Você está na página 1de 29

Uma Jornada Feminina

“Caminhos por onde apenas


uma mulher pode caminhar,
descobrindo seus mais profundos
mistérios”!
Rose Kareemi Ponce
Às minhas mestras.

Mulheres valiosas que adentraram meu espaço


sagrado e o fizeram ainda mais sagrado!

Minha eterna gratidão!

Sigo o caminho das bênçãos sagradas!


Caminhando pela mata, observando os arbustos,
flores, cores e aromas, os mais diversos cantos
de pássaros e animais caminhando em paz. Sofia
percebe uma porta no meio de uma pedra,
iluminada por uma luz alaranjada com o número
1 marcando a frente. Curiosamente abre a porta
e se depara com uma senhora de longos cabelos
brancos, brincos e colares de penas também em
tons alaranjados, sentada em uma cadeira de
palhas, escrevendo atenta ao papel sobre a
mesa.

A senhora, pede para que ela se sente em frente


a ela, serve um chá perfumado de alecrim e
sorri. Sofia não entende nada, tem a sensação
de já ser esperada nesse canto acolhedor em
meio à mata. Uma casa dentro da pedra, uma
lareira que tremulava o fogo e mantinha a casa
aquecida e acolhedora. Pegou a xícara nas mãos
e sentiu o perfume do alecrim misturado ao mel
que acabara de colocar para adoçar o chá e
sentiu uma doce sensação de paz.
Aqui, disse a anciã, esse mundo era o paraíso.
Todos nessa grande casa chamada Terra, se
respeitavam, havia equilíbrio ente os elementos.
Nós ouvíamos as necessidades da Mãe,
cuidávamos de todos os seus filhos, todos os
seres. Entendíamos que tudo e todos estão
conectados por fios da criação. Sabíamos o
tempo das coisas, de arar a terra, de adubar, de
semear, de esperar as sementes brotarem e
cuidar de sua criação até o fruto, passando pelas
flores.

Sabíamos o tempo do desapego, do cuidado, de


ir e vir. Cuidávamos porque nos entendíamos
irmãos.

Éramos pertencentes à Terra. Esse sentimento


de pertencimento falta hoje aos seres desse
planeta e por isso você foi chamada aqui, para
que desperte esses conhecimentos dentro de
você, eles já estão aí, basta relembrar suas
células. Você precisa se lembrar, pois a partir de
hoje, serás a guardiã dessa sabedoria e terá
como responsabilidade, repassá-la às suas irmãs
de jornada. Somente assim ela não se perderá.

Dizendo isso, terminou de escrever e entregou o


papel para Sofia, que ao ler percebeu que ali
estava escrito o que a anciã acabara de contar.
Ao chegar ao fim do texto, o papel se
desmanchou em suas mãos.

A senhora levantou-se rindo e disse para Sofia


que continuava encantada com tudo o que
estava acontecendo: Vou indo filha minha. Sigo
viajem no tempo e abraçando a moça
encantada, também se diluiu com a brisa suave
que soprou na casa, ao mesmo tempo em que
uma porta surgiu nos fundos. Essa tinha uma luz
acinzentada acesa, iluminando o número 2.

Sofia abriu a porta e dentro havia outra caverna,


sem animais ou plantas, mas tão aconchegante
quanto à primeira “casa” que entrou.

Nela havia uma senhora vestida com longo


vestido também em tom cinza que caminhava
com uma vela nas mãos enquanto iluminava as
paredes que tinham escritos em um idioma que
ela não conhecia. A senhora parecia que rezava
ao ler cada palavra ou frase que ali estavam
escritas.

Chamou Sofia para perto e entregou-lhe a vela.


