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Conhecimento

A origem do conhecimento
A noção central do nosso quotidiano designa-se de conhecimento. O conhecimento pode ser definido
com três palavras: crença, verdade e justificação, esta definição é conhecida maioritariamente como
definição tripartida ou teoria de CVJ. A origem do conhecimento é um tema central para a filosofia em
geral, mas mais para a epistemologia, em particular, que sustenta que o conhecimento é incerto e que
a certeza absoluta é inatingível. Filósofos céticos, questionam a confiabilidade dos sentidos e
argumentam que nunca podemos ter certeza absoluta sobre a verdade. Algumas das questões
principais a que o ceticismo tenta responder são: “o que é o conhecimento?”; “Como justificamos as
nossas crenças?”; “O conhecimento é subjetivo e varia de pessoa para pessoa?”. Estas questões
destacam a natureza desafiadora do ceticismo, que questiona as bases do conhecimento humano e
examina a confiabilidade dos métodos que utilizamos para adquirir e justificar as nossas crenças.

Distinguir o conhecimento a priori do conhecimento a posteriori.


A distinção entre conhecimento a priori e conhecimento a posteriori é uma parte fundamental da
epistemologia, que é o estudo do conhecimento. Essas categorias referem-se ao momento em que
adquirimos ou justificamos o nosso conhecimento em relação à experiência. O conhecimento a priori
é o conhecimento que podemos adquirir independentemente da experiência sensorial direta ou
específica, pois essa forma de conhecimento origina-se da razão, da lógica, da análise conceitual ou
de princípios autoevidentes. Um exemplo desse tipo de conhecimento são as verdades matemáticas,
como 1 + 1 = 2, e verdades lógicas, como "nenhum cego consegue ver", pois podem ser conhecidas
sem depender da experiência empírica. O oposto disso é o conhecimento a posteriori que é o
conhecimento que depende da experiência sensorial direta ou da observação. Exemplo disso é saber
se chove fora de casa, ou saber fatos históricos, porque só é possível saber essas informações por
meio de uma experiência sensorial.

Identificar as duas teorias filosóficas que respondem a este problema: empirismo e racionalismo.
O empirismo e o racionalismo são duas teorias filosóficas que oferecem respostas distintas ao
problema da origem do conhecimento e à questão de como adquirimos crenças verdadeiras. Ambas
as abordagens têm contribuições significativas para a compreensão do conhecimento, mas diferem
na ênfase dada à experiência sensorial e à razão inata. O empirismo está mais alinhado ao
conhecimento a posteriori, enquanto o racionalismo está associado ao conhecimento a priori.

Caraterizar o racionalismo.
O racionalismo defende que parte do nosso conhecimento é inata e baseada na razão,
independentemente da experiência sensorial. Os racionalistas apoiam a ideia de que um
conhecimento, para ser válido, necessita de satisfazer dois princípios: a necessidade lógica e a
universalidade. O racionalismo admite a tese inatista, a qual defende que o conhecimento parte de
impressões inatas que acompanham todos os seres humanos, os quais são dotados da capacidade
racional desde o nascimento, ao contrário do empirismo. René Descartes, um filósofo francês foi um
dos maiores contribuintes para o crescimento desta teoria do conhecimento, e na filosofia em geral.

1
Caraterizar o empirismo.
O empirismo defende que todo o conhecimento genuíno e a nossa estrutura cognitiva é fruto de uma
experiência sensorial e da observação do mundo, de modo que, quanto mais vastas e ricas forem as
nossas experiências pessoais, mais amplo será o nosso conhecimento. Por isso, os empiristas
defendem a ideia da “tábua rasa” que é uma visão em que a mente humana, no nascimento, é uma
folha em branco, desprovida de ideias, conhecimento ou predisposições inatas e, posteriormente,
essa folha em branco vai-se preenchendo ao longo da vida, consoante as experiências pessoais. Um
dos principais nomes relacionados ao empirismo é o de David Hume, um filósofo escocês que
influenciou significativamente a filosofia no que toca ao tema do conhecimento.

René Descartes: filósofo racionalista e David Hume: filósofo empirista e cético


dogmático

● A razão é a fonte do conhecimento ● A experiência constitui a fonte de todo o


verdadeiro; conhecimento;
● Existem ideias inatas, conhecimentos a ● Não existem ideias inatas,
priori; conhecimentos a priori, pois todas as
● O homem é capaz de atingir crenças e ideias têm uma base empírica
conhecimentos verdadeiros (confiança (conhecimento a posteriori);
na capacidade racional do homem). → ● A capacidade cognitiva do homem é
DOGMATISMO limitada, logo não há nada que garanta a
verdade do conhecimento →
CETICISMO

2
Descartes
Nada satisfaz Descartes?
Apesar de parecer um filósofo completamente desiludido, Descartes manifesta um grande entusiasmo
pelo conhecimento matemático. Esse conhecimento é puramente racional, claro e distinto, de tipo
dedutivo, em que raciocínios se encadeiam de forma rigorosa.
Descartes pretende aplicar esse modelo de raciocínio à atividade filosófica.

Descartes e o Saber Tradicional


Atitude de Descartes perante o saber do seu tempo (saber tradicional) caracteriza-se segundo dois
parâmetros:
➔ O conjunto dos conhecimentos que constituem o sistema do saber tradicional assenta em
bases frágeis.
➔ Esse conjunto é constituído por conhecimentos que não estão devidamente ordenados.

Objetivo de Descartes
Alcançar conhecimentos indubitáveis, seguros.

Como? De que forma?

