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Céticos
• Dizemos que há conhecimento quando as nossas crenças verdadeiras estão justificadas, isto é, quando temos
boas razões para acreditar que as crenças que temos são verdadeiras. Acontece que apelar a boas razões
para justificar uma dada crença é suportá-la em outras crenças que possuímos.
Crença A
Quando pretendemos justificar uma crença por intermédio de outras crenças estão disponíveis três alternativas
mutuamente exclusivas e igualmente desconcertantes (trilema de Agripa).
Nenhuma destas três alternativas (as únicas possíveis, afirmam os céticos) resolve o embaraço da regressão da
justificação
• Por isso, nenhum de nós ficará surpreendido com a afirmação cética de que a nossa perceção dos objetos
fora das nossas mentes pode, por vezes, conduzir-nos à ilusão e ao erro.
• Se os sentidos nos enganam algumas vezes, então nunca podemos ter a certeza de não estarmos a ser
iludidos por eles. Assim sendo, as crenças fundadas nos intermediários percetuais não estão justificadas
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Argumento do sonho
• Se não nos é possível distinguir o sono da vigília, então existe a possibilidade de engano.
• Não podemos estar seguros de que as nossas perceções atuais representam adequadamente a realidade.
• Enquanto dormimos, não estamos a ser enganados pelas representações deste ou daquele sentido particular.
• Se a hipótese, por ínfima que seja, de sermos cérebros numa cuba não pode ser rejeitada, então parece que
não podemos saber o que quer que seja.
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René Descartes
a resposta racionalista
A teoria racionalista
Chamamos racionalismo ás teorias epistemológicas que identificam como fonte do conhecimento o pensamento ou
razão. Os racionalistas enfatizam assim o papel do pensamento, afirmando que este, só por si e sem auxílio da
experiência, garante a aquisição e justificação do conhecimento. Neste sentido, o racionalismo é comumente
contrastado com o empirismo.
• Para o racionalismo, a razão só por si e sem auxílio da experiência garante a aquisição e justificação do
conhecimento.
• O racionalismo despreza o papel dos sentidos e defende que o conhecimento deve satisfazer dois critérios:
necessidade lógica e universalidade.
• O ideal de conhecimento racionalista pressupõe a natureza dedutiva do saber a partir de primeiros princípios
ou crenças fundacionais que não são suportadas por quaisquer outras crenças e que são infalíveis (não
podem estar erradas) e indubitáveis (não podem ser postas em dúvida).
• Dado que estas crenças básicas ou fundacionais são os pilares sobre os quais se deve erguer todo o
conhecimento, afirmamos que o racionalismo abraça o fundacionalismo.
• Para o racionalismo, uma crença estará justificada, se, e só se, essa justificação representar uma prova
incontestável.
Fundacionalismo
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Conhecimento a priori: Diz-se do que pode ser conhecido através do pensamento, com a independência da
experiência.
Conhecimento a posteriori: Diz-se do que só pode ser conhecido com e através da experiência.
Da dúvida ao cogito
• Descartes procurou responder aos argumentos céticos e reabilitar a confiança na razão e, por isso, centra-se
numa questão epistemológica fundamental:
• Para refutar o ceticismo e mostrar que o conhecimento está ao nosso alcance, através da razão, Descartes
pensa ter descoberto um método infalível, a dúvida
• Rejeitar qualquer crença que admita a mais pequena dúvida, descobrir princípios indubitáveis – crenças
básicas – e, a partir deles, inferir por dedução, de modo a que tudo o que seja derivado desses princípios seja
também absolutamente certo, eis o caminho que decide seguir Descartes
• A dúvida cartesiana é distinta da dúvida cética. O objetivo de Descartes é alcançar certezas e não
permanecer na dúvida e suspender o juízo.
→ Metódica
→ Voluntária
→ Provisória
→ Universal
→ Hiperbólica
→ Sistemática
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Primeiro nível da dúvida – Os sentidos enganam-nos
• Se os nossos sentidos nos enganam, ainda que apenas algumas vezes – e é um facto incontestável que assim é –,
então o melhor é não confiarmos neles nunca.
• Manda a prudência que não confiemos neles, mesmo que algumas das crenças que neles fundámos – ou mesmo
que em larga medida – possam ser verdadeiras.
• É perfeitamente possível que esteja neste momento a dormir e a sonhar, ainda que acredite estar acordado. A
hipótese de estar a sonhar não pode ser rejeitada.
• Um tal ser – caso existisse – poderia fazer-nos acreditar em falsidades, poderia divertir-se, fazendo-nos crer
que temos um corpo não o tendo ou iludir-nos em relação a cálculos matemáticos simples como a soma de
dois mais dois.
• A hipótese de estarmos a ser manipulados por um espírito maléfico lança agora a desconfiança sobre as
crenças que frequentemente tomamos como certas, tal como as verdades matemáticas (a priori) e a existência
do mundo físico fora das nossas mentes.
• Não podemos confiar nos nossos sentidos nem nos poderes da razão enquanto fontes de conhecimento
fiáveis.
• O método cartesiano (a dúvida) faz surgir uma primeira certeza invulnerável à dúvida: a existência do sujeito
que duvida.
• A dúvida atua sobre todos os objetos do conhecimento, mas não pode atuar sobre a existência daquele que
assim duvida.
• A existência do eu que pensa (ou cogito) é assim uma certeza inabalável que resiste, inclusivamente, à dúvida
hiperbólica, à extravagante ficção de um génio maligno que deliberadamente o enganasse.
