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O QUE É A CIÊNCIA?

CIÊNCIA E PSEUDOCIÊNCIA
A ciência constitui, uma atividade e um tipo de conhecimento que nos tem proporcionado a
compreensão do mundo na sua diversidade de seres e fenómenos.
O reconhecimento e a (sobre)valorização da ciência conduzem, por vezes, à ideia (errada e)
precipitada de que o conhecimento científico é a única forma de conhecimento fiável, seguro e
rigoroso que o ser humano é capaz de produzir.
Chama-se cientismo a este modo de encarar a ciência, que resulta na atitude que leva o grande
público a depositar na ciência toda a sua confiança e esperança, mesmo sem compreender muitas das
suas teorias e características.
A par desta atitude, proliferam informações, crenças e atividades que não são científicas, mas que se
fazem passar por científicas. Ao tipo de teoria ou atividade sem qualquer base científica, mas que
pretende ser científica, chamamos de pseudociência.
DO SENSO COMUM À CIÊNCIA
Chamamos de senso comum ou conhecimento vulgar a este tipo de conhecimento que resulta da
acumulação de informações, crenças e ideias dispersas que retiramos diretamente das nossas
experiências de vida.
Este conhecimento, formado a partir da apreensão sensorial espontânea da realidade, é
coletivamente partilhado e transmitido de geração em geração.
A fonte do conhecimento vulgar é a experiência concreta de cada ser humano.

• É caracterizado como um saber


superficial e espontâneo, pois
resulta da necessidade de resolver
problemas do quotidiano;
• É empírico, concreto e subjetivo,
pois surge da experiência de cada
ser humano situado num tempo e
num espaço concretos;
• É assistemático, acrítico e dogmático (como verdade incontestável), pois não se fundamenta em
nenhum estudo prévio, mas na acumulação de observações cujos resultados se repetem;
• É expresso numa linguagem vulgar (corrente), pelo que muitas vezes se originam ambiguidades.
O conhecimento científico, ao contrário do senso comum, representa um nível mais aprofundado do
conhecimento que podemos ter acerca da realidade. Pressupõe o desenvolvimento de uma atividade
organizada, metódica e crítica.

• Sistemático, metódico e objetivo;


• Garante um saber mais exato e
rigoroso;
• Procura respostas objetivas e
universais, leis (explicações da
realidade que resultam da
experimentação, do teste e de meios formais de prova);
• Portador de uma linguagem própria, técnica e exata, que evita ambiguidades interpretativas,
mas enunciado menos acessíveis.
A ciência é, no fundo, uma tentativa de compreender e explicar a realidade, o mundo que nos rodeia,
de uma forma organizada, rigorosa e fundamentada.

O PROBLEMA DA DEMARCAÇÃO – TEORIAS CIENTÍFICAS E NÃO


CIENTÍFICAS
O problema da demarcação constitui um dos problemas filosóficos da ciência. Trata-se de saber o
que distingue a ciência do que não é ciência, ou o que separa o conhecimento científico de outras
formas do saber.
As teorias científicas são enunciadas ou hipóteses explicativas sobre os fenómenos. O facto de as
teorias serem sistemáticas e explicativas é condição necessária para as podermos considerar científicas,
mas isso não é suficiente para garantir a sua cientificidade.
Uma teoria pode ser sistemática e explicativa e, ainda assim, não ser científica.
O CRITÉRIO DA VERIFICABILIDADE
Segundo este critério, uma teoria só é científica se aquilo que propõe puder ser verificado
empiricamente.
Uma teoria é científica apenas se consistir em afirmações empiricamente verificáveis, isto é, apenas se
for possível verificar pela experiência aquilo que ela afirma.
Uma afirmação empiricamente verificável é aquela cujo valor de verdade pode ser, pelo menos em
princípio, determinado através da observação ou da experiência.

Afirmações verificáveis Afirmações não verificáveis


1 – Algumas árvores têm mais de três metros de altura. 1 – Certos anjos têm asas.
2 – A Lua gira em torno da Terra 2 – A porta do Céu é feita de ouro.

Estas afirmações não podem ser empiricamente


As afirmações podem ser verificadas na
verificadas, uma vez que o seu conteúdo ultrapassa o
prática através da observação.
domínio dos factos observáveis.
O critério da verificabilidade enfrenta algumas objeções. Uma delas passa pelo reconhecimento de
que a maioria das teorias científicas se expressa em enunciados universais e que esses enunciados não
são, na verdade, suscetíveis de verificação empírica.
Esta limitação do critério de verificabilidade levanta problemas no processo de aprovação das
teorias científicas, já que, de certo modo, inviabiliza a justificação completa das hipóteses e das leis
científicas.
O CRITÉRIO DA FALSIFICABILIDADE
O critério da falsificabilidade (Karl Popper), mostra que é na possibilidade de falsificar ou refutar as
teorias científicas que, segundo Popper, se encontra a chave para demarcar as teorias científicas das
não científicas.
Uma teoria é científica apenas se for empiricamente falsificável, ou seja, apenas se for possível falsificar
pela experiência aquilo que afirma.

