seus
destinos, pois que o Ser Humano, perante a si mesmo, pouco
importa; entretanto, muito importa o Ser Humano perante a
Divindade. O sândalo veio até nós. Sejamos como sândalo!
Jet AMON!
165
PREVISÕES

S ão prematuros o alertamento e as previsões em geral,


pois são falhos e mantêm um sentido ambíguo; nunca o sentido
oculto, real e verdadeiro. Só servem então para fazer com
que haja um alarme que não é necessário. Todas as vezes que
puderdes, ao ouvirdes as previsões, não as desmintais, mas
apaziguai-as.

A época do momento atual é tenebrosa para os Seres


Humanos! AKRON, pequenino elo de uma corrente que se
estende, usa de toda a sua influência para, nas mentes dos
Seres poderosos, incutir o amor; e se conseguirmos isto numa
fração de tempo, a hecatombe será evitada. Eflúvios de amor
é o que necessitamos. AKRON deixará convosco um cordão
magnético e tentará dar respostas às vossas perguntas.

Dileto(a) filho(a) meu (minha), agora, o interior da


terra, irado, expele seus vômitos sobre a superfície; e o gelo
não contém o fogo, e os mortais não encontram guarida, e
as labaredas, qual dançarinas diabólicas, deixam marcadas
numa larva os passos de suas contradanças, arrastando na
avalanche aquele(a) que não tem peso na balança de Anúbis.
Vós, filho(a), já deveis ter notado que a ceifa começou; já
deveis ter notado que os Senhores aram, aram a terra, lançam
a semente e ela não medra. Por quê? Porque não medrou,
dentro do Ser Humano, a semente da paz! Porque ele não
quer enxergar uma drachma diante do nariz! Porque o Ser

167
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

Humano é inóspito, árido, frio! Porque ele não se eleva e


insiste teimosamente em quedar-se terra a terra! Oh, meu RÁ!
Oh, Divino Senhor! Por quê? Se a Luz nasce para todos; se só
existe segredo para aquele(a) que quer manter-se em segredo;
se a própria Luz de Rá não é misteriosa, por que só para uma
plêiade escolhida há de a Verdade vir à tona? AKRON explica:
o Ser Humano de mente dilatada e que sente pulsar dentro
de si algo que não é material, aquele(a) que ama, aquele(a)
que busca, aquele(a) que procura atingir o inatingível, este(a)
costuma fazer as perguntas:

De onde viemos?
O que somos?
Para onde vamos?

Aquele(a) que faz essas três perguntas a si mesmo(a) nunca


será devorado(a) por Harmakis-Khepepera (a Esfinge).

Choremos a desgraça, não choremos os Seres Humanos.


Choremos a catástrofe, não choremos os corpos. Pranteemos a
tragédia, não pranteemos os mortos. Que RÁ seja louvado!

AKRON uma vez, duas vezes, por três vezes já queimado


foi e sabe que quando o Ser Humano morre pelo fogo, apesar
do corpo sofrer dolorosamente, é uma dádiva. Lembrai-vos
que dentro da energia do Senhor, o fogo existe. Lembrai-
vos que na ira do Senhor, o fogo existe. Lembrai-vos que na
Sabedoria do Senhor, o fogo existe. Lembrai-vos, sobretudo,
que no amor do Senhor, o fogo ardente existe. Lembrai-vos
que uma vez as sarças já queimaram. É necessário que ardam
outra vez. E se o povo não compreender esse aviso, seja feita
a vontade do Senhor.

