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Verdade e persuasão:

Argumento sólido: argumento que é valido e tem premissas e conclusão verdadeiras. É o caso
do argumento “ Todos os animais que ladram são cães. Os serra da estrela são animais que
ladram. Logo, os serra da estrela são cães. “

Cumpre as duas condições enunciadas: a) é logicamente correto; b) As suas proposições são


verdadeiras.

 O argumento “Todos os animais são seres que ladram. Os serra da estrela são animais.
Logo, os serra da estrela são seres que ladram” é válido mas não é sólido porque tem
premissa falsa (só os cães ladram).
 Os argumento filosóficos, por mais sólidos que possam parecer, podem ter premissas
pouco plausíveis para as pessoas a quem se dirigem. Assim, parece que além da
qualidade dos argumentos em si mesmos, é necessária a capacidade persuasiva de
quem argumenta.

O que é a teoria do conhecimento?


A teoria do conhecimento é a área da filosofia que investiga os problemas de essência, origem,
possibilidade e alcance do conhecimento.

O que é o conhecimento?
O conhecimento é uma relação entre o sujeito, quem conhece, um objeto, aquilo que é
conhecido, e um ato, que é a descrição do conhecimento.

Tipos de conhecimento:

 Conhecimento prático: consiste na capacidade ou aptidão para fazer algo. O


seu objeto é uma atividade – Saber conduzir uma mota.
 Conhecimento por contacto: consiste na experiência direta de objetos, factos
ou pessoas. O seu objeto são lugares, pessoas e coisas – Conhecer
pessoalmente o papa.
 Conhecimento proposicional: consiste em saber que certas proposições são
verdadeiras. O seu objeto são proposições verdadeiras –Ankara é a capital da
Turquia. (conhecimento que realmente interessa aos filósofos)

Em que consiste a definição clássica de conhecimento?


Segundo a definição clássica de conhecimento, há três condições necessárias para conhecer
uma proposição:

1. A proposição deve ser verdadeira;

2. Temos de acreditar que a proposição é verdadeira;

3. Deve haver boas razões ou evidências para acreditar que a proposição é verdadeira.

A crença por si não é conhecimento porque temos crenças falsas e a verdade é


inseparável do conhecimento. A crença verdadeira não é conhecimento porque posso
ter uma crença verdadeira por acaso ou acidentalmente. Para haver conhecimento,
não é suficiente que uma crença seja verdadeira. É também necessária a sua
justificação.

O conhecimento como crença verdadeira justificada:

 Crença: não se pode conhecer algo sem acreditar no que se diz conhecer.
 Verdadeira: o que é verdadeiro não pode ser objeto de conhecimento. A
proposição tem de ser verdadeira.
 Justificada: a crença verdadeira não pode ser uma simples opinião ou um
palpite. Tem de haver boas razões e evidências a favor da verdade da crença.

A objeção de Gettier
Gettier tenta provar mediante contraexemplos baseados em experiências de pensamento que
podemos ter crenças verdadeiras justificadas e, contudo, não ter conhecimento.

Temos uma crença verdadeira. Essa crença é verdadeira e justificada. Contudo, essa crença
verdadeira justificada pode não corresponder a um conhecimento.

A crença verdadeira justificada não é suficiente para haver conhecimento. Podemos acreditar
em algo verdadeiro sem saber que realmente é verdadeiro.

Ao criticar a definição tripartida de conhecimento, Gettier não cai no ceticismo, ou seja, não
defende que o conhecimento não é possível. Unicamente argumenta que a definição
tradicional não estabelece as condições suficientes para haver conhecimento.

A possibilidade do conhecimento e o problema da justificação


Perguntar se o conhecimento é possível e como dever ser fundamentado são duas questões
estreitamente ligadas. Se não houver fundamento para o que julgamos ser verdadeiro, não
haverá conhecimento. Hume e Descartes estão de acordo neste ponto.

