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Resumos de filosofia

O problema da possibilidade do conhecimento


Hume procurará mostrar que as nossas crenças acerca do Mundo não são
racionalmente justificáveis, uma vez que dependem de princípios que não podemos
fundamentar. Apesar disso, Hume admitiu que somos naturalmente compelidos a
aceitá-los como verdadeiros. O ponto, no entanto, é que, mesmo que sejam
verdadeiros, não dispomos de qualquer razão para pensar que tal aconteça.
Hume chamou perceções aos diversos conteúdos mentais deque temos experiência:
sensações, sentimentos, pensamentos, desejos, etc. Em seguida, dividiu as perceções
em impressões e ideias. Hume entendia por impressões as sensações provenientes dos
sentidos, mas também os sentimentos e as emoções. As ideias, por sua vez, seriam os
ingredientes de que são feitos os nossos pensamentos.
As ideias e as impressões distinguem-se não pelo conteúdo, mas pela intensidade com
que se apresentam na mente. As ideias são menos intensas do que as impressões e as
impressões mais vívidas do que as ideias. Mas, mais importante, as impressões e as
ideias não se distinguem pelo conteúdo porque as primeiras são uma cópia das
segundas.
A tese de Hume de que as ideias são cópias das impressões tem a apoiá-la o facto de,
por exemplo, um cego de nascença ser incapaz de ter uma ideia das cores.
Mas a tese de que as ideias são cópias das impressões não significa que só possamos
conceber objetos que sejam acessíveis aos sentidos. Podemos perfeitamente conceber
uma montanha de ouro sem existirem montanhas de ouro e, portanto, sem que nos
tenha sido possível observar uma. Mas a ideia de uma montanha de ouro pode ser
decomposta em elementos, cada um dos quais é a cópia de uma impressão particular.
O aspeto crucial da teoria das ideias de Hume é, contudo, o facto de ela implicar que
todo o conhecimento tem uma origem empírica. Dado que, segundo este princípio,
não há ideias inatas, os limites do conhecimento coincidem com aquilo de que é
possível ter experiência.

Questões de facto e relações de ideias


Hume dividiu os objetos que podem ser investigados pela razão humana em dois
domínios: relações de ideias e questões de facto. A Matemática e a Geometria tratam
de relações de ideias; as proposições empíricas em geral constituem exemplos de
questões de facto.
As proposições sobre relações de ideias traduzem verdades necessárias, enquanto as
proposições acerca de questões de facto exprimem verdades contingentes. Por outro
lado, as relações de ideias podem ser conhecidas a priori, isto é, a sua verdade pode
ser demonstrada sem qualquer necessidade de recorrer à experiência, enquanto as
questões de facto só podem ser investigadas a posteriori, ou seja, tendo a experiência
como último fundamento.

Verdades necessárias e contingentes


Note-se que o mesmo se passa com f=ma. Esta fórmula é verdadeira porque as leis da
Natureza são o que são. Mas estas leis podiam não ser o que são; é possível imaginar
um mundo cujas leis físicas fossem muito diferentes das atuais. Claro que este mundo
só existiria na nossa imaginação, e não na realidade. Mas não seria contraditório, ou
absurdo, colocar essa hipótese.
Contudo, que é contraditório supor que dois mais dois não é igual a quatro. Se
estamos realmente a falar da adição tal como esta é expressa na tabuada vulgar e
regulada pelas regras habituais, é claro que estaremos a contradizer-nos se
supusermos que 2 + 2 = 4. De facto, a expressão «2 + 2» e o numeral «4» têm
exatamente o mesmo significado. Estaremos a contradizer-nos se dissermos o oposto.
Em geral, podemos dizer que uma verdade é necessária, ou que uma proposição é
necessariamente verdadeira, por oposição a contingente, se e apenas se a proposição
não puder ser falsa, isto é, se a sua negação não implicar uma impossibilidade lógica —
ou contradição.