168
HÁ 5.000 CICLOS DE RÁ

Choremos, pranteemos os que ficaram. Pranteemos


os que não faleceram. Pranteemos os que neste momento
lutam com as suas dores por perder os seus entes queridos.
Pranteemos, irmão(ã), os que realmente sofrem. Os que se
foram, cumpriram a sua missão; devem ser regozijados, nunca
pranteados. Pranteemos aqueles(as) que quedaram, cuja carne
sente fremir a falta do(a) filho(a) que não voltará, da mãe que
não acalentará, da(o) noiva(o) que não esperará mais, do(a)
esposo(a) que não trará mais o sustento, do(a) pai (mãe),
do(a) filho(a), do(a) irmão(ã). Pranteemos o(a) mutilado(a)
que quedou. Pranteemos o(a) cego(a) que restou. Pranteemos
aquele(a) que ficou sem teto, sem lar, sem parentes, mas não
sem amigos, porque é nessa hora que a Fraternidade Humana
sente a força da coesão, e os povos se unem no desejo de
confraternização. Louvemos, pois, o fato, como os Sacerdotes
da Atlântida louvaram a sua destruição. Louvemos o fato, como
Hermes louvou a destruição da Lemúria. Louvemos a causa
e ergamos loas ao Senhor! Filho(a), dentro da vossa energia
mental, compreendereis AKRON.

Escutai: são cíclicas e cronométricas as destruições


de civilizações; por isso, temos uma série de dilúvios
caracterizando essas destruições. Posseidones não fugiu à
regra: foi destruída também pela água. Não houve, dileto(a)
filho(a), força alguma extraída do interior da terra; houve,
sim, uma manifestação vulcânica. Não foi produto de forças
solicitadas, como alguns historiadores fazem crer. Não foi
produto de uma força que julgavam poder controlar e que
depois se mostrou incontrolável. Não. Posseidones ainda
existe. A Lemúria é que submergiu. Entendeis? Posseidones
ainda existe. Está começando a ressurgir neste momento.
Em breve ressurgirá. E quando ela ressurgir, novo cataclismo

169
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

abalará a face da Terra. Posseidones nunca deixou de existir.


Existirá enquanto os Seres Humanos tiverem morada neste
planeta. Posseidones, portanto, para o ocultista, é um mito,
um mito que perdura. É o “decifra-me, senão te devoro”. É um
mistério. É a pedra filosofal. É tudo o que quiserdes. Isso foi
Posseidones. Significou o que ainda hoje significa: os próprios
homens e mulheres. Quando as vossas paixões despertam,
sois a população de Posseidones em desabrida desenfreada,
copulando nas ruas, degradando-se nas mais baixas e torpes
atitudes. Degradando o homem pelo homem, a mulher com
o animal, o homem com a cadela. Caminham para isso, os
homens comuns. Caminham para isso, as mulheres, aquelas
que não conseguem reter o calor da víbora que existe dentro
do sexo. Posseidones ainda existe, filho(a). Existirá na vossa
mente, existirá no vosso sexo, existirá na vossa atitude.
Enquanto existir um humano que AKRON costuma chamar
de argep e que outros chamam de arrupa, enquanto existir
um desses seres, Posseidones estará presente na mente e na
esfera divina.

Hoje em dia se extrai Força não do interior da terra,


como vós pensais, extrai-se da mente humana. A mente
humana entra agora no seu período áureo, entra no seu
círculo. Aquarius está aí para determinar essa prova. A
mente humana vai desenvolver-se ao máximo. As descobertas
que serão feitas, neste período, serão assombrosas! O Ser
Humano partirá conscientemente, materialmente para o
incognoscível! Permitirá Amon? Não permitirá Amon? Isto a
Amon pertence.

O Ser Humano mergulhará nas profundezas do fogo


interno em busca do saber. Mergulhará, como mergulharam os
profanos de Posseidones, na lama, no charco, fazendo de seus
corpos receptáculos imundos em procura do gozo. Permitiu
Amon? Deixou os(as) seus(suas) filhos(as) soltos(as)? Sim. Vós

170
HÁ 5.000 CICLOS DE RÁ

sois descendentes de um daqueles que viveu em Posseidones.


Todos são. AKRON também é. Todos trazemos, dentro de nós,
a marca férrea dos habitantes da antiga Atlântida.