Uma proposição, hipótese ou teoria é empiricamente falsificável se e só se for possível conceber


uma observação ou uma experiência capaz de a refutar. Testar uma teoria não é procurar casos que a
apoiem, mas sim tentar encontrar casos que sejam incompatíveis com ela.
1. Para Popper, os cientistas não iniciam o seu trabalho pela observação, mas por uma teoria. Estas, na
medida em que não podem nunca ser confirmadas (indução), são sempre simples conjeturas e devem
ser sujeitas a rigorosos testes experimentais que as tentem falsificar.
2. Testar uma teoria significativa, para Popper, ver se esta pode ser refutada, falsificada, isto é, procurar
mostrar a sua falsidade.
3. Assim se espera, de deteção de erro em deteção de erro,
avançar em direção a verdade.
* Quanto maior for o grau de falsificabilidade de uma
afirmação, mais interessante ela será para a ciência.
Importa não confundir falsificável / falsificabilidade
com falsificado / falsificação. Uma teoria falsificável não é uma teoria falsificada; é uma teoria
em relação à qual é possível conceder um teste empírico que a refute.

Falsificabilidade Falsificação
Característica que todas as teorias têm de ter para
Todas as teorias científicas são falsificáveis, mas
serem consideradas científicas; têm de poder ser
nem todas as teorias são ou foram falsificadas, isto
submetidas a testes empíricos que visam refutá-las
é, dadas como falsas.
ou falsificá-las.
Uma teoria falsificável é uma teoria para a qual
Uma teoria está falsificada quando não resistiu a
conseguimos, pelo menos em princípio, fazer uma
um determinado teste a que foi submetida, quando
experiência cujos resultados sejam incompatíveis
com ele se provou que ela não é verdadeira.
com o que nela se defende.

MÉTODO CIENTÍFICO E O PROBLEMA DA VERIFICAÇÃO DAS HIPÓTESES


Em ciência, o método corresponde ao conjunto de procedimentos, orientados por um conjunto de
regras, que estabelecem a ordem das operações a realizar com vista a atingir um determinado
resultado.
A PERSPETIVA INDUTIVISTA DO MÉTODO CIENTÍFICO
Segundo Francis Bacon, o conhecimento científico é adquirido e confirmado por um processo de
indução.
O conhecimento humano tem por base uma metodologia sistemática de indagação empírica assente
na observação, experimentação e indução.

PROCEDIMENTOS – MÉTODO CIENTÍFICO


Contexto de descoberta Contexto de justificação
1 – Observação dos factos ou fenómenos 3 – Experimentação / Verificação experimental
Na perspetiva indutivista, o cientista parte da Após o passo 2, os cientistas deduzem
observação para procurar encontrar as suas causas. consequências dessa hipótese, que usam para fazer
A observação é neutra, isenta, rigorosa, objetiva e previsões, e procuram verificá-las através de testes
imparcial. experimentais. Se as consequências não se
verificarem, a hipótese é rejeitada. Se as
consequências se verificarem, dá-se a confirmação
da hipótese.
2 – Formulação de hipóteses 4 – Generalização dos resultados
O investigador, por comparação, procura O cientista generaliza a relação encontrada entre
aproximar os factos para descobrir a relação os factos / fenómenos semelhantes, estabelecendo
existente entre eles. O cientista parte para a uma lei geral, uma lei que expressa as relações
formulação da hipótese – explicação geral acerca constantes entre esses factos / fenómenos.
dos fenómenos e das suas relações -, inferindo
através da indução.

A utilização do raciocínio indutivo é, pois, para os indutivista, a chave para o estabelecimento das
teorias e leis universais da ciência, suscetíveis de garantir previsões rigorosas.
O raciocínio indutivo, partindo de observações particulares e atingindo conclusões gerais, aumenta o
nosso conhecimento, tendo um carácter amplificante que o raciocínio dedutivo não tem.
Críticas levantadas ao indutivismo:
▪ A observação – ponto de partida? A observação não é necessariamente o ponto de partida para
fazer ciência. São os problemas que surgem do confronto entre uma observação e as
expectativas ou teorias já existentes.
▪ Não há observação neutra Não é neutra, imparcial, pura ou isenta de pressupostos ou
preconceitos. A observação é afetada por pressupostos teóricos, teorias, conceitos e pelas
expectativas que o cientista desenvolve face à investigação.
▪ Factos inobserváveis Tais teorias não resultaram de um mero processo de indução a partir de
observações.
▪ Problema da indução A ciência não é fiável e as leis científicas não são justificáveis.
A PERSPETIVA FALSIFICACIONISTA DO MÉTODO CIENTÍFICO
Karl Popper concorda com Hume relativamente ao problema da indução: a indução não é
racionalmente justificável. No entanto, acredita que este problema não põe em causa a ciência.
A indução e a verificabilidade não constituem, do seu ponto de vista, aquilo que permite distinguir a
ciência do que não é ciência.

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