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Racionalismo

René Descartes
Racionalismo
Pressupostos do racionalismo:

• A razão ou entendimento é a única fonte de conhecimento seguro.


• Os sentidos e a imaginação são enganadores.
• A razão possui, à partida, ideias inatas (claras, distintas e evidentes).
• Só o raciocínio dedutivo (a partir de premissas evidentes) garante a
validade do conhecimento.
• A matemática deve constituir-se como modelo de todo o conhecimento.
• A razão constrói conhecimentos universalmente válidos e absolutamente
verdadeiros.
Racionalismo

Um dos mais ilustres representantes do


racionalismo é René Descartes (1596-1650)

René Descartes foi um filósofo, físico e


matemático francês. Designado como
fundador da filosofia moderna e «pai»
também da matemática moderna
(geometria analítica), foi um dos
pensadores mais influentes da história
da cultura ocidental ao estabelecer os
fundamentos filosóficos da ciência
moderna.
(ler biografia p. 153)
Descartes e o racionalismo

Descartes nasceu num mundo marcado por profundas alterações:


• desmoronamento da cosmologia antiga – teoria geocêntrica é substituída pela
teoria heliocêntrica;
• surgimento de uma contestação sem precedentes da autoridade religiosa.

Estes dois acontecimentos, com uma origem intelectual comum, vão provocar uma
verdadeira revolução no conhecimento – o surgimento da ciência moderna.

Do ponto de vista político-social, religioso e científico, a época de Descartes fica


marcada pela incerteza e indefinição.

A dúvida domina, as certezas desaparecem, e o ceticismo instala-se.


Descartes e o racionalismo

Assim, Descartes vai procurar:


• Combater o ceticismo (primeira tarefa do filósofo, para Descartes) e reabilitar a
fé na razão;
• Criar um método que conduza a razão nas suas operações de forma a alcançar
verdades indubitáveis.

Para isso tem que:


• fundamentar o conhecimento em bases seguras, o que implica recusar todo o
saber anterior;
• procurar crenças que possam ser fundantes, isto é, básicas, e constituírem-se
como os alicerces de todo o conhecimento;

Como fazê-lo?

Estabelecendo como primeira etapa do método na busca de verdades indubitáveis,


a dúvida universal.
Descartes e o racionalismo

Que dúvida é essa?

• A dúvida é um momento fundamental do método para estruturar o


conhecimento humano em bases novas e sólidas;

• Instrumento da razão, a dúvida é posta ao serviço da verdade; é necessário


colocar tudo em causa, no processo de busca dos princípios fundamentais e
indubitáveis;

• Pela dúvida suspende-se o juízo – à semelhança dos céticos;

• tem uma função catártica, já que liberta o intelecto dos erros, das falsas
verdades fundamentadas em autoridades.

• É necessário que a razão, num processo marcado pela procura da autonomia,


alcance ideias evidentes, claras e distintas – primeira regra do método para
alcançar conhecimentos verdadeiros.
Descartes e o racionalismo

• A dúvida é um exercício voluntário, permitindo que nos libertemos de


preconceitos e opiniões erróneas, baseadas na tradição e/ou na fé, alheias à
razão, a fim de ser possível reconstruir, com fundamentos sólidos, o edifício do
saber à luz da ciência moderna;

• A dúvida justifica-se porque:


- existem preconceitos e juízos precipitados (enganamo-nos a raciocinar) –
conhecimentos com base no raciocínio dedutivo;
- porque os sentidos nos enganam (conhecimentos /crenças a posteriori) -
conhecimentos com base no raciocínio indutivo;
- porque não temos um critério que permita discernir o sonho da vigília;
- porque pode haver um deus enganador ou génio maligno que nos ilude
acerca da verdade (crenças/conhecimentos a priori);
Descartes e o racionalismo
Características da dúvida:
- metódica, pois é um meio para atingir uma certeza, não constituindo um fim em si
mesma, não é sistémica (como para o ceticismo);
- provisória, o objetivo é alcançar certezas para reconstruir o edifício do conhecimento,
e não permanecer na dúvida;
- voluntária, porque metódica;
- universal, abrange todos os conhecimentos e saberes;
- radical, porque incide não só sobre os conhecimentos em geral, como também sobre
os seus fundamentos, o próprio entendimento humano;
- hiperbólica/extrema, quando é colocada a hipótese do génio maligno.

A dúvida, conduzida a este ponto absoluto, é apenas sinal de que, qualquer conhecimento
que a ela resista, tem de possuir o carácter de uma evidência também absoluta.
Descartes e o racionalismo

Como é que Descartes vai sair desta dúvida tão profunda e radical?