Conduzindo bem a razão, o que implica um método

Na obra Discurso do método, Descartes começa por afirmar que o bom senso (a razão) é a coisa
mais bem distribuída e que todos os homens são capazes de distinguir o falso do verdadeiro.
Descartes questiona-se: porque é que que algumas pessoas se enganam? A resposta é simples,
alguns usam a razão de uma melhor maneira , ou seja, têm um bom método.
A sua intenção era apresentar um método (criado e seguido por ele) que conduzisse a razão do
indivíduo em busca do que era verdadeiro, ou seja, o seu desígnio não era ensinar nesta obra “o
método que cada qual deve seguir para bem conduzir a sua razão, mas apenas mostrar de que
maneira me esforcei para conduzir a minha”.

Regras do método
Descartes fala-nos da importância da matemática. Esta parte do universal (princípio sólido) para
particular. Através das leis óbvias e válidas chegamos a outras. O seu método é inspirado na
matemática.
1 - Regra da Evidência: (clareza e distinção) que diz que só o que é claro e distinto é que faz parte da
ciência e que uma ideia clara e distinta é uma ideia que não se pode pôr em dúvida .
Recapitulando : não aceitar nada que não seja claro e distinto.

2 - Regra da Análise/Divisão que divide o problema em diferentes partes para o analisar mais
especificamente.

3 - Regra da Síntese que analisa o problema do mais simples para o mais difícil.

4 - Regra da Enumeração / Revisão que volta ao início para rever tudo e confirmar , só assim se pode
aceitar com certeza as nossas
conclusões.

3
A dúvida cartesiana
Descartes pensa que se pusermos tudo em dúvida, podemos chegar a um princípio que se apresenta
de forma tão clara e distinta, que resiste a toda a dúvida. A partir desse princípio podem
posteriormente alcançar-se novas conclusões.

Descartes para chegar à verdade começa por duvidar de tudo:


➔ Preconceitos e juízos precipitados que formulámos na infância.
➔ Os sentidos podem enganar-nos.
➔ Alguns seres humanos enganaram-se nas demonstrações matemáticas.
➔ Porque não dispomos de um critério que nos permita discernir o sonho da vigília.
➔ Possibilidade da existência de um Deus Enganador ou um Génio Maligno.

A dúvida cartesiana: caraterísticas


➔ Metódica: meio para atingir a certeza e a verdade, não constituindo um fim em si mesma.
➔ Provisória: não é definitiva, é para ser superada pela verdade.
➔ Hiperbólica: rejeita-se como se fosse falso tudo aquilo em que se note a mínima suspeita de
incerteza.
➔ Universal e radical: incide não só sobre o conhecimento em geral, como também sobre os
seus fundamentos e as suas raízes.
➔ Voluntária: duvida porque quer.

Descoberta de uma verdade indubitável


O exercício da dúvida conduziu ao alcance de uma verdade absolutamente indubitável e inabalável
(Penso, logo existo). Assim, para duvidar, é necessário que haja um sujeito que duvide, ou seja, a
dúvida é um ato do pensamento que só é possível se houver um sujeito que a realize. Deste modo, a
célebre afirmação “Penso, logo existo” é a verdade indubitável da qual partirá todo o conhecimento.

Características da 1ª verdade: cogito


➔ É tão evidente que o pensamento não pode dela duvidar.
➔ Dela dependerá o conhecimento do resto, nada poderá ser conhecido sem ela;
➔ Trata-se de uma verdade puramente racional, uma vez que foi descoberta sem qualquer uso
da experiência;
➔ É uma verdade descoberta a partir da intuição: o sujeito que duvida não resulta de um
silogismo, porque para isso teria de ser deduzido de um silogismo mais anterior “Tudo o que
pensa existe”. Isso não se verifica, pois a única certeza de que o sujeito dispõe é da sua
existência;
➔ O “cogito” vai funcionar como modelo da verdade: serão verdadeiros todos os conhecimentos
que forem tão claros e distintos como este primeiro conhecimento;
➔ A essência do sujeito que duvida é uma substância meramente pensante, à qual Descartes dá
o nome de res cogitans (coisa pensante / alma);
➔ A alma é distinta do corpo, não precisando deste para existir;
➔ O “Cogito” corresponde ao “grau zero” do conhecimento no que respeita aos objetos físicos e
inteligíveis;
➔ É a afirmação da existência de um ser que é imperfeito.

4
As operações da razão: intuição racional e dedução

Tipos de ideias: inatas, adventícias e factícias (p. 158 do manual)

Partamos das ideias que estão presentes no sujeito. Elas


possuem um conteúdo que representa alguma coisa. Dessas
ideias, umas serão adventícias, ou seja, têm origem na
experiência sensível (por exemplo, as ideias de barco, copo,
cão); outras, factícias, fabricadas pela imaginação (por
exemplo, as ideias de centauro, dragão, sereia); por fim, há
também ideias inatas: são ideias constitutivas da própria
razão (por exemplo, as ideias de pensamento e de existência,
assim como as várias ideias matemáticas). As ideias inatas
(já o sabemos) são claras e distintas e podem ser
caracterizadas como as sementes do conhecimento.

As provas da existência de Deus


➔ Estamos absolutamente certos de que o “eu penso, logo existo” é uma verdade porque
compreendemos com toda a clareza e distinção que para pensar é preciso existir.
➔ Descartes admite então a seguinte regra geral: é verdadeiro tudo aquilo que concebemos
muito claramente e muito distintamente.
➔ Este é o critério das ideias claras e distintas. Se, como no cogito, temos uma perceção
intelectual completamente clara e distinta da ideia considerada, podemos ter a certeza de
estar perante uma ideia verdadeira.
➔ Mas ainda não se afastou a hipótese do deus enganador (Génio Maligno).
➔ Há a necessidade de demonstrar a existência de um deus que não nos engane, ou seja, de
um deus que traga segurança e seja garantia das verdades, afastando de vez qualquer
ameaça do ceticismo.
➔ Apesar de evidente, o cogito não é suficiente para fundamentar o edifício do saber.
➔ A certeza penso, logo existo é uma certeza subjetiva.
➔ Não se consegue alcançar uma efetiva fundamentação do conhecimento sem se descobrir o
que se encontra na base do pensamento e na origem da existência do sujeito pensante.