“Vem filha, caminhe comigo. Abra seus olhos e
leia a história da humanidade, da criação do
infinito, perceba quantas verdades ditas aqui.
Perceba a sutil diferença entre a verdade de
cada ser, cada coração. As verdades filha soam
muito pessoais e todas são verdades, ainda que
para nós, sejam apenas distrações, por
pensarmos diferentes. Respeitar todas as formas
de verdade é conseguir alcançar o sagrado. É
saber que ser imparcial ao ouvirmos a verdade
alheia nos torna aprendizes dessa verdade,
enquanto que ao darmos as costas ou entrarmos
em embate, nos coloca como autoritários. A
verdade não precisa de autoridade, precisa de
corações.
Sermos tolerantes e respeitosos com a verdade
do outro, nos torna grandes. Aprender isso nos
auxilia no caminhar. Quando quiser saber da
verdade do universo, encoste sua cabeça em
uma pedra, abra seus olhos para o que ali está
“escrito” pelo senhor do Tempo e conhecerás a
Verdade.

Assim, ao terminar de explicar sobre a verdade,


a anciã pegou a vela de volta das mãos de Sofia
e disse: “Segue por aquele corredor filha, ali na
frente encontrará outra porta, mas não se
esqueça de ouvir sempre o coração, nele habita
a Perfeição”.

Assim, apagou a vela e sumiu no escuro da


caverna, deixando Sofia ali, parada, sentindo-se
ao mesmo tempo confusa e em paz. Foi pelo
corredor indicado pela anciã e a porta estava ali
com uma luz marrom a ilumina o número 3. Ela
abriu a porta e se viu entrando no tronco de
uma grande árvore, uma casa cheia de musgo no
chão, perfumada de orvalho. Sentada em uma
poltrona na mesma cor marrom, de frente para
a lareira, uma senhora cuidava de uma loba
machucada. Havia tanto amor naquele gesto
que Sofia se emocionou e sentou-se no chão
próximo a senhora, que olhou amorosamente
para ela dizendo: “O tempo das coisas precisam
ser respeitados minha filha. Essa loba aqui está
no fim de seus dias aqui e precisa de atenção e
carinho, não consegue comer sozinha, precisa
que eu dê alimento em sua boca. Mas, ela vai
partir seguir viagem, nada posso fazer quanto a
isso. Essa é aceitação da verdade da vida. É
imutável, ainda que eu quisesse que ela ficasse
mais tempo, a aceitação dessa verdade me
permite não sofrer, mesmo que a dor aconteça.
Aceitar nossas fortalezas e fraquezas, aceitar
nosso tempo, não “brigar” com o inevitável. Isso
faz com que nossa mente se expanda. Na
aceitação, na compreensão, na compaixão, mora
a sabedoria. Mas acima de tudo, ganhamos a
compreensão que tudo é vida, cada semente
que volta ao solo, é continuidade da vida
acontecendo. Ela vai, mas deixa sua prole, sua
vida está em continuidade. A vida é solo fértil
filha. Terminando de falar, apontou para sua
direita onde uma porta apareceu dessa vez em
tom claro, meio bege que iluminava o número 4.
Ela entrou e viu o que definiu em seu coração
como “o próprio encantamento manifesto”. Era
uma casa cheia de estrelas brilhando e no centro
da casa uma anciã vestindo um manto na
mesma cor bege estava sentada com um
cachimbo nas mãos e convidou-a a sentar no
chão, no tapete de palhas frente ao fogo. Deu o
cachimbo em suas mãos e disse: Apenas uma
vez puxe. Assim Sofia o fez e de repente deitou-
se, pois um sono profundo sentiu. Viu-se fora do
corpo, viajando entre as estrelas, mas, sentia-se
perdida entre tantos brilhos, sentiu certo medo,
não sabia o que fazer ou para onde ir. Ouviu
uma voz mansa que tomava conta de todo
“espaço” dizendo. Apenas confie. Sua confiança
é o que fará você encontrar seu caminho. Ouça
seu coração, sua intuição, saiba diferenciar o
que é a mente, o que é a verdade se
manifestando. Ouça no silêncio das estrelas a
voz que te guiará na escuridão da noite. A lição
do escuro é você aprender a confiar na intuição.
Navegar pela noite sem confiar na intuição, é
navegar cegamente. As sombras enganam
somente seu coração te levará a próxima porta,
a seguir jornada. Silencie Sofia. Silencie.