Assim sendo, podemos supor que nem Descartes nem Hume poderiam ignorar uma posição
filosófica conhecida pelo nome de ceticismo. Em termos gerais, o ceticismo declara que o
conhecimento não é possível, porque mesmo que haja crenças verdadeiras, não as podemos
fundamentar e justificar.

Os céticos defendem que nenhuma crença ou opinião está justificada com base em 3
argumentos:

1. Há discórdia generalizada sobre o que é verdadeiro ou falso;

2. A perceção sensível engana-nos e ilude-nos (ilusões percetivas);

3. Uma crença não pode justificar outra porque, por sua vez, precisa de ser justificada.
Esta objeção é a que tem mais importância.

O racionalismo de Descartes
O projeto de Descartes
O projeto de Descartes é o encontrar uma verdade indubitável que, constituindo o primeiro
princípio do sistema dos conhecimentos, lhe permita construí-lo em bases firmes e de forma
ordenada.

O “sistema de conhecimentos estabelecidos” apresenta graves deficiências. Aponta duas que


estão estreitamente ligadas:

1. A base do sistema não é sólida e firme: fazendo com que o conhecimento dependa da
experiência, impede que haja uma justificação firme e segura das verdades que
descobrimos. (O conhecimento não recebe uma justificação adequada.);

2. Os supostos conhecimentos não estão bem organizados: fazendo com que o


conhecimeto dependa da experiência, impede que os conhecimentos sejam
organizados e ordenados de forma racional.

Estas deficiências exigem a constituição de um novo sistema de conhecimentos.

A importância e a função da dúvida metódica para começar de novo desde os


fundamentos
O que é a dúvida?

 Instrumento na procura de uma verdade absolutamente indubitável: a dúvida é um


ponto de partida cujo objetivo é chegar a uma verdade que resista a toda e qualquer
tentativa de a pôr em causa.

 Forma metódica de investigar a verdade separando totalmente o verdadeiro do


falso: a dúvida é um instrumento ao serviço do cumprimento da regra metódica, que
manda considerar falso o que não for absolutamente verdadeiro.

Para separar o verdadeiro do falso, a dúvida assume um caráter hiperbólico


(propositadamente exagerada): o que me enganar alguma vez não merece a mínima confiança
e o que suscitar a mais leve dúvida será declarado falso. Assim, terei a certeza de que, quando
descobrir uma crença de que não possa duvidar, estarei de posse de uma verdade
inquestionável.

Para encontrar uma verdade indubitável, Descartes vai dedicar-se a tentar provar que todas as
opiniões que recebeu são falsas.

Os fundamentos ou princípios do saber estabelecidos que Descartes vai questionar:

1. A crença de que a experiência é a fonte dos nossos conhecimentos, isto é, de que o


conhecimento começa com a experiência e de que podemos confiar nos sentidos.

2. A crença de que existe um mundo físico que, por isso mesmo constitui objeto de
conhecimento.

3. A crença de que o nosso entendimento (ou a nossa razão) não se engana ou não pode
estar enganada quando descobre verdades.

Tal como numa casa basta derrubar as fundações para que tudo o resto caia, também no
conhecimento humano, afirma Descartes, basta destruir os princípios de que tudo o resto
deriva.
A destruição das bases do “sistema dos conhecimentos estabelecidos”
Examinemos então as opiniões recebidas. Tentemos encontrar argumentos que as ponham em
causa. São 3 as razões fundamentais para duvidar. Estas correspondem a um igual número de
momentos do exercício da dúvida.

 A opinião ou crença de que os sentidos são a origem do conhecimento é falsa


 A opinião ou crença de que o mundo físico existe é falsa
 A crença nas verdades racionais pode ser falsa

O que a dúvida metódica/hiperbólica põe em causa:

1. As informações dos sentidos sobre as propriedades dos objetos físicos.

Como algumas vezes nos enganam, devemos, hiperbolicamente, desconfiar sempre


das informações dos sentidos sobre as qualidades dos objetos sensíveis. A teoria do
conhecimento de Descartes rejeita, por conseguinte, o empirismo.