5
As provas da existência de Deus (continuação)
★ Entre as ideias inatas que possuímos encontra-se a noção de um ser perfeito (omnisciente,
omnipotente e sumamente bom).
★ A ideia de ser perfeito servirá de ponto de partida para a investigação relativa à existência do
ser divino.
★ Descartes demonstra a existência de Deus mediante três provas:

1ª prova - Argumento Ontológico:


➔ Arte da constatação de que na ideia de ser perfeito estão compreendidas todas as perfeições;
➔ A existência é uma dessas perfeições. Por consequência, Deus existe;
➔ O facto de existir é inerente à essência de Deus, de tal modo que este ser não pode ser
pensado como não existente;
➔ A sua existência apresenta um carácter necessário e eterno.

2ª prova
➔ O ser pensante é imperfeito, pois duvida (se fosse perfeito, não duvidava);
➔ No entanto, possui a ideia de perfeição;
➔ Podemos procurar a causa que faz com que essa ideia se encontre em nós;
➔ Tal causa não pode ser sujeito pensante, pois essa ideia representa uma substância infinita;
➔ Nesse sentido, o sujeito pensante, sendo finito, não é a causa da realidade objetiva de tal
ideia;
➔ O nada também não pode ser a sua causa, nem qualquer ser imperfeito;
➔ A causa da ideia de Deus não é outro ser senão Deus;
➔ Assim, Deus é uma realidade que possui todas as perfeições representadas na ideia de ser
perfeito.

Em suma, Deus é ele próprio ser perfeito e a causa originada da ideia de perfeição.

3ª prova: baseia-se no princípio da causalidade


➔ O que agora se procura saber é:qual é a causa da existência do ser pensante, que é um ser
finito, contingente, imperfeito.
➔ Essa causa não é o sujeito que pensa, se o fosse, com certeza que ele daria a si próprio as
perfeições das quais possui uma ideia. Mas isso não se verifica.
➔ Por outro lado, e partindo do princípio de que a criação é uma ação contínua, o sujeito finito
apercebe-se de que não possui o poder de se conservar no próprio ser.
➔ Por isso, o criador do ser imperfeito e finito é Deus, que por sua vez é um ser perfeito e não
necessita de ser criado por outro ser.

Importância de Deus no sistema cartesiano


➔ Deus sendo um ser perfeito, não é enganador, pelo que nos encontramos libertos da
dimensão hiperbólica e mais corrosiva da dúvida.
➔ Deus é a garantia da verdade objetiva das ideias claras e distintas, pois ele constitui a garantia
de que não nos enganamos.
➔ Deus é o princípio do ser e do conhecimento.

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Críticas ao racionalismo Cartesiano
A - É exclusivista
Inspirando-se na matemática, Descartes exclui qualquer tipo de conhecimento que tenha origem nas
impressões sensíveis (os sentidos não são uma fonte fidedigna); a única e exclusiva fonte do
conhecimento é a razão. Pode- se, sempre colocar a seguinte questão: uma mente absolutamente
vazia de conteúdos empíricos pode ser ponto de partida para o conhecimento? Descartes diz “pode”;
outros acham que não pode por considerarem que as informações sensíveis também contribuem para
a produção do conhecimento.

B - É dogmático
Confiança na razão humana: a partir do cogito (res cogitans) é possível deduzir conhecimentos
seguros como a existência de Deus (res infinita) que é o garante da verdade e a existência do mundo
físico (res extensa).

C - É circular (falácia da petição de princípio)


A objeção de Antoine Arnauld pode ser expressa em poucas palavras:
Descartes afirma que Deus é a garantia da verdade do que conhecemos com clareza e distinção,
mas ao mesmo tempo usa a clareza e distinção para provar a existência de Deus.

Descartes raciocina em círculo e, portanto, comete uma falácia da petição de princípio:


1) Deus existe porque concebemos clara e distintamente a sua existência, e tudo aquilo que
concebemos clara e distintamente é verdadeiro.
2) Tudo o que concebemos clara e distintamente é verdadeiro, porque Deus existe.
Por outras palavras, Descartes tenta provar que Deus existe, mostrando que a sua existência é uma
ideia clara e distinta e a garantia de que uma ideia clara e distinta é verdadeira está no facto de Deus
existir. Há uma circularidade: tenta-se justificar a proposição de que Deus existe pressupondo o
critério das ideias claras e distintas, e depois tenta-se justificar este critério apelando à existência de
Deus.
Se esta objeção for correta, como muitos pensam, o seu efeito para a filosofia de Descartes é
devastador. Ao contrário do que afirma, Descartes não provou a existência de Deus nem a verdade
do que percebemos clara e distintamente e, portanto, não tem nenhum fundamento absolutamente
certo para o conhecimento. O seu projeto cai pela base.

D - Afirmação da existência como predicado (argumento ontológico)


➔ Descartes infere que Deus existe a partir da ideia de perfeição (Sendo Deus perfeito tem que
existir, caso contrário não seria perfeito).
➔ Descartes toma a existência como uma propriedade, quando a existência é uma condição de
possibilidade para que Deus tenha qualquer propriedade/ predicado (a perfeição).
➔ Qualquer coisa para ter uma qualidade/predicado/atributo, primeiro tem que existir. Assim, a
existência não pode ser entendida como sendo uma propriedade.
➔ Descartes parte do princípio que pensar um ser perfeito implica a sua existência.
➔ Mas, para Kant, pensar um ser perfeito não implica a sua existência, criticando Descartes por
passar ilegitimamente do pensamento ao conhecimento e à existência: pensar não é conhecer
e o facto de pensar uma coisa não significa que essa coisa exista (penso que tenho uma nota
no bolso, mas isso não significa que passe a existir um nota no bolso).

