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CAPÍTULO 10

Racionalidade científica e
objetividade
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RACIONALIDADE CIENTÍFICA

A ciência é racional?
A atividade As teorias Há um padrão
método

crescimento
científica avaliação científicas são de
baseia-se em avaliadas de crescimento
métodos acordo com da ciência
logicamente critérios que permita
confiáveis? Há racionais? falar de
um método Esses critérios progresso?
científico? são objetivos? Como
(Capítulo 9) progride a
ciência?

50 LIÇÕES DE FILOSOFIA 11.º ANO


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POPPER
Sim, a ciência é racional e objetiva.

As teorias científicas são avaliadas de


forma imparcial por critérios lógicos…
• apesar de poder haver elementos subjetivos na fase
da construção teórica (contexto da descoberta) e
de as teorias terem um caráter provisório, o que
importa é o modo como elas são justificadas
(contexto de justificação).

... acompanhados por testes rigorosos e


objetivos
• por isso Popper fala do conhecimento científico
como um «conhecimento sem sujeito», realçando o
seu caráter totalmente objetivo.

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POPPER
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Sim, a ciência progride
racionalmente.

A ciência progride por um processo de


eliminação ativa de erros…
• procurando-se falhas nas teorias, de modo a substituí-las
por outras cada vez melhores, que evitem os problemas
das anteriores e que sejam comparativamente mais
explicativas (num processo parcialmente cumulativo).

... e de contínua aproximação à verdade

• num processo evolutivo de adaptação, em que cada


nova teoria se ajusta melhor à realidade, mesmo que
nunca seja correto afirmar que as teorias são verdadeiras
(deve dizer-se que são cada vez mais verosímeis e não
cada vez mais verdadeiras).

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Uma perspetiva diferente da ciência:
KUHN

diferente da de POPPER porque, na


perspetiva de KUHN, uma correta
caraterização da ciência deve…
considerar o modo prestar atenção ao
basear-se na como a trabalho científico
própria história da comunidade quotidiano e não
ciência e não na científica funciona apenas aos
análise de uma na prática, em vez períodos e figuras
«suposta» lógica de aspetos teóricos excecionais da
científica sobre «o suposto» história da ciência
(perspetiva método científico (análise
histórica). (abordagem compreensiva e
sociológica). não seletiva).

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A perspetiva de KUHN

Ao longo da história, encontram-


se duas formas de fazer ciência:

ciência
ciência normal
extraordinária

Longos períodos de estabilidade Curtos e conturbados períodos


e progresso cumulativo de crise e revolução científicas,
marcados pelo domínio de um em que se verifica o abandono
paradigma. e a mudança de paradigma.

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Períodos da história da ciência

período pré-científico

normal normal normal


paradigma 1 paradigma 2 paradigma 3

ciência extraordinária

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O paradigma

sistema de
princípios crenças e
teóricos e de valores
práticos básicos
(metodologias)

instrumentos
e
ferramentas

resolução de enigmas
(ciência normal)

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Crise e revolução científica
Crise:
acumulação
de anomalias a
que o
paradigma não
consegue dar
resposta
Mudança
de
paradigma:
revolução
científica

Novas ideias e
competição de
teorias

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A escolha de teorias 10

Nos períodos de ciência extraordinária, há competição de teorias.


Como se decidem os cientistas e que critérios seguem nas suas escolhas?

Critérios Fatores
objetivos subjetivos

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Incomensurabilidade de paradigmas 11

As revoluções científicas ocorrem quando se dá uma mudança de paradigma.


O novo e o velho paradigmas são incomensuráveis.

Diferentes paradigmas correspondem a


novo maneiras radicalmente diferentes de
paradigma ver o mundo (diferentes mundivisões).
Mesmo quando usam os mesmos
termos, os cientistas que trabalham em
diferentes paradigmas estão
frequentemente a falar de coisas
diferentes.
é um coelho

é um pato
Mudar de paradigma é equivalente a
uma conversão religiosa.
Mudar de paradigma é fazer
praticamente tábua rasa do que havia
velho antes e recomeçar quase tudo.
paradigma

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Como progride a ciência? (1)

Será correto falar de progresso quando se muda de


paradigma?