Os lemurianos, como castigo, tiveram seu intelecto


paralisado e, de uma civilização mais remanescente do que a
própria Posseidones, reverteram ao barbarismo. Foram eles
relegados ao norte de Posseidones e lá entregues às suas
próprias sortes. Escravos dos prazeres, foram transformados
em escravos dos seus irmãos, os descendentes dos atlantes,
aqueles que partiram para diversos lugares e se localizaram
em diversos lugares, para depois descerem e povoarem o resto
da terra: Pamir, Sinai e tantos outros. Para uma cordilheira,
chamada Cordilheira do Fogo, partiu uma leva. No planalto
deste País em que viveis, chegou aqui uma leva. Para o
ocidente e para o oriente, eles partiram. Só os lemurianos
tiveram que se circunscrever e viver entre feras, das feras
se defender e o seu castigo perdura até hoje. Só irá terminar
quando o homem e a mulher tiverem a suficiente concepção
de considerá-los como irmãos(ãs) de sangue. E vós sabeis que
até hoje, em vossos dias, a concepção do negro é negro, não
sendo considerado como gente. No tempo de AKRON, os núbios
eram considerados semianimais e lhes eram reservados os mais
baixos afazeres, sem direito a nunca reclamarem. E muitos,
muitos sacerdotes, e muitos puros da minha época faziam das
mulheres núbias verdadeiros cancros de suas deformações
psíquicas.

A clarinada soou. Começa agora a verdadeira etapa inicial


da preparação para o advento do Novo Cristo. Aqueles(as)
que estão imbuídos(as) de missões deverão principiar seus
trabalhos. Chegou a hora do sacrifício. É chegado o momento

171
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

de tudo dardes, além do que já vindes dando. A clarinada


soou!... Os Seres Humanos alados formam alas preparando o
Tapete do Senhor. Louvado seja o seu Santo Nome! Bendita seja
a hora do Seu levantamento! Começou a preparação! Quando
o toque divino, metamorfoseado em Luz, baixar sobre a sua
morada e os cânticos de louvor soarem, ouvir-se-ão os salmos
dos cânticos dos cânticos: AMOIM. Os povos os cantarão.

A fome não existirá nesse dia, os sofrimentos se


apaziguarão e aquele(a) que nunca ouviu o timbrar do som do
Seu nome, sentirá vibrando-o na carne. Jet Flor de Lótus!
Muitos e muitos grupos recebem, neste momento, as mesmas
palavras. Há um movimento coordenado. As mãos se unirão e
erguerão uníssonas, qual feixe de homens e mulheres em busca
de Luz, que cada um de vós há de sentir. Os Senhores, neste
momento, se desdobram; os Magos se desdobram; os Homens
e Mulheres Santos se desdobram; os Mestres se desdobram;
uma multiplicidade de forças iniciarão a colheita.

Dileto(a) filho(a), a colheita será tenebrosa! É necessário


compreensão, aceitação e convicção para aceitardes a
colheita que já começou. As patas das bestas desprenderão
fagulhas dos seus cascos bipartidos sobre as carnes pútridas
dos humanos. Os clarins daqueles que as cavalgam gargalharão
macabramente, amontoando ossos, tíbias, vísceras, podridão.
Gargalharão loucamente! Gritos lancinantes soltarão! As pragas
tornarão a surgir, as águas se tornarão vermelhas e as mentes
se tornarão negras! O vampirismo das paixões desenfreará e
um novo festim de Baltazar, nas letras de sangue, surgirá:
INUMÃNES - TÁLKIUS - FÉRIUS (pesado, medido e contado).
Os Seres Humanos terão as suas paixões medidas, pesadas
e contadas, para que não passem da conta, para que não
excedam da medida, para que se limitem ao peso, porque
não há nada que pese mais na terra do que a consciência do
mortal inconsciente.