7
David hume
Quais são os elementos do conhecimento?
Quais os tipos de perceções?
Todo o conhecimento tem origem nos sentidos, nas perceções sensíveis;
As perceções não têm todas o mesmo grau de vivacidade e de força;
Daí, a distinção feita por David Hume entre impressões e ideias/ pensamentos.
(ver p.165 do manual)

Os elementos do conhecimento/tipos de perceções


Impressões / Sensações:
➔ A perceção de algo presente aos sentidos é mais vivo do que a sua imaginação ou
representação;
➔ Apresentam maior grau de vivacidade e força;
➔ Incluem-se nas impressões, as sensações, mas também as emoções e as paixões (amor,
ódio, desejo, ira, entre outras);
➔ Estão na origem das ideias.

Ideias / Pensamentos:
➔ São as representações das impressões, ou seja, são as imagens enfraquecidas das
impressões;
➔ Não têm o grau de vivacidade e força das impressões;
➔ Para Hume, “o mais vivo pensamento é ainda inferior à mais baça sensação.”
➔ As ideias derivam das impressões, cada ideia deriva de determinada impressão ;
➔ Uma ideia não pode existir se não existir uma impressão prévia;
➔ São cópias das impressões.

Exemplos:
Uma impressão é a cor que os olhos veem; uma ideia é a memória dessa cor;
Uma impressão é a dor de dentes; uma ideia é imagem dessa dor na memória;
Uma impressão é estar aqui na aula, ver os alunos; uma ideia é em casa lembrar-me da aula de hoje
e dos alunos.

David Hume
➔ Os elementos do conhecimento são as impressões e as ideias;
➔ Como as ideias são cópias das impressões e como as impressões estão ligadas aos sentidos,
conclui-se que todo o conhecimento deriva da experiência;
➔ É na experiência que se encontra o fundamento do conhecimento;
➔ Toda a realidade se reduz à multiplicidade de impressões e ideias e às relações entre elas.
➔ Não há conhecimento fora dos limites impostos pelas impressões;
➔ Critério para distinguir uma ideia verdadeira de uma ficção: se uma ideia não tem como base
uma impressão é uma ficção. Mas, uma ficção acaba por ser baseada também em impressões
(cavalo alado, minotauro, centauro, sereia, entre outras.)

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Quais são os tipos/modos de conhecimento?
David Hume distingue o conhecimento das relações que existem entre ideias (relações de ideias) do
conhecimento de factos (questões de facto). (ver pp.169 e 170)

Relações de ideias:
➔ Conhecimentos a priori que resultam da análise dos elementos de uma proposição e do
estabelecimento de relações entre as ideias que ela contém.
➔ A verdade das proposições que exprimem relações de ideias não depende do confronto com a
experiência.
➔ As relações de ideias são verdades necessárias: não é logicamente possível a sua negação.
➔ As proposições que exprimem relações de ideias não nos dão conhecimento do mundo (a
lógica e a matemática)

Exemplos:
a) Três vezes cinco é igual à metade de trinta.
Se se disser que três vezes cinco não é igual à metade de trinta ou que o todo não é maior do
que as partes, afirmar-se-á algo que é logicamente impossível, pois envolve uma contradição.
b) O todo é maior do que as suas partes.

Questões de facto:
➔ São a posteriori e a verdade destas proposições tem de ser testada pela experiência.
➔ A verdade das proposições de facto é contingente (não é logicamente impossível a sua
negação).
➔ As proposições que exprimem questões de facto são baseadas na experiência e dão-nos
conhecimentos do mundo.

Exemplo:
c) O sol vai nascer amanhã.
Se se disser que o sol não irá nascer amanhã , está-se a afirmar algo que é logicamente possível,
apesar de ser muitíssimo improvável. A ideia do sol não nascer amanhã não envolve qualquer
contradição, já que se consegue conceber perfeitamente essa hipotética situação.

Associar ideias
Os princípios de associação de ideias são:
➔ A semelhança (um rosto desenhado remete-nos para o original);
➔ A contiguidade no tempo e no espaço (A lembrança de um comboio leva a pensar na estação
, nos passageiros;
➔ A causalidade (causa e efeito) - a água fria posta ao lume (causa) faz pensar na fervura
(efeito) que se lhe seguirá.

9
A noção de causalidade
Porque é que estabelecemos uma relação entre um efeito e uma causa naquilo que observamos?
A resposta de David Hume é a seguinte:
➔ O conhecimento das relações causais baseia-se na experiência
➔ Não podemos descobrir a priori, recorrendo apenas ao pensamento, que certos objetos ou
acontecimentos causam outros objetos ou acontecimentos;
➔ Os objetos e acontecimentos entre os quais existe uma relação causal são completamente
distintos;
➔ Sem o auxílio da experiência não é possível saber que efeito terá um objeto ou
acontecimento, nem que causa o produziu.

Exemplos:
➔ Suponha-se que arremessamos uma pedra para um vidro. Se não tivermos qualquer
conhecimento empírico acerca do vidro, seremos incapazes de prever que o arremesso terá o
efeito de o quebrar.
➔ Se não nos basearmos na experiência passada não seremos capazes de inferir se um monte
de cinzas foi causado por uma fogueira.
➔ Se um ser humano chegasse a este mundo com grande capacidade de raciocínio, mas sem
qualquer experiência, não conseguia fazer inferências causais, seria incapaz de descobrir as
causas e os efeitos daquilo que estivesse a observar .

O que se está a dizer, quando se afirma que existe uma relação causal entre certos objetos ou
acontecimentos?
Consideremos uma relação causal entre dois acontecimentos ou objetos, A e B.
Segundo Hume, dizer que A causa B (ou que B é um efeito de A) corresponde a afirmar que os
acontecimentos ou os objetos do género de A estão constantemente conjugados com os objetos ou
acontecimentos do género de B.

