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Filosofia- Teste 2º Período, 11º ano

“(…) e por isso é deixando-nos guiar pela Razão que podemos aspirar ao verdadeiro conhecimento,
isto é, aceder àquele conhecimento que nos proporcionará a certeza não apenas sobre a natureza
das coisas, mas também sobre a sua origem, e o qual nos permitirá também escolher e decidir
corretamente (…)”

1. O problema da definição do conhecimento

Epistemologia: área da filosofia que se dedica a investigar a natureza, as fontes, o alcance, os limites
do conhecimento.

O conhecimento pode ser entendido como uma relação entre um sujeito- que conhece- e um
objeto- que é conhecido.

Qual a origem do conhecimento? Razão, Racionalismo, Experiência, Empirismo.

Obra Teeteto, de Platão:

Abordagem que ficou conhecida como “definição tripartida do conhecimento”, pois estabelece que
existem três condições simultaneamente necessárias e suficientes para o conhecimento:

- A Crença
- A Verdade
- A Justificação

(Separadamente, as condições são necessárias mas não suficientes)

S sabe que P se, e só se,

1. S acredita em P;

2. P é verdadeira; e

3. S tem uma justificação para acreditar em P.

“Acreditar em algo que é verdadeiro e tenha motivos explicativos que apoiem essa crença.”

Gettier

Para Gettier, a definição tradicional do conhecimento apresenta condições necessárias mas não
suficientes para definir conhecimento.

2. O problema da possibilidade do conhecimento

O desafio cético (cético= dúvida ou incerteza)

Ceticismo é a corrente filosófica que desafia a nossa pretensão de que sabemos seja o que for,
pondo em causa a possibilidade do conhecimento.

Principais figuras:
- Pirro de Élis
- Sexto Empírico

O ceticismo pode ser dividido em dois pontos:

1. Ceticismo Radical: põe em causa qualquer possibilidade de toda e qualquer espécie de


conhecimento
2. Ceticismo Moderado: os céticos moderados reduzem o seu ceticismo a certos domínios do
conhecimento

(O dogmatismo ingénuo considera que o problema do conhecimento é um não problema.)

Os céticos antigos radicais (referidos anteriormente), consideravam que, uma vez que as pretensões
do conhecimento se podem revelar injustificadas, o melhor a fazer é suspender o juízo
relativamente a todo e qualquer assunto.

Suspensão do juízo: Atitude adotada pelos céticos radicais que defendem que não podemos afirmar
nem negar nada acerca da realidade, porque o conhecimento não é possível. (Exemplo: Eu não
posso conhecer o mundo, então não posso afirmar nada acerca dele)

Argumentos para a suspensão do juízo:

1. Regressão infinita da justificação

É sempre legítimo pedir uma justificação para cada uma das nossas crenças e, uma vez que essa
justificação consiste numa outra crença que, também ela, precisa de ser justificada, rapidamente se
instala uma cadeia de justificações.

O problema das cadeias de justificações é que elas podem simplesmente regredir infinitamente de
justificação em justificação, sem nunca chegarmos a justificar devidamente coisa nenhuma.

1. As nossas crenças justificam-se com base noutras crenças;

2. Se as nossas crenças se justificam com base noutras crenças, então sempre que tentamos justificar
uma crença caímos numa regressão infinita da justificação;

3. Se sempre que tentamos justificar uma crença caímos numa regressão infinita da justificação,
então nunca temos crenças justificadas;

4. Se nunca temos crenças justificadas, não há conhecimento;

5. Logo, não há conhecimento.

Para os céticos, não existem crenças básicas que possam justificar todas as outras, o que
impossibilita o erguer do “edifício do conhecimento”. Por não existirem crenças básicas ou
fundacionais, designamos por regressão infinita da justificação.

2. A ilusão dos sentidos

Os sentidos enganam-nos na maneira como captamos a realidade, e quem nos engana uma vez,
engana-nos sempre, não podendo então confiar nos nossos sentidos.

3. Fragilidade percetiva/ As nossas perceções são subjetivas

Cada um apreende a realidade de uma forma muito particular, e a mente humana pode facilmente
ser enganada por um conjunto de ilusões percetivas (Ex: ilusões de ótica)
A resposta fundacionalista

Segundo os fundacionalistas existem crenças básicas e o conhecimento é possível.

O fundacionalismo é uma perspetiva que defende que nem todas as crenças se justificam com base
noutras, isto é, acreditam na existência de crenças básicas ou fundacionais que permitem
“construir” o edifício do conhecimento.

Para clarificar este aspeto, vão introduzir uma distinção entre dois tipos de crenças:

- Crenças básicas: autoevidentes, ou seja, são de tal como evidentes que não precisam de ser
justificadas por outras crenças; justificam-se a si mesmas.
- Crenças não-básicas: pelo contrário, não são autoevidentes, são concluídas através de
outras crenças; justificam-se com base noutras crenças.