2. A existência de objetos físicos

Se, por muito pouco que seja, posso duvidar de que sonho e realidade se distingam,
então, aplicando o princípio que regula a aplicação da dúvida hiperbólica, tenho de
concluir que o facto de julgar que tenho um corpo e de existirem objetos físicos é uma
ilusão.

3. A confiança nas operações e demonstrações da razão.

Baseado na hipótese de um Deus enganador, Descartes lança a suspeita sobre a


verdade das ideias que a razão humana produz, isto é, sobre os objetos inteligíveis.

A primeira verdade indubitável: “Penso, logo, existo” ou duvido de tudo, mas


não posso duvidar de que existo.
A dúvida é um ato que tem de ser exercido por alguèm, por um sujeito. O sujeito que tudo pôs
em causa não pode pôr em causa a sua existência, não há como fazê-lo. O ato de duvidar é a
“prova” de que ele existe. Como duvidar é um ato do pensamento, devo dizer “(Eu) Penso –
duvido de tudo neste momento -, logo, existo” – Cogito – é a 1ª e absoluta verdade.

A dúvida é:

 Metódica

 Hiperbólica

 Provisória

 Radical

A descoberta da existência do eu é uma intuição existencial.


 Intuição: ato em que a razão, sem recorrer a raciocínios, se apercebe da verdade de algo
sem margem para dúvidas.
Em Descartes, a intuição da existência do eu (intuição existencial) é acompanhada pela
intuição da essência do eu, ou seja, do que este é (uma substância pensante). Que o eu exista
como substância pensante é uma verdade autoevidente que não se baseia em nenhuma outra
verdade. A primeira verdade é “Eu existo como ser pensante”.

As características da primeira verdade ou do Cogito


 Conhecimento indubitável e autoevidente, que não depende de nenhum outro.

 Conhecimento a partir do qual se vão deduzir outros porque é absolutamente


primeiro.

 Modelo e critério de verdade.

 Ideia inata porque se impõe como verdade absoluta à razão sem recurso à experiência.

 Ideias inatas: estão no nosso espírito desde sempre (ao nascer), e, apesar de não
termos desde logo consciência dela, a nossa razão descobre-a quando dá atenção a si
e não às coisas exteriores.

 Ideias adventícias: ideias que derivam da experiência. Ex.: Lua, árvore, livro, etc.

 Ideias factícias: ideias que a nossa imaginação cria a partir das ideias adventícias. Ex.:
centauro, pai natal, etc.

A distinção alma-corpo: a primeira verdade obtida por dedução a


partir do Cogito
A afirmação “O sujeito que existe tem um corpo” é duvidosa ou, hiperbolicamente falando, a
crença de que o eu pensante tem um corpo é falsa. O eu não precia de um corpo para existir. A
alma, a substância pensante, é distinta do corpo porque a sua existência é independente da
eventual existência do corpo. Logo, tenho de concluir que existo como alma (razão,
pensamento, intelecto) e não como corpo.

Os problemas que Descartes tem de resolver depois de descobrir que o eu existe


exclusivamente como substância pensante

 Ultrapassar o solipsismo.

 Provar que as faculdades de conhecimento são merecedoras de confiança.

 Mostrar que a crença na existência do mundo físico é verdadeira.

O que é o Solipsismo?
A ideia de que só existe o sujeito pensante, o seu pensamento e as suas ideias. Posso ter ideias
de muitas coisas, mas posso pensar que nada de realmente existente corresponde a essas
ideias. Logo, só eu e as minhas ideias existem.
Segunda verdade que deduzimos da primeira verdade indubitável (cogito): Deus
como ser perfeito.
Descartes resolve os dois primeiros problemas provando que deus existe e que não é
enganador: A ideia de um ser perfeito existe no meu pensamento, mas qual a causa da ideia
de um ser perfeito? Ou é o sujeito pensante ou uma realidade diferente dele. O sujeito
pensante é imperfeito; como os atributos do ser perfeito são perfeições, o sujeito pensante
teria de ser perfeito para ser autor dessa ideia. Se a ideia de um ser perfeito existe,
necessariamente existe o ser perfeito que a pôs no sujeito pensante. A existência de deus é
então indubitável; o solipsismo foi em certa medida ultrapassado.