Em que sentido haverá progresso, se os paradigmas não podem ser


comparados?

Se os paradigmas não podem ser comparados, então


não é correto dizer...

que um é melhor, ou mais sequer que o novo resolve os


adequado, ou mais preciso, ou problemas que o velho não
mais abrangente do que o outro. conseguia resolver .

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Como progride a ciência? (2) 13

Ciência normal Ciência na sua


• O progresso é cumulativo, totalidade, incluindo
aumentando a quantidade as mudanças de
de enigmas resolvidos e paradigma
alargando o âmbito de
aplicação do paradigma. • Progresso não cumulativo.
• A ciência normal é • Progresso sem uma
essencialmente finalidade dada à partida
conservadora e dogmática (conceção não teleológica
(evolui na continuidade). da evolução).
• Progresso no sentido de
uma maior especialização.

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Como progride a ciência? (3) 14

Popper Kuhn
Teoria 3

Teoria 2

Paradigma Paradigma Paradigma


1 2 3

Teoria 1

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Críticas 15
a Popper

a Kuhn
•a ideia de
•conceção idealizada incomensurabilidade
da prática científica. é implausível e é
contrariada pela
•não justifica própria história da
adequadamente a ciência.
nossa confiança na
ciência. •abre as portas a uma
conceção relativista
e cética da ciência.

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1. Popper tem uma conceção idealizada da ciência: ele não


diz como esta é efetivamente, mas como ela deve ser.
É uma visão racionalista da ciência, centrada na construção
e evolução desta a partir das suas condições internas de
funcionamento, tais como a aplicação de testes às teorias.
Porém, a construção, justificação e desenvolvimento
científicos não é apenas uma questão lógica, desligada da
realidade social: o conhecimento é feito por pessoas reais,
que transmitem ao mesmo uma certa subjetividade. Ele só
existe com um sujeito conhecedor: as teorias são obra de
pessoas, possuindo as suas virtudes e defeitos
2. Popper propõe um critério- o falsificacionismo- que não
torna a ciência mais racional, antes destrói a confiança nas
teorias científicas. Depositar confiança numa teoria é ter
boas razões para acreditar que ela é verdadeira e não
afirmar que uma teoria é melhor e mais resistente,
continuando por refutar.
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Assim, tal como a indução, segundo Popper, não permite
justificar o conhecimento científico porque não viabiliza a
verificação de teorias, o mesmo se aplica à lógica de
refutação das teorias, baseada no método hipotético-
dedutivo. Portanto, seguindo a posição de Popper, as teorias
científicas continuam a carecer de justificação racional.

1. Kuhn defende a tese da incomensurabilidade entre


paradigmas, mas esta não é razoável, sendo mesmo
contrariada pela própria história da ciência.
Em primeiro lugar, as teorias científicas atuais permitem dar
explicações e fazer previsões mais simples, rigorosas e eficazes
do que as teorias do passado. Isso mostra que tais teorias são
comparativamente melhores (o que Kuhn não admite), como
se comprova pelos enormes sucessos práticos da ciência (ver
exemplo da substituição da teoria geocêntrica pela teoria
heliocêntrica, p. 206 do manual).
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Em segundo lugar, muitas teorias rivais nem sequer são
incompatíveis (como supunha Kuhn). Conceitos ou ideias de
duas teorias explicativas do mesmo fenómeno podem ser
diferentes ou, até, opostas, mas podem vir a ser incorporadas,
mais tarde, numa nova teoria que as concilia (ver exemplo de
duas teorias óticas, mais tarde sintetizadas numa única teoria,
p. 206).
2. Kuhn propõe uma conceção relativista de ciência,
colocando-a a par de outro tipo de explicações, como os
mitos e as lendas. Segundo ele, as teorias científicas não
passam de conceções do mundo inconciliáveis, às quais se
adere pelas mais variadas razões (motivações psicológicas,
religiosas, políticas ou culturais). Assim, elas não são
diretamente confrontadas com o mundo, sendo antes
construções sociais, de carácter subjetivo, tão justificáveis
como os mitos e as lendas.

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