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FILOSOFIA 10.

º ANO
Ano letivo 2020-2021

I - Racionalidade argumentativa da Filosofia e a


dimensão discursiva do trabalho filosófico

Instrumentos Lógicos Aristotélicos

A lógica Aristotélica também nomeada por lógica silogistíca categórica, foi a primeira
lógica formal desenvolvida no pensamento europeu. Foi desenvolvida na
antiguidade clássica pelo filósofo grego Aristóteles. Aristóteles (384-322 a.C)
considerado Pai da Lógica, debruça-se sobre o estudo da estrutura do
pensamento. A lógica formal começa pela tomada de consciência de que a
validade de alguns (racíocinios) argumentos depende de certos aspectos da sua
estrutura.

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Segundo Aristóteles existem três instrumentos lógicos do pensamento.

PENSAMENTO- Instrumentos LINGUAGEM- Expressão verbal


lógicos

1ºInstrumento Lógico- Conceito É toda A expressão verbal do Conceito


a representação mental, geral e abstracta denomina-se por
de um objecto ou ser. Termo
V

2º Instrumento Lógico- Juízo Operação A expressão verbal do Juízo denomina-


mental pela qual relacionamos conceitos se por Proposição
afirmando ou negando a sua vinculação.
Estrutura perfeita do juízo clássico:
Sujeito é Predicado
ou
SéP
ou Sujeito não é Predicado
S não é P

3º Instrumento Lógico Raciocínio A expressão verbal do Raciocínio


Operação mental pela qual interliga/ denomina-se por Argumento
encadeia juízos.

A preocupação da lógica é determinar a validade do nosso pensamento, daí a


necessidade de distinguir validade de verdade.

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1. Tese e argumento, validade, verdade e solidez

1.1. Tese

Para responder aos problemas que colocam, os filósofos apresentam teses


e desenvolvem teorias.
Uma tese corresponde a uma ideia que se quer afirmar a propósito de um
dado problema. No âmbito da filosofia, uma tese constitui uma resposta a um
problema em aberto, estando, por conseguinte, sujeita à discussão. Para defender
uma ideia, ou tese, é necessário construir bons argumentos.
Na base do trabalho filosófico estão o pensamento (raciocínio lógico) e a
argumentação. Para assegurar a qualidade e o rigor dos argumentos que apoiam as
suas teses e teorias, os filósofos recorrem à lógica.

1.2. Distinção entre Lógica formal e lógica informal

A lógica é a disciplina filosófica que estuda a distinção entre argumentos


válidos e inválidos, mediante a identificação das condições necessárias à operação
que conduz da verdade de certas crenças à verdade de outras. Ela dedica-se ao
estudo das leis, princípios e regras a que devem obedecer o pensamento e o
discurso para serem válidos.
Distingue-se a lógica formal (Estrutura/ Validade) – que analisa a validade
dos argumentos dedutivos – da lógica informal (Conteúdo/ Verdade) – que se
debruça fundamentalmente sobre a validade dos argumentos não dedutivos.
O argumento dedutivo é aquele que parte de casos gerais para um caso
particular. Tende a ser um raciocínio extremamente rigoroso.

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1.3. Argumento

No âmbito da lógica, o argumento é definido como um conjunto de


proposições devidamente articuladas – a conclusão e a(s) premissa(s) –, no qual
a(s) premissa(s) procura(m) defender, sustentar ou justificar a conclusão. À
conclusão também se chamada tese, uma vez que ela traduz a ideia que se quer
defender.

O que caracteriza o argumento é o nexo lógico entre as premissas e a


conclusão.

Exemplo de um argumento:
Os alunos da turma 10º A são estudantes de Filosofia.- Premissa Maior
Pedro e Miguel são alunos da turma 10º A.- Premissa menor
Logo, Pedro e Miguel são estudantes de Filosofia. - Conclusão

Um argumento tem subjacente uma inferência ou raciocínio, uma operação


mental através da qual chegamos a uma conclusão partindo de determinadas
razões e efetuando a transição lógica entre proposições. Quando essa transição
lógica falha, percebemos que algo está errado. Vejamos:

Os alunos da turma 10º A são estudantes de Filosofia.


Pedro e Miguel são estudantes de Filosofia.
Logo, Pedro e Miguel são alunos da turma 10º A.