• Da dúvida mais extrema, do seu exercício, surge uma certeza indubitável: a da


existência do sujeito que duvida;
• Se a dúvida atua sobre todos os objetos do conhecimento, não pode atuar sobre
a existência do sujeito que assim duvida;
• Intelectualmente é absurdo supor que a entidade que duvida, possa não existir,
pois duvidar que se duvida, ainda é pensar,

SE PENSO, LOGO EXISTO (COGITO ERGO SUM)!

(texto 7, p.155)
Descartes e o racionalismo

Importância do COGITO
• Sendo um ato livre da vontade, a dúvida acabará por conduzir Descartes a uma
verdade incontestável: “a afirmação da minha existência, enquanto sou um ser
que pensa”;

• Descartes alcança esta primeira certeza deste modo: ainda que o génio maligno
me engane levando-me a pensar que existo, «se ele me engana, eu existo, que
me engane quanto puder, não conseguirá fazer com que eu seja nada, enquanto
eu pensar que sou alguma coisa» (in Meditações Filosóficas);

• Encontra no «penso, logo existo», uma verdade/certeza inabalável, que ao


resistir à dúvida hiperbólica, à hipótese do génio maligno/Deus enganador,
constitui-se como o primeiro princípio da filosofia que procurava, o primeiro
fundamento, crença básica do conhecimento humano.
(analisar texto 8 manual)
Descartes e o racionalismo

Importância do COGITO

• O cogito, como primeira verdade, obtida por intuição racional (que capta a
simplicidade do que é claro e distinto), é:

- uma verdade absolutamente primeira


- uma verdade estritamente racional
- uma verdade exclusivamente a priori
- uma verdade indubitável
- uma verdade evidente, uma ideia clara e distinta

• Sobre esta primeira verdade irá assentar toda a sua filosofia por se lhe
apresentar com a clareza e distinção preconizadas na primeira regra do método
– critério de verdade.
Descartes e o racionalismo
Critério de verdade

Este critério consiste na evidência, ou seja, na clareza e distinção das ideias inatas.
Assim, o conhecimento é evidente quando possui clareza e distinção:
- a clareza diz respeito à presença da ideia no espírito/intelecto;
- a distinção significa separação de uma ideia relativamente a outra, de tal forma
que a ela não sejam associados elementos que não lhe pertençam.

Assim, só devem ser tomadas como verdadeiras, as coisas que concebemos clara e
distintamente

Todo o conhecimento para ser considerado verdadeiro, tem que ser


claro e distinto, isto é, evidente
(analisar texto 9. p. 158)
Descartes e o racionalismo

• As ideias inatas existem na própria razão, e são o fundamento de todo o


verdadeiro conhecimento – o entendimento. Entre as ideias inatas, salientam-se
as ideias de Deus, cogito e extensão, por corresponderem a substâncias
verdadeiramente existentes;

• As ideias adventícias provém da experiência – através da sensibilidade. Existem


na mente, claro, mas são originadas nos órgãos dos sentidos, impressionáveis
aos corpos materiais. Por se apresentarem à mente de modo confuso e obscuro,
não garantem que lhes corresponda algo real. O conhecimento que nelas se
apoia, não apresenta garantia de verdade;

• As ideias factícias resultam da imaginação, da capacidade inventiva a partir das


coisa materiais, ideias representativas de seres quiméricos, pura ficção do
espírito criativo. São também altamente confusas e obscuras
Enquanto atos mentais, todas elas existem na razão/pensamento, pelo que não
diferem entre si; só às inatas corresponde algo verdadeiramente existente.
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A insuficiência do cogito na fundamentação do saber


• Apesar de evidente, por si, o cogito (enquanto primeira evidência) não é
suficiente para fundamentar o edifício do saber; a certeza penso, logo existo, é
uma certeza subjetiva (é uma intuição e não um raciocínio como aparenta), que
conduz ao solipsismo – solidão do cogito;
• Não se consegue alcançar uma efetiva fundamentação do conhecimento sem se
descobrir o que se encontra na base do pensamento e na origem da existência
do sujeito pensante;
• A intuição da sua própria existência como coisa pensante, não permite afirmar a
existência de algo que corresponda ao conteúdo do seu pensamento –
encarcerado na sua própria intimidade, a primeira certeza cartesiana, corre o
risco de ser a última.

Como sair deste solipsismo?


Descartes e o racionalismo
Como sair deste solipsismo e romper a teia que o prende a si mesmo?