Assim Sofia parou, deixou a mente aquietar e


olhando mais atenta para a imensidão que
brilhava, percebeu que algumas estrelas
brilhavam mais, como setas apontando um
caminho. Foi caminhando, seguindo as estrelas
quando se deparou com um portal, com uma
intensa e negra luz como somente a noite sem
estrelas e lua pode ser. A lâmpada negra que
brilhava iluminava o número 5. Ela atravessou o
portal e se deparou com o mais profundo
silêncio que já conhecera. Ali mergulha nesse
vácuo absoluto, sentiu o peito apertar, certo
medo tomar conta, mas, lembrou-se das lições
da porta anterior: Confie na intuição. Sentou-se
no chão, quando viu um vulto de cabelos
brancos passando. Forçando um pouco mais a
atenção de seus olhos percebeu ser uma
senhora vestindo um longo vestido preto.
Apenas seus olhos azuis e sua cabeleira branca
podiam ser vistos na negritude silenciosa.

Ela, a anciã, não falava nada, caminhava quase


flutuando com a barra de seu vestido tocando o
chão enquanto parecia arrastar vagalumes,
levantando brilho do chão. Sofia foi sentindo-se
tomada por uma Presença tão intensa quanto à
escuridão do lugar e essa Presença a remetia ao
que entendia por divino. Uma Presença
Silenciosa e Provedora. Chorou emocionada
quando percebeu que não eram palavras que a
ensinavam, mas, as emoções e sentimentos que
tomavam conta que faziam cada célula de seu
corpo recordar da sua mais remota essência, sua
forma primordial. O silêncio, sentiu ela é o
Mestre de todas as jornadas e a resposta para
todas as perguntas.

Então, uma espiral de estrelas se fez e uma


porta imensa surgiu em sua frente, com uma luz
vermelha com de sangue iluminando o número
6.

Entrando pela espiral, atravessou o batente da


porta e chegou a uma sala com muitos livros
feitos a mão, costurados delicadamente com
cores intensas, um perfume de rosas tomou
conta do ar e uma linda senhora de vestido
vermelho se aproximou e disse: Venha criança,
sente-se aqui perto do fogo e escute as histórias
que tenho para contar. Ouça-as com o coração.

A senhora então começou a contar uma história


atrás da outra, e a cada história sentia uma
ferida se fechando em sua alma, lágrimas de
puro bálsamo caiam sobre seu rosto enquanto
um sentimento de paz tomava conta de seu ser,
causando arrepios na pele, como quem dizendo:
Estou chegando em casa.

Sofia percebeu que a anciã contava as histórias


de forma lúdica, vez ou outra ria-se ao contar
um causo e explicava que rindo a vida torna-se
mais leve e os aprendizados ganham doçura.
Assim o sagrado e o profano dançam juntos, no
aprendizado da vida. Ela prendia sua atenção
como criança que escuta um conto de fadas,
mas sabia que eram contos de cura e que o
poder dessa cura, estava nas palavras que
pronunciava. Eram doces, alegres, traziam em si
uma fé inabalável e uma força intensa. Assim
deveria ser a vida, compreendeu ela.

Então Sofia levantou-se e ao som dos contos da


anciã, dançou como se escutasse uma música. A
música da vida estava sendo cantada em seus
ouvidos e ela se percebeu feliz como nunca
havia sentido antes.
Distraída em sua dança não percebeu que seguia
livremente em direção a próxima porta que
tinha uma lâmpada amarela em formato de
girassol iluminando o número 7.

Dentro, a abuela linda de cabelos trançados e


enfeitados com flores minúsculas flores
amarelas e vestia um manto da mesma cor. Na
mesa, velas amarelas iluminavam a mesa farta,
com alimentos coloridos. Ao fundo uma música
alegre tocava, enquanto pássaros dançavam de
um lado para o outro, bailando junto às abelhas,
enquanto um gato se espreguiçava sobre o
tapete.

Foi serviço um chá de hibisco, na mesa florida


em frente ao fogo, que parecia tilintar nas
mesmas cores amareladas. A abuela era pura
doçura em seus olhos castanhos. Quase uma
carícia na alma o olhar dela.

Ela falou sobre a liberdade dos seres, do


respeito que precisamos ter em todos os
aspectos, do acolher cada ser encontrado pelo
caminho, pois, cada um deles era manifestação
do amor divino na terra. Todos devem ser
amados igualmente e incondicionalmente. Que
o amor é a medicina que livrará o mundo das
mazelas, das chagas nas almas. Amar
incondicionalmente é não ter posses pelos
seres, apenas companhia na jornada. Que nada
é nosso, mas que tudo nos é presente.