172
HÁ 5.000 CICLOS DE RÁ

Dileto(a) filho(a) meu (minha), não é desejo de AKRON


assustar-vos. Não. É desejo de AKRON alertar-vos, porque
cada alma que conseguirdes chamar ao seio vosso, cada Ser
Humano que conseguirdes convocar para este exército que há
de seguir na salvação da entrada do novo ciclo, será menos um
para ser medido, para ser pesado, para ser contado. O novo
festim das bacantes bamboleantes não cegará as paixões dos
Seres Humanos e suas volúpias se tornarão brancas, pouco
a pouco, e a dança profana da lascívia se transformará em
dança amorosa do respeito, do ritual, do caminho. E ao invés
de entoar cânticos que o Ser mais antigo teria vergonha de
ouvir, entoarão “AUMS” harmoniosos, em uníssono crescente,
até que uma harmonia de vozes se funda com as vozes dos
planos superiores. É chegado, portanto, o momento da ação.
AKRON vos transmitiu, neste preâmbulo, mensagens de Flor
de Lótus. É necessário alertar todos(as) aqueles(as) que não
tiveram a felicidade de terem o contato direto com AKRON.
É essa, portanto, a vossa missão.

As portas do Amentis (Plano Astral) estão abertas.


Permita Amon que tenhamos a Força necessária e a pureza
suficiente para que esses miasmas não nos ataquem. Dileto(a)
filho(a), aquele(a) que não pode tomar posse de algo, acua esse
algo. Já vistes uma matilha de lobos famintos? Provavelmente
não vistes, pois nunca vivestes no deserto. O lobo acua a sua
vítima. Conheceis o termo acuar? Sabeis o que significa? É
colocar alguém em situação de não ter defesa por todos os
lados. Acuam de tal forma que a presa se entrega pelo cansaço
e passa a ser presa fácil aos famintos lobos do deserto. Assim
são os miasmas da baixa esfera. Não podendo de todo tomar-
vos porque tendes uma defesa natural, cercam-vos e vos
assediam de tal forma que, não podendo atuar diretamente,

173
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

impedem as manifestações formais benfazejas. Entendeis?


E ficais numa espécie de isolamento passivo, entretanto em
comunhão com os vossos instintos, abrindo-se uma brecha
na defesa que vós possuís. Fiz-me entender? Não podendo,
portanto, tomar-vos, atuam nos vossos sentidos e se infiltram
de tal forma que sois capaz de fazer aquilo que normalmente
não faríeis. É necessário, pois, cautela! Todos vós possuís um
círculo magnético em torno de vós, alimentado, entretanto,
pelo próprio magnetismo que emana do vosso corpo. Sabendo
disso, esses miasmas atuam no vosso corpo por meio dos vossos
sentidos, tornando esse círculo magnético enfraquecido. Isso
acontece porque o magnetismo da pessoa deixa de atuar no
círculo, para atuar como toxina em defesa desses miasmas
que afluíram para determinada parte do corpo.

Filho(a), ao entrardes em morada vossa, todas as vezes


que lá penetrardes, penetrai com a vossa base da sinistra (pé
esquerdo). Fazei uma parada no portal, fazei o Hank e só após
puxai a base da destra (pé direito) para a entrada definitiva.
Ao deixardes a vossa morada, deixai sempre com a base da
destra e, ao retornar, retornai sempre com a base da sinistra.
Sinistro por sinistro, usaremos o sinistro.

O que AKRON vos está dando são pequenas defesas de


magia. As forças negativas se combatem com negatividade,
para que o veneno seja anulado. Todas as vezes que sentirdes a
influência dessas forças, fazei o signo da Vida (Hank) no peito,
em cima do coração. Para isto, AKRON ensina:
• Com o polegar da mão direita, traçai um círculo no
sentido dextrogiro;
• Com o indicador da mão direita, traçai uma linha no
mesmo sentido;
• Com os dois já citados (indicador e polegar), uni e
abri.
Será então elaborada a seguinte figura:

174
HÁ 5.000 CICLOS DE RÁ

Com o polegar direito


- o círculo -

Com o indicador direito


- a barra -

Com os dois unidos (indicador e polegar),


no centro provável da barra que traçastes,
abaixo do círculo
- os dois traços -
(as pernas)

Ao abrir os traços, abri a mão, deixai-a cair ao longo do


corpo e, então, invocai:

JET HACTOR! JET SEKHEMETH!