Através da existência de Deus


Provas da existência de Deus:
1. Reforça este argumento com o argumento ontológico – a priori: afirma que um ser perfeito tem
que necessariamente existir eternamente; a razão entrava em contradição se concebesse um ser
absolutamente perfeito que, simultaneamente apresentasse a limitação de não existir.
2. Recorrendo ao argumento da causalidade: possuindo a ideia de perfeição mas sabendo-se
imperfeito, porque se engana e tem dúvidas, e como a causa tem que ser superior ao efeito,
Descartes concluí que não pode ser o autor da ideia de perfeição. E como esta ideia não pode ter
origem no nada, pois repugna que do nada proceda alguma coisa, só um ser infinitamente perfeito
como Deus, pode ser o seu autor.
3. Na sequência do argumento anterior referirá que os seres mortais e imperfeitos alguns dos quais
anteriores ao ser humano não foram uma criação humana, pelo que só podem ter sido croados e a
sua sobrevivência garantida por Deus.
Descartes e o racionalismo

Deus, princípio e garante de toda a verdade/conhecimento

• A certeza da existência de Deus, na sua perfeição divina, garante validade ao


conhecimento, pois que a perfeição absoluta de um ser, é inconciliável com a
hipótese de permitir que nos enganemos nas matérias evidentes;

• Desta forma Descartes afasta definitivamente o argumento do génio maligno e


faz de Deus o princípio e o garante das evidências, de toda a verdade alcançada
pelo conhecimento humano.

• Deus é o fundamento ontológico e gnoseológico do pensamento cartesiano,


garante de todo o sistema cartesiano.
(analisar texto 10, p.159 manual)
Descartes e o racionalismo

Dúvida metódica
Primeira evidência, a partir
Eu da qual Descartes deduz a
(res cogito) existência de Deus.

É autor de tudo o que existe


Deus no mundo, fonte de verdade
(res divina) e criador do entendimento.

Do cogito e de Deus deduz


Mundo os princípios das coisas
(res extensa) físicas: extensão, forma e
movimento.
Descartes e o racionalismo
Conclusão
• Movido pela necessidade de fundamentar o conhecimento em bases sólidas que
afastassem o ceticismo, Descartes afirmou a possibilidade de se estabelecerem
conhecimentos seguros e ilimitados, proclamando a razão como fonte de
verdades logicamente necessárias e universalmente válidas;
• O racionalismo estabelecido por Descartes defende que todo o conhecimento
tem a sua origem/fonte na razão e que desde que seja orientado pela razão, o
entendimento humano alcança verdades indubitáveis, isto é, evidentes, de
acordo com o critério da clareza e distinção, e portanto, totalmente
independentes da experiência – a priori;
• Quanto à possibilidade do conhecimento, na medida em que deposita toda a
confiança na razão para alcançar verdades, e sendo estas consideradas
indubitáveis, o racionalismo acaba por cair no dogmatismo.
Descartes e o racionalismo
Críticas ao racionalismo cartesiano

1. É exclusivista – inspirada explicitamente na matemática, toda a sua teoria do


conhecimento assenta na razão, nas ideias inatas, na dedução e no a priori; há uma
rejeição total da experiência sensível, pelo que os seus críticos questionam se uma
mente vazia de conteúdos da experiência, pode ser ponto de partida para um
verdadeiro conhecimento, apontando a sua falta de objetividade;

2. É dogmático – confiança ilimitada no poder da razão, que a partir de um


primeiro princípio, o cogito, permite ao Homem construir, por dedução, um
conhecimento de verdades indubitáveis; as ideias claras e distintas fundamentam o
mundo físico (extensão) e metafísico (deus); o pensamento é fundamento de ser;

3. É circular – a crítica designada por círculo cartesiano consiste no seguinte: as


ideias evidentes, de acordo com o critério de verdade da clareza e distinção, são
garantidas por Deus; mas para se saber que Ele existe, implica primeiro ter a ideia
clara e distinta de perfeição (argumento da causalidade) – o que pode ser
considerado uma falácia circular/petição de princípio;
Descartes e o racionalismo

Críticas ao racionalismo cartesiano | Conclusão

4. Existência como predicado – finalmente, o sistema filosófico cartesiano é


criticado também por deduzir a existência de Deus a partir da ideia/predicado de
perfeição; como afirmou Kant, a existência não é um predicado/propriedade, é
condição desta; afirma-se que este argumento passa de forma ilegítima, do plano
do pensamento, para o plano do conhecimento, do plano lógico/mental para o
ontológico/real.

Critica particularmente contundente, já que Deus é o fundamento e garante de


todo o sistema filosófico cartesiano

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