Neste exemplo, compreendemos facilmente que o facto de Pedro e Miguel


serem estudantes de Filosofia não implica que façam parte da turma 10º A. Neste
sentido, estaremos a cometer um erro de raciocínio (FALÁCIA), tornando o
argumento inválido e, portanto, nada convincente.
No nosso discurso quotidiano, formulamos constantemente argumentos.
Usamos expressões que indicam a presença de premissas – porque, pois, dado
que, sabendo que – e de conclusões – logo, então, por conseguinte. São estes

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indicadores que nos permitem descobrir ideias, ou teses, a propósito de diferentes
assuntos e problemas.

1.4. Proposições

É nas frases que usamos no nosso discurso que encontramos expressas as


proposições que compõem os argumentos. Contudo, nem todas as frases
expressam proposições. As frases associadas a atos de interrogar, ordenar,
exclamar, pedir, chamar, prometer não se enquadram na categoria das frases que
expressam proposições, pois não podem ser classificadas como verdadeiras ou
falsas. Só as frases declarativas é que expressam proposições, dado que
podem ser classificadas como verdadeiras ou falsas.
A proposição é o pensamento ou conteúdo, verdadeiro ou falso, expresso
por uma frase declarativa. A mesma proposição pode ser expressa por
diferentes frases declarativas.

A proposição relaciona pelo menos dois termos. O termo é geralmente


entendido como a expressão verbal do conceito. O conceito constitui o elemento
básico do pensamento e é a representação intelectual de determinada realidade.
A operação mental que permite estabelecer uma relação entre conceitos e
que está subjacente à formação de proposições é o juízo.

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1.5. Verdade, validade e solidez e Cogência

A preocupação da lógica é determinar a validade do nosso pensamento, daí a


necessidade de distinguir validade de verdade.

VALIDADE FORMAL VERDADE MATERIAL

 Refere-se à estrutura ou  Refere-se à adequação entre o


articulação dos elementos de um que pensamos e aquilo que o
raciocínio ou argumento. mundo é.
 Refere-se à forma.  Refere-se ao conteúdo de um
raciocínio.
 Relaciona-se com a realidade.

É ao nível das proposições que ocorrem a verdade e a falsidade. Atribui-se


às proposições, e apenas a elas, um dos valores lógicos: verdadeiro ou falso. A
verdade e a falsidade aplicam-se apenas à matéria ou conteúdo das proposições.
Se estiverem de acordo com a realidade, as proposições são verdadeiras; se não
estiverem, são falsas.
A validade e a invalidade são qualidades próprias dos argumentos,
resultantes do facto de as premissas apoiarem/garantirem ou não a conclusão. A
validade traduz uma certa relação entre os valores de verdade das premissas e o
valor de verdade da conclusão. Isso acontece diferentemente nos argumentos
dedutivos e não dedutivos.
Os argumentos dedutivos são aqueles cuja validade depende apenas da
sua forma lógica. Um argumento dedutivo só é válido quando as suas premissas
oferecem uma garantia completa à conclusão, sendo logicamente impossível que as
premissas sejam verdadeiras e, simultaneamente, a conclusão falsa. Assim, a
conclusão terá de ser verdadeira, se todas as premissas forem verdadeiras.

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Exemplo:

Todos os portugueses são europeus.

João é português.

Logo, João é europeu.

Contudo, pode dar-se o caso de alguns argumentos válidos apresentarem


premissas falsas. No exemplo apresentado, não temos a certeza se João é
português. Por isso, para ficarmos plenamente convencidos, é importante averiguar
a verdade das proposições.

Os argumentos válidos constituídos por proposições verdadeiras denominam-


se argumentos sólidos. Nesse sentido, a solidez já pressupõe a validade.

Exemplos:

Todos os portugueses são europeus.

João Sousa é português.

Logo, João Sousa é europeu.

João Sousa é vimaranense e é português.

Logo, é português.

Contudo, a solidez também não é suficiente para que um argumento seja


persuasivo. Repare-se no exemplo que se segue.

Exemplo:

Sócrates era filósofo

Logo, Sócrates era filósofo.

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Argumento é válido, pois não é possível que a sua premissa seja verdadeira
e a sua conclusão seja falsa; e é sólido, pois é um facto histórico que Sócrates era
um filósofo.

Depois de constatarmos que um argumento é sólido, tenhamos o cuidado de


verificar se as suas premissas são, à partida, mais plausíveis (ou aceitáveis) do
que a conclusão. A esta propriedade dos argumentos chama-se de “cogência).

Diz-se que um argumento é cogente quando, além de sólido, tem premissas


mais plausíveis (ou aceitáveis) do que a conclusão.