Por exemplo, se dissermos que o arremesso da pedra causou a quebra do vidro, isto significa que a
arremessos similares se seguem sempre quebras similares. E a afirmação de que a fogueira causou
as cinzas significa que aos acontecimentos similares à fogueira se seguem sempre cinzas similares.

Resumindo, as relações causais consistem em meras regularidades observáveis. Em termos gerais,


afirmar que A causa B é dizer que sempre que ocorre ou existe algo do género de A a seguir ocorre
ou existe algo do género de B.

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A conexão necessária
Contra a perspetiva de Hume, pode-se objetar que a causalidade não consiste em simples
regularidades empíricas, na mera conjunção repetida de dois géneros de acontecimentos ou de
objetos, pois aquilo que é essencial numa relação causal é a existência de uma conexão necessária
entre causa e efeito. Em resposta a esta objeção, Hume refere que a ideia de conexão necessária
resulta de um sentimento interno adquirido pelo hábito.

Retomemos o exemplo da fogueira e da cinza. Em casos particulares, não conseguimos observar


qualquer conexão necessária entre estes dois objetos. Porém, se virmos repetidamente fogueiras e a
seguir amontoados de cinza, acontecerá o seguinte: sempre que estivermos diante de uma fogueira,
o hábito conduzir-nos-á à expectativa de observar um amontoado de cinza depois desta se extinguir.

A conexão entre os dois objetos é então algo que sentimos na nossa mente e é este sentimento que
produz a ideia de conexão necessária. Deste modo, a conexão necessária entre causa e efeito não é
exterior à nossa mente, não existe nas próprias coisas; é antes algo que existe na nossa mente e que
a nossa mente projeta no mundo, criando a ilusão de que essa conexão se verifica na realidade.
Porém, fora de nós não encontramos mais do que regularidades ou conjunções constantes entre
objetos ou acontecimentos.

O hábito e sua importância


A experiência mostra que objetos ou eventos familiares se combinam constantemente, o que permite
concluir/inferir que a um evento/objeto se sucede outro.
Tais eventos encontram-se conjugados, mas não conectados; ou seja, a experiência revela que estão
associados, mas não fornece nenhum conhecimento acerca da razão secreta pela qual um evento
produz outro evento.

Qual o princípio que permite concluir que a um evento se segue outro?


Esse princípio é o HÁBITO ou COSTUME. É por observarmos repetidamente que a A sucede B que
somos levados a esperar no futuro uma série de eventos semelhantes aos que apareceram no
passado. Daí Hume afirmar que o costume: seja o grande guia da vida humana (torne útil a
experiência), sem este princípio seríamos ignorantes quanto às questões de facto.

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Críticas a David Hume
A - É reducionista
Os empiristas caem no mesmo erro dos racionalistas (reducionistas e exclusivistas):
Enquanto os racionalistas defendem a razão como única fonte do conhecimento, os empiristas, como
Hume, defendem a experiência como a única fonte de todo o conhecimento, reduzindo o
conhecimento humano ao conhecimento empírico, isto é, ao conhecimento que tem origem nas
informações sensíveis;
Kant crítica Hume por considerar que a formação do conhecimento não provem apenas da
experiência; algo há no sujeito (o entendimento) que permite dar inteligibilidade às informações
sensíveis.

B - Ceticismo:
Se a única fonte do conhecimento é a experiência, então o conhecimento que os humanos podem
alcançar está limitado ao que os sentidos são capazes de captar, não sendo possível o conhecimento
do suprassensível.

C- Crítica de Bertrand Russell, séc. XX


Contesta a posição de Hume face ao problema da indução, embora ambos partilhem da ideia de que
a indução não garante a verdade do conhecimento.

David Hume A indução não permite justificar racionalmente a verdade das nossas
crenças, pois a relação de causalidade não é mais do que o resultado do
hábito (é por estarmos habituados a que a X se segue Y que sempre que
surja X esperamos Y);

A constante conjunção entre os fenómenos leva a induzir o desconhecido a


partir de casos conhecidos.

Bertrand Russell Se se fazem conjunções entre fenómenos é porque a razão autoriza a


fazê-lo, ou seja, há boas razões que sustentam tal inferência;

É racionalmente aceitável que a existência de uma conjunção constante


entre X e Y seja a melhor explicação para que X seja a causa de Y.
Ex: ao dar ordem de impressão de um documento (X), a folha de
papel surge impressa (Y); estabeleço uma conjunção constante
entre a ordem que dei e a folha de papel que imprimi.
Afirmo que X é causa de Y. Não é o hábito, mas o facto de haver tinta no
tinteiro e de a impressora estar a funcionar corretamente que justificam a
minha crença de que o documento será impresso.
A minha inferência é feita, tão-somente, a partir da interpretação racional de
um conjunto de sinais que me fazem procurar a melhor explicação possível
para o sucedido;

A crença nas relações causais entre acontecimentos pode ser


racionalmente justificada.

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Filosofia da Ciência

Importância do método na investigação científica


O objetivo da ciência é explicar fenómenos.
O caráter rigoroso e aprofundado do conhecimento científico reside no facto de resulta de uma
investigação metódica.

Método:
➔ (do grego meta+ odos) significa caminho para;
➔ pressupõe uma série de etapas/fases.

Existem diferentes tipos de métodos:


➔ método indutivo
➔ método hipotético-dedutivo

Problema da demarcação
Em que consiste o problema da demarcação? Qual a sua pertinência filosófica?
A expressão problema da demarcação foi introduzida por Karl Popper e remete para a tentativa de
distinguir a ciência da não-ciência. Precisamos de uma explicação do que a ciência é para saber, por
exemplo, em que especialistas confiar.