O problema da causalidade
Segundo Hume, todo o conhecimento acerca de questões de facto que vá além da
experiência imediata (ou passada) baseia-se na relação de causa e efeito.
Na verdade, acreditamos que certos factos causam outros e baseamos nessa crença a
maior parte das inferências que fazemos no quotidiano. Baseamos, portanto, nesta
crença a maior parte do que consideramos ser o nosso conhecimento sobre o Mundo,
se não a totalidade. Ora, seguindo este raciocínio, é natural perguntar em que se
baseia o conhecimento que julgamos ter desta relação. Há duas possibilidades: a
relação de causa e efeito pode ser conhecida a priori ou baseia-se inteiramente na
experiência. Ora, segundo Hume, esta relação não pode ser conhecida a priori. Se
fosse possível saber a priori que certos factos têm o poder de causar outros,
poderíamos antecipar, sem nunca ter visto algo semelhante, que acender uma vela de
estearina a faz derreter. No entanto, sem experiência não é possível saber nenhuma
destas coisas. Por mais desenvolvidas que estivessem as nossas capacidades racionais
no momento em que nascemos, não seria possível saber, sem recorrer à experiência,
que o fogo queima
Só a observação da ocorrência conjunta de dois acontecimentos pode ensinar-nos que
uma causa o outro. Mas, quando mos afirma que entre dois acontecimentos há uma
relação de causa e efeito, estamos a supor que o primeiro (a causa) tem o poder de
produzir o segundo (o efeito). Estas associações acontecem em virtude de um padrão.
Sempre que um acontecimento A tem lugar, seguir-se-ia outro acontecimento B. A
conexão entre causa e efeito seria, portanto, necessária. Ora, o conhecimento desta
conexão não pode ser obtido a priori.
Segundo Hume, a experiência apenas pode revelar entre dois acontecimentos uma
conjunção constante: quando dizemos, por exemplo, que o calor dilatou uma barra de
metal, limitamo-nos a verificar que a dilatação do metal ocorre de forma conjugada e
constante com o aumento da temperatura, nada mais. Ou seja, não mostra haver
entre dois acontecimentos qualquer conexão necessária.
Hume defende que esta ideia se forma na mente do sujeito em consequência de um
hábito. Quando repetimos uma experiência um certo número de vezes, os dois
acontecimentos acabam por ficar ligados na nossa mente, de tal modo que, quando
voltássemos a repetir a experiência, ficamos à espera de os reencontrar. A repetição
da experiência criou em nós o hábito de as duas coisas acontecerem em conjunto. Este
hábito tem ainda como consequência que, sempre que pensamos num deles, por
associação de ideias, somos conduzidos a pensar também no outro.
A ideia de conexão necessária entre a causa e o efeito, diz Hume, é fruto da associação
que se verifica na mente do sujeito entre as ideias correspondentes aos
acontecimentos observados, e não algo que descubramos nas próprias coisas. Ou seja:
é a mente que a produz. Mas, sendo a mente a produzir a ideia de conexão necessária,
atribui-a aos acontecimentos que constituem o Mundo, fazendo-nos pensar que
corresponde a algo de objetivo.