Função de Deus no sistema cartesiano dos conhecimentos.


Como deus é perfeito, ou seja, não é enganador, podemos confiar na nossa razão quando
pensa descobrir verdades. Deus é assim a garantia de que aquilo que conhecemos clara e
distintamente é verdade; sendo ele o fundamento ultimo de todo o saber.

Deus é a garantia da verdade objetiva.


É deus que me garante que aquilo que é claro e distinto para mim num certo momento seja
verdade objetiva, isto é, que valha independentemente de mim e sempre. Por outras palavras,
ele garante-me que as evidencias às quais dei o meu consentimento continuam a ser
evidencias mesmo quando já não penso nelas.

O conhecimento tem assim um fundamento metafisico porque deus (realidade metafisica) é o


ser que justifica ou funda a nossa crença de que o que é claro e distinto é verdadeiro sempre.

A existência do mundo físico


Descartes apercebe-se de que há ideias das coisas que não são produzidas pelo sujeito
pensante, como o nosso corpo, arvores, cadeiras, etc. Existindo, essas ideias devem ter uma
causa: as próprias coisas sensíveis. Esta crença natural de que existe mundo físico é legitima e
fundada, dado que Deus não me engana.

Principal critica a Descartes


Não se pode usar o critério da evidencia para provar a existência de Deus e, simultaneamente,
usar Deus para fundamentar o critério da evidencia. Por outras palavras, não se pode provar a
existência de deus partindo do principio de que tudo o que é claro e distinto é verdadeiro, pois
este critério só é seguro se deus existir.

Empirismo de Hume
O projeto de Hume: analise das capacidades do entendimento humano.
Hume pretende efetuar uma analise da mente que revele quais as capacidades e os limites do
entendimento humano, evitando especulações inúteis; mostrando assim como a mente
humana funciona e como o conhecimento se constitui.

Os conteúdos da mente: impressões e ideias.


Todos os conteúdos da mente são perceções. Estes conteúdos mentais dividem-se em
impressões e ideias e a diferença entre estas corresponde à diferença entre sentir e pensar.

 As impressões são constituídas por sensações provenientes dos sentidos (ver, ouvir, etc),
por sentimentos e emoções (desejar, odiar, etc). Estas são perceções atuais que temos das
coisas e do mundo e por isso são mais fortes e vivas do que as ideias. Como as ideias são as
imagens das impressões, uma impressão é necessariamente anterior a uma ideia.

o Simples: uma ideia simples na mente é semelhante a uma impressão simples e


vice-versa. Exemplos de impressões simples podem ser: diferentes cores ou tons
de cor, impressões táteis, gustativas, etc…

o Complexas: as impressões complexas são conjuntos de impressões simples.


Quando nos referimos a objetos, como a maça, referimo-nos a uma impressão
complexa.

 As ideias são as perceções que constituem os nossos pensamentos. As ideias são


perceções menos intensas e fortes do que as impressões pois são apenas imagens
mentais. Como as ideias são as imagens das impressões, uma ideia é necessariamente
posterior a uma impressão.
A associação de ideias.
Segundo Hume, nada é mais livre que a imaginação. Apesar de podermos através da
imaginação formar ideias como a de unicórnio ou centauro, o modo de associarmos ideias não
é arbitraria, obedecendo a regras. Regras chamadas de princípios de associação que nos
ajudam a expor e compreender a teoria de Hume. São elas:

 a semelhança (uma fotocopia leva-nos a pensar no original);


 a contiguidade no espaço e tempo (uma carruagem leva-nos a pensar nas outras que
constituem o comboio);
 e a relação de causa e efeito (uma queda leva-nos a pensar na dor que sentimos).
O principio da Cópia.
Há uma relação de dependência entre impressões e ideias, uma vez que todas as ideias
simples têm como seu antecedente uma impressão sensível. Do que não há impressão não há
ideia, assim, as ideias são copias das nossas impressões. Se as ideias são copias das impressões
então não há ideias inatas (que não tenham sido formadas a partir da experiencia). A
dependência das ideias em relação às impressões revela que a experiencia marca os limites do
nosso conhecimento. Do que não houver impressão sensível, não haverá conhecimento.