Pode ser equacionado da seguinte forma: O que têm de especial as teorias científicas? O que
distingue as teorias científicas das que não são científicas?
O seu esclarecimento implica encontrar um critério de cientificidade adequado que permita
estabelecer uma fronteira entre a ciência e a pseudociência

Dois critérios de cientificidade


➔ Critério da verificabilidade e confirmabilidade: uma teoria científica é científica se, e apenas se,
for verificável e confirmável (associado ao método indutivo).
Dizer que uma teoria é verificável significa dizer que é comprovada pela experiência, ou seja,
que a experiência confirma a teoria.
➔ Critério da falsificabilidade: uma teoria científica é científica se, e apenas se, for falsificável
(associado ao método hipotético dedutivo, ao método das conjeturas e refutações de Karl
Popper)

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Método Indutivo
(associado aos positivistas lógicos do Círculo de Viena)
➔ Refere-se aos procedimentos metodológicos que formulam hipóteses a partir de dados de
observações, isto é, partindo dos factos;
➔ Começou a ser usado por Francis Bacon (século XVII) e foi, depois, defendido por Stuart Mill,
Comte e pelos filósofos do Círculo de Viena (Mach, Schlick, Carnap).

O Indutivismo assenta em duas crenças:


➔ O raciocínio indutivo é um raciocínio científico;
➔ A experimentação é critério de confirmação e verificabilidade empírica das teorias científicas.

Perspetiva indutivista do método científico


De acordo com uma ideia de método científico, ainda hoje muito popular, a investigação em ciência começa
pela observação de um certo aspeto do mundo, por exemplo, a constatação de que alguns arbustos de
hortênsias, depois de transplantados, apresentam alterações na coloração das suas flores. Nesta primeira fase,
o objetivo dos cientistas é, de forma tão imparcial e isenta de preconceitos quanto lhes for possível, recolher,
registar e organizar dados empíricos.

Depois da observação de um número significativo de casos particulares, ou seja, munidos de uma amostra
representativa do universo investigado, os cientistas passam à etapa seguinte, a criação ou formulação de uma
hipótese. Sugere-se, neste caso, por exemplo, que “A coloração das flores de hortênsias depende do pH do
solo que as comporta”, ou seja, do potencial de hidrogénio (acidose ou alcalose) do solo. A enunciação da
hipótese corresponde à criação de uma suposição, teoria ou conjetura capaz de explicar os padrões
observados e de, simultaneamente, prever o funcionamento do mundo em casos futuros idênticos.

O trabalho prossegue e a suposição é testada sob certas condições controladas. Realizam-se novas
observações: por exemplo, são plantados alguns arbustos de hortênsias em solo ácido (pH inferior a 7) e outros
em solo alcalino (PH acima de 7). A esta etapa chamamos experimentação.

Se as observações da experimentação permitirem a verificação ou confirmação daquilo que a hipótese prevê,


é então estabelecida, por generalização, uma lei ou teoria. Com este enunciado universal, os cientistas
acreditam estar aptos a explicar um dado aspeto do mundo e a gerar previsões extraordinariamente precisas.
Estas previsões serão válidas, não apenas para os casos particulares observados, mas para todos os casos
semelhantes que ocorram noutros tempos e lugares, o que, de acordo com o nosso exemplo, significará
explicar as variações na coloração das flores de todos os arbustos de hortênsias, passados, presentes e
futuros.

Hipótese: Suposição, teoria ou conjetura que deve ser sujeita a testes complementares.
Experimentação: Observações ou procedimentos sistemáticos que são realizados em ambiente controlado no
sentido de testar uma hipótese.
Verificação: Determinação ou confirmação de que uma dada hipótese ou teoria é verdadeira.

As fases fundamentais do método indutivo são:

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Críticas ao método indutivo
O modelo indutivo parte da observação, analisa os dados para estabelecer relações entre eles e
submete as relações (hipóteses) à experimentação. Se a hipótese se confirmar, será generalizada e
transformar-se-á em lei aplicável a todos os fenómenos do mesmo tipo.

A - Criticam-se os pressupostos da observação:


➔ Não é o ponto de partida da ciência;
➔ Nunca é completamente neutra e objetiva;
➔ É seletiva.

Em suma, há fatores que interferem na observação, como noções prévias sobre o que se vai
observar ou até mesmo as expectativas que o cientista possa ter sobre o que vai encontrar.

B - Critica-se a natureza dos argumentos indutivos que servem de base à formulação de teorias científicas
(a crítica de Hume à indução permanece viva):
➔ A questão que se coloca é se uma hipótese, enquanto enunciado universal, pode ser
justificada por casos particulares. A resposta é negativa.
➔ Nunca um enunciado universal pode ser verificado ou confirmado em absoluto por um caso
particular, ou por uma série de casos particulares, por maior que seja o seu número. Daí que
não se possa validar universalmente a hipótese: a conclusão de um argumento indutivo é
sempre uma extrapolação.

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Método Hipotético - Dedutivo
➔ Karl Popper foi o grande teórico deste método (que denomina método conjetural ou das
conjeturas e refutações). Também foi um crítico do raciocínio indutivo, ainda que com
argumentos diferentes daqueles que foram usados por Hume.
➔ O modelo hipotético-dedutivo sustenta a tese de que as hipóteses são criações do espírito
humano, propostas como conjeturas que respondem a um facto-problema/fenómeno.

Para Karl Popper, o ponto de partida para a investigação é a existência de um facto-problema, de


algo que acontece e causa perplexidade porque não sabemos explicá-lo ou porque as teorias
existentes não o explicam.

Facto-problema: o salmão prateado nasce nas águas frias do pacífico norte, mas nada até ao pacífico
sul, onde permanece até atingir a sua maturidade física e sexual. Regressa às águas frias para
desovar e geralmente ao local de onde tinha partido.
Este acontecimento causa perplexidade: como é possível que o peixe identifique exatamente o local
onde nasceu, passado tanto tempo e percorrida tão longa distância?