O problema da indução
Se quisermos ir além da experiência imediata ou passada, temos de raciocinar
indutivamente. Estes raciocínios baseiam-se em amostras e, portanto, nos dados que
a experiência até um certo momento permitiu recolher. É com base em amostras que
nos sentimos autorizados, em certas circunstâncias, a prever o que irá acontecer no
futuro ou afazer generalizações. A experiência passada justifica prever que o Sol irá
erguer-se amanhã no horizonte, tal como justifica concluir, por generalização, que
todos os corvos são pretos.
Esta confiança, segundo Hume, baseia-se na ideia de que a Natureza é regular. Isto
significa que os acontecimentos naturais obedecem a padrões estáveis. Dado que a
nossa confiança na indução se baseia na ideia de que a Natureza é regular, o problema
é como justificar este princípio. Ou o princípio da regularidade da Natureza é
justificável a priori ou encontra justificação na experiência. Segundo Hume, só
podemos conhecer a priori verdades necessárias. Ora, uma proposição é
necessariamente verdadeira se e só se a sua negação implicar uma contradição. Não é
isto que se passa com o princípio da regularidade da Natureza: a ideia de a Natureza
não ser regular é perfeitamente inteligível. Não há nada de errado na hipótese de os
fenómenos naturais não exemplificarem qualquer padrão. Logo, mesmo que o
princípio da regularidade da Natureza seja verdadeiro, será contingentemente
verdadeiro, nada mais. Vimos que as verdades contingentes dependem, para serem
conhecidas, do modo como o Mundo é. E não há conhecimento a priorai cercado
Mundo. Quanto à segunda opção a resposta de Hume é de novo negativa: justificara
posteriori a ideia de que a Natureza é regular incorre numa petição de princípio. Uma
petição de princípio consiste em assumir como premissa a verdade daquilo que se quer
justificar.
O que torna a falácia inevitável é o facto de o princípio da regularidade da Natureza ser
completamente geral. Para chegarmos à conclusão de que, no seu conjunto, a
Natureza é regular, temos de raciocinar com base em amostras, isto é, indutivamente.
Tal como concluímos que todos os corvos são pretos com base no facto de os corvos
que observámos até hoje serem pretos, sentimo-nos autorizados a concluir que a
Natureza é regular após observarmos um número suficiente de vezes que causas
semelhantes ocorrem em conjunto com efeitos semelhantes.
Se a Natureza não for regular, o facto de o ter sido até ao momento não garante que
venha a sê-lo no futuro. Mas a inferência só é fiável se se assumir que este princípio é
verdadeiro. O argumento tem, portanto, de ser interpretado como um entimema cuja
premissa suprimida afirma o que está em causa justificar na conclusão. É isto que
origina a petição de princípio.
Tentar justificar empiricamente a indução faz-nos cair num círculo vicioso. A
conclusão é clara: não é possível justificar a priori nem a posteriori a indução. Mas, se
não se pode justificar a posteriori ou a priori o princípio da regularidade da natureza,
não temos qualquer razão para pensar que a Natureza seja regular.

O mundo exterior
Mas, para que se justifique dizer que as nossas representações sensoriais são causadas
pelos objetos exteriores a que se referem, teríamos de poder observar a ocorrência
conjunta de ambas as coisas no interior do campo percetivo.
Dizemos que a água passa ao estado gasoso aos 100 ̊C porque percecionamos estas
ocorrências conjugadamente. O problema é que, se as nossas perceções são
representações de objetos, é com estas representações que temos contacto e não com
objetos propriamente ditos. São elas que unicamente constituem as nossas
experiências. A minha experiência do verde consiste na sensação de verde; aminha
experiência do frio consiste na sensação de frio, etc. Ora, as minhas sensações não são
algo que exista fora da mente. Só posso ter experiência dos meus estados mentais e de
nada mais. Por isso, como apenas tenho contacto com as minhas representações e não
com os objetos reais a que eventualmente correspondem, não posso ter contacto
algum com a sua conjunção constante e, portanto, afirmar que tal existe.

Filosofia da ciência
A conceção indutivista ilustra a opinião popular sobre a ciência de que o conhecimento
científico é objetivamente provado, em que as hipóteses e teorias derivam
rigorosamente dos factos da experiência adquirida através da observação e da
experimentação.
De acordo com o indutivismo a ciência começa com a observação, que é feita de forma
imparcial, rigorosa e isenta de pressupostos teóricos, isto é, sem expetativas, teorias
ou hipóteses. As leis e teorias científicas são expressas por enunciados universais ou
gerais como, por exemplo, “Todos os metais dilatam quando aquecidos”.
Não é legitimo concluir enunciados gerais com base em apenas um enunciado singular,
sendo necessário que sejam feitas muitas observações para não cometermos a falácia
da generalização precipitada. Porém, isso não é suficiente para uma generalização
legítima. Portanto, o que nos leva a concluir enunciados gerais a partir de uma lista
finita de enunciados singulares é um raciocínio indutivo e nesta conceção o método
científico baseia-se no princípio da indução.
O método indutivista pode ser resumido em três momentos:

 Observação – os cientistas começam por observar e forma imparcial, rigorosa e


isenta de pressupostos teóricos.
 Formulação de teorias e leis – os cientistas procuram inferir, a partir da
observação repetida de certos factos particulares, um enunciado geral.
 Previsão, explicação e confirmação – A partir das teorias, os cientistas deduzem
e explicações que possam ser confirmadas.

Distinção de teorias científicas e não-científicas na conceção indutivista


O critério da verificabilidade é o critério de demarcação sugerido por uma conceção
indutivista da ciência como resposta ao problema de distinguir frases declarativas com
sentido (proposições genuínas) das frases declarativas sem sentido. Ou seja, numa
perspetiva indutivista podemos utilizar o critério de verificabilidade para demarcar as
teorias científicas das não-científicas e este critério diz que uma teoria é científica se e
só se, for constituída por proposições empiricamente verificáveis, ou seja, proposições
cujo valor de verdade pode, na prática ou em princípio, ser determinado a partir de
observações. Uma teoria é empiricamente verificável em princípio, quando apesar de
nas nossas condições atuais não poder ser verificada na prática, por exemplo, devido
às nossas limitações tecnológicas, é possível indicar condições empíricas para
determinar o seu valor de verdade.

Objeções à conceção indutivista da ciência


1. A observação não é o ponto de partida
No momento em que o cientista parte para a observação já dispõe de um conjunto de
teorias e expetativas, por isso, o verdadeiro ponto de partida é o problema, que surge
quando a observação entra em confronto com as teorias e expetativas predispostas.
Além disso, a observação não é imparcial, uma vez que as expetativas e teorias de que
o cientista dispõe condicionam a sua interpretação dos factos, tal como a observação
seletiva que faz com que dirijamos a nossa atenção para determinados aspetos da
realidade de acordo com os nossos interesses e expetativas, não havendo nunca uma
observação pura.
2. Algumas teorias científicas referem-se a objetos que não podem ser observados
Várias teorias científicas dizem respeito a objetos que não podem ser diretamente
observados, como eletrões, moléculas de ADN, genes, campos eletromagnéticos, etc,
por isso, não podem ser concebidas com base em simples generalizações indutivas a
partir da observação, portanto o indutivismo não acomoda a ciência como ela
realmente é.
3. As inferências indutivas são injustificáveis (problema da indução)
Não existe justificação para inferir enunciados gerais a partir de enunciados
singulares, meso considerando um grande número destes últimos, tal como foi
defendido por Hume e Popper. Hume defendia que não há maneira de justificar
racionalmente a nossa confiança nas inferências indutivas.
4. A lógica subjacente à verificação experimental é falaciosa
Os enunciados gerais que correspondem às teorias científicas não podem ser objeto
de uma observação direta, pois incluem um número demasiado vasto de casos, por
isso, a única forma de os testar é através da dedução de previsões particulares a partir
deles e, posteriormente, procurar determinar se essa previsão se confirma ou não.
Contudo, Popper chama a atenção para o caráter falacioso da lógica subjacente a este
tipo de raciocínio, que corresponde a uma falácia da afirmação do consequente.
5. A atitude da verificabilidade é autodefensiva, uma ameaça à racionalidade e
dogmática
Karl Popper criticou o critério de demarcação indutivista por conduzir a atitudes
inaceitáveis para a metodologia científica, nomeadamente acríticas e dogmáticas, e
leva a aceitar como científicas que não o são.
Segundo Popper, se não houver qualquer acontecimento concebível que, aos olhos
dos seus aderentes, refutasse as suas teorias e essas fossem acomodadas para
baterem certo e serem verificadas, então todas as situações imagináveis apenas
verificavam a teoria. Ora, se qualquer observação concebível concorda com a teoria
então não se pode dizer que determinada observação em particular lhe fornece
suporte empírico; portanto a verificabilidade não é um bom critério para distinguir
teorias científicas das não-científicas.
Resumindo, de acordo com Popper, a atitude de verificabilidade é autodefensiva, uma
vez que procura proteger-se de toda e qualquer espécie de crítica; é uma ameaça à
racionalidade ao procurar apenas observações confirmadoras; e é dogmática por visar
teorias que se encaram como as únicas possíveis.
6. O critério da verificabilidade é autorrefutante
De acordo com os positivistas lógicos, as frases têm sentido, ou seja, podem ser
consideradas verdadeiras ou falsas, só se forem analíticas ou contraditórias, ou
capazes de, pelo menos em princípio, serem verificadas pela experiência. Porém o
próprio critério de verificabilidade não cumpre os requisitos que ele próprio estipula,
sendo sem sentido.