As pessoas filha amada, precisam aprender


sobre o desapego das coisas, amar
incondicionalmente um pássaro, é permitir-lhe o
vôo. Amar incondicionalmente uma víbora é
respeitar seu bote e compreender sua essência,
não querendo mudar seu comportamento.
Bastando atenção para não ser picado. Amor,
filha, é liberdade.

Ao terminar sua fala levantou-se e puxou Sofia


para um abraço. O abraço mais amoroso que ela
já havia sentido na vida. A abuela então falou
em seu ouvido: “Receba meu amor e espalhe
por todos os cantos e direções que você for,
seja a partir de hoje a portadora do amor
incondicional para poder ser exemplo desse
caminhar”.

Assim, soltou-se do abraço e apontou para Sofia


o caminho que levaria ela à próxima porta. Ela
caminhou até uma ponte que tinha uma luz azul
que iluminava o número 8 sobre o caminho até
um lago com águas da mesma cor intensa.

Ali uma velha senhora vestida com tecidos azuis


em tons mais claros que as águas do lago,
manuseava ervas, potes, ungüentos. Havia um
caldeirão fervendo com muitas ervas que
perfumavam o ar, além das que estava a secar
penduradas sobre o fogo que aquecia aquele
laboratório mágico.

Estou preparando um banho para um rito de


passagem, venha, ajude-me a picar essas ervas
para colocar no caldeirão. Precisamos usar as
ervas certas para cada tipo de mal, cada tipo de
dor. Essas são para ajudar que o espírito que
está para terminar sua viagem nesse plano, faça
sua passagem de forma tranqüila e serena e
ajudando com os rezos certos, possa ser
direcionado aos seus amados. Toda vez que
auxiliamos um ser a encontrar sua família no
astral mais rápido, diminuímos o sofrimento da
saudade dos que ficam. Também preparamos os
chás para os que ficam, para compreenderem
que tudo são ciclos, do nascimento a morte, da
semente ao fruto. Para que haja espaço para uns
nascerem, outros precisam morrer. São os ritos
da natureza. Para que o verão chegue à
primavera precisa aceitar deixar de florescer,
para que o outono venha, o sol precisa aprender
a descansar, o inverno só vem quando as folhas
caírem e assim, abrirem espaço para o broto,
novas folhas para proteger nova criação
chegando. Isso é vida acontecendo. Conhecendo
as ervas certas, as palavras certas, a energia
certa, curamos a ferida dos corpos que ficam e
das almas que vão, das almas machucadas que
ficam presas dentro dos corpos que não sabem
como se curar, até que uma de nós chegue com
sua sabedoria.

Curamos feridas e precisamos estar em paz com


as nossas pessoais Sofia, em harmonia com
nossas águas, onde moram todas nossas
emoções e essas, são cura ou doença. Só nos
curamos quando entregamos. Solta a dor que a
cura vem.

Então a velha senhora estendeu um copo com


água para Sofia, que bebeu deliciosamente. Não
tinha percebido como estava com “sede”, antes
de beber dessa água, azul como o oceano.

Ao terminar de beber percebeu Sofia, que


estava em outro lugar, de frente para uma porta
com uma luz verde iluminando o número 9. A
porta estava aberta, Sofia só fez atravessar e ver
que estava no alto de uma montanha onde uma
senhora com um xale verde com longas franjas,
apreciava o por do sol com sua cuia de mate nas
mãos. Sofia sentou-se a seu lado, observando
aqueles tons de verde das planícies abaixo, junto
com as árvores que cobriam as montanhas, que
estavam ali, todos bordados no xale que cobria
os ombros daquela linda abuela.

A senhora perguntou: O que você vê ali Sofia?