São três as etapas do método hipotético-dedutivo:


1º - Formulação da hipótese ou conjetura: a existência de um facto-problema conduz à formulação de
uma hipótese:
➔ Explicação provisória de um dado fenómeno que necessita de comprovação;
➔ Antecipação de factos posteriormente comprováveis;
➔ Atividade criativa, associada à intuição e à imaginação, resulta de um raciocínio criativo.
Exemplo: No caso dos salmão prateado, podem avançar-se várias hipóteses:
(1) o salmão identifica o seu caminho de volta por estímulos visuais;
(2) o salmão identifica o caminho através do olfato.

2º - Dedução das consequências: extraem-se consequências das hipóteses apresentadas.


Exemplo:
Hipótese 1: o salmão identifica o seu caminho de volta por estímulos visuais.
Consequências extraídas da hipótese 1: se se vendarem os olhos ao salmão, este não regressará ao
local onde nasceu.
Hipótese 2: o salmão identifica o caminho através do olfato.
Consequências extraídas da hipótese 2: se se bloquear o olfato ao salmão, este não regressará ao
local onde nasceu.

3º - Experimentação: a hipótese vai ser submetida a um teste/experiência, vai ser confrontada com os
resultados obtidos na experiência:
a) se os resultados da experiência confirmarem o que foi enunciado na hipótese, a hipótese é
validada/ corroborada, adquirindo o estatuto de lei científica;
b) se os resultados da experiência não confirmarem o que foi enunciado na hipótese, a hipótese
não é validada, tendo que ser abandonada ou reformulada.

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Método Hipotético - Dedutivo (quadro - resumo)

Qual o método de Popper?


Segundo Popper, a indução não pode ser um procedimento científico porque o salto indutivo de
alguns casos para todos os casos implicaria que a observação dos factos atingisse a totalidade, o que
é impossível.

Em clara oposição à indução, Popper afirma que a investigação científica começa com problemas,
isto é, quando os conhecimentos disponíveis sobre um dado assunto se revelam insuficientes para
explicar um determinado acontecimento.

São então formuladas novas conjeturas ou hipóteses. Destas deduzem-se consequências que
deverão ser testadas, submetidas a testes empíricos. Mas, em vez de procurarmos evidências
empíricas que verifiquem ou confirmem as consequências deduzidas da hipótese, devemos tentar
falsificá-las para ver se resistem a esse exame.

Se as hipótese ou conjeturas resistirem às tentativas de falsificação, dizem-se Corroboradas, mas


nunca verificadas ou confirmadas.
Se as hipótese ou conjeturas não resistirem às tentativas de falsificação, foram detetados erros,
levando à reformulação ou abandono das conjeturas → Erro como motor do progresso da ciência

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O que distingue a teoria científica da não científica?
A resposta de Popper: Uma teoria é científica se for falsificável.

O que carateriza as hipóteses científicas é a sua refutabilidade ou «falsificabilidade»: nenhuma


hipótese científica é irrefutável, mais tarde ou mais cedo pode ser declarada falsa.

Se verificar ou confirmar uma proposição universal é impossível, o mesmo já não acontece com a sua
refutação ou negação. Pensemos nesta proposição universal: «Todos os cisnes são brancos». Por
mais cisnes brancos que observemos, nunca poderemos estar seguros da sua verdade. Mas é
suficiente aparecer um cisne negro - como aconteceu para a refutar.

Uma teoria falsificável é uma teoria que podemos descobrir que é falsa, mas não é necessariamente
uma teoria falsa. Trata-se de uma teoria de que se deduzem consequências ou predições testáveis,
isto é, passíveis de serem confrontadas com os factos. Se estas predições se revelarem
incompatíveis com os factos, a teoria diz-se falsificada, ou seja, o teste a que foi submetida mostrou
que é falsa.

E o que dizer se uma hipótese, ao ser posta à prova, resistir aos testes a que a submetemos?
Segundo Popper, só temos o direito de dizer que não foi refutada e que temos razões para a aceitar,
ou seja, para continuar a trabalhar com ela. Diz-se então que foi corroborada. Será uma boa teoria,
digna de confiança, mas não foi demonstrada nem se pode dizer que é verdadeira.

Uma teoria genuinamente científica é uma teoria que pode ser submetida a testes empíricos e que
pode ser refutada ou falsificada (negada) se esses testes lhe forem desfavoráveis.
Nota: Uma teoria genuinamente científica não é uma teoria falsa. É uma teoria que não é imune à
falsificação, embora deva resistir às tentativas de refutação ou falsificação.

Não podemos, mediante a observação e a experimentação, mostrar que as nossas hipóteses são
verdadeiras. A única coisa que, segundo Popper, os cientistas podem fazer é mostrar ou que são
falsas ou que ainda não foi provada a sua falsidade (muito diferente de dizer que são ou ainda são
verdadeiras).

Qual é o papel da experimentação para Karl Popper?


Confirmar/ verificar as hipóteses ou falsificá-las?
Popper substitui o critério da verificabilidade / confirmação pelo da falsificabilidade.

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Teoria científica e teoria não científica
Que critério de demarcação elege o positivismo lógico?
O positivismo lógico, enquanto indutivismo, elege a verificabilidade como critério de demarcação.
Uma teoria é científica se for empiricamente verificável, isto é, se a observação e a experimentação
puderem fornecer provas confirmativas.

Qual é, para Popper, o critério de demarcação entre ciência e não-ciência?


Em alternativa ao critério da verificabilidade, Popper propõe a falsificabilidade. Uma teoria é científica
se for empiricamente falsificável, isto é, se puder ser sujeita à crítica e a rigorosas tentativas de
refutação.