A metáfora do edifício surge porque tal como os alicerces (fundações) servem de suporte para a
totalidade de um edifício, sem que sejam suportados por outra coisa, também as crenças básicas
representam uma base sólida sobre a qual podemos edificar as restantes crenças.

Racionalistas

Alguns fundacionalistas são chamados de “racionalistas”, pois dizem que este tipo de crenças
provém da razão (são crenças que podemos saber através do pensamento); diz-se, por isso, que são
conhecidas a priori (pela razão, independentemente da experiência sensível (Ex: matemática, lógica,
geometria)).

Empiristas

Outros são chamados empiristas, pois consideram que as crenças básicas do mundo provêm da
experiência, isto é, são crenças que só podemos saber que são verdadeiras através dos nossos
sentidos; por isso são conhecidas a posteriori (só podem ser conhecidas através da experiência (Ex:
física, química, biologia, história)).

3. Descartes: a resposta racionalista

Descartes procurou arduamente responder ao desafio lançado pelo ceticismo e propôs encontrar
pelo menos uma crença que fosse absolutamente certa e indubitável (sem dúvidas). A perspetiva
que desenvolveu ficou conhecida como racionalismo cartesiano.

(Num período relativamente curto, as velhas certezas tradicionais foram postas em causa e assistiu-
se a um profundo abalo de convicções amplamente enraizadas. Instalou-se, assim, um clima de
ceticismo generalizado.)

O projeto cartesiano

Descartes decide levar o ceticismo ao extremo, ou seja, decide recorrer à própria dúvida como
método para provar a impossibilidade do ceticismo.

O seu método era a dúvida: duvidar de tudo o que possa imaginar e averiguar o que resiste a este
processo. Este método ficou conhecido como dúvida metódica.
A dúvida cartesiana é usada como método para alcançar o conhecimento e provar a
insustentabilidade (que não se pode sustentar/ manter) do próprio ceticismo. Assim, ao contrário da
dúvida cética original que é um ponto de chegada, a dúvida cartesiana é um ponto de partida,
apenas um meio para alcançar um fim (a verdade).

Sendo assim, concluímos que não se trata de uma suspensão permanente do juízo, mas sim de uma
decisão de considerar provisoriamente falso tudo o que seja minimamente duvidoso.

Dúvida Cartesiana

Podemos afirmar que a dúvida cartesiana apresenta quatro características fundamentais:

1. Metódica- Usada como um meio para chegar a um fim.


2. Universal- A dúvida aplica-se a tudo aquilo que suscita a mínima dúvida.
3. Provisória- A dúvida sobrevive até ser encontrada a primeira certeza (que será cógito).
4. Hiperbólica- É uma dúvida exagerada; ampliada; elevada ao extremo.

(MUPH metódica, universal, provisória, hiperbólica)

- Razões para duvidar

Para alcançar o seu objetivo, Descartes não precisa examinar cada crença isoladamente (tarefa que
seria interminável). Se decidirmos rejeitar todas as crenças minimamente duvidosas, basta-nos
debruçar sobre as principais fontes das nossas crenças. Se detetarmos o menor grau de dúvida numa
dessas fontes, temos justificação para rejeitar todas as crenças que delas provenham.

O seu objetivo era deitar abaixo todas as nossas convicções e verificar se alguma resistia a tamanha
devastação. Estes argumentos são conhecidos como “razões para duvidar”:

1. As ilusões dos sentidos

Os sentidos são enganadores. Uma vez que os nossos sentidos nos enganam algumas vezes, nunca
podemos saber se nos estão a enganar ou não.

1. Os nossos sentidos enganam-nos algumas vezes;

2. Se os nossos sentidos nos enganam, então não podemos saber se nos estão a enganar neste
momento ou não;

3. Se não podemos saber se os nossos sentidos nos estão a enganar, então não podemos confiar
neles;

4. Logo, não podemos confiar nos nossos sentidos.

(Como refutar esta “razão para duvidar”: Do facto de, por vezes, os nossos sentidos nos enganarem,
não se segue que temos boas razões para nunca confiar neles, até porque maior parte dessas ilusões
pode facilmente ser resolvida recorrendo aos próprios sentidos. Por exemplo: posso aproximar-me
para ver um objeto mais de perto, posso usar régua para fazer medições mais exatas,…)

2. A indistinção vigília-sono

A fragilidade da nossa perceção. Por vezes acreditamos que estamos a ter uma determinada
experiência, quando na realidade estamos apenas a sonhar. “Habitualmente, só depois de
acordarmos é que nos apercebemos de que estávamos apenas a sonhar. Mas poderemos alguma
vez estar certos de que já acordámos?”
(Como refutar esta “razão para duvidar”: Se refletirmos sobre o assunto, acabaremos por perceber
que quer estejamos a dormir, quer estejamos acordados, “2+3=5”, e, nesse caso, parecem existir
conhecimentos à prova deste argumento, nomeadamente, as verdades a priori da geometria e da
aritmética.)