Falsificacionismo
O falsificacionismo é a alternativa ao indutivismo proposta por Karl Popper no que diz
respeito ao método científico e ao problema da demarcação.
Popper defende que, se a ciência pretende ser racional e objetiva, tem que prescindir
inteiramente do recurso à indução. Para isso, propôs uma nova abordagem do método
científico, o Método das Conjeturas e Refutações, sintetizado em quatro etapas:

 1 – Problema
 2- Conjetura
 3- Refutação
 4- Problema
Problema
Popper considerava que o ponto de partida para a investigação científica não podia ser
a observação pura e imparcial dos factos, mas sim um problema levantado por uma
observação que entra em confronto com as expetativas e teorias de que já dispomos.
Popper rejeitava a imagem da mente como uma tábua rasa, ou uma folha em branco,
proposta pelo empirismo. Para este filósofo, a mente assemelha-se mais a um balde
meio cheio, visto que, quando partirmos para a observação, já dispomos de u conjunto
de teorias e expetativas prévias que influenciam a forma como interpretamos aquilo
que observamos e nos permitem selecionar os aspetos da realidade que melhor se
adequam aos propósitos da nossa investigação. Surge um problema porque uma
determinada expetativa não é confirmada, ou porque uma determinada observação
particular entra em choque com as nossas teorias prévias.
Conjetura
Depois de formular o problema, compete ao cientista formular uma hipótese ou teoria
que permita explicar adequadamente os factos. Porém, essa teoria não é o resultado
de uma generalização indutiva nem obedece a nenhum critério estrito e rigoroso de
raciocínio, ao invés disso, uma conjetura é uma suposição arrojada, imaginativa, mas
devidamente fundamentada, que o cientista concebe para explicar os factos
observados.
Refutação
Depois, o cientista testa a sua hipótese, ou seja, confronta-a a com a experiência. No
entanto, ao contrário do que acontecia com o indutivismo, Popper não acreditava que
a verificação de uma hipótese geral ou teoria fosse possível. Pelo contrário, acreditava
que por maior que fosse o número de casos que confirma uma hipótese, bastará
aparecer um caso que a contrarie para que esta seja completamente posta em causa.
Um teste que confirma uma hipótese é apenas mais um teste e não permite concluir
de modo definitivo que uma hipótese é verdadeira, mas um teste que prove a sua
falsidade, fá-lo de modo conclusivo.
Popper propõe que se recorra a testes experimentais, não para confirmar uma
hipótese, mas para tentar provar a sua falsidade, ou seja, tentar refutá-la.
A estrutura lógica a este processo deixa de ser falaciosa e passa a ser o modus tollens.
Este autor defende que a ciência avança ao provar que uma teoria é falsa. Uma vez
provada a falsidade de uma conjetura, ela terá de ser reformulada ou abandonada e
substituída por uma melhor. Para ele, a ciência evolui de forma irregular através de
uma aproximação progressiva à verdade que resulta do afastamento sucessivo do erro.
Não podemos afirmar que uma teoria científica é conclusivamente verdadeira, e,
consequentemente, nunca poderemos afirmar que alcançámos a verdade, mas
podemos conclusivamente afirmar que estamos mais perto da verdade do que há
alguns séculos atrás.

