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Filosofia da Arte | Filosofia 11º

O problema da definição de arte


O primeiro problema que qualquer teoria da arte tem de enfrentar é o problema da própria definição de “arte” ou de
“obra de arte”.
Muitos autores consideram que a resposta ao problema da definição de arte implica encontrar uma definição explicita
de arte, ou seja, estabelecer as condições necessárias e suficientes para que algo possa ser considerado arte. Com o
objetivo de definir a arte, existem teorias que foram classificadas como teorias essencialistas da arte e outras
classificadas como teorias não essencialistas.
Teorias essencialistas – defendem que existe uma evidência da arte, ou seja, que existem propriedades essenciais
comuns a todas as obras de arte e que só nas obras de arte podemos encontrar.
Teorias não essencialistas – sustentam que não existe uma espécie de essência comum a todas as obras de arte e
dedicam-se a encontrar uma definição de arte nesses moldes.

FILOSOFIA DA A definição de Arte

Problema central da
Disciplina Filosófica Filosofia da Arte

Teoria da Imitação Teoria Expressivista Teoria Formalista


Teorias Essencialistas
Tolstoi
Platão e Aristóteles Teoria da Imitação Clive Bell ou Representação – Platão e
Aristóteles
Segundo Platão e Aristóteles, a arte é invocação. Para Platão, quando o artista copia os objetos do mundo, esconde a
verdadeira essência da realidade pois, no seu ponto de vista, os próprios objetos naturais eram por sua vez cópias de
outros seres mais perfeitos. Aristóteles defende que a arte imita a natureza e o ser humano, mas não é ilusória (os
objetos que a arte imita não são, segundo ele, cópias de nada). O artista usa as formas da natureza harmonizando-as
para que pareçam melhor ao olho humano – a melhor arte é a que melhor imitar a realidade (critério de valoração
das obras de arte que nos possibilita distinguir facilmente as boas das más obras de arte).
A teoria da imitação fornece um critério objetivo para a definição da arte. Porém, este critério não é necessário nem
suficiente para definir a obra de arte, isto é, a teoria da arte como imitação é demasiado restritiva.
Objeções à Teoria da arte como Imitação
1. Muitas obras que reconhecidamente são arte não imitam nada (música, filmes, literatura, …);
Conscientes disso, os defensores mais recentes da teoria da arte como imitação, acabaram por substituir o
conceito de imitação pelo conceito mais sofisticado de representação. A literatura, por exemplo, não se pode
dizer que imita, mas sim que representa sempre algo que acontece no mundo.
Ficamos, deste modo, com uma teoria que não observa os requisitos anteriormente expostos acerca do que deve
ser uma definição explícita, pois defende que uma condição necessária para algo ser arte é imitar/representar,
e isso não acontece com todas as obras de arte. Trata-se de uma definição que não inclui tudo o que deveria
incluir, deixando assim muito por explicar.
2. Se a teoria for correta, poderemos derivar dela conclusões acerca de quais são as melhores obras de arte;
3. Se a natureza da arte residir no seu caráter mimético (imitação), então uma obra será tanto melhor quanto mais
fiel à realidade ela for.

Teoria Expressivista – Tolstoi


Segundo esta teoria, a boa arte é aquela que produz uma emoção estética genuinamente partilhada pelo artista e
pelo seu público. A arte produz emoções, tanto no artista como no espetador e a emoção estética desencadeada pelas
obras de arte depende da sua qualidade – a obra é tanto melhor quanto melhor expressar a emoção do artista.
Segundo Tolstoi, existem três condições necessárias para estarmos na presença de uma obra de arte: 1. O artista sente
uma emoção sincera;
2. O artista produz intencionalmente uma obra;
3. O público sente a mesma emoção que o artista.
Objeções à Teoria Expressivista
1. Existem muitas obras de arte que não expressam as emoções do artista;
2. Não nos fornece um critério seguro para identificar a verdadeira arte, distinguindo-a da falsa arte.