3. Erros de raciocínio

Descartes coloca em questão alguns raciocínios matemáticos. Existe sempre a possibilidade de


cometermos certos erros, mesmo em raciocínios aparentemente simples.

1. Podemos cometer erros mesmo nos raciocínios mais simples;

2. Se podemos cometer erros mesmo nos raciocínios mais simples, então não podemos
justificadamente acreditar em crenças que tenham origem no nosso raciocínio;

3. Logo, não podemos justificadamente acreditar em crenças que tenham origem no nosso raciocínio.

(Como refutar esta “razão para duvidar”: Mesmo assim, podemos saber coisas elementares como
“Um quadrado é uma figura geométrica com quatro lados”.)

4. A hipótese do Génio Maligno

Descartes faz notar que desde muito novo lhe foi incutida a crença de que fomos criados por um ser
superior, sumamente inteligente e de poderes ilimitados. Ora, um ser com estas características
poderia introduzir nas nossas cabeças o que bem entendesse, fazendo-nos acreditar nos maiores
absurdos que possamos imaginar. Podia-nos fazer acreditar que um quadrado tem 4 lados, quando
na verdade tem três. Como podemos saber que isso não está, de facto, a acontecer?

No entanto, não poderia ser um/o Deus Enganador, pois este Ser é perfeito, não podendo possuir
qualquer espécie de defeito (no caso, ser enganador). Por este motivo, Descartes abandona a
hipótese do Deus Enganador, e recorre à hipótese de um Génio Maligno- um ser tão poderoso
quanto perverso, que se diverte a usar os seus poderes para nos induzir em erro relativamente a
tudo.

“Enquanto esta hipótese não for afastada, não podemos estar certos das crenças que provenham da
experiência sensível e do raciocínio.”

(Como refutar esta “razão para duvidar”: Para um génio maligno me manipular, eu tenho de existir-
por isso “Penso, logo existo”)

5. A cogito (a priori) (página 31)

Cogito, ergo sum – Penso, logo existo

- 1ª verdade (A crença básica, que não precisa ser justificada com base noutras crenças, e, por
conseguinte, pode estabelecer-se como primeira evidência, a “base do edifício”. Por mais
extremas que as nossas dúvidas possam ser, existirá sempre pelo menos uma coisa que
podemos saber com toda a certeza: que existimos (conhecimento a priori).)
- Critério de verdade: “Só penso considerar como verdadeiro tudo aquilo que se apresenta ao
meu espírito de forma clara e distinta tal como cogito se apresentou pela primeira vez.”
- Crença fundacional

A hipótese do Génio Maligno conduz à conclusão de que existe algo que podemos, garantidamente,
saber. Há uma crença da qual não se pode seriamente duvidar: “Penso, logo existo”.
Com cogito, Descartes “prova” a existência de um ser pensante.

O dualismo cartesiano: com cógito, Descartes conclui que é essencialmente uma substância
pensante (“res cogitaus”), isto é, uma mente ou alma que existe independentemente do corpo.

Assim, Descartes é conduzido à conclusão de que a mente e o corpo são coisas distintas (o corpo é
de natureza física, e a alma de natureza imaterial).

1. Posso conceber que existo sem ter um corpo;

2. Não posso conceber que existo sem ter uma mente/alma;

3. Se posso conceber que existo sem ter um corpo, mas não posso conceber que existo sem ter uma
mente/alma, então a mente/alma não é igual ao corpo;

4. Logo, a mente/alma não é igual ao corpo.

Os tipos de ideias

- Adventícias: têm a sua origem na experiência (Ex: mesa, cadeira, calor)


- Factícias: têm a sua origem na imaginação (Ex: sereias, unicórnios)
- Inatas: já nasceram connosco e têm origem na razão, dependem da nossa capacidade de
pensar (Ex: números, formas geométricas, verdade, Deus)

As provas para a existência de Deus

De entre as várias ideias que Descartes encontra na sua mente, existe uma que se distingue de todas
as outras: a ideia de Deus, ou Ser perfeito.

Porquê? Porque provar que Deus existe e não é enganador talvez seja a única forma de podermos
estar certos de muitas outras coisas para além da nossa existência enquanto pensamento, pois um
criador supremo e sumamente bom não nos teria criado de forma que estivéssemos
permanentemente a ser enganados e nunca pudéssemos conhecer a verdade.