Falsificacionismo como teoria de demarcação


Para Popper, o ato de verificar ou confirmar uma teoria não tem qualquer valor, uma
vez que a torna irrefutável, não podendo conceber-se ou mostrar-se falsa. Por isso,
sugere a falsificabilidade, que diz que uma teoria só é científica se for possível refutá-la
pela experiência. Deste modo o critério da falsificabilidade afirma que uma teoria é
científica se e só se for empiricamente falsificável, isto é, se for possível conceber um
teste experimental que seja capaz de mostrar que a teoria é falsa.
Existem, porém, níveis de falsificabilidade. Para que uma teoria científica seja boa não
é suficiente que seja falsificável, mas que seja falsificável num alto grau. Para Popper,
as teorias devem ser claras, precisas, audazes e informativas, isto é, devem ter um
elevado conteúdo empírico e poder explicativo.

Objeções ao falsificacionismo
1. Nem todas as teorias científicas são falsificáveis
Algumas teorias científicas referem-se a objetos que não são diretamente observáveis,
e não é inteiramente claro que, à partida, seja possível conceber um teste
experimental capaz de mostrar a sua falsidade. No entanto isso não implica que essas
teorias tenham forçosamente de ser encaradas como não-científicas.
2. Não está de acordo com a prática científica
Na prática, os cientistas trabalham no sentido de confirmar as suas teorias, e
continuam a defendê-las mesmo quando as suas previsões não se confirmam. Os
cientistas são muito resistentes à mudança e sentem relutância em abandonar teorias
que durante algum tempo estruturaram a sua visão do universo e o seu trabalho como
investigadores.
Popper defende-se desta objeção dizendo que a sua perspetiva é normativa e não
meramente descritiva, ou seja, o seu objetivo é dizer como se deve fazer ciência e não
apenas descrever como se faz ciência.
3. Não é razoável abandonar uma teoria apenas porque foi refutada por um
teste experimental
Para além da hipótese ou teoria (T), existem vários fatores envolvidos num
procedimento experimental que podem ser responsáveis pelo seu fracasso, como as
hipóteses auxiliares (HA), os instrumentos (I) e os fatores pessoais e sociais (F), entre
outros. Assim, podemos concluir que a lógica subjacente ao falsificacionismo não é tão
robusta quanto parecia à primeira vista, pois não é o modus tollens e não é válida.
4. Subestima a importância das confirmações no progresso científico
Segundo Popper, nunca temos justificação racional para aceitar que uma dada teoria
científica é verdadeira. Na sua opinião, por muito que uma teoria tenha sido
corroborada pela experiência, esta nunca deixa de ser apenas uma conjetura que
ainda não foi refutada. No entanto, o facto de algumas teorias científicas
possibilitarem grandes avanços tecnológicos e permitirem controlar a Natureza e
prever o seu comportamento de modo relativamente fiável pode significar que temos
justificação para acreditar que aquelas são verdadeiras e não apenas conjeturas por
refutar.

A perspetiva de Popper acerca do desenvolvimento científico


Ao contrário dos indutivistas, Popper pensava que, uma vez que a indução não é
racionalmente justificável, a ciência só pode ser objetiva se abandonar o recurso ao
raciocínio indutivo, substituindo a lógica falaciosa da verificação experimental pela
falsificação experimental, afastando-se do erro e aproximando-se da verdade.
Popper recorre ao conceito de verosimilhança para explicar a sua perspetiva e defende
que uma teoria científica, ou uma conjetura, é mais verosímil do que outra quando
implica um menor número de falsidades e permite explicar um maior número de
fenómenos do que a sua corrente.

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