(pronuncia-se ráquitor e sequirrémet)

Entendido? Fazei sempre isto. Tendes a obrigação de


ensinar àqueles com quem tiverdes contato, a todos aqueles
que necessitarem e sentirem a influência dessa camada que
surge e que está solta.

175
FLOR DE LÓTUS

A tentai para o que AKRON vai dizer-vos. Estamos, no


presente momento, numa preparação à espera do Advento.
Isso significa que uma nova manifestação do Filho do Homem já
surgiu! Isso é cíclico. Exato. Por que é cíclico? Porque quando
todas as Casas Zodiacais são visitadas por Rá, perfazendo um
determinado número de ciclos de Rá — que no tempo de AKRON
se chamava o ano de Denderah —, uma conjunção termina e
inicia-se outra, brilha a Pólaris e a manifestação do Homem
é surgida. Outras anteriores já aconteceram e isso não é mais
do reino da novidade.

Entretanto, antes daqueles que provinham da Atlântida


se refugiarem no país de KAM, os povos que marginavam o Rio
da Vida eram regidos por criaturas tocadas por Osíris: eram
os Menhenés; vós chamais de Manus. Há uma semelhança nos
termos. AKRON deriva do último desses ungidos e tocados.

O ciclo que se aproxima já existe, já teve o seu início.


Estamos plenamente dentro de sua atuação e, por incrível que
vos possa parecer, o ciclo de Aquarius nada tem a ver com a
constelação do mesmo nome. Realmente é emitente do Sol
que vós chamais de Mahat e que AKRON chama de Sun-Shina.
Esse Sol tem uma influência marcante neste ciclo presente.
Tem sido realmente através de uma constelação, através de
três outras, ou melhor dizendo, de quatro outras. Entendeis?
De todas as três — Leo, Sagitarius e Aquarius —, Sagitário é a
incidência mor. Não poderia deixar de sê-lo. Vede bem: qual
o simbolismo de Sagitarius? É o Ser Humano se desprendendo
do reino animal. Na nova Era que atingiremos em Aquarius,

177
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

a Sabedoria será paulatinamente desvendada, pois já a


Humanidade estará amadurecida, como nos simboliza o velho
com a sua bilha derramando a água da Sabedoria.

AKRON e o Mestre Ramakrishna depositam em vós grande


parte das esperanças nossas, porque vós havereis de vos
iluminar. Então, Amor e Sabedoria caminharão par a par, e
vós tereis o grande mérito.

Temos diversos meios para nos comunicar convosco;


porém, há planos mais elevados, há Consciências mais formadas
que, numa formalidade espiritual, desejam vir até nós. É o
início de determinado acontecimento. Entendeis? E quando
essas Consciências se dignam sair de seus egocentrismos para
despejar sobre a Humanidade a essência de suas experiências,
mais um LÓTUS, meu (minha) filho(a), mais um LÓTUS virá
para reger uma nova etapa de coisas.

É preciso que vos lembreis do LÓTUS grandioso, radioso


que foi o Filho do Homem; os Seres Humanos foram preparados
para recebê-LO. Cabe a nós esta missão. Nós temos que preparar
os corações bem formados, no sentido de que compreendam
que haverá uma fase mais séria, uma fase importante em que
o novo LÓTUS vai surgir e para o qual as mentes devem estar
preparadas. O homem e a mulher, nas suas inconsequências,
não O enxergam nem O veem. Entendeis? É necessário que
sejais a semente que há de vingar neste campo árido, que são
as mentes humanas. De todas as sementes, muitas sucumbirão,
mas outras sobreviverão. Destas, uma terá que levar consigo
a compreensão dos Seres Humanos. E vós sereis a alavanca!