Apontando para frente. O por do sol abuela.
Observe mais atentamente filha, o que você vê
ali? O horizonte onde está acontecendo o por do
sol, senhora. Certo, e o que te lembra o
horizonte filha? Sofia fixou em silencio
pensando, então a abuela diz: “O futuro amada
criança. O horizonte é o futuro. Nessa fase nos
tornamos guardiãs do futuro. Somente assim o
conhecimento se manterá, quando assumimos
essa responsabilidade, de guardarmos o passado
para construirmos sobre solo firme o futuro das
novas gerações. Para isso minha menina, você
precisa compreender-se interna e
profundamente, sempre olhando para dentro de
você e buscando sua verdade interior, onde é
construída sua solidez. Onde você apenas É,
assim assumirá ser a Manifestação e não terá
medo de trazer seus sonhos à terra.

Ao terminar de falar um “buraco” na parede ser


formou e uma escada apareceu. A abuela fez
menção de que Sofia deveria seguir por aquele
caminho e dando um sorriso doce, se despediu.

Sofia subiu as escadas e se deparou com uma


nova porta onde uma luz cor de rosa brilhava
sobre o número 10.

Sofia entrou e ficou encantada com a


quantidade de rosas cor de rosa haviam ali,
espalhadas por vários pequenos jardins, que
formavam um círculo e no centro uma nova
abuela estava sentada a tecer algo no tear. Ela
pediu para que Sofia sentasse a seu lado, no
outro tear que havia.

A resposta foi: Não sei tecer abuela.


Você já tentou, retrucou a senhora. Tente,
somente assim coloca em movimento a energia
do aprendizado. Tentar nos alimenta a
criatividade, desenvolve nossas habilidades de
materializar nossos sonhos e idéias, de criar a
jornada de nossas vidas.Teça, você verá sua
força de vontade criar um vórtice poderoso de
energia, que é a auto-expressão. É necessário
nutrir isso, nossa auto-expressão, pois é o mapa
de nossas almas. O que criamos a partir de nós,
tem vida.

Sofia foi ouvindo e tecendo e ao se dar conta


havia feito um xale com o desenho do por do sol
que acontecia a frente, que completava o
desenho dos vastos verdes do xale da abuela.

A senhora levantou-se, tirou o xale do tear e


cobriu Sofia com um beijo em sua fronte.

Vai filha, segue viagem e siga em paz.

A abuela saltou do penhasco e um lindo gavião


bailou nos céus.
Sofia virou-se buscando uma saída e viu uma
nova porta com uma luz branca sobre ela,
iluminando o número 11.

Sofia adentrou aquela porta e encontrou um


lindo jardim com flores brancas de todas as
espécies, uma primavera florida fazia sombra
para uma mesa com toalha de renda tão alva
quando as nuvens que voavam no céu.

Ao dar o primeiro passo, Sofia percebeu que


suas roupas também eram brancas e soltas,
balançavam com o vento. Eram também da
mesma cor da roupa da senhora que balançava
na rede.

Ao perceber a chegada de Sofia a anciã se


levantou caminhou suavemente até ela.

Sofia percebeu sua postura ao caminhar e sua


leveza nos passos. Não fazia barulho, altiva,
andava ereta como uma deusa e caminhava com
certeza nos passos.
Ela abraçou Sofia e convidou-a a caminhar com
ela. Vê aquele gavião Sofia, como voa sem se
importar se os outros que estão ao lado o
observam? Percebe que para ele não importa os
olhares e opiniões, mas apenas como ele está
voando? Se ele parar de observar suas próprias
realizações, jamais conseguirá voar, irá sempre
tentar ser igual ou superior a alguém. Isso traz
sentimento de tristeza, pois ao começarmos
esse caminho, nunca terá fim. Sempre
estaremos buscando ser melhor que o outro.
Mas nunca aprimoraremos quem somos de
verdade. Em cada um de nós há uma história,
todos nossos ancestrais falam por nós. Somos a
voz de cada um deles no aqui e agora e para
ouvi-los precisamos trilhar a vida com
integridade, assim seremos dignos de seus
conhecimentos. Caminhar com sabedoria de
quem se é, nos torna ao mesmo tempo forte e
serena. Porque força não precisa ser bruta e
serenidade deve caminhar ao lado dos fortes,
para que eles não se percam da Justiça. Isso é
caminhar com as palavras. Caminho mostrando
o que sou.