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Teoria Formalista – Clive Bell
Segundo esta teoria, as obras de arte produzem um tipo específico de emoção e essa emoção resulta da sua forma.
Há arte quando a forma desse objeto é determinante para o sentimento estético desencadeado no sujeito. Para Clive
Bell toda obra de arte produz uma emoção exclusiva. Essa emoção não resulta do assunto, do tema ou de outros
atributos do seu conteúdo. Todas as obras de arte têm forma e a forma na arte é determinante para que se desencadeie
a emoção específica da arte.
A forma significante é responsável pela produção da emoção estética. A emoção estética resulta unicamente da
forma significante, isto é, depende da própria qualidade da obra.
Objeções à Teoria Formalista
1. Vagueza no conceito de forma significante. Todos os objetos têm forma, mas isso não poderá significar que
tenham forma significante. Alguns críticos de Bell defendem que não é uma condição suficiente para algo ser
arte.
2. É considerada estilista – parte do princípio de que só um grupo de pessoas, ligadas à arte, consegue sentir a
emoção estética das obras.

Critérios de classificação e valoração


- A fidelidade da representação – Teoria da Arte como Imitação
- Capacidade de contaminar e contagiar os sentimentos e emoções do artista – Teoria da Arte como Expressão
- Capacidade de provocar emoção estética – Teoria da Arte como Forma

Teorias não essencialistas – Teoria Institucional e Teoria Histórica


Teoria Institucional da Arte – George Dickie
Segundo esta teoria, para que um objeto seja uma obra de arte, tem de satisfazer duas condições necessárias: ser um
artefacto (objeto produzido por trabalho mecânico ou manual) e pertencer ao mundo da arte (ser apreciado por um
grupo de pessoas avalizadas – ligadas à arte). Ser um artefacto é uma condição necessária para que algo seja
considerado obra de arte, mas não é suficiente pois caso contrário todo o artefacto seria uma obra de arte.
Objeções à Teoria Institucional
1. Esta teoria é muitas vezes acusada de elitismo, uma vez que considera que apenas um grupo de privilegiados,
formado pelos membros do mundo da arte, têm o poder de conferir o estatuto de obra de arte aos artefactos.
2. Esta teoria não permite distinguir a boa da má arte: dizer que algo é arte é apenas classificá-lo como tal, sem
fazer qualquer apreciação valorativa a respeito do facto de essa obra ser boa ou má.
3. Esta teoria é viciosamente circular: uma obra de arte é um artefacto a que o mundo da arte conferiu o estatuto,
sendo o mundo da arte um conjunto de pessoas com poder de conferir a um artefacto o estatuto de obra de arte.
Teoria da História da Arte – Jerrold Levinson
Para Levinson, algo é arte se, e só se, alguém com direitos de propriedade sobre isso tem a intenção séria de que
seja encarado da mesma forma como foram corretamente encarados outros objetos abrangidos pelo conceito de “obra
de arte”.
Assim, uma obra é arte se tiver:
- Propriedade – o criador é o proprietário das obras que cria;
- Intenção – se existe a intenção de que uma obra seja encarada como arte, então ela é arte;
- História – uma obra é arte em virtude de uma relação com as coisas já conhecidas como arte.
Objeções à Teoria Histórica
1. O criador é considerado proprietário das obras que cria, no entanto, muitos artistas utilizam materiais roubados
para criar as suas obras de arte, o que implica que as obras por eles criados não são totalmente propriedade
dos mesmos.
2. A condição relativa à intenção também pode não ser necessária. Basta pensarmos, por exemplo, nos artistas
que não tiveram a intenção de que as suas obras fossem vistas como obras de arte, sendo que só após a sua
morte elas foram publicadas e consideradas como tal. Alguns manuscritos do escritor checo Kafka deveriam ter
sido destruídos a pedido do autor aquando da sua morte. No entanto, acabariam por ser publicados e ninguém
põe em causa que sejam grandes obras literárias da arte.
3. Não explica por que razão a primeira obra de arte é considerada arte; pois se o que faz uma obra de arte ser arte
é a sua relação com a arte anterior, então como surgiu a primeira obra de arte?

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