Ireis encontrar, no espasmo do silêncio a que AKRON


se referiu, um som. Esse som incapaz de ser percebido pela
acústica humana, vós o sentireis em forma de vibração, que
repercutirá tão fortemente em vós, que ireis tornar pelo

178
HÁ 5.000 CICLOS DE RÁ

caminho de cima, dos dois que vos serão mostrados. Aguardai,


pois, com o respeito e com a veneração que vós sabeis ter no
momento de ligação.

A Fraternidade de Flor de Lótus é a expressão manifestada


do Senhor de MaytrEia. Ele prepara o caminho. Ele prepara,
pois, os espíritos. Ele congrega, em torno Dele, os(as)
prováveis futuros(as) pupilos(as). Flor de Lótus há de
ser reverenciado com veneração, respeito e adoração. Ele
reside na fragrância da flor de lótus, que é a sua expressão
imanifestada ainda. A Fraternidade de Flor de Lótus tem que
crescer! Há dezenas, centenas, porque não dizer milhares de
criaturas ávidas por se colocarem a serviço do Senhor, sem,
contudo, ficarem amarradas a dogmas. A Fraternidade oferece
esta oportunidade a quem quiser abraçar os desígnios do
Senhor, dentro de uma manifestação pura e formal de amor ao
próximo, de igualdade e de fraternidade. Coisas assombrosas
e maravilhosas havereis de presenciar!

Começam a turbilhonar na mente aquelas célebres


perguntas que turbilhonam na mente de todos aqueles que
elevam o pensamento. Quando eles esbarrarem dentro de suas
próprias negatividades, partirão com destino à Fraternidade e
esta abrirá as suas portas, par a par, para receber no seu seio
mais um(a) dileto(a) irmão(ã), mais um(a), e assim iniciarmos
a corte maravilhosa que há de arregimentar os bons, porque
os maus e os ímpios ficarão no caminho. AKRON deseja olhar-
vos e deseja banhar-se nos fluidos que haverão de fluir de
vós. São de pessoas como vós que a Humanidade necessita!
AKRON trabalha por ela e vos arregimenta. Se desejardes ser
um de AKRON, segui-o, mas segui-o conscientemente e não
cegamente. É assim que AKRON deseja os seus seguidores,

179
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

porque não são seguidores de AKRON, são seguidores de um


Mestre, de um Mestre do qual AKRON é o mais pequenino e
humilde servidor.

Em Wesak, para o seu festival, as criaturas de todas as


margens compareceram e ouviram do Senhor Flor de Lótus
a mensagem para a Humanidade. É como se atirasse pérolas
aos porcos! E o que nos proporcionou Budhah, na expressão
do Senhor de Maytreia? Deu-nos uma dádiva; deu-nos uma
joia; atirou-nos uma pérola, olvidando que, muitas e muitas
vezes, somos os porcos ávidos sem darmos valor à pérola
jogada. Considerou-nos filhos(as) Dele e nos trouxe a seguinte
mensagem, que AKRON tem o gáudio de ser o primeiro a
transmiti-la, além daqueles que a ouviram por voz direta.
Disse-nos na sua voz suave, plangente e compassada:

“Homens e mulheres da Humanidade! Espíritos de Luz!