No que se refere aos argumentos não dedutivos, que serão referidos


posteriormente, a sua validade depende de aspetos que vão para lá da forma lógica
do argumento.

1.6. Falácias

Entende-se por falácia todo o argumento inválido, embora aparente ser


válido. As falácias formais são aquelas que decorrem apenas da forma lógica do
argumento, sendo por isso cometidas ao nível dos argumentos dedutivos. As
falácias informais são cometidas ao nível dos argumentos não dedutivos,
resultando de aspetos que vão para lá da forma lógica do argumento. Veremos
diferentes exemplos destes tipos de falácias mais à frente.

1.7. Conta-argumentar
A última das tarefas dos filósofos é a tarefa de contra-argumentar. Contra-
argumentar é usar a argumentação para mostrar o que há de errado com uma dada
tese e/ou teoria e/ou argumento.

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1.7.O Quadrado da Oposição

Na linguagem corrente, as frases que expressam proposições nem sempre


se apresentam de uma forma adequada à análise lógica dos argumentos. No
entanto, quaisquer frases declarativas se podem transformar em proposições
relativamente fáceis de analisar em termos lógicos, se as apresentarmos na sua
forma-padrão ou forma canónica.

Existem diferentes tipos de proposições: categóricas, condicionais,


disjuntivas. Iremos aqui considerar as proposições categóricas.

A qualidade das proposições categóricas refere-se ao seu carácter


afirmativo ou negativo e a quantidade refere-se à extensão do sujeito da
proposição, podendo esta ser universal – o sujeito é tomado em toda a sua
extensão – ou particular – o sujeito é tomado apenas numa parte da sua extensão.
As proposições singulares – o predicado é afirmado ou negado de um único
elemento – foram frequentemente consideradas proposições universais.

Tipos de proposições Forma lógica


Tipo A Universal afirmativa Todo o S é P.
Tipo E Universal negativa Nenhum S é P.
Tipo I Particular afirmativa Algum S é P.
Tipo O Particular negativa Algum S não é P.

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Entre as proposições categóricas podem ser estabelecidas diferentes
relações lógicas. Essas relações podem sintetizar-se na seguinte representação,
que ficou conhecida como Quadrado da Oposição.

CONTRÁRIAS
A E

SUBALTERNASCONTRADITÓRIAS SUBALTERNAS

I O

SUBCONTRÁRIAS

Inferir por oposição consiste em tirar de uma proposição outras


proposições, alterando a quantidade e/ou a qualidade, e em concluir imediatamente,
a partir da verdade ou falsidade da proposição inicial, a verdade ou falsidade
daquelas que se obtêm.

As teses filosóficas surgem, frequentemente, sob a forma de proposições


universais. Para negar uma proposição universal não é correto apresentar a sua
contrária, pois se a verdade de uma delas implica a falsidade da outra, da falsidade
de uma não podemos concluir a falsidade ou veracidade da outra.
Assim, por exemplo, para negar a tese segundo a qual “Nenhuma guerra é
justa”, não é correto afirmar que “Todas as guerras são justas”; será necessário
propor a sua contraditória: “Algumas guerras são justas”. Da mesma maneira, a
negação da proposição “Algumas guerras não são justas” será “Todas as guerras
são justas”.

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Segue-se uma síntese das regras da oposição:

Regra das contraditórias: duas proposições contraditórias não podem ser


verdadeiras e falsas ao mesmo tempo. A verdade de uma implica a falsidade
da outra e vice-versa. São a negação uma da outra.

Regra das contrárias: duas proposições contrárias não podem ser ambas
verdadeiras ao mesmo tempo. Mas da falsidade de uma não se pode concluir
a falsidade ou veracidade da outra. Por isso, não são a negação uma da outra.

Regra das subcontrárias: duas proposições subcontrárias não podem ser


ambas falsas ao mesmo tempo, mas podem ser ambas verdadeiras. Não são
a negação uma da outra.

Regra das subalternas: da verdade da universal infere-se a verdade da


particular que lhe está subordinada; da verdade da particular nada se pode
concluir quanto à universal; da falsidade da universal nada se pode concluir
relativamente à verdade ou falsidade da particular; da falsidade da particular
infere-se a falsidade da universal.

Nota: No âmbito da relação de subalternidade, verificada entre as proposições


de tipo A e I, por um lado, e E e O, por outro, A implica I e E implica O, mas o
contrário não se verifica. Daí a seta apresentar apenas um sentido.

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