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• Eu, que penso e que me posso enganar ou ser enganado ou mesmo duvidar da existência do meu corpo e da
própria realidade física, bem como de todas as crenças dos sentidos e da razão, devo necessariamente ser
qualquer coisa e não nada.
• Cogito: substância pensante descoberta por intuição racional a partir do exercício da dúvida. Primeira verdade
indubitável do sistema cartesiano.
Do cogito á existência
Por que razão está Descartes tão seguro da certeza do cogito? O que faz com que o cogito seja invulnerável à
dúvida? Qual é a chave da indubitabilidade do sujeito que pensa? O filósofo responde: o facto de o cogito ser
percebido com clareza e distinção.
• A descoberta da existência do sujeito que pensa, do cogito, acontece não por inferência a partir de outras
crenças ou conhecimentos, mas por intuição racional ou intelectual, isto é, por conhecimento direto e
imediato, sem qualquer raciocínio e sem qualquer dúvida.
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• O cogito é uma evidência, algo que é presente e manifesto a qualquer espírito atento e que, à luz da razão,
percebemos de modo preciso, nítido, com toda a clareza e distinção.
Dualismo cartesiano
• Eu sou eu existo, sabe agora o filósofo. Mas o que sou eu? Sou apenas uma coisa pensante (res cogitans), uma
substância mental, cuja essência é pensar. Sou um intelecto ou uma razão que duvida, compreende, afirma,
nega, quer, não quer, imagina e sente.
• Pode Descartes, nesta fase da sua indagação, estar certo da existência do seu corpo como o está da sua mente?
Não, pois o seu corpo, ao contrário da mente, é matéria, faz parte do mundo físico, e os argumentos céticos
lançaram a suspeita sobre todas as crenças baseadas nos sentidos e na experiência.
• Esta perspetiva cartesiana é conhecida como dualismo de substâncias. O nosso corpo e a nossa mente são duas
substâncias radicalmente distintas.
• Por oposição ao cogito, cuja existência é absolutamente inegável, o seu corpo, a coisa extensa (res extensa), o
mundo físico ou substância material continua a ser dubitável.
Mente:
Coisa pensante
Substância mental (imaterial)
Dualismo de substâncias Indubitável
ou dualismo cartesiano
Corpo:
Substância física (material)
Dubitável
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• Inatas: Parecem fazer parte desde sempre da sua própria natureza (ideias de pensamento ou de verdade).
• Adventícias: Aparentam ter sido adquiridas através dos sentidos (ideias de sol ou de calor).
• Factícias: São invenções forjadas pela imaginação (ideias de sereia e de hipogrifo).
• Ainda que perceba de forma evidente que possui um corpo e que o mundo físico é real, que há um sol e que este
é fonte de calor, que garantia tem de que o que concebe como claro e distinto é de facto absolutamente
verdadeiro
• Para poder prosseguir, Descartes terá de afastar a possibilidade de um deus enganador e provar que aquilo que
conhece com clareza e distinção é absolutamente verdadeiro.
• Decidido a encontrar algo ou alguém exterior à sua mente que possa cumprir o papel de garante da
possibilidade de verdades indubitáveis, Descartes vai procurar comprovar a existência de um Deus
omnipotente, omnisciente e inteiramente bom.
• As duas provas que se seguem são baseadas exclusivamente na razão (a priori, portanto). Ambas têm como
ponto de partida uma mesma premissa: ter em si uma ideia de perfeição ou a ideia de um ser perfeito.
• Deus é ou existe e imprimiu na mente do filósofo a ideia de perfeição como uma marca inata da ação do artista
na sua obra.
• Deus é ou existe.
• O que nos autoriza a afirmar que este ser perfeito – Deus – não é enganador? A infinita bondade divina, incluída
na sua perfeição, afirma Descartes.
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Deus como garante epistemológico
• Deus – ideia inata impressa no cogito como uma marca do criador na criatura e, simultaneamente, entidade
exterior à sua mente, cuja justificação se encontra na clareza e distinção com que é descoberto – garante que
aquilo que é concebido como evidente, como claro e distinto, é necessariamente.
O cogito O mundo
Deus existe
existe físico existe
• Deus suporta todo o sistema cartesiano e garante a possibilidade de construir conhecimento substancial
(crenças verdadeiras justificadas) sobre o mundo (refutação do ceticismo).
• Em linhas gerais, a crítica assinala o facto de o filósofo ter estabelecido que é absolutamente certo tudo o que
concebemos com clareza e distinção, pois Deus existe e não tem a intenção de nos iludir e, simultaneamente,
afirmado que Deus existe e não é enganador, já que concebemos com toda a clareza e distinção a sua existência
e bondade.
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A dúvida cartesiana é impraticável e incurável
• Um dos mais importantes críticos do racionalismo cartesiano foi David Hume, pensador do século XVIII de cujo
pensamento nos ocuparemos já no próximo capítulo.
• De acordo com David Hume, a dúvida cartesiana é universal e estende-se, por isso, a todas as nossas crenças e
princípios, mas põe também sob suspeita as faculdades mentais e as operações do intelecto.
• Assim sendo, a dúvida metódica de Descartes é, para David Hume, impraticável e incurável.
• Na melhor das alternativas, considera Hume, o filósofo racionalista estaria apenas em condições de decretar a
existência de estados de dúvida ou pensamentos.
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