Não estais, neste momento, recebendo a minha Luz, mas
estou sendo embebido na Luz que parte de vós outros(as). Se
a fé não perdurasse, não teríeis condições de escutar Aquele
que vos fala. Se a convicção não transpusesse as forças do
impossível, não estaríeis aqui à espera do que vou dizer.
A Humanidade se completa com o nascimento do Filho do
Homem! Tereis a mente descongestionada, e os canais que
regem Ida e Píngala serão abertos a todos os seres quando a
incidência do Senhor se fizer sentir. Sabeis, filho(a), o que isto
significa? Significa que tereis dentro de vós, latente e pujante,
a própria Divindade, e disto todos tomarão conhecimento. O
tão propalado percurso retorna ao seio vosso. Tereis então,
filho(a), condições reais de amor! Quando olhardes para um
simples inseto, identificar-vos-eis com ele. Quando olhardes
para a fera bravia, deixar-vos-eis devorar por amor àquela

180
HÁ 5.000 CICLOS DE RÁ

fera. Compreendereis e sentireis as dores alheias dentro de


vós próprios(as). E tudo isso erguendo Hosanas ao Senhor! As
pessoas serão puras, as pessoas serão boas, as pessoas amarão
e o retorno do princípio se fará sentir. Tereis conhecimento
que da união de dois Seres para surgir um outro, surgirá um
Ser puro, isento de mácula, compreendendo os segredos
austeros que tão avara e severamente a Natureza guardou.
Tereis, cada um, o vosso Deus dentro de vós mesmos(as)! A Luz
brilhará e os corações pulsarão mais apressadamente, na ânsia
incontida de se identificar com o vosso Deus! Oh, Filho(a)! Oh,
Homem! Oh, Mulher! Vós sereis puros! Vós sentireis o amor
em vossa matéria; e aquela frase de AKRON terá perdido o seu
sentido, porque dividireis de tal forma o vosso amor, que o
ódio desaparecerá. Dominareis de tal forma os vossos instintos
carnais e bestiais, que vossa mente não conceberá o Mal.”

Ah, vós que ouvis AKRON! Já meditastes no legado que


deixareis aos vossos filhos quando Flor de Lótus descer?
No dia em que Ele surgir, as flores cantarão, os pássaros
emudecerão em respeito ao Senhor, os répteis se esconderão
e o bramir das feras não se fará ouvir. A criança não chorará,
e o Ser Humano sentirá, dentro de si, o espoucar da Luz. A
mente se abrirá e tudo aquilo que a Divina Ísis guardou vos
será mostrado interiormente.

Oh, Pai! Divino Pai! Agradecemo-vos em nome da


Humanidade! Oh, Mãe! Divina Mãe! Se as mulheres, até os
nossos dias, foram o equilíbrio dos sentidos dos homens, se
as mulheres foram mães, serão mais mães ainda! E todas as
mulheres serão Ísis e todos os homens serão Hórus! E da
união de um homem e uma mulher, surgirá Osíris vivo; e da
união de todos os Osíris, surgirá a grandiosidade de Amon-
Rê, para quem um simples elevar de pensamento coletivo se
transforme em Amon-Rá. E para que quando aquele(a) que
puder vir possa sentir que tudo se funde em Aton, então,

181
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

assim, as Forças do fogo não queimarão mais; a Força do


bramir do trovão não assustará mais; os fenômenos cíclicos,
kósmicos e sísmicos não atemorizarão mais. O Ser Humano
receberá a tempestade como dádiva divina, e ouvirá o crescer
da relva, e compreenderá a palavra dos animais, e sentirá a
verdadeira comiseração pela rocha fria e passiva que recebe
o embate das ondas bravias. Com o estender de sua palma
pura, acalmará as águas revoltas. Chorará quando uma
árvore desprender uma folha. Sentirá dentro de si o peso,
quando pisar o indefeso animal. Sentirá, enfim, a voz do seu
interior. Tudo isso, filho(a), foi-nos prometido na mensagem
transcendental que nos trouxe o Senhor Budhah.

Se perante a Força que incidiu e que incide ainda sobre


a Humanidade, todos nós genuflexarmos, erguermos nossas
palmas para o alto e intimamente agradecermos a dádiva,
estaremos nos enquadrando na Força que ainda incide. E
se soubermos, nesse momento, deixar entrar em nosso Bah
a palavra sagrada, num grito, num hino, todos uníssonos
diremos: A.U.M. O Divino Filho do Homem transfere o cetro
para o seu sucessor.