Deitou-se a anciã em meio às flores brancas,


sorriu para Sofia, que se sentia imensa, e
desapareceu, misturando-se em suas vestes
brancas.

Sofia ficou ali por uns minutos ainda, sentindo


aquela intensidade dentro dela, até que a
primavera começou a mexer-se formando uma
porta e de dentro uma de suas flores brancas
uma luz púrpura iluminava o número 12.

Sofia entrou pela porta e se deparou com


muitos véus balançando, véus da mesma cor da
luz da porta, muitas lavandas floridas e um
perfume inebriante no ar. Perto, um altar onde
uma senhora com um manto também na cor
púrpura, estava ajoelhada e uma vela violeta
iluminava a imagem da Mãe. A senhora falou
para que ela se ajoelhasse ali junto e que
rezassem juntas em Gratidão à vida.
Quanta caminhada em filha? Disse a senhora

Quanto aprendizado a Mãe lhe ofertou nesses


momentos, seu coração deve estar pulsando em
gratidão. Reze filha, reze e agradeça à vida por
tamanha benção, agradeça cada aprendizado,
cada pedra que lhe ensinou a estar mostra, cada
espinho que mostrou cuidado e cada pétala que
doou seu perfume. Agradeça a cada sinal que Ela
enviou a você filha em sua mais pura
demonstração de amor. Agradeça filha.

Sofia caiu em prantos. Soluços de alegria


tomaram conta de seu corpo, suas lágrimas
banhavam seu rosto e lavavam sua alma. Ela
estava sentindo-se plena.

Olhava a imagem da Mãe e isso trazia mais e


mais alento, pois sabia que era apenas um sinal
de que Ela nunca a deixava só em sua jornada.
Isso era benção.

A senhora então, levantou-se, pegou a imagem


e entregou nas mãos de Sofia dizendo: Leve essa
imagem à próxima velha que encontrar. Siga por
ali e mostrou um caminho que começou a
brilhar. Sofia seguiu percebendo os cristais mais
puros que mostravam o caminho até a próxima
porta que tinha um cristal reluzindo, num prisma
de cores sobre o número 13.

Sofia então se deparou com uma sala repleta de


cristais, tudo era cristalino ali. A anciã usava
como adornos, colares, anéis e brincos de cristal.
Havia sobre sua sala uma enorme pirâmide de
cristal e era quase possível perceber a
transformação das energias que ele fazia. Era
um computador, transformando e decodificando
informações. Havia uma prateleira sobre a
lareira, onde 12 caveiras de cristal brilhavam,
havia “cheiro” de ancestralidade todo o local.

Sofia entregou a imagem da Mãe nas mãos da


anciã, que lhe agradeceu e ofertou um cristal em
forma de pirâmide com um cordão feito com
contas de cristal transparente dizendo:
Você realizou com maestria toda sua jornada
filha. Aprendeu, ouviu, silenciou, sentiu e agora
precisa deixar para traz tudo, ficando apenas
com a sabedoria dos conhecimentos, assim abre
espaço para reaprender, e saberá guardar em
sua alma quão difícil é a jornada, assim jamais
diminuirá uma irmã no caminho, com sua
opinião pessoal, jamais deixará de amar um
irmão do caminho porque errou, será a própria
visão divina através de seus olhos, terá o amor
da Mãe em seu coração e espalhará a semente
do caminho da beleza em seus passos.

Quando somos acolhedores, ajudamos todos a


realizarem suas transformações pessoais. Para ir
para o casulo, precisamos sentir que somos
protegidos.

Segue firme e confiante, uma etapa de sua


jornada terminou. Com mestria você veio até
aqui, agora descanse.
Falando assim a anciã colocou o cordão no
pescoço de Sofia, deu um beijo em sua testa e
despediu-se.

Sofia abriu os olhos e estava deitada, no


caminho da floresta, com os mesmos pássaros
cantando, mas mesmas flores e os mesmos
animais andando calmamente. Ela olhou
novamente e disse para si mesma, “não são os
mesmos, apenas parecem iguais. Colocou a mão
no pescoço e sentiu o colar de cristais. Sorriu!

Rose Kareemi Ponce

Você também pode gostar