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- O argumento da marca

Deus é uma ideia inata; Deus não pode ser uma ideia adventícia pois é uma ideia de um ser
imaterial; Deus não pode ser uma ideia fictícia porque é demasiado perfeita para ser criada por um
ser imperfeito.

Descartes pensava que qualquer causa tinha de ser pelo menos tão perfeita quanto os seus efeitos
e, uma vez que ele próprio reconhecia que duvidava e que não sabia muitas coisas, apercebeu-se de
que ele mesmo não era um ser perfeito e, consequentemente, não podia ser ele a causa de uma
ideia tão perfeita quanto a ideia de Deus.

Sendo assim, a única alternativa possível era esta ideia estar no seu espírito desde sempre, ou seja-
ser inata, e que teria sido lá colocada por um ser pelo menos tão perfeito quanto ela, ou seja- Deus,
que teria implantado lá essa ideia no momento da criação, como uma espécie de assinatura, ou
marca, do criador.

Isto significa que, para Descartes, o simples facto de termos a ideia de Deus é suficiente para
podermos concluir que Deus existe.)
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As provas para a existência de Deus

- Ideia de ser perfeito (pôr Deus na equação torna o conceito/a teoria frágil).
- Causa da ideia de perfeição tem origem no Ser Perfeito- Deus- ele deixou-nos uma marca (a
marca impressa).
- Causa do ser imperfeito só pode ter origem no ser perfeito. O ser perfeito não pode ter
origem no ser imperfeito.

Assim, provada a existência de Deus, ele garante que:

- Podemos confiar nas nossas ideias claras e distintas atuais e passadas.


- Podemos confiar no nossos raciocínios apoiados em premissas claras e distintas.
- Deus (é uma ideia clara e distinta) garante, Ele próprio, a clareza e a distinção de ideias.
- (Podemos construir com segurança o “edifício do conhecimento”; podemos deduzir muitas
outras verdades).

1. Posso confiar naquilo que concebo de forma clara e distinta se, e só se, Deus existe e não é
enganador;

2. Deus existe e não é enganador;

3. Logo, posso confiar naquilo que concebo de forma clara e distinta.

A existência de Deus é uma condição simultaneamente necessária e suficiente para que possamos
confiar nas nossas ideias claras e distintas.

Provada a existência de Deus e afastada a hipótese do Génio Maligno, Descartes considera que
podemos conhecer:

- As verdades matemáticas. (as verdades da geometria e da aritmética são absolutamente


certas e seguras, pois Deus não permitiria que um ser maléfico nos induzisse em erro)
- Coisas materiais/A experiência sensível (mundo/realidade não é ilusória- as sensações que
temos dos objetos são provocadas por esses objetos).

Assim, Descartes acredita que o conhecimento é possível e que Deus garante a clareza e a distinção
das nossas ideias sem estas serem afastadas por qualquer outro ser metafísica.

Em suma, Descartes defende que devemos usar a razão, recorrendo sobretudo à lógica, geometria e
matemática para compreender a verdadeira natureza das coisas (racionalismo).

(Para Descartes, o erro é da nossa inteira responsabilidade. Deus, uma vez que é sumamente bom,
criou-nos com livre-arbítrio, e isso acarreta a possibilidade de fazer boas ou más escolhas.)

Críticas a Descartes

Uma das críticas que pode ser apresentada a Descartes é no momento do cogito, Descartes
conseguir provar a existência de um ser pensante.

Muitos dos seus críticos consideram que cogito é uma conjunção de várias ideias: há pensamento e
há apenas um ser pensante a quem esse pensamento pertence e esse ser pensante sou Eu.

Contudo, com hipótese do génio Maligno, Descartes não se encontrava em condições de afirmar que
havia um Eu, isto é, uma pessoa a quem aqueles pensamentos pertenciam.
Assim, a crítica do cogito leva-nos à conclusão que é mais evidente a existência de um pensamento
do que a existência de um Eu (ser pensante) sobre a qual esses pensamentos repousam.

Nota: Descartes prova apenas a existência de pensamentos e não de um ser pensante, devido à
hipótese de Génio Maligno.

Falácia da circularidade

Alguns críticos consideram que Descartes comete a chamada falácia da circularidade ou da petição
de princípio; devido ao facto de apenas considerarmos como verdadeiro tudo aquilo que se
apresenta ao intelecto de forma clara e distinta. Contudo, Descartes considera que quem garante a
clareza e a distinção das nossas ideias é Deus, sendo Ele também uma ideia clara e distinta.

Assim, a falácia da circularidade comete-se quando: quem garante a clareza e distinção das ideias é
Deus, e Deus é uma ideia clara e distinta.

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