Jet YESUS NAZARENUS!


Jet SENHOR DE MAYTREIA!

Se vos perguntarem quem é Flor de Lótus, respondereis:

Flor de Lótus é a Paz;


Flor de Lótus é o Amor;
Flor de Lótus é a Harmonia.

Jet FLOR DE LÓTUS!


Jet AMON-RÊ!

182
SAUDAÇÃO DO MESTRE

F ilho(a) amado(a) da minha alma, escutai! Se


desejardes sentir, no íntimo, o calor do amor universal; se
sentirdes, no âmago, a Força que renasce; se sentirdes, no
mais recôndito de vossa mente, a curiosidade da busca; se
sentirdes, em vosso imo, nascer a Força que há de vos conduzir
para a eterna claridade, transponha este umbral que é AKRON,
e as Fraternidades de Menhenúfis e de Flor de Lótus vos
receberão de braços abertos! Jet AMON! Havereis de entrar
na Sabedoria do Silêncio, aquela que verdadeiramente nos
penetra a alma. Elevar-se-á a vossa alma radiosa, e o vosso
Espírito soberano pairará sobre o Templo que haverá de surgir
para a grandiosidade de Amon e para a grandiosidade de nós
outros.

Agora AKRON já vos pertence! Pertence a cada uma das


Forças que vos dominam, e AKRON prestigiará e respeitará
o homem e a mulher. AKRON procurará satisfazer as forças
internas das vossas ânsias. AKRON vos necessita mais do que
nunca! Entretanto, necessita-vos coesos num amálgama
indestrutível, numa força capaz de resistir a todos os embates
que partem de fora para dentro, e capaz de anular todos os
tumultos que crescem de dentro para fora. Assim AKRON vos
deseja, assim vos reconhece, assim vos amará.

Dividamos, portanto, entre nós outros, a Força do nosso


amor, porque o amor dividido é mais amor! Abandonemos
os nossos ódios, dividindo­-os entre nós outros, porque o
ódio dividido é menos ódio! Amemo-nos, respeitemo-nos,
propugnemos pelo bem caminhar de nossa obra e não haverá
força capaz de destruí-Ia.

183
MARIA LÚCIA TÁVORA GIL

Uni-vos, ombro a ombro, erguendo a mente para o alto,


deixando que a Tríade que reside em cada um de vós domine
a base quadrangular de vossa própria pirâmide; e que o ápice
dela, imantado pela Força do Senhor, aponte permanentemente
para o alto e nunca possa se curvar sob o peso da vaidade,
das paixões descontroladas, das ânsias mal contidas e dos
pensamentos desvirtuados. Assim AKRON vos deseja, assim
osculará os vossos pés, não numa demonstração de humildade,
mas numa demonstração de reconhecimento ao homem e à
mulher capazes de se sobreporem às suas próprias ambições.
AKRON fará isso com reconhecimento e gáudio, como marco
da esperança que deposita em vós.

Ao fim de vossa caminhada, uma estreIa brilhará no


Kosmos, uma nebulosa se formará dos milhões de vossas
vibrações irradiantes. E daqui a milênios, quando outras raças
povoarem outros mundos iluminados pela Luz que vós criastes,
apontarão para o Kosmos e não saberão dizer por que umas
estrelas não brilham mais do que as outras, porque todas
brilharão por igual. Ao descobrirem a nossa constelação daqui
a muitos milênios, terão toda certeza de que o brilho dos seus
sóis será irradiado das vossas vibrações. AKRON espera que
tenhais sentido, no âmago de vosso Ser, a mensagem que vos
doou.

Jet AMON-RÊ!

184
EPÍLOGO

“Se nesTas explosões de Vidas


tudo se acabar,
não se espante:
é apenas o começo outra vez.”

Menhenúfis e Zornay
(I.M.F.M.)

185

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