Objetos do conhecimento humano.


Segundo Hume, temos 2 formas de constituir conhecimentos: relacionando ideias e tendo
conhecimento acerca das questões de factos.

Conhecimento a priori (relações de ideias).


Os conhecimentos à priori são constituídos por proposições que relacionam ideias. São
conhecimentos à priori, ou, puramente racionais, uma vez que determinamos a sua verdade
sem recorrer à experiencia; a sua verdade pode ser conhecida pela simples inspeção lógica do
seu conteúdo ou mediante demonstrações baseadas em raciocínios dedutivos. Sua verdade é
necessária porque a sua negação implicaria uma impossibilidade lógica.

São exemplos de conhecimento a priori, as verdades Matemáticas como: 76 é o dobro de 38.


Conhecimento à posteriori (questões de factos).
Os conhecimentos à posteriori são constituídos por proposições que se referem a factos. São
conhecimentos à posteriori porque não podemos mostrar a sua verdade sem recorrer à
experiencia; a verdade das suas proposições é duvidosa e não necessária porque a sua
negação é logicamente possível.

São exemplos de conhecimento à posteriori os conhecimentos das ciências da natureza e das


ciências humanas: a diminuição do ozono atmosférico é um efeito do aumento da emissão de
gases poluentes.

Em que medida a filosofia de Descartes é diferente da filosofia de Hume?


Para Descartes, o conhecimento é entendido como certeza absoluta e não pode principiar com
a experiencia porque os sentidos não são fiáveis. Descartes é então racionalista.

Já para Hume, todo o conhecimento começa com a experiência porque todas as nossas ideias
são causadas por impressões das quais são cópias. Hume é então empirista.

O problema do conhecimento do mundo


O conhecimento do mundo é constituído por relações causais e por inferências ou raciocínios
indutivos.

Na base das explicações mediante a relação de causa e efeito e das nossas previsões e
generalizações (raciocínios indutivos) está a crença de que se a natureza se comporta sempre
do mesmo modo, que o seu comportamento é previsível (Principio Da Uniformidade da
Natureza).

O problema formula-se em 3 questões estreitamente ligadas:

a) Podemos justificar a nossa crença na ideia de conexão necessária entre


acontecimentos?
b) Podemos justificar a crença na verdade das conclusões que alcançamos mediante os
nossos raciocínios indutivos?
c) Podemos justificar ou fundamentar a crença de que a natureza se comporta de modo
regular e uniforme ou previsível? Os elementos em que se baseia o nosso
conhecimento do mundo baseia-se no Principio Da Uniformidade da Natureza, se não
conseguirmos justificar esta crença, não podemos justificar que o conhecimento do
mundo é possível.

O Problema da Causalidade
A origem da relação causa e efeito:
Para Hume:

a) A observação repetida da ocorrência conjunta de 2 acontecimentos gera a crença de


que um é a causa do outro.
b) A ideia de conjunção constante é um ingrediente necessário da relação causal, mas
não é suficiente para a caracterizar.

Na ideia de relação causal estão presentes elementos que são alvo de observação direta ( a
sucessão constante de dois factos) e que são inferidos (a ideia de que um acontecimento deve
necessariamente produzir outro – conexão necessária). Associamos assim a ideia de causa à
ideia de conexão necessária uma vez que entendemos a ligação entre causa e efeito como uma
relação que acontece sempre, o que aconteceu agora aconteceu no passado e acontecerá no
futuro. Sempre 2 eventos aparecem regularmente conjugados e sucedendo um ao outro,
julgamos que um se segue necessariamente do outro de tal modo que a causa tem o poder de
necessariamente produzir o efeito.