Falsificar teorias é raciocinar validamente (modus tollens)


Só a falsidade da teoria, diz Popper, pode ser inferida de provas empíricas. E essa inferência é
dedutiva. O método da ciência não é indutivo, mas dedutivo: a falsificação ou refutação de teorias é,
claramente, uma inferência válida, pois obedece à forma argumentativa
А→В, ¬В ∴ ¬A (modus tollens).
Para Popper, A corresponde à teoria que está a ser testada, enquanto B diz respeito aos factos
particulares ou previsões que derivam da teoria e que são potencialmente suscetíveis de a derrubar
ou falsificar.
Se a teoria for uma boa explicação da realidade, então ocorre o que a teoria prevê.
Não ocorre o que a teoria prevê.
Logo, a teoria não é uma boa explicação da realidade.

Retomemos o exemplo de floricultura apresentado. Suponhamos que defendemos que Solos com um
pH de 5,5 permitem manipular a coloração das flores de hortênsias de modo a obtermos flores azuis.
Estamos convencidos de que a nossa teoria se aplica a todas as hortênsias, sem exceção. Caso a
teoria seja uma boa explicação da realidade, então, previsivelmente, conseguiremos alterar a cor das
flores de alguns arbustos de hortências brancas, plantando-os em solo com um pH de 5,5. Porém,
depois de floridos, observamos que a cor das flores dos arbustos que cultivámos se mantém
inalterada (as hortênsias naturalmente brancas são um contraexemplo à possibilidade de
manipulação da coloração). Tal significa que a nossa teoria não é uma boa explicação da realidade.
As provas empíricas - os testes realizados - revelaram que o efeito previsto não ocorreu e que,
portanto, a teoria está errada ou é portadora de erros. Foi, por isso, refutada ou falsificada
(parcialmente, pelo menos).
Imaginemos agora que, de facto, tínhamos conseguido alterar a cor das flores dos arbustos de
hortências brancas que plantámos. Será que estas observações sobre a manipulação da cor das
flores permitiriam confirmar a nossa teoria? Não, diz Popper. Porquê? Porque pretender que as
provas empíricas confirmem ou verifiquem teorias é incorrer numa falácia: A→B, B ∴ A (falácia da
afirmação da consequente).

Se a teoria for uma boa explicação da realidade, então ocorre o que a teoria prevê.
Ocorre o que a teoria prevê.
Logo, a teoria é uma boa explicação da realidade.

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Falsificar teorias é raciocinar validamente (modus tollens) - continuação
A metodologia científica assim entendida reforça e clarifica as críticas popperianas ao indutivismo.
«Eis as teorias que alguns cientistas hoje defendem. Estas teorias requerem que tais e tais coisas
sejam observadas, sob tais e tais condições. Vamos lá ver se são observáveis.» Este é, para Popper,
o papel da observação e da experimentação. Sob este ponto de vista dedutivo ou, mais
rigorosamente, hipotético-dedutivo, as teorias não são consequência da acumulação de observações
ou de provas empíricas. Pelo contrário, as observações e a sua acumulação emergem das teorias e
das expectativas de quem observa. É esta maneira de olhar para a ciência que faz do problema da
indução de Hume um não problema para Popper.

Teorias falsificáveis e teorias falsificadas


Uma teoria falsificável (testável ou refutável) é uma teoria que tem a propriedade de poder ser sujeita
a severos testes empíricos que possam refutar as suas previsões. Uma teoria falsificada (ou refutada)
é uma teoria que já se provou ser falsa.

Usámos as expressões teoria falsificável e teoria falsificada. Qual é a diferença entre uma e outra?
Todas as teorias científicas são falsificáveis. A falsificabilidade (testabilidade) é uma condição
necessária da cientificidade de um enunciado. Uma teoria que não seja refutável por nenhum
acontecimento concebível será uma teoria não científica.
Supõe que afirmo que Um gnomo invisível ajuda-te a elaborar as respostas durante os testes e que,
por conseguinte, Os gnomos existem. Como podes, segundo Popper, recusar cientificidade a este
enunciado? Usando o critério de falsificabilidade: não há maneira de demostrar que a afirmação é
falsa. A afirmação não é testável. Não é possível conceber observações que permitam refutar ou
testar o enunciado. Se a minha afirmação é infalsificável, então não é científica. A irrefutabilidade é,
para Popper, condição suficiente para recusar o estatuto de cientificidade a uma hipótese ou teoria.
A medida que são testadas, algumas teorias científicas vão sendo falsificadas. Como? As teorias
científicas (todas elas são falsificáveis, não te esqueças) são, de acordo com Popper, asserções
audaciosas que arriscam previsões. Quando uma teoria falsificável é sujeita a testes, podem ser
identificados erros.
Assim, uma teoria considera-se falsificada, ou parcialmente falsificada (refutada ou parcialmente
refutada), quando os indícios contradizem a teoria e o que ela prevê, ou seja, quando esta não resiste
aos rigorosos testes a que foi submetida e se revela parcial ou totalmente errada, ou, dito de outra
forma, quando a teoria não corresponde aos factos.

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Grau de falsificabilidade
Quanto maior for o grau de falsificabilidade de uma teoria, mais interessante e científica ela será.
Teorias falsificáveis em maior grau dizem mais, possuem um índice mais elevado de informação, são
mais audaciosas e tornam as suas previsões menos prováveis.

Maior grau de falsificabilidade Menor grau de falsificabilidade

Quanto mais precisa e mais audaciosa for Quanto menos precisa e menos audaciosa for
uma teoria, mais arrisca e mais interessante é. uma teoria, menos arrisca e menos interessante é.

Mais informação ou maior conteúdo empírico. Menos informação ou menor conteúdo empírico.
Menor probabilidade. Maior probabilidade.
Maior exposição à refutação. Menor exposição à refutação.

Exemplo: Exemplo:
Os kiwis são aves de cor Os kiwis são aves.
cinzento-acastanhada, com um longo bico
estreito e asas camufladas sob as penas.

Formular o problema da verificação das hipóteses científicas

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