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ESCOLA BÁSICA E SECUNDÁRIA QUINTA DAS FLORES

PROFESSORA PATRÍCIA PORTO

ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA ATIVIDADE COGNOSCITIVA


Análise comparativa de duas teorias explicativas do conhecimento
DESCARTES
Introdução
Descartes foi um filósofo racionalista, pois defendia que a razão era a fonte principal do
conhecimento verdadeiro caraterizado por ser um conhecimento necessário e universalmente
válido.
Propõe um método inspirado na matemática, cujas regras são:
1ª – Regra da evidência – Consistia em não aceitar nada como verdadeiro sem antes se
apresentar clara e distintamente ao espírito (evidência).
2ª – Regra da análise – Consistia em dividir cada dificuldade (problema) em tantas partes quantas
as necessárias para se compreenderem evidentemente.
3ª – Regra da síntese – Consistia em conduzir por ordem os seus pensamentos de modo a
começar nos mais simples e fáceis de conhecer para gradualmente chegar ao conhecimento dos
mais complexos.
4ª Regra da enumeração – Consistia em fazer enumerações completas e revisões gerais para
ter a certeza de nada omitir.
Estas quatro regras permitem guiar bem a razão através das suas operações fundamentais:
- a intuição - apreensão direta e imediata de conhecimento de forma evidente e indubitável. A
razão não recorre ao raciocínio, apercebe-se da verdade de algo sem qualquer dúvida.
- a dedução - encadeamento das intuições de modo a extrair delas consequências necessárias.

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A origem do conhecimento – o racionalismo

O racionalismo cartesiano assenta na existência de ideias inatas (inatismo)


Descartes considera que existem outras ideias em nós, mas só as ideias inatas garantem o
conhecimento universal e necessário.
Ideias factícias – São ideias formadas pela imaginação a partir dos objetos materiais. Embora
sejam importantes no campo das artes, nada têm a ver com o conhecimento verdadeiro.
Ideias adventícias – São ideias provenientes do exterior, dos objetos captados pelos sentidos.
São obscuras e devemos desconfiar delas.
Ideias inatas – São ideias originárias da razão, isto é, fazem parte da estrutura racional do
homem. Foram colocadas na alma humana por Deus e só elas, através da dedução, conduzem ao
verdadeiro conhecimento.

4ª parte do Discurso do Método

Descartes pretende mostrar que os céticos estão enganados, isto é, que o conhecimento
verdadeiro é possível.
No Discurso do Método propõe um método que nos conduz ao conhecimento infalivelmente
justificado. Segundo ele, é necessário encontrar um fundamento seguro para obter um
conhecimento certo. Se se encontrarem crenças indubitáveis que possam servir para encontrar
outras crenças temos esse fundamento encontrado.
Então Descartes procedeu da seguinte forma:
• Recorreu à dúvida, vulgarmente chamada de dúvida metódica, que consiste em examinar
todas as crenças em que possamos imaginar a menor dúvida, rejeitando,
provisoriamente, todas aquelas que não sejam completamente indubitáveis. Se houver
alguma crença que resista a todo e qualquer argumento dos céticos pode ser
considerada como indubitável e aceite como fundamento para o conhecimento.

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A dúvida carateriza-se por se metódica e provisória (é apenas uma estratégia para
atingir a certeza), hiperbólica (tudo o que oferecesse a mais pequena dúvida era tido
como falso) e universal e radical (relativa tanto ao conhecimento como aos seus
fundamentos).
• Os argumentos utilizados para justificar a necessidade de recorrer à dúvida são:
- Os sentidos que por vezes nos enganam, não sendo prudente confiarmos neles.
- Os sonhos levam-nos, por vezes, a tomar como realidade aquilo que foi sonhado, isto é,
a confundir realidade com ilusão.
- Às vezes enganamo-nos a raciocinar.
O génio maligno ou deus enganador, uma mera hipótese, que nos levaria a pensar que
vivemos numa realidade ilusória.
• Mas enquanto assim pensava, Descartes constata que há uma certeza, da qual não
podemos ter a menor dúvida. É que se estamos a pensar, forçosamente temos de existir
– penso, logo existo (cogito, ergo sum). Para Descartes, o cogito é o fundamento certo
do conhecimento, dado que nem o génio maligno pode abalar esta certeza. O cogito
refere-se à certeza do pensamento e não do corpo. Temos, pois, a certeza que existimos
como uma substância pensante (res cogitans).
• Descartes avança, a partir daqui, considerando que o cogito é uma ideia clara e distinta
e que, todas as ideias da mesma natureza, isto é, claras e distintas, são verdadeiras.
Então, para Descartes as ideias claras e distintas são o critério de verdade.
• De seguida, Descartes afirma que a ideia de perfeição, que corresponde à ideia de Deus,
é algo que podemos conceber com toda a clareza e perfeição.
Apresenta vários argumentos a priori a favor da existência de Deus.
- Um desses argumentos refere que a ideia que temos de um ser mais perfeito do que
nós tem a sua origem em Deus. Afirma que o que é menos perfeito não pode criar o que
é mais perfeito, logo se eu possuo essa ideia é porque alguém mais perfeito a colocou
em mim. Esse alguém é Deus.