Ex: um determinado aumento da temperatura é a causa da dilatação de certos corpos.

O problema da justificação da relação causa-efeito como conexão necessária.


Segundo Hume a nossa crença na ideia de que há uma conexão necessária entre determinados
acontecimentos não pode ser justificada.

Uma vez que à ideia de relação causal, de uma conexão necessária entre dois fenómenos não
corresponde qualquer impressão sensível. Quando dizemos que A causa necessariamente B,
dizemos que A causa sempre B. Ora causar sempre significa causou, causa e causará; mas isto
implica que teríamos de ter a impressão deste poder causal no futuro. Contudo, de
acontecimentos futuros não temos qualquer impressão sensível. A experiencia não justifica
esse “salto” porque se reduz às impressões atuais e passadas, não podemos ter a experiencia
do que não aconteceu.

 Não pode ser justificada a priori porque da analise do conceito de causa não se deduz
que seja um acontecimento que tenha o poder de produzir outro.
 Não pode ser justificada à posteriori porque o facto de 2 coisas acontecerem sempre
ligadas, uma como causa da outra, não corresponde a qualquer impressão sensível.

A ideia de conexão necessária é produzida pelo hábito: não existe na realidade, mas
somente na nossa mente.
A nossa crença de que há acontecimentos que estão necessariamente conectados deve-se a
um fator psicológico: o hábito. O hábito gera em nós a crença de que aquilo a que chamamos
efeito deve seguir-se àquilo a que chamamos causa, porque estamos habituados a observar 2
acontecimentos constantemente conjugados e julgamos que um não pode acontecer sem o
outro.

O problema da Indução
O que habitualmente fazemos são generalizações e previsões. Assim, quando supomos que um
acontecimento causa sempre outro, prevemos que o surgimento do primeiro será seguido do
surgimento do segundo. As nossas relações causais e a confiança que depositamos nos
raciocínios indutivos baseiam-se na crença da Uniformidade da Natureza (suposição de que o
que sucedeu no passado voltará a acontecer no futuro do mesmo modo).

Justificar esta crença é condição necessária da justificação da indução. A reflexão de Hume


defende 2 testes:

 O PUN não pode ser justificado a priori (pela razão), através do simples recurso à razão
uma vez que é logicamente possível pensar que, apesar da natureza até agora se ter
comportado sempre do mesmo modo, no futuro ela deixe de se comportar assim.
 O PUN não pode ser justificado à posteriori (pela experiencia), por intermediário da
experiencia. O PUN tem base nos nossos raciocínios indutivos (passamos de uma
proposição à outra através de uma proposição intermediaria subentendida – o PUN); e
formámos a ideia de PUN de forma indutiva também (como até agora a natureza se
tem comportado sempre do mesmo modo, concluímos acreditando que ela se irá
comportar sempre como até agora). Cometemos assim uma falacia de petição de
principio porque justificamos a indução através da indução.

Uma teoria do conhecimento cética?


O conhecimento do mundo baseia-se na crença na regularidade da natureza. Como não há
justificação nem racional nem empírica para esta crença, temos de concluir que o
conhecimento do mundo não é possível no sentido em que não podemos justificar as nossas
crenças acerca dele.

Tese fundamental dos céticos: as nossas crenças, mesmo que possam ser verdadeiras, não
podiam ser justificadas.

Para Hume, o nosso conhecimento do mundo não é constituído nem por verdades indubitáveis
nem por verdades prováveis (conclusões aparentemente céticas). O ceticismo e Hume diz-se
moderado ou mitigado: Hume pensa que não podemos deixar de acreditar na ideia de
regularidade constante dos fenómenos porque sem esta crença a vida seria impraticável. O
nosso conhecimento do mundo não tem um fundamento objetivo, mas o hábito assume o
papel de principio produtor de uma crença natural segundo a qual o mundo funciona como
supomos que funciona.

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