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- Outro argumento baseia-se na ideia de que a existência é essencial à perfeição
(argumento ontológico)
Ao estabelecer a existência de Deus pode afastar a hipótese hiperbólica da existência do
génio maligno. Deus, seguramente não nos engana, pois é perfeito. Deus passa a ser a
garantia das ideias claras e distintas. Tudo o que concebemos clara e distintamente é
verdadeiro porque a nossa razão (faculdade do conhecimento) foi criada por Deus.

Argumento ontológico – A existência é uma das perfeições de um ser perfeito. Na ideia


de ser perfeito está contida a sua existência.
Argumento da marca impressa - A causa que faz com que a ideia de ser perfeito, que
representa uma substância infinita, se encontre em nós não pode ser outro ser senão
Deus, que possui todas as perfeições representadas nessa ideia.

Função de Deus no sistema cartesiano – Deus é a garantia da verdade do


conhecimento.
- É a garantia da verdade objetiva das ideias claras e distintas. As ideias são verdadeiras
independentemente do meu pensamento. Continuam a ser verdadeiras, mesmo quando
não estou a pensar.
- Garante a adequação entre o pensamento evidente e a realidade.
- Legitima o valor da ciência e confere objetividade ao conhecimento.

[A ciência tem um fundamento metafísico (Deus é uma realidade metafísica)]

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Argumento a favor da realidade do mundo Físico (último parágrafo da quarta parte do
Discurso do Método)
- Tenho uma inclinação muito forte para acreditar que as minhas perceções sensíveis
são causadas por objetos físicos.
- Se as minhas perceções sensíveis fossem causadas de outra forma, por exemplo por
Deus, as minhas ideias não corresponderiam às coisas corpóreas. Deus seria enganador.
- Mas Deus não é enganador. Deus é um ser perfeito.
- Logo, as minhas perceções sensíveis são causadas pelas coisas corpóreas. O mundo
físico existe.

Conclusão – O conhecimento é possível e a sua origem é a razão - Racionalismo


cartesiano ou inatismo
O racionalismo é a teoria segundo a qual a razão (as ideias inatas) é a fonte do
conhecimento verdadeiro.
1. A razão é a fonte do conhecimento – Só as verdades descobertas pela razão ou
destas deduzidas têm estatuto de verdadeiro conhecimento. Os sentidos não conduzem
ao conhecimento verdadeiro.
2. O raciocínio dedutivo, tal como é exercido pela matemática, é o ideal do
conhecimento. A dedução dispensa a experiência.
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3. São as ideias inatas que desempenham um papel decisivo no conhecimento. Estas
são ideias que a razão descobre em si mesmas sem o contributo da experiência.
4. A dúvida metódica está relacionada com o racionalismo cartesiano, pois torna a
razão autónoma, libertando-a da sujeição dos sentidos.
5. O sujeito sobrepõe-se ao objeto.

Aspetos positivos da epistemologia cartesiana:


- A prioridade dada ao sujeito
- A atitude cética preventiva.

Críticas ao pensamento de Descartes


1ª - Círculo cartesiano – Descartes argumenta a favor da existência de Deus, confiando
na noção de ideias claras e distintas e argumenta a favor da existência das ideias claras
e distintas, pressupondo a existência de Deus. Cometerá, desta forma, uma petição de
princípio.
2ª – O cogito – A proposição “Penso, logo existo”, decorre de uma inferência lógica, não
sendo por isso uma intuição. Parte da premissa de que “Todos os pensamentos requerem
alguém que os pense” e “Neste momento existem pensamentos”, concluindo que “Quem
os pensa tem de existir”.
3ª - Sobrevalorização da razão e desvalorização da experiência.

Considera que só temos ideias claras e distintas de três tipos de substâncias:


- Res cogitans (substância pensante) – O seu atributo essencial é o pensamento.
- Res extensa (substância extensa) – O seu atributo essencial é a extensão.
- Res divina (substância divina) – O seu atributo essencial é a perfeição.

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Teoria do erro
Descartes justifica a existência do erro através da vontade. A vontade que dá o
assentimento aos juízos que o entendimento (razão) formula, por vezes é precipitada,
aceitando conhecimentos que não são evidentes.

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